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http://luizsoaresdecassia.blogspot.com.br APRENDER A ESCREVER Como ajudar as crianças a se alfabetizar no início da vida escola Todos os anos, milhares de meninos e meninas do ensino fundamental de todo o país começam a trilhar um caminho que é um desafio para o professor alfabetizador que é o aprendizado da leitura e da escrita. Cabe ao professor alfabetizador apresentar ao aluno desafios que o levam a se lançar na aventura de descobrir como se lê e como se escreve. Intervenções instigantes do professor, que ajudem a criança a desenvolver a reflexão sobre o universo da leitura e da escrita, podem contribuir para o sucesso dela na alfabetização inicial. No entanto, existem alguns obstáculos nessa trajetória. A criança que começa a ser alfabetizada não é uma folha de papel em branco. Ela vive em um mundo no qual a escrita está presente em toda parte, nas mais diversas manifestações do cotidiano; assim chega à escola já com algumas idéias sobre a escrita. Nesse momento, muitas vezes ocorre um choque: a escola tem uma proposta de alfabetização que não combina com o modo como a criança vem pensando a escrita. Essa contradição pode aumentar a dificuldade dela para se alfabetizar no inicio da escolaridade. É importante que o professor alfabetizador compreenda como a criança pensa no começo do aprendizado da escrita e promova atividades que colaborem com o modo e pensar dela. Esse é um grande desafio do ensino da língua portuguesa nos primeiros anos do ensino fundamental.

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http://luizsoaresdecassia.blogspot.com.br

APRENDER A ESCREVER

Como ajudar as crianças a se alfabetizar no início da vida escola

Todos os anos, milhares de meninos e meninas do ensino fundamental de

todo o país começam a trilhar um caminho que é um desafio para o professor

alfabetizador que é o aprendizado da leitura e da escrita. Cabe ao professor alfabetizador

apresentar ao aluno desafios que o levam a se lançar na aventura de descobrir como se

lê e como se escreve. Intervenções instigantes do professor, que ajudem a criança a

desenvolver a reflexão sobre o universo da leitura e da escrita, podem contribuir para o

sucesso dela na alfabetização inicial.

No entanto, existem alguns obstáculos nessa trajetória. A criança que

começa a ser alfabetizada não é uma folha de papel em branco. Ela vive em um mundo

no qual a escrita está presente em toda parte, nas mais diversas manifestações do

cotidiano; assim chega à escola já com algumas idéias sobre a escrita. Nesse momento,

muitas vezes ocorre um choque: a escola tem uma proposta de alfabetização que não

combina com o modo como a criança vem pensando a escrita. Essa contradição pode

aumentar a dificuldade dela para se alfabetizar no inicio da escolaridade.

É importante que o professor alfabetizador compreenda como a criança

pensa no começo do aprendizado da escrita e promova atividades que colaborem com o

modo e pensar dela. Esse é um grande desafio do ensino da língua portuguesa nos

primeiros anos do ensino fundamental.

Desafios para ensinar e aprender

A grande dificuldade dos professores envolvidos com a alfabetização é que

muitos não compreendem que as crianças já pensam sobre a escrita e elaboram algumas

hipóteses sobre ela. Em geral, isso é decorrência do próprio modo como eles foram

ensinados: apreenderam a escrever treinando bastante, copiando letras repetidas vezes.

A verdade é que muitos permanecem presos a essas concepções e não compreendem

que o trabalho da leitura e da escrita

Entretanto, muitos professores consideram melhor ensinar as unidades

silábicas. Eles recorrem a métodos que reforçam o som das letras ou então ditam a

palavras em pequenas partes, como se o problema do aluno fosse de escuta. Mas a

verdade é que a criança escuta as palavras globalmente, e não por partes. E é justamente

ao escrever que ela acaba entendendo que apalavras escrita tem partes, componentes.

Algumas importantes pesquisas de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky

mostram que a construção da escrita não se faz da sílaba para a palavra toda, mas sim no

sentido inverso. Tais pesquisas evidenciaram que as crianças, mesmos antes de aprender

a escrever, já têm muitas idéias sobre a escrita. Por exemplo:

Pensam que sempre precisam usar muitas letras para escrever;

Relacionam o tamanho do objeto ao tamanho da escrita (ou seja,

acham que objetos maiores são escritos com mais letras do que

objetos menores. Por exemplo, para escrever “boi” será preciso usar

mais letras do que para escrever “cachorro”);

No inicio da alfabetização, não reconhecem como escrita algo que

tenha menos de três letras;

Não consideram que algo possa ser escrito com letras repetidas.

Proposta de Atividades

Para ajudar a criança a se alfabetizar, o ensino não pode ir na contramão da

aprendizagem. Se o aluno constrói por si só um caminho, e você aponta um trajeto

oposto, acaba criando barreiras para o aprendizado. As propostas a seguir ajudam a

superar esses obstáculos.

