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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    INSTITUTO DE ECONOMIA - IE

    Relatrio Tcnico Final

    Projeto: Medindo o Grau de Averso

    Desigualdade da Populao Brasileira Atravs dos

    Resultados do Bolsa-Famlia

    Convnio FINEP 01.06.1064.00

    Rio de Janeiro, 19 de dezembro de 2012

  • COORDENAO GERAL

    Lena Lavinas (IE-UFRJ)

    PESQUISADORES SENIORS

    Brbara Cobo (IE-UFRJ)

    Alinne Veiga (UERJ)

    Fbio Waltenberg (UFF)

    ASSISTNCIA GESTO

    Juliana Fajardo

    DOUTORANDA

    Yasmn Salazar (UFF)

    MESTRANDA

    Thais Babosa (IE-UFRJ)

    ESTAGIRIA

    Tatiana Ferro (IE-UFRJ)

    APOIO

    Max Hubert Merlone (IE-UFRJ)

    Carolina Guimares (IE-UFRJ)

  • Lista de Figuras

    Figura 1 Carto para Auxlio na Coleta dos Dados ................................................ 30

    Figura 2 Mtodo utilizado para clculo e alocao probabilstica das unidades amostrais ................................................................................................................... 33

    Figura 3 Coleta de Dados....................................................................................... 37

    Figura 4 Sntese esquemtica dos determinantes do apoio redistribuio ......... 85

    Lista de grficos

    Grfico 1 Evoluo dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011 .............................. 15

    Grfico 2 Taxa de desocupao de 10 anos ou mais idade por sexo .................... 17

    Grfico 3 Distribuio das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de emprego .................................................................................................................................. 17

    Grfico 4 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por sexo (%) - Brasil 2012 ............................................................................................................. 42

    Grfico 5 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por grupos de idade (%) Brasil - 2012 .......................................................................................... 43

    Grfico 6 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por cor ou raa (%) Brasil - 2012 ..................................................................................................... 44

    Grfico 7 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por religio declarada (%) Brasil - 2012 .................................................................................... 45

    Grfico 8 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade que declarou ter alguma religio, segundo a prtica da mesma (%) Brasil 2012 ........................... 45

    Grfico 9 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por nvel de ensino concludo (%) Brasil - 2012 ......................................................................... 46

    Grfico 10 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por exerccio de trabalho remunerado (%) Brasil 2012 .................................................................. 47

    Grfico 11 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por posio na ocupao do trabalho principal (%) Brasil 2012 .................................................. 48

    Grfico 12 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade, ocupada, por classes de rendimento mensal do trabalho principal (%) Brasil 2012 .................. 49

    Grfico 13 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade que no exerceram trabalho remunerado na semana de referncia por principal atividade exercida (%) Brasil 2012 ..................................................................................... 49

  • Grfico 14 Distribuio da populao de 16 anos ou mais de idade por classes de rendimento mensal bruto familiar (%) Brasil 2012 .............................................. 51

    Grfico 15 Proporo de pessoas de 16 anos ou mais de idade que contribuam para a Previdncia Social pblica, que recebiam rendimentos de aposentadoria ou penso ou eram beneficirias de programas de transferncia de renda (%) Brasil 2012 .......................................................................................................................... 51

    Grfico 16 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfao com a vida, segundo o sexo (%) Brasil 2012 ........................ 52

    Grfico 17 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que percebiam a situao da sua famlia, segundo o sexo (%) Brasil 2012 .......................................................................................................................... 54

    Grfico 18 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com a afirmao "tem gente que permanece pobre principalmente porque no tem oportunidades na vida", segundo o sexo (%) Brasil

    2012 ....................................................................................................................... 56

    Grfico 19 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (%) Brasil 2012 ............. 58

    Grfico 20 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio com foco nos programas e polticas sociais em vigor (%) Brasil 2012 ........................................................... 64

    Grfico 21 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (outras opinies) (%) Brasil

    2012 ....................................................................................................................... 67

    Grfico 22 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com as afirmativas quanto definio do salrio (%) - Brasil 2012 .......................................................................................................................... 70

    Grfico 23 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por avaliao de sua situao econmica atual Brasil 2012 ..................................... 72

    Grfico 24 Efeito da Idade na mudana das probabilidades estimadas V18 .... 106

    Grfico 24.1 Efeito da Idade na mudana das probabilidades estimadas V18 .. 109

    Grfico 25 ndice de Apoio a medidas de combate a pobreza e desigualdade de distribuio de renda realizadas pelo Estado: Histograma suavizado ..................... 111

    Grfico 26 Efeito da varivel Idade por Regio Geogrfica - Focalizao ........... 116

    Grfico 27 Efeito da varivel Idade por Regio Geogrfica Progressividade .... 116

    Grfico 28 ndice de apoio a polticas universalistas: Histograma suavizado....... 117

    Grfico 29 Efeito da varivel V1 por Regio Geogrfica - O governo deve intervir para reduzir as desigualdades entre ricos e pobres. ............................................... 119

    Grfico 30 Efeito da varivel V21 por Regio Geogrfica - Se o governo quiser, tem meios de erradicar a misria no Brasil ............................................................. 120

  • Grfico 31 ndice de apoio redistribuio: histograma com suavizao e curva normal sobreposta ................................................................................................... 125

    Lista de Tabelas

    Tabela 1 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (percentuais, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar per capita) .................................................................................................................................. 18

    Tabela 2 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-2011 (nmeros absolutos, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar per capita) ....................................................................................................................... 19

    Tabela 3 Evoluo da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada Quintil da Distribuio. ............................................................................................................... 21

    Tabela 4 Alocao da Amostra .............................................................................. 35

    Tabela 5 Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 38

    Tabela 6 Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regies do respondente e estimativa do erro amostral .............................................................. 39

    Tabela 7 Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etria do respondente e estimativa do erro amostral ....................................................................................... 39

    Tabela 8 Totais amostrais e populacionais, segundo classes de rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral .......................................................... 39

    Tabela 9 Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do respondente, populao estimada referente e estimativa do erro amostral .............. 40

    Tabela 10 Pesos de expanso (wh) populacional por sexo, faixa de idade e regio geogrfica.................................................................................................................. 41

    Tabela 11 Nmero de entrevistas realizadas nos estratos de determinao das cotas (Tamcota) ........................................................................................................ 41

    Tabela 12 Populao por sexo, faixa de idade e regio geogrfica (CENSO 2010) Em milhes de habitantes (PopBr) ......................................................................... 41

    Tabela 13 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de satisfao com a vida, segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 .............................................................. 53

    Tabela 14 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade pela maneira que viam a situao da sua famlia, segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 ............................................ 55

    Tabela 15 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por grau de concordncia com a afirmao "tem gente que permanece pobre principalmente porque no tem oportunidades na vida", segundo Grandes Regies, classes de rendimento familiar e nvel de escolaridade (%) 2012 .......................... 57

  • Tabela 16 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio, segundo Grandes Regies (%) 2012 ................................................................................................................. 60

    Tabela 17 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio, com foco nos programas e polticas sociais em vigor, segundo Grandes Regies (%) 2012 ............................ 66

    Tabela 18 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas de apoio polticas de carter redistributivo e papel ativo do Estado na redistribuio (outras opinies), segundo Grandes Regies (a) 2012 ..................................................................................... 69

    Tabela 19 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade por total concordncia (escala 5) com as afirmativas quanto definio do salrio, segundo Grandes Regies 2012 ............................................................................ 71

    Tabela 20 Distribuio percentual das pessoas de 16 anos ou mais de idade de acordo com sua percepo sobre sua situao econmica atual, segundo Grandes Regies 2012 ......................................................................................................... 73

    Tabela 21 Variveis escolhidas para compor a anlise dos determinantes do apoio interveno do Estado no combate pobreza e na defesa de direitos sem condicionalidades ...................................................................................................... 97

    Tabela 22 Modelagem Logit e Probit V2 ......................................................... 101

    Tabela 23 Perfis com base nas probabilidades estimadas V2 ........................ 103

    Tabela 24 Modelagem Logit e Probit V18 ........................................................ 104

    Tabela 25 Perfis com base nas probabilidades estimadas V18 ...................... 106

    Tabela 26 Perfis com base nas probabilidades estimadas V18 ...................... 108

    Tabela 27 Dois Modelos para ndice de Apoio s Medidas do Estado: Focalizao e Progressividade .................................................................................................... 113

    Tabela 28 Estatsticas descritivas bsicas variveis do modelo ....................... 118

    Tabela 29 Variveis escolhidas para compor o ndice de apoio redistribuio (ARi) ........................................................................................................................ 122

    Tabela 30 Correlao entre variveis candidatas a compor ndice de apoio redistribuio. .......................................................................................................... 123

    Tabela 31 ndice de apoio redistribuio: estatsticas descritivas bsicas ....... 124

    Tabela 32 Variveis explicativas binrias, discretas ou contnuas: estatsticas descritivas. .............................................................................................................. 127

    Tabela 33 Variveis explicativas categricas: estatsticas descritivas. .............. 128

    Tabela 34 Resultados das estimativas (Continua) ............................................. 132

    Tabela 34.1 Resultados das estimativas (Continua) .......................................... 133

    Tabela 34.2 Resultados das estimativas (Fim) .................................................... 135

  • Tabela 4.1. Modelagem Logit e Probit V2 ............................................................ 183

    Tabela 4.2. Modelagem Logit e Probit V18 .......................................................... 183

    Tabela 4.3. Modelagem Probit Ordenado ............................................................... 184

  • SUMRIO

    SUMRIO-EXECUTIVO ........................................................................................... 13

    INTRODUO .......................................................................................................... 12

    O desafio das desigualdades no topo das agendas .................................................. 12

    1. Metodologia da pesquisa ............................................................................... 28

    1.1. O questionrio ................................................................................................... 28

