1. introduÇÃo - cartografia.ime.eb.br · de produtos cartográficos confiáveis no exercício do...

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24 1. INTRODUÇÃO 1.1 POSICIONAMENTO DO TRABALHO A partir da década de setenta, a discussão em torno da questão ambiental priorizou escalas mais amplas em virtude dos problemas ambientais de abrangência global. As discussões ambientais de interesse mundial continuam em pauta e a aplicação dos princípios do desenvolvimento sustentável passa a ser encarada como questão de prioridade. Com isso, a temática ambiental deixa de ser eminentemente acadêmica e torna-se de interesse geral (PIRES DO RIO, 1996). A mundialização das questões ambientais teve seu início em 1972, em Estocolmo (Suécia), na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. Neste período, a temática ambiental manifestou-se mediante alguns aspectos meramente isolados, tais como: a poluição em áreas industrializadas, a exploração de recursos naturais, a deterioração das condições ambientais e outros (GUERRA & CUNHA, 1998). Atualmente, o conceito de ambiente é de extrema abrangência e entendido como: “o conjunto de todos os fatores sociais, biológicos, físicos e químicos que constituem o espaço que o homem vive” (BRUNO et al., 1980 apud MARTINELLI, 1994). Com isso, vale ressaltar que a compreensão das relações do meio ambiente e sua dinâmica requerem uma visão integrada de ambos os aspectos físicos e ecológicos de sistemas naturais e de suas interações com os fatores socioeconômicos e políticos (HAINES-YOUNG et al., 1993 apud SOARES FILHO, 1999). GUERRA e CUNHA (1998) afirmam que o modo de vida da maioria das sociedades modernas, que estabelece como meta o aumento da produção e ritmo de produtividade, representa a causa fundamental de problemas ambientais e crises ecológicas. Esses mesmos autores citam o malogro de alguns acordos estabelecidos na Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92/Rio de Janeiro), pois prevaleceram interesses econômicos e políticos de determinados grupos ou países. CÂMARA e MEDEIROS (1998) corroboram tais afirmações de GUERRA e CUNHA (1998), uma vez que consideram que numa perspectiva moderna de gestão territorial, toda e

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1. INTRODUÇÃO

1.1 POSICIONAMENTO DO TRABALHO

A partir da década de setenta, a discussão em torno da questão ambiental priorizou escalas

mais amplas em virtude dos problemas ambientais de abrangência global. As discussões

ambientais de interesse mundial continuam em pauta e a aplicação dos princípios do

desenvolvimento sustentável passa a ser encarada como questão de prioridade. Com isso, a

temática ambiental deixa de ser eminentemente acadêmica e torna-se de interesse geral (PIRES

DO RIO, 1996). A mundialização das questões ambientais teve seu início em 1972, em

Estocolmo (Suécia), na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente. Neste

período, a temática ambiental manifestou-se mediante alguns aspectos meramente isolados, tais

como: a poluição em áreas industrializadas, a exploração de recursos naturais, a deterioração das

condições ambientais e outros (GUERRA & CUNHA, 1998).

Atualmente, o conceito de ambiente é de extrema abrangência e entendido como: “o

conjunto de todos os fatores sociais, biológicos, físicos e químicos que constituem o espaço que o

homem vive” (BRUNO et al., 1980 apud MARTINELLI, 1994). Com isso, vale ressaltar que a

compreensão das relações do meio ambiente e sua dinâmica requerem uma visão integrada de

ambos os aspectos físicos e ecológicos de sistemas naturais e de suas interações com os fatores

socioeconômicos e políticos (HAINES-YOUNG et al., 1993 apud SOARES FILHO, 1999).

GUERRA e CUNHA (1998) afirmam que o modo de vida da maioria das sociedades modernas,

que estabelece como meta o aumento da produção e ritmo de produtividade, representa a causa

fundamental de problemas ambientais e crises ecológicas. Esses mesmos autores citam o malogro

de alguns acordos estabelecidos na Segunda Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92/Rio de Janeiro), pois prevaleceram interesses

econômicos e políticos de determinados grupos ou países.

CÂMARA e MEDEIROS (1998) corroboram tais afirmações de GUERRA e CUNHA

(1998), uma vez que consideram que numa perspectiva moderna de gestão territorial, toda e

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qualquer ação de planejamento, ordenação ou monitoramento do espaço deve incluir a análise

dos diferentes componentes de ambiente (meio físico-biótico, a ocupação humana e seus inter-

relacionamentos). Essa visão sistêmica do ambiente serve como base para comprovar a

complexidade dos impactos ambientais que vivenciamos nas últimas décadas. MARTINELLI

(1994), em consonância com o exposto, chama a atenção para que a representação cartográfica

não fique alheia à problemática da degradação do meio ambiente, pois os mapas possuem grande

potencial como instrumento para o planejamento, para a recuperação de áreas, para a educação

ambiental e outros. As representações temáticas não devem ser vistas como meras ilustrações

despretensiosas, e sim com espírito crítico, ou seja, imagens reveladoras das relações que a

informação geográfica contém. Essas idéias são ratificadas por MENEZES (2000), quando este

descreve sobre o interesse, em nível mundial, de temas ligados ao meio ambiente e a necessidade

de produtos cartográficos confiáveis no exercício do gerenciamento ambiental.

Nesse contexto, a crescente disseminação das informações espaciais e modernas técnicas

computacionais de mapeamento contrastam com a lacuna existente na criação e padronização de

símbolos cartográficos. A existência de símbolos evocativos num mapa otimiza sua leitura e

interpretação, pois o uso da legenda far-se-á de maneira mínima. No entanto, os símbolos

cartográficos não devem ser criados como simples desenhos, desempenhando papel meramente

ilustrativo. O cartógrafo não possui ilimitada liberdade de criação e manifestação artística. JOLY

(1990) afirma que um mapa, para ser inteligível, deve possuir certa lógica e, para ser claro, uma

certa elegância na apresentação. Assim, um mau uso da simbologia cartográfica pode levar a

graves erros de interpretação. Nesse contexto, através de um sistema de símbolos, os mapas são

também mensagens sobre os objetos, as formas, os fatos e as relações contidas no espaço

estudado. Alguns símbolos são extremamente fáceis de serem decodificados, principalmente

quando fazem parte do cotidiano do leitor (tornam-se praticamente instintivos). Outros símbolos,

por sua vez, apresentam-se bastante subjetivos ou de difícil decodificação, exigindo consultas

constantes à legenda do mapa.

As regras que regem a simbologia cartográfica pertencem ao domínio da Semiologia Gráfica,

que estabelece uma espécie de gramática da linguagem cartográfica. Segundo o dicionário

AURÉLIO (1999), a Semiologia significa: “Ciência geral dos signos, que estuda todos os

fenômenos culturais como se fossem sistemas de signos e sistemas de significação. Em oposição

à lingüística, que se restringe ao estudo dos signos lingüísticos, ou seja, da linguagem, a

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semiologia tem por objeto qualquer sistema de signos (símbolos, imagens, gestos, vestuários,

ritos, etc.)”. Dessa maneira, a Semiologia Gráfica diz respeito ao processo de tratamento gráfico

da informação, a fim de se balizar propriedades na construção dos mapas. A organização dos

diferentes símbolos deve obedecer a regras semiológicas, com o objetivo de se tornar inteligível

aos que se esforçam para assimilar bem a legenda. O cartógrafo deve então sugerir ao leitor a

diversidade das relações espaciais (visíveis ou invisíveis) que são intrínsecas à própria essência

das realidades geográficas. Portanto, a mensagem cartográfica pode e deve ser uma mensagem de

interpretação e de comunicação científica (JOLY, 1990).

Na presente dissertação, além das regras semiológicas, o processo de construção dos

símbolos que representam situações de impacto ambiental (estudo de caso) encontrará recursos

para um tratamento mais objetivo nos estudos realizados pela “Gestalt”. Esta é uma escola alemã

de psicologia experimental e tem como objeto de estudo o campo da percepção visual. De acordo

com essa teoria, na formação de imagens, os fatores de equilíbrio, clareza e harmonia constituem

para o ser humano uma necessidade, e, por isso, considerados indispensáveis em qualquer tipo de

manifestação visual. Portanto, por ser uma teoria hoje aceita por toda a psicologia moderna, como

tendo trazido contribuições fecundas ao estudo da percepção, sobretudo visual, torna-se prudente

a aplicação dos princípios da Gestalt na construção dos símbolos cartográficos que representam

desastres e riscos ambientais. Com isso, tentar-se-á que o usuário perceba a forma dos símbolos

de maneira mais espontânea possível, a fim de se obter o máximo de informação, utilizando-se

minimamente da legenda (otimização do processo de comunicação cartográfica).

1.2 HIPÓTESES

Um primeiro teste, com o objetivo de se verificar a eficiência na comunicação dos símbolos

cartográficos pictóricos que representassem situações de impacto ambiental, foi realizado junto

aos alunos da sexta e sétima séries do Colégio Municipal Anísio Teixeira, Ilha do Governador

(Rio de Janeiro). Neste primeiro ensaio, os símbolos foram elaborados sem qualquer

fundamentação teórica em Semiologia Gráfica ou Psicologia Perceptual da Forma (Gestalt). Na

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verdade, tratavam-se de simples desenhos ilustrativos, criados apenas com base em imagens dos

fenômenos ambientais que pretendia-se representar. Neste teste preliminar de eficiência dos

símbolos cartográficos obteve-se uma média geral de acertos de 74,6%. Este valor pode ser

considerado razoável, se comparado aos resultados de pesquisas semelhantes, como a

desenvolvida por PEREIRA et al. (1999) que teve uma média de acerto de aproximadamente

90% e trata do desenvolvimento de símbolos cartográficos para fins turísticos.

Neste aspecto, uma afirmação merece ser levantada, para que seja estruturada, em base

científica, uma metodologia para criação de simbolismos cartográficos. Tal afirmação é:

• Os símbolos cartográficos elaborados com base nos preceitos da Psicologia Perceptual da

Forma (Gestalt) e Semiologia Gráfica são identificados pelos consulentes de maneira mais eficaz

do que os simbolismos criados como meros desenhos ilustrativos.

Baseado nesta afirmação, foram formulados os objetivos que se pretende atingir na presente

pesquisa.

1.3 OBJETIVOS

A motivação principal para o desenvolvimento dessa dissertação consiste na formalização de

uma metodologia para construção de símbolos cartográficos, cuja aplicação encontra-se

diretamente ligada à representação de situações de impacto ambiental. Tal metodologia de

elaboração dos símbolos será calcada sobre os preceitos da Psicologia Perceptual da Forma

(Gestalt) e Semiologia Gráfica. Além disso, para o entendimento do processo de decodificação de

tais representações, serão realizados testes com o intuito de se verificar a eficiência na

comunicação dos simbolismos cartográficos. Por fim, deve-se destacar que a metodologia de

criação dos simbolismos explicitada nessa pesquisa pode ser extrapolada para outras definições

temáticas.

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1.4 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO

Os alicerces da formulação gestáltica (ordenação, equilíbrio, clareza e harmonia visual) são

amplamente utilizados em outras áreas de manifestação visual, tais como: o Desenho Industrial,

Arquitetura e Artes Plásticas, visando, fundamentalmente, a maximização e a otimização no

processo de comunicação. Em relação à Ciência Cartográfica, também notoriamente reconhecida

como meio de comunicação gráfica, pouco se encontrou sobre a utilização de conceitos no campo

Psicologia Perceptual da Forma. Com isso, considera-se pertinente estender para a Cartografia,

cuja função é a representação da realidade terrestre sob a forma de mapas, cartas ou plantas,

princípios oriundos da Escola Gestalt.

Os símbolos cartográficos que representam situações de impacto ambiental, uma vez criados

e padronizados, estarão disponíveis para usuários de cartas e mapas cuja temática é ambiental.

Geógrafos, geomorfólogos, pedólogos e geólogos, por exemplo, terão à disposição oito símbolos

para confecção de mapas temáticos. Vale ressaltar que as representações cartográficas

padronizadas fazem com que os usuários associem, de maneira automática e mnemônica, os

diferentes fenômenos aos seus referidos simbolismos.

1.5 DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO

A fim de se atingir os objetivos propostos, o trabalho foi estruturado em capítulos temáticos,

cujo conteúdo, em linhas gerais, é apresentado a seguir:

O capítulo 2 apresenta conceitos e definições sobre o meio ambiente, impacto ambiental,

desastres e riscos ambientais e espaço geográfico. Além disso, trata da Cartografia Temática e

suas ramificações, bem como a problemática ligada às escalas de representação. Por último, são

levantadas algumas considerações sobre a Cartografia Digital e a Tecnologia da Informação.

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O capítulo 3 versa sobre as definições e conceitos relativos à Teoria Geral da Comunicação,

Processo de Comunicação Cartográfica, Teoria Geral dos Signos, Semiótica, Semiologia e

Semiologia Gráfica, como também o confronto de idéias dos diferentes autores.

O capítulo 4 trata da importância da adoção do sistema de leitura visual da forma no

processo de construção dos símbolos cartográficos, além da fundamentação teórica no campo da

Psicologia Perceptual da Forma (Gestalt).

O capítulo 5 apresenta a seleção dos fenômenos que serão representados através de

simbolismos, além do projeto preliminar de construção dos símbolos cartográficos. Nesta fase da

pesquisa, tais símbolos foram elaborados de maneira empírica, sem qualquer base ou

aprofundamento nos preceitos da Teoria da Informação, Semiologia Gráfica e Psicologia

Perceptual da Forma (Gestalt). Este estágio do trabalho foi, portanto, um primeiro passo para se

identificar os erros, acertos e as dificuldades encontradas no processo de construção dos

simbolismos cartográficos. São apresentados também alguns testes de eficiência realizados junto

aos alunos do ensino fundamental.

O capítulo 6 expõe o levantamento realizado sobre os simbolismos utilizados na Cartografia

de Base e Temática, bem como a apresentação e a leitura da forma dos símbolos cartográficos

elaborados com base na Gestalt. Além disso, são traçadas algumas considerações sobre o

processo criativo, processo de redução dos símbolos cartográficos, adequação dos símbolos às

escalas cartográficas e, por fim, a conclusão da metodologia de criação dos símbolos

cartográficos concebida no presente trabalho.

O capítulo 7 diz respeito ao confronto dos resultados obtidos nos testes de eficiência com os

símbolos elaborados de maneira empírica e os símbolos criados com base no Sistema de Leitura

Visual da Forma do Objeto/Gestalt. As pesquisas, nesta fase do trabalho, além dos adolescentes

do segundo segmento do ensino fundamental, compreenderam uma amostra de possíveis usuários

de cartas e mapas, cujo tema relaciona-se com aspectos ambientais, tais como: cartógrafos,

engenheiros civis e profissionais da área de saúde.

O capítulo 8 apresenta as conclusões geradas no trabalho.

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2. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

2.1 A MUNDIALIZAÇÃO DA QUESTÃO AMBIENTAL

É importante salientar que nessa pesquisa não se pretende discutir as causas ou

conseqüências da degradação ambiental, nem tão pouco os aspectos técnicos ligados às áreas de

geologia, engenharia e geotecnia. Esmiuçar as quase infinitas causas e conseqüências acerca da

degradação ambiental foge completamente ao escopo do presente trabalho. Vale apenas citar que

a percepção científica do ambiente (monitoramento) pode e deve ser feita através de um contínuo

processo de análises sucessivas, com as quais se identifica, se classifica e se explica a presença de

conjuntos estruturados de objetos e atributos que se julga existir na realidade ambiental.

Pretende-se, portanto, nesse capítulo, relacionar a potencialidade da representação

cartográfica com o movimento de educação ambiental e preservação do meio ambiente. Como

exemplo, valem as idéias de MARTINELLI (1994; 1986) sobre a importância da Ciência

Cartográfica no processo de conscientização ambiental, além da desmistificação das

representações cartográficas, a fim de não deixá-las só em benefício dos detentores do poder.

Como explicitado no Capítulo 1, o processo de mundialização da questão ambiental teve seu

início em 1972 (Estocolmo, Suécia), na Primeira Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente. As diversas formas de poluição ambiental encontravam-se presentes em diversos

espaços do globo terrestre, despertando, assim, uma necessidade de conscientização ecológica

tanto em países centrais ou desenvolvidos, como também nos países periféricos ou em

desenvolvimento (GUERRA & CUNHA, 1998).

Durante a década de oitenta, a discussão em torno da questão ambiental tomou maiores

proporções em razão dos seguintes problemas ambientais globais: a diminuição da camada de

ozônio, o efeito estufa, a chuva ácida e a destruição da diversidade biológica. A publicação do

relatório Brundtland, em 1987, e a Conferência das Nações Unidas, mais conhecida como Rio 92

(ECO-92), colocaram os problemas ambientais e as mudanças climáticas deles decorrentes na

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agenda política mundial. Vale também destacar que é notória a necessidade inexorável do

aumento do ritmo da produtividade industrial mundial e que esta apresentava-se como a principal

causa dos problemas ambientais vigentes. Todavia, no final dos anos oitenta, surge a noção de

desenvolvimento sustentável, cujo objetivo primordial era equilibrar a relação entre produção

industrial e preservação ambiental. Este conceito, de maneira geral, pode ser entendido como o

processo de minimização do uso de materiais, minimização do uso de energia, minimização dos

impactos ambientais e maximização da satisfação social (PIRES DO RIO, 1996).

Em consonância com o exposto, MENEZES (2000) cita GUTMANN (1988) para elucidar a

introdução, a partir da década de 80, de componentes socioeconômicos e culturais ao meio

ambiente. Com isso, valorizou-se uma concepção mais integrativa de meio ambiente,

caracterizando os inter-relacionamentos entre todos os seus elementos. Afirma ainda MENEZES

(2000) que o meio ambiente é um produto do processo de ocupação e da transformação do espaço

pela sociedade, ao longo de um período de tempo.

Numa definição formal, o meio ambiente, segundo o GLOSSÁRIO DE ECOLOGIA (1987),

pode ser entendido como: “o conjunto de todas as condições e influências externas circundantes

que interagem com um organismo, uma população ou uma comunidade. Ambiente: 1. conjunto

de condições que envolvem e sustentam os seres vivos no interior da biosfera, incluindo clima,

solo, recursos hídricos e outros organismos. 2. é a soma total das condições que atuam sobre o

organismo. Os fatores ambientais são de ordem física, química, edáfica, climática, hídrica e

biótica”. Esta definição, apesar de abrangente, enfatiza os inter-relacionamentos entres as

diferentes variáveis, sejam elas bióticas ou abióticas.

Sabe-se que o ambiente é alterado pelas atividades humanas e o grau de alteração de um

espaço é avaliado pelos seus diferentes modos de produção e/ou diferentes estágios de

desenvolvimento da tecnologia. Porém, nem sempre a natureza foi concebida dessa maneira. A

ciência natural surgida nos séculos XVI e XVII, numa concepção positivista existente,

considerava que a natureza sobrevivia por si mesma e totalmente desvinculada das atividades

humanas (GUERRA & CUNHA, 1998).

Porém, vale ressaltar que pesquisadores dos mais diversos ramos do conhecimento chamam a

atenção para o fato de que a degradação ambiental é, por definição, um problema social

(BLAIKIE & BROOKFIELD, 1987 apud GUERRA & CUNHA, 1998). Dessa forma, o estudo

da degradação ambiental não deve ser realizado sob o ponto de vista estritamente físico.

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GUERRA & CUNHA (1998) afirmam que: “para que o problema possa ser entendido de forma

global, integrada, holística, deve-se levar em conta as relações existentes entre a degradação

ambiental e a sociedade causadora dessa degradação que, ao mesmo tempo, sofre os efeitos e

procura resolver, recuperar e reconstituir as áreas degradadas”. Nesse contexto, as questões

ambientais, em geral, extrapolam as áreas de atuação de várias ciências, tais como: Geografia,

Cartografia, Urbanismo, Saneamento, Economia, entre outras, posto que a compreensão das

relações do meio ambiente e sua dinâmica requerem uma visão integrada de ambos os aspectos

físicos e ecológicos de sistemas naturais e de suas interações com os fatores socioeconômicos e

políticos (SOARES FILHO, 1999).

A definição de degradação ambiental, segundo o Novo Dicionário Geológico-

Geomorfológico (GUERRA & GUERRA, 1997), é apresentada como: “a degradação do meio

ambiente, causada pela ação do homem, que, na maioria das vezes, não respeita os limites

impostos pela natureza. A degradação ambiental é mais ampla que a degradação dos solos, pois

envolve não só a erosão dos solos, mas também a extinção das espécies vegetais e animais, a

poluição de nascentes, rios, lagos e baías, o assoreamento e outros impactos prejudiciais ao

meio ambiente e ao próprio homem”. Pode-se perceber, com esta definição, que as atividades

humanas são intrinsecamente impactantes no que tange o meio ambiente.

A fim de ressaltar a evolução da importância dos estudos sobre a temática da degradação

ambiental nas últimas décadas, vale citar a proclamação, por parte da Assembléia Geral da ONU,

do Decênio Internacional para Redução dos Desastres Naturais, o qual teve seu início em 1990.

Dentre as suas muitas justificativas, destacou-se que o fatalismo em relação aos desastres naturais

não era mais plausível e que era necessário que todos os países do mundo demonstrassem

determinação política para utilizar o conhecimento técnico e cientifico existente na mitigação dos

desastres (AMARAL, 1996).

Vale também chamar a atenção para os debates com o intuito de estabelecer linhas de

atuação ambiental. Tais debates também estão sendo desenvolvidos por empresas de diferentes

setores produtivos. Essa adoção de uma política ambiental, por parte das corporações, visa

combater as pressões das organizações ambientalistas, atender a legislação vigente ou,

simplesmente, contribuir para o desenvolvimento sustentável. PIRES DO RIO (1996) salienta

que em países como os Estados Unidos ou na União Européia, onde as demandas sociais pela

preservação, conservação e recuperação de áreas degradadas se fortaleceram desde a década de

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sessenta, as empresas viram-se obrigadas a incorporar o meio ambiente como “variável”

importante nas estratégias de localização, no próprio processo de gestão e até mesmo como

instrumento de marketing (vantagem competitiva por possuir produtos com selo ambiental).

GUERRA & CUNHA (1998) deixam clara a existência de processos naturais que ocorrem

sem qualquer tipo de intervenção humana. Alguns destes processos naturais podem ser: a

formação de solos, erosão, deslizamentos, modificação da cobertura vegetal e muitos outros. No

entanto, quando a ação antrópica existe, seja ela no ato de plantar, desmatar, construir ou

qualquer outro tipo de transformação do ambiente, esses processos, ditos naturais, tendem a

ocorrer com intensidade muito maior, proporcionando, para a sociedade, conseqüências

desastrosas.

2.2 DESASTRES E RISCOS AMBIENTAIS

Para se ter noção da magnitude dos prejuízos materiais e humanos causados por desastres

naturais, serão citadas algumas estatísticas explicitadas por CHRISTOFOLETTI (1999). Em

âmbito global, por ano, ocorrem mais de 300 desastres naturais, ocasionando cerca de 250.000

mortes e afetando diretamente mais de 200 milhões de pessoas. As perdas econômicas alcançam

a cifra de US$ 60 bilhões, sendo que 40% dos prejuízos não são cobertos por seguros. Vale

também ressaltar que cerca de 90% dos impactos ocorrem nos países em desenvolvimento, onde

as perdas no produto nacional bruto são 20 vezes maiores que nos países desenvolvidos

(ALEXANDER, 1995 apud CHRISTOFOLETTI, 1999).

Todavia, os eventos naturais extremos somente são encarados como desastres (ou azares

naturais, como denomina CHRISTOFOLETTI, 1999) na medida que ocasionam prejuízos ou

mortes aos seres humanos. A ocorrência de um furacão ou um terremoto numa área inóspita da

Terra é classificada como evento natural, mas não como um desastre ou um azar natural.

Desastres e azares, por sua vez, são conseqüências dos conflitos entre os processos geofísicos e as

sociedades humanas, ou seja, o ser humano é fundamentalmente componente central.

Em relação ao conceito de risco ambiental, segundo o Novo Dicionário Geológico-

Geomorfológico (GUERRA & GUERRA, 1997), pode ser entendido como: “Terminologia

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empregada para caracterizar riscos causados por forças da natureza, mas que podem ser

alterados pela ação humana. Esses riscos incluem deslizamentos, erosão acelerada, inundações,

etc. Quanto maior for o grau de intervenção humana, no meio ambiente, sem levar em conta

os riscos naturais, maiores serão as possibilidades da ocorrência de catástrofes (desastres

ambientais), que geralmente envolvem mortes e prejuízos materiais”.

Porém, como salienta XAVIER DA SILVA (1993), riscos diversos podem estar conjugados,

ou seja, fenômenos como favelização, desmoronamentos, enchentes e outros podem estar

associados. A ocupação de encostas por favelas representa, por exemplo, o dinamismo espacial

em áreas urbanas. Esta expansão desordenada está associada ao uso inadequado do solo e pode

desencadear processos de movimentos de massa.

Todos esses fenômenos anteriormente citados são extremamente impactantes ao meio

ambiente e possuem a ação humana como elemento desencadeador. Por Impacto Ambiental

entende-se: "Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio

ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas

que, direta ou indiretamente, afetem: (I) a saúde, a segurança e o bem-estar da população; (II)

as atividades sociais e econômicas; (III) a biota; (IV) as condições estéticas e sanitárias do meio

ambiente; (V) a qualidade dos recursos ambientais" (CONAMA, 1986). Em outras palavras,

impacto ambiental trata-se de qualquer alteração do meio ambiente causada por atividades do

homem, afetando-o direta ou indiretamente, seja no que diz respeito ao seu bem-estar ou suas

atividades.

Para se ter noção dos danos que alguns riscos ambientais causam ao homem, vale citar, a

título de exemplo, o caso específico dos deslizamentos. Apenas em 1993, segundo a Defesa Civil

da ONU, os deslizamentos causaram 2517 mortes, ficando atrás apenas dos prejuízos causados

por terremotos e inundações, no elenco dos desastres naturais que afetam a humanidade. Além

das irreparáveis perdas humanas, existem também as perdas materiais que chegam à ordem de

dezenas de bilhões de dólares por ano. Por esses motivos, os movimentos de massa despertam

tanto interesse para pesquisadores e planejadores em todo o mundo (FERNANDES &

AMARAL, 1998).

No Brasil, além da freqüência elevada de deslizamentos que ocorrem de maneira natural,

ocorre, também, um grande número de acidentes induzidos pela ação antrópica. “As metrópoles

brasileiras convivem com acentuada incidência de deslizamentos induzidos por cortes para a

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implantação de moradias e de estradas, desmatamentos, atividades de pedreiras, disposição final

do lixo e das águas servidas, com grandes danos associados” (FERNANDES & AMARAL,

1998). A FIG. 1 apresenta uma estatística parcial, nos últimos 30 anos, dos danos provocados por

deslizamentos na cidade do Rio de Janeiro.

Não se pode omitir que estudos sobre a dinâmica ambiental e a complexidade da ocupação

espacial requerem ampla disponibilidade de dados. SOUZA e XAVIER DA SILVA (1988)

definem a geração de dados como sendo o cerne do trabalho científico empírico. Atualmente, os

dados ambientais são variados e abundantes. Variados, porque sua natureza pode ser biológica,

climática, geológica, pedológica, geomorfológica, econômica, social, política e outras.

Abundantes, pois, a cada minuto, quantidades imensas de dados ambientais são geradas no

mundo, seja por instituições de pesquisa, pesquisadores individuais, órgãos de planejamento e

outros.

FIG.1. Seqüência histórica (30 anos) de movimentos de massa na cidade do Rio de Janeiro

(adaptado de FERNANDES & AMARAL, 1998).

Por fim, deve-se exaltar que toda a discussão sobre a temática ambiental em tela ocorre sobre

o espaço geográfico. MOURA E RIBEIRO (1998) muito bem colocam que as ciências espaciais,

relativas a todas as áreas do conhecimento, que têm na variável "espaço" importante componente

de suas análises, vivem hoje um momento ímpar, quando a tecnologia disponível para o

desenvolvimento dos trabalhos permite amplo processo de análise e síntese de dados. Não é só no

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meio científico que a valorização do espaço e sua percepção se fazem presentes. A seguir,

encontram-se algumas considerações sobre o conceito de espaço geográfico e a complexidade de

sua ocupação.

2.3 O ESPAÇO GEOGRÁFICO

O termo espaço é de uso corrente, faz parte do senso comum e é utilizado tanto no dia-a-dia,

como também nas mais diversas ciências. CORRÊA (1995), a fim de demonstrar a complexidade

do verbete espaço, faz observações sobre o que apresenta o Dicionário Aurélio: “A palavra

espaço é descrita segundo 12 acepções distintas e numerosos qualificativos. Entre astrônomos,

matemáticos, economistas e psicólogos, entre outros, utiliza-se, respectivamente, as expressões

espaço sideral, espaço topológico, espaço econômico e espaço pessoal”.

CORRÊA (1995) destaca que a ocupação do espaço geográfico torna-se cada vez mais

complexa. Este mesmo autor apresenta o conceito de espaço geográfico (ou simplesmente

espaço) como sendo chave para a Ciência Geográfica. Além disso, apresenta o espaço geográfico

como sendo multidimensional, ou seja, descrito através de diversas metáforas. Apresenta-se,

também, como campo de lutas, rico em simbolismos e condição social. CORRÊA (1995) conclui

que esta multidimensionalidade permite a construção de diferentes conceitos de espaço.

A dificuldade de se criar um conceito fechado sobre “espaço geográfico” está no fato de que

o homem o produz. Dessa maneira, o espaço natural é transformado pelo homem, dando origem,

portanto, ao espaço geográfico (fundamentalmente fruto de um produto social). Este espaço

“criado” é suporte das mais diversas atividades humanas, além de fonte de recursos climáticos,

hidrográficos e outros. Surge, a partir de então, a idéia de que nada pode existir fora do espaço

geográfico, ou seja, este torna-se suporte totalmente necessário e insubstituível às sociedades

(CORRÊA, 1997).

Vale também ressaltar que a organização espacial apresenta-se como reflexo social, ou seja,

a organização do espaço geográfico é o “espelho” das ações de uma determinada sociedade.

Analisando, por exemplo, um espaço geográfico qualquer, pode-se perceber o nível de

desenvolvimento tecnológico da sociedade ali presente, ou até mesmo, seu comprometimento

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com o meio ambiente. Porém, vale chamar a atenção para que este reflexo social não é apenas

atual, pois o espaço é poligenético, ou seja, apresenta rugosidades ou marcas do passado que

possuem extremo valor cultural (CORRÊA, 1997).

Além de suporte para as atividades antrópicas, fonte de recursos naturais e reflexo social, o

espaço geográfico apresenta-se também como condição social. Condicionantes sociais dizem

respeito aos impactos da organização social do presente sobre o futuro, ou seja, as formas

espaciais presentes têm um importante papel no futuro de uma sociedade (CORRÊA, 1986).

Em consonância com o exposto, JOLY (1990) afirma que o espaço geográfico é, com efeito,

um “sistema” complexo de equilíbrios móveis que, num certo lugar e momento, são regulados

por causas múltiplas, interdependentes e interativas, elas próprias portadoras de conseqüências

para o futuro. O espaço integra, assim, certo volume e duração sob forma de heranças e

potencialidades.

Considera-se bastante relevante, para este trabalho, o levantamento de algumas questões

relativas ao conceito de espaço geográfico. É sobre o espaço transformado que ocorrem as

dinâmicas ambientais (riscos e desastres) que serão representados através de simbolismos

cartográficos. MENEZES (2000) coloca que os geógrafos e cartógrafos percebem a perspectiva

espacial do ambiente geobiofísico, tendo, por sua vez, a habilidade de abstraí-lo e simbolizá-lo.

Devem, além disso, conhecer as propriedades das projeções cartográficas e selecioná-las, possuir

a compreensão das relações de áreas e também conhecimentos da importância da escala na

representação final de dados.

2.4 REPRESENTAÇÃO CARTOGRÁFICA DE FENÔMENOS AMBIENTAIS

XAVIER DA SILVA (1999) chama a atenção para que na pesquisa ambiental merecem

citação quatro proposições irretorquíveis, relativas à localização, extensão, correlação e

evolução dos fenômenos registráveis:

• todo fenômeno é passível de ser localizado, através da criação de um referencial

conveniente;

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• todo fenômeno tem sua extensão determinável, a partir de sua inserção no referencial

escolhido;

• todo fenômeno está em constante alteração;

• todo fenômeno apresenta-se com relacionamentos, não sendo registrável qualquer

fenômeno totalmente isolado.

Estas proposições derivam dos atributos inerentes a qualquer fenômeno, fato que é

reconhecível por pesquisadores das mais diferentes áreas do conhecimento (XAVIER DA

SILVA, 1999). Sendo localizável e de extensão determinável, os fenômenos ambientais atuantes

sobre o espaço geográfico são passíveis de representação cartográfica. Vale ressaltar que a noção

de informação espacial relaciona-se à existência de objetos com propriedades, que incluem sua

localização no espaço e sua relação com outros objetos (CÂMARA e MEDEIROS, 1998).

A título de esclarecimento, vale distinguir a informação geográfica da informação

cartográfica. MENEZES (2000) define a informação geográfica como sendo toda aquela, de

natureza física, biológica ou social, que possui um relacionamento com um sistema de referência

sobre a superfície terrestre.

A informação de cunho cartográfico, por sua vez, é entendida como aquela contida em um

documento, ou seja, foi submetida a um processo de transformação, o que permitirá que venha a

ser representada, conforme pode ser observado na FIG. 2.

FIG.2. Esquema de transformação da informação geográfica em cartográfica. (adaptado de MENEZES, 2000).

Portanto, a Cartografia e seus simbolismos devem servir como modelo que permita conhecer

a estrutura do fenômeno que se está representando. Assim, deve-se buscar uma cartografia crítica,

que incorpore todas as relações, mediações e contradições entre elementos do quadro físico,

humano e econômico (CARVALHO, 1989 apud MARTINELLI, 1994). MARTINELLI (1994) é

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taxativo na afirmação de que a representação contemplativa de um aspecto físico isolado e

estanque pode falsear completamente a realidade.

2.5 CONCEITO DE CARTOGRAFIA E SUAS DIVISÕES

MENEZES (2000) enfatiza que definir Cartografia, dependendo do contexto que estiver

sendo abordado e do grau de profundidade desejado, pode ser uma tarefa bastante simples ou

complexa. Uma definição simplista pode ser estabelecida, apresentando-a como: “a ciência que

trata da concepção, estudo, produção e utilização de mapas” (ONU, 1949 apud MENEZES,

2000).

Cerca de quatro décadas depois (1991), a Associação Cartográfica Internacional (ACI)

apresentou uma nova definição, nos termos seguintes: “ciência que trata da organização,

apresentação, comunicação e utilização da geoinformação, sob uma forma que pode ser visual,

numérica ou tátil, incluindo todos os processos de elaboração, após a preparação dos dados,

bem como o estudo e utilização dos mapas ou meios de representação em todas as suas formas”.

MENEZES (2000) ressalta que esta definição, mais atualizada, incorpora conceitos que não eram

citados anteriormente, mas nos dias atuais apresentam-se diretamente associados à Cartografia,

principalmente no que tange às modernas estruturas de representação da informação.

Ainda sobre a definição em pauta, MENEZES (2000) salienta o emprego do termo

geoinformação, caracterizando um aspecto relativamente novo para a Cartografia em concepção,

mas não em utilização, pois é uma abordagem diretamente associada à representação e

armazenamento de informações. Este mesmo autor complementa: “Trata-se porém, de associar a

Cartografia como uma ciência de tratamento da informação, mais especificamente de uma

informação gráfica, que esteja vinculada à superfície terrestre, seja ela de natureza física,

biológica ou humana. Dessa forma, a informação geográfica sempre será a principal informação

contida nos documentos cartográficos”. Modernamente, a Cartografia pode ser dividida em dois

grandes grupos de atividades (TYNER, 1992; DENT, 1999 apud MENEZES, 2000):

• De propósito geral ou de referência;

• De propósito especial ou temática.

