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LÍNGUA PORTUGUESA – 9º Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente Argumento: no cais de embarque para a outra vida, o Diabo e o Anjo aguardam a chegada de passageiros que serão levados por um ou por outro, consoante a vida que levaram. Chegam sucessivamente onze personagens, representantes de diversas classes e grupos, que são julgadas, se defendem quase todas, e são quase todas condenadas à barca do Diabo, com exceção de um Parvo pobre de espírito e de Quatro Cavaleiros que morreram na luta contra os mouros. PERSO- NAGEM /NOME SÍMBOLOS CÉNICOS E SIMBOLISMO ARGUMENTOS DE ACUSAÇÃO CRÍTICA SOCIAL ARGUMENTOS DE DEFESA MOVIMENTAÇÃO CÉNICA TIPOS DE CÓMICO RECURSOS ESTILÍSTICOS REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA FIDALGO – D. ANRIQUE • Pajem; • Cadeira de espaldas; • Rabo comprido (cauda do manto). . SIMBOLISMO Os símbolos cénicos representam o seu poder social, a sua riqueza e vaidade. . O Pajem serve como “prova judicial” para a condenação. É um elemento que destaca a categoria social do Fidalgo e o condena porque demonstra o seu desprezo pelos mais pobres e desfavorecidos. (O Pajem não entra na barca, pois não é ele que está aqui em julgamento). *Utilizados pelo Diabo: . «Vejo-vos eu em feição pêra ir ao nosso cais»; . “Tu viveste a teu prazer»; . «Segundo lá escolheste». * Utilizados pelo Anjo: . «Não se embarca tirania neste batel divinal»; . «Pêra vossa fantasia mui estreita é esta barca»; . «Não vindes vós de maneira pêra ir neste navio»; . «com fumosa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso; e porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-ês tanto menos quanto mais fostes fumoso». É acusado de tirania, de ter explorado os mais pobres e de ter vivido segundo os seus prazeres, dividido entre duas mulheres. CRÍTICA SOCIAL À nobreza exploradora e corrompida; à atitude calculista face à religião e à infidelidade e hipocrisia (mulheres e homens nobres). . «Que leixo na outra vida quem reze sempre por mim»; . «pois parti tão sem aviso»; . «Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais»; . «Pêra senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?» Defende-se com a sua posição social e dizendo que tem quem reze por ele! → Entra, dirige-se à Barca do Diabo, depois vai à barca do Anjo e, por fim, regressa à Barca do Diabo, onde entra. Cómico de situação: . «Pêra lá vai a senhora». - Cómico de linguagem: . «Que giricocins, salvanor». Cómico de carácter: . «tornarei à outra vida/ver minha dama querida/ que se quer matar por mi»; Dá-me licença, te peço, /que vá ver minha mulher». ↘Metáfora: . «Oh! Que maré tão de prata»; . «Ó barca, como és ardente↘Eufemismo: . «vai para a ilha perdida» ↘Ironia: . «Ó poderoso dom Amrique» . «Embarqu’a vossa doçura,/ que cá nos entederemos» ↘Antítese: Segundo lá escolhestes,/ assi cá vos contentai» - Informal: «Par Deus, aviado estou!»

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Page 1: LÍNGUA PORTUGUESA 9º Auto da Barca do Inferno, de Gil ... · Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente Argumento : no cais de embarque para a outra vida, o Diabo e o Anjo aguardam

LÍNGUA PORTUGUESA – 9º Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente

Argumento: no cais de embarque para a outra vida, o Diabo e o Anjo aguardam a chegada de passageiros que serão levados por um ou por outro, consoante a vida que levaram. Chegam sucessivamente onze personagens, representantes de diversas classes e grupos, que são julgadas, se defendem quase todas, e são quase todas condenadas à barca do Diabo, com exceção de um Parvo pobre de espírito e de Quatro Cavaleiros que morreram na luta contra os mouros.

PERSO-NAGEM/NOME

SÍMBOLOS CÉNICOS

E SIMBOLISMO

ARGUMENTOS DE ACUSAÇÃO

CRÍTICA SOCIAL

ARGUMENTOS DE DEFESA

MOVIMENTAÇÃO CÉNICA

TIPOS DE CÓMICO RECURSOS ESTILÍSTICOS

REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

FID

ALG

O –

D.

