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História da Aliança Bíblica Universitária do Brasil. Dos primeiros trabalhos no Brasil, passando pela sua fundação, até os dias atuais

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  • NEUZA ITIOKA

    ENCARNANDO

    A PALAVRA

    LIBERTADORA Um breve histrico da Aliana Bblica Universitria do Brasil

    ABU Editora S.C.

    Caixa Postal 30505

    01000 - So Paulo - SP

  • ENCARNANDO A PALAVRA LIBERTADORA - 1 EDIO

    Copyright 1981, Neuza Itioka

    Copyright 1981, ABU Editora S.C.

    Todos os direitos reservados pela

    ABU Editora S.C.

    Caixa Postal 30505

    01000 - So Paulo - SP

    1 Edio: 1981

    Texto idntico ao livro da 1. edio; digitada, impressa e

    distribuda pela Aliana Bblica Universitria do Brasil Regio

    Centro-Oeste com permisso da ABU Editora S.C.

    Novembro de 1994

    Digitao: Grupo-Base da ABU de Braslia

    Coordenao: Carluci dos Santos

    Editorao eletrnica: Timteo Hiroki Kaji

    Texto no submetido a correo ortogrfica e lingntisca

  • NDICE

    APRESENTAO

    1. ANTES DE CHEGAR AO BRASIL

    2. CHAMADOS A COMEAR (1957 a 1965)

    O Campo e Robert Young

    Ruth Siemens e o Nascimento da ABUB

    O Ambiente Universitrio

    3. CHAMADOS A ORGANIZAR (1966 a 1970)

    Enviando e Recebendo

    Planejando Treinamento

    Recrutando Novos Obreiros

    Estabelecendo Contatos

    Buscando Equilbrio

    Colhendo Frutos

    4. CHAMADOS A DEFINIR

    Melhorando o Treinamento

    Enfrentando Problemas

    Recebendo Ajuda

    O IPL de Souzas

    Afiando Ferro com Ferro

    5. CHAMADOS A EXPANDIR

    Novos Modelos, Novos Administradores

    Uma Mulher na Secretaria

    Grupos Aqui e Acol

    Eis-nos Aqui para o Ministrio Estudantil

    Atividades Duplicadas

    A Pretensa Autoctonia

    Novos Ventos

    Literatura Tambm um Ministrio

    Treinando Tambm para Assessores

    Veja s... um Relatrio

    Os Secundaristas se Movimentam

    Eles se Foram, Deixando Saudades

    Preparando o Sonhado Congresso Missionrio

    A Perspectiva da Sada de Neuza

    O Primeiro Congresso Missionrio (Curitiba, 1976)

    Concluso

    Bases de F da Aliana Bblica Universitria do Brasil

    Notas

    1.

  • 1A 1B

    APRESENTAO

    Quando deixei a Secretaria Executiva da Aliana Bblica Universitria do Brasil, depois de ter trabalhado dez anos no Movimento, me foi pedido escrever um histrico do mesmo. Em 1976 tentei ensaiar alguma coisa nesse sentido, e o material que produzi foi submetido apreciao dos obreiros no Curso de Assessores em Julho de 1977. Recebi muitas crticas, observaes e sugestes. Recentemente recebi o pedido de revisar aquele material, em tempo para constituir leitura prvia para o Congresso de 1982 da ABUB. Dentro da presso de tempo de um ms e meio, fui forada a trabalhar baseada naquele primeiro esboo. Mas usei muito mais os meus relatrios mensais, semestrais e anuais, bem como, as minhas cartas aos assessores, diretores e presidentes de grupos. Esse era o material de que eu dispunha. Usei alguns trechos de Alcance, bem como de Entre-Ns, boletins informativos da poca.

    Ainda a recordao, a memria, desempenhou um papel importante na consolidao de muitos fatos. Creio que, estando envolvida na obra estudantil, possvel que eu tenha cometido justias e injustias com respeito ao que vi, percebi, discerni e interpretei. H muita emoo... pois eu o vivi.

    Portanto, peo desculpas aos meus leitores por no poder oferecer algo um pouco mais cientfico, ou objetivo, se assim podemos dizer.

    O que tentei colocar no papel a histria de algumas geraes de estudantes que captaram uma viso de levar a mensagem de Jesus Cristo na sua simplicidade aos colegas dentro da universidade. No foi fcil. Muita coisa foi feita na base do ensaio e do erro, mas com muita confiana em Deus.

    Muita orao, muito entusiasmo, muitas lgrimas, muita alegria, muita infantilidade...

    Mas o que constatamos que Deus fiel, apesar de tudo e de todos; apesar da nossa fraqueza, da nossa pequenez, ele faz a sua obra e faz questo de glorificar o seu Nome.

    Uma viso nos foi transmitida, e ficamos obcecados em pass-la

    frente. Oh! Santa Obsesso!

    Neuza Itioka

  • 2A 2B

    1. ANTES DE CHEGAR AO BRASIL

    A Aliana Bblica Universitria do Brasil o resultado de

    esforos e da teimosia de um punhado de gente que captou uma

    viso e que se disps a lev-la adiante. Essa viso poderia parecer

    ilusria e impossvel de ser realizada, mas brotava dos coraes

    que estavam afinados com a prpria paixo que estava no corao

    de Deus: alcanar o mundo perdido com o seu amor, chamar os

    pagos ao arrependimento, atravs de juventude estudantil.

    Poderamos tomar como ponto de referncia o fim do sculo

    XIX e o incio deste sculo como o momento de incio do

    movimento dos estudantes na Inglaterra que deu origem

    Comunidade Internacional de Estudantes Evanglicos, da qual faz

    parte a Aliana Bblica Universitria do Brasil. Como resultado do

    avivamento espiritual que sacudiu a Inglaterra nos anos de 1860 a

    1880, e como fruto do ministrio dinmico do pastor anglicano

    Charles Simeon, os universitrios comearam a se reunir nas

    dependncias das escolas para estudar a Bblia e levar adiante a

    mensagem evanglica aos seus colegas. Esse trabalho se

    desenvolveu de tal forma a se organizar com o nome de Cambridge

    Inter-Collegiate Christian Union (CICCU), formado por estudantes,

    como diz o nome, da Universidade de Cambridge, Inglaterra1. .A

    data oficial do movimento, assim fundado, foi 1877.

    No podemos deixar de citar que, j antes da Reforma, o

    Esprito de Deus atuava de modo extraordinrio no meio dos

    estudantes em Cambridge, em 1516. Naquela mesma universidade,

    um grupo de estudantes liderados por Thomas Bilney, leu o Novo

    Testamento e experimentou a converso. Estes, mais tarde, tiveram

    o privilgio de dar as suas vidas como mrtires pela f evanglica,

    participando da Reforma da sua Igreja, na sua terra.

    A Noruega foi um pas escolhido por Deus para um

    acontecimento evanglico nas universidades, como repercusso do

    movimento pietista, gerado na Alemanha, de Hans Nielsen Hauge

    (1771-1824). Esse poderoso pregador expunha a Palavra de Deus

    sem ter sido reconhecido oficialmente pela Igreja Luterana e, por

    isso, teve de passar um tempo dentro da priso. Mas ele foi um

    instrumento nas mos de Deus para influenciar e forjar uma

    gerao de evanglicos noruegueses, dentre eles homens como Ole

    Hallesby, que marcou poca no movimento evanglico estudantil

    com a sua vida, ensino e ministrio. Ele patrocinou conferncias

    internacionais que no apenas influenciaram a Europa, mas

    tambm outras naes. O desenrolar delas culminou na reunio de

    Harvard, onde nasceu a Comunidade Internacional de Estudantes

    Evanglicos, em 19472.

    Este movimento tambm resultado de entrecruzamentos de

    diversos movimentos juvenis missionrios como a Associao

    Crist de Moos, o Movimento Estudantil Cristo e o Movimento

    Estudantil Voluntrios, os quais apareceram nos fins do sculo

    passado, como instrumentos de Deus para o crescimento e avano

    da igreja. E, com estes, no se pode deixar de citar a influncia de

    homens como Dwight L. Moody, o famoso evangelista americano

    do sculo passado; John R. Mott, talvez a figura crist mais

    influente neste perodo (1880-1930) pela sua atuao na ACM; e

    Robert Wilder, um grande apaixonado pela obra missionria, ativo

    no Movimento Estudantil Voluntrios. Estes movimentos e pessoas

    marcaram presena na formao da igreja protestante em nosso

    sculo, bem como na vida universitria dos discpulos espalhados

    em vrios centros de estudos superiores3.

    O grupo de Cambridge, ou seja, a CICCU, se evidenciou, com

    diversos grupos espalhados por toda a Inglaterra e outros pases,

    mantendo a fidelidade s doutrinas bsicas da Bblia, quando o

    movimento nacional dos estudantes evanglicos, conhecidos como

    Student Christian Movement, membro da Federao Mundial de

    Estudantes Cristos, comeou a demonstrar evidncias do

    abandono das convices evanglicas: no eclesistico e litrgico

    imitando o catlico, e no intelectual, os protestantes liberais.

    Paulatinamente os conservadores estavam sendo afastados, a Bblia

    sendo substituda pela Teologia Moderna, a orao sendo

    substituda pela liturgia formalista e quase morta. A resistncia de

  • 3A 3B

    Cambridge, onde os estudantes questionavam essas tendncias do

    Student Christian Movement, j era articulada desde 1904. A

    CICCU nunca esteve vinculada significativamente ao movimento

    nacional (SCM); com todos esses conflitos, o grupo de Cambridge

    se separou do movimento nacional britnico.

    Em meio onda da teologia liberal, depois da primeira guerra

    mundial, no era fcil manter aquela posio tomada pela CICCU.

    Fizeram-se vrias tentativas para fazer filiar a CICCU ao

    movimento nacional, mas a CICCU no cedeu e, depois de muitas

    conversas e negociaes, os representantes da CICCU fizeram uma

    pergunta direta e vital: Considera a SCM o sangue de Jesus Cristo

    como o ponto central da nossa mensagem? veio a resposta: No,

    no central, ainda que lidamos lugar em nosso ensino. Disse

    Norman Grubb: Esta resposta definiu a questo, por que ento

    podemos lhes explicar que, para ns, o sangue expiatrio de Jesus

    Cristo o corao da mensagem, e nunca poderamos nos unir a

    um movimento que lhe desse um lugar secundrio4.

    O movimento de Cambridge (CICCU) permaneceu

    intransigente nessas questes fundamentais e acabou atraindo para

    a sua posio inmeros grupos que estavam se decepcionando com

    o Student Christian Movement (SCM) e com a Federao Mundial

    de Estudantes Cristos, os quais cada vez mais perdiam a sua

    nfase nas oraes dirias, na converso pessoal e no esprito

    missionrio. Por outro lado, a CICCU acabou formando um

    movimento nacional paralelo ao SCM, movimento esse que

    chamou Intervarsity Fellowship of Evangelical Unions, em 1928.

    A Intervarsity Fellowship of Evangelical Unions, fiel sua

    viso missionria, enviou Howard Guinness como primeiro

    missionrio ao Canad. Para comprar sua passagem, os estudantes

    ingleses levantaram uma oferta de amor vendendo livros e

    bicicletas. No Canad, Guinness verificou que de fato Deus havia

    preparado o seu caminho para a sua visita. A lenha estava

    empilhada, s faltava a fasca para ascender o fogo. Os grupos de

    estudantes evanglicos desejosos de estudar a Bblia surgiam nas

    universidades, da noite para o dia. Apesar dos estudantes ingleses

    admitirem que a visita de Guinness tenha sido uma fasca que deu

    lugar ao incndio no Canad, eles sabiam que a Intervarsity

    Christian Fellowship do Canad era obra do Esprito Santo5.

