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1 Lições que se transformam em sermões: possibilidades de usos da Revista Lições Bíblicas no Ceará (1950-2000) FRANCISCO ALEXANDRE GOMES * INTRODUÇÃO Este trabalho insere-se no campo da História que elege os impressos, a leitura e os leitores como principais fontes de pesquisas e analises. O foco se ajusta na Revista Lições Bíblicas, uma publicação que é o suporte didático oficial da Escola Bíblica Dominical (EBD) das igrejas Assembleias de Deus no Brasil (AD), desde os anos 1930. Sendo que para esta comunicação o objetivo principal consiste em identificar as possibilidades de usos da Revista pelos leitores assembleianos no Ceará, entre 1950 e 2000. Ao enveredar por esta seara , o pesquisador deve saber que conforme uma consolidada historiografia sobre o tema, o leitor dispõe de liberdade para interpretar à sua maneira os textos, seja ele um código legal ou uma bula de remédio. De acordo com Michel de Certeau (1998) por meio das noções de estratégia e tática, é possível compreender as relações de força que se estabelecem na sociedade, em que várias produções elaboradas pelos “detentores do poder” se chocam com as diversas apropriações feitas pelos “mais fracos”. Para Roger Chartier, é necessário “[...] repensar totalmente a relação entre um público designado como popular e os produtos historicamente diversos (livros e imagens, sermões e discursos, canções, romances-fotográficos ou programas de televisão) propostos para seu consumo”. (CHARTIER, 2002, p. 53). Para ele, o cruzamento dos dispositivos de controle com as táticas de consumo revela que “[...] longe de terem a absoluta eficácia aculturante que lhes é atribuída com demasiada frequência, esses dispositivos deixam necessariamente um lugar, no momento em que são recebidos, à variação, ao desvio, à reinterpretação”. (CHARTIER, 2002, p. 53). Mas, se é inquestionável que o leitor possui liberdade de interpretação ao ler um texto, qual a relevância das novas pesquisas sobre a história da leitura? É justamente ai que este viés * Graduado em História (UFC), Especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica (FAK) e Mestre em História Social (UFC). Professor da Educação Básica, com vínculo efetivo na SEDUC-CE e SME-Beberibe.

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Lições que se transformam em sermões: possibilidades de usos da Revista Lições Bíblicas no

Ceará (1950-2000)

FRANCISCO ALEXANDRE GOMES*

INTRODUÇÃO

Este trabalho insere-se no campo da História que elege os impressos, a leitura e os

leitores como principais fontes de pesquisas e analises. O foco se ajusta na Revista Lições

Bíblicas, uma publicação que é o suporte didático oficial da Escola Bíblica Dominical (EBD)

das igrejas Assembleias de Deus no Brasil (AD), desde os anos 1930. Sendo que para esta

comunicação o objetivo principal consiste em identificar as possibilidades de usos da Revista

pelos leitores assembleianos no Ceará, entre 1950 e 2000.

Ao enveredar por esta seara , o pesquisador deve saber que conforme uma consolidada

historiografia sobre o tema, o leitor dispõe de liberdade para interpretar à sua maneira os

textos, seja ele um código legal ou uma bula de remédio. De acordo com Michel de Certeau

(1998) por meio das noções de estratégia e tática, é possível compreender as relações de

força que se estabelecem na sociedade, em que várias produções elaboradas pelos “detentores

do poder” se chocam com as diversas apropriações feitas pelos “mais fracos”.

Para Roger Chartier, é necessário “[...] repensar totalmente a relação entre um público

designado como popular e os produtos historicamente diversos (livros e imagens, sermões e

discursos, canções, romances-fotográficos ou programas de televisão) propostos para seu

consumo”. (CHARTIER, 2002, p. 53). Para ele, o cruzamento dos dispositivos de controle

com as táticas de consumo revela que “[...] longe de terem a absoluta eficácia aculturante que

lhes é atribuída com demasiada frequência, esses dispositivos deixam necessariamente um

lugar, no momento em que são recebidos, à variação, ao desvio, à reinterpretação”.

(CHARTIER, 2002, p. 53).

Mas, se é inquestionável que o leitor possui liberdade de interpretação ao ler um texto,

qual a relevância das novas pesquisas sobre a história da leitura? É justamente ai que este viés

* Graduado em História (UFC), Especialista em Gestão Escolar e Coordenação Pedagógica (FAK) e Mestre em

História Social (UFC). Professor da Educação Básica, com vínculo efetivo na SEDUC-CE e SME-Beberibe.

