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LEI DE SIMILARIDADE PARA ESCOAMENTOS TURBULENTOS COM TRANSPIRAC ¸ ˜ AO Mateus Carvalho Guimar˜ aes Projeto de Gradua¸c˜ ao apresentado ao Curso de Engenharia Mecˆ anica da Escola Polit´ ecnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necess´ arios`aobten¸c˜ ao do ıtulo de Engenheiro. Orientador: Daniel Onofre Cruz Rio de Janeiro Fevereiro de 2016

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LEI DE SIMILARIDADE PARA ESCOAMENTOS TURBULENTOS COM

TRANSPIRACAO

Mateus Carvalho Guimaraes

Projeto de Graduacao apresentado ao Curso

de Engenharia Mecanica da Escola Politecnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro, como

parte dos requisitos necessarios a obtencao do

tıtulo de Engenheiro.

Orientador: Daniel Onofre Cruz

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

LEI DE SIMILARIDADE PARA ESCOAMENTOS TURBULENTOS COM

TRANSPIRACAO

Mateus Carvalho Guimaraes

PROJETO DE GRADUACAO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO

CURSO DE ENGENHARIA MECANICA DA ESCOLA POLITECNICA

DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE

DOS REQUISITOS NECESSARIOS PARA A OBTENCAO DO GRAU DE

ENGENHEIRO MECANICO.

Examinado por:

Prof. Daniel Onofre Cruz, D.Sc.

Prof. Atila Pantelao Silva Freire, Ph.D.

Prof. Fabio Antonio Tavares Ramos, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

FEVEREIRO DE 2016

Carvalho Guimaraes, Mateus

Lei de similaridade para escoamentos turbulentos com

transpiracao/Mateus Carvalho Guimaraes. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politecnica, 2016.

XI, 30 p.: il.; 29, 7cm.

Orientador: Daniel Onofre Cruz

Projeto de Graduacao – UFRJ/ Escola Politecnica/

Curso de Engenharia Mecanica, 2016.

Referencias Bibliograficas: p. 29 – 30.

1. Turbulencia. 2. Transpiracao na parede. 3. Lei

de similaridade. I. Onofre Cruz, Daniel. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, Escola Politecnica, Curso de

Engenharia Mecanica. III. Tıtulo.

iii

Dedico este trabaho ao meu

irmao Lao.

iv

Agradecimentos

Gostaria de agradecer minha mae Marcia, meu irmao Lao, meus amigos e professores.

v

Resumo do Projeto de Graduacao apresentado a Escola Politecnica/ UFRJ como

parte dos requisitos necessarios para a obtencao do grau de Engenheiro Mecanico.

Lei de similaridade para escoamentos turbulentos com transpiracao

Mateus Carvalho Guimaraes

Fevereiro/2016

Orientador: Daniel Onofre Cruz

Curso: Engenharia Mecanica

Neste trabalho e proposta uma nova forma de calcular o perfil de velocidades medio

e uma equacao para o coeficiente de arrasto em escoamentos turbulentos com trans-

piracao. Este tipo de escoamento e muito comum na industria de oleo e gas. Nas

teorias classicas disponıveis na literatura[1, 2], os perfis de velocidade nao colapsam

em uma unica curva quando plotados em coordenadas adimensionais. Isso indica

que essas teorias nao absorvem completamente a fısica do problema. Aqui, uma lei

de similaridade e desenvolvida para se obter uma descricao mais completa da estru-

tura do escoamento. A expressao resultante contem a lei logarıtmica classica como

um caso particular. Os resultados obtidos sao comparados com dados experimentais

disponıveis apresentando boa concordancia.

Palavras-chave: Turbulencia, Transpiracao na parede, Lei de similaridade

vi

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment

of the requirements for the degree of Engineer.

A SIMILARITY LAW FOR TRANSPIRED TURBULENT FLOWS

Mateus Carvalho Guimaraes

February/2016

Advisor: Daniel Onofre Cruz

Course: Mechanical Engineering

The present work introduces a new approach to evaluate the mean velocity profile

and to obtain an equation for the drag coefficient of turbulent flows subject to suction

or blowing at the wall. This type of flow is ubiquitous in the oil and gas industry. In

the classical theories available in literature[1, 2], the velocity profiles do not collapse

onto a single curve when plotted in non-dimensional parameters. This indicates

that the theories do not represent properly the phenomenon. Here, a similarity

law based on alternative arguments is developed to yield a better description of the

flow structure. The resulting expression contains the classical logarithmic law as a

particular case. The results are tested through some available experimental data

showing good agreement.

Keywords: Turbulence, Transpiration at the wall, Similarity law

vii

Sumario

Lista de Figuras ix

1 Introducao 1

2 Revisao Bibliografica: teoria classica para o calculo do perfil de

velocidades 2

2.1 A subcamada viscosa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

2.2 Regiao da esteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

2.3 Regiao turbulenta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.3.1 O comprimento de mistura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

2.3.2 Lei de similaridade de TENNEKES [2] . . . . . . . . . . . . . 8

2.4 Analise critica do conteudo disponıvel na literatura . . . . . . . . . . 14

3 Teoria proposta: calculo do perfil de velocidades e equacao para o

atrito 16

3.1 Modelo de turbulencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

3.2 Perfil de velocidades na regiao completamente turbulenta . . . . . . . 17

3.3 Deducao da velocidade caracterıstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

3.4 Casos limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.4.1 uτ >> Vw . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19

