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CONTRIBUIÇÃO LIGHT AUDIÊNCIA PÚBLICA 040/2010 2ª ETAPA METODOLOGIA DE TRATAMENTO REGULATÓRIO PARA PERDAS NÃO TÉCNICAS DE ENERGIA ELÉTRICA NOTA TÉCNICA Nº 031/2011-SRE/ANEEL 15 de Abril de 2011

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CONTRIBUIÇÃO LIGHT

AUDIÊNCIA PÚBLICA 040/2010

2ª ETAPA

METODOLOGIA DE TRATA MENTO

REGULATÓRIO PARA PER DAS NÃO

TÉCNICAS DE ENERGIA ELÉTRICA

NOTA TÉCNICA Nº 031/2011-SRE/ANEEL

15 de Abril de 2011

Superintendência de Regulação

AP 040/2010 – Metodologia para Tratamento Regulatório das Perdas Não Técnicas – NT 031 Página 2

ÍNDICE

I INTRODUÇÃO ....................................................................................................................................3

II CONSIDERAÇÕES QUANTO AO DIMENSIONAMENTO DOS RECURSO S DESTINADOS AO COMBATE ÀS PERDAS ................................. ...................................................................................3

III DIFERENCIAÇÃO SÓCIOECONÔMICA DAS ÁREAS DE CONCESSÃO ......................................6

III.1 PROPOSTA DE APRIMORAMENTO ................................................................................................ 6 III.2 QUESTÕES ADICIONAIS ............................................................................................................ 11

IV DEFINIÇÃO DOS LIMITES DE VELOCIDADE DE REDUÇÃO DAS PERDAS NÃO TÉCNICAS 14

IV.1 PROPOSTA ANEEL ................................................................................................................. 14 IV.2 ANÁLISE DA METODOLOGIA PROPOSTA PELA ANEEL ................................................................ 16

IV.2.1 Base de dados da ANEEL ................................................................... 16 IV.2.2 Arredondamento dos limites de redução de PNT ................................ 17

V DEFINIÇÃO DO PONTO DE PARTIDA DA TRAJETÓRIA DE PERD AS NÃO TÉCNICAS PARA O 3CRTP .......................................................................................................................................... 18

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AP 040/2010 – Metodologia para Tratamento Regulatório das Perdas Não Técnicas – NT 031 Página 3

I INTRODUÇÃO

A presente contribuição discutirá a metodologia de tratamento regulatório para as perdas

não técnicas de energia elétrica, apresentada pela ANEEL através da Nota Técnica nº

031/2011-SRE/ANEEL, de 18 de fevereiro de 2011.

A Light inicia sua contribuição ratificando as considerações que fez em 10 de janeiro de

2011 (na primeira fase desta Audiência Pública) acerca do dimensionamento dos recursos

destinados ao combate às perdas não técnicas. Tal dimensionamento não foi incluído na

proposta da ANEEL apresentada na Nota Técnica nº 271/2010-SRE/ANEEL (NT 271),

tampouco na Nota Técnica nº 031/2011-SRE/ANEEL (NT 031), ora analisada. A Light

considera este dimensionamento vital para a sustentabilidade do combate às perdas não

técnicas no Brasil.

Em seguida, a Light apresenta sua análise sobre a diferenciação socioeconômica das áreas

de concessão proposta pela ANEEL, propondo ajustes que considera importantes para dar

maior robustez ao índice de complexidade socioeconômica definido para o 3CRTP. Este

trabalho foi realizado com a assessoria do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade –

IETS.

Adicionalmente, a Light reconhece os avanços trazidos pela NT 031 com relação à definição

dos limites de velocidade de redução de perdas não técnicas. Não obstante, a Light faz

algumas considerações quanto aos valores utilizados pela ANEEL em sua base de dados,

indicando que a mesma merece uma revisão pela Agência. Também neste item, a Light

solicita que os limites de velocidade de cada cluster sejam definidos com base nos valores

médios efetivamente calculados pela ANEEL.

A Light finaliza sua contribuição com considerações sobre o ponto de partida da trajetória de

perdas não técnicas para o 3CRTP.

