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História da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Dos primeiros trabalhos no Brasil, passando pela sua fundação, até os dias atuaisTRANSCRIPT
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NEUZA ITIOKA
ENCARNANDO
A PALAVRA
LIBERTADORA Um breve histrico da Aliana Bblica Universitria do Brasil
ABU Editora S.C.
Caixa Postal 30505
01000 - So Paulo - SP
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ENCARNANDO A PALAVRA LIBERTADORA - 1 EDIO
Copyright 1981, Neuza Itioka
Copyright 1981, ABU Editora S.C.
Todos os direitos reservados pela
ABU Editora S.C.
Caixa Postal 30505
01000 - So Paulo - SP
1 Edio: 1981
Texto idntico ao livro da 1. edio; digitada, impressa e
distribuda pela Aliana Bblica Universitria do Brasil Regio
Centro-Oeste com permisso da ABU Editora S.C.
Novembro de 1994
Digitao: Grupo-Base da ABU de Braslia
Coordenao: Carluci dos Santos
Editorao eletrnica: Timteo Hiroki Kaji
Texto no submetido a correo ortogrfica e lingntisca
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NDICE
APRESENTAO
1. ANTES DE CHEGAR AO BRASIL
2. CHAMADOS A COMEAR (1957 a 1965)
O Campo e Robert Young
Ruth Siemens e o Nascimento da ABUB
O Ambiente Universitrio
3. CHAMADOS A ORGANIZAR (1966 a 1970)
Enviando e Recebendo
Planejando Treinamento
Recrutando Novos Obreiros
Estabelecendo Contatos
Buscando Equilbrio
Colhendo Frutos
4. CHAMADOS A DEFINIR
Melhorando o Treinamento
Enfrentando Problemas
Recebendo Ajuda
O IPL de Souzas
Afiando Ferro com Ferro
5. CHAMADOS A EXPANDIR
Novos Modelos, Novos Administradores
Uma Mulher na Secretaria
Grupos Aqui e Acol
Eis-nos Aqui para o Ministrio Estudantil
Atividades Duplicadas
A Pretensa Autoctonia
Novos Ventos
Literatura Tambm um Ministrio
Treinando Tambm para Assessores
Veja s... um Relatrio
Os Secundaristas se Movimentam
Eles se Foram, Deixando Saudades
Preparando o Sonhado Congresso Missionrio
A Perspectiva da Sada de Neuza
O Primeiro Congresso Missionrio (Curitiba, 1976)
Concluso
Bases de F da Aliana Bblica Universitria do Brasil
Notas
1.
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1A 1B
APRESENTAO
Quando deixei a Secretaria Executiva da Aliana Bblica Universitria do Brasil, depois de ter trabalhado dez anos no Movimento, me foi pedido escrever um histrico do mesmo. Em 1976 tentei ensaiar alguma coisa nesse sentido, e o material que produzi foi submetido apreciao dos obreiros no Curso de Assessores em Julho de 1977. Recebi muitas crticas, observaes e sugestes. Recentemente recebi o pedido de revisar aquele material, em tempo para constituir leitura prvia para o Congresso de 1982 da ABUB. Dentro da presso de tempo de um ms e meio, fui forada a trabalhar baseada naquele primeiro esboo. Mas usei muito mais os meus relatrios mensais, semestrais e anuais, bem como, as minhas cartas aos assessores, diretores e presidentes de grupos. Esse era o material de que eu dispunha. Usei alguns trechos de Alcance, bem como de Entre-Ns, boletins informativos da poca.
Ainda a recordao, a memria, desempenhou um papel importante na consolidao de muitos fatos. Creio que, estando envolvida na obra estudantil, possvel que eu tenha cometido justias e injustias com respeito ao que vi, percebi, discerni e interpretei. H muita emoo... pois eu o vivi.
Portanto, peo desculpas aos meus leitores por no poder oferecer algo um pouco mais cientfico, ou objetivo, se assim podemos dizer.
O que tentei colocar no papel a histria de algumas geraes de estudantes que captaram uma viso de levar a mensagem de Jesus Cristo na sua simplicidade aos colegas dentro da universidade. No foi fcil. Muita coisa foi feita na base do ensaio e do erro, mas com muita confiana em Deus.
Muita orao, muito entusiasmo, muitas lgrimas, muita alegria, muita infantilidade...
Mas o que constatamos que Deus fiel, apesar de tudo e de todos; apesar da nossa fraqueza, da nossa pequenez, ele faz a sua obra e faz questo de glorificar o seu Nome.
Uma viso nos foi transmitida, e ficamos obcecados em pass-la
frente. Oh! Santa Obsesso!
Neuza Itioka
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2A 2B
1. ANTES DE CHEGAR AO BRASIL
A Aliana Bblica Universitria do Brasil o resultado de
esforos e da teimosia de um punhado de gente que captou uma
viso e que se disps a lev-la adiante. Essa viso poderia parecer
ilusria e impossvel de ser realizada, mas brotava dos coraes
que estavam afinados com a prpria paixo que estava no corao
de Deus: alcanar o mundo perdido com o seu amor, chamar os
pagos ao arrependimento, atravs de juventude estudantil.
Poderamos tomar como ponto de referncia o fim do sculo
XIX e o incio deste sculo como o momento de incio do
movimento dos estudantes na Inglaterra que deu origem
Comunidade Internacional de Estudantes Evanglicos, da qual faz
parte a Aliana Bblica Universitria do Brasil. Como resultado do
avivamento espiritual que sacudiu a Inglaterra nos anos de 1860 a
1880, e como fruto do ministrio dinmico do pastor anglicano
Charles Simeon, os universitrios comearam a se reunir nas
dependncias das escolas para estudar a Bblia e levar adiante a
mensagem evanglica aos seus colegas. Esse trabalho se
desenvolveu de tal forma a se organizar com o nome de Cambridge
Inter-Collegiate Christian Union (CICCU), formado por estudantes,
como diz o nome, da Universidade de Cambridge, Inglaterra1. .A
data oficial do movimento, assim fundado, foi 1877.
No podemos deixar de citar que, j antes da Reforma, o
Esprito de Deus atuava de modo extraordinrio no meio dos
estudantes em Cambridge, em 1516. Naquela mesma universidade,
um grupo de estudantes liderados por Thomas Bilney, leu o Novo
Testamento e experimentou a converso. Estes, mais tarde, tiveram
o privilgio de dar as suas vidas como mrtires pela f evanglica,
participando da Reforma da sua Igreja, na sua terra.
A Noruega foi um pas escolhido por Deus para um
acontecimento evanglico nas universidades, como repercusso do
movimento pietista, gerado na Alemanha, de Hans Nielsen Hauge
(1771-1824). Esse poderoso pregador expunha a Palavra de Deus
sem ter sido reconhecido oficialmente pela Igreja Luterana e, por
isso, teve de passar um tempo dentro da priso. Mas ele foi um
instrumento nas mos de Deus para influenciar e forjar uma
gerao de evanglicos noruegueses, dentre eles homens como Ole
Hallesby, que marcou poca no movimento evanglico estudantil
com a sua vida, ensino e ministrio. Ele patrocinou conferncias
internacionais que no apenas influenciaram a Europa, mas
tambm outras naes. O desenrolar delas culminou na reunio de
Harvard, onde nasceu a Comunidade Internacional de Estudantes
Evanglicos, em 19472.
Este movimento tambm resultado de entrecruzamentos de
diversos movimentos juvenis missionrios como a Associao
Crist de Moos, o Movimento Estudantil Cristo e o Movimento
Estudantil Voluntrios, os quais apareceram nos fins do sculo
passado, como instrumentos de Deus para o crescimento e avano
da igreja. E, com estes, no se pode deixar de citar a influncia de
homens como Dwight L. Moody, o famoso evangelista americano
do sculo passado; John R. Mott, talvez a figura crist mais
influente neste perodo (1880-1930) pela sua atuao na ACM; e
Robert Wilder, um grande apaixonado pela obra missionria, ativo
no Movimento Estudantil Voluntrios. Estes movimentos e pessoas
marcaram presena na formao da igreja protestante em nosso
sculo, bem como na vida universitria dos discpulos espalhados
em vrios centros de estudos superiores3.
O grupo de Cambridge, ou seja, a CICCU, se evidenciou, com
diversos grupos espalhados por toda a Inglaterra e outros pases,
mantendo a fidelidade s doutrinas bsicas da Bblia, quando o
movimento nacional dos estudantes evanglicos, conhecidos como
Student Christian Movement, membro da Federao Mundial de
Estudantes Cristos, comeou a demonstrar evidncias do
abandono das convices evanglicas: no eclesistico e litrgico
imitando o catlico, e no intelectual, os protestantes liberais.
Paulatinamente os conservadores estavam sendo afastados, a Bblia
sendo substituda pela Teologia Moderna, a orao sendo
substituda pela liturgia formalista e quase morta. A resistncia de
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3A 3B
Cambridge, onde os estudantes questionavam essas tendncias do
Student Christian Movement, j era articulada desde 1904. A
CICCU nunca esteve vinculada significativamente ao movimento
nacional (SCM); com todos esses conflitos, o grupo de Cambridge
se separou do movimento nacional britnico.
Em meio onda da teologia liberal, depois da primeira guerra
mundial, no era fcil manter aquela posio tomada pela CICCU.
Fizeram-se vrias tentativas para fazer filiar a CICCU ao
movimento nacional, mas a CICCU no cedeu e, depois de muitas
conversas e negociaes, os representantes da CICCU fizeram uma
pergunta direta e vital: Considera a SCM o sangue de Jesus Cristo
como o ponto central da nossa mensagem? veio a resposta: No,
no central, ainda que lidamos lugar em nosso ensino. Disse
Norman Grubb: Esta resposta definiu a questo, por que ento
podemos lhes explicar que, para ns, o sangue expiatrio de Jesus
Cristo o corao da mensagem, e nunca poderamos nos unir a
um movimento que lhe desse um lugar secundrio4.
O movimento de Cambridge (CICCU) permaneceu
intransigente nessas questes fundamentais e acabou atraindo para
a sua posio inmeros grupos que estavam se decepcionando com
o Student Christian Movement (SCM) e com a Federao Mundial
de Estudantes Cristos, os quais cada vez mais perdiam a sua
nfase nas oraes dirias, na converso pessoal e no esprito
missionrio. Por outro lado, a CICCU acabou formando um
movimento nacional paralelo ao SCM, movimento esse que
chamou Intervarsity Fellowship of Evangelical Unions, em 1928.
A Intervarsity Fellowship of Evangelical Unions, fiel sua
viso missionria, enviou Howard Guinness como primeiro
missionrio ao Canad. Para comprar sua passagem, os estudantes
ingleses levantaram uma oferta de amor vendendo livros e
bicicletas. No Canad, Guinness verificou que de fato Deus havia
preparado o seu caminho para a sua visita. A lenha estava
empilhada, s faltava a fasca para ascender o fogo. Os grupos de
estudantes evanglicos desejosos de estudar a Bblia surgiam nas
universidades, da noite para o dia. Apesar dos estudantes ingleses
admitirem que a visita de Guinness tenha sido uma fasca que deu
lugar ao incndio no Canad, eles sabiam que a Intervarsity
Christian Fellowship do Canad era obra do Esprito Santo5.
