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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 50 Línguas em contacto e variedades do Português. 74 Formatada: Direita: 0,63 cm SOBRE A (IN)EXISTÊNCIA DE ARTIGO EM CABOVERDIANO* Wânia MIRANDA 1 Márcia Santos DUARTE DE OLIVEIRA Ana Paula QUADROS GOMES RESUMO A existência de artigos em caboverdiano (Ccv) é controversa. Para Veiga (2002: 68), un é artigo indefinido; para Quint (2000; 188), é um adjetivo indefinido. Defendemos que un marca individuação: tanto forma NPs denotando um só indivíduo de certa classe (um exemplar da espécie vaca, em un báka) quanto um comparativo de igualdade, marcando a unicidade do grau de altura atribuído a pessoas distintas (cf. Nhós tem un altura, “Vocês têm a mesma altura”). A unicidade contribuída por un pode ainda vir associada a uma condição ímpar, como em uma bruta sónu (“um baita sono”), em que o grau de sonolência é único por ser excepcional. A nosso ver, os falantes do Ccv, língua que não marca sintaticamente gênero, reanalisaram a morfologia de feminino do português, fazendo de uma um intensificador, de valor expressivo, que aponta para o maior grau. Para Silva (2008: 53), kel é um determinante. Defendemos que kel não se comporta como artigo, pois não prescinde da indicação gestual, não introduz referentes novos no discurso nem pode ser usado em contextos intensionais. Defendemos que não há artigo definido ou indefinido em Ccv. Nos termos do modelo de Princípios e Parâmetros (P & P) da Teoria da Gramática, un e kel não são determinantes, e sim quantificadores. PALAVRAS-CHAVE caboverdiano; artigo definido; demonstrativo; intensificador Introdução: situando o problema Este trabalho aborda a variedade de Caboverdiano (doravante Ccv) de Sotavento. As análises deste trabalho são resultado de testes semânticos específicos – Quadros Gomes * As autoras agradecem a leitura e os comentários do Prof. Dr. Nicolas Quint e assumem os possíveis erros de interpretação e análise. 1 Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV). Av. Professor Luciano Gualberto, 403 – Cidade Universitária CEP: 05508-900 São Paulo, SP Brasil. Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]; [email protected] Formatada

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Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas (Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana LuísaVilela, Ana Alexandra Silva © Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3 SLG 50 – Línguas em contacto e variedades do Português.

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SOBRE A (IN)EXISTÊNCIA DE ARTIGO EM CABOVERDIANO*

Wânia MIRANDA1 Márcia Santos DUARTE DE OLIVEIRA

Ana Paula QUADROS GOMES

RESUMO A existência de artigos em caboverdiano (Ccv) é controversa. Para Veiga (2002: 68), un é artigo indefinido; para Quint (2000; 188), é um adjetivo indefinido. Defendemos que un marca individuação: tanto forma NPs denotando um só indivíduo de certa classe (um exemplar da espécie vaca, em un báka) quanto um comparativo de igualdade, marcando a unicidade do grau de altura atribuído a pessoas distintas (cf. Nhós tem un altura, “Vocês têm a mesma altura”). A unicidade contribuída por un pode ainda vir associada a uma condição ímpar, como em uma bruta sónu (“um baita sono”), em que o grau de sonolência é único por ser excepcional. A nosso ver, os falantes do Ccv, língua que não marca sintaticamente gênero, reanalisaram a morfologia de feminino do português, fazendo de uma um intensificador, de valor expressivo, que aponta para o maior grau. Para Silva (2008: 53), kel é um determinante. Defendemos que kel não se comporta como artigo, pois não prescinde da indicação gestual, não introduz referentes novos no discurso nem pode ser usado em contextos intensionais. Defendemos que não há artigo definido ou indefinido em Ccv. Nos termos do modelo de Princípios e Parâmetros (P & P) da Teoria da Gramática, un e kel não são determinantes, e sim quantificadores. PALAVRAS-CHAVE caboverdiano; artigo definido; demonstrativo; intensificador

Introdução: situando o problema

Este trabalho aborda a variedade de Caboverdiano (doravante Ccv) de Sotavento. As

análises deste trabalho são resultado de testes semânticos específicos – Quadros Gomes

* As autoras agradecem a leitura e os comentários do Prof. Dr. Nicolas Quint e assumem os possíveis erros de interpretação e análise. 1 Universidade de São Paulo (USP), Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas (DLCV). Av. Professor Luciano Gualberto, 403 – Cidade Universitária – CEP: 05508-900 – São Paulo, SP – Brasil. Endereços eletrônicos: [email protected]; [email protected]; [email protected]

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& Miranda (2009). Agradecemos a Francisco Lopes a checagem dos dados. Os

possíveis erros de análise são de nossa total responsabilidade.

Discutimos a existência ou não de artigo em Ccv, do ponto de vista semântico, e

nos moldes de Princípios e Parâmetros, doravante P & P (cf. Chomsky 1981).