    1.2. O plano amostral ............................................................................................... 32

    1.3. A coleta de dados ............................................................................................. 36

    1.4. Detalhamento da amostra ................................................................................. 38

    1.5. Ponderao da amostra e erros amostrais ....................................................... 40

    2. Anlise Descritiva dos Resultados do Survey ................................................. 42

    2.1. Universo da pesquisa ....................................................................................... 42

    2.2. Grau de Satisfao com a Vida Presente - Blocos S e X ................................. 52

    2.3. Tendncia a no apoiar ou apoiar redistribuio - Bloco V (V1 a V10) ............. 57

    2.4. Programas Sociais - Bloco V (V11 a V22) ........................................................ 61

    2.5. Outras opinies - Bloco V (V23 a V26) ............................................................. 66

    2.6. Meritocracia, responsabilidades e necessidades - Bloco O (O1 a O5) ............. 69

    2.7. Mobilidade social - Bloco M (M1 a M4) ............................................................. 71

    3. Apoio Redistribuio: resultados do Survey brasileiro................................ 75

    3.1. Introduo ......................................................................................................... 75

    3.3. Diretrizes para anlise economtrica de apoio redistribuio ........................ 87

    3.4. Anlise economtrica: metodologia geral ......................................................... 90

    3.5. Apoio redistribuio atravs da construo de perfis socioeconmicos via estimao por probit ordenado .................................................................................. 96

    3.6. Modelagem por MQO: ndice composto para o apoio s aes do Estado e defesa de poltica universais ................................................................................... 109

    3.7. ndice composto de apoio redistribuio (AR) e estimao por MQO .......... 122

    4. CONSIDERAES FINAIS ................................................................................ 136

  • ANEXOS ................................................................................................................. 141

    Anexo 1: Questionrio ............................................................................................. 142

    Anexo 2: Manual da Entrevista ................................................................................ 148

    Anexo 3: Relatrios da Overview Pesquisa ............................................................ 158

    Anexo 3.1: Relatrio de Avaliao do Preteste ...................................................... 159

    Anexo 3.2: Plano Amostral ...................................................................................... 170

    Anexo 3.3: Relatrio de Campo .............................................................................. 179

    Anexo 4: Tabelas do Captulo 3 .............................................................................. 183

    BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 185

  • SUMRIO-EXECUTIVO

    1. O survey

    nacional, teve por objetivo apreender a percepo da populao brasileira adulta,

    de 16 anos ou mais, sobre a recente reduo da misria, da pobreza e da

    desigualdade no pas. imagem de outras pesquisas internacionais similares,

    esta pesquisa tratou do tema a partir da concordncia ou discordncia com um

    conjunto de valores consagrados na literatura sobre bem-estar, poltica social e

    polticas pblicas em geral, como favorveis redistribuio e igualdade. Tais

    valores foram estruturados em 4 grandes temas: apoio a polticas universais; ao

    papel do governo no combate s desigualdades e na promoo do bem-estar;

    progressividade do sistema tributrio; ao reconhecimento do direito, em caso de

    necessidade, proteo de forma incondicional.

    2. O questionrio contemplou um total de 54 perguntas fechadas, subdivididas em

    oito mdulos que representam as dimenses tratadas pela pesquisa: i) Satisfao

    com a vida; ii) Tendncia a apoiar ou no a redistribuio; iii) Programas sociais;

    iv) Outras opinies; v) Pobreza e desigualdade; vi) Princpio da igualdade; vii)

    Mobilidade social; e viii) Demografia e variveis de autointeresse.

    3. Estudos e pesquisas internacionais na temtica de averso desigualdade

    orientaram a construo do questionrio, que adotou como forma de resposta s

    perguntas um gradiente variando de 1 a 5, que reflete o nvel de concordncia (

    afirmao direita do questionrio) a princpios mais igualitrios, redistributivos e

    universais.

    Os trs nveis intermedirios traduzem graus diferenciados de adeso ou rejeio

    s ideias formuladas, ou de indiferena.

    4. Foram realizadas cerca de 2.200 entrevistas, sendo garantida representatividade

    nacional. De acordo com o plano amostral, o processo de seleo foi realizado

    em 3 estgios, envolvendo (i) seleo de 12 Unidades de Federao (UPA); (ii)

    seleo de 36 municpios (USA) oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12

  • capitais; e (iii) indivduos selecionados de forma sistemtica, seguindo uma

    abordagem intencional, para adequao e cobertura de uma tabela de cotas

    proporcionais de sexo e quatro faixas de idade.

    5. A anlise descritiva delineou o perfil do universo da pesquisa realizada e indicou

    os primeiros resultados sobre as questes propostas. A populao adulta em

    idade ativa era maioria (63,7% de pessoas entre 25 e 59 anos); quase 60% eram

    pretas ou pardas; 44% tinham o ensino mdio completo; e 73,2% estavam

    ocupadas no mercado de trabalho (42% empregados com carteira e 29,3%

    autnomos). No trabalho principal, 44% percebiam rendimentos de at R$1.000

    (71,1% at R$2.000) e a renda familiar bruta da maioria tambm girava em torno

    desses valores (51,2% at R$2.000). O grau de insero no sistema de proteo

    social era relativamente elevado, uma vez que 49,7% contribuam para

    Previdncia Social oficial; 20,6% tinham rendimentos de aposentadoria ou penso

    e 10,9% eram beneficirios de algum programa de transferncia de renda.

    6. A anlise descritiva mostrou que as regies mais pobres do Norte e Nordeste,

    com renda domiciliar per capita inferior mdia nacional, tendem a apoiar mais

    medidas de carter redistributivo do que as demais, que tm renda mais alta. O

    brasileiro mdio julga relevante o papel do governo na reduo das desigualdades

    entre ricos e pobres e na garantia do bem-estar das pessoas, e reconhece que a

    distribuio de renda, a despeito dos progressos observados, segue preocupante

    no pas. Por fim, mais da metade estava absolutamente satisfeita com a vida

    afirmaram que sua situao econmica no s melhorou nos anos recentes,

    como mostraram-se otimistas, com expectativas muito favorveis de que ela

    melhorar ainda mais nos prximos cinco anos. Os brasileiros do Norte e

    Nordeste so os mais otimistas. A insatisfao aumenta medida que cai a renda

    e a escolaridade.

    7. As razes da pobreza dividem a populao brasileira: 23% concordaram

    totalmente que as pessoas permanecem na pobreza principalmente por falta de

    oportunidades, 24,4% mostraram- em

    total desacordo (logo, viam a permanncia da pobreza mais por uma perspectiva

  • de esforo individual do que as mulheres. Mas predomina a viso de que pobreza

    falta de esforo individual, viso que responsabiliza em primeiro lugar os

    prprios pobres por sua condio social.

    8. Da mesma maneira, a populao est francamente dividida no que tange o apoio

    a um aumento do valor do benefcio do Bolsa Famlia, embora a maioria julgue

    que ele baixo e por isso pouco contribui para retirar gente da pobreza (s 16%

    acreditam que o Bolsa Famlia eficaz e elimina a pobreza): 42% aprovam um

    aumento e outros 42%, desaprovam. Porm, 73,2% dos brasileiros adultos

    defendem a manuteno do BF.

    9. Posies contraditrias expressam-se: cerca de 63% dos brasileiros julgam que

    educao e sade devem ser bens pblicos e universais, porm percentual

    semelhante desaprova a ideia de pagar mais impostos para ter mais sade e mais

    educao gratuitas e de qualidade. Em paralelo, 1/3 da populao adulta

    brasileira acredita que o servio pblico deve destinar-se aos menos favorecidos

    na sociedade, o que pressupe a proviso de servios em escopo e qualidade

    limitados. Portanto, quem pode paga e quem no pode ganha um servio pblico

    ruim, de segunda linha.

    10. De fato, o brasileiro mdio no se mostra propenso a apoiar polticas universais.

    Ao contrrio, generalizada a aprovao da focalizao nas polticas de

    transferncia de renda no combate pobreza. Ademais, esse mesmo cidado

    tende a apoiar majoritariamente as condicionalidades impostas aos beneficirios

    de programas como o Bolsa Famlia, o que significa no compartilhar da ideia de

    que pobres e indigentes devem ser auxiliados de forma incondicional e

    permanente, na base em um direito assegurado constitucionalmente. Mostra-se

    pois, apesar da queda constante da fecundidade em todas as classes de renda,

    inclusive entre os grupos mais desfavorecidos, cr que as mulheres pobres ho

    de querer ter mais filhos para aumentar o valor dos benefcios recebidos por

    criana.

  • 11. Posicionamentos contraditrios emanam mais uma vez das opinies coletadas:

    61,9% aprovam a manuteno do piso das aposentadorias do INSS no valor de

    um salrio mnimo, o que indica que a maioria da populao brasileira defende

    uma poltica redistributiva que apoia o bem-estar na velhice. Ou seja, a

    redistribuio ao longo do ciclo de vida para os que contriburam massivamente

    aprovada.

    12. Valores meritocrticos so francamente compartilhados pela populao: 81,9%

    tendem a concordar que o salrio seja funo da qualidade do resultado do

    trabalho, e 80,9%, que seja decorrente do grau de responsabilidade na execuo

    do mesmo. Nesse item, a populao brasileira no expressa clivagens.

    13. As anlises economtricas validaram muitos desses resultados, com a vantagem

    de control-los por uma srie de variveis e confront-los com as hipteses

    iniciais da pesquisa de defesa das polticas universais, reconhecimento do papel

    relevante e insubstituvel do Estado, reconhecimento do direito de obter renda

    compensatria por todos que sofrem privaes e de adeso ao princpio da

    progressividade. Foram testados vrios modelos a partir de metodologias

    distintas. A significncia de relaes multivariadas foi examinada buscando

    identificar perfis de grupos de pessoas com maior ou menor tendncia a apoiar

    medidas redistributivas.

    14. No que tange o reconhecimento do papel do Estado na proviso de bem-estar,

    notam-se efeitos significativos da renda familiar e das regies geogrficas nos

    resultados: indivduos com faixas de renda familiar mais baixas (inferior a R$

    3.000 mensais) so mais propensos a ver no Estado um agente de promoo de

    mais igualdade, tal como ocorre com os indivduos no Sudeste, Nordeste e Norte.

    Atente-se que os maiores coeficientes de apoio interveno do Estado foram

    registrados para os grupos de menor renda e regies menos desenvolvidas. Ou

    seja, quanto maior a renda, menor o apoio interveno do Estado em prol da

    redistribuio. Temos, portanto, uma viso de classe claramente manifesta.

