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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.
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ATA Nº 023
PRESIDENTE - DEPUTADO WILSON SANTOS
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Invocando a proteção de Deus e em
nome do povo mato-grossense, declaro aberta esta Audiência Pública com o objetivo de debater o
Ciclo de Formação Humana implantado no Estado de Mato Grosso.
Convido para compor a mesa a Exmª Srª Terezinha Gomes de Lima, Secretária
Municipal de Educação e Cultura de São Felix do Araguaia, neste ato representando o Prefeito José
Antônio de Almeida, “Bau”; o Exmº Sr. Sílvio Bento Leal, Presidente da Câmara Municipal de São
Félix do Araguaia - e já agradecemos o Vereador Sílvio por ter cedido às instalações do Parlamento
Municipal para esta importante Audiência Pública -; o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, Assessor Técnico,
neste ato representando o Secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto Filho; a querida colega
Professora, amiga, Palestrante, Professora Alvarina de Fátima dos Santos; o Exmº Sr. Vereador
Janovan Rios, Presidente da Câmara Municipal de Vila Rica; a Exmª Srª Fátima Beatriz Hermann,
Secretária Municipal de Educação de Querência; a Exmª Srª Guiomar Rita da Costa Lucas,
Secretária Municipal de Educação de Vila Rica; a Exmª Srª Sandra Gama Carvalho, Secretária
Municipal de Educação de Luciara; o Presidente do SINTEP do Município de São Félix do
Araguaia, Sr. Juracy Lima da Silva, e o Diácono e Professor José Raimundo. (PALMAS)
Convido as pessoas que estão lá atrás, em pé, para ocuparem as cadeiras que estão
aqui à frente.
Composta a mesa de honra, convido a todos para, em posição de respeito, cantar o
Hino Nacional Brasileiro.
(EXECUÇÃO DO HINO NACIONAL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Registramos as presenças do
Vereador de Vila Rica Jair Luiz Zorzi, muito obrigado pela presença; da Sra. Maria Gildene Mendes
Vasconcelos, da Secretaria Municipal de Saúde de São Félix do Araguaia; do Secretário de
Administração e Planejamento também de São Félix do Araguaia, Sr. Dionir José de Oliveira; do
Chefe de Gabinete da Prefeitura de São Félix do Araguaia, Sr. Jason Martins Santos; da Sra. Neiva
Gomes Coelho, Assessora Pedagógica de Confresa; do Presidente do Conselho Municipal de
Assistência Social, Sr. Júnior de Souza Alves; do Sr. Elói Calixto Megani, representante do Distrito
Sanitário Especial Indígena do Araguaia - muito obrigado, Elói, pela presença; também registramos
a presença do Padre Félix, do Município de São Felix do Araguaia, importante presença aqui
conosco; agradecemos o apoio da Câmara Municipal de São Félix do Araguaia, mais uma vez, para
a realização deste evento, de um Parlamento irmão, que é a Assembleia Legislativa; também
agradecemos a presença de todos os servidores da Secretaria Municipal de Educação de São Félix do
Araguaia; a presença da imprensa local; dos municípios vizinhos; também do Vereador Marco
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Miranda e da Vereadora Patrícia Paiva, muito obrigado! Vocês não sabem o quanto a presença de
vocês é importante.
Nós estamos aqui para realizar um dos atos mais sérios dos últimos anos nesta
região. Nós estamos aqui para tratar de educação, que é sempre lembrada nos períodos eleitorais,
compõe com muita pompa os planos de governo em nível municipal, estadual e até em nível
nacional.
Com o passar do tempo dos exercícios e dos mandatos, este assunto vai sempre
sendo renegado, deixado para segundo plano, terceiro, quarto ou décimo. E o profissional da
educação sempre desvalorizado, desmotivado, e esse assunto só volta à tona quatro anos depois,
sempre nos períodos eleitorais.
A Assembleia Legislativa decidiu discutir a qualidade do ensino, a aprendizagem
na rede estadual de ensino de Mato Grosso. Estamos realizando oito audiências públicas como esta -
aqui estamos realizando a sexta Audiência Pública. Já foi realizada uma em Rondonópolis, no dia 20
de março; uma em Sinop, no dia 16 de abril; uma em Alta Floresta, no dia 17 de abril; uma em
Tangará da Serra, no dia 07 de maio; uma em Cáceres, no dia 08 de maio; e hoje aqui em São Félix
do Araguaia. A próxima será realizada no dia 15 de junho, em Barra do Garças, e a última será no
final de junho, na capital; perfazendo um total de oito Audiências Públicas. O objetivo da
Assembleia Legislativa é apresentar um relatório de tudo o que ouvimos.
Nós estamos aqui hoje principalmente para ouvir todas as pessoas que vieram das
cidades mais distantes: Vila Rica, a quase 400 quilômetros, Luciara, Querência... Todas terão
oportunidade de falar ao microfone, que daqui a pouco estará à disposição da plateia, ou pode fazer a
sua fala por escrito. O pessoal do Cerimonial da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
está à disposição, é só levantar a mão que vamos até você, pegamos o seu nome e estará registrada a
sua fala. Vamos estabelecer uma fala entre três a cinco minutos. Primeiro, falará a plateia e depois
falará a mesa; a mesa falará por último, nós queremos ouvir.
A escola ciclada, popularmente chamada assim - há muitos profissionais que não
gostam deste título e preferem o termo técnico: ciclo de formação humana -, chegou ao Brasil com
os ventos da redemocratização, no final dos anos de 1970, com o processo de redemocratização do
País, os profissionais da educação também entraram na onda de renovação e apresentaram ao País
um novo modelo, o modelo de ciclos, e eles existem em várias modalidades, não existe só o ciclo de
formação humana, que é um deles, existem ciclos com outros nomes.
Em Mato Grosso chegou há quatorze anos. Em 2001, foi implantado na rede
estadual de ensino e nós temos alguns municípios - Roberto Biondo, Nilsinho, Dairinho - que não
aceitaram o ciclo, continuam com o modelo seriado.
Eu não sei como é aqui em São Felix do Araguaia, na rede municipal é seriado ou
ciclo? (PAUSA) Ciclo! Na rede estadual o sistema é seriado ou ciclo? (PAUSA)
Então, tudo aqui é ciclo. Lá em Vila Rica, na rede municipal o sistema é seriado ou
ciclo? (PAUSA)... Seriado! Lá em Tangará da Serra, os primeiros três anos estão em ciclo; depois,
passam para o seriado. Então, o aluno faz com seis, sete e oito anos o primeiro ciclo - sai
alfabetizado, sabendo ler e escrever -, e ao invés de continuar no ciclo, ele volta para o seriado. Aí,
faz a 4ª série, e do 5º até o 9º ano em ciclo, e todo o ensino nosso, de 2º grau, o ensino médio,
também é seriado.
Vejam que não há uma unificação: nem em seriado, todo o fundamental e médio;
nem em ciclo, todo o fundamental e médio. Então, em algum momento a rede pública está ofertando
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ciclo e, em outro momento, 100% no ensino médio estão em seriado. Então, nós queremos ouvir
hoje quais são as condições físicas das escolas.
Aqui está o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, ele é técnico de carreira da SEDUC, é
homem de gabinete do Secretário de Estado de Educação, Permínio Pinto Filho, e esteve em todas as
Audiências Públicas conosco.
É hora de entregar documentos, é hora de mostrar fotografias, é hora de usar a
palavra e falar como está o chão da sua escola. Nós não viemos aqui pedir votos, fazer campanha
para ninguém, nem falar mal deste ou daquele prefeito, nem falar bem desse ou daquele governador.
Nós viemos aqui coletar informações e quem quiser falar mal terá a palavra cortada! O tema aqui é
educação. E nós queremos aprender com quem está no chão da escola, com quem está só com o giz e
o quadro negro semidestruído, quem está convivendo com a droga rondando a escola, o nível de
educação e de limite dos alunos, a formação continuada.
Se o CEFAPRO que atende a região... Primeiro, se existe CEFAPRO aqui, se
vocês estão tendo formação continuada. Nós queremos ouvir professores, merendeiras, vigilantes,
coordenadoras, secretárias. Nós viemos aqui para ouvi-los. Então, abram a caixa de ferramentas,
coloquem a boca no trombone. Se quiserem fazer alguma referência, se quiserem trazer algum
documento à Assembleia Legislativa, nós vamos recebê-lo.
Alguns municípios trouxeram, como foi o caso de Rondonópolis, em que a
Prefeitura Municipal fez uma avaliação da escola ciclada no município. A Secretária Ana Carla
Muniz, primeira-dama de Rondonópolis, entregou à Assembleia Legislativa um documento de
avaliação da escola ciclada, no qual são apontados os pontos positivos e negativos. Lá em Cáceres
recebemos vários documentos de pessoas, individualmente. Se vocês quiserem entregar documentos
hoje, ou daqui a um tempo encaminhar algum documento, poderão encaminhá-los; nós vamos deixar
aqui os endereços. Nós queremos ouvir quem está fazendo educação neste Estado, queremos ouvir o
SINTEP, queremos ouvir todos os atores envolvidos na educação.
Tem aqui um Padre que foi convidado para esta Audiência Pública, eu gostaria de
ouvi-lo também. Por onde temos passado, o Ministério Público tem vindo. Este é o primeiro
município em que o Promotor de Justiça não atende ao nosso convite, irei reclamar ao Procurador-
Geral de Justiça. Se o Promotor de Justiça estiver na cidade, ele será denunciado pela Assembleia
Legislativa, pela sua ausência em um dos atos mais importantes que este município recebe nos
últimos anos. O lugar do Promotor é aqui, ele será denunciado se eu souber que ele está na cidade. É
o único Promotor que não atendeu ao convite da Assembleia Legislativa. Eu gostaria que a minha
assessoria checasse se o Promotor está aí, se ele estiver, por favor, avisem-no para vir aqui, em
tempo. Eu vou fazer uma denúncia formal, se ele não estiver aqui... (PALMAS)
Antes de passar a palavra a nossa palestrante - ela vai ser uma provocadora, uma
facilitadora do debate - queremos agradecer a presença dos diretores, coordenadores, professores e
alunos. Queremos também ouvir os alunos - se a Câmara tiver mais cadeiras, se pudessem
providenciar... Esta Audiência Pública dura em média quatro horas. Deputado não pode ter pressa,
ele recebe um salário muito gordo, tem uma verba de gabinete crescente e ele é empregado do povo;
então, estamos aqui sem pressa. Se for preciso ficar as quatro horas, ficaremos aqui para ouvir até o
último inscrito.
Agradeço as presenças de representantes da Escola Estadual Tancredo Neves, da
Escola Estadual Severiano Neves, da Creche Municipal Dona Tonica, da Escola Municipal São
Sebastião, da OAB, da Universidade, da Creche Municipal Elza Mendes, de todo o pessoal que está
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aí, da Escola Estadual de Vila Rica, da Escola Estadual Professora Maria Ester, também de Vila
Rica; do CEFAPRO... O CEFAPRO é em Vila Rica? (PAUSA)
É em São Félix do Araguaia. Cadê o diretor do CEFAPRO? (PAUSA)... Mas foi
convidado? Está na cidade? (PAUSA)... Não mandou ninguém do CEFAPRO para representá-lo?
Porque o CEFAPRO é importante nesta Audiência - convido o representante do CEFAPRO para
compor a mesa. Quero agradecer também as presenças de representantes da Escola Estadual Hilda
Rocha; do Escritório Regional de Saúde, o CREAS; da Escola Municipal Vila de São Sebastião e da
Escola Estadual Teotônio Carlos, de Confresa.
Convido para fazer uso da palavra, por até quarenta minutos, a querida professora
e Mestra Alvarina de Fátima dos Santos, professora da rede estadual, que proferiu a palestra de
nossa Audiência Pública em Tangará da Serra. E nós gostamos muito do seu jeito tranquilo, calmo,
de professora mesmo. Então, enquanto ela fala, nós iremos ouvi-la, anotar e logo em seguida, ao
encerramento da fala da professora Alvarina, abriremos a palavra para a plateia.
Informamos que já estão valendo as inscrições. Levante o braço que o pessoal do
Cerimonial vai até você que quer se inscrever, anota seu nome, de onde você é, se é de Confresa,
Vila Rica, Luciara, Barra do Garças, Querência... De onde você for, identifique-se e, no momento
oportuno, você vai usar a palavra durante cinco minutos. Não precisa só fazer pergunta, se você
quiser falar de uma experiência, contar um testemunho, dar um depoimento, pode também.
Com a palavra, a professora Alvarina de Fátima dos Santos.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - Bom dia! Estou pedindo
permissão para falar daqui, o professor tem que ficar mais próximo do público.
Eu sou Alvarina, sou pedagoga e já sou conhecida na região, eu já vim várias vezes
a São Felix do Araguaia, e é com muita satisfação que eu retorno para falar de algo que acredito
muito, que é a educação de qualidade, que é possível e é por isso que eu acredito muito.
Eu sou professora em Mato Grosso desde 1989, sou especialista em metodologia
de ensino, conteúdo dos anos iniciais. Então, o meu público é educação infantil e ensino
fundamental, mas eu já transitei como profissional no Núcleo de Educação a Distância (NEAD), no
Projeto Geração; atuei como técnica na Secretaria de Estado de Educação, no ensino fundamental,
organização por ciclos; e nos últimos três anos atuei no Conselho Estadual de Educação, como
técnica de análise de processos, nos processos de autorização e nova autorização de organização por
ciclos também.
Atualmente, estou lotada na Escola Historiador Rubens de Mendonça, na Cohab
São Gonçalo, em Cuiabá.
(A PALESTRANTE INICIA A APRESENTAÇÃO DE QUADRO SINÓPTICO DOS TEMAS A
SEREM TRATADOS, POR MEIO DE DATASHOW.)
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - A nossa missão é falar da
escola organizada por ciclo de formação humana, porque quando ela nasceu em Mato Grosso, ela
nasceu de um projeto na cidade de Jaciara. Os profissionais de uma escola, a Escola Marechal
Rondon, estavam insatisfeitos com a qualidade de ensino e começaram a estudar. Na época, ainda
não existia o CEFAPRO para a formação contínua, mas algumas escolas já faziam a sua formação
continuada. Então, nessa trajetória de estudos deparou-se com a necessidade de transformação no
fazer educação lá naquela comunidade.
Nesse estudo dessa escola, o Município de Jaciara abraçou a causa. À época, a
Secretária de Educação buscou assessoria do Sílvio Rocha, que é um teórico de Porto Alegre. Então,
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toda origem da organização por ciclo no Estado de Mato Grosso tem a sua gênese lá na organização
por ciclos em Porto Alegre.
Depois, com os estudos, as participações... Há formações que foram buscadas,
também, na Escola Plural. Então, a nossa base, a nossa origem como ciclo de formação humana
tende a essas localidades aqui no Brasil. E a origem anterior a isso é a Europa, em que tínhamos
problemas com os índices de evasão e reprovação.
O neoliberalismo, atuante nos anos 80, viu essa necessidade do que fazer para
reduzir esses índices de fracasso escolar. Só para termos uma ideia, no início da nossa organização
por ciclos, nós tínhamos 34,07% de fracasso escolar no Estado - 34,07%, se formos fazer as contas,
são muitas evasões e reprovações nos anos 80.
O ano em que mais havia reprovação - se vocês buscarem em suas escolas - era no
5º ano; na época, a 5ª série. Chegava até a 5ª série, os alunos ficavam reprovados.
De todos esses estudos, dessa necessidade de mudança, é que temos a origem do
ciclo de formação humana, que na época começou com Ciclo Básico de Aprendizagem Inicial
(CBAI) e Ciclo Básico de Aprendizagem Continuada (CBAC). O prolongamento para que não
houvesse repetência no processo de alfabetização, a criança entrava com sete e saía do processo de
alfabetização com oito anos. Então, os Ciclos Básicos de Alfabetização Inicial e de Aprendizagem
Continuada, em todas as escolas de Mato Grosso, escolas estaduais, deram sequência ao que já tinha
sido iniciado com o Projeto Terra.
Aqui na região eu não me lembro do nome do projeto, mas vocês têm
conhecimento de qual projeto é - por favor, ajudem-me a lembrar o nome do projeto... (PAUSA)
Projeto Tibysirá, que era mais voltado para escola do campo, não é? Ele é mais
para a escola do campo. Tudo isso em prol de uma qualidade de ensino lá no campo. E também na
linha de CBAI e do CBAC, em 2000 já começou a implantação nas escolas que aderissem ao
projeto. E a nossa legislação vem dos estudos efetuados por uma comissão no Conselho Estadual de
Educação, naquela época, e o relator do processo que criou a Resolução nº 262, conhecida de vocês,
Professor Carlos Abicalil, e o parecer elaborado por ele, de nº 289/2002.
Só que antes disso, o que é que nós temos de respaldo legal? A própria LDB, que
lá nos seus artigos diz que a organização escolar pode ser por série ou por ciclo; hoje, nós temos a
pedagogia da alternância ou qualquer outra forma que a comunidade escolar entenda que vá suprir as
necessidades educacionais, com a devida qualidade. Então, contamos isso a partir da LDB e, hoje,
mais atualizada, nós temos a Resolução nº 04/10, que é a Resolução da Educação Básica, aquela que
traz a obrigatoriedade do ensino a partir de quatro anos até os dezessete anos de idade.
E restringindo ao que nós vemos hoje em Mato Grosso, porque a organização por
ciclo de formação humana é apenas no Ensino Fundamental, mas essa Resolução nº 04/10, do
Conselho Nacional de Educação, já é desde a educação infantil. E ela traz entre as normas a
necessidade de educar e cuidar. Isso significa muito para quem é educador - eu sou educadora
infantil, do ensino fundamental -, mas ela traz não só para a educação infantil e o ensino
fundamental, mas para toda a educação básica, a tarefa para que possamos educar e cuidar.
Que significado tem esse educar no ensino médio? Porque nossos adolescentes,
hoje, chegam... Nós temos contato com os professores que, às vezes, relatam que temos alguns
adolescentes que não leem, não sabem ler, têm dificuldades para interpretar. Então, o que seria
educar e cuidar, quando esse aluno chega sem estar ainda preparado? É nosso papel como educador
saber o porquê de esse aluno ainda estar com dificuldade, para poder encontrar caminhos para que
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ele também supere essas dificuldades. Então, se formos fazer uma análise - que não é o papel aqui -
da resolução nacional, ela aponta o caminho para que haja sucesso na aprendizagem.
E olhando a nossa Resolução nº 262 e o Parecer nº 289, também de 2002, ela já
aponta caminhos para a formação humana. Por quê? A Lei nº 5.692, antiga LDB - que é mais antiga
que a Lei nº 9.394 -, trazia o ensino técnico e a base conteudista, e o que nós percebemos? Eu sou
formada em magistério e técnico em contabilidade, os nossos cursos técnicos. Mas, se formos olhar,
a própria Lei nº 5.692 já apontava caminhos para a formação humana, mas ficou um elo perdido,
formação humana, enquanto humanização do cidadão, enquanto estudante, mas também enquanto
trabalhador, que o adolescente já estava em formação.
E a Resolução nº 262/2002 vem nesse processo, assim como a Resolução nº
04/2010 e a 02/2013, que é a Resolução Estadual da Educação Básica, aqui em Mato Grosso.
Elas também apontam a necessidade de formação do conteúdo, que muitas escolas
sentem falta, falam que é... É um mito, mas nós ainda ouvimos que agora não se trabalha mais
conteúdo, o aluno vai passar sem saber, ele passa de qualquer forma.
Se nós olharmos essas normativas que temos ali, percebemos que o foco é a
aprendizagem, por quê? Evasão e reprovação, a pergunta que fica, que indagações fazemos: por que
reprovação e por que evasão? O que está acontecendo com o nosso ensino, que o aluno evade ou ele
falta muito? O que falta de ligação para que, realmente, o aluno ao entrar no ensino fundamental,
que é o nosso foco de organização por ciclos, hoje?... E o tempo de nove anos, que ele tem para sair
desse ensino fundamental e, às vezes, ele fica dez, onze, doze anos para sair do ensino fundamental?
Aí, vamos criando ideias que são falsas, mas elas estão presentes no nosso cotidiano. Aluno não
precisa estudar agora, se ele sabe ou não sabe, ele passa. Uma confusão que fazemos no tempo
escolar!
Por que é confusão? A concepção ideológica do ciclo de formação humana seria a
organização do tempo escolar respeitando o tempo de vida do estudante e da estudante. A interação
sócio-histórica e socioafetiva. Então, não é trabalhar o conteúdo só pelo conteúdo, porque o aluno
vai para a escola para aprender a ler e a escrever, dominar as quatro operações, mas também
aprender a conviver, a ser, aprender a fazer. E muitos que chegam ao ensino fundamental com seis
aninhos de idade, também vão aprender a estudar, porque eles não sabem estudar ainda.
E o que acontece, então, se a organização respeita a idade? Porque um dos focos,
dos princípios, é a enturmação por idade, porque antes tínhamos crianças de dez anos, onze anos,
doze anos, até de quinze anos, enturmadas com crianças de seis anos.
Percebem as dificuldades? É óbvio que o interesse da criança de quinze anos, doze
anos é bem diferente de uma criança de seis anos. Os tempos de vida deles são diferentes. Então,
com o advento do ensino fundamental de nove anos, pela lei do ensino fundamental instituída em
2006, desde 2000 Mato Grosso já tinha incluído a criança de seis anos e já trabalhava a organização
escolar de nove anos - e foi instituído nacionalmente só a partir de 2006 o Ensino Fundamental de
nove anos.
Com a lei do Ensino Fundamental de nove anos, desde 2006 não se reprova a
criança no processo de alfabetização, independentemente da organização da escola. Se for por série,
se for pedagogia da alternância, se for ciclo, não se reprova a criança de seis a oito anos em processo
de alfabetização.
Mato Grosso já tinha feito, lá no Ciclo Básico de Alfabetização, ciclo de dois anos.
Nesse ciclo de dois anos, o que acontece? O aluno entrava com sete anos, porque ainda era a
transição da escola seriada. Ele era matriculado com sete anos, mas ele terminava com oito anos, já
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para ser alfabetizado em dois anos, não tinha reprovação. Como se fosse uma preparação para o
ciclo, que de acordo com a Resolução nº 262/02, a criança entra para o ensino fundamental com seis
anos, e aos oito anos, ela já precisa ler, escrever e calcular. Então, nesse tempo de alfabetização é o
tempo da infância. A infância tem interesses, sentimentos, pensamentos, que são diferenciados de
um adolescente. Então, nós paramos para refletir um pouquinho, a enturmação por idade - que
também é bastante criticada - tem mais facilidades para as crianças ou menos facilidades, quando
existe a proximidade de idade? E aí cabe a nós pensar um pouquinho, também, quais são os desafios
nesse período, que é da infância.
Além dessa interação sócio-histórica, há relação socioafetiva entre os alunos
quando estão com pares de idade aproximada, porque nunca vai ser a mesma idade, tem aluno com
seis anos que completa no meio do ano, tem alunos que fazem aniversário em julho. Então, o tempo
é aproximado. E de seis a oito anos, é o que a Resolução nº 262/02 chama de Ciclo da Alfabetização,
respeitando a identidade desse aluno.
Há situações que nós vivemos no início do ciclo, no momento de transição, que
ainda tínhamos muita defasagem idade-ano escolar. E aí nós presenciamos - vocês que são
professores alfabetizadores tiveram em suas turmas - alunos mais velhos, fora dessa faixa que se
identifica como infância, em processo de alfabetização. E de acordo com a Resolução nº 262 e o
Parecer nº 289, nós temos projeto de superação, que ficou esse nome, mas a etapa em que o aluno
com dificuldades precisaria de um tempo a mais, e esse tempo não era para reprovação, mas para
trabalhar os desafios e as dificuldades que os alunos tinham para que ele, se superando, avançasse no
contexto escolar.
Nós temos ali os princípios políticos curriculares, porque quando vamos pensar na
concepção de organização por ciclos, ela não existe se não estiver junto com esses princípios. O
primeiro deles, que é a LDB, a Resolução nº 04 aborda profundamente, é a educação como direito
social: toda criança de seis anos tem direito à matrícula, ao ingresso no ensino fundamental, e esse
percurso é de nove anos.
Nós temos as crianças com necessidades educativas especiais, que é outro
princípio, o princípio da inclusão, mas essa obrigatoriedade do estudo de quatro a dezessete anos nos
leva a pensar um pouquinho: se elas têm direito ao acesso, que é a matrícula, elas têm direito à
continuidade, à permanência na escola e à terminalidade dos estudos na idade de quatorze ou quinze
anos, com a aproximação de idade, para que elas terminem o ensino fundamental de modo que deem
continuidade aos estudos no ensino médio, e aos dezessete ou dezoito anos elas tenham a
terminalidade da educação básica.
Por que é princípio da obrigatoriedade? Antes, educação no Brasil, só ensino
fundamental era obrigatório. Hoje, é de quatro a dezessete anos a obrigatoriedade.
E aí nós temos o problema das faltas, o aluno que tem dificuldade de aprender,
porque ele também não tem frequência escolar. Se a educação é obrigatória, e o aluno tem direito a
25% de faltas, o que é que justifica a ausência dele no contexto escolar? E quando ele está ausente
no contexto escolar, onde é que ele está?
Nós temos outros projetos sociais que não são projetos de educação, mas que a
educação é parceira: o trabalho escravo, o trabalho infantil, a prostituição infantil, o problema com
as drogas. Se o aluno de 4 a 17 não está no contexto escolar, onde é que ele está então? Fica a
pergunta.
E se o ensino é obrigatório, a educação básica é obrigatória, não é só escola que
tem essa obrigação de ter o aluno para a aprendizagem, mas todos os setores sociais, porque
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educação não é só projeto de escola, ela não é só projeto da Secretaria Municipal de Educação, não é
projeto da Secretaria Estadual de Educação, é projeto de sociedade, e nas dificuldades os alunos
faltosos, quem são os parceiros que vão fazer com que esses alunos faltosos sejam mais frequentes
nas escolas?
Não cabe só ao professor, já pensou se o professor vai bater lá na porta para
chamar a atenção do pai e da mãe? Esse é o papel do professor? Não. Vai ser do Conselho Tutelar,
da Promotoria Pública, da Defensoria da Criança e do Adolescente. Então, educação é uma ação
interinstitucional.
