livro a pesca no amazonas: problemas e soluções 2ª edição

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Apresentação

Quando em 1985 publicamos este trabalho, a nossa idéia foi apresentar os

principais problemas do Setor Pesqueiro e as alternativas de soluções. Realmente essa foi a nossa intenção. Queríamos provocar a atenção de todos para

as dificuldades, acordar os responsáveis direta ou indiretamente pelas decisões, de tal modo à não se perder mais tempo com soluções paliativas demagógicas.

Infelizmente, 10 anos depois, quase nada mudou. Os problemas até se agravaram. O peixe continua caro e escasso.

Incentivado por amigos estou publicando esse trabalho, atualizado, na esperança de um novo tempo. Continuarei na luta até o dia em que as nossas autoridades se conscientizarem que a maior dádiva que a natureza deixou para nós amazonenses, o peixe, tenha tratamento prioritário.

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Introdução

Há muito tempo ouvimos falar da importância que os governos se propõem a dar

para o Setor Pesqueiro. O Governo Federal, apesar da criação da Superintendência do Desenvolvimento da Pesca-SUDEPE, em 1962, sentia que a pesca não acompanhava o desenvolvimento de outros países e até mesmo dos outros setores da economia brasileira. Por isso, a partir de 1967, através da criação dos Fundos de Investimentos Setoriais, tentou estimular o Setor Pesqueiro oferecendo incentivos fiscais.

Acontece que o avanço tecnológico e os atrativos fiscais basicamente se concentravam na pesca litorânea. Nos Estados interiores e, por incrível que pareça, principalmente no Amazonas, nada ou quase nada se faz para melhorar as atividades pesqueiras.

Em governo algum sentimos concretamente uma ordenação da política pesqueira. A antiga SUDEPE-AM, infelizmente, por problemas diversos, políticos e econômicos, não conseguia se afinar com os responsáveis pelo abastecimento e a produção no Estado. Hoje, com o IBAMA ainda não existe programação ou planejamento para resolver os problemas do pescado; existem soluções paleativas, demagógicas e que prejudicam a atividade, porque mascaram os custos e desanimam os produtores e futuros investidores do Setor.

Quando menino, já acostumávamos ouvir pronunciamentos inflamados de candidatos e nunca se fazia referência à pesca. O peixe aqui estava, abundante e não era motivo para preocupação. Não deveria se esgotar. A natureza encarregar-se-ia de promover o equilíbrio das espécies, o povoamento de nossos lagos e rios. Vinha sendo assim há muitos séculos e os homens públicos tinham coisas mais importantes para pensar.

As primeiras manifestações de preocupação com a pesca, que merecem respeito, começaram no final dos anos setenta. A partir de então lemos com freqüência pronunciamentos de políticos, pareceres de técnicos em programas de governo, tais como "a pesca detém relevante papel na vida sócio-econômica estadual, pois as relações da população com essa atividade são de quase total dependência". (CEPA - Projeto de Apoio à Pesca, 1982).

O peixe hoje faz parte de qualquer plataforma eleitoral. Inúmeros têm sido os posicionamentos de políticos sobre a pesca predatória, defesa do consumidor, guerra aos atravessadores, fim dos despachantes e outros assuntos que apaixonam a opinião pública e contabilizam votos. Mas, infelizmente, fica somente nisso. O peixe nunca lhes faltou à mesa. Durante nossa permanência na SUDEPE até 1984 nunca recebemos visita de um político interessado em resolver os problemas da pesca. No entanto, de quando em vez os noticiários são ocupados por críticas agressivas, sem contudo oferecerem sugestões. É bastante fácil e dá maior "ibope" atacar os despachantes, os atravessadores ou os fiscais de pesca, que oferecer soluções ou ajudar na busca dessas soluções.

Temos certeza de que, se procurassem conhecer essas discutidas figuras, veriam que, apesar de tudo contribuem, a seu modo, principalmente pela omissão do Poder Público, para que não falte o peixe à mesa do amazonense.

O Governo do Professor, José Lindoso, em sua visão de homem preocupado em fazer história, rejeitou um projeto elaborado pela SUDEPE, em 1977, para construção do Terminal Pesqueiro de Manaus. Os recursos estavam alocados e a área definida. O Governo achava que o problema da pesca no Amazonas não estava somente na falta de um Terminal Pesqueiro em Manaus. A solução deveria ser abrangente, atacando de uma

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só vez todos os segmentos: captura, frigorificação, salga, comercialização, extensão pesqueira e piscicultura.

Concordamos. Todavia não entendemos porque não se construiu o Terminal Pesqueiro com recursos a fundo perdido e se preferiu pedir dinheiro emprestado ao BNDES, para execução de um novo projeto do próprio governo Estadual que acabou também não sendo construído. Que se construísse o Terminal Pesqueiro com os recursos da SUDEPE e para as outras obras se solicitasse financiamento ao BNDES. O interessante é a história continuar se repetindo. Os esquemas continuam funcionando. Devem as coisas ficar como estão: assim "todos" ganharão mais.

Os amazonenses teimam em não reconhecer que o peixe é a nossa principal vocação. Os nossos dirigentes preferem inventar novas opções, deixando escapulir por entre os dedos aquilo que a natureza nos deixou.

A Amazônia representa para o Brasil uma esperança na produção de alimentos. O Estado do Amazonas muito poderia contribuir nessa produção. As nossas várzeas são férteis e precisam ser exploradas "racionalmente", com planificação, sem querer inventar, plantando o que realmente temos vocação e necessidade, não esquecendo que só temos acesso às "restingas"que margeiam os nossos rios.

A potencialidade de nossos 45.000 km de rios também poderia ser melhor administrada. Os recursos pesqueiros do Amazonas, se manejados convenientemente, ofereceriam pescado em abundância para consumo interno e para exportação. Basta para isso que se leve a sério a atividade pesqueira e não nos esqueçamos de que o peixe é um recurso natural facilmente renovável, desde que bem administrado.

Dispõe o Estado do Amazonas, 2.189.457 habitantes, distribuídos em 62 municípios, com uma área total de 1.558.987 Km2. A distribuição dessa população é muito irregular. Manaus, com 1.115.414 habitantes, representa 51% da população do Estado. A população rural, distribuída esparsamente, tem maior concentração na microrregião 10, Baixo-Amazonas, exatamente a mais desenvolvida. Nessa área encontram-se localizadas, além de Manaus, as maiores cidades do interior amazonense: Itacoatiara, Manacapuru, e Parintins. (1)

As demais microregiões são de densidade demográfica muito pequena, ocasionada principalmente pela falta de opções econômicas.

Com a crise da borracha, levas e mais levas de seringueiros, em sua maioria nordestinos, abandonaram os altos rios em busca de centros populacionais para conseguirem a sobrevivência.

Os nossos seringais foram abandonados e os seringalistas, em sua grande maioria, procuraram vender suas propriedades para grupos do Sul, interessados em projetos agroindustriais ou agropecuários.

A partir de 1973, com a crise do petróleo, a produção de borracha sintética apresentou um aumento de custo incompatível com os países dependentes de importação de petróleo. O Brasil, através da criação do PROBOR (PROGRAMA DE INCENTIVO À PRODUÇÃO DE BORRACHA NATURAL) tentou sem êxito, retornar a posição de grande produtor de borracha natural. Com esse instrumento alguns seringais foram repovoados e novos projetos para seringais de cultivo foram implantados. Todavia, ficamos ainda, muito aquém dos objetivos preconizados, apesar do gigante esforço desprendido pela Superintendência do Desenvolvimento da Borracha (SUDHEVEA).

Esse esforço para repovoamento dos seringais talvez tivesse surtido efeito se não houvesse o fascínio que as cidades exercem sobre as populações do interior e os "empresários" do asfalto tivessem levado a sério às intenções do Governo Federal.

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A criação da Zona Franca de Manaus aumentou a tendência do interiorano de abandonar a sua terra em busca de "melhores" condições de vida. Contribuíram para isso a educação acadêmica que recebe, totalmente inadequada para a Região, a falta de uma política voltada para o interior e os preços desestimulantes para a pouca produção do setor primário. Por todas essas razões, nos municípios com maior densidade populacional temos encontrado problemas seríssimos envolvendo pescadores e ribeirinhos.

Ocorre que, com o aumento da população de Manaus principalmente pela falta de estrutura nesta capital para desembarque, estocagem e comercialização de pescado, temos períodos de abundância, com preços acessíveis aos consumidores e não remunerando muitas vezes aos produtores e período de escassez quando os preços atingem patamares absurdos.

Em 1982, com a enchente atingindo a cota de 27,94m os igapós e cabeceiras dos rios, onde os peixes ficavam protegidos e com maior abundância de alimentos, transbordaram provocando a saída das espécies, aumentando, em conseqüência, as facilidades de captura, fazendo com que a produção ultrapassasse as 30 mil toneladas, mesmo levando-se em consideração a falta de interesse dos pescadores em capturá-los no período abril/junho, pelo preço não remunerado, ausência de compra pela indústria e falta de estrutura de frigorificação à disposição dos armadores de pesca.

De 1984 em diante, infelizmente não temos dados oficiais sobre a produção de pescado, já que os controles de desembarques, ontem executados pela SUDEPE, hoje foram pelo IBAMA desativados, entretanto, em 1992, dez anos depois, o fenômeno se repetiu.

O consumo de pescado per capita do amazonense, o maior do Brasil, que já ultrapassou 56 kg/ano vem decrescendo em razão dos preços proibitivos, chegando-se a pagar por um quilo de peixe nobre, Tambaqui e Pirarucu, mais caro que por um quilo de carne de primeira. O consumo per capita do nosso caboclo do interior já chegou a ultrapassar 150 kg/ano, o que demonstra claramente que o peixe é o principal alimento do amazonense. Hoje, o peixe tem no frango importado do sul do Brasil, um sério concorrente até mesmo no interior do Estado.

Analisando-se a produção do pescado desembarcado, observa-se que vinha se mantendo na mesma média anual, razão pela qual os preços dos peixes nobres e especiais têm subido, uma vez que o consumo, em face da "inchação"de Manaus, tem aumentado assustadoramente. Em compensação os preços dos peixes de 3a Categoria têm épocas que praticamente são doados pelos pescadores, já que o valor cobrado pelos despachantes não cobre sequer as despesas com o diesel usado pelos barcos que chegam a vender um cento de jaraqui por mil cruzeiros, como ocorreu no mês de maio/92, não somente em Manaus mas em todo o Estado do Amazonas.

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PRODUÇÃO DESEMBARCADA E CONTROLADA NO ESTADO DO AMAZONAS

FONTE: SUDEPE – AM

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AS ESPÉCIES

O Estado do Amazonas, segundo Wolfang Junk, tem mais de 2.000 espécies de

peixes, agrupados em dois tipos: COMESTÍVEIS e ORNAMENTAIS. Sem sombra de dúvida somos possuidores da mais rica fauna ictiológica do

mundo. Possuímos uma verdadeira jazida de proteínas, mas infelizmente não estamos sabendo explorá-la.

PEIXES COMESTÍVEIS Das espécies de peixes, usados na alimentação humana e que habitam o nosso

emaranhado de rios e lagos, menos de 50 são exploradas comercialmente. Os peixes comestíveis são classificados em quatro categorias, de acordo com a

preferência dos consumidores.

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ESPÉCIES DE PEIXES COMESTÍVEIS QUE TÊM MAIOR VALOR COMERCIAL, COM SUA CLASSIFICAÇÃO POR ESPÉCIE

NOME VULGAR

NOME CIENTÍFICO

CATEGORIA

Acará-Açu Pescada Tucunaré

Astronutos oceallatus (Cuvier) Plagioscion esquamosissimus (Beckel) Cichla ocellaris (Schneider)

Especial Especial Especial

Matrinxã Tambaqui Sardinha Pacu Pirarucu

Brycon hilarii (Valencíennes) Colossoma macropomum (Spix) Triportheus angulatus (Spix) Metynnis hypsauchen (Mueller & Troschel) Arapaima gigas (Cuvier)

1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria 1a Categoria

Curimatã Aracu Jaraqui Pirapitinga Branquinha

Prochilodus nigricans (Agassiz) Leporinus fasciatus (Bloch) Prochilodus insigniss (Schomburgk) Colossoma bidens (Cope) Anodus laticeps (Valenciennes)

2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria 2a Categoria

Surubim Dourado Jandiá

Pseudoplatystoma fasciatum (Linnaeus) Brachyplatystoma flavicans (Castelnau) Rhandia schomburgkii (Bleeker) Brachyplatystoma vaillantii (Valencieennes)

3a Categoria 3a Categoria 3a Categoria 3a Categoria

Piraíba Brachyplatystoma filamentosum (Lichtenstein) 3a Categoria

Essa classificação hoje precisa ser revista. Os novos hábitos incorporados à

população, trazidos a partir da implantação da Zona Franca, com a chegada de pessoas de outras regiões do Brasil e do mundo, com certeza fizerem com que o Pirarucu fosse considerado como especial e os peixes lisos (bagres) deixassem de ser de terceira categoria. O filé de peixe de pele (lisos) está freqüentando as cozinhas dos melhores restaurantes e das mais ricas residências de Manaus. O Tambaqui, até pelo seu preço, tem que ser considerado especial.

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O amazonense precisa adquirir novos hábitos alimentares, consumir outras espécies de pescado. Alguns de nossos peixes são consumidos, aqui mesmo no Amazonas, por estrangeiros ou brasileiros de outros Estados e causam admiração e espanto aos nossos conterrâneos. Um dos fatores que limita o consumo de algumas espécies é a grande quantidade de espinhas que possuem. As classes mais abastadas normalmente não procuram os peixes com muitas espinhas, pelos riscos que elas representam, principalmente às crianças.Como solução costuma-se "ticar" os peixes, de forma que as espinhas sejam todas cortadas em minúsculos pedaços e possam ser ingeridas sem dificuldade. Essa operação para quem não tem prática é demorada e nada agradável.

Seria interessante que se desenvolvesse um método industrial, que possibilitasse "ticar" mecanicamente os peixes, a exemplo das máquinas de descascar camarões. Outra fórmula seria o trituramento e cozimento das espécies hoje não aproveitadas, transformando-se em filés ou postas. Muitas seriam as espécies que poderiam ser aproveitadas nesse processo, mas damos ênfase a Piracatinga (Callothysus macropterus) pequeno bagre que está se constituindo num problema para os pescadores face à grande quantidade existente em nossos rios e à sua voracidade, além dos peixes que vêm nas redes, capturados juntamente com os do cardume (fauna acompanhante), que são jogados fora, como peixe-cachorro e o próprio Jaraqui, por sua abundância. Estas espécies também poderiam ser utilizadas como matéria-prima de pequenas indústrias que se dedicassem a produção de produtos tais como: fish-burguer, lingüiça de peixe, peixe em conserva e "delicatessem", produtos esses que acreditamos ter mercado garantido a nível nacional e que se constituiriam uma atração para os turistas que visitam Manaus.

Vale salientar que o INPA, em convênio com a SUDEPE à época, desenvolveu estudos a esse respeito, obtendo resultados positivos restando somente divulgação e uma ação concreta do Governo do Estado que incentive a implantação dessas indústrias.Como exemplo citamos o tratamento que hoje algumas indústrias dão aos camarões de água doce (Macrobrachium amazonicus): após serem cozidos e prensados são transformados em camarões grandes, com sabor de camarão marinho e exportados para o exterior. Esse mesmo método poderia ser utilizado para preparar filés, almôndegas e bifes de peixe não comercializados ou das espécies menos nobres como Jaraqui, Curimatã e Branquinhas.

Uma das formas de aproveitamento de outras espécies não conhecidas.e até mesmo do excedente de jaraquis e outros peixes populares, seria a fabricação de farinha de peixe ou Piracuí.de Concentrado Proteico de Peixe (peixe em pó) e especialmente de peixe em Flocos para a alimentação escolar. Os peixes sem valor comercial, caputados juntamente com os cardumes, seriam transformados por pequenas fábricas desses produtos e vendidos a Merenda Escolar para a alimentação de nossos estudantes. O Peixe em Flocos, popularíssimo na Ásia, principalmente entre a população infantil, poderia ser produzido até mesmo nas escolas, usando-se dos utensílios básicos da cozinha ao moderno equipamento industrial.

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CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES DE MAIOR VALOR COMERCIAL

1 - PESCADA É um Sciaenidae que pode atingir até 65 centímetros. Carnívoro que habita os

ambientes calmos. Vive normalmente em abrigos de pedras, permanecendo no fundo pela manhã e saindo a procura de alimentos pela parte da tarde. A noite vive nas proximidades das praias e embocaduras dos rios.

É pescado, de setembro a novembro, época em que os cardumes são maiores. A pesca é feita com rede de arrastão, malhadeiras e anzol. A pesca com anzol, quase sempre usando-se camarão como isca, efetuada com linha-de-mão e na "boca" dos rios, é das mais interessantes e divertidas.

2 –TUCUNARÉ Peixe dos mais bonitos e saborosos do Amazonas de coloração prateada, carregada

de pigmentos de cor sépia no dorso, com três barras transversais sobre os flancos, nadadeira dorsal escura com manchas circulares amarelo-brancacentas, e olho negro marginado de amarelo na base de nadadeira caudal, vive em águas calmas e remansos. A exemplo da Pescada, é carnívoro e se alimenta principalmente de insetos e pequenos peixes. Pode atingir até 80 centímetros e doze quilos de peso. A sua maturidade se completa entre 11 e 12 meses, com desova mais freqüentemente de julho a dezembro.

Peixe agressivo, faz com que ainda se mantenha a pesca tradicional, com anzol, pinauaca e currico.

Atualmente, para a sua pesca está sendo muito usado como isca, pequenos peixes vivos fisgados em anzóis com linha comprida.

A captura fica acentuada no período da vazante dos rios, de agosto a dezembro, contribuindo, inclusive para um grande aumento da pesca turística amadora, principalmente nos rios de águas pretas, como o NEGRO e o UATUMÃ.

3 - ACARÁ-AÇU Cichlidae de hábitos similares ao tucunaré. Conhecido em outras regiões como

APAIARI. De tamanho pequeno, atingindo em média 15 cm e 500 gramas de peso. Espécie de abundante cria. Desenvolve-se rapidamente em águas calmas,

atingindo a maturidade entre 10a 12 meses. A sua desova é parcelada sendo que, em ambientes controlados, pode ter três desovas por ano. Cuida muito bem de sua prole, chegando a guardar os filhos na boca quando ameaçador Preferindo os ambientes calmos, a alimentação é composta em boa parte por insetos.

4 – MATRINXÃ Peixe de dentição forte, carne saborosa que atinge até 50 cm de comprimento.

Prateado com nadadeiras caudal e anal lavadas de vermelho. Habitam águas limpas e a sua pesca se faz com redes e anzol com iscas de frutas e carne de outros peixes.

Habitante das "cabeceiras" dos rios, desce em "piracema" no período da enchente. Sua alimentação onívora é preferencialmente carnívoro, faz com que seu conteúdo em

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graxas situe- se entre moderado e fraco. A sua captura, com anzol e espinhei, antes importantes, atualmente pouco representa na comercialização em Manaus.

5 – SARDINHA Peixe de pequeno porte, que não ultrapassa 20 cm de comprimento. Tem como

alimentação básica os microrganismos da própria água. Vivem em cardumes e tem oscilação relativa no desembarque em Manaus, aparecendo com maior quantidade no período de Agosto a Novembro.

6 – TAMBAQUI Caracídeo. É um peixe muito abundante, atingindo até 80 cm de comprimento por

35 cm de largura, com 30 kg de peso. Apresenta as escamas pretas ou amareladas, dependendo da região onde habita e da alimentação predominante. A sua alimentação é onívora, nela predominando as frutas das matas ciliares. Pequenos peixes, crustáceos e insetos constituem a sua complementação alimentar. Mais de 80% de sua pesca é efetuada com redes. Presente nos mercados da região durante todo o ano, tem o preço mais caro das espécies amazônicas. Representa, hoje, a melhor opção dos piscicultores já que habita os açudes de todas as regiões do Brasil. De uma só desova pode-se produzir mais de 350.000 alevinos.

7 –PACU De tamanho entre 20 a 30 cm, possui hábitos alimentares semelhantes ao

TAMBAQUI. Caracídeo ovalado de coloração prateada e rico em gorduras. Os seus cardumes apresentam espécies de tamanhos variados o que faz com que os

pescadores que usam redes selecionem os menores jogando-os de volta ao rio. Já "sambados", são levados às margens em relativa quantidade gerando o desperdício condenado pelas populações ribeirinhas e principalmente pelas "organizações de defesa do peixe" ligadas a partidos políticos e/ou a Igreja Católica.

8 - PIRARUCU (Peixe vermelho) Peixe de grande porte, os exemplares adultos chegam a atingir 2,00m de

comprimento, pesando até 120 kg. Habita, normalmente os Lagos Amazônicos, alimentando-se de peixes, insetos e vermes fluviais. É o maior peixe de escamas do Brasil. De desenvolvimento lento, alcança a maturidade sexual após o quinto ano de vida. No início da enchente, de novembro em diante, busca os lugares de águas rasas para preparar seu ninho, ou "panelas" como chamam os pescadores. Chega a desovar até 50.000 óvulos.

A carne fresca, salmorada, salgada ou seca é muito saborosa. A língua é usada para ralar o guaraná e as escamas para lixar as unhas. Os pescadores afirmam que os adultos dão proteção aos filhotes que sempre

acompanham o pai. Costuma defender os filhos escondendo-os na boca. Os jacarés e as piranhas são os seus maiores predadores.

A sua captura realiza-se cerca de 50% com redes e 15% com malhadeiras, ainda persistindo a pesca com arpão e anzol.

Tem sua pesca regulamentada, com proibição no período de outubro a março.

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9 – CURIMATÃ Peixe que pode atingir 50 cm e 6 kg de peso. A sua alimentação principal é

constituída de substâncias orgânicas depositadas por gravidade nas águas, o que dificulta a sua captura com iscas e anzol.

Peixe de grande fecundidade com desova que pode atingir 1.000.000 de ovos por espécie.

Está sendo usado na piscicultura como "faxineiro", responsável pela "limpeza" dos açudes, tanques ou gaiolas.

10-ARACU Espécie de peixe com tamanho variando entre 30 e 40 cm, podendo, seu peso

atingir os 2,5 Kg. Peixe de piracema, considerado de segunda categoria. 11 – PIRAPITINGA Da mesma família do Tambaqui, seu "primo", pode atingir 50 cm de comprimento

e com os mesmos hábitos de seu parente mais próximo. 12 – JARAQUI Considerado parente do Curimatã, com quem se parece muito. É o peixe mais

conhecido dos amazonenses. Tem dois tipos: escama fina e escama grossa. Estes últimos chegam a medir 45 cm e pesar mais de 3 kg.

Peixe de piracema, sua migração se realiza de dezembro a julho. É um dos peixes que mais se reproduz e que forma os maiores cardumes,

principalmente na época da vazante dos rios. Tem hábitos alimentares semelhantes ao do Curimatã.Ostenta na cauda listras

amarelas que lhe dão uma característica especial e o carinhoso apelido de "brasileirinho".

13-BRANQUINHA Peixe de segunda categoria, com até 18 cm. Não tem muita representatividade na

comercialização e não agrada muito aos consumidores. Tem escamas prateadas e muito miúdas.

14-SURUBIM Peixe de pele (Bagre) de grande dimensões, podendo freqüentemente atingir

comprimento de mais de 1,50m, havendo informações de que algumas espécies capturadas atingiram os 3 metros.

Carnívoro por excelência. 15-PIRAÍBA É o maior "peixe liso" ou peixe de pele (bagre) de água doce da Bacia Amazônica,

excedendo 2,50m de comprimento e 140 kg de peso.

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Carnívoro, alimenta-se de peixes menores, sendo pescado fundamentalmente com anzol.

Quando jovem é conhecido como "Filhote". Os ribeirinhos acreditam que a Piraíba engole crianças e ataca os adultos. 16-PIRAMUTABA Bagre que tem por hábito acompanhar os cardumes de peixes em piracema. Carnívoro, alimenta-se de pequenos peixes, crustáceos e insetos. Pode atingir até

1m de comprimento e 10 kg de peso. Constitui-se um problema para os pescadores que tem suas redes destruídas pela

veracidade desses bagres que atacam os cardumes capturados. Foi responsável por considerável exportação porá os Estados Unidos,

principalmente congelada pelos frigoríficos paraenses. 17 – DOURADO Bem diferente do Dourado das outras regiões do Brasil, este bagre assemelha-se à

Piraiba embora com menor porte, atingindo no máximo 1.50m de comprimento. 18 – JUNDIÁ/JANDIÁ Bagre de menor porte, sendo pescado tradicionalmente com anzol. A sua carne é

de boa qualidade, mas como todos os "peixes lisos" é considerado de terceira categoria.