A existência (ou não) de artigos em Ccv permanece controversa. As posições

dos autores são vagas ou até mesmo contraditórias. Para Lucchesi (1994), o artigo

definido não faz parte da gramática da língua crioula, pelo fato de as línguas de

substrato não possuírem artigo. Entretanto, o autor assinala um uso, embora irregular,

do pronome demonstrativo como artigo em Ccv. Segundo Lucchesi, em certos

contextos fica difícil dizer se kel é demonstrativo ou artigo, dada sua referência

definida. Quint (2000; 183) afirma que, apesar de o Ccv não contar com um equivalente

do artigo românico, kel tem um tão vasto campo semântico que pode cobrir certas

acepções do artigo do português. Já Guimarães Gomes (2001) diz taxativamente que

não há artigo definido em Ccv. Manuel Veiga (2002; 67), para quem a classe gramatical

artigo não existe em Ccv, analisa alguns empregos de kel como uma manifestação

irregular do artigo definido. Silva (2008), para quem não há artigo definido em Ccv,

analisa a partícula kel como um determinante.

Por outro lado, a existência de artigo indefinido em Ccv é praticamente uma

unanimidade: Lucchesi (1994), Veiga (1995), Guimarães Gomes (2001) e Veiga (2002)

estão de acordo quanto a isso. Quint (2000: 187-188) analisa un como adjetivo

indefinido possuidor de dois sentidos: um valor de indefinitude e um valor de marcação

de identidade. Quint (2003; 2005) aponta o valor enfático para um / uma – em Ccv.

A nosso ver, os falantes do Ccv, língua que não marca sintaticamente gênero,

reanalisaram a morfologia de feminino do português, fazendo de uma um

intensificador, de valor expressivo, que aponta para o maior grau. Essa posição nos leva

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a olhar para un de um novo ângulo. Embora seja homófono do indefinido do português,

o un do Ccv pode ser visto como uma marca de individuação: ou da unicidade do grau,

nos processos de intensificação, ou do referente, em dada situação. Assim, no caso de

un (Ccv), estamos diante de um modificador de graus ou de um quantificador adverbial,

e não de um determinante, como é o um do português.

Na mesma linha, parece-nos mais apropriado analisar kel como um dêitico (uma

pro-forma que faz referência direta a um indivíduo na situação de fala) do que como

artigo definido. Como pretendemos mostrar, kel não pressupõe unicidade, nem define a

quantidade máxima presente na situação do(s) indivíduo(s) a que se refere,

distanciando-se da semântica de um artigo definido. Em termos sintáticos, proporemos

que kel não é um determinante, mas um quantificador-D (nominal), ou seja: kel não é o

núcleo de uma projeção que toma o NP (sintagma nominal) como complemento,

formando um DP (sintagma de determinante).

Em nossa análise, então, não há artigo (seja definido ou indefinido) em Ccv.

Seguindo P & P, un e kel não são determinantes, e sim quantificadores.

O artigo está organizado como segue: na primeira seção, discutimos o sintagma

nominal em Ccv; na segunda, apresentamos a distribuição e a semântica de un/uma; na

terceira, discutimos a distribuição e a semântica de kel; por fim, apresentamos nossas

conclusões.

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O Sintagma Nominal (NP) em Caboverdiano

Como já apontado por muitos autores, poucos nomes em Ccv trazem morfologia

de gênero. A marca de feminino só aparece em alguns nomes com o traço mais animado

(designando certos animais, como no par kabra/ bódi) ou com o traço mais humano

(mininu/ menina2). Em Ccv, não há marcação de gênero nos nomes se estes denotam

seres inanimados ou do reino vegetal. Além disso, há indicações de que o Ccv não

reconheceu o artigo feminino no português como tal, fundindo-o ao nome e usando o

amálgama para nomear o referente (p.ex., azilha é usado como o nome do português

“ilhas”, por reanálise do sintagma de determinante “as ilhas”)3.

Se o gênero é só esporadicamente marcado em Ccv, o que dizer do número? A

marca de plural, em português, é a presença do sufixo _s, e a de singular é o morfema

zero. Porém, nunca há sufixação da marca de número nos nomes em Ccv, mas há

apenas a do elemento que o precede (cf. uns (1b)). Como exemplificado em (1b),

adjetivos não recebem marca de número em Ccv, nem mesmo em posição predicativa

(1c). A falta de concordância com o adjetivo em posição predicativa e com o verbo (1c)

é importante argumento para que a marcação de número em Ccv não seja analisada ao

par com certos dialetos do PB, que preferem “as menina bonita” a “as meninas bonitas”.

Para o Ccv, não basta dizer que a marca recai apenas sobre num elemento do NP, o

determinante, pois isso não explicaria (1c). Em português, a concordância entre o

predicado e o sujeito não é facultativa; sentenças como (1c) são muito marginais, ao

2 Em vez de menina, pode-se encontrar em Ccv a variante mininu femia, em que o nome mininu é tratado como substantivo de dois gêneros, tal como, em português, temos cobra macho / cobra fêmea. 3 Tal como aconteceu com o português: em certos empréstimos, como almofada, a cadeia sonora do sintagma de determinante completo do árabe (artigo al + nome) foi reanalisada como um nome comum.

