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MINISTÉRIO DA DEFESA EXÉRCITO BRASILEIRO
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
SEÇÃO DE ENSINO DE ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
Asp Of R/2 ROBSOM ALVARENGA LIMA
TEORIA DAS CATÁSTROFES APLICADA À ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
Rio de Janeiro
2007
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Asp Of R/2 ROBSOM ALVARENGA LIMA
TEORIA DAS CATÁSTROFES
APLICADA À ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
PROJETO DE FIM DE CURSO Orientador: Prof Douglas Corbari Corrêa – Cap QEM
Rio de Janeiro 2007
2
C2007
INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Praça General Tibúrcio, 80 – Praia Vermelha
Rio de Janeiro - RJ CEP: 22290-270
Este exemplar é de propriedade do Instituto Militar de Engenharia, que poderá incluí-lo em base de
dados, armazenar em computador, microfilmar ou adotar qualquer forma de arquivamento.
É permitida a menção, reprodução parcial ou integral, a transmissão entre bibliotecas deste
trabalho, sem modificação de seu texto, em qualquer meio que esteja ou venha a ser fixado, para
pesquisa acadêmica, comentários e citações, desde que sem finalidade comercial e que seja feita a
referência bibliográfica completa.
Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e do orientador.
3
S767 Lima, Robsom Alvarenga TEORIA DAS CATÁSTROFES APLICADA À ENGENHARIA CARTOGRÁFICA / Robsom Alvarenga Lima - Rio de Janeiro: Instituto Militar de Engenharia, 2007.
40 f. : il., graf., tab. : - cm. Projeto de Fim de Curso - Instituto Militar de Engenharia, 2007. 1. Generalização. 2. Catástrofe. 3. Engenharia Cartográfica.
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INSTITUTO MILITAR DE ENGENHARIA
Asp Of R/2 ROBSOM ALVARENGA LIMA
TEORIA DAS CATÁSTROFES
APLICADA À ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
Projeto apresentado ao curso de Engenharia Cartográfica do Instituto Militar de Engenharia,
como requisito para a obtenção do grau na disciplina Projeto de Fim de Curso.
Orientador: Prof Douglas Corbari Corrêa.
Aprovado em 13 de agosto de 2007 pela seguinte banca examinadora:
Cap QEM Douglas Corbari Corrêa – M.C. do IME – Presidente
Cap QEM Ermírio de Siqueira Coutinho – M.C. do IME
Cap QEM Marcos de Meneses Rocha – M.C. do IME
Rio de Janeiro
5
RESUMO
Este trabalho tem o objetivo de encontrar uma aplicação da Teoria das Catástrofes no
entendimento de fenômenos e na solução de problemas ligados à Engenharia Cartográfica, seja
qualitativa ou quantitativa, através do estudo, da análise e da seleção das atuais aplicações desta
teoria nas áreas mais diversas.
Um dos desafios foi a pesquisa bibliográfica, dado o fato desta teoria não ser muito difundida
no Brasil e de ser uma teoria criada na década de 50. As bibliografias utilizadas foram, em sua
grande maioria, encontradas no Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), mas todas do
século passado.
A aplicação encontrada é relativa à área da Geodésia e consiste essencialmente no fato da
fórmula do potencial ser, em uma aproximação até a quinta ordem, a mesma equação de uma
cúspide. Deste modo, foi possível modelar o formato da Terra por uma das catástrofes
fundamentais.
6
ABSTRACT
This paper aims to find an application of Catastrophe Theory to the understanding of
phenomena and to the solution of problems linked to Cartographic Engineering, both qualitatively
and quantitatively, through the analysis of current applications of this theory in diversified areas.
One of the challenges was the bibliographical research, since this theory was presented in the
50’s and, in Brazil, information and data about it is still very scarce. The majority of the literature
used was found at the Institute of Pure and Applied Mathematics (IMPA). All of the material used
was published in the 20th century.
The application found is relative to Geodesy and it essentially consists in the Earth potential
being an approximation of the cusp formula until the fifth order. This made it possible to model the
Earth’s shape using one of the fundamental catastrophes.
7
SUMÁRIO
LISTA DE ILUSTRAÇÕES............................................................................. 08
LISTA DE TABELAS....................................................................................... 09
1 INTRODUÇÃO................................................................................................. 10
1.1 Contextualização................................................................................................. 10
1.2 Objetivo............................................................................................................... 10
1.3 Motivação........................................................................................................... 11
1.4 Estruturação do Trabalho.................................................................................... 11
2 A TEORIA DAS CATÁSTROFES.................................................................. 12
2.1 As sete catástrofes elementares de Thom............................................................ 12
2.2 Axiomas de Thom e definição de Catástrofe...................................................... 14
2.1 A catástrofe Cúspide........................................................................................... 17
3 ÁREAS DA ENGENHARIA CATOGRÁFICA............................................. 20
3.1 Cartografia........................................................................................................... 20
3.2 Imageamento....................................................................................................... 22
3.3 Posicionamento.................................................................................................... 23
4 A GEODÉSIA.................................................................................................... 25
4.1 A Terra................................................................................................................. 25
5 A FORMA DA ROTAÇÃO DE CORPOS...................................................... 29
6 CONCLUSÃO.................................................................................................... 35
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS........................................... 36
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS............................................................ 37
APÊNDICE1...................................................................................................... 40
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIG.2.1 Catástrofe Dobra (www.lama.univ-savoie.fr)................................................. 13
FIG.2.2 Catástrofe Cúspide (www.lama.univ-savoie.fr).............................................. 13
FIG.2.3 Catástrofe Rabo de Andorinha (www.ams.org).............................................. 13
FIG.2.4 Catástrofe Borboleta (www.paperfolding.com/chengchit/3d.php)................. 14
FIG.2.5 Cúspide seccionada por um Plano (APÊNDICE 1)........................................ 18
FIG.2.6 Cúspide mapeada............................................................................................. 19
FIG.5.1 Corpo com formato esférico............................................................................ 29
FIG.5.2 Elipsóide de revolução.................................................................................... 29
9
LISTA DE TABELAS
TAB.2.1 Equação do Potencial das Catástrofes Elementares de Thom……................. 16
10
1 – INTRODUÇÃO
1.1 – Contextualização
A Teoria das Catástrofes foi criada no século passado pelo matemático francês René Thom e
possui aplicações em muitas áreas, como na engenharia civil, engenharia química, engenharia de
materiais, engenharia de telecomunicações, medicina, biologia, logística, ótica, etc.
