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LISBOA VINTAGE APAIXONADOS POR HISTÓRIA, FOTOGRAFIA E DESIGN DE MODA DO INÍCIO DO SÉCULO XX JUNTARAM-SE EM FEVEREIRO NUM COLETIVO REVISTA 31/AGO/13

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LISBOA VINTAGEAPAIXONADOS PORHISTÓRIA, FOTOGRAFIAE DESIGN DE MODA DOINÍCIO DO SÉCULO XXJUNTARAM-SEEM FEVEREIRONUM COLETIVO

REVISTA 31/AGO/13

TENDÊNCIA

São cada vez mais as pessoas que se rendem ao charmedas décadas mais recuadas do século XX. Seja por opçãoestética, por gostarem da música de então ou peloglamour da época, há várias gerações que vivem quasecomo se estivessem noutro tempoREPORTAGEM DE KATYA DELIMBEUF (TEXTO) E JORGE SIMÃO (FOTOGRAFIAS)

Vidasvintage

REVISTA 31/AGO/13

FESTA LINDY HOPESTA DANÇA, ORIGINÁRIADO HARLEM, NOVAIORQUE, NOS ANOS 20E 30, ESTÁ CADA VEZ MAISEM VOGA EM PORTUGAL.ENSINA-SE EM VÁRIOSSÍTIOS. NA FOTO, FESTANA GALERIA ZÉ DOS BOIS,EM LISBOA

NÁDIA DOMINGOSFORMADA EM DESIGNDE MODA, ASSUMIU OVINTAGE NO DIA A DIAQUANDO TINHA 17ANOS

REVISTA 31/AGO/13

OOs lábios carmim prendem a aten-ção. Na casa de Mafalda, em Cam-po de Ourique (Lisboa), construídanos anos 50, sentimo-nos comonum filme de época. Chet Baker to-ca suavemente na aparelhagem, osofá Olaio, o design tradicional doEstado Novo, ocupa o centro da sa-la, marcada pelo papel de paredevintage e o aparador anos 40, com“pés de palito”, pelo qual se apaixo-nou. Pousada em cima, uma jarraBordallo Pinheiro. No quarto, os re-tratos das avós, em molduras bran-cas, dão o tom. A cama, de cabecei-ra forrada a tecido, o toucador artdéco, com o banco estampado deigual, e o guarda-vestidos dos anos40 completam a decoração.

Para Mafalda Carvalho, 24anos, freelance de comunicação eweb designer, o gosto pelo vintageveio do apreço pela qualidade e pe-lo conhecimento histórico. “Tenhouma profissão estranha paraquem vive parada no tempo, eusei”, graceja. A casa de Mafalda é,literalmente, a cara dela. O seumundo é feito de saias rodadas, ro-

los de cabelo que transforma empenteados impecáveis, objetos dedesign, padrões e revistas da déca-da de 50.

É impossível passar desperce-bida na rua. A forma como se ves-te e penteia atira inevitavelmentepara uma personagem de filme.Os mais velhos elogiam, os maisnovos estranham. Mafalda não seatrapalha. Há muito que se habi-tuou a assumir a diferença. “Fuisempre uma miúda ‘esquisita’”,conta. “Aos 10 anos, lia romancespoliciais dos anos 40, livros doBlake & Mortimer. Enquanto osoutros brincavam com consolas,eu lia, fazia desporto, dançava bal-let e tocava violino. O meu pai, so-ciólogo, sempre encorajou a leitu-ra e nunca nos deu educação de‘miúdas’.”

Aos 12 anos, Mafalda já era hip-pie. Depois, foi rockabilie, depoisainda “Lolita gótica” (uma subcultu-ra japonesa marcada pelo anime epela moda vitoriana, em que os se-guidores se vestem como bonecasde porcelana). “Na faculdade (licen-

ciou-se em Línguas e Literaturas,na Universidade Nova de Lisboa),era tão olhada de lado que chegueia andar à pancada por faltas de res-peito. Tenho direito a ser quemsou e os outros não têm nada a vercom isso”, declara, assertiva.

