literatura brasileira - resumo

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Resumão de Literatura Brasileira I - LITERATURA INFORMATIVA O que é? · É um tipo de literatura composta por documentos a respeito das condições gerais da terra conquistada, as prováveis riquezas, a paisagem física e humana, etc. . · Em princípio, a visão européia é idílica: a América surge como o paraíso perdido e os nativos são apresentados sob tintas favoráveis. Porém, na segunda metade do século XVI, à medida em que os índios iniciam a guerra contra os invasores, a visão rósea transforma-se e os habitantes da terra são pintados como seres bárbaros e primitivos. Principais manifestações: A Carta de Pero Vaz de Caminha: · Descrição minuciosa da nova realidade; -- A simplicidade no narrar os acontecimentos; · A disposição humanista de tentar entender os nativos; -- O ideal salvacionista. Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden - Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry: · Relato de viajantes que viveram entre os índios vários meses. · Registro da antropofagia e descrição dos costumes indígenas II - LITERATURA JESUÍTICA José de Anchieta Obras refinadas: poemas e monólogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas necessidades espirituais mais profundas. Obras didáticas: hinos, canções e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristão nos índios. Os autos: Obras teatrais onde o autor tenta conciliar os valores católicos com os mitos indígenas. Há um confronto entre o bem e o mal. O bem é defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo e subjugam o mal, constituído por deuses e pajés dos nativos, misturados com os demônios da tradição católica. III - BARROCO Surgimento: Europa, meados do século XVI - Brasil, início do século XVII. (Lembrar que, no Brasil, a literatura barroca acaba no século XVII, junto com o declínio da sociedade açucareira baiana. Contudo, na arquitetura e nas artes plásticas, o estilo barroco atingirá o seu apogeu apenas nos séculos XVIII e início do XIX, em Minas Gerais.) Variações barrocas: cultismo (exagero e rebuscamento formal) e conceptismo (exagero no plano das idéias) são manifestações de excesso da literatura barroca. Características: 1) Arte da Contra-Reforma, expressando a crise do Renascimento, com a destruição da harmonia social aristocrática-burguesa através das guerras religiosas. Os jesuítas que surgem, neste período, combatem os protestantes e espalham pelo mundo católico a sua implacável ideologia teocêntrica. 2) Conflito entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor religioso, o homem barroco oscila entre: · a celebração do corpo, da vida terrena, do gozo mundano e do pecado; · os cuidados com a alma visando à graça divina e à salvação para a vida eterna. 3) Temática do desengano (o desconcerto do mundo): a vida é breve, a vida é sonho, viver é ir morrendo aos

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  • Resumo de Literatura Brasileira

    I - LITERATURA INFORMATIVA

    O que ?

    um tipo de literatura composta por documentos a respeito das condies gerais da terra conquistada, as provveis riquezas, a paisagem fsica e humana, etc. . Em princpio, a viso europia idlica: a Amrica surge como o paraso perdido e os nativos so apresentados sob tintas favorveis. Porm, na segunda metade do sculo XVI, medida em que os ndios iniciam a guerra contra os invasores, a viso rsea transforma-se e os habitantes da terra so pintados como seres brbaros e primitivos.

    Principais manifestaes:

    A Carta de Pero Vaz de Caminha: Descrio minuciosa da nova realidade; -- A simplicidade no narrar os acontecimentos; A disposio humanista de tentar entender os nativos; -- O ideal salvacionista. Duas viagens ao Brasil, de Hans Staden - Viagem terra do Brasil, de Jean de Lry: Relato de viajantes que viveram entre os ndios vrios meses. Registro da antropofagia e descrio dos costumes indgenas

    II - LITERATURA JESUTICA

    Jos de Anchieta

    Obras refinadas: poemas e monlogos em latim que parecem destinados a satisfazer suas necessidades espirituais mais profundas. Obras didticas: hinos, canes e especialmente autos, que visavam infundir o pensamento cristo nos ndios. Os autos: Obras teatrais onde o autor tenta conciliar os valores catlicos com os mitos indgenas.

    H um confronto entre o bem e o mal. O bem defendido por santos e anjos, os quais expressam o cristianismo e subjugam o mal, constitudo por deuses e pajs dos nativos, misturados com os demnios da tradio catlica.

    III - BARROCO

    Surgimento: Europa, meados do sculo XVI - Brasil, incio do sculo XVII. (Lembrar que, no Brasil, a literatura barroca acaba no sculo XVII, junto com o declnio da sociedade aucareira baiana. Contudo, na arquitetura e nas artes plsticas, o estilo barroco atingir o seu apogeu apenas nos sculos XVIII e incio do XIX, em Minas Gerais.)

    Variaes barrocas: cultismo (exagero e rebuscamento formal) e conceptismo (exagero no plano das idias) so manifestaes de excesso da literatura barroca.

    Caractersticas:

    1) Arte da Contra-Reforma, expressando a crise do Renascimento, com a destruio da harmonia social aristocrtica-burguesa atravs das guerras religiosas. Os jesutas que surgem, neste perodo, combatem os protestantes e espalham pelo mundo catlico a sua implacvel ideologia teocntrica. 2) Conflito entre corpo e alma. Dividido entre os prazeres renascentistas e o fervor religioso, o homem barroco oscila entre: a celebrao do corpo, da vida terrena, do gozo mundano e do pecado; os cuidados com a alma visando graa divina e salvao para a vida eterna. 3) Temtica do desengano (o desconcerto do mundo): a vida breve, a vida sonho, viver ir morrendo aos

  • poucos. Aguda conscincia da efemeridade da existncia e da passagem do tempo. 4) Linguagem ornamental, complexa, entendida como jogo verbal, cheia de antteses, inverses, metforas, alegorias, paradoxos, ausncia de clareza. um estilo complicado que traduz os conflitos interiores do homem barroco.

    Autores barrocos:

    1) Gregrio de Matos (Boca do Inferno)

    Poesia religiosa - Apresenta uma imagem quase que exclusiva: o homem ajoelhado diante de Deus, implorando perdo para os pecados cometidos. Poesia amorosa - Tem uma dimenso elevada ("d"), muitas vezes associada noo de brevidade da existncia, e uma dimenso obscena, onde a exploso dos sentidos (em versos crus e repletos de palavres) representa um protesto contra os valores morais da poca. Poesia satrica - Ironia corrosiva e caricatural contra todos os setores da vida colonial baiana: senhores de engenho, clero, juzes, advogados, militares, fidalgos, escravos, pobres livres, ndios, mulatos, mamelucos, etc. Com seu olhar ressentido de senhor decadente, Gregrio de Matos v na realidade apenas corrupo, negociata, oportunismo, mentira, desonra, imoralidade, completa inverso de valores. A poesia satrica, portanto, para ele vingana contra o mundo.

    2) Padre Antnio Vieira

    Os Sermes

    Utilizao contnuas de passagens da Bblia e de todos os recursos da oratria jesutica para convencer os fiis de sua mensagem, mesmo quando trata de temas cotidianos. Ataca os vcios (corrupo, violncia, arrogncia, etc.) e defende as virtudes crists (religiosidade, caridade, modstia, etc.) Combate os hereges, os indiferentes religio e os catlicos desleixados em relao Igreja. Defende abertamente os ndios. Mantm-se ambguo frente aos escravos negros: ora tenta justificar a escravido, ora condena veementemente seus malefcios ticos e sociais. Exalta os valores que nortearam a construo do grande imprio portugus. E julga (de forma messinica) que este imprio deveria ser reconstrudo no Brasil. Prope o retorno dos cristos novos (judeus) a territrios lusos como forma de Portugal escapar da decadncia onde naufragara desde meados do sculo XVI. Apresenta uma linguagem de tendncia conceptista, de notvel elaborao, grande riqueza de idias e imagens espetaculares. Fernando Pessoa o chamaria de "Imperador da Lngua Portuguesa".

    IV - ARCADISMO (ou NEOCLASSICISMO)

    Caractersticas

    1. Arte ligada ao Iluminismo. Oposio ao absolutismo desptico e ao poder (barroco) da Igreja. 2. Afirmao orgulhosa da racionalidade. Razo = Verdade = Simplicidade e clareza. 3. Culto da simplicidade. Como se atinge a mesma? Atravs da imitao (no no sentido de cpia, mas no de seguir modelos j estabelecidos). 4. Imitao dos clssicos. Em especial, Virglio e Tecrito, clssicos pastoris. 5. Imitao da natureza campestre, isto , da ordem e do equilbrio que essa natureza apresenta, o que d a mesma um carter de paraso perdido. Dois elementos decorrem da aproximao do rcade da natureza campestre:

  • a) Bucolismo: adequao do homem harmonia e serenidade da natureza. b) Pastoralismo: celebrao da vida pastoril, vista como um eterno idlio entre pastores e pastoras. 6. Ausncia de subjetividade. O autor no expressa o seu prprio eu, adotando uma forma pastoril (Cludio Manuel da Costa Glauceste Satrnio, Toms Antnio Gonzaga Dirceu, Baslio da Gama Termindo Siplio, etc.) 7. Amor galante. O amor entendido como um conjunto de frmulas convencionais.

    Arcadismo no Brasil

    Decorrncia da atividade mineradora e da urbanizao que dela resultou. Criao de Academias e Arcdias onde os letrados procuravam fugir da indiferena do meio. Instituio em carter regular de um sistema literrio: autores - obras escritas dentro de uma tendncia comum - pblico leitor permanente. Relao com a Inconfidncia Mineira. Toms Antnio Gonzaga foi degredado e Cludio Manuel da Costa se suicidou na priso.

    Poesia lrica:

    1. Cludio Manuel da Costa

    Obras poticas

    Poesia de transio entre o Barroco e o Arcadismo. Do Barroco, o autor tem as noes de brevidade dos sentimentos e da vida, o tema recorrente do sofrimento humano e o gosto pela anttese e pelo soneto camoniano. Do Arcadismo, CMC apresenta o pastoralismo e a renncia viso religiosa de mundo. Em suas Obras, contudo, a paisagem no campestre. Quebrando as convenes do perodo, ele apresenta cenrios dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as suas razes mineiras. Alm das Obras poticas, escreveu uma fracassado poemeto pico (Vila Rica).

    2. Toms Antnio Gonzaga

    Marlia de Dirceu (liras) Poesia tipicamente rcade, presa aos esquemas buclicos e pastoris. A obra foi escrita em trs partes que correspondem a momentos histricos diferentes na vida do poeta. A I parte em liberdade. A II na priso. E a III provavelmente logo aps o degredo para a frica. A expresso sentimental da obra d-se, na maior parte das liras, de acordo com as frmulas convencionais da galanteria. No entanto, em alguns momentos das partes II e III, o autor escapa dos padres rcades e desabafa a sua dor, o sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marlia. Nestes momentos, as liras adquirem um carter pr-romntico. Em seu todo, Marlia um canto das virtudes ilustradas ("urea mediocritas", racionalidade, decoro e simplicidade). Sob pseudnimo de Critilo, escreveu as clebres Cartas Chilenas onde satiriza os desmandos do governador de Minas Gerais, apelidado no texto de Fanfarro Minsio.

    3. Silva Alvarenga

    Glaura Celebrao da pastora Glaura, ora num tom galante, ora melanclico.

  • Poesia pica:

    1. Baslio da Gama

    O Uraguai Tema: A conquista militar das Misses jesuticas no RS por tropas luso-espanholas, em 1756, a mando do Marqus de Pombal.

    Outros aspectos:

    Celebrao pica dos conquistadores brancos, representados pelo general Gomes Freire de Andrade. Tambm os ndios (Sep e Cacambo) so apresentados na condio de heris. uma espcie de glorificao do homem natural (como se os ndios fossem pastores rcades) que enfrenta os representantes da civilizao europia. Os viles da histria so os jesutas, duramente criticados, sobremodo o padre Balda. A cena mais famosa do poema lrica e no pica. Trata-se da morte de Lindia, que, aps ter seu marido, Cacambo, envenenado por ordens do padre Balda e na iminncia de casar-se com o ndio Baldeta, filho natural do padre corrupto, Lindia prefere morrer, deixando-se picar por uma serpente venenosa.

