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PONTA GROSSA / PR 2009 LICENCIATURA EM Denise Puglia Zanon Maiza Taques Margraf Althaus ENSINO A DISTÂNCIA

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pONTA gROSSA / pR2009

LiceNciATuRA em

Denise Puglia ZanonMaiza Taques Margraf Althaus

eNSiNO A DiSTÂNciA

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSANúcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a Distância - NUTEAD

Av. Gal. Carlos Cavalcanti, 4748 - CEP 84030-900 - Ponta Grossa - PRTel.: (42) 3220-3163www.nutead.uepg.br

2009

Pró-Reitoria de Assuntos AdministrativosAriangelo Hauer Dias - Pró-Reitor

Pró-Reitoria de GraduaçãoGraciete Tozetto Góes - Pró-Reitor

Divisão de Educação a Distância e de Programas EspeciaisMaria Etelvina Madalozzo Ramos - Chefe

Núcleo de Tecnologia e Educação Aberta e a DistânciaLeide Mara Schmidt - Coordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora Pedagógica

Sistema Universidade Aberta do BrasilHermínia Regina Bugeste Marinho - Coordenadora Geral

Cleide Aparecida Faria Rodrigues - Coordenadora AdjuntaElenice Parise Foltran - Coordenadora de Curso

Colaborador FinanceiroLuiz Antonio Martins Wosiak

Colaboradora de PlanejamentoSilviane Buss Tupich

Colaboradores em EADDênia Falcão de BittencourtJucimara Roesler

Colaboradores de InformáticaCarlos Alberto VolpiCarmen Silvia Simão CarneiroAdilson de Oliveira Pimenta JúniorJuscelino Izidoro de Oliveira JúniorOsvaldo Reis JúniorKin Henrique KurekThiago Luiz DimbarreThiago Nobuaki Sugahara

Colaboradores de PublicaçãoMaria Beatriz Ferreira - RevisãoSozângela Schemin da Matta - RevisãoEloise Guenther - Diagramação Paulo Henrique de Ramos - Ilustração

Colaboradores OperacionaisEdson Luis MarchinskiJoanice Kuster de AzevedoJoão Márcio Duran InglêzMaria Clareth SiqueiraMariná Holzmann Ribas

cRÉDiTOS

João Carlos GomesReitor

Carlos Luciano Sant’ana VargasVice-Reitor

R696s Rodrigues,CleideAparecidaFariaSociologiadaeducação1./CleideAparecidaFariaRodrigues,MárciaDerbliSchafranskieRitadeCássiadaSilvaOliveira.PontaGrossa:Ed.UEPG,2009.138p.il.

LicenciaturaemPedagogia-Educaçãoadistância.

1.Sociologiadaeducação.2.Sociologiaesociedade.3.Sociedadeeeconomia.4.Estado,políticaesociedade.I.Schafranski,MarciaDerbli.II.Oliveira,RitadeCássiadaSilva.III.T.

CDD:370.193

FichacatalográficaelaboradapeloSetordeProcessosTécnicosBICEN/UEPG.

Todos direitos reservados ao Ministério da EducaçãoSistema Universidade Aberta do Brasil

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ApReSeNTAÇÃO iNSTiTuciONAL

Prezado estudante

Inicialmente queremos dar-lhe as boas-vindas à nossa instituição e ao curso que escolheu.

Agora, você é um acadêmico da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), uma renomada instituição de ensino superior que tem mais de cinqüenta anos de história no Estado do Paraná, e participa de um amplo sistema de formação superior criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2005, denominado Universidade Aberta do Brasil (UAB).

O Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) não propõe a criação de uma nova instituição de ensino superior, mas sim, a articulação das instituições públicas já existentes, possibilitando levar ensino superior público de qualidade aos municípios brasileiros que não possuem cursos de formação superior ou cujos cursos ofertados não são suficientes para atender a todos os cidadãos.

Sensível à necessidade de democratizar, com qualidade, os cursos superiores em nosso país, a Universidade Estadual de Ponta Grossa participou do Edital de Seleção UAB nº 01/2006-SEED/MEC/2006/2007 e foi contemplada para desenvolver seis cursos de graduação e quatro cursos de pós-graduação na modalidade a distância.

Isso se tornou possível graças à parceria estabelecida entre o MEC, a CAPES e as universidades brasileiras, bem como porque a UEPG, ao longo de sua trajetória, vem acumulando uma rica tradição de ensino, pesquisa e extensão e se destacando também na educação a distância.

A UEPG é credenciada pelo MEC, conforme Portaria nº 652, de 16 de março de 2004, para ministrar cursos superiores (de graduação, seqüenciais, extensão e pós-graduação lato sensu) na modalidade a distância.

Os nossos programas e cursos de EaD, apresentam elevado padrão de qualidade e têm contribuído, efetivamente, para a democratização do saber universitário, destacando-se o trabalho que desenvolvemos na formação inicial e continuada de professores. Este curso não será diferente dos demais, pois a qualidade é um compromisso da Instituição em todas as suas iniciativas.

Os cursos que ofertamos, no Sistema UAB, utilizam metodologias, materiais e mídias próprios da educação a distância que, além de facilitarem o aprendizado, permitirão constante interação entre alunos, tutores, professores e coordenação.

Este curso foi elaborado pensando na formação de um professor competente, no seu saber, no seu saber fazer e no seu fazer saber. Também foram contemplados aspectos éticos e políticos essenciais à formação dos profissionais da educação.

Esperamos que você aproveite todos os recursos que oferecemos para facilitar o seu processo de aprendizagem e que tenha muito sucesso na trajetória que ora inicia.

Mas, lembre-se: você não está sozinho nessa jornada, pois fará parte de uma ampla rede colaborativa e poderá interagir conosco sempre que desejar, acessando nossa Plataforma Virtual de Aprendizagem (MOODLE) ou utilizando as demais mídias disponíveis para nossos alunos e professores.

Nossa equipe terá o maior prazer em atendê-lo, pois a sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.

EQUIPE DA UAB/UEPG

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PALAVRAS DOS PROFESSO ■ RES 7

OBJETIVOS E EMENT ■ A 9

cONTexTuALizAÇÃO DA DiDáTicA 11SEçãO ■ 1- A DIDÁTICA EM SUAS ORIGENS: CONCEPÇÕES E

PRESSUPOSTOS TEÓRICOS 13

SEçãO ■ 2- O ENSINO, OBJETO DA DIDÁTICA E SEUS ELEMENTOS 18

SEçãO ■ 3- O TRABALHO DE ENSINAR: DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS 22

DiDáTicA e AÇÃO DOceNTe 29SEçãO ■ 1- AS DIMENSÕES DO PROCESSO DIDÁTICO NA AÇÃO DOCENTE 31

SEçãO ■ 2- TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA, CONTEXTUALIZAÇÃO E

INTERDISCIPLINARIDADE 45

SEçãO ■ 3- A RELAÇÃO PEDAGÓGICA NA SALA DE AULA: O PROFESSOR

MEDIADOR 51

meTODOLOgiAS DiDáTicAS 59SEçãO ■ 1- ENSINO INDIVIDUAL, MÚTUO E SIMULTÂNEO: MÉTODOS DE

ENSINO NA DIDÁTICA ESCOLAR 61

SEçãO ■ 2- A GESTÃO DA SALA DE AULA E A ORGANIZAÇÃO DO SEU ESPAÇO 66

SEçãO ■ 3- O TRABALHO EM GRUPOS NA SALA DE AULA 71

SEçãO ■ 4- MÉTODOS E TÉCNICAS DE ENSINO 78

PALAVRAS FINAIS 93 ■REFERÊNCIAS ■ 95

NOTAS SOBRE OS AUTO ■ RES 101

SumáRiO

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pALAVRAS DO pROFeSSOR

“Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar,

é não repetir o que os outros dizem.

Estudar é um dever revolucionário.

(Paulo Freire)

Neste livro, nosso objetivo é contemplar estudos sobre a Didática,

trazendo contribuições teórico-práticas para a ação docente. Conhecer

questões relativas à Didática implica compreendê-la enquanto disciplina

pedagógica presente na formação docente, que articula as dimensões

humanas, técnicas e políticas do processo pedagógico escolar. (CANDAU,

1988).

Trata-se de pensar sobre a Didática, entendendo que o ensino, seu

objeto de investigação, caracteriza-se como prática educacional, que se

dá num contexto, envolvendo professores e alunos. O ensino requer um

exame cuidadoso em diferentes situações, estabelecendo relações entre

escola, sistema de ensino e sociedade, permitindo a investigação como

prática social viva. (PIMENTA, 1997, p. 53).

Apresentaremos a você concepções sobre ensino, aprendizagem e

mediação, discutindo também os conceitos de Didática e conhecimentos

sobre seu objeto de estudo. Contemplaremos ainda os desafios que

se impõem ao trabalho de ensinar, conteúdos relativos aos processos

didáticos, transposição didática e relações pedagógicas.

Para encerrar, abordaremos um assunto que tem sido objeto de

discussão permanente nas escolas: as metodologias didáticas que

envolvem conceitos relativos ao trabalho em grupos na sala de aula

bem como seu processo de gestão. A discussão aqui empreendida está

amparada em referenciais teóricos que se apresentam no decorrer do

texto, acompanhada da sugestão de obras e sites para você pesquisar.

Lembramos ainda que os estudos sobre Didática não se esgotam

neste livro, pois você terá a oportunidade de ampliar seus conhecimentos

na disciplina de Didática II, que contemplará conteúdos relativos às fases

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constitutivas do trabalho docente, planejamento, motivação, avaliação do

processo ensino-aprendizagem, dentre outros núcleos temáticos.

Desejamos a você bons estudos. Como diz Paulo Freire: “Estudar é criar

e recriar.” Sucesso!

Professoras Autoras

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ObjetivOs

Ao final dos estudos que você realizará neste livro, terá subsídios para:

1) conceituar a Didática, refletindo sobre sua importância na formação e

atuação do educador;

2) identificar o objeto de estudo da Didática, destacando as relações

existentes entre seus elementos constitutivos;

3) compreender a importância do estudo das relações pedagógicas para

o desenvolvimento do trabalho docente em sala de aula;

4) analisar a necessidade de reestruturação de métodos e técnicas de

ensino para a gestão do trabalho docente na escola;5) inferir do conhecimento didático desenvolvido na disciplina

possibilidades para o trabalho docente no contexto escolar.

ementa

Reflexão sobre Educação e a contribuição histórica do trabalho docente: ■repercussões sobre o campo da Didática, o ensino e a profissão. O ensino na escola contemporânea e o professor como mediador da aprendizagem. Os processos didáticos na ação docente: transposição, contextualização, interdisciplinaridade e suas relações com métodos e técnicas de ensino.

OBJeTiVOS & emeNTA

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UN

IDA

DE Icontextualização

da didática

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Conceituar Didática, avaliando sua importância para a atuação do educador.

Compreender a Didática no âmbito da Pedagogia e das práticas educativas.

Refletir sobre os desafios frente ao trabalho de ensinar, em sua complexidade.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1 – A Didática em suas origens: concepções e pressupostos teóricos

SEçãO 2 – O ensino, objeto da Didática e seus elementos

SEçãO 3 – O trabalho de ensinar: desafios contemporâneos

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12UNIDADE 1

pARA iNÍciO De cONVeRSA

Prezado estudante!

Leia as notícias abaixo, publicadas no Jornal Folha de São Paulo:

“A secretária de Ensino

Fundamental do Ministério

da Educação, Iara Prado,

alertou [...] que os professores

precisam dar mais qualidade

didática ao ensino.” (16/10/01)

“Este livro pretende ser um guia para acabar com as dúvidas

referentes às novas normas ortográficas. Ele não só as expõe de forma

muito elucidativa e didática [...]” (01/03/09)

“Os participantes serão avaliados por meio de cinco tópicos: prova

escrita de conhecimento, prova de títulos, prova didática (aula ministrada

sobre a disciplina em que concorre) [...]” (04/11/03)

Você percebeu, em todas as notícias mencionadas, o enfoque

à Didática? Ora envolvendo o livro didático, ora a prova ou ainda a

qualidade didática.

Poderíamos, então, perguntar: o que significa cada um dos sentidos

acima atribuídos à Didática? Ou ainda: quais as contribuições da Didática

para você, neste curso de Licenciatura em Pedagogia?

O propósito desta primeira unidade direciona-se para a compreensão

do que é a Didática, qual seu objeto de estudo e, acima de tudo, os desafios

que se apresentam ao trabalho de ensinar.

Você estudará as origens da Didática, bem como as contribuições

dos estudos desenvolvidos por autores na área.

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13UNIDADE 1

SeÇÃO 1A DiDáTicA em SuAS ORigeNS:cONcepÇÕeS e pReSSupOSTOS TeÓRicOS

Dessa ótica, o ensino – objeto nuclear da didática -, estendido

para as outras dimensões em sua globalidade, confirma o significado

e a projeção da docência como o ensino em ato. Assim, a didática

fortalece o valor global de seu objeto – o ensino – ampliando seus

marcos teóricos e fundamentando-se positivamente em outros

temas emergentes.[...] O domínio do conhecimento da didática é

essencial para o exercício da docência e apresenta-se como uma

das disciplinas nucleares do campo pedagógico; é imprescindível

para o processo de formação e desenvolvimento profissional de

professores. (VEIGA, 2006, p. 8 – grifo nosso).

Classicamente, a Didática é um campo de estudo, uma disciplina

de natureza pedagógica aplicada, orientada para as finalidades

educativas e comprometida com as questões concretas da docência,

com as expectativas e os interesses dos alunos. Para tanto, requer um

espaço teórico-prático a fim de compreender a multidimensionalidade

da docência, entendida como ensino em ato.

A compreensão do ensino como prática social concreta,

complexa e laboriosa, leva-nos a considerar a Didática como teoria

da docência. É evidente que a docência está em íntima relação com

as dimensões de ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. Integram-se,

são complementares. Não apenas coexistem, mas se interpenetram.

O ensino não existe por si mesmo, mas na relação com as outras três

dimensões.

Observando os termos destacados na citação acima, o que significa

ensinar para você?

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14UNIDADE 1

Algumas palavras e suas origens

Nesta seção, você conhecerá a origem de algumas palavras que

envolvem a ação didática do professor. É tempo de parar e refletir sobre

os termos que, muitas vezes, utilizamos sem realmente aprofundarmos

seus significados e sentidos.

Você lembra alguma situação da escola em que estudou? Lembra-se até hoje de algum professor, fato ou acontecimento significativo? O que marcou em você?

Analisando a etimologia do vocábulo ensinar, percebemos o sentido

das marcas, dos sinais que um professor um dia já imprimiu em nossa

formação, ou aquilo que nós, como professores, indicamos ou designamos

aos nossos alunos através do contato que estabelecemos na prática

pedagógica escolar.

Surge no século XI, na língua francesa (enseigner), e no século XIII, na língua portuguesa; do baixo latim insignare, alteração de insignire, que significa indicar, designar, e que pode chegar a ser compreendido como ‘marcar com um sinal’. Note que marcar pode transmitir uma ideia de imposição, mas pode, por outro lado, indicar o nascimento do caráter do estudante, uma vez que, em grego, sinal é Karakter. (LIMA et al., 2006, p. 240).

Instrução é outro termo que também revela vínculos com o ensino.

Em latim, o verbo struere, agregado à preposição in, remete-nos para o

verbo instruere, significando erguer, levantar, construir, por em ordem,

formar, dispor.

Quanto ao sentido dos verbos aprender e apreender, Anastasiou e

Alves (2006, p.14) afirmam:

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15UNIDADE 1

O apreender, do latim apprehendere, significa segurar, prender, pegar, assimilar mentalmente, entender, compreender, agarrar. Não se trata de um verbo passivo; para apreender é preciso agir, exercitar-se, informar-se, tomar para si, apropriar-se, entre outros fatores. O verbo aprender, derivado de apreender por síncope, significa tomar conhecimento, reter na memória mediante estudo, receber a informação de...

Nessa perspectiva, Freire (1996, p. 77) é quem muito contribui, ao

dizer: “[...] aprender é uma aventura criadora, algo, por si mesmo, muito

mais rico do que meramente repetir a lição dada. Aprender para nós é

construir, reconstruir, constatar para mudar [...]”.

E DIDÁTICA, O QUE SIGNIFICA?

A palavra didática deriva da expressão grega - techné didaktiké

-, que se traduz por arte ou técnica de ensinar. Foi apresentada

oficialmente por Ratke, em 1617, na obra Introdução geral à

didática ou arte de ensinar. A expressão foi, entretanto, consagrada

através de Comênio, quando escreveu a Didática Tcheca, obra

esta que foi traduzida para o latim (1633) com o título Didactica

Magna: tratado universal de ensinar tudo a todos (publicada em

1657). Essa obra é considerada um marco significativo no processo

de sistematização da Didática, popularizando-se na literatura

pedagógica. O qualificativo Magna expressa o caráter universal

das conquistas do homem no início da Idade Moderna. Já o termo

tratado refere-se a um conjunto de princípios que orientariam o

novo ensino. Arte em referência à imitação que os artesãos faziam,

segundo os modelos da natureza. Universal: a didática adquire a

amplitude dos conhecimentos sociais para que fossem ensinados.

Por fim, uma didática para ensinar tudo a todos (mulheres, homens,

crianças e jovens, não privilegiando somente os filhos da nobreza).

(GASPARIN, 2004; OLIVEIRA, 1988).

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16UNIDADE 1

A etimologia da palavra didática indica

que a sua essência está no ensinar, isto é, “na

ação de fazer sinais, de comunicar. Comênio

explicita essa posição ao afirmar que didática

significa arte de ensinar, em que todos

os termos dessa expressão trazem, entre

seus vários sentidos, o de ação, exercício,

atividade.” (GASPARIN, 1994, p. 64).

“A didática possui uma história no processo de sua constituição

como campo de saber, pois no século XVII este campo significou uma

expressão e uma resposta às novas necessidades humanas emergentes.”

(GASPARIN, 2004, p. 85-86).

Leia os quadros abaixo para compreender ainda melhor:

A constituição da didática comeniana como uma expressão

pedagógica da transição da Idade Média à Idade Moderna fundamenta-

se, em ambos os períodos, ao mesmo tempo, traduzindo o término

de um e o início de outro. Para sermos mais precisos, representa

aquele momento específico em que do velho modo de ensinar se

passa ao novo. Não significa, todavia, que Comênio deixe o velho e

se utilize somente do novo, mas que na essência constitutiva da sua

arte de ensinar há princípios de um e de outro concomitantemente.