Identifica-se com a estética de-licada do vintage. Isso, e as viagensfrequentes a Londres, onde tomoucontacto com as lojas de roupa, le-varam-na assumir o modo de ves-tir. “Sinto-me bem assim”, contaela, que escolheu como padrão adécada de 50. “Gosto de valorizar aestética em todos os aspetos da mi-nha vida diária. E acho importantehonrar os objetos que já existiam,que até têm mais qualidade que osatuais. Adoro o estilo ‘PortuguêsSuave’ (arquitetura dos anos 40 e50 em Portugal), mas todo o posi-cionamento político do Estado No-vo não tem nada a ver comigo.Nem os valores da dona de casaprendada. Sou superindependentee feminista!”

Inês Castelo, 23 anos, vizinhade Mafalda, elegeu a década de 40.

CARLOS SILVAE SARA VARGASO CASAL NA LOJADE ROUPA ÀS DEESPADAS. FORAMELES QUE LANÇA-RAM AS FESTASVINTAGE COMDJ E SHOWDE BURLESCO

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O que é uma peça vintage?Vintage é uma palavra anglo-francesa usada pelos enólogos apartir do séc. XVIII para designar um ano de boa colheita deuvas, que favorecia o surgimento de um vinho de exceção.Nos últimos anos, a palavra foi adaptada, num contextodiferente, para melhor definir um objeto de um estilo perten-cente a outra época, nomeadamente das décadas de 1920 a1980. O requisito de uma peça para ser considerada vintage éter pelo menos 20 anos, representar uma época ou umamoda, ter um estilo próprio ou de designer, não ter sofridoqualquer transformação e estar em bom estado.

Os caracóis ruivos impecáveis, assobrancelhas desenhadas, o bâtonvermelho dão-lhe um perfil de di-va cinematográfica. Com um mes-trado em arqueologia, é atualmen-te maquilhadora. Chegou à estéti-ca vintage há dois anos, depois deuma “fase Lolita” e outra de cabelorapado. “Desde miúda que gostavamuito de História. E sempre mesenti diferente, mais madura. Gos-to muito da moda dos anos 20, aslinhas muito geométricas, mas é di-fícil encontrar roupa desta fase emPortugal. Por isso, escolhi os anos

40, que também adoro.” Inês vivena casa que era dos avós (dos anos30), que mantém com o papel deparede original e decorada com ob-jetos em segunda mão. “Gosto mui-to de viver em 2013, desde que pos-sa conciliar isso com o passado.”

O que leva raparigas na casados 20 anos a ficarem fascinadaspor décadas tão longínquas, queelas não viveram? A estética, o gla-mour, os objetos da época, a músi-ca. Foi por esta razão que nasceu,em fevereiro, o Lisboa Vintage (lis-boavintage.com), um guia online em

que ambas participam e no qual sepodem encontrar todas as infor-mações relacionadas com o tema,colocadas e tratadas por sete cola-boradores. Com exceção de um de-les — Sofia Quintas, fotógrafa fasci-nada por História —, o coletivo an-da na casa dos 20 anos. Têm forma-ção superior, quase todos têm ta-tuagens relacionadas com a estéti-ca dos marinheiros e do circo; qua-se todos têm blogues. Gostam decinema noir. Uns desenham roupaou acessórios, outros são dj de mú-sica vintage.

Basta estar minimamenteatento para perceber que o vintageestá de volta. Seja em séries de tele-visão — como “Mad Men”, “PanAm”, ou “Boardwalk Empire” —,em campanhas publicitárias, co-mo uma recente da Martini, ou atéem certos filtros usados em aplica-ções como o Instagram, há um re-vivalismo associado ao glamour daprimeira metade do século XX. Fil-mes como “O Grande Gatsby” ou areedição de “Vertigo”, de Hitch-cock, com atores de primeira linha

como Anthony Hopkins, HelenMirren e Scarlett Johansson, ates-tam essa tendência crescente. As-sim como o regresso de numero-sas bandas de música para concer-tos únicos (Heróis do Mar, Mler IfeDadá, Resistência). Na moda, o vin-tage também é bem visível — esteverão tem sido marcado pelosanos 60, o inverno passado foimarcado pelos anos 20, com gran-des cadeias, como a H&M, a surfa-rem essa onda, ou marcas de ma-quilhagem, como a Benefit ou aToo Faced, a assumirem essa estéti-ca nas suas campanhas.