AN

RIQ

UE

D

• Pajem;

• Cadeira de espaldas;

• Rabo comprido (cauda do manto).

. SIMBOLISMO

Os símbolos cénicos representam o seu poder social, a sua riqueza e vaidade.

. O Pajem serve como “prova judicial” para a condenação. É um elemento que destaca a categoria social do Fidalgo e o condena porque demonstra o seu desprezo pelos mais pobres e desfavorecidos.

(O Pajem não entra na barca, pois não é ele que está aqui em julgamento).

*Utilizados pelo Diabo: . «Vejo-vos eu em feição pêra ir ao

nosso cais»; . “Tu viveste a teu prazer»; . «Segundo lá escolheste».

* Utilizados pelo Anjo: . «Não se embarca tirania neste batel divinal»; . «Pêra vossa fantasia mui estreita é esta barca»; . «Não vindes vós de maneira pêra ir neste navio»; . «com fumosa senhoria, cuidando na tirania do pobre povo queixoso; e porque, de generoso, desprezastes os pequenos, achar-vos-ês tanto menos quanto mais fostes fumoso». É acusado de tirania, de ter explorado os mais pobres e de ter vivido segundo os seus prazeres, dividido entre duas mulheres. CRÍTICA SOCIAL À nobreza exploradora e corrompida; à atitude calculista face à religião e à infidelidade e hipocrisia (mulheres e homens nobres).

. «Que leixo na outra

vida quem reze sempre por mim»;

. «pois parti tão sem

aviso»;

. «Sou fidalgo de solar, é bem que me recolhais»;

. «Pêra senhor de tal marca nom há aqui mais cortesia?»

Defende-se com a sua posição social e dizendo que tem quem reze por ele!

→ Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo,

onde entra.

Cómico de situação:

. «Pêra lá vai a senhora».

- Cómico de linguagem:

. «Que giricocins, salvanor».

Cómico de carácter: . «tornarei à outra vida/ver minha dama

querida/ que se quer matar por mi»; .«Dá-me licença, te peço, /que vá ver minha mulher».

↘Metáfora: . «Oh! Que maré tão de prata»; . «Ó barca, como és

ardente!»

↘Eufemismo:

. «vai para a ilha perdida»

↘Ironia:

. «Ó poderoso dom Amrique» . «Embarqu’a vossa doçura,/ que cá nos entederemos»

↘Antítese:

.«Segundo lá

escolhestes,/ assi cá vos contentai»

- Informal:

«Par Deus, aviado estou!»

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PERSO-NAGEM/NOME

SÍMBOLOS CÉNICOS

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CRÍTICA SOCIAL

ARGUMENTOS DE DEFESA

MOVIMENTAÇÃO CÉNICA

TIPOS DE CÓMICO RECURSOS ESTILÍSTICOS

REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

ON

ZEN

EIR

O

D

• Bolsão.

. SIMBOLISMO

. Símbolo da avidez, da ganância, da ambição desmedida.

*Utilizados pelo Diabo:

. «onzeneiro meu parente»; . «Irás servir Satanás/ porque sempre te ajudou». \

* Utilizados pelo Anjo:

. «Porque esse bolsão tomará todo o navio»; . «Não já no teu coração»; . «Ó onzena, como és fea e filha de maldição!» É acusado de cobiça e de ambição desmedida. CRÍTICA SOCIAL Crítica à inutilidade do dinheiro e à exploração, através do empréstimo de dinheiro cobrando altos juros.

. «Solamente pêra o

barqueiro /nom me leixaram nem tanto»;

. «Juro a Deus que vai vazio!»;

. «Lá me fica de ródão/ minha fazenda e alhea». Defende-se dizendo que o bolsão vai vazio e sente-se constrangido por não ter dinheiro para pagar ao barqueiro.

→ → Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo,

onde entra

Cómico de situação:

.«Dar-vos-ei tanta pancada /com um remo, que renegues!»

