limitações da contabilidade nacional

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9.4 Limitações da Contabilidade Nacional sabemos que os principais objectivos da Contabilidade Nacional são: . descrever quantificadamente a actividadeeconómica; . constituir uma base informativa para a política económica; . medir, através dos seus agregados, o bem-estarda população. Se bem que uma grande parte dos objectivosatrás definidos se consigam alcançarcom a leitura e análisedos dados fornecidos nos quadros da Contabilidade Nacional, há, contudo, algumassituações que demonsrram insuficiências não só do processo de contabilização da actrvidade económica, mas também das potencialidades do sistemâ para medir o bem-estar da popuÌação. São diversas as situações em que os indivíduos produzem bens e servi- ços que são por eles apropriadosimediatamente,sem que sejam sujeitos a quaÌquer processo de compra e de venda.Assim acontece,por exemplo, com a produção para subsistência dos pequenosagricultores, com o traba- lho doméstico, corr' o bricolage. etc. VeriÊcam-se, igu:lmenre. siruações em que os indivíduos fogem delibera- damenre à irúõrmacâo esraúdca e ao úsco.E disso exemplo o emprego de unigranres não legaÌrzados a quem sàopagos salarios inêriores aosdos nacio- nais e sen desconro pan a Segurança SociaÌ. Noutros casos, essas situações podem msmo corucirurr acros üciros. como o tráÊcode estupefacientes. NaruraLmente. rodl x acriridades reièridas têm um va.lor económico que não é contabilizado oÊciaÌmenre. diminuindo, assim. o valor do Produto Interno Bruto.

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Page 1: Limitações da Contabilidade Nacional

9.4 Limitações da ContabilidadeNacional

Já sabemos que os principais objectivos da Contabilidade Nacional são:

. descrever quantificadamente a actividade económica;

. constituir uma base informativa para a política económica;

. medir, através dos seus agregados, o bem-estar da população.

Se bem que uma grande parte dos objectivos atrás definidos se consigamalcançar com a leitura e análise dos dados fornecidos nos quadros daContabilidade Nacional, há, contudo, algumas situações que demonsrraminsuficiências não só do processo de contabilização da actrvidade económica,mas também das potencialidades do sistemâ para medir o bem-estar dapopuÌação.

São diversas as situações em que os indivíduos produzem bens e servi-ços que são por eles apropriados imediatamente, sem que sejam sujeitos aquaÌquer processo de compra e de venda. Assim acontece, por exemplo,com a produção para subsistência dos pequenos agricultores, com o traba-lho doméstico, corr' o bricolage. etc.

VeriÊcam-se, igu:lmenre. siruações em que os indivíduos fogem delibera-damenre à irúõrmacâo esraúdca e ao úsco. E disso exemplo o emprego deunigranres não legaÌrzados a quem sào pagos salarios inêriores aos dos nacio-nais e sen desconro pan a Segurança SociaÌ. Noutros casos, essas situaçõespodem msmo corucirurr acros üciros. como o tráÊco de estupefacientes.

NaruraLmente. rodl x acriridades reièridas têm um va.lor económico quenão é contabilizado oÊciaÌmenre. diminuindo, assim. o valor do ProdutoInterno Bruto.

Page 2: Limitações da Contabilidade Nacional

Exernplos de ürnitações da Contabilidade Nacional

Vejanos algurnas das insuhcièncias da Contabilidade Nacional:

1.O PIB mede a actividade económica, independentemente do seuinteresse económico, sociaÌ ou político, utilidade e consequências parao país. Em síntese, não interessa o que é produzido, mas o valor rnone-tário do que é produzido.A título de exemplo, é perfeitamente indife-rente para a Contabilidade Nacional que se produzam armâs oucereais.

Page 3: Limitações da Contabilidade Nacional

2. Nem todos os bens e serviços são contabilizados. Só o são os que scencontrar.ìÌ previamente definidos. Assin, serviços como os dos pàrti-dos políticos, os religiosos, o brícolage, os serviços domésticos e outrosnão se incluem no conjunto dos bens com valor contabilístico, apesarde terem um valor social imoorranre.

Page 4: Limitações da Contabilidade Nacional

3. Existem serviços que não são contabiïzados no investimento do país,como a investigação científica e o ensino. Em consequência, o lalor da(apost) em certo tipo de investimento, susceptível de potenciar o desen-volvimento económico e social do pú, a médio e longo pnzo, é omitido.