II CONSIDERAÇÕES QUANTO AO DIMENSIONAMENTO DOS RECU RSOS

DESTINADOS AO COMBATE ÀS PERDAS

Conforme já ressaltado na contribuição a NT 271, no 2º ciclo de revisões tarifárias (2CRTP),

a ANEEL levou em consideração a análise dos custos e benefícios envolvidos no combate

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às perdas não técnicas. Tal análise consistia no reconhecimento de que as concessionárias

precisam aportar recursos significativos neste combate, tanto relacionados a despesas

operacionais (OPEX) quanto relacionados a investimentos (CAPEX), os quais deveriam ser

reconhecidos tarifariamente, com base em padrões de eficiência setorial. Tal análise,

entretanto, foi eliminada das propostas da ANEEL para o terceiro ciclo de revisões tarifárias,

3CRTP, objetos desta contribuição.

A Nota Técnica nº 342/2008, referente ao 2CRTP, levava em conta a alocação de recursos

necessários na forma de OPEX e CAPEX para cumprimento das ações de combate às

perdas, bem como os possíveis retornos financeiros da atividade, caracterizados na forma

de aumento de faturamento e redução nos custos de compra de energia. Também defendia

que deveriam ser providas à concessionária as condições suficientes para o alcance de um

nível aceitável de perdas, sem que houvesse desequilíbrio econômico da concessão.

Por outro lado, sob a ótica do consumidor, a redução do nível de perdas conduziria a uma

diminuição da tarifa, seja pela redução da componente de compra de energia, seja pela

melhor distribuição dos custos da empresa entre um número maior de consumidores, ou um

maior mercado. Em todo caso, dever-se-ia garantir que a redução tarifária provocada pela

redução do montante de perdas fosse superior ao incremento tarifário decorrente do

aumento dos custos operacionais e investimentos necessários para tal redução. Tal

procedimento, portanto, levaria em conta os benefícios econômicos obtidos na redução de

perdas não técnicas, tanto para a distribuidora quanto para o consumidor, e o ônus

necessário à obtenção desta redução.

Com base nas estimativas de cálculo das despesas operacionais e dos investimentos

necessários para a manutenção e redução do nível de perdas, a ANEEL procederia a

análise custo/benefício da redução de perdas.

No 2CRTP, o mecanismo regulatório para a definição dos custos operacionais utilizado foi o

da Empresa de Referência. A partir da trajetória de redução de perdas definida, foi possível

estabelecer exatamente os custos associados e reconhecidos na tarifa destinados ao

alcance da referida redução. No caso dos investimentos, a concessionária apresentou ao

Regulador seu plano de investimentos previsto para o ciclo tarifário, inclusive o montante

associado ao programa de combate às perdas não técnicas, detalhado por atividade a ser

desempenhada. Tais investimentos foram considerados como parâmetro para o cálculo do

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componente Xe do Fator X, desde que observada a condição de componente Xe não

negativo.

Ocorre, no entanto, que a ANEEL está propondo alterações na definição dos custos

operacionais e do Fator X. No caso dos custos operacionais, a ANEEL está substituindo o

modelo de Empresa de Referência por modelos comparativos baseados em fronteira de

eficiência e produtividade. Esta abordagem não permite o mesmo nível de detalhamento na

definição de custos comparativamente ao que se tinha anteriormente, o que foi considerada

uma desvantagem pela própria Agência, impossibilitando explicitar a parcela de custos

associados às atividades de combate às perdas não técnicas.

Já para o Fator X, a ANEEL está propondo a substituição da metodologia do Fluxo de Caixa

Descontado, por uma abordagem que calcula os ganhos de produtividade, baseando-se na

relação histórica entre receitas e despesas alcançada pelas distribuidoras. Nesta proposta,

todas as concessionárias recebem o mesmo tratamento, independentemente de sua

necessidade de investimentos, incluindo aqueles destinados ao combate às perdas não

técnicas.

Finalmente, observa-se que na NT 031 a ANEEL analisa a questão, afirmando que:

“A própria Nota Técnica 271/2009 já demonstra a não necessidade de se analisar

individualmente cada concessão uma vez que as traje tórias são definidas a partir da

velocidade média de redução observada e realizada p or um grupo de empresas com

características similares , portanto limitadas por velocidades factíveis. As concessionárias

que reduziram as suas perdas no passado o fizeram dentro de uma perspectiva de uma

relação custos e benefícios favorável.”