Também temos os alunos com dificuldade de aprendizagem por problema de
saúde. Nós temos a questão dos alunos com necessidades educativas especiais. Se formos focar só o
professor como responsável pela aprendizagem dos alunos, ficamos devendo uma parte da conta,
porque, às vezes, esse aluno tem transtornos que quem vai resolver são os profissionais da saúde, e
não os profissionais da educação. Então, deixa de ser um projeto de escola para ser um projeto de
sociedade, e aí precisamos firmar as parcerias interinstitucionais para que, efetivamente, nós
tenhamos qualidade de ensino e, tendo foco na aprendizagem, nós tenhamos sucesso no processo de
aprendizagem dos alunos.
Sem isso, sem essas parcerias, fica difícil para nós assegurar aquele outro
princípio, que é o ensino de qualidade. Como é que vou ter qualidade de ensino, se o meu aluno
chega... Antes focávamos a fome, o aluno chegava com fome e com fome não se aprende mesmo,
porque até nós, profissionais, quando chega a hora em que sentimos fome, nós temos que parar para
fazer nosso lanchinho. Você imagina a criança que chega sem comer, mas isso algumas escolas
resolvem com a merenda escolar.
Tem escola que quando sabe que o aluno passa necessidade de alimento, sempre
tem um alimento na escola para ele. Então, isso, a escola ainda resolve, mas o ensino de qualidade
não é só ação do professor, e o conteúdo vai muito além; às vezes, sai da alçada da escola.
A valorização profissional: o que é a valorização profissional? Nós não
discutiremos o que é, nem como, porque o sindicato é que discute isso, com a nossa participação,
mas valorização profissional, além da formação inicial, nós temos a formação continuada, temos as
horas asseguradas, as horas de trabalho, que no caso do professor efetivo são trinta horas; e nessas
trinta horas, vinte em sala de aula, as outras dez distribuídas para a formação, mas também para
outros trabalhos de registros que a escola tem.
Então, valorização profissional vai além de nós negociarmos subsídio salarial, mas
para a qualidade, as condições em que a escola se encontra, como estão as condições materiais para
que o profissional dê a sua aula mais motivado; que a escola seja mais alegre; que os professores
cheguem à escola com alegria, para que os alunos também cheguem ao estabelecimento de ensino
com alegria, dispostos a aprender. E todos dispostos a aprender! Porque não é só o aluno que
aprende, nós professores também aprendemos muito com os alunos, com os pais, com todos que
permeiam o contexto escolar.
A formação integral para o exercício da cidadania: formação integral é aquilo que
eu já tinha dito no início da fala e eu coloquei, porque você não ensina só a ler, a escrever e a
calcular na escola, mas a humanização... E aí a Elvira Lima é que nos chama para a conversa. Na
perpetuação, na parte antropológica, a formação do homem e da mulher é a perpetuação da espécie
humana.
Então, a formação humana, a forma como nos relacionamos socialmente, no
contexto escolar e familiar também. E aí temos Fusaro que fala que um projeto educativo, para dar
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certo, ele não é só da escola. O meu projeto de escola começa na minha vida pessoal, e como é essa
relação interpessoal? Como nos relacionamos. Então, voltando lá na valorização profissional... Não
sei se é o caso de São Félix do Araguaia, mas em muitos lugares o professor tem tripla jornada de
trabalho. Se ele tem tripla jornada de trabalho, qual é o tempo que ele vai se dedicar em uma ou nas
três escolas em que ele trabalha?
Para eu assegurar aquele princípio da qualidade de ensino, também passa pela
carga horária de trabalho, porque a sobrecarga, a tripla jornada enfrentada, todos os dias, como
estará a aula no final de semana? Como estará a motivação do próprio professor? Então, a
valorização profissional também perpassa por essas condições de trabalho do professor.
São asseguradas ao professor efetivo trintas horas semanais, com dez de hora-
atividade, mas hoje, com a informatização do sistema, o tempo de dez horas quase que se consome
nisso, porque o pedagogo tem uma turma, mas e o professor das áreas? Por quantas turmas ele passa
e quantos registros ele precisa fazer?
A aprendizagem processual é contínua e com significado, porque também eu
ensinar um conteúdo que não vai servir para a vida do meu estudante que está ali... Em qual tempo a
escola se reúne para refletir e fazer as propostas, para que haja esse sucesso na qualidade da
aprendizagem?
Princípio fundamental, também, é a construção de identidade, de autonomia, de
valores pessoais e coletivos; porque no Município de São Félix do Araguaia, nesta comunidade, a
escola é de todos; a escola não é só da rede municipal ou da rede estadual, é da população de São
Félix do Araguaia, de Confresa, de Luciara, de Bom Jesus do Araguaia, ou de qualquer outro
município da região. A escola está lá, ela é daquela comunidade, não é do Município ou do Estado,
ela é da comunidade; independentemente de ela ser estadual ou municipal, essa conversa entre essas
duas esferas políticas precisa existir. Não é projeto de sociedade?
E aí o Deputado Wilson Santos disse: “o aluno está no ciclo, vai para a série ou
está na série e vem para o ciclo”.
Primeiro: se eu estou olhando o tempo de formação do aluno que entrou com seis e
terminou o ensino fundamental com nove anos, independentemente se ele vai fazer três anos no
município e os outros seis na escola estadual, tem que assegurar para ele pelo menos o currículo. E
aí, o currículo precisa ser organizado, precisa ser discutido coletivamente. Por isso, a importância
daquele princípio da construção da identidade, porque ele não vai construir uma identidade de escola
estadual, nem de escola municipal ou de escola particular, mas é uma identidade de cidadão de São
Félix do Araguaia.
Os estudantes são sujeitos socioculturais e históricos, centro do processo de
aprendizagem. Isso é muito relevante, porque eu tenho que partir do que o aluno conhece dentro
dessa comunidade. A partir do que ele conhece é que eu vou fazer com que ele amplie os
conhecimentos que tem e tenha sucesso escolar. Sem essa coletividade, pensando qual currículo que
em São Félix do Araguaia nós vamos desenvolver ou em outro município participante, às vezes,
ficamos ensinando o conteúdo pelo conteúdo. E aí, qual é o significado disso para a aprendizagem?
O agrupamento por idade eu já falei e sobre a progressão contínua, eu coloquei as
siglas ali: PS, PPAP e PASE. Tem outro hoje, que é progressão com dependência de faltas, não é
isso? (PAUSA) Na rede estadual? (PAUSA)
Só que no ciclo de formação humana, se eu asseguro as estratégias curriculares que
existem para que o aluno avance no processo com o sucesso na aprendizagem, então, eu não tenho
retenção. E quais são as estratégias que nós conhecemos? Intervenção pedagógica do professor,
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quando percebe a dificuldade do aluno. Aí, nós temos ainda, meio remodelada, a atuação do
professor articulador e o projeto de superação, porque se não vai haver reprovação, tem o que no
lugar da reprovação?
É essa oportunidade de aprendizagem para o aluno, para que ele tenha a
oportunidade de construir o que não construiu ainda, para que ele avance no processo.
E aí, não é conceito, não substitui nota, é progressão simples, progressão com
plano de apoio pedagógico ou progressão com apoio de serviços especializados, porque os nossos
alunos com necessidades educativas especiais precisam desse tempo, desse recurso da sala de
multirrecursos, para que ele também avance na aprendizagem e, às vezes, fica devendo. Muitas
escolas não têm, existem municípios que centralizaram os alunos com necessidades educativas
especiais de outras escolas em apenas uma escola, vão para uma só, em um período está em sala e no
outro período ele vai para a sala de recurso.
Tem os dias da semana, tem uma organização para isso, mas tem que ser pensado
coletivamente, os pais têm que participar dessa discussão, principalmente, porque uma das grandes
necessidades é o aluno com necessidade educativa especial ou não, todos aqueles que enfrentam
desafios de aprendizagem que, às vezes, os pais nem encaminham no outro horário, só mesmo no
horário da aula. E às vezes ele carece desse tempo a mais, para que realmente aprenda, para que
complete aquilo que está faltando na aprendizagem dele, principalmente o aluno com defasagem de
idade ou ano escolar, porque se o aluno chega com nove anos na escola, na organização por ciclo eu
vou enturmá-lo onde? Ele nunca estudou, é o primeiro ano que ele vem para a escola e já tem nove
anos. Ele vai ser enturmado com alunos de nove anos, porque são os pares da idade dele. E esse
aluno vai ter o mesmo rendimento que os outros na turma? Não! Por quê? Porque os ouros tiveram a
oportunidade que ele não teve ainda.
E aí, a coordenação, o professor articulador, o professor regente é quem vai
organizar que plano de ensino será trabalhado com esse aluno que não está alfabetizado e está
chegando com nove anos de idade na escola, porque se não assegurarmos isso, ele vai só ficar
sentado lá, e não vai ter o rendimento necessário.
Sem contar que com nove anos ele não tem experiência escolar, mas tem outras
experiências que traz com ele e que no plano de ensino, para que ele tenha sucesso, precisa também
ser considerado. Se eu asseguro todas essas estratégias para que haja sucesso escolar, eu consigo
negar a reprovação. Sem as estratégias e sem as condições de trabalho, eu não consigo negar a
reprovação. E escola boa não é a que aprova, nem aquela que reprova, escola boa é aquela em que os
alunos têm o seu tempo escolar assegurado, o direito de aprender, para que ele tenha sucesso escolar.
Para o início de conversa, agradeço a presença e por me ouvirem! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado à Professora e
Mestra Alvarina de Fátima, que nos abrilhantou com essa importante palestra.
Agora nós ouviremos os inscritos, e as inscrições continuam abertas. Nós já temos
os seguintes inscritos: a Srª Neiva Gomes Coelho, Assessora Pedagógica de Confresa; a Srª Maria
Guerra, Assessora Pedagógica de Vila Rica; a Srª Kátia Laura Coelho, Coordenadora Pedagógica,
também de Confresa; a Srª Ana Cristina, Diretora da Escola Estadual Ilda Rocha; a Srª Márcia
Adriana, Diretora da Escola Estadual Severiano Neves, e o Sr. José Maranhão, Secretário Municipal
de Educação de Alto Boa Vista. Quem quiser se inscrever é só levantar o braço, que os nossos
servidores da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso irão até o local.
Convido para fazer uso da palavra a Srª Neiva Gomes Coelho, Assessora
Pedagógica de Confresa.
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Pessoal, é a oportunidade para falar a verdade, pôr a boca no trombone! A
Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está aqui para colher esses depoimentos.
Com a palavra, a Srª Neiva Gomes Coelho, de Confresa.
A SRª NEIVA GOMES COELHO - Bom, o que o ciclo veio trazer para nós?
Ficou escancarado que o aluno que não aprende continua na sala de aula, que ele está ali nos
incomodando e dizendo que não está aprendendo, porque aqueles que não aprendiam iam para onde?
Para fora da escola. O que acontece com o ciclo? Falta de suporte, falta de atores e de espaços
adequados.
À época, quando foi implantado, faltou o quê? Formação continuada para os
profissionais e faltou a discussão entre os pares, para que eles pudessem compreender o que era
realmente o ciclo. Estou emocionada! (RISOS) Tem que ter o quê? Mobiliário adequado...
(A PARTIR DESTE MOMENTO A SRª NEIVA GOMES COELHO CONTINUA FALANDO,
PORÉM FORA DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, eu vou insistir para que
a senhora fale ao microfone, porque a senhora está sendo gravada.
A SRª NEIVA GOMES COELHO - Estou tremendo muito... (RISOS)
O SR.PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Fique tranquila, nós somos colegas,
pode ficar sentada, fique à vontade, o importante é a sua fala.
A SRª NEIVA GOMES COELHO - Que cada ator faça o seu papel, que desde a
educação infantil o município dê acessibilidade para os alunos da educação infantil. Que o
profissional da educação infantil faça o seu trabalho correspondente à etapa e que não busque fugir,
queimando etapas, porque o aluno chega à escola para ser alfabetizado e o professor alfabetizador
precisa fazer todo o trabalho que era para ser feito na educação infantil; e também que o professor
seja orientado para planejar de acordo com as capacidades, para cada fase e para cada ciclo.
O professor tem pouco tempo, a hora-atividade não possibilita o tempo para
planejar, registrar, pensar intervenções e para fazer a formação continuada, é preciso que haja, em
primeiro lugar, o envolvimento da sociedade, das instituições, das igrejas, das famílias e não só da
escola.
A família mudou os seus princípios, a igreja mudou os seus princípios e a escola
não pode continuar ensinando do jeito que ensinava. Não é a reprovação que vai fazer com que o
aluno aprenda, mas sim o suporte que ofereço; o monitoramento, as intervenções e, para tudo isso,
trinta horas não bastam, trinta horas é muito pouco.
Se o Estado é ciclo, o município também precisa ter o mesmo sistema de ensino,
por quê? Nós nunca vamos conseguir sair da superação, da enturmação, se o município não adequar-
se, porque nós estamos fazendo um trabalho contínuo, e aí começamos a receber de outros locais
alunos defasados e, então, faz a equiparação da idade, ele é enturmado e nós temos, lá, os alunos que
não sabem ler, nem escrever, mas geralmente não são todos frutos do ciclo, eles são alunos oriundos
de outro sistema de ensino, oriundos de outros estados, de outros municípios em que a política não é
ciclo.
Eu quero dizer também que o respeito ao tempo precisa ser garantido, que sejam
garantidos os espaços, os meios adequados e, se não for ciclo, que seja o ensino de nove anos, que é
uma política do Governo Federal, que é a mesma coisa, a criança vai entrar com seis anos e vai sair
com quatorze; se ele vai entrar com seis anos e vai sair com quatorze, ele não vai ser reprovado, mas
aí, eu preciso do quê? Que o Governo do Estado, que o Governo Federal, que a rede municipal
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ofereça os atores, os espaços, os ambientes necessários para que a criança aprenda. O problema não
é o sistema de ensino, porque o sistema de ensino por si só não vai garantir a aprendizagem.
Vejo também que alunos que não têm medo de falar por causa da formação
humana, que não têm medo de falar, que discutem, que apresenta o seu trabalho sem encostar-se ao
quadro, sem tremer, como eu estou tremendo... (RISOS)
Isso aqui é fruto de quê? É fruto de uma escola seriada, de uma escola punitiva,
que nos deixou esses resquícios. E hoje o ciclo de formação humana vem superar tudo isso, e o
nosso aluno, hoje, discute, debate, pensa. Ele não só decora, ele não só repete como papagaio, mas
ele cria. Então, nós precisamos dar esse espaço para o nosso aluno, nós precisamos garantir esses
direitos.
Eu quero dizer também que hoje o professor não tem como ensinar do jeito que
ensinava. A escola, hoje, tem e vê os alunos, precisa ver que ela tem um público heterogêneo e não
mais homogêneo, porque eles aprendem em diferentes formas. E também a escola precisa garantir
que os instrumentos do professor para avaliação sejam assegurados.
Colocam sempre: tirou a prova... Gente, não tirou a prova, a prova continua, o
registro no caderno do professor continua, são mais de dez instrumentos que o ciclo oferece e se
usarmos todos esses instrumentos, nós vamos conseguir fazer um bom trabalho.
Quero dizer também, em relação à intervenção, que a escola não precisava
enturmar, por quê? A sociedade por si só enturma. Nós vamos a uma festa de aniversário, as crianças
de quatro anos brincam com crianças de seis e de sete anos? Elas interagem com quem? Com as
crianças de três e quatro anos! Os adolescentes, eles interagem com quem? Com os adolescentes.
Se o nosso sistema antigo fosse tão bom, se o problema hoje fosse o ciclo, nós não
teríamos tantos alunos, tantos analfabetos fora da sala de aula; nós não teríamos tanto público para o
ensino de jovens e adultos. Os nossos pais seriam todos formados e, hoje, podem contar os pais que
têm formação. Por quê? Aquele filho que era mais desenvolvido, que tinha mais capacidade, o pai
investia na formação dele, e os outros iam para onde? Aqueles que tinham dificuldades de
aprendizagem? Eles iam para a roça, trabalhar para formar aquele que tinha mais facilidade. Então,
não era o professor que sabia ensinar, não era o sistema que era bom, porque, hoje, continuamos
tendo alunos bons e continuamos tendo alunos com dificuldades de aprendizagem, e que esses
desafios precisam ser observados e que informações sejam feitas.
E fortalecendo, trinta horas não são suficientes para planejar, para fazer
intervenção, dialogar com pais, fazer formação continuada, preparar diário on line e tudo mais.
Então, nós precisamos de pelo menos mais algumas horas para exercer o nosso trabalho.
Obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora Neiva, você fez um dos
melhores depoimentos de todo este ciclo de Audiências Públicas, não precisava ficar nervosa, falou
muito bem. Se você puder me dar a cópia desse material que tem anotado, um material muito rico,
uma experiência, eu preciso desse material seu, ele é muito bom.
A próxima inscrita é a Sra. Maria Guerra, da Assessoria Pedagógica de Vila Rica.
Primeiro, obrigado, quase 400 quilômetros, veio de tão longe, o meu amigo Dairinho, que também
está aqui para nos prestigiar. Obrigado!
Convido para fazer uso da palavra a Sra. Maria Guerra.
A SRª MARIA GUERRA - Bom dia a todos os presentes.
A minha fala é no sentido da questão do ciclo, em relação à estrutura física em
Vila Rica. Nós temos mais de 2.500 alunos matriculados na rede estadual e somente duas escolas na
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sede do município. Em uma, nós não conseguimos fazer o redimensionamento até hoje, porque é
impossível. Nós também temos salas anexas na zona rural, e os alunos estudam debaixo dos pés de
manga.
Então, como você vai prezar pela qualidade, se você não consegue com a
superlotação de sala de aula, com a falta de profissionais? Em Vila Rica temos uma rotatividade de
professores no ciclo muito grande, eles iniciam o ano e chegam do percalço e pedem distrato, e não
conseguimos atingir a qualidade. Por exemplo: hoje, precisamos de sala de articulação, sala de
superação, bibliotecas, laboratórios e nós não temos. Então, o que precisamos é de estrutura física
em nossa cidade urgentemente, com a construção de uma nova escola estadual.
Obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Sobre esse seu questionamento, Srª
Maria Guerra, daqui a pouco, o Sr. Alfredo, que está aqui em nome da SEDUC, vai falar. Esse é o
homem do dinheiro; por onde onde ele anda, já carrega o dinheiro para mandar fazer tudo. (RISOS)
Convido para fazer uso da palavra a Srª Kátia Laura Coelho Leandro,
Coordenadora Pedagógica também de Confresa.
A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Bom dia!
Eu sou Kátia Laura Coelho Leandro, Coordenadora Pedagógica da Escola Estadual
Santo Antônio, de Confresa, uma escola do campo. Neste momento, eu também represento o
SINTEP, o comitê de educação do campo deste município.
Eu fiquei muito feliz quando vi no e-mail institucional o convite. Parabenizo já o
Deputado por esta bonita ação, porque como ele iniciou a sua fala, o discurso de educação é
simplesmente nos palanques, e depois... Até hoje, ao longo da minha história de vida de educadora,
que comecei aos dezoito anos e hoje estou com trinta e sete anos, nunca participei de uma Audiência
Pública com tamanha coerência assim, e para discutirmos justamente o ciclo de formação humana.
Para mim, é uma proposta muito bonita, porém ainda muito falha, e para um
educador que acredita na educação, que vê o seu aluno como um ser, essa é uma proposta fabulosa,
porque ela respeita o espaço, ela respeita o tempo e, principalmente, ela vê o outro como gente.
Gente que precisa de atenção, de carinho, e é esse carinho que muitas vezes tem faltado a nós
profissionais da escola. Tem faltado onde?
Quando eu falo da Escola Estadual Santo Antônio, eu não estou me referindo
somente a essa escola, mas ao Município de Confresa, que tem uma situação gritante nas escolas do
campo. Nós não temos infraestrutura, nós não temos! Não é nem questão de melhorar, é ter, é
construir.
As quatro escolas do campo são espaços improvisados para atender essa população
camponesa, que ao longo da sua história já tem todo o processo de negação, e para garantir esse
direito é difícil.
Há uma semana, nós tivemos que responder ao Ministério Público, porque nós
invadimos uma obra do PAC para fazer acontecer o processo de educação em nossa comunidade.
Não só a nossa como as outras também que não invadiram, porque não tinham o que invadir.
Então, eu ainda vejo que para nós, confresenses, faltam condições de trabalho, as
mínimas: sala de aula, biblioteca, secretaria, sala de direção, sala de coordenação, tudo! Cozinha...
Nós usamos, emprestado, a cozinha do barracão da associação; os banheiros são emprestados,
porque há um tempo, nós usávamos privada de fossa negra. Isso também é condição, isso também dá
impacto no processo de qualidade.
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Como vou falar de qualidade para o meu aluno, como vou exigir qualidade dos
meus profissionais, se nós não estamos tendo qualidade de trabalho, não estamos sendo respeitados
como seres humanos? Por quê? Nenhum peão de fazenda - não desmerecendo nenhuma profissão -
trabalha se não tiver as condições mínimas. E nós, profissionais de Confresa, das escolas do campo,
não temos, Deputado Wilson Santos, não temos.
E não posso dizer que está bom, por quê? Porque a escola estadual e a Escola
Santo Antônio, desde 2009, vêm gritando para a SEDUC e informando essa situação, porque nós
fomos estadualizados em 2009; desde 2008, nós temos uma obra do PAC paralisada e as crianças
precisando estudar, nós precisamos entrar e tivemos, sim, que invadir - invadir por dias.
Nós entrávamos e tinha uma cobra, tinha uma lacraia, tinha alguma coisa lá dentro;
quando não, escorregávamos e caíamos dentro dos buracos. Então, foi a única condição que nos foi
dada para garantirmos o ensino àquelas pessoas que estão lá.
Quando falamos desse processo, os atores, nós estamos chegando a junho e os
processos de articulação não foram liberados ainda, e a sala de superação é fundamental nesse
processo, nós sabemos que tudo isso é necessidade. (PALMAS)
Aí, alguém nos cobra dizendo assim... Mas nos é dado, as escolas do campo têm
um número baixo de alunos e, às vezes, nos é negado, por quê? É considerado um número pequeno
de alunos, aí se entende que não tem necessidade. Mas quem é que tem que dizer se tem necessidade
ou que não tem? Porque eu acredito que os profissionais que estão lá, sabem se tem necessidade.
Se eles escreveram um projeto, solicitaram alguém para atender essa demanda, é
porque eles têm necessidade, vai ter esses alunos lá, têm esses alunos, porque em uma sala que tem o
processo de enturmação, vai ter sempre alguém precisando, e aí ele precisa de atenção especial.
Então, é necessária, sim, essa questão.
E a outra questão, que eu gostaria que vocês pensassem com muito carinho para as
escolas do campo, é a alimentação. Como a nossa colega colocou, é preciso garantir o menino de
bucho cheio para ele poder aprender, e com R$ 0,30, isso não é possível. Então, a nossa alimentação
precisa ser melhorada... (PALMAS)...
E, principalmente, não dá para ter o mesmo peso e a mesma medida entre urbano e
campo. No campo tem um diferencial, os meus alunos ficam de quatro a cinco horas dentro de um
transporte escolar, então, tem que ser pensado com carinho. Eles não têm cantina para comprar o
lanche, eles têm que comer ali; então, eu tenho, sim, que pensar.
Quero parabenizar-lhe, mais uma vez, e esse é o meu desabafo. Desculpem-me
pelo meu nervosismo, mas a angústia é que nos traz, e eu acredito que os meus colegas, enquanto
profissionais do campo, também... Eu trago essa fala em nome de todos eles, porque são pautas de
discussão nos nossos comitês, nos nossos eventos. Então, eu tenho a tranquilidade de dizer que essa
fala não é da Kátia Laura, essa fala é de todas as escolas do campo do Município de Confresa.
Muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Kátia, duas perguntas: há crianças
em Confresa fora da sala de aula?
A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Eu acredito que tenha ainda.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - E essa obra do PAC que foi
invadida, que obra é e quantas salas vocês fizeram lá?
A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Na verdade, não tem sala, elas
estão cobertas, mas falta o término, o chão ainda é só contrapiso, e são oito salas.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - É no campo também, na zona rural?
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A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Sim, são oito salas. São duas
escolas que têm essa situação, que é Santo Antônio e Sol Nascente, que ainda são consideradas do
Município de Confresa, as duas melhores, porque as outras duas, a Valdir Bento e a Antônio Alves
Dias nem prédio têm. Elas funcionam em casas improvisadas, de tábua, locais totalmente irregulares
para fazer acontecer a educação.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Vocês usam essas duas obras do
PAC como o quê? Cozinha?
A SRª KÁTIA LAURA COELHO LEANDRO - Não, como sala de aula, a cozinha
da Escola Santo Antônio é feita no espaço da associação, porque a associação construiu uma cozinha
para nós, não nos padrões da SEDUC, mas com a simplicidade de homem do campo e nos deu a
chave para utilizarmos. Assim como também outras salas de aula para fazermos acontecer, porque só
oito salas eram insuficientes para atender à demanda.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Essas obras do PAC eram destinadas
às escolas também ou tinham outros objetivos?
A SRª MARIA GUERRA - Esse foi um projeto do Governo Federal, que foi feito
em 2006, e o TCU interditou...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Projeto para quê?
A SRª MARIA GUERRA - Para construção da escola e do posto de saúde.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Ah, entendi!
A SRª MARIA GUERRA - Nessas duas comunidades foi feito esse projeto e,
depois, por problemas de irregularidades foi bloqueado o recurso que está numa conta da associação,
que gera todo o recurso, e a todo momento que pedimos alguma resposta, nos falam que vai
acontecer, mas nós estamos nesse “vai acontecer” desde 2008. Então, é um tempinho bem...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Agora entendi.
Nós iremos chamando os inscritos de cinco em cinco, e o Alfredo começa a
responder. Com a palavra, a Sra. Ana Cristina, Diretora da Escola Estadual Hilda Rocha.
A SRª ANA CRISTINA - Bom dia a todos e a todas.
Os colegas de trabalho da Escola Professora Hilda Rocha, localizada na Praça da
Bíblia, próximo à Câmara Municipal, é uma escola de zona urbana.
Eu estou na gestão de 2014-2015, fui eleita democraticamente na escola. Assumi o
Estado em 2011 como professora de geografia, cursei na UNEMAT, em Luciara.
O pouco tempo que eu tenho de escola ciclada, porque antes eu trabalhava na rede
municipal, há oito anos, e nós não tínhamos essa vivência, o pouco que eu vejo e hoje, com a
experiência de gestão, Deputado, é o seguinte: eu vou pontuar e falar algumas coisas que a colega já
disse ali e acredito que temos que rever muita coisa, a professora fez a fala no início, professora
pedagoga e eu já a conheço do curso de formação do Estado.
