lília de souza

40
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA LÍLIA DE SOUSA SILVA SANTOS IMPLICAÇÕES DOS PCNs E DAS ORIENTAÇÕES CURRICULARES NO FAZER DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DA REDE PARTICULAR DA CIDADE DE ALAGOINHAS/BA ALAGOINHAS 2009

Upload: gepefelunebalagoinhas

Post on 04-Dec-2014

1.244 views

Category:

Documents


3 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: Lília de Souza

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II

LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

LÍLIA DE SOUSA SILVA SANTOS

IMPLICAÇÕES DOS PCNs E DAS ORIENTAÇÕES

CURRICULARES NO FAZER DOS PROFESSORES DE

EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DA REDE

PARTICULAR DA CIDADE DE ALAGOINHAS/BA

ALAGOINHAS

2009

Page 2: Lília de Souza

LÍLIA DE SOUSA SILVA SANTOS

IMPLICAÇÕES DOS PCNs E DAS ORIENTAÇÕES

CURRICULARES NO FAZER DOS PROFESSORES DE

EDUCAÇÃO FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DA REDE

PARTICULAR DA CIDADE DE ALAGOINHAS/BA

Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Licenciada em Educação Física pela Universidade do Estado da Bahia-Campus II. Orientadora: Profª. Ms. Martha Benevides da Costa.

ALAGOINHAS

2009

Page 3: Lília de Souza

Aos meus pais: Francisco e Leonízia

um muito obrigado seria pouco demais...

A quem me deu muito mais do que a vida,

palavras não descrevem os sentimentos reais.

Uma simples dedicatória é só um começo...

A eles, dedico a minha eterna gratidão.

Page 4: Lília de Souza

AGRADECIMENTOS A Deus, o meu Provedor, Aquele que tem me sustentado todos os dias da minha

vida, que têm me dado forças a prosseguir, mesmo quando tudo parecia impossível,

Ele abriu todas as portas para que se tornasse possível.

Ao meu esposo, o meu amado, por seu amor e confiança. Pelo seu olhar

encorajador e cheio de orgulho. Por tantas noites estudando e seu apoio

incondicional. A nossa filha, herança de Deus, que o Senhor nos deu no tempo dEle,

maravilha da maternidade.

Aos meus pais pelo incentivo, pelas palavras de apoio, de amor, carinho e pelas

orações. Grande foi o esforço, mas maior foi a vitória. Aos meus irmãos Lindomar

mesmo longe estava tão perto, tão presente; a Neide por todas as orações e apoio e

Jú pelo amor a sua irmã. Vocês são meus amores, o meu muito mais que obrigada!

Vocês são muito importantes para minha vida. Amo vocês.

Aos professores que me ajudaram a construir esta história, que me ajudaram a

chegar ao final da graduação, desde Guanambí a Alagoinhas. A minha orientadora

Marta Benevides pela ajuda, paciência e por tanta dedicação. A vocês minha

admiração.

A todos que me ajudaram direta ou indiretamente colaboraram a realização deste

trabalho, cujos nomes e rostos se confundem na hora de agradecer... e a

palavra certa e a palavra quase-certa

é a mesma que entre

Page 5: Lília de Souza

LISTA DE SIGLAS

CREF Conselho Regional de Educação Física

EF Educação Física

MEC Ministério da Educação

OCEM Orientações Curriculares para o Ensino Médio

PCNs Parâmetros Curriculares Nacionais

PEF Professores de Educação Física

TEC Técnicos/treinadores

Page 6: Lília de Souza

LISTA DE QUADROS

QUADRO I- DADOS GERAIS SOBRE OS SUJEITOS 26

QUADRO II- ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E DOS PROJETOS

ESCOLARES

29

QUADRO III- POSTURA PEDAGÓGICA DOS DOCENTES PESQUISADOS 30

QUADRO IV- RELAÇÃO COM PCNs 32

QUADRO V- RELAÇÃO COM AS OCEM 33

Page 7: Lília de Souza

RESUMO Este trabalho teve como objeto de estudo as implicações dos Parâmetros

Curriculares Nacionais e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio no fazer

pedagógico dos professores de Educação Física dos colégios particulares da cidade

de Alagoinhas - BA. Os objetivos foram apresentar os pressupostos teóricos do

processo de elaboração destes documentos, discutir suas concepções e

contradições, identificar o uso dos referidos documentos no cotidiano do professor.

Percebi que para a elaboração dos PCNs o MEC convocou alguns professores da

rede particular de ensino do Estado de São Paulo, sob a coordenação de um

professor espanhol estudioso do campo da psicologia da aprendizagem. O

documento elaborado era repleto de contradições e tendencioso a uma perspectiva

liberal de Educação e Educação Física. Anos de discussões e produções

acadêmicas sobre a Educação Física, em entidades científicas e grupos de estudos

que representam aos professores e futuros professores de Educação Física, foram

desconsiderados. Evidentemente não poderia escapar a severas críticas quanto à

legitimação destes documentos, resultando em um novo documento, as Orientações

Curriculares do Ensino Médio. Para identificar o uso que os professores pesquisados

fazem de tais documentos, utilizei para a coleta de dados a entrevista semi-

estruturada. Os resultados encontrados são que a maioria dos professores

desconhece todo o avanço da reforma da educação e a não utilização de nenhum

destes documentos, restando para estes o uso de apenas um conteúdo da

educação física, o esporte.

Palavras-chave: Fazer pedagógico. Parâmetros Curriculares Nacionais.

Orientações Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Educação Física.

Page 8: Lília de Souza

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 9

2 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: SEU PROCESSO HISTÓRICO E

OS PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS

12

3

DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ÀS

ORIENTAÇÕES CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO

15

3.1 Reflexões e Críticas sobre os Parâmetros Curriculares

Nacionais

18

3.2 As Orientações Curriculares do Ensino Médio: Sua Proposta

para a Educação Física

21

4 METODOLOGIA 24

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 26

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 34

7 REFERÊNCIAS 37

ANEXOS

Page 9: Lília de Souza

1 INTRODUÇÃO

Esta monografia tem como objeto de estudo analisar as implicações das

Orientações Curriculares para o Ensino Médio no fazer pedagógico dos professores

de Educação Física dos colégios particulares da cidade de Alagoinhas - BA.

Durante o Ensino Médio, como educanda, a minha relação com a EF era

exclusivamente o tecnicismo, a esportivização do componente. Pude vivenciar as

aulas apenas nas quadras com longas sessões de alongamentos, aquecimentos e

repetições de movimentos técnicos para aperfeiçoar o “bom andamento” do esporte,

conquistando assim, uma vaga na “seleção” para representar a escola nos jogos

escolares. Era visível que o professor não planejava, o objetivo das aulas era

exclusivamente treinar para os torneios e vencer.

Como educadora, a minha relação com Ensino Médio nas aulas de EF é bem

diferente. A princípio, nos bastidores dos planejamentos, a maior parte das vezes, o

componente é marginalizado, desconsiderado e discriminado, chegando até a ser

excluído de alguns projetos político pedagógicos, dando maior ênfase às áreas de

exatas, línguas e biológicas. Na construção do plano de curso não busco nos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) embasamento para elaboração do meu

planejamento anual, por ser confuso e, muitas vezes, contraditório, não o tenho

como “orientador” da minha prática pedagógica. Por não conhecer as Orientações

Curriculares para o Ensino Médio não o tomava como diretriz dos planejamentos. No

entanto, durante o transcorrer da vida acadêmica pude conhecer as Orientações e

percebi as diversas semelhanças da proposta pedagógica contida neste documento

com o meu fazer pedagógico.

Somando a isto, discussões foram realizadas nas atividades de Estágio

Curricular III, após o debate do texto de Francisco Eduardo Caparroz

“PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE EF: o que não pode ser que não

é o que não pode ser que não é”.