1. Identifique as hipóteses de escrita da criança e trabalhe com base nelas

O primeiro passo é identificar em qual fase o aluno está. Isso orientará a

intervenção do professor alfabetizador. Se um aluno está no 2ª ano, mas

apresenta hipóteses de escrita são:

No nível pré-silábico, a criança não sabe que existe uma relação entre o

que é falado é o que é escrito, por isso não tem critérios para a seleção

de letras que vão compor a palavra. Usa muitas letras e é incapaz de

ajustar a escrita à leitura da palavra. Outras vezes, coloca um número de

letras que julga compatível com o tamanho do objeto (por exemplo,

entende que “bolo” deve ter mais letras que “ brigadeiro”). O principal

desafio desse nível consiste em compreender que a escolha das letras que

compõem uma palavra não é aleatória.

No nível da escrita silábica, a criança já trabalha com um critério de

quantidade. É comum, por exemplo, usar uma letra para cada sílaba. Em

um primeiro momento, talvez ela não atribua valor sonoro e então use

qualquer letra para representar as silabas. Depois, quando lhes atribui um

valor sonoro, começa a fazer relações silábicas entre o que escuta e o que

escreve e usa letras presentes na silaba para representá-la. O grande

desafio desse nível é descobrir a ordem das letras na composição das

palavras.

Em seguida, o aluno conquista a escrita alfabética. Consegue escrever

uma palavra quando a ouve pela primeira vez, embora cometa erros de

ortografia. É um indício de que ele já tem um domínio razoável do

sistema de escrita. O desafio é se tornar um verdadeiro e competente

usuário dele.

2. Desenvolva atividades para que a criança escreva de verdade

Ao descobrir a hipótese dos alunos, proponha atividades de escrita:

Escrita de textos coletivos, que são ditados ao professor;

Escrita individual de textos, como parte das atividades ligadas à rotina da

sala: listas de nomes, textos que os alunos já sabem de cor, entre outras

possibilidades.

Em suas intervenções nessas atividades de escrita, interaja com os alunos,

dialogando com a forma como pensam a fim de gerar desafios e provocar dúvidas: “É

assim mesmo que se escreve?”; “É realmente essa a quantidade de letras?”; “ É essa

letra mesmo?”; “ É nessa ordem?” Com isso, o pensamento da criança vai avançando

até ela chegar a uma escrita alfabética.

3. Crie oportunidades para que a criança entre em contato com textos escritos

Agora que você já trabalhou com a escrita dos alunos, organize uma rotina

pedagógica para que todos participem de:

Rodas de leitura feita pelo professor: de textos narrativos, poéticos,

informativos, instrucionais;

Momentos em que os próprios alunos lêem sozinhos ou uns para os outros:

parlendas, histórias em quadrinhos e trechos de livros, revistas ou jornais,

articulando a leitura aos projetos desenvolvidos em sala.

4. Promova discussões coletivas sobre como se escreve

Quando compreendem que a escrita tem estabilidade, que as palavras são

grafadas sempre do mesmo modo, as crianças aceitam discutir entre si suas

produções. Para dar inicio a essa atividade, você pode dizer a elas, por exemplo,

“Vamos escrever a lista de frutas que vai ser usada na nossa salada de frutas? Vai

abacaxi, maçã, banana, goiaba, pêra e uva.”

As crianças devem escrever a lista, conforme você solicitou. No final, pergunte a

elas: “ E então? Como vocês escreveram “abacaxi”?

Quando você mostra ao grupo as diferentes formas como essa palavra foi escrita,

isso leva as crianças a refletir, porque elas já sabem que a palavra deve ser escrita de

um jeito só. Desse modo, ao instaurar a dúvida, sua intervenção é produtiva, porque

o objetivo não é chegar à escrita convencional da palavra, mas dar à criança

instrumentos próprios para que pense em como se escreve.

5. Construa e siga um quadro de rotina para a alfabetização inicial

Planeje o trabalho diário de sala de aula a fim de incluir com freqüência

algumas propostas de escrita. O modelo abaixo é um bom exemplo. Ele permite

perceber o leque de situações de leitura e escrita (individual e coletiva) que você

pode oferecer a seus alunos

DICA

A escrita com letras moveis maiúsculas é aconselhável nessa fase inicial da alfabetização. Tenha

sempre várias caixinhas com as letras do alfabeto soltas e coloque-as à disposição dos alunos. Esse tipo

de letra agiliza as operações mentais dos alunos e facilita o aprendizado.

A escrita de mão é entendida como uma tecnologia de escrita. Ela serve para escrever mais rápido, de

modo que a mão acompanha a velocidade do pensamento. Não é o caso de utilizá-la na alfabetização

inicial, quando a criança está pensando sobre a escrita e escrevendo devagar. Deve-se introduzi-la

quando o aluno já estiver produzindo os próprios textos e precisar de agilidade para escrever.

