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PR-REITORIA DE PS-GRADUAO E PESQUISA PROGRAMA DE PS-GRADUAO STRICTO SENSU EM DIREITO

SEBASTIO FAUSTINO DE PAULA

SISTEMA COMPARADO DOS REGIMES DE FINANCIAMENTO PREVIDENCIRIO ENTRE BRASIL E CHILE.

Trabalho apresentado Universidade Catlica de Braslia como pressuposto para aprovao na disciplina de Integrao Regional e Comrcio Internacional por solicitao do Prof. Dr. Wilson Almeida

Prof. Dr. Wilson Almeida

Braslia-DFJunho 2013

SISTEMA COMPARADO DOS REGIMES DE FINANCIAMENTO PREVIDENCIRIOS ENTRE BRASIL E CHILE.Sebastio Faustino de Paula[footnoteRef:1] [1: Mestrando em Direito Universidade Catlica de Braslia. Procurador Federal/Advocacia-Geral da Unio. Foi Diretor de Benefcios do INSS, Chefe de Gabinete da Secretaria Executiva do Ministrio da previdncia social e Coordenador-Geral de Matria de Benefcios da Procuradoria Geral do INSS.]

Sumrio. 1. Introduo. 2. Breve Panorama dos Regimes de Financiamento Previdencirio. 2.1. Regime de Repartio Simples. 2.2. Regime de Capitalizao. 3. Sistema Comparado dos Regimes de Financiamento entre Brasil e Chile. 3.1. O modelo contributivo brasileiro. 3.2.O modelo contributivo chileno. 4. Cenrios e Perspectivas dos Regimes de Financiamento Previdencirios. 5. Concluso. Referncias.

RESUMO. O presente artigo se prope a fazer uma anlise comparatria dos regimes de financiamento entre Brasil e Chile, respectivamente o modelo de repartio simples e de capitalizao. O modelo de repartio simples compulsrio, pautando no princpio da solidariedade, existindo um pacto contributivo entre as geraes, ou seja, os atuais contribuintes financiam os que j esto em gozo de benefcios (aposentados e pensionistas); no de capitalizao, os riscos sociais so individualizados, ou seja, cada qual financia o seu prprio benefcio que ser usufrudo no futuro. Nesse vis, ser demonstrado que o Chile teve que promover uma reforma no seu sistema de Previdncia, sendo, portanto, enfatizado que a pretexto de se buscar um equilbrio atuarial e financeiro, calcado na experincia chilena, a reforma da previdncia social brasileira no dever enviesar por um caminho exclusivamente privatista; mas, pautar por preceitos constitucionais assegurados pelos constituintes na Carta Magna de 1988.

PALAVRAS-CHAVE. Regimes de Financiamento. Previdncia Privada e Complementar. Brasil. Chile. Repartio Simples. Capitalizao.

INTRODUO.

Os direitos sociais, no Brasil, esto previstos ao longo da Constituio Federal de 1988, especialmente no artigo 6. Dentre esses direitos sobressaem os referentes sade, assistncia social e previdncia social: o trip formador da seguridade social, com previso expressa no artigo 194. Os direitos sociais constituem os chamados direitos de segunda dimenso[footnoteRef:2], implicando em prestao positiva por parte do Poder Pblico, ou seja, esses direitos so atendidos de acordo com a existncia de recursos financeiros, a chamada reserva do possvel. [2: Os direitos de segunda dimenso so os direitos a prestaes pelo Estado para atender as necessidades da coletividade, sendo sociais, econmicos e culturais.]

Em regra, a sade e a assistncia social so financiadas, ou melhor, custeadas com os recursos do oramento fiscal, muito embora o artigo 195 da Constituio reservou-lhes, genericamente, fonte especial de financiamento. Mas, por se tratarem de direitos de acesso universal, especialmente a sade[footnoteRef:3], no se exige uma contribuio especfica para tal finalidade, pois ambos os direitos, sade e assistncia social, independem de contribuio por parte do usurio. Ao contrrio da previdncia social[footnoteRef:4], que sendo de filiao obrigatria, exige dos seus beneficirios contribuies referveis para financiamento dos futuros benefcios. [3: Art. 196 da Constituio.] [4: Art. 201 da Constituio.]

O financiamento dos modelos bsicos previdencirios, ao longo do mundo, tem se consistido predominantemente por dois regimes. Um chamado de Repartio Simples, que compulsrio, pautando no princpio da solidariedade, onde h um pacto contributivo entre as geraes, ou seja, os atuais contribuintes financiam os beneficirios; e, o outro, de Capitalizao, onde os riscos sociais so individualizados, ou seja, cada qual financia o prprio benefcio que ser usufrudo no futuro.O regime de Repartio Simples finca origens no welfare state, ou seja, o Estado do Bem-estar Social ou Estado Providncia. Esse sistema de financiamento baseia na contribuio de todos os trabalhadores, segurados obrigatrios, e empresas, inclusive da contribuio daqueles que, mesmo no exercendo atividade remunerada, optarem por contribuir com o sistema, sendo o caso dos segurados facultativos. Esse modelo solidrio de financiamento[footnoteRef:5] implica que um trabalhador que esteja contribuindo no presente poder no se beneficiar da sua prpria contribuio no futuro, quer em funo de um bito prematuro quer no tenha implementado outros requisitos exigveis para uma aposentadoria, como a carncia[footnoteRef:6], por exemplo. De igual modo esse modelo impe que um segurado que j se aposentou, mas volte a exercer atividade remunerada, continue vertendo contribuies para manuteno do sistema previdencirio mesmo no podendo aposentar-se novamente. Em ambos os casos as contribuies no sero restituveis ao segurado das ditas contribuies, mas destinadas ao financiamento do benefcio da coletividade daqueles que vo implementado os direitos de se aposentar ou para custear os benefcios das vtimas de uma contingncia ou risco social, como o caso dos benefcios acidentrios, que por serem isentos de carncia dependem do somatrio da contribuio de outrem ou de recursos dos oramentos pblicos. Este o modelo adotado pela maioria dos pases, inclusive pelo Brasil. [5: A solidariedade est implcita no artigo 195 da Constituio quando prev que a seguridade social dever ser financiada por toda sociedade.] [6: Carncia, segundo o artigo 24 da Lei 8.213/1991, o nmero mnimo de contribuies que o segurado deve possuir para ter direito ao benefcio. ]

O regime de capitalizao individual e privatista, assemelhando-se a uma poupana onde cada um financia seu prprio benefcio. Ao contrrio do modelo de repartio simples, no h solidariedade nem o pacto intergeracional. Cada gerao se autofinancia. Esse regime de financiamento caracterstico de pases que adotaram uma poltica econmica neoliberal, como no Chile, por exemplo. Foi durante o governo de Pinochet que se imps aos trabalhadores daquele pas o sistema de capitalizao. A partir de ento, o Estado passou a eximir-se da responsabilidade previdenciria, limitando a supervisionar as empresas financeiras denominadas Administradoras de Fundos de Penses AFP, genuna expresso do capital financeiro internacional.Nesse vis, o presente artigo se prope a fazer uma anlise comparatria dos regimes de financiamento entre Brasil e Chile, primeiramente fazendo uma breve considerao dos diversos regimes de financiamento previdencirios existente ao longo do mundo, como o regimes de repartio simples; de capitalizao; complexo ou misto e contas notoriais ou capitalizao virtual. Em seguida ser feito um exame dos regimes de financiamento brasileiro e chileno e, depois, a avaliao dos cenrios e perspectivas dos regimes de financiamento previdencirios desses dois pases. Finalmente, ser enfatizado que a pretexto de se buscar um equilbrio atuarial e financeiro, calcado na experincia chilena, a reforma da previdncia social brasileira no dever enviesar por um caminho exclusivamente privatista; mas, pautando-se nos preceitos constitucionais assegurados pelos constituintes na Carta Magna de 1988, manter o seu carter universal e solidrio sem excluir as inciativas privadas no sentido de complementar os benefcios daqueles que almejarem proventos maiores no futuro.

2.BREVE PANORAMA DOS REGIMES DE FINANCIAMENTO PREVIDENCIRIO.

O principal ingrediente de um modelo securitrio, especialmente em se tratando de um modelo contributivo, a sua organizao financeira, mediante a observncia de princpios e critrios capazes de preservar o equilbrio financeiro e atuarial, ganhando extrema relevncia quando se fala em Previdncia Social, eis que esta mais afeita concesso de prestaes de carter pecunirio e vitalcias, a exemplo das aposentadorias[footnoteRef:7]. [7: BARROS, Clemilton da Silva. O modelo de proteo social brasileiro. Jus Navigandi, Teresina, ano 17, n. 3246, 21 maio 2012 . Disponvel em: . Acesso em: 7 jun. 2013.]

Por essa razo nenhum sistema previdencirio, seja ele pblico, privado ou misto, poder desprezar as outras reas do conhecimento, especialmente o Direito Financeiro e as Cincias Atuariais. possvel que ao longo da vida um segurado fique sujeito s vicissitudes ou contingncias que lhe imponha constantes afastamentos laborativos e passe a depender do sistema previdencirio, antes mesmo de implementar os requisitos para os benefcios programados, a exemplo da idade e do tempo de contribuio. Para tanto, o sistema protetivo previdencirio, previamente, dever ter calculado, alm das alquotas, qual percentual ser pago e por quanto tempo a cada um dos beneficirios. A depender desse lapso temporal, em que o segurado ficar s expensas do sistema, o valor do benefcios poder ser maior ou menor. Se esse fator no levado a efeito, no subsistir o sistema, pois poder ocorrer do indivduo passar mais tempo na qualidade de beneficirio do que como contribuinte. Enfim, a escolha de um regime financeiro pelo qual se reger o sistema securitrio de extrema importncia.[footnoteRef:8] [8: Ibid.]