Cómico de linguagem:

. «dá-me tanta borregada/ como arrais lá no Barreiro»

Cómico de carácter:

. «Quero lá tornar ao mundo/ e trarei o meu dinheiro»

↘Metáfora:

. «onzeneiro meu parente»

↘Eufemismo:

. «me deu Saturno quebranto»

↘Ironia;

. «Ora mui muito me espanto/ nom vos livrar o dinheiro»

- Informal:

. «Pesar de São Pimentel, /nunca tanta pressa vi»

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PERSO-NAGEM/NOME

SÍMBOLOS CÉNICOS

E SIMBOLISMO

ARGUMENTOS DE ACUSAÇÃO

CRÍTICA SOCIAL

ARGUMENTOS DE DEFESA

MOVIMENTAÇÃO CÉNICA

TIPOS DE CÓMICO RECURSOS ESTILÍSTICOS

REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

JOA

NE,

PA

RV

O

D

• Não traz símbolos caracterizadores

SIMBOLISMO

Símbolo da sua simplicidade

*Utilizados pelo Diabo:

Não há argumentos de acusação

*Utilizados pelo Anjo:

Não há argumentos de acusação CRÍTICA SOCIAL Os parvos têm, no teatro vicentino, uma função cómica, lúdica e crítica, utilizando o Parvo para a crítica aos costumes da época “Ridendo castigat mores”

* Utilizados pelo Anjo: . «porque em todos teus fazeres/ per malícia nom erraste,/ tua simpreza t’abaste/ pera gozar dos prazeres» O Parvo é classificado pelo Anjo como uma pessoa simples e sem maldade.

→ Entra, dirige-se à Barca do Diabo e vai depois à Barca do Anjo.

Fica no cais, à espera que «venha alguém/ merecedor de tal bem /que deva entrar aqui».

Cómico de situação:

. quando insulta o Diabo!

Cómico de linguagem:

. sobretudo pelas asneiras e pelo vocabulário relacionado com coprolalia

Cómico de carácter: . a maneira de ser de Joane provoca o riso («de pulo ou de voo?»)

↘ Repetição: «Aguardai, aguardai, houlá!»

↘Eufemismo:

. «Ao porto de Lúcifer»

- Informal: .«Hou! Pesar de meu avô!» .«Antrecosto de

carrapato «caganita de

coelha»; «mija na agulha» «barca do cornudo»

- Mais formal:

. no diálogo com o Anjo

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SAP

ATE

IRO

, JO

AN

AN

O

• Avental

• Formas

SIMBOLISMO

. símbolos que representam a sua profissão, com a qual roubava o povo.

*Utilizados pelo Diabo: . «E tu morreste excomungado/nom o quiseste dizer» . «calaste dous mil enganos. . «Tu roubaste bem trint’anos/ o povo com teu mister» . «Ouvir missa, então roubar/ é caminho per’aqui» . «E os dinheiros mal levados,/ que foi da satisfação?»

*Utilizados pelo Anjo: . «a carrega t’embraça» . «Essa barca que lá está/ leva quem rouba de praça/Oh almas embraçadas!» . «Se tu viveras dereito,/ elas foram cá escusadas» É condenado porque morreu excomungado, é mentiroso e roubou o povo durante trinta anos com a sua profissão, daí a sua prática religiosa não lhe valer de nada. CRÍTICA SOCIAL Crítica a uma prática religiosa negativa. Os preceitos religiosos (ouvir missa, rezar, confessar-se, comungar…) só ajudam aqueles que levam uma vida verdadeira e honesta.

. «Os que morreram confessados,/ onde têm sua passagem?»

. «confessado e comungado»

. «Quantas missas eu ouvi,/ nom me hão elas de prestar

. «E as ofertas, que darão?/ E as horas de finados?

. «Isto uxiquer irá»

. «quatro forminhas cagadas/ que podem bem ir i chentadas/num cantinho desse leito»

O Sapateiro defende-se dizendo que se confessou, comungou, deu dinheiro à igreja… e não acha mal levar dinheiro!

→ Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo,

onde entra

Cómico de linguagem:

.«e da puta da barcagem» .«nem à puta da badana»

Cómico de carácter:

«Mandaram-me vir assi…».

↘ Metáfora:

. «almas embaraçadas»

↘Eufemismo:

. «lago dos danados» ↘ Ironia:

. «Santo sapateiro honrado!»

