leitura crítica do projeto de lei da democratização da comunicação

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PLIP-PLIP em vez de BLING-BLING? Um olhar crítico sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica (PLIP) face ao Direito à Comunicação em tempos de digitalização do rádio. Resumo do short paper entregue para a Conferência Internacional ESC2 - O Rádio Digital no Contexto Brasileiro Nils Brock, doutorando na Universidade Livre de Berlim (FU) e cooperante internacional da AMARC Brasil

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Page 1: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

PLIP-PLIP em vez de BLING-BLING?Um olhar crítico sobre o Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação Social Eletrônica (PLIP) face ao Direito à Comunicação em tempos de digitalização do rádio.

Resumo do short paper entregue para a Conferência Internacional ESC2 -

O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Nils Brock, doutorando na Universidade Livre de Berlim (FU) e cooperante

internacional da AMARC Brasil

Page 2: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Objetivos do paper

● Revisão crítica do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Comunicação social eletrônica (PLIP) e a sua pretensão de regulamentar os artigos 5, 21, 220, 221, 222 e 223 da Constituição Federal à luz dos Direitos Humanos que tratam da livre expressão e da comunicação

● Demonstrar a necessidade de um debate interno do PLIP sobre:● a relação entre direitos fundamentais individuais, cívicos e humanos● critérios e limites da regulação democrática pelo Estado● garantias da democracia participativa na área da comunicação eletrônica

e da digitalização da radiodifusão

A »iniciativa popular« não pode se restringir ao processo da escrever uma lei, ela deve incluir também a sua aplicação e potenciais modificações, tanto por questões inerentes na ideia dos Direitos Humanos como em relação à atual reconfiguração dos espaços midiáticos (ex. a digitalização) onde precisam ser evitadas futuras limitações de liberdades e Direitos Humanos.

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 3: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Estrutura do short paper

1. A liberdade de expressão e o direito a comunicação oscilando entre leis nacionais e garantias globais

2. Os limites da regulação estatal

3. A participação e as reivindicações populares

4. Conclusão – As Lições da Espanha, mais uma proposta

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 4: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Metodologia e limites do trabalho● crítica conceitual/teórica sobre a relação entre uma lei

nacional e os Direitos Humanos;

● revisão crítica do protagonismo do Estado relacionada à questão da regulamentação, recorrendo a argumentos teóricos e empíricos;

● análises de reivindicações populares aplicadas à área de comunicação (a campanha »Não ao lucro«, do movimento estudantil do Chile, produção de software livre e uso aberto do espectro eletromagnético).

Obviamente, pela brevidade do artigo não se trata de uma análise exaustiva, a pretensão é fazer surgir questões para o debate atual e o encaminhamento de uma radiodifusão analógico/digital que mereça ser chamada de mídia democrática.

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 5: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

1. A liberdade de expressão e o direito a comunicação

Problemas centrais:

● Os artigos constitucionais que o PLIP pretende garantir uma defesa da liberdade de expressão porém não mencionam e nem definem o direito à comunicação

● O PLIP pode definir e explicitar direitos individuais fundamentais e cívicos ao nível nacional mas não diretamente Direitos Humanos (somente pode contribuir para a sua defesa)

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 6: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Perguntas em xeque

●os sujeitos que podem reclamar os direitos prescritos no PLIP ● pessoas jurídicas, comunidades (Art. 2 VII.) mas também

indivíduos?● implícita exclusão de imigrantes e refugiados (Art. 2 VII.)

●definição do espaço midiático no PLIP● restrita definição da comunicação social eletrônica com

radiodifusão em conflito com a luta histórica pela extensão da liberdade de expressão

● a exclusiva »competência do poder Executivo« (Art. 3 IV §1°) em criar e classificar outros serviços de comunicação no espectro eletromagnético ameaça a diversidade da mídia

● a não menção e regulamentação de novas formas de comunicação no espetro eletromagnético (redes mesh, rádio cognitivo)

Conclusão: precisa-se debater novamente os sujeitos e espaços da comunicação para evitar que o PLIP colida com a defesa dos Direitos Humanos

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 7: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

2. Os limites da regulação estatal

Problemas centrais:

● Um entendimento que somente distingue entre regulamentação e uma não-regulamentação ou desregulamentação, conotado pela ideia de que regular a mídia automaticamente amplifica a liberdade de expressão

● A tentativa de regular tudo a priori nega o próprio caráter processual dos Direitos Humanos (ex. Balibar: »universalização intensa«)

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 8: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Perguntas em xeque

● definir critérios quantitativos e qualitativos da complementaridade dossistemas público, privado e estatal de comunicação« (Art. 4 f).