  • 15. Por outro lado, aqueles que acreditam que a pobreza causada por falta de

    esforo tendem a ser menos favorveis interveno do Estado para dirimir

    desigualdades e atenuar a misria.

    16.

    portanto, os

    mais contrrios aplicao de condicionalidades so: homem, preto ou pardo,

    morador das regies Sul e Sudeste. J o contrrio, os que mais apoiam as

    condicionalidades so: mulher; branca; vivendo no Norte-Nordeste. De qualquer

    forma importante realar que a tendncia que predomina (para ambos os

    grupos) de apoio exigncia das contrapartidas e condicionalidades para

    pagamento dos benefcios do Bolsa Famlia. Os indivduos de negros ou pardos

    so o nico grupo da categoria cor/raa que se mostra contrrio a adoo de

    condicionalidades.

    17. O brasileiro no apoiaria substituir a transferncia de renda condicionada por

    uma renda de igual valor, a ser paga uniforme e igualmente a todos os cidados,

    embora o Brasil seja nico pas do mundo a ter uma lei em vigor para garantia de

    uma renda de cidadania.

    18. A modelagem para construo do ndice de apoio s aes do Estado na

    proviso de bem-estar evidenciou que a viso predominante percebe o pblico-

    o com o Estado - o que

    inviabiliza o apoio a polticas de carter universal, em favor da manuteno de

    intervenes focalizadas, seletivas e residuais, sujeitas a controles e ao bom

    comportamento dos pobres. Observa-se que o apoio a polticas pblicas de

    combate pobreza condicionado ao exerccio compulsrio de determinadas

    prticas por parte dos beneficirios, em lugar de ser entendido como um direito de

    cidadania.

    19. Os resultados economtricos indicam tambm que o brasileiro mdio aprova o

    princpio da progressividade: quanto maior sua propenso a pagar impostos para

    usufruir de mais sade e educao pblicas, maior o reconhecimento que

  • expressa no papel relevante do Estado na condio de promotor do bem-estar

    social coletivo.

    20. Quanto mais velhos os brasileiros, menos parecem aprovar medidas universais

    e mais tendem a apoiar condicionalidades e controles.

    21. Brasileiros com nvel de escolaridade superior so mais propensos a apoiar

    polticas universais e redistributivas.

    22. O brasileiro mdio mostra-se a favor do financiamento do bem comum e da

    promoo da coeso social (no sentido de que apoiam o princpio da

    progressividade), porm, tal esforo coletivo, em conformidade com a capacidade

    financeira de cada um, no deve pavimentar a via da universalidade e da

    redistribuio ampla e incondicional no acesso a direitos, seno assegurar uma

    interveno residual e focalizada por parte do Estado.

    23. Ao final, um modelo mais abrangente e geral de apoio redistribuio foi

    construdo de forma a avaliar seus determinantes. O exerccio de agregar

    continuamente variveis e testar seus resultados foi importante para concluir que,

    utilizando o conjunto de variveis mais comumente encontrado na literatura,

    mostram-se relevantes os coeficientes associados a mulher, negro, Nordeste,

    Norte e Sudeste; os parmetros referentes a religio esprita/umbanda/outras

    religies; as variveis clssicas de pobreza associada falta de oportunidades e

    de conhecimento de beneficirio de transferncia de renda; e a varivel indicativa

    de meritocracia na remunerao. Mais uma vez, os resultados mostraram que a

    populao brasileira mostra-se contrria a um desenho de poltica que garanta

    uma renda universal e incondicional de igual valor a todos os brasileiros.

    24. Resumidamente, o cidado brasileiro mdio mostra-se favorvel interveno

    do Estado na promoo do bem-estar, reconhece nele papel de destaque na

    superao da pobreza e da desigualdade, mas no se mostra comprometido com

    uma proviso pblica universal. Reconhece que o valor da linha de indigncia

    adotada no Bolsa Famlia baixa, tal como pequeno o valor do benefcio mdio

    assegurado s famlias beneficirias, julga que o Estado poderia acabar com a

    misria se assim o desejasse, porm no aprova que os mais pobres e menos

  • favorecidos sejam tratados de forma igual, com base em direitos. Logo, a

    cooperao e o apoio na necessidade no constituem, aos olhos da maioria dos

    brasileiros, direito inalienvel a ser assegurado, dissociado de qualquer outro

    critrio. Isso denota uma sociedade, onde as preferncias sociais existentes

    indicam baixo nvel de coeso social e solidariedade.

    25. Embora no tenha sido possvel construir e estimar um ndice nico do grau de

    averso desigualdade, tarefa que pretendemos desenvolver nos artigos futuros

    que sero subproduto desta pesquisa, podemos desde j indicar que: a

    preferncia por polticas universais baixa entre ns; mostram-se mais favorveis

    interveno do Estados para fins de redistribuio os grupos de menor renda,

    vivendo nas regies mais pobres, mas so tambm eles os mais propensos a

    apoiar condicionalidades e controles ou polticas seletivas que dividem a

    populao entre os necessitados e os demais. Somente os negros e pardos so

    contrrios adoo de condicionalidades. O apoio progressividade no implica

    automaticamente a defesa de polticas pblicas e universais; apoiar o Estado e

    reconhecer seu papel relevante na luta contra a pobreza, a desigualdade e a

    misria tampouco implica na prevalncia de preferncias sociais universalistas e

    onde valores de justia social e igualdade so dominantes.

    26. O apoio redistribuio mostra-se, portanto, no apenas condicionado, mas

    restrito.

  • 12

    INTRODUO

    O desafio das desigualdades no topo das agendas1

    A segunda dcada do sculo XXI reformatou os termos do debate social em

    escala global, trazendo tona o espectro bem conhecido do maior de nossos males,

    seja na Amrica Latina, seja no Brasil: a desigualdade, cujo recrudescimento avana

    em marcha acelerada. A recesso que se seguiu, em muitos pases, crise de

    2008, revelou a magnitude daquilo que muitos j apontavam como uma das

    consequncias mais nefastas de dcadas de desregulamentao financeira,

    globalizao sem controles, flexibilizao do emprego e dos salrios, supresso do

    piso mnimo de remunerao, reduo do tamanho e das funes do Estado, corte

    do gasto pblico e mudana na estrutura do gasto, juntamente com reformas

    estruturais e privatizantes dos sistemas de proteo social e uma poltica fiscal que

    promove a competitividade com corte de impostos, desonerao dos custos do

    trabalho e mais regressividade. Todos esses fatores conjugados num novo modelo

    de acumulao aprofundaram o fosso social, reduziram oportunidades,

    enfraqueceram valores universais e passaram a premiar o individualismo

    desenfreado. A sociedade que emerge desse processo parece enxergar o mrito por

    1 Este captulo contou com a preciosa colaborao da assistente de pesquisa, Tatiana Matos, estudante na graduao do IE-UFRJ, responsvel pela elaborao de grficos e tabelas, a quem agradecemos. E tambm com a igualmente valiosa colaborao da economista Thais Barbosa, mestranda do PPED-IE/UFRJ, na construo dos dados oriundos da PNAD.

  • 13

    lentes que distorcem quase tudo, exceto cifras e sinais de grande riqueza, que se

    tornam, assim, e dramaticamente, a expresso do valor intrnseco de cada um.

    Esse processo de reproduo de um novo padro de desigualdade, cuja

    inrcia mostra-se alheia a valores coletivos de solidariedade, domina hoje o debate

    internacional tanto na seara poltica quanto acadmica. A desigualdade ocupa as

    manchetes da grande imprensa, perpassa todos os noticirios e o tema recorrente

    de grande nmero de livros recm-publicados, todos voltados para demonstrar por

    que uma sociedade dividida compromete o futuro (Stiglitz, 2012) e destri a coeso

    social, fator indispensvel ao bom funcionamento do capitalismo e sua expanso.

    Foi justamente a prpria dinmica instvel e destrutiva do capitalismo que levou ao

    surgimento e enraizamento do Estado do Bem-estar, que se tornou no sculo XX

    uma de suas mais estveis e efetivas instituies.

    A severidade do processo de polarizao social ora em curso nos Estados

    Unidos e em grande parte das democracias ocidentais parece indicar que o

    capitalismo do bem-estar (welfare capitalism) agoniza l onde se consolidou,

    algumas poucas excees parte2. Essa disfuno ao invs de ser corrigida pelas

    polticas pblicas, como ocorria na fase do ps Segunda Grande Guerra, passou a

    ser retroalimentada pela apropriao da poltica e dos governos pelas novas elites

    financeiras e pelas corporaes (Hacker & Pierson, 2010), cuja organizao de

    interesses se profissionaliza e passa a comandar o processo de tomada de deciso

    na esfera pblica. Como definem Hacker & Pierson, medida que se edifica a

    sociedade dos vencedores que levam tudo (a winner-take-all-society, expresso

    cunhada por Frank & Cook, 1996) faz-se indispensvel formatar tambm o processo

    poltico que propicia aos vencedores e poderosos ficarem efetivamente com tudo

    (winner-take-all politics). ali que se estabelecem as regras de como o mercado vai

    funcionar para reproduzir vantagens e privilgios, concentrar renda, riqueza e poder.

    Ou como enfatiza Krugman (2009, op. cit Wilkinson and Pickett, 2010), no foram

    nas instituies, nas n

    2 Modelo da flexsecurity dinamarqus, e demais sistemas de proteo social dos pases escandinavos.

  • 14

    Frente a esse quadro de evidente e profunda deteriorao socioeconmica e

    cvica, expressa no apenas na elevao brutal das taxas de desemprego, da

    pobreza e do nmero de sem teto, na reduo da renda mdia, no aumento da

    desproteo, na progresso dos ndices de Gini e na parcela crescente da renda

    nacional apropriada pelos que se encontram no topo mais alto da distribuio3, o

    Brasil destaca-se pela sua excepcionalidade. E com ele, a Amrica Latina como um

    todo4, une fois nest pas coutme!