Acerca destes argumentos, cabe ressaltar que os clusters definidos pela ANEEL agrupam

empresas com realidades muito distintas com relação às perdas não técnicas, conforme

demonstra a tabela a seguir. Por exemplo, no Cluster 1 encontram-se empresas com perdas

não técnicas que variam de 147% a 20%, variação bastante significativa. Esta diferença,

apesar de menos significativa, permanece para os demais Clusters, demonstrando que a

realidade das empresas é, de fato, distinta e requer soluções diferenciadas para o combate

às perdas não técnicas. Ou seja, ao contrário do que afirma a ANEEL, é possível encontrar

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empresas em um mesmo cluster com características bastante distintas quanto ao combate

às perdas não técnicas e seus respectivos custos.

Perdas não técnicas máximas e mínimas dos clusters propostos pela ANEEL

Neste contexto, a Light entende que houve um retrocesso na proposta desta Agência para o

3CRTP no que se refere à viabilidade da redução das perdas não técnicas. A ANEEL

abandonou as etapas de dimensionamento dos recursos necessários para o combate às

perdas e a análise custo/benefício deste combate, que visavam encontrar o nível desejável

de redução. Desta forma, a Light ratifica a proposta para que tais procedimentos sejam

reconsiderados pela ANEEL no tratamento regulatório para as perdas não técnicas no

3CRTP.

III DIFERENCIAÇÃO SÓCIOECONÔMICA DAS ÁREAS DE CONCE SSÃO

III.1 Proposta de Aprimoramento

A NT 031 apresenta uma inovação em relação às anteriores ao adotar três especificações

de modelo diferentes para o cálculo do nível de perdas não técnicas admitido para cada

concessionária, considerando os condicionantes socioeconômicos. Utilizando como variável

dependente, o percentual de perdas não técnicas sobre mercado de baixa tensão, calculado

pela ANEEL, as diferenças residem na seleção das variáveis explicativas para representar

as cinco dimensões socioeconômicas: violência, desigualdade, precariedade, infraestrutura

e comprometimento da renda.

A Light entende que houve avanços importantes na nova proposta da ANEEL. Entretanto,

entende que novos avanços são necessários, visando atenuar eventuais inadequações

Cluster Característica Critério de enqudramento PNT Má xima PNT Mínima

1Concessionárias com complexidade alta e perdas altas

Complexidade > 0.16Perda nt/ BT > 20% 147,2% 20,1%

2Concessionárias com omplexidade alta, perdas médias e menor porte

Complexidade > 0.16Perda nt/ BT < 20%ncons < 1.5 milhões 19,7% 7,2%

3

Concessionárias com complexidade alta, perdas médias e maior porte

Complexidade > 0.16Perda nt/ BT < 20%ncons > 1.5 milhões 19,5% 2,9%

4

Concessionárias com complexidade baixa e perdas médias e baixas

Complexidade < 0.16Perda nt/ BT > 5% 22,3% 5,0%

5

Concessionárias com complexidade baixa e perdas muito baixas

Complexidade < 0.16Perda nt/ BT < 5% 4,9% 0,0%

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decorrentes da escolha das variáveis que tentam captar “desigualdade”. Para demonstrar

este entendimento, a análise aqui apresentada partirá do Modelo A, que adota como

variáveis explicativas o número de óbitos por agressão, o percentual de chefes de família

com até três salários mínimos, o percentual de domicílios subnormais e precários, a

cobertura de abastecimento de água e a inadimplência do setor de crédito.

A “desigualdade” no Modelo A estaria sendo captada pelo “percentual de chefes de família

com até 3 salários mínimos”. No entanto, esta variável está mais relacionada à insuficiência

de renda do que à desigualdade e, neste sentido, guarda forte relação com a falta de

infraestrutura básica (acesso à água), conforme, inclusive, reconhece a ANEEL na NT 031.

Recomenda-se, portanto, a exclusão de uma das variáveis do modelo, que, pelos problemas

abordados a seguir, indica-se fortemente que seja a variável “percentual de chefes de

família com até 3 salários mínimos”.

A insuficiência de renda medida pelo “percentual de chefes de família com até 3 salários

mínimos” torna-se dispensável ao modelo quando parte do seu efeito está sendo captado

pela variável de infraestrutura e outra parte pela precariedade dos domicílios.

A opção por manter as duas variáveis no modelo é justificada na NT 031 pela pequena

influência sobre o ranking de perdas não técnicas das concessionárias, conforme

transcrição a seguir.