3.4.2 Vw >> uτ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20

3.4.3 Vw → 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21

3.5 Regiao da esteira e equacao para o atrito . . . . . . . . . . . . . . . . 22

4 Resultados 23

5 Conclusoes 28

Referencias Bibliograficas 29

viii

Lista de Figuras

2.1 Camada limite: as quatro sub-regioes[3] . . . . . . . . . . . . . . . . . 2

2.2 Perfis de velocidade: teoria classica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8

2.3 Ajuste grafico para obtencao de A(VwU0

). . . . . . . . . . . . . . . . . 9

2.4 Velocidade logarıtmica[2]. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2.5 Perfis de velocidade: coordenadas alternativas[2] . . . . . . . . . . . . 12

2.6 Ajuste grafico para obtencao de A(Vwuτ

)[2] . . . . . . . . . . . . . . . . 13

4.1 Perfis de velocidade nas novas coordenadas.α = 3.41, β = 8.7,C = 0.22 24

4.2 Perfis de velocidade nas coordenadas classicas: duas adimensiona-

lizacoes diferentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

4.3 Perfis de velocidade nas novas coordenadas.α = 3.41, β = 8.7,C = 0.22 25

4.4 Valores medios de Π versus Vw/U∞ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

4.5 Comparacao dos resultados experimentais de ANDERSEN et al. [4]

com a equacao 3.42. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26

ix

Lista de Sımbolos

A,A∗ Constantes de integracao

Cf Coeficiente de arrasto

c, C Constantes de integracao

kr Comprimento caracterıstico de rugosidade

Rδ Numero de Reynolds: U∞δ/ν

u Componente horizontal media do campo de velocidades

u′ Flutuacao da componente horizontal do campo de velocidades

uc Velocidade caracterıstica do escoamento:αVw± 2

√α2V 2

w+4u2τ2

uτ Velocidade de friccao:√

τwρ

U0 Velocidade do escoamento nao perturbado

v Componente vertical media do campo de velocidades

v′ Flutuacao da componente vertical do campo de velocidades

v′w Parcela de v′ devido a transpiracao

v′0 v′ − v′w

Vw Velocidade de transpiracao

V +w Velocidade de transpiracao adimensional

x Coordenada na direcao horizontal paralela a placa

y Coordenada na direcao vertical transversal a placa

y+ Coordenada adimensional na direcao vertical transversal a placa

w∗ Velocidade logarıtmica: y ∂u∂y

x

W(yδ

)Funcao de Coles

w Variavel na propriedade dos logaritmos

z Variavel utilizada para substituicao de variaveis numa integracao

α Constante de proporcionalidade na formula de uc

β Constantes de proporcionalidade no modelo de turbulencia

δ Espessura da camada limite

δ+ Espessura da camada limite adimensional: δuc/ν

δ∗ Espessura de deslocamento: −∫∞

0

[ (u−U0)U0

]dy

θ Espessura de quantidade de movimento: −∫∞

0

[ u(u−U0)

U20

]dy

ν Viscosidade cinematica

νt Viscosidade turbulenta

ρ Massa especifica

τw Tensao na parede

κ Constante de Von Karman

Λ Parametro de equilıbrio: ρVwU0

τw= VwU0

u2τ

Π Parametro de equilıbrio: δ∗

τwdPdx

Π Parametro de Coles

Π Parametro da esteira devido a transpiracao

xi

Capıtulo 1

Introducao

A figura 2.1 mostra um esboco do problema a ser estudado. Um escoamento tur-

bulento com transpiracao de fluido na parede. Apesar da figura 2.1 mostrar uma

camada limite, a teoria proposta nesse trabalho tambem se aplica a tubulacoes, uma

vez que este problema e regido pela mesma equacao.

Este tipo de escoamento e comum na industria do petroleo, assim como em

alguns sistemas modernos de distribuicao de ar condicionado em que os dutos de

distribuicao do ar sao porosos e tambem em pas de turbinas, onde o fluido injetado

atraves das pas funciona como uma protecao termica contra o fluido quente do

combustor, evitando assim que as pas derretam.

No caso sem transpiracao, quando perfis de velocidade media sao plotados em

coordenadas adimensionais eles colapsam em uma so curva. Isto indica que os

perfis sao de certa forma similares, distinguido-se apenas por um fator de escala,

e que, quando adimensionalizados por parametros denominados caracterısticos do

problema, esta diferenca de escala desaparece. Assim, a dinamica do escoamento e

completamente caracterizada pelos parametros caracterısticos.

Ja no caso com transpiracao, nas teorias classicas disponıveis na literatura[1, 2],

os perfis de velocidade nao colapsam em uma unica curva quando plotados em co-

ordenadas adimensionais, indicando que essas teorias nao absorvem completamente

a fısica do problema. Neste trabalho, sera desenvolvida uma lei de similaridade que

tente caracterizar melhor a dinamica do escoamento.

1

Capıtulo 2

Revisao Bibliografica: teoria

classica para o calculo do perfil de

velocidades

A camada limite turbulenta pode ser dividida em quatro sub-regioes chamadas de

subcamada viscosa, buffer layer, regiao turbulenta e regiao de esteira. A regiao

compreendida entre a parede e a turbulenta e chamada de regiao da parede.