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passo que a redundância na marcação de número em construções como (1b) é opcional,

por ser dialetal, em PB. Se a ausência de morfologia no nome e no adjetivo em (1b)

resultasse de marcação de número apenas uma vez por NP, seria de esperar que a

concordância entre o sujeito e o predicado em (1c) (que é uma sentença completa) ainda

fosse requerida, como ocorre em PB, o que não se observa em Ccv. O número não é

marcado uma única vez por NP em Ccv, mas uma única vez por sentença. Logo, fatos

como (1a/b) não mostram que kel e un(s) sejam núcleos de sintagmas de determinantes,

ou seja, não sustentam a análise de kel e un(s) como determinantes iguais a o ou um do

português.

(1) (a) kel dós tubu 4 QP dois tubo

“Estes dois tubos”

(1) (b) uns cabalo preto QP cavalo preto

“Uns cavalos pretos”

(1) (c) uns é bom QP ser bons

“Uns são bons”

Entretanto, os NPs do Ccv são sensíveis à oposição semântica entre contáveis e

massivos5. Pedimos ao informante que considerasse uma situação em que o joelho de

4 Sobre as abreviaturas usadas nas glosas, ver a lista ao final do artigo. 5 Para nossos propósitos, basta assumir que os nomes contáveis têm átomos em sua denotação (sabemos como um indivíduo deve ser para valer por 1 unidade de “menino”; partes isoladas desse indivíduo, como 1 braço, não servem de referência para o nome “menino”); e que os nomes de massa não têm átomos em sua denotação. ‘Átomos’ são unidades mínimas, cujas partes não podem servir de referência ao nome (se o conteúdo de 1 balde de 2l for “água”, partes isoladas do conteúdo desse balde, p.ex., a equivalente à capacidade de um copo de 250ml, também serão “água”). A oposição massivo x contável é marcada de maneira variada pela gramática das línguas; em inglês, p. ex., há determinantes especializados em massivos (much water, *much boys) e em contáveis (*many water, many boys). Ver Link (1986).

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João sangrasse. Como sentença dita a João por um colega, (2a) soou perfeitamente

natural; mas (2b), com un, causou desconforto (marcamos este fato com #). Já a

construção com o cardinal e o nome de massa (2d) foi considerada inaceitável (marcada

por *); o informante sentiu a necessidade de um classificador como “pingo” e ofereceu

espontaneamente a correção em (2d). Compare-se (2e) a (2b): é a presença de um

classificador como “certa quantidade” entre un e sangi que faz a sentença (2e) perfeita.

(2) (a) Odja Djon, sata sai sangi di bo duedju Olha João PROG sair sangue PREP 2SG.POSS joelho

“Olha, João, está saindo sangue do seu joelho”

(2) (b) #Odja Djon, sata sai un sangi di bo duedju Olha João PROG sair QP sangue PREP 2SG.POSS joelho

“Olha, João, está saindo um sangue do seu joelho”

(2) (c) *Odja Djon, sata sai dos sangi di bo duedju Olha João PROG sair dois sangue PREP 2SG.POSS joelho

“Olha, João, estão saindo dois sangues do seu joelho”

(2) (d) Odja Djon, sata sai dos pingu sangi di bo duedju Olha João PROG sair dois pingo sangue PREP 2SG.POSS joelho

“Olha, João, estão saindo dois pingos de sangue do seu joelho”

(2) (e) Odja Djon, sata sai un bon bokadu di sangi Olha João PROG sair QP bom bocado PREP sangue

di bo duedju PREP 2SG.POSS joelho

“Olha, João, está saindo uma certa quantidade de sangue do seu joelho”

O paradigma em (2) mostra que un só pode se aplicar diretamente a nomes

contáveis (cabalo, em (1b)), ficando agramatical com massivos (sangi, em (2b)).

Ainda falando da mesma situação, João chega com o joelho sangrando; sua mãe

anuncia a aplicação de um remédio ao machucado, por meio da sentença (3), (4) ou (5):

(3) N sta kaloka um ramedi na bo firida 1SG estar colocar QP remédio PREP 2SG.POSS ferida

‘Vou passar un remédio na sua ferida’

(4) N sta kaloka uma ramedi na bo firida 1SG estar colocar IntP remédio PREP 2SG.POSS ferida

‘Vou passar uma remédio na sua ferida’

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(5) N sta kaloka uma baita ramedi na bo firida 1SG estar colocar IntP baita remédio PREP 2SG.POSS ferida

‘Vou passar uma baita remédio na sua ferida’

As sentenças de (3) a (5) são bem formadas e estão ordenadas em escala de

intensidade. Ramedi, acima, se comporta como um tipo (Kind6): em (3), o informante

entende que uma espécie de medicamento vai ser aplicada ao ferimento. Não se trata de

uma porção de tamanho definido nem de unidade fixa; não há requerimento de que a

quantidade de remédio seja grande; nem o falante de (3) se compromete com a

qualidade do remédio. Entretanto, o informante nos previne de que dizer (4) é

apropriado apenas no caso de o remédio em questão ser muito eficaz, ou de ser aplicado

em muita quantidade. A sentença (5) enfatiza ainda mais a eficácia do remédio: (5) é

feliz se o remédio aplicado for ainda mais eficaz que em (4). Interessantemente, o efeito

curativo é um componente desse significado intensificador de uma. Segundo o

informante, uma sukri (uma açúcar) não é aceitável, mas uma ramédi sim. Isso mostra

que não há como engrandecer a eficácia de um tipo de açúcar, comparada à de outro.