Os questionamentos levantados durante a aula instigaram-me a verificar se

os professores de EF do Ensino Médio dos colégios particulares da cidade de

Alagoinhas/BA conhecem os PCNs e as Orientações Curriculares e, se possuem

informações a respeito do processo de construção dos referidos documentos. Mais

que isto, é preciso saber, além de conhecer ou desconhecer os referidos

documentos, o olhar que os professores têm para os mesmos, no sentido de tomá-

Page 10: Lília de Souza

los uma ferramenta de trabalho ou de possuir uma postura crítica e criativa ao

contrapor o documento e a sua realidade de trabalho.

A importância desse trabalho se constitui na medida em que possibilita que o

meio acadêmico alagoinhense conheça a realidade do fazer pedagógico dos

professores de EF das escolas particulares de Ensino Médio. A partir disto, possa,

no processo formativo que se concretiza nas Universidades, analisar criticamente os

avanços e retrocessos da referida realidade, além de articular proposições para

transformar aquilo o que seja necessário.

Diante de tais aspectos, o problema que esta pesquisa buscou investigar é:

Quais as implicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais e das Orientações

Curriculares do Ensino Médio no fazer pedagógico dos professores de Educação

Física dos colégios particulares da cidade de Alagoinhas – BA?

Buscou-se analisar a proposta contida nos PCNs e nas OCEM, área

Educação Física, e suas implicações no fazer dos professores de EF dos colégios

particulares da cidade de Alagoinhas – BA. Para tanto, foi necessário apresentar os

pressupostos teóricos do processo de elaboração do documento; discutir as

concepções e contradições presentes nos documentos, desde os seus pressupostos

teóricos, processo de elaboração e realização dos PCNs às OCEM e identificar o

uso cotidiano que os professores de EF das escolas privadas de Alagoinhas fazem

do documento.

Diante disto, o presente estudo está organizado nos seguintes tópicos:

Introdução, na qual apresento o objeto de pesquisa, a justificativa, o problema e os

objetivos; Educação Física no Brasil: seu processo histórico e os pressupostos

pedagógicos, discuto a relação histórica com os avanços didáticospedagógicos da

EF; Dos Parâmetros Curriculares Nacionais às Orientações Curriculares para o

Ensino Médio, apresento o processo de elaboração e as críticas aos PCNs, a

construção das OCEM e sua proposta para a EF; Metodologia apresento os

procedimentos metodológicos para execução e conclusão deste trabalho;

Apresentação e Análise dos Dados discuto os dados coletados nas entrevistas

relacionando-os com os meus objetivos; Considerações Finais relato os dados

conclusivos da minha pesquisa.

Page 11: Lília de Souza

2 EDUCAÇÃO FÍSICA NO BRASIL: SEU PROCESSO HISTÓRICO E OS

PRESSUPOSTOS PEDAGÓGICOS

Desde as últimas décadas do século XIX e nas primeiras do século XX, a EF

no Brasil estava sob influência militar. Seu ensino, por sua vez, baseava-se nas

relações (professor – instrutor / aluno – recruta) sendo fortemente valorizada a

hierarquia de controle dos movimentos dos professores e, sobretudo, a questão da

disciplina, da obediência e da subordinação às ordens por parte dos alunos. Nesta

hierarquia estava excluída a hipótese de alteração de papéis.

A EF, assim concebida, assumia de certa forma, um papel importante no

Brasil, pois se associava à legitimação do enaltecimento do desenvolvimento da

aptidão física como algo responsável pela capacidade de produzir da população,

principalmente, da classe trabalhadora que poderia contribuir para com o progresso

do País, almejando que este se transformasse numa futura potência. Até os anos

1930 e 1940, o que perdurou foi essa concepção. A partir de então, começou a se

cogitar o que se chama de “desmilitarização” da EF (PERES, 2001).

Simultaneamente com a militar, a influência médica marcou pelos princípios

Eugenistas e Higienistas da EF. Isso significava que os hábitos saudáveis,

higiênicos e a perspectiva de aprimorar cada vez mais a raça humana estavam em

voga. Esses ideais foram norteadores de todo o pensamento das décadas de 1930 e

1940, resultando numa forte concepção da EF como perspectiva biológica, ou seja,

primando obviamente, pelo físico. Com esses ideais Eugenistas, ou seja, buscando

a melhoria e o aprimoramento da raça humana, a EF primava por formar o indivíduo

“perfeito”, o homem forte e saudável. A mulher, por sua vez, também teria que ser

saudável, a fim de gerar uma prole cada vez mais sadia, objetivando o progresso da

humanidade.

A educação ao privilegiar o orgânico, o a-histórico, acaba por recusar seu

caráter de disciplina pedagógica. Os objetivos, a metodologia, os conteúdos e outros

aspectos marcadamente educacionais estavam obscuros e se dispersavam frente

ao pensamento vigente na época. A EF, por sua vez, acabou assumindo um papel

que não era o seu, afastando-se, portanto, de sua verdadeira função enquanto

componente curricular (PERES, 2001).

Após o período das Grandes Guerras surge uma nova linha que começa a

influenciar o componente em questão. Emergiu o pensamento desportivo. Diante

Page 12: Lília de Souza

dessa perspectiva muito intensa nas décadas de 1960 e 1970, as personagens da

escola incorporavam novos papéis. A relação professor – aluno diferenciava-se. O

professor, neste momento, assumiu o papel de treinador, enquanto que o aluno

correspondia ao de atleta. Este período pode também ser reconhecido como período

de maior número de características exclusivas no campo escolar, pois as crianças

que não fossem verdadeiros “talentos ou prodígios esportivos” eram

desconsideradas, ou seja, os indivíduos “comuns” que não exibiam tanto destaque

nas modalidades esportivas eram marginalizados e, consequentemente, excluídos.

(SOARES, 1992).

Nesta concepção eram realçadas/enfatizadas as marcas de rendimento, os

recordes, a competitividade, a performance e os índices físicos. Além de primar pela

rigorosidade dos treinamentos e pela formação de uma idealizada geração biônica.

Embora, em todos esses momentos houvesse um caráter tecnicista, o auge dessa

influência imperou nos anos 1970 (PERES, 2001).

Nos anos 1980 a Educação Física entrou no que se chama de crise de

identidade. Durante esta crise, muitos profissionais começaram a trabalhar de forma

espontaneísta, para saber justificar sua prática na escola. Dessa forma, houve

espaço para a proposição da psicomotricidade. Tal pensamento está muito vivo

atualmente e compreende este componente como um mero instrumento. Isto quer

dizer que ela, a EF, passa a ser de grande utilidade no auxílio do ensino de outros

componentes curriculares constituindo-se uma “moleta” da escola.

Sob essa perspectiva, o componente em questão, perdeu sua especificidade

o que acarretou marcas importantes na marginalização do mesmo, reavivando

assim, a hierarquia do saber escolar. As disciplinas ditas científicas deveriam ser

mais enfatizadas e enaltecidas em detrimento das demais.

A evolução histórica da EF foi marcada pelas várias influências recebidas, as

quais contribuem para com a concepção atual que se tem desse componente

curricular. Não se pode negar a existência dessa hierarquia de saberes que, por sua

vez, consiste em valorizar as áreas das ciências exatas, línguas e ciências naturais,

classificadas, num primeiro plano, como primordiais.

A crise de identidade fez com que se começasse a refletir sobre a

legitimidade da EF querendo, assim, conquistar respeito junto aos demais

componentes. Entrando, portanto, em conflito, a EF está em busca de seus

princípios fundamentais, questionando quais são seus objetivos, seus conteúdos,

Page 13: Lília de Souza

suas metodologias. Desta forma, a EF está lutando para ser compreendida como

parte integrante da cultura escolar, isto é, enquanto um componente que desenvolve

atividades expressivas com os alunos tais quais: jogos, ginásticas, danças, esportes,

brincadeiras e lutas.

Segundo Soares (1997), a EF no contexto escolar possui uma particularidade em

relação aos demais componentes curriculares. Trata-se de um componente que

contribui para a formação do cidadão com instrumentos e conhecimentos

diferenciados daqueles chamados tradicionais. O conhecimento da EF é socializado

e apropriado sob manifestação de conjunto de práticas, produzidas historicamente

pela humanidade em suas relações sociais.