↘Hipérbole: «calaste dous mil enganos»

↘ Jogo de linguagem . «que vá cozer o Inferno»

↘Antítese: . «...comungado? E tu morreste escomungado»

- Informal: . «é esta boa traquitana”

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FRA

DE,

FR

EI B

AB

RIE

L

• Moça

• Espada

• Casco

• Broquel

• Hábito

SIMBOLISMO

. Símbolos da sua dedicação às coisas do mundo

Moça: quebra do voto de castidade;

Broquel, a espada, o capacete: frade dedicado ao jogo, às coisas do mundo.

*Utilizados pelo Diabo: . «Pêra aquele fogo ardente que nom temestes vivendo» . «padre mundanal» . «padre marido»

. «padre Frei Capacete É condenado porque se dedicava às coisas do mundo (esgrima, dança) e não praticava o celibato (traz uma moça pela mão que «Por minha la tenho eu»). É significativo o facto de o Anjo nem sequer lhe dirigir a palavra, o que revela todo o seu desprezo por esta figura. CRÍTICA SOCIAL Crítica ao clero devasso; à falta de vocação; à desconformidade entre os atos e os ideais, evidenciando um comportamento hipócrita.

. «Som cortesão»

. «E eles fazem outro tanto!» . «E est’hábito no me vale?» . «Um padre … tanto dado à virtude?» . «Nom ficou isso n’avença.» . «com tanto salmo rezado?» . «Sabê que fui da pessoa! Esta espada é roloa e este broquel Rolão» .«Padre que tal aprendia no Inferno há-de haver pingos?» . «minha reverença» O Frade pensa que o hábito que enverga o livrará das penas infernais, bem como os salmos rezados.

-→ Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo,

onde entra

Cómico de linguagem:

.«Furtaste o trinchão, frade?»

Cómico de carácter e de situação: . quando entra em cena a cantar e a dançar (ainda por cima, com uma moça pela mão!) e quando dá uma lição de esgrima

↘ Comparação:

. « Tão bem guardado como a palha n’albarda» ↘ Ironia: . « Fezeste bem, que é fermosa!» «Devoto padre», «Dê…lição d’esgrima, que é cousa boa!» «Que cousa tão preciosa!»

↘Antítese:

. «gentil padre mundanal»,

«devoto padre marido»

-Informal: . «palha n’albarda», «Ah! nom praza a São Domingos»

.«Deo gratias» «um fendente»,

«levada», «talho largo»,

«revés»,

«colher os pés» e «segunda guarda»

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ALC

OV

ITEI

RA

, BR

IZID

A V

AZ

• seiscentos virgos postiços, com dous coxins d’encobrir • três arcas de feitiços, três almários de mentir, ,

•alguns furtos alheos, jóias de vestir, guarda-roupa d’encobrir,

• casa movediça um estrato de cortiça, cinco cofres de enleos

• moças que vendia

SIMBOLISMO

Os símbolos representam a sua atividade ligada à prostituição e o seu carácter manhoso, enganador.

Representam ainda os roubos que fazia.

.

*Utilizados pelo Diabo:

. “se viveste santa vida, vós a sêntires agora” o Diabo acusa-a dizendo indiretamente à alcoviteira que ela não foi uma santa em terra, e que agora sofrerá as consequências pelo que fez durante a sua vida . É condenada devido à vida que levava:

criava meninas para os cónegos da Sé

e para a prostituição (e «todas acharam

dono»), mentindo e vivendo da

exploração das raparigas (prostituição CRÍTICA SOCIAL A intenção de Gil Vicente nesta cena é criticar as alcoviteiras pela sua profissão e por ganharem dinheiro à custa da exploração de meninas, mas a crítica é alargada ao clero pela quebra dos votos de castidade e a outros membros da sociedade pela imoralidade.

. “Eu sô ua martela

tal, açoutes tenho levados e tormentos suportados” . “E eu sou apostolada, angelada e martelada e fiz cousas mui divinas”

A Alcoviteira pensa que merece entrar na Barca do Anjo, pois diz que passou por muitas coisas más durante a sua vida.

→ Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo, onde entra

Cómico de linguagem:

“Cuidais que trago

piolhos …”

.« Cómico de carácter e de situação:

“Barqueiro mano, meus olhos, (…) /anjo de Deos, minha rosa?/ meu amor, (…) minhas boninas” Linguagem para enganar o Anjo

↘ Comparação:

. «Santa Úrsula nom converteo tantas cachopas como eu” ↘ Ironia: «Que saboroso arrecear»

↘ Metáfora:

. «meu amor, minhas boninas, olho de perlinhas finas»

↘Enumeração:

“Três almários de mentir, e cinco cofres de enleos, e alguns furtos alheos, assim em jóias de vestir, guarda-roupa

d’encobrir”

- Informal: “ A mor carrega que é:/essas moças que vendia:/daquesta mercadoria/trago eu muita, bofé!”