    O movimento tambm se alastrou at os Estados Unidos com a

    iniciativa de Stacey Woods que, obedecendo viso missionria de

    no se conformar com as fronteiras do pas, comeou o testemunho

    estudantil nas terras das universidades norte-americanas, desde

    1939. A Intervarsity Christian Fellowship nos Estados Unidos

    tambm no demorou para se formar e solidificar.

    O movimento estudantil aparecia tambm na Alemanha, e os

    grupos escandinavos mantinham o movimento estudantil vivo,

    graas fidelidade do movimento noruegus.

    Pouco antes da II Grande Guerra estourar, realizou-se uma

    conferncia Internacional de Estudantes Evanglicos que vinham se

    repetindo desde 1934. E, em julho de 1939, em Cambridge,

    reuniram-se cerca de 800 estudantes representando 33 pases, com

    o tema: Cristo , a nossa liberdade. Todos os presentes tinham

    conscincia da gravidade do momento que o mundo atravessava. .

    Poucos dias depois a Guerra irrompeu, interrompendo as

    conferncias anuais. Em 1946, a comisso organizadora da

    conferncia se reuniu em Oxford, e verificou que o movimento

    havia surgido em vrios pases.

    Conforme o movimento se alastrava me vrios pases, ele

    demonstrava as mesmas caractersticas de iniciativa estudantil e de

    rpido crescimento. Os missionrios e lderes das igrejas

    evanglicas da China, por exemplo, observavam, com surpresa

    agradvel, o surgimento e o crescimento da Intervarsity Christian

    Fellowship da China. O Esprito de Deus movia em vrios lugares,

    despertando estudantes universitrios e professores para

    estabelecerem o movimento estudantil.

    O tipo de organizao dos movimentos varia de pas a pas. No

    havia um molde rgido de organizao que deveria ser copiado. A

    mensagem e os propsitos permaneciam os mesmos, mas os grupos

    autnomos em cada pas eram guiados por Deus para criar

  • 4A 4B

    modelos e mtodos de acordo com as circunstncias e necessidades

    de seu pas6.

    Voltando a Oxford, a comisso organizadora da conferncia

    internacional reuniu-se por um dia e avaliou a situao mundial

    do movimento estudantil e a sua histria. Nessa reunio aceitou o

    convite norte-americano de se reunir em 1947 na Universidade de

    Harvard, a fim de dar ao movimento internacional uma forma mais

    permanente que tinha at ento. Assim diz Samuel Escobar: No

    fim de agosto de 1947, na Universidade de Harvard, em

    Cambridge, Massachusetts, o acordo unnime das delegaes

    estudantis ali presentes foi o de prosseguir com a formao de uma

    Comunidade Internacional de Estudantes Evanglicos, e assim se

    fez. Uma histria de sculos de convices e de iniciativa,

    motivadas pelo desejo de anunciar a mensagem de Jesus Cristo e

    viv-las nas classes universitrias, convergia na formao da

    Comunidade . A declarao, o propsito e as Bases de F,

    aprovadas em Harvard, refletem a vontade expressa dos delegados

    ali reunidos de no permitir que a falta de previso ao forjar um

    Estatuto viesse a dar lugar aos desvios que sempre acontecem no

    momento de cansao das geraes7.

    2. CHAMADOS A COMEAR (1957 A 1965)

    O CAMPO E ROBERT YOUNG

    O incio da histria da Aliana Bblica Universitria do Brasil

    est vinculada aos nomes de Robert Young, assessor da Intervarsity

    Christian Fellowship dos Estados Unidos, que passou alguns anos

    no Brasil, e de Ruth Siemens, que veio nossa terra, inicialmente

    como professora da Escola Graduada de So Paulo, para ministrar

    a americanos residentes nessa cidade. J em 1956, a caminho da

    primeira Assemblia Geral da Comunidade Internacional de

    Estudantes Evanglicos (CIEE), em Glen Orchard, Ontrio,

    Canad, o conhecido evanglico suo Dr. Ren Pach visitou,

    juntamente com Robert Young, vrios pases sul-americanos,

    incluindo o Brasil. No seu relatrio Ren Poch comunicou a

    tremenda urgncia de atender pases da Amrica do Sul, pelo vcuo

    espiritual que havia se estabelecido nos meios intelectuais e, ao

    mesmo tempo, por ter verificado a grande fome espiritual dos

    universitrios. Viu ainda o entusiasmo que os estudantes

    mostraram ao saber que o quadro espiritual poderia mudar. Parecia

    que as portas se abriam em todo lugar. Por onde o Dr. Ren e

    Robert Young iam, verificavam uma boa dose de sinais de

    iniciativa estudantil. O relatrio de Pach e Young Assemblia

    Geral fez com que aumentasse o interesse pelas terras sul-

    americanas, a intercesso por elas e o impulso missionrio nas filas

    da CIEE.

    Robert Young `chegou ao Brasil em 1957, como assessor

    pioneiro, para despertar estudantes brasileiros para a viso e a

    tarefa de levar a mensagem de Jesus Cristo na Universidade.

    interessante ler um trecho da carta escrita pelo prprio Robert

    Young, endereada a Wayne Bragg em fevereiro de 1968:

    A histria espiritual do que hoje a Aliana Bblica

    Universitria do Brasil comeou na Califrnia, em 6 de

  • 5A 5B

    novembro de 1952. H em minha Bblia uma notinha ao lado

    de Josu 22:19, referindo-se a uma chamada e viso que

    Deus me deu um dia: Passai-vos para a terra da possesso do Senhor.... Quando o Esprito de Deus comeou a mostrar a vrias pessoas que Ele estava prestes a iniciar um

    trabalho bblico entre os estudantes universitrios da

    Amrica do Sul, essa terra no se referiu propriamente ao

    Brasil, mas aquele grande continente.

    Um grupinho de estudantes de San Luis Obispo e de

    Santa Brbara estivera reunido em uma montanha mida e

    chuvosa, com uma missionria inglesa que tinha passado

    vrios anos na China. Ela tinha baseado suas mensagens

    em Efsios 1:17-21: O propsito da nossa chamada, As riquezas da nossa chamada e O poder da nossa chamada. Estvamos fascinados com um novo encontro com o Deus vivo e alguns de ns disseram: Senhor, custe o que custar, quero que a Tua vontade se cumpra em minha

    vida. Depois de lutar com o Senhor em orao durante os poucos dias que se seguiram, Deus me deu aquele

    versculo em Josu e tambm em Gnesis 28:15 e Dt 31:6.

    Renunciando minha posio na Intervarsity dos Estados

    Unidos no fim daquele ano acadmico, fiz preparativos para

    rumar para o sul... Costa Rica em 1953 e Universidade da

    Prata, em 1954.

    Foi em outubro de 1954 que, pela primeira vez, tive o

    privilgio de pisar no solo do pas do futuro. Estive em Santos, em So Paulo, no Rio e em Recife. O primeiro

    cristo brasileiro que me encorajou a comear o trabalho

    estudantil no Brasil foi Dirk Van Eyeken. Encontramo-nos em

    Schenestady (Nova York) e oramos pela sua terra natal.

    Mais tarde, o professor Ross Douglas e sua esposa

    foram convidados a vir lecionar em So Paulo. Ruth

    Siemens, j uma pioneira fixa no Peru, foi chamada para o

    Brasil. E a minha prpria volta, muito feliz, foi em 1 de maio

    de 1956, saindo da cidade de Corumb. Deus deu aos

    estudantes que lhe pertencem uma viso simples e uma

    mensagem bsica: Se voc est nesta universidade pela vontade de Deus, ento ela um campo missionrio e voc

    missionrio dele aqui. Os estudantes foram incentivados a se reunirem com seus amigos interessados e assim

    comearam os estudos bblicos. Cristo em Vs talvez tenha sido o estudo que deu aos estudantes um princpio do

    que significava andar com Deus. Assim, o que se poderia

    chamar de primeiros grupos foram os que se reuniram no apartamento de Ruth Siemens, na Alameda Ja, em So

    Paulo; no Instituto Teolgico da Aeronutica, em So Jos

    dos Campos; e em Aracaju, no Nordeste. O Rev. Walter

    Kaschel e sua esposa estenderam o seu caloroso e

    entusiasta apelo para se comear um trabalho em Curitiba.

    Alguns dos estudantes que foram os pioneiros nesses primeiros grupos foram: Julieta e Wangles Breternitz e Lucas

    Blanco de Oliveira, em So Paulo; Peter Bork, no ITA;

    Madalena Matos e Berenice de Oliveira, em Aracaju;

    Rosamaria Agayer Huber e Lydia Polech, em Curitiba. O

    primeiro acampamento estudantil no Brasil deu-se em

    janeiro de 1958, nas montanhas frias e chuvosas de

    Campos do Jordo. O preletor foi o Rev. Walter Kaschel, de

    Curitiba. Havia quinze estudantes. Ruth Siemens foi a de das moas. Os rapazes dormiram numa garagem. Foi o ltimo acampamento em poca de frio para o qual os

    nordestinos foram convidados, porque os representantes de

    Macei quase morreram de frio naquelas noites! Como

    resultado desse encontro o grupo de Curitiba comeou a

    funcionar. Um retiro foi realizado naquele ano, e um

    acampamento evangelstico foi feito com trinta e cinco

    participantes, numa praia do Paran. Mais tarde houve outro

    importante acampamento em Natal, para despertar interesse

    nos estudantes no Norte do pas.

    No inverno de 1959, agosto, eu parti para Paris e para o

    campo da IFES. Meu papel terminou a. Embora eu tivesse

  • 6A 6B

    passagem de Lisboa ao Rio, o Senhor me chamou de volta

    aos Estados Unidos para ficar com meus pais, que estavam

    doentes. Embora Deus tenha dado uma viso e o gozo de

    alguns dos primeiros passos nessa querida terra, foi Ruth

    Siemens quem regou o solo com suas abenoadas lgrimas,

    oraes e amoroso interesse pela infinidade de estudantes

    brasileiros.

    Os anos de implantao da ABU no Brasil, de 1957 a 1962,

    foram anos de expectativas, decepes e surpresas. Existia, em

    nossa terra, um grupo chamado de Associao Crist de

    Acadmicos (ACA), vinculado ao Student Christian Movement j

    mencionado. Aparentemente os lderes desse movimento se

    ressentiram com o aparecimento da Aliana Bblica Universitria

    do Brasil. A presena da ABU foi interpretada como uma ameaa

    antiga organizao. As atitudes de alguns lderes evanglicos da

    poca deram margem interpretao de que o novo movimento

    estava chegando para combater a organizao ecumnica dos

    estudantes. Pela literatura que a ACA publicava na poca, podemos

    notar muito de cunho evanglico nas suas pginas. Mas seguindo a

    orientao que vinha da organizao internacional, a Federao

    Mundial de Estudantes, com teologia declaradamente liberal, e

    seguindo a liderana de certas alas da igreja no Brasil, e no intuito

    de contextualizar a teologia para o ambiente da revoluo social e

    poltica pela qual passava o Brasil, a ACA comeou a mudar,

    tornando-se integrante daquilo que muitos socilogos da poca

    chamavam de processo revolucionrio brasileiro8. Seria exagero

    dizer que uma gerao de lderes da mocidade evanglica, sob a

    influncia daquela teologia, sucumbiu com a Revoluo de 1964?