Esta teoria não é uma simples idéia sem vínculos. Ela é uma rede com inúmeras
interconectividades incluindo intuições físicas e experimentais, geometria, álgebra, cálculo,
topologia, teoria da singularidade e muitas outras. Esta rede internamente conectada é englobada
por uma rede ainda maior: a Teoria dos Sistemas Dinâmicos.
Devido ao fato desta teoria ser utilizada em várias áreas e aliada ao intuito de se obter novas
ferramentas aplicáveis à engenharia cartográfica, iniciou-se uma busca por novas aplicações ou
aplicações relacionadas a tal engenharia.
Toda a teoria é baseada no trabalho matemático de Thom, cujo famoso livro, Estabilidade
estrutural e morfogênese, foi publicado em francês em 1972 e em inglês em 1975. O título desta
obra trata de um dos principais conceitos da Teoria das Catástrofes e da Teoria dos Sistemas
Dinâmicos. Thom nasceu em Montbéliard, trabalhou em diversas universidades e seu maior
interesse era na área da Topologia Diferencial. Além de tudo, ficou mundialmente conhecido
quando ganhou a Medalha Fields em 1958.
1.2 - Objetivo
Selecionar e analisar modelos da Teoria das Catástrofes na tentativa de aplicá-los no
entendimento de fenômenos e na solução de problemas ligados à Engenharia Cartográfica.
11
1.3 - Motivação
O principal fator que impulsionou este trabalho foi a tentativa de se obter novas ferramentas
aplicáveis à Engenharia Cartográfica.
1.4 – Estruturação do Trabalho
No capítulo 1 foi dada uma introdução à Teoria das Catástrofes. Em seguida, o capítulo 2
tratará do estudo da Teoria das Catástrofes, definições e exemplos. Já no capítulo 3 serão
apresentadas três grandes áreas da Engenharia Cartográfica: cartografia, imageamento e
posicionamento. No capítulo 4, serão descritas a história da Geodésia e a idéia da aplicação da
Teoria das Catástrofes nesta área. O capítulo 5 conterá uma aplicação da Teoria das Catástrofes na
engenharia cartográfica, mais precisamente na área da Geodésia, que é uma ciência essencial para o
posicionamento. Nos capítulos 6 e 7 serão encontradas considerações finais e possíveis aplicações
da teoria base do trabalho na Engenharia Cartográfica. Após a relação das referências bibliográficas
utilizadas será exposto um apêndice que auxiliará o entendimento de uma parte do trabalho.
12
2 – A TEORIA DAS CATÁSTROFES
A Teoria das Catástrofes está ligada às relações entre continuidade e descontinuidade das
formas e, de acordo com ARNOLD (1989), é um método para estudo de todas as transições por
saltos, descontinuidades e súbitas mudanças qualitativas.
A Teoria das Catástrofes descreve as descontinuidades que podem se apresentar na
evolução de um sistema, admitindo-se que a evolução global de um sistema se apresenta como uma
sucessão de evoluções contínuas, separadas por saltos bruscos (THOM, 1995).
Uma catástrofe pode ser entendida como um efeito inesperado causado por uma pequena
variação de um parâmetro. Estes efeitos são frequentemente chamados de catástrofes devido à
quebra da continuidade.
Em uma de suas teorias relacionadas às catástrofes, Thom afirma que existem apenas sete
diferentes catástrofes para funções com no máximo duas variáveis e cuja codimensão (diferença
entre a dimensão do espaço e a dimensão do objeto ou o número de parâmetros que variam para se
produzir a bifurcação em questão) é de no máximo quatro.
É relevante colocar que somente as duas primeiras catástrofes, a dobra e a cúspide,
possuem total tratamento geométrico, pois nos outros casos têm-se quatro ou mais dimensões, o que
dificultam a visualização.
2.1 – As sete catástrofes elementares de Thom
a) Dobra;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x + ax3 ” e é aplicável na separação da
luz nas cores do arco-íris (ZEEMAN, 1977) (FIG. 2.1).
13
FIG.2.1 – Catástrofe Dobra (LAMA, 2007)
b) Cúspide;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x + ax + bx4 2 ” e é aplicável em
mudanças urbanas, influências de uma ação militar e nos efeitos do álcool na direção (ZEEMAN,
1977), (WILSON, 1981) (FIG. 2.2).
FIG.2.2 – Catástrofe Cúspide (LAMA, 2007)
c) Rabo de Andorinha;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x + ax + bx + cx5 3 2 ” e é aplicável no
procedimento de grupos com e sem líderes (ZEEMAN, 1977) (FIG. 2.3).
FIG.2.3 – Catástrofe Rabo de Andorinha (AMS, 2007)
14
d) Borboleta;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x + ax + bx + cx + dx6 4 3 2 ” e é
aplicável na restauração de cidades medievais na Europa, em anorexias nervosas e opiniões
emergenciais em compromissos (ZEEMAN, 1977), (LU, 1976), (WILSON, 1981) (FIG. 2.4).
FIG.2.4 – Catástrofe Borboleta (CHIT, 2001)
e) Umbílica Elíptica;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x y - 3xy + a(x + y ) - bx - cy3 2 2 2 ” e é
aplicável em cáusticas, ou seja, movimentos com a luz, reflexões, refrações (ZEEMAN, 1977).
f) Umbílica Hiperbólica;
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x + y + axy - bx - cy3 3 ” e é aplicável
em cáusticas (ZEEMAN, 1977).
g) Umbílica Parabólica.
Esta catástrofe é dada pela equação potencial “f(x) = x y + y + ax + by - cx + dy2 4 2 2 ” e é
aplicável em cáusticas (ZEEMAN, 1977).
2.2 – Axiomas de Thom e definição de Catástrofe
As considerações abaixo são tomadas como as principais proposições de Thom, podendo
considerá-las como axiomas e teoremas.
1. Qualquer processo é governado pelas seguintes dinâmicas:
o Os processos são dirigidos pelo gradiente de uma função de energia com o intuito de
encontrar a energia mínima.
