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Uma Breve História da Ciência A Aventura do Conhecimento Cienfico ao Longo dos Séculos Alex Vieira dos Santos Amilcar Baiardi Daniel Baiardi ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA Salvador 2016

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Uma Breve História da CiênciaA Aventura do Conhecimento Cientí fi co ao Longo dos Séculos

Alex Vieira dos SantosAmilcar BaiardiDaniel Baiardi

ASSEMBLEIA LEGISLATIVADO ESTADO DA BAHIA

Salvador 2016

Santos, Alex Vieira dosS237h História da ciência : uma abordagem introdutória / Alex Vieira dos Santos; Amilcar Baiardi e Daniel Baiardi. - Salvador : Academia de Ciências da Bahia, 2016. 194 p: il.

1. Ciência – História. I. Baiardi, Amilcar; II. Baiardi, Daniel

CDD 600

I S B N 9 7 8 8 5 7 1 9 6 2 6 0 6

Copyright © by Alex Vieira dos Santos, Amilcar Baiardi e Daniel Baiardi

Direitos desta edição reservados à

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DA BAHIA

PRODUÇÃO EDITORIAL

EDITORES: Paulo Bina e Délio Pinheiro

ASSISTENTES EDITORIAIS: Arlei Adriano, Alexsandro Mateus

AUTORES: Alex Vieira dos Santos, Amilcar Baiardi e Daniel Baiardi

REVISÃO: Álvaro Almeida

APOIO TÉCNICO: Vagna Felício, Vanice da Mata

PROJETO GRÁFICO E EXECUÇÃO: Bira Paim

Todas as ilustrações contidas neste volume são originárias da Internet (Google) e utilizadas sem fi ns comerciais

“Dubium Sapienti ae Initi um”

Aristóteles384-322 a.C.

Em tradução livre: “A dúvida é o princípio da sabedoria”.

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MESA DIRETORA

PresidênciaMarcelo Nilo

1ª Vice-PresidênciaAdolfo Menezes

2ª Vice-PresidênciaTom Araújo

3ª Vice-PresidênciaCarlos Geílson

4ª Vice-PresidênciaPastor Sargento Isidório

1ª SecretariaLeur Lomanto Júnior

2ª SecretariaAderbal Caldas

3ª SecretariaFabrício Falcão

4ª SecretariaSildelvan Nóbrega

SuplentesAdolfo Viana Ângela SousaMarquinhos VianaTargino MachadoRoberto Carlos

Chefe da Assessoria de Comunicação SocialPaulo Bina

Assessor para Assuntos de Cultura Délio Pinheiro

ASSEMBLEIA LEGISLATIVADO ESTADO DA BAHIA

PresidenteRoberto Figueira Santos

Vice-PresidenteEdivaldo M. Boaventura

Conselho EditorialAmilcar BaiardiEdivaldo M. BoaventuraIracy Silva PicançoJoão Carlos Salles Pires da SilvaPaulo Costa Lima - Coordenador

Roberto Figueira SantosZelinda Margarida de Andrade N. Leão

Apoio TécnicoÁlvaro AlmeidaVagna FelícioVanice da Mata

ACADEMIA DE CIÊNCIAS DA BAHIA

INTRODUÇÃO

Este texto se propõe a relatar, de forma simplifi cada e acessível, como se deu o surgimento e a evolução da atividade científi ca, desde que a mesma existe como manifestação de vontade individual ou co-letiva, da Antiguidade Clássica até os dias de hoje. Compreende este esforço de reconstrução e narrativa um período de aproximadamente dois mil seiscentos anos, quando a ciência, ou a fi losofi a, como então era chamada, podia existir como iniciativa diletante e anárquica, sem nenhum apoio, até a contemporaneidade, quando ela é considerada uma função de Estado, passando por estágios nos quais recebia apoio de mecenas como ricos comerciantes, apoio das religiões, apoio de go-vernantes e de comunidades intelectuais.

Antes de prosseguir, contudo, conviria fazer uma distinção entre ciência e tecnologia, conceitos que frequentemente aparecem relacio-nados, mas que não são a mesma coisa. A ciência seria uma atividade tipicamente humana de busca sistemática do conhecimento da na-tureza e dos seus fenômenos, inclusive o comportamento do homem, e que, em geral, tem início com a observação, seguindo-se a descrição, a experimentação e a teorização. Dependendo do tipo de objeto que se pesquisa, a experimentação, que é a tentativa de reproduzir em labo-ratório, de modo controlado, os fenômenos, poderá não existir, sendo substituída por um modelo teórico explicativo dos fenômenos naturais ou sociais. A experimentação poderá ser mais ou menos rigorosa, a depender dos recursos que se disponha, inclusive o conhecimento teórico pré-existente. A profi ssão de cientista, entendendo-se como a atividade regularmente remunerada por prestação de serviços de pes-quisa científi ca e tecnológica, surge pela primeira vez em Alexandria, cerca de 330 anos a. C. (BAIARDI,1996). Anteriormente, o conheci-mento científi co era gerado por fi lósofos, professores, sacerdotes, ma-gos e por pessoas com outras profi ssões, mas que tinham em comum um grande espírito de curiosidade e certa disciplina. Muito se tem dis-cutido sobre os métodos por meio dos quais se desenvolve a atividade científi ca, podendo-se dizer que todos eles têm validade, sejam os que

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priorizam a conduta extremamente abstrata e teórica e subestimam as sensações e o experimento, como aqueles que entendem ser a com-provação experimental o procedimento fundamental em uma pesquisa.

A tecnologia, por seu turno, é o estudo das técnicas, inclusive de sua evolução. É a busca do conhecimento de como produzir e desen-volver instrumentos de trabalho, equipamentos e processos, destinados a elevar a produção por esforço físico humano ou unidade de trabalho despendida e resolver problemas, enfi m, melhorar a qualidade de vida do homem, criando facilidades para o convívio em sociedade. Na sua origem era uma atividade típica de artesãos, dedicados a uma arte diver-sa daquelas voltadas para despertar o prazer estético, como a pintura, a escultura etc. O desenvolvimento destas artes práticas, ou técnicas, vem se dando desde o aparecimento do homem, mas a sistematização e a divulgação do conhecimento adquirido é uma manifestação recente. Generaliza-se depois da descoberta da imprensa. Antes da publicação de tratados impressos, alguns copistas tentaram, por meio de manuscri-tos, sistematizar e preservar o conhecimento técnico disponível desde a Antiguidade. O que se sabe, entretanto, é que, geralmente, o conhe-cimento se transmitia de homem a homem, nas ofi cinas e laboratórios. Até o Século XVII não se pode falar de relacionamento funcional en-tre a ciência e a tecnologia, ou de ciência e tecnologia conectadas, C&T, como se convencionou denominar e instituir com esta sigla. Este se dá com a Revolução Científi ca do Século XVII, quando a necessidade de equipamentos mais complexos e mais precisos para as determinações e medições, obrigou os cientistas a estabelecerem um contato mais próximo com os artesãos, o que propiciou um intercâmbio de ideias com sensíveis benefícios para as duas partes. Neste sentido, costuma-se dizer que a tecnologia de hoje é a ciência de ontem e que a ciência de hoje é a tecnologia de amanhã.

A rota da ciência para a tecnologia não é uma auto-estrada reta, mas sim um caminho espiralado. Nele, o progresso científi co habilita tec-nologias que, ao seu turno, permitem galgar um patamar mais elevado da ciência, que, por sua vez, cria novas tecnologias e assim por diante. Esta imagem se tornaria mais nítida com o emprego de uma metáfora tomada por empréstimo da biologia, uma vez que este rebatimento en-tre ciência e tecnologia poderia ser representado por uma hélice dupla

como a que expressa o entrelaçamento do DNA (ácido dexo-ribo-nu-cleico), no qual uma fi ta seria a ciência e a outra a tecnologia. Um bom exemplo de interação entre ciência e tecnologia para fi nalizar um produto avançado - que se converteu em efi ciente ferramenta para diagnóstico em medicina - é o caso do aparelho de ressonância mag-nética, cuja teoria foi descrita em 1938 e somente em 1981, após vários passos na ciência e na tecnologia, em uma e outra área, se chegou ao protótipo.

Existem diferenças conceituais entre tecnologia e técnica. A técnica seria um conhecimento específi co, já dominado e disponível para o uso. A tecnologia trataria de mudança das técnicas, provocadas por um trabalho de pesquisa que levasse às descobertas e às inovações.

A ciência tem se desenvolvido muito ao longo do tempo. Estima-se que nestes últimos cinquenta anos se tenha um número de cientistas maior que a soma de todos os séculos anteriores. Nesta linha, cabe uma pergunta: como se encontra o Brasil neste processo? Os dados indicam que o Brasil vem acompanhando este desenvolvimento. En-quanto foi Colônia de Portugal, ou teve parte de seu território ocupado por outras nações colonizadoras, a atividade científi ca aqui conduzida tinha como motivação o interesse do colonizador, fosse ele português, francês ou holandês, em melhor explorar os recursos naturais e melhor gerir território na perspectiva da metrópole. Mesmo quando se confe-ria à iniciativa da investigação científi ca uma conotação ou um sentido de novo saber, fosse ele naturalista, antropológico, etnográfi co, linguís-tico etc., o tipo de ciência que se produzia na etapa colonial é defi nido pelos historiadores como ciência subalterna, com temas defi nidos pela metrópole (GAILLARD, 1994).

Este esclarecimento deve ser feito porque há uma motivação bem diferente entre os propósitos da pesquisa realizada por um país inde-pendente, soberano, e por um governo colonial. Enquanto o primeiro busca por meio da Ciência e da Tecnologia se afi rmar no cenário in-ternacional, preservar suas fronteiras, favorecer sua população e tirar o melhor proveito das relações comerciais com outras nações, o segundo busca aumentar a efi ciência da exploração dos recursos naturais da co-lônia em benefício da metrópole, investindo no território colonial mui-to pouco dos resultados econômicos auferidos pela produção agrícola,

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pela produção de minérios e pela industrialização das matérias primas encontradas.

Ainda sobre esta diferença e trazendo o raciocínio para os dias de hoje, convém enfatizar que a afi rmação de uma nação, a continuida-de de sua independência, sua soberania e as relações comerciais mais equilibradas que estabelece com o resto mundo são, progressivamente, dependentes da Ciência e da Tecnologia. Dizendo de outro modo, Ciência e Tecnologia não são somente elementos da cultura de um povo, de uma sociedade, mas são também elementos delimitadores de um perfi l moderno de qualquer Estado-nação. Sem uma ciência e uma tecnologia nacionais não se consegue promover o desenvolvimento econômico, valorizar devidamente os produtos de exportação e tam-bém não se tem sucesso em educar, nutrir e tornar saudáveis os cida-dãos de um país. É claro que quando se faz uma afi rmação desta natu-reza não se quer dizer que todo o conhecimento científi co acumulado, e que continua sendo obtido, não sirva para o Brasil. Muito pelo contrário, ele é de grande utilidade e permite começar uma pesquisa a partir de patamares de conhecimento já alcançados. Entretanto, a necessidade de que certos conhecimentos sejam adaptados à realidade brasileira, o que se dá pela condição de país continental, com extrema variedade geográfi ca e humana, e a necessidade do país ser menos dependente de produtos importados e mais efi ciente na exportação de produtos novos, obriga o Brasil, sem prejuízo da cooperação com outros países, a ser mais efi caz na geração autóctone do conhecimento, aquela que se dá no próprio local onde se faz necessária.

Caberia ainda, a título de introdução, tentar fazer uma qualifi cação de como o Brasil encontra-se atualmente em termos de Ciência e de Tecnologia no cenário mundial. É o Brasil uma nação periférica ou central na produção e na aplicação do conhecimento? Como a ativida-de científi ca brasileira se posiciona quando comparada àquela praticada nos países mais intensamente industrializados? Uma resposta sensata diria que o Brasil é um país emergente em produção científi ca. Mais precisamente dizendo, se ainda não se tem um status de país central, o Brasil já se distancia dos países da América Latina e do chamado Terceiro Mundo. Malgrado os indicadores internacionais registrarem apenas cerca de 2,12 % de participação brasileira em artigos científi cos

publicados, isto já signifi ca muito. Signifi ca que o Brasil se encontra entre os vinte países mais produtivos, na 13ª posição, o que já expressa o acerto das políticas públicas em realizar investimentos crescentes em Ciência e Tecnologia em relação à renda nacional. Contudo, a este rela-tivo avanço de produtividade científi ca, que faz com que o Brasil fi gure no mapa mundial da ciência, não corresponde um avanço equivalente na geração de patentes, que são direitos de descobertas de inovações tecnológicas, as quais são determinadas, principalmente, pela capacita-ção científi ca. A produção brasileira de patentes é ainda muito baixa, 0,2% da produção mundial, 49ª posição, o que sugere que se faça um esforço no sentido de tornar menos acadêmica, ou menos localizada nas universidades, a pesquisa brasileira. Isto signifi ca ampliar a pesquisa nas universidades em temas de interesse dos setores produtivos e arti-cular este esforço com os setores empresariais para que nas fazendas e nas indústrias se completem as investigações que levam às inovações tecnológicas. Esta atividade é denominada pesquisa, desenvolvimen-to e engenharia, P&D&E. A pesquisa acadêmica ou a conduzida nas universidades deve gerar produtos a serem canalizados para os setores produtivos na forma de conhecimentos básicos e de conhecimen-tos aplicados, os quais, juntamente com os recursos humanos, são essenciais para a geração de inovações tecnológicas. A experiência in-ternacional mostra que na medida em que a produção científi ca se desloca das universidades e dos institutos públicos de pesquisa para as empresas, aumenta o número de patentes e, consequentemente, as possibilidades de conversão do conhecimento nacional em riqueza e bem – estar (CRUZ, 2002).

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SUGESTÕES DE LEITURA

AZEVEDO, F Introdução. In: AZEVEDO, F.de (org.) As ciên-cias no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994, vol 1.

BAIARDI, A. Sociedade e Estado no apoio à ciência e à tecnologia: uma análise histórica. São Paulo: HUCITEC, 1996.

O papel do Imperial Instituto Bahiano de Agricul-tura na Formação da Comunidade de Ciências Agrárias do Brasil. In: Anais do 1º Congresso Luso- Brasileiro de Historia da Ciência e da Técnica. Évora/Aveiro: Editora da Universidade de Évora, 2002.

CARDOSO, W. et al Para uma história das ciências no período co-lonial. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, nº 1, jan-jun 1985.

CRUZ, C.H. de B. A universidade, a empresa e a pesquisa que o país precisa. In: dos SANTOS, L.W. et alii Ciência, tecnologia e sociedade: desafi o da interação. Londrina: IAPAR/FINEP, 2002.

CHAGAS FILHO, C. Como vi a ciência brasileira nesses cin-quenta anos. Ciência e Cultura, 38 (4), abril de 1986.

FERREIRA, L.O. et al A Faculdade de Medicina do Rio de Janei-ro no século XIX: organização institucional e modelos de ensino. In: DANTES, M. A. M. (org) Espaços da ciência no Brasil: 1800-1930, Rio de Janeiro, Editora Fiocruz, 2001.

FIÚZA, S. Apontamentos históricos sobre a Escola Agrícola da Bahia. In: FIÚZA, S. (org.) A Escola Agrícola da Bahia. Salvador: Typo-graphia do Commercio, 1934.

GAILLARD, J. La naissance diffi cile des communautés scien-

tifi ques. In: SALOMON, J.J et al La quête incertaine: science, technologie, development. Paris: United Nations University Press / Econômica, 1994.

GÓES, S.S. Alexandre Gusmão e o Tratado de Madrid. Oceanos, n. 40, out/dez 1999. MORAIS, A. A astronomia no Brasil In: AZEVE-DO, F. de (org.) As ciências no Brasil. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1994, vol 1.

RUSSEL, A. J. R. Fronteiras no Brasil Colonial. Oceanos, n. 40, out/dez 1999.

SALAM, A. Ciencia, educación e desarrollo. Trieste: Lint, 1987.

SCHWARTZMAN, S Formação da comunidade científi ca no Brasil. Rio de Janeiro: Cia Editora Nacional/FINEP, 1979.

SCHWARTZMAN, S (coord.) Science and technology in Brazil: a new policy for a global world. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1995.

A capacitação brasileira para a pesquisa científi ca e tecnológica. Rio de Janeiro: Editora da FGV, 1996.

STRUIK, J.D. Mauricio de Nassau, scientifi c maecenas in Brazil. Revista da Sociedade Brasileira de História da Ciência, nº 2, jul-dez 1985.

S U M Á R I O

CAPÍTULO 1DA AURORA DA CIÊNCIA À DESTRUIÇÃO DO COMPLEXO DE ALEXANDRIA 15

CAPÍTULO 2A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA NA IDADE MÉDIA: DO COPISMO À UNIVERSIDADE, O DECLÍNIO DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E ASCENSÃO DO SISTEMA COPERNICANO 45

CAPÍTULO 3AS CIÊNCIAS NOS CONTEXTOS DO RENASCIMENTO, DA MODERNIDADE E DA CONTEMPORANEIDADE: HOMENS, MULHERES, FATOS E INVENTOS 71

CAPÍTULO 4A CIÊNCIA DO SÉCULO XX E PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI 121

CAPÍTULO 5CONSIDERAÇÕES FINAIS 155

BIOGRAFIA 159

ÍNDICE REMISSIVO 187

CAPÍTULO 1

DA AURORA DA CIÊNCIA À DESTRUIÇÃO DO

COMPLEXO DE ALEXANDRIA

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1.1 A Aurora da Ciência (do que trata a Ciência, como ela surge e como se desenvolve)

O conjunto dos conhecimentos produzidos, com pretensão de objetividade e universalidade e que visam compreender a natureza e orientar as atividades humanas, o que seria a ciência, tem sua gênese na pré-história. Pode-se citar entre eles a construção de ferramentas através do reconhecimento de materiais e processos adequados, o re-conhecimento de espécies vegetais e animais, o domínio do fogo, o uso da roda e a capacidade de medir o tempo. Entretanto, este tipo de co-nhecimento era, na aurora da civilização humana, transmitido pessoal-mente, in loco, de forma prática ou oral. Mesmo que este conjunto de conhecimentos não fosse ainda sistematizado enquanto conhecimento científi co, pode-se entender o aperfeiçoamento destas tecnologias pri-mitivas como parte dos elementos norteadores da atividade humana neste período histórico.

A difícil transmissão destes conhecimentos constituía um verda-deiro diferencial para aqueles que os possuíam e que dispunham de vantagens consideráveis sobre outros humanos deles desprovidos. Com efeito, a posse de tal ciência era confundida com algo como po-deres mágicos, um acesso especial à ordem do mundo, ou ainda, com a obtenção de favores ou serviços de entidades sobrenaturais. Dessa forma, os primeiros homens de ciência, ou de conhecimento, eram os mesmos homens que se preocupavam em transmitir para seus mais próximos discípulos os segredos do domínio destas forças, habilidades extremamente valorizadas por algumas destas sociedades primitivas. Nas diferentes culturas do passado, e ainda hoje, eles são conhecidos como xamãs, pajés, feiticeiros, magos, curandeiros entre outras deno-minações, que simbolizavam funções e aptidões especiais em termos de conhecimento atribuídas a um membro de uma determinada tribo, ou outro agrupamento de indivíduos.

Em civilizações mais desenvolvidas materialmente, encontra-se também a fi gura dos escribas, sábios, médicos e astrólogos. De um modo geral, pode-se considerar como a primeira grande revolução no conhecimento humano o advento da escrita, mesmo nas suas formas mais primitivas. Estas primeiras formas de registro da informação per-

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mitiram um acúmulo muito mais rápido das experiências adquiri-das. Entretanto, antes da Modernidade, não se encontrava uma prática científi ca como nos dias atuais. Muitos dos conhecimentos técnicos eram transmitidos paralelamente aos conceitos teóricos e fi losófi cos. De um lado, artesãos dominavam técnicas específi cas de suas profi s-sões. Oleiros, pedreiros, marceneiros, ferreiros, entre outros artífi ces, conheciam empiricamente os objetos de suas respectivas atividades. Enquanto que, de outro lado, o conhecimento teórico e com pretensão de universalidade era preservado e desenvolvido por uma tradição que remontava àqueles que se ocupavam do conhecimento espiritualizado.

1.2 O Conhecimento Pré-histórico (Mineralogia, Zoolo-gia, Etologia)

Na aurora da civilização, quando não havia ainda um registro es-crito dos conhecimentos transmitidos, os homens se organizavam em pequenos grupos, ou tribos. Mesmo nessas organizações, consideradas por muitos como primitivas, o domínio dos recursos naturais era de suma importância, tanto tomados individualmente, como também para o grupo como um todo.

Uma avaliação do conhecimento existente antes da generaliza-ção dos registros não seria possível sem o auxílio da Arqueologia, a ciência que se ocupa dos vestígios deixados pelos antigos grupos hu-manos. Por meio de escavações em sítios arqueológicos, na procura de utensílios, armas e outros artefatos, os arqueólogos são auxiliados por métodos e técnicas apropriadas, como aquelas utilizadas para a datação dos registros materiais. Muitos destes vestígios pré-históricos são pin-turas rupestres que retratam a vida dos homens primitivos em cenas de seu cotidiano, assim como a fauna que estes grupos de caçadores co-nheciam. Muitos estudiosos compreendem que estes registros são uma tentativa no sentido de classifi car as espécies animais que dividiam seu espaço com nossos antepassados.

O reconhecimento de indivíduos no reino animal era fundamental para a caça e, quando os homens primitivos puderam associar a es-tas espécies comportamentos esperados, facilitava-se o seu abate. É muito provável, comparando com hábitos de caçadores atuais, que

os relatos e narrativas das caçadas em torno das fogueiras, onde nossos antepassados dividiam os espólios de sua atividade, incluíssem descri-ções detalhadas do comportamento destes animais. A caça era uma fonte preciosa não só de alimento, mas também de peles e ossos, úteis para a confecção de utensílios, cabanas e para o vestuário. Desse modo, pode-se dizer que estes conhecimentos constituiam uma forma, ainda que incipiente, de conhecimento pré-científi co. Assim, foi ainda na pré-história que o homem começou a se dedicar à zoologia.

A Pré-história é dividida em dois períodos, o paleolítico e o neolíti-co. De acordo com os achados arqueológicos, durante o paleolítico, ou idade da pedra lascada, as populações humanas produziam utensílios a partir de remoção de lascas de rochas como o sílex e a obsidiana. No período neolítico, ou idade da pedra polida, o homem primitivo desen-volveu o domínio da produção de armas e artefatos a partir do uso dos mesmos materiais e outros.

A Mineralogia Primitiva e a Metalurgia

A manipulação de minerais com vistas à obtenção de metais, a me-talurgia, é uma técnica que não pode ser negligenciada em qualquer abordagem histórica. Ela tem início com uso da pressão para obten-ção de amálgamas e evolui com o domínio das técnicas da fundição de metais como o ferro (Fe), o cobre (Cu) e de suas ligas metálicas, combinações entre minerais, como o bronze e o aço, que para muitos historiadores e antropólogos são critérios para classifi cação do desen-volvimento das civilizações. O domínio da metalurgia, por exemplo, marca o fi m da idade da pedra polida, ou período neolítico, para a idade do bronze.

Obviamente, tal conjunto de técnicas não servia somente à pro-dução de armas, mas também de ferramentas, ferragens, utensílios, obras de arte etc. Entretanto, de nada serviria a metalurgia se estas primeiras organizações humanas não tivessem como extrair os mine-rais de suas jazidas. Dessa forma, antes mesmo do início das primeiras técnicas de fundição, os homens da pré-história já tinham um acesso sistemático aos minerais apropriados para as suas necessidades como o sílex e a obsidiana ainda no período neolítico e, talvez, já no paleolí-

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tico. Foram encontradas na Europa sinais de mineração, como galerias e escavações de minas, datadas do decurso dos quatro últimos milê-nios antes da nossa era. Além do sílex e da obsidiana, os pré-históricos exploravam outros minerais duros, cujas cores e brilho os seduziam como a ágata, a turquesa, a hematita, a prata e o ouro.

Para se desenvolver uma metalurgia são necessários não apenas co-nhecimentos em mineralogia, mas também um domínio das proprieda-des químicas destes elementos. Apesar de não ter consciência das liga-ções elétricas entre os átomos, os antigos conheciam empiricamente o resultado de algumas combinações entre metais. Nos últimos milênios antes de nossa era, já se explorava os minérios metálicos: primeiro o cobre, depois o estanho, utilizados na produção do bronze e, fi nalmen-te, o ferro.

1.3 A Antiguidade

As civilizações que baseavam suas economias em atividades agríco-las foram os principais cenários das primeiras descobertas científi cas. Estes grupos populacionais criaram grandes cidades e desenvolveram-se, na grande maioria dos casos, em regiões com algum potencial hí-drico, preferentemente extensas várzeas que se fertilizavam por meio dos ciclos hidrológicos. A crescente necessidade de acompanhar a pas-sagem das estações do ano, assim como prever as estações de chuva e estiagem, levou estas civilizações a uma observação constante do clima e ao registro de seus fenômenos. Este procedimento, que incluía observações celestes, proporcionou uma compreensão parcial do mo-vimento dos astros.

O cenário de muitas das primeiras grandes descobertas, essen-ciais para o desenvolvimento científi co, foi a Mesopotâmia. Dentre os muitos povos que viveram nos vales entre os rios Tigre e Eufrates, merecem destaque os sumérios, os acadianos, os assírios e os babi-lônicos. Por se situar em uma posição de trânsito intenso de popula-ções, a Mesopotâmia foi o palco de uma grande miscigenação étnica e cultural.

No Egito desenvolveu-se uma intensa atividade agrícola que utili-zou os recursos hídricos ímpares do delta do rio Nilo, a qual viabilizou

a construção de uma das civilizações mais desenvolvidas deste período histórico. Para muitos historiadores a civilização egípcia teve início em 5.500 a.C., com a unifi cação dos reinos do Alto e do Baixo Egito. A partir do século XXVII a.C., seu desenvolvimento tornou-se notável, época da construção das grandes pirâmides, quando foram utilizados conhecimentos de geometria, de astronomia e de mecânica, já sistema-tizados, mas não registrados e nem difundidos.

Pirâmides – Egito

Apesar das primeiras fases da civilização chinesa datar de 1500 a.C., período da dinastia Chang, a China só foi realmente unifi cada em 221 a.C. pela dinastia Chin (220-207 a.C.). Antes da unifi cação, o país estava divido por uma prolongada guerra civil entre facções rivais, o período dos estados em guerra, que perdurou do ano 480 até 221 antes da era cristã. Neste período de pré-unifi cação os chineses já trabalhavam o bronze. Os primeiros indícios do uso do ferro somente se dão no século VI a.C, provavelmente, na região mais ao oeste da China. En-tretanto, foi somente sob a dinastia Han (202 a.C. – 221 d.C.) que a China desfrutou dos maiores avanços e inovações técnicas.

As civilizações que habitaram a América, as regiões andinas e as sel-vas, montanhas e planaltos da América Central, denominadas pré-co-lombianas, desenvolveram uma astronomia bastante sofi sticada. Esta crença é reforçada através de grande número de provas materiais como

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seu calendário preciso, e ricos registros de observações astronômicas. Por esta razão os avanços destas civilizações no campo das matemáti-cas foram notáveis. Entre estes povos podemos destacar os olmecas, os maias e os toltecas. Seus períodos de fl orescimento variam muito, desde a Pré-História até a chegada dos espanhóis à América. Os olme-cas surgem em volta do ano 2.000 a.C., os maias aparecem em torno do ano 1.200 a.C., enquanto os toltecas já no ano 3.000 a.C., quando se estabelecem no planalto central mexicano, período no qual também emerge a civilização pré-incaica avançada, denominada “Norte Chico”. O sistema numérico dos maias era duo decimal (base 20), já no século IV d.C. e aplicavam o conceito de zero. Seu sistema de escrita, o mais completo da América até então, era baseado em mil diferentes caracte-res. Na América Central e do Sul, neste mesmo período, encontram-se ainda indícios da existência de uma medicina relativamente avançada para os padrões da época. No caso dos incas, foram encontrados crâ-nios que comprovam que alguns destes povos realizavam implantes dentários e trepanações, i.e., intervenções cirúrgicas no cérebro.

As Descobertas Científi cas da AntiguidadeA AstronomiaObservatórios da Antiguidade: Stonehenge

Entre as culturas que mais se destacaram na antiga astronomia pode-se destacar a egípcia, a chinesa, a maia e a dos povos que se habitaram a Mesopotâmia, como os sumérios, os assírios, os caldeus e, mais tarde, os babilônicos. Nas civilizações da Mesopotâmia, como em outras deste período, acreditava-se que as estrelas e outros corpos celestes controlassem a vida humana. Por este motivo foi desenvol-vido um conjunto de conhecimentos que permitiam acompanhar os movimentos dos astros. Este conjunto de conhecimentos é conhecido como astrologia. Uma parte desse conhecimento foi integrada à ciência e, atualmente, é denominado como arqueoastronomia, ou seja, astrono-mia antiga.

Os registros dos movimentos do Sol, da Lua, dos planetas e da esfera celeste, assim como a contagem dos dias nos primeiros calen-dários, desencadearam um desenvolvimento até então não observado na geometria e na matemática destas civilizações. Em contrapartida, o desenvolvimento da matemática ajudou a impulsionar ainda mais o controle do tempo e a observação dos astros.

O conhecimento do comportamento das marés, possibilitado a

Monumento de Stonehenge

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partir da observação do movimento da Lua, também auxiliava na ativi-dade de pesca. O domínio da astronomia favorecia ainda a localização e a orientação durante viagens, tanto em terra quanto em embarcações, possibilitando uma navegação mais segura. A astronomia foi usada ainda no alinhamento das pirâmides com o auxílio do merkhet, um instrumento em madeira com um orifício na sua ponta associado a um fi o de prumo. O merkhet permite determinar a posição das estrelas durante toda a noite e em qualquer estação do ano. Outras construções foram erigidas com o intuito de auxiliar na observação dos astros. An-tigos observatórios foram encontrados entre os maias, os celtas e em civilizações indoeuropeias.

O uso do Merkhet

O Desenvolvimento da Escrita

O desenvolvimento da escrita foi, sem dúvida, um dos maiores avanços na aventura do conhecimento humano. Entre os mais conhe-cidos esforços no sentido de constituir uma forma efi ciente de se regis-trar dados encontram-se os hieróglifos egípcios e a escrita cuneiforme dos sumérios. Algumas civilizações pré-colombianas desenvolveram outra forma de registro, utilizando fi os aos quais adicionavam contas coloridas com diferentes signifi cados para resguardar e recuperar in-formações.

Desenvolvidos a princípio por uma classe de escribas, estes pri-meiros sistemas de registro e recuperação de informações revoluciona-

ram a forma de transmissão do conhecimento, possibilitando a estes grupos populacionais uma utilização dos mesmos na administração pública, nos complexos sistemas burocráticos geridos pelos altos fun-cionários a serviço dos monarcas. Na Mesopotâmia, os registros eram feitos principalmente em blocos de argila, os quais eram depois cozidos para resguardar suas informações. O papiro só viria a ser utilizado al-guns séculos depois, no Egito, onde se popularizou.

O que, inicialmente, era somente um conjunto de representações pictóricas de coisas no mundo, mais tarde, transformou-se em um sistema de ideogramas que representavam não mais as formas das coisas, mas os sons emitidos na pronúncia dos nomes. Nos primeiros registros sumérios mais de dois mil signos eram reconhecidos e utiliza-dos na atividade destes escribas. Em 2.500 a.C., o número havia caído para algo em torno de seiscentos. Ainda existem sistemas como esses em uso na China, no Japão e em outras nações orientais. Um avanço signifi cativo posterior foi o advento do alfabeto, onde pouco mais de vinte letras são necessárias para descrever qualquer coisa. Dessa forma, a quantidade de símbolos, mais uma vez, foi reduzida drasticamente.

Obviamente, graças ao advento da escrita, houve o surgimento das literaturas e da historiografi a. Os relatos de fatos e os mitos passaram a ser registrados para a eternidade. Entre as primeiras obras literárias que chegaram até os dias de hoje pode-se destacar os Upanishads e a narrati-va de Gilgamesh. Da mesma forma, a expansão da literatura serviu para a divulgação e preservação do conhecimento científi co da Antiguidade, quando a mesma fazia incursões em áreas como medicina, astronomia, matemática, história, entre outras. A transmissão do conhecimento se tornou mais precisa, não estando mais sujeita a erros de interpretação por parte dos mestres e seus discípulos.

Registros astronômicos, meteorológicos e históricos foram legados muito importantes não só para as ciências do passado, mas também para os cientistas atuais. É somente com o auxílio desses importantes dados que se pode ter informações confi áveis para entender a evolução da atividade científi ca. Outra conquista importante para o desenvolvi-mento da ciência foi a adoção de um padrão de medida. As unidades fi xas para distâncias, pesos e volumes, entre outras grandezas, facilita-ram a coleta de dados e permitiram conhecer seus valores através das

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razões e comparações em tabelas de conversão. A princípio se utiliza-va medidas como o palmo e o passo. Mais tarde estas medidas foram ofi cializadas através de decretos reais, possibilitando aos burocratas re-colherem impostos de acordo com as posses de terra dos súditos.

A Matemática dos antigos: a Mesopotâmia e o Egito

O desenvolvimento das ciências está, sob muitos aspectos, subor-dinado ao desenvolvimento das matemáticas: aritmética, geometria e álgebra. Tais disciplinas são catalisadoras do desenvolvimento das ciências naturais e indispensáveis em atividades como a navegação e a engenharia.

A aritmética egípcia se baseava em um sistema numérico decimal, o mais utilizado atualmente para a maioria dos cálculos do cotidiano. Entretanto, este sistema não possuía o que se chama de casas decimais, exigindo a repetição do sinal tantas vezes quantas necessárias para ex-primir o número desejado, de uma forma semelhante ao observado no sistema numérico romano. Naturalmente, este sistema não permitia o uso do que se conhece hoje como algoritmos para o cálculo das princi-pais operações matemáticas.

Os babilônios foram mais longe que os egípcios no desenvolvi-mento da matemática. Com o uso das casas decimais, seus cálculos po-diam ser realizados com uma efi ciência e rapidez muito maior. Antes de 2.5000 a.C., os sumérios já possuíam tabelas de multiplicação para determinar a área de campos de cultivo e também calculavam o volume de tijolos e líquidos. Também desenvolveram uma forma efi ciente de descrever as frações, assim como os múltiplos e, utilizando suas tabelas, podiam resolver com facilidade equações quadradas e cúbicas. Os egíp-cios tinham um valor mais preciso para o π[pi], 256/78, mas, ao que parece, só podiam resolver equações lineares e também não conheciam as propriedades dos triângulos retângulos como os babilônios.

A Medicina da Antiguidade

Entre os primeiros relatos de natureza científi ca no âmbito do cor-po humano destaca-se o Livro dos Mortos, obra egípcia que explorava as

técnicas necessárias para embalsamar corpos. Tal prática de preparar múmias era considerada necessária para as almas de seus mortos atingi-rem uma nova condição: a vida eterna em um outro mundo. Apesar de seu caráter objetivo, os ensinamentos contidos no Livro dos Mortos não devem ser considerados ciência no sentido pleno, pois ainda estavam intimamente ligados aos ritos de passagem, ao misticismo e a concep-ções ligadas à magia, conhecimentos ainda não comprometidos com os requisitos de uma abordagem estritamente racional.

Os mais antigos registros encontrados sobre a medicina datam do período de Imhotep, médico real e vizir do Faraó Zoser, c. 2980 a.C. Outros papiros foram encontrados, datados do mesmo período, caracterizados pelo uso de uma abordagem medicinal pro-priamente, de natureza diferente daquela utilizada pelos embalsa-madores, responsáveis pelas mumifi cações. Estes papiros relatavam abordagens cirúrgicas que não necessariamente eram associadas a ritos ou magias.

Entre os babilônios, que não experimentaram tantos avanços quan-to os egípcios na medicina, encontram-se informações da existência de médicos no Código de Hamurabi, primeiro registro de leis e marco da história do direito. Nos primeiros papiros médicos não se encontravam textos que se referissem a substâncias terapêuticas extraídas de animais, plantas ou minérios. A partir do século VII a. C., são mais comuns tra-tados voltados para a alquimia. Entretanto, nada comparado aos desenvolvimentos posteriores dos chineses nesta área.

A mensuração do tempo: Os calendários

Os egípcios, a princípio, dividiram o ano em três estações: o perío-do de alta, de baixa e de colheita. Essas estações estavam divididas em quatro meses lunares de 28 dias. Para ajustar o ano, acrescenta-vam mais um mês. Os babilônios também possuíam um calendário lunar baseado em 12 meses, somados ainda a alguns dias festivos e um mês que se intercalava, no intuito de completar os 365 dias. Dividiam também o dia em 12 horas, determinando os minutos e os segundos. Os gregos, entre outros povos, desenvolveram calendários solares, di-vidindo o ano em 12 meses, relacionando esta divisão com a esfera

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celeste. Esta seria uma forma de medir o tempo através de uma aproxi-mação mais geométrica do que aritmética.

A Clepsidra (Egito 1.400 a.C.)

A clepsidra, ou relógio de água, era um mecanismo de mensurar o tempo que estava ao alcance dos egípcios. As mais sofi sticadas eram construídas como um recipiente de água, de forma cônica, com um orifício para escoar o conteúdo vagarosamente. Na superfície externa do recipiente é possível visualizar a altura da coluna, a qual apresenta as unidades de tempo.

Mais tarde, foram desenvolvidos outros relógios de água mais so-fi sticados como também as ampulhetas, onde uma areia fi na em um tubo de vidro era utilizada para a mensuração. Estes relógios são con-siderados grandes avanços, pois já se tratavam de instrumentos que demonstram o domínio de certos princípios mecânicos e de muitas propriedades dos materiais.

1.4 O Iluminismo Grego

Ocupando uma posição geográfi ca privilegiada no centro do Me-diterrâneo, os gregos mantiveram contato com muitos povos que se utilizavam deste mar para o comércio. A atividade comercial marítima desencadeava um processo de difusão de técnicas e conhecimentos,

como o caso da navegação e da astronomia, difundidas pelos próprios navegadores. Alguns estudiosos da história das ciências propõem a existência de um iluminismo grego, período no qual o conhecimento científi co, em pouco tempo, experimentou um desenvolvimento ainda então não observado em outros povos.

A partir deste momento a ciência oriental é absorvida e começa a perder importância diante do magnífi co desenvolvimento da ciência he-lênica. Os gregos fi caram conhecidos como helenos devido aos episó-dios narrados em A Ilíada e na Odisséia sobre a guerra de Tróia e o rapto de Helena. Existem controvérsias a respeito da dívida dos gregos para com as civilizações orientais e para com o Egito, embora os próprios gregos assumissem que sua ciência devia muito às contribuições dos fe-nícios e egípcios. Alguns historiadores defendem que o mérito seja dos próprios gregos, os quais deram uma nova feição ao estudo da natureza.

