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O que Literatura? A literatura, como manifestao artstica, tem por finalidade recriar a realidade a partir da viso de determinado autor (o artista), com base em seus sentimentos, seus pontos de vista e suas tcnicas narrativas. O que difere a literatura das outras manifestaes a matria-prima: a palavra que transforma a linguagem utilizada e seus meios de expresso. Porm, no se pode pensar ingenuamente que literatura um texto publicado em um livro, porque sabemos que nem todo texto e nem todo livro publicado so de carter literrio.Logo, o que definiria um texto literrio de outro que no possui essa caracterstica? Essa uma questo que ainda gera discusso em diversos meios, pois no h um critrio formal para definir a literatura a no ser quando contrastada com as demais manifestaes artsticas (evidenciando sua matria-prima e o meio de divulgao) e textuais (evidenciando um texto literrio de outro no literrio). Segundo Jos de Nicola (1998:24), o que torna um texto literrio afuno potica da linguagemque ocorre quando a inteno do emissor est voltada para a prpria mensagem, com as palavras carregadas de significado. Alm disso, Nicola enfatiza que no apenas o aspecto formal significativo na composio de uma obra literria, como tambm o seu contedo.

Ceclia Meireles, recorte do manuscrito Exerccio de Saudade (s.d.) da Biblioteca Nacional DigitalO que literatura? antes de tudo uma pergunta histrica. O que conhecemos por literatura no era o mesmo que se imaginava h, por exemplo, duzentos anos quando, na Europa, o gnero literrio romance comeou a se desenvolver graas ao desenvolvimento dos jornais, que possibilitou uma maior divulgao do gnero, mudando o que se entendia a respeito do assunto. Se antes as belas letras eram compostas por composies em verso que seguiam uma estrutura formal de acordo com critrios estabelecidos desde a antiguidade, agora, com o advento e a popularizao do romance, a forma de se entender a literatura foi modificada e novos gneros textuais foram ganhando espao. Exemplo disso, que, no sculo XX houve a atribuio de alguns gneros considerados menores como cartas, biografias e dirios categoria literria.Um dos registros mais antigos que se tem acerca do tema deve-se a Aristteles, pensador grego que viveu entre 384 e 322 (A. C.). Aristteles elaborou um conjunto de anotaes em que busca analisar as formas da arte e da literatura de seu tempo. Para isso, o pensador elaborou a teoria de que a poesia (gnero literrio por excelncia da poca) era tcnica aliada mimese (imitao), diferenciando os gneros trgico e pico do cmico e satrico e, por fim, do lrico. Segundo o filsofo, o que difere a arte literria, representada pela poesia, dos textos investigativos em prosa a qualidade universal que a imitao permite. Ao imitar o que diferente (pico e tragdia), o que inferior (comdia e stira) e o que est prximo (lrico), o artista cria a fictio, isto , fico, inventando histrias genricas, porm verossmeis.Os escritos de Aristteles so questionados nos dias de hoje, uma vez que a literatura sofreu uma evoluo sem precedentes nos ltimos sculos, aceitando novos gneros e presenciando a criao de novos meios de veiculao, como a internet. Todos esses fatores acabam diluindo a definio clssica de literatura e gerando novas atribuies ao longo de seu desenvolvimento e recepo.Referncias:NICOLA, Jos de. Literatura Brasileira: das origens aos nossos dias. So Paulo: Scipione, 1998.

O que Literatura? (2)No h uma definio estabelecida acerca do conceito de literatura. Ela varia de acordo com o momento histrico e com as condies de recepo de seu material (porque embora a literatura seja basicamente composta por textos literrios, ainda h inmeras discusses acerca do que seria esse texto e de quais seriam seus meios de difuso). Alm disso, pode-se acrescentar que a literatura , na realidade, uma reunio de diversos aspectos estruturais, sociais e culturais dentro de uma manifestao textual. H artistas, como o poeta norte-americano Ezra Pound (1885-1972), que afirmam que o poeta tem uma funo social porque sua obra e suas palavras esto carregadas de significado. O poeta tambm diz que os escritores possuem uma funo social definida em razo de se encontrarem na posio de escritores, de trabalhadores das palavras e, portanto, possuem responsabilidade social. Sabemos que a literatura alm de refletir a realidade vista pelos olhos dos artistas, um veculo de disseminao de ideias e, independentemente de seu teor, causa determinados impactos e sensaes no imaginrio de seus leitores.Segundo o terico Jonathan Culler (1999:33-34) a literatura umato de falaque contrasta com outros tipos de atos de fala. O que acontece, geralmente, que os leitores acabam identificando o ato de fala literrio por este se encontrar em um meio associado literatura (como por exemplo: livro de poemas, seo indicada em uma revista literria, biblioteca etc.), alm disso, o texto literrio se diferencia dos textos no literrios em razo daatenodispensada nesse tipo de texto, isto , no esperado que se leia um romance ou um poema como se fosse uma manchete de jornal ou um anncio nos classificados, ou ainda como se estivssemos ouvindo uma notcia veiculada no rdio ou na televiso.Podemos ir ainda mais alm e pensar que o que diferencia um texto literrio de um no literrio a maneira como a narrativa construda. No romance, predomina a narrativa ficcional em forma de prosa (geralmente uma histria inventada, com personagens inventados e um conflito especfico que norteia as atitudes dos personagens), na poesia, versos seguindo estruturas formais ou livres (sem rima) sobre diferentes assuntos. Essas especificaes com relao s formas o que caracterizam osgneros textuais.

O que diferencia a literatura dos demais textos do dia a dia o seu carter ficcional. Porm, esse conceito tambm questionvel, uma vez que temos diversas manifestaes textuais que podem ser consideradas literatura, como por exemplo, livros escritos baseados em acontecimentos reais, como o caso do livro A sangue frio (1966) do escritor e jornalista norte-americano Truman Capote (1924-1984). Esse livro ficou conhecido como pertencente a um gnero intitulado jornalismo literrio, pois Capote acompanhou pessoalmente o desenrolar do caso registrou os fatos presenciados e os depoimentos das testemunhas em forma de romance. Nele, o autor se baseia em um evento no ficcional para produzir um romance no estilo jornalstico, porm, permeado de subjetividade e deliteralidade.O mesmo acontece com o livro Os Sertes (1902), do brasileiro Euclides da Cunha (1866-1909). Considerado um clssico da literatura brasileira, seu relato acerca do conflito em Canudos preciso, porm, o texto literrio deve-se ao estilo narrativo de Euclides, recheado de elementos do gnero, e segue sendo estudado nas escolas e nas faculdades de Letras.Outro exemplo so os documentos dos viajantes que vieram ao Brasil na poca de seu descobrimento. Seriam eles considerados textos literrios? pouco provvel, pois, formalmente, tratam-se de textos descritivos responsveis pelo levantamento da vida e dos costumes no territrio brasileiro caracterizando o que se convencionou chamar de literaturainformativa, que no possuiria o mesmo status da literatura ficcional. Porm, inegvel que a Carta a el-Rei Dom Manuel sobre a descoberta do Brasil, de autoria de Pero Vaz de Caminha e outros documentos relativos ao descobrimento, tenham valor literrio, pois se tratam de belssimos textos, ricos no apenas em descries, mas tambm na narrativa de alguns episdios ocorridos durante a expedio liderada por Pedro lvares Cabral, no caso da narrativa de Caminha.H tambm uma forte discusso em torno dasHistrias em Quadrinhos. Embora inseridas em uma linguagem diferente da literria (isto , a linguagem grfica), a parte narrativa das histrias assemelha-se muito ao material literrio em prosa e verso. No toa que a adaptao de romances e contos para histrias em quadrinhos se mostrou uma atividade popular e que tem se desenvolvido bastante no final do sculo XX e incio do XXI.Referncias:CULLER, Jonathan. Teoria Literria: uma introduo. So Paulo: Beca Produes Culturais, 1999.A Literatura no BrasilEmbora tardia, levando-se em considerao a situao histrica da Colnia, a produo literria no Brasil bastante significativa e pde se difundir ao longo do territrio a partir do sculo XIX com o fim da censura imprensa vigente noSegundo Imprio. A partir de ento, cada vez mais os autores (jornalistas, advogados, professores, intelectuais, polticos etc.) dispunham de meios para ver impressos nos jornais (e tambm em livros) seus escritos, seus ensaios, seus romances, seus poemas.Com o alvorecer do sculo XX, no eram poucos os autores brasileiros nacionalmente e internacionalmente conhecidos, refletindo o desenvolvimento das letras nacionais. Como o caso de Julia Lopes de Almeida (1862-1934), escritora carioca agraciada com meno honrosa na Frana, de onde vinham muitos dos modelos literrios brasileiros, por sua contribuio literria.A reclamao, naquela poca, era com relao ao nmero incipiente de leitores e frequentadores de teatros, reduzidos somente s camadas mais altas da populao, que podiam arcar com o luxo de adquirir as publicaes e frequentar as peas, geralmente vindas de outros pases. Mas nem mesmo esse agravante impossibilitou que a literatura brasileira seguisse seu rumo e que seus principais escritores continuassem escrevendo e traduzindo obras vindas de outros pases.Divisor de guas na produo artstica brasileira, aSemana de Arte Modernatrouxe de vez a literatura de vanguarda de uma maneira bem brasileira, embora pautada nos principais movimentos artsticos europeus. A partir de ento, houve um movimento crescente na produo literria brasileira estendendo-se at os dias de hoje, representando os mais diversos aspectos da cultura e da sociedade brasileira.

Cartaz de Di Cavalcanti para a Semana de Arte Moderna de 1922, em So PauloA maior crtica que se faz, nos dias de hoje, com relao situao do mercado editorial, que ainda oferece livros muito caros, inviabilizando seu acesso a todas as camadas da populao. Esse quadro vem mudando de uns tempos pra c, com o advento de edies chamadaspocket(geralmente de clssicos da literatura e de livros que j perderam os direitos autorais, isto , que se encontram emdomnio pblico), com a aquisio de livros pelo governo em programas de incentivo leitura e modernizao de bibliotecas escolares entre outros.Outro aspecto, intimamente ligado com a leitura e a escrita est relacionada educao. Pois o Brasil carece de condies que incentive no apenas a alfabetizao, mas o estmulo leitura e escrita na escola. Embora haja diversos programas e grupos empenhados em reverter essa situao, o pas ainda est longe de ser um pas voltado literatura, diferentemente dos pases desenvolvidos. geralmente nos grandes centros que vemos a produo, publicao e divulgao dos autores e, mesmo assim, permanecendo inacessveis a muitos grupos sociais.Apesar dos percalos mercadolgicos, educacionais, sociais e histricos, percebe-se um aumento de publicaes nacionais nos ltimos anos, em razo da facilidade que um autor tem, hoje em dia, de procurar uma casa editorial e tambm do interesse em promover a literatura brasileira e nosso mercado editorial. No entanto, em alguns casos, o autor iniciante que quer ver sua obra impressa em forma de livro necessita arcar com parte da publicao de seus escritos.O pas conta tambm com aCmara Brasileira do Livro, rgo sem fins lucrativos que atua na promoo do mercado editorial brasileiro. A CBL responsvel desde 1959 peloprmio Jabuti, maior premiao de literatura no territrio, que premia anualmente desde romances a livros didticos e projetos grficos.Com o advento da internet, no so poucos os grupos de internautas que vm disseminando a literatura na web. Grupos de discusso em fruns e em comunidades das chamadas redes sociais e blogs voltados literatura e educao tm movimentado no apenas as discusses e crticas acerca da produo literria (nacional e internacional), mas tambm o mercado editorial, que v nesse tipo crescente de discusso um meio de divulgao. Assim, pode-se dizer que h mais uma gerao de leitores brasileiros, influenciada pela internet. Dizer que h uma nova gerao de leitores pareceria equivocado, pois leitores tradicionais de clssicos da literatura e frequentadores de bibliotecas fsicas (no apenas as virtuais) sempre existiro.