Também parabenizo a iniciativa do Deputado; parabenizo todos que estão aqui,
porque nós temos que rever essa educação que estamos ofertando.
A escola pública do Estado de Mato Grosso não trabalha só com alunos do nosso
Estado, a escola pública do Estado recebe alunos de todo o Brasil. Eu recebo alunos de Tocantins, de
Goiás, de Brasília, de Minas Gerais, e aí esse aluno leva um choque quando entra na escola pública
do nosso Estado de Mato Grosso, é uma coisa terrível para eles. Então, o ciclo de formação humana,
como bem disse a colega no início da palestra, ele não reprova. E vocês sabem o que é pior? O aluno
sabe disso.
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O aluno, ao ingressar na escola aos seis anos de idade, já sabe que não reprova. O
aluno não quer saber se aprenderá ou não, porque ele irá passar; de qualquer jeito ele é aprovado e os
pais também sabem disso. A parceria que a escola deveria ter seria: escola, família e Estado. E como
fica esse tripé? A escola está andando praticamente sozinha nessa caminhada. Se corremos ao pai e à
mãe...
Aí, vem à questão da frequência, como a colega falou e tem a Ficha de
Comunicação de Aluno Infrequente, Indisciplinado e Infrator (FICAI) e outras coisas que podemos
fazer, tem o bolsa família, que pode ser cortado, mas o pai não está nem aí. Depois de três fases do
ciclo é que irá fazer um corte da questão da frequência e ele é barrado no 9º ano. O sistema o barra,
em virtude do índice altíssimo de faltas, mas é lá no final da terceira fase do 3º ciclo. É complicado
isso. Então, temos que rever, sim, porque todos já sabem disso: se eu não reprovo, por que eu vou
estudar? Qual é o meu interesse na minha escola, se eu fico estudando, estudando e estudando, e os
outros colegas que não fazem a tarefa de casa, não estão nem aí, não querem saber.
Se o pai é chamado na escola, ele não vem... Ele será aprovado tanto quanto eu que
estudei, estudei e estudei. Correto? Temos isso na nossa escola.
Outra coisa, o ciclo está aí. Estamos formando os nossos alunos do ciclo de
formação humana para enfrentar o quê? Nossa realidade de São Félix do Araguaia, Professores,
Deputado e Secretário de Educação, os nossos alunos do 9º ano da Escola Estadual Professora Ilda
Rocha, como da outra escola da vila - que a nossa colega diretora também falará - saem do 9º ano
para o ensino médio, para a Escola Tancredo de Almeida Neves, em que não é ciclo, levam outro
choque. E quem vem de outro Estado e chega aqui também leva um choque. E na Escola Tancredo
de Almeida Neves leva um choque maior ainda, porque a média é seis, porque ele tem que fazer os
trabalhos, tem que ler, tem que interpretar, tem que saber fazer muita coisa que aqui no ensino
fundamental ele não deu conta de fazer, não sabe fazer, não foi preparado para fazer, porque ele
simplesmente não quer.
O aluno está totalmente desinteressado de aprender, é essa a verdade. O professor
está refém de uma situação, o professor não pode fazer muita coisa, eu tenho um trabalho que está à
disposição, na escola, para quem quiser, da professora que se aposentou na semana passada, a
Professora Rita, de Matemática, que diagnosticou uma turma do 9º ano em Matemática, em todos os
itens que serão cobrados em novembro na Prova Brasil, para ver o IDEB da escola.
De mais de quarenta alunos, dois conseguem estar dentro dos parâmetros exigidos
pela Prova Brasil, somente dois - aliás, são duas. Se essas duas alunas faltarem no dia da Prova
Brasil, nós estamos no sal.
Eu vou pedir pelo amor de Deus para as mães dessas meninas não as deixar faltar,
porque o diagnóstico foi feito em Matemática, com os descritores da Prova Brasil, que a professora
está trabalhando desde o dia 09 de fevereiro, uma professora séria e comprometida. Mas o aluno está
comprometido? A família está comprometida? Que compromisso é esse? Só a escola tem que ter
comprometimento? Então, nós estamos nessa situação.
Eu quero agora só dizer que está aí, para quem quiser entrar no site do QEdu da
vida, acessem lá: Escola Estadual Professora Hilda Rocha Souza, 9ºano em Matemática, 2013: 0,0%.
É esse o nosso índice, e como os alunos chegaram nesse índice? Eles passaram, fizeram uma prova.
Lá tem índice de ausentes, tem pessoas que não conseguem fazer nada, nada; tem alunos
semianalfabetos chegando ao 9º ano, que não sabem nada. Então, é essa a realidade do chão da nossa
escola.
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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.
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Eu estou há pouco tempo no Estado, mas é isso que escuto dos meus pares na sala
do educador, e quando falamos em projeto de intervenção, Deputado, é um Deus nos acuda na
escola: “Ana, como vamos fazer um projeto de intervenção se o aluno não quer nada? Como eu vou
aplicar uma prova lá, se eu falo que a prova vai ser no dia tal, o aluno falta aula, porque ele não quer
encarar a avaliação”. O aluno falta mesmo, e eu estou morrendo de medo de ele descobrir que dia é a
Prova Brasil, estou morrendo de medo! Porque pior do que 0,0% no 9º ano em Matemática da
Escola Estadual Professora Hilda Rocha Souza, eu acredito que não dá para ficar.
Eu não me orgulho de falar isso, mas eu sou obrigada. Isso aqui é uma Audiência
Pública, e está no site do QEdu, está nos sites aí, nós temos que falar a verdade. (PALMAS)
Outra coisa, o nosso aluno está sendo preparado, como eu já falei... O ensino
médio na Escola Tancredo de Almeida Neves, essa é só a primeira etapa que ele vai enfrentar. De 40
a 50 alunos que vão da Escola Hilda Rocha para a Escola Tancredo de Almeida Neves, permanecem
lá, acredito que uns vinte, os outros desistem no primeiro ou no segundo bimestre, porque não dão
conta.
Sabem o que eles fazem? Ficam esperando completar dezoito anos para voltar para
a escola, porque vai ofertar a Educação de Jovens e Adultos e ensino médio, que é outra modalidade
de ensino descritivo. Aí, eu tenho que receber o aluno três anos depois, porque ele não conseguiu
passar pelo ensino médio. Bem, se esse aluno não passa pelo ensino médio, ele não passa no ENEM,
ele não passa em concursos, ele não passa em nada; esse aluno vai realmente ficar à mercê na
sociedade, porque o que ele deveria ter aprendido nos anos iniciais e nos anos finais do ensino
fundamental, ele não aprendeu. A culpa é de quem? A culpa é de quem? De quem? Não sei, vão ter
que rever isso.
O professor está querendo trabalhar, mas quando chega à escola, há um descaso
total. Quando marcamos uma reunião de pais, se comparecem dez, é muito, cantamos vitória; vão
somente dois ou três pais, a situação é essa, e é grave.
Agora, a educação do Brasil no ranking mundial, já viram onde é que nós estamos
posicionados? Peguem aí como está o nosso País no ranking mundial, ele só está ganhando de um
país, ele perde para todos os que estão lá, é um absurdo.
Os índices mostram o fracasso do ciclo, é essa a minha opinião, Deputado, não
precisa muito estudo para descobrir isso. Os índices estão aí mostrando isso! É cálculo, é
matemática! Poxa, nós estamos fazendo o que, aqui? Se nós estamos preparando uma coisa para
outra coisa. O ciclo não fala que não pode ter avaliação, mas como é que o professor vai aplicar uma
avaliação dessa forma, com desinteresse total?
Outra coisa, a colega já falou, mas eu vou reiterar: uma das maiores ferramentas do
ciclo é a articulação. Até o momento, não está liberado o Projeto de Articulação da Escola Hilda
Rocha, que foi mandado desde o início do ano. “Manda isso, manda aquilo; agora tem que lançar no
GPO”... Lançamos no GPO, e agora? “Ah, não, já foi para o RH”. E agora? “Agora tem que
aguardar o Secretário assinar”... E agora? “Estamos aguardando”...
Nós já estamos terminando o semestre e ainda não temos a articulação na escola. E
aí foi a metade do ano e o aluno não teve articulação, que é uma das ferramentas que o ciclo poderia
ofertar para aquele aluno que não estava tendo acompanhamento adequado.
Outra coisa, a parametrização da idade-série, o colega colocou muito bem:
realmente tem que estudar com os pares e tal, mas sem a articulação e sem a sala de superação, eu
não tenho como fazer nada para esse aluno que sai do sexto ano e vai para o nono, ele pulou o
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sétimo e o oitavo anos; e aí, o que fazer com esses conteúdos que ele perdeu? Não tem. Ele vai ficar
lá boiando; ele vai enfrentar o ensino médio e imaginem o que vai acontecer.
Agora, eu quero falar ao Deputado o seguinte: na nossa escola temos além dos
munícipes de São Félix do Araguaia, os Carajás, os nossos amigos indígenas que moram na Aldeia
Santa Izabel, Fontoura, JK, que estão lá em Tocantins. Só que eles moram lá, mas a maioria deles
vive aqui em São Félix do Araguaia. É aqui que eles compram, é aqui que eles vão ao banco, é aqui
que eles procuram o Sistema Único de Saúde, é aqui em São Félix do Araguaia, e é aqui que eles
estudam.
Estou aqui com a nossa professora formada em História, ela é Carajá e está dando
aula em nossa escola. Nós temos que dar condições a esses indígenas.
Está acontecendo uma coisa bem interessante, Deputado, acontecendo uma
demanda das aldeias para São Félix do Araguaia, diretamente para a Escola Hilda Rocha, que está
localizada aqui no centro. E hoje eu estou com mais de 55 indígenas matriculados, desde o primeiro
ano do primeiro ciclo ao ensino médio EJA.
Solicito desde o início do ano um intérprete da língua carajá, porque esses alunos
não falam o idioma português, nem escrevem, alguns... Não são todos, é óbvio, em média de 30 a
40% deles. Como esse aluno... O professor que já está com toda dificuldade para ensinar um aluno
que fala e escreve português, agora tem que ensinar e escrever português para uma criança que não
entende o que ele fala e escreve no quadro.
Nós solicitamos: “SEDUC, nós temos essa demanda, está no sistema, é só olhar;
ninguém esta mentindo, não!”. Nós não podemos fechar a porta da escola para esse povo, eles
existem, eles estão aqui, eles merecem o nosso respeito!
Temos a professora Alícia, está aqui à Professora Alicia Fogassa... (PALMAS)
...formada em Pedagogia, pronta para assumir o cargo, prontinha para assumir! Ela fala o idioma
Yanan, é isso Srª Alice? Fala o idioma Yanan e fala o idioma português. Ela ajudará os nossos
alunos, mas não tem orçamento, não existe esse cargo, é uma história, é uma coisa de louco! O
problema está dentro da escola e eu como gestora estou gritando.
Só que se a SEDUC nos mandar um documento dizendo que não tem, Deputado,
nós também faremos um documento dentro da escola dizendo que nós não nos responsabilizamos
pelo que acontecerá, porque, ao mesmo tempo em que é uma coisa muito boa convivermos com os
nossos irmãos indígenas, é um desafio para a escola. E a Prova Brasil está aí, nós temos alunos no 5º
ano, nós temos alunos no 9º ano e como eles farão a Prova Brasil, como eles marcarão um
questionário, um gabarito, se eles não entendem o que está escrito? Pelo amor de Deus!
Nós mandaremos um documento à SEDUC tirando o nosso fora, vamos falar - o
Conselho Deliberativo da Escola que fará esse documento, juntamente com os pais desses alunos -
que nós não recebemos essa ajuda.
Quero colocar também a respeito da educação integral: se o ciclo está nessa
situação, agora é educação integral. Aí, o meu aluno tem que passar sete horas dentro da escola. A
escola não tem infraestrutura para receber esse aluno em período integral, as oficinas que acontecem
são uma verdadeira fantasia, porque não temos espaço físico adequado para isso. Então, essa
educação integral, Como? Como daremos mais educação sem uma infraestrutura adequada, como a
colega há pouco colocou: “falta tudo! Falta tudo!”.
Deputado, aproveito minha fala para dizer que nós estamos vivendo uma situação
difícil - acredito que os outros colegas também falarão a respeito do assunto -, não temos o selo de
inspeção municipal em São Félix do Araguaia e em virtude disso o pregão da merenda escolar que
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acontecerá no dia 08 de junho, da agricultura familiar, os criadores de produtos de origem animal
não poderão participar, porque não têm o selo no município.
A lei foi criada nesta casa, e não tem o selo no município. Ela foi criada no ano
passado, e a lei está pronta, mas não temos esse selo. O Conselho de Alimentação Escolar (CAE)
não deixa o gestor comprar carne do açougue, nem o frango melhorado, porque não tem nota, porque
não tem selo, porque não tem médico veterinário que vá ver o abate desses animais. E nossas escolas
estaduais estão sem comer proteína. É seriíssimo! (PALMAS)
Como fazer tudo isso - tudo isso que eu coloquei aqui -, como vamos diagnosticar
a aprendizagem dos alunos, se eles se mostram dessa forma? O ciclo é muito bonito no papel, mas
como está não funciona! Ciclo no papel não é aprendizagem! Não é aprendizagem! (PALMAS)
Não foi discutido com a categoria, a coisa veio verticalizada, o sistema está aí, o
Sigeduca é dessa forma e ninguém o muda, e é essa a situação que o Estado de Mato Grosso vive.
Parabenizo a sensibilização desta autoridade, de Vossa Excelência, e de toda a sua
equipe da Assembleia Legislativa, para que possamos mudar essa realidade, porque nós Professores,
educadores de todas as áreas de dentro da escola; não estamos brincando de ensinar, não. Nós não
queremos ganhar o nosso dinheiro fácil, não. Nós não queremos fazer de conta, não. Nós queremos
que os nossos alunos aprendam. Nós queremos ter orgulho do índice da nossa escola. Nós queremos
ter orgulho do nosso Estado e do nosso Brasil. Era isso.
Muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós vamos permitir que a Professora
Alvarina responda aos questionamentos e, em seguida, o Sr. Alfredo Tomoo Ojima usará a palavra.
Depois, vamos interromper a Audiência Pública para um lanche, tendo em vista que já é meio-dia.
Aqui vocês seguem o horário de Brasília, então, neste caso, não daremos a oportunidade neste
primeiro bloco para a quinta inscrita, que seria a Srª Márcia Adriana. Após as duas respostas, nós
vamos para o lanche e aí, no retorno do lanche, nós recomeçaremos com a Srª Márcia Adriana, o Sr.
José Maranhão, a Srª Carmem Lúcia e o Sr. Francisco Carlos. Fica assim estabelecido.
Com a palavra a Professora Alvarina de Fátima dos Santos.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - A organização por ciclos é
bastante polêmica, e pelo tempo que eu acompanho, que é desde 2000... Tudo que vocês disseram é
verdadeiro em relação à formação dos profissionais, pelo tempo que eu acompanho o ciclo... Em
2000 eu participei, tenho certificado de uma formação no município em que eu morava. A assessoria
organizou o evento para a nossa formação, para conhecermos o que é que estava chegando, que
proposta era aquela, porque conhecedor da proposta, o professor abraça ou não abraça, ele tem livre
arbítrio para acreditar ou não.
Depois de 2000, as formações que eu participei foram as mesmas que vocês
também participaram do CEFAPRO, mas se o problema está da forma como chegou, que estudo
faremos e que indagações nós faremos para que haja a melhora?
Isso é um ponto importante, esta Audiência Pública revela essas indagações.
Então, a partir das indagações, porque tem questões que são mais amplas, são administrativas
mesmo, que vai ser a parte da SEDUC, do CEFAPRO e da Assessoria Pedagógica. Outras são
também do interior da escola e outras que nós precisamos articular com toda a comunidade.
Vocês falaram da questão da estrutura física, ela é importante e necessária, sim;
mas nesse repensar, quando nós indagamos a estrutura física, nós indagamos a quantidade de salas,
os espaços escolares enquanto obra estrutural, mas existem outros espaços que nós podemos nos
apropriar. No Município de São Félix do Araguaia ou no Município de Confresa, quais são os
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espaços que usamos também para a educação? Porque quando nós falamos que é formação integral,
tem a parte cultural. De que espaços da cultura a escola se apropria hoje para fazer o diferencial?
Como estão indagadas as metodologias? O que falta nós sabemos, mas nisto que
falta e na experiência que eu tenho de São Félix do Araguaia e também de Confresa, sei que o
professor não deixa a coisa parada. Ele também faz acontecer. Só que essas coisas que vocês fazem
acontecer, muitas vezes, não são vistas. Tem escolas que desenvolvem projeto de leitura dentro da
própria realidade. Então, indagações existem, sim, vocês indagam cotidianamente, mas vocês
também desenvolvem ações que são um desafio que enfrentam dentro daquilo que falta. Nós
sabemos também que ainda não está sendo o suficiente.
A questão do mobiliário adequado: quando pensamos em mobiliário adequado, o
mínimo é a carteira para o aluno, para todos os alunos e também adequados aos tamanhos. É
importante? É, mas se eu não questionar o currículo, se eu não questionar a metodologia de ensino,
não é o mobiliário que vai dar conta, não estou dizendo que ele não é importante, ele é. Mas sem
repensar, sem indagar a metodologia utilizada, e temos que questionar o próprio fazer, eu tenho que
questionar o meu, porque aquilo que eu estou percebendo que não está dando certo na minha prática
pedagógica, que intervenções... É isso que nós chamamos de intervenção, para fazer o diferente
naquele espaço que temos e também temos que vir para a conversa, porque se nós só esperarmos...
Uma coisa que foi dita pela Kátia Laura, em relação à educação do campo, a
dificuldade que tem: só que tem escola que não tem a dificuldade de estrutura física que ela tem,
mas tem outras dificuldades e aí, o espaço de indagação é o espaço de formação mesmo, porque às
vezes - eu trago isso como mais uma contribuição para indagarmos, como está sendo essa formação,
porque às vezes discutimos temática que não é da nossa dificuldade, por exemplo, no processo de
alfabetização. E essa formação em serviço precisa puxar para esse aspecto.
Qual é o desafio e que caminho eu posso seguir? Porque também, se eu tiver
dificuldade no processo e esperar do Sr. Alfredo, isso tudo estou trazendo para reflexão, aquilo que
é, o que a escola já faz, e eu sei que faz, e que quase nunca aparece, porque não temos, ainda, a
prática de socializar os registros que fazemos, porque vocês têm o registro das práticas nas fotos, nos
projetinhos que vocês desenvolvem, só que fica para a escola e, às vezes, no ano seguinte nem se
retoma esse projeto que foi desenvolvido em 2014, por exemplo. Então, você não articula a
avaliação necessária.
Foi falado pela professora, com muita propriedade, a questão da Prova Brasil, que
enquanto evasão e reprovação nós estamos bem, mas nós temos muito que melhorar em relação à
proficiência, e não é só São Félix do Araguaia, é o Brasil. Então, nós ficamos nesse paradoxo: é
porque é ciclo? É porque é série? O Brasil todo não é série, e por que o Brasil todo, no índice que ela
abordou, perde só para um país? Então, não é a questão porque é série ou porque é ciclo, mas que
ensino nós ainda estamos vivenciando nas diferentes escolas de ciclo ou de série?
E para fecharmos essa conta, nós precisaríamos ver o que nós temos; o que é da
escola, dos seus profissionais, do coletivo, e como fazermos o enfrentamento nessa dificuldade com
a família ausente. De que forma? Porque, legalmente, a Resolução nº 01/1997 traz a importância,
determina que a família acompanhe os estudantes, mas hoje ainda temos aluno faltoso, por quê? Está
faltando a família encaminhar para a escola; está faltando a família fazer o acompanhamento, porque
o ensino é da escola, é do professor, mas se não tem o acompanhamento, é aquilo que vocês falaram:
o aluno já vem - porque na escola ninguém está vendo e aqui na escola eu vou fazer isso para quê?
Porque não é verdadeiro que ele vai à escola para fazer a prova e que, se não tiver a prova, ele não
aprenderá. Isso não é verdadeiro, porque todo aluno, quando o pai, a mãe e a sociedade o querem na
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escola - por isso existem as leis -, é porque o resultado é aprendizagem. Como combatemos, então, o
desinteresse?
Acho que fica a indagação - por isso que falei da questão da metodologia - sobre
que conteúdos desenvolvemos na escola, o que é do interesse e para o interesse do estudante? Eu sou
professora, a mesma dificuldade que vocês encontram em relação ao desinteresse, eu também
enfrentei há 32 anos na educação. Mas sempre quando temos a proximidade com o aluno, seja
criança ou adolescente, nós descobrimos algo do interesse dele, e a partir desse interesse nós
articulamos outras atividades.
Lembram que falei na hora da palestra sobre a sobrecarga docente? Três turnos
diários para o professor. Essa também não seria uma dificuldade nesse processo de aprendizagem
dos alunos? Em qual tempo nós podemos ver o diferencial? Em qual tempo damos a oportunidade
para o aluno expressar o que ele deseja, para desenvolvermos o currículo da escola? Então, é uma
série de fatores que se articulam entre si.
Aquilo que vocês cobram da SECUC é para ser cobrado dela mesmo ou da
Secretaria Municipal, no caso das escolas organizadas por ciclos municipais? Mas também
precisamos trazer a reflexão para o nosso próprio aluno, porque se ele entra para a conversa, o
interesse dele pode ser diferenciado, e eu tenho experiência nisso.
Uma vez - muito brevemente, eu não vou contar a história toda - eu coloquei os
meus alunos de dez a dezessete anos para avaliar a minha atuação, porque eles reclamavam muito.
Com um mês de aula, naquele período letivo, com um mês de aula eles perguntavam: “Professora,
quando vamos começar a estudar?”. E eu achei que estava abafando, porque a minha proposta de
trabalho em sala é por projeto, é por tema gerador. E aí não estava correspondendo ao que eles
esperavam, porque o que eles esperavam era só o conteúdo dos livros.
Todo dia eles queriam o livro e eu queria dialogar, discutir, saber o que eles
estavam trazendo da vida deles. E nesse momento eu tive um confronto com uma turminha de dez a
dezessete anos e eu dividi a turma em duas, para avaliarmos o que eles queriam aprender e a minha
atuação. Uma equipe defendia e a outra atacava a professora - não é todo mundo que se coloca para
avaliar.
E a partir daquela avaliação, eu consegui pelo menos dialogar com eles. Então, de
que forma envolvemos os nossos alunos para que desperte neles o interesse efetivamente também?
Porque se eu chegar à sala de aula e ninguém quiser nada, então eu tenho que ir embora.
Eu, professora, na minha natureza, não consigo trabalhar com total desinteresse,
mas que interesse então tem esse aluno para eu partir dele? É uma das coisas que eu acho que fica na
organização por ciclo, é essa democratização; todos precisam ter voz e vez, porque não é só o
professor que leva o conhecimento, o aluno também leva. E aí, a partir dessa democratização dentro
da sala de aula, às vezes, encontramos também saídas.
Em relação à parametrização sem articulação e sem a superação, principalmente,
na escola que recebe um público diferenciado, que é o indígena. Eu não combinei com a professora,
Deputado, mas no avião eu comentei com ele de outro município que, às vezes, essa transposição da
língua é um desafio muito grande para a aprendizagem dos alunos. E essa importância de que o
professor articulador - e estou chegando à conclusão de que o articulador são todos os professores -
precisa de, apenas, um naquele espaço? Precisamos de mais um, mas na realidade todos os regentes
também fazem parte de um processo de articulação.
A superação também é compromisso do coletivo da escola e, às vezes, ficamos
esperando liberar um para estar na superação. Não significa que eu estou dizendo que vai ter esse
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mais um, não sou eu que decido, eu sei da importância desse mais um, mas no processo de
articulação e de superação, é um projeto de toda a escola e, às vezes, nós precisamos do
envolvimento dos pais.
O Projeto FICAI assegura a questão da frequência na escola, mas que conversa
temos nesse projeto para que os pais também se façam presentes nesse ambiente escolar?
Obrigada!
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora.
Eu passo a palavra ao Sr. Alfredo e, logo após o pronunciamento dele, nós vamos
interromper para um lanche. A secretária já me puxou a orelha por três vezes: “temos que fazer o
lanche, temos que fazer o lanche”. Vocês comam antes do que eu, porque eu como muito. (RISOS)
Com a palavra, o Professor Alfredo. O Sr. Alfredo é servidor efetivo, concursado,
servidor de carreira da Secretaria de Estado de Educação, e é um assessor de gabinete do Secretário
Permínio, ele vai dar uma boa notícia sobre o Secretário Permínio por aqui, logo, logo.
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Bom dia a todos!
Quero cumprimentar o Deputado Wilson Santos; a Secretária de Educação,
Terezinha; o Presidente da Câmara; cumprimento a todos os componentes da mesa.
É bom retornar a São Félix do Araguaia, eu já estive aqui várias vezes, em outras
ocasiões.
Eu sou servidor da SEDUC desde 1989 também, Professora Alvarina, e durante a
época do Governo Dante de Oliveira, 1995 a 2002, eu também tive a oportunidade e a satisfação de
ter participado do Governo Dante de Oliveira, e durante esse período, muitas coisas que foram
colocadas aqui estão registradas como marcos histórico.
A gestão democrática foi colocada na época do Dante de Oliveira, eu ressalto isso,
porque esses marcos legais são referenciais que ficam numa gestão. A Lei Complementar nº 49, lei
do sistema que a institui também, é a única no Brasil que fala do Sistema Único e fala do Programa
de Gestão Única.
O Município de São Félix do Araguaia fez parte do Programa de Gestão Única no
Estado, ele foi projeto piloto em 2000-2002, mais ou menos nessa época. A LC nº 50, LOPEB, Lei
Orgânica do Profissional da Educação, foi também instituída nesse período. Essa lei serviu de
referência para os outros Estados, porque se instituiu a questão de ter o subsídio e foram eliminadas
aquelas coisas que havia lá, de ajuda - pó de giz e demais coisas - e fez um referencial que serviu de
modelo para vários Estados.
Outra questão que eu vejo que é fundamental: foi na época do Dante de Oliveira
que foram instituídos os Centros de Formação, CEFAPROs. Até hoje tem quinze CEFAPROs
distribuídos no Estado para fazer a formação dos profissionais da educação. E a Resolução nº 262,
que regulamentou a escola organizada por ciclos, é também desse período.
Retomando esse período, eu fiz parte daquela equipe e naquela ocasião a gestão
estava programando uma formação muito forte em relação aos profissionais, às escolas, às
comunidades, preparando o material. Só que nesse intervalo teve uma eleição, e esse processo da
eleição fez com que tivesse um rompimento da continuidade da política pedagógica da SEDUC.
