richard cummins/ corbis - katyadelimbeuf.com fileatravessando vários estados e paisagens: o ......

7
RICHARD CUMMINS/ CORBIS

Upload: lamthu

Post on 07-Nov-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

RIC

HA

RD

CU

MM

INS

/C

OR

BIS

Há viagens de carro por estradas fabulosasque vale a pena fazer nem que seja uma vez na vida.

Aqui lhe deixamos uma seleção das rotas imperdíveis.TEXTOS DE KATYA DELIMBEUF

QUANDO falamos de estradas míticas, a pri-meira que nos vem à mente é a Route 66. A“mother road”, como lhe chamou o escritorJohn Steinbeck no livro “As Vinhas da Ira”, éporventura a mais ‘americana’ das estradas danação da stars & stripes. De Chicago a Los An-geles, unindo as duas costas, estes 3940 kmpermitem um mergulho na cultura dos EUA,atravessando vários Estados e paisagens: oMidwest, as Grandes Planícies e o Southwestoscilam entre as ideias de liberdade, do VelhoOeste, e da solidão do interior. Alguns dos tro-ços da 66 têm a designação de Trechos Pitores-cos Nacionais, pois são parte da cultura popnorte-americana, dos motéis aos pequenos ne-gócios familiares que parecem saídos de fil-mes, até aos próprios restaurantes defast-food — o primeiro McDonald’s dos EUAfoi construído nesta estrada, assim como o pri-meiro drive-in. Associada à Route 66 ficou pa-

ra sempre a “Beat Generation” e o “Pela Estra-da Fora”, de Jack Kerouac — apesar de no li-vro não haver uma única menção explícita àestrada. Mas, além da 66, vamos propor-lheuma alternativa de passeio: o Tamiami Trail.De Tampa a Miami, também consegue o talmergulho na América profunda, com direito awild west, índios, freak shows, lutas com croco-dilos e até um bifinho do mesmo... Estes 442km, pela autoestrada 41, atravessam praia(Fort Myers Beach, South Beach), floresta e osimensos pântanos dos Everglades, duramenteconquistados à natureza, paisagem de invul-gar beleza (na foto). Começando em Tampa, aprimeira paragem é Gibsonton, cidade funda-da em 1940 por trabalhadores do circo que aliviviam na ‘temporada baixa’. Seguindo pelaRedneck Riviera até à praia de Fort Myers e àzona costeira de Naples, chega-se a Evergla-des City e mergulha-se na cultura índia. Po-de-se assistir a uma luta entre índios e crocodi-los ou descer o rio e vê-los no seu habitat.Mais abaixo, a faixa costeira de South Beachmarca o regresso à ‘civilização’.

E o resto é paisagem...D

AV

IDF

RA

ZIE

R/

CO

RB

IS

EUA A mítica Route 66e o Tamiami Trail

ESTRADAPERCURSOS

23

É UMA DAS ESTRADAS mais bonitas que sepode fazer de carro. A Ruta 40, a maior daArgentina, percorre-a longitudinalmente aolongo de 5000 km, como uma espécie de colu-na vertebral do sopé dos Andes, em Cabo Vir-genes, até Quica, em Jujuy. Cruza 11 provín-cias, da Patagónia mais meridional a Salta,mesmo a norte, e 18 rios. Che Guevara trilhouesta estrada de moto, na famosa viagem quelhe formou a mente revolucionária. Pratica-mente desértica e muito selvagem, a Quaren-ta, como é carinhosamente chamada, ofereceum postal a cada curva, com imagens de rarabeleza. Se na Patagónia (vá na primavera,quando o Parque Nacional é mais bonito) aCueva de las Manos, o local arqueológico maisantigo da América do Sul, com pinturas rupes-tres de 7350 a.C., é imperdível, mais acimaexiste o Monte Fitz Roy, uma magnífica mon-tanha de 3375 m, perto da aldeia de El Chál-ten. A norte, ergue-se a bela Mendoza, ao pédos Andes, e entra-se na zona vinícola. A paisa-gem oscila então entre planícies de capim ver-de atravessadas por rios e montanhas dos doislados da estrada, que brincam com a paleta decores e as formas das rochas, como Las Venta-

nas. Em Cafayate, zona de vinho de excelên-cia, impõe-se que prove o Torrontés, um néc-tar branco único no mundo, feito com uma cas-ta que só existe aqui. Do Paseo de los Colora-dos, em Purmamarca, à Montanha das SeteCores, em Jujuy, passando por Cachi e Salta, aRuta 40 permite um autêntico mergulho nadiversidade e riqueza de paisagens deste país.

