lições de direito do ambiente iii
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Eduardo Mendes Simba Lies de Direito do Ambiente
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SUMRIOS DESENVOLVIDOS DE DIREITO AMBIENTAL
CAPITULO I - INTRODUO
1.1 - Conceito de ambiente
O dicionrio1 define o ambiente como envolvente, o que
rodeia os corpos por todos os lados ou tudo aquilo que
envolve os seres vivos e as coisas. Esta definio
demasiadamente ampla e vaga para os objectivos desta
disciplina jurdica, na medida em que o direito regula todas a
componentes e circunstncias que envolvem o homem. Isto
implicaria dizer que todo o direito seria direito do ambiente.
Trata-se de um conceito que no serve para o direito do
ambiente.
Neste caso, h que se encontrar um conceito de ambiente que
seja til para o direito do ambiente, devendo ser menos
amplo que o conceito do dicionrio. Para tal, discutem-se dois
conceitos de ambiente, sendo o conceito de ambiente numa
dimenso ampla e o conceito de ambiente numa dimenso
1 Dicionrio de Lngua Portuguesa. Texto Editores (2006)
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estrita. Ou seja, pode se falar de conceito amplo e estrito de
ambiente.
Por um lado, o conceito estrito de ambiente inclui apenas os
elementos naturais do ambiente, como gua, ar, solo, subsolo
fauna e flora. Por outro lado, o conceito amplo inclui no s
os componentes ambientais naturais (gua, ar, solo, subsolo
fauna e flora), mas tambm os componentes ambientais
construdos (patrimnio artstico, cultural, histrico e
econmico-social). Isto , no inclui apenas os elementos do
ambiente natural, mas tambm os elementos do ambiente
construdo. Ainda assim, este conceito de ambiente menos
amplo que o conceito do dicionrio.
O conceito amplo tem a vantagem de oferecer um sistema
global de interpretao completa do mundo e da vida, assim
como de todos os factores que integram o mundo natural que
esto relacionados em interaco contnua e profunda. Mas
tambm, tem a desvantagem de ser encarada a partir de
muitos pontos de vista, que podem tornar o discurso jurdico
ambguo e duvidoso.
Grande parte da doutrina tem optado por um conceito estrito
de ambiente como sendo mais operacional ao direito,
justificando a sua posio ideia de que quando foram
lanadas as bases da proteco jurdica do ambiente e do seu
desenvolvimento, o que estava em jogo era a garantia da
preservao e manuteno dos elementos ambientais
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naturais. Mas, no esta a posio da LBA. A LBA define o
ambiente como
O conjunto dos sistemas fsicos, qumicos, biolgicos e suas
relaes dos factores econmicos, sociais e culturais com efeito
directo ou indirecto, mediato ou imediato sobre os seres vivos e a
qualidade de vida dos seres humanos.
Esta definio corresponde a um conceito amplo de ambiente.
Nesta definio, esto includos quer os elementos do
ambiente natural quer os elementos do ambiente construdo.
uma definio que nos parece ser mais operacional ao
direito, na medida em que permite ter uma viso mais
completa sobre as matrias a serem reguladas pelo Direito
Ambiente. Esta definio legal consentnea ideia de
desenvolvimento sustentvel, permitido a integrao dos
factores econmico, social e ambiental. O conceito
desenvolvimento sustentvel, como veremos mais adiante,
norteia as normas do direito do ambiente, tendo uma grande
influncias na sua formulao e implementao.
1.2 O problema da pr-compreenso do direito
ambiental
Na abordagem desta problemtica debatem-se duas
doutrinas: a concepo antropocntrica e a concepo
ecocntrica.
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A concepo antropocntrica defende que se forem
comprometidos os elementos naturais do ambiente, a
existncia do homem ou pelo menos as suas condies
mnimas de existncias estariam postas em causa. Ou seja,
de acordo com esta teoria a tutela do ambiente tem como
pano de fundo a defesa de valores distintos ao ambiente,
como a vida e sade humanas. Para os antropocentrista, a
gesto ambiental deve colocar as necessidades dos seres
humanos no centro de todas as prioridades. Esta posio
defendida no Relatrio de Brundtland ao definir o conceito de
desenvolvimento sustentvel e na seco 2 (2) da Lei sobre
Gesto Ambiental da frica do Sul2.
A concepo ecocntrica pretende proteger o ambiente em si,
como um novo valor autnomo, o que est em causa a
comunidade bitica e respectivo ambiente no vivo como um
novo valor jurdico emergente. Trata-se de uma tutela do
ambiente que no esconde em si tutela de outros valores
como a vida e a sade humana. O ambiente, neste caso,
tutelado em si e de per si.
Contudo, o n. 2 do art. 3. adopta uma posio intermdia,
na medidas em que estabelece que
2 Environmental management must place people and their needs at the forefront of its concern, and serve their physical, psychological, developmental, cultural and social interests equitably.
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devido o respeito aos princpios do bem estar a toda populao,
proteco, preservao e conservao do ambiente e ao uso
racional dos recursos naturais, cujos valores no podem ser
subestimados em relao a interesses meramente utilitrios.
Nesta disposio podemos afirmar a adopo de um
antropocentrismo que no afasta o ecocentrismo.
1.3 O ambiente como bem jurdico
As revolues industriais que introduziram a mquina
vapor por exemplo, e o consequente desenvolvimento
tecnolgico e do crescimento demogrfico que tiveram como
consequncia o aumento do consumo e da procura pelos
recursos naturais. Esta procura gerou uma crescente presso
da actividade humana sobre o ambiente causando sobre si
numerosos impactos negativos. Estes acontecimentos
colocaram na ordem do dia a questo da sustentabilidade dos
recursos naturais.
Para garantir a sustentabilidade dos recursos naturais, assim
como preservar e promover o ambiente, houve necessidade de
elevar o ambiente qualidade de bem jurdico digno de tutela
jurdica enquanto valor em si.
