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Teoria Gramatical: Implícita e Explícita O saber dos falantes e o saber dos linguistas Alunos: Karine Coelho da silva Luiz Henrique Barcellos Lima Michelle Ignácio

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Page 1: Linguagem Implícita

Teoria Gramatical: Implícita e

Explícita O saber dos falantes e o saber dos linguistas

Alunos: Karine Coelho da silva Luiz Henrique Barcellos Lima Michelle Ignácio

Page 2: Linguagem Implícita

Na sua opinião:

É possível uma criança de 5, 6 anos, por exemplo, sem “instrução explícita”, independente do seu nível intelectual ou sócio-cultural, ter interiorizado a teoria da sua língua materna?

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“[...] Devemos ter em mente [...] que a criança constrói essa teoria ideal sem instrução explícita, que adquire esse conhecimento numa fase em que não é capaz de grandes desempenhos intelectuais [...] e que essa realização é relativamente independente de inteligência ou do curso particular da experiência de cada um. Estes são fatos que uma teoria do aprendizado deve encarar.”

Chomsky, sobre a teoria da própria língua:

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Subdivisões da Teoria da Língua:

Teoria Semântica Teoria Morfológica

Teoria SintáticaTeoria Fonológica

e Fonética

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Teoria Semântica – Da significação das palavras; significação lexical e gramatical; significação e sentido; etc.

Teoria Morfológica – Dos morfemas e alomorfes; vocabular; classes de palavras; etc.

Teoria Sintática – Estruturação de textos, frases, orações; colocação de palavras; concordância; etc.

Teoria Fonológica e Fonética – Fonemas e alofones; pronúncia e ligação de fonemas; estruturação silábica; etc.

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O que capacita as crianças a interiorizarem essas teorias?“[...] a predisposição inata da criança em desenvolver

certo tipo de teoria para tratar as informações (dados de fala) que lhe são apresentadas”.

[...] a construção da teoria consiste em, a partir dos atos de fala que escuta [...], ir levantando hipóteses até se confirmarem, apoiando-se num conjunto de hipóteses possíveis inatamente determinadas [...] e fixando as condições em que uma hipótese destas é confirmada [...].

(Chomsky)

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Como explicar que tão cedo, ainda em fase de aprendizado, a criança surpreenda os adultos com frases novas, de estruturas a que ainda nem foi exposta?

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“Suponhamos que atribuímos ao espírito, como propriedade inata, a teoria geral da linguagem que chamamos ‘gramática universal’. Essa teoria [...] especifica um certo subsistema de regras que oferecem a estrutura do esqueleto de qualquer língua [...]. [...] A criança constrói uma gramática, isto é, uma teoria da língua, da qual as frases bem formadas dos dados linguísticos primários constituem uma pequena amostra”. (Chomsky)

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A teoria da gramática universal é unanimidade?

Não. Entre os contestadores, alguns pretendem explicar a aquisição da linguagem como um processo estímulo-resposta, imitação e analogia; outros a atribuem vagamente às capacidades cognitivas ou a alguma capacidade cognitiva particular da espécie humana.

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“Pessoalmente, vejo essa hipótese (gramática universal inata) como a única capaz de explicar o “milagre” da aquisição de qualquer língua por qualquer criança, sobretudo, a facilidade, rapidez e segurança com que isso se processa, independentemente da inteligência da criança e da qualidade dos fatos de fala em que se apoia.Como seria possível esse aprendizado sem modelos prévios? Como explicar, por outra teoria, a capacidade, numa criança inexperiente, de [...] peneirar dados linguísticos primários, refugando anomalias, equívocos, hesitações, etc. - a capacidade de “eco seletivo”? Como seria possível, mesmo num ambiente sócio-cultural muito baixo, [...] qualquer criança aprender muito mais e muito além do que lhe é fornecido pelos dados da fala que ouve?”. (Celso Pedro Luft, Linguista e filólogo)

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Teoria Gramatical Implícita

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Características da teoria gramatical implícita (teoria primeira):1 – Teoria natural: Aprender uma língua (ou línguas) é um processo

humano natural, inerente à natureza do homem – ser de linguagem. O homem é um ser “programado” para falar. Ou, em outra figura, está pré-sintonizado para isso.

2 – Teoria implícita, intuitiva: É um saber direto, imediato, sem intermediação de raciocínio. O falante não sabe por que fala de um certo modo e não de outro. É uma teoria não expressa em palavras ou fórmulas.

3 – Teoria Autoensinada: A língua materna só pode ser aprendida por autoensino. A criança, a partir das frases ouvidas, formula hipóteses que vão se confirmando ou não; as que se confirmam vão estruturando, de maneira inconsciente, a teoria da língua.

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4 – Teoria individual: Embora seja um fenômeno social, saber linguístico partilhado com os demais membros da comunidade, a língua é sempre um saber pessoal: cada um (re) cria a sua teoria gramatical.