Figura 2.1: Camada limite: as quatro sub-regioes[3]

A equacao que rege o escoamento dentro da camada limite e dada por 2.1. Ela

representa um balanco da quantidade de movimento somado com uma analise de or-

dens de grandeza e, no caso deste trabalho, escoamento turbulento, incompressıvel,

de fluido Newtoniano com propriedades constantes, regime permanente, bidimensio-

2

nal, sem gradiente de pressao. A transpiracao e considerada homogenea e a superfıcie

da parede lisa.

u∂u

∂x+ Vw

∂u

∂y= −∂u

′v′

∂y+ ν

∂2u

∂y2(2.1)

Na equacao 2.1 foi feita a aproximacao usual[1, 2] que v = Vw proximo a parede.

A partir dela, pode-se fazer um estudo separado de cada sub-regiao da camada

limite.

2.1 A subcamada viscosa

A sub camada viscosa e a regiao da camada limite turbulenta mais proxima da

parede. Nela, o termo viscoso (ν ∂2u∂y2

) na equacao 2.1 domina e o escoamento e

laminar. Uma lei de similaridade e o perfil de velocidades nessa regiao podem ser

obtidos da seguinte maneira: na subcamada viscosa o termo turbulento (−∂u′v′

∂y) e

o convectivo na direcao horizontal (u∂u∂x

) na equacao 2.1 sao desprezıveis quando

comparados com os outros termos, logo, esta assume a seguinte forma:

ν∂2u

∂y2− Vw

∂u

∂y= 0 (2.2)

Utilizando a equacao de Newton para fluidos e a condicao de nao deslizamento

obtem-se as condicoes de contorno na parede:

ν∂u

∂y

∣∣∣∣y=0

=τwρ

(2.3)

u

∣∣∣∣y=0

= 0 (2.4)

A equacao 2.2 e uma equacao diferencial ordinaria homogenea, linear e de co-

eficientes constantes assim, usando as condicoes de contorno 2.3 e 2.4, obtem-se a

seguinte solucao:

3

Vwu

u2τ

= eVwνy − 1 (2.5)

A equacao 2.5 sugere a seguinte lei de similaridade na subcamada viscosa:

Vwu

u2τ

= f

(Vwy

ν

)(2.6)

De acordo com TENNEKES [2], os perfis de velocidade na subcamada viscosa

colapsam quando plotados num grafico adimensional segundo a equacao 2.6.

2.2 Regiao da esteira

Esta e a porcao mais externa da camada limite e, segundo TENNEKES [2], com-

preende cerca de 90% da sua espessura. Sera apresentado uma lei de similaridade

como a equacao 2.6 para a regiao da esteira. Ela sera util para o calculo do perfil

de velocidades na regiao turbulenta, como sera visto na secao 2.3.

Para dar continuidade a analise sera apresentada uma lei de similaridade para o

caso sem transpiracao, equacao 2.7:

u− U0

uτ= F

(y

δ

)(2.7)

Segundo TENNEKES [2] a equacao 2.7 e uma lei de natureza totalmente

empırica, onde δ e a espessura da camada limite. TENNEKES [2] propoe uma forma

de estender a validade da equacao 2.7 para os casos com transpiracao, equacao 2.8:

Vw(u− U0)

u2τ

= F

(y

δ

)(2.8)

4

2.3 Regiao turbulenta

2.3.1 O comprimento de mistura

Na regiao completamente turbulenta e possıvel obter uma expressao bi-logarıtmica

para o perfil de velocidades utilizando o metodo das aproximacoes assintoticas[1].

Tambem e possıvel obter uma expressao bi-logarıtmica similar, porem mais simples,

utilizando a analise feita por STEVENSON [5] como sera mostrado nesta secao.

u∂u

∂x+ Vw

∂u

∂y= −∂u

′v′

∂y+ ν

∂2u

∂y2(2.1)

Na regiao da parede o termo u∂u∂x

e desprezıvel em relacao aos outros termos da

equacao 2.1, assim, esta se reduz a:

Vw∂u

∂y= −∂u

′v′

∂y+ ν

∂2u

∂y2(2.9)

Integrando a equacao 2.9 em y:

Vwu = −u′v′ + ν∂u

∂y+ C (2.10)

A constante de integracao C pode ser obtida utilizando as condicoes de contorno

na parede:

ν∂u

∂y

∣∣∣∣y=0

=τwρ

(2.11)

u′v′∣∣∣∣y=0

= 0 (2.12)

u

∣∣∣∣y=0

= 0 (2.13)

C = −u2τ (2.14)

Utilizando o modelo de comprimento de mistura de PRANTDL [6]:

5

u′v′ = −(κy

∂u

∂y

)2

(2.15)

A equacao 2.10 se reduz a:

Vwu =

(κy

∂u

∂y

)2

+ ν∂u

∂y− u2

τ (2.16)

Na regiao turbulenta, o termo molecular (ν ∂u∂y

) e desprezıvel em relacao aos outros

termos da equacao 2.16, logo:

Vwu =

(κy

∂u

∂y

)2

− u2τ (2.17)

Integrando a equacao 2.17 em y obtem-se a seguinte expressao:

∫∂u√

Vwu+ u2τ

=1

κ

∫∂y

y(2.18)

2

Vw

√Vwu+ u2

τ =1

κln(y) + C (2.19)

Onde C e uma constante (em y) de integracao. Adimensionalizando y com um

comprimento caracterıstico ν/uτ :

2

Vw

√Vwu+ u2

τ =1

κln

(yuτν

)+

(1

κln

)+ C

)(2.20)

O termo 1κ ln( ν

uτ) + C tambem e constante em y, assim, sera denominado de

constante C. Introduzindo o comprimento adimensional y+ = yuτν

, a equacao 2.20

se reduz a:

y+ =yuτν

(2.21)

1

κln y+ + C =

2uτVw

(Vw

u

u2τ

+ 1

) 12

(2.22)

Adicionando o termo −2uτ/Vw em ambos os lados da equacao 2.22:

6

1

κln y+ +

(C − 2uτ/Vw

)=

2uτVw

[(Vw

u

u2τ

+ 1

) 12

− 1

](2.23)

Segundo STEVENSON [5], o termo (C − 2uτ/Vw) varia pouco com injecao ou

succao, logo, ele pode ser substituıdo por uma constante A.