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: . O bem-estar da população não é aval iado nos quadros daContabilidade Nacional e, em certâ medida, os números viciammesmo â leitura dos indicadores da qualidade de vida das populações.Assim, por exemplo, quanto mais automóveis houver, quanto maiorestorem as distâncias entre o local de trabalho dos indivíduos e as res-pectivas residênciâs, quanto mais gasolina se gâstar, etc., maior será oPIB. Será isto sinónimo de qualidade de vida? E a pÕluição das Íábri-cas que contribuem perâ o aumento do PIB? Será esta situação equi-ralente a bem-estar?

Page 6: Limitações da Contabilidade Nacional

-i. Os quadros da Contabilidade Nacional tâmbém não conseguemreflectir as condições sociais da produção. Como se realiza a produ-

ção, quais as condições de segurança para o trabalhador, qual a satisfa-ção pessoaì no desempenho das tarefas prof issionais, etc. , sàoreferências importantes, do ponto de vista social, que não têm lugarno sistema de contabilidade da economia da nação.

Page 7: Limitações da Contabilidade Nacional

Actividade económica global

Page 8: Limitações da Contabilidade Nacional

9.4. 1 A produção não contabilizad,a

lústem actividades produtivas que escâpâm ao cículo da Contabilidade\a--:onaÌ, seja porque são dificilmente mensuráveis, seja porque os produto-r.* rs escamoteiam, conscientemente, de qualquer processo de frscúzação, o,ure r.rlseia o valor do Produto Interno.

-\ situações em que o produto realizado não é contabilizado são asËE:Arìtes:

Page 9: Limitações da Contabilidade Nacional

Encontramos ainda outras designações como economia cinzentâ, clan-destina, invisível, marginal, paralela, etc. Assim sendo, convóm recorrer afontes oficieis para a deÍìnição dos conceitos. A OCDE, na sua obraMeasuring the Non-Obserued Economy de 2002, com base no SNA(I) de 1993,de6ne os rermos da seguinte maneira:

Econornia subterrânea

Eústem actividades que podem ter interesse económico e ser legais masque escapam intencionalrnente à contabilização oficial, porque:

. evitam o pâgamento de impostos;

. eütam o pagâmento de contribuições sociais;

. fogem ao cumprirnento de requisitos legais relativamente a salários,condições de trabalho, de segurança e de saúde;

. fogem ao cumprimento de procedimentos administrativos legais,como o preenchimento de questionários estâtísticos;

. não declaram a totalidade do produto realizado ou pagam saláriosmuito baixos a trabaÌhadores imigrantes, por exemplo.

Page 10: Limitações da Contabilidade Nacional

Econornia ilegal

É uma variante da econornia subterrânea' cuja diferença em relação à

anterior tem a ver com o facto de as actividades envolvidas serem ilegais

(trá6co de drogas, por exemplo) ou serem desempenhadas de forma ilegal

(prática ilegal de Medicina). As actividades ilegais são puníveis por lei'

Assim, incluem-se na economia ilegal as seguintes actividades:

. produção de ber:s e serviços cuja produção' venda ou posse é ilegal (por

exemplo, ústribuição de estupefâcientes, contrafacção ou contrabando);

. produções normalmente consideradas legais, mas praticadas por pes-

soas não autorizadas,

Page 11: Limitações da Contabilidade Nacional

Econornia informal

Este sector da economia representa unÌe pârte importante da actividadeprodutiva e envolve actividades que escapam íacilmente à contabilização(2).

Os bens produzidos são legais màs às (empresàso não se encontramregistadas, não para fugir deliberadamente ao Êsco, mas porque são familia-res e de reduzida dimensão e preferem poupar custos nas formalidades enoutras norrnas de funcionamento. Incluem-se nesta categoria:

. produção de bens para âutoconsumo, trâbalho das donas de câsa, etc.;

. actividades que têm como objectivo principal proporcionar trabalho erendimento às pessoas envolvidas, como costurar para forâ, tomârconta de crianças, trabaÌho doméstico, etc.

(l) SNA - Srâtistics National Accounts.(2) A g."nd. diferença entre o sector informal e o da economia subterúnea é quc

caso não há uma atitude de Êaude deÌiberada.

Page 12: Limitações da Contabilidade Nacional

Economia paralela - outra designação parar produção não contabilizada

I :conomia paralela é constituída por um conjunto de actividades que:::m à Contabilidade Nacional por se encontrarem fora do sistema

--::,rico e fiscal.

ì: acordo com o Banco de Portugal, a economia paralela é composta- : :::s categorias:

. : produção legal não declarada, ou seja, a produção de bens c serviçoslue, embora sendo em si mesma legal, foi deliberadamente ocuÌtada das:utoridades, para evitar o pagarlento de impostos e encargos análogos;

. i produção de bens e serviços iÌegais;

. r produção de bens e serviços para autoconsumo.