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O primeiro grupo diz respeito à chamada Cartografia de Base e procura representar, com a

maior precisão1 associada, todas as feições de interesse sobre a superfície terrestre, ressalvando,

apenas, a escala de representação. Visando a maximização na precisão das informações (aspecto

posicional), utiliza-se da fotogrametria, da geodésia e da topografia como suporte. Seus produtos

são denominados mapas gerais, de base ou de referência (MENEZES, 2000).

O segundo grupo de atividades de mapeamento (de propósito especial ou temática) depende

fundamentalmente dos mapas de base. Mapas de ensino, pesquisa e Atlas enquadram-se nesta

categoria. Estes mapas são denominados mapas temáticos.

Sobre os mapas temáticos, MENEZES (2000) complementa: “Os mapas temáticos podem

representar também feições terrestres e lugares, mas não são definidos diretamente dos

trabalhos de levantamentos básicos. São compilados de mapas já existentes (bases

cartográficas), que servirão de apoio à todas as representações. Distinguem-se essencialmente

dos mapas de base, por representarem fenômenos quaisquer, que sejam geograficamente

distribuídos sobre a superfície terrestre”. Vale salientar que a expressão “Cartografia Temática”

trouxe grande polêmica no contexto científico. Questionava-se que todo e qualquer mapa

ilustraria um tema e que a Cartografia Topográfica não fugia à regra. Assim, seria abusivo e

exagerado propor este tipo de ramificação.

Todavia, chegou-se à conclusão sobre as inúmeras diferenças entre os seus produtos. Na

Cartografia Topográfica, os assuntos tratados seriam estritamente descritivos e geométricos,

enquanto na Cartografia Temática, os assuntos seriam tratados de maneira analítica e explicativa.

Termos como Cartografia Especial (ou Especializada) e Cartografia Aplicada foram especulados,

porém o termo Cartografia Temática popularizou-se e apresenta-se de uso corrente na

comunidade científica internacional, cuja proposta seja tratar de assuntos que vão além da estrita

representação do terreno (MARTINELLI, 1991).

A proposta metodológica de criação de símbolos cartográficos para desastres e riscos

ambientais, tratada no presente trabalho, possui uma relação muito mais direta com a Cartografia

Temática ou Especial. Essa concepção pode ser justificada através das idéias de JOLY (1990),

quando afirma que o objetivo primordial dos mapas temáticos é fornecer, com o auxílio de

1 Precisão refere-se à qualidade da operação pela qual um resultado qualquer é obtido. Um par de coordenadas, por exemplo, é considerado preciso quando atende a determinadas tolerâncias pré-estabelecidas (CRUZ & PINA, 1999).

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símbolos qualitativos e/ou quantitativos dispostos sobre uma base de referência, representações

convencionais dos fenômenos localizáveis de qualquer natureza e de suas correlações.

Porém, como explicita MARTINELLI (1994), embora a Cartografia Temática seja vista

como um ramo da Ciência Cartográfica, ao lado da Cartografia de Base, é importante ressaltar

que estas duas maneiras de ver o mundo, através dos mapas, se fundem de forma historicamente

sucessiva. Portanto, não há passagem brusca, as representações temáticas não substituem as

topográficas (de base) e sim se acrescentam a elas.

2.5.1 CARTOGRAFIA TEMÁTICA

MARTINELLI (1994) justifica a popularização dos mapas temáticos (a partir do século

XVIII), através do florescimento dos diferentes ramos científicos. DENT (1996 apud CRUZ &

PINA, 1999) evidencia que os últimos 30 anos ficaram conhecidos como a “era dos mapas

temáticos” e que esta tendência continua corrente, à medida que as técnicas computacionais de

mapeamento vão se popularizando.

Antes de se elaborar qualquer tipo de mapeamento temático, deve-ser ter em mente qual o

seu propósito, o que deve ser enfatizado, qual a simbologia que melhor representa os dados e,

principalmente, a quem será destinado. Técnicas computacionais modernas e rebuscadas, por si

só, não fazem do mapa um instrumento eficiente. XAVIER (1993) enfatiza que o usuário dessas

técnicas, no contexto da análise ambiental, não deve fascinar-se pelas inúmeras possibilidades

tecnológicas na produção de mapas temáticos. É necessário que os softwares para produção de

documentos cartográficos temáticos não devam ser meros exercícios demonstrativos e sim

instrumentos geradores de informação ambiental tão necessária ao apoio à decisão.

CRUZ & PINA (1999) afirmam que seja qual for o tema, um mapa temático é elaborado com

dois propósitos principais:

Primeiro: informar a ocorrência de uma variável em uma determinada região;

Segundo: mapear as características de um fenômeno geográfico, a fim de se revelar sua

organização espacial.

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A Cartografia Temática pode ser dividida, quanto à complexidade da informação contida no

mapeamento, em três classes: inventário, analítica e síntese (MENEZES, 1996b). A seguir,

encontram-se breves considerações sobre estas classificações:

• Inventário

Esses mapas apresentam a distribuição espacial ou localização de determinadas

características da região mapeada. Também são chamados de mapas nominais. Neste tipo de

mapa não se pode determinar quantidades, nem tampouco ordem hierárquica de classes, já que

não existe nenhum valor associado às diferentes categorias (CRUZ & PINA, 1999). Exemplos

clássicos deste tipo de mapeamento são: mapas geológicos, pedológicos, uso da terra,

distribuição de endemias e outros.

• Analítica

A Cartografia Analítica é eminentemente quantitativa. Os mapas quantitativos, ao contrário

dos nominais, apresentam espacialmente dados numéricos, focalizando, por sua vez, a

distribuição de uma determinada variável (CRUZ & PINA, 1999). De uma forma geral, ela

classifica, ordena e hierarquiza os fenômenos a representar, podendo ser ordinal, intervalada ou

apresentada por razões (MENEZES, 1996b). Todas elas, entretanto, possuem em comum a

necessidade de se promover a implantação de uma graduação, que classifique os dados segundo

categorias suficientes à representação do fenômeno e, também, compatíveis com a precisão e a

distribuição dos dados submetidos à classificação (CRUZ & PINA, 1999).

Os mapeamentos quantitativos representam fenômenos contínuos, tais como: precipitação,

temperatura, análise da produção mineral do Brasil (em período de tempo determinado),

potencial agrícola dos solos, divisão da população por setores censitários e outros.

• Síntese

A Cartografia de Síntese é a mais complexa e a mais elaborada de todas. É também

integrativa por excelência, exigindo, assim, um profundo conhecimento técnico dos assuntos a

serem mapeados (MENEZES, 1996b). Os fenômenos, feições, fatos ou acontecimentos

interligam-se através da distribuição espacial. Com isso, permite-se o desenvolvimento de

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estudos conclusivos sobre a integração e interligação das inúmeras variáveis. Este mesmo autor

exemplifica a Cartografia de Síntese através da obtenção de um mapa de suscetibilidade à

doenças de uma área, obtido através do cruzamento de informações, tais como: saneamento

urbano, uso do solo, classe social, escolaridade, proximidade de focos de doenças e atendimento

médico.

Porém, não se pode abstrair que em função do alto grau de especialização do trabalho

científico e das atividades humanas, surgem setores específicos da Cartografia Temática.

Todavia, como ratifica MARTINELLI (1997), esses emergentes ramos da Cartografia Especial

necessitam de consistente sistematização, a partir de uma posição crítica, com o objetivo de se

contribuir verdadeiramente para uma determinada área do conhecimento. Ainda sobre o processo

de ramificação da Cartografia Temática, MENEZES (2000) enfatiza que cuidados especiais

devem ser tomados em relação ao estabelecimento das definições e conceitos, para que não se

caia nos próprios conceitos da Cartografia Temática. Este mesmo autor afirma que é questionável

a divisão e a classificação da Cartografia Temática em diferentes ramos. Contudo, a difusão de

rebuscadas tecnologias para análise espacial permitiu que fosse possível se chegar a níveis de

especialização jamais atingidos, devido às limitações dos processos manuais.

Dessa maneira, com base no exposto por MARTINELLI (1997) e MENEZES (2000), pode-

se deduzir a tendência progressiva atual na subdivisão de temas no âmbito da própria Cartografia

Especial. A seguir, encontram-se alguns exemplos de ramificações da Cartografia Temática.

2.5.1.1 CARTOGRAFIA AMBIENTAL

Segundo MARTINELLI (1994), nos últimos vinte anos, surge um esforço de pesquisa para o

estabelecimento de uma cartografia mais específica, na qual os principais aspectos do ambiente

estariam representados. Esse ramo da Cartografia Temática denomina-se Cartografia Ambiental e

visa interagir aspectos socioeconômicos, culturais, físicos e biológicos dos ecossistemas, levando

em conta as inter-relações e contradições entre desenvolvimento, ambiente e sociedade.

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MENEZES (2000) complementa as idéias de MARTINELLI (1994), pois afirma que para se

trabalhar com Cartografia Ambiental existe a necessidade de conhecimentos do ambiente, que

não é uma tarefa das mais simples, tendo em vista a sua caracterização multifacetada em diversas

dimensões e sua complexidade, desde a origem dos fenômenos, até aos seus efeitos.

MARTINELLI (1996) afirma que a questão fundamental para uma Cartografia do Meio

Ambiente é a tomada de um posicionamento metodológico consistente. Para isto, este mesmo

autor salienta a importância na busca de uma cartografia crítica, ou seja, que incorpore todas as

relações, mediações e contradições entre elementos do quadro físico, humano e econômico.

MARTINELLI (1996) recrimina enfaticamente a concepção dualística da representação

cartográfica, quando esta apresenta a natureza e o homem como elementos separados e

antagônicos. Vale ressaltar que a posição metodológica mais difundida e conhecida para o

tratamento da problemática ambiental é aquela fundamentada na visão sistêmica, ou seja, aquela

que considera o meio físico-biótico, a ocupação humana e seus inúmeros inter-relacionamentos.

A Cartografia Ambiental, portanto, faz parte da Cartografia Temática de Síntese. Esta, por

sua vez, é descrita por MENEZES (2000) como a mais complexa e integrativa de todas, pois

representa a interação de fenômenos, feições, fatos ou acontecimentos que se inter-relacionam,

através da distribuição espacial.

MENEZES (2000) cita a definição elaborada por ORMELING (1989) sobre Cartografia

Ambiental : “O termo mapeamento ambiental ou cartografia ambiental pode ser usado com o

significado de coleta, tratamento e apresentação de dados e informações do ambiente, incluídos

os aspectos sócio-econômicos que possam influenciar diretamente os processos bióticos e

abióticos”. MENEZES (2000) considera esta definição como a que melhor contempla o conceito

de Cartografia Ambiental, pois além de ser abrangente, atende aos requisitos das representações

qualitativas, quantitativas e de síntese, presentes na Cartografia Temática.

MENEZES (2000) chama a atenção para que os objetivos da Cartografia Ambiental podem

ser estabelecidos e vistos como: “Visualizar situações de conflito, riscos ou impactantes, prover

soluções para possíveis impactos causados por novas ações antrópicas sobre o ambiente,

explicar situações ambientais, servir como argumento de apoio para decisões, servir de

ferramenta para análise ou capacidade do ambiente para exercer determinadas funções ou

analisar a compatibilidade das atividades sócio-econômicas de um lado e as funções do

ambiente por outro lado, visando o benefício da sociedade”.

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Porém, para se administrar a vultosa quantidade de informações necessárias para a geração

de um mapa desta complexidade, torna-se de fundamental importância a utilização de processos

especiais e domínio de novas tecnologias para a sua representação. A tecnologia de amplo

emprego nesse aspecto é a de Sistemas de Informações Geográficas (SIG), que com a criação de

bases de dados adequadas, vem a permitir o gerenciamento, cruzamento e análise das

informações, bem como uma visualização cartográfica eficaz (MENEZES, 2000).

Sobre os Sistemas de Informações Geográficas, SCHMIDT (2000) tece a seguinte definição:

“Conjunto de equipamentos, programas e pessoas que permitem a aquisição, armazenamento,

manipulação e disseminação de dados espacialmente referenciados, objetivando fornecer

informações para auxílio à tomada de decisões”. Como exemplo da complexidade e

potencialidade dos SIGs, pode-se citar o trabalho de BOGNOLA et al. (1998) que versa sobre a

erodibilidade potencial dos solos do Estado do Tocantins. O mapa de síntese elaborado neste

trabalho é apresentado na FIG.3:

FIG.3. Mapa de erodibilidade potencial dos solos do Estado do Tocantins. (BOGNOLA et al, 1998).

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O mapa final de erodibilidade potencial dos solos resultou do cruzamento entre distintos

planos de informação, tais como: solos, geomorfologia, altimetria, declividade e outros.

Percebeu-se, como conclusão deste trabalho, apesar da representação cartográfica analítica

exaustiva, o predomínio das classes II e I, como apresenta a FIG.3. Porém, fica explícito por

BOGNOLA et al. (1998), que por tratar-se de erodibilidade potencial, a mesma poderá variar em

função do manejo empregado (ação antrópica).

2.5.1.2 A CARTOGRAFIA DO TURISMO

A indústria do turismo vem crescendo de maneira veloz em todo o mundo, tornando-se

extremamente importante para a economia de um país. A atividade turística é responsável pelo

desenvolvimento econômico e social das mais diversas regiões, além de gerar milhares de

empregos, sejam eles diretos ou indiretos (CARVALHO, 2001).

MARTINELLI (1997) discute sobre a sistematização da Cartografia do Turismo, um

emergente ramo da Cartografia Temática responsável pela elaboração de mapas para fins

turísticos. Este mesmo autor enfatiza que a sistematização de uma Cartografia do Turismo deve

ser calcada sobre posições críticas, levando em conta a importância deste fenômeno econômico,

político, social e cultural. Propõe-se, no entanto, considerar o intrincado complexo de

informações presentes num espaço turístico e descartar, por sua vez, a concepção arcaica de

mapas que desempenham funções meramente ilustrativas ou decorativas.

Atualmente, o turismo apresenta comprometimento com questões ambientais, principalmente

por causa da crescente conscientização sobre os impactos que esta atividade pode causar aos

ecossistemas mais sensíveis e frágeis. A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR, 2001)

exalta a importância e a valorização do Ecoturismo nos últimos anos e o define como: "Segmento

da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva

sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação

do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas". A Cartografia do Turismo,

portanto, sugere orientação para o aproveitamento racional e consciente da natureza.

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Os mapas turísticos, muitas vezes, apresentam-se como cartogramas (FIG.4). Estes são

representações estilizadas e relativamente abstratas, cujo objetivo central é expor uma idéia de

modo diagramativo, sem o compromisso formal com a precisão, a escala e, muitas vezes, até

mesmo com a própria aparência do mapa. (BRITO, 1999).

FIG.4. Mapa Turístico da Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro.

Vale também ressaltar que a conjugação de fotografias, desenhos e textos num mapa turístico

torna-se bastante prudente, otimizando, dessa maneira, a relação entre o grande público e o

espaço turístico. MARTINELLI (1997) é enfático na afirmação de que a representação na

Cartografia do Turismo deve refletir as necessidades, inquietudes, ambições, economia e

princípios da vida política de uma sociedade, ou seja, deve ser o espelho do espaço geográfico

num determinado momento histórico. Além disso, um documento cartográfico adequado às

expectativas do turista faz dele um verdadeiro cidadão.

2.5.1.3 CARTOGRAFIA DO PERIGO

No livro “Cartografia do Perigo: Mapeando riscos na América”, MONMONIER (1997) discorre

tanto sobre mapeamentos de riscos essencialmente naturais (FIG.5), como também riscos

produzidos exclusivamente pela ação do homem (FIG.6). Os primeiros dizem respeito, por

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exemplo, aos terremotos, enchentes e erupções vulcânicas e os segundos, por sua vez, referem-se

aos acidentes nucleares, distribuição de endemias e criminalidade. Este mesmo autor enfatiza que

os mapas do perigo auxiliam no entendimento da dinâmica do fenômeno numa determinada área

e dos vários graus de riscos que ele representa. Além disso, estes mapas têm como objetivo

desmistificar ou valorizar a existência do perigo, seja numa rua, bairro, cidade ou Estado.

FIG.5. Mapas de Zonas de Perigo Natural nos Estados Unidos.

(adaptado de MONMONIER,1997).

Os Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) são também amplamente utilizados na

Cartografia do Perigo. No processo de elaboração de mapas que representam áreas com variados

graus de periculosidade (FIG.6), inúmeros planos de informações são confrontados, com o

objetivo de se mensurar, com maior exatidão, os locais de risco. As camadas de informação que

foram integradas e que deram origem ao mapa de síntese final, neste caso, são de cunho social e

poderiam ser: renda per capita, habitação, taxa de desemprego, nível de escolaridade e outros.

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FIG.6. Mapas de Índice de Criminalidade dos Estados Unidos.

(adaptado de MONMONIER,1997).

Todavia, o próprio MONMONIER (1997) afirma que a Cartografia do Perigo é um

emergente ramo da Cartografia Temática e ainda necessita de legitimação. Esta nova

especialização passa, sobretudo, por um processo de adaptação às novas tendências da

informática e técnicas de análise estatística. Porém, vale salientar que não se deve abstrair a

potencialidade dos mapas do perigo, principalmente se baseados em conhecimento científico.

Dessa maneira, estes mapas podem mitigar os efeitos oriundos de desastres ambientais e auxiliar

inúmeras ações governamentais na equação de problemas sociais.

Portanto, não se pode descartar que o espaço geográfico é dinâmico e indissociável do

tempo. Como enfatiza MARTINELLI (1986), nada é estático ou congelado, a posição e o estado

dos fenômenos se alteram com o tempo. Ao se considerar o movimento em relação ao tempo

empregado, tem-se a noção de velocidade. As representações cartográficas dos movimentos

devem materializar as posições sucessivas de um fenômeno, mostrando, por exemplo, a direção e

o sentido de seu deslocamento.

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2.5.1.4 CARTOGRAFIA DO MOVIMENTO OU CARTOGRAFIA DINÂMICA

“Problemas ambientais ocorrem dentro das dimensões básicas do mundo físico, ou seja, tem

expressão territorial (espaço) e uma dinâmica (tempo)” (XAVIER DA SILVA, 1993). Registros

de ocorrências passadas podem definir a direção e sentido (dinâmica da ocorrência territorial) dos

fenômenos ambientais. Entender o dinamismo espacial e temporal de um fenômeno (diagnóstico

ambiental) é de fundamental importância para o estabelecimento dos procedimentos de prognose,

nos quais são feitas previsões e sugeridas provisões quanto aos problemas ambientais em estudo

(XAVIER DA SILVA, 1993).

MARTINELLI (1991) apresenta as variáveis “tempo e espaço” como indissociáveis, além de

aspectos fundamentais da existência humana. Este mesmo autor enfatiza que diferentes

fenômenos possuem certa herança (passado) e apresentam certo potencial para o futuro. Os

fenômenos mudam de posição e aparência, ou seja, possuem dinamismo permanente. As

variações dos fenômenos podem ser quantitativas (ampliação ou redução) ou qualitativas

(mudança do estado do fenômeno), além do deslocamento num certo percurso, dotado de um

certo sentido e direção.

O conceito de Cartografia Dinâmica (Cartografia do Movimento) surgiu em meados da

década de 80 e possui relação direta com a rápida mutação do espaço terrestre e problemas

ambientais do mundo contemporâneo. Os fatores antrópicos podem ser apresentados como os

principais causadores dessas modificações do espaço, seja ele urbano ou rural. (STEIM-BERG &

HUSSER, 1988 apud MENEZES, 2000).

A maioria absoluta dos mapas apresenta visão estática (congelada). Poucas são as

representações cartográficas que demonstram idéias de seqüência temporal. Vale também

ressaltar que um mapa sempre será um documento ultrapassado quando chega na mão do usuário,

pois sempre haverá certo tempo na produção deste documento (MARTINELLI, 1991).

Em consonância com o exposto, MENEZES (2000) salienta que a representação do

dinamismo de informações não é um fato novo dentro da Cartografia ou da Geografia. Todavia,

com a presença maciça de técnicas computacionais e a popularização do sensoriamento remoto,

tornam-se mais comuns a exploração e a manipulação deste tipo de representação.

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JOLY (1990) enfatiza a importância de se cartografar o movimento. Este mesmo autor

afirma ainda que a Terra está em constante transformação e que a ciência cartográfica pode e

deve representar tais mudanças, seja qual for a escala temporal. Existem algumas técnicas para se

introduzir a quarta dimensão nos mapeamentos (variável Tempo). Algumas técnicas de

representação do movimento encontram-se exemplificadas na FIG.7.

FIG.7. Técnicas para dinamismo na representação cartográfica.

(A e B: Representação por fluxos; C: Representação de evolução de um fenômeno). (Adaptado de JOLY, 1990).

Os fenômenos que são passíveis deste tipo de representação são bastante variados. Como

exemplo pode-se citar: migrações, propagação de epidemias, intercâmbios comerciais, tráfico

rodoviários, rotas de contrabando, processo de favelização, desmatamento florestal e outros.

Porém, estudos que envolvem questões espaciais têm na escala uma referência fundamental.

MENEZES & COELHO NETO (1999) ressaltam a importância da escala em pesquisas de cunho

geográfico, cartográfico, ou ambiental, ou qualquer outra que se realize sobre o espaço físico de

atuação de um fenômeno, espacializando, assim, a sua representação. Em contrapartida,

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COLLARES (1999) cita as idéias de CASTRO (1995) na seguinte afirmação: “embora o mapa

seja um instrumento de fundamental importância para a análise, e mesmo para a reflexão sobre

problemas geográficos, ele não substitui e não pode ser tomado pela realidade”. Em outras

palavras, esta autora ressalta que, na maioria das vezes, a cartografia só consegue representar o

fenômeno, ou, no máximo, um meio termo entre este e a realidade. Neste caso, a realidade só

aparece representada por algumas de suas facetas.

2.6 O CONCEITO DE ESCALA

No item 2.4 foi explicitado que a informação geográfica, após ter sido submetida a um

processo de transformação, dá origem à informação cartográfica. Essas transformações, impostas

às informações geográficas, possuem natureza diferenciada. Porém, não se pode desconsiderar

que todas essas transformações encontram-se inter-relacionadas (MENEZES, 2000). São elas:

a) Transformações geométricas

As transformações geométricas são caracterizadas por um relacionamento de escala e

orientação entre sistemas de referência. O conceito de escala é essencial para qualquer tipo de

representação espacial e pode ser entendido como um artifício operacional, baseado numa relação

matemática, usado para representar a realidade (CASTRO, 1995). Esta relação matemática é

fundamental para a representação da superfície terrestre num mapa, ou seja, diz respeito à fração

que indica a relação de redução existente entre uma distância real e sua representação no papel.

Vale também salientar que quanto maior o denominador desta fração, menor é a escala de

representação (LACOSTE, 1989 apud COLLARES,1999).

MENEZES e COELHO NETO (1999) chamam a atenção para o conceito de escala. Os

autores descrevem a simplicidade deste conceito, se for abordado apenas pelo aspecto

cartográfico, como uma transformação geométrica de semelhança, sem se levar em consideração

os aspectos projetivos de distorção ou variação de escala ao longo de uma área. Estes mesmos

autores abordam a escala dentro de um contexto espacial ou em um contexto temporal. A escala

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temporal pode ser aplicada em conjunto com a escala espacial, principalmente para a indicação

de elementos ligados a fatores evolutivos e ambientais, como seus períodos de ocorrência e

atuação. Desse modo, no caso específico de fenômenos ambientais, a informação só será

percebida se visualizada em uma escala, dentro de sua área de atuação, ou dentro do seu contexto

espacial, integrada com outras informações e entendida por suas propriedades e pelos seus

relacionamentos. Em principio, quanto menor a escala cartográfica, maior será o grau de

generalização aplicado, buscando-se, por sua vez, a clareza e a legibilidade da representação.

A escala é o principal fator da generalização cartográfica e possui relação direta com o grau

de detalhamento do mapeamento (FIG.8). A escala menor sempre representará uma maior área

geográfica. Em contrapartida, as representações em grandes escalas terão, indubitavelmente,

maiores níveis de detalhamento (MENEZES & COELHO NETO, 1999).

FIG.8. Nível de detalhamento em mapas de diferentes escalas (MELHORAMENTOS, 1998). (Porção esquerda: Mapeamento de menor escala; Porção direita: Mapeamento de maior escala).

JOLY (1990) muito bem apresenta que ao se variar a escala de um mapa, varia-se também o

espaço disponível para o desenho. Observando a FIG.8 fica fácil perceber que quanto menor a

escala, mais sintética e esquemática será e expressão gráfica. Assim, toda a mudança de escala

merece total revisão do sistema gráfico.

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MENEZES & COELHO NETO (1999) discorrem também sobre os conceitos de escala

geográfica e escala operacional. O primeiro é traduzido pela amplitude da área geográfica em

estudo, ou seja, estabelece que quanto maior a extensão da área, maior será a escala geográfica

associada. Este conceito é antagônico ao conceito de escala cartográfica, pois quanto maior a

escala geográfica, menor será a escala cartográfica aplicada. O segundo conceito (escala

operacional) relaciona-se diretamente com a escala geográfica de atuação de um determinado

fenômeno. Por exemplo, a escala operacional da poluição ambiental de uma fábrica isolada será

menor que a escala operacional de um distrito industrial como um todo.

No que diz respeito às transformações projetivas (também pertencentes à classe de

transformações geométricas), vale apenas ressaltar que estas possuem relação direta com as

transformações da superfície tridimensional curva da Terra, para a superfície de representação de

um mapa, ou seja, superfície de representação bidimensional plana. As discussões acerca das

transformações projetivas fogem, portanto, ao escopo do presente trabalho.

b) Transformações cognitivas

As transformações cognitivas, por sua vez, referem-se às transformações do conhecimento da

informação, ou seja, possuem relação com o que será efetivamente representado no mapa. Dizem

respeito, no entanto, à generalização e à simbolização cartográfica.

Para se adaptar elementos de um mapa com escala maior para um mapa de escala menor, há

necessidade de generalização, como pode ser observado na FIG.9. A generalização cartográfica

aparece como necessidade de se otimizar o processo de comunicação, uma vez que não é possível

representar em um mapa tudo o que existe no terreno. Há, portanto, que se selecionar os aspectos

mais importantes da realidade. MENEZES (1996b) apresenta esta seleção de informações como

sendo um processo intelectual de decisão, fundamental para se atingir, satisfatoriamente, a

legibilidade de um mapa. MENEZES (2000) segue nesta mesma linha de raciocínio e cita o

trabalho de VIANNA (1997), que considera o processo manual da generalização como

inteiramente dependente do conhecimento cartográfico-geográfico do responsável pelo

mapeamento.

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FIG.9. Generalização Cartográfica. (MELHORAMENTOS, 1991).

MONMONIER (1982) ratifica o exposto, colocando o processo de generalização como

extremamente subjetivo, complexo, intuitivo e de difícil implementação. Seria o maior desafio

intelectual para um cartógrafo. CRUZ e PINA (1999), por sua vez, ressaltam que a generalização

diz respeito à seleção, simplificação e simbolização de fenômenos, sendo diretamente dependente

do objetivo a ser alcançado e da escala de representação cartográfica a ser empregada. Isto é

válido tanto para dados básicos quanto para temáticos.

Deve-se atentar, sobretudo, que a transformação de escala é a operação mais relevante para a

imposição da generalização. Como grande parte das operações de mapeamento implica em

transformação de escala, fica também implícito o ato da generalização para toda e qualquer

atividade cartográfica. Um mapa sempre representará uma informação geográfica numa escala

menor do que a real (MENEZES, 2000).

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Sobre a simbolização de fenômenos, inclui-se a seleção e o desenho de símbolos que

representem o fenômeno geográfico no mapa. Deve-se considerar, por exemplo, todas as

características gráficas do fenômeno, tais como cor e forma. O processo de simbolização

cartográfico será tratado, de maneira minuciosa, no Capítulo 6.

Portanto, não se pode omitir que a Cartografia, como as outras áreas do conhecimento,

beneficiou-se também do desenvolvimento da tecnologia dos computadores. Não se pode falar de

transformações geométricas, projetivas e cognitivas sem deixar de citar a revolução no tratamento

gráfico das informações via aplicativos (softwares) especializados.

2.7 A CARTOGRAFIA DIGITAL E A TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO

A evolução técnica nos meios de manipular e gerenciar a gigantesca quantidade de dados

(inclusive os dados ambientais) torna-se notória. A Geoinformação (toda e qualquer informação

que pode ser posicionada no espaço geográfico) apresenta aplicação em diversas áreas, como na

agricultura, em marketing (geomarketing), transporte, planejamento urbano, serviços de

telecomunicação e muitos outros. Dentro do desenvolvimento de novas tecnologias, o termo

geoprocessamento vem sendo muito empregado por profissionais que trabalham com

informações referenciadas espacialmente na superfície terrestre (ROSA & BRITO, 1996).

“O termo Geoprocessamento denota a disciplina do conhecimento que utiliza técnicas

matemáticas e computacionais para o tratamento da informação geográfica. Esta tecnologia,

denotada por Geoprocessamento, influencia de maneira crescente as áreas de Cartografia,

Análise de Recursos Naturais, Transportes, Comunicações, Energia e Planejamento Urbano e

Regional” (CÂMARA & DAVIS, 1998). Segundo STRAUCH E SOUZA (1998), com o

desenvolvimento da informática na automação de processos surgiram várias ferramentas para a

captura automática de dados, análise e apresentação de informações geográficas relacionadas.

Além disso, estes autores apresentam as ligações técnicas e conceituais dessas ferramentas como

responsáveis pelo desenvolvimento da tecnologia de processamento de dados denominada

geoprocessamento.

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A revolução em curso na área das telecomunicações, representada principalmente pela rede

mundial de computadores, facilitou a circulação das informações geográficas nos mais distintos

pontos da superfície terrestre. Este avanço ligado ao binômio geografia-informática é bem

explicitado no discurso de GORE (1998), que afirma que encontra-se em processo de

estruturação uma biblioteca digital global. Este banco de dados planetário tem relação direta com

estratégias militares e geopolítica e visa distribuir dados e informações geográficas de maneira

interativa e dinâmica. A grande incógnita reside no fato de saber se o acesso às informações

globais aumentará o abismo tecnológico, científico e econômico entre as diferentes nações.

A elaboração de mapas possui relação direta com a geoinformação, pois produtos

cartográficos e aplicações de mapeamento vêm atendendo, cada vez mais, a necessidade de se

conhecer e gerenciar o ambiente. Mas vale ressaltar que a importância de mapas com assuntos

especiais ou temáticos não são eminentemente recentes. Estes começaram a surgir no século

XVII, destinados à navegação, tendo entre outros, informações sobre ventos dominantes e linhas

de costa. O desenrolar da história da Cartografia mostra a evolução da habilidade do homem em

perceber e registrar os fenômenos sobre uma determinada área geográfica, ou mesmo da Terra

inteira (MENEZES, 1996b).

Ao situar a cartografia num contexto global, deve-se explicitar algumas considerações sobre

a atual fase do capitalismo. Esta fase, intitulada de globalização, é caracterizada pela fortíssima

atuação de grandes corporações multinacionais. Estas megaempresas desenvolvem aplicativos de

mapeamento digital e Sistemas de Informações Geográficas (SIG) que são utilizados em âmbito

mundial. Usuários desses sistemas computacionais, muitas vezes sem a devida capacitação

técnica e deslumbrados com a enorme gama de recursos oferecidos pelos pacotes de aplicativos,

desenvolvem trabalhos cartográficos sem o verdadeiro rigor científico.

JOLY (1990) atenta para o fato de que os computadores apenas restituem os dados que lhe

são fornecidos. Além disso, afirma que mesmo com o avanço da “inteligência artificial”, a

máquina não é totalmente capaz de inventar, discernir e intuir procedimentos fundamentais ao

desenvolvimento científico. O fornecimento e criação dos dados, além do manejo da

comunicação gráfica e leis da visão, permanecerão, por muito tempo ainda, como verdadeiro

domínio dos cartógrafos.

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JOLY (1990) também acrescenta que, manual ou automática, a análise cartográfica

permanece a mesma nos seus princípios, pois continua direcionando-se aos seguintes problemas:

• Problemas de localização: relações entre objetos estudados no espaço;

• Problema de qualificação: diferenciação entre objetos;

• Problemas de quantificação: classificação e comparação entre objetos;

• Problemas de representação de relações, proporções ou outros valores estatísticos.

Portanto, paradoxalmente ao avanço das artes gráficas e técnicas computacionais para

mapeamento, os mapas de síntese e suas representações analíticas exaustivas apresentam-se

carregados de signos das mais variadas espécies, exigindo do leitor um enorme esforço para

desmembrar a imagem que cada fenômeno desenha. As considerações acerca do processo de

comunicação cartográfica e a importância da orientação semiológica na representação gráfica

serão discutidas no próximo Capítulo.

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3. TEORIA DA INFORMAÇÃO E LINGUAGEM CARTOGRÁFICA

3.1 SISTEMA BÁSICO DE COMUNICAÇÃO

A Teoria da Informação é também comumente reconhecida por Teoria da Comunicação ou

Teoria da Informação e da Comunicação. Sobre a distinção entre os termos informação e

comunicação, como estabelecem alguns teóricos, PIGNATARI (1988) afirma que a separação

terminológica não tem sentido ou apresenta-se dificilmente sustentável. Este mesmo autor

justifica a não distinção entre os termos, pois quando utiliza-se a expressão “Teoria da

Informação”, no seu sentido mais amplo, compreende-se também a comunicação, uma vez que

não há informação fora de um sistema qualquer de sinais e fora de um veículo ou meio apto a

transmitir tais sinais. No entanto, PIGNATARI (1988) salienta que o termo comunicação possui

maior aceitação pela massa média do público letrado.

Segundo MENEGUETTE (2001), a Teoria da Informação surgiu na década de 40, como uma

teoria estatística e matemática, tendo-se originado nas áreas de telegrafia e telefonia.

Posteriormente, torna-se de grande interesse à Cibernética, como estudo da troca de informação

em um organismo vivo ou mecânico, e aos setores onde há interesse na mecanização da

informação. Vale ressaltar que o processo básico da Teoria da Informação refere-se

fundamentalmente à quantidade de informação, descartando, por sua vez, aspectos qualitativos e

de conteúdo (PIGNATARI, 1988). Desse modo, a Teoria da Informação considera somente as

perdas de informação em cada etapa do processo de comunicação, preocupando-se,

essencialmente, com a minimização destes extravios (MARTINELLI, 1990).

Deve-se evidenciar que o processo de busca incessante pela otimização nas etapas do

processo de comunicação foi desencadeado a partir da Revolução Industrial. A produção em

larga escala, oriunda do processo de industrialização, depende diretamente de um mercado

consumidor em constante ebulição. Dessa maneira, a ação dos designers (desenhista-industrial,

desenhista-de-produto ou programador visual) na elaboração de propagandas e planejamento de

marketing, com base no conhecimento sobre sistemas de comunicação, torna-se de fundamental

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importância para se atingir o maior número possível de consumidores (PIGNATARI, 1988). Para

aprofundamentos sobre os meios de comunicação de massa e sua influência na vida física e

mental do Homem, vide McLUHAN (1964).

Para CHERRY (1959), comunicação significa: "compartilhar elementos de comportamento

ou modos de vida, pela existência de um conjunto de regras". MASER (1975) discorre sobre a

etimologia do termo “comunicação” e apresenta sua origem do latim “communicatione”, cujo

significado seria “tornar comum”, “partilhar”, “trocar opiniões” ou “conferenciar”. BERLO

(1965) entende comunicação "como sendo o processo através do qual um indivíduo suscita uma

resposta num outro indivíduo, ou seja, dirige um estímulo que visa favorecer uma alteração no

receptor por forma a suscitar um resposta". Sobre o estímulo que desencadeia o processo de

comunicação, PIGNATARI (1988) enfatiza que os grupos humanos só absorvem a informação de

que sentem necessidade e/ou que lhes seja inteligível.