A IMPORTÂNCIA DOS AVÓSMiguel Monjardino é o único ra-paz do grupo. Com 20 anos, finalis-ta de Design no IADE (Lisboa), temum visual irrepreensível: cabelopuxado para trás, com brilhantina,barba aparada, sapatos da NunesCorrêa, casaco com botões, quecombinou com uma T-shirt mo-derna. “Identifico-me com a quali-dade do vintage, acho que isso seperdeu, em detrimento do consu-

NAZARÉ E EDUARDOPINELA SÃO OS “PAIS”DO VINTAGE EM PORTU-GAL, QUE INICIARAMNOS ANOS 80

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mismo. Menos é mais.” Os avós deMiguel foram determinantes naevolução do seu gosto. “Eles ti-nham uma perfumaria, e o meutio-avô uma retrosaria em RioMaior. Trabalhei lá todos os verõese nas férias da Páscoa, dos 15 aos 17anos. Lembro-me do metro de ma-deira, das estantes com tecidos em-pilhados, dos botões.” Esses doisnegócios antigos, ligados ao comér-cio e à moda, foram a semente queviria a germinar.

Depois da primeira viagem aParis, Miguel descobriu a moda eperdeu-se nas lojas antigas. Aindahoje faz três a quatro desenhos pordia, num caderno de esquissos, ins-pirados na elegância de Balencia-ga ou Dior, casas onde gostaria detrabalhar.

Também Nádia Domingos —nome artístico “La Mermaid” — en-trou no universo vintage atravésda moda. A sua figura é marcante,com o cabelo platinado, envolvidonum turbante azul, o sinal no can-to do olho direito, que usa desde os18 anos, o piercing no nariz e as ta-

tuagens a povoar-lhe o corpo. Éuma espécie de anjo tatuado, comvoz e personalidade doce, belezaclássica, e as 17 tatuagens — omaior desgosto da avó. “Sempregostei de coisas antigas, de ir paracasa da minha avó e experimentaros óculos dela, de me deliciar comas fotografias antigas. A roupa éuma velha paixão, daí o Design deModa. Aos 13, 14 anos, comecei apesquisar na internet. Fui parar aovintage dos anos 80. À medida quefui crescendo e sentindo-me maissegura, comecei a comprar peçasmais femininas. Com 17 anos, vimviver para Lisboa e assumi o meuestilo. Também comecei a costu-rar — como a minha mãe, avó ebisavó”, conta. Hoje, Nádia temuma linha de acessórios de joiasvintage criada por ela, a Crystals toDust, e gostava de ser designer demoda. Imagina-se a criar linhasvintage, já que, confessa, na atuali-dade, nada a inspira.

Assumir a diferença nemsempre é fácil. “Nos transportespúblicos, na rua, até no trabalho,

as pessoas olham muito. Às vezesirrita-me, não tenho uma lata deCoca-Cola na cabeça!” Conta queuma vez, uma colega de Designde Moda de Cascais lhe pergun-tou se ela não tinha “vergonha desair assim à rua”. Fazer amigosnão foi óbvio para Nádia, que eratímida. A “turma” do Lisboa Vinta-ge, onde ficou encarregue das pro-duções e editoriais de moda, aca-bou por tornar-se num grupo deamigos precioso.