-ì peso da economia paralela, na actividade económica, varia de país:--. país. No entanto, estinìa-se que esta parcela da economia varic entre

. -10% do PIB medido. Em Portugal, esse valor é de cerca de 25%.

Page 13: Limitações da Contabilidade Nacional

PIB Total

Page 14: Limitações da Contabilidade Nacional

A necessidade de aumentar c ren-dimento leva a práticas de economiainïormal,

A integração da econornia não oficialna Contabilidade Nacional

Considerando que o peso do sector inôrmal é grande, sobretudo naseconomias menos desenvolvidas, há que proceder a estimativas do seuvaìor por duas ordens de razões:

. é necessirio ter uma medida mais aoroximada do valor do Produtoreüzado do país:

. é necessário avaliar as possibiÌidades de as Famfias poderem ultrapassardiÊculdades em períodos de maior instabilidade económica e socialpor recurso a esrratégias económicas informais.

O quadro seguirrte ilusra as estratégias seguidas para a colecta de dadosesrarísricos relarivos à economia não oficial e à forma de integração dosdados na Contabilidade Nacional.

Page 15: Limitações da Contabilidade Nacional

Economia subterrânea

UniveÌso

Lógica de produção

Método de colectaestatística

IntegÍação naContabilidadeNacional

SectoÍ informal

Unidades económicas nãorsgr-Lduóõ Perd-

Administrações Públicas

Subsistência, auto-emprego,organização tradicional

Inquéritos específicos e deÍinir

Eslabelecimentode um subsector específico

Fraude e evasão fiscal

Unidades não registadas,unidades registadassubdeclaranies

Oueda dos custosde produção por ÍormaÍraudulenla

Auditorias Íiscais

Correcção dos desvjosde subavaliação

Actividades llícitas

Unidades não registadasexercendo aclividadesmarginais

Excedenles obtidosde forma delituosa

Fluxos Íísicos (apreensãode mercadorias,por exemplo)

Estimaçáo por produtos

Fonte: INE (adaptado).

Page 16: Limitações da Contabilidade Nacional

9.4.2 Externalidades

Para alêm des limitações referidas anteriormente, ainda se podem inven-tariar outras limitações, vulgarmente traduzidas nas designadas extefnali-dades do processo produtivo.

Em primeiro lugar, esclareçamos em que consistenr as externalidades.Sabemos que todas as actividades tênr objectívos próprios directos: a

produçâo de bens e de serviços destinados à satisíação das necessidadesindividuais e colectivas.

Mas, para além dos efeitos visíveis e imediatos, existem outros efeitos,de médio e de longo pnzo, não passíveis de serem medidos em termosmonetâios, e que se Íeflectem, positiva ou negativamente, no bem-esard:s populações- Â estes efeitos é usual dar-se o nome de externalidades-

Page 17: Limitações da Contabilidade Nacional

FlFÍrplos de externalidades positivas ou negativas

. É sabido que a educação satisfaz, de imediato, as necessidades educativaslos indiúduos. Todavia, é também do conhecirnento geral que a educa-io, a longo prezo, se reílecte nas práticas dos cidadãos, com efeitos

ç'ositivos na popuÌação. De facto, uma população educada é mais parrici-pativa, mais respeitadora dos direitos humanos, mais saudável, etc. Ora,-.odos estes efeitos repercutem-se no bem-estar dos indiúduos e, inclusi-ramente, na saúde de uma economia, na medida em que cidadãos maìsirxtruídos são mais produtivos, têm tendência para minimizar os desper-Jícios, são ecológica e ambientalmente activos, etc. Ora, estes efeitospositivos da educação nos indiúduos e na economia existem, mâs não;ão passíveis de contabilização, peÌo que escâpam à Contabilidade\acional. Para além da educação, outras actiüdades originam exterlra-Edades positivas, nomeadamente a construção de um hospital, quetorna mais sauúve1 uma população; a úvestigação cientíÊca, que poten-cia o desenvolvimento tecnológico da produção; a corxtrução de uma6tredâ, que torna os lugares mais acessíveis, etc.

Page 18: Limitações da Contabilidade Nacional

. Por outïo lado, existem actividades que causam efeitos nefastos nobem-estar das populações, nomeadamente ao conduzirem à degradaçãoambìenel.A estes efeitos dá-se o nome de externalidades negativas. Sãoinúmetos os exempÌos de externalidades negativas: lançamento degases para a atmosfera por empresas industriais; descargas poluentespara as ünhas de água; construção de pontes que não salvaguardem osimpactos ambientais; produção de armamento, etc.Todas estas actividadestÊm repercr:sões negativas no bem-estar das populações, originando, amfiìo e longo prazos, consequências nefastas na economia, ainda queúo seja posível medir, em termos económicos, esses efeitos.