1

κln y+ + A =

2uτVw

[(Vw

u

u2τ

+ 1

) 12

− 1

](2.24)

Manipulando algebricamente a equacao 2.24 obtem-se a seguinte expressao para

o perfil de velocidades:

u

uτ=

(1

κln y+ + A

)+Vw4uτ

(1

κln y+ + A

)2

(2.25)

Onde A = (C−2uτ/Vw) e a constante para o caso sem injecao A = 5. A expressao

2.25 e a lei da parede classica para o caso com injecao ou succao. Como foi comentado

anteriormente, SILVA-FREIRE [1] chega numa expressao similar porem mais geral

utilizando uma aproximacao assintotica e plota num grafico adimensional segundo

a equacao 2.24 perfis de velocidade obtidos experimentalmente para obter o valor

de A pois, segundo ele observacoes experimentais mostram que, ao contrario do que

pensou STEVENSON [5], esta pode variar com a injecao ou succao. Este grafico e

mostrado na figura 2.2. Foi usado por SILVA-FREIRE [1] os valores experimentais

obtidos por ANDERSEN et al. [4].

A figura 2.2 mostra que os perfis de velocidade nao colapsam quando plotados

nessas coordenadas. Isso faz com que seja necessario algum ajuste grafico para obter

a variacao de A com Vw. Este e mostrado na figura 2.3 e o resultado na equacao

2.26.

A = 5− 512VwU0

(2.26)

Vale a pena observar que neste grafico as velocidades u e Vw estao adimensiona-

lizadas por uτ conforme as equacao 2.27 e 2.28. Como os perfis de velocidades nao

7

Figura 2.2: Perfis de velocidade: teoria classica[1]

colapsam quando esta adimensionalizacao e feita, uτ nao representa a velocidade

caracterıstica do escoamento.

u+ =u

uτ(2.27)

V +w =

Vwuτ

(2.28)

2.3.2 Lei de similaridade de TENNEKES [2]

Para obter uma lei de similaridade na regiao turbulenta, TENNEKES [2] argumenta

que nela a lei obtida para a sub-camada viscosa, equacao 2.6, e a lei obtida para a

regiao da esteira, equacao 2.8, ambas sao validas, logo, devem colapsar em alguma

regiao de transicao. Isso implica que o gradiente de velocidade deve ser o mesmo

nas duas expressoes. Assim, de 2.6 tem-se que:

u =u2τ

Vwf

(Vwy

ν

)(2.29)

8

Figura 2.3: Ajuste grafico para obtencao de A(VwU0

)[1]

∂u

∂y=u2τ

νf ′(Vwy

ν

)(2.30)

Da equacao 2.8:

u = F

(y

δ

)u2τ

Vw+ U0 (2.31)

∂u

∂y=

u2τ

VwδF ′(y

δ

)(2.32)

Igualando 2.30 e 2.32:

∂u

∂y=u2τ

νf ′(Vwy

ν

)=

u2τ

VwδF ′(y

δ

)(2.33)

Fazendo uma manipulacao algebrica na equacao 2.33:

Vwy

νf ′(Vwy

ν

)=y

δF ′(y

δ

)= C1 (2.34)

As duas expressoes devem ser constantes uma vez que a primeira so depende de Vwyν

e a segunda de yδ. Integrando 2.34 em y:

f

(Vwy

ν

)= C1 ln

(− Vwy

ν

)+ A (2.35)

Utilizando a equacao 2.6 em 2.35, obtem-se a seguinte equacao para o perfil de

velocidades na regiao turbulenta(os sinais negativos foram introduzidos artificial-

9

mente por TENNEKES [2] pois para injecao Vw < 0, e ele propoe essa equacao

apenas para injecao):

Vwu

u2τ

= −C1 ln

(− Vwy

ν

)+ A (2.36)

Para calcular as contantes C1 e A, TENNEKES [2] introduz o conceito de velo-

cidade logarıtmica w∗:

w∗ = y∂u

∂y(2.37)

u = w∗ ln(y) + A (2.38)

Para o caso sem transpiracao (Vw = 0), a velocidade logarıtmica tem a forma da

equacao 2.39 conforme a lei da parede de PRANTDL [6] equacao 2.40:

w∗

uτ=

1

κ(2.39)

u

uτ=

1

κln(

uτ) + 5 (2.40)

A constante κ nas equacoes 2.39 e 2.40 e a contante de Von karman e tem o

valor de κ = 0.41. A contante C1 na equacao 2.36 e a velocidade logarıtmica se

relacionam de acordo com a expressao:

w∗ = −C1u2τ

Vw(2.41)

Vale notar que a velocidade logarıtmica faz com que os perfis de velocidade

plotados num grafico devidamente adimensionalizados tenham mesma inclinacao,

assim, e analogo ao conceito de velocidade caracterıstica usado neste trabalho desde

que a contante A nao dependa de Vw.