A preservao desse equilbrio financeiro e atuarial norma cogente em nosso direito positivado, especialmente na Constituio Federal de 1988, que expressamente prev em seu artigo 201 que A previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, [...]. Esses critrios tm a ver com o regime de financiamento escolhido por cada pas. Nem todos tem que levar em conta essa observncia. Razo pela qual se faz necessrio trazer lia um panorama dos diversos regimes de financiamento antes de adentrar no tema proposto em que ser analisado comparativamente os modelos adotados pelo Brasil e pelo Chile.Alm desses dois regimes capitalizao e regime de repartio simples , que compem o objeto deste artigo, existem outros a exemplo do regime complexo ou misto e o regime de repartio em contas notoriais ou capitalizao virtual. No regime complexo ou misto, acrescenta-se ao teto do sistema de repartio simples uma espcie de previdncia complementar obrigatria, sob a forma de capitalizao, para aqueles contribuintes com rendimentos superiores ao valor do teto. Englobaria, ento, duas espcies de regimes previdencirios: uma obrigatria para todos os que auferirem renda, at um teto estabelecido; e a outra, tambm obrigatria, mas somente para aqueles que auferirem renda acima do teto. Adotam-no, por exemplo, a Argentina e o Uruguai.O regime de repartio em contas notoriais ou capitalizao virtual O segurado ativo contribui para o inativo se beneficiar, mas o benefcio deste ser calculado com base nas suas contribuies efetivamente recolhidas, considerando-se tambm a idade do segurado, estimando-se o tempo pelo qual ele ir receber o benefcio. No Brasil foi adotado parcialmente, apenas relao aposentadoria por tempo de contribuio, cuja renda mensal do benefcio calculada mediante a obrigatria a utilizao do fator previdencirio, que conjuga valores atuariais como idade, tempo de contribuio, valores recolhidos e expectativa de sobrevida.Para alguns doutrinadores, dentre eles Trsis Nametala[footnoteRef:9], esses dois regimes fundamentais, de acordo com a combinao de seus elementos, admitem inmeras variaes, dando origem a outros regimes ou sub-regimes. Segundo esse autor, h quem utilize terminologia distinta, porm, falando dos mesmos institutos. Mas, como o foco central do presente artigo a comparao dos regimes previdencirios entre Brasil e Chile, somente os dois regimes por eles adotados ser a seguir analisados: repartio simples e capitalizao. [9: JORGE, Trsis Nametala. Manual dos Benefcios Previdencirios. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006; pg. 23-27.]

2.1. O regime de repartio simples

Consoante j visto, o regime de repartio simples tem origens no welfare state, ou seja, o Estado do Bem-estar Social ou Estado Providncia. Esse sistema de financiamento baseia na contribuio de todos os trabalhadores e empresas. Este regime pautado pelo princpio da solidariedade, onde atuais contribuintes custeiam os beneficirios atuais e futuros. Uma espcie de pacto social entre as geraes. Neste regime no existe acumulao de reservas que possam ser utilizadas no futuro. Os recursos oriundos das contribuies sociais que ingressam imediatamente so revertidos para pagar os atuais aposentados e pensionistas e assim por diante. Razo pela qual fundamental a formalizao laborativa dos trabalhadores que esto em atividade e, consequentemente, contribuindo para o sistema; pois, da contribuio destes depender o pagamento dos inativos e pensionistas.O regime de repartio simples possui uma modalidade pura, onde todas as prestaes, ou seja, benefcios e servios previdencirios so custeados indistintamente por toda sociedade. Independem de quantas contribuies foram vertidas para o sistema. No Brasil esse sistema adotado para algumas espcies de benefcios no-programados, ou seja, aqueles cuja ocorrncia incerta, a exemplo dos benefcios por incapacidade que decorrem de acidente comum ou do trabalho e de doenas graves, que so isentos de carncia; alm de outros como penso por morte, auxilio recluso, salrio-famlia e salrio-maternidade para empregadas, empregadas domsticas e trabalhadoras avulsas. As demais variaes do regime de repartio simples, guisa de atender especulao doutrinria, pode variar em regime de repartio profissional, onde as contribuies dos segurados servem de base para definir o valor dos seus benefcios, como ocorre com os programadas, aposentadoria por idade e por tempo de contribuio e o regime de repartio hbrido ou misto. Neste, conforme induz o prprio nome h uma conjuno dos regimes de repartio simples com o profissional. Toda sociedade participa desse financiamento quer atravs de contribuies especficas ou vinculadas, como o caso da previdncia; quer atravs dos demais tributos, inclusive os impostos, a exemplo da sade e da assistncia social. Este tpico ser melhor explorado no subitem 3.1 quando ser analisado o sistema o modelo contributivo brasileiro.

2.2. O regime de capitalizao

O regime de capitalizao individual e privatista onde cada um financia seu prprio benefcio. Neste regime no h solidariedade, cada contribuinte se autofinancia. Funda-se na formao de reservas de capital, assemelhando-se a uma poupana, que garantiro os benefcios devidos aos respectivos contribuintes no futuro. O valor de cada benefcio ser proporcional s contribuies vertidas para tal fim. Em contrapartida, aquele que, por alguma razo, no puder contribuir ficar merc da proteo do Estado ou cair na indigncia. No Brasil somente as previdncias privadas abertas, comercializadas pelas instituies financeiras, adotam esse regime, que sempre de filiao facultativa.No regime de capitalizao as contribuies so acumuladas em fundos de penses ou em contas especficas e aplicadas nos mercados financeiros e noutros ativos, ao longo da vida ativa do segurado, sendo o capital gerado utilizado para custear as prestaes previdencirias. Ao passar para a inatividade o segurado ter de volta o que contribuiu acrescido dos rendimentos do capital, tudo mediante regras estabelecidas pelo mercado financeiro[footnoteRef:10]. Das poucas vantagens apontadas para este regime est a garantia de concesso de benefcios na justa medida das contribuies devidamente corrigidas pelos investimentos. Em contrapartida, os contribuintes ficam vulnerveis aos riscos tpicos dos mercados financeiros e das instabilidades das economias dos pases da Amrica Latina que tm adotado esse regime. [10: Ibidem.]

Dentre os pases que adotaram esse regime tem-se o pioneiro Chile, em 1981(que ser objeto de comparao com o modelo adotado pelo Brasil), seguido pela Sua e Reino Unido, ainda na dcada de 80. Posteriormente adoram-no: o Peru, em 1992; a Colmbia, em 1993; a Argentina, em 1993; o Uruguai, em 1995; o Mxico, em 1997; El Salvador, em 1997; a Bolvia, em 1997; e a Venezuela, em 1998[footnoteRef:11]. Esses pases, em sua maioria, seguiram orientao do Banco Mundial e do Fundo Monetrio Internacional FMI, para implantar o regime de capitalizao. Este regime ser melhor aprofundado no subitem 3.2 quando da anlise do modelo contributivo chileno. [11: BANCO MUNDIAL. Averting the old age crisis. Nova York: Editora da Universidade de Oxford, 1994. p. 26.]

3. SISTEMA COMPARADO DOS REGIMES DE FINANCIAMENTO ENTRE BRASIL E CHILE.

Aps o Chile ter adotado, no incio da dcada de 80, um modelo exclusivamente privado de capitalizao, muitos pases, especialmente da Amrica Latina, cogitaram de promover reformas em seus sistemas previdencirios no sentido de impor iniciativa privada a importante tarefa de gerir os recursos que financiariam os benefcios dos trabalhadores.No Brasil, que adota o regime de partio simples, muito se especulou nesse sentido, inclusive com medidas concretas com vistas a reestruturar o sistema previdencirio. Podendo-se destacar nesse perodo a Emenda Constitucional n 20/1988, que alterou radicalmente o artigo 201 da Constituio, regulando a previdncia pblica, de filiao obrigatria e estruturou a previdncia complementar privada, de filiao facultativa, no artigo 202. De igual modo essa emenda imps, no artigo 40, regras mais rgidas na previdncia do servidor pblico, criando uma combinao entre tempo de contribuio e idade como forma de coibir aposentadoria precoces alm de permitir a limitao de contribuio dos servidores pblicos efetivos ao teto da previdncia social; com a criao de uma previdncia complementar facultativa para aqueles que desejassem proventos maiores no futuro. Posteriormente a Emenda 41, alm de instituir contribuio para os servidores inativos e pensionistas, permitiu que lei ordinria dos respectivos poderes executivos pudessem instituir uma previdncia complementar para os seus servidores efetivos, o que de fato foi concretizado, no mbito dos servidores da Unio, com a criao da Fundao de Previdncia Complementar do Servidor Pblico Federal FUNPRESP, atravs da Lei 12.618/2012. A reforma previdenciria chilena ocorreu de forma bastante traumtica, pois ocorrera em um perodo de exceo, sendo o regime de capitalizao imposto pelo governo ditatorial, comandado pelo General Augusto Pinochet, no incio dos anos 80. Esse regime previdencirio passou para a inciativa privada a gesto da previdncia dos trabalhadores, excetuando os militares. A partir de ento, cada trabalhador passaria a financiar sua prpria aposentadoria. Uma espcie de poupana compulsria gerida por instituies particulares, consoante ser visto no item subsequente com mais vagar.No nosso sistema previdencirio, como de sabena trivial, vez por outra vem lume especulaes para a sua reformulao. Ora de forma sutil, outras vezes nem tanto, grupos financeiros privados ou quem lhes representam, prometem alvssaras como sendo a instituio de uma previdncia privada no Brasil, a exemplo do modelo chileno, a panaceia para os males da economia brasileira ou a soluo para gesto previdenciria e do seu famigerado dficit. Nesse intento, o presente artigo se prope a fazer essa anlise comparatria entre ambos os regimes com vistas, no s ao aperfeioamento do nosso modelo, mas para no repetir os erros do pas vizinho que j est reformulando o seu sistema previdencirio.

3.1. O modelo contributivo brasileiro.

A Constituio Federal de 1988 adotou, pela primeira vez no ordenamento jurdico brasileiro, o conceito de seguridade social[footnoteRef:12], dando proeminncia a trs direitos sociais previstos no artigo 6 desse diploma legal: sade, previdncia e assistncia social. Desses direitos sociais, ser analisado apenas o modelo de financiamento da previdncia social por possuir regras e modelos prprios de organizao e custeio, consoante dispe o artigo 201: A previdncia social ser organizada sob a forma de regime geral, de carter contributivo e de filiao obrigatria, observados critrios que preservem o equilbrio financeiro e atuarial, e atender, nos termos da lei, [...]. Como se v, previdncia social foram impostos regras e critrios rgidos para sua constituio e organizao, que para fins didticos e melhor compreenso, sero vistos na seguinte ordem: regime geral, filiao obrigatria, carter contributivo e equilbrio financeiro e atuarial. [12: Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de aes de iniciativa dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social.]