15
o Além das variáveis internas, a função pode também depender de um ou diversos
parâmetros externos.
o O princípio básico de Thom trata da estabilidade estrutural dos modelos e seu
primeiro argumento tem um forte apelo intuitivo: muitas das características que se tenta
modelar dos sistemas do mundo “real” são ligados à estabilidade.
o Na maioria esmagadora das configurações internas o gradiente é não nulo e o
processo é dirigido para uma configuração de mínimo local, assim se caracteriza uma bacia
de atração.
o A dinâmica interna é rápida. Desta forma, quando observado, o processo estará
quase sempre no estado constante, em uma configuração de energia local mínima.
o Os únicos locais de mínimo são aqueles estáveis, ou seja, uma pequena perturbação
nas variáveis internas ou nos parâmetros conduz somente a uma pequena ou nula
perturbação no estado da energia. Em geral, diz-se que uma situação é estável se não há
alteração de sua propriedade dada uma pequena alteração da situação.
o Definição de estabilidade estrutural:
Uma função suave f :Rn R é dita estruturalmente estável num ponto crítico Xo se,
para qualquer função suave g pequena tem-se f~f+g. Na prática é mais fácil provar
que f é instável encontrando uma função g ou família de função que mostre esta
instabilidade.
Exemplo: A função “f(x) = x3/3” é instável no ponto crítico “Xo = 0”, pois tomando
a função “g(x) = sx” tem-se: “F(x) = f(x) + g(x) = x3/3 - s2x” que possui “x = s” e “x
= –s” como pontos críticos, sendo “s” positivo. Além disso, a concavidade será “2x”,
ou seja, positiva no ponto crítico “s” e negativa para “-s”. Quando “s” tende a zero
tem-se uma instabilidade, pois não se pode considerar a concavidade negativa e
positiva ao mesmo tempo.
2. Dada uma variação qualquer, não nula, nos parâmetros de uma função, o que era uma
vez um mínimo local pode se encontrar em uma bacia de atração de um outro mínimo. O processo
então comutará, de repente, do mínimo local velho para o mínimo local novo. Isto é uma catástrofe.
3. Os possíveis estados de equilíbrio do sistema, já vistos, são obtidos pela minimização
de uma função “f”, e estes formam uma superfície frequentemente chamada de “manifold” em um
16
“n+k”-espaço dimensional, onde “n” é a dimensão do espaço padrão (número de variáveis “x”) e
“k” é a dimensão do espaço de controle (número de parâmetros).
Thom mostrou que a forma do “manifold” depende do número de variáveis de
controle “k”, mais conhecido como codimensão da família de função formada por estas variáveis, e
de um conjunto de singularidades (singularidade é geralmente um ponto no qual um dado objeto
matemático não é definido, ou um ponto de um conjunto excepcional onde ele não é bem
comportado de alguma maneira particular) associadas com o potencial da função “f”.
Nas catástrofes elementares de Thom, a codimensão não pode ser maior que 4 e o
número de variáveis não pode ser maior que 2.
4. O conjunto de pontos contido no espaço dos parâmetros no qual as catástrofes
ocorrem é chamado de “lócus” da catástrofe. Para se perceber uma catástrofe em um espaço de 4
dimensões, tem-se que considerar uma folha 4-dimensional que atravessa o espaço dos parâmetros
cruzando o “lócus” da catástrofe transversalmente. Com isso, um deslocamento infinitesimal não
faz a catástrofe desaparecer.
5. Existem somente 7 catástrofes elementares que admitem no máximo 4 parâmetros e
duas variáveis. O potencial destas catástrofes é algebricamente representado por polinômios dados
pelas variáveis internas x, y e o número dos parâmetros a, b, c ou d (TAB. 2.1).
TAB.2.1 – Equação do Potencial das Catástrofes Elementares de Thom
O mínimo simples x2
A dobra x + ax 3
A cúspide x + ax + bx 4 2
O rabo de andorinha x + ax + bx + cx 5 3 2
A borboleta x + ax + bx + cx + dx6 4 3 2
A umbílica parabólica x y + y + ax + by - cx + dy2 4 2 2
A umbílica elíptica x y - 3xy + a(x + y ) - bx - cy
3 2 2 2
A umbílica hiperbólica x + y + axy - bx - cy3 3
17
6. Será feita agora uma apresentação, de caráter ilustrativo, de um dos principais
teoremas de Thom que define as dobras e cúspides:
“Tome C como um espaço de controle (ou parâmetros) 2-dimensional, X como um
espaço de comportamento (ou estado) 1-dimensional e f como uma função suave
genérica em X parametrizada por C. Considere M sendo o conjunto de valores de f
(dados por ∂f/∂x=0, onde x é uma coordenada de X). Sendo assim, M é uma
superfície suave em C x X, e as únicas singularidades da projeção de M em C são
catástrofes dobras e cúspides.” (LU, 1976)
2.3 – A Catástrofe Cúspide
Com a Teoria das Catástrofes, encontrou-se uma visualização das mudanças bruscas e
aparentemente imprevisíveis. Para isso, troca-se a análise quantitativa pela qualitativa e troca-se a
geometria euclidiana pela topologia (ramo recente da geometria que se preocupa com o aspecto
qualitativo do objeto e assim independe de número ou escala). A catástrofe é uma transição
descontínua, um salto de um estado ou curso para outro, que pode ser previsível. Por exemplo, não
há equação que descreva o movimento de queda de uma folha de papel. Cada folha cairá
descrevendo uma trajetória específica, que depende das condições do ar, da altura, forma, etc. Mas
todos podem imaginar a queda de uma folha de papel e desta forma ter uma análise qualitativa e não
quantitativa.
Das sete catástrofes de Thom, a catátrofe do tipo cúspide (FIG.2.5) é, segundo GUILLEN
(1998), aquela cujo esquema matemático de mudança manifesta-se com maior frequência no
mundo, pois, diferentemente da irreversibilidade característica da catástrofe dobra, a cúspide
caracteriza-se pela recuperação ou reversibilidade da mudança.
Como exemplos de catástrofes cúspides, têm-se as mudanças entre a guerra e a paz, as
altas e baixas imprevisíveis do mercado de valores. Por mais que estes exemplos não tenham uma
relação trivial, eles podem ser todos descritos com as mesmas fórmulas matemáticas e em termos do
mesmo panorama catastrófico, isto é, a catástrofe cúspide (GUILLEN, 1998).
