lei de say, demanda efetiva e tensão entre capital e trabalho: o que revelam as dinâmicas centrais...

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Trabalho feito para a disciplina de História Econômica Geral e do Brasil do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Econômico do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas.(a revisar)

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  • LEI DE SAY, DEMANDA EFETIVA E TENSO ENTRE CAPITAL E

    TRABALHO: O QUE REVELAM AS DINMICAS CENTRAIS DA CINCIA

    ECONMICA1

    Carolina de Ftima Almeida Matos2

    RESUMO

    O estudo da Cincia Econmica admite diversas vertentes. O presente trabalho faz

    breves consideraes sobre os elementos bsicos das principais correntes da Cincia

    Econmica, a fim de captar e refletir sobre o que cada uma toma como problema

    primordial da economia, seus mtodos de anlise e as implicaes dessa relevncia.

    Palavras-chave: Economia Ortodoxa, Economia Heterodoxa, Teoria Marxista, Mtodo.

    INTRODUO

    Qual o objetivo da Cincia Econmica? As principais vertentes do estudo da

    Economia apresentam critrios de divergncia evidentes e ainda so confrontadas entre

    seus adeptos quanto ao cerne da anlise.

    Otimizao, equilbrio geral e individualismo so fatores imediatamente

    associados ortodoxia. Muitos tericos associam incerteza, organicismo e importncia

    do contexto histrico economia heterodoxa. No entanto, por mais que tais vertentes,

    presentes no mainstream, nutram diferenas epistemolgicas e ontolgicas, em outros

    aspectos, ortodoxia e heterodoxia parecem convergir.

    Cada vez mais convictas da necessidade de sua anlise restrita, as teorias ora

    tratadas limitam-se aos aspectos econmicos da sociedade para entender o

    funcionamento da economia. Marx contestou essa viso segmentada e tratou de outros

    muitos fenmenos sociais para explicar a essncia dos mecanismos do capital.

    O presente trabalho est dividido em quatro sees, alm desta introduo. Na

    seo dois, foram abordados os elementos gerais da economia ortodoxa. Na seo trs,

    os fatores da teoria heterodoxa foram brevemente explorados. Em seguida, na seo

    quatro, foram feitas consideraes gerais sobre o pensamento marxista. Por fim, na

    quinta e ltima seo, apresentamos uma reflexo sucinta sobre como se d e quais as

    consequncias da escolha do mtodo de anlise que elege os elementos julgados

    fundamentais para compreenso.

    1 Trabalho feito para a disciplina de Histria Econmica Geral e do Brasil do Programa de Ps-graduao

    em Desenvolvimento Econmico do Instituto de Economia da Universidade de Campinas. 2 Mestranda em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte. E-mail:

    [email protected]

  • 2. A ECONOMIA ORTODOXA E A LEI DE SAY

    A economia ortodoxa tem como princpio fundamental de anlise a chamada Lei

    de Say. O preceito sustenta que preciso contar com uma prvia fonte de oferta para

    existir demanda. Nessa perspectiva, a produo nacional cria a renda nacional e a

    despesa nacional. Em outras palavras, como a produo antecede o consumo, o conjunto

    de decises do lado da oferta propulsiona a demanda.

    Nessa dinmica, busca-se entender como os mecanismos no funcionamento

    agregado da economia levam-na a uma situao de equilbrio. Defendendo a eficincia

    dos mercados, os economistas adeptos da Lei de Say avaliam que as decises dos

    agentes econmicos podem levar a uma situao de equilbrio no longo prazo se estes

    contarem com a flexibilidade de preos e salrios nominais.

    A perspectiva macro da economia um reflexo das decises de otimizao

    individuais. Como parmetro de satisfao, admite-se que os empresrios buscam

    maximizar seus lucros. Os consumidores, a utilidade da cesta de bens. No equilbrio de

    longo prazo, h uma acomodao eficiente das intenes dos agentes da economia.

    Alm disso, a conciliao desses interesses leva a economia ao pleno emprego.

    Para entender os mecanismos desse processo, a ortodoxia a vertente que mais

    utiliza a modelagem e os mtodos quantitativos, numa tentativa declarada de afastar a

    Economia das Cincias Sociais e aproxim-la s Exatas atravs de instrumentos

    metodolgicos e analticos afins. Amparados por um conjunto de hipteses, tratados

    como axiomas, os estudos evidenciam a oferta agregada fornecendo importncia a

    variveis como moeda, tecnologia e poupana.

    O desenvolvimento da economia ortodoxa gerou diferentes tendncias. A

    chamada Sntese Neoclssico-Keynesiana admite a exigncia de rigidez salarial

    nominal. Os monetaristas reforam a anlise com preos e salrios flexveis, mas

    admitem que os agentes se comportam de acordo com expectativas adaptativas. Os

    novos clssicos, ao contrrio, admitem que o comportamento dos agentes d-se atravs

    de expectativas racionais. Por fim, os novos keynesianos, apesar de tambm

    sustentarem que as expectativas racionais baseiam das decises dos agentes, acreditam

    que h rigidez de preos e salrios nominais na economia.

    3. O PRINCPIO DA DEMANDA EFETIVA E OS HETERODOXOS

    As perspectivas iniciadas por Keynes quanto determinao do emprego e da

    renda foram essenciais para o surgimento de uma nova tendncia na Cincia

    Econmica, a economia heterodoxa. Com o Princpio da Demanda Efetiva (PDE), que

    sustenta que as decises de gastos determinam o produto agregado, os heterodoxos

    definiram diferenas com os ortodoxos. Ao contrrio do que postula a Lei de Say, quem

    tem papel determinante na renda nacional a demanda, e no a oferta. Alm disso, as

    flutuaes de curto prazo passaram a figurar como objeto central para anlise da

    economia na perspectiva macro, numa indicao de que o estudo dos ciclos econmicos

    teria mais importncia que o de tendncia.

