livro etnicorracias vol 2

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2011 Volume 2 Curso de Educação para as relações Etnicorraciais

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  • 2011

    Volume 2

    Curso de

    Educao para as relaes Etnicorraciais

  • educao para as relaes

    etnicorraciais

  • Governo Federalrepblica Federativa do Brasil

    Ministrio da educaocoordenao de aperfeioamento de pessoal de nvel superior

    universidade Federal de Gois

    educao para as relaes

    etnicorraciais

    Goinia, 2011

  • R EITORIAEdward Madureira Brasil

    PR-R EITORIA DE GRADUAOSandramara Matias Chaves

    DIR ETORIA DA FACULDADE DE HISTRIALeandro Mendes Rocha

    COORDENAO GERAL DO CURSO DE HISTRIA Alexandre Martins de Arajo

    COORDENAO GERAL DO CURSO DE APERFEIOAMENTO EM EDUCAO PARA AS R ELAES ETNICORRACIAISCristina de Cssia Pereira de Moraes

    COORDENAO PEDAGGICA DO CURSO DE APERFEIOAMENTO EM EDUCAO PARA AS R ELAES ETNICORRACIAISAndreia Silva Lisboa

    AUTOR ESEliesse dos Santos Teixeira Scaramal Wagner de Campos Sanz

    CARTOGRAFIAFelippe J. Kopanakis Pacheco

    DIR ETORIA DO CENTRO INTEGRADO DE APR ENDIZAGEM EM R EDE (CIAR)Leonardo Barra Santana de SouzaNilson Mendes Borges

    COORDENAO DE COMUNICAO IMPR ESSAAna Bandeira

    R EVISO LINGUSTICAAndelaide LimaMaluhy Alves

    DESIGN GR FICO - PROjETO EDITORIALCleomar de Souza RochaYannick Aim Ferreira Taillebois

    EDITORAOLara Carolina da Silva

    ILUSTRAOLaryssa Tavares Leandro Abreu

    Dados Internacionais de Catalogao-na-Publicao (CIP)(GPT/BC/UFG)

    Scaramal, Eliesse dos Santos Teixeira. Educao para as relaes etnicorraciais 2 / Eliesse dos Santos Teixeira Scaramal, Wagner de Campos Sanz; coordenao [de] Cristina de Cssia Pereira de Moraes. - Goinia : FUNAPE, UFG/Ciar, 2011. 136 f. Bibliografia. Anexos. ISBN 1. Histria da frica Ensino a Distncia 2. Relaes Etnicorraciais I. Sanz, Wagner de Campos. II. Moraes, Cristina de Cssia Pereira de. III. Ttulo.

    CDU: 94(6):37.018.43

    S285e

  • suMrio

    1. o ensino de histria da Frica eM deBate

    1. A frica como bero da humanidade ................................................................2. A Geografia Africana: Diversidade Regional e Correntes migratrias .......

    Diversidade do Continente Africano e Dispora Atlntica .....................................Por uma Cartografia Histrica da frica .....................................................................Regies geogrficas e histricas da frica e sua dispora no Atlntico Negro ....frica Setentrional e Oriental ........................................................................................Egito, Nbia (Kush, Mroe, Napata) e Abissnia (Ashum) ....................................Egito - tempo e espao ...................................................................................................

    3. frica Ocidental .....................................................................................................3.1 Populaes do Delta do Nger (Os Yorubs) .......................................................Origens dos Yorubs ........................................................................................................A Criao do Mundo - Mito Fundador ll-lf ............................................................As fontes e o trfico ..........................................................................................................Confederao Yorubana ..................................................................................................Principais cidades (povos) Yorubas .............................................................................Organizao socio-poltica-religiosa ............................................................................

    4. frica Central .........................................................................................................Os povos Bantos ...............................................................................................................frica Central ou Meridional .........................................................................................O grande Zimbbue e o Reino do Monomopata .......................................................Tradies Religiosas .........................................................................................................4.1 A presena mulumana europia no continente - Aspectos Gerais ................