Page 14: Lília de Souza

3 DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ÀS ORIENTAÇÕES

C CURRICULARES PARA O ENSINO MÉDIO

Para entender a lógica dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é

necessária uma discussão sobre o processo de construção destes e o lugar que

ocupam na política educacional do governo brasileiro.

De acordo com Caparroz (2003, p. 310):

Os PCNs foram construídos por especialistas em educação e especialistas das diferentes áreas/disciplinas escolares contratados pelo MEC. Um processo centralizado de que não participaram os professores que atuam nas escolas, tampouco os diversos segmentos da sociedade civil que estão implicados com o campo educacional, tais como as associações científicas, os sindicatos, associações de alunos, associações de pais, entre outros.

Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram produzidos pelo MEC, através

da Secretaria de Ensino Fundamental, com o objetivo de subsidiar a implantação ou

revisão curricular nas escolas dos Estados e Municípios, após Lei de Diretrizes e

Bases Nacionais, LDB 9.394/96. Esta legislação possui como característica o não

direcionamento do currículo, por compreender que em diferentes realidades, as

escolas tem necessidades e características culturais diversas. Por isso, a LDB de

1996 não criou um currículo nacional. Diante disto, foram elaborados os PCNs como

orientações para a organização pedagógica das escolas.

Nesse sentido, os PCNs incentivam os debates nas escolas, proporcionando

aos professores refletir sobre suas práticas pedagógicas. Esta seria a proposição

oficial dos documentos que se apresentam como um suporte teórico para qualificar a

prática pedagógica.

Conforme Gramorelli (2007), no final de 1994, teve início o processo de

elaboração para a versão preliminar do texto dos PCNs. Foram convocados para tal

empreitada, estudiosos da educação brasileira e alguns representantes da

Argentina, Chile, Colômbia e Espanha, visto que esses países já haviam passado

por mudanças curriculares, de modo que podiam contribuir na discussão de

vantagens e problemas na organização e implementação de um currículo no âmbito

nacional.

Após a elaboração desta primeira versão, houve a análise do texto pela

Fundação Carlos Chagas, em São Paulo, em relação às diversas propostas

curriculares oficiais existentes em todos os estados do Brasil, além de alguns

Page 15: Lília de Souza

municípios. Tal análise foi solicitada pelo próprio MEC.

O processo de elaboração teve início em 1995, com um grupo de professores

de São Paulo, trabalhadores de uma instituição privada, assessorados por César

Coll, um renomado professor de psicologia educacional da Universidade de

Barcelona e envolvido com a Reforma Educacional Espanhola dos anos 1990. No

final desse mesmo ano, a primeira versão dos PCNs foi concluída e distribuída para

educadores a fim de que fossem feitas análises do documento e emitidos pareceres

(GRAMORELLI, 2007).

Sendo assim, a primeira versão oficial dos documentos foi publicada em

1997, com os documentos referentes aos 1º e 2º ciclos (1ª a 4ª séries do Ensino

Fundamental – atualmente 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental); e, em 1998, os

relacionados aos 3º e 4º ciclos (5ª a 8ª séries – atualmente 6º ao 9º ano do Ensino

Fundamental).

Em 1999, foram publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino

Médio, elaborados por uma equipe diferente daquela que foi responsável pelos

documentos do Ensino Fundamental e supervisionada pela Secretaria de Ensino

Médio e Educação Tecnológica (SEMTEC), do Ministro da Educação e do Desporto

(BRASIL, 1999).

De modo geral, o que parece é que os PCNs, através do MEC, tiveram como

objetivo subsidiar a construção dos currículos nas instituições de ensino, pautados

nas intenções do governo presentes no Plano Nacional de Educação. Apesar disto,

os PCNs apresentam-se como apenas uma orientação pela qual as escolas podem

optar ou não.

Todavia, após a elaboração dos documentos, foi maciça sua distribuição em

todas as escolas brasileiras, públicas e particulares. Some-se a isto o fato de, no

Brasil, a formação dos professores, de modo geral, ser bastante precária. Assim, a

referência que os professores tinham, no contexto concreto da escola, para se

adequar às novas exigências legais era o que estava posto nos PCNs. Tratava-se,

portanto, de uma alternativa que, por falta de outras referências, parecia única.

No que se refere ao conteúdo dos próprios PCNs, o documento do Ensino

Médio (PCNEM) propôs a divisão dos conhecimentos escolares em três grandes

áreas, com o objetivo de facilitar ações articuladas, tanto no interior de cada

disciplina quanto entre cada uma das áreas e suas respectivas disciplinas, que

foram escolhidas por critérios de proximidade temática, prática ou estrutural. Assim

Page 16: Lília de Souza

sendo, denominaram-se:

Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias – tem como base a reunião daqueles conhecimentos que compartilham objetos de estudo e, portanto, mais facilmente se comunicam, criando condições para que a prática escolar se desenvolva numa perspectiva de interdisciplinaridade (BRASIL, 1999, p. 18-19).

Os PCNEM tiveram como objetivo dar significado ao conhecimento escolar

mediante a contextualização e a fragmentação, frente à interdisciplinaridade:

“Tínhamos um ensino descontextualizado, compartimentalizado e baseado no

acúmulo de informações. Ao contrário disso, buscamos dar significado ao

conhecimento escolar, mediante a contextualização [...]” (BRASIL, 1999, p. 13). Para

isso, propuseram a reorganização por áreas de conhecimento e não pela

multiplicidade de disciplinas, cada uma com sua especialização como componentes

fechados em si próprios, de modo a facilitar o desenvolvimento dos conteúdos,

numa perspectiva de interdisciplinaridade.

No que diz respeito à EF, os PCNEM referem-se às Linguagens, códigos e

suas tecnologias, “as atividades físicas e desportivas como domínio do corpo e

como forma de expressão e comunicação.” (BRASIL, 1999, pg 20). No entanto, o

que o documento, no decorrer de suas páginas sobre a estética da sensibilidade,

deixa claro é que a EF versa sobre a Educação para a Saúde. Através dos

diferentes conteúdos (Dança, Jogos, Esportes, Lutas e Ginástica), os professores

devem trabalhar com o intuito de amenizar os problemas crescentes na

adolescência, como a obesidade e inatividade física.

Essa colocação leva a uma inevitável reflexão sobre o papel pedagógico da

EF. Entende-se que como componente curricular, essa área de conhecimento deve

tematizar e aproximar os educandos de conhecimentos acumulados pela

humanidade. Todavia, vista como forma de tratar e prevenir doenças

crônicodegenerativas a EF é apenas um instrumento, uma ferramenta de saúde.

3.1 Reflexões e críticas sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais

Apesar dos autores dos documentos indicarem que os Parâmetros são

referenciais abertos e flexíveis, percebemos que esse discurso pode não se

Page 17: Lília de Souza

concretizar, pois se mantém uma estrutura hierárquica e centralizadora,

representada pelos níveis de concretização curricular. Parece que não houve

diálogo entre a proposta, a escola e o professor, como construção curricular em

processo, pois a implementação e a concretização dos referenciais destes

documentos foi feita por uma via de mão única, sem a participação efetiva daqueles

que colocaram em prática a proposta curricular, afirma Zan (2007).

Segundo Caparroz (2003), todo este o processo de elaboração dos

documentos não o qualifica como democrático e participativo. Pois deveria ter

existido uma ampla discussão e debates sobre a proposta da implantação de

diretrizes curriculares nacionais com a sociedade, educadores, sindicatos e fóruns

das áreas específicas. O Grupo de Trabalhos Ampliado da EF (1997, p. 95) afirma

que “[...] não foi colocada como possibilidade, em nenhum momento, a contestação

do teor do documento que estabelecia os princípios para formulação dos PCNs”.