A palavra comunicação é de uso corrente, sendo utilizada tanto no dia-a-dia como nas

diversas ciências. O AURÉLIO (1999) descreve o verbete comunicação segundo 12 acepções

distintas, além de numerosos qualificativos. Algumas das acepções (geralmente similares e

complementares) são:

“1. Ato ou efeito de comunicar(-se). 2. Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. 3. A capacidade de trocar ou discutir idéias, de dialogar, de conversar, com vista ao bom entendimento entre as pessoas. 4. Exposição oral ou escrita sobre determinado assunto […] 5. Participação ou aviso de fato ocorrido ou por ocorrer […] 6. Teoria da Informação. Transmissão de mensagem entre uma fonte e um destinatário, distintos no tempo e/ou no espaço, utilizando um código comum”.

PIGNATARI (1988) afirma que apesar da existência de grande número de sistemas de

comunicação, todos eles podem ser reduzidos a um esquema básico e abstrato de canal de

comunicação, como apresenta a FIG.10.

FIG.10. Representação básica da comunicação. (Adaptado de MASER, 1975).

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A informação a ser comunicada deve possuir uma fonte e um destino distintos (no tempo e

no espaço), onde se origina a cadeia que os une e que constitui o canal de comunicação. Além

disso, para que a informação ou mensagem transite por um canal de comunicação, é necessário

que haja redução de sinais aptos a essa transmissão. Esta operação, por sua vez, chama-se

“codificação” e é realizada pelo transmissor ou emissor. MASER (1975) afirma que o emissor

pode ser encarado também como “emitente”, pois tem a função de despachar ou expedir a

mensagem. O receptor será, então, considerado como “recipiente”, pois será o responsável por

recolher (acolher, apanhar, compreender, distinguir, perceber) a mensagem. Entretanto, no ponto

de destino, um receptor converte a informação à sua forma original, decodificando-a com vistas a

seu destinatário (PIGNATARI, 1988).

Sobre o conceito de mensagem, PRATES (1998) tece as seguintes considerações: “Segundo

a Teoria da Informação é qualquer sucessão de dados codificados passível de transmissão de um

emissor a um receptor, independente de seu significado. Tecnicamente pode-se afirmar que a

mensagem é a unidade complexa codificada que transita por um canal, levando informação de

um emissor a um receptor. Em amplo sentido, é o conteúdo que permite a efetivação de um

processo comunicacional, seu mediador”. O processo de codificação ou transformação das

informações em signos/sinais é objeto de estudo da Teoria Geral dos Signos. Os devidos

esclarecimentos acerca dessa Teoria serão explicitados no item 3.2.

PRATES (1998), com o objetivo de esclarecer a importância do processo de codificação na

comunicação, cita a definição de código encontrada no Dicionário de Comunicação de KATZ-

DÓRIA-LIMA (1975): “Conjunto de elementos pertinentes sobre os quais se forma um sistema,

através da combinação, segundo regras prefixadas, daqueles. Os elementos pertinentes de um

código chamam-se signos, distinguidos dos sinais, por serem estes causadores de estímulos cujas

respostas não são previsíveis”. PIGNATARI (1988), por sua vez, define código como: “um

esquema de divisão de energia que pode ser veiculada ao longo de um canal. É um sistema de

símbolos que, por convenção preestabelecida, se destina a representar e transmitir uma

mensagem entre a fonte e o ponto de destino”. Este mesmo autor cita alguns exemplos de

códigos, tais como: Morse, Braille, de trânsito e outros. Vale também ressaltar que PIGNATARI

(1988) considera as línguas como códigos, embora CHERRY (1959) negue tal concepção. Para

este autor, as línguas se caracterizam por um longo desenvolvimento orgânico e os códigos, por

sua vez, são tecnicamente elaborados para certos fins específicos.

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SANTAELLA (1983) apresenta a linguagem como um sistema de produção de sentido, cuja

função é a comunicação. Além disso, esta autora considera os termos linguagem e comunicação

como interdependentes, ou seja, sem linguagem não há comunicação e vice-versa. PRATES

(1998) cita as idéias de COELHO NETTO (1980) acerca da teoria lingüística, cujo objeto de

análise é a linguagem, e que não deve ser entendida como simples sistema de sinalização. A

lingüística deve ser entendida como matriz do comportamento e pensamento humanos e tem, por

objetivo, a formulação de um modelo de descrição desse instrumento através do qual o homem

desenvolve seus atos, vontades, sentimentos, emoções e projetos.

Entretanto, nenhum sistema de comunicação está isento de possibilidade de erros. Todas as

fontes de erros são agrupadas sob a mesma denominação de ruído ou distúrbio. Com isso, quanto

menor a taxa de ruídos, maior será a qualidade de informação obtida. Vale ressaltar que o ruído

pode ocorrer em qualquer dos estágios de um canal. MOURA & RIBEIRO (1998) são enfáticos

na afirmação de que dependendo do grau de ruído, na relação emissor/receptor, o processo de

comunicação pode tornar-se inexeqüível.

PIGNATARI (1988) e MOURA & RIBEIRO (1998) abordam a questão da redundância.

Para que a transmissão da informação aconteça, é preciso que tanto o emissor, como o receptor,

conheçam os símbolos utilizados no processo de comunicação. Deve haver um repertório

comum, com um mínimo de redundância. Contudo, o excesso de redundância também pode

causar danos à comunicação, pois causa desinteresse do receptor quanto ao conteúdo da

informação. PIGNATARI (1988), de maneira bem simplista, apresenta a redundância como

repetição ou ação para prevenção de erros. Este mesmo autor cita como exemplo de redundância

a repetição de operações aritméticas, a fim de se reduzir a possibilidade de incorreções ou

desacertos.

MASER (1975) expõe um esquema geral da comunicação baseado no trabalho de

SHANNON E WEAVER (1964), cuja temática trata da Teoria Matemática da Comunicação.

Neste esquema geral da comunicação são apresentadas 6 (seis) partes específicas de um sistema

maior, além de seus intricados relacionamentos (FIG.11).

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FIG.11. Esquema geral da comunicação. (Adaptado de MASER, 1975).

De uma maneira bem geral, as 6 (seis) partes específicas do esquema geral da comunicação

são:

Parte 1. Fonte de mensagem – É o repertório do emissor (letras, palavras, números, cores,

tons e outros). Através de um sistema de regras, o repertório do emissor é ordenado e

transformado em mensagem. Exemplo: Através das regras gramaticais, as letras combinadas

estruturam palavras, que, por sua vez, estruturam sentenças.

Parte 2. Destino da mensagem ou Pouso da mensagem– É a mensagem “absorvida” pelo

recipiente. O receptor, como o emissor, possui também seu repertório. Para que o processo de

comunicação seja possível, é fundamental que exista um repertório comum entre o emissor e o

receptor (redundância).

Parte 3. O emissor – É o responsável por despachar ou expedir a mensagem codificada (num

certo sistema de sinais ou signos).

Parte 4. O receptor - É o responsável pela decodificação da mensagem enviada pelo emissor,

ou seja, cabe-lhe o retorno da mensagem à linguagem que foi inicialmente formulada.

Parte 5. O canal – É o meio que torna possível a transmissão da informação. Exemplos de

canais: livros, discos, fitas gravadas, filmes, quadros e muitos outros.

Parte 6. Fonte de perturbação - A cadeia comunicativa não está isenta das possibilidades de

erros. Os erros são chamados de "ruído ou distúrbio" e podem ocorrer em qualquer parte do canal

de comunicação.

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Como última consideração, vale ressaltar que o esquema geral da comunicação exposto por

MASER (1975), cuja base consiste no trabalho de SHANNON E WEAVER (1964), contempla

tanto a comunicação verbal, como a comunicação visual. Deve-se, entretanto, tecer algumas

distinções entre a comunicação verbal (em que o meio é a linguagem escrita ou oral) e a

comunicação visual (cujo meio é constituído pelos recursos de ordem gráfica ou pictórica). Esta

última possui interesse direto no que tange à Ciência Cartográfica, uma vez que o transporte da

mensagem se dá apenas num sentido (unilateral), ou seja, o emissor é o próprio objeto observado

(o mapa), ao passo que a pessoa que o observa é o receptor (usuário). O item 3.1.1 trata

especificamente da comunicação visual.

3.1.1 COMUNICAÇÃO VISUAL

A “comunicação visual” pode ser entendida como tudo que os olhos humanos vêem, como,

por exemplo: uma nuvem, uma flor, um desenho técnico, um sapato, um cartaz, uma bandeira,

um mapa e muitos outros. No entanto, deve-se salientar que cada uma dessas imagens possui

contexto próprio e apresenta informações diferenciadas. Além disso, deve-se distinguir as

mensagens visuais em dois grandes blocos: comunicação visual casual e comunicação visual

intencional (MUNARI, 1997).

A comunicação visual casual, como exemplifica MUNARI (1997), pode ser uma nuvem

passante no céu, indicando, por sua vez, a chegada de um temporal. A comunicação visual

intencional pode ser, de maneira contrária, uma série de pequenas nuvens de fumaça que os

índios utilizavam como código no processo de comunicação. Com isso, a comunicação casual

pode ser livremente interpretada pelo recipiente, enquanto a comunicação intencional, numa

situação ideal, deveria ser recebida na totalidade do significado pretendido pela intenção do

emissor. Vale também salientar que a comunicação visual intencional pode ser examinada sob

dois aspectos: o da informação estética e o da informação prática. O primeiro, extremamente

subjetivo, pode tratar, por exemplo, das relações volumétricas de uma construção tridimensional

ou das relações visíveis de transformações de uma forma em outra (a nuvem que se desfaz e

muda de forma). A segunda, por sua vez, entende-se como um desenho técnico, uma fotografia

de reportagem, o noticiário da TV, um sinal de trânsito, um mapa etc (MUNARI, 1997).

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MUNARI (1997) afirma também que cada receptor possui “filtros”, através dos quais a

mensagem terá de passar para ser definitivamente recebida ou interiorizada, como demonstra a

FIG.12. Os três tipos de filtros são:

1. Filtro de caráter sensorial (respostas sensoriais) – Os daltônicos, por exemplo, não vêem

certas cores. Dessa maneira, quando recebem mensagens baseadas exclusivamente na linguagem

cromática, estas são alteradas ou até mesmo anuladas;

2. Filtro funcional (filtros operativos) – Este depende das características psicofisiológicas

constitutivas do receptor. Exemplo: Um indivíduo adulto e uma criança de três anos analisam

uma mensagem de maneira distinta, pois possuem diferentes experiências de vida;

3. Filtro cultural - Apenas as mensagens que fazem parte do universo cultural do receptor

serão absorvidas. Exemplo: Muitos ocidentais não consideram a música dos orientais como

agradável ao ouvido, simplesmente porque o conjunto sonoro não corresponde às suas normas

(hábitos) culturais.

FIG.12. Esquema da mensagem visual. (MUNARI, 1997).

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Deve-se ressaltar que os filtros de caráter sensorial, funcional e cultural não se apresentam

tão estanques, além de não possuírem ordem fixa, como descreve a FIG.12. Por fim, uma vez que

a mensagem visual atravesse a zona de perturbação e as camadas de filtros, esta mensagem chega

à zona emissora do receptor. Esta, por sua vez, pode expedir dois tipos de resposta à mensagem

recebida: uma interior e uma exterior. Exemplo: se a mensagem visual diz “aqui há um bar”, a

resposta exterior manda o indivíduo beber; a resposta interior diz: “não tenho sede” (MUNARI,

1997).

Como última consideração, vale a ressalva de MUNARI (1997), quando afirma que torna-se

de fundamental importância para o entendimento do processo de comunicação visual, a divisão

da mensagem em duas partes: a informação propriamente dita (transportada pela mensagem) e o

suporte visual (o conjunto de elementos que torna visível a mensagem, ou seja, as variáveis

visuais). O aprofundamento acerca do suporte visual e as suas respectivas variáveis visuais será

realizado item 3.2.3 (Semiologia Gráfica).

3.1.1.1 COMUNICAÇÃO CARTOGRÁFICA

O produto cartográfico é uma forma de comunicação visuo-espacial e sua fonte de

informações para a representação gráfica é o mundo real. O sistema de comunicação cartográfica,

como qualquer outro sistema de comunicação, pode ser reduzido a um esquema básico de canal

comunicacional (PIGNATARI, 1988). A FIG.13 propõe um esquema básico e real de cadeia de

comunicação cartográfica. A qualificação “básico” refere-se à tríade fundamental “emissor-meio-

receptor”, enquanto a qualificação “real” diz respeito à interação por repetição entre o usuário e o

mapa, no processo de decodificação da informação. Vale destacar que quanto mais exaustiva é a

leitura do mapa, mais lento é o processo de interação entre o emitente e o recipiente. Porém,

deve-se enfatizar que na comunicação cartográfica o transporte da mensagem se dá

unilateralmente, ou seja, o emissor (o mapa) é o próprio objeto observado, ao passo que a pessoa

que o observa é o receptor (usuário do mapa).

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FIG.13. Esquema “básico e real” da cadeia de comunicação cartográfica. (Adaptado de TYNER, 1992).

Em contrapartida, num esquema “básico e ideal” de comunicação cartográfica, o receptor

decodifica, de maneira instantânea, o conjunto de sinais emitidos pelo mapa, como apresenta a

FIG.14 (MENEGUETTE, 2001). Quanto menor o tempo de assimilação das informações

cartográficas por parte do usuário, mais perto do “ideal” apresenta-se o mapa. Contudo, como

enfatiza JOLY (1990), o mapa é uma imagem incompleta do terreno (uma simplificação da

realidade) e nunca será, portanto, reprodução fidedigna do espaço geográfico.

FIG.14. Esquema “básico e ideal” de comunicação cartográfica. (Adaptado de TYNER, 1992).

Em consonância com o exposto, MENEZES (2000) afirma que quanto maior a interseção

entre o mundo real, o cartógrafo e o usuário, maior será a aproximação do mapa com o ideal

(FIG.15).

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FIG.15. – Mapa Ideal (MENEZES, 2000).

No ciclo ideal de comunicação cartográfica apresentado por MENEZES (2000), o cartógrafo

lê e interpreta objetos do mundo real, codificando-os num documento cartográfico. O usuário, por

sua vez, sem este mesmo contato com mundo real, lê e interpreta as informações contidas no

mapa, com o objetivo de decodificar tais mensagens e, por fim, reconstituir o mundo real em seu

imaginário. Por conseguinte, deve-se ressaltar que este ciclo dificilmente é alcançado com mapas

propriamente ditos (FIG.16).

FIG.16. Esquema do ciclo ideal da comunicação cartográfica. (Adaptado de MENEZES, 2000).

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Em relação ao ciclo real de comunicação, MENEZES (2000) demonstra, através da FIG.17,

que o cartógrafo lê e interpreta os objetos do mundo real, porém utiliza-se de uma visão bem

particular no processo de codificação da mensagem. O usuário, por sua vez, passa a ter, como

referencial de leitura e interpretação, a concepção de mundo estabelecida pelo cartógrafo. Dessa

maneira, o consulente decodifica as informações pertinentes à visão de mundo real estruturada no

ideário do cartógrafo. Portanto, apesar da assimetria entre a visão de mundo do cartógrafo e a

visão de mundo do usuário do mapa, não se pode negar a existência do processo comunicacional.

FIG.17. Esquema do ciclo de comunicação real entre cartógrafo e usuário. (Adaptado de MENEZES, 2000).

O esquema real de comunicação cartográfica explicitado por MENEZES (2000) apresenta

bastante semelhança com o processo de comunicação esquematizado por MARTINELLI (1990),

como expõe a FIG.18. Este autor apresenta o processo comunicacional dividido em 4 etapas, cujo

objetivo central é a aproximação entre a realidade percebida pelo cartógrafo e a realidade

interpretada pelo usuário.

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FIG.18. Processo real de comunicação cartográfica (Adaptado de MARTINELLI, 1990).

A aproximação da realidade no esquema de comunicação apresentado por MARTINELLI

(1990) pode ser justificado, uma vez que este autor desconsidera a neutralidade por parte do

construtor do mapa, ou seja, concebe o cartógrafo como um cidadão comum. Dessa maneira,

MARTINELLI (1990) e MENEGUETTE (2001) são enfáticos quanto à necessidade de se

fomentar a educação cartográfica, desde o nível escolar, com o objetivo de se conscientizar a

sociedade acerca das potencialidades dos mapas.

Num esquema de ciclo comunicacional falho, estabelecido por MENEZES (2000), o usuário

não obtém, no processo de leitura e interpretação do mapa, a visão do mundo real estabelecida

pelo cartógrafo. Conseqüentemente, no processo de decodificação da mensagem, o usuário cria

uma nova visão própria de mundo, incompatível, por sua vez, com o espaço geográfico real e/ou

com a visão de mundo ordenada pelo cartógrafo. Como última consideração, deve-se enfatizar

que num processo falho de comunicação cartográfica, o erro tanto pode ter origem na

incompetência do cartógrafo (no ato de codificar a sua visão do mundo real no mapa), como

também do usuário (por não saber como decodificar tais informações). Em ambos os casos, a

comunicação cartográfica não é alcançada, tal como apresenta a FIG.19.

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Sobre a minimização das falhas e ruídos no processo de comunicação cartográfica, algumas

notas de MENEGUETTE (2001) ressaltam a necessidade de novas pesquisas e maior incentivo a

trabalhos que tratem desta temática.

FIG.19. Esquema de ciclo falho de comunicação entre cartógrafo e usuário. (Adaptado de MENEZES, 2000).

Como última consideração acerca da Teoria da Informação, deve-se destacar que toda e

qualquer linguagem/comunicação (visual, verbal, corporal, tátil, computacional etc) é,

fundamentalmente, submetida a um sistema de regras, cuja função é ordenar seus elementos

constituintes, transformando-os, finalmente, em mensagens. Sobre a pluralidade e a

complexidade de linguagens que envolvem o homem como ser social, além da proliferação de

signos e de seu funcionamento (sobretudo no advento das comunicações de massa e mídias

eletrônicas), encarrega-se a Teoria Geral dos Signos, abordada a seguir (item 3.2).

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3.2 TEORIA GERAL DOS SIGNOS

É inegável a quantidade extraordinária de linguagens, signos, sinais e símbolos que cercam

as atividades humanas. O homem moderno, especialmente, possui grande intimidade com os

mais variados signos, tais como: sinais de trânsito, outdoors, fachadas, fotografias, indicações de

caminhos e muitos outros (SANTAELLA, 2000). O hábito de interpretar tais signos torna-se

tarefa trivial, uma vez que a experiência de vida em ambientes repletos de significados apresenta-

se inexorável.

SANTAELLA (2000) afirma que o homem é simbólico por natureza, pois fala, gesticula, ri,

chora, sonha, canta, dança, joga, brinca etc. Portanto, numa conjuntura de valorização da

linguagem e da comunicação, fomentada, sobretudo, pelas novas tecnologias de armazenamento

e difusão da mensagem, surge a necessidade de aprofundamento dos preceitos da Teoria Geral

dos Signos.

PIGNATARI (1988) apropria-se do conceito de signo estabelecido por PEIRCE (1972;

1987), cuja definição é: “signo é toda coisa que substitui outra, representando-a para alguém,

sob certos aspectos e em certa medida”. Logo, signo é algo que possui como função a

representação de um objeto; mediador, portanto, entre o pensamento e o mundo real. Essas idéias

são ratificadas por SANTAELLA (1983), uma vez que esta autora considera o signo como

qualquer coisa que representa seu objeto, como por exemplo: a palavra casa ou a fotografia de

uma casa, “substituindo”, por sua vez, o objeto casa (FIG.20).

FIG.20. Relação entre o signo e seu objeto.

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Numa última consideração, deve-se ressaltar que a Teoria Geral dos Signos (ou Ciência

Geral dos Signos), responsável pelo estudo de todas as linguagens possíveis (verbais e não-

verbais), teve surgimento bastante peculiar. No que diz respeito à sua gênese, três focos de estudo

surgiram quase que simultaneamente no tempo, porém, de maneira distinta no espaço (Estados

Unidos, Europa Ocidental e Ex-União Soviética). SANTAELLA (1983) afirma que este

sincronismo temporal é uma forte justificativa para o surgimento de uma “consciência

semiótica”, especialmente a partir da Revolução Industrial, num momento de exponencial

proliferação de códigos, linguagens e meios de reprodução/difusão das informações.

Em função da divergência espacial, existem algumas variações terminológicas no que se

refere ao desenvolvimento de pesquisas sobre os signos e seu intricado processo de estruturação.

A Semiótica e a Semiologia são exemplos de variações de termos que designam a Teoria Geral

dos Signos. O primeiro termo é originário de Charles Sanders Peirce e é adotado por norte-

americanos e soviéticos, enquanto segundo termo é originário de Ferdinand De Saussure e goza

da preferência européia. Portanto, apesar das pequenas diferenças (abordadas nos itens 3.2.1 e

3.2.2), os dois termos, de maneira geral, podem ser considerados de mesma significação.

3.2.1 SEMIÓTICA

A semiótica é definida por NÖTH (1995) como “a ciência dos signos e dos processos

significativos (semiose) na natureza e na cultura”. Este mesmo autor afirma que a investigação

semiótica abrange toda e qualquer área do conhecimento que possua, por sua vez, envolvimento

com as linguagens ou sistemas de significação, tais como: a lingüística (linguagem verbal), a

matemática (linguagem dos números), a biologia (linguagem da vida), o direito (linguagem das

leis), as artes (linguagem estética) e outros. Em consonância com as idéias de NÖTH (1995),

SANTAELLA (1983) expõe a semiótica como “a ciência que tem por objeto de investigação

todas as linguagens possíveis". PIGNATARI (1988) apresenta Charles Sanders Peirce (1839-

1914) como o primeiro a promover a sistematização científica do estudo dos signos, num

trabalho intitulado de “Lógica enquanto Semiótica: A teoria dos Signos”.

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A semiótica de PEIRCE (1987) divide e classifica os signos em função de sua relação com

seu referente, ou seja, aquilo que o signo designa ou indica. Tal classificação apresenta-se como:

• Ícone: quando possui semelhança ou analogia com seu referente. Exemplo: uma

fotografia, uma estátua, um pictograma etc. Em relação à Ciência Cartográfica, MOURA &

RIBEIRO (1998) apresentam o mapa como um ícone, em função da sua analogia com espaço

geográfico (mundo real);

• Índice ou Índex: quando há uma relação direta com o seu referente, ou a coisa que produz

o signo. Exemplo: o chão molhado da rua é indício que choveu; as pegadas no galinheiro são

indício que houve presença de ladrão etc;

• Símbolo: quando a relação com o referente é convencional. Exemplo: as palavras faladas

ou escritas são símbolos convencionados e, por isso, inteligíveis (PIGNATARI, 1988). MOURA

& RIBEIRO (1998) enfatizam que o emprego de símbolos na Cartografia é bastante comum.

Alguns elementos são criados de maneira arbitrária e, posteriormente, submetidos à convenções

pelos cartógrafos.

Portanto, discorrer profundamente sobre a Semiótica de Charles Sanders Peirce, cujos

preceitos estruturam-se sobre a Filosofia e a Lógica, foge completamente do escopo do presente

trabalho. Como última consideração, deve-se destacar que a complexa e abrangente Teoria Geral

dos Signos, mentoreada por Peirce, estabelece, sobretudo, uma divisão triádica básica dos signos,

além da criação de classes sígneas, bem como as normas e a natureza das combinações dos

mesmos.

3.2.2 SEMIOLOGIA

A Semiologia preconizada por Ferdinand De Saussure (1857-1913), cujo projeto consiste na

construção de uma Teoria Geral de Sistema de Signos, é calcada sobre os preceitos estabelecidos

pela ciência da linguagem. No ideário de Saussure, portanto, o processo de elaboração de uma

nova ciência (a Semiologia) deveria servir-se da experiência já adquirida na área de lingüística.

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Entretanto, Saussure concebia a Semiologia como responsável pelo estudo da vida dos signos

no seio da vida social, além das leis que os regem. Sua Semiologia, por sua vez, faria parte de um

ramo da Psicologia Social e, conseqüentemente, da Psicologia Geral, tal como apresenta a FIG.21

(NÖTH, 1996).

FIG.21. Classificação da Semiologia estabelecida por Saussure como ramo da Psicologia Geral/Social. (Adaptado de NÖTH, 1996 e SIMÕES, 1998).

Ainda com base na FIG.21, a lingüística, alicerce das pesquisas de Saussure, seria uma

subdivisão da Semiologia. Deve-se também salientar que a relação entre a Semiologia Geral e a

lingüística apresenta-se como “mão-dupla”, tal como: as leis descobertas pela Semiologia seriam

aplicadas à Ciência dos Signos Lingüísticos, enquanto as leis lingüísticas seriam um guia

heurístico para a elaboração da Teoria Geral dos Signos/Semiologia (NÖTH, 1996).

A grande revolução saussureana instaura-se no centro da noção de estrutura (estruturalismo).

Dessa maneira, a interação dos elementos constituintes da estrutura da língua é, de tal magnitude,

que qualquer alteração de elementos, por mínima que seja, desordena o sistema geral de

linguagem. Deve-se ressaltar que o estruturalismo desencadeado no início do século XX, por

Ferdinand De Saussure, tornou-se uma das principais correntes das Ciências Humanas, como:

Filosofia, História, Antropologia, Psicologia (Teoria da Gestat) e outros (SANTAELLA, 1983).

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Contudo, a Semiologia concebida por Saussure preocupava-se fundamentalmente com signos

culturais (antropossemiótica), não contemplando, portanto, a amplitude contextual de que trata a

Semiótica de Peirce, como, por exemplo, os signos da natureza e os fenômenos biossemióticos.

Deve, ainda, ficar bastante transparente que Saussure atribuiu papel especial à lingüística, dentro

de sua Teoria Geral dos Signos, pois considerava a língua como o mais completo, difundido e

característico sistema de expressão. Nesse sentido, Saussure exaltava a lingüística como coração

da Semiótica/Semiologia (NÖTH, 1996).

Roland Barthes (1915-1980), teórico da ciência dos signos e símbolos, cujas pesquisas

calcaram-se sobre as idéias estruturalistas de Ferdinand De Saussure, afirma que os objetos, as

imagens e o comportamento exprimem significados, mas nunca de maneira autônoma, pois

qualquer sistema semiológico repassa-se de linguagem. Em seu livro, cujo título é Elementos de

Semiologia, BARTHES (1988) propõe a seguinte mudança na ordem estabelecida por Saussure:

“a Lingüística não é uma parte, mesmo privilegiada, da Ciência Geral dos Signos. A Semiologia

é que é uma parte da Lingüística; mais precisamente, a parte que se encarregaria das grandes

unidades significantes do discurso”. Dessa maneira, este mesmo autor é enfático ao afirmar que o

semiólogo é levado a encontrar, mais cedo ou mais tarde, a “linguagem verdadeira” em seu

caminho, pois apesar do crescimento exponencial das manifestações visuais, o homem pertence à

civilização escrita.

Porém, deve-se ressaltar que a obra de Saussure, apesar de ter estabelecido um novo

paradigma na história da lingüística e da semiótica, torna-se incompleta no que tange aos signos

não-linguisticos. Quando estes são abordados, sua análise realiza-se de acordo com os princípios

derivados da lingüística, ou seja, o modelo de língua serve como instrumento heurístico (conjunto

de regras e métodos que conduzem à descoberta/conhecimento) no estudo de outros sistemas de

signos. Portanto, em contrapartida, sua grande contribuição foi o legado para novos

pesquisadores acerca da necessidade de se estudar signos numa concepção sistêmica (NÖTH,

1996).

Todavia, discorrer minuciosamente sobre os aspectos fundamentais da Teoria Geral dos

Signos, sustentada por Saussure, tais como: a sua estrutura bilateral, a sua concepção mentalista,

a exclusão da referência, a concepção estrutural da significação e a arbitrariedade do signo

lingüístico extrapola completamente o objetivo do presente trabalho. Portanto, será apenas

abordada a conceituação de signo lingüístico, o qual engloba o significado (conceito) e o

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significante (imagem acústica), cujos princípios fundamentais são: a arbitrariedade e a

linearidade (linguagem polissêmica).

A abordagem sobre a conceituação de signo lingüístico torna-se de suma importância para o

entendimento das bases do trabalho realizado por Jacques Bertin, cuja linha de pesquisa intitula-

se por Semiologia Gráfica. Neste caso, a linguagem gráfica é concebida como um sistema de

signos gráficos, desfrutando também de significado (conceito) e significante (imagem gráfica),

porém não regida pelos princípios fundamentais da arbitrariedade e da linearidade. Segundo

BERTIN (1983), cuja pesquisa é vinculada primordialmente ao tema “linguagem cartográfica”, o

signo gráfico não é arbitrário (convencional), nem linear, e, por isso, a representação gráfica é

tida como monossêmica (significado único). Os sistemas semiológicos monossêmicos e

polissêmicos serão abordados no item 3.2.3.

O modelo sígnico bilateral de Saussure, citado por NÖTH (1996), compreende três termos: o

signo e seus constituintes (significado/conceito e significante/imagem acústica). A concepção de

signo elaborada por SAUSSURE (1988) consiste em: "O signo lingüístico une não uma coisa e

um nome, mas um conceito e uma imagem acústica. Esta última não é o som material, puramente

físico, mas a marca psíquica desse som, a sua representação fornecida pelo testemunho dos

sentidos, é sensorial e se, por vezes, lhe chamamos 'material' é neste sentido e por oposição ao

outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato”. Dessa maneira, entende-se a

acepção do signo lingüístico como entidade psíquica de duas faces, formada por um conceito e

uma imagem acústica, tal como apresenta a FIG.22.

FIG.22. O modelo sígnico bilateral ou diádico de SAUSSURE (1988).

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Como exemplo de combinação destes dois elementos para a formação do signo (conceito e

imagem acústica), vale a citação apresentada por SAUSSURE (1988) e NÖTH (1996) acerca do

sentido da palavra latina arbor, cuja designação trata do conceito de “árvore” (FIG.23). Neste

exemplo, SAUSSURE (1988) levanta a seguinte questão: “Quer busquemos o sentido da palavra

arbor, ou a palavra com que o latim designa o conceito árvore, está claro que somente as

vinculações consagradas pela língua nos parecem conformes à realidade, e abandonamos toda e

qualquer outra que se possa imaginar”. Dessa maneira, palavra latina arbor apresenta-se como

uma seqüência de sons referindo-se ao conceito de árvore, desencadeando, portanto, uma

“associação psíquica” entre a imagem acústica e o conceito.

FIG.23. Signo lingüístico como entidade psíquica de duas faces (SAUSSURE, 1988).

Posteriormente, SAUSSURE (1988) introduziu para as duas faces constituintes do signo dois

novos termos: o significado (para o conceito) e o significante (para a imagem acústica). Este

mesmo autor justifica a mudança terminológica da seguinte maneira: "Propomos manter a

palavra signo para designar o total e substituir ‘conceito e imagem acústica’ respectivamente

por ‘significado e significante’; estes dois termos têm a vantagem de marcar a oposição que os

separa entre si e que os distingue do total de que fazem parte". Tal mudança terminológica é

demonstrada pela FIG.24.

FIG.24. Nova terminologia empregada para as duas faces constituintes do signo: o significado e o significante. (Adaptado de SAUSSURE, 1988 & NÖTH, 1996).

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Como última consideração acerca do signo lingüístico mentoreado por Saussure, deve-se

explicitar suas duas características primordiais:

1ª: Arbitrariedade do Signo - a associação entre o significante e o significado é arbitrária (ou,

por dedução, o signo lingüístico apresenta-se arbitrário, pois este foi definido pela união de um

significante com um significado). O termo arbitrariedade é definido pelo dicionário AURÉLIO

(1999) como: “representação do mundo real por elementos lingüísticos que carecem de

correspondência física com as entidades por eles referidas”. Dessa maneira, a idéia de "futebol"

não está ligada por nenhuma relação à cadeia de sons “f + u + t + e + b + o + l” que lhe serve, por

sua vez, de significante. A palavra “futebol”, por exemplo, podia ser representada por qualquer

outro verbete, como ocorre em diferentes línguas. Com efeito, todo meio de expressão aceito por

uma sociedade é calcado sobre hábitos coletivos (regras ou convenções). Com essa inferência,

SAUSSURE (1988) distingue um signo de um símbolo, uma vez que o símbolo possui uma

relação formal com o objeto representado, ou seja, “há sempre um rudimento de ligação natural

entre o significante e o significado".

2ª: Caráter Linear do Significante - o significante, de natureza auditiva, desenvolve-se no

tempo. Os significantes acústicos dispõem apenas da linha do tempo, ou seja, seus elementos se

apresentam em forma de cadeia (um após o outro). De maneira contrária, os significantes visuais

(como os sinais marítimos) podem oferecer complicações concomitantes e em várias dimensões

(SAUSSURE, 1988).

Porém, com aplicação direta à linguagem cartográfica, Jacques Bertin sugeriu uma linha de

trabalho vinculada ao que ele denominou Semiologia Gráfica, cujas raízes sustentam-se sobre o

estruturalismo de Ferdinand De Saussure (MENEGUETTE, 2001). As considerações acerca do

sistema semiológico monossêmico estabelecido por Bertin são apresentadas no item 3.2.3.

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3.2.3 SEMIOLOGIA GRÁFICA

A linguagem cartográfica, preenchida de signos, como toda e qualquer linguagem, é

exclusivamente visual e, conseqüentemente, submetida às leis fisiológicas da percepção das

imagens. A Semiologia Gráfica, estabelecida por Jacques Bertin, num primeiro trabalho em 1967,

possui aplicação direta à Cartografia. Seu objetivo é avaliar as vantagens e os limites das

variáveis visuais empregadas na simbologia cartográfica e, portanto, formular regras para

utilização racional da linguagem cartográfica. No entanto, deve-se enfatizar que a Semiologia

Gráfica encontra-se estruturada sobre os preceitos da Psicologia Contemporânea e sobre as

Teorias da Informação (JOLY, 1990). As considerações acerca da Psicologia Contemporânea

(Psicologia Perceptual da Forma) serão abordadas no Capítulo 4.

MARTINELLI (1990), com base nos estudos realizados por BERTIN (1983), afirma que as

representações gráficas/cartográficas (bidimensionais e atemporais) possuem supremacia sobre as

demais, pois demandam apenas um instante de percepção. Porém, para que isto se torne factível,

é preciso que o autor do mapa empregue técnicas de percepção visual que auxiliem na leitura e

entendimento imediato das representações cartográficas.

Trata-se, portanto, em conceber o mapa como um sistema semiológico monossêmico

(significado único), ou seja, que dispensa completamente qualquer tipo de convenção. Passa-se,

assim, ao domínio do raciocínio lógico. Com base neste raciocínio, exalta-se a relação entre os

significados dos signos (MARTINELLI, 1996). Colocar em prática esta Cartografia significa

expressar a diversidade pela diversidade visual; a ordem pela ordem visual e a proporção pela

proporção visual (BERTIN, 1983). Esta corrente teórica é fundamentada no paradigma

semiológico, de cunho estruturalista, que associa a cartografia à linguagem da representação

gráfica destinada à vista (MARTINELLI, 1994 apud MANTOVANI, 1999).

MARTINELLI (1990) afirma que os mapas constituem imagens de grande impacto visual,

porém distintos de imagens figurativas, tais como: fotografias, pinturas, cartazes publicitários e

outros. Estes últimos fazem parte de um sistema semiológico polissêmico (significados

múltiplos), ou seja, onde as convenções são cerne do mapeamento. Além disso, deve-se ressaltar

que num sistema semiológico polissêmico exalta-se a relação entre o signo e o seu significado.

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Em função das inúmeras convenções, as legendas apresentam-se bastante extensas, tornando, na

maioria das vezes, a leitura do mapa extremamente lenta e exaustiva (MARTINELLI, 1996).