O movimento tambm se alastrou at os Estados Unidos com a
iniciativa de Stacey Woods que, obedecendo viso missionria de
no se conformar com as fronteiras do pas, comeou o testemunho
estudantil nas terras das universidades norte-americanas, desde
1939. A Intervarsity Christian Fellowship nos Estados Unidos
tambm no demorou para se formar e solidificar.
O movimento estudantil aparecia tambm na Alemanha, e os
grupos escandinavos mantinham o movimento estudantil vivo,
graas fidelidade do movimento noruegus.
Pouco antes da II Grande Guerra estourar, realizou-se uma
conferncia Internacional de Estudantes Evanglicos que vinham se
repetindo desde 1934. E, em julho de 1939, em Cambridge,
reuniram-se cerca de 800 estudantes representando 33 pases, com
o tema: Cristo , a nossa liberdade. Todos os presentes tinham
conscincia da gravidade do momento que o mundo atravessava. .
Poucos dias depois a Guerra irrompeu, interrompendo as
conferncias anuais. Em 1946, a comisso organizadora da
conferncia se reuniu em Oxford, e verificou que o movimento
havia surgido em vrios pases.
Conforme o movimento se alastrava me vrios pases, ele
demonstrava as mesmas caractersticas de iniciativa estudantil e de
rpido crescimento. Os missionrios e lderes das igrejas
evanglicas da China, por exemplo, observavam, com surpresa
agradvel, o surgimento e o crescimento da Intervarsity Christian
Fellowship da China. O Esprito de Deus movia em vrios lugares,
despertando estudantes universitrios e professores para
estabelecerem o movimento estudantil.
O tipo de organizao dos movimentos varia de pas a pas. No
havia um molde rgido de organizao que deveria ser copiado. A
mensagem e os propsitos permaneciam os mesmos, mas os grupos
autnomos em cada pas eram guiados por Deus para criar
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4A 4B
modelos e mtodos de acordo com as circunstncias e necessidades
de seu pas6.
Voltando a Oxford, a comisso organizadora da conferncia
internacional reuniu-se por um dia e avaliou a situao mundial
do movimento estudantil e a sua histria. Nessa reunio aceitou o
convite norte-americano de se reunir em 1947 na Universidade de
Harvard, a fim de dar ao movimento internacional uma forma mais
permanente que tinha at ento. Assim diz Samuel Escobar: No
fim de agosto de 1947, na Universidade de Harvard, em
Cambridge, Massachusetts, o acordo unnime das delegaes
estudantis ali presentes foi o de prosseguir com a formao de uma
Comunidade Internacional de Estudantes Evanglicos, e assim se
fez. Uma histria de sculos de convices e de iniciativa,
motivadas pelo desejo de anunciar a mensagem de Jesus Cristo e
viv-las nas classes universitrias, convergia na formao da
Comunidade . A declarao, o propsito e as Bases de F,
aprovadas em Harvard, refletem a vontade expressa dos delegados
ali reunidos de no permitir que a falta de previso ao forjar um
Estatuto viesse a dar lugar aos desvios que sempre acontecem no
momento de cansao das geraes7.
2. CHAMADOS A COMEAR (1957 A 1965)
O CAMPO E ROBERT YOUNG
O incio da histria da Aliana Bblica Universitria do Brasil
est vinculada aos nomes de Robert Young, assessor da Intervarsity
Christian Fellowship dos Estados Unidos, que passou alguns anos
no Brasil, e de Ruth Siemens, que veio nossa terra, inicialmente
como professora da Escola Graduada de So Paulo, para ministrar
a americanos residentes nessa cidade. J em 1956, a caminho da
primeira Assemblia Geral da Comunidade Internacional de
Estudantes Evanglicos (CIEE), em Glen Orchard, Ontrio,
Canad, o conhecido evanglico suo Dr. Ren Pach visitou,
juntamente com Robert Young, vrios pases sul-americanos,
incluindo o Brasil. No seu relatrio Ren Poch comunicou a
tremenda urgncia de atender pases da Amrica do Sul, pelo vcuo
espiritual que havia se estabelecido nos meios intelectuais e, ao
mesmo tempo, por ter verificado a grande fome espiritual dos
universitrios. Viu ainda o entusiasmo que os estudantes
mostraram ao saber que o quadro espiritual poderia mudar. Parecia
que as portas se abriam em todo lugar. Por onde o Dr. Ren e
Robert Young iam, verificavam uma boa dose de sinais de
iniciativa estudantil. O relatrio de Pach e Young Assemblia
Geral fez com que aumentasse o interesse pelas terras sul-
americanas, a intercesso por elas e o impulso missionrio nas filas
da CIEE.
Robert Young `chegou ao Brasil em 1957, como assessor
pioneiro, para despertar estudantes brasileiros para a viso e a
tarefa de levar a mensagem de Jesus Cristo na Universidade.
interessante ler um trecho da carta escrita pelo prprio Robert
Young, endereada a Wayne Bragg em fevereiro de 1968:
A histria espiritual do que hoje a Aliana Bblica
Universitria do Brasil comeou na Califrnia, em 6 de
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novembro de 1952. H em minha Bblia uma notinha ao lado
de Josu 22:19, referindo-se a uma chamada e viso que
Deus me deu um dia: Passai-vos para a terra da possesso do Senhor.... Quando o Esprito de Deus comeou a mostrar a vrias pessoas que Ele estava prestes a iniciar um
trabalho bblico entre os estudantes universitrios da
Amrica do Sul, essa terra no se referiu propriamente ao
Brasil, mas aquele grande continente.
Um grupinho de estudantes de San Luis Obispo e de
Santa Brbara estivera reunido em uma montanha mida e
chuvosa, com uma missionria inglesa que tinha passado
vrios anos na China. Ela tinha baseado suas mensagens
em Efsios 1:17-21: O propsito da nossa chamada, As riquezas da nossa chamada e O poder da nossa chamada. Estvamos fascinados com um novo encontro com o Deus vivo e alguns de ns disseram: Senhor, custe o que custar, quero que a Tua vontade se cumpra em minha
vida. Depois de lutar com o Senhor em orao durante os poucos dias que se seguiram, Deus me deu aquele
versculo em Josu e tambm em Gnesis 28:15 e Dt 31:6.
Renunciando minha posio na Intervarsity dos Estados
Unidos no fim daquele ano acadmico, fiz preparativos para
rumar para o sul... Costa Rica em 1953 e Universidade da
Prata, em 1954.
Foi em outubro de 1954 que, pela primeira vez, tive o
privilgio de pisar no solo do pas do futuro. Estive em Santos, em So Paulo, no Rio e em Recife. O primeiro
cristo brasileiro que me encorajou a comear o trabalho
estudantil no Brasil foi Dirk Van Eyeken. Encontramo-nos em
Schenestady (Nova York) e oramos pela sua terra natal.
Mais tarde, o professor Ross Douglas e sua esposa
foram convidados a vir lecionar em So Paulo. Ruth
Siemens, j uma pioneira fixa no Peru, foi chamada para o
Brasil. E a minha prpria volta, muito feliz, foi em 1 de maio
de 1956, saindo da cidade de Corumb. Deus deu aos
estudantes que lhe pertencem uma viso simples e uma
mensagem bsica: Se voc est nesta universidade pela vontade de Deus, ento ela um campo missionrio e voc
missionrio dele aqui. Os estudantes foram incentivados a se reunirem com seus amigos interessados e assim
comearam os estudos bblicos. Cristo em Vs talvez tenha sido o estudo que deu aos estudantes um princpio do
que significava andar com Deus. Assim, o que se poderia
chamar de primeiros grupos foram os que se reuniram no apartamento de Ruth Siemens, na Alameda Ja, em So
Paulo; no Instituto Teolgico da Aeronutica, em So Jos
dos Campos; e em Aracaju, no Nordeste. O Rev. Walter
Kaschel e sua esposa estenderam o seu caloroso e
entusiasta apelo para se comear um trabalho em Curitiba.
Alguns dos estudantes que foram os pioneiros nesses primeiros grupos foram: Julieta e Wangles Breternitz e Lucas
Blanco de Oliveira, em So Paulo; Peter Bork, no ITA;
Madalena Matos e Berenice de Oliveira, em Aracaju;
Rosamaria Agayer Huber e Lydia Polech, em Curitiba. O
primeiro acampamento estudantil no Brasil deu-se em
janeiro de 1958, nas montanhas frias e chuvosas de
Campos do Jordo. O preletor foi o Rev. Walter Kaschel, de
Curitiba. Havia quinze estudantes. Ruth Siemens foi a de das moas. Os rapazes dormiram numa garagem. Foi o ltimo acampamento em poca de frio para o qual os
nordestinos foram convidados, porque os representantes de
Macei quase morreram de frio naquelas noites! Como
resultado desse encontro o grupo de Curitiba comeou a
funcionar. Um retiro foi realizado naquele ano, e um
acampamento evangelstico foi feito com trinta e cinco
participantes, numa praia do Paran. Mais tarde houve outro
importante acampamento em Natal, para despertar interesse
nos estudantes no Norte do pas.
No inverno de 1959, agosto, eu parti para Paris e para o
campo da IFES. Meu papel terminou a. Embora eu tivesse
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passagem de Lisboa ao Rio, o Senhor me chamou de volta
aos Estados Unidos para ficar com meus pais, que estavam
doentes. Embora Deus tenha dado uma viso e o gozo de
alguns dos primeiros passos nessa querida terra, foi Ruth
Siemens quem regou o solo com suas abenoadas lgrimas,
oraes e amoroso interesse pela infinidade de estudantes
brasileiros.
Os anos de implantao da ABU no Brasil, de 1957 a 1962,
foram anos de expectativas, decepes e surpresas. Existia, em
nossa terra, um grupo chamado de Associao Crist de
Acadmicos (ACA), vinculado ao Student Christian Movement j
mencionado. Aparentemente os lderes desse movimento se
ressentiram com o aparecimento da Aliana Bblica Universitria
do Brasil. A presena da ABU foi interpretada como uma ameaa
antiga organizao. As atitudes de alguns lderes evanglicos da
poca deram margem interpretao de que o novo movimento
estava chegando para combater a organizao ecumnica dos
estudantes. Pela literatura que a ACA publicava na poca, podemos
notar muito de cunho evanglico nas suas pginas. Mas seguindo a
orientao que vinha da organizao internacional, a Federao
Mundial de Estudantes, com teologia declaradamente liberal, e
seguindo a liderana de certas alas da igreja no Brasil, e no intuito
de contextualizar a teologia para o ambiente da revoluo social e
poltica pela qual passava o Brasil, a ACA comeou a mudar,
tornando-se integrante daquilo que muitos socilogos da poca
chamavam de processo revolucionrio brasileiro8. Seria exagero
dizer que uma gerao de lderes da mocidade evanglica, sob a
influncia daquela teologia, sucumbiu com a Revoluo de 1964?