Caparroz (2003) afirma que, o que parece ter chegado aos professores foram

as orientações adotadas pelo governo. Os PCNs chegaram através de um conjunto

de publicações, enviadas a cada professor da rede pública. Esses textos traziam

uma prescrição que deveria ser operada para a construção de uma ação educativa

qualitativa melhor. Contraditoriamente, não ofereceram possibilidade de os

professores refletirem sobre a problemática da prática pedagógica, valendo-se de

diferentes elementos presentes no debate e no embate político-pedagógico presente

na sociedade brasileira.

Ou seja, os professores receberam uma bula, tal qual os remédios que

compra-se cotidianamente e deveriam seguir à risca as suas indicações. Desta

forma, os professores que enfrentam o dia-a-dia da escola e da sala de aula, com

suas realizações e contradições, foram postos no lugar de meros executores de

tarefas. O que foi apresentado como orientações, nada mais era do que uma cartilha

que informa ao professor seus objetivos, classificando conteúdos e, até mesmo,

prescrevendo como dar aulas.

Diante de tantas abordagens pedagógicas que norteiam a EF Brasileira, nos

PCNs percebe-se a restrição “a uma linha de pensamento e, até mesmo essa linha

foi tratada com superficialidade ao ser a ela agregado um conjunto de termos sem

contextualização e explicação” (SOARES, 1997, p. 77).

Quanto à leitura do processo histórico da EF, Soares (1997) observa que os

Page 18: Lília de Souza

PCNs não fazem referências a autores reconhecidos ou qualquer livro sobre a

história da EF no seu contexto mundial e nacional. Tem-se uma visão simplista de

fenômenos recheados de complexidade do século XIX até o século XX.

Conforme a Gramorelli (2007), todo esse processo histórico requer uma

pesquisa detalhada devido às questões como eugenia, higienismo e outras

abordagens ricas em detalhes que merecem uma análise criteriosa. No entanto, isto

não aconteceu na elaboração dos PCNs, que tratam dessas questões com sucintas

e ligeiras passagens com grandes contradições. Percebe-se que não houve uma

leitura cuidadosa do processo histórico da EF, deixando claro que a mesma apenas

preocupava-se com a educação do físico que perdurou até a chamada crise de

identidade. Essas considerações revelam a ausência de sintonia com o debate

teórico-metodológico da área.

Ainda na perspectiva da descontinuidade entre os PCNs e os debates atuais

da EF, Caparroz (2003, p. 318) afirma que:

É visível que não há um aprofundamento sobre o sentido que se dá a compreensão de educação física, bem como uma cultura corporal (que outras culturas corporais existem?) ou ainda como uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento (que outras áreas formam a cultura corporal do movimento?) e a educação física escolar como uma disciplina (quais as outras disciplinas?) que introduz e integra o aluno na cultura corporal do movimento. Difícil esta ideia de a educação física introduzir e integrar o aluno na cultura corporal de movimento.

Quanto aos conteúdos propostos no referido documento, aparece a

abordagem construtivista sob um enfoque psicomotricista e de aprendizagem

motora. Ao mesmo tempo, a aptidão física é recuperada. Entende-se ainda que

primeiro deve-se aprender o movimento, em seguida domina-lo e, posteriormente,

usá-lo numa atividade mais complexa. Nessa miscelânea de abordagens teórico-

metodológicas, o corpo está reduzido ou restrito aos aspectos biológicos. Os PCNs

de EF são carentes de significado e de clareza para o leitor.

Temas do cotidiano, como a violência no esporte, o uso de drogas, gênero,

surgem ao longo do documento como simples constatações, conforme o Grupo de

Trabalho Ampliados da EF (1997). Esses mesmos estudiosos, além de reforçar o

sexismo, que ainda é forte nas aulas. Esses elementos aparecem num documento

oficial, mesmo diante de tantos esforços de professores comprometidos com uma EF

Page 19: Lília de Souza

inclusiva e participativa.

Nos documentos do Ensino Médio, finalidades específicas são propostas,

como aprofundar os conhecimentos já adquiridos no Ensino Fundamental, preparar

para o trabalho e para a cidadania, desenvolver a autonomia intelectual e do

pensamento crítico. Entendem a EF inserida nas teorias críticas. Entretanto, é

prudente refletir sobre as mesmas indicações dos documentos quando apontam a

necessidade da vertente voltada à Aptidão Física e Saúde (BRASIL, 1999, p. 25),

apontando a necessidade de se adotar essa tendência por demandas da sociedade

atual, e, ao mesmo tempo, anunciando que o aluno do Ensino Médio “deve possuir

sólidos conhecimentos sobre a cultura corporal” (BRASIL, 1999, p. 159).

É preciso refletir mais amplamente essas contradições quando colocamos em

jogo a confusão relativa ao papel do próprio Ensino Médio. Este segmento

educacional, segundo Darido (2001) já foi visto como forma de formar profissionais,

já foi concebido como instrumento de preparação para o Ensino Superior e,

atualmente, tais perspectivas convivem. Todavia, em qualquer das funções a relação

Ensino Médio e necessidades do mercado globalizado é algo que se faz emergente

e explícito. Por isso, não é de se estranhar que a função atribuída à EF siga no

mesmo caminho.

Ainda segundo a visão dos autores das propostas curriculares para o ensino

médio, de 1999, a contextualização do conhecimento pode ser um recurso para tirar

os alunos da posição de espectadores passivos e proporcionar o ensino com base

no diálogo entre os conhecimentos pessoal, social e cultural. Segundo o próprio

documento “contextualizar o conteúdo que se quer aprendido significa, em primeiro

lugar, assumir que todo conhecimento envolve uma relação entre sujeito e objeto”

(Brasil, 1999, p. 91).

Diante de tantas críticas quanto ao processo de elaboração dos Parâmetros

Curriculares Nacionais como também do seu conteúdo, que conduzia o fazer do

professor rumo à homogeneização, outro documento foi elaborado: as Orientações

Curriculares para o Ensino Médio.

Estas se fizeram durante seminários promovidos pelo Ministério da Educação.

Nestes, formulou-se um texto resultado de discussões. Não apenas nestes

encontros, mas em eventos científicos e acadêmicos de todo o Brasil e da

contribuição de leitores críticos, num processo mais democrático, onde a

comunidade acadêmica e escolar dos que constroem a EF no cotidiano, elaborou-se

Page 20: Lília de Souza

esse novo documento.

As Orientações Curriculares para o Ensino Médio (OCNEM) foram

apresentadas em 2004/2006, com o governo Luiz Inácio Lula da Silva. Essas

orientações trazem como focos principais reflexões para a prática docente, assim

como alternativas didáticopedagógicas para a organização do trabalho educacional

(ZAN, 2007).

3.2 As Orientações Curriculares do Ensino Médio: sua proposta

nnnnnnn para a Educação Física

Este documento reforça a necessidade de que a escola considere as

orientações curriculares e que avance no sentido de contemplar sua própria

realidade, seja a partir da inclusão de temáticas específicas na parte diversificada do

currículo, seja na confecção do projeto políticopedagógico. Nota-se, neste ponto,

que, diferente de um direcionamento homogêneo para o trabalho dos professores,

espera-se que estes sejam capazes e disponibilizem-se a refletir sobre sua própria

realidade e intervir nesta de modo contextualizado (ZAN, 2007).

É também uma necessidade atual, segundo as OCNEM, a efetivação do

trabalho coletivo na instituição escolar. Esta é uma postura que vem sendo

sinalizada desde a publicação da LDB de 1996, que prevê no artigo 13 da referida lei

a participação dos docentes na elaboração do projeto político pedagógico da escola.

Quanto a sua identidade, o referido documento entende a EF como um

componente curricular, que se constrói a partir do “[...] entendimento que os alunos

tem de si, do corpo e do corpo dos outros, seus valores e posicionamentos éticos e

estéticos, seus projetos de vida e que lugar a escola ocupa nesses projetos”

(BRASIL, 2006, p. 218). Nessa perspectiva, as práticas corporais passam a ser

vistas como mais uma linguagem que possuem valores nelas mesmas. A escola não

é um lugar neutro, mas um espaço sociocultural repleto da diversidade e da

pluralidade que se expressa, também, no e pelo corpo.