Um mapa possui componentes de localização e qualificação. Os primeiros referem-se às

coordenadas geográficas (X, a longitude, Y a latitude) e os segundos (Z) são modulação do fundo

do mapa por uma mancha (cor ou sinal), que é uma característica do lugar. A combinação desses

dois componentes (geográficos e de qualificação) constitui uma imagem cartográfica (JOLY,

1990).

Ratificando as idéias de JOLY (1990) sobre os componentes de localização e qualificação

(os componentes da imagem), MARTINELLI (1991) atenta para que criamos uma imagem visual

modulando as duas dimensões do plano (X,Y) e que o leitor sente-se atraído quando percebe-se a

variação visual das manchas em terceira dimensão (Z). Portanto, X, Y e Z são os três

componentes da imagem, tal como demonstra a FIG.25.

FIG.25. Componentes da Imagem (X, Y e Z). (Esquema adaptado a partir de MARTINELLI, 1991).

Ainda com base na FIG.25, MARTINELLI (1991) afirma que qualquer mancha visível que

inscrevemos sobre o plano pode assumir três significados distintos: ponto, linha e área. A título

de exemplo, uma mancha visível de determinado significado, o pontual, além de possuir uma

dada posição em relação ao plano (X,Y) pode assumir modulações visuais (Z).

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As variações assumidas pelas manchas (Z) são as variáveis visuais. BERTIN (1983) afirma

que o cartógrafo dispõe de seis variáveis retinianas ou variáveis visuais, através das quais pode

exprimir a diferenciação local dos componentes de qualificação. As seis variáveis são:

1. A forma da mancha (geométrica ou figurativa) - diz respeito aos aspectos qualitativos dos

objetos (FIG.26).

FIG.26. A forma da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

2. O tamanho (dimensão da superfície da mancha) - é expressão de comparação e

proporcionalidade entre objetos (FIG.27).

FIG.27. O tamanho da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

3. A orientação - na ausência de cor torna-se boa variável seletiva (principalmente em

implantação zonal) (FIG.28).

FIG.28. A orientação da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

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4. A cor (ou tonalidade) - variável mais forte, facilmente perceptível e intensamente seletiva

(FIG.29). Em contrapartida, delicadíssima de se manipular e a mais difícil de se utilizar (JOLY

1990). Cores diferentes vão expressar fenômenos qualitativos (MENEZES, 2000).

FIG.29. A cor da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

5. O valor - meio de classificação para ordenar uma série progressiva (FIG.30).

FIG.30. O valor da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

6. A granulação (textura) - é uma modulação da impressão visual para classificação de uma

série ordenada; tal como o valor (FIG.31).

FIG.31. A granulação da mancha - Adaptado a partir de JOLY (1990) & MARTINELLI (1991).

É importante salientar que cada uma das variáveis possui propriedades perceptivas, mas

nenhuma delas engloba todas simultaneamente (JOLY, 1990). Este mesmo autor complementa

com a seguinte afirmativa: “Se é teoricamente possível combinar muitas variáveis num mesmo

ponto do plano para caracterizar várias qualidades de um mesmo objeto, muitas vezes se é

levado a utilizar essa mesma combinação (forma + cor, por exemplo) para reforçar a percepção

das semelhanças”. Além disso, JOLY (1990) é categórico quando afirma que as variáveis mais

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fortes são as criadoras da imagem. Portanto, torna-se grande desafio para o cartógrafo selecionar

as variáveis que maximizarão a eficiência no processo de comunicação cartográfica.

BERTIN (1986, apud MANTOVANI, 1999) toma como exemplo o trabalho de um

topógrafo, que pode ser o mais habilitado para definir a altitude de um ponto. Porém, este mesmo

topógrafo poderá não ser o mais habilitado para escolher entre os múltiplos meios de

representação em “Z” (a terceira dimensão do plano). Neste caso, um “tematizador/cartógrafo”

teria maior fundamentação técnica e artística para realizar tal representação gráfica/cartográfica

do relevo.

Corroborando com as idéias de JOLY (1990), MARTINELLI (1991) afirma que as seis

variáveis visuais, mais as duas dimensões do plano (total de oito), têm propriedades perceptivas

que toda transcrição gráfica deve levar em conta, a fim de traduzir, de maneira adequada, as três

relações fundamentais entre objetos. Tais relações são (FIG.32):

FIG.32. Esquema de comunicação monossêmica (domínio do raciocínio lógico).

Fonte: BERTIN (1978) apud MANTOVANI (1999).

BERTIN (1978, apud MANTOVANI, 1999) afirma que a representação gráfica coloca, tanto

o emissor quanto o receptor, como atores diante dessas três relações fundamentais entre conceitos

previamente definidos, as quais deverão ser transcritas por relações visuais de mesma natureza

(FIG.32). “Neste caso, o redator gráfico e o usuário participam da mesma ação e se colocam

diante da mesma situação perceptiva, ambos desejam descobrir a informação contida

implicitamente nos dados, passam então de espectadores a atores. As variações visuais, ou

variáveis visuais, relacionadas à mancha visível (Z) serão exploradas pela variação de tamanho,

valor, granulação, cor, orientação e forma”.

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MARTINELLI (1994) complementa ao afirmar que a tarefa essencial da representação

gráfica é transcrever as três relações fundamentais entre objetos, por relações visuais de mesma

natureza (a diversidade será transcrita por uma diversidade visual, o mesmo acontecendo com a

ordem e a proporcionalidade). A transcrição será a universal, sem ambigüidades, como nas

equações matemáticas.

MARTINELLI (1994) discorre sobre a problemática da superposição de vários atributos

sobre o mesmo mapa, como apresenta a FIG.33. Este modelo de representação exaustiva é

bastante comum na Cartografia Temática Analítica. Este mesmo autor afirma que esta solução é

recomendada apenas para quando se deseja expor questões do nível elementar, como, por

exemplo: “Em tal lugar, o que há?”. Dessa maneira, o leitor é obrigado a esquadrinhar todos os

elementos do mapa, até construir, finalmente, uma imagem mental de conjunto.

FIG.33. Exemplo de leitura exaustiva do mapa (MARTINELLI, 1994).

Entretanto, a solução da FIG.33 (num contexto que aborda o paradigma semiológico) torna-

se ineficaz quando o leitor do mapa deseja uma resposta visual instantânea, para questões de

conjunto, tal como: “Tal atributo, onde está?”. Para esta situação, como descreve MARTINELLI

(1994), a solução ideal é a coleção de mapas, ou seja, uma representação cartográfica para cada

atributo (FIG.34).

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FIG.34. Coleção de Mapas - Um mapa para cada atributo (MARTINELLI, 1994).

MARTINELLI (1994), num esforço de criar uma solução intermediária, apresenta uma

legenda por coleção de mapas (FIG.35). Neste caso, associa-se um pequeno mapa a cada classe

de legenda, reportando, por sua vez, o registro da respectiva ocorrência. Desse modo, este

artifício gráfico-visual, propalado por Jacques Bertin, propicia ao usuário a leitura do mapa em

nível de conjunto (com auxílio dos pequenos mapas), ou, se necessário, a leitura do mapa em

nível elementar (exame exaustivo do mapa).

FIG.35. Criação de legenda por coleção de mapas. (MARTINELLI, 1994).

Portanto, como expõe BRITO (1999), as evoluções da matemática, dos computadores e das

técnicas de representação gráfica fizeram com que alguns conceitos propostos pela Semiologia

Gráfica (preconizados na década de 60) se alterassem ou se adaptassem aos tempos modernos.

Para aprofundamento teórico sobre os novos paradigmas de visualização cartográfica, tais como

realidade virtual; disposição de documentos cartográficos de maneira simultânea; animações

relacionadas à dinâmica dos fenômenos ambientais e outros, vide MacEACHREN & TAYLOR

(1994).

Como já exposto, a Semiologia Gráfica possui como arcabouço elementos da Psicologia

Contemporânea. Esta temática é abordada no Capítulo 4.

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4. SISTEMA DE LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO

4.1 IMPORTÂNCIA DA ADOÇÃO DO SISTEMA DE LEITURA VISUAL DA FORMA

PARA CONSTRUÇÃO DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

Para a construção dos símbolos que representam situações de impacto ambiental, adotou-se,

neste trabalho, o Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto2 concebido por GOMES FILHO

(2000). Este sistema de leitura teve como fundamentação científica os estudos e pesquisas

realizados pela Escola Gestalt, no campo da Psicologia Perceptual da Forma. O objetivo

primordial deste sistema, todavia, reside na estruturação de conhecimentos teórico-conceituais

para proceder à compreensão de objetos, em termos de análise, interpretação e síntese da

organização visual da forma.

GOMES FILHO (2000) afirma que a criação deste sistema surgiu em função de algumas

necessidades básicas, tais como:

• Necessidade de aprofundamento acerca de conceitos e fatores da organização formal,

estabelecidos pela Gestalt, para aplicação direta nas áreas de Desenho Industrial e Design

Gráfico. Na concepção de produtos, por exemplo, os princípios de ordenação, equilíbrio, clareza

e harmonia visual (alicerces da formulação gestáltica no campo da percepção da forma)

apresentam-se indispensáveis;

• Extrapolar este sistema de leitura para todos os modos de manifestações visuais

(arquitetura, artes gráficas, cartografia, configurações ambientais etc);

• Educação visual, ou seja, formação educacional dos indivíduos no modo de analisar e

interpretar as quase infinitas manifestações visuais que nos cercam no dia-a-dia.

Torna-se importante entender que seguir parâmetros estabelecidos por um Sistema de Leitura

Visual da Forma do Objeto consiste em reduzir a subjetividade no julgamento/análise das

manifestações visuais. As afirmações tão comumente utilizadas, como “beleza não se discute” ou

2 GOMES FILHO (2000) ressalta que no sistema de leitura proposto, o termo objeto compreende toda e qualquer manifestação visual da forma passível de ser lida e interpretada.

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“tudo é relativo” devem ser desmistificadas no ideário dos profissionais que tratam de qualquer

tipo de comunicação visual.

Baseando-se nos conceitos da Escola Gestalt, a arte se funda no princípio de pregnância da

forma, ou seja, num processo de formação da imagem, os fatores de equilíbrio, clareza e

harmonia visual constituem, para o ser humano, uma necessidade. Dessa maneira, pode-se

afirmar que um objeto (um produto industrial, uma escultura ou um símbolo cartográfico), com

alta pregnância, apresenta, geralmente, um mínimo de complicação visual na organização de seus

elementos ou unidades compositivas (GOMES FILHO, 2000). Pretende-se, portanto, aplicar este

alto índice de pregnância da forma ou “Boa Gestalt” nos simbolismos que representam situações

de impacto ambiental.

Deve-se também enfatizar que este sistema de leitura estruturado por GOMES FILHO

(2000) consiste, fundamentalmente, nos rebatimentos das leis da Gestalt (vide item 4.2.1) e de

diversas outras categorias conceituais (vide item 4.4) sobre a organização formal dos objetos.

A seguir encontram-se algumas considerações sobre o histórico do movimento gestaltista e

os alicerces de suas leis no campo da percepção visual da forma.

4.2 O MOVIMENTO GESTALTISTA

Toda e qualquer manifestação visual, tanto no que se refere ao designer (criador do objeto),

como ao seu consulente, vai encontrar recursos para um tratamento mais pragmático e objetivo

nos estudos realizados pela Gestalt (FRACCAROLI, 1952). Esta trata-se de uma escola alemã de

psicologia experimental, cuja elaboração compete à Wertheimer, Köhler e Koffka, a partir de

1912 (GOMES FILHO, 2000).

A Teoria Gestaltista (ou Movimento Gestaltista; ou Escola de Berlim), extraída de rigorosa

experimentação, desenvolveu-se, sobretudo, no campo da percepção visual e vai, por exemplo,

sugerir ao porquê de determinadas formas agradarem mais que outras. Esta concepção opõe-se ao

subjetivismo, uma vez que a psicologia da forma apóia-se na psicologia do sistema nervoso,

quando procura explicar a relação sujeito-objeto no campo da percepção (FRACCAROLI, 1952).

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Além disso, a Gestalt visa o desprendimento de uma tendência corrente: a noção estereotipada da

forma, sempre ligada a um conteúdo convencional.

Com o objetivo de ratificar a idéia de se perceber a forma como ela mesma (estruturada

como resultado de relações), FRACCAROLI (1952) cita as seguintes idéia de KEPES (1944):

“Que se possa sentir o prazer de uma inscrição somente pela harmonia da caligrafia,

independente do significado da palavra”. Desse modo, este movimento pretende eliminar

rotulações e fomentar a apreensão espontânea da forma. Este fato pode ser observando na FIG.36,

pois, num primeiro instante, a palavra vômito chama a atenção pela sua bela caligrafia, enquanto

a palavra chocolate fica temporariamente excluída. Porém, após o processamento da informação

e a subseqüente definição do significado dos termos, a ordem de preferência se inverte, uma vez

que o conceito de chocolate apresenta-se bastante prazeroso no ideário da grande maioria dos

indivíduos. O conceito de vômito, por sua vez, torna-se repugnante.

FIG.36. Exemplo de apreensão espontânea da forma. (GRANHA, 2000).

Cabe ainda acrescentar que o termo Gestalt, no seu sentido mais amplo, significa uma

“integração de partes” em oposição à “soma de partes” (FRACCAROLI, 1952). A tradução do

vocábulo Gestalt para o inglês, espanhol e português significa, de maneira geral, estrutura, figura

ou forma. Entretanto, como cita GOMES FILHO (2000), os profissionais da área de Desenho

Industrial utilizam vulgarmente “boa forma” como sinônimo para a idéia de Gestalt.

A percepção visual da forma trabalhada pela psicologia clássica consistia do resultado da

“soma de sensações isoladas”, ou seja, a luz incidente na retina desencadearia um processo

comunicacional, levando, por sua vez, mensagens até o cérebro. Estas mensagens, uma vez

chegando ao seu destino, originariam, conseqüentemente, as sensações visuais (FRACCAROLI,

1952). Desse modo, a forma seria concebida por um processo de associação dessas sensações

parceladas (daí o nome de psicologia atomista ou associacionista).

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Contudo, para se explicar a associação de sensações isoladas, a psicologia clássica recorre à

experiência, isto é, o indivíduo, pelo contato contínuo e sucessivo com objetos idênticos, aprende

a associar os estímulos luminosos que deles provém (FRACCAROLI, 1952). Este mesmo autor é

enfático na afirmação de que, desse modo, para o recém-nascido, o mundo seria um caos

luminoso e a forma, posteriormente percebida, apresentar-se-ia como fato arbitrário

(independente de qualquer lei ou regra), resultado, portanto, do processo de aprendizagem.

Esta formulação teórica realizada pela psicologia clássica encontrava argumentações na

anatomia cerebral, cuja constituição de fibras nervosas manifestava-se isoladamente. Em

consonância, todo e qualquer ponto estimulado na retina corresponderia a uma excitação solitária

de cada fibra nervosa. O processo de associação tornar-se-ia, conseqüentemente, imediato e dado

pela experiência (FRACCAROLI, 1952). Em contrapartida, existia para a psicologia

associacionista um problema absolutamente insolúvel: o fenômeno da ilusão de ótica (algo que

não existe objetivamente), tal como apresentam as FIGs 37 e 38.

FIG.37. Imagem ambígua: jovem ou idosa? (Adaptado de KRECH & CRUTCHFIELD, 1980).

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FIG.38. Os efeitos da predisposição na percepção. (KRECH & CRUTCHFIELD, 1980).

Na imagem ambígua descrita pela FIG.37, um indivíduo tanto pode ver uma bela jovem de

perfil (ligeiramente voltada para trás), como também a face de uma idosa (também intitulada na

literatura como sogra ou megera). No entanto, torna-se impossível perceber simultaneamente

estas duas representações, devido à primeira sensação global. Portanto, se um determinado

consulente fixar-se em uma das duas imagens (neste caso, a manifestação visual percebida

primeiramente), uma impressão global em sua mente será formada. Logo, inicia-se o processo de

detalhamento da imagem escolhida.

Vale salientar que o consulente só perceberá a outra imagem contida na FIG.37, uma vez que

este desvie temporariamente sua atenção para outra manifestação visual qualquer (como se fosse

necessário apagar a primeira imagem). Após ser compreendida, a segunda imagem terá também

seus recursos explorados e detalhados. KRECH & CRUTCHFIELD (1980) afirmam que

normalmente 60 por cento das pessoas vêem, em primeiro lugar, a jovem, e, aproximadamente,

40 por cento vêem a idosa. Todavia, quando a imagem da jovem é apresentada separadamente

(FIG.38), anteriormente à imagem ambígua (FIG.37), cria-se uma predisposição de praticamente

100 por cento para a visão da bela moça. A recíproca torna-se verdadeira com a apresentação da

idosa num primeiro momento (FIG.38).

Os gestaltistas, por sua vez, renegam a idéia de que a percepção visual da forma seria o

resultado da “soma de sensações isoladas”. Do ponto de vista Gestaltista, o que acontece no

cérebro não é idêntico ao que acontece na retina, ou seja, a excitação cerebral não se dá em

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pontos isolados, mas por extensão. Dessa maneira, a primeira sensação já é de forma, já é global

e unificada (FRACCAROLI, 1952). Esta concepção é muito bem exemplificada pelas afirmações

de UTTAL (1988): “O cérebro faz um integração engenhosa dos fragmentos da imagem visual

que recebe, pois nossa percepção é algo inteiro e coerente. Do contrário, perceberíamos linhas,

pontos, cores e movimentos separadamente”. Portanto, como expõe FRACCAROLI (1952), não

vemos partes isoladas, mas relações, ou seja, uma parte na dependência de outra parte.

A fim de se elucidar acerca da percepção como resultado de uma sensação global (as partes

inseparáveis do todo), vale destacar os estágios da análise da informação visual. Numa primeira

etapa, a imagem é varrida visualmente, para reconhecimento de padrões e formas. Este estágio

primitivo manifesta-se muito rapidamente e de maneira involuntária, intitulado, portanto, de pré-

atenção. Se dado um relance na FIG.39, percebe-se que há algo de destaque na parte superior

direita da matriz de “as”. Porém, numa segunda etapa de detalhamento da imagem, cuja

denominação é atenção visual, o consulente identifica e esmiúça toda a matriz (exploração visual

detalhada), como a quantidade de linhas, colunas, bem como a existência de uma letra em negrito

no canto inferior esquerdo. Esta última não foi percebida no estágio de pré-atenção, pois a

primeira impressão global dirigiu a atenção do consulente para a matriz menor em negrito,

excluindo, portanto, as outras partes da FIG.40.

FIG.39. Estágio primitivo de pré-atenção. Percebe-se que há algo em destaque na parte superior da matriz de “as”. (Adaptado de KRECH & CRUTCHFIELD, 1980).

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FIG.40. Estágio de atenção visual. Processo de detalhamento da matriz de “as”, permitindo, dessa maneira, que uma letra em negrito no canto inferior esquerdo seja identificada.

(Adaptado de KRECH & CRUTCHFIELD, 1980).

A teoria Gestaltista, no que diz respeito às relações psico-fisiológicas, pode ser assim

definida: “Todo o processo consciente, toda forma psicologicamente percebida, está estritamente

relacionado com as forças integradoras do processo fisiológico cerebral” (FRACCAROLI,

1952). Estas forças integradoras, por sua vez, numa hipótese da Gestalt, teriam sua origem

atrelada ao dinamismo auto-regulador do sistema nervoso central, responsável,

conseqüentemente, pela organização das formas em “todos” coerentes e organizados. Como

última consideração, as organizações da forma, originárias da estrutura cerebral, são espontâneas,

ou seja, independentes da vontade humana e de qualquer aprendizado.

No item 4.2.1 são analisadas as forças externas e internas que regem a percepção visual da

forma.

4.2.1 FORÇAS EXTERNAS E INTERNAS QUE REGEM A PERCEPÇÃO VISUAL

As idéias de KOFFKA (1935) sobre a divisão geral entre forças externas e internas que

ministram a percepção visual da forma são apresentadas por FRACCAROLI (1952):

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a) as forças externas são compostas pela estimulação da retina através da luz proveniente do

objeto exterior, ou seja, originam-se diretamente das condições de luz do ambiente em que se

encontra;

b) as forças internas, por sua vez, são desencadeadas a partir das condições proporcionadas

pelas forças externas (luz proveniente do objeto exterior). As forças internas da organização

estruturam as formas numa ordem determinada e têm sua origem, segundo a Gestalt, num

dinamismo calcado na organização cerebral (fibras nervosas conectadas em cruz). Desse modo, o

mundo não é, para o recém-nascido, um caos luminoso, como concebia a psicologia clássica. A

criança, portanto, desde seu primeiro olhar, já percebe formas destacando-se sobre um fundo

(FRACCAROLI, 1952).

Os psicólogos da Gestalt, através de exaustivos experimentos, precisaram certas constantes

nas forças internas que ministram a percepção visual, principalmente no que tange à sua

ordenação e estrutura. Estas constantes, como explicita FRACCAROLI (1952), são chamadas

pelos gestaltistas de padrões, fatores, princípios básicos ou leis de organização da forma

perceptual. Logo, são essas forças ou princípios que explicam a maneira como os seres humanos

percebem determinadas formas.

FRACCAROLI (1952) afirma que as forças iniciais mais simples, que regem o processo da

percepção da forma visual, são as forças da segregação e unificação. As primeiras agem em

função da desigualdade de estimulação. As segundas, em contrapartida, agem em virtude da

igualdade de estimulação. Dessa maneira, para formação de unidades, é fundamental que exista

descontinuidade de estimulação, ou seja, é primordial que exista um contraste3. Num ambiente de

estimulação homogênea (sem contraste), como numa densa neblina, nenhuma forma será

percebida. Como pode ser observado na FIG.41, o círculo negro possui grande destaque sobre o

fundo totalmente branco (maior contraste), ao passo que esta saliência diminui quando inserida

sobre um fundo cinza escuro (diminuição do contraste).

3 Oposição entre coisas ou pessoas das quais uma faz que a outra sobressaia; oposição (AURÉLIO, 1999).

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FIG.41. Formação de unidade. Relação estimulação/contraste. (GOMES FILHO, 2000).

No que tange à unidade, GOMES FILHO (2000) afirma que esta pode ser consubstanciada

num único elemento ou como parte de um todo. As unidades formais, que configuram um todo,

são percebidas, geralmente, através de relações entre os elementos (ou sub-unidades) que as

constituem. Esta conceituação pode ser bem exemplificada através da FIG.42, uma vez que a

multidão constitui uma unidade como um todo. Em contrapeso, cada pessoa (elemento) pode ser

considerada como uma unidade ou como sub-unidade, dentro de um conjunto maior. Logo, uma

ou mais unidades formais podem ser segregadas ou percebidas dentro de um todo, por meio de

diversos elementos, tais como: pontos, linhas, planos, volumes, cores, sombras, brilhos, texturas e

outros, isolados ou combinados entre si.

FIG.42. Formação de unidade e sub-unidade. (GOMES FILHO, 2000).

Desse modo, as forças de segregação e unificação explicariam a formação de unidades como

pontos, linhas e manchas, porém não solucionariam questões do tipo: “por que uma superfície

contornada se separa do resto do campo como unidade visual?” (FIG.43). Para equacionar esta

questão, FRACCAROLI (1952) citas as idéias de Wertheimer (um dos precursores da Teoria

Gestalt), acerca do conceito de fechamento. Este, portanto, seria um novo fator de organização da

forma.

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FIG.43. Conceito de fechamento. (Adaptado de FRACCAROLI, 1952).

O fechamento apresenta-se como fator de grande importância para a formação de unidades.

FRACCAROLI (1952) tece as seguintes considerações a respeito deste conceito: “As forças de

organização dirigem-se, espontaneamente, para uma ordem espacial, que tende para a unidade

em todos fechados, segregando uma superfície, tão completamente quando possível, do resto do

campo”. Conclui-se, dessa maneira, que exista a tendência psicológica de se unir intervalos e

estabelecer ligações. Tomando como exemplo os objetos da FIG.44, em função do fator

fechamento, são vistos, respectivamente: um triângulo, um círculo, um quadrado, uma cruz

central e um lutador de boxe.

FIG.44. Conceito de fechamento sobre objetos. (FRACCAROLI, 1952 & GOMES FILHO, 2000).

Outro princípio básico de organização da forma é a boa continuação (ou boa continuidade).

GOMES FILHO (2000) expõe este conceito como sendo uma impressão visual de como as partes

se sucedem através da organização perceptiva da forma, de modo coerente, sem quebras ou

interrupções na sua trajetória ou na sua fluidez visual. O conceito de boa continuidade pode ser

bem entendido através da FIG.45, pois o percurso do olhar humano por entre os círculos não

sofre qualquer interrupção ou desvio.

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FIG.45. Conceito de continuidade sobre o objeto (GOMES FILHO, 2000).

UTTAL (1988) apresenta a FIG.46 como exemplo de continuidade. Além disso, este mesmo

autor afirma que este princípio propõe que a percepção tende a dar continuidade, trajetória ou

prolongamento aos componentes de uma determinada manifestação visual. A FIG.46, portanto, é

percebida como duas linhas curvas se cruzando, cada linha apresentado trajetória própria, mesmo

após seu ponto de interseção. Dessa maneira, esta forma nunca será interpretada como dois “V”,

a partir de seu vértice.

FIG.46. Conceito de boa continuidade em elementos geométricos (UTTAL, 1988).

Existem, ainda, dois fatores de organização: Proximidade e Semelhança. Estes, muitas vezes,

agem em comum e se reforçam mutuamente, tanto para a estruturação de unidades, como

também para a unificação da forma (FRACCAROLI, 1952 & GOMES FILHO, 2000).

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No que diz respeito à proximidade, elementos ópticos, próximos uns aos outros, tendem a ser

vistos juntos e, conseqüentemente, constituir unidades. Com isso, quanto mais curta é a distância

entre dois pontos, maior será seu grau de unificação. Esta afirmação é ratificada sobre a análise

da FIG.47, cujo agrupamento natural é ABC e DEF (em colunas), pois a proximidade entre os

círculos apresenta-se maior no sentido vertical. Dessa maneira, como afirma FRACCAROLI

(1952), só com grande esforço o ser humano veria um arranjo horizontal, pois, neste caso, seus

olhos se perdem facilmente ao menor movimento.

FIG.47. Conceito de proximidade (Adaptado de FRACCAROLI, 1952).

GOMES FILHO (2000) expõe que, em condições iguais, os estímulos mais próximos entre si

(forma, cor, tamanho, textura, brilho, peso, direção e outros) terão maior tendência ao

agrupamento e à constituição de unidades. Na FIG.48, as teclas pretas do teclado segregam-se em

2 unidades triplas e 2 unidades duplas intercaladas, exatamente pelo fator de proximidade.

FIG.48. Conceito de proximidade sobre o objeto (GOMES FILHO, 2000).

Quanto à semelhança, FRACCAROLI (1952) atesta que a igualdade de forma e cor desperta

a tendência dinâmica de constituir unidade, ou seja, de estabelecer agrupamentos das partes

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semelhantes. Na FIG.49, por exemplo, os grupos (pares de círculos e pares de linhas) são

organizados pela semelhança de elementos. Na FIG.50, apesar dos espaços entre os círculos

serem iguais, são formados dois grupos alternados de colunas, também pelo fator de semelhança.

FIG.49. Organização de grupos pela semelhança de elementos. (FRACCAROLI, 1952 & GOMES FILHO, 2000).

FIG.50. Conceito de semelhança (FRACCAROLI, 1952 & GOMES FILHO, 2000).

FRACCAROLI (1952) chama a atenção para a importância do fator de semelhança, cuja

força de organização é maior do que a proximidade. Na FIG.51, a simples proximidade não basta

para explicar o agrupamento de elementos, pois é necessário, portanto, que estes tenham

qualidades em comum. Neste caso, o círculo e o triângulo, apesar da proximidade, apresentam

formas completamente distintas, não havendo, dessa maneira, qualquer tipo de agrupamento ou

formação de unidade.

FIG.51. Relação fator semelhança/fator proximidade (FRACCAROLI, 1952).

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Observando a FIG.52, percebe-se que neste telefone existem quatro conjuntos de unidades: o

retângulo horizontal formado pelos seis furos do alto falante; a linha vertical formada pelos três

leds; o retângulo vertical formado pelas teclas menores e, por último, a coluna estruturada por

botões maiores, à direita. Estes quatro agrupamentos são originados em função dos fatores de

semelhança formal e cromática. Deve-se salientar que, neste caso, há o reforço do fator de

proximidade, proporcionando, por conseguinte, uma boa unificação do objeto (GOMES FILHO,

2000).

FIG.52. Conceito de semelhança sobre o objeto (GOMES FILHO, 2000).

Como última consideração sobre os princípios de semelhança e proximidade, vale ressaltar

que estes agem em comum, ou seja, podem tanto se reforçar, como, também, se enfraquecer

mutuamente. Na FIG.53, estes princípios se fortalecem reciprocamente, uma vez que vemos filas

bem definidas de bolas e pontos negros.

FIG.53. Os princípios de semelhança e proximidade agindo em consonância. (FRACCAROLI, 1952 & GOMES FILHO, 2000).

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Não obstante, a Gestalt constata, ainda, um princípio de abrangência geral, ou seja, um

preceito que engloba todos os outros. Este é denominado de pregnância4 da forma ou força

estrutural. GOMES FILHO (2000) define esta lei básica da percepção visual da Gestalt como: “as

forças de organização da forma tendem a se dirigir tanto quanto o permitam as condições dadas,

no sentido da harmonia e do equilíbrio visual”. Em outras palavras, para que um objeto possua

alta pregnância, deve, impreterivelmente, conjugar um máximo de equilíbrio, clareza e unificação

visual.

Vale também ressaltar que quanto menor a complicação visual na organização das unidades

compositivas de um objeto, maior será sua pregnância formal, ou seja, quanto melhor for a

organização visual da forma do objeto, em termos de rapidez de leitura ou interpretação, maior

será o seu grau de pregnância (GOMES FILHO, 2000). Este mesmo autor estabelece valorações,

tais como: “baixo, médio e alto” ou “notas de 0 a 10” para o julgamento da pregnância da forma.

A FIG.54 representa imagens com baixos índices de pregnância da forma, principalmente em

função do excesso de unidades compositivas do objeto (fator complexidade). As duas imagens,

portanto, exigem do consulente maior tempo de atenção para leitura visual, pois as forças internas

de organização da forma, agindo no sistema nervoso do observador, procuram ministrar a melhor

estrutura perceptiva possível no objeto, de modo a permitir sua decodificação em algo mais claro

e lógico, facilitando, por sua vez, sua compreensão formal (GOMES FILHO, 2000).

FIG.54. Exemplos de baixos índices de pregnância da forma (GOMES FILHO, 2000).

4 O dicionário AURÉLIO (1999) define pregnância como: “Qualidade que tem uma forma de impregnar o espírito do indivíduo e de ser por ele percebida no processo de grupação de elementos; a força da forma”.

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Em contrapeso, o palácio representado pela FIG.55 manifesta elevado grau de organização

formal, além de grande equilíbrio visual, estado harmônico e absoluta simetria.

Conseqüentemente, esta manifestação visual apresenta-se com alto índice de pregnância da

forma, e, sua leitura, todavia, bastante rápida e imediata (GOMES FILHO, 2000).

FIG.55. Exemplo de intenso grau de organização da forma (GOMES FILHO, 2000).

Como última consideração, deve-se destacar a importância acerca da conceituação da forma

e suas propriedades. Esta análise encontra-se no item 4.3.

4.3 CONCEITUAÇÃO DA FORMA

Como primeiro passo para o entendimento acerca do conceito de forma, vale a citação do

Dicionário AURÉLIO (1999): “Os limites exteriores da matéria de que é constituído um corpo, e

que conferem a este um feitio, uma configuração, um aspecto particular”. Esta definição, apesar

de mais sintética, encontra-se em consonância com a estabelecida por GOMES FILHO (2000).

Este autor conceitua forma da seguinte maneira: “A forma pode ser a figura ou a imagem visível

do conteúdo. Tudo que se vê possui forma. Para se perceber uma forma, é necessário que

existam variações no campo visual. As diferenças acontecem por variações de estímulos visuais,

em função dos contrastes, que podem ser de diferentes tipos, dos elementos que configuram um

determinado objeto ou coisa”. Na FIG.56, por exemplo, segregam-se as formas de duas

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mulheres. A mulher da esquerda possui melhor definição e localização, pois é grande o contraste

da mancha branca sobre um fundo negro.

FIG.56. Conceituação da forma do objeto (GOMES FILHO, 2000).

GOMES FILHO (2000) afirma que a forma pode se constituir da seguinte maneira: num

único ponto (singular); numa linha (sucessão de pontos); num plano (sucessão de linhas) ou,

ainda, num volume (forma completa, conjugando pontos, linhas e planos). O ponto é a unidade

mais simples e irredutivelmente mínima de comunicação visual. Além disso, qualquer ponto tem

grande força de atração visual sobre o olho humano. Estas afirmações podem ser bem

exemplificadas através da FIG.57, uma vez que a bola de golfe, perfeitamente esférica, muito

bem sintetiza o conceito de ponto como unidade singular e de forte atração visual.

FIG.57. Exemplo de forma pontual (GOMES FILHO, 2000).

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104

O desenho do avião (FIG.58), por sua vez, expressa idéia de linearidade por toda a imagem.

As diversas unidades estruturais apresentam-se em linhas, tais como: a fuselagem, pára-brisa,

portas, janelas, asas e turbinas.

FIG.58. Exemplo de forma linear (GOMES FILHO, 2000).

As formas em plano são percebidas quando existe predominância de comprimento e largura

(FIG.59). Porém, deve-se enfatizar que, no espaço, torna-se inviável expressar um plano sem

espessura, ou seja, o plano deve existir como algo material. Além disso, GOMES FILHO (2000)

afirma que a diferença entre um sólido e um plano é bastante relativa, dependendo do contexto

visual observado.

FIG.59. Exemplo de forma plana (GOMES FILHO, 2000).

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Na cena de luta de sumô (FIG.60), a sensação de volume ou solidez tridimensional é

expressa por artifícios (técnicas pictóricas), tais como: linhas, cores, sombras e brilhos. Estas,

portanto, dão impressão perfeita de volume à manifestação visual.

FIG.60. Exemplo de forma com expressão volumétrica (GOMES FILHO, 2000).

GOMES FILHO (2000) chama a atenção para que o conceito de configuração5 pode ser

considerado como sinônimo de forma, porém deve ser compreendido numa concepção de

representação de um objeto, pelas suas características espaciais consideradas essenciais. No que

tange à configuração, pode-se estabelecer duas propriedades visuais distintas dos objetos. São

elas:

1. Representação real dos objetos: são os registros por meio de fotografias, ilustrações e

pinturas figurativas, bem como estátuas, esculturas, monumentos e etc. A FIG.61 expressa muito

bem o conceito de representação real, numa fotografia, em primeiro plano, de um motociclista.

Dessa maneira, o observador identifica rapidamente o objeto específico.

FIG.61. Exemplo de forma/configuração real (FREEFOTO, 2001).

5 A forma exterior de um corpo; conformação, aspecto, FIG., feitio (AURÉLIO, 1999).

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2. Representação esquemática dos objetos: são representações por meio do conceito de

esqueleto estrutural, e, geralmente, reproduzidas através de sombras, manchas, silhuetas etc. Na

FIG.62, um animal é representado através de um desenho esquemático, cuja configuração

apresenta-se totalmente chapada. Vale ressaltar que pode-se incluir os símbolos cartográficos

nesta categoria.

FIG.62. Exemplo de forma/configuração esquemática (GOMES FILHO, 2000).

Portanto, além das leis da Gestalt, são vinculadas ao Sistema de Leitura Visual da Forma do

Objeto duas outras classes de categorias conceituais. O objetivo primordial desta inclusão é

tornar mais completo e eficaz o sistema de análise adotado no trabalho em tela. As categorias são

explicitadas no item 4.4.