    A revista ecumnica Testemonium, publicao da prpria

    Federao Mundial de Estudantes, comenta o fato com uma auto-

    crtica e observao dos movimentos a ela afiliados.

    Para um contexto como este em ebulio, era evidente que o

    Esprito de Deus impulsionava os pioneiros do movimento

    estudantil vinculado Comunidade (CIEE) para dar continuidade

    ao trabalho iniciado. Era mais do que necessrio uma orientao

    bblica acadmica da juventude universitria brasileira. A Palavra

    de Deus tinha que ser recolocada no seu devido lugar de autoridade

    para mudar vidas e mentes que tentavam pensar, com sinceros e

    honestos questionamentos.

    Ruth Siemens e o Nascimento da ABUB

    Depois de um estgio no Peru, em 1958 chegou ao Brasil Ruth

    Siemens, como professora da Escola Graduada para colnia

    americana. Em suas frias e fins de semana aproveitava o tempo

    vago para fazer viagens visitando os estudantes em diversas

    cidades do Brasil. Nestas viagens ela chegou at Manaus, capital

    do estado do Amazonas, num programa intenso de itinerncia .

    Logo Ruth instalou em seu apartamento o seu QG da ABU, na

    esquina da Alameda Ja com a rua Pamplona. E, nesse ano, foi

    organizado o primeiro acampamento oficial de mbito nacional, em

    Campos do Jordo, ao qual se referiu Robert Young em sua carta9.

    Stio das Figueiras, perto de So Paulo, sediou tambm um dos

    acampamentos mais importantes para o incio do movimento

    estudantil no Brasil. Sob a direo de Ruth, eram quarenta

    universitrios e assessores internacionais, como Stacey Woods,

    primeiro Secretrio Geral da Comunidade Internacional de

    Estudantes Evanglicos; John White, mdico psiquiatra,

    responsvel pelo trabalho de coordenao dos grupos latino-

    americanos; Samuel Escobar , professor de letras e pedagogia,

    assessor da CIEE; e Robert Young, assessor da Intervarsity

    Christian Fellowship dos Estados Unidos, emprestado ao Brasil10

    .

    O Congresso de Cochabamba que se realizou na Bolvia,

    naquela cidade, em 1958, foi um dos fatos importantes para o

    Movimento brasileiro, dando o sentido de que a obra iniciada no

    era algo isolado, mas sim parte de um corpo em formao na

    Amrica Latina. Nesse congresso estiveram presentes dezessete

    grupos estudantis, ainda que apenas o Mxico se fizesse presente

    como movimento nacional organizado. Nas palavras de Samuel

    Escobar, esse acontecimento histrico determinou uma nova etapa

    histrica da CIEE, e foi importante em trs sentidos: Primeiro, uma

  • 7A 7B

    tomada de conscincia de que Deus estava em ao na

    Universidade latino-americana como nunca antes. Segundo,

    transmitiu-se um ensino concentrado e germinador do que iria

    contribuir poderosamente para criar todo um estilo de trabalho.

    Terceiro, de comum acordo com a Comunidade, visualizou-se uma

    estratgia continental11

    .

    Estavam presentes os pioneiros da obra estudantil na Amrica

    Latina: Robert Young, Ruth Siemens, Wayne Bragg (assessor da

    Comunidade na rea do Caribe) e diversos profissionais recm-

    formados, ativos nos seus respectivos pases, e estudantes

    entusiasmados, muitos dos quais se vinculariam mais tarde ao

    ministrio estudantil. Representaram o Brasil nesse Congresso,

    Lucas Blanco de Oliveira, advogado recm-formado de So Paulo

    e Lydia Polech, estudante de letras em Curitiba. Muitas cidades do

    Brasil receberam a visita dos assessores da poca: Ruth Siemens e

    Robert Young, mas deste o seu incio o movimento brasileiro

    caracterizou-se pela iniciativa estudantil. Ruth Siemens comenta

    que ento os estudantes vinham aos acampamentos (realizados em

    diversos lugares do Brasil) e voltavam s suas cidades

    entusiasmados com a viso adquirida e tentavam reunir os seus

    colegas para iniciar grupos de ABUs. Outros ainda, ouvindo

    acerca do trabalho, tentavam fazer algo semelhante nas suas

    cidades e escolas. A pedido do grupo de So Paulo, Lucas Blanco

    de Oliveira (Makenzie, Direito) e Peter Bork (ITA, Engenharia)

    viajaram at Goinia para realizar a primeira reunio com os

    estudantes daquela cidade. Mais tarde um grupo de estudantes

    paulistas fez uma visita a Belo Horizonte para incentivar os

    estudantes mineiros a iniciar o grupo na cidade12

    .

    Combinadas as viagens que os assessores faziam com os grupos

    incentivados pelas visitas dos estudantes, em breve houve um

    nmero razovel de pequenos ncleos de estudantes espalhados por

    todo o Brasil, mas a maioria sem quase nenhuma orientao. Deus

    provia bons conselheiros em algumas cidades, como o Pr. Dionsio

    Pape na cidade de Fortaleza, e o Dr. Ross Douglas em So Paulo, e

    pessoas, como a professora Euzi Moraes em Vitria-ES, que

    conheceu a IVCF nos EUA, que foram grandes incentivadores do

    Movimento. Com o chamado de Robert Young para outros campos

    estudantis da Europa, e Ruth Siemens tendo se integrado na equipe

    internacional da Comunidade, depois de ter passado um ano nos

    Estados Unidos, ela voltou em janeiro de 1961 como assessora de

    tempo integral para dar continuidade obra do movimento

    estudantil no Brasil. Nessa volta Ruth radicou-se no Rio de Janeiro

    e iniciou o grupo carioca. Como fruto de alguns anos de trabalho

    incansvel dos assessores e como confirmao de que Deus estava

    presente no meio universitrio brasileiro, chamando um povo para

    o testemunho estudantil, a ABUB se organizou como Movimento

    Nacional em 1962. As dependncias do Acampamento Palavra da

    Vida sediaram, na semana santa daquele ano, entre os dias 19 e 21

    de abril, as delegaes de 11 grupos da ABUB: Rio de Janeiro

    representado por Inia Pinheiro Santana, Betty Antunes de

    Oliveira, Theodoro Gevert; Curitiba representado por Antnio

    Vigiano, Gunars Sprogis, Lydia Polech; Vitria representado por

    Hermes Peyneau, Rosa Laura Moreira, Regina Stange; Niteri

    representado por Mrian Silveira, Delcy Francione de Abreu,

    Delfio Brando Zambrotti; Sorocaba representado por Paulo

    Hornos; So Paulo representado por Paulo Marcos de Campos

    Barreto, Nilo Roberto Janson, Janyr Boscatti; Belo Horizonte

    representado por Homem Israel Ferreira, Nilse Menezes Lucas,

    Maria Izabel Guimares Faria; Goinia representado por Josu Jos

    Mota, Adlcio Lima; Juiz de Fora representado por Vasni Calixto

    Santana, Maria Matilde Mendes e Beatriz Gotardelo; So Jos dos

    Campos representado por Ayrton de Mello Moreira e Samuel

    Konishi; Petroplis representado por Dirk Van Eyken; e vrios

    delegados observadores dentre eles, Ross Allan Douglas e Aline

    Douglas, Julieta Breternitz e Wangles Breternitz, Peter Bork.

    E assim comea a ata desse Congresso Nacional:

    Aos dezenove dias do ms de abril de mil novecentos e

    sessenta e dois, `as dezessete horas e vinte minutos, no salo de

    culto do Acampamento Palavra da Vida, situado em Terra Preta,

    municpio de Mairipor, reune-se o Primeiro Congresso da Aliana

  • 8A 8B

    Bblica Universitria do Brasil. Faz uso da palavra a senhorita Ruth

    Siemens, secretria itinerante da ABU no Brasil, para dar

    orientao inicial sobre o que dever tratar o Congresso; pede ela

    que se busque a presena de Deus e trs oraes so feitas. Fala o

    Senhor Samuel Escobar, demonstrando a sua alegria por ver o

    desenvolvimento da ABU no Brasil e apresentando uma palavra de

    estmulo... (12)

    Nesse Congresso os delegados aprovaram os primeiros

    estatutos da ABUB o seu Conselho Administrativo, que tinha a

    funo de administrar o movimento. O Conselho Administrativo

    era composto por quatro profissionais de instruo superior, dentre

    os mais identificados com o trabalho geral da ABUB e eleitos pelo

    Congresso, quatro universitrios eleitos dentre os delegados das

    ABUs locais e o Secretrio Geral.

    O Conselho Administrativo tinha a incumbncia de organizar o

    programa financeiro, elaborar e aprovar o oramento anual,

    organizar o programa de literatura, planejar o Congresso Anual,

    indicar o Secretrio Geral e os secretrios itinerantes, dentre outras

    responsabilidades.

    Assim, o primeiro Conselho Administrativo da ABUB foi

    constitudo por Dirk Van Eyeken, Lucas Blanco de Oliveira,

    Wangles Breternitz, Peter Bork e, representando os estudantes,

    Antnio Vigiano (de Curitiba), Betty Antunes de Oliveira (do Rio

    de Janeiro), Adlcio de Lima (de Goinia) e Paulo Hornos (de

    Sorocaba).

    O AMBIENTE UNIVERSITRIO

    Os anos 60 foram a dcada de divergncias e de conflitos

    teolgicos, que foraram os seminrios a adotar uma disciplina

    rgida para salvaguardar as suas instituies. Muitos tiveram que se

    posicionar diante de novos pensamentos e doutrinas, nem sempre

    com as interpretaes bblicas e tradicionais. Muitas escolas

    tiveram que fechar as suas portas, pelos srios problemas que os

    seminrios tiveram que enfrentar, decorrentes do relativismo

    teolgico que dilua as bases de f e da conduta dos prprios

    seminaristas. Na tentativa de colocar em ordem as escolas, alguns

    alunos foram expulsos e professores demitidos. Colegas de longos

    anos de trabalho se separaram, criando mgoas e amarguras no

    meio do povo de Deus, criando grandes divises em igrejas e

    denominaes.

    O cenrio estudantil passava, no incio de 60, por uma

    efervescncia poltica muito grande. Havia uma preocupao do

    meio estudantil de se conhecer melhor a realidade brasileira,

    expresso essa que estava entrando em moda no meio estudantil e

    no meio dos intelectuais. O convite era de conhecer os problemas

    sociais, econmicos e polticos da nao: nenhum estudante

    poderia ficar alienado aos acontecimentos e mudana pela qual

    passava o Brasil. A conscincia nacionalista estava sendo

    despertada e aguada com a tomada de conhecimento da situao

    do pas e com os ataques dos males do imperialismo norte-

    americano. A ideologia reinante aceita por muitos estudantes era o

    marxismo, que usava a bandeira da justia social convocando os

    estudantes a lutarem pelos trabalhadores e camponeses. As

    faculdades e escolas superiores eram literalmente focos de agitao

    estudantil e os universitrios estavam sendo convocados a

    participar dos assuntos que interessavam poltica nacional.