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de pesquisa se apresenta como uma seara prodigiosa e infinita, mesmo partindo da premissa

que o leitor, muitas das vezes, não se dobra a uma “leitura autorizada”, a maneira como os

leitores se apropriam dos escritos é muito idiossincrática, dependendo também do contexto

histórico, social e cultural em que está inserido.

A partir deste leque de possibilidades, uma história da leitura, com foco em um

impresso religioso pentecostal que tem como objetivo ser um manual orientador de

identificação e de ação coletiva de seus leitores, com ampla circulação em todo o Brasil,

apresenta-se como um exercício historiográfico promissor, haja vista, possibilitar descortinar

revelações sobre a pouco estudada relação entre os que possuem o poder de determinar o que

é permitido e o que não é e aqueles que, mesmo integrando uma instituição religiosa bastante

rigorosa no controle dos atos de seus fiéis, como as Assembleias de Deus, encontram brechas

para realizarem suas apropriações, autorizadas ou não.

Para Robert Darnton (1990) o esclarecimento quanto à recepção dos textos, não pode

ser esquecido. Na perspectiva da Nova História Cultural, que ao enveredar por este campo

procura compreender como os indivíduos leram e deram sentido às mensagens contidas nos

textos de diferentes gêneros, existe um fato intrigante, isto é, como chegar às leituras passadas

tendo em vista que o ato da leitura é extremante subjetivo e deixa raros indícios para o porvir?

Essa é uma questão que gera muitos debates entre os especialistas da área, como se observa na

indagação de um dos historiadores mais lidos em se tratando da História do Livro e da

Leitura, para Darnton (1992, p. 200): “[...] a leitura possui uma história. Mas como recuperá-

la?”.

Quando ela ocorre em um passado não muito distante, como neste caso, onde o recorte

temporal é a segunda metade do século XX, a metodologia da História Oral é uma opção

possível. Farejando possíveis leitores da Revista no Ceará, procurei inicialmente líderes da

AD no referido período, bem como, seus familiares. Por enquanto, fiz três entrevistas: com a

esposa de um pastor, com o filho de um outro pastor e com uma filha e nora de pastores.

Ambos frequentaram a EBD e leram a Lições Bíblicas, entre 1950 e 2000. Quando indagados

sobre as utilizações e usos da mesma, destacaram que além de servir para dar suporte didático

as aulas da EBD, era também bastante utilizada na elaboração dos sermões dos pregadores

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assembleianos, que muitas das vezes a tinham como única fonte de pesquisa complementar à

Bíblia Sagrada.

Para um melhor didatismo, este texto divide-se em seções logo após esta introdução.

Primeiro apresenta-se como a Revista surgiu, em seguida é narrado seu desenvolvimento

dentro projeto editorial da imprensa assembleiana, depois é colocado em pauta o cerne da

pesquisa, isto é, as possibilidades de usos da Revista Lições Bíblicas no Ceará (1950-2000); e

nas considerações finais apresenta-se um panorama da Revista na atualidade e sua

importância para cultura pentecostal.

DE SUPLEMENTO A REVISTA

Iniciada em 1911, na cidade de Belém do Pará, pelos suecos Daniel Berg e Gunnar

Vingren, a igreja Assembleia de Deus expandiu-se, difundiu-se, ramificou-se, dividiu-se,

esgarçou-se e pluralizou-se, literalmente, e hoje é oficialmente denominada de Assembleias

de Deus (AD`s), no plural†. De acordo com o Censo do IBGE referente a 2010, são mais de

12 milhões de adeptos espalhados pelo País. Dentre os aspectos indentitários da denominação

religiosa, a EBD, destaca-se pelo seu potencial pedagógico e uniformizador. Desde o início da

igreja até os dias atuais, o rito educativo e doutrinário esteve incluído entre as principais

liturgias da AD.

No processo de expansão da igreja pelo Norte e o Nordeste do Brasil, foi lançado o

primeiro periódico oficial da instituição. “Batizado” de Boa Semente pelo idealizador, Gunnar

Vingren, o jornal circulou entre janeiro de 1919 e novembro de 1930. Tinha tiragem mensal

de 3.000 exemplares, com quatro páginas e era distribuído gratuitamente entre os fiéis. Neste

periódico, foram publicados os primeiros suportes didáticos para as aulas da EBD

† Cf: ALENCAR, Gedeon Freire. Assembleia de Deus: origem, implantação e militância (1911-1946). São

Paulo: Arte Editorial, 2010.; ______. Assembleias brasileiras de Deus: teorização, história e tipologia – 1911-

2011. 285 f. Tese (Doutorado em Ciência da Religião). – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião,

Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 2012.; FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Onde a luta se travar: a

expansão das Assembleias de Deus no Brasil urbano (1946-1980). 2015. 358 f. Tese (Doutorado em História). –

Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Assis, 2015.

