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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A MIGRAÇÃO NORDESTINA E A CONSTRUÇÃO DA COMUNIDADE DO RIO PIRAQUÊ EM PEDRA DE GUARATIBA Por: Adilson Mello do Carmo Orientador Prof. Celso Sanchez Rio de Janeiro 2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A MIGRAÇÃO NORDESTINA E A CONSTRUÇÃO DA

COMUNIDADE DO RIO PIRAQUÊ EM PEDRA DE

GUARATIBA

Por: Adilson Mello do Carmo

Orientador

Prof. Celso Sanchez

Rio de Janeiro

2004

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

A MIGRAÇÃO NORDESTINA E A CONSTRUÇÃO DA

COMUNIDADE DO RIO PIRAQUÊ EM PEDRA DE

GUARATIBA

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como condição prévia para a conclusão do

Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Planejamento

e Educação Ambiental.

Por: Adilson Mello do Carmo.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço, inicialmente, aos estudiosos e escritores, que primeiro

discutiram sobre o assunto em pauta. Sou extremamente grato à minha família

e amigos, onde nada seria possível sem eles. Aproveito ainda para expressar

minha gratidão aos mestres que tive durante o curso e, ao professor Celso

Sanchez, orientador desta monografia, pelo fato dos mesmos terem me

apoiado no decorrer deste estudo, encorajando-me do início ao fim.

Sou grato por ter contado com a colaboração de várias pessoas, que

tiveram participação de maneira direta e indireta na elaboração deste estudo.

E, em função disso, destaco a boa vontade da Associação de Moradores do

Piraquê, através do seu presidente e dos moradores dessa comunidade que

me acolheram e ajudaram-me na obtenção de dados sobre essa comunidade.

O mesmo sentimento de agradecimento externo ao Setor de Coleta de Dados

da XXVI Região Administrativa, situada em Pedra de Guaratiba, assim como

àqueles colegas do curso de Planejamento e Educação Ambiental, que

colaboraram não só para a elaboração deste trabalho, como também na

realização de outros estudos ao longo desses 12 (doze) meses.

O maior e mais importante agradecimento, eu não poderia deixar de

fazê-lo, que é a Deus, por ter me acompanhado e dado condições de concluir o

curso de Planejamento e Educação Ambiental e esta monografia. Embora ao

longo dessa caminhada, eu tenha convivido com situações boas e ruins, Deus

mostrou-me os caminhos a serem seguidos e com isso, adquiri experiência,

novos conhecimentos e ensinamentos, bem como aprendi a seguir sempre em

frente, em busca de novas e grandes realizações.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais, especialmente a

minha mãe, ANTONIETA, bem como a minha esposa e

ao meu filho, porque eles estiveram sempre ao meu lado,

incentivando-me, para que eu seguisse em frente, nessa

árdua caminhada, a fim de que atingisse, ao longo desses

doze meses, o meu objetivo maior, que foi o término do

curso supracitado de maneira satisfatória.

5

RESUMO

Esta monografia apresenta, de forma peculiar, o estudo do processo

migratório nordestino, ocorrido a partir da década de 70, na Comunidade do

Rio Piraquê em Pedra de Guaratiba, no Estado do Rio de Janeiro.

Para desenvolvermos este trabalho de maneira mais eficaz, aplicamos

uma pesquisa de campo, através de um questionário com questões

socioeconômicas à população dessa comunidade ribeirinha, a fim de que

pudéssemos contar com as informações inerentes, a gama de dificuldades

vivenciadas por esses moradores e suas críticas, aspirações, reivindicações, etc.

Apresentamos uma série de gráficos representativos, da situação

detectada na tabulação dos questionários, bem como a respectiva análise de

cada um deles.

Com base, nos resultados da análise da pesquisa, elaboramos um

estudo sócio-ambiental, no qual sugerimos um elenco de medidas, com a

finalidade de acabar ou minimizar os problemas ambientais existentes nessa

comunidade.

6

METODOLOGIA

Este segmento do trabalho monográfico possui três objetivos principais:

(1) descrever o método utilizado na execução desta pesquisa, o que implica em

apresentar suas características e também considerações a respeito da decisão

por esse tipo de trabalho; (2) apresentar as características gerais tanto das

informações obtidas quanto do contexto de situação em que tais informações

foram produzidas; (3) apresentar as perguntas que serão utilizadas na

pesquisa de campo.

Este trabalho foi desenvolvido a partir de levantamento bibliográfico por

meio de livros, periódicos e apostilas, pesquisas através da internet e

entrevistas com profissionais que, de alguma forma, estão envolvidos com o

tema e apresentação de caso prático. A decisão em desenvolver esse tema,

está relacionada à necessidade de se evidenciar as razões pelas quais a

região sudeste e, neste caso mais específico, o Rio de Janeiro recebe a cada

ano mais brasileiros vindos do nordeste, cheios de expectativas e incertezas

(cf. Introdução).

Pretende-se apresentar informações sobre o contexto histórico das

migrações no Brasil e, por conseguinte, levantar dados sobre a população

nordestina que migra para os estados de outras regiões, as causas dessa

migração, condições de vida no novo estado e expectativas de futuro.

A fim de enriquecer o conteúdo dessa pesquisa e torná-lo mais próximo

da realidade, uma outra etapa desse estudo será constituída da coleta de

dados junto a Comunidade do Piraquê, Guaratiba, que constituirá no grupo de

amostra dessa pesquisa.

7

O instrumento de coleta de dados deste estudo será um questionário

(vide Anexo 4, p.60) aplicado junto aos moradores do bairro, em sua maioria

migrantes nordestinos. Em seguida, um relatório será produzido a partir das

informações.

Os dados coletados serão documentados, através da transcrição dos

mesmos para os gráficos, a fim de serem analisados.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

FENÔMENO DA MIGRAÇÃO - ASPECTOS GLOBAIS

CAPÍTULO II

FENÔMENO DA MIGRAÇÃO NO BARSIL

CAPÍTULO III

A REGIÃO NORDESTE E AS CAUSAS DA MIGRAÇÃO

CAPÍTULO IV

A MIGRAÇÃO NORDESTINA PARA O SUDESTE

CAPÍTULO V

A COMUNIDADE DO RIO PIRAQUÊ

CAPÍTULO VI

RESULTADO E RELATÓRIO DA PESQUISA

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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Lista de Figuras e Gráficos

Figura 1 - Associação de moradores

Figura 2 - Creche na rua da Capelinha

Figura 3 - Rio Piraquê

Figura 4 - Mudas para reflorestamento

Figura 5 - Gráfico ilustrativo do tempo de moradia na comunidade

Figura 6 - Gráfico ilustrativo da região de origem

Figura 7 - Gráfico ilustrativo do motivo da migração

Figura 8 - Gráfico ilustrativo do motivo da escolha de Guaratiba

Figura 9 - Gráfico ilustrativo dos moradores que trabalham e local

Figura 10 - Gráfico ilustrativo da renda

Figura 11 - Gráfico ilustrativo do tipo de residência

Figura 12 - Gráfico ilustrativo do grau de escolaridade

Figura 13 - Gráfico ilustrativo do percentual de filhos na comunidade

Figura 14 - Gráfico ilustrativo da avaliação dos serviços essenciais

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INTRODUÇÃO O objetivo deste trabalho é investigar a causa do processo da

migração nordestina, ocorrido na comunidade do Rio Piraquê em Pedra de

Guaratiba no Estado do Rio de Janeiro, bem como as questões ambientais

geradas por essa ocupação.

No nosso caso, à migração nordestina foi fundamental para a

construção da comunidade do Rio Piraquê, visto que grande parte dessa

população local é constituída por nordestinos, que por sua vez, vieram para

essa comunidade, com intuito de melhorar de vida. Esse processo de fixação

migratória acontecido nessa comunidade, colaborou de maneira significativa

para provocar o aparecimento e agravamento de problemas de várias

naturezas, que ora existem nessa localidade, tais como falta de saneamento

básico, poluição do Rio Piraquê, construções irregulares(inclusive em áreas de

manguezais), etc., visto que esse logradouro não possui infra-estrutura

suficiente para atender a demanda gerada pelo quantitativo populacional lá

existente.