E o que aconteceu? Nós tínhamos todo o material preparado para fazer a formação
com os professores, com os coordenadores e a comunidade. Esse material estava pronto, só que teve
uma eleição, e nós perdemos essa eleição.
E aí o Governador e o Secretário que assumiram naquela ocasião, davam a
entender que não dariam continuidade a esse processo. E o que nós fizemos? Nós encaminhamos aos
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CEFAPROS e às escolas todo aquele material para que todos pudessem ter acesso às informações,
para que a escola pudesse se apoderar desse conhecimento. (PAUSA)
Vejam! Ele está aqui mostrando o material...
(NESTE MOMENTO, UM REPRESENTANTE DO CEFAPRO MOSTRA O MATERIAL AO
ORADOR.)
Então, esse foi o processo que acompanhei até 2002. De lá pra cá, o que temos
observado em várias reuniões de que temos participado? Formação de fato, em relação à escola
ciclada, teve em alguns momentos, mas uma formação efetiva envolvendo as escolas, os
profissionais e as comunidades não houve. Isso nós estamos detectando que realmente...
E quero ressaltar o seguinte: a Secretaria de Educação, o Secretário Permínio,
instituiu uma portaria e construiu uma comissão para fazer um estudo da escola organizada em ciclo,
essa comissão é composta por SEDUC, Conselho Estadual de Educação, SINTEP, Comissão de
Educação da Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso e mais a UNDIME - União Nacional
dos Dirigentes Municipais de Educação do Estado de Mato Grosso, eles já fizeram umas três
reuniões e estão elaborando um plano de trabalho para que possamos fazer essas discussões nas
escolas e nos municípios também. Então, essa contribuição que a Comissão de Educação da
Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está encaminhando servirá para subsidiar
discussão, para enriquecer esse debate que está sendo feito na SEDUC.
Isso que a professora pontuou, referente às dificuldades nas escolas do campo, nas
escolas aqui na cidade e CEFAPROS, nós queríamos colocar bem essa separação. Nós estamos lá
com o Governador Pedro Taques, com o Secretário Permínio há 150 dias de gestão. Então, quero
pontuar que temos muitas situações que assumimos agora, e tem situações principalmente da
questão do orçamento. Nós temos um orçamento de R$ 1.900.000.000,00, só que esse orçamento foi
feito no ano passado, e desse orçamento quase R$ 1.800.000.000,00 são para a folha de pagamento.
Então, nós temos a seguinte situação: nós temos poucos recursos para fazer investimentos e poucos
recursos até para fazer a manutenção da estrutura da SEDUC como um todo - quando eu falo
SEDUC, falo das escolas estaduais do Estado inteiro.
E o que fizemos durante esse período? Há uma determinação do Governador Pedro
Taques no sentido de que estamos passando por uma crise econômica muito séria, e isso vocês estão
sentindo em seus bolsos. Ele tomou uma decisão muito séria no sentido de assegurar que nós
pudéssemos honrar os compromissos em relação à questão do salário e nós fizemos na Secretaria de
Educação, uma reestruturação administrativa, e com qual objetivo?
Nós tínhamos quatro Secretarias Adjuntas e hoje temos duas. Havia 1.100 pessoas
na sede da SEDUC, e hoje há aproximadamente 800 pessoas lotadas na sede da SEDUC.
Isso para quê? Para que pudéssemos ter recursos para atendermos essas demandas
que a senhora tem colocado. E há outras situações muito graves também: nós pegamos,
praticamente, dois repasses de transporte escolar que não foram pagos em 2014, o Secretário deve
ter recebido esse recurso, e nós tivemos que pagar logo no começo do ano dois repasses de 2014.
Então, é toda uma situação em que havia uma dificuldade muito grande em saldar os compromissos
que tínhamos com os municípios, com os servidores e funcionários.
E uma coisa fundamental é a questão da construção de prédios, nós temos prédios
de 2008 e 2009, praticamente sem andamento, porque estão interditados. Há uma ação do Tribunal
de Contas da União do Estado impedindo o andamento daquela obra, porque foi feita de maneira
irregular.
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Eu vou dar um exemplo bem prático para a senhora: nós temos uma escola do
campo, em Nobres, que foi entregue em 2013, hoje essa escola está interditada, porque está caindo.
Quer dizer: é uma situação que nós pegamos no começo do ano e temos enfrentado toda essa
situação que é, na verdade, de calamidade.
Esse dinheiro que poderíamos estar aplicando na sua escola, em outras localidades,
nós não podemos assim fazer, porque aquela estrutura que está caindo tem que ser reerguida. Nós
estamos jogando dinheiro praticamente, estamos desperdiçando esse recurso.
Essa é uma situação que nós encontramos, que estamos enfrentando. Este será o
ano de organizar a casa. Por que eu estou dizendo isso? Porque as normativas que foram criadas para
2015 foram feitas em 2014, e o Orçamento para 2015 foi feito em 2014. Então, este ano é que
poderemos nos planejar, nos organizar, para que no ano que vem possamos fazer as ações
necessárias, para melhorar a qualidade da educação no Estado de Mato Grosso. Portanto, nós
teremos dificuldades, Professora, nós teremos muitas dificuldades!
Agora, quero colocar para vocês outra coisa que o Governador decidiu e
encaminhou, não sei se o sindicado já repassou para vocês em relação à Lei Complementar nº 510,
que assegurou o ganho real e mais a reposição. O Governador, com essa dificuldade financeira,
econômica que o País e o Estado estão passando - porque os recursos estão caindo, a arrecadação
está caindo e a folha aumentando -, propôs fazer a recomposição da seguinte forma: a metade na
folha deste mês e mais o ganho real; a outra parcela, com o pagamento em novembro e a correção a
partir de maio até esses meses que estão em vigência, será paga em janeiro de 2016. Essa foi a
proposta discutida com o Fórum Sindical, o sindicato também discutirá essa questão, mas essa é uma
proposta para que nós possamos honrar os compromissos.
E, com certeza, muita gente está colocando: “mas isso não está sendo de acordo
com a lei”. É que nós temos limites financeiros, limites na Lei de Responsabilidade Fiscal, que não
permitem que paguemos acima daquele percentual, senão, o Estado será penalizado. Por isso foi
programado para que pudéssemos efetuar esse pagamento no último quadrimestre. Então, esse é um
ponto que nós queríamos colocar para vocês.
E uma coisa muito importante, quando nós colocamos a questão da proficiência, a
SEDUC durante certo tempo estava trabalhando muito com a questão do IDEB - vocês sabem muito
bem. O IDEB do Estado foi de tanto a tanto, só que o IDEB tem um indicador que falseia um pouco
a ideia do que está acontecendo com a educação, porque na hora em que você elimina a questão da
retenção, o IDEB sobe; só que quando vamos observar a proficiência - professora, a senhora está
certinha -, ela está lá embaixo. Mas essa fase de subir o IDEB acabou, esgotou. Agora, o foco é só
proficiência, se não atacarmos a proficiência, não conseguiremos melhorar a educação.
A SEDUC já firmou um compromisso no sentido de que os CEFAPROs, a
Assessoria Pedagógica, toda a Secretaria estará focada para que as escolas possam promover a
aprendizagem das crianças. Este é o principal foco da política da Secretaria de Educação:
aprendizagem.
E vamos fazer todo esforço para que possamos atender essas demandas que vocês
colocaram aqui, mas por questão de orçamento, como eu coloquei, às vezes, estamos engessados,
porque o que está previsto no orçamento não prevê aquelas ações, então, nós vamos ter algumas
dificuldades para executá-las ainda este ano.
Em relação ao professor articulador, não é o caso de vocês, mas houve várias
escolas que encaminharam pessoas que não tinham nada a ver com o pedagógico da escola,
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contratavam pessoas que não faziam uma articulação de fato, que fosse beneficiar o pedagógico da
escola. Então, neste sentido foi feito certo critério, mas vamos ter muita dificuldade ainda este ano.
Já temos uma discussão em andamento das normativas para 2016, já começaram a
ser discutidas com o sindicato e com o Conselho, para que possamos fazer uma adequação, fazer um
trabalho de planejamento para que em 2016 possamos melhorar as condições de funcionamento das
unidades escolares.
Quero pontuar para vocês, em relação à questão do Plano Municipal de Educação:
vocês colocaram várias questões que, na verdade, nós temos que fazer uma discussão muito
articulada, muito entrosada com a rede municipal e a rede estadual.
Nós somos o único Estado que tem no Plano Estadual de Educação a instituição do
sistema único e vamos trabalhar fortemente para que isso aconteça, porque não há sentido muitas
vezes, Secretária, nós fazermos um esforço para que promovamos o aprendizado daquela criança,
sendo que ficam disputando alunos do município e do Estado, fica aquela disputa e não estamos
focando naquilo que é o principal, que é a aprendizagem das crianças. Nós temos que unir as forças
do município e do Estado para que melhoremos a qualidade da educação.
E nesse ponto - aqui, parece que já houve a conferência - quero alertá-los do
seguinte: cada vez mais nós temos que envolver a comunidade escolar no processo, os pais
participando, porque não dá para mudar a educação só com a SEDUC, se todos os atores estiverem
participando, é de baixo para cima que vamos conseguir fazer alteração. Então, não temos condições
de dizer assim: “o problema é da SEDUC”. Não, o problema é de todos nós.
Eu acredito no seguinte: o Governador Pedro Taques tem a mãe que é professora,
ele é professor, ele gosta de educação, essa é uma grande vantagem para nós, porque quando uma
pessoa gosta de educação... Ele cobra sistematicamente de nós: “Como está o projeto para combater
a alfabetização? Como está o projeto para a educação integrada?”. Ele é apaixonado pela educação,
isso ajuda muito a educação, ele sabe das dificuldades e se sensibiliza com isso.
Eu vou dar um exemplo bem prático para vocês: o Deputado Wilson Santos foi
Prefeito em Cuiabá, e eu tive a oportunidade de trabalhar com ele naquela ocasião. Ele também era
um Prefeito apaixonado pela educação e lá também conseguimos ver vários projetos que hoje,
Deputado, são referências para vários municípios.
Ele ganhou até vários prêmios nessa área também: a questão étnico-racial que foi
uma referência, também a questão da educação especial, nós avançamos muito nesta questão de
inclusão e um problema que eu acho que dá para resgatar no Estado é a questão da escola com
saúde, é um programa muito interessante, que ajudará muito a escola e principalmente os alunos.
Nós coordenamos esse programa juntamente com a SEDUC, e darei um exemplo
prático: eu já vi crianças de sete e de oito anos que estavam com dificuldades de leitura, e na hora
que foi fazer o exame, elas estavam com seis graus e meio de miopia. Então, não estavam
enxergando, e isso é um dos casos mais simples que eu posso citar.
Acredito que um gestor que está ligado, que está antenado, que gosta do que está
fazendo em relação à educação, é muito mais fácil para nós trabalharmos. Eu tenho certeza de que
tanto o Secretário Permínio, que já participou da gestão, lá para trás na SEDUC, que fez parte da
equipe - eu também fiz parte dessa equipe, na época do Governador Dante de Oliveira -, eu tenho
certeza de que nós conseguiremos, com a ajuda e o empenho de vocês, principalmente do pessoal
dos CEFAPROs, fazer com que nós possamos melhorar a educação e a qualidade da educação no
Estado de Mato Grosso.
Obrigado! (PALMAS)
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O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Agora faremos um intervalo de dez a
quinze minutos.
(PAUSA DE 12H34MIN ATÉ 13H02MIN.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Vamos recompor a mesa. Estamos
no meio desta Audiência Pública e ainda temos seis pessoas inscritas na plateia.
Tem muita coisa que já foi perguntada e já foi respondida, por isso eu solicito que
as próximas intervenções não repitam os assuntos já abordados.
Nós temos inscritos: a Srª Márcia Adriana, o Sr. José Maranhão, a Srª Carmem
Lúcia, o Sr. Francisco Carlos, a Srª Evani e a Srª Aline.
Eu quero convidar para compor conosco a mesa o representante do Promotor de
Justiça da Comarca de São Félix do Araguaia, que é o Dr. Lizandro Alberto Ledesma, e está fora de
São Félix do Araguaia, cumprindo diligências em município vizinho, mas a Promotoria encaminhou
um representante, o Sr. Susumo Ferreira Araújo. Então, convido o Sr. Susshunmo Ferreira Araújo
Alves para compor conosco a mesa, neste ato representando o Ministério Público do Estado de Mato
Grosso, que em todas as audiências realizadas pela Assembleia Legislativa para tratar deste tema, se
fez presente.
Eu agradeço a presença de representantes da Escola Municipal Betel, do Município
de Alto Boa Vista. Muito obrigado pela presença, pelo sacrifício, pelo deslocamento de Alto Boa
Vista até aqui. Muito obrigado!
Com a palavra a Srª Márcia Adriana, Diretora da Escola Estadual Severiano
Neves.
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Bom dia!
Eu mudaria o nome da Audiência Pública para reflexões sobre os atores, autores,
sujeitos da escola ciclada.
Desde 2000 eu estou não só no Estado, mas venho de um município que a
educação é de escola ciclada. Eu defendo a proposta, mas sabemos que as mazelas que existem não
são por causa da proposta. Quando falam: “esse ciclo!...” Não, não é esse ciclo, é como foi
conduzido e o que ainda falta. Seria um momento de avaliação do que precisa para esse ciclo dar
certo, e uma conversa com aqueles que não entendem o ciclo, uma argumentação: por que o ciclo
não é bom? Como diz a Srª Alvarina, se seriado fosse tão bom, então, nós estaríamos com uma nota
de IDEB muito boa, em nível de Brasil. Então, a questão não é a proposta, mas o que está faltando é
a sustentabilidade dela.
Foi elencada a infraestrutura, mas nós temos escolas que têm infraestrutura para o
ciclo funcionar.
A articulação, como foi bem colocado aqui... Nesses dois anos nós estamos com
problema de contratação, mas antes era a partir da atribuição, e ninguém aqui falou que era aquele
professor que não queria ir para sala de aula. Alguém lembra quem ia? Como é que vai ter resultado,
se eu não quero dar aula? E era! Era aquele que não tinha autonomia.
Professores, por favor, não é para falar? Não é para rasgar o verbo? Então, vamos
rasgar. O problema está aí, na atribuição. Eu não quero encarar trinta alunos, aí eu pego a articulação
e brinco de dar aula, Professora Ana Cristina, porque tem gente que brinca de dar aula, sim. E aí não
tem como dar resposta, porque eu não fiz a minha parte. Então, é muito fácil falar do ciclo, mas
quem fez a sua parte? A articulação são só dois anos, Professores.
Anteriormente, era na atribuição... O cara já saía de lá - desculpem-me a
expressão, eu sou líder de jovens; aí, eu tenho a expressão um pouco light - para ser articulador e, ao
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invés de ele ir buscar instrumentos, ele ficava esperando cair chuva não sei de onde para começar a
trabalhar com esses alunos.
E o relatório desses alunos, encaminhado pelos professores? Não sabe ler, não sabe
escrever, mas não colocam as dificuldades que esses alunos têm, não trabalham quais são as
competências que têm que ser desenvolvidas; então, é fácil falar do ciclo. É fácil falar do ciclo,
quando eu falei para o aluno que não tem mais prova... Foi você que inventou isso! Agora você vai
comer o que você plantou! Mas também foi mal vendido para nós, foi mal implantado, implantado
sem condições, sem infraestrutura, mas foi. Então, daqui para frente, o que falta? Está faltando o
Estado cumprir com a parte dele? Está! Viu, Sr. Alfredo! Está faltando? Está, e muito!
De que adianta um sistema de formação humana, se quem nos dita as regras é um
SIGEduca, que é burocrático, parametrizado e tem ainda a tal de dona “cote” atrás desse negócio.
Então, são muitas...
Eu acho que tinha que ver assim: vamos fazer um instrumento de avaliação? O que
precisa...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, a senhora poderia repetir
essa última afirmação sua, que eu...
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Perdeu?
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Perdi, por favor.
A SRª MÁRCIA ADRIANA - De que adianta um sistema humano, sendo que quem
dita as regras é um sistema burocrático, que não aceita modificações, que dita regras para mim. E aí
tem a tal de dona “cote”, porque a “cote” que nos atende, é terrível! Ou seja, se não está dentro do
parâmetro, não entra. Só que a minha lei, o orientativo fala uma coisa, mas o sistema não se encaixa
no que é falado em alguns lugares desse orientativo. Como a sala de recurso... Ela tem algumas
coisas escritas e nós estamos há quantos quilômetros de Cuiabá? Mil e cem quilômetros e não temos
laudos aqui para colocarmos os nossos alunos na sala de recurso.
Na minha escola eu tenho 15, 08... E não tem laudo, talvez a dona “cote” ou a
SEDUC virá aqui me falar alguma coisa, mas eu consigo provar o que eles precisam, só não tenho o
laudo, então, são encaixados como PNE, são coisas que precisam.
Eu penso que antes de termos vindo para cá, deveriam ter enviado algumas
perguntas para nós, Deputado, para virmos preparados para este debate. Vejam, isso não funciona.
Eu queria muito ter entregado um papel da minha fala, dizendo que não funciona
isso, está precisando disso e está precisando daquilo, porque eu tenho condições de contar, não é
porque eu sou diretora, não. Eu estou há 15 anos mexendo com a educação, mexendo com a escola
ciclada, dentro e fora do Estado.
No município de onde eu vim, nós temos uma parceria muito boa, dava para
acompanhar. Agora, como discutir escola ciclada, se nós temos que cumprir 200 dias letivos?
Hoje, por exemplo, é um dia que vai ser reposto, Senhor Assessor e demais
autoridades, independentemente, como se nós tivéssemos aula. Então, não se paralisa para falar de
educação, para avaliar. E os professores - desculpem-me a expressão - não têm saco para isso. Eles
não querem, eles querem conteúdo, jogar conteúdo. Então, vamos levar a coisa pronta, vamos
discutir isso, vamos melhorar nisso.
Os autores têm que começar a assumir, a começar pela metodologia de ensino. Nós
temos professores que têm dificuldades de planejamento. Se eu tenho dificuldade de planejamento,
eu pego o livro didático, chego lá, e falo: olha, história é isso e aquilo. E no próximo ano não tem
continuidade no ciclo.
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Como se trabalha um ciclo, sendo que eu não sei o que foi trabalhado no plano
passado pelo professor da segunda fase, do terceiro ciclo, por exemplo? Eu não vou lá e olho, eu já
vou entrar com o que tem que ser naquela fase. Então, estão faltando esses ajustes.
Como é que eu vou falar de competência se eu não sei nem que competências que
ele traz?
Não olham e não leem a avaliação descritiva, e se leem: “a nossa escola detectou
que a nossa avaliação descritiva não condiz com o que realmente está sendo colocado para nós,
estamos recebendo alunos que não condizem com ela. Então, é muito mais embaixo o negócio, não é
uma proposta de ensino, mas o que nela não está dando certo? E se tem outra proposta, que tragam e
apresentem.
Eu, sinceramente, quando se fala que os alunos foram para a Escola Tancredo de
Almeida Neves sem aprender nada... Eu tenho dois casos exemplares: eu tenho um aluno que passou
no seletivo do Fórum, eu era professora dele no 9º ano e queria, sim, retê-lo; eu consigo trazer a
vocês a minha lista e pedir que retenham esse aluno. Engraçado, na prova do Fórum, ele passou -
que coisa contraditória!
Outro aluno que também está na minha lista e dos demais colegas para reter, para
não ir para a Escola Tancredo de Almeida Neves, passou na prova do seletivo de Confreza, e uma
aluna que eu achava que passava, que era boa, não passou. Então, é uma prova que começa... Sabe!
E desconsidera tudo que foi feito.
Nós não estamos utilizando instrumentos avaliativos, não registramos e fazemos as
nossas avaliações descritivas baseadas no que achamos. Aí, não funcionará escola ciclada mesmo!
E tem a parte do Estado, mas tem a nossa. Ou se assume o negócio ou fala: “não,
não quero mesmo esse negócio, vamos seriar e que se danem aqueles - desculpem-me novamente a
expressão - que não têm acesso; aqueles que têm problemas na casa deles; eu não quero saber desse
aluno, eu quero é colocar conteúdo, porque lá na vida ele irá ter que saber o que é o quadrado do
retângulo de não sei o quê.
Mentalidade de mistificação do ciclo é a primeira formação que nós precisamos e é
muito fácil uma pessoa que nunca trabalhou no ciclo, que vem de um sistema seriado chegar e
querer falar do ciclo, é muito fácil!
Vamos vivenciar, vamos pegar uma escola que está dando certo e ver se funciona.
Eu não posso criticar aquilo que eu não trabalhei ou que eu trabalhei, porque eu vim de um lugar que
só tem seriado.
Frequência escolar é também o nosso gargalo. Eu ouvi uma ilustração da
professora... Sua irmã, como é o nome dela? (PAUSA)
(A ORADORA PERGUNTA A UMA COLEGA DA PLATEIA.)
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Ela não está aqui, mas fez uma ilustração muito
legal, que uma criança de oito anos estava na quadra e um professor que tomou posse recentemente
no Estado falou: Menina, vai para a sua sala de aula, porque se não voltar, vai receber falta, e depois
não dará conta na prova e reprovará”. E essa menina olhou e disse: “Você não sabe que não reprova?
O senhor não sabe que se eu ficar aqui nessa quadra este ano inteirinho, o senhor terá que me passar
no final do ano?”. É uma verdade, Deputado! Então, isso não está dando certo e nós não estamos
tendo respaldo de outras instituições para segurar a frequência escolar. Então, é preciso fazer esse
debate.
Nós tivemos o juiz em nossa escola para falar: “Espera aí, estamos fazendo a nossa
parte, mas a família não está”. Nós fizemos o Conselho de Classe e essa semana nós terminamos a
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última turma, o nível de participação dos pais dos alunos que precisam, não estão... Não temos mais
respaldo...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professora, tire-me uma dúvida, por
favor: quando a senhora fala em frequência, é um desafio, é aquela frequência que o aluno acaba
terminando o ano ou é evasão mesmo?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Ele acaba terminando o ano.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Certo, entendi!
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Aí, ele chega sem as competências necessárias e o
pai também sai cedo, e esse aluno não vai... Porque dorme e tem outros e outros motivos.
Tem um aluno que eu comecei a dar aula a ele no 7º ano. Ele é um aluno que,
talvez, será reprovado no 9º ano, porque falta muito e é um aluno que tem dificuldade de
aprendizagem. Então, nós mandamos intimação para os pais, convocação para vir e mandá-lo para a
sala de articulação, mas a criança não vem. E o que nós fizemos? Mandamos a ficha de comunicação
de aluno infrequente, FICAI, mandamos, mas não temos respaldo. Então, está precisando da questão
da Promotoria.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Outra pergunta: quer dizer que no 9º
ano pode reprovar?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - No 9º ano ele fica retido por faltas.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Só por faltas?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Somente.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Mas se ele tiver mais de 75% de
frequência, mesmo não atingindo o coeficiente, ele vai para o 2º grau?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Vai, e é a somação dos três ciclos.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Esse ciclo de formação humana não
reprova em nenhum momento?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Em nenhum momento.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Mas tem outro ciclo que reprova não
é? Acho que é o de aprendizagem.
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Não tem mais esse ciclo.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - O Estado não o adota mais?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Não.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Certo.
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Na verdade, é assim: quando vamos discutir, os
pensadores do ciclo e a forma, nós entendemos por que não reprova, mas quando eu achar que
retenção é uma forma de penalizar e de fazer o aluno estudar, então, não vai para frente, Deputado.
Está entendendo o que eu estou dizendo? Os pensadores... Escutem outro... Eu tive a oportunidade
de estar em Cuiabá, já fui Assessora de Secretário e estava, no momento, com um estudioso do
IDEB e outra da UFMT. Ele conseguiu me mostrar porque ele era contra a repetência.
É uma pena que não tenho a propriedade para falar aqui que ele tem, para entender
como se dá esse processo, mas eu sei dizer que é necessário tempo e espaço para esse aluno
despertar.
Nós até fazemos um comentário: “por que quando vocês chegam na Escola
Tancredo de Almeida Neves vocês aprendem?”. E alguns nos dão a seguinte resposta: “não, é
porque lá tem prova”.
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É nada, é porque o aluno está mais maduro, porque naquele momento ele queria só
bola, porque naquele momento ele queria brincar e porque aquelas aulas são muito chatas, não
conseguem envolver. Quem é que dá conta? Pergunta e responde, pergunta e responde! Por favor!
Olha, Deputado, eu não sei se acontece em outras escolas, mas o meu laboratório
de informática está com problemas, não é usado porque não sabemos operar a máquina e também
temos problemas com a banda larga. Teve capacitação? Teve! E como foi isso? Está sendo aplicado?
Está sendo acompanhado?
E nós, com a Sala do Educador este ano, que foi um sucesso para mim, pedimos a
transposição didática. Nós estamos com um módulo que é justamente para isso, está aqui o Professor
Ivanildo, que não nos deixa mentir. O Ivanildo, que é o nosso colaborador, agora na transposição
didática colocou em prática, voltou para cá e apresentou. Então, nós estamos acreditando nesse novo
modelo, porque nós temos feito formação, estamos tendo o acompanhamento do CEFAPRO, numa
parceria muito boa, mas ainda falta a aplicação em sala de aula.
Que mecanismo nós vamos criar para fazer isso? São apenas os diretores, só a
gestão que vai começar a exercer o papel de fiscal? Como é isso? Como se vai medir?
Outra coisa é o processo de atribuição, processo de atribuição por pontos.
Senhores, perfis! Perfis! Eu tenho um professor que não dá conta de alfabetizar, mas porque ele é
pedagogo, tem tantos pontos, vai lá para a sala. Ele não tem perfil para trabalhar com educação
infantil! Então, é preciso discutir também a forma de atribuição.
Temos problemas de áreas, o nosso professor de matemática está na assessoria e
eu, de língua portuguesa, estou na direção, e a escola está com outras pessoas que não são da área
dando aula. É uma perda também, é necessário discutir isso, para que o ciclo dê certo.
Formação profissional: como nós colocamos aqui, o CEFAPRO para a nossa
escola, eu não tenho o que reclamar. Acompanha, vem, tem feito o trabalho, mas nós também temos
o nosso lado de resistência, também temos o nosso lado de resistência. Então, é preciso trabalhar
isso na escola. Eu acho que era mais ou menos isso mesmo.
Em relação à merenda, questão colocada pela Ana Cristina, o pior...