    No esquea: O Uraguai um poema em cinco cantos e em versos brancos (sem rima).

    2. Santa Rita Duro

    Caramuru Tema: A glorificao do colonizador branco e agente da catequese catlica, Diogo lvares Corria, que maravilhou os ndios com um tiro de arcabuz na Bahia do sculo XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguu, e passando a viver entre eles. Outros aspectos: Louvao do ndio que se converte religio do dominador luso e o auxilia na conquista da terra. A cena mais famosa da epopia a morte da ndia Moema, aps a partida para a Frana de Diogo lvares e sua noiva, Paraguau. Moema vai nadando atrs do navio at ser tragada pelas ondas.

    No esquea: H nesta epopia uma forte influncia de Os Lusadas, de Cames.

    V - ROMANTISMO

    Contexto histrico:

    Ascenso da burguesia > Implantao definitiva do capitalismo > Liberalismo econmico, jurdico, filosfico Surgimento de um novo pblico leitor > A arte passa a valer como mercadoria

    Surgimento: Fins do sculo XVIII. J o apogeu romntico ocorre na I metade do sculo XIX.

    Caractersticas:

    1) Individualismo e subjetivismo: a dupla face do EU romntico. A do EU arrogante, napolenico, audacioso. E a do EU que se fecha sobre si mesmo, que escava a sua prpria interioridade. 2) Sentimentalismo: Celebrao do "grande amor", da paixo desmedida, mas tambm da tristeza, da angstia, do "mal do sculo" (o tdio). 3) Culto natureza: Raro o poema romntico que no exalte ou, pelo menos, faa referncia ao mundo natural. Tambm as metforas preferidas ligam-se sempre a fenmenos da natureza. 4) Sonho, fantasia, tendncia idealizao.

  • 5) Escapismo: tendncias suicidas, culto da morte, criao de mundos imaginrios, entrega ao lcool e orgias. 6) Liberdade artstica: fim do mecenatismo, ao vender sua obra no mercado o artista se libera das exigncias de seu protetor. Desobedincia s regras clssicas. Surge o drama teatral e o romance se impe como o gnero dos novos tempos.

    Romantismo brasileiro

    Arte identificada com a Independncia poltica Nacionalismo ufanista:

    - Indianismo - Regionalismo - Culto natureza brasileira - Tentativa de criao de uma lngua nacional.

    Vigncia:

    Incio: 1836 - Suspiros poticos e saudades, de Gonalves de Magalhes Fim: Dcada de 1870, com a morte dos ltimos romnticos importantes: Castro Alves e Jos de Alencar

    A poesia romntica

    I Gerao (Nacionalista)

    1) Gonalves de Magalhes

    Suspiros poticos e saudades > Obra (medocre) que introduz o esprito romntico no pas Confederao dos tamoios > Fracassada experincia indianista

    2) Gonalves Dias

    Primeiros cantos - Segundos cantos - ltimos cantos - Os timbiras (epopia indianista inacabada) - Sextilhas de Frei Anto (poemas escritos em portugus quinhentista, arcaico)

    Temas bsicos:

    Valorizao do ndio: heri idealizado que simboliza o passado herico da nao: I-Juca Pirama. Saudades da ptria: Cano do exlio (O paraso est "l" e no "c", a ptria reside na natureza) Canto da natureza: a beleza do trpico e o encontro de Deus nos fenmenos naturais (pantesmo) Amor impossvel e sofrido: Principais poemas: Ainda uma vez - adeus!; Se se morre de amor.

    No esquea: G. Dias o poeta romntico mais equilibrado e o que tem o melhor sentido de ritmo e musicalidade do verso.

    A poesia romntica

    II Gerao (Individualista, ultra-romntica, byroniana ou do "mal do sculo")

    1) lvares de Azevedo

    Lira dos vinte anos (poemas); O conde Lopo (poema); Macrio (drama com traos cmicos onde um jovem viaja a So Paulo guiado por Sat);

  • Noite na taverna (contos byronianos, gticos, sombrios e devassos nos quais sete rapazes expem histrias terrveis de suas vidas)

    Temas bsicos:

    Pressgio da morte: Se eu morresse amanh. "Mal do sculo": tdio, dvida, angstia sobre o sentido da vida, confronto entre o sonho e a realidade. Idias ntimas. Humor prosaico: percepo irnica do cotidiano Amor orgaco (dimenso da fantasia) e medo do amor (dimenso real traduzida pela imagem recorrente da mulher adormecida).

    No esquea: Em sua obra, como disse um crtico, as mulheres so "deusas" ou prostitutas, isto , inatingveis ou desprezveis.

    2) Casimiro de Abreu

    Primaveras

    Temas bsicos:

    Emoes singelas da adolescncia (inquietudes amorosas) em linguagem totalmente simples. Saudosismo:

    a) da infncia: Meus oito anos b) da ptria: Canes do exlio

    3) Fagundes Varela

    Anchietaou o Evangelho nas selvas

    Temas bsicos:

    Todos os da poesia romntica: o ndio, o canto da ptria, a natureza, o tdio, o abolicionismo, etc. A morte do filho: Cntico do calvrio

    No esquea: Apesar de ser um poeta pouco original, F. V. alcana um bom nvel na sua poesia rural/sertaneja.

    III Gerao (Liberal, social ou condoreira)

    1) Castro Alves

    Espumas flutuantes - Os escravos - Cachoeira de Paulo Afonso

    Temas bsicos:

    Poesia social: o abolicionismo, a defesa de causas liberais como a educao, o canto do futuro e do progresso. Poesia lrica: a natureza e o amor, este como expresso dos desejos sexuais.

    No esquea: A poesia condoreira apresenta uma linguagem forte, retrica, discursiva, com imagens

  • extradas dos mais aspectos mais grandiosos da natureza. J a poesia lrica encontra sua expresso numa linguagem simples, quase coloquial e de forte plasticidade (qualidade visual).

    2) Sousndrade - Um caso parte

    Obras poticas

    O Guesa errante

    Desprezado em sua poca, Joaquim de Sousa Andrade, ou Sousndrade, acabou reabilitado pelos concretistas como um caso de "antecipao genial" da livre expresso modernista.

    Poeta experimental cria uma linguagem cheia de elipses e fuses vocabulares, fugindo das banalidades sentimentais dos romnticos.

    Obra principal: Guesa errante, longo poema narrativo em treze cantos. Est baseado em uma lenda indgena colombiana: Guesa uma criana roubada dos pais pelo deus do Sol. Educado por este deus at os 10 anos, acaba sendo sacrificado aos 15, aps longa peregrinao pela "estrada do Suna", que na verdade o mundo.

    No esquea: a parte mais interessante do Guesa errante a em que ele v a consolidao do capitalismo como uma doena viciosa (O inferno de Wall Street).

    II - O romance romntico

    1. Joaquim Manuel de Macedo O moo louro - A moreninha (relato sentimental da ligao entre dois jovens, Augusto e Carolina, presos a uma promessa amorosa infantil e que na adolescncia se apaixonam, um pelo outro, sem saber que so eles prprios os noivos prometidos)

    Caractersticas da obra:

    Adaptao do folhetim romntico europeu:

    a) a cenrios brasileiros b) aos valores morais e afetivos da famlia patriarcal brasileira Possibilita aos leitores brasileiros uma identificao com a realidade local No esquea: A importncia de Macedo que ele desperta no pblico o gosto pelo romance ambientado no Brasil

    2. JOS DE ALENCAR

    Romances urbanos:

    Senhora - romance sobre o casamento por interesse. Aurlia abandonada pelo noivo, Fernando Seixas, que a troca pelo dote de 30 contos de Adelaide Amaral. Contudo, Aurlia recebe vultuosa herana e compra o antigo noivo por 100 contos, casando-se com ele. Aurlia vinga-se ento de Fernando Seixas, tratando-o como um ser desprezvel, mas o rapaz especula na bola e ganha o dinheiro para se resgatar. O desfecho absolutamente convencional: os dois se perdoam e so felizes para sempre.

    Lucola - romance sobre a paixo de um jovem bacharel, Paulo, por uma cortes (prostituta), Lcia. As dificuldades deste tipo de relacionamento, a presso social e as angstias naturais do amante constituem a base da narrativa. No final, os dois se retiram do centro do Rio de Janeiro em busca de um cenrio favorvel para o triunfo do amor, porm, providencialmente, Lcia morre.

    Romances regionalistas (ou sertanistas):

  • O gacho - O sertanejo - Til - O tronco do ip (relatos cujo objetivo exaltar a unidade nacional na diversidade regional).

    Romances histricos:

    As minas de prata - A guerra dos mascates (romances de muita ao e pouca historicidade objetiva)

    Romances indianistas:

    O guarani (que Alencar considerava um relato histrico) - Ubirajara - Iracema ("Lenda do Cear", espcie de poema em prosa, narra a paixo proibida - mas que acaba se realizando - entre Iracema, espcie de sacerdotisa da tribo tabajara e o portugus Martim Soares, aliado dos pitiguaras. Iracema, a guardadora do segredo de Jurema e que deveria permanecer virgem, entrega-se a Martim e desta relao nasce Moacir, "o filho do sofrimento". Antes do nascimento da criana, Martim Soares parte. Ao regressar, encontra a ndia s portas da morte. Mesmo assim, Iracema ainda lhe entrega a criana e s depois morre. Martim leva ento consigo o filho Moacir, designado pelo escritor como o "primeiro cearense".

    Caractersticas gerais da obra:

    Projeto nacionalista: revelar o Brasil em seu espao fsico-geogrfico (romances urbanos e regionalistas), em seu passado histrico (romances histricos) e em sua dimenso lendria/mtica (romances indianistas). Estrutura narrativa romntica, com forte influncia de Walter Scott e Fenimore Cooper. Idealizao permanente da realidade nacional, valorizao da natureza e estilo metafrico, tendente ao potico. Tentativa de criar uma lngua brasileira (Iracema) Aspectos pr-realistas nos romances Lucola e Senhora (anlise psicolgica mais complexa, anlise do peso da sociedade sobre a vida individual e temas relativamente proibidos: o casamento por interesse e as complicaes resultantes do amor entre dois grupos sociais distintos). Em Senhora e Lucola: vitria final da tica moral conservadora, traduzindo os valores patriarcais do autor.

    No esquea: Com Jos de Alencar e seu projeto esttico-ideolgico (a defesa de temas nacionais e a luta por uma linguagem brasileira), a nossa literatura comea o seu processo de emancipao definitiva da literatura portuguesa.

    3. Visconde de Taunay

    Inocncia - (romance sertanista -regionalista- sobre uma paixo proibida entre a jovem sertaneja, Inocncia, e um falso mdico vindo da cidade, Cirino. O pai da moa, entretanto, a prometera a um tipo rstico chamado Maneco. Este, ao descobrir a paixo de Inocncia, assassina Cirino. Porm, a jovem deixa-se morrer de tristeza, encerrando tragicamente a histria.)

    No esquea: O romance de Taunay j foi designado como uma espcie de Romeu e Julieta caboclo, alm de apresentar uma viso crtica do patriarcalismo brasileiro.

    4. Um caso parte: Manuel Antnio de Almeida

    Memrias de um sargento de milcias

    Narrativa de costumes: Os hbitos das classes populares no "tempo do rei" (1808-1821) Destruio do Romantismo: Ironia aos cacoetes romnticos - personagens semimarginais (Leonardo "filho de uma pisadela e de um belisco") - ausncia de idealizao Um romance precursor do realismo: Objetividade na viso sobre o mundo social. Predomnio do humor: Personagens caricaturizados - acontecimentos que desmentem a hipocrisia dos indivduos - profuso de situaes cmicas.