Verificamos, que a questão ambiental existente no local, em sua

maioria é causada por procedimentos errôneos, cometidos por essa população

migratória nordestina e, que causa sérios problemas ambientais(cf. capítulo VI

– 6.4).

As questões com as quais nos deparamos, no decorrer deste estudo,

foram preponderantes para a elaboração do nosso trabalho. E, dentre elas

podemos destacar o processo de migração no Brasil, a migração nordestina na

comunidade do Rio Piraquê, o histórico do local e da ocupação ocorrida na

comunidade, a questão ambiental e os problemas ambientais detectados na

11

comunidade Piraquê, a análise conclusiva das informações contidas nos

gráficos, etc.

De uma forma bastante diversificada e analógica, este trabalho procura

demonstrar o quão é abrangente e importante o estudo das causas das

migrações nordestinas para região sudeste, mais especificamente para o

Estado do Rio de Janeiro; o quanto é importante perceber as razões que levam

um grande número de famílias a abandonarem sua terra natal e iniciar uma

nova vida num ambiente completamente distinto de sua realidade e também,

conhecer as conseqüências de tais movimentações para a economia, cultura

não somente desses indivíduos como também do ambiente e pessoas que “os

recebem”.

Iniciaremos nosso estudo apresentando de maneira geral, as

características do processo migratório no Brasil; suas razões e conseqüências

sócio-econômicas dentro do território para em seguida, analisá-las de forma

mais particular, e de maneira mais concreta através da observação direta de

uma comunidade constituída em sua essência por migrantes nordestinos.

Trata-se da Comunidade Piraquê localizada às margens do rio Piraquê em

Guaratiba, Rio de Janeiro.

Procuraremos com esse trabalho, apresentar de forma menos

racional, aspectos do cotidiano de um grupo de indivíduos que, impelidos por

condições muitas vezes alheias as suas vontades, se viu obrigado a tentar sua

sobrevivência e da família num outro estado. Acompanharemos através de

relatos, as dificuldades quanto a adaptação, quanto a obtenção de trabalho,

moradia, saneamento, atendimento médico e educação dessa parcela da

população.

Sendo tal apresentação bastante singela e humilde quanto à pretensão

em enumerar todos os aspectos relevantes para o total conhecimento do

processo migratório no país e mais especificamente a migração para a

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Comunidade Piraquê, espera-se que ao final, a contribuição tenha sido

positiva.

A abordagem feita tem uma conotação bastante ampla, deixando um

pouco os aspectos puramente técnicos e aprofundando-se nas questões que

refletem características humanas, suas falhas, necessidades, expectativas.

Fonte verdadeira de estudo e aplicação, este trabalho visa atingir de

forma bastante modesta condições reais de aprofundamento ao tema ao qual

foi proposto. Cabe destacar a vontade de que as abordagens feitas reflitam

verdadeiramente o ensejo amplo de amadurecimento dentro do fascinante

mundo da Educação Ambiental.

A justificativa para a realização deste trabalho, está no fato dele

proporcionar o estudo comportamental, cultural, social, econômico, ambiental,

da qualidade de vida, etc., dessa comunidade ribeirinha, cuja a maior parte da

população é constituída de migrantes nordestinos.

No capítulo l - são focalizadas de maneira genérica, os aspectos

referentes ao fenômeno da migração – aspectos globais, ocorridos no Brasil,

no capítulo ll - é tratada a evolução histórica do fenômeno da migração no

Brasil, no capítulo lll – são abordadas as causas do processo de migração

intra-regionais e inter-regionais, ocorridos na região nordeste, no capítulo lV –

são tratados os fatores que ocasionam a migração nordestina, principalmente

para o sudeste, no capítulo V – abordamos o aspecto histórico do surgimento e

da ocupação da comunidade do rio Piraquê, bem como os assuntos que

tornam essa população integrada, tais como a educação, meio ambiente, etc.,

e finalmente no capítulo VI – são apresentados os resultados da pesquisa,

através de gráficos e da respectiva análise conclusiva dos mesmos, bem como

a relação da questão ambiental com os problemas ambientais detectados na

comunidade.

13

CAPÍTULO I

Fenômeno da Migração - Aspectos Globais

“O homem a cada dia se aventura, transporta obstáculos,

armazena novos conhecimentos ou seleciona novos

aspectos, aprendendo e apreendendo o seu mundo

vivido. Esta consciência criativa, que traduz e conhece o

mundo vivido, a partir das relações banais do cotidiano, é

o espírito ou a alma dos lugares”.

Bachelard

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Fenômeno da Migração - Aspectos Globais

As migrações, segundo VALIM (1996) estão associadas a modificações

significativas na distribuição da propriedade da terra, na produtividade agrícola

e nas relações sociais de produção. São afetadas pelo nível de emprego,

condições de remuneração da força de trabalho, conflitos de classe e

modificações nas relações de trabalho.

Há também uma relação muito forte entre as migrações e a localização

geográfica da produção. De acordo com a ênfase dada pelo mercado a um

determinado tipo de produção, uma região sofre uma valorização econômica

maior do que outras. Assim, o centro da economia já esteve no Nordeste, na

região das minas e hoje está nas zonas urbano - industriais do Sudeste.

A cidade e o campo estão ou deveriam estar perfeitamente

interligados. O campo alimentando o crescimento econômico da cidade, não

somente ao fornecer mão-de-obra, matéria-prima e alimentos, mas também, ao

receber da cidade investimentos, tecnologia e infra-estrutura. São esses

padrões de consumo que, cada vez mais deveriam integrar economicamente

campo e cidade, mas que estão organizados de forma tão desproporcional que

esta relação acaba por interferir no equilíbrio social.

Vale destacar ainda, que há um importante fator restritivo a esse

processo migratório no país e que reproduz uma característica da política de

migração de outros países. Há uma parcela incalculável de pessoas que hoje

vêem elevar as restrições concretas a seu livre deslocamento e localização.

Isto ocorre em escala mundial, onde se generalizam políticas que limitam e

impedem o ingresso de imigrantes.

15

O maior paradoxo em tempos de globalização da economia é não fazer

valer o direito de migrar internacionalmente. Os imigrantes “educados” são

desejados, enquanto os indesejados que são os pobres, analfabetos, de

diferentes culturas, raças e religião são preteridos. A migração torna-se um

processo de exclusão social.

PAUL SINGER cita alguns fatores de expulsão que levam às

migrações; estes são de duas ordens: fatores de mudança os que decorrem da

introdução de relações de produção capitalistas nas áreas de produção para

subsistência, a qual acarreta a expropriação de camponeses, a expulsão de

agregados, parceiros e outros agricultores não proprietários; fatores de

estagnação, os que se manifestam sob a forma de uma crescente pressão

populacional sobre uma disponibilidade de áreas cultiváveis que pode ser

limitada tanto pela insuficiência física de terra aproveitável como pela

monopolização de grande parte da mesma pelos grandes proprietários1.

Do ponto de vista econômico, os fatores de mudança têm um sentido

oposto aos de estagnação. Os de mudança fazem parte do processo de

industrialização, na medida em que este atinge a agricultura, trazendo consigo

mudanças de técnica e, em conseqüência, aumento da produtividade do

trabalho. Os de estagnação resultam da incapacidade dos produtores em

economia de subsistência de elevarem a produtividade da terra. Os fatores de

mudança provocam um fluxo maciço de emigração, o que leva à redução do

tamanho absoluto da população rural.

1 Como exemplo desta situação, cita-se o Agreste do nordeste brasileiro.

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CAPÍTULO II

Fenômeno da Migração no Brasil

“O grande homem é grande não porque suas

particularidades individuais imprimam uma fisionomia

individual aos grandes acontecimentos históricos, mas

porque é dotado de particularidades que o tornam o

indivíduo mais capaz de servir às grandes necessidades

sociais de sua época”.