4.4 CATEGORIAS CONCEITUAIS

As duas classes de categorias conceituais que consolidam o Sistema de Leitura Visual da

Forma do Objeto são as Categorias Conceituais Fundamentais (item 4.4.1) e as Categorias

Conceituais/Técnicas Visuais Aplicadas (item 4.4.2). Vale destacar que estas duas categorias,

além de suas respectivas definições, foram extraídas das mais variadas áreas do conhecimento,

tais como: Design, Artes Plásticas, Psicologia da Percepção e outros. Em tempo, deve-se

enfatizar que as categorias escolhidas não esgotam o assunto, além de que, muitas vezes, há

superposição entre elas (GOMES FILHO, 2000).

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4.4.1 CATEGORIAS CONCEITUAIS FUNDAMENTAIS

As categorias conceituais fundamentais, tais como a harmonia, o equilíbrio e o contraste

somam-se às leis da Gestalt (lei básica de pregnância da forma), com o objetivo de acrescentar

suporte e refinamento ao sistema de analise formal dos objetos. Além disso, deve-se ressaltar que

estas categorias tratam de objetos reais e existentes, daí a importância de sua incorporação ao

Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto, utilizado, por sua vez, na metodologia de criação

de símbolos cartográficos para desastres e riscos ambientais do presente trabalho6.

O conceito de harmonia tratado por GOMES FILHO (2000) encontra-se em consonância

com a definição exposta no dicionário AURÉLIO (1999), principalmente no que tange à

“disposição bem ordenada entre as partes de um todo”. A harmonia possibilita, portanto, uma

leitura simples e clara das manifestações visuais.

Na FIG.63, o fator harmonia é revelado nitidamente, uma vez que o rosto da mulher, de

extrema simetria e ordem, destaca-se sobre um fundo difuso e impreciso. Em contrapartida, a

FIG.64 muito bem exemplifica o conceito de desarmonia, pois esta trata de uma imagem com

desvios, irregularidades e desnivelamentos visuais, tanto em suas partes constituintes, como no

objeto como um todo. A desproporcionalidade desta imagem, por sua vez, transmite uma

sensação confusa e caótica.

FIG.63. Fator harmonia (GOMES FILHO, 2000).

6 Vide Capítulo 6.

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FIG.64. Fator desarmonia (GOMES FILHO, 2000).

O conceito de equilíbrio aplicado às manifestações visuais encontra-se em conformidade

com a definição de equilíbrio empregado na Física, ou seja, trata-se da igualdade, absoluta ou

aproximada, entre forças opostas. Na FIG.65, por exemplo, os pesos encontram-se

homogeneamente distribuídos nos dois lados verticais da composição, resultando,

conseqüentemente, numa organização plástica bastante atraente e harmoniosa visualmente. Em

contrapeso, na FIG.66, o conceito de desequilíbrio se expressa através dos patinadores. Neste

caso, a sensação de desequilíbrio provoca ligeira inquietação nos olhos do observador, além da

impressão de movimento (GOMES FILHO, 2000).

FIG.65. Fator equilíbrio (GOMES FILHO, 2000).

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FIG.66. Fator desequilíbrio (GOMES FILHO, 2000).

O contraste, portanto, trata-se da última categoria conceitual fundamental contemplada no

presente trabalho. GOMES FILHO (2000) afirma que a importância e o significado do contraste

começa no nível básico de visão, através da presença ou ausência de luz. É, por sua vez, a força

que torna visível as estratégias da composição visual. Este mesmo autor considera o contraste

como primordial para o controle visual de uma mensagem bi ou tridimensional, além de processo

de articulação visual, força vital para a criação de um todo coerente e, por último, fator de

estímulo e atração para o consulente. A FIG.67 sintetiza diversos contrastes, tais como: linhas,

contornos irregulares, direções e, sobretudo, denota proporção entre os diversos elementos e

relações de escala.

FIG.67. Fator contraste (GOMES FILHO, 2000).

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4.4.2 CATEGORIAS CONCEITUAIS / TÉCNICAS VISUAIS APLICADAS

A Categoria Conceitual, denominada por GOMES FILHO (2000) como Técnicas Visuais

Aplicadas, tem por objetivo otimizar o processo de leitura visual da forma, bem como fornecer

subsídios para procedimentos criativos com relação à concepção de trabalhos e desenvolvimento

de projetos das mais variadas naturezas. As técnicas visuais aplicadas, presentes neste Sistema de

Leitura Visual da Forma do Objeto, são: clareza, simplicidade, complexidade, minimidade,

profusão, coerência, incoerência, exageração, arredondamento, transparência física, transparência

sensorial, opacidade, redundância, ambigüidade, espontaneidade, aleatoriedade, fragmentação,

sutileza, difusidade, distorção, profundidade, superficialidade, seqüencialidade, sobreposição,

ajuste ótico e ruído visual.

A título de exemplo, as Técnicas Visuais Aplicadas que possuem maior relação com os

simbolismos cartográficos (representações gráficas esquemáticas) que representam as oito

situações de impacto ambiental (Capítulo 6), são apresentadas a seguir:

a) Clareza: Manifestações visuais com alto grau de organização, unificação, equilíbrio e

harmonia, apresentam-se, naturalmente, extremamente claras e de grande nitidez. A manifestação

da clareza independe da complexidade estrutural do objeto, ou seja, não possui qualquer relação

com a quantidade de unidades compositivas. A técnica da clareza é muito bem exemplificada na

obra de arte expressa na FIG.68, pois esta apresenta-se muito bem equilibrada, ordenada e

harmoniosa, propiciando, assim, rápida e fácil leitura da forma do objeto (GOMES FILHO,

2000).

FIG.68. Fator clareza (GOMES FILHO, 2000).

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b) Simplicidade: A tendência de simplicidade encontra-se ativa na mente humana. Esta

técnica, muitas vezes, encontra-se associada à técnica de clareza. Geralmente, manifestações

visuais simples tendem a apresentar baixo número de unidades visuais (unidades compositivas),

e, conseqüentemente, tornam-se organizações fáceis de serem assimiladas, lidas e interiorizadas,

tal como apresenta o pictograma exposto na FIG.69 (GOMES FILHO, 2000).

FIG.69. Fator simplicidade (GOMES FILHO, 2000).

c) Complexidade: Esta formulação é oposta à técnica de simplicidade. São produtos que

apresentam configurações complexas, ou seja, possuem numerosas unidades formais na

organização do objeto. A FIG.70 representa um navio com inúmeras unidades compositivas,

oferecendo, portanto, ao consulente, demorada leitura visual da forma do objeto. Na grande

maioria das vezes, são objetos com baixa pregnância da forma (GOMES FILHO, 2000).

FIG.70. Fator complexidade (GOMES FILHO, 2000).

d) Minimidade: Nesta técnica, as unidades ou elementos informacionais são utilizados

minimamente. Os ícones dos sanitários masculino e feminino, representados pela FIG.71, são

compostos apenas por duas unidades: o fundo e a configuração esquemática do homem e da

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mulher, nos seus respectivos pictogramas. Portanto, tratam-se de representações bastante simples,

claras e econômicas (GOMES FILHO, 2000).

FIG.71. Fator minimidade (GOMES FILHO, 2000).

e) Coerência: Este conceito pode ser muito bem entendido através da definição realizada pelo

dicionário AURÉLIO (1999): “Ligação ou harmonia entre situações, acontecimentos ou idéias;

relação harmônica; conexão, nexo, lógica”. A FIG.72, por exemplo, muito bem expressa a

sensação de integração e harmonia existente entre o relógio público londrino, fixado, por sua vez,

num edifício (GOMES FILHO, 2000).

FIG.72. Fator coerência (GOMES FILHO, 2000).

f) Arredondamento: Esta técnica visual tem relação direta com o fator de boa continuidade,

ou seja, funciona como agente minimizador de sobressaltos visuais. Com isso, a percepção da

forma torna-se mais suave e amena. Atualmente, o arredondamento é extremamente utilizado no

design de linhas de produtos dos mais variados tipos, tais como: automóveis, eletrodomésticos,

transportes de alta velocidade (FIG.73) etc (GOMES FILHO, 2000).

FIG.73. Fator arredondamento (GOMES FILHO, 2000).

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g) Sutileza: Esta é uma técnica que reflete o bom gosto, e, cuja utilização, cabe,

praticamente, em qualquer modo de manifestação formal. Além disso, esta técnica é empregada

com o objetivo de se proporcionar refinamentos visuais aos objetos. Na xícara representada pela

FIG.74, o conceito de sutileza é revelado em toda sua composição, uma vez que a organização

formal do produto apresenta-se extremamente coerente, equilibrada, suave, elegante, requintada e

harmônica (GOMES FILHO, 2000).

FIG.74. Fator sutileza (GOMES FILHO, 2000).

h) Superficialidade: A técnica da superficialidade diz respeito à representação de

manifestações formais vistas de maneira bidimensional ou “chapada”. Esta técnica encontra-se

presente em configurações planas, regidas, fundamentalmente, pela falta absoluta de sensação de

profundidade ou volume nas unidades compositivas do objeto. Como exemplo, pode-se destacar

o golfista representado pela FIG.75 (GOMES FILHO, 2000).

FIG.75. Fator superficialidade (GOMES FILHO, 2000).

Como última consideração, vale destacar que a apreensão do sistema proposto e a facilidade

para proceder à leitura visual da forma do objeto vão depender, fundamentalmente, da

sensibilidade do consulente, além de seu repertório cultural, técnico e profissional.

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4.5 METODOLOGIA DE LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO

O Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto mentoreado por GOMES FILHO (2000) e,

por sua vez, adotado nesta pesquisa, encontra-se consolidado, respectivamente, sobre duas etapas

básicas: Leitura Visual do Objeto pelas Leis da Gestalt (item 4.5.1) e Leitura Visual do Objeto

pelas Categorias Conceituais (item 4.5.2). O cumprimento destas etapas, portanto, orienta o leitor

na interpretação e análise das manifestações visuais.

4.5.1 LEITURA VISUAL DO OBJETO PELAS LEIS DA GESTALT

Esta leitura inicial, cuja abordagem refere-se somente às leis da Gestalt7, serve como base e

sustentação para as leituras visuais mais complexas da organização formal dos objetos. Isto

posto, GOMES FILHO (2000) apresenta as seguintes etapas básicas deste primeiro passo de

leitura visual do objeto:

1. Examinar o objeto e segregar suas unidades principais;

2. Decompor as unidades principais já segregadas, em suas unidades compositivas

(subunidades);

3. Identificar, analisar e interpretar a presença das leis básicas da Gestalt em cada unidade

(ou subunidade) do objeto;

4. Interpretação geral da forma do objeto. Estabelecer valor à pregnância formal.

7 A título de recapitulação, as leis da Gestalt são: unidades, segregação, unificação, fechamento, boa continuação, semelhança e pregnância da forma.

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4.5.2 LEITURA VISUAL DO OBJETO PELAS CATEGORIAS CONCEITUAIS

Neste segundo passo de leitura visual da forma do objeto, o leitor deve tomar como base os

conceitos abordados nas categorias conceituais fundamentais e categorias conceituais/técnicas

visuais aplicadas. GOMES FILHO (2000) expõe as seguintes etapas complementares deste

segundo passo de leitura visual do objeto:

1. Analisar a estrutura do objeto em função da boa organização visual do todo e de suas

partes constituintes, com base, entretanto, na extensa gama das categorias conceituas

presentes neste Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto;

2. Listar as categorias conceituais fundamentais que estão inscritas na configuração das

unidades e/ou no objeto como um todo;

3. Interpretação Conclusiva/Pregnância da Forma: verificar se a imagem do objeto

encontra-se harmônica, equilibrada, coerente, regular etc, tanto no seu todo, como,

também, nas suas partes constitutivas. Estabelecer valor à pregnância formal.

A seguir, são apresentados alguns exemplos práticos de leitura visual da forma do objeto,

que concluem, portanto, o sistema adotado neste trabalho.

4.6 EXEMPLOS PRÁTICOS DE LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO

Os exemplos práticos de leitura da forma, expostos por GOMES FILHO (2000), se dividem

em duas séries:

a) Num primeiro estágio, a leitura visual da forma do objeto possui, como base, somente, as

leis da Gestalt (vide item 4.6.1);

b) Num estágio final, a leitura visual da forma do objeto engloba, por sua vez, as leis da

Gestalt e as Categorias Conceituais. Essa união, finalmente, consolida e estrutura o

presente sistema (vide item 4.6.2).

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4.6.1 LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO / LEIS DA GESTALT

Exemplo 1: A leitura da forma do símbolo Yang-Ying (FIG.76) com base nas leis da Gestalt.

FIG.76. Primeiro exemplo prático de leitura visual da forma do objeto com base nas leis da Gestalt

(GOMES FILHO, 2000).

Análise da estrutura perceptiva do objeto:

• Unidades Principais: Três unidades -Círculo externo, gota verde e gota magenta.

• Segregação: A Figura se segrega nas unidades formais do círculo externo e nas gotas

verde e magenta.

• Boa Continuidade: Presente nas três unidades, sendo que o círculo externo, pela sua

forma circular, apresenta continuidade perfeita.

• Proximidade e Semelhança: Presente nas unidades formais invertidas das gotas verde e

magenta, concorrendo, por sua vez, para unificação da Figura.

• Unificação: O equilíbrio dos pesos visuais homogeneamente distribuídos e a harmonia

absolutamente ordenada, agregados aos fatores de proximidade e semelhança, promovem,

portanto, a unificação da imagem. A posição invertida e o alto contraste cromático entre as duas

gotas perturbam, ligeiramente, a unificação. Entretanto, não há degeneração do padrão de boa

qualidade formal da imagem.

Interpretação Conclusiva – Pregnância da Forma:

Como conclui GOMES FILHO (2000), a imagem do símbolo Yang-Ying sintetiza os

atributos da “boa Gestalt”. A imagem possui um alto índice de pregnância da forma, pois sua

estrutura harmônica e equilibrada, propicia, conseqüentemente, fácil e rápida leitura visual.

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Exemplo 2: A leitura da forma do arranha-céu (FIG.77) com base nas leis da Gestalt.

FIG.77. Segundo exemplo prático de leitura visual da forma do objeto com base nas leis da Gestalt

(GOMES FILHO, 2000).

Análise da estrutura perceptiva do objeto:

• Unidades Principais: Existe segregação em cinco unidades principais – torre (a); corpo

central recuado (b); volumes laterais/superior (c); corpo central/inferior (d); volumes

laterais/inferior (e).

• Boa Continuidade: O grande edifício apresenta boa continuidade nas diversas colunas

que são estruturadas pelos conjuntos de janelas (em todas as unidades).

• Proximidade e Semelhança: Estes estão presentes nas janelas e colunas, fomentando, por

sua vez, a unificação da imagem.

• Unificação: Esta unificação, embora homogênea, é ligeiramente perturbada em sua

ordenação pelo recuo, avanço e sobreposições das várias unidades nos planos frontais do edifício.

Interpretação Conclusiva – Pregnância da Forma:

Como conclui GOMES FILHO (2000), a imagem do arranha-céu, num aspecto geral,

apresenta boa organização visual da forma, pois trata-se de uma manifestação visual equilibrada e

de harmonia absolutamente regular e ordenada. Dessa maneira, a pregnância da forma pode ser

considerada alta, embora existam modestas perturbações na unificação do conjunto. Porém, deve-

se destacar que, em nenhum momento, a leitura visual da forma deixa de ser fácil, clara e de

espontânea compreensão.

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4.6.2 LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO / CATEGORIAS CONCEITUAIS

Exemplo 1: A leitura da forma da estátua (FIG.78) com base nas Categorias Conceituais.

FIG.78. Primeiro exemplo prático de leitura visual da forma do objeto com base nas Categorias

Conceituais. (GOMES FILHO, 2000).

Como afirma GOMES FILHO (2000), na leitura visual desta imagem (FIG.78), vários

aspectos se sobressaem de imediato, tais como: simplicidade, clareza, sutileza, delicadeza e

refinamento. Além disso, a posição levemente inclinada da estátua e sua postura dando sensação

de movimento provocam ligeira instabilidade visual, instigando, por sua vez, a atenção dos

observadores. Deve-se também salientar que a cor escura do fundo proporciona destaque e

valorização da estátua. O equilíbrio visual é neutro, pois há compensação dos pesos visuais da

forma.

Interpretação Conclusiva – Pregnância da Forma:

Como conclui GOMES FILHO (2000), a pregnância formal da composição, como um todo,

é média, pois sua interpretação visual carece de certo tempo de apreensão. A leitura visual da

forma relativamente lenta deve-se às irregularidades presentes, sobretudo, nas indefinições

geométricas dos detalhes das formas orgânicas (formas com curvas) que configuram a base de

apoio da estátua.

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Exemplo 2: A leitura da forma do cenário urbano (FIG.79) com base nas Categorias

Conceituais.

FIG.79. Segundo exemplo prático de leitura visual da forma do objeto com base nas Categorias

Conceituais. (GOMES FILHO, 2000).

O cenário urbano presente na FIG.79 sintetiza praticamente todos os atributos que concorrem

para a desarmonia da organização formal, em termos de relações contextuais inadequadas entre

objetos (GOMES FILHO, 2000). A organização deste conjunto de manifestações visuais

apresenta-se, portanto, extremamente confusa e caótica, devido à profusão (abundância;

exuberância) de unidades formais que, por sua vez, exprimem idéia de irregularidade e

descontinuidade. Além disso, é bastante grande a incoerência e a incompatibilidade de linguagens

e estilos formais.

Interpretação Conclusiva – Pregnância da Forma:

Como conclui GOMES FILHO (2000), a pregnância da imagem é baixíssima, fruto,

conseqüentemente, do excesso de informações sobrepostas e desarmonia visual (alto grau de

poluição visual). A leitura do ambiente urbano, neste caso, é bastante lenta e de difícil

interpretação.

Como última consideração, deve-se destacar que a aplicação dos conceitos abordados no

Sistema de Leitura Visual da Forma do Objeto, no processo de construção dos símbolos que

representam situações de impacto ambiental, além das respectivas leituras visuais da forma,

encontram-se explicitadas no Capítulo 6.

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5. PROJETO PRELIMINAR DE CONSTRUÇÃO DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

5.1 OBJETIVO DO TRABALHO PRELIMINAR

Este capítulo refere-se à primeira etapa do processo de construção dos símbolos cartográficos

que representam situações de impacto ambiental. Por conseguinte, esta fase do trabalho pode e

deve ser considerada como estritamente preliminar, uma vez que os simbolismos foram

elaborados sem qualquer base ou aprofundamento nos preceitos da Teoria da Informação,

Semiologia Gráfica e Psicologia Perceptual da Forma (Gestalt). Neste estágio embrionário,

portanto, os símbolos cartográficos foram concebidos como simples desenhos despretensiosos,

desempenhando, por sua vez, função meramente ilustrativa. É importante evidenciar, que nesta

fase do trabalho, as relações de escala cartográfica foram descartadas.

Deve-se também salientar que este trabalho foi um primeiro passo para se identificar os

erros, acertos e as dificuldades encontradas no processo de construção dos simbolismos

cartográficos. Além disso, neste exercício elementar de elaboração dos símbolos, construindo-os

como meros desenhos ilustrativos, tinha-se a noção de que, em trabalhos posteriores, os

simbolismos seriam refeitos com base na Psicologia Perceptual da Forma (Gestalt).

Nesta fase embrionária do trabalho, pode-se considerar a metodologia de construção dos

símbolos cartográficos como primária e, baseada, de certa maneira, na simples intuição do

pesquisador. Dessa maneira, a metodologia utilizada neste projeto preliminar de construção dos

símbolos cartográficos que representam desastres e riscos ambientais cumpriu três etapas básicas:

a) Aquisição de imagens dos desastres e riscos ambientais:

Várias imagens sobre cada situação ambiental foram selecionadas e agrupadas, a fim de se

destacar elementos comuns aos fenômenos. Com base nas imagens, os fenômenos do mundo real

foram analisados e posteriormente transformados em simbolismo cartográficos;

b) Criação e elaboração dos símbolos cartográficos que representam os desastres ambientais

utilizando o aplicativo CorelDraw:

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121

A criação e a elaboração dos símbolos cartográficos que representam as situações de impacto

ambiental foram realizadas no aplicativo CorelDRAW. Este programa de desenho é baseado em

vetores, facilitando, por sua vez, a criação dos simbolismos. Vale salientar que todo o processo de

elaboração das representações cartográficas na presente pesquisa foi desenvolvido em ambiente

computacional;

c) Testes de Eficiência:

Para validação desta fase, testes de eficiência dos símbolos cartográficos que representam

desastres e riscos ambientais, baseados nos moldes estabelecidos na pesquisa de PEREIRA et al.

(1999), foram realizados junto aos alunos de sexta e sétima séries do Colégio Municipal Anísio

Teixeira, Ilha do Governador – Rio de Janeiro. Estes testes tiveram como objetivo a verificação

da eficiência na comunicação dos simbolismos que representavam as situações de impacto

ambiental. Os resultados obtidos nos testes de eficiência, bem como algumas considerações sobre

o trabalho de PEREIRA et al. (1999), serão explicitados e discutidos nos itens 5.3 e 5.4.

5.2 SELEÇÃO DAS SITUAÇÕES DE RISCO E DESASTRES AMBIENTAIS

Foram selecionadas oito situações de impacto ambiental para a elaboração dos simbolismos

cartográficos. As situações de risco e desastres ambientais foram destacadas das pautas

estabelecidas na AGENDA 21 (1992). Este documento, elaborado na Conferência das Nações

Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ECO-92/Rio de Janeiro), tem como objetivo

promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de

proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.

A AGENDA 21 (1992), da qual participaram líderes e chefes de Estado de 179 países, trata

profundamente da temática ligada à degradação ambiental mundial e a deterioração contínua dos

seus ecossistemas. Portanto, acreditando-se na legitimidade deste documento, em âmbito

mundial, foram dele retirados oito situações de risco e desastres ambientais. São elas:

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5.2.1 PROCESSO DE FAVELIZAÇÃO

O Dicionário AURÉLIO (1999) define o termo favela como “conjunto de habitações

populares toscamente construídas e com recursos higiênicos deficientes”. No que diz respeito ao

processo de favelização, este mesmo dicionário o define como “formação de favelas ou processo

de grande decadência de área habitada”. Em consonância com estas definições, a

ENCICLOPÉDIA ENCARTA (2001) define favela como “conjunto de casas de construção

rudimentar, geralmente habitadas pela população de baixa renda”. No entanto, estas definições

não consideram questões acerca das apropriações ilícitas de terrenos públicos ou particulares.

Vale ressaltar que esta problemática não pode ser descartada e está intrínseca ao processo de

favelização (IBGE, 1991).

Tomando como exemplo o processo de favelização brasileiro, pode-se considerar a década

de 60 como uma referência, pois o Brasil deixou de ser um país eminentemente agrícola,

contabilizando uma população urbana de aproximadamente 60%. No cerne desta mudança

encontra-se o processo de mecanização das áreas agrícolas, pondo à disposição o trabalho

rudimentar de enorme contingente de trabalhadores rurais (ABRIL, 2001).

Em busca de melhores condições de vida, essa enorme massa de migrantes segue para as

grandes cidades, abrigando-se, portanto, em autoconstruções. Este processo de produção de

moradias de baixo custo origina-se, geralmente, em áreas de terrenos íngremes, próximas às

margens de córregos e charcos. Além disso, são áreas que enfrentam constantemente riscos de

enchentes e desmoronamentos, principalmente nas estações chuvosas. Contudo, vale também

salientar que a distância das áreas periféricas em relação às centrais dificulta o acesso dessas

populações aos serviços de saúde e educação (ABRIL, 2001).

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2001), cerca de 28%

das prefeituras brasileiras (1.519 municípios) revelaram a existência de favelas e encontram-se

cadastrados, por estas prefeituras, aproximadamente 1 milhão desses domicílios. De maneira

geral, a favelização brasileira concentra-se nas regiões metropolitanas de São Paulo (29,8%) e

Rio de Janeiro (24,8%), num contexto de pobreza, desemprego, tráfico de drogas e descaso

governamental no que tange o abastecimento de água, luz, esgoto e transportes (ENCARTA,

2001).

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Para a elaboração da representação gráfica sobre o processo de favelização, algumas imagens

foram selecionadas (FIG.80), tais como:

FIG.80. Imagens de base para a construção do símbolo que representa o processo de favelização.

(FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; JORNAL O ESTADO DE SÃO PAULO, 2000 e SAVY, 2001).

Com base nas várias imagens selecionadas sobre o processo de favelização, criou-se o

Símbolo 1a (FIG.81). Deve-se enfatizar, sobretudo, que a criação desta primeira bateria de

símbolos foi calcada sobre métodos empíricos, ou seja, não existia, nesta etapa do trabalho,

conhecimento técnico suficiente para elaboração de representações gráficas ordenadas, com

elevado grau de simetria e, contudo, rápida e fácil leitura visual da forma. Portanto, estes

“símbolos” apresentam-se como meros desenhos, sem nenhum tipo de regularidade na

composição dos elementos. Desse modo, num processo de redução da manifestação visual, para

posterior inserção num mapa, a legibilidade da representação apresentar-se-á extremamente

comprometida. A discussão sobre as propriedades do processo de redução das representações

gráficas encontra-se, especificamente, no Capítulo 6.

FIG.81. Símbolo 1a - Processo de Favelização.

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5.2.2 DESMADEIRAMENTO (DESFLORESTAMENTO; DESMATAMENTO)

O Dicionário AURÉLIO (1999) define o termo desmadeiramento como “corte de madeiras

praticado em floresta”. Não se pode desconsiderar, entretanto, que o termo desmadeiramento,

apesar de pouco usual, pode ser utilizado também como sinônimo de desflorestamento. Este

último é definido como “derrubar árvores de uma determinada área ou uma região, em larga

escala, desfazendo floresta; desmatar; desmadeirar” (AURÉLIO, 1999). O termo

desmatamento, por sua vez, apesar de mais abrangente, é também de maior conhecimento no

senso comum e pode ser definido como “ato ou efeito de desmatar ou desflorestar” (AURÉLIO,

1999). Portanto, de maneira geral, esses três termos podem ser aplicados sem diferenciação.

Contudo, vale ressaltar que a principal forma de desmatamento é a queimada, visando,

predominantemente, a prática da agropecuária (ABRIL, 2001). Sobre queimadas,

especificamente, será criado o Símbolo 3a. Conseqüentemente, no caso específico do Símbolo 2a,

pode-se considerar maior conformidade com os termos desmadeiramento e desflorestamento.

Esta consonância pode ser ratificada a partir do momento que o Símbolo 2a foi concebido num

contexto de ação indiscriminada das madeireiras, além da retirada das árvores para produção de

carvão vegetal, expansão das fronteiras agrícolas, atividade mineradora e pecuária não

sustentável (ABRIL, 2001). No entanto, não se pode descartar o termo desmatamento, apesar

deste possuir grande relação com as queimadas.

Na Europa (excluindo a Federação Russa) e na Ásia, por exemplo, quase 70% das florestas

originais foram derrubadas durante o século XIX e início do século XX. Atualmente, este

processo de devastação atinge aproximadamente 50% das matas originais do planeta. Entre 1960

e 1990, um quinto das florestas tropicais foi destruído, principalmente em terras latino-

americanas (ABRIL, 2001).

No caso da Região Amazônica, por exemplo, os índices de desmatamento já atingem cerca

de 13% da cobertura original da floresta. Apesar dos problemas, o Brasil ainda ocupa o segundo

lugar entre os países com a maior cobertura florestal remanescente no mundo (atrás apenas da

Federação Russa). Em contrapartida, o Brasil encontra-se como segundo país no que diz respeito

aos níveis de desmatamento (depois da China), de acordo com o relatório do WWF - World Wide

Fund for Nature (ABRIL, 2001).

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Como última consideração, vale explicitar a problemática do desflorestamento Amazônico

em função da cultura da soja, que nos últimos anos, encontra-se em extrema expansão na região.

A parcela abastada de plantadores de soja compra áreas já desmatadas e ocupadas por pastagens e

outras culturas. Os criadores de gado e os pequenos agricultores, por sua vez, transferem-se para

regiões ainda com cobertura florestal, onde dão continuidade ao processo de desmatamento, com

o objetivo de prosseguir com suas atividades (ABRIL, 2001).

Para a elaboração da representação gráfica sobre desmadeiramento, algumas imagens foram

selecionadas (FIG.82), tais como:

FIG.82. Imagens de base para a construção do símbolo que representa o processo de desmadeiramento. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000).

Com base nas várias imagens selecionadas sobre desmadeiramento, criou-se o Símbolo 2a

(FIG.83):

FIG.83. Símbolo 2a - Desmadeiramento (Desflorestamento; Desmatamento).

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5.2.3 INCÊNDIOS FLORESTAIS (QUEIMADAS)

Os incêndios florestais (ou queimadas) como fenômeno estritamente natural, oriundos de

raios, por exemplo, são raros e incomuns na natureza. Quando estes ocorrem, por sua vez,

tornam-se parte integrante e necessários para alguns ecossistemas. Porém, de maneira geral, os

incêndios florestais são causados pela ação humana e apresentam-se como atividade de grande

impacto e degradação ao meio ambiente (INPE/CPTEC, 2001).

Tão arraigada à realidade brasileira, as queimadas possuem razões diversas, tais como:

limpeza de áreas para pastagens, preparo de plantios, vandalismo, balões de São João, disputas

fundiárias, protestos sociais, fogueiras em áreas de visitação pública, falta de precaução dos

fumantes, carvoaria e muitos outros. Para se ter noção da dimensão das queimadas e incêndios

florestais no Brasil, vale chamar a atenção para as mais de 300 mil queimadas registradas todos

os anos. Deve-se também ressaltar que, desse total, 85% ocorrem na Amazônia Legal - Acre,

Rondônia, Roraima, Amazonas, Amapá, Pará, parte do Maranhão, do Mato Grosso e do

Tocantins (SOCIEDADE NACIONAL DE AGRICULTURA, 2001).

Segundo SILVA (1998), as queimadas contribuem brutalmente para a redução das áreas

florestais em todo o mundo. Este mesmo autor, no Manual de Prevenção e Combate aos

Incêndios Florestais, conceitua o termo incêndio florestal (ou queimadas) como: “o fogo sem

controle, incidente sobre qualquer forma de vegetação, podendo ser provocado pela ação do

homem ou por causas naturais”. Todavia, vale salientar que diversos fatores ambientais

determinam o comportamento das queimadas florestais, como, por exemplo, os fatores climáticos

ou características topográficas de uma determinada região. Conseqüentemente, torna-se bastante

difícil prever o sentido ou direção do fogo numa área florestal.

Como última consideração, vale evidenciar algumas conseqüências geradas pelas queimadas

ou incêndios florestais: destruição da cobertura vegetal; destruição de húmus e morte de

microorganismos; destruição da fauna silvestre; eliminação de sementes em estado de latência;

perda de nutrientes do solo; aceleração do processo de erosão; assoreamento de rios, lagos, lagoas

e outros (SILVA, 1998).

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Para a elaboração da representação gráfica sobre incêndios florestais ou queimadas, algumas

imagens foram selecionadas (FIG.84), tais como:

FIG.84. Imagens de base para a construção do símbolo que representa o incêndio florestal.

(FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; CREA-RJ, 2000; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001). Com base nas várias imagens selecionadas sobre incêndio florestal, criou-se o Símbolo 3a

(FIG.85):

FIG.85. Símbolo 3a - Incêndios Florestais (Queimadas).

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5.2.4 PROCESSO DE DESERTIFICAÇÃO

As discussões acerca do processo de desertificação, pela comunidade científica, começaram

nos anos 30, decorrente do fenômeno observado no meio-oeste americano, conhecido como Dust

Bowl, onde intensa degradação dos solos afetou uma área de aproximadamente 380.000 km2 nos

estados de Oklahoma, Kansas, Novo México e Colorado. A ocorrência deste fenômeno fomentou

pesquisas sobre as possíveis causas da desertificação, isto é, a formação de condições de tipo

desértico em áreas de clima árido (INFORME NACIONAL SOBRE DESERTIFICAÇÃO,

2000).

Porém, somente na década de 70, a comunidade internacional reconheceu os impactos

econômicos, sociais e ambientais oriundos do processo de desertificação. Em 1977, o programa

mundial de ação para combate à desertificação foi formalizado na Conferência sobre

Desertificação das Nações Unidas (ONU), realizada em Nairóbi, capital do Quênia (ENCARTA,

2001). Hoje a desertificação é atuante em mais de 100 países, gerando discussões, em âmbito

mundial, sobre a problemática da deterioração dos solos, vegetação e águas. Vale salientar

também que a desertificação não ocorre em todos os tipos de clima e de ecossistemas, ou seja, é

um problema típico das regiões de clima árido e semi-árido (DESERT, 2001).

De acordo com o Capítulo 12 da AGENDA 21, a desertificação é “a degradação do solo em

áreas áridas, semi-áridas e sub-úmidas secas, resultante de diversos fatores, inclusive de

variações climáticas e de atividades humanas”. Além disso, este mesmo documento relata que a

desertificação afeta cerca de um sexto da população da terra, 70% de todas as terras secas,

atingindo 3,6 bilhões de hectares e um quarto da área terrestre total do mundo. Em consonância

com o exposto, duas considerações são fundamentais no contexto da desertificação:

a) a atividade humana predatória como elemento detonador das causas do processo de

desertificação;

b) as áreas afetadas, na grande maioria das vezes, abrigam populações extremamente

carentes.

O processo de desertificação pode ter causas diversas. Algumas delas podem ser: manejo

inadequado de culturas, desmatamento em áreas com vegetação nativa, práticas inapropriadas de

irrigação, uso excessivo de fertilizantes, mineração, pecuária extensiva, diminuição da

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disponibilidade de recursos hídricos, perda das propriedades dos solos e outros. As

conseqüências, por sua vez, são de cunho social, econômico e natural. Algumas delas são:

abandono das terras por parte das populações (migrações), desestruturação das famílias como

unidades produtivas, crescimento da pobreza urbana devido às migrações, perda de

biodiversidade (flora e fauna), perda de solos por erosão, diminuição da disponibilidade efetiva

de recursos hídricos devido ao assoreamento de rios e reservatórios e outros (DESERT, 2001).

Portanto, não se pode desconsiderar a diferença entre o fenômeno da desertificação e a

progressão natural dos desertos. No primeiro caso, a ação antrópica é determinante e as condições

ambientais apresentam-se bastante comprometidas. O segundo é estritamente natural, ou seja, os

ecossistemas encontram-se em equilíbrio e não existe qualquer relação com as atividades

humanas. Como última consideração, vale salientar que o esgotamento do solo em conseqüência

da atividade humana pode ser atenuado ou reparado. Porém, este processo apresenta-se

extremamente lento e exige enormes recursos financeiros (INFORME NACIONAL SOBRE

DESERTIFICAÇÃO, 2000).

Para a elaboração da representação gráfica sobre o processo de desertificação, algumas

imagens foram selecionadas (FIG.86), tais como:

FIG.86. Imagens de base para a construção do símbolo que representa o processo de desertificação. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; DESERT, 2001; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001).

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Com base nas várias imagens selecionadas sobre o processo de desertificação, criou-se o

Símbolo 4a (FIG.87):

FIG.87. Símbolo 4a - Processo de desertificação.

5.2.5 DEPÓSITO A CÉU ABERTO DE LIXO URBANO (LIXÕES)

O destino para os gigantescos volumes de lixo produzidos diariamente é, de maneira geral,

um problema global e encontra-se, por sua vez, intrínseco ao processo de crescimento das

cidades. MAHLER (2001) faz uma reconstituição histórica da problemática associada ao

acúmulo de lixo urbano e afirma que a produção desordenada de resíduos contribuiu de forma

marcante para o desenvolvimento das grandes epidemias européias na Idade Média. Para debelá-

las desenvolveram-se, nesta época, os primeiros projetos de saneamento básico nas grandes

cidades da Europa. Entretanto, atualmente, o acúmulo de lixo ainda assola algumas áreas do

planeta, como, por exemplo, em cidades da África, Ásia e América Latina. Nestes casos, os

habitantes dispõem seu lixo de forma desordenada e torna-se comum a existência de catadores

públicos, com carroças de burro, realizando a coleta precária destes resíduos.