É interessante observar que esse mesmo debate sobre a EF como

componente curricular vem sendo tecido pelos pensadores críticos da área. Nesse

sentido, Souza Junior (2001) discute que a EF tem a possibilidade de se legitimar

como componentes curriculares se estiverem claros seus objetivos pedagógicos e

Page 21: Lília de Souza

os conteúdos a serem tratados.

No texto das Orientações Curriculares, concebe-se a política curricular como

expressão de uma política cultural, já que seleciona conteúdos e práticas de uma

dada cultura para serem trabalhados no interior da instituição escolar. Nesse

sentido, é um dos textos que mais avança, na medida em que abre possibilidades

para um debate mais aprofundado acerca da concepção de currículo, bem como do

papel da instituição escolar na formação cultural de gerações.

É necessário compreender que os sujeitos do Ensino Médio são concretos,

reais, possuidores de histórias de vida e, sobretudo, de um corpo (BRASIL, 2006).

As formas como enxergam a escola e as aulas de EF, como espaço de encontro

social, como uma fuga do tédio da rotina escolar, um local de expressão, segundo o

documento, devem ser consideradas no fazer pedagógico. Conhecer os alunos é

essencial, seu perfil, quem realmente são eles. É sabido que a maioria dos alunos

do Ensino Médio é jovem, muitos são trabalhadores, mas é comum encontrarmos

jovens e adultos aos quais foram negados os direitos à educação no decorrer da

vida.

Na construção de um currículo escolar faz-se necessário um debate

políticopedagógico sobre os saberes construídos pela escola, a luta por tais saberes,

valores e formas de socialização que façam parte da vida do aluno. Sabe-se que

durante muito tempo, para as aulas de EF privilegiava-se apenas as práticas

corporais, no sentido limitado do “fazer”, principalmente os esportes. É importante

deixar de lado as receitas prontas e construir um currículo participativo e “[…] tão

importante quanto a decisão de se ensinar ou não um determinado esporte, dança

ou jogo, etc, é pensar que sentidos e significados são atribuídos a esse esporte,

dança ou jogo pelos alunos […]” (BRASIL, 2006, p. 226).

Segundo Souza Júnior (2007), é necessário superarmos, cada vez mais, os

currículos prescritivos normativo-racionalistas e construirmos um currículo

emancipatório, que reconhece, propicia e solicita o potencial produtor dos sujeitos

educacionais.

Durante muito tempo as aulas de EF na escola priorizavam em seu cotidiano

“[...] formas esportivas/competitivas por excelência, deixando em segundo plano

outros temas e perspectivas […]” (BRASIL, 2006, p. 230). Eram comuns as práticas

de disputas, repletas de regras e segregações, premiando os 'melhores alunos'.

Infelizmente, é comum encontrar professores que ainda constroem suas práticas

Page 22: Lília de Souza

pedagógicas enaltecendo a hegemonização do esporte com apenas uma

concepção, de que as práticas corporais são apenas os esportes na perspectiva

tecnicista que busca o rendimento físico.

A esportivização da EF tinha (tem) apenas uma objetivo: a formação de

atletas, futuros representantes da Nação. As aulas resumiam-se ou resumem-se em

quatro modalidades: futebol, basquetebol, voleibol e handebol. No entanto, seus

objetivos não foram e nunca serão alcançados, pois “[…] a escola não é o local

adequado para a formação de quadro atlético suficiente e qualificado para

acompanhar a evolução esportiva no mundo olímpico […]” (BRASIL, 2006, p. 232).

Segundo as OCEM (2006, p.235), as críticas e as mudanças de perspectivas

de milhares de professores ao longo dos últimos anos ainda não foram suficientes

para eliminar as consequências do processo de esportivização. No entanto, as

mudanças estão acontecendo aos poucos, pois os professores tem se envolvido

com temas gerais da comunidade escolar, oferecido boas opções de relacionamento

e posicionamento políticopedagógico (BRASIL, 2006).

Page 23: Lília de Souza

4 METODOLOGIA

O objeto de estudo desta investigação foi a Análise das Implicações dos

Parâmetros Curriculares Nacionais e das Orientações Curriculares para o Ensino

Médio na prática dos professores da rede particular da cidade de Alagoinhas/BA.

Nesse sentido, foi realizada uma pesquisa qualitativa do tipo estudo de caso

que se caracteriza pela análise aprofundada de uma única realidade. Na perspectiva

de Triviños (1987, p. 134), esse tipo de pesquisa é marcada mais que outros tipos

de pesquisa qualitativa pela implicação do sujeito no processo e pelos resultados do

estudo, exige severidade maior na objetivação, originalidade, coerência e

consistência das idéias.

Nesse sentido, o estudo de caso possibilitará explorar, descrever, formular

hipóteses e explicar as proposições para as práticas dos professores de EF que

podem se relacionar e incorporar as intenções propostas pelas Orientações

Curriculares para o Ensino Médio.

Para a coleta de dados, foi utilizada a técnica da entrevista semi-estruturada

(Anexos A), pois é um dos principais meios para colher os dados relevantes dos

professores de EF sobre os PCNs e as Orientações Curriculares do Ensino Médio. O

grupo foi composto por oito professores de EF que atuam no Ensino Médio, sendo

nove escolas da rede particular da cidade de Alagoinhas. No entanto, um professor

ensina em duas escolas.

Antes da realização da entrevista, todos os professores foram informados do

objeto de pesquisa e só participaram da entrevista por livre e espontânea vontade e

mediante assinatura do Termo de Livre Consentimento (Anexos B).

O começo da entrevista foi marcado por duas fases formais. Sendo a primeira

fase o contato prévio com o professor concordando ou discordando a participar da

pesquisa, pois só foi possível dar continuidade a pesquisa mediante a autorização.

A segunda fase consistiu na coleta de dados que foram as entrevistas com os

professores de EF do Ensino Médio dos colégios particulares. Para o registro optei

por gravá-las, pois, segundo Triviños (1987), a gravação permite contar com todo o

material fornecido pelo informante. O horário e local das entrevistas foi marcado pelo

entrevistado de acordo com a sua disponibilidade.

Os questionamentos levantados para os professores nos permitiram perceber

suas práticas e ações reflexivas no seu fazer pedagógico.

Page 24: Lília de Souza

Para análise de dados, fez-se uso da técnica de Análise de Conteúdo.

Segundo Bardin apud Triviños (1987, p. 160):

[...] a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.

De acordo com Franco (2003, p. 23), os resultados da análise do conteúdo

devem refletir os objetivos da pesquisa e ter como apoio indícios manifestos e

capturáveis no âmbito das comunicações. Tínhamos como objetivo analisar as

implicações no fazer do professor frente às propostas dos PCNs e das OCEM.

Sendo assim, iniciei uma cuidadosa leitura dos Parâmetros Curriculares

Nacionais e das Orientações Curriculares do Ensino Médio, como também uma

análise criteriosa das críticas da comunidade acadêmica sobre os Documentos e

suas propostas pedagógicas.

Foram necessárias três etapas fundamentais para a análise dos conteúdos da

pesquisa. Sendo a primeira a pré-análise que, segundo Triviños (1987), refere-se às

técnicas empregadas nas reuniões de informações; a descrição analítica, onde

todos os documentos foram submetidos a um estudo aprofundado, orientado pelas

hipóteses e referenciais teóricos; interpretação inferencial, com embasamento nos

materiais empíricos, estabelece-se relações com a realidade educacional e social

ampla, aprofundando as conexões das idéias, chegando a propostas básicas de

transformações nos limites das estruturas específicas e gerais.

Page 25: Lília de Souza

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

Neste capítulo, traz-se a apresentação dos dados e o confronto dos mesmos

com o referencial teórico utilizado como suporte para a realização da pesquisa. Para

fins de apresentação dos dados, foi organizado o quadro que segue.