QuinhentismoQuinhentismo a denominao genrica de todas as manifestaes literrias ocorridas no Brasil durante o sculo XVI, no momento em que a cultura europeia foi introduzida no pas. Note que, nesse perodo, ainda no se trata de literatura genuinamente brasileira, a qual revele viso do homem brasileiro. Trata-se de uma literatura ocorrida no Brasil, ligada ao Brasil, mas que denota a viso, as ambies e as intenes do homem europeu mercantilista em busca de novas terras e riquezas. As manifestaes ocorridas se prenderam, basicamente, descrio da terra e do ndio, ou a textos escritos pelos viajantes, jesutas e missionrios que aqui estiveram.Literatura InformativaACarta de Caminhainaugura o que se convencionou chamar de Literatura Informativa sobre o Brasil. Este tipo de literatura, tambm conhecido como literatura dos viajantes ou literatura dos cronistas, como consequncia das Grandes Navegaes, empenha-se em fazer um levantamento da terra nova, de sua floresta e fauna, de seus habitantes e costumes, que se apresentaram muito diferentes dos europeus. Da ser uma literatura meramente descritiva e, como tal, sem grande valor literrio. A principal caracterstica da carta a exaltao da terra, resultante do assombro do europeu diante do exotismo e da exuberncia de um mundo tropical. Com relao linguagem, o louvor terra transparece no uso exagerado de adjetivos.Voc conhece a Carta de Pero Vaz de Caminha? Leia a seguir alguns fragmentos.Carta a el-Rei Dom Manuel sobre o achamento do BrasilSenhor, posto que ocapito-mordesta vossa frota, e assim os outros capites escrevam a Vossa Alteza a nova do achamento desta Vossa terra nova, que se ora nesta navegao achou, no deixarei de tambm dar disso minhaconta. (...)E assim seguimos nosso caminho, por este mar, de longo, at tera-feira doitavas de Pscoa, que foram 21 dias dAbril, que topamos alguns sinais de terra (...) E quarta-feira seguinte, pela manh, topamos aves, a que chamam fura-buchos. Neste mesmo dia, ahoras de vspera, houvemos vista de terra, isto , primeiramente dum grande monte, mui alto e redondo, e doutras serras mais baixas ao sul dele e de terrachcom grandes arvoredos, ao qual monte alto o capito ps o nome o Monte Pascoal e terra A Terra de Vera Cruz. (...)E dali houvemos vista dhomens, que andavam pela praia, de 7 ou 8, segundo os navios pequenos disseram, por chegaram primeiro. (...) A feio deles serem pardos, maneira d'avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertura, nem estimam nenhumacousa cobrir nem mostrar suasvergonhas. E esto acerca disso com tanta inocncia como tm em mostrar o rosto. (...)Ali andavam entre eles trs ou quatro moas, bem moas e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espduas; e suas vergonhas to altas e toarradinhase to limpas das cabeleiras que de as ns muito bem olharmos no tnhamos nenhuma vergonha. (...)E uma daquelas moas era todatinta, de fundo a cima, daquela tintura, a qual, certo, era to bem feita e to redonda e sua vergonha, que ela no tinha, to graciosa, que a muitas mulheres de nossa terra, vendo-lhes tais feies, fizera vergonha, por no terem a sua como ela. (...)O capito, quando eles vieram, estava assentado em uma cadeira e uma alcatifaaos ps por estrado, e bem vestido, com um colar d'ouro mui grande ao pescoo. (...) Um deles, porm, ps olho no colar do capito e comeou d'acenar com a mo para a terra e despois para o colar, como que nos dizia que havia em terra ouro. E tambm viu um castial de prata e assim mesmo acenava para a terra e ento para o castial, como que havia tambm prata. (...)At agora no pudemos saber se h ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si de muito bons ares frescos e temperados como os deEntre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achvamos como os de l. guas so muitas; infinitas. Em tal maneira graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se- nela tudo; por causa das guas que tem! Porm, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que ser salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lanar. (...)Obs.: capito-mor: trata-se de Pedro lvares Cabral.conta: relato.oitavas de Pscoa: semana que vai desde o domingo de Pscoa at o domingo seguinte.horas de vspera: final da tarde.ch: plana.cousa: coisa.vergonhas: rgos sexais.arradinhas: alguns historiadores consideram "saradinhas", isto , sem doenas, e outros consideram "cerradinhas", isto , densas.tinta: tingida.alcatifa: tapete, que cobre ou se estende.Entre-Douro-e-Minho: antiga provncia de Portugal.

Original da Carta de CaminhaPara o leitor de hoje, a literatura informativa satisfaz a curiosidade a respeito do Brasil nos seus primeiros anos de vida, oferecendo o encanto das narrativas de viagem. Para os historiadores, os textos so fontes obrigatrias de pesquisa. Mais adiante, com o movimento modernista, esses textos foram retomados pelos escritores brasileiros, como Oswald de Andrade, como forma de denncia da explorao a que o pas sofrera desde ento.Veja os principais documentos que compem a nossa literatura informativa:1.Carta do descobrimento(Pero Vaz de Caminha): foi escrita no ano de 1500 e publicada pela primeira vez em 1817.2.Tratado da terra do Brasil(Pero de Magalhes Gandavo): foi escrito por volta de 1570 e impresso pela primeira vez em 1826.3.Histria da Provncia de Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil(Pero de Magalhes Gandavo): foi editado em 1576.4.Dilogo sobre a converso dos gentios(Padre Manuel da Nbrega): foi escrito em 1557 e impresso em 1880.5.Tratado descritivo do Brasil(Gabriel Soares de Sousa): escrito em 1587 e impresso por volta de 1839.Literatura JesuticaOs imprios ibricos continham em sua expanso uma profunda ambiguidade. Ao esprito capitalista-mercantil associavam um certo ideal religioso e salvacionista. Por essa razo, dezenas de religiosos acompanhavam as expedies a fim de converter os gentios.Como consequncia daContrarreforma, chegam, em 1549, os primeiros jesutas ao Brasil. Incumbidos de catequizar os ndios e de instalar o ensino pblico no pas, fundaram os primeiros colgios, que foram, durante muito tempo, a nica atividade intelectual existente na colnia.Do ponto de vista esttico, os jesutas foram responsveis pela melhor produo literria do Quinhentismo brasileiro. Alm da poesia de devoo, cultivaram o teatro de carter pedaggico, inspirado em passagens bblicas, e produziram documentos que informavam aos superiores na Europa o andamento dos trabalhos.O instrumento mais utilizado para atingir os objetivos pretendidos pelos jesutas (moralizar os costumes dos brancos colonos e catequizar os ndios) foi oteatro. Para isso, os jesutas chegaram a aprender a lngua tupi, utilizando-a como veculo de expresso. Os ndios no eram apenas espectadores das peas teatrais, mas tambm atores, danarinos e cantores.Os principais jesutas responsveis pela produo literria da poca foram o padre Manuel da Nbrega, o missionrio Ferno Cardim e o padre Jos de Anchieta.Jos de Anchieta(1534 - 1597)Nascido em 1534 na ilha de Tenerife, Canrias, o padre da Companhia de Jesusveio para o Brasil em 1553 e fundou, no ano seguinte, um colgio na regio da ento cidade de So Paulo. Faleceu na atual cidade de Anchieta, litoral do Esprito Santo, em 1597.

Conhecido como o grandepiahy("supremo paj branco"), Anchieta deixou como legado a primeira gramtica do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da lngua dos nativos (Arte da gramtica da lngua mais usada na costa do Brasil). Destacou-se tambm por suas poesias e autos, nos quais misturava a moral religiosa catlica aos costumes dos indgenas. Entre as peas de teatro da poca, destaca-se oAuto de So Loureno, escrita pelo padre Jos de Anchieta. Nela, o autor conta em trs lnguas (tupi, portugus e espanhol) o martrio de so Loureno, que preferiu morrer queimado a renunciar a f crist. Anchieta tentou conciliar os valores catlicos com os smbolos primitivos dos habitantes da terra e com aspectos da nova realidade americana. O sagrado europeu ligava-se aos mitos indgenas, sem que isso significasse contradio, pois as ideias que triunfavam nos espetculos eram evidentemente as do padre. A liberdade formal das encenaes saltava aos olhos: o teatro anchietano pressupunha o ldico, o jogo coreogrfico, a cor, o som.A obra do padre Anchieta tambm merece destaque na poesia. Alm de poemas didticos, com finalidade catequtica, tambm elaborou poemas que apenas revelavam sua necessidade de expresso. Os poemas mais conhecidos de Jos de Anchieta so: Do Santssimo Sacramento e A Santa Ins. Veja, abaixo, um trecho do poema:A Santa InsCordeirinha linda,Comofolga o povo,Porque vossa vindaLhe dlumenovo!Cordeirinha santa,De Jesus querida,Vossa santa vidaO Diabo espanta.Por isso vos cantaCom prazer o povo,Porque vossa vindaLhe d lume novo.Nossa culpa escuraFugir depressa,Pois vossa cabeaVem com luz to pura.Vossa formosuraHonra do povo,Porque vossa vindaLhe d lume novo.Virginal cabea,Pela f cortada,Com vossa chegadaJ ningum perea;Vinde mui depressaAjudar o povo,Pois com vossa vindaLhe dais lume novo.Vs sois cordeirinhaDe Jesus Formoso;Mas o vosso EsposoJ vos fez Rainha.Tambm padeirinhaSois do vosso Povo,Pois com vossa vinda,Lhe dais trigo novo.folga: se alegralume: luz

Esse poema fala do confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade: a chegada de Santa Ins espanta o diabo e, graas a ela, o povo revigora sua f. A linguagem clara, as idias so facilmente compreensveis e o ritmo faz com que os versos tenham musicalidade, ajudando o poeta a envolver o ouvinte e a sensibiliz-lo para sua mensagem religiosa.RESUMOA Literatura do Brasil : sculo XVILITERATURA INFORMATIVA- Sobre o Brasil, para os europeus;- Cartas, relatrios, documentos, mapas;- Carta de Pero Vaz.LITERATURA JESUTICA- Informativa em geral;- Padre Anchieta, seu teatro e poesia.TEATRO DE ANCHIETA- Mistura de elementos europeus com a realidade;- Indgena.Bibliografia: Jos de Anchieta (1534 - 1597)

Nascido no ano de 1534 em Tenerife, Ilhas Canrias (arquiplago Espanhol). Filho de me judia, mudou-se para Coimbra, em Portugal, aos 14 anos a fim de receber sua formao intelectual longe dos domnios espanhis em funo da perseguio do Tribunal do Santo Ofcio. Aos 17 anos ingressou na Companhia de Jesus, cuja principal misso era a difuso do cristianismo no ento recm descoberto continente americano. Temendo por sua sade, seu superior enviou-o ao Brasil, por acreditar que os ares do novo continente seriam benignos para o padre. Ao chegar em terras brasileiras, foi acolhido pelo padre Manoel da Nbrega, chefe da primeira misso jesutica na Amrica, que j se instalara em So Vicente. Anchieta veio ao Brasil na armada de Duarte Gis que trazia consigo Duarte da Costa (1553-1558), o segundo governador-geral do Brasil. Os primeiros jesutas que se instalaram, ainda durante o governo de Tom de Sousa (1549-1553), foram responsveis pela fundao do primeiro colgio estabelecido no Brasil, em Salvador. Mais tarde, em 1554, Anchieta participou da fundao doColgio So Paulo, no Planalto de Piratininga, regio onde atualmente se encontra a cidade de So Paulo. Em 1563, Jos de Anchieta e Manuel da Nbrega participaram do conflito conhecido como aConfederao dos Tamoioscomo mediadores da paz entre os portugueses e os ndios tamoios que ameaavam a segurana da regio. Anchieta foi feito refm dos ndios de Iperoig (regio onde se encontra a cidade de Ubatuba) e l permaneceu durante cinco meses. O episdio gerou o primeiro tratado de paz entre colonizadores e indgenas, graas s intervenes de Nbrega e Anchieta e dos acordos entre os padres e os lderes indgenas e ficou conhecido como a Paz de Iperoig, evitando que os ndios, enfurecidos, destrussem as cidades e as vilas portuguesas. Comps oPoema Virgem, poema de 4.172 versos, enquanto estava no cativeiro dos tamoios e, diz a lenda, que o havia escrito nas areias da praia e que, graas a sua memria excepcional, somente mais tarde teria transcrito o poema para o papel.