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Segundo Canotilho (1998:197), o bem jurdico a expresso
de um interesse, da pessoa ou da comunidade, na
manuteno ou integridade de certo estado, objecto ou bem
em si mesmo reconhecido como socialmente relevante e por
isso juridicamente reconhecido como valioso.
Nesta perspectiva, a tutela do ambiente embora possua uma
dimenso individual deve sempre ser visto como um bem
jurdico da colectividade. Neste caso, fala-se da socializao
do ambiente relevante para a ideia de interesse social ou
colectivo da comunidade.
No est em causa a tutela de valores como a vida, a sade
ou a propriedade das pessoas, mas sim a tutela imediata de
valores ambientais, visto que o ambiente actualmente um
bem jurdico protegido de forma autnoma.
A transcendncia do ambiente aos interesses individuais a ele
conexos permite que a sua dimenso colectiva seja
irredutvel. No se pode reduzir a tutela do ambiente, tutela
da vida, sade, patrimnio e desenvolvimento econmico e
tecnolgico. Embora estes valores possam ser prosseguido
pela tutela estabelecida por uma norma ambiental, no quer
dizer que este seja o fim nico e imediato desta tutela. O fim
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imediato a proteco do ambiente em si. Os recursos
naturais hoje j no pode ser utilizados sem regras, tem uma
tutela jurdica de modo a tornar a sua utilizao de mais
racional e sustentvel. Por isso, o ambiente tem consagrao
jurdico-constitucional (artigo 39. da CRA).
1. 3 O conceito de Direito do Ambiente
A ecologia como fonte de normao, no pode deixar de ser a
base de interpretao na aplicao da norma.
Para Peres Moreno, o Direito do Ambiente o ordenamento
jurdico que garante e disciplina o gozo colectivo inerente aos
bens ambientais zelando pela sua integridade.
A pare deste Autor, Joo Ferreira Reis apresenta um conceito
estrito de Direito do Ambiente. Para o Autor, o Direito do
Ambiente um sistema de normas jurdicas que tm
especialmente em vista as relaes do homem com o meio,
prosseguindo os objectivos de conservao da natureza,
manuteno dos equilbrios ecolgicos, salvaguarda do
patrimnio gentico, proteco dos recursos naturais e o
combate as diversas formas de poluio. Este um conceito
que atende ao conceito em sentido restrito de ambiente,
porque parte-se do pressuposto de que os elementos
artificiais do conceito amplo de ambiente so abordados por
outras disciplinas jurdicas, como o direito do ordenamento
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do territrio, direito do urbanismo, direito do patrimnio
histrico e cultural, entre outros.
Em sentido contrrio, Fernando dos Reis Condesso define o
direito do ambiente como um conjunto de normas jurdicas
que enquadram o relacionamento dos homens com os
elementos naturais e artificiais do ambiente, que
condicionam directa ou indirectamente os seres vivos em
geral e a qualidade humana. Este conceito perfilha a ideia de
conceito amplo de ambiente, adoptando uma viso
antropocntrica que no exclu a proteco da natureza,
essencialmente da prpria vida do homem e a sua qualidade,
assim como a subsistncia do gnero humano. Para o Autor,
o direito do ambiente um direito de matriz ecolgica,
tendencialmente paranatural, na medida em que no
apenas antropocntrica e do presente mas protege cada vez
mais os seres vivos e a natureza enquanto tal. Afirma-se que
Condesso defende um antropocentrismo ecolgico que rejeita
a viso instrumentalizadora, economicista ou utilitarista da
natureza ao considerar que o ambiente deve ser tutelado pelo
direito como tal e que a sua preservao tambm constitui
uma condio da realizao da dignidade da pessoa humana.
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1.4 - Caractersticas do direito ambiental
1.4.1 - Direito novo
No se pode estranhar a existncia de normas jurdicas que
protegem o ambiente desde os tempos recuados, pois o
homem polui a natureza desde milnios. Destaca-se a
existncia de tabus e situaes relacionadas com a gesto
durvel dos recursos naturais, como o caso da agricultura
praticada em regimes de pousios em algumas regies e
culturas do pas.
Francois Ost aponta a existncia do direito florestal nascido
na Babilnia em 1900 a.c; o cdigo hitita redigido de 1380
1346 a.c. que contem disposies relativas a poluio da
gua. Outras legislaes milenares so as recomendaes
imperial para a conservao de florestas da dinastia Chow
(1.122 a.c 255 a.c). Acresce-se a criao da primeira reserva
natural de 1370 a.c. criada pelo fara Ackenatanou. No sec.
III foi publicada a primeira lei de proteco de diferentes
espcies de animais selvagens por edito do Imperador Indiano
Asoka .
Apesar disto, o direito ambiental tal como hoje se concebe
um direito constitudo por normas crescentes. um direito
novo, isto , ainda no sedimentado, cuja a dogmtica de
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conceptualizao comeou a densificar-se a partir da dcada
de 70.
Em Angola, a nvel do direito positivo, s a partir da LC de
1992 e da Lei das Actividades Geolgicas e Mineiras que
comea a ser colocada a problemtica da tutela do ambiental.
A nvel do ensino, o Direito Ambiente s includo como
disciplina curricular com o surgimento das Universidades
Privadas, nos anos de 1999 2000. A Universidade Agostinho
Neto como sendo a primeira universidade em Angola continua
a no ter a disciplina de Direito do Ambiente no seu plano
curricular. A Universidade Metodista de Angola incluiu esta
disciplina no seu currculo em conjunto com o Direito do
Urbanismo, sendo leccionadas pela primeira vez, no ano
lectivo de 2011.
1.4.2 Direito disperso
O Direito do Ambiente um direito disperso por estar
constitudo por um nmero extenso de diplomas normativos.
Esta disperso dificulta a codificao do direito do ambiente.
Devido a sua horizontalidade tem muitas normas avulsas ou
extravagantes, isoladas em diplomas que visam regular
muitos aspectos da vida social, das actividades humanas
nomeadamente do campo econmico, sanitrio, ordenamento
territorial, urbanismo, patrimnio cultural, habitao.
