leitão, iagor brum; fávaro, dayana de souza; figueredo

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Leitão, Iagor Brum; Fávaro, Dayana de Souza; Figueredo, Dalton Demoner; Suziane Kirmse. Os impasses frente à perda de objeto | Analytica | São João de-Rei | v.6 | n. 11 | julho/ dezembro de 2017 | 69 OS IMPASSES FRENTE À PERDA DE OBJETO Iagor Brum Leitão 1 Dayane de Souza Fávaro 2 Dalton Demoner Figueiredo 3 Suziane Kirmse Comério 4 1 Psicanalista. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo (PPGP/UFES). E-mail: [email protected] 2 Psicóloga pela Faculdade Multivix - Nova Venécia, Espírito Santo. E-mail: [email protected] 3 Psicanalista. Especialista em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), Rio de Janeiro. Mestre e Doutor em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ), Rio de Janeiro. E-mail: [email protected] 4 Psicanalista. Mestre em Psicanálise, Saúde e Sociedade pela Universidade Veiga de Almeida (UVA/RJ), Rio de Janeiro. E-mail: [email protected]

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Leitão,IagorBrum;Fávaro,DayanadeSouza;Figueredo,DaltonDemoner;Suziane

Kirmse.Osimpassesfrenteàperdadeobjeto

| Analytica | São João de-Rei | v.6 | n. 11 | julho/ dezembro de 2017 |

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OSIMPASSESFRENTEÀPERDADEOBJETO

IagorBrumLeitão1

DayanedeSouzaFávaro2

DaltonDemonerFigueiredo3

SuzianeKirmseComério4

1 Psicanalista. Mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal doEspíritoSanto(PPGP/UFES).E-mail:[email protected]ólogapelaFaculdadeMultivix-NovaVenécia,EspíritoSanto.E-mail:[email protected] Psicanalista. Especialista em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), Rio deJaneiro.MestreeDoutoremPsicanálise,SaúdeeSociedadepelaUniversidadeVeigadeAlmeida(UVA/RJ),RiodeJaneiro.E-mail:[email protected]álise,SaúdeeSociedadepelaUniversidadeVeigadeAlmeida(UVA/RJ),RiodeJaneiro.E-mail:[email protected]

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Introdução

Aolongodaobrafreudianasãoapresentadasinúmerasnoçõesparaoconceito

deobjeto.Suanoção,comoadverteGarcia-Roza(1995,p.92),“nãoé,deformaalguma,

umanoção simples na psicanálise, até porque guarda ressonâncias filosóficas que lhe

conferemumacargasemânticadeextremacomplexidade”.DeacordocomAndréGreen

(2000,p.9),oobjetoparaFreudseriapolissêmico:“Existesempremaisqueumobjeto

e, comoum todo, eles cobremvários campos e realizam funçõesquenãopodem ser

abarcadas por um só conceito”. Já para César Merea e Willy Baranger (1994) a

concepçãodeobjetonateoriafreudianaéelementodecisivonaconcepçãodesujeito.

PensaremobjetoparaaPsicanáliseépensar,portanto,naconcepçãodesujeitoeasua

articulaçãocomomundo,comooutro,alteridade.

Nessesentido,aperdadeobjetotratariadedestinoseconsequênciasnaturais

presentesnessarelação,hajavistaquelidamoscomperdasdesdenossachegadaaeste

mundo,comoopeitomaterno(primeiroobjetodeamor)ou,porexemplo,umafaseda

vida. Temos, portanto, o verso dos compositores brasileiros LuizGonzaga e ZéDantas

quetraduzumadessasperdas:Todameninaqueenjoadaboneca,ésinaldequeoamor

jáchegounocoração.Dessaforma,pensarnaperdadeobjetosignificapensarnaforma

emquecadasujeitolidacomo(re)investimentolibidinal,comodesamparo,comojogo

de presença e ausência e com a falta, aspecto central de toda a teoria psicanalítica,

postuladacomoestruturalparaosujeito.

Comosabido,apsicanáliseseconstituiconstantementeapartirdoestudodos

impassesimpostospelaclínica,comobemodemonstrouFreud.Teoriaeapráticaestão

atreladas,poisumademandaàoutra.Pensararespeitodateoriapsicanalíticaérefletir

a respeito das experiências de uma prática clínica, e vice-versa. Considerando o

frequenteegrandenúmerodepessoasquechegamàclínicademandandotratamento

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psicanalítico em virtude de questões que envolvem perdas, reais ou imaginárias,

acreditamosserdeextremarelevânciateórico-clínicapesquisarmoseestudarmossobre

osofrimentohumanodecorrenteda“perdadeobjeto”.Nessaperspectiva,objetivamos

discutiralgumasposiçõesefunçõesqueosobjetosocupamnavidapsíquica,alémdas

consequênciaseasvicissitudesdesuasperdasparaosujeito,tendocomobaseaobra

freudianaeoensinodeLacan.

Método

A estratégia metodológica utilizada foi a de revisão bibliográfica narrativa.

SegundoRother (2007),as revisõesnarrativassãopublicaçõesamplasadequadaspara

descreverediscutirodesenvolvimentoou,comoéditonomeioacadêmico,o“estado

daarte”deumdeterminadoassunto,sobpontodevistateóricooucontextual.Segundo

a autora, essa categoria de artigos tem uma grande importância para a educação

continuada, pois permitem ao leitor adquirir e atualizar o conhecimento sobre uma

temáticaespecíficaemcurtoespaçodetempo.

Para fundamentação teórica o estudo resgata, em um primeiro momento,

subsídiosdaobrafreudianaacercadofuncionamentoedalógicadoaparelhopsíquico,

percorrendo os textos: Projeto para uma psicologia científica, de 1895; Formulações

sobre os dois princípios do funcionamento psíquico, de 1911; Uma introdução ao

narcisismo, de 1914; Além do princípio do prazer, de 1920, e Inibições, sintoma e

angústia,de1927.Emseguida,paraabordarasdiferentesnoçõesdousodoobjetoem

Freud,acompanha-seopercursoqueoautorfazpelatemática,utilizando-sedostextos

LeonardodaVincieumalembrançadesuainfância,de1910;Lutoemelancolia,escrito

em 1914 e publicado em 1917; As pulsões e suas vicissitudes, de 1915; A perda da

realidadenaneuroseenapsicose,de1924eFetichismo,de1927.Paratanto,recorre-se,

também, a alguns comentadores que fazem um retorno a Freud, como o psicanalista

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NelsonErnestoCoelhoJunior,quefazumarevisãosistemáticadasnoçõesdeobjetoem

FreudemseuartigoAnoçãodeobjetonapsicanálisefreudiana,publicadoem2001.