O VINTAGECOMO MODO DE VIDASão 9h30 da manhã na histórica vi-la de Sintra. De um Buick preto de1946 sai uma perna inteiramentetatuada, dentro de uma meia de re-de. A mulher é ruiva, magra e nãomuito alta. O condutor sai um mi-nuto depois, cabelo puxado paratrás, com brilhantina, roupa anos50. É impossível não se destaca-rem da multidão. Chamam-se Na-zaré e Eduardo Pinela e estão habi-tuados a chamar a atenção. Nãoque esse seja um objetivo, mas foi

EventosFestas Lindy-Hop Galeria Zé

dos Bois, Rua da Barroca, 59,Bairro Alto, Lisboa

Festival Great Shakin’ Feveranual, a agendar no Porto

Festas Cais Sodré Cabaretpor todo o país

Concertos das bandas rockMean Devils e TT Syndicate, portodo o país

BaresA Paródia (Cocktail Bar) Rua

do Patrocínio, 26, Campo deOurique, Lisboa

Old Vic Travessa HenriquesCardoso, 41-43, Alvalade, Lisboa

Povo Rua Nova do Carvalho,32-36, Cais do Sodré, Lisboa

Botequim do Largo da GraçaLargo da Graça, 79, Lisboa

Plano B Rua Cândido dosReis, 30, Porto

V5 Rua Mártires daLiberdade, 216, Porto

MAFALDA CARVALHONO VISUAL E NA CASA,A MENTORA DOSITE LISBOA VINTAGE,DE 24 ANOS, ADOTOUA ESTÉTICA DOSANOS 50

NUNO GOMEZMÚSICO DE VÁRIASBANDAS VINTAGE,É MAIS CONHECIDONO ESTRANGEIRO(ONDE DÁ CONCER-TOS HÁ MAIS DE 10ANOS) DO QUEEM PORTUGAL

Roteirovintage

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sempre assim. Desde a juventudeque são vintage, quando o vintageainda nem se chamava assim. Fo-ram os primeiros em Portugal a as-sumir este modo de vida.

Para os Pinela, de 48 e 49anos, “tudo começou pela música”.Na Escola António Arroio, onde seconheceram, com 18 anos, Eduar-do já integrava bandas de música.Ouvia-se Sex Pistols, punk-rockdos anos 70, eram os anos de Vi-

vienne Westwood na moda. Eleera punk, Nazaré vestia de preto.Em 1983, ela foi viver para Lon-dres. “Precisava de sair daqui”, de-sabafa. A capital inglesa “era um so-nho. Aceder aos grupos musicaispreferidos, à roupa, à abertura dopaís...” Viveu lá cinco anos, e assu-miu o vintage no dia a dia. Compra-va roupa no Flea Market de Lon-dres, no Marché aux Puces, de Pa-ris, em Bruxelas. “Nos anos 80, não

se falava de vintage. Era uma cultu-ra de segunda mão. “Hoje, está tu-do à distância de um clique, na in-ternet. No outro dia, Nazaré com-prou uma coleção de sapatos deuma judia alemã, da altura da Se-gunda Guerra Mundial. “Gosto deimaginar as vidas das pessoas aquem pertenceram estas roupas”,partilha. Lutar pela diferença foi al-go de que nunca abriu mão. “Che-guei a ser espancada na rua por ci-

ganos. Sempre tive de batalhar pa-ra ser aceite.”

Foi em Londres que Nazaréfez a primeira das numerosas ta-tuagens que lhe revestem o corpo,deixando apenas a cara livre. “Te-nho tatuagens que simbolizam omeu marido, os meus filhos, e qua-tro pessoas muito importantes pa-ra mim.”

Quando voltou a Portugal, pas-sou a integrar as bandas musicaisde Eduardo, primeiro como voz debackup, depois a tocar baixo. Umdos grupos mais conhecidos emque participou foi Capitão Fantas-ma, de que ambos fizeram partede 1988 a 1992. O filho mais velhodo casal, de 22 anos, andava comeles na estrada e absorveu muitadaquela cultura. O conhecimentomusical que tem hoje deve-se aostempos vividos naquele ambienteboémio.

Para Eduardo, o interesse pe-la música chegou cedo, na infân-cia, Depois veio o punk-rock, orock’n’roll. A “qualidade” destesom é o que ele destaca. “Tivemosmuita sorte em viver os anos 80.Foram tempos de grande criativi-dade em Portugal”, diz Nazaré. “Asbandas que surgiram nessa alturaeram todas muito diferentes”, refle-xo do fervilhar da época.