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1.4.3 Direito Experimental e Revisvel
um direito experimental e revisvel por natureza (dado o
aprofundamento contnuo dos conhecimentos sobre a
ecologia e as tecnologias para responder aos vrios
problemas) e pelas limitaes da sua concretizao
(confiscada pela gnese negocial das suas normas de
contedo mnimo normalmente toleradas pelas organizaes
econmicas, mas distintas do que, no momento normativo, j
se devia considerar necessrio, em face das exigncias
ecolgicas)
um direito de complexidade crescente e evolutivo, por ser
de base ecolgica, ao passo que o seu objecto depende e
influenciado pela ecologia.
1.4.4 Autonomia do Direito do Ambiente
A questo da autonomia do direito ambiental no tem sido
pacfica. Duas correntes tm discutido esta questo: os
negativistas e positivistas. Os negativistas rejeitam
autonomia ao direito ambiental, afirmando-o como sendo um
conjunto de normas e de institutos pertencentes aos vrios
ramos de direito reunidos pela sua funo instrumental, por
regular o comportamento do homem em relao ao meio.
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Em defesa desta perspectiva destaca-se:
a) Michael Prieur que defende o direito ambiental um
direito de reagrupamento.
b) Diogo Figueiredo defende que enquanto direito ecolgico
no se deve conferir autonomia cientfica por lhe faltar
princpios jurdicos e mtodos prprios, situando-se este
direito num ramo de direito meramente informativo. No
devemos concordar com esta afirmao, pois como mais
adiante veremos o direito ambiental est norteado por
princpios prprios que s so estudados neste ramo de
direito, assim como um mtodo especfico.
c) Tochio Mukai afirma que a natureza interdisciplinar do
direito ambiental afasta a sua caracterizao como um
ramo de direito autnomo, face aos lugares de destaque
que tm as normas de direito privado e do direito penal
nesta rea do saber. um direito horizontal que cobre
os diferentes ramos de direito (privado, pblico e
internacional) e um direito de interaces que tende a
penetrar em todos os sectores do direito para neles
introduzir ideias ambientais.
d) Para Sousa Franco, o direito ambiental apenas um
conjunto horizontal e materialmente determinada de
tpicos princpios, regras e situaes jurdicas
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pertencentes a diversos ramos de direito (direito
constitucional, administrativo, financeiro, civil).
e) Ainda dentre os negativistas, Vasco da Pereira da Silva
questiona a autonomia cientifica do Direito Ambiental
mas reconhece a sua autonomia pedaggica. Sustenta o
Autor que apesar de o Direito Ambiental comear a dar
os primeiros passos para a formao de uma dogmtica
prpria (veja-se o desenvolvimento da doutrina de
princpios prprios e procedimentos administrativos
especficos e autnomos como o da AIA e do
licenciamento ambiental) o factor aglutinador (defesa do
ambiente) que se move ao lado deste no pode ser visto
como fundamento bastante para se reconhecer
autonomia dogmtica ou cientifica ao direito ambiental
que, na sua perspectiva, continua a ser amplamente
tributrios do estudo das questes ambientais, de
acordo com a metodologia prpria de cada ramo de
direito acrescendo-se ainda o seu carcter
multidisciplinar. Para justificar a autonomia pedaggica
do Direito Ambiental, Vasco Pereira da Silva sustenta-se
oo facto de ser um ramo de direito estudado como
disciplina nos diversos currculos acadmicos das mais
diversas faculdades de direito do mundo.
J para os positivistas, o direito ambiental um ramo de
direito autnomo. Nesta perspectiva destaca-se Gomes
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Canotilho que ao defender a autonomia dogmtica e
sistemtica deste ramo de direito ressalta a sua autonomia
relativa por entender ser um direito que implica
necessariamente a reviso dos institutos, das tcnicas e
instrumentos dogmticos clssicos de outros ramos de
direito.
No mesmo sentido Fernando Condesso ressalta que um
ramo de direito tendencialmente autnomo apesar de
manter fortes relaes com outros ramos de direito, donde
resultam as normas que constituem o seu objecto.
No se deve, porm, perder de vista a ideia de que todo
direito interdisciplinar at mesmo porque os chamados
ramos do direito clssico no sobrevivem sem recorrer a
conceitos e a experincia de outros ramos de direito ou de
cincias no jurdicas. Veja-se o fenmeno da publicizao
da esfera privada e da privatizao da esfera pblica no
mbito das relaes do direito civil e o direito
administrativo.
Assim o direito ambiental estabelece relaes com os
seguintes ramos do direito:
A) Direito Internacional Pblico - no qual se sobressai o
direito internacional ambiental cujas normas so
consideradas verdadeiras fontes do direito interno
ambiental. Ou seja, o Direito do Ambiente evoluiu a
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partir de Direito Internacional do Ambiente e mantm
forte relaes com o Direito Internacional Pblico por
fora dos artigos 13. e 26. da CRA.
B) Direito Constitucional - a Lei Constitucional da
Repblica de Angola consagra um conjunto de
normas e princpios constitucionais que do lugar ao
chamado direito constitucional ambiental.
C) Direito Penal - neste ramo de direito encontram-se
normas penais que formam o direito sancionatrio
ambiental, pois em diversas legislaes at mesmo na
Lei de Bases do Ambiente encontramos disposies
que apontam para tipificao de certos
comportamentos lesivos ao ambiente como crimes
ambientais. Esta a viso do ante-projecto de cdigo
penal.
D) Direito Econmico, Financeiro e Fiscal - onde se
colocam um novo paradigma de relacionamento entre
a economia e a ecologia ressaltando princpios como o
do poluidor pagador, do desenvolvimento sustentvel
e do uso racional dos recursos naturais.
E) Direito civil - a sua relevncia para o direito
ambiental dos dias de hoje bastante e resulta do
surgimento do chamado direito civil ambiental,
bastando olhar para o efeito para as figuras da
responsabilidade civil por danos ambientais.
