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Livro criado no IFC-Videira a partir das aulas de Língua Portuguesa no Projeto Mulheres Mil

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Page 1: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Nossa vida, nossas histórias: experiências de

Mulheres Mil

2014

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Título original:Nossa vida, nossas histórias: experiências de Mulheres Mil

OrganizaçãoKarla Goularte da Silva Gründler; Marizete Bortolanza Spessatto; Natalia Palhoza

DireçãoRosangela Aguiar AdamRaul Eduardo Fernandez Sales

Coordenação de ExtensãoAngela Maria Crotti da Rosa

ApoioLiteratura na Redehttp://literatura-na-rede.blogspot.com.br/

FotosVitor Hugo Rebellato

Projeto GráficoCECOM - IFC Câmpus Videira

Marizete Bortolanza Spessatto e Karla Goularte

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Vida e escrita: projeto de incentivo à leitura e à escrita com as participantes do Programa Mulheres Mil

O projeto de extensão Literatura na Rede, desenvolvido desde 2012, visa promover ações que motivem a leitura e a escrita dos alunos do IFC de Videira. Muitos alunos já participaram através de

gincanas de arrecadação de livros, formação das minibibliotecas nas salas de aula (em parceria com o projeto Livro na sala de aula: minibibliotecas e formação de leitores – IFC 2012/2013), publicação de contos e comentários, mesas-redondas sobre leitura, peças teatrais e vídeos. Muitos estudantes se envolveram nessas atividades, desde o Ensino Médio até a graduação. No segundo semestre de 2014, uma das propostas do projeto é incentivar a leitura e produção textual das participantes do Programa Mulheres Mil.O Projeto Mulheres Mil está inserido no conjunto de prioridades das políticas públicas do Governo, combatendo a violência contra a mulher e possibilitando o acesso à educação. Ele é desenvolvido no campus do IFC-Videira desde 2013, com atividades de pintura e produção de sabonetes artesanais; além dessas atividades, as participantes têm aulas de Ética e Cidadania, Língua Portuguesa, noções de administração e informática. Essas atividades têm o intuito de garantir o acesso à educação profissional e à elevação da escolaridade das participantes.Nas aulas de língua portuguesa, com as professoras Karla Goularte da Silva Gründler e Marizete Bortolanza Spessatto, foram trabalhadas diversas formas de expressão verbal e contação de histórias. Com o término das aulas, surgiu a ideia de inseri-las no projeto Literatura na Rede, dando assim continuidade aos trabalhos de leitura e produção textual. A ideia inicial foi produzir textos com as histórias de cada participante e, a partir delas, criar um “livro” com essas produções. O objetivo da atividade é valorizar a produção das alunas, incentivando-as a ler e a escrever.O ponto de partida para a atividade foi ressaltar que todos têm uma história para contar, uma memória, algo bom da infância, da juventude ou mesmo um momento que marcou sua vida para sempre. Ao ouvirmos as histórias tão marcantes dessas mulheres, decidimos incentivá-las a escrevê-las para, posteriormente, uni-las em uma coletânea. O resultado disso tudo são as histórias a seguir que, com muito orgulho, apresentamos aos leitores.

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SumárioMulheres de mil histórias 8Os rostos por trás das narrativas 9Nossa vida, nossas histórias 10Ensinar e aprender 11Memórias 13Minha Melhor Amiga e Eu 15À procura da felicidade 16Vitória 18Encontros e desencontros do amor 19Trajetória 21A viagem inesquecível 22Família, minha benção! 23Samambaiais, Violetas e Begônias 24Soneto inesquecível 25Meus filhos, minha vida! 26O incêndio e a solidariedade 27A reconstrução 29Ester, um presente de Deus 30Toma lá, dá cá 32Laços de amor 33Encontros e desencontros do amor 35Minha trajetória de vida 37Uma criança graciosa 38Uma vida 39Uma filha de Deus 40Era uma vez... Leodi 41Projeto familiar 42O monjolo e a vaca 44Nunca é tarde para recomeçar 45Quando uma avó ama um neto 47

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Foi a partir do projeto “Literatura na Rede”, do qual faço parte como bolsista, que tive a oportunidade de conhecer um pouco mais do programa “Mulheres Mil”. Quando recebi o convite

para ingressar no processo de produção do livro, não tinha ideia de quão especial este trabalho se tornaria justamente por se tratar de histórias de vida reais. Já na primeira análise dos textos fiquei emocionada e me envolvi completamente com as personagens verdadeiras que ilustram cada trecho das histórias. Foi impossível não chorar nos momentos tristes, rir nos engraçados ou suspirar com cada final feliz. Em uma segunda-feira de sol linda realizei a leitura das histórias para as Mulheres Mil, próximo ao lago maravilhoso do IFC Videira enquanto, ao mesmo tempo, nossas autoras eram fotografadas pelo profissional Vitor Hugo. A emoção estampada no rosto de cada mulher ao ouvir sua história narrada por outra voz foi tocante e, certamente, nunca sairá de minha memória. Foram momentos de risos, de lágrimas e recordações de situações marcantes na vida delas, tanto de imensa felicidade, quanto de desafios superados.O que ficou, ao final da leitura das histórias, foi a certeza de que não tinha diante de mim mulheres comuns, mas verdadeiras vitoriosas, guerreiras que precisam ser conhecidas por suas trajetórias de vida. Mães dedicadas, avós corujas, trabalhadoras incansáveis, sonhadoras natas: mulheres em suas mil facetas, com suas mil histórias... Estas sim estou certa de que são dignas de serem chamadas de heroínas, verdadeiras Mulheres Maravilhas do mundo real.

Natalia Palhoza

Mulheres de mil histórias

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Eu conheci o Projeto Mulheres Mil através da Natalia e foi ela quem sugeriu que eu realizasse as fotografias que iriam ilustrar o livro. Até então eu havia apenas lido suas histórias e

baseando-me somente nisso, a “imagem” que eu tinha delas foi sendo construída. Eu imaginava mulheres tristes e sem vontade de viver, face àquelas dificuldades que elas mesmas narraram, mas isto mudou quando as conheci pessoalmente. O dia estava lindo, o que torna a paisagem do IFC perfeita para uma tarde de retratos. De um lado, à beira do lago, eu fotografava as autoras do projeto, e de outro, a Natalia narrava a história de vida daquelas mulheres. Acostumado a ver o mundo por trás de uma câmera, não pude deixar de me tocar com o sorriso espontâneo das Mulheres Mil ao ficarem diante de minhas lentes. A timidez inicial é natural, mas aos pouco elas foram se soltando, deixando suas belezas transparecerem a cada imagem registrada. Cada traço dos rostos delas nos mostra um pouco das provas que o passado lhe impôs. Os olhares, por sua vez, denunciam que já viram muita coisa nesta vida e brilhavam de emoção ao serem ouvintes suas próprias histórias. Mas o que se destaca são os sorrisos sinceros que elas conseguem transmitir, estes sim carregados de vitórias e de superação. Espero ter cumprido a mais difícil das missões: traduzir, em uma imagem, um pouco do que as Mulheres Mil nos contam com suas presenças.