O regime geral caracteriza-se por ser um regime de atrao universal, ou seja, excetuando-se aos servidores pblicos efetivos dos entes federados, incluindo suas autarquias e fundaes, que possuem regime prprio de previdncia, previsto no artigo 40 da Constituio, os demais servidores e empregados pblicos e todos os trabalhadores da iniciativa privada tm seus regimes previdencirios atrados pelo Regime Geral de Previdncia Social RGPS, cuja gesto e execuo esto a cargo do Instituto Nacional do Seguro Social INSS. A filiao obrigatria determina a automtica vinculao dos trabalhadores ao RGPS independentemente de quaisquer manifestaes ou desejos subjetivos nesse sentido, ou seja, quando algum exerce uma atividade remunerada ou presta um servio a outrem, mesmo que no tenha esta percepo visvel ou clarificada, est se filiando previdncia social. A partir desse momento passa a condio de segurado obrigatrio. A filiao o vnculo jurdico que se estabelece entre o segurado e o respectivo regime previdencirio.Aquele que no se enquadrar como segurado obrigatrio, tem a opo de se filiar previdncia social como segurado facultativo, desde que no seja participante de regime prprio de previdncia social. A Lei 8.212/91, nos artigos 12 e 14, agrupou os segurados como gnero, apenas distinguindo os obrigatrios dos facultativos. Sendo que os obrigatrios, para efeito de enquadramento, se subdividem em cinco categorias: empregado, empregado domstico, contribuinte individual, trabalhador avulso e segurado especial. Sinteticamente as espcies de segurados obrigatrios podem ser assim resumidas:1)Empregado: a pessoa fsica, brasileira ou estrangeira, que presta servios contnuos ou temporrios, de natureza urbana ou rural, a empregador, empresa ou equiparada, com alguma forma de vnculo ou subordinao.2)Empregado domstico: aquele que presta servio de natureza contnua, mediante remunerao, no mbito residencial de pessoa ou famlia, em atividades sem fins lucrativos.3)Contribuinte individual: qualquer pessoa fsica que no se enquadra em nenhuma outra categoria de segurado obrigatrio, que, por conta prpria ou no, em carter eventual ou no, exerce atividade de natureza urbana ou rural, com ou sem fins lucrativos.4)Trabalhador avulso: aquele que, sindicalizado ou no, presta servio, de natureza urbana ou rural, a diversas empresas, sem vnculo empregatcio, com a intermediao obrigatria do rgo gestor de mo de obra - OGMO ou do sindicato da categoria. O segurado avulso, por fora do art. 7, XXXIV da Constituio Federal, equiparado ao trabalhador com vnculo trabalhista permanente (empregados).5)Segurado especial: uma espcie do gnero trabalhador rural. a pessoa fsica que exerce, individualmente ou em regime de economia familiar, atividade de natureza agropastoril, sem o concurso de empregado permanente, em rea de at quatro mdulos fiscais. Essa categoria abrange ainda o pescador artesanal e o extrativista vegetal.O segurado facultativo foi criado para atender ao principio constitucional da universalidade da cobertura e do atendimento no sentido de abranger uma parcela da populao que, por no ser se enquadrar como segurado obrigatrio, estava desprotegida da cobertura previdenciria, a exemplo das donas de casa, estudantes, desempregados e presidirios. A filiao dessa categoria decorre de ato volitivo, mas somente se materializa com a inscrio e o recolhimento da primeira contribuio. O carter contributivo constitui a matriz do modelo de universalidade contributiva solidria. Essa imposio constitucional, alm de materializar o princpio da diversidade da base de financiamento, estampado no artigo 194, VI, previu no artigo 195, consolida a solidariedade como forma de se financiar os direitos sociais que compem a seguridade social:A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, e das seguintes contribuies sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro; II - do trabalhador e dos demais segurados da previdncia social, no incidindo contribuio sobre aposentadoria e penso concedidas pelo regime geral de previdncia social de que trata o art. 201; III - sobre a receita de concursos de prognsticos.IV - do importador de bens ou servios do exterior, ou de quem a lei a ele equiparar.

Porm, a Emenda Constitucional n 20/1988, deu nova redao ao artigo 167, XI da Constituio, prevendo que das vrias espcies de contribuies sociais duas delas seriam destinadas, exclusivamente, ao pagamento dos benefcios da previdncia social, por isso chamadas de contribuies previdencirias. Assim, quando o constituinte derivado vedou art. 167, XI - a utilizao dos recursos provenientes das contribuies sociais de que trata o art. 195, I, a (contribuio sobre a folha de pagamento), e II (contribuio dos trabalhadores e demais segurados da previdncia social), para a realizao de despesas distintas do pagamento de benefcios previdencirios, optou por vincular esses recursos, exclusivamente, ao pagamento dos beneficirios do INSS, entidade que gere o RGPS.A contribuio dos segurados empregado, empregado domstico e do trabalhador avulso proporcional s suas remuneraes, porm, limitada a um valor mximo de contribuio ou teto previdencirio, na forma do quadro a seguir[footnoteRef:13]: [13: Valores atualizados com base na Portaria Interministerial MPS/MF n 15, de 10 de janeiro de 2013, publicada no DOU de 11/01/2013.]

SALRIO-DE-CONTRIBUIO(R$)ALQUOTA PARA FINS DERECOLHIMENTO AO INSS

at 1.247,708%

de 1.247,71 at 2.079,509%

de 2.079,51 at 4.159,0011 %

Para os contribuintes individual e facultativo essa contribuio, segundo o artigo 21 da Lei 8.212/1991, essa contribuio de 20% do salrio de contribuio percebido pelo segurado contribuinte individual ou daquele valor declarado pelo segurado facultativo, em ambos os casos, tambm, limitados ao teto previdencirio. A contribuio desses segurados pode ter alquotas de 5 ou 11%, na forma da tabela abaixo: SALRIO-DE-CONTRIBUIO(R$)ALQUOTA PARA FINS DERECOLHIMENTO AO INSS

678,005% ou 11%

de 678,00 at 4.159,00 20%

Faz se necessrio esclarecer que a alquota de 5% exclusiva para o microempreendedor individual e para segurado facultativo sem renda prpria que se dedique exclusivamente ao trabalho domstico no mbito de sua residncia. A contribuio de 11% opo para os demais contribuintes individuais e facultativos. Em ambos os casos o valor limitado a um salrio mnimo e no confere direito aposentadoria por tempo de contribuio, salvo se for recolhida a diferena para a alquota de 20%.A empresa, por sua vez, contribui sobre a folha de pagamento para financiar a previdncia social. Por expressa previso do artigo 22 da Lei 8.212/1991 essa contribuio de 20% (vinte por cento) sobre o total das remuneraes pagas, devidas ou creditadas a qualquer ttulo para os trabalhadores a seu servio, inclusive prestadores de servio. Essa alquota ser de 22,5% (vinte e dois vrgula cinco por cento) se se tratar de instituio financeira. Em ambos os casos ainda ter uma alquota sobre a folha de pagamento de 1, 2 ou 3% (um, dois ou trs por cento) para financiar o seguro de acidente de trabalho SAT. Quando o segurado implementar os requisitos para se aposentar, aps possuir a carncia, qual seja, 180 contribuies, seja por idade, aos 65 anos, se homem e 60, se mulher ou aos 35 anos de contribuio, se homem e 30, se mulher[footnoteRef:14], ter o valor do seu benefcio calculado com base em uma mdia aritmtica simples dos maiores salrios-de-contribuio correspondentes a oitenta por cento de todo o perodo contributivo, multiplicada pelo fator previdencirio. Este possui variveis influenciadoras no clculo dos benefcios por considerar a idade, a expectativa de sobrevida e o tempo de contribuio que segurado possui no momento que vai se a aposentar. [14: Art. 201, 7 da Constituio.]

O fato gerador obrigatrio para quem vai se aposentar por tempo de contribuio e facultativo para quem vai se aposentar por idade, neste caso somente quando for mais vantajoso para o aposentado. Feito esses clculos, na forma prevista no artigo 29 da Lei 8.213/1991, nos casos de aposentadoria precoce, em mdia, a aplicao do fator reduz em 30% (trinta por cento) o valor da aposentadoria por tempo de contribuio[footnoteRef:15]. A frmula do fator previdencirio [footnoteRef:16]: [15: Exemplo de um segurado com 55 anos de idade e 35 anos de contribuio. Em contrapartida o fator vai aumentando se o segurado for mais idoso e com mais tempo de contribuio. O fator previdencirio inversamente proporcional expectativa de sobrevida, enquanto maior esta, menor aquele.] [16: Fonte Ministrio da Previdncia Social, site: http://www.previdencia.gov.br/conteudoDinamico.php?id=182. Acesso em 07.06.2013.]

Onde:f = fator previdencirioTc = tempo de contribuio do trabalhadora = alquota de contribuio (0,31)Es = expectativa de sobrevida do trabalhador na data da aposentadoriaId = idade do trabalhador na data da aposentadoriaNa aplicao do fator previdencirio sero somados ao tempo de contribuio do segurado: 1) Cinco anos para as mulheres; 2) Cinco anos para os professores que comprovarem efetivo exerccio do magistrio no ensino bsico, fundamental ou mdio; e 3) Dez anos para as professoras que comprovarem efetivo exerccio do magistrio no ensino bsico, fundamental ou mdio.O equilbrio financeiro e atuarial caracteriza-se pelo balanceamento entre receitas e despesas conjugando variveis como a quantidade de contribuintes que podem ser vtimas de contingncias: doenas, acidentes do trabalho, invalidez ou a mdia de reincidncia ou o tempo de permanncia dos beneficirios custa do sistema previdencirio: a expectativa de sobrevida. . No modelo de financiamento adotado pelo Brasil, o de repartio simples, por mais que se busque esse equilbrio, ele acaba sendo virtual; reforando ainda mais o aspecto solidrio dessa modalidade de financiamento. Exemplo contundente nesse sentido so os benefcios isentos de carncia, como penso por morte, auxilio-recluso e aposentadoria por invalidez, decorrentes de acidente e de doenas graves[footnoteRef:17]. Nessas circunstncias possvel que, com apenas uma contribuio, o segurado no caso de aposentadoria por invalidez ou seu dependente nos casos de penso por morte ou auxlio recluso, independentemente da idade, perceba um beneficio pelo resto da vida. [17: Art. 26 da Lei 8.213/1.991 ]

Com o aumento da longevidade, essa tendncia tem sido estendida, inclusive, para os benefcios programados: aposentadorias por idade e por tempo de contribuio, onde mesmo exigindo carncia, mas uma vez implementado os requisitos para se aposentar, o contribuinte receber o benefcio enquanto viver, sem levar em conta o valor que foi acumulado em virtude de suas contribuies vertidas para o sistema. As contribuies so genricas, no personalizadas.Consoante afirmado alhures, a caracterstica fundamental do regime de repartio simples a sua solidarizao. As contribuies dos atuais contribuintes convergem para um fundo comum de onde so retirados os recursos para pagar os beneficirios do sistema previdencirio. No h vinculao entre contribuinte e o respectivo benefcio; mas sim, dos contribuintes para um fundo e deste para os beneficirios. Neste pacto de financiamento intrageracional ou intergeracional para outros[footnoteRef:18] , os atuais contribuintes custeiam os benefcios dos inativos e pensionistas. No existe acumulao de reservas que possam ser utilizadas no futuro. Os recursos oriundos das contribuies sociais que ingressam imediatamente so revertidos para pagar os atuais beneficirios e assim por diante. [18: Dentre os doutrinadores, destacam-se o professor Wladimir Novaes. MARTINEZ, Wladimir Novaes. Princpios de Direito Previdencirio. 5 ed. So Paulo: LTr, 2011.]