Para obter a contante C1, TENNEKES [2] plota um grafico de acordo com a

equacao 2.41. Assim, C1 e o valor que faz essa curva melhor se aproximar aos

valores experimentais conforme mostra o grafico da figura 2.4 abaixo obtido por

10

TENNEKES [2], utilizando dados de MIKLEY e DAVIS [7], CLAUSER [8], BLACK

e SARNECKI [9], KAY [10], DUTON [11] e TENNEKES [2]:

Figura 2.4: Velocidade logarıtmica[2].

A figura 2.4 mostra duas curvas para velocidade logarıtmica, uma delas e a

equacao 2.41 com C1 = 0.06 e a outra e uma reta que aproxima os valores expe-

rimentais em um domınio maior. De acordo com TENNEKES [2] para −Vwuτ

> 0.1

seus experimentos indicam que ocorre transicao para escoamento laminar. Assim,

os resultados para a velocidade logarıtmica podem ser resumidos de acordo com as

seguintes expressoes:

w∗ = −0.06u2τ

Vw, 0.04 < −Vw

uτ< 0.1 (2.42)

w∗ = 2.3(uτ + 9Vw) , −0.04 <Vwuτ

< 0.2 (2.43)

Embora a curva da equacao 2.43 abranja um domınio bem maior que o da 2.42,

TENNEKES [2] argumenta que a 2.42 tem uma base teorica mais elegante logo a

2.43 so deve ser usada no domınio que a equacao 2.42 nao cobre.

Juntando as equacoes 2.38, 2.42 e 2.36, a equacao 2.36 do perfil de velocidades

11

fica com a seguinte forma:

Vwu

u2τ

= −0.06 ln

(− Vwy

ν

)+ A (2.44)

Para analisar o valor de A, TENNEKES [2] faz o seguinte grafico adimensional

utilizando dados de KAY [10], DUTON [11] e TENNEKES [2], figura 2.5:

Figura 2.5: Perfis de velocidade: coordenadas alternativas[2]

A figura 2.5 mostra um grafico adimensionalizado de acordo com a equacao 2.6,

com escala logarıtmica na abscisa. Neste grafico foram plotadas retas com inclinacao

de 0.06. Como pode ser observado, os perfis de velocidade nao colapsam em uma so

curva indicando que a A varia com −Vwuτ

.

De acordo com TENNEKES [2] o valor de A tambem depende da rugosidade

na parede e em seus experimentos havia um valor consideravel de rugosidade. Ele

estima que, em seus experimentos, o comprimento caracterıstico da rugosidade de

superfıcie da placa seja de kr = 10−4m resultando em um numero de Reynold de

rugosidade no valor de−Vwkr/ν = 1, valor que, segundo TENNEKES [2], e suficiente

para caracterizar a superfıcie como completamente rugosa. Fazendo uma analogia

entre a lei da parede para o caso com rugosidade,sem injecao ou succao [8, 12], com

a equacao 2.44, ele propoe uma equacao para o perfil de velocidades no caso com

12

rugosidade e com injecao ou succao, equacao 2.45.

Vwu

u2τ

= C ln

(y

kr

)+ A

(Vwuτ

)(2.45)

Utilizando resultados colhidos em seu laboratorio, TENNEKES [2] obtem a ex-

pressao 2.46 para A(Vwuτ

)via um ajuste de curva conforme mostra a figura 2.6.

Figura 2.6: Ajuste grafico para obtencao de A(Vwuτ

)[2]

A

(Vwuτ

)= −11

Vwuτ

+ cnst (2.46)

Supondo que a equacao 2.46 tambem e valida para os casos sem rugosidade,

TENNEKES [2] utiliza os dados experimentais de KAY [10], supostamente validos

para superfıcies lisas, para obter a seguinte expressao para A(Vwuτ

)valida para casos

sem rugosidade.

A

(Vwuτ

)= −11

Vwuτ

+ 0.19 (2.47)

Utilizando as equacoes 2.47 e 2.44, o perfil de velocidades assume a seguinte

13

forma:

Vwu

u2τ

= −0.06 ln

(− Vwy

ν

)− 11

Vwuτ

+ 0.19 (2.48)

Para os casos com succao pequena (−Vwuτ

< 0.04) ou injecao, a figura 2.4 mostra

que a equacao 2.41 nao vale e, alem disso, a expressao 2.48 nao tende para a lei da

parede de PRANTDL [6], equacao 2.40, quando o limite Vw → 0 e tomado. Por

esses motivos, TENNEKES [2] propoe a seguinte expressao 2.49 para o perfil de

velocidade:

u

w∗= ln

(− u2

τy

νw∗

)+ A∗

(Vwuτ

)(2.49)

A equacao 2.49 pode ser usada tanto nos casos com succao moderada (0.04 <

−Vwuτ

< 0.1), baixa succao ou injecao (−0.04 < Vwuτ

< 0.2) ou sem injecao (Vw = 0)

portanto que seja utilizado a velocidade logarıtmica apropriada conforme as equacoes

2.39, 2.42 e 2.43 e tambem de A∗(Vwuτ

)conforme a equacao 2.50 ou 2.51. Vale ressaltar

que a dependencia de A∗ com Vw neste caso tambem usa o mesmo ajuste grafico

equacao 2.46 nos casos com Vw 6= 0. Ou seja, a equacao 2.49 em conjunto com 2.50

e 2.42 se reduz a 2.48. De forma similar, a equacao 2.49 em conjunto com 2.51 e

2.39 se reduz a 2.40.