Vitor Hugo Rebellato

Os rostos por trás das narrativas

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Aprendemos na escola a admirar grandes autores e suas grandes

obras literárias. Com eles conhecemos mais sobre a vida, os

sentimentos, as alegrias e misérias deste mundo. Mas não são

só escritores renomados que têm a nos contar e que conseguem imprimir

beleza nas palavras que imortalizam grandes sentimentos no papel. Este

livro é um exemplo disso.

Desafiamos, eu, a professora e amiga Karla e a estudante de Pedagogia

e poetisa Natalia, aos grupos de mulheres que participam do programa

Mulheres Mil no câmpus do IFC Videira, em 2014, a escrever, a pôr no

papel suas vidas. Recebemos de presente este livro que compartilhamos

com todos vocês. Cada uma das autoras, ao partilhar suas histórias, ajuda-

nos a rever nossos pontos de vista, a relativizar sofrimentos, a pensar

que a beleza da vida está ao nosso lado. Basta o olhar sensível de quem

enfrenta as dificuldades com perseverança para perceber.

Aprendi muito com a experiência de trabalho junto ao Mulheres Mil. E

vejo a vida sob diferentes perspectivas acompanhando cada uma dessas

histórias de flores, dores e amores apresentadas aqui.

Nossa vida, nossas históriasMari Bortolanza Spessatto

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Afinal, que histórias são dignas de serem contadas? Quem

merece ser protagonista? O que faz com que uma história

seja interessante? Pois bem: eu digo que todos nós temos uma

história interessante para contar, pelo simples fato de existirmos e de

construirmos nossa própria história.

A minha história com as Mulheres Mil começou quando minha amiga

Marizete Bortolanza Spessatto me falou sobre o projeto Mulheres Mil.

Fiquei muito curiosa, pois ouvia as histórias que ela contava e cada

vez mais minha curiosidade aumentava. Em 2013, o projeto começou

em Videira e atuei como docente de Língua Portuguesa. Foi um grande

desafio, principalmente porque eu achava que ensinaria, mas eu mais

aprendi do que ensinei.

Em 2014, quando a professora Mari e eu pedimos para que nossas alunas

contassem suas histórias, muitas diziam que não sabiam escrever direito,

ou que suas histórias não eram interessantes para serem contadas. Mesmo

assim insistimos! Cada uma contou e escreveu do seu jeito, com toda a

sua emoção. E essa emoção nos contagiou! Choramos, sorrimos e ficamos

orgulhosas! A mesma emoção foi sentida pela estudante de Pedagogia

Natalia Palhosa, que fez um lindo trabalho, narrando à beira do lago as

“Ensinar não é transferir conhecimento, mas

criar as possibilidades para a sua própria

produção ou a sua construção”. (Pedagogia da

Autonomia - Paulo Freire).

Ensinar e aprenderKarla Goularte da Silva Gründler

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histórias dessas guerreiras da vida real. O fotógrafo profissional Vitor

Hugo Rebellato registrou e também viveu esse momento conosco.

Cada linha escrita por essas mulheres é um degrau a mais na escada da

superação do abandono, das tristezas, dos desencontros e das perdas.

Por isso, eu gostaria de agradecer a todos os parceiros que caminharam

lado a lado para que esta coletânea fosse produzida. Agradeço também

às protagonistas dessas histórias, as Mulheres Mil, que nos emocionaram

e nos ensinaram a ver a beleza na sua forma mais pura, na simplicidade.

Page 13: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Sempre fui uma jovem muito trabalhadeira. Lembro-me de que

eu era o “Gipinho do papai”. Meu pai me chamava de “Gipinho”

porque eu era sempre ligeira quando estávamos na roça. O pai me

mandava buscar um vinho e eu me lembro que ia correndo. Meus irmãos

se distraíam com tudo no meio do caminho e meu pai ficava bravo.

Nós tínhamos um burrico e sempre íamos buscar pasto com ele. Meu

irmão mais velho ia na frente e amarrava os capins, quando eu passava

em cima do burrico, ele tropeçava e eu caía... acho que meus irmãos

tinham ciúmes porque nosso pai gostava muito de mim e, por isso, eles

me judiavam muito.

Eu também tinha uma irmã mais velha e nós íamos buscar mandioca para

o gado. Lembro que ela nunca queria sujar as mãos. Ela dizia “Eu arranco

e tu quebra”, “Eu abro e tu põe no saco”. E eu fazia o serviço sujo.

Minha irmã mais velha era muito corajosa. Um dia, na época da minha

adolescência, ela me disse que enfrentava todas as vacas e eu disse:

“Duvido você enfrentar a Pintada!”. Então ela disse: “Está bem!” e lá

foi ela em direção à vaca. Então, ela chegou perto da vaca, agarrou nos

chifres e a Pintada fazia minha irmã voar pra lá e pra cá. Ela não soltava

os chifres e eu me matava de tanto dar risadas. Ela era corajosa, mas nem

tanto! No final, ela já estava pedindo para chamar a mãe, que segurou a

Odete Ema Dal Pizzol

Memórias

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Pintada para ela sair.

Em uma Quarta-feira de Cinzas, minhas três amigas e eu lá do sítio íamos

na Matriz receber cinzas. Foi então que meu irmão resolveu aprontar

uma sacanagem para quando chegássemos em casa. Era uma noite bem

escura, não havia a claridade da Lua. Perto da nossa casa tinha um morro,

então ele pegou uma capa preta do meu pai e ficou abaixado no trilho

da rua, no pé do morro. Quando nós passamos, vimos um bicho preto e

corremos morro acima e ele corria atrás de nós chutando pedras. Nunca

mais esqueci do susto e do medo que passamos naquele dia!