“79. Ademais, houve contribuições no sentido de separar em modelos distintos as variáveis

relacionadas à desigualdade e infraestrutura em razão da elevada correlação entre elas.

Contudo, apesar da citada correlação, optou-se por incluir todas as dimensões

conjuntamente, pois a remoção da variável de desigualdade tem pouca influência sobre o

coeficiente estimado para infraestrutura e vice versa, de forma que se fossem construídos

dois modelos separados e tirado a média, resultaría mos em um ranking muito

semelhante ao construído com um único modelo conten do ambas as dimensões .”

Entretanto, como podemos observar no gráfico abaixo, das 63 empresas, apenas 9 não

registram mudança de posição no ranking após a retirada da variável de pobreza do modelo.

A grande maioria das concessionárias sofre alteração na sua colocação, sendo que algumas

perdem 10 ou mais posições. Ou seja, de fato, a manutenção da variável relacionada à

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pobreza no Modelo A, de fato, alterou o resultado final do índice de complexidade

estabelecido pela ANEEL.

Adicionalmente, além da forte correlação com a variável de infraestrutura, o “percentual de

chefes de família com até 3 salários mínimos” tem dois problemas na sua construção: i)

baseia-se na renda do chefe e não na renda domiciliar per capita; e ii) não fixa o valor de

corte, de forma que a evolução do indicador capta a valorização do salário mínimo no

período.

As distorções do indicador calculado a partir da renda do chefe de família foram destacadas

nas contribuições da Light referentes à NT 271 e podem ser sintetizadas no gráfico abaixo.

Dependendo da composição da família, um chefe com rendimento inferior a três salários

mínimos pode estar na metade mais pobre ou mais rica da população. Sendo solteiro ou

casado com somente um filho, está entre os 50% mais ricos, mas se possui dois ou três

filhos, passa a pertencer à metade mais pobre. Em outras palavras, qualquer medida de

desigualdade ou pobreza fidedigna deve considerar a renda domiciliar per capita. A variável

adotada pela ANEEL, por seguir o critério de rendimento do chefe, apresenta distorções, se

mostrando inapropriada para medir desigualdade.

02468

101214161820222426283032343638404244464850525456586062

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62

Sem

var

iáve

l de

pobr

eza

Com variável de pobreza

Relação entre as posições relativas do Modelo A, in cluindo e excluindo a variável de pobreza

Perdem posições

Ganham posições

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A segunda crítica a esta variável refere-se à evolução do salário mínimo nacional. Não é

indicado que a variável tenha um corte pelo salário mínimo de cada ano uma vez que a

valorização do salário mínimo neste período foi duas vezes maior do que a inflação,

conforme o gráfico abaixo. Enquanto todos os indicadores de desigualdade e pobreza do

Brasil apresentam redução no período, os dados desta variável apresentam aumento. Em

outras palavras, o crescimento do percentual de chefes com até 3 salários mínimos é

influenciado pelos expressivos aumentos no salário mínimo, em um período caracterizado

por redução da pobreza e desigualdade.

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

2200

2400

0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100

Ren

da d

omic

iliar

per

capi

ta (e

m R

eais

por

mês

)

Porcentagem da população

Distribuição da população segundo a renda domicilia r per capita: Brasil, 2009

Mais pobres Mais ricos

Solteiro

Casal

1 filho2 filhos

3 filhos

Diferentes tipos de família onde o chefe ganha 3 SM

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Finalmente, cabe observar que a exclusão da variável “percentual de chefes de família com

até 3 salários mínimos” do Modelo A não provoca mudanças no poder explicativo do

modelo, como pode ser visto pela comparação entre o “Modelo A Atual” e o “Modelo A

Variação” na tabela a seguir.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

130

140

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Cre

scim

ento

(%)

Ano

Crescimento acumulado da inflação e do salário míni mo em relação a 2001: Brasil

Inflação

Salário mínimo

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Em suma, a Light propõe que a ANEEL exclua do Modelo A a variável “percentual de chefes

de família com até 3 salários mínimos”, pois:

i. A variável está fortemente correlacionada com a variável de infraestrutura;

ii. A manutenção da variável altera o resultado final do índice de complexidade

estabelecido pela ANEEL;

iii. A construção da variável apresenta problemas, pois distancia-se da renda per capita

e capta a valorização do salário mínimo no período, que foi muito acima da inflação;

iv. A exclusão da variável torna o Modelo A mais parcimonioso e mantém seu poder

explicativo.