.

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assembleiana. As lições eram escritas pelo sueco Samuel Nystrom, na forma de esboços que

deveriam ser utilizados durante um período de três meses. Se chamavam Estudos Dominicaes,

e eram anexados ao jornal Boa Semente na forma de suplemento.

Em 1930, dentre as decisões tomadas na primeira Convenção Geral das Assembleias

de Deus no Brasil (CGADB) realizada em Natal/RN, foi decidido a extinção do jornal Boa

Semente e consequentemente do suplemento Estudos Dominicaes. Por outro lado foi instituída

a fundação do jornal Mensageiro da Paz e da Revista Lições Bíblicas, o suporte didático

oficial da EBD, a partir de então.

OS PASSOS INICIAIS DA REVISTA LIÇÕES BÍBLICAS

Quando criada, a Lições Bíblicas tinha sua redação no mesmo local do jornal

Mensageiro da Paz, que somente entre 1930 e 1938 funcionou em seis lugares diferentes. Já a

impressão era realizada em gráficas comerciais, a exemplo da Graphico Apollo que estava

situada em dois endereços diferentes: na Rua L. Fernandes & irmão, nº 36; e na Rua

Misericórdia, nº 38, ambos no Rio de Janeiro. Para adquirir a Revista os pedidos deveriam ser

encaminhados diretamente ao comentador, por meio de correspondências endereçadas a caixa

postal 2.277, Rio de Janeiro/RJ. E a partir do primeiro trimestre de 1940 à redação do jornal

Mensageiro da Paz, à mesma caixa postal.

Neste ínterim, já se discutia entre a liderança da AD a necessidade de fundar uma

editora própria como relata Silas Daniel (2004) em sua descrição sobre a CGADB, realizada

na Assembleia de Deus de Belém do Pará entre os dias 13 e 20 de junho de 1936:

É nesse momento que o pastor Kastberg levanta uma proposta que seria a

semente da criação da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD).

Kastberg explicou aos convencionais a inconveniência de haver diversas

caixas para a produção da literatura assembleiana e apresentou “a proposta

de reuni-las numa só caixa, formando uma espécie de Casa Publicadora”.

(DANIEL, 2004, p. 117).

Proposta que foi aceita pelos demais convencionais, que encarregaram o pastor sueco Nils

Kastberg a responsabilidade maior de realizar a empreitada.

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O desejo dos líderes assembleianos de organizar uma imprensa oficial foi apressado

por um decreto do presidente Getúlio Vargas em 1940. O mesmo determinou que todos os

jornais fossem registrados no Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). O decreto

estabelecia também que somente entidades com personalidade jurídica poderiam editar

jornais. Diante desta situação, naquele mesmo ano foi convocada uma Assembleia

Extraordinária da CGADB que se realizou em Salvador/Bahia. Nela foi decidido que a Casa

Publicadora da Assembleia de Deus (CPAD) deveria ser criada imediatamente. (ARAÚJO,

2007).

Mesmo após a fundação da CPAD, em março de 1940, as três últimas edições da

revista Lições Bíblicas daquele ano e a primeira de 1941 não fizeram menção alguma a

editora. Porém a partir do segundo trimestre de 1941 ela é impressa com o selo da CPAD.

Conforme Wesley Américo Paula (2013), o advento da editora irá modificar completamente a

dinâmica das publicações assembleianas:

A CPAD tornou-se parte fundamental neste processo de mudanças e

transformações [...] anteriormente, as publicações feitas pelos líderes do

movimento se resumiam a informativos da mensagem pentecostal, hinários e

o periódico Mensageiro da Paz. Com a fundação da Casa Publicadora, esses

materiais foram organizados sob responsabilidade da editora. Além disso,

materiais educacionais e doutrinários foram sendo produzidos pelos líderes,

com o intuito de serem utilizados nas igrejas. Entre esses materiais destaca-

se a Lições Bíblicas, que já era produzido antes da fundação da CPAD,

publicado semestralmente. Entretanto, quando da fundação da Casa

Publicadora e consequentemente maior organização deste material, o mesmo

era vendido e distribuído para igrejas assembleianas no Brasil, para ser

utilizado como material oficial das Escolas Bíblicas Dominicais. (PAULA,

2013, p. 143).