PEIXES ORNAMENTAIS

Existem em nosso Estado aproximadamente 150 espécies de peixes ornamentais.

Somente 52 são comercializadas. A SUDEPE somente catalogou 41 dessas espécies para a exportação. Destas

contribui o Amazonas com 26. Os peixes ornamentais à primeira vista podem não parecer importantes, mas

representam considerável fonte de divisas para o Estado do Amazonas. Em nosso Estado existem 9 empresas que se dedicam à Exportação de peixes

ornamentais, algumas carentes de melhor estrutura física e de orientação técnica compatível com suas atividades.

A Coordenadoria Regional da SUDEPE, cônscia dá importância desse segmento de mercado, estava montando um departamento que se encarregaria de dar as orientações técnicas necessárias e tentaria descobrir uma linha de crédito que pudesse ser utilizada por essas pequenas empresas. Com a criação do IBAMA a idéia desapareceu.

A captura de peixes ornamentais é executada por cerca de 20 pequenos barcos, cujas condições de transporte são precárias e responsáveis por uma mortalidade superior a 50% do capturado.

As principais áreas produtoras estão localizadas nos municípios de Barcelos. São Gabriel, Santa Izabel do Rio Negro e Novo Airão, todos situados no Rio Negro.

A melhor solução seria as empresas ou até mesmo um grupo de pescadores construírem um barco de tamanho razoável, equipado com bombas, que transportasse a

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produção de todos os pescadores mediante a cobrança de serviços, de tal forma que os pescadores não tivessem de vir a Manaus somente com a finalidade de entregar aos exportadores a produção.

Vejo aqui uma rara opção de investimentos na Região do Rio Negro: Fazer piscicultura, em gaiolas, com peixes ornamentais destinados ao mercado externo.

A EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS precisa receber das autoridades melhor atenção, principalmente no que se refere a quantidade e espécies exportadas. Muitas espécies de peixes comestíveis tem sido enviadas para o exterior as "escondidas" como "cardinais ou neons".

O IBAMA chegou ao absurdo de incluir a PIRANHA como peixe ornamental. O que é pior,alguns amazonenses chegaram a propor ao IBAMA que além da Piranha, Mandii, a Pirarara, o Cará-Bararuá, a Arraia, o Puraquè, a Aruanã e o Jacundá, pudessem ser exportados como ornamentais.

CARACTERÍSTICAS DAS ESPÉCIES MAIS COMERCIALIZADAS

1 - ACARÁ DISCO (Symphsom discus) Peixe de temperamento calmo e social. Atinge até 20 centímetros de comprimento.

Tem o formato redondo parecido com um disco. A sua cor varia do amarelo castanho ao marrom, dependendo de seu estado psíquico. É uma das espécies de maior aceitação no mercado nacional e internacional.

2 - ACARÁ BARARUÁ (Uaru Amphiacanthoides) O mais comum da espécie. Há quem afirme ser a sua criação em cativeiro, devido

a sua reprodução em grande escala em ambiente calmo, açudes por exemplo, ideal para consorciamento com espécies de hábito alimentar carnívoro. Tucunaré, Pirarucu entre outros. Tem a cabeça cinza escura e nadadeiras em todo o seu dorso.

3 - ACARÁ BANDEIRA (Pterophllum scalares) Peixe agressivo e anti-social que ataca as espécies menores. Popularmente são chamados de peixe-anjo. Apresentam três listras pretas verticais

sobre escamas prateadas, formando um harmonioso conjunto com suas nadadeiras e filamentos alongados.

4 - CARDINAL TETRA (Cheirodon Axeirodii) Principal espécie exportada- Pequeno e bonito peixe, dotado de um colorido

fascinante, caracterizado por uma faixa azul quase brilhante em todo o seu corpo. Felizmente não se reproduz em águas paradas, aquário por exemplo, razão pela qual ainda não perdemos o seu mercado externo.

5 - RODOSTOMOS (Hemigrammus Rhodostomus)

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Conhecido entre os ribeirinhos da Região como Cara-de-Sangue ou Tetra Nariz

Vermelho. Peixe muito pacífico que gosta de viver em comunidade. Adapta-se, nos aquários,

facilmente ao convívio com as outras espécies. Tem hábito alimentar onivoro. podendo atingir até cinco centímetros de comprimento. Seu colorido varia de verde-cinza ao amarelo-cinza.

PRINCIPAIS ESPÉCIES EXPORTADAS ANO: 1981

DENOMINAÇÃO

PARTICIPAÇÃO

RELATIVA NOME VULGAR NOME CIENTÍFICO S/VALO

R S/QUANTID

ADE Cardinal Cheirodon Axeirodii 53.11 80,54 Rodostomus Hemjgrammus Rhodostomus 5,03 6.34 Borboleta Carnegiella Strigata 1,58 2,75 Corredoras C o ry do rãs elegans 1.58 2,03 Discus Symphosodon discus 24.39 0,71 Outros 14,30 7,63

FONTE: SUDEP/PDP

MERCADO EXTERIOR EXPORTAÇÃO E PARTICIPAÇÃO NA PAUTA DO ESTADO

ANO QUANTIDADE VALOR CR$

1.000 VALOR 11$

1.000 PAUTA

1978 17.903.485 14.693 775 1.83

1979 19.352.254 26.506 934 1.53 1980 16.301.049 35.525 602 0.96 1981 15.951.624 62.346 642 1.02 1993 8.585 297 - 886 0.08

FONTE: SUDEPE/PDP/SEFAZ

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PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983

PAÍSES PARTICIPAÇÃO RELATIVA

ALEMANHA ESTADOS UNIDOS

HOLANDA OUTROS

36,83 23,19 21,01 18,97

FONTE: SUDEP/PDP

A participação relativa na pauta de exportações do Estado do Amazonas que, em 1982, representava quase 2% tem decrescido em função de nossas atividades industriais, mas de certa forma a qualidade dos Cardinais exportados, nos meses de maio/julho, não se apresentava em condições ideais, em razão de estarem os peixes ovados ou magros devido à recente desova. Esse problema foi superado com uma Portaria proibindo a captura do Cardinal nessa época do ano. Com tal medida, solicitada pelos próprios exportadores, a qualidade dos peixes nos meses subsequentes à proibição melhorou consideravelmente, permitindo preços mais lucrativos.

Os exportadores do Amazonas precisam descobrir o mercado interno, difundir o uso de aquários nos escritórios, consultórios, repartições públicas e residências.

Mas precisamos urgentemente proteger esse tipo de atividade. O comércio de peixes ornamentais está ameaçado. A maioria das espécies, as principais, não se reproduz em cativeiro. A sua reprodução terá de ser induzida. Mas infelizmente, temos notícias de que cientistas alemãs e japoneses estão trabalhando na reprodução do Cardinal em cativeiro. Precisamos contra atacar desenvolvendo estudos que nos permitam dominar a técnica de desova induzida dessas espécies o que possibilitaria a substituição do extrativismo predador por uma atividade sólida de reprodução e criação de peixes ornamentais.

Em Hong Kong já se produz o NEON espécie da família do Cardinal oriundo de Benjamin Constant, fato que acabou com o nosso mercado de exportações dessa espécie.

Pode até parecer utopia pensar em reprodução de peixes ornamentais. No mínimo parecerá uma atividade supérflua, uma vez que ainda temos alguns problemas com a reprodução dos peixes comestíveis. Quem sabe, uma vez que a tecnologia é semelhante, pelo tamanho das instalações para peixes ornamentais não seria um excelente laboratório onde faríamos as experiências que serviram de suporte para a piscicultura dos peixes comestíveis.

As tabelas que publicamos a seguir servirão de embasamento a todos que quiserem analisar essa atividade com maior profundidade, embora os dados sejam de 1983, segundo os exportadores o comércio se manteve em níveis semelhantes.

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PRINCIPAIS PAÍSES IMPORTADORES ANO: 1983

PAÍSES QUANTIDADE

PESO/KG US/FOB Cr$

ESTADOS UNIDOS 2.710.985 57.461 111.241 40.104.490, ALEMANHA OCIDENTAL

1 395.187 16.821 49.296 16.601.360,

PAÍSES BAIXOS 980.065 11.880 35.765 10.942.452, FRANÇA 280.325 3.701 8.767 2.774.508, DINAMARCA 138.772 2.237 5791 1.637.387, SUÉCIA 74.816 1.000 3.355 964914, SUÍÇA 65.974 978 2647 876.054, BÉLGICA/LUXEMBURGC

60.791 1.182 2109 729.205,

ITÁLIA 42.948 830 1976 564.123, JAPÃO 40.236 1.000 4.400 1.497.542, AGENTINA 26.296 111 3.372 1 .283.858, REINO UNIDO 22.716 476 796 227.391, CHILE 8.752 130 740 291.603, CINGAPURA 8.700 160 417 100.024, ESPANHA 8.062 162 270 70.130, PORTUGAL 5.430 02 186 73.315, NORUEGA 4.748 100 183 72.132, HONG KONG 3891 288 679 320.566, ÁUSTRIA 3.558 02 449 211.992, FINLÂNDIA 3.475 300 593 142.240, SUL AFRICANA, REP 3.200 08 352 91.429, CANADÁ 1.090 01 71 30.110,

TOTAL 5 890 044 98.799 233.455 79.606.925,

FONTE: CACEX

AEROPORTOS EXPORTADORES JANEIRO/JUNHO-1983

CIDADE/UF QUANTIDADE PESO/KG US/FOB Cr$

MANAUS/AM

5.357.812

87.658

201.921

67.182.134,

BELÉM/PA 456.996 10.609 24.386 9.970.438, R. DE JANEIRO/RJ 41.200 121 3.527 1.094.796, SÃO PAULO/SP 26.296 111 3.372 1.283.858, PORTO ALEGRE/RS 7.740 300 249 75.699, FONTE: CACEX

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PARTICIPAÇÃO RELATIVA DOS ESTADOS NA EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS JANEIRO/JUNHO-1983

PARTICIPAÇÃO RELATIVA

ESTADO

S/ QUANTIDADE

S/VALOR AMAZONAS 90,96 84,39

PARÁ 7,76 12,52 RIO DE JANEIRO 0,70 1,38 SÃO PAULO 0,45 1,61 RIO GRANDE DO SUL 0,13 0,10

FONTE: CACEX MERCADO INTERNACIONAL EXPORTAÇÃO DE PEIXES ORNAMENTAIS

EM 1983

PAÍSES/IMPORTADOS

QUANTIDADE (n)

VALOR (US$)

Alemanha 3.583.076 296.388,20

Áustria 5.912 362,00 Bélgica 112.893 4.524,00 Chile 8,752 740,00

Dinamarca 359.618 14.166,00 Espanha 20.762 827,00 Finlândia 30.431 2.365,00

França 590.930 22.636,50 Holanda 2.306.421 92.141,10

Hong Kong 6.201 1.569,00 Inglaterra 43.834 1.762,00

Itália 45.830 2,411,00 Japão 40.293 4.400,00

Noruega 7.339 308,00 Peru 36.575 3.925,00

Portugal 2.169 104,00 Singapura 32.584 1.222,00

Suécia 218.254 9.238,00 Suíça 131.554 5.093,00

Taiwan 640 640,00 U. S. A. 5.297.399 220.501,50

TOTAL 12.881.467 685.323,30 FONTE: SUDEP/AM

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FATORES DE PRODUÇÃO

O Estado do Amazonas, sem sombra de dúvidas, possui as condições ideais e indispensáveis para um grande produtor de pescado.

A sua localização em região equatorial, com clima do tipo Am na classificação de Kopper, com todos os seus dias geralmente cálidos, proporciona a temperatura ideal para a reprodução de animais aquáticos.

A insolação recebida no Amazonas chega a ser superior a 2.000 horas anuais, fazendo com que a temperatura média seja de 27° C.

Somando-se a esses dados a umidade realtiva do ar, em média de 85%, e a precipitação pluviométrica anual variando entre 1.600mm e 2.800mm, concluímos ser a Amazônia, e em especial o Amazonas, o paraíso dos animais que vivem nas águas.

Em nosso emaranhado de rios, paranás, lagos, igarapés, furos e igapós, vivem mais de 2.000 espécies de peixes, das mais exóticas possíveis e desconhecidas, as mais famosas e admiradas por todo o mundo.

Embora com tamanha potencialidade, somos deficientes de recursos financeiros e técnicos que nos possibilitem explorar racional e economicamente essa riqueza. Somos dependentes de vícios tradicionais que impossibilitam melhor desempenho do Setor Pesqueiro.

Para as atividades da pesca os recursos não estão disponíveis na proporção de sua importância. Os bancos oficiais não oferecem recursos para o Setor com os mesmos atrativos que oferecem ao comércio e as indústrias. Reconhecemos as dificuldades de oferecer garantias, principalmente pelos pescadores artesanais, ou seja, aqueles que não possuem equipamentos sofisticados para a pesca: seus barcos são simples "geleiros".

No Amazonas a rede de bancos particulares não opera na pesca e limita-se a operações de empréstimos a alguns despachantes de pescado, conhecidos depositantes com saldo médio invejáveis. O Banco do Brasil dispunha de um teto mínimo dentro da própria Carteira de Crédito Rural, com recursos para todo o País numa ordem de Cr$ 2,5 bilhões em 1983. E, por incrível que possa parecer, teve dificuldades de aplicação no Amazonas, principalmente em Manaus, face a ausência de interessados realmente pescadores. Normalmente, em Manaus, os despachantes tomam dinheiro emprestado na rede particular e financiam o custeio dos barcos de pesca.

A SUDEPE, até 15.10.84, dispunha de um programa de crédito, PROPESCA, cujo agente financeiro era o Banco Nacional de Crédito Cooperativo - BNCC, com principal objetivo de renovar a frota pesqueira nacional e incentivar a criação de peixes e crustáceos. Infelizmente os financiamentos que foram liberados para o Estado do Amazonas não atingiram totalmente os objetivos. Foram construídos novos barcos, mas com as mesmas características e os mesmos problemas dos já existentes, ou seja com as caixas de gelar sem divisões e sem melhor aproveitamento da capacidade de carga dos barcos.

Com a nova Constituição de 1988, foi criado o FNO, Fundo Constitucional do Norte e âmbito estadual o FMPE - Fundo de Fomento a Micro e Pequena Empresa, que entre os seus objetivos figura o financiamento a pesca artesanal e a piscicultura. Poucos são os projetos financiados por esses Fundos, até porque qualquer projeto de piscicultura no Amazonas esbarrava na mais elementar das dificuldades, pasmem: não produzíamos alevinos.

Quanto à criação de peixes, os poucos projetos financiados não estão surtindo os efeitos desejados pelas dificuldades de obtenção dos alevinos, falta de seriedade de alguns piscicultores e recursos com custo muito elevado.

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Dispunha ainda a SUDEPE de um instrumento de financiamento, o Fundo de Investimento Setorial - Pesca (FISET - Pesca), constituído de incentivos fiscais, que no Estado não conseguiu financiar um projeto sequer. As razões que levaram a esse desinteresse são principalmente a estrutura familiar das empresas de pesca, temerosas de perder o controle de seus empreendimentos, já que passariam a ser sociedades de capital aberto, e o desinteresse dos empresários de outras atividades em investir numa área não considerada como nobre. A mão-de-obra utilizada na pesca no Amazonas pode ser classificada em pescadores ribeirinhos e pescadores profissionais.

Os pescadores ribeirinhos são aqueles residentes no interior do Estado que fazem da pesca sua principal atividade, porém não possuem nenhum vínculo com Colônias ou Associações de Pescadores e quase sempre não estão registrados no IBAMA e Capitania dos Portos. Normalmente são ligados umbilicalmente a pequenos comerciantes por quem são financiados e para quem vendem as suas produções. Em sua grande maioria dedicam-se à pesca do pirarucu e peixes de pele (lisos). Eles defendem rigorosamente a proibição da pesca nos lagos vizinhos, não com intuito de preservar, mas tão somente de não dividir com os pescadores de outros municípios o pescado que poderão conseguir independente de proibições ou épocas de captura. Ainda como ribeirinhos são enquadrados aqueles que pescam regularmente para o sustento de suas famílias, usando apetrechos modestos, e que vendem as sobras para a própria comunidade.

Os pescadores profissionais vivem exclusivamente da pesca, mas são ligados, ou deveriam ser, às Colônias ou Associações de Pescadores, e registrados no IBAMA e Capitania dos Portos. Podem ser subdivididos em dois grupos: Motorizados e não motorizados.

No grupo dos motorizados estão os pescadores que compõem as tripulações das embarcações de pesca e que por lei deveriam estar filiados às instituições de classe e ao IBAMA.

Infelizmente isso não ocorre e uma grande maioria não possui nem mesmo uma simples Certidão de Idade.

Além do grupo dos motorizados, existem os pescadores profissionais de canoas: pescam individualmente ou em pequenos grupos com apetrechos pequenos, tais como caniços, tarrafas, arpões, zagaias, pequenas malhadeiras ou redes, e vendem a produção nas pequenas cidades do interior. Um bom exemplo são os pescadores de Itacoatiara, que executam suas atividades no Lago do Canaçari, e aqueles que pescam bem próximo à própria cidade.

Tanto em Itacoatiara como em Parintins, Tefé, Coari e Tabatinga, alguns pescadores se reúnem em grupos, alugam um barco e saem para pescar individualmente. A produção de cada um é transportada em conjunto e comercializada individualmente.

Estima-se que no Amazonas existem aproximadamente 40.000 pessoas vivendo exclusivamente de pesca.

Segundo os órgãos que trabalham com a pesca no Amazonas, Federação dos Pescadores, IBAMA/AM e EMATER/AM, os pescadores estão distribuídos conforme os quadros seguintes:

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PESCADORES PROFISSIONAIS DO AMAZONAS

COLÔNIA/ASSOCIAÇÃO

MUNICÍPIO

N° DE PESCADORES

Colônia de Pescadores Z - 12

Manaus

2.346

Colônia de Pescadores Z - 17 Parintins 775 Colônia de Pescadores Z - 16 Maués 517 Colônia de Pescadores 2-13 Itacoatiara 436 Colônia de Pescadores Z - 09 Manacapuru 632 Colônia de Pescadores Z - 04 Tefé 394 Associação de Pescadores Barreirinha 317 Associação de Pescadores U rucará 041 Associação de Pescadores Coari 332 Associação de Pescadores Boca do Acre 276 Associação de Pescadores Tabatinga 703

TOTAL

6.769

FONTE. FEDERAÇÃO DOS PESCADORES DO ESTADO DO AMAZONAS

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PERFIL DOS PESCADORES AMAZONENSES REGISTRADOS NO IBAMA Cadastrados - Embarcado 1.104 - Desembarcado 24 1.128 Instrução

- Não alfabetizados 115

- Semi alfabetizado 258

- 1° Grau incompleto 627

- 1° Grau completo 96

- 2° Grau incompleto 11

- 2° Grau completo 21 1.128 Sexo

- Masculino 1.121

- Feminino 07 1.128

Possuem Embarcação

- Sim 473

-Não 655 1.128

Vínculo Empregatício

- Autônomo 1.126

- Contrato 02 1.128

Possuem Embarcação

-Sim 473

-Não 655 1.128

FONTE: IBAMA/AM

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POTENCIALIDADE - ESTOQUE PESQUEIRO

Demais se tem discutido no Amazonas o nível atual de nosso estoque de pescado.

Muitos acreditam que a nossa ictiofauna tem sofrido nos últimos anos decréscimo razoável em seu estoque. Alegam que tempos atrás os barcos pesqueiros não precisavam viajar por mais de sete dias para carregar suas "geladeiras". Alegam, ainda, que hoje os pescadores têm dificuldades de encontrar cardumes dos peixes chamados especiais e de primeira categoria, mesmo nos rios e lagos mais distantes, e completam afirmando que, quando encontram,na maioria das vezes são peixes que não atingiram a idade de reprodução.

Caso típico do Tambaqui que dificilmente é encontrado com mais de 15 quilos. Outros, todavia, argumentam e defendem que os peixes, em virtude do barulho das

cidades e do tráfego crescente em alguns rios, simplesmente se refugiaram nos locais mais distantes e isolados, onde encontram alimentos suficientes e melhor proteção.

Ficamos com os primeiros, e baseados nas nossas observações de homem nascido no interior, feito a ouvir os mais velhos e experientes, principalmente o mestre em assuntos amazônicos, o nosso caboclo; ele costuma dizer que os nossos peixes estão desaparecendo.

Realmente estão, não para se esconder. O desaparecimento em virtudes de nosso atual esforço de pesca e de ausência de providências que possam proteger a época de reprodução.

O pescador tradicional em suas observações acredita que está havendo redução de estoque. As causas mais aparentes dessas diminuições de estoque são a proliferação dos predadores, normalmente não combatidos, como o boto, o mergulhão e os peixes lisos; a impossibilidades de atingir a idade de reprodução em algumas espécies, em particular o Tambaqui, e principalmente a pesca de peixes em época da piracema para desova.

Apesar de tudo isso não podemos definir o nosso estoque baseado em observações científica. Não existe trabalho de pesquisa sobre o assunto. Não se faz até hoje um acompanhamento da migração das espécies. As dificuldades de obter essas informações são muitas e vamos conviver com elas por longos tempos.

Os únicos dados de que dispomos são os que nos foram fornecidos pela SUDEPE até 1983 e que dizem respeito ao desembarque de pescado nos principais municípios amazonenses, inclusive em Manaus. Esses dados, coletados por funcionários da SUDEPE e das colônias, através de informações verbais dos pescadores, não espelham a realidade e servem somente como indicadores da produção e da produtividade. O IBAMA que substituiu a Sudepe acabou com isso.

Analisando-se o gráfico da produção desembarcada em Manaus (página 19), observa-se que a produção, no período de 1979 a 1983, oscila em torno de 30 a 40 mil toneladas. À primeira visita poderíamos ter uma idéia de estabilização, no entanto, se atentarmos para o fato de que o esforço da pesca tem aumentado consideravelmente, não somente pela entrada de novos barcos na pesca, mais de 300 nos últimos anos, mas também pelo aumento do contingente de pescadores em conseqüência do excedente de mão-de-obra no interior não aproveitada na agricultura e pela difusão de aparelhos de pesca mais eficientes tais como as malhadeiras de fio sintético e as grandes redes de cerco, concluiremos que precisaríamos no mínimo ter duplicada a produção para acompanharmos o crescimento populacional de Manaus. Isso não ocorre por várias razões, a principal hoje é realmente a diminuição assustadora de nosso estoque pesqueiro. Mesmo assim, paradoxalmente, contrariando todas as leis econômicas,

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continuamos irresponsavelmente desperdiçando pescado em grandes quantidades como, aliás, se faz com outros alimentos no Brasil.

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ANOS 1979 1980 1981 1982 1983

MUNICÍPIOS

MANAUS 24.575 19.210 21.304 24.252 38.546

TABATINGA 1.785 2.450 2.213 2.163 2.121 ITACOATIARA 1.648 1.418 1.517 1.587 1.383

TEFÉ 1.412 925 970 1.247 1.214 COARI 900 840 1.259 1.037 1.028

PARINT1NS 836 848 765 925 920 MANACAPURU 787 1.009 1.356 1.494 1.747

MAUÉS 326 288 446 518 533

32.270 26.988 29.830 33.223 47.493

FONTE: SUDEPE/PDP e COLÔNIA Z-12 ( Manaus }

A tendência no aumento da produção demonstra claramente o aumento do esforço de captura a partir de 1980, quando se iniciou o Programa do Governo do Estado de interferência no comércio de Pescado, com a participação maior dos frigoríficos particulares, preocupados em comprar peixe barato na época de entre-safra e vender depois ao Governo por preços bastante compensadores. O fato merece profunda reflexão pelos responsáveis por essa política: não resolve o problema da população, contribui para remuneração menor dos pescadores, pois os frigoríficos compram por preços irrisórios, e serve somente para aumentar o esforço da captura e desperdiçar grande quantidade de pescado, sem ter onde ser armazenado.

No próximo capítulo, que trata da captura, poderemos observar mais alguns fatos: eles certamente ajudarão a perceber que não podemos continuar ininterruptamente pescando como estamos fazendo, sem ter de tomar providências sérias para evitar o desperdício e a exaustão de nosso estoque de peixes.