  • Personagens principais: Leonardo - suas duas paixes, Luisinha (a ideal) e Vidinha (a sensual) Leonardo Pataca (o pai do anti-heri) - Major Vidigal (o representante da ordem e o perseguidor de Leonardo) - Compadre (o protetor de Leonardo), etc.

    No esquea: Por seu teor cmico, pela ausncia de idealizao social e pelas caractersticas do anti-heri, Leonardo (irresponsabilidade, sensualidade, gosto pela vagabundagem e estratgias espertas de sobrevivncia), o romance tem sido classificado como a primeira narrativa da malandragem em nossa literatura.

    VI - REAL-NATURALISMO

    Surgimento: II metade do sculo XIX

    Caractersticas do realismo:

    1) Objetivismo e impessoalidade 2) Busca da verossimilhana: as obras devem dar a impresso de verdade total, isto , de que constituem um reflexo perfeito da realidade 3) Busca da perfeio formal 4) Pessimismo: os valores burgueses e as crenas religiosas e ideolgicas sofrem um processo de completo descrdito 5) Racionalismo - cuja traduo tanto a anlise psicolgica como a anlise social

    Caractersticas do naturalismo

    1)Arte vinculada s novas teorias cientficas e ideolgicas europias (Evolucionismo, Positivismo, Determinismo, Socialismo, Medicina Experimental). Da o outro nome do movimento, criado por Zola: romance experimental. 2) Todas as caractersticas do Realismo - menos a anlise psicolgica. Esta substituda por variaes deterministas que transformam os personagens em fantoches de destinos pr-estabelecidos. Segundo Taine, o homem produto do meio, da raa e do momento histrico em que vive. Pode-se dizer assim que o Naturalismo o Realismo mais o cientificismo da II metade do sculo XIX. 3) Cientificismo sociolgico e biolgico. O sociolgico dado pelo determinismo do meio e do momento. O biolgico pelo determinismo de raa e dos temperamentos e caracteres herdados. 4) Personagens patolgicos. Para provar suas teses, os escritores naturalistas so obrigados muitas vezes a apresentar protagonistas doentios, criminosos, bbados, histricos, manacos.

    O real-naturalismo no Brasil

    As primeiras idias renovadoras surgem na dcada de 1870, no Recife, atravs da ao de Tobias Barreto e Slvio Romero. Em 1881 aparecem O mulato, de Alusio Azevedo e Memrias pstumas de Brs Cubas, de Machado de Assis. Ainda que no sigam de todo os modelos europeus, as obras so respectivamente consideradas as inauguratrias da esttica naturalista e realista no pas.

    O romance realista

    1) Machado de Assis

    I fase: (Tendncias indefinidas, com maior acento romntico)

    Ressurreio - A mo e a luva - Helena - Iai Garcia

  • Tentativa de contrastar caracteres, conforme declarao do autor no prefcio de Ressurreio. Certos temas recorrentes na II fase, como a ambio e o egosmo, j se insinuam nestes romances Linguagem carregada de lugares-comuns.

    II fase: (Realista, mas de um realismo absolutamente singular, fora dos padres europeus)

    Memrias pstumas de Brs Cubas

    Um defunto autor, sem as iluses e as fraudes interiores dos vivos, narra do tmulo a sua vida pregressa. Num tom irnico, ele vai descobrindo a ausncia de grandeza em si e em todas as pessoas. A conscincia de que as aes humanas so desencadeadas apenas pelo interesse, pela possibilidade de lucro, pelo egosmo e pelo instinto sexual, justifica o fim do romance, em que Brs Cubas mede sua vida e conclui que ganhara: "No tive filhos, no transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa misria".

    Curioso o personagem Quincas Borba, amigo do personagem-narrador, filsofo de duvidosa sanidade mental, criador da teoria do Humanitas que, sendo uma stira contra todas as filosofias, tambm a traduo da corrosiva viso de mundo do prprio Machado de Assis.

    Quincas Borba

    O modesto professor Rubio recebe em Barbacena grande herana do falecido filsofo Quincas Borba, com a condio de cuidar do seu cachorro, tambm chamado Quincas Borba.

    Rubio abandona a provncia, mudando-se para o Rio de Janeiro, onde enganado e explorado por um bando de parasitas, especificamente por um ambicioso casal: Sofia e Palha. Sofia percebe a paixo do professor por ela e se diverte com sua ingenuidade. Palha monta um negcio de exportao com o professor, o qual entra com todos os recursos financeiros para o empreendimento.

    Rubio, conscincia estreita em demasia para a complexidade psicolgica e social, nada entende. E acaba enlouquecendo. Dissipa, ento, a sua fortuna inteiramente. Palha desmancha a sociedade, ficando com o negcio e Rubio despachado de volta para Barbacena, em companhia do cachorro Quincas Borba. L morre na maior misria.

    Dom Casmurro

    Bento Santiago tenta recompor o passado atravs da memria, e recorda o amor adolescente por Capitu (a de "olhos oblquos e dissimulados", "olhos de cigana", "olhos de ressaca"). Boa parte da memria de Bentinho concentra-se na adolescncia dos personagens, na poesia da primeira paixo, no compromisso de casamento e em seu ingresso forado no seminrio, promessa carola de sua me. Depois, as aes ocorrem velozes: a amizade com Escobar, o abandono do seminrio, o to desejado casamento com Capitu, o enlace de Escobar com Sancha, a amizade dos casais, o nascimento de Ezequiel, filho do personagem-narrador, a felicidade.

    Escobar morre no mar e Capitu sofre tanto que Bentinho desconfia. Uma desconfiana que aumentar dia aps dia, uma dialtica de suspeitas e cimes: Bento v no filho, Ezequiel os traos fisionmicos de Escobar. O casamento se corri pela traio (concreta?, real?) de Capitu, que parte para a Europa com o filho, impelida pelo marido que j no os aceita. Anos depois, Capitu morre, Ezequiel retorna para o Brasil (segundo o narrador, cada vez mais parecido com Escobar), vai para a frica e l tambm morre. O processo de desagregao de Bentinho estava concludo, restando-lhe enfrentar a solido definitiva.

    Esa e Jac

    Quando o Conselheiro Aires morre, encontra-se em seus papis a narrativa em questo. a histria de dois gmeos, Pedro e Paulo, que j brigavam no ventre da me e que seguem adversrios na infncia e na vida adulta e na maturidade. Um se forma mdico, outro advogado, um ingressa no partido conservador, outro no partido liberal. Um monarquista, outro vira republicano. Ambos, no entanto, se apaixonam pela mesma moa, Flora. Esta oscila entre os gmeos e termina morrendo sem optar por nenhum. Pedro e Paulo reconciliam-se e prometem amizade fraternal para o resto da vida, mas em seguidas rompem outra vez e seguem se odiando mutuamente.

    O romance muito lembrado por ser o nico, na obra machadiana, em que fatos histricos (a Abolio e a Repblica) tm importncia no entrecho. Nos vestibulares aparece com freqncia o irnico episdio do cap. XLIX - Tabuleta velha - em que um dono de confeitaria, Custdio, em meio confuso histrica (fim do Imprio, incio da Repblica) no sabe como designar a sua casa de negcios.

  • Memorial de Aires

    O mesmo Conselheiro Aires, diplomata aposentado, escreve o seu dirio cheio de finas observaes sobre a vida, num tom discreto e levemente nostlgico, abrandando aquele pessimismo dos relatos anteriores de Machado de Assis. (No mundo ficcional, as memrias do conselheiro so anteriores ao romance Esa e Jac, do qual ele tambm o narrador).

    O conselheiro acompanha com interesse humano (talvez amoroso) a jovem viva Fidlia, praticamente adotada por um casal de velhos sem filhos, Dona Carmo e Aguiar. Estes tinham experimentando uma grande decepo quando um rapaz a quem se afeioaram, como se fosse seu filho verdadeiro, Tristo, mudara-se para Lisboa com o fim de freqentar a escola de medicina. Tristo retorna e acaba se casando com Fidlia. Em seguida, para tristeza dos velhos, o jovem casal viaja para Europa. O romance termina com o Conselheiro Aires acompanhando com discreta piedade a solido do casal Aguiar e Carmo, no qual muito crticos viram as figuras de Machado e de sua esposa, Carolina.

    Os temas principais:

    1 - O adultrio: Motivo central de Dom Casmurro e de uma srie de contos, alm de ser motivo importante de Memrias pstumas de Brs Cubas e Quincas Borba. 2 - O parasitismo social: Reflexo de uma sociedade erigida sobre o trabalho do escravo. Parasitas so quase todos os personagens de Machado, principalmente em Quincas Borba. 3 - A confuso entre a razo e a loucura: As fronteiras estabelecidas entre a razo e a insanidade so vagas e incertas. No conto O alienista desenvolve-se uma ironia feroz contra as certezas cientificistas do sculo XIX. 4 - O egosmo, a vaidade, o interesse: Sem estes elementos nada ocorreria nos romances e contos de Machado de Assis. Os personagens movem-se por orgulho ou cobia, e os que vivem por motivos mais nobres, em geral, so os enganados, os vencidos. 5 - A impossibilidade de ao com grandeza: Se acompanharmos Brs Cubas, Bentinho e o mesmo Rubio, veremos apenas o inventrio de mesquinharias e atitudes hipcritas que satisfazem a moral das aparncias. 6 - A hipocrisia: Relaciona-se com aspecto do duplo comportamento humano. Intimamente, os seres possuem determinadas facetas, idias, sentimentos, mas, para satisfazer as exigncias sociais, dissimulam, falsificam a sua identidade. Trata-se de um universo de vus e mscaras. H uma alma interior e uma alma exterior: este o tema do conto O espelho. s vezes, a aparncia e a verdade se confundem tanto que os indivduos tomam uma pela outra: Capitu aparenta trair, Bentinho a julga traidora. 7 - A ambigidade feminina: As mulheres no regime patriarcalista, inferiorizadas socialmente, so impelidas a aprender regras de dissimulao e de seduo, e se servem delas como armas. Muitas vezes, so elas que conduzem os homens desencadeando crises e problemas. Sofia, Capitu, Virglia e dona Conceio - esta ltima do conto Missa do galo - exemplificam este tipo de mulher. 8- O instinto e o subconsciente como mveis dos atos humanos.

    Processos lingsticos e narrativos

    1 - Quebra da estrutura linear: Os romances so fragmentados por uma multiplicidade de episdios e principalmente pelas contnuas digresses do narrador, que se faz presente em todos os textos, opinando, julgando, relativizando tudo. 2 - A volubilidade do narrador: O narrador afirma uma idia e, em seguida, a destri. Assim ele faz com todos os sistemas e filosofias, anulando a todos. Nenhuma verdade absoluta. Tudo depende dos interesses de cada indivduo. Nada eterno ou definitivo. 3 - Perfeio formal: Os textos machadianos revelam no apenas um refinamento lingstico, mas tambm uma forma trabalhada, limpa, perfeita.

    Caractersticas das obras

    1 - Anlise psicolgica: O romance de enredo linear substitudo pelo romance de digresses e situaes psicolgicas. Os acontecimentos exteriores, a natureza, o cenrio, so descritos apenas quando provocam reaes subjetivas nos personagens. 2 - Anlise dos valores sociais: A crtica ao contexto social um dos pilares das narrativas de Machado de Assis. Tem plena conscincia da brutalidade do patriarcalismo brasileiro, do horror escravismo e da pequenez

  • de nossa classe dominante. No entanto, no um escritor de protesto. Sua anlise social no aparece na superfcie, est implcita no comportamento dos personagens. 3 - Pessimismo: Decorrncia da constatao da falncia e da degradao dos valores que regem a vida humana. O escritor assume uma posio de descrena absoluta em relao sadas religiosas, filosficas e ideolgicas.