    Nessa poca, para se ter uma idia de como iam as coisas, a

    estudante Neuza Itioka descobriu, perplexa, que na seo de

    Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Cincia e Letras da

    Universidade de So Paulo (hoje Faculdade de Educao), quatro

    dos veteranos da escola que estavam militando no Partido

    Comunista tinham sido lderes de mocidades evanglicas. A

    perplexidade se transformou em peso, e o peso no chamado de

    Deus para participar do movimento estudantil, e mais tarde para

    servir o reino de Deus atravs da assessoria da ABUB.

    Somente alguns anos mais tarde ela compreenderia que os

    jovens cristos, mesmo tendo uma fraca formao bblica, so

    bastantes sensveis questo da injustia e da injustia social, pois

    a questo social j assunto apresentado pelos profetas do Velho

  • 9A 9B

    Testamento, os quais na realidade so os verdadeiros arautos da

    justia social. Este tema nunca abordado, por exemplo, pelos

    filsofos gregos, devido sua cosmoviso de ver a sociedade

    dividida em classes. Os profetas, ao contrrio, transmitem a agonia

    do corao de Deus, que no suporta o pecado e a injustia contra

    qualquer criatura. A sensibilidade e a compaixo sem uma resposta

    verdadeira, embasada na Palavra de Deus, podem levar o jovem

    cristo a optar por uma outra alternativa: a de militncia poltica

    com meios violentos, abandonando a f e o seu compromisso com

    Jesus Cristo. (12)

    Os acontecimentos polticos que procedem a revoluo de 1964

    estavam preocupando os lderes polticos e eclesisticos do Brasil

    pelo tom demaggico com que eram desenvolvidos. Assim, na sua

    avaliao, a prpria esquerda criticou os fatos e o ambiente que

    antecederam a Revoluo de 64:

    Apesar, contudo, das circunstncias altamente favorveis

    maturao do processo revolucionrio brasileiro, o que se

    tem visto, afora as agitaes superficiais, por vezes

    aparatosas, mas sem nenhuma profundidade ou penetrao

    nos sentimentos e na vida da populao, a estagnao

    daquele processo revolucionrio. Ou, pior ainda, a sua

    degenerescncia para as piores formas de oportunismo,

    explorando as aspiraes populares por reforma. Foi esse

    espetculo que proporcionou ao Pas o convulsionado

    governo deposto de 1 de abril. Muitos, na verdade quase

    toda a esquerda brasileira, interpretaram aquele perodo

    malfadado como avano revolucionrio. Mas de fato ele para

    nada serviu seno preparar o golpe de abril e o

    acastelamento no poder das mais retrgradas foras

    reacionrias. Isso porque deu a essas foras a justificativa

    de que necessitavam: o alarme provocado pela desordem

    administrativa, implantada sombra da inpcia

    governamental, aproveitada e explorada por agitao estril

    sem nenhuma penetrao no sentimento popular, e

    estimulada no mais das vezes por interesses subalternos e

    mesquinhas ambies pessoais. isto que permitiu

    reao encobrir os seus verdadeiros propsitos, e iludir boa

    parte da opinio pblica, com o pretexto de salvao do Pas

    do caos que parecia iminente13.

    A revoluo de 1964 foi acompanhada de muito euforismo em

    muitas igrejas, na sua grande maioria conservadora e bblica, com a

    convico de que se salvou a nao de uma revoluo que poderia

    desembocar num tipo de totalitarismo de esquerda onde a Igreja de

    Jesus Cristo no poderia sobreviver nos moldes atuais. No meio do

    povo evanglico havia um sentimento comum de que Deus, o

    Senhor, da mais uma oportunidade para a pregao livre do

    Evangelho. Mas a euforia no durou muito, pois a igreja evanglica

    no Brasil comeou a enfrentar, especialmente no meio da

    juventude, um tipo de reao a tudo que cheirava conservador. As

    teologias que vieram de alm mar, os pensamentos europeus e

    americanos que haviam penetrado nos meios brasileiros atravs dos

    seminrios e dos seus professores no iriam desaparecer de um dia

    para o outro. A semente havia permanecido e o ecumenismo

    acompanhado de ideologia marxista continuou influenciando

    escolas de Teologia e, igrejas e, mui particularmente, a juventude.

    Tudo o que tinha sabor de teologia conservadora14

    , no sentido de

    defender os fundamentos bblicos, estava sendo identificado com a

    fora reacionria do Pas. Muitos poucos tinham a maturidade de

    discernir as implicaes polticas envolvidas em determinadas

    posies teolgicas e facilmente e com muita irresponsabilidade

    rotulavam de reacionrios e fundamentalistas aqueles que no

    adotavam a postura de estar em oposio ao governo, e que no

    advogavam a teologia da moda. Neste contexto, os jovens crentes

    que sinceramente amavam a Deus, que tinham a sua f pessoal e

    uma vida devocional, por se precuparem com as questes sociais

    eram taxados de liberais. Eles acabavam se radicalizando, nem

    sempre encontrando aceitao e compreenso dos lderes, nem

  • 10A 10B

    obtendo respostas bblicas para as suas questes. Era a

    radicalizao para os dois extremos.

    Em meio a este clima, a Aliana Bblica Universitria

    prosseguia com os seus objetivos de alcanar os estudantes atravs

    dos estudantes, pela Palavra de Deus. As atividades, os estudos

    bblicos e os acampamentos cresciam em todas as partes do Brasil.

    Em 1965 j havia 19 grupos espalhados em todo o Brasil. As

    viagens de Ruth Siemens no eram suficientes para providenciar

    adequada orientao para os novos grupos. Para poder prover

    literatura e material adequado de orientao ao Movimento, e

    visando tambm servir a igreja evanglica, formou-se a Junta

    Editorial Crist em 1962, composta da Misso Batista

    Conservadora e a ABUB. A Junta Editorial Crist iniciou a

    publicao de um bom nmero de livros, com o trabalho

    supervisionado pelo Dr. Russell Shedd. Em 1965, j tinham sido

    publicados o Novo Comentrio Bblico, e os livros Cristianismo

    Bsico de John Stott; A Razo do Cristianismo, Cartas do Inferno,

    e Palestras que Impressionam, de C.S. Lewis.

    Tambm em 1965 o Brasil recebeu pela primeira vez a visita do

    Dr. Hans Burki, ento Secretrio de Literatura da Comunidade

    Internacional de Estudantes Evanglicos e Secretrio Geral do

    movimento estudantil suo. Este percorreu com Ruth Siemens a

    imensido do Brasil, apresentando conferncias em diversas

    universidades brasileiras. Cerca de doze cidades receberam a visita

    do Dr. Burki. Estas conferncias nas faculdades tiveram o nome de

    Misso Universitria, pois foi um esforo especial e foi uma

    misso aos universitrios. Geralmente as conferncias poderiam ser

    classificadas como pr-evangelsticas, tentando tratar de temas

    bastante acadmicos, mas incluindo sempre os pontos do

    Evangelho para despertar nos ouvintes o interesse pela mensagem

    total do evangelho. O que aconteceu em So Paulo foi algo muito

    tpico: a diretoria do grupo local era constituda apenas de trs

    moas e um rapaz. Na realidade no havia muitos com quem

    pudessem contar. A Secretria Geral Ruth Siemens pediu que o

    grupo local se encarregasse da organizao da conferncia, ou seja,

    da Misso Universitria na cidade de So Paulo. Os quatro

    estudantes que representavam a Universidade de So Paulo, na

    Pedagogia, Matemtica e Fsica, meio assustados e muito

    temerosos, porque tinham que sair do seu grupinho cmodo para

    enfrentar a Universidade propriamente dita, tiveram que trabalhar

    entrando em contado com diversos grmios e centros acadmicos e

    tomar todos os tipos de providncias. Nestes eventos, o Dr. Ross

    Douglas deu grande apoio para o trabalho estudantil. Os volante de

    convite indicando os temas das conferncias, o local e a data foram

    confeccionados e distribudos maciamente. Neste mister esses

    estudantes tiveram que fazer das tripas o corao para divulgar,

    convidar os colegas, e vir de classe em classe para falar das

    conferncias. Os grmios e os centros acadmicos abriram as sua

    portas para receber este professor da Sua, doutor em educao

    pela Universidade de Zurich e pela Universidade de Chicago.

    O conferencista falou em 11 faculdades na cidade de So Paulo,

    trazendo ao pblico temas muito interessantes: O Conflito entre o

    Humanismo e o Cristianismo na Vida de Pestallozzi, Niilismo na

    Filosofia de Nietzsche; Mecanizao e Automao da Vida,

    Educao como Investimento, Psicologia e a Realidade da F

    Crist, A Busca Humana por um Significado Permanente na Vida.

    Nestas conferncias colaboraram como intrpretes pessoas de

    destaque no meio evanglico, tais como o Pr. Werner Kashel, em

    So Paulo. Diante da demanda do trabalho estudantil no Brasil,

    muitos nomes de profissionais ex-abeuenses foram consultados

    para atuarem com obreiros, mas, diante da resposta negativa destes,

    o Movimento encontrou no casal Carlos e Margaret Lachler

    coraes sinceramente preocupados com os estudantes do Brasil.

    Tendo aceitado o convite de se tronarem assessores da ABUB, eles

    se instalaram numa cidade universitria, So Jos do Rio Preto, e

    se matricularam na Faculdade para se tornarem mais eficientes no

    ministrio estudantil e se identificarem com a mentalidade

    universitria. Todo o interior de So Paulo ficaria sob os seus

    cuidados. Tiveram eles calorosa receptividade no meio estudantil

    paulista, e foram muito amados pelos abeuenses.

  • 11A 11B

    3. CHAMADOS A ORGANIZAR (1966 A 1970)

    ENVIANDO E RECEBENDO

    O ano de l966 foi um ano que pode ser considerado como o ano

    marco para o movimento brasileiro. Neste ano a Comunidade

    (CIEE) organizou o seu Primeiro Seminrio de Capacitao de

    Lderes Estudantis, com durao de 30 dias, em Lima, Peru.

    Estiveram nada menos que treze pases representados por

    delegados seminaristas. O Brasil enviou Ruth Siemens, como

    assessora da Comunidade (CIEE) e Neuza Itioka, estudante que

    vinha participando h algum tempo do grupo da ABU em So

    Paulo. Este encontro proporcionou a visualizao do movimento

    no contexto latino-americano, em esprito de companheirismo e

    orao, e a procura honesta do lugar da Comunidade dentro de

    vrias correntes teolgicas da poca. Trinta dias de ensino, de

    orao em conjunto, convivncia com assessores internacionais, o

    compartilhar com colegas de diversas naes latino-americanas

    acerca da alegria do testemunho estudantil, das lutas e das

    dificuldades dos grupos de estudos bblicos nas dependncias das

    universidades, tudo isso desafiou as delegadas brasileiras a se

    dedicarem mais obra estudantil, bem como deu a viso clara para

    onde devia caminhar o movimento nacional. Neste ano tambm a

    ABUB recebeu novamente o Dr. Hans Brki, juntamente com sua

    esposa, Dra. Agatha Brki-Firenze, presidente internacional do

    trabalho de evangelizao entre enfermeiras. Vinha ele com um

    programa de treinamento de lderes , que foi realizado em Sacra

    Famlia do Tingu, no Rio de Janeiro.