Plekhanov

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Fenômeno da Migração no Brasil

As migrações internas, no Brasil, passam a ocorrer com maior

intensidade na década de 30, quando houve uma série de mudanças

estruturais da economia e na política levando à construção de um ambiente

propício à mobilidade interna da mão-de-obra.

Esta década marca a passagem do dinamismo econômico do setor de

exportação - para o mercado interno; da agricultura - para a indústria, cuja

expressão maior se deu nos estados do Sudeste (principalmente São Paulo),

redefinindo as relações econômicas inter-regionais, mas mantendo os

desequilíbrios advindos da economia exportadora, com a dominação nacional

das economias do Sudeste.

A industrialização no Sudeste acelerou o processo de estagnação no

Nordeste, pois passou a substituir as importações internas e a competir com

essa região exportadora (ex.: algodão); esta forma de intercâmbio favoreceu

a acumulação no Sudeste, e com a progressiva nacionalização do mercado

interno, a manufatura e o artesanato nordestinos foram enfraquecidos diante

da concorrência, aumentando ainda mais os desequilíbrios regionais

internos.

Além de ser a migração de nordestinos em direção à região Sudeste,

a corrente migratória mais antiga do país, também é significativo hoje o fluxo

de nordestinos e sulistas em direção às regiões Centro-Oeste e Norte.

Atraídos pela expansão da fronteira agrícola e pelos garimpos, os migrantes

contribuem muito para o crescimento populacional dessas regiões. Os

maiores crescimentos são os de Roraima, Amapá e Mato Grosso. Já a

migração para a região Sudeste sofre mudanças. As capitais não são mais o

18

único destino dos migrantes - as cidades médias também passam a atrair

novos habitantes. Tanto que as regiões metropolitanas do Rio de Janeiro e

São Paulo crescem proporcionalmente menos que o interior dos respectivos

estados.

No Brasil, as migrações de longa distância (Nordeste/Sudeste,

Nordeste/Amazônia e Sul Amazônica) que caracterizaram as décadas de 60,

70 e 80, mesmo continuando a existir, parecem começar a ser superadas pelas

migrações de curta distância, as intra-regionais.

Um ponto importante a destacar é que nos últimos tempos vem

crescendo o movimento de retorno para o Nordeste, sendo que a maior parte

desses nordestinos que voltam às suas regiões de origem sai do Sudeste,

especialmente São Paulo. Os fatores que contribuem para isso são: o alto

índice de desemprego da região metropolitana de São Paulo, o crescimento do

setor de turismo no Nordeste, além de um maior número de empresas

instaladas naquela área.

As regiões metropolitanas, no entanto, continuam recebendo elevado

fluxo populacional. Apesar desse ligeiro declínio, a migração nordestina para as

regiões Norte e Centro-Oeste continuam expressivos (380.000 pessoas) e

durante a década de 90 se concentrou em áreas do Pará, Tocantins e

arredores.

As migrações são o melhor exemplo para se compreender o caráter

social do espaço geográfico. Se o Sudeste do Brasil e o Nordeste

apresentam um fluxo populacional constante, deve-se notar que as classes

pobres nordestinas que alimentam este fluxo são classes fundamentais

para a acumulação capitalista na região Sudeste, já que vão afetar as

relações de trabalho na região Sudeste. O espaço urbano e o rural estão

19

unidos também por um fluxo da população, as camadas pobres rurais que

vão exercer papel de relevância nas novas relações de trabalho nas

cidades aonde chegam.

Há diferenças profundas entre as diversas regiões metropolitanas. Elas

atuam tanto como áreas de atração, como de repulsão de migrantes. A

retenção e a evasão não oscilam muito segundo o sexo ou procedência

urbana/rural dos migrantes. Belo Horizonte é a região de maior retenção e as

regiões metropolitanas nordestinas as de menor retenção. Nos dias atuais,

nota-se em algumas regiões metropolitanas menor papel de atração migratória.

A retenção é muitas vezes, seletiva dos indivíduos mais capacitados e

dinâmicos; essa seletividade relaciona-se com a estratificação residencial das

metrópoles.

De uma maneira genérica, os movimentos populacionais representam

o reflexo da relocação setorial e espacial das atividades econômicas no

Brasil. Até a década de 60, a rede urbana brasileira se caracterizava pela

concentração da população em extremos, isto é, a população urbana do

Brasil encontrava-se em pequenas vilas e pequenas cidades, ou nas duas

“metrópoles”, Rio de Janeiro e São Paulo. Poder-se-ia dizer que a população

se dividia em comunidades que se estruturavam sob as formas da dominação

pessoal vigentes na sociedade rural, em que camadas inferiores da

população se inseriam como componentes de um sistema pré-industrial e em

comunidades nas quais existiam modos de relacionamento social de trabalho

de dominação e comunicações, característicos da civilização urbana

industrial.

O censo de 1970 mostrou um novo processo em curso em relação

às cidades. Desde então se verificou uma multiplicação do número de

grandes cidades, sem, contudo, estabelecer o fim dos contrastes verificados

entre os dois extremos, citados anteriormente. As grandes cidades surgiram

ou aumentaram em todo o país, devido a um intenso movimento migratório

20

de âmbito nacional. Essas cidades distribuíram-se heterogeneamente pelo

país, refletindo o crescimento econômico diferenciado das regiões, porém

houve uma centralização econômica, industrial e financeira no Sul e

Sudeste, o que justifica a concentração de muitas cidades grandes, nessas

regiões.

21

CAPÍTULO III

A Região Nordeste e as Causas da Migração

"Aquele que sabe que tem o suficiente, é rico".

O Tao

22

A Região Nordeste e as Causas da Migração

A região do Nordeste do Brasil compreende os estados do Maranhão,

Piauí, Ceará, Sergipe, Paraíba, Rio Grande do Norte, Bahia, Pernambuco,

Alagoas. O Sertão semi-árido constitui a maior parte da área do Nordeste, uma

região onde as altas temperaturas e as chuvas escassas produziram o

fenômeno da seca. Durante períodos que podem chegar a até 3 anos pode-se

observar a não incidência de chuvas, o que ocasiona a fome de milhares de

famílias que, diante desta tragédia, vêem-se obrigadas a empreender jornadas

rumo a regiões mais prósperas.

Muito embora os fatores climáticos tenham produzido na região

obstáculos objetivos ao seu crescimento e à fixação do homem no meio rural,

outros fatores de natureza sócio-econômica contribuem para o quadro de

pobreza que domina a população do Nordeste. Como nota ANDRIGHETTI

(1998), a má distribuição da terra e o fracasso forçado do modelo agrícola dos

pequenos e micro produtores, que produzem apenas para a sua subsistência

contribuíram para a consolidação de uma classe dominante que vive às custas

da pobreza e miséria da maioria da população.

No Nordeste, intensificou-se a emigração para o Sul nas décadas de

30, 40 e, principalmente na década de 50, devido às contínuas secas que

atingiram o interior da região, o que representou forte estímulo à expulsão da

população, dessa região. O destino principal dos migrantes nordestinos era a

cidade de São Paulo, grande núcleo urbano onde o homem nordestino oriundo

freqüentemente do meio rural buscava uma esperança de um emprego e uma

vida melhor. VALIM (1996) destaca os fenômenos das migrações intra-

regionais que precederam o êxodo do nordestino para fora de seus estados

natais. A migração intra-regional é classificada em três movimentos principais:

23

Ü Migração para as regiões metropolitanas - Ocorrida entre as

décadas de 40 e 50, caracteriza-se pelo crescimento populacional

das grandes cidades do Nordeste em decorrência da migração. O

inchaço de cidades como Salvador e Recife ocasiona acentuados

problemas de infra-estrutura;

Ü Migração para as cidades médias - Com a saída do homem do

campo em virtude de razões econômicas e/ou climáticas, cresce o

povoamento de áreas urbanas dentro de municípios no interior,

como Feira de Santana, na Bahia e Campina Grande, na Paraíba;

Ü Migração sazonal - A migração sazonal constitui-se de populações

que migram todos os anos para trabalhar na safra agrícola.