    O sculo XXI parece abrir-se com a redeno daquilo que sempre nos

    diferenciou e marcou nossa identidade como nao. Assim, o pas de propores

    continentais mais desigual do planeta, na regio que permanece a mais desigual

    (Bastagli F. et alii, 2012) frente s demais, vai na contramo da conjuntura

    internacional danosa e devastadora, e parece, enfim, predisposto a uma trajetria de

    crescimento com reduo das desigualdades e mais incluso social.

    o que mostram os dados das pesquisas domiciliares, como a PNAD

    (Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios), e tambm o ltimo Censo

    Demogrfico. Segundo o IBGE (2012), o ndice de Gini medido pelos rendimentos

    do trabalho caiu de forma significativa e sustentada notadamente a partir de 2006

    (Figura 1), passando de 0,566 em 2001 a 0,501 em 2011. Tal queda da

    desigualdade salarial deu-se em meio elevao dos rendimentos mdios do

    trabalho, que registram aumento em termos reais da ordem de 14,5% no perodo,

    como indica o mesmo grfico.

    3 Atkinson, Piketty & Saez (2011) demonstram que, nos Estados Unidos, os 10% mais ricos da populao passaram a controlar praticamente 50% da renda nacional em 2007, magnitude essa jamais observada em qualquer ano anterior da srie que tem incio em 1917. Do imediato ps Segunda Guerra at o incio dos anos 80, logo, por mais de 30 anos, essa proporo sempre se manteve abaixo de 35%. Eles revelam ainda que tal distoro se explica pela altssima concentrao que passa a ter lugar no topo da distribuio: enquanto o 1% mais rico, que detinha 8,9% da renda em 1976, passa a apropriar-se de 23,5% em 2007, o 0,1% dos extremamente ricos multiplicam por 4 sua participao na renda nacional no mesmo perodo, abocanhando 12,3% dela em 2007, contra 2,6% em 1976.

    4 Ver a este repeito CEPAL 2011, Panorama Social da Amrica Latina 2011, Santiago do Chile.

  • 15

    Grfico 1 Evoluo dos Rendimentos do Trabalho 2001-2011

    Os Grficos 2 e 3 confirmam ter havido igualmente uma diminuio

    importante das taxas de desemprego e de informalidade desde meados da dcada

    passada, o que significa que, de fato, o mercado de trabalho atuou favoravelmente

    na reduo das desigualdades. Deu-se o contrrio, por exemplo, nos Estados

    Unidos e no Reino Unido, onde a desigualdade se reflete primeiramente na

    polarizao dos salrios, no corrigida, nem compensada a posteriori por

    transferncias fiscais ou pela tributao (Wilkinson & Pickett, 2010; Hacker &

    Pierson, 2010; Stiglitz, 2012).

    Assim, no Brasil, a taxa de desocupao retorna, em 2011, a nveis

    semelhantes aos de 1993 (Grfico 2), embora as mulheres no tenham sido to

    contempladas nessa dinmica como os homens (a taxa de desocupao feminina

    segue mais elevada em 2011 do que em 1993, enquanto a masculina a menor da

    srie). Da mesma maneira, observa-se uma reverso de tendncia no que tange a

    informalizao do mercado de trabalho, com o emprego formal5 tornando-se

    majoritrio entre os ocupados a partir de 2006 (Grfico 3). Segundo dados do

    5 O IBGE considera como formais os ocupados assalariados com carteira de trabalho, os servidores e militares.

  • 16

    CAGED6, o saldo de criao de empregos formais entre 2003 e 2011 supera 12

    milhes de postos de trabalho, um recorde (Lavinas, 2012). Chama ateno no

    Grfico 3, a progresso acentuada do emprego formal desde 2007: representa

    52,2% da ocupao em 2011 contra 40% nos anos 90.

    Igualmente relevante constatar a forte retrao do trabalho no-

    remunerado na fase recente. Ele se manteve, ao longo da dcada de 90, em

    patamares invariavelmente superiores a 13%. Contudo, com a retomada do

    crescimento e o surgimento de novas oportunidades de emprego remunerado nos

    anos 2000, recua para ficar abaixo de 7% em 2011. Um dos fatores que muito

    contribuiu para esse declnio foi provavelmente a perda de importncia do trabalho

    infantil, j que costuma ser expressivo o peso das crianas e adolescentes em

    atividades no-remuneradas. Dados do IBGE indicam que a taxa de atividade dos

    menores na faixa 10-15 anos cai pela metade entre 2001 e 2011, passando de 16%

    para 8,9%7. Em termos absolutos, deixaram o mercado de trabalho nesse perodo

    1,4 milho de crianas e jovens.

    A recuperao econmica com aumento da oferta de empregos de

    qualidade (protegidos pelo seguro social) refletiu-se igualmente na variao negativa

    do nmero absoluto e da proporo de pobres e indigentes na sociedade brasileira,

    reduzindo sua participao a nveis antes desconhecidos. A Tabela 1 mostra a

    magnitude da retrao da pobreza e da misria no Brasil, considerando-se como

    linhas de pobreza e indigncia, respectivamente, aquelas adotadas pelo Programa

    Bolsa Famlia. Embora o pas ainda carea de uma linha oficial, essas tm sido

    utilizadas para informar as polticas pblicas do governo no enfrentamento da

    destituio aguda e so, por isso mesmo, o parmetro empregado nesta estimativa8.

    6 Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministrio do Trabalho.

    7 Estimativas prprias, rodadas a partir das bases PNAD. Em 2001 havia 3,2 milhes de menores declarados como ativos, nmero que recua para 1,8 milho em 2011.

    8 Para 2011, a linha de indigncia utilizada foi R$ 70,00 para a renda familiar per capita. No caso da pobreza, o valor foi o intervalo entre R$ 70,01 e R$ 140,00. Para os anos anteriores usaram-se os valores correntes ento vigentes.

  • 17

    Grfico 2 Taxa de desocupao de 10 anos ou mais idade por sexo

    Grfico 3 Distribuio das pessoas de 10 anos ou mais por categoria de

    emprego

    A partir da construo da renda domiciliar per capita, a PNAD autoriza uma

    decomposio da mesma, segundo as trs fontes de rendimentos que a compem,

    a saber i) rendimentos do trabalho remunerado, ii) rendimentos oriundos do

  • 18

    recebimento de aposentadorias e penses e iii) rendimentos provenientes de outras

    fontes9 que, no caso das pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, indicam muito

    provavelmente que se trata dos benefcios assistenciais recebidos no mbito dos

    programas condicionados de transferncia de renda. Trata-se, portanto, de verificar,

    considerando-se apenas os rendimentos do trabalho, - antes das transferncias

    fiscais -, como evolui o percentual de pobres na populao brasileira nessa dcada

    de retomada do crescimento. Em seguida, feito o mesmo exerccio, somando-se

    os rendimentos oriundos de transferncias fiscais, sejam elas contributivas ou

    compensatrias. Isso permite estimar qual a contribuio real de cada tipo de renda

    reduo do nmero de pobres.

    Tabela 1 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-

    2011 (percentuais, segundo origem do rendimento PNADs, renda domiciliar

    per capita)

    BRASIL

    2001 2003 2005 2007 2009 2011

    Pobres

    Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 35.75% 27.68% 20.32% 17.69% 15.49% 10.98%

    Rendimentos do Trabalho + Aposent e Penses 37.01% 29.28% 23.37% 20.51% 18.82% 14.80%

    Apenas Rendimento do Trabalho 47.90% 41.69% 35.16% 32.47% 30.64% 26.34%

    Indigentes

    Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 15.83% 10.79% 6.69% 6.20% 5.36% 4.37%

    Rendimentos do Trabalho + Aposent e Penses 17.28% 12.84% 9.67% 8.92% 8.28% 6.90%

    Apenas Rendimento do Trabalho 28.28% 24.11% 19.73% 18.96% 18.32% 16.99%Fonte: PNAD-IBGE, para os anos enunciados, usando a

    l inha de pobreza e indigncia do BF

    9 trabalho ou na realizao de alguma atividade econmica, nem de aposentadorias e penses. Trata-se de rendas oriundas de aluguis, dividendos, bem como de transferncias compensatrias, de carter no-contributivo.

  • 19

    Tabela 2 Evoluo da proporo de pobres e indigentes no Brasil 2001-

    2011 (nmeros absolutos, segundo origem do rendimento PNADs, renda

    domiciliar per capita)

    BRASIL

    2001 2003 2005 2007 2009 2011

    POBRES

    Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 59,526,291 47,408,501 36,580,530 32,270,862 28,672,014 20,212,411

    Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 61,598,304 50,139,747 42,085,504 37,414,489 34,828,055 27,250,786

    Apenas Rendimento do Trabalho 79,646,007 71,391,102 63,316,316 59,238,488 56,716,531 48,501,002

    INDIGENTES

    Todos os Rendimentos (inclui outras fontes) 26,481,009 18,486,432 12,051,795 11,303,082 9,915,183 8,043,978

    Rendimentos do Trabalho + Aposent e Pensoes 28,810,218 21,980,776 17,409,897 16,276,404 15,320,303 12,701,661

    Apenas Rendimento do Trabalho 47,024,294 41,284,142 35,532,253 34,588,116 33,919,999 31,287,361

    Fonte: PNAD-IBGE para os anos enunciados, usando a linha de pobreza e

    indigncia do BF

    Conforme a Tabela 1, entre 2001 e 2011 o percentual de pobres (renda

    domiciliar per capita entre as linhas de indigncia e pobreza ou no intervalo de

    rendimentos superiores a R$ 70 at R$140 mensais em 2011) cai 40 por cento (de

    47,9% para 26,3%). Em termos absolutos, significa dizer que os rendimentos do

    trabalho por si s no so suficientes para evitar que escapem da pobreza, em

    2011, 48,5 milhes de pessoas, segundo nmeros absolutos dispostos na Tabela 2.

    Esse cenrio era, fato, bem mais dramtico h 10 anos, quando tal montante

    alcanava 79,6 milhes de brasileiros. Portanto - e apesar de ter aumentado a

    populao ativa10 - 31 milhes de pessoas saem da pobreza em uma dcada,

    graas ao impacto do crescimento no desempenho do mercado de trabalho,

    associado recuperao do valor do salrio mnimo11, que registrou aumento real

    na ltima dcada de 93% (para o perodo janeiro de 2001 e maio de 2012).