Com 17 anos, conheci um rapaz que não era membro da nossa igreja,

mas ia à igreja comigo. Um dia ele me desafiou: “Se você me convencer

que a tua é verdadeira, eu vou contigo e se eu te convencer você vem

comigo!”. Então, ele me convenceu eu fui com ele. Nós nos casamos,

tivemos três filhas e hoje todas são casadas, tenho três genros e três netos,

por enquanto. Tenho um marido que me respeita e nos amamos muito.

São 36 anos de casamento.

É muito bom poder relembrar as histórias vividas, minhas memórias.

Pensar no meu querido pai, na vida na roça... tudo tão diferente do que

é hoje. Eu me considero uma pessoa realizada e feliz, dentro das minhas

possibilidades.

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Minha melhor amiga era muito pobre, quando conseguiu

começar a construir a sua casa adoeceu seriamente. Eu

a ajudei a arrecadar doações de parentes e amigos e ela

conseguiu morar na casa dos seus sonhos. E esse sonho durou pouco! Nós

éramos irmãs do coração; sabíamos tudo uma da outra! Eu olhava pela

janela da cozinha e via a casa dela de longe.

Durante a sua doença, eu ia visitá-la toda a semana para tomarmos

chimarrão, comer pipoca doce que ela adorava. Passávamos uma tarde

gostosa e isso era muito bom para ambas.

Nós nunca passamos um aniversário longe uma da outra. Quando eu

estava hospitalizada, justo no meu aniversário, lá estava ela ao lado da

minha cama. Por isso, hoje eu não faço nem bolo, porque ela não está

mais entre nós. Já faz quase três anos que ela se foi.

Parei de trabalhar por motivo de saúde e me vi sozinha. Gosto muito de

plantas, tenho coleção de orquídeas, mas, mesmo assim, faltava algo. Por

isso comecei a participar do Programa Mulheres Mil. Gostei tanto que já

estou no segundo ano! Fiz muitas amigas e estou muito bem. Mas minha

grande amiga estará sempre no meu coração. Superar perdas é preciso!

Tocar a vida em frente também! Mas amizades verdadeiras vão além da

vida e da morte.

Minha Melhor Amiga e EuMaria Neusa Dalmolin

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Meu nome é Silvana e minha vida não é um conto de fadas.

Quando criança, não conheci meu pai, pois ele faleceu

quando eu tinha 2 meses. Minha mãe veio trabalhar em

uma casa de família em Videira e só ia me ver uma vez por mês. Então,

comecei a chamar meus avós de pai e mãe e minha mãe de Sirlei.

Sirlei casou novamente e me levou para morar com ela, mas não deu certo

com o meu padrasto. Então, fui morar no Paraná com meu tio, irmão

da Sirlei. Ele era muito bom, mas sua esposa era muito má. Todos os

dias era um pesadelo; meu tio saía para trabalhar e voltava tarde. Já faz

dezenove anos que meu tio João Mattos morreu. Ele foi o meu pai, que

me levava todos os dias às 3 horas da madrugada para a Perdigão. Devo

muito também à minha tia Lurdes que me ensinou a ser dona de casa.

Os anos passaram, eu casei com 17 anos; com 18 anos tive meu primeiro

filho, William. Sempre trabalhei como diarista e o levava junto comigo

para o trabalho, com frio, chuva, vento e sol. Nunca perdi sequer um

dia de trabalho. Cinco anos depois, nasceu o John e William cuidava

dele à tarde para que eu pudesse trabalhar. Mas eu estava pensando em

conseguir um trabalho com carteira assinada, férias e décimo terceiro.

Então peguei minha carteira de trabalho, fiz um teste em uma empresa e

passei. No entanto, tinha estudado apenas três séries e a empresa me fez

À procura da felicidadeSilvana Aparecida Kopp

Page 17: Livro do Projeto Mulheres Mil

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assinar um termo de compromisso para que eu voltasse a estudar.

Dois anos depois, nasceu Kim e parei de trabalhar e estudar. Vivia apenas

para a minha família e esqueci-me de mim. Quando Kim tinha 6 anos,

voltei a estudar e a trabalhar como diarista. Um dia, eu estava com o

rádio ligado e o locutor falou que estavam precisando de uma auxiliar de

cozinha. Fui até o local informado e fui contratada. Comecei a trabalhar

e encontrei o que gostava realmente de fazer: cozinhar! Depois de dois

anos, eu me tornei uma cozinheira profissional!

Mas minha felicidade durou pouco. Fiquei doente e não posso mais

cozinhar, pois não tenho mais forças para mexer com as panelas. O doutor

me disse que não sabe se meus braços vão voltar a ser como antes. Tudo

isso aconteceu depois que me separei e meus dois filhos mais novos foram

morar com o pai. Willian, meu filho mais velho, hoje tem 28 anos e é

doutor com doutorado. Eu sempre digo que ele nasceu para brilhar. Não

é fácil ficar longe dos filhos, das pessoas que você mais ama no mundo,

mas se eles estão bem e felizes, eu também fico feliz. A maior felicidade

de uma mãe é ver a felicidade dos filhos.

Acredito que todo o meu esforço valeu a pena. Como eu disse no começo,

minha vida não foi um conto de fadas, enfrentei muitos obstáculos. Já

faz quatro anos que me separei e hoje posso dizer que estou tentando ser

feliz: encontrei um novo amor. Ele tem 46 anos e é o meu príncipe. Não é

fácil viver longe dos meus meninos, eu os amo tanto! Eu sinto que, apesar

de tudo, Deus sempre esteve ao meu lado e, por isso, ainda busco o meu

final feliz.

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Meu nome é Soeli e tenho 46 anos. Tenho um filho de 23

anos e fui casada durante 22 anos. Trabalho em um centro

de educação infantil e adoro o que faço, tanto que já faz

14 anos e nem senti o tempo passar.

Hoje me sinto realizada, vitoriosa, já que há 19 anos tive um sério problema

de saúde e precisei de uma cirurgia. Tive um aneurisma cerebral. Acredito

que houve um milagre na minha vida, pois não fiquei com nenhuma

sequela. Hoje levo uma vida normal: posso dançar e ouvir músicas!

Parecem coisas simples, mas para mim não há nada melhor do que dançar

e ouvir músicas alegres, que celebrem a vida! É muito bom poder viver

e ter saúde. Sou uma mulher de bem com a vida. Espero encontrar um

grande amor e ser feliz até quando Deus permitir.