    5. Sugestes de Atividades / Avaliao e Recursos Didticos ..........................Outras sugestes de atividades ......................................................................................Discusso de Textos .........................................................................................................Recursos Didticos ..........................................................................................................

    Referncias ..................................................................................................................Lista de Referncias ..................................................................................................Lista de Referncias de Ilustraes ........................................................................Anexos ..........................................................................................................................

    4042464851525454555757586061656668697172737576788085

    9171825

  • 2. discriMinao, preconceitos e intolerncia

    Resumo ....................................................................................................................Introduo ..............................................................................................................1. Questo de conceitos ...........................................................................................

    1.1 Tolerncia ....................................................................................................................1.2 Preconceito e discriminao .................................................................................... 1.3 Um pouco de legislao: conhecendo direitos ....................................................1.4 De outros preconceitos e discriminao alm do racismo ...............................1.5 Discriminao Positiva .............................................................................................

    2. Raiva, dio e desprezo ..........................................................................................2.1 Segregao ...................................................................................................................

    3. Trabalho escravo ....................................................................................................4. Indgenas .................................................................................................................Referncias .................................................................................................................

    95959797101106114119129130132133135

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 7

    1o ensino de histria da

    Frica eM deBate

    Prof . Dr. Eliesse dos Santos Teixeira Scaramal

    Caro (a) professora (a),

    Para estudar Histria da frica preciso romper silncios, alm de desconstruir conceitos e preconceitos, passo fundamental para a destituio de valores que levam injustia, intolerncia e, por conseguinte, violn-cia. Para isso s h um caminho possvel: o conhecimento. Esse percurso, entretanto, tortuoso e romper silncios no tarefa fcil. Antes de iniciar um estudo para se ensinar Histria da frica importante conhecer e com-partilhar a realidade e as imagens construdas sobre os povos subalterniza-dos, nesse caso dos africanos e seus descendentes.

    Sugerimos que antes, ou de forma concomitante a esse estudo, se tome conhecimento das Leis 10.639.03 e 11.645/08, assim como das Diretrizes curriculares de educao para as relaes etnicorraciaisi, reveja os PCNs e os Pareceres dos Conselhos Federal e Estadual que legislam sobre o tema. Pela diversidade e profuso de contedos existentes sobre hist-ria da frica, optamos nesse mdulo por um recorte histrico-cartogrfico do continente africano. Todas as imagens e sugestes de sites devem ser acessadas, posto que neles encontram-se disponibilizados uma quantidade suficiente e enriquecedora de livros digitalizados sobre a Histria da frica, alm de vdeos e mapas sobre o tema, os quais muito contribuiro para o estudo e o ensino dessa temtica em sala de aula e em seu cotidiano.

    Muito do contedo no presente mdulo resultado de trs anos de pesquisa junto ao Centro Interdisciplinar de Estudos frica-Amricas (CieAA), Ncleo de estudos afro-brasileiros (Neab) lotado na Universida-de Estadual de Gois UEG. O CieAA, porm, tem um carter interinsti-

  • 8 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    tucional e agrega professores e pesquisadores da UFG e UnB. Os produtos gerados pelo CieAA so resultados de nossa preocupao em contribuir para a implementao da Lei 10.639/2003 a partir das Diretrizes Curricula-res Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o Ensino de Histria e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas.

    Para contribuir na implementao da Lei 10.639/2003, o CieAA contou com a aprovao do MEC/SECAD de um Programa de Estudos denominado Projeto AB - estudos africanos e afro-americanos - qualifi-cao e capacitao docente para a formao de multiplicadores. Com o presente mdulo estamos, de certa forma, dando continuidade ao projeto AB por meio da SECAD, apenas com o diferencial da modalidade Ensino Distncia.

    Esperamos que a forma e o contedo aqui apresentados sejam praze-rosos e teis para seu conhecimento e de seus alunos. Bons estudos.