A expressão un arós (um arroz) é mal formada, mas un gram de arós (um grão

de arroz) e un masam (uma maçã) são bem formadas. Isso sugere que un funcione

como um cardinal: não se podem contar diretamente nomes de massa, como arós, sem a

intermediação de um classificador (compare-se, em português, 3 maçãs a *3 ares)7. Em

línguas românicas, o indefinido singular e o cardinal 1 têm a mesma forma (um, em

PB); em inglês, o artigo indefinido é a e o cardinal, one. Uma hipótese comum é a de

6 Tipo (Kind) é a referência a uma (sub)espécie, e não a um particular, como a dos NPs “vinho tinto” (diferente de “vinho branco”) e “cachorro” (em oposição a “Totó” ou a “este cachorro”) – ver (Carlson: 1977). 7 Ver nota 3. Cardinais só se aplicam diretamente a nominais com átomos em sua denotação. Cardinais só se aplicam a nomes de massa mediante recursos como classificadores, que criem unidades de medida atômicas: “3 tanques de ar” versus *“3 ares”.

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que, em línguas como o português, o indefinido tenha sido derivado a partir do numeral.

A existência de uns em Ccv permite pensar que o mesmo processo, de transformação do

cardinal em indefinido singular, esteja em curso8. A forma uma do Ccv certamente não

tem o significado do gênero do português, mas o de uma expressão de grau, que pode se

aplicar à quantidade (muito remédio) ou à qualidade (alta eficácia do remédio).

A sentença (4) já marca grau alto; a (5) tem um reforço desse grau (baita), como

fazem bem/muito em PB. Determinantes, como o indefinido um/uma do português, não

têm interpretação de grau como a de uma (Ccv), exemplificado em (4)9. Isso mostra que

a posição sintática de uma tem de ser diferente da de um determinante. Os próprios

cardinais são analisados na literatura como adjetivos10. O grau máximo, expresso por

superlativos, é único: só pode haver um melhor e um maior em cada conjunto de

indivíduos. Logo, é defensável que o Ccv não tenha determinantes, embora o un do Ccv

tenha traços semânticos em comum com determinantes: a unicidade associada ao artigo

definido e ao cardinal 1. Sobre uma, nossa hipótese é a de que o vocábulo não marque

gênero, mas grau. Em português, a diferença entre um/ uma é de gênero: “um dia”,

“uma festa”, mas caboverdiano não tem gênero. Uma só pode ser usado em contextos

em que usamos morfologia de grau em português, como mostraram os testes. Por

exemplo, num contexto em que José foi à festa, mas Pedro não, para contar a Pedro que

nenhuma menina na festa era mais bonita que Maria, José diz:

8 Presentemente, em Ccv, a idéia de cardinalidade ainda está muito fortemente arraigada a un. No futuro, é possível que a idéia de indefinitude suplante a de cardinalidade. Por ora, é certo que a palavra un carrega a morfologia de número da sentença. 9 A não ser em contextos marcados pela incompletude da sentença e por prosódia muito especial, de foco, denunciado a presença de um adjetivo de grau não-pronunciado: “A Maria comprou UM carro…” 10 Uma sentença do PB como “As 3 meninas entraram” pode ser analisada como “entraram as meninas e elas eram 3”, ao par com “As lindas meninas entraram”: “entraram as meninas e elas eram lindas”.

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(6) N Ø konxi uma minina oxi! 1sg PFV conhecer IntP menina hoje!

‘Conheci UMA menina hoje!’

Para qualificar o carro de João como especial, Pedro pode dizer:

(7) Djon ten uma káru! João ter IntP carro

‘João tem uma carro!’

Porém, se João tiver mais de um carro, (7) só será adequada caso o discurso saliente um

entre os carros de João. Uma pode predicar de certo indivíduo em destaque no conjunto.

Digamos que falante e ouvinte saibam que João tem 3 carros velhos, e um novo, 4X4;

então a sentença (7) é adequada para falar desse único carro especial.

Mais detalhes sobre o licenciamento de Um/ Uma (Ccv)

É importante salientar que, para empregar uma, não basta a referência a uma

entidade de certa natureza existente na situação. Se houver uma dúzia de ovos na cesta,

desde que um seja muito grande, e os outros, de tamanho padrão, Maria poderá dizer:

(8) Tene uma óbu na póti nhu pega! Ter IntP ovo PREP pote POSS.2SG pegar!

‘Tem UMA ovo na cesta! Pegue!’

Porém, se nenhum ovo se sobressair, (8) não poderá ser usada. Então, para instruir a

retirada de um único ovo da cesta, em lugar de (8), Maria terá de usar (9):

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(9) Tene un óbu na póti Nhu pega! Ter QP ovo PREP pote POSS.2SG pegar!

‘Tem UN ovo na cesta. Pegue!’

Un em (9) pode ser usado quando há mais de um indivíduo da mesma natureza na

situação (diversos ovos), mesmo que nada distinga um do outro, tal como “um” em PB.

O licenciamento de uma em Ccv não ocorre nessas condições (8). Mas, em português,

podemos usar “uma” para falar de uma laranja qualquer de certa dúzia.