  • Os heterodoxos rejeitam o automatismo do pleno emprego, avaliam que a

    flexibilidade de preos e salrios pode ser incapaz de conduzir a economia para

    equilbrio de longo prazo e sustentam que o equilbrio da economia pode ser

    estabelecido em qualquer nvel de produto e emprego. Entre outras situaes de

    equilbrio, so admitidas a ocorrncia de pleno emprego com desemprego involuntrio

    mesmo em economias avanadas e que uma economia em depresso pode permanecer

    assim.

    Percebendo que no h mecanismos automticos que levem a economia a uma

    situao desejvel, os heterodoxos destacaram as condies de incerteza e o papel

    incisivo dos gastos pblicos, sinalizando importncia ao contexto institucional, como

    complemento ao gasto privado, especialmente em ciclos recessivos, para manter a

    demanda efetiva, ponto de interseo entre as funes de oferta e demandas agregadas.

    Com a anlise heterodoxa, as variveis poupana e investimento ganharam

    importncia, tradadas como cruciais para a expanso da economia. A determinao

    dessas variveis, a teoria do valor empregada, a adoo ocasional de rigidez ou

    flexibilidade de preos e salrios, alm de outros fatores, so critrios para a subdiviso

    da heterodoxia, abrigando ps-keynesianos, kaleckianos, minskianos e sraffianos.

    Para os heterodoxos, importante que a anlise seja feita em um quadro

    historicamente definido e acabam comportando mais variveis em seus modelos quando

    comparados modelagem ortodoxa. Mais recentemente, os ps-keynesianos tm

    trabalhado com microfundamentos, inserindo-se no mainstream.

    4. MARX E A TENSO ENTRE CAPITAL E TRABALHO

    Distante das correntes ortodoxas e heterodoxas, Karl Marx trouxe a propriedade

    privada, a diviso do trabalho, separao entre trabalho, capital e terra, e a mais-valia

    como elementos cruciais para entender o funcionamento da economia capitalista.

    Enquanto as vertentes ora retratadas discorrem relaes entre objetos, Marx revela as

    relaes existentes entre pessoas atravs de um processo exclusivo ao capitalismo.

    no sistema capitalista que a fora de trabalho se torna uma mercadoria. Na sua

    interao com o capital, a produo do trabalhador alienada, de forma que um objeto

    estranho a ele o domina. O resultado do trabalho perdido do trabalhador, mas no

    some. Se o trabalhador no se apodera do produto do seu prprio trabalho, outro, que

    no participa do processo do trabalho, apropria-se dele. Configura-se, ento, uma

    relao de homens com trabalho e o resultado da produo de outros homens. Esse

    movimento atribui todo o crdito do trabalho para a propriedade privada. Ao tempo em

    que esse processo uma perda para um indivduo, tambm uma condio de ganho

    para outro. Inseridos os elementos cruciais nessa dinmica, constata-se uma tenso

    inerente ao movimento da propriedade privada e sua interao de alienao com o

    trabalhador - o capital.

    Sem eufemismos, os estudos marxistas apontam que as foras que impulsionam

    a economia a ganncia dos capitalistas. Nesse processo, diferentemente de outros

    sistemas econmicos, o mercado captura todas as esferas da sociedade. No h

  • equilbrio, no h conciliao entre as classes. A tendncia do capitalismo de crises e

    aprofundamento de suas contradies.

    Para amparar sua anlise, os tericos marxistas adotam o materialismo histrico.

    Nessa perspectiva, o modo de produo e a superestrutura poltica so percebidos e

    analisados a partir de uma poca histrica especfica. Alm disso, dada importncia

    aos mais diversos aspectos da sociedade para compreend-la, distanciando o marxismo

    das doutrinas mais rgidas, fechadas em si.

    5. CONSIDERAES FINAIS

    Atravs da dialtica, possvel entender que os fenmenos no podem ser

    compreendidos se analisados de forma isolada. Assim, o funcionamento da economia

    precisa ser relacionado aos demais aspectos da sociedade. Se tratados isoladamente, a

    anlise, por mais que apele ao instrumentalismo, legitima absurdos, ento mascarados

    em cincia, ao tratar, por exemplo, de equilbrio, otimizao e satisfao em contextos onde no importa o que preciso produzir para atender os desejos da

    humanidade no tocante s suas necessidades vitais, mas, sim, quanto se poupa, se

    produz ou se investe para se chegar a pontos de interseo entre oferta e demanda.

    As vertentes ortodoxas e heterodoxas, muitas vezes, esto aliceradas por

    hipteses demasiadamente simplificadores, isolando uma realidade complexa que

    fundamental para captar essncia. A teoria ortodoxa alcana uma abstrao onde mesmo

    hipteses no submetidas a testes so tratadas como fatos estilizados, no podem ser

    questionadas. Afastando-se dos extremos entre a ideia como criadora do real e da

    percepo puramente material da sociedade, o materialismo histrico apresenta como

    mtodo de anlise harmoniosamente ponderado, destacando a matria, coisas concretas,

    mas evidenciando tambm que o mundo real se transpe para a conscincia do homem.

    A profundidade da anlise atravs do marxismo permite alcanar a essncia da

    sociedade capitalista, impulsionada por uma economia de conflitos entre classes e

    contradies. Talvez por isso Marx tenha impactado em tantas reas do conhecimento

    mas, ao mesmo tempo, seja negligenciado pelas correntes de pensamento e setores,

    como as instituies acadmicas, que querem manter a ordem.