Sem dúvida, os gregos herdaram noções acumuladas ao longo de milênios, mas foi graças aos seus próprios esforços que a ciência veio a se constituir, pouco a pouco, em uma disciplina autônoma, completa-mente separada do mito, da magia e da religião. A ciência dos gregos é enriquecida pela refl exão sobre si mesma, seu alcance, sua efi cácia e a própria possibilidade do conhecimento. É somente no mundo grego, “berço de ouro” da gnosiologia, onde se refl etia a respeito da própria capacidade de se conhecer, avaliando, frequentemente, os limites da razão e a confi abilidade dos sentidos. Dessa forma, se perguntavam até onde o conhecimento humano pode penetrar nos mistérios da natureza e extrair conhecimento seguro.

A Cosmologia Grega

A cosmologia é o estudo da origem, da estrutura e da dinâmica do universo. Assim, ainda que rudimentar, a cosmologia de um povo refl e-te sua visão de mundo e o entendimento de sua posição no conjunto de tudo que existe. De acordo com certas perspectivas, os mitos de formação do universo eram como teorias arcaicas a respeito do mundo em que vivemos.

Os gregos se interessavam pelas opiniões dos outros povos no to-cante a estes assuntos. Movidos por este interesse, coligiram muitas des-

Modelo similar ao funcionamento da Clepsidra

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tas visões de mundo e aplicaram seu senso crítico às narrativas cosmogoniais. Com este procedimento se comprometiam com a coe-rência e o valor de verdade destas crenças. Os avanços na compreensão dos movimentos dos astros e da constituição de nosso mundo foi tam-bém uma decorrência do processo de acumulação de conhecimentos ligados à navegação de seus vizinhos, como os fenícios e os egípcios.

Os Milésios: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.

De origem fenícia, Tales de Mileto (624 ou 625 – 556 ou 558 a.C.) fora administrador e fi gura ilustre da sociedade na cidade-Estado de Mileto, ilha atualmente parte do território da Turquia, e fi cou imortali-zado como um dos sete sábios da antiga Grécia. Tales fundou a escola de Mileto e foi um dos responsáveis pela difusão e desenvolvimento da Geometria proveniente do Egito, no mundo grego. Além do Teorema de Tales, são atribuídas a ele algumas demonstrações geométricas e é considerado um dos primeiros a se esforçar em oferecer explicações estritamente racionais para a gênese e o desenvolvimento do Univer-so. No entender de Tales de Mileto, tudo provinha da água e a Terra fl utuaria sobre o oceano originário. Esta visão era dividida por outros povos, como os egípcios. Esta crença pode ser facilmente justifi cada no contexto de seu tempo, onde os limites do mundo eram os próprios oceanos. Além disso, a água brota do chão, precipita-se em forma de chuva. Todos os seres vivos possuem seus fl uidos, entre outras evidên-cias que reforçavam a cosmologia de Tales.

Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.), discípulo de Tales, não só se destacou na cartografi a, produzindo um mapa do mundo até en-tão conhecido, como também foi, provavelmente, o primeiro a propor que o universo fosse regido por leis, analogamente a uma sociedade. Deixou uma obra escrita em prosa chamada Da Natureza, a exemplo de muitos dos primeiros estudiosos da physis, natureza em grego1. Um dos mais importantes instrumentos científi cos da Antiguidade aparece nesta tradição com a introdução do gnômon na Grécia por Anaximandro.

Através do gnômon, podia-se construir um relógio solar e realizar a mensuração de diversas grandezas por meio da regra matemática de três. Segundo a cosmologia de Anaximandro, a terra era como um ci-lindro que devido ao fato de estar no centro de tudo não precisava de um sustentáculo.

Um gnômon montado sobre um relógio solar

Os Pitagóricos

Uma das escolas de maior relevância na antiguidade foi fundada no sul da Itália, à época colônia grega, por Pitágoras de Samos (570-496 a.C.). Seus seguidores estavam envolvidos em atividades de natureza quase mística. Os pitagóricos tiveram uma forte crença no uso da ma-temática para descobrir os segredos do mundo, chegando a sustentar que tudo é número, ou seja, que a essência de todas as coisas pode ser defi nida matematicamente.

Pitágoras fi cou conhecido por seus estudos da acústica, determi-nando a relação que existe entre as notas harmônicas, como a oitava, a qual é obtida dividindo a corda ao meio. Seu nome ainda fi cou registra-do no que se conhece hoje como o Teorema de Pitágoras, o qual deter-mina que o quadrado da hipotenusa de um triângulo retângulo é igual à soma do quadrado dos catetos. O pensamento de Pitágoras exerceu forte infl uência sobre muitas escolas e correntes de pensamento, ultra-passando a antiguidade e perdurando na idade média.

Filolau de Tarento, fi lósofo do século V a.C., foi o responsável pela difusão científi ca das doutrinas dos pitagóricos. Filolau, o mais

1A palavra grega Physis pode ser traduzida por natureza, mas seu signifi cado é mais amplo. Refere-se também

à realidade, não aquela pronta e acabada, mas a que se encontra em movimento e transformação, a que nasce e se desenvolve, o fundo eterno, perene, imortal e imperecível de onde tudo brota e para onde tudo retorna. Nesse sentido, a palavra signifi ca gênese, origem, manifestação.

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famoso dos discípulos de Pitágoras, foi o autor de um livro no qual ex-punha a fi losofi a da escola pitagórica, livro que, mais tarde, teria efeitos sobre o jovem Platão. A cosmologia de Filolau foi a primeira grande síntese dos conhecimentos adquiridos até então. Foi pioneiro em pro-por que a Terra possui um movimento sobre seu eixo ao longo do dia. Porém, teorizava sobre a existência do fogo central, assim como uma grande esfera onde se encontram o Sol e as estrelas, orifícios que permitem que a luz proveniente do fogo exterior atinja a Terra.

Pitágoras

Demócrito e os Atomistas

Demócrito de Abdera (460-370 a.C.) fi cou célebre com sua cosmo-logia materialista a qual defendia a existência de pequenas partículas indivisíveis, às quais denominou átomos, ou indivisíveis. Ao que parece Leucipo foi quem apresentou a Demócrito estas ideias cosmológicas. Leucipo, fi lósofo da primeira metade do século V a.C., provavelmente nasceu em Mileto, foi autor de A Grande Ordem do Universo, na qual afi rmava que na natureza nada acontece ao acaso, mas por razões e por necessidade.

A doutrina dos atomistas foi ainda desenvolvida por Epicuro (341-270 a.C.), que aceitava o espaço vazio, concebia a existência de um número infi nito de átomos e um número infi nito de mundos que suas variadas combinações produzissem. Epicuro nasceu em Samos, na Jô-nia, mas mudou-se para Atenas, onde fundou uma comunidade que

fi cou conhecida como o Jardim. Ainda nos dias de hoje, por diferentes motivos, mesmo sabendo que os átomos são divisíveis, continua-se a usar o termo átomo para indicar um elemento químico isolado.

Platão

Platão e a Academia

Platão (427-347 a.C.), ou Aristócles de Atenas, fundou a renoma-da Academia. Nenhuma outra instituição de ensino perdurou por tanto tempo na história. Parte de seu pensamento fi cou preservada em uma série de diálogos. Platão foi discípulo de Sócrates e muito do pensa-mento do mestre se encontra nos seus diálogos. A escola ateniense era já renomada em seu tempo, principalmente, devido a seus membros e suas compilações de cunho epistemológico, geométrico e matemático. A escola ainda se preocupava com assuntos como a Meteorologia, a Política e a Jurisprudência. Entretanto, os principais avanços produ-zidos na academia se concentraram no campo das matemáticas e da Filosofi a.

Heráclides do Ponto (séc. IV a.C., aprox. 390-310 a.C.), fi lósofo, matemático e astrônomo pitagórico, também membro da academia de Platão, propôs que a Terra girava em torno do seu próprio eixo, o chamado movimento de rotação. Devido a este movimento, tem-se a ilusão de que os astros se movimentam em torno da terra, quando, na realidade, é a terra que se move.

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A Medicina Grega

A medicina grega pode ser dividida em três ramos principais. A mais antiga parece ser a medicina dos templos de Esculápio, deus da medicina. Em seguida, tem-se a escola fi losófi ca pitagórica do sul da Itália, e por fi m, a escola jônica de Hipócrates (460-377 a.C.), mais voltada à prática. Os escritos da escola hipocrática são os primeiros re-gistros gregos sobre medicina. A escola jônica considerava a medicina como uma arte ou uma técnica, enquanto os pitagóricos a viam como parte de uma doutrina fi losófi ca mais extensa.

Aristóteles e o Liceu

Como abordado, os gregos puderam experimentar seu notável avanço através da incorporação cultural dos babilônios, egípcios e fe-nícios. Entretanto, foi na fi gura de Aristóteles de Estagira (384 – 322 a.C.), um macedônio, que pela primeira vez se tem notícia da organiza-ção de todo o conhecimento disponível sobre a natureza do mundo e do homem. Aristóteles foi aluno da Academia e discípulo de Platão e ali era conhecido como o ”leitor”, devido a seu hábito de constante dedi-cação à leitura nos mais diversos temas. Apesar de suas ideias diferirem das de seu mestre, pode-se notar certa continuidade no desenvolvi-mento de muitos dos temas tratados por Platão.

Se existe uma História da Ciência Ocidental, encontra-se na fi gura de Aristóteles o primeiro grande organizador do conhecimento, o pri-meiro a conceber uma história da Filosofi a e, porque não, uma História da Ciência. Mesmo que ainda defi ciente enquanto método, o corpus aris-totélico é tão importante para a ciência de seu tempo que não se pode deixar de lhe reservar uma posição de destaque nesta obra.

Aristóteles foi incumbido por Felipe II, rei da Macedônia, do ensi-no do príncipe, Alexandre, mais tarde imortalizado, o Grande. Alexan-dre foi o homem que helenizou o mundo. No momento de sua morte, seu império se estendia desde a Grécia até a Índia. Na costa do Egito, Alexandre sugeriu a fundação de uma cidade voltada para o saber, a qual foi batizada como Alexandria.

Aristóteles também foi responsável pelo grande salto na Zoologia e na Botânica. Sua atividade sistemática em classifi car espécies em diver-sas categorias de acordo com suas propriedades ofereceu a sua escola, o Liceu, grande fama. As imensas coleções do Liceu só foram possíveis graças às doações de Alexandre, remessas provenientes da sua campa-nha militar pelo Oriente.

Com a morte de Aristóteles, a direção da escola foi assumida por Teofrasto (372-287 a.C.). Sob sua tutela o Liceu se desenvolveu inten-samente, atendendo a mais de dois mil alunos. Teofrasto se dedicou profundamente à história natural, publicando tratados sobre botânica, mineralogia, fi losofi a, física, e psicologia. Obras como a História das Plantas e Sobre as Causas das Plantas foram as mais importantes contribuições à botânica, desde a Antiguidade até o Renascimento.

A Doutrina da Causalidade

A doutrina aristotélica da causalidade foi extremamente impor-tante para o pensamento científi co e seu desenvolvimento. Tudo se deve à observação do princípio de causalidade, que compreende que cada efeito tem uma causa. Esta crença, reforçada por muitos dos fe-nômenos entendidos pelo homem, afastava a interferência de causas sobrenaturais na geração dos fenômenos, abrindo caminho para uma ciência baseada em conexões lógicas entre causa e efeito, contribuindo também para desfazer mitos e crenças irracionais. Entretanto, antes de

Aristóteles ensinando Alexandre, o Grande.Gravura de Charles Laplante

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Aristóteles, isto já era conhecido pelos seus antecessores. O signifi cado de “causa” no grego antigo é “culpa”. Isto revelava que os gregos con-cebiam a natureza enquanto um confl ito de forças contrárias.

O equilíbrio é o resultado de um contínuo acertar de contas entre estas forças antagônicas. O universo é produto desse confl ito.

A Cosmologia de Aristóteles

A física de Aristóteles exerceu grande infl uência sobre o pensamen-to dos séculos seguintes, especialmente no mundo cristão. A cosmo-logia de Aristóteles pressupõe a existência de dois mundos distintos: o sublunar e o supralunar. Na concepção aristotélica, as leis que regem o mundo sublunar não são as mesmas que regem o mundo su-pralunar. De acordo com Aristóteles, os objetos pesados caíam mais depressa do que aqueles mais leves de mesmo tamanho, visão que mais tarde seria contestada.

1.5 As Invenções Chinesas

As principais descobertas atribuídas à antiga China, o papel, a im-prensa, a pólvora e a bússola, não foram os únicos feitos desta civili-zação. Durante a dinastia Chin, a China unifi cada conheceu uma in-tegração através da construção de uma rede de canais e estradas, que ajudaram a aproximar as diversas partes do seu vasto território, como também foram feitos aprimoramentos na grande muralha.

Muitas escolas fi losófi cas se desenvolveram na China. Entretanto, apenas aquelas que se relacionaram com a burocracia da administra-ção imperial conseguiram prosperar, perdurar e tornarem-se célebres. A princípio, antes da unifi cação pela dinastia Chin (220-207 a.C.), destaca-vam-se as escolas legalista, lógica e a moísta. Entretanto, as escolas que mais se notabilizaram com o passar dos séculos foram a confucionista e a taoísta.

Os moístas, os seguidores da fi losofi a de Mo-Ti (479-381 a.C.), fi caram conhecidos pela sua doutrina do amor universal. Não obs-tante sua postura frente ao amor, os moístas não eram propriamen-te pacifi stas. Se comprometiam com a defesa de Estados mais fracos,

oprimidos pelos mais poderosos. Desenvolveram os moístas estudos em física, especialmente nos campos da ótica e da mecânica, de uma forma quase que exclusivamente empírica, ou seja, relacionada direta-mente com a experiência e pouco comprometida com considerações teóricas. Os resultados eram obtidos através de experimentos e eram expressos em regras simples. Seus conhecimentos eram utilizados em obras voltadas para a urbanização, como também na construção de defesas militares, fortifi cações.

Os moístas e os membros da escola lógica aspiravam por desenvol-ver um método científi co que guiasse o raciocínio, algo que ajudasse os homens de seu tempo, envolvidos em uma longa guerra civil e sempre inseridos em discórdia, a atingirem conclusões necessárias e objetivas para o bem de todos. Entretanto, discordavam no que toca à forma como se poderia atingir o conhecimento. A escola dos lógicos pro-punha que a razão era o melhor caminho para se atingir verdades universais, uma vez que através da experiência sensível podíamos nos enganar. Os moístas acreditavam que os sentidos podiam revelar a verdade a respeito do mundo e de seus fenômenos, não havendo outra fonte confi ável em que se podia apoiar.

Os legalistas, também preocupados com questões políticas e com estudos cosmológicos, defendiam que somente através da existência de leis previamente estabelecidas se poderia por fi m ao caos e toda desor-dem associada ao constante embate dos Estados em guerra.

Os confucionistas, os seguidores dos ensinamentos do fi lósofo Confúcio (552-479 a.C.), acreditavam que somente seguindo os antigos costumes e tradições a nação poderia desfrutar da paz e da prosperida-de. Esta escola desfrutou de grande prestígio durante a dinastia Han, tornando-se a escola ofi cial da burocracia imperial. Durante este perío-do, os confucionistas não se dedicavam às ciências da natureza nem aos trabalhos de engenharia.

Os taoístas, partidários das idéias do fi lósofo Lao-Tsé que viveu entre os séculos VI e IV a.C., se debruçaram sobre os problemas da al-quimia, uma forma pouco científi ca da química, ainda comprometida com muitos princípios místicos. Os taoístas se interessavam pela dinâ-mica da natureza e desenvolveram uma fi losofi a não somente com-prometida com os problemas morais, mas também profundamente

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comprometida com estudos voltados para o controle da natureza.

A matemática e a astronomia chinesas

Entretanto foi no período da dinastia Han (202 a.C. – 222 d.C.) que se observa na China um desenvolvimento mais acelerado. Isto pode ser verifi cado em grandes avanços como o advento do papel, o aperfeiçoa-mento das tintas, e das técnicas de impressão. Isto tudo não se deu por acaso. Foi uma necessidade real, uma demanda de governo. Uma gran-de nação com as dimensões da China necessitava de uma administração forte e a burocracia exigia formas efi cientes de registro de informações as mais diversas como aquelas relacionadas com o patrimônio, impos-tos, salários e a organização de imensos exércitos. Antes do advento do papel, datado de 105 d.C., os chineses grafavam em placas de bambu e depois sobre seda. O primeiro livro impresso que se tem notícia foi Sutra Diamante, possivelmente do ano 868 da era cristã.

Ainda que a pólvora só tenha sido usada para fi ns militares a partir do século XI, ela já fora desenvolvida pela alquimia chinesa. A partir do século III d.C., já existem registros da combinação química de nitrato de potássio, também conhecido por salitre e enxofre que, submetidos a altas temperaturas, apresentavam violenta ignição. A alquimia, uma forma ainda mística da química, fazia parte de um conjunto de conhe-cimentos ainda maior, no qual se inclui alguns ramos da milenar me-dicina chinesa, comprometidos com, entre outros mirabolantes feitos, a busca da imortalidade. Contudo, apesar das relações entre alquimia e medicina, existia certo distanciamento entre as escolas e suas práticas, característica que difi cultava uma maior conciliação teórica. Os avan-ços que a China experimentou foram decorrentes, na maior parte, de esforços empíricos.

O fenômeno do magnetismo que, a princípio, fora utilizado por charlatões para ludibriar pessoas mais ingênuas em exercícios de adi-vinhação, somente algum tempo depois foi entendido enquanto um fenômeno natural. Os conhecimentos obtidos através do estudo do fenômeno do magnetismo foram utilizados para a construção das bússolas, muito úteis para a navegação, tanto em terra quanto no mar.

1.6 A Escola de Alexandria

Ptolomeu I, general de Alexandre o Grande que, como este, tam-bém havia estudado com Aristóteles, se apoderou do Egito durante o desmantelamento do império macedônico e mais tarde se coroou faraó. Em Alexandria erigiu um magnífi co complexo urbano dotado de, entre outras construções, um imenso farol e a maior biblioteca do mundo antigo. Esta, junto com uma escola que era parte de uma es-trutura ainda maior denominada Museu, reuniu todo o saber disponível no Mediterrâneo daqueles tempos. A escola aparece a partir da con-centração de estudiosos, a princípio, inspirada no modelo do Liceu de Aristóteles, porém, tornando-se muito maior.

O Farol de Alexandria

Dentre os membros da famosa escola destacam-se os nomes de Aristarco, Arquimedes, Erastóstenes, Calímaco, Euclides e Ptolomeu, o astrônomo. Contudo, muitos outros contribuíram para transformar Alexandria no polo científi co e intelectual de sua época. Com o franco desenvolvimento da geometria no período ptolemaico, a astronomia se desenvolveu rapidamente. Além dos avanços realizados na astronomia, Alexandria também seria um centro destacado no estudo da medicina, da geografi a e da mecânica.

Euclides de Atenas (360 – 295 a.C.). A obra de Euclides: Os Princípios, é um marco indiscutível no desenvolvimento da Ciência. Até o início do século XX, ensinava-se a Geometria exatamente como o matemático de Alexandria havia proposto. Parte-se, a princípio, dos

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axiomas e a partir deles, dedutivamente, toma-se conhecimento das verdades que se derivam.

Aristarco de Samos (310-230 a.C.) Sua obra Sobre os tamanhos e distâncias entre o Sol e a Lua apresenta cálculos geométricos arrojados das dimensões e distâncias destes corpos celestes. Tem-se a impressão de que a Terra está em repouso e o Sol, a Lua e as estrelas descrevem mo-vimentos em torno dela. Esta visão, reforçada pelos sentidos humanos, perdurou por muito tempo na história do conhecimento.

Aristarco, de acordo com Arquimedes, foi o primeiro a propor que a Terra gira em torno do Sol, movimento conhecido como translação. Entretanto, a teoria heliocêntrica somente ganharia reconhecimento e validade mais de mil anos depois. Primeiramente, Aristarco calculou a circunferência da Terra e a distância entre esta, a Lua e o Sol. Muito provavelmente, supondo que o diâmetro do Sol fosse sete vezes maior que o da Terra e seu volume em torno de cem vezes maior, Aris-tarco não encontrou sentido em acreditar que a pequena Terra fosse o centro de um sistema.

Calímaco (aprox. 305-240 a.C.) Poeta, fi lólogo e bibliotecário, Calímaco foi educado em Atenas e, após serviços à dinastia Egípcia, tornou-se chefe da biblioteca de Alexandria. Calímaco criou um catá-logo das obras do acervo onde se encontravam os nomes dos maiores escritores em língua grega, subdividida segundo os gêneros literários.

Arquimedes de Siracusa (aprox. 287 - 212 a.C.) Foi um matemático, astrônomo e fi lósofo da natureza, um dos personagens mais ilustres da História da Ciência. Suas contribuições se estendem pela aritmética, geometria plana, geometria sólida, hidrostática, ótica e mecânica. É possível que Arquimedes tenha sido o primeiro a demons-trar o cálculo do valor aproximado de π[pi], constante matemática, re-sultado da divisão do perímetro pelo raio de uma circunferência. Ar-quimedes desfrutou de grande fama na antiguidade, desenvolveu armas de cerco poderosas, máquinas hidráulicas e até autômatos primitivos.

Erastóstenes de Cirene (284-192 a.C.), outro ilustre membro da escola de Alexandria, de posse dos avanços anteriores, em especial, o cálculo das fi guras sólidas e o domínio do gnômon, calculou a circun-ferência da Terra e obteve um resultado com uma margem de erro de menos de 3%.

Na medida em que a dinastia dos Ptolomeus foi abandonando seus costumes e valores gregos e se aproximando mais dos egípcios, a escola começou a perder a sua força de atração sobre os homens de ciência. Hiparco de Nicea (190-120 a.C.), para muitos, o maior astrônomo da Antiguidade, viveu e trabalhou na ilha de Rodes, mas tinha relações com a comunidade de astrônomos de Alexandria.

A Medicina em Alexandria

Herófi lo (335-280 a.C.) foi um médico grego, considerado o pri-meiro anatomista da história. Fundou com Erasístrato a escola de me-dicina de Alexandria. Foi o primeiro a realizar e basear suas conclusões sobre observações sistemáticas em dissecações de cadáveres e na vivis-seção de condenados.

Erasístrato (310-250 a.C.) O outro médico grego parceiro de He-rófi lo, foi pai da fi siologia, desvendou alguns segredos do funciona-mento do corpo humano, estudou a circulação, descrevendo as válvu-las do coração como também artérias e veias. Ele concluiu que o coração não é órgão das emoções, mas uma espécie de bomba, obser-vando pacientes e seu ritmo cardíaco.

A Alexandria Romana

Com a ascensão da República Romana, Alexandria muda de mãos. Em pouco tempo o Egito é anexado ao vasto Império Romano. A princípio, a escola mantém seu prestígio, porém, com o tempo, começa a perder es-paço com o crescimento do cristianismo e de outras religiões que a viam como ameaça, pois até abrigava mulheres como fi lósofas da natureza.

Cláudio Ptolomeu (90-168 d.C.) foi um matemático, astrônomo e geógrafo alexandrino, autor do Almagesto, ou “Grande Tratado”, e tam-bém de Geographia, o qual, praticamente, continha todo o conhecimento geográfi co greco-romano. Ptolomeu, conhecido como “o astrônomo”, fi cou célebre por seu sistema cosmológico geocêntrico, onde a Terra ocupava o centro do universo e os demais corpos celestes descrevem órbitas ao seu redor em epiciclos.

Galeno de Pérgamo (129-200 d.C.) foi o mais infl uente médico

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do período romano, seus pontos de vista dominaram a medicina euro-péia durante mais de mil anos. Estudou em Alexandria, onde entrou em contato com os trabalhos de Herófi lo e Erasístrato. A obra de Galeno se baseia na tradição hipocrática, reunindo elementos do pensamento de Platão e Aristóteles. Se baseando nas idéias aristoté-licas de natureza, movimento, causa e fi nalidade, proporcionou a seus seguidores um corpus extenso e rico sobre a medicina.

A Destruição do Complexo de Alexandria

A partir das últimas décadas do século II, constata-se um forte de-clínio na atividade científi ca. Duas causas principais podem ser elen-cadas neste processo: a primeira, uma transformação de ordem ideo-lógica e espiritual; a segunda, uma subversão dos valores de ordem política e cultural.

O esforço racionalista, pilar de sustentação do pensamento cien-tífi co, tem como seus mais fortes antagonistas a credulidade e o mis-ticismo. A partir do terceiro século da era cristã, a irracionalidade se manifestou sob as mais variadas formas no mundo greco- romano. Enquanto o espírito de investigação metódica era ameaçado pelos progressos do ceticismo, de um lado, e do dogmatismo, por outro, as pessoas eram cada vez mais conduzidas por aspirações de caráter caris-mático ou místico. Um importante fator nessa transformação foi uma forte infl uência de doutrinas religiosas provenientes de outras regiões vizinhas ao império como os cultos de Dionísio, de Ísis, de Baal e das divindades solares. Neste período de conturbações políticas e campa-nhas militares que ofereciam grande ameaça à integridade do Império Romano, as condições necessárias para o desenvolvimento da ciência não estavam mais asseguradas.

A ocupação romana perduraria até o século VII d.C., mas o ímpeto que caracterizava a escola começa a perder força a partir do ano 415, com a morte de Hipátia, astrônoma e diretora da escola de Alexandria, assassinada por cristãos descontentes com os governantes pagãos. Para compreender o declínio de Alexandria, deve-se entender as transfor-mações de ordem religiosa e política. Os primeiros cristãos manifesta-vam uma forte aversão a alguns aspectos da cultura pagã, em especial, à

literatura e a algumas correntes fi losófi cas que mais se identifi cavam com o espírito científi co. Ainda que tenha sofrido com incêndios, desde os tempos da república romana, foi o fanatismo religioso, tanto cristão como muçulmano, que acabou por extinguir o glorioso centro intelectual e científi co através de sucessivos saques entre outras depre-dações de seu imenso acervo.

Mesmo constituindo um centro intelectual e científi co da An-tiguidade, como também do início da Idade Média, a Escola de Ale-xandria não foi mantida pelo Império Romano do Oriente, sob cujo domínio e jurisdição se encontrava. Alexandria foi atacada pelos persas em 614 e, mais tarde, ocupada pelos árabes no ano de 640, com a des-truição completa de sua escola.

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CAPÍTULO 2

A CIÊNCIA E A TECNOLOGIA NA IDADE MÉDIA: DO COPISMO À

UNIVERSIDADE, O DECLÍNIO DO PENSAMENTO ARISTOTÉLICO E

ASCENSÃO DO SISTEMA COPERNICANO

SUGESTÃO DE ATIVIDADES:

01. Segundo o texto, qual a importância do conhecimento cientifi co para a humanidade?

02. A Ciência na Antiguidade era praticada como hoje? Busque no tex-to alguns trechos para reforçar sua resposta.

03. É possível identifi car no texto algum trecho que discuta sobre a relação entre o que era mito e o conceito de conhecimento cientifi co? Exemplifi que e discuta em sala com seus colegas.

04. Quais eram as principais áreas de conhecimento que se desenvolve-ram no período histórico exposto nesse capítulo?

Recomenda-se como pesquisa complementar:

Site do History Channel: http://www.seuhistory.com/home.htmlSérie de Televisão: Deu a louca na História – TV Escola.

SUGESTÕES DE LEITURA:

MASON, S. F. A History of the Sciences. Macmillan Books: Nova York, 1962.

ANDERY, M. A. et al. Para Compreender a Ciência. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

MICHEL, P.-H.; BOURGEY, L.; BEAUJEU, J.; BLOCH, R. & ITARD, J. História Geral das Ciências: As ciências do mundo greco--romano (vol.2). TATON, J. (Org.) São Paulo: Difusão européia do livro, 1959.

RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. São Paulo: Difel, 1981.

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2.1 Signifi cado da Idade Média

A chamada Idade Média é um período da história humana do Oci-dente, assim denominada a parte do globo terrestre na qual tiveram lu-gar as chamadas antigas civilizações que antecederam a europeia, e que foi, no fi m deste período, responsável pela colonização dos continentes americano, africano e por parte da Ásia. Antes do fi m do Império Ro-mano, esse sistema político estendeu seu domínio em todo Mediterrâ-neo, norte da África e quase toda a Europa Ocidental. O centro hege-mônico político e cultural do mundo de então já havia se transferido para a Europa. Quando o Império Romano entra em decadência, por volta do século V d. C., o palco dos acontecimentos considerados mais relevantes pelos historiadores já era a Europa, não só a Península Itáli-ca, berço do Império Romano, mas todo o continente europeu.

Deste modo, quando se fala em Idade Média se está falando de um período tipicamente europeu ocidental. Para efeito da narrativa da história da ciência e da tecnologia esta periodização é conveniente por se constituir uma ponte entre a ciência antiga, a dos gregos e romanos da Antiguidade Clássica, e a ciência moderna, que advém da revolução científi ca, e que é um fenômeno da cultura europeia ocidental, conti-nental e insular que contece após o Renascimento, movimento cultural que marca o fi m da Idade Média.

Este período é muito longo, compreende cerca de mil anos e cos-tuma ser dividido em três subperíodos, a depender do distanciamento em relação à época atual: a Alta Idade Média (século V ao X), a Plena Idade Média (século XI ao XIII) e Baixa ou Tardia Idade Média (século XIV e XV). O início da Idade Média é datado da queda do Império Romano, por volta de 476 anos d.C. O fi m, por sua vez, dar-se-ia se-gundo os historiadores em 1453 d.C., quando se dá a queda do Império Romano do Oriente e quando as navegações e o Renascimento lançam os fundamentos de uma nova era.

A ciência e a tecnologia do Império Romano foram infl uenciadas pelo desenvolvimento ocorrido nestas atividades durante o período grego clássico e durante o período helênico, quando o conhecimento científi co teve seu auge no período clássico, ocasião na qual a Escola de Alexandria se destaca por consolidar todo o conhecimento anterior.

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Havia, então, compartilhamento do saber em comunidades de fi lóso-fos, o que permitiu avanços com base na incorporação do conheci-mento prévio e no debate inter pares ou entre os fi lósofos, como então eram conhecidos os cientistas. Embora contasse com todo este legado, a ciência e a tecnologia romanas evoluíram pouco, prin-cipalmente a ciência, comparativamente ao período Helênico. O que mereceu mais destaque no Império Romano em termos de história da ciência foi o desenvolvimento do copismo manuscrito, atividade de re-produzir à mão obras escritas, para preservar os trabalhos dos fi lósofos do período grego clássico e do período Helênico, escritos em papiros e pergaminhos.

O pragmatismo dos romanos frente aos gregos despertou mais in-teresse entre os primeiros pela aplicação do conhecimento. Isto fez com que os romanos construíssem cidades, estradas e sistemas de sa-neamento avançados que foram descontinuados e esquecidos durante a Idade Média. O mesmo aconteceu com relação à medicina, para os ro-manos uma área do saber que interessava, sobretudo, para ter homens saudáveis no exército e recuperar os feridos nas batalhas. A Escola de Medicina de Galeno, uma das poucas áreas em que os romanos ultra-passaram os gregos, foi um bom exemplo deste caráter pragmático dos mesmos, que infl uenciou a produção do conhecimento.

A sucessão de crises que levou ao desaparecimento do Império Romano tem relação com a ciência e a tecnologia, uma vez que uma das principais causas foi a escassez de alimentos provocada pelo em-pobrecimento dos solos aluviais e pela má gestão do estabelecimento rural que produzia cereais, frutas, nozes, leite e carne. As instabilidades econômica e política têm início no fi m do século II, quando ocorre uma guerra civil de sucessão que abalou o império. Menos de cinquenta anos depois se seguem confl itos ao leste com o Império Sassânida, que agravaram as crises políticas. No ano de 260 d.C., em batalhas com os bárbaros2, foram capturados o imperador Valeriano e todo o seu exér-cito de 70 mil homens. Estas derrotas levaram à perda das províncias do leste e apressaram a derrocada do Império.

O esplendor urbano e a higidez do sistema urbano romano come-

çam, então, a desaparecer com novas derrotas que têm início com a Crise do Terceiro Século, nome dado a uma série de acontecimentos catastrófi cos ocorridos no Império ao longo do século III, ou mais pre-cisamente do ano 235 ao ano 284 d. C. Durante este período, o Império foi governado sucessivamente por cerca de 25 imperadores, a maioria deles constituída de proeminentes generais que assumiram o poder imperial sobre todo ou parte do império, perdendo-o posteriormente por derrota em combate, assassinato, ou morte natural, governando em média apenas dois a três anos. Assim, não se pode pensar a queda do Império Romano como um processo abrupto e de defi nição rápida.

Quando o último imperador romano, Rômulo Augústulo, foi de-posto, em 476 d.C., por um grupo de mercenários, poucos territórios e tropas restavam a seu serviço. Os comandantes e chefes que tentavam manter o Estado Romano nos últimos anos também eram, na maioria dos casos, de origem bárbara. Só faltava que um decidisse tomar a púrpura, símbolo do poder, coisa que não sucedeu. O imperador de-posto, Rômulo Augústulo, era fi lho de um general de origem bárbara, Orestes, que havia servido antes a Átila o Huno, e havia obtido o trono graças ao pai que havia derrubado o último imperador legítimo, Júlio Nepos, que, porém, manteve sua autoridade sobre a Dalmácia.

Os aliados de Orestes (hérulos e rúgios) depois se desentenderam com seu patrono e, sob as ordens de Odoacro, depuseram Rômulo Augústulo. Observa-se, portanto, que a deposição do último imperador não foi um acontecimento repentino e que trouxesse mudança social drástica, mas sim o desfecho de um longo processo que se desenrola-va há quase um século.

Convencionou-se esta data como o fi m da Antiguidade, mas é provável que poucos naqueles anos considerassem aquele fato como o fi m de uma era. Muito diferente, portanto, de outros marcos da história como, por exemplo, a Tomada da Bastilha durante a Revolução Fran-cesa, que, efetivamente, simbolizava para todos que dela participaram uma grande mudança política. O fato é que, com a desintegração do sistema urbano e a escassez de alimentos, o sistema político e econômi-co foi reorganizado em feudos, que eram frações do território sob co-mando de um nobre ou chefe militar, levando a uma forma de vida na qual as pessoas viviam em comunidades pequenas e coesas, dependiam 2 Por “bárbaros” eram designados tanto por gregos como por romanos, aqueles povos que não pertenciam

às civilizações clássicas, a grega e a romana.

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enormemente da natureza e cultivavam uma interdependência dos fe-nômenos espirituais, subordinando, em muitos casos, as necessidades individuais às da comunidade. Nesta época o conhecimento fi losófi co - em alguns casos científi co, ou pré-científi co - baseava-se na busca da conciliação entre a razão e a fé e sua principal fi nalidade era compreen-der o signifi cado das coisas e não exercer a predição ou o controle da história.

Passada a Alta Idade Média, do século V ao X, por conta de inú-meras observações empíricas na forma de produzir os alimentos e em decorrência de conhecimentos agronômicos do período clássico, ocor-re aquilo que fi cou conhecida como a Segunda Revolução Agrícola que, em essência, foi o aprendizado de cultivar alimentos e pastagens em terras planas e orgânicas recuperadas por drenagem e habilitadas por irrigações com rios que nasciam nos Alpes. Este aprendizado levou a aumentos de produtividade das terras e a uma maior produção de bens que passaram ser a comercializados a grandes distâncias e que tam-bém viabilizaram a presença de menor número de pessoas no campo e levaram ao recrudescimento das cidades. A expansão do fenômeno conhecido como Mercantilismo e a formação na cidade de extratos sociais que não dependiam de trabalhos manuais ensejam o surgimento de vida intelectual e de maior intercâmbio cultural na Europa Medieval.

Estas condições, principalmente o comércio de longo curso, leva-ram às tecnologias das grandes navegações que permitiriam a desco-berta de um número extraordinário de novas espécies de animais e plantas, além de novas formações geológicas e climáticas. Os avanços obtidos na óptica pela especialização do artesanato logo iriam permitir a fabricação de óculos conferindo maior vida intelectual aos que sabiam ler e ulteriormente gerar aparelhos como lunetas e microscópios. Mas, a herança mais importante do período provavelmente foi o nascimento do intelectual urbano que protagonizou debates acerca da busca e da natureza do conhecimento e a multiplicação das universidades, junta-mente com o surgimento das primeiras sementes da metodologia científi ca contemporânea.

Deste modo, do século XI ao XIII, não se pode mais falar da longa noite ou do período das trevas que seria a Idade Média, uma vez que já havia uma efervescência intelectual nas cidades que renasciam

e também o surgimento de pensadores, fi lósofos, que tinham outras noções sobre a possibilidade do conhecimento e propunham uma outra forma de pesquisa ou busca do mesmo. As cidades medievais foram, progressivamente, crescendo e se abrindo a novos moradores.

Nos três subperíodos em que se divide a Idade Média, foi mar-cante a infl uência dos fi lósofos do Período Clássico, Sócrates, Platão e Aristóteles, juntamente com todos os outros que viveram entre os séculos VI a. C. e III d.C. e que habitaram ou viajaram por Mileto, Atenas, Siracusa, Croton, Alexandria e sul da Espanha. O pensamento medieval foi fortemente infl uenciado pela produção intelectual clássica e a interpretação da mesma nem sempre foi fi el porque havia uma in-tenção clara de conciliar o pensamento fi losófi co, na época equivalente ao cientifi co, com a religião católica. Neste sentido foi concebida uma interdependência dos saberes que se expressava pela “torre da fi loso-fi a”, cujo estágio superior era ocupado pela teologia, que presidia a hierarquia do conhecimento. Abaixo estavam a matemática, a astrono-mia e a geometria e em um plano mais inferior a lógica, a música e a poesia. Esta hierarquia foi proposta por Santo Agostinho que, embora não tenha deixado a rigor nenhum legado científi co, foi divulgador e fomentador do conhecimento.

2.2 Expoentes do Pensamento Científi co Medieval

Cidade Medieval, protegida e isolada.

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Durante a Idade Média o acesso à alfabetização e ao ensino formal e à literatura fi losófi ca não era comum porque não existiam instituições pú-blicas para proporcionar estes benefícios. Grande parte dos serviços hoje prestados pelo Estado eram, então, providos pela religião católica, entre eles o de alfabetização, de ensino médio e superior, os de tratamento da saúde e os de preservação do conhecimento por meio de bibliotecas. Por esta razão a quase totalidade dos fi lósofos interessados no conhecimento científi co eram religiosos das várias ordens existentes que, na condição de frades ou de padres seculares, tinham acesso à educação e às fontes do saber. Na medida em que se aprofundavam no conhecimento da fi losofi a e da ciência dos clássicos, dos gregos e romanos, muitos deles se afastavam dos preceitos católicos e entravam em franca divergência com o pensa-mento religioso dominante. Dentre eles alguns tentaram conciliar a fé com a ciência, mas outros pontuaram ser isto impossível porque os fundamen-tos da ciência e da religião não só eram distintos como opostos.