O maior risco desse modelo de financiamento, podendo redundar em um desequilbrio financeiro, a diminuio dos atuais contribuintes ou o aumento da informalidade no mercado de trabalho. Nos tempos hodiernos consabido que, alm do aumento da populao idosa, a expectativa de vida vem se prolongando cada vez mais. Assim, sero necessrios mais contribuintes para financiar o benefcio futuro dessa massa populacional. Dificilmente se chegar a uma igualdade absoluta entre os valores arrecadados e os valores gastos a ttulo de pagamento de benefcios; mas deve-se buscar um equilbrio financeiro consoante preceitua o mencionado artigo 201 da Constituio.

3.2. O modelo contributivo chileno.

Consoante estudo realizado pelos pesquisadores Sheila Najberg e Marcelo Ikeda, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social BNDES[footnoteRef:19], no artigo Previdncia no Brasil: Desafios e Limites, o Chile foi o primeiro pas a adotar uma reforma estrutural do sistema previdencirio, substituindo e privatizando integralmente o tradicional sistema pblico, conhecido como Instituto de Normalizacin Previsional INP. Esse sistema implementado em maio de 1981 foi baseado num regime de capitalizao com contribuio definida em que os trabalhadores contribuam com 10% de seu salrio, durante toda sua vida laboral, para uma conta individual administrada por uma seguradora privada. Alm da contribuio de 10%, os trabalhadores tambm passaram a contribui com uma comisso adicional de 3%, que engloba os custos administrativos e um seguro que cobre tanto os benefcios de penses como de possveis acidentes de trabalho ou invalidez. [19: Disponvel em http://www.bndespar.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/conhecimento/livro/eco90_08.pdf. Acesso em 07 de junho de 2013.]

Com essa reforma, a idade mnima de aposentadoria passou a ser de 65 anos para os homens e 60 anos para as mulheres. As contribuies passaram a ser administradas por seguradoras privadas, chamadas de Administradoras de Fondos de Pensiones AFPs. Passando o Poder Pblico, a partir de ento, apenas a regular esse sistema previdencirio privatizado atravs da Superintendncia de Administradoras de Fondos de Pensiones SAFP[footnoteRef:20]. [20: O equivalente Superintendncia de Seguros Privados SUSEP, no Brasil. Uma autarquia federal vinculada ao Ministrio da Fazenda que fiscalizas as previdncias privadas.]

Vale lembrar que esse regime de capitalizao foi implantado sem oposio ou obstculos polticos, tendo em vista o regime totalitrio vigente no pas, sob o comando do General Augusto Pinochet. Ao contrrio, num primeiro momento a populao reagiu positivamente s mudanas. Em regra, os trabalhadores tm uma viso imediatista de seus ganhos, pois um regime novo, assim que implantado, em regra vale para os futuros beneficirios e no para os atuais. Dessa forma, o novo regime chileno reduziu o valor da contribuio dos trabalhadores, em relao ao sistema oficial anterior, de 19,6% para 10% e extinguiu a contribuio dos empregadores. As contribuies que vinham sendo vertidas para o regime anterior foram convertidas bnus, para os segurados optassem por migrar para o regime privatizado. Esse valor seria pago no momento da aposentadoria, correspondendo ao montante de contribuies capitalizadas taxa de 4% ao ano. Segundo a pesquisadora Beatriz Azeredo[footnoteRef:21], esse diferencial gerava um ganho de renda lquida, para aqueles que fizessem a opo pelo novo regime, da ordem de 12%. A instituio do Bnus de Reconhecimento, aliada baixa credibilidade do sistema pblico, outro fator que ajuda a explicar a transferncia para as AFPs, j nos primeiros 18 meses aps a reforma, de um milho e meio de trabalhadores, o que correspondia a cerca de 40% da fora de trabalho. [21: Em artigo intitulado A Previdncia Privada do Chile: Um Modelo para a Reforma do Sistema Brasileiro? Site: revistas.fee.tche.br/index.php/indicadores/article/download/823/1088. Consulta em 07.06.2013]

Em decorrncia dessas aparentes vantagens, o Governo sofreu uma perda imediata de receitas de contribuies previdencirias: os novos contribuintes[footnoteRef:22], por imposio do sistema, filiavam-se ao regime privatizado e os antigos faziam a opo pela migrao para recolher valores menores e receber o abono referente s contribuies vertidas para o regime oficial. [22: O novo sistema obrigatrio apenas para os novos integrantes do mercado de trabalho aps 1983.]

Nesse sistema privado de previdncia, sob o regime de capitalizao, o benefcio a ser recebido pelo trabalhador, por ocasio de sua aposentadoria, dependeria do montante acumulado em sua conta individual, da taxa de capitalizao de sua seguradora e da expectativa de sobrevida. Entretanto, o governo continuou prevendo um benefcio mnimo para os trabalhadores com mais de 20 anos de contribuio cuja conta individual capitalizada fosse inferior ao piso estabelecido. Nesse caso, os recursos gastos pelo governo so originrios de outras fontes de financiamento, rompendo-se o equilbrio atuarial individual na previdncia.Segundo Beatriz Azeredo a instituio do regime de capitalizao no Chile, no atingiu o intendo mais esperado pelos idealizadores da reforma. Tendo em vista que o Governo, mesmo aps a reforma, continuou assumindo responsabilidades, destacando-se:1) a manuteno do sistema antigo que permaneceu nas mos do Estado. Esse passivo dos benefcios concedidos pelo regime previdencirio anterior, dura, no mnimo uma gerao, em torno de 40 anos, que vai coexistir com o novo sistema privatizado;2) o pagamento das novas aposentadorias e penses referentes aos trabalhadores que optaram por permanecer na previdncia pblica;3) o pagamento de uma penso assistencial para aqueles setores da populao no cobertos pelos programas de capitalizao individual. O valor desse benefcio, em 1992, era de US$ 36, equivalente a 12% do salrio mdio da economia e a 35% do salrio mnimo.Ao contrrio do que se esperava, ocorreu, de fato, uma queda nos nveis de cobertura aps a reforma. As cifras disponveis para o sistema privado do conta de que, em 1990, apenas 42% da fora de trabalho estavam protegidos pelo sistema, enquanto, em 1991, esse percentual era de 52%. Importante registrar que essa reduo do grau de cobertura se deu num perodo em que a economia chilena apresentou uma notvel recuperao, com significativa reduo do desemprego[footnoteRef:23]. [23: MARCEL, Mario, ARENAS, Alberto (1991). Reformas a Ia seguridad social en Chile. Washington: BID. (Monografia n.5).]

Aps trs dcadas da privatizao da previdncia chilena, o regime cobre somente 55% dos trabalhadores do mercado formal e assegura uma reposio mdia de 30% a 40% do ltimo salrio, segundo clculos da Central Unitria dos Trabalhadores do Chile. Mais grave ainda o fato de que h um grande contingente de inativos que recebe muito pouco ou nada no sistema de capitalizao, mas no suficientemente pobre para cair na rede de proteo assistencial chilena.A ttulo de exemplo[footnoteRef:24], cita-se o caso de um professor aposentado, de 67 anos de idade, considerado privilegiado por ter uma aposentadoria que cobre 75% do seu ltimo salrio. Em 1981, ele optou por ficar no antigo sistema previdencirio chileno, o INP, rejeitando a adeso ao novo regime que criou as Administradoras de Fundos de Penso AFPs. Passando a ganhar uma aposentadoria de 750 mil pesos, o equivalente a US$ 1.667, que se comparava com seu ltimo salrio na ativa de 1 milho de pesos, algo em torno de US$ 2.222. [24: Artigo intitulado: Chile reforma o seu modelo liberal de previdncia publicado no site: http://www.ieprev.com.br/conteudo/id/5497/t/chile-reforma-o-seu-modelo-liberal-de-previdencia.]

Trabalhadores e servidores em situao idntica do professor acima mencionado, que optaram por migrar para o novo sistema, atrados pelos aparentes e momentneos benefcios, acabaram se aposentando com proventos de um tero ou mesmo um quarto do ltimo salrio. Especialistas explicam que as aposentadorias com baixa reposio em relao ao ltimo salrio so frequentes entre funcionrios pblicos e trabalhadores. A remunerao bsica no setor pblico, sobre a qual calculada a contribuio mensal de 10%, muito baixa. O ganho efetivo durante a vida ativa maior graas a vrias parcelas adicionais que no fazem parte do salrio-base. Como a aposentadoria se baseia no acumulado na conta individual, ela tende a se aproximar do salrio-base, e no da remunerao efetivamente recebida[footnoteRef:25]. [25: Artigo intitulado: Chile reforma o seu modelo liberal de previdncia. Instiruto de Estudos Previdencirios. Em: http://www.ieprev.com.br/conteudo/id/5497/t/chile-reforma-o-seu-modelo-liberal-de-previdencia. Acesso em 07 de junho de 2013.]

Aps trs dcadas de sua introduo, o regime chileno cobria somente 55% dos trabalhadores do mercado formal e assegura uma reposio mdia de 30% a 40% do ltimo salrio. Em consequncia, os trabalhadores passaram a reagir. O mercado de trabalhado ficou mais escasso, os valores vertidos para o fundo de capitalizao permitiam um benefcio mnimo e, s vezes abaixo desse valor, mas, acima do limite para ser beneficiado pela proteo do Estado. Os fundos previdencirios cada vez mais ricos. Os aposentados cada vez mais pobres. Essa situao obrigava que muitos deles se sujeitassem a subempregos ou passassem a fazer bicos para complementarem seus proventos. Nesse contexto o governo de Michele Bachelet, empossado em maro de 2006, interveio com medidas destinadas a salvar o que restou do sistema previdencirio chileno. Em janeiro de 2008 o Congresso Chileno aprovou a reforma do sistema previdencirio. Foi mantido o sistema antigo de capitalizao, mas com a introduo de uma previdncia pblica para proteger queles que no conseguiam capitalizar recursos suficientes para sustentar seus prprios benefcios no futuro. Com essa reforma, todos os chilenos com mais de 65 anos que estiverem situados entre os 60% mais pobres da populao passaram a ter direito, a partir de 2012, a um benefcio mensal mnimo chamado de aposentadoria bsica solidria, no valor de 75 mil pesos, o equivalente a US$ 167. Esse passou a ser o valor para quem nunca contribuiu o que significou um aumento de 66% sobre o benefcio equivalente atual, de 45 mil pesos, em torno de US$ 100, que assistencial e vale apenas para quem estiver entre os 20% mais pobres da populao.Essa reforma da Previdncia chilena de 2008 no se limitou criao do Sistema de Aposentadorias Solidrias. Ela incluiu tambm muitos aspectos da gesto e superviso das AFPs, as entidades privadas que investem os recursos das contas individuais de capitalizao dos trabalhadores chilenos. A mudana introduziu dispositivos para aumentar a competio entre elas, flexibilizando as regras de investimento e possibilitando a subcontratao de servios, como a parte administrativa e de arrecadao das contribuies.Para incentivar a contribuio, as novas regras preveem que tambm tero direito a um complemento da aposentadoria, sendo o valor do benefcio acima de 75 mil pesos, todas as pessoas que tiverem contribudo com menos do que o suficiente para alcanar 255 mil pesos, em torno de US$ 567 mensais. Esse dinheiro extra, que vem dos cofres pblicos, o chamado aporte previdencirio solidrio. Na verdade, a aposentadoria e o aporte solidrios integram um mesmo mecanismo: um complemento decrescente, saindo de 75 mil pesos, para quem nunca contribuiu, at zero, para quem contribuiu o suficiente para receber 255 mil pesos mensais. A ideia estimular os trabalhados pobres a contribuir, j que, se o fizerem, podero ganhar mais do que a aposentadoria bsica solidria.A implementao desse novo sistema est sendo gradual desde sua implantao em 2008. A primeira etapa, iniciada em julho, previu um benefcio mensal mnimo para os inativos de 60 mil pesos, algo prximo a US$ 133, limitado a quem se situe entre os 40% mais pobres. A estimativa era de que, a partir de 2012, 1,3 milho de chilenos, ou cerca de 8% da populao atual, estivessem incorporadas ao chamado ao Sistema de Aposentadorias Solidrias.