F) Direito administrativo - grande parte das normas do
direito ambiental so tributrias no direito
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administrativo, veja-se a prpria ideia do
procedimento de licenciamento ambiental, de
avaliao do impacto ambiental que so verdadeiros
procedimentos administrativos especiais, assim como
da organizao e funcionamento dos rgos e servios
da administrao pblica com competncias em
matria ambiental
Segundo Condesso, existem certas especificidades que
permitem justificar a autonomia do direito ambiental, a
saber:
a) Especificidade em termos de valor protegido -
o bem jurdico ambiente enquanto valor
protegido pelo direito do ambiente tutelado de
forma autnoma como bem da comunidade dos
viventes, abrangendo valores e interesses
integrantes do interesse geral da sociedade.
b) Especificidade em termos do seu contedo -
um direito que implica direitos de outros seres
vivos que no apenas o homem, assim como de
seres vindouros, que ainda no existem
(perspectiva do desenvolvimento sustentvel).
um direito que no se limita regular as relaes
entre os homens mas tambm deste com a
natureza.
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c) Especificidade na conteno dos objectivos -
os objectivos necessrios do direito ambiental
tm cedido em parte, quando envolvem
interesses economicamente poderosos ao
compromisso entre as empresas e o Estado. Por
isso, um direito negociado, no seu contedo e
vacatio legis, por vezes, muito extensa quando
no protelada. o caso do desenvolvimento
sustentvel cujo mrito informador tem
revitalizado a proteco do bem ambiente que
muitas vezes camufla a aceitao pelas
autoridades pblicas de presses econmicas no
campo da poluio e envenenamento para alm
do admissvel (ex: veja-se como exemplo o caso
da agricultura qumica causadora do fenmeno
das doenas cancergenas). um direito que
no vive do necessrio mas do tolervel.
d) Especificidades em termos de princpios
fundamentais - o direito ambiental est
informado por princpios que no so estudados
no mbito de outros ramos de direito. Veja-se a
ttulo de exemplo, os princpios da preveno,
precauo, da correco na fonte, do poluidor
pagador, do desenvolvimento sustentvel, do
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uso racional dos recursos naturais, dentre
outros.
e) Especificidades em termos do contributo de
todos os ramos clssicos do direito e da sujeio
intensas das aquisies das cincias da
natureza
1.4.5 - Direito de interveno radical
um direito de interveno radical porque tem que ir a raiz
da coisa, a origem, a fonte das poluies. por fora desta
caracterstica que se fala dos princpios da correco na
fonte, da preveno e precauo
1.4.6- Direito estratgico
um direito estratgico porque exige intervenes
programadoras e panificadoras para atingir os seus
objectivos. Por isso, se afirma que um direito prospectivo
porque s se concebe a partir da necessidade de se proteger o
no direito das geraes actuais de prejudicar o direitos
ambientais dos homens e seres vivos do amanha.
1.4.7- Direito de sancionamento administrativo e
criminal
um direito de sancionamento administrativo e criminal
porque para tornar efectivas as suas prescries recorre
varias vezes as sanes administrativas (multas, embargo e
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apreenses) e as sanes criminais penais.
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CAPITULO II - A CONSTITUIO AMBIENTAL
2.1- Introduo
A Constituio funciona como a base do nosso ordenamento
jurdico, pois nela encontramos um conjunto de normas e
princpios que o norteia. Neste captulo, vamos procurar
estudar como alguns Pases da SADC abordam a questo
ambiental nas respectivas Constituies, nos quais
escolhemos a Nambia, frica do Sul e Moambique.
Trataremos tambm de analisar como a LC de 1992 e a CRA
abordam a questo ambiental, estabelecendo as diferenas
entre as disposies pertinentes LC de 1992 e CRA de 2010,
seguindo-se de um estudo aprofundado do art. 39. da CRA
de 1992.
2.2 - A questo ambiental nas constituies de alguns
pases da SADC
2.2.1 Nambia
A nvel da frica Austral, a Nambia, logo que alcanou a
independncia em 1990, foi precursora na consagrao da
questo ambiental na respectiva Constituio. Distintamente
de outras constituies nas quais a questo ambiental est
prevista no captulo referente s liberdades e direitos
humanos fundamentais, a Constituio Namibiana prev a
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tutela do ambiente no captulo dos princpios sobre as
polticas do Estado, nos seguintes termos:
The State shall actively promote and maintain the welfare of the people
by adopting, inter alia, policies aimed at the following:
()
(I) maintenance of ecosystems, essential ecological processes and
biological diversity of Namibia and utilization of living natural resources
on a sustainable basis for the benefit of all Namibians, both present and
future; in particular, the Government shall provide measures against the
dumping or recycling of foreign nuclear and toxic waste on Namibian
territory.3
Segundo Glasewisk (2009:71), embora tenha jogado um papel
importante na formulao da poltica e legislao ambiental
da Nambia, esta norma ainda no foi invocada em Tribunal.
2.2.2 Moambique
A Constituio Moambicana consagra o direito do ambiente
no captulo referente aos direitos econmicos, sociais e
culturais, ao lado, nomeadamente, dos direitos de
propriedade, educao, sade, habitao e urbanizao. O
art. 90. desta Constituio estabelece o seguinte:
1. Todo o cidado tem o direito de viver num ambiente equilibrado e o
dever de o defender.
3 Artigo 95 da Constituio Namibiana
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2. O Estado e as autarquias locais, com a colaborao das
associaes de defesa do ambiente, adoptam polticas de defesa
do ambiente e velam pela utilizao racional de todos os recursos
naturais.
2.2.3 frica do Sul
A Constituio de Sul Africana prev os direitos ambientais
na seco 24 localizada no captulo o Bill of Rights, nos
seguintes termos:
(1) Everyone has the right:
(a) to an environment that is not harmful to their health or well-being; and
(b) to have the environment protected, for the benefit of present and future
generations, through reasonable legislative and other measures that: (i) prevent
pollution and ecological degradation; (ii) promote conservation; and (iii) secure
ecologically sustainable development and use of natural resources while
promoting justifiable economic and social development.