    Ora se, adicionarmos aos rendimentos do trabalho as transferncias fiscais

    ditas previdencirias (na sua grande maioria, contributivas), vemos que, em 2011,

    elas conseguem reduzir a pobreza em mais 12 pontos percentuais: a participao

    dos pobres cuja renda soma trabalho e benefcios previdencirios cai para 14,8%,

    contra 37,1% em 2001. Mostram-se, portanto, mais eficazes, que em 2001, quando

    10 Segundo a PNAD, a PIA na faixa etria 16 a 64 anos contabilizava 107,8 milhes de pessoas em

    2001 e passa a ter 130,1 milhes em 2011. Em termos percentuais, a variao no perodo foi de 63,1% para 66,6% da populao.

    11 Acerca da centralidade do salrio mnimo, ler Cardoso Jr. J.C. (2012).

  • 20

    contriburam para um declnio da pobreza em 10,8 pontos percentuais. Novamente,

    em termos absolutos, temos que, em 2011, as transferncias previdencirias so

    responsveis por sacar da pobreza 21,2 milhes de pessoas, total esse que era de

    18,1 milhes em 2001 (Tabela 2). Logo, h um ganho efetivo de mais de 3 milhes

    de pessoas levadas para cima da linha de pobreza em 2011 vis a vis 2001,

    considerando-se apenas o efeito aposentadorias e penses sobre os rendimentos

    do trabalho. Tal efeito ampliado reflete os ganhos derivados da vinculao do piso

    previdencirio ao salrio mnimo e demonstra de forma cabal que, apesar de o

    seguro social ser contributivo, o desenho do sistema de proteo social, ao estender

    benefcios a grupos com baixa capacidade contributiva (no caso os rurais), ganha

    em progressividade e promove redistribuio.

    No outro extremo, constatamos que houve tambm uma ampliao do efeito

    das transferncias compensatrias, uma vez que em 2011 elas somam

    positivamente, contribuindo para reduzir a pobreza em mais 4 pontos percentuais,

    contra 1,2 ponto percentual em 2001. Cerca de 7 milhes de pessoas deixam a

    pobreza, em 2011, por fora da criao e expanso da cobertura do Programa Bolsa

    Famlia e de seu escopo, pois passa a incluir categorias beneficirias, inicialmente

    no elegveis. Em 2001, a eficcia das transferncias compensatrias, ainda de

    alcance bem mais modesto, era bem menor (retirou da pobreza 2 milhes de

    pessoas), como mostra a Tabela 2.

    A evoluo da indigncia (renda domiciliar per capi

    em 2011, ou abaixo a cada ano da LI) acompanha a curva de diminuio da

    pobreza, porm registrando maior eficcia por parte das transferncias focalizadas

    (rendimentos de outras fontes): somadas s duas outras fontes de rendimentos

    (mercado de trabalho e rendas previdencirias) estas reduzem o nmero final de

    indigentes em pouco mais de 1/3 em 2011. No caso da pobreza, tal relao de 1/4.

    O balano, por conseguinte, surpreendente e impactante na dcada. Esta

    tem incio com um total de aproximadamente 85,7 milhes de pessoas vivendo na

    pobreza ou na indigncia, e isto representa 50% da populao brasileira em 2001.

  • 21

    Em 10 anos tal proporo cai para 15%, o equivalente a cerca de 28,2 milhes de

    pessoas12.

    Pelo lado da desigualdade medida pela renda domiciliar per capita, o quintil

    mais rico da distribuio ainda detm, em 2011, mais de 50% da renda nacional13

    (Tabela 3). Essa proporo diminui significativamente entre 2001 e 2011, porm sua

    magnitude to elevada ainda surpreende e incomoda. J a parcela da renda

    apropriada pelos 20% mais pobres aumenta de 2,39%, em 2001, para 3,25%, em

    201114 (Tabela 3).

    Tabela 3 Evoluo da Parcela da Renda Nacional Apropriada por Cada

    Quintil da Distribuio.

    BRASIL

    2001 2003 2005 2007 2009 2011

    Apropriaes incluindo a separatriz na classe inferior

    Apropriao da renda pelo 1 quintil 2,39 2,83 2,93 2,93 3,14 3,25

    Apropriao da renda pelo 2 quintil 5,89 5,89 6,45 6,85 7,68 7,57

    Apropriao da renda pelo 3 quintil 10,23 10,76 11,89 12,20 11,89 12,41

    Apropriao da renda pelo 4 quintil 18,38 18,39 18,11 18,48 18,95 19,41

    Apropriao da renda pelo 5 quintil 63,10 62,13 60,62 59,54 58,33 57,36

    Fonte: PNAD-IBGE, para os anos enunciados.

    Trata-se de crescimento a uma taxa expressiva, mas ainda assim em um

    contexto estruturalmente indiferenciado do anterior, pois permanece marcado por

    agudas e constrangedoras assimetrias no controle da renda nacional. No caso, dos

    50% mais pobres, tal variao de 12,78% para 16,34% respectivamente.

    12

    Registre-se aqui o que j conhecido a estimativa de pobres e indigentes derivada da PNAD subestimada em relao produzida pelo Censo, uma vez que a amostra da PNAD no feita para estudos de pobreza e sim de mercado de trabalho. Logo, embora em queda a participao de pobres e indigentes na nossa sociedade deve ser mais elevada.

    13 Vale lembrar que tais medidas de desigualdade consideram apenas a renda declarada, com

    predominncia das rendas do trabalho e no a riqueza. Se ambas fossem computadas conjuntamente o grau de desigualdade seria bem mais elevado.

    14 Renda domiciliar per capita, que soma todos os rendimentos, a saber do trabalho, de

    aposentadorias e penses e de outras fontes, logo compreende transferncias de renda no-contributivas no caso de quem est na cauda da distribuio, e outros tipos de renda originrias de aluguis, ganhos financeiros, etc, medida que se sobe na distribuio. o que podemos chamar de renda pre-tax-and-post monetary transfers (logo, no renda disponvel, uma vez que no se deduzem os impostos diretos e indiretos e taxas que incidem sobre essa renda o correto seria estimar a renda disponvel (post-tax-and-post-monetary-tranfers), mas essa estimativa de difcil elaborao e o IBGE no a calcula por ora.

  • 22

    Entretanto, ao cotejarmos o percentual da renda apropriada pelos 50% mais pobres

    da populao em 2011 com aquele que cabe ao 1% mais rico j que estamos em

    tempos de expresso dos 99% -, constata-se que este grupo ultra-seleto segue

    abocanhando em 2011 ainda 11,75% da renda nacional, contra 13,99% em 2001.

    Pode-se afirmar, portanto, que, apesar de uma inflexo de tendncia, as grandezas

    no variaram significativamente dado nosso cenrio de alta desigualdade.

    O ndice de Gini calculado com base na renda domiciliar per capita segue

    rota de queda, a exemplo do observado no que tange os rendimentos do trabalho, e

    passa de 0,594, em 2001, para 0,529, em 2011. Mas a direo da trajetria no

    deve ocultar a grandeza do desafio frente, de propores hercleas. Estamos

    ainda distantes de um Gini inferior a 0,40015. O Gini calculado para os pases da

    OCDE16, tomando a renda disponvel (ps-transferncias fiscais e incidncia da

    tributao) , ao final da dcada de 2000, de 0,378, contra 0,316 nos anos 70.

    Porm, se considerarmos a renda bruta (antes das transferncias fiscais e da

    incidncia da tributao), o quadro menos alvissareiro: o Gini de fins da dcada de

    2000 para os pases da OCDE de 0,486, j tendo sido de 0,406 em 1970. Ou seja,

    mesmo nos anos ps-crise, de recesso aguda e deteriorao da grande maioria

    dos indicadores sociais e econmicos, com cortes de gastos e agudizao da

    desigualdade, a poltica social em todas as suas dimenses consegue reduzir o Gini

    em um ponto, proeza que no logramos ainda alcanar entre ns. A polarizao

    social mantm-se como a marca do nosso subdesenvolvimento, embora os nmeros

    permitam uma leitura de que estamos convergindo para o padro OCDE, chegando

    quase no grupo dos desenvolvidos.

    A pergunta que se impe, nesse contexto, , portanto, de saber qual a

    percepo que a populao brasileira tem de evoluo recente to favorvel em

    termos de reduo da misria e da pobreza e de declnio da desigualdade, dado, em

    particular, o contexto internacional.

    Essa trajetria genuna e paradoxal nos faz crer que a desigualdade tornou-

    se problema menor entre ns? Como os brasileiros se situam frente s perspectivas

    15 Vale a pena informar que, segundo dados da CEPAL em 2012, somente a Venezuela registra, em 2011, um coeficiente de Gini inferior a 0,400 em todo o continente latino-americano.

    16 Fonte OCDE: http://stats.oecd.org/Index.aspx?QueryId=26068.

  • 23

    futuras de mobilidade social? Julgam-nas asseguradas? E como se posicionam

    quando comparam sua trajetria presente com a passada, de seus pais? Qual sua

    avaliao acerca do Programa Bolsa Famlia como mecanismo de reduo da

    pobreza? Aprovam seu desenho, suas condicionalidades? Como percebem o

    comportamento e o grau de responsabilidade daqueles que no conseguem usufruir

    da conjuntura de crescimento para alavancar-se e deixar para trs uma situao de

    altssima vulnerabilidade? Consideram que se d muito ou pouco aos pobres

    brasileiros? Concordam com o valor do benefcio mdio do Bolsa Famlia? Sonham

    com uma sociedade mais igualitria? O que estariam dispostos a fazer para alcanar

    um grau de bem-estar mais elevado que possa ser compartilhado por todos? Qual o

    grau de averso desigualdade que nos caracteriza? Somos muito tolerantes ou

    pouco tolerantes com a desigualdade? Compartilhamos valores universais ou

    apostamos no sucesso e na retribuio individual?