(GASPARIN, 1994, p.41).

A concepção de homem subjacente à didática comeniana e à

sua educação se traduz melhor na ideia de um ser criado à imagem e

semelhança de Deus e dependente dele, mas igualmente como um ser

que busca construir a si mesmo, pelo seu trabalho, sem dependência

direta de Deus. Da mesma forma, os princípios gerais da didática

exprimem o espírito conservador e renovador do momento, ou seja,

enquanto por um lado, há ênfase na memorização, na diretividade

total do professor, na exposição docente do conteúdo, na passividade

do aluno a quem cabe apenas ouvir, destaca-se, por outra parte,

como nova forma de ensino, a imitação da natureza, a observação

e experimentação, os processos das artes mecânicas, os métodos da

nova forma de trabalho e da ciência. (GASPARIN, 1994, p.41).

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17UNIDADE 1

Como você percebeu, o núcleo do pensamento didático-pedagógico de Comênio é o ENSINO. A partir do sentido etimológico, ensinar significa (Ibid., p. 66):

fazer sinais ou marcas caracterizar indicar gravar imprimir

Como você viu nesta seção, a Didática surgiu, com Comênio, como

arte de ensinar. Seria possível pensar na Didática, nos tempos atuais,

numa perspectiva artística?

Veiga contribui neste aspecto, ao dizer: “O ensino concebido como

arte requer ser pensado da ótica da ‘originalidade’, que situa o docente

como um artista que planeja sua ação como uma tarefa inconclusa, porém,

orientada pela estética criadora e de bom gosto e de deleite poético”.

Segundo a autora, “da perspectiva artística, a tarefa docente encontra na

metáfora da arte o seu referente: É arte o modo de entender, transformar

e perceber a realidade como estética poética e de forma bela. O ato de

ensinar é, portanto, uma tarefa de dupla face artística: estética e poética”.

(2006, p.15).

Leia agora o poema de autoria de Clarissa Borba Prieto, que, após interpretar a perspectiva artística presente no texto de Veiga, revela sua arte com as palavras que seguem abaixo!

DIDÁTICA: o trabalho de ensinar em sua dimensão artística

Clarissa Borba Prieto

Estética , porque não se abstém da forma, não renega a importância do que se vê, do que se toca, do que se mostra e se revela;

Estética, porque não faz do quadro, apenas um aparato do giz, não faz da porta,

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18UNIDADE 1

apenas um lugar de passar verniz, não faz da janela, apenas uma olhadela para as plantas do jardim;

Estética, porque não faz das carteiras apenas lugar de rabiscar o que se diz, não faz das cadeiras, apenas um encosto para o corpo cansado; não faz dos cartazes, apenas um recurso para memorizar o ensinado;

Estética, porque inclui sentidos e percepções; porque pressupõe orientações; porque implica planejamento para não apenas embelezar o processo de ensino, mas...

Perpetuá-lo!Todavia, ensinar também se revela numa tarefa de caráter poético.Poético, para que as palavras não se esqueçam dos conceitos;Para que a essência não se perca no dever;Para que a profissão não se desvaneça no cansaço.Poético, para que o discurso tenha também melodia;Para que a crítica tenha também, sabedoria;Para que o fazer, seja bem mais que bem fazer.Poético, para que o professor saiba ver o que não existe, para que possa cantar,

canções sem letra e,para que o professor possa acreditar em sonhos, paixões, esperança, coragem,

docência, educação e...Em seu próprio trabalho.

Na seção seguinte, você terá oportunidade de aprofundar questões

relativas ao objeto de estudo da Didática. Siga em frente!

SeÇÃO 2O eNSiNO, OBJeTO DA DiDáTicA e SeuS eLemeNTOS

Veremos agora outras contribuições de pesquisadores que se

dedicam à Didática. Parafraseando Placco (2008), não temos o objetivo

de esgotar as discussões sobre o que seja – ou deva ser – a Didática hoje,

mas sim indicar algumas questões que consideramos essenciais, além de

indicar relações possíveis e necessárias entre esta disciplina e a Formação

de Professores.

O quadro seguinte expressa algumas referências que consideramos

importantes em relação ao conceito de Didática, na ótica dos autores e

pesquisadores da área:

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19UNIDADE 1

AUTOR(A) / ANO DA

PUBLICAÇÃOO QUE É DIDÁTICA?

CANDAU, 1988

O objeto de estudo da didática é o processo de ensino-aprendizagem. Toda proposta didática está impregnada, implícita ou explicitamente, de uma concepção do processo de ensino-aprendizagem.

MOURA, 2001

A Didática é um elemento da formação do professor. Regula, num sentido amplo, o comportamento de ser professor.

AZZI; CALDEIRA, 1997

A Didática é uma disciplina que, tendo como ponto de partida a reflexão sobre uma prática, ou, mais especificamente, o processo de ensino-aprendizagem, busca, na compreensão deste, elementos que subsidiem a construção de projetos de ação didática.

CASTRO, 2001

Ensinar algo é sempre desafiar o interlocutor a pensar sobre algo. Toda a Didática apoia-se no conceito de ensino. A Didática tem como um dos seus propósitos a orientação do ensino, e para tal, necessita recorrer à reflexão de caráter teórico e à pesquisa científica.

LIBÂNEO, 1998

Didática é uma disciplina pedagógica. Tem como objeto o ensino como mediação da relação ativa dos alunos com o saber sistemático. Preocupa-se com os processos de ensino e aprendizagem, em sua relação com as finalidades educacionais.

PIMENTA, 2008

Sendo uma área da Pedagogia, a Didática tem no ensino seu objeto de investigação. O ensino é uma prática social complexa. Considerá-lo como uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva .

Quais, entre as definições acima, que melhor traduzem para você o

que é Didática?

Cordeiro situa a Didática como disciplina que discute um conjunto

de problemas e questões comuns que envolvem quase todos os tipos de

ensino, em especial o que se pratica nas escolas. São as chamadas questões

de ensino (2007, p.33). Tais temas aparecem em todas as ocasiões de

ensino cujas respostas não dependem apenas dos conteúdos.

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20UNIDADE 1

Os sujeitos que são professores aprendem a lidar com

pessoas, colocando-se em posição de aprendizes. Desenvolvem

atitudes de ensinadores. E a estes pode-se qualificar como os

que tem ou não Didática. Isto é, existe um senso comum sobre

o que pode ser considerado um bom professor: ter didática.

Esta entendida como um certo modo de organizar o ensino que

favorece a aprendizagem [...] para chegarmos a nos considerar

professor de uma área de conhecimento, primeiramente, devemos

nos identificar como professores. É por isso que inicialmente nos

identificamos com uma categoria mais geral, que é a de professor.

A Didática é este elemento comum. Poderíamos dizer ainda que a

didática geral é o elo comum da profissão professor. (MOURA, In:

CASTRO; CARVALHO, 2001, p. 145).

Outro aspecto importante refere-se à multidimensionalidade do

processo de ensino e aprendizagem. O que isso significa?

Significa que toda proposta didática contempla – implícita ou

explicitamente – uma concepção de ensino e de aprendizagem (CANDAU,

1988, p.13), isto é, para ser adequadamente compreendido, o processo

ensino-aprendizagem precisa ser analisado de tal modo que articule

consistentemente as dimensões:

humana

técnica política

Candau, na década de 80, ao criticar a visão exclusivamente

instrumental da didática, afirmou que não se pode reduzir ou negar que a

competência técnica é necessária. Porém, destacou que todas as dimensões

se exigem reciprocramente, pois “a prática pedagógica, exatamente por

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ser política, exige a competência técnica.” Procurava, então, apresentar o

desafio do momento (CANDAU, 1988): superar a didática exclusivamente

instrumental e construir uma didática fundamental.

Porém, ainda hoje (século XXI), nos debatemos com os significados

e a utilização desses conceitos, na formação de professores e na sala de

aula. (PLACCO, 2008, p. 735).

Veiga (1991; 2004) esclarece que a Didática configura-se como a

mediação entre o quê,

como e para quê do

processo de ensino.

A autora entende que,

enquanto teoria geral

do ensino, a Didática

generaliza o que é comum

e fundamental para a

prática pedagógica.

Aqui ficam algumas interrogações: quais os desafios que se impõem ao trabalho de ensinar na atualidade? Afinal, qual é o meu papel como professor? Provavelmente você já se questionou frente a essas questões. Por muito tempo, a ênfase no ensino como transmissão dominou as práticas didáticas escolares. O que mudou nas concepções didáticas do ensino?

Vamos à seção 3 para conferir!

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SeÇÃO 3O TRABALHO De eNSiNAR: DeSAFiOS cONTempORÂNeOS

Iniciaremos destacando a contribuição de Nadal e Papi (2007, p. 18;

19-20), ao afirmarem:

Diferentemente do que se pensa, ensinar não é algo natural,

uma tarefa simples. Ao contrário, o trabalho de ensinar é complexo,

pois envolve o elemento humano em situações únicas, imprevisíveis

[...] o ser professor constitui uma profissão complexa, pois é

uma atividade imprevisível, realizada com seres humanos, cujas

reações não podem ser cientificamente controladas, nem mesmo

pressupostas. A ideia de ensino – atividade central da docência

– é por si só contraditória, uma vez que ensinar é garantir a

transmissão, a perpetuação do conhecimento, mas tal perpetuação

não pode se fazer de modo apenas transmissivo.

Na tentativa de retomar as bases dessa contradição, vale

lembrar que sempre houve um certo consenso de que era tarefa da

escola ensinar no sentido de transmitir, repassar os conhecimentos

acumulados pela humanidade às novas gerações. A partir do

momento em que esse papel da escola e, consequentemente do

professor, passou a ser questionado e criticado como tradicional

e ultrapassado, novas pedagogias foram surgindo, sem que se

desenvolvesse, no entanto, os processos de formação necessários

para que os professores pudessem construir sua própria síntese. A

mesma lacuna pode ser constatada em relação à organização da

escola, que permaneceu inalterada.

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Consequentemente, esse processo de mudança levou

muitos professores à falsa concepção de que “o professor hoje não

ensina mais”, em função do mito da oposição entre transmissão

e construção do conhecimento. (AMARAL, 2000). Levou-os ao

“temor” de ensinar, pelo medo de serem tachados de tradicionais,

como se a metodologia que privilegia a construção do conhecimento

pelo aluno excluísse totalmente o momento da transmissão pelo

professor. Tal distorção é agravada pela “falácia de que ninguém

ensina nada a ninguém e que cada um deve construir o seu próprio

conhecimento”. (AMARAL, 2000, p. 141). Diante disso, muitos

professores perderam suas referências e não sabem mais o que é

ensinar e, muito menos, como ensinar.

Não se pode negar que é papel do professor trazer ao aluno

as informações e conhecimentos produzidos historicamente e

disponíveis. Entretanto, não se trata simplesmente de repassá-los

mecanicamente aos alunos, uma vez que o papel social da escola é

permitir a apropriação crítica, criativa, significativa e duradoura do

conteúdo. Tal compreensão permite redefinir a essência da atividade

de ensino como um processo de mediação. O professor assume,

nesse contexto, o papel de mediador entre o sujeito e o objeto de

conhecimento, criando possibilidades para que o aluno chegue às

fontes do conhecimento que estão à sua disposição na sociedade.

Frente às considerações das autoras, importa compreender que

compete ao professor a transmissão dos conteúdos histórica e socialmente

produzidos, necessários à formação dos alunos na escola. Ou seja,

entendemos que é papel do professor transmitir aos alunos aquilo que eles

não são capazes de aprender por si só, pois, como mediador, o professor

valoriza e interpreta a informação a transmitir. Ele atua como agente

cultural externo, possibilitando aos educandos o contato com a realidade

científica. (GASPARIN, 2002, p. 108). Existe, portanto, uma mediação

intencional do saber.

Na Unidade II deste livro (seção 3), você estudará sobre as relações pedagógicas e a mediação docente.

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O trabalho de ensinar – num processo dialético – desenvolve-

se através de ações intencionais que conduzem os alunos à reflexão

sobre os conceitos que estão sendo propostos. A função do professor é

apresentar, explicitar, explicar, demonstrar os conceitos científicos, social

e historicamente elaborados. (Id., p. 120-121).

Além disto, no trabalho de ensinar compete ao professor assumir

o lugar de instigar e desafiar o aluno para que este avance, isto é,

para que vá além do ponto em que está e aprenda. O professor precisa

alavancar o conhecimento do aluno (PLACCO, 2008) e, nesse contexto, os

procedimentos didáticos em sala de aula expressam a intencionalidade

de colocar o outro em situação de aprendizagem.

Ser professor significa exercer uma profissão que tem um campo de

atuação específico, que não se esgota na sala de aula, mas que tem nela

o seu lugar privilegiado. Imaginar-se como o responsável por tudo o que

afeta a vida dos alunos pode levar à tomada de decisões equivocadas.

(CORDEIRO, 2007, p. 135).

O trabalho do professor não se configura como uma atividade

individual, que se limita à sala de aula e às interações com os alunos

(AMIGUES, 2004, p.45), ao contrário, o trabalho docente é um ofício

como qualquer outro, sendo uma atividade regulada (explícita ou

implicitamente), coletiva e também contínua de invenção de soluções.

E você, como vê e percebe o trabalho do professor atualmente?

Quais os desafios que se apresentam ao nosso ofício?

[...] o professor é, ao mesmo tempo, um profissional

que prescreve tarefas dirigidas aos alunos e a ele mesmo; um

organizador do trabalho dos alunos, que ele deve regular ao

mesmo tempo em que os mobiliza coletivamente para a própria

organização da tarefa; um planejador, que deve reconceber as

situações futuras em função da ação conjunta conduzida por

ele e por seus alunos, em função dos avanços realizados e das

prescrições. (AMIGUES, p. 49).

Pensando sobre as questões desta seção, que referenciam os desafios

contemporâneos e que se impõem no processo de ensinar, observa-se a

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complexidade que caracteriza o ensino, que não corresponde a uma ação

mecânica e marcada pela atividade em si. De acordo com Veiga (2006), o

ensino, o ato de ensinar, busca o aparato em uma diversidade de ações,

exige do professor saberes consistentes sobre sua disciplina, requer o

domínio das formas pelas quais os alunos se apropriam dos conhecimentos

e também traz a necessidade da compreensão das metodologias de ensino,

investigação e avaliação.

Refletindo ainda sobre o ato de ensinar, Veiga (2006) novamente

contribuiu, apontando os desafios que se impõem à prática docente,

vinculados aos escritos de Nadal e Papi (2007).

O ensino é complexo e requer um marco teórico cada vez mais indagador e rigoroso para investigar os fundamentos e as práticas formativas. Desse modo, o ensino estabelece relações com os fatores contextuais ao refletir sobre os valores mais amplos da sociedade em que vivem os alunos, mas também aqueles que são mais próximos e localizados. Concebido dessa forma, o ensino responde a três desafios: em primeiro lugar, é uma tarefa humana, pelo fato de trabalhar com ‘seres humanos, sobre seres humanos, para seres humanos’ como afirmam Tardif e Lessard (2005, p. 31); tem em seguida o desafio da dimensão afetiva, do compartilhamento, da interação; apresenta, enfim, o desafio de seu papel cognitivo, pelo fato de permitir que cada aluno construa seu conhecimento [...]. Em suma, o ensino é carregado de razão e emoção, é o espaço para a vida, para a vivência das relações entre professores e alunos, para a ampliação da convivência socioafetiva e cultural dos alunos. (VEIGA, 2006, p. 31-32).

A questão que norteou o estudo desta primeira unidade voltou-se para a especificidade da didática. Compreender as questões de ensino, presentes na prática pedagógica, implica necessariamente ter como horizonte maior a aprendizagem escolar, porque, como Placco acentua, e muito bem, “tenho entendido didática como a aproximação sistemática e circunstanciada aos processos de ensino e aprendizagem”. (2008, p. 738).

Reconhecer que o professor didático é aquele que articula as dimensões humana, técnica e política na prática pedagógica escolar, implica assumir que, como docente, é, ao mesmo tempo, um sujeito - com suas características pessoais -, um representante da escola e um adulto encarregado de transmitir o patrimônio humano e também suas experiências às gerações mais novas. (CHARLOT, 2005, p.77).

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“Ensinar, portanto envolve uma disponibilidade para lidar com o outro e compreendê-lo. Ensinar envolve gosto e identificação com a docência. Ensinar pressupõe construção do conhecimento [...]”. (VEIGA, 2006, p. 24-25).

1) Consulte o site: http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/didaticamagna.pdf . Acesse a obra Didática

Magna, de Comênio.

2) Para ampliar seus conhecimentos sobre as origens da Didática e seu desenvolvimento no Brasil, leia:SANTOS, L. L. C. P.; OLIVEIRA, M. R. N. S. Currículo e didática. In: OLIVEIRA, M. R. N. S. (Org.). Confluências e divergências entre didática e currículo. Campinas: Papirus, 1998, p. 9-32.FARIAS, I. M. S. et al. Didática e docência: aprendendo a profissão. Brasília: líber Livro, 2009. p. 13-28.

3) Assista ao documentário PRO DIA NASCER FELIZ, de João Jardim, que retrata o dia-a-dia de alunos em seis escolas, testemunhando a complexidade e os desafios do ensino brasileiro. Veja também o trailer do filme no endereço http://www.prodianascerfeliz.com/

4) Sugestão de leitura:DUARTE, Newton. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Cad. CEDES, Campinas, v. 19, n. 44, Apr. 1998. Disponível em: < h t t p : / / w w w . s c i e l o . b r / s c i e l o . p h p ? s c r i p t = s c i _ a r t t e x t & p i d = S 0 1 0 1 -32621998000100008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: jan. 2009.

1) Elabore um conceito de didática, destacando o papel desta disciplina em sua formação docente.

2) Interprete a frase: “Sendo uma área da Pedagogia, a didática tem no ensino seu objeto de investigação.

O ensino é uma prática social complexa. Considerá-lo como uma prática educacional em situações historicamente situadas significa examiná-lo nos contextos sociais nos quais se efetiva.” (PIMENTA, 2008).

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IDA

DE IIDidática e

ação docente

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Reconhecer a inter-relação entre as dimensões do processo didático.

Identificar a relação existente entre transposição didática, contextualização e interdisciplinaridade, no que se refere ao processo didático.