DICA

Alguns professores insistem: Mas a cartilha não funcionava antes? Por que a gente não volta a usá-la”

A resposta é que a cartilha não funcionava tão bem assim. Tanto que os índices de reprovação no 1ª ano

eram altíssimos. Com a cartilha, a criança demora mais tempo para ser alfabetizada, porque ela não faz

a relação entre as partes da palavra e a palavra toda.

Em cada dia da semana, você deve realizar tudo o que consta nesse quadro,

além, é claro, dos demais conteúdos previstos para aquele dia. Essas atividades

devem ocupar, no Maximo, 1h30 do dia de aula.

Ao longo do ano, você desenvolverá variados projetos. A idéia é que os utilize

para criar situações de escrita. Por exemplo, se o projeto refere-se à pesquisa de

brincadeiras em outros lugares do país, os alunos podem escrever a lista dos

nomes das brincadeiras.

Quadro de Rotina para Alfabetização Inicial

2ª feira

3ª feira 4ª feira 5ª feira 6ª feira

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

narrativos)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos poéticos)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

narrativos)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

informativos ou

instrucionais)

Leitura pelo Professor

(Sugestão: textos

narrativos)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: textos

memorizados, poemas,

parlendas, quadrinhas)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: leitura de listas)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: situações

articuladas aos projetos)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: histórias em

quadrinhos)

Leitura pelos alunos

(Sugestão: pequenos

trechos de histórias)

Escrita individual

(Sugestão: atividades

ligadas a projetos

desenvolvidos em sala de

aula)

Escrita individual (Sugestão: produção de

textos)

Escrita individual (Sugestão: atividades

ligadas a projetos

desenvolvidos em sala de

aula)

Escrita individual (Sugestão: produção de

textgos)

Escrita individual (Sugestão: atividades

ligadas a projetos

desenvolvidos em sala de

aula)

(Adaptado de Brasil. MEC. Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – Profa. Coletânea de textos, módulo 1. Brasilia, jan, 2001.)

Sugestões adicionais

Faça sempre uma Avaliação inicial para saber o que as crianças pensam sobre a

escrita e só então monte o seu planejamento de aula. Você pode se surpreender

com a quantidade de hipóteses que elas já têm sobre a escrita. Com base nessa

avaliação, você terá pistas sobre o que realmente pode ser desafiador para o

grupo.

Peça que as crianças expliquem em voz alta como pensaram para escrever e o

que está escrito em cada pedaço de determinada frase que produziram. Ao falar

em voz alta, elas criam uma oportunidade de rever suas idéias iniciais. Além

disso, a explicação permite que você acompanhe o processo de pensamento

delas.

Espera-se que até o 2ª ano o aluno use a escrita com certa autonomia para dar

conta de todas as suas tarefas cotidianas na escola, você deve insistir nas

atividades do inicio da alfabetização, preocupando-se em identificar como as

crianças pensam sobre a escrita e intervindo com base nisso.

Além de lápis, ofereça também letras móveis, pois elas facilitam o trabalho da

criança na hora de reescrever uma palavra.

Como saber se o aluno aprendeu

Realize periodicamente a sondagem, um procedimento de avaliação montado e

organizado segundo um critério especifico.

Dite às crianças uma lista contendo palavras polissílabas, passando para

trissílabas, dissílabas e monossílabas, e coloque no final uma frase que contenha

pelo menos uma das palavras anteriores. A lista parte das polissílabas para as

monossílabas justamente para colaborar com o modo próprio de o aluno pensar.

Organize-a conforme um campo semântico: alimentos, nomes de animais etc.

isso garante que as crianças saiba sobre o que vão escrever. Observe se elas

escreveram da mesma forma na frase final e na lista as palavras que constam em

ambas.

A sondagem pode ser aplicada de três em três meses e deve ser feita

individualmente, para que você mantenha um registro sistemático do modo

como a criança escreveu, que relações ela fez. Para que isso seja possível, você

precisa ter uma certa organização, porque não vai conseguir registrar em um

único dia a escrita de todas as crianças. Assim enquanto a sala desenvolve outro

tipo de proposta dentro da rotina escolar, reúna um pequeno grupo de crianças e

faça essa avaliação. No dia seguinte, repita o processo com outro grupo de

alunos, e assim por diante. Ao longo do ano deve haver uma progressão no

modo de escrever.

Em relação às crianças que deixam claro o que sabem, a sondagem é

dispensável, pois a melhor forma de verificar o aprendizado delas é acompanhar

a escrita que fazem ao longo do ano.

Fonte: Língua portuguesa: solução para dez desafios do professor: 1ª ao 3ª ano

do ensino fundamental/ Débora Rana, Silvana Augusto; 1, Ed.- São Paulo: Atica

Educadores, 2011.

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