18
FIG.2.5 – Cúspide seccionada por um Plano (APÊNDICE 1)
A FIG.2.5 mostra a cúspide como uma superfície curva seccionada por um plano. Esta foi
implementada no MATLAB, cuja implementação encontra-se no Apêndice 1.
19
FIG.2.6 – Cúspide mapeada
Ao se projetar a superfície cúspide no plano XY (FIG.2.6), considera-se o vértice da curva
escura (a) como uma cúspide, além disso, esta curva projetada divide o plano em duas regiões A e
B, exterior e interior à curva respectivamente. Os pontos em B possuem três imagens inversas, ou
seja, três pontos da superfície curva são projetados no mesmo ponto do plano inferior enquanto os
pontos em A possuem somente uma imagem inversa. Ao se fazer um movimento de B para A, duas
das imagens inversas na superfície curva se fundem. Desta forma, todos os pontos situados na
parábola semicúbica possuirão somente duas imagens inversas. Continuando o movimento ocorrerá
mais uma fusão de pontos e assim termina-se o movimento em A. Observa-se também que no ponto
cúspide os três pontos se fundem simultaneamente.
A exposição em especial desta catástrofe se dá pela possibilidade de aplicá-la na
Engenharia Cartográfica, em específico na Geodésia. Pode-se, de forma resumida, simplificar este
trabalho no equacionamento da forma da Terra através de uma cúspide.
No capítulo seguinte serão introduzidos conceitos sobre a Engenharia Cartográfica com o
intuito de mostrar possíveis aplicações das catástrofes nesta engenharia e assim no capítulo 4 e 5
aprofundar em um foco específico.
20
3 – ÁREAS DA ENGENHARIA CARTOGRÁFICA
A Engenharia Cartográfica é, dentre as Engenharias, a que se ocupa da construção de
representações da realidade terrestre. Para isso, adota uma posição integrada de mensuração,
análise, gerenciamento, armazenamento e visualização de dados descritivos e posicionais de feições
e fenômenos da superfície terrestre.
Segundo CORRÊA (2005), a Engenharia Cartográfica é uma especialidade inserida nas
Geociências, que abrange as fases que passam desde o levantamento de dados em campo até o
processamento em gabinete, o armazenamento, a visualização e a análise da informação geográfica.
Três grandes áreas compõem a Engenharia Cartográfica: a Cartografia, o Imageamento e o
Posicionamento. Estas áreas são abrangentes e se permeiam, não sendo necessariamente trabalhadas
isoladamente. Os Sistemas de Informações Geográficas, por exemplo, podem utilizar as
potencialidades das três áreas, sendo uma importante ferramenta para apoiar a tomada de decisões
(CORRÊA, 2005).
No decorrer deste capítulo serão apresentados alguns conceitos relacionados a cada uma
das áreas da Engenharia Cartográfica. A partir destes conceitos pode-se ter uma melhor visão da
Engenharia Cartografia e uma idéia das possíveis aplicações da Teoria das Catástrofes em cada uma
das áreas desta engenharia e assim, selecionar a aplicação que será esmiuçada mais a frente.
3.1 - Cartografia
O vocábulo Cartografia foi criado em 1839, pelo historiador português Visconde de
Santarém, em carta escrita em Paris e dirigida ao historiador brasileiro Adolfo Varnhagen. Antes de
o termo ser divulgado e consequentemente consagrado na literatura mundial, usava-se
tradicionalmente o vocábulo Cosmografia. (OLIVEIRA, 1993).
Como diz um ditado popular, para toda questão complexa existe uma solução simples e
errada. Uma destas questões é a definição de Cartografia, que segundo MENEZES (2000),
dependendo do contexto que estiver sendo abordado e do grau de profundidade desejado, pode ser
21
uma tarefa bastante simples ou complexa. Uma das definições mais atualizadas é a da Associação
Cartográfica Internacional (ICA), de 1991: “ciência que trata da organização, apresentação,
comunicação e utilização da geoinformação, sob uma forma que pode ser visual, numérica ou tátil,
incluindo todos os processos de elaboração, após a preparação dos dados, bem como o estudo e
utilização dos mapas ou meios de representação em todas as suas formas”.
“Todo mapa é um modelo que representa algum recorte espacial e temporal do ambiente.
Neste sentido, no seu processo de construção sempre haverá, em maior ou menor grau, uma etapa
de abstração da realidade por meio de eliminação e simplificação dos objetos e variáveis a serem
mapeados. Outro aspecto a ser considerado refere-se à escala, enquanto relação numérica entre as
dimensões reais dos objetos e suas dimensões no mapa a ser produzido. Assim, associando-se estas
duas características, pode-se inferir que os elementos deverão ser mais simplificados ou mais
generalizados em proporção inversa à escala de trabalho. Por outro lado, quanto maior a escala,
mais informação ou mais detalhes poderão ser mapeados, ainda que de uma região com menores
dimensões” (CORRÊA, 2005). Esta mudança na quantidade de detalhes, dada uma variação na
escala, pode ser definida qualitativamente por uma catástrofe, sendo este um possível projeto futuro
na aplicação da teoria das catástrofes à engenharia cartográfica.
De acordo com MENEZES & NETTO (1999), “talvez o maior problema, para a
representação da informação geográfica cartograficamente, seja a consideração da escala que
permitirá a sua visualização com um mínimo de perda, ou com perdas não significativas de
informação, causadas pela generalização, que será, em qualquer situação, aplicada à informação”.
Cabe aqui apresentar algumas definições de escala presentes na literatura:
- Escala Cartográfica ou Topográfica – Razão de semelhança entre comprimentos no mapa
e seu correspondente no mundo real. Transformação geométrica mais importante a que a
informação é submetida (MENEZES & NETTO, 1999).
- Resolução – Menor objeto ou feição que pode ser distinta em um conjunto de dados
(GOODCHILD, 1991 apud MENEZES & NETTO, 1999). Essa conotação de menor ou limite, que
associado ao erro gráfico (no Brasil, 0,2 mm de diâmetro), estabelece a aproximação com a escala
de um mapa ou carta (MENEZES & NETTO, 1999).
22
- Escala Geográfica – Amplitude da área geográfica estudada. Quanto maior a extensão da
área, maior será a escala geográfica associada. Quanto maior a escala geográfica, menor será a
escala cartográfica aplicada (MENEZES & NETTO, 1999).