Apesar da intensidade da migração verificada no interior do nordeste,

aquela realizada para fora dos estados é muito mais fremente, dos anos 70 em

diante, a proporção de migrações inter-regionais (para fora dos estados) em

comparação com as intra - regionais era de cerca de 75 % para 25%.

A grande maioria dos migrantes nordestinos desloca-se para a região

Sudeste, sobretudo para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.

24

CAPÍTULO IV

A Migração Nordestina para o Sudeste

“São muitos os mistérios que revestem, impregnam e até

mesmo ornamentam a condição humana. Felizmente, para

compensar nossa infinita ignorância, temos o coração, com

suas razões inexplicáveis”.

Fernando Pessoa

25

A Migração Nordestina para o Sudeste

A migração em direção às cidades, no Brasil, aconteceu apesar das

variações regionais e do período histórico. Verifica-se ainda que o crescimento

das cidades ocorreu juntamente com transformações da estrutura da rede

urbana do país. Destaca-se uma grande variação do tipo de cidades, um

crescente predomínio das metrópoles e, também, uma variação regional dos

índices de urbanização, que refletem um desenvolvimento econômico

diferencial e associa o crescimento das cidades ao processo de

industrialização e às migrações internas interestaduais.

MARTINE (1978), analisando o significado dos movimentos

populacionais orientados para as nove regiões metropolitanas do Brasil, chama

a atenção para a grande mobilidade entre as camadas migrantes. Ele constata

um alto índice de re-imigração que poderia ser explicado pelas hipóteses:

1) Migração por etapas - O migrante de origem rural faria estágios em

localidades cada vez maiores e ou mais distantes, para adquirir

vivência urbana e fixar residência depois, numa grande cidade, o

que se poderia chamar de ressocialização progressiva;

2) Baixíssimos níveis de renda de consideráveis segmentos da

população, independente da localidade ou condição migratória,

levariam uma proporção significativa dos migrantes a re-imigrarem,

uma ou mais vezes, em busca de sobrevivência econômica;

3) Alta funcionalidade da migração para o sistema produtivo vigente, a

migração intensa para as áreas metropolitanas tem contribuído

significativamente para a geração de excedentes de mão-de-obra

26

barata e para a manutenção de altas taxas de crescimento

econômico, com a redução dos custos do fator trabalho. Formar-se-

ia uma força de trabalho altamente móvel, respondendo às

flutuações regionais na demanda por mão de obra não qualificada

e semiqualificada, altamente heterogênea, que tem representação

em todas as classes sociais e a grande maioria é constituído por

extratos populacionais menos favorecidos;

4) Diferenças funcionais e de nível de renda entre “migrantes” e

“naturais” - Verifica-se que há diferenças essenciais entre a

situação desses, nas diversas regiões metropolitanas;

5) Diferenças por tempo de residência, há um padrão evolutivo com

respeito à aparente adaptação positiva dos migrantes segundo o

tempo de residência numa determinada localidade ou região.

Percebe-se uma melhora na situação sócio-econômica da

população migrante, à medida que aumenta seu tempo de

residência num local.

Segundo o IBGE, cerca de 1.150 mil pessoas vivem hoje no estado do

Rio de Janeiro oriundas da região do Nordeste. Deste total, a grande maioria

fixou-se nas áreas urbanas. O estado da Paraíba é o que conta com mais

migrantes no RJ, seguidos de Pernambuco, Ceará e Bahia.

27

CAPÍTULO V

A Comunidade do Rio Piraquê

“Quem conduz e arrasta o mundo não são as máquinas, e

sim, as idéias”.

Vitor Hugo

28

A Comunidade do Rio Piraquê

5.1 - Aspecto Histórico a Considerar

A Comunidade que vive às margens do Rio Piraquê, nosso objeto

de estudo, constituído quase em sua totalidade, por cerca de 80 %

(oitenta por cento) de migrantes nordestinos está localizada na região de

Guaratiba. Antes de nos aprofundarmos nesse assunto, torna-se

importante conhecer a história dessa região, sua localização e algumas

características particulares.

Oficialmente a Região de Guaratiba foi fundada em 05 de março de

1579. Segundo a história, o português Manoel Veloso Espinha, recebeu do rei

de Portugal a terra denominada Guaratiba dos Tupinambás.

Manoel Veloso Espinha passou então a administrar a Sesmaria

de Guaratiba onde passou a trabalhar com engenhos de produção e

exportação do açúcar aguardente. Também ocupou o cargo de Oficial da

Câmara da Cidade1.

Segundo a história, fundador de Guaratiba teve dois filhos: Manuel

Veloso de Espinha Filho e Jerônimo Veloso Cubas. Após sua morte, as terras

foram divididas entre os dois irmãos2. Coube a Manuel Veloso de Espinha

Filho a parte que vai do rio Piraquê à Barra de Guaratiba e a Jerônimo Veloso

Cubas a parte que vai do Piraquê ao norte.

1 Segundo Elysio Belchior, no livro “Conquistadores e Povoadores do Rio de Janeiro”. 2 Segundo Rivadávia Pinto, historiador da região.

29

Guaratiba é uma região cercada de planícies, dunas, lagunas,

mangues e praias, localizadas entre a baía de Sepetiba e o Oceano Atlântico.

Está dividida em três comunidades: Barra de Guaratiba, porque possui a foz do

rio da baía de Sepetiba; Ilha de Guaratiba, porque pertencia a um inglês,

Senhor Willian - que acabou por conhecido como Seu Ilha, daí a origem de

Ilha de Guaratiba e, finalmente, Pedra de Guaratiba, porque a população

dessa localidade formou-se próxima a uma pedreira.

Ocorreram em Guaratiba acontecimentos históricos que merecem

destaque, tais como: a caminhada de Dom Pedro II da Cidade para o Palácio

Real e Imperial de Santa Cruz, a visita dos presidentes Getúlio Vargas e Eurico

Gaspar Dutra à unidade do exército instalada na região, o recolhimento de

urnas milenares nos sambaquis da região.

A religião católica representou a base no surgimento dos lugarejos da

região. Em 1929 foi construída a Igreja Nossa Senhora do Desterro, terceira

igreja católica mais antiga da cidade3. Há, também, dentre as igrejas antigas: a

Igreja de São Salvador do Mundo, Igreja de Nossa Senhora das Dores na Praia

da Barra de Guaratiba e Igreja Santo Antônio da Bica, localizada no sítio do

paisagista Roberto Burle Marx.

5.2 - O Histórico de Ocupação da Comunidade do Rio Piraquê

De acordo com o decreto 20.978, responsável pela elaboração de

proposta de intervenção Municipal na área do PAL 18.529 (Planta de Área de

Loteamento), falar da Comunidade de Guaratiba e especialmente da

Comunidade do Piraquê significa falar sobre o loteamento Vila Mar de

Guaratiba.

3 Tombada pelo Patrimônio Histórico Nacional.

30

O loteamento Vila Mar de Guaratiba, PAL 18.529 foi aprovado em

24 de setembro de 1953. É limitado à direita pelo Rio Piraquê, na parte

frontal pela orla da Baía de Sepetiba, e se segue até a Avenida da Américas ao

fundo.

O loteamento se desenvolve sobre áreas da baixada de Sepetiba,

alagada que possui mangues, apicum e restinga; área mais elevada com

vegetação variada, inclusive árvores de grande porte.

Em 1994 ficou constatado que parte do loteamento ainda não havia

sido implantado pela construtora, principalmente as áreas de baixada, pois

eram alagadas e, portanto, necessitavam de aterro. Entretanto, havia em torno

dos lotes já aterrados, construções em andamento ou já concluídas podendo -

se perceber claramente a ocupação gradativa desta área.