POUCAS PAISAGENS são tão bonitas, pacifi-cadoras e marcantes como a extensão integral-mente branca do Salar de Uyuni, no Sudoesteda Bolívia. Afinal, é a maior planície salgadado mundo — nada menos do que 12.000 km2

de sal, naquele que era, há 40 mil anos, umgigantesco lago pré-histórico. No período daschuvas, o salar ganha uma altura de água de30 cm e transforma-se de novo nesse lagoimenso a refletir o céu, as nuvens — e a tran-quilidade. Então, a “estrada” transforma-senuma travessia de som constante, o da finacamada de água através da qual o jipe abrecaminho. Com o privilégio de ter por compa-nhia os flamingos que ali habitam... Aqui, nãose pode dizer que haja propriamente uma es-trada — somos nós que a fazemos. Mas mais àfrente, quando tomamos a direção do vulcãoUturuncu, para percorrer o trilho mais alto domundo, 5800 metros acima do nível do mar, asensação de sermos uns privilegiados ainda setorna mais forte... De lá, a visão sobre as La-goas Celeste, Lagoa Colorada e Lagoa Verdecompletam as fotografias de sonho do percur-so. Se se quer manter no registo das experiên-cias irrepetíveis, durma no Hotel de Sal, ondetudo — mesas, cadeiras, camas — é feito de sal.Vá lá, não vale é chorar a ver se derrete...F

RA

NC

KG

UIZ

IOU

/H

EM

IS/

CO

RB

IS

Bolívia Pelo Salarde Uyuni

Argentina A Ruta 40 de Che

PERCURSOS

24 REVISTA ÚNICA · 17/07/2010

América Atravessar um continenteÉ TODO UM MUN-

DO, um projeto — ouum estado de delirium tre-

mens. Fazer a estradaPan-Americana do Alasca à Pa-

tagónia argentina, unindo extre-mo a extremo do continente desco-

berto por Colombo, é somar 48.000km de estrada, através de 13 países, pai-

sagens e climas totalmente diferentes. DaIcefields Parkway Road, no Canadá, que atra-

vessa as Rocky Mountains ao longo de 300 km,ao Big Sur dos EUA, na Costa entre Monterey e

Cambria, entre o mar e as falésias, com vistas eston-teantes. Do Parque de Yellowstone às ruínas místicas

da civilização maia, em Tikal, na selva tropical da Guate-mala, ou em Palenque, na vasta travessia que é o México.

Da América Central para a do Sul, entrando pela selva ama-

zónica do Equador,pode cruzar o Panta-nal brasileiro e descobririnúmeras espécies animais(cuidado com os encontrosimediatos com jacarés...), e enca-dear com a Transpantaneira bolivia-na (o nome diz tudo, não?), 400 km decaminho em Parque Natural. Das missõesjesuítas e do altiplano da Bolívia, a viagemprossegue pela cordilheira andina do Chile,com o regresso do alcatrão para percorrer os 430km que separam o Deserto do Atacama de Purmamar-ca, na vizinha Argentina. A epopeia termina na Patagó-nia de Chatwin, e na cidade mais austral do mundo,Ushuaia. Tenha em conta que alguns troços ficam intransitá-veis na altura da estação das chuvas. Mais do que uma estrada, aPan-Americana é uma verdadeira epopeia, de duração imprevisível.

PA

UL

A.