Analisando as primeiras edições da Revista com o selo da CPAD e comparando com

as revistas publicadas até então, não se percebe mudanças significativas quanto ao suporte

material. A principal novidade diz respeito aos autores, isto é, a presença de brasileiros‡. Em

‡ Entre 1941 e 1945, além do sueco Samuel Nystrom, foram comentaristas da Revista Lições Bíblicas os

brasileiros Adalberto Arraes e Gustavo Kessler. Não há como afirmar peremptoriamente que eles foram os

primeiros brasileiros a escreverem o texto principal da Revista, pois as edições de 1930 a 1933 não foram

pesquisadas até o momento. A coleção fac-similar da Lições Bíblicas, fonte principal da pesquisa, só traz os

exemplares a partir de 1934. Mas, tudo leva a crer que sim, pois entre 1934 e 1940 todas as edições foram

comentadas por estrangeiros, os suecos Samuel Nystrom e Nils Kastberg. Além disso, na introdução a coleção o

editor afirma que os primeiros comentaristas da Lições Bíblicas foram os já mencionados Samuel Nystrom e Nils

Kastberg, bem como a também sueca Frida Vingren.

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meados dos anos 1940 ela circulava em todas as regiões do país, com uma tiragem de 23.000

exemplares trimestrais. (ARAÚJO, 2007).

Até 1946 a CPAD não pertencia oficialmente a nenhuma igreja e suas publicações

eram impressas em gráficas contratadas. Mas, em outubro daquele ela tornou-se propriedade

da CGADB e houve o lançamento do plano de expansão da editora. Incluindo nele a

“campanha do milhão”, uma empreitada visando angariar recursos no exterior e entre os fiéis

nacionais para arrecadar um milhão de cruzeiros a fim de comprar um terreno e construir um

parque gráfico. A campanha obteve êxito e em outubro de 1948 foi inaugurada a primeira

sede e o parque gráfico da editora. A partir de então o Mensageiro da Paz e a Lições Bíblicas

passaram a ser editados e impressos na própria CPAD. (CONDE, 2008).

DE SUPORTE DIDÁTICO A PROJETO EDITORIAL

A pesquisa em andamento identifica que até o inicio dos anos 1950 a revista Lições

Bíblicas se qualificava por ser o suporte didático oficial da EBD e, a partir daí, começa a ser

tratada como um meio de instruir os fiéis, e também como um recurso ao plano de expansão

da editora, o que se evidencia pela ampliação da veiculação de propaganda de outras

publicações da CPAD:

- Caminhos do Mundo Antigo. Livro que leva o leitor a viver emoções de

uma viagem através das Terras da Bíblia, destacando as paradas nos

principais lugares históricos da Palestina, Grécia e Itália.

- Em Seus Passos que Faria Jesus?. Leia o livro, e sentirá desejo de chegar

mais perto de Deus e de consagrar sua vida ao serviço de Cristo. Preço Cr$

75,00.

- Aventuras de Davi Livingstone. Livro ilustrado, próprio para crianças,

contendo a história abreviada do celebre missionário Davi Livingstone na

África. Preço Cr$ 35,00.

- MENSAGEIRO DA PAZ (Número do Natal). Em forma de revista,

contendo artigos de profunda significação espiritual. Faça seu pedido, ou

aumente o número de exemplares que recebe. Preço Cr$ 4,00. (CPAD, Vol.

05, 2012, p. 328).

Sendo a Revista uma “leitura autorizada”, para usar um conceito de Chartier (1990),

seu fortalecimento incidiria no crescimento e difusão das demais publicações da editora; visto

ser a publicação de grande alcance entre os fiéis ela se transforma também em espaço

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privilegiado de propaganda e vai deixando de ser apenas a “revistinha da escolinha

dominical”, para se tornar um encarte da CPAD. Tal estratégia editorial adotaria o uso de

imagens, como se vê na capa da revista em circulação no primeiro trimestre de 1950, além de

incluir a propaganda com imagem da capa do livro “Profecias Bíblicas”.

No elenco de estratégias empreendidas pelos editores inclui-se a ampliação da função

da revista, quando a partir do terceiro trimestre de 1971, se destaca no centro da capa: “Lições

Bíblicas – PARA AS ESCOLAS DOMINICAIS E CULTOS DOMÉSTICOS”, visando

alargar as possibilidades e espaços de leitura e no ano seguinte, ampliaria seu público,

alcançando jovens e adultos, com destaque aos jovens; assim a ampliação de faixa etária,

consolidaria a publicação pedagógica.