4. CENRIOS E PERSPECTIVAS DOS REGIMES DE FINANCIAMENTO PREVIDENCIRIOS.

Tem sido muito comum nos ltimos tempos, no Brasil, falar-se que o sistema previdencirio deficitrio, apesar de crescente a arrecadao das contribuies sociais. A previdncia social constitui-se em importante patrimnio do trabalhador, protegendo-lhe de eventos ou contingncias presentes e futuros, de modo que o constituinte quis garantir que as contribuies sociais vertidas por esses contribuintes fossem vinculadas, exclusivamente ao pagamento dos seus benefcios. Nesse sentido foi emendada a Constituio Federal, com a insero do artigo 167, XI, atravs da Emenda Constitucional n 20/1998. Ocorre que, despeito dessa inovao, o referido dispositivo constitucional permite que os recursos da seguridade social possam ser destinados a outras finalidades, como suprir necessidade ou cobrir dficit de empresas, fundaes e fundos, desde que precedida de autorizao legislativa especfica, consoante disposto no artigo 167, VIII da Constituio Federal. Nesse diapaso, h um conjunto de interesses, quer do setor pblico no sentido de utilizar-se de parte desses recursos para acudir outras despesas; quer do setor privado, principalmente das seguradoras e previdncia privada, torcendo pela bancarrota da previdncia pblica, para adentrar ainda mais nesse alvissareiro mercado. Sempre que podem evocam o exemplo do Chile, mas apenas os benefcios para os fundos de penso e no para os trabalhadores.Essa clivagem poderia subverter a ordem social, prevista no artigo 193 da Constituio, ficando o trabalhador apenas com a primazia do labor e da contribuio; enquanto o bem-estar ficaria com os exploradores da previdncia privada e o prprio poder pblico faria subverter a justia social, comprometendo o pacto de solidariedade intergeracional, comprometendo a sobrevivncia das futuras geraes. certo que o modelo brasileiro precisa de ajustes pontuais; mas na essncia o regime de repartio simples, dado o seu carter solidrio, ainda o mais justo. Bastam reformas no sistema gerencial e readequao das fontes de financiamento j previstas no artigo 195 da Constituio Federal. Essa diversidade da base de financiamento abrange recursos das contribuies incidentes sobre a folha de salrios e demais rendimentos, das receitas, do faturamento e do lucro das empresas; da receita de concursos de prognsticos e da importao de bens e servios do exterior. Assim, no h que se falar em dficit do sistema previdencirio. Haveria dficit se os valores todos chegassem ao seu destino constitucional e no fossem suficientes para a cobertura das despesas com o pagamento dos aposentados e pensionistas da previdncia social.No alegado dficit da previdncia social precisa-se ponderar alguns aspectos como a utilizao dos recursos arrecadados com as demais contribuies sociais, alm das previdencirias, como: COFINS, CSSL, CPMF e PIS/COFINS Importao. A grande dificuldade que no vem ocorrendo transparncia nos gastos ou nos repasses desses valores para o oramento da seguridade social. Em que pesem as leis oramentrias determinarem que at o dia 20 de cada ms deve a Receita Federal apresentar relatrio da arrecadao mensal e dos repasses efetivados. De igual modo os valores arrecadados atravs do parcelamento especial REFIS em relao aos crditos previdencirios, no so repassados previdncia social. Outro aspecto importante diz respeito s recorrentes autorizaes do Congresso Nacional para utilizao de recursos da seguridade social para outras reas em que pese a previso do art. 167, inciso VIII e XI da Constituio Federal. Por intermdio de sucessivas autorizaes legislativas bilhes de reais tm sido destinados a outras reas distintas da seguridade social.Por fim, outro aspecto que vem impactando a receita previdenciria a previso da Emenda Constitucional 68/2011 que alterou o art, 76 do ADCT prorrogando a Descentralizao das Receitas da Unio- DRU at 2015. Com a DRU fica autorizada a desvinculao de 20% dos valores obtidos pela arrecadao decorrentes de contribuies sociais. Assim, a seguridade social tem que cumprir 100% de suas despesas com apenas 80% dos valores arrecadados. Essas medidas ajudariam a manter o consagrado equilbrio financeiro e atuarial previsto no artigo 201 da Constituio. Lembrando que, nos dizeres do professor Clemilton da Silva Barros[footnoteRef:26], a Aturia cincia do seguro que cuida das previsibilidades do sistema securitrio, investigando a sua viabilidade sob diversos aspectos, levando em conta os riscos protegidos e os recursos disponveis sob as expectativas do presente e do futuro, estabelecendo projees em relao ao envelhecimento da populao, expectativa de vida e ndice de natalidade e informando as possveis variaes no tocante ao nmero de contribuies e beneficirios para que o sistema tome as devidas precaues estabelecendo medidas resolutivas. [26: Barros, op. Cit. ]

O equilbrio atuarial busca estabelecer uma constante na equao previdenciria, sob o ponto de vista estatstico, protegendo o sistema contra possveis desajustes futuros em face da modificao do perfil dos contribuintes, dos segurados e beneficirios, como por exemplo, o aumento da expectativa de vida, o envelhecimento da populao e a alterao do mercado de trabalho. O desequilbrio atuarial implicaria no inevitvel desequilbrio financeiro.O regime de capitalizao funciona muito bem como opo, uma alternativa para complementao dos valores dos proventos para a inatividade; mas no para a previdncia bsica dos trabalhadores. Esta deve continuar sendo universal, pblica, de filiao e contribuio obrigatrias at um determinado valor (atualmente esse limite de contribuio obrigatria de R$ 4.159,00) acima desse valor quem quiser um benefcio maior tem a faculdade de se filiar a uma previdncia complementar privada. Esta tem a liberdade de adotar o regime de capitalizao. Mas, repita-se, sempre de filiao facultativa consoante apregoa a Constituio no seu artigo 202.

5. CONCLUSO.

A cada crise econmica que ocorre, cogita-se em reformar a previdncia social. Por muito tempo o modelo de capitalizao, outrora adotado no Chile, foi tido como um modelo ideal para ser seguido, principalmente pelos agentes financeiros mundiais, nas dcadas de 70 e 80. bem verdade que os efeitos da reforma chilena podem fornecer elementos importantes para a discusso do caso brasileiro. O primeiro deles o fato de que um sistema privado de capitalizao individual s funciona a contento para aqueles cuja renda permite uma capacidade de poupana.Para os trabalhadores de mais baixa renda e com uma maior instabilidade no mercado formal de trabalho, as possibilidades de acumular um fundo que permita retirar uma aposentadoria, de modo a garantir sua sobrevivncia na inatividade, so reduzidas. O resultado que essa parcela da fora de trabalho, mesmo num sistema privado de carter compulsrio, no pode abrir mo da ajuda do Estado. Nesse aspecto a previdncia pblica, com o modelo de financiamento solidrio repartio simples o ideal.A experincia chilena demonstra que a privatizao do sistema previdencirio no foi e nem uma soluo do ponto de vista do equacionamento das finanas pblicas. Em primeiro lugar, o sistema pblico no se extingue com a reforma e continua a ser o principal sistema previdencirio do pas por um longo perodo. Alm disso, a participao do Estado na etapa de transio fundamental. Isso significa que o Governo deve assumir os encargos financeiros que viabilizem o reconhecimento das contribuies feitas ao sistema antigo para os trabalhadores que aderiram ao sistema privado. Alm dessas obrigaes, que esto diretamente ligadas a uma etapa de transio, a experincia chilena tem demonstrado que o Estado ter um compromisso permanente e significativo, decorrente do pagamento das penses assistenciais e da complementao das penses mnimas.O modelo brasileiro tem sido um bom exemplo. Mantem-se uma previdncia bsica compulsria para todos os trabalhadores, que contribuem limitados a um teto, que tambm o limitador do valor dos benefcios, atualmente R$ 4.159,00. Acima desse valor o segurado tem a opo de se filiar a uma previdncia privada, que pode ser aberta, aquela ofertada a qualquer um pelas instituies financeiras ou por uma previdncia fechada, conhecida como Fundos de Penso, que restrita aos empregados daquela empresa, a exemplo da Previ e da CEF, respectivamente do Bando Brasil e Caixa Econmica. Modelo idntico ao que a unio instituiu, recentemente, para os seus servidores efetivos, com a criao da Fundao de Previdncia Complementar do Servidor Pblico Federal FUNPRESP[footnoteRef:27]. Todos esses regimes complementares so de filiao facultativa. [27: Criada pela Lei 12.618/2012.]

A diferena de renda entre os trabalhadores no Brasil e a inconstncia do mercado de trabalho no permitiria um regime privado obrigatrio. Seria uma penalizao para aqueles que esto na informalidade ou que no tem reservas para constituir essa poupana compulsria. A maioria da populao no pode prescindir de uma previdncia social, entendida como uma ao pblica redistributiva, onde quem pode contribui para manter o benefcio daqueles que no podem ou no verteram contribuies suficientes para garantir o pagamento de seus benefcios.A reforma da previdncia social no Brasil deve se pautar pela reafirmao dos preceitos consagrados na Constituio de 1988: o carter pblico e universal do sistema. Isso no significa excluir o setor privado, que constitui, sem dvida, um parceiro importante no processo de aperfeioamento do sistema previdencirio. Ou seja, os regimes pblico e privado no devem ser discutidos enquanto solues alternativas e excludentes, mas, sim, numa perspectiva de parceria e complementaridade, nos moldes das experincias recentes dos pases industrializados. Reformas radicais, feitas no auge de crise econmica, por ideologia ou por convenincia poltica, em regra, criam mais problemas do que solues. Principalmente para a gerao vindoura. Pode no ser para os atuais beneficirios; mas pode atingir a gerao dos nossos filhos.