A Idade Média não pode, portanto, ser vista como um período sem vida cultural. Nela havia manifestações culturais como o teatro e progressivamente nas cidades o acesso à alfabetização e ao saber foi se generalizando.

Teatro medieval

Neste longo período, seja como conciliadores da ciência com a re-ligião, seja como afi rmadores da necessidade da experiência e da au-tonomia do conhecimento fi losófi co e científi co, merecem destaque Agostinho [354-430], Beda [672-735], Robert Grosseteste [1168-1253], Roger Bacon [1214-1294], Alberto Magno [1193/1206-1280], Thomas de Aquino [1225-1274], John Duns Scot [1265-1308], Nicole d’ Ores-me [1323-1382] e Guilherme de Ockam[1285-1347].

Aurélio Agostinho, ou Santo Agostinho de Hipona, foi o mais in-fl uente fi lósofo da era patrística e um dos maiores teólogos de todos os tempos. Sua infl uência plasmou a Idade Média. Nasceu em Tagas-te (Numídia), fi lho de um funcionário municipal, Patrício, e de Mônica. Como estudante, vivia desregradamente. Contraiu uma ligação afetiva que iria durar até 384 e da qual teve um fi lho, Adeodato. Em 374, lendo o Hortensius, de Cícero, sentiu-se atraído por uma vida menos sensual e mais dedicada à busca da verdade. Passou a frequentar as lições dos maniqueus, que lhe pareciam propor a autêntica forma de cristianis-mo, em oposição à doutrina ofi cial da Igreja. De 375 a 383 estabe-leceu-se em Cartago, como professor de eloquência, e daí por diante exerceu a mesma função do outro lado do mar, em Milão. Já o inquieta-vam então fortes dúvidas sobre a verdade do maniqueísmo. Em Milão,

Representação de universidade medieval Intelectual medieval

Mosteiro medieval

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travou conhecimento com o neoplatonismo. Em 390, perdeu o fi lho.Tanta era a fama que granjeara, de sapiência e virtudes, que o povo

o escolheu para o sacerdócio. Em 395 foi sagrado bispo no pequeno porto de Hipona. Ali, então, desenvolveu a intensa atividade teológi-ca e pastoral, dando máxima expressão a seus dotes extraordinários no plano da especulação, da exegese e da penetração psicológica da alma humana. Lutou contra as heresias da época, o maniqueísmo, o donatismo, o arianismo e o pelagianismo. Morreu em Hipona a 28 de agosto de 430. Principais obras: Confi ssões, autobiografi a escrita entre 397 e 400, uma das obras-primas da literatura universal; A Cidade de Deus, apologia da antiguidade cristã e ensaio de fi losofi a da História; De Trinitate; Enchiridion, compêndio de doutrina cristã; obras polêmicas várias contra as heresias mencionadas, entre as quais Contra Faustum, De spiritu et littera, De natura et gratia, De gratia et libero arbitrio, De correptione et gratia, De praedestinatione sanctorum; obras exegéticas, como Enarrationes in Psalmos, De genesi ad litteram, Tratado sobre o Evangelho de são João; obras pastorais, como De catechizandis rudibus; cerca de 400 sermões e muitas cartas.

Beda, conhecido também como “o venerável”, além de des-tacar-se como teólogo, interessou-se pelos movimentos da maré. Filósofo eclesiástico, teólogo e historiador anglo-saxão nascido em Monkwearmouth, Durham, Inglaterra, teve grande influência na cultura medieval, por ser historiador da igreja e comentarista de textos bíblicos. Foi decisivo para a catequização cristã das tri-bos anglo-saxônicas. Aos sete anos tornou-se interno beneditino no mosteiro de São Pedro, de Wearmouth, indo posteriormente (682 d. C.) para o de Jarrow, Durham, onde se ordenou padre no ano de 703, permanecendo ali como monge pelo resto da vida, estudando e ensinando e mantendo correspondência com todos os sábios da Europa. Beda pesquisou toda a cultura antiga e foi o primeiro a datar os fatos históricos com base no nascimento de Cristo e, também, foi pioneiro em citar as fontes pesquisadas. Redi-giu homilias, santidades, hinos, epigramas, cronologia, velho e novo testamento. Escreveu mais de quarenta livros sobre gramática, ciên-cias físicas, matemática, astronomia, geografi a, medicina, música, representações e métodos de contagem e retórica. Sua grande obra

foi Historia ecclesiastica gentis anglorum, escrita em 731, um valioso documento sobre a história da igreja na Inglaterra, desde a época das campanhas de Júlio Cesar (55-54 a.C.), até a chegada de Santo Agostinho, primeiro arcebispo de Canterbury (597 d. C.). O papa Leão XIII lhe atribuiu o título de doutor da igreja em 1899.

Robert Grosseteste, nasceu em Stradbrooke no Condado de Su-ffolk, Inglaterra. Foi uma fi gura central no importante movimento intelectual da primeira metade do século XIII na Inglaterra. Tinha grande interesse no mundo natural e escreveu textos sobre astronomia, geometria e, especialmente, óptica. Foi o primeiro estudioso a dominar as línguas grega e hebraica. Dava ênfase à matemática como ferra-menta para estudar a natureza e defendia que experimentos deveriam ser usados para verifi car as teorias a respeito da mesma. Sua infl uência foi bastante signifi cativa numa época em que o novo conhecimento da ciência e da fi losofi a grega estava tendo um efeito profundo na fi losofi a cristã. Também foi relevante o seu trabalho experimental, especialmente seus experimentos com espelhos e lentes. Seu mais reno-mado discípulo, Roger Bacon, herdou sua paixão pela experimentação. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da confecção de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimento de instrumen-tos como o telescópio e o microscópio.

Roger Bacon, ou Rogério Bacon, também conhecido como Doctor Mirabilis (Doutor Admirável, em latim), nasceu em Ilchester, Somerset, em 1214, e foi um dos mais famosos frades - pertencia à OFM, Or-dem dos Frades Menores - de seu tempo. Ele foi um fi lósofo inglês que deu bastante ênfase ao empirismo e ao uso da matemática no estu-do da natureza. Estudou nas universidades de Oxford e Paris. Contri-buiu em áreas importantes como a Mecânica, a Filosofi a, a Geografi a e principalmente a Óptica.

Roger Bacon viveu um período no qual o infl uxo de textos vindo do mundo árabe revolucionava a vida intelectual do Ocidente europeu e foi bastante infl uenciado pelos mesmos, vindo a ser um dos primei-ros europeus de seu tempo a ensinar a fi losofi a de Aristóteles. Por volta de 1240 ingressou na Ordem dos Franciscanos, onde, fortemente infl uenciado por Robert Grosseteste, dedicou-se a estudos nos quais introduziu a observação da natureza e a experimentação como funda-

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mentos do conhecimento natural. Roger Bacon vai um passo além de seu tutor e descreve o método científi co como um ciclo repetido de observação, hipótese, experimentação e necessidade de verifi cação independente. Ele registrava a forma em que conduzia seus experi-mentos em detalhes precisos a fi m de que outros pudessem reproduzir seus experimentos e testar os resultados - essa possibilidade de verifi -cação independente é parte fundamental do método científi co contem-porâneo. A contribuição de Roger Bacon para a Revolução Científi ca é inquestionável. Há quem diga que Galileu não seria o precursor da Revolução Científi ca sem conhecimento da obra de Roger Bacon.

Alberto Magno, também conhecido como Alberto de Colônia, Bis-po de Regensburgo e Doutor da Igreja, foi um frade dominicano que se tornou famoso por seu vasto conhecimento e por sua defesa da coexistência pacífi ca da ciência e da religião. Ele é considerado o maior fi lósofo e teólogo alemão da Idade Média e foi o primeiro intelectual medieval a aplicar a fi losofi a de Aristóteles ao pensamento cristão. Nasceu na Baviera, possivelmente no ano de 1193 ou 1206, numa fa-mília militar que desejava para Alberto uma carreira castrense ou ad-ministrativa. Mas, após concluir os seus estudos em Pádua e em Paris, optou por seguir um caminho sacerdotal, entrando na Ordem de São Domingos. Devido a sua crescente fé em Deus e em Jesus Cristo e a sua dedicação à Ordem, foi promovido a superior provincial e, mais tarde, nomeado Bispo pelo Papa.

Alberto dominava bem a Filosofi a e a Teologia (matérias em que teve Tomás de Aquino como discípulo) e mostrou também grande in-

teresse em ciências naturais ao ponto de dispensar, com a autorização do Papa, o episcopado, para continuar a prosseguir os seus estudos e a sua investigação com tranquilidade. Ocupou-se em várias áreas de co-nhecimento como a mecânica, zoologia, botânica, meteorologia, agri-cultura, física, química, tecelagem, navegação e mineralogia. Ele inseriu estes conhecimentos no seu caminho único de religiosidade, afi rmando que a intenção última dele era conhecer a ciência de Deus. As suas obras escritas encheram 22 grossos volumes e foi exemplo de como vi-ver com equilíbrio entre o conhecimento empírico e a fé, afi rmando que esta não contradiz a razão.

Thomas de Aquino nasceu em família nobre em 1225 no castelo de Roccasecca no reino de Nápoles. Com apenas cinco anos, seu pai, con-de de Landulfo d’Aquino, o internou no mosteiro de Monte Cassino, onde recebeu os primeiros ensinamentos. A sua família esperava que viesse a ser beneditino e manifestava a esperança de vê-lo como um futuro abade, o que era uma condição de muito prestígio e poder. Aos 19 anos, contra a vontade da família, entrou na Ordem fundada por São Domingos de Gusmão. Estudou fi losofi a em Nápoles e depois em Paris, onde se dedicou ao ensino e ao estudo de questões fi losó-fi cas e teológicas. Estudou teologia em Colônia e em Paris se tornou discípulo de Alberto Magno, que o “descobriu” e se impressionou com a sua inteligência. Por este tempo foi apelidado de “boi mudo”. Dele disse Alberto Magno: “Quando este boi mugir, o mundo inteiro ouvirá o seu mugido.” Seu maior mérito foi a síntese do cristianismo com a visão aristotélica do mundo. Introduziu o aristotelismo na Idade Mé-dia, na doutrina de ensino conhecida como Escolástica, tentando assim obter uma base fi losófi ca para a teologia e retifi cando o materialismo de Aristóteles. Em suas duas Summae, sistematizou o conhecimento teológico e fi losófi co de sua época: a Summa Theologiae, a Summa Contra Gentiles. A partir dele, a Igreja tem uma Teologia (fundada na revelação) e uma Filosofi a (baseada no exercício da razão humana) que se fundem numa síntese defi nitiva: fé e razão, unidas em sua orientação comum rumo a Deus. Sustentou que a fi losofi a não pode ser substituída pela teologia e que ambas não se opõem. Afi rmou que não pode haver con-tradição entre fé e razão. Explica que toda a criação é boa, tudo o que existe é bom, por participar do ser de Deus. O mal seria a ausência de

Debates e exposições nos mosteiros

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uma perfeição devida e a essência do mal, que é a privação ou ausência do bem. Além da sua Teologia e da Filosofi a, desenvolveu também uma Teoria do Conhecimento e uma Antropologia. Deixou também escrito conselhos políticos: Do governo do Príncipe, ao rei de Chipre, que se contrapõe, do ponto de vista da ética, ao “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel. Sem que fosse sua intenção, Tomas de Aquino criou sérias difi culdades para o avanço da ciência, na medida em que seus preceitos de conciliação da fé com a razão foram levados ao pé da letra, o que causou inúmeras difi culdades às teorias de Copérnico e Galileu.

John Duns Scotus ou Scot, nascido em 1265 e morto em 1308, foi um dos mais importantes e infl uentes fi lósofos e teólogos da Idade Média. Por causa de seu complexo e brilhante pensamento ganhou o apelido de Doutor. Deixou uma marca sobre discussões em diversos tópicos como a semântica da linguagem religiosa, problemas universais, natureza humana e liberdade. Seu primeiro ensaio oferece uma visão sobre as principais áreas da fi losofi a como teoria do conhecimento, metafísica, ética e psicologia moral. Scot era um apelido para identifi -cá-lo como escocês. Seu nome de família era Duns, que também era o nome de uma pequena vila na Escócia. Ele foi ordenado sacerdote pela Ordem dos Frades Menores, ainda muito jovem. Começou seus estudos formais em Oxford em 1288, concluindo-o em 1301. Após a conclusão ele foi professor em Paris, de onde foi expulso em conse-quência de uma disputa entre o rei e o Papa, tendo podido regressar em 1304. Por razões não conhecidas ele foi transferido para Colônia, na Alemanha, em 1307, e morreu em 1308.

Seu pensamento é de base agostiniana, mas de forma menos extre-mada, e as diferenças entre ele e Tomás de Aquino provém de uma mistura maior de platonismo em sua fi losofi a. Para Scot, as verdades da fé não poderiam ser compreendidas pela razão. A fi losofi a, assim, deveria adquirir autonomia e deixar de ser uma serva da teologia, como vinha ocorrendo ao longo de toda a Idade Média. Suas principais obras são o Opus Oxioniense (Obra de Oxford), Quaestiones de Metaphysica (Questões de Metafísica) e De Primo Princípio (Do Primeiro Princípio). Um dos grandes contributos de Scot para a história da fi losofi a, afi r-mam os historiadores, está no conceito de hecceidade (haecceitas). Esta teoria valoriza a experiência, e distancia a preocupação exclusivista da fi losofi a com as essências universais e transcendentes. Entre seus tra-balhos estão também a “Parva Logicalia”, pequenas palavras lógicas, Categories, Peri hermeneias, e De sophisticis elenchi, que examinam as ca-tegorias aristotélicas, além de Quaestiones subtilissimae super Metaphysicam Aristotelis, com idêntico conteúdo. Scot deu argumentos para Galileu sustentar que a interpretação - ao pé da letra - das Escrituras Sagra-das iria terminar por desacreditá-las.

Nicole d’ Oresme, Nicole Oresme, ou Nicolas de Oresme, nasceu em 1323 e faleceu em 1382. Foi um gênio, provavelmente o pensador mais original do Século XIV. Economista, matemático, físico, astrôno-mo, fi lósofo, psicólogo e musicólogo; foi também um teólogo dedicado e Bispo de Lisieux, tradutor, conselheiro do rei Carlos V da França e um dos principais fundadores e divulgadores das ciências modernas. Ores-me combateu fortemente a astrologia por entender que a mesma não tinha base científi ca e especulou sobre a possibilidade de haver outros mundos habitados no espaço. Ele foi o último grande intelectual euro-peu a ter existido antes do Renascimento, quando se dá uma renovação intelectual que marca o período fi nal da Idade Média. Nicole d’Oresme demonstrou que as razões propostas pela física Aristotélica contra o movimento do planeta Terra não eram válidas e invocou o argumento da simplicidade (da navalha de Ockham) a favor da teoria de que é a Terra que se move, e não os corpos celestiais. No geral, o argumento de Oresme a favor do movimento terrestre é mais explícito e bem mais claro do que o que foi dado séculos depois por Copérnico. Oresme infl uenciou bastante Giordano Bruno, em sua terias cosmológicas.Anfi teatro do laboratório de Química - Universidade de Lisboa

Foto: Alex Vieira - 2012 Encontro de doutores na Universidade de Paris

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Entre outras proezas, Oresme foi o descobridor da curvatura da luz através da refração atmosférica; embora, até hoje, o crédito por esse feito tenha sido dado à Robert Hooke. Oresme também estudou os movimentos uniforme e uniformemente variado, deduziu o teorema da velocidade média e a lei da queda dos corpos, que é mais freqüente-mente atribuída a Galileu.

Guilherme de Ockham ou Guilherme de Occam, foi um frade fran-ciscano, fi lósofo da lógica e um teólogo escolástico inglês, considerado como o representante mais eminente da escola nominalista, principal corrente das escolas tomista e escotista. Nasceu em 1285 em Ockham, Inglaterra e faleceu em 1347 em Munique, Alemanha. Foi o criador da teoria da Navalha de Occam, princípio afi rmador de que a explicação para qualquer fenômeno deve assumir apenas as premissas estritamente necessárias à explicação do fenômeno e eliminar todas as que não cau-sariam qualquer diferença aparente nas predições da hipótese ou teoria. O princípio é frequentemente designado pela expressão latina Lex Par-simoniae (Lei da Parcimônia) enunciada como: “entia non sunt multiplican-da praeter necessitatem” (as entidades não devem ser multiplicadas além da necessidade). Esta formulação é muitas vezes parafraseada como “Se em tudo o mais forem idênticas as várias explicações de um fenômeno, a mais simples é a melhor”. Guilherme de Ockham, conhecido como o « doutor invencível » e o « iniciador venerável », quando ainda em idade precoce, ingressou na Ordem Franciscana, onde estudou Filosofi a. Jo-vem ainda, foi para a Universidade de Oxford ensinar ciências fi losófi cas e matemática, teve contato com outro franciscano, o fi lósofo e teólogo,

Duns Scot, do qual se tornou discípulo. Escreveu vários ensaios sobre as Sententiarum Libri (Sentenças) do teólogo Pedro Lombardo.

Um ponto drástico de sua vida ocorreu quando Occam chegou à conclusão de que o Papa João XXII estava defendendo uma heresia acer-ca da pobreza evangélica. Em função da controvérsia que surgiu, Occam fugiu para Pisa e, em seguida, acompanhou o imperador Luís da Baviera para Munique. Em Munique, continuou a atacar a fi gura do Papa, redigiu vários ensaios abordando a infalibilidade papal, defendendo a tese de que autoridade do líder é limitada pelo direito natural e pela liberdade dos liderados, dei-xando sua situação com a Igreja cada vez mais difícil. Um de seus argu-mentos mais fortes foi a afi rmação categórica que um cristão não contraria os ensinamentos evangélicos ao se colocar ao lado do poder temporal em disputa com o poder papal. Este comportamento, mais tarde conduziria a julgamentos pelos tribunais inquisitoriais, que, em certas circunstâncias, poderiam le-var à tortura e à morte.

Intelectual medieval

Copista medieval

A “Santa” Inquisição

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2.3 Principais descobertas e avanços da Ciência e da Tecnologia da Alta Idade Média (século V ao X) à Bai-xa ou Tardia Idade Média (século XIV e XV)

A partir do século X, a sociedade medieval passou por transforma-

ções profundas com a alteração de instituições, costumes e valores que pareciam imutáveis até então. Tem-se, por exemplo, o surgimento de diversas inovações técnicas que, segundo Mason (1962), foram funda-mentais para a constituição da base de um modo de vida fortemente característico do período. Foi de grande importância para essas ino-vações a infl uência sofrida com as invasões bárbaras. Os “bárbaros” introduziram o cultivo de uma variedade de novos cereais, o uso do estribo para a cavalgada e, principalmente, o pesado arado de rodas, que possibilitou o desenvolvimento de um importante sistema de cultura da época e deu ensejo à Segunda Revolução Agrícola.

Moinho de vento

Outras inovações importantes, não necessariamente infl uenciadas pelos bárbaros, foram: a roda hidráulica, amplamente utilizada no pro-cesso de moagem dos cereais; os moinhos de vento; diversos inventos náuticos como a bússola magnética e o astrolábio, estes últimos como contribuições oriental e árabe, mas que se difundiram amplamente; a pólvora (as armas de fogo) e a fabricação de papel, do mesmo modo vindos da China, mas adaptados e melhorados; equipamentos para im-pressão; o uso do ferro fundido e a fabricação de tecidos e roupas, dentre muitas outras. Essas diversas inovações favoreceram a redução da população nos campos, a revalorização das terras incultas, o de-senvolvimento da circulação e do comércio; o despertar das cidades e as grandes rotas comerciais foram restabelecidas, graças também às Cruzadas.

No meio urbano, os novos interesses culturais foram bem rece-bidos. Muito importante também foi o fato de que as inovações téc-nicas resultaram na diminuição do rude trabalho físico a que estava submetida a maior parte da população medieval, desde a Antiguidade, e na produção de certo excedente de alimentos, acima das necessida-des de subsistência dos domínios senhoriais. E são esses excedentes de provisões que permitiram o desenvolvimento das cidades, com seu comércio e seus ofícios, e proporcionaram a riqueza necessária aos notáveis empreendimentos realizados entre os séculos XI e XIII: as Cruzadas, a construção das catedrais e a fundação das universidades (MASON, 1962).

Roupas e indumentárias

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Na área de transporte, navegação e orientação houve grande avan-ço. Com o desenvolvimento dos mastros, a junção da vela latina e da vela quadrada, a multiplicação dos remadores nas galeras, o reforço do casco por meio de um esporão robusto, melhores condições de nave-gabilidade foram obtidas. Contudo, maior progresso alcançou-se no século XIII, ao generalizar-se o leme de cadaste, que veio substituir o pesado remo situado na popa do navio, permitindo uma direção mais segura de embarcações muito maiores. Devido à pressão exercida pela vela de proa sobre o leme, tornou-se necessário certo contrapeso mais a ré. Isso levou ao acréscimo de um terceiro mastro na popa conheci-do como mastro de mezena. No fi nal da Idade Média algumas dessas embarcações tinham 60 metros de comprimento com uma boca de 15 metros e uma capacidade de cerca de 1.400 toneladas. A invenção do leme (desconhecido na civilização greco-romana) e da bússola induziu o ciclo das grandes navegações e descobertas dos séculos XV e XVI. Estas navegações e novas rotas se devem ao aparecimento das primei-ras cartas marítimas, invenções que, associadas ao astrolábio, permiti-ram a navegação em alto-mar. Atribui-se ao Papa Silvestre II a inven-

ção, ou talvez a introdução, a partir do mundo islâmico, do astrolábio (para medir a altura dos astros sobre o horizonte), - da esfera sólida (destinada a estudar os movimentos celestes), e do primeiro reló-gio mecânico acionado por pesos. As consequências foram inúmeras e benefi camente incalculáveis. O astrolábio, de início ainda rudimentar, aperfeiçoou-se pouco a pouco incorporando a presença dos azimutes, o aparecimento do ostensor e a exatidão na graduação da eclíptica. Em 1434, surge a caravela em Valença, Espanha. Nos Países Baixos, apareceu a eclusa; constituída por uma câmara com portas em cada extremidade, possibilitava a passagem da embarcação de um nível de água para outro. Canais e eclusas surgiram em Flandres e na Holanda já no século XII.

Embarcação medieval

No século XI, os europeus começaram a usar ferraduras nos animais, o que aumentou a vida útil dos mesmos e incrementou sua utilização na carreta de quatro rodas, possibilitando um deslocamento de maior carga entre as aldeias e entre elas e os campos produtivos. Do século X ao século XII generaliza-se no Ocidente o moderno atrelamento dos animais, a coelheira dura, os tirantes, a disposição em fi la e a ferragem com pregos. Desde então os cavalos podem tirar com toda a sua força e peso, em vez de erguerem a cabeça, semi-estrangulados, como “ o s altivos corcéis‘ da Antiguidade. O jogo dianteiro móvel data do século XIV e permitirá a tração das peças de artilharia recém-inventadas. A adoção generalizada da coelheira possibilitou o atrelamento aos arados

Cenas da vida rural medieval

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de cavalos em lugar de bois, uma mudança que ocorreu por volta de 1200. Os bois também passaram a ser utilizados com maior efi ciência através da invenção da canga frontal, pois esta lhes deu mais força de tração que a anterior, presa nos chifres. Na época surge um pequeno objeto, na aparência evidente — mas totalmente desconhecido na An-tiguidade - o estribo, graças ao qual o cavaleiro podia empunhar a sua arma com muito mais força e confi ança.

Metalurgia medieval

A pavimentação das estradas com argamassa, mais fácil e mais eco-nômica, substitui com vantagem o lajeamento das vias romanas. O São Gotardo, por tanto tempo intransponível, transformou-se em via de trânsito, através da primeira ponte pênsil de que se tem conhecimento, datada provavelmente do início do século XIII. Por outro lado, o túnel de estrada mais antigo, o do Monte Viso, com cerca de cem metros, foi construído entre 1478 e 1480, com a fi nalidade de facilitar o transporte do sal da região de Provença. Foi também inventado no período um equipamento extraordinário, o carrinho de mão, que permite um ho-mem realizar o trabalho de dois.

Nas cidades, a calçada destinada aos pedestres introduziu-se a partir de 1185 em Paris, 1235, em Florença, 1310, em Lübeck. As ruas largas não eram necessárias, pois havia pouco tráfego sobre rodas, e nenhum exigia trânsito rápido.

Artilharia medieval

Artilharia medieval

Segundo Baiardi (1997), existem fortes indicações de que a universi-dade medieval tenha sido bastante diferente das escolas da Antiguidade e das universidades modernas, principalmente no que diz respeito aos seus objetivos. As universidades medievais não apresentavam como ideal a busca por novos conhecimentos, mas sim a legitimação de visões de mundo infl uenciadas por aspectos místico-religiosos, que tendiam a to-lher as iniciativas de pesquisa racional. Basicamente, as explicações fi lo-sófi cas fornecidas por tais instituições deveriam sempre não se chocar com os pressupostos da Igreja, nem ultrapassar os limites determinados pelos dogmas. Evitava-se com isso confl itos que pusessem em risco a so-brevivência das universidades que também eram protegidas por práticas corporativas por parte dos professores e dos estudantes.

De acordo com Mason (1962), três tipos de universidades podiam ser encontrados na Idade Média: as fundações eclesiásticas, como a Uni-versidade de Paris, Oxford e Cambridge, que se constituíam em corpo-rações sob a coordenação de um reitor; as universidades citadinas, como em Bolonha e Pádua, governadas por reitores que eram eleitos pelos estudantes; e as universidades estaduais, como as de Nápoles, da Sicília e de Salamanca, fundadas por monarcas através da autorização papal.

O cenário das universidades medievais, assim, desenhava-se da se-guinte forma: em toda a Europa, a Igreja assumiu a prerrogativa de que, para a criação de novas universidades, era necessária uma autorização papal. Essas autorizações não costumavam levar em conta uma avaliação das propostas e dos proponentes, e visavam proteger as universidades

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contra as interferências locais, fossem de nobres ou de religiosos. Dessa forma, ainda mais após o Papa Alexandre III ter decretado a gratuidade do ensino – o que tornou os professores ainda mais dependentes das instituições religiosas – a infl uência da Igreja foi marcante e determinan-te no percurso da existência das universidades medievais. Tal infl uência acabou por se mostrar prejudicial para a manutenção dessas instituições, principalmente por restringir as atividades às concepções escolásticas do mundo, fundadas com base no aristotelismo. Mas, por outro lado, permi-tiu o surgimento de escolas laicas, que se dedicavam ao ensino de disci-plinas práticas – como a contabilidade, algumas artes técnicas e algumas línguas estrangeiras – que se faziam necessárias para o desenvolvimento do emergente capitalismo mercantil (BAIARDI, 1997).

A universidade medieval não abrigava fi lósofos interessados na pro-dução do conhecimento. Dedicava-se ao ensino tradicional no qual a musica, ao lado da geometria e da retórica, era uma disciplina valorizada.

Ensino da música

Estes elementos demonstram que a Idade Média não é bem o que se fala e nem o que se pensa, mas sim um período de grande impor-tância para a ciência e para a tecnologia, tanto pelo que produziu de modo acabado, mas também pelo que iniciou.

SUGESTÃO DE ATIVIDADES:

01. Segundo o texto, qual a importância do conhecimento cientifi co para a humanidade?

02. A Ciência na Antiguidade era praticada como hoje? Busque no tex-to alguns trechos para reforçar sua resposta.

03. É possível identifi car no texto algum trecho que discuta sobre a relação entre o que era mito e o conceito de conhecimento cientifi co? Exemplifi que e discuta em sala com seus colegas.

04. Quais eram as principais áreas de conhecimento que se desenvolve-ram no período histórico exposto nesse capítulo?

Recomenda-se como pesquisa complementar:

Site do History Channel: http://www.seuhistory.com/home.htmlSérie de Televisão: Deu a louca na História – TV Escola.

SUGESTÕES DE LEITURA:

MASON, S. F. A History of the Sciences. Macmillan Books: Nova York, 1962.

ANDERY, M. A. et al. Para Compreender a Ciência. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.

MICHEL, P.-H.; BOURGEY, L.; BEAUJEU, J.; BLOCH, R. & ITARD, J. História Geral das Ciências: As ciências do mundo greco--romano (vol.2). TATON, J. (Org.) São Paulo: Difusão européia do livro, 1959.

RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001.

VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. São Paulo: Difel, 1981.

CAPÍTULO 3

AS CIÊNCIAS NOS CONTEXTOS DO RENASCIMENTO, DA MODERNIDADE

E DA CONTEMPORANEIDADE: HOMENS, MULHERES,

FATOS E INVENTOS.

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3.1 Um convite à contextualização

Ao se estabelecer relações entre eventos do passado ou denomi-nações dos períodos em que ocorreram tais eventos com o presente, é comum encontrar nos livros fatos ligados a datas e indivíduos que invariavelmente serão convertidos em questões nas provas de História, Geografi a, Literatura ou mesmo nos diversos quests em programas de TV. Quem inventou...? Quando ocorreu...? Quem descobriu...? Em que ano...? Quem era...? E assim são estabelecidos muitos questionamentos que corriqueiramente são expostos tanto na escola quanto fora dela.

A Idade Média, como pôde ser visto no capítulo anterior, foi um período de profundas transformações, contrariando o que muitos de-fendem ao designá-la de forma simplista como a “Idade das Trevas” e como um período desprovido de produção de conhecimento. Do seu inicio, com a queda do Império Romano ao seu declínio total após 1000 anos, foram estabelecidas as bases para os novos tempos que viriam por intermédio do Renascimento e das grandes navegações.

Vale lembrar um pouco algumas características encontradas nos li-vros de História Geral, para situar em que território se estará pisando em relação às ciências durante a divisão política da Idade Moderna e o período dos Séculos XVIII e XIX da Idade Contemporânea, lembran-do que tais transições de períodos são complexas e carregam algumas inconsistências em seu estabelecimento. Na Idade Moderna tem-se: (a) o fortalecimento do comércio sendo um dos principais frutos das Cru-zadas; (b) O renascimento comercial e urbano e (c) o aparecimento da burguesia no período de declínio dos nobres que perderam suas terras (feudos) para a nova ordem política: Rei absolutista. Essas três caracte-rísticas podem servir de base para o que será tratado a seguir. A Idade Contemporânea, por sua vez, é o período que abrange desde a Revolu-ção Francesa aos dias atuais.3

Mas o que as ciências e a tecnologia podem ter em comum com essas mudanças/transformações que ocorreram no inicio dos 1500, se esten-deram aos 1600, e encontraram ecos em diversos acontecimentos até o fi m dos 1900? O presente capítulo irá buscar fomentar alguns itens que certamente irão despertar sua curiosidade e a busca de novos elementos 3 Para alguns historiadores esse período se estabelece com a chegada da urbanização e o período pós-revo-lução industrial no Século XIX.

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que fazem parte desse período. Antes de serem citados/discutidos os inventos, os homens/mulheres e os fatos/acontecimentos, faz-se neces-sário o entendimento de quem seria aquele (a) que pratica as ciências em relação a nossa atual forma de ver os (as) cientistas.

3.2 O mito dos Super Heróis e Afi ns

Normalmente quando se fala de ciência é natural que se trate de inven-tos e seus respectivos inventores, e assim somos levados a acreditar que no percurso da História temos os chamados ícones que foram transformados em “heróis estereotipados”, muitas vezes, como não-humanos e que incan-savelmente lutam em prol do bem-estar da humanidade4. Nas revistas em quadrinhos, onde os heróis são construídos em contextos de desigualdades e através de diversas situações confl itantes, seus atos demonstram objetivos claros (problemas) e por vezes iniciados através de injustiças e acidentes ocasionais (causalidade). Assim foram criados os mitos do Super-Homem, do Homem-Aranha, da Mulher Maravilha, dentre outros heróis.

No mundo das ciências, foram também popularizadas algumas fi gu-ras que tiveram caminhos, muitas vezes, não tão claros como os heróis das revistas. Em muitos casos foram passadas visões que carregam a ideia da existência de um caminho reto e sem maiores distúrbios nos percur-sos seguidos pelos cientistas e suas realizações. Caminhos com momen-

tos individualizados e “estalos” de genialidade, que colocaram indivíduos emblemáticos [cientistas] como ícones de um período e, desse modo, fo-ram transformados nos chamados “heróis das ciências” que conhecemos.

Nesse contexto, parte-se para uma análise sobre alguns aspectos relevantes do que doravante pode-se chamar de construção das ciên-cias, denominada no plural, para que se possa contemplar uma visão múltipla e interdisciplinar do conhecimento, repensando a existência de uma verdade única e infalível denominada ciência. As ciências, por sua vez, buscam solucionar os vários quebra-cabeças [problemas] que são expostos através da determinação de modelos da realidade utilizan-do-se de suas teorias para fundamentar suas ações [método].

De outro modo, no presente texto, busca-se ainda popularizar as ciên-cias e desmistifi car uma visão que o cientista é um gênio solitário, caricatu-ralmente louco e deslocado de um mundo real, mesmo que se atribua a ele um invento ou uma descoberta. O cientista desse modo tem uma vida so-cial e é provido de características humanas como qualquer pessoa, (você ou mesmo seus professores, que aliás, podem ser cientistas e você nem sabe).

Em se tratando de cientista, a ilustração – anatomia do cientista - é um

Super Herois do Universo DC Comics

4 Essa é uma ideia que se cristaliza mais especifi camente no destino de racionalidade para a prosperidade que trouxe, além de tudo, uma crença pragmática nas possibilidades da ciência e suas realizações, em especial, no inicio da segunda metade do século XX. (WEBER, 1987, 1992 e 1996).

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bom exemplo da visão cristalizada de como muitos enxergam um cientista. Importante salientar que se está falando daqueles individuos que praticam ciências, tendo as ciências como um conjunto de conhecimentos organiza-dos sobre algo, onde o método científi co é a base para a institucionalização do conhecimento, não sendo esse método único.

Nesse sentido ter-se-ia primeiro que retomar o que seria o conheci-mento científi co e por extensão pensar uma forma de conceber aqueles que o praticam e já praticaram. Personagens de livros e fi lmes conseguem ser bons exemplos das visões e representações que chegam a nossas ca-sas e ilustram bem a ideia sobre como muitos percebem o cientista e, por extensão, a prática das ciências. É visível a caricatura de Simão Bacamarte na obra de Machado de Assis [médico e o louco], ou do professor Julius Kelp representado originalmente nos cinemas por Jerry Lewis (o professor aloprado5). Ambos passam uma visão de que para ser cientista o indivíduo deve estar deslocado de atividades da vida comum. Essas visões indicam um sujeito que se debruça em busca de uma solução, salvação, destruição, seja lá qual for o motivo de sua busca, estando ele fora do contexto social de aplicação comum, bem como um sujeito determinado, a qualquer pre-ço, a obter os resultados de sua pesquisa.

Como pensar quais os reais motivos que levam um grupo de pessoas a praticarem atividades científi cas? Seria pelos motivos de Simão Bacamarte ou pelos motivos do professor aloprado Kelp? Sabe-se realmente os moti-vos pelos quais as pesquisas são desenvolvidas? E quais os reais objetivos para o desenvolvimento das pesquisas? Essas são algumas questões lança-das para que se possa repensar o que é passado e mostrado nos diversos meios de divulgação. Na realidade existe um fosso a ser preenchido entre o que é do popular e o que esta no campo do conhecimento dos expertises [cientistas]. Informação sobre ciência de forma clara e democrática ainda é um desafi o a ser superado entre as diversas sociedades atuais.

Outro aspecto que se deve observar é que ainda existe uma História das Ciências com personagens eclipsados, onde são deixadas de lado nas ciências imagens/caricaturas de mulheres, negros, índios sem ao menos possibilitar uma abertura para pensar tais sujeitos como cientis-tas, e esses são tópicos muito estudados atualmente pelos pesquisado-res de gênero, raça e ciências.

3.3 Uma rede de conhecimentos

Após essa fugaz refl exão sobre o que seria a caricatura do cientista e sua concepção na sociedade, pode-se então adentrar, ou melhor, voltar um pouco no tempo, para onde os cientistas6, corrigindo, os fi lósofos naturais, eram as fi guras que trilhavam os caminhos, ainda incertos e obscuros, dos mistérios do mundo e do universo. Em uma trajetória de estudante, invaria-velmente se associa inventos a inventores e acontecimentos a seus idealiza-dores, e assim, inconscientemente, perpetua-se a ideia dos heróis nas ciências.

Newton, Galileu, Darwin, Descartes, Boyle, Mendel, Plank, Ruther-ford, Volt, Ampère, Einstein etc. Com certeza, alguns desses nomes já pas-saram por cadernos e livros de ciências. São nomes que são associados a inventos, descobertas e muitas das fórmulas que tiram o sono dos estudan-tes em disciplinas como Matemática, Química e Física.

Na realidade se os estudantes pararem um pouco para observar, irão perceber que tais nomes não estão associados somente às disciplinas antes ci-tadas. São nomes que aparecem em Geografi a quando se estuda os planetas, em história e Literatura, quando se estuda as revoluções sociais e movimen-tos culturais ou em Biologia, quando se estuda os seres vivos, suas classifi -cações e seu funcionamento. Os assim chamados “heróis” fi zeram parte de um contexto maior em suas descobertas e invenções e exerceram importan-tes infl uências sobre o conhecimento científi co, este visto como produto de uma comunidade de homens e mulheres que no decorrer dos tempos desen-volveram teorias, ora úteis e ora não tão úteis para a humanidade.

É na atualidade que se pode buscar alguns aspectos para tal refl exão, pois a cada dia a humanidade está mais imersa em uma sociedade que res-

Mini fi guras de Lord Crumwell’s - Oddfellows Action FiguresMadame Curie, Newton, Darwin e Tesla.

6 O termo cientista foi utilizado pela primeira vez em 1833 pelo polímata William Whewell, que criou o neologismo para se referir às pessoas presentes em uma reunião da Associação Britânica para o Avanço da Ciência.

5 Em 1996 o fi lme foi regravado (remake) tendo Eddie Murphy no papel do professor sendo seu nome alterado para Sherman Klump.

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pira e transpira tecnologia. Ela está presente em tarefas que seus pais no passado nunca imaginaram que poderiam ser auxiliados pelos diversos apa-relhos eletrônicos que nos cercam. A menos de uma década as fotos eram tiradas em máquinas analógicas com fi lmes e posteriormente reveladas em locais específi cos, que atualmente foram extintos nos países centrais. Hoje as máquinas digitais permitem ver como fi cou a foto de imediato, fi cando a revelação como opcional, pois as fotos podem ser enviadas pela internet e por mensagens instantâneas através de um telefone que, por sinal, é móvel. Os quadros nas paredes foram substituídos por porta-retratos em LCD que podem guardar mais de 500 fotos e reproduzem mp3.