III.2 Questões adicionais

a) Comprometimento da Renda

A dimensão comprometimento da renda, medida pela inadimplência no setor de crédito,

apesar de ser uma forma de captar o grau de reputação dos agentes, considera a

capacidade de honrar compromissos apenas dos indivíduos que têm acesso a crédito. Em

áreas com menor cobertura do crédito, esta variável tende a ser subestimada. Ademais, a

Coeficiente P-valor Coeficiente P-valor

_cons Constante 0,155 8,7% 0,312 0,0%

obitos Óbitos por agressão 0,196 0,0% 0,196 0,0%

precarioProporção de domicílios subnormais ou precários

1,240 0,1% 1,271 0,1%

aguaCobertura de abastecimento de água

-0,304 0,0% -0,313 0,0%

pobre_chefe Proporção chefes pobres (Aneel) 0,202 0,1%

inadimp Inadimplência no setor de crédito 0,934 0,7% 0,838 1,8%

chi2 Wald chi2r2_w R2: within

r2_b R2: between

r2_o R2: overallsigma_u Sigma_usigma_e Sigma_e

rho Rho_fov

nobs Número de observações

Resultados da estimação do modelo de perdas não téc nicas de energia elétrica

Variáveis IndicadoresModelo A Atual (1) Modelo A - Variação 1

71 600,052 0,030

0,546 0,5330,537 0,5220,128 0,1280,032 0,033

0,940 0,939

291 291

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variável se mostrou irrelevante para o poder explicativo do modelo como apontado na última

contribuição.

Conforme apresentado nas contribuições da Light à NT 271, a exclusão da variável

comprometimento de renda dos modelos preserva seu poder explicativo e os torna mais

parcimonioso.

b) Cálculo do Índice de Gini

O Índice de Gini, medida de desigualdade mais utilizada, foi contemplado no Modelo C. No

entanto, não foi possível identificar o método utilizado pela ANEEL para calculá-lo para cada

concessionária. Conforme demonstrado a seguir, a Light não consegue chegar aos mesmos

resultados da ANEEL com os dados do Censo 2000.

Tomamos como exemplo o Estado de Tocantins, atendido em toda a sua extensão pela

concessionária CELTINS. Os valores apresentados na base da ANEEL ficam em torno de

0.54 conforme tabela a seguir:

Entretanto, os dados do Censo 2000, organizados no Atlas de Desenvolvimento Humano

pelo PNUD e IPEA, registram valores bem mais elevados. Conforme figura a seguir, a

desigualdade no Estado de Tocantins estaria em torno de 0.66, muito superior ao índice da

ANEEL:

empresa ano num gini

CELTINS 2004 16 0.55061

CELTINS 2005 16 0.53519

CELTINS 2006 16 0.52167

CELTINS 2007 16 0.54603

CELTINS 2008 16 0.54376

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A média ponderada dos municípios leva a um Índice de Gini um pouco mais baixo do que a

o do Estado, uma vez que ignora a desigualdade entre os municípios. Ainda assim, é mais

elevada do que o valor apresentado pela ANEEL:

A redução do Índice de Gini entre 2000 e 2004 não justificaria tamanha diferença,

principalmente se considerarmos que a forte diminuição da desigualdade de renda no Brasil

ocorreu a partir de 2004.

Resultado da consulta avançadaMunicípios do Estado de Tocantins

Código MunicípioÍndice de Gini,

2000População total,

2000

Média dos municípios (simples) 0.62Média dos municípios (ponderada) 0.62170025 Abreulândia (TO) 0.57 2189170030 Aguiarnópolis (TO) 0.63 3145170035 Aliança do Tocantins (TO) 0.57 6177170040 Almas (TO) 0.62 8474170070 Alvorada (TO) 0.55 8508170100 Ananás (TO) 0.56 10512170105 Angico (TO) 0.59 2889170110 Aparecida do Rio Negro (TO) 0.57 3517170130 Aragominas (TO) 0.6 6180170190 Araguacema (TO) 0.65 5414170215 Araguanã (TO) 0.66 4193170220 Araguatins (TO) 0.61 26010

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Pelo exposto, não foi possível identificar a origem dos dados do Índice de Gini apresentados

na base de dados da ANEEL.