Compreender a concepção de professor mediador no que concerne à relação pedagógica construída em sala de aula.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1 – As dimensões do processo didático na ação docente

SEçãO 2 – Transposição didática, contextualização e interdisciplinaridade

SEçãO 3 – A relação pedagógica na sala de aula: o professor mediador

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pARA iNÍciO De cONVeRSA

Caro(a) aluno(a), ao ler o título desta unidade: Didática e ação

docente, é possível pensar:

- Existe relação entre Didática e ação docente?

- Como a Didática contribui para o trabalho docente?

Poderíamos incluir tantas outras questões sobre a Didática e a

ação docente, porém, optamos pela apresentação das palavras de Duarte

(1999), que são explicitadas no prefácio do livro: Educação Escolar, Teoria

do Cotidiano e a Escola de Vigotski, as quais revelam de forma objetiva a

seguinte compreensão:

“[...] a ação educativa se dirige sempre a um ser humano

singular (o educando), é dirigida por outro ser humano singular

(o educador) e se realiza sempre em condições (materiais e não

materiais) singulares.”

A ação docente, sendo direcionada aos alunos, revela sempre uma

intenção. Certamente requer do professor especial atenção com relação

aos conteúdos a serem desenvolvidos, havendo a necessidade de conhecer

os alunos. Para que isso se concretize, é preciso o professor conhecer e

compreender o processo didático, que envolve o ensino, a aprendizagem,

a pesquisa e a avaliação.

Percebemos que para desenvolver a ação pedagógica, o professor

precisa dominar conhecimentos didáticos que subsidiam seu trabalho e

respaldam as ações no contexto da sala de aula, possibilitando a tomada

de decisões.

Nesta seção, você terá a oportunidade de compreender conceitos

relativos ao processo didático, pois discutiremos sobre transposição

didática, contextualização, interdisciplinaridade, além de refletir sobre o

papel do professor mediador em sala de aula.

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“O senhor mire, veja... o maisimportante e bonito do mundo é isto:

que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas,

mas que elas vão sempre mudando.Afinam ou desafinam.

Verdade maior.”(Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa)

SeÇÃO 1AS DimeNSÕeS DO pROceSSO DiDáTicONA AÇÃO DOceNTe

“[...] Se o que se pode ver, ouvir, pegar, medir, pesar

Do avião a jato ao jaboti

Desperta o que ainda não, não se pôde pensar

Do sono do eterno ao eterno devir

Como a órbita da terra abraça o vácuo devagar

Para alcançar o que já estava aqui

Se a crença quer se materializar

Tanto quanto a experiência quer se abstrair

A ciência não avança

A ciência alcança

A ciência em si”

(A ciência em si – Gilberto Gil)

Com relação ao trabalho docente, os processos de ensino e de

aprendizagem precisam vincular-se um ao outro?

Quais são as dimensões que compõem o processo didático?

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Freire (1996, p. 68) esclarece que, na docência, o professor precisa

mover-se com muita clareza em sua prática, sendo necessário: “[...]

conhecer as diferentes dimensões que caracterizam a essência da prática,

o que pode me tornar mais seguro no meu próprio desempenho”.

As dimensões mencionadas por Freire (1996) são tratadas com

propriedade por Veiga (2004), quando enfatiza que o processo didático

acontece de forma relacional, sem dicotomias entre o ensinar, aprender,

pesquisar e avaliar.

Enfatizar o processo didático sob a perspectiva relacional significa analisar suas características a partir de quatro dimensões: ensinar, aprender, pesquisar e avaliar. O processo didático, assim, desenvolve-se mediante a ação recíproca e interdependente das dimensões fundamentais. Integram-se, são complementares. O processo didático se explicita pela ação docente das quatro dimensões – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – considerando também a relação pedagógica, as estratégias de aprendizagem, de investigação e os caminhos didático e investigativo. (VEIGA, 2004, p. 13).

Não basta ao professor ensinar, é necessário que se efetive a

aprendizagem, porém somente os dois elementos do processo didático não

são suficientes para dar conta da complexidade do trabalho pedagógico.

É preciso ainda, considerar a pesquisa e a avaliação.

Observe o relato de uma professora sobre o desenvolvimento dos

alunos e das atividades realizadas em uma turma de anos iniciais do

ensino fundamental:

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A turma começou o ano em grande expectativa! Quem seriam os seus professores? Repetiriam as atividades tão conhecidas por eles? Conseguiriam aprender?

Eu também estava preocupada e de certa forma ansiosa, pois desejava olhá-los de uma forma diferenciada, proporcionando experiências novas, prazerosas e de sucesso. Por outro lado reconhecia as minhas limitações, portanto necessitava de parcerias e da efetiva colaboração dos meus colegas... E graças a Deus nunca faltou!

Os professores uniram-se, participando e refletindo o dia-a-dia da turma, que, atualmente, conta com aulas semanais de Ciências, laboratório de Matemática e de Português, aulas de dança com a estagiária de Educação Física, oficinas de culinária e pintura em porcelana, laboratório de Informática com projeto específico de trabalho e atendimento da Sala de Recursos Especiais (SIR).

Em Ciências, foi desenvolvido o estudo dos cereais e leguminosas mais utilizados na nossa alimentação. A turma buscou informações e curiosidades sobre o trigo, feijão, milho, cana-de- açúcar e muitos outros. Descobriram a história de vários cereais, conheceram lendas indígenas e utilizaram mapas.

Nas oficinas de culinária, aprenderam noções de nutrição, o valor de uma alimentação equilibrada, higiene e medidas de capacidade. A turma colocou a ‘mão na massa’, fazendo bolos, cocadinhas, pães, gelatinas, torta de bolachas. Nossa intenção é fazer também pratos salgados e simples, como um feijão bem caseiro, porque os guris estão pedindo, para que possam em casa ‘se virar sozinhos’.Aprenderam também a ajudar uns aos outros e descobriram talentos. Todos mostraram que levam jeito para cozinhar, mas ninguém pegou e cortou uma massa de pão como o Luis Homero!

Semanalmente a turma faz aula de dança, inicialmente com ritmos conhecidos como o funk. A turma se encantou com as coreografias! Gravar a sua sequência na memória é um belo exercício para o cérebro e ajuda em outras aprendizagens.

Vamos visitar o Estúdio de Dança do professor Fernando Campani e experimentar novos ritmos como a salsa, forró, samba, tango...

Para presentear as mães, aprenderam a pintar canecas em porcelana e adoraram a experiência! Foi uma atividade que exigiu muita paciência e calma. As canecas ficaram personalizadas, especiais! Pretendemos fazer um chá com bolachinhas caseiras para entregar as canecas às mães.

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No laboratório de Informática, familiarizaram-se com os computadores, construíram nosso livro de receitas virtual, pesquisaram na internet, descobriram sites interessantes[...]. Cada um de nós tem sua pasta no computador e ali guarda coisas legais.

Mais uma vez a turma superou as expectativas! No início, a Márcia não conseguia tocar com leveza no teclado do computador e ficava ‘assimmmmmm’, agora sabe dar um toque bem levinho. A Priscila Menezes e o Jefferson estão lendo! Já a Priscila Lima nos ensina diariamente o que é voluntariado, porque está sempre preocupada com a Marcinha e a ajuda em todos os momentos.

No laboratório de Matemática, estão percorrendo todo o caminho da construção do número, trabalharam com Tangram, material dourado, varetas, dominós, dinheiro, realizaram muitos jogos, contas e desafios. Aprenderam a adicionar, subtrair e agora estão construindo a Tabela Pitagórica para multiplicar e dividir!

No laboratório de Português, começaram pensando em um personagem para nos acompanhar durante o ano todo. Fizeram o desenho dele e escreveram as suas características, relatando-as aos colegas. A partir daí, começaram a registrar as histórias que eles estão vivendo. E mais surpresas: a gurizada está escrevendo muito e cada vez melhor!

Na biblioteca escolar, leram muito e mostraram grande interesse pelas poesias.

Em sala, começaram o estudo dos grandes pintores, como Volpi, Van Gogh e Hopper. Estamos pintando uma tela inspirados nesses mestres.

No momento, a turma está ajudando a escola na organização de um jardim e faz um trabalho voluntário nas turmas A23 e NA do turno da tarde. Vão estudar o ciclo da cana-de-açúcar e ganharam um mapa para ajudar na localização das regiões brasileiras.

A trajetória iniciada com a Turma de Progressão mostra que é possível, que eles podem transformar as dificuldades em superação, as dúvidas em certezas, o silêncio em ideias e possibilidades. As conquistas alcançadas devem ser creditadas aos alunos, mas também ao trabalho de toda uma escola que envolveu a turma, apoiando-a em todos os momentos. [...]

Fonte:websmed.portoalegre.rs.gov.br/escolas/montecristo/jv/jv5/lete1.html

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O relato da professora traz alguns elementos para nossa análise:

foram apresentados registros dos avanços dos alunos sobre os conteúdos

apreendidos, as experiências e situações vividas pela classe para superação

das dificuldades no processo ensino-aprendizagem e, ao final, a professora

avalia que é possível dar continuidade ao trabalho realizado.

Diante disso, vamos visualizar o esquema organizado por Veiga

(2004), que traduz as dimensões e conexões que constituem o processo

didático:

DIMENSÕES E CONEXÕES DO PROCESSO DIDÁTICO

Avaliar, pesquisar, aprender, ensinar

Aprender

AlunoProfessor

Conhecimento

Avaliar

Ensina, pesquisa, aprende, avalia

Ensinar Pesquisar

EnsinarAprender

PesquisarAvaliar

EnsinaAprende

PesquisaAvalia

ESTRATÉGIAS INDIVIDUAISDE APRENDIZAGEM E INVESTIGAÇÃO

RELAÇÃO PEDAGÓGICA

CAMINHO DIDÁTICO CAMINHO INVESTIGATIVOO que se

O que se

Adaptado por Veiga (2004). Originalmente apresentado em: QUINTANILHA, M.G. Aportes de la “didáctica como área disciplinar e la formulacion de proyectos curriculares baseados em la investigación. In: Revista pensamento educativo. vol. 23, deciembre de 1993.

No esquema acima, percebemos que existe uma relação de

interdependência entre as dimensões do processo didático, expressando

a compreensão de cada uma delas, pois não se efetivam isoladamente no

trabalho pedagógico.

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Para a organização do processo didático é preciso compreender, analisar e valorizar cada dimensão a fim de que seja possível sua organização no processo didático. (Veiga, 2004).

Qual a compreensão que você tem sobre o processo didático?

1) ENSINAR

Lembramos que na Unidade I, você teve a oportunidade de estudar

diferentes concepções sobre o ensino, mas é preciso que conheça também

as relações que são estabelecidas entre ensinar, aprender, pesquisar e

avaliar.

De acordo com Veiga (2004), a compreensão sobre o ensino não

acontece somente quando observamos os fatores que são visíveis no

ambiente de sala de aula, mas também quando percebemos que ele é

impulsionado, movido pela contradição existente entre teorias e práticas

resultantes dos próprios processos de ensinar, aprender, pesquisar e

avaliar. Além disto, é necessário considerar o nível de conhecimento que

se revela nas aprendizagens dos alunos.

Mas na docência, é possível perceber as relações apontadas pela

autora?

O entendimento das relações perpassa pela concepção que o

professor tem sobre o ensino, sendo preciso constatar que o ensino não

existe isoladamente, mas adquire significação quando está diretamente

vinculado à aprendizagem, ao processo de pesquisa e consequentemente

à avaliação.

Libâneo (1994, p. 80), esclarece:

O ensino tem um caráter bilateral em virtude de que combina a atividade do professor (ensinar) com a atividade do aluno (aprender). O processo de ensino faz interagir dois momentos indissociáveis: a transmissão e assimilação

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ativa de conhecimentos [...] Na transmissão o professor organiza os conteúdos e os torna assimiláveis, prevê as condições e os meios para a aprendizagem, [...] entretanto, a transmissão supõe a assimilação ativa, pois ensina-se para que os alunos se apropriem de forma ativa e autônoma dos conhecimentos [...]

As contribuições do autor trazem para a docência a responsabilidade

de garantia da unidade entre o ensino e a aprendizagem, pois se constituem

em “duas facetas de um processo único”. E como dizia Freire (1996),

não existe a docência sem a discência, sendo que as duas se explicam, e

aquele que ensina, sempre ensina algo a alguém.

Pensando nessas relações entre ensinar e aprender, Veiga (2004)

ressalta que o ensinar envolve a interação com os denominados “pares

didáticos”: ensinar a ensinar, ensinar a aprender, ensinar a pesquisar,

ensinar a avaliar. Explica também que existem três características

básicas no ensino que realçam a tarefa principal dos professores. A

primeira é garantir que o processo de ensino seja orgânico e coerente,

sendo conectado ao contexto social. A segunda característica é a sua

vinculação à aprendizagem, pois são processos articulados (caráter de

intencionalidade do ensino).

Já a terceira característica refere-se à visão de ensino enquanto

prática social, que, sendo específica, delimita e determina o próprio

desenvolvimento social e cognitivo dos alunos. Tal compreensão requer

do professor compromisso e responsabilidade, pois, através do ensino,

o aluno será instrumentalizado política e tecnicamente, constituindo-se

como um sujeito social.

Diante dessa última característica, a contribuição de Gasparin

(2005, p. 2), é significativa quando afirma que os conhecimentos que serão

apropriados pelos educandos, se constituem em elemento fundamental

para a compreensão da sociedade e sua consequente transformação.

Em suma, Veiga (2004, p. 16) afirma: “[...] é necessário reforçar a

ideia de que ensinar a ensinar significa construir, desencadear uma ação

inovadora entre professor e alunos”.

No que respeita ao ensinar a aprender, Romanowski (In: Veiga, 2006)

enfatiza que a finalidade central do trabalho de professores e alunos é a

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promoção da aprendizagem, e ao professor cabe a responsabilidade de

orientar, conduzir o processo de ensinar, entendendo que a aprendizagem

está associada ao ensino.

Dentre os pares didáticos apontados por Veiga (2004), o ensinar

a pesquisar está vinculado às ideias de Freire (1996, p. 29), quando

esclarece que o ensino não existe sem a pesquisa e vice-versa. Observe o

destaque a seguir, que traz uma compreensão significativa da relevância

sobre ensino e pesquisa, especialmente no que se refere ao trabalho do

professor:

Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino, porque busco, porque indaguei, porque indago

e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho e, intervindo, educo e me educo. Pesquiso

para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade.(FREIRE, 1996, p.29)

Qual sua compreensão sobre as palavras de Freire? É possível

perceber a relação entre ensino e pesquisa?

Leia atentamente as contribuições de André (In: VEIGA, 2006, p.

125), sobre o sentido de ensinar a pesquisar:

Ensinar a pesquisar é [...] criar situações e atividades que propiciem aos alunos aprender a observar, a formular uma questão de pesquisa, a encontrar dados e instrumentais que lhes permitam elucidar tal questão e os tornem capazes de expressar os seus achados e suas novas dúvidas.

O ensinar a pesquisar traz a ideia da problematização do

conhecimento, envolve a criatividade, o processo de investigação e

análise. Diante desta compreensão, Veiga (2004) chama a atenção para o

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fato de que a pesquisa, o ato investigativo, constitui-se em atividade que

é inerente ao ser humano, traduzindo-se numa das formas de conhecer o

mundo. Torna-se evidente a ideia de que ensino e pesquisa constituem-se

em atividades complementares.

E como compreender o significado de “ensinar a avaliar”?

Both (2005, p. 58), ao interpretar questões relativas ao ensinar a

avaliar, aponta que a avaliação precisa ser incorporada ao ensino, ao

mesmo tempo em que o avaliar traz sentido e objetivo para o ensino e

que avaliação e ensino constituem um processo que é interdependente,

simultâneo e também permanente.

Assim, entendemos que a avaliação, o processo avaliativo, vincula-

se diretamente ao ensinar, compreendendo que ao avaliar os alunos, o

professor também avalia seu próprio trabalho, as formas de ensinar, as

concepções que nortearam o ensino.

No próximo livro, Didática II, teremos um estudo específico sobre avaliação.

“Ensinar a avaliar significa compreender a avaliação

direcionada para o diagnóstico da qualidade dos resultados

a serem atingidos. [...] A avaliação significa acompanhar o

processo de aprendizagem.” (VEIGA, 2004, p. 18).

Como você percebeu, quando ensinamos também avaliamos, pois

temos a responsabilidade de acompanhar os progressos dos alunos em

relação à aprendizagem.

2) APRENDER

Pensando sobre esta dimensão, quais foram os conteúdos que você

aprendeu durante sua vida escolar?

Observe este exemplo de aprendizagem escolar apresentado por

Libâneo (1994, p. 80):

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O tema da aula é ‘As plantas’. No pátio da escola, cada aluno

escolheu uma plantinha. A professora pede para observarem o que

ela tem nas mãos. Surge uma conversação, a professora explica,

os alunos perguntam. A conversa se amplia: Por que as plantas

crescem? [...] Se colocarmos a planta num lugar que tenha terra e

água, mas não tenha luz, o que acontecerá? Os alunos discutem,

analisam as possibilidades, a professora vai organizando essas

ideias para sistematizar os conhecimentos. Depois há o estudo

no livro, os exercícios, a consolidação das coisas aprendidas. Os

alunos aprendem as partes das plantas e suas funções, as relações

entre água e luz, interiorizam conceitos, formam estruturas

mentais; compreendem a importância das plantas na vida social;

desenvolvem capacidades de observação, comparação, síntese e

são capazes de aplicar os conhecimentos.

O autor descreve uma situação vivenciada por professores e alunos,

enfatizando especialmente o aprender, ou seja, as interações estabelecidas

entre alunos e professores.

“Aprender é um processo ativo que ocorre no aluno e que

sofre sua influência”.

“Aprender é compreender e interpretar a realidade”.

(VEIGA, 2004).

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Como dimensão do processo didático, entendemos que o aprender

está presente no trabalho docente, pois, na escola, organizamos condições

específicas para que a aprendizagem aconteça, de forma sistemática e

intencional. (LIBÂNEO, 1994).

Diante desses apontamentos, retomamos os pares didáticos, sendo

eles: aprender a ensinar, aprender a aprender, aprender a pesquisar e

aprender a avaliar.