As transformações em curso na Lições Bíblicas ganham maior peso a partir dos anos

1970, com efeitos de expansão do suporte didático, como se vê na criação, em 1974, do Curso

Aperfeiçoamento de Professores da Escola Dominical (CAPED) e do Departamento de Escola

Dominical. O primeiro deles, surge da necessidade de preparação dos professores das escolas

dominicais, como se lê aqui:

[...] a finalidade do CAPED e prover de conhecimentos professores e

iniciantes e a atualização de professores veteranos, bem como a orientação e

diretrizes gerais para todos os que trabalham na Escola Dominical, ou seja,

na sua administração, direção de classe, ou trabalhos atinentes à secretaria.

(MENSAGEIRO DA PAZ. Ano LIII. N° 10, 1974, p. 16).

Já o Departamento de Escola Dominical tinha por objetivo:

[...] adequar os textos à nova organização da revista, organizar todo o

suporte técnico para sua impressão, conscientizar as igrejas sobre a

importância das mudanças que estavam sendo implementadas e,

principalmente, instruir alunos e professores sobre o uso do novo material.

(FONSECA, 2011, p. 71).

Portanto, a CPAD vai investir na criação de cursos e novos departamentos visando fortalecer

sua publicação destinada a EBD.

Para ratificar a importância da Revista junto aos assembleianos, outros impressos

publicados pela CPAD vão ser utilizados como meio de divulgação das mudanças pelas quais

a revista estava passando. Como se lê nesta nota publicada no jornal Mensageiro da Paz em

1977, na qual os editores explicam que:

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[...] a CPAD está empenhada em melhorar o nível de ensino em nossas

escolas dominicais, sendo uma das iniciativas a criação do CAPED, que tem

trazido resultados positivos ao setor. Planejamos ainda editar revistas para

mais duas faixas etárias e dar aos professores uma publicação que analise o

texto de forma mais profunda e ao mesmo tempo oriente quanto à forma

correta de se apresentar a lição à classe. (MENSAGEIRO DA PAZ. Ano 47.

N° 08, 1977, p. 04).

Outro periódico da CPAD, a revista A Seara, também vai ser utilizada para explicar as

reformulações em curso. O texto, assinado pelo diretor do Conselho Administrativo da

CAPD, Custódio Rangel Pires, publicado em agosto de 1980, comunicava que a editora

estava empenhada nos trabalhos de reformulação para que o projeto fosse consumado até o

início do ano vindouro. (A SEARA. N° 185, 1980, p. 08 apud FONSECA, 2011, p. 75).

Após divulgação massiva nos impressos da editora, em julho de 1981, as igrejas

receberam a Lições Bíblicas reformulada, mantendo os tópicos pré-existentes: verdade

prática, texto áureo, leitura em classe, leitura diária, comentário e questionário, alguns em

vigor desde 1930 e outros acrescidos nos anos 1940 e 1950, mas inovando quanto à

editoração e recursos gráficos na veiculação de sua mensagem. Ampliar sua função, alargar

seu público, dispor de instrumentos para sua veiculação ampliada e eficiente, introduzir

inovações gráficas, constituíram estratégias no processo de consolidação do projeto editorial

da Lições Bíblicas.

POSSIBILIDADES DE USOS DA REVISTA LIÇÕES BÍBLICAS

Até o presente momento entrevistei apenas três leitores da Revista Lições Bíblicas:

Entrevista 1 – (Mulher, 75 anos, dona de casa, esposa de pastor assembleiano falecido em

2010, leitora da Revista desde os anos 1960); Entrevista 2 – (Homem, 55 anos, empresário e

pastor assembleiano, filho de pastor assembleiano falecido em 2003, leitor da Revista desde a

infância), Entrevista 3 – (Mulher, 49 anos, dona de casa, filha e esposa de pastores, leitora da

Revista desde sua conversão nos anos 1980).

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Do ponto de vista local, o município de Beberibe-Ce§, os três entrevistados fizeram

parte da liderança da AD** por um determinado tempo††. Contudo, se observarmos pelo

prisma da recepção da Revista, eles podem ser considerados leitores comuns. Pois, não

tinham nenhuma interferência na elaboração do projeto editorial da CPAD. Assim, a esses

líderes locais, como aos demais membros da igreja, cabia apenas ler e absorver os

conhecimentos contidos nas lições do periódico. Ouvir suas histórias e memórias sobre os

usos da Revista põe em relevo a importância que há em integrar as pessoas comuns e os

grupos “populares” – na maioria das vezes apresentados como “ordinários”, como mostra

Michel de Certeau (1998) – nos estudos históricos.