MAHLER (2001) considera que o colapso do saneamento ambiental no Brasil chegou a

níveis insustentáveis. Este estado de sucateamento das condições sanitárias necessárias à

população brasileira pode ser ratificada pelo fato de que grande parte das 240 mil toneladas de

lixo produzidas, diariamente, segue para os lixões a céu aberto. Além disso, dados do Instituto de

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Pesquisas Tecnológicas (IPT) revelam que um número reduzido de prefeituras no Brasil possui

equipes especializadas de trabalho ou ações públicas específicas para o tratamento do lixo

(ABRIL, 2001). Outra mazela social arraigada à existência dos lixões está na participação de

catadores infantis. Estas crianças, afastadas das escolas e convivendo num contexto total de

miséria, visam, predominantemente, o incremento da renda familiar (MAHLER, 2001).

Os principais elementos constituintes dos lixões são: embalagens de plástico, papel, metal e

produtos químicos (fertilizantes, pesticidas e herbicidas). Na década de 90, nova gama de

elementos e materiais tóxicos torna-se também usual aos lixões, tais como: pilhas, baterias de

telefone celular, pneus e outros. Vale ressaltar que as soluções comumente utilizadas para reduzir

o acúmulo de lixo, como a incineração e a deposição em aterros, também têm efeito poluidor,

pois emitem fumaça e fluidos tóxicos que se infiltram no solo e contaminam os lençóis de água

(MAHLER, 2001).

No momento presente, os países desenvolvidos, com o objetivo de minimizar o impacto

ambiental oriundo dos resíduos das atividades domésticas, industriais e comerciais, investem,

maciçamente, em processos de reciclagem, além de fazerem uso de materiais biodegradáveis.

Não se pode também desconsiderar que a carência do tratamento de lixo, além de todo o processo

de degradação ambiental, fomenta, por sua vez, a disseminação de uma série doenças, tais como a

diarréia, a amebíase, a parasitose e outras. (ABRIL, 2001).

Como última consideração, vale citar o exemplo de sucesso da cidade de Seattle (Estados

Unidos) no que tange o tratamento de rejeitos procedentes das atividades humanas. A adoção do

programa de tratamento de lixo em Seattle englobou as seguintes metas: operação de reciclagem

ligada à colocação de caixas coletoras de diferentes cores nas calçadas; aterramento de alguns

resíduos remanescentes em terras áridas ou estéreis e a criação de programas educacionais e de

conscientização ecológica. Vale salientar que a implementação do programa de Seattle tornou-se

um exemplo para outras cidades no mundo, como Sydney, Seul, Nova York, Kyoto, Munique e

Milão. Porém, pode-se perceber que este tipo de empreendimento ainda restringe-se apenas às

cidades dos países ricos ou desenvolvidos (MAHLER, 2001).

Para a elaboração da representação gráfica sobre o depósito a céu aberto de lixo urbano,

algumas imagens foram selecionadas (FIG.88), tais como:

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FIG.88. Imagens de base para a construção do símbolo que representa o depósito a céu aberto de lixo urbano. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; CREA-RJ, 2001; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001).

Com base nas várias imagens selecionadas sobre o depósito a céu aberto de lixo urbano,

criou-se o Símbolo 5a (FIG.89):

FIG.89. Símbolo 5a - Depósito a céu aberto de lixo urbano (Lixões).

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133

5.2.6 FOCO/ORIGEM DE POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

Durante a década de 70, alguns cientistas americanos levantaram as primeiras hipóteses

acerca da relação entre o aumento do nível de dióxido de carbono (CO2) lançado na atmosfera e o

processo de aquecimento global do planeta. Em 1988, as Nações Unidas criaram o Painel

Intergovernamental sobre Mudança Climática, reunindo 2.500 cientistas de todo o mundo. Como

resultado desta Conferência, algumas previsões foram sugeridas, a respeito do processo de

intensificação do efeito estufa como resultado da ação humana. Algumas delas são: aumento da

temperatura média global, derretimento das geleiras, elevação do nível do mar, enchentes, secas,

tornados, ciclones, maremotos, proliferação de insetos e outros (PESSOA & ALANÍS, 2000).

A problemática da poluição atmosférica é apresentada por CERQUEIRA (1999) como uma

das mais graves ameaças à sociedade moderna, já que os efeitos da concentração de gases, em

longo prazo, não são totalmente conhecidos. Além disso, esta mesma autora destaca o

agravamento do efeito estufa, a destruição da camada de ozônio e a ocorrência de chuvas ácidas

como fenômenos oriundos da poluição do ar.

Com objetivo de se desmitificar o processo de aquecimento global do planeta (o efeito

estufa), algumas considerações devem ser salientadas. Na realidade, o efeito estufa é um

fenômeno essencialmente natural, formado por gases que permitem que a luz do sol penetre na

superfície terrestre e, em contrapartida, bloqueia a radiação do calor e impede sua volta ao

espaço. Como conseqüência deste processo, a temperatura média da superfície do planeta é

mantida em cerca de 15ºC, tornando, possível, a existência de vida na Terra (PESSOA &

ALANÍS, 2000).

Porém, o grande problema relacionado à poluição atmosférica é a possível intensificação do

efeito estufa em função da ação humana, como, por exemplo, a queima de carvão e de

combustíveis derivados de petróleo. CHACON (2000) estabelece muito bem a relação entre a

poluição do ar e os níveis suportados pela natureza: “A velocidade da produção de gases de efeito

estufa deve ser menor do que a velocidade com que a natureza age para compensar os danos

decorrentes da sua permanência prolongada na atmosfera”. Contudo, do ponto de vista da física,

a hipótese da intensificação do fenômeno “efeito estufa” é muito simples, pois quanto maior a

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concentração de gases na atmosfera, maior será o aprisionamento do calor, e, conseqüentemente,

mais alta a temperatura média do globo terrestre.

Os principais gases da atmosfera que intensificam o efeito estufa são: o dióxido de carbono

(CO2), produzido pela queima de combustíveis fósseis e de biomassa; os clorofluorcarbonetos

(CFCs), usados nos aerossóis e em aparelhos de refrigeração; o metano (CH4), encontrado em

aterros de lixo e fossas sanitárias; o ozônio (O3) e o vapor de água. Dentre esses gases, o que tem

causado maior polêmica é o dióxido de carbono (CO2). Este produz efeitos danosos para o meio

ambiente, principalmente devido à velocidade crescente com que vem sendo produzido, para se

atender, sobretudo, às necessidades do modelo consumista da vida atual. Estima-se que as

atividades humanas lancem, anualmente, 5,5 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera

(PESSOA & ALANÍS, 2000).

O transporte rodoviário é uma das maiores fontes de emissão de dióxido de carbono (CO2).

Para se ter noção do crescimento exponencial do transporte rodoviário no mundo, em 1950 havia

70 milhões de veículos. Contudo, projeções indicam que por volta de 2025 estarão circulando

cerca de 1 bilhão de veículos, graças, sobretudo, aos países em desenvolvimento (ABRIL, 2001).

Entretanto, deve-se enfatizar que os países desenvolvidos são os maiores responsáveis pela

emissão dos agentes poluentes. Atualmente, os 32 países mais industrializados do planeta

respondem por 70% dos gases emitidos na atmosfera (PESSOA & ALANÍS, 2000).

No que tange à necessidade de proteger a camada de ozônio, ameaçada pela emissão de

clorofuorcarbonetos (CFCs), vale ressaltar que esta porção gasosa, formada por moléculas de três

átomos de oxigênio (o ozônio), impede a passagem de parte da radiação ultravioleta emitida pelo

Sol. A agressão à camada de ozônio interfere no equilíbrio ambiental e na saúde humana e

animal. Sem sua proteção, por exemplo, a capacidade de fotossíntese das plantas torna-se

reduzida ou aumenta-se o número de incidência de doenças de pele. O CFC é usado em

propelentes de sprays, embalagens de plástico, chips de computador, solventes para a indústria

eletrônica e, sobretudo, nos aparelhos de refrigeração, como as geladeiras e os sistemas de ar

condicionado. Atualmente, é grande o esforço, em âmbito mundial, para a eliminação da

produção do gás clorofluorcarbono (ABRIL, 2001).

No que diz respeito à chuva ácida, o vapor de água, impregnado por substâncias poluentes

(ácidos), retorna à superfície terrestre e altera a composição do solo e das águas, comprometendo,

por sua vez, as lavouras, as florestas e a vida aquática. Além disso, as precipitações ácidas podem

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corroer edifícios, estátuas e monumentos históricos, o que já acontece em vários lugares da

Europa e nas ruínas maias do México. Para se ter noção do impacto deste fenômeno, vale

salientar que 35% dos ecossistemas europeus encontram-se degradados pela acidez das chuvas,

segundo dados do Fundo Mundial para a Natureza (ABRIL, 2001).

Como conseqüência, esta poluição do ar provoca uma série de males à saúde das populações,

tais como: rinite, bronquite, pneumonia, asma, náuseas, dor de cabeça, agravamento de

problemas cardíacos e outros (ABRIL, 2001). Em 1992, durante a Convenção Internacional de

Mudança do Clima, realizada no Rio de Janeiro (ECO-92), os mais de 150 países participantes

concordaram que o problema da poluição atmosférica era global. Porém, de 1992 até 2000,

apenas a Alemanha e a Grã-Bretanha reduziram de fato as emissões de carbono. Todos os outros

países, incluindo o Brasil, aumentaram suas taxas de emissão de CO2 (PESSOA & ALANÍS,

2000).

Para a elaboração da representação gráfica sobre a origem de poluição atmosférica, algumas

imagens foram selecionadas (FIG.90), tais como:

FIG.90. Imagens de base para a construção do símbolo que representa a origem da poluição atmosférica. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001).

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136

Com base nas várias imagens selecionadas sobre a origem da poluição atmosférica, criou-se

o Símbolo 6a (FIG.91):

FIG.91. Símbolo 6a - Foco/Origem de poluição atmosférica.

5.2.7 DESCARGA DE EFLUENTES LÍQUIDOS TÓXICOS (POLUIÇÃO DA ÁGUA)

Os fatores de degradação dos recursos hídricos podem ter origens diversas, tais como:

descargas de resíduos industriais, comerciais e domésticos; crescimento urbano desordenado;

acidentes com petroleiros; atividade mineradora (contaminação por mercúrio no garimpo do

ouro); uso indiscriminado de agrotóxicos nas lavouras e outros. O relatório da Comissão Mundial

de Água mostra que 3 bilhões de pessoas no mundo vivem em péssimas condições sanitárias e 1

milhão não tem acesso à água potável. Associados a esses problemas, propagam-se doenças como

a esquistossomose, hepatite e febre tifóide, matando, conseqüentemente, mais de 5 milhões de

pessoas por ano. Vale ressaltar que a África, Ásia Central e o Oriente Médio são as regiões mais

atingidas do planeta (ABRIL, 2001).

De acordo com os dados da Agência Nacional de Águas (ANA, 2001), no Programa

Nacional de Despoluição de Bacias Hidrográficas, apenas 20% do esgoto urbano passam por

estações de tratamento no Brasil. Nas áreas mais carentes, a situação torna-se mais alarmante,

pois os efluentes são lançados diretamente em “valas negras”, ou seja, são despejados nos rios,

mares, lagos e mananciais, sem qualquer tipo de remoção dos agentes poluentes. Outra prática

bastante típica nas áreas periféricas é a adoção de fossas sépticas, contaminando, por sua vez, os

lençóis freáticos e as águas subterrâneas (ANA, 2001). Vale também citar que os estados da

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137

Região Sudeste registram as maiores taxas de serviços de saneamento, beneficiando 41% da

população. Em contrapartida, a Região Norte apresenta-se com a menor porcentagem, atendendo

somente 5% dos seus habitantes (ABRIL, 2001).

São inúmeras as conseqüências do processo de poluição e contaminação dos recursos

hídricos. Algumas delas são: desvalorização imobiliária e paisagística das áreas ribeiras poluídas

(em função da restrição do aproveitamento para lazer e recreação); problemas relacionados à

saúde da população; mortandade de peixes e outros (ANA, 2001).

Como última consideração, deve-se explicitar os imprevisíveis efeitos da poluição hídrica

nas espécies marinhas. Em alguns casos são detectadas mudanças nas características celulares e

fisiológicas dos seres marinhos, além de alterações no processo alimentar, reprodutivo e outros

(MAR-ALTO, 2001).

Para a elaboração da representação gráfica sobre a descarga de efluentes líquidos tóxicos,

algumas imagens foram selecionadas (FIG.92), tais como:

FIG.92. Imagens de base para a construção do símbolo que representa a poluição hídrica. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; O GLOBO, 2000; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001).

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138

Com base nas várias imagens selecionadas sobre a descarga de efluentes líquidos tóxicos,

criou-se o Símbolo 7a (FIG.93):

FIG.93. Símbolo 7a - Descarga de Efluentes Líquidos Tóxicos (Poluição da Água).

5.2.8 MORTANDADE DE PEIXES

As entidades públicas apontam, muitas vezes, e de maneira simplista, a falta de oxigenação

nas águas dos rios, lagos e lagoas como razão principal da mortandade de peixes. Entretanto, esta

falta de oxigênio pode ser explicada por um conjunto de fatores, tais como: lançamento de esgoto

doméstico, comercial e industrial (emissão de efluentes tóxicos ácidos, álcalis, metais pesados,

fenóis e cianetos); proliferação de algas marinhas (em função do aumento da temperatura das

águas); elevação dos índices de salinidade; o tempo nublado (que dificulta o processo de

fotossíntese) e outros (O GLOBO, 2000).

Fenômeno bastante comum aos moradores da cidade do Rio de Janeiro, a mortandade de

peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas e nas lagoas da Baixada de Jacarepaguá repete-se

periodicamente. Como exemplo deste tipo de degradação ambiental, vale citar a mortandade, no

início do ano 2000, de aproximadamente 100 toneladas de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas,

segundo estimativa da Secretaria Municipal de Meio Ambiente. Como conseqüência deste

processo de impacto ambiental, pode-se mencionar a desvalorização dos imóveis adjacentes às

áreas poluídas, além dos prejuízos dos comerciantes das zonas costeiras (O GLOBO, 2000). Em

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áreas carentes, a problemática da mortandade de peixes, quase sempre atribuída ao despejo de

esgoto químico dos distritos industriais contíguos, causa desemprego e fome, pois grande parte

dos moradores depende do pescado como elemento de sobrevivência (DIÁRIO DO NORDESTE,

2000).

Outra motivação, também bastante habitual, para a mortandade de peixes, é a chegada de

frentes frias. Com estas, as ressacas tornam-se violentas, revolvendo, por sua vez, a camada de

lodo existente no fundo dos lagos e lagoas. Esta camada lodosa, depositada em lugares poluídos,

é formada por resíduos sólidos de esgoto, lixo, restos de animais, folhas e algas em estado de

putrefação. Dessa maneira, quando o lodo é remexido, ocorre a liberação dos gases presentes nos

restos em decomposição, consumindo, rapidamente, o oxigênio das águas e provocando,

conseqüentemente, a morte dos peixes por asfixia (AMORIM & SOARES, 2001).

MUEHE (1999) tece algumas considerações sobre a atividade de pesca marítima no Brasil e

apresenta este ramo como responsável pelo emprego direto de aproximadamente 800 mil pessoas.

Todavia, este número pode ser ampliado para 4 milhões, se forem considerados os indivíduos que

dependem direta e indiretamente deste setor. Em contrapartida, este mesmo autor apresenta a

preocupante tendência de declínio registrada para grande parte das espécies tradicionalmente

capturadas, resultado não apenas da sobrepesca, mas também da deterioração das condições

ambientais na zona costeira. Em seu trabalho sobre a plataforma continental brasileira e sua

relação com a zona costeira e a pesca, MUEHE (1999) enfatiza os castigos impostos aos

ecossistemas marinhos que se localizam no entorno das grandes metrópoles.

Como última consideração, vale salientar que, dependendo da quantidade e da substância, os

efeitos nocivos podem comprometer completamente o corpo de água, principalmente no caso de

acidentes envolvendo elementos radioativos (ENCARTA, 2001). Não se pode desconsiderar,

também, a problemática da ingestão de peixes, crustáceos e moluscos que encontram-se em

ambientes aquáticos poluídos. As espécies marinhas de ambientes insalubres acumulam

elementos químicos em seus tecidos, tornando-se, portanto, extremamente perigosas para o

organismo humano (MAR-ALTO, 2001).

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Para a elaboração da representação gráfica sobre a mortandade de peixes, algumas imagens

foram selecionadas (FIG.94), tais como:

FIG.94. Imagens de base para a construção do símbolo que representa a mortandade de peixes. (FONTE: CATÁLOGO DIGITAL VISION, 2000; O GLOBO, 2000; ABRIL, 2001 e ENCARTA, 2001).

Com base nas várias imagens selecionadas sobre a mortandade de peixes, criou-se o Símbolo

8a (FIG.95):

FIG.95. Símbolo 8a - Mortandade de Peixes.

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5.3 MODELO DE TESTE DE EFICIÊNCIA PARA SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

A importância dos testes de eficiência para validação dos símbolos cartográficos pode ser

entendida através do trabalho de PEREIRA et al. (1999). Esta pesquisa, cuja área de estudo foi o

município de São Sebastião, no litoral norte do estado de São Paulo, discorre sobre o

desenvolvimento de simbolismos cartográficos para fins turísticos. Vale destacar que o cerne do

trabalho de PEREIRA et al. (1999) consiste na avaliação acerca da apreensão de informações

turísticas, através da leitura dos mapas. Contudo, a fim de se apurar alguns elementos da

comunicação gráfica, testes de eficiência com os símbolos cartográficos foram realizados junto

aos alunos do terceiro colegial de uma Escola Estadual, durante a aula de Geografia.

PEREIRA et al. (1999) afirmam que, num primeiro momento, pretendeu-se elaborar

símbolos pictoriais/pictográficos, pois representariam os objetos de maneira bem próxima da

aparência real. Porém, em função das dificuldades encontradas na etapa de criação dos símbolos

pictográficos, além de algumas incompatibilidades entre aplicativos, os autores optaram pela

criação de símbolos extremamente simples (FIG.96). Como metodologia, foram utilizados os

conceitos oriundos da Semiologia Gráfica (BERTIN, 1983) e projetos de símbolos, como o

estabelecido por BOS (1984), além de vasto levantamento sobre mapas e guias turísticos. Vale

também salientar que, no trabalho de PEREIRA et al. (1999), o software utilizado para

construção dos simbolismos foi o AutoCAD R.12.

Uma vez montadas as cartas, aplicou-se dois testes com os símbolos cartográficos gerados.

Um total de 43 alunos, cursando o terceiro colegial (ensino médio), participou dos testes,

representando, deste modo, uma amostra de eventuais usuários/turistas. Na primeira avaliação foi

utilizado um questionário com escolha restrita de respostas (com três alternativas), cujo objetivo

principal baseava-se na verificação da eficiência na comunicação cartográfica.

No segundo teste, por sua vez, além da eficiência na comunicação gráfica, avaliou-se o

tempo gasto para se identificar/reconhecer os simbolismos sobre uma base cartográfica. Dessa

forma, foi montado um mapa fictício da cidade de São Sebastião/SP, com alguns símbolos

locados, como apresenta a FIG.97. Vale destacar que este segundo teste foi aplicado de maneira

individual, numa sala restrita, a fim de se cronometrar e avaliar o tempo necessário de

compreensão das representações.

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FIG.96. Símbolos Cartográficos utilizados no trabalho de PEREIRA et al. (1999).

FIG.97. Símbolos cartográficos sobre a carta-imagem de São Sebastião/SP. (PEREIRA et al., 1999).

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143

Os testes de eficiência apresentaram-se altamente reveladores no que tange às fases do

processo de comunicação cartográfica. No primeiro teste constatou-se o alto grau de acertos na

identificação dos símbolos cartográficos (aproximadamente 90%). Os resultados do segundo teste

foram ainda mais esclarecedores, uma vez que o tempo de busca dos símbolos, em média, ficou

próximo aos 2 segundos. Com isso, esta pesquisa teve como conclusão índices bastante

satisfatórios, utilizando-se, como referência, resultados obtidos em pesquisas semelhantes, tais

como as de FORREST & CASTNER (1985) e MORRISON & FORREST (1995).

5.4 TESTE PRELIMINAR DE EFICIÊNCIA DOS SÍMBOLOS QUE REPRESENTAM

DESASTRES E RISCOS AMBIENTAIS

Os testes de validação dos símbolos cartográficos para as situações de impacto ambiental

foram realizados junto aos alunos de sexta e sétima séries do Colégio Municipal Anísio Teixeira,

Ilha do Governador (Rio de Janeiro). O objetivo principal deste trabalho foi verificar a eficiência

na comunicação dos símbolos, sem que houvesse fundamentação teórica sobre Semiologia

Gráfica, Psicologia Perceptual da Forma/Gestalt e Teoria Geral da Comunicação/Informação.

5.4.1 TESTES

Os testes aplicados junto aos alunos da sexta e sétima séries foram diferenciados em grau de

complexidade. Para os primeiros, os símbolos foram apresentados seqüencialmente, sem

nenhuma contextualização, como apresenta a FIG.98. Para os segundos, os oitos símbolos

cartográficos foram inseridos em 2 cartogramas da cidade do Rio de Janeiro, como expõe a

FIG.99. Pode-se perceber, que neste estágio do trabalho, não houve qualquer preocupação com a

escala cartográfica. Nos dois testes, de questões de múltipla escolha, pediu-se que se marcasse a

alternativa de maior analogia em relação ao fenômeno ambiental.

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FIG.98. Teste aplicado para alunos de sexta série.

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FIG.99. Teste aplicado para alunos de sétima série.

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146

Foi determinado o tempo de 10 minutos para que os testes fossem realizados. Vale ressaltar

que os alunos, apesar da baixa faixa etária (11 até 14 anos), mostraram-se bastante maduros e

interessados na realização do trabalho. Deve-se também destacar que não foi fornecida nenhuma

ajuda ou explicação durante o mesmo.

5.4.2 RESULTADOS E CONCLUSÕES DO TRABALHO PRELIMINAR

A amostra total foi de 72 alunos (40 alunos de sexta série e 32 alunos de sétima série). O

índice de acertos encontra-se na TAB.1 e na FIG.100:

TAB.1. Índices de acertos nos testes de eficiência dos símbolos.

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147

FIG.100. Índice geral de acertos nos testes de eficiência dos símbolos.

No que pese seu caráter geral, algumas conclusões deste trabalho inicial merecem ser

ressaltadas:

• Neste teste preliminar de eficiência dos símbolos cartográficos obteve-se uma média

geral de acertos de 74,6%. Este valor é considerado razoável, se comparado aos resultados de

pesquisas análogas, como a desenvolvida por PEREIRA et al. (1999), cuja média de acertos foi

de aproximadamente 90%;

• O símbolo que representa o derramamento de óleo (Símbolo 7a) mostrou-se

extremamente inteligível, com média de acerto de 90%;

• O símbolo que representa a mortandade de peixes (Símbolo 8a) foi o que mais gerou

dúvidas junto aos alunos. Foi, aproximadamente, 35% das vezes associado à peixarias ou áreas

para prática de pescaria;

• O símbolo de processo de desertificação (Símbolo 4a) foi aproximadamente 30% das

vezes confundido com a representação de processo de favelização (Símbolo 1a);

• O símbolo de depósito de lixo a céu aberto (Símbolo 5a) foi, algumas vezes (25%),

confundido com borracharia;

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• O símbolo de queimadas (Símbolo 3a) foi, algumas vezes (20%), confundido com

origem ou foco de poluição atmosférica (símbolo 6a);

• O símbolo de desmadeiramento (Símbolo 2a) foi, algumas vezes (15%), confundido com

venda de plantas;

• Os símbolos em tons de cinza (pancromáticos) podem ter causado ruídos na comunicação

cartográfica. Porém, o estudo da aplicação de cores e sua percepção extrapolariam o escopo da

presente pesquisa. O trabalho em tela visa, predominantemente, o aprofundamento de questões

ligadas à percepção da forma em diferentes manifestações visuais;

• A construção de representações gráficas, concebidas como meros desenhos ou simples

manifestações artísticas, apresenta-se baseada estritamente na subjetividade do projetista.

Portanto, a fim de se reduzir a subjetividade na construção dos simbolismos cartográficos, torna-

se, de fundamental importância, a adoção de um Sistema de Leitura Visual da Forma, calcado

sobre os preceitos da Gestalt. A adoção de critérios para elaboração dos símbolos, com base nesta

psicologia experimental, sugere respostas ao porquê de determinadas formas agradarem mais que

outras. Além disso, este Sistema de Leitura tende a desmitificar afirmações comumente

utilizadas, tais como: “Beleza não se discute” ou “Tudo é relativo”, como previamente discutido

no Capítulo 4.

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149

6. PROJETO DE CONSTRUÇÃO DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS COM BASE NA GESTALT

6.1 LEVANTAMENTO GERAL SOBRE OS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

Como explicitado no Capítulo 2, a simbolização ou a definição dos símbolos e convenções

diz respeito às últimas transformações cognitivas aplicadas. As transformações cognitivas são

aquelas impostas às informações geográficas, para que possam, tanto serem representadas

cartograficamente, como, também, serem reconhecidas como a informação existente no mundo

real, no processo de decodificação do mapa pelo usuário (MENEZES, 2000).

Os símbolos cartográficos podem ser definidos como convenções utilizadas na representação

de feições cartográficas, exibidas em um mapa ou carta. No que tange à Cartografia de Base,

existem manuais de padronização das convenções, como o Manual Técnico 34 - 700 -

Convenções Cartográficas (EXÉRCITO BRASILEIRO, 2000) e as NORMAS PARA A CARTA

INTERNACIONAL DO MUNDO (2001). Nestes documentos são incluídos, por exemplo, sinais

convencionais e tipos de letras. Todavia, todas as convenções utilizadas em mapas e cartas

devem, fundamentalmente, constar numa legenda (MENEZES, 2000). Ainda seguindo as idéias

de MENEZES (2000), em termos de Cartografia Temática, não existe padronização de

convenções, devido, principalmente, à diversidade de fenômenos e temas passíveis de

mapeamento.

JOLY (1990) cita a definição de símbolo, segundo o Glossário Francês de Cartografia

(1970): “Um símbolo é a representação gráfica de um objeto ou de um fato de forma sugestiva,

simplificada ou esquemática, sem implantação rigorosa”. Vale ressaltar que esta definição não

faz qualquer menção ao imprescindível uso de convenções8 e legendas9. Um mapa deve ser

entendido como um conjunto de sinais e cores que traduz mensagens expressas pelo cartógrafo. 8 Por convenção entende-se: “Ajuste, acordo ou determinação sobre um assunto, fato, etc.; convênio, pacto.” (AURÉLIO, 1999). 9 O uso da legenda diz respeito ao “texto explicativo que acompanha uma ilustração, uma gravura, numa reprodução de obra de arte, em um mapa, etc., e compreende título, explicações, dísticos, etc.” (AURÉLIO, 1999).

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150

Portanto, os objetos cartografados, materiais ou conceituais, são transcritos através de grafismos

ou símbolos, que resultam de uma convenção proposta ao leitor pelo redator, evocada, por sua

vez, numa legenda.

Se comparado ao conceito descrito pelo Glossário Francês de Cartografia, a conceituação de

símbolo, explicitada no Dicionário Cartográfico do IBGE (OLIVEIRA, 1980), encontra-se mais

completa e rebuscada, pois há menção à importância das convenções e legendas. A conceituação

de símbolo realizada pelo Dicionário Cartográfico do IBGE (OLIVEIRA, 1980) consiste,

portanto, em: “Indicação gráfica, numérica, alfabética, ou abreviatura, representada num mapa,

ou noutros documentos gráficos, a qual, por convenção, uso ou referência a uma legenda,

representa uma característica específica ou um acidente”.

A fim de ratificar o essencial uso de convenções, o Novo Dicionário Aurélio (1999)

apresenta concordância com a conceituação de símbolo exposto pelo Dicionário Cartográfico do

IBGE (OLIVEIRA, 1980). O Novo Dicionário Aurélio (1999) conceitua “símbolo” da seguinte

maneira: “1. Objeto material que, por convenção arbitrária, representa ou designa uma

realidade complexa; 2. Elemento gráfico ou objeto que representa e/ou indica de forma

convencional um elemento importante para o esclarecimento ou a realização de alguma coisa;

sinal, signo; 3. Figura convencional elaborada expressamente para representar uma coisa;

emblema, insígnia”. Portanto, conclui-se que no tratamento de símbolos, sejam eles cartográficos

ou de qualquer outra espécie, não se pode desconsiderar a utilização das convenções e legendas.

Os cartógrafos utilizam símbolos sobre os documentos cartográficos com o objetivo de

representar os mais variados fenômenos geográficos. Além da localização do fenômeno, o

cartógrafo deve também considerar sua função, movimento, volume, processo, correlações, etc.

Segundo o NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE (2001), os fenômenos geográficos

podem ser classificados dentro de quatro categorias básicas. São elas:

• Pontual – dados adimensionais;

• Linear - dados unidimensionais;

• Área - dados bidimensionais;

• Volume - dados tridimensionais.

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Segundo o NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE (2001), o grande desafio para os

cartógrafos, no processo de elaboração dos simbolismos, consiste em representar quatro

categorias de dados (ponto, linha, área e volume) por apenas três tipos básicos de símbolos

(ponto, linha e área). No entanto, considerável dose de imaginação é fundamental para o desenho

de símbolos cartográficos que retratam características de um determinado fenômeno e seus inter-

relacionamentos. Sobre os três tipos básicos de símbolos, algumas considerações devem ser

salientadas, tal como apresenta a FIG.101:

FIG.101. Simbologia típica dos mapas topográficos. (NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001)

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• Símbolo Pontual: Os pontos são representados por apenas um par de coordenadas “x,y”.

A cada ponto, por exemplo, estão associadas informações sobre determinados fenômenos ou

feições geográficas. Um símbolo pontual pode representar, por exemplo, uma mina terrestre ou

um sítio arqueológico (FIG.101).

• Símbolo Linear: Estes representam feições de dimensões geográficas lineares. As linhas

são segmentos de retas construídas por seqüência de coordenadas. Exemplos: Um rio, uma

fronteira, uma estrada, uma linha de transmissão etc (FIG.101).

• Símbolo de Área: Estes representam superfícies geográficas fechadas (polígonos), ou

seja, tratam de regiões geométricas bidimensionais. Dependendo da escala cartográfica, pode-se

tomar um lago ou um estádio de futebol como exemplo de representações por área (FIG.101).

Portanto, são três os tipos de símbolos que retratam as diferenças básicas na representação de

feições geográficas. Os símbolos pontuais, lineares e de área encontram-se expostos na FIG.101.

Vale ressaltar que estes simbolismos são típicos de mapas topográficos ou de referência.

Uma vez que o objetivo do mapa é estabelecido, torna-se necessário selecionar quais as

feições geográficas que serão cartografadas. A escala do mapa é fundamental e determinante na

seleção das feições que serão representadas. De maneira geral, os símbolos podem ser elaborados

de duas maneiras. São elas:

• Símbolos Pictóricos:

Os símbolos pictóricos são convenções, cujo objetivo é representar a posição geográfica de

ocorrência do elemento pontual, caracterizando, dessa maneira, uma ligação com o tipo de

fenômeno que pretende-se representar. Exemplos de símbolos pictóricos são: representação

gráfica de animais (galinhas, bois, porcos etc), telefones públicos, aeroportos, faróis e muitos

outros (FIG.102).

Porém, a comunicação cartográfica através de símbolos pictóricos é também passível de

ruídos. A título de exemplo, um símbolo pictórico representado pela figura de um boi, sem

legenda, pode ser interpretado como sendo um curtume, atividade pecuária, um frigorífico ou até

mesmo uma churrasqueira. Portanto, invariavelmente, toda e qualquer simbolização possui

caráter idiossincrático. Em função disso, fica claro perceber que qualquer representação

cartográfica deve constar claramente na legenda de um mapa (NATIONAL ATLAS OF

CANADA ONLINE, 2001).

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FIG.102. Símbolos Pictóricos. (NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001).

• Símbolos Abstratos ou Geométricos:

Os símbolos abstratos ou geométricos não têm associação de forma com o fenômeno. As

formas mais comumente utilizadas são: os círculos, triângulos, retângulos, estrelas, etc, tal como

apresenta a FIG.103.

FIG.103. Símbolos Abstratos ou Geométricos.

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154

Vale salientar que os símbolos geométricos e pictóricos, além da conotação qualitativa,

podem também expressar noção quantitativa. Neste caso, como expõe a FIG.104, são aplicadas

diferentes graduações aos símbolos. Não fugindo à regra, o uso da legenda torna-se

imprescindível, pois deve explicitar o valor de cada categoria (MENEZES,1996b).

FIG.104. Símbolos geométricos e pictóricos expressando noção quantitativa. (MENEZES,1996b).

JOLY (1990) utiliza uma divisão em classes de símbolos mais específica, conforme

apresenta a FIG.105. Nesta classificação são encontrados, por exemplo, simbolismos ideológicos,

ou seja, representação das idéias por meio de sinais que reproduzem objetos concretos. Neste

caso, podemos citar o símbolo que apresenta o cruzamento de um martelo e uma foice, que

remete, quase que automaticamente, ao ideário comunista.

JOLY (1990) divide os símbolos em seis categorias:

1) Sinais Convencionais: são esquemas centrados em posição real, que permite identificar

um objeto cuja superfície, na escala, é demasiado pequena para que possa ser tratada em

projeção;

2) Sinais Simbólicos: símbolos com posições facilmente determináveis;

3) Pictogramas: símbolos figurativos facilmente reconhecíveis;

4) Ideogramas: um pictograma de um conceito ou idéia;

5) Símbolos Regulares: repetição regular de um elemento gráfico sobre uma superfície

delimitada;

6) Símbolos Proporcionais: símbolo quantitativo, ou seja, atribuição de valor ao fenômeno

representado.

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FIG.105. Símbolos Cartográficos divididos em seis categorias (JOLY, 1990).

JOLY (1990) afirma que a tendência mais antiga refere-se à utilização de símbolos

“naturais”, ou seja, símbolos que representam fenômenos ou objetos de maneira mais analógica

ou figurativa possível. Em contrapartida, a utilização dos sinais sintéticos e abstratos tornam-se

mais prudentes, à medida que aumenta o processo de redução dos elementos naturais. Assim, um

mesmo grafismo pode ilustrar objetos diversos, daí sua grande empregabilidade na Cartografia

Temática. Deve-se, portanto, tentar equilibrar o uso de símbolos pictóricos e abstratos.

Deve-se enfatizar que as informações cartográficas possuem características que podem ser

assumidas como qualitativas ou quantitativas (MENEZES, 2000):

• A informação qualitativa é agrupada por classes, de acordo com a sua tipificação, ou seja,

a sua qualificação. Pode-se tomar como exemplo uma igreja, uma estrada, um rio, uma área de

vegetação, um determinado tipo de solo, um tipo específico de cobertura vegetal, uma

determinada ocorrência geológica, etc. A simbologia adotada irá apenas qualificar o tipo de

ocorrência, juntamente com o seu posicionamento geográfico, sendo estes, portanto, os seus

principais atributos. É importante frisar que não existe associação com nenhum tipo de

hierarquização ou quantificação de valores;

• As informações quantitativas são responsáveis pela valoração da ocorrência de diferentes

fenômenos. Podem também, sem valorar, dar uma idéia de hierarquia ou de priorização de

elementos. MENEZES (1996b) chama a atenção para que os mapeamentos quantitativos referem-

se aos dados que são alinhados em uma escala de observação ordinal ou intervalo/razão, ou seja,

pode abranger quaisquer informações que sejam quantificáveis, como por exemplo, o volume de

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precipitação, espessura de formações rochosas, níveis de poluição, até quantificações de

composição social ou biológicas. Porém, é importante ressaltar que, naturalmente, todo

mapeamento quantitativo é também qualitativo, pois classifica o tipo de fenômeno representado.

