lei de liberdade econômica: uma reação à burocracia do estado · 2019-11-06 · e colunista...

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BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI Ano 14 • Outubro/Novembro/Dezembro 2019 desde 1961 46 René Ariel Dotti • Rogéria Dotti • Julio Brotto • Patrícia Nymberg • Alexandre Knopfholz • Fernanda Pederneiras • Francisco Zardo • Vanessa Scheremeta • José Roberto Trautwein • Fernando Welter • Gustavo Scandelari • Vanessa Cani • Cícero Luvizotto • Luis Otávio Sales • Guilherme Alonso • Thais Guimarães • Laís Bergstein • André Meerholz • Diana Geara • Bruno Correia • Fernanda Lovato • Giuliane Gabaldo • Fernanda Machado • Eduardo Knesebeck • Fernanda Coelho • Ana Beatriz Rocha • Mauro Paciornik • Victoria de Barros e Silva • Beatriz Bispo • Larissa Ross EDIÇÃO ÁREAS DE ATUAÇÃO: DIREITO ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL, CIVIL, CONSTITUCIONAL, CRIMINAL, ELEITORAL, FAMÍLIA E SUCESSÕES. Lei de Liberdade Econômica: uma reação à burocracia do Estado Qual a obrigação dos avós sobre o pagamento da pensão dos netos? Indisponibilidade de bens: uma alternativa diante do perigo da demora na execução FRANCISCO ZARDO Página 14 FERNANDA PEDERNEIRAS ROGÉRIA DOTTI “O Advogado que cumpre as regras deontológicas e peticiona com base na lei é credor de respeito.” René Ariel Dotti. As controvérsias do aluguel pelo Airbnb JULIO BROTTO Página 7 Página 12 Página 7 Nova Lei de Abuso de Autoridade traz necessária atualização GUSTAVO SCANDELARI Página 18

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Page 1: Lei de Liberdade Econômica: uma reação à burocracia do Estado · 2019-11-06 · e colunista Dante Mendonça foi o convidado para a 15ª edição do programa Literatura para a

BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI

Ano 14 • Outubro/Novembro/Dezembro 2019

desde 1961 46

René Ariel Dotti • Rogéria Dotti • Julio Brotto • Patrícia Nymberg • Alexandre Knopfholz • Fernanda Pederneiras • Francisco Zardo • Vanessa Scheremeta • José Roberto Trautwein • Fernando Welter • Gustavo Scandelari • Vanessa Cani • Cícero Luvizotto • Luis Otávio Sales • Guilherme

Alonso • Thais Guimarães • Laís Bergstein • André Meerholz • Diana Geara • Bruno Correia • Fernanda Lovato • Giuliane Gabaldo • Fernanda Machado • Eduardo Knesebeck • Fernanda Coelho • Ana Beatriz Rocha • Mauro Paciornik • Victoria de Barros e Silva • Beatriz Bispo • Larissa Ross

EDIÇÃO

ÁREAS DE ATUAÇÃO: DIREITO ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL,

CIVIL, CONSTITUCIONAL, CRIMINAL, ELEITORAL, FAMÍLIA E SUCESSÕES.

Lei de Liberdade Econômica: uma reação à burocracia do Estado

Qual a obrigação dos avós sobre o pagamento da pensão dos netos?

Indisponibilidade de bens: uma alternativa diante do perigo da

demora na execução

FRANCISCO ZARDO

Página 14

FERNANDA PEDERNEIRAS

ROGÉRIA DOTTI

“O Advogado que cumpre as regras deontológicas e peticiona com base na lei é credor de respeito.”René Ariel Dotti.

As controvérsias do aluguel pelo Airbnb

JULIOBROTTO

Página 7 Página 12

Página 7

Nova Lei de Abuso de Autoridade traz necessária atualização

GUSTAVO SCANDELARI

Página 18

Page 2: Lei de Liberdade Econômica: uma reação à burocracia do Estado · 2019-11-06 · e colunista Dante Mendonça foi o convidado para a 15ª edição do programa Literatura para a

EDITORIAL 3SEÇÃO INFORMATIVA 4DIREITO CIVIL 7

Indisponibilidade de bens e medidas urgentes na execuçãoRogéria Dotti 7Posso locar meu imóvel pelo Airbnb?Julio Brotto 7Descredenciamento de clínica médica deve ser comunicada pelo plano de saúdePatrícia Nymberg 8Recebi uma indenização: devo recolher imposto de renda?Fernando Welter 8O perfil do correntista e a necessidade de autoriza-ção expressa para a realização de investimentosVanessa Scheremeta 9Doação: limitação ao direito de propriedadeVanessa Cani 9Aplicativos de transporte: até onde vai a responsabilidade do app?Cícero Luvizotto 10O procedimento de arbitragem e a penhora no rosto dos autosGiuliane Gabaldo 10Corpo estranho encontrado em garrafa de refrige-rante gera dano moral, mesmo que não ingeridoAna Beatriz Rocha 11DIREITO DO CONSUMIDOR 11