A∗(Vwuτ

)= −183

Vwuτ

+ 0.33 ; Vw 6= 0 (2.50)

A∗(Vwuτ

)= 3 ; Vw = 0 (2.51)

2.4 Analise critica do conteudo disponıvel na li-

teratura

Nas duas abordagens apresentadas para o calculo do perfil de velocidades media na

regiao completamente turbulenta e necessario a obtencao do valor de uma constante

14

de integracao. Na falta de condicoes de contorno apropriadas para esta regiao, se

faz uso de resultados experimentais para obte-la.

Em ambas as teorias apresentadas os perfis de velocidade nao colapsam em uma

so curva quando plotados num grafico adimensional, indicando que os parametros

caracterısticos do caso sem transpiracao (equacoes 2.27 e 2.21) nao caracterizam o

caso com transpiracao.

u+ =u

uτ(2.27)

y+ =yuτν

(2.21)

Assim, se faz necessario um ajuste grafico como o da figura 2.3 para obter uma

expressao para a constante de integracao.

15

Capıtulo 3

Teoria proposta: calculo do perfil

de velocidades e equacao para o

atrito

3.1 Modelo de turbulencia

Na regiao completamente turbulenta, a tensao turbulenta u′v′ pode ser dividida em

duas parcelas, uma devido a influencia da velocidade de transpiracao Vw.

u′v′ = u′(v′0 + v′w) = u′v′0 + u′v′w (3.1)

Na equacao 3.1, v′w e a flutuacao da velocidade na direcao y devido a transpiracao.

Este termo deve depender de Vw, pois ele e a influencia de Vw na tensao turbulenta.

Ele deve ser zero no caso em que Vw = 0. A partir dessas consideracoes, sera proposto

um modelo linear para variacao de v′w com Vw. O termo u′ sera modelado como sendo

da ordem de uma velocidade caracterıstica uc a ser determinada a posteriori. Assim:

v′w ∝ Vw , u′ ≈ uc , u′v′w = βVwuc (3.2)

Onde β e uma constante de proporcionalidade. Para o o termo u′v′0 sera utilizado

o seguinte modelo, equacao 3.3:

16

u′v′0 = νt∂u

∂y(3.3)

Onde a viscosidade turbulenta e dada pela equacao 3.4:

νt ≈ ucκy (3.4)

Juntando as equacoes de 3.2 ate 3.4 em 3.1, obtem-se a seguinte expressao para

a tensao turbulenta:

u′v′ = ucκy∂u

∂y+ βVwuc (3.5)

3.2 Perfil de velocidades na regiao completa-

mente turbulenta

Substituindo a expressao 3.5 para a tensao turbulenta na equacao da camada limite

2.10 ja desprezando o termo molecular obtem-se a seguinte expressao:

Vwu = ucκy∂u

∂y+ βVwuc − u2

τ (3.6)

A equacao 3.6 pode ser resolvida fazendo a seguinte substituicao de variaveis:

z = Vwu+ u2τ − βVwuc , dz = Vwdu , du =

dz

Vw(3.7)

Usando 3.7 em 3.6:

dy

yκuc=

1

Vw

dz

z(3.8)

1

κuclog y =

1

Vwlog z + C (3.9)

log(y1

κuc ) = log(Cz1Vw ) (3.10)

y1

κucC = z1Vw (3.11)

17

yVwκucC = z (3.12)

Usando 3.7 em 3.12:

yVwκucC = Vwu+ u2

τ − βVwuc (3.13)

Definindo a velocidade e o comprimento adimensional u+ e y+:

u+ =u

uc, y+ =

yucν

(3.14)

De 3.13 temos que:

(y+C)Vwκuc = Vwucu

+ + u2τ − βVwuc (3.15)

u+ =

((y+C)

Vwκuc

1

Vwuc− u2

τ

Vwuc

)+ β (3.16)

u+ =u2τ

ucVw

((y+C)

Vwκuc

1

u2τ

− 1

)+ β (3.17)

A constante C absorve o termo 1u2τ

virando uma nova constante que tambem sera

denominada de C:

u+ =u2τ

ucVw

((y+C)

Vwκuc − 1

)+ β (3.18)

A equacao 3.18 deve tender a lei da logarıtmica de PRANTDL [6] quando Vw

tende a zero! Isso de fato acontece como sera visto na secao 3.4.3.

3.3 Deducao da velocidade caracterıstica

Para obter uma estimativa para a velocidade caracterıstica uc sera utilizado a

equacao 2.10. :

Vwu = −u′v′ + ν∂u

∂y− u2

τ (2.10)

18

Na regiao turbulenta pode-se fazer a seguinte analise de ordens de grandeza:

ord(Vwu) = ord(Vwuc) (3.19)

ord(u′v′) = ord(u2c) (3.20)

ord

(ν∂u

∂y

)� ord(u′v′) (3.21)

Onde uc e uma velocidade caracterıstica do escoamento. Utilizando as equacoes

3.19,3.20, 3.21 e uma constante de proporcionalidade α a expressao 2.10 se reduz a:

αVwuc = +u2c − u2

τ (3.22)

−u2c + αVwuc + u2

τ = 0 (3.23)

A equacao 3.23 e de segundo grau na variavel uc e pode ser resolvida utilizando

a formula de Bhaskara:

uc =αVw ± 2

√α2V 2

w + 4u2τ

2(3.24)

Vale ressaltar que o termo u′v′ e sempre negativo por isso aparece o sinal de

menos na aproximacao u′v′ ≈ −u2c . Outro detalhe e que uma constante de propor-

cionalidade α so foi inserida no termo Vwuc, e nao no termo u′v′ pois no caso limite

em que Vw tende a zero a equacao 3.23 deve tender a do caso sem injecao.