No segundo momento, recorre-se a algumas considerações do filósofo e

psicanalistaesloveno,SlavojZizek,emOamor impiedoso,de2012,sobreumavinheta

deumcaso literáriodo romancedeNevil Shute,Requiem forawren, de1955.Nesse

caso,apersonagemsobreviveàmortede seumaridosemquaisquer traumasvisíveis,

seguindo sua vida e sendo capaz, atémesmo, de conversar racionalmente sobre sua

morte.Quando,algumtempodepois,ocachorro(animaldeestimaçãoecompanheiro

favoritodeseumarido)morre,elasucumbeporcompleto,etodoseumundodesintegra

(Zizek,2012,p.78).Ocasoabreespaçoparacontextualizarediscutirasespecificidades

datemática.

Noterceiroeúltimomomento,érealizadoumasíntesedetodasasinformações

colhidasediscutidas,objetivandoapontarnovosestudos,questõese lacunasa serem

preenchidasedesenvolvidas.

ALógicadoFuncionamentodoAparelhoPsíquicoFreudiano

SigmundFreud,emseu textoProjetoparaumapsicologiacientífica,de1895,

objetiva claramente construir uma fisiologia da mente, descrevendo-a em termos

neurofisiológicos.Logono iníciodoProjeto,Freudexplicaoseuobjetivo:“A finalidade

deste projeto é estruturar uma psicologia que seja uma ciência natural, isto é,

representaremprocessospsíquicoscomoestadosquantitativamentedeterminadosde

partículasmateriaisespecificáveis,dandoassimaessesprocessosumcaráterconcretoe

inequívoco”(Freud,1895/2006,p.355).

Em suma, neste trabalho, tem-se a metáfora biológica para a lógica do

funcionamento do aparato psíquico: o princípio do prazer. Neste momento, Freud

entendequeoaparelhopsíquico funcionana lógicadualdoprazer-desprazer, tendoo

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prazeroso introjetadoeo desprazerosoprojetadopara forade si.O aparelhodescrito

porFreudseapoiananoçãodequantidade(Q),e,aorecorreraoprincípiodainércia(p.

356),oautorentendeQcomooquediferenciaaatividadee repouso.Emsuma,esse

princípio da inércia justificaria a existência de ummovimento reflexo, onde qualquer

aumentodeQocasionadoporumestímuloexternodevesereliminadopelaviadaação

motora, pois seria sentido na qualidade psíquica de desprazer. Já o prazer, seria

resultadodasensaçãoendógenadaeliminaçãodeQ(Lucero&Vorcaro,2009).

No textoFormulações sobre os dois princípios do funcionamento psíquico, de

1911, Freud adverte da inconstância de satisfação pela via do processo alucinatório.

Como não se tem o objeto real, a excitação não diminui, culminando em desprazer

(Santos & Fortes, 2011, p. 750). Assim, “o aparelho psíquico precisa suportar um

adiamento da satisfação até que possa formar uma concepção a respeito das

circunstâncias reais domundo externo e efetuar nelas uma alteração, introduzindo o

princípio de realidade”. Essa atividade, adverte Freud (1911/2006, pp. 241-242), “é o

fantasiar, que começa já nas primeiras brincadeiras infantis, e posteriormente,

conservadacomodevaneio5,abandonaadependênciadeobjetosreais”(grifosnossos).

Mais adiante, Freud (1914/2006, p. 92) em Uma introdução ao narcisismo

retomaessalógicaprazer-desprazer.Freuddiz:

[...]Odesprazer é sempre expressãodeumgraumais elevadode tensão, eque, portanto, o que ocorre é que uma quantidade no campo dosacontecimentosmateriais é transformada, aqui como emoutros lugares, naqualidade psíquica do desprazer [...] Reconhecemos nosso aparelho mentalcomosendo,acimadetudo,umdispositivodestinadoadominarasexcitaçõesque de outra forma seriam sentidas como aflitivas ou teriam efeitospatogênicos.

5 Freud em Escritores criativos e devaneios, de 1908, compara o brincar das crianças como uma produção de um escritor criativo: “Acaso não poderíamos dizer que, ao brincar, toda criança se comporta como um escritor criativo, pois cria um mundo próprio, ou melhor, reajusta os elementos de seu mundo de uma nova forma que lhe agrade?” (Freud, 1908/2006, p. 149).

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FreudtambémformulaanoçãodedesamparonoProjeto,aoafirmarqueháno

infans,desdeoiníciodavida,essaenergiaemebuliçãoqueconstantementeopressiona

no sentido de escoamento e de descarga de tensão pela ação motora – como a

expressão de emoções, movimentos cinéticos e gritos – quando o bebê precisará da

ajuda de um outro que interprete e atenda sua demanda, que o ajude, portanto, a

reestabelecerseuequilíbrio.Nessesentido,obebêexisteconstantementeemestadode

desamparo.ParaSantoseFortes(2011),esteestadooriginárioresultarianainscriçãoda

alteridade no registro da dependência, como condição para o surgimento do sujeito

psíquico. Assim, entende-se a alteridade como um dispositivo de investimento

primordialparaoprocessodesubjetivação,noção também jáarticuladaporFreudno

Projeto:

Oorganismohumanoé,aprincípio,incapazdepromoveressaaçãoespecífica.Elaseefetuaporajudaalheia,quandoaatençãodeumapessoaexperienteévoltadaparaumestadoinfantilpordescargaatravésdaviadaalteração.Essavia de descarga adquire, assim, a importantíssima função secundária dacomunicação,eodesamparo inicialdos sereshumanoséa fonteprimordialde todos osmotivos morais. (Freud, 1895/2006, p. 379, grifos do próprioFreud)

Posteriormente, em Inibições, sintomas e angústia, de 1925, Freud retoma a

questãododesamparo,afirmandoqueoestárelacionadocomaansiedadenasituação

deperigo:

[...] Ela consiste na estimativa do paciente quanto à sua própria força emcomparação com a magnitude do perigo e no seu relacionamento dedesamparo em face desse perigo – desamparo físico se o perigo for real edesamparo psíquico se for instintual [...] Denominemos uma situação dedesamparo dessa espécie, que realmente tenha experimentado, de situaçãotraumática.(Freud,1925-1926/2006,p.163)

Operigosentidopelacriança,segundoFreud(2006/1925-26),éodeperdero

objeto protetor e de ser abandonado por aquele que interpreta e atenda suas

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demandas,aquelequeo livradodesamparopsíquicoemotor.Comovimos,a criança

precisadaajudadeumoutroparasuaprópriasobrevivência,equandoseperdeoamor

do outro, surge a angústia (enquanto afeto) do abandono, resultando no desamparo

(enquantoestado).