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 9

    1. a Frica coMo Bero da huManidade

    De onde viemos? Quem somos? Essas perguntas, de uma forma ou de outra, permearam os diversos grupamentos humanos. As respostas a elas tambm sempre foram diversas, variando entre posies mticas, artsticas, filosficas e cientficas. Nas abordagens cientficas sobre a origem biolgica e cultural da humanidade h um quase consenso que os primeiros homi-ndeos e humanos tiveram uma origem espacial comum: a regio orien-tal do continente africano, especialmente onde atualmente se localizam a Tanznia, a Etipia, o Qunia, a Uganda e o Sul da frica.

    A consonncia cientfica sobre a frica como bero da humanidade s no total por conta de duas posies tericas divergentes, conhecidas por monogenismo e poligenismo. Essas teorias se desdobram, em termos espacializados, em dois modelos explicativos, conhecido por modelo Can-delabro e o modelo Arca de No

    Homo Sapiens Arcaico frica Europa/sia

    Monogenismo

    Teoria que considera uma nica origem para a humanidade. Nessa teoria, as raas teriam uma origem comum, porm se diferenciam a partir da inuncia do meio ambiente e pela hereditariedade

    Poligenismo

    Teoria que considera que a origem da humanidade se deu de forma mltipla e multi-localizada. Nesse sentido, as diferenas das raas obedeceriam fatores de ordem local, ambiente e gentica.

    Modelo Arca de No(monocentrismo)

    Homo sapiens sapiens

    Modelo Candelabro(policentrismo)

  • 10 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    O modelo Candelabro explica a origem dos humanos a partir de um modelo multirregional (policentrismo). Nessa explicao, as antigas popu-laes de homindeos africanas, asiticas e europeias mantiveram uma con-tinuidade gentica com a humanidade atual. O modelo Arca de No preco-niza uma origem nica para a humanidade e, nesses termos, o continente africano apresentado como o local difusor dos homindeos (monocen-trismo) em especial os homo erectus e sapiens sapiens para os demais continentes - sia, Europa, Amricas e Oceania.

    Independente da divergncia sobre o local de origem e difuso de homindeos pelos cinco continentes, os pesquisadores das reas de geologia, arqueologia e paleontologia so unnimes em reconhecer um fato: o continente africano o nico que, at o presente momento, apre-senta amostras fsseis que indicam uma sequncia evolutiva de pr--humanos, do gnero Homo, os quais se subdividem em homo habilis, homo erectus e homo sapiensi.

    Fique alerta!

    Devemos estar atentos para no incorrermos no simplismo corrente que apresenta o homem como descendente do macaco. Recordemo-nos que ambos fazem parte de ramos diferentes. Chipanzs e Gorilas so denominados panides, os australopitecos e os homens modernos so classificados como ho-mindeos, ambos descendem de um tronco comum de proto-humanos.

    No ano de 1959, o casal de antroplogos Mary Leakey e Louis B. S. Leakey ao realizarem uma pesquisa na regio oriental do continente africa-no mais especificamente no desfiladeiro de Olduvai (Tanznia) e no Vale do Omo (Etipia) encontraram os nicos vestgios de proto-humanos que se tem registrado at ento.

    Os pases que constituem a regio oriental da frica (ou frica Se-tentrional ou Chifre da frica) so: Egito, Etipia, Sudo, Eritria, Djibuti, Somlia, Uganda, Qunia, Burundi e Tanznia.

    A regio geogrfica conhecida por frica Oriental, ou tam-bm por Chifre da frica, onde se localizam grandes acidentes geo-grficos como o rio Nilo, Rift Valley, os Lagos Turkana e Vitria e os Montes Kilmanjaro e Qunia.