Soeli Ribeiro dos Santos

Vitória

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Vou contar a história de uma velha conhecida minha, cujo

nome não revelarei. Com quinze anos ela descobriu o

primeiro amor. Mas seus pais eram contra o relacionamento,

pois, além de ela ser muito jovem e ter problemas de saúde, precisava

trabalhar. Aos dezessete anos foi para a cidade a fim de trabalhar e

melhorar de vida. Foi nessa época que ela conheceu outro rapaz. Mas,

depois de nove meses, seus irmãos começaram a implicar com o namoro

e mais uma vez o amor foi interrompido. O tempo passou e ela teve mais

uma oportunidade para amar. Mas depois de quatro anos, em virtude da

bebida, eles terminaram o relacionamento.

Então, ela continuou a trabalhar e a fazer outros tratamentos de saúde. Ela

veio para Videira e depois de vários anos teve uma paixão. No entanto,

não teve um final feliz: por causa da bebida ela sofreu mais uma vez!

Com trinta e dois anos ela foi a Porto Alegre para fazer uma cirurgia e, por

acaso, conheceu um rapaz chamado Michel. Um ano depois da cirurgia,

voltou para uma consulta em Florianópolis e encontrou o Alfredo, que

também se tratava lá. Eles voltaram para casa juntos e dois meses depois

Ivone Casagrande

Encontros e desencontros do amor

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pediu que ela fosse com ele em uma consulta. Depois disso, ele a convidou

para morar com ele e ela foi! Eles estão juntos até hoje.

E o que há de especial nessa história? Parece ter um final feliz, não é

mesmo? No entanto, há algum tempo, ela me contou que ficou sabendo

notícias de seu grande amor: ele estava em Porto Alegre! Michel, o rapaz

que conheceu e se apaixonou no passado. Só que hoje ela é comprometida

e ele está sofrendo lá onde mora.

Fiquei muito admirada com essa linda história de amor. Eu vi nos olhos

da minha amiga a grande admiração que ela ainda guarda, daquele amor

perdido do passado. E o mais interessante é saber que no fundo ela ainda

espera a concretização desse amor verdadeiro que a espera.

Page 21: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Eu me chamo Janes Maria Danielli. Sou natural do Rio Grande do

Sul. Morei com meus pais até os seis anos de idade na cidade de

Passo Fundo. Quando minha mãe faleceu, meus quatro irmãos

(Vilma, Alberto, Oldemar e Madalena) e eu morávamos a cada ano em um

lugar até meus treze anos de idade, quando nos mudamos para a cidade

de Machadinho.

Morei com meu pai até meus 17 anos, quando me casei com Carlos

Menosso e fui morar em Paim Filho, onde fiquei por dez anos e tive três

filhos: Roberto, Reli e Maximino.

Em 1990, viemos para Videira, em Santa Catarina, para trabalhar na

Perdigão e compramos uma casa no bairro Farroupilha. Que alegria ver

meu maior sonho realizado: ter uma casa com o suor do nosso trabalho.

E quando compramos o nosso carro? Que alegria! Não são apenas coisas

materiais, pois a felicidade maior é poder dar conforto aos meus filhos,

genro, nora e meus quatro netos. Felicidade é poder ter dado uma casa

para cada filho e poder ver a felicidade nos seus olhos.

Janes Maria Danielli

Trajetória

Page 22: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Há alguns anos, lembro que eu estava muito doente e não sabia

o que tinha. Nessa época fui com o curso de Secretariado

conhecer as Cataratas do Iguaçu. Quando me lembro de

algum momento especial na minha vida, recordo dessa viagem, com o

curso de Secretariado. Conhecer as Cataratas, o museu dos animais, fazer

compras no Paraguai, conhecer pontos turísticos da Argentina e lugares

os quais nunca esquecerei! Tudo muito lindo e bem cuidado. Também

visitamos a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Foi uma viagem maravilhosa que

nunca esquecerei.

Algum tempo depois desse passeio, tive o diagnóstico de insuficiência

renal; foi um período muito difícil da minha vida. Mas mesmo com todas

as adversidades, quando ficava triste, voltava meus pensamentos para

aqueles lugares lindos, que tive a oportunidade de conhecer e pensava:

viver vale a pena!

A viagem inesquecívelLucimar Pariz

Page 23: Livro do Projeto Mulheres Mil

23

Sou filha de uma família muito humilde e me casei muito cedo. Tive

quatro filhos e com apenas 24 anos já estava separada. Quando

nos separamos, cada um ficou com dois filhos, mas pouco tempo

depois todos estavam morando comigo. Foi muito difícil, pois nunca

recebi nem um centavo de pensão, mas nunca faltou nada a meus filhos!

Sempre trabalhei muito para conseguir manter a casa e hoje, com 54 anos,

já estou aposentada por tempo de serviço e tenho 8 netos.

Quando penso na vida e olho para minha família, percebo que temos

problemas, como qualquer família, mas também vejo uma família

abençoada. Passei por muitas provações, mas Deus me sustentou,

dando-me forças para continuar. Para o futuro, desejo apenas cuidar de

tudo aquilo que conquistei, apesar de tantos espinhos que encontrei no

caminho.

Família, minha benção!Lourdes Ribeiro

Page 24: Livro do Projeto Mulheres Mil

24

Em 1967 me casei com Antonio Danielli e fui morar com os pais

dele. Minha sogra me ajudou muito a criar meus filhos. Depois

de 24 anos de casada, meus sogros faleceram com apenas quatro

meses de diferença um do outro. Meus filhos casaram, só a Marilda não

casou. Ela ficou conosco. Ela faleceu há um ano e quatro meses. Quando

as pessoas nos deixam, sempre fica algo: Marilda nos deixou saudades,

samambaias, violetas e begônias, que hoje cuido com muito amor e

carinho.

Samambaiais, Violetas e BegôniasOliva M.R. Danielli

Page 25: Livro do Projeto Mulheres Mil

25

Quando penso em algo bonito, lembro-me do texto de Albert

Einstein:

“Pode ser que um dia deixemos de nos falar... Mas, enquanto houver

amizade, Faremos as pazes de novo. Pode ser que um dia o tempo passe...

Mas, se a amizade permanecer, Um de outro se há de lembrar. Pode ser

que um dia nos afastemos... Mas, se formos amigos de verdade, A amizade

nos reaproximará. Pode ser que um dia não mais existamos... Mas, se

ainda sobrar amizade, Nasceremos de novo, um para o outro. Pode ser que

um dia tudo acabe... Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,

Cada vez de forma diferente. Sendo único e inesquecível cada momento

Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre. Há duas formas

para viver a sua vida: Uma é acreditar que não existe milagre. A outra é

acreditar que todas as coisas são um milagre.”