A revista ecumnica Testemonium, publicao da prpria
Federao Mundial de Estudantes, comenta o fato com uma auto-
crtica e observao dos movimentos a ela afiliados.
Para um contexto como este em ebulio, era evidente que o
Esprito de Deus impulsionava os pioneiros do movimento
estudantil vinculado Comunidade (CIEE) para dar continuidade
ao trabalho iniciado. Era mais do que necessrio uma orientao
bblica acadmica da juventude universitria brasileira. A Palavra
de Deus tinha que ser recolocada no seu devido lugar de autoridade
para mudar vidas e mentes que tentavam pensar, com sinceros e
honestos questionamentos.
Ruth Siemens e o Nascimento da ABUB
Depois de um estgio no Peru, em 1958 chegou ao Brasil Ruth
Siemens, como professora da Escola Graduada para colnia
americana. Em suas frias e fins de semana aproveitava o tempo
vago para fazer viagens visitando os estudantes em diversas
cidades do Brasil. Nestas viagens ela chegou at Manaus, capital
do estado do Amazonas, num programa intenso de itinerncia .
Logo Ruth instalou em seu apartamento o seu QG da ABU, na
esquina da Alameda Ja com a rua Pamplona. E, nesse ano, foi
organizado o primeiro acampamento oficial de mbito nacional, em
Campos do Jordo, ao qual se referiu Robert Young em sua carta9.
Stio das Figueiras, perto de So Paulo, sediou tambm um dos
acampamentos mais importantes para o incio do movimento
estudantil no Brasil. Sob a direo de Ruth, eram quarenta
universitrios e assessores internacionais, como Stacey Woods,
primeiro Secretrio Geral da Comunidade Internacional de
Estudantes Evanglicos; John White, mdico psiquiatra,
responsvel pelo trabalho de coordenao dos grupos latino-
americanos; Samuel Escobar , professor de letras e pedagogia,
assessor da CIEE; e Robert Young, assessor da Intervarsity
Christian Fellowship dos Estados Unidos, emprestado ao Brasil10
.
O Congresso de Cochabamba que se realizou na Bolvia,
naquela cidade, em 1958, foi um dos fatos importantes para o
Movimento brasileiro, dando o sentido de que a obra iniciada no
era algo isolado, mas sim parte de um corpo em formao na
Amrica Latina. Nesse congresso estiveram presentes dezessete
grupos estudantis, ainda que apenas o Mxico se fizesse presente
como movimento nacional organizado. Nas palavras de Samuel
Escobar, esse acontecimento histrico determinou uma nova etapa
histrica da CIEE, e foi importante em trs sentidos: Primeiro, uma
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tomada de conscincia de que Deus estava em ao na
Universidade latino-americana como nunca antes. Segundo,
transmitiu-se um ensino concentrado e germinador do que iria
contribuir poderosamente para criar todo um estilo de trabalho.
Terceiro, de comum acordo com a Comunidade, visualizou-se uma
estratgia continental11
.
Estavam presentes os pioneiros da obra estudantil na Amrica
Latina: Robert Young, Ruth Siemens, Wayne Bragg (assessor da
Comunidade na rea do Caribe) e diversos profissionais recm-
formados, ativos nos seus respectivos pases, e estudantes
entusiasmados, muitos dos quais se vinculariam mais tarde ao
ministrio estudantil. Representaram o Brasil nesse Congresso,
Lucas Blanco de Oliveira, advogado recm-formado de So Paulo
e Lydia Polech, estudante de letras em Curitiba. Muitas cidades do
Brasil receberam a visita dos assessores da poca: Ruth Siemens e
Robert Young, mas deste o seu incio o movimento brasileiro
caracterizou-se pela iniciativa estudantil. Ruth Siemens comenta
que ento os estudantes vinham aos acampamentos (realizados em
diversos lugares do Brasil) e voltavam s suas cidades
entusiasmados com a viso adquirida e tentavam reunir os seus
colegas para iniciar grupos de ABUs. Outros ainda, ouvindo
acerca do trabalho, tentavam fazer algo semelhante nas suas
cidades e escolas. A pedido do grupo de So Paulo, Lucas Blanco
de Oliveira (Makenzie, Direito) e Peter Bork (ITA, Engenharia)
viajaram at Goinia para realizar a primeira reunio com os
estudantes daquela cidade. Mais tarde um grupo de estudantes
paulistas fez uma visita a Belo Horizonte para incentivar os
estudantes mineiros a iniciar o grupo na cidade12
.
Combinadas as viagens que os assessores faziam com os grupos
incentivados pelas visitas dos estudantes, em breve houve um
nmero razovel de pequenos ncleos de estudantes espalhados por
todo o Brasil, mas a maioria sem quase nenhuma orientao. Deus
provia bons conselheiros em algumas cidades, como o Pr. Dionsio
Pape na cidade de Fortaleza, e o Dr. Ross Douglas em So Paulo, e
pessoas, como a professora Euzi Moraes em Vitria-ES, que
conheceu a IVCF nos EUA, que foram grandes incentivadores do
Movimento. Com o chamado de Robert Young para outros campos
estudantis da Europa, e Ruth Siemens tendo se integrado na equipe
internacional da Comunidade, depois de ter passado um ano nos
Estados Unidos, ela voltou em janeiro de 1961 como assessora de
tempo integral para dar continuidade obra do movimento
estudantil no Brasil. Nessa volta Ruth radicou-se no Rio de Janeiro
e iniciou o grupo carioca. Como fruto de alguns anos de trabalho
incansvel dos assessores e como confirmao de que Deus estava
presente no meio universitrio brasileiro, chamando um povo para
o testemunho estudantil, a ABUB se organizou como Movimento
Nacional em 1962. As dependncias do Acampamento Palavra da
Vida sediaram, na semana santa daquele ano, entre os dias 19 e 21
de abril, as delegaes de 11 grupos da ABUB: Rio de Janeiro
representado por Inia Pinheiro Santana, Betty Antunes de
Oliveira, Theodoro Gevert; Curitiba representado por Antnio
Vigiano, Gunars Sprogis, Lydia Polech; Vitria representado por
Hermes Peyneau, Rosa Laura Moreira, Regina Stange; Niteri
representado por Mrian Silveira, Delcy Francione de Abreu,
Delfio Brando Zambrotti; Sorocaba representado por Paulo
Hornos; So Paulo representado por Paulo Marcos de Campos
Barreto, Nilo Roberto Janson, Janyr Boscatti; Belo Horizonte
representado por Homem Israel Ferreira, Nilse Menezes Lucas,
Maria Izabel Guimares Faria; Goinia representado por Josu Jos
Mota, Adlcio Lima; Juiz de Fora representado por Vasni Calixto
Santana, Maria Matilde Mendes e Beatriz Gotardelo; So Jos dos
Campos representado por Ayrton de Mello Moreira e Samuel
Konishi; Petroplis representado por Dirk Van Eyken; e vrios
delegados observadores dentre eles, Ross Allan Douglas e Aline
Douglas, Julieta Breternitz e Wangles Breternitz, Peter Bork.
E assim comea a ata desse Congresso Nacional:
Aos dezenove dias do ms de abril de mil novecentos e
sessenta e dois, `as dezessete horas e vinte minutos, no salo de
culto do Acampamento Palavra da Vida, situado em Terra Preta,
municpio de Mairipor, reune-se o Primeiro Congresso da Aliana
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Bblica Universitria do Brasil. Faz uso da palavra a senhorita Ruth
Siemens, secretria itinerante da ABU no Brasil, para dar
orientao inicial sobre o que dever tratar o Congresso; pede ela
que se busque a presena de Deus e trs oraes so feitas. Fala o
Senhor Samuel Escobar, demonstrando a sua alegria por ver o
desenvolvimento da ABU no Brasil e apresentando uma palavra de
estmulo... (12)
Nesse Congresso os delegados aprovaram os primeiros
estatutos da ABUB o seu Conselho Administrativo, que tinha a
funo de administrar o movimento. O Conselho Administrativo
era composto por quatro profissionais de instruo superior, dentre
os mais identificados com o trabalho geral da ABUB e eleitos pelo
Congresso, quatro universitrios eleitos dentre os delegados das
ABUs locais e o Secretrio Geral.
O Conselho Administrativo tinha a incumbncia de organizar o
programa financeiro, elaborar e aprovar o oramento anual,
organizar o programa de literatura, planejar o Congresso Anual,
indicar o Secretrio Geral e os secretrios itinerantes, dentre outras
responsabilidades.
Assim, o primeiro Conselho Administrativo da ABUB foi
constitudo por Dirk Van Eyeken, Lucas Blanco de Oliveira,
Wangles Breternitz, Peter Bork e, representando os estudantes,
Antnio Vigiano (de Curitiba), Betty Antunes de Oliveira (do Rio
de Janeiro), Adlcio de Lima (de Goinia) e Paulo Hornos (de
Sorocaba).
O AMBIENTE UNIVERSITRIO
Os anos 60 foram a dcada de divergncias e de conflitos
teolgicos, que foraram os seminrios a adotar uma disciplina
rgida para salvaguardar as suas instituies. Muitos tiveram que se
posicionar diante de novos pensamentos e doutrinas, nem sempre
com as interpretaes bblicas e tradicionais. Muitas escolas
tiveram que fechar as suas portas, pelos srios problemas que os
seminrios tiveram que enfrentar, decorrentes do relativismo
teolgico que dilua as bases de f e da conduta dos prprios
seminaristas. Na tentativa de colocar em ordem as escolas, alguns
alunos foram expulsos e professores demitidos. Colegas de longos
anos de trabalho se separaram, criando mgoas e amarguras no
meio do povo de Deus, criando grandes divises em igrejas e
denominaes.
O cenrio estudantil passava, no incio de 60, por uma
efervescncia poltica muito grande. Havia uma preocupao do
meio estudantil de se conhecer melhor a realidade brasileira,
expresso essa que estava entrando em moda no meio estudantil e
no meio dos intelectuais. O convite era de conhecer os problemas
sociais, econmicos e polticos da nao: nenhum estudante
poderia ficar alienado aos acontecimentos e mudana pela qual
passava o Brasil. A conscincia nacionalista estava sendo
despertada e aguada com a tomada de conhecimento da situao
do pas e com os ataques dos males do imperialismo norte-
americano. A ideologia reinante aceita por muitos estudantes era o
marxismo, que usava a bandeira da justia social convocando os
estudantes a lutarem pelos trabalhadores e camponeses. As
faculdades e escolas superiores eram literalmente focos de agitao
estudantil e os universitrios estavam sendo convocados a
participar dos assuntos que interessavam poltica nacional.