Plataformas online de resolução de conflitos de consumoLaís Bergstein e José Roberto Trautwein 11DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES 12

Os avós são obrigados a pagar pensão alimentícia aos netos?Fernanda Pederneiras 12Duração limitada da cláusula de inalienabilidadeThais Guimarães 12Equidade e Infância em foco: TRF/3 garante licença-maternidade a um “pai solteiro” Diana Geara 13Segundo o STJ, adicionar o sobrenome do cônjuge é direito personalíssimo que independe de prazoBeatriz Bispo 13DIREITO ADMINISTRATIVO 14

Sancionada a Lei de Liberdade EconômicaFrancisco Zardo 14O emprego da arbitragem para solução de controvérsias na área de infraestruturaAndré Meerholz 14Para cálculo da aposentadoria prevalece a atividade com maior rendaFernanda Machado 15

Possibilidade de acordo com o Poder Público sobre indenização em desapropriaçãoFernanda Coelho 15Inconstitucionalidade de lei que restringe licencia-mento e emplacamento para transporte individual por aplicativoPedro Gallotti 16Não caracteriza necessariamente improbidade administrativa a dispensa de licitação para contratação de artista Sebastião Junior 16A possibilidade de prorrogar a licença-maternidade em caso de nascimento prematuroGustavo Bortot Vieira 17DIREITO CRIMINAL 17

O cultivo de maconha para fins medicinaisAlexandre Knopfholz 17A nova Lei de Abuso de AutoridadeGustavo Scandelari 18Ressarcimento de despesas com saúde e segurança pelo autor de violência domésticaLuis Otávio Sales 18A ordem das alegações finais e a colaboração premiadaGuilherme Alonso 19Benefícios despenalizadores impedem a análise do mérito pelo Magistrado? Bruno Correia 19Violação de prerrogativas do advogado é crimeFernanda Lovato e Eduardo Knesebeck 20A generosa extensão do habeas corpusMauro Paciornik 20Assédio sexual entre professor e alunoVictoria de Barros e Silva 21O descumprimento de medidas protetivas e a valoração da personalidade do acusadoLarissa Ross 21ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS 22

Que a última lembrança seja o amorAmanda de Fátima Dudeque 22Os pais podem pleitear indenização por danos sofridos pelos filhos?Camila Melo Batista 22“Jurisprudência em Teses” do STJ trata do direito das coisasMarina Guttierrez 23Impossibilidade de proibições de viagens por ações de insolvência Samuel Crozeta 23LEGISLAÇÃO – MUDANÇAS RELEVANTES 24

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EDITORIAL

“Lasciate ogne speranza, voi ch’intrate” (“Deixai toda esperança, ó vós que entraste”).Dante Alighieri (1265-1321). A divina comédia, Canto 3, Verso 7, terceira parte.

ADVOGADO DE PORTA DE CADEIA

Uma das expressões usuais para atacar o conceito de um causídico é chamá-lo de “advogado de porta de cadeia”. Com tal imprecação se pretende dizer que o mesmo é indigno de confiança profissional porque a sua clientela incorpora um dos Círculos do Inferno, da obra imortal de Dante Alighieri (1265-1321): A Divina Comédia.

Mas existe fundamento humano, social e jurídico para esse epíteto? Ou ele será fruto do preconceito e da intolerância?

Em primeiro lugar, é preciso rever o conceito de cadeia. Segundo a lei, destina-se a cadeia pública ao recolhimento dos presos provisórios, isto é, aqueles detidos em flagrante ou por decisão judicial de natureza cautelar (prisão temporária, prisão preventiva, prisão de pronúncia etc.). Eles são também destinatários do princípio da presunção de ino­cência, garantido pela Constituição ao declarar que ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença condena-tória.

Em segundo lugar, deve-se reconhecer que as cadeias são, infeliz-mente, depósitos de seres humanos geralmente marginalizados da fruição de muitos bens e interesses da vida como o trabalho, a segu-rança, a alimentação, a moradia, o lazer e momentos de felicidade. Esses lugares são, em geral, servidões de passagem para o terror e a desesperança.