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 11

    Foi Charles Darwin quem, no ano de 1871, apresentou a teoria de que a frica o bero da humanidade. Porm, foram necessrios oitenta e oito anos para que a mesma fosse corroborada. Isso ocorreu a partir do trabalho da antroploga Mary Leakey. Conta-se que aps vinte e cinco anos de pesquisas, escavaes e classificaes no Vale do Olduvai Gorge, na Tan-znia, a partir dos quais conseguira reunir centenas de vestgios e materiais fsseis e instrumentos de pedra Mary Leakey fora vista correndo de volta ao acampamento, onde o marido estava acamado com febre, bradando: Eu o encontrei! Eu o Encontrei!. E tinha razo.

    A descoberta de Mary Leakey ocorreu a partir de pegadas fossiliza-das em cinzas vulcnicas e, posteriormente, de fragmentos de um crnio de um homindeo que remetia ordem dos primatas. Nas semanas seguintes, o casal Leakey conseguiu desenterrar mais de quatrocentos fragmentos sseos e reconstruir o crnio de um humanide adulto. A partir dessa re-construo - e posterior datao radiomtrica foi possvel a construo da sequncia evolutiva da humanidade, alm de se compreender, por fim, que os australoptecos, mesmo sendo homindeos extintos, no eram um ancestral direto do homem.

    FRICA ORIENTALDestaque aos pases que a constituem

    Saiba Mais

    A regio geogrfica conhecida por frica Oriental, ou tambm por Chifre da frica, onde se localizam grandes acidentes geogrficos como o rio Nilo, Rift Valley, os lagos Turkana e Vitria e os Montes Kilmanjaro e Qunia.

    Os pases que constituem a regio oriental da frica (ou frica Seten-trional ou Chifre da frica) so: Egito, Etipia, Sudo, Eri-tria, Djibuti, Somlia, Uganda, Qunia, Burundi e Tanznia.

  • 12 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    No ano de 1969, no mesmo local, Louis Leakey encontrou outro cr-nio com aproximadamente a mesma datao do fssil descoberto em 1959. Esse crnio, porm, apresentava dentes menores e um crebro um pouco maior que o descoberto por Mary Leakey. Aps analisar sua descoberta, Louis Leakey avaliou que o fssil de 1969 no pertencia a um australopte-cos, pois parecia ser suficientemente humano, ao ponto de ser considerado uma espcie prpria do gnero Homo (ver abaixo quadro taxonmico do gnero Homo). Esse espcime foi batizado por Louis de Homo habilis ou homem hbil, por sua capacidade de construir e manipular utenslios.

    No ano de 1984, ainda na frica Oriental mais precisamente no Qunia, prximo ao Lago Turkana o tcnico em arqueologia, Kamoya Ki-meu, ento membro da equipe de Richard Leakey (um dos trs filhos do casal Mary e Louis Leakey), encontrou um esqueleto quase completo de um fssil homindeo datado de cerca de 1,6 milhes de anos. A descoberta desse fssil, categorizado como homo erectus, forneceu provas definitivas sobre o tamanho e anatomia dos primeiros homindeos eretos, alm de evidenciar que essa espcie fora a intermediria entre o homo habilis e os atuais seres humanos. Dessa forma, pelas dataes acima apresentadas, po-de-se compreender que:

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 13

    Os australoptecos, mesmo sendo homindeos, no fazem parte do gnero Homo, logo no foram ancestrais diretos do homem moderno. Os primeiros fsseis de australoptecos foram descobertos na regio da frica Austral mais precisamente na regio denominada de Taung, na atual frica do Sul, porm os mais antigos fsseis de australoptecos foram encon-trados na frica Ocidental, no pas atualmente denominado Chade (Tchad) prximo ao Lago Chad (ou Tchad).

    Voc Sabia?

    O termo Aus-traloptecos est relacionado com a descoberta de um fssil homindeo na regio Sul (austral) do continente africano, mais preci-samente onde hoje a frica do Sul. Da a denominao australoptecos = austral (sul) + ptecos (macacos) = macacos do sul (da frica)

  • 14 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    Nos anos de 1959 e 1969, foram descobertos crnios e esquele-tos de fsseis homindeos denominados de homo habilis, alm de fer-ramentas produzidas e criadas por esses. A regio de descoberta desses fsseis foi a frica Oriental, no Vale de Olduvai Gorge, na Tanznia. Esses fsseis so reconhecidos como a mais antiga espcie do gnero homo descobertos at ento.