Enfi m, o modo de vida foi alterado e ainda está sendo. Incluem-se nes-se contexto os costumes, relações sociais e interpessoais dentro e fora das diversas culturas. Desde um simples acender de fogão ao uso de um apa-relho celular, a tecnologia aparece como fator determinante no compor-tamento do/da homem/mulher na sociedade. Do mesmo modo ocorreu no fi m da Idade Média, especifi camente, no período denominado de Re-nascimento. É daquele período que se tem alguns dos acontecimentos que desencadearam no que hoje se denomina de Revolução Científi ca que, por ventura, determinaram os rumos da ciência moderna e contemporânea.

Como foi visto em capítulos anteriores, o termo ciências é muito am-plo e não contempla só o Ocidente [Europa Ocidental e Estados Unidos da América], mas outras culturas em regiões como a África, o Oriente Mé-dio, as Américas [Central e Sul] e a Ásia. Ciência e tecnologia, desse modo, são e estão presentes na história da humanidade no decorrer dos tempos e muito do que é utilizado hoje é fruto desse conjunto de pensamentos. Hoje

é possível cruzar os céus, os mares e grandes extensões de terras em um tempo muito reduzido, em comparação aos antigos viajantes.

O que mudou? O que se tem hoje que antigamente a humanidade não dispunha? Em 1500 o Brasil foi descoberto através das grandes na-vegações. As ciências e a tecnologia já estavam inseridas nesse contexto? De que forma? Como o homem que vivia naquele período pôde cruzar os oceanos? Como eles se guiavam nos mares? Será que usavam GPS7, como atualmente são utilizados nos carros para posicionamento na cida-de? Como os portugueses desenvolveram suas naus, os espanhóis seus galeões e os franceses seus corsários? O que o homem conhecia sobre o mundo e sobre o universo naquela época? Essas são algumas questões que devem ser pensadas quando se pretende discutir quais as contribuições das ciências, por exemplo, no descobrimento do Brasil além das análises dos aspectos políticos, econômicos e geográfi cos.

Em linhas gerais, muitas foram as conquistas e avanços tecnológicos e o que se apresenta hoje são invenções e descobertas que em algum mo-mento do passado desafi aram a humanidade e seus limites. Um exemplo seria o da fi gura seguinte. O que ele lembra? Será um helicóptero? Isso mesmo! Mas não como é conhecido hoje. Esse é um esboço datado do inicio dos anos 1500 d.C. e está entre muitos outros projetos de um dos precursores da ciência moderna: Leonardo Da Vinci [1452-1519].

Esse é um esboço com mais de cinco séculos para um meio de trans-porte que só foi utilizado “em massa” a partir da segunda metade do

La Hélice de Da Vinci.Fonte : http://www.leonardo-da-vinci-biography.com/da-vinci-helicopter.htmlNovas atitudes incorporadas na sociedade

pelo avanço e acesso às novas tecnolo-gias. Disponível em: http://3.bp.blogspot.com/_wpacQL8Qjvc/SwPdIOT5vJI/AAGIE/dKEqfklHMVY/s320/celular2cg8.gif

7 O Sistema de Posicionamento Global, popularmente conhecido por GPS (Global Positioning System) – (Geo-Posicionamento por Satélite). É um sistema de informação eletrônico que fornece via rádio a um aparelho receptor móvel a posição do mesmo com referencia às coordenadas terrestres.

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século passado. O sonho humano de poder voar pelos céus remonta à mitologia grega na fi gura de Ícaro, passando por Da Vinci, chegando hoje às viagens ao espaço8. O desafi o de voar surge da observação do mundo natural, da necessidade de entendê-lo e da curiosidade do ho-mem de como ele funciona, como na observação de um pássaro voando ou mesmo de uma libélula pairando no ar.

Da Vinci, no contexto aqui apresentado, traz contribuições signifi ca-tivas. É possível notar que ele não está sendo caracterizado como cien-tista, pois esse é um conceito que ainda estaria por vir, a saber, aquele sujeito que participa de uma comunidade que pratica um conjunto sis-tematizado de conhecimentos. Mas não foi só Da Vinci que um dia de-safi ou, mesmo que teoricamente, a gravidade e os impedimentos de seu tempo para alcançar seus objetivos. Em se tratando de experiências com vôos o Brasil também aparece no mapa das empreitadas rumo aos céus.

Um dos nomes mais popularizados no nosso país é o de Alber-to Santos Dumont [1873-1932], desenvolvedor da ideia, mesmo que controversa, do mecanismo voador que hoje é chamado de avião. Mas antes dele outro brasileiro já intrigava a corte portuguesa no inicio do Século XVIII com um invento que podia voar: a passarola, um tipo de balão movido pelo aquecimento do ar.

Tal empreendimento foi apresentado, após muitas observações e ajus-tes, pelo santista Bartolomeu de Gusmão [1685-1724], em Portugal, no

ano de 1709. Bartolomeu de Gusmão9, hoje pai da aerostação, precedeu o conceito do balão e o uso dos dirigíveis como meio de transporte, mesmo que isso seja contestado pelas realizações dos irmãos Montgolfi er, Joseph Michel [1740-1810] e Étienne [1745-1799], que realizaram o primeiro vôo tripulado na França 59 anos após a morte de Bartolomeu de Gusmão.

3.4 Ciência não é um acúmulo linear de conhecimentos...

Normalmente é passada a ideia de que o conhecimento científi co vai se acumulando e se tornando maior ao passo que uma parte desse conhe-cimento vai se encaixando a outra, trazendo uma versão onde o conheci-mento se desenvolve como uma seta indo na direção do progresso. Essa ideia de linearidade vai de encontro com a possibilidade de construção de conhecimento através de uma comunidade, exaltando desse modo a impossibilidade da não ocorrência de possíveis erros que estagnam, desviam e fortalecem os rumos das ciências. As controvérsias são e estão presentes nas ciências e um dos campos férteis onde as controvérsias se fi zeram presentes foi o da Astronomia.

Foi na Revolução Científi ca que surgiram signifi cativas e decisivas contribuições para o fortalecimento do conhecimento científi co e do

9 A ele também é atribuída a invenção de um dispositivo para elevar água de um riacho para a Igreja em Belém, Cachoeira, na Bahia em um período em que os princípios da hidrodinâmica ainda estavam por ser estabelecidos. Maiores informações vide: BAIARDI, A.; SANTOS, A. V. dos. A Passagem de Barto-lomeu de Gusmão pela Vila de Belém, Cachoeira, BA. In: X Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, 2005, Belo Horizonte. Anais do X Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de História da Ciência e Tecnologia, 2005. v. 1. p. 126-43.

Selo comemorativo em S. Tomé e Príncipe – Ilustração da demons-tração do invento perante a corte

8 Ícaro era fi lho de Dédalo, o construtor do labirinto onde o rei Minos aprisionava o Minotauro. Após Teseu sair do labirindo com a ajuda de Ariadne e Dédalo, o rei Minos aprisionou Ícaro e seu pai no labirinto. Então eles projetaram asas, juntando penas de aves de vários tamanhos, amarrando-as com fi os e fi xando-as com cera, para que não se descolassem, mas Ícaro morreu ao cair no mar Egeu, após fi xar seu olhar no sol e a cera derreter durante seu vôo.

Modelo de universo geocêntrico. Fonte: http://oldearth.fi les.wor-dpress.com/2009/03/geocentric.jp

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que viria a ser a ciência moderna e contemporânea. Desse contexto te-mos os debates sobre o geocentrismo (terra no centro do universo) e o heliocentrismo (sol no centro do universo) e as observações do espaço utilizando a luneta que tem sua invenção creditada ao holandês Hans Lippershey [1570-1619] em 1608. O debate acerca do modo como es-tão arrumados os planetas e o sol remonta à Antiguidade e até hoje alimenta a necessidade de o homem pesquisar e entender o universo e a origem da vida, mesmo entre divergências teóricas. Foi com Galileu Galileu [1564-1642] que se teve o marco inicial da Revolução Científi ca e a ocorrência de alguns dos avanços mais importantes no campo da física- matemática com suas observações sobre a natureza e o universo. Galileu aderiu ao modelo heliocêntrico (copernicano), trouxe o con-ceito da inércia, do isocronismo e ainda postulou uma autonomia das ciências em relação ao puro dogmatismo vigente à época.

Outra valiosa contribuição ao avanço da ciência foi o pensamento de Francis Bacon [1561-1626], fi lósofo e ensaísta britânico que se ocupou da metodologia científi ca, sendo muitas vezes chamado de “fundador da ciên-cia moderna”. Escreveu uma série de tratados visando superar e substituir a visão aristotélica da ciência. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento e a superação da Escolástica, defendendo o aspecto prático da ciência e anecessidade de se expurgar da mente humana os preconceitos (ídolos). Em sua obra idola tribus, idola specus, idola fori, idola theatri.

No ano posterior à morte de Galileu nascia na Inglaterra Isaac New-ton [1643-1727], o homem que iria sintetizar as contribuições de diver-sos outros fi lósofos naturais, desde a Astronomia de Nicolau Copérnico [1473-1543] e Johannes Kepler [1571-1630] até a mecânica e a experi-mentação de Galileu. O desenvolvimento da ciência nesse período se deu por investigações em campos diversos e muitas vezes desconexos. Foi um período complexo que marcou a mudança de um mundo de dúvidas baseadas na experiência sensível do homem que viveu na Antiguidade para um mundo onde as respostas agora seriam ditadas pelo mecani-cismo de René Descartes [1596-1650] e de Isaac Newton [1643-1732], quando a humanidade experimentou profundas transformações nos di-versos campos da sociedade.

O capitalismo na Idade Moderna se fi rmou como sistema econômi-co, a medicina se especializou e obteve avanços signifi cativos com estu-dos em anatomia e fi siologia, dentre outros. A Química, a Física e a Bio-

logia se desenvolveram até se tornarem os campos de estudos do modo que conhecemos hoje, sendo disciplinares e interdisciplinares ao mesmo tempo. Enfi m, a humanidade descobriu os benefícios e malefícios do conhecimento científi co.

Galileu, Descartes e Newton, em algum momento foram contempo-râneos, e muitas vezes Galileu trocou mensagens (cartas), com Descartes para que pudessem debater sobre seus conhecimentos e compartilhar suas teorias. A Óptica, a Mecânica, a Astronomia, o cálculo diferencial, dentre outros, foram algumas das áreas que se benefi ciaram com os estu-dos desenvolvidos por Newton e seus antecessores. Um episódio muito popularizado, porém não confi rmado segundo alguns historiadores, é a queda da maçã em sua cabeça, quando o mesmo formula o conceito que hoje denominamos força de gravidade.

Se Newton retomou os conceitos de Kepler e de 50 anos de trabalho de seu mestre Tycho Brache [1546-1601], bem como desen-volveu o que fi cou conhecido como a descrição determinística, devido à queda de uma maçã, não é o foco principal do presente texto, mas o que nos importa é salientar que o fato, caso tenha ocorrido, não ge-rou por si o conhecimento que Newton desenvolveu.

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Outras contribuições são anteriores a sua, e muitas outras poste-riores. Porém, o Principia Mathematica, publicado em 1685, foi sua obra para a posteridade, tendo como grande infl uenciador para sua divul-gação e posterior anuncio à Royal Society o astrônomo Edmond Halley [1656-1742] que, através da mecânica de Newton, conseguiu prever a órbita de um cometa10 que posteriormente levaria o seu nome.

Mas não foi só de Astronomia que viveu as ciências nesse período. Outros nomes fi guraram em diversas áreas de conhecimento dando im-portantes contribuições para a humanidade e muitos outros foram igno-rados ou eclipsados nos textos escolares ou mesmo pelos professores, ora por não estarem dentro do hall dos chamados “heróis” ou mesmo por desconhecimento dessas contribuições.

Relatar todos que desenvolveram as ciências no presente texto não seria tarefa fácil, mas não é proibido dar uma olhada em alguns nomes e suas contribuições. No campo da medicina, por exemplo, ocorreram as contribuições de Miguel de Servet [1511-1553] e William Harvey [1578-1657], que descobriram como funciona a circulação sanguínea. Em 1544

Guillaume Rondelet [1507-1566] dava inicio à zoologia moderna com seu livro Libri Piscibus Marinis sobre história natural dos Peixes. Na ana-tomia, André Vesálius, o pai da anatomia, trouxe grandes contribuições com seus desenhos detalhados e realistas publicados no primeiro livro sobre a anatomia humana.

No frontispício11 de sua obra, Vesálius apresenta uma gravura que é um reforço ao majestoso poder da Ciência e de como era visto o conhe-cimento científi co naquele período. O corpo aberto domina a cena, de uma forma pública e conscientemente teatral. Ele é a fonte da autorida-de: as vísceras expostas ocupam exatamente o centro exato da gravura onde um corpo é analisado em seus detalhes e observado por um público diversifi cado.

Se na medicina os avanços foram signifi cativos, imagine o que ocor-reu com os outros setores das ciências ligados à medicina. Setores como o da farmácia ou mesmo da própria Biologia e seus desdobramentos. Na farmácia os estudos sobre as propriedades das plantas medicinais e suas descrições foram publicados em recheados e detalhados dicionários com fi guras, e serviram para que fosse organizada uma catalogação dessas

De Humani Corporis Fabrica. Obra de Andreas Vesalius.

11 Em um livro, atualmente seria o mesmo que página de rosto; Na época de Vesálius [antigamente], era a página que antecedia a página de rosto, geralmente ilustrada com uma belíssima gravura alusiva à obra.

10 O cometa Halley é um cometa do tipo brilhante de período intermediário que retorna às regiões inte-riores do sistema solar a cada 76 anos, aproximadamente. Sua órbita em torno do Sol está na direção oposta à dos planetas. Foi o primeiro cometa a ser reconhecido como periódico, sendo essa descoberta feita por Edmond Halley em 1696. Na charge vemos, no primeiro quadro, uma criança vendo o cometa, por exemplo, em 1986, e no segundo o retorno do cometa no ano de 2062; logo, vemos a criança como um idoso. No terceiro quadro o cometa retorna no ano de 2138.

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plantas, bem como a difusão de seu uso em diversas enfermidades.Por volta do Século XVIII muitos aparelhos foram introduzidos nos

diversos ramos de trabalho do homem. A precisão era buscada através da utilização de equipamentos “modernos”, que utilizavam em maior escala os conhecimentos daquela nova maneira de pensar racionalizada e centrada no método.

Novos instrumentos cirúrgicos foram inseridos nas práticas médicas e isso foi um grande avanço, pois eram corriqueiras as amputações, em especial, em tempos de guerras, quando essa era a única saída para a so-brevivência dos feridos. Paralelo ao desenvolvimento das áreas de saúde se desenvolvia a Química, como campo fértil de grandes descobertas. Nesse período fi cava difícil dizer que tal pessoa era químico, físico ou mesmo médico, pois muitos transitavam entre as áreas de conhecimen-tos.

De Robert Boyle [1627-1691] a Antoine-Laurent de Lavoisier [1743-1794], muita coisa mudou em um campo que inicialmente foi chamado de magia, passou pela alquimia até chegar hoje à química moderna. Antes mesmo desses dois nomes mais popularizados nas escolas, tínhamos os estudos de Jean Baptista Van Helmont [1580-1644], que dentro da atual divisão disciplinar poderia ser considerado como químico, médico e fi -siologista.

Dentre seus diversos estudos, um que nos chama atenção é sua defe-sa por uma teoria que alegava poder receitar a “criação” de seres vivos a partir da mistura da matéria bruta. Tal ideia, absurda para o que sabemos hoje, foi aceita por muitos estudiosos da época como teoria da abiogê-nese12, sendo refutada posteriormente por Francesco Redi [1626-1691], biólogo italiano com sua teoria da biogênese.

Paralelo ao que acontecia na Europa, no período dos anos 1500 e 1600, o Brasil ainda estava na condição de colônia, porém isso não era motivo para estar excluído, mesmo com participação discreta, da cons-trução das ciências. Bartolomeu de Gusmão foi um exemplo, mas não te-mos somente ele. Na segunda metade dos 1600, Valentin Stensel [1621-1705], jesuíta, matemático e astrônomo, natural de Praga, atuou na Bahia com estudos nos campos da Astronomia e da Matemática que repercu-tiram entre outros estudiosos, tendo, por exemplo, suas observações so-

bre cometas na Bahia compiladas na Obra de Isaac Newton Philosophiae Naturalis Principia.

Enquanto no Brasil Colônia a ciência dava seus primeiros passos com Bartolomeu de Gusmão, famoso criador do primeiro aeróstato operacio-nal e de inventos no campo da hidráulica, na Europa era fundado o Ob-servatório de Greenwich, aquele do meridiano, com intuito de colaborar para o desenvolvimento dos conhecimentos astronômicos. Nesse mes-mo período, Olav Christensen Römer [1644-1710] conseguia medir pela primeira vez a velocidade da luz, com valores aproximados aos de hoje.

Se em 1610 Galileu apontou uma luneta para o céu e revolucionou o modo de ver o universo e sua vida após a publicação do livro Sidereus Nuncius, Antonie Van Leeuwenhock [1632-1723], microscopista holan-dês, apontou seu microscópio para um mundo menor e descobriu os espermatozóides em 1677. Robert Boyle nesse mesmo século aperfeiçoa o termômetro de Galileu, o que apontou a luneta para o céu e teve como amanuense em seu leito de morte Evangelista Torricelli [1608-1647], que trouxe o princípio do barômetro com seu Tubo de Torricelli. O princí-pio do barômetro é aplicado atualmente em diversos ramos da atividade humana, como nas instalações hidráulicas de residências.

Essas instalações possuem canos onde a água é transportada até uma caixa d’água sob pressão atmosférica e quando isso não é o sufi ciente, utilizam-se bombas para tentar vencer os efeitos da pressão. Os canos por sua vez já foram feitos de diversos materiais, por exemplo, na Roma antiga eles eram feitos de chumbo, um metal tóxico, pesado, macio, ma-leável e mal condutor de eletricidade e que já foi acusado como culpa-do pelo declínio do Império Romano, porém hoje é muito utilizado nas baterias de carros. Os canos já foram também de cobre, barro, vidro e atualmente são feitos de PVC.

Já as bombas funcionam a partir de princípios teóricos, que permi-tem de maneira sutil acionar um dispositivo que eleve a água a níveis de alturas desejáveis. Denis Papin [1674-1712] foi um médico que no fi nal do Século XVII construiu um sistema de bombeamento de água por pressão de ar, mas obteve sucesso mesmo com sua marmita a vapor que nos permite ter hoje a panela de pressão e as autoclaves, aparelhos utiliza-dos para esterilização de instrumentos diversos, como os cirúrgicos e no fechamento de recipientes dos chamados alimentos enlatados.12 A abiogênese de Jean Baptista Van Helmont e sua receita de “fazer vida” se caracteriza de um modo

geral como o estudo sobre a origem da vida a partir de matéria não viva.

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Papin trabalhava no mesmo local que Christian Huygens [1629-1695] e Gottfried Wilhelm Von Leibniz [1646-1716]. O primeiro des-cobriu os anéis de Saturno, aprimorando o telescópio, que já tinha sido utilizado na forma de luneta por Galileu, e também se dedicou ao es-tudo da luz debatendo suas descobertas por várias oportunidades com Isaac Newton. O segundo trouxe um termo que muitos estudantes não gostam: a função matemática. Mas foi através de suas disputas com Newton que Leibnitz desenvolveu em paralelo ao seu opositor o que hoje é chamado de cálculo diferencial e integral.

Leibnitz foi aluno de Huygens, contemporâneo de Bento Espinoza [1632-1677], que além de fi lósofo era cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. Leibnitz desenvolveu uma calculadora mais poten-te que a de Blaise Pascal [1623-1662], matemático que desenvolveu os ramos da geometria projetiva e da teoria da probabilidade [análise com-binatória] e consolidou conhecimentos sobre as relações entre a pressão dos líquidos e sua transmissão integral a todos os pontos desse mesmo líquido e às paredes do recipiente com o chamado Princípio de Pascal.

Quando um carro é levantado utilizando um macaco hidráulico para verifi car problemas ou trocar o óleo, está sendo utilizado o prin-cipio de Pascal. Pascal foi contemporâneo de Pierre de Fermat [1601-1665], que também contribuiu com aprimoramentos para o barômetro que Robert Boyle estudou a partir das contribuições de Torricelli, que foi amanuense de Galileu, que apontou a luneta para o ceú e viu o uni-verso em sua lente. O universo também foi objeto de estudo de New-ton e Huygens, o último companheiro de trabalho de Leibnitz, que foi

orientador de Jakob Bernoulli [1654-1705], que desenvolveu a partir dos estudos de Newton e Leibnitz o cálculo infi nitesimal.

Por sinal a família dos Bernoulli possui em seu currículo muitas contribuições para a História das Ciências. Jakob Bernoulli, que foi alu-no de Leibnitz, tinha um irmão chamado Johann I Bernoulli [1667-1748], que ia ser médico e se tornou matemático, em especial, pelos en-sinamentos de seu irmão mais velho. Johann I se dedicou à Matemática e a Física estudando os campos gravitacionais e a Óptica. Após a morte de seu irmão [Jakob], Johann assume seu lugar como professor na Ba-siléia13. Seu fi lho Daniel Bernoulli [1700-1782] foi um expoente no campo da mecânica de fl uidos que, dentre outras coisas, estuda o com-portamento dos líquidos.

Em uma instalação hidrossanitária, os conhecimentos advindos do Teorema de Bernoulli [Daniel] são aplicados a líquidos perfeitos (compressibilidade e viscosidade nulas) em seu escoamento variável. O barômetro e as instalações residenciais são frutos diretos desses es-tudos e estão presentes hoje quando os projetistas aplicam tais concei-tos para elevar água a edifícios com piscinas, chuveiros e sistemas de combate a incêndios. O teorema fundamental da dinâmica da mecânica clássica newtoniana também está presente nesse contexto, bem como o conceito de pressão e o de vasos comunicantes de Simon Stevin [1548-

Máquina a vapor de Denis Papin

13 Cidade localizada no noroeste da Suíça, faz fronteira com a Alemanha e com a França.

Lavoisier em seu laboratório: Experimentos sobre a respiração de um homem em repouso. “Desenho feito por sua esposa” Fonte: Cortesia da Edgar Fahs Memorial Collection, Department of Special Collections, University of Pennsylvania Library

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1620], que resolveu o paradoxo da hidrostática.Não podendo esquecer que se os prédios, os chamados arranha-

-ceús, são construídos, isto se deve aos estudos de resistência de mate-riais aplicados à engenharia, essa como uma ciência que nasce a partir dos estudos publicados por Galileu em seu livro Discorsi e Dimostrazioni Mathematiche intorno a Due Nuove Scienze, de 1638, quando Galileu tinha 74 anos e estava completamente cego e aprisionado após sua abjuração e condenação pela Inquisição.

Daniel Bernoulli foi contemporâneo de Leonhard Paul Euler [1707 -1783], um dos maiores matemáticos do Século XVIII, fi cando famo-so por seus trabalhos em Mecânica, Óptica e Astronomia. Euler, por sua vez, foi contemporâneo de François-Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire [1694-1778], que junto às contribuições de John Locke [1632-1704] e Thomas Hobbes [1588-1679] infl uenciaram com suas ideias e obras diversos protagonistas envolvidos com as Revoluções Francesa e Americana.

Foi na Revolução Francesa que Antoine-Laurent de Lavoisier, o fun-dador da química moderna, foi guilhotinado após um julgamento sumá-rio por ser agente de tributos em uma sociedade francesa que queria vin-gança aos burgueses, isso pela abertura ideológica que veio a reboque do

Iluminismo. A Lavoisier é atribuída a descoberta do oxigênio após uma visita de Joseph Priestley [1733-1804] que, em 1774, obteve o gás a partir do óxido de mercúrio, mas pensava que havia descoberto óxido nitroso, o que gerou uma controversa situação, já que a descoberta do gás foi atribuída a Lavoisier. Porém 100 anos antes John Mayow [1641-1679] já lidava com questões similares quando estudava a respiração, a combustão e a natureza do ar, mas sua obra foi esquecida naquela época, em especial pelo obscurantismo da teoria do fl ogistico14.

Paralela à revolução química encabeçada por Lavoisier e sua teoria da conservação da matéria [1789], era publicado o primeiro tratado de química em língua portuguesa por Vicente Coelho Seabra e Silva Tel- les [1764-1804]. Dezoito anos antes da Revolução Francesa, no Brasil, Melo Palheta introduzia a cultura do café, que iria ditar novos rumos sóciopolíticos para o país, bem como a necessidade de investimentos em tecnologia para o cultivo e moagem dos grãos. Algo parecido já ha-via ocorrido no Brasil nos anos 1600 com a introdução das culturas de cana-de-açúcar e algodão e por extensão a necessidade de tecnologias para moagem da cana e dos teares para o algodão, mesmo se valendo do uso excessivo da força de tração animal e braçal humana.

As atividades de produção vegetal e animal foram benefi ciadas pe-las transformações advindas das grandes descobertas científi cas e das trocas de informações entre agentes produtores, mesmo nos tempos da escravidão. Importante salientar que nem sempre essas mudanças foram impostas pelos colonizadores para os colonizados, vide os gan-hos tecnológicos advindos das Cruzadas, quando os europeus foram li-bertar a Terra Santa e retornaram com inúmeros avanços tecnológicos, inclusive o açúcar e o algodão.

Lavoisier foi contemporâneo de Joseph Louis Lagrange [1736-1813], matemático francês que aos 16 anos já era professor na Escola Real de Artilharia de Turim e ampliou os estudos sobre o cálculo diferencial e a teoria da probabilidade, alargando assim o conhecimento do que foi proposto por Isaac Newton, aquele que estudou a gravidade, Óptica, alquimia, dentre outros campos, e era amigo de Halley, o do cometa, que infl uenciou Lagrange e muitos outros que leram seus trabalhos.

Lagrange trocava correspondências sobre seus estudos e suas ideias 14 Flogistico era uma hipotética substância inodora, incolor e sem peso que se acreditava ser a parte combustível de todas as substâncias infl amáveis. Com a descoberta do oxigênio provou-se sua inexistência

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a respeito da matemática com Jean Le Rond D’Alembert [1717-1783], que também estudou matemática e física nos deixando o teorema de D‘Alambert-Gauss e outras contribuições utilizando o cálculo diferen-cial. D‘Alembert foi orientador de Pierre-Simon Laplace [1749-1827], proeminente matemático que em 1788 publicou suas memórias em re-lação às Leis do Sistema Planetário, isso no mesmo ano da fundação do famoso jornal inglês The Times.

D‘Alembert em conjunto com Denis Diderot [1713-1784] tocaram o ambicioso projeto de editar uma enciclopédia com o maior volume de conhecimento produzido até aquele momento da História. Ao término a obra compreendia 33 volumes, 71 818 verbetes e 2 885 ilustrações. O Dictionnaire Raisonné des Sciences, Des Arts et Des Métiers15, como foi chamada a Encyclopédie, foi fi nalizado em 1772 e possuiu contribuições de diversos pensadores da época, incluindo Charles de Montesquieu [1689 - 1755], Jean-Jacques Rousseau [1712-1778] e Voltaire.

Decerto, o caldeirão de ideias que se tornou o mundo das ciên-cias após a Revolução Científi ca, mudou o cenário mundial, alterou a maneira de pensar da sociedade e abriu novos caminhos, em especial, nos chamados centros de produção científi ca. Paralelo a esse desenvol-vimento pairou uma sombra de ocultismo e obstáculo ao desenvolvi-mento científi co. Essa sombra plainava sobre as ciências desde a Idade

Média e vinha atuando na Europa e Américas Espanhola e Portuguesa sob a tutela da Igreja, carregando uma bandeira de combate ao que a Igreja Católica chamava de “hereges”, que começaram a proliferar no mundo intelectual a partir do século XII e cujas descobertas iam de encontro aos sacrossantos ensinamentos.

A Inquisição ceifou diversas vidas, desvirtuou muitos cursos do co-nhecimento e freou o avanço cientifi co em nome de uma divindade mo-noteísta conduzida por uma instituição político-religiosa que usava mão de ferro sobre os desvios em relação ao mito cristão. Uma das célebres vítimas da Inquisição foi Giordano Bruno [1548-1600], que após defen-der um universo infi nito indo de encontro à Escolástica16, viu-se diante de um julgamento que se arrastou durante anos e ao fi nal, sem abjurar17

do que pregava, foi condenado à chamada morte sem profusão de san-gue, queimado na fogueira, em praça pública18, com tábua e pregos na língua, para parar de “blasfemar”. Galileu, ao contrário, abjurou, mas mesmo assim foi condenado a uma prisão especial, onde morreu aos 78 anos. Além desses dois casos, a Inquisição conseguiu calar diversos pen-sadores e deixar muitos outros omissos e apavorados com o que estava acontecendo, como foi o caso de Descartes, que mesmo convencido das evidências das teses de Galileu, dizia em uma carta a um amigo que, por nenhuma razão do mundo, as defenderia contra a autoridade da Igreja.

15 “Encyclopédie, ou Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers, par une société de gens de lettres, mis en ordre par M. Diderot de l’Académie des Sciences et Belles-Lettres de Prusse, et quant à la partie mathématique, par M. d’Alem-bert de l’Académie royale des Sciences de Paris, de celle de Prusse et de la Société royale de Londres”. Titulo completo da obra em 1750.

16 Linha dentro da fi losofi a medieval, de característica notadamente cristã, surgida da necessidade de responder às exigências da fé, ensinada pela Igreja, considerada então como a guardiã dos valores espirituais e morais de toda a Cristandade.17 Renunciar. Um termo utilizado como renúncia, diz-se, sobretudo, quando se trata de uma conversão ao catolicismo.18 Cerimônias de penitência denominada de auto-de-fé ou auto de fé, realizadas publicamente ou em espaços reservados, com humilhação dos heréticos e apóstatas, bem como punição aos cristãos-novos pelo não cumprimento ou vigilância da nova fé que lhes foi outorgada.

Daniel Bernouilly

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Outra característica marcante da Inquisição, curiosamente sendo mais intensifi cada no período da Revolução Científi ca, foi uma caça indiscriminada às bruxas, dentro de um contexto onde a magia e a demonologia ainda eram muito cultuadas e consideradas as grandes causadoras dos males da sociedade (doenças, fome, desastres natu-rais, etc). Essas bruxas, caracterizadas em muitos fi lmes como mulhe-res velhas, solitárias, asquerosas e maltrapilhas em companhia de sua vassoura, não passavam de uma imagem cristalizada e carregada de misoginia19 contra as viúvas, as idosas e mulheres solteiras, que com seus poderes obscuros, segundo os inquisidores, iriam seduzir20 os homens os conduzindo à prática dos pecados.

A Inquisição, no que pese seu papel, foi um dos diversos fatores determinantes nos caminhos trilhados pelos cientistas de sua época. Mesmo sendo ofi cialmente abolida em 1821 em Portugal e em 1834 na Espanha, perdurou com o nome de Santo Ofício na Itália até ser chamada de Congregação para a Doutrina da Fé em 1965, agora sem cometer as atrocidades de outrora.

3.5 As academias de ciências no decorrer da Idade Moderna e Contemporânea

Desde a invenção da prensa de tipos móveis de Johannes Gutenberg [1398-1468], a qual utilizava o chumbo como metal tipográfi co, a troca de informações e suas respectivas publicações se potencializaram, bem como a difusão do conhecimento cientifi co. Essa difusão no Século XIX não atingia somente os pensadores, mas um público que também poderia saber sobre as ciências em um processo de popularização das ciências, respeitando as diferentes interpretações para a terminologia. Outra for-ma de troca de informações, difusão e fomento às atividades científi cas foram as academias de ciências, não sendo a prática de reuniões sobre ciências e temas afi ns um fato específi co das ciências modernas.

Interessa-nos nesse período algumas academias, como a Academia dei Lincei [1603] e a Academia del Cimento [1657], ambas na Itália, a Acade-

mia de Ciências Francesa [1666] e, por último, a Royal Society [1660] na Inglaterra21. Por essas academias passaram muitos dos nomes que mar-caram a História das Ciências e da Tecnologia. Pela Academia dei Lincei passaram, dentre outros, Galileu Galilei e Louis Pasteur [1822-1895], esse último, atuante pesquisador nos campos da química e da medicina. A partir de seus estudos foram desenvolvidas as vacinas, como a da raiva e muitas técnicas de experimentos em química, sendo a mais associada ao seu nome a pasteurização22, processo que utilizamos atualmente nos derivados do leite.Tal técnica foi desenvolvida a partir de um pedido dos cervejeiros e vinicultores da região onde morava, pois seus produtos azedavam, e Pas-teur estudando o caso descobriu que era necessário aquecer os produtos e conservá-los em recipientes hermeticamente fechados. Pasteur derrubou ainda a teoria da abiogênese junto com Heinrich Hermann.

Robert Koch [1846-1910] e Ferdinand Julius Cohn [1828-1998] fundamentaram as bases para a microbiologia, ramo da biologia que estuda os microrganismos, incluindo eucariontes unicelulares e proca-riontes, como as bactérias, fungos e vírus.

Em seu brasão a Academia Del Cimento, exalta o lema: - Provando e riprovando - , o que em português se assemelharia a “tentar uma vez e outra”, casando com a ideia inicial de Da Vinci que defendia a re-

19 Misoginia é um movimento de aversão a tudo que é ligado ao universo feminino.20 A sedução era feita por jovens bonitas a quem se atribuía terem sido possuídas por entidades demoníacas.

21 As academias eram espaços para discutir ciência porque as universidades não cumpriam este papel e os institutos de ciência básica e P&D ainda não existiam.22 A pasteurização reside basicamente no fato de se aquecer o alimento a determinada temperatura, e por determinado tempo, de forma a eliminar os microrganismos presentes no alimento. O avanço científi co de Pasteur melhorou a qualidade de vida dos humanos permitindo que produtos como o leite pudessem ser transportados sem sofrerem decomposição.

Louis Pasteur trabalhando em seu laboratório

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petição de experimentos, com o fi m da separação entre prática e teoria proposto por Galileu. Durante o Renascimento, em que pese a ameaça inquisitorial, a experiência na ciência adquire outra envergadura com as academias, indo além do puro empirismo para assumir o estatuto de um método submetido à prova.

É muito comum se confundir ciência com tecnologia e assim mi-tifi car uma visão negativa do conhecimento científi co como aquele que é maligno a humanidade e causador dos seus males. Como já dito no presente texto, não se deve estabelecer esse ou aquele conhe-cimento como verdade única e imutável. Nem que o novo é sempre uma verdade, pois as descobertas e inventos não podem ser apagados ou esquecidos em um ponto da História e sim readaptados, modifi ca-dos, repensados, contestados, melhorados etc.23

Na Academia de Ciências Francesa ocorreu a fusão da álgebra com a geometria por intermédio de Descartes, a prensa hidráulica de Pascal, e por lá também passaram Laplace e seu orientando Siméon Denis Poisson [1781 - 1840], que contribuiu para os estudos dos ga-ses com o expoente de Poisson. A ideia da fundação da Academia de Ciências Francesa foi de Jean-Baptiste Colbert [1619-1683], através de uma sugestão a Luís XIV [1638-1715] com intuito de promover a investigação científi ca na França. Aproveitando a deixa do “Rei Sol”, como era chamado Luis XIV, é possível inserir no presente debate algumas considerações sobre as ciências no campo das engenharias e

construções civis e militares. Hoje muitas dessas obras são conside-radas maravilhas do mundo e construções que mexem com a curiosi-dade e imaginação dos engenheiros e arquitetos atuais. As pirâmides no Egito, os jardins suspensos da Babilônia, a muralha da China, as primeiras pontes em pedra e os aquedutos romanos foram grandes obras de engenharia da Antiguidade e na Idade Média foram os cas-telos e fortes grandes avanços nas artes das guerras.

Em se tratando da engenharia, um dos diversos marcos constru-tivos na Idade Moderna e Contemporânea foi o Palácio de Versalhes, construido por Luis XIV para ser seu refúgio de uma França à bei-ra do declínio sócio-político no Século XVII. O palácio atualmen-te, após as diversas ampliações, possui 2153 janelas, 67 escadas, 352 chaminés, 700 quartos, 1250 lareiras e 700 hectares de parque, mas o que mais nos chama atenção foi que o palácio foi construído em uma região pantanosa, sem água potável e com vegetação escassa, mas possui um impecável e gigantesco jardim com fontes de água.

Mas como isso foi possível? A solução achada foi a construção de uma máquina hidráulica [a máquina de Marly] que com suas catorze vastas pás giratórias bombeava 378 milhões de litros de água do Rio Sena para os jardins do Versalhes por dia. Nela foram aplicados co-nhecimentos advindos da mecânica clássica de Newton, dos estudos com fl uidos de Pascal, Bernoulli, Papin, Torricelli e dos avanços obti-dos com as engrenagens, uso dos metais e técnicas construtivas tanto na gestão de materiais quanto na gestão de pessoal, inclusive com o uso de mão de obra feminina.

Já no fi nal do século XIX, na mesma França, um empresário e en-genheiro propunha a construção de um monumento em aço com 300 metros de altura para comemorar os 100 anos da Revolução Francesa, a que decapitou Lavoisier e destronou o absolutismo. Gustave Eifell [1832-1923], após 22 meses de construção, inaugurou o monumento com um pouco mais de 7 mil toneladas de treliça de ferro, e apesar de ter sido pensada como uma obra temporária, ainda hoje fi gura como um dos monumentos mais importantes da França.

Nesta torre encontra-se gravados setenta e dois nomes de mate-máticos, físicos, engenheiros, militares e políticos franceses em reco-nhecimento a suas contribuições à República Francesa. Fato polêmi-

23 Sobre esse aspecto torna-se importante entender a idéia do falibilismo, para o qual a ciência avança corrigindo-se continuamente a si mesma, atuando com a premissa da falseabilidade de suas hipóteses por meio da tentativa e erro, admitindo os seus próprios erros. Nesse contexto um erro é valorizado tanto o quanto um acerto, pois pode indicar novos rumos para o que se está pesquisando

Brasão da Academia del Cimento

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co foi a não referência a Marie-Sophie Germain [1776-1831], dentre os setenta e dois gravados. Marie-Sophie foi uma física, fi lósofa e ma-temática francesa com contribuições fundamentais à teoria da elasti-cidade, aplicada na construção da Torre Eifell e a teoria dos números, tendo sido pupila e amiga de Lagrange.

.