Marilene Aparecida da Silva

Soneto inesquecível

Page 26: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Às vezes, a história de uma vida toda pode ser contada em poucas

linhas, de maneira simples. Mas só Deus sabe os detalhes de tudo

o que vivi, dos dias que chorei e sofri com o peso das minhas

responsabilidades. Eu tenho três filhos e sofri muito para criá-los. Fui

mãe e pai e trabalhei muito para dar o que eles precisavam. Hoje, quando

olho para meus filhos, todos já casados, só vejo coisas boas. Eles hoje

me ajudam muito e me deram quatro lindos netos. Eles são minha força,

minha missão cumprida. Eu consegui, com a graça de Deus! Os momentos

mais felizes da minha vida foram quando meus filhos nasceram; eles são

a minha fortaleza! Não quero mais saber de lembrar do passado, quero

enterrar os momentos tristes. Daqui para frente, vou cuidar da minha

família, que é o que tem mais valor no mundo!

Meus filhos, minha vida!Sonia Regina Ramos de Souza

Page 27: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Minha história não é muito boa; é sofrida, mas diz o ditado:

“A vida de cada um de nós dá uma novela”.

Nasci em Aparecida, onde há grandes festas religiosas.

As pessoas vão a pé, pagando promessas e fazendo pedidos.

Meus pais eram pobres, tinham apenas três alqueires de terra e

precisávamos plantar nas terras dos outros. Como diz o ditado, “Cada

um por si e Deus por todos”. Nós éramos uma família grande: pai, mãe e

mais oito irmãos. Por isso, todos tinham que trabalhar desde pequenos.

Como a terra era arrendada, boa parte da colheita de trigo ia para o dono

do terreno.

Certo dia, eu tinha já 18 anos e estávamos capinando a roça de milho

quando minha tia chegou e disse: “Gente, a casa de vocês queimou tudo!”

Minha tia sentou-se em uma pedra e estávamos bem preocupadas, pois

tínhamos deixado em casa três crianças com 6, 4 e dois aninhos. A tia

falou que elas estavam bem, que a neném estava dormindo, mas a mais

velha a salvou. Na roça estavam a mamãe, eu e três irmãos; meu pai estava

em outras bandas trabalhando.

Ao chegar perto da casa, avistamos as árvores todas queimadas e quanto

mais nos aproximávamos da casa, aumentava a nossa tristeza. Queimou

tudo! Não sobrou nada! Ficamos apenas com a pior muda de roupas,

O incêndio e a solidariedadeIvanir Pariz

Page 28: Livro do Projeto Mulheres Mil

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pois na roça íamos com as roupas remendadas e muitas vezes descalços.

Tínhamos apenas um calçado para irmos à missa ou à cidade. Mas naquele

momento não tínhamos nada além das cinzas. Minha mãe sentou em um

tronco de árvore, chorava e gritava: “Meu Deus! Por que isso?”. E nós

ficávamos todos ao redor dela chorando também, pois não havia mais

nada a fazer.

Era uma tarde de setembro e o sol foi se pondo. Papai chegou e os vizinhos

ficaram bem preocupados. “E agora? O que vamos fazer? Onde vamos

dormir? O que vamos comer?”

Meu tio, irmão da minha mãe, falou para irmos para a casa dele, mas lá

havia mais sete pessoas e não daria para acomodar tanta gente. Então,

meus irmãos foram para a casa de amigos vizinhos e minhas irmãs

pequenas e eu fomos para a casa do meu tio com meus pais.

No outro dia bem cedo começaram a chegar as doações, como carne,

comida e móveis. Não eram novos, mas servia muito para quem nada

tinha. A casa do meu tio não era muito grande e fomos empilhando como

dava.

Muitos anos ainda vão se passar e acredito que essa história jamais sairá

da minha cabeça. Apesar de toda aquela tragédia de perdermos o pouco

que tínhamos, pudemos contar com a solidariedade. Disso também jamais

esquecerei.

Page 29: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Eu sempre achei que eu fosse uma pessoa forte, como uma

parede de concreto. Até o dia 23 de março de 2012, quando em

um acidente de caminhão perdi meu amado filho, que tinha

apenas 33 anos. Quem já passou por isso sabe que não há dor maior no

mundo; é como se alguém tivesse retirado meu coração sem anestesia.

Meu marido, que já estava se tratando de um câncer, não resistiu ao choque

de perder o amado filho e também faleceu treze dias depois. Eu fiquei sem

meus dois amores, fiquei sem chão, sem nada. Eu, que acreditava ser forte

como uma parede de concreto, virei apenas pó.

Na nossa vida nós cultivamos sonhos, alguns sonham alto, querem tudo.

Eu sempre sonhei em ter uma família, sonhei em vê-los com saúde ao

meu lado, apenas isso... e, de repente, eu não tinha mais nada!

O tempo passou e meu coração ainda não cicatrizou, ainda sangra. Mas

eu continuo a viver, sem saber a razão. Quando me pediram para contar

uma história, a história da minha vida, eu me perguntei: “Que vida?”, pois

a cada passo que dou eu me pergunto: “Por quê?”.

Não sei se algum dia voltarei a ser aquela parede forte, não sei se voltarei

a sorrir, mas estou tentando me reconstruir e me reerguer do pó, com um

“tijolo” por dia. Hoje tenho certeza de que meu marido e meu filho não

gostariam que eu perdesse a razão de viver, então, eu construo “minha

parede” todos os dias por amor a eles. Quem sabe um dia, por amor, eu

volte a sorrir.

Lucia Rosa Machado

A reconstrução

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Em uma bela manhã eu ouvi o telefone tocar: era a minha neta

me ligando desesperada! Minha filha havia caído ao descer a

rua da sua casa e não conseguia se mover. Quando cheguei lá,

minha filha estava caída no meio da rua chorando e não conseguia se

movimentar, pois sentia muita dor. Eu a ajudei a levantar-se e a levei ao

hospital. Lá fizeram radiografias e viram que seu pé estava quebrado em

três lugares e necessitaria de pinos. Então, ela fez a cirurgia e ficou por

um ano com gesso e muletas.

Após três meses do acidente, minha filha descobriu que estava grávida.

Foi uma gravidez de risco, já que sua pressão estava alta. Em todos os

dias de consulta, o médico a deixava internada em observação. Quando

ela estava no sexto mês de gestação ela foi internada novamente; sua

pressão não regularizava, mesmo tomando medicamentos e o médico não

conseguia ouvir os batimentos cardíacos do bebê. Com isso, o médico a

internou na UTI neonatal em Lages e lá nasceu a nossa princesa, com

apenas 970 gramas. Ester, minha netinha maravilhosa, ficou cinquenta e

oito dias em Lages.