c) Medida de Desigualdade do Modelo B

A medida de desigualdade adotada no Modelo B, “percentual de pessoas com renda per

capita inferior a ½ salário mínimo”, diferente da variável de desigualdade do Modelo A,

considera a renda domiciliar per capita e não somente a renda do chefe, corrigindo um dos

problemas da variável do Modelo A. No entanto, assim como o “percentual de chefes de

família com até 3 salários mínimos”, adota como linha de corte o salário mínimo de cada

ano. A valorização do salário mínimo no período acima da inflação exerce grande influencia

na evolução do indicador, que não se relaciona exclusivamente à tendência que se deseja

dimensionar em termos de desigualdade ou pobreza. Sugere-se, portanto, fixar um valor de

corte descontando apenas o efeito da inflação.

d) Inclusão da Tendência no Modelo C

A variável de tendência incluída no modelo C não foi definida em nenhum momento na nota

técnica. Uma vez que os índices estimados e o ranking para cada concessionária são

calculados a partir das condições socioeconômicas em 2008, a variável de tendência não

apresenta nenhuma contribuição para o modelo, não sendo indicado, portanto, sua inclusão

no modelo C.

IV DEFINIÇÃO DOS LIMITES DE VELOCIDADE DE REDUÇÃO D AS PERDAS

NÃO TÉCNICAS

IV.1 Proposta ANEEL

A proposta apresentada na NT 031 para o 3CRTP considera que os limites de velocidade de

redução de perdas sejam diferenciados de acordo com grupos de empresas com

características semelhantes.

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Desta forma, foram propostos cinco clusters de velocidade de redução de perdas de acordo

com a complexidade socioeconômica das áreas de concessão, o nível de perdas não

técnicas e o porte das concessionárias, conforme tabela abaixo.

Clusters de Redução de Perdas Não Técnicas

Identificados os grupos de empresas semelhantes, foram definidos os limites máximos de

redução a partir dos dados históricos de perdas não técnicas praticados, selecionando na

amostra apenas aquelas observações em que o valor d a variável média móvel das

perdas não técnicas dos últimos três anos é negativ o.

A partir das velocidades médias de redução de perdas não técnicas observadas, definiram-

se os seguintes limites de redução de perdas para cada cluster:

Limites de Velocidade de Redução das Perdas Não Téc nicas

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IV.2 Análise da metodologia proposta pela ANEEL

IV.2.1 Base de dados da ANEEL

De acordo com o Anexo II da NT 031, que trata do modelo de clusterização adotado pela

ANEEL, de forma a ampliar o horizonte de análise, foram incluídas as observações de

perdas não técnicas das concessionárias para o ano de 2009.

Ao analisarmos a base de dados utilizada pela ANEEL, verificamos que o percentual de

perdas não técnicas referente ao ano de 2009 calculado pela SRD para a Light não

corresponde ao real valor desta concessionária. A Light entende que o dado de perda não

técnica referente a 2009, de 47,59%, conforme cálculo da SRD, está superestimado.

A Light acredita que o cálculo da perda não técnica do ano de 2009 efetuado pela ANEEL

possivelmente utilizou o volume de energia medida ao invés do montante de energia

faturada, utilizado para os anos anteriores a 2009. Utilizando o volume de energia faturada,

a perda não técnica da Light em 2009 corresponde a 45,34% em relação ao mercado BT,

conforme cálculo demonstrado na tabela abaixo. De forma a padronizar a série de perdas

não técnicas das concessionárias, utilizando somente a energia faturada, a Light solicita a

revisão do cálculo do percentual de perda não técnica referente ao ano de 20091.

Cálculo das Perdas Não Técnicas da Light

Caso a ANEEL decida utilizar o volume de energia medida, ao invés da faturada, a Light

entende que será imprescindível que a ANEEL:

1 Cabe ressaltar que o % de perda não técnica da Light referente ao ano de 2008 do arquivo “Base de Dados - Perdas-2°Etapa.xlsx” corresponde exatamente ao valor de 42,58% inserido na tabela a seguir. No arquivo “Base_Árvore de Decisão-2ºEtapa.xlsx”, entretanto, o valor para 2008 difere ligeiramente, sendo equivalente a 42,3%. Entendemos que o valor do arquivo “Base de Dados - Perdas-2°Etapa.xlsx” é o correto e baseia-se no mer cado faturado.