Tela de Benedito Calixto de Jesus (1853-1927) em que retrata Anchieta escrevendo seus poemas na areia Em 1566, Anchieta ordenado sacerdote e em 1569 funda o povoamento de Reritiba, localizado no estado do Esprito Santo. Nesse mesmo perodo, dirige, durante alguns anos, o colgio dos Jesutas no Rio de Janeiro. Em 1577, Anchieta foi promovido a Provincial, maior cargo da Companhia de Jesus da poca, sucedendo o padre Manuel da Nbrega (falecido no ano de 1570), viajando pelo pas e orientando as misses ao longo do territrio brasileiro. Falece no ano de 1597 em Reritiba, cidade posteriormente renomeada de Anchieta. O padre ficou conhecido como o apstolo do Novo Mundo por levar adiante a misso de evangelizao dos gentios e pelos servios prestados Companhia de Jesus no continente americano. Sua vida serviu de inspirao para que muitos artistas retratassem diversos episdios em forma de telas como, por exemplo, a missa rezada em ocasio da fundao do colgio So Paulo, a marcha realizada do litoral at a cidade de Vitria em decorrncia de um naufrgio, entre outros. No ano de 1980, Anchieta foi beatificado pelo papa Joo Paulo II, pois, segundo investigao histrica conduzida pelo Vaticano, o padre operou o milagre da converso de trs indivduos ao cristianismo de uma vez.Obras As principais obras do jesuta esto divididas entre poemas, peas de teatro, sermes e, claro, na elaborao de uma gramtica que facilitasse o ensino e o aprendizado da religio pelos indgenas. Seus poemas, carregados de subjetividade, mostram um Anchieta empenhado no louvor religio catlica, na busca pelo consolo das adversidades da vida que encontrado apenas por meio da entrega e do amor divino e, claro, na vida dos santos. Suaspeas de teatro(autos), de cunho pedaggico, so voltadas para a catequizao dos indgenas, escritos ora em portugus, ora em tupi, transformando o imaginrio e os costumes daquelas sociedades pags em entidades do Mal, contrrias s imagens do cristianismo, que representam o Bem, criando dois plos de oposio entre os dois mundos. Na Festa de So Loureno considerado seu auto mais importante, pois, embora no haja uma unidade narrativa nos quatro atos que o compe, h a descrio de cenas da vida nativa e demais aspectos da vida dos indgenas. Suas principais publicaes so ODe Gestis Mendi de Saa, impresso em 1563, poema pico em homenagem ao governador Mem de S que chefiou os primeiros levantes contra os franceses que invadiram as colnias portuguesas. considerado o primeiro poema pico da Amrica e anterior ao Os Lusadas de Lus de Cames. No entanto, crticos e antroplogos contemporneos chamam a ateno para o aspecto da violncia contida no poema que, segundo a viso dos jesutas, legitimaria a conquista, a subordinao e o extermnio dos indgenas em face de um objetivo maior, a evangelizao, assemelhando-se s cruzadas medievais. Alm disso, o imaginrio pago dos indgenas considerado diablico e seus rituais, principalmente o antropofgico, so vistos como algo bestial e animalesco, desprovido de significao cultural. Logo, o texto mostra, acima de tudo, que a vinda dos jesutas, embora com objetivos diferentes dos conquistadores de terras, tambm se deu de maneira violenta, de um povo sobre outro e que a instalao dos redutos missionrios no foi to pacfica como se supunha, expondo as chagas da histria brasileira; eA arte de gramtica da lngua mais usada na costa do Brasil, impresso em 1595, constitui-se no primeiro registro dos fundamentos da lngua tupi.Bibliografia:BOSI, Alfredo.Histria Concisa da Literatura Brasileira. So Paulo: Cultrix, 2006.GINZBURG, Jaime. A origem como inferno (a representao da guerra na poesia de Jos de Anchieta). In: BERND, Zil. CAMPOS, Maria do Carmo (orgs).Literatura e americanidade. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1995.

Barroco O perodo conhecido comoBarroco, ou Seiscentismo, constitudo pelas primeiras manifestaes literrias genuinamente brasileiras ocorridas no Brasil Colnia, embora diretamente influenciadas pelo barroco europeu, isto , vindo das Metrpoles. O termo denomina genericamente todas as manifestaes artsticas dos anos 1600 e incio dos anos 1700. Alm da literatura, estende-se msica, pintura, escultura e arquitetura da poca.

"Vaidade" (sem data), de Domenico PiolaContexto Histrico Aps o Conclio de Trento, realizado entre os anos de 1545 e 1563 e que teve como consequncia uma grande reformulao do Catolicismo, em resposta Reforma protestante, a disciplina e a autoridade da Igreja de Roma foram restauradas, estabelecendo-se a diviso da cristandade entre protestantes e catlicos. Nos Estados protestantes, onde as condies sociais foram mais favorveis liberdade de pensamento, o racionalismo e a curiosidade cientfica do Renascimento continuaram a se desenvolver. J nos Estados catlicos, sobretudo na Pennsula Ibrica, desenvolveu-se o movimento chamado Contra-reforma, que procurou reprimir todas as tentativas de manifestaes culturais ou religiosas contrrias s determinaes da Igreja Catlica. Nesse perodo, a Companhia de Jesus passa a dominar quase que inteiramente o ensino, exercendo papel importantssimo na difuso do pensamento aprovado pelo Conclio de Trento. O clima geral era de austeridade e represso. O Tribunal da Inquisio, que se estabelecera em Portugal para julgar casos de heresia, ameaava cada vez mais a liberdade de pensamento. O complexo contexto sociocultural fez com que o homem tentasse conciliar a glria e os valores humanos despertados pelo Renascimento com as ideias de submisso e pequenez perante Deus e a Igreja. Ao antropocentrismo renascentista (valorizao do homem) ops-se o teocentrismo (Deus como centro de tudo), inspirado nas tradies medievais. Essa situao contraditria resultou em um movimento artstico que expressava tambm atitudes contraditrias do artista em face do mundo, da vida, dos sentimentos e de si mesmo; esse movimento recebeu o nome deBarroco. O homem se v colocado entre o cu e a terra, consciente de sua grandeza mas atormentado pela ideia de pecado e, nesse dilema, busca a salvao de forma angustiada. Os sentimentos se exaltam, as paixes no so mais controladas pela razo, e o desejo de exprimir esses estados de alma vai se realizar por meio de antteses, paradoxos e interrogaes. Essa oscilao que leva o homem do cu ao inferno, que mostra sua dimenso carnal e espiritual, uma das principais caractersticas da literatura barroca. Os escritores barrocos abusam do jogo de palavras (cultismo) e do jogo de ideias ou conceitos (conceptismo).Temas frequentes na Literatura Barroca- fugacidade da vida e instabilidade das coisas;- morte, expresso mxima da efemeridade das coisas;- concepo do tempo como agente da morte e da dissoluo das coisas;- castigo, como decorrncia do pecado;- arrependimento;- narrao de cenas trgicas;- erotismo;- misticismo;- apelo religio.Arte Barroca A arte barroca procurou captar a realidade em pleno movimento. Mais do que estrutura, porm, o que se buscava era o embelezamento de portas e janelas e da ornamentao de interiores. As colunas, altares e plpitos eram recobertos com espirais, flores e anjos revestidos de ouro , numa integrao da pintura, escultura e arquitetura, exercendo sobre o espectador uma grande atrao visual. No Brasil, a explorao do ouro e de pedras preciosas na regio de Minas Gerais impulsionou a produo da arte barroca.

Baslica de Nossa Senhora do Carmo em Recife (PE), uma das glrias do barroco brasileiro.

ltima Ceia(1795-1796), do escultor Antnio Francisco Lisboa, o Aleijadinho A influncia barroca manifestou-se claramente nas pinturas feitas em tetos e paredes de igrejas e palcios. As cenas e elementos arquitetnicos (colunas, escadas, balces, degraus) proporcionavam uma incrvel iluso de movimento e ampliao de espao, chegando, em alguns casos, a dar a impresso de que a pintura era a realidade, e a parede, de fato, no existisse.

Afresco da Igreja de So Francisco de Assis, em Ouro Preto (MG), por Manuel da Costa Athayde

Baslica do Bom Jesus de Matosinhos, em Contagem (MG)

Caractersticas do Barroco O estilo barroco nasceu em decorrncia da crise do Renascimento, ocasionada, principalmente, pelas fortes divergncias religiosas e imposies do catolicismo e pelas dificuldades econmicas decorrentes do declnio do comrcio com o Oriente. Todo o rebuscamento presente na arte e literatura barroca reflexo dos conflitos dualistas entre o terreno e o celestial, o homem (antropocentrismo) e Deus (teocentrismo), o pecado e o perdo,a religiosidade medieval e o paganismo presente no perodo renascentista.