Seu maior objetivo, entretanto, não é a diferenciação nominal das informações, mas a

apresentação de uma variação espacial quantificável.

MARTINELLI (1991) aborda as representações quantitativas como empregadas para

evidenciar a relação de proporcionalidade entre os objetos. Numa implantação pontual modula-se

o tamanho do local de ocorrência, ou seja, o tamanho da representação escolhida é proporcional

ao efetivo da ocorrência. Numa implantação linear, por exemplo, modula-se a espessura do traço

proporcionalmente à intensidade do fenômeno, no caso, a intensidade do fluxo entre dois pontos.

A partir do momento que as feições geográficas são selecionadas, generalizadas e

classificadas, torna-se necessário escolher os simbolismos (ou representações gráficas) que

melhor expressem esta determinada informação. Os símbolos possuem características

manipuláveis, tais como: tamanho, forma, cor, orientação, textura (granulação) e valor (FIG.106).

Estas seis características são as variáveis visuais (recursos visuais ou variáveis retinianas)

estabelecidas por BERTIN (1983), já explicitadas no Capítulo 3 - item 3.2.3.

FIG.106. Características manipuláveis dos simbolismos ou representações gráficas. (NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001).

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Deve-se ressaltar que a manipulação dos simbolismos nominais (ou qualitativos) apresenta-

se, usualmente, menos complexa que a manipulação dos dados quantitativos. A simbolização

nominal indica, simplesmente, diferenças de classes, abnegando-se, portanto, de qualquer idéia

de hierarquização (ranking). As variáveis visuais comumente utilizadas neste caso são: forma,

textura e cor (FIG.107). A simbolização quantitativa, por sua vez, encontra-se intrinsecamente

ligada à idéia de progressão lógica. Neste caso, as variáveis visuais “tamanho e cor (tonalidade)”

são as mais importantes, tal como apresentam as FIGs 108 e 109 (NATIONAL ATLAS OF

CANADA ONLINE, 2001).

Em consonância com o exposto, algumas considerações sobre os dados nominais/qualitativos

e quantitativos (ordinais, intervalo e razão) devem ser apresentadas:

• Dados Nominais:

Os dados nominais relativos às feições pontuais são representados por símbolos, diferentes

em forma e/ou coloração. Para fenômenos abstratos normalmente são utilizados símbolos

geométricos. Os símbolos figurativos dizem respeito à representação das feições pontuais do

mapa, como, por exemplo, um avião para representar a localização de um aeroporto ou um

grande navio para representar uma zona portuária. No que diz respeito aos símbolos lineares

(fronteiras e estradas) e poligonais (zonas e áreas) utiliza-se, como variáveis visuais, diferentes

texturas e cores, tal como apresenta a FIG.107 (NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE,

2001).

Vale ressaltar que, normalmente, os mapas elaborados com dados estritamente qualitativos

ou nominais são mais simples, destinados, portanto, a um público muito específico, como, por

exemplo, crianças e turistas (CRUZ & PINA, 1999).

FIG.107. Representação de dados nominais.

(Adaptado de NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001)

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• Dados Ordinais:

A classificação ordinal apresenta, como o próprio nome diz, uma ordenação/hierarquização

dos dados representados. Os dados ordinais relativos às feições pontuais podem ser descritos por

símbolos geométricos ou pictóricos. Sua classificacão varia de acordo com o tamanho dos

simbolismos e coloração. Os símbolos ordinais lineares, por sua vez, são hierarquizados através

da diferenciação de estilos, coloração e espessura das linhas. Os símbolos ordinais que designam

área são hierarquizados pela diferença de tonalidade e textura, tal como demonstra a FIG.108

(NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001).

Nesta abordagem, portanto, são definidas categorias de classificação de dados. Deve-se

enfatizar que nestas categorias não existem informações numéricas explicitamente associadas à

apresentação dos dados. Um mapa de riscos de desmoronamentos em encostas pode ter, por

exemplo, a seguinte escala de graduação: altíssimo risco, alto risco, médio risco, baixo risco ou

nenhum risco.

FIG.108. Representação de dados ordinais.

(Adaptado de NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001)

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• Dados de Intervalo e Razão:

Os dados de intervalo e razão, relativos às feições pontuais, podem ser representados por

inúmeras variacões visuais, tais como: cor, forma e tamanho. No que diz respeito aos símbolos

lineares que exprimem graduação, torna-se comum a utilização das isolinhas (linhas de igual

valor). Os simbolismos de área que descrevem intervalo e razão utilizam, por sua vez, variações

de cores (tonalidades) e texturas, com o objetivo de se representar progressões graduais de

valores dos dados, como pode ser observado na FIG.109 (NATIONAL ATLAS OF CANADA

ONLINE, 2001).

FIG.109. Representação de intervalo e razão.

(Adaptado de NATIONAL ATLAS OF CANADA ONLINE, 2001)

Portanto, a escolha das convenções e da escala deve ser guiada em função das feições

geográficas em pauta. Para os fenômenos pontuais, os símbolos devem conservar os limites e as

formas; para os fenômenos lineares, conserva-se o alinhamento original, variando-se a largura da

convenção e a espessura do traço; e, por último, para os fenômenos zonais, a convenção irá recair

em estrutura e textura, seja de cor ou de padrão gráfico, que represente a área abrangente do

fenômeno.

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6.2 PADRONIZAÇÃO DE SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

MARTINELLI (1997) contesta, em parte, a utilização e a padronização de símbolos

iconográficos de grande analogia aos objetos do mundo real. Este mesmo autor afirma que esta

tradição, presente desde a cartografia dos homens das cavernas, não alcança, muitas vezes, o

sucesso esperado, em função dos inúmeros componentes culturais, simbólicos e ideológicos

presentes nas mais variadas sociedades. MARTINELLI (1997), portanto, considera a validade na

padronização de símbolos cartográficos iconográficos, no âmbito da Cartografia Temática, a

partir do momento que se respeite os hábitos, experiências e peculiaridades das diferentes classes

de usuários.

MARTINELLI (1997) cita os trabalhos de JOLY (1990) e ROBINSON (1972) sobre

padronizações de símbolos cartográficos. Nestas pesquisas, os respectivos autores afirmam que as

representações cartográficas padronizadas fazem com que os usuários associem, de maneira

automática e mnemônica, os fenômenos reais aos seus referidos símbolos. Após a definição dos

símbolos específicos, o usuário poderá armazená-los numa biblioteca e recorrer, a eles, sempre

que houver necessidade. Porém, de acordo com as afirmações dos mais variados autores (JOLY,

1990; BOS, 1984; etc), percebe-se que é de fundamental importância, em qualquer projeto de

construção e padronização de símbolos cartográficos, considerar as particularidades de cada

classe de usuários que pretende-se trabalhar.

Pode-se tomar os Green Maps (Mapas Verdes) como exemplo de padronização de símbolos

cartográficos. Este empreendimento, de âmbito mundial, tem por objetivo representar, através de

símbolos, aspectos naturais, culturais, históricos e ecológicos de áreas urbanas. O Green Map

System (Sistema de Mapas Verdes) encontra-se, atualmente, em mais de 100 cidades espalhadas

pelos 5 continentes do globo terrestre. Vale ressaltar que toda a filosofia de elaboração desses

mapas estrutura-se sobre os princípios do desenvolvimento sustentável (GREEN MAP SYSTEM,

2001).

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6.2.1 OS GREEN MAPS (MAPAS VERDES)

Iniciado em 1995, este projeto de âmbito global, que trata da padronização de símbolos

cartográficos, serve, especialmente, como instrumento de comunicação visual ligado ao eco-

turismo. A interpretação dos “Mapas Verdes” mostra ao usuário destes mapas, por exemplo, o

nível de comprometimento ambiental de uma determinada cidade. Alguns destes símbolos são

apresentados na FIG.110:

FIG.110. Alguns símbolos criados para o Sistema de Mapas Verdes.

(Adaptado do sítio GREEN MAP SYSTEM, 2001).

O objetivo primordial do Sistema de “Mapas Verdes” é, portanto, fornecer uma referência

simples e rápida de pontos ecológicos dentro de zonas urbanas. Vale ressaltar que este sistema de

mapeamento (Green Map System) é de cunho qualitativo (Cartografia Temática de Inventário),

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ou seja, possui uma característica discreta, realizando, apenas, a representação do tema no mapa.

MENEZES (1996b) apresenta esta parte da Cartografia Temática como a mais simples,

normalmente estabelecida pela superposição ou justaposição, exaustiva ou não, de temas,

permitindo ao usuário saber apenas o que existe em um determinado local. O Green Map (Mapa

Verde) da cidade de Wellington (Nova Zelândia) encontra-se na FIG.111.

FIG.111. Mapa Verde da cidade de Wellington (Nova Zelândia)

(Adaptado do sítio GREEN MAP SYSTEM, 2001).

Como última consideração sobre os Green Maps, deve-se enfatizar que a metodologia de

criação destes simbolismos não encontra-se explicitada nas fontes de consulta (GREEN MAP

SYSTEM, 2001). Portanto, tende-se a acreditar que estes símbolos são concebidos como meros

desenhos ilustrativos, construídos, dessa maneira, fora de qualquer contexto ligado à Psicologia

Perceptual da Forma (Gestalt).

A seguir são apresentados os símbolos pictóricos que representam as oito situações de

impacto ambiental, elaborados, sobretudo, com base no Sistema de Leitura Visual da Forma

explicitado no Capitulo 4.

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163

6.3 APRESENTAÇÃO E LEITURA DA FORMA DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

ELABORADOS COM BASE NA GESTALT

A premissa básica de criação dos oito símbolos cartográficos, que serão apresentados a

seguir (item 6.3.1 até 6.3.8), reside na idéia de harmonia das formas visuais, uma vez que esta é

considerada como uma combinação das regras de simplicidade e de padrões visuais geométricos

(UTTAL, 1988). Esta idéia de coerência visual pode ser entendida através da FIG.112, de

maneira que a xícara da esquerda possui forma geométrica extremamente simples, conferindo-

lhe, portanto, senso de harmonia visual ou alto índice de pregnância da forma. A xícara da direita,

em contrapartida, mistura diversas formas geométricas, perdendo, por conseguinte, parte de sua

suavidade e estilo harmônico.

FIG.112. Harmonia visual construída através da repetição de formas geométricas semelhantes (UTTAL, 1988).

Todavia, o conceito de simplicidade visual é o principal resultado, sobretudo, da influência

da teoria da Gestalt sobre o estilo de produtos (no caso do presente trabalho, sobre o estilo dos

simbolismos). Em consonância com o exposto, UTTAL (1988) afirma que o conceito de

simplicidade visual possui relação direta com formas simétricas (figuras geométricas),

conduzindo, conseqüentemente, à concepção minimalista, ou seja, que utiliza, em sua elaboração,

um reduzido número de temas ou elementos (vide item 4.4.2 - Categorias Conceituais/Técnicas

Visuais Aplicadas).

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UTTAL (1988) relata que muitos designers10 contemporâneos perseguem o ideal de

simplicidade e que as formas complicadas e desnecessárias nada mais são do que “descuidos” dos

programadores visuais. Esta afirmação pode ser ratificada através da evolução do design da

máquina de escrever explicitada na FIG.113. O modelo de 1910 tinha elevado grau de

complexidade visual (que foi sendo progressivamente reduzido), uma vez que o modelo de 1947

apresenta linhas mais harmoniosas. Na versão de 1970, por sua vez, as linhas encontram-se

extremamente limpas e há, sobretudo, predominância de formas geométricas (BEECHING,

1974).

FIG.113. A tendência de simplicidade da máquina de escrever (BEECHING, 1974).

Não se pode também desconsiderar certas limitações técnicas na produção das máquinas de

escrever no início do século XX. Desse modo, a forma encontrava-se fortemente arraigada à

funcionalidade dos mais variados produtos. Porém, como ressalta BEECHING (1974), num

período de grande expansão de inovações técnicas, muitos utensílios procuravam transmitir uma

imagem de “complexidade tecnológica”. Assim, o estilo rebuscado estaria associado a

equipamentos sofisticados e de melhor qualidade.

Sobre a relação “forma versus função”, NUNES (1989) cita algumas lucubrações do filósofo

grego Sócrates, cuja concepção do belo encontra-se interligada fundamentalmente à utilidade ou

função. Dessa maneira, “os olhos que não enxergam não podem ser belos” ou “o mais belo

cavalo é, impreterivelmente, o mais veloz”. Nesta concepção, pretende-se, na criação dos

simbolismos deste trabalho, não somente a obtenção de formas meramente harmoniosas, mas,

especialmente, gerar representações com serventia aos usuários de cartas e mapas cuja temática é

ambiental (a seleção do público alvo é tratada no item 6.7). A seguir são apresentados os 10 Vale salientar que os termos designer e design foram aportuguesados, tal como expõe o AURÉLIO (1999).

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símbolos cartográficos que exprimem idéia de impacto ambiental, criados, sobretudo, com base

no Sistema de Leitura Visual da Forma (Capítulo 4).

6.3.1 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: PROCESSO DE

FAVELIZAÇÃO

Os símbolos estruturados com base na Gestalt e suas respectivas leituras visuais da forma

encontram-se apresentados seqüencialmente (item 6.3.1 até 6.3.8). Desse modo, cada situação de

impacto ambiental apresenta-se tratada separadamente e numa lógica de elaboração, tal como:

leitura visual do símbolo, proporcionalidade do símbolo e, por último, a exibição do símbolo

final. Contudo, deve-se ressaltar que o processo de criação dos símbolos cartográficos é tratado,

especificamente, no item 6.4.

A primeira etapa de leitura visual da forma do objeto será realizada de maneira didática,

simples e direta, ou seja, itemizada ordenadamente, abrangendo, portanto, cada lei da Gestalt.

Esta sistematização tem por objetivo fomentar uma maior assimilação cognitiva e terminológica

dos princípios do gestaltismo. Numa segunda e última etapa de leitura da forma, cuja estrutura

calca-se nas categorias conceituais fundamentais e técnicas visuais aplicadas (explicitadas no

item 4.4 deste trabalho), a leitura formal dos objetos apresenta-se de maneira mais narrativa.

No que tange à leitura visual da forma do símbolo final que representa o processo de

favelização (FIG.114), com base nas leis da Gestalt, deve-se chamar a atenção para:

A B C

FIG.114. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente ao processo de favelização (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

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• Unidades Principais - O barraco e o poste são as duas unidades principais que compõe a

manifestação visual. Porém, cada uma dessas unidades principais possui subunidades, tais como:

subunidades do barraco (janelas, porta, telhado e um pequeno buraco no canto inferior esquerdo

da imagem) e subunidades do poste (fiação, tronco vertical e tronco horizontal);

• Segregação – Os elementos constituintes da figura segregam-se de maneira máxima, pois

trata-se de uma composição monocromática, ou seja, as unidades, através de uma relação FIG.e

fundo, encontram-se altamente destacadas;

• Continuidade – A idéia de prolongamento encontra-se presente na fiação, uma vez que

esta remete à noção de permeabilidade por todo o ambiente da favela;

• Proximidade e Semelhança - A proximidade entre os elementos geométricos (janelas e

porta) desperta a idéia de unificação e formação do barraco ou casebre. Os objetos com formas

geométricas retangulares dão noção de regularidade, agindo, por sua vez, como fator de

agrupamento dos objetos por semelhança;

• Unificação - Os pesos visuais da figura apresentam-se bem distribuídos. Esta afirmação

pode ser ratificada quando observa-se a existência de mais subunidades do lado esquerdo do

barraco, em contrapeso, por conseguinte, com o poste do lado direito. Além disso, como a leitura

visual do ser humano acontece da esquerda para direita, o poste de luz (mais alto) foi

propositalmente disposto do lado direito da imagem, estimulando, portanto, uma idéia de

ascensão. Desse modo, o fator equilíbrio, aliado aos fatores de proximidade e semelhança,

promovem a unificação da representação.

No que diz respeito à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o símbolo em tela denota

equilíbrio e harmonia. Contudo, a simplicidade e a clareza da representação apresentam-se

comprometidas em função dos excessivos elementos compositivos da figura, se, por exemplo,

comparados com outros símbolos elaborados no presente trabalho (vide desmadeiramento, item

6.3.2).

Dessa maneira, numa interpretação conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o simbolismo

que representa o processo de favelização revela algumas dificuldades no processo de leitura

visual da forma. Com isso, pode-se deduzir que esta manifestação apresenta médio índice de

pregnância da forma, em função, principalmente, do número excessivo de subunidades.

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6.3.2 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO:

DESMADEIRAMENTO

No que se refere à apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa o

processo de desmadeiramento (FIG.115), com base nas leis da Gestalt, deve-se tecer as seguintes

considerações:

A B C FIG.115. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente ao processo de

desmadeiramento (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

• Unidades Principais – A árvore segrega-se em três unidades principais: a copa, o tronco e

a base. Pode-se perceber que não existem subunidades nas unidades principais, reduzindo,

portanto, o número de elementos constituintes da imagem. Desse modo, os fatores de

simplicidade e clareza são exaltados, propiciando, por sua vez, preservação nas propriedades

estruturais da representação num momento de redução da forma;

• Continuidade – A idéia de inclinação encontra-se fortemente presente na imagem. A

noção progressiva de declive segue a ordem de leitura do consulente, ou seja, da esquerda para

direita;

• Proximidade e Semelhança – A copa da árvore é estruturada por círculos simétricos,

despertando, por sua vez, a idéia de regularidade. O aspecto regular age, por conseqüência, como

fator de agrupamento dos objetos por semelhança;

• Unificação – A unificação da representação sobre desmadeiramento calca-se sobre os

fatores de proximidade e semelhança. Porém, deve-se salientar que a unificação, embora

homogênea, é ligeiramente prejudicada pela noção de desequilíbrio imposta à FIG. 115.

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No que tange à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se julgar que o símbolo em tela apresenta-se

harmonioso. Logo, numa interpretação conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o simbolismo

exprime elevada rapidez no processo de leitura visual da forma. Com isso, conclui-se que esta

manifestação apresenta alto índice de pregnância da forma. Além disso, deve-se considerar a

forte presença dos fatores de minimidade e superficialidade no objeto.

6.3.3 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: INCÊNDIOS

FLORESTAIS (QUEIMADAS)

No caso específico do símbolo final que representa incêndios florestais, vale ressaltar que

aproveitou-se um elemento (árvore) do simbolismo correspondente ao processo de

desmadeiramento (item 6.3.2). Como são situações de impacto ambiental correspondentes,

julgou-se prudente a elaboração dos simbolismos num mesmo contexto de classificação formal,

tal como expõe a FIG.116: .

A B C

FIG.116. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente aos incêndios florestais (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

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• Unidades Principais – A composição segrega-se em duas unidades principais: o fogo e a

árvore. Pode-se perceber, como no caso do símbolo sobre desmadeiramento, que não existem

subunidades nas unidades principais. Os fatores de simplicidade, clareza e ordem estão explícitos,

propiciando, por sua vez, preservação das propriedades compositivas da representação num

contexto de redução formal;

• Segregação – O contraste, mais uma vez, torna-se variável determinante na separação das

unidades da figura. O espaço existente entre as unidades fogo e árvore sobreleva a relação figura

e fundo, promovendo, todavia, maior destaque dos elementos da imagem;

• Continuidade – As labaredas exprimem idéia de ascensão e sobreposição do fogo sobre a

árvore. Esta forma tem como objetivo denotar noção de transporte do fogo pelas matas e

florestas;

• Unificação – A idéia de unidade calca-se sobre os fatores de proximidade e semelhança.

Esta unificação, embora homogênea, apresenta ligeiras perturbações no conjunto das chamas.

No que concerne à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o equilíbrio do simbolismo em

pauta apresenta-se como princípio chave da manifestação. Logo, numa interpretação conclusiva

da imagem, pode-se afirmar que o símbolo revela otimizada leitura visual da forma. Com isso,

conclui-se o alto índice de pregnância da forma.

6.3.4 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: PROCESSO DE

DESERTIFICAÇÃO

Com referência à apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa o

processo de desertificação (FIG.117), algumas ilações são apresentadas:

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A B C

FIG.117. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente ao processo de desertificação (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

• Unidades Principais – A composição segrega-se em duas unidades principais: o sol e o

cacto. Neste último, existem duas ramificações ou subunidades. Os fatores de simplicidade,

clareza e ordem encontram-se fortemente presentes na representação. Com isso, num processo de

redução da forma, serão muito bem preservadas as propriedades compositivas da imagem;

• Segregação – O contraste é a variável determinante de separação nas unidades da figura;

• Proximidade e Semelhança – A composição da imagem estrutura-se sobre círculos e

retângulos, fazendo com que haja junção das formas por analogia. A unidade sol encontra-se num

raio de influência da unidade cacto, fomentando, portanto, a união por proximidade;

• Unificação – A idéia de agregação calca-se sobre os fatores de proximidade e

semelhança. A simetria, tão presente nesta manifestação, é fator primordial no processo de

unificação da imagem. As unidades compositivas são estruturadas apenas por formas geométricas

simples, fazendo com que a manifestação seja de fácil assimilação para o olho humano.

No que tange à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que a simetria, equilíbrio e harmonia

são variáveis primordiais desta representação. Por conseguinte, numa interpretação conclusiva da

imagem, pode-se deduzir que o símbolo revela rápida leitura visual da forma. Com isso, conclui-

se o alto índice de pregnância formal.

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6.3.5 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: DEPÓSITO A CÉU

ABERTO DE LIXO URBANO (LIXÕES)

Com alusão à apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa o

depósito a céu aberto de lixo urbano (FIG.118), com base nas leis da Gestalt, deve-se tecer as

seguintes considerações:

A B C FIG.118. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente aos depósitos a céu aberto de

lixo urbano (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

• Unidades Principais – A lata de lixo e o saco de lixo são as duas unidades principais que

compõem a manifestação visual. Todavia, cada uma dessas unidades principais possui

subunidades, tais como: subunidades da lata de lixo (tampa e frisos) e subunidade do saco de lixo

(um trapézio simbolizando um nó);

• Segregação – A figura segrega-se nas unidades formais negras e brancas (símbolo

monocromático; segregação máxima);

• Proximidade e Semelhança - A proximidade entre as unidades geométricas da lata de lixo

(retângulos da tampa e frisos) presta fechamento, por semelhança, à representação. Além disso, a

analogia dos elementos constituintes fornece extrema noção de regularidade. No que diz respeito

ao saco de lixo, este agrupa-se, por contigüidade, ao restante da manifestação visual, despertando,

portanto, uma idéia geral de unificação;

• Continuidade – Existe noção de continuação entre o trapézio (nó) e a composição que

denota o saco de lixo. Há também idéia de sobreposição da lata sobre a sacola de lixo. Tal fato

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tem relação direta com as cores dos elementos. O saco de lixo em preto, portanto, apresenta

sensação de posição secundária em relação ao latão;

• Unificação – Existe desequilíbrio nos pesos visuais da figura, uma vez que o saco de lixo

apresenta-se menor que o latão. Desse modo, há ruídos na unificação da imagem.

No que tange à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o símbolo em tela apresenta-se

regular, porém com relativo desequilíbrio. Em função do considerável número de elementos

constituintes da imagem, a simplicidade e a clareza da representação apresentam-se ligeiramente

comprometidas. Dessa maneira, numa interpretação conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o

simbolismo revela média facilidade no processo de leitura visual da forma. Com isso, pode-se

deduzir que esta imagem apresenta médio índice de pregnância da forma.

6.3.6 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: FOCO DE

POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA

No que se refere à apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa o

foco de poluição atmosférica (FIG.119), com base nas leis da Gestalt, deve-se tecer as seguintes

considerações:

A B C

FIG.119. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente ao foco de poluição atmosférica (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

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• Unidades Principais – A indústria e a fumaça são as duas unidades principais que

compõe a imagem;

• Segregação – O contraste, neste caso, é a variável determinante de separação das

unidades da figura. O hiato entre a indústria e a fumaça exalta a relação figura e fundo,

promovendo, portanto, maior destaque dos elementos da imagem;

• Continuidade – A fumaça exprime idéia de crescimento gradativo. Deve-se ressaltar que

a poluição tendeu a receber maior ênfase e destaque do que a própria fábrica, pois este é o

elemento que reforça a idéia de degradação ambiental;

• Proximidade e Semelhança – A fumaça é constituída por elipses semelhantes, originando,

com isso, a unificação desta unidade. Os objetos geométricos formadores da indústria (triângulo

retângulo, retângulo e trapézio), por sua vez, agrupam-se por analogia. A unificação geral da

imagem, portanto, se dá através do fator proximidade;

• Unificação – A idéia de unidade estrutura-se sobre os fatores de proximidade e

semelhança.

No que diz respeito à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o símbolo em tela apresenta-se

com grande equilíbrio, regularidade, simetria e harmonia. Dessa maneira, numa interpretação

conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o presente símbolo denota grande rapidez no

processo de leitura visual da forma. Com isso, pode-se deduzir que esta manifestação apresenta

grande/alto índice de pregnância da forma.

6.3.7 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: DESCARGA DE

EFLUENTES LÍQUIDOS TÓXICOS (POLUIÇÃO DA ÁGUA)

Acerca da apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa descargas

de efluentes líquidos tóxicos (FIG.120), com base nas leis da Gestalt, deve-se tecer as seguintes

considerações:

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174

A B C

FIG.120. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente à descarga de efluentes líquidos tóxicos (a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

• Unidades Principais – O latão, o derramamento e a superfície aquática são as três

unidades principais que compõe a manifestação visual;

• Segregação – O contraste determina a separação das unidades da figura;

• Continuidade – O derramamento de uma substância negra (idéia de negatividade ou

poluição) exprime sensação de continuidade e descendência. A superfície aquática na parte

inferior da figura, por sua vez, manifesta sensação de abrangência da área geográfica,

despertando, portanto, a idéia de propagação de efluentes tóxicos;

• Proximidade e Semelhança – O latão é estruturado por arcos originários de círculos

idênticos, motivando, com isso, a unificação desta unidade. O mesmo acontece com a superfície

aquática, uma vez que as marolas se unem por analogia.

• Unificação – A idéia de unidade calca-se sobre os fatores de proximidade e semelhança.

No que diz respeito à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o símbolo que denota poluição

hídrica apresenta-se equilibrado, simples, harmonioso, claro e simétrico. Neste contexto, numa

interpretação conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o simbolismo em tela revela altíssima

rapidez no processo de leitura visual da forma. Com isso, pode-se deduzir que esta manifestação

apresenta altíssimo índice de pregnância da forma.

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175

6.3.8 SÍMBOLO FINAL E LEITURA VISUAL DA FORMA DO OBJETO: MORTANDADE

DE PEIXES

Sobre a apresentação e leitura visual da forma do símbolo final que representa a mortandade

de peixes (FIG.121), com base nas leis da Gestalt, deve-se tecer as seguintes considerações:

A B C FIG.121. Seqüência de elaboração do símbolo cartográfico correspondente à mortandade de peixes

(a. Leitura Visual do Símbolo ; b. Proporcionalidade do Símbolo; c. Símbolo Final).

• Unidades Principais – São três as unidades principais: a cabeça, a espinha central

(composta por subunidades correspondentes às espinhas secundárias) e o rabo;

• Segregação – Como em todos os símbolos elaborados no presente trabalho, com base no

Sistema de Leitura Visual da Forma concebido por GOMES FILHO (2000), os elementos

estruturais da figura segregam-se de maneira máxima, pois trata-se de uma composição

monocromática, ou seja, as unidades, através de uma relação figura e fundo, encontram-se

altamente destacadas;

• Proximidade e Semelhança – Praticamente todos os elementos compositivos da figura

resumem-se a triângulos isósceles. A analogia dos elementos constituintes fornece extrema noção

de regularidade. A proximidade dos elementos exprime idéia de fechamento e unificação da

imagem;

• Unificação - Os pesos visuais da figura apresentam-se bem equilibrados. Não há idéia de

ascendência ou descendência, tornando, portanto, a forma totalmente inerte (sem movimento,

concepção de morte da forma peixe).

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176

No que diz respeito à leitura visual da forma do objeto, com base nas categorias conceituais

fundamentais e técnicas visuais aplicadas, pode-se concluir que o símbolo que representa a

mortandade de peixes manifesta-se de maneira equilibrada e simétrica. Dessa maneira, numa

interpretação conclusiva da imagem, pode-se afirmar que o simbolismo revela rapidez no

processo de leitura visual da forma. Com isso, pode-se deduzir que esta manifestação apresenta

alto índice de pregnância da forma.

6.4 PROCESSO DE CRIAÇÃO DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

A criatividade é uma das mais misteriosas habilidades humanas e tem merecido, há várias

décadas, atenção de cientistas das mais diferentes áreas do conhecimento, tais como: filósofos,

psiquiatras e psicólogos. Porém, pode-se afirmar que a criatividade é estimulada e apurada

através do próprio hábito de criação (BODEN, 1994). No presente trabalho, constatou-se, de

maneira empírica, que as dificuldades na criação e o tempo gasto no processo de elaboração

foram reduzidos, à medida que, eram construídos, de forma seqüencial, os simbolismos

cartográficos, tal como outrora exposto nos itens 6.3.1 até 6.3.8.

O processo de criação dos símbolos apresenta-se de maneira caótica (brainstorming11), uma

vez que certos elementos são incorporados ou descartados seqüencialmente. Na FIG.122

(elemento B), pode-se constatar que o varal fora inserido no casebre e, posteriormente, retirado

(elemento C). Num momento seguinte (elemento D), tentou-se agregar um varal externo ao

casebre, alterando, completamente, o peso visual da forma. A unidade varal, portanto, foi

eliminada, pois numa circunstância de redução, este elemento tornar-se-ia totalmente ilegível.

11 Técnica de reunião em que os participantes, usualmente de diferentes especialidades, expõem livremente suas idéias, em busca de solução criativa para um dado problema, uma campanha publicitária, etc (AURÉLIO, 1999).

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177

FIG.122. Parte do processo criativo do símbolo cartográfico (processo de favelização).

Outro problema com relação à redução dos elementos consiste na estruturação da fiação de

forma dupla, tal como aparece no elemento A (FIG.122). Num processo reducente, a combinação

dos dois elementos não seria percebida, fazendo com que se optasse, no símbolo final (elemento

L), por uma fiação única e com linhas mais vigorosas.

A idéia de inserção de um beco ou viela aparece num primeiro momento do processo de

criação (elemento A - FIG.122), sendo, contudo, rapidamente excluída (elemento B - FIG.122).

Num momento final do processo de construção, a unidade viela foi retomada (elemento H -

FIG.122), acrescentando, sobretudo, um elemento compositivo bastante robusto na representação

gráfica. No instante da redução, portanto, o beco causaria extrema poluição visual à

manifestação.

Na primeira representação da terceira fila (elemento G - FIG.122) tentou-se conceber uma

idéia de fundação dos barracos sobre terrenos íngremes, realidade tão comum nas favelas do Rio

de Janeiro. Porém, através de levantamento bibliográfico sobre o processo de favelização,

constatou-se que nem todos os conjuntos de habitações populares toscamente construídas

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178

ocorrem sobre áreas de encosta. No estado de São Paulo e em Brasília, por exemplo, as favelas

encontram-se sobre áreas planas, possuindo, portando, peculiaridades próprias.

No caso específico da FIG.122, a grande dificuldade consistia na criação de um símbolo

“organizado” de um ambiente altamente “desorganizado”. Deve-se ressaltar que anteriormente à

elaboração de cada símbolo, fora adquirido todo um conjunto de conhecimentos e experiência

acerca dos fenômenos de impacto ambiental, além de conhecimentos técnicos sobre a Psicologia

Perceptual da Forma/Gestalt. É de fundamental importância destacar que em todo o estado

criativo, levou-se em consideração o aspecto de redução, uma vez que os simbolismos seriam de

aplicação direta em atividades de mapeamento. De maneira mais específica, a problemática

associada ao processo de redução dos símbolos cartográficos encontra-se a seguir (item 6.5).

6.5 PROCESSO DE REDUÇÃO DOS SÍMBOLOS CARTOGRÁFICOS

No que tange às propriedades do processo de diminuição das exposições gráficas, deve-se

destacar que quanto menos unidades compositivas nas representações, mais legíveis tornar-se-ão

quando submetida à redução. Além disso, quanto mais simétricos e regulares forem os elementos

constituintes de uma determinada manifestação visual, maior será a preservação de suas

particularidades num processo reducente, tal como expõe a comparação presente da FIG.123.

Ratificando, portanto, as idéias de UTTAL (1988), o ser humano tem grande habilidade para

detectar formas geométricas simples (simetrias/padrões regulares) do que aquelas irregulares ou

complicadas.

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179

Desenho X Símbolo

Inúmeras unidades compositivas (muitos elementos gráficos) Poucas unidades compositivas (poucos elementos gráficos) Demorada leitura visual da forma Rápida e fácil leitura visual da forma

Baixo índice de pregnância da forma Alto índice de pregnância da forma/Boa Gestalt Ilegibilidade da representação no processo de redução da forma Maior legibilidade no processo de redução da forma

FIG.123. Propriedades do processo de redução das representações gráficas.

Porém, como as representações gráficas elaboradas neste trabalho serão de aplicação direta

em mapas e cartas, não se pode desprezar, entretanto, as peculiaridades envolvidas nas

transformações entre escalas cartográficas. Algumas considerações práticas sobre este conceito

encontram-se a seguir (item 6.6).

6.6 ADEQUAÇÃO DOS SÍMBOLOS ÀS ESCALAS CARTOGRÁFICAS

Considerando os símbolos cartográficos aplicados em quadrados de 5mm de lado e,

conseqüentemente, com 25mm2 de área (FIG.124), num mapeamento de escala 1:25.000, cada

simbolismo corresponderia a uma área no terreno de 15.625m2 (FIG.125). Desse modo, nesta

escala, os simbolismos corresponderiam à uma área equivalente a 2 campos de futebol com

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medidas oficiais (FIG.126). Numa escala 1:50.000, por sua vez, cada simbolismo corresponderia

à uma área no terreno de 62.500m2, encontrando-se, em equivalência, portanto, a 8 campos de

futebol. No que tange à magnitude e abrangência dos fenômenos ambientais, pode-se contemplar,

de maneira adequada, a dimensão proposta para os símbolos no presente trabalho.

FIG.124. Área proposta para os símbolos cartográficos.

FIG.125. Dimensões reais dos fenômenos representados pelos símbolos (escala 1:25.000).

FIG.126. Relação entre dimensões reais dos fenômenos representados pelos símbolos e unidades de

campo de futebol (escala 1:25.000).

A seguir, encontram-se algumas considerações sobre a definição dos possíveis usuários dos

símbolos propostos nesta presente pesquisa.

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181

6.7 PÚBLICO ALVO

Os símbolos cartográficos criados na presente pesquisa destinam-se aos usuários de cartas e

mapas cuja temática é ambiental, tais como: geógrafos, geomorfólogos, pedólogos, geólogos,

cartógrafos, engenheiros civis, biólogos, profissionais da área de saúde, ambientalistas e outros.

Estes profissionais, contudo, terão à disposição um grupo de símbolos para confecção de mapas

que tratam e representam situações de degradação ambiental. Vale salientar que a simbolização

dos fenômenos que representam conjuntura de impacto e risco ambiental encontra-se encadeada

de maneira lógica, tal como apresenta a FIG.127:

FIG.127. Encadeamento dos fenômenos que representam situações de impacto e risco ambiental.

Desse modo, no processo de expansão de favelas, há acréscimo das áreas desmatadas, muitas

vezes provocado por incêndios florestais propositais. Todavia, há incremento no volume de

poluição atmosférica, também fomentando o aumento das taxas de chuva ácida, que retornam,

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por sua vez, à superfície terrestre, mares e oceanos. Além disso, arraigado ao processo de

favelização, encontra-se a problemática do acúmulo de lixo urbano, que destrói as camadas dos

solos e detona o processo de desertificação. Provenientes do depósito de lixo a céu aberto,

determinadas substâncias químicas atingem os lençóis freáticos e águas subterrâneas,

desembocando, por exemplo, em mares e lagoas. Desse modo, há, invariavelmente, mortandade

de peixes. A eficiência na interpretação destes símbolos cartográficos é tratada exclusivamente no

Capítulo 7.