2008 20091 Perdas na Distribuição (MWh) 6.696.888 7.358.572 2 Carga Fio (MWh) 33.021.778 33.318.525 3 Perdas Distribuição (% sobre Carga Fio) (1/2) 20,28% 22,09%4 Perdas Técnicas (% sobre Carga Fio) 5,61% 5,61%5 Perdas Não Técnicas (% sobre Carga Fio) (3 - 4) 14,7% 16,5%6 Mercado de BT (MWh) 11.376.352 12.105.894 7 Perdas Não Técnicas (MWh) (2*5) 4.844.366 5.489.403 8 Perdas Não Técnicas (% sobre Mercado BT) (7/6) 42,58% 45,34%

ITEM

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i. Revisite a Base de Dados para todos os anos, desde 2001, visando padronizá-la

para a energia medida, pois os valores para os anos anteriores a 2009, para a

grande maioria das empresas, referem-se à energia faturada;

ii. Implemente os ajustes necessários quando da comparação do índice de perdas não

técnicas reais com aqueles estabelecidos regulatoriamente no 2CRTP, que se

baseou na energia faturada, evitando comparar grandezas não comparáveis, o que

pode distorcer significativamente as análises.

IV.2.2 Arredondamento dos limites de redução de PNT

Na NT 031, em seu item VI.2, a ANEEL apresenta a metodologia para o cálculo do limite de

redução de PNT a ser adotado no 3CRTP.

Em relação à primeira proposição, apresentada na primeira fase desta Audiência Pública,

são realizados aprimoramentos significativos. Entre as melhorias destacam-se: a inclusão

do índice de complexidade socioeconômica como variável de clusterização e a utilização de

variações de médias móveis para um período de três anos, no lugar das variações anuais

simples para a definição da redução histórica de PNT.

De acordo com os resultados obtidos, foram criados cinco clusters, separando as empresas

conforme a sua complexidade socioeconômica, nível de PNT e quantidade de consumidores

atendidos. A memória de cálculo dos valores propostos é detalhada no Anexo II da mesma

nota técnica. A tabela abaixo compara os resultados indicados no Anexo II com os limites

indicados no corpo da NT 031. Como pode ser verificado, existem diferenças possivelmente

decorrentes do arredondamento dos valores do Anexo II. As diferenças variam para cada

cluster, sendo que as concessionárias classificadas nos clusters 1, 2 e 3 são prejudicadas

pelo arredondamento, pois confrontam um limite de redução mais exigente do que o

efetivamente resultante da metodologia proposta. Por outro lado, empresas enquadradas no

cluster 4 são beneficiadas.

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Diferença entre o limite proposto e o calculado no Anexo II da NT 031

Diante do exposto, e por não existir uma justificativa racional para o arredondamento

realizado, a Light solicita que sejam considerados os valores efetivamente obtidos pelo

cálculo exposto no Anexo II, com precisão de duas casas decimais.

V DEFINIÇÃO DO PONTO DE PARTIDA DA TRAJETÓRIA DE PE RDAS NÃO

TÉCNICAS PARA O 3CRTP

Conforme indicado na NT 031, o ponto de partida é definido pelo “menor valor entre as

perdas regulatórias do ciclo passado e o mínimo histórico de perdas não técnicas praticado

pela empresa em seu histórico recente”. Este valor é uma referência para a aplicação da

trajetória de redução das Perdas Não Técnicas (PNT) regulatórias da concessionária.

Na metodologia proposta pela ANEEL, a trajetória de redução de PNT é determinada

considerando a diferença entre o ponto de partida e a meta da empresa definida a partir das

perdas praticadas pela concessionária e o seu benchmark. No caso desta diferença implicar

em uma redução anual que ultrapasse o limite máximo de redução de PNT, a meta

calculada pelo benchmarking é desconsiderada e o limite máximo de redução é aplicado.

Diante da metodologia proposta, depreende-se que a definição do ponto de partida é uma

etapa fundamental para a demarcação da trajetória de redução de PNT. Por este motivo, a

Light entende ser necessária uma avaliação mais detalhada dos critérios propostos para a

sua definição.

Cluster Critérios

Limite

de redução

NT 031/2011

Limite

de redução

Anexo II

Diferença pelo

Arredondamento

1Complexidade > 0,16

PNT/BT > 20 %-2,00 p.p. -1,79 p.p. +0,21 p.p.