Nessa poca, para se ter uma idia de como iam as coisas, a
estudante Neuza Itioka descobriu, perplexa, que na seo de
Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Cincia e Letras da
Universidade de So Paulo (hoje Faculdade de Educao), quatro
dos veteranos da escola que estavam militando no Partido
Comunista tinham sido lderes de mocidades evanglicas. A
perplexidade se transformou em peso, e o peso no chamado de
Deus para participar do movimento estudantil, e mais tarde para
servir o reino de Deus atravs da assessoria da ABUB.
Somente alguns anos mais tarde ela compreenderia que os
jovens cristos, mesmo tendo uma fraca formao bblica, so
bastantes sensveis questo da injustia e da injustia social, pois
a questo social j assunto apresentado pelos profetas do Velho
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9A 9B
Testamento, os quais na realidade so os verdadeiros arautos da
justia social. Este tema nunca abordado, por exemplo, pelos
filsofos gregos, devido sua cosmoviso de ver a sociedade
dividida em classes. Os profetas, ao contrrio, transmitem a agonia
do corao de Deus, que no suporta o pecado e a injustia contra
qualquer criatura. A sensibilidade e a compaixo sem uma resposta
verdadeira, embasada na Palavra de Deus, podem levar o jovem
cristo a optar por uma outra alternativa: a de militncia poltica
com meios violentos, abandonando a f e o seu compromisso com
Jesus Cristo. (12)
Os acontecimentos polticos que procedem a revoluo de 1964
estavam preocupando os lderes polticos e eclesisticos do Brasil
pelo tom demaggico com que eram desenvolvidos. Assim, na sua
avaliao, a prpria esquerda criticou os fatos e o ambiente que
antecederam a Revoluo de 64:
Apesar, contudo, das circunstncias altamente favorveis
maturao do processo revolucionrio brasileiro, o que se
tem visto, afora as agitaes superficiais, por vezes
aparatosas, mas sem nenhuma profundidade ou penetrao
nos sentimentos e na vida da populao, a estagnao
daquele processo revolucionrio. Ou, pior ainda, a sua
degenerescncia para as piores formas de oportunismo,
explorando as aspiraes populares por reforma. Foi esse
espetculo que proporcionou ao Pas o convulsionado
governo deposto de 1 de abril. Muitos, na verdade quase
toda a esquerda brasileira, interpretaram aquele perodo
malfadado como avano revolucionrio. Mas de fato ele para
nada serviu seno preparar o golpe de abril e o
acastelamento no poder das mais retrgradas foras
reacionrias. Isso porque deu a essas foras a justificativa
de que necessitavam: o alarme provocado pela desordem
administrativa, implantada sombra da inpcia
governamental, aproveitada e explorada por agitao estril
sem nenhuma penetrao no sentimento popular, e
estimulada no mais das vezes por interesses subalternos e
mesquinhas ambies pessoais. isto que permitiu
reao encobrir os seus verdadeiros propsitos, e iludir boa
parte da opinio pblica, com o pretexto de salvao do Pas
do caos que parecia iminente13.
A revoluo de 1964 foi acompanhada de muito euforismo em
muitas igrejas, na sua grande maioria conservadora e bblica, com a
convico de que se salvou a nao de uma revoluo que poderia
desembocar num tipo de totalitarismo de esquerda onde a Igreja de
Jesus Cristo no poderia sobreviver nos moldes atuais. No meio do
povo evanglico havia um sentimento comum de que Deus, o
Senhor, da mais uma oportunidade para a pregao livre do
Evangelho. Mas a euforia no durou muito, pois a igreja evanglica
no Brasil comeou a enfrentar, especialmente no meio da
juventude, um tipo de reao a tudo que cheirava conservador. As
teologias que vieram de alm mar, os pensamentos europeus e
americanos que haviam penetrado nos meios brasileiros atravs dos
seminrios e dos seus professores no iriam desaparecer de um dia
para o outro. A semente havia permanecido e o ecumenismo
acompanhado de ideologia marxista continuou influenciando
escolas de Teologia e, igrejas e, mui particularmente, a juventude.
Tudo o que tinha sabor de teologia conservadora14
, no sentido de
defender os fundamentos bblicos, estava sendo identificado com a
fora reacionria do Pas. Muitos poucos tinham a maturidade de
discernir as implicaes polticas envolvidas em determinadas
posies teolgicas e facilmente e com muita irresponsabilidade
rotulavam de reacionrios e fundamentalistas aqueles que no
adotavam a postura de estar em oposio ao governo, e que no
advogavam a teologia da moda. Neste contexto, os jovens crentes
que sinceramente amavam a Deus, que tinham a sua f pessoal e
uma vida devocional, por se precuparem com as questes sociais
eram taxados de liberais. Eles acabavam se radicalizando, nem
sempre encontrando aceitao e compreenso dos lderes, nem
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10A 10B
obtendo respostas bblicas para as suas questes. Era a
radicalizao para os dois extremos.
Em meio a este clima, a Aliana Bblica Universitria
prosseguia com os seus objetivos de alcanar os estudantes atravs
dos estudantes, pela Palavra de Deus. As atividades, os estudos
bblicos e os acampamentos cresciam em todas as partes do Brasil.
Em 1965 j havia 19 grupos espalhados em todo o Brasil. As
viagens de Ruth Siemens no eram suficientes para providenciar
adequada orientao para os novos grupos. Para poder prover
literatura e material adequado de orientao ao Movimento, e
visando tambm servir a igreja evanglica, formou-se a Junta
Editorial Crist em 1962, composta da Misso Batista
Conservadora e a ABUB. A Junta Editorial Crist iniciou a
publicao de um bom nmero de livros, com o trabalho
supervisionado pelo Dr. Russell Shedd. Em 1965, j tinham sido
publicados o Novo Comentrio Bblico, e os livros Cristianismo
Bsico de John Stott; A Razo do Cristianismo, Cartas do Inferno,
e Palestras que Impressionam, de C.S. Lewis.
Tambm em 1965 o Brasil recebeu pela primeira vez a visita do
Dr. Hans Burki, ento Secretrio de Literatura da Comunidade
Internacional de Estudantes Evanglicos e Secretrio Geral do
movimento estudantil suo. Este percorreu com Ruth Siemens a
imensido do Brasil, apresentando conferncias em diversas
universidades brasileiras. Cerca de doze cidades receberam a visita
do Dr. Burki. Estas conferncias nas faculdades tiveram o nome de
Misso Universitria, pois foi um esforo especial e foi uma
misso aos universitrios. Geralmente as conferncias poderiam ser
classificadas como pr-evangelsticas, tentando tratar de temas
bastante acadmicos, mas incluindo sempre os pontos do
Evangelho para despertar nos ouvintes o interesse pela mensagem
total do evangelho. O que aconteceu em So Paulo foi algo muito
tpico: a diretoria do grupo local era constituda apenas de trs
moas e um rapaz. Na realidade no havia muitos com quem
pudessem contar. A Secretria Geral Ruth Siemens pediu que o
grupo local se encarregasse da organizao da conferncia, ou seja,
da Misso Universitria na cidade de So Paulo. Os quatro
estudantes que representavam a Universidade de So Paulo, na
Pedagogia, Matemtica e Fsica, meio assustados e muito
temerosos, porque tinham que sair do seu grupinho cmodo para
enfrentar a Universidade propriamente dita, tiveram que trabalhar
entrando em contado com diversos grmios e centros acadmicos e
tomar todos os tipos de providncias. Nestes eventos, o Dr. Ross
Douglas deu grande apoio para o trabalho estudantil. Os volante de
convite indicando os temas das conferncias, o local e a data foram
confeccionados e distribudos maciamente. Neste mister esses
estudantes tiveram que fazer das tripas o corao para divulgar,
convidar os colegas, e vir de classe em classe para falar das
conferncias. Os grmios e os centros acadmicos abriram as sua
portas para receber este professor da Sua, doutor em educao
pela Universidade de Zurich e pela Universidade de Chicago.
O conferencista falou em 11 faculdades na cidade de So Paulo,
trazendo ao pblico temas muito interessantes: O Conflito entre o
Humanismo e o Cristianismo na Vida de Pestallozzi, Niilismo na
Filosofia de Nietzsche; Mecanizao e Automao da Vida,
Educao como Investimento, Psicologia e a Realidade da F
Crist, A Busca Humana por um Significado Permanente na Vida.
Nestas conferncias colaboraram como intrpretes pessoas de
destaque no meio evanglico, tais como o Pr. Werner Kashel, em
So Paulo. Diante da demanda do trabalho estudantil no Brasil,
muitos nomes de profissionais ex-abeuenses foram consultados
para atuarem com obreiros, mas, diante da resposta negativa destes,
o Movimento encontrou no casal Carlos e Margaret Lachler
coraes sinceramente preocupados com os estudantes do Brasil.
Tendo aceitado o convite de se tronarem assessores da ABUB, eles
se instalaram numa cidade universitria, So Jos do Rio Preto, e
se matricularam na Faculdade para se tornarem mais eficientes no
ministrio estudantil e se identificarem com a mentalidade
universitria. Todo o interior de So Paulo ficaria sob os seus
cuidados. Tiveram eles calorosa receptividade no meio estudantil
paulista, e foram muito amados pelos abeuenses.
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11A 11B
3. CHAMADOS A ORGANIZAR (1966 A 1970)
ENVIANDO E RECEBENDO
O ano de l966 foi um ano que pode ser considerado como o ano
marco para o movimento brasileiro. Neste ano a Comunidade
(CIEE) organizou o seu Primeiro Seminrio de Capacitao de
Lderes Estudantis, com durao de 30 dias, em Lima, Peru.
Estiveram nada menos que treze pases representados por
delegados seminaristas. O Brasil enviou Ruth Siemens, como
assessora da Comunidade (CIEE) e Neuza Itioka, estudante que
vinha participando h algum tempo do grupo da ABU em So
Paulo. Este encontro proporcionou a visualizao do movimento
no contexto latino-americano, em esprito de companheirismo e
orao, e a procura honesta do lugar da Comunidade dentro de
vrias correntes teolgicas da poca. Trinta dias de ensino, de
orao em conjunto, convivncia com assessores internacionais, o
compartilhar com colegas de diversas naes latino-americanas
acerca da alegria do testemunho estudantil, das lutas e das
dificuldades dos grupos de estudos bblicos nas dependncias das
universidades, tudo isso desafiou as delegadas brasileiras a se
dedicarem mais obra estudantil, bem como deu a viso clara para
onde devia caminhar o movimento nacional. Neste ano tambm a
ABUB recebeu novamente o Dr. Hans Brki, juntamente com sua
esposa, Dra. Agatha Brki-Firenze, presidente internacional do
trabalho de evangelizao entre enfermeiras. Vinha ele com um
programa de treinamento de lderes , que foi realizado em Sacra
Famlia do Tingu, no Rio de Janeiro.