Alm do seu papel na formulao e implementao da legislao e
da poltica ambiental na frica do Sul, esta constitui uma das
poucas disposies constitucionais relativas tutela do ambiente na
SADC que j foi numerosas vezes invocada em Tribunal. O que
considera-se um exemplo a ser seguido noutros pases da SADC.
2.3 O ambiente na LC de 1992 (art. 24.)
A LC de 1975 e as respectivas revises no fizeram qualquer
aluso questo ambiental. Em termos constitucionais, a
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questo ambiental foi pela primeira vez adoptada na LC de
1992. O art. 24. desta LC estabelecia:
1. Todos os cidados tm o direito de viver num ambiente sadio e no
poludo.
2. O Estado adopta as medidas necessrias a proteco do ambiente
e das espcies da flora e da fauna nacionais em todo territrio
nacional e a manuteno do equilbrio ecolgico.
3. O Estado pune os actos que lesem directa ou indirectamente ou
ponham em perigo a preservao do meio ambiente.
Apesar desta consagrao constitucional do ambiente, LC de
1992 no fez qualquer referncia expressa ao
desenvolvimento sustentvel. Para a Professora Coelho
(2007:664-665), ainda que no tivesse referncia expressa na
LC de 1992, o princpio do desenvolvimento vinha claramente
consagrado na LC nos artigos 1, 7,4 9, 5 106 e 11/3.7 Com
4 . Ser promovida e intensificada a solidariedade econmica, social e cultural
entre todas as regies da Repblica de Angola, no sentido do desenvolvimento
comum de toda a Nao angolana.
5 . O Estado orienta o desenvolvimento da economia nacional com vista a
garantir o crescimento harmonioso e equilibrado de todos os sectores e regies
do pas, a utilizao racional e eficiente de todas as capacidades produtivas e
recursos nacionais, bem como a elevao do bem estar e qualidade de vida dos
cidados.
6 . O sistema econmico assenta na coexistncia de diversos tipos de
propriedade, gozando todos de igual proteco. O Estado estimula a
participao, no processo econmico, de todos os agentes e de todas as formas
de propriedade (pblica, privada, mista, cooperativa e familiar), criando as
condies para o seu funcionamento eficaz no interesse do desenvolvimento
econmico nacional e da satisfao das necessidades dos cidados.
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efeito, a LC estabelece o objectivo do progresso social no art.
1 e depois do desenvolvimento econmico e social. Mas,
afirma a Professora Coelho, se atendermos aos trs
componentes do desenvolvimento sustentvel (econmico,
social e ecolgico), indubitvel que a LC se preocupou com a
vertente econmica do desenvolvimento (crescimento
harmonioso e equilibrado) e tratou-o essencialmente a
propsito do estatuto das empresas, muito embora o elenco
de direitos fundamentais8 e a sua garantia jurdica (art. 43) e
material (art. 50) tambm sejam relevantes em matria do
desenvolvimento, no sentido abrangente e inclusivo de
desenvolvimento comum de toda a Nao angolana (art.
7).
Ainda que, em termos jurisprudencial, esta disposio no
tenha sido invocada em tribunal, jogou um papel
fundamental na elaborao da poltica e legislao sobre a
gesto ambiental e dos recursos naturais.
2.4 O ambiente na CRA (art. 39.)
A CRA estabelece a proteco do ambiente e dos recursos
naturais como uma das tarefas fundamentais do Estados
7 . 3. O Estado incentiva o desenvolvimento da iniciativa e da actividade
privada, mista, cooperativa e familiar criando as condies que permitam o
seu funcionamento, e apoia especialmente a pequena e mdia actividade
econmica, nos termos da lei.
8 . Arts 18-52.
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(art. 21., al. m)). Alm disso, consagra genericamente a
questo ambiental no captulo II, referente aos direitos,
liberdades e garantias fundamentais, particularmente na
seco I deste captulo atinente aos direitos e liberdades
individuais e colectiva onde est localizado o art. 39.. este
art. estabelece que,
1. Todos tm o direito de viver num ambiente sadio e no poludo,
bem como o dever de o defender e preservar.
2. O Estado adopta as medidas necessrias proteco do
ambiente e das espcies da flora e da fauna em todo o territrio
nacional, manuteno do equilbrio ecolgico, correcta
localizao das actividades econmicas e explorao e
utilizao racional de todos os recursos naturais, no quadro de
um desenvolvimento sustentvel e do respeito pelos direitos das
geraes futuras e da preservao das diferentes espcies.
3. A lei pune os actos que ponham em perigo ou lesem a
preservao do ambiente.
2.5 Comparao do art. 24. da LC com o art. 39 da CRA
O artigo 39. da CRA continuou a consagrar o mesmo
pensamento filosfico do art. 24. da LC. Porm, o contedo
do art. 39. mais amplo que do artigo 24.. Se no, vejamos:
a) O art. 24. restringe a titularidade do direito de viver
num ambiente sadio e no poludo apenas a cidado
angolanos, da presente gerao, enquanto a utilizao
do termo todos no seguido do cidado implica
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afirmar que o art. 39. estende a titularidade destes
direitos tambm aos estrangeiros que se encontrem no
territrio nacional.
b) Distintamente do art. 24., o artigo 39. alm de conferir
direito ao ambiente, impe a todos o dever de defender e
preservar o ambiente.
c) Enquanto o n. 2 do art. 39. refere expressamente o
desenvolvimento sustentvel, correcta localizao das
actividades econmicas, explorao e utilizao racional
de todos os recursos naturais e o respeito pelos direitos
das geraes futuras e da preservao das diferentes
espcies, o art. 24. evita referncia a estes elementos.
2.6 Significado do art. 39.
2.6.1 Todos tm o direito.
2.6.1.1 Direitos dos seres humanos e outros entes?
A utilizao do termo todos no art. 39., levanta muitas
questes do ponto de vista ambiental.