- Escala Operacional – Relaciona-se diretamente com a escala geográfica de atuação ou de
operação de um determinado fenômeno (MENEZES & NETTO, 1999).
- Escala Nominal – Aspecto qualitativo, diferenciação de classes (BERTIN, 1983).
- Escala Ordinal – Aspecto quantitativo; diferenciação de classes e ordem; maior ou
menor; muito ou pouco; alto, normal ou baixo; grande, médio ou pequeno, hierarquizando
quantitativamente, porém sem valorar (BERTIN, 1983).
- Escala Intervalo / Razão – Aspecto quantitativo. Especifica uma variação (em valores
entre as categorias) (BERTIN, 1983).
Seguindo-se a abordagem adotada para o Mapeamento Sistemático Nacional, onde o mapa
é a representação de um todo, a carta seria um recorte do todo em uma determinada escala. Como
seria impossível representar todas as informações do todo, seja qualquer a escala, sem levar a uma
situação de limite, a carta teria de ser dividida em várias folhas, que tradicionalmente são
apresentadas em papéis ou em formatos digitais (CORRÊA, 2005).
3.2 - Imageamento
O Imageamento envolve a aquisição e tratamento de imagens, que podem ser analógicas ou
digitais. Ao se considerar esta visão, pode-se assumir que, dentro do Imageamento, destacam-se
dois importantes conceitos, quais sejam: o Sensoriamento Remoto e a Fotogrametria.
A Fotogrametria é freqüentemente inserida no campo do Sensoriamento Remoto por
diversos autores, como: JOLY (1990), LILLESAND & KIEFER (2000) e NOVO (1992). Porém, é
comum o uso da expressão Sensoriamento Remoto, entre os seus usuários, para se referir às
imagens de satélite, tão somente.
23
O Sensoriamento Remoto é a ciência ou arte de obter informação sobre um objeto, área ou
fenômeno, através da análise de dados adquiridos por um sensor que não está em contato com o
objeto, área ou fenômeno sob investigação (LILLESAND & KIEFER, 2000). Os sensores são
equipamentos capazes de coletar energia proveniente do objeto, convertê-la em sinal passível de ser
registrado e apresentá-lo em forma adequada à extração de informações (NOVO, 1992).
LILLESAND & KIEFER (2000) dizem ainda que Fotogrametria é a ciência e tecnologia
de obter medidas e outros produtos geometricamente confiáveis derivados de fotografias.
“Em Sensoriamento Remoto, o termo fotografia é reservado exclusivamente para imagens
que foram detectadas e armazenadas em filme. O termo mais genérico Imagem é usado para
qualquer representação pictórica dos dados-imagem” (LILLESAND & KIEFER, 2000). Desta
maneira, toda fotografia é uma imagem, porém nem toda imagem é uma fotografia. Outro fator a se
considerar é que, cada vez mais, a Fotogrametria vem assumindo a influência digital, deste a
aquisição das fotografias até a montagem dos modelos esterioscópicos, das medições propriamente
ditas e da restituição.
Segundo ROGAN & CHEN (2004), a tecnologia de Sensoriamento Remoto tem sido
direcionada por três fatores interrelacionados: a) avanços na qualidade de dados e tecnologia do
sensor; b) melhoria e padronização de métodos de Sensoriamento Remoto; e c) pesquisas aplicadas
(a menos desenvolvida das três). Uma das mais importantes características do Sensoriamento
Remoto, que o diferencia de outras abordagens de aquisição de dados, é que ele provê informação
detalhada e quantitativa da superfície terrestre em amplas coberturas espaciais e freqüentes
intervalos temporais (PRENZEL, 2004). Esta capacidade faz o Sensoriamento Remoto bem
adequado a muitas disciplinas, incluindo o planejamento do uso do solo e é possível que na
diferenciação de solos ou de vegetações que se aplique a teoria da catástrofe.
3.3 - Posicionamento
Posicionamento é a área da Engenharia Cartográfica que abrange técnicas, tecnologias e
ciências aplicadas ao levantamento de pontos em relação à superfície terrestre, considerando ou não
sua curvatura. O tipo de levantamento e os processos que serão utilizados dependem do objetivo
final ou da aplicação do projeto (CORRÊA, 2005).
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Um dos conceitos que se tornam imprescindíveis entender dentro do ramo do
Posicionamento é a Geodésia: “ciência que tem por objeto a determinação da forma e das
dimensões da Terra” (DUPUY & DUFOUR, 1969 apud JOLY, 1990). Segundo ROBINSON et alii
(1995), a Geodésia é, das ciências cartográficas, a mais exigente tecnicamente.
Ao se falar em Posicionamento, tem-se que abordar os métodos que utilizam satélites,
sendo o GPS (Global Positioning System, ou Sistema de Posicionamento Global) o mais conhecido
atualmente. O GPS, ou NAVSTAR-GPS (NAVigation Satellite with Time And Ranging), é um
sistema de radionavegação desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos da
América – DoD (Department of Defense), com o intuito de ser o principal sistema de navegação das
forças armadas americanas. De acordo com MONICO (2000), “em razão da alta acurácia
proporcionada pelo sistema e do grande desenvolvimento da tecnologia envolvida nos receptores
GPS, uma grande comunidade usuária emergiu dos mais variados segmentos da comunidade civil
(navegação, posicionamento geodésico, agricultura, controle de frotas, etc.)”.
25
4 – A GEODÉSIA
Para se obter a posição de um corpo na Terra, tem-se que ter uma referência, caso
contrário, não será possível obter uma medida. Esta referência pode ser um ponto definido a partir
da forma da Terra como o centro de um elipsóide de revolução, o centro de gravidade de um
elipsóide escaleno ou até o centro de uma esfera.
A Geodésia, originada no oriente médio, assim como a geometria, é uma ciência que tem
como objetivo determinar a forma da Terra. Uma mostra da história desta ciência é essencial para o
entendimento de como a Teoria da Catástrofe poderia influenciar no posicionamento da Terra.
4.1 – A Terra
A partir do século V, os filósofos gregos, que conheciam apenas a região do Mar
Mediterrâneo, começaram a questionar o que existia na região onde eles não mais podiam ver. Para
eles, a Terra era supostamente plana, da forma de um disco e coberta nas bordas pelo Oceano.
