leitura e escrita 1ª ano "a" - escolalsc.ucoz.esescolalsc.ucoz.es/artigos/escrita.pdf ·...
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APRENDER A ESCREVER
Como ajudar as crianças a se alfabetizar no início da vida escola
Todos os anos, milhares de meninos e meninas do ensino fundamental de
todo o país começam a trilhar um caminho que é um desafio para o professor
alfabetizador que é o aprendizado da leitura e da escrita. Cabe ao professor alfabetizador
apresentar ao aluno desafios que o levam a se lançar na aventura de descobrir como se
lê e como se escreve. Intervenções instigantes do professor, que ajudem a criança a
desenvolver a reflexão sobre o universo da leitura e da escrita, podem contribuir para o
sucesso dela na alfabetização inicial.
No entanto, existem alguns obstáculos nessa trajetória. A criança que
começa a ser alfabetizada não é uma folha de papel em branco. Ela vive em um mundo
no qual a escrita está presente em toda parte, nas mais diversas manifestações do
cotidiano; assim chega à escola já com algumas idéias sobre a escrita. Nesse momento,
muitas vezes ocorre um choque: a escola tem uma proposta de alfabetização que não
combina com o modo como a criança vem pensando a escrita. Essa contradição pode
aumentar a dificuldade dela para se alfabetizar no inicio da escolaridade.
É importante que o professor alfabetizador compreenda como a criança
pensa no começo do aprendizado da escrita e promova atividades que colaborem com o
modo e pensar dela. Esse é um grande desafio do ensino da língua portuguesa nos
primeiros anos do ensino fundamental.
Desafios para ensinar e aprender
A grande dificuldade dos professores envolvidos com a alfabetização é que
muitos não compreendem que as crianças já pensam sobre a escrita e elaboram algumas
hipóteses sobre ela. Em geral, isso é decorrência do próprio modo como eles foram
ensinados: apreenderam a escrever treinando bastante, copiando letras repetidas vezes.
A verdade é que muitos permanecem presos a essas concepções e não compreendem
que o trabalho da leitura e da escrita
Entretanto, muitos professores consideram melhor ensinar as unidades
silábicas. Eles recorrem a métodos que reforçam o som das letras ou então ditam a
palavras em pequenas partes, como se o problema do aluno fosse de escuta. Mas a
verdade é que a criança escuta as palavras globalmente, e não por partes. E é justamente
ao escrever que ela acaba entendendo que apalavras escrita tem partes, componentes.
Algumas importantes pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky
mostram que a construção da escrita não se faz da sílaba para a palavra toda, mas sim no
sentido inverso. Tais pesquisas evidenciaram que as crianças, mesmos antes de aprender
a escrever, já têm muitas idéias sobre a escrita. Por exemplo:
Pensam que sempre precisam usar muitas letras para escrever;
Relacionam o tamanho do objeto ao tamanho da escrita (ou seja,
acham que objetos maiores são escritos com mais letras do que
objetos menores. Por exemplo, para escrever “boi” será preciso usar
mais letras do que para escrever “cachorro”);
No inicio da alfabetização, não reconhecem como escrita algo que
tenha menos de três letras;
Não consideram que algo possa ser escrito com letras repetidas.
Proposta de Atividades
Para ajudar a criança a se alfabetizar, o ensino não pode ir na contramão da
aprendizagem. Se o aluno constrói por si só um caminho, e você aponta um trajeto
oposto, acaba criando barreiras para o aprendizado. As propostas a seguir ajudam a
superar esses obstáculos.
1. Identifique as hipóteses de escrita da criança e trabalhe com base nelas
O primeiro passo é identificar em qual fase o aluno está. Isso orientará a
intervenção do professor alfabetizador. Se um aluno está no 2ª ano, mas
apresenta hipóteses de escrita são:
No nível pré-silábico, a criança não sabe que existe uma relação entre o
que é falado é o que é escrito, por isso não tem critérios para a seleção
de letras que vão compor a palavra. Usa muitas letras e é incapaz de
ajustar a escrita à leitura da palavra. Outras vezes, coloca um número de
letras que julga compatível com o tamanho do objeto (por exemplo,
entende que “bolo” deve ter mais letras que “ brigadeiro”). O principal
desafio desse nível consiste em compreender que a escolha das letras que
compõem uma palavra não é aleatória.