Por último, é elementar que todo acusado de um ato delituoso tem o direito de ser defendido. A Constituição assegura ao preso a assis-tência da família e de Advogado. Esse é, justamente, o profissional que tem o dever ético, legal e social de atender o presidiário quando cons-tituído ou nomeado. A porta da cadeia, apesar de caracterizar uma espécie de antessala do Inferno, não pode permanecer fechada pela indiferença ou pela ilegalidade quando o ser humano que está no seu interior deve ser presumido inocente e tem o sagrado direito à defesa.

O Advogado que cumpre as regras deontológicas e peticiona com base na lei é credor de respeito. Principalmente quando consegue, pelos meios e recursos honestos, abrir a porta da cadeia em favor dos miseráveis.

RENÉ ARIEL DOTTI

Leia mais no blog do Professor René Ariel Dotti em: www.blogdodotti.com.br e acompanhe as redes sociais: facebook.com/blogdodotti e instagram.com/blogdodotti_.

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▶ O professor René Ariel Dotti foi listado pela revista britânica Chambers & Partners como um dos melhores advogados atuantes em casos de crimes econômicos da América Latina. A publicação descreve o professor René Dotti como “uma referência no mercado e uma personalidade extraordinária”.

▶ O jornalista, escritor e colunista Dante Mendonça foi o convidado para a 15ª edição do programa Literatura para a Juventude do escritório, realizada no dia 30 de agosto. Mendonça, que ocupa a cadeira número 1 da Academia Paranaense de Letras, atuou como editor e diretor de arte nos principais jornais paranaenses e, hoje em dia, é cronista da Gazeta do Povo. Aos presentes, Dante revelou detalhes de sua trajetória profissional e, também, sobre a sua charge favorita e sobre os desfiles de Carnaval.

SEÇÃO INFORMATIVA

▶ No dia 11 de setembro, os advogados Rogéria Dotti, Julio Brotto e Francisco Zardo participaram de um fórum promovido pelo Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná (Sindicombustíveis). Eles falaram sobre a Medida Provisória nº 881/2019, conhecida como a MP da Liberdade Econômica, que foi convertida em lei (nº 13.874/2019). No evento também foram discutidos temas como a “Nova Convenção Coletiva de Trabalho” e “Estratégias e Posicionamentos para Revenda: Um Novo Mercado”.

▶ O professor René Ariel Dotti falou sobre as qualidades imprescindíveis aos advogados no exercício da profissão em entrevista à edição de agosto da Revista da Ordem, publicada pela OAB Paraná. Para ele, aprimorar a capacidade de se comunicar e se expressar bem oralmente são fundamentais. “Os advogados precisam fazer cursos de oratória para exercer a atividade, para que tenham um mínimo de dicção e eloquência”, recomendou. Além da boa oratória, Dotti também deu dicas sobre a sustentação oral, os memoriais, a importância da objetividade, da paciência e de ser um bom ouvinte.

▶ A advogada Rogéria Dotti presidiu, no dia 23 de setembro, o primeiro painel do seminário “Novos Processos e Tecnologia – Como aperfeiçoar o Sistema de Justiça no país”, realizado na sede do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em Brasília. O evento foi realizado pelo STJ, em parceria com o Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP). O painel abordou as plataformas de resoluções de controvérsias e contou com as apresentações do Ministro Villas Bôas Cueva, do STJ, e do advogado Paulo Henrique Lucon, presidente do IBDP.

▶ O ranking da América Latina, publicado pela Chambers & Partners, é realizado por uma equipe multidisciplinar formada por jornalistas, advogados, linguistas e cientistas políticos. A equipe trabalha por nove meses, reunindo informações sobre os escritórios.

▶ Nesta edição do programa, Thiago Lechenakoski, Samuel Crozeta do Paraizo, Leonardo Andreazza Borges e Rodrigo Ribeiro foram sorteados para ler, respectivamente, os livros: Balé do Pato, A Cor Púrpura, Recado de Primavera e Candide.

▶ Os acadêmicos Mateus Sandmann Afonso e João Marcos Hodecker falaram sobre as crônicas de Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Sabino, do livro “Para Gostar de Ler – Volume 3” e sobre o livro “Um Socialista Anti-Social”, de Bernard Shaw.

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▶ A advogada Rogéria Dotti participou, em 20 de setembro, de um debate sobre a “Estabilização da tutela provisória no novo CPC” durante o Congresso Internacional do Instituto Brasileiro de Direito Processual (IBDP) – Novas Tendências do Direito Processual, realizado na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

▶ A advogada Fernanda Pederneiras concedeu, no dia 12 de agosto, uma entrevista ao programa Justiça para Todos, da rádio da Associação dos Magistrados do Paraná (AMAPAR) e falou sobre os regimes de casamento.