Desde logo uma questo tica e filosfica a de saber se o
termo todos inclui os seres humanos apenas ou se tambm
engloba outros seres vivos ou mesmo o ambiente no vivos. A
outra questo a de saber o termo todos se limita a
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presente gerao ou se tambm susceptvel de abarcar as
futuras geraes.
Respondendo a primeira questo, as teorias do deep
ecology9 e do eco-centrismo extremo defendem que os
direitos ambientais so titulados por todos os seres vivos,
incluindo os seres humanos. Regan (citado por Glazewski,
2009:73) afirma que apenas os seres com valor inerente tm
direito.
Contrariamente, os antropocentristas defendem que os
direitos ambientais dizem apenas respeito aos seres
humanos. Embora a Constituio e a LBA (art. 3/2) tenham
adoptado uma perspectiva intermdia entre o ecocentrismo e
o antropocentrismo10, esta posio parece ser a que tem
acolhimento na nossa ordem jurdica. Segundo Glazewski
(2009:73) os direitos reconhecidos a outros seres que no
sejam os humanos, so actualmente considerados em todos
os ordenamentos jurdicos, num ponto de vista moral do que
9 Ecologia profunda. Simba (2011:35) explica a teoria do deep ecology nos
seguintes termos: To characterize this theory, Naess (quoted by Pete9)9
defined seven principles9. The second principle refers to the ethos of
biospherical egalitarianism. Pete9, citing Mathews, describes this principle as
an ethic of interrelatedness, according to which all forms of life are equally
entitled to live and blossom. Human beings are not morally privileged in any
way in this ecological scheme of things other life forms are just morally
considerable as we are
10 No sentido de no subestimar os valores ambientais a interesse meramente
utilitrios.
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jurdico. Contudo a CRA, LBA e demais legislao impem a
todos o dever de respeitar e preservar as espcies da fauna e
da flora.
Quanto a segunda questo, a CRA reconhece na parte final
do n. 2 do art. 39. direitos s futuras geraes. Esta posio
de afirmao das futuras geraes como novos sujeitos de
direitos ao ambiente constitui uma das grandes novidades
que este texto constitucional nos apresenta, se bem que esta
reflexo tenha j encontrado respaldo no direito costumeiro
de alguns povos Bantu que afirma a terra como um elo de
ligao entre os antepassado e a presente geraes, sendo
esta simplesmente gestora delas em benefcio das futuras
geraes (Altuna:145).
2.6.1.2 Todos o problema da legitimidade
processual
O termo todos levanta tambm o problema de legitimidade
que a sua verso tradicional adoptada no artigo 26. do CPC
pode constituir um obstculo s pessoas individualmente
consideradas ou organizadas em associaes de interporem
aces em defesa do ambiente ou dos direitos das futuras
geraes. Nos termos deste art. do CPC, a pessoa tem que
demonstrar ao Tribunal algum grau de interesse pessoal ou
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patrimonial na interposio de uma aco cvel ou do
contencioso administrativo.
O art. 74. da CRA respeitante aco popular resolve
definitivamente este problema, ao estabelecer que:
Qualquer cidado, individualmente ou atravs de associaes
de interesses especficos, tem direito aco judicial, nos casos
e termos estabelecidos por lei, que vise anular actos lesivos
sade pblica, ao patrimnio pblico, histrico e cultural, ao
meio ambiente e qualidade de vida, defesa dos
consumidores, legalidade dos actos da administrao e
demais interesses colectivos.
Esta disposio corresponde um instrumento de
concretizao do dever de defender e preservar o ambiente
que a parte final do n. 1 do art. 39. da CRA impe a todos.
Embora entenda-se que o art.74. pretendeu atribuir o direito
de aco popular apenas aos cidados nacionais.
2.6.1.3 Todos O problema da fora jurdica do
direito ao ambiente.
O problema aqui levantado no sentido de saber se o direito
ao ambiente tem aplicao com efeito vertical ou apenas com
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efeito horizontal11. Ou seja, ser que este direito vincula
apenas o Estado ou se vincula tambm os particulares.
A expresso da parte final do n. 1 do art. 39., segundo qual,
todos tm o dever de defender e preservar o ambiente pode
implicar a ideia de que este direito pode vincular tanto o
Estado como os particulares.
Contudo, esta questo est claramente absolvida no art.
28./1, nos termos do qual:
1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos direitos, liberdades e garantias fundamentais . vinculam todas as entidades pblicas e privadas.
Isto quer dizer que os direitos ambientais podem ser directa e
imediatamente aplicado nas disputas entre particulares ou
entre o Estado e particulares. Relativamente s disputas
entre particulares, veja-se nos casos do direito de vizinhana
em um particular causa poluio atmosfrica susceptvel de
afectar negativamente o direito de outra pessoa de viver num
ambiente sadio e no poludo.
Em termos jurisprudenciais, na frica do Sul, o Juiz, no
Woodcarb case12, corroborou com esta posio, afirmando
11 Glazewski (2009:74) distingue os direitos de aplicao horizontal e verticais.
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que uma contraveno Atmospheric Pollution Prevention
Act 45 of 1965 (Lei sobre a Preveno da Poluio
Atmosfrica) constitua uma violao do direito do queixoso
em viver num ambiente no prejudicial sua sade e bem
estar nos termos da Constituio Transitria da frica do Sul,
de 1994.
2.6.2 Natureza dos direitos ambientais na CRA
A abordagem da natureza dos direitos ambientais passa pela
abordagem genrica da natureza dos direitos.
Tradicionalmente, os direitos humanos fundamentais esto
divididos em 3 geraes ou categorias. Os direitos da primeira
gerao ou direitos azuis so os direitos civis e polticos dos
indivduos nos quais inclumos os direitos a vida, a
igualdade, integridade fsica e liberdade de associao. So
direitos que impem ao Estado ou outras entidades o dever
de absterem-se de praticar actos que atentem contra o seu
contedo, no requerendo do Estado qualquer aco positiva
para a sua realizao.