QUADRO I – DADOS GERAIS SOBRE OS SUJEITOS

Quanto à faixa etária:

• 3 professores possuem entre 25 e 30 anos;

• 5 professores possuem acima 30;

Quanto ao ano de conclusão do curso de Educação Física:

• 1 professor está em curso;

• 2 professores concluíram entre 2005 a 2009;

• 2 professores concluíram até 2005;

• 3 professores não fizeram nenhuma licenciatura;

Quanto ao tempo de docência:

• 1 professor ensina há menos que um ano;

• 4 professores ensinam até10 anos;

• 3 professores ensinam acima de 10 anos;

Quanto à formação complementar:

• 5 professores fizeram cursos técnicos;

• 1 professor participou de encontros acadêmicos e cursos de atualização;

• 1 professor faz pós-graduação;

• 1 professor faz mestrado;

Para a compreensão dos dados, os professores que concluíram ou estão em

conclusão do curso de Licenciatura em Educação Física serão identificados como

PEF (Professores de EF) e para aqueles profissionais que desenvolvem trabalhos

de treinadores na escola, vou caracterizá-los como TEC (Técnicos e/ou

Treinadores), sendo que todos serão classificados a partir de numerais cardinais (1,

2, 3, ...).

Observa-se, no quadro 1, que os professores que concluíram ou estão em

Page 26: Lília de Souza

fase de conclusão do curso de Licenciatura em Educação Física e atuam nas

escolas particulares dividem espaços em iguais proporções com os técnicos que

foram alunos/atletas no período escolar que, no início dos anos 1990, foram

convidados para “treinarem” os alunos representando as escolas nos eventos

esportivos.

Esse dado aponta para a continuidade do esporte como uma forma de fazer

EF na escola, em que se destaca o rendimento esportivo, a técnica, a aptidão,

confundindo-se o treinador com o professor e o atleta com o aluno, como discutido

no referencial teórico. Há que se destacar, ainda, que se tratando de instituições

privadas, o esporte aparece como um plus que a escola tem a oferecer e como uma

forma de vender um produto no mercado educacional.

Reconhece-se, amplamente, que a formação continuada do professor é de

suma importância na ação do seu fazer pedagógico. Mesmo com a formação em

cursos de licenciatura, é essencial que o processo formativo não se encerre junto

com a graduação, seja na participação em eventos acadêmicos, seminários ou

congressos, cursos de atualização ou em cursos de pós-graduação, mestrado, etc.

Esse aspecto, a partir dos dados coletados, estã presente no universo dos

professores de EF da cidade de Alagoinhas, pesquisados neste estudo.

Dentre os PEFs entrevistados, um (PEF1) destacou que participou de cursos

técnicos de arbitragem esportiva e treinamento desportivo, não deixando evidente a

participação de eventos acadêmicos que discutem a Educação Física escolar. No

caso do PEF2, dentre muitos cursos e participação de encontros acadêmicos, faz

pós-graduação em EF Escolar. O PEF3, logo após a sua conclusão de Licenciatura,

está cursando o Mestrado e participou de importantes debates sobre o papel da EF

na escola, encontros acadêmicos como seminários e congressos regionais. Por fim,

o PEF4 participou de encontros acadêmicos debatendo sobre o papel do Professor

enquanto educador e não como treinador, com caráter regional e nacional,

apresentando, inclusive, trabalhos científicos.

É possível identificar que estes professores não são leigos, conhecem o fazer

pedagógico e seu papel de educador e podem promover a reflexão de temas que

são trazidos e vivenciados durante as aulas de EF. São capazes de auxiliar seus

alunos a vivenciarem as práticas corporais compreendendo seus porques e suas

raízes.

Diante disso, era de se esperar que estes sujeitos conhecessem os PCNs e

Page 27: Lília de Souza

as OCEM, pois no campo acadêmico, nos cursos de licenciatura, esses

documentos, em geral, são tematizados quando se trata das questões relativas à

Educação Básica.

Os PEFs, comparando com os TECs, são relativamente novos na sua

experiência como docentes. Como na cidade não havia cursos de Licenciatura em

EF, os professores “filhos da terra” saíam para cursar em outras cidades e após a

conclusão lá permaneciam devido às oportunidades de emprego. No entanto,

recentemente, a chegada do curso de Licenciatura em EF na cidade abre a

perspectiva de modificação da realidade das escolas, tanto particulares como da

rede pública.

Os TEC são profissionais que atuam desde a década de 1990, como já

citado. Eles iniciaram como atletas nas escolas e devido ao desenvolvimento técnico

destes alunos, foram convidados por diretores das escolas para darem aulas de

esportes. Com isto, muitos deles permanecem até hoje como ‘professores’, sendo

que algumas escolas não possuem PEFs, apenas TECs. Estes profissionais são

capacitados através de cursos técnicos esportivos.

O TEC1 afirmou que “[...] estou licenciado pelo CREF a dar aulas de vôlei e

handebol e também hidroginástica [...]”. Infelizmente, mesmo sabendo que os juízos

de valores são inadequados no fazer científico, sabe-se que, legalmente, o Conselho

Federal de EF pode habilitar sujeitos a atuar em áreas específicas da Cultura

Corporal. Todavia, sabe-se, também, que tal entidade não tem gerência sobre a EF

escolar.

Portanto, afirmar que o CREF qualifica alguém para práticas esportivas é uma

coisa, realizá-las nas escolas deve envolver o domínio de conhecimentos que

qualifiquem o professor como sujeito de transformação da realidade do aluno, da

sua própria prática e do modo como, historicamente, a EF vem se fazendo na

escola. Esta afirmação mostra duas coisas: 1) o engano do TEC1 de achar que está

preparado para atuar na escola; 2) a aproximação da EF escolar ao mercado das

práticas educacionais de fora da escola.

QUADRO II – ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO E DOS PROJETOS ESCOLARES

Quanto à existência de reuniões de planejamento da escola:

Todos os professores afirmaram que sua escola realiza Jornadas Pedagógicas e

Page 28: Lília de Souza

Reuniões de Planejamento.

Pela existência de reuniões pedagógicas e de planejamento, as escolas, no

âmbito institucional, parecem ter uma organização. Segundo os entrevistados, no

início do ano letivo, acontece uma Jornada Pedagógica onde se discute todo o

planejamento do ano letivo, o plano de curso é entregue e decidido o tema do ano.

Esse momento é de grande importância para a organização pedagógica e para a

estruturação do fazer pedagógico do professor.

Além disso, tanto os PCNs quanto os OCEM são propostas para o auxílio da

organização pedagógica da escola e de cada área de conhecimento. Os PCNs de

EF, logo na parte introdutória, afirmam que são propostas para orientar o professor

na sua ação pedagógica e na organização da mesma ressaltando a importância de

fundamentar a sua prática pedagógica e planejá-la. Da mesma forma, as OCEM

também ressaltam a importância de uma organização pedagógica, da participação

do professor de EF no processo de construção do Projeto Político-Pedagógico da

Escola, como agente educador e como componente curricular.

Portanto, é possível afirmar, através das entrevistas cedidas pelos

professores e técnicos/treinadores que as escolas particulares possuem reuniões de

Planejamento Pedagógico, considerando e agindo coerentemente com as

orientações teóricas que afirmam a relevância do planejamento para um fazer

educacional consciente, intencional e organizado.

Page 29: Lília de Souza

QUADRO III – POSTURA PEDAGÓGICA DOS DOCENTES PESQUISADOS

Quanto à participação do professor nas reuniões de planejamento:

• 1 professor não participa;

• 7 professores participam;

Quanto à prática pedagógica:

• 7 professores organizam sua prática com base na esportivização;

• 1 professor organiza sua prática como direito do aluno de vivência e

produção de cultura;

A maioria dos professores entrevistados participa das reuniões de

planejamento, sendo que deixaram bem claro não gostarem muito das mesmas. No

entanto, apenas um professor, TEC3, diz que não participa afirmando que “[...] só

participo das reuniões no período antes dos jogos, para acertar as coisas, mas como

não dou aula na sala de aula eu não participo [..]”.