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JUD

EU

• Bode

SIMBOLISMO

Os símbolos representam a sua religião, o seu fanatismo.

*Utilizados por Joane, o Parvo: . “Furtaste a chiba, ó cabrão?” . “E ele mijou nos finados / n`ergueja de SãoGião! / E comia a carne da panela / no dia de Nosso Senhor!” O Judeu é acusado de ter roubado e desrespeitado os preceitos religiosos –profanar sepulturas cristãs e comer carne em dia de jejum. CRÍTICA SOCIAL A intenção de Gil Vicente nesta cena é criticar o fanatismo religioso e o amor ao dinheiro. Critica também o desrespeito pelos valores cristãos.

. “Porque nom irá o judeu onde vai Brísida Vaz?” O Judeu queria ir na mesma barca da Alcoviteira

- Entra, dirige-se à Barca do Diabo, mas fica à “toa”

Cómico de linguagem: “pedra miúda, lodo, chanto, fogo, lenha,/ caganeira que te venha”; “co’a beca nos focinhos!”; “Dize, filho da cornuda”; “Levai o cabrão na trela”

.« Cómico de carácter e situação: “veio o judeu, com um bode às costas” “Eis aqui quatro testões/ e mais se vos pagará./ Por vida do Semifará/que me passeis o cabrão!”

↘Enumeração:

“Azar, pedra miúda, lodo, chanto, fogo, lenha”

- Informal: . «E comia a carne da panela/no dia de Nosso Senhor!”

“Furtaste a chiba, cabrão?”

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REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

CO

RR

EGED

OR

E P

RO

CU

RA

DO

R

•Vara (Corregedor)

•Processos (“feitos”)

•Livros (Procurador)

SIMBOLISMO

Os símbolos representam a sua atividade ligada à justiça.

*Utilizados pelo Diabo:

. “ E as peitas dos Judeus/que vossa mulher levava?”

Corregedor:

- aceitou subornos, até dos judeus que eram mal vistos naquele tempo, confessou-se, mas mentiu.

*Acusação do Parvo ao Corregedor e ao Procurador: - roubaram coelhos - praticavam a religião de uma forma superficial

. “ a justiça divinal/ vos manda vir carregados/ porque vades embarcados/neste batel infernal”

*Acusação da Brísida Vaz ao Corregedor: - acusa-o de ele não a deixar em paz, de a mandar castigar por ela ser alcoviteira CRÍTICA SOCIAL A intenção de Gil Vicente nesta cena é denunciar a corrupção na justiça, pois deixavam-se comprar e subornar. Gil Vicente pretende opor a justiça humana à justiça divina que repõe a verdade sendo intransigente e imparcial. O Juiz torna-se réu no tribunal divino.

Corregedor: . “Semper ego justitia/fecit e bem per nível” . “Eu mui bem me confessei…” . um juiz não pode ser condenado; era a mulher que aceitava os subornos.

Procurador diz que não se confessou, pois pensava que não ia morrer e achava que isso não era necessário.

→ Entra,

dirige-se à Barca do Diabo,

depois vai à barca do Anjo

e, por fim,

regressa à Barca do Diabo, (os dois)

.« Cómico de carácter e de situação: . O corregedor

pretende, neste

julgamento, um

oficial de justiça

.« Cómico de linguagem:

uso do latim

macarrónico

O Corregedor usa muito o latim porque: -É uma língua muito usada em direito. O Diabo responde-lhe em latim macarrónico para ridicularizar a linguagem utilizada na justiça; para mostrar que essa linguagem não servia para nada. -Poderiam saber falar bem latim mas não sabiam aplicar as leis.

↘ Ironia: «Como vindes preciosos sendo filhos da ciência»

↘Eufemismo:

“Irês ao lago dos cães” “ gentil carrega trazes!” ↘Antítese Diabo para o Corregedor «Santo descorregedor»

- Formal:

.« Nom entendo

esta barcagem, Nem hoc non potest esse.»