Vê-se que, em Ccv, uma não é o feminino nem a contraparte de un. Uma (Ccv)

não pode modificar todos os tipos de nome que un modifica. Uma modifica qualquer

contável. Massivos, apenas quando se tratar de uma quantia exorbitante. Dado que João

rotineiramente põe seu salário numa gaveta, a sentença (10) é inadequada como

resposta ao pedido da mulher por trocados para a compra do pão de todo dia:

(10) #Tene uma dineru na gaveta. Nhu pega! Ter IntP dinheiro PREP gaveta POSS.2SG pegar!

‘Tem UMA dinheiro na gaveta. Pegue!’

Porém, uma quantia inesperadamente alta viabiliza o uso de uma. Digamos que João

escondeu em segredo uma soma incomum na gaveta. Sua mulher, achando tanto

dinheiro ali, pode expressar sua surpresa por meio da sentença (11):

(11) Nhas prubulema dja kába! Ten uma dinheru na gaveta 1P.POSS problema ASPA acabar! Ter IntP dinheiro PREP gaveta!

‘Meus problemas terminaram! Tem UMA dinheiro na gaveta!’

Se, com nomes de massa, uma pode expressar uma soma grande, por outro lado

uma não modifica naturalmente qualquer “substantivo abstrato”. “Uma pena”, “uma

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riqueza” não são bem formados com uma em Ccv. Entretanto, é possível usar (12) ou

(13), desde que a fé ou a dor do indivíduo sejam excepcionalmente desmedidas:

(12) E ten uma fé! 3SG ter IntP fé!

‘Ele tem UMA fé!’

(13) E ten.ba tene sta ku uma dor 3SG ter.PST ter estar PREP IntP dor

‘Ele teve/ tem/ está com UMA dor!’

Por outro lado, nem (14a) nem (14b) podem expressar que se trata de um grande

problema; a presença de um adjetivo é necessária, como em (14c); ou é preciso que a

morfologia de grau seja afixada ao nome (14d), criando a forma preferida:

(14) (a) *E ten uma prubulema ‘Ele tem um grande problema .’

(14) (b) *E ten un prubulema ‘Ele tem UN problema!’

14) (c) E ten uma prubulema grandi 3SG ter IntP problema grande

‘Ele tem UMA problema bem grande.’

14) (d) E ten um problemona 3SG ter QP problemão

‘Ele tem um problemão!’

Observe-se que a morfologia de grau em Ccv (14c) também é veiculada por _a, em

português associada à morfologia de gênero feminino. Uma (Ccv) denota intensidade:

faz referência a algo excepcional; sua utilização indica intenção de distinguir o

indivíduo a que se refere; a própria entonação do item uma na fala é diferente. O fato de

se poder fazer referência a um dinheirão com uma dinheru e não a um problemão com

uma prubulema sugeriria que só avaliações positivas pudessem ser veiculadas com

uma; mas uma dor não se encaixa nessa teoria. O licenciamento de uma (Ccv) parece

depender mais de uma superação da expectativa do falante. Um problema grande não é

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exatamente algo inesperado, embora não seja bem-vindo; uma dor grande, além de não

ser bem-vinda, não faz parte da rotina. Isto é, não basta o referente ser uma soma

grande; é preciso ele ser incomum, diferente, em tamanho ou em outra dimensão ou

propriedade, para que o nome possa ser modificado por uma.

Uma vez que, como argumentamos, uma é um operador que marca o caráter

excepcional de um referente, quanto ao grau extremado de certa qualidade ou dimensão

que o destaca; e, dado que un é o cardinal, em Ccv os nomes podem ser analisados

como “nus”, isto é, sem determinante vozeado, mesmo em posição argumental. Em

inglês e PB, apenas NPs com determinante abertamente realizado podem ocupar a

posição de sujeito de sentenças eventivas – ver (15b-c)11. Em Ccv, a posição argumental

pode ser ocupada por sintagmas nominais modificados (nome nu + adjetivo), sem

determinante:

(15) (a) Cidade Velha e bersu nos país cidade velha ser berço poss país

‘A Cidade Velha é o berço de nosso país’ (O.k. sem determinantes)

(b) *Cidade velha é o berço de nosso país (agramatical sem determinantes; compare-se a: “A/ aquela/ esta/ cidade velha é o berço de nosso país”)

(c)*Old city is the crib of our country (agramatical sem determinantes; compare-se a: “The/ this old city is the crib of our country”)

São raras as línguas que permitem nomes nus em posição argumental, sobretudo

na posição de sujeito de sentenças eventivas, como o Ccv – ver (15a). Em P & P, um

determinante nulo é postulado para nomes nus que ocupam posição argumental.

Assume-se que o sintagma nominal máximo sempre traz seu especificador preenchido, 11 Sentenças eventivas descrevem um evento, que até pode ser localizado em um lugar e momento. Compare-se (i) “esse ônibus passou há 10 min” a (ii)*“ônibus passou há 10 min”; a versão (ii) não é uma boa forma de descrever a passagem específica de certo veículo por certo local em dado momento. Eventivas opõem-se a estativas, que descrevem estados, às vezes, até atemporais, como “a hipotenusa é igual à soma do quadrado dos catetos” ou “a água é líquida”.