    Muitos lderes locais estiveram presentes de: Belm, Rio de

    Janeiro, So Paulo, Belo Horizonte, Petroplis, So Jos do Rio

    Preto, Curitiba. Foi na semana santa daquele ano, uma semana fria

    e chuvosa, mas aquecida com a presena de Deus e com a viso de

    que Deus queria que os estudantes brasileiros fizessem algo em

    prol do Reino. A liderana da organizao desse Programa de

    Treinamento estava nas mos de Ruth Siemens, com a ajuda do

    conselheiro Dr. Ross Douglas e Aline Douglas, sua esposa. L se

    encontravam os assessores Carlos e Margaret Lachler e Neuza

    Itioka, recentemente admitida como assessora de tempo parcial.

    Neuza tinha sido presidente da ABU em So Paulo, era formada

    em Teologia e cursava Pedagogia na Universidade de So Paulo.

    Paulo Medeiros, estudante de Teologia da Faculdade Teolgica

    Batista do Sul, estava participando na qualidade do futuro assessor

    da ABUB, para a regio do Rio de Janeiro.

    No meio da semana, quando o Treinamento estava a caminho,

    Wayne Bragg, um dos pioneiros da Comunidade na rea do Caribe,

    chegou, aceitando o convite do Conselho Administrativo. Wayne

    chegava ao Brasil, depois de ter gasto doze anos de sua vida no

    ministrio estudantil, em Porto Rico. Wayne, americano de origem,

    com capacidade muito grande de se adaptar a novas situaes,

    assimilou rapidamente os costumes brasileiros e discerniu com

    muita preciso o momento histrico da igreja Evanglica no Brasil,

    para organizar a ABUB. Tinha uma certa genialidade

    administrativa que se caracterizava no cuidado e na perfeio, at

    nos pequenos detalhes.

    Wayne assumiu o cargo de Secretrio Executivo do movimento,

    e a ABUB passou a ter o seu boletim de orao, o ntercessor; o

    Alcance, boletim de informao com o objetivo de informar o

    pblico evanglico acerca do que a ABU, o que faz, o que estava

    fazendo; um boletim interno para os estudantes, o Entre Ns. A

    experincia de doze anos de assessoria deu a Wayne a facilidade de

    estabelecer novos modelos de treinamento para lderes: o Instituto

    de Preparao de Lderes, onde os lderes de grupos locais

    recebiam preparo para exercer liderana que pudesse dar

    verdadeiros frutos, reproduzindo em outros estudantes a viso e a

    paixo pelo testemunho estudantil. Com a chegada de Wayne, a

    equipe de assessores tambm se organizou para traar planos e

    estratgias para o movimento nacional. Na ocasio em que foi

    convocada a reunio de Estratgia da ABUB, em So Paulo, em

    julho do mesmo ano, mais um casal se integrou no quadro de

  • 12A 12B

    assessores: Dionsio Pape e sua esposa Elaine, que j vinham

    participando como conselheiros do grupo em Fortaleza.

    Dionsio era pastor batista, conhecedor das terras brasileiras e

    profundo amante do povo brasileiro. Tinha voltado ao Canad, em

    gozo de frias, e aguardava do Senhor a indicao do novo campo,

    quando chegou em suas mos o convite da ABUB para se tronar

    assessor do movimento. Dionsio foi designado como responsvel

    pela obra estudantil no Nordeste. Ele fez da cidade do Recife o seu

    QGpara toda a regio do Nordeste, e ainda pastoreava uma igreja

    de fala inglesa.

    PLANEJANDO TREINAMENTO

    O treinamento de estudantes teve um lugar prioritrio na nova

    da ABUB com Wayne Bragg: no incio de l967 aconteceu o

    primeiro Instituto de Preparao de Lderes em So Bernardo do

    Campo, nas dependncias do Seminrio Presbiteriano

    Conservador, com a presena do Dr. Paul Little, ento assessor da

    IVCF e diretor de evangelizao e Misses do movimento

    americano, e autor de diversos livros, entre eles Como

    Compartilhar Sua F. Do Nordeste vieram quatro estudantes

    escolhidos com muito carinho pelo assessor Dionsio Pape: Edward

    Robinson Cavalcanti (Direito), Elizabeth Coutinho de Barros

    (Pedagogia), Isis Carneiro Leo (Letras), Bayard Amorim

    (Arquitetura). Desta equipe trs foram mais tarde assessores da

    ABUB. Neste IPL estiveram presentes Uriel Heckert (Medicina) de

    Juiz de fora, Perrin Smith e Oswaldo Soares Pinto (Engenharia) de

    Belo Horizonte; Walter Brepohl (Engenharia) de Curitiba; Ruth

    Silveira (Pedagogia) do Rio de Janeiro, Raquel Miranda e Vera

    Cione (Pedagogia) de So Paulo, Tsutomu Imada (ITA) de So

    Jos dos Campos e Milton Andrade (Engenharia recm- formado),

    entre outros. Muitos serviram por muito tempo o movimento

    estudantil como assessores, diretores e lderes de seus respectivos

    grupos. Sob a direo e sugesto de Paul Little, foi organizado o

    Frum Aberto de Evangelizao, no Guaruj, num sbado. Num

    dia de muito sol os participantes do IPL desceram praia para

    evangelizar os estudantes, jovens, adultos, quem estivesse por l.

    No meio daquela gente sofisticada, que ouvia os abeuenses

    apresentando o Evangelho, muitos saram de l meneando a

    cabea, mas outros prestavam muito ateno, especialmente

    aqueles operrios que tinham acabado de assistir a uma exploso

    nas dependncias da refinaria de Cubato. Estes abriram o seu

    corao para prestar ateno ao depoimento de estudantes e

    assessores que se misturavam no meio dos que ouviam para

    compartilhar pessoalmente o Evangelho.

    Se o IPL, era organizado visando os lderes, o Curso de Frias

    era outra modalidade para dar as primeiras informaes aos

    estudantes que estariam entrando no movimento. Em julho daquele

    ano, no Rio de Janeiro, nas dependncias do Seminrio Teolgico

    do Sul, foi realizado o Curso de Frias que congregou cerca de 90

    estudantes de todo o Brasil. Ren Padilha, Secretrio Geral para a

    Amrica Latina da Comunidade (CIEE), deu a sua colaborao

    apresentando a Teologia da Igreja para os participantes; Dr. Russel

    Shedd apresentou os estudos expositivos da Primeira Epstola de

    Pedro e o Rev. Edzio Chequer, Pastor presbiteriano de Salvador,

    apresentou estudos sobre a Realidade Brasileira e Universitria.

    Para o Nordeste, o IPL realizado em Garanhuns em janeiro de l968

    foi de suma importncia, pois foi neste encontro que a ABUB

    conseguiu conquistar coraes apaixonados e comprometidos,

    como Mrcio Gueiros, e firmou o amor ao trabalho estudantil nos

    coraes de dezenas de estudantes do Nordeste. A viso da obra

    foi transmitida para ser passada para outras geraes de estudantes.

    O que caracterizou esse IPL no foi as prelees teologicamente

    profundas, mas as coisas bastante prticas, como o valor da hora

    devocional na vida dos estudantes, discpulos de Cristo na

    Universidade, o valor da comunho em orao, e o mtodo

    indutivo de estudar a Bblia, impressionando os estudantes que

    comearam a descobrir uma dimenso muito rica, at esto

    desconhecida por eles. A simplicidade e a praticabilidade do

    mtodo da ABU fascinavam os estudantes. Tanto os rapazes como

  • 13A 13B

    as moas, alm de dividir em pequenos grupos de estudos bblicos

    para estudarem a Bblia de maneira no tradicional, ainda

    encontraram tempo para se reunir em quartos, cada qual nas suas

    alas para compartilhar e orar. Este foi o tempo em que muitas

    coisas prticas aconteceram no sentido de resolver problemas

    pessoais e aprender a verificar como Deus age nas vidas dos

    indivduos e na vida dos grupos.

    O IPL do NE deixou marcas nas vidas dos seus participantes,

    mas o sul pode enviar apenas 10 estudantes que sobreviveram a um

    incndio do nibus na viagem, j quase dentro da cidade de

    Salvador. Os organizadores decidiram que outro IPL seria feito no

    Sul para beneficiar outras regies da ABUB.

    A Fazenda Margarida, em Lapa, Paran, sediou o Terceiro

    Instituto de Preparao de Lderes, em janeiro de l969, organizado

    com todo carinho, pelos assessores, debaixo da liderana de Wayne

    Bragg. Teve a durao de 17 dias, na tentativa de se fazer algo

    quase que perfeito. O preparo para tal evento foi intenso no sentido

    de promover materiais para serem traduzidos, adaptados e escritos.

    Os assessores trabalharam na traduo, na datilografia, na

    mimeografia, na elaborao de estudos. Cada regio lutou e se

    esforou para ter uma representao que expressasse a situao

    local, mas nem todos os estudantes que deveriam estar presentes

    puderam participar do IPL. Dentre vrios estudantes presentes

    achavam-se os do Planalto Central, que estavam participando pela

    primeira vez, da cidade de Braslia: Jos Jlio dos Reis (Direito),

    Srgio Neri da Mata (Economia), Vera (Psicologia); de So Paulo:

    Sara Hayashi (Letras), Saulo Silvrio (Sociologia e Poltica), Mary

    Cleme Suilvrio (Servio Social), de Curitiba: David Lipsi

    (Medicina), e Dieter Brepohl (Economia e Direito) participava pela

    primeira vez de uma realizao da ABUB.

    Do Nordeste Dionsio Pape se fez acompanhar de Wilma

    Lucena (Medicina) e Terezinha Lopes (profissional, advogada).

    Robinson Cavalcanti, que havia comeado a assessoria no NE,

    estava em Guayaquil, Equador, participando do Terceiro Seminrio

    de Capacitao de Lderes Estudantis. Neste IPL o programa

    continha momentos de trabalho para os prprios estudantes

    elaborarem guia de estudos bblicos, muita oportunidade de

    estudantes se expressarem nas confeces e no preparo de

    materiais de orientao. E, num fim de semana, foi organizado um

    retiro na praia. No ministrio do ensino participaram, alm dos

    assessores da ABUB, Wayne Bragg, Dionsio Pape, Moiss Prisco

    dos Santos e Neuza Itioka, o Dr. Nils Friberg, ento professor da

    Faculdade Teolgica Batista de So Paulo e o Dr. Hans Brki, que

    voltava depois de trs anos. Nils Friberg ficou com a rea de

    apologtica da f crist, diante da cincia e da filosofia; o Dr.

    Brki ficou com os estudos sobre a maturidade espiritual e com a

    exposio de Glatas. Na exposio de Glatas o Dr. Brki marcou

    muitas vidas referindo-se ao eu religioso. Ele enfatizou que, em

    nome da religio, muitos cristos esto vivendo a vida com Deus

    na base do esforo prprio, da auto-determinao, da auto-

    dependncia, da auto-suficincia, tomando o lugar de Deus,

    controlando todas as coisas, sem permitir que Deus atue em suas

    vidas; falando como se dependesse de Deus, mas negando o fato

    pela atitude diante dos homens, diante da obra e diante de Deus15

    .