● emissoras estatais e privadas recebem 33% das freqüênciasdisponíveis cada uma, enquanto rádios associativas-comunitárias epúblicas têm que compartilhar outro terço (Art. 5. III. §1°)

● falta de incentivo no tocante à diversidade midiática no sentido deceder espaços experimentais que permitam a realização de um devirmidiático e uma apropriação de novas possibilidades tecnológicas

● reserva da atividade de regular a mídia a instituições estatais situada aonível da União (ver ex. Art.9 §3°)

● violação do »principio federativo« e exclusão das regiões emunicípiosna regulamentação do espectro eletromagnético

● não previsão de formas de auto-regulamentação, seja no entornoanalógico (ex. Regulamento do Serviço de Radioamador (NORMA Nº031/94)) ou digital (smart radios)

Conclusão: discutir possíveis processos a fim de abrir e decentralizar o processo da regulamentação além de utilizar regras básicas (ex. as sugeridos leis anti-monopólios (Art. 14, Art 15, Art 18)

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 9: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

3. A participação e as reivindicações populares

Problemas centrais:

●»promoção da participação popular nas políticas públicas de comunicação« (Art. 4 p) com a criação de um »Conselho Nacional de Políticas de Comunicação« (art. 29) onde estejam presentes representantes da sociedade civil, porém de novo situado unicamente ao nível da União

● restrita definição do direito de antena (Art. 21 I)) que somente garante a grupos sociais acesso temporal à mídia estabelecida, não possibilitando a criação de mídias próprias

● diversas propostas e premissas de movimentos sociais (não incluídas no PLIP) demonstram contradições internas do projeto

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Page 10: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Perguntas em xeque

● abertura do espectro eletromagnético para usos plurais e diversos● leitura do direito de antena no »uso comum do povo« do espectro eletromagnético, entendido como um bem ambiental de »índole difusa« ao alcance de cada um (Artigo 225 da

Constituição Brasileira)● luta por bens comuns (commons) que permitem uma abertura da produção deinformação e de comunicação sem a necessidade de ter qualquer permissão

● vínculo entre lucro e comunicação● crítica do paradigma da »responsabilidade social« que »aceita que a mídia deve servir ao sistema econômico e buscar a obtenção do lucro […]«

● falta definir claramente o caráter não-lucrativo »operação de rede« (Art. 2 V.). porque a Lei fala tanto de pessoa jurídica de direito privado como público«

● uso de software livre e padrões digitais abertas● carta aberta da Amarc Europa e do Fórum Europeu da Mídia Comunitária (CMFE)a favor de sistemas abertos, recomendando o uso do padrão Digital RadioMondial (DRM) em vez do sistema fechado e com fins lucrativos HD Radio daempresa Ibiquity.

● falta de sensibilidade sócio-técnica a perguntas emergentes (ex. criação de um espectro eletromagnético) aberto, interatividade do rádio digital

● propostas em xeque com a definição da radiodifusão no PLIP, que fala de um »fluxo de sinais predominantemente no sentido da emissora« (Art. 2 a)).

Conclusão: qualquer autor de um projeto de lei deveria fazer o esforço de pelo menos não bloquear a apropriação do fazer-midiático da tecnologia por indivíduos e sujeitos coletivos, além de prever a sua participação ativa numa regulamentação descentralizada

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 11: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

4. Conclusão – As Lições da Espanha mais uma proposta

Por que vale comparar com a Espanha?

Porque a mídia eletrônica surge na Espanha durante um regime ditatorial (1936-1973) como um sistema desequilibrado, dominado por um oligopólio de empresas comerciais que controlam até hoje a maioria das freqüências

Desenvolvimentos recentes

● Esperanças em relação à elaboração de uma nova Lei Geral da Comunicação Audiovisual (LGCA), na qual participaram movimentos sociais e mídia independente não foram cumpridos e as mudanças posteriores no projeto por parte dos parlamentares causou um marco legal pouco favorável para se expressar e se comunicar livremente no espectro eletromagnético.

● 13 anos depois da introdução de um padrão digital (DAB) permanece um »cenário de incerteza«

● empresas privadas não investem no rádio digital, dando preferência àreestruturação »da sua atividade em termos de companhia multimídia«

● falta de uma »liderança pública frente à migração digital«, que poderiaatrapalhar a escolha da melhor opção tecnológica.

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro

Page 12: Leitura Crítica do Projeto de Lei da Democratização da Comunicação

Conclusão final...

O olhar em direção à Espanha demonstra a urgência de direcionar a atual campanha para além da discussão parlamentar do PLIP mas também para um debate interno sobre as necessárias descentralizações da regulamentação do rádio e um acréscimo de participação cidadã nas políticas públicas em favor da liberdade de expressão e do direito à comunicação

...e uma proposta prática

Permitir e incentivar »transmissões experimentais« (como previstas na Lei atual 4.117 (Art. 6° f)) que poderiam significar um ponto inicial prático pela continua introdução do espectro aberto (tanto analógico como digital) e evidências empíricas da sua viabilidade sócio-técnica.

Nils Brock- Conferência Internacional ESC2 – O Rádio Digital no Contexto Brasileiro