O regresso diário, com movimentos circulares, das Estrelas, Sol e Lua gerou, na época,
alguns pensamentos como: Os astros, após desaparecerem no horizonte, retornam ao seu ponto de
partida ou que os astros passavam, nunca mais voltavam e que a cada dia novos astros se deslocam
no céu. Além destas, os filósofos pensavam também que as partes da Terra tinham o poder de
acender ou apagar os astros.
Outra pergunta freqüente se tratava do apoio que a Terra teria para suportar o Céu.
Conjecturas foram sugeridas: a existência de um pilar imaginário, Thales (século V A.C.) ou que os
movimentos deste pilar eram os causadores dos tremores na Terra Anaximene (século V A.C.).
Anaximandre quebra com estas idéias através de um pensamento mais lógico. Ele primeiro
considera a Terra isolada, privada de qualquer apoio, em equilíbrio ao centro de um céu
inteiramente esférico. Os astros, nesta suposição, poderiam passar sob a Terra e recomeçar, a cada
dia, as trajetórias celestiais sem nunca serem interrompidas. De acordo com Anaximandre a Terra
26
teria a forma de um cilindro, como uma coluna de pedra truncada, em que somente a face superior
seria habitada.
Com o tempo foram surgindo novas idéias com Pitágoras, Aristóteles e outros filósofos
sobre o tamanho e a forma da Terra. Pitágoras defendia a Terra com o formato esférico, pois
considerava a esfera a geométrica mais perfeita. Segundo ele seria natural que os deuses dessem
esta forma à Terra.
Uma dúvida pendente se tratava da esfericidade da Terra e para auxiliar nesta solução foram
descobertos alguns fatos. Um destes, de Huygens (1629-1695), trata da descoberta da força
centrífuga que nasce da rotação terrestre, que é nula nos pólos, máxima no Equador e que variava
de acordo com a latitude. Este fato gerou o pensamento de que a Terra não poderia ser esférica e
que o raio do Equador seria maior do que o raio dos pólos.
Newton (1642-1727) aprofunda a dúvida sobre a esfericidade em 1687. Se a Terra não
tivesse o movimento de rotação ela seria perfeitamente esférica devido à igualdade do módulo da
gravidade. Entretanto, devido à sua rotação, a Terra deveria possuir a forma elipsoidal.
Um trabalho notável sobre o equilíbrio da Terra foi efetuado por Clairaut em 1743. Clairaut
descobriu que o nivelamento da superfície de um planeta em equilíbrio não depende somente da
velocidade de rotação, mas também da distribuição interna das densidades. Ele acrescentou que se a
Terra fosse originalmente fluida, as camadas mais densas estariam mais próximas do centro.
Clairaut mostra também que o conhecimento do valor da gravidade (medido, por exemplo, com a
ajuda de um pêndulo) em dois pontos de latitudes diferentes é suficiente para determinar o
nivelamento do globo com relação ao equilíbrio hidrostático. Este foi o nascimento da Geodésia
dinâmica que estuda a forma da Terra a partir do seu campo de gravidade.
Outro problema tratou-se do fato das medidas geodésicas e de gravidade conduzem a valores
de nivelamento diferentes. Esta incompatibilidade colocou ao chão a teoria de Clairaut indicando
que a Terra não seria um equilíbrio hidrostático. Laplace (1749-1827), servindo-se de novas
medidas de arcos de meridiano e gravidade, procurou calcular o nivelamento, mas não obteve
sempre valores coerentes e assim concluiu que a figura da Terra não poderia ter a forma regular de
um elipsóide.
A hipótese da origem ígnea, ou seja, proveniente da solidificação do magma, implica que a
Terra esteve no início da sua história num estado muito diferente do seu estado atual. Esta idéia
reforça uma tese da Teoria das Catástrofes, que afirma que a Terra viria sofrendo, desde a sua
origem, uma evolução que se opõe às uniformidades e ao fato do globo sempre ter conservado uma
forma semelhante.
27
Foram desenvolvidas hipóteses que explicassem uma figura de equilíbrio do globo que não
necessitasse de um específico estado original. Lamarck (1744-1829), em 1802, propõe uma outra
hipótese. Ele afirmou que o globo possuía uma capacidade lenta de deformação que lhe permitia ser
ao mesmo tempo sólida e ajustar-se às forças gravitacionais e centrífugas. Com esta hipótese, a
Terra deformar-se-ia e adaptar-se-ia continuamente ao seu movimento de rotação sem ter
necessidade de passar por um estado fluido. Só uma condição deveria ser preenchida: que os tempos
encarados fossem suficientemente grandes, DEPARIS, V. & LEGROS, H (2000).
Em 1847, Spencer aprofunda as observações de Lamarck e declara, sem rodeios, que o
nivelamento do globo não requer uma fluidez original. Ele apoiou que a resistência dos materiais
era negligenciada quando se tratava de grandes volumes e que um sólido poderia se comportar
como um líquido nestes casos. A Terra seria tão volumosa que as forças de coesão tornar-se-iam
negligenciáveis na frente das forças de gravidade ou centrífugas e, embora sólida, teria a mesma
figura que uma massa fluida, DEPARIS, V. & LEGROS, H (2000).
Em 1868, Reclus (1830-1905) aderiu às teses de Spencer notando que todos os sólidos eram
capazes de fluir e adaptar-se de maneira permanente e irreversível quando sujeito à variações
suficientemente fortes.
Apesar das alternativas propostas, a hipótese da origem ígnea para explicar a figura de
equilíbrio da Terra continuou com sufrágios, mas ela é a que aparenta ser mais simples e evidente.
Playfair tenta em 1802 uma primeira distinção entre superfícies na Terra. Ele considera duas
superfícies: a superfície real ou acidentada e uma superfície perpendicular em qualquer ponto à
direção da gravidade. Esta última seria uma superfície abstrata, ligada ao campo de gravidade da
Terra.
Gauss (1777-1855) foi mais adiante em 1828 e distingue uma superfície matemática (a
superfície elipsoidal de referência) e uma superfície físico-matemática (a superfície normal à
gravidade) até então confundidas. A forma regular de um elipsóide de revolução constitui uma
superfície teórica de referência sobre a qual cálculos podem ser efetuados; o seu estudo incumbe à
Geodésia Geométrica. O segundo é a superfície equipotencial que coincide com o nível médio dos
oceanos. O seu estudo incumbe à Geodésia Dinâmica. É designada de Geóide por Lista (1808-1882)
em 1873, DEPARIS, V. & LEGROS, H (2000).