    RECRUTANDO NOVOS OBREIROS

    Sob a administrao de Wayne Bragg que recebeu o cargo de

    Secretrio Executivo, os obreiros foram distribudos da seguinte

    forma: Ruth Siemens foi enviada para Curitiba, para fortalecer o

    grupo local e se responsabilizar pela regio Sul. Carlos Lachler e

    Margaret, sua esposa (ela se revelou grande pastora de estudantes)

    se firmaram no interior de So Paulo e comearam o discipulado

    com Moiss Prisco dos Santos, professor de Geologia que se

    empolgava com a filosofia do movimento estudantil. Paulo

    Medeiros foi designado para a regio do Rio de Janeiro e Neuza

    Itioka para So Paulo capital e o litoral paulista. Dionsio Pape

    continuou responsvel por todo o Nordeste, e j comeava a treinar

    o estudante Robinson Cavalcanti, que se despontava como lder

    estudantil, na cidade do Recife.

  • 14A 14B

    Wayne Bragg era um homem de grande capacidade criativa.

    Quando verificou a imensido do Brasil e a dificuldade de vencer a

    distncia da comunicao, para cobrir de forma adequada todo

    territrio nacional com pouqussimos obreiros, instituiu o cargo de

    assessor auxiliar. Convidou profissionais liberais e professores

    universitrios, que estavam em contato com a ABU e com os

    estudantes, para darem apoio, e colaborarem na transmisso da

    viso da obra, na abertura de suas casas para receber os estudantes

    e pessoas que j estavam envolvidas no aconselhamento estudantil;

    enfim, foram convidados a prestar o servio de assessoria aos

    grupos locais onde no havia assessores e onde no era possvel

    atendimento por parte deles. J no ano de 1968, alguns professores

    universitrios, como o professor Daison Olsany Silva, da

    Universidade Federal de Viosa; o professor Descartes Teixeira, do

    Instituto Tcnico de Aeronutica de So Jos dos Campos, foram

    convidados para integrarem o quadro de assessores auxiliares.

    Eram pessoas que dedicavam uma parte do seu tempo ao ministrio

    estudantil, sem receberem do Movimento.

    Eram ento vrios tipos de assessores: assessor da Comunidade,

    como Wayne Bragg, e Ruth Siemens, que trabalhavam em tempo

    integral. Carlos Lachler e Margaret, e Dionsio Pape que eram

    assessores de tempo integral emprestados por misses estrangeiras,

    e assessores nacionais de tempo parcial como Neuza Itioka e Paulo

    Medeiros (e mais tarde, Moiss Prisco dos Santos, e Robinson

    Cavalcanti). Estes assessores viviam do salrio provisto ou pela

    ABUB ou pelas suas misses, mas os assessores auxiliares

    trabalhavam como voluntrios.

    Novos assessores estavam despontando, mas outros estavam se

    despedindo da obra: Ruth Siemens no final de 1968 voltou para os

    Estados Unidos, depois de ter dedicado uma dcada completa de

    sua vida obra universitria no Brasil. Carlos e Margaret Lachler

    depois de quatro anos de ministrio, foram passar um ano de frias

    nos Estados Unidos, deixando um substituto treinado por eles, na

    sua rea. Dionsio Pape deixou o Brasil no final de 1970, indo ao

    Canad, e deixou Robinson Cavalcanti como Secretrio Regional

    no Nordeste.

    Com o desenvolvimento do nmero de grupos da ABU, com o

    aumento das regies atingidas, a antiga estrutura administrativa que

    vinha funcionando desde a organizao da ABUB como

    movimento nacional, em 1962, no era mais adequada. fazia-se

    necessrio adotar uma nova estrutura; assim o Conselho

    Administrativo foi substitudo pelo Conselho Diretor, composto de

    dois representantes de cada regio (um estudante e um profissional)

    e de uma Diretoria, composta de estudantes e profissionais, na sua

    maioria residentes em So Paulo. A Diretoria teria que se reunir

    mensalmente; o C.D., semestralmente, no interregno dos

    Congressos Nacionais, rgo supremo da ABUB.

    ESTABELECENDO CONTATOS

    Um dos objetivos do Secretrio Executivo, nesses anos, foi de

    fazer conhecida a ABUB no mundo evanglico, e assim deu muita

    importncia aos contatos com as igrejas evanglicas. As visitas de

    grupos da ABU, bem como de assessores s igrejas locais foram

    incrementadas.

    Por ocasio da Misso Universitria de Samuel Escobar,

    realizada em 1968, os grupos da ABU se esforaram por

    apresent-lo aos pastores de suas cidades: assim cada cidade

    organizou uma reunio para a qual foram convidados os pastores

    para ouvirem o assessor estudantil da Amrica Latina, algum que

    poderia lhes trazer uma resposta para as muitas perguntas que os

    lderes de igrejas tinham em mente. De acordo com Ruth Siemens,

    na poca 80% dos jovens crentes que comeavam a freqentar a

    Universidade abandonavam a f. No ano seguinte, em 1969, a

    Misso Informadora do Brasil, entidade que coordena e facilita a

    estada dos missionrios, dando-lhes orientao, prestando-lhes

    servio de informao e organizando conferncias para o

    desenvolvimento deles, promoveu um Congresso cujo tema era

    Como Alcanar a Juventude para Cristo e os preletores principais

  • 15A 15B

    foram Samuel Escobar e Joe Bayly, um antigo assessor da IVCF

    dos Estados Unidos. Foi uma oportunidade extraordinria de

    contato, de fazer conhecida a ABUB tambm no meio dos

    missionrios. Quase toda a equipe de assessores esteve presente:

    Wayne Bragg, Carlos Lachler, Dionsio Pape e Neuza Itioka.

    O Congresso Latino-Americano de Evangelizao, que mais

    tarde ficou sendo conhecido por CLADE I, realizado em Bogot,

    Colmbia, tambm contou com a presena de elementos da ABUB:

    Wayne Bragg esteve representando o Brasil, juntamente com Ruth

    Silveira, estudante de Pedagogia do Rio de Janeiro.

    No meio da Universidade os grupos tambm estabeleciam

    contatos e organizavam os seus grupos de ABUs.

    Djalma Pereira, estudante de Economia, funcionrio do

    Banespa, conheceu a ABU em Fortaleza, quando, naquela cidade,

    um estudante de Engenharia (Bencio Orlando Saraiva Leo) estava

    a frente do trabalho, tentando levar o testemunho estudantil no

    meio dos seus colegas. Djalma viu muitas vezes Bencio

    trabalhando sozinho, at mesmo colocando cartazes nos murais da

    faculdade. Mas ele era ainda da festiva, no estava bem

    consciente dos propsitos da ABU.

    Logo mais Djalma foi transferido para So Luis do Maranho,

    em funo do seu trabalho. Um dia apareceu na agncia do banco

    em que trabalhava um ingls queimado de sol e empoeirado. Havia

    viajado mais de 20 horas pelas estradas para l chegar, tendo um

    nome em suas mos: Djalma Pereira. Ele se apresentou como

    Dionsio Pape, pastor que trabalhava com a evangelizao de

    estudantes, e disse desejar comear um grupo da ABU naquela

    cidade. Dionsio nem tinha onde ficar naquela noite, mas a

    hospitalidade nordestina dos irmos logo funcionou. Djalma

    hospedou o assessor da ABU, e assim foi se identificando com os

    propsitos do Movimento, encantado e apaixonado pela viso que

    lhe era transmitida. Visitaram todas as igrejas evanglicas da

    cidade naquele fim de semana e Dionsio apresentou aos pastores

    os objetivos da ABU. Antes de partir para Recife, Dionsio marcou

    um encontro dos universitrios da cidade com Robinson

    Cavalcanti, que viria posteriormente para fundar oficialmente a

    ABU. De fato, Robinson veio, fundou o grupo e empossou a

    primeira diretoria da ABU - So Luis. A primeira presidente foi

    uma estudante de Medicina, Euzi Fernandes, e Djalma Pereira foi o

    vice-presidente. Deste primeiro grupo participaram Saulo de Tarso

    Batista, Joaquim Fortes e uma secundarista muito viva, Silda

    Cavalcante. Saulo j conhecia a ABU atravs do grupo de Goinia.

    As reunies na casa de Djalma atraram muitos estudantes. No

    incio nem todos compreendiam os propsitos do movimento, mas

    houve muita orao para que o Esprito Santo fizesse a obra, e

    paulatinamente Deus foi amadurecendo o grupo. Djalma foi

    conhecido como o pai da ABU - So Luis16

    .

    Em Campinas, So Paulo, o grupo de estudantes comeou a se

    reunir pela iniciativa de uma universitria que conheceu o

    testemunho estudantil em So Paulo, e se disps a evangelizar os

    seus colegas na faculdade de Medicina.

    Juiz de Fora recebia a visita dos assessores; quando algum

    passava por Belo Horizonte ou Rio de Janeiro dava uma

    esticadinha at aquela cidade. Uriel Heckert e Joel Tibrcio, dois

    estudantes de Medicina, continuavam levando avante a viso de

    apresentar Jesus Cristo aos colegas, e realizavam reunies de

    estudos bblicos, bem como organizavam acampamentos.

    Viosa tem uma histria linda. Quem participou intensamente

    do nascimento e assistiu s lutas que os estudantes da Universidade

    Rural de Minas Gerais desenvolveram para estabelecer o grupo da

    ABU, bem como a igreja evanglica local, a primeira da cidade, foi

    Ruth Siemens. Alguns estudantes comearam a se reunir com o

    propsito da evangelizao estudantil, e no se satisfaziam com a

    Universidade apenas. Comearam a pregar o evangelho para os

    habitantes da cidade. Os moos foram recebidos a pedrada,

    episdio muito comum nas pginas do pioneirismo evanglico17

    . O

    grupo da ABU cresceu e a igreja tambm cresceu junto com os

    pioneiros Jos Cambraia, Juarez Bolsanelo, Amrico Silva e uma

    gerao de professores universitrios que fazem carreira hoje na

    Universidade Federal de Minas Gerais (a universidade foi

  • 16A 16B

    federalizada): Daison Olsany Silva, Osmar e Rolf Pushman,

    George Kings de Morais. Mais tarde, todos eles ajudaram o

    Movimento, tendo no meio deles at assessores.

    Neste perodo o Planalto Central foi atingido. Um profissional

    ps-graduado do ITA, que logo viria a ser um dos assessores

    auxiliares, o professor Descartes Teixeira, estava fazendo contatos

    com os estudantes na cidade de Braslia. Wayne Bragg e Moiss

    Prisco dos Santos tambm viajaram para o planalto, visitando as

    cidades de Goinia, Anpolis e Braslia. Como fruto dessas viagens

    trs estudantes brasilienses foram ao IPL em 1969, e iniciaram o

    grupo da ABU na Capital Federal. Numa viagem posterior, Neuza

    Itioka encontrou-se com a professora Lydia Polech, da

    Universidade de Gois, uma das fundadoras da ABU Curitiba, e

    estabeleceu contato com uma nova gerao de estudantes.

    Os assessores eram incansveis nas suas visitas e tentavam

    estabelecer contatos com estudantes e lderes de igrejas, mas onde

    havia iniciativa estudantil, o grupo vingava de maneira mais sadia.

    Assim Orlando Kalil, participando do Curso de Frias onde seu

    pastor Edzio Chequer fora preletor, voltou entusiasmado com a

    viso captada, e voltou sua cidade de Salvador, Bahia, para

    iniciar a obra da ABU.

    O grupo de So Paulo fazia viagens missionrias para Santos,

    So Jos dos Campos e Campinas, ora para estimular os estudantes

    a comearem a obra estudantil, ora para encorajar os grupos

    existentes.