No que respeita ao aprender a ensinar, é importante trazer para a

discussão as ideias de Gasparin (2005, p. 2), quando se refere ao professor

e ao aluno no processo ensino-aprendizagem, afirmando que:

Ambos são coautores do processo ensino-aprendizagem. Juntos devem descobrir a que servem os conteúdos científico-culturais propostos pela escola. Nessa perspectiva, o novo indicador da aprendizagem escolar consistirá na demonstração do domínio teórico do conteúdo e no seu uso pelo aluno, em função das necessidades sociais a que deve responder.

Quanto ao aprender a pesquisar, são pertinentes as posições de

André (In: VEIGA, 2006, p. 125) quando se refere ao papel do professor

no processo de pesquisa:

É o professor que coordena todo o processo; é dele que brotam os estímulos iniciais; é ele quem orienta os alunos na busca de fontes, na escolha de métodos e na seleção de informações relevantes, é ele que os ajuda a sistematizar os dados e a avaliar os resultados.

A mesma autora destaca que, ao orientar e coordenar o trabalho de

pesquisa, os alunos se desenvolvem ativamente no processo de construção

e aprendem a pesquisar. Veiga (2004) aponta que “aprender a pesquisar”

precisa fazer parte do próprio cotidiano da escola e da sala de aula, para

que professores e alunos assumam o papel de protagonistas no processo

ensino-aprendizagem.

E o aprender a avaliar, de que forma se configura no processo

didático?

Both (2005, p. 58) esclarece:

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A avaliação é um dos aspectos principais do processo de aprendizagem. Por isso, cabe levar firmemente em conta a avaliação como elemento que permite aos professores e estudantes perceberem o quanto foi apreendido e qual o hiato existente, porventura, entre o ensinar e o apreender bem e o avaliar com pertinência.

Constatamos que a concepção de avaliação apresentada referencia

que professores e alunos percebem o desenvolvimento da aprendizagem,

avaliam e autoavaliam as construções relativas aos conteúdos escolares e

também analisam as lacunas existentes na aprendizagem. Esta compreensão

traz um significado relevante sobre o aprender a avaliar, deixando claro

que professores e alunos podem desenvolver a autoavaliação, tendo

consciência de seus papéis no processo pedagógico.

3) PESQUISAR

Com relação ao pesquisar, André (In: VEIGA, 2006, p. 126)

esclarece que a pesquisa em sala de aula requer uma mudança nas formas

convencionais de trabalho, e aponta as condições essenciais para que ela

resulte em êxito no processo ensino-aprendizagem: “[...] que os alunos

estejam intensamente envolvidos, motivados, interessados nas questões a

serem investigadas e que os professores estejam realmente convencidos

da sua relevância e da necessidade de assumir uma nova postura diante

do ensinar e do aprender.”

Observem abaixo os pares didáticos que se constituem com relação

à pesquisa (VEIGA, 2004):

Pesquisar o que se ensina: o professor se constitui em investigador de sua prática,

buscando a compreensão do que se ensina, como se ensina e

para que se ensina.

Pesquisar o que se aprende: favorece a revisão do que foi

aprendido.

Pesquisar o que se pesquisa: requer a investigação da

inexistência de relações entre o ensino e a pesquisa.

Pesquisar o que se avalia: pressupõe a interrogação sobre as concepções de avaliação que se fazem presentes no processo

ensino-aprendizagem.

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4) AVALIAR

Leia atentamente as compreensões relativas à avaliação do processo

ensino-aprendizagem:

[...] apreciação qualitativa sobre dados relevantes do processo

ensino-aprendizagem, auxilia o professor a tomar decisões

sobre o seu trabalho. (LUCKESI, 1986).

[...] avaliar pressupõe aprender. Uma vez que se avalia até que

ponto os objetivos de aprendizagem propostos são atingidos

pelos alunos? Sendo duas partes do processo educativo, a

avaliação e a aprendizagem influenciam-se mutuamente”.

(RIBAS, 2007).

A avaliação dá ao professor informações sobre o seu ensino,

permitindo-lhe identificar onde seu trabalho deixou de dar

resultados esperados, como e onde os estudantes tiveram

dificuldades, permitindo que falhas possam ser reparadas.

(KRASILCHIC, In: CASTRO e CARVALHO, (Org.). 2001, p.

168).

A avaliação está presente em todos os domínios da atividade

humana, seja por meio de reflexões informais, que orientam

as frequentes opções do dia-a-dia, seja formalmente por meio

da reflexão organizada e sistemática que define a tomada de

decisões. (DALBEN, 2004, p. 83).

Analisando essas citações, você considera que nas escolas, professores e alunos vinculam a avaliação aos processos de ensino e aprendizagem?

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Veiga (2004) afirma que a avaliação se caracteriza como um processo

relacional pela forma como os professores interagem com a escola, com os

referenciais que são construídos, os quais delimitam a seleção de critérios

para a avaliação. Também chama a atenção para o fato de que a avaliação

ultrapassa o sentido e a apreciação dos alunos, pois analisa o processo de

atividades que foram realizadas com eles, além de investigar o nível de

domínio e ainda a qualidade que obtiveram a respeito dos conteúdos.

Diante da complexidade do assunto, é preciso observar com

atenção os pares didáticos que favorecem o entendimento da dimensão

da avaliação no processo didático:

Avaliar o que se ensina:avaliar a aprendizagem está

profundamente relacionado com o processo de ensino e, portanto, deve ser conduzido como maisum momento em que o aluno

aprende. (MORETTO, 2005, p. 10).

Avaliar o que se avalia: significa o estabelecimento de relação de confiança mútua, em que todos decidem, discutem o processo

avaliativo. Prevê análise e participação de todos no que

respeita aos propósitos da escola.(VEIGA, 2004).

Avaliar o que se pesquisa: o ato de avaliar, os resultados da avaliação favorecem a melhoria

dos trabalhos em pesquisa.(VEIGA, 2004).

Avaliar o que se aprende: [...] o ato de avaliar fornece

dados que permitem verificar diretamente o nível de

aprendizagem dos alunos e também, indiretamente, determinar a qualidade do

processo de ensino, isto é, o sucesso do trabalho docente.

(HAYDT, 2006, p. 293).

Frente ao exposto, o processo didático não se constitui isoladamente,

pois requer e solicita a inter-relação entre ensinar, aprender, pesquisar e

avaliar. Em outras palavras, pressupõe que o professor precisa conhecer

com clareza as concepções de cada dimensão do processo didático.

Finalizamos esta seção recorrendo a Freire (1996, p. 47), ao expressar

a postura docente em sala de aula:

“Quando entro em uma sala de aula devo estar sendo

um ser aberto a indagações, à curiosidade, às perguntas dos

alunos, a suas inibições; um ser crítico e inquiridor, inquieto

em face de uma tarefa que tenho – a de ensinar [...].”

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SeÇÃO 2TRANSpOSiÇÃO DiDáTicA, cONTexTuALizAÇÃOe iNTeRDiScipLiNARiDADe

“Um olhar interdisciplinarmente atento recu-pera a magia das práticas, a essência de seus movimentos, mas, sobretudo, induz-nos a outras superações, ou mesmo reformulações”. (FAZENDA, 1998, p.3).

Ao visualizar a imagem, quais foram suas primeiras impressões?

Temos a intenção de que você faça uma análise sobre o significado

das imagens. Também objetivamos que ao revê-las agora, observe-as como

sendo materiais e situações que estão vinculados ao conhecimento, aos

conteúdos escolares, que trazem a condição de construção, reconstrução,

aprendizagem. Porém, algumas questões se fazem necessárias:

A escola trabalha com todos os conhecimentos que estão

sistematizados nos livros? O o professor tem a condição de desenvolver

todos os conteúdos em sala de aula?

Tais inquietações remetem, inicialmente, para o estudo de uma das

expressões que denomina esta seção: A transposição didática. Qual seu

significado e qual sua relação com o conhecimento?

A expressão transposição didática foi introduzida por Michel

Verret (1975), ao realizar um estudo sociológico da distribuição do tempo

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das atividades escolares, visando contribuir para a compreensão das

funções sociais dos estudantes. Ou seja, o sociólogo pretendia conhecer,

identificar os saberes que circulam pelo contexto escolar, analisando o

tempo destinado à apropriação dos saberes.

A partir das concepções iniciais de Verret (1975), o conceito

de transposição didática passou a se constituir em objeto de estudo e

Chevallard, pensador e educador francês, traz a seguinte contribuição:

Um conteúdo de saber que tenha sido definido como saber a ensinar, sofre, a partir de então, um conjunto de transformações adaptativas que irão torná-lo apto a ocupar um lugar entre os objetos de ensino. O ‘trabalho’ que faz de um objeto de saber a ensinar, um objeto de ensino, é chamado de transposição didática. (Chevallard, 1991, p. 39).

O conhecimento inserido no currículo escolar (objeto de estudo de

professores e alunos) é transformado, adequado, ou seja, primeiramente

existe a totalidade de conhecimentos, que é infinita (saber do sábio),

o qual precisa ser adapatdo, alterado, para que seja ensinável (saber a

ensinar), e o saber que o aluno aprendeu (saber ensinado).

A definição de Perrenoud (1993, p.25) ressalta a idéia da essência

do ensinar: “[...] ação de fabricar artesanalmente os saberes, tornando-os

ensináveis, exercitáveis e passíveis de avaliação no quadro de uma turma,

de um ano, de um horário, de um sistema de comunicação e trabalho”.

A transposição didática está presente no trabalho docente e associada

ao planejamento, pois ao refletir sobre o ato de planejar, o professor

define o conteúdo a ser ensinado e “como” será ensinado (metodologias

didáticas), sem perder de vista a totalidade do conhecimento:

O fenômeno da transposição didática põe em evidência o fato de que a disciplina escolar não é o conhecimento científico, mas uma parte dele, e, além disso, modificado. Por outro lado, é mais do que ele, porque abarca também os procedimentos para o seu ensino. (MELLO, 2004, p. 60).

Mello (2004, p.59) alerta para o fato de que a transposição didática

instrumentaliza-se através de dois recursos – a contextualização e a

interdisciplinaridade – afirmando:

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Transposição didática, interdisciplinaridade e contextualização são, na verdade, três facetas inseparáveis de um mesmo processo complexo: transformar o conhecimento em conhecimento escolar a ser ensinado e aprendido, definir o tratamento a ser dado a esse conteúdo e tomar as decisões didáticas e metodológicas que orientarão a atividade do professor e dos alunos, com o objetivo de construir um ambiente de aprendizagem.

Assim, contextualização e interdisciplinaridade estão intimamente

vinculadas à transposição didática. Vamos conhecer o significado

destes conceitos, tendo como referência o Dicionário Interativo da

Educação Brasileira (2002), que define a contextualização como “ato

pelo qual vinculamos o conhecimento à sua origem e à sua aplicação.”

Ou seja, ao contextualizar um conteúdo, o professor mobiliza o aluno

para a aprendizagem, atribui significado ao conhecimento e requer dos

alunos participação ativa, tornando-os protagonistas, pois se envolvem

no processo ensino-aprendizagem, estabelecem relações entre o

conhecimento escolar e seu cotidiano. Mello (2004, p. 62) esclarece:

Contextualizar o ensino significa incorporar vivências concretas e diversificadas e também incorporar o aprendizado em novas vivências. [...] Ao construir significados, o professor estará sempre envolvendo o aluno afetivamente, além da motivação intelectual, mais óbvia e conhecida. Em outras palavras, os significados não são neutros, incorporam valores porque explicam o cotidiano, constroem compreensão de problemas do meio social e mundial ou facilitam vivenciar o processo de descoberta.

Ao contextualizar o conhecimento, o professor pode basear-se na

vida social, em fatos do cotidiano ou da própria convivência do aluno,

considerando que os educandos vivem numa sociedade que é regida por

relações sociais, pela própria natureza e, desta forma, os alunos estão em

constante contato com a informação e diferentes formas de comunicação.

Sendo assim, o contexto, o mundo vivido, a realidade local e global

fazem a ponte, a ligação entre a vivência cotidiana e as aprendizagens

escolares.

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Penteado (2002) conceitua contextualização e significação como

dois atributos que são relativos ao processo ensino-aprendizagem. De

acordo com a autora, esses termos têm sido fortemente mencionados nos

documentos oficiais que regulamentam e orientam o trabalho com os

conhecimentos na escola.

Diante desse apontamento, a ênfase com relação à contextualização

se efetiva como decorrência de seu próprio sentido, pois ao contextualizar

um conceito ou uma ideia, o professor o coloca dentro de contornos de

situações reais, ou seja, históricas. Além de estabelecer a conexão entre o

contexto e o conhecimento, os sentidos do conhecimento são delineados,

tornam-se explícitos.

Já foram analisados os conceitos de transposição didática e contextualização, mas ainda é necessário conhecer a definição de interdisciplinaridade, pois esse termo pressupõe a ideia de interação. Leia a contribuição de Santomé (1998, p. 73-74):

O ensino baseado na interdisciplinaridade tem um grande poder estruturador, pois os conceitos, contextos teóricos, procedimentos, etc., enfrentados pelos alunos encontram-se organizados em torno de unidades mais globais, estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por várias disciplinas. Além disso, depois disso fica mais fácil realizar a transferência das aprendizagens assim adquiridas para outros contextos disciplinares mais tradicionais. Alunos e alunas com uma educação mais interdisciplinar estão mais capacitados para enfrentar problemas que transcendem os limites de uma disciplina concreta e para detectar, analisar e solucionar problemas.

O trabalho com o currículo escolar, de forma interdisciplinar,

pressupõe o processo de transferência de leis de uma disciplina para

outra, ou seja, as disciplinas se entrelaçam, são justapostas. O trabalho

na perspectiva interdisciplinar, em algumas situações, pode originar

um novo campo disciplinar, como por exemplo, a psicolinguística, que

congrega concepções e fundamentos da psicologia e do campo linguístico.

(ZABALA, 1998).

Andrade (1997, p. 95), ao propor a interdisciplinaridade concebida

como um novo paradigma curricular, retoma a compreensão da palavra,

decompondo-a:

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Inter/Disciplinar/Idade: deriva da palavra primitiva disciplinar (que diz respeito à disciplina), por prefixação (inter-: ação recíproca comum) e sufixação (-dade: qualidade, estado ou resultado da ação). Disciplina refere-se à ordem conveniente, a um funcionamento regular. Originalmente significa submissão ou subordinação a um regulamento superior. Significa também ‘matéria (campo de conhecimento determinado que se destaca para fins de estudo) tratada didaticamente, com ênfase na aquisição de conhecimentos e no desenvolvimento de habilidades intelectuais’.

A autora apresenta também quatro tipos de composição curricular:

1) Multidisciplinar: modelo fragmentado em que há justaposição

de disciplinas diversas, sem relação aparente entre si. A autora afirma

que este modelo é presente na escola ainda hoje, desconsiderando

características e necessidades do desenvolvimento cognitivo do aluno.

2) Pluridisciplinar: quando se justapõem disciplinas mais ou menos

vizinhas nos domínios do conhecimento, formando-se áreas de estudo

com conteúdos afins ou coordenação de área, com menor fragmentação.

3) Interdisciplinar: com nova concepção de divisão do saber,

frisando a interdependência, a interação, a comunicação existente entre

as disciplinas e buscando a integração do conhecimento num todo

harmônico e significativo.

4) Transdisciplinar: quando há coordenação de todas as disciplinas

num sistema lógico de conhecimentos, com livre trânsito de um campo

de saber para outro.

Andrade (1997, p. 97) também considera que, se quisermos avançar

para a organização de um currículo interdisciplinar, é preciso começar a

pensar interdisciplinarmente, isto é, ver o todo, não pela simples somatória

das partes que o compõem, mas pela percepção de que tudo sempre está

em tudo, tudo repercute em tudo, permitindo que o pensamento ocorra

baseado no diálogo entre as diversas áreas do saber.

A perspectiva interdisciplinar possibilita a descrição ou explicação

de um fenômeno tendo como referência os “olhares”, os enfoques e

conhecimentos de diferentes disciplinas do currículo.

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Você pode estar pensando:

Qual a razão que nos motiva a conceber a interdisciplinaridade na

escola?

Observe o que diz Andrade (1997, p. 101) quando destaca as razões

psicopedagógicas que nos levam a propor um currículo interdisciplinar:

Os avanços significativos da psicologia genética nos permitem hoje conceituar, com Piaget, inteligência como a capacidade de estabelecer relações; confrontar, com Vigotsky, o desenvolvimento de conceitos espontâneos e científicos [...] todos estes avanços exigem um repensar do currículo escolar, baseado na ideia de rede de relações, eliminando-se os ‘redutos disciplinares’, em prol de uma proposta interdisciplinar.

Libâneo (2002, p. 80) esclarece que o professor considera a

organização do currículo - que é disciplinar - mas ressalta que a

interdisciplinaridade tem seu início: “[...] em cada disciplina, quando

você dá conta de lidar com os assuntos de sua matéria de uma forma

globalizante, isto é, tratar cada assunto nas suas relações, nas suas

ligações com outros conhecimentos, quando você insere sua matéria num

todo maior.”

Agora, observe as considerações do mesmo autor, no que respeita à interdisciplinaridade:

Não há dúvida de que a interdisciplinaridade é uma exigência de um ensino que se quer crítico. Entretanto, a proposta de ensino interdisciplinar só se justifica se servir de instrumento de efetivação da sistematização e consolidação de conhecimentos.Nesse entendimento, interdisciplinaridade é princípio do processo de conhecimento e ao mesmo tempo metodologia de trabalho entre especialistas. Mas isso não é incompatível com a organização do conhecimento por disciplinas, porque é através dessa organização que se manifesta o conteúdo das várias ciências. A questão é entender cada disciplina como parte de um todo maior, que é o currículo. Vamos das partes ao todo e do todo às partes, para reconhecer que as partes são constitutivas do todo, mas não esgotam

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o todo se tomadas em si mesmas.Com isso, as matérias são fontes de conteúdos, mas não têm um fim em si mesmas, são partes de um todo maior. Isso significa que cada disciplina do currículo é ingrediente prévio necessário da interdisciplinaridade. Interdisciplinaridade supõe a especificidade das disciplinas e não a negação destas.No meu modo de entender, a interdisciplinaridade começa em cada disciplina, no sentido de que cada objeto de conhecimento é considerado nas suas múltiplas relações. Significa inserir um tema, um assunto, num contexto maior, isto é, numa totalidade.Isso não significa negar cada matéria em nome da totalidade. A totalidade da realidade é infinita, inesgotável. Significa estudar um assunto como fazendo parte de um todo orgânico, onde cada elemento, cada aspecto, é visto na sua relação com o conjunto.A compreensão de um assunto implica pensar a realidade, pensar um assunto nas suas várias relações. Requer um trabalho planejado, intencional, a partir da especificidade da matéria ensinada.Com base nestas ideias, a interdisciplinaridade aparece como princípio, tendo como objetivo final a integração entre as disciplinas. A base para a integração seria a explicitação das formas de conhecimento de cada matéria, unidas numa perspectiva metodológica comum em relação à concepção de processo de conhecimento. (LIBÂNEO, 2002, p.72).