As construções sempre foram um desafi o para a humanidade e muitas ainda são objetos de estudos por terem sido realizadas com técnicas, muitas vezes, avançadas para o periodo. Voltando às acade-mias, em Londres, a Royal Society (Sociedade Real de Londres para o Progresso do Conhecimento da Natureza) também teve importante infl uência nas ciências. Por lá passaram muitos pensadores da época, a exemplo de Thomas Henry Huxley [1825-1895], biólogo, que em 1870 saiu do mundo das pesquisas científi cas no campo da evolução para assumir compromissos políticos como secretário executivo na Royal Society. Em suas pesquisas, ele foi um dos maiores defensores do evo-lucionismo de Charles Darwin [1809-1882].

Darwin, por sua vez, se tornou famoso por propor à comunidade científi ca em seu livro On the Origin of Species a ocorrência da evolução,

quando postulou uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual e, ao contrário do “sentimento interior” defen-dido por Thomas Malthus [1766-1834], apresentou uma sólida causa física para a mudança das espécies. Esta teoria se desenvolveu no que é agora considerado a base central para se explicar diversos fenômenos dentro do campo de estudo da Biologia. Alfred Russel Wallace [1823-1913], que juntamente a Darwin estudava o problema da origem das espécies, inseriu o Brasil em sua rota quando excursionou para pesqui-sar espécies na Amazônia em 1848. Darwin havia passado por aqui em uma excursão do Beagle e visto pela primeira vez uma fl oresta tropical e o carnaval baiano.

Muitos naquela época não aceitaram as teorias de Darwin, e dentre eles se encontrava o físico Willian Thompson, o Lorde Kelvin [1824-1907], que postulava uma escala de 100 milhões de anos para a idade da terra e com isso a evolução darwiniana não estaria compatível com o que acreditava. Mesmo não sendo um opositor que tenha conseguido abalar a teoria de Darwin, Kelvin se notabilizou por seus estudos em eletricidade, termodinâmica e pela determinação de uma escala absolu-ta para a temperatura.

No Brasil não foram desenvolvidas academias de ciências nos mol-des das que foram fundadas na Europa e nos EUA, porém alguns ho-mens de ciências (e poucas mulheres) ilustrados se lançaram no campo das investigações, como foram os casos de Bartolomeu de Gusmão e dos diversos cientistas requisitados no Brasil [Minas Gerais, Bahia, Pernambuco e Ceará] e na Europa por intermédio de Rodrigo de Sousa Coutinho, ao assumir a Secretaria de Estado da Marinha e Domínios Ultramarinhos em 1796.

Existia a necessidade de se explorar a nova terra e isso possibili-tou que muitas missões fossem realizadas e/ou enviadas para o Brasil a fi m de pesquisarem novas tecnologias e desbravarem as riquezas naturais sobre os domínios de Portugal. O desenho de mapas e car-tas geográfi cas, o estudo da fauna, fl ora e a necessidade de proteção militar (construção de fortes), foram alguns dos campos de desenvol-vimento da tecnologia no Brasil Colonial.

Tais fatos corroboram a pesquisa científi ca no Brasil colonial e sustentam a afi rmativa de que

Fotos da Torre Eifell, construída como o arco de entrada da Exposição Universal de 1889

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“A defesa da inexistência de uma ciência nacional em perío-dos anteriores às primeiras décadas do século XX, por parte de algumas análises de cunho tradicional, do mesmo modo que defesas que foram períodos desprovidos de ciência, não mais se justifi cam quando são tomados como referência os frutos advindos da atual historiografi a das ciências.” (SANTOS, 2008)

Nesse contexto torna-se importante atentar-se para não incorrer em uma visão whig da história24, ou melhor, em anacronismos e julga-mentos da ciência colonial, com a presente visão de ciência, ou com comparações em strictu com a ciência praticada na Europa e nos EUA no mesmo período. (MARTINS, 2005)

Mesmo em um ambiente que não propiciava em sua plenitude o desenvolvimento científi co devido à colonização por exploração, um dos grandes estímulos às ciências no Brasil foi a criação das escolas de ensino superior25 e as escolas de engenharia após a transferência da corte portuguesa para o Rio de Janeiro. As escolas de engenharia exerceram o papel de fortalecimento das ciências exatas no país. Foram criadas a Academia da Marinha, em 1808, e a Academia Real Militar, em 23 de abril de 1811. Um dos grandes engenheiros e abolicionistas que atuaram no período do Brasil Império foi André Pinto Rebouças [1838 - 1898], baiano de Cachoeira que após formar-se em engenharia em 1860 se especializou em obras ligadas a linhas férreas26, às docas e in-troduziu uma máquina que realizava o ensaio tecnológico do cimento.

O elevador do parafuso, por exemplo, foi uma solução de enge-nharia que mudou o modo de transporte da população que queria ir da chamada Cidade Baixa para a Cidade Alta em Salvador. Desde a colonização um dos problemas enfrentados naquela região era o deslocamento das pessoas que estavam no porto para a chamada área central onde se localizava a sede política da cidade. Foi em 1873 que o engenheiro Augusto Frederico de Lacerda [1836 - 1931], con-

cluiu as obras do Elevador Hidráulico da Conceição da Praia, que, em 1896, em sua homenagem foi batizado de Elevador Lacerda. Outras obras de caráter científi co no Brasil Império foram o Real Horto, atual Jardim Botânico, o Colégio Médico Cirúrgico da Bahia, a Esco-la Médico-cirúrgica do Rio de Janeiro, que seriam as duas primeiras escolas de medicina do país, a Biblioteca Nacional e o Laboratório Químico-prático fundado por Dom João VI em 1812.

Elevador Lacerda em 1875 e atualmente

No mundo, a primeira escola de engenharia foi a École Nationale des Ponts et Chaussés fundada em 1747 na França. Pela Des Ponts pas-saram Louis Joseph Gay-Lussac ou Joseph Louis Gay-Lussac [1778 - 1850], físico e químico francês, que formulou a segunda lei dos gases e a Lei volumétrica, que dentre outras coisas, determinou a unidade de medida de volume para os álcoois, utilizada para medir o volume de teor alcoólico das bebidas. Outro que por lá passou foi Louis-Jose-ph Vicat [1786 -1861] inventor do “ouro branco”, o cimento artifi cial.

3.6 Contextos de Guerra e a Virada para o novo Milênio

Nesta altura do texto, com certeza, o leitor pode estar pergun-tando sobre alguns nomes ou inventos que não foram citados e para justifi car essa possível e perdoável falha, partimos da premissa que a presente obra é mais um contributo dentre outras diversas que se lançaram na tarefa de ilustrar e discutir a História das Ciências e da Tecnologia, mas por outro lado serve ainda como estímulo para que a

24 Expressão introduzida por Herbert Butterfi eld com intuito de caracterizar uma modalidade de histo-riografi a que adotara a perspectiva dos “vencedores”. No contexto do presente texto se apresenta como sinônimo de uma historiografi a anacrônica e presentista.25 Na Bahia foi criada a Escola de Medicina e Cirurgia, em 1808, no atual Terreiro de Jesus, no Pelourinho.26 Outro campo em desenvolvimento no Brasil foi os de estudos geológicos com a Comissão Geológica do Império, extinta em 1874, ano de criação da Escola de Minas de Ouro Preto, fundada pelo visconde do Rio Branco.

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partir dela o leitor possa buscar outras fontes de pesquisa.Outro aspecto que chama atenção é a relação que o desenvol-

vimento das ciências possui com os contextos de guerra. Ciência é uma atividade humana, social e inserida em um contexto político e econômico, não estando isenta do que ocorre ao redor daqueles que a praticam. No período compreendido entre os anos 1500 e 1900, foram diversos os confl itos entre povos, nações, estados, e indepen-dente dos motivos, de uma maneira ou de outra, a simples utilização de um artefato de guerra já insere as ciências como parte integrante dos acontecimentos.

Desde a batalha de Novara no Norte da atual Itália, em 1513, até a Guerra do Pacífi co, em 1879, onde o Chile confrontou as forças conjuntas da Bolívia e do Peru, muitas foram as mudanças tecnoló-gicas que se processaram nas chamadas artes de guerra. Das naus e embarcações de madeira do Século XVI para o primeiro barco feito com metal em 1777 na Inglaterra e posteriormente ao barco movi-do a vapor por intermédio de Robert Fulton [1765-1815] com o seu Clermont, de 1807, as formas de instrumentalização bélica se tornaram cada vez mais letais e perigosas para a humanidade. Os barcos a vapor ainda são utilizados como modelos fl uviais de transporte em alguns países, como no Brasil na Região Norte e nos EUA com seus típicos steamboats, que navegam no Rio Mississipi, na Louisiana, estado ven-dido aos EUA quatro anos antes da invenção do barco a vapor por um dos maiores senhores da guerra, o francês Napoleão Bonaparte [1769-1821].

As guerras demandam novas estratégias e recursos, desse modo, elas se tornaram palco de demonstração de uma das facetas do co-nhecimento que anteriormente não era muito explorado para tais fi ns. Uma forma de pensar que iria, por exemplo, substituir o fl orete, tipo de espada, pelo mosquete, uma das primeiras armas de fogo, introdu-zida em muitos exércitos em substituição às balestras27. O mosquete foi decisivo quando o Duque de Alba, como outros em sua época, equipou suas unidades do exército espanhol durante as vitoriosas campanhas contra os hereges.

Uma invenção que iria mudar os rumos dos confrontos bélicos a partir da segunda metade do Século XIX foi a dinamite. O sueco Alfred Bernhard Nobel [1833 -1896] tomou como tarefa estabilizar o manuseio da nitroglicerina, explosivo líquido muito instável que vinha causando muitos acidentes, já que era usado para demolição em construções diversas. O que Nobel não previa era que outra indústria, a da guerra, iria se benefi ciar de sua invenção, indo de encontro à sua idéia de que o progresso técnico, a ciência e a cultura acabariam com a barbárie das guerras. Inconformado com o destino dado a sua inven-ção, Nobel destinou sua herança a ser entregue anualmente a pessoas que desenvolvessem pesquisas e ações que preconizassem atitudes pacífi cas para a humanidade, instituindo assim postumamente o Prê-mio Nobel no início do Século XX.

Outro ponto decisivo e incontestável para o desenvolvimento da produção de conhecimento nesse período foi a Revolução Industrial iniciada pelos britânicos. O polissêmico termo revolução, já empre-gado aqui por diversas vezes, demanda por sua vez um sentido de transformação radical que atinja drasticamente diversos setores da sociedade, e as ciências não estiveram deslocadas do contexto da Re-volução Industrial.

27 Balestra é uma arma com a aparência de uma espingarda, com um arco de fl echas, acoplado na ponta da coronha, acionada por gatilho, que projeta setas, dardos similares a fl echas.

Ataque da infantaria com mosquete (sec. XVII)

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A passagem da manufatura para a maquinofatura, iniciada na Europa em especial nos países protestantes, instaurou o capitalismo industrial e a necessidade de novas soluções tecnológicas para sua manutenção. As máquinas estavam tomando conta do mundo, não como no fi lme Matrix28, mas já executavam tarefas antes demoradas ou impossíveis para o homem. Thomas Newcomen [1663-1729], ferreiro e mecânico inglês, vendo a necessidade de se extrair as águas que se acumulavam nas minas, propõe em 1712 uma máquina movida a vapor para executar tal tarefa. Sua invenção foi melhorada por James Watt [1736 - 1819], após vencer problemas como rendi-mento e superaquecimento da máquina e de fazer melhoramentos no tipo de ferro utilizado, no diâmetro dos pistões cilíndricos e numa parte importante de tudo o que se esta sendo dito nesse texto: o fi nanciamento para sua empreitada.

A máquina a vapor foi uma das inovações no contexto da Revolução Industrial. As transformações se processaram também na agricultura quando Jethro Tull [1674 - 1741], um dos pais da agricultura científi ca, desenvolveu uma semeadeira mecânica e estabeleceu diferenças entre as agriculturas da França, Inglaterra e Holanda. A indústria têxtil também esteve presente e com grande força, pois se benefi ciou dos melhora-

mentos das máquinas a vapor e da inserção dos teares29 mecânicos. Os meios de transportes também foram benefi ciados pela atmos-

fera da Revolução Industrial, pelos estudos que envolviam as máquinas a vapor e pelos melhoramentos dos materiais de construção. O fran-cês Nicolas-Joseph Cugnot [1725 - 1804] por volta de 1765 desen-volve o que seria o primeiro veículo autopropulsionado do mundo, um veículo de transporte de carga de três rodas construído em madeira.

Também é atribuído a ele o primeiro acidente de carro quando, em 1771, um de seus veículos melhorados se chocou contra uma parede de tijolos. Outro a quem muitos historiados atribuem o desenvolvimento dos atuais automóveis foi Richard Trevithick [1771 -1833], que em 1801 aplicou rodas a uma das suas máquinas, o The Puffi ng Devil, que viria tam-bém a ser considerado um dos primeiros veículos rodoviários a carregar passageiros movendo-se pela sua própria fonte de energia. Os automó-veis como são conhecidos hoje foram introduzidos pelos alemães Karl Friedrich Benz [1844 - 1929] e Gottlieb Wilhelm Daimler [1834-1900], que, trabalhando de forma independente, estudaram os motores de com-bustão interna a gasolina. Em 1885, Benz viria a construir seu primeiro automóvel, que seria patenteado no ano posterior quando Daimler tam-bém iria desenvolver o seu automóvel, esse com quatro rodas.

Os dois nomes não são estranhos, pois atualmente estão nos carros, caminhões e ônibus que circulam nas cidades. Em 1871 Karl Benz fundou a Benz & Cia e em 1890 foi fundada a Daimler por Gottlieb e Wilhelm Maybach (1846-1929), que após disputas por mercado se fundem em 1926 28 The Matrix é uma produção cinematográfi ca norte-americana e australiana de 1999, dos gêneros ação

e fi cção científi ca, dirigido pelos irmãos Wachowski e protagonizado por Keanu Reeves e Laurence Fishburne.

29 Um tear é um aparelho mecânico ou eletromecânico empregado para fi ns de tecelagem.

Modelo da máquina de Newcomen.

The Puffi ng Devil de Richard Trevithick

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na Daimler-Benz e hoje fi gura com o nome de Mercedez-Benz. Sua impo-nente insígnia de três pontas representa os meios onde os motores inven-tados poderiam se adaptar: o ar, a terra e o mar.

Por falar em carros foi também nos anos 1800, mais precisamente em 1839, que foi inventado o processo pelo qual a borracha iria ganhar resistência mesmo em altas temperaturas, podendo assim ser utilizada nos pneus dos carros. A vulcanização30, nome dado ao processo, foi uma invenção de Charles Goodyear [1800 - 1860], que inseriu enxofre à borracha a altas temperaturas e assim proporcionou o desenvolvi-mento da indústria da borracha e do plástico.

As últimas décadas antes da virada do milênio trouxeram outras luzes além daquelas do Iluminismo. Dessa vez era chegada a hora de substituir as luzes artifi ciais das lamparinas que iluminavam as noites nas grandes cidades por um dispositivo capaz de iluminar utilizando- se da eletricidade para seu funcionamento. Por volta de 1763 se ini-ciava no Rio de Janeiro a iluminação pública através da instalação de 20 lampadários de madeira, envidraçados, à base de azeite de peixe, e suspensos por varões de ferro, sendo essa realidade modifi cada não só no Rio de janeiro, mas em toda Europa e os Estados Unidos, com o desenvolvimento dos estudos da eletricidade, do eletromagnetismo.

A lâmpada elétrica foi uma invenção de Thomas Alva Edison [1847 - 1931], e esse é um capítulo à parte em toda a longa caminhada de desenvolvimento dos estudos da eletricidade desde Tales de Mileto e sua eletricidade estática na Antiguidade até a retomada dos estudos da eletricidade por William Gilbert (1544-1603) no século XVI, quando foi inserido o termo eletricidade em seu livro The Magnete publicado em 1600, o qual conseguiu desencadear uma gama de estudos em rela-ção ao magnetismo e à própria eletricidade.

Com essa retomada foram muitos os que se debruçaram a estudar a eletricidade e suas relações com a natureza. Nessa trajetória foram aprimoradas as concepções e o uso da eletricidade pela humanidade. A pilha voltaica de Alessandro Volta [1745-1827] foi desenvolvida em 1800 em um contexto de disputa profi ssional com Luigi Galva-ni [1737-1798] que, contrario ao que pensava Volta, defendia que os

metais produziam eletricidade apenas em contato com tecido animal [eletricidade animal]. Tal ideia, em conjunto com os estudos sobre me-dicina de Erasmos Darwin [1731-1802], avô de Charles Darwin, foi usada pela romancista britânica Mary Shelley em sua obra Frankenstein: The Modern Prometheus, de 1818, que trazia um misto de terror e fi cção cientifi ca quando um jovem estudante de ciências naturais “constrói” um monstro que seria trazido à vida com o uso da eletricidade.

A unidade de medida da tensão elétrica, o volt (V), é em ho-menagem a Volta; já o galvanômetro e o processo de galvanização homenageiam Galvani. O galvanômetro foi inventado pelo inglês Michael Faraday [1791-1867] que em 1831 descobriu a indução ele-tromagnética, principio que possibilitaria a criação e funcionamento dos atuais geradores e transformadores elétricos. Antes dele Hans Christian Orsted [1777 - 1851] foi o primeiro a associar a corrente elétrica ao magnetismo. Faraday também atuou na química, intro-duzindo o campo de estudos da eletroquímica e trazendo termos como eletrólito, ânodo, catodo, eletrodo, íon, bem como o desco-brimento do benzeno.

Passados 124 anos do inicio da iluminação pública no Rio de Ja-neiro através dos lampadários a óleo de peixe, deu-se inicio o uso da eletricidade como forma de iluminar as noites cariocas. A eletricidade e os avanços tecnológicos decorrentes dos estudos sobre a mesma pro-porcionaram novos rumos para diversos pesquisadores se lançarem na tarefa de alargamento da fronteira nesse campo do conhecimento. Um deles era Ernst Werner Von Siemens [1816 -1892], que substituiu o

30 Esse processo aumenta a vida útil da borracha em milhares de anos, o que ocasiona um problema ambiental no que tange às políticas de descarte dos pneus antigos, em especial em países periféricos como o Brasil.

Thomas Alva Edson

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código Morse de Samuel Finley Breese Morse [1791- 1872] pelo telé-grafo com agulha para apontar a letra correta e posteriormente fundou a empresa Siemens AG em 1847.

O novo passo tecnológico em comunicação que viria substituir o código Morse e o telegrafo foi a invenção do telefone por Antonio Santi Giuseppe Meucci [1808 - 1889], que só teve o reconhecimento por sua invenção em 2002, antes quem levava o credito era Alexan-der Graham Bell [1847 -1922], que patenteou o aparelho em 1876 nos Estados Unidos. Dentre os expectadores da demonstração de Graham Bell, estava presente o Imperador do Brasil, D. Pedro II, considerado um dos mais esclarecidos dentre os soberanos moder-nos. D. Pedro II foi contemporâneo de Charles Darwin, do com-positor erudito alemão Wilhelm Richard Wagner [1813-1883] e do infl uente fi losofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche [1844 -1900], bem como dos escritores franceses Julio Verne [1828-1905]34 e Vic-tor-Marie Hugo [1802-1885].

D. Pedro II, após a Guerra do Paraguai, se ocupou ainda em equi-par o Observatório Nacional, criado por seu pai em 1827, e batizado de Imperial Observatório do Rio de Janeiro em 1846. Atualmente fun-ciona em suas dependências o Museu de Astronomia e Ciências Afi ns (MAST). Durante seu governo foram fundados o Instituto Histórico e Geográfi co Brasileiro (IHGB) em 1838, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) em 1837, o Imperial Instituto Baiano de Agricultura em 1859 e o Museu Paraense em 1871.

Observatório Nacional

Graham Bell não era um mero plagiador, em sua vida ele conseguiu 18 patentes, muitas de telefones e suas variantes, inclusive uma de um

fonógrafo, o tataravô dos atuais mp3, bisavô dos CDs e pai dos toca- discos de vinil. Na realidade, o primeiro a conseguir uma patente de um fonógrafo em 1877 foi Thomas Edison, o mesmo da lâmpada. Antes disso em 1857, Édouard-Léon Scott de Martinville [1817-1879] havia in-ventado o mais antigo dispositivo de gravação de som, o fonoautógrafo, porém não podia reproduzir o som como fazia o fonógrafo de Edison.

À esquerda um fonoautógrafo e à direita um fonógrafo

Edison se envolveu em algumas controvérsias em relação a suas teorias e relacionamentos com outros cientistas. Entre 1886 e 1887 ele se desentende com um de seus assistentes, Nikola Tesla [1856 -1943], que após cortar relações com Edison vende sua patente de corrente alternada para George Westinghouse [1846-1914] que, além de inventar o freio de ar comprimido para locomotivas, convence o governo ameri-cano a adotar o modelo-padrão de corrente alternada como meio mais efi ciente para a distribuição de energia elétrica.

Foto da torre de Tesla, construída em Colorado Springs, nos EUA.

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Tesla viria ainda introduzir o conceito do controle remoto utilizado nos aparelhos eletroeletrônicos atuais, bem como a ideia, frustrada e inconcebível, de se distribuir energia elétrica sem fi os utilizando a terra como meio condutor e torres [grandes transformadores] como pontos de distribuição. Tesla contribuiu com diversos inventos dentro da Ele-trotécnica e da Eletromecânica, porém, como outros cientistas, postu-lou diversas teorias e desenvolveu comportamentos duvidosos, como sua aversão por mulheres com orelhas furadas e seus colares e brincos de pérolas. Enquanto Tesla apresentava ao mundo a corrente alternada na Feira Internacional de Chicago, do outro lado do Oceano Atlânti-co era pintado o quadro “O Grito” por Edvard Munch [1863-1944], pintor precussor do expressionismo alemão e ainda no mesmo ano era registrada a patente de uma bebida composta por xarope de noz de cola e água carbo- natada, desenvolvida pelo farmacêutico e químico John Pemberton [1831-1888] na cidade de Atlanta [EUA] quando este retor-nou da Guerra Civil Americana. Tal bebida se tornou símbolo patrió-tico na Segunda Guerra para os soldados americanos e hoje pode ser encontrada de Norte a Sul do planeta, inclusive no Brasil que no ano do centenário de sua patente adotou o slogan “Sempre Coca-Cola”.

A água carbonatada, por sua vez, é o resultado do acréscimo de certa quantidade de dióxido de carbono (CO2) à água. O dióxido de carbono [par fi xo, como foi chamado pelo seu descobridor] foi uma descoberta do físico e químico escocês Joseph Black em 1754.

Benjamin Franklin [1706-1790], famoso pela caricatural experiência da pipa na tempestade raios [foto ao lado], inventou o pára-raios que,

junto com a gaiola de Faraday, viria a ser base teórica para os atuais sistemas de proteção a descargas atmosféricas em edifícios (SPDA).

Em conjunto com o sistema de proteção para descargas atmosféricas, outra forma de proteção para as residências e prédios é o sistema de pre-venção e controle a incêndios que, após o desenvolvimento dos sistemas de comunicação [telégrafo-1852], da eletricidade e dos estudos da termo-dinâmica [carros de bombeiros movidos a vapor -1860], ganharam nova dinâmica e equipamentos tecnológicos, como hidrantes, alarmes, sensores de nível e fl uxo d’água em reservatórios, detectores de fumaça e splinklers.31

Ilustrações publicadas na revista infanto-juvenil Our Young Folks [Nossa Garotada] em outubro de 1867, mostrando e esclarecendo o sistema de controle de incêndios existente na época. Fonte: Our Young Folks, Ticknor and Fields, Boston, October, 1867

31 Sistema de chuveiros automáticos composto por um suprimento d’água em uma rede hidráulica sob pressão, onde são instalados em diversos pontos estratégicos, dispositivos de aspersão d’água (chuveiros automáticos), que contém um elemento termo-sensível, que ao se romper por ação do calor proveniente do foco de incêndio, permite uma descarga d’água sobre os materiais em chamas.

Engarrafadora de refrigerantes na década de 40 do Século XX. Química, Física, Biologia, Mecânica, Engenharia de Alimentos e Farmácia, são algumas das ciências envolvidas no processo de fabricação de refrigerantes.

À esquerda, Benjamin Franklin e sua experiência. À direita, esquema de uma instalação de SPDA

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No fi nalzinho do século o físico e inventor italiano Guglielmo Marconi [1874-1937], em 1895, iria realizar a primeira transmissão de rádio, porém isso viria a ser contestado por alguns historiadores das ciências, que advogam esse crédito ao cientista, engenheiro e padre gaúcho Roberto Landell de Moura, que realiza sua primeira transmis-são sem fi o através de ondas eletromagnéticas em 1893. Mas quem viria a fi car com a patente de verdadeiro inventor do rádio seria Tesla, após sua morte, por intermédio da Suprema Corte americana.

Tais feitos não seriam possíveis sem os ganhos trazidos pelos estudos de James Clark Maxwell [1831-1879], que modelou a teoria do eletromagnetismo unindo a óptica, a eletricidade e o magnetismo, e de Heinrich Rudolf Hertz [1857-1894] que colocou à prova, na prática, as famosas equações de Maxwell quinze anos após suas for-mulações. As equações de Maxwell modifi caram o cenário científi co de sua época e envolveram conhecimentos advindos dos estudos de André-Marie Ampère [1775–1836], que descobriu as leis que regem as atrações e repulsões das correntes elétricas entre si, e os estudos realizados na mesma área por Johann Carl Friedrich Gauss [1777-1855], o príncipe dos matemáticos, que solucionou ainda criança o problema da soma dos números inteiros de 1 a 100, estabelecendo o que hoje é estudado na escola como progressão aritmética.

Por fi m, as equações conseguiram ainda juntar os conhecimen-tos de Faraday, que já havia postulado que a luz corresponde à pro-pagação de ondas elétricas e magnéticas. A Química também vinha se desenvolvendo paralelamente aos estudos da Física e, pelo que é convencionado estudar na escola, muitos conceitos são partilhados por essas duas ciências. Ora se fala de elétrons em Química [equi-líbrio]; ora se fala de elétrons em Física [eletricidade]. Os caminhos de fabricação, transformação e ajustes de processos e materiais são intrinsecamente ligados ao desenvolvimento da Química e da Física.

A metalurgia, fabricação de cerâmicas e vidros, os processos de fabricação e conservação dos alimentos, o uso da pólvora, nitrogli-cerina e gases tóxicos, bem como os processos biológicos são alguns exemplos onde a Química também esteve presente. A primeira versão da tabela periódica veio por intermédio do russo Dmitri Ivanovich Mendeleiev [1834-1907], que após uma passagem pela França se diri-

giu à Alemanha para estudar com Gustav Robert Kirchhoff [1824 - 1887], autor de duas leis fundamentais da teoria clássica dos circuitos elétricos, e também do termo “radiação do corpo negro”, em 1862.

O termo radiação por vezes pode ter uma apropriação de signifi cado confl itante e deturpado, sendo cor-relacionado como um conceito no-civo. Radiação é uma propagação de energia, desse modo, qualquer corpo pode emitir radiação, sendo que para isso basta estar a uma determinada temperatura. Sabendo disso, James Dewar [1842-1923] inventou um dis-positivo que busca evitar a troca de calor entre o conteúdo que está em seu interior e o ambiente, manten-

do sua temperatura temporáriamen-te constante [1892]. Tal dispositivo é

conhecido como garrafa térmica e é utilizado em larga escala e com diversas utilidades pela humanidade.

No campo do vestuário, além dos teares, no século XIX, foi in-ventada a máquina de costura por Isaac Merritt Singer em 1855 e, em 1873, por intermédio de Levi Strauss, a calça jeans, item do vestuário de mineradores na corrida do ouro americana e hoje peça indispen-sável no mundo da moda, que a partir de 1893 poderia contar com o zíper, invenção de Whitcomb L. Judson [1844 – 1909] e com o ferro de passar roupas elétrico inventado por Henry Seeley [1854-1908]. Eadweard Muybridge [1830-1904] viria revolucionar o mundo das artes, comunicação e entretenimento com a invenção da câmera de fi lmagem em 1877. Ainda desse período tem-se a máquina de escre-ver inventada em 1868 por Christopher Latham Sholes [1819-1890], inserindo o modelo do teclado QWERTY utilizado até hoje. O aço foi desenvolvido por Robert Mushet [1811-1891] em 1868 e a hélice para propulsão de navios por Josef Ludvík František Ressel [1793-1857], que se baseou na ideia do parafuso de Arquimedes.

Detalhe de uma garrafa térmica

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No fi nal do século XIX, Química, Física e Biologia engrenaram-se e diversas ramifi cações começaram a se tornar campos de estudos específi cos dentro destas ciências. A necessidade de especializar o co-nhecimento se apresentava ao mundo das ciências e os cientistas en-volvidos começaram, mesmo que inconscientemente, a tomarem seus locais de trabalho nas ciências. Esse era um momento de transição onde o determinismo da mecânica newtoniana estava prestes a ser contestado, através no nascimento da Física Quântica em 1900. Entre termos e conceitos controversos, como radiação, frequência, onda, luz, matéria, temperatura etc, Max Planck [1858-1947] começava a modifi car os rumos do que se pensava sobre ciências, em especial, sobre a Física Clássica, quando iniciava uma busca pela solução do chamado “problema do corpo negro”, o que ocorreu com a defi ni-ção da Lei de Planck e sua constante física que considerava a energia como sendo formada por pacotes pequenos [quantas] e não como sendo continua.

Até o fi m do século, as coisas foram se desenvolvendo com os diver-sos campos das ciências e (re)fl orescendo com os ganhos advindos da Revolução Industrial que já se encontrava em sua terceira fase. As ciên-cias se fi rmaram como detentora de uma verdade irrigada pelo positivis-mo e por suas certezas cientifi cistas, já que as respostas para os grandes mistérios estavam sendo encontradas e pouco se esperava conhecer do mundo naquele momento. Mas isso iria mudar com a chegada do novo milênio...

EPÍLOGO

Com a aurora do novo século, diversos estudos fortaleceram a Físi-ca Quântica, disseminando desse modo o que ela postulava. No mesmo contexto tais mudanças levaram à reestruturação do antigo modelo de “pudim com passas” do átomo, proposto pelo físico britânico Joseph John Thomson [1856-1940], o descobridor do elétron, para o modelo de Niels Bohr [1885-1962], que corajosamente uniu o modelo planetá-rio do átomo, do seu professor Ernest Rutherford [1871-1937], aos estudos da teoria quântica de Planck e às descobertas do jovem autor da teoria da relatividade Albert Einstein [1879-1955]32.

Einstein, Nobel de Física em 1921, devido a seus estudos sobre o efeito fotoelétrico, tornou-se um dos cientistas mais famosos do sécu-lo, quiçá o mais popular, sendo chamado pela revista Time de “pessoa do Século”. No ano de 2005 foi comemorado o ano internacional da física e o centenário do “Annus Mirabilis”, ano da publicação dos seus artigos científi cos que levaram hoje a, dentre outras coisas, ser home-nageado com o nome do elemento químico einstênio. Fazem ainda parte dessa guinada das ciências nas primeiras décadas do século XX, o físico francês Louis de Broglie [1892 - 1987], que com sua teoria de ondas de elétrons, abriu o ramo da mecânica ondulatória, o austríaco Erwin Schrödinger [1887 - 1961] e sua Equação de Schrödinger, pela qual recebeu o Nobel de Física em 193333. A teoria do spin do elétron foi desenvolvida pelo também austríaco Wolfgang Ernst Pauli

Bohr e Einstein Modelo atômico de Rutherford Átomo de Bohr

32 Einstein, como Darwin, também esteve no Brasil a trabalho. Maiores informações ler: MOREIRA E. A., A. P. VIDEIRA (orgs.): Einstein e o Brasil, Editora da UFRJ, Rio de Janeiro, 1995.33 Uma leitura interessante indicada é sobre o experimento mental Gato de Schrödinger, de 1935.

À esquerda, máquina de costura disponível às donas de casa, no século XIX. À direita, etiqueta da Le-vis, evidenciando a inovação tecnológica na durabilidade das vestimentas com o surgimento do jeans.

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[1900 - 1958] e ainda autor do principio da incerteza, que sepultava o estatuto de precisão dos movimentos associado à mecânica clássica, por intermédio de Werner Karl Heisenberg [1901 -1976]. Capítulo à parte na História dessas modifi cações foi o desencadeamento de fato-res que levaram à chamada “Big Science” e à criação e detonação das bombas atômicas que devastaram Hiroshima e Nagazaki no fi m da Segunda Grande Guerra. No contexto da explosão, além dos fatores sociais, estavam também, mesmo de forma involuntária, os cientistas supracitados e seus estudos, inclusive o indiano físico Satyendra Nath Bose [1894-1974] e sua teoria do condensado de Bose-Einstein.

SUGESTÃO DE ATIVIDADES:

01. Quem seriam os chamados eclipsados na História das Ciências? Tente elencar alguns nomes e suas realizações para a História das Ciências.

02. Qual a sua visão de um/uma cientista? Qual o papel deles na socie-dade? Como se tornar um/uma? Onde encontramos cientistas na nos-sa cidade? Você conhece algum? (Organize um mural com os dados pesquisados e exponha em sua escola)

03. Afi nal, o que ganhamos com a chamada Revolução Científi ca? Elenque alguns ganhos.

04. Sabe o que é uma controvérsia? Nas ciências tivemos muitas. No capítulo temos alguma? Busque uma controvérsia e comente sobre ela.

05. Segundo o texto, é possível dizer que existiu alguma produção de conhecimento científi co no Brasil durante a Idade Moderna? Pesquise e comente sobre esse tema. Recomenda-se como pesquisa complementar: Site do Como tudo funciona: http://www.hsw.uol.com.br/ Site do Curta na Escola: http://portacurtas.org.br/curtanaescola/in-dex.asp Série de televisão: Cosmos, por Carl Sagan – BBC Filme: Homo sapiens 1900, de Peter Cohen, Suécia, 1998 Filme: Frankenstein, de Mary Shelley, EUA, 1994. Livro: O mundo de Sofi a, de Jostein Gaarder, 1991.

SUGESTÕES PARA LEITURA:

ARON, R. Paz e guerra entre as nações. Brasília: UnB, 2002.

BAIARDI, A. ; SANTOS, A. V. dos . A Passagem de Bartolomeu de Gusmão pela Vila de Belém, Cachoeira, BA. In: X Seminário Nacio-nal de História da Ciência e da Tecnologia, 2005, Belo Horizonte. Anais do X Seminário Nacional de História da Ciência e da Tecnologia. Belo Horizonte: Sociedade Brasileira de História da Ciência e Tecnologia, 2005. v. 1. p. 126-143.

DANTES, M. A. M. Fases de implantação da ciência no Brasil: Quipu – Revista da Sociedade Latino-Americana de História da Ciência e da Tecnologia, Mexico - DF, v. 5, n. 5, p. 265-275, 1988.

EINSTEIN, A., Como vejo o mundo, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1981.

GIL-PEREZ, D. et al. Para uma Imagem Não-deformada do Trabalho Científi co. Ciência & Educação 7(2):125-153, 2001.

KENNEDY, P. Ascensão e queda das grandes potências: transformação econômica e confl ito militar de 1500 a 2000. Rio de Janeiro: Campus, 1989.

MARTINS, L. A. P. História da Ciência: objetos, métodos e problemas. Ciência & Educação, v. 11, n. 2, p. 305-317, 2005

SANTOS, A. V. dos. Ensino das Ciências: A contribuição do campo edu-cação CTS. Jornal da Ciência - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Rio de Janeiro, 25 out. 2005.

. Popularização da ciência, gênero em ciências e educação científi ca no Brasil. Jornal da Ciência - Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Rio de Janeiro, 12 dez. 2007.

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SANTINI, A. Galileo Galilei, i grandi processsi: chiesa e scienza, un errore durato 359 anni. Roma: L‘Unità, 1994.

SCHWARTZMAN, S Formação da comunidade científi ca no Brasil. Rio de Janeiro: Cia Editora Nacional/FINEP, 1979.

WESTFALL, R. S. A vida de Isaac Newton. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995.

CAPÍTULO 4

A CIÊNCIA DO SÉCULO XX E PERSPECTIVAS PARA O SÉCULO XXI

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4.1 A Torre de Babel: TI e TC no Século XX e XXI

O inicio do século XX trouxe diversas contribuições no que tange às tecnologias de comunicação e informação. Com as recentes desco-bertas nos campos do eletromagnetismo e da ótica nas últimas décadas do século XIX e as invenções do telégrafo e do telefone, dentre outras, a humanidade começou a se inserir em um contexto onde as distâncias começavam a ser encurtadas e as barreiras entre nações a serem vencidas, pelo menos no que diz respeito a comunicação e a informação.

A exponencial evolução tecnológica ocorrida no cenário do século XX foi e ainda está sendo palco para diversas contribuições no campo das ciências e da tecnologia. Todos no planeta, de um modo ou de outro, se benefi ciaram da evolução tecnológica no campo da informação e da comunicação, o que possibilitou, dentro desse contexto, uma mudança na velocidade de geração, processamento e transmissão do conhecimento.

No início da segunda década do século passado, em 1923, foi pa-tenteada em Londres uma tecnologia que viria a ser o atual sistema eletrônico de recepção de imagens e som instantâneo, mais conhecido como televisor. Vladimir Kozmich Zworykin [1889-1982] iniciaria as-sim um processo de evolução tecnológica que ainda hoje não se com-pletou, pois partindo de seu modelo de imagens monocromáticas e estáticas, passou-se pelo aparelho com imagens em movimento, depois coloridas, até chegar hoje aos modernos aparelhos em LCD, Plasma e Led TV com diversos recursos e possibilidade de imagens em três dimensões (3D). No quadro abaixo segue uma evolução dos modelos de televisores até a década de 80 do século passado.

O cinema, outra forma de comunicação e entretenimento, tem sua primeira sala datada de 1895, quando Auguste Marie Louis Nicholas Lumière [1862-1954] e Louis Jean Lumière [1864-1948], os irmãos Lu-mière, apresentaram sua primeira sessão em público utilizando um apa-relho para leitura de películas: o cinematógrafo, hoje seria algo como os

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modernos aparelhos de DVD e Blue-Ray que já não possuem películas e sim mídias com arquivos digitais. Atualmente o cinema esta em casa, com o home theater, a tv digital, a HDTV, dentre outros recursos.

Outra invenção que iria modifi car os rumos da humanidade no sécu-lo XX foi desenvolvida em plena Alemanha nazista em 1936. Enquanto se fortalecia o Terceiro Reich, Konrad Zuse [1910–1995] inventava o primeiro computador eletromecânico com a função de resolver cálculos matemáticos utilizando-se de cartões perfurados para leitura de dados. Essa era uma ideia que vinha sendo desenvolvida desde o século XVIII por Joseph Marie Jacquard [1752-1834] que utilizou um sistema de car-tões perfurados para funcionamento de um tear mecânico durante a re-volução industrial e logo após Charles Babbage [1792-1871] aproveitaria essa ideia para fazer funcionar uma máquina de calcular. É desse contex-to que se tem a participação de Ada Augusta Byron King, a condessa de Lovelace [1815-1852], considerada a primeira programadora da história.