Na véspera do Natal, Deus nos deu um presente maravilhoso: Ester teve

alta e veio para casa. Após alguns dias, percebemos que ela não ganhava

Iris Deves

Ester, um presente de Deus

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peso, só aumentava sua barriga. O médico achava normal, pois ela havia

nascido prematuramente. Então, nós a levamos a outro médico, pois

não aceitávamos que aquilo fosse normal, já que mesmo com todos os

cuidados, com 7 meses ela pesava 3,9 kg. Ao verificar o caso, o doutor

Amarildo a encaminhou ao hospital para fazer os exames e constataram

que seu intestino estava trancado. Com isso, encaminham Ester às pressas

para Chapecó, a fim de ser submetida a uma cirurgia.

Graças a Deus, tudo ocorreu bem; em cinco dias ela voltou para casa.

Ester ficou bem por dez dias; depois disso, o intestino trancou novamente.

Voltamos a Chapecó e nossa princesinha passou por uma nova cirurgia.

Hoje Ester é uma criança saudável, cheia de vida e só nos dá alegrias.

Quem viu aquele bebê tão pequeno e frágil jamais acreditaria que se

trata da mesma criança. Um ser tão pequeno, iniciando a vida com tantos

desafios! É muito emocionante contar essa história e ver que tudo deu

certo! Ester é nosso presente, um presente de Deus!

Page 32: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Esta é uma história que poderia ter um final trágico, mas foi até

engraçada.

São outros tempos! Algum tempo atrás, se uma mulher fosse

traída, não poderia sequer reclamar ao marido; sofria calada. Se um

homem descobrisse a traição de uma mulher, jogava-a fora de casa, sem

nada ou poderia ser espancada ou assassinada em nome da honra! Mas

hoje os tempos são outros...

Eu tinha um vizinho muito safado! A mulher dele trabalhava à noite e

ele aproveitava para traí-la, na casa dela, a cada noite com uma mulher

diferente. Um dia, a mulher descobriu o que ele fazia e fez a mesma

coisa: arranjou um amante e o levava para casa todos os dias. Quando ele

descobriu o que ela fazia, deu a maior bronca e ela disse: “Fiz o mesmo

que você!” Então, depois de muita discussão, eles pediram perdão e

prometeram se respeitarem para sempre. Um final feliz, afinal, “toma lá

dá cá”!

Toma lá, dá cáLurdes R. Heemonn

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Em um dia muito frio, próximo do anoitecer do dia 20 de agosto de

1975, eu nasci. Em um tempo em que os partos eram realizados

pelas parteiras, a que fez o parto da minha mãe biológica me

levou para ser adotada por um casal que não podia ter filhos. Meus novos

pais me receberam à meia-noite do mesmo dia, com muita alegria. Eles

me deram de tudo o que eu precisava para uma criança crescer, todos os

cuidados, mas principalmente amor!

Aos dezesseis anos me casei com meu noivo. A festa foi muito linda, com

parentes e amigos. Ficamos morando com meus pais e tivemos três lindos

filhos: Deyvidi, Daiane e Dyame. Eles são minha herança do céu, meus

amores.

Sempre digo a meus filhos que não temos o sangue da família de meus

pais adotivos, mas temos o essencial: amor e carinho! O que é um laço de

sangue diante de um forte laço de amor?

Tivemos dificuldades e doenças na caminhada da vida, mas com a ajuda

de Deus chegamos juntos até hoje, firmes! Moro há 32 anos em Videira

e há dezessete anos meu esposo teve um câncer maligno do pâncreas.

Tivemos um milagre, pois sem nenhum remédio ou tratamento ele foi

curado e hoje está com toda a saúde e vigor. Isso aconteceu pois nunca

Laços de amorDioneide Aparecida Ferreira dos Santos

Page 34: Livro do Projeto Mulheres Mil

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perdemos a fé!

Cremos que nosso caminho ainda é longo e teremos forças para continuar.

Ainda há muito que aprender e viver. Medos e angústias podem aparecer

em nosso caminho, mas enquanto houver amor e fé, encontraremos

forças para superá-los.

Page 35: Livro do Projeto Mulheres Mil

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Vou contar a história de uma velha conhecida minha, cujo

nome não revelarei. Com quinze anos ela descobriu o

primeiro amor. Mas seus pais eram contra o relacionamento,

pois, além de ela ser muito jovem e ter problemas de saúde, precisava

trabalhar. Aos dezessete anos foi para a cidade a fim de trabalhar e

melhorar de vida. Foi nessa época que ela conheceu outro rapaz. Mas,

depois de nove meses, seus irmãos começaram a implicar com o namoro

e mais uma vez o amor foi interrompido. O tempo passou e ela teve mais

uma oportunidade para amar. Mas depois de quatro anos, em virtude da

bebida, eles terminaram o relacionamento.

Mesmo com tantos desencontros amorosos, ela continuou sua vida,

trabalhando e fazendo tratamentos de saúde. Não me lembro ao certo

quando essa minha amiga veio para Videira, mas sei que depois de vários

anos ela teve uma paixão. No entanto, não teve um final feliz: por causa

da bebida ela sofreu mais uma vez!

Com trinta e dois anos ela foi a Porto Alegre para fazer uma cirurgia e, por

acaso, conheceu um rapaz chamado Michel. Um ano depois da cirurgia,

voltou para uma consulta em Florianópolis e encontrou o Alfredo, que

também se tratava lá. Eles voltaram para casa juntos e dois meses depois

pediu que ela fosse com ele a uma consulta. Depois disso, ele a convidou

Encontros e desencontros do amorIvone Casagrande

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para morar com ele e ela aceitou! Eles estão juntos até hoje.

E o que há de especial nessa história? Parece ter um final feliz, não é

mesmo? No entanto, há algum tempo, ela me contou que ficou sabendo

notícias de seu grande amor: ele estava em Porto Alegre! Michel, o rapaz

que conheceu e se apaixonou no passado. Só que hoje ela é comprometida

e ele está sofrendo lá onde mora.

Fiquei muito admirada com essa linda história de amor. Eu vi nos olhos

da minha amiga a grande admiração que ela ainda guarda, daquele amor

perdido do passado. E o mais interessante é saber que no fundo ela ainda

espera a concretização desse amor verdadeiro que a espera.