Os direitos da segunda gerao so os direitos econmicos,
sociais e culturais que, entre outros, incluem os direitos
alimentao, trabalho, assistncia mdica e habitao. Estes
direitos requerem uma aco positiva do Estado para a sua
realizao. Estes so os chamados direitos programticos
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cuja aplicao pelos Tribunais tem sido controversa. Os
direitos da terceira gerao ou os direitos verdes so
aqueles exercitveis como direitos de um grupo nos quais
incluindo os direitos ao desenvolvimento, direitos ambientais
e o direito paz. So os direitos dos povos ou de
solidariedade ou seja, so mais direitos colectivos do que
individuais. So direitos dos povos e de solidariedade.
Os direitos ambientais atravessam todas as geraes13. Ou
seja pode ser includo na primeira, segunda e terceira
geraes, podendo assim, ter uma dimenso positiva e
negativa.
A dimenso negativa destes direitos impe a todos os
interessados o dever de praticarem actos que atentem contra
o seu contedo. Esta dimenso est afirmada na expresso
utilizada na primeira parte do n. 1 e no n. 2, todos do art.
39. da CRA14 bem como na localizao dos direitos
ambientais na CRA. Conforme vimos anteriormente, a CRA
consagra os direitos ambientais no captulo II, referente aos
direitos, liberdades e garantias fundamentais,
particularmente na seco I deste captulo atinente aos
13 Para mais discusses, vide Simba (2011:18), Kidd (2009:19); Birnie et al.
(2009:271-272); Glazewisk (2005:70, 72 e 75) que categorizam os direitos
ambientais e do desenvolvimento sustentvel nos direitos de primeira,
segunda e terceira geraes.
14 Todos tm o direito de .
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direitos e liberdades individuais e colectivas. Ou seja esta
seco parece tratar dos direitos da primeira e da terceira
geraes. Enquanto direitos da primeira gerao, os direitos
ambientais tm uma dimenso de direitos individuais
pertencente a cada membro da comunidade.
Os direitos ambientais so direitos de terceira gerao. Alm
da localizao deste direito, esta afirmao reforada pelo
disposto no n. 74. da CRA. Este art. caracteriza os direitos
ambientais como sendo um direito difuso ao qual se confere o
direito de aco a todos os cidados, individualmente
considerados ou associados em organizaes de defesa de
interesses especficos. Os direitos difusos so aqueles que
pertencem a todos. Os direitos ambientais tm esta natureza,
pois o ambiente pertence a todos. Nesta vertente, os direitos
ambientais so direitos colectivos, pertencentes
comunidade, a grupos ou ao Estado.
Na dimenso positiva, os direitos ambientais impem ao
Estado o dever de praticar actos tendentes a sua realizao.
Este sentido est espelhados no n. 2 do art. 39. da CRA,
segundo o qual
O Estado adopta a medidas necessrias
Este enunciado indica que os direitos ambientais so tambm
direitos de realizao progressiva. Ou seja, afirma-se aqui o
carcter de direito econmico e social aos direitos ambientais.
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Eduardo Mendes Simba Lies de Direito do Ambiente
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2.6.3 - Todos tm um direito de viver num
ambiente
A CRA refere-se de forma genrica ao ambiente nos artigos
21., al. m) e 39., mas no define o ambiente. O ambiente
est definido no n. 2 do anexo da LBA, segundo o qual
o ambiente o conjunto dos sistemas fisicos, qumicos,
biolgicos e suas relaes e dos factores econmicos, sociais e
culturais com efeito directo ou indirecto, mediato ou imediato
sobre os seres vivos e a qualidade de vida dos seres humanos.
Esta definio de ambiente, mais uma vez, corresponde a
conceito amplo de ambiente susceptvel de abarcar os
elementos naturais e construdos do ambiente.
2.6.4 De viver num ambiente sadio e no poludo
Muitas disposies constitucionais que tratam do direito a
sade e proteco social (art. 77.), habitao e qualidade
de vida (art. 85.) e justia social (90.) podem ser invocadas
em aces onde se discutam questes ambientais.
O n. 21 do anexo da LBA define a poluio como sendo a
deposio no ambiente de substncias ou resduos,
independentemente da sua forma, bem como a emisso de
luz, som e outras formas de energia, de tal modo e em
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quantidade tal que o afecta negativamente. Este particular
ambiente pode causar danos a sade de uma pessoa. Veja-se
os casos de poluio das guas, do ar ou depsito de
substncias ou resduos perigosos numa dada rea.
Contudo, importa distinguir a sade referida no artigo 39.
da do art. 77. da CRA. A sade referida no art. 39. mais
ampla que a referida no art. 77., podendo abarcar inclusive
os casos de sade do 77.. Este termo sade refere-se ideia
nebulosa de qualidade do ambiente cuja garantia da
responsabilidade do Ministrio do Ambiente. Foi este tipo de
sade que foi invocada no Verstappen case no qual foi
solicitado um Tribunal Sul Africano que ordenasse s
autoridades locais a cessao do depsito de resduos slidos
nas proximidades das residncias dos requerentes que
estavam a afectar seriamente a sua sade. Distintamente, o
direito a sade do art. 77. se refere ao direito assistncia
mdica e medicamentosa sob responsabilidade do Ministrio
da Sade.
Ligado ao ambiente sadio, embora no previsto
expressamente no art. 39., o direito qualidade de vida
previsto no art. 85.. O n. 24 do anexo da LBA define a
qualidade de vida como o resultado da interaco de
mltiplos factores no funcionamento das sociedades
humanas que se traduz no bem-estar fsico, mental e social e
na afirmao cultural do individuo. Este direito mais
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amplo que o direito de viver num ambiente sadio, podendo
abarcar direitos atinentes ao acesso a gua, alimentao,
sade, lazer, habitao e saneamento bsico. Este direito diz
respeito a natureza e personalidade das pessoas, podendo
ainda abarcar as ideias de essncia do ambiente e sentido de
integridade ambiental, no sentido de que devemos utilizar o
ambiente numa maneira moralmente responsvel. A
jurisprudncia Sul Africana, referiu-se ao direito a qualidade
de vida no Hichange Case no qual o Juiz afirmou que
ningum obrigado a trabalhar num ambiente de fedor e
que, do seu ponto de vista, um ambiente contaminado de H2S
adverso ao bem-estar.