Todavia, é necessário salientar que os conceitos aqui desenvolvidos

estão vinculados com a dinâmica da relação pedagógica na escola. Para

termos uma escola interdisciplinar, é preciso resgatar a inteireza do ser

e do saber e o trabalho em parceria. (ANDRADE, 1997, p. 101). Estudar

sobre o professor, enquanto mediador na sala de aula, contribuirá para

você aprofundar este tema. Vamos lá?

SeÇÃO 3A ReLAÇÃO peDAgÓgicA NA SALA De AuLA:O pROFeSSOR meDiADOR

Em Saint-Onge (2001, p. 211), encontramos um esquema que

expressa as relações que constituem o ensino. Segundo o autor, “ensinar

é essencialmente trabalhar para estabelecer uma relação de um tipo

particular, a relação pedagógica, uma relação que guia uma pessoa na

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aquisição de novas capacidades.”

No esquema a seguir, o autor indica a relação pedagógica, que se

estabelece graças a três relações distintas, mas em interação.

Conhecimentos professor / professora

Aluno

RELAÇÃO DIDÁTICA

RELAÇÃO DE MEDIAÇÃO

RELAÇÃO DE ESTUDO

Como você compreendeu o esquema? Reflita sobre as relações que

constituem o ensino.

De acordo com Saint-Onge, a relação didática expressa uma

relação que se estabelece entre o professor e a matéria a ser ensinada.

Objetivamente, sabemos que quando um professor precisa ensinar

determinados conhecimentos, adquire nova compreensão de sua

disciplina, reestruturando o conteúdo com finalidades didáticas.

Já a relação de estudo coloca o aluno diante dos conhecimentos a

aprender, pois é ele quem deve apropriar-se dos conteúdos.

Sendo o ensino uma interação cognitiva entre professor e alunos,

a relação de mediação assegura “a qualidade do encaminhamento do

aluno em sua busca do saber. Ao longo da interação que se estabelece

entre a professora [...] e o aluno, encontram-se as atividades que visam

aos processos intelectuais de pensamento e raciocínio”. (SAINT-ONGE,

2001, p. 214). O autor traz importante contribuição de Hyman (1974) para

a compreensão das atividades do professor em duas categorias na relação

de mediação: operações lógicas, que visam à ativação dos processos

mentais dos alunos, e as operações estratégicas, que visam influenciar o

andamento da aprendizagem do aluno, guiando as atividades intelectuais.

Deste modo, o professor, na relação de mediação com o aprendiz

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(operações lógicas), expõe, define, explica, compara, associa, justifica,

etc. Também questiona, verifica, encoraja, avalia, motiva, etc. (operações

estratégicas).

Podemos perceber, frente ao exposto, que ao desempenhar o papel

de mediador, o trabalho do professor se desenvolve através de outras

múltiplas relações, onde se situam os alunos e os instrumentos necessários

para operacionalizar o trabalho pedagógico de sala de aula. Se pudéssemos

resumir o ensino, numa só frase, poderíamos dizer: ensinar consiste em

estabelecer uma relação. (SAINT-ONGE, 2001).

O papel do professor na relação direta com seus alunos e com o

conhecimento no espaço de sala de aula tem sido objeto de discussão

presente no meio acadêmico. Importa-nos, aqui, a abordagem da

mediação voltada para a ação didática na aula, que “pelos seus elementos

constitutivos, faz parte de uma rede que se lança e que guarda relações

com a totalidade social”. (ARAÚJO, 2008, p. 60).

Veja o que Maheu afirma sobre o significado de mediar, na esfera

educativa:

Mediar não significa tão somente, efetuar uma passagem, mas intervir no outro polo, transformando-o. A mediação na esfera educativa guarda o sentido da intervenção sob inúmeras formas, desde as modalidades mais amplas — como a mediação sociopolítica que pratica a escola/o fenômeno educativo face aos alunos que se formam — às modalidades que se inserem no âmbito da prática pedagógica, onde se posiciona, primordialmente, o professor como mediador.1 (MAHEU, 2001, p. 45 - grifo nosso).

Se mediar é intervir, como vimos, quais seriam as características da

mediação pedagógica?

1 Maheu (2001) tem como ponto de destaque em sua tese a referência aos estudos de Yves Lenoir, da Universidade de Sherbrooke, Québec, Canadá. A autora desenvolve o conceito de mediação cognitiva (que se dá entre sujeito e objeto de conhecimento), o que pressupõe da ação docente uma outra mediação: a mediação didática, capaz de tornar desejável e assimilável o objeto de conhecimento ao sujeito cognoscente. “A mediação didática, por assim dizer, consiste em estabelecer as condições ideais à ativação do processo de aprendizagem” (MAHEU, 2001, p. 69).

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Em Masetto (2000, p. 145) encontramos indicativos importantes

para essa questão: “dialogar permanentemente [...]; apresentar perguntas

orientadoras; orientar nas carências e dificuldades técnicas ou de

conhecimento quando o aprendiz não consegue encaminhá-las sozinho;

desencadear e incentivar reflexões”. Mediação pedagógica, para o autor,

compreende a atitude e o comportamento docente enquanto um facilitador,

incentivador ou motivador da aprendizagem, colocando-se como uma

ponte – não estática - entre o aprendiz e sua aprendizagem. Percebemos,

na concepção de Masetto, a relação com a própria etimologia do termo

mediação, como vimos anteriormente: mediar é aproximar as partes, é

servir como intermediário. Ao indicar o papel do professor na disposição

de atuar como ponte, entendemos que ele estará aproximando o aluno do

conhecimento, ou seja, atuando como intermediário, enfim, colaborando

no processo de consolidação das aprendizagens do aluno.

Podemos constatar também no pensamento de Nadal e Papi (2007,

p. 21) exemplos importantes sobre a presença da mediação.

À medida que o ensino passa a ser entendido como um processo de mediação, o professor deixa de ser o centro do processo para tornar-se uma ponte entre o aluno e o conhecimento. Assim, as perguntas costumeiras do professor, como: ‘O que devo ensinar?’, ‘Como poderei ensinar todos os conteúdos?’, são substituídas por: ‘Quais são os conteúdos prioritários em termos de compreensão dos alunos?’, ‘Como sei se eles estão compreendendo esses conteúdos?’, ‘Quais as expectativas dos alunos em relação às aulas e à disciplina como um todo?’

Segundo as autoras, a mediação está presente quando:

o professor faz perguntas;

dá devoluções aos alunos sobre suas colocações e produções;

problematiza o conteúdo com o objetivo de colocar o pensamento do

aluno em movimento;

estimula os alunos a dialogarem entre si sobre suas atividades.

Cordeiro (2007), ao discutir também o tema, examina a relação

pedagógica sob três amplas dimensões: linguística, pessoal e cognitiva.

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LINGUÍSTICA: a relação pedagógica se estabelece em grande parte

através do discurso, diálogo ou linguagem, nas práticas desenvolvidas

em sala de aula.

PESSOAL: indica que as relações entre professor e alunos são

marcadas pela assimetria, considerando que existe a interferência da

noção de autoridade e é necessário admitir que se trata de relações que

são definidas com finalidades relacionadas a objetivos externos, sejam

eles o conhecimento, o ensino e a aprendizagem.

COGNITIVA: ratifica a ideia de que o processo de ensino e

aprendizagem tem como referência a relação triádica estabelecida entre

professor, aluno e conhecimento.

Na segunda unidade deste livro, privilegiamos as questões pertinentes ao processo didático. Você percebeu que, sendo o ensino um processo intencional, implica uma relação, ou seja, um ciclo de trocas estabelecido entre o conhecimento, os professores e os alunos.

O enfoque aqui desenvolvido sobre as questões referentes à transposição didática, contextualização e interdisciplinaridade, teve como pressuposto a compreensão de que, ao ensinar, os professores selecionam os conhecimentos escolares que serão trabalhados em situação didática.

Outro aspecto abordado diz respeito ao papel de mediador que é tão discutido atualmente. Como você percebeu, o trabalho do professor se desenvolve através de múltiplas relações, em que se situam os alunos e os instrumentos necessários para operacionalizar o trabalho pedagógico de sala de aula. A Unidade III complementará estas discussões, ao tratar das Metodologias Didáticas.

1) Sugerimos que você consulte os seguintes endereços eletrônicos, pois poderá explorar o conteúdo Transposição didática, ampliando sua leitura e compreensão sobre o tema:

http://www.ichs.ufop.br/perspectivas/anais/GT0509.htm.http://www.educacaoonline.pro.br/transposição_didática.asp?f_id_artigo=196http://www2.dbd.puc-rio.br/pergamum/tesesabertas/0212105_04_cap_03.pdf

2) Em relação ao processo didático, recomendamos a leitura do capítulo referenciado a seguir, que contribuirá para sua reflexão.

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NADAL, B.G.; PAPI, S. O.G. O trabalho de ensinar: desafios contemporâneos. In: NADAL, B.G. (Org.). Práticas Pedagógicas nos anos iniciais: concepção e ação. Ponta Grossa: UEPG, 2007.

As autoras tratam com propriedade sobre o significado do ensinar e apresentam um esquema que contempla todos os elementos componentes do processo de ensino: aluno, conhecimento, professor e situações didáticas.

3) Leia o texto, que expressa a concepção de processo didático segundo Libâneo (2002, p. 6), tema que você estudou na seção 1, da Unidade II:

[...] a Didática cuida dos objetivos, condições e modos de realização do processo de ensino. Em que consiste o processo de ensino e aprendizagem? O princípio básico que define esse processo é o seguinte: o núcleo da atividade docente é a relação ativa do aluno com a matéria de estudo, sob a direção do professor. O processo de ensino consiste em uma combinação adequada entre o papel de direção do professor e a atividade independente, autônoma e criativa do aluno. O papel do professor, portanto, é o de planejar, selecionar e organizar os conteúdos, programar tarefas, criar condições de estudo dentro da classe, incentivar os alunos, ou seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria aprendizagem. Não há ensino verdadeiro se os alunos não desenvolvem suas capacidades e habilidades mentais, se não assimilam pessoal e ativamente os conhecimentos ou se não dão conta de aplicá-los, seja nos exercícios e verificações feitos em classe, seja na prática da vida. Podemos dizer, então, que o processo didático é o conjunto de atividades do professor e dos alunos sob a direção do professor, visando à assimilação ativa pelos alunos dos conhecimentos, habilidades e hábitos, atitudes, desenvolvendo suas capacidades e habilidades intelectuais. Nessa concepção de didática, os conteúdos escolares e o desenvolvimento mental se relacionam reciprocamente, pois o progresso intelectual dos alunos e o desenvolvimento de suas capacidades mentais se verificam no decorrer da assimilação ativa dos conteúdos.

4) Sugerimos filmes que contemplam temáticas abordadas nesta unidade:

Coach Carter: treino para a vida

Acesse também http://www.espacoacademico.com.br/082/82lima.htm para conhecer uma análise feita sobre o filme Escritores da Liberdade.

Escritores da Liberdade Entre os muros da escola

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1) Considerando as dimensões do processo didático apresentadas nesta unidade, destaque as relações que estão presentes entre ensinar, aprender, pesquisar e avaliar.

2) Expresse sua compreensão sobre o papel do professor enquanto um mediador na sala de aula.

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metodologias didáticas

ObjetivOs De aPRenDiZaGem

Identificar as características dos métodos de ensino mútuo, individual e simultâneo quanto à organização do ensino.

Reconhecer que os métodos e técnicas de ensino são instrumentos importantes para a mediação pedagógica em sala de aula.

Analisar as diferentes possibilidades didáticas para a gestão e organização da sala de aula.

ROteiRO De estUDOs

SEçãO 1 – Ensino individual, mútuo e simultâneo: métodos de ensino na didática escolar

SEçãO 2 – A gestão da sala de aula e a organização do seu espaço

SEçãO 3 – O trabalho em grupos na sala de aula

SEçãO 4 – Métodos e técnicas de ensino

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pARA iNÍciO De cONVeRSA

“Não, não tenho caminho novo.

O que tenho de novo é o jeito de caminhar.”

Thiago de Mello

Nesta unidade, você terá a oportunidade de estudar sobre as

metodologias didáticas e as possibilidades de organização das atividades

em sala de aula, percebendo o objetivo do trabalho em grupos no processo

ensino-aprendizagem. Inicialmente, apresentaremos três modalidades

de organização do ensino, que, historicamente, expressam relações

diferenciadas entre professor e alunos: ensino individual, mútuo ou

monitorial e simultâneo.

Você perceberá que, quando falamos sobre a dimensão metodológica

do trabalho pedagógico, contemplamos também a forma de gestão das

atividades em sala de aula. Importante se faz pensar na diversidade de

ritmos e interesses na aprendizagem dos alunos.

Pensar em métodos e técnicas de ensino abrange também

compreender a sala de aula como um grupo social, na qual as trocas e

as interações afetam a todos e a cada um dos atores nela envolvidos.

(SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998).

Convidamos você a percorrer conosco estes estudos, envolvendo-

se nas reflexões sobre teorias e práticas que nos auxiliarão a repensar

melhor o fazer didático.

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SeÇÃO 1eNSiNO iNDiViDuAL, mÚTuO e SimuLTÂNeO:mÉTODOS De eNSiNO NA DiDáTicA eScOLAR

A vida da sala de aula, dos indivíduos e dos grupos que nela se desenvolvem tem muitas formas diferentes de ser e diversos modos de manifestação em virtude das trocas e interações que se produzem, tanto na estrutura de tarefas acadêmicas como nos modos de relação social que se estabelecem. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1988, p.81).

A princípio, vamos tratar a respeito de diferentes métodos de ensino,

enquanto possibilidades de organizar a sala de aula para a aprendizagem

dos alunos. Mais do que expressarem formas diversas de organizar o

ensino, esses métodos expressam também relações diferenciadas entre

professores e alunos.

Ao referenciar esta temática (NOT, 1987; ARAÚJO, 2006; LESAGE,

1999), percebemos que as modalidades de ensino possuem uma história,

sendo necessário compreender sua repercussão na prática escolar.

O livro A invenção da sala de aula, de autoria de Dussel e Caruso (2003, Editora Moderna) traz uma análise histórica muito bem apresentada sobre a constituição da sala de aula, em diferentes modalidades, como você está estudando aqui.

1. Ensino individual

O objetivo era atender à educação intelectual e moral da criança (ou

adolescente) de uma família (geralmente em sua casa), o que implicava

uma relação intersubjetiva entre o preceptor e o aluno.

Herbart (apud ARAÚJO, 2006, p.19), em sua obra Informes de

um preceptor, publicada em 1924, relata a sua experiência com filhos

de uma família aristocrática, “traduzindo significativamente tais

relações intersubjetivas de caráter moral e intelectual”. Destacamos

aqui uma citação da referida obra: “Estou seguro de que, se me fosse

possível dedicar-lhe bastante tempo, não necessitaria admoestá-lo

nunca; porém isso não é possível, e hei de estimulá-lo para que estude

somente o que ele necessita”. A concepção de Herbart (1776-1841) era

basicamente intelectualista e individualista, marcas presentes no método

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tradicional. Segundo ele, o professor deveria ser um atento indagador

da individualidade dos estudantes, para poder efetivamente guiá-los e

educá-los. (CAMBI, 1999, p. 435).

Registra-se também que o ensino individual não se realizou somente

pelos preceptores, mas também nas zonas rurais (situadas em contexto

europeu), que tinham o privilégio de dispor de uma escola. Lesage (1999,

p.10) afirma que alguns aspectos característicos do método de ensino

individual merecem ser lembrados: o professor chama sucessivamente

para perto de si cada aluno e lhe dá atenção por alguns minutos.

“O ensino individualizado recebeu inúmeras críticas por demandar

muito tempo e ser moroso, não apresentava resultados desejados no que

concerne ao atendimento a um maior número de alunos”. (SILVA, 2008,

p. 26).

2. Ensino simultâneo

Atribui-se a Jean Battiste de La Salle (1651-1719), sacerdote francês,

a idealização deste método de ensino.

O ensino ministrado pelos irmãos das escolas cristãs/lassalistas é de outra qualidade. É coletivo e apresentado a grupos de alunos reunidos em função da matéria a ser estudada. O ensino dado pelo professor não se dirige mais a um único aluno, como no modo individual, mas pode atender a cinquenta ou sessenta alunos ao mesmo tempo. (LESAGE, 1999, p. 11).

O ensino simultâneo é definido como a situação clássica em

que o professor se dirige a um conjunto de alunos numa turma. Essa

modalidade vigora na educação escolar ocidental, desde os meados do

século XIX até os dias atuais. (ARAÚJO, 2006, p. 21). No que respeita

à relação professor e alunos, estes se reúnem sob a orientação daquele,

para que o conhecimento seja transmitido simultaneamente a um grupo,

conforme a concepção tradicional. A ação é de caráter coletivo, reunindo

as interações de um grupo de mais ou menos 40 alunos (como é comum

até hoje).

Not (1987, p.121-123) apresenta os aspectos sociais das situações

didáticas presentes no ensino simultâneo. Segundo o autor:

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sob a forma expositiva, o ensino simultâneo é indiferenciado, pois o

professor dirige-se ao auditório no seu conjunto, mas não tem que estabelecer

nenhuma relação com os indivíduos, fornecendo a todos, simultaneamente,

as mesmas informações. A comunicação é em sentido único (de professor

para aluno) e a comunicação no interior do grupo é proibida;

a alternância exposição-interrogação permite solicitar a atividade

intelectual: neste modelo, o professor expõe ou então dirige-se a um ou

a outro aluno para apresentar qualquer coisa, para interrogar ou para

solicitar uma atividade. Quando se quer interrogar, diz o autor, parece

vantajoso apresentar, primeiramente, a questão ao conjunto sem designar

ninguém, pois assim cada um sente-se envolvido, reflete e prepara

uma resposta; num segundo momento, interpela-se um ou outro aluno.

