literatura - pré-vestibular impacto - o barroco aspecto sócio-cultural

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MA240408 O Barroco Aspecto Sócio-Cultural nas Manifestações Líricas e Satíricas FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!! PROFº: ANDRÉ BELÉM Fale conosco www.portalimpacto.com.br VESTIBULAR – 2009 CONTEÚDO A Certeza de Vencer 08 2 BARROCO “e na desigual ordem Consiste a fermosura na desordem ” Botelho de Oliveira CONSIDERAÇÕES GERAIS Convivendo com o sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais - tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento - voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Companhia de Jesus. O que decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. E a arte barroca, que exprime essa contradição, igualmente oscila entre o clássico (e pagão) e o medieval (cristão), apresentando-se como uma arte indisciplinada. Comparado aos outros dois movimentos que integram a Era Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o Barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Punha em risco, assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilíbrio. Resumindo, a literatura Barroca tenta conciliar duas concepções de mundo opostas, a medieval e a renascentista, de maneira que valores como a autoconfiança humana e a busca de prazeres mundanos trazidos pelo Renascimento, que era caracterizado pelo racionalismo, equilíbrio, clareza, fundem-se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma, com idéias medievais, teocêntricas e subjetiva. Nasce então uma forma de viver conflituosa, expressa na arte barroca. A LINGUAGEM BARROCA Algumas características da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que foi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores. REQUINTE FORMAL (OBSCURIDADE): você deve notar que o nível lingüístico dos textos é sofisticado ou seja, suas construções sintáticas são elaboradas com vocábulos de nível elevado. O Barroco literário foi uma arte da aristocracia e esse refinamento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status: É nau enfim, que em breve ligeireza, Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza. Veja que as palavras empregadas por Gregório são pouco usuais, não estão no dia-a-dia, e essa é uma das marcas do requinte formal. FIGURAÇÃO (SIMILARIDADES): em vez de dizer as coisas de forma direta e objetiva, o texto barroco prefere a figuração, a sugestão por meio de metáforas, de comparações, símbolos e alegorias. Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um sol, que se trajava em criatura(...) Aqui a mulher é comparada ao Sol (estimula o ardor) e ao Anjo (símbolo da pureza). CONFLITO ESPIRITUAL (FUSIONISMO/DUALISMO): o homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material As figuras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese 1 e o paradoxo 2 . Se basta a vos irar tanto pecado A abrandar-vos sobeja um só gemido Que a mesma culpa, que a vos ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Observe que o poeta argumenta que o pecado é paradoxalmente o motivo da ira e da alegria de Deus TEMAS CONTRADITÓRIOS (JOGO DE CLARO/ESCURO): o gosto pela confrontação violenta de temas opostos, como amor/dor, vida/morte, juventude/velhice, pecado/perdão, etc. Lugar de glória, adonde estou penando Casa da morte, adonde estou vivendo! 0u Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Visão que o poeta tem da terra, local de sofrimento, mas também de luz. Isso reforça o aspecto contraditório da poesia barroca na qual figura feminina é vista como um ser ambíguo, que realiza simultaneamente uma sedução mística (religiosa) e carnal (profana). A EFEMERIDADE DO TEMPO E O CARPE DIEM: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar, e, se há pecado, não há salvação. Diante disso, nota-se um horror diante da passagem do tempo. Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada. Nesse trecho há o convite à amada para que ela aproveite a vida enquanto está jovem. CULTISMO E CONCEPTISMO Na Espanha do século XVII, dentro do padrão barroco, aparecem essas duas designações literárias que se tornam símbolos do exagero verbal e de certa obscuridade do pensamento. Assim: CULTISMO: é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo, pela influencia do estilo do poeta espanhol Luís de Góngora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, 1 emprego de palavras que se opõem quanto ao sentido: bem x mal; branco x preto; claro x escuro 2 a antítese levada ao extremo, onde as idéias se opõem em termos de sentido: 'sol que se trajava em criatura"; "anjo que em mulher se mentia"; "rio de neve em fogo convertido"

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Page 1: Literatura - Pré-Vestibular Impacto - O Barroco Aspecto Sócio-Cultural

MA240408

O Barroco Aspecto Sócio-Cultural nas Manifestações Líricas e Satíricas

FAÇO IMPACTO - A CERTEZA DE VENCER!!!

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CONTEÚDO

A Certeza de Vencer

08

2

BARROCO

“e na desigual ordem Consiste a fermosura na desordem ”

Botelho de Oliveira

CONSIDERAÇÕES GERAIS Convivendo com o

sensualismo e os prazeres materiais trazidos pelo Renascimento, os valores espirituais - tão fortes na Idade Média e desprezados pelo Renascimento - voltaram a exercer forte influência sobre a mentalidade da época. Uma nova onda de religiosidade foi trazida pela Contra-Reforma e pela fundação da Companhia de Jesus. O que

decorreu daí foram naturalmente sentimentos contraditórios, já que o homem estava dividido entre valores opostos. E a arte barroca, que exprime essa contradição, igualmente oscila entre o clássico (e pagão) e o medieval (cristão), apresentando-se como uma arte indisciplinada.