    Para responder a tantas indagaes, conduzimos nos meses de setembro e

    outubro de 2012 um survey nacional cujo questionrio foi formulado levando em

    considerao os resultados de um outro survey, realizado no mbito desta mesma

    pesquisa, mas em 2008 e limitado cidade do Recife, tendo como pblico-alvo a

    populao beneficiria do Bolsa Famlia. poca, foi implementado um survey

    probabilstico junto a uma amostra representativa de 121 mil famlias, cadastradas

    no Cadnico do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome17 como

    habilitadas a receber o benefcio do Bolsa-Famlia. Destas, 80% eram, de fato,

    beneficirias do Programa (grupo sob interveno), e 20% (grupo controle)

    constituam-se de famlias que foram habilitadas a receber o benefcio, mas que ou

    jamais o receberam ou deixaram de o receber. Isso representava aproximadamente

    500 mil pessoas ou 1/3 dos moradores do Recife naquele ano. Esse primeiro survey

    foi aplicado atravs de um questionrio impresso, de 44 pginas, 10 mdulos e

    aproximadamente 230 questes. As questes contemplaram por vezes todos os

    membros das famlias e por vezes apenas o/a responsvel ou cnjuge.

    Naquela etapa da pesquisa, a finalidade era apreender o que pensavam e

    como se comportavam os mais pobres frente nova institucionalidade da poltica

    17 Relatrio Tcnico Parcial IV - FINEP Medindo o Grau de Averso Desigualdade da Populao

    Brasileira Atravs dos Resultados do Programa Bolsa-Fam

  • 24

    social que passava a reconhec-los como detentores de direitos. Era importante

    conhecer sua avaliao do Programa Bolsa Famlia, identificar se o benefcio

    poderia funcionar como um desincentivo ao trabalho dos adultos vivendo na pobreza

    e se haveria riscos de elevao da taxa de fecundidade no mbito de uma estratgia

    de aumento da renda familiar em funo da presena de mais crianas, que se

    tornariam automaticamente elegveis a mais um benefcio monetrio. Ademais,

    tratava-se ainda de medir a efetiva contribuio do benefcio do Bolsa Famlia

    mitigao da pobreza e da indigncia, bem como estimar a ampliao no grau de

    acessibilidade dessa populao carente s polticas ditas universais, como servios

    de sade, creche e educao, e infraestrutura urbana e de comunicao.

    A segunda etapa da pesquisa, ora em vias de concluso, tem por objetivo

    captar no mais o que pensam os pobres e como vivem, como se processa sua

    participao crescente na sociedade, como reagem a estmulos e como manejam

    uma nova identidade social dada pelo reconhecimento da sua condio de pobreza

    (Simmel, 1998), seno sistematizar a viso que tem a sociedade brasileira no seu

    conjunto dos progressos alcanados e das lacunas persistentes na trajetria traada

    para enfrentar a pobreza e a desigualdade entre ns.

    Vale assinalar que pesquisas empricas que buscam apreender qual a

    percepo da populao sobre as polticas implementadas em seus pases para

    promover a igualdade, reduzir a pobreza e combater a desigualdade tm-se

    multiplicado e formam hoje um acervo relevante e referencial no campo da

    Economia do Bem-estar. Neher18 (2012), por exemplo, recm-publicou os

    resultados de uma pesquisa de cunho internacional, onde compara os determinantes

    a favor da preferncia pela redistribuio entre pases da OECD e pases no-

    OECD. Tal como outros autores repertoriados na introduo da seo 3 deste

    Relatrio, Neher identifica fatores como renda, educao, classe social e crena

    como altamente significantes na determinao de um posicionamento mais ou

    menos favorvel redistribuio. Apoiando-se em Corneo (2002) notadamente,

    18 Em um estudo arrojado Neher reuniu mais de 350 mil observaes para 100 pases, procedendo a uma anlise cross-country por um largo intervalo de tempo, de modo a interpretar quais os determinantes a favor de polticas redistributivas nesses dois conjuntos de pases. Seus resultados so interessantssimos, por revelarem padres diferenciados. A referncia do estudo de Neher completa encontra-se na bibliografia.

  • 25

    Neher identifica trs grupos de determinantes na explicao das preferncias por

    mais ou menos redistribuio:

    e socioeconmicas que configuram o auto-interesse material. O segundo grupo diz respeito a preferncias interdependentes, que resultam em externalidades redistributivas. Um terceiro e ltimo grupo busca captar as crenas (NT: valores) sobre o que seria um mundo justo e o que responsabilidade individual (p.4).

    Seu ponto de partida ou hiptese bsica, frequente e dominante nesse tipo

    de pesquisa, que todo indivduo votar a favor de mais redistribuio, sempre que

    sua renda disponvel19 aumentar com a distribuio. Ou seja, baseia-se no

    autointeresse, fator crucial na construo dos modelos e estudos sobre o tema.

    Outros modelos voltados para a identificao dos determinantes no apoio

    redistribuio sero tratados neste documento.

    Cabe, entretanto, destacar uma pesquisa de escopo internacional, na sua

    sexta onda, que nos serviu de fonte de inspirao no desenho deste survey e em

    particular na formulao do questionrio (blocos e perguntas). Trata-se do World

    Values Survey, de iniciativa de uma rede internacional de pesquisadores, j aplicado

    em mais de 95 pases. O foco da pesquisa so as mudanas culturais em curso em

    nvel nacional, investigadas atravs de um questionrio padro, em torno a temas

    tais como religiosidade, papeis de gnero, motivao para o trabalho, tolerncia,

    proteo social, meio ambiente e demais percepes subjetivas que revelam valores

    e princpios dominantes em cada sociedade.

    Para levar a cabo iniciativa semelhante ainda que infinitamente mais

    modesta para o caso brasileiro exclusivamente, iniciativa essa ainda assim indita,

    foi desenhada uma pesquisa amostral, desta vez nacional, tomando como pblico-

    alvo a populao com 16 anos ou mais. Essa pesquisa serve-se de um questionrio

    que, imagem de outras iniciativas internacionais20, considera os grupos de

    questes referidos por Neher na elaborao das perguntas, e adota um gradiente

    numa escala de 1 a 5 no posicionamento individual frente a esse grupo de questes.

    19 Renda disponvel a renda domiciliar, familiar ou individual ps-pagamento de taxas e impostos e ps-recebimento de transferncias fiscais, contributivas ou no.

    20 Ver seo 3 deste Relatrio.

  • 26

    Nessa escala, 1 significa total desacordo em relao a uma afirmao relacionada

    com o desenho e metas das polticas sociais, por exemplo, ou ainda na defesa de

    paradigmas universalizantes ou de promoo da redistribuio. J 5 exprime total

    acordo. H trs nveis intermedirios, que traduzem graus diferenciados de adeso

    ou rejeio ao enunciado formulado. Em paralelo, variveis explicativas como idade,

    sexo, faixa de renda familiar, nvel de escolaridade, religio, tipo de insero

    ocupacional, regio de residncia, permitiro analisar com mais profundidade os

    resultados, de modo a inferir se h percepes distintas e qui opostas, e como se

    forjam grupos cuja viso e valores tendem a ser convergentes ou radicalmente

    contrrios.

    O captulo 1 detalha a metodologia e o plano amostral, alm de apresentar o

    questionrio aplicado, onde figuram questes que retomam os conjuntos

    identificados por Neher e outros autores internacionais.

    O captulo 2 apresenta uma anlise descritiva dos resultados para situar o

    contexto mais geral de apoio ou averso redistribuio que emana do survey. Dois

    cortes prevalecem, o regional e o de sexo.

    O captulo 3 retoma o debate internacional sobre preferncias em favor da

    redistribuio, e sistematiza algumas concluses j confirmadas, a saber i) as

    pessoas tm preferncias sociais e se preocupam pelas outras: ii) os indivduos

    expressam percepes no apenas em funo do auto-interesse, mas tambm

    formatadas por normas sociais e princpios de justia redistributiva vigentes; iii) tais

    percepes so endgenas; iv) a cooperao e o apoio redistribuio tendem a

    ser condicionais e v) a proximidade tende a interferir na deciso ou no de apoiar a

    redistribuio, entre outras. Em seguida, a seo apresenta, a partir de modelos e

    hipteses apoiados na experincia internacional - mas tambm nos propsitos da

    pesquisa, onde boa parte das perguntas vem do desenho das polticas e programas

    sociais brasileiros vigentes e do recuo da pobreza e da desigualdade derivados do

    crescimento recente do pas os resultados, obtidos a partir de anlises

    economtricas, acerca dos determinantes da redistribuio por parte da populao

    brasileira adulta.

    Um sumrio-executivo apresenta, de incio, as principais concluses desta

    pesquisa e sua metodologia.

  • 27

    Neste documento, e na pesquisa em geral, o maior ou menor grau de

    averso desigualdade e pobreza ser estimado a partir da concordncia ou

    discordncia com um conjunto de valores, crenas, que foram consagrados, na

    literatura sobre bem-estar, poltica social e polticas pblicas em geral, como

    favorveis redistribuio e igualdade. Tais valores so convergentes nos

    princpios ticos que os estruturam, princpios esses de justia social,

    responsabilidade e liberdade:

    Defesa das polticas universais que asseguram um padro de bem-estar

    comum a ser compartilhado por todos, independentemente do valor de trabalho de

    cada um ou da posse de propriedades e ativos.

    Reconhecimento do papel relevante e insubstituvel do Estado em

    assegurar tal padro de bem-estar, garantindo ainda que todos os cidados, sem

    distino de classe ou status, tenham acesso ao melhor padro possvel de um

    conjunto de servios considerados indispensveis (Briggs, 1961). Tais servios

    devem ser providos pelo Estado e financiados com recursos fiscais.

    Reconhecimento da necessidade de que todos aqueles que sofrem de

    dficit de renda, independente da causa, sejam apoiados e tornem-se, portanto,

    beneficirios de transferncias de renda como um direito de cidadania, sem

    exigncia de contrapartidas ou outros mecanismos compulsrios.

    Adeso ao princpio da progressividade no financiamento do bem comum

    e da promoo da coeso social.

    Universalismo, proviso pblica, justia tributria e a superao da pobreza

    e da misria so as quatro dimenses que vo definir, no mbito desta pesquisa, os

    perfis sociais mais ou menos favorveis redistribuio. E, portanto, quanto mais

    favorvel redistribuio, maior o grau de averso desigualdade.