    Com a sada de Ruth Siemens e Carlos Lachler o imenso

    territrio de todo o Brasil menos o Norte e o Nordeste ficava na

    mo de trs assessores. Havia grupos de ABU em Curitiba, So

    Paulo, So Jos dos Campos, Campinas, So Jos do Rio7 Preto,

    Piracicaba, Araraquara, Botucatu, Bauru, Rio de Janeiro, Niteri,

    Petrpolis, Belo Horizonte, Juiz de Fora, Viosa, Goinia,

    Anpolis e Braslia. Havia contatos, isto , pessoas e estudante

    tentando comear alguma coisa em Santos, Piracicaba, Pres.

    Prudente, Ribeiro Preto e Lins no Estado de So Paulo; e Campos,

    Volta Redonda no Rio de Janeiro; Londrina, no Estado do Paran;

    e em Macei, Aracaju, Terezina, Manaus e na cidade de Areia, na

    Paraba.

    No meio da aparente expanso, quem estava acompanhando o

    desenvolvimento do grupo sentia que o trabalho era moroso. Nem

    sempre o entusiasmo inicial persistia no grupo. A dificuldade de

    aglutinar os estudantes cristos perseverantes no testemunho

    estudantil era grande: eram dois, trs, pouqussimos a assumirem

    compromisso com Jesus Cristo na evangelizao na Universidade.

    Muitos estudantes vinham e iam, mas os que permaneciam

    eram poucos. E os que ficavam eram aqueles que fielmente

    permaneciam no trabalho, convencidos do chamado de Deus. Bern

    Walter Glaser, Suely Moreno, Leda Assumpo, Tadayoshi Tiba,

    Raquel Miranda, Paulo Ferreira, Jarbas Martins eram alguns dos

    estudantes comprometidos em So Paulo que teimavam em levar a

    viso recebida18

    . E, nesse nterim, tambm Deus levantava homens

    como Floyd Pierce, um dos ancios da Igreja dos Irmos em

    Curitiba, para abrir a sua casa, receber os estudantes e promover

    estudos bblicos. Confirmava-se mais e mais o ministrio da

    famlia Douglas, radicada desde 1958 no Brasil, em So Paulo,

    com sua casa sempre cheia de assessores, profissionais e

    estudantes: ora eram os profissionais convocados, ora a Diretoria,

    ora uma reunio com pessoas chaves do Movimento, ora recepo

    dos assessores internacionais. A casa deles era sempre aberta, com

    a hospitalidade da dona Aline Douglas, que fazia a estada das

    pessoas muito agradvel. Quantas vezes a Kombi do Dr. Douglas,

    o nico veculo da famlia, saa cheia de panelas, cobertores e

    bugigangas para um acampamento de universitrios...

    H muitos outros nomes, dezenas de pessoas que prestaram

    servios a ABU, uma, duas, dezenas de vezes, para possibilitar o

    crescimento do testemunho estudantil no Brasil. No possvel

    mencionar todos esses nomes.

    BUSCANDO EQUILBRIO

  • 17A 17B

    O perodo que se segue pode ser caracterizado como o perodo

    de uma busca por equilbrio na Teologia Bblica, diante do desafio

    que o mundo teolgico oferecia e diante da exigncia por um

    posicionamento da igreja diante dos problemas sociais e polticos.

    A igreja evanglica estava inquieta, e isso se patenteava pela

    efervescncia por que passavam os seminrios teolgicos. Eles

    tambm refletiam o que acontecia no meio estudantil universitrio:

    represso no meio estudantil, proibindo qualquer expresso e

    manifestao pblica em forma de passeatas ou de greves trouxe

    um clima de insegurana, no apenas aos estudantes politizados,

    mas tambm aos abeuenses que passavam a ter muita dificuldade

    em manter o grupo de estudos bblicos. Os pouqussimos grupos

    dentro das faculdades deixaram de funcionar e muitos abeuenses

    eram chamados a tomar posio e participar de alguma forma na

    vida de poltica estudantil.

    Os estudantes de teologia tambm se sentiam chamados a

    participar dessa situao, com o constante apelo da teologia da

    moda. O ambiente dos seminrios teolgicos e o comportamento

    de seus estudantes passavam por rpidas mudanas. O rapaz

    consagrado de ontem, que lia diversas vezes a Bblia toda, hoje

    havia se tornado contestador das estruturas e autoridades

    eclesisticas, das denominaes e do prprio sistema vigente, e

    marxizavam. Dentro desse ambiente a ABU era questionada na

    sua posio teolgica e ideolgica. O equilbrio era algo difcil

    diante daquela situao. A tentao de se radicalizar a direita ou

    esquerda era grande. A ABUB era, como Movimento, chamada de

    liberal pelos irmos mais conservadores, e pelos que

    professavam o liberalismo teolgico da poca era chamada de

    fundamentalista19. E muitos dos assessores estavam conscientes

    de que tinham de escolher o caminho do meio, no por ser meio...

    mas pelo caminho que Jesus Cristo havia palmilhado, no se

    identificando com as correntes dos ventos que sopravam, mas

    buscando o Reino que ir subsistir eternamente. No pretendiam

    ser diferentes por ser diferentes, pois a tentao do momento era de

    se identificar com alguma coisa aparentemente mais forte do que a

    ABU. Mas a orientao que os irmo da Comunidade davam ao

    Movimento, atravs de Hans Burki, Samuel Escobar e Ren

    Padilha, ajudava a ABUB a visualizar o que era ser seguidor de

    Jesus Cristo, dentro da confuso.

    Os estudantes da ABU, os que sinceramente tentavam

    evangelizar, bem como os assessores, tinham de enfrentar os

    estudantes politizados que no aceitavam nenhuma conversa a

    no ser dilogos com terminologia poltica. Assim sendo o livro

    Dilogo Entre Cristo e Marx, de Samuel Escobar, foi de grande

    ajuda, no sentido de dar uma viso sinttica da ideologia Marxista

    confrontada com o Cristianismo.

    Foram de valor inestimvel as Misses Universitrias com

    conferncias organizadas em diversas faculdades, versando temas

    como Marxismo e Cristianismo, Impossibilidade da Liberdade

    Humana, Decadncia da Religio. A convivncia com homens

    como Samuel Escobar, com o seu dom de mestre, ouvindo-o em

    suas conferncias e vendo-o expor o Evangelho, a partir de

    assuntos pertinentes a poca e do interesse geral dos estudantes,

    faziam com que os abeuenses se fortalecessem em sua f, perdendo

    um pouco do complexo de minoria e da timidez na evangelizao

    que caracterizavam muitos dos comprometidos com a ABU. A

    orientao que os lderes estudantis receberam, tanto a nvel

    nacional com a nvel continental, foi a razo de no sucumbirem

    diante dos desafios e demandas apresentadas na poca.

    Os seminrios de Capacitao de Lderes Estudantis que a

    Comunidade (CIEE) organizava, ano aps ano, (1966, 1967, 1969)

    influenciavam diretamente o andamento da ABUB. Os assessores

    recebiam treinamento em Lima, juntos de colegas da Amrica

    Latina.

    Com a revoluo de 1964, muitas das organizaes que

    atuavam no meio da juventude, bem como no meio das igrejas

    evanglicas, deixaram de atuar, especificamente as do Conclio

    Mundial de Igrejas e suas diversas agncias. Mas muitas cabeas

    pensantes e a liderana dos jovens estavam sob a influncia da

    Unio Latino-Americana de Juventude Evanglica que logo mudou

  • 18A 18B

    o seu nome para Unio Latino Americana de Juventude

    Ecumnica, bem como da Unio Brasileira de Juventude

    Ecumnica. As igrejas evanglicas lutavam para procurar sua

    identidade, tentando se definir diante do ecumenismo que vinha de

    Genebra.

    Os assessores eram desafiados a orar de joelhos diante das

    dificuldades e tinham de se preparar intelectualmente e

    teologicamente, alm de terem de se informar da situao poltica e

    teolgica da juventude evanglica e universitria da poca. A

    presso sobre os assessores sobre o que se deve atualizar diante de

    inmeras correntes teolgicas era to grande que por vezes se

    tornava opresso e fardo pesado a ser carregado.

    O ambiente universitrio era lavado pelas ideologias. Um

    jovem ao ingressar na faculdade passava necessariamente pela

    lavagem cerebral do tipo poltico-ideolgico. Dia e noite, noite e

    dia, o assunto que se discutia na Universidade era ideologia, justia

    social, poltica estudantil, poltica operria, mudana de estruturas.

    A Igreja Catlica, atravs de sua pastoral, criava grupos como a

    Juventude Universitria Catlica(JUC), para orientar os

    universitrios catlicos; a Juventude Estudantil Catlica (JEC),

    para orientar secundaristas; e a Juventude Operria Catlica (JOC),

    para ajudar os trabalhadores. Mas nesse perodo ps-64 esses

    grupos se transformaram em partidos polticos e comearam a

    funcionar clandestinamente, influenciando grandemente a vida

    universitria. Moos e moas um pouco mais vivos eram

    requisitados a participar dos pequenos grupos de estudos e eram

    intensamente trabalhados com a ideologia socialista. Belo

    Horizonte era palco de coisas contraditrias: um dia o plpito da

    Igreja Metodista Central amanheceu pichado. As mesmas frases de

    contestao que se liam em vrios muros das cidades estavam

    desenhadas nas paredes que rodeavam o plpito, com frases e

    slogan polticos contra pastores, bispos e missionrios da

    denominao. Os seus autores eram membros da juventude da

    prpria igreja. Isso apenas um pequeno exemplo de como os

    jovens estavam suscetveis a toda modalidade de comportamento

    que vinha de fora. Chocante e alarmante para muitos membros da

    igreja, doloroso para os lderes, peso a ser compartilhado por todo

    o verdadeiro Corpo de Cristo.

    No cenrio internacional, a Teologia declarava a morte de

    Deus atravs do bispo John A. T. Robinson, trazendo

    interpretaes e conseqncias funestas para a igreja evanglica,

    por um lado. Por outro lado inaugurava-se na Califrnia a Era

    Satnica com Anton LaVey. O mundo preparava-se para receber a

    invaso de outras tendncias muito diferentes das acostumadas a

    assistir. Depois dos movimentos polticos de estudantes que

    assolaram as universidades, comeava a despontar aqui e ali o

    hipismo e as drogas, como contestao ao que estava estabelecido,

    e as portas se abriam para o misticismo e o satanismo declarado20

    .

    COLHENDO FRUTOS

    Em meio presso e luta havia frutos aqui e acol...

    Em Belo Horizonte, um estudante de Medicina, Credival Silva

    Carvalho, filho de lar evanglico, participava do grmio estudantil

    como tesoureiro, e vinha sendo trabalhado com estudos e

    doutrinamento ideolgico. Mas o Esprito de Deus estava se

    movendo e comeou a inquiet-lo, a partir de um acontecimento: a

    invaso da Checoslovquia pelo exrcito Russo (primavera de

    1968). Quando se questionava diante desses acontecimentos,

    recebeu um convite de Samuel Marques, colega de escola, para

    participar do grupo da ABU de Belo Horizonte. Naquele dia quem

    falava e dasafiava os universitrios com a mensagem do Evangelho

    era o jovem pastor Wadislau Gomes Martins, que na sua juventude

    tambm havia abraado a ideologia marxista e militado no partido,

    mas que, encontrando-se com Jesus Cristo vivo, havia se tornado

    discpulo do Nazareno. O pastor Wadislau chamou os estudantes

    de covardes, naquela tarde. Disse-lhe que muitos deles estavam

    dispostos a se aventurar com as ideologias, com as drogas e com o

    sexo, mas que ningum estava disposto a se aventurar com Jesus

    Cristo. Credival disse consigo mesmo: Covarde, no vou ser. Vou

  • 19A 19B

    me aventurar com Jesus Cristo. E a sua aventura continua at

    hoje, nos sertes da Amaznia, com mdico missionrio.