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Márcia, quando você disse que há,
por parte de professores, dos profissionais, resistência ao CEFAPRO, você poderia ser mais clara?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Poderia! Simplesmente não dá a ele o direito de
trazer uma metodologia diferenciada. Ele vem, fazemos a formação, e quando ele vira as costas, eu
não aplico, porque quem manda na sala de aula não é a direção, não é o CEFAPRO, sou eu, a
professora. Isso acontece ao longo dos anos; então, não adianta mais metralhar o CEFAPRO.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - E qual seria o caminho para
solucionar isso?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eu estou gostando da transposição didática, eu acho
que tinha que ter outra forma para que pudéssemos rever isso, porque não adianta ter “n” diplomas e
não aplicar o conhecimento, ficar só acumulando títulos! Tem que ter um mecanismo para que isso
aconteça, senão, também não vai mudar.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Poderia ser na elaboração desse
conteúdo programático que o CEFAPRO ministra, ele poderia ouvir os professores para a construção
desse conteúdo?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eu creio que não é bem assim, porque nós
levantamos a demanda na escola. Eu creio que é o da sala de aula, por isso que eu acredito na
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transposição didática. É a aplicação, após a formação do CEFAPRO, porque tem o feedback depois,
é o que está acontecendo este ano, porque não tinha - neste ano eu me senti muito agraciada.
Nós vamos para um curso igual ao Pacto, as meninas vão lá e fazem e têm que
aplicar em sala de aula. Isso é muito bom, mas é uma pena que acaba o curso e se esquecem o que
foi aplicado, essa continuidade do investimento é que precisa ser garantida. Eu não estou aplicando,
não vai ter o resultado. Agora, pode ser que eu apliquei e não deu certo, mas nem isso nós
conseguimos nas nossas escolas.
E aí também têm as outras condições colocadas aqui pelas colegas. Não nos dão
condições de trabalho, em alguns casos, que têm algumas escolas que não têm. Por exemplo: o nosso
laboratório de informática, é a maior dificuldade em relação à internet, porque a distância é muito
grande. Então, também tem que discutir que instrumentos que não estão dando certo e o que precisa
mudar. Eu acho que é mais ou menos isso...
Eu vou só falar sobre a questão da merenda, para que o Sr. Alfredo leve esse
assunto, pense e nos ajude na questão do Projeto SIM, porque se eu não comprar da agricultura
familiar, eu vou ter que gastar muito mais comprando leite no mercado, a linguiça da Sadia e daqui a
alguns dias a Friboi chega aqui e acaba com a nossa agricultura familiar. Então, vai para além da
minha qualidade na merenda, vai para o desenvolvimento local também.
Quem puder talvez no momento ir com o representante da Câmara que está lá
conosco e da Prefeitura para ver, para que consigamos, antes de 08 de junho, fazer alguma coisa que
possamos oferecer carne.
E uma coisa gritante é que a rede municipal serve, e nós não, porque estamos
assegurados numa lei que só serve para a rede estadual.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Inclusive proteínas?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Eles servem carne e servem leite, e nós não
podemos... Os pais não entendem, eles acham que nós não queremos comprar.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nesse caso, compram em
supermercado, não é?
A SRª MÁRCIA ADRIANA - Compram em supermercado, mas nós nem isso
podemos comprar. Só se fosse embalada com o selinho da Sadia, da Friboi...
Muito obrigada pela oportunidade! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós é que agradecemos por essas
contribuições! (PALMAS)
Com a palavra, o Sr. José Maranhão, Secretário Municipal de Educação do
Município do Alto Boa Vista. Depois, na sequência, a Srª Carmem Lúcia, o Sr. Francisco Carlos, a
Srª Evani e a Srª Aline.
O SR. JOSÉ MARANHÃO - Boa tarde!
Vejam bem, quando nós falamos em ciclo de formação humana, talvez nós
estejamos em uma escola do município que não possui, não adotou esse princípio, o ciclo; mas eu,
como professor, trabalho nas escolas estaduais, já trabalhei durante vários anos na escola estadual e
agora estou na Secretaria Municipal de Educação, trabalhei sempre nas duas. Vejo sempre essa
diferença entre escola municipal e escola estadual, ciclo e não ciclo.
Eu posso até concordar com algumas coisas que a colega Márcia Adriana falou,
com certeza o ciclo é bom, muito bom, mas para que o ciclo funcione, temos algumas condições: a
formação dos professores que passam em concurso - eu não vejo isso acontecer -, é preciso ensinar
ao professor como ele deve trabalhar o ciclo. Durante todo esse tempo, eu não vejo isso
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acontecendo, sinceramente, porque os nossos próprios colegas dos CEFAPROS, às vezes, são
colegas de sala de aula e que têm as mesmas dificuldades que nós, então nós temos muito essa
dificuldade.
Eu falo isso porque no momento em que nós falamos de ciclo, quando falamos do
Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), querendo ou não, a escola municipal já
adota esse sistema avaliativo descritivo do 1º ao 3º ano, que é a alfabetização, e isso já não tem
aquela avaliação escrita, que a maioria dos pais nos cobra.
Quando chega ao final do bimestre, os pais não querem olhar a avaliação descritiva
dos seus filhos. Eles chegam lá e perguntam: “Quanto meu filho tirou? Qual é a nota do meu filho?
Ele alcançou à média?”. Esse tipo de pergunta sai em todas as situações em que nós estamos
trabalhando.
Quando nós falamos, vem aqui - a Márcia Adriana acabou de falar e a colega
também, que me esqueci, que está aqui... Ela falou bem. Poxa, eu vou trabalhar uma realidade dos
meus alunos, vou fazer isso, vou fazer aquilo para eu atingir certo objetivo. Tranquilo, mas
principalmente nas escolas estaduais, nós temos uma sala de 48 metros quadrados e temos 49 alunos,
mas o sistema permite dividir a turma se tiver com 51. O professor nem pode se mexer e o aluno que
está lá no fundo nunca sai na licença, só se ele passar por cima dos outros, e o sistema não aceita
dividir isso.
E se você faz um monte de solicitações... Nós temos em nossa escola estadual em
Alto Boa Vista esse tipo de situação: uma sala do 2º ano do ensino médio tem quarenta e nove
alunos e não consegue fazer divisão, de maneira alguma, porque não atingiu o número “x”, teria que
ter mais dois para poder dividir.
Eu falo assim: tem que colocar conteúdo para os alunos? Tem sim! Nós temos que
trabalhar em cima de conteúdo sim, do que está lá no livro, nas bibliografias, tudo isso.
Quer saber por que eu falo isso? Porque, daqui um pouco, o governo manda avaliar
a sua escola. Manda o quê? Vou citar o exemplo da Prova Brasil. O que é a Prova Brasil? Não é
conteúdo? É só Prova Brasil que vem difícil e tudo, mas se você trabalhar a realidade do aluno da
região, ele vai tirar zero, como a Ana Cristina falou bem aqui, e tira mesmo, porque, às vezes, você
não tem tempo suficiente, ainda mais quem trabalha do sexto ao terceiro ano, que você tem uma
hora de aula.
Se você é professor de Artes, tem apenas uma aula por semana, você não vai
conseguir fazer isso nunca, principalmente se tiver uma sala de aula com 50, 49 ou 45 alunos.
E volto a falar: o ensino médio... Quando o nosso aluno sai do Ensino Médio,
automaticamente, ele vai para a prova do ENEM.
Eu sempre falo, Deputado, que as escolas particulares do ensino fundamental e
médio são para os filhos dos ricos, entende? Se você vai a uma escola particular do ensino
fundamental e médio só tem filho de rico estudando. E aí você vai às federais e só tem filho de rico,
os filhos dos pobres estão todos nas faculdades particulares, porque eles têm um sistema
diferenciado de ensino e quantidade. Enquanto na escola particular o pai vai e fala: eu vou colocar o
meu filho aqui, e vou pagar R$ 300,00, R$ 400,00, R$ 500,00 por mês, mas se passar de doze eu não
aceito. E a escola vai e aceita, na nossa não; tem 49 alunos e não divide a turma.
As aulas iniciam-se com o professor sozinho, você pega para dar duas aulas, das
07 horas às 09 horas; das 13 horas às 15 horas, nesse sol nosso, Deputado, em uma sala de aula com
janelas de vidro, a temperatura lá dentro não cai de 50 graus, igual o deserto do Saara, Vossa
Excelência está entendendo? E como o aluno sai? Sai lá de dentro suado... Se dois falarem na sala de
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aula, você fica louco. É por isso que tem muitos professores doentes, é por causa desse tipo de coisa.
(PALMAS)
Eu sempre falo, vejam bem, os alunos com necessidades educativas, beleza! Nós
não temos o treinamento do profissional docente. Nós fazemos agrupamento por idade, é bom
demais, o aluno de quatro anos brinca com o de quatro; o de sete estuda com o de sete, mas o que
está lá com quatorze anos e por algum tipo de situação não estudou, Deputado - ele demorou a ir
para a escola, ele morava lá na zona rural, onde o transporte escolar não o buscava, onde o pai dele
não tinha como colocá-lo na rua, ele foi para a escola quando tinha nove anos. E ele nunca foi à
escola, o pai mora lá na zona rural, chega lá, e o sistema o enquadra em uma série, mas ele nunca foi
à escola, ele não sabe nem o que é o “a”, colocam-no lá. Sabe o que acontece, Deputado? Esse
aluno, na primeira semana vai parar lá na fazenda do pai dele, porque os demais alunos ficam rindo
dele. Ele não sabe, está entendendo? Isso acontece muito.
Quando falamos da distância das residências - eu não sei se isso acontece em outros
municípios, mas lá em Alto Boa Vista tem aluno que sai de sua casa às 09h45 min, 10 horas, porque
ele tem que estar lá na escola às 13 horas. Sai às 17 horas e chega a sua casa as sete e pouco e tudo
mais. Aí falam: ele não pode passar mais do que duas horas sentado dentro do transporte escolar,
mas ou ele passa mais de duas horas, ou não vai para a escola.
A colega acabou de lembrar uma coisa boa: o aluno está em uma dificuldade
danada, ele estuda das 13 horas às 15 horas; a articulação dele tem que ser em horário alternativo,
como é que ele virá no horário da manhã? Respondam-me! Como ele virá pela manhã, para estudar,
para recuperar aquilo que ele não sabe, se ele mora na zona rural?
Eu tenho em meu município 163 alunos do transporte escolar, das mais variadas
distâncias. Ônibus que sai às 10 horas para chegar às 13 horas, com toda dificuldade, e são alunos da
escola estadual e municipal.
Outra coisa que nós falamos aqui: superação. Nós não temos... Pelo menos, lá na
minha cidade não tem, mal temos a sala de aula para colocar os que estão lá. Onde é que nós vamos
dar aula de superação? Fala! Se não tem espaço físico dentro das escolas, as salas de aula que são
construídas mal estão dando para os alunos que frequentam no dia a dia.
Se o governo não voltar a investir, principalmente em infraestrutura, construção,
para que sobre espaço para colocar os alunos, para fazer essas horas de superação e tudo mais...
No meu município nós temos um laboratório de matemática e outro de ciências,
dentro de umas caixas, Deputado, dentro de caixas! Nós tentamos de tudo quanto é lado arrumar
recursos com os governos estadual e federal, porque o município não tem, para ver se constrói
algumas salas lá, mas não arrumam. É uma burocracia danada, isso nós não conseguimos.
E quando vai lá, na hora de gastar o dinheiro, Deputado? O Governo Federal gasta
18% com a educação, o Estado 40%, que fica só com um pouquinho da fatia. E o município, que
está lá no final, morrendo, gasta 42%. Aí o servidor... Eu sou professor de carreira do município,
mas nós morremos de vontade de receber o salário do servidor do Estado, nós do município.
Aí, você olha o FUNDEB que tem que nos pagar, veja o que nós temos, uma
merreca desse tamanho, que não dá para pagar.
Não paga, Deputado, não paga. Não tem como pagar o piso salarial que o Estado
recebe... Eu duvido que tenha algum município que pague 1,5 para quem tem graduação, tem
alguém, aqui, que paga? Porque o piso salarial do Estado para quem tem magistério é R$ 1.917,78.
Quem tem graduação são 1,5, vai dar dois mil e alguma coisa. Tem algum município que dá conta
de pagar? Duvido que tenha; nenhum paga, porque não tem recurso.
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Eu olhei o FUNDEB de Luciara. No mês passado, eles receberam R$ 50.000,00.
São setenta professores, e vão receber em qual dia? Nenhuma possibilidade.
Volto a falar a respeito das famílias: as dificuldades que você tem de reunir as
famílias nas escolas são grandes, principalmente aquelas famílias que moram nas zonas rurais. Esse
pai é difícil de vir a uma reunião na escola e, às vezes, é onde estão os maiores problemas, porque
aquele filho da zona rural tem que ajudar o pai no dia a dia, e o pai está muito preocupado em ter o
alimento dele no dia a dia.
Aqui foram colocados alguns assuntos em relação à alimentação sem o selo de
inspeção municipal. Não tem nenhum município por aqui que consiga pagar, Deputado, o veterinário
e o agrônomo para ficar no dia a dia olhando os matadouros para atestar a carne que vem para os
municípios - não tem.
Aí eu coloco que o recurso do município é assim: do que vem do Programa
Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), você tem que gastar 30% com agricultura familiar, no
mínimo 30%. Se não gastar, o Governo vai cortando, todo ano aquela parte que eu não gastei, ele
corta. Então, eu vou lá: eu posso comprar a farinha de mandioca, que poderia fazer para o meu
aluno? Não, não posso comprar farinha de mandioca. Eu posso comprar mandioca descascadinha?
Não, também não. O que eu tenho que comprar? Mandioca com casca, alface... É só produto in
natura, eu não posso nem comprar leite.
Em Alto Boa Vista, o município tem umas trinta vacas de leite. Eu tiro o leite e
não posso passar esse leite para as crianças, porque o leite tem que ser pasteurizado. E de que
adianta? Vamos vender as vacas? Vamos fazer o quê?
Eu sempre falo, Deputado, que eu concordo muito com o ciclo, mas creio que da
maneira que está, se não houver um... É preciso repensar isso, nós estamos muito... E vamos sofrer
muito, muito e muito com isso. E volto a falar, Deputado, com relação até mesmo ao recurso: Mato
Grosso é um Estado rico, bom demais! Estado rico, tranquilo! Nós somos considerados ricos.
Qualquer um que tenha um computador pode consultar nos recursos do FUNDEB,
pode ir às transferências constitucionais e olhar o recurso de complementação de qualquer cidade do
Estado de Mato Grosso, do Governo Federal e ver se tem, olhar se tem. Vão lá em “transferências
constitucionais” e olhem. Quem está, agora, com computador e com internet olha e faça isso, por
favor. Não tem nem um centavo, Deputado, de complementação do Governo Federal.
E você vai bem aqui no Estado do Pará para ver. Enquanto nós recebemos... Uma
média do meu FUNDEB é de R$ 156.000,00, e uma cidade com a metade da população da nossa, de
Alto Boa Vista, recebe R$ 1.000.000,00, porque só de complementação do Governo Federal tem R$
500.000,00. Você vai a todos os Estados do Nordeste e é do mesmo jeito. Pode pegar e olhar,
Senhores! Vão ao Google, escrevam “transferências constitucionais” e verifiquem isso. Se selecionar
o Estado e olhar os FUNDEB de todos os estados, isso está claro, o governo tem que abrir e olhar
para esses lados.
Às vezes, algumas pessoas podem afirmar que eu estou fora de linha, porque estou
numa escola municipal, e estou falando sobre o município, mas nós somos os mais sobrecarregados.
Porque essa discussão aqui, as escolas municipais, geralmente, não têm nenhuma ciclada, as
maiorias é seriada. É por isso que, às vezes, elas têm muito mais aluno do que nas escolas estaduais.
Podem prestar a atenção que a maioria das escolas municipais tem mais alunos que
as escolas estaduais, quando são na zona urbana, porque é onde está a maior concentração das
pessoas, porque todo pai quer saber da produção do filho, da nota. Se você pega a avaliação
descritiva, 20% dos pais que vão lá e a leem. É raro, não leem, Deputado.
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Quando chega ao final do bimestre, você chama e faz a reunião de pais, entrega a
avaliação descritiva para o pai e ele olha e pergunta: “Quanto ele tirou?” (PAUSA)
Pode ser por isso mesmo, eles não sabem ler. Aí eu te falo: que trabalho nós
fizemos para ele aprender a ler? Que educação estamos dando para ele entender o que é o ciclo, se
nem nós, professores... Como as colegas falaram, nós temos dificuldades. (PAUSA)
Sim! E aí eu lhes falo: essas capacitações, os municípios não têm condições de
fazer de jeito nenhum. Tem que vir do governo federal e do governo estadual.
E quando olhamos o quanto a coisa está apertada, principalmente este ano que a
maioria dos prefeitos terá dificuldade de pagar seus profissionais, eu falo isso porque vocês vão ver
isso acontecer, e muito.
Então, eu quero só falar para Vossa Excelência, Deputado, e para as pessoas que
estão aqui: eu, sinceramente, da maneira como o ciclo está, discordo totalmente dele, discordo
totalmente. (PALMAS.)
Para que o ciclo funcione, o governo tem que adotar o mesmo sistema de
avaliação: vai aplicar a Prova Brasil, então, peça para o aluno produzir um texto, dê um tema; peça
para isso acontecer. Não só mande conteúdo, conteúdo, conteúdo, que ele tem que resolver. Como a
Márcia falou há pouco: ele tem que saber, sim, o que é triângulo, retângulo, quadrado, hiato,
ditongo, ele tem que saber tudo isso. Tem que saber o que é oração subordinada, tem que saber todas
as coisas, ele tem que saber, porque é isso que cai na prova.
Se o governo manda: escreva sobre isso, isso e isso... Ele não manda, vem isso
para avaliar as suas escolas, e quando a nota de vocês está lá embaixo no ENEM ou no Prova Brasil,
o governo o notifica: “você tem que melhorar, o que você está fazendo?” É isso e aquilo e tudo mais.
Culpa os professores e eles estão todos indo para o hospital. Pode olhar, Deputado! Preste atenção!
Vá, hoje, às escolas e olhe a quantidade de professores que ela tem com problemas neurológicos.
Eu estou falando aqui assim, pessoal, e é um desabafo também, porque, às vezes, é
muito complicado esse sistema de ensino que temos no Estado. Pessoalmente, discordo da maneira
que ele está sendo adotado. Era isso que eu queria falar. Obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - A próxima inscrita é a Coordenadora
Pedagógica da Escola Municipal São Sebastião, de São Félix do Araguaia, Srª Carmem Lúcia.
Por favor, Srª Carmem, a senhora está com a palavra.
A SRª CARMEM LÚCIA - Boa tarde a todos!
Ouvindo o depoimento de cada pessoa eu me preocupo: Meu Deus, o que será de
nós, educadores?
Eu vou falar da escola municipal na qual trabalho e vejo a situação. Quando
falamos em ciclo me vem a pergunta: e a sala multisseriada? Essa me preocupa muito! Crianças de
cinco, seis e sete anos em uma sala só. Quando a professora fala assim... Porque em 1998, eu fiz
parte de um encontro do CBA, Professora, tem 23 anos que eu estou na educação, alfabetizei sem
sair de sala de 1ª série durante dez anos, diretamente, e falo para vocês: sou pedagoga com honra,
gosto da minha profissão, eu amo a minha profissão, só que, enquanto não tiver uma metodologia
em prática do ciclo e da sala multisseriada, a educação não funciona do jeito que está. Por quê? A
teoria do ciclo é linda, maravilhosa, só que não acontece. Se tiver uma escola que diga para mim,
aqui na região do Araguaia, que funcione o ciclo do jeito que está, dentro desse perfil, eu quero
conhecer, porque eu quero pegar mais experiência.
A revista Nova Escola de fevereiro de 2015 fala da aceleração. Nós recebemos
alunos de escolas estaduais no 6º ano que estão na formação silábica. Tem um professor de
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matemática aqui, o Hilton, que pode falar com mais propriedade, porque ele está convivendo com
esses alunos e diz que vem de uma escola ciclada, e não é município. Quando a colega fala que o
município tem que adotar ciclo também, é vice-versa, as duas têm que trabalhar, município e Estado.
Então, eu me questiono e fico preocupada, porque a cada dia nós recebemos alunos também no
ensino médio que não sabem escrever a palavra dissertação, e lá no ENEM eles têm que atingir uma
nota para ir para a faculdade. Na faculdade, em qualquer faculdade, eles têm que atingir nota.
Eu percebo que, às vezes, nas avaliações descritivas tem muitas palavras que
contradizem. O aluno consegue ler e interpretar, mas de que forma ele consegue ler e interpretar? O
aluno consegue resolver problemas de matemática envolvendo as quatro operações, mas de que
forma? São perguntas que nós temos feito.
É angustiante, porque nós recebemos crianças especiais também, as nossas escolas
não têm perfil. E não são apenas as escolas municipais, as estaduais também têm isso, porque eu me
envolvo nas duas. Lá nós temos salas anexas do Estado... Nós temos uma sala anexa lá, que é do
Estado, com 32 alunos do 1º ao 3º ano e não pode dividir. Três professoras trabalhando, e as três são
pedagogas.
Às vezes, as áreas de conhecimento são boas, mas eu conheço professores que têm
formação por área, que são menos alunos para trabalhar, e não conseguem desenvolver sua área de
conhecimento como um pedagogo - eu conheço. isso é verídico. E nós ficamos a 36 quilômetros da
sede do município. Então, é preocupante.
A questão das salas do Estado, anexas, também é séria, porque lá tem o filho do
produtor, que não tem condições de vir para a sede do município, em virtude de o pai não ter
condições de pagar o aluguel, para ele estudar, e nós temos que remanejar o barco para lá, até ele
concluir o ensino médio. Aí, quando termina o ensino médio, ele para, porque não tem condições de
ir para fora.
Outra crítica que eu faço, mas é uma crítica construtiva: quando acontece o
processo de aceleração, e ele não consegue ler, está no 9º ano e acelera, vai para o 1º ano, ele começa
a ter dificuldades, para e espera completar os 18 anos, para ir para o ensino de Educação de Jovens e
Adultos (EJA).
Então, eu só quero fazer uma reflexão para que se repense a escola ciclada, mas
repense a escola multisseriada também. Então, dizem que não pode ter número, mas nós valemos
números! Queiram ou não, o ser humano vale número, porque nós temos uma turma na escola na
qual eu trabalho que tem treze alunos. Lá, tem alunos de 05, de 06, de 07, de 08 e de 09... Não pode
dividir, porque o número de alunos é pequeno, mas o professor tem que trabalhar.
Quando se faz uma redução na carga horária para trinta horas, se o professor não
destrinchar, passa fome com o salário que tem de 30 horas, e fica sobrecarregado. Com 30 horas ele
não vai dar conta de se manter, só se tiver outra função, outra renda para se manter, porque se ele
tiver família e ficar só com as 30 horas, vai passar necessidade. Aí, o Governo Federal corta R$
9.000.000.000,00 da educação, e o que podemos fazer?
Então, é uma reflexão que eu faço sobre isso e digo mais uma vez: o ciclo tem que
ser repensado, tanto quanto a formação, a capacitação, a teoria e a prática dele, mas tem que ser
repensado, tem que ser. Era isso que eu queria falar.
Muito obrigada! (PALMAS)
Deputado, eu quero aqui também registrar que lá no assentamento Dom Pedro tem
uma escola estadual do campo, que começou e parou. Está lá, um prédio, é uma coisa de fazer dó.
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Outros lugares precisando, eu vejo depoimento de cada colega precisando de espaço físico, enquanto
que dentro daquela escola o mato está tomando conta.
(NESTE MOMENTO A ORADORA DIALOGA COM O DEPUTADO WILSON SANTOS FORA
DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, professora Carmem
Lúcia.
Com a palavra, o próximo inscrito, o Sr. Francisco Carlos, Coordenador de
Formação do CEFAPRO, do polo São Félix do Araguaia.
O SR. FRANCISCO CARLOS - Popularmente sou conhecido como Chico. Eu sou
professor formador do CEFAPRO, da área da educação escolar indígena e a partir deste ano estou
como coordenador de formação, coordenador pedagógico.
Muito embora eu não vá falar em nome do CEFAPRO, até porque nós não fizemos
essa reflexão com os professores formadores, eu falarei em meu nome, a partir da minha
experiência, a partir dos estudos que eu faço do ciclo.
Uma constatação que eu gostaria de fazer é que nós percebemos que essa plenária
estava em maior número, e muitos dos nossos companheiros e companheiras professores já nos
deixaram. Esse é o grande problema na educação!
Eu vejo que - eu vou falar e fazer uma ação muito forte - na nossa educação há
muitas pessoas fazendo bico como professor, mas não é o que venho falar, o que eu quero falar, e a
primeira indagação que eu faço, primeiro questionamento que eu faço, eu até fiz uma colinha para
não me perder, é de qual ciclo estamos falando? É o ciclo que está no papel? Que o Sílvio Rocha
fala, que os teóricos falam? Ou é o ciclo que “foi implantado no nosso Estado”? Porque para mim
não foi implantado o ciclo neste Estado, você pode chamar do que quiser, menos de ciclo. Pode
chamar de fase... Só não chamem de seriado, porque mudou, mas eu não considero isso que aí está
no Estado como ciclo, essa é a primeira constatação.
Segunda coisa: há uma grande desinformação de nós professores do que vem a ser
realmente o ciclo, nós não conhecemos o ciclo. É comum você ouvir o professor dizer assim: “ah, eu
não posso mais aplicar a avaliação; eu perdi a grande arma que eu tinha”. Você ouve professor
falando: “eu perdi a arma que eu tinha que era a nota, que era a prova”. Então, você percebe que há
uma grande desinformação dos professores, porque não houve essa formação, não houve essa
formação por parte do Estado, e ele foi implantado de cima para baixo, não houve a participação dos
pares, não houve a participação de todos nós para conduzirmos a coisa da forma como
entendêssemos de fato.
Outra coisa que vejo, e já foi falada aqui, é que nós precisamos mudar algumas
coisas, quando você fala: “O ciclo não funciona, porque eu não posso reprovar”. Se você olhar em
qualquer lei, a partir da Constituição, vamos pegar a Constituição Federal de 1988, qualquer lei, a
LDB, a Resolução nº 262/02, o Orientativo 2003 da Superintendência da Educação Básica do
Estado, em lugar algum você vai ver escrito lá: “Educação é um direito de todos e um dever do
Estado”. Não diz, lá, que o aluno tem que ser reprovado, em lugar nenhum, em documento nenhum,
que a reprovação é que vai dizer se a escola está ou não está funcionando. Portanto, nós precisamos
mudar a nossa mentalidade. Se não mudarmos a nossa mentalidade enquanto educadores, e aí volto
àquela fala que eu disse anteriormente: nós temos muito dos nossos companheiros e companheiras
que não estão fazendo nada em outro lugar, então, arrumam um bico lá na Educação e vão dar aulas.