Os computadores em sua gênese tinham a função singular de rea-lizar cálculos, em especial para a indústria bélica, que investiu muito tempo e dinheiro em pesquisas principalmente após a 2a Grande Guer-ra mundial dentro da chamada era industrial e no contexto da “guerra fria”. O primeiro computador comercial só veio surgir na década de 50 [O UNIVAC] e custava nada menos que 1 milhão de dólares americanos. Em 1953 a IBM lançaria o primeiro computador digital. Hoje, na era da informação, dispõe-se de computadores para realização de diversas tare-fas, estando estes presentes em suas diversas formas: desktops, laptops, nettops, table pcs, netbooks etc.

Tanto os televisores quanto os computadores não teriam sua evolu-ção tecnológica se não fosse por John Bardeen [1908 - 1991], William Bradford Shockley [1910 - 1989] e Walter Houser Brattain [1902 - 1987], físicos estadunidenses que ganharam o prêmio Nobel de 1956 por seus estudos com semicondutores34 e o invento do transistor, item da mi-croeletrônica que viria a substituir as válvulas termiônicas ou válvulas eletrônicas35. A válvula foi aperfeiçoada em 1904 pelo físico John Am-brose Fleming [1849 - 1945], que dentre outras coisas foi aluno de James Clark Maxwell, consultor científi co de Guglielmo Marconi e funcionário de Thomas Edison na Edison Electric Light Company.

No fi m da primeira metade do século XX, em termos de tecno-logias de comunicação a humanidade já dispunha do telefone, do inicio das transmissões de TV nos países centrais, do telégrafo com fi o e sem fi o, bem como do rádio, que foi utilizado na Primeira Guerra Mundial, quando sofreu uma censura pelo então presidente dos EUA, Woodrow Wilson, que em sua “neutralidade” ordenou a proibição das transmissões de diversas empresas de radiocomunicação como a Marconi Wireless Company of América.

Ao centro, os ganhadores do Nobel de 1956. À esquerda, uma válvula termiônica e, à direita, um transistor eletrônico.

34 Semicondutores são sólidos cristalinos de condutividade elétrica intermediária entre condutores e iso-lantes. Os elementos semicondutores podem ser tratados quimicamente para transmitir e controlar uma corrente elétrica.35 A primeira geração de computadores utilizava válvulas que funcionavam apenas eletronicamente e, por consequência, de modo mais rápido. Porém seu volume necessitava de alta capacidade energética, o que aumentava o custo e causava problemas em decorrência do calor produzido, sendo um dos fatores que inviabilizavam uma popularização de tais equipamentos.UNIVAC, o primeiro computador comercial

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Outro avanço na comunicação nesse período foi a ideia do te-lemóvel, ou como é popularmente conhecido, o telefone celular. Foi durante a segunda guerra que a atriz hollywoodiana Hedy Lamarr [1913–2000] escutou a notícia que alguns mísseis teleguiados estavam sendo interceptados. Com esta informação desenvolveu um sistema de comunicação à distância que mudasse sempre de canal para que as frequências não fossem interceptadas. Tal invenção foi patenteada em 1940 e, em 1947, nos laboratórios da Bell, foi desenvolvido um siste-ma de comunicação entre antenas interligadas (chamadas de células). O primeiro celular viria a ser desenvolvido em 1956 por intermédio da fabricante Ericsson e assim o mundo conheceria o Ericsson MTA (Mobilie Telephony A), um aparelho de nada menos de 40Kg, criado para ser colocado no porta malas dos carros [vide foto abaixo].

Daí por diante os celulares foram diminuindo em tamanho e agre-gando outras funções além das compulsórias tarefas de escuta e fala. Em um aparelho celular moderno têm-se ao menos 15 funções como recepção de tv, wireless [internet sem fi o], calculadora, agenda eletrôni-ca, máquina fotográfi ca digital, fi lmadora digital, reprodutor de arquivos de músicas e video, chamadas com vídeo, projetor de video, videogame, GPS, rádio, e-reader [leitor de livros eletrônicos], e muitas outras além possibilidade de realizar uma ligação telefônica convencional.

O Brasil, no contexto do avanço das tecnologias e da industriali-zação, teve um processo lento que ainda hoje repercute sobre a cha-mada indústria nacional de ponta que possa suprir a tríade Ciência - Tecnologia - Produção. Porém, a partir dos anos 50 do século passa-do tem início um processo de industrialização sustentado que mudou a estrutura produtiva do país. Tal mudança permitiu a consolidação da indústria de base e o surgimento de indústrias estratégicas, entre elas as ligadas à TC e TI, o que se deu, principalmente, com a abertura de mercado para produtos de informática e criação da Zona Franca de Manaus.

A televisão como sistema chegou ao Brasil por intermédio do em-presário de comunicação Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo, o Chatô [1892-1968], que em 1950 deu inicio a mais popular forma de comunicação com a inauguração da TV Tupi, que se utilizava de equipamentos importados para uma transmissão que poucos afortunados puderam assistir.

Diversas são as disciplinas científi cas que estão envolvidas no pro-cesso acima relatado e muitas são as contribuições cientifi cas necessá-rias para que hoje se possa assistir os programas em um aparelho de tv. No contexto de funcionamento de uma transmissão estão envolvidos equipamentos como o oscilador, modulador, transmissor, antena, co-mutador, o satélite espacial36 e ainda se utiliza do conceito do radar, dispositivo que permite detectar objetos a longas distâncias, sendo o primeiro construído em 1904 por Christian Hülsmeyer [1881-1957] sem uma utilidade prática inicial. Posteriormente foi aprimorado, em 1939, por Robert Watson-Watt [1892-1973], que utilizou um sistema de telemetria fi xo e giratório já com aplicações para a indústria bélica.

Na segunda metade do século XX, em especial na década de 70, ocorreram as entradas de diversos inventos que iriam novamente re-volucionar a humanidade e direcionar quais seriam as novas formas de aplicação da tecnologia e da produção de conhecimento no que tange aos aspectos de comunicação, informação e entretenimento. Foi desse período a concepção da realidade virtual, primeiramente denominada realidade artifi cial e por intermédio de Jaron Lanier [1960-] inserida

36 Em 1957 a então União Soviética lança o Sputnik 1, seu primeiro satélite [tinha o formato esférico com 58 centímetros de diâmetro e 84 kg]. O Sputnik 2 foi lançado um mês após e levava ao espaço a cadela Laika, o que disparou a chamada corrida espacial com os Estados Unidos no contexto da guerra fria.

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como realidade virtual nos anos 80. A realidade virtual traz, a rebo-que, a possibilidade de modelar em um ambiente virtual “coisas” do mundo real, o que possibilitou a criação de diversos simuladores e seu uso para os consumidores domésticos, quando foram introduzidos na sociedade os videogames, uma das maiores indústrias de entretenimen-to mundial. A tecnologia de simulação tem sido de grande importância também para pesquisas em várias áreas, químicofarmacêutico, medici-na e ciências agrárias estão entre elas, na medida que permitem substi-tuir alguns testes em campo e em laboratórios, reduzindo as etapas da P&D&I, pesquisa, desenvolvimento e inovação. A ameaça do temido telefone vermelho da guerra fria37, de forma paradoxal e contraditória, nos possibilitou ter hoje os jogos de videogames que são um dos re-fl exos de nossa época. A tecnologia da informática nesse período era a expressão do medo coletivo dado o permanente estado de confl ito diplomático e ideológico entre o bloco capitalista e o bloco comunista. Foi em 1958 em um laboratório nuclear que o jovem físico William Higinbotham [1910-1994] criou o primeiro jogo, transformando um osciloscópio em um game chamado tênis para dois [vide fi gura abaixo].

À esquerda, o tênis para dois de William Higinbotham; à direita, a evolução, o Pong da Atari

É desse período a constatação que os computadores poderiam ter outras utilidades além daquelas ligadas aos cálculos, e o televisor pode-ria ser algo mais do que um aparelho estático e passivo de informações. Daí por diante surgiram diversos outros games como o Spacerwar de 1961, um clássico game que retrata a ideia de uma guerra nas estrelas.

Logo após veio a introdução do chamado console caseiro com o Mag-navox Odissey, lançado em 1972 pelo alemão Ralph Baer [1922-]. Em 1980 o engenheiro eletricista Nolan Bushnell [1943-] criou a chamada indústria dos games ao fundar a Atari nos EUA.

Em 30 anos a indústria dos games teve seus altos e baixos. Hoje se consolidou como um mercado promissor em que empresas, universida-des e governos utilizam dos games e simulações para desenvolvimento de pesquisas, além da divertida possibilidade de entretenimento. Hoje os consoles caseiros incorporaram tecnologias como reconhecimento de movimentos, wireless, bluetooth38 e armazenamento de dados em hard discs, dentre outros recursos que se desenvolveram a partir dos conceitos científi cos. [Vide quadro de evolução dos consoles de games]

Da esquerda para direita: Magnavox(1972), Atari(1981), Nintendo Wii(2006) e PlayStation 4 - 2013

Além da tecnologia da realidade virtual teve-se ainda a substituição dos voluptuosos e dispendiosos mainframes, como eram chamados os computadores na época, pelos chamados PC‘s, sigla para computado-res pessoais [personal computer]. Nesse contexto surgem dois nomes que iriam proporcionar mudanças drásticas no uso dos computado-res e na maneira em que eles eram vistos pela sociedade. Um dos pri-meiros usuários dos pc’s foi o jovem estudante de Harvard, Bill Gates [1955-], que adquiriu um Altair 8800, modelo vendido originalmente como um kit através da revista norte- americana Popular Electronics. Jun-to com outro programador, Paul Allen [1953-], criaram a linguagem Basic para esse computador e fundaram em 1975 a Microsoft Corporation.

Mas foi a partir de 1976 que a popularização dos computadores começava a tomar novos rumos nos EUA, quando foram vendidas 200 unidades de computadores pessoais montados em uma garagem por Steven Paul Jobs [1955-] e Stephen Gary Wozniak [1950-], estu-

37 Que tocaria para anunciar o início de uma guerra nuclear, que deveria exigir preparativos de pronta res-posta e comunicações entre as forças de defesa e ataque em condições críticas 38 Bluetooth é uma especifi cação industrial para áreas de redes pessoais sem fi o em curto alcance.

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dantes de Berkeley que fundaram naquele ano a Apple Computers. A partir daí os computadores se fi rmaram nas empresas e universidades na década de oitenta, e nas residências a partir dos anos 90.

No Brasil, com uma década de atraso em relação aos países centrais, somente hoje, no fi m da primeira década do século XXI, conseguiu-se, mesmo que de modo tímido, acompanhar os avanços tecnológicos, pois o mundo não tem mais fronteiras e estas foram rompidas de forma diferente do que ocorreu com o muro de Berlim em 1989. Tais barreiras foram vencidas pela invenção da chamada World Wide Web, que viria funcionar dentro da rede internacional de computadores, a Internet. Em 2008 o Brasil já era o 9º país em número de usuários, descontando os que acessam em lan houses e cibers cafés, e também os acessos em smartphones.

A internet foi outro dentre os diversos avanços gerados “ocasio-nalmente” em tempos de guerra, valendo aqui o trecho poético que “uma guerra sempre avança a tecnologia, mesmo sendo guerra santa, quente, morna ou fria”39. Tudo começou após o lançamento do Sputnik pela antiga URSS, o que levou os EUA a criar o Escritório de Tecnologia de Processamento de Informações – IPTO. Foi no IPTO que muitos pesquisadores se debruçaram para desenvolver uma rede que pudesse conectar diversos computadores e em 1969, mesmo ano em que o ho-mem pisou a lua, foi lançado o que viria a ser uma das primeiras redes de Internet: o ARPANET. Já a web, o conhecidíssimo www [World Wide Web], foi uma criação da Organização Europeia para a Inves-tigação Nuclear (CERN) para troca de dados por cientistas no início da

década de 90. No Brasil a Internet comercial teve sua implantação em 1996 com dois portais principais: o UOL e o ZAZ (atual Terra).

Os desafi os para o futuro da comunicação são diversos e muitas no-vidades surgem a cada ano. Muitas dessas novidades não estão dispo-níveis ao grande público, porém os processos de produção e o avanço tecnológico tendem a baratear os custos e deixar tais novidades mais acessíveis.

Chimpanzé que foi para o espaço, posando depois de uma missão espacial bem sucedida (1961). A odisseia para o espaço começou com Yuri Gagarin, o primeiro homem a alcançar o espaço (1961) e com Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua (1969). Eileen Collins foi a primeira mulher a comandar uma missão espacial (1999) e a cadela Laika o primeiro animal a orbitar a Terra (1957).

Nos últimos anos, uma dessas novidades é o desenvolvimento da tecnologia da domótica, misto da palavra domus [casa] e da robótica. A domótica é o campo tecnológico que desenvolve as chamadas “ca-sas inteligentes”, um mix de sistemas autônomos, informática e tele-comunicações. Tal moradia seria capaz de se adaptar às necessidades e preferências de seus habitantes [controle de persianas, quadros vir-tuais, controle de eletrodomésticos, detector de correspondências e ar condicionado], ao mesmo tempo em que gerencia tarefas de manuten-ção [jardim e sensores de iluminação] e segurança [alarmes anti-furto e anti-incêndio, simulador de casa ocupada, detector de falha elétrica, fumaça, gás e fuga de água], tudo isso ligado a um computador central e podendo ser controlado à distância via smartphone.

Na atualidade, comunicação e informação ganharam novos rumos 39 Trecho da música – A Canção do Senhor da Guerra, da Legião Urbana. Cd Música para Acampamen-tos(1992)

Rede internet

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em um mundo onde os computadores, celulares e TV’s são partes in-tegrantes do cotidiano das sociedades. A informação é instantânea e sabemos o que ocorre em qualquer parte do mundo, on-line, ao vivo e com detalhes, podendo escolher que tipo de mídia consultar. O e-com-merce, a educação à distância, as redes sociais e os sites de busca se incorporaram ao modo de vida das pessoas e para os que já nasceram nesse contexto [a geração on-line], talvez seja difícil imaginar um mun-do sem o Google, Orkut, Facebook, Whats Up, Windows Live, Youtu-be, Bing, Mercado Livre ou Twitter.

SUGESTÃO DE LEITURAS:

GALLAIX. H. M. de. Destruction of the Brussels Radio Station in 1914, RadioAmateur News, 1919.

HOBSBAWM, E. Era dos extremos: o breve século XX [1914–1991]. São Paulo: Schwarcz, 1995

MEDEIROS, C. A. O desenvolvimento tecnológico americano no pós–guerra como um empreendimento militar. In: FIORI, J. L. (Org.). O poder americano. Petrópolis: Vozes,2004.

WORTS, G.F. Directing the War by Wireless. Popular Mechanics, Maio 1915.

4.2 As ciências do orgânico nos últimos séculos

Gregor Mendel

A genética, a hereditariedade, seus avanços e desdobramentos.

Este tema não pode ser apresentado sem que se faça um recuo ao pas-sado. Isto porque os fundamentos da hereditariedade foram essenciais para os avanços na biologia molecular e na modifi cação genética. Esta área do saber científi co tem uma origem defi nida no tempo e se constituiu parte de um paradigma muito bem delimitado e universalmente aceito.

Tudo começa com Mendel. Gregor Mendel [1822-1884] foi um monge agostiniano, botânico e meteorologista austríaco. Mendel é considerado hoje como “o pai da genética” devido à consensual im-portância de seu trabalho para a constituição desse ramo da ciência.

Seu mais importante experimento foi sobre a hereditariedade, con-duzido em seu mosteiro em Brno, Áustria. Mendel utilizou diferentes espécies, mas foi com a manipulação de ervilhas que obteve os resul-tados mais expressivos. Em um jardim experimental, no período entre 1856 e 1863, plantou mais de 28.000 plantas para atingir os resultados esperados. Através de seu estudo, pode postular duas leis: a lei da se-gregação das características independentes, primeira lei de Mendel, e a lei da herança independente de características, a sua segunda lei. Estas duas leis explicam e possibilitam prever como serão as características de um novo indivíduo se são conhecidas as características dos seus progenitores.

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Não foram somente os resultados teóricos que fi zeram com que Mendel merecesse uma posição de destaque na história da ciência, mas também os aspectos epistemológicos e metodológicos da sua investiga-ção. Mendel empregou um método rigoroso e sistemático de trabalhar com os resultados obtidos, como também um tratamento estatístico dos dados obtidos com a sua acurada observação, tornando seu traba-lho em hereditariedade um exemplo de pesquisa quantitativa. Entretan-to, seu trabalho permaneceu praticamente desconhecido até a redesco-berta por cientistas europeus na virada para o século XX. As pesquisas de Mendel foram seminais para iniciativas de, conhecendo a herança, tentar em parte modifi cá-la como também em, por meio e ao lado dela, transmitir caracteres novos aos seres vivos.

Os Raios-X

Enquanto estudava o fenômeno da luminescência, o físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen percebeu que o aparato que utilizava para a emissão de luz, uma espécie de lâmpada chamada tubo de Crookes, emi-tia uma estranha radiação. Röntgen notou que as emissões do aparelho ativavam a reação química em uma chapa fotográfi ca, mesmo através de objetos opacos à luz. Depois de alguns experimentos confi rmando que tal radiação podia atravessar muitos objetos inanimados, Röntgen pediu a sua esposa que colocasse a mão entre a chapa e o emissor do tubo, efetuando assim a primeira radiografi a, revelando toda a estrutura óssea da mão em 1895. No ano seguinte, o cientista alemão percebeu que, quando sem proteção, a emissão dos raios poderia causar ver-melhidão, úlceras, entre outras reações na pele. Infelizmente, devido a muitas exposições às emissões da máquina, Röntgen morreu de câncer. O aparelho de raios-x pode fazer um imageamento do corpo humano, auxiliando os médicos a observar fraturas, analisar órgãos internos e no tratamento do cancro e também de doenças ósseas.

Os Antibióticos

Estudando colônias de bactérias Alexander Fleming descobriu que elas não se desenvolviam na presença de determinados fungos. Em

1928, seus estudos o levaram a entender a ação da proteína antimicro-biana chamada lisozima e do antibiótico penicilina, extraído do fun-go penicilium notatum. A penicilina foi o primeiro antibiótico produzido em laboratório. Mais tarde, com a ajuda dos cientistas estadunidenses Howard Walter Florey e Ernest Boris Chain, conseguiu-se tranformar a penicilina em medicamento. Fleming recebeu junto com seus cole-gas o Prêmio Nobel de Medicina em 1945.

Em 1935, foram desenvolvidas pelo patologista e bacteriologista alemão Gerhard Domagk as sulfanilamidas. Devido ao seu trabalho pio-neiro, Domagk recebeu o Prêmio Nobel de Medicina em 1939. A sulfa tornou-se o primeiro antibiótico artifi cial disponível comercialmente. Entretanto, devido a seus efeitos colaterais foi substituída com o passar dos anos pela penicilina e outros antibióticos mais efi cazes.

Química Orgânica no século XX

Com o avanço das técnicas e dos equipamentos laboratoriais no sé-culo XX, como o microscópio eletrônico e o espectrômetro, os cientis-tas tiveram sucesso em identifi car a composição química e a forma das complexas moléculas que compõem os organismos. As proteínas, os aminoácidos, açúcares, entre outras moléculas orgânicas fi caram mais familiares aos cientistas. Com efeito, muitas destas substâncias passa-ram a ser sintetizadas em laboratório; em outras palavras, os cientistas começaram a produzi-las artifi cialmente.

A Paleontologia

Durante o século XX foram descobertos muitos fósseis de hominí-deos como também de muitos outros animais. Apesar de os registros fósseis não fornecerem uma imagem total do processo evolutivo, eles auxiliam os cientistas a determinar a descendência de determinadas es-pécies através de análises morfológicas, auxiliando a classifi cá-los ta-xonomicamente; ou seja, em grupos organizados. Atualmente, a taxo-nomia aplica métodos computacionais tentando reconstruir as árvores fi logenéticas, que descrevem as diversifi cações sofridas pelos variados agrupamentos de seres vivos com uma origem comum.

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Ernst Haeckel

A Ecologia

A Ecologia é a ciência que trata das inter-relações entre os seres vivos, e também é responsável pelo estudo das relações entre os seres vivos e seu ambiente físico dentro de um determinado ecossistema. O conjunto de ecossistemas que apresentam certa homogeneidade é deno-minado bioma. Nas últimas décadas, o estudo nesta área ajudou a alertar a sociedade dos perigos envolvidos no desequilíbrio destes delicados sistemas. Quando espécies animais ou vegetais são extintas, o ecossis-tema perde um importante elemento nos ciclos de matéria e energia, muitas vezes causando danos irreparáveis a outras espécies. O termo “ecologia” foi cunhado pelo biólogo prussiano Ernst Haeckel, em 1869.

Cromossomos

Quando Thomas H. Morgan [1866-1945] estudava o núcleo da cé-lula percebeu que existia um número defi nido de estruturas em forma de fi o o qual chamou de cromossomos. Quando um ovo é germinado ele passa a possuir o dobro dos cromossomos de uma célula normal. Quando o ovo se divide, os cromossomos dividem-se igualmente en-

tre as células fi lhas, transmitindo a informação contida no interior da célula. Mais tarde, pesquisando a reprodução da mosca da fruta, a dro-sophila, Morgan e outros cientistas descobriram que havia uma corres-pondência entre o número de grupos de características hereditárias e o número de pares de cromossomos. Morgan recebeu o Nobel em de medicina 1933 por suas pesquisas sobre hereditariedade.

A descoberta da estrutura do DNA

Em 1953, os pesquisadores James Watson [1928-] e Francis Crick (1916-2004) , estudando a composição dos cromossomos, elementos integrantes do núcleo das células, propuseram a estrutura em dupla hélice do ácido desoxirribonucléico (DNA), após observações com o auxílio de uma máquina de raios-x especialmente modifi cada. Eles constataram que os fi lamentos são compostos de alguns elementos bá-sicos.

Esta constatação, associada ao conhecimento do papel dos cro-mossomos, levou a especulações sobre modifi cações nos mesmos, por inserção, complementação ou retirada de suas partes ou segmentos, dando origem ao que fi cou conhecido como engenharia genética. Me-diante equipamentos de grande precisão como os sequenciadores de DNA, foi possível começar a proceder esta “engenharia” ou modifi ca-ções, a depender da conveniência de se obter um ser vivo por inteiro, uma proteína ou um enzima por eles produzidos e que seja desejável para os fi ns mais diversos.

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James Watson [1928-] e Francis Crick (1916-2004)

A Síntese da Teoria da Evolução

Quando o trabalho de Mendel se popularizou, surgiu uma aparente incompatibilidade entre suas leis e a teoria de Darwin. No século XX, os resultados de diversos estudos foram conciliados em um esforço em produzir uma teoria unifi cada da evolução. Os responsáveis pela sín-tese evolutiva moderna foram: o naturalista e geneticista russo, Theo-dosius Dobzhansky [1900–1975]; o naturalista estadunidense, Ernst Mayr [1904-2005]; o zoólogo britânico, Julian Huxley [1887–1975]; o paleontólogo americano George G. Simpson [1902–1984]; o zoólogo alemão Bernhard Rensch [1900–1990] e o botânico estadunidense Le-dyard Stebbins [1906–2000]. O termo “Teoria Sintética” foi cunhado por Huxley, assim como a defi nição biologia evolutiva. Dobzhansky comentou que “nada na biologia faz sentido exceto à luz da evolu-ção”, frase que se tornou célebre entre os estudiosos dos fenômenos relacionados à vida.

Conhecimento do genoma, modifi cação genética e biotec-nologia avançada

Dentro das transformações esperadas pelas inovações nas tecnolo-gias biológicas, ou biotecnologias, com ou sem modifi cação genética, está a expectativa da ‘agricultura sustentável’ que assume seu pleno sig-nifi cado diante da crescente insatisfação com o que se convencionou defi nir como agricultura moderna, a qual resulta da adoção e da gene-

ralização do paradigma químico-reducionista resultante da ‘revolução verde’.

Sua imagem vem sempre associada com a ideia de preservação dos recursos naturais e fornecimento ao mercado de produtos mais saudá-veis. É nesse mesmo contexto e, em conjunto com a dinâmica social, que se processa a necessidade de inovações capazes de, no marco da sustentabilidade, garantir rendimentos físicos compatíveis com as con-quistas da segurança alimentar. Isso é dependente dos avanços na área de biotecnologia, em termos de rotas brandas ou biológicas de pro-dução, contemplando sementes produtivas e resistentes, fertilizantes orgânico-biológicos e antagonizadores biológicos de pragas e doenças.

A árvore da vida demonstra a imensa variedade de seres vivos originários de um ancestral comum

O avanço das pesquisas no campo da genética e da biologia mole-cular no século XX permitiu a descrição completa do genoma humano como também de alguns outros organismos. Esta conquista da ciência contemporânea abriu um imenso leque de aplicação para os avanços obtidos nesta área.

Em 2010, cientistas pela primeira vez desenvolveram uma forma de vida artifi cial: uma bactéria construída em laboratório a partir de uma célula hospedeira onde foram introduzidos trechos de DNA combina-dos para gerar uma nova forma de vida. Este ser artifi cial é capaz de se reproduzir como uma bactéria comum, entretanto, de posse deste tipo de conhecimento, cientistas poderão no futuro programar novas características para a fi siologia e o comportamento destes seres artifi -

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ciais. Estas bactérias podem ser usadas para despoluir o meio-ambien-te que nossa civilização pós-industrial degradou, como também para produzir diversas substâncias, orgânicas e inorgânicas, com múltiplas aplicações, desde drogas para o tratamento de diferentes doenças que afl igem o ser humano e outras espécies que são úteis ao homem. Mas as possibilidades ainda vão muito além, certamente poder-se-á mais tarde criar seres mais complexos como fungos, animais e vegetais superiores.

Bancos genéticos já estão sendo organizados ao redor do globo para permitir a preservação das espécies existentes. Diante de alguma catástrofe natural, espécies poderão ser reintroduzidas nos seus respec-tivos biomas, assim como poder-se-á trazer muitas das espécies que fo-ram extintas nas últimas décadas, ou que estão seriamente ameaçadas, para restabelecer o equilíbrio no meio-ambiente.

Representação artística da cadeia cromossômica e seu posicionamento no núcleo da célula

A Clonagem

A clonagem permite reprodução assexuada de um organismo, sen-do o resultado de tal reprodução um organismo idêntico ao original. Este tipo de manipulação acontece no nível celular e exigiu longos esforços no sentido de vencer as difi culdades técnicas. Atualmente é possível gerar clones de organismos unicelulares, vegetais e animais. Em 1996, foi clonado o primeiro mamífero, a ovelha Dolly, iniciando uma nova fase nos processos laboratoriais. Entretanto, Dolly e outros clones sofreram de envelhecimento precoce. Novos estudos certa-

mente resolverão este e outros problemas envolvidos na reprodução artifi cial.

A ovelha Dolly Clonagem da ovelha Dolly

Exobiologia

A exobiologia é a ciência que estuda as evidências, a possibilidade e as possíveis formas de vida fora da Terra. Através de equipamentos so-fi sticados os cientistas conseguem detectar a presença de aminoácidos no espaço. É possível que bactérias naveguem pelo espaço em asterói-des e, quando atingem algum planeta onde a vida seja possível, repro-duzem-se, desenvolvendo novas formas de vida. A teoria que propõe tal idéia é conhecida como panspermia, uma hipótese sustentada por alguns exobiólogos.

Formas encontradas em meteoritos que sugerem a existência de vida fora da Terra

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A Cibernética

A cibernética é um campo da ciência que se estabelece em mea-dos do século XX com o trabalho de cientistas envolvidos com pesquisas em sistemas. O termo foi cunhado por Norbert Wiener. A cibernética se ocupa da comunicação e do controle de sistemas orgânicos, sociais e eletrônicos. Suas possibilidades de aplicação são vastas. Inicialmente eram utilizados para sistemas automáticos de defesa aérea e no controle de sistemas com retroalimentação. Em 2009, pesquisadores conseguiram desenvolver o primeiro Hybrot, um circuito metade orgânico e metade eletrônico. Rapidamente, os conhecimentos científi cos e tecnológicos empregados nesta asso-ciação foram utilizados para construir os primeiros ciborgues de insetos, como besouros e mariposas. Um ciborgue é um ser metade orgânico e metade máquina.

Hybrot, circuito eletrônico conjugado com célula

A Medicina Contemporânea

A medicina deste século irá se benefi ciar de avanços científi cos obti-dos em diversas áreas do conhecimento como a nanotecnologia, a ciber-nética e, principalmente, das pesquisas em biologia molecular e genética. A engenharia genética possibilitará tratamentos inovadores para os diversos males que afl igem o ser humano, aumentando nossa expectativa de vida signifi cativamente. A esperança de que muitas doenças serão erradicadas e outras tantas reduzidas a níveis mais aceitáveis é cada vez mais forte. Aqueles que nasceram neste século viverão mais de cem de anos e desfru-tarão de outra qualidade de vida em comparação com seus antepassados.

A nanotecnologia permitirá que sejam realizadas intervenções cirúr-gicas com traumas mínimos para o organismo e, consequentemente, com um tempo de recuperação muito menor. Pequenos autômatos, menores que um grão de areia, injetados na corrente sanguínea, realizarão com grande efi ciência as cirurgias que hoje são feitas manualmente. Outra revolução na medicina será o desenvolvimento de próteses tão efi cientes que sobrepujarão membros, órgãos e ossos naturais.

Os resultados obtidos na biotecnologia permitirão o desenvolvi-mento de vacinas e soros muito mais efi cientes, seguros e econômicos. Quando se pensa em um futuro como este, repleto de tecnologias que permitirão reduzir as taxas de mortalidade e viver mais, é impossível não imaginar que a população do planeta atingirá números impres-sionantes. Entretanto, os métodos contraceptivos também deverão ser mais efi cazes e de mais fácil acesso às populações do mundo todo.

À esquerda, um exemplo de uma prótese óssea. À direita, um exemplo de robótica, abordado em Star Wars, famosa franquia cinematográfi ca de fi cção científi ca de George Lucas.

Representação artística de nanorobôs na corrente sanguínea.

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SUGESTÕES PARA A LEITURA:

MASON, S. F. A History of the Sciences. Macmillan Books: Nova York, 1962.

ANDERY, M. A. et al. Para Compreender a Ciência. Rio de Janei-ro: Garamond,2007.

4.3 Química, energia e materiais

A química é uma ciência recente. Até o século XVII era conhecida como área auxiliar da medicina e suas raízes se encontravam na alqui-mia e na farmácia. Seu desenvolvimento se dá com as contribuições de Bacon, ao afi rmar que “todas as coisas se modifi cam, nada perece e que a soma da matéria permanece absolutamente a mesma”, e de Newton, com a doutrina da indestrutibilidade e incriabilidade da matéria. Com a publicação de dois livros com o mesmo título, Elementos de Química, um de autoria de Boerhaave, em 1732, e outro de autoria de Lavoisier, em 1789, praticamente todas as categorias da Química tinham sido propos-tas. A partir do desenvolvimento das teorias sobre a estrutura atômica e da identifi cação dos elementos com base no seu peso atômico, em co-nexão com as suas propriedades - trabalhos de Meyer e Mendeleiev – a química adquire tal dinamismo que mereceu um estatuto próprio de área de conhecimento. A partir de então, seu crescimento teórico levou a sua divisão em química orgânica e inorgânica e ensejou a oportunidade de criação de subáreas de conhecimento, bioquímica, físicoquímica, farmo-química etc., como de subáreas de aplicação, química agrícola, química industrial, petroquímica etc.

A química, ao lado de outras ciências, foi essencial na Segunda Re-volução Industrial- tecnológica. Dir-se-ia ainda que o século XX, como período de expansão do consumo de massa e da sociedade afl uente ou do bem-estar, não teria existido sem a contribuição da química. No sé-culo XX, a química já contribuía de modo expressivo com a farmacolo-gia. Seus princípios e substâncias por ela estudadas atuavam na cura de inúmeras doenças, e na produção agrícola. Após as pesquisas de Liebig, a nutrição vegetal passou a ser essencialmente dependente da química e mais tarde foi útil no controle de pragas e doenças das plantas por meio de inseticidas e fungicidas aconteceu o mesmo. A química passa a ser de grande importância para a engenharia e para produção industrial de inúmeros bens.

No campo da medicina a identifi cação de princípios ativos presen-tes em extratos de animais e plantas, em sais minerais e medicamentos tradicionais, foi a chave para a contribuição maior da química para saúde humana e animal. Desde então grande parte dos medica-

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mentos passou a ser sintetizada, o que signifi cava um custo menor e uma pureza maior. Mais importante ainda foi a contribuição da quími-ca após a generalização dos estudos “in vitro”, quando os efeitos de substancias sobre as células e os tecidos puderam ser vistos em labo-ratório e avaliados. A partir daí deu-se início à engenharia molecular com a simulação e construção de novos fármacos a partir de mudanças nas estruturas moleculares das drogas pré-existentes, obtendo-se maior efi ciência, maior segurança e redução do prazo de reciclagem de medi-camentos que deveriam deixar de ser usados por se tornarem inócuos, inefi cientes diante de resistência adquirida por agentes infecciosos.

A engenharia molecular, a simulação e os estudos in vitro, conferi-ram maior credibilidade à indústria farmacêutica, que é essencialmente dependente da química e da química fi na. Inúmeras “famílias” de fár-macos foram desenvolvidas e com as técnicas de laboratório e uso de animais de biotérios, a farmacologia, com ajuda da química, assou a ser uma das maiores áreas de pesquisa e de negócios no século XX.

Laboratório de química

No campo das ciências agrárias, a química foi decisiva para que fossem obtidos elevados índices de produtividade nas inúmeras lavouras destina-das à alimentação e à produção de matérias primas industriais. A fabricação de nutrientes para plantas, os chamados fertilizantes, foram responsáveis por safras cada vez mais elevadas de cereais, de oleaginosas e de fi bras que praticamente afastaram risco de escassez de alimentos humanos, ra-ções para os animais e fi bras para os tecidos. Com o ingresso na era dos biocombustíveis (os combustíveis feitos a partir de seres vivos, a nutrição vegetal por meio da química), o uso de fertilizantes aumentou e com ele a contribuição da química para os novos tempos de busca de energia limpa.

Na engenharia e na produção industrial de inúmeros bens, sejam eles de origem animal, vegetal, mineral ou simplesmente sintéticos, provenientes de substâncias químicas já disponíveis, a química impacta decisivamente no século XX, tendo moldado hábitos e criado necessi-dades como nenhuma outra área do conhecimento. Quando se pensa no dia a dia das pessoas, desde que acordam fazem usos da química na higiene pessoal, doméstica, na alimentação, nas roupas vestidas, nas substâncias presentes nos instrumentos de trabalho, no combustível utilizado, no aquecimento e no transporte. Observa-se que não se poderia ter um estilo de vida contemporâneo sem a contribuição da química.

Entretanto, diante do crescimento do movimento ambientalista, a química passou a ser estigmatizada. O “Fundamentalismo Verde”, mo-vimento ecológico radical, considera os produtos derivados dos pro-cessos químicos como potencialmente venenosos. Nesta simplifi cação, se confunde os conceitos e se faz injustiça às contribuições da quí-mica em termos de saúde e bem-estar, que seriam inumeráveis.

Contudo, as acusações de que a química contribuiu mais para de-gradar a natureza do que para preservá-la, estão com os dias contados. No âmbito da chamada Terceira Revolução Industrial-Tecnológica, o progresso científi co e técnico na área da química tende a mostrar, den-tre outros aspectos, que os meios de obtenção de matérias primas, os processos industriais e os produtos fi nais, estão progressivamente se tornando menos agressivos à natureza. Com a biotecnologia pro-porcionando abundantemente matérias primas vegetais, sobretudo os óleos, a principal fonte de matérias primas para a indústria química deixa de ser a extração mineral para ser a produção vegetal.

Por outro lado, os avanços na química fi na, sobretudo em acelerado-res de reações, tendem a fazer com que os processos produtivos tenham cada vez menos resíduos descartáveis, sejam menos utilizadores de ener-gia e cada vez mais geradores de produtos recicláveis. Por último, os no-vos materiais a serem produzidos pela indústria química virão da fábrica com duração garantida e com reciclabilidade programada, ou seja, com custo ecológico zero. Estes novos materiais, conhecidos como compó-sitos, cerâmicas avançadas, plásticos inteligentes, polímeros, superligas etc. e que substituirão defi nitivamente os materiais convencionais como

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madeira, barro, couro, metais, ossos etc., têm uma relação peso/resis-tência como nunca vista, são recicláveis e são inócuos ao ambiente e à saúde humana. De tudo que foi dito, conclui-se que a química, ao ofe-recer conhecimento para abrandar as rotas produtivas da indústria, para absorção crescente de produtos biológicos e para geração de produtos progressivamente desmaterializáveis, está dando sua inequívoca contri-buição à sociedade pós-industrial. Ainda no contexto do abrandamento da química e a maior expressão assumida pela bioquímica, têm-se uma interface com o campo da biologia e da agricultura, em especial, no que tange os aspectos ligados à produção de alimentos. Nesse âmbito emer-ge o conceito de sustentabilidade da produção vegetal e animal o que signifi ca um desuso crescente de insumos químicos que são substituídos por insumos bioquímicos ou biológicos.

Quanto à energia, durante o século XX observa-se uma série de mudanças que surgem em decorrência do progresso técnico e das restrições ao uso dos recursos naturais e ao comprometimento do ambiente e da qualidade do ar. Novas descobertas e novas invenções têm provocado mudanças radicais nas fontes de energia e na sua ma-triz de uso na sociedade industrial. O século XX foi um período de avanços e diferenciações signifi cativas. Um deles dele foi a passagem da energia do motor a vapor com base no deslocamento do êmbolo para a energia do motor de explosão com base no eixo do pistão, uti-lizadas ambas na movimentação dos meios de transporte. A primeira decorria da combustão da madeira ou do carvão mineral; a segunda, com a queima de combustíveis líquidos, obtidos, principalmente, do refi no do petróleo.

Refi naria de petróleo

Esta mudança deu mais praticidade, efi ciência e fl exibilidade de usos e de deslocamento de reservatórios dos combustíveis, revolucio-nando o transporte marítimo, terrestre e fazendo surgir com efi ciência o transporte aéreo seguro por meio do motor à explosão. As redes de ferrovias, as rotas de navegação marítimas e aéreas se expandiram graças à energia concentrada que está contida nos combustíveis líqui-dos. Estes combustíveis também foram utilizados para girar dínamos e obter energia elétrica, mas com o tempo foram sendo substituídos por fontes mais econômicas e menos agressivas ao meio ambiente, a exem-plo da força hidráulica, já conhecida para mover rodas d’água e pren-sas, e pela energia nuclear que se tornou segura, econômica e também menos agressiva após as descobertas do Projeto Manhattan, aquele da bomba nuclear.

