lei n.º 83-c-2013 - loe2014 + grandes opções do plano

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  • I SRIE

    Tera-feira, 31 de dezembro de 2013 Nmero 253

    NDICE

    SUPLEMENTOAssembleia da RepblicaLei n. 83-B/2013:Aprova as Grandes Opes do Plano para 2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7056-(2)

    Lei n. 83-C/2013:Oramento do Estado para 2014 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7056-(58)

  • 7056-(2) Dirio da Repblica, 1. srie N. 253 31 de dezembro de 2013

    ASSEMBLEIA DA REPBLICA

    Lei n. 83-B/2013de 31 de dezembro

    Aprova as Grandes Opes do Plano para 2014A Assembleia da Repblica decreta, nos termos da

    alnea g) do artigo 161. da Constituio, o seguinte:

    Artigo 1.Objeto

    So aprovadas as Grandes Opes do Plano para 2014, que integram as medidas de poltica e de investimentos que contribuem para as concretizar.

    Artigo 2.Enquadramento estratgico

    As Grandes Opes do Plano para 2014 inserem -se nas estratgias de consolidao oramental, de rigor das finanas pblicas e de desenvolvimento da sociedade e da economia portuguesas, como apresentadas no Programa do XIX Governo Constitucional e nas Grandes Opes do Plano para 2013, aprovadas pela Lei n. 66 -A/2012, de 31 de dezembro, que, por sua vez, atualizam as Gran-des Opes do Plano para 2012 -2015, aprovadas pela Lei n. 64 -A/2011, de 30 de dezembro.

    Artigo 3.Grandes Opes do Plano

    1 As Grandes Opes do Plano definidas pelo Go-verno para 2014 so as seguintes:

    a) O desafio da mudana: a transformao estrutural da economia portuguesa;

    b) Finanas pblicas: desenvolvimentos e estratgia oramental;

    c) Cidadania, justia e segurana;d) Polticas externa e de defesa nacional;e) O desafio do futuro: medidas setoriais prioritrias.

    2 As prioridades de investimento constantes das Grandes Opes do Plano para 2014 so contempladas e compatibilizadas no mbito do Oramento do Estado para 2014 e devidamente articuladas com o Programa de Ajustamento Econmico, em particular, com as medidas de consolidao oramental.

    Artigo 4.Programa de Ajustamento Econmico

    1 O cumprimento dos objetivos e das medidas pre-vistas no Programa de Ajustamento Econmico, acordado com a Comisso Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetrio Internacional, prevalece sobre quaisquer outros objetivos programticos ou medidas especficas, incluindo apoios financeiros, benefcios, isenes ou outro tipo de vantagens fiscais ou parafiscais cuja execuo se revele impossvel at que a sustentabilidade oramental esteja assegurada.

    2 O Governo mantm, como princpio prioritrio para a conduo das polticas, que nenhuma medida com implicaes financeiras seja decidida sem uma anlise

    quantificada das suas consequncias no curto, mdio e longo prazos e sem a verificao expressa e inequvoca da sua compatibilidade com os compromissos internacionais assumidos pela Repblica Portuguesa.

    Artigo 5.Disposio final

    publicado em anexo presente lei, da qual faz parte integrante, o documento das Grandes Opes do Plano para 2014.

    Aprovada em 26 de novembro de 2013.A Presidente da Assembleia da Repblica, Maria da

    Assuno A. Esteves.Promulgada em 30 de dezembro de 2013.Publique-se.O Presidente da Repblica, ANBAL CAVACO SILVA.Referendada em 30 de dezembro de 2013.O Primeiro-Ministro, Pedro Passos Coelho.

    ANEXO

    GRANDES OPES DO PLANO PARA 2014

    ndice

    1. Opo O desafio da mudana: a transformao estrutural da economia portuguesa:

    1.1 Enquadramento1.1.1 O Programa de Ajustamento Econmico1.1.2 A estratgia de crescimento, emprego e fomento

    industrial1.2 Cenrio macroeconmico para 20141.2.1 Hipteses externas1.2.2 Cenrio macroeconmico2. Opo Finanas pblicas: desenvolvimentos e

    estratgia oramental:2.1 Estratgia de consolidao oramental2.1.1 Reviso dos limites quantitativos do Programa

    de Ajustamento Econmico2.1.2 Desenvolvimentos oramentais em 20132.1.3 Perspetivas oramentais para 20142.2 Reforma do processo oramental2.2.1 Lei de enquadramento oramental2.2.2 Leis do regime financeiro das autarquias locais

    e das finanas das regies autnomas2.2.3 Conselho de Finanas Pblicas2.2.4 Modelo oramental2.3 Reforma da Administrao Pblica2.3.1 Principais iniciativas realizadas2.3.2 Principais iniciativas em curso2.4 Poltica fiscal2.4.1 Iniciativas concretizadas em 20132.4.2 Iniciativas previstas para 20142.5 Setor empresarial do Estado2.5.1 Reestruturao do setor empresarial do Estado2.5.2 Alterao do regime jurdico do setor empre-

    sarial do Estado2.5.3 Controlo financeiro do setor empresarial do

    Estado2.6 Outras Iniciativas com impacto oramental2.6.1 Programa de privatizaes2.6.2 Parcerias pblico -privadas

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    2.6.3 Compras pblicas e servios partilhados2.6.4 Reduo dos pagamentos em atraso2.6.5 Eficincia da despesa social3. Opo Cidadania, justia e segurana:3.1 Cidadania 3.1.1 Administrao local3.1.2 Modernizao administrativa3.1.3 Comunicao social3.1.4 Igualdade de gnero3.1.5 Captao e integrao de imigrantes, segunda

    gerao e comunidades ciganas3.1.6 Desporto e juventude3.2 Justia3.3 Administrao interna4. Opo Polticas externa e de defesa nacional:4.1 Poltica externa4.1.1 Relaes bilaterais e multilaterais4.1.2 Diplomacia econmica4.1.3 Lusofonia e comunidades portuguesas4.2 Defesa nacional4.2.1 Contribuio para a segurana e desenvolvi-

    mento globais4.2.2 Concretizao do processo de reestruturao do

    Ministrio da Defesa Nacional e das Foras Armadas5. Opo O Desafio do futuro: medidas setoriais

    prioritrias:5.1 Economia5.1.1 Internacionalizao da economia5.1.2 Investimento e competitividade5.1.3 Infraestruturas, transportes e comunicaes5.1.4 Turismo5.1.5 Defesa do consumidor5.1.6 Estabilizao do consumo interno5.2 Solidariedade, segurana social e emprego5.2.1 Solidariedade e segurana social5.2.2 Emprego e formao profissional5.3 Educao e cincia5.3.1 Ensino bsico e secundrio e administrao

    escolar5.3.2 Ensino superior5.3.3 Cincia5.4 Agricultura e mar5.4.1 Agricultura, florestas e desenvolvimento rural5.4.2 Mar5.4.3 Alimentao e investigao agroalimentar5.5 Ambiente, ordenamento do territrio e energia5.5.1 Ambiente5.5.2 Ordenamento do territrio e conservao da

    natureza5.5.3 Poltica energtica e mercado de energia5.6 Sade5.7 Cultura5.7.1 Patrimnio5.7.2 Livro, leitura e uma poltica para a lngua5.7.3 Cultura e educao5.7.4 Papel do Estado nas artes e nas indstrias criativas5.7.5 Enquadramento legal da cultura e fundos eu-

    ropeus5.8 Fundos europeus estruturais e de investimento5.8.1 QREN 2007 -20145.8.2 O novo perodo de programao 2014 -2020

    Nota IntrodutriaO Conselho de Ministros de 10 de outubro aprovou a

    verso final da Proposta de Lei que aprova as Grandes Opes do Plano para 2014.

    Neste documento, o Governo identifica de forma clara as suas opes nas diversas reas de governao. Esto, assim, explanadas aquelas que sero as grandes linhas orientadoras do Governo para o prximo ano.

    Este documento espelha a vontade do Governo de prosseguir com a transformao estrutural da economia portuguesa, no quadro do nosso processo de ajustamento econmico -financeiro e do esforo e compromisso firme do Pas com o equilbrio das suas contas pblicas, tendo presente o enquadramento jurdico -econmico resultante do Tratado sobre Estabilidade, Governao e Coordenao na Unio Econmica e Monetria.

    As Grandes Opes do Plano refletem tambm a coor-denao de polticas que se impe para a concluso do Pro-grama de Ajustamento Econmico e para as necessidades estruturais do Pas, tanto ao nvel da despesa do Estado, como da robustez institucional, no perodo ps -Troika.

    Est igualmente aqui vertida a forte preocupao do Governo com a proteo social e solidariedade, concreta-mente atravs do aprofundamento de iniciativas no mbito do Programa de Emergncia Social (PES), aliada a uma forte dimenso reformista que impulsionar as suas pol-ticas nesta fase da legislatura.

    O desafio ser o de compatibilizar o indispensvel rigor nas contas pblicas com polticas que reformem as bases da economia, incentivem o investimento e nos conduzam para uma fase crescimento, contribuindo para a criao de um novo clima de confiana, nomeadamente por in-termdio da implementao de medidas que permitem o reforo da competitividade e a recuperao da atividade econmica.

    I.1. Opo O Desafio da Mudana: a Transformao Estrutural da Economia Portuguesa

    1.1 Enquadramento

    1.1.1 O Programa de Ajustamento Econmico

    Durante mais de uma dcada, a restrio financeira do Estado, das famlias e das empresas foi ignorada. Apesar do aumento do endividamento do pas, a economia portuguesa estagnou. A magnitude dos desequilbrios acumulados colocou Portugal numa situao de vulnerabilidade no contexto da crise das dvidas soberanas da rea do euro. Em abril de 2011, aps um colapso sbito do financiamento privado internacional, o pedido de ajuda externa foi ine-vitvel. A condicionalidade associada ao financiamento oficial assinalou o incio de uma verdadeira transformao da economia portuguesa.

    A participao na rea do euro traduziu -se em impor-tantes benefcios, entre os quais as condies financeiras mais favorveis e o acesso a oportunidades criadas por uma integrao europeia mais profunda. Porm, veio tambm acompanhada de uma responsabilidade acrescida, muito alm das obrigaes assumidas no Pacto de Estabilidade e Crescimento. A participao na terceira fase da Unio Monetria exigia uma alterao efetiva de regime, de forma a garantir a disciplina oramental, assegurar a estabilidade financeira e construir uma economia mais aberta, mais concorrencial e mais competitiva.

    Desde o incio do euro, a economia portuguesa seguiu a direo contrria. Os dfices oramentais excederam persistentemente os limites impostos a nvel europeu, le-vando a dvida pblica para nveis demasiado elevados. O endividamento excessivo estendeu -se s famlias, s empresas e economia como um todo, que ano aps ano

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    acumulou responsabilidades face ao resto do mundo. O sis-tema financeiro tornou -se cada vez mais frgil, acentuando o risco de instabilidade financeira e o risco sistmico. Ao mesmo tempo, as reformas estruturais foram relegadas para segundo plano e a economia tornou -se mais fechada e menos flexvel.

    O Programa de Ajustamento Econmico tem permitido a correo gradual e articulada deste conjunto de desequi-lbrios, concedendo tempo para acumular credibilidade e confiana junto dos mercados e dos credores internacio-nais. As principais dimenses do ajustamento permitem responder aos desafios centrais da economia portuguesa e esto refletidas nos trs pilares do Programa:

    Consolidao oramental para colocar as finanas p-blicas numa trajetria sustentvel;

    Reduo dos nveis de endividamento e recuperao da estabilidade financeira;

    Transformao estrutural dirigida ao aumento de com-petitividade, promoo do crescimento econmico sus-tentado e criao de emprego.

    Dois anos aps o incio do ajustamento, os principais desequilbrios esto corrigidos. Os progressos j alcana-dos estendem -se s vrias dimenses do ajustamento:

    A evoluo no ajustamento externo tem sido decisiva. Em 2012, Portugal alcanou um excedente face ao exterior de 0,2 % do PIB, que reforou no primeiro semestre de 2013. De acordo com o Banco de Portugal, o saldo acumu-lado da Balana Corrente e de Capital atingiu 1638 milhes de euros em junho registando um aumento face ao ms anterior e face ao igual perodo em 2012. Portugal pode agora comear a reduzir a dvida externa, aps dcadas de dfices persistentes.

    O esforo de consolidao oramental entre 2010 e 2012 tem sido significativo. A despesa primria isto , a des-pesa excluindo juros reduziu -se em 13 mil milhes de euros. (1) Excluindo efeitos pontuais, o dfice oramental diminuiu de 9,2 % para 5,8 % do Produto Interno Bruto. Em termos estruturais, dois teros do ajustamento esto j concludos. Todos os limites quantitativos do Programa fixados para o dfice e para a dvida foram cumpridos. Mais ainda, a disciplina oramental foi reforada e a trans-parncia foi aumentada os exemplos mais visveis so as alteraes s leis de enquadramento oramental, das finanas das regies autnomas e das finanas locais.

    As condies de financiamento da economia esto a ser reconstrudas e a estabilidade do sistema financeiro foi reforada. Por um lado, o Tesouro tem recuperado gradu-almente a sua capacidade de financiamento. A emisso de dvida a dez anos em maio de 2013 demonstrou como o processo de regresso aos mercados est mais avanado do que inicialmente previsto. Por outro lado, o sistema ban-crio encontra -se devidamente capitalizado e com acesso a nveis adequados de liquidez.

    A transformao estrutural est a criar as bases necess-rias para uma economia mais aberta, mais dinmica e mais competitiva. Entre as iniciativas j lanadas, destacam -se as reformas no mercado de trabalho, no mercado do pro-duto e no sistema judicial. Foram ainda criadas condies mais atrativas para a atividade empresarial. Por sua vez, o programa de privatizaes tem reforado o posiciona-mento estratgico do pas e contribudo diretamente para a captao de novas fontes de financiamento, para alm de ter permitido j um maior contributo para a reduo

    da dvida pblica do que o que tinha sido estimado para a totalidade do Programa.

    A evoluo recente da atividade econmica demonstra que a recesso est a abrandar. De acordo com a Es-timativa Rpida publicada pelo Instituto Nacional de Estatstica (INE), no segundo trimestre de 2013 o Produto Interno Bruto cresceu 1,1 % em volume, face ao trimes-tre anterior. Este crescimento em cadeia ocorre aps dez trimestres consecutivos de queda, confirmando os sinais positivos que se vinham a identificar. Face ao mesmo pe-rodo no ano anterior, o Produto Interno Bruto diminuiu 2,1 % no segundo trimestre de 2013, consubstanciando uma desacelerao da quebra em termos homlogos um resultado que no se verificava desde o primeiro trimestre de 2012. Analisando o desempenho a economia portuguesa no quadro europeu, conclui -se que o crescimento em cadeia foi o maior da rea do euro e da Unio Europeia.

    Estes sinais foram reforados, mais recentemente, pela evoluo dos indicadores de conjuntura. de salientar o aumento expressivo no ms de agosto dos indicadores de confiana dos consumidores, da indstria transformadora, da construo e obras pblicas, do comrcio e dos servios, como notificado pelo INE.

    No seu conjunto, os dados sugerem que o desempenho da economia poder ser mais favorvel do que o esperado. No obstante, devem ser analisados com prudncia, aten-dendo a que a economia permanece vulnervel a riscos e incertezas, quer a nvel interno, quer a nvel internacional.

    Mais ainda, os custos sociais do ajustamento continuam a manifestar -se e tm -se revelado mais negativos pelo facto de o ajustamento se ter confrontado com todas as fragilida-des da nossa economia. O desemprego atingiu nveis ele-vados, em particular nos mais jovens e nos desempregados de longa durao. Esta evoluo demonstra as fragilidades da economia portuguesa, assente durante demasiado tempo num mercado laboral rgido e com excessiva incidncia em alguns setores de baixo valor acrescentado. Apesar de ainda elevados, os indicadores de desemprego mais recentes sugerem que a economia pode estar numa fase de estabilizao do nmero de desempregados, significando que as reformas empreendidas comeam a surtir efeito.

    Portugal tem assim condies para entrar numa nova fase do ajustamento. Em 2011, a iminncia da bancarrota ditou a urgncia do ajustamento financeiro. De seguida, estando o processo de consolidao oramental iniciado e as principais reformas estruturais lanadas, a nfase recaiu na reconstruo das condies de financiamento, mais especificamente na recuperao da capacidade de financiamento do Tesouro e na restaurao da estabilidade no sistema bancrio. Em 2013, Portugal entra na terceira fase do ajustamento. A economia tem finanas pblicas mais equilibradas, um sistema financeiro mais estvel e bases estruturais mais slidas. Os esforos podem agora ser dirigidos promoo do crescimento e ao combate do desemprego, atravs do relanamento do investimento privado. o investimento produtivo que dar sustentabi-lidade recuperao da atividade econmica. Por sua vez, a recuperao da atividade econmica conduzir criao de mais e melhores empregos.

    Apesar dos resultados alcanados, persistem riscos e incertezas que no podem ser ignorados. No curto prazo, necessrio consolidar os progressos obtidos, bem como potenciar os sinais de recuperao que se manifestaram no segundo trimestre de 2013. No mdio e no longo prazo, o

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    maior desafio ser a transio para o crescimento susten-tado e criador de emprego a ltima fase do processo de ajustamento. Esta fase exige o cumprimento de duas condies fundamentais: a sustentabilidade das finanas pblicas e a estabilidade financeira. A sustentabilidade das finanas pblicas indispensvel para fazer face a uma restrio financeira exigente, que ter inevitavelmente de caminhar para o equilbrio oramental. A estabilidade fi-nanceira essencial para garantir o acesso regular e estvel ao financiamento.

    Dois anos aps o pedido de ajuda internacional, os prin-cipais desequilbrios esto corrigidos e inicia -se uma nova fase caracterizada pelo relanamento do investimento e pela recuperao da atividade econmica. Portugal aproxima -se do final do Programa. O esforo de ajustamento, porm, ter de perdurar aps junho de 2014. O processo de ajus-tamento s estar concludo quando estiverem criadas as condies estruturais e institucionais com vista ao cres-cimento sustentado e a participao plena de Portugal na rea do euro.

    Na avaliao da crise tambm como oportunidade estru-tural para fazer mudanas, a modernizao do Estado e a sua reforma assumem, naturalmente, um carter relevante.

    Na verdade, vrios fatores explicam a necessidade de uma viso global de um Estado mais moderno, menos pe-sado e mais eficiente. Desde logo, a preocupante evidncia de que o crescimento da economia portuguesa foi anmico desde o incio do novo sculo, o que salienta deficincias na nossa competitividade, e um problema com os recursos que ficam disponveis para a economia aps a absoro, pelo Estado, de parte significativa da riqueza criada. Por outro lado, o prprio funcionamento das Administraes, mais tributrio de regras herdadas e acumuladas do que respondendo a princpios de avaliao permanente e rea-lista tanto das possibilidades de financiamento, como da eficincia no servio prestado ao cidado, carece de uma reviso com profundidade.

    A existncia de um Programa de Ajustamento Econ-mico tornou ainda mais crtica a necessidade de moderni-zao do Estado, que vem sendo prosseguida atravs de um conjunto de reformas setoriais que procuram responder necessidade de reduzir a despesa e ao imperativo de simplificar nveis e procedimentos nas vrias Administra-es. Tambm o facto de o cumprimento do Programa ter conduzido o pas a um aumento de carga fiscal, explica a necessidade de esse aumento ser transitrio, devendo a consolidao oramental fazer -se, em maior dimenso, pelo lado da despesa.

    O Governo abrir um debate sobre novas reformas que modernizem o Estado, procurando definir o Estado que queremos e podemos financiar, criar as bases e o caminho para o crescimento de que precisamos e proporcionar as condies necessrias ao emprego e a uma sociedade de oportunidades e mobilidade social.

    Abrir um debate nacional sobre o que devem ser as tarefas do Estado no sculo e no mundo em que vivemos implica revisitar as suas funes e distinguir entre a tutela dessas funes e a sua execuo em concreto. Mas implica tambm perceber que as reformas no Estado podem abrir caminho criao de uma sociedade civil com mais res-ponsabilidades e oportunidades.

    Em suma, a Reforma do Estado visa dotar Portugal de um Estado mais leve, mas mais forte, mais simples, mas mais prximo. Um Estado que liberta os cidados e empresas, um Estado do sculo XXI.

    1.1.2 A estratgia de crescimento, empregoe fomento industrial

    O principal objetivo da poltica do XIX Governo Consti-tucional colocar Portugal numa trajetria de crescimento econmico sustentado e criador de emprego, assegurando para esse efeito a sustentabilidade das finanas pblicas e a estabilidade financeira. Neste contexto importa reforar a configurao de medidas para superar a crise e lanar a recuperao da atividade econmica com vista criao de emprego, nomeadamente atravs de polticas ativas de promoo do investimento, do empreendedorismo, da inovao, da competitividade e da internacionalizao.

    Apesar dos bons resultados alcanados no ajustamento externo, o contexto econmico -financeiro global mantm--se instvel e particularmente adverso, afetando intensa-mente a economia portuguesa e, em particular, o desem-penho das suas empresas. O Governo continua empenhado em desenvolver polticas que estimulem o investimento e valorizem os setores produtores de bens e servios tran-sacionveis, conferindo -lhes melhores condies para reforar os seus nveis de competitividade nos mercados externos e o seu contributo para o crescimento.

    O Governo acredita que o reforo da competitividade e o contributo da dinmica empresarial para a consolidao de uma trajetria sustentada de recuperao econmica e de crescimento deve privilegiar o seguinte conjunto de vetores:

    Dar continuidade s alteraes no padro de especiali-zao da economia portuguesa, atravs da aposta na inves-tigao e desenvolvimento e na inovao (I&D&I)I;

    Reforar e consolidar a dinmica exportadora das em-presas portuguesas;

    Promover a atrao de investimento inovador que con-duza criao de emprego qualificado, promova siner-gias positivas com as empresas portuguesas e dinamize as cadeias de fornecimento;

    Criar as condies para reforar a competitividade das pequenas e mdias empresas (PME) no contexto de inte-grao e alargamento de mercados, atendendo nomeada-mente predominncia expressiva que as PME assumem no tecido empresarial portugus. Estas constituem um importante elemento catalisador do crescimento econmico j que, pela sua flexibilidade e outras caractersticas espe-cficas, revelam um enorme potencial na utilizao mais produtiva e eficiente dos recursos, na inovao tecnolgica, no reforo da concorrncia, na criao de emprego, com vista a uma superior resilincia e estabilidade em perodos de crise.

    No quadro do diagnstico global realizado, e face aos objetivos definidos, identificam -se as reas crticas para o sucesso de uma interveno que se quer focada na com-petitividade e no crescimento sustentvel:

    Promover a atratividade dos setores produtores de bens e servios transacionveis, captando uma nova gerao de empreendedores e incentivando o reconhecimento do mrito e da representao social do empresrio e do setor;

    Estimular um ambiente de negcios mais amigo do investimento, que considere as questes relacionadas com o ordenamento do territrio, o ambiente, a eficincia ener-gtica, as infraestruturas de comunicao, a interoperabi-lidade nos transportes e a eficincia na gesto porturia, entre outros;

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    Assegurar uma significativa atrao e focalizao de novos investimentos, nomeadamente em domnios ali-nhados com as estratgias de clusterizao emergentes dos polos de competitividade, com o reforo das cadeias de fornecimento e com as tendncias reveladas pelos mer-cados internacionais;

    Dinamizar e facilitar o acesso a incentivos especficos e a mecanismos de apoio tcnico e financeiros flexveis e devidamente configurados;

    Estimular processos de redimensionamento estratgico atravs, no s de mecanismos especficos de apoio a processos de fuso e de aquisio, como tambm de su-porte a processos de transmisso/sucesso empresarial e de qualificao de estratgias empresariais.

    1.2 Cenrio macroeconmico para 2014

    1.2.1 Hipteses externas

    Para 2014, prev -se uma recuperao da economia mundial assente no crescimento dos pases emergentes em 5,1 % e no reforo do crescimento das economias avanadas para 2,0 % onde se evidencia uma recupera-o da economia da rea do euro, invertendo a situao recessiva dos anos precedentes. Na rea do euro permane-cem, porm, evolues bastante distintas entre os Estados membros da Unio Europeia, com um crescimento mais forte nos pases blticos e mais fraco nos pases do sul, sujeitos ao processo de transformao estrutural das suas economias.

    Neste enquadramento, prev -se para o prximo ano uma recuperao da procura externa relevante para Portugal e a manuteno das taxas de juro de curto prazo num nvel baixo. Antecipa -se, igualmente, uma diminuio do preo do petrleo e uma ligeira apreciao do euro face ao dlar. O Quadro 1 resume as principais hipteses externas subjacentes ao cenrio macroeconmico para a economia portuguesa.

    QUADRO N. 1

    Enquadramento Internacional Principais Hipteses

    Nota: (p) previso; (a) EURIBOR a trs meses.

    1.2.2 Cenrio macroeconmico

    Face ao cenrio apresentado no Documento de Estra-tgia Oramental (DEO), o atual cenrio apresenta uma reviso em alta nas perspetivas para a economia portuguesa decorrente quer da atualizao das hipteses externas quer da evoluo da conjuntura econmica j observada para 2013. Assim, prev -se agora uma quebra do PIB de 1,8 % neste ano e um crescimento de 0,8 % em 2014, comparando com -2,3 % e 0,6 % para 2013 e 2014, respetivamente, no DEO. As componentes da procura interna devero apresen-tar uma recuperao no prximo ano, mais notria ao nvel do investimento e consumo privados enquanto a procura externa lquida dever apresentar contributo positivo em ambos os anos com a manuteno do crescimento das exportaes em 2014.

    QUADRO N. 2

    Cenrio macroeconmico

    (taxas de variao homloga em volume, %)

    Nota: (p) previso;Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    Assim, o consumo privado dever apresentar uma li-geira recuperao em 2014, aps o ajustamento ocorrido ao longo dos ltimos anos relativamente evoluo do PIB real, na sequncia de vrios anos em que o consumo cresceu acima do produto.

    Tendo em considerao o efeito das medidas de consoli-dao oramental que tm vindo a ser implementadas, prev--se ainda um decrscimo do consumo pblico em 2,8 %.

    Quanto ao investimento, dever apresentar uma subida em 2014 de 1,2 %, justificada essencialmente pela recu-perao das componentes do investimento empresarial e de bens de equipamento.

    O crescimento das exportaes de bens e servios dever situar -se em cerca de 5 %. As importaes devero apre-sentar uma recuperao em 2014, com um crescimento de 2,6 %, pelo que a procura externa lquida dever continuar a apresentar um contributo positivo para a variao do produto real. Em consequncia, e pelo terceiro ano con-secutivo, prev -se que a economia portuguesa apresente uma capacidade de financiamento face do exterior, refor-ada para 3,4 % do PIB, beneficiando de uma melhoria na evoluo da balana corrente.

    II. 2. Opo Finanas Pblicas: Desenvolvimentose Estratgia Oramental

    2.1 Estratgia de consolidao oramental

    2.1.1 Reviso dos limites quantitativos do Programade Ajustamento Econmico

    Atendendo evoluo negativa da economia portuguesa em 2012 e deteriorao das perspetivas econmicas para a rea do euro, o Governo props, dentro das regras euro-peias e do funcionamento do Programa de Ajustamento, a reviso dos limites para o saldo oramental no stimo exame regular do Programa.

    A deciso procurou equilibrar essencialmente duas pre-ocupaes. Por um lado, prevendo -se uma recesso mais acentuada e um nvel de desemprego superior, o cumpri-mento da trajetria acordada exigiria medidas de consoli-dao oramental adicionais numa conjuntura internacional adversa, o que agravaria os custos econmicos e sociais do ajustamento no curto prazo. Por outro lado, as restries

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    de financiamento da economia portuguesa e a importncia de assegurar a sustentabilidade das finanas pblicas re-queriam a manuteno de uma trajetria de consolidao oramental credvel no mdio e longo prazo.

    Os limites quantitativos para o dfice oramental, em percentagem do PIB, correspondem a 5,5 % em 2013 e 4,0 % em 2014 uma reviso em alta de 1 ponto per-centual em 2013 e 1,5 pontos percentuais em 2014 face trajetria acordada no quinto exame regular, ou seja, uma reviso em alta de 2,5 pontos percentuais em 2013 e 1,7 pontos percentuais em 2014 face aos limites do Memo-rando de Entendimento inicial. O cumprimento do limite de 3 % previsto no mbito do Procedimento dos Dfi-ces Excessivos foi assim adiado para 2015, prevendo -se agora um dfice de 2,5 % do PIB nesse ano. A alterao da trajetria oramental foi aprovada pelo Eurogrupo e pelo Ecofin em junho de 2013 e no causou qualquer perturbao nos mercados financeiros. Constitui mais um voto de confiana dos parceiros internacionais, no segui-mento da primeira reviso dos limites quantitativos para o dfice acordada no quinto exame regular e da extenso da maturidade mdia dos emprstimos oficiais europeus acordada em abril de 2013. necessrio ter presente que Portugal apenas pde alcanar estes resultados aps ter demonstrado a firme determinao no cumprimento do Programa em cada exame regular e depois de alcanados progressos nas vrias dimenses do ajustamento. por isso de grande importncia que Portugal continue a cumprir os seus compromissos internacionais, de forma a manter os nveis de credibilidade e confiana j conquistados. Este um ativo fundamental a manter, em particular neste ltimo ano do Programa de Ajustamento.

    2.1.2 Desenvolvimentos Oramentais em 2013

    Analisando a evoluo oramental mais recente, constatam -se melhorias significativas nos principais in-dicadores de consolidao oramental face ao ano de 2010 (Quadro n. 3).

    QUADRO N. 3

    Saldos Oramentais

    (em percentagem do PIB)

    Nota: (e) estimativa; (p) previso.Fontes: INE e Ministrio das Finanas.

    A estratgia de consolidao oramental prosseguida pelo Governo resultou numa reduo do dfice oramental de 9,8 % do PIB em 2010 para 6,4 % do PIB em 2012. Por sua vez, o saldo primrio melhorou em cerca de 5 p. p., passando de -7,0 % em 2010 para -2,1 % em 2012. Para 2013 prev -se o cumprimento do limite do dfice oramen-tal previsto no Programa de Ajustamento de 5,5 % do PIB.

    A execuo oramental neste ano tem sido suportada por um slido desempenho da receita e um melhor controlo da despesa, com a prossecuo do esforo de reforma da administrao pblica, do reforo da gesto financeira e da restruturao das empresas pblicas. Estes resultados foram reconhecidos pelas equipas do Banco Central Euro-peu, Comisso Europeia e Fundo Monetrio Internacional

    nas oitava e nona avaliaes do Programa de Ajustamento Econmico. Em 2013, foi inclusivamente j possvel pro-curar um maior equilbrio entre a consolidao oramental e a minimizao dos custos sociais e econmicos.

    De entre os principais desenvolvimentos oramen-tais no corrente ano, destacam -se a alterao dos limites quantitativos para o dfice oramental no stimo exame regular (descrita na seco 2.1.1) e a deciso do Tribunal Constitucional, em abril do corrente ano, relativamente a um conjunto de normas do Oramento do Estado para 2013 (OE2013), aprovado pela Lei n. 66 -B/2012, de 31 de dezembro. A declarao de inconstitucionalidade dos artigos 29., 31. e 77. da Lei do OE2013 influenciou o conjunto de medidas a considerar na alterao quele Oramento.

    A deciso do Tribunal Constitucional obrigou repo-sio do subsdio de frias ou quaisquer prestaes cor-respondentes ao 14. ms, bem como ao novo desenho da contribuio social sobre prestaes de doena e de desem-prego. O hiato criado nas contas pblicas foi estimado em aproximadamente 0,8 p.p. do PIB. Foi colmatado em cerca de metade com recurso a medidas permanentes e no restante atravs de medidas com efeito apenas em 2013.

    Neste seguimento, foi submetida Assembleia da Rep-blica a proposta de alterao ao Oramento do Estado, com o objetivo de cumprir o dfice de 5,5 % do PIB acordado com as instituies internacionais no mbito do Programa de Ajustamento Econmico. De entre as medidas de con-solidao oramental includas na alterao ao OE2013, destacam -se:

    i) A antecipao para 2013 dos efeitos de um conjunto de medidas de reduo estrutural da despesa pblica de natureza setorial e transversal, tais como:

    A alterao do perodo normal de trabalho de 35 para 40 horas semanais,

    A introduo de um sistema estrutural de gesto dos recursos humanos da Administrao Pblica,

    O aumento das contribuies dos beneficirios para os sistemas de proteo na doena, bem como a reduo da respetiva contribuio a suportar pela entidade emprega-dora,

    ii) A reduo dos encargos com Parcerias Pblico--Privadas, aumentando a poupana de 30 % para 35 % do valor global dos encargos;

    iii) A imposio de uma conteno adicional nas despe-sas correntes de todos os programas oramentais.

    No que respeita ao combate evaso e fraude fiscal, a alterao ao OE2013 prev o reforo dos benefcios fiscais no domnio da faturao das aquisies e prestaes de ser-vios desde o incio do ano comunicadas Administrao Tributria no mbito do programa e -fatura, aumentando de 5 % para 15 % o valor da deduo em sede de Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares (IRS) do Im-posto sobre o Valor Acrescentado (IVA).

    Visando o impulso do investimento privado, a criao de emprego e a recuperao da atividade econmica, a alterao ao OE2013 permitiu acomodar, dentro da es-treita margem de manobra oramental, medidas fiscais de estmulo ao crescimento e investimento, entre as quais se destacam o regime do IVA de caixa e o crdito fiscal extraordinrio ao investimento.

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    2.1.3 Perspetivas Oramentais para 2014

    Em 2014, atendendo a um cenrio de moderado cresci-mento econmico, obrigao de cumprir quer o objetivo de correo do dfice excessivo em 2015 quer o objetivo oramental de mdio prazo, o processo de consolidao oramental continuar a revelar -se muito rigoroso, quer do lado da despesa quer do lado da receita. O ano de 2014 ser um ano de transio entre o Programa de Ajustamento e o novo enquadramento oramental a que os Estados mem-bros da Unio Europeia estaro sujeitos. A especificao das medidas necessrias para cumprir a trajetria ora-mental acordada ser includa na proposta do Oramento do Estado para 2014.

    Para 2014, prev -se um saldo primrio j positivo e um saldo oramental de -4 % do PIB. Para tal, o Governo prosseguir o esforo de racionalizao da despesa de fun-cionamento, no mbito do processo de reforma do Estado, atravs da reduo dos consumos intermdios, de despesas salariais e com suplementos, bem como a continuao da convergncia do setor pblico com o setor privado em matria de regimes laborais, em vigor desde 2013. A n-fase na consolidao no lado da despesa justifica -se pela necessidade de obter uma consolidao com resultados duradouros e estruturais.

    Continuar -se - o processo de racionalizao dos regimes da Segurana Social e da Caixa Geral de Aposentaes, sobretudo no que respeita ao acesso das prestaes sociais, aumentando os mecanismos de controlo da sua atribuio e assegurando uma maior justia social entre todos.

    Os setores da sade e da educao prosseguiro a re-forma dos procedimentos e polticas, possibilitando uma reduo significativa da despesa.

    No que respeita s Parcerias Pblico -Privadas, continuar--se - a trabalhar de forma a diminuir os respetivos encargos sobre as contas pblicas.

    Relativamente ao Imposto sobre o Rendimento das Pes-soas Coletivas (IRC), proceder -se - a uma reviso geral das bases legais de tributao, de forma a promover a sua simplificao, a redefinio da sua base tributvel, a reavaliao da sua taxa nominal, de forma simplificar o imposto e promover o investimento nacional e estrangeiro, o emprego, a competitividade e a internacionalizao das empresas portuguesas. Com a discusso pblica do pro-jeto de reforma, pretende -se alcanar um amplo consenso no que respeita fiscalidade das empresas no futuro. No contexto do sistema fiscal, o Governo manter ainda a determinao no combate fraude e evaso fiscais.

    2.2 Reforma do processo oramental

    A alterao profunda das regras, procedimentos e prti-cas no domnio oramental constitui um pilar fundamental da transformao estrutural do setor pblico. Pretende -se um quadro oramental que promova a sustentabilidade e estabilidade duradoura das contas pblicas, bem como a qualidade, eficcia e eficincia da despesa pblica.

    2.2.1 Lei de Enquadramento Oramental

    A lei de enquadramento oramental foi revista para acolher na ordem interna as obrigaes decorrentes do Pacto Oramental, bem como o disposto na Diretiva do Conselho Europeu relativa aos requisitos para os quadros oramentais dos Estados -membros. Adicionalmente, est em preparao uma nova reviso da lei com vista me-lhoria do processo oramental.

    Uma das alteraes mais visveis foi a introduo da regra de ouro. Segundo esta regra, caso existam des-vios significativos face ao objetivo de mdio prazo ou trajetria de ajustamento, a correo no s obrigat-ria, como deve ser feita de acordo com um conjunto de regras. O objetivo de mdio prazo para Portugal indica que o dfice oramental estrutural no pode ser superior a 0,5 % do PIB, independentemente do dfice nominal. A regra de ouro atribui assim uma importncia acrescida varivel do saldo oramental estrutural isto , o saldo oramental das Administraes Pblicas que no considera os efeitos especficos do ciclo econmico, nem os efeitos de medidas extraordinrias. Porm, a regra de ouro no substitui a regra sobre dfices excessivos que resulta do Pacto de Estabilidade e Crescimento, pelo que se mantm a necessidade de cumprir o limite de 3 % do Produto Interno Bruto para o dfice oramental nominal.

    A nova Lei de Enquadramento Oramental inclui ainda:A regra da reduo da dvida, que determina que

    quando a dvida pblica exceder o valor de referncia de 60 % do PIB, o montante em excesso ter de ser reduzido pelo menos em um vigsimo, em mdia, por ano; e

    A regra da despesa, que determina que o crescimento da despesa pblica no pode ultrapassar o crescimento potencial do PIB enquanto se converge para a trajetria de mdio prazo.

    No obstante os novos elementos introduzidos na stima alterao lei de enquadramento oramental, o Governo assumiu, no mbito do Memorando de Entendimento, o compromisso de proceder a uma reviso mais profunda at ao final de 2013. Esta alterao visa: simplificar o processo oramental, repensar o enquadramento oramen-tal dos servios e organismos da Administrao Pblica, alterar os macroprocessos oramentais, alterar o processo de prestao de contas e, por ltimo, garantir uma efetiva articulao entre a execuo oramental e a tesouraria do Estado.

    De forma a garantir a concretizao desta nova reviso da lei de enquadramento oramental, foi constituda uma comisso de reviso da lei de enquadramento oramental.

    2.2.2 Leis do regime financeiro das autarquiaslocais e das entidades

    intermunicipais e das finanas das regies autnomas

    Foram aprovadas as novas leis do regime financeiro das autarquias locais e das entidades intermunicipais e das finanas das regies autnomas, em conformidade com a lei de enquadramento oramental, nomeadamente no que respeita incluso de entidades no respetivo setor, adoo de um quadro oramental plurianual e s regras de endividamento. Define -se tambm um novo calendrio para a preparao dos oramentos municipais, compatvel com o do Oramento do Estado.

    2.2.3 Conselho de Finanas Pblicas

    Em 2011 foram aprovados os Estatutos do Conselho de Finanas Pblicas e posteriormente nomeados os respe-tivos rgos dirigentes. Esta nova entidade independente corresponde s melhores prticas internacionais e tem como misso a avaliao da consistncia e sustentabili-dade da poltica oramental. Este mais um passo para reforar a transparncia oramental das finanas pblicas portuguesas.

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    2.2.4 Modelo oramental

    A elevada fragmentao orgnica do atual modelo or-amental, considerada uma fragilidade das finanas p-blicas portuguesas, tem vindo a ser reduzida nos ltimos dois anos. Neste mbito, em 2013 foi iniciado um novo modelo organizativo e funcional no Ministrio dos Neg-cios Estrangeiros e no Ministrio das Finanas. assente na centralizao da gesto dos servios comuns (recur-sos humanos, financeiros e patrimoniais) nas respetivas Secretarias -Gerais, e tem como fim ltimo a gesto mais racional dos fundos pblicos.

    Foi reforado o papel do Coordenador do Programa Oramental, de forma a promover a sua participao mais ativa, nomeadamente ao nvel do controlo da execuo oramental e da antecipao de eventuais riscos.

    Est em curso a definio de um modelo oramental que permita definir os recursos a afetar a cada ativi-dade com indicadores de resultados associados. Tem como objetivo permitir a responsabilizao dos agentes polticos pelos resultados alcanados em cada rea da governao. O novo modelo oramental visa tambm diagnosticar e evidenciar, em tempo til, eventuais si-tuaes que possam comprometer a sustentabilidade das finanas pblicas.

    2.3 Reforma da Administrao Pblica

    2.3.1 Principais iniciativas realizadas

    As iniciativas dos ltimos dois anos visam a melhoria do funcionamento e da qualidade do servio das Admi-nistraes Pblicas. A reforma desenvolvida em fases sucessivas e complementares, permitindo a adaptao gradual das Administraes Pblicas e dos seus trabalha-dores, bem como o funcionamento regular dos servios e organismos, sem prejuzo do nvel de servio pblico prestado aos cidados.

    2.3.1.1 Redimensionamento das Administraes Pblicas

    O Programa de Reduo e Melhoria da Administrao Central (PREMAC) traduziu -se numa reduo significa-tiva do nmero de servios e organismos dos ministrios, estando esta integralmente refletida nas respetivas leis orgnicas. Em matria de controlo de efetivos, destaca -se a reformulao do Sistema de Informao da Organiza-o do Estado (SIOE), que permitiu a disponibilizao de informao atualizada no que respeita organizao e recursos humanos das Administraes Pblicas

    A Sntese Estatstica do Emprego Pblico (SIEP) rela-tiva ao segundo trimestre de 2013 demonstra uma reduo de 6 % do nmero de trabalhadores das Administraes Pblicas face a 31 de dezembro de 2011. No primeiro semestre de 2013 a reduo foi de 1,6 % face a 31 de dezembro de 2012, estando em linha com o objetivo de redimensionamento anual de, pelo menos, 2 %.

    QUADRO N. 4

    Variao de trabalhadores nas Administraes Pblicas

    2.3.1.2 Alteraes aos regimes jurdicos aplicveis a trabalhadores em funes pblicas

    De entre as alteraes efetuadas aos diversos regimes jurdicos aplicveis aos trabalhadores em funes pblicas, destacam -se as seguintes, com efeitos desde 1 de janeiro de 2013:

    Introduo de regras que facilitam e incentivam as mo-vimentaes voluntrias de trabalhadores entre servios e entre diferentes localidades, respondendo s necessidades dos servios e organismos;

    Regulamentao da resciso por mtuo acordo entre a entidade empregadora pblica e o trabalhador, vinculando o Governo a um mnimo legal de indemnizao (20 dias de remunerao por cada ano de servio);

    Uniformizao das regras do setor pblico com as do setor privado no que se refere remunerao do trabalho extraordinrio (reduo em 50 % do acrscimo remu-neratrio) e eliminao do descanso compensatrio por trabalho extraordinrio;

    Introduo de instrumentos de flexibilizao na orga-nizao dos tempos de trabalho (adaptabilidade grupal e bancos de horas individual e grupal);

    Alterao do regime de proteo social convergente dos trabalhadores em funes pblicas, de forma a reduzir o absentismo;

    Supresso do regime de transio gradual da idade legal de aposentao de trabalhadores em funes pblicas para o regime geral da segurana social (65 anos);

    Alterao do regime de cumulao de funes pbli-cas remuneradas por parte de trabalhadores em funes pblicas;

    Reduo e clarificao da atribuio da compensao por caducidade dos contratos a termo certo e a termo in-certo, em linha com o previsto para o setor privado.

    2.3.1.3 Outras iniciativas de racionalizaoda Administrao Pblica

    O esforo desenvolvido no mbito da Reforma da Ad-ministrao Pblica traduziu -se tambm em outras aes relevantes, de onde se destacam:

    Reformulao dos modelos de governao referentes a dirigentes superiores da administrao direta, da admi-nistrao indireta e a gestores de empresas pblicas, com a introduo de mecanismos de recrutamento e seleo transparentes e de polticas integradas em matria remu-neratria e de avaliao do desempenho. A Comisso de Recrutamento e Seleo para a Administrao Pblica Portuguesa (CReSAP) entidade independente res-ponsvel pela conduo dos processos concursais para os cargos de direo superior da Administrao Pblica, emitindo tambm pareceres pblicos sobre as nomeaes para as empresas pblicas;

    Realizao de um censo a fundaes, nos termos da Lei n. 1/2012, de 3 de janeiro, sua avaliao e sucessiva extin-o ou cessao/reduo de apoios pblicos. A Resoluo do Conselho de Ministros n. 13 -A/2013, de 8 de maro, estabeleceu os procedimentos e as diligncias necess-rios concretizao das respetivas decises de extino, reduo ou cessao de apoios financeiros pblicos e de cancelamento do estatuto de utilidade pblica, relevando, ao nvel da Administrao Central, a deciso de extino de 3 fundaes, a cessao de apoios financeiros pblicos a 10 fundaes, e a reduo de apoios financeiros pblicos (entre 20 % e 50 %) a 42 fundaes;

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    Estabelecimento de regras para evitar abusos na uti-lizao do instituto fundacional, visando uma evidente separao entre a instituio privada de fundaes e a sua instituio pelo Estado, neste caso com o objetivo assumido de pr um travo proliferao do Estado paralelo e de criar mecanismos de controlo rigoroso e um regime mais exigente para todas as situaes em que esteja em causa a utilizao de dinheiros pblicos, quer diretamente, quer pelos benefcios decorrentes da utilidade pblica (Lei n. 24/2012, de 9 de julho Aprova a Lei -Quadro das Fundaes e altera o Cdigo Civil, aprovado pelo Decreto--Lei n. 47344, de 25 de novembro de 1966);

    Desenvolvimento de uma anlise comparativa das re-muneraes praticadas no setor pblico e no setor privado para suporte reflexo sobre a poltica remuneratria;

    Enquadramento uniforme das atividades das entidades administrativas independentes com funes de regulao da atividade econmica dos setores privado, pblico, coo-perativo e social (Lei n. 67/2013, de 28 de agosto Lei--quadro das entidades administrativas independentes com funes de regulao da atividade econmica dos setores privado, pblico e cooperativo);

    Reforo da obrigatoriedade de publicitao dos benefcios concedidos pela Administrao Pblica (Lei n. 64/2013, de 27 de agosto Regula a obrigatoriedade de publicitao dos benefcios concedidos pela Administrao Pblica a particulares, procede primeira alterao ao Decreto -Lei n. 167/2008, de 26 de agosto, e revoga a Lei n. 26/94, de 19 de agosto, e a Lei n. 104/97, de 13 de setembro).

    2.3.2 Principais iniciativas em curso

    imprescindvel manter o passo de racionalizao das Administraes Pblicas de modo a concluir o processo de transformao estrutural. As iniciativas propostas pelo Governo visam criar condies para o redimensionamento da Administrao Pblica, bem como promover a recom-posio funcional dos trabalhadores face s exigncias de um servio pblico mais moderno e de qualidade.

    Em simultneo, est em curso uma reviso aprofundada sobre a poltica remuneratria do setor pblico no sentido de a tornar mais racional, transparente e competitiva. A reforma do Estado passa ainda por uma simplificao da legislao referente aos trabalhadores em funes pblicas e organizao da Administrao Pblica. A Lei Geral do Trabalho em Funes Pblicas visa a simplificao e integrao de diplomas que regem a Administrao Pblica em matria laboral numa nica lei, alinhando, quando tal se justifica, o regime laboral pblico com o regime laboral privado, sem prejuzo de adaptaes consoante as funes pblicas e das especificidades estatutrias decorrentes de funes de autoridade.

    2.3.2.1 Regime regra de 40 horas

    De entre as medidas estruturais constantes da Lei n. 68/2013, de 29 de agosto, destaca -se o aumento do perodo normal de trabalho dos trabalhadores em funes pblicas, que passa de 7 horas/dia e 35 h/semana para 8 h/dia e 40 h/semana.

    Esta alterao permitir, nomeadamente:Reduzir os encargos com horas extraordinrias, com

    turnos, etc.;Rever e reorganizar os perodos normais de trabalho

    de carreiras com regras prprias (carreiras docentes, etc.);

    Acomodar a reduo do nmero de trabalhadores (apo-sentaes, cessao de contratos a termo, rescises, etc.) mantendo o nvel de servio ao cidado.

    Assim, a alterao do perodo normal de trabalho trar ganhos para a prestao dos servios pblicos, para a popu-lao que os utiliza e para a competitividade da economia, ao mesmo tempo que corrige situaes de desigualdade relativamente ao setor privado que tem um regime regra de 40h e dentro do prprio Estado onde coexistem diferentes regimes -regra dependentes das prprias car-reiras.

    2.3.2.2 Sistema estrutural de gesto dos recursos humanosda Administrao Pblica

    O sistema de requalificao visa proporcionar formao e orientao profissional aos trabalhadores colocados no sistema, com vista sua efetiva recolocao em funes num organismo da Administrao Pblica. Para se assu-mir como um sistema estrutural de gesto dos recursos humanos da Administrao Pblica, dever basear -se nos seguintes princpios:

    Simplificao dos processos de reorganizao de ser-vios/organismos e de racionalizao de efetivos e das respetivas formalidades;

    Aplicao generalidade dos trabalhadores que exercem funes pblicas;

    Maior liberdade de escolha e aplicao de mtodos de seleo de trabalhadores no mbito dos processos de reestruturao/racionalizao;

    Promoo da recolocao de trabalhadores aps plano de formao que permita a sua efetiva requalificao e melhor aproveitamento profissional;

    Duas fases sequenciais fase inicial de requalificao, em que a respetiva compensao decrescente, seguida de uma fase de inatividade com compensao;

    Concentrao das atribuies e competncias na Direo--Geral da Qualificao dos Trabalhadores em Funes Pblicas (INA).

    luz do Acrdo n. 474/2013 do Tribunal Cons-titucional, de 29 de agosto de 2013, os grupos parla-mentares do PSD e CDS/PP procederam apresentao de proposta de alterao do Decreto n. 177/XII, que visa conformar o articulado do diploma ao disposto no referido Acrdo.

    2.3.2.3 Programas de Rescises por Mtuo Acordo

    O Programa de Rescises por Mtuo Acordo, institudo pela Portaria n. 221 -A/2013, de 8 de julho, destina -se a trabalhadores das categorias menos qualificadas (tipi-camente assistentes operacionais e assistente tcnicos) que no desejem manter a relao jurdica de emprego pblico, e que podem optar por cessar o respetivo contrato de trabalho, tendo acesso a uma compensao superior prevista nos termos gerais de resciso. Os prazos de apre-sentao de requerimentos decorrem entre 1 de setembro e 30 de novembro de 2013. Existe ainda a possibilidade de manuteno da ADSE desde que as contribuies do titular sejam asseguradas pelo prprio.

    Para alm do mecanismo geral que pode ser utilizado por cada servio, de referir que existe a possibilidade de criar novos programas de resciso em funo dos objetivos em termos de ajustamento dos quadros de pessoal.

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    2.3.2.4 Reviso da poltica remuneratria

    A poltica remuneratria dos trabalhadores em fun-es pblicas resulta da combinao da remunerao base com um conjunto de suplementos remuneratrios e outras regalias ou benefcios suplementares que esto a ser alvo de um levantamento para uma efetiva reviso.

    Na componente da remunerao base, o sistema remu-neratrio da Administrao Pblica assenta em termos gerais nos nveis da Tabela Remuneratria nica (TRU), mas paralelamente continuam a existir outros sistemas re-muneratrios (com ndices prprios) aplicveis a carreiras especiais e outras carreiras no revistas. Na componente dos suplementos, estando ainda em curso o processo de reviso, existe um tratamento discriminatrio entre tra-balhadores cujas componentes remuneratrias j foram revistas e conformadas nos termos da Lei n. 12 -A/2008, de 27 de fevereiro, (que instituiu a TRU) e os que mantm os benefcios remuneratrios no revistos. Por outro lado, a anlise comparativa das remuneraes praticadas no setor pblico e no setor privado identifica diferenas de padro que servem de ponto de partida para o gradual alinhamento s prticas do privado.

    Com esse propsito, a Lei n. 59/2013, de 23 de agosto, estabelece o procedimento para o levantamento das compo-nentes remuneratrias nas carreiras/categorias das diversas entidades da Administrao Pblica. Este levantamento ser a base para a avaliao e racionalizao da poltica remuneratria da Administrao Pblica, no sentido de a tornar mais transparente e competitiva.

    2.3.2.5 Recuperao de instrumentos de reconhecimento de mrito

    Para promover a motivao e a realizao profissional dos trabalhadores da Administrao Pblica, devem ser adotadas polticas de gesto de carreiras, de mobilidade interna, de reconhecimento de mrito e de qualificao profissional que reforcem o mrito, a produtividade e que concorram para a valorizao dos trabalhadores e dos servios pblicos.

    Dever, neste contexto, devolver -se aos responsveis de topo dos organismos da Administrao Pblica a capaci-dade de reconhecer e recompensar o mrito profissional dos seus colaboradores. Nesse sentido, devero ser melhorados os modelos de avaliao de desempenho e de recompensa. O objetivo neste campo ser o de atribuir dotaes or-amentais aos gestores dependentes do cumprimento de objetivos, como por exemplo de reduo de despesa, para atribuio de promoes e de prmios de desempenho.

    2.4 Poltica fiscal

    2.4.1 Iniciativas concretizadas em 2013

    No obstante a situao das finanas pblicas em Portu-gal e o cumprimento do Programa de Ajustamento Econ-mico imponham a continuao do esforo de ajustamento, o Governo pretende, em 2014, continuar a promover a competitividade fiscal da economia portuguesa. Neste contexto, no decurso de 2013 foi adotado um conjunto significativo de medidas em diversas reas nevrlgicas do sistema fiscal, nomeadamente, ao nvel (i) do reforo dos direitos e garantias dos contribuintes, (ii) da concluso da reforma da tributao do patrimnio, (iii) das reformas relativas ao Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA), e (iv) da apresentao de um pacote de medidas fiscais de promoo do investimento.

    2.4.1.1 Reforo dos direitos e garantias dos contribuintes

    Com o objetivo de promover a equidade e a justia fiscal, o Governo aprovou um conjunto de medidas que visam o reforo dos direitos e garantias dos contribuintes. Entre estas medidas destacam -se: a atribuio de com-petncias Autoridade Tributria e Aduaneira (AT) para anular automaticamente as liquidaes oficiosas em caso de declarao oficiosa de encerramento da atividade do contribuinte; a estabilizao do valor da dvida exequenda, para efeitos de pagamento da dvida tributria e de pres-tao de garantia, por perodos de 30 dias; a reforma do sistema de penhora de contas bancrias, estabelecendo -se que apenas poder ser penhorado o montante especfico em dvida no processo de execuo fiscal; a clarificao dos casos em que a Autoridade Tributria dispensa os contribuintes do pagamento de coima; o alargamento do prazo para o exerccio do direito de audio prvia por parte dos contribuintes; e a fixao do prazo de 31 de maro como data limite para a AT proceder transferncia para as entidades beneficirias da parcela de 0,5 % do IRS consignado pelos contribuintes para este efeito.

    2.4.1.2 Concluso da Reforma da Tributao do Patrimnio

    Em 2013 e em cumprimento do calendrio acordado com os parceiros internacionais, concluiu -se a avaliao geral dos prdios urbanos, procedimento que marca a con-cluso da reforma da tributao do patrimnio iniciada em 2003. No total foram avaliados cerca de 4,9 milhes de prdios urbanos, promovendo -se, desta forma, a equidade e a justa repartio dos encargos em matria de tributao do patrimnio imobilirio.

    Tendo em vista atenuar o impacto na esfera dos contri-buintes do resultado da avaliao geral dos prdios urba-nos, o Governo introduziu trs clusulas de salvaguarda: (i) uma clusula de salvaguarda especial para as famlias de baixos rendimentos, que limita o aumento anual do Imposto Municipal sobre Imveis (IMI) a 75 euros (ii) uma clusula de salvaguarda especfica para os prdios com arrendamentos antigos e (iii) uma clusula de salvaguarda geral aplicvel aos restantes proprietrios.

    Neste mbito, em 2013, cerca de 1 milho de famlias detentoras de prdios avaliados tiveram o aumento de IMI limitado a apenas 75 euros, beneficiando da aplicao do tratamento muito favorvel previsto neste regime de salvaguarda.

    2.4.1.3 Imposto sobre o Valor Acrescentado

    Tendo em vista, por um lado, o combate fraude e evaso fiscal e, por outro, a reduo dos custos de con-texto a suportar pelos contribuintes, foram concretizadas cinco medidas fundamentais em sede de IVA: a reforma do regime da faturao; a reforma dos documentos de trans-porte; a concretizao do regime simplificado de prova de exportao; a reforma do regime dos crditos incobrveis; e a criao do regime de IVA de caixa.

    A reforma estrutural do regime da faturao, que entrou em vigor no dia 1 de janeiro de 2013, assenta em 2 pilares essenciais: fatura obrigatria em todas as transmisses de bens e prestaes de servios; e comunicao eletrnica dos elementos das faturas AT.

    Estes pilares foram complementados com a criao de um incentivo fiscal em sede de Imposto sobre o Rendi-mento das Pessoas Singulares (IRS) para os consumidores que exijam fatura, correspondente a 15 % do IVA suportado

  • 7056-(12) Dirio da Repblica, 1. srie N. 253 31 de dezembro de 2013

    em aquisio em determinados setores de atividade, com um limite anual de 250 euros.

    Foi tambm aprovada a reforma dos documentos de transporte, que entrou em vigor no dia 1 de julho de 2013, e que determina a obrigao de os agentes econmicos comunicarem previamente AT (por via eletrnica) os documentos de transporte das mercadorias em circula-o, assegurando a desmaterializao destes e permitindo um controlo mais eficaz das situaes de fraude e evaso fiscal.

    O regime simplificado de prova de exportao, por sua vez, entrou em vigor em janeiro de 2013. Este regime integra 3 iniciativas chaves tendentes agilizao das exportaes: (i) emisso do Certificado comprovativo de exportao eletrnico; (ii) interligao dos sistemas infor-mticos para facilitar a exportao de produtos sujeitos a Imposto Especial de Consumo (IEC); e (iii) interligao dos sistemas informticos para permitir um reembolso de IVA mais rpido aos exportadores em geral. Este um con-tributo decisivo para a agilizao das exportaes nacionais e para o crescimento sustentado deste setor fundamental da economia portuguesa.

    Durante o ano de 2013, e tendo em vista a simplificao do sistema, o Governo criou, ainda, um novo regime de regularizao de IVA associado a crditos de cobrana du-vidosa, permitindo -se a regularizao dos crditos em mora h mais de 24 meses, desde a data do respetivo vencimento, sem necessidade de uma deciso judicial prvia.

    Finalmente, o Governo criou o regime de IVA de caixa que entra em vigor no dia 1 de outubro de 2013. Trata -se de uma medida que constitui uma reforma muito importante para a economia real e que permite aliviar a presso de te-souraria aos sujeitos passivos com um volume de negcios anual at 500.000 euros, valor que torna elegveis para este regime mais de 85 % das empresas portuguesas. O Governo optou, nesta matria, por um regime abrangente, que inclui, genericamente, todos os setores de atividade. Inclui tam-bm as operaes efetuadas com o Estado, assumindo que este deve ser tratado da mesma forma que o setor privado. Portugal um dos primeiros pases da Unio Europeia a aprovar um regime de IVA de caixa.

    2.4.1.4 Promoo do investimento

    No decurso do primeiro semestre de 2013, o Governo aprovou uma estratgia de curto prazo destinada a es-timular, de forma imediata e significativa, os nveis de investimento das empresas j neste ano. Este pacote de investimento inclui o designado crdito fiscal extraor-dinrio ao investimento, que constitui uma medida sem precedentes em Portugal e que permite que as empresas que invistam em 2013 beneficiem de uma taxa efetiva de IRC muito competitiva e que pode chegar at 7,5 %. O crdito fiscal pretende inverter a tendncia de queda do investimento privado nos ltimos anos e funcionar como catalisador para a recuperao da atividade econmica e, subsequentemente, a criao de emprego no nosso pas.

    Para alm do crdito fiscal, foram tambm aprovados:O reforo do regime fiscal de apoio ao investimento;O alargamento dos benefcios fiscais ao investimento

    de natureza contratual;A reduo do prazo de resposta aos pedidos de infor-

    maes vinculativas em 30 dias; eA criao do Gabinete Fiscal de Apoio ao Investidor

    Internacional no mbito da AT.

    2.4.2 Iniciativas previstas para 2014

    No ano de 2014 a poltica fiscal ter, designadamente, 4 vetores fundamentais: (i) a continuao da reforma es-trutural da administrao tributria iniciada em 2012; (ii) o reforo do combate fraude e evaso fiscais e aduanei-ras; (iii) o alargamento da rede de convenes para evitar a dupla tributao; e (iv) a concretizao da reforma da tributao das pessoas coletivas.

    2.4.2.1 Reforma estrutural da administrao tributria e aduaneira

    Em 2011 procedeu -se a uma reforma profunda da Ad-ministrao Tributria, atravs da fuso das trs Direes Gerais que a integravam, dando lugar Autoridade Tribu-tria e Aduaneira (AT).

    Estrategicamente, pretendeu -se renovar a misso e ob-jetivos da administrao tributria e aduaneira, assegu-rar maior coordenao na execuo das polticas fiscais e garantir uma mais eficiente alocao e utilizao dos recursos existentes.

    A reestruturao tem permitido reduzir custos mediante a simplificao da estrutura de gesto operativa, o reforo do investimento em sistemas de informao e a racionali-zao da estrutura local, adaptando -a a um novo paradigma de relacionamento entre a administrao tributria e o contribuinte, em que os canais remotos (designadamente a via eletrnica) ganharam um peso preponderante.

    Por outro lado, a operacionalizao completa da Unidade dos Grandes Contribuintes (UGC) comea j a apresentar resultados, contribuindo decisivamente para uma evoluo mais favorvel da receita de IRC.

    O prximo passo corresponde continuao do esforo de racionalizao dos servios distritais e locais da AT, de acordo com o previsto na respetiva Lei Orgnica. Neste sentido, proceder -se - reformulao das estruturas orga-nizativas e dos processos de funcionamento da AT, pas-sando de uma estrutura organizada por imposto para uma estrutura organizada por funes. Pretende -se, ainda, criar o Departamento de Servio do Contribuinte, concentrando num s departamento os servios prestados atualmente por diversas unidades da AT. Esta alterao permitir melhorar a colaborao entre a AT e os contribuintes e aumentar os atuais nveis de cumprimento fiscal.

    2.4.2.2 Reforo do combate fraude e evaso fiscais

    O reforo do combate fraude e evaso fiscais con-tinuar a ser uma prioridade da poltica fiscal no ano de 2014. Neste sentido, o Governo continuar a executar o Plano Estratgico de Combate Fraude e Evaso Fiscais e Aduaneiras (PECFEFA) aplicvel ao trinio 2012 -2014, cujo objetivo prioritrio assenta no reforo da eficcia do combate fraude de elevada complexidade e economia informal, promovendo, por essa via, uma maior equidade fiscal na repartio do esforo coletivo de consolidao oramental.

    Este Plano Estratgico integra um conjunto articulado de medidas de mbito legislativo, criminal, operacional, institucional e de relao com o contribuinte. A par de alteraes legislativas j concretizadas de reforo da efi-ccia dos controlos e de agravamento das molduras penais associadas aos crimes fiscais e aduaneiros mais graves, este Plano contempla um conjunto de medidas especficas destinadas a combater as prticas de fraude e evaso fis-cais e aduaneiras, nomeadamente nos setores e operaes considerados de elevado risco. Uma parte significativa

  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 253 31 de dezembro de 2013 7056-(13)

    das medidas operacionais previstas neste Plano Estra-tgico foi j concretizado atravs do Plano Nacional de Atividades de Inspeo Tributria e Aduaneira (PNAITA) para 2012 e 2013, prevendo -se a sua concluso com a execuo das medidas previstas no PNAITA para 2014. No ano de 2014, as atividades de inspeo continuaro a dar especial destacando -se as seguintes reas de atuao da inspeo tributria:

    a) A deteo de operadores no registados;b) O controlo dos registos de programas de faturao

    bem como das mquinas registadoras;c) O escrutnio de estruturas dirigidas interposio

    abusiva de pessoas e realizao de operaes simuladas, designadamente no mbito da fraude carrossel;

    d) O controlo de situaes de acrscimos de patrimnio no justificados;

    e) O reforo da fiscalizao das retenes na fonte, operaes sobre imveis e reembolsos;

    f) O controlo das transaes intragrupo, tanto em sede de preos de transferncia como em contexto de opera-es de reestruturao de participaes em entidades no residentes;

    g) A deteo de esquemas de planeamento fiscal en-volvendo, designadamente, negcios anmalos, parasos fiscais ou estruturas fiducirias;

    h) O controlo dos rendimentos auferidos noutras juris-dies por sujeitos passivos residentes em Portugal recor-rendo, para tal, aos mecanismos de troca de informao previstos na legislao europeia e em acordos internacio-nais assinados pelo Estado portugus.

    2.4.2.3 Alargamento da rede de convenes para evitar a duplatributao celebradas com outros Estados

    Com o objetivo de aumentar a competitividade do sis-tema fiscal portugus, o Governo pretende ainda reformular a sua poltica fiscal internacional, procedendo ao alarga-mento significativo da rede de convenes para evitar a dupla tributao. Neste momento, Portugal encontra -se em negociaes com cerca de 70 pases tendo em vista a cele-brao de novas convenes ou a reviso de convenes j existentes, nomeadamente com outros pases europeus.

    Neste contexto, constituem objetivos primordiais a celebrao e renegociao de convenes para evitar a dupla tributao com pases que representem mercados prioritrios para as empresas portuguesas, de forma a eliminar ou reduzir significativamente os obstculos sua internacionalizao e promover o investimento estrangeiro em Portugal.

    2.4.2.4 Reforma estrutural do sistema de tributaodas empresas (IRC)

    O Governo encontra -se empenhado numa reforma pro-funda e abrangente do Imposto sobre o Rendimento de Pessoas Coletivas (IRC). Pretende -se criar um imposto mais moderno, mais simples e mais estvel, com vista ao posicionamento de Portugal como um pas fiscalmente competitivo no plano internacional.

    Neste sentido, o Governo procedeu nomeao de uma Comisso de Reforma do IRC atribuindo -lhe um mandato amplo e assente em trs vetores essenciais: (i) reviso e simplificao do IRC e demais regimes fiscais aplicveis ao rendimento das empresas, (ii) reviso e simplificao do regime de obrigaes declarativas existentes em sede

    de tributao das empresas e (iii) reestruturao da poltica fiscal internacional do Estado portugus.

    O anteprojeto de lei com as propostas da Comisso foi apresentado publicamente em julho de 2013. De entre as propostas apresentadas pela Comisso, destacam -se:

    A descida progressiva da taxa efetiva para um valor entre 17 e 19 % at 2018, atravs da reduo gradual da taxa estatutria e a eliminao subsequente das derramas municipal e estadual;

    A criao de um regime simplificado para empresas de dimenso reduzida (com volume de negcios at 150 mil euros e um ativo total que no exceda 500 mil euros).

    A simplificao do sistema fiscal e eliminao ou redu-o de obrigaes declarativas e acessrias que impendem sobre as empresas.

    Tendo terminado o perodo de discusso pblica e sido apresentada a proposta definitiva por parte da Comisso de Reforma, data de aprovao das Grandes Opes do Plano, decorre o perodo de deciso poltica em que o Governo avalia as propostas apresentadas pela Comisso de Reforma tendo, tambm, em considerao os contri-butos da sociedade civil prestados durante o perodo de discusso pblica.

    Tomadas as opes polticas, segue -se o processo le-gislativo tendente aprovao da lei e sua entrada em vigor em 1 de janeiro de 2014.

    2.5 Setor Empresarial do Estado

    2.5.1 Reestruturao do setor empresarial do Estado

    O Plano de Reestruturao do Setor Empresarial do Es-tado (SEE) foi lanado em novembro de 2011. No final de 2012, foi atingido um dos seus principais objetivos no seu conjunto, o SEE registou um resultado operacional de 430 milhes de euros, o que se compara um resultado de 469 milhes de euros no final 2010. Desde ento, pretende -se consolidar este resultado, assegurando a ma-nuteno do equilbrio operacional.

    Nos prximos dois anos, a estratgia do Governo passar pela alienao de ativos no relacionados com a atividade principal das empresas e por processos de concesso e de privatizao, sempre que a prestao do servio pblico possa ser garantida de forma mais eficiente por entidades privadas. No obstante, a dvida acumulada no SEE, resul-tante de prticas de desoramentao do passado, continua a ser um obstculo sustentabilidade das empresas.

    2.5.2 Alterao do regime jurdico do setorempresarial do Estado

    O novo regime jurdico do setor pblico empresarial aprovado pelo Decreto -Lei n. 133/2013, publicado no Dirio da Repblica a 3 de outubro de 2013 estabelece um novo modelo de governao, cujas linhas essenciais assentam em dois vetores:

    Concentrao do exerccio da funo acionista no Mi-nistrio das Finanas;

    Aumento do controlo e monitorizao a exercer sobre o desempenho das empresas pblicas.

    Este novo regime cria as condies para uma reforma profunda do setor pblico empresarial, isto sobre o setor empresarial do Estado e sobre o setor empresarial local.

  • 7056-(14) Dirio da Repblica, 1. srie N. 253 31 de dezembro de 2013

    Trata -se porm de um regime diferenciado, que respeita a autonomia constitucional reconhecida ao setor local.

    Em concreto, com vista a um controlo e monitorizao global do Setor Pblico Empresarial, procede -se criao da Unidade Tcnica de Acompanhamento e Monitorizao do Setor Pblico Empresarial. As competncias e atribui-es confiadas a esta Unidade sero reguladas por diploma prprio. Sero mais amplas e abrangentes no caso do setor empresarial do Estado, respeitando assim a autonomia reconhecida ao setor local.

    O modelo de governao ainda reformulado no que respeita funo acionista do Estado esta ser exer-cida pelo membro do Governo responsvel pela rea das finanas, no obstante a indispensvel coordenao com os respetivos ministrios setoriais. Os ministrios setoriais mantm ainda as competncias de orientao estratgica, bem como a responsabilidade de definir a respetiva poltica setorial, os objetivos operacionais das empresas e o nvel de servio pblico a prestar.

    Por ltimo, reforada a monitorizao do nvel de endividamento das empresas. Por um lado, as operaes de financiamento de prazo superior a um ano, assim como todas as operaes de derivados financeiros de taxa de juro ou de cmbio, s podem ser contratadas pelas em-presas do setor empresarial do Estado mediante parecer prvio favorvel da Agncia de Gesto da Tesouraria e da Dvida Pblica IGCP, E. P. E. (IGCP). Por outro lado, as empresas que tenham sido ou venham a ser integradas no setor das Administraes Pblicas (nos termos do Sis-tema Europeu de Contas Nacionais e Regionais) ficam impedidas de aceder a novo financiamento junto da banca comercial, excetuando os casos em que o financiamento assegurado pela Direo Geral de Tesouro e Finanas seja vedado por razes de concorrncia.

    2.5.3 Controlo financeiro do setor empresarial do Estado

    No incio de 2013, e na sequncia de um processo iniciado ainda em 2011, o IGCP concluiu uma anlise carteira de derivados de taxa de juro das empresas do SEE, tendo verificado a existncia de um nmero muito significativo de operaes de carter especulativo e ou contratualmente desequilibradas, que impunham ao errio pblico custos muito significativos para alm de riscos associados a opes de vencimento antecipado que am-pliariam materialmente as perdas e colocariam em causa as metas oramentais. Ao longo dos ltimos meses, o IGCP conduziu um processo de negociao com diversas insti-tuies financeiras internacionais para extinguir contratos de derivados de taxa de juro no SEE. Foi assim possvel chegar a acordo com a maioria dos bancos e o montante de responsabilidades contingentes (valor de mercado) foi j reduzido em cerca de 50 %.

    2.6 Outras Iniciativas com impacto oramental

    2.6.1 Programa de privatizaes

    Os processos de privatizao da EDP e REN foram concludos e representaram um encaixe financeiro de cerca de 3,3 mil milhes de euros para o Estado. Com o encerra-mento do processo de privatizao da ANA Aeroportos de Portugal (ANA), o Estado receber cerca de 2,3 mil milhes de euros (receita lquida das operaes de venda da ANA e da concesso do servio pblico de apoio aviao civil). Assim, a receita global das privatizaes

    conduzidas at ao momento corresponde a 5,6 mil milhes de euros. Este valor de receitas ultrapassa o objetivo fixado no Memorando de Entendimento para o total do Programa de Ajustamento, havendo ainda um conjunto de privatiza-es a concretizar.

    Foi tambm concludo o processo de reprivatizao do Banco Portugus de Negcios (BPN), no qual a ma-nuteno do mximo de postos de trabalho representou uma preocupao constante. Foram j alienadas vrias das participaes do grupo que tinham passado para a esfera do Estado aquando da nacionalizao, encontrando -se as restantes (Banco Efisa, BPN Crdito e BPN Brasil) em processo de alienao. Lanou -se ainda, em janeiro de 2013, um concurso internacional para a gesto da carteira dos crditos da Parvalorem, com vista a maximizar a re-cuperao de valor para os contribuintes. O concurso j se encontra concludo, aguardando -se apenas a assinatura dos contratos.

    Foi ainda promovida a alienao de diversos ativos da Caixa Geral de Depsitos (CGD), que resultaram num encaixe global de 650 milhes de euros. Destacam -se a alienao da participao de 1 % na Galp Energia, no final de novembro de 2012, e a alienao da Caixa Sade, no incio de 2013. Neste momento est em curso o processo de privatizao do negcio segurador do Grupo CGD, lder no mercado segurador portugus em todas as linhas de negcio e canais de distribuio. As propostas vinculativas devero ser recebidas at ao final do corrente ano.

    O processo de reprivatizao da TAP ser relanado brevemente. A concesso da operao dos transportes urbanos de Lisboa e Porto, a cargo das empresas pbli-cas Metropolitano de Lisboa, Carris, STCP e Metro do Porto, ser levada a cabo aps a concluso do processo de reestruturao em curso, encontrando -se em anlise os diferentes cenrios.

    O processo de privatizao dos CTT Correios de Portugal, S. A. (CTT) encontra -se em curso, prevendo -se a sua concluso at ao final de 2013. A empresa e o Governo esto a redefinir a estratgia de negcio da empresa no novo ambiente regulatrio decorrente do enquadramento comunitrio do setor postal. Por outro lado, a prpria evoluo da atividade dos correios a nvel global exige um ajustamento para acompanhar o desenvolvimento do mercado e da sociedade em geral.

    Pretende -se ainda promover a alienao da totalidade do capital social da EGF, holding do Grupo guas de Portugal que concentra a atividade na gesto de resduos slidos urbanos. A introduo de capital e de gesto privados, que ser acompanhada da reviso do enquadramento regulat-rio e contratual do setor, tem como objetivo a introduo de prticas de tecnologia mais avanada e de mtodos de gesto que promovam ganhos de eficincia.

    2.6.2 Parcerias pblico -privadas

    O novo regime jurdico das parcerias pblico -privadas (PPP), por via do Decreto -Lei n. 111/2012, de 23 de maio, veio alterar substancialmente o enquadramento jurdico--institucional subjacente definio, conceo, preparao, lanamento, adjudicao, fiscalizao e acompanhamento global das PPP. Neste contexto, durante os primeiros me-ses de 2013 procedeu -se instalao da Unidade Tcnica de Acompanhamento de Projetos (UTAP), a qual j se encontra em plena efetividade de funes.

    Tambm no ano corrente, no seguimento da aprovao do novo enquadramento legal, da criao da UTAP e do

  • Dirio da Repblica, 1. srie N. 253 31 de dezembro de 2013 7056-(15)

    estudo realizado a 36 contratos de PPP, a ao do Governo foi orientada para a reduo dos elevados encargos para o Oramento do Estado decorrentes dos contratos de PPP, com um maior enfoque nas parcerias do setor rodovirio. Desta forma, a UTAP e a EP Estradas de Portugal, S. A. (EP), tm -se concentrado, essencialmente, nos trabalhos das comisses de negociao referentes s PPP do setor rodovirio, tendo em vista a renegociao dos seguintes contratos:

    Concesses ex -SCUTS: Norte Litoral, Grande Porto, Interior Norte, Costa de Prata, Beira Litoral/Beira Alta, Beira Interior e Algarve;

    Concesses do Norte e da Grande Lisboa;Subconcesses da EP: Transmontana, do Baixo Tejo,

    do Baixo Alentejo, do Litoral Oeste, do Pinhal Interior e do Algarve Litoral.

    Para alm das comisses mandatadas para a renego-ciao dos contratos acima referidos, foram j nomeadas as comisses de renegociao da concesso outorgada Brisa Autoestradas de Portugal, S. A., e da concesso outorgada Lusoponte Concessionria para a Travessia do Tejo, S. A., encontrando -se os respetivos trabalhos em curso.

    Neste enquadramento, foi j possvel obter princpios de acordo com as sociedades exploradoras das concesses ex -SCUT do Grande Porto, do Interior Norte, da Costa de Prata, da Beira Litoral/Beira Alta, da Beira Interior, bem como das concesses do Norte e da Grande Lisboa, no obstante a complexidade e dificuldade das negocia-es, decorrentes tambm do envolvimento de mltiplas entidades concessionrias, estruturas acionistas, banca comercial, Banco Europeu de Investimento.

    Com a plena execuo dos princpios de acordo, a altera-o dos instrumentos contratuais relevantes e a obteno de visto pelo Tribunal de Contas fica j assegurada, no exerc-cio de 2013, uma poupana de cerca de 273 milhes de euros nos encargos brutos da EP. A este valor somar -se -o ainda os resultados das negociaes em curso com duas conces-sionrias ex -SCUT (Norte Litoral e Algarve), o que refora a convico de ser plenamente atingido o objetivo global de poupana de 300 milhes de euros fixado para 2013.

    Os princpios de acordo j firmados representam mais de 2.500 milhes de euros de poupanas acumuladas para a EP at ao trmino das concesses em termos nominais, o que corresponde a mais de 1.500 milhes de euros a valores atualizados. Mais de 50 % destes valores resul-tam da reduo das taxas de rentabilidade auferidas pelos concessionrios.

    Os acordos j alcanados permitem assim um signifi-cativo alvio do esforo que recai sobre os contribuintes portugueses, agora e no futuro, contribuindo para a sus-tentabilidade das contas pblicas e, em particular, do setor rodovirio.

    No obstante, para o ano de 2014, as PPP do setor ro-dovirio iro colocar novas e acrescidas presses sobre o Oramento do Estado resultantes do incio dos pagamentos referentes s subconcesses EP contratadas entre 2007 e o incio de 2011. Por forma a mitigar estes efeitos, as prioridades do Governo para o remanescente de 2013 e para o ano de 2014 passam pela prossecuo e concluso com xito das negociaes em curso relativas s subcon-cesses EP, com objetivo de gerar poupanas em 2014 que acrescem s poupanas atrs referidas nas ex -SCUT e concesses do Norte e Grande Lisboa.

    Ainda em 2013, decorre tambm a reviso da legislao referente ao modelo regulatrio do setor rodovirio, tendo em vista a otimizao dos nveis de servio das autoes-tradas portuguesas, em conformidade com a legislao da Unio Europeia e os standards europeus aplicveis e salvaguardando os requisitos de segurana rodoviria. Esta reviso legislativa contribuir tambm para a redu-o dos encargos pblicos emergentes das PPP, de forma sustentvel.

    No setor da sade procedeu -se nomeao da equipa de projeto encarregue do estudo e preparao do lana-mento de parceria que permita assegurar a continuao da prestao dos servios de sade no Centro de Medicina Fsica e de Reabilitao do Sul, em antecipao do termo do contrato atual em 2013. Adicionalmente, est em ava-liao a prossecuo do projeto relativo ao Hospital de Lisboa Oriental.

    Assim, em 2014, os esforos centrar -se -o na concluso do estudo, acompanhamento e preparao do possvel lanamento da nova parceria para o Centro de Medicina Fsica e de Reabilitao do Sul e na concluso da avaliao e anlise da viabilidade do projeto do Hospital de Lisboa Oriental.

    No mbito do reporte e tratamento de informao, conti-nuaro a ser desenvolvidas todas as diligncias no sentido de melhorar a qualidade do acesso pblico informao, sendo neste mbito importante frisar que tm vindo a ser disponibilizados no site da UTAP diversos boletins de acompanhamento relativos a PPP e a concesses, nos ter-mos legalmente previstos.

    2.6.3 Compras pblicas e servios partilhados

    2.6.3.1 Sistema Nacional de Compras Pblicas

    Em 2012, as poupanas alcanadas pelo Sistema Nacio-nal de Compras Pblicas (SNCP) ascenderam a 25,8 mi-lhes de euros, um crescimento de quase 50 % face ao valor de 17,5 milhes de euros apurado em 2011. Assim, em quatro anos, o valor efetivo de poupanas atinge cerca de 155 milhes de euros.

    Atualmente, o SNCP integra mais de 1800 entidades num modelo em rede de articulao com as Unidades Ministeriais de Compras (UMC), s quais acrescem 518 en-tidades voluntrias da administrao regional e local e do setor empresarial do Estado.

    Para o ano de 2014, perspetiva -se:Continuar o desenvolvimento dos acordos quadro, se-

    gundo trs vetores de atuao:Maior abrangncia promover a utilizao do SNCP

    por um nmero crescente de entidades e incluir novas ti-pologias, mesmo que em regime de utilizao facultativa, como sejam a manuteno de edifcios ou os servios Cloud;

    Maior adequao suprir as necessidades dos organis-mos compradores com menor recurso ao pedido de exceo por inexistncia no acordo quadro respetivo e melhorar a capacidade de resposta a especificidades setoriais nas tipologias de bens e servios transversais;

    Maior dinamismo os acordos quadro devero promo-ver a atualizao contnua dos bens disponveis ou cons-trudos definindo apenas os requisitos dos bens, deixando que cada entidade adjudicante possa, em concorrncia, selecionar o bem economicamente mais vantajoso para o Estado;

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    Confirmadas as poupanas resultantes do piloto de aqui-sio centralizada de material informtico desenvolvido em 2013 mais de 10 mil computadores para diversos ministrios , analisar quais as tipologias de bens onde a adoo desse modelo pode igualmente proporcionar ga-nhos, preservando os nveis de concorrncia nos respetivos setores de atividade;

    Rever o enquadramento jurdico do SNCP, promovendo o aumento gradual da sua abrangncia, mas sobretudo a simplificao da sua utilizao e a reduo dos custos de transao, nomeadamente atravs da agilizao dos pro-cessos de compra de baixo valor;

    Melhorar os mecanismos de reporte de informao e consolidar a informao de gesto do SNCP;

    Desenvolver uma estratgia que permita a existncia de um repositrio nico de informao de compras e assim conduza a um melhor desenvolvimento do planeamento e agregao de necessidades de compra.

    2.6.3.2 Gesto do Parque de Veculos do Estado

    A gesto centralizada do Parque de Veculos do Estado (PVE) tem como princpios orientadores o controlo da despesa, a simplificao e automatizao dos processos, bem como a preferncia por uma frota mais ecolgica e eficiente em termos energticos, atendendo poltica nacional e comunitria neste domnio.

    A frota do PVE, gerida pela Entidade de Servios Par-tilhados da Administrao Pblica, I. P. (ESPAP), era composta por 27.279 veculos a 31 de dezembro de 2012. Esta diminuio de 6 % ( -1.690 veculos) face ao final de 2010 resulta da poltica de reduo dos veculos afetos ao Estado e consequentes encargos, designadamente da regra de abate de trs veculos por cada contratao de novo veculo. A reduo do nmero de veculos corresponde a uma diminuio da despesa pblica na ordem dos 7,1 mi-lhes de euros.

    No mbito da centralizao das aquisies de veculos novos na ESPAP, foi lanada em 2013 uma nova poltica de downgrade na tipologia de veculos a adquirir para representao e servios gerais. No caso dos veculos con-tratados em aluguer operacional, a reduo da despesa na ordem dos 35 %.

    As linhas de atuao para 2014 no mbito do PVE pas-sam pelas seguintes diretrizes:

    Manter a restrio na aquisio de novos veculos, ava-liando sempre o custo/benefcio sobre as diversas opes existentes para adequar a frota s necessidades especficas dos servios;

    Criao e implementao de novas solues de mobili-dade que no impliquem diretamente a aquisio ou alu-guer de um veculo, como sejam a utilizao do transporte pblico, em casos em que seja aplicvel;

    Promoo da partilha de veculos pelos organismos em sistema de bolsa de recursos, permitindo uma otimizao de recursos e racionalizao da despesa;

    Promoo da utilizao de tecnologias que permitam re-duzir o consumo de combustvel dos veculos do Estado;

    Anlise da viabilidade de implementao de um sistema de localizao de veculos com recurso georreferenciao;

    Extenso da gesto centralizada de frota para veculos ligeiros manuteno dos mesmos, permitindo um maior controlo sobre o ciclo de vida dos veculos e a reduo da despesa com a sua utilizao.

    2.6.3.3 Servios Partilhados

    No domnio da utilizao de servios partilhados, o Governo continua a apostar numa viso estratgica, ex-tensvel a toda a Administrao Pblica, ao nvel das reas financeira, recursos humanos, sistemas de informao e patrimnio.

    2.6.3.3.1 Servios Partilhados de Recursos Humanos

    No mbito dos servios partilhados de recursos hu-manos destaca -se a implementao da soluo de gesto de recursos humanos em modo partilhado (GeRHuP). A iniciativa encontra -se em funcionamento em modo piloto em 19 entidades do Ministrio das Finanas, prevendo -se a adeso da Autoridade Tributria e Aduaneira at final de 2013. A prestao de servios partilhados de recursos hu-manos no Ministrio das Finanas permitiu a centralizao do processamento de vencimentos, com a normalizao e simplificao dos processos de gesto de pessoal e a consolidao dos dados dos trabalhadores.

    Est tambm prevista a disponibilizao do portal do trabalhador e do portal do dirigente, permitindo a consulta de informao, bem como a descentralizao dos processos para os vrios intervenientes de um modo mais simples e orientado.

    Manter -se - ainda a evoluo e disseminao da soluo GeADAP, destinada a suportar a aplicao do Sistema Integrado de Avaliao de Desempenho da Administrao Pblica.

    2.6.3.3.2 Servios partilhados de recursos financeiros

    A nvel financeiro, destaca -se a soluo de gesto de recursos financeiros em modo partilhado (GeRFiP).

    Em 2013, como previsto, concluiu -se a sua dissemina-o a todos os organismos dotados de autonomia admi-nistrativa da administrao central e Regies Autnomas dos Aores e da Madeira. Esta iniciativa proporcionou uma mudana de paradigma da contabilidade de caixa para a contabilidade patrimonial possibilitando assim maior qualidade e rigor da informao analtica e de gesto.

    A utilizao dos servios partilhados na rea finan-ceira permite ainda a obteno atempada da informao financeira consolidada de todos os organismos aderentes, melhorando significativamente a capacidade de monito-rizao e controlo numa perspetiva global.

    Para 2014 perspetiva -se, nesta rea:Consolidao gradual da implementao do modelo

    de servios partilhados assumindo, uma distribuio de atividades e tarefas (split de processos) mais eficiente;

    Melhoria crescente da informao de gesto disponibi-lizada a todos os nveis;

    Implementao de iniciativas de simplificao do pro-cesso contabilstico, acompanhadas pela desmaterializao da faturao fatura eletrnica entre operadores econ-micos e Estado e ou autofaturao.