Entendeu? Então, precisa mudar. O que precisa mudar? Foi falado aqui: a atribuição, a atribuição!
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Nós temos um problema seriíssimo na região, se Vossa Excelência fizer um
levantamento por escola e verificar quem é que está realmente na disciplina que é habilitado - faça
esse levantamento -, vai ver que grande parte de nós professores estamos fora da nossa área de
habilitação.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Professor, só para ajudá-lo, nós
temos mais ou menos 67% dos professores não concursados, contratados.
O SR. FRANCISCO CARLOS - E o que é pior, chega ao mês janeiro, ele não tem
salário. Pronto, aí quebra a espinha dorsal, em janeiro ele está desempregado.
É a motivação que vamos encontrar depois. Então, veja bem, a questão que nós
temos que ver é essa questão da atribuição, não dá para fazer atribuição da forma que nós vamos
fazendo, com contagem de ponto. Quantos dos nossos profissionais estão fora da área, e até sem
perfil, como a Márcia falou aqui: não tem perfil algum para trabalhar naquela área, mas a pontuação
dele o ajuda a chegar naquele ponto. Então, é questão de atribuição.
Outra coisa que nós precisamos fazer - aí, eu volto nessa questão dos interinos,
finalizando as minhas colocações -, nós precisamos ter uma valorização profissional, somos a
categoria em que todos os profissionais passam pelas nossas mãos, no entanto, não somos
valorizados, a começar do salário, o nosso salário é um dos mais baixos de todos os profissionais.
Olha na segurança, olha na saúde...
Nós temos um dos salários mais baixos e agora ainda inventaram... (PALMAS)...
inventaram um nome bonito para tirar o nosso ganho, que era a partir de 1º de maio, denominado
“reestruturação administrativa”. Olha que nome bonito! (RISOS)
Só para tirar de nós o reajuste que nós tínhamos a partir de 1º de maio, que não é
um ajuste, não é um acordo de governo, é uma lei, a Lei Complementar nº 510/13, que nós
celebramos com a Assembleia Legislativa, eu me lembro que nós tivemos a greve e na greve o
sindicato tinha um patamar que queria de reivindicação. O governo na época falou: “não, nós vamos
criar um GT e através desse GT nós vamos ver as contas do Governo e vamos dar o reajuste que
achamos que vai ser devido”.
Aí, vieram com o reajuste e o sindicato falou: “não, não pode ser o nosso, mas
também não pode ser o de vocês”. Foi um reajuste celebrado com a Assembleia Legislativa e agora o
nosso nobre Governador dá-se o direito de descumprir uma lei da própria Assembleia Legislativa,
tirando de nós o reajuste da recomposição, que nós programamos para dez anos.
Enfim, o ciclo, se analisarmos do ponto de vista teórico, eu acho que não tem coisa
melhor e, para saber disso, nós precisamos estudar, ir lá e ver o que é que o ciclo nos ajuda.
Agora, dizer que o problema está no ciclo, vai estar na série e vai estar em qualquer
lugar... Vai estar na educação, porque o problema nosso é como aquele que fala assim - até o
Secretário fala assim -, “está gastando com a educação”. Gente, educação não é gasto; educação é
investimento. (PALMAS)
Todas as vezes que nós pensarmos em educação como gasto, nós não vamos dar
passo nenhum para melhorar a qualidade da educação e melhorar a proficiência como quer o nosso
Governador. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Francisco
Carlos, pelas suas considerações.
Agora, convido a Sra. Ivani Costa dos Santos, que é diretora do CEFAPRO de
Confresa. Temos mais dois inscritos, a Sra. Lene e também uma última inscrição e, posteriormente,
os componentes da mesa vão falar.
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A SRª IVANI COSTA DOS SANTOS - Bom dia a todas as pessoas presentes.
Para mim ainda é bom dia, porque eu não almocei. Se alguém aqui já almoçou, por favor, receba a
minha boa tarde.
Eu sou professora da rede pública estadual de ensino há 22 anos - não que eu seja
velha, é porque eu comecei muito jovem... (RISOS)
Eu também, como o Chico, fiz os meus rascunhos para que eu não venha a me
perder, até porque o cérebro, quando já são quase duas horas da tarde sem almoço, fica meio
confuso.
Primeiro, eu gostaria de agradecer e parabenizar a Assembleia Legislativa, na
pessoa do Deputado Wilson Santos, pela iniciativa em ouvir a sociedade de todo o Estado de Mato
Grosso. Eu acho que essa é a primeira consideração que nós devemos fazer, porque estamos com o
ciclo de formação humana funcionando - entre aspas - desde 2002, nas unidades escolares estaduais,
e em nenhum momento a Assembleia Legislativa chamou a comunidade, a sociedade deste Estado
para conversar a respeito.
E a Secretaria de Estado de Educação efetivou a CONEC - Comissão Nacional de
Educação do Campo para depois não haver ações posteriores, porque se há alguma ação posterior à
CONEC, eu as desconheço enquanto educadora.
Nesse sentido, eu gostaria de dizer que o ciclo é uma oportunidade de inclusão de
todos os sujeitos, diferente do seriado, que seleciona e exclui. É nesse sentido que eu compreendo o
ciclo de formação humana, tal e qual ele está proposto.
Os princípios pedagógicos e curriculares dão conta de promover uma educação de
qualidade, esses princípios do ciclo. Agora, eu desafio a todos aqui presentes a me mostrarem uma
escola no Estado de Mato Grosso, de fato, organizada em ciclo de formação humana, eu desafio
alguém a me mostrar essa escola, porque eu desconheço e se alguém souber também, fique à
vontade para dizer aos demais presentes, não só a mim, lá fora.
Continuando... E tudo isso não se deve à proposta - isso não tem nada a ver com a
proposta -, mas com a execução. E nem somente aos educadores, porque nós vemos muitas vezes os
políticos e tantos outros, e a sociedade também, às vezes, dizerem que os problemas são dos
educadores. Também os são, mas não somente deles, é preciso uma ação conjunta, conjunta.
Desde a comunidade escolar envolvendo pais, envolvendo toda a sociedade,
porque o artigo 205 da Constituição Federal diz o que para nós? Que a educação é um direito de
todos e dever de quem, gente? Do Estado e da família. E é exatamente ao contrário, lá aparece,
primeiramente, a família, depois é que vem o Estado.
E essa família, mesmo com o projeto FICAI - que sabemos que é um projeto bom -
, ainda não consegue chegar até a escola com a qualidade que deveria chegar.
Só que, além disso, nós sabemos que já temos escolas, e aí quero citar uma escola
lá do Município de Confresa, porque é de lá que eu venho, é de lá que eu posso falar, não posso falar
das experiências daqui de São Félix do Araguaia, porque não é daqui, e não é aqui que vivo, mas lá
em Confresa nós temos escola que atende apenas o ciclo, desde o primeiro até o terceiro ciclo, não
atende ensino médio, e que tem uma proposição interessantíssima que, inclusive, tem dado conta de
trazer os pais às escolas, que é o planejamento coletivo. É uma das ações que a escola faz, é claro
que deve haver tantas outras, mas uma das ações que a escola faz é o planejamento coletivo, em que
uma vez por mês convida os pais, os alunos e os profissionais, todos, para planejar as ações da
escola, e isso tem melhorado significativamente as ações da escola, inclusive a participação da
família na escola.
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Além disso, eu quero ainda dizer que falta do Estado uma série de questões que até
já foram ditas, mas como eu me inscrevi às 10h35min - a hora que cheguei aqui -, eu gostaria de
dizer que o Estado precisa disponibilizar para as unidades escolares uma estrutura física de
qualidade, porque nós temos escolas que só pela misericórdia de Deus, quando chove, molha muito
mais lá dentro do que lá fora.
Fora essa questão da chuva, da acessibilidade para os portadores de necessidades
especiais, entre outras questões, outra situação também é a questão dos sujeitos: os sujeitos que estão
propostos para existir na escola organizada por ciclo de formação, eles inexistem nas escolas e eles
são fundamentais, são importantes. E é por isso que eu disse: essa proposta, a escola dá conta de
fazer acontecer, mas ela tem que estar sendo executada.
A outra questão muito séria é a questão da formação: ele já veio sem a formação e
a formação que nós temos, hoje, ainda não está dando conta de chegar à prática da sala de aula.
Muitas vezes, você senta com o colega e ele sabe, às vezes, até discutir teoricamente sobre o ciclo,
mas a prática do que ele discute, nem sempre ele consegue fazer.
E penso que esse novo orientativo, esse novo PSE - Programa de Saúde na Escola
que vem e que traz a transposição didática, ele pode contribuir com isso, mas não é coisa para
acontecer amanhã, é algo que vai demandar ainda um tempo, um tempo mínimo.
Eu imagino que em cinco anos, porque é um aprender, é um aprender contínuo, é
um fazer e refazer, construir e reconstruir, ou seja, é um processo de aprendizagem.
Além disso, a questão da atribuição, porque você vê a atribuição por pontuação e aí
perde toda essência que o professor deveria acompanhar, porque ele já sabe quais são as dificuldades
de aprendizagem desse aluno, em que ele precisa trabalhar para que esse aluno possa evoluir e quais
são as necessidades formativas desse aluno. E aí vem um novo professor que, até se inteirar da
situação, já complicou a situação.
Outra questão, também, é a questão dos registros, esses registros engessados no
sistema SigEduca, pelo amor de Deus, é uma complicação! E quero dizer que o SigEduca é
interessante, talvez, como registro, para quem tem condições, tem internet de qualidade, tem energia
de qualidade, porque para nós lá em Confresa - se em São Félix do Araguaia for diferente, eu peço
que vocês me perdoem a negligência - tem momentos em que ficamos na frente do SigEduca e uma
bolinha girando, girando, girando, girando... (RISOS)
Além dessa dificuldade, a energia vai embora e nós perdemos muitos trabalhos que
foram feitos.
Quero colocar aqui também, para refletirmos, que não é só a concepção de ensino
que está por traz quando falamos de ciclo, mas é a concepção de sociedade, é a concepção de
sociedade que está em jogo. E aí quando falamos que não queremos o ciclo, então, nós queremos
uma sociedade excludente, é isso? É essa sociedade que nós pregamos? É isso? É bom que
comecemos a refletir sobre essas questões: que sociedade nós queremos construir?
Quando eu vejo alguns colegas na defesa do seriado, eu fico olhando e falo: meu
Deus, uma pessoa como o Maranhão, meu amigo de outras décadas, que eu sei que não é a favor de
uma sociedade excludente dizer isso, é complicado! Mas vejo também, quando dizem que os alunos
estão melhores, as salas estão mais lotadas, e eu fico pensando: onde? Talvez lá em Alto Boa Vista,
porque lá em Confresa não está assim. E eu me pergunto: se o nosso Brasil tem a maioria em série,
por que a nossa proficiência brasileira vai mal, já que o problema é o ciclo? (PALMAS)
Por que será? Se nós formos olhar no QEdu da nossa região - porque nós podemos
fazer isso - e verificarmos a proficiência nos nossos municípios, nós verificaremos que a rede
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municipal, infelizmente, ainda vai ter médias menores. E são dados, eu não inventei isso aqui,
enquanto pensava para falar, não. São dados que estão aí, para todos vermos. E aí, é o seriado que é
bom, não é?
Encerro as minhas colocações dizendo que o ciclo é ruim mesmo, porque tira os
atores sociais da escola, da sua zona de conforto. É preciso querer e perseguir a mudança e parar de
ficar como o filminho: quem mexeu no meu queijo? quem mexeu no meu queijo?
Muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, professora Ivani, de
Confresa, que é diretora também do CEFAPRO.
A nossa próxima inscrita é a Sra. Alene Rodrigues de Souza, Professora de
educação infantil da Creche Dona Elza, aqui de São Félix do Araguaia.
Eu só quero dizer o seguinte: já são 14h05min, daqui a 15 minutos completaremos
04 horas de Audiência Pública, que é justamente o tempo que nós prevemos em cada Audiência
Pública. Nós temos mais três inscritos: a Sra. Alene, a Sra. Maria Iraci e a Sra. Zulmara da plateia;
perfazendo um total de 12 da plateia, e temos mais cinco da mesa. Então, agora, eu gostaria que nós
limitássemos a três minutos; que a Sra. Alene, a Sra. Maria Iraci, a Sra. Zulmara e todos nós
limitássemos a três minutos.
Convido para fazer o uso da palavra, a Sra. Alene Rodrigues de Souza, Professora
de educação infantil da Creche Dona Elza, aqui de São Félix do Araguaia.
A SRª ALENE RODRIGUES DE SOUZA - Bom dia a todos!
Eu só quero pedir um favor ao Deputado, se possível, porque está aqui, ao meu
lado, a secretária das creches, para ela concluir a minha fala. (PAUSA) Obrigada!
Quando o Deputado fala para não repetirmos os assuntos, é difícil, porque a nossa
problemática é a mesma... Eu vou falar pela creche, a nossa maior problemática é questão de
infraestrutura.
Trabalhamos como um público alvo de 1 a 5 anos, são bebês praticamente, então
quando se fala que a prioridade são as crianças, eu questiono: que prioridade é essa? O que significa
prioridade? Até então, eu não sei que prioridade é essa, porque nós estamos, hoje, em um lugar
precário com nossas crianças, principalmente o berçário, de 1 a 2 anos e meio.
Já vai fazer dois anos - nós vamos fazer uma festa de aniversário de dois anos -
que essas crianças estão deslocadas. A creche foi esvaziada para ser reformada. Essa reforma teve
início em fevereiro, se eu não me engano, de 2014. Se eu não me engano é isso, não é? (PAUSA)
É em 2014!... E esses dias eu estive no gabinete e perguntei a ele: Prefeito, e a
creche? Ele me respondeu em alto e bom tom: “Não entregarei esse ano”. Aí eu pergunto: e no ano
que vem é ano político, e as nossas crianças? Nós trabalhamos em um espaço mínimo, temos que
colocar, nas salas, berços para as crianças de berçário; o porta-volumes para os pertences deles e que
espaço sobrará para essas crianças?
Quando chove, as nossas colegas que trabalham na nutrição têm que se deslocar da
cozinha, que é outro espaço, debaixo de chuva, para atender essas crianças nas salas, nas quais elas
comem no chão, porque não tem como colocar as mesas. Então, é preocupante essa situação!
E quando o Deputado colocou que o Sr. Alfredo tem dinheiro, então eu pensei...
Eu não ia falar, eu ia ficar calada, eu ia me acovardar, mas como tem dinheiro, e o problema que não
é problema, é solução; é problema para nós que não temos.
Eu pensei, eu vou pegar esse microfone e vou falar, porque eu resolvi dar a minha
cara à tapa. Então, há um questionamento lá: como fica essa reforma? É para quando? Como? E as
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nossas crianças, elas ficarão à mercê, debaixo de sol quente? Porque as crianças, para tomarem
banho, têm que andar um tanto de metros, para alcançar o banheiro, porque o espaço não foi
construído apropriadamente para atendê-las, são salas na igreja de catequese, para criança de 12
anos. É um espaço superinadequado e precário, e eu não posso fazer nada, quem pode fazer são os
gestores.
Então, nós pedimos para que Vossa Excelência e o representante do Secretário de
Estado de Educação estejam olhando, porque isso é, sim, educação. As creches no município ou até
mais, no Estado, não são reconhecidas como escola, mas no berçário a criança aprende o círculo, o
quadrado, como foi colocado, ele aprende a comer só, ele aprende a dar os seus primeiros passos,
isso é educação! Então, quero que todos reconheçam como educação, que é uma prioridade sim. Eu
reconheço como uma prioridade, porque é a base de tudo.
E quando o Estado fala em salários, eu penso, como o colega colocou, se o Estado
está reclamando que está ruim, imaginem o município. Nós estamos lutando para receber o que o
Estado ganha e o Estado lutando para melhorias, então, nós vemos essa questão.
Quando foi colocado que o Governador Pedro Taques é apaixonado pela educação,
falou certo, ele é superapaixonado, porque paixão é passageira, o amor sim, permanece. Então, essa
colocação está certinha, é uma grande paixão.
E quando se fala que o Governo não tem dinheiro, eu penso o seguinte: o Governo
tem dinheiro, não está tendo é administração para cuidar desse dinheiro! O município não tem
dinheiro; tem dinheiro, não tem é boa administração, porque se eu ganho salário mínimo e minha
colega também ganha salário mínimo, e ela consegue comprar uma moto e eu não, por quê? Porque
eu não soube administrar o meu dinheiro. Então, essa é a questão. (PALMAS)
Vamos olhar mais para as creches, vamos falar mais pelas creches, porque estamos
aqui para falar pelas creches. Nossas colegas, as técnicas, precisam de apoio para trabalhar,
precisamos de melhoria de trabalho, porque não adianta só nos cobrarem para trabalhar bem, e cadê
as melhorias de trabalho?
Não nos oferecem espaços, principalmente, a prioridade... As crianças não têm um
bom espaço, é calamidade pública sim! E eu vou passar a palavra para minha colega Roseny Maria
Moura, secretária das creches, que concluirá a minha fala e citará outros exemplos de administração
que está tendo.
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Só peço que o tempo seja respeitado,
porque nós só temos oito minutos e mais uns seis inscritos.
A SRª ROSENY MARIA MOURA - Bom dia a todos.
Eu vou me ater à minha fala. O meu nome é Roseny, sou pedagoga, especialista
em Educação Infantil e estou Secretária.
A questão é que um dos outros problemas que nós enfrentamos na Educação
Infantil aqui do município é o não reconhecimento pela comunidade, como um todo, do nosso papel
de educadores.
As creches, aqui, não são reconhecidas como escolas, e eu posso dizer isso, porque
neste ano, como secretária, eu pude presenciar mães indo solicitar transferência dos seus filhos para
o Estado, porque foi dito a elas que ali os alunos estavam repetindo, e só repetindo e repetindo anos.
Então, além de enfrentarmos toda essa questão que a colega colocou aqui, nós ainda enfrentamos
esse não reconhecimento da população, em relação a sermos educadores, nós somos educadores.
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Nós temos lá somente uma professora no nosso quadro que possui o magistério,
todas as outras têm curso superior. A maioria já tem pós-graduação e temos uma que acabou de
concluir o mestrado. Então, nós não podemos nos calar diante disso.
Respondendo ao que uma colega falou bem no início, que a criança muitas vezes
não entra no ensino fundamental, ela já vem da educação infantil sem saber nada, aí é outro
problema os pais não reconhecerem a educação infantil como escola, eles não mandam os alunos
para a escola.
Inclusive, este ano, eu tive que comunicar um pai, mostrar a ele a lei, dizer que seu
filho tinha que estar na escola, porque é obrigatória a educação a partir dos quatro anos de idade, é
lei e que se fosse feita uma denúncia, se chegássemos ao ponto de denunciá-lo, ele iria responder a
um processo.
Então, são todas essas questões que nós enfrentamos, enquanto educação infantil. E
nós temos que ser os melhores, porque nós somos a base. Agora, não dá para ser o melhor quando a
criança não vai para a escola, não dá para ser o melhor quando não somos reconhecidos como
educadores. Então, eu quero deixar essa fala para reflexão de todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado!
Com a palavra, Maria Iraci Santana, Professora de História e assessora pedagógica
de São Félix do Araguaia.
A SRª MARIA IRACI SANTANA - Boa tarde, eu vou dizer boa tarde, porque já
são mais de 14 horas.
Como nós estamos com um tempo bem limitado, e já foi dito e redito alguns
assuntos aqui, eu não quero repetir nada, quer dizer, não tem como não repetir, mas eu vou apenas
deixar uma reflexão, porque no momento em que eu cheguei aqui, fiquei inquieta, ouvindo todos
falarem e resolvi fazer a minha inscrição por último. Todos aqui já falaram e eu concordo com
todos; quem é a favor do ciclo e quem não é. Na verdade, gente, não há ninguém que não seja a
favor do ciclo, nós somos a favor de alguma forma, da proposta que é bonita, mas ela não está
acontecendo, está acontecendo o quê? Uma anarquia!
E quando o Maranhão diz que os professores estão doentes, é essa a minha
reflexão: primeiramente, eu quero dizer que eu sou Maria Iraci, sou Professora de História, este ano
de 2015, estou fazendo 25 anos de sala de aula, ainda não comecei com o meu processo de
aposentadoria, porque já estou no momento, mas ainda não comecei, porque eu tenho readaptação e
estou esperando alguns trâmites legais ainda. Mas por que eu estou em adaptação na assessoria
pedagógica? Porque eu fiquei doente, porque eu me senti incapaz diante dessa coisa que ninguém
entende, e eu cheguei a Cuiabá num dos médicos mais renomados - quem me falou isso foi o perito
de Cuiabá, que o médico que eu fui é renomado no Estado de Mato Grosso e no Brasil, um
psiquiatra - e ele falou: Professora, o que está acontecendo, de 500 pacientes que eu tenho, 400 são
professores ou policiais, mas agora os professores estão batendo recorde, estão doentes, o que está
acontecendo? Eu também sou professor, e eu amava; eu sou hoje estou aposentado na educação e
estou exercendo só a função de médico; eu era professor da UFMT e vejo, hoje, os professores
chegarem curvados e incapazes diante de mim. Gente, vamos repensar tudo isso, onde vamos parar?
Onde a educação do Estado de Mato Grosso e do Brasil vai parar? Sei lá o que está acontecendo,
alguém tem que fazer alguma coisa.
Eu falei: Doutor, o que eu posso lhe falar é o seguinte: o senhor já viu que nas
histórias policiais tem sempre um assassino. E em quem todo mundo coloca a culpa? E ele disse:
“No mordomo”. Eu falei assim: pois é, hoje na educação nós educadores nos culpamos, porque hoje
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houve falas que deram para entender isso e muita gente foi embora por causa disso, porque a culpa é
de quem? É do professor que não está sabendo dar aula; é o professor que não consegue articular
esses alunos para motivá-los; é o professor que não está aplicando as informações. Não é isso,
gente?! Nós estamos perdidos, não sabemos mais o que fazer, precisamos de ajuda!
É só isso, muito obrigada! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Obrigado, Professora Maria Iraci.
Convido para fazer uso da palavra a nossa última inscrita da plateia, a Sra.
Zulmara Elias Quedi, do CEFAPRO de São Félix do Araguaia.
A SRª ZULMARA ELIAS QUEDI - Boa tarde a todos!
Sou professora formadora do CEFAPRO de São Félix do Araguaia e, ao contrário
das minhas colegas, eu sou novinha na educação e velha de idade.
Aproveitei a oportunidade que a UNEMAT abriu em Luciara, fiz a minha primeira
graduação e, no ano passado, terminei a segunda graduação, e é em cima dessa graduação que eu
vou falar. Nós não estamos preparados, Iraci; eu acho que nós temos que rever o currículo do ensino
superior, porque eu fiz duas graduações e não me sinto preparada para o ciclo! (PALMAS)
Eu defendo o ciclo, eu acho que é a melhor inclusão que o Estado já colocou, é
uma política pública que dá certo. No papel dá certo! Falta o que os outros colegas já mencionaram
aqui. Então, Deputado, eu quero dizer isso: nós temos que rever o currículo do ensino superior,
principalmente na nossa região, nós estamos falando é da nossa região.
Na nossa região, nós temos a universidade do Estado. Então, ela tem que trabalhar
de acordo com a política pública de educação do Estado. Se nós vamos trabalhar o ciclo de formação
humana, nós temos que estudar o ciclo de formação humana. E nessa segunda graduação, que
terminei no ano passado, não se mencionou ciclo de formação humana. Eu tenho colegas que
terminaram a segunda graduação comigo, e nós não estudamos ciclo de formação humana. Então,
temos que rever o currículo do ensino superior.
Quero parabenizar a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso; a
Professora Alvarina, que eu já conheço; o Professor Alfredo - eu sou do tempo do Professor Alfredo.
Quero dizer que eu sou da gestão única, do início da gestão única, nós não estamos
trabalhando numa unicidade com o município, pelo menos na nossa sede, nós não trabalhamos em
conjunto com o município, mesmo respeitando e cumprindo os acordos que o Estado pede para nós
cumprirmos com a Secretaria Municipal; nós trabalhamos com os Municípios de Alto Boa Vista,
Bom Jesus do Araguaia, Serra Nova Dourada, Novo Santo Antônio, Luciara e, na nossa sede, nós
não trabalhamos com o município, nós não comungamos o mesmo trabalho, e acho que isso é
essencial.
Apelo à Sra. Terezinha para rever essa situação, a nossa diretora não está aqui e
você é a secretária. Então, eu apelo a você. Muito obrigada! Era só isso. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Professora
Zulmara. Então, encerramos as falas da plenária.
Com a palavra, a Srª Terezinha Gomes Lima, Secretária Municipal de Educação de
São Felix do Araguaia. Em seguida, passaremos a palavra ao nosso Presidente da Câmara, Sr. Sílvio
Bento.
A SRª TEREZINHA GOMES DE LIMA - Boa tarde a todos.
Como o meu colega José Maranhão já falou de todos os problemas do município
de Alto Boa Vista, porque muitos são os nossos problemas em São Félix do Araguaia, e vou ficar
mais com a reflexão sobre a escola ciclada, sobre a questão do ciclo.
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Eu gostaria de fazer um resumo rápido da experiência do município de São Félix
do Araguaia e da experiência na escola do Estado, na qual sou Professora.
No ano de 1997, eu vou partir do ano de 1997, porque foi a partir desse ano que
começaram no município as primeiras discussões sobre o ciclo, quando a Secretária de Educação era
a Professora Lourdes Jorge, nós fizemos uma avaliação da Educação do município e constatamos o
número de evasão e reprovação muito alto no município. Então, era necessário fazer uma coisa
naquele momento, e nós, durante anos, até a LDB, todas as nossas discussões eram por uma nova
escola, por outra escola.
A questão da avaliação, qual de nós professores que nunca lemos aquele livro: “Na
Vida Dez, na Escola Zero”... Então, críticas em relação à avaliação e a notas nós tínhamos na ponta
da língua. Os nossos discursos eram lindos, em relação à avaliação, que era uma arma contra o aluno
e não a favor da educação. Todo esse discurso nós tínhamos na ponta da língua, era necessária uma
nova escola e nós começamos a buscar essa nova escola naquela época.