    STIOS ARQUEOLGICOSFsseis de Australoptecus Africanus

    TD-2 TD-1

    ET-2 ET-1

    ET-3KE -1

    ZA -1ZA -2ZA -3ZA -4

    TZ -2 TZ -1

    Mar Mediterrneo

    Golfo da Guin

    Oceano Atlntico

    Oceano Atlntico

    Oceano ndico

    Tpico de Capricrnio

    Equador 0

    Golfo do den

    Tpico de Cncer

    OOceaOceaOceaOcea Ano Ano Ano Ano Atltlntlntlntlntiticoticoticotico TD Tchad / ChadeTD 1 - Bahr el GhazalTD 2 - Djourab

    ET tiopia / Etipia

    ET 3 - OmoET 2 - HertoET 1 - Hadar

    KE Kenya / QuniaKE 1 - Lake Turkana

    TZ Tamzanie / TanzniaTZ 1 - OlduvaiTZ 2 - Laetoli

    ZA Afrique du Sud / frica do Sul

    ZA 3 - KromdraaiZA 2 - SwartkransZA 1 - Sterkfontein

    ZA 4 - Taung

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 15

    Ainda na frica Oriental, nos idos de 1984, foram encontrados fsseis do homo erectus, no Qunia e na Etipia. Tanto a teoria monoge-nista quanto as abordagens presentes nos modelos explicativos monocen-trista e policentrista consideram que homo erectus tenha se espalhado por todo o continente africano e para os demais continentes. Outra questo importante que esse espcime marca a transio entre o homo habilis encontrado na Tanznia em 1959 e o homo sapiens arcaico, ancestral mais prximo do homo sapiens sapiens (homem moderno). A teoria monoge-nista, que defende a disperso do homo erectus pelos demais continen-tes, atualmente corroborada por pesquisas recentes de marcadores de DNA. (marcadores mitocondriais) na sia, Europa e Oceania. Considera--se que sua morfologia (bipedalismo) favorecia viajar grandes distncias. (Ver mapa de migraes humanas abaixo). Com o passar de longos anos, esse espcime no s teria se espalhado pelos demais continentes como tambm variado em sua morfologia.

    FRICA ORIENTALTanznia Vale Olduvai Gorge Stio Homo habilis

    Fique Alerta!

    Tanto o homo erec-tus quanto o homo sapiens e o homo sapiens sapiens so tambm conhecidos pelo termo homo habilis, pela capaci-dade (habilidade) de produzirem e utili-zarem ferramentas. Porm, todos esses tm caractersticas morfolgicas e culturais que os diferenciam entre si.

  • 16 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    Assim, importante reafirmar um entendimento: o gnero Homo o grande tronco a partir do qual se subdividiram trs grandes linhagens de tipos de homindeos e, nesse sentido, esses so aparentados e no direta-mente evoludos em uma sequncia linear. Para um melhor entendimento, vejamos o fluxograma que representa as semelhanas e diferenas culturais, fsicas e de linhagens entre esses trs segmentos.

    homo

    homo habilis homo erectushomo sapiens arcaico

    locais: frica Oriental (Tanznia, Qunia, Etipia e frica do Sul)Datas:entre 02 a 1,7 milhes de anoscaractersticas fsico-culturais: aparenta-se com o austra-loptecos:a) baixa estatura (1,10 a 1,30 mts)b) capacidade craniana: 500 a 700 cmc) carnvoro, necrfago e caadord) fabrico de utenslios em pedrae) organizao familiar e em bandosf) habitao em campos e abrigos naturais para proteo de ventos e predadores