    O final de Brs Cubas bastante conhecido:

    Este ltimo captulo todo de negativas. No alcancei a celebridade do emplastro, no fui ministro, no fui califa, no conheci o casamento. Verdade que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de no comprar o po com o suor do meu rosto.(...) Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginar que no houve mngua nem sobra, e conseguintemente sa quite com a vida. E imaginar mal; porque, ao chegar a este outro lado do mistrio, achei-me com um pequeno saldo, que a derradeira negativa deste captulo de negativas: - No tive filhos, no transmiti a nenhuma criatura o legado de nossa misria.

    4 - Ironia: A amargura e o desespero so to fortes em Machado que se convertem em humor. Um humor sutil, de entrelinhas, requintado e discreto, de tal forma que os contemporneos do escritor nunca chegaram a perceb-lo. A ironia do escritor no atinge apenas os personagens, mas os leitores e o prprio formular da narrativa.

    Outras atividades:

    Alm de romancista e contista, Machado de Assis deixou poemas, peas de teatro, crnicas e crtica literria.

    No esquea: Com Machado de Assis, a literatura brasileira deixou de ser apenas uma manifestao de "cor local", paisagem e exterioridade, tornando-se uma literatura capaz de expressar de forma brasileira as contradies do homem universal.

    2. Raul Pompia

    O Ateneu

    Presena de um narrador em primeira pessoa (Srgio) Fortes traos autobiogrficos no romance Crtica ao internato e sociedade que ela expressa Registro da destruio psicolgica e moral do menino Srgio no internato Corrupo do ambiente (todos os personagens se degradam) Mundo dominado pelo sexo, dinheiro e nsia de poder Teor caricatural (sobretudo na figura de Aristarco, o diretor do colgio) As impresses do passado so revividas pelo narrador Incluso do romance no Realismo (por alguns crticos) Incluso do romance na esttica impressionista (por outros crticos) Linguagem trabalhada ("prosa artstica")

    3. Alusio Azevedo

    O mulato: (romance cuja ao transcorre em So Lus do Maranho, envolvendo denncias contra o preconceito de cor, a mediocridade da vida provinciAna e a hipocrisia do clero. Jovem mulato de origem misteriosa, Raimundo, volta a So Lus, aps formar-se em Portugal, buscando os seus antepassados e uma fortuna que lhe teria sido subtrada. Termina apaixonando-se pela prima, branca e rica, Ana, e descobrindo o prprio passado. Sob a inspirao de um padre corrupto, o cnego Diogo (que estava sendo desmascarado

  • pelo mulato), um ex-namorado de Ana assassina Raimundo. O romance acaba com a indiferena de So Lus em relao ao assassinato e o casamento de Ana com o criminoso.)

    O cortio

    A concepo biolgica da existncia - que chega ao extremo de considerar o prprio cortio um organismo vivo, sujeito s leis evolutivas; A predominncia do coletivo sobre o particular; O registro da acumulao primtiva de capital (Joo Romo); O fatalismo que condena os indivduos a se tornarem o reflexo do cenrio onde vivem: o determinismo do meio do qual Jernimo o maior exemplo; O determinismo dos instintos, traduzido especialmente por Pombinha; A identificao da indolncia, da baguna e da sensualidade como uma forma tropical-brasileira de ser. Um smbolo disso a mulata Rita Baiana; A tica nauseada do narrador, que transforma todas as criaturas humanas em animais; Algumas tiradas racistas, de acordo com os princpios "cientificistas" da poca; A celebrao de uma extraordinria fora vital, de uma selvagem vibrao dos instintos e de uma fervilhante alegria de existir e de sobreviver em condies to adversas.

    VII - PARNASIANISMO

    Surgimento: Frana, dcada de 1860 - Brasil, dcada de 1880

    Caractersticas: 1 - Reao poesia romntica (tentativa de poesia realista) 2 - Objetividade e impassibilidade do poeta 3 - Culto forma, entendida como mtrica, rima e versificao 4 - Utilizao de frmulas poticas fixas como o soneto 5 - Arte pela arte: a arte s tem compromisso com sua beleza 6 - Temas principais: Antigidade greco-romana; discusso sobre a prpria poesia; descrio de cenas da natureza e de objetos.

    Parnasianismo no Brasil

    Literatura descompromissada das elites Ampla dominao cultural paransiana (1882-1922) que desencadeia, por oposio, a Semana de Arte Moderna.

    A trade parnasiana

    1) Olavo Bilac (Tarde, Poesias, Via-lctea, Saras de fogo)

    Temas principais: Natureza - Ptria - Antigidade greco-romana - Amor sensual e amor platnico - Questionamento da prpria poesia.

    Caractersticas bsicas: Rigidez mtrica e luta pela perfeio formal - Desvios na objetividade parnasiana, resultantes de uma pretensa "herana romntica" que se traduz em temas subjetivos como o amor (seja o ertico, seja o platnico) e o nacionalismo.

    Poemas mais conhecidos: Profisso de f - In extremis - O caador de esmeraldas

    2) Raimundo Correia (Meridionais)

  • Temas principais: Natureza - Melancolia da existncia.

    Caractersticas bsicas: Recursos visuais (plsticos) e sonoros na confeco dos versos - Tentativa de um sentido filosofante na poesia em geral.

    Poemas mais conhecidos: As pombas - Mal secreto

    3) Alberto de Oliveira

    Temas principais: Natureza - Descritivismo de objetos

    Caracterstica bsica: Adeso completa e rgida a todos os princpios do movimento

    VIII - SIMBOLISMO

    Surgimento: Frana, 1880, com Verlaine, Mallarm e Rimbaud

    Caractersticas:

    1) Reao subjetivista ao descritivismo parnasiano 2) Abandono das frmulas poticas rgidas 3) A poesia deve ser um processo de sugestes (sugerir = no dizer, no nomear) 4) Sugesto atravs de smbolos, de metforas originais, de uma linguagem cifrada 5) Sugesto atravs da musicalidade da linguagem (uso de aliteraes) 6) Culto do mistrio, do espiritualismo e do misticismo 7) Descoberta das camadas profundas da vida psquica 8) Domnio do vago, do obscuro, do nebuloso, do inefvel

    SIMBOLISMO NO BRASIL - Movimento surgido em provncias intelectualmente sem importncia, na poca: Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paran, Minas Gerais - Pequena ressonncia na poca e forte influncia (dos simbolistas europeus) nos anos de 1910, 20 e 30 sobre as obras de Manuel Bandeira, Ceclia Meireles, Mrio Quintana e Vincius de Moraes

    1) CRUZ E SOUSA

    Missal - Broquis - Faris - Evocaes - ltimos sonetos

    Temas bsicos:

    - A obsesso pela cor branca - O erotismo sublimado - O sofrimento da condio negra - O sofrimento da condio humana - Espiritualizao e religiosidade - Linguagem metafrica e musical

    2) ALPHONSUS DE GUIMARAENS

  • Cmera ardente - Dona Mstica Septenrio das dores de Nossa Senhora

    Temas bsicos:

    - A morte da noiva - A sublimao da perda da noiva atravs do misticismo religioso - A paisagem fantasmagrica das cidades mineiras - Linguagem de rica musicalidade e, por vezes, litrgica.

    3) PEDRO KILKERRY

    - Poesia fragmentria, difcil. - inovaes de linguagem

    IX - PR-MODERNISMO

    Perodo de abrangncia: 1902 a 1922

    Perodo ecltico*:

    grupo passadista (parnasianos e simbolistas retardatrios) grupo renovador (sob variadas linguagens, com predomnio da prosa neo-realista, um conjunto de escritores sem um projeto comum tenta olhar para o pas de uma forma mais ou menos crtica.

    * ecltico - mistura de vrias tendncias.

    1. Euclides da Cunha

    Os sertes

    Relato sobre a guerra de Canudos travada entre sertanejos fanticos e soldados do exrcito; A base fatual do relato so as reportagens que E.C. enviou para o jornal durante o confronto. A obra se divide de acordo com as teses deterministas que a delimitam (Taine: meio, raa e momento) em A terra O homem A luta. As teses cientificistas de E. C. esto mais presentes nas duas primeiras partes da obra. Em O homem, o sertanejo apresentado, simultaneamente, como uma "sub-raa", "raa degenerescida" e como um "forte", um "tit de cobre". A luta parte mais importante uma mescla de texto cientfico, resgate histrico, reportagem jornalstica, narrativa romanesca, anlise da guerra, denncia da chacina dos sertanejos e uma profunda interpretao do Brasil. A percepo da guerra como traduo da existncia de dois Brasis um civilizado e moderno e outro arcaico e primitivo dois Brasis sem unidade, sem um ncleo comum, constitui a grande colaborao de E. C. para a conscincia dos brasileiros da poca a respeito do seu prprio pas.

    No esquea: A linguagem extraordinariamente elaborada, ornamental, difcil, potica, barroca em suas antteses, em suas metforas e em seus paradoxos o que confere carter literrio ao texto.

    2. Lima Barreto

    Relatos neo-realistas, de estilo simples, mais ou menos desleixados na linguagem. Valorizao da vida suburbana e das camadas pobres do Rio de Janeiro Caricatura dirigida aos poderosos da poca (polticos e letrados, em especial)

  • Ironia corrosiva ao nacionalismo ufanista Denncia dos preconceitos sociais e de cor (o autor era mulato)

    Triste fim de Policarpo Quaresma (Relato centrado em um burocrata visionrio, dominado por formulaes de nacionalismo ufanista e que, por isso, cr piamente na grandezas convencionais da nao. A narrativa a da perda progressiva de seus ideais, perseguidos e destroados pela realidade, como, por exemplo, a sua fracassada experincia agrcola e a sua conscincia da brutalidade das elites, aps o episdio da Revolta da Armada (1893). Por protestar contra a violncia do prprio governo que ajudara a defender, Policarpo Quaresma ser preso e fuzilado.)

    Recordaes do escrivo Isaas Caminha (O jovem mulato Isaas Caminha sai do interior em busca de uma chance no Rio de Janeiro, mas o preconceito de cor impedem-no de alar-se, restando-lhe apenas um trabalho subalterno num dirio da antiga capital federal. No final do romance, furando uma greve dos companheiros, Isaas Caminha acaba virando editor do jornal e depois, pelos bons servios prestados ao patro, recebe um cartrio de presente e torna-se escrivo ou tabelio, como diramos hoje.)

    3. Augusto dos Anjos

    Eu

    Poesia com traos parnasianos, simbolistas e pr-modernistas. Os aspectos pr-modernistas esto presentes em alguns versos de extremo coloquialismo e na incorporao da temtica da "sujeira da vida" e do grotesco, muito comuns na poesia moderna. Utilizao freqente de termos cientficos da medicina e da biologia, de acordo com as tendncias naturalistas/evolucionistas vindas do sculo XIX. Apresenta umaa obsesso pela morte, nas formas mais degradadas que ela pode apresentar: podrido da carne, cadveres ftidos, corpos decompostos, vermes famintos e fedor de cemitrios. Dominada pelo niilismo, a poesia de Augusto dos Anjos questiona a falta de sentido da existncia e verte um nojo amargo e desesperado pelo fim inglrio a que a natureza nos condena. A angstia diante da morte transforma-se numa espcie de metafsica do horror: o homem no passa de matria que acaba, que entra em putrefao e que depois desaparece.