▶ O advogado José Roberto Trautwein foi aprovado no processo seletivo para cursar o Doutorado em Direito no Centro Universitário Autônomo do Brasil – UniBrasil. Sua pesquisa tem como objeto a incidência do interesse público nos negócios jurídicos.

▶ Em 20 de agosto, o advogado Francisco Zardo foi um dos palestrantes do I Congresso Mato-Grossense Estado e Economia – Novos Rumos Para o Desenvolvimento e abordou o tema “Empresas privadas com participação estatal minoritária”.

▶ O advogado Gustavo Scandelari concedeu, em 22 de julho, entrevistas a telejornais para falar sobre o Dia de Combate ao Feminicídio no Paraná, que marca a data em que se completa um ano do assassinato de Tatiane Spitzner. A data foi instituída pelo Governo do Paraná para incentivar o debate sobre a violência contra a mulher e encorajar atividades sociais em órgãos públicos e escolas com fins de conscientizar a população. Scandelari participou de reportagens no Meio Dia Paraná, da RPC; no Paraná Acontece, da Band; e no Balanço Geral, da RIC TV, todas com o mesmo enfoque.

▶ Em 1º de agosto, o advogado Gustavo Scandelari palestrou sobre “Criminal Compliance: responsabilidade penal da pessoa jurídica, do dirigente e do compliance officer”, no Curso de Pós-Graduação em Compliance e Direito 4.0, ofertado pela UNISOCIESC.

▶ Em 7 de agosto de 2019, o advogado Gustavo Scandelari discutiu o “Compliance idôneo como prevenção real da criminalidade corporativa”, no Congresso de Ciências Criminais promovido pelos Centros Acadêmicos da UFPR, do UNICURITIBA e da PUC/PR. O evento ocorreu no UNICURITIBA.

▶ Em 13 de agosto de 2019, em evento organizado pela BDO Brazil e sediado pela Universidade Positivo, Gustavo Scandelari abordou a “Realidade e a efetividade do compliance como prevenção de ilícitos”.

▶ Em 29 de agosto, Gustavo Scandelari tratou do “Compliance Officer: pressupostos, formas e objeto de atuação”, na I Jornada de Integridade realizada pela Comissão de Conformidade e Compliance da OAB/SC.

▶ No dia 13 de agosto, a advogada Rogéria Dotti defendeu, perante a Universidade Federal do Paraná, tese de doutorado na área de Direito Processual Civil. Com o tema “Tutela da evidência: prova do Direito, fragilidade da defesa e o dever de antecipar a tempo”, foi aprovada com nota máxima e recomendação de publicação. A banca examinadora foi presidida pelo orientador Professor Sérgio Cruz Arenhart e composta pelos professores Daniel Mitidiero, Eduardo Talamini, Luiz Guilherme Marinoni e Teresa Arruda Alvim.

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SEÇÃO INFORMATIVA

▶ No dia 7 de agosto, a advogada Thais Guimarães concedeu uma entrevista à rádio Band News sobre Direito de Família e Sucessões. Ela participou da série produzida pela emissora em homenagem ao Dia do Advogado.

▶ Na mesma data, Thais Guimarães participou de programa na Rádio Paraná Educativa e esclareceu dúvidas sobre pensão alimentícia.

▶ A advogada Diana Geara participou, no dia 29 de agosto, do programa Justiça para Todos, da Rádio da Associação dos Magistrados do Paraná (Amapar). Diana falou sobre as modalidades de guarda dos filhos e esclareceu dúvidas sobre o pagamento de pensão alimentícia.

▶ A advogada Diana Geara participou, no dia 26 de agosto, do simpósio “Poder Parental, Infância e Juventude”, promovido pelo Instituto Brasileiro de Direito de Família do Paraná (IBDFAM/PR). Diana falou sobre os principais marcos legais no painel que questionou a efetividade do melhor interesse de crianças e adolescentes.

▶ O advogado Pedro Galotti é coautor do livro “A Lei de Introdução e o Direito Administrativo Brasileiro”, coordenado por Thiago Valiati, Luis Hungaro e Gabriel Castella. Na obra, lançada no dia 16 de agosto, o advogado participou com o capítulo intitulado “A Nova LINDB e a efetivação dos Direitos e Garantias Fundamentais”.

▶ A tese de doutorado da advogada Laís Bergstein recebeu Menção Honrosa no Prêmio CAPES de Teses 2019. A premiação, concedida também à sua orientadora, a Prof. Dra. Dr. h. c. Claudia Lima Marques, distingue as melhores teses de doutorado dentro das 49 áreas de avaliação do MEC. O trabalho foi indicado para representar o Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

▶ A advogada Laís Bergstein lançou, no dia 23 de julho, o livro “O tempo do consumidor e o menosprezo planejado”, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre. Na foto, Laís com a Profª Drª Claudia Lima Marques.