1) A arte da contrarreforma A ideologia do Barroco fornecida pela contra reforma. Em nenhuma outra poca se produziu tamanha quantidade de igrejas, capelas, esttuas de santos e monumentos sepulcrais. As obras de arte deviam falar aos fiis com a maior eficcia possvel, mas em momento algum descer at eles. A arte barroca tinha que convencer, conquistar e impor admirao.2) Conflito entre corpo e alma O Renascimento definiu-se pela valorizao do profano, pondo em voga o gosto pelas satisfaes mundanas. Os intelectuais barrocos, no entanto, no alcanam tranquilidade agindo de acordo com essa filosofia. A influncia da contra reforma fez com que houvesse oposio entre os ideais de vida eterna em contraposio com a vida terrena e do esprito em contraposio carne. Na viso barroca, no h possibilidade de conciliar essas antteses: ou se vive a vida sensualmente, ou se foge dos gozos humanos e se alcana a eternidade.A tenso de elementos contrrios causa no artista uma profunda angstia: aps arrojar-se nos prazeres mais radicais, ele se sente culpado e busca o perdo divino. Assim, ora ajoelha-se diante de Deus, ora celebra as delcias da vida.3) O tema da passagem do tempo O homem barroco assume conscincia integral no que se refere fugacidade da vida humana (efemeridade): o tempo, veloz e avassalador, tudo destri em sua passagem. Por outro lado, diante das coisas transitrias (instabilidade), surge a contradio: viv-las, antes que terminem, ou renunciar ao passageiro e entregar-se eternidade?4) Forma tumultuosa O estilo barroco apresenta forma conturbada, decorrente da tenso causada pela oposio entre os princpios renascentistas e a tica crist. Da a frequente utilizao de antteses, paradoxos e inverses, estabelecendo uma forma contraditria, dilemtica. Alm disso, a utilizao de interrogaes revela as incertezas do homem barroco frente ao seu perodo e a inverso de frases a sua tentativa na conciliao dos elementos opostos.5) Cultismo e conceptismo Ocultismocaracteriza-se pelo uso de linguagem rebuscada, culta, extravagante, repleta de jogos de palavras e doempregoabusivo de figuras de estilo, como a metfora e a hiprbole. Veja um exemplo de poesia cultista:Ao brao do Menino Jesus de Nossa Senhora das Maravilhas,A quem infiis despedaaramO todo sem a parte no todo;A parte sem o todo no parte;Mas se a parte o faz todo, sendo parte,No se diga que parte, sendo o todo.(Gregrio de Matos) J oconceptismo, que ocorre principalmente na prosa, marcado pelo jogo de ideias, de conceitos, seguindo um raciocnio lgico, nacionalista, que utiliza uma retrica aprimorada. A organizao da frase obedece a uma ordem rigorosa, com o intuito de convencer e ensinar. Veja um exemplo de prosa conceptista:"Para um homem se ver a si mesmo so necessrias trs coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e cego, no se pode ver por falta de olhos; se tem espelhos e olhos, e de noite, no se pode ver por falta de luz. Logo, h mister luz, h mister espelho e h mister olhos." (Pe. Antnio Vieira)mister: necessidade de, preciso.Figuras de Linguagem no Barroco As figuras de estilo mais comuns nos textos barrocos reforam a tentativa de apreender a realidade por meio dos sentidos. Observe: Metfora: uma comparao implcita. Tem-se como exemplo o trecho a seguir, escrito por Gregrio de Matos:Se s fogo, como passas brandamente?Se s neve, como queimas com porfia? Anttese:reflete a contradio do homem barroco, seu dualismo. Revela o contraste que o escritor v em quase tudo. Observe a seguir o trecho de Manuel Botelho de Oliveira, no qual descrita uma ilha, salientando-se seus elementos contrastantes:Vista por fora pouco apetecidaPorque aos olhos por feia parecida;Porm, dentro habitada muito bela, muito desejada, como a concha tosca e deslustrosa,Que dentro cria a prola formosa. Paradoxo:corresponde unio de duas ideias contrrias num s pensamento. Ope-se ao racionalismo da arte renascentista. Veja a estrofe a seguir, de Gregrio de Matos:Ardor em firme Corao nascido;pranto por belos olhos derramado;incndio em mares de gua disfarado;rio de neve em fogo convertido.

Hiprbole:traduz ideia de grandiosidade, pompa. Veja mais um exemplo de Gregrio de Matos: a vaidade, Fbio, nesta vida,Rosa, que da manh lisonjeada,Prpuras mil, com ambio dourada,Airosa rompe, arrasta presumida. Prosopopeia:personificao de seres inanimados para dinamizar a realidade. Observe um trecho escrito pelo Padre Antnio Vieira:"No diamante agradou-me o forte, no cedro o incorruptvel, na guia o sublime, no Leo o generoso, no Sol o excesso de Luz."Barroco no Brasill O Barroco foi introduzido no Brasil por intermdio dos jesutas. Inicialmente, no final do sculo XVI, tratava-se de um movimento apenas destinado catequizao. A partir do sculo XVII, o Barroco passa a se expandir para os centros de produo aucareira, especialmente na Bahia, por meio das igrejas. Assim, a funo da igreja era ensinar o caminho da religiosidade e da moral a uma populao que vivia desregradamente. Nos sculos XVII e XVIII no havia ainda condies para a formao de uma conscincia literria brasileira. A vida social no pas era organizada em funo de pequenos ncleos econmicos, no existindo efetivamente um pblico leitor para as obras literrias, o que s viria a ocorrer no sculo XIX. Por esse motivo, fala-se apenas em autores brasileiros com caractersticas barrocas, influenciados por fontes estrangeiras (portuguesa e espanhola), mas que no chegaram a constituir um movimento propriamente dito. Nesse contexto, merecem destaque a poesia deGregrio de Matos Guerrae a prosa do padreAntnio Vieirarepresentada pelos seus sermes. Didaticamente, o Barroco brasileiro tem seu marco inicial em1601, com a publicao do poema pico Prosopopeia, de Bento Teixeira. Conhea a seguir os trechos selecionados:ProsopopeiaICantem Poetas o Poder Romano,Sobmetendo Naes ao jugo duro;O Mantuano pinte o Rei Troiano,Descendo confuso do Reino escuro;Que eu canto um Albuquerque soberano,Da F, da cara Ptria firme muro,Cujo valor e ser, que o Ceo lhe inspira,Pode estancar a Lcia e Grega lira.IIAs Dlficas irms chamar no quero,que tal invocao vo estudo;Aquele chamo s, de quem esperoA vida que se espera em fim de tudo.Ele far meu Verso to sincero,Quanto fora sem ele tosco e rudo,Que per rezo negar no deve o menosQuem deu o mais a mseros terrenos.

Esse poema, alm de traar elogios aos primeiros donatrios da capitania de Pernambuco, narra o naufrgio sofrido por um deles, o donatrio Jorge Albuquerque Coelho. Apesar de os crticos o considerarem de pouco valor literrio, o texto tem seu valor histrico pois foi a primeira obra do Barroco brasileiro e o marco inicial do primeiro estilo de poca a surgir no Brasil. Autores:

Gregrio de Matos Guerra: o Boca do InfernoGregrio de Matos Guerra nasceu em Salvador (BA) e morreu em Recife (PE). Estudou no colgio dos jesutas e formou-se em Direito em Coimbra (Portugal). Recebeu o apelido de Boca do Inferno, graas a sua irreverente obra satrica.

Gregrio de Matos firmou-se como o primeiro poeta brasileiro: cultivou a poesia lrica, satrica, ertica e religiosa. O que se conhece de sua obra fruto de inmeras pesquisas, pois Gregrio no publicou seus poemas em vida. Por essa razo, h dvidas quanto autenticidade de muitos textos que lhe so atribudos.O poeta religioso A preocupao religiosa do escritor revela-se no grande nmero de textos que tratam do tema da salvao espiritual do homem. No soneto a seguir, o poeta ajoelha-se diante de Deus, com um forte sentimento de culpa por haver pecado, e promete redimir-se. Observe:Soneto a Nosso SenhorPequei, Senhor, mas no porque hei pecado,Da vossa alta clemncia me despido;Porque quanto mais tenho delinqidoVos tem a perdoar mais empenhado.Se basta a voz irar tanto pecado,A abrandar-vos sobeja um s gemido:Que a mesma culpa que vos h ofendido,Vos tem para o perdo lisonjeado.Se uma ovelha perdida e j cobradaGlria tal e prazer to repentinoVos deu, como afirmais na sacra histria.Eu sou, Senhor a ovelha desgarrada,Recobrai-a; e no queirais, pastor divino,Perder na vossa ovelha a vossa glria.

O poeta satrico Gregrio de Matos amplamente conhecido por suas crticas situao econmica da Bahia, especialmente de Salvador, graas expanso econmica chegando a fazer, inclusive, uma crtica ao ento governador da Bahia Antnio Lus da Cmara Coutinho. Alm disso, suas crticas Igreja e a religiosidade presente naquele momento. Essa atitude de subverso por meio das palavras rendeu-lhe o apelido de "Boca do Inferno", por satirizar seus desafetosTriste BahiaTriste Bahia! quo dessemelhanteEsts e estou do nosso antigo estado! Pobre te vejo a ti, tu a mi abundante.A ti tricou-te amquinamercante, Que em tua larga barra tem entrado,A mim foi-me trocando e, tem trocado,Tanto negcio e tanto negociante.O poeta lrico Em sua produo lrica, Gregrio de Matos se mostra um poeta angustiado em face vida, religio e ao amor. Na poesia lrico-amorosa, o poeta revela sua amada, uma mulher bela que constantemente comparada aos elementos da natureza. Alm disso, ao mesmo tempo que o amor desperta os desejos corporais, o poeta assaltado pela culpa e pela angstia do pecado. mesma d. ngelaAnjo no nome, Anglica na cara! Isso ser flor, e Anjo juntamente:Ser Anglica flor, e Anjo florente, Em quem, seno em vs, se uniformara:Quem vira uma tal flor, que a no cortara, De verde p, da rama fluorescente;E quem um Anjo vira to luzente,Que por seu Deus o no idolatrara?Se pois como Anjo sois dos meus altares,Freis o meu Custdio, e a minha guarda,Livrara eu de diablicos azares.Mas vejo, que por bela, e por galharda,Posto que os Anjos nunca do pesares,Sois Anjo, que me tenta, e no me guarda.O poeta ertico Tambm alcunhado de profano, o poeta exalta a sensualidade e a volpia das amantes que conquistou na Bahia, alm dos escndalos sexuais envolvendo os conventos da cidade.Necessidades Forosas da Natureza HumanaDescarto-me da tronga, que me chupa,Corro por um conchego todo o mapa,O ar da feia me arrebata a capa,O gadanho da limpa at a garupa.Busco uma freira, que me desentupaA via, que o desuso s vezes tapa,Topo-a, topando-a todo o bolo rapa,Que as cartas lhe do sempre com chalupa.Que hei de fazer, se sou de boa cepa,E na hora de ver repleta a tripa,Darei por quem mo vase toda Europa?Amigo, quem se alimpa da carepa,Ou sofre uma muchacha, que o dissipa,Ou faz da mo sua cachopa.Padre Antnio Vieira

Padre Antnio Vieira nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu na Bahia, em 1697. Com sete anos de idade, veio para o Brasil e entrou para a Companhia de Jesus. Por defender posies favorveis aos ndios e aos judeus, foi condenado priso pela Inquisio, onde ficou por dois anos.Padre Antnio Vieira, por Arnold van Westerhout (1651-1725)