Dizer que não gosta de participar de tais reuniões pode ser indício da falta de

compreensão do que seja participar das reuniões de planejamento e da relevância

do mesmo, além da necessidade de articular a EF com o Projeto Político

Pedagógico da escola e, ainda, participar da construção do mesmo. Assim, toda a

estrutura organizacional do trabalho pedagógico, que se inicia nas salas de

reuniões, passa a ser inútil.

Ainda assim, espera-se que aqueles que participam das reuniões, tenham

claros os objetivos pedagógicos da EF e seu papel enquanto componente curricular.

Destaca-se, ainda, o professor que só participa de reuniões para organizar

jogos. Fica claro que, nesse caso específico, que a EF se resume ao fazer por fazer

esportivo, com todas as suas características.

Além disso, a maioria dos professores ainda fundamenta suas aulas na

esportivização, o que é um grande retrocesso à prática pedagógica. Mesmo

participando das reuniões de planejamento, sendo a grande maioria dos

professores, que tem formação em cursos de Licenciatura, as aulas de esporte são

a sua referência. Mesmo aqueles professores que desenvolvem atividades

chamadas “aulas teóricas” com debates e atividades coletivas tratam do conteúdo

esporte. É visível, portanto, que a fundamentação das práticas é os esportes de

quadra para a participação de eventos esportivos, da competição.

Page 30: Lília de Souza

O esporte passou a ser o conteúdo hegemônico da EF nas décadas de 1960

e 1970. Apesar da EF haver lançado mão de um amplo leque de objetivos, a

aprendizagem do esporte continua se perpetuando, ficando a ginástica e outros

conteúdos como simples aquecimento, além dos jogos populares terem sido

transformados em "jogos prédesportivos".

Ademais, as escolas particulares da cidade possuem apenas espaços para a

prática esportiva, deixando de lado outras atividades corporais que poderiam e

podem ser trabalhadas com os alunos, debatidas o sentido de tais atividades e seus

porquês.

Nos PCNs (1997) há críticas sobre a hegemonia do esporte, da aptidão física

na escola, afirmando que é preciso superar esta ênfase que caracterizava a EF,

para uma prática mais abrangente, que contemple todas as dimensões envolvidas

em cada prática corporal.

As OCEM também discutem a esportivização das aulas, afirmando que a este

modelo já ultrapassado, descarta a maioria dos jovens na escola, priorizando poucos

alunos, aqueles que se destacam em algum esporte. Segundo as Orientações

(BRASIL, 2006, p. 233), o uso do esporte na escola é prejudicial em virtude da não

reflexão junto aos alunos do lugar desse fenômeno social dentro e fora da escola.

QUADRO IV – RELAÇÃO COM PCNs

Page 31: Lília de Souza

Quanto ao conhecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais:

• 2 professores não conhecem os PCNs;

• 1 professor pouco conhece os PCNS;

• 5 professores conhecem os PCNs;

Quanto ao conhecimento da elaboração dos PCNs:

• 5 professores não conhecem;

• 2 professores pouco conhecem;

• 1 professor conhece;

Quanto ao uso dos PCNs:

• 1 professor apenas consulta;

• 7 professores não usam;

Dentre os entrevistados, apenas cinco professores conhecem os PCNs,

sendo que estes concluíram ou estão concluindo o curso de licenciatura. Afirmaram

que conheceram durante o período letivo na faculdade, nos debates sobre a reforma

educacional brasileira.

Apenas um professor conhece seu processo de elaboração, desde a LDB à

última versão dos PCNs. Dois professores pouco conhecem e um deles afirmou que

“[...] por não ter muito interesse nessa questão da legalização da EF e da educação,

nunca gostava das aulas de leis [...]” (PEF2). Dos que não conhecem apenas dois

são PEF e os outros são os três TEC. Para estes professores, a falta de interesse e

o descaso quanto ao processo da reforma educacional brasileira da qual resultou

nos PCNs ficou nítido. Talvez, se conhecessem, provavelmente pensariam

diferentes quanto ao papel da EF na escola.

Infelizmente, a maioria dos professores entrevistados desconhece todo

avanço acadêmico-científico no campo da educação, dos debates sobre o modelo

esportivista da EF, as críticas aos PCNs e o debate do fazer pedagógico e as

produções científicas que giram em torno de tais críticas.

Page 32: Lília de Souza

QUADRO V – RELAÇÃO COM AS OCEM

Quanto ao conhecimento das Orientações Curriculares do Ensino Médio:

• 2 professores pouco conhecem;

• 3 professores conhecem;

• 3 professores não conhecem;

Quanto ao conhecimento da elaboração das OCEM:

• 2 professores pouco conhecem;

• 1 professor conhece;

• 5 professores não conhecem;

Quanto ao uso das OCEM:

• 1 professor apenas consulta;

• 1 professor usa;

• 6 professores não usam;

No quadro V, quanto as OCEM, vê-se que estes documentos ainda são

poucos conhecidos pelos professores, tendo total desconhecimento dos

técnico/treinadores. Entre os professores que conhecem e os que pouco conhecem,

apenas um conhece seu processo de elaboração, desconhecendo os debates e

críticas feitas anteriormente aos PCNs.

O que surpreende é que entre os PEFs, apenas um usa e um consulta as

OCEM. Dois professores mencionaram utilizar como referência o Manual ao

professor de EF do Estado de Sergipe. Uma espécie de cartilha que contém

sugestões de conteúdos desde o primeiro ano da Educação Básica ao terceiro ano

do Ensino Médio, além das sugestões possue um breve histórico da EF e as suas

concepções. No entanto, é visível que o conteúdo Esporte possue uma forte posição

em todos os anos. Além do Esporte outras atividades como a Ginástica, Dança e

propostas de temas para debate com as turmas do Ensino Médio. Essa fala mostra

que sua prática pedagógica é construída através de um documento que traz o fazer

pronto e que coloca o professor como executor de tarefas pré prontas.

Page 33: Lília de Souza

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objeto de estudo as implicações dos Parâmetros

Curriculares Nacionais e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio no fazer

do professor das escolas particulares da cidade de Alagoinhas/BA.

A partir disto, os objetivos foram apresentar os pressupostos teóricos do

processo de elaboração dos documentos; discutir as concepções e contradições

presentes nos documentos, desde os seus pressupostos teóricos, processo de

elaboração e realização dos PCNs a as OCEM e identificar o uso cotidiano que o

professor de EF das escolas privadas de Alagoinhas faz do documento.

Após a LDB de 1996, a EF tornou-se um componente curricular obrigatório na

educação básica. Com isto o então Ministério da Educação e do Desporto convidou

alguns professores da rede particular de ensino de São Paulo sob a coordenação de

um estudioso do campo da psicologia da aprendizagem que participou da reforma

da educação da Espanha. Este processo de elaboração e a maneira com que foi

distribuída para os professores, bem pareciam uma cartilha de como o professor

deveria aulas, contendo seus conteúdos e métodos de avaliação. Mesmo não sendo

obrigatório, bem parecia que sim.

Estes documentos foram e são alvos de muitas críticas, desde os cursos de

licenciatura em EF ao Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte. Para a elaboração

destes documentos não se levou em consideração os debates científicos e

pedagógicos da área, sendo que os PCNs apresentavam muitas contradições e o

visível desconhecimento da história da EF.

Como resultado destas críticas e debates sobre estes documentos, em 2006,

o Ministério da Educação publicou as Orientações Curriculares para o Ensino Médio.

Este documento busca refletir o que está na pauta da prática da EF escolar,

apresentando discussões sobre o modelo hegemônico do esporte na escola e novas

propostas pensando nos sentidos e significados dos conteúdos das aulas.

Em relação aos pressupostos teóricos do processo de elaboração dos

documentos encontrou-se que houve um mascaramento das contradições

emergentes do processo de reprodução do modelo de sociedade atual (Palafox,

1997). Além dos equívocos como “misturar” Piaget com Vigotsky, além das suas

limitações em discutir as diversas concepções da EF.