“ Quia speramus

in Deo.”

- Bejo-vo-las mãos,, juiz!/ Que diz esse arrais? Que diz?

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REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

O E

NFO

RC

AD

O

•Baraço ao pescoço

SIMBOLISMO

O único símbolo cénico é o baraço (ou corda), que simboliza o seu pecado.

*Utilizados pelo Diabo:

*embora não o acuse diretamente garante-lhe que o lugar dele é no inferno:

. “Entra cá, governarás/ atá as portas do Inferno”

CRÍTICA SOCIAL Os costumes censurados são o engano dos mais fracos por pessoas com responsabilidade (Garcia Gil, Mestre da Balança da Moeda de Lisboa). Ao escolher esta personagem Gil Vicente foi denunciar as falsas doutrinas que invertem os valores da conduta social. O Enforcado é culpado ou vítima? Consideramos esta personagem vítima porque ele foi induzido por Garcia Moniz, que sabia que em princípio não havia salvação possível para o Enforcado, e este vai ser fortemente criticado.

. “Eu fui bem aventurado/em morrer dependurado” “Se Garcia Moniz diz /que os que morrem como eu fiz/são livres

de satanás…” Está convencido que irá para o céu, visto que já se purificou dos seus pecados no Limoeiro (prisão). E Garcia Moniz disse-lhe que se se matasse iria direto para o Paraíso!

→ Entra e dirige-se à Barca do Diabo.

.« Cómico de carácter e de situação: “O Moniz há-de mentir?/ Disse-me que com São Miguel/ jentaria pão e mel/tanto que fosse enforcado./Ora já passei meu fado/já feito é o burel”

↘ Comparação: «que fui bem aventurado/ em morrer dependurado como tordo na buiz»

- Informal: “E disse-me que a Deos prouvera/ que fora ele o enforcado; / e que fosse deos louvado/ que em bo´hora eu nacera”

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TIPOS DE CÓMICO RECURSOS ESTILÍSTICOS

REGISTOS/NÍVEIS DE LÍNGUA

QU

ATR

O C

AV

ALE

IIR

OS

• Cruz de Cristo que

simboliza a fé católica dos cavaleiros, as espadas e os escudos, que simbolizam a apologia da Reconquista e da Expansão da Fé Cristã

SIMBOLISMO

Os símbolos representam a sua atividade ligada à justiça.

CRÍTICA SOCIAL

Gil Vicente pretende transmitir que quem faz o bem na Terra e espalhou a fé cristã é recompensado no Céu e quem acredita em Deus, quando morrer terá uma vida calma e tranquila, sem se preocupar e não terá de se arrepender de nenhum pecado e ficará com a consciência tranquila. A moralidade desta reflexão está condensada nos seguintes versos: “Vigiai – vos, pescadores, / que depois da sepultura /neste rio está a ventura/ de prazeres ou Dolores.” Gil Vicente com estes versos, pretendia transmitir que depois da '' vida terrestre '', cada pessoa era recompensada ou '' amaldiçoada '' conforme a sua vida na terra.

Morreram ao ser viço da igreja e , por isso, o Anjo já os

esperava.

Entram Quatro Cavaleiros da Ordem de Cristo que morreram a combater os mouros no Norte de África e que, por esse motivo, ocupam triunfalmente o seu lugar na barca da Glória. Cais - Barca da Glória

↘ Anáfora: . « À barca, à barca segura, /barca bem guarnecida, / à barca, à barca da vida!

↘Metáfora:

. «à barca, à barca da vida!»

↘Eufemismo: «deste temeroso cais»

- Formal: «- Vós, satanás, presumis? Atentai com quem falais…”

GIL VICENTE CRITICA A ÉPOCA QUINENTISTA: AS CLASSES SOCIAIS, O ESTATUTO SOCIAL, A RELIGIÃO, A JUSTIÇA, O JUDAISMO, A VIDA TERRENA, AS PROFISSÕES, OS COSTUMES, A EXPLORAÇÃO, A TIRANIA, A GANÂNCIA, A VAIDADE, A IMORALIDADE, … O QUE TORNA ESTA OBRA INTEMPORAL, POIS SÃO VÍCIOS E DEFEITOS QUE FAZEM PARTE DA SOCIEDADE ATUAL.

Albertina Afonso