▶ Coluna Missão Criadora da Jurisprudência

▶ A advogada Laís Bergstein proferiu uma palestra no I Congresso Nacional sobre a Tutela Jurídica do Tempo, realizado em Belo Horizonte, no dia 27 de setembro, na OAB Minas Gerais. Ela tratou dos critérios para a compensação do dano pelo tempo perdido nas relações de consumo.

▶ Laís Bergstein concedeu, no dia 11 de setembro, uma entrevista à rádio CBN para explicar o Projeto de Lei 3515/2015, em tramitação na Câmara dos Deputados, que dispõe sobre a prevenção e o tratamento do superendividamento. Em 30 de julho ela havia concedido uma entrevista à rádio Banda B sobre o Seguro (DPVAT).

Não raras vezes, confunde-se a lei com o Direito. Embora a lei seja fonte prioritária do Direito, ela não é a única. A jurisprudência, a doutrina, a analogia, os costumes e os princípios contribuem sobremaneira para o entendimento correto da lei, completando-a e aperfeiçoando-a, bem como provendo a sua fiel e exata aplicação à luz dos valores que lhe serviram de inspiração.

Casos difíceis muitas vezes não encontram, na lei, uma resposta clara. Surge, nessas situações, a missão criadora da jurisprudência. O vocábulo jurisprudência deriva do latim (jurisprudentia) e é composto pelas palavras jus (Direito, ciência do Direito) e prudentia (sabedoria). Consiste, literalmente, na sabedoria com que se interpreta e aplica o Direito.

Os advogados do Escritório Professor René Dotti comentam semanalmente decisões judiciais paradigmáticas que revelam a essência e a sensibilidade dos julgadores no exercício da difícil missão de julgar. A coluna está disponível no site www.dotti.adv.br. As postagens ocorrem às sextas-feiras e são divulgadas nas nossas redes sociais. Editor-Chefe: René Ariel Dotti. Coeditoras: Laís Bergstein e Thais Guimarães.

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Indisponibilidade de bens e medidas urgentes na execução

A cada dia torna-se mais im -portante a proatividade dos advo -gados para obter medidas urgentes, visando garantir maior eficácia nos processos judiciais. O Poder Judiciário tem sido sensível ao problema da demora processual e vem proferindo decisões com base no risco de frus -tração das expectativas das partes.

A indisponibilidade de bens, por exemplo, constitui uma alternativa para aquelas situações em que já existe a probabilidade do direito e o perigo da demora. Nesse cenário de volume exagerado de processos, ganhar tempo pode ser vital.

O Código de Processo Civil, no art.

799, inciso VIII, permite que o exequente requeira medidas urgentes, no próprio processo de execução, mediante simples petição. E a concessão pelo juiz depende tão somente dos requisitos gerais da tutela de urgência: probabilidade e perigo ou risco (CPC, art. 300). Lembre-se que o primeiro requisito já está suficientemente comprovado no próprio título que deu origem à execução. Por sua vez, o risco da demora é presumível quando os valores são altos e o devedor não tem patrimônio imobiliário.

Nesses casos, o art. 854 assegura a possibilidade de tornar indisponíveis os valores em dinheiro, depositados perante instituições financeiras. Isso se dá por via eletrônica, com base apenas no número de CPF do devedor. Assim é possível, antes mesmo da penhora, a determinação da indisponibilidade de bens. Além disso, o art. 828 autoriza a emissão de certidão quanto à existência da execução, para averbação em registro de imóveis ou veículos. Com isso, reduz-se a chance das alienações em fraude à execução.

Portanto, antes mesmo de promover a execução, é recomendável fazer uma pesquisa de bens. Dessa forma, logo no início do processo, será possível a adoção de medidas mais efetivas para o cumprimento das obrigações.

"Antes mesmo de promover a execução, é recomendá-vel fazer uma pes-quisa de bens"

DIREITO CIVIL

ROGÉRIA DOTTI

Posso locar meu imóvel pelo Airbnb?

Em recentíssimo julgamento iniciado em 10 de outubro do corrente, a 4ª Turma do STJ começou a enfrentar espinhosa questão, que interessa a proprietário de imóveis, viajantes, condôminos e síndicos país a fora.

A discussão envolve locações pelo aplicativo Airbnb que, como um dos principais expoentes das tecnologias disrupt ivas da atualidade, inspira não só paixões, como interessantes reflexões jurí-dicas e sociais. Afinal: Airbnb (e plataformas digitais assemelhadas) envolvem hospedagem ou locação?