Em 1995 ficou constatado que as ocupações não cessaram; novas vias

de acesso foram abertas, inclusive sobre a área de apicum, houve

desmatamento do mangue para uso doméstico e construção de cercas e

também a queima de resíduos sólidos domiciliares e públicos.

A Comunidade do Rio Piraquê surgiu efetivamente a partir de

ocupações irregulares. Muitos lotes foram comprados, mas a grande parte

ainda pertence à Companhia Construtora Vila Mar e foram invadidos, em sua

maioria, por migrantes nordestinos.

5.2.1 - Favela.

As ocupações na comunidade, segundo o IPLANRIO4 são de

características subnormais e o local é considerado como Favela. Favela do Rio

Piraquê (vide Anexo 3, p.59).

4 Empresa Municipal de Informática.

31

As ruas não possuem pavimentação, com exceção da Rua da

Capelinha e Travessa do Piraquê, mesmo assim não totalmente e isso só

ocorreu após inúmeras reclamações; não existem redes de esgotos e

drenagem, e o sistema de abastecimento de água é precário.

Há casos de inúmeras reclamações de moradores do loteamento à

Prefeitura, que reivindicam uma infra-estrutura no local. A questão está no fato

de que á a construtora a responsável pela implantação da infra-estrutura, no

caso a construtora Vila Mar de Guaratiba.

5.2.2 - Grupo de trabalho.

A partir de estudos de viabilização de projetos com a finalidade de

preservar e recuperar o ecossistema da região, a Secretaria Municipal de Meio

Ambiente implantou a partir de proposta para atuação na área, um grupo de

trabalho para estudo, definição dos usos e recuperação das áreas degradadas.

Haja vista o loteamento da Vila Mar de Guaratiba apresentar vários

tipos de ocupação com diferentes níveis de implantação de infra-estrutura

urbanos e diversos tipos de vegetação. O loteamento foi dividido em 8 (oito)

áreas a fim de facilitar a caracterização de cada uma. Cabe destacar que a

comunidade do Rio Piraquê pertence à Área 1 (um).

O Grupo de Trabalho (GT), constituído por representantes das

Secretarias de Meio Ambiente, Urbanismo, Habitação, Desenvolvimento Social,

Governo e Obras; da Fundação Rio Águas e da Procuradoria Geral do

Município, a partir de inúmeras pesquisas, elaborou um relatório final com o

diagnóstico da área em questão.

Dentre alguns de seus objetivos do Grupo de Trabalho destacam-se:

Definir plano de ação a curto, médio e longo prazo; Viabilizar ações

necessárias para a recuperação da área e coordenar a execução das ações

propostas, acionando e acompanhando os órgãos responsáveis.

32

Dentre as propostas elaboradas pela Coordenação de Controle

Ambiental para recuperação das áreas cita-se:

Ü Controle da expansão das ocupações;

Ü Remanejamento dos moradores que ocupam as margens do Rio

Piraquê. Existem áreas dentro do loteamento onde poderia haver a

re-alocação das ocupações e, dessa forma, a área desocupada

seria recuperada;

Ü Melhoria da infra-estrutura urbana nas áreas já totalmente

implantadas e consolidadas.

5.3 - A Comunidade do Rio Piraquê - A Família Piraquê

A maioria dos moradores da Comunidade do Rio Piraquê, migrantes

nordestinos, se instalou nessa região vinda da Favela da Tijuquinha. Foram

indenizados e compraram seus terrenos às margens do Piraquê. Segundo

depoimento dos primeiros moradores, no local não havia luz, água, esgoto; as

condições eram mais precárias que atualmente.

Mesmo com poucos recursos, os moradores da comunidade

encontraram uma forma de lidar com os organismos públicos de atendimento a

população através de seus movimentos comunitários.

A associação dos Moradores do Rio Piraquê foi fundada segundo o

atual Presidente da associação, Sr. Petruce F. de Souza em 07 de agosto de

1980 e localiza-se na Rua da Capelinha 34 em Pedra de Guaratiba.

33

O atual grupo que integra a associação assumiu a função há um ano e

seis meses, aproximadamente, e já procura desenvolver diversas atividades

envolvendo os moradores, tais como:

Ü Trabalho com crianças da localidade – Escolinha de Futebol;

Ü Exames de vista aos domingos na sede, convênio com uma ótica

da região. A associação pede, apenas, em troca do exame, um

quilo de alimento não perecível a fim de montar cestas de

mantimentos para as famílias mais carentes do Piraquê.

Está em planejamento a realização de atividades com a terceira idade.

Figura 1 - Associação de Moradores

Da esquerda para a direita: Srs. Sebastião (morador), Petruce F. Souza (presidente da associação de moradores), Carlos Roberto (tesoureiro), Natália (guardiã mirim) e Paulo Roberto (tesoureiro 2).

34

5.4 - Educação

No início da década de 80, em função da carência de espaços

destinados à educação, a comunidade iniciou sua organização através da luta

pela educação na idade pré-escolar e dos movimentos de alfabetização (antigo

MOBRAL/EDUCAR). A comunidade conseguiu então a instalação de uma

creche, na verdade, a transformação da Paróquia para um espaço de creche,

denominada CEMASI – Creche Nossa Senhora da Glória, que foi fundada no

dia 15/12/1987.

O espaço pertencia à Igreja Católica da comunidade sendo que, a

princípio, a creche funcionou junto à Igreja por um período de três anos, e

atende sessenta e seis crianças, em sua maioria filhos ou netos de nordestinos.

Custeada pela Prefeitura do Rio de Janeiro, mas, até 2001 estava

subordinada a SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social), ainda

encontra-se em processo de transição, pois há benefícios ainda mantidos pela

SMDS, como a merenda, por exemplo.

A creche possui convênio com o Abrigo Nazareno, que é o responsável

por manter os profissionais que trabalham com recreação e pessoal do serviço

de limpeza da instituição.

Trabalham na creche:

Ü Diretora: Elcinea Daltro Chaves – Funcionária da SME;

Ü Funcionários da SME;

Ü Recreadoras mantidas pelo Abrigo Nazareno;

Ü Pessoas para serviço de Limpeza.

35

As crianças ficam na creche até completarem três anos e onze meses.

Com quatro anos são matriculadas diretamente em escolas próximas.

Figura 2 - Creche na Rua da Capelinha

O horário de funcionamento da creche é de 7:30 às 17:30.

Uma das reivindicações dos moradores é a construção de escola na

comunidade, uma vez que não dispõe desse atendimento no loteamento. As

crianças são então, encaminhadas para escolas da Pedra de Guaratiba e, uma

das mais próximas é a Professor Castilho, em frente à Fazenda Modelo.

36

5.5 - A Comunidade e o Meio Ambiente

O Rio Piraquê nasce na vertente sul do maciço da Pedra Branca

com o nome de Rio da Prata, abre caminho na planície de Campo Grande

com o nome de rio Cabuçu – Gatos e deságua na localidade de Pedra de

Guaratiba com o nome de Rio Piraquê. O seu curso é sinuoso e mede cerca

de 18,3 km.

Atualmente, constitui um notável exemplo das modificações que

decorrem do mau tratamento de nosso ecossistema. Há alguns anos fonte de

alimento para a população ribeirinha hoje se apresenta praticamente "morto”.

As obras para ampliação do Porto de Sepetiba, o esgoto dos moradores da

comunidade e a poluição causada pela MICHELIN constituem em alguns de

seus algozes.

Toda a vegetação encontrada ao redor do Piraquê, os manguezais,

também está desaparecendo, vítima não somente do desmatamento para a

construção de casebres como também, da dragagem que está sendo realizada

e que acaba por liberar os metais pesados liberados há muito tempo pela

MICHELIN e que encontravam-se acumulados no fundo do rio.

As áreas dos manguezais são consideradas de preservação

permanente pela Lei Federal 4771 do Código Florestal. E para tentar

garantir essa preservação foi criada a Reserva Biológica e Arqueológica de

Guaratiba.