2.6.5 O Estado adopta medidas necessrias ..
A grande questo que se coloca a de saber que medidas
devem ser adoptadas. Mais uma vez, no BP Southern Africa e
no Grootboom cases, a jurisprudncia Sul Africana
respondeu a esta questo. No primeiro caso, o Juiz afirmou
que as medidas que devem ser adoptadas pelo Estado devem
ser capazes de facilitarem a realizao de direitos. No
segundo caso, o Juiz afirmou que ao Estado requere-se que
tome medidas legislativas racionais e outra medidas. As
medidas legislativas no parecem constituir cumprimento do
mandato constitucional. Meras medidas legislativas no so
suficientes. O Estado obrigado a actuar de modo a alcanar
o resultado requerido, e as medidas legislativas devem ser
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necessariamente suportadas pelas polticas e programas
apropriadas e bem direccionados a implementar pelo
Executivo. Estas polticas e programas devem ser racionais
quer na sua concepo quer na sua implementao. A
formulao de um programa apenas o primeiro passo para
que o Estado cumpra com as suas obrigaes. O programa
deve ser tambm racional na sua implementao. Se o
programa no for implementado de forma racional no
constituir cumprimento das obrigaes do Estado.
Contudo, as medidas necessrias tomar devem passar
necessariamente pelas medidas legislativas, regulamentares,
judiciais, formulao e execuo de polticas, planos,
programas, projectos e aces, criao de institutos pblicos
e fundos para execuo destas medidas.
2.6.5 - O Estado adopta as medidas necessrias
.. correcta localizao das actividades
econmicas
A correcta localizao das actividades econmica garantida
pelos instrumentos de ordenamento do territrio previstos na
LOT, nomeadamente, Principais Opes do Ordenamento do
Territrio Nacional, Planos Provinciais e Inter-provinciais,
Planos Municipais e Inter-minicipais e Planos Sectoriais e
Especiais. Estes instrumentos permitem que os terrenos
sejam classificados e qualificados de acordo com a natural
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aptido dos solos. Por exemplo, uma rea potencialmente
apta para a agricultura ou destinada a fins de conservao da
natureza no poder, por determinao destes instrumentos,
ser utilizada para a implantao de uma cidade ou
explorao mineira.
2.6.6 - O Estado adopta medidas necessrias ..
explorao e utilizao racional de todos os recursos
naturais.
Esta disposio constitucional constitui uma clara afirmao
do princpio da sustentabilidade e do uso sustentvel,
racional e sbio dos recursos naturais. Segundo a Professora
Coelho (2007: 96-97), o uso sustentvel dos recursos
naturais refere-se sua utilizao a taxas e segundo mtodos
que no conduzam ao esgotamento ou degradao desses
recursos no longo prazo, mantendo assim o seu potencial
para satisfazerem necessidades das geraes actuais e
futuras.
A Professora aponta ainda a Carta Mundial da Natureza que
impe algumas regras sobre a utilizao dos recursos
naturais que garantem o uso sustentvel, a saber: (i) os
recursos vivos no devem ser usados excedendo-se a sua
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Eduardo Mendes Simba Lies de Direito do Ambiente
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capacidade natural de regenerao; (ii) a produtividade dos
solos deve ser mantida ou reforada atravs de medidas que
salvaguardem a sua fertilidade no longo prazo e o processo
orgnico de decomposio, e previnam a eroso e outras
formas de degradao; (iii) os recursos, incluindo a gua, que
no so consumidos quando usados devem ser reutilizados
ou reciclados; (iv) os recursos no renovveis que sejam
consumidos quando so usados devem ser explorados com
restries, tendo em considerao a sua abundncia, as
possibilidades racionais de os converter para consumo, e a
compatibilidade entre a sua explorao e o funcionamento
dos sistemas naturais.
A nvel interno, a LRBA estabelece o uso racional e
sustentvel dos recursos biolgicos como sendo um dos fins
do ordenamento de pesca (art. 8./a)). Para concretizao
deste disposto a LRBA prev os planos de ordenamento de
pescas (art. 11. - 18.), capturas totais admissveis - TAC
(art. 19. - 20.), as quotas de pescas (art. 21. - 24.) e o
limite de esforos de pescas (art. 25. - 30). As TACs, por
exemplo, so definidas pelo art. 1./17 da LRBA como a
quantidade limite de uma dada espcie ou sub-espcie de
recursos biolgicos aquticos que pode ser capturada num
dado perodo de tempo sem pr em perigo a conservao e a
renovao sustentvel do recurso. A ideia de uso sustentvel
constitui a parte central desta definio e garante que os
recursos biolgicos aquticos no seja explorados at ao seu
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esgotamento. Neste caso, por exemplo, a fixao das TACs
no permite que o carapau seja explorado taxas e mtodos
que no garante a sua capacidade natural de regenerao.
2.6.7 O Estado adopta medidas .no quadro de um
desenvolvimento sustentvel e do respeito pelos direitos
das geraes futuras e da preservao das diferentes
espcies
Estes aspectos sero abordados no quadro do princpio do
desenvolvimento.
2.6.7 A lei pune os actos que ponham em perigo ou
lesem a preservao do ambiente.
Parece-nos que as medidas punitivas que a CRA se refere so
as chamadas comand-and-control, onde inclumos as
medidas criminais, cveis e administrativas. Alm destas
medidas, a lei pode adoptar outros mecanismos no
sancionatrios que garantem uma eficaz aplicao da
legislao ambiental, como o caso dos incentive-based
measures e voluntaries measures. Estas matrias sero
aprofundas capitulo V.