Muitos lderes locais estiveram presentes de: Belm, Rio de
Janeiro, So Paulo, Belo Horizonte, Petroplis, So Jos do Rio
Preto, Curitiba. Foi na semana santa daquele ano, uma semana fria
e chuvosa, mas aquecida com a presena de Deus e com a viso de
que Deus queria que os estudantes brasileiros fizessem algo em
prol do Reino. A liderana da organizao desse Programa de
Treinamento estava nas mos de Ruth Siemens, com a ajuda do
conselheiro Dr. Ross Douglas e Aline Douglas, sua esposa. L se
encontravam os assessores Carlos e Margaret Lachler e Neuza
Itioka, recentemente admitida como assessora de tempo parcial.
Neuza tinha sido presidente da ABU em So Paulo, era formada
em Teologia e cursava Pedagogia na Universidade de So Paulo.
Paulo Medeiros, estudante de Teologia da Faculdade Teolgica
Batista do Sul, estava participando na qualidade do futuro assessor
da ABUB, para a regio do Rio de Janeiro.
No meio da semana, quando o Treinamento estava a caminho,
Wayne Bragg, um dos pioneiros da Comunidade na rea do Caribe,
chegou, aceitando o convite do Conselho Administrativo. Wayne
chegava ao Brasil, depois de ter gasto doze anos de sua vida no
ministrio estudantil, em Porto Rico. Wayne, americano de origem,
com capacidade muito grande de se adaptar a novas situaes,
assimilou rapidamente os costumes brasileiros e discerniu com
muita preciso o momento histrico da igreja Evanglica no Brasil,
para organizar a ABUB. Tinha uma certa genialidade
administrativa que se caracterizava no cuidado e na perfeio, at
nos pequenos detalhes.
Wayne assumiu o cargo de Secretrio Executivo do movimento,
e a ABUB passou a ter o seu boletim de orao, o ntercessor; o
Alcance, boletim de informao com o objetivo de informar o
pblico evanglico acerca do que a ABU, o que faz, o que estava
fazendo; um boletim interno para os estudantes, o Entre Ns. A
experincia de doze anos de assessoria deu a Wayne a facilidade de
estabelecer novos modelos de treinamento para lderes: o Instituto
de Preparao de Lderes, onde os lderes de grupos locais
recebiam preparo para exercer liderana que pudesse dar
verdadeiros frutos, reproduzindo em outros estudantes a viso e a
paixo pelo testemunho estudantil. Com a chegada de Wayne, a
equipe de assessores tambm se organizou para traar planos e
estratgias para o movimento nacional. Na ocasio em que foi
convocada a reunio de Estratgia da ABUB, em So Paulo, em
julho do mesmo ano, mais um casal se integrou no quadro de
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12A 12B
assessores: Dionsio Pape e sua esposa Elaine, que j vinham
participando como conselheiros do grupo em Fortaleza.
Dionsio era pastor batista, conhecedor das terras brasileiras e
profundo amante do povo brasileiro. Tinha voltado ao Canad, em
gozo de frias, e aguardava do Senhor a indicao do novo campo,
quando chegou em suas mos o convite da ABUB para se tronar
assessor do movimento. Dionsio foi designado como responsvel
pela obra estudantil no Nordeste. Ele fez da cidade do Recife o seu
QGpara toda a regio do Nordeste, e ainda pastoreava uma igreja
de fala inglesa.
PLANEJANDO TREINAMENTO
O treinamento de estudantes teve um lugar prioritrio na nova
da ABUB com Wayne Bragg: no incio de l967 aconteceu o
primeiro Instituto de Preparao de Lderes em So Bernardo do
Campo, nas dependncias do Seminrio Presbiteriano
Conservador, com a presena do Dr. Paul Little, ento assessor da
IVCF e diretor de evangelizao e Misses do movimento
americano, e autor de diversos livros, entre eles Como
Compartilhar Sua F. Do Nordeste vieram quatro estudantes
escolhidos com muito carinho pelo assessor Dionsio Pape: Edward
Robinson Cavalcanti (Direito), Elizabeth Coutinho de Barros
(Pedagogia), Isis Carneiro Leo (Letras), Bayard Amorim
(Arquitetura). Desta equipe trs foram mais tarde assessores da
ABUB. Neste IPL estiveram presentes Uriel Heckert (Medicina) de
Juiz de fora, Perrin Smith e Oswaldo Soares Pinto (Engenharia) de
Belo Horizonte; Walter Brepohl (Engenharia) de Curitiba; Ruth
Silveira (Pedagogia) do Rio de Janeiro, Raquel Miranda e Vera
Cione (Pedagogia) de So Paulo, Tsutomu Imada (ITA) de So
Jos dos Campos e Milton Andrade (Engenharia recm- formado),
entre outros. Muitos serviram por muito tempo o movimento
estudantil como assessores, diretores e lderes de seus respectivos
grupos. Sob a direo e sugesto de Paul Little, foi organizado o
Frum Aberto de Evangelizao, no Guaruj, num sbado. Num
dia de muito sol os participantes do IPL desceram praia para
evangelizar os estudantes, jovens, adultos, quem estivesse por l.
No meio daquela gente sofisticada, que ouvia os abeuenses
apresentando o Evangelho, muitos saram de l meneando a
cabea, mas outros prestavam muito ateno, especialmente
aqueles operrios que tinham acabado de assistir a uma exploso
nas dependncias da refinaria de Cubato. Estes abriram o seu
corao para prestar ateno ao depoimento de estudantes e
assessores que se misturavam no meio dos que ouviam para
compartilhar pessoalmente o Evangelho.
Se o IPL, era organizado visando os lderes, o Curso de Frias
era outra modalidade para dar as primeiras informaes aos
estudantes que estariam entrando no movimento. Em julho daquele
ano, no Rio de Janeiro, nas dependncias do Seminrio Teolgico
do Sul, foi realizado o Curso de Frias que congregou cerca de 90
estudantes de todo o Brasil. Ren Padilha, Secretrio Geral para a
Amrica Latina da Comunidade (CIEE), deu a sua colaborao
apresentando a Teologia da Igreja para os participantes; Dr. Russel
Shedd apresentou os estudos expositivos da Primeira Epstola de
Pedro e o Rev. Edzio Chequer, Pastor presbiteriano de Salvador,
apresentou estudos sobre a Realidade Brasileira e Universitria.
Para o Nordeste, o IPL realizado em Garanhuns em janeiro de l968
foi de suma importncia, pois foi neste encontro que a ABUB
conseguiu conquistar coraes apaixonados e comprometidos,
como Mrcio Gueiros, e firmou o amor ao trabalho estudantil nos
coraes de dezenas de estudantes do Nordeste. A viso da obra
foi transmitida para ser passada para outras geraes de estudantes.
O que caracterizou esse IPL no foi as prelees teologicamente
profundas, mas as coisas bastante prticas, como o valor da hora
devocional na vida dos estudantes, discpulos de Cristo na
Universidade, o valor da comunho em orao, e o mtodo
indutivo de estudar a Bblia, impressionando os estudantes que
comearam a descobrir uma dimenso muito rica, at esto
desconhecida por eles. A simplicidade e a praticabilidade do
mtodo da ABU fascinavam os estudantes. Tanto os rapazes como
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as moas, alm de dividir em pequenos grupos de estudos bblicos
para estudarem a Bblia de maneira no tradicional, ainda
encontraram tempo para se reunir em quartos, cada qual nas suas
alas para compartilhar e orar. Este foi o tempo em que muitas
coisas prticas aconteceram no sentido de resolver problemas
pessoais e aprender a verificar como Deus age nas vidas dos
indivduos e na vida dos grupos.
O IPL do NE deixou marcas nas vidas dos seus participantes,
mas o sul pode enviar apenas 10 estudantes que sobreviveram a um
incndio do nibus na viagem, j quase dentro da cidade de
Salvador. Os organizadores decidiram que outro IPL seria feito no
Sul para beneficiar outras regies da ABUB.
A Fazenda Margarida, em Lapa, Paran, sediou o Terceiro
Instituto de Preparao de Lderes, em janeiro de l969, organizado
com todo carinho, pelos assessores, debaixo da liderana de Wayne
Bragg. Teve a durao de 17 dias, na tentativa de se fazer algo
quase que perfeito. O preparo para tal evento foi intenso no sentido
de promover materiais para serem traduzidos, adaptados e escritos.
Os assessores trabalharam na traduo, na datilografia, na
mimeografia, na elaborao de estudos. Cada regio lutou e se
esforou para ter uma representao que expressasse a situao
local, mas nem todos os estudantes que deveriam estar presentes
puderam participar do IPL. Dentre vrios estudantes presentes
achavam-se os do Planalto Central, que estavam participando pela
primeira vez, da cidade de Braslia: Jos Jlio dos Reis (Direito),
Srgio Neri da Mata (Economia), Vera (Psicologia); de So Paulo:
Sara Hayashi (Letras), Saulo Silvrio (Sociologia e Poltica), Mary
Cleme Suilvrio (Servio Social), de Curitiba: David Lipsi
(Medicina), e Dieter Brepohl (Economia e Direito) participava pela
primeira vez de uma realizao da ABUB.
Do Nordeste Dionsio Pape se fez acompanhar de Wilma
Lucena (Medicina) e Terezinha Lopes (profissional, advogada).
Robinson Cavalcanti, que havia comeado a assessoria no NE,
estava em Guayaquil, Equador, participando do Terceiro Seminrio
de Capacitao de Lderes Estudantis. Neste IPL o programa
continha momentos de trabalho para os prprios estudantes
elaborarem guia de estudos bblicos, muita oportunidade de
estudantes se expressarem nas confeces e no preparo de
materiais de orientao. E, num fim de semana, foi organizado um
retiro na praia. No ministrio do ensino participaram, alm dos
assessores da ABUB, Wayne Bragg, Dionsio Pape, Moiss Prisco
dos Santos e Neuza Itioka, o Dr. Nils Friberg, ento professor da
Faculdade Teolgica Batista de So Paulo e o Dr. Hans Brki, que
voltava depois de trs anos. Nils Friberg ficou com a rea de
apologtica da f crist, diante da cincia e da filosofia; o Dr.
Brki ficou com os estudos sobre a maturidade espiritual e com a
exposio de Glatas. Na exposio de Glatas o Dr. Brki marcou
muitas vidas referindo-se ao eu religioso. Ele enfatizou que, em
nome da religio, muitos cristos esto vivendo a vida com Deus
na base do esforo prprio, da auto-determinao, da auto-
dependncia, da auto-suficincia, tomando o lugar de Deus,
controlando todas as coisas, sem permitir que Deus atue em suas
vidas; falando como se dependesse de Deus, mas negando o fato
pela atitude diante dos homens, diante da obra e diante de Deus15
.