Responsvel pelo desenvolvimento da prosa no perodo do barroco, Padre Antnio Vieira conhecido por seus sermes polmicos em que critica, entre outras coisas, o despotismo dos colonos portugueses, a influncia negativa que o Protestantismo exerceria na colnia, os pregadores que no cumpriam com seu ofcio de catequizar e evangelizar (seus adversrios catlicos) e a prpria Inquisio. Alm disso, defendia os ndios e sua evangelizao, condenando os horrores vivenciados por eles nas mos de colonos e os cristos-novos (judeus convertidos ao Catolicismo) que aqui se instalaram. Famoso por seus sermes, padre Antnio Vieira tambm se dedicou a escrever cartas e profecias.Mito do Sebastianismo Com o desenvolvimento do mercado martimo, Portugal vivenciou um perodo de ascenso e grandeza. Porm, com o declnio do comrcio no Oriente, Portugal viveu uma crise econmica e dinstica. Como consequncia, o ento rei de Portugal D. Sebastio resolve colocar em prtica seuplanode organizar uma cruzada em Marrocos e levando batalha de Alcacer-Quibir em 1578. A derrota na batalha e seu desaparecimento (provvel morte em batalha), gerou especulaes acerca de seus paradeiro. A partir de ento, originou-se a crena de que o rei retornaria para transformar Portugal novamente em uma grande potncia econmica. Padre Antnio Vieira era um dos que acreditavam no Sebastianismo e, mais adiante, Antnio Conselheiro anunciava o retorno de D. Sebastio nos episdios da Guerra de Canudos.Os sermes Escreveu cerca de duzentos sermes em estilo conceptista, isto , que privilegia a retrica e o encadeamento lgico de ideias e conceitos. Esto formalmente divididos em trs partes:Introito ou Exrdio: a apresentao, introduo do assunto.Desenvolvimento ou argumento: defesa de uma ideia com base na argumentao.Perorao: parte final, concluso. Seus sermes mais mais famosos so:Sermo da Sexgsima (1655): O sermo, dividido em dez partes, conhecido por tratar da arte de pregar. Nele, Padre Antnio Vieira condena aqueles que apenas pregam a palavra de Deus de maneira vazia. Para ele, a palavra de Deus era como uma semente, que deveria ser semeada pelo pregador. Por fim, o padre chega concluso de que, se a palavra de Deus no d frutos no plano terreno a culpa nica e exclusivamente dos pregadores que no cumprem direito a sua funo. Leia um trecho do sermo:"Ecce exiit qui seminat, seminare. Diz Cristo que "saiu o pregador evanglico a semear" a palavra divina. Bem parece este texto dos livros de Deus no s faz meno do semear, mas tambm faz caso do sair:Exiit, porque no dia da messe ho-nos de medir a semeadura e ho-nos de contar os passos. (...) Entre os semeadores do Evangelho h uns que saem a semear, h outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear so os que vo pregar ndia, China, ao Japo; os que semeiam sem sair, so os que se contentam com pregar na Ptria. Todos tero sua razo, mas tudo tem sua conta. Aos que tm a seara em casa, pagar-lhes-o a semeadura; aos que vo buscar a seara to longe, ho-lhes de medir a semeadura e ho-lhes de contar os passos. Ah Dia do Juzo! Ah pregadores! Os de c, achar-vos-eis com mais pao; os de l, com mais passos: Exiit seminare. (...) Ora, suposto que a converso das almas por meio da pregao depende destes trs concursos: de Deus, do pregador e do ouvinte, por qual deles devemos entender a falta? Por parte do ouvinte, ou por parte do pregador, ou por parte de Deus? (...)Sermo pelo bom sucesso das armas de Portugal contra as de Holanda(1640): Neste sermo, o padre incita os seguidores a reagir contra as invases Holandesas, alegando que a presena dos protestantes na colnia resultaria em uma srie de depredaes colnia. Leia um trecho do sermo:"Se acaso for assim o que vs no permitais e est determinado em vosso secreto juzo, que entrem os hereges na Bahia, o que s vos represento humildemente, e muito deveras, que, antes da execuo da sentena, repareis bem, Senhor, no que vos pode suceder depois, e que o consulteis com vosso corao enquanto tempo, porque melhor ser arrepender agora, que quando o mal passado no tenha remdio. Bem estais na inteno e aluso com que digo isto, e na razo, fundada em vs mesmo, que tenho para o dizer. Tambm antes do dilvio estveis vs mui colrico e irado contra os homens, e por mais que No orava em todos aqueles cem anos, nunca houve remdio para que se aplacasse vossa ira. Romperam-se enfim as cataratas do cu, cresceu o mar at os cumes dos montes, alagou-se o mundo todo: j estaria satisfeita vossa justia, seno quando ao terceiro dia comearam a boiar os corpos mortos, e a surgir e aparecer em multido infinita aquelas figuras plidas, e ento se representou sobre as ondas a mais triste e funesta tragdia que nunca viram os anjos, que homens que a vissem, no os havia."

Sermo de Santo Antnio (1654): Tambm conhecido como "O Sermo dos Peixes", pois nele o padre usa a imagem dos peixes como smbolo para fazer uma crtica aos vcios dos colonos portugueses que se aproveitavam da condio dos ndios para escraviz-los e sujeit-los ao seu poder. Leia um trecho do sermo:"Vs, diz Cristo, Senhor nosso, falando com os pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que faam na terra o que faz o sal. O efeito do sal impedir a corrupo; mas quando a terra se v to corrupta como est a nossa, havendo tantos nela que tm ofcio de sal, qual ser, ou qual pode ser a causa desta corrupo? (...) Enfim, que havemos de pregar hoje aos peixes? Nunca pior auditrio. Ao menos tm os peixes duas boas qualidades de ouvintes: ouvem e no falam. Uma s cousa pudera desconsolar o Pregador, que serem gente os peixes que se no h-de converter. Mas esta dor to ordinria, que j pelo costume quase se no sente (...) Suposto isto, para que procedamos com clareza, dividirei, peixes, o vosso sermo em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-vos-ei os vossos vcios. (...) "RESUMOO Barroco: sculo XVIICONTEXTO HISTRICO- Contra reforma;- Renascimento.CARACTERSTICAS- Conflito entre corpo e alma;- Passagem do tempo;- Cultismo e conceptismo;- Figuras de linguagem.PRINCIPAIS AUTORES- Bento Teixeira;- Gregrio de Matos Guerra;- Padre Antonio Vieira.

Gregrio de Matos Guerra (1636 - 1696)

Poeta do movimento barroco brasileiro, Gregrio de Matos Guerra nasceu no dia 23 de dezembro de 1636 em Salvador. Filho de pais abastados, seguiu acarreirajurdica e aos 19 anos foi a Portugal, com o intuito de cursar Direito na faculdade de Coimbra, onde trabalhou como juiz de fora na cidade de Alccer do Sal (na regio do Alentejo). Ainda em Portugal, nomeado representante da Bahia nas cortes de Lisboa e, em 1672, torna-se procurador. Em 1679 nomeado Desembargador da Relao Eclesistica da Bahia pelo ento arcebispo Gaspar Barata de Mendona e, em 1682 nomeado tesoureiro-mor da S pelo rei D. Pedro II de Portugal. Retorna ao Brasil em 1683, mas destitudo de suas funes por desacatar ordens da instituio religiosa, como a de no utilizar o vesturio exigido para seu cargo e, em 1685 denunciado sob a acusao de que seus costumes e suas opinies crticas no condiziam com esperado de algum que exerce funes dentro de uma instituio sagrada. Nesse mesmo perodo, nutre inimizade tanto com pessoas influentes quanto com pessoas mais simples da sociedade baiana, o que acaba por gerar muitos dos seus poemas satricos e erticos, principalmente os de cunho religioso. Devido a sua postura crtica, provoca airade um parente do governador-geral e deportado para Angola em 1694. L chegando, auxilia a conter uma revolta militar local, recebendo como prmio a possibilidade de retornar ao Brasil. Porm, na impossibilidade de retornar Salvador, decide se instalar em Recife, onde permanece at falecer em 1696.Obras considerado o primeiro poeta genuinamente brasileiro pois, anteriormente, os que escreviam na e sobre a colnia eram em sua maioria viajantes europeus ou jesutas vindos principalmente de Portugal (Companhia de Jesus). Alm disso, responsvel por uma vasta obra potica que comeou a ser organizada e publicada nas primeiras dcadas do sculo XIX. Gregrio de Matos autor depoesias satricassobre autoridades civis e religiosas e ridicularizando costumes da cidade que lhe desagradavam, sua lngua afiada e a mordacidade de seus versos lhe renderam o apelido de Boca do Inferno. Sua obra est dividida em trs grandes temticas:satrica(tambm conhecida por ser ertica e pornogrfica),religiosaeamorosaas quais abarcam tanto o estilo cultista (valorizao da forma) quanto o conceptista (valorizao do contedo). Embora Gregrio de Matos exercesse fascnio por muitos estudiosos e crticos literrios, sua obra s se tornou acessvel ao pblico quando, entre os anos de 1923 e 1933, a Academia Brasileira de Letras publicou uma coletnea em seis volumes com toda a sua obra. Antes disso, a impresso de material na colnia sem autorizao dacorteera proibida e seu material era publicado em manuscritos e divulgado de mo em mo. S mais adiante sua obra foi transformada em cdices, o que permitiu que numerosos jornalistas e estudiosos das letras brasileiras se debruassem sobre seus poemas e publicassem poemas e fragmentos em peridicos e antologias. O mais conhecido desse oFlorilgio da Poesia Brasileira(1850), uma compilao de 39 poemas de autoria do historiador Francisco Adolfo de Varnhagen e publicado em Lisboa.

Antnio Vieira (1608 1697)

Antnio Vieira nasceu em Lisboa, no ano de 1608, e veio ao Brasil aos seis anos de idade juntamente com sua famlia, que se fixou na cidade de Salvador. Anos mais tarde, matricula-se no Colgio dos Jesutas onde estuda principalmente retrica, filosofia, matemtica e teologia. Ingressa na Companhia de Jesus em 1623 e, aps lecionar retrica, ordena-se sacerdote no ano de 1634 e prossegue pregando sermes nas igrejas de Salvador. Defensor dos direitos humanos, dos indgenas, dos judeus, dos cristos-novos e da abolio da escravatura, Padre Antnio Vieira, alm disso, criticou severamente alguns aspectos da Igreja e da Inquisio. Em um de seus sermes mais famosos, o da Sexagsima, o padre, munido de metforas, traz a ideia contida na Parbola do Semeador para reforar a premissa de que um dos problemas da Igreja est naqueles sacerdotes que no se esforam em disseminar a palavra de Deus. Volta para Portugal no ano de 1641 como diplomata aps a Restaurao da Coroa contra a Espanha. Volta para o Brasil e instala-se no Maranho. L, desentende-se com os senhores de escravos, pois era de opinio contrria escravido indgena, e decide voltar para Lisboa. Em Portugal, defende os judeus, o que lhe rendeu dois anos de priso pela Inquisio em Coimbra. Aps ser anistiado, vai a Roma, onde consegue influncia junto ao alto escalo da Igreja Catlica. Regressa ao Brasil em 1681 decidido a organizar a publicao de seus sermes, em 16 volumes, e permanece em Salvador at falecer em 1697.Obras Considerado um mestre na retrica e oratria, Vieira conhecido pelos seus sermes, pelas cartas e por um livro de profecias no concludo. Sua obra continua sendo estudada nos dias de hoje no apenas no Brasil, pois Padre Antnio Vieira um importante autor para as letras de lngua portuguesa. Antnio Vieira escreveu cerca de duzentos sermes durante toda sua vida. Dentre eles, os mais famosos so: da Sexagsima, da Quinta Dominga da Quaresma, de So Pedro, pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Conta as de Holanda, do Bom Ladro, de Santo Antnio aos Peixes, dentre muitos outros. So escritos em estilo conceptista, utiliza-se da retrica paratrabalharsuas ideias e conceitos. Conhecido tambm pela sua vasta troca de correspondncia, que somam mais de quinhentas cartas sobre o relacionamento entre Portugal e Holanda, sobre a Inquisio e a situao da Colnia. Em suas profecias, percebe-se o Sebastianismo, que a crena no retorno de D. Sebastio a Portugal para transform-la novamente em uma grande potncia.Arcadismo

O Balano(dcada de 1730), de Nicolas Lancret O Arcadismo, tambm conhecido como Setecentismo ou Neoclassicismo, o movimento que compreende a produo literria brasileira na segunda metade do sculo XVIII. O nome faz referncia Arcdia, regio do sul da Grcia que, por sua vez, foi nomeada em referncia ao semideus Arcas (filho de Zeus e Calisto). Denota-se, logo de incio, as referncias mitologia grega que perpassa o movimento. Profundas mudanas no contexto histrico mundial caracterizam o perodo, tais como a ascenso do Iluminismo, que pressupunha o racionalismo, o progresso e as cincias. Na Amrica do Norte, ocorre a Independncia dos Estados Unidos, em 1776, abrindo caminho para vrios movimentos de independncia ao longo de toda a Amrica, como foi o caso do Brasil, que presenciou inmeras revolues e inconfidncias at a chegada da Famlia Real em 1808. O movimento tem caractersticas reformistas, pois seu intuito era o de dar novos ares s artes e ao ensino, aos hbitos e atitudes da poca. A aristocracia em declnio viu sua riqueza esvair-se e dar lugar a uma nova organizao econmica liderada pelo pensamento burgus. Ao passo que os textos produzidos no perodo convencionado de Quinhentismo sofreram influncia direta de Portugal e aqueles produzidos durante o Barroco, da cultura espanhola, os do Arcadismo, por sua vez, foram influenciados pela cultura francesa devido aos acontecimentos movidos pela burguesia que sacudiram toda a Europa (e o mundo Ocidental). Segundo o crtico Alfredo Bosi em seu livroHistria Concisa da Literatura Brasileira(So Paulo: editora Cultrix, 2006) houve dois momentos do Arcadismo no Brasil: a)potico: retorno tradio clssica com a utilizao dos seus modelos, e valorizao da natureza e da mitologia. b)ideolgico: influenciados pela filosofia presente no Iluminismo, que traduz a crtica da burguesia culta aos abusos da nobreza e do clero. Seus principais autores so Cludio Manoel da Costa, Toms Antnio Gonzaga, Baslio da Gama e Santa Rita Duro. No Brasil, o ano convencionado para o incio do Arcadismo 1768, quando houve a publicao deObras, do poeta Claudio Manoel da Costa.