No nível da escrita silábica, a criança já trabalha com um critério de
quantidade. É comum, por exemplo, usar uma letra para cada sílaba. Em
um primeiro momento, talvez ela não atribua valor sonoro e então use
qualquer letra para representar as silabas. Depois, quando lhes atribui um
valor sonoro, começa a fazer relações silábicas entre o que escuta e o que
escreve e usa letras presentes na silaba para representá-la. O grande
desafio desse nível é descobrir a ordem das letras na composição das
palavras.
Em seguida, o aluno conquista a escrita alfabética. Consegue escrever
uma palavra quando a ouve pela primeira vez, embora cometa erros de
ortografia. É um indício de que ele já tem um domínio razoável do
sistema de escrita. O desafio é se tornar um verdadeiro e competente
usuário dele.
2. Desenvolva atividades para que a criança escreva de verdade
Ao descobrir a hipótese dos alunos, proponha atividades de escrita:
Escrita de textos coletivos, que são ditados ao professor;
Escrita individual de textos, como parte das atividades ligadas à rotina da
sala: listas de nomes, textos que os alunos já sabem de cor, entre outras
possibilidades.
Em suas intervenções nessas atividades de escrita, interaja com os alunos,
dialogando com a forma como pensam a fim de gerar desafios e provocar dúvidas: “É
assim mesmo que se escreve?”; “É realmente essa a quantidade de letras?”; “ É essa
letra mesmo?”; “ É nessa ordem?” Com isso, o pensamento da criança vai avançando
até ela chegar a uma escrita alfabética.
3. Crie oportunidades para que a criança entre em contato com textos escritos
Agora que você já trabalhou com a escrita dos alunos, organize uma rotina
pedagógica para que todos participem de:
Rodas de leitura feita pelo professor: de textos narrativos, poéticos,
informativos, instrucionais;
Momentos em que os próprios alunos lêem sozinhos ou uns para os outros:
parlendas, histórias em quadrinhos e trechos de livros, revistas ou jornais,
articulando a leitura aos projetos desenvolvidos em sala.
4. Promova discussões coletivas sobre como se escreve
Quando compreendem que a escrita tem estabilidade, que as palavras são
grafadas sempre do mesmo modo, as crianças aceitam discutir entre si suas
produções. Para dar inicio a essa atividade, você pode dizer a elas, por exemplo,
“Vamos escrever a lista de frutas que vai ser usada na nossa salada de frutas? Vai
abacaxi, maçã, banana, goiaba, pêra e uva.”
As crianças devem escrever a lista, conforme você solicitou. No final, pergunte a
elas: “ E então? Como vocês escreveram “abacaxi”?
Quando você mostra ao grupo as diferentes formas como essa palavra foi escrita,
isso leva as crianças a refletir, porque elas já sabem que a palavra deve ser escrita de
um jeito só. Desse modo, ao instaurar a dúvida, sua intervenção é produtiva, porque
o objetivo não é chegar à escrita convencional da palavra, mas dar à criança
instrumentos próprios para que pense em como se escreve.
5. Construa e siga um quadro de rotina para a alfabetização inicial
Planeje o trabalho diário de sala de aula a fim de incluir com freqüência
algumas propostas de escrita. O modelo abaixo é um bom exemplo. Ele permite
perceber o leque de situações de leitura e escrita (individual e coletiva) que você
pode oferecer a seus alunos
DICA
A escrita com letras moveis maiúsculas é aconselhável nessa fase inicial da alfabetização. Tenha
sempre várias caixinhas com as letras do alfabeto soltas e coloque-as à disposição dos alunos. Esse tipo
de letra agiliza as operações mentais dos alunos e facilita o aprendizado.
A escrita de mão é entendida como uma tecnologia de escrita. Ela serve para escrever mais rápido, de
modo que a mão acompanha a velocidade do pensamento. Não é o caso de utilizá-la na alfabetização
inicial, quando a criança está pensando sobre a escrita e escrevendo devagar. Deve-se introduzi-la
quando o aluno já estiver produzindo os próprios textos e precisar de agilidade para escrever.
DICA
Alguns professores insistem: Mas a cartilha não funcionava antes? Por que a gente não volta a usá-la”
A resposta é que a cartilha não funcionava tão bem assim. Tanto que os índices de reprovação no 1ª ano
eram altíssimos. Com a cartilha, a criança demora mais tempo para ser alfabetizada, porque ela não faz
a relação entre as partes da palavra e a palavra toda.
Em cada dia da semana, você deve realizar tudo o que consta nesse quadro,
além, é claro, dos demais conteúdos previstos para aquele dia. Essas atividades
devem ocupar, no Maximo, 1h30 do dia de aula.