No século XX, não somente para uso no transporte mas princi-palmente para usos domésticos e industriais, a energia hidroelétrica, quando as condições naturais permitiam, transformou-se em uma das formas de provimento mais efi cientes. Países com grandes recursos hídricos como o Brasil se benefi ciam desta fonte. Onde os rios são mais escassos e a topografi a não favorece se tem utilizado a chamada termogeração, que é a energia obtida por queima de óleo, gás ou ma-deira ou a usinas nucleares. A termogeração tem se revelado uma alter-nativa não sustentável quando alimentada por combustíveis fósseis. A energia nuclear, por sua vez, tem restrições decorrentes do domínio do conhecimento do ciclo de concentração do urânio para obtenção do combustível para as usinas, na forma de pastilhas.

A realização da primeira conferência internacional sobre Meio Ambiente, “Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvi-mento”, fez emergir, por meio do Relatório Brundtland, Nosso Futuro Comum, publicado em 1987, o conceito de desenvolvimento sustentá-vel, concebido como “o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das gerações futuras”, o qual trouxe implicações para o planejamento energético. A partir de então, cresceram em todo o mundo as preocupações em como manter a oferta de energia deixando para trás, progressivamente, as formas de gerações mais contaminadoras e avançando em direção a formas de geração mais brandas ou mais compatíveis com a preservação da

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natureza. A matriz energética, que é participação das várias formas de energia na oferta agregada e na utilização, começou a se diferenciar com a pesquisa e desenvolvimento de aproveitamento de energias eóli-cas e solares, mas como nova fonte de energia mais efi ciente e adequa-da à estrutura industrial e ao padrão de vida das populações, tem sido a agroenergia ou a energia dos biocombustíveis.

A evolução do conhecimento cientifi co, em especial, no contexto das energias, trouxe o uso da energia nuclear. A foto acima ilustra a cidade Pripyat que foi fundada em 4 de fevereiro de 1970, em território hoje ucraniano, próximo da fronteira com a atual Bielorrússia. O objetivo do governo da época era utilizá-la como uma cidade nuclear soviética. Era o lar de muitos dos operários que trabalhavam na usina de energia nuclear de Chernobyl, que fi cava nas redondezas. Após o desastre envolvendo a usina em 1986, a cidade teve que ser completamente evacuada e abandonada. Hoje, Pripyat continua sendo uma cidade-fantasma radioativa, e só pode ser visitada por meio de visitas guiadas. O jogo Call of Duty 4 retratou o ambiente em uma de suas fases. Em 2012 Bradley Parker dirigiu a película Chernobyl, uma trama de suspense sobre seis jovens que resolvem fugir do normal e passearem na cidade fantasma.

Nesse contexto, foi por muitos países enfatizada a reestruturação da matriz energética, ainda primordialmente dependente de com-bustíveis fósseis como petróleo e carvão mineral, cuja queima é con-siderada a principal fonte emissora de gás carbono, causador do efei-to estufa. Conseqüentemente intensifi cou-se a busca por alternativas energéticas, sobretudo em torno dos biocombustíveis, denominados também de agrocombustíveis, que parece ser uma denominação mais adequada, uma vez que a utilização de gordura animal é marginal.

Os combustíveis renováveis, biocombustíveis ou agro-combustí-veis, passaram, portanto, a ser recentemente uma preocupação interna-cional como alternativa aos combustíveis fósseis, como um substituto do petróleo e que se tiver sua expansão planejada não irá competir, em

termos de área plantada e de insumos, com a produção de alimentos. No momento não existe atividade de maior poder entrópico positivo que a extração, refi no e consumo carburante de petróleo. Enquanto não houver viabilidade técnico-econômica para as alternativas elétricas e de uso de outros combustíveis como o hidrogênio, e enquanto não se mudar o padrão de consumo no qual o automóvel aparece com grande destaque, a produção de agrocombustíveis é a mais efi ciente medida para ofertar energia e, em paralelo, reduzir os efeitos do aquecimento global. “Mesmo com os avanços das pesquisas relacionadas ao aprovei-tamento e efi ciência de outras fontes de energia como a eólica, a solar, a das marés, a geotérmica etc., as mudanças mais signifi cativas e promis-soras alcançadas na matriz energética do século XX fi caram por conta dos biocombustíveis, e, dentre eles, sobressaindo o etanol”.

Nesse sentido, existe uma opção por agro combustíveis que baseia-se, portanto, não só na necessidade de modifi car a matriz energética re-duzindo a dependência de petróleo, mas também nos chamados ganhos ambientais como o sequestro de carbono, o menor nível de emissões na utilização, a renovabilidade, o ciclo curto de produção e o fato de ser integralmente um processo controlado pelo homem. Uma outra área conectada com a química e a energia e que progrediu signifi cativamente no século XX é a de materiais, ou novos materiais. As pesquisas básicas em química, materiais e energia e o desenvolvimento das técnicas e ensaios em centros de P&D sobre materiais, além das pesquisas apro-fundadas sobre estrutura da matéria, levaram a que fossem descobertas propriedades até então desconhecidas em certos materiais como tam-bém ao desenvolvimento de ligas e compósitos, que são formados a partir de mais de um material.

Biocombustível Placa fotovoltaica – Energia solar

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Entre esses avanços estão aqueles obtidos com a cerâmica, proces-sada e desenvolvida a partir de novos preceitos, que tem se revelado apta à produção de material elétrico, motores e ferramentas, revelan-do elevados padrões de resistência e de condutividade elétrica.

Além das cerâmicas, algumas ligas como de carbono têm se re-velado especial substituto do alumínio e outros metais, com padrão de resistência e leveza incomparáveis. Convém lembrar também o caso dos compósitos, que resultam de combinações virtuosas de outros materiais dos quais derivam em um produto novo com quali-dades superiores àqueles que lhe deram origem, como os polímeros. Os novos materiais além de servirem como insumos ou matérias primas para a produção de bens de vários tipos e inúmeras fi nalida-des como máquinas, equipamentos, objetos de uso pessoal, instru-mentos de precisão etc, têm servido à indústria de equipamentos de diagnóstico, inclusive na linha da nanotecnologia, como à indústria de próteses, dando, portanto uma contribuição signifi cativa à saúde humana.

Exame médico [endoscopia digestiva] onde se utiliza uma microcâmera para avaliação do paciente.

SUGESTÃO DE ATIVIDADES:

01. Assistir os programas de TV em casa é uma conquista do século XX. Em grupo pense como organizar uma linha do tempo da evolução da tele-visão e correlacione com o que você leu sobre Ciência e sobre a Tecnologia.

02. Você já ouviu falar da ovelha Dolly? Pesquise na internet sobre ela e correlacione com alguma parte do capítulo.

03. Alimentos transgênicos, já comeu algum? Veja no capítulo se en-contra alguma coisa sobre eles e realize uma pesquisa sobre quais estão a sua disposição no supermercado.

04. O que são fontes de energia renováveis e não renováveis? No texto temos alguma informação sobre essas fontes de energia? Pesquise so-bre o tema e correlacione com o capítulo que acabou de ler.

RECOMENDA-SE COMO PESQUISA COMPLEMENTAR:

Site do TED em português: http://www.ted.com/translate/languages/pt-br

Documentário: A revolução dos robôs – Discovery Channel.

Filme: A.I. – Inteligência Artifi cial, de Steven Spielberg, EUA, 2001.

Filme: O homem bicentenário, de Chris Columbus, EUA, 1999.

Filme: Trilogia de Volta para o futuro, de Robert Zemeckis, EUA, 1985/1989 e 1990.

Livro: A vida secreta dos grandes autores, de Robert Schnakenberg, 2008.

CAPÍTULO 5

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Este texto tem como objetivo ajudar a construir uma cultura de ciência e de tecnologia no Brasil. Obviamente que esta construção não é uma tarefa simples, pois exige uma ação coordenada do Estado e da sociedade civil e uma infi nidade de ações que passam pelo ensino básico, ensino superior, difusão, museus, ofi cinas, parques, publicações, divulgações em multimídia, premiações etc. A execução coordenada dessas ações envolvendo governo, universidades, associações científi -cas, empresas etc. ajudaria, sobremodo, na criação e difusão de uma cultura de C&T. A ausência de uma cultura científi ca signifi ca a igno-rância com relação ao mundo da ciência e da tecnologia, o que provoca reações que vão desde o desinteresse mais acentuado até o temor mais injustifi cado. A superação desta ignorância é uma tarefa árdua, sobretu-do em sociedades que apresentam desníveis econômico-sociais abissais e nas quais faltam pré-requisitos essenciais, a começar pela ausência de uma consciência cívica. Esta não seria uma tarefa irrealizável por-que a ciência, o que já foi demonstrado em pesquisa de opinião, é uma das instituições em que os brasileiros mais confi am. Demais, a C&T é vista como a locomotiva que impulsiona as civilizações e das poucas instituições que sobreviveram com honra ao alastramento da corrup-ção e da miséria intelectual que se abateu sobre o mundo civilizado nas últimas décadas.

Embora não tenha resposta para todos os males conhecidos, o que depende do avanço da fronteira do conhecimento, é crescente o convencimento de que a C&T é o mecanismo mais efi ciente de redu-ção do sofrimento humano e aquisição do bem-estar. Em termos de inserção ativa na economia globalizada, de competitividade e de inter-nalização dos benefícios de imperfeições no comércio entre países, é crucial o papel da C&T. De acordo com a teoria do ciclo do produ-to, somente a sociedade que estiver desenvolvendo atividade inovativa comercializará novos produtos, exercendo monopólios temporários, viabilizadores de lucros extraordinários.

Os contratempos e vicissitudes que por ventura venham a obstacu-lizar esta tarefa não devem desmotivar aqueles segmentos verdadeira-mente comprometidos com o progresso. Estes devem atuar esclarecen-do os alcances, os limites e o sentido fi losófi co dominante da prática científi ca, que confere legitimidade aos pesquisadores e demonstra o

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compromisso indissociável do típico homem de ciência com os valores universais de civilidade. Os autores deste opúsculo estão envolvidos com esta missão, mesmo que possam ser acusados de iluministas e de positivistas, por terem, nas folhas escritas, sempre afi rmado e re-afi rmado a crença nas possibilidades infi nitas da ciência, o que não signifi ca dizer que a ciência pode tudo, hoje. Entretanto, o que não é possível hoje pode sê-lo amanhã. O importante é que este avanço se dê sempre com o controle social e em paralelo com avanços democráti-cos, o que afastaria a possibilidade de usos indevidos do conhecimento, garantindo um destino de racionalidade e, por que não dizê-lo, também de maior felicidade para o homem.

Destarte, conviria que se falasse de pesquisa científi ca em primei-ro lugar como fi m; vale dizer, como valor que tende a satisfazer uma insuprível exigência do espírito humano: o desejo de conhecer. Em se-gundo lugar como atividade ou processo de ações dirigidas a perseguir tal objetivo e, por último, como produto, como resultados (hipóteses, teorias, descobertas) que, em geral, são suscetíveis de aplicações prá-ticas. A ciência avança continuamente e aquilo que não está incluído na fronteira do conhecimento hoje, estará amanhã. Demais, é necessá-rio reafi rmar que o objetivo da ciência é construir uma representação do mundo objetiva, portanto controlável, e independente de qualquer ação divina. Estas evidências legitimam um posicionamento contem-porâneo, esclarecido e laico, próprio de uma sociedade pós-moderna, pós-industrial, de uma sociedade regida pelo conhecimento à qual se pretende chegar.

Biografi as

Albert EinsteinAlbert Einstein (1879-1955), físico e matemático alemão, desenvolveu a Teoria da Relatividade Geral, um dos dois pilares da física moder-na (ao lado da mecânica quântica). Recebeu o Prêmio Nobel de Física, por seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico e a teoria quântica. Em 1905, formulou a teoria da relatividade especial, que conduziria à liber-tação da energia atômica.

Alessandro VoltaFoi um físico italiano, conhecido especialmente pela invenção da pilha elétrica. Sua paixão foi sempre o estudo da eletricidade, e já como um jovem estudante escreveu um poema em latim na sua nova fascinante descoberta. “De vi attractiva ignis electrici ac phaenomenis inde pendentibus” foi seu primeiro livro científi co. Em 1775 aprimorou o eletróforo, uma máquina que produz eletricidade estática. Estudou a química de gases entre 1776 e 1778. Após ler um ensaio de Benjamin Franklin sobre “ar infl amável” e cuidadosamente pesquisá-lo na Itália, Volta descobriu o metano. Em novembro de 1776, encontrou metano no lago Maior; em 1778, conseguiu isolar o metano.

Alexander FlemingImportante farmacologista, biólogo e botânico escocês. Autor de di-versos trabalhos sobre bacteriologia, imunologia e quimioterapia, no-tabilizou-se como o descobridor da proteína antimicrobiana lisozima, em 1923, e da penicilina, obtida a partir do fungo Penicillium notatum, em 1928, pela qual foi laureado Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1945, juntamente com Howard Florey e Ernst Boris Chain. Concluin-do o curso em 1906, começa a pesquisar, em seguida, substâncias com potencial bactericida que não fossem tóxicas ao organismo humano. Seu descobrimento da penicilina signifi cou uma mudança drástica para a medicina moderna, iniciando a chamada “Era dos antibióticos”.

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Alfred Bernhard NobelFoi um importante químico e inventor sueco. Alfred Bernhard Nobel nasceu a 21 de outubro de 1833 em Estocolmo. A sua invenção veio facilitar os trabalhos de grandes construções tais como túneis e canais. Nobel dedicava muito tempo aos seus laboratórios, de onde saíram outros inventos (já não relacionados com explosivos), tais como a bor-racha sintética. No seu testamento havia a indicação para a criação de uma fundação que premiasse anualmente as pessoas que mais tivessem contribuído para o desenvolvimento da Humanidade.

Alfred Russel WallaceAlfred Russel Wallace nasceu em Usk, Monmouthshire, na Inglater-ra, em 8 de janeiro de 1823 e morreu em Broadstone, Dorset, tam-bém na Inglaterra, a 7 de novembro de 1913. Por volta de 1840 co-meçou a interessar-se por botânica. Em 1848, iniciou viagem pelo Amazonas, ali permanecendo até 1850. A valiosa coleção acumulada nessa expedição foi consumida pelo fogo na viagem de volta, embora Wallace tenha conservado as anotações que lhe permitiram escrever um livro sobre a Amazônia. Depois, fi xou-se em seu país, dedican-do-se a pesquisas científi cas que divulgou em grande número de li-vros. Foi um naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico. Anaximandro de Mileto Foi um geógrafo, matemático, astrônomo, político e fi lósofo pré-socrá-tico; discípulo de Tales, seguiu a escola jônica. Os relatos doxográfi cos nos dão conta de que escreveu um livro intitulado “Sobre a Natureza”; contudo, essa obra se perdeu. Atribui-se a Anaximandro a confecção de um mapa do mundo habitado, a introdução na Grécia do uso do Gnô-mon (relógio solar) e a medição das distâncias entre as estrelas e o cálcu-lo de sua magnitude (é o iniciador da astronomia grega). Anaximandro acreditava que o princípio de tudo (o arché das coisas) era o ápeiron, isto é, uma matéria infi nita da qual todas as outras se cindem.

Anaxímenes de MiletoFoi um fi lósofo pré-socrático do Período Arcaico, ativo na segunda metade do século VI a.C. Foi um dos três fi lósofos da escola milésia e

é identifi cado como discípulo de Anaximandro. Anaxímenes, tal como outros na sua escola de pensamento, praticou o materialismo monis-ta. Escreveu a obra em prosa denominada “Sobre a natureza”. Dedi-cou-se especialmente à meteorologia e foi o primeiro a afi rmar que a luz da Lua é proveniente do Sol.

André VesáliusMédico belga considerado o “pai da anatomia moderna”. Foi o autor da publicação De Humani Corporis Fabrica, um atlas de anatomia publi-cado em 1543. A falta de aulas práticas de anatomia na Universidade de Paris acabou levando Vesalius, assim como Michelangelo, a frequentar cemitérios em busca de ossadas de criminosos executados e vítimas de praga. Em 1538 publicou seu primeiro trabalho, as Tabulae Sex, um conjunto de seis desenhos de anatomia feitos por ele próprio.

André-Marie AmpèreFísico, fi lósofo, cientista e matemático francês que fez importantes contribuições para o estudo do electromagnetismo. Ocupou-se com vários ramos do conhecimento humano, deixando obras de importân-cia, principalmente no domínio da física e da matemática. Partindo das experiências feitas pelo dinamarquês Hans Christian Oersted sobre o efeito magnético da corrente elétrica, soube estruturar e criar a teo-ria que possibilitou a construção de um grande número de aparelhos eletromagnéticos e descobriu as leis que regem as atrações e repulsões das correntes elétricas entre si. Em sua homenagem, foi dado o nome de ampère (símbolo: A) à unidade de medida da intensidade de corren-te elétrica.

Antoine-Laurent de Lavoisier Químico francês, considerado o pai da química moderna. Desco-briu que a água é uma substância composta, formada por dois áto-mos de hidrogênio e um de oxigênio: o H2O. Essa descoberta foi muito importante para a época, pois, segundo a teoria de Tales de Mileto, que ainda era aceita, a água era um dos quatro elementos terrestres primor-diais, a partir da qual outros materiais eram formados. É reconhecido por ter enunciado o princípio da conservação da matéria, apesar de

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o russo Mikhail Lomonossov tê-lo feito 14 anos antes. Identifi cou e batizou o oxigênio, refutou a teoria fl ogística e participou na reforma da nomenclatura química. Célebre por seus estudos sobre a conserva-ção da matéria, mais tarde imortalizado pela frase popular “na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”.

Aristarco de SamosAstrônomo e matemático grego, sendo o primeiro cientista a propor que a Terra gira em torno do Sol (sistema heliocêntrico) e que a Terra possui movimento de rotação. Aristarco realizou cálculos geométricos das dimensões e distâncias do Sol e da Lua. Atualmente o seu nome é atribuído a uma cratera lunar. A teoria heliocêntrica só ganharia reco-nhecimento e validade mais de mil anos depois, com Copérnico.

Aristóteles de EstagiraO fi lósofo grego Aristóteles nasceu em 384 a.C., na cidade antiga de Estagira, e morreu em 322 a.C. Seus pensamentos fi losófi cos e idéias sobre a humanidade tem infl uências signifi cativas na educação e no pensamento ocidental contemporâneo. Aristóteles é considerado o criador do pensamento lógico. Suas obras infl uenciaram também na teologia medieval da cristandade.

Arquimedes de SiracusaMatemático, físico, engenheiro, inventor e astrônomo grego. Conside-rado um dos principais cientistas da Antiguidade Clássica teve uma im-portância decisiva no surgimento da ciência moderna, tendo infl uencia-do, entre outros, Galileu Galilei, Christiaan Huygens e Isaac Newton. Entre suas contribuições à Física, estão às fundações da hidrostática e da estática, tendo descoberto a lei do empuxo e a lei da alavanca, além de muitas outras. Inventou ainda vários tipos de máquinas para usos militar e civil, incluindo armas de cerco, e a bomba de parafuso que leva seu nome.

Auguste Marie Louis Nicholas Lumière Os irmãos Lumière, foram os inventores do cinematógrafo (cinématogra-phe), sendo frequentemente referidos como os pais do cinema. O cine-

matógrafo era uma máquina de fi lmar e projetor de cinema e radiologia médica, invento que lhes tem sido atribuído, mas que na verdade foi inventado por Léon Bouly, em 1892, que tivera perdido a patente, de novo registrada pelos Lumière a 13 de Fevereiro de 1895. São consi-derados os inventores da Sétima Arte. Desenvolveram também o pri-meiro processo de fotografi a colorida, o autocromo (‘’autochrome’’), a placa fotográfi ca seca, em 1896, a fotografi a em relevo (1920), o cinema em relevo (1935), a chamada ‘’Cruz de Malta’’, um sistema que permite que uma bobina de fi lme desfi le por intermitência.

Bartolomeu de GusmãoSacerdote secular, cientista e inventor luso-brasileiro nascido na capitania de São Vicente, em Santos, na colônia portuguesa do Brasil, famoso por ter inventado o primeiro aeróstato operacional, a que chamou de “passa-rola”. Em 1702, Bartolomeu retornou ao Brasil e deu início ao processo de sua ordenação sacerdotal. Três anos depois ele requereu à Câmara da Bahia a patente para o seu aparelho inventado anos antes - o invento para fazer subir água a toda a distância e altura que se quiser levar. A patente foi ex-pedida em 23 de março de 1707 pelo rei Dom João V. Foi essa a primeira patente de invenção outorgada a um brasileiro.

Benjamin FranklinCientista, diplomata, escritor, jornalista, fi lósofo e servidor público norte-americano. Colaborou com a redação da Declaração da Inde-pendência dos Estados Unidos da América. Investigou e interpretou o fenômeno elétrico da carga positiva e negativa, estudo que levou mais tarde à invenção do para-raios. Fundou na Filadélfi a uma academia que mais tarde se transformou na Universidade da Pensilvânia.

Bernhard Rensch Biólogo e ornitólogo alemão, um dos principais artífi ces da síntese evo-lutiva moderna, no campo da morfologia. As suas investigações fo-ram muito variadas, recorrendo a uma ampla variedade de fenômenos biológicos: alometria, comportamento e memória animal, leis climáti-cas, evolução humana e ornitologia.

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Blaise PascalFísico, matemático, fi lósofo e teólogo francês. Prodígio, aos 11 anos escreveu um tratado sobre os sons, baseado nas suas experiências. Aos 17, inventou a “máquina aritmética”, que evoluiria para a máquina de calcular. Sua trajetória se deu, em boa parte, nos estudos do cálculo e das ciências. Ampliou a teoria de Torricelli sobre a pressão atmosférica, criou ramos da matemática como a geometria projetiva e a teoria pro-babilística e desenvolveu estudos sobre o cálculo infi nitesimal.

CalímacoPoeta, bibliotecário, gramático e mitógrafo grego. Diretor da Biblioteca de Alexandria, criou um catálogo das obras existentes naquela bibliote-ca - os Pinakes - com autores por ordem alfabética e com breve biogra-fi a de cada um deles. Após Zenódoto de Éfeso, foi o segundo diretor da Biblioteca de Alexandria, seguido por seu discípulo Eratóstenes de Cirene. Seus epigramas estão entre as grandes criações do gênero, e seus poemas elegíacos foram, mais tarde, elogiados e utilizados como fonte de inspiração por gregos e pelos poetas romanos Caio Valério Catulo, Públio Ovídio Nasão (43 a.C. - 18 a.C.) e Sextus Aurelius Pro-pertius (43 a.C. - 17 a.C.).

Charles DarwinNaturalista britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científi ca da ocorrência da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da seleção natural e sexual. Esta teoria cul-minou no que é, agora, considerado o paradigma central para explica-ção de diversos fenômenos na biologia. Foi laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres, em 1859.

Christian Huygens Físico, matemático, astrônomo e horologista neerlandês. Em física, Huygens é bastante lembrado por seus estudos sobre luz e cores, per-cepção do som, estudo da força centrífuga, o entendimento das leis de conservação em dinâmica equivalentes ao moderno conceito de con-servação de energia, o estudo da dupla refração no cristal da Islândia, e a teoria ondulatória da luz baseada na concepção de que a luz seria um pulso não periódico propagado pelo éter.

Cláudio Ptolomeu Importante cientista grego do século II. Nasceu por volta do ano 90 em Ptolemaida (Alto Egito) e faleceu por volta de 168 na cidade de Canopo (Norte do Egito). Fez importantes estudos nas áreas de Mate-mática, Geografi a, Física, Geometria, Astronomia e Química.

Daniel BernoulliMatemático holandês, membro de uma família de talentosos matemáticos, físicos e fi lósofos. É particularmente lembrado por suas aplicações da matemática à mecânica, especialmente a mecânica de fl uidos, e pelo seu trabalho pioneiro em probabilidade e estatística, e o primeiro a entender a pressão atmosférica em termos moleculares. Imaginou um cilindro vertical, fechado com um pistão no topo, o pistão tendo um peso sobre ele, ambos o pistão e o peso sendo suportados pela pressão dentro do cilindro.

Demócrito de AbderaFilósofo, historiador e cientista atomista grego nascido em Abdera, na Trácia, nas costas do Mediterrâneo, considerado o principal represen-tante da escola atomista, que defendia uma explicação totalmente ma-terial e mecanicista do mundo, bem como um dos maiores expoentes de todo o quadro de homens sábios da Antiguidade grega, rivalizando com Platão, ao qual superou em conhecimentos sobre a natureza.

Denis Papin Médico, físico e inventor francês, membro da Sociedade Real de Ciên-cias da Inglaterra, pioneiro do conceito da transmissão pneumática, inventou máquinas movidas a pressão atmosférica e a vapor, tornando--se um dos pioneiros da navegação a vapor. Inventor da célebre Mar-mita de Papin (máquina a vapor), apresentada em 1679, que precedeu a invenção do autoclave e a panela de pressão.

Edmond HalleyAstrônomo e matemático britânico, célebre por ser o descobridor do cometa Halley, em 1696. Foi amigo de Isaac Newton, e ajudou-o a publicar suas três leis da mecânica.

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Epicuro Foi um fi lósofo grego do período helenístico. Seu pensamento foi mui-to difundido e numeroso. Centros epicuristas se desenvolveram na Jô-nia, no Egito e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi seu maior divulgador.

Erasístrato Foi um anatomista e médico grego, designado pai da fi siologia. Em conjunto com o fi lósofo grego Herófi lo fundou a escola de anatomia de Alexandria. Considerava os átomos como sendo elementos essen-ciais do corpo e que eram vitalizados por ar externo (pneuma) que circulava através dos nervos. Realizou uma das primeiras descrições de partes profundas do cérebro, do cerebelo e dos ventrículos cerebrais. Alguns pesquisadores acreditam que Erasístrato também descobriu os vasos linfáticos do mesentério. Também concluiu que o coração não era o centro das sensações, mas que funcionava como uma bomba.

Eratóstenes de Cirene Importante geógrafo, matemático, astrônomo e fi lósofo pré-socrático. É considerado o pai da Geografi a na Antiguidade em função dos im-portantes estudos sobre as medições da Terra que realizou. Foi um dos principais cientistas e pensadores da Grécia Antiga.

Ernest RutherfordFísico e químico neozelandês que se tornou conhecido como o pai da física nuclear. Num trabalho no início da carreira, descobriu o conceito de meia-vida radioativa, provou que a radioatividade causa a transmutação de um elemento químico em outro, e também distin-guiu e nomeou as radiações alfa e beta. Foi premiado com o Nobel de Química em 1908 «por suas investigações sobre a desintegração dos elementos e a química das substâncias radioativas»

Ernst HaeckelBiólogo, naturalista alemão, fi lósofo, médico, professor e artista que ajudou a popularizar o trabalho de Charles Darwin e um dos gran-des expoentes do cientismo positivista. Descreveu e nomeou várias

espécies novas, mapeou uma árvore genealógica que relaciona todas as formas de vida. Médico e um artista versado em ilustração que se tornaria professor em anatomia comparada. Foi dos primeiros a consi-derar a psicologia como um ramo da fi siologia. Propôs alguns termos utilizados frequentemente como fi lo, ecologia, antropogenia, fi logenia e o Rei-no-protista em 1866.

Ernst Mayr Biólogo de origem alemã que dedicou grande parte da sua carreira ao estudo da evolução, genética de populações e taxonomia. Descendente de diversas gerações de médicos, abriu mão da carreira e se voltou para o estudo da zoologia. Durante a década de 1930 participou de uma expedição à Nova Guiné e às Ilhas Salomão, onde estudou a fauna au-tóctone, especialmente a ornitológica.

Erwin SchrödingerFísico teórico austríaco, conhecido por suas contribuições à mecânica quântica, especialmente a equação de Schrödinger, pela qual recebeu o Nobel de Física em 1933. Propôs o experimento mental conhecido como o Gato de Schrödinger e participou da 4ª, 5ª, 7ª e 8ª Conferência de Solvay.

Euclides Professor, matemático platônico e escritor possivelmente grego, muitas vezes referido como o “Pai da Geometria”. Além de sua principal obra, Os Elementos, Euclides também escreveu sobre perspectivas, seções cônicas, geometria esférica, teoria dos números e rigor. A geometria euclidiana é caracterizada pelo espaço euclidiano, imutável, simétrico e geométrico, metáfora do saber na Antiguidade clássica e que se manteve incólume no pensamento matemático medieval e renascentista, pois somente nos tempos modernos puderam ser construídos modelos de geometrias não euclidianas.

Ferdinand Julius CohnBotânico germânico nascido em Breslau, Silésia, na Prússia, hoje Wroclaw, na Polônia, que publicou o primeiro tratado de bacteriolo-

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gia (1872) e assim considerado como o fundador da bacteriologia, e que contribuiu, ao lado de Louis Pasteur e John Tyndall, para derrubar a teoria da geração espontânea, segundo a qual os organismos vivos são capazes de desenvolver-se a partir da matéria inorgânica.

Francesco RediImportante cientista conhecido pelo seu experimento realizado em 1668 que se considera um dos primeiros passos para a queda de reputação da abiogênese. O saber do seu tempo considerava que as lar-vas se formavam naturalmente a partir de carne em putrefação.

Francis BaconFoi um político, fi lósofo e ensaísta inglês. Como fi lósofo, destacou-se com uma obra onde a ciência era exaltada como benéfi ca para o ho-mem. Em suas investigações, ocupou-se especialmente da metodologia científi ca e do aspecto empírico, sendo muitas vezes chamado de “fun-dador da ciência moderna”. Sua principal obra fi losófi ca é o “Novum Organum”. Escreveu uma série de tratados visando superar e substituir a visão aristotélica da ciência. Bacon desejava uma reforma completa do conhecimento e a superação da Escolástica. Defendeu o aspecto prático da ciência e a necessidade de se expurgar da mente humana os preconceitos (ídolos) em sua obra Novum Organum, formulando uma classifi cação deles em quatro espécies: Idola tribus, Idola Specus, Idola fori, Idola theatri.

Francis CrickBiólogo molecular, biofísico e neurocientista britânico, mais conhecido por codescobrir a estrutura da molécula de DNA, em 1953, com James Watson. Ele, Watson e Maurice Wilkins foram outorgados com o prê-mio Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1962 «por suas descobertas sobre a estrutura molecular dos ácidos nucleicos e seu signifi cado para a transferência de informação em material vivo”. Crick, importante bió-logo molecular teórico, desempenhou um papel crucial na investigação relacionada com a revelação do código genético. É amplamente conhe-cido pelo uso do termo “dogma central” para resumir a ideia de que o fl uxo de informação genética em células possui essencialmente um

sentido único, a partir do DNA para o RNA e deste à proteína.

François-Marie Arouet (Voltaire)Escritor, ensaísta, deísta e fi lósofo iluminista francês. Conhecido pela sua perspicácia e espirituosidade na defesa das liberdades civis, in-clusive liberdade religiosa e livre comércio. É uma dentre muitas fi -guras do Iluminismo cujas obras e ideias infl uenciaram pensadores importantes tanto da Revolução Francesa quanto da Americana. Es-critor prolífi co, Voltaire produziu cerca de 70 obras em quase todas as formas literárias, assinando peças de teatro, poemas, romances, en-saios, obras científi cas e históricas, mais de 20 mil cartas e mais de 2 mil livros e panfl etos. Um polemista satírico, Voltaire é o patriarca de Ferney.

Galeno de PérgamoProeminente médico e fi lósofo romano de origem grega, provavel-mente o mais talentoso médico investigativo do período romano. Suas teorias dominaram e infl uenciaram a ciência médica ociden-tal por mais de um milênio. Seus relatos de anatomia médica eram baseados em macacos, mas foram insuperáveis até a descrição impressa e ilustrações de dissecções humanas por Andreas Vesalius em 1543. Desta forma Galeno é também um precursor da prática da vivissec-ção e experimentação com animais.

Galileu GalileiFísico, matemático, astrônomo e fi lósofo italiano, desenvolveu os primei-ros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo. Descobriu a lei dos corpos e enunciou o prin-cípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da mecânica newtoniana. Galileu melhorou signifi cativamente o telescó-pio refrator e com ele descobriu as manchas solares, as montanhas da Lua, as fases de Venus, quatro dos satélites de Júpiter, os anéis de Saturno, as estrelas da Via Láctea. Estas descobertas contribuíram decisivamente na defesa do heliocentrismo. Contudo, a principal contribuição de Galileu foi para o método científi co, pois a ciência assentava numa metodologia aristotélica. O físico desenvolveu ainda vários instrumentos como a ba-

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lança hidrostática, um tipo de compasso geométrico que permitia medir ângulos e áreas, o termômetro de Galileu e o precursor do relógio de pêndulo. O método empírico, defendido por Galileu, constitui um corte com o método aristotélico mais abstrato utilizado nessa época; devido a este, Galileu é considerado como o “pai da ciência moderna”.

George G. SimpsonPaleontologista e evolucionista estadunidense nascido em Chicago, o mais infl uente paleontologista do século XX e da síntese moderna, co-nhecido pelas contribuições à teoria evolutiva e para a compreensão de migrações intercontinentais de espécies extintas de animais nos últimos tempos geológicos.

George Ledyard Stebbins, Jr.Botânico e geneticista estadunidense.É reconhecido como um dos mais importantes biólogos evolucionistas e botânicos do século XX. Stebbins recebeu o seu doutoramento (Ph.D.) em botânica, pela Uni-versidade de Harvard, em 1931. Frequentou a Universidade da Cali-fórnia onde conjuntamente com o trabalho de E. B. Babcock, sobre a evolução genética de espécies de plantas, levou-o a desenvolver uma síntese compreensiva de evolução das plantas baseada na genética.

Gerhard Domagk Microbiologista alemão. Agraciado com o Nobel de Fisiologia ou Me-dicina de 1939, por ter descoberto os efeitos antibacterianos de cer-tas drogas sulfonamidas, atualmente usadas no tratamento e na cura da hanseníase.

Gottfried Wilhelm Von LeibnizFilósofo, cientista, matemático, diplomata e bibliotecário alemão. A ele é atribuída à criação do termo “função” (1694), que usou para descre-ver uma quantidade relacionada a uma curva, como, por exemplo, a inclinação ou um ponto qualquer situado nela. É creditado a Leibniz e a Newton o desenvolvimento do cálculo moderno, em particular o de-senvolvimento da integral e da regra do produto. Descreveu o primeiro sistema de numeração binário moderno (1705), tal como o sistema nu-mérico binário utilizado nos dias de hoje.

Gregor MendelMonge agostiniano, botânico e meteorologista austríaco. Durante a sua vida, Mendel publicou dois grandes trabalhos agora clássicos: “En-saios com plantas híbridas” (Versuche über Pfl anzen-hybriden), que não abrangia mais de trinta páginas impressas e “Hierácias obtidas pela fe-cundação artifi cial”. Em 1865, formula e apresenta em dois encontros da Sociedade de História Natural de Brno as leis da hereditariedade, hoje chamadas Leis de Mendel, que regem a transmissão dos caracteres hereditários. É conhecido como “Pai da Genética” atualmente.

Guglielmo MarconiFísico e inventor italiano. Em língua portuguesa, é por vezes referido por Guilherme Marconi. Inventor do primeiro sistema prático de telegra-fi a sem fi os (TSF), em 1896. Baseou-se em estudos apresentados em 1897 por Nikola Tesla para em 1899 realizar a primeira transmissão pelo canal da mancha. Estudou os princípios elementares de uma trans-missão radiotelegráfi ca, uma bateria para fornecer eletricidade, uma bo-bina de indução para aumentar a força, uma faísca elétrica emitida entre duas bolas de metal gerando uma oscilação semelhante às estudadas por Heinrich Hertz, um coesor, como o inventado por Édouard Branly, situado a alguns metros de distância, ao ser atingido pelas ondas, acio-nava uma bateria e fazia uma campainha tocar.

Hans Christian OrstedFísico e químico dinamarquês. É conhecido, sobretudo, por ter desco-berto que as correntes elétricas podem criar campos magnéticos que são parte importante do Eletromagnetismo. As suas descobertas mol-daram a fi losofi a pós-kantiana e os avanços na ciência durante o fi nal do século XIX. Foi também o primeiro pensador moderno a descrever explicitamente e denominar a experiência mental.

Hans Lippershey Fabricante de lentes dos Países Baixos. É creditado a Lippershey a criação e disseminação de projetos dos primeiros telescópios práticos. Telescópios crus e lentes especiais podem ter sido criados antes, mas acredita-se que Lippershey foi o primeiro a aplicar uma patente de seu projeto, tornando o produto disponível para uso geral em 1608.

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Heráclides do Ponto Filósofo e astrônomo grego, (século IV a.C.), discípulo de Platão. Foi o primeiro a afi rmar o movimento de rotação da Terra. Herácli-des idealizou um sistema em que os planetas Mercúrio e Vênus gi-rariam ao redor do Sol, e este em torno da Terra, e defendia a ideia de que a Terra, localizada no centro do universo, estivesse animada de um movimento de rotação em torno de si mesma num período de um dia.

Herófi lo Primeiro anatomista da história. Junto com Erasístrato fundou a famosa Escola de Medicina de Alexandria. Herófi lo é considerado o pai da Ana-tomia, foi um dos primeiros a basear suas conclusões na dissecção de ca-dáveres. Ele estudou o cérebro, reconhecendo este órgão como o centro do sistema nervoso e da inteligência. Dissecou e descreveu sete pares de nervos cranianos. Também distinguiu nervos de vasos sanguíneos e os nervos motores dos sensitivos. Foi também um estudioso de Hipócra-tes e escreveu um tratado sobre o método hipocrático.

Hiparco de NiceaAstrônomo grego otomano, construtor de máquinas, exímio cartógra-fo e matemático da escola de Alexandria, um dos representantes da Escola Alexandrina, do ponto de vista da contribuição para a mecânica. Trabalhou, sobretudo em Rodes (161-126 a. C.). Hoje é considerado o fundador da astronomia científi ca e também chamado de pai da trigo-nometria. Hipócrates Respeitado até nossos dias como o ‘pai da medicina’, pois ainda hoje sua obra é atual. Este pesquisador do campo da saúde nasceu na Grécia, em Cós, ilha grega do Dodecaneso, em 460 a.C. Ele viveu na mesma época que os grandes fi lósofos gregos Sócrates e Platão.

Howard Walter Florey Farmacêutico australiano. Foi agraciado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1945, por contribuir para a descoberta da penicilina.

Florey teve um papel fundamental nos primeiros ensaios clínicos, em 1941, no hospital Radcliffe Infi rmary, em Oxford.