Arcdia Ultramarina Trata-se de uma sociedade literria fundada na cidade de Vila Rica (MG), influenciada pela Arcdia italiana (fundada em 1690) e cujos membros adotavam pseudnimos, isto , nomes artsticos, de pastores cantados na poesia grega ou latina. Por isso que alguns dos principais nomes do Arcadismo brasileiro publicavam suas obras com nomes inspirados na mitologia grega e romana.Principais caractersticas- inspirao nos modelos clssicos greco-latinos e renascentistas, como por exemplo, emO Uraguai(gnero pico), emMarlia de Dirceu(gnero lrico) e emCartas Chilenas(gnero satrico);- influncia da filosofia francesa;- mitologia pag como elemento esttico;- obom selvagem, expresso do filsofo Jean-Jacques Rousseau, denota a pureza dos nativos da terra fazem meno natureza e busca pela vida simples, buclica e pastoril;- tenso entre o burgus culto, da cidade, contra a aristocracia;- pastoralismo: poetas simples e humildes;- bucolismo: busca pelos valores da natureza;- nativismo: referncias terra e ao mundo natural;- tom confessional;- estado de esprito de espontaneidade dos sentimentos;- exaltao da pureza, da ingenuidade e da beleza.Termos em latim O uso de expresses em latim era comum no neoclacisssimo. Elas estavam associados ao estilo de vida simples e buclico. Conhea algumas delas:Inutilia truncat:"cortar o intil", referncia aos excessos cometidos pelas obras do barroco. No arcadismo, os poetas primavam pela simplicidade.Fugere urbem:"fugir da cidade", do escritor clssico Horcio;Locus amoenus:"lugar ameno", um refgio ameno em detrimento dos centros urbanos monrquicos;Carpe diem:"aproveitar a vida", o pastor, ciente da efemeridade do tempo, convida sua amada a aproveitar o momento presente. Cabe ressaltar, no entanto, que os membros da Arcdia eram todos burgueses e habitantes dos centros urbanos. Por isso a eles so atribudos umfingimento potico, isto , a simulao de sentimentos fictcios.AutoresCludio Manoel da Costa (1729-1789)Cludio Manoel da Costa, o poeta mineiro nascido em 1729, ilustrado por Newton Resende.

Tambm conhecido como o "guardador de rebanhos" Glauceste Satrnio, seu pseudnimo, Cludio Manoel da Costa nasceu na cidade de Mariana (em Minas Gerais). Estudou Direito em Coimbra, onde teve contato com as principais ideias do Iluminismo e, ao voltar para o Brasil, fundou da Arcdia Ultramarina em Vila Rica. Era um homem muito rico e de posses que influenciou a elite intelectual da poca. Por ter participado da Inconfidncia Mineira, foi preso e encontrado enforcado na cadeia em 1789. Os temas iniciais de sua obra giram em torno das reflexes morais e das contradies da vida com forte inspirao nos modelos barrocos. Posteriormente, dedicou-se poesia buclica e pastoril na qual a natureza funciona como um refgio para o poeta que busca a vida longe da cidade e reflete as angustias e o sofrimento amoroso com sua musa inacessvel Nise. Estes poemas fazem parte do conjunto intituladoObras(1768). Cludio Manoel da Costa tambm se dedicou exaltao dos bandeirantes, fundadores de inmeras cidades da regio mineradora e desbravadores do interior do pas e de contar a histria da cidade de Ouro Preto no poemeto picoVila Rica(1773). Veja um exemplo sua poesia buclica:SonetosXEu ponho esta sanfona, tu, Palemo,Pors a ovelha branca, e o cajado;E ambos ao som da flauta magoadoPodemos competir de extremo a extremo.Principia, pastor; que eu te no temo;Inda que sejas to avantajadoNo cntico amebeu: para louvadoEscolhamos embora o velho Alcemo.Que esperas? Toma a flauta, principia;Eu quero acompanhar te; os horizontesJ se enchem de prazer, e de alegria:Parece, que estes prados, e estas fontesJ sabem, que o assunto da porfiaNise, a melhor pastora destes montes.

E de sua poesia pica:Vila RicaCanto VILevados de fervor, que o peito encerraVs os Paulistas, animosa gente,Que ao Rei procuram do metal luzenteCo'as prprias mos enriquecer o errio.Arzo este, Este, o temerrio,Que da Casca os sertes tentou primeiro:V qual despreza o nobre aventureiro,Os laos e as traies, que lhe preparaDo cruento gentio a fome avara.

Toms Antnio Gonzaga (1744-1810)Toms Antnio Gonzaga, poeta rcade, ilustrado por artista desconhecido. Patrono da cadeira de nmero 37 da Academia Brasileira de Letras, Gonzaga deixou como legado importantes obra lricas e satricas.

Nasceu na cidade de Porto, em Portugal, porm, filho de me portuguesa e pai brasileiro, vive parte da vida no Brasil. Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, muda para o Brasil para trabalhar como ouvidor e juiz. Aqui, pretendia se casar com a jovem Maria Dorotia Joaquina de Seixas Brando, sua musa Marlia. No entanto, como participara daInconfidncia Mineira, preso e levado para o Rio de Janeiro. Quando sai da priso, muda-se para Moambique, na frica, onde casa com Juliana de Sousa Mascarenhas. Toms Antnio Gonzaga o pastor Dirceu, pseudnimo criado pelo poeta para seu conjunto de liras famosas intituladoMarlia de Dirceu, publicadas em trs partes nos anos de 1792, 1799 e 1812. Nessa obra, Dirceu o pastor que cultiva o ideal da vida campestre, que vive entre ovelhas em uma choupana e aproveita o momento presente ao lado da amada Marlia.Lira IEu, Marlia, no sou algum vaqueiro,Que viva de guardar alheio gado;De tosco trato, dexpresses grosseiro,Dos frios gelos, e dos sis queimado.Tenho prprio casal, e nele assisto;D-me vinho, legume, fruta, azeite;Das brancas ovelhinhas tiro o leite,E mais as finas ls, de que me visto.Graas, Marlia bela,Graas minha Estrela!

Lira XIXEnquanto pasta alegre o manso gado,Minha bela Marlia, nos sentemos sombra deste cedro levantado.Um pouco meditemosNa regular beleza,Que em tudo quanto vive, nos descobreA sbia natureza.

Atende, como aquela vaca pretaO novilhinho seu dos mais separa,E o lambe, enquanto chupa a lisa teta.Atende mais, cara,Como a ruiva cadelaSuporta que lhe morda o filho o corpo,E salte em cima dela.

Repara, como cheia de ternuraEntre as asas ao filho essa ave aquenta,Como aquela esgravata a terra dura,E os seus assim sustenta;Como se encoleriza,E salta sem receio a todo o vulto,Que junto deles pisa.

Que gosto no ter a esposa amante,Quando der ao filhinho o peito brando,E refletir ento no seu semblante!Quando, Marlia, quandoDisser consigo: estaDe teu querido pai a mesma barba,A mesma boca, e testa.

Lira XVEu, Marlia, no fui nenhum Vaqueiro,Fui honrado Pastor da tua aldeia;Vestia finas ls, e tinha sempreA minha choa do preciso cheia.Tiraram-me o casal, e o manso gado,Nem tenho, a que me encoste, um s cajado. Curiosidade: como aponta o crtico Alfredo Bosi em seuHistria Concisa da Literatura Brasileira(So Paulo: Cultrix, 2006), h uma mudana na cor dos cabelos de Marlia, que ora so negros, ora dourados, como se pode observar nos trechos a seguir:Os seus compridos cabelos,que sobre as costas odeiam,so que os de Apolo mais belos,mas de loura cor no so.Tm a cor da negra noite;e com o branco do rostofazem, Marlia, um compostoda mais formosa unio.Em outra passagem, observa-se:Os teus olhos espelham a luz divina, a quem a luz do sol em vo se atreve;papoila ou rosa delicada e finate cobre as faces, que so da cor da neve.Os teus cabelos so uns fios d'ouro;teu lindo corpo blsamos vapora. Essa oscilao, segundo o crtico, demonstraria o compromisso rcade entre o real e os padres de beleza do lirismo inspirado no poeta clssico Petrarca. Outra oscilao presente nos poemas entre o pastor buclico e o intelectual da cidade. Percebe-se, no entanto, uma mudana considervel no discurso do poeta, coincidindo com a poca em que o autor esteve preso e passa a refletir sobre as angstias do aprisionamento, a justia e o destino dos homens. Cabe ressaltar, no entanto, que, embora o conjunto de liras seja dedicado amada Marlia, em momento algum temos a voz da personagem idealizada. apenas Dirceu quem discorre acerca dos seus sentimentos. Segundo alguns crticos literrios, esse fato um reflexo da sociedade patriarcal em que Gonzaga vivia, no permitindo que suas personagens pudessem expressar suas vozes. Por fim, Toms Antnio Gonzaga tambm ficou conhecido por suasCartas Chilenas, compostas por 13 poemas satricos escritos antes da Inconfidncia Mineira. Novamente, Gonzaga cria personagens e pseudnimos: aqui,Critiloassina as cartas e as envia paraDoroteu. O contedo das "cartas" so crticas ao suposto governador do Chile (onde vive Critilo) Fanfarro Minsio, uma referncia ao governador de Minas Gerais Lus da Cunha Meneses. Veja um exemplo:Amigo Doroteu, prezado amigo,Abre os olhos, boceja, estende os braosE limpa, das pestanas carregadas,O pegajoso humor, que o sono ajunta.Critilo, o teu Critilo quem te chama;Ergue a cabea da engomada fronhaAcorda, se ouvir queres coisas raras.(...)Ah! pobre Chile, que desgraa esperas!Quanto melhor te fora se sentissesAs pragas, que no Egito se choraram,Do que veres que sobe ao teu governoCarrancudo casquilho, a quem rodeiamOs nscios, os marotos e os peraltas!Seguido, pois, dos grandes entra o chefeNo nosso Santiago junto noite.A casa me recolho e cheio destasTristssimas imagens, no discurso,Mil coisas feias, sem querer, revolvo.Por ver se a dor divirto, vou sentar-meNa janela da sala e ao ar levantoOs olhos j molhados. Cus, que vejo! No vejo estrelas que, serenas, brilhem,Nem vejo a lua que prateia os mares:Vejo um grande cometa, a quem os doutosCaudato apelidaram. Este cobreA terra toda co disforme rabo.