3.4 Casos limite

3.4.1 uτ >> Vw

Neste caso o termo α2V 2w dentro da raiz da equacao 3.24 pode ser desprezado em

relacao ao termo 4u2τ . Assim, a equacao3.24 fica com a seguinte forma:

uc =αVw ± 2

√α2V 2

w + 4u2τ

2≈ α

2Vw ± uτ , uτ >> Vw (3.25)

19

3.4.2 Vw >> uτ

Fazendo a seguinte manipulacao algebrica na equacao 3.24 :

uc =αVw ± 2

√α2V 2

w + 4u2τ

2=αVw ± αVw 2

√1 + 4u2τ

α2V 2w

2(3.26)

Como Vw >> uτ o termo 4u2τα2V 2

we pequeno e e possıvel fazer uma expansao em serie

de Taylor primeira ordem no termo 2

√1 + 4u2τ

α2V 2w

em torno de 4u2τα2V 2

w= 0:

uc =αVw ± 2

√α2V 2

w + 4u2τ

2≈αVw ± αVw

(1 + 2u2τ

α2V 2w

)2

, Vw >> uτ (3.27)

Caso o sinal da raiz quadrada na equacao 3.27 seja o negativo:

uc =αVw − αVw

(1 + 2u2τ

α2V 2w

)2

= −(

1

α

)u2τ

Vw, Vw >> uτ (3.28)

As equacoes 3.25 e 3.28 lembram muito as 2.42 e 2.43 obtidas por TENNEKES

[2]. Caso a constante tenha o valor de α = 18, essa semelhanca e ainda mais evidente,

como mostra a comparacao abaixo:

uc ≈ −0.056u2τ

Vw, Vw >> uτ (3.29)

uc ≈ uτ ± 9Vw , uτ >> Vw (3.30)

Resultados de TENNEKES [2]:

uTennekesc = −0.06u2τ

Vw, 0.04 < −Vw

uτ< 0.1 2.42

uTennekesc = 2.3(uτ + 9Vw) , −0.04 <Vwuτ

< 0.2 2.43

Isso mostra que a expressao 3.24 para a velocidade caracterıstica de certa forma

contem as expressoes obtidas por TENNEKES [2].

20

3.4.3 Vw → 0

Agora sera mostrado que a expressao 3.18 para o perfil de velocidades se reduz a lei

logarıtmica de PRANTDL [6] quando Vw tende a zero, ou seja:

limVw→0

u

uc=

1

κln(yνuτ

)+ 5 , lim

Vw→0uc = uτ (3.31)

Fazendo a seguinte manipulacao algebrica na equacao 3.18:

u+ =u2τ

ucVw

((y+C)

Vwκuc − 1

)+ β (3.17)

u+ =u2τ

κu2c

κucVw

((y+C)

Vwκuc − 1

)+ β (3.32)

Tomando o limite Vw → 0 em ambos os lados e lembrando que o limite do

produto e o produto dos limites:

limVw→0

u

uc= lim

Vw→0

[u2τ

κu2c

]limVw→0

[κucVw

(y+C

Vwκuc − 1

)]+ lim

Vw→0β (3.33)

limVw→0

uc = uτ , limVw→0

β = β (3.34)

u

uτ=

1

κlimVw→0

κucVw

(y+C

Vwκuc − 1

)+ β (3.35)

Utilizando a seguinte propriedade:

ln z = limw→0

1

w(zw − 1) (3.36)

Temos que:

limVw→0

κucVw

((y+C)

Vwκuc − 1

)= ln(y+C) (3.37)

Substituindo (3.37) em (3.35) obtemos:

u

uτ=

1

κln(y+C) + β (3.38)

21

u

uτ=

1

κln(y+) +

(1

κln(C) + β

)(3.39)

Finalmente, para (3.17) tender a lei da parede de PRANTDL [6] quando Vw

tende a zero, temos que:

1

κln(C) + β = 5 (3.40)

Assim, a equacao 3.18 proposta para o perfil de velocidades contem a lei lo-

garıtmica como uma caso particular desde que a relacao 3.40 seja satisfeita.

3.5 Regiao da esteira e equacao para o atrito

A equacao para o perfil de velocidades medio na regiao da esteira pode ser obtido

fazendo a seguinte modificacao na equacao 3.18:

u+ =u2τ

ucVw

((y+C)

Vwκuc − 1

)+ β +

Π

κW(yδ

)+

Π

κW(yδ

)(3.41)

Onde W e a funcao de Coles, Π = 0.55 e o parametro de Coles e Π e um

parametro da esteira devido a transpiracao, que deve tender a zero no limite em que

Vw tende a zero, a ser determinado.