O Geóide aparece como uma superfície irregular que apresenta ondulações em relação à
superfície elipsoidal de referência, com partes côncavas e convexas de diferentes escalas. As
irregularidades de grandes comprimentos de onda são atribuídas às heterogeneidades de massas nas
diferentes profundidades na Terra, e as irregularidades mais curtas atribuídas às estruturas
submarinas ligadas à tectônica das placas.
28
Um fato ainda remanescente se dá ao fato da Terra, embora sólida para as curtas escalas de
tempo, comporte-se como um líquido viscoso para as longas escalas de tempo. Dado esse fato, a
Terra sólida deforma-se para minimizar as tensões internas e é por isso que pode adquirir uma
forma de equilíbrio.
Wegener tratou essa reflexão observando que se a Terra fosse dotada de um comportamento
viscoso, a sua forma iria se adaptar a cada perturbação da sua rotação deslocando do seu eixo. A
inchação equatorial, que se ajustaria continuamente à distribuição das forças centrífugas, não
ocuparia, necessariamente, uma posição fixa em relação à Terra e não se poderia mais assegurar a
estabilidade da rotação.
O estudo da rotação de uma Terra “visco-elástica” entra então no seu período moderno e faz
dúvida apenas no fato da Terra ter uma forma próxima ao equilíbrio, pois é deformada
viscosamente para ajustar-se à sua rotação.
Devido a tantas teorias existentes, a Teoria das Catástrofes entra como mais uma
possibilidade de estudo e modelagem da forma da Terra. Uma modelagem matemática dá um
caráter peculiar às modelagens, pois na maioria das vezes, estas não foram passíveis de serem feitas,
devido às dificuldades de modelar um sistema dinâmico.
No capítulo seguinte será mostrada toda uma modelagem matemática com o intuito de
comparar a catástrofe cúspide com a forma da Terra.
29
5 – A FORMA DA ROTAÇÃO DE CORPOS
Nesta parte do trabalho será feita uma comparação entre a equação do potencial de uma
cúspide e a equação do potencial do corpo com rotação não nula.
Por definição, a equação da energia potencial de uma cúspide é
cbxaxxxEab +++= 24
21
41)( (equação alfa)
e a curva catástrofe é dada por:
baxxxEdxd
ab ++== 3)(0 .
Um interessante exemplo de uma catástrofe cúspide é a geometria dos corpos. Para iniciar
este estudo, supõe-se um corpo composto por fluidos, como a Terra. Caso este corpo não possua
velocidade de rotação, este terá formato esférico (FIG.5.1). Na hipótese de uma velocidade angular
não nula, tem-se um elipsóide de revolução (FIG.5.2) e em uma eventual maior velocidade angular
tem-se um elipsóide mais achatado ou uma possível explosão.
FIG.5.1 – Corpo com formato esférico
FIG.5.2 – Elipsóide de revolução
30
Para ser feita a comparação entre a equação do potencial da cúspide e a equação do
potencial do corpo, considerado anteriormente com rotação não nula, serão feitas algumas
observações: Os corpos podem ser descritos pela excentricidade polar “ε”, pela excentricidade
equatorial “η” e considera-se a energia total E(ε, η) de um corpo como a energia gravitacional mais
a energia rotacional. Tem-se então por BERTIN e RADICATI (1976):
2
3123
122
1)(
02
26122
12
2)1()1(2))(1()1()1(),(
ηηε
εη
εηεηε
ε
−−−
+−−−
= −
∫ o
arcsen
o KdxxsenWE , em que
“Wo” e “Ko” são constantes.
Tomando “ε” como um parâmetro externo (outras escolhas podem ser tomadas, por
exemplo, a velocidade angular) e expandindo-se E(ε, η) por Taylor, até a quinta ordem com relação
à variável “η” em torno de 0, tem-se um polinômio da 5a ordem que será comparado com a equação
da cúspide.
O motivo da utilização da expansão de Taylor e não outra expansão está no fato das
catástrofes serem assemelhadas a polinômios. Desta forma, a escolha da expansão de Taylor é
muito feliz, pois esta transforma uma função, dadas suas restrições, em um somatório de termos na
forma de polinômio.