Santa Rita Duro (1722-1784)Jos de Santa Rita Duro nasceu em Cata-Preta, nas proximidades de Mariana em Minas Gerais. Ingressa na Ordem de Santo Agostinho, em Portugal, e l permanece at sua morte em 1784.

Seu trabalho mais conhecido oCaramuru(1781), cujo subttulo,Poema pico do descobrimento da Bahia, remonta ao tempo em que os primeiros europeus chegaram ao Brasil e travaram contato com os nativos. Caramuru o nome dado ao portugus Diogo lvares Correia que passa a viver entre os ndios Tupinambs aps sobreviver a um naufrgio no litoral baiano. Considerado um heri "cultural", que ensina as leis e as virtudes aos "brbaros" que aqui viviam, ganha o respeito dos ndios ao disparar uma arma de fogo. Os ndios, assustados, equiparam-no a Tup e passam a respeit-lo como uma entidade enviada. Ele se encanta com Paraguau, a bela ndia de pele branca. J instalado na tribo, Diego percebe a possibilidade de difundir a f crist para os ndios, doutrinando-os aps ter encontrado uma gruta que se assemelharia a uma igreja. Mais adiante, Diego ajuda a resgatar a tripulao de um barco espanhol que havia naufragado e v a possibilidade de retornar Europa atravs da nau francesa que viera resgatar aquela tripulao. Parte, com Paraguau, deixando para trs as belas ndias que haviam se apaixonado por ele, incluindo Moema, a mais bela, que atira-se ao mar em direo ao navio na tentativa de alcanar o seu amado. Ao chegar na Europa, Paraguau batizada de Catarina, ambos so festejados e recebem as honras da realeza lusitana.

Moema(1866), por Victor Meireles O poema segue a estrutura dos versos camonianos (de Cames) e da epopeia clssica, com fortes influncias da mitologia grega: composto por 10 cantos, versos decasslabos, oitava rima camoniana. Segue tambm com a diviso tradicional das epopeias: proposio, invocao, dedicatria, narrao e eplogo. Conhea um trecho do poema pico em que narrada a morte da ndia Moema, uma das mais belas cenas j descritas na literatura brasileira:Canto VIXXXVIICopiosa multido da nau francesaCorre a ver o espetculo assombrada; E, ignorando a ocasio de estranha empresa,Pasma da turba feminil que nada.Uma, que s mais precede em gentileza,No vinha menos bela do que irada;Era Moema, que de inveja geme,E j vizinha nau se apega ao leme.XXXVIII"- Brbaro (a bela diz), tigre e no homem...Porm o tigre, por cruel que brame, Acha foras amor que enfim o domem;S a ti no domou, por mais que eu te ame.Frias, raios, coriscos, que o ar consomem.Como no consumis aquele infame?Mas apagar tanto amor com tdio e asco...Ah que o corisco s tu... raio... penhasco?(...)XLIEnfim, tens corao de ver-me aflita,Flutuar moribunda entre estas ondas;Nem o passado amor teu peito incitaA um ai somente com que aos meus respondas!Brbaro, se esta f teu peito irrita,(Disse, vendo-o fugir), ah no te escondas!Dispara sobre mim teu cruel raio..."E indo a dizer o mais, cai num desmaio.XLIIPerde o lume dos olhos, pasma e treme,Plida a cor, o aspecto moribundo;Com mo j sem vigor, soltando o leme,Entre as salsas escumas desce ao fundo.Mas na onda do mar, que irado freme,Tornando a aparecer desde o profundo,- Ah! Diogo cruel! - disse com mgoa,E, sem mais vista ser, sorveu-se ngua.

Baslio da Gama (1741-1795)Jos Baslio da Gama nasceu em 1741 na cidade de So Jos do Rio das Mortes, atual Tiradentes, em Minas Gerais. Falece em Lisboa no dia 31 de julho de 1795.

Foi para o Rio de Janeiro, onde estudou no Colgio dos Jesutas e era novio quando os jesutas foram expulsos do pas. Exilou-se na Itlia e filiou-se na Arcdia Romana, sob o pseudnimo de Termindo Siplio. preso por jesuitismo, em Lisboa, e enviado para Angola, livrando-se do exlio ao escrever um poema para a filha do Marqus de Pombal. Em 1769 publica o poema picoO Uraguai, criticando os jesutas e defendendo a poltica do Marqus de Pombal que o transforma em oficial da Secretaria do Reino. A crtica recaa no fato de que os jesutas no defendiam os ndios, apenas pretendiam falsamente libert-los e usar a mo de obra indgena para proveito prprio. Em 1750, com o Tratado de Tordesilhas, a misso dos Sete Povos passaria aos portugueses enquanto que Colnia de Sacramento, no Uruguai, passaria para os espanhis. O poema narra a luta dos portugueses contra os ndios das Misses (instigados pelos jesutas espanhis) que se recusam a sair de suas terras, dando incio aos conflitos conhecidos como as Guerra Guarantica (1754-56). A crtica recai, principalmente, sobre o personagem Balda, padre jesuta que encarna o mal. Corrupto e desleal, seduz uma ndia e tem um filho com ela, Baldeta. Na aldeia moram tambm o chefe da tribo Cacambo e sua mulher Lindia, casal que representa a fora do guerreiro e a beleza e delicadeza da ndia. Balda quer forar Lindia a se casar com Baldeta, enviando Cacambo para as batalhas na esperana de que o ndio morra para uni-la a seu filho. No Canto II, Baslio da Gama relata o encontro entre os caciques Sep Tiaraju e Cacambo com o comandante portugus Gomes Freire de Andrada, ocorrido s margens do rio Uruguai (chamado ento de "Uraguai"). O comandante tenta estabelecer um acordo com os ndios, sem sucesso, dando incio aos combates. O cacique Sep Tiaraju lidera a disputa e acaba morto. Cacambo, seu sucessor, capturado e descobre que o perigo estava o tempo todo na mo dos jesutas. Os portugueses, ento, permitem que ele retorne a sua aldeia para alertar seus companheiros contra os perigos dos jesutas. De volta, o valente guerreiro envenenado por Balda e Lindia, vendo-se forada a casar com Baldeta, comete suicdio, deixando-se picar por uma cobra venenosa. Segundo o crtico literrio Alfredo Bosi no estudoHistria Concisa da Literatura Brasileira(So Paulo: Cultrix, 2006), Baslio da Gama o homem do fim do sculo XVIII "cujos valores pr-liberais prenunciam a Revoluo e se manteriam com o idealismo romntico". Assim, pode-se dizer que O Uraguai prenuncia muitos dos aspectos que sero desenvolvidos durante o movimento do Romantismo.Caractersticas principais do poema- exaltao da natureza e do "bom selvagem", atribuindo aos jesutas a culpa pelo envolvimento dos ndios na luta;- rompimento da estrutura potica camoniana;- inovao no gnero pico: versos decasslabos brancos, isto , sem rima, sem diviso de estrofes e divididos em apenas cinco cantos;- ao contrrio da tradio pica, o poema conta um acontecimento recente na histria do pas;- inicia o poema pela narrao;- discursos permeados por ideias iluministas;A cena da morte de Lindia mostra as caractersticas tpicas do movimento rcade:Canto IV(...)Cansada de viver, tinha escolhidoPara morrer a msera Lindia.L reclinada, como que dormia,Na branda relva e nas mimosas flores,Tinha a face na mo, e a mo no troncoDe um fnebre cipreste, que espalhavaMelanclica sombra. Mais de pertoDescobrem que se enrola no seu corpoVerde serpente, e lhe passeia, e cingePescoo e braos, e lhe lambe o seio.Fogem de a ver assim, sobressaltados, E param cheios de temor ao longe;E nem se atrevem a cham-la, e tememQue desperte assustada, e irrite o monstro,E fuja, e apresse no fugir a morte.Porm o destro Caitutu, que tremeDo perigo da irm, sem mais demoraDobrou as pontas do arco, e quis trs vezesSoltar o tiro, e vacilou trs vezesEntre a ira e o temor. Enfim sacodeO arco e faz voar a aguda seta,Que toca o peito de Lindia, e fereA serpente na testa, e a boca e os dentesDeixou cravados no vizinho tronco.Aouta o campo coa ligeira caudaO irado monstro, e em tortuosos girosSe enrosca no cipreste, e verte envoltoEm negro sangue o lvido veneno.Leva nos braos a infeliz LindiaO desgraado irmo, que ao despert-laConhece, com que dor! no frio rostoOs sinais do veneno, e v feridoPelo dente sutil o brando peito.Os olhos, em que Amor reinava, um dia,Cheios de morte; e muda aquela lnguaQue ao surdo vento e aos ecos tantas vezesContou a larga histria de seus males.Nos olhos Catitu no sofre o pranto,E rompe em profundssimos suspiros,Lendo na testa da fronteira grutaDe sua mo j trmula gravadoO alheio crime e a voluntria morte.E por todas as partes repetidoO suspirado nome de Cacambo.Inda conserva o plido semblanteUm no sei qu de magoado e triste,Que os coraes mais duros enterneceTanto era bela no seu rosto a morte!

Quem foi Sep Tiaraju? Importante personagem na histria do pas, o Sep Tiaraju retratado emO Uraguaicomo um guerreiro defensor de seu territrio na tentativa de impedir que os portugueses se apropriassem de suas terras e de seus gados. Morto em batalha, quando lutava contra a deciso que dava as terras aos portugueses, o ndio considerado um heri nacional, sendo nomeado "heri guarani missioneiro rio-grandense", e tambm santo popular por alguma religies brasileiras.

Desenho representando o ndio guerreiro Sep TiarajuRESUMOO Arcadismo: sculo XVIIICONTEXTO HISTRICO- Iluminismo;- Lutas pela independncia do Brasil.CARACTERSTICAS- Modelo greco-romano e renascentista;- Mitologia pag;- Pastoralismo, nativismo, bucolismo;- Expresses em latim.PRINCIPAIS AUTORES- Claudio Manoel da Costa;- Toms Antnio Gonzaga;- Baslio da Gama;- Santa Rita Duro.

RomantismoPrecedentes: Perodo de Transio (1808-1836) Simultaneamente ao final das ltimas produes do movimento rcade, ocorreu avinda da Famlia Real portuguesa para o Brasil. Esse acontecimento, no ano de 1808, significou, o incio do processo de Independncia da Colnia. O perodo compreendido entre 1808 e 1836 considerado de transio na literatura brasileira devido transferncia do poder de Portugal para as terras brasileiras que trouxe consigo, alm da corte e da realeza, as novidades e modelos literrios do Velho Continente nos moldes franceses e ingleses. Houve tambm a mudana de foco artstico e cultural, da Bahia para o Rio de Janeiro, capital da colnia desde o ano de 1763. Segundo o crtico literrio Antnio Cndido, no livroNoes de Anlise Histrico-literria:"No Brasil no havia universidades, nem tipografias, nem peridicos. Alm da primria, a instruo se limitava formao de clrigos e ao nvel que hoje chamamos secundrio, as bibliotecas eram poucas e limitadas aos conventos, o teatro era pauprrimo, e muito fraco o intercmbio entre os ncleos povoados do pas, sendo dificlima a entrada de livros."