    4. Monteiro Lobato

    Literatura geral (adulta): Urups, Cidades mortas, Negrinha.

    contos com nfase em solues patticas, macabras ou anedticas estrutura do conto e de linguagem presa ao modelo realista tradicional registro da zona cafeicultura decadente do interior paulista (Cidades mortas) criao da figura do caboclo brasileiro (o caipira) Jeca Tatu

    Literatura infanto-juvenil: O stio do pica-pau amarelo

    mescla de fantasia, realidade e informao presena de um cenrio tpico do interior brasileiro (o stio)

    5. Simes Lopes Neto

    Lendas do Sul Casos do Romualdo Contos gauchescos

    Forte presena da cultura regional sul-rio-grandense Utilizao de lendas como a do Negrinho do pastoreio e da Salamanca do Jarau (Lendas do Sul)

  • Na obra-prima (Contos gauchescos) h uma mescla de:

    a) costumes da campanha rio-grandense b) registro da vida cotidiana c) fixao da linguagem especfica da regio (com grande nmero de espanholismos e alguns neologismos) O narrador de Contos gauchescos uma vaqueano de quase 90 anos (Blau Nunes) que evoca histrias que viveu, presenciou ou escutou. O fato do narrador ser oriundo das camadas populares ocasiona uma intensa oralidade em sua forma de narrar as histrias. No conjunto, os Contos gauchescos apresentam simultaneamente uma louvao do gacho (coragem, audcia, honestidade e cavalheirismo) e uma crtica implacvel violncia que campeia no pampa.

    No esquea: Apesar do tom regionalista dos relatos de Simes Lopes, as paixes humanas que animam os mesmos ultrapassam a condio localista e se situam numa dimenso universal. Assim o drama especfico do pampa rio-grandense adquire interesse para leitores de todos os quadrantes.

    6. GRAA ARANHA

    Cana: Romance de tese (ou de idias ou ainda romance-ensaio), centrado no debate ideolgico entre dois imigrantes alemes, Milkau e Lentz, recm chegados ao Esprito Santo. H uma discusso sobre o futuro da sociedade brasileira, discusso esta centrada nas idias de clima e de raa. A linguagem da obra tem certos acentos impressionistas.

    X - MODERNISMO

    A SEMANA DE ARTE MODERNA

    Antecedentes europeus: as vanguardas

    Futurismo, Cubismo, Dadasmo (o Surrealismo no influenciou diretamente a Semana, mas apenas o movimento da Antropofagia, de Oswald de Andrade.)

    Futurismo: Fundado pelo italiano Marinetti, foi o movimento de vanguarda que mais influenciou os nossos modernistas. Propunha uma ruptura total com o passado. Ao mesmo tempo, exaltava o "esplendor geomtrico e mecnico do mundo moderno". Isso significava cantar a mquina, o aeroplano, o asfalto, o cinematgrafo. No plano formal, os futuristas suprimiram o eu potico, a pontuao, os adjetivos e usavam apenas o verbo no infinitivo, etc.

    Antecedentes brasileiros:

    A publicao, em 1917, de diversos livros de poemas em que jovens autores buscavam uma nova linguagem, ainda no bem realizada. (Ns, de Guilherme de Almeida; Juca Mulato, de Menotti del Picchia; Cinza das horas, de Manuel Bandeira; e H uma gota de sangue em cada poema, de Mrio de Andrade). A clebre exposio de Anita Malfatti, em 1917, e que foi duramente criticada por Monteiro Lobato em seu clebre artigo Parania ou mistificao. Jovens artistas paulistanos saram, ento, em defesa da pintora, criando uma polmica que os ajudou a formar um grupo desejoso de mudar a arte e a cultura brasileira.

    A semana de Arte Moderna

    Realizada em fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de So Paulo, a Semana representou a ruptura barulhenta com os princpios estticos do passado.

    A proposio de uma "semana" (na verdade, foram s trs noites) implicava uma amostragem geral da prtica modernista. Programaram-se conferncias, recitais, exposies, leituras, etc. O momento mais sensacional deu-se na segunda noite, quando Ronald de Carvalho leu um poema de Manuel Bandeira: Os sapos, uma ironia corrosiva aos parnasianos que ainda dominavam o gosto do pblico.

    Enfunando os papos, Saem da penumbra,

  • Aos pulos, os sapos. A luz os deslumbra. Em ronco que aterra, Berra o sapo-boi: - Meu pai foi guerra - No foi! - Foi! - No foi! O sapo-tanoeiro Parnasiano aguado Diz: - Meu cancioneiro bem martelado.

    Principais participantes da Semana

    Literatura:

    Mrio de Andrade - Oswald de Andrade - Graa Aranha - Ronald de Carvalho - Menotti del Picchia - Guilherme de Almeida

    Msica e Artes Plsticas:

    Anita Malfatti - Di Cavalcanti Santa Rosa - Villa-Lobos - Guiomar Novaes

    A importncia esttica da Semana

    A Semana significou tambm o atestado de bito da arte dominante. O academicismo plstico, o romantismo musical e o parnasianismo literrio esboroaram-se por inteiro. Os autores modernistas colocaram a renovao esttica acima de outras preocupaes. O principal inimigo eram as formas artsticas do passado.

    Caberia a Mrio de Andrade - verdadeiro lder e principal terico do movimento - sintetizar a herana de 1922: A estabilizao de uma conscincia criadora nacional, preocupada em expressar a realidade brasileira. A atualizao intelectual com as vanguardas europias. O direito permanente de pesquisa e criao esttica.

    A Semana e a realidade brasileira

    A Semana de Arte Moderna insere-se num quadro mais amplo da realidade brasileira. Vrios historiadores j a relacionaram com a revolta tenentista e com a criao do Partido Comunista, ambas de 1922. Embora as aproximaes no sejam imediatas, flagrante o desejo de mudanas que varria o pas, fosse no campo artstico, fosse no campo poltico.

    O Modernismo de 22 a 30 (Fase de destruio e experimentao

    O projeto dos modernistas pode ser dividido em trs linhas bsicas que se conjugam:

    A) Desintegrao da linguagem tradicional

    Questiona-se a arte acadmica e suas frmulas envelhecidas. O estilo parnasiano e o bacharelismo so os alvos prediletos dos ataques modernizadores. Para efetivar tal destruio, usa-se a pardia, o poema-piada, o sarcasmo.

    B) Adoo das conquistas das vanguardas

    A liberdade de expresso, a viso do cotidiano, a linguagem coloquial e outras inovaes desenvolvidas pelas vanguardas europias so assimiladas, ainda que desordenadamente, pela gerao de 22. A revista Klaxon, de 1922, e os primeiros textos publicados no ano da Semana mostram essa preocupao com a contemporaneidade. No tem fundamento, portanto, a afirmativa de que os modernistas seriam antieuropeus. A identificao com as velhas matrizes culturais ainda evidente.

    C) Busca da expresso nacional

  • Em 1924, em Paris, Oswald de Andrade assiste a uma exposio de mscaras africanas. Elas parecem expressar a identidade dos povos negros da frica. Nesse momento, o escritor se interroga: "E ns, os brasileiros, quem somos?

    Atrs dessa pergunta, comea a se delinear a luta por um abrasileiramento temtico. Antes, as questes fundamentais eram estticas. A partir de agora passam a ser tambm ideolgicas: sonha-se com a delimitao de uma cultura brasileira, de uma alma verde-amarela.

    A sada primitivista

    O novo nacionalismo ir assumir uma perspectiva crtica, um tom anrquico e desabusado. Celebra-se o primitivismo, isto , as nossas origens indgenas e extra-europias. as civilizaes aborgenes e tambm no folclore, nos aspectos mticos e lendrios da cultura popular, quer se descobrir a essncia do Brasil. Esta pesquisa de uma subjacente alma nacional s poderia ser realizada, no entanto, com o instrumental artstico da modernidade. Assim, o Brasil seria uma sntese entre o primitivo e o inovador.

    Os movimentos primitivistas

    Pau-Brasil

    Lanado em maro de 1924, o Manifesto da Poesia Pau-Brasil trazia como idias-chave: A juno do moderno e do arcaico brasileiros: "A poesia existe nos fatos. Os casebres de aafro e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, so fatos astticos (...) A reza. O Carnaval. A energia ntima. O sabi. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajs e os campos de avaliao militar. Pau-Brasil." A ironia contra o bacharelismo: "O lado doutor, o lado citaes, o lado autores conhecidos. Comovente. (...) A riqueza dos bailes e das frases feitas.(...) Falar difcil." A luta por uma nova linguagem: "A lngua sem arcasmo, sem erudio. Natural e neolgica. A contribuio milionria de todos os erros. Como falamos. Como somos. (...) Contra a cpia, pela inveno e pela surpresa." A descoberta do popular: O Pau-Brasil descortina para os modernistas o universo mtico e ingnuo das camadas populares: "O Carnaval o acontecimento religioso da raa. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordes de Botafogo. A formao tnica rica. Riqueza vegetal."

    Antropofagia:

    O manifesto antropofgico, lanado em 1928, amplia as idias do Pau-Brasil, atravs dos seguintes elementos: A insistncia radical no carter indgena de nossas razes: "Tupy or not tupy that is the question". O humor como forma crtica e trao distintivo do carter brasileiro: "A alegria a prova dos nove". A criao de uma utopia brasileira, centrada numa sociedade matriarcal, anrquica e sem represses: "Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituies e sem penitencirias do matriarcado de Pindorama." A postura antropofgica como alternativa entre o nacionalismo conservador, anti-europeu e a pura cpia dos valores ocidentais: "Nunca fomos catequizados.(...) Fizemos Cristo nascer na Bahia. Ou em Belm do Par."

    Caberia a Mrio de Andrade, com o romance Macunama, e a Raul Bopp, com o poema Cobra Norato, a tentativa de levar para a criao literria as idias do Manifesto.

    No esquea: Nos anos de 1967, Caetano Veloso e outros compositores populares atravs do Tropicalismo voltam a acenar com os princpios antropofgicos para combater a estreiteza da chamada M.P.B., que rejeitava a incorporao de elementos da msica pop internacional msica brasileira.

    Verde-Amarelo (1924) e Anta (1928):

    Com a participao de Cassiano Ricardo, Menotti del Picchia e Plnio Salgado, estas tendncias opem-se ao primitivismo destruidor e debochado dos "antropfagos" atravs do reforo do "sentido de brasilidade" e de uma tendncia conservadora e direitista no plano social.

  • Caractersticas da literatura modernista

    A) Liberdade de expresso

    A importncia maior das vanguardas residiu no triunfo de uma concepo inteiramente libertria da criao artstica. Potica, de Manuel Bandeira, um manifesto dessa nova postura, com seu clebre verso final: No quero mais saber de lirismo que no libertao.

    B) Incorporaa do cotidiano

    O prosaico, o dirio, o grosseiro, o vulgar, o resduo e o lixo tornam-se os motivos centrais da nova esttica. grandiosidade da paisagem, Manuel Bandeira sobrepe a humildade do beco:

    Que importa a paisagem, a Glria, a baa, a linha do horizonte? - O que eu vejo o beco.

    C) Linguagem coloquial

    A linguagem torna-se coloquial, espontnea, mesclando expresses da lngua culta com termos populares, o estilo elevado com o estilo vulgar. O artista volta-se para uma forma prosaica de dizer, feita de palavras simples e que, inclusive, admite erros gramaticais, conforme se v neste poema de Oswald de Andrade:

    Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mi Para pior pi Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vo fazendo telhados.

    D) Inovaes tcnicas

    Verso livre Destruio dos nexos Paronomsia (juno de palavras de sonoridade muito parecida, mas de significado diferente). Enumerao catica Colagem e montagem cinematogrfica Liberdade no uso dos sinais de pontuao

    Os autores de 1922

    1. Oswald de Andrade (1890-1954)

    Obras principais:

    Poesia: Poesia do pau-brasil (192 );

    Teatro: O rei da vela(1937)

    Romances: Memrias sentimentais de Joo Miramar (1924); Serafim Ponte Grande (1937)

    Os romances da destruio

    Os dois romances acima (ou anti-romances) desobedecem aos padres tradicionais da narrativa, diluindo a separao entre prosa e poesia.