    locais: frica Oriental e do Norte (Arglia, Tan-znia, Qunia, Etipia e frica do Sul), Sudeste da sia (Java e China) e sul da Europa (Alemanha)datas: 1,5 milhes de anoscaracteristicas fsco-culturais:Ainda diferem muito dos humanos atuais na forma do crnio e outras caractersticas, como as arcadas dentrias salientes e ausncia de queixo. Porm tambm no se assemelha aos australoptecos,como o homo habilisse aparenta.a) mdia estatura (1,60 a 1,63 mts)b) capacidade craniana: entre 830 a 1200 cm3c) habilidade de cons-truo e utilizao de ferramentas

    locais: frica, sia , Eu-ropa, Oceania e Amricadatas: 500.000 anos atrscaractersticas fsico-culturais:Mais prximo aparenta-do do homem moderno, tanto em termos fsico quanto culturais. Porm se distinguem dos huma-nos modernos pela es-pessura do crnio (1200-1400 cm3) e pela falta de um queixo proeminente. No h consenso sobre a denominao homo sapiens arcaico, geral-mente se utiliza mais a forma homo sapiens, pois para um segmento da paleontologia o Homo sapiens uma espcie nica subdividida em vrias outras subespcies, como o homo sapiens neanderthalis ou neande-thalensis

    Nesses termos, importante ter em conta que, mesmo guardando similitudes do gnero Homo, h diferenas biologicamente marcantes en-tre os homo habilis, erectus e sapiens (todos extintos) e, sobretudo, entre esses e o homo sapiens sapiens (humanos modernos). Conforme ressal-tado anteriormente, tais similitudes e diferenas no implicam, necessa-riamente, em uma evoluo linear, pois, conforme adverte os especialis-tas, essas variaes taxonmicas (ou seja, de classificao) levam os homo habilis, erectus, sapiens e sapiens sapiens se aparentarem mais como primos que como irmos.

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 17

    2. a GeoGraFia aFricana: diversidade reGional e correntes MiGratrias

    Iniciemos o presente tema retomando questes ainda latentes no t-pico anterior. Ora, se a humanidade, em sua diversidade, teve uma origem comum, essa diversidade espalhou-se por sucessivas correntes migratrias por longos decursos de anos a partir do continente africano.

    O planisfrio acimai apresenta resultados de um interessante projeto de pesquisa denominado Genografiaii. Trata-se de uma das mais recentes pesquisas desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar (geneticistas, bi-logos, antroplogos, gegrafos, linguistas, etc.) que buscou traar as rotas das migraes humanas, com o objetivo de conhecer a herana gentica da populao mundial. Esse estudo apenas mais um que pe em xeque as posies ideolgicas e pseudocientficas que quiseram apresentar a frica como um continente fechado em si mesmo, estagnado e sem histria.

    Os sculos XVIII, XIX e parte do XX foram marcados por posies cientificistas europeias que apresentaram, em todos os mbitos do sistema formal de educao, o continente africano como tendo nem histria ou hu-manidade, muitas vezes reduzindo-o a um pas, quando no recortando-o conforme os interesses de dominao.

    Saiba Mais

    Planisfrio: mapa das primeiras migra-es humanas de acordo com anlises efetuadas por DNA mitocondrial. A perspectiva desse planisfrio centra-se no plo norte. As migraes partem do continente africano (grupos genticos L1, L2 e L3) para os demais continentes. Unida-des de referncias temporais: milnios at o presente. Re-produzido de http://www.mitomap.org/wordmigrations.pdf.

  • 18 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    No plano histrico-filosfico, desde o sculo XIX, ficou amplamen-te conhecido o parecer do filsofo alemo Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) que disse em sua obra Lies sobre a Filosofia da Histria Uni-versali que a frica no tinha histria. Hegel talvez tenha sido o primeiro a apresentar em termos acadmicos uma diviso dual do continente africano. Em termos geogrficos, a frica tambm sempre foi dividida conforme in-teresses geopolticos, desde a antiguidade at a contemporaneidade. Nes-se sentido, como disse o gegrafo francs oitocentista, Vidal de La Blache (1845-1918), a geografia serve antes te tudo para fazer a guerra.