Em setembro de 1998 teve início o Projeto Mutirão do Reflorestamento,

a fim de recuperar o Rio Piraquê. Este projeto conta com a parceria da

Comunidade do Piraquê e prevê plantio de cinco hectares, além da

conservação de outros doze hectares, localizados nesta área.

37

Às margens do Piraquê está sendo realizado o reflorestamento.

Segundo Luci Candido Farias, agente ambiental e moradora do Piraquê, as

mudas são fornecidas pela fazenda modelo e os indivíduos que plantam, fazem

parte do mutirão do reflorestamento que atua nas áreas da Barra de Guaratiba,

Taquaral, Bangu e Encosta do Rio Piraquê.

Esse trabalho faz parte do Projeto de Educação Ambiental em área de

Reflorestamento – PEAR, e atua também em escolas, através de palestras,

cursos de reciclagem, reaproveitamento de materiais. O PEAR está ligado à

Secretaria do Meio Ambiente e está dividido em grupos que trabalham com o

reflorestamento e grupos que trabalham com águas do rio - Guardiões do Rio

(vide Anexo 2, p.58 ).

Figura 3 - Rio Piraquê

,

38

Figura 4 - Mudas para Reflorestamento

39

CAPÍTULO VI

Resultado e Relatório da Pesquisa

“Inesgotável tem sido a sabedoria dos que duvidam

porque ignoram. Na vertigem das ceretezas surgem as

visões embaçadas que descortinarão novas

perplexidades. Tentamos preservar alguma divindade

naquilo que profanamos com êxtase e pavor: um novo

mundo, admirável, virtual e cibernético, compensando o

que, na verdade, será pó.”

Fernando Pessoa

40

Resultado e Relatório da Pesquisa

Neste capítulo serão apresentados, inicialmente, os resultados em

percentuais das 12 (doze) questões que fazem parte do questionário aplicado

na Comunidade do Rio Piraquê. Tais resultados serão apresentados por meio

de gráficos a fim de possibilitar uma visão mais clara do perfil dos moradores.

6.1 - Apresentação do Resultado da Pesquisa

Questão 1: A quanto tempo o senhor(a) mora nesta localidade?

Figura 5 - Gráfico ilustrativo do tempo de moradia na comunidade

0%

17%

0%

83%

Menos de 5 anos

De 5 a 10 anos

De 10 a 15 anos

Mais de 15 anos

41

Questão 2: De qual região do pais o senhor(a) veio?

Figura 6 - Gráfico ilustrativo da região de origem

Questão 3: Qual o motivo de sua vinda para o Rio de Janeiro?

Figura 7 - Gráfico ilustrativo do motivo da migração

0%

67%

0%

33%

0%

Norte Nordeste

Sul Sudeste

Centro-Oeste

53%

14%

33%

Desemprego

Seca

Outros

42

Questão 4: Por que escolheu o bairro de Guaratiba para morar?

Figura 8 - Gráfico ilustrativo do motivo da escolha de Guaratiba

Questão 5: O senhor (a) trabalha?

Figura 9 - Gráfico ilustrativo dos moradores que trabalham e local

39%

11%

39%

11%

Falta de Opção

Custo de Vida mais Barato

Tranquilidade

Outros

15

0

1

0 2 4 6 8 10 12 14 16

Zona Oeste

Zona Norte

Zona Sul

Não 2Sim 16

43

Questão 6: Qual a sua profissão?

Diversas profissões foram mencionadas, dentre as quais destaque para

Vigia, Diarista, Polícia Militar, Cabeleireiro (a), Camareira, Copeiro, Fiscal de

Loteamento, Pescador, Comerciante, Ladrilheiro e etc.

Questão 7: Qual a sua renda ?

Figura 10 - Gráfico ilustrativo da renda

0%

28%

33%

39%

Menos de 1 salário

1 salário

2 salários

3 salários ou mais

44

Questão 8: Sua residência é....

Figura 11 - Gráfico ilustrativo do tipo de residência

Questão 9: Quanto ao grau de escolaridade

Figura 12 - Gráfico ilustrativo do grau de escolaridade

94%

6%

Própria Alugada

28%

33%17%

22%

1º grau incompleto, não concluiu o primário.

1º grau incompleto, concluiu o primário.

1º grau incompleto, não concluiu o ginásio.

1º grau completo.

45

Questão 10: O senhor (a) tem filhos? Quantos?

Figura 13 - Gráfico ilustrativo do percentual de filhos na comunidade

Questão 11: Como classificaria, na região, os serviços de...

Figura 14 - Gráfico ilustrativo da avaliação dos serviços essenciais

Questão 12: Como o senhor (a) definiria a importância do Rio Piraquê

para esta comunidade?

94%

6%

Sim Não

Posto de Saúde Abastecimento deÁgua

Transporte Saneamento Coleta de Lixo

0

2

4

6

8

10

12

14

16

BomRegularRuim

46

A população é unânime em afirmar que as condições do Rio Piraquê,

não são propícias à pesca, banho e etc. devido à poluição provocada pela

Fábrica da MICHELIN.

6.2 - Análise Conclusiva dos Gráficos

1) Em relação á Figura 1 - Gráfico ilustrativo do tempo de moradia na

Comunidade, podemos afirmar, que o tempo mínimo de fixação de

cada família nesse local é de pelo menos 5 (cinco) anos, variando

até mais de 15 (quinze) anos, o que nos comprova, que apesar dos

problemas ambientais lá existentes, essas famílias acham o local

tranqüilo e ideal para morar;

2) De acordo com a Figura 2 - Gráfico ilustrativo da região de origem,

podemos concluir, que a maioria (2/3) das pessoas, que fazem

parte dessa comunidade são oriundas de processos migratórios da

região Nordeste e, que vieram para esse local, a fim de garantirem

as suas sobrevivências;

3) Com base na Figura 3 - Gráfico ilustrativo do motivo da migração,

concluímos, que os principais fatores que motivaram a vinda dos

Nordestinos para o Rio de Janeiro, se deve ao fato de não terem

encontrado em sua região de origem, condições socioeconômicas

e sócio-ambientais mínimas, para sobreviverem de maneira digna,

porque lá conviviam com problemas, tais como falta de moradia

própria, de emprego, de acesso a escola, de água, de saneamento

básico e de melhores condições de vida etc., para si e seus

familiares;

4) A Figura 4 - Gráfico ilustrativo do motivo da escolha de

Guaratiba para morar, apresenta 2 (dois) itens que mais

47

colaboraram nesse aspecto, que é a falta de opção e a

tranqüilidade do local. Só que ao analisarmos essa situação,

constatamos, que essa comunidade na verdade foi escolhida

por propiciar a esses migrantes nordestinos a oportunidade na

época de adquirirem um espaço físico (terreno), por preços

irrisórios ou através de um processo de invasão ilegal por se

tratar de área particular com titularidade, visto que naquela

época houve pouca intervenção das autoridades constituídas

para expulsarem os invasores;

5) Analisando as informações contidas na Figura 5 - Gráfico

ilustrativo dos moradores que trabalham e local, detectamos que

94% (noventa e quatro por cento) dos trabalhadores da

comunidade exercem suas profissões na zona oeste com maior

incidência na Barra da Tijuca e 6% (seis por cento) presta

serviço na zona sul. Em ambos os casos a força de trabalho é

obrigada a deslocar-se para locais bem afastados de suas

residências, pelo fato do mercado de trabalho existente no seu

bairro de origem não absorver esse tipo de mão-de-obra

(conforme especificação contida na Questão 6 - Qual a sua

profissão);

6) A Questão 6, que trata das profissões encontradas, com

predominância na comunidade, nos mostra que os trabalhadores

de comunidade possuem baixo grau de escolaridade e, em

virtude disso exercem profissões inerentes a cargos

operacionais;

7) Ao analisarmos a Figura 6 - Gráfico ilustrativo da renda,

constatamos que essa comunidade é constituída, na sua maioria

de trabalhadores, que possuem baixa renda mensal, visto que 61%

48

(sessenta e um por cento) dos entrevistados ganham até 2 (dois)

salários mínimos, enquanto que os 39% (trinta e nove por cento)

restante tem renda mensal de 3 (três) ou mais salários mínimos.