De uma coisa porém estamos certos: a política adotada pela SUDEPE, no período de 1982/84 ativando a fiscalização e principalmente proibindo a pesca em mais de 50 lagos considerados como criatórios em época de piracema para desova, contribuiu para um aumento significativo da produção neste últimos anos, fazendo com que atingíssemos níveis nunca antes alcançados, como ocorreu em maio/84.

Esse fato comprovou a necessidade de se estruturar Manaus com uma capacidade de estocagem que possibilite a instituição de períodos de defeso para nossas principais espécies e até mesmo a proibição da pesca comercial em Manaus e outros municípios que disponham de estrutura de armazenamento no período da piracema para desova (dezembro a fevereiro).

Felizmente esse brado, depois de longos anos foi adotado pelo IBAMA para algumas espécies, no entanto a falta de fiscalização resulta na inocuidade da proibição.

A solução que defendemos para eficiência dessa medida é a proibição por áreas geográficas. Cada ano se proibiria a pesca em um grande Rio e seus afluentes.

O conceito de estocagem, principalmente no interior do Estado, precisa ser revisto. Acreditamos que o armazenamento de peixes vivos em gaiolas ou tanques redes seja uma solução mais racional e que merece ser testada com seriedade.

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AS ARTES E OS APETRECHOS DE PESCA

A FROTA PESQUEIRA

No Estado do Amazonas a atividade pesqueira realiza-se de forma contínua e praticamente ininterrupta; entretanto a produtivadade aumenta ou diminui de acordo com o regime dos rios. Também na pesca o "rio" comanda a "vida". Durante as enchentes, com extensas áreas inundadas, principalmente as "cabeceiras" dos rios, igapós e igarapés, os peixes se dispersam dificultando a sua captura - é a época da entre-safra.

Durante o período de vazante, por razões exatamente contrárias, há maior concentração de peixes em áreas menores, facilitando as operações de pesca- é a safra ou época do "bafafá"ou "bamburrá".

No quadro seguinte, percebemos claramente essa distribuição das épocas de captura, cujas pequenas variações decorrem da influência da lua ou de algum fenômeno climático não previsto.

Épocas e ocorrências que influenciam a captura de Pescado no Estado do Amazonas

PERÍODO OCORRÊNCIAS

DEZ/JAN

Época de peixe ovado. Os peixes saem em piracema para a desova facilitando a captura, ocasionando um aumento considerável na produção e paradoxalmente contribuindo para exaurir o nosso estoque pesqueiro.

FEV/MAR

Ocasião em que a Lua está em quarto crescente,permitindo que ainda se tenha uma pequena fartura, todavia os peixes já estão bastante magros, são os que desovaram.

ABRIL Tradicionalmente o mês de menor produção do ano.

MAIO Época de safrinha, com peixes gordos e brancos principalmente jaraqui e matrinxã.

J U N/J U L

Dependendo do comportamento da vazante dos rios, será maior ou menor a dificuldade de captura. Neste período estamos na fase de menor produtividade, onde inclusive vários barcos, principalmente no interior, se retiram da pesca e se dedicam ao transporte de gado e outros produtos.

AGO/NOV

Época de fartura ou do "bafafá" ou "bamburrá". Há volume excessivo de pescado, quando a produção atinge o seu ponto máximo, ocasionando um desperdício por falta de frigorificação. Esse fato se repete em quase todos os meses do ano, com execeção, talvez, em abril e julho.

Analisando dados de produção fornecido pela SUDEPE do período 79/ 83, concluiremos que somente em abril a produção não ultrapassa as 2.000 toneladas.

Por coincidência nesse período a Igreja Católica celebra a quaresma e a Semana Santa, quanto o consumo de peixes aumenta, e, com a diminuição da oferta, os preços sobem assustadoramente.

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A captura, no Estado do Amazonas, com volume significativo é realizada pelos barcos de pesca "os geleiros", que seguem para os locais de pesca distribuindo em quase todos os nossos principais rios. Entre os que mais contribuem para o abastecimento de pescado em nossas cidades, destacam-se o Solimões, Purus, Juruá e o Madeira. Muitos são os métodos de captura. Também, muitos os apetrechos ultilizados pelos nossos pescadores.

O principal equipamento é, sem sombra de dúvidas, a canoa. É o ponto de partida. Com ela a pesca pode ser executada com linha-de-mão e até mesmo com criminosos explosivos ou entorpecentes, mas, fundamentalmente, com arrastão, tarrafa e rede.

Os principais apetrechos de pesca, utilizados pelos pescadores no Amazonas, são:

REDE OU REDINHA:

É o aparelho mais empregado na região, porque serve tanto a pescaria em lagos como no leito dos rios, desde que haja um espaço mínimo para ser lançada, também por que não custa caro quanto a arrastadeira.

Tem malhas com os mesmo tamanhos da arrastadeira, mesma altura em média, mas seu comprimento é bem menor. Os maiores arrastões chegam a medir 60 braças de comprimentos, mas o comprimento médio gira em torno de 28 braças. O número de lances numa pescaria é maior para o arrastão do que para redes.

Seu emprego é realizado com auxílio de 02 canoas que transportam em média 06 pescadores: o proeiro, responsável pela estratégia de localizar e fechar o cardume, geralmente é o pescador mais experiente do grupo. Sentado logo atrás do proeiro está o segundo lanceiro, que tem a função de remar e puxar o chumbo da rede; atrás dele situa-se o largador de rede e finalmente o popeiro que "calça"a canoa para que ela não entre na rede ao colher a cortiça do entralhe superior, impedindo o peixe de saltar para fora da rede. Em outra canoa, menor, está o cambiteiro: ele segura o cabo da rede batendo-o na água para espantar o peixe, a fim de que penetre na rede. Quando uma certa porção do lago é cercada para capturar cardume, que nem sempre precisa ser visto, pois às vezes a sua presença é percebida indiretamente (a Pescada, por exemplo, emite um barulho típico que a denuncia ), a canoa grande faz um círculo largando a redinha e vai se aproximando da canoa pequena que começa a se mover em sua direção. Quando elas se encontram o cardume é "fechado"e o chumbo é então puxado para dentro da canoa grande, onde se realiza a despesca. A canoa pequena encosta-se bem à canoa grande para servir-lhe de apoio à medida que o peso da rede mais o do pescado aumenta.

ARRASTÃO OU ARRASTADEIRA (OU REDE GRANDE):

É um aparelho de grande dimensões, chegando em alguns casos a medir 500 metros de comprimento por 13 metros de altura. A malha pode ter 20,22 ou 25 mm entre os nós opostos. Geralmente é empregada nas margens dos grandes rios (por isso alguns pescadores a chamam de Arrastão de Praia), em locais às vezes previamente preparados chamados "lanços".

O "lanço" é um local estratégico onde o peixe deverá passar fatalmente nas épocas de migração, quando forma grandes cardumes.

Assim, nesse local, os pescadores eliminam a vegetação para facilitar o emprego do aparelho em época que precedem a migração, preparando o sítio para a pesca.

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Quando o nível das águas está baixo não é necessário o feitio do "lanço"a pesca é feita nas praias naturais do rio ou nos grandes lagos, embora seja difícil porque no fundo dos lagos a quantidade de "pauzada" (tronco do fundo) é bem maior, impedindo o emprego adequado do aparelho. MALHADEIRA (CAÇOEIRA OU REDE DE ESPERA):

É um aparelho que tem dimensões muito variáveis. Na pescaria são empregadas malhadeiras cujo tamanho da malha entre nós opostos vai de 10 até 300mm. O comprimento varia de 8 a 30 braças (1 braça média + erro padrão = 172 + 0,24 cm). Sua altura pode atingir até 5 metros, tendo em média de 2 a 3 metros.

É empregada principalmente em lagos, podendo também ser armada no'remanso dos rios. Seu emprego está em grande expansão porque é um aparelho que custa relativamente pouco, de manuseio cômodo e pode ser armado em grandes quantidades. Ao contrário da arrastadeira a pescaria com malhadeira tem característica mais individualizada.

Um pescador montado numa canoa tem a tarefa de armar certo número de aparelhos e zelar por eles enquanto estiver pescando.

Na maioria das vezes é empregado à noite. O lote é armado no fim da tarde e recolhido nas primeiras horas da manhã. Há alguns pescadores que a deixam operando o tempo todo, revezando-se em grupos. Em intervalos, que dependem da densidade local de predadores é feita a "corra" onde o aparelho é levantado sem ser desarmado, permitindo que o pescador retire os peixes já capturados. O intervalo entre uma "corra" e outra pode ser estimado em 3 horas. A pescaria com malhadeira é muito seletiva. Para cada tipo de pescado que se deseje capturar, emprega-se malhas de tamanho adequado. Assim, para apturar pescada, usa-se malha de 70 a 100mm; para capturar tambaqui usa-se malhas de 150, 200, 280 e até 300mm entre nós opostos. TARRAFA

É uma pequena rede em forma de disco, dotada de um cordel no centro, que fica preso à mão esquerda do tarrafeador. Para usá-la, com a mão direita junta-se uma grande parte da tarrafa e lança-se na água. A tarrafa é aberta como uma teia de aranha, apanhado os peixes que se encontram naquele círculo. Alguns pescadores usam a boca para facilitar a abertura da tarrafa quando fazem o arremeço. Em seu redor a tarrafa é guarnecida com chumbo e uma prega dividida em pequenos espaços que, quando puxada fora, faz com que os peixes não possam escapar, ficando nas bolsas. O chumbo é para que a tarrafa afunde mais depressa, não dando aos peixes tempo de escapar. ESPINHEL :

É uma grande linha de nylon ou de manilha na qual se prendem, em espaço, linhas armadas de anzóis. O espinhei é colocado em lagos, paranás, igarapés e rios; captura quase todas as espécies de peixes principalmente o Tambaqui- Colossoma Bidens(Spix), variando com os tamanhos dos anzóis e dos tipos de iscas usadas. ARPÃO :

Empregado principalmente na pescaria do Pirarucu. Consta de uma haste longa e pescada, fabricado em "pau d'arco", com uma porta de ferro que se encaixa em uma de

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suas extremidades. Presa ao arpão está uma corda (arpoeira) , com 20 a 30 braças, em cuja extremidade está amarrada uma bóia de madeira (molongó) ou plástico. O arpoador, sentado na proa da canoa, ao ver o Pirarucu boiar marca o local de memória e rema a canoa vagarosamente até suas proximidades. Quando o peixe bóia novamente, o arpão é vigorosamente lançado em sua direção, atingindo-o geralmente no dorso. A ponta solta-se da haste, que é recolhida pelo pescador. O peixe começa a vaguear e o pescador segura fortemente na arpoeira. Se o comprimento da arpoeira é pequeno e o peixe é grande, ele pode soltar a arpoeira com a bóia presa em sua extremidade. Após alguns minutos ela irá denunciar a presença do peixe, já cansado, que algum tempo depois, ainda vivo, é puxado para fora d'água pela corda presa à ponta de ferro. Quando o peixe aparece à tona d'água o pescador com um pedaço de madeira golpei-Ihe a cabeça, matando-o e em seguida colocondo na canoa. Após eviscerado é colocado na geladeira do barco. A haste do arpão é conhecida pelo pescadores como"astia". ZAGAIA:

Empregada principalmente na pescaria do tucunaré, e que se denomina de "pescaria de facho". A zagaia é um tridente usado para pescaria com auxílio de uma luz forte (lanterna elétrica, luz ligada a bateria de automóvel ou lanterna de carbureto) à noite. O pescador procura, sentado na proa da canoa, o peixe que fica quase parado na margem dos lagos, como se estivesse dormindo. Quando o focaliza com a lanterna, ele fica imóvel; disso se aproveita o pescador para espetar-lhe a zagaia, capturando-o. ANZOL - LINHA DE MÃO :

Utilizado principalmente por amadores para pesca de peixas lisos. Também é muito usado para a pescaria da Pescada.

Consta de uma linha comprida com um único anzol, iscado com pedaço de peixe ou camarão, que, após atirada ao longe, é deixada descer até o fundo. O pescador pode deixa-la imóvel ou, com movimentos ritmados, sobe e desce a linha em pequena amplitude até que o peixe morda a isca e seja capturado. Essa decisão depende do tipo do peixe que se está tentando capturar. CANIÇO :

Como é comum, consta de uma linha com anzol e chumbo presa numa haste. Dependendo do peixe que se quer capturar o tamanho do anzol varia bastante. A isca também varia, dependendo do pescado e da época do ano. Na pescaria do Tambaqui com caniço (que nesse caso particular é chamado "canicão") os pescadores usam os frutos da temporada colhidos no igapó. Na pescaria do Tucunaré usam isca de peixe vivo. PINAUACA :

É um caniço com anzol, onde se prende um pedaço de tecido encarnado ou pena de Arara. O pescador começa então a resvalar o anzol na superfície da água num movimento de vai-e-vem ritmado até capturar o peixe.

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CURRICO :

Consta de uma colher de metal niquelado com anzol camuflado, preso a uma linha comprida que se arrasta à popa da canoa com motor. Quando a canoa se põe vagarosamente em movimento, a colher começa a brilhar um pouco abaixo da superfície da água imitando um pequeno peixe que atrai o predador que é capturado. É usado principalmente por amadores para a pesca do Tucunaré. ESTIRADEIRA

É uma linha comprida de mais ou menos dez metros com quatro anzóis. Fica à meia água como um espinhei. Bastante usada na pescaria do Tambaqui no igapó, onde a linha fica presa em ramos finos das árvores. A isca, como a do caniço, varia bastante. ARCO E FLECHA :

Apetrecho conhecidíssimo, legado a nós pelos indígenas, ainda hoje é utilizado. Interessantíssimo o seu uso pelos caboclos na "pesca" da tartaruga. Incrível a noção de balística no cálculo da distância e no caminho que a flecha percorrerá para atingir o alvo a algumas dezenas de metros. Esse tipo de pesca ainda é executado na região do Município de Urucurituba, em pleno leito do rio Amazonas. CACURI:

É constituído de duas cercas de madeira fixas no chão , com duas esteiras móveis no centro. São construídas paralelamente de uma margem à outra com duas esteiras móveis. A do centro, funcionando como portão, abre-se ao impulso do cardume, fechando-se em seguida, após a passagem não dando tempo aos peixes para se libertar.

O pescador com a tarrafa ou arpão, dependendo do tamanho do peixe aprisionado, faz a captura. TÓXICOS:

Praticamente o Timbó ( Rotenona ) é o único tóxico utilizado para a pesca. Sabe-se que, desde a época do descobrimento do Brasil, os indígenas da região Amazônica já o utilizavam para a captura do peixe.

Entre algumas plantas com as propriedades ictiotóxicas do Timbó (rotenona), podemos destacar as dos gêneros Derris, Lanchacarpos, Mundules, Spatholobos, Tephosia, Milletis.

Para usá-la o caboclo faz um macerado e joga na água. O poder narcótico da rotenona faz com que os peixes subam à superfície,mortos ou narcotizados, e sejam apanhados por um puçá ou rapixé. CERCA:

São construídas com varas resistentes e unidas entre si com arames, pregos ou cipós. Tem por finalidade bloquear a saída dos peixes dos lagos na época em que as águas começam a diminuir. Às vezes, devido à grande quantidade de peixes retidos nos lagos, o desperdício é enorme. O aquecimento da água gera a diminuição da concentração de oxigênio dissolvido, ocasionado a morte dos peixes.

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EXPLOSIVOS :

Embora seja também proibido o uso de explosivos, ainda são utilizados nas adjacências de Manaus, por pescadores amadores, e na região de Tefé, por influência de antigas pesquisas da Petrobrás, ocasionando um grande desperdício de pescado.

O pescador arremessa a dinamite ou bomba caseira acesa na mão em ;ima do cardume que passa. Apenas uma pequena fração é aproveitada, pois a maioria vai ao fundo. A coleta dos peixes é feita por um puçá.

Muitos têm sido os casos de acidentes fatais neste tipo de pescaria, Drincipalmente no Lago deTefé, onde os pescadores se utilizam de "bananas" te dinamite encontradas nas linhas de pesquisas efetuadas naquele município. FOCO :

É basicamente construído de um farol de carro que funciona à bateria 3u a carbureto; é direcionado para o leito dos rios, lagos, igarapés, paranás, 3tc. Os peixes ficam imóveis quando atingidos pela forte luz; disso se aproveita ) pescador para fazer a captura de zagaia ou terçado (facão). É um método muito pouco utilizado. MATAPI :

Cerca de palha de inajá ou curuá, traçada de margem à margem nas cabeceiras dos lagos, impedindo a saída dos peixes.

Feita batição os peixes aglomeram-se perto da cerca; após é construída nova cerca a um metro de distância da primeira. Os peixes são então capturados com arpão ou zagaia. PARI :

Em qualquer época do ano este método de pesca pode ser aplicado. É constituído de possantes varas fixadas nos leitos dos igarapés e lagos com um ou até quatro portões. Na frente de cada portão fincam-se quatro varas que, na passagem do peixe, se abrem em forma de leque, o suficiente para o pescador, que está observando armado de arpão, fazer a captura.

Há outros variados métodos de captura, dependendo da imaginação do caboclo da Amazônia, mas não possuem significância no esforço da pesca.

ARTES E APETRECHOS UTILIZADOS DE ACORDO COM A SITUAÇÃO

DOS RIO

PERÍODO APETRECHOS USADOS

Enchentes Malhadeiras, espinheis, arpões e zagais

Vazante Rede ou Redinha Cheia Malhadeiras com batição Seca Arrastão ou arrastadeiras nos lances de praias

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Entre todas as formas e métodos de pescaria, o mais característico do Amazonas é a pesca nos "lances" "Lances ou Laços" são locais previamente escolhidas nas margens dos rios e que foram observados como passagem costumeira dos cardumes em piracema. São considerados propriedades dos pescadores que as preparam e lhes dedicam o máximo de respeito entre si por esse direito tradicional. Os "lances" podem ser transferidos de proprietário mediante a compra do terreno, em cuja margem está situado, ou, em caso de terras devolutas, até ser a área requerida ou adquirida por alguém. Existem muitos "lances" provenientes de acordo entre proprietários de terrenos e pescadores, para exploração desse locais. Como tais áreas são consideradas "áreas de Marinha", não sabemos até que ponto esses acordos têm validades, no entanto servem para eliminar possíveis atritos.

Após capturados, levam-se os peixes para os barcos de pesca onde sào acondicionados nas "caixas de gelar ou geladeiras", na proporção de um quilo de gelo para um quilo de peixe.

O gelo pode vir sob a forma de barras com peso variado de 20 a 50 kg ou em tabletes conhecidos como "escamas". O "gelo em pedra" ainda deverá ser quebrado para sua utilização. A operação é executada com pequenas marretas, normalmente em cima do próprio pescado, prejudicando sua qualidade e aumentando a mão-de-obra do pescador.

O gelo do tipo "escama" já vem em condições de ser utilizado. Devido às condições das "caixas" sem divisões, não há possibilidade de

classificar ou separar as espécies capturadas. O fato prejudica o pescador/ armador, por não poder vender o peixe com melhor preço. Terá de esperar que a "caixa" vá sendo esvaziada. Como a maioria dos barcos têm cargas quase sempre de peixe de uma só qualidade, o problema não chega a ser percebido pelos armadores, mas a seleção bem que ajudaria a comercialização.

Mas, se não chega a prejudicar pela não classificação dessas espécies, com absoluta certeza deteriora a qualidade do pescado estocado por primeiro na "caixa", o último a sair para a comercialização.

A frota pesqueira do Estado do Amazonas está classificada em quatro categorias:

- canoas motorizadas, com capacidade de até 02 toneladas; - barcos pequenos, com capacidade de até 10 toneladas; - barcos médios, com capacidade de 10 a 20 toneladas; - barcos grandes, com capacidade superior a 20 toneladas; Segundo o Registro Geral da Pesca da SUDEPE/AM de 1984, a frota no

Amazonas apresentava a seguinte evolução, por estimativa: Além dos 646 barcos registrados, deveriam existir pelo menos mais de 350 barcos operando de forma ilegal, principalmente no período da safra, ou seja, nos meses de agosto a novembro. Hoje, com o IBAMA substituindo a SUDEPE, não temos dados coitados sobre a atividade pesqueira no amazonas. Alegam seus dirigentes que essa informações não eram confiáveis, por isso foi mais fácil eliminá-las. Cremos que mais responsável seria fazê-las confiáveis.

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FROTA PESQUEIRA DO AMAZONAS

ANO

CANOA MOTORIZAD

A (ale 2 TAB)

BARCO PEQUENO

(de 2 a 10 TB)

BARCO MÉDIO

(de 10 a 20 TAB)

GRANDE BARCO (d* + 20

TAB)

TOTAL

1968 - 03 07 - 10 1969 - 12 13 - 25 1970 - 15 18 04 37 1971 - 16 22 04 42 1972 - 17 23 07 47 1973 - 26 24 10 60 1974 - 73 39 16 128 1975 - 137 67 21 255 1976 02 173 80 24 279 1977 03 210 99 30 342 1978 03 223 102 36 364 1979 03 234 107 41 385 1980 04 295 141 50 490 1981 04 322 149 56 531 1982 04 362 164 65 595 1983 04 393 175 74 646

FONTE : SUDEPE/ REGISTRO GERAL DA PESCA Dados até maio/ 83.

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FREQÜÊNCIA MENSAL DE CHEGADA DOS BARCOS PESQUEIROS A MANAUS, COM COMERCIALIZAÇÃO NO MERCADO ADOLPHO

LISBOA-1983

Embarcação com capacidade em toneladas

MÊS

02

10

20

35 50

70

Acima de 71

TOTAL

JANEIRO 12 151 33 13 06 03 01 219 FEVEREIRO 19 136 41 12 05 03 - 216

MARÇO 09 138 36 13 07 - . 203 ABRIL 12 106 34 11 09 07 - 179 MAIO 11 121 62 22 13 07 . 236

JUNHO 12 163 38 10 06 01 - 230 JULHO 14 147 50 15 06 05 - 237

AGOSTO 05 209 76 16 07 02 - 315 SETEMBRO 10 167 72 21 10 02 - 282 OUTUBRO 03 177 62 20 08 03 . 273

NOVEMBRO 08 138 51 16 04 05 - 222 DEZEMBRO 10 157 53 22 09 03 - 254

FONTE : Colônia Z- 12 de Manaus OBS : Neste quadro não contam a chegada dos barcos aos portos da PANAIR. Compensa. Gloria e São Raimundo

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A frota pesqueira do Amazonas é constituída em 60% de barcos do tipo pequeno. São na realidade aqueles que têm maior produtividade relativa, nos dias atuais, em face dos custos elevados das despesas de custeio, onde o diesel e o lubrificante representam mais de 50% dessas despesas.

Quanto ao comprimento dos barcos, com menos de 20 toneladas de arqueação, varia com o mínimo de seis metros e o máximo de 18 metros, e intervalo de 9 a 15 metros. Constituem 85% das embarcações pesqueiras. Para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidades o comprimento varia entre 18 e 34 metros, com 55,8% do total no intervalo de 16 a 20 metros.

A boca (maior largura do casco) varia entre 3,50 e 6,20 metros, sendo que a maior frequência se encontra nos barcos com 4,40 a 5,00 metros, participando com a quota de 40,4%.

Com relação ao calado (distância vertical entre a superfície da água e a parte mais baixa da embarcação) para os barcos com mais de 20 toneladas de capacidade, há variação desde 0,50 a 2,10 metros, sendo 73,1% na faixa de 0,90 a 1,50 metros.

O pontal (distância vertical da embarcação entre a guilha e o convés) varia de 1,11 a 2,70 metros; na faixa de 1,11 a 1,90 metros encontra-se a maioria de Manaus, o YANMAR e o MWM 38%, dividem as preferências dos motores.

A potência dos motores varia de 03 a 250 HP. As embarcações da frota pesqueira de Manaus, ou "geladeiras", são construídas a

nível de artesanato, sem nenhum projeto ou desenho antes de sua estrutura. Não há, pois, padronização.

As escotilhas podem estar dispostas de três maneiras diferentes:. nas laterais, na parede anterior frontal ou na parte superior.

Os barcos não dispõe de qualquer instrumento auxiliar de navegação. Existe a bordo, porém rádio portátil para captar recados transmitidos por estações da capital. A conservação do pescado é feito na "geladeira". Ela possui caimento nos sentidos transversal e longitudinal, com dreno para escoamento.

O isolamento térmico das caixas é feito, em cada parede, por duas folhas de zinco separadas por pranchas de madeira (itaúba ou cedro) e isopor em placas colocadas com juntas desencontradas.