6.Referncias

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QUZIA FABRICIO MARINHO

a internacionalizao das empresas brasileiras como um fator do processo de integrao econmica.

Artigo apresentado ao curso de ps-graduao graduao e pesquisa Stricto Sensu em Direito Internacional Econmico da Universidade Catlica de Braslia, como requisito parcial para aprovao na matria de Direito da Integrao Regional.

Orientador: Prof. Dr. Wilson de Jesus Beserra de Almeida.

Braslia2013

Artigo de autoria de Quzia Fabrcio Marinho, intitulado "a internacionalizao das empresas brasileiras como um fator do processo de integrao econmica, apresentado como requisito parcial para aprovao na matria de Direito da Integrao Regional, apresentado e aprovado pelo professor da matria abaixo assinado:

_______________________________________________Prof Dr. Wilson de Jesus Beserra de Almeida.Orientador doMestrado em Direito Internacional Econmico - UCB

Braslia2013

a internacionalizao das empresas brasileiras como um fator do processo de integrao econmica.

RESUMO

O presente trabalho procura apontar o desenvolvimento das relaes comerciais, mostrando que o processo de internacionalizao das empresas brasileiras um fator do processo de integrao econmica. Trz uma realidade diferente do que tnhamos h tempos atrs, onde o Brasil era um destino para investimentos de multinacionais estrangeiras. Aos poucos as empresas brasileiras vm conquistando o mundo com seus produtos e servios o que fruto da estabilidade econmica e poltica brasileira, do fortalecimento da moeda brasileira, do aumento da competitividade de nossas empresas locais, devido, em grande parte, experincia adquirida com exportadoras, da liquidez proporcionada pelo crescimento dos mercados de capitais brasileiros, alm do desejo de impulsionar as vendas para regies e pases diferentes. O desenvolvimento econmico dos pases em um mundo globalizado est atrelado suas relaes econmicas. Diante desse cenrio a presente pesquisa inicia a sua anlise sobre o tema trazendo a definio de internacionalizao, fazendo uma abordagem histrica do processo de internacionalizao. Com intuito de aprofundar no tema, apresenta modos de entrada de empresas no exterior e fatores que interferem no processo de internacionalizao. Traz alguns exemplos de multinacionais brasileiras, tais como a Vale, Petrobras e Braskem. Com o intuito de explorar o contedo da pesquisa foram analisados livros e artigos publicados a respeito.

Palavras-chave: Desenvolvimento, relaes comerciais, processo, internacionalizao, empresas, brasileiras, integrao econmica, investimentos, multinacionais, estrangeiras, estabilidade, econmica, exportadora, crescimento, mercado, globalizado.

1 INTRODUO

No princpio do Sculo XXI novas expresses de interdependncia econmica podem ser observadas em escala global, com um aumento no comrcio, na movimentao de capitais, tecnologia, informao em geral e processos de expanso cultural - um fenmeno denominado globalizao. Suas caractersticas fundamentais so aquelas impostas pelos mesmos desenvolvimentos tecnolgicos que impulsionam o crescimento do comrcio e a movimentao de capital, enquanto, simultaneamente, torna inoperantes os mecanismos tradicionais de controle destas atividades.Nos ltimos anos, um processo de regionalizao percorreu o mundo, em paralelo, ao processo de globalizao. Um crescimento espetacular de acordos regionais e bilaterais de comrcio foi testemunhado na maior parte do globo. Nas Amricas, uma mirade de novos acordos comerciais foi estabelecida, incluindo todos os pases e, possivelmente, todas as combinaes possveis entre estes pases. Esta tendncia verdadeira na Europa, igualmente, com a consolidao da Unio Monetria e a rpida expanso da Unio Europia (UE) rumo incorporao dos pases do Leste europeu. Na sia e na frica o interesse por polticas que promovam a integrao regional tambm foi renovado.Ao mesmo tempo, existe um crescente interesse no mundo em desenvolvimento e entre pases desenvolvidos e em desenvolvimento no aprovisionamento de projetos de cooperao regional em reas como a preservao ambiental, a construo de redes de relacionamento transnacionais, a erradicao de doenas epidmicas, a promoo de redes de pesquisa e o estabelecimento de marcos regulatrios ou padres em diferentes reas da poltica econmica.Por um longo perodo, as organizaes brasileiras procuraram estabelecer sua posio no globo de forma controlada, considerando-o uma externalidade. A crescente internacionalizao mundial trouxe como consequncia o desaparecimento da possibilidade de desenvolvimento autnomo e isolado; pois a escala mnima de produo requerida em setores mais dinmicos excede as dimenses dos mercados nacionais, mesmo em economias em escala continental como a brasileira; por conseguinte, a internacionalizao elemento e parte integrante dos desafios postos perante as organizaes brasileiras.Posto isso o presente artigo explora a internacionalizao das empresas brasileiras como um fator do processo de integrao econmica. Em tempos de globalizao crescente, mais comum a existncia de empresas que no se limitam a atuar em apenas um pas. J se foi a poca em que as empresas internacionalizadas eram em sua maioria norte-americanas e em numero menor, firmas europias e do Extremo Oriente. Hoje, alm de haver mais empresas dos pases mais desenvolvidos com atuao internacional, a elas ainda se agregaram congneres dos pases emergentes como o Brasil e de alguns outros pases menos desenvolvidos.

2 PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO

2.1 cONCEITO DE INTERNACIONALIZAO

Para melhor compreenso do tema se faz necessrio definir internacionalizao.Internacionalizao de uma empresa se refere a toda forma de atuao desta empresa no exterior.[footnoteRef:28] [28: MADEIRA, Adriana Betriz e SILVEIRA, Jos Augusto Giesbretch da. Internacionalizao de empresas Teorias e aplicaes, 1 ed. So Paulo, editora Saint Paul, 2013, p. 15. ]

Segundo Welch e Luostarinen (1998), internacionalizao o processo de crescente envolvimento de uma empresa em operaes alm-fronteiras.[footnoteRef:29] [29: HITT, M.A.; IRELAND, D.R.; HOSKISSON, R. E. Administrao Estratgica: Competitividade e Globalizao. 2. ed. Traduo de All Tasks. Reviso tcnica da Paulo Roberto Gio. So Paulo:Cengage Learning, 2008. ]

Apenas para exemplificar no Brasil atual, se o consumidor compra um automvel, com rarssimas excees, estar adquirindo um produto montado pela filial de uma empresa estrangeira, sediada nos Estados Unidos, na Europa ou no Oriente. Ou, estar comprando um produto fabricado no estrangeiro e importado por uma empresa que poder ser tambm uma filial de organizao estrangeira. Entretanto, o ao da carroceria do automvel importado comprado pelo consumidor brasileiro pode, com razovel probabilidade, ser proveniente de minrio de ferro brasileiro exportado por uma empresa brasileira para uma siderrgica no exterior. Esse exemplo serve para ilustrar o trnsito de empresas e produtos entre pases de economia moderna, mas isso poderia ser feito com quase todos os outros bens e servios[footnoteRef:30]. [30: MADEIRA, Adriana Betriz e SILVEIRA, Jos Augusto Giesbretch da. Internacionalizao de empresas Teorias e aplicaes, 1 ed. So Paulo, editora Saint Paul, 2013, p. 13. ]

A internacionalizao de empresas ao longo da histria se apresenta como fenmeno relevante no processo econmico de cada pas e do mundo. as mudanas decorrentes aparecem como um processo evolutivo para garantir a sobrevivncia dos mercados nacionais, do mercado internacional e das prprias empresas. O Brasil vem participando do processo, adequando-se para no perder oportunidades e benefcios dessa nova era, de globalizao, de comrcio sem fronteiras e de dinmica internacional[footnoteRef:31]. [31: MADEIRA, Adriana Betriz e SILVEIRA, Jos Augusto Giesbretch da. Internacionalizao de empresas Teorias e aplicaes, 1 ed. So Paulo, editora Saint Paul, 2013, p. 14. ]

Para se entender o processo de internacionalizao se faz necessrio fazer uma incurso histrica no processo evolutivo das relaes comerciais.

2.2 aNTECEDENTES hISTRICOS DA iNTERNACIONALIZAO

As relaes comerciais comearam a se estabelecer h 5000 a.C, em que as civilizaes da Mesopotmia deixaram de serem nmades, pois precisavam de cultivar a terra para produzirem alimento para subsistncia, o que acabou exigindo a sua fixao em terras da regio. Assim, o cultivo de alimentos e de animais comearam acrescer e gerar um excedente de produo e o estmulo para as primeiras trocas entre grupos.Sculos mais tarde, os mercadores chineses exportavam seda e pedras preciosas para a ndia e Europa. , porm, na Idade Mdia que as grandes rotas comerciais se estabelecem entre o Oriente e o Ocidente. Por volta do sculo XVI surge o comrcio entre colnias da frica e da Amrica e pases colonizadores europeus. A busca por mercadorias raras e a dominao de povos na poca do Imperialismo fez da Inglaterra a mais poderosa e rica nao do mundo, facilitando o aumento da produo txtil e de manufaturados em larga escala. Tinha sido criado o ambiente para a Revoluo Industrial, final do Sculo XVIII, incio do XIX, que pode ser entendida como o marco histrico para o incio do que chamamos hoje de internacionalizao das empresas.