Desse modo, vê-se que nos PCNS a concepção de EF tanto a Pedagogia

Page 34: Lília de Souza

Libertadora quanto a Crítico-Social dos Conteúdos estão em constante reflexão. No

entanto, percebe-se que houve uma tentativa de um consenso, uma junção do seria

proveitoso de cada concepção, viabilizando uma neutralidade políticopedagógica.

Nas OCEM, a pluralidade de culturas e de seus sujeitos, alunos e professores

são fortes características do documento. Para sua elaboração a ampla participação

da comunidade acadêmica e escolar e dos que constroem a EF escolar torna as

Orientações mais participativa e coletiva.

No que se refere ao uso cotidiano de tais documentos pelos professores de

EF dos colégios particulares de Alagoinhas, encontrou-se que apenas o esporte é o

conteúdo que predomina nas aulas. Deixam-se de lado temas e outros conteúdos da

EF, como as lutas, os jogos populares as danças e outros.

A não utilização destes documentos apresenta que a escola atua com

autonomia na construção do seu Projeto Político Pedagógico. Mesmo os PCNs

apresentando-se como uma proposta e não um documento obrigatório, o que fica

claro é que se trata do que se pode chamar de uma “autonomia ignorante”, já que os

professores de EF não conhecem o documento. Não se trata de professores que

fizeram a opção, por criticar o documento, de não usá-lo.

Ficou claro o desconhecimento dos documentos e, consequentemente, a não

utilização dos mesmos aparece nos planejamentos da maioria dos professores em

virtude do uso de apenas um conteúdo, cuja elaboração pedagógica se dá a partir

do que se chamou de “autonomia ignorante”, o que contrasta com o significado de

autonomia enquanto conhecer algo, analisar e fazer opções. Nos documentos,

mesmo com suas contradições, é possível identificar o incentivo aos professores

para utilizarem em suas aulas outros temas e atividades.

É possível que poucos conheçam estes documentos desde seu processo de

elaboração as sua publicações através do apoio da comunidade acadêmica

realizando debates, seminários instigando discussões sobre o fazer pedagógico do

professor de EF em toda a educação básica, seja rede particular ou na rede pública

de ensino.

Com o apoio da Universidade, que deve se aproximar da realidade escolar,

pode-se auxiliar os professores no seu encontro quanto ao papel na escola e

enquanto educador e não meramente instrutor de repetitivos movimentos, sendo um

empecilho ao educando a construção de uma análise crítica até mesmo do papel do

esporte seja dentro da escola ou fora dela.

Page 35: Lília de Souza

7 REFERÊNCIAS

AZEVEDO, E. S. & SHIGUNOV, V. Reflexões sobre as abordagens pedagógicas em Educação Física. Disponível em: http://www.kinein.ufsc.br/edit01/artigo2.pdf Acesso em: 04/07/2009.

BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Orientações Curriculares para o Ensino Médio. Brasília: MEC/SEC, 2006. BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física. Brasília: MEC/SEC, 1999. BONAMINO, A & MARTINEZ, S. A. Diretrizes e Parâmetros Curriculares para o Ensino Fundamental: a participação das instâncias políticas do Estado. Educ. Soc., v. 23, n. 80, set., 2002. CAPARROZ, F. E. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DE EDUCAÇÃO FÍSICA: “o que não poder que não é o que não pode ser que não é”. In: BRACHT, Valter; CRISORIO, Ricardo (Orgs.). A Educação Física no Brasil e na Argentina: identidade, desafios e perspectivas. Campinas: Autores Associados; Rio de Janeiro: PROSUL, 2003. COSTA. E. F. et al. Aplicabilidade dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) à prática pedagógica. Revista de Pedagogia, ano 3, n. 6, 2007.

DARIDO. S. C. et al. A educação física, a formação do cidadão e os parâmetros curriculares nacionais. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo, v. 15, n.1, jan.-jun., 2001. FIGUEIRAS, I. P. et al. Concepções e preferências sobre as aulas de educação física escolar: uma análise da perspectiva discente. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte, junho, 2007.

GIL, Antonio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 4. ed. São Paulo: ATLAS, 2007.

GRAMORELLI, Lílian Cristina. O impacto dos PCNs na prática dos professores de Educação Física. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-29012008-164956/ Acesso em: 04/06/2009. Grupo de Trabalhos Ampliado da Educação Física. PCN: Um olhar crítico para a superação. In: CBCE (Org.). Educação Física Escolar frente à LDB e aos PCNs: profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Ijuí: Sedigraf, 1997. JÚNIOR, M. S.; SANTIAGO, M. E. A constituição dos saberes escolares na educação básica: Confrontando a educação física com outras disciplinas Curriculares. Disponível em:

Page 36: Lília de Souza

http://biblioteca.universia.net/irARecurso.do?page=http%3A%2F%2Fwww.bdtd.ufpe.br%2FtedeSimplificado%2F%2Ftde_busca%2Farquivo.php%3FcodArquivo%3D1898&id=30904956 Acesso em: 05/07/2009. MARTINS, A. M. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: avaliação de documento. Cadernos de Pesquisa, n. 109,março/2000. PERES, Giani. As implicações da Educação Física no âmbito escolar. Rev. online Bibl. Prof. Joel Martins, v.2, n.2, fev. 2001. PALAFOX, G. H. M. e TERRA, D. V. Parecer sobre os Parâmetros Curriculares Nacionais. In: Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte (Org.). Educação Física Escolar frente à LDB e aos PCNs: profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Ijuí: Sedigraf, 1997. SOARES, C. L. Parâmetros Curriculares Nacionais e a Educação Física Escolar. In: Colégio Brasileiro de Ciência do Esporte. Educação Física Escolar frente à LDB e aos PCNs: profissionais analisam renovações, modismos e interesses. Ijuí: Sedigraf, 1997. SOARES, C. L., et al. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à Pesquisa em Ciências Sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987. ZAN, D. D. P. e RAMOS, T. A. As orientações neoliberais e as políticas curriculares para o ensino médio. Revista Horizontes, v. 25, n. 2, jul./dez. 2007.

Page 37: Lília de Souza

ANEXO A

Page 38: Lília de Souza

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

PESQUISA: Implicações dos PCNs e das Orientações Curriculares

para o Ensino Médio no fazer no professor de Educação Física dos

colégios particulares da cidade de Alagoinhas - BA.

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. Sexo

( ) masculino

( ) feminino 2. Idade

3. Ano de conclusão do curso

4. Tempo de docência

5. Formação complementar

6. A escola que atua possui horário de formação pedagógica, como as reuniões

de planejamento?

7. Você participa desses encontros?

8. Como você organiza sua prática pedagógica?

9. Você conhece os parâmetros curriculares nacionais?

10. Você conhece o processo de elaboração deste documento?

11. Você faz uso deste documento para a elaboração dos seus planejamentos?

12. Você conhece as orientações curriculares para o ensino médio?

13. Você conhece o processo de elaboração deste documento?

14. Você faz uso deste documento para a elaboração dos seus planejamentos?

Page 39: Lília de Souza

ANEXO B

Page 40: Lília de Souza

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu, Lília de Sousa Silva Santos, estudante do curso de Licenciatura em

Educação Física, da Universidade do Estado da Bahia, estou construindo minha

monografia de conclusão de curso. O objeto de pesquisa é a Análise das

Implicações dos PCNs e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio no Fazer

do Professor dos Colégios Particulares da Cidade de Alagoinhas/BA. Para tanto,

preciso realizar entrevistas com os professores de Educação Física das escolas

particulares, comprometendo-me com o sigilo em relação ao nome do sujeito e da

instituição.

( ) Aceito participar da pesquisa

( ) Não aceito participar da pesquisa

______________________________________________

Assinatura do professor convidado a participar da pesquisa

_______________________________________________ Lília de Sousa Silva Santos