Trouxemos a assessoria de Belo Horizonte que estava concluindo o projeto da
Escola Plural, que era o ciclo em Belo Horizonte; trouxemos pessoas do Rio Grande do Sul com a
experiência da Escola Cidadã; também buscamos experiência da Escola Sarã, de Cuiabá. Nós
trouxemos todas essas experiências para nos dar base nas discussões na educação do município de
São Félix do Araguaia. Então, começamos tudo isso, e num período de quatro anos, depois de toda
essa discussão envolvendo a comunidade, foi um período que nós conseguimos envolver pais e toda
a comunidade.
Aqui tem professores, no caso o Professor Wilton e da Professora Carmem, que se
lembram da experiência que tivemos, na qual conseguíamos envolver a sociedade e a comunidade
naquela época. Mesmo assim, percebíamos que a coisa não andava, tinha alguma coisa que
emperrava essas discussões.
E o município de São Felix do Araguaia, juntamente com outros municípios na
região do Araguaia, que havia essa discussão naquela época, essa interação entre os municípios,
chegou à conclusão de que não adiantava nós nadarmos, nadarmos, porque nós não íamos conseguir
sair do lugar sem a formação dos professores, porque a maioria dos nossos professores só tinha o
ensino médio, e muitos nem ensino médio tinham, concluíram no Projeto Geração, no Projeto de
Formação, no Projeto Inajá, que tinha terminado anteriormente.
Então, havia necessidade de curso superior para os professores da escola do
campo, porque as parceladas não conseguiram absorver a todos, porque era um número determinado
para cada município. E tinha ainda um número muito grande de professores fora da universidade.
Foi quando nós conseguimos trazer, através da UNEMAT, em parceria com os treze municípios da
região do Araguaia, o curso de educação a distância, o curso de pedagogia em educação a distância,
que formou 600 professores naquele período. Então, as coisas começaram em 1997 e foram andando
até 2004.
O projeto citado pela professora... No início da Audiência Pública, ela falou da
questão do Projeto Tibysirá; então, durante oito anos nós fizemos essa discussão da construção de
um projeto de escola para o município, denominado Tibysirá, que significa aquele que não
envelhece, que precisa estar sempre se renovando.
O nome desse projeto era para fazer jus à prática, estamos constantemente nessa
renovação, nessa busca pelo novo. E durante oito anos nós conseguimos fazer esse trabalho,
publicamos um livro do relato dessa experiência, chamado “Tibysirá, o relato de uma experiência da
educação no Araguaia”, e foi interrompido no final de 2004.
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Nós não tínhamos conseguido fazer nem o PPP que estava nas discussões, nos
relatos, não conseguimos colocar no papel o projeto que deveria ter dado continuidade, e não foi.
Uma das coisas que achamos difícil é essa interrupção, e aqui eu não me isento dela também, cada
administração que entra, quer fazer da sua forma; com isso, nós prejudicamos muito a educação do
município. Então, houve essa interrupção durante todo esse tempo. Naquele momento, nós tínhamos
na assessoria constantemente cursos de capacitação, trabalhando com os professores, no sentido de
entender uma nova proposta de escola, de buscar o entendimento.
Com essa interrupção, o que é que nós temos hoje no Município? É ciclado no
papel, porque as escolas têm o PPP, tudo dizendo a teoria bonita do Tibysirá e na prática não é série,
não é ano e não é ciclo. Então, nós temos essa salada no município e não conseguimos ter uma
assessoria para dar continuidade a esse projeto.
Nós já tentamos trazer duas vezes a Professora Ana Maria Lopes, que foi a
mentora desse projeto no início; mas até hoje não conseguimos dar continuidade. Então, o ciclo no
município, na verdade, na prática não é um ciclo. Nós temos esse problema.
Hoje, fazendo a redação final do Plano Municipal de Educação, nós pegamos uma
tabela que tinha o número de alunos aprovados, reprovados e evadidos nos últimos quatro anos do
primeiro plano municipal, entre os anos de 2000 até 2003, e percebemos o alto número de evasão e
repetência. E aí nós falamos: “Poxa! Naquele momento em que era forte essa discussão, nós ainda
tínhamos esse número tão alto?” Mas, se você olhar os anos anteriores, a reprovação e a evasão eram
assustadoras. Não dá para acreditar que nós tínhamos um município com mil e poucos alunos, que
tinham 200 evadidos, 200 crianças que saíam da sala de aula, que deixavam a escola, e 100 que
reprovavam. Então, hoje, olhando os últimos quatro anos, ainda aparece, mas um número bem
menor. Isso se dá por causa do ciclo? Não! Talvez por causa de proficiência menor, uma menor
preparação melhor dos professores, uma série de fatores que contribuem para isso. Então, se
pegarmos dez anos atrás e pegarmos hoje, nós percebemos que numericamente há esse avanço.
Agora, falando da experiência com o ciclo do Estado: quando a Ana Cristina fica
ali, num nervo, nós sabemos muito bem o que é isso. Por quê? A proposta do ciclo do Estado é
muito bonita.
Um aluno do ENEM escreveu assim: “A educação ambiental é uma faca de três
gumes”. Então, se a faca tem três gumes, eu acho que o ciclo também é uma faca de três gumes,
porque temos por um lado a maravilha que é a proposta, que mesmo sendo de cima para baixo, veio
atender aos anseios da classe educadora. Durante muitos e muitos anos, nós cobramos isso, nós
cobramos uma mudança na avaliação e na proposta pedagógica.
Hoje, nós temos e o que está acontecendo? São as famílias que não conseguem
acompanhar? Nós estamos vivendo um momento de transição na sociedade, que não conseguimos
compreender as famílias, não conseguimos compreender os adolescentes? Somos nós que não
estamos preparados.
Aí, eu me lembro da experiência do município: por que deu tão certo quando
tínhamos a assessoria e cursos de capacitação? Então, talvez, lá no Estado esteja faltando isso, mas
também pode estar acontecendo outro fator, porque na escola não conseguimos dar aula.
O que a Ana Cristina coloca é a realidade, nós não conseguimos trabalhar nas
escolas estaduais. Eu falo da escola que eu trabalho, nós não conseguimos dar aula, é porque eu
quero continuar dando aquela aula do jeito que eu aprendi? Não sei o que está acontecendo! Alguma
coisa tem que ser feita na educação, tem que haver mudança. É acabar com o ciclo? É vir a prova?
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Eu acho que não é regredir, mas ver onde está o nó - vou repetir aqui a fala do meu prefeito: “o
gargalo da coisa e resolver”...
Deputado, eu não vou colocar todos os problemas que temos, porque acho que não
é a hora. (PALMAS) Obrigada!
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Sra. Terezinha, só quero lhe fazer
uma pergunta: por que você falou que é uma faca de três gumes?
A SRª TEREZINHA GOMES LIMA - Um aluno que realizou a prova do ENEM
afirmou na sua redação que: “a educação ambiental é uma faca de três gumes”. Então, se ela tem três
gumes, eu quero dizer que no ciclo também são três gumes. Por um lado, a proposta é muito boa;
por outro, pode ser nós, professores, que não estamos preparados; e por outro lado, pode ser as
famílias que não estão preparadas para esse novo modelo de escola. Então. estou pegando os três
gumes do ENEM... (RISOS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Qual é o quarto?
(NESTE MOMENTO, UM PARTICIPANTE DA PLATEIA DIALOGA COM O DEPUTADO
WILSON SANTOS, FORA DO MICROFONE - INAUDÍVEL.)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - (RISOS) ...Eu acho que esse é o
principal.
Vamos ouvir o nosso Presidente da Câmara, Sr. Sílvio Bento Leal, que foi muito
cortês, muito gentil, desde o primeiro contato que fizemos com ele, via telefone, nos disponibilizou
toda a estrutura da câmara para que pudéssemos passar essas quase cinco horas aqui.
Muito obrigado, Sr. Sílvio!
O SR. SILVIO BENTO LEAL - Boa tarde para quem já almoçou e bom dia para a
maioria, que ainda não almoçou, como eu.
Eu quero ser bem breve, porque todos aqui já estão com fome, com certeza. Eu
quero dizer que nós, em São Felix do Araguaia, estamos de parabéns - e por que não a região? Vila
Rica, Querência, Alto Boa Vista - por receber a Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso
hoje nesta Audiência Pública.
Nós temos a oportunidade de opinar sobre o ciclo de formação humana, o ensino
humano. Então nós devemos aproveitar, como foi muito proveitosa esta Audiência Pública com o
nosso Deputado Wilson Santos, com a nossa Secretária do Município.
Quero dizer do anseio de vocês, porque temos aqui educadores, secretários
municipais e estão muito bem representados na área da educação. Então, queremos agradecer a
presença de todos. Até a próxima oportunidade, muito obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Sílvio Bento
Leal, nosso Presidente da Câmara, por esta parceria.
Convido para fazer uso da palavra o Sr. Juracy Lima da Silva, presidente do
SINTEP do Município de São Felix do Araguaia.
O SR. JURACY LIMA DA SILVA - Boa tarde à mesa e à plateia! Gostaria de
cumprimentar a todos os companheiros presentes. Quero dizer que a discussão foi muito rica, as
colocações dos nossos companheiros e eu não vou repetir tudo de novo.
Gostaria só de pontuar algumas questões, que eu acho que são importantes e nós
trabalhamos com essa questão do sindicato. Então, para nós, até dezembro de 2014, ainda nos
orgulhávamos um pouquinho, dizíamos: “Nós somos um Estado do Brasil que estamos acima do
piso nacional”. Infelizmente, agora, tivemos um retrocesso nesse processo e nós pensávamos que
isso não ia acontecer, porque teve um acordo, uma lei, que muitos aqui já falaram a respeito.
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Pág. 48 - Secretaria de Serviços Legislativos
A qualidade na educação passa também pela valorização do profissional; então, se
não temos valorização, como é que vamos falar de qualidade?
O ciclo de formação humana que está proposto aí - eu acho que todos já falaram
isso -, qual é o entendimento? Eu acho que para entendermos uma coisa, nós temos que estudá-la e
essa falta de leitura é que, às vezes, nos faz não entender. Então, nós não buscamos essas fontes.
E aí, Deputado, quando se fala em crise, também no Estado de Mato Grosso, eu
me pergunto: como crise, se o Estado de Mato Grosso é um dos mais ricos do Brasil? Quando se fala
que ele bate todos os recordes, recorde em produção agrícola, recorde em produção de carne,
entendeu? Então, eu acho que um dos problemas principais é a questão da renúncia fiscal.
Eu acho que tem que parar com isso, quer dizer, a renúncia fiscal, o Estado deixa
de arrecadar, e é aí que está a crise, não é? Então, nós temos que rever essa posição.
A outra coisa que gostaria de perguntar ao Sr. Alfredo é com relação ao programa
que existia na SEDUC, chamado Programa Qualidade de Vida, que nunca chegou aqui em São Félix
do Araguaia. Parece que ele acabou agora, e já tinha muito tempo que ouvíamos falar de sua
existência em Cuiabá, Barra do Garças, esses locais, mas aqui ele nunca chegou. Então, seria um
programa que deveria atender ao profissional que está com esses problemas de saúde, e isso seria
necessário.
E o que aconteceu? Parece que não vai acontecer mais, eu fiquei sabendo que em
Barra do Garças cortaram esse programa. Era basicamente essa questão que eu tinha para colocar.
(PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado ao presidente do
SINTEP. E o SINTEP tem comparecido a todas as Audiências Públicas, tem trazido suas
preocupações, suas angústias, entregue documentos, tem sido uma parceira nessas Audiências
Públicas nossas.
O próximo inscrito é o Vereador Janovan Rios de Sousa, presidente da Câmara
Municipal de Vila Rica, a 350 quilômetros desta cidade.
Por favor, Vereador!
O SR. JANOVAN RIOS DE SOUSA - Boa tarde a todos e todas!
Cumprimento o Deputado Wilson Santos; a Sra.Terezinha Gomes, Secretária
Municipal de Educação; o Vereador Sílvio, e em seu nome cumprimento todas as pessoas de São
Félix do Araguaia, amigo de juventude de Barra do Garças, parabéns pela Presidência da Câmara,
pela sua atuação nesse município, no Poder Legislativo; o Sr. Alfredo, Assessor Técnico do
Secretário, representando o Secretário de Educação do Estado; a Professora Alvarina Fátima dos
Santos, palestrante; a Sra. Fátima Beatriz, Secretária Municipal de Educação; a amiga Guiomar,
Secretária de Educação do Município de Vila Rica, e em seu nome cumprimento a todos do setor da
educação aqui presentes; a Sra. Sandra Gama Carvalho, Secretária de Educação de Luciara, e em seu
nome cumprimento - que é o meu berço natal - todos os meus conterrâneos. É muito bom revê-los
aqui; o Sr. Juracy Lima da Silva, presidente do SINTEP de São Félix do Araguaia; o Diácono José
Raimundo da Silva.
Um cumprimento especial à Zulmara, minha amiga - um beijão, Zulmara, é bom
revê-la aqui.
Deputado, eu não vou parabenizá-lo, porque muitas pessoas já o parabenizaram
aqui, mas quero agradecer-lhe pela brilhante atuação em um tema que todos nós gostamos, que é a
educação. A região do Araguaia agradece pela sua atuação em relação a esse tema tão importante,
que é a educação e, ao mesmo tempo, tão polêmico, que é a modalidade de ensino em ciclo.
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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.
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Dizer a vocês que após ouvir várias pessoas aqui, nós vimos que é uma
modalidade de ensino que tem, eu diria, as suas falhas, e não as suas indagações, como a palestrante
falou aqui. Eu diria a suas falhas, nas quais percebemos uma grande indignação da diretora Ana
Cristina em relação a essa modalidade de ciclo, porque ela está vivendo e sentindo na pele esse
modelo de educação, já ouvido e falado por muitos aqui, que parece ser uma modalidade de ensino
falida. Talvez eu esteja sendo muito duro, mas pela fala de todos, nós comprovamos de perto a
indignação e a insatisfação de muitos.
Dizer também à Srª Alene, que fez uma cobrança muito forte ao Governador Pedro
Taques, Deputado, vamos ter mais um pouco de paciência, só tem cinco meses de Governo. E eu
falo isso porque, como um homem público, Deputado, nós sabemos que as coisas não acontecem do
dia para a noite. Aqui ouvimos a fala do Sr. Alfredo Ojima, que nos traz uma grande esperança, uma
grande expectativa, a partir do ano de 2016, que falou em seu pronunciamento que nós precisamos,
pelo menos, deste ano de 2015 para organizarmos a casa.
Nós que estamos e militamos na vida pública sabemos como este Estado foi
passado ao Governador Pedro Taques, com quem nós tivemos uma reunião em meados de janeiro,
na qual esteve nos falando que levaram até o cofre do Estado. Então, há muitas situações que
precisam ser organizadas; mas de uma forma dinâmica, de uma forma mais consciente.
E percebo, Sr. Alfredo Ojima, que o senhor leva daqui, na bagagem, uma série de
reclamações deste município e de municípios circunvizinhos, a exemplo de Vila Rica, Querência,
São Félix do Araguaia e do meu berço natal, que é Luciara.
Nós vamos dar esse voto de confiança ao senhor, ao Governador Pedro Taques, ao
Deputado Wilson Santos, a quem nós estamos parabenizando e agradecendo a sua atuação nesse
programa, nesse tema tão bonito e tão importante, que é a educação.
Se o Brasil investisse na sua educação, nós teríamos hoje um país, Deputado,
diferenciado de todos os outros, porque potencial e recurso para isso nós temos. Mas sabemos que
tem suas falhas, principalmente no setor político.
E dizer a Vossa Excelência que acredito no Governo Pedro Taques, eu não o
apoiei, eu estava em outro grupo político, mas acredito e vamos dar, sim, esse crédito ao Governador
Pedro Taques e a todas as suas Secretarias, a exemplo da Secretaria de Educação, para que em 2016
possamos fazer outra audiência pública, Deputado, falando dos benefícios recebidos em São Felix
do Araguaia, Vila Rica, Confreza, Luciara e todos os benefícios recebidos na área da educação.
No mais, um forte abraço a todos, fiquem com Deus! Obrigado pela oportunidade
(PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Nós é que agradecemos ao Vereador
Janovan Rios, que se deslocou de Vila Rica, que é presidente da Câmara Municipal e que assistiu a
essa Audiência Pública inteirinha, quatro horas e meia de audiência. E nós ainda temos dois
oradores, que é o nosso Diácono, o Sr. José Raimundo da Silva, e depois o Sr. Alfredo, que fará as
considerações finais.
Consulto a Professora Alvarina de Fátima se ainda gostaria de fazer alguma
observação... (PAUSA)
Então, vamos lá! Com a palavra, o Diácono José Raimundo da Silva.
O SR. JOSÉ RAIMUNDO DA SIVA - Vocês me permitem falar em pé? Me deem
licença, que eu funciono mais falando em pé.
Eu confesso Deputado, Sr. Alfredo - nós já nos conhecemos há algum tempo,
desde a assessoria pedagógica -, que saio daqui preocupado, mas alegre por outro lado, porque como
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Vossa Excelência disse no início, nós estamos numa reunião político-pedagógica muito importante,
mas, por um lado, nós temos equívocos nas nossas cabeças, acho que estamos confundindo muito as
coisas... Belas falas, todos aqui falaram bem, eu vejo que no geral aprova-se a escola ciclada.
Vejam bem, eu escrevi alguma coisa para não me perder, mas não vou delongar-
me: não é o que está sendo, mas o que deveria ter sido, com base na experiência do Projeto Terra. Eu
convido para, apaixonadamente, implantarmos a escola ciclada, de verdade!
Nós tivemos, Deputado - o Sr. Alfredo é conhecedor disso -, 22 escolas neste
Estado de Mato Grosso no Projeto Terra, em que verdadeiramente, Professora Ivani, acontecia
escola ciclada. Carmem, você se lembra de Luciara? De verdade! De verdade!
Nós tínhamos isso, a ponto de quê? Vejam bem, avaliações semanais estão
registradas; atividades com professores e alunos; a organização do tempo escolar de acordo com as
atividades a serem executadas, e isso ocorreu na prática.
Agora, vou falar de algo que entrarei na fala do Sr. Alfredo: a isonomia salarial.
Sabem o que é isso? Nós tínhamos 40 horas, 20 horas em sala e 20 horas de hora-atividade coletiva.
Hora-atividade coletiva! E desafio, também, a provar que nós, professores... Nós trabalhamos mais
de 59 horas semanais, levando em conta todos os nossos registros.
E quando nos colocam a camisa de força para sermos obrigados dentro de uma
escola desestruturada, sem condições de trabalho, só para dizer que estamos de corpo presente
fazendo hora-atividade, é um absurdo! É um absurdo! É um absurdo!
Eu falo aqui como Diácono da Prelazia de São Félix do Araguaia, diácono
permanente, casado, e falo como Professor de Filosofia, História e Sociologia.
Deputado, neste Araguaia, neste chão em que estamos pisando, em 1970 foi
construída a primeira escola, o Ginásio Estadual do Araguaia, em parceria com o Estado, a Prelazia
de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, que deu origem ao Inajá I, com um
direcionamento certo à UNEMAT.
Já se fazia educação de qualidade! Já se fazia educação que, depois, Darcy Ribeiro,
aqui no artigo 24, alínea c, da Lei 9.394/1996 vai dizer que há necessidade de respeitar o tempo do
aluno no aprendizado, porque é diferente o aprendizado de cada pessoa.
Vygotsky fez Medicina, passou pela Medicina, foi formado em Direito, é Filósofo,
Psicólogo, formado em Literatura e História, e como Médico ele percebeu essa questão humana.
Então, esse tempo é fundamental.
Agora, quando alguém diz que o aluno é acelerado, que ele sai de uma turma, vai
para outra e não leva a nada; desculpem-me, ele leva uma bagagem que a escola não ensinou; que é a
sua vida, que é o conteúdo da vida, e aqui, no artigo 24, inciso II, alínea c, da Lei 9.394/1996 diz
assim: “independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que
defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou
etapa adequada...”, de acordo com a sua idade. Isso não é pecado mortal, isso não tem nada de ruim.
Agora, a escola deixa de fazer a sua avaliação, isso é verdade. (PALMAS)
Se nós não fizéssemos a avaliação, nós fizemos a avaliação em Luciara, eu era
assessor pedagógico à época... A escola tinha sido queimada, não tinha documento, nós fizemos uma
prova, fomos ao Conselho e regulamentamos isso, e essa pessoa passou por uma banca, ele leu um
livro, ele conseguiu relatar num livro, porque no final, companheiros e companheiras, a escola é ler,
escrever e interpretar. É ou não é? É isso!
Seja na escola seriada, seja na escola ciclada, e isso é a flexibilização do tempo, a
flexibilização do currículo. É um absurdo dizer que hoje não é contado como dia letivo, isso é
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brincadeira, isso é legalismo que não vai levar a coisa alguma. Professores foram embora? Foram!
Mas informaremos os alunos? Informaremos. Agora, a nossa âncora é a transposição didática.
Grande novidade! Em 1985 já se falava disso. Prestem atenção! Nós já fazíamos isso direto. Agora,
o complexo temático... Paulo Freire já falava de tema gerador. Escuta, é o coletivo! Pessoal, é o
coletivo!
Então, é o seguinte, essa flexibilização de currículo é muita coisa, eu estou
juntando, ela juntava os alunos, todos juntos e misturados. Nós conseguíamos botar o aluno ali, ele
dentro de suas dificuldades, dentro de suas experiências de vida, se fazia escola de verdade.
Quero chamar atenção às estruturas: é uma calamidade, sim, a estrutura. Estamos há
quase dois anos, Deputado, lá na APAE, Vossa Excelência e o Sr. Alfredo precisam ir lá. Precisam ir
lá, porque Vossas Excelências vão chorar. A nossa escola seria contemplada por uma reforma e
vieram nos despejar, era dezembro, eu estava na porta da Escola Tancredo Neves quando encostou
um caminhão e nos disseram: “tem que desocupar a escola agora”. Eu falei: gente, isso não é
possível, não é despejo. “Tem que ser, porque as telhas têm que ser colocadas na escola”. O que é
isso! Aí, o diretor foi esperto, nesse sentido, porque nós tínhamos que ficar no local, ficou precário,
com PVC dividindo, mas era o lugar onde nós teríamos mais tempo e nós estamos até hoje,
Deputado, e a coisa enrolou por causa da questão de ligar a luz, pelo projeto da CEMAT.
A questão da SEDUC, como diz a Ana Cristina, um imbróglio danado, se a escola
tem alunos indígenas, logo a Constituição garante como tal. Por que isso não acontece? Você
entende? Aí, para mim, é brincar com educação.
Eu entro na fala do Sr. Alfredo, querido Alfredo, você sabe das nossas discussões,
das coisas quando era assessor. Mas, veja bem, o Estado continua economicista, meu irmão. O Sr.
Francisco está de parabéns quando ele coloca que a educação é investimento, não é gasto e não é
despesa. O que é isso? O que é isso? Eu investi nos meus filhos, entendeu? Eu não ajuntei gado, eu
não comprei carro novo. E eles saíram de Luciara, Deputado, com 17 anos, passaram no ENEM.
Hoje, eu tenho uma arquiteta, vai se formar em teatro agora em julho - eu vou para
a formatura -, tenho uma cientista na computação e outro que está se formando, de Luciara para a
universidade.
Agora, se você vem me dizer que a educação não foi investida 263% nos últimos
anos, eu desafio o Secretário de Educação a consultar o Google, o pai, o oráculo, e ver o que
aconteceu. Nós temos, hoje, em nível internacional, filho de lavadeira em universidades sem
fronteiras, o que é isso?
Outro dia vi um depoimento de uma senhora dizendo assim: “Quando eu falava
que o meu filho ia se formar em medicina, riam de mim, e hoje isso é possível”.
Quando você diz que na universidade só tem filho de rico, ela tinha, porque a cota
dos afrodescendentes indígenas conseguiu, hoje, ser aceita no Supremo Tribunal Federal, doa a
quem doer, porque não abaixou o nível e a qualidade da escola; pelo contrário, o nível foi elevado.
E a escola ciclada é o loco, sim, da formação e a Professora Alvarina foi muito
legal quando disse assim: “ora, é um projeto da sociedade, então, enquanto a estrutura não vem, as
aulas de campo acontecem, um planejamento coletivo; o tempo do professor, o tempo da sala de aula
e o tempo do planejamento, meus irmãos, vão fazer com que o projeto seja defendido na escola.
Aí, quando é para fugir disso, não trabalhar em área, o professor diz: “nós vamos
trabalhar para o projeto”... O projeto fica sendo um projeto dele. Meu Jesus, eu não acredito, eu
acredito no projeto da escola e acredito também no seguinte: o professor no ciclo, que não foi
implantado, ele morreu no Projeto Terra, ele morreu, Sr. Alfredo, nessa passagem de Governo para
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outro, quando o Secretário Maldonado dizia que teríamos que criar um Estado de Educação, em que
a questão política, na perspectiva da politicagem não interferisse. Aqui, foi dito isso pela Terezinha,
ela colocou muito bem, na questão do município.
Quando entra um Governo e desconstrói o que foi feito sem avaliar... Nós temos
que levar em conta esse processo. Então, eu acho que é possível, sim, essa escola ciclada. Ela tem
que ser implantada, só que nós temos que investir na educação.
Se o Governador Pedro Taques quer verdadeiramente um Estado desenvolvido,
tem que investir na educação, sim. A renúncia fiscal é algo real, os ricos não pagam impostos, nesses
dias descobriu-se R$ 5.000.000.000,00 de sonegação da elite da casa grande, no Brasil. A escola
pública é pensada como a escola do povo da senzala, essa é a verdade! E essa história de dizer que
vai para a escola particular e que lá e tal... Prestem atenção! Nós temos a faca e o queijo na mão, é
essa a questão. Agora, como dizia Adélia Prado: eu tenho que ter é a fome, não adianta eu ter a faca
e o queijo e não ter a fome.
Eu quero dizer que a dificuldade que está aqui na escola tem que compor com
parceiros: Conselho Tutelar, Conselho da Criança e Promotoria. Temos que compor, levando atores
da escola; seja seriado ou não, e essa questão de dizer: “ah, trabalhou a realidade e não...” Senhores,
o aluno tem que aprender, seja na escola seriada ou não. Por quê? Porque a realidade... Ele vai
buscar o conteúdo, é uma realidade. Ele vai sair do conteúdo e vai buscar na realidade da vida dele,
o que ele quer aprender, aprender e aprender.
Por último, eu vou dizer uma frase muito interessante, que diz assim: “o que não se
faz sentir, não se entende; e o que não se entende, não se interessa”. O que não faz eu sentir, não
sinto; eu tenho que sentir para entender; e se eu não entendo, não sinto.