Na primeira hipótese, estar-se-ia, em princípio, diante de uma

atividade comercial. Em acréscimo, eventuais vedações ou obstáculos impostos pelos condomínios onde essas unidades se situam afron -taria direitos ínsitos à pro priedade.

Durante a sua explanação, o Ministro Relator se reportou a outras modalidades das assim denominadas economias de compartilhamento, dentre as quais a mais célebre, sem dúvida, é a do aplicativo Uber.

O julgamento iniciado no STJ certamente não irá pôr fim à discussão, independentemente de seu resultado. E isso é natural, considerando que a sociedade e a legislação ainda engatinham no sentido de compreender todas as nuances dessas novidades tecno-lógicas. Mas sem dúvida os debates jurídicos travados em tor-no do tema em muito contribuem para a melhor compreensão por todos nós.

atividade comercial, vedada em edificações residenciais pela maio ria das convenções de con-domínio. Corroboraria esse enten-dimento o fato de inexistir relação direta entre os proprietários e os inquilinos, além da obri gato rie-dade de oferta de co modidades usua l mente as so c iadas à ho telaria, como é o caso da oferta de serviço de lavanderia. Nesse sentido foi o entendimento do TJRS, desafiado no Recurso Especial nº 1819075, sob relatoria do Ministro LUIS FELIPE SA -LOMÃO.

Para o Ministro Salomão, porém, no julgamento interrompido por pedido de vista do Ministro RAUL ARAÚJO, a natureza da relação jurídica que se forma entre proprietários de imóveis e os seus inquilinos não é de hospedagem, mas de locação por curta tem -porada, o que a desnatura como

JULIO BROTTO

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Recebi uma indenização: devo recolher imposto de renda?

Descredenciamento de clínica médica deve ser comunicada pelo plano de saúde

Um dos frequentes questionamentos de clientes diz respeito ao recolhimento de imposto de renda sobre valores recebidos em ações de indenização. Embora existam orientações relativamente consagradas, a dúvida costuma assolar até mesmo os profissionais do direito, tendo em vista a multiplicidade de rubricas que podem compor uma mesma verba indenizatória.

Por ocasião da publicação da consulta nº 258, a Receita Federal trouxe novas orientações pretendendo esmiuçar o tema. A normativa reafirma o entendimento quanto à não tributação dos danos morais.

Quanto aos danos materiais, há que se discriminar a sua espécie. Os danos emergentes – que costumam ser juridicamente qualificados como aquilo que efetivamente se perdeu – igualmente não são tributáveis, entendendo-se nesse caso que a indenização se destina à mera recomposição de um patrimônio que sofreu diminuição pelo ilícito, não representando efetivo acréscimo patrimonial.

Por outro lado, de acordo com a Receita Federal, são tributáveis todas as quantias recebidas em valor superior ao dano patrimonial efetivamente sofrido. Muitas vezes, o dano provoca uma imediata perda patrimonial e, além disso, priva a vítima do percebimento de ganhos futuros. Os chamados lucros cessantes são assim tributáveis, bem como eventuais valores decorrentes de multas processuais aplicadas à outra parte.

Quanto aos juros compensatórios ou moratórios, que na maioria dos casos assumem especial significância no montante in -denizatório, o entendimento do órgão fazendário é de que a tributação dependerá da origem dos rendimentos: se os juros decorrerem de verbas isentas ou não tributáveis (caso do dano moral e do dano emergente), não sofrerão incidência de imposto; caso contrário, haverá tributação também sobre os juros.

Os planos e seguros privados de assistência à saúde são regidos pela Lei nº 9.656/1998 e sobre a relação com os usuários incide o Código de Defesa do Consumidor, com exceção dos planos que são administrados na modalidade autogestão (próprio de associações sem fins lucrativos).

A referida lei estabelece que a inclusão de qualquer prestador de serviços de saúde como contratado, referenciado ou credenciado implica compromisso com os consumidores quanto à sua manutenção ao longo da vigência dos contratos, permitindo-se sua substituição, desde que seja por outro prestador equivalente e mediante comunicação aos con-sumidores com 30 (trinta) dias de an -tecedência (art. 17).

O direito parece ser muito claro, mas chegou ao STJ uma controvérsia susci-tando se a obrigação das operadoras de planos de saúde de comunicar aos seus beneficiários o descredenciamento de entidades hospitalares também envolve as clínicas médicas, ainda que a iniciativa pela rescisão tenha partido da própria credenciada. No caso, o plano de saúde havia recusado a continuidade do tratamento quimioterápico do de man-dante, que estava sendo realizado em clínica médica que pediu seu descre-denciamento.