Comparado aos outros dois movimentos que integram a Era Clássica, o Classicismo e o Arcadismo, o Barroco representa um desvio da orientação clássica, já que procurava, ao mesmo tempo, fundir a experiência renascentista ao reavivamento da fé cristã medieval. Punha em risco, assim, certos princípios muito prezados pela tradição clássica, como o predomínio da razão e o equilíbrio.

Resumindo, a literatura Barroca tenta conciliar duas concepções de mundo opostas, a medieval e a renascentista, de maneira que valores como a autoconfiança humana e a busca de prazeres mundanos trazidos pelo Renascimento, que era caracterizado pelo racionalismo, equilíbrio, clareza, fundem-se a valores espirituais trazidos pela Contra-Reforma, com idéias medievais, teocêntricas e subjetiva. Nasce então uma forma de viver conflituosa, expressa na arte barroca.

A LINGUAGEM BARROCA

Algumas características da linguagem barroca merecem especial atenção pela sua peculiaridade e pelo uso que foi sendo feito de algumas delas em escolas posteriores. REQUINTE FORMAL (OBSCURIDADE): você deve notar que o nível lingüístico dos textos é sofisticado ou seja, suas construções sintáticas são elaboradas com vocábulos de nível elevado. O Barroco literário foi uma arte da aristocracia e esse refinamento era desejado por seu público consumidor, porque lhe conferia status:

É nau enfim, que em breve ligeireza, Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza.

Veja que as palavras empregadas por Gregório são pouco usuais, não estão no dia-a-dia, e essa é uma das marcas do requinte formal.

FIGURAÇÃO (SIMILARIDADES): em vez de dizer as coisas de forma direta e objetiva, o texto barroco prefere a figuração, a sugestão por meio de metáforas, de comparações, símbolos e alegorias.

Ontem a vi por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia; De um sol, que se trajava em criatura(...)

Aqui a mulher é comparada ao Sol (estimula o ardor) e ao Anjo (símbolo da pureza). CONFLITO ESPIRITUAL (FUSIONISMO/DUALISMO): o homem barroco sente-se dilacerado e angustiado diante da alteração dos valores, dividindo-se entre o mundo espiritual e o mundo material As figuras que melhor expressam esse estado de alma são a antítese1 e o paradoxo2. Se basta a vos irar tanto pecado A abrandar-vos sobeja um só gemido Que a mesma culpa, que a vos ofendido, Vos tem para o perdão lisonjeado. Observe que o poeta argumenta que o pecado é paradoxalmente o motivo da ira e da alegria de Deus TEMAS CONTRADITÓRIOS (JOGO DE CLARO/ESCURO): há o gosto pela confrontação violenta de temas opostos, como amor/dor, vida/morte, juventude/velhice, pecado/perdão, etc. Lugar de glória, adonde estou penando Casa da morte, adonde estou vivendo! 0u Mas vejo, que por bela, e por galharda, Posto que os Anjos nunca dão pesares, Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda. Visão que o poeta tem da terra, local de sofrimento, mas também de luz. Isso reforça o aspecto contraditório da poesia barroca na qual figura feminina é vista como um ser ambíguo, que realiza simultaneamente uma sedução mística (religiosa) e carnal (profana). A EFEMERIDADE DO TEMPO E O CARPE DIEM: o homem barroco tem consciência de que a vida terrena é efêmera, passageira, e por isso, é preciso pensar na salvação espiritual. Mas, já que a vida é passageira, sente, ao mesmo tempo, desejo de gozá-la antes que acabe, o que resulta num sentimento contraditório, já que gozar a vida implica pecar, e, se há pecado, não há salvação. Diante disso, nota-se um horror diante da passagem do tempo.

Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trota a toda ligeireza, E imprime em toda flor sua pisada.

Nesse trecho há o convite à amada para que ela aproveite a vida enquanto está jovem. CULTISMO E CONCEPTISMO

Na Espanha do século XVII, dentro do padrão barroco,

aparecem essas duas designações literárias que se tornam símbolos do exagero verbal e de certa obscuridade do pensamento. Assim: CULTISMO: é o rebuscamento formal, caracterizado pelo jogo de palavras e pelo excessivo emprego de figuras de linguagem. Também conhecido como gongorismo, pela influencia do estilo do poeta espanhol Luís de Góngora, o cultismo explora efeitos sensoriais, tais como cor, tom, forma, volume, sonoridade, 1emprego de palavras que se opõem quanto ao sentido: bem x mal; branco x preto; claro x escuro 2a antítese levada ao extremo, onde as idéias se opõem em termos de sentido: 'sol que se trajava em criatura"; "anjo que em mulher se mentia"; "rio de neve em fogo convertido"

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FAÇO IMPACTO – A CERTEZA DE VENCER!!!