  • Apresentam metforas ousadas, neologismos e so totalmente fragmentrios. H uma grande quantidade de "captulos-relmpagos".

    No conjunto, os romances de Oswald de Andrade so descontnuos e antidiscursivos, predominando neles a idia de montagem cinematogrfica, isto , da tcnica do corte e da colagem dos mltiplos fragmentos.

    Como registrou uma estudiosa, eles "apresentam vrias modalidades de linguagem: a cotidiana, a caipira, a bacharelesca, a de composies infantis, a dos dirios ntimos. Inclui ainda os clichs, as frases feitas, piadas, neologismos, palavres, etc..."

    2 - Mrio de Andrade (1893-1945)

    Obras principais:

    Poesia: Paulicia desvairada (1922); Cl do jabuti (1927); Lira paulistana (1946)

    A obra mais importante Paulicia desvairada at por causa de seu prefcio, denominado pelo autor Prefcio interessantssimo. Nele, Mrio teorizara sobre sua prpria poesia e sobre as tendncias modernistas do novo lirismo:

    "No sou futurista (de Marinetti). Disse e repito-o. Tenho pontos de contacto com o futurismo. Oswald de Andrade chamando-me de futurista errou.(...). Escrever arte moderna no significa jamais para mim representar a vida atual no que tem de exterior: automveis, cinema, asfalto. 'Si' estas palavras freqentam-me o livro no porque pense com elas escrever moderno, mas porque sendo meu livro moderno, elas tm nele sua razo de ser."

    Fico: Amar, verbo intransitivo (1927); Macunama (1928); Contos novos (1946).

    Macunama: o heri sem nenhum carter

    Macunama representa a adeso de Mrio ao nacionalismo primitivista. Desde o incio, o romance (ou a rapsdia, como queria o autor) apela para o suporte mitolgico: a lenda indgena de Macunama a base do texto. H tambm no texto lendas sertanejas e caboclas, misturadas com os aspectos mgicos da cultura afro-brasileira, etc.

    O esforo de sntese percorre toda a rapsdia: sntese cultural, lingstica, geogrfica, psicolgica.

    As andanas de Macunama da selva cidade, em busca da pedra mgica (o muiraquit), roubada pelo gigante Wenceslau, seus amores e aventuras servem para levantar os traos definidores daquilo que seria o carter do homem brasileiro

    O "heri de nossa gente" tem como caractersticas a preguia, a irreverncia, o deboche e uma sensualidade intensa. Em resumo, estamos frente malandragem. Mas, de certa forma, uma malandragem derrotada, pois Macunama retorna selva, s lhe restando um destino mtico: subir aos cus e virar constelao.

    No esquea: Em sua linguagem to mltipla, o relato satiriza os padres da escrita acadmica. A carta que Macunama envia s icamiabas (ndias amazonas), por exemplo, uma pardia da retrica bacharelesca que sempre caracterizou os letrados brasileiros.

    Outros autores de 1922

    Raul Bopp - Cobra Norato (poesia)

    Vinculao antropofagia Poema baseado numa lenda amaznica

    Antnio de Alcntara Machado - Brs, Bexiga e Barra Funda (contos)

    Realismo irnico e sentimental Valorizao do imigrante italiano

  • Estilo coloquial

    XI - A POESIA MODERNA

    1. Manuel Bandeira (1886-1968)

    Obras principais: Cinza das horas (1917); Carnaval (1919); Ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930); Estrela da manh (1936); Lira dos cinquent'anos (1948); Estrela da tarde (1963)

    Caractersticas gerais da poesia:

    Fuso entre a confisso pessoal e a vida cotidiana. Um clima de desejo insatisfeito e amargurado percorre a sua obra. A tuberculose impediu-o de viver profundamente. Desta forma, a poesia representou para ele "toda a vida que podia ter sido e que no foi." Os poemas Vou-me embora pra Pasrgada ("Vou-me embora pra Pasrgada / L sou amigo do rei / L tenho a mulher que eu quero / Na cama que escolherei"), Balada das trs mulheres do sabonete Arax e Estrela da manh se inserem nesta linha do desejo insatisfeito. Outro tema dominante em sua poesia o da morte. Bandeira tambm um grande poeta do cotidiano: descobre o lirismo perdido nos becos, nos arrabaldes, em pobres quartos de hotel e em tudo que irrisrio e banal. Sua expresso potica de absoluta simplicidade. Uma simplicidade que o levou a desconsiderar (equivocadamente) a importncia de sua prpria poesia:

    Criou-me, desde eu menino Para arquiteto meu pai Foi-se-me um dia a sade... Fiz-me arquiteto? No pude! Sou poeta menor, perdoai!

    No esquea: Manuel Bandeira o poeta que melhor realiza a sntese entre a grande tradio da lrica ocidental e a radicalidade da poesia moderna. Da tradio, herda os temas universais (morte, infncia, desejo amoroso, questionamento da vida). Do modernismo, o coloquial, o cotidiano e o verso livre.

    2. Ceclia Meireles (1901-1964)

    Obras principais: Viagem (1939); Vaga msica (1942); Mar absoluto (1945); O romanceiro da Inconfidncia (1953)

    Caractersticas gerais:

    Uma poesia presa tradio lrica do passado. H nela forte herana simbolista: a maioria das obras expressa estados de nimo, vagos e quase incorpreos. Alm disso, certas imagens naturais como o mar, a areia, a espuma, a lua, o vento etc., por sua repetio obsessiva, acabam tambm ganhando uma dimenso simblica. Predominam os sentimentos de perda amorosa e solido. A atmosfera de dor existencial ampliada pela insistncia no tema da passagem do tempo. Sua linguagem elevada, sublime, com pouca presena do coloquial.

    O romanceiro da Inconfidncia:

    a sua experincia potica mais significativa. Para escrev-lo, pesquisou todos os elementos histricos que compuseram o evento. Ao mesmo tempo, encontrou uma forma potica especfica do passado ibrico: o romanceiro. Trata-se de um conjunto de poemas narrativos, unidos por um tema central. Cada poema um romance.

  • Composto por oitenta e cinco romances, O romanceiro da Inconfidncia oferece uma viso dramtica e lrica da sociedade mineira do sculo XVIII, de suas principais figuras humanas e do levante republicano abortado pela denncia de Joaquim Silvrio:

    Melhor negcio que Judas fazes tu, Joaquim Silvrio: que ele traiu Jesus Cristo tu trais um simples Alferes...

    No esquea: O romanceiro da Inconfidncia um texto que parte de uma reflexo sobre a histria concreta do levante mineiro e alcana uma dimenso lrica superior, tornando-se uma interrogao sobre o sentido das aes humanas.

    3. Mrio Quintana (1906- 199)

    Obras principais: Rua dos cataventos (1940); Sapato florido (1948); Espelho mgico (1951); O aprendiz de feiticeiro (1950); Do caderno H (1973); Apontamentos de histria sobrenatural (1976); Velrio sem defunto (1990)

    Caractersticas principais:

    Herana simbolista Temtica da morte e da tristeza das coisas. Linguagem de absoluta simplicidade.

    A melancolia dos versos est determinada por um clima de derrocada pessoal. O indivduo percebe o fim de tudo e sente-se perdido numa realidade imprecisa, cheia de noites silenciosas e de cenas surreais, indicando a herana simbolista. A idia da morte perpassa todo o discurso potico:

    Da vez primeira em que me assassinaram Perdi um jeito de sorrir que eu tinha... Depois, de cada vez que me mataram, Foram levando qualquer coisa minha...

    Os poemas em prosa Aparecem em Sapato florido e em Do caderno H. So poemas curtos em prosa. Lembram epigramas, pois so curtos e geralmente irnicos. Uma ironia estabelecida sobre o cotidiano. O poeta mergulha na vida prosaica, surpreendendo-lhe os aspectos risveis, inslitos ou at mesmo trgicos. Manuel Bandeira denominou "quintanares" a esses poemas curtos.

    Cartaz para uma Feira do Livro

    Os verdadeiros analfabetos so os que aprenderam a ler e no lem.

    Indecncia

    Na verdade, a coisa mais pornogrfica a palavra 'pornografia'.

    4. Jorge Lima (1893-1953)

    Obras principais:A tnica inconstil (1938); Poemas negros (1947); Invenso de Orfeu (1952)

    Sua carreira potica iniciou-se sob o signo parnasiano. Apresenta uma fase nordestina caracterizada pela registro potico da realidade existencial, cultural e histrica da regio. O popular aparece identificado com o mundo dos engenhos decadentes. Captao (com uma linguagem cheia de expresses populares) do saber, das crenas e dos aspectos pitorescos desse universo rural nordestino.

  • Valorizao da religiosidade de substrato catlico. Teve ainda uma fase de celebrao da cultura negra, seus ritmos e costumes. Usou um linguajar afro-brasileiro para conferir maior verdade antropolgica e lingstica aos textos. Essa negra Ful louva o sensualismo das escravas e virou pea antolgica:

    Ora, se deu que chegou (isso j faz muito tempo) no bang dum meu av uma negra bonitinha chamada Ful (...) Sinh foi ver a negra levar couro do feitor A negra tirou a roupa. O Sinh disse: Ful! (A vista se escureceu que nem a negra Ful.)

    5. Murilo Mendes (1901-1976)

    Obras principais: Tempo e eternidade (com Jorge de Lima, 1935); As Metamorfoses (1944); Contemplao de Ouro Preto (1954) Comea com uma poesia de inspirao modernista, em que predominava o humor. Depois, sua poesia assume uma dimenso religiosa, requintada e quase hermtica. Apresenta uma linguagem prxima do surrealismo, definida por alucinaes, uso de smbolos e alegorias e acentuada abstrao da vida cotidiana

    6. Vincius de Moraes (1913-1980)

    Obras principais: Novos poemas (1938); Cinco elegias (1943); Poemas, sonetos e baladas (1946)

    A obra de Vincius de Moraes divide-se em duas fases:

    I - A primeira fase insere-se na linha de um neo-simbolismo, de conotaes msticas, em que h um debate entre as solicitaes da alma e as do corpo. II - A segunda fase, iniciada com Cinco elegias, assinala a exploso de uma poesia mais viril. "Nela - segundo o prprio Vincius - esto nitidamente marcados os movimentos de aproximao do mundo material, com a difcil mas consciente repulsa ao idealismo dos primeiros anos."

    Caractersticas principais:

    Sua tendncia ao verbalismo contida pelo uso freqente do soneto. Seu grande tema o amor. O amor em suas mltiplas manifestaes: saudade, carncia, desejo, paixo, espanto. Registra uma nova concepo sentimental, mais concreta, mais livre de preconceitos, mais atenta s mulheres. Em seus poemas, destri noes como a da eternidade do amor - dogma do Brasil patriarcal em versos clebres como aquele "que seja eterno enquanto dure", extrado do Soneto da fidelidade. A partir dos anos de 1940 e 1950, o poeta se inclina por uma lrica comprometida com o cotidiano, buscando inclusive os grandes dramas sociais do nosso tempo. (O operrio em construo e Rosa de Hiroshima, cujos versos iniciais transcrevemos, so os exemplos mais conhecidos):

    Pensem nas crianas Mudas telepticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas clidas

  • No esquea: Alm de poeta, Vincius de Moraes trilhou com xito a carreira de compositor de msica popular, tonrando-se o grande letrista da Bossa Nova, com clssicos como Garota de Ipanema e Chega de saudade. A exemplo do soneto, a cano obrigou-o a restringir seus excessos verbais.