A madeira empregada na construção dos casco dos barcos é itaúba; na cobertura ou tolda e nos fechamentos laterais dos camarotes, casa do leme, etc; usa-se cedro; os arcos das cavernas, que exigem boa resistência e flexibilidade, são feitos de raízes ou galhos de itaúba ou piquiá.

Embora sirva à construção de embarcação mais resistentes e duráveis, o ferro é pouco empregado nesta região. Basta verificar o número de estaleiros de contrução e reparos em Manaus e localidades adjacentes: três para construção e reparos de barcos de ferro e 87 para barcos de madeiras.

Muitos barcos médios e grandes mudaram de atividades ou só se dedicam à pesca na época da safra, uma vez que despesas de "armação" são realmente grandes. Se um barco pequeno utiliza 600 litros de diesel para uma viagem de 15 dias, os médios gastarão três e os grandes até dez vezes mais. Como nem sempre são bem sucedidos em suas pescarias, para os barcos médios e principalmente grandes será mais difícil recuperar o prejuízo acumulado de viagens anteriores.

A maioria dos armadores de pesca, para equipar seus barcos, é obrigada a recorrer aos "despachantes" que lhe adiantam recursos para os investimentos da "campanha"ou seja, da viagem. São pagamentos de gelo, combustíveis e lubrificantes, ranchos e "abonos" para as famílias dos pescadores.

Os barcos de pesca quase todos são mal dimensionados. Têm potência exagerada forçando consumo desnecessário de combustível. Mas o principal defeito está nas

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"caixas de gelar", fabricadas com pouco material isolante e sem as necessária divisões.Tais falhas fazem com que o pescado transportado e comercializado em Manaus não tenha condições de congelamento.

Muito se poderia melhorar as condições de transporte do pescado se fossem tomadas as seguintes providências: - Dividir as "caixas de gelar" em urnas ou prateleiras, possibilitando menor volume por módulo e facilidade de reposição de gelo durante a viagem. - Imersão do pescado em água misturada com gelo, antes de ser arrumado nas urnas ou prateleiras; - Antes da construção da caixa, procurar um especialista em tecnologia de pescado, para calcular o tamanho da caixa, o tipo de isolamento, a espessura e o material a ser usado; - Isolar o espaço entre a "caixa de gelar" e o casco, mesmo com material mais barato, auxiliaria bastante a eficiência da conservação. Essas medidas melhorariam substancialmente a qualidade do produto, evitando também o desperdício hoje em torno de quase 30% do pescado transportado, principalmente porque seria descarregado rapidamente quando chegasse a Manaus. A necessidade de estocar o pecado nos barcos por vários dias, à espera dos compradores, faz com que a sua qualidade não permita, após 2 ou 3 dias, ser congelado. A perda de calor pela abertura da caixa é altamente significativa e deve ser evitada ao máximo. O ideal seria a descarga do barco de uma única vez. O peixe seria classificado e estocado em câmaras de resfriamento, acondicionados em "caçapas" com gelo. Nessa mesma embalagem seria comercializado nas feiras e mercados.

BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL)

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BARCO DE PESCA TÍPICO DO AM (ESCOTILHA FRONTAL)

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BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS

(ESCOTILHAS LATERAIS)

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BARCO DE PESCA TÍPICO DO AMAZONAS

(ESCOTILHA SUPERIOR)

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COMERCIALIZAÇÃO, INDUSTRIAL E EXPORTAÇÃO

Na comercialização do pescado está a principal dificuldade de nossa atividade

pesqueira. É assunto que apresenta os maiores problemas e cujas conseqüências atingem

diretamente os consumidores. O sistema de comercialização efetuado no Amazonas tem seu principal mercado

na cidade de Manaus. A comercialização nas cidades do interior, com raríssimas exceções, é feita sem interferência dos atravessadores. Os pequenos pescadores comercializam diretamente com os consumidores a sua produção.

Um dos poucos municípios do interior do Amazonas onde a comercialização é realizada por feirantes é Itacoatiara, onde por sinal o pescado acompanha os preços de Manaus.

Em Tabatinga ocorre um fato interessante. Os pescadores, que trazem o peixe para ser comercializado na cidade, não podem deixar as suas canoas amarradas à margem do rio e levar a produção para vender no Mercado. Caso aconteça, quando voltarem as embarcações já terão desaparecido, roubadas, e, como se trata de fronteira, nunca mais as encontrarão. Por isso entregam o pescado a menores, que vendem no Mercado por preços majorados em mais de 100%.

Nos municípios menores , onde não existem pescadores organizados, ou em alguns casos até mesmo com Associação de Pescadores, a comercialização acontece no próprio rio, diretamente de suas canoas.

Em certos municípios os prefeitos tentam disciplinara Comercialização, obrigando os pescadores individuais de pequenas canoas a vender o produto no Mercado. Às1 vezes não oferecem nem dez peixes. Cremos com a experiência de três gestões como Prefeito, que obrigar um pobre pescador, após um dia de trabalho solitário com apetrechos primários, com produção insignificante, a vender 04 ou 05 peixes no Mercado, chega a ser desumano. A taxa paga à Prefeitura nem cobrirá as despesas com a limpeza de sua banca.

Também os Prefeitos Municipais, com base na tradição e nos costumes locais, tabelam o preço do peixe e da carne evitando que os preços sejam violados. Outras vezes cobram uma taxa de 3 a 5% para manutenção dos Mercados. Somando-se às taxas cobradas pelas Colônias e Associações, até 5%, o pescado chega aos consumidores onerado de aproximadamente 10%.

Em Manaus o sistema de comercialização é bem mais complexo. Ao chegarem a Manaus os barcos pesqueiros ficam à espera do leilão noturno, às 22:00 horas. Neste horário, mesmo aos domingos e feriados, realiza-se a comercialização do pescado.

Ontem, ao largo do Mercado Adolpho Lisboa, hoje, no porto da Feira da Panair, com uma frota que pode somar 60 barcos, dependendo da época, o peixe é leiloado sob o pregão dos despachantes e a bordo de cada barco, com a participação dos feirantes. Munidos de apenas um caderno e uma "esferográfica"os despachantes vão anotando os peixes adquiridos pelos feirantes, que os deverão pagar antes da próxima compra, geralmente no dia seguinte.

As vendas são feitas em confiança. Quem não honra seu compromisso tem o nome registrado no "Quadro dos Caloteiros"afixado no Porto de Desembarque. O peixe comprado pelos feirantes, ao deixar a "caixa de gelar", começa a sofrer majoração no preço. O feirante tem de pagar o remador e o aluguel da canoa, o carregador que leva o peixe ao veículo, o transporte até a feira, o aluguel da banca e as

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taxas municipais. Como ele adquire quantidades pouco significativas, é obrigado a cobrar bastante caro para cobrir os custos e obter lucro suficiente para o sustento da família. Por essa razão o pescado tem um diferencial médio de preço, entre a entrega do barco e a feira, de mais de 300%.

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O peixe tem preço estipulado de acordo com a época. As leis do mercado são rigorosamente obedecidas entre produtor e feirante. Daí para a frente vigorará a "Lei do Cão". O consumidor raramente se beneficia dos aumentos da oferta, a não ser que ocorra exagerada produção e sejam os armadores obrigados a vender diretamente aos consumidores, para minimizar os seus prejuízos.

Muitos são os mercados e feiras de peixes em Manaus. Os mais tradicionais apresentam algumas condições de higiene, mas a maioria nunca recebeu a limpeza de uma vassoura ou detergente. As nossas feiras de peixes são verdadeiros atentados à Saúde. O melhor exemplo era a "Feira do Bagaço", na compensa. O próprio nome dispensava comentários. Hoje várias feiras na Prefeitura de Manaus são "reencarnações da "Feira do Bagaço", inclusive a própria.

Além dos feirantes existem também os "peixeiros ambulantes". Eles quase nunca possuem carteira de saúde, nem precisam: carregar um taboleiro na cabeça por vários quilômetros e muitas horas já credenciaria como saudáveis. Mas infelizmente, não pode ser assim.

As indústrias de pescado normalmente adquirem o peixe na época da safra, no priodo de agosto a novembro, para diminuir o tempo de estocagem.

Até o início de 1981, quase só negociavam com peixes de pele. Quando adquiriam peixes de escama, destinavam ao mercado dos outros Estados ou exterior.

Com a interferência do Governo do Estado no abastecimento do pescado, em 1981, despertou o interesse dos frigoríficos que, a partir de então, passaram a formar estoques visando a venda ao Governo.

O Estado do Amazonas apresenta capacidade de estocagem para 3.960 toneladas, dos quais 2.500 na Capital. Esse total daria para abastecer Manaus por cerca de 45 dias.

Contando com a capacidade de estocagem dos municípios vizinhos de Manacapuru e Itacoatiara, mais a produção do período de entre-safra, com menor produção no mês de abril, em torno de 1.500 toneladas, não sofreríamos tanta especulação de preços.

Acontece que os frigoríficos trabalham com capacidade ociosa. A ociosidade média mensal dos frigoríficos fica mais ou menos em 60%. Na realidade os empresários da pesca somente compram peixes de escama de setembro a novembro. Neste curto período se abastecem e esperam a entre-safra para vender ao Governo do Estado. Nos outros meses o excedente volta para o rio já estragado.

Os principais motivos alegados pelos industriais são basicamente a falta de capital de giro, a dificuldade de comercialização do peixe congelado e, para alguns, a qualidade, já que a mais de 60% do pescado que chega a Manaus não permite o congelamento.

Para resolver tais problemas a SUDEPE em I983 sugeriu a criação de um Fundo para Formação de Estoque Regulador, cujos objetivos seriam os seguintes: - Assegurar um fluxo contínuo de matéria-prima para as indústrias pesqueiras, mediante a estocagem de pescado; - Regular o abastecimento do mercado interno consumidor de pescado; - Atenuar os desníveis entre a oferta e a procura do pescado, face a deficiência do processo de comercialização; - Eliminar os intermediários dispensáveis, reduzindo os custos da comercialização; - Tornar a remuneração dos produtores (pescadores) compatível com os custos de captura; - Manter o preço do pescado em níveis adequados ao poder aquisitivo da população;

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- Aumentar os índices de utilização da capacidade instalada a nível de indústria e captura;

- Ativar o incremento da produção, aumentando o percentual de participação do pescado destinado ao consumo humano.

Em que pese haver a SUDEPE conseguido o total apoio do Ministério da Agricultura, faltou-lhe apoio político junto ao Conselho Monetário Nacional e interesse das autoridades locais. Não sendo possível essa solução, precisamos encontrar o nosso próprio caminho. Caberia ao BEA e ao BASA, implantar, com recursos do FMPE e do INO - Especial, respectivamente, esse tipo de financiamento como uma espécie de "Crédito Rotativo"que permitisse a comercialização se tornar ágil e eficiente.

Quanto às dificuldades de comercialização do peixe congelado, cremos que já foram superadas. O importante é a qualidade e O preço do produto. No entanto, hoje, com o alto custo da energia elétrica, formar estoque por vários meses significa pagar um preço muito alto. Será preciso analizar esses custos com cuidado antes de se pensar em formar estoques, principalmente de espécies de segunda e terceira categoria.

ESTRUTURA DE FRIOS INTALADA NO ESTADO DO AMAZONAS

CÂMARA DE CÂMARA DE

TÚNEL DE

CÂMARA DE

MUNICÍPIOS EMPRESAS ESPERA RESFRIADO CONGELAM

ESTOCAGEM

(TON) (TON) (TON) (TON)

Manaus Frigelo 1(1) . _ . _ Manaus Frígelo II 10 - 10 1.580 Manaus Frigelo III 10 - 10 120 Manaus Ibepesca 03 - 05 200 Manaus Surubim 20 - 29 600

Itacoatiara Rio Mar 40 - 30 300 Manacapuru Figueira 15 - 25 700

Parintins Entreposto/lBAMA 10 18 07 50 Tefé J. F. Lopes ( 2 ) - - - 360 Tefé Entreposto IBAMA - - - 10 Coari F. Jaraqui 15 - 03 30

Codajás Entreposto/lBAMA - - - 10 TOTAL ----- 123 18 119 3.960

(1} Entreposto de peixe salgado-seco atualmente desativado. (2) Frigorífico desativado.

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FABRICAS DE GELO INSTALADAS NO ESTADO DO AMAZONAS

CAPACIDADE (TON/DIA) PRODUÇÃO

MUNICÍPIOS EMPRESAS ESCAMA PEDRA SILO Manaus Frigelo 1 120 60 220 Manaus Frigelo II - 52,5 50

Itacoatiara F. Rio Mar 30 10 50 Itacoatiara Gelopesca - 21,5 20 Carauari Comerciante . 0,3 . Maués Otacílio - 4,6 17

Parintins Osmar Farias . 20 20 Parintins Entreposto/ IBAMA 25 - 40

Manacapuru Frigelo IV - 82,5 80 Manacapuru Figueira 60 - 90

Coari F. Jaraqui - 04 - Tefé Entreposto/ IBAMA 06 . 12

Codajás Entreposto/ IBAMA 08 - 12 Urucará Prefeitura 04 - 10

TOTAL 255 255,4 621

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As razões apresentadas, quanto ao estado do pescado posto em Manaus, realmente procedem e tivemos oportunidade de comentar quando abordamos a situação de nossa frota pesqueira.

Pelo que vimos, embora não dispondo de quantidade ideal de câmaras frigoríficas para estocagem, poderíamos aproveita-las bem melhor e diminuir os nossos problemas de abastecimento na entre-safra.

Além desses obstáculos o pescado muitas vezes é jogado fora por falta de opções de venda. Há quem diga que, em algumas ocasiões, até mesmo para não baixar o preço. Não acreditamos na hipótese: já vimos proprietários de barcos abrir suas "caixas"e distribuir peixes de graça e, nem assim, esvaziar o estoque.

A comercialização do pescado em Manaus é perfeitamente entendida pelo fluxo que apresentamos .

Observando-o, constatamos a importância do "despachante"no processo de comercialização do pescado.

O processo inicia-se com ele, ao fornecer o capital para o armador de pesca, "armar" o barco para viagem. A operação que há 10 anos era feita sem a cobrança de juros hoje obedece as regras do mercado financeiro, com a vantagem da "desburocratização". O adiantamento de recursos destina-se à compra de gelo, combustível, lubrificantes, ranchos e abonos para os pescadores deixarem para a família.

Após a pescaria a produção é entregue ao despachante para comercialização. O pescado é comprado pelos feirantes, ambulantes, hotéis, quartéis, restaurantes e

indústrias. A transação toda é executada pelo despachante, não importando se vende a produção de uma vez ou no varejo.

O despachante, após retirar o capital adiantado, e, se for o caso, os juros acrescidos de sua comissão de 20% a 25% sobre o bruto, entrega ao armador o resultado líquido de sua pescaria.

Esse valor deverá ser rateado entre as pessoas envolvidas no processo. Exemplifiquemos: Suponhamos que um determinado armador tenha recebido do despachante Cr$ 7,0

Milhões para as despesas de uma viagem. Após a "campanha"que durou 15 dias, o barco chegou com uma carga de pescado que rendeu Cr$ 15,0 Milhões após o desconto das despesas, que neste exemplo seriam:

Comissão do despachante: - No Capital (30%)-15 dias.......................................Cr$ 1.050.000,00 - Na comercialização (10%)......................................Cr$ 1.500.000,00 - Retorno do capital de despachante..........................Cr$ 7.000.000,00 - Taxa da colônia (5%)..............................................Cr$ 750.000,00

____________________

- Total das Despesas..................................................Cr$ 10.300.000,00

O lucro apurado será de CR$ 4.700.000,00, que deverá ser dividido entre os seis tripulantes, proporcionalmente à importância de cada um na armação do barco.

Os tripulantes neste caso com as suas respectivas partes no rateio, estão descritos no quadro seguinte. Observa-se que este exemplo é de um barco de apenas 15 metros com uma capacidade de carga líquida de 10 toneladas. Esse tipo de barco representa a grande maioria dos existentes na pesca, e são responsáveis por mais 60% das freqüências mensais de viagens. Os custos são de janeiro/93 ainda em cruzeiros.

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TRIPULAÇÃO DE UM BARCO DE 15M, COM SUAS FUNÇÕES E PARTES NO RATEIO DE UMA "CAMPANHA

QUANT. TÍTULO FUNÇÃO PARTE

VALOR Cr$

01 Armador Dono do barco 14 2.437.038,00

01 Encarregado Representante do dono do barco 04 696.296,00

01 Jogador de Responsável pelo rede lançamento. É o mais experiente. 02 348.148,00

01 Motorista Responsável pelo motor do barco, ajuda também quando necessário. 02 348.148,00

01 Barriga ou Além de cozinheiro ajuda Cozinheiro nas atividades da pesca quando necessário. 02 348.148,00

01 Pescador/ Além de pescador é o Gelador encarregado da arrumação do peixe no gelo. 02 348.148,00

01 Cambiteiro Ajudante de todas as atividades principalmente batedor de rede. 01 174.074,00

TOTAL 4.700.000,00

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No exemplo dado ainda houve possibilidade de rateio, fato que nem sempre ocorre. No entanto, neste processo de divisão de partes, quem sempre lucra é o despachante: ele ganha a participação sobre o bruto apurado. O pescador consegue sobreviver praticamente pelo teto e pela comida. O seu quinhão não dá para pagar, muitas vezes, o abono antecipadamente recebido.

Como não existe vínculo empregatício com o armador, os tripulantes não têm direito aos benefícios da Legislação Trabalista e quase nunca da Previdência Social; muitos não têm documentos principalmente a Carteira de Pescador, que os credenciaria aos benefícios do INSS.

De fato a tripulação de um barco de pesca, os pescadores, não leva a vida das mais fáceis. Seria interessante uma pesquisa sobre a saúde do pescador. Não resultaria nada animadora: afinal dormir sobre "geladeiras" com certeza não parece muito saudável. Para o despachante não é realmente das mais difíceis. Os donos de barcos, apesar de não levarem a vida dos despachantes.não têm muita razão de se queixar. Conseguem sobreviver, embora com sacrifícos impostos pelo sistema.

Já com o pescador a situação é bem diferente: sempre surge algum imprevisto para diminuir a participação nos rateios. Alguns armadores incluem os combustíveis e lubrificantes, o rancho, as reformas dos barcos, os custos dos equipamentos e até os abonos concedidos aos pescadores como despesas de viagem, com a finalidade de diminuir o lucro líquido e em consequência a participação no dividendo. O procedimento é desumano e desonesto, pois já recebem um número de partes razoavelmente grande como compensação a seus investimentos. Mas o pescador vai reclamar para quem?

Esse sistema de comercialização para ser corrigido necessita da construção do Terminal Pesqueiro de Manaus. A partir daí o processo será reorganizado e expurgará do sistema os elementos prejudiciais e redistribuirá melhor a renda entre os interessados envolvidos nessa atividade. Com o terminal será possível controlar melhor a produção de cada barco, não haverá perdas e o regime de "parceira" terá condições de ser fiscalizado pelos órgãos competentes.

Das espécies comercializadas somente 10 representam mais de 90% de nossa produção. Destas o Jaraqui contribui com mais 45%, e o Tambaqui com aproximadamente 17%. Essas duas espécies são os pontos extremos do preço do pescado em Manaus. O Jaraqui influencia diretamente no preço das outras espécies e indiretamente no preço de carne bovina e do frango.

O Jaraqui é o "Maná dos Amazonenses". Não fora ele, Manaus estaria passando mais fome que em algumas regiões do sertão nordestino. Lutar pela preservação é um dever de todos nós amazonenses.

O seu preço diariamente sofre oscilações surpreendentes, em função da oferta irregular dos barcos pesqueiros.

Os exemplos dos gráficos seguintes mostram essas variações de preço de janeiro a março de 1984. Neste mesmo ano, face à abundância de Jaraquis em maio, em alguns dias do mês vendeu-se em Manaus, no Porto de desembarque do Mercado Adolpho Lisboa, um cento por Cr$ 1.000,00. No entanto a maioria dos armadores teve de jogar peixe fora por falta de compradores e Câmara de estocagem.

O Tambaqui também tem variação de preço bastante significativa, por influência direta do Jaraqui.

De acordo com dados fornecidos pelo Serviço de Controle de Desembarque da SUDEPE/AM, que funcionou no Porto do Mercado Adolpho Lisboa, foi possível observar, no período de abril/82 a junho /83, a evolução da produção e do preço médio mensal do Tambaqui, no atacado e no varejo em Manaus.

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Esse preço foi determinado dividindo-se o valor mensal pela produção total do mês. Aplicou-se a seguinte fórmula:

Y2 ......1X100 Y1 onde : Z = variação mensal ou anual

Y1 = preço anterior mensal ou anual Y2 = preço do mês de variações Em 1982 o preço praticamente se manteve estável em torno de Cr$ 260,00 o quilo,

enquanto a produção se apresentou de forma crescente, fato que foge às regras normais de mercado.

O mais interessante que em 1993, guardados as devidas correções no valor do cruzeiro, o fenômeno de 1982 se repetiu de forma semelhante. Até mesmo de forma mais enfática, agravada pela abundância de pescado após o período crítico da Semana Santa em fase da enchente haver ultrapassado 28m nesse período.

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Já no final de dezembro/82 o preço alcançava Cr$ 284,20 o quilo saltando em

janeiro/83 para Cr$ 493,00, variando em 73,3% em apenas um mês. O maior pulo entretanto ocorreu de fevereiro para rHaçço/83, atingindo 80,9% com o crescimento de Cr$ 405,40 para Cr$ 733,30 o quilo: novamente a inflação da Quaresma e da Semana Santa, coincidindo com a época de menor produção.

A variação anual, no período abril/82 à abril/83, foi de 178,7%, abaixo da taxa de inflação no mesmo período, 210,9%.

Propositalmente, não atualizei monetariamente esses valores, até porque em termos relativos a situação permanece igual. A correção ficou por conta da eliminação dos três zeros de nossa moeda.

A comercialização do pescado no Amazonas, a nosso ver merece melhor apoio dos órgãos governamentais. Entre outras medidas precisaríamos:

1. Ordenar o sistema de desembarque de pescado, para que fosse efetuado em lugares higienicamente preparados; 2. Melhorar o sistema de transporte para os Mercados e Feiras; 3. Melhorar ou construir Mercados e Feiras adequadas para venda de pescado, onde os peixes ficariam acondicionados em recipientes sempre envolvidos com gelo; 4. Estabelecer o preço mínimo e formação do estoque regulador; Interferir o Governo somente na Semana Santa, nos bairros mais carentes.

Não temos dúvida de que as atuais condições higiênicas de nossos mercados e feiras contribuem acentuadamente para aumentar o desperdício do pescado e, além disso, para uma variação de preço além de 300% entre o produtor e o consumidor.

O pescado, por se deteriorizar mais rapidamente que os outros tipos de carnes, devido às suas próprias características físicas e de seu habitat, exige acurado tratamento de limpeza e resfriamento. O cuidado na sua manipulação é fundamental, para evitar danos propícios às ações das bactérias através de cortes desnecessários.

É inadmissível fique o pescado exposto sobre as bancas e ás vezes no próprio chão, por várias horas, sem ter sido lavado com água limpa e estar envolto com gelo. A baixa temperatura constitui o principal fator de prolongamento da vida útil do pescado.

Os nossos administradores de Mercados e Feiras deveriam obrigar os vendedores de peixes a conservá-los no gelo durante a comercialização Existiria uma caixa térmica, com gelo, para ser adquirido pelos comerciantes de pescado. Nas Feiras Móveis e de curto período de exposição essa providência seria dispensada.

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PRINCIPAIS ESPÉCIES COMERCIALIZADAS EM MANAUS EM 1983

PARTICIPAÇÃO

Quantidades (kg) Relativa (%)

1. Jaraqui 17.606.317 45,68 2. Tambaqui 6.565.115 17,03 3. Curimatã 3.946.543 10,24

4. Pacu 1.659.425 4,31 5. Tucunaré 1.286.322 3,34

6. Branquinha 1.061.206 2,75 7. Sardinha 1.029.515 2,67 8. Matrinxã 776.204 2, 01 9. Pescada 625.579 1,62

lO.Pirapitinga 556.898 1,44

TOTAL 35.133.124 91,09

PRINCIPAIS ESPÉCIES COMERCIALIZADAS EM MANAUS NO PORTO DO MERCADO ADOLPHO LISBOA -1983

PARTICIPAÇÃO

Quantidades (kg) Relativa (%)

1. Jaraqui 10.843.290 44,81 2. Tambaqui 4.267.999 17, 64 3. Curimatã 2.491.347 10,29

4. Pacu 1.047.741 4, 33 5. Tucunaré 834.388 3, 45

6. Branquinha 658.872 2,72 7. Sardinha 634.655 2,62 8. Matrinxã 486.413 2, 01 9. Pescada 412.023 1,70

lO.Pirapitinga 358.690 1,48

TOTAL 22.085.418 91,05

FONTE: COLÓNIA DE PESCADORES Z-12 DE MANAUS/AM.