    Diante de posies ideolgicas to negativadas, faz-se importante para a compreenso e o estudo da diversidade humana de uma forma geral, e a compreenso da formao histrica da sociedade brasileira de uma for-ma particular, a desconstruo desses preconceitos. Para tanto, propem-se conhecer um pouco sobre a diversidade regional do continente africano e suas extenses no continente americano, vamos a ela.

    diversidade do continente africano e dispora atlntica

    Africanas de diferentes NaesAutor: Debret

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 19

    Bantos, Sudaneses, Ketus, Minas, Yorubs, Jeje, Nags, Lucums, Mandingas, aigos, Benguelas, Mals, Hausss, Fanti-Ashanti, Cabindas, Congos. Quem foram e quem so? Em quais regies da frica viviam ou vivem? E nas Amricas, onde ficaram? E hoje, onde estariam? At o presente momento a histria ensinada pouco divulgou essas questes.

    Conforme bem orienta as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educao das Relaes tnico-Raciais e para o ensino de Hist-ria e Cultura Afro-Brasileira (2004; p.17) a obrigatoriedade de inclu-so de Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana nos currculos da Educao Bsica uma deciso poltica, com fortes repercusses pedag-gicas, inclusive na formao de professores, posto que, com tais medidas h um devido reconhecimento e valorizao nos bancos escolares de 42% da populao brasileira.

    At o presente momento, essa populao s conheceu a histria de sua ascendncia pelo vis colonialista e subalternizado do sistema escravo-crata. Atualmente, a que pese a inegabilidade histrica de tal modelo inter-pretativo, prope-se retomar a positividade e centralidade das populaes africanas tanto na prpria frica quanto na dispora americana. Trata-se de uma deciso poltica cuja direo est nas mos da Histria. Uma Histria com os ps no passado e o olhar voltado para o futuro.

    A deliberao de focar temas africanos na dispora americana e no apenas no Brasil faz-se importante pelo sentimento identitrio que re-localiza o Brasil como parte constituinte das Amricas. O Brasil, por suas dimenses continentais e por seu idioma hegemonicamente lusitano, afas-tou-se das demais culturas americanas, de sua histria e vivncias. A reto-mada desse sentimento identitrio pode ser, mais uma vez, reiniciado pelo conhecimento da histria das culturas africanas em sua dispora americana.

    Ademais, para estudar Histria da frica, deve-se estar ciente de que toda manifestao cultural fruto de escolhas. E escolhas culturais no de-vem ser objetos de juzo de valor. Um exemplo: as formas arquitetnicas apresentadas em todo o continente africano so tributrias de escolhas ra-cionais, estticas, econmicas, pragmticas e filosficas. Assim...

  • 20 Educao para as Relaes Etnicorraciais

    Os Tuaregues (tambm africanos do Norte de frica) construram casas em forma de tendas de couro e palha.

    Saiba Mais

    Os egpcios (africanos do Norte de frica) constru-

    ram pirmides e palcios de pedras.

  • O Ensino de Histria da frica em Debate 21

    Os Musguns (da atual Repblica dos Camares) escolheram cons-truir casas cnicas de barro

    Mulheres burkinesas (de Burkina Faso frica ocidental) preferem construir casas em terracota e argila e decor-las com mltiplos pigmentos naturais.

    Saiba Mais

    A tecnologia utiliza-da pelos musguns na construo de suas casas referncia na mais moderna tecnologia mundial e apresentada como modelo de sustentabilidade am-biental e inteligncia de designer.

  • CENTRO INTEGRADO DEAPRENDIZAGEM EM REDE

    UFGUNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS

    1.

    2.

    O Ensino de Histria da frica em debate

    Discriminao, Preconceitos e Intolerncia

    capaetnicorraciais_site 2.pdfcapaetnicorraciais_site 2.pdfLivro Etnicorracias Vol 2

    contracapa

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