  • 28

    1. Metodologia da pesquisa

    Esta seo detalha o conjunto de procedimentos que foram tomados para

    aplicao do survey atravs de um questionrio desenhado especificamente a este

    fim. O plano amostral, outro importante aspecto estratgico da metodologia da

    pesquisa, tambm aqui apresentado e detalha a seleo das amostras de

    indivduos, atravs de mltiplos estgios de seleo, que serviu para compor o

    universo da populao adulta brasileira com mais de 16 anos.

    1.1. O questionrio

    O questionrio do survey que encontra-se em sua ntegra no Anexo 1

    conduzido para fins da pesquisa Grau de Averso Desigualdade da Populao

    Brasileira de carter estruturado, incluindo um total de 54 perguntas21 fechadas

    que esto subdivididas em oito mdulos que representam as dimenses da pesquisa

    assim como ilustrado na introduo, e estes so:

    Satisfao com a vida;

    Tendncia a apoiar ou no a redistribuio;

    Programas sociais;

    Outras opinies;

    Pobreza e desigualdade;

    Princpio da igualdade;

    Mobilidade social; e

    Demografia e variveis de autointeresse.

    Por se tratar de uma pesquisa que tem como objetivo mensurar o grau de

    percepo e averso desigualdade e pobreza, as perguntas deste questionrio

    21

    O banco de dados gerado pelo survey tem um total de 66 variveis: uma varivel para cada pergunta da pesquisa; algumas variveis identificadoras (localizao, gnero do entrevistado e nome do entrevistador) e fatores de ponderao da amostra.

  • 29

    foram formuladas seguindo a abordagem de Escalas de Likert22 onde as respostas

    representam um gradiente, aqui variando de 1 a 5, e que refletem o nvel de

    concordncia afirmao direita do questionrio, de princpios mais igualitrios,

    redistributivos e universais, de propsito a colocada para dar coerncia leitura dos

    resultados total desacordo em relao a

    essa Os trs nveis

    intermedirios traduzem graus diferenciados de adeso ou rejeio s ideias

    formuladas.

    Para os mdulos

    afirmaes, como nos exemplos abaixo:

    E a eles era pedido que:

    ou outra. Caso concorde somente com a primeira frase diga o nmero 1; caso concorde em parte com a primeira frase diga o nmero 2, caso seja indiferente s

    22

    Likert, Rensis (1932). "A Technique for the Measurement of Attitudes". Archives of Psychology 140:

    1 55.

  • 30

    duas respostas, ou concorde com as duas, diga o nmero 3; caso concorde em parte

    E para facilitar sua compreenso acerca do gradiente das respostas, os

    entrevistados ainda contaram com o auxlio de um carto resposta conforme exposto

    na Figura 1, de tal forma que "1" correspondia ao total acordo contrafirmativa e,

    logo, total desacordo com a afirmativa direita.

    Figura 1 Carto para Auxlio na Coleta dos Dados

    Os m

    a 5, porm, sem que tal escala significasse percepes e posicionamentos

    frontalmente opostos. Cabia aos respondentes expressar um ponto de vista dentro

    de uma escala de satisfao e concordncia, como informam os exemplos a seguir:

  • 31

    Alm destes mdulos voltados para o objeto da pesquisa propriamente dito,

    o questionrio contemplou, em um mdulo parte, variveis demogrficas, ou de

    autointeresse, tais como idade, sexo, faixa de renda familiar, nvel de escolaridade,

    religio, tipo de insero ocupacional e regio de residncia. Essas variveis sero

    tratadas como variveis independentes na seo de modelagem economtrica

    permitindo inferir e designar grupos que tendem a um maior ou menor grau de

    averso desigualdade.

    De uma forma geral, e exemplificando, Reif e Merlich (1993), o questionrio

    incorporou itens referentes :

    a) importncia de se lutar contra o desemprego;

    b) necessidade de atenuar a intensidade da pobreza;

    c) relevncia em diminuir as disparidades regionais ajudando as regies menos

    desenvolvidas;

    d) compromisso efetivo das autoridades pblicas em erradicar a pobreza.

    Atravs das respostas dos indivduos, espera-se medir o grau de adeso ou

    averso erradicao da pobreza e atenuao das desigualdades por parte da

    populao brasileira, identificando, ao longo da escala, grupos que se posicionam ao

    longo desse gradiente, a partir de seu perfil demogrfico, tambm investigado no

  • 32

    survey por meio de questes sobre sexo, idade, renda e condio de ocupao,

    entre outras variveis.

    1.2. O plano amostral

    Esta seo descreve o planejamento da amostragem adotado pela

    empresa23 contratada para a coleta e produo dos dados, seguindo as seguintes

    orientaes da coordenao da pesquisa: a execuo de uma pesquisa amostral

    (survey) de abrangncia nacional, considerando como populao alvo brasileiros

    com 16 anos ou mais de idade. Este survey deveria ser conduzido durante os

    meses de setembro e outubro de 2012 sendo as unidades pesquisadas, os

    indivduos.

    O plano de amostragem empregado para seleo das amostras de

    indivduos contou com mltiplos estgios de seleo, incluindo amostragem por

    conglomerados24 e estratificao25. A populao brasileira foi estratificada utilizando

    a definio das cinco regies geogrficas, considerando as reas urbanas e rurais.

    J os conglomerados, definidos pelas unidades de federao (unidades primrias de

    amostragem 1 estgio) e pelos municpios (unidades secundrias de amostragem

    2 estgio), foram selecionados em estgios subseqentes. O ltimo estgio (3)

    se deu pela seleo dos indivduos, a unidade pesquisada, de forma sistemtica

    condicional passagem pelo ponto de fluxo estabelecido pela empresa coletora dos

    dados. A Figura 2 apresenta a definio oferecida para a seleo das unidades de

    cada um dos trs estgios de seleo. Esta estratgia assegura a cobertura na

    amostra em mbito nacional gerando, ento, uma amostra representativa da

    populao de16 anos ou mais anos de idade no Brasil.

    23

    Overview Servios & Informao LTDA (Overview Pesquisa), que venceu a licitao para implementao do survey, na modalidade carta-convite.

    24 Amostragem por conglomerados subdivide a populao pesquisada grupos os conglomerados

    e a partir da, se extrai uma amostra de conglomerados e os indivduos dentro de cada conglomerado so ento selecionados para compor a amostra. Neste mtodo de amostragem, nem todos os grupos esto representados na amostra.

    25 Amostragem estratificada, diferente da por conglomerados, subdivide a populao pesquisada em

    grupos os estratos formados conforme as variveis de interesse (aqui sendo: Grande Regies). Em seguida, e dentro de cada estrato extrai-se ento uma amostra de unidades primrias de amostragem que foram as UFs. Neste mtodo de amostragem todos os grupos so representados na amostra.

  • 33

    Devido a restries de custo, o tamanho da amostra fora previamente fixado

    para um total de cerca de 2.200 entrevistas. Todavia foi garantida representatividade

    nacional para o grupo de 16 anos de idade e mais. Note-se que de acordo com o

    plano amostral, o primeiro estgio envolveu a seleo de 12 unidades primrias de

    amostragem (UPAs) - Unidades de Federao - enquanto o segundo estgio

    envolveu a seleo de 36 unidades secundrias de amostragem (USAs)

    municpios oriundos das UPAs selecionadas, incluindo 12 capitais. O procedimento

    para o sorteio das UPAs e USAs, como explicitado na Figura 2, se deu atravs do

    mtodo PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho) que utiliza o tamanho da

    populao residente, tendo o Censo 2010 como medida auxiliadora. No terceiro e

    ltimo estgio26, os indivduos participantes da pesquisa foram selecionados de

    abordagem intencional, para adequao e

    cobertura de uma tabela de cotas proporcionais de gnero e quatro faixas de idade

    (16 a 24 anos, 25 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 anos ou mais)

    pontos de fluxo. Segundo tal metodologia, as entrevistas pessoais so realizadas

    depois de o entrevistador abordar o transeunte morador do municpio que esteja

    dentro das cotas estipuladas.

    Figura 2 Mtodo utilizado para clculo e alocao probabilstica das

    unidades amostrais

    Fonte: Overview Pesquisas.

    26

    Ver a este respeito, Relatrio Plano Amostral - UFRJ Fluxo Brasil 2012, com 09 pginas, fornecido pela Overview Pesquisa; exposto no Anexo 3.2.

  • 34

    A Tabela 4 apresenta a alocao da amostra final, segundo municpios,

    unidades de federao e grandes regies contidos na amostra.

    Com o plano amostral empregado, a amostra final representativa das

    grandes regies, com erro amostral mximo estimado por 5,27%. Para o total da

    populao brasileira a estimativa de margem de erro mxima de 2,06%.

  • 35

    Tabela 4 Alocao da Amostra

    Regio Unidade da

    Federao Municpio Entrevistas

    Norte

    Rondnia Porto Velho 100 Rondnia Vilhena 40 Rondnia Ji-Paran 40 Par Belm 100 Par Pacaj 40 Par Redeno 40

    Total na Regio 360

    Nordeste

    Cear Acopiara 30 Cear Fortaleza 80 Cear Jijoca de Jericoacoara 30 Paraba Campina Grande 80 Paraba Joo Pessoa 30 Paraba Patos 30 Pernambuco Recife 70 Pernambuco Jaboato dos Guararapes 30 Pernambuco Timbaba 30 Bahia Juazeiro 30 Bahia Poes 30 Bahia Salvador 80

    Total na Regio 550

    Sudeste

    Rio de Janeiro Duque de Caxias 40 Rio de Janeiro Rio Bonito 40 Rio de Janeiro Rio de Janeiro 120 So Paulo Marlia 40 So Paulo Moji das Cruzes 40 So Paulo So Paulo 250

    Total na Regio 530

    Sul

    Paran Curitiba 120 Paran Ponta Grossa 40 Paran Porecatu 40 Rio Grande do Sul Porto Alegre 120 Rio Grande do Sul Progresso 40 Rio Grande do Sul Vera Cruz 40

    Total na Regio 400

    Centro-Oeste

    Mato Grosso Cuiab 120

    Mato Grosso Jaciara 35

    Mato Grosso Porto Esperidio 35

    Distrito Federal e satlites Taguatinga 35 Distrito Federal e satlites Ceilndia 35

    Distrito Federal e satlites Braslia 100

    Total na Regio 360

    Total Brasil 2.200

    Fonte: Overview Pesquisas.