O entendimento aplicado no julga -mento do Recurso Especial nº 1.561.445 foi de que a obrigação de comunicação também se estende às clínicas médicas, laboratórios, consultórios médicos e demais conveniados. E, que havendo descredenciamento, ainda que por iniciativa da própria clínica, sem aviso do plano ao demandante, era indevida a negativa de cobertura.

FERNANDO WELTER

PATRÍCIA NYMBERG

DIREITO CIVIL

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O perfil do correntista e a necessidade de autorização expressa para a realização de investimentos

Doação: limitação ao direito de propriedade

O art. 6º, III, da Lei nº 8.078/1990 estabelece o direto do consumidor de ter as informações necessárias sobre todas as características de um produto ou serviço, bem como de ser alertado sobre os seus riscos.

O STJ, em recente acórdão proferido no Recurso Especial nº 1.326.592/GO, entendeu desrespeitado esse direito em caso no qual a instituição financeira, sem autorização expressa de um casal de clientes, transferiu vultosa quantia para um fundo de inves -timentos.

Apesar de possuírem valores consi de -ráveis, os correntistas tinham perfil bastante conservador, uma vez que investiam apenas em CDBs (Certificado de Depósito Bancário), título de renda fixa com baixíssimo grau de risco. Por sua vez, a instituição financeira aplicou parte de seu saldo em um fundo de ações, investimento altamente arriscado e que lhes causou prejuízo.

Na demanda indenizatória promovida pelos correntistas, o banco asseverou ter havido autorização verbal para fazer tal aplicação, confirmada pela ausência de insurgência dos clientes após receberem seus extratos.

Todavia, o STJ destacou que a aparente resignação dos autores não poderia ser interpretada como ciência dos riscos da operação, pois “... o consumidor (mal in ­formado) poderia confiar, durante anos, na expertise dos prepostos responsáveis pela administração de seus recursos”. Ademais, entendeu necessária a autorização expressa para a realização do investimento, nos termos do art. 39, VI, do CDC, sem a qual “a ocorrência de eventuais prejuízos deve, sim, ser suportada, exclusivamente, pela instituição financeira, que, notadamente, não se desincumbiu do seu dever de esclarecer de forma adequada e clara sobre os riscos da operação”.

De acordo com o art. 1.911 do Código Civil, “a cláusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impe­nhorabilidade e incomunicabilidade”. A rigidez desta condição tem origem na proteção do interesse financeiro da pessoa beneficiada (donatária) e, por esta razão, não se extingue com o falecimento do doador. Tanto é, que o parágrafo único do citado dispositivo permite a alienação de bens clausulados, desde que o produto da venda seja convertido em outros bens, “sobre os quais incidirão as restrições apostas aos primeiros”.

A jurisprudência, no entanto, tem entendido que referidas cláusulas gravadas sobre bens doados não são absolutas, ou seja, podem ser mitigadas em razão da melhor adequação do patrimônio à sua função social. Neste sentido, já se posicionou o STJ, conforme se extrai do voto do Ministro PAULO DE TARSO SANSE -VERINO, quando do julgamento do Recurso Especial nº 1.631.278/PR, em 19/03/2019: “ [...] As circunstâncias fáticas narradas pela origem, notadamente a ausência de justo motivo para a manutenção da manifesta restrição ao direto de propriedade dos autores 16 anos após a doação e quase 10 anos após o falecimento da doadora e 7 anos após o falecimento do doador, ao que se soma a função social da propriedade, entendo, são suficientes a fazer retornar o imóvel ao comércio jurídico, afastando­se dele as cláusulas que condicionam, sobremaneira, os direitos a serem exercidos sobre o patrimônio dos autores.”

Saliente-se que, além da demonstração de ausência de justo motivo para a permanência dos gravames, o abrandamento deverá sempre ocorrer em proveito dos próprios beneficiários. Isso significa que não se retirarão os gravames para que sobre os bens protegidos pelo doador recaia, por exemplo, uma constrição judicial para garantir pagamento de dívida dos donatários.

VANESSA SCHEREMETA

VANESSA CANI

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Aplicativos de transporte: até onde vai a responsabilidade do app?

O procedimento de arbitragem e a penhora no rosto dos autos

Os aplicativos de transporte de passageiros, além de, na maioria das vezes, baratearem os deslo-camentos, trouxeram facili dades que antes não eram conhecidas. Essas qualidades fizeram com que se tornassem um dos modais de transporte mais utilizados pela população.