Uma equacao para o fator de atrito pode ser obtida tomando a equacao 3.41 em

y = δ:

U∞uc

=u2τ

ucVw

((δ+C)

Vwκuc − 1

)+ β + 2

Π

κ+ 2

Π

κ(3.42)

Onde δ+ = δuc/ν. Assim, tendo os valores de Vw, U∞, ν, Π e Π se obtem uτ em

funcao de δ+. Os valores de Cf entao podem ser obtidos em funcao do numero de

Reynolds Rδ de acordo com as seguintes relacoes:

Cf2

=( uτU∞

)2(3.43)

Rδ =δU∞ν

(3.44)

22

Capıtulo 4

Resultados

Apos um extenso estudo de uma grande quantidade de dados experimentais dis-

ponıveis na literatura, SQUIRE [13] recomenda os dados obtidos por ANDERSEN

et al. [4] para injecao e de SIMPSON [14] para succao. Por esse motivo, esses dados

serao usados para testar a teoria proposta.

A figura 4.1 mostra 13 perfis de velocidades com valores de Vw/U0 diversos plo-

tados de acordo com a equacao 3.18. Foi utilizado os valores de α e C conforme a

equacao 4.1 e β conforme 3.40.

α = 3.41, C = 0.22 (4.1)

A figura 4.2 mostra os dados experimentais de ANDERSEN et al. [4] nas coorde-

nadas da teoria classica. Foi dado um zoom na reiao turbulenta. O grafico da direita

usa uτ como velocidade caracterıstica, assim u+ e y+ sao dados pelas equacoes 2.27 e

2.28. Ja o grafico da esquerda usa uc da equacao 3.24 como velocidade caracterıstica.

E possıvel reparar que quando uc e utilizado como velocidade caracterıstica os perfis

colapsam bem mais. Alem disso, eles colapsam numa reta que faz o valor de A da

equacao 2.24 seja A = 5. Isso faz com que essa equacao tenda para a lei logarıtmica

quando Vw tende a zero.

23

Figura 4.1: Perfis de velocidade nas novas coordenadas.α = 3.41, β = 8.7,C = 0.22

Figura 4.2: Perfis de velocidade nas coordenadas classicas: duas adimensionalizacoes

diferentes

24

Na figura 4.1 os perfis de velocidade parecem colapsar muito bem, com excecao

do perfil com VwU0

= 0.00798. Este e o perfil com valor mais alto da velocidade de

injecao. Ele tem a forma muito diferente dos demais perfis que possuem varias

curvas, este parece uma grande reta com uma pequena curvatura so na regiao da

esteira. Isso da indıcios que este perfil nao esta completamente desenvolvido, logo,

a analise feita neste trabalho nao se aplica a ele. Alem disso, quando e feito balanco

de quantidade de movimento com os dados obtidos para este valor de Vw se obtem

resultados negativos para o coeficiente de friccao, indicando que eles nao sao tao

confiaveis quanto os outros[13].

Outros dois perfis que parecem na se ajustar completamente a teoria desenvolvida

sao os com alto valor de coeficiente de succao Vw/U0 = −0.0040 e Vw/U0 = −0.0045.

Para estes perfis, parece que ocorre transicao para escoamento laminar[1], assim a

teoria proposta nao e aplicavel para estes casos. A figura 4.3 mostra somente os

perfis que se ajustam bem a teoria desenvolvida.

Figura 4.3: Perfis de velocidade nas novas coordenadas.α = 3.41, β = 8.7,C = 0.22

Utilizando a equacao 3.42 com valores experimentais de δ e Cf , o parametro Π

25

pode ser calculado para diferentes valores de Vw/U∞ e um ajuste grafico pode ser

feito para obter uma relacao entre Π e Vw/U∞ como mostra a figura 4.4. A figura

4.5 compara resultados experimentais de ANDERSEN et al. [4] com os da equacao

3.42. Como pode ser visto, a concordancia dos resultados e muito boa.

Figura 4.4: Valores medios de Π versus Vw/U∞

Figura 4.5: Comparacao dos resultados experimentais de ANDERSEN et al. [4] com

a equacao 3.42.

26

Tabela 4.1: Comparacao dos resultados experimentais de SIMPSON [14] com a

equacao 3.42.

Vw/U∞ 104 Cf/2 104 experimental Cf/2 104 calculado Rδ

0.0 17.6 15.7 31016

0.0 16.5 15.0 40112

−11.0 24.4 22.9 16145

−25.1 33.2 32.6 11430

−23.8 29.0 30.1 16606

−40.0 45.0 67.0 1113

−45.0 45.0 76.7 1200

A tabela 4.1 mostra uma comparacao dos resultados experimentais de SIMPSON

[14] com o da equacao 3.42. Como pode ser visto, a concordancia dos resultados

e boa com excecao dos dois casos com alta succao, aonde parece ter ocorrido uma

laminarizacao do escoamento.

27

Capıtulo 5

Conclusoes

Neste trabalho foi desenvolvido uma nova teoria para o calculo do perfil de veloci-

dades medio e de uma equacao para o coeficiente de arrasto em escoamentos com

transpiracao. Foi mostrado que a equacao obtida para o perfil de velocidades con-

tem a lei logarıtmica como um caso particular. Alem disso, a expressao 3.24 obtida

para a velocidade caracterıstica tende para as expressoes 2.42 e 2.43 obtidas por

TENNEKES [2] nos casos limite.

A teoria desenvolvida foi testada utilizando os dados experimentais obtidos por

ANDERSEN et al. [4] e SIMPSON [14] apresentando boa concordancia. Os perfis

de velocidades quando plotados em um grafico devidamente adimensionalizado co-

lapsam em uma so curva indicando que o efeito da transpiracao foi completamente

capturado pela teoria proposta.

28

Referencias Bibliograficas

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30