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mesmo que o material que ocupa essa posição seja não-pronunciado, como em Ccv. A

função desse determinante silencioso é ancorar o sintagma nominal para torná-lo capaz

de fazer referência a entidades existentes na situação descrita pela sentença. Nas línguas

em que um determinante pronunciado é exigido em nominais que ocupam a posição de

sujeito de sentenças eventivas, nus podem ocupar a posição de sujeito de sentenças

genéricas, como “cidades velhas costumam seguir tradições” ou “cidades velhas são

chatas”. Uma vez que Ccv permite nomes nus nessa posição, é inegável que o nome nu

cidadi em “Cidadi Velha” pode fazer referência a San Lorensu; isso implica que, na

sintaxe não-visível, há um elemento ancorando o sintagma nominal na situação, e

devemos entender “Cidadi Velha” em (15) como “ Cidadi Velha”. Isso significa que

a posição de um/ uma/ kel tem de ser outra, distinta da de determinante, localizada

acima do DP: a posição reservada por P & P a quantificadores como “every” (inglês) e

“cada” (PB).

Na próxima seção, discutiremos kel.

Kel e a expressão da dêixis nominal em Ccv

Para alguns autores, kel cobre certos usos do artigo definido em Ccv. Uma

unanimidade na análise do artigo definido é que ele pressupõe a unicidade e

maximalidade: “a cadeira da sala” só é feliz se houver uma única cadeira na sala; “o

leite” é a maior soma de leite existente na situação, e “as cadeiras”. a maior soma de

cadeiras existente na situação. A diferença entre o artigo definido e o pronome aquele

em PB está no requerimento da unicidade/maximalidade: havendo um grupo de

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meninos na situação, e apontando para um menino em meio a outros, pode-se usar

aquele, como em “aquele menino perguntou por você”, mas não o artigo definido, como

em “o menino perguntou por você”. Entretanto, quando não fazendo referência a

entidades presentes na situação, e sim a entidades mencionadas no discurso, o pronome

demonstrativo concorda com seu antecedente em número e gênero, em português.

O PB está perdendo a oposição entre este, esse e aquele, como anáfora

discursiva ou como dêitico. A oposição em PB ficou dual: este/ esse foram assimilados

(para retomar o último elemento mencionado ou a entidade mais próxima do falante) e

se opõem a aquele, usado para mencionar o elemento mais anterior no discurso ou a

entidade mais distante do falante. Ccv também tem uma oposição dual, entre kel e es,

mas a distribuição de ambos segue razões aspectuais, e não simplesmente a distância

entre a referência e o falante ou a ordem de menção. Por exemplo, não se pode falar de

uma viagem futura com kel viáxi; a forma que soa natural para o falante é es viáxi:

(16) (a) *Kel viáxi ta ba ser mutu bom. ‘KEL viagem vai ser ótima’

(16) (b) Es viáxi ta ba ser mutu bom DP viagem HAB ir ser muito bom

‘ES viagem vai ser ótima’

Por se tratar de uma viagem que ainda não se realizou, o uso de kel nesse contexto é

inadequado. Pela mesma razão, (17) é mal formada na opinião do falante:

(17) *Bo kré bai ku me na kel viáxi, Joana? ‘Você não quer ir na KEL viagem comigo, Joana?’

Entretanto, o informante acrescenta que, caso a viagem tenha sido suficientemente

mencionada, se for o cerne da conversa, a aceitabilidade das sentenças (16a) e (17)

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melhora consideravelmente. Essa observação é importante porque a literatura semântica

divide os determinantes entre aqueles que têm a função de introduzir um novo referente

no discurso, como o indefinido um do português (“Um menino entrou”, “Preciso de um

táxi”) e aqueles que têm a função de retomar um referente já introduzido no discurso

(“Um menino e uma menina entraram. O menino se sentou.”/ “Chamou um táxi? O táxi

está aqui.”) ou cuja existência já é de conhecimento comum para o falante e o ouvinte12.

Daí propormos que o Ccv é sensível à novidade do referente no discurso; mas a

polarização se dá entre kel e es, não entre un e kel. Aparentemente, es é neutro quanto

ao referente ser novo no discurso, ou exige qualquer grau de familiaridade, mas kel

exige alta familiaridade. Um exemplo interessante: alguém, vendo a macieira carregada,

pede autorização para colher uma maçã (18a), e recebe a resposta em (18b):

(18) (a) N ta podi pega um masam na árvi 1SG HAB poder pegar QP maçã PREP árvore

‘Posso pegar uma maçã na árvore?’

(18) (b) Podi si Poder sim

Nhu Ø pega kel ki bo Ø átcha más bunitu. POSS.2SG PFV pegar QP DP 2SG PFV achar mais bonito

‘Pode, sim. Pegue KEL que você achar mais bonita’

Observe-se que a autorização obtida é para apanhar um único fruto, à escolha da pessoa.

Para escolher, um conjunto de maçãs terá de ser examinado, garantindo a familiaridade.

Abaixo, há duas versões para o ditado “quem tudo quer, nada tem”:

(19) (a) Kenha ki Ø kré tudu náda ka Ø ten Wh CP PFV querer tudo nada NEG PFV ter

‘Quem quer tudo nada tem.’