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INDÚSTRIAS DE PESCA

De acordo com as informações do IBAMA, as empresas envolvidas com o setor pesqueiro estão distribuídas em 11 entrepostos frigoríficos e 03 entreposto para pescado salgado e seco.

A maioria atua no ramo de frigorificados e no fornecimento de gelo aos pescadores. Atualmente somente 03 empresas se dedicam à comercialização do pescado salgado,e seco. Desta apenas uma, localizada em Tefé, possui câmara frigorífica para melhorar conservação do produto.

Nenhuma das indústrias de pescado do Amazonas possui frota própria para captura. Adquirem o pescado dos despachantes ou dos armadores, na época da safra, por preço bastante barato.

Os peixes destinados às indústrias muito raramente são desembarcados durante os "leilões". Quase sempre são entregues nos portos dos frigoríficos ou o mais próximo possível e durante o dia. Nestes casos são frequentes as compras de peixes fora das medidas e de Pirarucu, em época de captura proibida, pois os fiscais do IBAMA não têm conhecimento dos desembarques.

Os entrepostos frigoríficos trabalham com peixes de escamas e peixe liso. Os peixes de escama destinam-se quase sempre à venda para o Governo do Estado, para distribuição nos "sacolões". Muito pouco são comprados diretamente pela população, com exceção dos peixes considerados especiais. Os peixes lisos ou de pele são exportados para outras regiões do Brasil. As nossas indústrias atualmente pouco remetem para o mercado externo. Uma experiência mal sucedida, feita por uma empresa de Manaus, exportando Piramutaba de péssima qualidade, afastou-nos do mercado internacional. Some-se a isso a propaganda negativa sobre a Amazónia no exterior ocasionada pelo derrame irresponsável de mercúrio em nossos rios e, mais, recentemente, a entrada na Região, via Peru, da Cólera, doença causada pela contaminação das águas e em consequência dos peixes.

O pescado entes de entrar nos frigoríficos é lavado e, de acordo com a espécie, poderá ser eviscerado e descabeçado, para depois ser congelado. Em geral os peixes populares são congelados inteiros, muitas vezes diminuindo-lhes a boa qualidade. Os peixes carnívoros, como o Tucunaré, por exemplo, nunca devem ser congelados inteiros: é necessário sempre os eviscerar. Podem ter no intestino outros peixes que fatalmente apodreceriam e em consequência afetaria o seu estado organoléptico.

O peixe, dependendo da condição de congelamento, poderá permanecer por mais de seis meses armazenado sem prejuízo algum para sua qualidade e sabor.

O controle sanitário das indústria de pescado é exercido pelo Ministério da Agricultura, através do Serviço de Inspeção Federal (SIF) que examina as condições fitosanitárias do pescado e de higiene das instalações.

As empresas que operam com pescado salgado e seco recebem o produto aberto em mantas ou "postas", já salgados e relativamente secas. Em geral são colocados novamente ao sol para secar mais, às vezes ressalgados e embalados em áreas ventiladas ou câmaras frigoríficas com temperatura entre O e 10 graus centígrafos. No Amazonas nenhum Entreposto de peixe salgado e seco tem instalações frigoríficas.

O pescado salgado e seco, comprado pelas indústrias, destina-se à exportação, principalmente para o Estado do Pará, Minas Gerais e Goiás. A salga inicial é feita por um processo empírico, pelos próprios pescadores. O peixe, após ser eviscerado e retirado a cabeça, é aberto em mantas. Recebe sal grosso e fica nas "salgadeiras" por alguns dias para perder um pouco da água. Em seguida é

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levado ao sol, onde estendido sobre varais, seca para venda aos comerciantes e "regatões" do interior do Estado. Estes revendem aos entrepostos de pescado salgado seco ou contrabandeiam para o Pará ou países vizinhos à Tabatinga.

Os proprietários das empresas que negociam com o pescado salgado seco têm dois grandes problemas:

1. Concorrência desleal dos comerciantes regatões do Pará que burlam a fiscalização estadual e do próprio IBAMA, e a dos contrabandistas que operam em Leticia na Colômbia; 2. A proibição de captura e comercialização de Pirarucu de tamanho inferior a 1,50 m e a proibição de captura e comercialização total do período de 01/10 a 31/03, que não atinge os compradores clandestinos.

Face às dificuldades de fiscalização os "regatões", apesar dos esforços dos órgãos responsáveis, compram peixes fora das medidas e, na época de proibição da pesca do Pirarucu, continuam comprando.

O mesmo não ocorre com as empresas estabelecidas em Manaus e outros municípios. Devido à localização fixa são facilmente fiscalizados. Por isto muitas empresas do ramo já encerraram suas atividades.

As indústrias de pesca do Amazonas atualmente também estão trabalhando com peixes de escama.

Até pouco tempo exploravam a comercialização e exportação somente de peixes lisos.

Os peixes de escama, principalmente os mais populares, como o Jaraqui, o Pacu e a Curimatã, são vendidos para o Governo do Estado. Os mais nobres, como o Tambaqui, a Pirapitinga e a Matrinchã, têm sido exportados em particular para o Pará, São Paulo e Minas Gerais.

Deveríamos motivara exportação de algumas outras espécies não muito conhecidas nos centros consumidores fora do Estado. O Jaraqui, por exemplo, com mais de 45% da produção do pescado do Amazonas, não é exportado. Motivo: certamente a sua grande quantidade de espinhas. Contudo, se receber o beneficiamento necessário, - aviscerado e "ticado" - será servido à mesa de qualquer consumidor exigente, principalmente frito em pedaços.

O nordestino é grande consumidor de peixe salgado. No Amazonas, por deficiência já mencionadas antes, jogamos peixe fora. Será que, se os salgássemos, secássemos e prensássemos, não disporíamos de grande mercado ao nosso alcence? O que não podemos continuar insistindo em secagem somente com a exposição ao sol. Esse método ultrapassado não apresenta um produto de boa qualidade. O uso de pequenos secadores movidos a energia elétrica, e/ou energia solar utilizados no Centro de Tecnologia de Alimentos da EMBRAPA em Guaratiba-RJ, seria uma grande solução.

Talvez de fato não consigamos induzir grandes empresários a investirem nessa área. No entanto os próprios donos de barcos, se incentivados e orientados pela Extensão Pesqueira, poderiam conseguir nova fonte de receita. Cremos porém que essa atividade caberia muito bem em Clubes de Mães, em Associações de Classe dos Pescadores, principalmente Cooperativas. A produção de pescado no Amazonas, inobstante a acentuada taxa de desperdício, não comporta industrialização diferente do tipo já existente, a frigorificação. Não acreditamos ser possível, com os atuais níveis de produção, a implantação de fábrica de conserva ou até mesmo de ração ou farinha de peixes em grandes níveis. Tais empreendimentos somente serviriam para aviltar muito mais os preços de nossas espécies, principalmente daqueles que representam o principal alimento da população

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local, os peixes menos nobres ou populares, além de forçar um aumento acentuado no esforço de pesca ora empregado.

Assim, como não possuímos suficiente estrutura de frios para o aproveitamento do pescado, caso nos dedicássemos a exportação estaríamos contribuindo simplesmente para o considerável aumento no preço do pescado para os consumidores.

PESCADO EXPORTAÇÃO DE PESCADO - MERCADO INTERNO

DISCRIMINAÇÃO

1992

1993 (')

. PEIXE INTEIRO CONGELADO

1.008.082

116.069

. PEIXE EVISCERADO CONGELADO

721.7042

13.069

. FILÉ DE PEIXE CONGELADO

29.2812

5.449

. PEIXE ( Cabeça Div. ).

201.1482

-

. PEIXE SALGADO SECO

1.2902

-

. PEIXE ( Postas )

28.2202

-

. PEIXE ( Cabeça/ Espinhaço )

147.844

-

. PEIXE PORÇÃO CONGELADA

5.000

-

. PESCADO CURADO

71.940

-

, PESCADO CONGELADO PI ISCA

394.741

44.927

. CARNE DE PEIXE MOÍDA CONG.

-

23.341

TOTAL

2.609.250

180.335

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EXPORTAÇÃO DO PESCADO - MERCADO EXTERNO (1993)

DISCRIMINAÇÃO

QUANTIDADE (Kg)

VALOR US$ . PEIXE INTEIRO CONGELADO

1.026,6

2.833,50

PEIXE EVISCERADO CONGELADO

45.640,0

151.324,80

. FILÉ DE PEIXE CONGELADO - USA

149.550,0

653.301,41

FILE DE PEIXE CONGELADO - FRA

2.121,6

6.176,04

TOTAL

198.338,2

813.635,75

FONTE : NIP/ SPI/ DFARA/ AM - NIESA/ SEPROR ( * ) - DADOS REFERENTE AO 1° SEMSTRE/ 93

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VENDA E ESTOQUE DE PESCADO DAS FIRMAS LOCALIZADAS EM MANAUS, DURANTE O ANO DE 1993

MÊS CONGELADO ( em Kg ) ESTOQUE ( em Kg )

INTEIRO

EVISCERADO DESCABEÇAD

O

EVISCERAD

O COM CABEÇA

FRIGELO

SURUBIM

CODEPESCA

JANEIRO 67.068 34.552 41.655 382.508 338.839 40.677

FEVEREIRO 96.943 151.591 83.082 266.018 351.221 34.554

MARÇO 459.677 47.178 170.216 95.603 148.333 48.708

ABRIL 134.448 4.881 129.780 11.773 24.519 -

MAIO 22.078 3.387 11.325 - 93.087 -

JUNHO - 1.278 91.800 - - -

JULHO • - - - - .

AGOSTO - 24.384 - 83.431 44.335 -

SETEMBRO 1.477 41.879 113 228.350 186.014 -

OUTUBRO 2.480 21.700 35.080 269.579 450.358 -

NOVEMBRO 4.378 13.040 282040 357.323 208718 -

DEZEMBRO 115.395 2.428 50 307.728 267.388 -

TOTAL 903.944 346.307 845.141 . . _

FONTE: SUDEPE/AM OBS ; O frigorifico Codepesca, pertencente á Codeagro, inexplicavelmente foi fechado em Março/ 83

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PREÇO (Cr$/ Kg) MÉDIOS DE PESCADO COMERCIALIZADO A NÍVEL DE VAREJO PELO FRIGORÍFICOS, EM MANAUS, DURANTE 1983.

TIPO MÊS

CONGELADO

INTEIRO ( 1 )

EVISCERADO/ DESCABEÇADO ( 2 )

EVISCERADO/ COM CABEÇA (3)

JANEIRO

206,5

337,1

-

FEVEREIRO

280,9

334,5

226,7

MARÇO

215,3

470,1

444,3

ABRIL

413,3

337,2

364,2

MAIO

479,8

387.7

456,5

JUNHO

-

300,0

361,4

JULHO

-

-

-

AGOSTO

-

650,8

-

SETEMBRO

300,0

656,0

600,0

OUTUBRO

300,0

647,6

300,0

NOVEMBRO

713,4

778,4

210,0

DEZEMBRO

427,4

584,9

300,0

1 ) - pacu, pescada , pirapitmga, sardinha, aracu, matrinchã, curimatã. tucunaré, jaraqui, tambaqul ( 2 ) - pirarucu, dourado, filhote, pacomon, piramutaba, pirarara, piraiba, surubim ( 3 ) - tambaqui, jaraqui, pirapitinga, pescada, matrichâ, aruanã, tucunaré, curimatã FONTE SUDEPE/AM

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96

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE VENDA DE PESCADO PELAS INDÚSTRIAS LOCALIZADAS EM MANAUS, DURANTE O ANO DE 1983

PEIXE CONGELADO PEIXE SALGADC

ESTADOS INTEIRO EVISCERADO SECO

PESO VALOR DESCABEÇADO COM CABEÇA PESO VALOR

(*g) (CrS) PESO VALOR PESO VALOR (Kg) (Cl*)

ta) (CrS) (Kg) (CrS)

AMAZONAS 838.127

235.560.150 56.1 4Í 21 970.465 845.141 265.189.810 . -

SÃO PAULO

7.310 2.201.500 103.403

50.589.045 - _ - -

GOIÁS 6027 1.353.100 105.128 43.810.365 - . - -

RONDÕNIA 800 400.000 200 69.000 . - - MINAS 33.120 14.064.000 71.571 28.973.515 - • - GERAIS 13.560 4.272.900 9.856 2.881.270 - - • RORAIMA - . _ _ 510.948 363.333 PARÁ

TOTAL 903.944 257.851.650

345.307

148.202.660 845.141 265.189.810 510.948 363.388

DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DAS VENDA DE PESCADO PELAS INDÚSTRIAS DO AMAZONAS EM 1982

ESTADO

QUANTIDADE ( T )

%

VALOR (Cr$)

Pará

796,130

26.93

240.147.902,

São Paulo

475,522

16.09

83.517.020,

Bahia

15,000

0.51

4.500.000

Minas Gerais

214,4940

7.24

32.365.741,

Rio de Janeiro

12,531

0.42

2.687.508,

Goiás

96,853

3.27

16.492.675,

Paraíba

6,168

0.21

1.448500,

Paraná

20,815

0.70

5.190.880,

Recife

0,150

0.01

450.000,

Brasília

12,868

0.43

3.445 040,

Amazonas

1.303,319

44.12

288.619.752,

TOTAL

2.955,850

100

678.760.018,

Page 97: Livro A pesca no amazonas: Problemas e Soluções 2ª Edição

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PRODUÇÃO DE PESCADO BENEFICIADA E COMERCIALIZADA PELAS INDÚSTRIAS DE MANAUS

PESCADO CONGELADO PESCADO SALGADO SECO

ANOS

TON.

VALOR (Cr$

1.000)

TON.

VALOR (Cr$

1.000)

1979

1 903,3

58.990,00

1.864,5

94 380,00

1980

2.109,0

125.589,00

1.056,7

110.414,00

1981

2.179,9

243611,00

686,0

127.498,00

1982

2.149,4

438.701,00

806,4

242.825,00 FONTE SUDEPE/AM

Page 98: Livro A pesca no amazonas: Problemas e Soluções 2ª Edição

98

FISCALIZAÇÃO DA PESCA

De acordo com o Decreto-Lei N° 221, de 28 de fevereiro de 1967, que "dispõe

sobre a proteção e estímulo à pesca" e de legislação complementar, compete ao IBAMA regulamentar a atividade pesqueira em todo o território nacional.

Em que pese toda essa competência, face à dimensão continental brasileira, tal atividade se reveste de difícil execução. Por essa razão a Constituição de 1988, do Artigo 23, item VII, e Artigo 30, itens l e II transfere poderes aos municípios para complementar a Legislação Federal e dividirem as responsabilidades da preservação da flora e da fauna. Com base nessas atribuições que foram conferidas pela Constituição aos Municípios, alguns prefeitos passaram a proibir a pesca em alguns lagos e até em rios, muitas vezes exorbitando em suas funções.

Há quem diga resultar o principal problema das Leis do IBAMA, terem sido instituídas considerando somente a pesca litorânea, omitiu o interior com suas pecularidades regionais.

A legislação pesqueira do Brasil tem sido elaborada com fundamentos nas características, hábitos e costumes da pesca litorânea e interior das Regiões Sul e Sudeste. Eis porque a interpretação dos textos legais, na Região Amazônica em particular, face à linguagem e conceitos de tipo e de petrechos de pesca, suscita dúvidas e entendimentos diferentes da intenção dos legisladores.

A SUDEPE hoje IBAMA, através da Portaria n°. 466, de 08 de novembro de 1972, estabeleceu e mantém os conceitos:

"Art. 2°. - No exercício da pesca interior, fica poribido o uso dos seguintes aparelhos: a) redes de arrasto e de lance quaisquer; b) redes de espera com malhas inferiores a 70 mm, entre ângulos opostos, medidas esticadas e cujo comprimento ultrapasse a 1/3 (um terço) do ambiente aquático, colocadas a menos de 200m das zonas de confluência de rios, lagos e corredeiras, a uma distância inferior a 100 metros uma da outra; c) rede eletrônica ou quaisquer aparelhos, que através de impulsos eletrônicos, possam impedir a livre movimentação dos peixes, possibilitando sua captura; d) tarrafa de qualquer tipo com malhas inferiores a 50mm, medidas esticadas entre ângulos opostos; e) covos com malhas inferiores a 50mm colocadas à distância inferior a 200 metros, de cachoeiras, corredeiras, confluência de rios e lagoas; f) fisga e garatéia, pelo processo de lambada; e g) espinhei, cujo comprimento ultrapasse a 1/3 (um terço) da largura do ambiente aquático e que seja provido de anzóis que possibilitem a captura de espécies imaturas. Art. 3°. - No período de piracema só é permitido o uso de linha de mão, caniço simples, bóia e espinhei. Art. 4°. - Fica proibido qualquer tipo de pesca praticada a menos de 200 metros, a jusante e a montante das barragens, cachoeiras, corredeiras e escadas de peixe". Insistia a SUDEPE, através da Portaria n°. 10, de 27 de maio de 1980: Art. 8°. - Fica proibido o emprego de aparelhos de pesca de arrasto, e de espera ou emalhar, características de pesca industrial, nos lagos e rios do Estado do Amazonas de que dependa a economia de subsistência das populações ribeirinhas.

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A SUDEPE delimitará as áreas consideradas indispensáveis à aplicação do disposto neste artigo". Para que se entendam essas medidas, impoe^se conhecer os conceitos da SUDEPE/IBAMA para todo o Brasil, sobre os ti pôs de pesca e apetrechos, emitidos através da Portaria n°. 20, de 09 de novembro de 1977; "Art. 6°. Parágrafo 1°. - Quanto aos petrechos de captura as modalidades de pesca permissíveis são: I - PESCA DE ARRASTO - a que se realiza com tração de rede pela embarcação; II - PESCA DE LINHA - a que se realiza com o emprego de linha simples ou múltiplas com anzóis ou garatéias; III - PESCA DE CERCO - a que se realiza com redes de cercar; IV - PESCA DE REDE DE ESPERA - a que realiza, sem tração, com redes de emalhar, seja de superfície, de meia água ou de fundo; V - PESCA DE ARMADILHA - a que se realiza, com emprego de armadilhas; VI - PESCA COMBINADA - a que, compatível com as características técnicas da embarcação, pode ser realizada com a combinação, na mesma viagem, das modalidades definidas nos números anteriores. Com esses três instrumentos legais poderemos dissecar os seus textos e dar a

interpretação que a Fiscalização da Pesca tentou instituir. A Portaria n°. 466 proibe o uso de rede de arrasto e de lance para a pesca no

interior. Para quem desconhece os conceitos do IBAMA, sobre pesca de arrasto ou de lance, não seria possível pescar comercialmente no Amazonas. Os pescadores profissionais não poderiam pescar, pois nesta Região se chamam as redes de pesca de "arrastão ou arrastadeiras'". Acontece, porém que a pesca aqui em uso não se enquadra como PESCA DE ARRASTO OU LANCE. A nossa pesca é tipicamente de cerco, com a diferença de se puxar a produção para os barcos ou canoas ou para as praias nos "lances". Para nós "lance" não significa a maneira da pesca, mas o local onde ela acontece.

O conceito de tipos de pesca está bem definido na Portaria n°. 20 citada anteriormente. A pesca de arrasto pratica-se arrastando a rede por muitos e muitos metros, com dois possantes rebocadores. Ela é praticada exclusivamente em oceanos; não deverá nunca servir na pesca interior, com a sua característica de pesca industrial. Ainda sobre o assunto a Portaria n°. 10 insiste na proibição, a nosso ver inócua: a proibição baixada pela Portaria n°. 466 é geral para toda a pesca interior. Muito mais inócua, ainda quando estabelece que as áreas serão delimitadas, fatos não verificados até hoje e desnecessários: esse tipo de pesca não existe no Amazonas.

Alguém alegará não ser esse o enfoque pretendido pela Portaria. Pior ainda, o Governo do Estado, ao solicitara Portaria n°.10, deveria atentar para os conceitos existentes.

Quanto à proibição de redes de espera (malhadeiras), conforme o item "b" da Portaria 466, Art. 2°., nada mais justo. Todavia disciplinar o seu uso é difícil em face de nossa imensa rede hidrográfica. Cabe aqui às próprias comunidades a fiscalização. Devem fiscalizar o tamanho das malhas e se ficam colocadas em lugares permitidos. O mesmo deve ser observado em relação ao tamanho das malhas das tarrafas. No Amazonas não se pesca com covos ou armadilhas, tampouco utilizando o processo de fisga ou garatéias, mas usa-se bastante os espinheis, e ai se deve observar a determinação do item "g" da Portaria 466.

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Mas, a nosso ver, o mais impraticável no Amazonas é o Art. 3°. proibindo a pesca comercial no período de piracema.

Precisamos também entender que, para o IBAMA, piracema significa migração de peixes para desova. O IBAMA não considera a migração dos peixes em busca de alimentos ou por outra razão que não seja para reprodução das espécies.

Caso tal proibição fosse cumprida fielmente e seria o ideal, não resta a menor dúvida de que geraria em Manaus problema social muito grande. Deve a pesca ser proibida por zonas até termos condições de proibi-la em todo o Estado.

Apesar de existência da Fiscalização da Pesca, não poderemos negar que a pesca no Amazonas vem tomando proporções exigindo providências mais urgentes das autoridades responsáveis pelo Setor Pesqueiro. Não poderemos continuar agindo como se ainda tivéssemos a população de 20 anos atrás e o nosso esforço de pesca não tivesse aumentado nas dimensões conhecidas.

Sabemos que não poderemos continuar pescando como estamos fazendo, de forma predatória.

As Portarias do IBAMA, não permitindo a pesca de espécies por períodos, Tambaqui, Matrinxã e Pirarucu mais especificamente, além de proibições em locais de captura, são ineficazes pela impossibilidade da Fiscalização cobrir todas as áreas de captura e desembarque de pescado. Mesmo policiando mercados e feiras, não atinge resultados compensadores: os pescadores continuam pescando indiscriminadamente e sempre encontrarão um jeito de burlar os fiscais da pesca.

A comprovação constatamos nos dados fornecidos pela própria Colónia de Pescadores Z-12 de Manaus. No período de 1°. de outubro a 31 de março/93 foram desembarcados, em Manaus, 157.790 quilos de Pirarucu, exatamente no período de proibição de captura da espécie. Tais números representavam 51,18% de toda a produção entregue na Capital. Essa situação permanece nos dias de hoje.

Outro fato: a presença constumeira, nos Mercados e Feiras de Manaus, dos já famosos "Roelhos", algumas vezes até vendidos em "cambadas" ou "enfieiras". Para felicidade nossa, a pesca no Amazonas é artesanal. As técnicas regionais, embora com alguns requintes inspirados pela nossa imaginação fértil, não chegam a causar os problemas que enfrentaríamos com a pesca de arrasto. A pesca de cerco pareceria brinquedo de criança comparada com esse tipo de pesca.

Como solução definitiva e racional para incrementar os serviços de fiscalização, propomos, com amparo na Constituição, dividir as tarefas do IBAMA com os Estados e Municípios, melhorando, assim a administração de nossos recursos pesqueiros.

O estoque pesqueiro precisa ser melhor gerido, proporcionando também a sua reposição. Isso só acontecerá, a nosso ver, de duas maneiras. Pelo repovoamento e através de administração temporária nos locais de desova, naturalmente em época de piracema. Há necessidade de programar formas de administrar os recursos pesqueiros, sem contudo prejudicar quem retira da atividade da pesca o sustento de seus familiares. Para isso deveriam ser estudados os meios mais viáveis.

A hipótese de repovoamento apesar de salutar, parece muito remota; demandaria uma quantidade enorme de alevinos. Ora, se não dispomos, com exceção do tambaqui, o suficiente para distribuição aos piscicultores, como teríamos para repovoamento? A melhor alternativa: ajudara natureza a cumprir a sua tarefa. Os peixes têm que desovar.