    7. Carlos Drummond de Andrade (1902-1989)

    Obras principais: Alguma poesia (1930); Brejo das almas (1934); Sentimento do mundo (1940); A rosa do povo (1945); Claro enigma (1951); Fazendeiro do ar (1954); Lio de coisas (1962); Boitempo (1968); As impurezas do branco (1974); O corpo (1984); Amar se aprende amando (1985)

    Obras em prosa: Fala, amendoeira e Cadeira de balano (crnicas); Contos de aprendiz

    Caractersticas principais:

    A multiplicidade quase infinita de assuntos. A rigor, podemos dizer que a sua obra estrutura-se sobre sete temas bsicos: a poesia social; a de reflexo existencial (o eu e o mundo); a poesia sobre a prpria poesia; a do passado; a do amor; a do cotidiano; a da celebrao dos amigos. A linguagem de impressionante inveno e capacidade sugestiva, herdeira tanto da tradio lrica ocidental (o tom sublime e elevado) quanto das experincias radicais dos vanguardistas do sculo XX (a dico coloquial e prosaica). Uma linguagem capaz de explorar as infinitas faces das palavras, gerando uma expresso de notvel riqueza polissmica e, portanto, de no menos notvel possibilidade interpretativa. A presena do gauche, visvel no Poema de sete faces, que abre o primeiro livro, Alguma poesia, e que prosseguiria como um dos elementos mais inusitados da personalidade potica do escritor: "Quando nasci, um anjo torto / desses que vivem na sombra / disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida." O gauche (esquerdo, em francs) o anti-heri, o torto, o desajeitado, o errado, o sujeito em desacerto com o mundo, para quem as coisas no do certas. Um intenso "humour" um dos elementos-chave para a compreenso de sua obra que o humor sutil, quase sempre corrosivo, uma espcie de olhar enviesado sobre a realidade e que esconde, sob o seu manto, uma complexa reflexo a respeito do sentido das coisas, conforme podemos observar em poemas clebres como Quadrilha e No meio do caminho.

    O aspecto nuclear da obra de Drummond o da reflexo existencial. Sua poesia exprime, como nenhuma outra no pas, a angstia da alma humana frente s correntezas convulsas do destino. A solido, a incomunicabilidade, a lgica misteriosa da existncia, o fluir do tempo, a relao de perdas e ganhos na trajetria do homem, a luta do ser contra a morte e a procura uma sada redentora para o indivduo constituem os principais motivos desta lrica filosfica. Um dos exemplos mais conhecidos Jos:

    E agora, Jos? A festa acabou a luz apagou o povo sumiu a noite esfriou e agora Jos? e agora, voc? voc que sem nome que zomba dos outros, voc que faz versos que ama, protesta? e agora, Jos?

    XI - O ROMANCE DE 1930

    (A vitria do neo-realismo)

    (Conjunto de narrativas, escritas entre os anos de 1930 e 1960, por um mesma gerao, oriunda de famlias oligrquicas decadentes, com uma viso de mundo crtica, um sentido missionrio da literatura e padres cartsticos bastante prximos do realismo do sculo XIX).

    Caractersticas

  • nfase nas questes ideolgicas e sociais. E no mais no projeto esttico da gerao de 1922 Rejeio ao experimentalismo tcnico e ao gosto pela pardia, substitudos por um realismo mais ou menos trivial: retrato direto da realidade, busca da verossimilhana, linearidade narrativa, etc. Tipificao social explcita (indivduos que representam as vrias classes sociais) Construo de um mundo ficcional que deve dar a idia de abrangncia e totalidade. Tomada de conscincia do subdesenvolvimento (atraso e misria do pas) Denncia contnua da situao opressiva vivida por camponeses e operrios Tentativa de comunicao com as massas atravs de uma linguagem coloquial Valorizao da realidade rural que levou os crticos a designarem o perodo como regionalista

    Os mundos narrados

    1) Romances de temtica agrria

    A) A ascenso e queda dos coronis: Bang e Fogo morto, de Jos Lins do Rego; Terras do sem fim e So Jorge dos Ilhus, de Jorge Amado; e O tempo e o vento, de Erico Verissimo. Estes relatos oscilam entre a saga (exaltao com traos picos) e a crtica mais contundente, seja a ideolgica (Jorge Amado), seja a tica (Erico Verissimo). No caso especfico de Jos Lins do Rego, predomina um tom nostlgico e melanclico diante das runas dos engenhos.

    B) Os dramas dos trabalhadores rurais: Seara vermelha, de Jorge Amado; e Vidas secas, de Graciliano Ramos. Ambos correspondem a uma impugnao da realidade latifundiria nordestina.

    C) O confronto entre o Brasil rural e o Brasil urbano, visvel no choque entre Paulo Honrio e Madalena em So Bernardo, de Graciliano Ramos. A obra sintetiza o descompasso entre a mentalidade patriarcal-latifundiria e a urbana modernizada. Tambm de Graciliano Ramos, Angstia revela a solido e a destruio de Lus da Silva,descendente da oligarquia, na teia complexa das relaes citadinas.

    Por outro lado, tanto em A bagaceira, de Jos Amrico de Almeida, romance inaugural do ciclo de 1930, quanto em O quinze, de Rachel de Queiroz, os personagens principais, Lcio e Conceio embora filhos das velhas elites agrrias foram modernizados pela escolarizao na cidade. Por isso, acabam questionando o horror da seca, da misria e o atraso do latifndio.

    2) Romances de temtica urbana

    A urbanizao ininterrupta do pas levou os narradores a olhar para a nova realidade que se constitua, fosse sob o prisma da denncia (Jorge Amado, Amando Fontes), da adeso crtica (Erico Verissimo) ou de uma tristeza impotente (Cyro dos Anjos). Os ncleos temticos abordados foram:

    A) As camadas populares, trabalhadores e marginais: Jubiab, Capites de Areia e Mar morto, de Jorge Amado; Os Corumbas e Rua do Siriri, de Amando Fontes.

    B) Os setores mdios (pequena burguesia): A tragdia burguesa, de Otvio de Faria, Os ratos, de Dyonlio Machado e toda a primeira fase de Erico Verissimo, o chamado ciclo de Clarissa.

    Cronologia dos primeiros romances de 30

    1928 - A bagaceira, de Jos Amrico de Almeida 1930 - O quinze, de Rachel de Queiroz; O pas do carnaval, de Jorge Amado 1932 - Menino de engenho, de Jos Lins do Rego; Cacau, de Jorge Amado; Joo Miguel, de Rachel de Queiroz. 1933 Doidinho, de Jos Lins do Rego; Caets, de Graciliano Ramos; Clarissa, de Erico Verissimo; Os Corumbas, de Amando Fontes 1934 - Bang, de Jos Lins do Rego; So Bernardo, de Graciliano Ramos; Suor, de Jorge Amado 1935 - Jubiab, de Jorge Amado; Msica ao longe, de Erico Verissimo; Os ratos, de Dyonlio Machado.

  • XIII - A Gerao de 1945

    Fortemente marcada pelo fim da Segunda Guerra, pela derrubada da ditadura de Getlio Vargas e pelo clima de euforia da decorrentes no pas, a gerao de 45 colocou em segundo plano as preocupaes polticas, ideolgicas e culturais dos artistas da dcada de 30 e privilegiou a questo esttica. Assim, a aventura da linguagem, a preocupao com a forma e com o rigor do texto tornam-se o objetivo bsico desta gerao, que teve grandes expoentes tanto na poesia, quanto na prosa de fico.

    A) POESIA

    1. JOO CABRAL DE MELO NETO (1920 - 1998)

    Obras principais:

    Pedra do sono (1942); O engenheiro (1945); Psicologia da composio (1947); O co sem plumas (1950); Morte e vida severina (1956); A educao pela pedra (1966); Museu de tudo (1975).

    - Sua obra se articula como uma profunda reflexo sobre o fazer potico. A poesia entendida como esforo em busca da sntese, do despojamento total. Poesia lenta e sofrida pesquisa de expresso: "No a forma encontrada / como uma concha perdida (...) / mas a forma atingida / como a ponta do novelo / que a ateno, lenta, / desenrola (...)

    - Os primeiros textos de Joo Cabral (Pedra do sono, O engenheiro, Psicologia da composio) iniciam a aventura da expresso mnima e contida.

    - Em O co sem pluma a perfeio de sua linguagem encontra uma temtica: o rio Capibaribe, com sua sujeira, seus detritos e com a populao miservel que lhe habita as margens, trgico espelho do subdesenvolvimento: "Na paisagem do rio / difcil saber / onde comea o rio; / onde a lama / comea no rio / onde a terra comea da lama; / onde o homem, / onde a pele / comea da lama; / onde comea o homem / naquele homem."

    MORTE E VIDA SEVERINA

    A sua obra mais conhecida (por causa da montagem teatral) traz como subttulo: Auto de Natal pernambucano. Aqui a tcnica despojada do autor reala ainda o aspecto dramtico do assunto: a trajetria de um sertanejo que abandona o agreste, rumo ao litoral, encontrando nesta migrao apenas a morte. Severino continua seu roteiro at chegar ao Recife. L percebe que a misria continua e resolve se matar. Contudo, lhe chega a notcia do nascimento de um menino, filho de Jos, mestre carpina. Severino vai visit-lo e descobre que aquela vida, mesmo franzina, a prova da resistncia de todos os "severinos" do Nordeste.

    E no h melhor resposta que o espetculo da vida: v-la desfiar seu fio, que tambm se chama vida (...) v-la brotar como h pouco em nova vida explodida; mesmo quando assim pequena a exploso, como a ocorrida; mesmo quando uma exploso como a de h pouco, franzina; mesmo quando a exploso de uma vida severina.

    2. A POESIA CONCRETA

    - A partir de 1952, Dcio Pignatari, Augusto de Campos e Haroldo de Campos iniciaram a articulao da chamada poesia concreta, em So Paulo, numa revista chamada Noigandres.

    - Reao contra a lrica discursiva e freqentemente retrica da gerao de 45, a poesia concreta procura se filiar s experincias mais ousadas das vanguardas dos sculo XX. Ela poderia ser sintetizada assim:

    a) linguagem sinttica, homloga ao dinamismo da sociedade industrial; b) valorizao da palavra solta (som, forma visual, carga semntica) que se fragmenta e recompes na pgina;

  • c) o poema ganha o espao grfico como agente estrutural, em funo de que dever ser lido/visto: d) utilizao de recursos tipogrficos, visuais, plsticos, etc.

    ovo novelo

    novo no velho o filho em folhos

    na jaula dos joelhos infante em fonte

    feto feito dentro do

    centro

    3. FERREIRA GULLAR

    Obras principais: A luta corporal (1954); Dentro da noite veloz (1975); Poema sujo (1976)

    - Iniciou sua obra sob os princpios da poesia concreta. -Aps romper com os concretistas, aproximou-se da realidade popular e do pensamento progressista da poca, todo ele ligado ao populismo. Sua poesia torna-se social e, s vezes, excessivamente politizada e prosaica. - A publicao de Poema sujo, em 1976, representou a superao de seus impasses temticos e formais. Poema sujo uma espcie de sntese de Ferreira Gullar. Nele se encontram expressas todas as suas experincias vitais em So Lus, sua aprendizagem da vida, sua viso de mundo, suas angstias e esperanas, numa poesia ao mesmo tempo instintiva e reflexiva. Uma poesia que incorpora as "impurezas" do mundo, ou seja, uma poesia "suja" com os resduos da realidade. - Em Poema sujo, as idias, as sensaes as lembranas e a coragem do escritor tipificam-se. tornam-se a imagem do intelectual brasileiro que encontra a sua identidade, em meio s primeiras crises da ditadura militar.

    B) PROSA DE FICO

    A FICO DE TEMTICA RURAL

    1) JOO GUIMARES ROSA

    Obras principais:

    Sagarana (contos, 1946); Corpo de baile (Manuelzo e Miguilim; No Urubuquaqu, do Pinhm; Noites do serto; novelas, 1956); Grande serto: veredas (romance, 1956); Primeiras estrias (contos, 1962); Tutamia (contos, 1967); Estas estrias (contos, 1969).