12 P.ex., um aluno para o outro, interrompendo uma conversa porque a aula vai começar: “Depois eu te conto o resto. A professora chegou.” Nesse contexto, “uma professora chegou” é inaceitável, visto que quem chegou é a encarregada da aula por começar.

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(19) (b) Kel ki ta kré tudu ka ta Ø ten náda QP CP HAB querer tudo NEG HAB PFV ter nada

‘Aquele que quer tudo não tem nada’13

A versão em (19a), um período composto, não traz kel; a referência às pessoas que

tudo querem é feita pelo pronome Wh kenha. Em (19b), o sujeito da principal

composto por kel (sem nome) é uma relativa. Observe-se que, em PB, uma descrição

definida genérica não pode aparecer sem seu núcleo (*“a que quer tudo não tem nada”,

em comparação a “a pessoa que quer tudo não tem nada”), com o sentido de (19b). Sem

núcleo, o demonstrativo é natural em PB (ver a glosa de (19b)). Logo, kel não tem a

distribuição de artigos definidos do português, mas a de pronomes demonstrativos. Kel

também não é um pronome interrogativo, como atestam os exemplos abaixo:

(20) (a) #Kel e bo karu? QP ser 2SG.POSS carro

‘Kel é o seu carro?’ (*Qual é o seu carro?/ o.k. para “Aquele é o seu carro?”)

(19) (b) *Kel e bo sarabedja ki bo gosta más? QP ser 2SG.POSS cerveja CP14 3SG.POSS gostar mais

*‘Kel é a sua cerveja preferida? (19) (c) *Kel e bo mina? QP ser 2SG.POSS menina

‘Kel é sua namorada?(*Qual é a sua mina?/ o.k. para “Aquela é a sua mina?”)

Como se vê, kel não faz o mesmo que o pronome interrogativo “qual” do português; ou

seja, não serve para interrogar constituintes, ainda que haja mais de um referente na

situação que possa servir de resposta. Mas o resultado dos testes aponta que as

perguntas em (20a) e (20c) são bem formadas como perguntas de sim/não, em que quem

indaga aponta gestualmente para um entre vários carros estacionados ou para uma entre

13 Ka é uma partícula de negação em Ccv; aqui há uma dupla marcação da negação, com valor semântico de uma só negação lógica, como nos casos de concordância negativa em PB: “eu não tenho nada”. 14 Assumimos ‘Ki’ como uma partícula funcional; e não podemos aqui nos aprofundar nos motivos, sob pena de fugir ao escopo deste artigo.

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diversas meninas que estão em seu campo visual. Esses fatos levam à classificação de

kel como um pronome demonstrativo, e não como um artigo definido. As restrições à

distribuição de kel (não pode ser usado em perguntas de constituintes ou em

condicionais e soa estranho na descrição de eventos que ainda não existem, como uma

viagem futura, requerendo muita contextualização e detalhamento da viagem para ficar

mais aceitável) o distinguem de um artigo definido. O artigo definido pode ser usado na

descrição de eventos futuros/ hipotéticos, como em “a viagem que pretendemos fazer”.

Kel não pode ser usado em contextos intensionais15. Supondo que Maria tenha

sido assassinada, a sentença (21a) só será feliz se dita por quem já sabe a identidade do

assassino. Kel não pode ser usado para criar a referência “o assassino de Maria, seja ele

quem for” e predicar sobre ele, taxando-o de insano. Se o falante souber que o assassino

foi o João, pode mostrá-lo ao ouvinte, apontando gestualmente para ele, e enunciar

(21b). Sem que o falante tenha João em seu campo de visão, só (21c/d) são apropriadas.

(21) (a) Kel ómi ki Ø máta Maria é dodu QP homem CP PFV matar Maria ser doido

‘Aquele homem que matou Maria é insano'

(21) (b) Djon kel ki Ø máta Maria João QP CP PFV matar Maria

‘O João [é] aquele que matou Maria’

(21) (c) Kel dódu ki Ø máta Maria é Djon QP doido CP PFV matar Maria ser João

‘O doido que matou a Maria é o João’

(21) (d) Djon kenha ki Ø máta Maria João Wh CP PFV matar Maria

‘O João foi quem matou Maria’

15 Em contextos extensionais, o que importa é o indivíduo no mundo apontado pela descrição. Nos intensionais, expressões com o mesmo referente não são permutáveis, por envolverem crenças, mundos possíveis ou tempos distintos. Há contextos em que “o atual presidente do Paraguai” e “o bispo católico” apontam para Fernando Lugo; mas, se substituirmos a primeira descrição pela segunda, na sentença “o atual presidente do Paraguai é laico”, acabaremos com uma contradição (#“O bispo católico é laico”). Isso ocorre porque Lugo é bispo numa época e é presidente em outra.