Como ilustração relatamos uma experiência. Ela certifica-nos ser absolutamente benéfica e racional a proibição temporária pelo IBAMA em época de desova. Em janeiro/84 uma equipe de técnicos do Projeto Matrinxã, especialistas em reprodução de peixes, passou 30 dias pesquisando no Lago Aruá, Município de Tapauá. Nesse período constataram que os barcos de pesca trouxeram para Manaus 600 toneladas de jaraquis:

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cerca de 300, do total, de fêmeas ovadas que pesavam, em média, 350 gramas. Logo seriam 857.143 fêmeas com aproximadamente 100.000 óvulos cada uma.

Se elas tivessem desovado e houvesse uma taxa de sobrevivência de apenas 0,5% (meio por cento), um ano depois o Lago do Aruá estaria contribuindo com mais de 150.000 toneladas de Jaraquis, distribuídos em nossa malha hidrográfica pela migração natural em busca de alimentos.

Somaria quase 10 vezes mais a produção de Jaraqui, e quase 04 vezes a produção de todas as espécies desembarcadas em Manaus. Como se estima a produção total do Estado, controlada e não controlada, em torno de 100.000 toneladas/ano, somente o Lago Aruá estaria produzindo 50% a mais.

Desde 1982 a SUDEPE vinha proibindo a pesca em mais de 50 lagos considerados como "criadores". Acreditam os técnicos que os resultados foram satisfatórios, e, como testemunho, em 1984 a produção foi acima das expectativas mais otimistas.

De posse dessas informações, conclui-se que a forma mais eficiente de se preservar as nossas espécies seria a proibição da pesca na época de piracema para desova. Para tanto haveria necessidade de resolver o problema do abastecimento de pescado em Manaus, nesse período. Acreditamos na solução com as seguintes providências:

1. Construção e/ou aproveitamento de câmaras para armazenagem de pescado, onde os próprios armadores e os despachantes formariam estoques a lhes proporcionarem condições de sobrevivência durante os meses da pesca comercial proibida. Essas câmaras de preferência funcionariam no Terminal Pesqueiro, próximo ao desembarque, onde pagariam taxas de utilização. O estoque, somado aos dos industriais, com certeza abasteceria Manaus de pescado e a preços controlados.

As cidades do interior, dotadas de frigoríficos e de frota pesqueira organizada, entrariam no mesmo processo; as demais continuariam abastecidas como agora, pelos pescadores não motorizados e não profissionais. A sobrevivência dos pescadores seria assegurada pelos estoques, formados durante a época não proibida somente com os excedentes hoje jogados fora. Nesse período os armadores e despachantes teriam que programar em manter os pescadores, na época de proibição, ocupados na reforma dos barcos, conserto dos apetrechos ou revenda da produção estocada. Enfim não será difícil oferecer trabalho para uma tripulação em torno de seis pessoas e por apenas dois ou três meses, principalmente considerando-se que nesse período estará com estoque de pescado no Terminal Pesqueiro, do qual os pescadores terão participação em face do regime de parceria.

2. Alheias tais condições, impossível proibira pesca comercial em todo Estado, mas apenas por Zonas. Em cada ano seria proibida a pesca comercial em rios. O Purus e seus afluentes, por exemplo. Esta opção dificultaria muito mais: demandaria a colaboração de todas as autoridades municipais e o envolvimento consciente das comunidades.

3. Terceira alternativa: proibição progressiva. No primeiro ano valeria por apenas 30 dias, no segundo por 60 e no terceiro por 90.

4. Quarta alternativa: proibição por espécie. Algumas espécies seriam selecionadas e proibidas.

Dessas sugestões, no atual estágio de vida, somente parece possível a segunda. Ainda assim não será nada fácil e terá muitas implicações políticas e sociais. Atualmente a fiscalização da pesca no Amazonas vem executando sua atividades de forma razoável, dentro de seu alcance.

Fiscalizar, como muitos advogam, no ato da captura, é realmente impossível. Os nossos mais de 45.000 Km de rios bastam para justificar a afirmativa. Mas algumas

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ações diminuiriam razoavemente os obstáculos, sobretudo se as Prefeituras proibissem a comercialização, nos Mercados, Feiras ou estabelecimentos comerciais similares, de pescado cujas medidas não satisfizessem as exigências do IBAMA ou fosse em época proibida.

Somente com tal providência diminuiria muitíssimo a incidência de pescado com tamanhos proibidos, pois os pescadores não teriam dificuldades de comercialização. No futuro o trabalho de fiscalização poderia ser minorado de muito com a realização de campanha educativa executada pelo IBAMA a partir das escolas do 1°. grau até a Universidade. Mesmo assim, em nosso interior, por exemplo, não sabemos como ficaria a cabeça de um estudante de 08 a 10 anos que na escola fosse orientado para não pescar um Tambaqui com menos de 55 cm, porque ainda não havia se reproduzido, e ao chegar a casa, encontrasse o pai como uma "enfiada" de "roelos" que capturou para matar a sua fome e da família.

Realmente fiscalizar é preciso, mas muito mais importante é convencer a não depredar.

Por acreditarmos na educação sugerimos à Secretaria da Educação e Cultura e ao próprio Ministério que fosse incluído nos currículos escolares do 1°. e 2°. graus, a exemplo de OSPB, uma matéria tratando da preservação das espécies. Hoje, com o meio ambiente em moda, talvez isso aconteça.

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EXTENÇÃO PESQUEIRA

A Extensão Pesqueira tem por objetivo principal oferecer ao público envolvido nas atividades da pesca, assistência técnica e também social, a lhes possibilitar melhor forma de vida. Dentro dessa orientação caberia aos extensionistas da pesca, entre outras tarefas, promover o associativismo da classe, orientar na obtenção de crédito, transferir tecnologias de manuseio e conservação de pescado, como elo de ligação com a pesquisa, aprimorar técnicas de captura sem práticas predatórias, orientar e assistir a comercialização do pescado, orientar e assistir aos piscicultores e, finalmente, em conjunto com todas essas atividades, criar e estimular o funcionamento dos Clubes de Mães ou similares.

A Extensão Pesqueira no Amazonas, por força de convénio com o IBAMA, é executada pela Empresa de Assistência Técnica e de Extensão Rural-EMATER, que infelizmente não conseguiu até hoje, nessa área, executar um trabalho realmente satisfatório. Muitas são as razões. A principal: falta de recursos. Por conta disso, limita-se a efetuar projetos para obtenção de créditos e a assistir Clubes de Mães. Claro que esse trabalho é necessário, mas muito mais importante seria proporcionar aos pescadores melhor distribuição na renda das pescarias, melhor aproveitamento do pescado, melhor forma de comercialização.

Deve-se confessar: o principal responsável pela omissão é o próprio IBAMA ao transferirsua responsabilidade para terceiros. A exemplo do ocorrido com a Fiscalização, ela também era feita pelo Estado, e a duras penas voltou â responsabilidade do próprio IBAMA, a Extensão Pesqueiros deve sair da jurisdição do Estado, para não ficar à mercê de injunções e caprichos de dirigentes alheios aos problemas de nossa pesca e sem humildade suficiente para seguir, como aliás determina o Convénio, a orientação do órgão que estabelece a política da pesca do Brasil.

A nossa Extensão Pesqueira precisa dar menos importância às linguiças de peixes, à distribuição de sal grátis aos pescadores, às brigas com presidentes de Colónias, à formação de grupos dissidentes, igrejinhas, e partir para o campo, molhar os pés, viajar nos barcos pesqueiros e tentar ensinar-lhes o manuseio do pescado; como gelar o peixe, porque o peixe deve ser imergido em água gelada antes de ir para a caixa, porque a caixa tem que ser dividida em urnas, porque não deve depredar, descobrir formas de comercialização, orientar os pescadores para que se documentem e exijam os seus direitos na Colónia, no IBAMA, na Previdência, enfim assumir junto aos pescadores o compromisso de tornar a atividade da pesca mais rentável e menos sofrida. Tais ações somente serão possíveis quando os responsáveis entenderem que fazer extensão é muito diferente de fazer política.

Alguns técnicos da Emater, felizmente somente alguns, pela sua própria formação, cedo descobrem que tem mais "cultura" que os caboclos e muitas vezes até mais que os políticos locais. Aí, considerando-se os donos das verdades, esquecem as razões pelas quais estão no interior e se transformam em "políticos".

Muitas são as atividades que precisam ser executadas pela Extensão, entre outras a difusão de novos métodos de conservação e manuseio do pescado; técnicas de captura; orientação à piscicultores, etc.

Um exemplo: os pescadores de canoas, que pescam com tarrafas ou anzol, costumam colocar os peixes fisgados no "porão" da canoa, cobertos por um "japa" ou capim por várias horas. Quando voltam para casa esses peixes estão "moídos". Isso poderia ser evitado se os peixes capturados fossem colocados em pequenas "gaiolas" ou "covos" que ficariam submessos até o pescador voltar para casa. Alguém deveria orientá-los. Quem? A Extensão Pesqueira, naturalmente.

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PISCICULTURA

No Amazonas para muitos, mesmo dirigentes de órgãos e agências de desenvolvimento, cai no absurdo pensar em criar peixes. Costumam afirmar que a natureza ai está, pronta para nos prover da quantidade de pescado que quisermos, bastando evitar a pesca predatória. De fato se conseguíssemos eliminara pesca predatória e administrássemos os nossos recursos pesqueiros da forma como defendemos no capítulo em que abordamos os problemas da Fiscalização da Pesca, teríamos abundância de pescado e o abastecimento de Manaus facilitado pela maior oferta de peixe brancos. Mas uma coisa não inviabiliza a outra. O fato de preservamos não significa inviabilizar a piscicultura. Além do mais preservar pareça ser utopia neste Estado. Não acreditamos em processo nem a curto nem médio prazo. Temos que educar, primeiro as autoridades, depois o povo.

Os países asiáticos, principalmente a China com 3 milhões e o Japão com 1 milhão de toneladas/ano, mostram o maior exemplo de excelente negócio que é criar peixes. Ninguém desconhece que algumas espécies estão se tornando mais difíceis de ser encontradas. O Tambaqui antigamente chegava a pesar além de 30 quilos com mais de 80 cm, hoje não passa de "roelo".

Criar peixes não é novidade para ninguém. No Nordeste e Sudeste já se produz mais de 100.000 toneladas de pescado por ano, excluindo a produção do camarão, crustáceo que vem se tornando a atividade mais rentável para os investidores nordestinos.

Afirmamos sem o menor constrangimento: a criação de peixes em ambientes controlados, açudes, tanques, lagos naturais ou artificiais, e também em gaiolas flutuantes, é a melhor opção de investimento no setor primário e o caminho para a nossa verdadeira e natural vocação. Quando esquecermos que os outros estão fazendo, em diferentes e gélidas regiões do mundo e descobrirmos o que temos aqui sob os nossos olhos, estabelecendo como prioritário a produção de peixes em cativeiro, seremos o povo mais bem alimentado da terra e ainda nos daremos ao luxo de exportar proteínas para quem nos oferecer melhores preços e condições de pagamento.

Com uma piscicultura forte desaparecerão até os problemas de fiscalização da pesca, desaparecerão os conflitos entre pescadores e ribeirinhos, diminuirão as dificuldades de estocagem e principalmente conseguiremos peixes em abundância, bem como oportunidades de emprego para milhares de pessoas, na capital e no interior. Para viabilizar a criação de peixe no Amazonas necessitamos considerar os seguintes fatores:

- Definir quais espécies devem ser cultivadas. Ainda não possuímos aqui, no Amazonas, um "pacote" de tecnologia pronto. Algumas experiências do INPA e de alguns piscicultores amadores indicavam, ontem, a Matrinxã como a espécie melhor para cultivo, que com excelente curva de crescimento pode atingir até 1 quilo em menos de um ano. Hoje, o Tambaqui é a opção mais procurada. A experiência Nordestina facilitou essa tendência e nos levou por esse caminho, no entanto, continuo acreditando no Matrinxã. O seu crescimento possibilitará, em apenas um ano está disponível no mercado.

- Apoio incondicional a Estação de Piscicultura de Balbina e criação de pequenas estações no interior com o uso de gaiolas flutuantes. Não adianta pensar em piscicultura sem termos à disposição dos piscicultores os alevinos. Seria como pretender implantar granjas de frangos sem pintos. Deve-se pensar em estacões flutuantes onde os tanques de alevinagens e peixes jovens, seriam gaiolas dentro do próprio rio. Sobre este assunto,

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alguns técnicos fazem restrições: Acham que tanques-redes (gaiolas) só devem ser usados para a engorda. Alegam que as matrizes ficariam "estressadas" confinados em gaiolas. Precisamos fazer um experimento para tirar as dúvidas. Particularmente, não creio. O fator limitante será o tamanho da gaiola e o custo dos materiais hoje utilizados.

- Créditos. As instituições de crédito deveriam programar uma linha de financiamento especial para estimular a nova atividade, até ficar comprovada a sua maturidade e não necessidade de subsídios. O FMPE não atende a demanda existente, fazendo com que os produtores busquem financiamentos com recursos oriundos do FNO, com correção monetária acima de 60%, inviabilizando economicamente os projetos.

- Áreas. A topografia de nossa região tem dificultado o aproveitamento de alguns igarapés, pelo alto custo de construção de barragens. Cabe-nos encontrar soluções para diminuir a despesa com os projetos, tais como pequenas barragens sucessivas, derivações e aproveitamento de lagos naturais de terra firme e, se possível, de vázeas. Os lagos de vázeas seriam povoados no começo da vazante e despescados quando as águas estivessem próximo a transbordar. Cultivariamos espécies com crescimento economicamente viável nesse intervalo de tempo, cerca de 8 meses, dependendo, naturalmente, da idade dos alevinos que povoassem o lago.

Outra forma de criar peixes: fazendas flutuantes. Acreditamos estar aqui uma atividade sobe medida para o interior do Estado, sobretudo para as pequenas comunidades, que desenvolvem ocupações na agricultura, os colonos, como convencionamos chamá-los.

A criação de peixes em gaiolas proporcionaria evitar aos ribeirinhos a faixa diária de pescar para conseguir 3 a 4 peixes, enquanto a mulher e os pequenos filhos cuidam da roça ou do fabrico da farinha. Possibilitaria toda a família tratar das plantações e comer peixe à vontade na hora do almoço. O processo traria até mudanças sociais em nosso interior: surgiria nova distribuição de tarefas, o homem trabalhando mais na agricultura e em consequência produzindo também muito mais.

As fazendas de peixes em gaiolas consistem de pequenos tanques flutuantes, de aproximadamente dois metros de profundidade, telados, onde são colocados e alimentados os peixes.

Com base nas experiências de Itaipú e em Urucará, recomendamos que a altura dos tanques não pode ser superior a dois metros em face da carência de oxigénio dissolvido nos rios da Região Amazônica após essa profundidade. Em um hectare de lâmina d'água, em gaiola, será possível produzir, em apenas um ano, aproximadamente 1000 toneladas de Tambaqui. O problema reside no investimento inicial na construção das gaiolas, com alevinos e alimentação. O primeiro sofreria bastante redução: até mesmo as telas seriam substituídos por treliças de madeira ou de cipó trançados e os flutuantes seriam de assacuzeiros, ou tambores vazios e fabricadas com a mão-de-obra do próprio produtor orientado pela Extensão Pesqueira. Para povoação capturar-se-iam peixes adultos na natureza ou nascidos por desova induzida a nível de campo ou em pequenas estações flutuantes distribuídas pelo interior.

Restos de comida, raspas e farelos de mandioca, frutos, dendê, milho e pupunha de plantações próprias alimentariam os peixes. A SUDEPE, em 1982, começou a realizar uma experiência nesse sentido, com recursos do PROMAM, em uma comunidade do Município de Urucará, em colaboração com o Centro de Treinamento Rural (CETRU), objetivando demonstrar a viabilidade desse tipo de criação de peixes em cativeiro, infelizmente isso não prosperou. As pessoas que nos substituíram não deram continuidade ao projeto. Dez anos depois, em 1989 com o nosso retorno à Prefeitura Municipal de Urucará, resolvemos dar prioridade

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à piscicultura e testarmos as nossas ideias. Infelizmente não recebemos apoio financeiro e o que poderia ter sido feito em pouco tempo, levamos praticamente o tempo de nosso mandato para fazermos alguma coisa com a colaboração técnica da EMATER-AM, que nos apoiou desde o início. Dois açudes e doze gaiolas foram construídos e povoados com Tambaquis.

O crescimento foi excelente, apesar da alimentação não ser a ideal e nem termos tido condições, por falta de recursos de fazermos consorciação com marrecos ou porcos, ou até mesmo produzirmos alimentos para melhorarmos a dieta dos peixes. Mas, como em 1991 tivemos uma seca e uma estiagem muito grande, não acontecida há mais de vinte anos, tivemos que interromper a criação nos açudes e distribuir os peixes que estavam crescendo dentro das nossas expectivas. Por falta de alevinos, não conseguimos repovoá-las novamente o que aconteceu somente em 1993.

Outra experiência que fizemos são as gaiolas flutuantes construídas em telas galvanizadas, com 36 metros quadrados cada uma e com 2 metros de profundidade. Foram distribuídas as margens dos rios, onde no final do verão de 1991 receberam Tambaquis capturados nos lagos, com média de 1 Kilo e 20 cm de comprimento. Foram alimentados com restos de comida, frutos silvestres, sobra de mandioca e milho. Servirão de indicadores para a implantação definitiva de um projeto gaiolas flutuantes para o interior.

Este sistema, aprovado, deverá apresentar inúmeras vantagens ao pescador pequeno. Vejamos:

- Na época de pesca, selecionará as espécies mais nobres, Tambaquis, Matrinxã entre outros. Os exemplares menores e até os excedentes de sua produção ainda vivos depositará nas gaiolas. Se tivéssemos bastantes alevinos, essas gaiolas seriam abastecidas como acontecem com as granjas de aves, os peixes ficariam "estocados" pelo tempo que fosse necessário, sem gastos de frigorificação, aumentando de peso e à disposição do pescador no momento em que precisasse comer ou vender.

- O tempo que passaria pescando dedicaria a outras atividades produtivas, não se esquecendo, todavia, de fazer a coleta de alimentos para os peixes "armazenados" nas gaiolas e de quando em vez complementar a dieta com proteína animal. Para que isso seja possível, precisamos implantar, com urgência uma "estação flutuante" de piscicultura. Os tanques de desova, larvas e pós-larvas ficariam no próprio barco, os de alevinagem e jovens seriam em gaiolas flutuantes com telas com malhas adequadas. Aqui está a principal vantagem das "gaiolas"na piscicultura no Amazonas: o ambiente será mantido natural. Vejamos:

- Não haverá desmatamento, represamento de nascentes ou igarapés; - Não haverá área inundada; - Não será preciso adubar, controlar temperatura ou PH da água; - Não será necessário o uso de máquinas e equipamentos pesados; - Não será preciso ser dono de terrenos, de estradas, etc.; - Devido ao grande volume da água do Rio ou Lago não haverá problema de baixa

quantidade de oxigênio dissolvido; - Com o confinamento dos peixes, tornam-se mais fáceis o acompanhamento do

crescimento, o manejo, a alimentação, o controle de predadores e a despesca; - Maior produtividade ou seja maior quantidade de peixe por metro cúbico. As gaiolas estarão colocadas no próprio ambiente em que vivem os peixes. A

única diferença será o espaço diminuído. Não se faz necessário dizer que os custos serão menores e a produção será até cem

vezes maior que em açudes.

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Em Conceição de Alagoas-MG, em experimento com Tambaqui está se produzindo, em um ano 600 Kg/m3, ou seja 500 peixes de 1.200 gramas.

Recomendamos a construção de gaiolas com 18m3, ou seja com dimensões de 3,00 x 3,00 x 2,00 m, que facilitam o manejo. Esse assunto, com detalhes abordamos na cartilha "Como Criar Peixes em Gaiolas" publicada em outubro/93 e distribuída pela Emater/Am.

Em um hectare, com taxa de povoamento de 50 peixes/m2, haverá após um ano uma produção incrível de 6.000 toneladas de Tambaquis. Parece irreal, mas é verdade. Claro que no Amazonas pelo nosso hábitos alimentares, acostumados a apreciar Tambaquis com mais de 10 quilos, teremos que diminuir esse povoamento. Assim, colocaríamos 500 peixes por gaiola, ao cabo de 6 meses dividiríamos a produção com outras gaiolas (50%); com esse procedimento poderíamos, em dois anos, estar produzindo Tambaquis com mais de dois quilos e mais de 40 cm de comprimento. "Roelos" prontos para o mercado. Neste exemplo, um hectare produziria 1000 toneladas em dois anos. Recuso-me o direito de transformar em reais. É dinheiro demais e fácil de ser conquistado. O que falta? Somente uma coisa: Decisão Política.

Outra excelente área para piscicultura no Amazonas encontramos exatamenie em Manaus, no Distrito Agropecuário da Suframa. Poucos lugares reúnem melhores condições para esse tipo de atividade.

O Distrito Agropecuário possui mais de uma centena de pequenos igarapés, nascidos na própria área, perfeitamente controláveis e relativamente próximos do maior mercado consumidor do Estado, Manaus.

A utilização dos igarapés e das áreas não aproveitáveis para agricultura do Distrito abririam caminho para viabilizar os projetos atravessando dificuldade, em decorrência até mesmo do prazo de maturação. O Distrito reúne condições ímpares para piscicultura: além da água controlável, dispõe de opções para produzir alimentos. Ademais a proximidade da Estação Produtora de Alevinos, que está situada em Balbina, beneficiará o empreendimento.

A alimentação dos peixes, como agora a de frangos, exige bastante seriedade. Criar frangos sem programa de produção de milho é extremamente difícil, em decorrência do alto custo da importação de ração, o mesmo problema enfrentaríamos com alimentação dos peixes, se não observarmos este item na implantação do projeto. O Distrito Agropecuário tem hoje cultivados cerca de 15.000 ha. de seringueiras; produzirão em média 600 quilos de sementes por hectare. Outra alternativa para o piscicultor do Distrito: o plantio de apenas 1 ha de dendê, cuja produção naquela área seguindo informações do antigo CNPSD - Centro Nacional de Pesquisa de Seringueiras e Dendê, giraria em torno de 15.000 quilos de cachos. Seringa, dendê, ingá, pupunha, serviriam de alimentos básicos dos peixes, a custo relativamente pequeno e sem perigo de faltar por causa de transporte ou carência em outras regiões.

Existe, ainda, no Distrito, dois grandes projetos de Dendê. Uma da MONTEBOR, do grupo S. Monteiro e outro da Embrapa. O primeiro já está em fase de operação da Usina. Com certeza haverá produção da "Torta de Dendê" que poderá ser uma alternativa para a alimentação dos peixes.

Haverá, certamente, a necessidade de complementação da alimentação com proteína animal.

Caberá ao piscicultor buscar soluções. Restos de feiras, do Frigomasa e de fundo de caixas dos barcos pesqueiros oferecerão matéria prima para uma boa ração. Além disso, a Frigomasa oferece uma "farinha de osso" de excelente qualidade.

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Opções encontramos muitas. Faltam-nos apenas apoio e incentivo. Esperamos que a Fundação Centro de Apoio ao Distrito Agropecuário também acredite em nossas potencialidades e, com a Associação dos Produtores do Distrito Agropecuário da Associação ddos Piscicultores do Amazonas e as Agências e Órgãos de Desenvolvimento do Setor Primário transformem o Amazonas no maior produtor de pescado de água doce em cativeiro do Brasil.

'GAIOLAS FLUTUANTES"

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AS EXPERIÊNCIAS DE URUCARÁ: AÇUDES E GAIOLAS

Quando em 1988, após uma ausência de quase dez anos voltamos a Urucará e tivemos que percorrertoda a zona rural do município como candidato pela terceira vez a prefeito municipal, percebemos como estava o interior sem opções de sobrevivência. Vimos, por várias vezes os comunitários das terras firmes tomarem "Tacaca", somente goma e tucupi, sem folhas e camarão, para matar a fome. Nada tinham plantado para comer. Os mais "previdentes" comiam mingau de banana quase todos os dias.

Percebemos então, que alguma coisa precisava ser teito para reverter essa situação. Infelizmente o caboclo do interior não era o mesmo de dez anos passados. A política paternalista, com doações de implementos agrícolas, madeiras, telhas, ranchos, etc., tinha feito com que se desacostumassem ao trabalho. Os mais "vivos" tinham procurado a capital do Estado em busca de empregos na Zona Franca e uma casa em um mutirão qualquer. As coisas complicaram tanto que hoje existe um "orgulho" muito grande em se distribuir 100.000 ranchos a esses nossos irmãos que foram induzidos a sair do interior para sofrerem na capital.