Jakob BernoulliPrimeiro matemático a desenvolver o cálculo infi nitesimal para além do que fora feito por Newton e Leibniz, aplicando-o a novos problemas. Publicou a primeira integração de uma equação diferencial; deu solu-ção ao problema dos isoperímetros, que abriu caminho ao cálculo das variações de Euler e Lagrange e estendeu suas principais aplicações ao cálculo das probabilidades. É considerado o pai do cálculo exponencial.

James Clerk MaxwellFísico e matemático britânico. Conhecido por ter dado forma fi nal à teoria moderna do eletromagnetismo, que une a eletricidade, o magne-tismo e a óptica, demonstrou que os campos elétricos e magnéticos se propagam com a velocidade da luz. Ele apresentou uma teoria detalhada da luz como um efeito electromagnético, isto é, que a luz corresponde à propagação de ondas elétricas e magnéticas, hipótese que tinha sido posta por Faraday. É considerado por muitos o mais importante físico do séc. XIX, o seu trabalho em electromagnetismo foi a base da relati-vidade restrita de Einstein e o seu trabalho em teoria cinética de gases fundamental ao desenvolvimento posterior da mecânica quântica.

James WattMatemático e engenheiro escocês. Construtor de instrumentos cien-tífi cos, destacou-se pelos melhoramentos que introduziu no motor a vapor, que se constituíram num passo fundamental para a Revolução Industrial. Foi um importante membro da Lunar Society. Muitos dos seus textos estão atualmente na Biblioteca Central de Birmingham.

Jean Baptista Van HelmontMédico, químico e fi siologista belga. Grande defensor da Abiogêne-se (Geração Espontânea) e da hipótese de Aristóteles, que afi rmava a existência de um “princípio ativo” (capacidade de originar seres vivos), van Helmont acreditava que conseguiria “fazer” um ser vivo por meio da matéria bruta. Seu famoso livro de receitas ensinava como se obter seres

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vivos a partir do “princípio ativo”. Uma receita dizia que se deve misturar uma roupa suja de mulher com germe de trigo e esperar vinte e um dias para obter ratos, sendo verdade que os ratos são atraídos pela mistura.

Jean Le Rond D’Alembert Filósofo, matemático e físico francês, que participou na edição da En-cyclopédie, a primeira enciclopédia publicada na Europa.

Johann I BernoulliMatemático suíço. Estudou inicialmente medicina. Seu campo de atua-ção incluía física, química, astronomia, além da matemática. Seu irmão Jakob Bernoulli ensinou-lhe matemática. O facto de seu nome aparecer numerado deve-se à existência de um Johann II Bernoulli, nascido pos-teriormente na família. Com o seu irmão Jakob, desenvolveu trabalhos que precediam em muito o cálculo de Gottfried Leibniz.

Johannes Gutenberg Inventor e gráfi co alemão. Criou o tipo mecânico móvel para impres-são que defl agrou a Revolução da Imprensa e é amplamente considera-do o evento mais importante do período moderno. Teve um papel fun-damental no desenvolvimento da Renascença, Reforma e na Revolução Científi ca e lançou as bases materiais para a moderna economia basea-da no conhecimento e a disseminação da aprendizagem em massa.

Johannes Kepler Astrônomo, matemático e astrólogo alemão e fi gura-chave da revo-lução científi ca do século XVII. É mais conhecido por ter formulado as três leis fundamentais da mecânica celeste, conhecidas como Leis de Kepler, codifi cadas por astrônomos posteriores com base em suas obras Astronomia Nova, Harmonices Mundi, e Epítome da Astronomia de Co-pérnico. Essas obras também forneceram uma das bases para a teoria da gravitação universal de Isaac Newton.

John Bardeen Físico, o único a receber duas vezes o Nobel de Física. A primeira em 1956, “por pesquisas de semicondutores e a descoberta do transístor”, juntamen-

te com William Bradford Shockley e Walter Houser Brattain, e a segunda em 1972, pelo desenvolvimento conjunto da teoria da supercondutividade, também conhecida como Teoria BCS (Bardeen/Cooper/Schrieffer), con-juntamente com Leon Neil Cooper e John Robert Schrieffer.

John Mayow Fisiologista e químico inglês nascido em Londres, que elaborou a teoria sobre a respiração, explicando a ação do ar atmosférico sobre o sangue venoso. Aproximadamente um século antes de Joseph Priestley e Antoine-Laurent Lavoisier, identifi cou um espírito nitroaéreo, que viria a ser identifi cado pos-teriormente como o oxigênio, como uma entidade atmosférica distinta.

Joseph John Thomson Físico britânico que descobriu o elétron. Estudou engenharia no Owens College e se mudou para o Trinity College em Cambridge. De 1884 a 1919 foi Professor Cavendish de Física. J.J. Thomson recebeu o Nobel de Física de 1906. Foi nomeado cavaleiro em 1908. Em 1918 se tornou mestre do Trinity College em Cambridge, onde permaneceu até sua morte em 1940, e foi enterrado na Abadia de Westminster, perto de Isaac Newton.

Joseph PriestleyTeólogo, clérigo dissidente, fi lósofo natural, educador, teórico e polí-tico britânico que publicou mais de 150 obras. A ele normalmente é creditada a descoberta do oxigênio, apesar de Carl Wilhelm Scheele e Antoine Lavoisier também a reivindicarem, por ter Priestley escondido a descoberta do novo gás.

Julian Huxley Biólogo, escritor, humanista e internacionalista britânico, conhecido por suas contribuições pela popularização da ciência através de livros e conferências. Ele foi o primeiro diretor-geral da UNESCO e foi no-meado Cavaleiro da Coroa Britânica em 1958.

Karl Friedrich Benz Engenheiro de automóveis alemão. É o inventor (com Gottlieb Daimler) do automóvel movido a gasolina como o conhecemos atualmente. Em

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29 de Janeiro de 1886, registrou esta patente (DRP 37435) e em julho apresentou o primeiro automóvel, o Benz Patent-Motorwagen.

Konrad ZuseEngenheiro alemão e um pioneiro dos computadores. O seu maior fei-to foi a compleção do primeiro computador de programa controlado por fi ta guardada, o Z3, com Helmut Schreyer em 1941.

Leonhard Paul EulerMatemático e físico suíço de língua alemã que passou a maior parte de sua vida na Rússia e na Alemanha. Euler fez importantes descobertas em cam-pos variados em cálculo e grafos. Também fez muitas contribuições para a matemática moderna no campo da terminologia e notação, em especial para a análise matemática, como a noção de uma função matemática.

Louis Joseph Gay-LussacFísico e químico francês. Conhecido na atualidade por sua contribuição às leis dos gases. Em 1802, Gay-Lussac foi o primeiro a formular a se-gunda lei dos gases, que estipula que um gás se expande proporcional-mente à sua temperatura absoluta se for mantida constante a pressão. Outra grande contribuição de Gay-Lussac é a sua lei volumétrica.

Louis PasteurCientista francês. Suas descobertas tiveram enorme importância na his-tória da química e da medicina. Entre seus feitos mais notáveis pode-se citar a redução da mortalidade e a criação da primeira vacina contra a raiva. Seus experimentos deram fundamento para a teoria microbio-lógica da doença. Foi mais conhecido do público em geral por inven-tar um método para impedir que leite e vinho causem doenças, um processo que veio a ser chamado pasteurização. Ele é considerado um dos três principais fundadores da microbiologia, juntamente com Fer-dinand Cohn e Robert Koch.

Luigi GalvaniMédico, investigador, físico e fi lósofo italiano. Fez uma das primeiras incursões do estudo de bioletricidade, um campo que ainda hoje estuda

os padrões elétricos e sinais do sistema nervoso. Foi professor de ana-tomia da Universidade de Bolonha, cidade onde viveu e morreu.

Marie-Sophie Germain Matemática, física e fi lósofa francesa com contribuições fundamentais à teoria dos números e à teoria da elasticidade.

Max PlanckFísico alemão. É considerado o pai da física quântica e um dos físicos mais importantes do século XX. Planck foi laureado com o Nobel de Física de 1918, por suas contribuições na área da física quântica.

Michael FaradayFísico e químico inglês. É considerado um dos cientistas mais infl uentes de todos os tempos. Suas contribuições mais importantes e seus trabalhos mais conhecidos trataram dos fenômenos da eletricidade, da eletroquími-ca e do magnetismo. Suas descobertas em eletromagnetismo forneceram a base para os trabalhos de engenharia no fi m do século XIX para que Edison, Siemens, Tesla e Westinghouse tornassem possível a eletrifi cação das sociedades industrializadas. Na física, foi um dos primeiros a estudar as relações entre eletricidade e magnetismo. Seus estudos sobre campos eletromagnéticos são conceitos-chave da física atual. Faraday criou ter-mos como eletrólito, ânodo, catodo, eletrodo, e íon.

Miguel de Servet Teólogo, médico e fi lósofo aragonês, humanista, interessando-se por as-suntos como astronomia, meteorologia, geografi a, jurisprudência, ma-temática, anatomia, estudos bíblicos e medicina. Servet foi o primeiro europeu a descrever a circulação pulmonar. Ele participou da Reforma Protestante e, posteriormente, desenvolveu uma cristologia não-trinita-riana. Condenado por católicos e protestantes, ele foi preso em Genebra e queimado na fogueira como um herege por ordem do Conselho de Genebra, presidido por João Calvino.

Nicolas-Joseph CugnotInventor francês. Construiu o que pode ter sido o primeiro veículo au-

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topropulsionado do mundo, um veículo de transporte de carga de três rodas construído em madeira. Foi engenheiro militar e fez experiências com modelos de máquinas a vapor.

Nicolau CopérnicoUm astrônomo e matemático polaco que desenvolveu a teoria heliocêntri-ca do Sistema Solar. Foi também cônego da Igreja Católica, governador e administrador, jurista, astrólogo e médico. Sua teoria do Heliocentrismo, que colocou o Sol como o centro do Sistema Solar, contrariando a então vigente Teoria Geocêntrica (que considerava a Terra como o centro), é considerada como uma das mais importantes hipóteses científi cas de todos os tempos, tendo constituído o ponto de partida da astronomia moderna.

Nicole d’OresmeGênio intelectual e provavelmente o pensador mais original do Sécu-lo XIV. Economista, fi lósofo, matemático, físico, astrônomo, biólogo, psicólogo e musicólogo; foi também um teólogo dedicado e Bispo de Lisieux, tradutor para o idioma Francês, conselheiro do rei Carlos V da França e um dos principais fundadores e divulgadores das ciências modernas.

Niels BohrFísico dinamarquês cujos trabalhos contribuíram decisivamente para a compreensão da estrutura atômica e da física quântica. Em 1913, aplicando a teoria da quantifi cação aos elétrons do modelo atômico de Rutherford, conseguiu interpretar algumas das propriedades das séries espectrais do hidrogênio e a estrutura do sistema periódico dos ele-mentos. Formulou o princípio da correspondência e, em 1928, o da complementaridade. Estudou ainda o modelo nuclear da gota líquida, e antes da descoberta do plutônio, previu a propriedade da cisão, análoga à do U-235. Bohr recebeu o Nobel de Física em 1922.

Nikola TeslaInventor nos campos da engenharia mecânica, Tesla é muitas vezes descrito como um importante cientista e inventor da modernidade, um homem que “espalhou luz sobre a face da Terra”. É mais conhecido

pelas suas muitas contribuições revolucionárias no campo do eletro-magnetismo no fi m do século XIX e início do século XX.

Norbert WienerFísico-matemático norte-americano nascido em Columbia, Montana, considerado o fundador da ciência da cibernética, por estabelecer as bases dessa ciência, que estuda a relação entre os fatores de controle e comunicação dos seres vivos, das máquinas e das organizações sociais.

Olaus Christensen RomerAstrônomo dinamarquês. Estabeleceu, em 1676, com provas científi -cas, que a velocidade da luz é fi nita, ainda que bastante elevada. Foi talvez o primeiro cientista a medir a velocidade da luz. Sua descoberta foi feita através da observação do planeta Júpiter, principalmente de uma de suas luas, satélite.

Pierre de FermatMatemático e cientista francês. As contribuições de Fermat para o cál-culo geométrico e infi nitesimal foram inestimáveis. Obtinha, com os seus cálculos, a área de parábolas e hipérboles, e determinava o cen-tro de massa de vários corpos, etc. Em 1934, Louis Trenchard Moore descobriu uma nota de Isaac Newton dizendo que o seu cálculo, antes considerado como invenção autônoma, fora baseado no “método de monsieur Fermat para estabelecer tangentes”.

Pierre Simon Marquis de LaplaceMatemático, astrônomo e físico francês que organizou a astronomia matemática, resumindo e ampliando o trabalho de seus predecesso-res nos cinco volumes do seu Mécanique Céleste (Mecânica celeste) (1799-1825). Esta obra-prima traduziu o estudo geométrico da mecâni-ca clássica usada por Isaac Newton para um estudo baseado em cálculo, conhecido como mecânica física. Formulou a equação de Laplace. A equação transformada de Laplace aparece em todos os ramos da física matemática — campo em que teve um papel principal na formação. O operador diferencial de Laplace, da qual depende muito a matemática aplicada, também recebe seu nome.

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Pitágoras de SamosPitágoras foi um importante matemático e fi lósofo grego. Nasceu no ano de 570 a. C. na ilha de Samos, na região da Ásia Menor (Magna Grécia). Através de estudos astronômicos, afi rmava que o planeta Terra era esférico e suspenso no espaço. Encontrou uma certa ordem no universo, observando que as estrelas, assim como a Terra, giravam ao redor do Sol. É autor do famoso teorema matemático, de acor-do com o qual é possível calcular o lado de um triângulo retângulo, conhecendo os outros dois. Sua infl uência nos estudos futuros da matemática foram enormes, pois foi um dos grandes construtores da base dos conhecimentos matemáticos, geométricos e fi losófi cos que temos atualmente.

PtolomeuCientista grego que viveu em Alexandria, uma cidade do Egito. Ele é reconhecido pelos seus trabalhos em matemática, astrologia, astrono-mia, geografi a e cartografi a. Realizou também trabalhos importantes em ótica e teoria musical.

Richard Trevithick Inventor britânico. Dedicou-se a melhorar o design dos motores a va-por, construindo máquinas mais leves e menores, mas com caldeiras mais fortes, onde era possível gerar pressões de vapor mais altas e por consequência, mais energia.Pioneiro cujas invenções eram avançadas demais para a sua época; além das locomotivas, construiu barcos a va-por, máquinas de debulhar e de dragar.

Robert Boyle Filósofo natural, químico e físico irlandês que se destacou pelos seus trabalhos no âmbito da física e da química. Ele construiu um labo-ratório na sua casa em Sailbridge e se descobriu um entusiasta da experimentação, o que mudaria sua carreira. Dentre as descobertas científi cas de Boyle podemos citar: a lei dos gases que tem seu nome, um indicador colorido para os ácidos (xarope de violeta), o enxofre, uma explicação do paradoxo hidrostático,a acetona, isolamento do hi-drogênio, o primeira aparecimento da noção de elemento químico,

a fosfi na, o sulfato de mercúrio, o álcool metílico, a descoberta da su-blimação da água.

Robert FultonEngenheiro e inventor estadunidense que é amplamente creditado com o desenvolvimento do primeiro barco a vapor comercialmente bem sucedido. Em 1800, ele foi contratado por Napoleão Bonaparte para projetar o Nautilus, que foi o primeiro submarino prático na história. Ele também é creditado por inventar alguns dos primeiros torpedos navais do mundo a uso pela Marinha Britânica.

Robert Grosseteste A fi gura central do importante movimento intelectual da primeira metade do século XIII na Inglaterra. Foi apelidado de Grosseteste pela sua extraor-dinária capacidade intelectual. Tinha grande interesse no mundo natural e escreveu textos sobre som, astronomia, geometria e, especialmente, óptica. Primeiro estudioso europeu a dominar as línguas grega e hebraica. Dava ênfase à matemática como ferramenta para estudar a natureza e defendia que experimentos deveriam ser usados para verifi car as teorias a respeito da mesma. Seu mais renomado discípulo, Roger Bacon, herdou sua pai-xão pela experimentação. As pesquisas de ambos possibilitaram o início da confecção de óculos e futuramente seriam importantes no desenvolvimen-to de instrumentos como o telescópio e o microscópio.

Robert KochMédico, patologista e bacteriologista alemão. Foi um dos fundadores da microbiologia e um dos principais responsáveis pela atual compreensão da epidemiologia das doenças transmissíveis. As suas principais con-tribuições para a ciência médica incluem a descoberta e descrição do agente do carbúnculo e do seu ciclo, a etiologia da infecção traumática, os métodos de fi xação e coloração de bactérias para estudo no micros-cópio com respectiva identifi cação e classifi cação, e a descoberta, em 1882, do bacilo da tuberculose (o Bacilo de Koch) e sua responsabili-zação etiológica. Em 1883, descobriu - ou redescobriu segundo alguns autores - o vibrio cholerae. Foi contemplado com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1905.

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Samuel Finley Breese MorseInventor, físico e pintor de retratos e cenas históricas estadunidense. Tornou-se mundialmente célebre pelas suas invenções: o código Morse e o telégrafo com fi os, em 1843.

São Beda (672 d.C – 735 d.C.)Sacerdote e monge dos mosteiros de São Pedro e São Carlos, na Inglater-ra. Cedo destacou-se por sua inteligência. Escreveu sessenta obras sobre teologia, fi losofi a, cronologia, aritmética, gramática, astronomia, música e até medicina. Recebeu o convite do papa Gregório II para ser seu auxiliar, mas o “venerável Beda”, como costumeiramente chamado, preferiu per-manecer na solidão do mosteiro. Foi professor e, post-mortem, proclama-do santo e doutor da Igreja, sendo o único santo inglês a possuir este título.

Satyendra Nath BoseFísico indiano. De etnia bengalesa, foi especializado em física mate-mática. Ficou conhecido, sobretudo, devido aos seus trabalhos sobre mecânica quântica no início da década de 1920, fundamentais para a estatística de Bose-Einstein e na teoria do condensado de Bose-Eins-tein. O bóson foi assim denominado em sua honra.

Simon Stevin Engenheiro, físico e matemático fl amengo. No domínio da física estu-dou os campos da estática e da hidrostática: formulou o princípio do paralelogramo para a composição de forças; demonstrou experimen-talmente que a pressão exercida por um fl uido depende exclusivamente da sua altura (Teorema de Stevin), dando assim uma explicação ao cha-mado paradoxo hidrostático. Tales de Mileto Filósofo, matemático, engenheiro, homem de negócios e astrô-nomo da Grécia Antiga, o primeiro filósofo ocidental de que se tem notícia. Tales é apontado como um dos sete sábios da Grécia Antiga. Além disso, foi o fundador da Escola Jônica. Considerava a água como sendo a origem de todas as coisas, e seus seguido-res, embora discordassem quanto à “substância primordial” (que

constituía a essência do universo), concordavam com ele no que dizia respeito à existência de um “princípio único” para essa na-tureza primordial.

Theodosius Dobzhansky Geneticista e biólogo evolutivo russo-estadunidense. Ele trabalhou com Thomas Hunt Morgan na Universidade de Columbia, que foi um pioneiro no uso de moscas da fruta (Drosophila melanogaster) em experimentos genéticos. Em 1937 ele publicou um dos maiores trabalhos da síntese evo-lutiva moderna, a síntese da biologia evolutiva com genética, intitulada Ge-netics and the Origin of Species, que entre outras coisas defi niu a evolução como “uma mudança na frequência de alelos dentro de um pool gênico”.

Thomas Alva EdisonEmpresário dos Estados Unidos que patenteou e fi nanciou o desen-volvimento de muitos dispositivos importantes de grande interesse in-dustrial, um dos primeiros a aplicar os princípios da produção maciça ao processo da invenção. Na sua vida, Thomas Edison registrou 2.332 patentes. O fonógrafo foi uma de suas principais invenções. Outra foi o cinematógrafo, a primeira câmera cinematográfi ca bem-sucedida, com o equipamento para mostrar os fi lmes que fazia. Edison também aper-feiçoou o telefone, inventado por Antonio Meucci, em um aparelho que funcionava muito melhor.

Thomas H. MorganZoólogo e geneticista estadunidense. Trabalhou em história natural, zoologia e macromutação da Drosophila. Devido ao seu trabalho, a Drosophila tornou-se um dos principais modelos animais na área da genética. Suas contribuições mais importantes foram para a genética, pelas quais recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1933, por provar que os cromossomos são portadores de genes.

Tycho BracheAstrônomo dinamarquês, suas observações da posição das estrelas e dos planetas alcançaram uma precisão sem paralelo para a época. A adesão de Tycho à ciência nova levou-o a abandonar a tradição pto-

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lomaica, a fi m de chegar a novas conclusões pela observação direta. Baseando-se nesta, construiu um sistema no qual, sem pretender des-cobrir os mistérios do cosmos, chega a uma síntese eclética entre os sistemas que poderíamos chamar de tradicionais e o de Copérnico.

Vladimir Kozmich ZworykinInventor e engenheiro russo-americano, pioneiro da tecnologia da tele-visão. Em 1924 Zworykin conseguiu patentear o seu iconoscópio, um aparelho que seria essencial para a invenção do televisor. O iconoscó-pio foi, segundo a explicação de Zworykin, uma reprodução eletrônica do olho humano.

Walter Houser Brattain Físico estadunidense. Foi agraciado com o Nobel de Física em 1956, por pesquisas de semicondutores e a invenção do transístor.

Werner Karl HeisenbergFísico teórico alemão que recebeu o Prêmio Nobel de Física em 1932 “pela criação da mecânica quântica, cujas aplicações levaram à desco-berta, entre outras, das formas alotrópicas do hidrogênio”.

Wilhelm Conrad RöntgenFísico alemão que, em 8 de novembro de 1895, produziu radiação ele-tromagnética nos comprimentos de onda correspondentes aos atual-mente chamados raios X.

William Bradford ShockleyFísico estadunidense. É o único a receber duas vezes o Nobel de Física. A primeira em 1956, “por pesquisas de semicondutores e a descoberta do transístor”, juntamente com William Bradford Shockley e Walter Houser Brattain, e a segunda em 1972, pelo desenvolvimento conjunto da teoria da supercondutividade, também conhecida como Teoria BCS (Bardeen/Cooper/Schrieffer), conjuntamente com Leon Neil Cooper e John Robert Schrieffer. William GilbertFísico e médico inglês de Elizabeth I e James I e pesquisador nos cam-pos do magnetismo e eletricidade. O principal trabalho de Gilbert

foi De Magnete, Magneticisque Corporibus, et de Magno Magnete Tellure (Sobre os ímãs, os corpos magnéticos e o grande imã terrestre) publicado em 1600. Das experiências, ele conclui que a Terra era magnética e esse era o motivo pelo qual as bússolas apontam para o norte (anteriormente, era dito que isto se devia a estrela polar ou as grandes ilhas magnéticas no Polo Norte que atraiam a bússola). Em seu livro, ele também estudou ele-tricidade estática usando âmbar; em grego, âmbar é chamado elektron, então, Gilbert decidiu chamar isso de eletricidade.

William Harvey Médico britânico que, pela primeira vez, descreveu corretamente os detalhes do sistema circulatório do sangue ao ser bombeado por todo o corpo pelo coração.

William Thompson (Lorde Kelvin)Físico-matemático e engenheiro britânico, nascido na Irlanda. Consi-derado um líder nas ciências físicas do século XIX, ele fez importantes contribuições na análise matemática da eletricidade e termodinâmica, e fez muito para unifi car as disciplinas emergentes da física em sua forma moderna. É conhecido por desenvolver a escala Kelvin de temperatura absoluta (onde o zero absoluto é defi nido como 0 K).

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Índice Remissivo

Alberto Magno (1206-1280) – 53,56,57Allen, Paul (1953- ) – 127Ampère, André-Marie (1775–1836) – 77,112Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) – 30,31Aristarco de Samos (310-230 a.C.) – 40Aristóteles de Estagira (384 – 322 a.C.) – 34,35,36,39,42,51,55,56,57Arquimedes de Siracusa (287 - 212 a.C.) – 39,40Babbage, Charles (1792-1871) – 122Bacon, Francis (1561 (1626) – 82Bacon, Roger (1214-1294) – 53,55,56Baer, Ralph (1922- ) – 127Bardeen, John (1908 – 1991) – 123Benz, Karl Friedrich (1844 – 1929) – 105Bernoulli, Daniel (1700-1782) – 89,90,92Bernoulli, Jakob (1654-1705) – 89Bernoulli, Johann I (1667-1748) – 89Bohr, Niels (1885-1962) – 115Bonaparte, Napoleão (1769-1821) – 102Bosea, Satyendra Nath (1894-1974) – 116Boyle, Robert (1627-1691) – 86,87,88Brache, Tycho (1546-1601) – 83Brattain, Walter Houser (1902 – 1987) – 123Broglie, Louis de (1892 – 1987) – 115Bushnell, Nolan (1943- ) – 127Byron King, Ada Augusta (condessa de Lovelace) (1815-1852) – 122Calímaco (305 - 240 a.C.) – 39,40Chateaubriand, Francisco A. B. de Melo (Chatô) (1892-1968) – 125Cohn, Ferdinand Julius (1828-1998) – 95Colbert, Jean-Baptiste (1619-1683) – 96Confúcio (552-479 a.. C.) – 37Copérnico, Nicolau (1473-1543) – 58,59,82Crick, Francis (1916-2004) – 135,136

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Cugnot, Nicolas-Joseph (1725-1804) – 105Curie, Marie (1867-1934) – 77Daimler, Gottlieb Wilhelm (1834-1900) – 105D´Alembert, Jean le Rond (1717-1783) – 92Darwin, Charles (1809-1882) – 77,98,99,107,108,115,136Darwin, Erasmus (1731-1802) – 107Demócrito de Abdera (460-370 a. C.) – 32Descartes, Renée (1596-1650) – 77,82,83,93,96Dewar, James (1842-1923) – 113Diderot, Denis (1713-1784) – 92Dobzhansky, � eodosius (1900-1975) – 136Duns Scot, John (1265-1308) – 59,61Edison, � omas Alva Edison (1847-1931) – 106,107,109,123Eifell, Gustave (1832-1923) – 97Einstein, Albert (1879-1955) – 77,115,116Epicuro de Samos (341-270 a. C.) – 32Erasístrato de Alexandria (310-250 a. C.) – 41,42Eratóstenes de Cirene (284-192 a.C.) – 40Espinoza, Bento (1632-1677) – 88Euclides de Atenas ( 360-295 a.C.) – 39Euler, Leonhard Paul (1707-1783) – 90Faraday, Michael (1791-1867) – 107,111,112Fermat, Pierre de (1601-1665) – 88Filolau de Tarento (século V a.C.) – 31,32Fleming, Alexander ( 1881-1955) – 132Fleming, John Ambrose (1849-1945) – 123Franklin, Benjamin (1706-1790) – 110,111Fulton, Robert (1765-1815) – 102Galeno de Pérgamo (129-200 d.C.) – 41,42,48Galileu Galilei (1564-1642) – 56,58,59,60,77,81,82,83,87,88,90,93,95,96Galvani, Luigi (1737-1798) – 107Gates, Bill (1955- ) – 127Gauss, Johann Carl Friedrich (1777-1855) – 92,112Gay-Lussac, Joseph-Louis (1778 – 1850) – 101

Germain, Marie-Sophie (1776-1831) – 98Gilbert, William (1544-1603) – 106Giordano Bruno (1548-1600) – 59,93Goodyear, Charles (1800 – 1860) – 106Graham Bell, Alexander (1847 -1922) – 108Grosseteste, Robert (1168-1253) – 53,55Guilherme de Ockam (1285-1347) – 53,60Gusmão, Bartolomeu Lourenço de (1685-1724) – 80,86,87,99Gutenberg, Johannes (1398-1498) – 94Haeckel, Ernst (1834-1919) – 134Halley, Edmond (1656-1742) – 84,91Harvey, William (1578-1657) – 84Heisenberg, Werner Karl (1901 -1976) – 116Helmont, Jean Baptista Van (1580-1644) – 86Heráclides do Ponto (390 – 310 a.C.) – 33Hermann, Heinrich (1843-1910) – 95Heró� lo de Alexandria (335-280 a.C.) – 41,42Hertz, Heinrich Rudolf (1857-1894) – 112Higinbotham, William (1910-1994) – 126Hiparco de Nicea (190-120 a.C.) – 41Hipócrates (460-377 a.C.) – 34Hobbes, � omas (1588-1679) – 90Hugo, Victor-Marie (1802-1885) – 108Hülsmeyer, Christian (1881-1957) – 125Huxley, Julian (1887–1975) – 136Huxley, � omas Henry (1825-1895) – 98Huygens, Christian (1629-1695) – 88Imhotep (2980 a.C.) – 27Jacquard, Joseph Marie (1752-1834) – 122Jobs, Steven Paul (1955-2011) – 127Judson, Whitcomb L. (1844 – 1909) – 113Kepler, Johannes (1571-1630) – 82,83Confúcio (552- 479 a.C.) – 37Copérnico, Nicolau (1473-1543) – 58,59,82

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Kirchho� , Gustav R. (1824 – 1887) – 113Koch, Robert (1846-1910) – 95Lacerda, Augusto F. de (1836 – 1931) – 100,101Lagrange, Joseph Louis (1736-1813) – 91,98Lamarr, Hedy (1913–2000) – 124Lanier, Jaron (1960- ) – 125Lao-Tsé (571 – 531 a.C.) – 37Laplace, Pierre-Simon (1749-1827) – 92,96Lavoisier, Antoine-Laurent de (1743-1794) – 86,90,91,97,143Leeuwenhoek, Antonie Van (1632-1723) – 87Leibniz, Gottfried Wilhelm Von (1646-1716) – 88,89Leonardo Da Vinci (1452-1519) – 79,80,95Leucipo de Abdera (460 - 370 a.C.) – 32Lippershey, Hans (1570-1619) – 82Locke, John (1632-1704) – 90Lorde Kelvin (William � ompson) (1824-1907) – 99Lumière, Auguste Marie Louis Nicholas (1862-1954) – 121Lumière, Louis Jean (1864-1948) – 121Malthus, � omas (1766-1834) – 99Marconi, Guglielmo (1874-1937) – 112,123Martinville, Édouard-Léon Scott de (1817-1879) – 109Maxwell, James Clark (1831-1879) – 112,123Maybach, Wilhelm (1846-1929) – 105Mayow, John (1641-1679) – 91Mayr, Ernst (1904-2005) – 136Mendel, Gregor (1822-1884) –77,131,132Mendeleiev, Dmitri Ivanovich (1834-1907) – 112,143Meucci, Antonio Santi Giuseppe (1808-1889) – 108Miguel de Servet (1511-1553) – 84Montesquieu (Charles-Louis de Secondat) (1689 – 1755) – 92Montgol� er, Jacques-Étienne (1745-1799) – 81Montgol� er, Joseph Michel (1740-1810) – 81,189Morgan, � omas H. (1866-1945) – 134,135Morse, Samuel Finley Breese (1791-1872) – 108

Mo-Ti (479-381 a.C.) – 36Munch, Edvard (1863-1944) – 110Mushet, Robert (1811-1891) – 113Muybridge, Robert (1830-1904) – 113Newcomen, � omas (1663-1729) – 104Newton, Isaac (1643-1727) – 77,82,83,84,86,88,89,91,97,143Nicole d’ Oresme (1323-1382) – 59Nietzsche, Friedrich Wilhelm (1844 -1900) – 108Nobel, Alfred Bernhard (1833 -1896) – 103Orsted, Hans Christian (1777 – 1851) – 107Papin, Denis (1674-1712) – 87,88,97Pascal, Blaise (1623-1662) – 88,97Pasteur, Louis (1822-1895) – 95Pauli, Wolfgang Ernst (1900 – 1958) – 115Pemberton, John (1831-1888) – 110Pitágoras de Samos (570-496 a.C.) – 31,32Planck, Max (1858-1947) – 114,115Platão (427-347 a.C.) – 32,33,34,42,51Poisson, Siméon Denis (1781 – 1840) – 96Priestley, Joseph (1733-1804) – 91Ptolomeu, Cláudio (90-168 d.C.) – 39,41Rebouças, André Pinto (1838 – 1898) – 100Redi, Francesco (1626-1691) – 86Rensch, Bernhard (1900–1990) – 136Ressel, Josef L.F.(1793-1857) – 113Römer, Olav Christensen (1644-1710) – 87Rondelet, Guillaume (1507-1566) – 85Rousseau, Jean-Jacques (1712-1778) – 92Rutherford, Ernest (1871-1937) – 76,115Santo Agostinho (354-430) – 51,53,55Santos Dumont, Alberto (1873-1932) – 79São Beda (672-735) – 53Schrödinger, Erwin (1887 - 1961) – 115Seeley, Henry (1854-1908) – 113

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SOBRE OS AUTORES

Alex Vieira dos Santos é doutor e mestre em Ensino, Filosofi a e História das Ciências pela UFBA/UEFS, bacharel em Engenharia Civil pela UNEB (2007) e licenciado em Construção Civil (UNEB-2000), com Especialização em Metodologia do Ensino Superior pela mesma universidade (2001) e Especialização em Mídias na Educação pela UESB (2013). Atualmente é professor pela Secretária de Educa-ção do Estado da Bahia nos níveis médio e médio integrado ao técnico e professor adjunto na Universidade Salvador. Atuou como supervi-sor do PIBID - Física, pela UFBA/ CAPES, sendo premiado por seus projetos e orientações em concursos e olimpíadas científi cas. {Micro-soft: Educadores Inovadores (2009 e 2011); Prêmio Jovem Cientista - Orientação (2005); Olimpíada Brasileira de Saúde e Meio Ambiente - Fundação Oswaldo Cruz - Projeto de Ciências (2010); SBPC - Concur-so para cartaz (2010); Prêmio Igualdade de Gênero - Menção honrosa a trabalho orientado (2008)} e orientação de trabalhos na FEBRACE {Feira Brasileira de Ciências e Engenharia}. Tem experiência na área de Educação, com ênfase em Ensino e História das Ciências. Atualmente é pesquisador na área de Popularização das Ciências e CTS, Ciência na Periferia, História das Ciências na Bahia e Orientações Curriculares para o ensino médio e técnico na área de Ciência da Natureza. Associa-do a SBPC e a SBHC, fazendo parte do grupo de pesquisa em História da Ciência e do Sistema Estadual de C&T na Bahia CNPq/UFBA.

Amílcar Baiardi é graduado em agronomia pela Universidade Federal da Bahia (1964), pós-graduação com defesa de trabalho fi nal (equivalente ao mestrado profi ssional) em Reforma Agrária y Desar-rollo Rural pelo IICA-CIRA da OEA (1966), mestrado acadêmico em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1981),doutorado em Ciências Humanas pela Universidade Estadual de Campinas (1986), tendo realizado o pós--doutorado na área de política de C&T no IMSS, Firenze, Itália (1994). Atualmente é professor titular da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e da pós-graduação da Universidade Federal da Bahia, atuan-do em diretorias e conselhos das seguintes sociedades científi cas: So-

Shockley, William Bradford (1910 - 1989) – 123Sholes, Christopher Latham (1819-1890) – 113Siemens, Ernst Werner Von (1816-1892) – 107Simpson, George G. (1902–1984) – 136Singer, Isaac Merritt (1811 – 1875) – 113Sócrates (470 – 399 a.C.) – 33,51Stebbins, Ledyard (1906–2000) – 136Stensel, Valentin (1621-1705) – 86Stevin, Simon (1548-1620) – 89Tales de Mileto (624 – 546 a.C.) – 30,106Telles, Vicente C. Seabra e Silva (1764-1804) – 91Teofrasto (372-287 a.C.) – 35Tesla, Nikola (1856 -1943) – 109,110,112� omas de Aquino (1225-1274) – 53,57� omson, Joseph John (1856-1940) – 115Torricelli, Evangelista (1608-1647) – 87,88,97Trevithick, Richard (1771 -1833) – 105Tull, Jethro (1674 – 1741) – 104Verne, Júlio (1828-1905) – 108Vicat, Louis-Joseph (1786 -1861) – 101Volta, Alessandro (1745-1827) – 106Voltaire (François-Marie Arouet) (1694-1778) – 90,92Wagner, Wilhelm Richard (1813-1883) – 108Wallace, Alfred R. (1823-1913) – 98Watson, James (1928- ) – 135,136Watt, James (1736 – 1819) – 104Watt, Robert Watson (1892-1973) – 125Westinghouse, George (1846-1914) – 109Wozniak, Stephen Gary (1950- ) – 127Zuse, Konrad (1910–1995) – 122Zworykin, Vladimir K. (1889-1982) – 121

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ciedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Sociedade Brasileira de Pesquisadores em História Econômica, Sociedade Brasileira de Econo-mia e Sociologia Rural e Sociedade Brasileira de História da Ciência. É professor permanente dos programas de pós-graduação da Universida-de Federal da Bahia em Ensino, Filosofi a e História da Ciência,

PGEFIHC e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciên-cias Sociais da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. É bolsista de Produtividade de Pesquisa do CNPq, coordenador de comitê assessor do CNPq para projetos do fundo setorial de agronegócios, avaliador de pós-graduação stricto sensu da CAPES, professor do mestrado profi ssional da Fundação Oswaldo Cruz, professor orientador da Universitat de Barce-lona e da Universitàdi Bologna e professor do doutorado interinstitucional da UFBA/UEFS com a UEPB em Ensino, Filosofi a e História da Ciência. Foi professor visitante da Universidade de Bolonha na Itália, da Univer-sidade de Aarhus na Dinamarca e lecturer da Universidade de Palackeho, Omoluc, na República Checa. Sua produção acadêmica nas várias modali-dades é de mais de 340 trabalhos publicados e em 1977 ganhou o Prêmio Jaboti de melhor livro na área de ciência e tecnologia. Atua em ensino e pesquisa na área de Ciências Sociais, com ênfase em Gestão e Políticas de Ciência e Tecnologia, Políticas Públicas, Desenvolvimento Rural e Regio-nal, Capital Social e Valores para a Cooperação Produtiva, procurando en-focar as determinantes e condicionantes de intervenções desenvolvimen-tistas na esfera do Estado e na esfera da sociedade civil.

Daniel Baiardi é formado em Filosofi a pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Filosofi a pela Universidade de São Pau-lo (USP) com ênfase em Epistemologia e Filosofi a da Ciência (2008). Doutor em Filosofi a pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) com estágio PDSE/CAPES na Universidade Estadual da Pensilvânia (PSU). Atua principalmente nos seguintes temas: Filosofi a da Ciência, Prag-matismo, Tipos Naturais e Semiótica. Lecionou no Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), no Campus de Seabra, e no Departamento de Filosofi a da Universidade Federal da Bahia (FFCH-UFBA). Atualmente é professor de Filosofi a do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA).

Este livro foi composto na fonte Garamond, corpo 12/14 e editorado

no InDesign CC. Impresso em papel Off Set 90g. na Egba- Empresa Gráfi ca da Bahia

Salvador, 2016