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imagens violentas e fantasiosas - enfim, recursos que sugerem a superação dos limites da realidade. Ontem a vi, por minha desventura Na cara, no bom ar, na galhardia De uma mulher, que em Anjo se mentia, De um Sol que se trajava em criatura.

Ocorre aí, de a mulher ser vista como um sol (quente); o cultismo está nessa analogia sensorial.

Cultismo: ludismo metafórico forma perfeita à qualquer preço

Busca da perfeição formal através de um estilo rebuscado. Utilização contínua metáforas sensoriais e cromatismo Uso de hipérbatos (inversões sintáticas) de modo freqüentes.

CONCEPTISMO: (do espanhol concepto, “idéia”) é o jogo de idéias, constituído pelas sutilezas do raciocínio e do pensamento lógico, por analogias, etc. Embora seja mais comum o cultismo manifestar-se na poesia e o conceptismo na prosa, é perfeitamente normal aparecerem ambos em um mesmo texto.

Se uma ovelha perdida e já cobrada Glória tal e prazer tão repentino Vos deu, como afirmais na sacra história; Eu sou senhor a ovelha desgarrada

Para conseguir o perdão divino o eu-poético procura usar os trechos do livro sagrado, jogo de sedução intelectual.

Conceptismo: Argumentação arguta e persuasiva

Tentativa de dizer o máximo com o mínimo de palavras. Emprego de elipses, duplos sentidos, paradoxos e alegorias. Requinte expressivo e sutileza das idéias,

Silogismo: duas premissas e uma conclusão Disseminação e Recolha: palavras espalhadas e recolhidas Referencialismo: citações bíblicas. S Í N T E S E SEISCENTISMO (SÉC. XVII) Idade Moderna: influência clássica. -Corrupção e exploração em Salvador-BA. -Unificação Ibérica (1580 - 1640) LINGUAGEM Português Moderno e Expressões locais: Utilização de uma linguagem que varia em nível: vai do mais culto ao mais vulgar, usando mesmo, palavras de baixo calão. Gregório de Matos chega a usar expressões indígenas, para criticar o comportamento hipócrita da sociedade baiana. As suas características fundamentais são:

• Conceptismo – argumentação apurada – uso de várias técnicas de argumentação, dentre elas a citação • Cultismo – uso de analogias sensoriais, jogo de palavras, ludismo e figurativo; • Contradição e exagero – tendência ao grotesco, com imagens estranhamente contraditórias que revelam o conflito do eu-lírico. • Temática diversificada que vai do amor, passa pela fugacidade (transitoriedade das coisas) e da contrição (arrependimento). • Melancolia, tédio, impotência, desequilíbrio e contrição

As questões 01 e 02 referem-se ao poema abaixo: Desenganos da vida humana, metaforicamente É a vaidade, Fábio, nesta vida, Rosa, que da manhã lisonjeada, Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida. É planta, que de abril favorecida, Por mares de soberba desatada, Florida galeota empavesada, Sulca ufana, navega destemida. É nau enfim, que em breve ligeireza Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza: Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa De que importa, se aguarda sem defesa Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa? In: - NICOLA, José de. Literatura Brasileira. Das origens aos nossos dias. São Paulo: Scipione, 1998.

Vocabulário airosa = elegante presumida= vaidosa soberba = arrogância desatada = solta galeota= embarcação de pequeno porte empavesada = enfeitada ufana = vaidosa apresta = prepara com rapidez penha = rochedo QUESTÃO 01 Sobre o poema, todas as afirmativas abaixo são corretas, EXCETO:

a) o hipérbato, inversão da ordem direta dos termos da oração, se faz presente no poema. b) a temática desenvolvida - os estados contraditórios da condição humana - é própria do Barroco. c) as três principais metáforas que aparecem no poema são: a vaidade é rosa, a vaidade é planta, a vaidade é nau. d) o título do poema, longo e explicativo, mostra que o poeta fará uma reflexão sobre as desilusões da vida, por meio de metáforas. e) o culto do contraste, expresso em linguagem simples e concisa, demonstra a intenção barroca de resgatar os valores greco-latinos.

QUESTÃO 02 Sobre o poema, todas as afirmativas são corretas, EXCETO:

a) a conclusão a que se chega é que a vaidade é frágil e efêmera. b) o vocativo “Fábio” indica-nos a quem são dirigidas as reflexões, o ensinamento moral. c) o “eu-poético” elogia a vida feliz no campo, em oposição à vida luxuosa e triste da cidade, através de uma linguagem cultista. d) o texto, primeiramente, mostra as qualidades de cada um dos três elementos metafóricos: da rosa, da planta e da nau. e) o “eu-poético” desenvolve uma argumentação, ao longo das estrofes e, na última, lança uma adversidade, uma contrariedade, realçando o conflito existente no texto