    O grupo de Belo Horizonte havia recebido um impulso muito

    grande quando duas irms, Dilza e Dalva Siqueira Brito,

    decidiram-se a fazer algo para o Senhor, na universidade. Dilza era

    estudante de Servio Social e Dalva era ainda estudante colegial.

    As duas se puseram de joelhos certa noite e oraram: Senhor, se tu

    queres que faamos algo na Universidade, usa-nos atravs da ABU;

    do contrrio, nada queremos. Assim, algo novo estava

    acontecendo naquele grupo que h tempo no via mais vibrao

    nem entusiasmo. Dilza e Alva Coutinho, profissional formada em

    Assistncia Social, as duas ficavam sentadas na lanchonete perto da

    escola para conversar e planejar coisas para o grupo. Assim

    surgiam idias, e tinham oportunidade de orar pelo Movimento.

    Credival Silva Carvalho chegou ao grupo quando a ABU-Belo

    Horizonte estava comeando a se despertar.

    Veio ele com perguntas tais como: No entendo por que os

    cristos no podem ser cristos as 24 horas do dia. Um outro

    estudante que apareceu no grupo de BH foi Ageu Heringer Lisboa.

    Ele tambm passava por uma experincia de converso f crist,

    abandonando a ideologia que havia abraado como alternativa de

    sua vida. O processo comeou quando ele ainda estava na

    clandestinidade poltica, lendo um livro de um terico marxista,

    para ser melhor naquilo que ele se propusera a ser. Mas Deus

    comeava a tocar em seu corao e, no meio de um turbilho de

    dvidas, Ageu detectou que havia subido num pedestal de

    ideologia e no queria descer de l. Com coragem, porm, aceitou

    o desafio que vinha em forma de uma voz interna, e abandonou o

    seu orgulho, descendo de onde estava para fazer passar a sua

    ideologia por um crivo da crtica. Verificou que ela no resistia

    crtica... e, da para voltar f que os seus pais lhe haviam

    transmitido desde criana, passou por lutas, mas veio ao encontro

    do nico e verdadeiro caminho para Deus: Jesus Cristo.

    Um recm-convertido entusiasmado pode revolucionar um

    grupo de cristos tmidos. Foi mais ou menos assim em Belo

    Horizonte, onde muitos estudantes foram atingidos: espritas,

    drogados, crentes igrejeiros passaram por experincias de real

    converso.

    Numa das viagens de Hans Burki pelas cidades do Brasil,

    apresentando conferncias em Misso Universitria, em 1965 ele

    chegou at a faculdade de Teologia de So Leopoldo, onde teve a

    oportunidade de falar aos estudantes daquela entidade. Naquele

    ano, um estudante seminarista viajou mais de 20 horas para ouvir

    mais vezes o professor suo, quando em So Paulo, apresentou

    vrias outras conferncias e foi preletor de um retiro para

    estudantes.

    Os anos se passaram, e em 1969 provavelmente muitos poucos

    se lembravam da passagem daquele professor suo, pois So

    Leopoldo ento era muito diferente. A gerao de estudantes havia

    passado e fora substituda por uma outra.

    Arzemiro Hoffman, estudante de segundo ano, estava meio

    insatisfeito com sua vida. Cursava uma escola para formar pastores

    e telogos, mas algo lhe faltava. Resolveu um dia jejuar e

    desapareceu do Morro dos Espelhos, como era conhecido o local

    onde ficava o seminrio teolgico.

    Alguns dos colegas mais ntimos e chegados, como Valdir

    Steuernagel, Renatus Porath, Arno Paganelli, percebendo a

    ausncia do colega, quiseram saber por onde Arzemiro andara. Na

    realidade ele no queria responder s perguntas que lhe faziam,

    mas intimidado a confessar, exps a razo da sua ausncia: a busca

    de algo mais profundo, uma vida mais perto de Deus. Com

    surpresa Arzemiro ouviu seus inquiridores responderem: Mas,

    isto que tambm procuramos. Deste incidente nasceu a Ao

    Bblica Universitria de So Leopoldo. (ABU de So Leopoldo). O

    objetivo era de se reunirem periodicamente, em orao e estudo

    bblico, e aprofundar na f. Os estudantes de teologia precisavam

    formar tal grupo?

    Mais tarde o grupo tomou conhecimento, numa revista, da

    existncia da Studenten Mission in Deutschland (SMD), na

    Alemanha, que a ABUB de l. Os seminaristas resolveram

  • 20A 20B

    escrever para a SMD pedindo auxlio e orientao para a ao

    crist dentro da faculdade. Estabeleceu-se a comunicao

    Alemanha-So Leopoldo, Alemanha-So Paulo (ABUB) e Wayne

    Bragg, como Secretrio Executivo, recebeu uma carta, informando

    existir esse grupo no Sul. Mais do que depressa o Secretrio

    Executivo foi estabelecer contado com a ABU de So Leopoldo.

    Este grupo teve um papel importante na histria da ABUB, pois os

    seus frutos, de pastores assessores, e de estudantes que vieram a

    participar no ministrio da obra estudantil, so inmeros. Esses

    frutos tambm tm servido como fermento para benefcio da Igreja

    Luterana.

    4. CHAMADOS A SERVIR

    MELHORANDO O TREINAMENTO

    Em Petrpolis, num stio encrustado numa das montanhas da

    Serra da Mantiqueira, com muita beleza natural e muita ordem e

    limpeza que os proprietrios tentaram manter, realizou-se o IPL de

    1970, com a durao de 21 dias. L estava reunida toda a famlia da

    ABU, os assessores e os lderes estudantis. De acordo com

    Robinson Cavalcanti, este foi um dos melhores Institutos de

    Preparao de Lderes. Mais uma vez, o esprito de perfeio do

    Secretrio Executivo Wayne Bragg funcionou para planejar o

    evento nos seus mnimos detalhes. O Dr. Brki novamente veio

    colaborar neste IPL. O Dr. James Mannoia, reitor da Faculdade de

    Teologia Metodista Livre, contribuiu com algumas palestras sobre

    filosofia e teologia.

    As palestras do Dr. Brki no consistiam de informaes

    intelectualizadas, mas atingiam o mago da vida dos estudantes,

    quebrando estruturas mentais, costumes adquiridos na tradio

    evanglica, atingindo o corao dos estudantes e, sendo assim, nem

    sempre o grupo estava preparado para receber tudo o que tentava

    transmitir. Mas ainda que os resultados no tenham sido imediatos,

    os participantes levaram a srio os estudos, que marcaram muitas

    vidas: de assessores, de estudantes e de profissionais.

    Ficou na histria de muitas vidas o dia do silncio. Trinta e

    tantos participantes do IPL tiveram que ficar a ss, em silncio, no

    tendo nada a seu lado, quer seja livro, rdio ... apenas um caderno e

    uma Bblia eram os seus companheiros naquele dia que para muita

    gente parecia no acabar. A experincia foi indita, porque muitos

    tinham medo de ficar a ss, medo de se conhecer, de se ver, de se

    ouvir. Mas a graa foi maior do que o medo e o perfeito amor

    lanou fora o temor e todos voltaram sede central um pouco mais

    integrados. Alguns ficam nas matas da serra, outros escalaram o

    monte e l ouviram Deus cham-los para o ministrio. Um deles

  • 21A 21B

    foi Dieter Brephol, compartilhando que Deus havia falado com ele,

    separando-o para o ministrio.

    Dentre vrios lderes estudantis estava presente Elezabeth

    Coutinho de Barros, estudante de pedagogia de Recife. Neste IPL

    ela decidiu entrar no ministrio estudantil, sentindo o chamado de

    Deus para comear a assessoria no Recife, ajudando Robinson

    Cavalcanti, que j atuava no campo. Orlando Kalil esteve com sua

    esposa, recm-casados ainda. No IPL ele decidiu tambm tornar-se

    assessor de tempo parcial . A Ao Bblica Universitria de So

    Paulo estava presente na pessoa de Valdir Steuernagel, que tomou

    conhecimento da filosofia e da estratgia do Movimento estudantil

    no Brasil, pela primeira vez.

    Dieter Brephol, rica Schellin, Walter Glaser, jarbas Venncio

    Martins, Robert Liang Koo, Carlota Smith, Raquiel Miranda, Mary

    Elizabeth C. Oliveira, Selva Leo Ribeiro, Luiza e Sara Hayashi,

    entre outros, l tambm estiveram. Num fim de semana, bem no

    meio do IPL, foi convocado o Congresso nacional da ABUB,

    naquele stio de Petrpolis. Alegrias, vitrias ao lado de tristezas e

    oportunidade de avaliao ... assim foi o Congresso de 1970.

    Por um lado o ingresso oficial do Dr. Diniz Prado de Azambuja

    Neto como presidente do movimento nacional trouxe alegria a

    muita gente. Algum comentou com muita satisfao:

    Agradecemos a Deus por um homem to maduro como o Dr.

    Azambuja, que aceitou a presidncia da ABUB. O nome dele j

    tinha sido apresentado pelos delegados do Nordeste numa

    oportunidade anterior, pois o Dr. Diniz desenvolveu por muito

    tempo o seu pastorado na cidade de Recife, ao lado de exercer a

    funo de arquiteto.

    O que causou um pouco de tristeza a todos os congressistas foi

    a sada de Wayne Bragg para os Estados Unidos. O Secretrio

    Executivo pediu demisso da ABUB, para se ausentar por alguns

    anos, porque pretendia tirar o mestrado e o doutorado em

    Aconselhamento Espiritual21

    .

    Para esta mesma poca, comeo de 70, Deus estava planejando

    o surgimento de uma nova gerao de estudantes que iria fazer

    histria nas fileiras da ABUB. O curso de Frias em Goinia,

    programado para meados de fevereiro, no acampamento Boa

    Esperana, foi o cenrio para receber esta gente nova. O curso

    estava sendo planejado desde outubro de 1969, quando Neuza

    Itioka viajou para o Planalto Central. Entre muitos contatos

    estabelecidos, quem de fato ajudou, abrindo as portas da sua casa e

    fazendo contato com polticos da cidade, falando com pastores e

    missionrios, para tornar possvel a realizao do Curso, foi a

    estudante de Pedagogia Duse de Abreu Moura.

    O Dr. Russel Shedd estaria nesse Curso, como um dos

    preletores, e Wayne Bragg, apesar de ter pedido demisso da

    secretaria, com viagem marcada para julho do mesmo ano, ainda

    estaria para dar a sua mo. A presena de Robinson Cavalcanti

    estava sendo insistentemente requerida. Pela misericrdia de Deus,

    e como resultado de cartas e mais cartas trocadas (cinco), e com a

    verba providenciada para viajar de avio, Robinson esteve no

    Curso para falar sobre Brasil, Universidade e Evangelizao. O Dr.

    Russel Shedd abordou o tema Cristologia; os estudos bblicos,

    treinando dirigentes, supervisionando os grupos de estudos, ficou