Assim sendo concluímos, que essa força de trabalho possui um

poder aquisitivo limitado, o que restringe sua participação em

eventos de lazer ou de outras formas de entretenimento realizados

fora da sua comunidade;

8) De acordo com as análises das informações contidas na Figura

7 - Gráfico ilustrativo do tipo de residência, concluímos que

94% (noventa e quatro por cento) possui casa própria em

virtude de no passado, por ocasião do início da ocupação,

grande parte dos atuais moradores da comunidade, terem

invadido uma das áreas do Loteamento Vila Mar, para garantir

um terreno ou fração do mesmo e, em outros casos adquiriram

esses imóveis de maneira irrisória e irregular, e com esse

procedimento foi criada a Comunidade Piraquê. Os 6% (seis por

cento) restante se refere a 1 (um) morador, que vive em casa

alugada, sendo este caso, praticamente uma das exceções

verificadas no local;

9) Em relação à Figura 8 - Gráfico ilustrativo do grau de

escolaridade, apuramos que existe um baixo nível de

escolaridade, apuramos que existe um baixo nível de

escolaridade, visto que não tivemos nenhum dos entrevistados

com o curso médio ou superior. Só encontramos moradores com

no máximo o ensino fundamental completo, tal fato, se deve a

falta de oportunidade, que essa população de migrantes

Nordestinos tiveram para estudarem nos seus estados de origem

e, atualmente por estarem trabalhando bem longe de suas

moradias e muitas vezes em horários não compatíveis com o

horário escolar. E também pelo fato de terem que pegarem

49

condução para se deslocarem para a escola mais próxima

de suas residências, o que acarreta mais gastos para

esses trabalhadores de baixa renda. Com todos esses contra-

tempos fica cada vez mais difícil o retorno dessas pessoas à

escola;

10) Com base, na Figura 9 - Gráfico ilustrativo do percentual

de filhos na comunidade, observamos que a maioria das famílias

possuem em média 2 (dois) filhos e 80% (oitenta por cento)

dos filhos estão estudando. E só 20% (vinte por cento) estão

com seus estudos parados, por terem concluído o ensino médio

e, não terem condições financeiras de cursarem uma

universidade;

11) Analisando a Figura10 - Gráfico ilustrativo dos serviços essenciais,

podemos concluir que: os serviços médicos prestados pelos 2 (dois)

Postos de Saúde próximos da comunidade, foram classificados como

sendo de atendimento regular. Enquanto, que os serviços de

abastecimento de água e de coleta de lixo foram considerados

satisfatórios e, os serviços de transporte e de saneamento básico

foram classificados como precários, ou seja, precisam ser melhorados

urgentemente, para atender plenamente as necessidades da

população local;

12) Na questão, que aborda à importância do Rio Piraquê para esta

comunidade, podemos observar um aspecto curioso, isto é, a

população desta região aponta uma fábrica de pneus existente na

região, como a única responsável pela poluição ambiental existente

no referido rio. Porém esses moradores esquecem, que fazem

parte desse processo de degradação ambiental, visto que por falta

de saneamento básico (rede de esgoto), lançam seus dejetos

50

diretamente nesse rio, colaborando de maneira negativa para a

conservação do mesmo.

6.3 - Relatório Sobre o Resultado da Pesquisa

Com a pesquisa de campo realizada junto aos moradores da região,

tornou-se possível destacar as características gerais da comunidade. E,

a partir da análise das respostas do questionário e das constatações

feitas durante essa visita, faz-se necessário relatar o resultado dessas

observações.

Foi possível constatar que os moradores dessa região trabalham, em

sua maioria, na Barra da Tijuca.

Quanto ao nível sócio-econômico e cultural, a comunidade pode

ser classificada como de baixa renda; baixo nível de escolaridade; boa inserção

no mercado de trabalho com predominância nas atividades de pedreiro, criador

de animais, pescador e mecânico, faxineiro, vigilantes, ou seja, serviços

auxiliares.

O abastecimento de água da área se faz fora dos padrões oficiais, a

maioria foi implantada pelos próprios moradores, que classificam esse

“atendimento” (irregular) como satisfatório. Para a regularização do

abastecimento torna-se necessário um projeto de saneamento da região,

aprovado pela CEDAE.

Toda a região estudada é desprovida de saneamento básico,

providência que deveria ser tomada pela Cia Vila Mar.

As reivindicações da comunidade são: de obras de asfaltamento e/ou

pavimentação, serviços de tapa buracos, canalização, aterros etc.

51

A Comunidade utiliza dois Postos de Saúde: o da Fazenda Modelo e o

da Pedra de Guaratiba, mas ambos oferecem um atendimento longe de ser

definido como satisfatório.

Os moradores desse loteamento de modo geral apresentam

identificação com a cultura nordestina que se traduz através do forró na

comunidade da Capelinha.

A valorização da cultura nordestina tem marcas expressivas nesse local. E a

partir dessas considerações torna-se mais fácil entender como é a realidade desse

grupo social que apesar das dificuldades, tem nas margens do Rio Piraquê seu lar.

Segundo o depoimento de grande número de moradores, foi a falta de opção que os

trouxe ao Piraquê, mas, que não há outro lugar onde gostariam de viver.

6.4 - Relação da Questão Ambiental com os Problemas

Ambientais da Comunidade

De maneira geral a falta de saneamento básico, de conscientização

ambiental e o baixo grau de instrução dos moradores, contribuem de maneira

significativa para a poluição e a conseqüente degradação ambiental dessa

comunidade e, principalmente do Rio Piraquê.

Em relação à poluição ambiental, podemos apontar outra prática

incorreta desencadeada por essa população ribeirinha, que é a construção de

sumidouros em seus terrenos, para escoarem seus dejetos. Esse procedimento

ilegal causa contaminação do solo, principalmente do lençol freático, além de

poder causar nessa população, doenças de várias naturezas, que podem ser

contraídas ao se ter contato com esses resíduos de coliformes fecais.

Outro problema, que está gerando impacto ambiental na região, é a

construção de moradias nos manguezais (áreas de preservação ambiental)

52

existentes nessa comunidade, visto que esse tipo de ação destruiu e continua

destruindo a fauna e a flora localizados nesse ambiente.

Apesar das coletas dos lixos serem feitas regularmente, várias pessoas

depositam seus lixos nas margens do rio e, às vezes até mesmo no seu interior

ou quando não jogam esse material em terrenos baldios. Essa postura gera

mau cheiro no ambiente e, atrai insetos transmissores de doenças, podendo

causar enfermidades àqueles, que por ventura tenham contato direto com esse

tipo de material, ou que sejam picados ou mordidos por esses mesmos insetos.

Em alguns casos encontramos valas a céu aberto, referentes às

instalações de esgotos feitas por alguns moradores, que transferem esse

material poluente diretamente de suas casas, para o rio Piraquê. Essa situação

proporciona o aparecimento de doenças, principalmente em dias chuvosos,

aonde a água limpa irá se misturar com esses coliformes fecais, criando poças

e bolsões da água em seu redor.

Outra questão ambiental é o fato de grande parte dos habitantes dessa

comunidade, não terem acesso à água distribuída e comercializada pela

CEDAE, pelo fato de não haver instalação para receber essa água, na maior

parte das áreas ocupadas por esses moradores. Por isso, os mesmos são

obrigados a cavarem poços para atender suas necessidades, mas por outro

lado, ficam vulneráveis quanto ao problema desse solo poder estar

contaminado, em função de vários moradores vizinhos estarem usando

sumidouros em seus terrenos, para escoarem seus esgotos. Fato esse, que

coloca em cheque a qualidade dessa água obtida nesses poços.