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Eu me chamo Joelma Morais de Souza, natural de Videira, tenho

35 anos. Venho de uma família de catorze irmãos; fui a primeira

filha. Depois que meus pais tiveram cinco filhos homens, tive

uma infância muito sofrida. Aos oito anos, eu cozinhava, lavava roupas

e ainda cuidava dos meus irmãos menores porque meus pais precisavam

trabalhar para nos sustentar.

Aos 22 anos eu me casei com um rapaz chamado Edemar e tive minha

primeira filha com dez anos de casada. Infelizmente, Deus a quis para

Ele, mas depois de dois anos nasceu nosso segundo filho, Eliezer. Depois

veio o Samuel e depois de cinco anos nasceu o Gustavo. Todos estão com

muita saúde e, por isso, somos muito felizes.

Quando eu lembro daquela infância difícil, não guardo mágoa em meu

coração, mas quero dar o melhor a minha família. Apesar de tudo, eu me

considero uma pessoa abençoada.

Joelma Morais

Minha trajetória de vida

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A minha infância foi muito boa. Eu brincava muito com as

minhas irmãs! Minhas brincadeiras favoritas eram pular corda,

jogar peteca e bolinha de gude. Fui a última dos sete filhos. Fui

muito amada pelos meus pais e irmãos mais velhos. Nasci em um dia de

Páscoa. Minha irmã mais velha já estava com doze anos e nem sabia que

nossa mãe teria um bebê. Ela foi à missa cedo e, quando voltou, encontrou

uma criança: uma menina. Ela nos conta que cantou e gritou o dia todo de

felicidade. Até hoje nós nos amamos muito.

Uma criança graciosaGraciosa Vanz

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Certo dia, nasceu Angelita, uma menina linda, cheia de graça.

Ela cresceu cheia de amor e carinho. Os anos se passaram e ela

foi crescendo. Angelita estudou até quando foi possível, pois

suas condições não permitiram que ela continuasse seus estudos.

Com o passar do tempo, ela sentia que havia uma missão para ela neste

mundo. Então ela foi atrás de seus sonhos. Nesse caminho, encontrou uma

pessoa com quem desejou partilhar sua vida e formar uma família. Mas,

como a vida não é um mar de rosas, ela passou por muitas dificuldades.

Mesmo assim, ela não perdeu a esperança, sempre confiando em Deus.

Ela sempre pensou que nem mesmo em dias em que a chuva cai e nos

meses dos anos em que as folhas caem e secam, não devemos desanimar!

Por isso, devemos sempre regar nossa vida como se fosse a coisa mais

preciosa e tentar enxergar as coisas boas.

Depois que Angelita passou por um grande desafio, decidiu ter atitudes

diferentes, como aproveitar mais a vida e curtir seus filhos e família.

Deus faz milagres em nossas vidas. Ela aprendeu que “além do horizonte

existe um lugar bonito e tranquilo pra gente se amar” e viver em paz!

“Um dia, a luz da vida se apagou, mas veio o Senhor e acendeu. Deu

um brilho nos olhos e acendeu a chama da vida”. Por isso, apesar das

dificuldades, nunca abandone quem te deu a mão.

Uma vidaDani Vicari Zago

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Eu me casei muito jovem. Meu marido bebia e, por isso, foi

muito ruim para os nossos filhos e para mim. Por conta do

vício do meu marido, trabalhei em dobro na roça e nos aviários.

Morávamos em propriedades rurais como empregados.

Meus filhos são muito unidos e nunca me incomodaram. Eles são meu

tesouro! Tive oito filhos, mas Deus me levou um. Fomos muito pobres e

hoje me considero uma pessoa muito feliz, pois tenho minha casa própria,

seis netos e cinco netas. Graças a Deus, meu marido não bebe há 15 anos.

Eu os amo muito. Minha família é a razão da minha felicidade.

Uma filha de DeusOdila G. Koch

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Era uma vez uma menina muito sofrida. Essa é a minha história:

cresci, fiquei adolescente e casei. Depois do casamento, minha

vida foi dedicada ao meu marido, aos filhos e ao serviço.

Tive sete filhos; o mais novo nasceu com um problema e sofri com isso

durante quatro anos. Depois de quinze dias no hospital ele veio a falecer,

mas com Deus fui tocando a vida. Mais tarde, meu marido faleceu e foi o

fim da picada! Meu marido era ciumento e eu acabava ficando só em casa,

nunca tinha entrado em um mercado, nem em um banco; ele era quem

fazia os negócios na cidade. Depois que ele morreu, isso me causou muito

sofrimento! Eu só trabalhava e nunca tinha tempo para mim.

Mas, com fé em Deus, superei tudo isso. Agora vou fazer o que sempre

quis: novas amizades e pintura, graças ao Programa Mulheres Mil.

Era uma vez... LeodiLeodi Lima de Paula

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Em 1984, fui contratada como voluntária para trabalhar na

prefeitura de Laranjeiras do Sul, no Paraná, por um ano. Eu ficava

na prefeitura meio período e no outro íamos para a periferia.

Era um projeto familiar no qual deveríamos ir até as periferias distribuir

preservativos e anticoncepcionais para as mulheres. Um dia chegamos

à casa de Mariazinha e Antônia e tínhamos que fazer a demonstração

de como usar os preservativos. Então, levamos um pedaço de cabo de

vassoura para mostrar como se colocava a camisinha. A Mariazinha não

podia mais tomar os comprimidos porque fazia mal, então demos a ela as

camisinhas. Já a Antônia podia tomar os comprimidos.

Nesse programa, a mulher que chegasse a engravidar teria por um ano

roupas para o bebê e leite, mas nós tínhamos que fazer a cabeça delas para

que elas não engravidassem, somente quando fosse planejado. Certo dia,

Mariazinha e Antônia apareceram para fazer a ficha para gestante, então

perguntei: “E as camisinhas?” e uma delas me respondeu: “Doutora Luiza,

eu encapei todas as vassouras, até as dos vizinhos, mas não adiantou... eu

estou grávida!”. Em seguida, perguntei a Antônia o que havia acontecido

com os anticoncepcionais e ela me respondeu: “Eu doei para a vizinha,

pois o filho dela ficou com dor de barriga e demos os comprimidos para

ele. Então, fiquei sem e engravidei!”.

Projeto familiarLuiza Hupalo

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Trabalhei nesse programa durante seis meses; já faz muito tempo que isso

aconteceu, mas ainda me lembro e me divirto com as histórias que ouvi.