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Os exemplos mostram que a dêixis é inerente ao uso de kel. E mais: que kel só faz

referência a indivíduos presentes no campo de visão do falante no momento de

enunciação, com acompanhamento de indicação gestual. Ou, se tanto, kel pode predicar

de referentes previamente existentes no momento de fala, mas kel não pode fazer

referência a entidades hipotéticas ou ainda não existentes. Daí o problema com a

descrição de entidades situadas no futuro e com imperativos. Kel também não pode

introduzir uma entidade nova no discurso, mesmo que seja através de descrições

definidas abstratas (como em português fazemos tranquilamente, tal como em “aquele

que fizer 13 pontos na loteria será milionário”). Por exemplo, se o falante acabou de

descobrir a identidade do assassino de Maria, mas João não está à vista, ele não pode

pronunciar (21a/b) para dividir seu conhecimento com o ouvinte. Se ainda desconhecer

a identidade do criminoso, o falante terá de usar (21d) ou (21c), e esta última sentença

apenas no caso de falante e ouvinte já terem estabelecido anteriormente que ambos

consideram insano quem quer que seja o assassino de Maria. A sentença (21c) é

licenciada pelo fato de o juízo compartilhado por ouvinte e falante a respeito do

assassino já ser familiar, o que é expresso na língua pela modificação do adjetivo doido,

e não de um nome por kel. A sentença é uma equativa16, e o predicado está invertido

com o sujeito. No caso de se referir a um grupo de pessoas que não está avistando, o

falante pode usar (22a), mas não (22b), para informar o ouvinte de que todos os

membros do grupo são procedentes de Cabo Verde:

(22) (a) Tudu es é di Kabu Verdi Todos 3P ser PREP Cabo Verde

16 Sentenças equativas são aquelas em que o referente do sujeito é identificado com o referente do predicado verbal (p.ex.: “A estrela D’alva é a estrela Vésper”); em PB e em inglês, usa-se a cópula ou um verbo de ligação (“ser”/ “estar” / “to be”).

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‘Todos eles são de Cabo Verde’

(22) (b) *Tudu kel é di Kabu Verdi Todos QP ser PREP Cabo Verde

‘*Todos aqueles são de Cabo Verde’

Para generalizar sobre a paixão brasileira por futebol, as formas (23a/b) podem

ser usadas, mas (23c) não. Entretanto, se o falante se refere a uma marca ou tipo de

vinho que já experimentou, ao encontrar outra instanciação (uma nova garrafa) desse

mesmo vinho, pode usar kel, como em (24).

(23) (a) Tudu kenha é brasileru ta gosta di futibol Tudo Wh ser brasileiro HAB gostar PREP futebol

‘Tudo que é brasileiro gosta de futebol’

(23) (b) Tudu brasileru ta gosta di futibol Todo brasileiro HAB gostar PREP futebol

‘Todo brasileiro gosta de futebol’

(c) * Tudu kel brasileru ta gosta di futibol *‘Todo aquele brasileiro gosta de futebol’

(24) Kel vinhu franses é bon QP vinho francês ser bom

‘Aquele vinho francês é bom’

Como vimos, os requerimentos para o licenciamento de kel o distinguem tanto

do artigo definido quanto do demonstrativo do PB “aquele”. Os dois itens do português

podem ser usados em contextos intensionais, em construções genéricas e sem que o

referente esteja no campo visual do falante.

Comentários Finais

Os dados corroboram a inexistência de determinantes pronunciados em

caboverdiano. Mostramos que a categoria número nominal só é realizada

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morfologicamente uma vez por sentença (e não uma vez por sintagma nominal) em Ccv.

Os nomes do Ccv, sem qualquer partícula e sem kel/un/uma, podem ocorrer em

posições argumentais, como discutimos nas duas primeiras seções (vide ex. 15). Isso

mostra que (i) os nomes nus do Ccv são sintagmas nominais plenos; (ii) a utilização de

kel/un/uma pelos falantes de Ccv é guiada por razões discursivas, e não sintáticas; (iii)

un marca individuação e unicidade e só modifica diretamente nomes contáveis, assim

como o cardinal (1, “um”) do PB; (iv) un é utilizado para associar a referência do

nominal a uma quantidade específica, a equivalente a uma unidade (um átomo ou

indivíduo); (v) uma também marca unicidade, mas de grau, fazendo intensificação. Em

Ccv, a distinção feminino x masculino aparece só em (alguns) dos sintagmas nominais

com os traços [+ animado] e [+ humano]. Essa língua não marca sintaticamente gênero.

A morfologia de feminino do português uma foi reanalisada e é utilizada em Ccv com

valor expressivo, apontando para o maior grau.

Kel não se comporta como artigo, apesar de contribuir com a especificidade, mas

como um dêitico dependente da situação ou do discurso: requer a presença do referente

no campo visual do falante, requer indicação gestual e não pode ser usado para

generalizar, ou para criar ou introduzir um novo referente, funções triviais de artigos

definidos. Nos termos de P & P, um, uma e kel não são determinantes, e sim

quantificadores, ocupando uma posição sintática mais alta que o artigo definido em PB.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAPTISTA, M. The syntax of Cape Verdean Creole: the Sotavento Varieties. Linguistik Aktuell/Linguistic Today vol. 54. John Benjamins Publishing Company. Amsterdam/ Philadelphia. 2002.

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Seguimos: BICKEL, B.,COMRIE, B., HASPELMATH, M. The Leipzig Glossing Rules: Conventions for interlinear morpheme-by-morpheme glosses. http://www.eva.mpg.de/lingua/resources/glossing-rules.php (acessado em 04/08/2009)