ATÉ OS CARROS SÃO ANTIGOSPara eles, a experiência no grupoCapitão Fantasma acabou porquejá eram pais e precisavam de sesustentar. Uma década mais tardeabriram a loja de tatuagens Bang--Bang, ainda hoje uma extensãodo seu modo de vida. Em plenocentro de Sintra, tem imensa pro-cura, devido “à qualidade do servi-ço, modéstia à parte”, diz Eduardo.O casal tem cinco carros vintage, omais antigo de 1946 (um Buickamericano do pós-guerra) e omais recente de 1977, uma “carri-nha pão de forma”, além de umChevrolet azul-bebé dos anos 50.Tiveram de construir uma gara-gem à medida, porque os carrosnão cabiam lá dentro.

Eduardo e Nazaré acreditam

INÊS CASTELOFORMADA EMARQUEOLOGIA,É MAQUILHADORA.FASCINADA PELOSANOS 40, CRIOUUMA LINHA DE ACES-SÓRIOS VINTAGE

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que a tendência do vintage vai con-tinuar a crescer, “pela nostalgia doque era bonito e tinha qualidade,mas também por alguns valoresque se perderam. A educação, a in-tegridade, não ser promíscuo, onão serem tudo facilidades”.

PORTO, A CENA MUSICALPedro Serra e Nuno Gomes sãodois dos protagonistas da cena roc-kabilly em Portugal, mais conheci-dos no mundo do que no retângu-lo luso. É com um misto de ironia enostalgia que Nuno fala dos inúme-ros concertos que já deram pelaEuropa, pelos EUA e pelo mundo,onde têm muito público, e como,por cá, nunca passaram uma can-ção deles numa rádio nacional.

Aos 36 anos, baterista em qua-tro bandas rockabilly — 49 Special(existente desde 2000), Mean De-vils (2001), The Chargers (2007) eTT Syndicate (2012) —, Nuno esbo-ça um sorriso sempre que ouveum anúncio na rádio de uma ban-da portuguesa que vai ao estrangei-ro dar um concerto, quando eles jáo fizeram centenas de vezes semqualquer cobertura nacional. “NosEUA, tocámos quatro vezes costa acosta, em Los Angeles, Las Vegas,Nova Iorque e New Jersey. Na Bél-gica e na Alemanha temos plateiasde 5000 pessoas. Em Portugal, porvezes temos 30.” Não foi por acasoque o último CD dos 49 Special foilançado na Bélgica. “No fim do con-certo, vendemos 400 unidades. Játoquei em quase todos os países domundo, e aqui ninguém sabequem somos”, lamenta Nuno.

O cabelo com brilhantina, aspatilhas, as tatuagens, tudo nos re-mete para o universo rockabilly.Mas o baterista garante que a ima-gem não é uma preocupação paraele e recusa ser reduzido a uma ca-ricatura. Aos 15 anos, começou a in-teressar-se por rock’n’roll — e pelo“Rei Elvis”. Aos 16 fez a primeira ta-tuagem, uma pin-up, entretanto so-terrada debaixo de outras. “Osanos 50 e 60 foram as décadas emque quase tudo foi inventado namúsica. Jazz, blues, tudo apareceu

nesta altura. Se posso ir beber àsraízes, porque tenho de ouvir os su-cedâneos?”, questiona.

O vocalista dos Mean Devils,Pedro Serra, 39 anos, integrouuma das primeiras bandas rocka-billy portuguesas, os TennesseeBoys, em 1987. Chegaram a viverdois anos no Colorado, EUA, comuma proposta de gravação de umaprodutora discográfica de Denver.“Grávamos 80 faixas, fomos à tele-visão, saímos nos jornais. Mas aofim de três LP, os vistos caduca-ram e tivemos de regressar à Euro-pa, onde andámos em digressãodurante dois anos e meio, numa su-cessão de concertos”, conta. Em1998, a banda terminou. E Pedroentrou na indústria farmacêutica— onde faz carreira há 16 anos,mantendo a música como paixãoem part-time. Canta, compõe, tocabateria e guitarra.