Para facilitar o entendimento, deve-se separar E(ε, η) em duas funções e aplicar Taylor, até
a 5a ordem, em cada uma das funções separadamente com relação a “η” em torno de 0:
),(),(),( 21 ηεηεηε ffE +=
∑∞
=
=0
)(1
1 !)0,(),(
i
ii
iff εηηε
∑∞
=
=0
)(2
2 !)0,(
),(i
ii
if
fεη
ηε
Sendo: dxxWfo
o2
1)(arcsen
02
26122
12
1 ))sen(1()1()1(),( −
∫ −−−
=ε
εη
εηεηε (1)
2
3123
12
2 2)1()1(2),(
ηηεηε
−−−
= oKf (2)
31
Para (1):
dxxWfo
o2
1)(arcsen
02
26122
12
1 ))sen(1()1()1(),( −
∫ −−−
=ε
εη
εηεηε
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡−−−−
−−
−=
−−−
∫∫ dxxxdxxWfoo
o2
3)(arcsen
02
2
26
1221
)(arcsen
02
26522
12)1(
1 ))sen(1()sen()1())sen(1(3
)1()()1(),(εε
εη
εη
εηηη
εεηε
Vendo de outra forma:
)(),()1(1 ηηηε hWf o ⋅⋅= , sendo
εε 2
12 )1( −−= oo WW e
dxxxdxxhoo
23
)(arcsen
02
2
26
1221
)(arcsen
02
2652
))sen(1()sen()1())sen(1(3
)1()( −−−
∫∫ −−−−−
=εε
εη
εη
εηη
η
Sendo assim:
)(),()1(1 ηηηε hWf o ⋅⋅=
)(')(),()2(1 ηηηηε hWhWf oo ⋅⋅+⋅=
)('')('2),()3(1 ηηηηε hWhWf oo ⋅⋅+⋅=
)(''')(''3),()2(1 ηηηηε hWhWf oo ⋅⋅+⋅=
Derivando h(η):
+⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡−
−=
−−
∫ dxxho
21
)(arcsen
02
26112
))sen(1(9
)1(5)('ε
εηηηη
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡−−−−
−+ −−
−
∫∫ dxxxdxxx oo2
5)(arcsen
02
2
4
26
1223
)(arcsen
02
2
2
652
))sen(1()(sen)1(3))sen(1()sen(3
)1(2 εε
εη
εη
εη
εηη
−−−
+−−
=−
−−
−
∫∫ dxxxdxxhoo
23
)(arcsen
02
2
2
652
21
)(arcsen
02
26112
))sen(1()sen(3
)1(2))sen(1(9
)1(5)(''εε
εη
εη
εηηη
)())sen(1()(sen)1(3 25
)(arcsen
02
2
4
26
12 ηηεη
εη
ε
Ldxxxo
⋅+−−−−
∫
32
Tem-se então:
2
212 1)1(
3)(arcsen)0(''
εεε −−
+=oh
0)0(' =h
4
212
2
212 ))(arcsen)1((
23)1)1((
32)(arcsen
95)0(''
εεεε
εεε ooh −−
+−−
+=
E finalmente:
)(arcsen)1()0,(2
12
1 εεε
ε oWf o −=
0)0,()1(1 =εf
⎟⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛ −−+−
−= 2
2122
12)2(
1)1(1
3)(arcsen)1()0,(
εεε
εε
ε oWf o
0)0,()3(1 =εf
⎥⎥⎦
⎤
⎢⎢⎣
⎡ −−+
−−−−
−= 4
212
2
2122
12)4(
1))1()((arcsen
29))1(1(2)(arcsen
35)1(),(
εεεε
εεε
εε
ηε ooWf o
Para (2):
2
3123
12
2 2)1()1(2),(
ηηεηε
−−−
= oKf
⎥⎦⎤
⎢⎣⎡ −−−
−−=
−− 322222
312
)1(2 )1()2)(12()(
3)1(4),( ηηηηεηε oKf
Vendo de outra forma:
)(),()1(2 ηηηε gKf o ⋅⋅= , sendo
3)1(4
312ε−
−= oo KK e
322222 )1()2)(12()(−− −−−= ηηηηg
33
Sendo assim:
)(),()1(2 ηηηε gKf o ⋅⋅=
)(')(),()2(2 ηηηηε gKgKf oo ⋅⋅+⋅=
)('')('2),()3(2 ηηηηε gKgKf oo ⋅⋅+⋅=
)(''')(''3),()4(2 ηηηηε gKgKf oo ⋅⋅+⋅=
Derivando h(η):
)551()1()2(3
4)(' 4235232 ηηηηηη −+−−=
−−g
)()1()2)(25151(34)('' 3
523242 ηηηηηηη Yg ⋅+−−−+=−−
Tem-se então:
41)0( −=g
0)0(' =g
61)0('' =g
E finalmente:
312
2 )1()0,( εε −= oKf
0)0,()1(2 =εf
312)2(
2 )1(3
)0,( εε −= oKf
0)0,()3(2 =εf
312)4(
2 )1(32)0,( εε −
−= oKf
Como:
∑∑∞
=
∞
=
+=0
)(2
0
)(1
!)0,(
!)0,(),(
i
ii
i
ii
if
ifE εηεηηε
Pelo desenvolvimento em (1) e (2):
+++++=24
)0,(6
)0,(2
)0,()0,()0,(),(
)4(14
)3(13
)2(12)1(
11ε
ηε
ηε
ηεηεηεfff
ffE
24
)0,(6
)0,(2
)0,()0,()0,(
)4(24
)3(23
)2(22)1(
22ε
ηε
ηε
ηεηεfff
ff ++++++
34
Assim:
+⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢
⎣
⎡−+⎟
⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛ −−+−
−+= 3
122
2122
122 )1(
62)1(1
6)(arcsen)1(
)(),( εεεε
εε
ηεηε oo KoWtoE
⎥⎥
⎦
⎤
⎢⎢
⎣
⎡−−⎟
⎟
⎠
⎞
⎜⎜
⎝
⎛−−+
−−−−
−+ 3
12212
42
2122
124 )1(
36))1()((
163
12)1(1
72)(5)1(
εεεεεε
εεεε
η oo KarcsenoarcsenoW
4
42
20 )()()( ηεηεε ttt ++=
Observando a “equação alfa”, vê-se que a equação do potencial de um corpo, de massa
fluida, em rotação segue o padrão do potencial de uma cúspide com o termo b=0.
35
6 – CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo encontrar uma possível aplicação da teoria das catástrofes
no entendimento de fenômenos e na solução de problemas ligados à Engenharia Cartográfica.
Foi encontrada uma aplicação relacionada com a área da Geodésia e que consiste no fato da
fórmula do potencial ser uma aproximação da equação de uma cúspide. Deste modo, foi possível
modelar o formato da Terra por uma das catástrofes fundamentais.
Quando se tomou um determinado parâmetro externo pode-se expandir o potencial da Terra
por Taylor em torno deste parâmetro e então foi visto que, de fato, a equação do potencial se
enquadrava em uma equação cúspide.
36
6 – SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Uma proposta para um trabalho futuro seria encontrar quais problemas relacionados à
Engenharia Cartográfica poderiam ser solucionados ou tentar descobrir quais implicações na
Engenharia Cartográfica seriam acarretadas.
Outras propostas para a Teoria das Catástrofes seriam aplicá-la na mudança da quantidade de
detalhes de uma imagem, dada uma variação na escala ou aplicá-la na área do Sensoriamento
Remoto, tentando diferenciar solos ou vegetações através de catástrofes.
37
7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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ZEEMAN, E. C. Catastrophe Theory. Ed. Addison-Wesley Publishing Company, 1977, 675p.
40
APÊNDICE 1
Algoritmo implementado no MATLAB gerador da FIG.2.5:
[x,y] = meshgrid(-3:.2:3, -3:.2:3); z = y.^3-2*x.*y; mesh(x,z,y); hold on; surfl(x,z,y); Z=ones(size(z)); mesh(x*1,Z*1,y*1,'EdgeColor','black'); title('Cúspide,z=1, z+2xy-y^3=0'); colormap(bone)
41