EmAlémdoprincípio do prazer, de 1920, Freud recorre à brincadeira de seu

neto,Fort-Da,paraexemplificarumaformadeelaboraçãodalógicaprazer-desprazer,no

lidarcomaangústiadoabandono,odesamparo.Segundoanotadoeditoringlês,James

Strachey(p.24),Fortétraduzidapelaversãoinglesagone,particípiopassadodoverbo

togo(ir,partir).Aopuxarocarretel,omeninoosaudavacomaexpressãoalegreda(ali).

Nesse brincar, o garoto expressava e elaborava a angústia pela falta da mãe. Freud

interpreta a brincadeira como uma encenação – atuação, portanto, repetição – do

desaparecimentoedavoltadesuamãe.Tratar-se-iadeumaformadeproduzirprazer

emumasituaçãodedesprazer,compensandoaperdadoobjetopormeiodojogoeda

fantasia. Neste mesmo texto, Freud conclui que as crianças repetem experiências

desagradáveis subvertendo-a de um modo muito mais ativo do que poderiam

experimentar de um modo passivo. Ele acaba abrindo espaço para estudos sobre a

função do brincar das crianças, além de começar a solidificar a noção de pulsão de

morte,marcandoumaviradanateoriadaspulsõese,portanto,nateoriadoprazer.

O jogo do carretel criado por seu neto leva a Freud repensar o princípio do

prazerbemcomoa lógicado funcionamentodoaparelhopsíquico.Elepercebequeo

ato da partida do carretel (objeto que representaria a partida damãe) no qual seria

sentidonaqualidadepsíquicadedesprazer,éprivilegiadonacenadabrincadeira.Ora,

seguindoomodeloanterioremqueoprazerseriaameta,porqueacenadoretornodo

carretel–oretornodamãe–,queseriasentidocomoprazerosa,nãofoiprivilegiada?A

partirdaí,Freuddescobreaexistênciadapulsãodemorteque,juntodapulsãodevida,

passamadirigirofuncionamentopsíquico.

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É importante lembrar que a pulsão de morte é ligada diretamente com a

repetição.Oconceito-fenômenoderepetiçãoocuparáumoutrolugar,comoumaforça

ou movimento pulsional, como uma (com)pulsão à repetição. “Existe realmente na

mente uma compulsão à repetição que sobrepuja o princípio do prazer” (Freud,

2006/1920, p. 33). Dessa forma, até o próprio conceito de sintoma começa a ser

reelaborado,sinalizandocomoumasatisfaçãodeumapulsãoqueestárecalcada,e,por

estarrecalcada,retornariacomodesprazer.

OsinúmerosusosdanoçãodeobjetoemFreud

Com base no artigo de Coelho Jr. (2001), A noção de objeto na psicanálise

freudiana,encontramosumapesquisasistemáticasobreautilizaçãodotermoobjetona

obra de Freud em função da língua alemã (p. 39). Para o autor, é a partir desses

conceitosquesepodementendermuitosdostemasprincipaisdateoriafreudiana,pois

são elementos decisivos para a definição da concepção de sujeito, além de estar

diretamente ligado a, por exemplo, um dos quatro conceitos fundamentais da

psicanálise(segundoLacan):apulsão.

Objetoepulsão

Na teoria, Freud relaciona o objeto a algo que só tem sentido enquanto

relacionadoàpulsão eao inconsciente,enãoaoquediz respeitoàconsciência.Éum

meioparaofocodasatisfação(parcial)daspulsões,podendoserumapessoa,umacoisa

ou atividade, real ou imaginária, em que a pulsão – inicialmente conceituada como

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“entreopsíquicoesomático”(Freud,2006/1915,p.127)–temcomoobjetivo,focoou

alvo.Essasistemáticasegue,portanto,omodeloestrutural/pulsional.

A escolha de objeto de amor [Objektliebe], por exemplo, ocorreria quando o

sujeito investe energia libidinal (energia das pulsões sexuais) em objetos que podem

gratificarosimpulsospulsionais.Sendoassim,todapulsãotemseuobjeto,umacoisaou

algopormeiodaqual atingirá sua finalidade. Dessemodo, sobreo objetodapulsão,

Freudnosdiz:

O objeto é o que há de mais variável num instinto [lê-se pulsão] e,originalmente, não está ligado a ele, só lhe sendo destinado por serpeculiarmente adequado a tornar possível a satisfação. O objeto não énecessariamentealgoestranho:poderáigualmenteserumapartedoprópriocorpo do indivíduo. Pode ser modificado quantas vezes for necessário nodecorrer das vicissitudes que o instinto [lê-se pulsão] sofre durante suaexistência, sendo que esse deslocamento do instinto [lê-se pulsão]desempenhapapéisaltamenteimportantes.(Freud,1915/2006,p.128,grifosnossos)

Nestesentido,entende-sequeoobjetodapulsão,diferentementedoinstinto,

nãoéespecífico,nãoéfixoenempré-determinado;eleévariáveleindeterminado,mas

éoquepermiteas satisfaçõesparciaisdaspulsões.ParaCoelho Jr. (2001)anoçãode

objetoaparecebasicamentededoismodos:“Ligadaànoçãodepulsão–nestecasoos

objetossãocorrelatosdaspulsões,sãoosobjetosdaspulsões;e ligadaàatraçãoeao

amor/ódio,quandoentãosãoosobjetoscorrelatosdoamoredoódio”(p.38).

Aescolhadeobjeto

EmUmaintroduçãoaonarcisismo,Freudretomaotemadasescolhasobjetais.