Teria que ser feita a seguinte pergunta para aquele aluno que estava na quadra e
disse que seria aprovado: “por que você não está interessado na aula? Por quê?” Eu acho que essa
pergunta é que tem que ser feita a esse aluno, por quê? Porque ele tem que sentir, todos nós
aprendemos quando passamos pelo sentimento. E quando eu vou racionalizar o sentimento, ele já
não é mais, ele vira razão.
Agora, eu quero a rosa e rejeito o botão? Não! O botão é antes da rosa, a rosa é
consequência e essa escola é coletiva! Se não for coletiva, Márcia, não funciona. Você entende? Não
funciona! E o coletivo é investimento.
Professor interino é escravo do Estado, interessa ao Estado, sim, porque, senão,
67% dos professores não continuariam, e estão aí, sem concurso.
Obrigado! (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado ao colega Professor
e Diácono da Igreja Católica José Raimundo da Silva.
Convido para fazer uso da palavra o Sr. Alfredo Tomoo Ojima, que falará em
nome da SEDUC.
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Quero pontuar algumas questões que foram
colocadas aqui. A primeira questão é a respeito do transporte escolar: o Secretário de Alto Boa Vista
colocou essa questão de transporte escolar, nós estamos participando de uma Comissão organizada
entre a Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), a UNDIME e a SEDUC - inclusive,
Deputado, o pessoal pediu para que a Comissão de Educação da Câmara estivesse participando
também. Essa Comissão tem como objetivo fazer uma discussão não só para debater o custo do
quilometro rodado, mas fazer uma radiografia, para estabelecermos uma política de transporte
escolar para o Estado de Mato Grosso.
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Essas situações que foram colocadas tanto pelo Secretário quanto pela Secretária,
que já havia falado que tem muitas dificuldades, é uma realidade muito forte. Tem algumas
situações que nós não conseguimos resolver apenas com uma articulação entre Estado e Município.
Por quê? O Deputado Wilson Santos sabe muito bem, porque ele foi Deputado Federal, e 60% dos
recursos estão ficando com a União - inclusive, esta semana está havendo uma marcha dos prefeitos
lá -, 25% ficam com os Estados e 15% ficam com os Municípios. Então, essa equação, se não
tivermos um novo pacto federativo, uma discussão sobre reforma tributária, nós nunca vamos
conseguir melhorar a questão do financiamento.
Inclusive, Professora, a senhora que falou em relação à creche, a educação infantil
na legislação é responsabilidade única do município, o ensino fundamental fica entre Estado e
Município e o ensino médio é responsabilidade do Estado.
Então, não tem como fazer qualquer tipo de financiamento do Estado para a
educação infantil. Vai ter que fazer uma articulação via PAR, com o Governo Federal, para que
possa inserir lá a construção de novas unidades, equipamentos, enfim, toda a parte de financiamento
da educação. Em relação ao transporte, nós estamos assim. Inclusive, nós já trouxemos um professor
da Universidade Federal de Minas Gerais que implantou um Sistema de Transporte Escolar, isso já
com georreferenciamento.
Minas Gerais é o Estado que tem a área maior do Brasil. Eles implantaram esse
sistema para fazer o monitoramento, para calcular o custo aluno, o custo de transporte por linha.
Então, nós estamos numa etapa que vamos ampliar essa discussão, Srs. Secretários, para que
possamos trazer para os municípios também.
Outro ponto: foi colocada também a questão da construção de unidades escolares,
uma coisa que emperra a construção de unidades escolares - inclusive, nós temos até recurso que
chegou para nós - é a questão de regularização fundiária.
Vários municípios têm uma dificuldade para que haja documentação, regularização
fundiária. Se não tiver a documentação da área, nós não conseguimos inserir para construção de
novas unidades. Então, esse é um problema que desta região, vários municípios estão nessa situação.
Alto Boa Vista, eu tenho certeza de que deve estar nessa situação, que dificulta a construção de
novas unidades escolares.
Em relação à alimentação escolar, o Governador Pedro Taques já constituiu um
grupo de trabalho envolvendo a Secretaria de Agricultura Familiar, a SEDUC, a SEFAZ, a
Secretaria de Desenvolvimento Regional e vários Secretários, para que possamos otimizar a
captação desse recurso para a agricultura familiar. Então, está sendo feito todo um trabalho
articulado entre as Secretarias, para que esses recursos que estão chegando às escolas possam ser
utilizados com a agricultura familiar.
Essa questão que vocês colocaram aqui, em relação ao selo, a Vigilância Sanitária e
a Secretaria de Fazenda vão fazer uma articulação para que os municípios e os produtores possam
vender para as nossas unidades escolares, através da alimentação escolar.
Em relação à questão que vocês colocaram - uma coisa muito importante -, eu volto
a destacar que se nós não tivermos uma discussão sobre o novo pacto federativo e a reforma
tributária...
Nós vamos estabelecer, juntamente com vocês, com os municípios e com os
Deputados, o Plano Nacional de Educação, que estabelece que nos próximos dois anos, depois da
promulgação do Plano Nacional, o Governo tem dois anos para estabelecer o custo aluno-qualidade.
Esse custo aluno-qualidade vai servir de parâmetro para todo o Brasil. Então, não adianta...
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Por exemplo, a colocação do Secretário de Alto Boa Vista, o Estado realmente tem
um recurso muito significativo do FUNDEB, só que todo recurso do FUNDEB está destinado para
folha de pagamento, não tem um recurso que vá sobrar para investimento. Então, às vezes, a
quantidade de recursos não significa que tem disponibilidade.
E outra coisa, o recurso é um valor muito grande, é como se estivéssemos em
nossa casa. Se nós temos uma receita, digamos assim, de R$ 3.000,00, nós não vamos poder fazer
despesas de R$ 4.000,00, vai dar problema, e no Estado é a mesma situação.
O Governador Pedro Taques é um governo responsável para que não ocorra esse
tipo de problema. Estamos fazendo todo trabalho... Como foi colocada a falta de gestão, a falta de
gestão significa que não podemos ser irresponsáveis para que futuramente tenhamos mais problemas
ainda, nós temos que evitar, temos que planejar de tal maneira que nós evitemos problemas para que
possamos ter, lá na frente, mais resultados.
Em relação à questão de professor interino: a Secretaria de Educação juntamente
com a Secretaria de Gestão já estão trabalhando no sentido de fazer o concurso público.
Em relação a quantitativo, Deputado - está sendo discutido para ser feito este ano...
Tem 67... Não chega a tudo isso, o que existe na verdade é o seguinte: os nossos professores são
contratados por hora-aula. Então, nós temos... Vossa Excelência sabe muito bem que tem professor
que tem contrato de 10 horas, por isso essa quantidade, às vezes, que parece que tem muita gente de
contrato. Mas se analisarmos em termos de carga horária completa, nós não temos esse montante,
chega a aproximadamente 49 a 50%.
Outra questão é em relação ao programa de qualidade de vida, SINTEP: nós
estamos reestruturando o programa de qualidade de vida. O que estava acontecendo com o programa
qualidade de vida? Alguns municípios, principalmente os grandes centros, tinham um trabalho que
atendia só aquele pessoal que morava naquelas cidades, e a ideia nossa, a proposta nossa é que
possamos expandir para todos os municípios. Agora, essa formatação está sendo feita, discutida,
para que todos possam usufruir, não apenas aquelas pessoas que moram nos grandes centros. Essa é
a discussão que estamos fazendo lá.
Deputado, eu só quero agradecer, acredito que teremos que discutir bastante ainda
essa questão da organização das escolas em ciclos. A comissão está trabalhando toda semana, eles
têm uma reunião agendada e vão apresentar um plano de trabalho que vai chegar para os municípios
também. E a UNDIME também se faz presente nessa comissão. Vai ser fundamental esse debate,
esse encaminhamento, para que possamos trabalhar articuladamente com os municípios e com as
escolas.
E uma coisa muito importante que foi colocada em relação ao plano municipal de
educação, será que muitas questões que foram colocadas por alguns secretários foram contempladas
no Plano Municipal de Educação? Por exemplo, vou dar o exemplo do Secretário de Alto Boa Vista,
ele está aí? (PAUSA)
O SR. ALFREDO TOMOO OJIMA - Já saiu. A quantidade de alunos que tem em
Alto Boa Vista - se formos olhar pelos números - parece que dá para atender numa única escola. Mas
o que acontece? Fica essa divisão de escola municipal e escola estadual e não dá conta de pagar,
porque não tem o recurso do FUNDEB, porque não tem a quantidade de alunos suficientes. Será que
não era o caso de colocar no Plano Municipal de Educação, de fazer uma articulação, para nós
trabalharmos em gestão única? Será que foi discutido isso?
Outra questão que eu acho fundamental, e que o professor colocou ali, é referente à
avaliação. Enquanto estivemos na Prefeitura de Cuiabá, na época do Prefeito Wilson Santos, foi
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assinado um convênio com a UNESCO, sobre a implantação de Programa de Qualificação
Institucional, esse programa foi feito em 2010 e agora foi finalizado.
Qual o objetivo desse programa? É trabalhar com avaliação institucional, vai
avaliar o aluno, o professor, o servidor, o gestor, enfim, todos os atores que fazem parte da educação
são avaliados.
E qual é a finalidade disso? É bem naquele caminho que Vossa Excelência está
colocando, é para saber por que está acontecendo a dificuldade de aprendizagem em tal lugar. É
muito mais no sentido de aperfeiçoar, para que possamos resolver esses problemas, do que
simplesmente fazer uma avaliação, é sim ou não. Mas, pelo contrário, é um processo de construção
para melhoria e isso tem funcionado, tanto é que já virou um sistema, implantaram um sistema de
avaliação, hoje todo mundo se avalia.
E o que acontece com esse processo de avaliação na escola? Tem lá um corpo de
professores, e o gestor da escola dá uma avaliação muito positiva, em virtude de uma amizade e tudo
mais, e na hora de ver os resultados, aquela informação que foi testada não casa com os resultados
que estão aparecendo. Então, é fundamental nós termos a avaliação.
E qual é o fundamento principal desse programa institucional que foi feito em
Cuiabá? Trabalhou basicamente um projeto político pedagógico, cada unidade escolar tem que ter
seu projeto político pedagógico, mas é o pedagógico, porque muitas vezes, o que observamos no
Estado, é o PPP que está focado só na questão do financiamento, sem ter uma articulação com o
pedagógico. Então, professora, a senhora estava colocando uma situação em que a escola tem uma
dificuldade, mas o que essa escola realmente colocou no projeto político pedagógico?
Será que estão contempladas todas as dificuldades? Toda a radiografia da escola?
O que nós queremos? Que escola nós temos? Que escola nós queremos? O que está faltando aqui?
Será que tudo isso está contemplado? Então, esse instrumento de programa de avaliação está sendo
muito importante, eu tenho certeza, Prefeito, de que esse programa que foi implantado lá, vai dar
retorno nas próprias avaliações institucionais.
E uma coisa importante, a avaliação não pode ser apenas uma avaliação dos órgãos
federais, nós estamos estudando uma avaliação no sentido de que não seja feita só uma avaliação,
esperando que a cada dois anos tenha avaliação do Governo Federal, e instituirmos uma avaliação
permanente para que possamos acompanhar, monitorar, ajudar as escolas e os professores para
melhorar a qualidade da educação.
Eu agradeço muito a participação, nós estamos à disposição lá na Secretaria de
Estado de Educação e gostaríamos de colocar à disposição também, Secretários... Nós criamos uma
unidade de articulação com os municípios, com as Secretarias Municipais de Educação, que trabalha
basicamente essa articulação dos planos municipais, do plano de desenvolvimento institucional, que
é um instrumento de planejamento do Tribunal de Contas e com a questão da organização, para que
possamos constituir um regime de colaboração, para buscarmos o Sistema único.
Muito obrigado e boa tarde a todos. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado, Sr. Alfredo.
Com a palavra, para suas considerações finais, a Professora Alvarina de Fátima
dos Santos.
A SRª ALVARINA DE FÁTIMA DOS SANTOS - Eu quero abordar um ponto
que a Professora Carmem trouxe na discussão e não falamos sobre isso. Ela colocou que os alunos
de quatro, cinco, seis e sete anos enturmados juntos, no multiciclo e no multissérie.
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Então, quero me referir à lei e à resolução da educação infantil, que dispõem que
em hipótese nenhuma nós enturmamos crianças da educação infantil com as crianças do ensino
fundamental. Isso eu não poderia deixar de falar, para vocês se aterem ao que tem na legislação
sobre isso.
As diretrizes curriculares para a Educação Infantil, as orientações curriculares para
a educação infantil precisam ter esse olhar atento, porque é uma concepção que vai no viés da
formação humana, tanto na educação infantil como no ensino fundamental, porém tem diferenças
que precisam ser respeitadas no desenvolvimento da criança. Então, eu não poderia deixar de falar
sobre isso.
E a preocupação que ela trouxe em relação a essa multisseriação: você tem
proximidade de idade na educação infantil, quatro e cinco anos, que você pode ter flexibilidade no
currículo, no seu plano de aula, na sua metodologia, assim como você também tem flexibilidade na
proximidade de idade de seis, sete e oito anos, que é dentro de um ciclo.
Agora, o cuidado que nós temos que ter quando nós vamos multifasear de um ciclo
para outro, assim como a lei já traz que em hipótese nenhuma nós podemos enturmar alunos da
educação infantil com alunos do ensino fundamental.
Quero agradecer pela oportunidade de me fazer presente nesta Audiência Pública,
algumas pessoas que eu conheço já pegaram o meu endereço de e-mail, se quiserem conversar sobre
a organização por ciclo, sobre a educação infantil e o ensino fundamental, que é:
Muito obrigada. (PALMAS)
O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Muito obrigado à querida amiga
Professora Alvarina, é a segunda palestra que ela nos proporciona.
E atendendo à solicitação da Professora Terezinha, nós vamos conceder mais um
tempo para fazer uma resposta.
A SRª TEREZINHA GOMES DE LIMA - Eu acho que é uma explicação sobre o
que a Carmem coloca: a realidade do Município de São Félix do Araguaia, que eu acho que não é
diferente de muitos municípios da região do Araguaia, é que é um município bastante despovoado.
Nós temos, o exemplo do que foi colocado pela Professora Carmem, a Vila São Sebastião, nessa
escola não tem nem 50 alunos, e para ter esse número de alunos, alguns são pegos perto de Luciara,
para você ter uma turma de alunos.
Nessa sala que ela coloca, tem, se eu não me engano, nove alunos. Tem alunos de
três, quatro, cinco, seis, sete e oito anos. Então, nós temos duas opções: ficar em uma sala com nove,
dez, doze alunos, que é o caso, ou não atender o aluno de quatro anos. Porque a nossa realidade,
Professora, não permite isso.
A não ser que nós tivéssemos recursos suficientes para ter um professor para
atender dois alunos na Serra do Magalhães, de quatro anos; dois alunos na Carnaúba, de quatro anos;
porque não tem como você reunir todos esses alunos de quatro e cinco anos, numa só localidade.
Então, a nossa realidade não permite fazer isso.
Nós não teríamos recurso para pagar um professor para cada dois alunos numa
diferença de 50 quilômetros de uma escola para outra. Agora, onde é possível, no caso de Espigão
do Leste, que é uma escola maior, os alunos são colocados quatro anos, cinco anos, seis anos, mas
nas salas anexas, professora, essa realidade é totalmente diferente. E uma coisa é o que diz a lei,
outra coisa é a realidade. Muitas coisas da nossa realidade... Infelizmente, não tem como cumprir a
lei.
ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE MATO GROSSO ATA DA AUDIÊNCIA PÚBLICA PARA DISCUTIR O CICLO DE FORMAÇÃO HUMANA,
REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.
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O SR. PRESIDENTE (WILSON SANTOS) - Ao encerrar a mais longa de todas
essas Audiências Públicas, eu saio daqui impressionado com o nível, com a qualidade das falas que
nós ouvimos aqui. Nós que vivemos na Capital e somos acostumados a ouvir falas preconceituosas,
desconexas, conservadoras. (PAUSA)
Eu estou impressionado com o nível, o Sr. Alfredo sabe o que eu estou dizendo e a
Professora Alvarina também. Nós temos andado este Estado, é o primeiro semestre da nossa
atuação...
Antes quero agradecer a presença dos Vereadores Lázaro e Jair, lá de Vila Rica; do
meu amigo Dairinho, que ajudou na mobilização, na divulgação; e agradecer toda a comitiva de Vila
Rica, a Maria Guerra, que usou a palavra; o Pedro Rocha; a Divina, que produziu um texto que estou
levando; a Cristina; o José Adelson; o Guiomar; e a todos que vieram de Vila Rica, Alto Boa Vista,
Luciara, Santa Terezinha, enfim, todos que vieram participar.
Eu quero pontuar que, em relação à renúncia fiscal, as falas estão corretas, este
Estado concede, aliás, ele não sabe, Diácono!... O Governo do Estado não sabe quanto concede de
incentivos fiscais por ano. Estou participando de uma CPI que trata da renúncia fiscal e da
sonegação fiscal, presidida pelo valoroso Deputado Zé Carlos do Pátio, e vai produzir muito
resultado.
Quem acha que toda CPI na Assembleia Legislativa acaba em pizza, aguarde! O
Estado ora informa que abre mão de R$ 1.500.000.000,00; outro tempo fala que é R$
1.200.000.000,00 por ano. Há algumas falas oficiais que chegam a afirmar que o Estado chega a
abrir mão de R$ 1.700.000.000,00 por ano, a título de renúncia fiscal, incentivos ficais, regime
especial e desse esquemão de cooperativas, que está vindo à tona agora. Nós iremos para cima
desses tubarões! Nós iremos para cima desses tubarões! Quero dar essa boa notícia a esse polo, que
na Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso está funcionando uma CPI com essa temática.
Quero dizer também, em relação ao Governo Pedro Taques, eu não queria falar, fiz
um sinal no início dessa audiência, que nós deixássemos de lado as questões partidárias, de governo,
evitei falar, mas já que houve pontuações, felizmente pequenas, quero dizer: fiquem tranquilos! O
Estado elegeu um homem honrado, um moço honesto, algo muito raro na política deste país. Fiquem
calmos, ele nem esquentou a cadeira ainda. Não haverá nem 0,00000001 de prejuízo ao que está
estabelecido em lei.
Amanhã, será pago o mês de maio, já com 50% da reposição e os outros 50% serão
pagos em novembro. E a diferença inflacionária desses seis meses será paga em janeiro, não haverá
nem um milésimo de prejuízo naquilo que vocês conquistaram no chão da escola, na luta liderada
pelo SINTEP.
Quando fui prefeito eu fiz uma negociação com o SINTEP, e o SINTEP indicou o
Secretário Adjunto de Educação. Fizemos em Cuiabá um salto de qualidade. Em oito anos de gestão,
não houve um dia de greve. Criamos oito programas pedagógicos, alguns viraram referência para o
MEC. Nós não estamos diretamente na SEDUC, mas vou acompanhar, presido a Comissão de
Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia e vou fazê-lo de maneira honrada.
Quero dizer, também, aos vereadores e líderes políticos que eu fiquei surpreso de
vocês aguentarem até o final, porque nós não temos essa cultura de ficar cinco horas sentado falando
e ouvindo. Eu concordo com o Diácono, que disse que estas cinco horas são um intensivão de um
bom curso. O que nós aprendemos aqui, dizer que vai descontar... Descontar o quê? Tinha que
pagar, porque aqui não foi um dia letivo; aqui vale uma semana, quem sabe um mês letivo; essa
troca de experiências, de informações. (PALMAS)
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REALIZADA NO DIA 28 DE MAIO DE 2015, ÀS 10H, EM SÃO FÉLIX DO ARAGUAIA.
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Ouviu, Sr. Alfredo? Não pode permitir isso; não pode permitir!
Lá em Cuiabá, dentre as coisas que criamos, criamos as rodas de conversas, que
não foi ideia nossa; não é nada novo, ouvimos o galo cantar e trouxemos. Vocês não sabem como
melhorou a metodologia de ensino de matemática.
“Professor de Matemática: qual é o problema?” foi outro programinha que
criamos: o professor que sabia ensinar equação de segundo grau com mais facilidade, trocou
informação com quem sabia menos, e acabamos saindo juntos, nivelados por cima, não por baixo.
Então, o que nós fizemos aqui hoje é o que o Estado precisa fazer com a sociedade; o que as
prefeituras precisam fazer; o que as secretarias municipais precisam fazer: aprender e aprender!
Anotei quase tudo, porque não dá para anotar tudo. Anotei aqui oito longas
páginas de observações. Gostei muito da sugestão: “por que vocês não encaminham um formulário
antecipadamente, para que nos preparemos e possamos render mais numa longa Audiência Pública
como esta?” Já está anotado.
Quero dizer que a UNEMAT não trabalha nos cursos de Licenciatura a questão da
escola ciclada é brincadeira - eu vou confessar que não acredito nisso. Eu vou sair daqui com essa
dúvida, eu anotei, eu vou tirar essa dúvida com a Reitora. Eu não posso acreditar!
A UNEMAT foi criada, lá atrás, nos anos 80, e depois elevada à condição de
universidade nos anos 90, principalmente para trabalhar a formação dos docentes. Essa foi a
principal meta, e dizer que, hoje, ela não trabalha isso!... Nós vamos checar.
Eu quero dizer, também, que o que todos disseram aqui foi de suma importância,
eu fiquei maravilhado, ouvindo e anotando: experiências de dez, vinte ou mais anos de sala aula; de
secretaria de escola; de coordenadoria; de assessor pedagógico; de conviver com a droga rondando
os muros das escolas; de receber aquele menino que nem o pai e nem a mãe querem saber e nós
recebemos, porque nós temos uma formação melhor que a dos pais dele, que não tiveram as chances
que nós tivemos na vida, de estudar, de fazer um curso superior. Por isso, temos o dever de ser mais
pacienciosos, mais generosos. Mais do que repassar conhecimentos, conteúdos, nós somos, de fato,
construtores de gente. Nós inauguramos gente! Mais importante do que inaugurar asfalto, que
inaugurar ponte, que inaugurar telefonia celular é inaugurar gente, pessoas! (PALMAS)
Deus nos deu o privilégio de optarmos pelo magistério, nós não fomos forçados,
nós é que fomos atrás. Eu, desde menino, dizia: eu serei professor, eu quero ser professor, eu achava
e acho a coisa mais linda, e hoje eu sei que é a mais importante de toda atividade humana, porque o
médico cura, mas não ensina; o advogado tira da cadeia... Agora, nós, tudo que nós sabemos, nós
devolvemos, com prazer, para os nossos semelhantes.
Eu encerro dizendo que ouvi muitos desabafos aqui, todos verdadeiros. Estamos
nesse processo há mais de uma década, parece-nos que somente agora apareceu uma instituição para
debater esse tema. Nós temos que fazer a avaliação da escola ciclada, no mínimo, anualmente. No
mínimo!
Quase quinze anos depois para sermos ouvidos, por isso que alguns desabafaram
aqui, como o José Maranhão, que fez uma fala divina e maravilhosa. O José não defendeu aqui a
escola seriada, não. Ele disse claramente: “eu sou a escola...” Como disse o nosso amigo Diácono:
“que implante logo, de maneira verdadeira, a escola ciclada, no seu todo”, mas também não é fácil
implantá-la.
E não vai aqui a acusação a quem governou o Estado, a quem dirigiu a Secretaria, a
quem dirigiu o santo de casa, nós estamos mexendo com um processo, não é um fato consumado.
Um processo deste leva em torno de 20 a 25 anos para ser concluído.
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Na minha concepção, houve um erro crasso, que foi o não enamorar com o corpo
docente, não dá para mudar radicalmente um modelo, sem conquistar quem vai trabalhar com ele,
quem vai implantá-lo no dia a dia. (PALMAS)
O Sr. Alfredo puxa a minha orelha, mas eu não vou deixar de provocá-lo, e quem
implantou foi um Governador que é o meu ídolo na política, Dante Martins de Oliveira. Mas a
implantação do ciclo foi autoritária, não consultou o corpo docente, não conquistou o corpo docente,
mais do que importante, é conquistar! “Parceiro, estamos juntos, vamos implantar? Vamos! Vamos
para essa parada? Vamos!”
“A partir de amanhã, é ciclo de formação humana, está aqui o documento, vocês se
virem”. Os professores, na sua maioria, são contra o ciclo, porque eles não foram chamados para
essa jornada, não foram motivados, não foram capacitados. Na caminhada eles tiveram que se
adaptar. Estou errado? (PAUSA)
Eu encerro dizendo o seguinte: espero que essas cinco horas e um pouco mais de
minutos possam ter sido úteis a cada colega professora; a cada técnica em desenvolvimento infantil,
as nossas queridas TDIs; a cada diretora já cansada, que não vê a hora de se aposentar, mesmo
sabendo que deu o melhor ao longo de décadas da sua vida, às vezes, até sacrificando a sua própria
família pela educação.
E eu digo: não há neste Estado, neste país, tarefa mais séria, mais consequente do
que a educação. Não há! Os países que hoje se consideram ricos, têm um bom patamar social, uma
boa qualidade de vida, uma renda per capita muito boa, invejada, só chegaram ao topo da pirâmide
porque investiram pesado em educação.
O Japão, após a 2ª Guerra Mundial, definiu 50% dos seus investimentos em
educação. A Coreia do Sul há 40 anos não era nada, era um fundo de quintal, era um chiqueiro; a
Coreia, hoje, é um dos dez países com o melhor índice de desenvolvimento humano do planeta.
Assim é a China; assim é Hong Kong; esse é o modelo, está aí, é com educação.
Eu encerro com a frase de um grande capitalista, de um capitalista, porque se eu
falasse de Piaget, de Vygotski, é o natural, é o normal; eu vou falar de um homem dono da maior
fortuna familiar deste país, da Família Moraes, Antônio Ermírio de Moraes. Eu encerro com uma
frase de um capitalista, que escreveu um livro com o seguinte título: “Educação, pelo amor de
Deus!”. Muito obrigado! Um abraço a todos vocês que participaram. (PALMAS)
Equipe Técnica:
- Taquigrafia:
- Amanda Sollimar Garcia Taques Vital;
- Cristiane Angélica Couto Silva Faleiros;
- Cristina Maria Costa e Silva;
- Dircilene Rosa Martins;
- Donata Maria da Silva Moreira;
- Isabel Luíza Lopes;
- Luciane Carvalho Borges;
- Tânia Maria Pita Rocha.
- Revisão:
- Verenice Correa de Moraes.