REI ELVIS E BRILHANTINAO amor ao som vem desde peque-no. Os pais inscreveram-no numaescola de música, e aos 7 anos, toca-va órgão e acordeão. “Nas férias,passavam filmes do Fred Astaire,do Gene Kelly, do Elvis Presley, natelevisão... Aquilo mexeu comigo.Pedi aos meus pais para me com-prarem um disco do Elvis.” Pedrofixou-se no rock’n’roll. Aos 12 anosencomendava discos como se nãohouvesse amanhã. “Só em 45 rota-ções, tenho 3000 discos em casa, ede 78 cerca de 200”. Pelos 14, 15anos, “houve um revivalismo dorock’n’roll em Portugal, e abracei o

lifestyle. Adotei a brilhantina, a rou-pa”. De há uns meses para cá, en-contraram um clube no Porto, oR&B Hot Club, para dar concertose festas vintage com dj e bandasconvidadas. “Como é um estilo mu-sical que já não se ouve muito, têmtido muita procura”, asseguram.

CABARET E BURLESCOFoi esse mesmo impulso que le-vou Sara Vargas (“Señorita Scar-lett”) e Carlos Silva (“Carlos Delu-xe”) a criar as primeiras festas vin-tage no nosso país, com dj, burles-co e banda convidada. Estávamosem março de 2007, e a ideia erapoder ouvir mais música vintagepara lá do rockabilly. “Do swingdos anos 30 ao rock’n’roll, do mam-bo ao chachachá ou à surf musicdos anos 60”, queriam trazer no-vos sons à noite lisboeta. Depois,vieram as bailarinas e surgiu oCais Sodré Cabaret, em que meni-nas vestidas à anos 50 faziam co-reografias inspiradas nos filmesantigos e no cinema noir, com umtoque de show burlesco.

Durante três anos, foi possívelvê-las no palco do Maxime. Partici-param em festivais internacionais,em Espanha, alguns dos quais Sarae Carlos frequentam a título pes-soal. Gostavam de ter mais públi-co, para poderem trazer a Portugalmais bandas internacionais. Masveem o interesse crescente do pú-blico pelo vintage como um bom in-dicador. A tendência parece tervindo para ficar. E durar... R

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Armazém do Chá Rua JoséFalcão, 180, Porto

Galerias de Paris Rua Galeriade Paris, 56, Porto

RoupaFeira da Ladra Mercado

de Santa Clara, Graça, LisboaViúva Alegre Rua da

Assunção, 19, Baixa, LisboaÁs de Espadas Rua Luz

Soriano, 18, Bairro Alto, LisboaBe Vintage Rua Almeida

e Sousa, 51A/B, Campode Ourique, Lisboa

Maria Gonzaga GuardaRoupa Estrada dos Prazeres,57-59A, Campo de Ourique,Lisboa

Rosa Shock Rua do Almada,225, Porto

Ornitorrinco Rua do Almada,325, Porto

Trash Vintage e Zareca’sStory Centro ComercialBombarda, Rua MiguelBombarda, 285, Porto

MobiliárioRemar Rua Possidónio

da Silva, 60A/B, Campode Ourique, Lisboa

Casa Pélys Rua TomásAnunciação, 62B/C, Campo deOurique, Lisboa

Sótão Pátio do Tijolo, 1,Príncipe Real, Lisboa

Loja Antiga Rua Andrade, 8A,Anjos, Lisboa

YoYo Rua do Arco a SãoMamede, 87A, Príncipe Real,Lisboa

Arquivo Praça da República,38, Porto

MúsicaGroovie Records Rua de São

Paulo, 252, Cais do Sodré,Lisboa

Discolecção Calçadado Duque 53A, Bairro Alto,Lisboa

Carbono Rua do Telhal, 6B,Lisboa

Louie Louie Rua Novada Trindade, 8A, Chiado, Lisboa

Trem Azul Rua do Alecrim21, Cais do Sodré, Lisboa

Matéria-Prima Rua daPicaria, 84, Porto

Zona 6 Rua do Almada, 448,Porto

PEDRO SERRAINTEGROU UMA DASPRIMEIRAS BANDASROCKABILLY PORTUGUESAS,OS TENNESSEE BOYS,QUE VIVERAM DOISANOS NOS EUA,ONDE CHEGARAMA GRAVAR

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