RECRUTANDO NOVOS OBREIROS
Sob a administrao de Wayne Bragg que recebeu o cargo de
Secretrio Executivo, os obreiros foram distribudos da seguinte
forma: Ruth Siemens foi enviada para Curitiba, para fortalecer o
grupo local e se responsabilizar pela regio Sul. Carlos Lachler e
Margaret, sua esposa (ela se revelou grande pastora de estudantes)
se firmaram no interior de So Paulo e comearam o discipulado
com Moiss Prisco dos Santos, professor de Geologia que se
empolgava com a filosofia do movimento estudantil. Paulo
Medeiros foi designado para a regio do Rio de Janeiro e Neuza
Itioka para So Paulo capital e o litoral paulista. Dionsio Pape
continuou responsvel por todo o Nordeste, e j comeava a treinar
o estudante Robinson Cavalcanti, que se despontava como lder
estudantil, na cidade do Recife.
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14A 14B
Wayne Bragg era um homem de grande capacidade criativa.
Quando verificou a imensido do Brasil e a dificuldade de vencer a
distncia da comunicao, para cobrir de forma adequada todo
territrio nacional com pouqussimos obreiros, instituiu o cargo de
assessor auxiliar. Convidou profissionais liberais e professores
universitrios, que estavam em contato com a ABU e com os
estudantes, para darem apoio, e colaborarem na transmisso da
viso da obra, na abertura de suas casas para receber os estudantes
e pessoas que j estavam envolvidas no aconselhamento estudantil;
enfim, foram convidados a prestar o servio de assessoria aos
grupos locais onde no havia assessores e onde no era possvel
atendimento por parte deles. J no ano de 1968, alguns professores
universitrios, como o professor Daison Olsany Silva, da
Universidade Federal de Viosa; o professor Descartes Teixeira, do
Instituto Tcnico de Aeronutica de So Jos dos Campos, foram
convidados para integrarem o quadro de assessores auxiliares.
Eram pessoas que dedicavam uma parte do seu tempo ao ministrio
estudantil, sem receberem do Movimento.
Eram ento vrios tipos de assessores: assessor da Comunidade,
como Wayne Bragg, e Ruth Siemens, que trabalhavam em tempo
integral. Carlos Lachler e Margaret, e Dionsio Pape que eram
assessores de tempo integral emprestados por misses estrangeiras,
e assessores nacionais de tempo parcial como Neuza Itioka e Paulo
Medeiros (e mais tarde, Moiss Prisco dos Santos, e Robinson
Cavalcanti). Estes assessores viviam do salrio provisto ou pela
ABUB ou pelas suas misses, mas os assessores auxiliares
trabalhavam como voluntrios.
Novos assessores estavam despontando, mas outros estavam se
despedindo da obra: Ruth Siemens no final de 1968 voltou para os
Estados Unidos, depois de ter dedicado uma dcada completa de
sua vida obra universitria no Brasil. Carlos e Margaret Lachler
depois de quatro anos de ministrio, foram passar um ano de frias
nos Estados Unidos, deixando um substituto treinado por eles, na
sua rea. Dionsio Pape deixou o Brasil no final de 1970, indo ao
Canad, e deixou Robinson Cavalcanti como Secretrio Regional
no Nordeste.
Com o desenvolvimento do nmero de grupos da ABU, com o
aumento das regies atingidas, a antiga estrutura administrativa que
vinha funcionando desde a organizao da ABUB como
movimento nacional, em 1962, no era mais adequada. fazia-se
necessrio adotar uma nova estrutura; assim o Conselho
Administrativo foi substitudo pelo Conselho Diretor, composto de
dois representantes de cada regio (um estudante e um profissional)
e de uma Diretoria, composta de estudantes e profissionais, na sua
maioria residentes em So Paulo. A Diretoria teria que se reunir
mensalmente; o C.D., semestralmente, no interregno dos
Congressos Nacionais, rgo supremo da ABUB.
ESTABELECENDO CONTATOS
Um dos objetivos do Secretrio Executivo, nesses anos, foi de
fazer conhecida a ABUB no mundo evanglico, e assim deu muita
importncia aos contatos com as igrejas evanglicas. As visitas de
grupos da ABU, bem como de assessores s igrejas locais foram
incrementadas.
Por ocasio da Misso Universitria de Samuel Escobar,
realizada em 1968, os grupos da ABU se esforaram por
apresent-lo aos pastores de suas cidades: assim cada cidade
organizou uma reunio para a qual foram convidados os pastores
para ouvirem o assessor estudantil da Amrica Latina, algum que
poderia lhes trazer uma resposta para as muitas perguntas que os
lderes de igrejas tinham em mente. De acordo com Ruth Siemens,
na poca 80% dos jovens crentes que comeavam a freqentar a
Universidade abandonavam a f. No ano seguinte, em 1969, a
Misso Informadora do Brasil, entidade que coordena e facilita a
estada dos missionrios, dando-lhes orientao, prestando-lhes
servio de informao e organizando conferncias para o
desenvolvimento deles, promoveu um Congresso cujo tema era
Como Alcanar a Juventude para Cristo e os preletores principais
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15A 15B
foram Samuel Escobar e Joe Bayly, um antigo assessor da IVCF
dos Estados Unidos. Foi uma oportunidade extraordinria de
contato, de fazer conhecida a ABUB tambm no meio dos
missionrios. Quase toda a equipe de assessores esteve presente:
Wayne Bragg, Carlos Lachler, Dionsio Pape e Neuza Itioka.
O Congresso Latino-Americano de Evangelizao, que mais
tarde ficou sendo conhecido por CLADE I, realizado em Bogot,
Colmbia, tambm contou com a presena de elementos da ABUB:
Wayne Bragg esteve representando o Brasil, juntamente com Ruth
Silveira, estudante de Pedagogia do Rio de Janeiro.
No meio da Universidade os grupos tambm estabeleciam
contatos e organizavam os seus grupos de ABUs.
Djalma Pereira, estudante de Economia, funcionrio do
Banespa, conheceu a ABU em Fortaleza, quando, naquela cidade,
um estudante de Engenharia (Bencio Orlando Saraiva Leo) estava
a frente do trabalho, tentando levar o testemunho estudantil no
meio dos seus colegas. Djalma viu muitas vezes Bencio
trabalhando sozinho, at mesmo colocando cartazes nos murais da
faculdade. Mas ele era ainda da festiva, no estava bem
consciente dos propsitos da ABU.
Logo mais Djalma foi transferido para So Luis do Maranho,
em funo do seu trabalho. Um dia apareceu na agncia do banco
em que trabalhava um ingls queimado de sol e empoeirado. Havia
viajado mais de 20 horas pelas estradas para l chegar, tendo um
nome em suas mos: Djalma Pereira. Ele se apresentou como
Dionsio Pape, pastor que trabalhava com a evangelizao de
estudantes, e disse desejar comear um grupo da ABU naquela
cidade. Dionsio nem tinha onde ficar naquela noite, mas a
hospitalidade nordestina dos irmos logo funcionou. Djalma
hospedou o assessor da ABU, e assim foi se identificando com os
propsitos do Movimento, encantado e apaixonado pela viso que
lhe era transmitida. Visitaram todas as igrejas evanglicas da
cidade naquele fim de semana e Dionsio apresentou aos pastores
os objetivos da ABU. Antes de partir para Recife, Dionsio marcou
um encontro dos universitrios da cidade com Robinson
Cavalcanti, que viria posteriormente para fundar oficialmente a
ABU. De fato, Robinson veio, fundou o grupo e empossou a
primeira diretoria da ABU - So Luis. A primeira presidente foi
uma estudante de Medicina, Euzi Fernandes, e Djalma Pereira foi o
vice-presidente. Deste primeiro grupo participaram Saulo de Tarso
Batista, Joaquim Fortes e uma secundarista muito viva, Silda
Cavalcante. Saulo j conhecia a ABU atravs do grupo de Goinia.
As reunies na casa de Djalma atraram muitos estudantes. No
incio nem todos compreendiam os propsitos do movimento, mas
houve muita orao para que o Esprito Santo fizesse a obra, e
paulatinamente Deus foi amadurecendo o grupo. Djalma foi
conhecido como o pai da ABU - So Luis16
.
Em Campinas, So Paulo, o grupo de estudantes comeou a se
reunir pela iniciativa de uma universitria que conheceu o
testemunho estudantil em So Paulo, e se disps a evangelizar os
seus colegas na faculdade de Medicina.
Juiz de Fora recebia a visita dos assessores; quando algum
passava por Belo Horizonte ou Rio de Janeiro dava uma
esticadinha at aquela cidade. Uriel Heckert e Joel Tibrcio, dois
estudantes de Medicina, continuavam levando avante a viso de
apresentar Jesus Cristo aos colegas, e realizavam reunies de
estudos bblicos, bem como organizavam acampamentos.
Viosa tem uma histria linda. Quem participou intensamente
do nascimento e assistiu s lutas que os estudantes da Universidade
Rural de Minas Gerais desenvolveram para estabelecer o grupo da
ABU, bem como a igreja evanglica local, a primeira da cidade, foi
Ruth Siemens. Alguns estudantes comearam a se reunir com o
propsito da evangelizao estudantil, e no se satisfaziam com a
Universidade apenas. Comearam a pregar o evangelho para os
habitantes da cidade. Os moos foram recebidos a pedrada,
episdio muito comum nas pginas do pioneirismo evanglico17
. O
grupo da ABU cresceu e a igreja tambm cresceu junto com os
pioneiros Jos Cambraia, Juarez Bolsanelo, Amrico Silva e uma
gerao de professores universitrios que fazem carreira hoje na
Universidade Federal de Minas Gerais (a universidade foi
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16A 16B
federalizada): Daison Olsany Silva, Osmar e Rolf Pushman,
George Kings de Morais. Mais tarde, todos eles ajudaram o
Movimento, tendo no meio deles at assessores.
Neste perodo o Planalto Central foi atingido. Um profissional
ps-graduado do ITA, que logo viria a ser um dos assessores
auxiliares, o professor Descartes Teixeira, estava fazendo contatos
com os estudantes na cidade de Braslia. Wayne Bragg e Moiss
Prisco dos Santos tambm viajaram para o planalto, visitando as
cidades de Goinia, Anpolis e Braslia. Como fruto dessas viagens
trs estudantes brasilienses foram ao IPL em 1969, e iniciaram o
grupo da ABU na Capital Federal. Numa viagem posterior, Neuza
Itioka encontrou-se com a professora Lydia Polech, da
Universidade de Gois, uma das fundadoras da ABU Curitiba, e
estabeleceu contato com uma nova gerao de estudantes.
Os assessores eram incansveis nas suas visitas e tentavam
estabelecer contatos com estudantes e lderes de igrejas, mas onde
havia iniciativa estudantil, o grupo vingava de maneira mais sadia.
Assim Orlando Kalil, participando do Curso de Frias onde seu
pastor Edzio Chequer fora preletor, voltou entusiasmado com a
viso captada, e voltou sua cidade de Salvador, Bahia, para
iniciar a obra da ABU.
O grupo de So Paulo fazia viagens missionrias para Santos,
So Jos dos Campos e Campinas, ora para estimular os estudantes
a comearem a obra estudantil, ora para encorajar os grupos
existentes.
Com a sada de Ruth Siemens e Carlos Lachler o imenso
territrio de todo o Brasil menos o Norte e o Nordeste ficava na
mo de trs assessores. Havia grupos de ABU em Curitiba, So
Paulo, So Jos dos Campos, Campinas, So Jos do Rio7 Preto,
Piracicaba, Araraquara, Botucatu, Bauru, Rio de Janeiro, Niteri,
Petrpolis, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Viosa, Goinia,
Anpolis e Braslia. Havia contatos, isto , pessoas e estudante
tentando comear alguma coisa em Santos, Piracicaba, Pres.
Prudente, Ribeiro Preto e Lins no Estado de So Paulo; e Campos,
Volta Redonda no Rio de Janeiro; Londrina, no Estado do Paran;
e em Macei, Aracaju, Terezina, Manaus e na cidade de Areia, na
Paraba.
No meio da aparente expanso, quem estava acompanhando o
desenvolvimento do grupo sentia que o trabalho era moroso. Nem
sempre o entusiasmo inicial persistia no grupo. A dificuldade de
aglutinar os estudantes cristos perseverantes no testemunho
estudantil era grande: eram dois, trs, pouqussimos a assumirem
compromisso com Jesus Cristo na evangelizao na Universidade.
Muitos estudantes vinham e iam, mas os que permaneciam
eram poucos. E os que ficavam eram aqueles que fielmente
permaneciam no trabalho, convencidos do chamado de Deus. Bern
Walter Glaser, Suely Moreno, Leda Assumpo, Tadayoshi Tiba,
Raquel Miranda, Paulo Ferreira, Jarbas Martins eram alguns dos
estudantes comprometidos em So Paulo que teimavam em levar a
viso recebida18
. E, nesse nterim, tambm Deus levantava homens
como Floyd Pierce, um dos ancios da Igreja dos Irmos em
Curitiba, para abrir a sua casa, receber os estudantes e promover
estudos bblicos. Confirmava-se mais e mais o ministrio da
famlia Douglas, radicada desde 1958 no Brasil, em So Paulo,
com sua casa sempre cheia de assessores, profissionais e
estudantes: ora eram os profissionais convocados, ora a Diretoria,
ora uma reunio com pessoas chaves do Movimento, ora recepo
dos assessores internacionais. A casa deles era sempre aberta, com
a hospitalidade da dona Aline Douglas, que fazia a estada das
pessoas muito agradvel. Quantas vezes a Kombi do Dr. Douglas,
o nico veculo da famlia, saa cheia de panelas, cobertores e
bugigangas para um acampamento de universitrios...
H muitos outros nomes, dezenas de pessoas que prestaram
servios a ABU, uma, duas, dezenas de vezes, para possibilitar o
crescimento do testemunho estudantil no Brasil. No possvel
mencionar todos esses nomes.
BUSCANDO EQUILBRIO
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17A 17B
O perodo que se segue pode ser caracterizado como o perodo
de uma busca por equilbrio na Teologia Bblica, diante do desafio
que o mundo teolgico oferecia e diante da exigncia por um
posicionamento da igreja diante dos problemas sociais e polticos.
A igreja evanglica estava inquieta, e isso se patenteava pela
efervescncia por que passavam os seminrios teolgicos. Eles
tambm refletiam o que acontecia no meio estudantil universitrio:
represso no meio estudantil, proibindo qualquer expresso e
manifestao pblica em forma de passeatas ou de greves trouxe
um clima de insegurana, no apenas aos estudantes politizados,
mas tambm aos abeuenses que passavam a ter muita dificuldade
em manter o grupo de estudos bblicos. Os pouqussimos grupos
dentro das faculdades deixaram de funcionar e muitos abeuenses
eram chamados a tomar posio e participar de alguma forma na
vida de poltica estudantil.
Os estudantes de teologia tambm se sentiam chamados a
participar dessa situao, com o constante apelo da teologia da
moda. O ambiente dos seminrios teolgicos e o comportamento
de seus estudantes passavam por rpidas mudanas. O rapaz
consagrado de ontem, que lia diversas vezes a Bblia toda, hoje
havia se tornado contestador das estruturas e autoridades
eclesisticas, das denominaes e do prprio sistema vigente, e
marxizavam. Dentro desse ambiente a ABU era questionada na
sua posio teolgica e ideolgica. O equilbrio era algo difcil
diante daquela situao. A tentao de se radicalizar a direita ou
esquerda era grande. A ABUB era, como Movimento, chamada de
liberal pelos irmos mais conservadores, e pelos que
professavam o liberalismo teolgico da poca era chamada de
fundamentalista19. E muitos dos assessores estavam conscientes
de que tinham de escolher o caminho do meio, no por ser meio...
mas pelo caminho que Jesus Cristo havia palmilhado, no se
identificando com as correntes dos ventos que sopravam, mas
buscando o Reino que ir subsistir eternamente. No pretendiam
ser diferentes por ser diferentes, pois a tentao do momento era de
se identificar com alguma coisa aparentemente mais forte do que a
ABU. Mas a orientao que os irmo da Comunidade davam ao
Movimento, atravs de Hans Burki, Samuel Escobar e Ren
Padilha, ajudava a ABUB a visualizar o que era ser seguidor de
Jesus Cristo, dentro da confuso.
Os estudantes da ABU, os que sinceramente tentavam
evangelizar, bem como os assessores, tinham de enfrentar os
estudantes politizados que no aceitavam nenhuma conversa a
no ser dilogos com terminologia poltica. Assim sendo o livro
Dilogo Entre Cristo e Marx, de Samuel Escobar, foi de grande
ajuda, no sentido de dar uma viso sinttica da ideologia Marxista
confrontada com o Cristianismo.
Foram de valor inestimvel as Misses Universitrias com
conferncias organizadas em diversas faculdades, versando temas
como Marxismo e Cristianismo, Impossibilidade da Liberdade
Humana, Decadncia da Religio. A convivncia com homens
como Samuel Escobar, com o seu dom de mestre, ouvindo-o em
suas conferncias e vendo-o expor o Evangelho, a partir de
assuntos pertinentes a poca e do interesse geral dos estudantes,
faziam com que os abeuenses se fortalecessem em sua f, perdendo
um pouco do complexo de minoria e da timidez na evangelizao
que caracterizavam muitos dos comprometidos com a ABU. A
orientao que os lderes estudantis receberam, tanto a nvel
nacional com a nvel continental, foi a razo de no sucumbirem
diante dos desafios e demandas apresentadas na poca.
Os seminrios de Capacitao de Lderes Estudantis que a
Comunidade (CIEE) organizava, ano aps ano, (1966, 1967, 1969)
influenciavam diretamente o andamento da ABUB. Os assessores
recebiam treinamento em Lima, juntos de colegas da Amrica
Latina.
Com a revoluo de 1964, muitas das organizaes que
atuavam no meio da juventude, bem como no meio das igrejas
evanglicas, deixaram de atuar, especificamente as do Conclio
Mundial de Igrejas e suas diversas agncias. Mas muitas cabeas
pensantes e a liderana dos jovens estavam sob a influncia da
Unio Latino-Americana de Juventude Evanglica que logo mudou
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18A 18B
o seu nome para Unio Latino Americana de Juventude
Ecumnica, bem como da Unio Brasileira de Juventude
Ecumnica. As igrejas evanglicas lutavam para procurar sua
identidade, tentando se definir diante do ecumenismo que vinha de
Genebra.
Os assessores eram desafiados a orar de joelhos diante das
dificuldades e tinham de se preparar intelectualmente e
teologicamente, alm de terem de se informar da situao poltica e
teolgica da juventude evanglica e universitria da poca. A
presso sobre os assessores sobre o que se deve atualizar diante de
inmeras correntes teolgicas era to grande que por vezes se
tornava opresso e fardo pesado a ser carregado.
O ambiente universitrio era lavado pelas ideologias. Um
jovem ao ingressar na faculdade passava necessariamente pela
lavagem cerebral do tipo poltico-ideolgico. Dia e noite, noite e
dia, o assunto que se discutia na Universidade era ideologia, justia
social, poltica estudantil, poltica operria, mudana de estruturas.
A Igreja Catlica, atravs de sua pastoral, criava grupos como a
Juventude Universitria Catlica(JUC), para orientar os
universitrios catlicos; a Juventude Estudantil Catlica (JEC),
para orientar secundaristas; e a Juventude Operria Catlica (JOC),
para ajudar os trabalhadores. Mas nesse perodo ps-64 esses
grupos se transformaram em partidos polticos e comearam a
funcionar clandestinamente, influenciando grandemente a vida
universitria. Moos e moas um pouco mais vivos eram
requisitados a participar dos pequenos grupos de estudos e eram
intensamente trabalhados com a ideologia socialista. Belo
Horizonte era palco de coisas contraditrias: um dia o plpito da
Igreja Metodista Central amanheceu pichado. As mesmas frases de
contestao que se liam em vrios muros das cidades estavam
desenhadas nas paredes que rodeavam o plpito, com frases e
slogan polticos contra pastores, bispos e missionrios da
denominao. Os seus autores eram membros da juventude da
prpria igreja. Isso apenas um pequeno exemplo de como os
jovens estavam suscetveis a toda modalidade de comportamento
que vinha de fora. Chocante e alarmante para muitos membros da
igreja, doloroso para os lderes, peso a ser compartilhado por todo
o verdadeiro Corpo de Cristo.
No cenrio internacional, a Teologia declarava a morte de
Deus atravs do bispo John A. T. Robinson, trazendo
interpretaes e conseqncias funestas para a igreja evanglica,
por um lado. Por outro lado inaugurava-se na Califrnia a Era
Satnica com Anton LaVey. O mundo preparava-se para receber a
invaso de outras tendncias muito diferentes das acostumadas a
assistir. Depois dos movimentos polticos de estudantes que
assolaram as universidades, comeava a despontar aqui e ali o
hipismo e as drogas, como contestao ao que estava estabelecido,
e as portas se abriam para o misticismo e o satanismo declarado20
.
COLHENDO FRUTOS
Em meio presso e luta havia frutos aqui e acol...
Em Belo Horizonte, um estudante de Medicina, Credival Silva
Carvalho, filho de lar evanglico, participava do grmio estudantil
como tesoureiro, e vinha sendo trabalhado com estudos e
doutrinamento ideolgico. Mas o Esprito de Deus estava se
movendo e comeou a inquiet-lo, a partir de um acontecimento: a
invaso da Checoslovquia pelo exrcito Russo (primavera de
1968). Quando se questionava diante desses acontecimentos,
recebeu um convite de Samuel Marques, colega de escola, para
participar do grupo da ABU de Belo Horizonte. Naquele dia quem
falava e dasafiava os universitrios com a mensagem do Evangelho
era o jovem pastor Wadislau Gomes Martins, que na sua juventude
tambm havia abraado a ideologia marxista e militado no partido,
mas que, encontrando-se com Jesus Cristo vivo, havia se tornado
discpulo do Nazareno. O pastor Wadislau chamou os estudantes
de covardes, naquela tarde. Disse-lhe que muitos deles estavam
dispostos a se aventurar com as ideologias, com as drogas e com o
sexo, mas que ningum estava disposto a se aventurar com Jesus
Cristo. Credival disse consigo mesmo: Covarde, no vou ser. Vou
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19A 19B
me aventurar com Jesus Cristo. E a sua aventura continua at
hoje, nos sertes da Amaznia, com mdico missionrio.
O grupo de Belo Horizonte havia recebido um impulso muito
grande quando duas irms, Dilza e Dalva Siqueira Brito,
decidiram-se a fazer algo para o Senhor, na universidade. Dilza era
estudante de Servio Social e Dalva era ainda estudante colegial.
As duas se puseram de joelhos certa noite e oraram: Senhor, se tu
queres que faamos algo na Universidade, usa-nos atravs da ABU;
do contrrio, nada queremos. Assim, algo novo estava
acontecendo naquele grupo que h tempo no via mais vibrao
nem entusiasmo. Dilza e Alva Coutinho, profissional formada em
Assistncia Social, as duas ficavam sentadas na lanchonete perto da
escola para conversar e planejar coisas para o grupo. Assim
surgiam idias, e tinham oportunidade de orar pelo Movimento.
Credival Silva Carvalho chegou ao grupo quando a ABU-Belo
Horizonte estava comeando a se despertar.
Veio ele com perguntas tais como: No entendo por que os
cristos no podem ser cristos as 24 horas do dia. Um outro
estudante que apareceu no grupo de BH foi Ageu Heringer Lisboa.
Ele tambm passava por uma experincia de converso f crist,
abandonando a ideologia que havia abraado como alternativa de
sua vida. O processo comeou quando ele ainda estava na
clandestinidade poltica, lendo um livro de um terico marxista,
para ser melhor naquilo que ele se propusera a ser. Mas Deus
comeava a tocar em seu corao e, no meio de um turbilho de
dvidas, Ageu detectou que havia subido num pedestal de
ideologia e no queria descer de l. Com coragem, porm, aceitou
o desafio que vinha em forma de uma voz interna, e abandonou o
seu orgulho, descendo de onde estava para fazer passar a sua
ideologia por um crivo da crtica. Verificou que ela no resistia
crtica... e, da para voltar f que os seus pais lhe haviam
transmitido desde criana, passou por lutas, mas veio ao encontro
do nico e verdadeiro caminho para Deus: Jesus Cristo.
Um recm-convertido entusiasmado pode revolucionar um
grupo de cristos tmidos. Foi mais ou menos assim em Belo
Horizonte, onde muitos estudantes foram atingidos: espritas,
drogados, crentes igrejeiros passaram por experincias de real
converso.
Numa das viagens de Hans Burki pelas cidades do Brasil,
apresentando conferncias em Misso Universitria, em 1965 ele
chegou at a faculdade de Teologia de So Leopoldo, onde teve a
oportunidade de falar aos estudantes daquela entidade. Naquele
ano, um estudante seminarista viajou mais de 20 horas para ouvir
mais vezes o professor suo, quando em So Paulo, apresentou
vrias outras conferncias e foi preletor de um retiro para
estudantes.
Os anos se passaram, e em 1969 provavelmente muitos poucos
se lembravam da passagem daquele professor suo, pois So
Leopoldo ento era muito diferente. A gerao de estudantes havia
passado e fora substituda por uma outra.
Arzemiro Hoffman, estudante de segundo ano, estava meio
insatisfeito com sua vida. Cursava uma escola para formar pastores
e telogos, mas algo lhe faltava. Resolveu um dia jejuar e
desapareceu do Morro dos Espelhos, como era conhecido o local
onde ficava o seminrio teolgico.
Alguns dos colegas mais ntimos e chegados, como Valdir
Steuernagel, Renatus Porath, Arno Paganelli, percebendo a
ausncia do colega, quiseram saber por onde Arzemiro andara. Na
realidade ele no queria responder s perguntas que lhe faziam,
mas intimidado a confessar, exps a razo da sua ausncia: a busca
de algo mais profundo, uma vida mais perto de Deus. Com
surpresa Arzemiro ouviu seus inquiridores responderem: Mas,
isto que tambm procuramos. Deste incidente nasceu a Ao
Bblica Universitria de So Leopoldo. (ABU de So Leopoldo). O
objetivo era de se reunirem periodicamente, em orao e estudo
bblico, e aprofundar na f. Os estudantes de teologia precisavam
formar tal grupo?
Mais tarde o grupo tomou conhecimento, numa revista, da
existncia da Studenten Mission in Deutschland (SMD), na
Alemanha, que a ABUB de l. Os seminaristas resolveram
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20A 20B
escrever para a SMD pedindo auxlio e orientao para a ao
crist dentro da faculdade. Estabeleceu-se a comunicao
Alemanha-So Leopoldo, Alemanha-So Paulo (ABUB) e Wayne
Bragg, como Secretrio Executivo, recebeu uma carta, informando
existir esse grupo no Sul. Mais do que depressa o Secretrio
Executivo foi estabelecer contado com a ABU de So Leopoldo.
Este grupo teve um papel importante na histria da ABUB, pois os
seus frutos, de pastores assessores, e de estudantes que vieram a
participar no ministrio da obra estudantil, so inmeros. Esses
frutos tambm tm servido como fermento para benefcio da Igreja
Luterana.
4. CHAMADOS A SERVIR
MELHORANDO O TREINAMENTO
Em Petrpolis, num stio encrustado numa das montanhas da
Serra da Mantiqueira, com muita beleza natural e muita ordem e
limpeza que os proprietrios tentaram manter, realizou-se o IPL de
1970, com a durao de 21 dias. L estava reunida toda a famlia da
ABU, os assessores e os lderes estudantis. De acordo com
Robinson Cavalcanti, este foi um dos melhores Institutos de
Preparao de Lderes. Mais uma vez, o esprito de perfeio do
Secretrio Executivo Wayne Bragg funcionou para planejar o
evento nos seus mnimos detalhes. O Dr. Brki novamente veio
colaborar neste IPL. O Dr. James Mannoia, reitor da Faculdade de
Teologia Metodista Livre, contribuiu com algumas palestras sobre
filosofia e teologia.
As palestras do Dr. Brki no consistiam de informaes
intelectualizadas, mas atingiam o mago da vida dos estudantes,
quebrando estruturas mentais, costumes adquiridos na tradio
evanglica, atingindo o corao dos estudantes e, sendo assim, nem
sempre o grupo estava preparado para receber tudo o que tentava
transmitir. Mas ainda que os resultados no tenham sido imediatos,
os participantes levaram a srio os estudos, que marcaram muitas
vidas: de assessores, de estudantes e de profissionais.
Ficou na histria de muitas vidas o dia do silncio. Trinta e
tantos participantes do IPL tiveram que ficar a ss, em silncio, no
tendo nada a seu lado, quer seja livro, rdio ... apenas um caderno e
uma Bblia eram os seus companheiros naquele dia que para muita
gente parecia no acabar. A experincia foi indita, porque muitos
tinham medo de ficar a ss, medo de se conhecer, de se ver, de se
ouvir. Mas a graa foi maior do que o medo e o perfeito amor
lanou fora o temor e todos voltaram sede central um pouco mais
integrados. Alguns ficam nas matas da serra, outros escalaram o
monte e l ouviram Deus cham-los para o ministrio. Um deles
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21A 21B
foi Dieter Brephol, compartilhando que Deus havia falado com ele,
separando-o para o ministrio.
Dentre vrios lderes estudantis estava presente Elezabeth
Coutinho de Barros, estudante de pedagogia de Recife. Neste IPL
ela decidiu entrar no ministrio estudantil, sentindo o chamado de
Deus para comear a assessoria no Recife, ajudando Robinson
Cavalcanti, que j atuava no campo. Orlando Kalil esteve com sua
esposa, recm-casados ainda. No IPL ele decidiu tambm tornar-se
assessor de tempo parcial . A Ao Bblica Universitria de So
Paulo estava presente na pessoa de Valdir Steuernagel, que tomou
conhecimento da filosofia e da estratgia do Movimento estudantil
no Brasil, pela primeira vez.
Dieter Brephol, rica Schellin, Walter Glaser, jarbas Venncio
Martins, Robert Liang Koo, Carlota Smith, Raquiel Miranda, Mary
Elizabeth C. Oliveira, Selva Leo Ribeiro, Luiza e Sara Hayashi,
entre outros, l tambm estiveram. Num fim de semana, bem no
meio do IPL, foi convocado o Congresso nacional da ABUB,
naquele stio de Petrpolis. Alegrias, vitrias ao lado de tristezas e
oportunidade de avaliao ... assim foi o Congresso de 1970.
Por um lado o ingresso oficial do Dr. Diniz Prado de Azambuja
Neto como presidente do movimento nacional trouxe alegria a
muita gente. Algum comentou com muita satisfao:
Agradecemos a Deus por um homem to maduro como o Dr.
Azambuja, que aceitou a presidncia da ABUB. O nome dele j
tinha sido apresentado pelos delegados do Nordeste numa
oportunidade anterior, pois o Dr. Diniz desenvolveu por muito
tempo o seu pastorado na cidade de Recife, ao lado de exercer a
funo de arquiteto.
O que causou um pouco de tristeza a todos os congressistas foi
a sada de Wayne Bragg para os Estados Unidos. O Secretrio
Executivo pediu demisso da ABUB, para se ausentar por alguns
anos, porque pretendia tirar o mestrado e o doutorado em
Aconselhamento Espiritual21
.
Para esta mesma poca, comeo de 70, Deus estava planejando
o surgimento de uma nova gerao de estudantes que iria fazer
histria nas fileiras da ABUB. O curso de Frias em Goinia,
programado para meados de fevereiro, no acampamento Boa
Esperana, foi o cenrio para receber esta gente nova. O curso
estava sendo planejado desde outubro de 1969, quando Neuza
Itioka viajou para o Planalto Central. Entre muitos contatos
estabelecidos, quem de fato ajudou, abrindo as portas da sua casa e
fazendo contato com polticos da cidade, falando com pastores e
missionrios, para tornar possvel a realizao do Curso, foi a
estudante de Pedagogia Duse de Abreu Moura.
O Dr. Russel Shedd estaria nesse Curso, como um dos
preletores, e Wayne Bragg, apesar de ter pedido demisso da
secretaria, com viagem marcada para julho do mesmo ano, ainda
estaria para dar a sua mo. A presena de Robinson Cavalcanti
estava sendo insistentemente requerida. Pela misericrdia de Deus,
e como resultado de cartas e mais cartas trocadas (cinco), e com a
verba providenciada para viajar de avio, Robinson esteve no
Curso para falar sobre Brasil, Universidade e Evangelizao. O Dr.
Russel Shedd abordou o tema Cristologia; os estudos bblicos,
treinando dirigentes, supervisionando os grupos de estudos, ficou