Bem se vê que são valiosos os estudos que procuram investigar as “apropriações

culturais”, haja vista eles mostrarem, como afirma Chartier, que os impressos que procuram

normatizar as ideias e as vivencias, nem sempre são completamente eficientes e/ou totalmente

“aculturantes”, pois “[...] as práticas que deles se apoderam são sempre criadoras de usos ou

de representações que não são [...] redutíveis à vontade dos produtores de discursos e de

normas”. (CHARTIER, 1990, p. 137).

No entanto, é fundamental marcar que categorias de análise como “apropriação”,

“práticas cotidianas” e “táticas”, não necessariamente significam a existência continua, do

lado dos sujeitos vistos como subalternos, de uma guerra aberta ou uma insistência por um

imediato rompimento com os que detêm o poder de criar as normas e de gerir os mecanismos

de controle e punição.

§ Município localizado no Litoral Leste do Estado do Ceará, fica a 80 Km da capital do Estado, Fortaleza, o

ultimo Censo do IBGE de 2010 indicou 52.000 habitantes e aproximadamente 12% da população declarada

evangélica. ** Em Beberie-Ce há uma grande variedade de igrejas que usam a nomenclatura Assembleia de Deus no primeiro

nome, porém diferentes complementos, exemplo: AD Templo Central, AD Montese, AD Bela Vista, AD Novo

Israel, AD Canaã, AD Madureira, dentre outras. (Sobre estas nomenclaturas ver: ALENCAR, 2012. Op. Cit.;

CASTRO, Carlos. Assembleia de Deus no Ceará: 100 anos de história. Fortaleza, Gráfica LCR, 2015.;

FAJARDO, 2015. Op. Cit.; FRANKLIN, Ruben Maciel. A chama pentecostal chega à Terra da Luz: breve

história das Assembleias de Deus no Estado do Ceará (1914-2014). Pindamonhangaba: IBAD, 2014.). Sendo que

a primeira instalada no município, nos anos 1940, e a que tem o maior número de fiéis é a AD Templo Central.

Todos os entrevistados foram líderes nesta igreja entre 1980 e 2000, mas o entrevistado 2 e a entrevistada 3

mudaram para AD Canaã recentemente. †† Na AD Templo Central do Ceará, no período em foco, o pastorado (principalmente nas pequenas igrejas do

interior do Estado) era itinerante, ou seja, o pastor ficava apenas certo tempo em um município, depois era

enviado para outro e assim sucessivamente. Na igreja de Beberibe, somente entre os anos 1980 e 2000 a

liderança foi exercida por 7 pastores diferentes.

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Como visto nas seções anteriores, pelo projeto editorial da CPAD a Revista Lições

Bíblicas deveria ser usada oficialmente de duas formas: suporte didático da Escola Bíblica

Dominical e base litúrgica para o Culto Doméstico. Porém os entrevistados quando indagados

sobre os usos deram ênfase apenas na primeira:

Todos os domingos pela manhã eu ia para escolinha. Acordava mais cedo

para aprontar o almoço e abrir a igreja. Meu marido fazia questão que nós

chegasse primeiro para dá exemplo. Nós orava, cantava, lia e explicava a

revista. Depois tinha as pergunta pra ver se tinha aprendido mesmo.

(Entrevista 1).

Desde menino eu frequento a Escola Dominical, como diz o livro de

Provérbios: ‘quem ensina a criança não precisa punir o homem’. Meu pai me

ensinou assim, tanto eu como meus dois filhos desde pequenos aprendemos

a palavra de Deus. [...] a revista era muito boa, mas era mais para os adultos,

na sala das crianças nós aprendíamos a orar, cantar e respeitar os mais

velhos. Só depois é que apareceu a revistinha das crianças. (Entrevista 2).

Quando aceitei Jesus eu ia pra tudo na igreja, oração, ensaio, culto e Escola

Dominical. Na época meu pai ainda não era pastor e mesmo assim eu não

perdia nada. Depois que me casei e fui dirigir uma igreja com meu esposo a

responsabilidade aumentou, além de ler a revista tinha de ensinar, isso me

obrigou a conhecer mais. (Entrevista 3).

Apesar da indicação oficial do uso da Revista no culto doméstico desde 1971, para

dois dos entrevistados tal sugestão não foi muito bem aceita:

Eu preferia a Bíblia e Harpa para o culto doméstico. Reunia todo mundo na

sala ou na área, cantava os sete hinos, lia a Bíblia e orava. Tinha que ser

todos os dias. As vezes não dava para reunir todo mundo, ai eu fazia só no

meu quarto, mas não deixava de fazer o culto doméstico. (Entrevista 1).