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Aos quinze anos, eu morava em uma colônia com meus pais. Nos

fundos do terreno havia um rio, onde gostávamos de tomar

nosso banho e brincar. Mas como gostávamos de plantar os

alimentos, descascar arroz, fazer canjicas e tratar dos animais, papai

resolveu montar um monjolo que é formado por uma haste de madeira

suspensa de forma que a parte que suporta o pau do pilão maior que a

outra, que termina por um recipiente que enche com a água de uma calha,

fazendo assim levantar o pau do pilão. Quando está cheio o cocho, este

faz baixar a haste e, quando o cocho despeja a água, a outra extremidade

cai sobre o pilão. No monjolo, fazíamos farinha de beiju.

Em um belo dia, mamãe colocou milho para moer farinha e quando foi

pegá-la, não tinha nem o milho, nem a farinha; só havia uma vaca com o

focinho cheio de farinha. Nem as vacas conseguem esconder seus erros,

coitadas! Mas que a vaca ficou satisfeita ficou! Mesmo com dor na cara!

O monjolo e a vacaLenira Antunes de Matos

Monjolo

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No dia 10 de abril de 2000, casei toda bonita e cheia de sonhos

com Vanderlei dos Santos. No dia 7 de agosto do mesmo ano

nasceu Willian, minha riqueza. Quando o peguei no colo, senti

uma felicidade inexplicável: vontade de chorar, sorrir. Depois de algum

tempo, decidimos ter outro filho e no dia 3 de março de 2002 nasceu a

Ariane, minha princesa!

A minha vida parecia um conto de fadas, mas foi então que começaram

as mentiras e traições. Sete anos foi o tempo que durou o meu conto de

fadas, pois perdi tudo! Meu marido me trocou por uma moça muito mais

jovem, vendeu nossa casa e tudo o que tínhamos. O pior de tudo foi que

minha ex-sogra ficou com o meu filho e entrei em depressão. Em virtude

disso, saí do emprego; minha única alegria era a minha princesinha e mais

nada! Tive que recomeçar do nada.

No meio de tanta decepção, conheci uma pessoa incrível, Sidmar Boniatti,

então resolvi me arriscar em um novo amor. Já faz quatro anos que estamos

juntos. Neste tempo, minha sogra conseguiu levar também a minha

princesinha e hoje ela tem a guarda dos meus dois filhos. Mas eu ganhei

um presente lindo de Deus, ele se chama Marco Aurélio (Marquinho). Ele

veio para preencher o vazio que ficou no meu coração pela falta dos meus

dois tesouros.

Nunca é tarde para recomeçarOdete Aparecida Mineiro Santos

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Hoje, sempre que levanto, minha força é maior. Aprendi que todo dia é um

recomeço; isso meu filho Marquinho me ensina todos os dias. Meu marido

é mais que um companheiro, ele é o meu chão. É ele quem estende a mão

e não me deixa cair quando tropeço. Aprendi também que a felicidade se

constrói a cada dia e que minha maior riqueza são meus filhos: Willian,

Ariane e Marquinhos.

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Yuri Bocca foi meu primeiro neto, um lindo menino. No dia do

seu nascimento, por causa da infecção na bexiga durante a

gravidez de sua mãe, ele nasceu com infecção no sangue. Sem

perceber a infecção, logo depois do seu nascimento, quando sua mãe já

estava no quarto, levaram-no para amamentá-lo, mas ele chorava muito.

Yuri nasceu às 13h15min e fiquei com ele até anoitecer, pois o parto foi

cesariana. Perto de anoitecer eu ainda estava com minha filha e meu neto.

Quando ele dormiu, fui vê-lo e percebi que estava gelado. Achei muito

estranho, pois estava com roupas bem quentinhas. Diante disso, chamei

as enfermeiras que me disseram que era normal. Briguei muito com elas!

Disse a elas que eu já era mãe de três filhos e nunca havia visto uma coisa

daquelas. Pedi que chamassem o médico com urgência! O médico veio e o

levou para fazer alguns exames que constataram uma infecção no sangue.

Com o diagnóstico do médico, levaram-no para uma incubadora na ala do

berçário e fizeram um pequeno corte embaixo do bracinho dele, colocando

um pequeno tubo para retirar toda aquela infecção. Ele ficou seis dias na

incubadora sem tomar leite materno, somente no soro e medicamentos.

Yuri ficou mais quatro dias em observação e depois ganhou alta. Então,

dia 30 de julho de 2009, fomos todos para casa muito felizes.

Quando uma avó ama um netoElizete Aparecida Morais

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Em uma manhã enquanto eu lavava a calçada de minha casa, meu neto

brincava com seu amiguinho Vinícius, que mora em frente a minha casa.

Eles brincavam na garagem de casa quando o pai do Vinícius chegou. Ele

logo foi de encontro ao pai e meu neto Yuri, que na época tinha 4 anos,

foi atrás dele e não deu tempo de atravessar a rua. O pai do Vinícius o

atropelou, passando por cima do pé dele.

Quando olhei meu neto caído no chão no meio da rua gritando e chorando,

saí correndo. Quando cheguei perto, só vi sangue que não parava de sair.

Então, nesse momento, meu neto olhou pra mim e disse: “vó, cuide de

mim! Ele quebrou o meu pé!”. Ao vê-lo daquele jeito, só pedi a Deus

que não tivesse quebrado nada, pois seu tênis havia rasgado. Um tempo

depois, chegou o SAMU e fizeram os primeiros socorros. Depois, levaram-

no para o hospital Divino Salvador. Eu fiquei ao lado dele o tempo todo e

ele repetia: “vó, cuide de mim! Ele quebrou o meu pé!”.

No hospital, Yuri foi atendido imediatamente e foi medicado em por causa

da dor. Graças a Deus tudo foi apenas um susto: só havia saído um pedaço

da pele de cima do pezinho, não chegou a quebrar. Logo fomos para casa

e tudo ficou bem. Depois desse acidente, ele ficou com pouco de medo de

ir para a rua, mas hoje eu percebo que Deus é grande e sempre o protegeu

de todo o mal.

Quando uma avó ama seus netos, é capaz de fazer qualquer coisa. Tive

muito medo de perdê-lo quando ele nasceu e tive medo de que ele sofresse

no dia do acidente. Participei de momentos muito tensos com meu netinho

e faria qualquer coisa para protegê-lo. De uma coisa meu neto nunca terá

dúvida: sempre o amarei e estarei do seu lado, enquanto Deus permitir.

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