O que explica o desenvolvimento literrio incipiente, se comparado com o mesmo perodo na metrpole. Os autores vistos at ento eram produto da educao europeia e/ou religiosa que receberam. Com a vinda da Famlia Real, os livros puderam ser impressos no territrio, em funo daImprensa Rgia, derrubando a medida que proibia sua impresso e difuso sem a autorizao prvia de Portugal, dando incio no apenas ao desenvolvimento da literatura mas, tambm, a um sentimento de nacionalidade no territrio, uma das principais caractersticas do perodo romntico brasileiro.Contexto Histrico na Europa

A Liberdade Guiando o Povo(1830), de Eugne Delacroix O final do sculo XVIII presenciou a ascenso datipografia, inventada pelo alemo Johannes Gutenberg, que possibilitou o desenvolvimento da impresso em grandes quantidades de jornais e romances. No incio, os romances eram publicados diariamente nos jornais de forma fragmentada, assim, a cada dia um novo captulo da histria era revelada. Esse esquema, importado para a colnia, ficou conhecido como "folhetim" ou "romance de folhetim" e deu origem s telenovelas que conhecemos nos dias de hoje. Assim, com aRevoluo da Imprensa, uma das principais caractersticas do perodo Moderno, houve tambm a ascenso dos romances impressos, popularizando o artefato (o livro no era mais considerado um artigo de luxo, inacessvel) e proporcionando um largo alcance da literatura s camadas inferiores da sociedade e tambm s mulheres, que raramente tinham acesso s letras e, quando muito, eram alfabetizadas. Considera-se o marco inicial do romantismo na Europa a publicao do romanceOs sofrimentos do jovem Werther, do escritor alemo Johann Wolfgang von Goethe no ano de 1774. Historicamente, um dos marcos principais do movimento foi a Revoluo Francesa, responsvel pela difuso dos pensamentos Iluministas na Europa e nas suas colnias, que tanto inspirou os poetas rcades brasileiros. Com o processo de industrializao dos grandes centros, houve um delineamento das classes sociais: a burguesia, com riquezas provenientes do comrcio, e os operrios das indstrias. Logo, a literatura do perodo foi produzida pela classe dominante e para a classe dominante, deixando claro qual aideologia defendida por seus autores.Saiba mais:Ideologia:conjunto de ideias ou pensamentos de um indivduo ou grupo e que pode estar ligado a aes polticas, econmicas e sociais.

Contexto Histrico no Brasil

Chegada da Famlia Real Portuguesa a Bahia(1952), de Candido Portinari Considera-se que o perodo romntico no Brasil inicia em 1836, com a publicao da obraSuspiros Poticos e Saudades, do poeta Gonalves de Magalhes e vai at o ano de 1881, com a publicao do romance realistaMemrias Pstumas de Brs Cubasde Machado de Assis. Como dito anteriormente, o desenvolvimento da literatura brasileira propriamente dita aconteceu a partir da vinda da Famlia Real para o Rio de Janeiro que gerou um forte desenvolvimento artstico e cultural na colnia, agora afinado com a produo literria europeia. Porm, a insatisfao das classes dominantes com o Imprio fez com que surgissem tentativas de independncia da metrpole, produzindo um sentimento de nacionalismo que culminaria com a Declarao da Independncia, em 1822, por Dom Pedro I. Outro aspecto importante com relao escravido dos negros: o Brasil era uma das poucas colnias americanas que ainda sustentava o sistema econmico baseado do trabalho escravo, o que gerou opinies controversas por parte dos autores daquela poca. Temos expresses literrias abolicionistas (p. ex.: o poeta Gonalves de Magalhes) e outras que tratavam do tema superficialmente (p. ex.: o romancista Bernardo Guimares) ou sequer tocavam na questo. A independncia das colnias latino-americanas impulsionou um sentimento de nacionalidade diretamente refletida pela literatura. A formao dessas literaturas esteve a cargo de autores que projetavam os ideais de uma nao em crescimento e desenvolvimento e que at hoje so considerados constitutivos da histria da nao. No entanto, essa literatura fundacional e cannica da Amrica Latina revista por muitos professores, crticos literrios e historiadores pois apresentam apenas uma viso referente formao das naes latino-americanas. Como assinala o professor e crtico literrio Eduardo F. Coutinho:"Na Amrica Latina, durante o sculo XIX, o sujeito enunciador do discurso fundador do estado-nao tomou como base um projeto patriarcal e elitista, que excluiu no s a mulher, mas ndios, negros, analfabetos e, em muitos casos, aqueles que no possuam nenhum tipo de propriedade. A preocupao dominante era marcar a diferena da nova nao com relao matriz colonizadora, mas o modelo era bvia e paradoxalmente a metrpole; da a necessidade de forjar-se uma homogeneidade que exclusse todas as diferenas."

O que causa uma sensao de estranhamento o paradoxo observado no perodo: ao mesmo tempo em que ideias sobre o sentimento de nacionalidade aflorava nos coraes dos brasileiros (e demais latino-americanos), parte da populao permanecia na misria e/ou em situaes de escravido, sem acesso emancipao e aos direitos humanos bsicos.Referncias:CNDIDO, Antnio. Noes de Anlise Histrico-literria. So Paulo: Associao Editorial Humanitas, 2005.COUTINHO, Eduardo F. Mutaes do comparatismo no universo latino-americano: a questo da historiografia literria. In: SCHMIDT, Rita T. Sob o signo do presente: intervenes comparatistas. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2010.

Principais Caractersticas do Perodo Romntico

A carroa de feno(1821), de John Constable"Em cada pas o romantismo produziu uma nova literatura exuberante com imensas variaes entre seus autores porm, em todos eles, persistem algumas caractersticas em comum: opulncia e liberdade, devoo ao individualismo, confiana na bondade da natureza e no homem "natural" e na f permanente nas fontes ilimitadas do esprito e da imaginao humanos."- Bradley, Beatty e Long O romantismo floresceu naAlemanha(Goethe e Schlegel), naFrana(Madame de Stel e Chateaubriand) e naInglaterra(Coleridge e Wordsworth), como resposta aos modelos pretendidos pelos Iluministas, que privilegiavam o racional e o objetivo, em detrimento do emocional e da subjetividade. Houve, no perodo, o desenvolvimento da chamadapoesia ultra-romntica, dosromances(novels) e dosromances histricos(romances).Tanto a prosa quanto a poesia foram amplamente difundidos no perodo. Porm, com a asceno da imprensa e da burguesia comercial, os romances e os peridicos foram ganhando cada vez mais espao e se popularizaram a ponto de atingir um novo pblico leitor que at ento no tinha acesso literatura. H uma diferena significativa com relao aos padres poticos vistos at ento no Arcadismo, que se assemelhavam estrutura camoniana e eram inspirados nas obras greco-romanas. O verso clssico deu espao aoverso livre, aquele sem mtrica e sem entonao, e aoverso branco, sem rima, que possibilitou uma maior liberdade de criao do poeta romntico, agora livre para expressar sua individualidade. Os temas principais da poesia romntica giram em torno do sentimento denacionalidadesurgido a partir novo do contexto histrico e cultural. A nova ptria, com a declarao da independncia, manifestava-se atravs da exaltao da natureza do pas, no retorno ao passado histrico e na criao dos heris nacionais. A hipervalorizao dossentimentose dasemoespessoais (angstias, tristezas, paixes, felicidades etc.) tambm caracterstica do movimento, que pressupunha uma olhada para o interior do artista e de suas emoes, em detrimento do racional e do objetivo iluminista. Esse sentimentalismo exagerado est refletido nos enredos que, em sua maioria, consistem em histrias deamorou, quando este no o mote principal, em histrias em que o amor e a paixo prevalecem. A individualidade como refgio proporciona tambm aevasopara mundos distantes como forma de escapar a sua realidade. Essa caracterstica est associada, principalmente, aos autores da chamada Gerao Mal-do-Sculo- autores acometidos pela tuberculose (a doena considerada o mal do sculo XIX) - que almejavam uma vida de prazeres em pases e territrios distantes para escapar dor e morte. O culto naturezaganha traos diferenciados no romantismo pois, a partir de agora, passa a funcionar no apenas como pano de fundo para as histrias mas tambm, passa a exercer profundo fascnio pelos artistas. Alm disso, a natureza passa a entrar em contato com oeuromntico, refletindo seus estados de esprito e sentimentos. Nos romancesgticos, surgidos no final do sculo XVII e desenvolvidos durante o sculo XIX, a natureza tem um papel muitas vezes hostil e ameaador na trama, responsvel por momentos de tenso. Com o passar do tempo, essa natureza transformou-se em umclichpara histrias de terror na forma de cenrios assustadores: noite, nvoa, pntanos, neve, rvores retorcidas etc.Conceitos importantesa) SubjetivismoeIndividualismo- glorificao do que particular e ntimo, dos sentimentos. Segundo o professor Sergius Gonzaga, em seu livro Manual de Literatura Brasileira (Mercado Aberto, 1989):Com frequncia, o destino da grandeza individual a "maldio", ou seja, distanciamento pessoal da vida em sociedade, atravs da solido voluntria, da orgia, da ofensa aos valores comuns, da recusa em aceitar os princpios da comunidade. Isto ocorre em um segundo momento, quando os artistas se do conta da impossibilidade de uma nova experincia napolenica e da mediocridade da burguesia ps-revolucionria, voltada apenas para a acumulao de capital.b) Patriarcalismo- o sculo XIX tambm conhecido por refletir em sua literatura cannica uma sociedade conservadora e patriarcalista. Neste modelo, a famlia (homem, mulher e filhos) o ncleo da sociedade burguesa, cujo poder est centrado na figura do pai. Os enredo giram basicamente em torno dela, de suas relaes, seus costumes e seus desejos. Embora no Brasil o modelo de sociedade patriarcal sempre esteve presente desde o incio da colonizao, no Romantismo que uma explicitao desse modelo, pois ele fazia parte do projeto nacional presente no sculo XIX, isto , aparecia na literatura como reflexo da ideologia dominante e para estabelecer os costumes esperados na sociedade e destinados principalmente s mulheres Com o advento do Realismo (movimento literrio seguinte) muitos autores dedicam-se a criticar este modelo e a retratar (da forma mais realista possvel) as mazelas que se encontravam por trs da famlia burguesa, como a submisso das mulheres, a violncia praticada contra esposas e filhas e a prpria condio dessas personagens, moedas de troca a fim de garantir a situao financeira das famlias.c) Eurocentrismo- com a expanso mercantilista, a Europa se transformou na grande potncia mundial expandindo seus mercados para alm do continente, espalhando sua viso de mundo e acreditando na soberania dos pases e no modo de pensar europeu. As consequncias causadas pelo choque cultural dos europeus com outras sociedades (principalmente africanas, asiticas e americanas) criou uma srie de esteretipos a respeito desses povos "brbaros" e a ideia de que o pensamento europeu seria civilizatrio moldou as colnias e que foi refletida atravs da histria principalmente na literatura do sculo XIX.f) Nacionalismo- com o desenvolvimento de uma burguesia mercantil, os reinos europeus foram se dissolvendo e desenvolvendo, inicialmente, uma ideia de organizao poltica e cultural autnoma. Nas colnias, o sentimento de nacionalidade surgiu como reao poltica mercantil restritiva das metrpoles e do desejo de liberdade econmica e poltica. No Brasil, os escritores produziram obras importantes motivadas pelo ideal nacionalista no sentido de delinear uma literatura que fosse considerada brasileira e no mais submissa colnia.Primeira metade do sculo XIX As primeiras manifestaes do perodo romntico acontece