Multiplica-se este tipo de intervenção para fazer participar um número

de alunos tão elevado quanto possível.

As desvantagens do ensino simultâneo apontam para o fato de

que não possibilita ao professor ocupar-se de cada aluno, e aqueles que

apresentam certa dificuldade ficam em desvantagem.

Na realidade, quando se solicita a participação dos alunos através

das perguntas, via de regra os mais rápidos (ou melhores) “rebocam”

os menos bons. As respostas tendem a ser dadas pelos alunos que já

compreenderam e não refletem bem as dificuldades encontradas por

outros alunos (tanto os que ainda não têm resposta para dar, como os

que se abstém de falar para passarem despercebidos). Desta forma, a

homegeneidade pode ser ilusória. (NOT, 1987, p.123).

Apesar de superar o ensino individual, no ensino simultâneo

o grande número de alunos em sala de aula causava certo

tumulto, prejudicava a disciplina e, em decorrência, o rendimento.

Mesmo assim, vai se consolidando como o que melhor atende às

especificidades da instrução escolar, sendo sua eficácia atribuída

ao melhor aproveitamento do tempo escolar pelos professores e

alunos, o que não ocorria na modalidade individual. Isso fez com

que, ainda hoje, esteja presente na educação, estimulado também

pelo advento dos grupos escolares. A implementação do ensino

simultâneo somente se torna possível com a produção de materiais

didático-pedagógicos como livros didáticos, adaptados às matérias

do currículo, cadernos e quadro-de-giz. (SILVA, 2008, p. 28)

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3. Ensino mútuo ou monitorial

Foi introduzido por educadores europeus: Andrew Bell (1753-

1832) e Joseph Lancaster (1778-1838) – daí ser conhecido como ensino

lancasteriano.

O princípio fundamental desse método está na reciprocidade do

ensino entre os alunos: o mais capaz – monitor – servindo de professor

àquele que é menos capaz, e assim o ensino poderia avançar com um

número grande de alunos. Através do método monitorial, divide-se a

responsabilidade entre o professor e os alunos monitores. O monitor

coordena o trabalho de aprendizagem por setores, num único salão

com até 100 mesas, com gráficos e cartazes nas paredes. Os alunos

são misturados em relação à idade e adiantamento de estudos (grupo

heterogêneo), e assim, um só professor dá conta de um grande número

de alunos, já que conta com o trabalho dos monitores (daí ser conhecido

como método monitorial).

Uma das deficiências dessa modalidade é apresentada por Not (1987,

p. 138) ao dizer que quem ensina - monitores - não domina suficientemente

o que ensina para poder adaptar à diversidade de reações dos alunos

(ensinados) e proceder às alterações e transposições que possam exigir.

Além disso, falta a formação e a experiência pedagógica. Nas palavras

do autor, “mais do que institucionalizar as práticas que temos estado a

examinar - monitores [...], parece preferível preservar no ensino mútuo

a espontaneidade que o caracteriza na entreajuda informal e no apoio

mútuo existentes entre os membros de um grupo”.

Leia a citação que expressa o processo de adesão ao ensino mútuo

no Brasil:

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“A questão do espaço para abrigar a escola pública primária

começou a aparecer especialmente a partir da segunda década do

século XIX, em algumas cidades da então colônia, e, posteriormente

à independência, em várias províncias do Império, quando

intelectuais e políticos puseram em circulação o debate em torno

da necessidade de se adotar um novo método de ensino nas escolas

brasileiras: o método mútuo (BASTOS e FARIA FILHO, 1999).

Afirmavam que a maneira como estava organizada a escola, com o

professor ensinando cada aluno individualmente, mesmo quando

sua classe era formada por vários alunos (método individual),

impedia que a instrução pudesse ser generalizada para um grande

número de indivíduos, tornando a escola dispendiosa e pouco

eficiente. [...] A propaganda em torno da superioridade do método

mútuo foi intensa nas primeiras décadas do século XIX, levando,

inclusive, o Imperador D. Pedro I, inicialmente, a incentivar a sua

utilização e, em 1827, a determinar a obrigatoriedade de sua adoção

em todas as escolas públicas de primeiras letras do Império. [...] O

afastamento do governo central, no Império, da iniciativa de difusão

da escola elementar pública [...] os custos relativamente altos da

manutenção do ensino mútuo – gastos com quadros murais, sólidos

para geometria, bancos e mesas para todos os alunos, ponteiros e

estrados para os monitores [...] - talvez tenham sido algumas das

razões de seu declínio já nos anos de 1840 e de sua progressiva

associação com o ensino simultâneo (método misto) ou substituição

pelo ensino individual”. (FARIA FILHO; VIDAL, 2000, p. 22).

Bell inaugurou o modelo do ensino mútuo, criando classes para os

pobres nas quais os maiores e mais adiantados ensinavam aos menores

e mais atrasados, apresentando tal método como econômico e eficaz

para ensinar. Lancaster retomou o modelo de Bell e abriu uma escola em

Londres, chegando a ter 700 alunos. (CAMBI, 1999, p. 441).

A escola mútua teve o mérito de mostrar – de forma bastante

pragmática – que os ritmos de aquisição e as diversas atitudes exigem

agrupamentos variados, diferentes e temporários. (LESAGE, 1999, p. 23).

A relação entre professor e alunos é hierarquizada, partindo somente do

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professor ou do monitor geral para os monitores e para os alunos, e não

no sentido contrário (Id., p. 21) Constitui-se assim, num meio de ação,

não num meio de trocas.

Na prática, ainda segundo Lesage (1999), esse método trouxe

a utilização de diferentes instrumentos, como a ardósia, constante nos

quadros de ensino. O mobiliário também merecia atenção especial: o

estrado era colocado mais elevadamente: 0,65 cm, em média. Para subir

até a mesa do professor, havia vários degraus.

Outro aspecto importante diz respeito aos agrupamentos dos alunos,

conforme postulam Bell e Lancaster: a escola é dividida em classes

diferentes, de acordo com as disciplinas e o nível de conhecimentos

dos alunos. Vale dizer que a idade não tem nenhuma interferência. Os

agrupamentos de alunos (flexíveis, móveis, diferenciados) resultam da

natureza das matérias de estudo e das atividades em cada disciplina.

Na próxima seção, você acompanhará os estudos sobre a gestão da

sala de aula e as possibilidades de organização do seu espaço.

SeÇÃO 2A geSTÃO DA SALA De AuLA e A ORgANizAÇÃO DO Seu eSpAÇO

Como você percebeu, muito do que vivemos e praticamos hoje nas

salas de aula sofreu influência das diferentes formas de organização do

ensino ao longo da história: modalidades didáticas foram desenvolvidas

e percebemos, na atualidade (século XXI), a presença de práticas que

repercutem o que se institucionalizou há muitos anos.

Iniciaremos o estudo através do que se compreende como aula,

conceito este considerado fundamental em Didática.

Considero que um projeto de organização didática da aula significativa, que ultrapasse a concepção mecanicista de planejamento de ensino, é resultante de um processo integrador

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entre a instituição educativa e o contexto social, efetivado de forma colaborativa pelos professores e seus alunos. A aula, lugar privilegiado da vida pedagógica, refere-se às dimensões do processo didático – ensinar, aprender, pesquisar e avaliar – preparado e organizado pelo professor e seus alunos. (VEIGA, 2008, p. 267).

Araújo (2008, p. 60; 62) estabelece que a aula:

é feita de prévias e planejadas escolhas de caminhos, que são

diversos do ponto de vista dos métodos e técnicas de ensino;

constrói-se, em sua operacionalização, por percalços, que implicam

correções de rota na ordem didática, bem como mudanças de rumo;

está sujeita a improvisos, que não foram cogitados, mas não pode

constituir-se exclusivamente por improvisações.

A sala de aula se vincula à dimensão física - local apropriado para a realização de ações - ao passo que a aula assume a dimensão de organização do processo educativo, tempo e espaço de aprendizagem, de desconstrução e construção e não se vincula a um lugar específico, uma vez que a aula pode realizar-se em espaços não-convencionais, para além de uma sala retangular com cadeiras e mesas dispostas linearmente, com um quadro-de-giz na parede e um espaço central para o professor. (SILVA, In: VEIGA, 2008, p. 36).

Como você percebeu a aula, mesmo sendo planejada antecipadamente,

é replanejada, feita e refeita com alunos (FERNANDES, 2008, p. 161),

sempre movimento com recuos, contradições e seus recomeços. Enquanto

o professor dirige o processo didático, também compartilha com seus

educandos a responsabilidade da boa aula, negociando coletivamente,

estabelecendo critérios definidos para as atividades e avaliações previstas.

Quando nos propomos a pensar sobre a função que o professor

desempenha, o trabalho que realiza na escola, certamente, buscamos

na memória as imagens dos professores que fizeram parte de nossa vida

escolar. Também surgem ideias relativas ao professor que idealizamos.

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Observe a contribuição de Nadal e Papi (2007, p. 29):

Enquanto atividade complexa que envolve uma trama de elementos e sujeitos, a fim de que não apenas estejam juntos, mas em relação recíproca e ativa, o processo de ensinar, deixa em evidência o papel do professor como seu planejador e gestor. (grifo nosso).

Tendo o conhecimento do papel do professor como gestor e

planejador, prevalece a ideia de que em seu trabalho, ele assume a posição

de coordenador, problematizador e cria espaços de diálogo.

Mas você pode estar se perguntando: o que é, para o professor, gerir

a SALA DE AULA?

Para responder, é necessário definir inicialmente o que é gestão.

Amaral (2005), em estudo sobre a Gestão da sala de aula: o manejo

de classe com nova roupagem?, aponta o entendimento do termo: embora

encontremos no dicionário Houaiss (2001) gestão como “ato ou efeito de

gerir; administração, gerência; mandato político; período de administração

em uma sociedade [...]”, e sendo considerados, na concepção dos linguistas,

os termos gestão e administração como sinônimos, a gestão, no contexto

escolar, implica a participação, ou seja, a marca da política na escola.

Entendido desta maneira, ao gerir a sala de aula, o professor aproxima

os alunos do conhecimento formal, possibilita o estabelecimento de pontes

entre a cultura do aluno, seus saberes prévios, as teorias e conhecimentos

curriculares. (GARRIDO, 2001).

A gestão da sala de aula, tendo na figura do professor um mediador,

contempla um conjunto de atividades que, planificadas, organizadas,

possibilitam consolidar o espaço da sala de aula com atividades educativas,

desencadeadoras de interesse coletivo.

“Mediar é desencadear ações capazes de fazer o aluno sentir a

necessidade de aprender, ações que lhe permitam acessar o conhecimento

de apoio para que a aprendizagem efetivamente aconteça.” (NADAL e

RIBAS, 2005, p. 30).

Antes de discutir sobre as múltiplas possibilidades de organização

didática da sala de aula, vale dizer que muitos teóricos da área educacional

têm insistido na necessidade de res-significar o que é sala de aula, ampliando

o espaço educativo para além das suas tradicionais “quatro paredes”.

Considera-se, aqui, sala de aula como todo espaço educativo que se

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possa entender como educativo, ou seja, qualquer espaço onde se processe

o ensino e a aprendizagem sob a supervisão de um professor, podendo

ser a cantina, pátios escolares, bibliotecas ou até outros ambientes

extramuros escolares, onde se faça presente a relação professor-alunos.

(AMARAL, 2005, p. 88 – grifo nosso).

É errado supor que a ‘verdadeira’ relação do ensino se estabelece entre o professor e cada elemento da turma se com isto se considera que, quando um professor se dirige a um membro da turma, está exclusivamente a ensinar aquele determinado aluno. [...] É esta a raiz da importância que Dewey atribui à turma como instituição social: tanto aquilo que o professor pode ensinar como a qualidade do seu ensino é influenciada pela estrutura da turma, o tipo de crianças que contém, a maneira como é selecionada e organizada, o seu lugar dentro da escola. Ensinar uma criança sozinha é muito diferente, e não necessariamente melhor, que ensiná-la quando integrada numa turma. Se ‘ensinar’ fosse idêntico a ‘falar para’, então, ensinar uma turma seria inevitavelmente pior. Mas, mesmo numa turma autoritária, o aluno pode aprender com as perguntas que os seus companheiros fazem e com a reação do professor a essas perguntas. Quando a discussão é encorajada pelo professor, isto torna-se ainda mais óbvio. E, se a turma for dividida em subgrupos para trabalhos de colaboração, cada aluno tem ainda mais a ganhar. Num pequeno grupo, o aluno aprende a explicar-se, a comunicar, a compreender, a criticar e a aceitar a crítica - digo, pode aprender, e não, vai aprender, dado que a aprendizagem não é nunca automática, como por vezes se julga. Será talvez melhor dizer que X ensina alguém na classe, considerando como caso extremo aquele em que X só ensina uma única pessoa. A questão que consiste em saber qual a melhor turma para que o ensino seja mais eficaz, isto é, se a criança é melhor ensinada em pequenos ou em grandes grupos, em classes com níveis intelectuais semelhantes ou em classes diversificadas, é mais uma vez uma questão empírica. De novo é necessário chamar a atenção para o fato de que não pode haver uma resposta geral. Algumas crianças conseguem aprender melhor inseridas em turmas pequenas, outras em turmas maiores, algumas em classes homogêneas, outras em classes diversificadas, alguns assuntos prestam-se melhor a ser ensinados em certo tipo de turmas, outros noutros tipo. Considerando a grande diversidade do que pode ser ensinado e dos alunos que podem ser ensinados, é isto, pelo menos, o que devíamos esperar encontrar. (PASSMORE, 2001, p. 15).

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Zabala (1989) trata com propriedade das questões relativas à

organização das classes e esclarece:

existem diferentes formas de agrupamento de alunos, que são

determinadas pelo seu âmbito de intervenção: grupo/escola; grupo/

classe; totalidade do grupo/ grupos fixos e móveis;

grupo escola: atividades que envolvem todos os alunos da escola,

assembleias, apresentações culturais, etc.;

grupo/classe: normalmente refere-se a grupos etários, sendo possível

variá-los de acordo com a situação proposta, por meio de exposições

orais, trabalhos em duplas, grupos, atividades individuais, utilizando-se

da estrutura dos grupos fixos e móveis.

Entendendo que existem diferentes possibilidades de agrupamentos

para a organização do trabalho em sala de aula, é importante reconhecer

que essa definição da organização do espaço e do mobiliário está associada

aos encaminhamentos efetivados pelo professor no processo ensino-

aprendizagem, às concepções que o professor tem sobre as relações

dialógicas no ambiente de sala de aula.

No que respeita à organização da classe, Cordeiro (2007, p.108)

explicita: “não há porque postular a adoção de um modelo pedagógico

único, que implicaria a padronização das relações pessoais na escola, na

sala de aula e no ensino e aprendizagem”.

As contribuições do autor chamam a atenção para o fato de que, ao

optar por uma só forma de organização do ensino, o professor estabelece

uma relação única com seus alunos, limitando as relações pedagógicas

que podem vir a ser construídas, tendo como referência, não somente a

organização de grupos fixos em sala de aula, carteiras enfileiradas, mas

organizando o trabalho pedagógico e privilegiando diferentes formas de

organização dos grupos na sala de aula.

Zabala (1998) ressalta que o agrupamento mais tradicional –

constituído de 20, 30, 40 alunos e onde se trabalham os mesmos conteúdos,

com os mesmos professores - é denominado ensino simultâneo (conforme

você já estudou anteriormente). Ali, prioriza-se a exposição do professor,

entendendo que todos aprenderão os conceitos ao mesmo tempo e da

mesma maneira, desconsiderando o fato de que o grupo de alunos é

heterogêneo.

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O mesmo autor chama nossa atenção para a organização da

classe em equipes móveis ou flexíveis, prevendo o trabalho em grupos

constituídos por números diversos de alunos.

Os motivos que justificam os grupos móveis são diversos, embora o principal seja a necessidade de atender às características diferenciais de aprendizagem dos meninos e meninas. Posto que esta estrutura permite distribuir trabalhos em pequenos grupos, é possível que os professores atendam àqueles grupos de alunos que mais o necessitem, que distingam as tarefas a serem realizadas conforme possibilidades e interesses, ou que exijam diferentes níveis de elaboração. (ZABALA, 1998, p. 125).

Perceba que o autor traz diferentes contribuições no que se refere à

organização dos grupos em aula, entendendo que para a dinamização do

trabalho pedagógico, é pertinente diversificar, alternar atividades grupais

e individuais, tendo como referência os objetivos de aprendizagem

definidos pelo professor e o desenvolvimento do aluno no processo de

escolarização.

Nas próximas seções, você acompanhará o estudo sobre o trabalho

em grupos na sala de aula e os métodos e técnicas de ensino para

atividades grupais e individuais.

SeÇÃO 3O TRABALHO em gRupOS NA SALA De AuLA

Grupo é...

Esta trama grupal onde se joga com papéis precisos, às vezes

estereotipados, outras inabaláveis, não é

um amontoado de indivíduos.

Mais complexo que isso, Grupo é resultado da dialética entre a história

do grupo (movimento horizontal)

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e a história dos indivíduos, com seus mundos internos, suas projeções e

transparências (movimento vertical),

no suceder da história da sociedade em que estão inseridos.

Grupo é...

A cada encontro imprevisível.

A cada interrupção da rotina: algo inusitado.

A cada elemento novo: surpresas.

A cada elemento já parecidamente conhecido: aspectos desconhecidos.

A cada encontro um desafio, mesmo que supostamente já vivido.

A cada tempo: novo parto, novo compromisso fazendo história.

A cada conflito: rompimento do estabelecido para a construção da

mudança.

A cada emoção: faceta insuspeitável.

A cada encontro: descobrimentos de terras ainda não desbravadas.

Grupo é grupo.

Madalena Freire, In. A paixão de aprender

Leia o texto de Amaral (In: Veiga, 2006, p.51) e reflita:

O trabalho de grupo, entretanto, é uma técnica didática utilizada com a finalidade de promover a aprendizagem de determinados conteúdos, sejam eles de natureza cognitiva, afetiva ou social. A propósito, um bom trabalho de grupo deve procurar contemplar simultaneamente essas diferentes dimensões da aprendizagem.