2

Complexidade > 0,16

PNT/BT < 20 %

Consum. < 1,5 milhão

-1,50 p.p. -1,37 p.p. +0,13 p.p.

3

Complexidade > 0,16

PNT/BT < 20 %

Consum. > 1,5 milhão

-1,00 p.p. -0,96 p.p. +0,04 p.p.

4Complexidade < 0,16

PNT/BT > 5 %-0,50 p.p. -0,60 p.p. -0,10 p.p.

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No 2CRTP, as trajetórias de redução foram traçadas de forma que as concessionárias

atingissem sua meta em um único ciclo, respeitando um limite de redução anual. Este limite

era único para todas as concessionárias, independente de suas particularidades, o que

causava distorções importantes e implicava, em alguns casos, em metas inexeqüíveis.

Para este 3CRTP o regulador propôs diversos aprimoramentos. Entre eles, destacam-se as

alterações significativas na especificação do modelo econométrico que define o

benchmarking e as mudanças nos critérios de determinação do limite de redução de PNT.

Apesar dos avanços metodológicos ora apresentados pelo regulador, a meta definida com a

metodologia do 2CRTP ainda será determinante para definição dos valores regulatórios do

próximo ciclo tarifário. Isso porque a proposta atual estabelece que o ponto de partida será o

menor valor entre a meta regulatória do 2CRTP e o mínimo valor do histórico recente das

empresas. Neste contexto, a ANEEL carrega na metodologia atual fragilidades da

metodologia anterior.

Estas imperfeições podem ser comprovadas pela distância entre as PNT praticadas pelas

distribuidoras nos últimos anos e a sua meta regulatória. A figura abaixo apresenta a

diferença entre o menor valor das PNT reais observadas no histórico recente de cada

empresa e a meta regulatória imposta no 2CRTP. Os valores das metas regulatórias foram

obtidos no modelo de Empresa de Referência do 2CRTP de cada empresa e as PNT

praticadas na planilha “Base Arvore de Decisão-2ºEtapa.xls”, disponibilizada no âmbito

desta Audiência Pública. Como histórico recente foi considerado o período de 2004 a 2009.

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Diferença entre a menor PNT real (2004 a 2009) e a meta regulatória do 2CRTP

Como pode ser observado, a maioria das concessionárias ainda não atingiu a meta

regulatória definida no 2CRTP. Mesmo considerando que parte destas empresas ainda não

completou o seu período tarifário, a magnitude das distâncias verificadas no lado esquerdo

da figura é um indicativo que estas empresas dificilmente alcançarão sua meta regulatória.

Se, por um lado, o estabelecimento de trajetórias de redução de perdas não técnicas

excessivamente brandas é prejudicial aos consumidores, por outro, a imposição de metas

inexeqüíveis pelas concessionárias comprometerá os esforços empregados no combate às

perdas, exigindo recursos vultosos e insustentáveis, podendo afetar a saúde econômica e

financeira a ponto de comprometer o próprio combate.

Diante do exposto, a Light ressalta a necessidade de prudência por parte da ANEEL ao

considerar a meta definida pela metodologia do ciclo anterior para a definição do ponto de

partida do 3CRTP. Uma vez identificado que a metodologia anterior apresentava

imperfeições – reconhecidas pelo próprio regulador ao propor aprimoramentos significativos

neste 3CRTP – a utilização de valores dela resultantes não é coerente. Em conseqüência,

se perpetuarão os erros da metodologia anterior neste 3CRTP.

Assim, a Light propõe que, no caso de empresas onde o valor de PNT observado esteja

muito distante da meta do 2CRTP, categorizando uma meta inatingível, a ANEEL reavalie a

premissa de não permitir que o ponto de partida do 3CRTP seja maior que a referida meta,

levando em consideração as diversidades enfrentadas e demonstradas pelas empresas no

-10%

-5%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39 41 43 45 47 49 51 53 55 57 59

Des

vio

da m

eta

regu

lató

ria (p

.p.)

Empresas

Empresas que ainda não

atingiram a meta do 2CRTP

Empresas que já

atingiram a meta do 2CRTP

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combate às perdas não técnicas. Para estes casos, a Light propõe que o ponto de partida

do 3CRTP seja definido pela média aritmética entre a meta do 2CRTP e a perda mínima

observada ao longo do mesmo.