  • 36

    1.3. A coleta de dados

    Previamente realizao do survey propriamente dito, foi aplicado um

    preteste, cujos principais objetivos consistiram em: i) medir o tempo mdio de

    aplicao do questionrio, simulando as condies reais do trabalho de campo; ii)

    medir a consistncia das perguntas, acessando o nvel e dificuldades de

    entendimento pelo pblico-alvo da pesquisa. Tal preteste teve lugar nos dias 16 e 17

    de agosto de 2012, em dois pontos da cidade do Rio de Janeiro, concluindo um total

    de 50 entrevistas pessoais, utilizando duas verses diferentes do questionrio, a fim

    de testar a fluidez e a aceitao do melhor formato (sequncia das questes). Foram

    entrevistados, nessa ocasio, 26 mulheres e 24 homens com idades variando entre

    18 a 68 anos. Vale ressaltar que a amostra utilizada no preteste no demandou grau

    de representatividade, no se podendo, portanto, realizar qualquer tipo de

    inferncias no que tange seus resultados.

    Embora no tenha havido diferena significativa no tempo de aplicao das

    entrevistas a cada respondente - em mdia de 17 minutos -, o preteste permitiu

    concluir que a verso do questionrio que partia de questes mais gerais para as

    mais especficas, flua melhor, tendo sido esta, portanto, a adotada em definitivo (ver

    Anexo 1). No obstante tal eleio, fez-se necessria a reformulao de algumas

    questes, a partir da sistematizao dos problemas encontrados no preteste27.

    Aps os ajustes feitos ao questionrio pr-testado, a pesquisa de campo

    teve incio no dia 11 de Setembro de 2012, sendo finalizada em 2 de Outubro do

    mesmo ano. A Figura 3 descreve o transcorrer da pesquisa de campo, que contou

    com uma equipe formada por 30 entrevistadores, devidamente treinados28, inclusive

    por membros da equipe de pesquisa, e identificados (uniformizados, munidos do

    questionrio, do manual da entrevista, que est apresentado no Anexo 2, e de

    cartes de resposta).

    27

    Ver a este respeito, Relatrio de Avaliao do Preteste fornecido pela Overview Pesquisa no Anexo 3.1.

    28 O treinamento para o preteste foi fornecido por dois dos membros da equipe desta pesquisa e o

    treinamento para a coleta final foi feita pela empresa contratada de forma presencial no Rio de Janeiro e So Paulo e via videoconferncia nas demais localidades. Detalhes sobre o treinamento esto contidos no relatrio de campo, no Anexo 3.3.

  • 37

    Ao final, o survey totalizou 2.226 entrevistas, realizadas em 36 municpios de

    12 estados brasileiros, conforme o plano amostral previamente determinado. As

    entrevistas foram de carter pessoal e presencial utilizando questionrio em papel,

    por no haver tempo hbil para gerar uma verso informatizada.

    Figura 3 Coleta de Dados

    Data Diagnstico da Pesquisa de Campo

    11 de Setembro de 2012 Iniciada

    17 de Setembro de 2012

    Concluda nas localidades: Bahia, Par, Pernambuco, Rio Grande do

    Sul e Cear.

    Ainda em andamento nas localidades: Paraba, Paran, Rondnia,

    Rio de Janeiro, So Paulo, Distrito Federal e Mato Grosso.

    24 de Setembro de 2012

    Concluda: Paraba, Paran, Rondnia, Rio de Janeiro e So Paulo.

    Ainda em andamento: Distrito Federal e Mato Grosso (com relatos

    de dificuldades para a concluso da pesquisa por parte dos

    entrevistadores).

    30 de Setembro de 2012 Concluda: Distrito Federal e Mato Grosso.

    2 de Outubro de 2012 Coleta de dados finalizada aps a verificao do material de campo,

    que seguiu para digitao.

    Fonte: Survey Percepo da Desigualdade / Setembro de 2012.

    Foi relatado29 que, em alguns estados, os entrevistadores tiveram um

    grande nmero de recusas. Esse problema ocorreu principalmente nas capitais: os

    indivduos ao serem abordados alegavam falta de tempo ou falta de interesse em

    responder a pesquisas em geral. Outra razo frequente para a recusa foi o fato de o

    campo ter sido realizado em perodo pr-eleitoral, concomitante a outras pesquisas

    (no caso, polticas) em curso. Por ltimo, fatores ambientais, como chuvas,

    dificultaram a coleta em algumas localidades, acarretando extenso do campo.

    Estas dificuldades, no entanto, no impediram que os entrevistadores

    completassem as quantidades predefinidas de entrevistas em conformidade com os

    29

    Ver a esse respeito, no Relatrio de Campo (com 4 pginas), contido no Anexo 3.3, tambm produzido pela empresa Overview Pesquisa.

  • 38

    locais selecionados. Ademais, todas as recusas foram devidamente repostas e

    compensadas.

    A pesquisa de campo foi ento concluda com sucesso, tendo o material de

    campo sido verificado e aprovado, seguindo, ento, para digitao e composio do

    banco de dados.

    1.4. Detalhamento da amostra

    As tabelas 2 a 6 apresentam os totais amostrais e populacionais, juntamente

    com as respectivas estimativas de erro, utilizados no desenho amostral. Pode-se

    verificar que a amostra final est composta de um total de 2.226 indivduos com 16

    anos de idade ou mais; sendo 1.146 homens e 1.080 mulheres, distribudas nas

    grandes regies de acordo com a Tabela 3.

    Para algumas classes de renda e faixas de escolaridade, a estimativa do

    erro amostral supera a taxa de 10% (amostra por demais reduzida) indicando serem

    necessrios precauo e rigor nas anlises envolvendo tais variveis, ou ainda

    sugerindo uma eventual agregao de algumas classes para que se possam tirar

    concluses mais robustas. O captulo 2 apresenta a anlise descritiva dos resultados

    do survey, bem como sistematiza as decises tomadas para enfrentar tal problema.

    Tabela 5 Totais amostrais e populacionais, segundo sexo do respondente

    e estimativa do erro amostral

    Sexo

    Amostra

    Observada

    Populao

    Estimada

    Erro Amostral

    Estimado

    Masculino 1.146 68.238.274 2,89%

    Feminino 1.080 73.010.302 2,98%

    Total 2.226 141.248.576 2,08%

  • 39

    Tabela 6 Totais amostrais e populacionais, segundo grandes regies do

    respondente e estimativa do erro amostral

    Grandes Regies

    Amostra

    Observada Populao

    Estimada Erro Amostral

    Estimado

    Norte 365 10.563.944 5,13%

    Nordeste 551 37.880.127 4,17%

    Centro-Oeste 360 10.353.107 5,16%

    Sudeste 534 61.540.827 4,24%

    Sul 416 20.910.571 4,80% Total 2.226 141.248.576 2,08%

    Tabela 7 Totais amostrais e populacionais, segundo faixa etria do

    respondente e estimativa do erro amostral

    Faixa de idade

    Amostra

    Observada

    Populao

    Estimada

    Erro Amostral

    Estimado

    De 16 24 anos 365 30.661.135 5,13%

    De 25 39 anos 551 46.737.505 4,17%

    De 40 59 anos 360 43.259.339 5,17%

    60 anos ou mais 534 20.590.597 4,24%

    Total 1.810 141.248.576 2,30%

    Tabela 8 Totais amostrais e populacionais, segundo classes de

    rendimento familiar do respondente e estimativa do erro amostral

    Classe de Renda Familiar (Varivel Q11)

    Amostra

    Observada

    Populao

    Estimada

    Erro Amostral

    Estimado

    Menos do que R$ 1.000,00 484 31.558.443 4,45%

    De R$ 1.001,00 a R$ 2.000,00 617 40.765.713 3,95%

    De R$ 2.001,00 a R$ 3.000,00 334 19.767.993 5,36%

    De R$ 3.001,00 a R$ 4.000,00 212 12.236.071 6,73%

    De R$ 4.001,00 a R$ 5.000,00 115 7.021.943 9,14%

    De R$ 5.001,00 a R$ 8.000,00 122 8.096.282 8,87%

    De R$ 8.001,00 a R$ 15.000,00 62 3.516.318 12,45%

    De R$ 15.001,00 a R$ 20.000,00 13 979.864 27,18%

    Mais do que R$ 20.000,00 9 768.922 32,67%

    No sabe 143 9.473.838 8,20%

    No responde 115 7.063.188 9,14% Total 2.226 141.248.576 2,08%

  • 40

    Tabela 9 Totais amostrais e populacionais, segundo a escolaridade do

    respondente, populao estimada referente e estimativa do erro amostral

    Escolaridade (Varivel Q6) Amostra

    Observada Populao

    Estimada Erro Amostral

    Estimado

    Ensino Fundamental / 1 grau at 4 SRIE /

    Primrio / At 5 ano (atual) 309 21.484.409 5,57%

    Ensino Fundamental / 1 grau - de 5 a 8 SRIE /

    Ginsio / At 9 Ano (atual) 553 36.857.177 4,17%

    Ensino mdio ou 2 Grau / Mdio (cientfico,

    clssico) 996 62.189.196 3,11%

    Superior 262 14.946.461 6,05%

    Especializao, mestrado ou doutorado 68 3.770.357 11,88%

    Alfabetizao de adulto 5 247.555 43,83%

    Nenhum 31 1.666.441 17,60%

    NS/NR 2 86.977 69,30%

    Total 2.226 141.248.576 2,08%

    1.5. Ponderao da amostra e erros amostrais

    A ponderao da amostra deve ser feita atravs da utilizao de um fator de

    expanso (wh) exposto na Tabela 10 , cujo procedimento de clculo parte das

    fraes de amostragem de cada estgio do plano amostral, segundo:

    .

    Ou seja, o fator de expanso30 wh a razo entre o tamanho da amostra

    observada nos estratos de determinao das cotas Tamcota , conforme a Tabela 11

    e a populao brasileira dentro desses estratos PopBr,