Para o culto em casa a revista não era muito usada, pelo menos, eu não me

lembro. Eu fazia mais, mais a mãe. Meu pai que era pastor saia muito para

visitar os irmãos. Depois que me casei fazia mais minha esposa e depois

junto com meus filhos. [...] Nunca nem tinha observado este detalhe que

você perguntou do culto doméstico. (Entrevista 2).

A fala dos entrevistados, de negação ao uso da Lições Bíblicas no Culto Doméstico,

não significa necessariamente um rompimento com a norma institucionalizada pela CPAD,

mas evidencia que os consumidores não estavam dispostos a seguir a risca aquilo que era

imposto pelo poder hierárquico da AD. Mesmo sendo líderes locais eles relegaram a

indicação oficial da igreja, da qual de alguma forma, eles também exerciam um papel de

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mando ainda que a nível local. Esse desvio da norma, ao que tudo indica, se generalizou, pois

a indicação para uso no Culto Doméstico só perdurou por 11 anos, a partir de 1983 tal uso não

foi mais sugerido nas capas da Lições Bíblicas.

Além de evidenciar a não aceitação de uma sugestão proposta institucionalmente pela

AD, as falas dos entrevistados apresentam novos usos, não proibidos, mas diferentes daqueles

que a Revista indicava. As falas evidenciam que além de servir para dar suporte didático as

aulas da Escola Bíblica Dominical, era também “[...] fonte de estudo para pregação da Palavra

de Deus”. (Entrevista 1). Tal fato também se confirma na fala a seguir:

Meu pai tinha pouco estudo, antes de ser pastor ele era pescador. Em casa

nós não tinha livro para ler, só a Bíblia. Ele tinha de pregar duas, três e até

quatro vez por semana. Então para não repetir ele tinha dificuldade. De sorte

tinha as revistas da Escola Dominical. Ele guardava e quando precisava

pregar sobre algum assunto ele olhava nas revistas antigas. Tinha de ter

cuidado para não ser a atual, porque se não falava de noite a mesma coisa

que tinha falado de manhã. (Entrevista 3).

Tanto a entrevista 1 como a 3, destacam o uso da Revista para montagem de sermões

pelos pregadores. O que leva a observar a carência literária destes líderes locais, muitas vezes

a única literatura que dispunham para seus estudos teológicos e hermenêuticos eram a Bíblia e

a Revista Lições Bíblicas. Uma apropriação feita por estes leitores que, sem dúvidas, ajudou a

reproduzir a ideologia oficial da AD entre os milhares de fiéis que aderiam ao

pentecostalismo assembleiano. Mesmo aqueles que não participavam das EBD, acabavam por

ouvir as lições na forma de pregação nos cultos noturnos.

Um outro uso não indicado oficialmente pelos editores da Revista, foi revelado na fala

de um dos entrevistados:

Meu pai foi pastor em várias cidades, mas minha maior lembrança é do

Canidé, lá até o bispo da igreja Católica ajudou a construir a nossa igreja.

Ele falou para meu pai, que a mãe dele que morava na Europa, era

protestante. Ele era Italiano, parece. Lá em Canidé também tinha muitos

irmãos analfabetos, mas uma coisa interessante lá foi o caso do irmão

Francisco, ele não sabia nem fazer um “O” com uma quenga, quando aceitou

Jesus. Começou a pegar a Bíblia e pedir sabedoria a Deus. Ai ele queria

participar da Escola Bíblica, mas não sabia ler, ai pediu a Deus sabedoria,

pois não é que um dia ele estava lendo. Foi um grande milagre, nunca me

esqueci disso. Ele aprendeu a ler na Bíblia e na revista da Escola Dominical.

Contou o testemunho na igreja, foi uma festa. Mas não foi só esse caso,

nessa minha vida de crente, eu conheço muito irmão que aprendeu a lê na

Bíblia e na revista da escolinha. (Entrevista 2).

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Das muitas informações que podem ser extraídas da transcrição anterior, a exemplo da

tolerância religiosa entre católicos e evangélicos e o problema do analfabetismo no interior do

Ceará, para esta comunicação o que merece maior atenção é uso da Revista Lições Bíblicas no

processo de alfabetização dos assembleianos. Sem dúvidas o grupo editor da Revista sabia

que muitos dos fiéis assembleianos eram analfabetos, talvez o uso de imagens tenha sido

introduzido na mesma a partir dos anos 1950, justamente, para de alguma forma interagir com

este público. Porém, nunca a didatizou como material de alfabetização, era uma revista

voltada para quem já sabia ler. Portanto, quando alguém a utiliza para aprender a ler significa

que ele foi usada para uma inversão muito criativa nas estratégias editoriais da CPAD. Ou

seja, desenvolver uma tática, como diria Michel de Certeau:

Muitas práticas cotidianas (falar, ler, circular, fazer compras ou preparar as

refeições etc.) são do tipo tática, e também de modo mais geral, uma grande

parte das ‘maneiras de fazer’: vitórias do ‘fraco’ sobre o mais ‘forte’ (os

poderosos, a doença, a violência das coisas ou de uma ordem etc.), pequenos

sucessos, artes de dar golpes, astúcias de ‘caçadores’, mobilidades da mão-

de-obra, simulações polimorfas, achados que provocam euforia, tanto

poéticos quanto bélicos. (CERTEAU, 1998, p. 47).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento e a consolidação da CPAD como editora confessional e oficial das

Assembleias de Deus, possibilitou a utilização de diversas estratégias editoriais em torno da

Lições Bíblicas, que foram transformando a publicação, de suporte didático para EBD em um

projeto editorial consolidado no início dos anos 1990. Conforme Isael de Araújo (2007) em

1993 a revista tinha uma tiragem trimestral de aproximadamente um milhão de exemplares,

concretizando-se como uma referência no processo de construção da unidade e identidade

assembleiana. Sobre este aspecto Gedeon Alencar comenta:

Durante décadas, todos os domingos do Oiapoque ao Chuí, milhares de

assembleianos em distintas ADs, estavam lendo e falando sobre os mesmos

textos bíblicos em uma única revista para todas as idades e com uma única

interpretação. E isso, ao longo das gerações, foi fundamental para

delimitação mínima dessa unidade na identidade assembleiana. (ALENCAR,

2012, p. 222-223). (Itálicos no original).

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De 1993 em diante a CPAD passa por uma reestruturação administrativa sendo que a

chefia da editora deixa de ser exercida a partir do critério das “qualidades espirituais” e passa

a ser ocupada por um executivo, que mesmo sendo evangélico e membro da igreja, assumiu o

posto pelo critério da capacidade técnico-administrativa. Com o administrador de empresas e

publisher Ronaldo Rodrigues de Souza no comando, segundo o site institucional da editora‡‡,

a CPAD entrou em um novo período de prosperidade administrativa, editorial e financeira.

Dentre as novas diretrizes administrativas, se destaca a atualização do projeto de

reestruturação da revista em curso desde 1974, como se observa na última edição de 1993. A

partir de 1994 a Lições Bíblicas seria uma nova revista:

Uma nova revista para você.

O aluno vai observar que algumas mudanças gráficas estão sendo

introduzidas na revista. No último trimestre, foi a capa, que teve melhora

considerável. Agora, os comentários foram submetidos a uma nova

diagramação para tornar a leitura do texto mais fácil e atraente. A indicação

de hinos sugeridos, de acordo com o tema a ser estudado, é também uma

ferramenta a mais para melhorar a sua Escola Dominical [...]. Estas

mudanças fazem parte de um projeto que terá seu desfecho no 1º trimestre de

1994, incluindo-se aí as novas revistas para a área infanto-juvenil (inclusive

a da faixa etária de 15 a 17 anos), e para os novos convertidos. (LIÇÕES

BIBLICAS – 4º trimestre de 1993, p. 03).

Ainda hoje a revista da EBD constitui a principal publicação didática dos

assembleianos, conseguindo se consolidar em meio às muitas transformações na sociedade ao

nível de modernização social e econômicas e transformações culturais que influenciaram

diretamente a vida de seus leitores. São quatro edições anuais, ampliadas pelo fato de serem

impressas por faixa etária – desde o primeiro trimestre de 2015, há revistas para adultos

(Lições Bíblicas), jovens, adolescentes, pré-adolescentes, três classificações distintas de

crianças e para os recém convertidos. No total são publicadas e distribuídas no Brasil, entre

assembleianos ou não, aproximadamente dez milhões de exemplares anualmente.

A análise deste periódico didático religioso produzido pela editora oficial da AD e dos

usos do mesmo feito por leitores no Ceará, mostrou que mesmo a AD sendo uma instituição

com postura conservadora na administração do “sagrado” e que suas publicações integram um

projeto editorial capitaneado pela CPAD, que é responsável por dirigir a circulação dos

‡‡ Disponível em: <http://cpad.com.br/institucional/integra.php?s=1&i=2>. Acesso em: 24/05/2015.

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impressos e também por controlar a forma ideal usá-los, lê-los e interpretá-los. Mesmo assim,

esse arcabouço normativo não impediu a utilização dos textos em espaços e para finalidades

não prescritos pelos editores, ainda que esses “usos alheios” não sejam totalmente

subversivos.

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