Ao assumirmos a Prefeitura em janeiro de 1989, com os minguados recursos do município resolvemos investir em piscicultura, entendendo ser esta uma atividade que certamente proporcionaria ao nosso caboclo uma ativrdade económica e que no mínimo lhe porporcionaria alimentos para saciar a fome quando os rios estivessem cheios e a pesca fosse difícil.

Assim tentamos. Construímos dois açudes. Um na Comunidade do PAURÁ, com aproximadamente 1,5 hectare. O outro, com 3,0 hectare na Comunidade de BUCUSAL. Ambos distantes de Urucará por mais de duas horas.

A ideia principal era envolver as famílias das comunidades nessa nova atividade. Depois de povoado os açudes o trabalho ficaria mais leve e poderia ser executado por homens, mulheres ou crianças. O viveiro seria de propriedade de todas as famílias envolvidas.

Chamávamos pomposamente de VIVEIROS COMUNITÁRIOS. Tínhamos convicção que estávamos no caminho certo.

Terminados os trabalhos, o viveiro do Paurá, recebeu 5.000 alevinos de Tambaquis trazidos do Nordeste com muitas dificuldades. Foi entregues após uma grande reunião aos comunitários que receberam todas as instruções de como deveriam cuidardo açude. Havia até uma certa euforia. Tudo estava dando certo. Os peixes cresciam, recebiam alimentos e a comunidade estava satisfeita. Quem não estavam satisfeitos eram os petistas, afinal estávamos nos propondo acabar a fome do povo e isso era ruim para um grupo que sobrevive a custa da miséria alheia. Será que para o prefeito não bastava ter colocado antenas parabólicas nas comunidades, permitindo que o povo também conhecesse outras realidades? Chegaram as eleições de 1990, coincidentes com o "início das atividades" do Projeto Echea. Este projeto, cujo líder era o empresário espanhol IGNÁCIO BENGOECHEA, pretendia construir cinco módulos constando cada de UM BARCO FÁBRICA E MIL PEQUENOS BARCOS DE PESCA. Como havia uma certa ligação de amizade com o espanhol que era nosso vizinho e andava com a primeira edição deste livro sempre embaixo do braço, alertamos-lhe que os nossos rios não suportariam mais esse tipo de esforço de pesca. Disse-mos-lhe que seria necessário fazer repovoamento das espécies que seriam capturadas. Surgia assim a ideia de Barco Laboratório, e a promessa do empresário de colocar no rio 500 peixes para cada um que fosse capturado.

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Como se não bastassem essas atividades, o projeto pretendia se envolver com ervas medicinais, regularização de terras, assistência social e a promessa de transformar ribeirinhos em micro empresários.

Era o que os petistas estavam precisando. Juntaram-se aos padres da Prelazia de Itacoatiara e abriram as baterias contra as nossas ideias, misturando-as propositadamente com o ECHEA. Pregavam que os peixes dos açudes comunitários quando crescidos não seriam dos comunitários, mas que pertenceriam ao "gringo" que os venderiam para o exterior e dividiria o dinheiro com o prefeito do município.

RESULTADO: Todo o nosso trabalho de conscientização, todo o sacrifício que fizemos, todas as nossas boas intenções e nosso idealismo, foram por alguns "mensageiros da fé", hipócritas e mentirosos, jogados fora. Alguns comunitários, cheios de dúvidas nas cabeças, começaram a visitar o viveiro de madrugada e "levar" os peixes que já tinham tamanho suficientes para se comer. Para completar, criminosamente desmaiaram a área onde se encontrava a nascente do pequeno riacho que abastecia de água o viveiro. A água acabou, obrigando-nos a fazer a despesca com lágrimas nos olhos. Dos 5.000 peixes restaram somente 650 com aproximadamente 15 centímetros que foram doados aos próprios comunitários.

Como consequência disso receberam um castigo. O riacho que também abastecia o reservatório de água da comunidade secou. Estão sem água até hoje. Antes o Prefeito havia colocado água encanada, luz, antena parabólica e barco para transporte na comunidade. Hoje não tem nada disso funcionando. Seria interessante procurarem o Bispo em Itacoatiara e reclamarem.

O outro viveiro, o do BUCUSAL, deixamos totalmente pronto inclusive já com a calagem efetuada e convenientemente adubado, ficou faltando ser povoado. Recebeu no final de 93,10.000 Tambaquis e certamente não terá os problemas do Paurá. Este pessoal tem outra cabeça, apesar de ligados a Igreja, aprenderam no exemplo negativo do Paurá. Quando ainda estávamos construindo o viveiro do Buçusal, sentimos que a construção de açudes, principalmente no interior era muito cara, já que necessitava de equipamentos pesados, inclusive de balsa e rebocador para transporte dessas máquinas.

Resolvemos então repetir as experiências de 1982, quando ainda estávamos na Coordenadoria da SUDEPE. Começamos a construção de gaiolas em telas de arame galvanizado e cantoneiras de ferro. Essa empreitada foi ajudada pelo Projeto ECHEA que começou a redirecionar os seus objetivos iniciais, abandonando o projeto de "barco-fábrica e canoas de pesca" para alinhar-se com as nossas ideias de fazendas flutuantes. Afinal as gaiolas despertavam mais atenção das autoridades e servia muito mais aos seus interesses, fazendo com que convivesse diariamente com a mídia com o objetivo de angariar recursos para o projeto.

Com telas doadas pelo Padre Marcelo, no prédio do Pró-Menor Dom Bosco, construímos a primeira gaiola. Em Urucará iniciamos a construção de mais cinco. Duas com 6m x 6m x 2m, e as outras três mais estreitas, mais resistentes, com 6m x 4m x 2m. As três primeiras, foram montadas em frente a cidade de Urucará e tinham o objetivo de aprendizado - montagem, flutuação, resistência ao banzeiro dos barcos - as outras três foram transportadas e montadas no Paraná do Comprido, na saída do Lago Grande, próximo à Comunidade de Nazaré, um reduto de petistas militantes que nos deram muito trabalho e quase boicotaram a experiência.

Nestas foram colocadas 250 peixes capturados no Lago Grande e transportados em tanques de cimento amianto para o local onde estavam as gaiolas. Cada peixe tinha, em média 40 cm de comprimento e pesava cerca de 2 quilos. Como se tratava de experiência, contávamos com ajuda de alguns comunitários mais conscientes,

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principalmente do Presidente da Comunidade, Elson, ex-aluno da escola Agrícola do centro de Urucará, que acreditava no projeto e fazia o seu monitoramento.

Apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas, principalmente pela falta de recursos financeiros e assessoramento técnico, o projeto mostrou excelentes resultados, fazendo com que sejamos abertamente favoráveis a construção de fazendas aquáticas para criação de peixes. Afirmamos ser esta a atividade ideal para os nossos caboclos do interior do Estado. Um dia, esperamos não muito distante, as nossas autoridades acreditarão nisso. Gostaríamos de estar vivo...

Para dar mais consistência aos nossos argumentos, a seguir transcreveremos o RELATÓRIO DO MÉDICO VETERINÁRIO DA CODEVASF, Dr. MARCELO JOSÉ DE MELO, que esteve em Urucará em companhia dos senhores, Dr. José Ubirajara Timm, ex-Superintendente Nacional da Sudepe, ocupando o cargo de Gerente da Câmara Setorial de Pesca e Aquicultura do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, Dr. Fernando Falabella, Presidente do ICOTI/AM, Ignacio Bengoehea e Belarmino Holanda, empresários e Dr. Angelo Lima Francisco, Biólogo do IBAMA/AM, que em nossa companhia visitaram os experimentos. Eis o RELATÓRIO:

1 -ANTECEDENTES "A Prefeitura Municipal de Urucará e um grupo de empresários pretendem

implantar na Região Amazônica um projeto de piscicultura envolvendo produção de alevinos, engorda de peixes em gaiolas e beneficiamento de pescado (filetagem) para exportação. A engorda de peixes em gaiolas será realizada pelas comunidades dos municípios amazónicos. O grupo empresarial, em conjunto com a Prefeitura de Urucará implantou duas unidades naquele município. Os recursos para a implantação definitiva do projeto serão originários de recursos externos. O grupo empresarial está

2 - ATIVIDADES REALIZADAS No dia 19 de março de 1992, pela manhã, tivemos contacto com os dois sócios do

Projeto ECHEA (2), Srs. Ignacio Bengoechea e Belarmino Holanda, bem como o Dr. Timm, e com o Dr. Angelo, na Delegacia do Ministério da Agricultura no Amazonas, em Manaus.

Na oportunidade o Sr. Ignacio explicou que o projeto funcionaria da seguinte forma:

- as comunidades receberiam as gaiolas e os alevinos para engorda; o pagamento seria efetuado com o pescado;

- o grupo produziria as gaiolas, e os alevinos (em barco laboratório), compraria a produção de pescado, que seria processado em um barco fábrica e exportado; Na realidade os empresários ainda não tem um projeto elaborado, tem somente ideias. Diante disso solicitamos que fosse elaborado um projeto piloto, com metas e recursos quantificados, com mais informações pertinentes, que permitissem uma análise detalhada sobre o assunto.

No dia 19 de março de 1992, viajamos em um barco de propriedade do ICOTI, de Manaus até Urucará, para visita aos experimentos implantados naquele município. No dia seguinte deu-se a visita e constatamos que os experimentos constavam de:

- Um conjunto de gaiolas, colocadas no Paraná de Urucará, em frente a cidade, constituindo de três gaiolas medindo 6m x 6m x 2m. As gaiolas sáo construídas em tela

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de arame galvanizado, com armação em cantoneiras de ferro, pesando aproximadamente uma tonelada. Como flutuadores são utilizadas toras de madeira. Este conjunto não estava povoado com peixes e foram colocados nesse local para teste de resistência, uma vez que aí ocorrem muitas marolas provocadas pelos barcos que frequentemente navegam naquele Paraná.

- Um outro conjunto de 3 gaiolas com dimensões e material de construção semelhante ao anteriormente mencionado, montado na Paraná do Comprido, na margem direita do Rio Amazonas. Este conjunto está sob a responsabilidade de uma comunidade pertencente ao município de Urucará. Cada gaiola com 48 m3 foi povoada com 50 Tambaquis, mais ou menos um peixe por m3, medindo cerca de 40 centímetros e 2 quilos de peso. A base de alimentação dos peixes é a produção primária natural do rio, sendo que se usa uma alimentação artificial esporádica com mandioca in natura cortada em pedaços. Foi realizada a captura de alguns exemplares que apresentavam comprimento aproximadamente 45 centímetros e cerca de 2,5 quilos. Na oportunidade sacrificamos um exemplar de Tambaqui do experimento e constatamos estado sanitário geral muito bom, porém o trato digestivo (estômago e intestino) estava completamente vazio.

3 - BREVE COMENTÁRIO SOBRE O EXPERIMENTO A piscicultura em gaiolas é conceituada como um tipo de cultivo intensivo, ou até

super intensivo, com produtividade alcançando até 100 ou mais Kg/m3, e estes resultados somente serão alcançados com alimentação artificial balanceada. No caso em apreço, a taxa de estocagem é muito baixa (3), mais ou menos um peixe/m3 e a produtividade deverá alcançar 1,0 a 1,5 Kg/m3. Por outro lado, os peixes estão apresentando um bom desenvolvimento, devido, exatamente, a baixa taxa de estocagem. Sendo uma espécie de amplo espectro alimentar, o Tambaqui está se alimentando de plancton e daí, detectar-se ausência completa de alimentos no trato digestivo. Os resultados do experimento deverão se equivaler à piscicultura semi-intensiva, em viveiros de terra, consorciada a suinocultura. O material utilizado nas gaiolas não é o mais indicado, devido sua pequena durabilidade, alto preço e grande peso, exigindo maior capacidade dos flutuadores (4).

4 - ALGUMAS SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA

PISCICULTURA NA REGÍÃO AMAZÔNICA. Em 1981-2, a SUDEPE negociou financiamentos externos, através do BID, para

desenvolvimento da pesca no Brasil, incluindo-se a piscicultura. Este projeto chamava-se BID-PROPESCA (Programa de Apoio à Pesca) e contemplava, entre outros, a implantação em Manaus de um Centro de Pesquisa em Aquicultura. Nessa época, trabalhávamos na SUDEPE, e tivemos oportunidade de nos deslocar até Manaus, por várias vezes e não conseguimos encontrar local adequado para a implantação do referido Centro (5).

Tal fato se deveu à nossa concepção errônea de se tentar adequar, na Amazônia, o modelo de desenvolvimento da piscicultura adotada nas demais regiões do Brasil. A piscicultura em viveiros de terreno natural com abastecimento de água por gravidade não se ajusta à Região Amazônica. Duas condições básicas impedem a transferência direta dessa tecnologia, quais sejam, a natureza do solo, geralmente com alto teor de areia, e a topografia, quase sempre plana, que permite inundação de grandes áreas com transbordamento de um simples igarapé. Isso dificulta a construção de pequenas barragens para se ter abastecimento de viveiros por gravidade. Assim, o nosso modelo

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de piscicultura, quando levado à Amazônia, implica na construção de grandes barragens que, por si só, tem custo superior à toda a infraestrutura de piscicultura (6).

Com base no exposto anteriormente, conclui-se que o modelo de desenvolvimento da piscicultura na Região Amazônica deverá estar embasado na realidade local. Sob este aspecto, a ideia apresentada pela Prefeitura de Urucará é bastante condizente com a realidade amazônica.

A título de sugestão, e também no intuito de fornecer subsídios para o desenvolvimento desta ideia inicial, listamos a seguir, alguns pontos que deverão ser observados:

4.1 - GAIOLAS Deverão ser testados novos tipos de materiais para confecção das gaiolas. Existem

empresas especializadas hoje no Brasil, fabricando gaiolas para a piscicultura, e um professor de Bragança Paulista (SP), desenvolveu um tanque-rede autoflutuante que dispensa as toras de madeira para flutuadores. Possivelmente uma gaiola construída em tela plástica terá um preço mais elevado do que a que vem sendo utilizada (arame galvanizado), porém a durabilidade e a manutenção poderão compensar o maior investimento.

O ideal seria a construção de gaiolas a partir de matéria prima local, como, por exemplo, madeira que resista a água ou alguma fibra. O conhecimento do caboclo amazonense certamente identificaria esse material. (7).

4.2 - BARCO-LABORATÓRIO A ideia do barco-laboratório para a reprodução artificial dos peixes nos parece

bastante viável. O barco teria utilização durante o ano todo, suas atividades não ficariam restritras à reprodução artificial, abrangeria também estudos sobre limnologia, ictiologia e biologia de pesca.

O prefeito de Urucará nos informou que o Governo do Estado dispõe de vários barcos (CONAVI) e que poderia fazer a cessão de uma delas para a Prefeitura. Não dispomos das especificações técnicas das embarcações, entretanto gostaríamos de apresentar algumas sugestões para a sua adaptação em um barco-laboratório de função múltiplas:

- Como o barco tem dois convezes, no principal deverão ser montados os laboratórios e no segundo ficarão os alojamentos para os técnicos e uma sala de leitura e reuniões.

- Para a reprodução artificial de peixes deverão ser construídos 3 tanques para reprodutores medindo 3m x 1m x 0,80m. Caso seja necessário, o comprimento poderia ser reduzido para 2m. Dois conjuntos de incubadoras sendo seis unidades de 200 litros e doze de 60 litros. As incubadoras grandes terão cerca de 0,70 m de diâmetro e requerem uma vazão de 7 a 8 litros/ minutos. As incubadoras menores terão mais ou menos 0,40m de diâmetro, 1,30m de altura e requerem uma vazão de 4 a 5 litros/minutos. Os taques de reprodutores precisam de vazão de 10 litros/minuto.

- O abastecimento de água para os laboratórios será efetuado através de bombeamento de água do próprio rio. Não se deve preocupar com grande consumo de energia para o bombeamento, pois a altura manométrica para recalque deveria ficar apenas dois metros. Após o bombeamento a água deveria ser filtrada em filtro a disco. (8)

- deverá ser construída uma pequena sala onde ficarão sediados os equipamentos e materiais dos laboratórios de ictiologia, limnologia e biologia de pesca.

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- considerando um período apenas um período de dois meses de reprodução artificial contínua e levado em consideração que em uma semana completa um ciclo de reprodução no barco-laboratório (trabalhos com reprodutores e incubação), pode-se alcançar uma produção de cerca de 15.000.000 (quinze milhões) de pós-larvas/ano. A produção de alevino dependerá dos índices de sobrevivência que se obterá na alevinagem.

4.3 - PLANTEL DE REPRODUTORES E ALEVINOS O Plantei de reprodutores e a alevinagem serão mantidos em tanques e gaiolas

especiais, feitos de material de boa qualidade e grande durabilidade. Dependendo do dimensionamento do projeto, cada comunidade poderá ter conjuntos de tanques-gaiolas para reprodutores e alevinos. O barco se deslocaria a essas comunidades e realizaria a reprodução artificial dos peixes. Os alevinos seriam distribuídos aos piscicultores ou usados na repovoação dos lagos da Região (9).

4.4 - ESPÉCIES DE PEIXES De início a única espécie que poderá ser trabalhada é o Tambaqui, já que se dispõe

dos parâmetros técnicos para reprodução artificial deste peixe. Posteriormente, novas espécies de valor comercial deverão ser adaptadas para a reprodução artificial: Neste aspecto, a CODEVASF (Comissão de Desenvolvimento do Vale do São Francisco) poderá contribuir no projeto, através da equipe técnica de Três Marias que possui larga experiência na adaptação da tecnologia de reprodução artificial de novas espécies de peixes.

4.5 - EXPERIMENTOS DE ENGORDA Após a adaptação do barco-laboratório e a consequente produção de alevinos,

deverão ser implantados experimentos de engorda de peixes. Estes experimentos deverão otimizar dois parâmetros: taxa de estocagem e alimentação artificial.

Não deve imaginar uma alimentação artificial com base nos ingredientes comunentes utilizados, como milho, farelo de soja, farelo de trigo, farelo de arroz etc, pois estes não são disponíveis na Região. Assim, deve-se partir de produtos regionais tais como pupunha, dendê, milho plantado pela comunidade, raspa da mandioca, etc.

É de fundamental importância a realização de testes de materiais locais na confecção de gaiolas para diminuição dos custos. Caso se consiga a confecção de gaiolas como custos reduzidos, poder-se-á ter uma piscicultura economicamente viável dissimanada por todo o beiradão. A baixa produtividade, por sua vez, facilitaria o desenvolvimento da piscicultura da Região, pois a alimentação básica dos peixes seria a produção natural das águas dos rios, dispensando, portanto, a alimentação artificial balanceada, e podendo-se utilizar somente uma suplementação alimentar baseada em produtos locais, tais como frutos, sobra de mandioca etc. (10).

Os experimentos deverão ser montados fixando-se parâmetros, por exemplo, alimentação, variando-se a taxas de estocagem; ou fixando-se uma taxa de estocagem e variando-se a alimentação. Cada experimento deverá ter no mínimo três repetições. Os experimentos deverão ser acompanhados portécnico especializado, devendo-se efetuar-se biometrias com periodicidade mínima mensal. Nas amostragens também devem ser coletados dados limnológicos.

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4.6 - CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O desenvolvimento da piscicultura na Amazônia depende de uma adaptação da

tecnologia atualmente praticada nas Regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil, para as condições daquela Região. O modelo proposto pela Prefeitura e pelos empresários nos parece tecnicamente viável.

Para se testar este modelo deve-se, inicialmente, proceder a adaptação do barco-laboratório para a produção de alevinos e implantação dos experimentos de engorda (11). O Governo Estadual, bem como o Governo Federal através da Câmara Setorial de Pesca do Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, deverão prestar todo apoio à Prefeitura de Urucará, no sentido de dotá-la dos meios necessários à execução dos experimentos iniciados.

Os resultados obtidos nesta fase preliminar poderão demonstrar a viabilidade do aproveitamento das potencialidades da Bacia Amazônica para a produção de alimentos. MARCELO JOSÉ DE MELO - Médico Veterinário da CODEVASF em Brasília, 25 de março de 1992.

NOTAS EXPLICATIVAS SOBRE O RELATÓRIO

1 - A falta de um projeto que configurasse essas atividades, a origem dos recursos e a falta de garantias reais apresentadas pelos sócios do PROJETO ECHEA, inviabilizavam qualquer tentativa de financiamentos internos ou externos. Também contribuiram para isso o desconhecimento de dados concretos sobre a viabilidade do empreendimento;

2 - Os Srs. Ignácio e Belarmino não são sócios no Projeto. Na realidade o Sr. Belarmino era um convidado que dava credibilidade ao projeto. Somente o Sr. Ignácio e sua esposa que mora na Espanha são sócios no Projeto ECHEA.

3 - Realmente a nossa intenção era fazer os experimentos. Precisávamos testar, com responsabilidade no Amazonas, esse tipo de piscicultura difundido em outros países e até mesmo no Brasil em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Não queríamos inventar nada.

4 - Ao se fazer os experimentos, precisávamos de um material como ponto de partida e que fosse resistente a ação de predadores. Como em 1992 usamos tela galvanizada, optamos por esse material, infelizmente o arame não era de boa qualidade e ao retirarmos do rio cerca de um ano depois não apresentava bom estado. A acidez da água do rio tinha corroído as telas.

5 - Á época éramos Coordenador Regional da Sudepe/AM, e não economizamos esforços para conseguir um terreno que se adequasse as exigências dos técnicos. Muitas áreas foram pesquisadas ao longo das estradas Manaus-ltacoatiara, Manaus-Caracaraí e do Distrito Agropecuário. Não conhecíamos, ainda, as fazendas flutuantes que já existiam em outros países, inclusive na América Central e no Chile.

6 - Fizemos questão de reproduzir, na íntegra, este relatório. O Dr. Marcelo é uma das maiores autoridades deste País em pesca, inclusive piscicultura, e com renuncia, reconhece os erros cometidos no passado, insistindo em trazer para a Amazónia a experiência Nordestina.

7 - Após os experimentos realizados em Santa Helena, no Lago de Itaipú, no estado do Paraná, nos convencemos que o futuro da piscicultura para engorda está na criação de peixes em gaiolas (tanques-redes).

Lá as dificuldades são bem maiores que as nossas. Aqui os peixes crescem durante todo o ano. Lá, durante o inverno param de crescer.

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As dificuldades de materiais eles também tem. Nós temos uma grande vantagem, temos Itaúba e Massaranduba, madeiras de lei que dentro d'água duram mais de 20 anos.

8 - O uso da energia solar seria mais adequada. Evitaria poluição sonora ou por gases e combustíveis provocadas pelos motores a diesel. A energia convencional seria utilizada quando não houvesse trabalho de reprodução.

9 - Talvez com a participação de um especialista tenhamos uma melhor reposta as nossas ideias.

10 - Os caboclos poderão construir pequenas gaiolas, utilizando-se de madeiras que resistem a água, itaúba ou assemelhada, ou o material que hoje utilizam para fazerem os "Tipitis ou paneiros". A baixa produtividade que o técnico aqui se refere é em relação ao que é possível se conseguir no cultivo super-intensivo nas gaiolas. No caso apresentado o resultado seria igual aos açudes ou viveiros em terra, consorciados a suinocultura ou avicultura.

11 - Aqui estão as razões pelas quais não concordamos com o Projeto ECHEA. Defendemos que o primeiro passo após os testes preliminares que fizemos seria a construção de um barco-laboratório e em consequência a continuação dos experimentos.

TERMINAL PESQUEIRO DE MANAUS

Muito de propósito deixamos este assunto para o final, não só pela importância de apoio ao Setòr Pesqueiro, mas também pela inúmeras polémicas que a sua construção causaram, principalmente entre a Secretaria de Produção Rural e a Coordenadoria Regional da Sudepe/AM em 1982.

Mas, afinal, o que vem ser um Terminal Pesqueiro? Conceitua-se como Terminal Pesqueiro o local que reúne condições para

desembarque e comercialização do pescado (atacado), além do fornecimento de suprimentos para os barcos de pesca, ou seja, combustíveis e lubrificantes, gelo, água potável e rancho. Assim funcionam todos os terminais de pesca do Brasil e do exterior. Mas, como as nossas características e peculiaridades são diferentes de todas as demais regiões do mundo, sobretudo sofrendo pela ausência da iniciativa privada, o Terminal Pesqueiro de Manaus terá de formar um misto de Terminal e Entreposto de Pesca, ou seja, deverá dispor também de congelamento e estocagem de pescado.