As primeiras compreensões sobre este tema terão o respaldo teórico

dos estudos de Bonals (2003). Na obra O trabalho em pequenos grupos

na sala de aula, o autor discute conceitos relativos à organização dos

grupos, trazendo significativas contribuições:

O trabalho em grupo, em determinadas condições, incrementa a qualidade das aprendizagens e favorece a aquisição de conhecimentos de alunos e alunas, através da interação entre eles. Somente por esta razão, estaria justificada sua utilização de maneira sistemática nas salas de aula. Não podemos desconsiderar as enormes possibilidades surgidas pela interação entre eles. (BONALS, 2003, p. 13).

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Perceba que o autor esclarece que certamente o trabalho em grupo

sendo organizado de forma siste-

mática, visando à aprendizagem

dos alunos, pode ser desenvolvido

e traz uma dinâmica para a sala de

aula, gerando um clima favorável ao

processo ensino-aprendizagem.

Porém, é necessário enfatizar

que tal atividade não pode tornar-

se uma rotina repetitiva em sala

de aula. É necessário que, ao

organizar o trabalho em classe

em pequenos grupos, o professor

tenha clareza dos objetivos que

pretende atingir e conheça as funções da técnica.

Como você percebeu, o trabalho em grupos se constitui numa modalidade de ensino, também conhecida como ensino socializado. Ao optar por esta modalidade, o professor revela a compreensão de sala de aula como espaço social, no qual são estabelecidas relações de interação que podem favorecer a aprendizagem de cada aluno. Para isto, requer o desenvolvimento de técnicas socializantes. Também, o professor pode fazer opções pela modalidade de ensino individualizado, que tem como ponto central as diferenças individuais: é direcionado a cada estudante, observando os interesses e necessidades pessoais. Na seção 4, você conhecerá algumas técnicas vinculadas a essas modalidades.

Por que colocar os alunos para trabalhar em grupos?

Bonals (2003) aponta três funções que são básicas no trabalho em

pequenos grupos em sala de aula. São elas:

Função de regulação das aprendizagens: essa regulação acontece

quando os próprios alunos que compõem o grupo organizam-se para

realização das atividades propostas; também amplia a capacidade dos

alunos no que respeita à tomada de decisão. Além disso, os estudantes

compartilham seus conhecimentos, favorecendo a incorporação de novos

conceitos.

Alunos organizando o

trabalho em grupo

Discussão, debate e tomada de

decisão

Grupo de trabalho: compartilhando conhecimentos

Efetivação do processo ensino-

aprendizagem

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Função socializadora: desenvolve a capacidade de aceitar,

compreender a opinião do outro, traz a possibilidade de que os alunos

percebam e sintam as necessidades dos colegas do grupo, favorece a

relação dialógica, cria possibilidades de interação e participação de

todos no grupo, expressando verbalmente suas opiniões sobre o trabalho

realizado. Também permite o desenvolvimento da capacidade de

cooperação.

Interação e participação Cooperação

Função potencializadora do equilíbrio emocional: parte do

princípio de que todas as pessoas se realizam quando convivem em

grupos. Quando os alunos trabalham organizados em pequenos grupos,

cria-se a condição para que se desenvolvam relações de amizade, empatia

e autonomia.

Convivência em grupo

Construção, autonomia

Mas, como propor trabalho em grupos, tendo o conhecimento de

que as turmas são heterogêneas e que cada aluno tem seu próprio ritmo

de aprendizagem?

Amaral (In: VEIGA, 2006) argumenta que ao propor a organização

de grupos na classe, o(a) professor(a) delimita o nível de dificuldade das

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atividades que serão realizadas, tendo como referência os conteúdos a

serem trabalhados e os objetivos que serão atingidos.

Entende-se que através da organização de trabalhos em grupos

e com a delimitação da dificuldade da atividade, o professor considera

o desenvolvimento de diferentes procedimentos dos alunos. Da mesma

forma, requer que sejam exploradas as possibilidades individuais, os

conhecimentos de cada componente do grupo. Por outro lado, é importante

que o professor delimite papéis na realização do trabalho em grupo, os

quais são estabelecidos por Amaral (In: VEIGA, 2006, p. 62):

coordenador: é o aluno que auxiliará a todos os integrantes do grupo

para a concretização das tarefas e buscará respostas para as questões

propostas;

encarregado do material: este aluno será responsável por

disponibilizar, organizar e agrupar todos os materiais necessários para a

execução das tarefas;

auxiliar de coordenação: quando assume esta função, o aluno

será o monitor do grupo, verificando as tarefas que foram cumpridas e

concluídas e fará os registros das atividades realizadas;

reorganizador do ambiente: este aluno deverá, ao final do trabalho,

reunir todos os materiais utilizados, reorganizar o espaço físico utilizado

para a realização da atividade em grupo;

relator: sua responsabilidade é verbalizar as conclusões e

experiências vivenciadas pelo grupo no desenvolvimento do trabalho.

Poderá relatar as aprendizagens e descobertas do grupo, com relação aos

conhecimentos trabalhados. Também terá a incumbência de efetivar a

auto-avaliação do grupo.

As indicações da autora contribuem para a organização dos

trabalhos em grupo, especialmente no que se refere à importância da

delimitação de papéis no grupo, pois, desta forma, os alunos sentem-

se envolvidos na tarefa, assumem responsabilidades. Além disto, podem

trabalhar coletivamente, contribuindo com o grupo, e assim, desmistifica-

se a ideia de que o trabalho em grupo é a atividade em que a classe é

organizada em equipes de trabalho, mas que, muitas vezes, somente um

ou dois componentes assumem a realização das atividades propostas.

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Bonals (2003, p. 20-21) esclarece:

Quando nos propusermos a instalar a prática do trabalho em pequenos grupos nas salas de aula, teremos que informar adequadamente os alunos sobre nossas pretensões e razões que as sustentam.[...] convém que os alunos tenham claro aquilo que irão aprender, pois desse modo será mais fácil que encontrem sentido naquilo que fazem, que saibam o que se espera deles e, portanto que possam orientar-se melhor. Pelas mesmas razões, deve-se dar aos alunos e às alunas as razões pertinentes sobre a aprendizagem em pequenos grupos. Os alunos têm que entender o que é, que sentido tem, por que é conveniente sistematizar esse conhecimento, como será feito, quando e com que frequência. Trata-se, sobretudo, de que os alunos e as alunas entendam o sentido que tem o trabalho em pequenos grupos, e o que queremos que aprendam.

Em contrapartida, o professor pode ter uma compreensão equivocada

de que seu papel seja somente o de delegar responsabilidades, que, de

acordo com Amaral (In: VEIGA, 2006), não significa perder de vista o

controle do processo ensino-aprendizagem, pelo contrário, é necessária a

definição clara do trabalho para os alunos, além de o professor ter registros

e acompanhar o desenvolvimento das atividades.

Da mesma forma, é importante que o professor tome decisões ao

organizar os grupos. Bonals (2003) estabelece alguns parâmetros que o

professor deve considerar, quando da delimitação dos participantes:

diagnóstico prévio dos alunos, no que respeita aos níveis de

aprendizagem, ritmo de trabalho, interesses individuais;

se a indicação for feita pelo professor, considerar as possibilidades

de interação e aprendizagem entre os componentes do grupo.

“Colocar os alunos para trabalhar em grupo faz com que eles troquem

informações e procedimentos para resolver problemas, facilitando o ensino

e a socialização”.

(Revista Nova Escola, out. 2007, p. 76)

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A técnica didática do trabalho em grupo surgiu no cenário educacional brasileiro, com o movimento da Escola Nova, que concebia o aluno como sujeito do processo ensino-aprendizagem, preocupava-se com o processo de desenvolvimento da criança e a relação deste com o desempenho escolar. A aprendizagem estaria centrada na figura do aluno, sendo observadas e respeitadas suas necessidades e interesses.

Segundo Araújo (2006, p. 30), o método de trabalho

por grupos insere-se nas modalidades do método ativo ou

experimental: “ele se expressa pelo fazer do aluno, pelo estímulo

à sua autoatividade, o que envolve a sua iniciativa. Tal método

teve a sua disseminação por meio do movimento da Educação

Nova, emergente nos finais do século XIX, e foi consolidado

nas primeiras décadas do século XX. Os métodos ativos são

vários, envolvendo individual ou coletivamente os alunos, ou

combinando o trabalho individual e o coletivo.”

E então, como formar grupos?

Pato (2001, p.38), na obra Trabalho de grupo no ensino básico:

guia prático para professores, apresenta uma técnica para a formação de

grupos:

1. Dialogar com a turma sobre como, quando e por que farão o

trabalho de grupo (objetivos).

2. Informar os alunos de que, na formação dos grupos, serão

respeitadas suas preferências, ao menos parcialmente (ex: haverá no

grupo ao menos uma pessoa com quem mais gostariam de trabalhar.

Propõe-se, então, que respondam por escrito a um pequeno questionário,

garantindo que em nenhuma situação alguém que não seja o professor

tenha conhecimento das preferências da formação dos grupos). O

professor deve receber por escrito tais respostas com as opções.

3. Fazer um diagrama com setas indicando as preferências, além

dos alunos mais rejeitados, ou ainda os não mencionados.

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A autora ainda destaca que, quando os alunos são colocados

face a face a uma proposta de tarefa, através de uma técnica didática

ou estratégia (exemplo: painel, seminário), cria-se naturalmente uma

situação de interação entre eles, e isto é designado como dinâmica de

grupo. Como professores, é preciso que saibamos criar condições para

que essa dinâmica seja construtiva e não destrutiva. O ponto de partida

são poucas e funcionais regras que se constituem o regulamento interno

dos grupos.

Como você viu nesta seção, a vida da aula como a de qualquer grupo

ou instituição social pode ser descrita como um cenário vivo de interações

onde se intercambiam explícita ou tacitamente ideias, valores e interesses

diferentes e seguidamente enfrentados (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998).

Veremos agora, na próxima seção, sobre os métodos e técnicas de ensino

que estão relacionados às diferentes possibilidades de organização da

sala de aula.

SeÇÃO 4mÉTODOS e TÉcNicAS De eNSiNO

Minha preocupação é a de superar o conceito de técnica de ensino que procura ora sobrelevá-la, ora reduzi-la ou mesmo negá-la (...) As técnicas de ensino têm um caráter instrumental e intermedeiam as relações entre professor e aluno, e entre aluno e aluno. Isso significa afirmar que são mediações, ou condições necessárias e favoráveis, mas não suficientes, do processo didático. As técnicas de ensino são sempre meios, nunca fins. (...) é preciso ficar claro que as técnicas de ensino podem cumprir papel relevante na criação e na manutenção das relações de dominação em sala de aula, ou, ao contrário, podem ser vistas como instrumento de emancipação e de diálogo, e, portanto, de fortalecimento de competências socioafetivas e cognitivas complexas. (VEIGA, 2006, p. 8-9).

Para você, qual o significado de métodos e técnicas de ensino?

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Veremos aqui o sentido etimológico das palavras:

A palavra método constitui-se em grego do prefixo meta-,

cujo significado traduz as ideias de comunidade, participação, ou

sucessão, e hodós, que quer dizer via, caminho. Daí encontramos

no próprio grego a palavra methodos, na acepção de caminho

para chegar a um fim determinado, em que está presente a ideia

de participação e sucessão, isto é, o caminho é um processo, um

fazer-se com alguém alguma coisa. (GASPARIN, 1994, p. 68).

Assim compreendido, o método implica um processo ordenado

dialeticamente e uma integração, também dialética, entre pensamento,

ação e reação, para a consecução daquilo que foi planejado. Como

todo processo didático pressupõe a ordenação de princípios para o seu

desenvolvimento, necessita-se então do método de ensino, desde que seja

um caminho construído para o alcance de metas educativas particulares

e coadjuvantes na transmissão-assimilação crítica do conhecimento

elaborado. (RAYS, 2000, p. 70-71).

Nos estudos que você realizou até este momento, percebeu que

o trabalho docente se caracteriza pela sua complexidade em diferentes

situações: quando o professor atua na docência, quando se depara

com situações de ensino-aprendizagem que desafiam seus saberes e

conceitos, ao enfrentar situações novas diante de seu grupo de alunos, nos

momentos em que pensa em suas concepções de ensinar e nas relações

que estabelece com os alunos. Diante de tantos enfrentamentos que

constituem o fazer docente, é necessário conhecer os métodos e técnicas

de ensino. Veja as contribuições de Amaral (In: VEIGA, 2006, p.26):

Pedagogicamente, o método envolve o curso de um processo que viabiliza o ensino. No entanto, a busca por divisar as diferenças entre o método e a técnica de ensino é uma tarefa desafiadora. Para Cervo e Bervian (1976, p. 33), preocupados com a metodologia científica, ‘o método é a ordem que se deve impor aos diferentes processos necessários para atingir a um fim desejado’. Dessa forma, o método envolve processos, permitindo afirmar-se que ele deve ser compreendido como um conjunto de processos que se ordena tendo em vista o

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processo ensino-aprendizagem. Afirmando-se as técnicas como conjunto de procedimentos devotados ao ensino e à aprendizagem, o esforço de distinção entre método e técnica fica facilitado, se se compreende a técnica como um modo de fazer, que contém diretrizes e orientações, e que visa à aprendizagem.

A autora ressalta em todos os momentos que a técnica, o método,

por si mesmos, não têm significado no processo pedagógico, só ganham

pertinência quando vinculados ao processo ensino-aprendizagem,

quando estão voltados à concretização da aprendizagem.

Também é pertinente acrescentar que Araújo (2006) indica, em

sua concepção metafórica, que os métodos e as técnicas assumem o

significado de bússola, para

guiar, conduzir teórica e pra-

ticamente o processo ensino-

aprendizagem. Portanto, os

métodos e técnicas de ensino,

pautam, indicam a direção do

processo a ser desencadeado

em sala de aula.

Pesquisadores da Didática adotam os termos técnicas, procedimentos, dinâmicas ou ainda estratégias didáticas em suas pesquisas e publicações. Veja o significado de cada termo:

Procedimentos de ensino: são as ações do professor e do aluno, no processo ensino-aprendizagem. São os ‘que fazer’ pedagógicos, no sentido de provocar, estimular, desencadear a ação do aluno no processo de construção do conhecimento. (SCARPATO, 2004, p. 28).

Estratégia: arte de aplicar ou explorar os meios e condições favoráveis visando atingir objetivos específicos.

Dinâmica: do grego dynamikós, diz respeito ao movimento e às forças, ao organismo em atividade.

Técnica: do grego technikós, relativo à arte. Refere-se à arte material ou ao conjunto de processos de uma arte, maneira, jeito ou habilidade especial de executar ou fazer algo. (ANASTASIOU; ALVES, 2006, p. 68-69).

Optamos, neste livro, em desenvolver as abordagens quanto a este tema utilizando a expressão Técnicas de Ensino, considerando a produção científica pautada, principalmente, em Veiga (1991, 2006).

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Leia atentamente a reportagem de Flávio Dieques, publicada na Revista de Estudos Avançados, da USP:

Quando as crianças aprendem sozinhas

Uma certa paixão pelo ensino e a convicção na possibilidade de ensinar melhor são duas características que se encontram com frequência no Brasil, e muitas vezes dão resultado além do que se poderia esperar, diante das circunstâncias. Um exemplo é o Projeto Amorim Lima, atualmente em fase de consolidação na escola municipal de mesmo nome, no bairro do Butantã, em São Paulo. Há onze anos, era uma escola convencional com a maior parte das dificuldades convencionais de muitas escolas brasileiras [...] Mas a escola, para quem a vê de fora, como visitante, com certeza já não tem nada de convencional. Não há mais ‘salas de aula’, por exemplo, pelo menos no sentido usual e tradicional da expressão. Elas foram trocadas por grandes salões mobiliados com diversas mesas nas quais, em grupos de seis em cada mesa, os alunos estudam quase que sozinhos, trabalhando em temas previamente definidos pela escola. Também não há mais professores como se conhecia, cada um com sua turma de alunos, porque na Escola Amorim Lima o conjunto dos alunos passou a ser responsabilidade do conjunto de professores. Assim como não há mais professor do tipo que ensina matemática ou geografia ou português, as velhas disciplinas isoladas de antigamente. Todos os temas – o objeto de estudo dos alunos – são transversais, ou multidisciplinares, incorporando e integrando conhecimentos variados. As portas da escola estão sempre abertas, em dias úteis ou finais de semana, e dentro dela o aprendizado toma formas variadas: de teatro organizado por mães de alunos, de capoeira, de arquitetura guarani, de circo, de alunos tomando decisões de cidadania. O resultado, a julgar pelo depoimento da atual diretora, Ana Elisa Siqueira, está ainda em debate: ‘Tivemos e ainda temos muito que fazer. Desde o princípio foi preciso vencer a resistência de professores às mudanças, e alguns mudaram de escola [...]’. Ana Elisa avalia que a nova escola é um êxito: ‘Nós conseguimos criar uma nova maneira de ensinar, a frequência escolar melhorou. De acordo com um seminário de avaliação que fizemos, no ano passado, o comparecimento dos alunos às aulas tem sido quase total e a ausência dos professores é menor. Além disso, num ponto que é muito importante para o projeto, temos um grande envolvimento da comunidade, com alto comparecimento dos pais às reuniões. Também tem muito valor o fato de o projeto despertar muita curiosidade, fora da escola. Recebemos contribuições de diversos colaboradores voluntários, pedagogos e outros profissionais interessados em educação.’ Hoje praticamente tudo o que se faz na escola tem um caráter colegiado: há um conselho da escola, um conselho pedagógico, um conselho de gestão, uma assembleia de alunos e outras entidades equivalentes. A decisão é sempre coletiva, discutida, e tem a força do colegiado a assegurar a aplicação. ‘A ideia aqui é: todos trabalham em conjunto’, diz Ana Elisa. ‘Fisicamente juntos’, reforça. ‘Para criar os salões e quebrar a estrutura de turmas, tivemos que literalmente quebrar as paredes [...]’. (DIEGUES, 2007, p.114-115 - grifo nosso).

Como você percebeu, conseguir uma nova maneira de ensinar

envolve múltiplos e complexos aspectos da vida escolar: não basta o

engajamento da equipe que atua na escola, é preciso uma concepção

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teórica que embase a metodologia didática adotada. Não basta derrubar

paredes para não ter mais o espaço convencional de quatro paredes, é

preciso saber as razões que fundamentam tal opção.

Deste modo, as diferentes posturas teóricas dão tom às diversas

técnicas gestadas historicamente. A técnica de ensino está ligada ao

contexto em que surge, bem como à teoria pedagógica que a ilumina.