2.3 HISTRICO DA INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS

A atuao brasileira no comrcio alm-fronteira teve seu inicio na poca das colnias com a indstria extrativista dos recursos naturais que eram abundantes no Brasil associada ao baixo custo da mo de obra, particularidades que foram mantidas at o incio da dcada de 1960. Foi s entre a dcada de 1960 e 1970 que as empresas brasileiras iniciaram seu processo de internacionalizao, por meio da exportao de excedentes de produo fato que decorreu das polticas de substituio de importao que vigoravam naquela poca. Na verdade, foi a partir do governo de Juscelino Kubitscheck, iniciado em 1955, que se deu a abertura econmica e das fronteiras produtivas. nesse contexto que muitas multinacionais se instalam em decorrncia da entrada de investimentos e emprstimos.Os incentivos governamentais, estabelecidos entre a dcada de 1970 e 1980 foram imprescindveis para o incio do processo de internalizao do pas, assim como a reduo do risco-pas, devido diversificao de mercados. A dcada de 1970 foi caracterizada por grande atividade de construtoras brasileiras no exterior, particularmente na frica e no Oriente Mdio, o que propiciou a diversificao e abrangncia das indstrias brasileiras.Nos anos 80, as organizaes brasileiras destacaram-se pelos grandes fluxos de investimentos realizados no exterior e, na dcada de 90, em conseqncia da abertura comercial que houve em nosso pas, as empresas brasileiras foram buscar atualizao tecnolgica no exterior, para enfrentar competidores estrangeiros. Esse movimento de internacionalizao caracterizou-se principalmente pelo deslocamento de empresas do setor industrial. O aumento das atividades no mercado brasileiro aconteceu com a estabilizao das condies econmicas a partir do Plano Real, em 1994, que gerou mudanas sociais no crescimento de um mercado de classe mdia. A estabilizao de fatores econmicos favoreceu mudanas sociais e criou um ambiente mais propcio para a internacionalizao de empresas brasileiras. a partir da que se inicia a formao de acordos bilaterais e a criao do Mercosul. A consolidao dessa poltica introduziu novas variveis no planejamento estratgico das empresas brasileiras: primeiramente, os produtos precisavam ser repensados para servir a mercados maiores e nem sempre homogneos; em segundo lugar, as empresas teriam de atuar como multinacionais para conseguir capturar benefcios nesses mercados.Com a crise cambial de 1999 e a desvalorizao do real, a competitividade dos produtos brasileiros no exterior aumentou e gerou estmulos internacionalizao via exportao e freou investimentos diretos no exterior ao final de 2003.O Mercosul vem cumprindo o papel de criar um ambiente para o envolvimento das empresas brasileiras em mercados externos, funcionando como um laboratrio para o treinamento das empresas locais e favorecendo o desenvolvimento das estratgias e habilidades necessrios para a internacionalizao de empresas brasileiras. Como resultado, em 1998, mais 900 empresas brasileiras de diversos setores atuavam em mercados internacionais. Cresceram os investimentos diretos e o comrcio externo entre os membros do Mercosul. Alm disso, o tamanho do mercado, com a estratgia de abertura de baixas taxas de inflao, vem favorecendo o desenvolvimento e crescimento da regio.

3 MODOS DE ENTRADA DE EMPRESAS NO EXTERIOR

A internacionalizao de empresas um processo que pode ser classificado em dois tipos: para dentro (inward) e para fora (outward). Internacionalizao para dentro o nome dado a processos de importao, obteno de licenas ou franquias e aquisio de tecnologia. A internacionalizao por meio de exportao, concesso de licenas ou franquias e investimentos direto no exterior, chama-se internacionalizao para fora[footnoteRef:32]. [32: MADEIRA, Adriana Betriz e SILVEIRA, Jos Augusto Giesbretch da. Internacionalizao de empresas Teorias e aplicaes, 1 ed. So Paulo, editora Saint Paul, 2013, p. 15.]

Uma empresa que pretenda atuar no mercado deve tomar deciso estratgica importante sobre o modo de entrada que ir empregar nesse mercado. Esse modo de entrada um arranjo institucional que interfere na maneira como se d o fluxo de informao, de recursos, de conhecimento e de competncia no processo de entrada e gesto internacional de uma empresa. Em um clssico trabalho sobre modos de entrada Root (1998) classificou em trs classes: 1) modos de entrada por exportao; 2) modos de entrada contratuais, e 3) modos de entrada por investimento[footnoteRef:33]. [33: ROOT, F.R.Entry strategies for international markets. San Francisco: Jessey-Bass, 1998.]

1) Modos de entrada por exportao: limitam-se aos bens que so produzidos no pas de origem e enviados para pases estrangeiros.A exportao pode proporcionar as vantagens de economia de escala, pois no h custos de fabricao em outros pases e grande volume de vendas global. Pode, porem, ter que lidar com as desvantagens de, por exemplo, haver fatores de produo, como matrias-primas, com menor custo em outros pases e/ou regies, elevando com isso o seu custo de transporte. Outra desvantagem seria a existncia de barreiras tarifrias e no tarifrias para os produtos da empresa no pas estrangeiro.2) Modos de entrada contratuais: no envolvem o investimento de capital, mas sim a associao entre a empresa que objetiva o mercado externo e a empresa no pas de destino.3) Modos de entrada por investimento: envolvem investimento de capital e, consequentemente, propriedade e controle.

4 FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO

Um aspecto importante que as empresas no se internacionalizam apenas em funo de saturao do mercado onde atuam. H muitos outros fatores que podem estimular a busca por mercados estrangeiros, como a existncia de consumidores, facilidades regulatrias, estabilidade econmica, incentivos fiscais, equilbrio cambial, existncia de parceiros, facilidades de acesso a fornecedores, convenincia de canais de distribuio, disponibilidade de tecnologia e acesso mo de obra. Mas as razes podem no ser lgicas assim. Veem-se empresas que se internacionalizaram por questes pessoais de seus gestores ou at crenas em uma suposta oportunidade ou similaridade entre consumidores locais e possveis consumidores estrangeiros.H fatores externos e internos que influenciam no processo de internacionalizao.Para o processo de internacionalizao das empresas devem ser levados em conta fatores polticos, econmicos (incluindo cambiais), sociais, culturais, regulatrios (legislativos e jurdicos), comerciais (competitivos e estratgicos), financeiros e ambientais e como eles se modificam ao longo do tempo. So diversos os critrios de escolha do pas onde ser estabelecido o negcio. Em termos econmicos, o produto nacional bruto, a renda nacional, a inflao, o nvel de emprego, a renda per capita, o nvel de consumo por habitante e a taxa de crescimento so fatores que intervm na escolha.Os riscos polticos (representados pela composio tnica, lingustica religiosa, o regime poltico, a incidncia de revoluo e guerras) e o nvel de vida (renda por habitante, hbitos de consumo e existncia de infraestrutura) pesam na seleo do pas ao lado do custo (disponibilidade de recursos energticos, matria-prima, recursos humanos, fornecedores, tarifas, tributos). Os fatores sociais (qualificao da mo de obra, encargos sociais, sindicalizao) tambm desempenham um papel nessa escolha, ao lado de fatores fiscais e jurdicos (impostos, taxas, tributao, regulamentao, legislao) e das relaes com parceiros locais.No que tange os fatores internos como sua estrutura, conhecimento, competncias recursos, capacidade e prprio tomador de deciso.As causas de tendncia de internacionalizao de empresas esto relacionadas busca de trs categorias de benefcios: expanso de mercados, aumento da eficincia e aprendizagem. Em relao expanso de mercados, objetiva-se promover maior capacidade de resposta para os clientes internacionais; fortalecer a posio competitiva da empresa; diversificar geograficamente (novos mercados); reduzir riscos; aproveitar as vantagens dos blocos econmicos; fazer frente s condies de concorrncia em economia mundial cada vez mais unificada; manter os mercados internos e ainda fortalecer a imagem da marca domesticamente.A internacionalizao de uma empresa propicia aprendizagem medida que promove a acumulao de conhecimento, o desenvolvimento de competncias empresariais existentes e aquisio de novas competncias bem como a capacidade da empresa de ultrapassar as barreiras protecionistas[footnoteRef:34]. [34: CYRINO, A.B.;BARCELOS, E.P. Estratgias de internacionalizao: evidncias e reflexes sobre as empresas brasileiras. In: TANURE, B.; DUARTE, R. G.(Org.) Gesto internacional. So Paulo: Ed. Saraiva, 2006; RICUPERO,R.; BARRETO, F.M. A importncia do investimento direto estrangeiro no exterior para o desenvolvimento socioeconmico do pas. In: ALMEIDA, A. (Org.) Internacionalizao de empresas brasileiras: perspectivas e riscos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.]

Os fatores que interferem no processo de internacionalizao podem ser entendidos tambm como riscos de diversas naturezas, tais como: regulamentao governamental, competio no mercado, infraestrutura local, objetivos da organizao, necessidade de controle, recursos internos, bens e capacidades, flexibilidade para se adaptar aos consumidores, aos mercados e ao ambiente.

4.1FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE INTERNACIONALIZAO DAS EMPRESAS BRASILEIRAS[footnoteRef:35] [35: MADEIRA, Adriana Betriz e SILVEIRA, Jos Augusto Giesbretch da. Internacionalizao de empresas Teorias e aplicaes, 1 ed. So Paulo, editora Saint Paul, 2013, p. 57.]

No Brasil, a abertura dos mercados, a implantao de polticas monetrias e fiscais adequadas e as estratgias de privatizao reduziram drasticamente a inflao. Como consequncia, fortaleceu-se o ambiente competitivo domstico. Esses fatores associados aos acordos em mercados regionais estimularam empresas brasileiras a desenharem estratgias de internacionalizao, acompanhando o movimento de inmeras multinacionais estrangeiras para a Amrica Hispnica. Alm de fatores relativos ao ambiente de negcios, os laos culturais e tnicos e as economias de escala aparecem como os principais impulsionadores da internacionalizao das empresas brasileiras no Mercosul.H uma variedade de motivos que estimulam uma empresa brasileira a se internacionalizar. As empresas podem expandir suas atividades comerciais para fora do territrio nacional em decorrncia do recebimento de pedidos inesperados do exterior por parte de uma empresa ou indivduo e ainda para promover a consolidao das relaes com clientes no exterior. A internacionalizao pode viabilizar o crescimento do negcio geralmente quando o mercado interno est saturado ou muito custoso ampliar a participao da empresa nesse mercado e da identificao de oportunidades internacionais de negcio. Ou ainda, a internacionalizao pode propiciar a sobrevivncia da empresa, quando se defronta com a possibilidade de deixar de existir por causa do acirramento da concorrncia e/ou entrada de novas empresas no mercado local ou internacional.As barreiras podem ser relativas s empresas, aos produtos, ao setor e ao ambiente (macro). No caso dos pases desenvolvidos, verificam-se foras internas empresa e foras externas, ligadas ao ambiente em que elas atuam. As foras internas so caractersticas da prpria empresa e de seus produtos. As foras externas so caractersticas da indstria, das atividades de exportao e dos macrofatores do ambiente. Combinados, esses fatores definem a estratgia de exportao de marketing, que pode ser individual ou de cooperao com outras empresas.O quadro abaixo demonstra os diversos fatores impulsionadores da internacionalizao das empresas brasileiras, agrupados em duas classes: originrios da prpria empresa e originrios de ambientes externo empresa.

EmpresaAmbiente externo empresa

Consolidao de relaes com clientes.Sobrevivncia da empresa.Recebimento de pedidos.

Uso de recursos internos de forma eficiente.Ampliao de controle de canais de distribuio.Oportunidades internacionais.

Aproximao do consumidor final.Diversificao de riscos.Entrada de novas empresas no mercado local.

Reduo de custos.Percepo do tomador de deciso.Resposta concorrncia global.