Ao longo do ano, você desenvolverá variados projetos. A idéia é que os utilize
para criar situações de escrita. Por exemplo, se o projeto refere-se à pesquisa de
brincadeiras em outros lugares do país, os alunos podem escrever a lista dos
nomes das brincadeiras.
Quadro de Rotina para Alfabetização Inicial
2ª feira
3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira
Leitura pelo Professor
(Sugestão: textos
narrativos)
Leitura pelo Professor
(Sugestão: textos poéticos)
Leitura pelo Professor
(Sugestão: textos
narrativos)
Leitura pelo Professor
(Sugestão: textos
informativos ou
instrucionais)
Leitura pelo Professor
(Sugestão: textos
narrativos)
Leitura pelos alunos
(Sugestão: textos
memorizados, poemas,
parlendas, quadrinhas)
Leitura pelos alunos
(Sugestão: leitura de listas)
Leitura pelos alunos
(Sugestão: situações
articuladas aos projetos)
Leitura pelos alunos
(Sugestão: histórias em
quadrinhos)
Leitura pelos alunos
(Sugestão: pequenos
trechos de histórias)
Escrita individual
(Sugestão: atividades
ligadas a projetos
desenvolvidos em sala de
aula)
Escrita individual (Sugestão: produção de
textos)
Escrita individual (Sugestão: atividades
ligadas a projetos
desenvolvidos em sala de
aula)
Escrita individual (Sugestão: produção de
textgos)
Escrita individual (Sugestão: atividades
ligadas a projetos
desenvolvidos em sala de
aula)
(Adaptado de Brasil. MEC. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Profa. Coletânea de textos, módulo 1. Brasilia, jan, 2001.)
Sugestões adicionais
Faça sempre uma Avaliação inicial para saber o que as crianças pensam sobre a
escrita e só então monte o seu planejamento de aula. Você pode se surpreender
com a quantidade de hipóteses que elas já têm sobre a escrita. Com base nessa
avaliação, você terá pistas sobre o que realmente pode ser desafiador para o
grupo.
Peça que as crianças expliquem em voz alta como pensaram para escrever e o
que está escrito em cada pedaço de determinada frase que produziram. Ao falar
em voz alta, elas criam uma oportunidade de rever suas idéias iniciais. Além
disso, a explicação permite que você acompanhe o processo de pensamento
delas.
Espera-se que até o 2ª ano o aluno use a escrita com certa autonomia para dar
conta de todas as suas tarefas cotidianas na escola, você deve insistir nas
atividades do inicio da alfabetização, preocupando-se em identificar como as
crianças pensam sobre a escrita e intervindo com base nisso.
Além de lápis, ofereça também letras móveis, pois elas facilitam o trabalho da
criança na hora de reescrever uma palavra.
Como saber se o aluno aprendeu
Realize periodicamente a sondagem, um procedimento de avaliação montado e
organizado segundo um critério especifico.
Dite às crianças uma lista contendo palavras polissílabas, passando para
trissílabas, dissílabas e monossílabas, e coloque no final uma frase que contenha
pelo menos uma das palavras anteriores. A lista parte das polissílabas para as
monossílabas justamente para colaborar com o modo próprio de o aluno pensar.
Organize-a conforme um campo semântico: alimentos, nomes de animais etc.
isso garante que as crianças saiba sobre o que vão escrever. Observe se elas
escreveram da mesma forma na frase final e na lista as palavras que constam em
ambas.
A sondagem pode ser aplicada de três em três meses e deve ser feita
individualmente, para que você mantenha um registro sistemático do modo
como a criança escreveu, que relações ela fez. Para que isso seja possível, você
precisa ter uma certa organização, porque não vai conseguir registrar em um
único dia a escrita de todas as crianças. Assim enquanto a sala desenvolve outro
tipo de proposta dentro da rotina escolar, reúna um pequeno grupo de crianças e
faça essa avaliação. No dia seguinte, repita o processo com outro grupo de
alunos, e assim por diante. Ao longo do ano deve haver uma progressão no
modo de escrever.
Em relação às crianças que deixam claro o que sabem, a sondagem é
dispensável, pois a melhor forma de verificar o aprendizado delas é acompanhar
a escrita que fazem ao longo do ano.
Fonte: Língua portuguesa: solução para dez desafios do professor: 1ª ao 3ª ano
do ensino fundamental/ Débora Rana, Silvana Augusto; 1, Ed.- São Paulo: Atica
Educadores, 2011.
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