(ARAÚJO, 1991, p. 23).

E você, recorda-se das tendências pedagógicas que estudou na

disciplina Fundamentos da Educação?

Pois bem, é preciso compreender que toda técnica é tecida e envolvida

por determinados ideais educativos. Não é a técnica que define tal ideal,

mas o contrário. Assim é possível realizar a aula expositiva sem ser

tradicional. Pode-se usar da instrução programada, mesmo conhecendo

seus limites, sem a certeza de estar no melhor caminho, ou de que o

ensino e a aprendizagem têm garantido o seu sucesso. (Id., p. 25-26).

Diante desse entendimento, torna-se clara a ideia de que a opção

que o professor faz de um método, uma técnica de ensino é realizada

em função do conteúdo, da própria contextualização do conhecimento e

também de forma que permita um tratamento interdisciplinar do conteúdo

a ser trabalhado em sala de aula.

É preciso compreender também que as técnicas de ensino não se

constituem no foco central do processo ensino-aprendizagem, mas que

precisam estar vinculadas aos objetivos e conteúdos para que de fato sejam

capazes de mobilizar os saberes dos alunos, as experiências vividas e

permitam o estabelecimento de relações entre os conceitos trabalhados.

É tempo de pensarmos em didática como espaço de expressão e troca de sentidos e significados entre os atores do processo de ensino e aprendizagem. Não se trata apenas de um “como” fazer, mas sim de um fazer que modifica a situação de sala de aula e os sujeitos envolvidos. (PLACCO, 2008, p.736).

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“As técnicas pedagógicas são um dos elementos do

processo de mediação. [...] Todas as técnicas convencionais são

instrumentos importantes, ou processos de mediação pedagógica,

que possibilitam a aprendizagem significativa a qual conduz ao

desenvolvimento”. (GASPARIN, 2002, p. 111-112).

O que você compreendeu a respeito da citação acima?

Ainda com relação aos métodos e técnicas de ensino, Araújo (1991,

p. 26) propôs que o método de ensino seja constituído por um conjunto

de processos de que o professor lança mão para perseguir a finalidade de

ensinar. É preciso ser prudente em nossos julgamentos, pois as técnicas

– que são somente instrumentos – estão a serviço de quem as utiliza, e

somente têm valor em relação à finalidade que o homem lhes impõe.

(MIALARET apud ARAÚJO, 1991, p. 26).

Observe a imagem a seguir:

Como você vê, a imagem retrata um Livro de Vida, técnica proposta

por Freinet, que muitos professores utilizam em suas práticas. Porém, mais

do que tomar conheci-

mento de uma nova técnica

e imediatamente adotá-

la em seu planejamento,

é necessário conhecer

as finalidades sociais,

políticas em que foram

gestadas. Se as técnicas

possuem um valor

Celestin Freinet nasceu na pequena cidade de Gars, no sul da França, em 15 de outubro de 1896. Faleceu em 1966, e, ao longo desses setenta anos, revelou ser um homem simples e humilde, que defendia o direito da criança viver sua vida como criança. Isto é, defendia o direito de respeitá-la como ser humano. A proposta pedagógica de Freinet revolucionou a dinâmica da sala de aula, onde a responsabilidade, a afetividade, a cooperação, a livre expressão eram fatores fundamentais. Para Freinet, os trabalhos manuais eram tão importantes quanto às atividades intelectuais. (ALTHAUS; SAVELI; TENREIRO, 2005).

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instrumental, conhecê-las teoricamente não garante o seu sucesso

(ARAÚJO, 1991, p.25), pois a maneira de utilizá-las é que define o seu

potencial, sendo imprescindível retomar a dimensão teórica e prática da

técnica de ensino.

As técnicas Freinet são concebidas:

[...] como meio para realizar um projeto compartilhado por professores e alunos e se constituem em verdadeiros instrumentos de construção de conhecimento, uma vez que se parte da experiência, da comunicação, do confronto de ideias e percepções e da concepção de projetos negociados, individuais e coletivos. (ALTHAUS; SAVELI; TENREIRO, 2005, p. 113).

Para que de fato seja possível apontar que uma técnica Freinet é

contemplada numa proposta pedagógica escolar, é preciso então que a

prática de sala de aula seja permeada pela livre expressão e a cooperação

entre os alunos, uma vez que são princípios fundantes da Pedagogia

Freinet.

Destacamos aqui algumas técnicas Freinet:

LIVRO DE VIDA

É o registro dos acontecimentos mais marcantes da classe. Nele o professor e/ou alunos inserem textos produzidos na classe como também podem registrar um fato importante que ocorreu na turma ou fora dela, como um passeio, uma visita, atividade marcante vivida pelo aluno, pelo grupo de alunos, pela família e pela comunidade. Este registro vai se constituindo ao longo do ano como um diário da classe ilustrado com desenhos, fotografias, relatos, depoimentos que passam a fazer parte da memória do grupo. (ALTHAUS; SAVELI; TENREIRO, 2005, p.116).

Muitas escolas adotam a técnica do Livro de vida, organizando

com seus alunos a prática do registro dos acontecimentos da turma.

Há professores que optam em coordenar esta prática semanalmente

(com os registros de atividades significativas que transcorreram) ou

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Em contraposição a uma pedagogia da abstração e do imobilismo, Freinet propõe saídas ao ar livre. As saídas ao ar livre alegremente e sem problemas prévios para as crianças observarem a

natureza transformam-se pouco a pouco em aulas-passeio quando já havia a preocupação de se fazer um relato de todos os acontecimentos que, ao longo do caminho, atraíam os olhares das crianças. [...] Ao retornar à sala de aula o professor escrevia no quadro-de-giz o ponto mais marcante das descobertas feitas ao longo do caminho. Esses passeios possibilitavam a livre expressão da criança e a elaboração do

texto livre em que as crianças escreviam sobre as suas descobertas, medos, anseios, angústias, experiências. Essa técnica de expressão livre possibilitava aos alunos a análise, a partir de seus próprios mecanismos, da realidade em que viviam. (Id., p.115).

As aulas-passeio podem ser organizadas com um planejamento

cooperativo, outro princípio da Pedagogia Freinet. Propõe-se às crianças

(com registro em um painel ou no quadro de giz, por exemplo) questões

para problematizar e organizar a aula-passeio, tais como:

a) Onde, quando e como iremos?

b) Quais nossos objetivos?

c) Quais materiais deveremos levar?

d) Quais nossas curiosidades?

e) Como registraremos nosso trabalho desenvolvido na aula-

passeio?

f) Como avaliaremos?

também diariamente, com definição de líderes encarregados para o

desenvolvimento e registro das páginas do livro. Também registram-se as

aulas-passeio, outra técnica que agora você acompanhará.

AULA-PASSEIO

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Como você percebeu, Freinet construiu uma pedagogia, não um

método enquanto caminho fechado, mas técnicas construídas lentamente

com base na experimentação, que fornecem à criança instrumentos para

aprofundar o seu conhecimento e desenvolver a sua ação (Id., p. 8-9).

Observe, na gravura a seguir, um momento em sala de aula que

ilustra a técnica conhecida como assembleia. Nas classes Freinet, a

prática desta técnica também expressa a concepção de vida cooperativa

em sala de aula, além da livre expressão.

Conheça agora outras técnicas de ensino desenvolvidas por

professores em suas práticas escolares, em diferentes modalidades

(individuais e socializadas):

PAINEL COM INTERROGADORES

Consiste na troca de discussões entre um painel que domina o assunto

(experts) e uma ou mais pessoas que fazem perguntas (interrogadores).

Visa desenvolver a capacidade de expressão e o senso de

responsabilidade, além de superar inibições no grupo (técnica de ensino

socializado).

Membros: moderador, interrogadores, experts, grupo de síntese e

público (turma).

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SUGESTÃO: na escola, professores podem organizar um painel

com interrogadores envolvendo pais de alunos, profissionais da escola ou

membros da comunidade. Assim, a própria turma organiza a aula em que

ocorrerá o painel, preparando a sala, organizando as perguntas, e também

definindo que serão os interrogadores durante a técnica. É importante

que o tema proposto aos convidados seja sempre abordado pelos alunos e

professores antes da realização do painel.

ESTUDO DIRIGIDO

É uma técnica com pressupostos no ensino individualizado, utilizada

por professores para orientar o aluno quanto aos métodos de estudo.

Consiste em oportunizar ao aluno o estudo de um conteúdo com

base em um roteiro previamente elaborado.

Pode ser utilizado para introdução de conteúdos novos, para fixação

e integração da aprendizagem.

Visa exercitar o uso de instrumentos de estudo e fontes de consulta,

tais como: revistas, mapas, livros, dicionários, etc.

Apresenta-se o roteiro com os momentos do estudo dirigido (questões

a serem estudadas, tempo, bibliografia, etc.).

SUGESTÃO: professores dos anos iniciais do ensino fundamental

(primeiros ciclos) comumente organizam roteiros de leitura e discussão

de conteúdos desenvolvidos com suas turmas. É possível também propor

às crianças roteiros com passos de orientação aos estudos para atividades

que serão feitas em casa.

JÚRI SIMULADO

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Escolha de um tema polêmico. Objetivo: trabalhar a argumentação.

Preparação da turma: estudo do caso, debates, planejamento.

Definição de papéis: réu, promotor de justiça, juiz de direito,

advogados, jurados, etc.

Conclusões finais (plenária).

SUGESTÃO: organizar uma aula-passeio (com planejamento

cooperativo, conforme apresentamos anteriormente) no Fórum da cidade,

para interação com os profissionais que lá atuam (Juízes, Promotores de

Justiça, etc).

Cerca de 400 alunos de quarta série da rede municipal de ensino

estão participando do programa Justiça se Aprende na Escola 2006,

desenvolvido pelo Instituto Desembargador Alceu Conceição Machado,

com apoio de várias entidades, entre elas, a OAB Paraná. Uma das etapas

do programa é a organização de um júri simulado, a partir de casos

desenvolvidos pelos próprios alunos e professores no âmbito da escola.

Fonte: OAB-PR

Crianças fazem júri simulado pelo programa

Justiça se Aprende na Escola

http://www.codic.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=151

PAINEL INTEGRADO

Objetivo: intensificar as relações de cada um com todos na sala de

aula.

Divide-se a turma em equipes (sorteio): cada equipe receberá um

número (por exemplo: três equipes com três membros cada uma: n° 1, 2

e 3).

Apresenta-se a atividade a cada grupo para o estudo proposto

(temas diferenciados).

Fusão dos grupos: painel integrado (cada membro torna-se relator

em um novo grupo).

Intervenções do professor na síntese final (grande grupo).

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ENTREVISTA

Objetivos: obter conhecimentos de um especialista; propiciar

contato dos alunos com profissionais atuantes no contexto social.

Vantagens: diminui o formalismo e permite organizar um elenco

de perguntas que fornecerão as informações realmente desejadas pelos

alunos.

Fases: apresentação do tema (mobilização), indicação do (s)

especialista(s), elaboração das questões e definição dos papéis.

É necessário afirmar ainda que, mais do que conhecer diferentes

métodos e técnicas de ensino, importa ter presente que o professor

criativo, de espírito transformador, procura sempre inovar sua didática, e

um dos caminhos para essa inovação seria a dinamização das atividades

realizadas em sala de aula. Uma das possibilidades para dinamizar o

trabalho com seus alunos seria a diversificação das técnicas de ensino,

ou até inovações nas técnicas já amplamente conhecidas e empregadas.

(LOPES, 1991, p. 35).

Como você percebeu, nesta seção destacamos algumas técnicas

de ensino para que você compreendesse as múltiplas possibilidades de

organização das ações didáticas, que não se esgotam neste texto.

Ao longo desta unidade, você entrou em contato com muitas informações sobre metodologias didáticas em sala de aula. Percebeu que a Didática, ao contemplar estudos sobre o aspecto metodológico da ação docente, não se constitui em um suporte para “criar regras e métodos válidos para qualquer tempo e lugar, mas para ampliar nossa compreensão das demandas que a atividade de ensinar nos coloca, a partir dos saberes acumulados sobre essa questão”. (PIMENTA, 2002, p.67).

A partir das noções aqui desenvolvidas sobre as possibilidades de agrupamentos dos alunos em sala de aula, você compreendeu que a troca de ideias entre eles – viabilizada através de diferentes formas didáticas - possibilita tomada de posições, argumentação, contribuindo assim na construção do conhecimento a partir da cooperação entre os estudantes.

Estudar a temática da organização social da sala de aula possibilitou compreender que os alunos aprendem e assimilam conteúdos não apenas como resultado de transmissão

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e intercâmbio de conhecimentos presentes no currículo oficial, mas especialmente como repercussão das interações sociais de todo tipo que se dão na sala de aula. (SACRISTÁN; GÓMEZ, 1998).

Não pretendemos esgotar as discussões aqui empreendidas, considerando que, na disciplina Didática II, daremos continuidade a estes estudos, enfocando, entre outros temas, questões pertinentes ao planejamento da ação docente.

a) Acesse o site da Revista Nova Escola de jan./fev. 2009 para ler a reportagem A diversidade ajuda no avanço de classes multisseriadas, com a pesquisadora argentina Claudia Molinari.

http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/0219/aberto/diversidade-ajuda-avanco-classes-multiseriadas-415107.shtml

b) Recomendamos a leitura de:

VEIGA, I. P. A. Técnicas de ensino: por que não? Campinas: Papirus, 1991._____________(Org.). Técnicas de ensino: novos tempos, novas configurações. Campinas: Papirus, 2006.RANGEL, M. Métodos de ensino para a dinamização das aulas. Campinas: Papirus, 2005.

c) Na internet, leia o artigo de Alberto Merchede: Aula em equipe como estratégia inovadora de ensino, publicado na Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. (Brasília, v. 82, n. 200/201/202, p. 89-103, jan./dez. 2001). O autor também discute o seminário como técnica de ensino.

Disponível em: <http://www. Rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/417/422>

d) Acesse: www.maiza.com.br/adm/producao/27.pdf para conhecer sobre o trabalho com tutoria na sala de aula.

e) Na plataforma Moodle, você terá atividades específicas sobre a aula expositiva (e suas modalidades didáticas).

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1) Considerando os estudos desenvolvidos nesta unidade, explique por que os métodos e técnicas de ensino são instrumentos importantes para a mediação pedagógica em sala de aula.

2) Dentre as possibilidades didáticas de organização do espaço da sala de aula, apresentadas ao longo das seções 2 e 3, aponte três aspectos que considera importantes para o professor levar em conta na gestão da sala de aula quando propõe trabalhos em grupos.

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93PALAVRAS FINAIS

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pALAVRAS FiNAiS

“Se os professores abandonam a didática, o que fazem na escola? Que didática abandonam e o que fazem em sala? Que nome atribuem ao que fazem em sala de aula, se não é didática?”(PLACCO, 2008, p. 733 – grifo nosso).

Prezado(a) aluno(a)

As discussões e encontros entre as autoras possibilitaram a

sistematização desta obra, que foi organizada em unidades didáticas e

seções de estudo.

Ao refletir sobre e com a Didática presente na prática pedagógica

escolar, tivemos como imperativo que a nossa ação docente é repercussão

do que pensamos e compreendemos da educação enquanto prática

social. Nosso objetivo foi apresentar a você o conhecimento socialmente

construído na Didática, respeitando posturas e controvérsias presentes

na produção acadêmica na área. A motivação maior que nos impulsionou

a desenvolver este trabalho foi a parceria por nós empreendida, visando,

sobretudo, avaliar permanentemente nossa prática como professoras.

As concepções aqui expressas apontam para o caráter da

continuidade que você terá no próximo livro, através da disciplina

Didática II, que foi pensado e articulado com este estudo que agora é

concluído. Você terá oportunidade de ampliar seus conhecimentos sobre

a disciplina, estudando o processo didático, suas fases, o planejamento de

ensino, a avaliação, além de outros conteúdos.

Tradicionalmente, os programas de ensino para a disciplina

Didática, na formação de professores, dedicam uma unidade para o

conteúdo sobre avaliação do processo de ensino-aprendizagem. Neste

curso, optamos em redimensionar a organização dos conteúdos, tendo

em vista uma perspectiva relacional do processo didático (VEIGA). Assim

você só teve um primeiro contato com o tema da avaliação e, no próximo

livro, dedicaremos uma seção de estudos especificamente a ele.

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94PALAVRAS FINAIS

Este primeiro livro foi uma tentativa, por parte de suas autoras, de

levar a você, estudante de Licenciatura em Pedagogia, alguns pontos

básicos do pensamento que pesquisadores da área têm apresentado

em seus estudos. Por esta razão, foi um trabalho de síntese - parcial e

provisório – para conduzi-lo(a) à discussão sobre as questões de ensino,

presentes na prática pedagógica escolar.

Finalizando, emprestamos as palavras de Sacristán e Pérez Gómez

(1998, p. 10):

Não podemos dar receitas, porque acreditamos que elas não sejam possíveis, ainda que disponhamos de experiência acumulada e de análises que recomendam determinadas orientações práticas ao invés de outras [...] Ocupamo-nos de temas que afetam todo o ensino em nosso contexto.

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95REFERÊNCIAS

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101AUTOR

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NOTAS SOBRe OS AuTOReS

Denise Puglia Zanon

Pedagoga e Mestre em Educação pela Universidade Estadual de

Ponta Grossa. Atua como Pedagoga na Rede Pública Estadual do Paraná

há 23 anos. É Professora efetiva da UEPG, lotada no Departamento de

Métodos e Técnicas de Ensino, atuando especificamente no ensino de

Didática nas Licenciaturas. Desenvolve projetos na área da formação

docente, com orientação de professores no Programa PDE (Programa

de Desenvolvimento Educacional da SEED/PR). Coordena o Projeto

Colóquios de Didática, da UEPG.

Maiza Taques Margraf Althaus

Formada em Pedagogia, com Mestrado em Educação pela

Universidade Estadual de Ponta Grossa. Atuou como Professora na

Educação Básica na rede pública e particular de ensino em Ponta Grossa,

PR. É Professora efetiva da UEPG desde 1991, lotada no Departamento

de Métodos e Técnicas de Ensino, atuando especificamente no ensino

de Didática nas Licenciaturas e em disciplinas voltadas para a docência

universitária, em cursos de Pós-graduação. Desenvolve projetos na área

da formação docente. Coordena o Projeto Colóquios de Didática, da

UEPG.