Coelho Jr. (2001) observa que a expressão “escolha de objeto” se refere, em geral, à

escolhadeobjetosdeamor.CabelembrarqueLaplancheePontalis(1982)afirmamque

o termo “escolha” não deve ser considerado em seu sentido racional, de uma opção

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consciente,massimcomooque“evocaoquepodehaverdeirreversíveledeterminante

naeleiçãodosujeitonummomentodecisivodasuahistória,doseutipodeobjetode

amor”(p.154).

Nessa perspectiva, Freud (2006/1914) nos propõe um breve resumo dos

caminhos que levam cada sujeito à escolha de objeto amoroso. Segundo Freud uma

pessoapodeamar:

(1)Emconformidadecomotiponarcisista:a)oqueelaprópriaé(istoé,elamesma),b)oqueelaprópriafoi,c)oqueelaprópriagostariadeser,d)alguémquefoiumavezpartedelamesma.(2)Emconformidadecomotipoanaclítico(deligação):a)amulherquealimenta,b)ohomemqueprotege,c) a sucessãodepessoas substitutivasquevenhamaocuparo seu lugar. (p.97)

CoelhoJr.(2001)apontaque,pormeiodessasequência,maisumavezficaclaro

oquantoasexperiênciasamorosas infantisdeterminamexperiênciasposteriores.Para

ele, é evidente que, embora a psicanálise trabalhe emuma linha regressiva – emum

movimentotrás(z)prafrente–,emqueasexperiênciasdopassadoexplicamopresente,

ouseja,“asescolhasobjetaispassadasexplicamasatuaisouposteriores”(p.40),háde

se convir que o caminho inverso também existe, afinal, “somente as experiências

posteriorespodemfazercomqueaspassadasganhemsentido,ganhemsignificados”(p.

40).

Freud (2006/1925-26) constata que as primeiras experiências traumáticas

constituem o protótipo dos estados afetivos, e que são incorporados na mente, e

quandoocorreumasituaçãosemelhantesãorevividoscomosímbolosmnêmicos.Neste

sentido, tem-se como exemplo o texto Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua

infância,de1910,noqualFreudtrabalhauma“lembrança”deLeonardo:

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Parece que já era meu destino preocupar-me tão profundamente comabutres; pois guardo como uma das minhas primeiras recordações que,estandoemmeuberço,umabutredesceusobremim,abriu-meabocacomsuacaudaecomelafustigou-merepetidasvezesoslábios.(DaVincicitadoemFreud,1910/2006,p.91)

Segundoopsicanalista vienense, os egípcios veneravamumaDeusa-Mãeque

era representada com uma cabeça de abutre. Para eles, o animal era considerado

símbolo da maternidade pois acreditavam que somente haviam abutres do sexo

feminino.Freud(2006/1910,p.99)supõequeLeonardo,pesquisadore leitorávidode

história, provavelmente teria lido tal fato. Além disso, o psicanalista descobriu que

Leonardoviveuseusprimeirosanosdeidadeaoladodesuamãe,enãodesuamadrasta

ouseupai,pois,comoerafilhoilegítimo,forarecebidoporseupaisomenteaoscinco

anosdeidade.

Com essa perspectiva, da posterioridade – denominada por Freud de

Nachträglichkeit,paraexpressarsuacompreensãodetemporalidadenoquedizrespeito

à causalidade psíquica, ou seja, experiências posteriores podem fazer com que as

passadasganhemsentido–,tem-seosignificadodafantasiadeDaVinciatribuídopelo

pai da psicanálise: a substituição de suamãe pela imagem do abutre indicaria que a

criançatinhaconhecimentodaausênciadopaiesesentiasolitáriocomasuamãe.Em

outras palavras, a angústia e o estado de desamparo de Leonardo, quando bebê,

ganhariasignificadoerepresentaçãoaposteriori,pormeiode lembrançafantasmática

que sópôde ser produzidapelo acesso a tal informação: uma cadeiade significantes.

Tem-se aí amáxima de Lacan (1998/1960): “o significante é aquilo que representa o

sujeitoparaoutrosignificante”(p.833).Lacan(1998/1960),aorecorreralinguísticade

Saussure, subverte seu teorema e acrescenta aí um sujeito inconsciente, formulando

que o é o significante antecede o significado.Ou seja, a palavra vazia – carregada de

afeto,semrepresentação–antecedeosentido,quecomparecesomenteaposteriori.

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AindaemLeonardodaVincieumalembrançadesuainfância,Freudafirmaque

“certasimpressõestornam-sefixadaseasformasdereaçãoparacomomundoexterior

ficam estabelecidas, e nunca mais perderão a sua importância por meio de outras

experiências posteriores” (Freud, 2006/1910, p. 99). Desse modo, Coelho Jr. (2001)

observaaevoluçãodopensamentofreudiano:osobjetossãodeterminantesoriginários

naconstituiçãodasubjetividade.

Nestemesmotexto,Freudtambémprocuracompreenderahomossexualidade

em suas concepções psicanalíticas, sugerindo que omenino tende a recalcar o amor

pela mãe e, desta forma ocupar-se deste lugar, identificando-se com ela e tomando

comosimesmo(opróprioEgo)comomodeloparaseusnovosobjetosdeamor(Coelho

Jr.,2001).Tratar-se-iadasescolhasnarcísicasdeobjeto[narzissistischeObjektwahl].

Apartirdestetexto,FreudapresentaapossibilidadedopróprioEgosertomado

comoobjeto da pulsão, através domecanismode identificação. No entanto, é como

texto Luto emelancolia,escrito em1915epublicadoem1917, que Freud solidifica a

noçãodeidentificação.Segundoanotadoeditoringlês,JamesStrachey,“oquepermitiu

aFreudreabriroassunto[identificação]foiaintroduçãodosconceitosdenarcisismoe

idealdoEgo”(Freud,2006/1915-17,p.246, itálicosnossos).Oqueseapresentaneste

textoéqueaperdadeobjetopodeserrealouatémesmofantasiada,eosujeito–em

ambasasformas–passaaviveruma“identificaçãocomoobjetoperdido”(p.246).Dito

deoutraforma,surgeapossibilidadedosujeitoviveruma identificaçãodeseupróprio

Egoaoobjetoperdido.DaíafamosafrasedeFreud:“Asombradoobjetorecaiusobreo

Ego”(p.254).

APerdadeObjeto

[...]Eeusemvocêsousódesamor.Umbarcosemmar,umcamposemflor.Tristezaquevai,tristezaquevem.Semvocê,meuamor,eunãosouninguém.

(ToquinhoeViniciusdeMoraes)

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Freud (1915-17/2006, p. 249) compara brilhantemente a melancolia ao luto,

apontandopontosafetuosossemelhantes:

A correlação entre amelancolia e o luto parece ser justificada pelo quadrogeraldessasduascondições[...]Oluto,demodogeral,éareaçãoàperdadeum ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de umente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim pordiante.Emalgumaspessoas,asmesmasinfluênciasproduzemmelancoliaemvezdeluto.(Grifosnossos)

A perda referida no luto é uma perda conhecida, mesmo quando enquanto

abstração, ao passo que na melancolia, a perda é desconhecida. Freud observa que

algunstraçossãoencontradostantonolutoquantonamelancolia(desânimoprofundo,

autorrecriminações,cessaçãodeinteressepelomundoexterno,entreoutras),comuma

únicaexceção: aperturbaçãodaautoestima estáausenteno luto.No luto,o testede

realidaderevelouqueoobjetoamadorealmentenãoexistemais,“passandoaexigirque

toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto” (p. 250). Entretanto,

Freudobserva:

As pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal, nemmesmo, na realidade, quandoum substituto já se lhes acena.Esta oposiçãopodesertãointensa,quedálugaraumdesviodarealidadeeaumapegoaoobjeto por intermédio de uma psicose alucinatória carregada de desejo.Normalmente,prevaleceorespeitopelarealidade,aindaquesuasordensnãopossam ser obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, comgrande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-sepsiquicamente,nessemeiotempo,aexistênciadoobjetoperdido.Cadaumadas lembranças e expectativas isoladas através das quais a libido estávinculadaaoobjetoéevocadaehipercatexizada,eodesligamentodalibidoserealizaemrelaçãoacadaumadelas.(Freud,1915-17/2006,pp.250-51,grifosnossos)

Nessaperspectiva,Freudconsideraque“devidoaessatransigênciapelaqualo

domínio da realidade se faz fragmentariamente, deve ser tão extraordinariamente

penosaapontodenãoserexplicávelemtermosdeeconomia”(p.251).Eleadverteque

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essepenosodesprazersejaaceitocomoalgonatural.Contudo,ofatoéque,quandoo

teste da realidade prevalece, o trabalho do luto se conclui e o Ego fica outra vez

desinibidoenovosobjetospoderãoserinvestidos.

Tendo em vista essas considerações, no que diz respeito àmelancolia, Freud

(1915-17/2006) concorda que em um conjunto de casos é evidente que amelancolia

tambémpossaconstituirreaçãoàperdadeumobjetoamado.Noentanto,eledestaca

que é possível, e até comum, que o objeto talvez não tenha realmentemorrido,mas

tenhasidoperdidocomoobjetodeamor, “comonocaso,porexemplo,deumanoiva

que tenha levado um fora” (Freud, 1915-17/2006, p. 251). Tratar-se-ia também,

contudo,deumaperdadaposiçãodeseramado.

Embora exista um grande debate na psicanálise sobre o lugar estrutural da

melancolia,elaécomumenteassociadaaoeixodapsicose.Lacan(2002/1956)équem

descrevemelhorapsicoseaopensá-lapelaviadodiscurso,dosignificante,apontando

uma particularidade no discurso do psicótico. Ele mostra que discurso psicótico se

constitui pela a não passagem para o segundo momento edípico, marcado pela

substituiçãodosignificantematernopelosignificantepaterno,aoperaçãometafóricado

Nome-do-Pai.LacanformulaquenaestruturapsicóticaháaforaclusãodoNome-do-Pai,

oquedesencadeiaumdesligamentode todaa funçãopaterna. Emoutraspalavras, o

falonãosecolocariacomoordenadorsimbólico.

Dessa forma,amelancoliapadecedeumafalha fundamentalqueéa faltada

falta:umaperdasemfalta(Branco,2014).Aperdadomelancólicoconvocaaumafalta

quenãoéelaboradanosimbólico,eporissoelaretornanoRealcomoumaperdadoEu,

oquefariaamelancoliaserlidanocampodapsicose.Acontecequeomelancóliconão

consegueconstituirumEuidealarticuladoaoidealdoEu(supereu),comoassimfazem

osneuróticos,porquesimplesmenteoidealdoEunãoexiste.Ditodeumaoutraforma,

“oquenolutoeraumaperdadeobjeto,namelancoliatransforma-seemperdadoEu”

(Garcia-Roza,1995,p.76),eopacientemelancólico,comoassimfrisaFreud(2006/1915-

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17),"nãopodeperceberconscientementeoqueperdeu” (p.251).Emsuma, tem-sea

máximafreudianasobreacorrelaçãoentrelutoemelancolia:

No luto, é omundo que se torna pobre e vazio; namelancolia, é o próprioEgo.OpacienterepresentaseuEgoparanóscomosendodesprovidodevalor,incapaz de qualquer realização moralmente desprezível; ele se repreendeenvilece,esperandoserexpulsoepunido.Degrada-seperantetodos,esentecomiseraçãoporseusprópriosparentesporestaremligadosaumapessoatãodesprezível.(Freud,1915-17/2006,p.251-52,grifosnossos)

Amelancolia pode também ser caracterizada como um quadro de delírio de

inferioridade, podendo haver alterações do juízos, através das autoacusações, os

sentimentos de culpa e de fracasso, a autopunição em forma de descuido consigo

próprio, e ideias e atos suicidas (Dalgalarrondo, 2000). Em uma leitura psicanalítica,

entretanto,opeculiardamelancoliaéumafetoqueremeteaumanadificação.Existe

um empobrecimento das significações, todas elas remetem ao nada. É comum, por

exemplo, pacientes relatarem estarem se sentido vazios, alternativamente

experimentandoestesentimentonoprópriocorpo,comonocasodahipocondria,que

ospacientescostumamrelatarumafaltadeórgãosouatéoapodrecimentodeles.Como

Freud(2006/1915-17)observa,écomumesseafetoculminarnainsôniaenarecusaem

se alimentar, caracterizando-se “por uma superação do instinto [lê-se pulsão] que

compeletodoservivoaseapegaràvida”(p.252,itálicosnossos).Ouseja,tratar-se-ia

de ummodode gozo específico que, emoutras palavras, nomelancólico apulsão de

morte émaior que a pulsão de vida, não se tratando, portanto, de uma angústia da

perda de um objeto qualquer, mas de um objeto de amor o qual o melancólico é

maciçamente ligado e o qual ele não reconhece. É a ameaça da perda de um objeto

amadoqueestánabasedaangústia(enquantoafeto)ecausaodesamparo(enquanto

estado)(Lacan,1995/1957).

Emsíntese,opacientemelancóliconãosabeoqueperdeu,emesmoassimse

identificamaciçamenteaoobjeto,vivendosuaperdanoEu,enão foradele (comono

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caso do luto). Ao identificar-se com o objeto perdido, e introduzi-lo em seu Eu, ele

rejeitainteiramenteaperda,porumlado,esustenta-apelaviadogozo,porumoutro.

Dito de um outro modo, aquilo que foi “perdido” enquanto prazer é recuperado e

sustentadopelogozo,umrearranjopulsional.Dessaforma,oqueseteméumaperda

nãoelaborada,naqualincidenumvazioquesópodeserrecobertopelaincorporaçãode

umobjetodeamorquegarantaimaginariamenteacompletude.

ClivagemdoEgo

NotextoPerdadarealidadenaneuroseenapsicose,de1924,Freudafirmaque

a neurose e a psicose diferem uma da outra muito mais em sua primeira reação

introdutória–diantedasituaçãotraumática–doquenatentativadereparaçãoquea

segue.Nasínteseabaixo,eleapontaadiferençainicial,eexpressaodesfechofinal:

Naneurose,umfragmentodarealidadeéevitadoporumaespéciedefuga,aopasso que na psicose, a fuga inicial é sucedida por uma fase ativa deremodelamento;naneurose,aobediênciainicialésucedidaporumatentativaadiadadefuga.Ouainda,expressodeoutromodo:aneurosenãorepudiaarealidade, apenas a ignora; a psicose a repudia e tenta substituí-la. (Freud,1924/2006,p.209,grifosnossos)

Jean-MichelQuinodoz (2007) afirmaque a noção de clivagemdo Ego já está

presenteemLutoemelancolia,emque“Freudorautilizaotermocisão,oraclivagemdo

Ego”(p.169).Noentanto,émaistardeemFetichismo,de1927,queFreudcompletará

suashipótesessobreaclivagemdoEgo,considerandoque,nocasodadepressão,elaé

consequência da negação da perda de objeto. Ele ilustra esse ponto de vista

mencionandoocasodedoisirmãosquehaviamescotomizado6amortedopai,masque

6 Rosa Jr e Poli (2012) assinalam que, apesar de Freud utilizar o termo "escotomização" (tomadoemprestadodeRenéLaforgue),elenãooconsideraadequadoparadescreverasituaçãoaqueserefere.EleprefereotermoVerleugnungque,segundooDicionáriocomentadodoalemãodeFreud,deLuizHanns(1996),podesertraduzidocomo"desmentido".

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não se tornarampsicóticos, “apesar do eu haver repudiado umaparte importante da

realidade”(Freud,2006/1927,p.162).

Ainda em Fetichismo, Freud define o fetiche como um objeto substituto do

pênisnamulher(damãe)emqueoutroraomenininhoacreditouquetinhaequenão

desejarenunciar–daíotermodesmentido[Verleugnung].Encontra-sesucintadefinição

defeticheemPatrickValas,citadoporMello(2007):“Ofetichenãoéofalo,masovéu

portrásdoqualsedeixadesenharapossibilidadedesuapresençaescondida,véuque

comoacortina,anteumacena,mostraeesconde,velaedesvela”(p.75).Nessesentido,

Freudchegaàconclusãodequeosdoisjovensnãohaviamescotomizadoamortedopai

maisqueumfetichistaescotomizaacastraçãofeminina.Eleexplica:“Foraapenasuma

determinadacorrenteemsuavidamentalquenãoreconheceraamortedaquele;havia

outracorrentequesedavaplenacontadessefato.Aatitudequeseajustavaaodesejoe

aatitudequeseajustavaàrealidadeexistiamladoa lado”(Freud,1927/2006,p.163,

grifosnossos).

Nolutopatológico,seéqueassimpodemosdizer,anoçãodeclivagemdáconta

dequeumapartedoEgonegaarealidade,enquantoaoutraaaceita.Emseusúltimos

trabalhos, Freud atribuirá cada vez mais importância aos fenômenos de negação da

realidadeedeclivagemdoEgo.InclusiveStrachey,emsuanotaemoFetichismo(p.152-

53), adverte que Freud ainda ressalta que essa “divisão do Ego” não é particular ao

fetichismo,masque,narealidade,podeserencontradaemmuitasoutrassituaçõesem

queoEgosedefrontacomanecessidadedeconstruirumadefesa,equeelanãoocorre

apenasnodesmentido [Verleugnung],mas tambémno recalque [Verdrãngung]. Sendo

assim, tratar-se-ia de algo que se passa tanto na perversão quanto na neurose,

estruturasclínicascaracterizadas,respectivamente,pelodesmentidoepelorecalque.

AsEstruturasClínicasesuas“ClivagensdoEgo”peranteasNecessidadesemConstruir

umaDefesa

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OfilósofoepsicanalistaeslovenoSlavojZizek,emOamorimpiedoso,de2012,

analisa pormeio de sua óptica psicanalista a ideologia capitalista, afirmando – assim

como fez Marx – que o dinheiro é um fetiche. No que concerne a este artigo, nos

atentemosàdefiniçãodefetichedadaporZizek(2012,p.77):

Efetivamenteumaespécie de inversodo sintoma.Querdizer, o sintomaé aexceçãoqueperturbaasuperfíciedafalsaaparência,opontonoqualaOutraCena recalcada irrompe, ao passo que o fetiche é a encarnação daMentiraquenospermitesustentaraverdadeinsuportável.

Paraexemplificarestaargumentação,eleutilizacomoexemploocasodamorte

deumapessoaamada.Paraele,no casodo sintomao sujeito “utilizaria”do recalque

[Verdrãngung]paraconstruirumadefesaquelheajudeasuportarotrauma.Osujeito

então“recalcaria”essamorte,porém,omesmorecalqueretornarianosintoma. Jáno

casodofetiche7,aocontrário,oautorentendequeosujeitopode“aceitar”–emparte–

essamorte,e,aindaassim,agarrar-seaofeticheou“aalgumelementoqueencarneo

desmentido dessa morte” (p. 78) tal qual, por exemplo, o caso dos irmãos que

escotomizaramamortedopai.Emsuma,paraoqueimportanesteartigo,temosneste

simplesexemploumasituaçãoemqueoEgosedefrontacomanecessidadedeconstruir

uma defesa, enquanto desmentido [Verleugnung], no fetiche; e enquanto recalque

[Verdrãngung],nosintoma.

Continuemos,portanto, comoutroexemplodamortedeumapessoaamada.

ZizekrecorreaoumromancedeNevilShute(1955),emqueapersonagemsobreviveà

mortedeseumaridosemquaisquertraumasvisíveis,seguindosuavidaesendocapaz,

7 Aqui, uma ressalva: entendemos que neste caso Zizek faz uma analogia aomecanismo do fetiche daperversãoparailustraroseupontodevista,nãoconsiderandootermofetichecomoelementodecorrenteda fixação da memória do sujeito no(s) último(s) objeto(s) que antecede(m) a percepção da “cenatraumática":afaltadopênisnamulher.

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atémesmo,deconversarracionalmentesobresuamorte.Quando,algumtempodepois,

o cachorro (animal de estimação e companheiro favorito de seu marido) morre, ela

sucumbe por completo, e todo seu mundo desintegra (Zizek, 2012, p. 78). Temos,

portanto,algunspontosimportantesparaespecularnestepequenocaso:1)aperdado

objetodeamor,ouseja,omarido;2)ocachorrocomoobjetosubstitutodestemarido;

3)aperdadoobjetosubstituto,ocachorroe4)seumundosedesintegra,melancolia.

Para o autor, no entanto, o cão funcionaria como uma espécie de objeto de

fetichequedesmentiriaamortedomaridode formaanálogaao fetichedaperversão

em que o mecanismo característico desmentiria a castração. Em outras palavras, a

mulherserecusariaaaceitaraperdadomarido:sabequeelemorreu,masorevivepor

meio de seu substituto, seu cão-panheiro. Temos, portanto, outro exemplo de uma

atitudequeseajustaaodesejo8eumaqueseajustaàrealidade,coexistindoladoalado.

Porém,quandoocãomorre,éobrigadaalidarrealmentecomaperdae“acastração”:a

mortedomarido.Masparaela seria tão forte, tão insuportável que, assim comonos

versosdeToquinhoeViniciusdeMorais,elasemele(s)nãoéninguém,portanto“seu

mundo se desintegra” o que, em vez de se ter o luto daperda de objeto, ter-se-ia a

melancolia,caracterizada,comobemvimos,pelaperdadoEu:umaoutrasituaçãoem

queoEgosedefrontacomanecessidadedeconstruirumadefesa,enquantoalteração

do juízo, napsicose. Claro, se entendermos o trecho final “seumundo se desintegra”

comoumsurtomelancólicoe,portanto,tendocomoestruturaclínicaapsicose.

VoltandoàsconsideraçõesdeZizek,paraelealgumacoisaqueapessoamorta

deixou para trás, como uma peça de roupa, poderia funcionar como uma espécie de

fetiche, pois nele “omortomagicamente continua a viver” (p. 78). Demodo geral, o

8AcompanhandooensinodeLacan,odesejoéentendidocomoumaoperaçãoemdeslocamento.SeparaLacan(1964/2006)oinconscienteéestruturadocomoumalinguagem,odesejosefazpresenteatravésdeseussignificantes,éotrabalhometonímicodosignificante,que,noatodafala,estariaemumconstantedeslocamentodaspalavrasquerepresentamparcialmenteotodo,odesejo–sempreháalgodeumresto,nasentrelinhas,amaisouamenos.Querdizer,odesejo,nocampodapalavra,jamaispodeserditoporcompleto.Tem-se,então,afigurametonímicacão-panheiro.

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fetiche–mecanismocaracterísticodaperversão–desempenhaumafunçãodeproteção

contra a angústia, ele está no lugar emque falta alguma coisa. Portanto, o objeto de

fetiche tem certa função de complementação em relação a alguma coisa que se

apresentacomoumfuro,atémesmocomoumabismonarealidade(Figueiredo,2012).

ParaLacan(1995/1957)“oenvolvimentonãoédaordemdovéu,masdaproteção”(p.

165),emquenaneurose,entretanto,éofantasmaqueoperacomotelaprotetora.

Freud(2006/1915-17)afirmaque“asfantasiaspossuemrealidadepsíquica,em

contraste com a realidadematerial, e gradualmente aprendemos a entender que, no

mundodasneuroses,arealidadeédecisiva”(p.370).DeacordocomZizek,noentanto,

opapelestruturalemambososcasoséomesmo:“Seesseelementoexcepcional[tela

protetora] forperturbado, todoosistemacolapsa” (p.78,grifonosso).Destemodo,é

possível compreender a advertência freudiana presente em A perda da realidade na

neuroseenapsicose:“Aneurosenãorepudiaarealidade,apenasaignora;apsicosea

repudiaetentasubstituí-la”(Freud,2006/1924,p.231),eaperversão–acrescentamos

– a desmente. Ao lado da psicose, definida como a reconstrução de uma realidade

alucinatória, e da neurose, resultante de um conflito interno seguido de recalque, a

perversãoaparececomoumdesmentidodacastração(Roudinesco&Plon,1998).Oque

temosemcomumnessastrêsestruturaséalgumaformadedivisãodoEu,emquecada

umareagiráaseumodo,seguindoseumodeloestrutural/pulsional.

Na realidade, a clivagem do Ego pode ser encontrada em muitas outras

situações emque o Eu se defronta com a necessidade de construir uma defesa. Esse

“mecanismodedefesa”ocorrenãoapenasnodesmentido,comojáfoidito.Adivisãodo

sujeitorepercutenarealidade,maisespecificamentenaquiloemqueosujeitocolocará

nolugardacastraçãodoOutro:oneurótico,afantasia;operverso,ofetiche;opsicótico,

aalucinaçãoeodelírio(Figueiredo,2012).Sobreesteaspecto,propomosqueoquese

teméaconstanteincapacidadedosujeitolidarcomodesamparoeafalta,construindo

as mais diversas telas protetoras, e tendo de se haver com elas, numa tentativa de

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proteger-se, ou seja, recalcar, desmentir ou foracluir – seja qual for a forma – não

somente a castração doOutro, mas também a falta dele, enquanto objeto protetor,

posteriormente objeto de amor e objeto idealizado. Reflexo do estado inicial de

constante desamparo. Resultado, portanto, da inscrição da alteridade no registro da

dependência.

ConsideraçõesFinais

Conforme as ideias apresentadas, consideramos o objeto um conceito

importantíssimoparaaPsicanálise,poiseleperpassae interagecom inúmerosoutros,

desdealógicadofuncionamentodoaparelhopsíquico,nadinâmicaprazer-desprazere

noestadoinicialdedesamparo,porestar ligadodiretamenteaoconceitofundamental

pulsão,comosendoummeioparaofocodassatisfaçõesparciaisdaspulsões,portanto,

ligadotambémaodesejo,esteentendidocomoumaoperaçãoemdeslocamento.Seo

inconscienteéestruturadocomoumalinguagem,odesejoseoperapelametonímia.

Nessa perspectiva, o objeto está em constante modificação, em constante

deslocamento, pois ele nunca satisfará por inteiro uma pulsão. O desejo no animal é

objeto natural: se falta, ele o encontra. Por exemplo, se o animal tem sede, tem-se a

água.Jáparaodesejonohomem,eleénãonatural,esimdaordemdovazioenuncase

encontra em sua plenitude, apenas parcialmente. A sede pode ser de água, de

refrigerante,decoca-cola,decerveja,deconhecimento,devingança.Ocapitalismo,em

umparêntese,vemproporessafalsaplenitude,nosenchendodeobjetosepromovendo

a ideiadequequantomaisse tem,maiscompletoseé.Contudo,o trabalhoanalítico

propõe caminharemoutradireção,descascandoo sujeitoe seusobjetos, para sobrar

somenteseucaroço,suaestrutura–sejaqualfor–naesperançadequealgodenovo

surjadali.Noentanto,duranteesseprocesso,comojáadvertiaFreud(1915-17/2006,p.

250), “as pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal”, e essa

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discussão referenteàperdadeobjeto apontaoquãodifícil é abandonarumaposição

e/ouuminvestimentolibidinal,comonocasodamulhereseucão-panheirosubstituto.

Ao fim, durante o trabalho analítico o sujeito e o analista terão que lidar com as

inúmeras resistências ao processo, sentimentos ambivalentes e situações

desconhecidas,as inúmeras“clivagensdoEgo”eas telasprotetorasquesuaestrutura

permitirácolocardiantedacastraçãoeda faltadoenoOutro,dianteseuReal,poiso

Realéoqueescapaàrealidade.

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Editora.ResumoO artigo versa sobre a complexidade e importância do conceito de objeto para a psicanálise de basefreudianaelacaniana,nasdiferentesformasdedefesadoEudecadaestruturaclínicafrenteàsperdasdeobjetos,emespecialosobjetosdeamor.Percorre-sepelalógicafreudianadofuncionamentodoaparelhopsíquico,oprincípiodoprazer,tendocomopontocentralaquestãododesamparo.Emseguida,discute-seas diferentes noções de objeto dentro da obra freudiana. Ao final, utiliza-se uma vinheta de um casoliteráriorecorridoporSlavojZizek,emumafunçãodecasoclínicoparaapoiarapresentediscussão.Palavras-chave:Objeto.Perdadeobjeto.Desamparo.Melancolia.EstruturasClínicas.

THEIMPASSESAGAINSTLOSSOFOBJECT:APSYCHOANALYTICREADING

Leitão,IagorBrum;Fávaro,DayanadeSouza;Figueredo,DaltonDemoner;Suziane

Kirmse.Osimpassesfrenteàperdadeobjeto

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AbstractThearticledealswiththecomplexityandimportanceoftheconceptofobjectforFreudianandLacanianpsychoanalysisinthedifferentformsofEgodefenseofeachclinicalstructureagainstthelossofobjects,especially the objects of love. First,we go through the Freudian logic of the functioning of the psychicapparatus,thepleasureprinciple,havingasitscentralpointthequestionofhelplessness.Next,wediscussthedifferentnotionsofobjectwithintheFreudianworktoarriveatavignetteofaliterarycaseappealedtobySlavojZizek,inafunctionofclinicalcharacter,thatsupportsthepresentdiscussion.Keywords:Object.Lossofobject.Helplessness.Melancholy.ClinicalStructures.

LESIMPASESDELAPERTED'OBJETRésuméL'articletraitedelacomplexitéetdel'importanceduconceptd'objetpourlapsychanalysefreudienneetlacanienne dans les différentes formes d'autodéfense de chaque structure clinique contre la perted'objets, en particulier les objets d'amour. On passe par la logique freudienne du fonctionnement del'appareilpsychique,principeduplaisir,ayantcommepointcentrallaquestiondel'impuissance.Ensuite,les différentes notions d'objet dans l'œuvre freudienne sont discutées. En fin de compte, une vignetted'uneaffairelittéraireportéeenappelparSlavojZizekestutilisée,dansunefonctiondecasclinique,poursoutenirlaprésentediscussion.Mots-clés:Objet.Perted'objet.ImpuissanceMélancolie.Structurescliniques.

LOSIMPONESFRENTEALAPÉRDIDADEOBJETOResumenElartículoversasobrelacomplejidadeimportanciadelconceptodeobjetoparaelpsicoanálisisdebasefreudianay lacaniana,en lasdiferentes formasdedefensadelYodecadaestructuraclínica frentea laspérdidasdeobjetos,enespeciallosobjetosdeamor.Serecorrelalógicafreudianadelfuncionamientodelaparato psíquico, el principio del placer, teniendo como punto central la cuestión del desamparo. Acontinuación,sediscutelasdiferentesnocionesdeobjetodentrodelaobrafreudiana.Alfinal,seutilizaunaviñetadeuncaso literario recurridoporSlavojZizek,enuna funcióndecasoclínicoparaapoyar lapresentediscusión.Palabrasclave:Objeto.Pérdidadeobjeto.Desamparo.Melancolia.EstructurasClínicas.