    Caratersticas bsicas:

    - A primeira grande inovao do autor da linguagem, cheia de arcasmos, neologismos, onomatopias, inverses, novas construes sintticas, etc., e que poderia ser resumida assim:

    Linguajar sertanejo + Recriao estilstica = Linguagem revolucionria

    Observe o incio de Grande serto: veredas:

    Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem, no, Deus, esteja. Alvejei mira em rvore, no quintal, no baixo do crrego. Por meu acerto. Todo dia isso fao; gosto, desde mal em minha mocidade. Da, vieram me chamar. Causa dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser-se viu e com mscara de cachorro.

    - O mundo retratado em suas fices o do serto mineiro, um mundo imobilizado no tempo, sem vnculos com o litoral modernizado do pas e cuja principal trao a conscincia mtica dos protagonistas. Esta conscincia mgica explica o mundo pelo sagrado e pelo fantstico. Assim, os fenmenos naturais indicam sinais de potncias misteriosas e inexplicveis. medida que a modernidade urbana /capitalista avana, o mtico tende a ser dissolvido. - A presena do demnio em Grande serto: veredas faz com que a narrativa se insira na categoria do

  • realismo mgico. - Alguns contos de Guimares Rosa so clebres. Entre eles, figuram: A hora e a vez de Augusto Matraga e O burrinho pedrs, de Sagarana; e A terceira margem do rio, de Primeiras estrias.

    Grande serto veredas

    - A temtica da "jagunagem" e a prosa inovadora atingiriam o seu apogeu neste romanace, que se estrutura no jogo dialtico do presente e do passado. Assim:

    Plano presente:

    O ex-jaguno e, hoje fazendeiro, Riobaldo narra a histria de sua vida para um "doutor" da cidade. O "doutor" nada declara durante o discurso de Riobaldo, que assim se converte em monlogo. Ao lado das reminiscncias, Riobaldo formula uma srie de interrogaes sobre o sentido da existncia, a luta do Bem x Mal, a presena real ou fictcia do demnio, etc.

    Plano passado:

    Focaliza as experincias de Riobaldo como jaguno, quando realiza sua longa travessia pelo serto mineiro. Uma travessia exterior por um serto objetivo, geogrfica e historicamente falando. Numa espcie de "banalidade do mal", os bandos armados se exterminam a servio dos grandes latifundirios. Mas como o "serto est em toda a parte, o serto est dentro da gente", essa travessia torna-se interior, levando Riobaldo ao autoconhecimento. A percepo de si mesmo surge do contato com outros homens, em especial da dupla polarizada Diadorim-Hermgenes. O primeiro, mulher camuflada de homem, deflagrar no narrador o processo amoroso. O segundo fora demonaca - representar o dio, o sangue e a perfdia.

    No esquea: A obra de Joo Guimares Rosa embora centrada no mundo sertanejo mineiro ultrapassa pela linguagem revolucionria e pela indagao a respeito da questes fundamentais do homem (amor, sentido da vida e da morte, mito e razo, etc.) os parmetros do regionalismo, permanecendo como uma obra de valor universal.

    2. JOO UBALDO RIBEIRO (1941)

    Obras principais: Sargento Getlio (1971); Viva o povo brasileiro

    Sargento Getlio

    Considerado sua obra-prima, narra a histria de Getlio, um sargento da Polcia Militar de um destacamento sediado em Aracaju, Sergipe. De famlia pobre, Getlio trabalha como feirante e engraxate para sobreviver, tornando-se depois soldado. Tendo assassinado a mulher, que o trara com outro, busca a proteo de um chefe poltico de Aracaju, ao qual passa a servir como "cabo eleitoral". A mando dele executa "vinte trabalhos" (mortes). Mesmo pretendendo aposentar-se, aceita nova misso, a de prender, no interior, um adversrio poltico do chefe. Cumprida a tarefa, Getlio comea a viagem de retorno a Aracaju, momento em que se inicia a narrao em primeira pessoa, que termina com a morte do protagonista.

    A FICO URBANA

    1. CLARICE LISPECTOR (1926-1977)

    Obras principais:

    Perto do corao selvagem (1943); O lustre (1946); Laos de famlia (contos, 1960); A legio estrangeira (contos, 1964); A paixo segundo G. H. (romance, 1964); A hora da estrela (romance, 1977).

    Caractersticas bsicas:

    - a intrprete mais sofisticada da chamada fico introspectiva. - Essa literatura intimista coloca, tanto de maneira metafrica quanto realista, as ondulaes psicolgicas e estados interiores das personagens. - No plano da estrutura narrativa, Clarice vale-se do fluxo de conscincia e do monlogo interior.

  • - Sua linguagem excepcionalmente densa e inovadora.

    A hora da estrela

    Relativa exceo a esta prosa introspectiva a novela A hora da estrela, onde um narrador (Rodrigo) acompanha a medocre vida de uma jovem nordestina (Macabia) que vegeta em So Paulo. Feia, ignorante, humilhada pelas colegas, pelo namorado, pela existncia, ela ter o seu momento glorioso, a sua "hora de estrela", conforme lhe profetiza uma cartomante, quando no fim do relato atropelada e morta por um automvel.

    2. LYGIA FAGUNDES TELLES (1923)

    Obras principais: PCiranda de pedra (1955); Vero no aqurio (1963); Antes do baile verde (contos,1970); As meninas (romance,1973); Seminrio dos ratos (1977); As horas nuas (1989). - Descendente da linha aberta por Clarice Lispector, mantm o interesse pelo movimento psicolgico das personagens. Contudo, em sua obra o mundo exterior configura-se com maior objetividade. - Alm disso, suas narrativas publicadas a partir da dcada de 1970, tm apresentado uma saudvel abertura para uma temtica social e poltica, conforme podemos observar especialmente em As meninas.

    3. ANTONIO CALLADO (1917-199)

    Obras principais: Quarup (1967), Reflexos do Baile (1975)

    Quarup

    - Atravs da trajetria de um padre, Nando, que perde a vocao religiosa, adquirindo em troca uma profunda conscincia do atraso nacional, o autor nos mostra os fundamentos da sociedade brasileira dos anos de 1950 e 1960. - Ainda que a sada ideolgica de Nando pela luta guerrilheira seja equivocada, o romance apresenta captulos extraordinrios, destacando-se a expedio que vai ao Xingu, demarcar o ponto central do pas. O contato com os ndios e as conseqentes doenas que esses contraem so inesquecveis e por si s legitimariam Quarup.

    4. DALTON TREVISAN (1925)

    Obras principais: Novelas nada exemplares (1965); A guerra conjugal (1969); Cemitrio de elefantes (1970); Os desastres do amor (1968); O vampiro de Curitiba (1970); Faca no corao (1972); A polaquinha (novela, 1992).

    - Sua obra basicamente composta por contos. - Coloca Curitiba como o cenrio simultaneamente mgico e vulgar de seus relatos. - Seus personagens vivem em torno dos desastres do amor. Uma sucesso de desejos alucinados, taras, compulses, traies cruis, crimes do corao, paixes proibidas e infelizes compem o seu mundo ficcional. - Um personagem smbolo desse mundo de paixes terrveis e solido no menos assustadora Nelsinho, rapaz que vaga pela cidade em busca de sexo e afeto. Ele o clebre vampiro de Curitiba:

    Ai, me d vontade at de morrer. Veja s a boquinha dela como est pedindo beijo beijo de virgem mordida de taturana. Voc grita vinte e quatro horas e desmaia feliz. das que molham os lbios com a ponta da lngua para ficar mais excitante (...). Se eu fosse me chegando perto, como quem no quer nada ah, querida apenas uma folha seca ao vento e me encostasse bem devagar na safadinha...

    5. RUBEM FONSECA (1925)

    Obras principais: Os prisioneiros (contos - 1963); A coleira do co (contos - 1965); Lcia McCartney (contos - 1970); Feliz ano novo (contos -1975); O cobrador (contos -1980); A grande arte (romance - 1983); Buffo e Spalanzanni (romace -1985); Vastas emoes e pensamentos imperfeitos (romance -1988); Agosto (romance- 1990), Buraco na parede (contos 1993), Do meio do mundo prostituto, s amores guardei ao meu charuto (novela - 1997)

  • - Sua carreira iniciou-se pelo conto, gnero onde atinge o seu apogeu. - Normalmente, suas histrias (em especial, os romances) so apresentadas sob a estrutura da narrativa policial. H um crime ou um mistrio a ser desvendado e vrios dos personagenm principais ou so da polcia ou detetives particulares ou advogados criminalistas. - Um dos temas dominantes de seus contos e romances a violncia que percorre as ruas brasileiras, numa espcie de guerra civil no declarada. - O outro alvo de sua literatura a solido dos indivduos nas grandes metrpoles. Quase todos os protagonistas so opressos pela sensao de isolamento. O contato amoroso com outros seres parece dar-se apenas no campo sexual. - O que confere maior verossimilhana ainda a seus relatos so a tcnica e a linguagem. O escritor sente-se vontade nos textos em primeira pessoa, o narrador sendo ao mesmo tempo o protagonista. Mas para cada tipo social existe uma linguagem distinta. O assaltante tem seu cdigo, o seu estilo, e assim o industrial, numa multiplicidade lingstica verdadeiramente assombrosa

    A CRNICA

    - Gnero literrio marcado por certa efemeridade, na medida em que registra a vida diria, os acontecimentos que so marcantes no dia-a-dia. - Fernando Sabino definiu-a como a "busca do pitoresco ou do irrisrio no cotidiano de cada um". - Apresenta um carter jornalstico, desenvolvendo-se j no sculo XIX, com Jos de Alencar e Machado de Assis, sob o nome de folhetim (o mesmo do romance romntico em captulos). - Nas dcadas de 1950 e 1960, a crnica atingiu sua culminncia. Estes pequenos comentrios a respeito das coisas banais ora assumem uma tendncia mais terna e lrica, aproximando-se da poesia; ora centralizam-se na crtica humorstica dos acontecimentos e dos costumes.

    A) Crnica lrica

    1) RUBEM BRAGA (1913-1990)

    Obras principais: O conde e o passarinho(1936); Um p de milho (1948); O homem rouco (1949); A borboleta amarela (1956); A cidade e a roa(1957); Ai de ti, Copacabana(1960).

    - Registro da poesia oculta nos momentos mais triviais da vida diria - Evocao de amores perdidos e do tempo que flui - Celebrao da beleza geogrfica, humana e artstica do Rio de Janeiro, ainda que com certa dimenso melanclica.

    B) Crnica de Humor

    Tradicional dentro do jornalismo brasileiro, a crnica de humor sempre teve larga aceitao. Poderia ser dividida (um pouco arbitrariamente) em crnica de humor leve - visando sobremodo o riso - e a crnica satrica, na qual o deboche atinge instituies ou figuras pblicas. No primeiro grupo poderamos destacar o nome de Fernando Sabino. No segundo, Lima Barreto foi um precursor genial e sarcstico, fulminando as elites intelectuais e burocrticas do Rio, na Repblica Velha, atravs dos ferinos comentrios de Bruzundangas (o Brasil).

    1. Fernando Sabino (1923)

    Obras principais: O homem nu (1960); A mulher do vizinho (1975).

    - O humor jovial e divertido a marca do cronista. Muitas de suas crnicas so pequenas histrias de final surpreendente, os que as aproxima do conto.

    No esquea: Fernando Sabino tornou-se o romancista de toda uma gerao ao escrever O encontro marcado (1956). Acompanhando a crise existencial, sexual e ideolgica de trs jovens em Belo Horizonte do ps-guerra, construiu um quadro simultaneamente inocente e dramtico das esperanas, frustraes e vida cotidiana dos

  • jovens de classe mdia.

    2. Lus Fernando Verissimo (1936)

    Obras principais: O popular; Ed Mort; O analista de Bag; O gigol das p