SO

UD

ER

S/

CO

RB

IS

25

O CIRCUITO CLÁSSICO é a Costa Amalfita-na, que conquistou para si o título de maisbonita, mas as suas estradas são estreitas esinuosas, e o trânsito muito. Por isso, a nos-sa recomendação é outra: descubra de carroa Riviera italiana, no percurso de Génova aPortovenere, passando pelas Cinque Terre,cinco aldeias empoleiradas em penhascos so-bre o mar, que, aliás, têm estatuto de Patri-mónio Mundial pela UNESCO. São 128 kmde costa, pela SS1, dominados por aldeiasmedievais com castelos, casas em tons pas-tel perfeitamente integradas nas rochas,com restaurantes e vida social em torno deum porto, por cima de água transparenteazul turquesa. Romântico como só a Itáliasabe ser... Saindo de Génova, a primeira pa-ragem é Camogli, uma bela aldeia piscatóriapousada numa baía de areia preta. Mais àfrente, a irmã mais conhecida: Portofino, pa-ragem assídua de celebridades. Depois che-ga Carrodano e, com a entrada no ParqueNacional de Cinque Terre e a sua paisagemdeslumbrante, pare apenas no porto de Mon-terosso al Mare, outra aldeia que é um autên-tico postal sobre o mar Lígure, com a suatorre medieval, as muralhas e os vestígios doséculo XIV. No dia seguinte, regresse à estra-da para Vernazza — e não se assuste quandoolhar para o lado e vir os penhascos que sóparam lá em baixo, no mar. Chegado a Mana-rola, onde as casinhas retangulares, rosa eamarelas, se organizam geometricamentesobre a rocha negra, continue o passeio pelaVia dell Amore até Riomaggiore, onde se de-ve sentar a beber um copo de vinho local,diretamente dos vinhedos da aldeia. Termi-ne em Portovenere, onde tanto se pode per-der pelo centro histórico como ficar a namo-rar numa esplanada sobre o mar...

Itália Postaldo mar Lígure

PERCURSOS

GR

AN

DT

OU

RC

OLL

EC

TIO

N

26 REVISTA ÚNICA · 17/07/2010

O GREAT TROPICAL DRIVE, em Queens-land, na Austrália, é das estradas mais boni-tas em termos de diversidade e beleza nestepaís com tamanho de continente. Deserto epraias, barreira de coral e floresta tropicalsão algumas das paisagens de que pode des-frutar ao longo de 2079 km, de Cairns aTownsville, na costa nordeste. Partindo dasofisticada Cairns, enveredamos pela estradaoceânica de Port Douglas, que acompanha omar, com as praias lá em baixo. Mais à fren-te, entramos numa zona de tesouro nacional:a densa floresta tropical em Daintree. Do Ca-bo Tribulação à Península de York, a estradapassa a ser acessível apenas de jipe, até àmagnífica Barreira de Coral, outra riquezaaustraliana. Rios, cascatas e a fauna típica dafloresta acompanham este percurso lindíssi-mo. Chegando à ponta da costa e voltandopara sul, esperam-no uma vasta zona de sava-na e planícies e a Reserva Wetland e a Sava-na Tropical de Mareeba, onde abundam can-gurus. Mais à frente, aldeias mineiras de ou-ro e cobre relembram a História da nação, e

perto de Chillagoe pode deslumbrar-se comgrutas feitas de recife de coral há 400 mi-lhões de anos... Townsville, na costa norte,oferece-lhe o postal perfeito de uma baía depraia, e em Magnetic Island, ao lado, podever a maior colónia de coalas a viver na natu-reza. Finalmente, em Tully, os apreciadoresde rafting têm o cenário ideal para se aventu-rarem. Bendita água!

MIC

HE

LEF

ALZ

ON

E/

JAI/

CO

RB

IS

Austrália Deserto epraias no Tropical Drive

JANTAR COM VISTAEMANUEL, TELMA, HUGOE ANA SÃO QUATROAMIGOS DE INFÂNCIAQUE PASSARAM ASFÉRIAS DE VERÃOJUNTOS NUMA CARRI-NHA TRANSFORMADA ENUMA AUTOCARAVANA