6.8 CONCLUSÃO DA METODOLOGIA DE CRIAÇÃO DOS SÍMBOLOS

CARTOGRÁFICOS

Com o objetivo de se sintetizar a metodologia para a criação de símbolos cartográficos,

proposta no presente trabalho, foram estabelecidas fases e etapas sucessivas que servem de

suporte ao desenvolvimento das representações, tal como expõe a TAB.2. São, portanto, quatro

fases, compondo um conjunto de 23 etapas, que abrangem, por sua vez, desde estudos

preliminares até estágios finais na concepção dos simbolismos. Neste contexto, a primeira fase,

denominada como Estudos Preliminares, diz respeito à idéia geral e preambular dos símbolos a

serem desenvolvidos, bem como a identificação dos problemas e restrições na elaboração das

representações. A segunda fase, intitulada de Fase de Criação, discorre sobre a seqüência de

elaboração das manifestações visuais. Sobre a fase três, designada por Fase de Testes, testa-se a

validação e o grau de interpretação de cada simbolismo. Numa última etapa (Fase de Finalização)

são estabelecidos e estruturados os símbolos definitivos.

Portanto, encontra-se, a seguir, a síntese da metodologia de criação dos símbolos

cartográficos:

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FASES ETAPAS 1. Estudos Preliminares 1.a. Definição Temática Exemplo: Criação de símbolos para representação de fenômenos ambientais 1.b. Delimitação da Amostra (Seleção dos fenômenos ambientais que serão efetivamente representados) Exemplo: Processo de Desertificação; Incêndios Florestais; Poluição Atmosférica e Mortandade de Peixes 1.c. Definição do Público Alvo Exemplo: Usuários de cartas e mapas cuja temática é ambiental, tais como: geógrafos, geomorfólogos, pedólogos, geólogos, ambientalistas etc 1.d. Compreensão do Problema (Entendimento acerca da temática em tela: dinâmica da degradação ambiental) Exemplo: Estabelecer causas e conseqüência dos fenômenos selecionados 1.e. Aquisição de Imagens Exemplo: Seleção de imagens que remetem ao processo de degradação ambiental 1.f. Criação Empírica de Símbolos * 1.g. Aplicação de Testes de Eficiência com Símbolos Empíricos * 1.h. Seleção de Variáveis Comuns às Imagens Exemplo: Discriminação das variáveis fortemente presentes nas representações 1.i. Levantamento sobre Simbolismos Cartográficos Exemplo: Simbologia utilizada na Cartografia Temática 1.j. Análise Crítica de Trabalhos Similares Exemplo: Exame acerca de trabalhos que tratam especificamente de símbolos pictóricos 1.l. Adoção de um Sistema de Leitura Visual da Forma Exemplo: Sistema estruturado sobre as Leis da Gestalt RESULTADO 1: Fundamentação Teórica * Etapas opcionais

Continuação

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184

2. Fase de Criação 2.a. Fundamentação Teórica sobre o Processo Criativo 2.b. Brainstorming (Exposição e associação de livres idéias) 2.c. Processo de Criação 2.d. Seleção das Melhores Representações (Layouts) Preliminares 2.e. Finalização do Processo Criativo 2.f. Leitura Visual da Forma dos Símbolos (Interpretação conclusiva da imagem) Exemplo: Alto, médio ou baixo índice de pregnância da forma RESULTADO 2: Símbolos Preliminares (Layout Preliminar) 3. Fase de Testes 3.a. Elaboração dos Testes de Eficiência (Feedback) Exemplo: Testes de múltipla escolha, questionários abertos, entrevistas etc 3.b. Aplicação dos Testes 3.c. Análise dos Resultados dos Testes de Eficiência (Processamento dos dados, criação de gráficos, TAB.s etc)

RESULTADO 3: Índice de Acerto de Cada Representação ** 4. Fase de Finalização 4.a. Processo de Refinamento (Reparação de elementos ruidosos revelados nos testes de eficiência) 4.b. Finalização dos Símbolos Cartográficos 4.c. Adequação dos Símbolos às Escalas Cartográficas (Experimentações sobre mapas; impressões etc) RESULTADO 4: Símbolos Definitivos (Layout Definitivo)

** Se o índice de acerto for menor que 50%, voltar à Fase 1 (Etapas 1.e. e 1.h.).

** Se o índice de acerto estiver compreendido entre 50% e 80%, voltar à Fase 2.

** Se o índice de acerto for maior que 80%, seguir a Fase 4.

TAB.2. Fases e etapas que compõem a metodologia de criação dos símbolos cartográficos.

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Como última consideração, deve-se salientar que os intervalos de classe atribuídos aos

índices de acerto de cada representação (Resultados 3 - Fase de Testes) foram criados de maneira

empírica, ou seja, sem caráter científico. Estabeleceu-se, portanto, apenas três categorias (abaixo

de 50%, 50% até 80% e acima de 80%) com o intuito de se instituir progressão ou retorno à

determinadas fases e etapas da metodologia em questão. As considerações acerca dos testes de

eficiência, cujo objetivo foi analisar o modo de interpretação de cada símbolo cartográfico, junto

a diferentes públicos, serão discutidas no próximo Capítulo (7).

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186

7. TESTES DE EFICIÊNCIA DOS SÍMBOLOS CRIADOS COM BASE NO SISTEMA DE

LEITURA VISUAL DA FORMA (GESTALT)

7.1 ABRANGÊNCIA DOS TESTES DE EFICIÊNCIA

Quando comparados aos exames preliminares (Capítulo 5), pode-se considerar a maior

abrangência dos testes de eficiência com os símbolos criados com base na Gestalt. A maior

compreensão dos testes em discussão refere-se tanto à complexidade da investigação, como,

também, à seleção da amostra do público participante.

Com o objetivo de se fixar variáveis comparativas, aplicou-se, como nos exames

introdutórios (Capítulo 5), testes junto aos alunos de sexta e sétima séries (ensino fundamental –

segundo segmento) do Colégio Municipal Anísio Teixeira, Ilha do Governador, Rio de Janeiro.

Para a primeira classe de alunos (sexta série), cuja faixa etária circunda entre 11 e 12 anos,

aplicou-se o Teste 1 – múltipla escolha simples (FIG.128), enquanto para a segunda classe de

alunos (sétima série), de faixa etária compreendida entre os 13 e 14 anos, aplicou-se o Teste 2 –

testes com auxílio de cartogramas, tal como apresenta a FIG.129. As considerações sobre esta

classe específica de participantes dos testes encontra-se no item 7.2.

A fim de se obter maior entendimento acerca da interpretação dos simbolismos, ampliou-se a

amostragem do público participante nos testes de eficiência, contando, desse modo, com

possíveis usuários de cartas temáticas de cunho ambiental, tais como: engenheiros cartógrafos

(terceiro, quarto e quinto anos – Instituto Militar de Engenharia/IME), engenheiros civis (terceiro

ano – Instituto Militar de Engenharia/IME) e profissionais da área de saúde da Fundação

Oswaldo Cruz/Fiocruz (médicos, veterinários, biólogos, técnicos sanitaristas, dentre outros). Para

este universo, aplicou-se, além do Teste 1 (FIG.128) e Teste 2 (FIG.129), questionários abertos

(FIG.130), num contexto de maior liberdade de opiniões dos entrevistados. Deve-se explicitar

que as questões abertas foram divididas em duas categorias de estudo:

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• Num primeiro momento, os testes foram simplesmente apresentados, ou seja, não se

revelou qual a temática regente dos simbolismos. Os entrevistados deveriam, portanto, associar

livres idéias e opiniões aos simbolismos cartográficos;

• Numa segunda e final etapa do questionário revelou-se o contexto ambiental dos

simbolismos, abrindo, portanto, margem para novas considerações.

As particularidades na análise dos testes realizados por essa classe de entrevistados (alunos

de graduação do IME e profissionais da área de saúde da Fiocruz) encontram-se nos itens 7.3 e

7.5.

Não se pode também desconsiderar os testes de múltipla escolha simples (Teste 1 – FIG.128)

realizados com alunos de quinta série (Colégio Municipal Anísio Teixeira), cuja faixa etária gira

em torno dos 9 ou 10 anos. A concepção de menor experiência sígnica dessas crianças, numa

comparação com indivíduos adultos, de biblioteca mental vultosa e teoricamente mais

estruturada, apresentou-se como mais um objeto de análise na presente pesquisa. Tais

considerações encontram-se expostas no item 7.2.2.

Numa outra porção de entrevistados, encontram-se os alunos de oitava série, também do

Colégio Municipal Anísio Teixeira, cuja faixa etária apresenta-se na casa dos 15 anos. Para estes

adolescentes, proporcionou-se, portanto, os três tipos de testes, tal como expõem as FIGs 128,

129 e 130. As análises dos testes com os alunos de oitava série encontram-se reveladas no item

7.2.3.

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FIG.128. Teste de múltipla escolha simples (Teste 1) / Simbolismos criados com base na Gestalt.

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FIG.129. Teste com auxílio de cartogramas (Teste 2) / Simbolismos criados com base na Gestalt.

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190

FIG.130. Modelo do Questionário Aberto (Teste 3) / Simbolismos criados com base na Gestalt.

Os resultados e análises da pesquisa quantitativa em discussão, bem como os inter-

relacionamentos das respostas dos diferentes grupos participantes dos testes de eficiência,

encontram-se a seguir:

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191

7.2 TESTES DE EFICIÊNCIA APLICADOS JUNTO AOS ALUNOS DO COLÉGIO

MUNICIPAL ANÍSIO TEIXEIRA

A tabulação dos dados referentes aos testes de eficiência com alunos de quinta, sexta, sétima

e oitava séries, bem como suas análises, encontra-se a seguir:

7.2.1 TESTES REALIZADOS COM ALUNOS DE SEXTA E SÉTIMA SÉRIES (ENSINO

FUNDAMENTAL – SEGUNDO SEGMENTO)

Pode-se perceber, através da TAB.3, que o símbolo que denota derramamento de efluentes

líquidos tóxicos possui total índice de acertos (100%), junto aos alunos de sexta e sétima séries

do Colégio Municipal Anísio Teixeira. Em contrapartida, o símbolo que representa o processo de

desertificação obteve o menor índice de acertos (84,5%). Na amostragem em discussão, cerca de

20 entrevistados, de um total de 140 adolescentes, interpretaram tal simbolismo como localização

de áreas praianas. Este ideário, portanto, liga-se diretamente à existência da unidade sol na

manifestação visual, como comprovado através de questionários abertos aplicados junto aos

alunos de graduação do IME e profissionais da área de saúde da Fiocruz, tal como apresentado

nos itens 7.3 e 7.5.

Os simbolismos referentes ao depósito a céu aberto de lixo urbano, incêndios florestais e

desmadeiramento apresentaram altíssimos índices de interpretação correta, ficando, portanto,

com média geral acima dos 95%. Os símbolos que exprimem idéia de poluição atmosférica e

mortandade de peixes, por sua vez, obtiveram elevado acréscimo de interpretação correta, quando

comparados, sobretudo, com os testes de representação preliminar, como outrora exposto no

Capítulo 5.

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192

TAB.3. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt (sexta e sétima séries – ensino fundamental/segundo segmento).

Pode-se perceber, através da análise da FIG.131, que a média geral de interpretações corretas

nesta classe de entrevistados foi de 94%. Nos testes com representações criadas de maneira

totalmente empírica (Capítulo 5), a média geral de acertos apresentou-se na casa dos 74%. Desse

modo, pode-se concluir que se tratando de igual amostragem (alunos de sexta e sétima séries) e

mesma condição nos testes de eficiência, houve elevado acréscimo (20%) na concepção

verdadeira dos simbolismos elaborados com base na Psicologia Perceptual da Forma. Tal

comparação encontra-se exposta na FIG.132.

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193

FIG.131. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(sexta e sétima séries – ensino fundamental/segundo segmento).

94%

74,6%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Testes comsimbolismos

elaborados combase na Gestalt

Testes preliminarescom simbolismos

elaboradosempiricamente

Comparação entre os testes de eficiência dos símbolos cartográficos: 60 e 70 séries

FIG.132. Comparação entre os resultados dos testes realizados com simbolismos empíricos e testes

realizados com símbolos criados com base na Gestalt (sexta e sétima séries).

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194

No próximo segmento de análise (item 7.2.2) encontram-se algumas considerações sobre as

interpretações dos alunos de quinta série (ensino fundamental – segundo segmento).

7.2.2 TESTES REALIZADOS COM ALUNOS DE QUINTA SÉRIE (ENSINO

FUNDAMENTAL – SEGUNDO SEGMENTO)

Em função da baixa faixa etária deste conjunto de entrevistados (9 ou 10 anos), considerou-

se construtiva sua incorporação à amostragem nos testes de eficiência dos símbolos cartográficos

criados com base na Gestalt. Pode-se perceber, através da TAB.4, que a tendência de

interpretação dos alunos da quinta série mostrou-se análoga aos resultados obtidos junto aos

alunos de sexta e sétima séries (item 7.2.1). Esta afirmação pode ser ratificada uma vez que os

simbolismos que representam depósito a céu aberto de lixo urbano, queimadas,

desmadeiramento, poluição hídrica e processo de favelização tiveram altos índices de acertos,

compreendendo, portanto, intervalo entre 90 e 100% de respostas corretas.

Também a exemplo dos exames discutidos no item 7.2.1, o símbolo que denota processo de

desertificação apresentou o mais baixo grau de interpretação correta (73%). Dessa maneira, pode-

se deduzir o modo ambíguo no seu entendimento, uma vez que todas as interpretações errôneas

dizem respeito à localização de praias. Fato semelhante ocorreu com o símbolo referente à

poluição atmosférica, pois sua falsa compreensão, na totalidade das vezes, teve associação direta

à poluição das águas. No que tange o simbolismo de mortandade de peixes pode-se considerar

sua interpretação como boa (83%), quando comparado ao resultado obtido nos testes com

representações embrionárias (60,9%), tal como exposto no Capítulo 5.

A seguir (FIG.133), encontra-se a média geral de acertos do grupo de entrevistados em

discussão.

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195

TAB.4. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt (quinta série – ensino fundamental/segundo segmento).

FIG.133. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico (quinta série – ensino fundamental/segundo segmento).

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196

Numa última consideração sobre este grupo de crianças de quinta série, deve-se chamar

atenção para a menor média geral de respostas corretas associadas aos simbolismos (89% -

FIG.133), quando utiliza-se, como referência, os resultados obtidos pelos alunos de sexta e

sétima séries (94%). Porém, quando a comparação toma como base os testes embrionários com

representações empíricas (Capítulo 5), pode-se exaltar o acréscimo de 15% na média geral de

interpretação correta das manifestações visuais.

As análises dos testes realizados com os alunos de oitava série são apresentadas a seguir

(item 7.2.3):

7.2.3 TESTES REALIZADOS COM ALUNOS DE OITAVA SÉRIE (ENSINO

FUNDAMENTAL – SEGUNDO SEGMENTO)

De maneira análoga aos exames realizados com alunos de quinta, sexta e sétima séries, o

símbolo que denota processo de desertificação exprimiu interpretação dúbia, principalmente no

Teste estruturado sobre cartogramas (Teste 2), como demonstrado na TAB.5. No caso específico

deste simbolismo, a localização de praias foi, por aproximadamente 20% das vezes, a opção

escolhida. Os demais símbolos, por sua vez, tanto no que tange os testes de múltipla escolha

simples (Teste 1), como também nos testes com auxílio de cartogramas (Teste 2), revelaram

excelente grau de assimilação por parte dos alunos, cuja faixa etária variava entre os 13 e 14

anos. Tal fato é explicitado pela FIG.134, cuja média geral de acertos encontra-se na casa dos

97%.

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TAB.5. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt

(oitava série – ensino fundamental/segundo segmento).

FIG.134. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(oitava série – ensino fundamental/segundo segmento).

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198

No que diz respeito aos questionários abertos (Teste 3), encontra-se, na TAB.6, a associação

de idéias expostas pelos alunos aos referentes simbolismos. Vale ressaltar que os simbolismos

que representam o processo de favelização e a mortandade de peixes, cuja taxa de acertos

apresentava-se na casa dos 90% nos Testes 1 e 2, nos questionários com liberdade para exposição

de idéias, tais manifestações obtiveram grau de interpretação correta na faixa dos 70%. Nos

questionários abertos, portanto, estes simbolismos, respectivamente, foram associados por

aproximadamente 20% dos entrevistados como: casa de energia (alta tensão; iluminação; fiação

exposta) e peixaria (pesca ilegal). Como apresenta a FIG.135, a média geral de acertos, neste

caso, foi de 93%.

TAB.6. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt (questionário aberto - oitava série – ensino fundamental/segundo segmento).

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199

FIG.135. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(questionário aberto - oitava série – ensino fundamental/segundo segmento).

A título de comparação, encontra-se, no item 7.2.4, o gráfico com a média geral de acertos

das diferentes séries participantes dos testes de eficiência no Colégio Municipal Anísio Teixeira –

RJ.

7.2.4 MÉDIA GERAL DOS RESULTADOS DAS DIFERENTES CLASSES DE ALUNOS DO

COLÉGIO MUNICIPAL ANÍSIO TEIXEIRA

Percebe-se, através da análise da FIG.136, a média geral de acertos na faixa dos 94% das

representações criadas com base na Gestalt. Comparando-se com os testes realizados de maneira

preliminar (Capítulo 5), cujos símbolos foram elaborados sem qualquer tipo de conhecimento

técnico, somente com base na inspeção visual de imagens relacionadas aos fenômenos

ambientais, constata-se, desse modo, o aumento de 20% no entendimento dos entrevistados

acerca do significado dos simbolismos.

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FIG.136. Média geral de acertos (Alunos do Colégio Municipal Anísio Teixeira).

Com o objetivo de se analisar a interpretação e a aceitação dos simbolismos por parte de um

grupo de usuários que possui contato direto com cartas temáticas, encontra-se, a seguir (item 7.3),

os resultados dos testes de eficiência aplicados junto aos alunos de Engenharia – IME.

7.3 TESTES DE EFICIÊNCIA REALIZADOS JUNTO AOS ALUNOS DE ENGENHARIA -

IME

As análises quantitativas e qualitativas dos testes provenientes dos alunos do Instituto Militar

de Engenharia encontram-se a seguir:

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201

7.3.1 TESTES REALIZADOS COM ALUNOS DE ENGENHARIA CARTOGRÁFICA - IME

Como exposto na FIG.137, pode-se perceber a interpretação máxima dos simbolismos pelos

alunos de terceiro, quarto e quinto anos do curso de Engenharia Cartográfica – IME. Vale

salientar que tal grau de acertos deve-se, também, à simplicidade imposta aos testes de múltipla

escolha simples. As análises mais rebuscadas, por conseguinte, encontram-se nas TABs 7 e 8,

além das FIGs 138 e 139.

FIG.137. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(Alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

No que tange os questionários abertos aplicados à classe em questão, sem qualquer

explanação sobre a temática regente das representações, deve-se destacar os baixos índices de

acertos referentes aos símbolos de favelização (44%) e mortandade de peixes (52%). Cerca de

50% dos entrevistados, por sua vez, conceberam tais representações, respectivamente, como:

central elétrica e área de pesca (TAB.7). Esse ideário, portanto, encontra-se em grande

consonância com a interpretação realizada pelos alunos de oitava série do Colégio Municipal

Anísio Teixeira. A média geral de acertos deste exame em tela apresenta-se na faixa dos 85%,

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202

como apresenta a FIG.138. Na FIG.139, num momento de apresentação da temática que balizou a

elaboração dos simbolismos, evidencia-se o acréscimo de 4% no grau de interpretação geral das

manifestações visuais.

TAB.7. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt

(questionário aberto sem contextualização - alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

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203

FIG.138. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(questionário aberto sem contextualização - alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

TAB.8. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt

(questionário aberto com contextualização - alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

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204

FIG.139. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(questionário aberto com contextualização - alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

A FIG.140 ratifica a idéia de acréscimo na porcentagem de interpretação correta, quando

numa etapa seguinte dos questionários abertos explicou-se o tema referente à degradação

ambiental que determinou a construção dos simbolismos. Houve, portanto, um aumento de 4%

nos índices de respostas verdadeiras, num momento de elucidação acerca da contextualização que

circundava os símbolos cartográficos.

89%

85%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Com a contextualizaçãode Impacto Ambiental

Sem a contextualizaçãode Impacto Ambiental

Comparação entre os índices de acerto dos diferentes tipos de questionário aberto"Turmas IME"

FIG.140. Comparação entre os resultados dos questionários sem e com contextualização ambiental (Alunos de graduação em engenharia cartográfica - IME).

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As considerações sobre a decodificação dos simbolismos, por parte dos alunos de graduação

de Engenharia Civil – IME, encontram-se no item a seguir (7.3.2):

7.3.2 TESTES REALIZADOS COM ALUNOS DE ENGENHARIA CIVIL - IME

A exemplo dos testes de múltipla escolha realizados com alunos de Engenharia Cartográfica,

os estudantes do terceiro ano de Engenharia Civil obtiveram altíssimo grau de interpretação

correta, cuja média geral foi de 98% (FIG.141). Neste caso, portanto, todos os símbolos

alcançaram a faixa compreendida entre os 90 e 100% de correta decodificação sobre os

cartogramas, tal como expõe a TAB.9.

TAB.9. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt (Alunos de graduação em engenharia civil - IME).

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206

FIG.141. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico (Alunos de graduação em engenharia civil - IME).

Num estudo comparativo, referente à amostragem abarcada pelos alunos do IME, encontra-

se, a seguir (item 7.3.3), a média geral de interpretação correta de cada representação gráfica

estruturada sobre os preceitos da Psicologia Perceptual da Forma.

7.3.3 MÉDIA GERAL DOS TESTES REALIZADOS JUNTO AOS ALUNOS DE

ENGENHARIA - IME

Pode-se perceber, através da observação da FIG.142, que a média geral de acertos nos Testes

1, 2 e 3, do conjunto formado pelos alunos do Instituto Militar de Engenharia, foi de 95,3%. Este

valor, todavia, ultrapassa os índices alcançados nos testes preliminares de simbolismos criados

empiricamente (74%), além dos índices de interpretação correta obtidos com os símbolos

elaborados com base na Gestalt, pelos alunos de quinta, sexta, sétima e oitava séries (94%) do

Colégio Municipal Anísio Teixeira.

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FIG.142. Média geral de acertos (Alunos do Instituto Militar de Engenharia).

A seguir (item 7.4), encontram-se outras considerações comparativas entre os testes

realizados junto aos alunos do ensino fundamental (segundo segmento) e os alunos de graduação

do IME.

7.4 ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS TESTES REALIZADOS JUNTO AOS ALUNOS

DO COLÉGIO MUNICIPAL E ALUNOS DE ENGENHARIA - IME

Através da análise da FIG.143, pode-se constatar que se levando apenas em consideração os

Testes 1 e 2 (múltipla escolha simples e simbolismos sobre cartogramas, respectivamente), o

índice de acerto dos alunos de graduação do IME chega aos 98%. Esta valor, portanto, sobrepõe-

se aos resultados obtidos nos mesmos testes realizados com alunos do ensino fundamental –

segundo segmento (94%). Neste caso específico, contudo, as taxas de interpretação correta foram

mais elevadas na classe de entrevistados de formação técnica na área de engenharia.

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98%

94%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Turmas IME

Turmas de sexta esétima séries

Comparação das médias gerais entre: "turmas de 60 e 70 séries" vs "turmas do IME"

Testes de múltipla escolha simples (teste 1) e testes sobre um cartograma (teste 2)

FIG.143. Comparação entre as médias gerais de interpretação correta por parte dos alunos do Colégio

Municipal Anísio Teixeira e Instituto Militar de Engenharia.

A seguir (item 7.5), encontram-se apresentadas as análises dos resultados dos testes de

eficiência junto aos profissionais da área de saúde da Fundação Oswaldo Cruz – RJ.

7.5 TESTES DE EFICIÊNCIA REALIZADOS JUNTO AOS PROFISSIONAIS DA ÁREA DE

SAÚDE – FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ

De maneira análoga aos testes de múltipla escolha simples aplicados junto aos alunos de

graduação do IME (100% de compreensão correta), observa-se, através da FIG.144, os altos

índices de acerto (98,8%) na interpretação dos simbolismos por parte dos profissionais da área de

saúde da Fiocruz – RJ, tais como: médicos, veterinários, biólogos e outros. Não se pode também

desconsiderar, como conseqüência destes elevados graus de respostas corretas referentes às

representações cartográficas, a simplicidade inerente ao Teste de número 1.

No que tange à primeira etapa dos questionários abertos, ou seja, sem qualquer tipo de

explanação sobre a contextualização da temática regente dos simbolismos, percebe-se, através da

TAB.10, que os símbolos que exprimem idéia de favelização e mortandade de peixes destoaram

em relação aos demais. Estes simbolismos, respectivamente, foram associados por

aproximadamente 35% dos entrevistados como: casa de força elétrica e área de pescaria

(ictiologia; fóssil).

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Numa segunda etapa do questionário aberto, num momento de exposição sobre a temática

ambiental aplicada aos simbolismos, pode-se perceber, através da TAB.11, que as mesmas

manifestações que fazem alusão ao processo de favelizacão e à mortandade de peixes,

apresentaram, também, ambigüidade no processo de compreensão por parte da amostragem em

discussão. A associação errônea dos simbolismos, nas duas etapas do questionário aberto (sem e

com contextualização), mostrou-se, por conseguinte, de maneira semelhante.

Comparando-se as Figuras 145 e 146, pode-se constatar que na conjuntura de apresentação

da temática que circunda os simbolismos, o índice de interpretação correta apresentou-se,

aproximadamente, na casa dos 90%. No ensejo de inexistência da contextualização ambiental,

por sua vez, o índice de acertos foi de 87,2%. Tal como ocorreu nos testes realizados com os

alunos de graduação do IME, houve aumento nas taxas de compreensão numa circunstância de

exposição da essência de degradação ambiental que encerra os símbolos cartográficos. Desse

modo, com o intuito de se enfatizar a melhor compreensão dos simbolismos quando

contextualizada a situação de impacto ambiental, elaborou-se, portanto, a Figura comparativa

147.

FIG.144. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico (Profissionais da área de saúde - Fiocruz).

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TAB.10. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt (questionário aberto sem contextualização - profissionais da área de saúde - Fiocruz).

FIG.145. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(questionário aberto sem contextualização - profissionais da área de saúde - Fiocruz).

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211

TAB.11. Índices de acerto na interpretação dos simbolismos criados com base na Gestalt

(questionário aberto com contextualização - profissionais da área de saúde - Fiocruz).

FIG.146. Interpretação correta de cada símbolo cartográfico

(questionário aberto com contextualização - profissionais da área de saúde - Fiocruz).

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212

89,5%

87,2%

0,0% 20,0% 40,0% 60,0% 80,0% 100,0%

Com a contextualizaçãode Impacto Ambiental

Sem a contextualizaçãode Impacto Ambiental

Comparação entre os índices de acerto dos diferentes tipos de questionário aberto"Pesquisados FIOCRUZ"

FIG.147. Comparação entre os resultados dos questionários sem e com contextualização ambiental

(profissionais da área de saúde - Fiocruz).

Portanto, com o objetivo de se confrontar os resultados oriundos das diferentes amostragens

participantes dos testes de eficiência, segue, no item 7.6, um exame comparativo de abrangência

geral.

7.6 ANÁLISE COMPARATIVA GERAL DOS RESULTADOS DOS TESTES DE

EFICIÊNCIA

A FIG.148 foi elaborada com o intuito de se elucidar os resultados provenientes dos testes

aplicados junto às diferentes classes de entrevistados, além de suas respectivas comparações.

Pode-se perceber, contudo, que os mais altos índices de interpretação correta foram obtidos com

os alunos de graduação do Instituto Militar de Engenharia (95,3%). De maneira intermediária, os

alunos do ensino fundamental do Colégio Municipal Anísio Teixeira atingiram o índice de 94%.

Este grupo, todavia, superou as taxas de acerto do grupo referente aos profissionais da área de

saúde da Fundação Oswaldo Cruz (92%). Como média geral dos resultados dos testes de

eficiência, com os símbolos criados com base na Gestalt, logrou-se a taxa de 93,8%. O

aproveitamento, portanto, numa comparação com os símbolos elaborados de maneira empírica

(expostos no Capítulo 5), teve acréscimo de aproximadamente 20%. Houve também elevação nos

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índices de interpretação correta num confronto com o trabalho de elaboração de símbolos

cartográficos com aplicação direta na atividade de turismo, realizado por PEREIRA et al. (1999)

(item 5.3), cujo grau de compreensão ficou próximo aos 90%.

93,8%

92%

95,3%

94%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Comparação das médias gerais entre:

"Alunos do Colégio Anísio Teixeira", "Turmas do IME" e "Profissionais da FIOCRUZ"

Média Geral

Colégio Anísio Teixeira - Turmas de 60, 70 e 80 séries

FIOCRUZ - Profissionais da área de saúde

IME - Turmas de Graduação em Engenharia Cartográfica e Engenharia Civil

FIG.148. Média geral dos testes de eficiência (alunos do Colégio Municipal Anísio Teixeira, Instituto

Militar de Engenharia e Profissionais da área de saúde – Fiocruz).

A fim de se finalizar a análise geral acerca dos testes de eficiência e o entendimento do

processo de interpretação de cada símbolo cartográfico, encontram-se traçadas, a seguir (item

7.7), algumas inferências:

7.7 CONCLUSÕES ACERCA DOS SÍMBOLOS CRIADOS COM BASE NA GESTALT

No que tange seu caráter geral, algumas ilações sobre o entendimento dos simbolismos que

exprimem idéia de impacto ambiental, cuja construção teve como base a Psicologia Perceptual da

Forma, devem ser destacadas:

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• As representações que exprimiram altos índices de acertos nos testes preliminares

(Capítulo 5), ou seja, aceitação maior ou igual ao valor de 90%, tal como o símbolo que denota

poluição hídrica, tiveram alguns elementos compositivos preservados no processo de construção

dos simbolismos estruturados com base na Gestalt;

• No caso da comparação entre os índices de acerto dos diferentes tipos de questionários

abertos, num momento de elucidação acerca da contextualização ambiental que orientou a

elaboração dos símbolos cartográficos, houve, portanto, tendência para o aumento de

interpretações corretas (acréscimo de 4% no Instituto Militar de Engenharia – FIG.140 e 2,3% na

Fundação Oswaldo Cruz - FIG.147);

• O símbolo que representou maior ruído no processo de decodificação junto aos alunos do

Colégio Municipal Anísio Teixeira (85,5%) foi o de desertificação. Numa conversa direta com os

participantes dos testes constatou-se que o elemento sol induziu a formulação de idéias sobre a

localização de praias. Tal elemento, num processo de depuração do simbolismo, deve ser

eliminado;

• O símbolo que representa o processo de favelização foi o que mais gerou dúvidas junto

aos alunos do IME e profissionais da área de saúde da Fiocruz (79,3% e 63% de interpretação

correta, respectivamente). Tal simbolismo foi algumas vezes associado à central elétrica e afins.

Através de questionários abertos percebeu-se que a interpretação equivocada possuiu relação

direta com a presença do poste e sua respectiva fiação. Estes elementos, contudo, num processo

de refinamento do simbolismo, devem ser retirados;

• O símbolo que reproduz a mortandade de peixes gerou, em média, 10% de interpretação

dúbia junto aos alunos do IME e profissionais da área de saúde da Fiocruz. Tal simbolismo deve

ser depurado e revisto, pois foi associado, dessa maneira, às áreas de pescaria e peixarias;

• Os simbolismos restantes (desmadeiramento, queimadas, lixões, poluição atmosférica e

poluição hídrica), por conseguinte, apresentaram-se altamente inteligíveis, uma vez que os

índices de acerto foram, na grande maioria das vezes, maior que 90%;

• Os símbolos criados de maneira monocromática exprimiram melhor legibilidade, ou seja,

houve maior segregação e contraste numa relação figura e fundo. Tal fato não ocorreu com os

simbolismos criados de maneira empírica (Capítulo 5), pois as representações estruturavam-se

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215

em tons de cinza (símbolos pancromáticos). Desse modo, a segregação entre os elementos

constituintes da imagem encontra-se em menor destaque.

Com base nas exposições realizadas na presente pesquisa, segue, no Capítulo 8, as

conclusões gerais, bem como as sugestões para trabalhos futuros.

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216

8. CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

No que pese seu caráter geral, ao término deste trabalho de pesquisa, cumpre-se estabelecer

algumas conclusões advindas de seu desenvolvimento e resultados:

• A criação de um símbolo cartográfico pode ser comparado ao processo de elaboração de

uma logomarca empresarial. Deve-se, portanto, entender toda a dinâmica e o contexto que

circunda a organização da manifestação visual;

• A aplicação do conceito de simplicidade nos simbolismos cartográficos, outrora

explicitado na presente dissertação, apresenta-se de fundamental importância nas manifestações

visuais em tela, uma vez que quanto mais natural e espontânea é a representação gráfica, maior

será sua abrangência de público;

• No que tange a criação de simbologias, apresenta-se extremamente importante uma

relação interdisciplinar entre cartógrafos (ou geógrafos) com os profissionais da área de designer.

Da mesma maneira que seria fundamental para um designer o apoio do cartógrafo na

manipulação de documentos cartográficos;

• A adoção de parâmetros na construção de simbolismos, com base na Psicologia

Perceptual da Forma (Gestalt), é fundamental para que se reduza a subjetividade na construção

das manifestações visuais. Afirmações tão comumente utilizadas como “Beleza não se discute”

ou “Tudo é relativo” devem ser desmistificadas no ideário dos profissionais que trabalham com

comunicação visual;

• Torna-se viável a extrapolação e a aplicação dos conceitos da Gestalt, tão usualmente

utilizados na Arquitetura, Desenho Industrial e Artes Plásticas, na Ciência Cartográfica, com o

objetivo de se maximizar o processo de comunicação visual;

• Houve consonância entre as interpretações conclusivas na leitura visual da forma de cada

simbolismo (fundamentação sobre o índice de pregnância da forma) e os índices de interpretação

correta nos testes de eficiência aplicados no presente trabalho;

• Com base nos resultados obtidos nos testes de eficiência, pode-se afirmar que a

metodologia proposta na presente pesquisa apresenta-se viável. Além disso, esta metodologia

pode ser estendida para a construção de simbolismos cartográficos dos mais variados temas.

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217

Entretanto, deve-se estabelecer um equilíbrio entre a criação de novos símbolos cartográficos e o

aproveitamento de simbolismos de uso corrente entre os mais variados consulentes;

• Não se pode negar o advento da informática e automação, responsáveis por rápidas e

consideráveis mudanças técnicas na linguagem cartográfica (mapas digitais). Desse modo, deve-

se adaptar para a realidade computacional atual, os conceitos advindos da Gestalt e Semiologia

Gráfica.

Como sugestões para a continuação da pesquisa, propõe-se os itens abaixo discriminados:

• Discorrer mais profundamente sobre a Semiótica de Charles Sanders Peirce, cujos

preceitos estruturam-se sobre a Filosofia e a Lógica. Além disso, vale ressaltar a necessidade de

maior aprofundamento teórico e prático nas áreas de Psicologia Perceptual da Forma/Gestalt e

Semiologia Gráfica concebida por Jacques Bertin;

• Aplicação de cores nos simbolismos. Como já explicitado na presente dissertação, esta

variável é a mais complexa e a de mais delicado tratamento. Desse modo, considerou-se mais

prudente sua manipulação em trabalhos futuros;

• Ampliação na amostragem e na complexidade dos testes de eficiência com o objetivo de

se corroborar a viabilidade na metodologia de criação de simbolismos cartográficos proposta na

presente dissertação.

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218

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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