Os fatores capazes de impedir ou desestimular a expanso para outros pases tambm podem ser de carter interno organizao ou ambiental.O quadro seguinte lista fatores que interferem no processo de internacionalizao como barreiras no processo de internacionalizao das empresas brasileira, divididos por internos empresa e oriundos de seu ambiente externo.

EmpresaAmbiente externo empresa

Falta de conhecimento sobre os mercados.Sobrevivncia da empresa.Incentivos inadequados exportao,Inexistncia de incentivos fiscais e governamentais.

Baixa qualidade do produtoFalta de suporte financeiro para as empresas ou falta de acesso a financiamentosPoliticas de taxa de cmbio inadequadosAltos custos de transporte e seguro.

Dificuldade na gesto de recursos.Indisponibilidade de servios de transporteAltos custos de seguroExigncias burocrticas brasileirasExigncias burocrticas do novo local

Dificuldade na gesto de pessoas.Existncia de amplo mercado localDiferenas culturaisCorrupo Protecionismo

Falta de recursos financeirosRegulamentao de mercadosDisponibilidade de infraestruturaAcordos internacionais

A corrupo tanto no Brasil quanto em outros pases foi considerada a barreira mais importante exportao por empresas grandes, com experincia na operao de exportao para diferentes regies do mundo.Relativamente ao Brasil, os autores destacam, como barreiras internas ligadas empresa, falta de conhecimento e de informao de marketing, ou seja, falta de conhecimento a respeito dos mercados para onde vai a exportao e falta de conhecimento em exportao, informaes inadequadas, falta de habilidade de identificar consumidores ou compradores em pases estrangeiras; representao inadequada nos pases estrangeiros ou dificuldade de localizar agentes e distribuidores adequados; escassez de recursos financeiros para conduzir pesquisa de mercado no exterior e oramento de marketing inadequado; recursos humanos caracterizados por falha de foco gerencial e comprometimento para desenvolverem atividades de exportao, alm da falta de capacidade gerencial. Os autores apontam como barreiras internas a baixa qualidade do produto, sua vida curta e sua sensibilidade moda; acrescidas da incapacidade de adaptao tcnica adequada, com baixa qualidade dos controles tcnicos e da matria-prima, alm de falta de experincia para se adaptar e diversificar os produtos.As barreiras externas ou ambientais (macro), relativas indstria (setor), estariam relacionadas estrutura setorial, que se refere ao tamanho inadequado da firma, ou alta concentrao no setor ou carncia de tecnologia; h ainda barreiras vindas da concorrncia, representadas pelo preo alto na existncia de concorrentes agressivos com preos mais baixos. J as barreiras externas de mercado poderiam ser os prprios consumidores estrangeiros, pois eles esto sujeitos imagem nem sempre positiva do produto brasileiro nos mercados externos, com pouca demanda e efeito pas de origem; h ainda a carga negativa de procedimentos, como a documentao de exportao e das condies de trabalho no pas.Por fim, h as barreiras do macroambiente, diretamente ligadas exportao, como protecionismo, regulamentao de mercados estrangeiros, servios de transporte e infraestrutura problemticos, falta de promoo de exportaes e de programas patrocinados pelo governo e problemas cambias. Tambm podem ser indiretamente ligadas exportao, no caso brasileiro, as volatilidades cambiais e nas taxas de juros, acordos internacionais.Alm dos fatores j relacionados, h questo da imagem do pas. Nos mercados altamente consumidores no mundo atual, o Brasil no visto como um produtor de tecnologia, de produtos confiveis ou de atividades que gerem orgulho sua populao, que envaideam seus moradores ou provoquem um movimento de identificao por parte de outros. As empresas brasileiras, na maioria das vezes, entram em um processo de internacionalizao tentando se apoiar em vantagens competitivas que conseguiram consolidar no pas de origem. Como esses diferenciais competitivos no so percebidos l fora por falta de divulgao e, por conseguinte, no h consolidao da imagem percebida internamente, os consumidores simplesmente no conhecem essas empresas e, portanto, no associam seus nomes aos seus impulsos de compra.Devemos ter ateno ao fato de que os fatores que interferem no processo de internacionalizao das empresas brasileiras ou de qualquer origem sempre atuam de modo conjunto. E, principalmente, variam ao longo do tempo. Assim sendo, verificam-se perodos em que as condies resultantes so distintas, o que resultar em processos de internacionalizao diferentes para diferentes perodos.

5 O SURGIMENTO DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS BRASILEIRAS EMNSAs empresas brasileiras iniciaram suas operaes de exportao na dcada de 1950, com pases vizinhos. S no final da dcada de 1990 que sua internacionalizao ganhou ritmo e consistncia. Um relatrio recente elaborado pela Consulting Group (2009) classifica 14 empresas brasileiras entre as 100 concorrentes globais (a China tem 36; a ndia 20; a Rssia, 6). Embora no exista base de dados confivel para fornecer informaes sobre a internacionalizao das empresas brasileiras, no ltimo levantamento feito havia mais de 40 empresas internacionais brasileiras realizando atividades de valor adicionado em partes distintas do mundo. Elas operam em braos diferentes do segmento e no so participantes inter-relacionadas das redes de produo global[footnoteRef:36]. [36: RAMSEY, Jase e ALMEIDA, Andr. A Ascenso das Multinacionais Brasileiras O grande salto de pesos-pesados regionais a verdadeiras multinacionais. Elsevier: Rio de Janeiro, 2010, p. 53.]

Durante a dcada de 1990, as empresas iniciaram suas atividades comerciais em mbito internacional, principalmente, em pases da Amrica Latina. Com a virada do sculo esse cenrio alterou e a maioria dessas empresas preferiram entrar nos mercados internacionais de pases desenvolvidos. Referente concentrao espacial das empresas, estas adotam padres diversificados, sendo que algumas concentram seus investimentos em regies especficas, enquanto outras apresentam uma configurao mais distribuda. Em termos de estrutura de propriedade a aquisio tem sido o modo preferido.

5.1 EXEMPLOS DE ALGUMAS EMPRESAS MULTINACIONAIS BRASILEIRAS

5.1.1 Vale

Conhecida como Companhia Vale do Rio Doce uma das maiores empresas de minerao do mundo, com liderana global em minrio de ferro e operaes mundiais em nquel, cobre, bauxita, mangans, potssio e outros metais no ferrosos. Aps a aquisio, em 2006, da produtora canadense de nquel Inco, no montante de US$17,8 bilhes, a Vale passou a ser uma das principais fornecedoras globais no segmento de ao.A Revista Exame publicou matria intitulada que a Vale uma das empresas que mais cresceram nas Amricas, diz a Fortune. Nessa pesquisa destaca que a Vale a nica empresa brasileira no ranking das 100 que mais cresceram em toda a Amrica, segundo pesquisa da Fortune[footnoteRef:37]. De acordo com a lista, a mineradora do Brasil teve um crescimento mdio nos ltimos trs anos de 45% em resultados, 29% em faturamento, tendo um resultado geral maior em 7%. Noranking, a Vale aparece em 97 lugar, masquem lidera a mineradora americana Silver Wheaton lidera a lista, com um crescimento total mdio de 49% e um aumento de lucro mdio de nada menos que 350% nos ltimos trs anos.[footnoteRef:38] [37: Fortune, Disponvel em http://money.cnn.com/magazines/fortune/fastest-growing/2012/snapshots/1.html Acesso em 30 mai 2013.] [38: Exame, Exame. Com. Disponvel em http://exame.abril.com.br/negocios/noticias/vale-e-uma-das-que-mais-cresceram-nas-americas-diz-fortune?page=1 Acesso em 30 mai 2013.]

O processo de internacionalizao da Vale se deu aps denso desenvolvimento em operaes slidas em seu pas de origem. Essa empresa brasileira optou por expandir suas atividades no exterior com o objetivo de ampliar a base de recursos e participao no segmento mundial de minerais, tornando-se forte concorrente global integrada no setor diversificado de minerao[footnoteRef:39]. [39: RAMSEY, Jase e ALMEIDA, Andr. A Ascenso das Multinacionais Brasileiras O grande salto de pesos-pesados regionais a verdadeiras multinacionais. Elsevier: Rio de Janeiro, 2010, p. 210 e 211.]

Diante da descoberta da reserva gigante de Carajs,[footnoteRef:40] parecia que a Vale no precisava adquiri mais recursos. Entretanto, a empresa entendeu que era mais importante no apenas assegurar recursos, como tambm mercados para suas exportaes de minerais, com o objetivo de estabilizar a demanda. [40: Localizada no Par, Brasil.]

5.1.2 Petrobras

Em 2007, a Petrobrs era a 14 maior empresa de petrleo do mundo[footnoteRef:41] a maior corporao brasileira e a segunda da Amrica Latina em valor de mercado.[footnoteRef:42] No Brasil, ocupava posio dominante em atividades upstream e downstream.[footnoteRef:43] Em funo de grande parte de suas reservas estarem localizadas em guas profundas (mais de 400 metros), a Petrobrs era pioneira mundial em explorao e produo de petrleo nessas condies. Nas atividades de downstream, a capacidade de refino da Petrobrs era a 12 do mundo[footnoteRef:44]. No Brasil, a empresa possua e operava 11 refinarias, sendo responsvel por quase 99% da capacidade de refino do pas; detinha tambm a maior empresa de distribuio de derivados de petrleo, a BR Distribuidora, com 24% do mercado brasileiro[footnoteRef:45]. [41: Petroleum Intelligence Weekly, Janeiro de 2007] [42: http://noticias.uol.com.br/ulnot/economia/2007/02/16/ult4294u175.jhtm] [43: A explorao de petrleo e gs, o desenvolvimento de reservas e a disponibilidade desses produtos na superfcie so denominadas operaes upstream. As operaes denominadas downstream so aquelas relacionadas ao refino e comercializaao de produtos de petrleo.] [44: Petroleum Intelligence Weekly, janeiro de 2007.] [45: http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewfeature&id=1325&language=portuguese]

Atravs da sua rea de Negcio Internacional, a Petrobras operava como empresa integrada de energia, atuando em toda a cadeia de operao da indstria de petrleo e energia (inclusive transmisso e distribuio de energia eltrica). Alm de ter operaes em 14 pases (Angola, Argentina, Bolvia, Colmbia, Mxico, Estados Unidos, Venezuela, Ir, Lbia, Tanznia, Uruguai, Nigria, Peru e Equador),[footnoteRef:46] contava com o apoio de escritrios de representaes em Pequim, no Chile, Cingapura, Houston, Londres, Nova York e Tquio. [46: http://www.gerafuturo.com.br/download/relatorios/investimentos/PETR4.pdf]

Aps investir mais de US$10 bilhes em atividades internacionais nos ltimos 10 anos, a maioria em operaes latino-americanas, a Petrobras gerava receitas operacionais lquidas de R$ 14 bilhes no exterior, o que representava cerca de 9% do