53

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste trabalho monográfico, inúmeras questões surgiram e

junto com ela a necessidade de abordá-las a fim de não somente enriquecer o

trabalho como também, apresentar o quão é contraditória a nossa realidade, o

quão difícil se torna fazer escolhas.

Ao iniciar o trabalho de pesquisa, detive-me ao fato de tratar-se de uma

comunidade que cresceu às margens de um rio, uma comunidade de pessoas

humildes, vindas do nordeste, a maioria, em busca de melhores condições de

vida e que, por falta de opção, instalaram-se nessa região sem nenhuma infra-

estrutura. Essas pessoas constituíram famílias, e seus filhos permanecem lá,

fazendo, dessa forma, a comunidade crescer mais e, conseqüentemente, os

problemas também.

Ao realizar a pesquisa de campo e entrevistar as pessoas, foi

possível constatar a realidade de cada entrevistado, ouvir relatos muitas

vezes emocionados de suas vidas e perceber que ainda há muito que se

melhorar.

São várias as razões desses problemas e de uma forma geral

podem ser atribuídas as já conhecidas questões sociais. A falta de

condições de vida obriga famílias a alojarem-se em locais impróprios, não

somente por tratar-se de área de preservação como também por não ser

adequada a moradia.

Daí decorre toda a problemática da questão migratória; homens e

mulheres vêm para a região Sudeste a fim de garantir a sobrevivência e

muitas vezes não encontrando espaço e incentivo, instalam-se onde há

54

lugar, independente de ser o ambiente propício à moradia ou não.

Prejudicando, dessa forma, a si e ao meio ambiente, ou seja, prejudicando-

se duas vezes.

Como propostas de melhorias ambientais para a Comunidade do Rio

Piraquê, sugerimos elaborar um Projeto de Educação Ambiental, para

conscientizar os moradores da comunidade no que concerne a preservação e

conservação desse espaço comunitário; mobilização para conseguir junto aos

órgãos públicos a realização urgente de obras para resolver o problema de

saneamento básico dessa população; tomar providências no sentido de

despoluir o rio Piraquê; elaborar e implantar um Programa Gerador de Renda

para essa comunidade; propor a Secretaria de Educação e a Secretaria

Estadual de Obras do Estado do Rio de Janeiro à construção de uma escola

para ministrar o ensino fundamental, médio e o curso de alfabetização, sendo

este para os jovens e adultos e, que esses cursos venham funcionar também

em horário noturno; propor à Secretaria Municipal de Transportes Urbanos

(SMTU), soluções que visem melhorar a qualidade do sistema de transportes

oferecidos a essa comunidade, visto que atualmente esse serviço é prestado

de maneira precária; propor à Prefeitura do Município do Rio de Janeiro a

construção de um Posto de Saúde e de pelo menos uma área de lazer, aonde

possamos contar com play-groud e quadras poliesportivas para práticas de

vários esportes; realizar palestras e oficinas de trabalho, visando ensinar como

fazer artesanatos e reciclar materiais(papel, jornal, garrafa Pet etc.);

implementar o curso de dança de Salão e de práticas esportivas, inclusive para

os moradores que estejam na 3ª (terceira) idade; elaborar um programa

específico para recuperar as áreas degradadas dos Manguezais lá existentes.

As medidas propostas aqui visam acima de tudo melhorar a qualidade

de vida dessa população ribeirinha, bem como resolver ou minimizar os

55

problemas e/ou impactos ambientais existentes nessa comunidade, que por

sua vez, foram causados por ações antrópicas.

56

ANEXOS

Índice de Anexos

Anexo 1 - Cartão do Presidente da Associação de Moradores --------------------

Anexo 2 - Panfleto - Projeto Guardião do Rio ------------------------------------

Anexo 3 - Relação das Favelas do Rio de Janeiro ---------------------------

Anexo 4 - Questionário Aplicado à População --------------------------------------

Anexo 5 - Primeira Atividade Cultural ------------------------------------------------

Anexo 6 - Segunda Atividade Cultural --------------------------------------------------

Anexo 7 - Terceira Atividade Cultural ------------------------------------------------

Anexo 8 - Quarta Atividade Cultural -------------------------------------------------

57

58

59

60

61

62

63

64

57

ANEXO 1

Cartão do Presidente da Associação de Moradores

58

ANEXO 2

Panfleto - Projeto Guardião do Rio

59

ANEXO 3

Relação das Favelas do Rio de Janeiro

60

ANEXO 4

Questionário Aplicado à População

61

ANEXO 5

Primeira Atividade Cultural

62

ANEXO 6

Segunda Atividade Cultural

63

ANEXO 7

Terceira Atividade Cultural

64

ANEXO 8

Quarta Atividade Cultural

65

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia Econômica. 12ª. ed. São Paulo:

Atlas, 1998.

ANDRIGHETTI, Yná. Nordeste, Mito e Realidade. São Paulo: Moderna, 1998.

CASTRO, Iná Elias de, CORRÊA, Roberto Lobato e GOMES, Paulo César da

Costa (organizadores). Explorações Geográficas. 2ª. ed. Rio de Janeiro:

Bertrand Brasil, 1997.

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Região Sudeste. Rio de Janeiro: SERGRAF-IBGE, Volume 3, 1977.

Geo UERJ Revista do Departamento de Geografia. Migrantes, Garimpeiros e

seu “Lugar” no Território Nacional: Itinerância e Mobilidade Espacial do

Trabalho. Rio de Janeiro: UERJ, Nº 1, Jan de 1997.

MARTINE, José Carlos P. Peliano. Migrantes no Mercado de Trabalho

Metropolitano. 1ª. ed. Brasília: IPEA, 1978.

RUA, João. Repensando a Geografia da População. Geo UERJ. Rio de

Janeiro: UERJ, Nº 1, Jan de 1997.

VALIM, Ana. Migrações: Da Perda da Terra à Exclusão Social. 2. ed. São

Paulo: Atual, 1996.

66

Diário Oficial do Município do Rio de Janeiro – Poder Executivo Ano XVI nº 80,

Terça-feira, 16 de julho de 2002. Decreto 21741 de 15/07/02.

www.saopedropostolo.com.br/historia de guaratiba.htm

www.rio.rj.gov.br/smac/refloresta_mangue.htm

67

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

AGRADECIMENTO

DEDICATÓRIA

RESUMO

METODOLOGIA

SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS E GRÁFICOS

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

FENÔMENO DA MIGRAÇÃO - ASPECTOS GLOBAIS

CAPÍTULO II

FENÔMENO DA MIGRAÇÃO NO BRASIL

CAPÍTULO III

A REGIÃO NORDESTE E AS CAUSAS DA MIGRAÇÃO

CAPÍTULO IV

A MIGRAÇÃO NORDESTINA PARA O SUDESTE

CAPÍTULO V

A COMUNIDADE DO RIO PIRAQUÊ

5.1- Aspecto histórico a considerar

5.2- O histórico de ocupação da comunidade do Rio Piraquê

5.2.1- Favela

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5.2.2- Grupo de trabalho

5.3- A comunidade do Rio Piraquê - A família Piraquê

5.4- Educação

5.5- A comunidade e o meio ambiente

CAPÍTULO VI

RESULTADO E RELATÓRIO DA PESQUISA

6.1- Apresentação do resultado da pesquisa

6.2- Análise conclusiva dos gráficos

6.3- Relatório sobre o resultado da pesquisa

6.4- Relação da questão ambiental com os problemas ambientais da

comunidade

CONSIDERAÇÕES FINAIS

ANEXOS

BIBLIOGRAFIA

ÍNDICE

FOLHA DE AVALIAÇÃO

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Projeto A Vez do Mestre - AVM

Título da Monografia: “A Migração Nordestina e a Construção da Comunidade

do Rio Piraquê em Pedra de Guaratiba”

Autor: CARMO, Adilson Mello do.

Data da entrega: 31 de janeiro de 2004

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Avaliado por: Conceito:

Conceito Final: