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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA, REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA. Pág. 1 - Secretaria de Serviços Legislativos ATA Nº 023 PRESIDENTE - DEPUTADO WILSON SANTOS O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Invocando a proteção de Deus e em nome do povo mato-grossense, declaro aberta esta Audiência Pública com o objetivo de debater o Ciclo de Formação Humana implantado no Estado de Mato Grosso. Convido para compor a mesa a Exmª Srª Terezinha Gomes de Lima, Secretária Municipal de Educação e Cultura de São Felix do Araguaia, neste ato representando o Prefeito José Antônio de Almeida, “Bau”; o Exmº Sr. Sílvio Bento Leal, Presidente da Câmara Municipal de São Félix do Araguaia - e já agradecemos o Vereador Sílvio por ter cedido às instalações do Parlamento Municipal para esta importante Audiência Pública -; o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, Assessor Técnico, neste ato representando o Secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto Filho; a querida colega Professora, amiga, Palestrante, Professora Alvarina de Fátima dos Santos; o Exmº Sr. Vereador Janovan Rios, Presidente da Câmara Municipal de Vila Rica; a Exmª Srª Fátima Beatriz Hermann, Secretária Municipal de Educação de Querência; a Exmª Srª Guiomar Rita da Costa Lucas, Secretária Municipal de Educação de Vila Rica; a Exmª Srª Sandra Gama Carvalho, Secretária Municipal de Educação de Luciara; o Presidente do SINTEP do Município de São Félix do Araguaia, Sr. Juracy Lima da Silva, e o Diácono e Professor José Raimundo. (PALMAS) Convido as pessoas que estão lá atrás, em pé, para ocuparem as cadeiras que estão aqui à frente. Composta a mesa de honra, convido a todos para, em posição de respeito, cantar o Hino Nacional Brasileiro. (EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL.) O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Registramos as presenças do Vereador de Vila Rica Jair Luiz Zorzi, muito obrigado pela presença; da Sra. Maria Gildene Mendes Vasconcelos, da Secretaria Municipal de Saúde de São Félix do Araguaia; do Secretário de Administração e Planejamento também de São Félix do Araguaia, Sr. Dionir José de Oliveira; do Chefe de Gabinete da Prefeitura de São Félix do Araguaia, Sr. Jason Martins Santos; da Sra. Neiva Gomes Coelho, Assessora Pedagógica de Confresa; do Presidente do Conselho Municipal de Assistência Social, Sr. Júnior de Souza Alves; do Sr. Elói Calixto Megani, representante do Distrito Sanitário Especial Indígena do Araguaia - muito obrigado, Elói, pela presença; também registramos a presença do Padre Félix, do Município de São Felix do Araguaia, importante presença aqui conosco; agradecemos o apoio da Câmara Municipal de São Félix do Araguaia, mais uma vez, para a realização deste evento, de um Parlamento irmão, que é a Assembleia Legislativa; também agradecemos a presença de todos os servidores da Secretaria Municipal de Educação de São Félix do Araguaia; a presença da imprensa local; dos municípios vizinhos; também do Vereador Marco

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Page 1: LEI N° DE DE DE 1999.€¦ · assembleia legislativa do estado de mato grosso ata da audiÊncia pÚblica para discutir o ciclo de formaÇÃo humana, realizada no dia 28 de maio de

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 1 - Secretaria de Serviços Legislativos

ATA Nº 023

PRESIDENTE - DEPUTADO WILSON SANTOS

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Invocando a proteção de Deus e em

nome do povo mato-grossense, declaro aberta esta Audiência Pública com o objetivo de debater o

Ciclo de Formação Humana implantado no Estado de Mato Grosso.

Convido para compor a mesa a Exmª Srª Terezinha Gomes de Lima, Secretária

Municipal de Educação e Cultura de São Felix do Araguaia, neste ato representando o Prefeito José

Antônio de Almeida, “Bau”; o Exmº Sr. Sílvio Bento Leal, Presidente da Câmara Municipal de São

Félix do Araguaia - e já agradecemos o Vereador Sílvio por ter cedido às instalações do Parlamento

Municipal para esta importante Audiência Pública -; o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, Assessor Técnico,

neste ato representando o Secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto Filho; a querida colega

Professora, amiga, Palestrante, Professora Alvarina de Fátima dos Santos; o Exmº Sr. Vereador

Janovan Rios, Presidente da Câmara Municipal de Vila Rica; a Exmª Srª Fátima Beatriz Hermann,

Secretária Municipal de Educação de Querência; a Exmª Srª Guiomar Rita da Costa Lucas,

Secretária Municipal de Educação de Vila Rica; a Exmª Srª Sandra Gama Carvalho, Secretária

Municipal de Educação de Luciara; o Presidente do SINTEP do Município de São Félix do

Araguaia, Sr. Juracy Lima da Silva, e o Diácono e Professor José Raimundo. (PALMAS)

Convido as pessoas que estão lá atrás, em pé, para ocuparem as cadeiras que estão

aqui à frente.

Composta a mesa de honra, convido a todos para, em posição de respeito, cantar o

Hino Nacional Brasileiro.

(EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL.)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Registramos as presenças do

Vereador de Vila Rica Jair Luiz Zorzi, muito obrigado pela presença; da Sra. Maria Gildene Mendes

Vasconcelos, da Secretaria Municipal de Saúde de São Félix do Araguaia; do Secretário de

Administração e Planejamento também de São Félix do Araguaia, Sr. Dionir José de Oliveira; do

Chefe de Gabinete da Prefeitura de São Félix do Araguaia, Sr. Jason Martins Santos; da Sra. Neiva

Gomes Coelho, Assessora Pedagógica de Confresa; do Presidente do Conselho Municipal de

Assistência Social, Sr. Júnior de Souza Alves; do Sr. Elói Calixto Megani, representante do Distrito

Sanitário Especial Indígena do Araguaia - muito obrigado, Elói, pela presença; também registramos

a presença do Padre Félix, do Município de São Felix do Araguaia, importante presença aqui

conosco; agradecemos o apoio da Câmara Municipal de São Félix do Araguaia, mais uma vez, para

a realização deste evento, de um Parlamento irmão, que é a Assembleia Legislativa; também

agradecemos a presença de todos os servidores da Secretaria Municipal de Educação de São Félix do

Araguaia; a presença da imprensa local; dos municípios vizinhos; também do Vereador Marco

Page 2: LEI N° DE DE DE 1999.€¦ · assembleia legislativa do estado de mato grosso ata da audiÊncia pÚblica para discutir o ciclo de formaÇÃo humana, realizada no dia 28 de maio de

ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 2 - Secretaria de Serviços Legislativos

Miranda e da Vereadora Patrícia Paiva, muito obrigado! Vocês não sabem o quanto a presença de

vocês é importante.

Nós estamos aqui para realizar um dos atos mais sérios dos últimos anos nesta

região. Nós estamos aqui para tratar de educação, que é sempre lembrada nos períodos eleitorais,

compõe com muita pompa os planos de governo em nível municipal, estadual e até em nível

nacional.

Com o passar do tempo dos exercícios e dos mandatos, este assunto vai sempre

sendo renegado, deixado para segundo plano, terceiro, quarto ou décimo. E o profissional da

educação sempre desvalorizado, desmotivado, e esse assunto só volta à tona quatro anos depois,

sempre nos períodos eleitorais.

A Assembleia Legislativa decidiu discutir a qualidade do ensino, a aprendizagem

na rede estadual de ensino de Mato Grosso. Estamos realizando oito audiências públicas como esta -

aqui estamos realizando a sexta Audiência Pública. Já foi realizada uma em Rondonópolis, no dia 20

de março; uma em Sinop, no dia 16 de abril; uma em Alta Floresta, no dia 17 de abril; uma em

Tangará da Serra, no dia 07 de maio; uma em Cáceres, no dia 08 de maio; e hoje aqui em São Félix

do Araguaia. A próxima será realizada no dia 15 de junho, em Barra do Garças, e a última será no

final de junho, na capital; perfazendo um total de oito Audiências Públicas. O objetivo da

Assembleia Legislativa é apresentar um relatório de tudo o que ouvimos.

Nós estamos aqui hoje principalmente para ouvir todas as pessoas que vieram das

cidades mais distantes: Vila Rica, a quase 400 quilômetros, Luciara, Querência... Todas terão

oportunidade de falar ao microfone, que daqui a pouco estará à disposição da plateia, ou pode fazer a

sua fala por escrito. O pessoal do Cerimonial da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

está à disposição, é só levantar a mão que vamos até você, pegamos o seu nome e estará registrada a

sua fala. Vamos estabelecer uma fala entre três a cinco minutos. Primeiro, falará a plateia e depois

falará a mesa; a mesa falará por último, nós queremos ouvir.

A escola ciclada, popularmente chamada assim - há muitos profissionais que não

gostam deste título e preferem o termo técnico: ciclo de formação humana -, chegou ao Brasil com

os ventos da redemocratização, no final dos anos de 1970, com o processo de redemocratização do

País, os profissionais da educação também entraram na onda de renovação e apresentaram ao País

um novo modelo, o modelo de ciclos, e eles existem em várias modalidades, não existe só o ciclo de

formação humana, que é um deles, existem ciclos com outros nomes.

Em Mato Grosso chegou há quatorze anos. Em 2001, foi implantado na rede

estadual de ensino e nós temos alguns municípios - Roberto Biondo, Nilsinho, Dairinho - que não

aceitaram o ciclo, continuam com o modelo seriado.

Eu não sei como é aqui em São Felix do Araguaia, na rede municipal é seriado ou

ciclo? (PAUSA) Ciclo! Na rede estadual o sistema é seriado ou ciclo? (PAUSA)

Então, tudo aqui é ciclo. Lá em Vila Rica, na rede municipal o sistema é seriado ou

ciclo? (PAUSA)... Seriado! Lá em Tangará da Serra, os primeiros três anos estão em ciclo; depois,

passam para o seriado. Então, o aluno faz com seis, sete e oito anos o primeiro ciclo - sai

alfabetizado, sabendo ler e escrever -, e ao invés de continuar no ciclo, ele volta para o seriado. Aí,

faz a 4ª série, e do 5º até o 9º ano em ciclo, e todo o ensino nosso, de 2º grau, o ensino médio,

também é seriado.

Vejam que não há uma unificação: nem em seriado, todo o fundamental e médio;

nem em ciclo, todo o fundamental e médio. Então, em algum momento a rede pública está ofertando

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

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ciclo e, em outro momento, 100% no ensino médio estão em seriado. Então, nós queremos ouvir

hoje quais são as condições físicas das escolas.

Aqui está o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, ele é técnico de carreira da SEDUC, é

homem de gabinete do Secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto Filho, e esteve em todas as

Audiências Públicas conosco.

É hora de entregar documentos, é hora de mostrar fotografias, é hora de usar a

palavra e falar como está o chão da sua escola. Nós não viemos aqui pedir votos, fazer campanha

para ninguém, nem falar mal deste ou daquele prefeito, nem falar bem desse ou daquele governador.

Nós viemos aqui coletar informações e quem quiser falar mal terá a palavra cortada! O tema aqui é

educação. E nós queremos aprender com quem está no chão da escola, com quem está só com o giz e

o quadro negro semidestruído, quem está convivendo com a droga rondando a escola, o nível de

educação e de limite dos alunos, a formação continuada.

Se o CEFAPRO que atende a região... Primeiro, se existe CEFAPRO aqui, se

vocês estão tendo formação continuada. Nós queremos ouvir professores, merendeiras, vigilantes,

coordenadoras, secretárias. Nós viemos aqui para ouvi-los. Então, abram a caixa de ferramentas,

coloquem a boca no trombone. Se quiserem fazer alguma referência, se quiserem trazer algum

documento à Assembleia Legislativa, nós vamos recebê-lo.

Alguns municípios trouxeram, como foi o caso de Rondonópolis, em que a

Prefeitura Municipal fez uma avaliação da escola ciclada no município. A Secretária Ana Carla

Muniz, primeira-dama de Rondonópolis, entregou à Assembleia Legislativa um documento de

avaliação da escola ciclada, no qual são apontados os pontos positivos e negativos. Lá em Cáceres

recebemos vários documentos de pessoas, individualmente. Se vocês quiserem entregar documentos

hoje, ou daqui a um tempo encaminhar algum documento, poderão encaminhá-los; nós vamos deixar

aqui os endereços. Nós queremos ouvir quem está fazendo educação neste Estado, queremos ouvir o

SINTEP, queremos ouvir todos os atores envolvidos na educação.

Tem aqui um Padre que foi convidado para esta Audiência Pública, eu gostaria de

ouvi-lo também. Por onde temos passado, o Ministério Público tem vindo. Este é o primeiro

município em que o Promotor de Justiça não atende ao nosso convite, irei reclamar ao Procurador-

Geral de Justiça. Se o Promotor de Justiça estiver na cidade, ele será denunciado pela Assembleia

Legislativa, pela sua ausência em um dos atos mais importantes que este município recebe nos

últimos anos. O lugar do Promotor é aqui, ele será denunciado se eu souber que ele está na cidade. É

o único Promotor que não atendeu ao convite da Assembleia Legislativa. Eu gostaria que a minha

assessoria checasse se o Promotor está aí, se ele estiver, por favor, avisem-no para vir aqui, em

tempo. Eu vou fazer uma denúncia formal, se ele não estiver aqui... (PALMAS)

Antes de passar a palavra a nossa palestrante - ela vai ser uma provocadora, uma

facilitadora do debate - queremos agradecer a presença dos diretores, coordenadores, professores e

alunos. Queremos também ouvir os alunos - se a Câmara tiver mais cadeiras, se pudessem

providenciar... Esta Audiência Pública dura em média quatro horas. Deputado não pode ter pressa,

ele recebe um salário muito gordo, tem uma verba de gabinete crescente e ele é empregado do povo;

então, estamos aqui sem pressa. Se for preciso ficar as quatro horas, ficaremos aqui para ouvir até o

último inscrito.

Agradeço as presenças de representantes da Escola Estadual Tancredo Neves, da

Escola Estadual Severiano Neves, da Creche Municipal Dona Tonica, da Escola Municipal São

Sebastião, da OAB, da Universidade, da Creche Municipal Elza Mendes, de todo o pessoal que está

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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

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aí, da Escola Estadual de Vila Rica, da Escola Estadual Professora Maria Ester, também de Vila

Rica; do CEFAPRO... O CEFAPRO é em Vila Rica? (PAUSA)

É em São Félix do Araguaia. Cadê o diretor do CEFAPRO? (PAUSA)... Mas foi

convidado? Está na cidade? (PAUSA)... Não mandou ninguém do CEFAPRO para representá-lo?

Porque o CEFAPRO é importante nesta Audiência - convido o representante do CEFAPRO para

compor a mesa. Quero agradecer também as presenças de representantes da Escola Estadual Hilda

Rocha; do Escritório Regional de Saúde, o CREAS; da Escola Municipal Vila de São Sebastião e da

Escola Estadual Teotônio Carlos, de Confresa.

Convido para fazer uso da palavra, por até quarenta minutos, a querida professora

e Mestra Alvarina de Fátima dos Santos, professora da rede estadual, que proferiu a palestra de

nossa Audiência Pública em Tangará da Serra. E nós gostamos muito do seu jeito tranquilo, calmo,

de professora mesmo. Então, enquanto ela fala, nós iremos ouvi-la, anotar e logo em seguida, ao

encerramento da fala da professora Alvarina, abriremos a palavra para a plateia.

Informamos que já estão valendo as inscrições. Levante o braço que o pessoal do

Cerimonial vai até você que quer se inscrever, anota seu nome, de onde você é, se é de Confresa,

Vila Rica, Luciara, Barra do Garças, Querência... De onde você for, identifique-se e, no momento

oportuno, você vai usar a palavra durante cinco minutos. Não precisa só fazer pergunta, se você

quiser falar de uma experiência, contar um testemunho, dar um depoimento, pode também.

Com a palavra, a professora Alvarina de Fátima dos Santos.

A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - Bom dia! Estou pedindo

permissão para falar daqui, o professor tem que ficar mais próximo do público.

Eu sou Alvarina, sou pedagoga e já sou conhecida na região, eu já vim várias vezes

a São Felix do Araguaia, e é com muita satisfação que eu retorno para falar de algo que acredito

muito, que é a educação de qualidade, que é possível e é por isso que eu acredito muito.

Eu sou professora em Mato Grosso desde 1989, sou especialista em metodologia

de ensino, conteúdo dos anos iniciais. Então, o meu público é educação infantil e ensino

fundamental, mas eu já transitei como profissional no Núcleo de Educação a Distância (NEAD), no

Projeto Geração; atuei como técnica na Secretaria de Estado de Educação, no ensino fundamental,

organização por ciclos; e nos últimos três anos atuei no Conselho Estadual de Educação, como

técnica de análise de processos, nos processos de autorização e nova autorização de organização por

ciclos também.

Atualmente, estou lotada na Escola Historiador Rubens de Mendonça, na Cohab

São Gonçalo, em Cuiabá.

(A PALESTRANTE INICIA A APRESENTAÇÃO DE QUADRO SINÓPTICO DOS TEMAS A

SEREM TRATADOS, POR MEIO DE DATASHOW.)

A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - A nossa missão é falar da

escola organizada por ciclo de formação humana, porque quando ela nasceu em Mato Grosso, ela

nasceu de um projeto na cidade de Jaciara. Os profissionais de uma escola, a Escola Marechal

Rondon, estavam insatisfeitos com a qualidade de ensino e começaram a estudar. Na época, ainda

não existia o CEFAPRO para a formação contínua, mas algumas escolas já faziam a sua formação

continuada. Então, nessa trajetória de estudos deparou-se com a necessidade de transformação no

fazer educação lá naquela comunidade.

Nesse estudo dessa escola, o Município de Jaciara abraçou a causa. À época, a

Secretária de Educação buscou assessoria do Sílvio Rocha, que é um teórico de Porto Alegre. Então,

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toda origem da organização por ciclo no Estado de Mato Grosso tem a sua gênese lá na organização

por ciclos em Porto Alegre.

Depois, com os estudos, as participações... Há formações que foram buscadas,

também, na Escola Plural. Então, a nossa base, a nossa origem como ciclo de formação humana

tende a essas localidades aqui no Brasil. E a origem anterior a isso é a Europa, em que tínhamos

problemas com os índices de evasão e reprovação.

O neoliberalismo, atuante nos anos 80, viu essa necessidade do que fazer para

reduzir esses índices de fracasso escolar. Só para termos uma ideia, no início da nossa organização

por ciclos, nós tínhamos 34,07% de fracasso escolar no Estado - 34,07%, se formos fazer as contas,

são muitas evasões e reprovações nos anos 80.

O ano em que mais havia reprovação - se vocês buscarem em suas escolas - era no

5º ano; na época, a 5ª série. Chegava até a 5ª série, os alunos ficavam reprovados.

De todos esses estudos, dessa necessidade de mudança, é que temos a origem do

ciclo de formação humana, que na época começou com Ciclo Básico de Aprendizagem Inicial

(CBAI) e Ciclo Básico de Aprendizagem Continuada (CBAC). O prolongamento para que não

houvesse repetência no processo de alfabetização, a criança entrava com sete e saía do processo de

alfabetização com oito anos. Então, os Ciclos Básicos de Alfabetização Inicial e de Aprendizagem

Continuada, em todas as escolas de Mato Grosso, escolas estaduais, deram sequência ao que já tinha

sido iniciado com o Projeto Terra.

Aqui na região eu não me lembro do nome do projeto, mas vocês têm

conhecimento de qual projeto é - por favor, ajudem-me a lembrar o nome do projeto... (PAUSA)

Projeto Tibysirá, que era mais voltado para escola do campo, não é? Ele é mais

para a escola do campo. Tudo isso em prol de uma qualidade de ensino lá no campo. E também na

linha de CBAI e do CBAC, em 2000 já começou a implantação nas escolas que aderissem ao

projeto. E a nossa legislação vem dos estudos efetuados por uma comissão no Conselho Estadual de

Educação, naquela época, e o relator do processo que criou a Resolução nº 262, conhecida de vocês,

Professor Carlos Abicalil, e o parecer elaborado por ele, de nº 289/2002.

Só que antes disso, o que é que nós temos de respaldo legal? A própria LDB, que

lá nos seus artigos diz que a organização escolar pode ser por série ou por ciclo; hoje, nós temos a

pedagogia da alternância ou qualquer outra forma que a comunidade escolar entenda que vá suprir as

necessidades educacionais, com a devida qualidade. Então, contamos isso a partir da LDB e, hoje,

mais atualizada, nós temos a Resolução nº 04/10, que é a Resolução da Educação Básica, aquela que

traz a obrigatoriedade do ensino a partir de quatro anos até os dezessete anos de idade.

E restringindo ao que nós vemos hoje em Mato Grosso, porque a organização por

ciclo de formação humana é apenas no Ensino Fundamental, mas essa Resolução nº 04/10, do

Conselho Nacional de Educação, já é desde a educação infantil. E ela traz entre as normas a

necessidade de educar e cuidar. Isso significa muito para quem é educador - eu sou educadora

infantil, do ensino fundamental -, mas ela traz não só para a educação infantil e o ensino

fundamental, mas para toda a educação básica, a tarefa para que possamos educar e cuidar.

Que significado tem esse educar no ensino médio? Porque nossos adolescentes,

hoje, chegam... Nós temos contato com os professores que, às vezes, relatam que temos alguns

adolescentes que não leem, não sabem ler, têm dificuldades para interpretar. Então, o que seria

educar e cuidar, quando esse aluno chega sem estar ainda preparado? É nosso papel como educador

saber o porquê de esse aluno ainda estar com dificuldade, para poder encontrar caminhos para que

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ele também supere essas dificuldades. Então, se formos fazer uma análise - que não é o papel aqui -

da resolução nacional, ela aponta o caminho para que haja sucesso na aprendizagem.

E olhando a nossa Resolução nº 262 e o Parecer nº 289, também de 2002, ela já

aponta caminhos para a formação humana. Por quê? A Lei nº 5.692, antiga LDB - que é mais antiga

que a Lei nº 9.394 -, trazia o ensino técnico e a base conteudista, e o que nós percebemos? Eu sou

formada em magistério e técnico em contabilidade, os nossos cursos técnicos. Mas, se formos olhar,

a própria Lei nº 5.692 já apontava caminhos para a formação humana, mas ficou um elo perdido,

formação humana, enquanto humanização do cidadão, enquanto estudante, mas também enquanto

trabalhador, que o adolescente já estava em formação.

E a Resolução nº 262/2002 vem nesse processo, assim como a Resolução nº

04/2010 e a 02/2013, que é a Resolução Estadual da Educação Básica, aqui em Mato Grosso.

Elas também apontam a necessidade de formação do conteúdo, que muitas escolas

sentem falta, falam que é... É um mito, mas nós ainda ouvimos que agora não se trabalha mais

conteúdo, o aluno vai passar sem saber, ele passa de qualquer forma.

Se nós olharmos essas normativas que temos ali, percebemos que o foco é a

aprendizagem, por quê? Evasão e reprovação, a pergunta que fica, que indagações fazemos: por que

reprovação e por que evasão? O que está acontecendo com o nosso ensino, que o aluno evade ou ele

falta muito? O que falta de ligação para que, realmente, o aluno ao entrar no ensino fundamental,

que é o nosso foco de organização por ciclos, hoje?... E o tempo de nove anos, que ele tem para sair

desse ensino fundamental e, às vezes, ele fica dez, onze, doze anos para sair do ensino fundamental?

Aí, vamos criando ideias que são falsas, mas elas estão presentes no nosso cotidiano. Aluno não

precisa estudar agora, se ele sabe ou não sabe, ele passa. Uma confusão que fazemos no tempo

escolar!

Por que é confusão? A concepção ideológica do ciclo de formação humana seria a

organização do tempo escolar respeitando o tempo de vida do estudante e da estudante. A interação

sócio-histórica e socioafetiva. Então, não é trabalhar o conteúdo só pelo conteúdo, porque o aluno

vai para a escola para aprender a ler e a escrever, dominar as quatro operações, mas também

aprender a conviver, a ser, aprender a fazer. E muitos que chegam ao ensino fundamental com seis

aninhos de idade, também vão aprender a estudar, porque eles não sabem estudar ainda.

E o que acontece, então, se a organização respeita a idade? Porque um dos focos,

dos princípios, é a enturmação por idade, porque antes tínhamos crianças de dez anos, onze anos,

doze anos, até de quinze anos, enturmadas com crianças de seis anos.

Percebem as dificuldades? É óbvio que o interesse da criança de quinze anos, doze

anos é bem diferente de uma criança de seis anos. Os tempos de vida deles são diferentes. Então,

com o advento do ensino fundamental de nove anos, pela lei do ensino fundamental instituída em

2006, desde 2000 Mato Grosso já tinha incluído a criança de seis anos e já trabalhava a organização

escolar de nove anos - e foi instituído nacionalmente só a partir de 2006 o Ensino Fundamental de

nove anos.

Com a lei do Ensino Fundamental de nove anos, desde 2006 não se reprova a

criança no processo de alfabetização, independentemente da organização da escola. Se for por série,

se for pedagogia da alternância, se for ciclo, não se reprova a criança de seis a oito anos em processo

de alfabetização.

Mato Grosso já tinha feito, lá no Ciclo Básico de Alfabetização, ciclo de dois anos.

Nesse ciclo de dois anos, o que acontece? O aluno entrava com sete anos, porque ainda era a

transição da escola seriada. Ele era matriculado com sete anos, mas ele terminava com oito anos, já

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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

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para ser alfabetizado em dois anos, não tinha reprovação. Como se fosse uma preparação para o

ciclo, que de acordo com a Resolução nº 262/02, a criança entra para o ensino fundamental com seis

anos, e aos oito anos, ela já precisa ler, escrever e calcular. Então, nesse tempo de alfabetização é o

tempo da infância. A infância tem interesses, sentimentos, pensamentos, que são diferenciados de

um adolescente. Então, nós paramos para refletir um pouquinho, a enturmação por idade - que

também é bastante criticada - tem mais facilidades para as crianças ou menos facilidades, quando

existe a proximidade de idade? E aí cabe a nós pensar um pouquinho, também, quais são os desafios

nesse período, que é da infância.

Além dessa interação sócio-histórica, há relação socioafetiva entre os alunos

quando estão com pares de idade aproximada, porque nunca vai ser a mesma idade, tem aluno com

seis anos que completa no meio do ano, tem alunos que fazem aniversário em julho. Então, o tempo

é aproximado. E de seis a oito anos, é o que a Resolução nº 262/02 chama de Ciclo da Alfabetização,

respeitando a identidade desse aluno.

Há situações que nós vivemos no início do ciclo, no momento de transição, que

ainda tínhamos muita defasagem idade-ano escolar. E aí nós presenciamos - vocês que são

professores alfabetizadores tiveram em suas turmas - alunos mais velhos, fora dessa faixa que se

identifica como infância, em processo de alfabetização. E de acordo com a Resolução nº 262 e o

Parecer nº 289, nós temos projeto de superação, que ficou esse nome, mas a etapa em que o aluno

com dificuldades precisaria de um tempo a mais, e esse tempo não era para reprovação, mas para

trabalhar os desafios e as dificuldades que os alunos tinham para que ele, se superando, avançasse no

contexto escolar.

Nós temos ali os princípios políticos curriculares, porque quando vamos pensar na

concepção de organização por ciclos, ela não existe se não estiver junto com esses princípios. O

primeiro deles, que é a LDB, a Resolução nº 04 aborda profundamente, é a educação como direito

social: toda criança de seis anos tem direito à matrícula, ao ingresso no ensino fundamental, e esse

percurso é de nove anos.

Nós temos as crianças com necessidades educativas especiais, que é outro

princípio, o princípio da inclusão, mas essa obrigatoriedade do estudo de quatro a dezessete anos nos

leva a pensar um pouquinho: se elas têm direito ao acesso, que é a matrícula, elas têm direito à

continuidade, à permanência na escola e à terminalidade dos estudos na idade de quatorze ou quinze

anos, com a aproximação de idade, para que elas terminem o ensino fundamental de modo que deem

continuidade aos estudos no ensino médio, e aos dezessete ou dezoito anos elas tenham a

terminalidade da educação básica.

Por que é princípio da obrigatoriedade? Antes, educação no Brasil, só ensino

fundamental era obrigatório. Hoje, é de quatro a dezessete anos a obrigatoriedade.

E aí nós temos o problema das faltas, o aluno que tem dificuldade de aprender,

porque ele também não tem frequência escolar. Se a educação é obrigatória, e o aluno tem direito a

25% de faltas, o que é que justifica a ausência dele no contexto escolar? E quando ele está ausente

no contexto escolar, onde é que ele está?

Nós temos outros projetos sociais que não são projetos de educação, mas que a

educação é parceira: o trabalho escravo, o trabalho infantil, a prostituição infantil, o problema com

as drogas. Se o aluno de 4 a 17 não está no contexto escolar, onde é que ele está então? Fica a

pergunta.

E se o ensino é obrigatório, a educação básica é obrigatória, não é só escola que

tem essa obrigação de ter o aluno para a aprendizagem, mas todos os setores sociais, porque

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

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educação não é só projeto de escola, ela não é só projeto da Secretaria Municipal de Educação, não é

projeto da Secretaria Estadual de Educação, é projeto de sociedade, e nas dificuldades os alunos

faltosos, quem são os parceiros que vão fazer com que esses alunos faltosos sejam mais frequentes

nas escolas?

Não cabe só ao professor, já pensou se o professor vai bater lá na porta para

chamar a atenção do pai e da mãe? Esse é o papel do professor? Não. Vai ser do Conselho Tutelar,

da Promotoria Pública, da Defensoria da Criança e do Adolescente. Então, educação é uma ação

interinstitucional.

Também temos os alunos com dificuldade de aprendizagem por problema de

saúde. Nós temos a questão dos alunos com necessidades educativas especiais. Se formos focar só o

professor como responsável pela aprendizagem dos alunos, ficamos devendo uma parte da conta,

porque, às vezes, esse aluno tem transtornos que quem vai resolver são os profissionais da saúde, e

não os profissionais da educação. Então, deixa de ser um projeto de escola para ser um projeto de

sociedade, e aí precisamos firmar as parcerias interinstitucionais para que, efetivamente, nós

tenhamos qualidade de ensino e, tendo foco na aprendizagem, nós tenhamos sucesso no processo de

aprendizagem dos alunos.

Sem isso, sem essas parcerias, fica difícil para nós assegurar aquele outro

princípio, que é o ensino de qualidade. Como é que vou ter qualidade de ensino, se o meu aluno

chega... Antes focávamos a fome, o aluno chegava com fome e com fome não se aprende mesmo,

porque até nós, profissionais, quando chega a hora em que sentimos fome, nós temos que parar para

fazer nosso lanchinho. Você imagina a criança que chega sem comer, mas isso algumas escolas

resolvem com a merenda escolar.

Tem escola que quando sabe que o aluno passa necessidade de alimento, sempre

tem um alimento na escola para ele. Então, isso, a escola ainda resolve, mas o ensino de qualidade

não é só ação do professor, e o conteúdo vai muito além; às vezes, sai da alçada da escola.

A valorização profissional: o que é a valorização profissional? Nós não

discutiremos o que é, nem como, porque o sindicato é que discute isso, com a nossa participação,

mas valorização profissional, além da formação inicial, nós temos a formação continuada, temos as

horas asseguradas, as horas de trabalho, que no caso do professor efetivo são trinta horas; e nessas

trinta horas, vinte em sala de aula, as outras dez distribuídas para a formação, mas também para

outros trabalhos de registros que a escola tem.

Então, valorização profissional vai além de nós negociarmos subsídio salarial, mas

para a qualidade, as condições em que a escola se encontra, como estão as condições materiais para

que o profissional dê a sua aula mais motivado; que a escola seja mais alegre; que os professores

cheguem à escola com alegria, para que os alunos também cheguem ao estabelecimento de ensino

com alegria, dispostos a aprender. E todos dispostos a aprender! Porque não é só o aluno que

aprende, nós professores também aprendemos muito com os alunos, com os pais, com todos que

permeiam o contexto escolar.

A formação integral para o exercício da cidadania: formação integral é aquilo que

eu já tinha dito no início da fala e eu coloquei, porque você não ensina só a ler, a escrever e a

calcular na escola, mas a humanização... E aí a Elvira Lima é que nos chama para a conversa. Na

perpetuação, na parte antropológica, a formação do homem e da mulher é a perpetuação da espécie

humana.

Então, a formação humana, a forma como nos relacionamos socialmente, no

contexto escolar e familiar também. E aí temos Fusaro que fala que um projeto educativo, para dar

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certo, ele não é só da escola. O meu projeto de escola começa na minha vida pessoal, e como é essa

relação interpessoal? Como nos relacionamos. Então, voltando lá na valorização profissional... Não

sei se é o caso de São Félix do Araguaia, mas em muitos lugares o professor tem tripla jornada de

trabalho. Se ele tem tripla jornada de trabalho, qual é o tempo que ele vai se dedicar em uma ou nas

três escolas em que ele trabalha?

Para eu assegurar aquele princípio da qualidade de ensino, também passa pela

carga horária de trabalho, porque a sobrecarga, a tripla jornada enfrentada, todos os dias, como

estará a aula no final de semana? Como estará a motivação do próprio professor? Então, a

valorização profissional também perpassa por essas condições de trabalho do professor.

São asseguradas ao professor efetivo trintas horas semanais, com dez de hora-

atividade, mas hoje, com a informatização do sistema, o tempo de dez horas quase que se consome

nisso, porque o pedagogo tem uma turma, mas e o professor das áreas? Por quantas turmas ele passa

e quantos registros ele precisa fazer?

A aprendizagem processual é contínua e com significado, porque também eu

ensinar um conteúdo que não vai servir para a vida do meu estudante que está ali... Em qual tempo a

escola se reúne para refletir e fazer as propostas, para que haja esse sucesso na qualidade da

aprendizagem?

Princípio fundamental, também, é a construção de identidade, de autonomia, de

valores pessoais e coletivos; porque no Município de São Félix do Araguaia, nesta comunidade, a

escola é de todos; a escola não é só da rede municipal ou da rede estadual, é da população de São

Félix do Araguaia, de Confresa, de Luciara, de Bom Jesus do Araguaia, ou de qualquer outro

município da região. A escola está lá, ela é daquela comunidade, não é do Município ou do Estado,

ela é da comunidade; independentemente de ela ser estadual ou municipal, essa conversa entre essas

duas esferas políticas precisa existir. Não é projeto de sociedade?

E aí o Deputado Wilson Santos disse: “o aluno está no ciclo, vai para a série ou

está na série e vem para o ciclo”.

Primeiro: se eu estou olhando o tempo de formação do aluno que entrou com seis e

terminou o ensino fundamental com nove anos, independentemente se ele vai fazer três anos no

município e os outros seis na escola estadual, tem que assegurar para ele pelo menos o currículo. E

aí, o currículo precisa ser organizado, precisa ser discutido coletivamente. Por isso, a importância

daquele princípio da construção da identidade, porque ele não vai construir uma identidade de escola

estadual, nem de escola municipal ou de escola particular, mas é uma identidade de cidadão de São

Félix do Araguaia.

Os estudantes são sujeitos socioculturais e históricos, centro do processo de

aprendizagem. Isso é muito relevante, porque eu tenho que partir do que o aluno conhece dentro

dessa comunidade. A partir do que ele conhece é que eu vou fazer com que ele amplie os

conhecimentos que tem e tenha sucesso escolar. Sem essa coletividade, pensando qual currículo que

em São Félix do Araguaia nós vamos desenvolver ou em outro município participante, às vezes,

ficamos ensinando o conteúdo pelo conteúdo. E aí, qual é o significado disso para a aprendizagem?

O agrupamento por idade eu já falei e sobre a progressão contínua, eu coloquei as

siglas ali: PS, PPAP e PASE. Tem outro hoje, que é progressão com dependência de faltas, não é

isso? (PAUSA) Na rede estadual? (PAUSA)

Só que no ciclo de formação humana, se eu asseguro as estratégias curriculares que

existem para que o aluno avance no processo com o sucesso na aprendizagem, então, eu não tenho

retenção. E quais são as estratégias que nós conhecemos? Intervenção pedagógica do professor,

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quando percebe a dificuldade do aluno. Aí, nós temos ainda, meio remodelada, a atuação do

professor articulador e o projeto de superação, porque se não vai haver reprovação, tem o que no

lugar da reprovação?

É essa oportunidade de aprendizagem para o aluno, para que ele tenha a

oportunidade de construir o que não construiu ainda, para que ele avance no processo.

E aí, não é conceito, não substitui nota, é progressão simples, progressão com

plano de apoio pedagógico ou progressão com apoio de serviços especializados, porque os nossos

alunos com necessidades educativas especiais precisam desse tempo, desse recurso da sala de

multirrecursos, para que ele também avance na aprendizagem e, às vezes, fica devendo. Muitas

escolas não têm, existem municípios que centralizaram os alunos com necessidades educativas

especiais de outras escolas em apenas uma escola, vão para uma só, em um período está em sala e no

outro período ele vai para a sala de recurso.

Tem os dias da semana, tem uma organização para isso, mas tem que ser pensado

coletivamente, os pais têm que participar dessa discussão, principalmente, porque uma das grandes

necessidades é o aluno com necessidade educativa especial ou não, todos aqueles que enfrentam

desafios de aprendizagem que, às vezes, os pais nem encaminham no outro horário, só mesmo no

horário da aula. E às vezes ele carece desse tempo a mais, para que realmente aprenda, para que

complete aquilo que está faltando na aprendizagem dele, principalmente o aluno com defasagem de

idade ou ano escolar, porque se o aluno chega com nove anos na escola, na organização por ciclo eu

vou enturmá-lo onde? Ele nunca estudou, é o primeiro ano que ele vem para a escola e já tem nove

anos. Ele vai ser enturmado com alunos de nove anos, porque são os pares da idade dele. E esse

aluno vai ter o mesmo rendimento que os outros na turma? Não! Por quê? Porque os ouros tiveram a

oportunidade que ele não teve ainda.

E aí, a coordenação, o professor articulador, o professor regente é quem vai

organizar que plano de ensino será trabalhado com esse aluno que não está alfabetizado e está

chegando com nove anos de idade na escola, porque se não assegurarmos isso, ele vai só ficar

sentado lá, e não vai ter o rendimento necessário.

Sem contar que com nove anos ele não tem experiência escolar, mas tem outras

experiências que traz com ele e que no plano de ensino, para que ele tenha sucesso, precisa também

ser considerado. Se eu asseguro todas essas estratégias para que haja sucesso escolar, eu consigo

negar a reprovação. Sem as estratégias e sem as condições de trabalho, eu não consigo negar a

reprovação. E escola boa não é a que aprova, nem aquela que reprova, escola boa é aquela em que os

alunos têm o seu tempo escolar assegurado, o direito de aprender, para que ele tenha sucesso escolar.

Para o início de conversa, agradeço a presença e por me ouvirem! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado à Professora e

Mestra Alvarina de Fátima, que nos abrilhantou com essa importante palestra.

Agora nós ouviremos os inscritos, e as inscrições continuam abertas. Nós já temos

os seguintes inscritos: a Srª Neiva Gomes Coelho, Assessora Pedagógica de Confresa; a Srª Maria

Guerra, Assessora Pedagógica de Vila Rica; a Srª Kátia Laura Coelho, Coordenadora Pedagógica,

também de Confresa; a Srª Ana Cristina, Diretora da Escola Estadual Ilda Rocha; a Srª Márcia

Adriana, Diretora da Escola Estadual Severiano Neves, e o Sr. José Maranhão, Secretário Municipal

de Educação de Alto Boa Vista. Quem quiser se inscrever é só levantar o braço, que os nossos

servidores da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso irão até o local.

Convido para fazer uso da palavra a Srª Neiva Gomes Coelho, Assessora

Pedagógica de Confresa.

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Pessoal, é a oportunidade para falar a verdade, pôr a boca no trombone! A

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está aqui para colher esses depoimentos.

Com a palavra, a Srª Neiva Gomes Coelho, de Confresa.

A SRª NEIVA GOMES COELHO - Bom, o que o ciclo veio trazer para nós?

Ficou escancarado que o aluno que não aprende continua na sala de aula, que ele está ali nos

incomodando e dizendo que não está aprendendo, porque aqueles que não aprendiam iam para onde?

Para fora da escola. O que acontece com o ciclo? Falta de suporte, falta de atores e de espaços

adequados.

À época, quando foi implantado, faltou o quê? Formação continuada para os

profissionais e faltou a discussão entre os pares, para que eles pudessem compreender o que era

realmente o ciclo. Estou emocionada! (RISOS) Tem que ter o quê? Mobiliário adequado...

(A PARTIR DESTE MOMENTO A SRª NEIVA GOMES COELHO CONTINUA FALANDO,

PORÉM FORA DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, eu vou insistir para que

a senhora fale ao microfone, porque a senhora está sendo gravada.

A SRª NEIVA GOMES COELHO - Estou tremendo muito... (RISOS)

O SR.PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Fique tranquila, nós somos colegas,

pode ficar sentada, fique à vontade, o importante é a sua fala.

A SRª NEIVA GOMES COELHO - Que cada ator faça o seu papel, que desde a

educação infantil o município dê acessibilidade para os alunos da educação infantil. Que o

profissional da educação infantil faça o seu trabalho correspondente à etapa e que não busque fugir,

queimando etapas, porque o aluno chega à escola para ser alfabetizado e o professor alfabetizador

precisa fazer todo o trabalho que era para ser feito na educação infantil; e também que o professor

seja orientado para planejar de acordo com as capacidades, para cada fase e para cada ciclo.

O professor tem pouco tempo, a hora-atividade não possibilita o tempo para

planejar, registrar, pensar intervenções e para fazer a formação continuada, é preciso que haja, em

primeiro lugar, o envolvimento da sociedade, das instituições, das igrejas, das famílias e não só da

escola.

A família mudou os seus princípios, a igreja mudou os seus princípios e a escola

não pode continuar ensinando do jeito que ensinava. Não é a reprovação que vai fazer com que o

aluno aprenda, mas sim o suporte que ofereço; o monitoramento, as intervenções e, para tudo isso,

trinta horas não bastam, trinta horas é muito pouco.

Se o Estado é ciclo, o município também precisa ter o mesmo sistema de ensino,

por quê? Nós nunca vamos conseguir sair da superação, da enturmação, se o município não adequar-

se, porque nós estamos fazendo um trabalho contínuo, e aí começamos a receber de outros locais

alunos defasados e, então, faz a equiparação da idade, ele é enturmado e nós temos, lá, os alunos que

não sabem ler, nem escrever, mas geralmente não são todos frutos do ciclo, eles são alunos oriundos

de outro sistema de ensino, oriundos de outros estados, de outros municípios em que a política não é

ciclo.

Eu quero dizer também que o respeito ao tempo precisa ser garantido, que sejam

garantidos os espaços, os meios adequados e, se não for ciclo, que seja o ensino de nove anos, que é

uma política do Governo Federal, que é a mesma coisa, a criança vai entrar com seis anos e vai sair

com quatorze; se ele vai entrar com seis anos e vai sair com quatorze, ele não vai ser reprovado, mas

aí, eu preciso do quê? Que o Governo do Estado, que o Governo Federal, que a rede municipal

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ofereça os atores, os espaços, os ambientes necessários para que a criança aprenda. O problema não

é o sistema de ensino, porque o sistema de ensino por si só não vai garantir a aprendizagem.

Vejo também que alunos que não têm medo de falar por causa da formação

humana, que não têm medo de falar, que discutem, que apresenta o seu trabalho sem encostar-se ao

quadro, sem tremer, como eu estou tremendo... (RISOS)

Isso aqui é fruto de quê? É fruto de uma escola seriada, de uma escola punitiva,

que nos deixou esses resquícios. E hoje o ciclo de formação humana vem superar tudo isso, e o

nosso aluno, hoje, discute, debate, pensa. Ele não só decora, ele não só repete como papagaio, mas

ele cria. Então, nós precisamos dar esse espaço para o nosso aluno, nós precisamos garantir esses

direitos.

Eu quero dizer também que hoje o professor não tem como ensinar do jeito que

ensinava. A escola, hoje, tem e vê os alunos, precisa ver que ela tem um público heterogêneo e não

mais homogêneo, porque eles aprendem em diferentes formas. E também a escola precisa garantir

que os instrumentos do professor para avaliação sejam assegurados.

Colocam sempre: tirou a prova... Gente, não tirou a prova, a prova continua, o

registro no caderno do professor continua, são mais de dez instrumentos que o ciclo oferece e se

usarmos todos esses instrumentos, nós vamos conseguir fazer um bom trabalho.

Quero dizer também, em relação à intervenção, que a escola não precisava

enturmar, por quê? A sociedade por si só enturma. Nós vamos a uma festa de aniversário, as crianças

de quatro anos brincam com crianças de seis e de sete anos? Elas interagem com quem? Com as

crianças de três e quatro anos! Os adolescentes, eles interagem com quem? Com os adolescentes.

Se o nosso sistema antigo fosse tão bom, se o problema hoje fosse o ciclo, nós não

teríamos tantos alunos, tantos analfabetos fora da sala de aula; nós não teríamos tanto público para o

ensino de jovens e adultos. Os nossos pais seriam todos formados e, hoje, podem contar os pais que

têm formação. Por quê? Aquele filho que era mais desenvolvido, que tinha mais capacidade, o pai

investia na formação dele, e os outros iam para onde? Aqueles que tinham dificuldades de

aprendizagem? Eles iam para a roça, trabalhar para formar aquele que tinha mais facilidade. Então,

não era o professor que sabia ensinar, não era o sistema que era bom, porque, hoje, continuamos

tendo alunos bons e continuamos tendo alunos com dificuldades de aprendizagem, e que esses

desafios precisam ser observados e que informações sejam feitas.

E fortalecendo, trinta horas não são suficientes para planejar, para fazer

intervenção, dialogar com pais, fazer formação continuada, preparar diário on line e tudo mais.

Então, nós precisamos de pelo menos mais algumas horas para exercer o nosso trabalho.

Obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora Neiva, você fez um dos

melhores depoimentos de todo este ciclo de Audiências Públicas, não precisava ficar nervosa, falou

muito bem. Se você puder me dar a cópia desse material que tem anotado, um material muito rico,

uma experiência, eu preciso desse material seu, ele é muito bom.

A próxima inscrita é a Sra. Maria Guerra, da Assessoria Pedagógica de Vila Rica.

Primeiro, obrigado, quase 400 quilômetros, veio de tão longe, o meu amigo Dairinho, que também

está aqui para nos prestigiar. Obrigado!

Convido para fazer uso da palavra a Sra. Maria Guerra.

A SRª MARIA GUERRA - Bom dia a todos os presentes.

A minha fala é no sentido da questão do ciclo, em relação à estrutura física em

Vila Rica. Nós temos mais de 2.500 alunos matriculados na rede estadual e somente duas escolas na

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sede do município. Em uma, nós não conseguimos fazer o redimensionamento até hoje, porque é

impossível. Nós também temos salas anexas na zona rural, e os alunos estudam debaixo dos pés de

manga.

Então, como você vai prezar pela qualidade, se você não consegue com a

superlotação de sala de aula, com a falta de profissionais? Em Vila Rica temos uma rotatividade de

professores no ciclo muito grande, eles iniciam o ano e chegam do percalço e pedem distrato, e não

conseguimos atingir a qualidade. Por exemplo: hoje, precisamos de sala de articulação, sala de

superação, bibliotecas, laboratórios e nós não temos. Então, o que precisamos é de estrutura física

em nossa cidade urgentemente, com a construção de uma nova escola estadual.

Obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Sobre esse seu questionamento, Srª

Maria Guerra, daqui a pouco, o Sr. Alfredo, que está aqui em nome da SEDUC, vai falar. Esse é o

homem do dinheiro; por onde onde ele anda, já carrega o dinheiro para mandar fazer tudo. (RISOS)

Convido para fazer uso da palavra a Srª Kátia Laura Coelho Leandro,

Coordenadora Pedagógica também de Confresa.

A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Bom dia!

Eu sou Kátia Laura Coelho Leandro, Coordenadora Pedagógica da Escola Estadual

Santo Antônio, de Confresa, uma escola do campo. Neste momento, eu também represento o

SINTEP, o comitê de educação do campo deste município.

Eu fiquei muito feliz quando vi no e-mail institucional o convite. Parabenizo já o

Deputado por esta bonita ação, porque como ele iniciou a sua fala, o discurso de educação é

simplesmente nos palanques, e depois... Até hoje, ao longo da minha história de vida de educadora,

que comecei aos dezoito anos e hoje estou com trinta e sete anos, nunca participei de uma Audiência

Pública com tamanha coerência assim, e para discutirmos justamente o ciclo de formação humana.

Para mim, é uma proposta muito bonita, porém ainda muito falha, e para um

educador que acredita na educação, que vê o seu aluno como um ser, essa é uma proposta fabulosa,

porque ela respeita o espaço, ela respeita o tempo e, principalmente, ela vê o outro como gente.

Gente que precisa de atenção, de carinho, e é esse carinho que muitas vezes tem faltado a nós

profissionais da escola. Tem faltado onde?

Quando eu falo da Escola Estadual Santo Antônio, eu não estou me referindo

somente a essa escola, mas ao Município de Confresa, que tem uma situação gritante nas escolas do

campo. Nós não temos infraestrutura, nós não temos! Não é nem questão de melhorar, é ter, é

construir.

As quatro escolas do campo são espaços improvisados para atender essa população

camponesa, que ao longo da sua história já tem todo o processo de negação, e para garantir esse

direito é difícil.

Há uma semana, nós tivemos que responder ao Ministério Público, porque nós

invadimos uma obra do PAC para fazer acontecer o processo de educação em nossa comunidade.

Não só a nossa como as outras também que não invadiram, porque não tinham o que invadir.

Então, eu ainda vejo que para nós, confresenses, faltam condições de trabalho, as

mínimas: sala de aula, biblioteca, secretaria, sala de direção, sala de coordenação, tudo! Cozinha...

Nós usamos, emprestado, a cozinha do barracão da associação; os banheiros são emprestados,

porque há um tempo, nós usávamos privada de fossa negra. Isso também é condição, isso também dá

impacto no processo de qualidade.

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Como vou falar de qualidade para o meu aluno, como vou exigir qualidade dos

meus profissionais, se nós não estamos tendo qualidade de trabalho, não estamos sendo respeitados

como seres humanos? Por quê? Nenhum peão de fazenda - não desmerecendo nenhuma profissão -

trabalha se não tiver as condições mínimas. E nós, profissionais de Confresa, das escolas do campo,

não temos, Deputado Wilson Santos, não temos.

E não posso dizer que está bom, por quê? Porque a escola estadual e a Escola

Santo Antônio, desde 2009, vêm gritando para a SEDUC e informando essa situação, porque nós

fomos estadualizados em 2009; desde 2008, nós temos uma obra do PAC paralisada e as crianças

precisando estudar, nós precisamos entrar e tivemos, sim, que invadir - invadir por dias.

Nós entrávamos e tinha uma cobra, tinha uma lacraia, tinha alguma coisa lá dentro;

quando não, escorregávamos e caíamos dentro dos buracos. Então, foi a única condição que nos foi

dada para garantirmos o ensino àquelas pessoas que estão lá.

Quando falamos desse processo, os atores, nós estamos chegando a junho e os

processos de articulação não foram liberados ainda, e a sala de superação é fundamental nesse

processo, nós sabemos que tudo isso é necessidade. (PALMAS)

Aí, alguém nos cobra dizendo assim... Mas nos é dado, as escolas do campo têm

um número baixo de alunos e, às vezes, nos é negado, por quê? É considerado um número pequeno

de alunos, aí se entende que não tem necessidade. Mas quem é que tem que dizer se tem necessidade

ou que não tem? Porque eu acredito que os profissionais que estão lá, sabem se tem necessidade.

Se eles escreveram um projeto, solicitaram alguém para atender essa demanda, é

porque eles têm necessidade, vai ter esses alunos lá, têm esses alunos, porque em uma sala que tem o

processo de enturmação, vai ter sempre alguém precisando, e aí ele precisa de atenção especial.

Então, é necessária, sim, essa questão.

E a outra questão, que eu gostaria que vocês pensassem com muito carinho para as

escolas do campo, é a alimentação. Como a nossa colega colocou, é preciso garantir o menino de

bucho cheio para ele poder aprender, e com R$ 0,30, isso não é possível. Então, a nossa alimentação

precisa ser melhorada... (PALMAS)...

E, principalmente, não dá para ter o mesmo peso e a mesma medida entre urbano e

campo. No campo tem um diferencial, os meus alunos ficam de quatro a cinco horas dentro de um

transporte escolar, então, tem que ser pensado com carinho. Eles não têm cantina para comprar o

lanche, eles têm que comer ali; então, eu tenho, sim, que pensar.

Quero parabenizar-lhe, mais uma vez, e esse é o meu desabafo. Desculpem-me

pelo meu nervosismo, mas a angústia é que nos traz, e eu acredito que os meus colegas, enquanto

profissionais do campo, também... Eu trago essa fala em nome de todos eles, porque são pautas de

discussão nos nossos comitês, nos nossos eventos. Então, eu tenho a tranquilidade de dizer que essa

fala não é da Kátia Laura, essa fala é de todas as escolas do campo do Município de Confresa.

Muito obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Kátia, duas perguntas: há crianças

em Confresa fora da sala de aula?

A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Eu acredito que tenha ainda.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - E essa obra do PAC que foi

invadida, que obra é e quantas salas vocês fizeram lá?

A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Na verdade, não tem sala, elas

estão cobertas, mas falta o término, o chão ainda é só contrapiso, e são oito salas.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - É no campo também, na zona rural?

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A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Sim, são oito salas. São duas

escolas que têm essa situação, que é Santo Antônio e Sol Nascente, que ainda são consideradas do

Município de Confresa, as duas melhores, porque as outras duas, a Valdir Bento e a Antônio Alves

Dias nem prédio têm. Elas funcionam em casas improvisadas, de tábua, locais totalmente irregulares

para fazer acontecer a educação.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Vocês usam essas duas obras do

PAC como o quê? Cozinha?

A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Não, como sala de aula, a cozinha

da Escola Santo Antônio é feita no espaço da associação, porque a associação construiu uma cozinha

para nós, não nos padrões da SEDUC, mas com a simplicidade de homem do campo e nos deu a

chave para utilizarmos. Assim como também outras salas de aula para fazermos acontecer, porque só

oito salas eram insuficientes para atender à demanda.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Essas obras do PAC eram destinadas

às escolas também ou tinham outros objetivos?

A SRª MARIA GUERRA - Esse foi um projeto do Governo Federal, que foi feito

em 2006, e o TCU interditou...

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Projeto para quê?

A SRª MARIA GUERRA - Para construção da escola e do posto de saúde.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Ah, entendi!

A SRª MARIA GUERRA - Nessas duas comunidades foi feito esse projeto e,

depois, por problemas de irregularidades foi bloqueado o recurso que está numa conta da associação,

que gera todo o recurso, e a todo momento que pedimos alguma resposta, nos falam que vai

acontecer, mas nós estamos nesse “vai acontecer” desde 2008. Então, é um tempinho bem...

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Agora entendi.

Nós iremos chamando os inscritos de cinco em cinco, e o Alfredo começa a

responder. Com a palavra, a Sra. Ana Cristina, Diretora da Escola Estadual Hilda Rocha.

A SRª ANA CRISTINA - Bom dia a todos e a todas.

Os colegas de trabalho da Escola Professora Hilda Rocha, localizada na Praça da

Bíblia, próximo à Câmara Municipal, é uma escola de zona urbana.

Eu estou na gestão de 2014-2015, fui eleita democraticamente na escola. Assumi o

Estado em 2011 como professora de geografia, cursei na UNEMAT, em Luciara.

O pouco tempo que eu tenho de escola ciclada, porque antes eu trabalhava na rede

municipal, há oito anos, e nós não tínhamos essa vivência, o pouco que eu vejo e hoje, com a

experiência de gestão, Deputado, é o seguinte: eu vou pontuar e falar algumas coisas que a colega já

disse ali e acredito que temos que rever muita coisa, a professora fez a fala no início, professora

pedagoga e eu já a conheço do curso de formação do Estado.

Também parabenizo a iniciativa do Deputado; parabenizo todos que estão aqui,

porque nós temos que rever essa educação que estamos ofertando.

A escola pública do Estado de Mato Grosso não trabalha só com alunos do nosso

Estado, a escola pública do Estado recebe alunos de todo o Brasil. Eu recebo alunos de Tocantins, de

Goiás, de Brasília, de Minas Gerais, e aí esse aluno leva um choque quando entra na escola pública

do nosso Estado de Mato Grosso, é uma coisa terrível para eles. Então, o ciclo de formação humana,

como bem disse a colega no início da palestra, ele não reprova. E vocês sabem o que é pior? O aluno

sabe disso.

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 16 - Secretaria de Serviços Legislativos

O aluno, ao ingressar na escola aos seis anos de idade, já sabe que não reprova. O

aluno não quer saber se aprenderá ou não, porque ele irá passar; de qualquer jeito ele é aprovado e os

pais também sabem disso. A parceria que a escola deveria ter seria: escola, família e Estado. E como

fica esse tripé? A escola está andando praticamente sozinha nessa caminhada. Se corremos ao pai e à

mãe...

Aí, vem à questão da frequência, como a colega falou e tem a Ficha de

Comunicação de Aluno Infrequente, Indisciplinado e Infrator (FICAI) e outras coisas que podemos

fazer, tem o bolsa família, que pode ser cortado, mas o pai não está nem aí. Depois de três fases do

ciclo é que irá fazer um corte da questão da frequência e ele é barrado no 9º ano. O sistema o barra,

em virtude do índice altíssimo de faltas, mas é lá no final da terceira fase do 3º ciclo. É complicado

isso. Então, temos que rever, sim, porque todos já sabem disso: se eu não reprovo, por que eu vou

estudar? Qual é o meu interesse na minha escola, se eu fico estudando, estudando e estudando, e os

outros colegas que não fazem a tarefa de casa, não estão nem aí, não querem saber.

Se o pai é chamado na escola, ele não vem... Ele será aprovado tanto quanto eu que

estudei, estudei e estudei. Correto? Temos isso na nossa escola.

Outra coisa, o ciclo está aí. Estamos formando os nossos alunos do ciclo de

formação humana para enfrentar o quê? Nossa realidade de São Félix do Araguaia, Professores,

Deputado e Secretário de Educação, os nossos alunos do 9º ano da Escola Estadual Professora Ilda

Rocha, como da outra escola da vila - que a nossa colega diretora também falará - saem do 9º ano

para o ensino médio, para a Escola Tancredo de Almeida Neves, em que não é ciclo, levam outro

choque. E quem vem de outro Estado e chega aqui também leva um choque. E na Escola Tancredo

de Almeida Neves leva um choque maior ainda, porque a média é seis, porque ele tem que fazer os

trabalhos, tem que ler, tem que interpretar, tem que saber fazer muita coisa que aqui no ensino

fundamental ele não deu conta de fazer, não sabe fazer, não foi preparado para fazer, porque ele

simplesmente não quer.

O aluno está totalmente desinteressado de aprender, é essa a verdade. O professor

está refém de uma situação, o professor não pode fazer muita coisa, eu tenho um trabalho que está à

disposição, na escola, para quem quiser, da professora que se aposentou na semana passada, a

Professora Rita, de Matemática, que diagnosticou uma turma do 9º ano em Matemática, em todos os

itens que serão cobrados em novembro na Prova Brasil, para ver o IDEB da escola.

De mais de quarenta alunos, dois conseguem estar dentro dos parâmetros exigidos

pela Prova Brasil, somente dois - aliás, são duas. Se essas duas alunas faltarem no dia da Prova

Brasil, nós estamos no sal.

Eu vou pedir pelo amor de Deus para as mães dessas meninas não as deixar faltar,

porque o diagnóstico foi feito em Matemática, com os descritores da Prova Brasil, que a professora

está trabalhando desde o dia 09 de fevereiro, uma professora séria e comprometida. Mas o aluno está

comprometido? A família está comprometida? Que compromisso é esse? Só a escola tem que ter

comprometimento? Então, nós estamos nessa situação.

Eu quero agora só dizer que está aí, para quem quiser entrar no site do QEdu da

vida, acessem lá: Escola Estadual Professora Hilda Rocha Souza, 9ºano em Matemática, 2013: 0,0%.

É esse o nosso índice, e como os alunos chegaram nesse índice? Eles passaram, fizeram uma prova.

Lá tem índice de ausentes, tem pessoas que não conseguem fazer nada, nada; tem alunos

semianalfabetos chegando ao 9º ano, que não sabem nada. Então, é essa a realidade do chão da nossa

escola.

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

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Pág. 17 - Secretaria de Serviços Legislativos

Eu estou há pouco tempo no Estado, mas é isso que escuto dos meus pares na sala

do educador, e quando falamos em projeto de intervenção, Deputado, é um Deus nos acuda na

escola: “Ana, como vamos fazer um projeto de intervenção se o aluno não quer nada? Como eu vou

aplicar uma prova lá, se eu falo que a prova vai ser no dia tal, o aluno falta aula, porque ele não quer

encarar a avaliação”. O aluno falta mesmo, e eu estou morrendo de medo de ele descobrir que dia é a

Prova Brasil, estou morrendo de medo! Porque pior do que 0,0% no 9º ano em Matemática da

Escola Estadual Professora Hilda Rocha Souza, eu acredito que não dá para ficar.

Eu não me orgulho de falar isso, mas eu sou obrigada. Isso aqui é uma Audiência

Pública, e está no site do QEdu, está nos sites aí, nós temos que falar a verdade. (PALMAS)

Outra coisa, o nosso aluno está sendo preparado, como eu já falei... O ensino

médio na Escola Tancredo de Almeida Neves, essa é só a primeira etapa que ele vai enfrentar. De 40

a 50 alunos que vão da Escola Hilda Rocha para a Escola Tancredo de Almeida Neves, permanecem

lá, acredito que uns vinte, os outros desistem no primeiro ou no segundo bimestre, porque não dão

conta.

Sabem o que eles fazem? Ficam esperando completar dezoito anos para voltar para

a escola, porque vai ofertar a Educação de Jovens e Adultos e ensino médio, que é outra modalidade

de ensino descritivo. Aí, eu tenho que receber o aluno três anos depois, porque ele não conseguiu

passar pelo ensino médio. Bem, se esse aluno não passa pelo ensino médio, ele não passa no ENEM,

ele não passa em concursos, ele não passa em nada; esse aluno vai realmente ficar à mercê na

sociedade, porque o que ele deveria ter aprendido nos anos iniciais e nos anos finais do ensino

fundamental, ele não aprendeu. A culpa é de quem? A culpa é de quem? De quem? Não sei, vão ter

que rever isso.

O professor está querendo trabalhar, mas quando chega à escola, há um descaso

total. Quando marcamos uma reunião de pais, se comparecem dez, é muito, cantamos vitória; vão

somente dois ou três pais, a situação é essa, e é grave.

Agora, a educação do Brasil no ranking mundial, já viram onde é que nós estamos

posicionados? Peguem aí como está o nosso País no ranking mundial, ele só está ganhando de um

país, ele perde para todos os que estão lá, é um absurdo.

Os índices mostram o fracasso do ciclo, é essa a minha opinião, Deputado, não

precisa muito estudo para descobrir isso. Os índices estão aí mostrando isso! É cálculo, é

matemática! Poxa, nós estamos fazendo o que, aqui? Se nós estamos preparando uma coisa para

outra coisa. O ciclo não fala que não pode ter avaliação, mas como é que o professor vai aplicar uma

avaliação dessa forma, com desinteresse total?

Outra coisa, a colega já falou, mas eu vou reiterar: uma das maiores ferramentas do

ciclo é a articulação. Até o momento, não está liberado o Projeto de Articulação da Escola Hilda

Rocha, que foi mandado desde o início do ano. “Manda isso, manda aquilo; agora tem que lançar no

GPO”... Lançamos no GPO, e agora? “Ah, não, já foi para o RH”. E agora? “Agora tem que

aguardar o Secretário assinar”... E agora? “Estamos aguardando”...

Nós já estamos terminando o semestre e ainda não temos a articulação na escola. E

aí foi a metade do ano e o aluno não teve articulação, que é uma das ferramentas que o ciclo poderia

ofertar para aquele aluno que não estava tendo acompanhamento adequado.

Outra coisa, a parametrização da idade-série, o colega colocou muito bem:

realmente tem que estudar com os pares e tal, mas sem a articulação e sem a sala de superação, eu

não tenho como fazer nada para esse aluno que sai do sexto ano e vai para o nono, ele pulou o

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sétimo e o oitavo anos; e aí, o que fazer com esses conteúdos que ele perdeu? Não tem. Ele vai ficar

lá boiando; ele vai enfrentar o ensino médio e imaginem o que vai acontecer.

Agora, eu quero falar ao Deputado o seguinte: na nossa escola temos além dos

munícipes de São Félix do Araguaia, os Carajás, os nossos amigos indígenas que moram na Aldeia

Santa Izabel, Fontoura, JK, que estão lá em Tocantins. Só que eles moram lá, mas a maioria deles

vive aqui em São Félix do Araguaia. É aqui que eles compram, é aqui que eles vão ao banco, é aqui

que eles procuram o Sistema Único de Saúde, é aqui em São Félix do Araguaia, e é aqui que eles

estudam.

Estou aqui com a nossa professora formada em História, ela é Carajá e está dando

aula em nossa escola. Nós temos que dar condições a esses indígenas.

Está acontecendo uma coisa bem interessante, Deputado, acontecendo uma

demanda das aldeias para São Félix do Araguaia, diretamente para a Escola Hilda Rocha, que está

localizada aqui no centro. E hoje eu estou com mais de 55 indígenas matriculados, desde o primeiro

ano do primeiro ciclo ao ensino médio EJA.

Solicito desde o início do ano um intérprete da língua carajá, porque esses alunos

não falam o idioma português, nem escrevem, alguns... Não são todos, é óbvio, em média de 30 a

40% deles. Como esse aluno... O professor que já está com toda dificuldade para ensinar um aluno

que fala e escreve português, agora tem que ensinar e escrever português para uma criança que não

entende o que ele fala e escreve no quadro.

Nós solicitamos: “SEDUC, nós temos essa demanda, está no sistema, é só olhar;

ninguém esta mentindo, não!”. Nós não podemos fechar a porta da escola para esse povo, eles

existem, eles estão aqui, eles merecem o nosso respeito!

Temos a professora Alícia, está aqui à Professora Alicia Fogassa... (PALMAS)

...formada em Pedagogia, pronta para assumir o cargo, prontinha para assumir! Ela fala o idioma

Yanan, é isso Srª Alice? Fala o idioma Yanan e fala o idioma português. Ela ajudará os nossos

alunos, mas não tem orçamento, não existe esse cargo, é uma história, é uma coisa de louco! O

problema está dentro da escola e eu como gestora estou gritando.

Só que se a SEDUC nos mandar um documento dizendo que não tem, Deputado,

nós também faremos um documento dentro da escola dizendo que nós não nos responsabilizamos

pelo que acontecerá, porque, ao mesmo tempo em que é uma coisa muito boa convivermos com os

nossos irmãos indígenas, é um desafio para a escola. E a Prova Brasil está aí, nós temos alunos no 5º

ano, nós temos alunos no 9º ano e como eles farão a Prova Brasil, como eles marcarão um

questionário, um gabarito, se eles não entendem o que está escrito? Pelo amor de Deus!

Nós mandaremos um documento à SEDUC tirando o nosso fora, vamos falar - o

Conselho Deliberativo da Escola que fará esse documento, juntamente com os pais desses alunos -

que nós não recebemos essa ajuda.

Quero colocar também a respeito da educação integral: se o ciclo está nessa

situação, agora é educação integral. Aí, o meu aluno tem que passar sete horas dentro da escola. A

escola não tem infraestrutura para receber esse aluno em período integral, as oficinas que acontecem

são uma verdadeira fantasia, porque não temos espaço físico adequado para isso. Então, essa

educação integral, Como? Como daremos mais educação sem uma infraestrutura adequada, como a

colega há pouco colocou: “falta tudo! Falta tudo!”.

Deputado, aproveito minha fala para dizer que nós estamos vivendo uma situação

difícil - acredito que os outros colegas também falarão a respeito do assunto -, não temos o selo de

inspeção municipal em São Félix do Araguaia e em virtude disso o pregão da merenda escolar que

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acontecerá no dia 08 de junho, da agricultura familiar, os criadores de produtos de origem animal

não poderão participar, porque não têm o selo no município.

A lei foi criada nesta casa, e não tem o selo no município. Ela foi criada no ano

passado, e a lei está pronta, mas não temos esse selo. O Conselho de Alimentação Escolar (CAE)

não deixa o gestor comprar carne do açougue, nem o frango melhorado, porque não tem nota, porque

não tem selo, porque não tem médico veterinário que vá ver o abate desses animais. E nossas escolas

estaduais estão sem comer proteína. É seriíssimo! (PALMAS)

Como fazer tudo isso - tudo isso que eu coloquei aqui -, como vamos diagnosticar

a aprendizagem dos alunos, se eles se mostram dessa forma? O ciclo é muito bonito no papel, mas

como está não funciona! Ciclo no papel não é aprendizagem! Não é aprendizagem! (PALMAS)

Não foi discutido com a categoria, a coisa veio verticalizada, o sistema está aí, o

Sigeduca é dessa forma e ninguém o muda, e é essa a situação que o Estado de Mato Grosso vive.

Parabenizo a sensibilização desta autoridade, de Vossa Excelência, e de toda a sua

equipe da Assembleia Legislativa, para que possamos mudar essa realidade, porque nós Professores,

educadores de todas as áreas de dentro da escola; não estamos brincando de ensinar, não. Nós não

queremos ganhar o nosso dinheiro fácil, não. Nós não queremos fazer de conta, não. Nós queremos

que os nossos alunos aprendam. Nós queremos ter orgulho do índice da nossa escola. Nós queremos

ter orgulho do nosso Estado e do nosso Brasil. Era isso.

Muito obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós vamos permitir que a Professora

Alvarina responda aos questionamentos e, em seguida, o Sr. Alfredo Tomoo Ojima usará a palavra.

Depois, vamos interromper a Audiência Pública para um lanche, tendo em vista que já é meio-dia.

Aqui vocês seguem o horário de Brasília, então, neste caso, não daremos a oportunidade neste

primeiro bloco para a quinta inscrita, que seria a Srª Márcia Adriana. Após as duas respostas, nós

vamos para o lanche e aí, no retorno do lanche, nós recomeçaremos com a Srª Márcia Adriana, o Sr.

José Maranhão, a Srª Carmem Lúcia e o Sr. Francisco Carlos. Fica assim estabelecido.

Com a palavra a Professora Alvarina de Fátima dos Santos.

A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - A organização por ciclos é

bastante polêmica, e pelo tempo que eu acompanho, que é desde 2000... Tudo que vocês disseram é

verdadeiro em relação à formação dos profissionais, pelo tempo que eu acompanho o ciclo... Em

2000 eu participei, tenho certificado de uma formação no município em que eu morava. A assessoria

organizou o evento para a nossa formação, para conhecermos o que é que estava chegando, que

proposta era aquela, porque conhecedor da proposta, o professor abraça ou não abraça, ele tem livre

arbítrio para acreditar ou não.

Depois de 2000, as formações que eu participei foram as mesmas que vocês

também participaram do CEFAPRO, mas se o problema está da forma como chegou, que estudo

faremos e que indagações nós faremos para que haja a melhora?

Isso é um ponto importante, esta Audiência Pública revela essas indagações.

Então, a partir das indagações, porque tem questões que são mais amplas, são administrativas

mesmo, que vai ser a parte da SEDUC, do CEFAPRO e da Assessoria Pedagógica. Outras são

também do interior da escola e outras que nós precisamos articular com toda a comunidade.

Vocês falaram da questão da estrutura física, ela é importante e necessária, sim;

mas nesse repensar, quando nós indagamos a estrutura física, nós indagamos a quantidade de salas,

os espaços escolares enquanto obra estrutural, mas existem outros espaços que nós podemos nos

apropriar. No Município de São Félix do Araguaia ou no Município de Confresa, quais são os

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espaços que usamos também para a educação? Porque quando nós falamos que é formação integral,

tem a parte cultural. De que espaços da cultura a escola se apropria hoje para fazer o diferencial?

Como estão indagadas as metodologias? O que falta nós sabemos, mas nisto que

falta e na experiência que eu tenho de São Félix do Araguaia e também de Confresa, sei que o

professor não deixa a coisa parada. Ele também faz acontecer. Só que essas coisas que vocês fazem

acontecer, muitas vezes, não são vistas. Tem escolas que desenvolvem projeto de leitura dentro da

própria realidade. Então, indagações existem, sim, vocês indagam cotidianamente, mas vocês

também desenvolvem ações que são um desafio que enfrentam dentro daquilo que falta. Nós

sabemos também que ainda não está sendo o suficiente.

A questão do mobiliário adequado: quando pensamos em mobiliário adequado, o

mínimo é a carteira para o aluno, para todos os alunos e também adequados aos tamanhos. É

importante? É, mas se eu não questionar o currículo, se eu não questionar a metodologia de ensino,

não é o mobiliário que vai dar conta, não estou dizendo que ele não é importante, ele é. Mas sem

repensar, sem indagar a metodologia utilizada, e temos que questionar o próprio fazer, eu tenho que

questionar o meu, porque aquilo que eu estou percebendo que não está dando certo na minha prática

pedagógica, que intervenções... É isso que nós chamamos de intervenção, para fazer o diferente

naquele espaço que temos e também temos que vir para a conversa, porque se nós só esperarmos...

Uma coisa que foi dita pela Kátia Laura, em relação à educação do campo, a

dificuldade que tem: só que tem escola que não tem a dificuldade de estrutura física que ela tem,

mas tem outras dificuldades e aí, o espaço de indagação é o espaço de formação mesmo, porque às

vezes - eu trago isso como mais uma contribuição para indagarmos, como está sendo essa formação,

porque às vezes discutimos temática que não é da nossa dificuldade, por exemplo, no processo de

alfabetização. E essa formação em serviço precisa puxar para esse aspecto.

Qual é o desafio e que caminho eu posso seguir? Porque também, se eu tiver

dificuldade no processo e esperar do Sr. Alfredo, isso tudo estou trazendo para reflexão, aquilo que

é, o que a escola já faz, e eu sei que faz, e que quase nunca aparece, porque não temos, ainda, a

prática de socializar os registros que fazemos, porque vocês têm o registro das práticas nas fotos, nos

projetinhos que vocês desenvolvem, só que fica para a escola e, às vezes, no ano seguinte nem se

retoma esse projeto que foi desenvolvido em 2014, por exemplo. Então, você não articula a

avaliação necessária.

Foi falado pela professora, com muita propriedade, a questão da Prova Brasil, que

enquanto evasão e reprovação nós estamos bem, mas nós temos muito que melhorar em relação à

proficiência, e não é só São Félix do Araguaia, é o Brasil. Então, nós ficamos nesse paradoxo: é

porque é ciclo? É porque é série? O Brasil todo não é série, e por que o Brasil todo, no índice que ela

abordou, perde só para um país? Então, não é a questão porque é série ou porque é ciclo, mas que

ensino nós ainda estamos vivenciando nas diferentes escolas de ciclo ou de série?

E para fecharmos essa conta, nós precisaríamos ver o que nós temos; o que é da

escola, dos seus profissionais, do coletivo, e como fazermos o enfrentamento nessa dificuldade com

a família ausente. De que forma? Porque, legalmente, a Resolução nº 01/1997 traz a importância,

determina que a família acompanhe os estudantes, mas hoje ainda temos aluno faltoso, por quê? Está

faltando a família encaminhar para a escola; está faltando a família fazer o acompanhamento, porque

o ensino é da escola, é do professor, mas se não tem o acompanhamento, é aquilo que vocês falaram:

o aluno já vem - porque na escola ninguém está vendo e aqui na escola eu vou fazer isso para quê?

Porque não é verdadeiro que ele vai à escola para fazer a prova e que, se não tiver a prova, ele não

aprenderá. Isso não é verdadeiro, porque todo aluno, quando o pai, a mãe e a sociedade o querem na

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escola - por isso existem as leis -, é porque o resultado é aprendizagem. Como combatemos, então, o

desinteresse?

Acho que fica a indagação - por isso que falei da questão da metodologia - sobre

que conteúdos desenvolvemos na escola, o que é do interesse e para o interesse do estudante? Eu sou

professora, a mesma dificuldade que vocês encontram em relação ao desinteresse, eu também

enfrentei há 32 anos na educação. Mas sempre quando temos a proximidade com o aluno, seja

criança ou adolescente, nós descobrimos algo do interesse dele, e a partir desse interesse nós

articulamos outras atividades.

Lembram que falei na hora da palestra sobre a sobrecarga docente? Três turnos

diários para o professor. Essa também não seria uma dificuldade nesse processo de aprendizagem

dos alunos? Em qual tempo nós podemos ver o diferencial? Em qual tempo damos a oportunidade

para o aluno expressar o que ele deseja, para desenvolvermos o currículo da escola? Então, é uma

série de fatores que se articulam entre si.

Aquilo que vocês cobram da SECUC é para ser cobrado dela mesmo ou da

Secretaria Municipal, no caso das escolas organizadas por ciclos municipais? Mas também

precisamos trazer a reflexão para o nosso próprio aluno, porque se ele entra para a conversa, o

interesse dele pode ser diferenciado, e eu tenho experiência nisso.

Uma vez - muito brevemente, eu não vou contar a história toda - eu coloquei os

meus alunos de dez a dezessete anos para avaliar a minha atuação, porque eles reclamavam muito.

Com um mês de aula, naquele período letivo, com um mês de aula eles perguntavam: “Professora,

quando vamos começar a estudar?”. E eu achei que estava abafando, porque a minha proposta de

trabalho em sala é por projeto, é por tema gerador. E aí não estava correspondendo ao que eles

esperavam, porque o que eles esperavam era só o conteúdo dos livros.

Todo dia eles queriam o livro e eu queria dialogar, discutir, saber o que eles

estavam trazendo da vida deles. E nesse momento eu tive um confronto com uma turminha de dez a

dezessete anos e eu dividi a turma em duas, para avaliarmos o que eles queriam aprender e a minha

atuação. Uma equipe defendia e a outra atacava a professora - não é todo mundo que se coloca para

avaliar.

E a partir daquela avaliação, eu consegui pelo menos dialogar com eles. Então, de

que forma envolvemos os nossos alunos para que desperte neles o interesse efetivamente também?

Porque se eu chegar à sala de aula e ninguém quiser nada, então eu tenho que ir embora.

Eu, professora, na minha natureza, não consigo trabalhar com total desinteresse,

mas que interesse então tem esse aluno para eu partir dele? É uma das coisas que eu acho que fica na

organização por ciclo, é essa democratização; todos precisam ter voz e vez, porque não é só o

professor que leva o conhecimento, o aluno também leva. E aí, a partir dessa democratização dentro

da sala de aula, às vezes, encontramos também saídas.

Em relação à parametrização sem articulação e sem a superação, principalmente,

na escola que recebe um público diferenciado, que é o indígena. Eu não combinei com a professora,

Deputado, mas no avião eu comentei com ele de outro município que, às vezes, essa transposição da

língua é um desafio muito grande para a aprendizagem dos alunos. E essa importância de que o

professor articulador - e estou chegando à conclusão de que o articulador são todos os professores -

precisa de, apenas, um naquele espaço? Precisamos de mais um, mas na realidade todos os regentes

também fazem parte de um processo de articulação.

A superação também é compromisso do coletivo da escola e, às vezes, ficamos

esperando liberar um para estar na superação. Não significa que eu estou dizendo que vai ter esse

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mais um, não sou eu que decido, eu sei da importância desse mais um, mas no processo de

articulação e de superação, é um projeto de toda a escola e, às vezes, nós precisamos do

envolvimento dos pais.

O Projeto FICAI assegura a questão da frequência na escola, mas que conversa

temos nesse projeto para que os pais também se façam presentes nesse ambiente escolar?

Obrigada!

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora.

Eu passo a palavra ao Sr. Alfredo e, logo após o pronunciamento dele, nós vamos

interromper para um lanche. A secretária já me puxou a orelha por três vezes: “temos que fazer o

lanche, temos que fazer o lanche”. Vocês comam antes do que eu, porque eu como muito. (RISOS)

Com a palavra, o Professor Alfredo. O Sr. Alfredo é servidor efetivo, concursado,

servidor de carreira da Secretaria de Estado de Educação, e é um assessor de gabinete do Secretário

Permínio, ele vai dar uma boa notícia sobre o Secretário Permínio por aqui, logo, logo.

O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Bom dia a todos!

Quero cumprimentar o Deputado Wilson Santos; a Secretária de Educação,

Terezinha; o Presidente da Câmara; cumprimento a todos os componentes da mesa.

É bom retornar a São Félix do Araguaia, eu já estive aqui várias vezes, em outras

ocasiões.

Eu sou servidor da SEDUC desde 1989 também, Professora Alvarina, e durante a

época do Governo Dante de Oliveira, 1995 a 2002, eu também tive a oportunidade e a satisfação de

ter participado do Governo Dante de Oliveira, e durante esse período, muitas coisas que foram

colocadas aqui estão registradas como marcos histórico.

A gestão democrática foi colocada na época do Dante de Oliveira, eu ressalto isso,

porque esses marcos legais são referenciais que ficam numa gestão. A Lei Complementar nº 49, lei

do sistema que a institui também, é a única no Brasil que fala do Sistema Único e fala do Programa

de Gestão Única.

O Município de São Félix do Araguaia fez parte do Programa de Gestão Única no

Estado, ele foi projeto piloto em 2000-2002, mais ou menos nessa época. A LC nº 50, LOPEB, Lei

Orgânica do Profissional da Educação, foi também instituída nesse período. Essa lei serviu de

referência para os outros Estados, porque se instituiu a questão de ter o subsídio e foram eliminadas

aquelas coisas que havia lá, de ajuda - pó de giz e demais coisas - e fez um referencial que serviu de

modelo para vários Estados.

Outra questão que eu vejo que é fundamental: foi na época do Dante de Oliveira

que foram instituídos os Centros de Formação, CEFAPROs. Até hoje tem quinze CEFAPROs

distribuídos no Estado para fazer a formação dos profissionais da educação. E a Resolução nº 262,

que regulamentou a escola organizada por ciclos, é também desse período.

Retomando esse período, eu fiz parte daquela equipe e naquela ocasião a gestão

estava programando uma formação muito forte em relação aos profissionais, às escolas, às

comunidades, preparando o material. Só que nesse intervalo teve uma eleição, e esse processo da

eleição fez com que tivesse um rompimento da continuidade da política pedagógica da SEDUC.

E o que aconteceu? Nós tínhamos todo o material preparado para fazer a formação

com os professores, com os coordenadores e a comunidade. Esse material estava pronto, só que teve

uma eleição, e nós perdemos essa eleição.

E aí o Governador e o Secretário que assumiram naquela ocasião, davam a

entender que não dariam continuidade a esse processo. E o que nós fizemos? Nós encaminhamos aos

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

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CEFAPROS e às escolas todo aquele material para que todos pudessem ter acesso às informações,

para que a escola pudesse se apoderar desse conhecimento. (PAUSA)

Vejam! Ele está aqui mostrando o material...

(NESTE MOMENTO, UM REPRESENTANTE DO CEFAPRO MOSTRA O MATERIAL AO

ORADOR.)

Então, esse foi o processo que acompanhei até 2002. De lá pra cá, o que temos

observado em várias reuniões de que temos participado? Formação de fato, em relação à escola

ciclada, teve em alguns momentos, mas uma formação efetiva envolvendo as escolas, os

profissionais e as comunidades não houve. Isso nós estamos detectando que realmente...

E quero ressaltar o seguinte: a Secretaria de Educação, o Secretário Permínio,

instituiu uma portaria e construiu uma comissão para fazer um estudo da escola organizada em ciclo,

essa comissão é composta por SEDUC, Conselho Estadual de Educação, SINTEP, Comissão de

Educação da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso e mais a UNDIME - União Nacional

dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de Mato Grosso, eles já fizeram umas três

reuniões e estão elaborando um plano de trabalho para que possamos fazer essas discussões nas

escolas e nos municípios também. Então, essa contribuição que a Comissão de Educação da

Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está encaminhando servirá para subsidiar

discussão, para enriquecer esse debate que está sendo feito na SEDUC.

Isso que a professora pontuou, referente às dificuldades nas escolas do campo, nas

escolas aqui na cidade e CEFAPROS, nós queríamos colocar bem essa separação. Nós estamos lá

com o Governador Pedro Taques, com o Secretário Permínio há 150 dias de gestão. Então, quero

pontuar que temos muitas situações que assumimos agora, e tem situações principalmente da

questão do orçamento. Nós temos um orçamento de R$ 1.900.000.000,00, só que esse orçamento foi

feito no ano passado, e desse orçamento quase R$ 1.800.000.000,00 são para a folha de pagamento.

Então, nós temos a seguinte situação: nós temos poucos recursos para fazer investimentos e poucos

recursos até para fazer a manutenção da estrutura da SEDUC como um todo - quando eu falo

SEDUC, falo das escolas estaduais do Estado inteiro.

E o que fizemos durante esse período? Há uma determinação do Governador Pedro

Taques no sentido de que estamos passando por uma crise econômica muito séria, e isso vocês estão

sentindo em seus bolsos. Ele tomou uma decisão muito séria no sentido de assegurar que nós

pudéssemos honrar os compromissos em relação à questão do salário e nós fizemos na Secretaria de

Educação, uma reestruturação administrativa, e com qual objetivo?

Nós tínhamos quatro Secretarias Adjuntas e hoje temos duas. Havia 1.100 pessoas

na sede da SEDUC, e hoje há aproximadamente 800 pessoas lotadas na sede da SEDUC.

Isso para quê? Para que pudéssemos ter recursos para atendermos essas demandas

que a senhora tem colocado. E há outras situações muito graves também: nós pegamos,

praticamente, dois repasses de transporte escolar que não foram pagos em 2014, o Secretário deve

ter recebido esse recurso, e nós tivemos que pagar logo no começo do ano dois repasses de 2014.

Então, é toda uma situação em que havia uma dificuldade muito grande em saldar os compromissos

que tínhamos com os municípios, com os servidores e funcionários.

E uma coisa fundamental é a questão da construção de prédios, nós temos prédios

de 2008 e 2009, praticamente sem andamento, porque estão interditados. Há uma ação do Tribunal

de Contas da União do Estado impedindo o andamento daquela obra, porque foi feita de maneira

irregular.

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

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Pág. 24 - Secretaria de Serviços Legislativos

Eu vou dar um exemplo bem prático para a senhora: nós temos uma escola do

campo, em Nobres, que foi entregue em 2013, hoje essa escola está interditada, porque está caindo.

Quer dizer: é uma situação que nós pegamos no começo do ano e temos enfrentado toda essa

situação que é, na verdade, de calamidade.

Esse dinheiro que poderíamos estar aplicando na sua escola, em outras localidades,

nós não podemos assim fazer, porque aquela estrutura que está caindo tem que ser reerguida. Nós

estamos jogando dinheiro praticamente, estamos desperdiçando esse recurso.

Essa é uma situação que nós encontramos, que estamos enfrentando. Este será o

ano de organizar a casa. Por que eu estou dizendo isso? Porque as normativas que foram criadas para

2015 foram feitas em 2014, e o Orçamento para 2015 foi feito em 2014. Então, este ano é que

poderemos nos planejar, nos organizar, para que no ano que vem possamos fazer as ações

necessárias, para melhorar a qualidade da educação no Estado de Mato Grosso. Portanto, nós

teremos dificuldades, Professora, nós teremos muitas dificuldades!

Agora, quero colocar para vocês outra coisa que o Governador decidiu e

encaminhou, não sei se o sindicado já repassou para vocês em relação à Lei Complementar nº 510,

que assegurou o ganho real e mais a reposição. O Governador, com essa dificuldade financeira,

econômica que o País e o Estado estão passando - porque os recursos estão caindo, a arrecadação

está caindo e a folha aumentando -, propôs fazer a recomposição da seguinte forma: a metade na

folha deste mês e mais o ganho real; a outra parcela, com o pagamento em novembro e a correção a

partir de maio até esses meses que estão em vigência, será paga em janeiro de 2016. Essa foi a

proposta discutida com o Fórum Sindical, o sindicato também discutirá essa questão, mas essa é uma

proposta para que nós possamos honrar os compromissos.

E, com certeza, muita gente está colocando: “mas isso não está sendo de acordo

com a lei”. É que nós temos limites financeiros, limites na Lei de Responsabilidade Fiscal, que não

permitem que paguemos acima daquele percentual, senão, o Estado será penalizado. Por isso foi

programado para que pudéssemos efetuar esse pagamento no último quadrimestre. Então, esse é um

ponto que nós queríamos colocar para vocês.

E uma coisa muito importante, quando nós colocamos a questão da proficiência, a

SEDUC durante certo tempo estava trabalhando muito com a questão do IDEB - vocês sabem muito

bem. O IDEB do Estado foi de tanto a tanto, só que o IDEB tem um indicador que falseia um pouco

a ideia do que está acontecendo com a educação, porque na hora em que você elimina a questão da

retenção, o IDEB sobe; só que quando vamos observar a proficiência - professora, a senhora está

certinha -, ela está lá embaixo. Mas essa fase de subir o IDEB acabou, esgotou. Agora, o foco é só

proficiência, se não atacarmos a proficiência, não conseguiremos melhorar a educação.

A SEDUC já firmou um compromisso no sentido de que os CEFAPROs, a

Assessoria Pedagógica, toda a Secretaria estará focada para que as escolas possam promover a

aprendizagem das crianças. Este é o principal foco da política da Secretaria de Educação:

aprendizagem.

E vamos fazer todo esforço para que possamos atender essas demandas que vocês

colocaram aqui, mas por questão de orçamento, como eu coloquei, às vezes, estamos engessados,

porque o que está previsto no orçamento não prevê aquelas ações, então, nós vamos ter algumas

dificuldades para executá-las ainda este ano.

Em relação ao professor articulador, não é o caso de vocês, mas houve várias

escolas que encaminharam pessoas que não tinham nada a ver com o pedagógico da escola,

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contratavam pessoas que não faziam uma articulação de fato, que fosse beneficiar o pedagógico da

escola. Então, neste sentido foi feito certo critério, mas vamos ter muita dificuldade ainda este ano.

Já temos uma discussão em andamento das normativas para 2016, já começaram a

ser discutidas com o sindicato e com o Conselho, para que possamos fazer uma adequação, fazer um

trabalho de planejamento para que em 2016 possamos melhorar as condições de funcionamento das

unidades escolares.

Quero pontuar para vocês, em relação à questão do Plano Municipal de Educação:

vocês colocaram várias questões que, na verdade, nós temos que fazer uma discussão muito

articulada, muito entrosada com a rede municipal e a rede estadual.

Nós somos o único Estado que tem no Plano Estadual de Educação a instituição do

sistema único e vamos trabalhar fortemente para que isso aconteça, porque não há sentido muitas

vezes, Secretária, nós fazermos um esforço para que promovamos o aprendizado daquela criança,

sendo que ficam disputando alunos do município e do Estado, fica aquela disputa e não estamos

focando naquilo que é o principal, que é a aprendizagem das crianças. Nós temos que unir as forças

do município e do Estado para que melhoremos a qualidade da educação.

E nesse ponto - aqui, parece que já houve a conferência - quero alertá-los do

seguinte: cada vez mais nós temos que envolver a comunidade escolar no processo, os pais

participando, porque não dá para mudar a educação só com a SEDUC, se todos os atores estiverem

participando, é de baixo para cima que vamos conseguir fazer alteração. Então, não temos condições

de dizer assim: “o problema é da SEDUC”. Não, o problema é de todos nós.

Eu acredito no seguinte: o Governador Pedro Taques tem a mãe que é professora,

ele é professor, ele gosta de educação, essa é uma grande vantagem para nós, porque quando uma

pessoa gosta de educação... Ele cobra sistematicamente de nós: “Como está o projeto para combater

a alfabetização? Como está o projeto para a educação integrada?”. Ele é apaixonado pela educação,

isso ajuda muito a educação, ele sabe das dificuldades e se sensibiliza com isso.

Eu vou dar um exemplo bem prático para vocês: o Deputado Wilson Santos foi

Prefeito em Cuiabá, e eu tive a oportunidade de trabalhar com ele naquela ocasião. Ele também era

um Prefeito apaixonado pela educação e lá também conseguimos ver vários projetos que hoje,

Deputado, são referências para vários municípios.

Ele ganhou até vários prêmios nessa área também: a questão étnico-racial que foi

uma referência, também a questão da educação especial, nós avançamos muito nesta questão de

inclusão e um problema que eu acho que dá para resgatar no Estado é a questão da escola com

saúde, é um programa muito interessante, que ajudará muito a escola e principalmente os alunos.

Nós coordenamos esse programa juntamente com a SEDUC, e darei um exemplo

prático: eu já vi crianças de sete e de oito anos que estavam com dificuldades de leitura, e na hora

que foi fazer o exame, elas estavam com seis graus e meio de miopia. Então, não estavam

enxergando, e isso é um dos casos mais simples que eu posso citar.

Acredito que um gestor que está ligado, que está antenado, que gosta do que está

fazendo em relação à educação, é muito mais fácil para nós trabalharmos. Eu tenho certeza de que

tanto o Secretário Permínio, que já participou da gestão, lá para trás na SEDUC, que fez parte da

equipe - eu também fiz parte dessa equipe, na época do Governador Dante de Oliveira -, eu tenho

certeza de que nós conseguiremos, com a ajuda e o empenho de vocês, principalmente do pessoal

dos CEFAPROs, fazer com que nós possamos melhorar a educação e a qualidade da educação no

Estado de Mato Grosso.

Obrigado! (PALMAS)

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O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Agora faremos um intervalo de dez a

quinze minutos.

(PAUSA DE 12H34MIN ATÉ 13H02MIN.)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Vamos recompor a mesa. Estamos

no meio desta Audiência Pública e ainda temos seis pessoas inscritas na plateia.

Tem muita coisa que já foi perguntada e já foi respondida, por isso eu solicito que

as próximas intervenções não repitam os assuntos já abordados.

Nós temos inscritos: a Srª Márcia Adriana, o Sr. José Maranhão, a Srª Carmem

Lúcia, o Sr. Francisco Carlos, a Srª Evani e a Srª Aline.

Eu quero convidar para compor conosco a mesa o representante do Promotor de

Justiça da Comarca de São Félix do Araguaia, que é o Dr. Lizandro Alberto Ledesma, e está fora de

São Félix do Araguaia, cumprindo diligências em município vizinho, mas a Promotoria encaminhou

um representante, o Sr. Susumo Ferreira Araújo. Então, convido o Sr. Susshunmo Ferreira Araújo

Alves para compor conosco a mesa, neste ato representando o Ministério Público do Estado de Mato

Grosso, que em todas as audiências realizadas pela Assembleia Legislativa para tratar deste tema, se

fez presente.

Eu agradeço a presença de representantes da Escola Municipal Betel, do Município

de Alto Boa Vista. Muito obrigado pela presença, pelo sacrifício, pelo deslocamento de Alto Boa

Vista até aqui. Muito obrigado!

Com a palavra a Srª Márcia Adriana, Diretora da Escola Estadual Severiano

Neves.

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Bom dia!

Eu mudaria o nome da Audiência Pública para reflexões sobre os atores, autores,

sujeitos da escola ciclada.

Desde 2000 eu estou não só no Estado, mas venho de um município que a

educação é de escola ciclada. Eu defendo a proposta, mas sabemos que as mazelas que existem não

são por causa da proposta. Quando falam: “esse ciclo!...” Não, não é esse ciclo, é como foi

conduzido e o que ainda falta. Seria um momento de avaliação do que precisa para esse ciclo dar

certo, e uma conversa com aqueles que não entendem o ciclo, uma argumentação: por que o ciclo

não é bom? Como diz a Srª Alvarina, se seriado fosse tão bom, então, nós estaríamos com uma nota

de IDEB muito boa, em nível de Brasil. Então, a questão não é a proposta, mas o que está faltando é

a sustentabilidade dela.

Foi elencada a infraestrutura, mas nós temos escolas que têm infraestrutura para o

ciclo funcionar.

A articulação, como foi bem colocado aqui... Nesses dois anos nós estamos com

problema de contratação, mas antes era a partir da atribuição, e ninguém aqui falou que era aquele

professor que não queria ir para sala de aula. Alguém lembra quem ia? Como é que vai ter resultado,

se eu não quero dar aula? E era! Era aquele que não tinha autonomia.

Professores, por favor, não é para falar? Não é para rasgar o verbo? Então, vamos

rasgar. O problema está aí, na atribuição. Eu não quero encarar trinta alunos, aí eu pego a articulação

e brinco de dar aula, Professora Ana Cristina, porque tem gente que brinca de dar aula, sim. E aí não

tem como dar resposta, porque eu não fiz a minha parte. Então, é muito fácil falar do ciclo, mas

quem fez a sua parte? A articulação são só dois anos, Professores.

Anteriormente, era na atribuição... O cara já saía de lá - desculpem-me a

expressão, eu sou líder de jovens; aí, eu tenho a expressão um pouco light - para ser articulador e, ao

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invés de ele ir buscar instrumentos, ele ficava esperando cair chuva não sei de onde para começar a

trabalhar com esses alunos.

E o relatório desses alunos, encaminhado pelos professores? Não sabe ler, não sabe

escrever, mas não colocam as dificuldades que esses alunos têm, não trabalham quais são as

competências que têm que ser desenvolvidas; então, é fácil falar do ciclo. É fácil falar do ciclo,

quando eu falei para o aluno que não tem mais prova... Foi você que inventou isso! Agora você vai

comer o que você plantou! Mas também foi mal vendido para nós, foi mal implantado, implantado

sem condições, sem infraestrutura, mas foi. Então, daqui para frente, o que falta? Está faltando o

Estado cumprir com a parte dele? Está! Viu, Sr. Alfredo! Está faltando? Está, e muito!

De que adianta um sistema de formação humana, se quem nos dita as regras é um

SIGEduca, que é burocrático, parametrizado e tem ainda a tal de dona “cote” atrás desse negócio.

Então, são muitas...

Eu acho que tinha que ver assim: vamos fazer um instrumento de avaliação? O que

precisa...

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, a senhora poderia repetir

essa última afirmação sua, que eu...

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Perdeu?

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Perdi, por favor.

A SRª MÁRCIA ADRIANA - De que adianta um sistema humano, sendo que quem

dita as regras é um sistema burocrático, que não aceita modificações, que dita regras para mim. E aí

tem a tal de dona “cote”, porque a “cote” que nos atende, é terrível! Ou seja, se não está dentro do

parâmetro, não entra. Só que a minha lei, o orientativo fala uma coisa, mas o sistema não se encaixa

no que é falado em alguns lugares desse orientativo. Como a sala de recurso... Ela tem algumas

coisas escritas e nós estamos há quantos quilômetros de Cuiabá? Mil e cem quilômetros e não temos

laudos aqui para colocarmos os nossos alunos na sala de recurso.

Na minha escola eu tenho 15, 08... E não tem laudo, talvez a dona “cote” ou a

SEDUC virá aqui me falar alguma coisa, mas eu consigo provar o que eles precisam, só não tenho o

laudo, então, são encaixados como PNE, são coisas que precisam.

Eu penso que antes de termos vindo para cá, deveriam ter enviado algumas

perguntas para nós, Deputado, para virmos preparados para este debate. Vejam, isso não funciona.

Eu queria muito ter entregado um papel da minha fala, dizendo que não funciona

isso, está precisando disso e está precisando daquilo, porque eu tenho condições de contar, não é

porque eu sou diretora, não. Eu estou há 15 anos mexendo com a educação, mexendo com a escola

ciclada, dentro e fora do Estado.

No município de onde eu vim, nós temos uma parceria muito boa, dava para

acompanhar. Agora, como discutir escola ciclada, se nós temos que cumprir 200 dias letivos?

Hoje, por exemplo, é um dia que vai ser reposto, Senhor Assessor e demais

autoridades, independentemente, como se nós tivéssemos aula. Então, não se paralisa para falar de

educação, para avaliar. E os professores - desculpem-me a expressão - não têm saco para isso. Eles

não querem, eles querem conteúdo, jogar conteúdo. Então, vamos levar a coisa pronta, vamos

discutir isso, vamos melhorar nisso.

Os autores têm que começar a assumir, a começar pela metodologia de ensino. Nós

temos professores que têm dificuldades de planejamento. Se eu tenho dificuldade de planejamento,

eu pego o livro didático, chego lá, e falo: olha, história é isso e aquilo. E no próximo ano não tem

continuidade no ciclo.

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Como se trabalha um ciclo, sendo que eu não sei o que foi trabalhado no plano

passado pelo professor da segunda fase, do terceiro ciclo, por exemplo? Eu não vou lá e olho, eu já

vou entrar com o que tem que ser naquela fase. Então, estão faltando esses ajustes.

Como é que eu vou falar de competência se eu não sei nem que competências que

ele traz?

Não olham e não leem a avaliação descritiva, e se leem: “a nossa escola detectou

que a nossa avaliação descritiva não condiz com o que realmente está sendo colocado para nós,

estamos recebendo alunos que não condizem com ela. Então, é muito mais embaixo o negócio, não é

uma proposta de ensino, mas o que nela não está dando certo? E se tem outra proposta, que tragam e

apresentem.

Eu, sinceramente, quando se fala que os alunos foram para a Escola Tancredo de

Almeida Neves sem aprender nada... Eu tenho dois casos exemplares: eu tenho um aluno que passou

no seletivo do Fórum, eu era professora dele no 9º ano e queria, sim, retê-lo; eu consigo trazer a

vocês a minha lista e pedir que retenham esse aluno. Engraçado, na prova do Fórum, ele passou -

que coisa contraditória!

Outro aluno que também está na minha lista e dos demais colegas para reter, para

não ir para a Escola Tancredo de Almeida Neves, passou na prova do seletivo de Confreza, e uma

aluna que eu achava que passava, que era boa, não passou. Então, é uma prova que começa... Sabe!

E desconsidera tudo que foi feito.

Nós não estamos utilizando instrumentos avaliativos, não registramos e fazemos as

nossas avaliações descritivas baseadas no que achamos. Aí, não funcionará escola ciclada mesmo!

E tem a parte do Estado, mas tem a nossa. Ou se assume o negócio ou fala: “não,

não quero mesmo esse negócio, vamos seriar e que se danem aqueles - desculpem-me novamente a

expressão - que não têm acesso; aqueles que têm problemas na casa deles; eu não quero saber desse

aluno, eu quero é colocar conteúdo, porque lá na vida ele irá ter que saber o que é o quadrado do

retângulo de não sei o quê.

Mentalidade de mistificação do ciclo é a primeira formação que nós precisamos e é

muito fácil uma pessoa que nunca trabalhou no ciclo, que vem de um sistema seriado chegar e

querer falar do ciclo, é muito fácil!

Vamos vivenciar, vamos pegar uma escola que está dando certo e ver se funciona.

Eu não posso criticar aquilo que eu não trabalhei ou que eu trabalhei, porque eu vim de um lugar que

só tem seriado.

Frequência escolar é também o nosso gargalo. Eu ouvi uma ilustração da

professora... Sua irmã, como é o nome dela? (PAUSA)

(A ORADORA PERGUNTA A UMA COLEGA DA PLATEIA.)

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Ela não está aqui, mas fez uma ilustração muito

legal, que uma criança de oito anos estava na quadra e um professor que tomou posse recentemente

no Estado falou: Menina, vai para a sua sala de aula, porque se não voltar, vai receber falta, e depois

não dará conta na prova e reprovará”. E essa menina olhou e disse: “Você não sabe que não reprova?

O senhor não sabe que se eu ficar aqui nessa quadra este ano inteirinho, o senhor terá que me passar

no final do ano?”. É uma verdade, Deputado! Então, isso não está dando certo e nós não estamos

tendo respaldo de outras instituições para segurar a frequência escolar. Então, é preciso fazer esse

debate.

Nós tivemos o juiz em nossa escola para falar: “Espera aí, estamos fazendo a nossa

parte, mas a família não está”. Nós fizemos o Conselho de Classe e essa semana nós terminamos a

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última turma, o nível de participação dos pais dos alunos que precisam, não estão... Não temos mais

respaldo...

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, tire-me uma dúvida, por

favor: quando a senhora fala em frequência, é um desafio, é aquela frequência que o aluno acaba

terminando o ano ou é evasão mesmo?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Ele acaba terminando o ano.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Certo, entendi!

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Aí, ele chega sem as competências necessárias e o

pai também sai cedo, e esse aluno não vai... Porque dorme e tem outros e outros motivos.

Tem um aluno que eu comecei a dar aula a ele no 7º ano. Ele é um aluno que,

talvez, será reprovado no 9º ano, porque falta muito e é um aluno que tem dificuldade de

aprendizagem. Então, nós mandamos intimação para os pais, convocação para vir e mandá-lo para a

sala de articulação, mas a criança não vem. E o que nós fizemos? Mandamos a ficha de comunicação

de aluno infrequente, FICAI, mandamos, mas não temos respaldo. Então, está precisando da questão

da Promotoria.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Outra pergunta: quer dizer que no 9º

ano pode reprovar?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - No 9º ano ele fica retido por faltas.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Só por faltas?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Somente.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Mas se ele tiver mais de 75% de

frequência, mesmo não atingindo o coeficiente, ele vai para o 2º grau?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Vai, e é a somação dos três ciclos.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Esse ciclo de formação humana não

reprova em nenhum momento?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Em nenhum momento.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Mas tem outro ciclo que reprova não

é? Acho que é o de aprendizagem.

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Não tem mais esse ciclo.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - O Estado não o adota mais?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Não.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Certo.

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Na verdade, é assim: quando vamos discutir, os

pensadores do ciclo e a forma, nós entendemos por que não reprova, mas quando eu achar que

retenção é uma forma de penalizar e de fazer o aluno estudar, então, não vai para frente, Deputado.

Está entendendo o que eu estou dizendo? Os pensadores... Escutem outro... Eu tive a oportunidade

de estar em Cuiabá, já fui Assessora de Secretário e estava, no momento, com um estudioso do

IDEB e outra da UFMT. Ele conseguiu me mostrar porque ele era contra a repetência.

É uma pena que não tenho a propriedade para falar aqui que ele tem, para entender

como se dá esse processo, mas eu sei dizer que é necessário tempo e espaço para esse aluno

despertar.

Nós até fazemos um comentário: “por que quando vocês chegam na Escola

Tancredo de Almeida Neves vocês aprendem?”. E alguns nos dão a seguinte resposta: “não, é

porque lá tem prova”.

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Pág. 30 - Secretaria de Serviços Legislativos

É nada, é porque o aluno está mais maduro, porque naquele momento ele queria só

bola, porque naquele momento ele queria brincar e porque aquelas aulas são muito chatas, não

conseguem envolver. Quem é que dá conta? Pergunta e responde, pergunta e responde! Por favor!

Olha, Deputado, eu não sei se acontece em outras escolas, mas o meu laboratório

de informática está com problemas, não é usado porque não sabemos operar a máquina e também

temos problemas com a banda larga. Teve capacitação? Teve! E como foi isso? Está sendo aplicado?

Está sendo acompanhado?

E nós, com a Sala do Educador este ano, que foi um sucesso para mim, pedimos a

transposição didática. Nós estamos com um módulo que é justamente para isso, está aqui o Professor

Ivanildo, que não nos deixa mentir. O Ivanildo, que é o nosso colaborador, agora na transposição

didática colocou em prática, voltou para cá e apresentou. Então, nós estamos acreditando nesse novo

modelo, porque nós temos feito formação, estamos tendo o acompanhamento do CEFAPRO, numa

parceria muito boa, mas ainda falta a aplicação em sala de aula.

Que mecanismo nós vamos criar para fazer isso? São apenas os diretores, só a

gestão que vai começar a exercer o papel de fiscal? Como é isso? Como se vai medir?

Outra coisa é o processo de atribuição, processo de atribuição por pontos.

Senhores, perfis! Perfis! Eu tenho um professor que não dá conta de alfabetizar, mas porque ele é

pedagogo, tem tantos pontos, vai lá para a sala. Ele não tem perfil para trabalhar com educação

infantil! Então, é preciso discutir também a forma de atribuição.

Temos problemas de áreas, o nosso professor de matemática está na assessoria e

eu, de língua portuguesa, estou na direção, e a escola está com outras pessoas que não são da área

dando aula. É uma perda também, é necessário discutir isso, para que o ciclo dê certo.

Formação profissional: como nós colocamos aqui, o CEFAPRO para a nossa

escola, eu não tenho o que reclamar. Acompanha, vem, tem feito o trabalho, mas nós também temos

o nosso lado de resistência, também temos o nosso lado de resistência. Então, é preciso trabalhar

isso na escola. Eu acho que era mais ou menos isso mesmo.

Em relação à merenda, questão colocada pela Ana Cristina, o pior...

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Márcia, quando você disse que há,

por parte de professores, dos profissionais, resistência ao CEFAPRO, você poderia ser mais clara?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Poderia! Simplesmente não dá a ele o direito de

trazer uma metodologia diferenciada. Ele vem, fazemos a formação, e quando ele vira as costas, eu

não aplico, porque quem manda na sala de aula não é a direção, não é o CEFAPRO, sou eu, a

professora. Isso acontece ao longo dos anos; então, não adianta mais metralhar o CEFAPRO.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - E qual seria o caminho para

solucionar isso?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eu estou gostando da transposição didática, eu acho

que tinha que ter outra forma para que pudéssemos rever isso, porque não adianta ter “n” diplomas e

não aplicar o conhecimento, ficar só acumulando títulos! Tem que ter um mecanismo para que isso

aconteça, senão, também não vai mudar.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Poderia ser na elaboração desse

conteúdo programático que o CEFAPRO ministra, ele poderia ouvir os professores para a construção

desse conteúdo?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eu creio que não é bem assim, porque nós

levantamos a demanda na escola. Eu creio que é o da sala de aula, por isso que eu acredito na

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transposição didática. É a aplicação, após a formação do CEFAPRO, porque tem o feedback depois,

é o que está acontecendo este ano, porque não tinha - neste ano eu me senti muito agraciada.

Nós vamos para um curso igual ao Pacto, as meninas vão lá e fazem e têm que

aplicar em sala de aula. Isso é muito bom, mas é uma pena que acaba o curso e se esquecem o que

foi aplicado, essa continuidade do investimento é que precisa ser garantida. Eu não estou aplicando,

não vai ter o resultado. Agora, pode ser que eu apliquei e não deu certo, mas nem isso nós

conseguimos nas nossas escolas.

E aí também têm as outras condições colocadas aqui pelas colegas. Não nos dão

condições de trabalho, em alguns casos, que têm algumas escolas que não têm. Por exemplo: o nosso

laboratório de informática, é a maior dificuldade em relação à internet, porque a distância é muito

grande. Então, também tem que discutir que instrumentos que não estão dando certo e o que precisa

mudar. Eu acho que é mais ou menos isso...

Eu vou só falar sobre a questão da merenda, para que o Sr. Alfredo leve esse

assunto, pense e nos ajude na questão do Projeto SIM, porque se eu não comprar da agricultura

familiar, eu vou ter que gastar muito mais comprando leite no mercado, a linguiça da Sadia e daqui a

alguns dias a Friboi chega aqui e acaba com a nossa agricultura familiar. Então, vai para além da

minha qualidade na merenda, vai para o desenvolvimento local também.

Quem puder talvez no momento ir com o representante da Câmara que está lá

conosco e da Prefeitura para ver, para que consigamos, antes de 08 de junho, fazer alguma coisa que

possamos oferecer carne.

E uma coisa gritante é que a rede municipal serve, e nós não, porque estamos

assegurados numa lei que só serve para a rede estadual.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Inclusive proteínas?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eles servem carne e servem leite, e nós não

podemos... Os pais não entendem, eles acham que nós não queremos comprar.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nesse caso, compram em

supermercado, não é?

A SRª MÁRCIA ADRIANA - Compram em supermercado, mas nós nem isso

podemos comprar. Só se fosse embalada com o selinho da Sadia, da Friboi...

Muito obrigada pela oportunidade! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós é que agradecemos por essas

contribuições! (PALMAS)

Com a palavra, o Sr. José Maranhão, Secretário Municipal de Educação do

Município do Alto Boa Vista. Depois, na sequência, a Srª Carmem Lúcia, o Sr. Francisco Carlos, a

Srª Evani e a Srª Aline.

O SR. JOSÉ MARANHÃO - Boa tarde!

Vejam bem, quando nós falamos em ciclo de formação humana, talvez nós

estejamos em uma escola do município que não possui, não adotou esse princípio, o ciclo; mas eu,

como professor, trabalho nas escolas estaduais, já trabalhei durante vários anos na escola estadual e

agora estou na Secretaria Municipal de Educação, trabalhei sempre nas duas. Vejo sempre essa

diferença entre escola municipal e escola estadual, ciclo e não ciclo.

Eu posso até concordar com algumas coisas que a colega Márcia Adriana falou,

com certeza o ciclo é bom, muito bom, mas para que o ciclo funcione, temos algumas condições: a

formação dos professores que passam em concurso - eu não vejo isso acontecer -, é preciso ensinar

ao professor como ele deve trabalhar o ciclo. Durante todo esse tempo, eu não vejo isso

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acontecendo, sinceramente, porque os nossos próprios colegas dos CEFAPROS, às vezes, são

colegas de sala de aula e que têm as mesmas dificuldades que nós, então nós temos muito essa

dificuldade.

Eu falo isso porque no momento em que nós falamos de ciclo, quando falamos do

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), querendo ou não, a escola municipal já

adota esse sistema avaliativo descritivo do 1º ao 3º ano, que é a alfabetização, e isso já não tem

aquela avaliação escrita, que a maioria dos pais nos cobra.

Quando chega ao final do bimestre, os pais não querem olhar a avaliação descritiva

dos seus filhos. Eles chegam lá e perguntam: “Quanto meu filho tirou? Qual é a nota do meu filho?

Ele alcançou à média?”. Esse tipo de pergunta sai em todas as situações em que nós estamos

trabalhando.

Quando nós falamos, vem aqui - a Márcia Adriana acabou de falar e a colega

também, que me esqueci, que está aqui... Ela falou bem. Poxa, eu vou trabalhar uma realidade dos

meus alunos, vou fazer isso, vou fazer aquilo para eu atingir certo objetivo. Tranquilo, mas

principalmente nas escolas estaduais, nós temos uma sala de 48 metros quadrados e temos 49 alunos,

mas o sistema permite dividir a turma se tiver com 51. O professor nem pode se mexer e o aluno que

está lá no fundo nunca sai na licença, só se ele passar por cima dos outros, e o sistema não aceita

dividir isso.

E se você faz um monte de solicitações... Nós temos em nossa escola estadual em

Alto Boa Vista esse tipo de situação: uma sala do 2º ano do ensino médio tem quarenta e nove

alunos e não consegue fazer divisão, de maneira alguma, porque não atingiu o número “x”, teria que

ter mais dois para poder dividir.

Eu falo assim: tem que colocar conteúdo para os alunos? Tem sim! Nós temos que

trabalhar em cima de conteúdo sim, do que está lá no livro, nas bibliografias, tudo isso.

Quer saber por que eu falo isso? Porque, daqui um pouco, o governo manda avaliar

a sua escola. Manda o quê? Vou citar o exemplo da Prova Brasil. O que é a Prova Brasil? Não é

conteúdo? É só Prova Brasil que vem difícil e tudo, mas se você trabalhar a realidade do aluno da

região, ele vai tirar zero, como a Ana Cristina falou bem aqui, e tira mesmo, porque, às vezes, você

não tem tempo suficiente, ainda mais quem trabalha do sexto ao terceiro ano, que você tem uma

hora de aula.

Se você é professor de Artes, tem apenas uma aula por semana, você não vai

conseguir fazer isso nunca, principalmente se tiver uma sala de aula com 50, 49 ou 45 alunos.

E volto a falar: o ensino médio... Quando o nosso aluno sai do Ensino Médio,

automaticamente, ele vai para a prova do ENEM.

Eu sempre falo, Deputado, que as escolas particulares do ensino fundamental e

médio são para os filhos dos ricos, entende? Se você vai a uma escola particular do ensino

fundamental e médio só tem filho de rico estudando. E aí você vai às federais e só tem filho de rico,

os filhos dos pobres estão todos nas faculdades particulares, porque eles têm um sistema

diferenciado de ensino e quantidade. Enquanto na escola particular o pai vai e fala: eu vou colocar o

meu filho aqui, e vou pagar R$ 300,00, R$ 400,00, R$ 500,00 por mês, mas se passar de doze eu não

aceito. E a escola vai e aceita, na nossa não; tem 49 alunos e não divide a turma.

As aulas iniciam-se com o professor sozinho, você pega para dar duas aulas, das

07 horas às 09 horas; das 13 horas às 15 horas, nesse sol nosso, Deputado, em uma sala de aula com

janelas de vidro, a temperatura lá dentro não cai de 50 graus, igual o deserto do Saara, Vossa

Excelência está entendendo? E como o aluno sai? Sai lá de dentro suado... Se dois falarem na sala de

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aula, você fica louco. É por isso que tem muitos professores doentes, é por causa desse tipo de coisa.

(PALMAS)

Eu sempre falo, vejam bem, os alunos com necessidades educativas, beleza! Nós

não temos o treinamento do profissional docente. Nós fazemos agrupamento por idade, é bom

demais, o aluno de quatro anos brinca com o de quatro; o de sete estuda com o de sete, mas o que

está lá com quatorze anos e por algum tipo de situação não estudou, Deputado - ele demorou a ir

para a escola, ele morava lá na zona rural, onde o transporte escolar não o buscava, onde o pai dele

não tinha como colocá-lo na rua, ele foi para a escola quando tinha nove anos. E ele nunca foi à

escola, o pai mora lá na zona rural, chega lá, e o sistema o enquadra em uma série, mas ele nunca foi

à escola, ele não sabe nem o que é o “a”, colocam-no lá. Sabe o que acontece, Deputado? Esse

aluno, na primeira semana vai parar lá na fazenda do pai dele, porque os demais alunos ficam rindo

dele. Ele não sabe, está entendendo? Isso acontece muito.

Quando falamos da distância das residências - eu não sei se isso acontece em outros

municípios, mas lá em Alto Boa Vista tem aluno que sai de sua casa às 09h45 min, 10 horas, porque

ele tem que estar lá na escola às 13 horas. Sai às 17 horas e chega a sua casa as sete e pouco e tudo

mais. Aí falam: ele não pode passar mais do que duas horas sentado dentro do transporte escolar,

mas ou ele passa mais de duas horas, ou não vai para a escola.

A colega acabou de lembrar uma coisa boa: o aluno está em uma dificuldade

danada, ele estuda das 13 horas às 15 horas; a articulação dele tem que ser em horário alternativo,

como é que ele virá no horário da manhã? Respondam-me! Como ele virá pela manhã, para estudar,

para recuperar aquilo que ele não sabe, se ele mora na zona rural?

Eu tenho em meu município 163 alunos do transporte escolar, das mais variadas

distâncias. Ônibus que sai às 10 horas para chegar às 13 horas, com toda dificuldade, e são alunos da

escola estadual e municipal.

Outra coisa que nós falamos aqui: superação. Nós não temos... Pelo menos, lá na

minha cidade não tem, mal temos a sala de aula para colocar os que estão lá. Onde é que nós vamos

dar aula de superação? Fala! Se não tem espaço físico dentro das escolas, as salas de aula que são

construídas mal estão dando para os alunos que frequentam no dia a dia.

Se o governo não voltar a investir, principalmente em infraestrutura, construção,

para que sobre espaço para colocar os alunos, para fazer essas horas de superação e tudo mais...

No meu município nós temos um laboratório de matemática e outro de ciências,

dentro de umas caixas, Deputado, dentro de caixas! Nós tentamos de tudo quanto é lado arrumar

recursos com os governos estadual e federal, porque o município não tem, para ver se constrói

algumas salas lá, mas não arrumam. É uma burocracia danada, isso nós não conseguimos.

E quando vai lá, na hora de gastar o dinheiro, Deputado? O Governo Federal gasta

18% com a educação, o Estado 40%, que fica só com um pouquinho da fatia. E o município, que

está lá no final, morrendo, gasta 42%. Aí o servidor... Eu sou professor de carreira do município,

mas nós morremos de vontade de receber o salário do servidor do Estado, nós do município.

Aí, você olha o FUNDEB que tem que nos pagar, veja o que nós temos, uma

merreca desse tamanho, que não dá para pagar.

Não paga, Deputado, não paga. Não tem como pagar o piso salarial que o Estado

recebe... Eu duvido que tenha algum município que pague 1,5 para quem tem graduação, tem

alguém, aqui, que paga? Porque o piso salarial do Estado para quem tem magistério é R$ 1.917,78.

Quem tem graduação são 1,5, vai dar dois mil e alguma coisa. Tem algum município que dá conta

de pagar? Duvido que tenha; nenhum paga, porque não tem recurso.

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Eu olhei o FUNDEB de Luciara. No mês passado, eles receberam R$ 50.000,00.

São setenta professores, e vão receber em qual dia? Nenhuma possibilidade.

Volto a falar a respeito das famílias: as dificuldades que você tem de reunir as

famílias nas escolas são grandes, principalmente aquelas famílias que moram nas zonas rurais. Esse

pai é difícil de vir a uma reunião na escola e, às vezes, é onde estão os maiores problemas, porque

aquele filho da zona rural tem que ajudar o pai no dia a dia, e o pai está muito preocupado em ter o

alimento dele no dia a dia.

Aqui foram colocados alguns assuntos em relação à alimentação sem o selo de

inspeção municipal. Não tem nenhum município por aqui que consiga pagar, Deputado, o veterinário

e o agrônomo para ficar no dia a dia olhando os matadouros para atestar a carne que vem para os

municípios - não tem.

Aí eu coloco que o recurso do município é assim: do que vem do Programa

Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), você tem que gastar 30% com agricultura familiar, no

mínimo 30%. Se não gastar, o Governo vai cortando, todo ano aquela parte que eu não gastei, ele

corta. Então, eu vou lá: eu posso comprar a farinha de mandioca, que poderia fazer para o meu

aluno? Não, não posso comprar farinha de mandioca. Eu posso comprar mandioca descascadinha?

Não, também não. O que eu tenho que comprar? Mandioca com casca, alface... É só produto in

natura, eu não posso nem comprar leite.

Em Alto Boa Vista, o município tem umas trinta vacas de leite. Eu tiro o leite e

não posso passar esse leite para as crianças, porque o leite tem que ser pasteurizado. E de que

adianta? Vamos vender as vacas? Vamos fazer o quê?

Eu sempre falo, Deputado, que eu concordo muito com o ciclo, mas creio que da

maneira que está, se não houver um... É preciso repensar isso, nós estamos muito... E vamos sofrer

muito, muito e muito com isso. E volto a falar, Deputado, com relação até mesmo ao recurso: Mato

Grosso é um Estado rico, bom demais! Estado rico, tranquilo! Nós somos considerados ricos.

Qualquer um que tenha um computador pode consultar nos recursos do FUNDEB,

pode ir às transferências constitucionais e olhar o recurso de complementação de qualquer cidade do

Estado de Mato Grosso, do Governo Federal e ver se tem, olhar se tem. Vão lá em “transferências

constitucionais” e olhem. Quem está, agora, com computador e com internet olha e faça isso, por

favor. Não tem nem um centavo, Deputado, de complementação do Governo Federal.

E você vai bem aqui no Estado do Pará para ver. Enquanto nós recebemos... Uma

média do meu FUNDEB é de R$ 156.000,00, e uma cidade com a metade da população da nossa, de

Alto Boa Vista, recebe R$ 1.000.000,00, porque só de complementação do Governo Federal tem R$

500.000,00. Você vai a todos os Estados do Nordeste e é do mesmo jeito. Pode pegar e olhar,

Senhores! Vão ao Google, escrevam “transferências constitucionais” e verifiquem isso. Se selecionar

o Estado e olhar os FUNDEB de todos os estados, isso está claro, o governo tem que abrir e olhar

para esses lados.

Às vezes, algumas pessoas podem afirmar que eu estou fora de linha, porque estou

numa escola municipal, e estou falando sobre o município, mas nós somos os mais sobrecarregados.

Porque essa discussão aqui, as escolas municipais, geralmente, não têm nenhuma ciclada, as

maiorias é seriada. É por isso que, às vezes, elas têm muito mais aluno do que nas escolas estaduais.

Podem prestar a atenção que a maioria das escolas municipais tem mais alunos que

as escolas estaduais, quando são na zona urbana, porque é onde está a maior concentração das

pessoas, porque todo pai quer saber da produção do filho, da nota. Se você pega a avaliação

descritiva, 20% dos pais que vão lá e a leem. É raro, não leem, Deputado.

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Quando chega ao final do bimestre, você chama e faz a reunião de pais, entrega a

avaliação descritiva para o pai e ele olha e pergunta: “Quanto ele tirou?” (PAUSA)

Pode ser por isso mesmo, eles não sabem ler. Aí eu te falo: que trabalho nós

fizemos para ele aprender a ler? Que educação estamos dando para ele entender o que é o ciclo, se

nem nós, professores... Como as colegas falaram, nós temos dificuldades. (PAUSA)

Sim! E aí eu lhes falo: essas capacitações, os municípios não têm condições de

fazer de jeito nenhum. Tem que vir do governo federal e do governo estadual.

E quando olhamos o quanto a coisa está apertada, principalmente este ano que a

maioria dos prefeitos terá dificuldade de pagar seus profissionais, eu falo isso porque vocês vão ver

isso acontecer, e muito.

Então, eu quero só falar para Vossa Excelência, Deputado, e para as pessoas que

estão aqui: eu, sinceramente, da maneira como o ciclo está, discordo totalmente dele, discordo

totalmente. (PALMAS.)

Para que o ciclo funcione, o governo tem que adotar o mesmo sistema de

avaliação: vai aplicar a Prova Brasil, então, peça para o aluno produzir um texto, dê um tema; peça

para isso acontecer. Não só mande conteúdo, conteúdo, conteúdo, que ele tem que resolver. Como a

Márcia falou há pouco: ele tem que saber, sim, o que é triângulo, retângulo, quadrado, hiato,

ditongo, ele tem que saber tudo isso. Tem que saber o que é oração subordinada, tem que saber todas

as coisas, ele tem que saber, porque é isso que cai na prova.

Se o governo manda: escreva sobre isso, isso e isso... Ele não manda, vem isso

para avaliar as suas escolas, e quando a nota de vocês está lá embaixo no ENEM ou no Prova Brasil,

o governo o notifica: “você tem que melhorar, o que você está fazendo?” É isso e aquilo e tudo mais.

Culpa os professores e eles estão todos indo para o hospital. Pode olhar, Deputado! Preste atenção!

Vá, hoje, às escolas e olhe a quantidade de professores que ela tem com problemas neurológicos.

Eu estou falando aqui assim, pessoal, e é um desabafo também, porque, às vezes, é

muito complicado esse sistema de ensino que temos no Estado. Pessoalmente, discordo da maneira

que ele está sendo adotado. Era isso que eu queria falar. Obrigado! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - A próxima inscrita é a Coordenadora

Pedagógica da Escola Municipal São Sebastião, de São Félix do Araguaia, Srª Carmem Lúcia.

Por favor, Srª Carmem, a senhora está com a palavra.

A SRª CARMEM LÚCIA - Boa tarde a todos!

Ouvindo o depoimento de cada pessoa eu me preocupo: Meu Deus, o que será de

nós, educadores?

Eu vou falar da escola municipal na qual trabalho e vejo a situação. Quando

falamos em ciclo me vem a pergunta: e a sala multisseriada? Essa me preocupa muito! Crianças de

cinco, seis e sete anos em uma sala só. Quando a professora fala assim... Porque em 1998, eu fiz

parte de um encontro do CBA, Professora, tem 23 anos que eu estou na educação, alfabetizei sem

sair de sala de 1ª série durante dez anos, diretamente, e falo para vocês: sou pedagoga com honra,

gosto da minha profissão, eu amo a minha profissão, só que, enquanto não tiver uma metodologia

em prática do ciclo e da sala multisseriada, a educação não funciona do jeito que está. Por quê? A

teoria do ciclo é linda, maravilhosa, só que não acontece. Se tiver uma escola que diga para mim,

aqui na região do Araguaia, que funcione o ciclo do jeito que está, dentro desse perfil, eu quero

conhecer, porque eu quero pegar mais experiência.

A revista Nova Escola de fevereiro de 2015 fala da aceleração. Nós recebemos

alunos de escolas estaduais no 6º ano que estão na formação silábica. Tem um professor de

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matemática aqui, o Hilton, que pode falar com mais propriedade, porque ele está convivendo com

esses alunos e diz que vem de uma escola ciclada, e não é município. Quando a colega fala que o

município tem que adotar ciclo também, é vice-versa, as duas têm que trabalhar, município e Estado.

Então, eu me questiono e fico preocupada, porque a cada dia nós recebemos alunos também no

ensino médio que não sabem escrever a palavra dissertação, e lá no ENEM eles têm que atingir uma

nota para ir para a faculdade. Na faculdade, em qualquer faculdade, eles têm que atingir nota.

Eu percebo que, às vezes, nas avaliações descritivas tem muitas palavras que

contradizem. O aluno consegue ler e interpretar, mas de que forma ele consegue ler e interpretar? O

aluno consegue resolver problemas de matemática envolvendo as quatro operações, mas de que

forma? São perguntas que nós temos feito.

É angustiante, porque nós recebemos crianças especiais também, as nossas escolas

não têm perfil. E não são apenas as escolas municipais, as estaduais também têm isso, porque eu me

envolvo nas duas. Lá nós temos salas anexas do Estado... Nós temos uma sala anexa lá, que é do

Estado, com 32 alunos do 1º ao 3º ano e não pode dividir. Três professoras trabalhando, e as três são

pedagogas.

Às vezes, as áreas de conhecimento são boas, mas eu conheço professores que têm

formação por área, que são menos alunos para trabalhar, e não conseguem desenvolver sua área de

conhecimento como um pedagogo - eu conheço. isso é verídico. E nós ficamos a 36 quilômetros da

sede do município. Então, é preocupante.

A questão das salas do Estado, anexas, também é séria, porque lá tem o filho do

produtor, que não tem condições de vir para a sede do município, em virtude de o pai não ter

condições de pagar o aluguel, para ele estudar, e nós temos que remanejar o barco para lá, até ele

concluir o ensino médio. Aí, quando termina o ensino médio, ele para, porque não tem condições de

ir para fora.

Outra crítica que eu faço, mas é uma crítica construtiva: quando acontece o

processo de aceleração, e ele não consegue ler, está no 9º ano e acelera, vai para o 1º ano, ele começa

a ter dificuldades, para e espera completar os 18 anos, para ir para o ensino de Educação de Jovens e

Adultos (EJA).

Então, eu só quero fazer uma reflexão para que se repense a escola ciclada, mas

repense a escola multisseriada também. Então, dizem que não pode ter número, mas nós valemos

números! Queiram ou não, o ser humano vale número, porque nós temos uma turma na escola na

qual eu trabalho que tem treze alunos. Lá, tem alunos de 05, de 06, de 07, de 08 e de 09... Não pode

dividir, porque o número de alunos é pequeno, mas o professor tem que trabalhar.

Quando se faz uma redução na carga horária para trinta horas, se o professor não

destrinchar, passa fome com o salário que tem de 30 horas, e fica sobrecarregado. Com 30 horas ele

não vai dar conta de se manter, só se tiver outra função, outra renda para se manter, porque se ele

tiver família e ficar só com as 30 horas, vai passar necessidade. Aí, o Governo Federal corta R$

9.000.000.000,00 da educação, e o que podemos fazer?

Então, é uma reflexão que eu faço sobre isso e digo mais uma vez: o ciclo tem que

ser repensado, tanto quanto a formação, a capacitação, a teoria e a prática dele, mas tem que ser

repensado, tem que ser. Era isso que eu queria falar.

Muito obrigada! (PALMAS)

Deputado, eu quero aqui também registrar que lá no assentamento Dom Pedro tem

uma escola estadual do campo, que começou e parou. Está lá, um prédio, é uma coisa de fazer dó.

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Outros lugares precisando, eu vejo depoimento de cada colega precisando de espaço físico, enquanto

que dentro daquela escola o mato está tomando conta.

(NESTE MOMENTO A ORADORA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS FORA

DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, professora Carmem

Lúcia.

Com a palavra, o próximo inscrito, o Sr. Francisco Carlos, Coordenador de

Formação do CEFAPRO, do polo São Félix do Araguaia.

O SR. FRANCISCO CARLOS - Popularmente sou conhecido como Chico. Eu sou

professor formador do CEFAPRO, da área da educação escolar indígena e a partir deste ano estou

como coordenador de formação, coordenador pedagógico.

Muito embora eu não vá falar em nome do CEFAPRO, até porque nós não fizemos

essa reflexão com os professores formadores, eu falarei em meu nome, a partir da minha

experiência, a partir dos estudos que eu faço do ciclo.

Uma constatação que eu gostaria de fazer é que nós percebemos que essa plenária

estava em maior número, e muitos dos nossos companheiros e companheiras professores já nos

deixaram. Esse é o grande problema na educação!

Eu vejo que - eu vou falar e fazer uma ação muito forte - na nossa educação há

muitas pessoas fazendo bico como professor, mas não é o que venho falar, o que eu quero falar, e a

primeira indagação que eu faço, primeiro questionamento que eu faço, eu até fiz uma colinha para

não me perder, é de qual ciclo estamos falando? É o ciclo que está no papel? Que o Sílvio Rocha

fala, que os teóricos falam? Ou é o ciclo que “foi implantado no nosso Estado”? Porque para mim

não foi implantado o ciclo neste Estado, você pode chamar do que quiser, menos de ciclo. Pode

chamar de fase... Só não chamem de seriado, porque mudou, mas eu não considero isso que aí está

no Estado como ciclo, essa é a primeira constatação.

Segunda coisa: há uma grande desinformação de nós professores do que vem a ser

realmente o ciclo, nós não conhecemos o ciclo. É comum você ouvir o professor dizer assim: “ah, eu

não posso mais aplicar a avaliação; eu perdi a grande arma que eu tinha”. Você ouve professor

falando: “eu perdi a arma que eu tinha que era a nota, que era a prova”. Então, você percebe que há

uma grande desinformação dos professores, porque não houve essa formação, não houve essa

formação por parte do Estado, e ele foi implantado de cima para baixo, não houve a participação dos

pares, não houve a participação de todos nós para conduzirmos a coisa da forma como

entendêssemos de fato.

Outra coisa que vejo, e já foi falada aqui, é que nós precisamos mudar algumas

coisas, quando você fala: “O ciclo não funciona, porque eu não posso reprovar”. Se você olhar em

qualquer lei, a partir da Constituição, vamos pegar a Constituição Federal de 1988, qualquer lei, a

LDB, a Resolução nº 262/02, o Orientativo 2003 da Superintendência da Educação Básica do

Estado, em lugar algum você vai ver escrito lá: “Educação é um direito de todos e um dever do

Estado”. Não diz, lá, que o aluno tem que ser reprovado, em lugar nenhum, em documento nenhum,

que a reprovação é que vai dizer se a escola está ou não está funcionando. Portanto, nós precisamos

mudar a nossa mentalidade. Se não mudarmos a nossa mentalidade enquanto educadores, e aí volto

àquela fala que eu disse anteriormente: nós temos muito dos nossos companheiros e companheiras

que não estão fazendo nada em outro lugar, então, arrumam um bico lá na Educação e vão dar aulas.

Entendeu? Então, precisa mudar. O que precisa mudar? Foi falado aqui: a atribuição, a atribuição!

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

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Pág. 38 - Secretaria de Serviços Legislativos

Nós temos um problema seriíssimo na região, se Vossa Excelência fizer um

levantamento por escola e verificar quem é que está realmente na disciplina que é habilitado - faça

esse levantamento -, vai ver que grande parte de nós professores estamos fora da nossa área de

habilitação.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professor, só para ajudá-lo, nós

temos mais ou menos 67% dos professores não concursados, contratados.

O SR. FRANCISCO CARLOS - E o que é pior, chega ao mês janeiro, ele não tem

salário. Pronto, aí quebra a espinha dorsal, em janeiro ele está desempregado.

É a motivação que vamos encontrar depois. Então, veja bem, a questão que nós

temos que ver é essa questão da atribuição, não dá para fazer atribuição da forma que nós vamos

fazendo, com contagem de ponto. Quantos dos nossos profissionais estão fora da área, e até sem

perfil, como a Márcia falou aqui: não tem perfil algum para trabalhar naquela área, mas a pontuação

dele o ajuda a chegar naquele ponto. Então, é questão de atribuição.

Outra coisa que nós precisamos fazer - aí, eu volto nessa questão dos interinos,

finalizando as minhas colocações -, nós precisamos ter uma valorização profissional, somos a

categoria em que todos os profissionais passam pelas nossas mãos, no entanto, não somos

valorizados, a começar do salário, o nosso salário é um dos mais baixos de todos os profissionais.

Olha na segurança, olha na saúde...

Nós temos um dos salários mais baixos e agora ainda inventaram... (PALMAS)...

inventaram um nome bonito para tirar o nosso ganho, que era a partir de 1º de maio, denominado

“reestruturação administrativa”. Olha que nome bonito! (RISOS)

Só para tirar de nós o reajuste que nós tínhamos a partir de 1º de maio, que não é

um ajuste, não é um acordo de governo, é uma lei, a Lei Complementar nº 510/13, que nós

celebramos com a Assembleia Legislativa, eu me lembro que nós tivemos a greve e na greve o

sindicato tinha um patamar que queria de reivindicação. O governo na época falou: “não, nós vamos

criar um GT e através desse GT nós vamos ver as contas do Governo e vamos dar o reajuste que

achamos que vai ser devido”.

Aí, vieram com o reajuste e o sindicato falou: “não, não pode ser o nosso, mas

também não pode ser o de vocês”. Foi um reajuste celebrado com a Assembleia Legislativa e agora o

nosso nobre Governador dá-se o direito de descumprir uma lei da própria Assembleia Legislativa,

tirando de nós o reajuste da recomposição, que nós programamos para dez anos.

Enfim, o ciclo, se analisarmos do ponto de vista teórico, eu acho que não tem coisa

melhor e, para saber disso, nós precisamos estudar, ir lá e ver o que é que o ciclo nos ajuda.

Agora, dizer que o problema está no ciclo, vai estar na série e vai estar em qualquer

lugar... Vai estar na educação, porque o problema nosso é como aquele que fala assim - até o

Secretário fala assim -, “está gastando com a educação”. Gente, educação não é gasto; educação é

investimento. (PALMAS)

Todas as vezes que nós pensarmos em educação como gasto, nós não vamos dar

passo nenhum para melhorar a qualidade da educação e melhorar a proficiência como quer o nosso

Governador. (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Francisco

Carlos, pelas suas considerações.

Agora, convido a Sra. Ivani Costa dos Santos, que é diretora do CEFAPRO de

Confresa. Temos mais dois inscritos, a Sra. Lene e também uma última inscrição e, posteriormente,

os componentes da mesa vão falar.

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A SRª IVANI COSTA DOS SANTOS - Bom dia a todas as pessoas presentes.

Para mim ainda é bom dia, porque eu não almocei. Se alguém aqui já almoçou, por favor, receba a

minha boa tarde.

Eu sou professora da rede pública estadual de ensino há 22 anos - não que eu seja

velha, é porque eu comecei muito jovem... (RISOS)

Eu também, como o Chico, fiz os meus rascunhos para que eu não venha a me

perder, até porque o cérebro, quando já são quase duas horas da tarde sem almoço, fica meio

confuso.

Primeiro, eu gostaria de agradecer e parabenizar a Assembleia Legislativa, na

pessoa do Deputado Wilson Santos, pela iniciativa em ouvir a sociedade de todo o Estado de Mato

Grosso. Eu acho que essa é a primeira consideração que nós devemos fazer, porque estamos com o

ciclo de formação humana funcionando - entre aspas - desde 2002, nas unidades escolares estaduais,

e em nenhum momento a Assembleia Legislativa chamou a comunidade, a sociedade deste Estado

para conversar a respeito.

E a Secretaria de Estado de Educação efetivou a CONEC - Comissão Nacional de

Educação do Campo para depois não haver ações posteriores, porque se há alguma ação posterior à

CONEC, eu as desconheço enquanto educadora.

Nesse sentido, eu gostaria de dizer que o ciclo é uma oportunidade de inclusão de

todos os sujeitos, diferente do seriado, que seleciona e exclui. É nesse sentido que eu compreendo o

ciclo de formação humana, tal e qual ele está proposto.

Os princípios pedagógicos e curriculares dão conta de promover uma educação de

qualidade, esses princípios do ciclo. Agora, eu desafio a todos aqui presentes a me mostrarem uma

escola no Estado de Mato Grosso, de fato, organizada em ciclo de formação humana, eu desafio

alguém a me mostrar essa escola, porque eu desconheço e se alguém souber também, fique à

vontade para dizer aos demais presentes, não só a mim, lá fora.

Continuando... E tudo isso não se deve à proposta - isso não tem nada a ver com a

proposta -, mas com a execução. E nem somente aos educadores, porque nós vemos muitas vezes os

políticos e tantos outros, e a sociedade também, às vezes, dizerem que os problemas são dos

educadores. Também os são, mas não somente deles, é preciso uma ação conjunta, conjunta.

Desde a comunidade escolar envolvendo pais, envolvendo toda a sociedade,

porque o artigo 205 da Constituição Federal diz o que para nós? Que a educação é um direito de

todos e dever de quem, gente? Do Estado e da família. E é exatamente ao contrário, lá aparece,

primeiramente, a família, depois é que vem o Estado.

E essa família, mesmo com o projeto FICAI - que sabemos que é um projeto bom -

, ainda não consegue chegar até a escola com a qualidade que deveria chegar.

Só que, além disso, nós sabemos que já temos escolas, e aí quero citar uma escola

lá do Município de Confresa, porque é de lá que eu venho, é de lá que eu posso falar, não posso falar

das experiências daqui de São Félix do Araguaia, porque não é daqui, e não é aqui que vivo, mas lá

em Confresa nós temos escola que atende apenas o ciclo, desde o primeiro até o terceiro ciclo, não

atende ensino médio, e que tem uma proposição interessantíssima que, inclusive, tem dado conta de

trazer os pais às escolas, que é o planejamento coletivo. É uma das ações que a escola faz, é claro

que deve haver tantas outras, mas uma das ações que a escola faz é o planejamento coletivo, em que

uma vez por mês convida os pais, os alunos e os profissionais, todos, para planejar as ações da

escola, e isso tem melhorado significativamente as ações da escola, inclusive a participação da

família na escola.

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Além disso, eu quero ainda dizer que falta do Estado uma série de questões que até

já foram ditas, mas como eu me inscrevi às 10h35min - a hora que cheguei aqui -, eu gostaria de

dizer que o Estado precisa disponibilizar para as unidades escolares uma estrutura física de

qualidade, porque nós temos escolas que só pela misericórdia de Deus, quando chove, molha muito

mais lá dentro do que lá fora.

Fora essa questão da chuva, da acessibilidade para os portadores de necessidades

especiais, entre outras questões, outra situação também é a questão dos sujeitos: os sujeitos que estão

propostos para existir na escola organizada por ciclo de formação, eles inexistem nas escolas e eles

são fundamentais, são importantes. E é por isso que eu disse: essa proposta, a escola dá conta de

fazer acontecer, mas ela tem que estar sendo executada.

A outra questão muito séria é a questão da formação: ele já veio sem a formação e

a formação que nós temos, hoje, ainda não está dando conta de chegar à prática da sala de aula.

Muitas vezes, você senta com o colega e ele sabe, às vezes, até discutir teoricamente sobre o ciclo,

mas a prática do que ele discute, nem sempre ele consegue fazer.

E penso que esse novo orientativo, esse novo PSE - Programa de Saúde na Escola

que vem e que traz a transposição didática, ele pode contribuir com isso, mas não é coisa para

acontecer amanhã, é algo que vai demandar ainda um tempo, um tempo mínimo.

Eu imagino que em cinco anos, porque é um aprender, é um aprender contínuo, é

um fazer e refazer, construir e reconstruir, ou seja, é um processo de aprendizagem.

Além disso, a questão da atribuição, porque você vê a atribuição por pontuação e aí

perde toda essência que o professor deveria acompanhar, porque ele já sabe quais são as dificuldades

de aprendizagem desse aluno, em que ele precisa trabalhar para que esse aluno possa evoluir e quais

são as necessidades formativas desse aluno. E aí vem um novo professor que, até se inteirar da

situação, já complicou a situação.

Outra questão, também, é a questão dos registros, esses registros engessados no

sistema SigEduca, pelo amor de Deus, é uma complicação! E quero dizer que o SigEduca é

interessante, talvez, como registro, para quem tem condições, tem internet de qualidade, tem energia

de qualidade, porque para nós lá em Confresa - se em São Félix do Araguaia for diferente, eu peço

que vocês me perdoem a negligência - tem momentos em que ficamos na frente do SigEduca e uma

bolinha girando, girando, girando, girando... (RISOS)

Além dessa dificuldade, a energia vai embora e nós perdemos muitos trabalhos que

foram feitos.

Quero colocar aqui também, para refletirmos, que não é só a concepção de ensino

que está por traz quando falamos de ciclo, mas é a concepção de sociedade, é a concepção de

sociedade que está em jogo. E aí quando falamos que não queremos o ciclo, então, nós queremos

uma sociedade excludente, é isso? É essa sociedade que nós pregamos? É isso? É bom que

comecemos a refletir sobre essas questões: que sociedade nós queremos construir?

Quando eu vejo alguns colegas na defesa do seriado, eu fico olhando e falo: meu

Deus, uma pessoa como o Maranhão, meu amigo de outras décadas, que eu sei que não é a favor de

uma sociedade excludente dizer isso, é complicado! Mas vejo também, quando dizem que os alunos

estão melhores, as salas estão mais lotadas, e eu fico pensando: onde? Talvez lá em Alto Boa Vista,

porque lá em Confresa não está assim. E eu me pergunto: se o nosso Brasil tem a maioria em série,

por que a nossa proficiência brasileira vai mal, já que o problema é o ciclo? (PALMAS)

Por que será? Se nós formos olhar no QEdu da nossa região - porque nós podemos

fazer isso - e verificarmos a proficiência nos nossos municípios, nós verificaremos que a rede

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municipal, infelizmente, ainda vai ter médias menores. E são dados, eu não inventei isso aqui,

enquanto pensava para falar, não. São dados que estão aí, para todos vermos. E aí, é o seriado que é

bom, não é?

Encerro as minhas colocações dizendo que o ciclo é ruim mesmo, porque tira os

atores sociais da escola, da sua zona de conforto. É preciso querer e perseguir a mudança e parar de

ficar como o filminho: quem mexeu no meu queijo? quem mexeu no meu queijo?

Muito obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, professora Ivani, de

Confresa, que é diretora também do CEFAPRO.

A nossa próxima inscrita é a Sra. Alene Rodrigues de Souza, Professora de

educação infantil da Creche Dona Elza, aqui de São Félix do Araguaia.

Eu só quero dizer o seguinte: já são 14h05min, daqui a 15 minutos completaremos

04 horas de Audiência Pública, que é justamente o tempo que nós prevemos em cada Audiência

Pública. Nós temos mais três inscritos: a Sra. Alene, a Sra. Maria Iraci e a Sra. Zulmara da plateia;

perfazendo um total de 12 da plateia, e temos mais cinco da mesa. Então, agora, eu gostaria que nós

limitássemos a três minutos; que a Sra. Alene, a Sra. Maria Iraci, a Sra. Zulmara e todos nós

limitássemos a três minutos.

Convido para fazer o uso da palavra, a Sra. Alene Rodrigues de Souza, Professora

de educação infantil da Creche Dona Elza, aqui de São Félix do Araguaia.

A SRª ALENE RODRIGUES DE SOUZA - Bom dia a todos!

Eu só quero pedir um favor ao Deputado, se possível, porque está aqui, ao meu

lado, a secretária das creches, para ela concluir a minha fala. (PAUSA) Obrigada!

Quando o Deputado fala para não repetirmos os assuntos, é difícil, porque a nossa

problemática é a mesma... Eu vou falar pela creche, a nossa maior problemática é questão de

infraestrutura.

Trabalhamos como um público alvo de 1 a 5 anos, são bebês praticamente, então

quando se fala que a prioridade são as crianças, eu questiono: que prioridade é essa? O que significa

prioridade? Até então, eu não sei que prioridade é essa, porque nós estamos, hoje, em um lugar

precário com nossas crianças, principalmente o berçário, de 1 a 2 anos e meio.

Já vai fazer dois anos - nós vamos fazer uma festa de aniversário de dois anos -

que essas crianças estão deslocadas. A creche foi esvaziada para ser reformada. Essa reforma teve

início em fevereiro, se eu não me engano, de 2014. Se eu não me engano é isso, não é? (PAUSA)

É em 2014!... E esses dias eu estive no gabinete e perguntei a ele: Prefeito, e a

creche? Ele me respondeu em alto e bom tom: “Não entregarei esse ano”. Aí eu pergunto: e no ano

que vem é ano político, e as nossas crianças? Nós trabalhamos em um espaço mínimo, temos que

colocar, nas salas, berços para as crianças de berçário; o porta-volumes para os pertences deles e que

espaço sobrará para essas crianças?

Quando chove, as nossas colegas que trabalham na nutrição têm que se deslocar da

cozinha, que é outro espaço, debaixo de chuva, para atender essas crianças nas salas, nas quais elas

comem no chão, porque não tem como colocar as mesas. Então, é preocupante essa situação!

E quando o Deputado colocou que o Sr. Alfredo tem dinheiro, então eu pensei...

Eu não ia falar, eu ia ficar calada, eu ia me acovardar, mas como tem dinheiro, e o problema que não

é problema, é solução; é problema para nós que não temos.

Eu pensei, eu vou pegar esse microfone e vou falar, porque eu resolvi dar a minha

cara à tapa. Então, há um questionamento lá: como fica essa reforma? É para quando? Como? E as

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nossas crianças, elas ficarão à mercê, debaixo de sol quente? Porque as crianças, para tomarem

banho, têm que andar um tanto de metros, para alcançar o banheiro, porque o espaço não foi

construído apropriadamente para atendê-las, são salas na igreja de catequese, para criança de 12

anos. É um espaço superinadequado e precário, e eu não posso fazer nada, quem pode fazer são os

gestores.

Então, nós pedimos para que Vossa Excelência e o representante do Secretário de

Estado de Educação estejam olhando, porque isso é, sim, educação. As creches no município ou até

mais, no Estado, não são reconhecidas como escola, mas no berçário a criança aprende o círculo, o

quadrado, como foi colocado, ele aprende a comer só, ele aprende a dar os seus primeiros passos,

isso é educação! Então, quero que todos reconheçam como educação, que é uma prioridade sim. Eu

reconheço como uma prioridade, porque é a base de tudo.

E quando o Estado fala em salários, eu penso, como o colega colocou, se o Estado

está reclamando que está ruim, imaginem o município. Nós estamos lutando para receber o que o

Estado ganha e o Estado lutando para melhorias, então, nós vemos essa questão.

Quando foi colocado que o Governador Pedro Taques é apaixonado pela educação,

falou certo, ele é superapaixonado, porque paixão é passageira, o amor sim, permanece. Então, essa

colocação está certinha, é uma grande paixão.

E quando se fala que o Governo não tem dinheiro, eu penso o seguinte: o Governo

tem dinheiro, não está tendo é administração para cuidar desse dinheiro! O município não tem

dinheiro; tem dinheiro, não tem é boa administração, porque se eu ganho salário mínimo e minha

colega também ganha salário mínimo, e ela consegue comprar uma moto e eu não, por quê? Porque

eu não soube administrar o meu dinheiro. Então, essa é a questão. (PALMAS)

Vamos olhar mais para as creches, vamos falar mais pelas creches, porque estamos

aqui para falar pelas creches. Nossas colegas, as técnicas, precisam de apoio para trabalhar,

precisamos de melhoria de trabalho, porque não adianta só nos cobrarem para trabalhar bem, e cadê

as melhorias de trabalho?

Não nos oferecem espaços, principalmente, a prioridade... As crianças não têm um

bom espaço, é calamidade pública sim! E eu vou passar a palavra para minha colega Roseny Maria

Moura, secretária das creches, que concluirá a minha fala e citará outros exemplos de administração

que está tendo.

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Só peço que o tempo seja respeitado,

porque nós só temos oito minutos e mais uns seis inscritos.

A SRª ROSENY MARIA MOURA - Bom dia a todos.

Eu vou me ater à minha fala. O meu nome é Roseny, sou pedagoga, especialista

em Educação Infantil e estou Secretária.

A questão é que um dos outros problemas que nós enfrentamos na Educação

Infantil aqui do município é o não reconhecimento pela comunidade, como um todo, do nosso papel

de educadores.

As creches, aqui, não são reconhecidas como escolas, e eu posso dizer isso, porque

neste ano, como secretária, eu pude presenciar mães indo solicitar transferência dos seus filhos para

o Estado, porque foi dito a elas que ali os alunos estavam repetindo, e só repetindo e repetindo anos.

Então, além de enfrentarmos toda essa questão que a colega colocou aqui, nós ainda enfrentamos

esse não reconhecimento da população, em relação a sermos educadores, nós somos educadores.

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Pág. 43 - Secretaria de Serviços Legislativos

Nós temos lá somente uma professora no nosso quadro que possui o magistério,

todas as outras têm curso superior. A maioria já tem pós-graduação e temos uma que acabou de

concluir o mestrado. Então, nós não podemos nos calar diante disso.

Respondendo ao que uma colega falou bem no início, que a criança muitas vezes

não entra no ensino fundamental, ela já vem da educação infantil sem saber nada, aí é outro

problema os pais não reconhecerem a educação infantil como escola, eles não mandam os alunos

para a escola.

Inclusive, este ano, eu tive que comunicar um pai, mostrar a ele a lei, dizer que seu

filho tinha que estar na escola, porque é obrigatória a educação a partir dos quatro anos de idade, é

lei e que se fosse feita uma denúncia, se chegássemos ao ponto de denunciá-lo, ele iria responder a

um processo.

Então, são todas essas questões que nós enfrentamos, enquanto educação infantil. E

nós temos que ser os melhores, porque nós somos a base. Agora, não dá para ser o melhor quando a

criança não vai para a escola, não dá para ser o melhor quando não somos reconhecidos como

educadores. Então, eu quero deixar essa fala para reflexão de todos. (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado!

Com a palavra, Maria Iraci Santana, Professora de História e assessora pedagógica

de São Félix do Araguaia.

A SRª MARIA IRACI SANTANA - Boa tarde, eu vou dizer boa tarde, porque já

são mais de 14 horas.

Como nós estamos com um tempo bem limitado, e já foi dito e redito alguns

assuntos aqui, eu não quero repetir nada, quer dizer, não tem como não repetir, mas eu vou apenas

deixar uma reflexão, porque no momento em que eu cheguei aqui, fiquei inquieta, ouvindo todos

falarem e resolvi fazer a minha inscrição por último. Todos aqui já falaram e eu concordo com

todos; quem é a favor do ciclo e quem não é. Na verdade, gente, não há ninguém que não seja a

favor do ciclo, nós somos a favor de alguma forma, da proposta que é bonita, mas ela não está

acontecendo, está acontecendo o quê? Uma anarquia!

E quando o Maranhão diz que os professores estão doentes, é essa a minha

reflexão: primeiramente, eu quero dizer que eu sou Maria Iraci, sou Professora de História, este ano

de 2015, estou fazendo 25 anos de sala de aula, ainda não comecei com o meu processo de

aposentadoria, porque já estou no momento, mas ainda não comecei, porque eu tenho readaptação e

estou esperando alguns trâmites legais ainda. Mas por que eu estou em adaptação na assessoria

pedagógica? Porque eu fiquei doente, porque eu me senti incapaz diante dessa coisa que ninguém

entende, e eu cheguei a Cuiabá num dos médicos mais renomados - quem me falou isso foi o perito

de Cuiabá, que o médico que eu fui é renomado no Estado de Mato Grosso e no Brasil, um

psiquiatra - e ele falou: Professora, o que está acontecendo, de 500 pacientes que eu tenho, 400 são

professores ou policiais, mas agora os professores estão batendo recorde, estão doentes, o que está

acontecendo? Eu também sou professor, e eu amava; eu sou hoje estou aposentado na educação e

estou exercendo só a função de médico; eu era professor da UFMT e vejo, hoje, os professores

chegarem curvados e incapazes diante de mim. Gente, vamos repensar tudo isso, onde vamos parar?

Onde a educação do Estado de Mato Grosso e do Brasil vai parar? Sei lá o que está acontecendo,

alguém tem que fazer alguma coisa.

Eu falei: Doutor, o que eu posso lhe falar é o seguinte: o senhor já viu que nas

histórias policiais tem sempre um assassino. E em quem todo mundo coloca a culpa? E ele disse:

“No mordomo”. Eu falei assim: pois é, hoje na educação nós educadores nos culpamos, porque hoje

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houve falas que deram para entender isso e muita gente foi embora por causa disso, porque a culpa é

de quem? É do professor que não está sabendo dar aula; é o professor que não consegue articular

esses alunos para motivá-los; é o professor que não está aplicando as informações. Não é isso,

gente?! Nós estamos perdidos, não sabemos mais o que fazer, precisamos de ajuda!

É só isso, muito obrigada! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Obrigado, Professora Maria Iraci.

Convido para fazer uso da palavra a nossa última inscrita da plateia, a Sra.

Zulmara Elias Quedi, do CEFAPRO de São Félix do Araguaia.

A SRª ZULMARA ELIAS QUEDI - Boa tarde a todos!

Sou professora formadora do CEFAPRO de São Félix do Araguaia e, ao contrário

das minhas colegas, eu sou novinha na educação e velha de idade.

Aproveitei a oportunidade que a UNEMAT abriu em Luciara, fiz a minha primeira

graduação e, no ano passado, terminei a segunda graduação, e é em cima dessa graduação que eu

vou falar. Nós não estamos preparados, Iraci; eu acho que nós temos que rever o currículo do ensino

superior, porque eu fiz duas graduações e não me sinto preparada para o ciclo! (PALMAS)

Eu defendo o ciclo, eu acho que é a melhor inclusão que o Estado já colocou, é

uma política pública que dá certo. No papel dá certo! Falta o que os outros colegas já mencionaram

aqui. Então, Deputado, eu quero dizer isso: nós temos que rever o currículo do ensino superior,

principalmente na nossa região, nós estamos falando é da nossa região.

Na nossa região, nós temos a universidade do Estado. Então, ela tem que trabalhar

de acordo com a política pública de educação do Estado. Se nós vamos trabalhar o ciclo de formação

humana, nós temos que estudar o ciclo de formação humana. E nessa segunda graduação, que

terminei no ano passado, não se mencionou ciclo de formação humana. Eu tenho colegas que

terminaram a segunda graduação comigo, e nós não estudamos ciclo de formação humana. Então,

temos que rever o currículo do ensino superior.

Quero parabenizar a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso; a

Professora Alvarina, que eu já conheço; o Professor Alfredo - eu sou do tempo do Professor Alfredo.

Quero dizer que eu sou da gestão única, do início da gestão única, nós não estamos

trabalhando numa unicidade com o município, pelo menos na nossa sede, nós não trabalhamos em

conjunto com o município, mesmo respeitando e cumprindo os acordos que o Estado pede para nós

cumprirmos com a Secretaria Municipal; nós trabalhamos com os Municípios de Alto Boa Vista,

Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, Luciara e, na nossa sede, nós

não trabalhamos com o município, nós não comungamos o mesmo trabalho, e acho que isso é

essencial.

Apelo à Sra. Terezinha para rever essa situação, a nossa diretora não está aqui e

você é a secretária. Então, eu apelo a você. Muito obrigada! Era só isso. (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora

Zulmara. Então, encerramos as falas da plenária.

Com a palavra, a Srª Terezinha Gomes Lima, Secretária Municipal de Educação de

São Felix do Araguaia. Em seguida, passaremos a palavra ao nosso Presidente da Câmara, Sr. Sílvio

Bento.

A SRª TEREZINHA GOMES DE LIMA - Boa tarde a todos.

Como o meu colega José Maranhão já falou de todos os problemas do município

de Alto Boa Vista, porque muitos são os nossos problemas em São Félix do Araguaia, e vou ficar

mais com a reflexão sobre a escola ciclada, sobre a questão do ciclo.

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Pág. 45 - Secretaria de Serviços Legislativos

Eu gostaria de fazer um resumo rápido da experiência do município de São Félix

do Araguaia e da experiência na escola do Estado, na qual sou Professora.

No ano de 1997, eu vou partir do ano de 1997, porque foi a partir desse ano que

começaram no município as primeiras discussões sobre o ciclo, quando a Secretária de Educação era

a Professora Lourdes Jorge, nós fizemos uma avaliação da Educação do município e constatamos o

número de evasão e reprovação muito alto no município. Então, era necessário fazer uma coisa

naquele momento, e nós, durante anos, até a LDB, todas as nossas discussões eram por uma nova

escola, por outra escola.

A questão da avaliação, qual de nós professores que nunca lemos aquele livro: “Na

Vida Dez, na Escola Zero”... Então, críticas em relação à avaliação e a notas nós tínhamos na ponta

da língua. Os nossos discursos eram lindos, em relação à avaliação, que era uma arma contra o aluno

e não a favor da educação. Todo esse discurso nós tínhamos na ponta da língua, era necessária uma

nova escola e nós começamos a buscar essa nova escola naquela época.

Trouxemos a assessoria de Belo Horizonte que estava concluindo o projeto da

Escola Plural, que era o ciclo em Belo Horizonte; trouxemos pessoas do Rio Grande do Sul com a

experiência da Escola Cidadã; também buscamos experiência da Escola Sarã, de Cuiabá. Nós

trouxemos todas essas experiências para nos dar base nas discussões na educação do município de

São Félix do Araguaia. Então, começamos tudo isso, e num período de quatro anos, depois de toda

essa discussão envolvendo a comunidade, foi um período que nós conseguimos envolver pais e toda

a comunidade.

Aqui tem professores, no caso o Professor Wilton e da Professora Carmem, que se

lembram da experiência que tivemos, na qual conseguíamos envolver a sociedade e a comunidade

naquela época. Mesmo assim, percebíamos que a coisa não andava, tinha alguma coisa que

emperrava essas discussões.

E o município de São Felix do Araguaia, juntamente com outros municípios na

região do Araguaia, que havia essa discussão naquela época, essa interação entre os municípios,

chegou à conclusão de que não adiantava nós nadarmos, nadarmos, porque nós não íamos conseguir

sair do lugar sem a formação dos professores, porque a maioria dos nossos professores só tinha o

ensino médio, e muitos nem ensino médio tinham, concluíram no Projeto Geração, no Projeto de

Formação, no Projeto Inajá, que tinha terminado anteriormente.

Então, havia necessidade de curso superior para os professores da escola do

campo, porque as parceladas não conseguiram absorver a todos, porque era um número determinado

para cada município. E tinha ainda um número muito grande de professores fora da universidade.

Foi quando nós conseguimos trazer, através da UNEMAT, em parceria com os treze municípios da

região do Araguaia, o curso de educação a distância, o curso de pedagogia em educação a distância,

que formou 600 professores naquele período. Então, as coisas começaram em 1997 e foram andando

até 2004.

O projeto citado pela professora... No início da Audiência Pública, ela falou da

questão do Projeto Tibysirá; então, durante oito anos nós fizemos essa discussão da construção de

um projeto de escola para o município, denominado Tibysirá, que significa aquele que não

envelhece, que precisa estar sempre se renovando.

O nome desse projeto era para fazer jus à prática, estamos constantemente nessa

renovação, nessa busca pelo novo. E durante oito anos nós conseguimos fazer esse trabalho,

publicamos um livro do relato dessa experiência, chamado “Tibysirá, o relato de uma experiência da

educação no Araguaia”, e foi interrompido no final de 2004.

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 46 - Secretaria de Serviços Legislativos

Nós não tínhamos conseguido fazer nem o PPP que estava nas discussões, nos

relatos, não conseguimos colocar no papel o projeto que deveria ter dado continuidade, e não foi.

Uma das coisas que achamos difícil é essa interrupção, e aqui eu não me isento dela também, cada

administração que entra, quer fazer da sua forma; com isso, nós prejudicamos muito a educação do

município. Então, houve essa interrupção durante todo esse tempo. Naquele momento, nós tínhamos

na assessoria constantemente cursos de capacitação, trabalhando com os professores, no sentido de

entender uma nova proposta de escola, de buscar o entendimento.

Com essa interrupção, o que é que nós temos hoje no Município? É ciclado no

papel, porque as escolas têm o PPP, tudo dizendo a teoria bonita do Tibysirá e na prática não é série,

não é ano e não é ciclo. Então, nós temos essa salada no município e não conseguimos ter uma

assessoria para dar continuidade a esse projeto.

Nós já tentamos trazer duas vezes a Professora Ana Maria Lopes, que foi a

mentora desse projeto no início; mas até hoje não conseguimos dar continuidade. Então, o ciclo no

município, na verdade, na prática não é um ciclo. Nós temos esse problema.

Hoje, fazendo a redação final do Plano Municipal de Educação, nós pegamos uma

tabela que tinha o número de alunos aprovados, reprovados e evadidos nos últimos quatro anos do

primeiro plano municipal, entre os anos de 2000 até 2003, e percebemos o alto número de evasão e

repetência. E aí nós falamos: “Poxa! Naquele momento em que era forte essa discussão, nós ainda

tínhamos esse número tão alto?” Mas, se você olhar os anos anteriores, a reprovação e a evasão eram

assustadoras. Não dá para acreditar que nós tínhamos um município com mil e poucos alunos, que

tinham 200 evadidos, 200 crianças que saíam da sala de aula, que deixavam a escola, e 100 que

reprovavam. Então, hoje, olhando os últimos quatro anos, ainda aparece, mas um número bem

menor. Isso se dá por causa do ciclo? Não! Talvez por causa de proficiência menor, uma menor

preparação melhor dos professores, uma série de fatores que contribuem para isso. Então, se

pegarmos dez anos atrás e pegarmos hoje, nós percebemos que numericamente há esse avanço.

Agora, falando da experiência com o ciclo do Estado: quando a Ana Cristina fica

ali, num nervo, nós sabemos muito bem o que é isso. Por quê? A proposta do ciclo do Estado é

muito bonita.

Um aluno do ENEM escreveu assim: “A educação ambiental é uma faca de três

gumes”. Então, se a faca tem três gumes, eu acho que o ciclo também é uma faca de três gumes,

porque temos por um lado a maravilha que é a proposta, que mesmo sendo de cima para baixo, veio

atender aos anseios da classe educadora. Durante muitos e muitos anos, nós cobramos isso, nós

cobramos uma mudança na avaliação e na proposta pedagógica.

Hoje, nós temos e o que está acontecendo? São as famílias que não conseguem

acompanhar? Nós estamos vivendo um momento de transição na sociedade, que não conseguimos

compreender as famílias, não conseguimos compreender os adolescentes? Somos nós que não

estamos preparados.

Aí, eu me lembro da experiência do município: por que deu tão certo quando

tínhamos a assessoria e cursos de capacitação? Então, talvez, lá no Estado esteja faltando isso, mas

também pode estar acontecendo outro fator, porque na escola não conseguimos dar aula.

O que a Ana Cristina coloca é a realidade, nós não conseguimos trabalhar nas

escolas estaduais. Eu falo da escola que eu trabalho, nós não conseguimos dar aula, é porque eu

quero continuar dando aquela aula do jeito que eu aprendi? Não sei o que está acontecendo! Alguma

coisa tem que ser feita na educação, tem que haver mudança. É acabar com o ciclo? É vir a prova?

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Pág. 47 - Secretaria de Serviços Legislativos

Eu acho que não é regredir, mas ver onde está o nó - vou repetir aqui a fala do meu prefeito: “o

gargalo da coisa e resolver”...

Deputado, eu não vou colocar todos os problemas que temos, porque acho que não

é a hora. (PALMAS) Obrigada!

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Sra. Terezinha, só quero lhe fazer

uma pergunta: por que você falou que é uma faca de três gumes?

A SRª TEREZINHA GOMES LIMA - Um aluno que realizou a prova do ENEM

afirmou na sua redação que: “a educação ambiental é uma faca de três gumes”. Então, se ela tem três

gumes, eu quero dizer que no ciclo também são três gumes. Por um lado, a proposta é muito boa;

por outro, pode ser nós, professores, que não estamos preparados; e por outro lado, pode ser as

famílias que não estão preparadas para esse novo modelo de escola. Então. estou pegando os três

gumes do ENEM... (RISOS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Qual é o quarto?

(NESTE MOMENTO, UM PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO

WILSON SANTOS, FORA DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - (RISOS) ...Eu acho que esse é o

principal.

Vamos ouvir o nosso Presidente da Câmara, Sr. Sílvio Bento Leal, que foi muito

cortês, muito gentil, desde o primeiro contato que fizemos com ele, via telefone, nos disponibilizou

toda a estrutura da câmara para que pudéssemos passar essas quase cinco horas aqui.

Muito obrigado, Sr. Sílvio!

O SR. SILVIO BENTO LEAL - Boa tarde para quem já almoçou e bom dia para a

maioria, que ainda não almoçou, como eu.

Eu quero ser bem breve, porque todos aqui já estão com fome, com certeza. Eu

quero dizer que nós, em São Felix do Araguaia, estamos de parabéns - e por que não a região? Vila

Rica, Querência, Alto Boa Vista - por receber a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso

hoje nesta Audiência Pública.

Nós temos a oportunidade de opinar sobre o ciclo de formação humana, o ensino

humano. Então nós devemos aproveitar, como foi muito proveitosa esta Audiência Pública com o

nosso Deputado Wilson Santos, com a nossa Secretária do Município.

Quero dizer do anseio de vocês, porque temos aqui educadores, secretários

municipais e estão muito bem representados na área da educação. Então, queremos agradecer a

presença de todos. Até a próxima oportunidade, muito obrigado! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Sílvio Bento

Leal, nosso Presidente da Câmara, por esta parceria.

Convido para fazer uso da palavra o Sr. Juracy Lima da Silva, presidente do

SINTEP do Município de São Felix do Araguaia.

O SR. JURACY LIMA DA SILVA - Boa tarde à mesa e à plateia! Gostaria de

cumprimentar a todos os companheiros presentes. Quero dizer que a discussão foi muito rica, as

colocações dos nossos companheiros e eu não vou repetir tudo de novo.

Gostaria só de pontuar algumas questões, que eu acho que são importantes e nós

trabalhamos com essa questão do sindicato. Então, para nós, até dezembro de 2014, ainda nos

orgulhávamos um pouquinho, dizíamos: “Nós somos um Estado do Brasil que estamos acima do

piso nacional”. Infelizmente, agora, tivemos um retrocesso nesse processo e nós pensávamos que

isso não ia acontecer, porque teve um acordo, uma lei, que muitos aqui já falaram a respeito.

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Pág. 48 - Secretaria de Serviços Legislativos

A qualidade na educação passa também pela valorização do profissional; então, se

não temos valorização, como é que vamos falar de qualidade?

O ciclo de formação humana que está proposto aí - eu acho que todos já falaram

isso -, qual é o entendimento? Eu acho que para entendermos uma coisa, nós temos que estudá-la e

essa falta de leitura é que, às vezes, nos faz não entender. Então, nós não buscamos essas fontes.

E aí, Deputado, quando se fala em crise, também no Estado de Mato Grosso, eu

me pergunto: como crise, se o Estado de Mato Grosso é um dos mais ricos do Brasil? Quando se fala

que ele bate todos os recordes, recorde em produção agrícola, recorde em produção de carne,

entendeu? Então, eu acho que um dos problemas principais é a questão da renúncia fiscal.

Eu acho que tem que parar com isso, quer dizer, a renúncia fiscal, o Estado deixa

de arrecadar, e é aí que está a crise, não é? Então, nós temos que rever essa posição.

A outra coisa que gostaria de perguntar ao Sr. Alfredo é com relação ao programa

que existia na SEDUC, chamado Programa Qualidade de Vida, que nunca chegou aqui em São Félix

do Araguaia. Parece que ele acabou agora, e já tinha muito tempo que ouvíamos falar de sua

existência em Cuiabá, Barra do Garças, esses locais, mas aqui ele nunca chegou. Então, seria um

programa que deveria atender ao profissional que está com esses problemas de saúde, e isso seria

necessário.

E o que aconteceu? Parece que não vai acontecer mais, eu fiquei sabendo que em

Barra do Garças cortaram esse programa. Era basicamente essa questão que eu tinha para colocar.

(PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado ao presidente do

SINTEP. E o SINTEP tem comparecido a todas as Audiências Públicas, tem trazido suas

preocupações, suas angústias, entregue documentos, tem sido uma parceira nessas Audiências

Públicas nossas.

O próximo inscrito é o Vereador Janovan Rios de Sousa, presidente da Câmara

Municipal de Vila Rica, a 350 quilômetros desta cidade.

Por favor, Vereador!

O SR. JANOVAN RIOS DE SOUSA - Boa tarde a todos e todas!

Cumprimento o Deputado Wilson Santos; a Sra.Terezinha Gomes, Secretária

Municipal de Educação; o Vereador Sílvio, e em seu nome cumprimento todas as pessoas de São

Félix do Araguaia, amigo de juventude de Barra do Garças, parabéns pela Presidência da Câmara,

pela sua atuação nesse município, no Poder Legislativo; o Sr. Alfredo, Assessor Técnico do

Secretário, representando o Secretário de Educação do Estado; a Professora Alvarina Fátima dos

Santos, palestrante; a Sra. Fátima Beatriz, Secretária Municipal de Educação; a amiga Guiomar,

Secretária de Educação do Município de Vila Rica, e em seu nome cumprimento a todos do setor da

educação aqui presentes; a Sra. Sandra Gama Carvalho, Secretária de Educação de Luciara, e em seu

nome cumprimento - que é o meu berço natal - todos os meus conterrâneos. É muito bom revê-los

aqui; o Sr. Juracy Lima da Silva, presidente do SINTEP de São Félix do Araguaia; o Diácono José

Raimundo da Silva.

Um cumprimento especial à Zulmara, minha amiga - um beijão, Zulmara, é bom

revê-la aqui.

Deputado, eu não vou parabenizá-lo, porque muitas pessoas já o parabenizaram

aqui, mas quero agradecer-lhe pela brilhante atuação em um tema que todos nós gostamos, que é a

educação. A região do Araguaia agradece pela sua atuação em relação a esse tema tão importante,

que é a educação e, ao mesmo tempo, tão polêmico, que é a modalidade de ensino em ciclo.

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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 49 - Secretaria de Serviços Legislativos

Dizer a vocês que após ouvir várias pessoas aqui, nós vimos que é uma

modalidade de ensino que tem, eu diria, as suas falhas, e não as suas indagações, como a palestrante

falou aqui. Eu diria a suas falhas, nas quais percebemos uma grande indignação da diretora Ana

Cristina em relação a essa modalidade de ciclo, porque ela está vivendo e sentindo na pele esse

modelo de educação, já ouvido e falado por muitos aqui, que parece ser uma modalidade de ensino

falida. Talvez eu esteja sendo muito duro, mas pela fala de todos, nós comprovamos de perto a

indignação e a insatisfação de muitos.

Dizer também à Srª Alene, que fez uma cobrança muito forte ao Governador Pedro

Taques, Deputado, vamos ter mais um pouco de paciência, só tem cinco meses de Governo. E eu

falo isso porque, como um homem público, Deputado, nós sabemos que as coisas não acontecem do

dia para a noite. Aqui ouvimos a fala do Sr. Alfredo Ojima, que nos traz uma grande esperança, uma

grande expectativa, a partir do ano de 2016, que falou em seu pronunciamento que nós precisamos,

pelo menos, deste ano de 2015 para organizarmos a casa.

Nós que estamos e militamos na vida pública sabemos como este Estado foi

passado ao Governador Pedro Taques, com quem nós tivemos uma reunião em meados de janeiro,

na qual esteve nos falando que levaram até o cofre do Estado. Então, há muitas situações que

precisam ser organizadas; mas de uma forma dinâmica, de uma forma mais consciente.

E percebo, Sr. Alfredo Ojima, que o senhor leva daqui, na bagagem, uma série de

reclamações deste município e de municípios circunvizinhos, a exemplo de Vila Rica, Querência,

São Félix do Araguaia e do meu berço natal, que é Luciara.

Nós vamos dar esse voto de confiança ao senhor, ao Governador Pedro Taques, ao

Deputado Wilson Santos, a quem nós estamos parabenizando e agradecendo a sua atuação nesse

programa, nesse tema tão bonito e tão importante, que é a educação.

Se o Brasil investisse na sua educação, nós teríamos hoje um país, Deputado,

diferenciado de todos os outros, porque potencial e recurso para isso nós temos. Mas sabemos que

tem suas falhas, principalmente no setor político.

E dizer a Vossa Excelência que acredito no Governo Pedro Taques, eu não o

apoiei, eu estava em outro grupo político, mas acredito e vamos dar, sim, esse crédito ao Governador

Pedro Taques e a todas as suas Secretarias, a exemplo da Secretaria de Educação, para que em 2016

possamos fazer outra audiência pública, Deputado, falando dos benefícios recebidos em São Felix

do Araguaia, Vila Rica, Confreza, Luciara e todos os benefícios recebidos na área da educação.

No mais, um forte abraço a todos, fiquem com Deus! Obrigado pela oportunidade

(PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós é que agradecemos ao Vereador

Janovan Rios, que se deslocou de Vila Rica, que é presidente da Câmara Municipal e que assistiu a

essa Audiência Pública inteirinha, quatro horas e meia de audiência. E nós ainda temos dois

oradores, que é o nosso Diácono, o Sr. José Raimundo da Silva, e depois o Sr. Alfredo, que fará as

considerações finais.

Consulto a Professora Alvarina de Fátima se ainda gostaria de fazer alguma

observação... (PAUSA)

Então, vamos lá! Com a palavra, o Diácono José Raimundo da Silva.

O SR. JOSÉ RAIMUNDO DA SIVA - Vocês me permitem falar em pé? Me deem

licença, que eu funciono mais falando em pé.

Eu confesso Deputado, Sr. Alfredo - nós já nos conhecemos há algum tempo,

desde a assessoria pedagógica -, que saio daqui preocupado, mas alegre por outro lado, porque como

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Vossa Excelência disse no início, nós estamos numa reunião político-pedagógica muito importante,

mas, por um lado, nós temos equívocos nas nossas cabeças, acho que estamos confundindo muito as

coisas... Belas falas, todos aqui falaram bem, eu vejo que no geral aprova-se a escola ciclada.

Vejam bem, eu escrevi alguma coisa para não me perder, mas não vou delongar-

me: não é o que está sendo, mas o que deveria ter sido, com base na experiência do Projeto Terra. Eu

convido para, apaixonadamente, implantarmos a escola ciclada, de verdade!

Nós tivemos, Deputado - o Sr. Alfredo é conhecedor disso -, 22 escolas neste

Estado de Mato Grosso no Projeto Terra, em que verdadeiramente, Professora Ivani, acontecia

escola ciclada. Carmem, você se lembra de Luciara? De verdade! De verdade!

Nós tínhamos isso, a ponto de quê? Vejam bem, avaliações semanais estão

registradas; atividades com professores e alunos; a organização do tempo escolar de acordo com as

atividades a serem executadas, e isso ocorreu na prática.

Agora, vou falar de algo que entrarei na fala do Sr. Alfredo: a isonomia salarial.

Sabem o que é isso? Nós tínhamos 40 horas, 20 horas em sala e 20 horas de hora-atividade coletiva.

Hora-atividade coletiva! E desafio, também, a provar que nós, professores... Nós trabalhamos mais

de 59 horas semanais, levando em conta todos os nossos registros.

E quando nos colocam a camisa de força para sermos obrigados dentro de uma

escola desestruturada, sem condições de trabalho, só para dizer que estamos de corpo presente

fazendo hora-atividade, é um absurdo! É um absurdo! É um absurdo!

Eu falo aqui como Diácono da Prelazia de São Félix do Araguaia, diácono

permanente, casado, e falo como Professor de Filosofia, História e Sociologia.

Deputado, neste Araguaia, neste chão em que estamos pisando, em 1970 foi

construída a primeira escola, o Ginásio Estadual do Araguaia, em parceria com o Estado, a Prelazia

de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, que deu origem ao Inajá I, com um

direcionamento certo à UNEMAT.

Já se fazia educação de qualidade! Já se fazia educação que, depois, Darcy Ribeiro,

aqui no artigo 24, alínea c, da Lei 9.394/1996 vai dizer que há necessidade de respeitar o tempo do

aluno no aprendizado, porque é diferente o aprendizado de cada pessoa.

Vygotsky fez Medicina, passou pela Medicina, foi formado em Direito, é Filósofo,

Psicólogo, formado em Literatura e História, e como Médico ele percebeu essa questão humana.

Então, esse tempo é fundamental.

Agora, quando alguém diz que o aluno é acelerado, que ele sai de uma turma, vai

para outra e não leva a nada; desculpem-me, ele leva uma bagagem que a escola não ensinou; que é a

sua vida, que é o conteúdo da vida, e aqui, no artigo 24, inciso II, alínea c, da Lei 9.394/1996 diz

assim: “independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que

defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou

etapa adequada...”, de acordo com a sua idade. Isso não é pecado mortal, isso não tem nada de ruim.

Agora, a escola deixa de fazer a sua avaliação, isso é verdade. (PALMAS)

Se nós não fizéssemos a avaliação, nós fizemos a avaliação em Luciara, eu era

assessor pedagógico à época... A escola tinha sido queimada, não tinha documento, nós fizemos uma

prova, fomos ao Conselho e regulamentamos isso, e essa pessoa passou por uma banca, ele leu um

livro, ele conseguiu relatar num livro, porque no final, companheiros e companheiras, a escola é ler,

escrever e interpretar. É ou não é? É isso!

Seja na escola seriada, seja na escola ciclada, e isso é a flexibilização do tempo, a

flexibilização do currículo. É um absurdo dizer que hoje não é contado como dia letivo, isso é

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brincadeira, isso é legalismo que não vai levar a coisa alguma. Professores foram embora? Foram!

Mas informaremos os alunos? Informaremos. Agora, a nossa âncora é a transposição didática.

Grande novidade! Em 1985 já se falava disso. Prestem atenção! Nós já fazíamos isso direto. Agora,

o complexo temático... Paulo Freire já falava de tema gerador. Escuta, é o coletivo! Pessoal, é o

coletivo!

Então, é o seguinte, essa flexibilização de currículo é muita coisa, eu estou

juntando, ela juntava os alunos, todos juntos e misturados. Nós conseguíamos botar o aluno ali, ele

dentro de suas dificuldades, dentro de suas experiências de vida, se fazia escola de verdade.

Quero chamar atenção às estruturas: é uma calamidade, sim, a estrutura. Estamos há

quase dois anos, Deputado, lá na APAE, Vossa Excelência e o Sr. Alfredo precisam ir lá. Precisam ir

lá, porque Vossas Excelências vão chorar. A nossa escola seria contemplada por uma reforma e

vieram nos despejar, era dezembro, eu estava na porta da Escola Tancredo Neves quando encostou

um caminhão e nos disseram: “tem que desocupar a escola agora”. Eu falei: gente, isso não é

possível, não é despejo. “Tem que ser, porque as telhas têm que ser colocadas na escola”. O que é

isso! Aí, o diretor foi esperto, nesse sentido, porque nós tínhamos que ficar no local, ficou precário,

com PVC dividindo, mas era o lugar onde nós teríamos mais tempo e nós estamos até hoje,

Deputado, e a coisa enrolou por causa da questão de ligar a luz, pelo projeto da CEMAT.

A questão da SEDUC, como diz a Ana Cristina, um imbróglio danado, se a escola

tem alunos indígenas, logo a Constituição garante como tal. Por que isso não acontece? Você

entende? Aí, para mim, é brincar com educação.

Eu entro na fala do Sr. Alfredo, querido Alfredo, você sabe das nossas discussões,

das coisas quando era assessor. Mas, veja bem, o Estado continua economicista, meu irmão. O Sr.

Francisco está de parabéns quando ele coloca que a educação é investimento, não é gasto e não é

despesa. O que é isso? O que é isso? Eu investi nos meus filhos, entendeu? Eu não ajuntei gado, eu

não comprei carro novo. E eles saíram de Luciara, Deputado, com 17 anos, passaram no ENEM.

Hoje, eu tenho uma arquiteta, vai se formar em teatro agora em julho - eu vou para

a formatura -, tenho uma cientista na computação e outro que está se formando, de Luciara para a

universidade.

Agora, se você vem me dizer que a educação não foi investida 263% nos últimos

anos, eu desafio o Secretário de Educação a consultar o Google, o pai, o oráculo, e ver o que

aconteceu. Nós temos, hoje, em nível internacional, filho de lavadeira em universidades sem

fronteiras, o que é isso?

Outro dia vi um depoimento de uma senhora dizendo assim: “Quando eu falava

que o meu filho ia se formar em medicina, riam de mim, e hoje isso é possível”.

Quando você diz que na universidade só tem filho de rico, ela tinha, porque a cota

dos afrodescendentes indígenas conseguiu, hoje, ser aceita no Supremo Tribunal Federal, doa a

quem doer, porque não abaixou o nível e a qualidade da escola; pelo contrário, o nível foi elevado.

E a escola ciclada é o loco, sim, da formação e a Professora Alvarina foi muito

legal quando disse assim: “ora, é um projeto da sociedade, então, enquanto a estrutura não vem, as

aulas de campo acontecem, um planejamento coletivo; o tempo do professor, o tempo da sala de aula

e o tempo do planejamento, meus irmãos, vão fazer com que o projeto seja defendido na escola.

Aí, quando é para fugir disso, não trabalhar em área, o professor diz: “nós vamos

trabalhar para o projeto”... O projeto fica sendo um projeto dele. Meu Jesus, eu não acredito, eu

acredito no projeto da escola e acredito também no seguinte: o professor no ciclo, que não foi

implantado, ele morreu no Projeto Terra, ele morreu, Sr. Alfredo, nessa passagem de Governo para

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outro, quando o Secretário Maldonado dizia que teríamos que criar um Estado de Educação, em que

a questão política, na perspectiva da politicagem não interferisse. Aqui, foi dito isso pela Terezinha,

ela colocou muito bem, na questão do município.

Quando entra um Governo e desconstrói o que foi feito sem avaliar... Nós temos

que levar em conta esse processo. Então, eu acho que é possível, sim, essa escola ciclada. Ela tem

que ser implantada, só que nós temos que investir na educação.

Se o Governador Pedro Taques quer verdadeiramente um Estado desenvolvido,

tem que investir na educação, sim. A renúncia fiscal é algo real, os ricos não pagam impostos, nesses

dias descobriu-se R$ 5.000.000.000,00 de sonegação da elite da casa grande, no Brasil. A escola

pública é pensada como a escola do povo da senzala, essa é a verdade! E essa história de dizer que

vai para a escola particular e que lá e tal... Prestem atenção! Nós temos a faca e o queijo na mão, é

essa a questão. Agora, como dizia Adélia Prado: eu tenho que ter é a fome, não adianta eu ter a faca

e o queijo e não ter a fome.

Eu quero dizer que a dificuldade que está aqui na escola tem que compor com

parceiros: Conselho Tutelar, Conselho da Criança e Promotoria. Temos que compor, levando atores

da escola; seja seriado ou não, e essa questão de dizer: “ah, trabalhou a realidade e não...” Senhores,

o aluno tem que aprender, seja na escola seriada ou não. Por quê? Porque a realidade... Ele vai

buscar o conteúdo, é uma realidade. Ele vai sair do conteúdo e vai buscar na realidade da vida dele,

o que ele quer aprender, aprender e aprender.

Por último, eu vou dizer uma frase muito interessante, que diz assim: “o que não se

faz sentir, não se entende; e o que não se entende, não se interessa”. O que não faz eu sentir, não

sinto; eu tenho que sentir para entender; e se eu não entendo, não sinto.

Teria que ser feita a seguinte pergunta para aquele aluno que estava na quadra e

disse que seria aprovado: “por que você não está interessado na aula? Por quê?” Eu acho que essa

pergunta é que tem que ser feita a esse aluno, por quê? Porque ele tem que sentir, todos nós

aprendemos quando passamos pelo sentimento. E quando eu vou racionalizar o sentimento, ele já

não é mais, ele vira razão.

Agora, eu quero a rosa e rejeito o botão? Não! O botão é antes da rosa, a rosa é

consequência e essa escola é coletiva! Se não for coletiva, Márcia, não funciona. Você entende? Não

funciona! E o coletivo é investimento.

Professor interino é escravo do Estado, interessa ao Estado, sim, porque, senão,

67% dos professores não continuariam, e estão aí, sem concurso.

Obrigado! (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado ao colega Professor

e Diácono da Igreja Católica José Raimundo da Silva.

Convido para fazer uso da palavra o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, que falará em

nome da SEDUC.

O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Quero pontuar algumas questões que foram

colocadas aqui. A primeira questão é a respeito do transporte escolar: o Secretário de Alto Boa Vista

colocou essa questão de transporte escolar, nós estamos participando de uma Comissão organizada

entre a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), a UNDIME e a SEDUC - inclusive,

Deputado, o pessoal pediu para que a Comissão de Educação da Câmara estivesse participando

também. Essa Comissão tem como objetivo fazer uma discussão não só para debater o custo do

quilometro rodado, mas fazer uma radiografia, para estabelecermos uma política de transporte

escolar para o Estado de Mato Grosso.

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,

REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 53 - Secretaria de Serviços Legislativos

Essas situações que foram colocadas tanto pelo Secretário quanto pela Secretária,

que já havia falado que tem muitas dificuldades, é uma realidade muito forte. Tem algumas

situações que nós não conseguimos resolver apenas com uma articulação entre Estado e Município.

Por quê? O Deputado Wilson Santos sabe muito bem, porque ele foi Deputado Federal, e 60% dos

recursos estão ficando com a União - inclusive, esta semana está havendo uma marcha dos prefeitos

lá -, 25% ficam com os Estados e 15% ficam com os Municípios. Então, essa equação, se não

tivermos um novo pacto federativo, uma discussão sobre reforma tributária, nós nunca vamos

conseguir melhorar a questão do financiamento.

Inclusive, Professora, a senhora que falou em relação à creche, a educação infantil

na legislação é responsabilidade única do município, o ensino fundamental fica entre Estado e

Município e o ensino médio é responsabilidade do Estado.

Então, não tem como fazer qualquer tipo de financiamento do Estado para a

educação infantil. Vai ter que fazer uma articulação via PAR, com o Governo Federal, para que

possa inserir lá a construção de novas unidades, equipamentos, enfim, toda a parte de financiamento

da educação. Em relação ao transporte, nós estamos assim. Inclusive, nós já trouxemos um professor

da Universidade Federal de Minas Gerais que implantou um Sistema de Transporte Escolar, isso já

com georreferenciamento.

Minas Gerais é o Estado que tem a área maior do Brasil. Eles implantaram esse

sistema para fazer o monitoramento, para calcular o custo aluno, o custo de transporte por linha.

Então, nós estamos numa etapa que vamos ampliar essa discussão, Srs. Secretários, para que

possamos trazer para os municípios também.

Outro ponto: foi colocada também a questão da construção de unidades escolares,

uma coisa que emperra a construção de unidades escolares - inclusive, nós temos até recurso que

chegou para nós - é a questão de regularização fundiária.

Vários municípios têm uma dificuldade para que haja documentação, regularização

fundiária. Se não tiver a documentação da área, nós não conseguimos inserir para construção de

novas unidades. Então, esse é um problema que desta região, vários municípios estão nessa situação.

Alto Boa Vista, eu tenho certeza de que deve estar nessa situação, que dificulta a construção de

novas unidades escolares.

Em relação à alimentação escolar, o Governador Pedro Taques já constituiu um

grupo de trabalho envolvendo a Secretaria de Agricultura Familiar, a SEDUC, a SEFAZ, a

Secretaria de Desenvolvimento Regional e vários Secretários, para que possamos otimizar a

captação desse recurso para a agricultura familiar. Então, está sendo feito todo um trabalho

articulado entre as Secretarias, para que esses recursos que estão chegando às escolas possam ser

utilizados com a agricultura familiar.

Essa questão que vocês colocaram aqui, em relação ao selo, a Vigilância Sanitária e

a Secretaria de Fazenda vão fazer uma articulação para que os municípios e os produtores possam

vender para as nossas unidades escolares, através da alimentação escolar.

Em relação à questão que vocês colocaram - uma coisa muito importante -, eu volto

a destacar que se nós não tivermos uma discussão sobre o novo pacto federativo e a reforma

tributária...

Nós vamos estabelecer, juntamente com vocês, com os municípios e com os

Deputados, o Plano Nacional de Educação, que estabelece que nos próximos dois anos, depois da

promulgação do Plano Nacional, o Governo tem dois anos para estabelecer o custo aluno-qualidade.

Esse custo aluno-qualidade vai servir de parâmetro para todo o Brasil. Então, não adianta...

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Pág. 54 - Secretaria de Serviços Legislativos

Por exemplo, a colocação do Secretário de Alto Boa Vista, o Estado realmente tem

um recurso muito significativo do FUNDEB, só que todo recurso do FUNDEB está destinado para

folha de pagamento, não tem um recurso que vá sobrar para investimento. Então, às vezes, a

quantidade de recursos não significa que tem disponibilidade.

E outra coisa, o recurso é um valor muito grande, é como se estivéssemos em

nossa casa. Se nós temos uma receita, digamos assim, de R$ 3.000,00, nós não vamos poder fazer

despesas de R$ 4.000,00, vai dar problema, e no Estado é a mesma situação.

O Governador Pedro Taques é um governo responsável para que não ocorra esse

tipo de problema. Estamos fazendo todo trabalho... Como foi colocada a falta de gestão, a falta de

gestão significa que não podemos ser irresponsáveis para que futuramente tenhamos mais problemas

ainda, nós temos que evitar, temos que planejar de tal maneira que nós evitemos problemas para que

possamos ter, lá na frente, mais resultados.

Em relação à questão de professor interino: a Secretaria de Educação juntamente

com a Secretaria de Gestão já estão trabalhando no sentido de fazer o concurso público.

Em relação a quantitativo, Deputado - está sendo discutido para ser feito este ano...

Tem 67... Não chega a tudo isso, o que existe na verdade é o seguinte: os nossos professores são

contratados por hora-aula. Então, nós temos... Vossa Excelência sabe muito bem que tem professor

que tem contrato de 10 horas, por isso essa quantidade, às vezes, que parece que tem muita gente de

contrato. Mas se analisarmos em termos de carga horária completa, nós não temos esse montante,

chega a aproximadamente 49 a 50%.

Outra questão é em relação ao programa de qualidade de vida, SINTEP: nós

estamos reestruturando o programa de qualidade de vida. O que estava acontecendo com o programa

qualidade de vida? Alguns municípios, principalmente os grandes centros, tinham um trabalho que

atendia só aquele pessoal que morava naquelas cidades, e a ideia nossa, a proposta nossa é que

possamos expandir para todos os municípios. Agora, essa formatação está sendo feita, discutida,

para que todos possam usufruir, não apenas aquelas pessoas que moram nos grandes centros. Essa é

a discussão que estamos fazendo lá.

Deputado, eu só quero agradecer, acredito que teremos que discutir bastante ainda

essa questão da organização das escolas em ciclos. A comissão está trabalhando toda semana, eles

têm uma reunião agendada e vão apresentar um plano de trabalho que vai chegar para os municípios

também. E a UNDIME também se faz presente nessa comissão. Vai ser fundamental esse debate,

esse encaminhamento, para que possamos trabalhar articuladamente com os municípios e com as

escolas.

E uma coisa muito importante que foi colocada em relação ao plano municipal de

educação, será que muitas questões que foram colocadas por alguns secretários foram contempladas

no Plano Municipal de Educação? Por exemplo, vou dar o exemplo do Secretário de Alto Boa Vista,

ele está aí? (PAUSA)

O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Já saiu. A quantidade de alunos que tem em

Alto Boa Vista - se formos olhar pelos números - parece que dá para atender numa única escola. Mas

o que acontece? Fica essa divisão de escola municipal e escola estadual e não dá conta de pagar,

porque não tem o recurso do FUNDEB, porque não tem a quantidade de alunos suficientes. Será que

não era o caso de colocar no Plano Municipal de Educação, de fazer uma articulação, para nós

trabalharmos em gestão única? Será que foi discutido isso?

Outra questão que eu acho fundamental, e que o professor colocou ali, é referente à

avaliação. Enquanto estivemos na Prefeitura de Cuiabá, na época do Prefeito Wilson Santos, foi

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Pág. 55 - Secretaria de Serviços Legislativos

assinado um convênio com a UNESCO, sobre a implantação de Programa de Qualificação

Institucional, esse programa foi feito em 2010 e agora foi finalizado.

Qual o objetivo desse programa? É trabalhar com avaliação institucional, vai

avaliar o aluno, o professor, o servidor, o gestor, enfim, todos os atores que fazem parte da educação

são avaliados.

E qual é a finalidade disso? É bem naquele caminho que Vossa Excelência está

colocando, é para saber por que está acontecendo a dificuldade de aprendizagem em tal lugar. É

muito mais no sentido de aperfeiçoar, para que possamos resolver esses problemas, do que

simplesmente fazer uma avaliação, é sim ou não. Mas, pelo contrário, é um processo de construção

para melhoria e isso tem funcionado, tanto é que já virou um sistema, implantaram um sistema de

avaliação, hoje todo mundo se avalia.

E o que acontece com esse processo de avaliação na escola? Tem lá um corpo de

professores, e o gestor da escola dá uma avaliação muito positiva, em virtude de uma amizade e tudo

mais, e na hora de ver os resultados, aquela informação que foi testada não casa com os resultados

que estão aparecendo. Então, é fundamental nós termos a avaliação.

E qual é o fundamento principal desse programa institucional que foi feito em

Cuiabá? Trabalhou basicamente um projeto político pedagógico, cada unidade escolar tem que ter

seu projeto político pedagógico, mas é o pedagógico, porque muitas vezes, o que observamos no

Estado, é o PPP que está focado só na questão do financiamento, sem ter uma articulação com o

pedagógico. Então, professora, a senhora estava colocando uma situação em que a escola tem uma

dificuldade, mas o que essa escola realmente colocou no projeto político pedagógico?

Será que estão contempladas todas as dificuldades? Toda a radiografia da escola?

O que nós queremos? Que escola nós temos? Que escola nós queremos? O que está faltando aqui?

Será que tudo isso está contemplado? Então, esse instrumento de programa de avaliação está sendo

muito importante, eu tenho certeza, Prefeito, de que esse programa que foi implantado lá, vai dar

retorno nas próprias avaliações institucionais.

E uma coisa importante, a avaliação não pode ser apenas uma avaliação dos órgãos

federais, nós estamos estudando uma avaliação no sentido de que não seja feita só uma avaliação,

esperando que a cada dois anos tenha avaliação do Governo Federal, e instituirmos uma avaliação

permanente para que possamos acompanhar, monitorar, ajudar as escolas e os professores para

melhorar a qualidade da educação.

Eu agradeço muito a participação, nós estamos à disposição lá na Secretaria de

Estado de Educação e gostaríamos de colocar à disposição também, Secretários... Nós criamos uma

unidade de articulação com os municípios, com as Secretarias Municipais de Educação, que trabalha

basicamente essa articulação dos planos municipais, do plano de desenvolvimento institucional, que

é um instrumento de planejamento do Tribunal de Contas e com a questão da organização, para que

possamos constituir um regime de colaboração, para buscarmos o Sistema único.

Muito obrigado e boa tarde a todos. (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Alfredo.

Com a palavra, para suas considerações finais, a Professora Alvarina de Fátima

dos Santos.

A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - Eu quero abordar um ponto

que a Professora Carmem trouxe na discussão e não falamos sobre isso. Ela colocou que os alunos

de quatro, cinco, seis e sete anos enturmados juntos, no multiciclo e no multissérie.

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Pág. 56 - Secretaria de Serviços Legislativos

Então, quero me referir à lei e à resolução da educação infantil, que dispõem que

em hipótese nenhuma nós enturmamos crianças da educação infantil com as crianças do ensino

fundamental. Isso eu não poderia deixar de falar, para vocês se aterem ao que tem na legislação

sobre isso.

As diretrizes curriculares para a Educação Infantil, as orientações curriculares para

a educação infantil precisam ter esse olhar atento, porque é uma concepção que vai no viés da

formação humana, tanto na educação infantil como no ensino fundamental, porém tem diferenças

que precisam ser respeitadas no desenvolvimento da criança. Então, eu não poderia deixar de falar

sobre isso.

E a preocupação que ela trouxe em relação a essa multisseriação: você tem

proximidade de idade na educação infantil, quatro e cinco anos, que você pode ter flexibilidade no

currículo, no seu plano de aula, na sua metodologia, assim como você também tem flexibilidade na

proximidade de idade de seis, sete e oito anos, que é dentro de um ciclo.

Agora, o cuidado que nós temos que ter quando nós vamos multifasear de um ciclo

para outro, assim como a lei já traz que em hipótese nenhuma nós podemos enturmar alunos da

educação infantil com alunos do ensino fundamental.

Quero agradecer pela oportunidade de me fazer presente nesta Audiência Pública,

algumas pessoas que eu conheço já pegaram o meu endereço de e-mail, se quiserem conversar sobre

a organização por ciclo, sobre a educação infantil e o ensino fundamental, que é:

[email protected].

Muito obrigada. (PALMAS)

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado à querida amiga

Professora Alvarina, é a segunda palestra que ela nos proporciona.

E atendendo à solicitação da Professora Terezinha, nós vamos conceder mais um

tempo para fazer uma resposta.

A SRª TEREZINHA GOMES DE LIMA - Eu acho que é uma explicação sobre o

que a Carmem coloca: a realidade do Município de São Félix do Araguaia, que eu acho que não é

diferente de muitos municípios da região do Araguaia, é que é um município bastante despovoado.

Nós temos, o exemplo do que foi colocado pela Professora Carmem, a Vila São Sebastião, nessa

escola não tem nem 50 alunos, e para ter esse número de alunos, alguns são pegos perto de Luciara,

para você ter uma turma de alunos.

Nessa sala que ela coloca, tem, se eu não me engano, nove alunos. Tem alunos de

três, quatro, cinco, seis, sete e oito anos. Então, nós temos duas opções: ficar em uma sala com nove,

dez, doze alunos, que é o caso, ou não atender o aluno de quatro anos. Porque a nossa realidade,

Professora, não permite isso.

A não ser que nós tivéssemos recursos suficientes para ter um professor para

atender dois alunos na Serra do Magalhães, de quatro anos; dois alunos na Carnaúba, de quatro anos;

porque não tem como você reunir todos esses alunos de quatro e cinco anos, numa só localidade.

Então, a nossa realidade não permite fazer isso.

Nós não teríamos recurso para pagar um professor para cada dois alunos numa

diferença de 50 quilômetros de uma escola para outra. Agora, onde é possível, no caso de Espigão

do Leste, que é uma escola maior, os alunos são colocados quatro anos, cinco anos, seis anos, mas

nas salas anexas, professora, essa realidade é totalmente diferente. E uma coisa é o que diz a lei,

outra coisa é a realidade. Muitas coisas da nossa realidade... Infelizmente, não tem como cumprir a

lei.

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Pág. 57 - Secretaria de Serviços Legislativos

O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Ao encerrar a mais longa de todas

essas Audiências Públicas, eu saio daqui impressionado com o nível, com a qualidade das falas que

nós ouvimos aqui. Nós que vivemos na Capital e somos acostumados a ouvir falas preconceituosas,

desconexas, conservadoras. (PAUSA)

Eu estou impressionado com o nível, o Sr. Alfredo sabe o que eu estou dizendo e a

Professora Alvarina também. Nós temos andado este Estado, é o primeiro semestre da nossa

atuação...

Antes quero agradecer a presença dos Vereadores Lázaro e Jair, lá de Vila Rica; do

meu amigo Dairinho, que ajudou na mobilização, na divulgação; e agradecer toda a comitiva de Vila

Rica, a Maria Guerra, que usou a palavra; o Pedro Rocha; a Divina, que produziu um texto que estou

levando; a Cristina; o José Adelson; o Guiomar; e a todos que vieram de Vila Rica, Alto Boa Vista,

Luciara, Santa Terezinha, enfim, todos que vieram participar.

Eu quero pontuar que, em relação à renúncia fiscal, as falas estão corretas, este

Estado concede, aliás, ele não sabe, Diácono!... O Governo do Estado não sabe quanto concede de

incentivos fiscais por ano. Estou participando de uma CPI que trata da renúncia fiscal e da

sonegação fiscal, presidida pelo valoroso Deputado Zé Carlos do Pátio, e vai produzir muito

resultado.

Quem acha que toda CPI na Assembleia Legislativa acaba em pizza, aguarde! O

Estado ora informa que abre mão de R$ 1.500.000.000,00; outro tempo fala que é R$

1.200.000.000,00 por ano. Há algumas falas oficiais que chegam a afirmar que o Estado chega a

abrir mão de R$ 1.700.000.000,00 por ano, a título de renúncia fiscal, incentivos ficais, regime

especial e desse esquemão de cooperativas, que está vindo à tona agora. Nós iremos para cima

desses tubarões! Nós iremos para cima desses tubarões! Quero dar essa boa notícia a esse polo, que

na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está funcionando uma CPI com essa temática.

Quero dizer também, em relação ao Governo Pedro Taques, eu não queria falar, fiz

um sinal no início dessa audiência, que nós deixássemos de lado as questões partidárias, de governo,

evitei falar, mas já que houve pontuações, felizmente pequenas, quero dizer: fiquem tranquilos! O

Estado elegeu um homem honrado, um moço honesto, algo muito raro na política deste país. Fiquem

calmos, ele nem esquentou a cadeira ainda. Não haverá nem 0,00000001 de prejuízo ao que está

estabelecido em lei.

Amanhã, será pago o mês de maio, já com 50% da reposição e os outros 50% serão

pagos em novembro. E a diferença inflacionária desses seis meses será paga em janeiro, não haverá

nem um milésimo de prejuízo naquilo que vocês conquistaram no chão da escola, na luta liderada

pelo SINTEP.

Quando fui prefeito eu fiz uma negociação com o SINTEP, e o SINTEP indicou o

Secretário Adjunto de Educação. Fizemos em Cuiabá um salto de qualidade. Em oito anos de gestão,

não houve um dia de greve. Criamos oito programas pedagógicos, alguns viraram referência para o

MEC. Nós não estamos diretamente na SEDUC, mas vou acompanhar, presido a Comissão de

Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia e vou fazê-lo de maneira honrada.

Quero dizer, também, aos vereadores e líderes políticos que eu fiquei surpreso de

vocês aguentarem até o final, porque nós não temos essa cultura de ficar cinco horas sentado falando

e ouvindo. Eu concordo com o Diácono, que disse que estas cinco horas são um intensivão de um

bom curso. O que nós aprendemos aqui, dizer que vai descontar... Descontar o quê? Tinha que

pagar, porque aqui não foi um dia letivo; aqui vale uma semana, quem sabe um mês letivo; essa

troca de experiências, de informações. (PALMAS)

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Pág. 58 - Secretaria de Serviços Legislativos

Ouviu, Sr. Alfredo? Não pode permitir isso; não pode permitir!

Lá em Cuiabá, dentre as coisas que criamos, criamos as rodas de conversas, que

não foi ideia nossa; não é nada novo, ouvimos o galo cantar e trouxemos. Vocês não sabem como

melhorou a metodologia de ensino de matemática.

“Professor de Matemática: qual é o problema?” foi outro programinha que

criamos: o professor que sabia ensinar equação de segundo grau com mais facilidade, trocou

informação com quem sabia menos, e acabamos saindo juntos, nivelados por cima, não por baixo.

Então, o que nós fizemos aqui hoje é o que o Estado precisa fazer com a sociedade; o que as

prefeituras precisam fazer; o que as secretarias municipais precisam fazer: aprender e aprender!

Anotei quase tudo, porque não dá para anotar tudo. Anotei aqui oito longas

páginas de observações. Gostei muito da sugestão: “por que vocês não encaminham um formulário

antecipadamente, para que nos preparemos e possamos render mais numa longa Audiência Pública

como esta?” Já está anotado.

Quero dizer que a UNEMAT não trabalha nos cursos de Licenciatura a questão da

escola ciclada é brincadeira - eu vou confessar que não acredito nisso. Eu vou sair daqui com essa

dúvida, eu anotei, eu vou tirar essa dúvida com a Reitora. Eu não posso acreditar!

A UNEMAT foi criada, lá atrás, nos anos 80, e depois elevada à condição de

universidade nos anos 90, principalmente para trabalhar a formação dos docentes. Essa foi a

principal meta, e dizer que, hoje, ela não trabalha isso!... Nós vamos checar.

Eu quero dizer, também, que o que todos disseram aqui foi de suma importância,

eu fiquei maravilhado, ouvindo e anotando: experiências de dez, vinte ou mais anos de sala aula; de

secretaria de escola; de coordenadoria; de assessor pedagógico; de conviver com a droga rondando

os muros das escolas; de receber aquele menino que nem o pai e nem a mãe querem saber e nós

recebemos, porque nós temos uma formação melhor que a dos pais dele, que não tiveram as chances

que nós tivemos na vida, de estudar, de fazer um curso superior. Por isso, temos o dever de ser mais

pacienciosos, mais generosos. Mais do que repassar conhecimentos, conteúdos, nós somos, de fato,

construtores de gente. Nós inauguramos gente! Mais importante do que inaugurar asfalto, que

inaugurar ponte, que inaugurar telefonia celular é inaugurar gente, pessoas! (PALMAS)

Deus nos deu o privilégio de optarmos pelo magistério, nós não fomos forçados,

nós é que fomos atrás. Eu, desde menino, dizia: eu serei professor, eu quero ser professor, eu achava

e acho a coisa mais linda, e hoje eu sei que é a mais importante de toda atividade humana, porque o

médico cura, mas não ensina; o advogado tira da cadeia... Agora, nós, tudo que nós sabemos, nós

devolvemos, com prazer, para os nossos semelhantes.

Eu encerro dizendo que ouvi muitos desabafos aqui, todos verdadeiros. Estamos

nesse processo há mais de uma década, parece-nos que somente agora apareceu uma instituição para

debater esse tema. Nós temos que fazer a avaliação da escola ciclada, no mínimo, anualmente. No

mínimo!

Quase quinze anos depois para sermos ouvidos, por isso que alguns desabafaram

aqui, como o José Maranhão, que fez uma fala divina e maravilhosa. O José não defendeu aqui a

escola seriada, não. Ele disse claramente: “eu sou a escola...” Como disse o nosso amigo Diácono:

“que implante logo, de maneira verdadeira, a escola ciclada, no seu todo”, mas também não é fácil

implantá-la.

E não vai aqui a acusação a quem governou o Estado, a quem dirigiu a Secretaria, a

quem dirigiu o santo de casa, nós estamos mexendo com um processo, não é um fato consumado.

Um processo deste leva em torno de 20 a 25 anos para ser concluído.

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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.

Pág. 59 - Secretaria de Serviços Legislativos

Na minha concepção, houve um erro crasso, que foi o não enamorar com o corpo

docente, não dá para mudar radicalmente um modelo, sem conquistar quem vai trabalhar com ele,

quem vai implantá-lo no dia a dia. (PALMAS)

O Sr. Alfredo puxa a minha orelha, mas eu não vou deixar de provocá-lo, e quem

implantou foi um Governador que é o meu ídolo na política, Dante Martins de Oliveira. Mas a

implantação do ciclo foi autoritária, não consultou o corpo docente, não conquistou o corpo docente,

mais do que importante, é conquistar! “Parceiro, estamos juntos, vamos implantar? Vamos! Vamos

para essa parada? Vamos!”

“A partir de amanhã, é ciclo de formação humana, está aqui o documento, vocês se

virem”. Os professores, na sua maioria, são contra o ciclo, porque eles não foram chamados para

essa jornada, não foram motivados, não foram capacitados. Na caminhada eles tiveram que se

adaptar. Estou errado? (PAUSA)

Eu encerro dizendo o seguinte: espero que essas cinco horas e um pouco mais de

minutos possam ter sido úteis a cada colega professora; a cada técnica em desenvolvimento infantil,

as nossas queridas TDIs; a cada diretora já cansada, que não vê a hora de se aposentar, mesmo

sabendo que deu o melhor ao longo de décadas da sua vida, às vezes, até sacrificando a sua própria

família pela educação.

E eu digo: não há neste Estado, neste país, tarefa mais séria, mais consequente do

que a educação. Não há! Os países que hoje se consideram ricos, têm um bom patamar social, uma

boa qualidade de vida, uma renda per capita muito boa, invejada, só chegaram ao topo da pirâmide

porque investiram pesado em educação.

O Japão, após a 2ª Guerra Mundial, definiu 50% dos seus investimentos em

educação. A Coreia do Sul há 40 anos não era nada, era um fundo de quintal, era um chiqueiro; a

Coreia, hoje, é um dos dez países com o melhor índice de desenvolvimento humano do planeta.

Assim é a China; assim é Hong Kong; esse é o modelo, está aí, é com educação.

Eu encerro com a frase de um grande capitalista, de um capitalista, porque se eu

falasse de Piaget, de Vygotski, é o natural, é o normal; eu vou falar de um homem dono da maior

fortuna familiar deste país, da Família Moraes, Antônio Ermírio de Moraes. Eu encerro com uma

frase de um capitalista, que escreveu um livro com o seguinte título: “Educação, pelo amor de

Deus!”. Muito obrigado! Um abraço a todos vocês que participaram. (PALMAS)

Equipe Técnica:

- Taquigrafia:

- Amanda Sollimar Garcia Taques Vital;

- Cristiane Angélica Couto Silva Faleiros;

- Cristina Maria Costa e Silva;

- Dircilene Rosa Martins;

- Donata Maria da Silva Moreira;

- Isabel Luíza Lopes;

- Luciane Carvalho Borges;

- Tânia Maria Pita Rocha.

- Revisão:

- Verenice Correa de Moraes.