Quando descrevemos o processo de comercialização em Manaus, mostramos, aliás com dados, que as indústrias de pesca somente compram peixes na época do "Bamburrá", setembro/novembro, mesmo assim sem evitar o desperdício incidente nesse período e muito menos nos demais meses do ano. O Terminal com estocagem. aproveita a produção total, pois permitiria aos próprios armadores a composição de seus estoques.

Somam muitas as tentativas da Sudepe para construção do Terminal Pesqueiro de Manaus. Dinheiro demais se gastou em projetos, estudos e viagens com tal objetivo.

A elaboração do projeto começou em 1976 com uma equipe de alto nível, integrada por técnicos da SUDEPE, da Prefeitura Municipal de Manaus e de consultores especializados. O grupo trabalhou mais de seis meses coletando dados sobre a pesca no Amazonas. Estudou várias áreas e por fim concluiu que o Terminal deveria ser

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construído na Enseada do Marapatá, no Bairro de Ponta Pelada, onde funcionou o Terminal de Asfalto do Departamento de Estradas de Rodagem.

Todas as informações colhidas, muitas ainda atuais, foram levadas ao IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, para retoques no perfil e detalnamento do projeto. Concluso em 1978 apresentava as seguintes características físicas:

- flutuante para o desembarque do pescado, recebimento de água e mantimentos; - ponte de ligação deste flutuante a terra, com possibilidade de trânsito de veículos

não pesados; - salão de recebimento de pescado, equipado com linhas de lavagem e esteira de

classificação de pescado; - sala de lavagem e estoque de caixas plásticas para acondicionamento de pescado; - salão de leilão de pescado a nível de atacado para até 120 toneladas/ dia; - plataforma de embarque; - páteo de manobra e estacionamento de veículos de carga; - duas câmaras frigoríficas de espera de peixe, uma com capacidade de 60

toneladas e outra para 90; - duas fábricas de gelo com capacidade de 25 toneladas cada uma; - dois silos de gelo com capacidade de 50 toneladas cada um; - três túneis de congelamento com capacidade de 20 toneladas cada um; - duas câmaras de estoque de congelados com capacidade para 750 toneladas cada

uma; - dependências de apoio. Este projeto estava calculado em CR$ 134.700.000,00 (CENTO E TRINTA E

QUATRO MILHÕES E SETECENTOS MIL CRUZEIROS), disponíveis no orçamento da SUDEPE.

Encerrava-se o exercício de 1978; no próximo começaria novo período de Governo Estadual.

O Governador, que assumiria em março de 1979, tinha "grande preocupação com o amanhã". Ao lhe ser apresentado o projeto, convocou os seus assessores para discutirem a viabilidade técnica, social e econômica do empreendimento. Esses especialistas, muitos totalmente ignorando os nossos problemas da pesca, não demoram por concluir que seria mais um "elefante branco" a exemplo do Frigomasa - Frigorífico de Manaus S/A e da IPLAM -Indústria e Pasteurização de Leite do Amazonas. Tal disparate, também ainda em moda nos dias de hoje, no mínimo é pretensioso e irresponsável.

A comparação usada dissolvia-se, a época com a assertiva de que não tínhamos rebanho bovino para corte e muito menos para leite. Peixe nós tínhamos e ainda temos com abundância.

A realidade é que a construção do Terminal morreu no projeto. O terreno pertencia ao patrimônio do Governo do Estado do Amazonas e não havia sido doado à SUDEPE. "O problema da pesca no Amazonas precisa ser resolvido de forma global, ou seja, deveria ser atacado da captura à industrialização, envolvendo também o interior do Estado", afirmava o Governador. Efetivamente o problema era outro. Havia um grupo empresarial, proprietário de uma fábrica de gelo em barras, instalada em um flutuante de concreto, localizado na Baía do Rio Negro, que pressionava o Governador, defendendo os interesses próprios: monopolizar o comércio de gelo em Manaus. Não previa aquela indústria que apareceriam concorrentes, com mais experiência no setor, a comprometerem o

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empreendimento primeiro. Mais tarde fábrica foi vendida e o Governador resolveu então preparar o seu macro projeto.

Como não mais dispunha o terreno da Enseada do Marapatá, pois havia sido doado á Aeronáutica, para construção de um Clube Náutico que até hoje não foi construído, o empreendimento foi concebido todo ele flutuante.

Com o nome de PAP - Projeto de Apoio à Pesca, levantaria uma verdadeira Babilónia sobre as águas. Tinha tudo previsto até mesmo auditório. As câmaras de estocagem de congelados ofereceriam capacidade para 1.500 toneladas. Tal projeto não foi submetido ao exame dos técnicos que, em 78 julgaram o modesto Terminal, concebido pelo IPT, "elefante branco", caso permanecesse o critério, o PAP seria no mínimo considerado "baleia branca". O seu custo estimativo somava 646.814 ORTNS, que seriam tornadas do BNDES, com juros de 8% ao ano e correção monetária exigida trimestralmente durante dois anos de carência e, mensalmente, no período de amortização, acordado em 72 meses.

O contrato entre o BNDES e o Governo do Estado foi assinado em Manaus, no dia 16.03.82. As razões porque o financiamento não foi liberado não as conhecemos todas, mas certamente a falta de aporte de recursos em contrapartida à operação deve ter contribuído para a prudência bancária.

O mais interessante: O Governo do Estado recusara a construção do Terminal Pesqueiro a fundo perdido, considerando "elefante branco", e nas negociações com BNDES, tentava comprometer recursos da SUDEPE, em seu projeto, como contrapartida do Estado. Coincidentemente, em janeiro de 1982, mudavam o Superintendente e o Coordenador Regional da SUDEPE. No mês de maio realizar-se-iam em Manaus as reuniões do Conselho Deliberativo da SUDEPE, com a presença do Superintendente e de todos os Conselheiros, representantes de vários Ministérios. Aqui conheceram a nossa realidade

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e se prontificaram a resolver o problema da implantação do Terminal Pesqueiro. Recursos seriam alocados; precisaria apenas que o Governo do Estado doasse o terreno.

Infelizmente, em que pese à boa vontade da SUDEPE, o Governo do Estado não cedeu o terreno.

Com a renúncia do Governador e a posse de seu vice, reacenderam-se as esperanças de obter a área da Enseada do Marapatá. Procurado por nós, o Governador que assumiu não sabia se o terreno ainda pertencia ao Estado, pois ouviria falar de doação à Aeronáutica. Como não tinha certeza autorizou-nos a procurar o Comandante da Base Aérea para esclarecermos o assunto. Assim fizemos e recebemos a informação: o terreno realmente lhes havia sido doado pelo Governo do Estado e nele seria construído um Clube Náutico para oficiais.

De fato o Governo não pretendia construir o Terminal, pois, sabendo da existência do projeto da SUDEPE não hesitou em dar o terreno outrora comprometido. O terreno lá está, intangível, ocioso, nem terminal, nem clube, somente o testemunho da falta de interesse em resolver os nossos problemas.

Inicia-se 1983. Toma posse um novo Governador e renasceram novamente as possibilidades da construção do Terminal Pesqueiro.

O Superintendente da SUDEPE, em Brasília, no segundo trimestre de 1983, recebe a visita do Governador que lhe promete toda a ajuda na construção do Terminal Pesqueiro.

Algum tempo depois o Superintendente visitava Manaus e, quando em audiência com o Governador, recebera a ratificação da promessa anterior, não só para a construção do Terminal Pesqueiro, mas também para implantai o Centro de Aquicultura de Manaus, ambos pendentes de áreas para construção.

O Governador prometeu entregar uma área da Codeagro no distrito Agropecuário para levantar o Centro de Aquicultura e interferir junto a Ceasa/ AM para doação de um terreno no porto de desembarque da BR-319, para as obras do Terminal Pesqueiro, além de prometer a construção, pela Celetra, hoje CEAM, de Subestações rebaixadoras de corrente em Tefé e Codajás, onde a SUDEPE implantou dois entrepostos de Pesca.

Realmente demonstrou vontade de colaborar, mas seus auxiliares simplesmente nãp cumpriram suas determinações. A Codeagro, para doar o terreno, fez exigências absurdas que foram refutadas pela SUDEPE; a interferência junto à Ceasa, a ser efetuada pelo secretário Estadual da Produção, não aconteceu e as subestações foram construídas e pagas pela SUDEPE, pois a Celetra não obedeceu ordens do Governador.

Cremos que, por não saber disso, o Governador declarava na televisão já ter resolvido o problema do terreno do Terminal Pesqueiro, e que finalmente poderia ter sido construído.

Neste ínterim o Secretário da Produção retomava os contactos com o BNDES para financiamento do projeto do Governo passado, o PAP. Mais uma vez os recursos não foram liberados.

A SUDEPE/AM não desiste e restava-lhe uma outra alternativa. Sendo a Cobal a maior acionista da Ceasa/AM, o terreno poderia ser doado à SUDEPE caso aquela Companhia concordasse. A iniciativa não agradou ao Secretário da Produção que não podendo manusear CR$ 8,0 bilhões do BNDES, não permitiria que os seus interesses de diretor de frigorífico fossem prejudicados. Tratou então de boicotar as negociações, levando informações distorcidas à SUDEPE/Brasília e ao Governador do Estado.

Seu objetivo imediato: intrigrar o Coordenador Regional com seu Superintendente e o Governador.

Ao Governador vendeu a ideia absurda de que o projeto do Terminal Pesqueiro de Manaus não possuía área para estocagem. Intencionalmente se esqueceu de três coisas.

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A primeira: não mais existia projeto, pois a área a ser construída, ou seja a Enseada do Marapatá, estava fora de cogitações. Teria, portanto, de ser elaborado novo projeto para a área da Ceasa.

A segunda: o único projeto conhecido pela Secretaria de Produção era o PAP (Programa de Apoio à Pesca) e não foi elaborado pela SUDEPE, mesmo assim também tinha área para estocagem.

Terceira e a mais importante: o próprio Secretário esteve na SUDEPE em Brasília e na SUDEPE/AM, e defendeu com unhas e dentes que o Terminal Pesqueiro do Amazonas não deveria ter estocagem. Claro que a Sudepe/ Am não aceitou esta proposta e, embora não aprovando que o peixe possa ser desembarcado de qualquer forma e em qualquer lugar, em parte concordava com o Governador, quando afirmava que o nosso problema é de estocagem. Infelizmente faltava lealdade para alguns dos auxiliares do Governador da época. O maior exemplo de tal conduta: o Governo do Estado possuía dois frigoríficos em boas condições de funcionamento, o Codepesca, da Codeagro, situada na Betânia, e outro na Praça14, atrás do Mercado Cunha Melo; ambos, porém, foram desativados pela Sepror. Se o problema é estocagem, porque a Codeagro não utilizou esses frigoríficos que contribuiriam com mais de 200 toneladas na formação de estoque.

Porque preferia usar o frigorífico que tinha como um de seus diretores o próprio titular da Sepror?

Em julho/84 dois técnicos da SUDEPE/Brasília vieram a Manaus com a finalidade de dimensionamento do novo projeto. Foram assediados pelo Secretário que insistia em não se construir câmaras de estocagem no Terminal. Em face de nossa posição inarredável, baseada em dados estatísticos de nossa produção, estabeleceu-se que o projeto teria previsão de congelamento e estocagem, faltando ser definido onde seria, se no próprio Terminal ou nos prédios ociosos da Ceasa.

Em agosto/84, quando tudo parecia que estava resolvido, veio o golpe que nós temíamos mas de certa forma já esperávamos.

Convocado o Conselho de Administração da Ceasa/AM, para referendar a decisão da Cobal, acionista majoritário da Ceasa, de ceder à SUDEPE a área para construção do Terminal Pesqueiro, o seu Presidente, ou seja o próprio Secretário de Produção Rural que havia participado de todos os acertos, sugere e naturalmente consegue que os conselheiros não aprovassem a cessão da área sob a alegação de que precisava de maior tempo para estudar a possibilidade de participação de outros órgãos no custo da obra, tais como o Ministério da Agricultura, a Suframa e o Governo do Estado.

Nada mais absurdo. Que se encontrasse uma outra desculpa, afinal a SUDEPE não solicitou ajuda da Suframa, do Governo do Estado ou de outros órgãos, estava decidida a construir a obra com seus próprios recursos. Mesmo que houvesse solicitado não precisava proletar a decisão de assinar o Termo de Cessão.

Neste episódio a SUDEPE e a COBAL foram muito cortezes. Porque dar satisfações a alguém que reiteradamente tem demonstrado não concordar, por interesses próprios, com a construção do Terminal Pesqueiro. A Cobal detém a maioria das ações da Ceasa/AM, não precisaria render homenagens a ninguém. O Termo de Cessão, por essa razão prescindiria de aprovação do Conselho de Administração.

O objetivo foi alcançado. Perdemos mais um ano e os CR$ 928 milhões que aqui seriam aplicados, mais uma vez voltaram. Hoje, conhecendo o governador, cremos fielmente que ele não sabia desses fatos e foi enganado pelo seu assessor direto. Já se passaram quase 10 anos. O Terminal não foi construído. A área da CEASA foi invadida e favelada. Os problemas continuam, muito mais graves, e de quando em vez,

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principalmente na escassez, alguém lembra do natimorto Terminal Pesqueiro de Manaus.

Em 1987 toma posse um novo Governador do Estado. Como todos os outros promete resolver o problema do pescado. Criou a Companhia Amazonense de Pesca, localizada próximo ao Frigomasa. Gastou até alguns milhões de dólares e nada foi feito. Ninguém fala mais sobre o assunto. Triste situação da nossa principal riqueza, o peixe. Que Deus continue dele cuidando, nós não queremos fazer isso.

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CONCLUSÃO Neste trabalho procuramos mostrar os problemas e as soluções para o Setor

Pesqueiro do Amazonas, dando ênfase as nossas potencialidades, inclusive apontando a negligência e omissão dos órgãos competentes, preocupados em fazer política e totalmente cegos para o caminho natural para o nosso desenvolvimento. Vamos fazer um retrospecto dos "Planos de Governo", a partir de 1971, exatamente no segmento pesca. Veremos que pelo menos no papel resolvemos os nossos problemas.

Vejamos: Governo JOÃO WALTER -1972/1976. "Os principais problemas da economia pesqueira do Amazonas são os que se

expõe: a) ser a produção constituída exclusivamente de peixes de escama; b) estar sujeita a amplas oscilações entre a quadra de safra (águas baixo, meses de

setembro a fevereiro) e a entre safra (águas altas, meses de março a agosto); c) não contar com cais apropriado, sendo o desembarque realizado na praia que dá

acesso ao mercado municipal. d) encontra-se o produto frequentemente em condições insatisfatórias de

conservação. Aos problemas em que implicam os característicos dos itens b e d supra, somam-

se os da conservação e distribuição do produto, principalmente os seguintes: a) intalação insuficiente de estocagem de peixe frigorificado. Esse fato agrava o do

recebimento do produto em condições não satisfatórias de conservação. Além disso, ele não permite que o armazenamento contribua para atenuar a escassez do produto durante a entre-safra com seus efeitos nos níveis dos preços. Em 1969, o preço médio mensal no atacado oscilou de Cr$ 1,58 por Kg (abril) a Cr$ 0,38 (setembro);

b) ausência de um serviço de fiscalização bromatológica destinado a evitar a distribuição do produto deteriorizado aos varejistas;

c) ausência também de exigências no sentido de que os estabelecimentos do varejo possuam equipamento de conservação a frio."

As soluções que o Plano apresentava eram as seguintes: a) criação de um serviço de inspeção e fiscalização bromatológica destinada a

evitar a entrada e distribuição em Manaus de pescado que não esteja em condições satisfatórias de conservação (serviço, aliais, que poderá atuar também com relação a outros produtos);

b) realização de pesquisas e estudos sobre a fauna ictiológica amazonense, em particular sobre os deslocamentos dos cardumes, para servirem de apoio a empreendimentos nos pesqueiros em escala empresarial;

c) atuação junto á comunidade de pescadores objetivando à sua organização sob forma de cooperativa, de modo a se criarem melhores condições à assistência do poder público destinada à elevação do seu nível de vida e, em particular, à aquisição, pelos seus participantes, de embarcações e equipamentos de pesca;

d) estabelecimento de linha de crédito, especialmente destinada a pescadores, com o fim de por ao seu alcance com que possam adquirir barcos e instrumentos de pesca;

e) fortalecimento estrutural da Delegacia Regional da SUDEPE e dinamização das atividades para que, entre outras funções, possa atuar nas faixas de ação de que tratam os itens (c e d supra)

f) ampliação da infra-estrutura de estocagem de peixe frigorificado de Manaus. Para isso, dever-se-á estudar qual a forma mais adequada e operacional,

consideradas as medidas já existentes sobre o assunto: se a de iniciativa do Governo

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Estadual ou se de entendimentos e ajustes do mesmo Governo com empresa privada que se disponha a realizar o empreendimento". Não seria necessário dizer que nada, absolutamente nada, foi feito. O Governo de Henoch Reis, 1976/1979, também tinha em seus planos os seguintes objetivos e metas:

1. Objetivos: a) - Contribuir para criação de uma infra-estrutura capaz de melhorar o sistema de

comercialização; b) - Contribuir na fiscalização do exercício da atividade pesqueira no Estado, de

acordo com as normas vigentes. 2. Metas Globais: a) - Participação na implantação do Terminal Pesqueiro de Manaus; b) - Instalação de 07 fábricas de gelo; c) - Contribuição na fiscalização de 420 barcos da frota pesqueira. 3. Metas Parciais:

INSTALAÇÃO DE FÁBRICA DE GELO E N°. DE BARCOS A SEREM

FISCALIZADOS MANAUS-1976/1979

METAS

1976

1977

1978

1979

Manaus

_

_

01

01

Parintins

01

-

-

-

Itacoatiara

.

01

-

-

Tefé

01

-

-

-

Carauari

-

01

-

-

N". DE BARCOS

160

250

320

420

4. Localização: Municípios de: Manaus Parintins Itacoatiara Tefé Manicoré Carauari Não devemos perder tempo em conferir. Passemos para o próximo período, José

Lindoso - 1979/1C83. Foi simplesmente lacónico: "desenvolvimento da pesca, tanto no campo merante exploratório como nas piscicultura, incluído racionalização dos métodos de captura, transporte, conservação e distribuição do pescado".

Chegamos ao Governo 1983/1986. Também não é diferente, vejamos: "SUBPROGRAMA DE INCENTIVO E APOIO À PESCA ARTESANAL". Selecionar e disciplinar, junto à comunidade pesqueira, as áreas piscosas no Estado.

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. Definir e divulgar, junto à comunidade pesqueira, as épocas de captura não predatória;

. Identificar e divulgar processos nativos de beneficiamento do pescado, bem como técnicas adequadas de salga e defumação de peixes de couro;

. Estimular a organização de pescadores em colónias, nas áreas selecionadas, no sentido de elevar-lhes o nível técnico e o poder competitivo no mercado, bem como racionalizar a intermediação no processo de comercialização;

. Incentivar a implantação de fábricas de gelo e frigoríficos para estocagem do pescado, nas áreas selecionadas;

. Diminuir o custo do pescado por meio da alteração do atual sistema de pesca, transformando em barcos compradores os atuais pesqueiros;

. Proporcionar melhor acesso da comunidade na compra de pescado via Terminal Pesqueiro;

. Fomentar a criação de peixes em lagos de terra firme." Observamos: em todos os planos de Governo que analisamos uma coisa foi

comum, isto é, nada, absolutamente nada foi feito. Todos dizem a mesma coisa apenas de forma diferente. Todos frequentam a mesma escola e sem a participação do órgão responsável pela pesca no Amazonas é época: a SUDEPE/AM.

Alguns atingem o ridículo, com afirmativas que mostram claramente quanto não se leva a sério o problema da pesca no Amazonas. O Plano de 1983/87, em seus últimos três tópicos, evidencia claramente a falta de conhecimentos e de vontade para concretizar algum programa sério em prol do Setor Pesqueiro. Tentar transformar os barcos de pesca de pesqueiros em pescadores, vai ao absurdo. Quem financiaria? O BEA. E quem pescaria? Os ribeirinhos. Ora se os armadores de pesca não tem dinheiro sequer para equipar seus barcos, onde arranjarão dinheiro para comprar peixe. E se arranjassem, com os juros absurdos quem pagaria tal custo?

Como proporcionar melhor acesso da comunidade à compra de pescado via Terminal Pesqueiro, se não existe terminal e não nos parecia a época que o governo quisesse construir.

E se de alguma forma fosse construído, esclareceçamos que o povo não iria ao Terminal Pesqueiro para comprar peixe: a comercialização somente operaria no atacado. Pelo que vimos não se sabia nem o que seria nem para que serviria um Terminal Pesqueiro. Foram mais além, criar peixes em lagos de terra firme. Onde estão esses lagos?

Em 1991, volta o Governo do Estado o Professor Gilberto Mestrinho, que com a experiência adquirida em seus dois Governos anteriores tenta reverter essa situação, não obstante as dificuldades conjunturais vividas pelo país. Infelizmente não lhe permitirão isso. Fica no entanto registrado um incentivo à piscicultura com a implantação da Estação de Balbina e financiamento à piscicultores via FMPE.

Com tais observações acreditamos haver mostrado como temos dado importância a nossa principal riqueza, o pescado.

As soluções em que acreditamos defendemos nos capítulos anteriores e listaremos abaixo de forma resumida e objetiva. São elas:

a) Melhoramento das caixas de gelar de nossos barcos pesqueiros; b) Criação de um fundo para formar estoques reguladores de pescado, através das

empresas de pesca; c) Construção do Terminal Pesqueiro de Manaus, com possibilidade de estocar

pelo menos 3.000 toneladas; d) Produção de alevinos em barcos laboratório para distribuição aos

piscicultores;

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e) Construção de feiras específicas para comercialização do pescado; f) Construção de pequenos entrepostos de pescado no interior do Estado, a

exemplo dos construídos pela SUDEPE/AM em Parintins, Tefé e Codajás, e Prefeitura de Urucará neste município;

g) Promover uma campanha educacional, com a participação da escola, família e autoridades, conscientizando-se da importância da preservação das espécies;

h) Proibição sistemática, por zonas, da pesca comercial em época dê piracema para desova;

i) Dinamizar os serviços da Extensão Pesqueira, fazendo com que os pescadores e armadores aprendam a manusear o pescado, melhorando sua qualidade e conservação;

j) Construção de pequenas fábricas de farinha de peixe, Concentrado de Peixe ou Peixe em Flocos nas Colónias e associações de pescadores para fornecimento a Merenda Escolar;

k) Implantação de "gaiolas" para criação de peixes em regime de condomínio nas pequenas comunidades do interior do Estado.

l) Apoiar a Estação de Balbina de forma que se produzem no mínimo 15 milhões de alevinos/ano para repovoamento, com espécies nobres, Tambaqui por exemplo, dos nossos lagos e rios da Região e distribuição aos piscicultores.

m) Criar a Secretaria Especial da Pesca, com objetivos específicos de incentivar, fiscalizar, disciplinar a pesca e piscicultura no Amazonas;

n) Criar, via FMPE/BEA um crédito rotativo para os armadores de pesca "armarem as campanhas" dos nossos pesqueiros evitando-se o atrelamento a agiotas e outros "financiadores" desses nossos companheiros.

Esperamos, com esta nova edição estar contribuindo mais uma vez para despertar as nossas autoridades antes os problemas da pesca e, quem sabe, ferindo os brios e o orgulho de nossos dirigentes, comecemos a fazer aquilo que reconhecidamente todos sabem que precisa com urgência ser feito.

Cremos estar conseguindo o objetivo. Não procuramos agradar ou ferir ninguém. Limitamo-nos a traduzir em palavras escritas tudo aquilo que de costume dissemos em várias palestras proferidas, todas elas com a mesma intenção, sem contudo, encontrar a ressonância desejada.

Estas aqui pelo menos ficarão impressas e poderão mais tarde ser conferidas.

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BIBLIOGRAFIA PETRERE JR. Miguel - Pesca e Esforço de Pesca no Estado do Amazonas. Acta Amazonica n° 3,1978.

O peixe representa para o amazonense o principal alimento O consumo per capita, em torno de 60 quilos é o maior do mundo. Apesar disso praticamente nada foi feito para se dotar o Setor Pesqueiro de uma melhor estrutura. O autor de maneira clara e objetiva mostra os problemas desse segmento importante da economia amazonense e apresenta as soluções. Podem até n3o ser as melhores, mas certamente é unia denúncia corajosa que precisa ser analisada. Este trabalho foi terminado em janeiro/84 e devido a uma série de "contratempos" somente em março/85 conseguiu ser publicado. Atualizado está sendo republicado inclusive com experiências realizadas em U ruçará