5 – Teoria da Fala: Teoria da verdadeira língua, a primeira, a natural. A escrita vem depois, e muitas vezes não vem (analfabetos, povos ágrafos)

6 – Teoria de uma variedade de língua: A criança constrói a teoria da variedade a que é exposta, a do ambiente em que vive.

7 – Teoria completa: O que a criança interioriza é a teoria plena da língua, todas as regras necessárias para fazer as frases de sua comunicação diária. Incompleta é, inevitavelmente, a teoria explícita, a que está nos livros gramaticais e se ensina na escola.

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8 – Teoria estruturada: A língua é um sistema, uma estrutura, onde tudo se liga. O saber linguístico é sempre integral. Ou se sabe a estrutura, integradamente, ou não se sabe a língua.

9 – Teoria dirigida para a prática: A teoria que permite que a criança se comunique com os membros da sociedade onde nasceu e poder sobreviver física e espiritualmente. Não é teoria para deleite de teorista.

10 – Teoria da comunicação: A teoria que a criança deve deduzir (compreender) dos fatos linguísticos a que é exposta, está orientada para a comunicação. Atos de fala requerem não só observância de regras gramaticais, mas de regras de comportamento sócio-verbal e eficiência comunicativa, de adequação.

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Exemplo:

A análise percuciente de seu labor induz a concluir pela inexequibilidade do projeto

Pode-se dizer, também:

Observei muito o seu trabalho e concluí que o projeto não será possível.

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Teoria Gramatical Explícita

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Características da teoria gramatical explícita (teoria segunda):

1 – Teoria Artificial: Não está necessariamente prevista pela natureza: de ser um produto dependente do desenvolvimento cultural. É mais ou menos técnica: das gramáticas mais informais às elaboradas por linguistas.

2 – Teoria explícita, discursiva: Tenta explicar, investigar os elementos que estruturam a teoria interior dos falantes. Trazer ao plano da consciência o que é inconsciente.

3 – Teoria heteroensinada: É o oposto da autoeducação; é ser educado por alguém. A aprendizagem da gramática artificial, a dos gramáticos.

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4 – Teoria Social: Visa o comportamento em sociedade, com regras de etiqueta verbal. A teorização gramatical escolar se faz dentro de uma tradição normativa impositiva.

5 – Teoria da escrita: Preocupada em “escrever certo”, evidenciado pela obsessão ortográfica. Saber a língua parece confundir-se com saber ortografia.

6 – Teoria da língua: A que pretende ensinar a língua, espécie de modelo abstrato, impreciso, preceituado em livros, na maioria obsoletos, a ponto de os próprios professores o ignorarem.

7 – Teoria incompleta: A que não leva à prática; que preocupa-se com análises e teorias, e essas nunca são completas. Ninguém poderia aprender uma língua com base nos livros e aulas que a teorizam ou explicam.

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8 – Teoria pouco estruturada: A das ciências da linguagem, que ainda não avançaram o suficiente para obter descrições estruturadas completas da língua.

9 – Teoria pela teoria: Se a teoria primeira só existe em função da prática – saber as regras para poder falar - , não assim a teoria segunda, que tende a ser teoria pela teoria. Teorizar que substantivo é “palavra que especifica substância ou coisa que possua existência, por exemplo – que repercussão terá isso na prática da linguagem?

10 – Teoria sem objetivos definidos: A que se pratica nas escolas; que não tem objetivos claros. Utiliza-se da preocupação com as regras gramaticais, que embaraçam e inibem a expressão.

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O saber dos falantes e o saber dos linguistas

Não pode haver deficiência na teoria natural do falante: ou ela é integral, ou não funciona;

Deficiências existem nas teorias artificiais, dos gramáticos e linguistas, na sua tarefa de dar conta da competência dos falantes nativos;

Não existe e não haverá uma teoria explícita completa, reprodução integral da teoria implícita dos falantes;

Essa ideia de que estropiam a língua e de que “todo mundo fala errado” é equivocada, afinal não foram os gramáticos que inventaram as regras para os falantes obedecerem a elas e poderem falar;

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Todos nós carregamos uma gramática que cabe aos linguistas descobrir. Talvez sejamos todos linguistas implícitos e temos, inconscientemente, criado gramáticas no processo se aprendermos línguas;

A gramática está na mente dos falantes, só ali existe plenitude; as gramáticas (livros) mutilam a língua, e são, todas elas, falhas;

Se você começou a perceber que todo modelo linguístico tem fraquezas que o modelo seguinte tende a corrigir, está certo.

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Comentários finais:

Diante de tudo isso, impõe-se a pergunta: Por que e para que ensinar/estudar teoria gramatical nos ensinos fundamental e médio?

E se o professor não tivesse tais teorias a ensinar, o que faria em sala de aula?

Tivesse a escola objetivos vitais, culturais, sociais ou político-educacionais bem definidos, certamente haveria maior clareza e funcionalidade nos programas e métodos de ensino da língua materna.

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Bibliografia:

LUFT, Celso Pedro. Língua e Liberdade: Por uma nova concepção da Língua Materna. 8ª Ed. Porto Alegre: L&PM, 1985

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Obrigado!