A Uber, por exemplo, começou como uma modesta startup e hoje possui alcance mundial com faturamento anual que ultra -passou 11,3 bilhões de dólares em 2018. Todo esse sucesso também trouxe uma grande

Em um processo de execução, é possível que o exequente tenha ciência de que o seu devedor possui um crédito ou um bem a receber em outra demanda judicial. Nesses casos, o sistema processual bra-sileiro permite que o exequente requeira a penhora desse bem e/ou crédito futuro e eventual, a fim de que sua execução seja garantida. Para essas situações, utiliza-se a expressão “penhora no rosto dos autos”, já que o credor irá buscar em outro processo a satisfação de seu crédito.

contribuiu diretamente para a ocorrência do assalto sofrido”, na medida em que não ouviu o apelo da passageira que havia pedido para o motorista não parar o veículo naquele local.

Em razão da falha na prestação do serviço, a empresa foi con -denada ao pagamento de in -denização pelos danos materiais e morais suportados pela pas -sageira.

Nos resta esperar que decisões dessa natureza cumpram seu caráter educativo, a fim de que as empresas capacitem os mo -toristas que aderem ao serviço de transporte de passageiros. Afinal de contas, como na frase ficcional, “com grandes poderes vêm grandes responsabilidades” (Stan Lee, interpretando Tio Ben, no clássico Homem Aranha).

arbitragem poderia ou não ser considerada jur isdição e , portanto, admitir que se reali -zasse a penhora no rosto dos autos.

Concluiu-se, nesse julga-mento, que, sendo jurisdicional a atividade desenvolvida na arbi-tragem e “respeitadas as peculi­aridades de cada jurisdição, é possível aplicar a regra do art. 674 do CPC/73 (art. 860 do CPC/15) ao procedimento de arbitragem, a fim de permitir que o juiz oficie o árbitro para que este faça constar em sua decisão final, acaso favorável ao executado, a existência da ordem judicial de expropriação, ordem essa, por sua vez, que só será efetivada ao tempo e modo do cumprimento da sentença arbitral”.

respon sabilidade para as em -presas que exploram esse nicho de mercado.

Uma das responsabilidades mais presentes é a manutenção da integridade física dos passa -geiros. Tanto é que, ao optar por esse serviço, o con sumidor auto-maticamente está protegido por uma apólice de seguros em caso de lesões físicas ou morte. Con-tudo, o dia a dia vem mostran do que a respon sabilidade dos aplicativos não se resume a isso.

Recentemente, foi proferida d e c i s ã o (a u t o s 0 4 1 7 5 9 -59.2019.8.21.0001, 2º JEC de Porto Alegre/RS) que condenou o aplicativo 99 Pop a indenizar passageira que foi assaltada após desembarcar do veículo.

A sentença considerou que “a conduta do motorista da ré

Tal procedimento é previsto expressamente no art. 860 do Código de Processo Civil, mas se limita a autorizar a penhora apenas quando o devedor possua um direito decorrente de outro processo judicial. Ou seja, o juiz de um processo avisa o juiz de outro processo que aquele direito pleiteado pelo devedor – existente ou não – será utilizado para pagar uma dívida, cobrada também judicialmente.

Num caso específico, julgado pela 3ª Turma do STJ (Recurso Especial nº 1.678.224/SP), o credor descobriu que seu devedor estava discutindo um direito com terceiro, mas não em outro processo judicial, e sim em um procedimento arbitral. A questão que se colocou era se a

CÍCERO LUVIZOTTO

GIULIANE GABALDO

DIREITO CIVIL

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Corpo estranho encontrado em garrafa de refrigerante gera dano moral, mesmo que não ingerido

“A aquisição de produto de gênero alimentício contendo em seu interior corpo estranho, expondo o consumidor à risco concreto de lesão à sua saúde e segurança, ainda que não ocorra a ingestão de seu conteúdo, dá direito à com pensação por dano moral, dada a ofensa ao direito fundamental à alimentação adequada, corolário do princípio da dignidade da pessoa humana”. Esse foi o entendimento adotado pela 3ª Turma do STJ no Recurso Especial nº 1768009/MG.

No caso, o consumidor havia comprado três garrafas de refrigerante e, após consumir dois litros de uma delas, notou em das garrafas a presença de corpo estranho, semelhante a inseto em decomposição.

O juiz afastou o dano moral por entender que o elemento estranho era facilmente perceptível, o que permitiu que a ingestão fosse evitada. O TJMG, entretanto, reformou a sentença e fixou indenização em R$10.000,00.

Analisando o recurso especial interposto pela fabricante do refrigerante, a Ministra NANCY ANDRIGHI ressaltou que o Código de Defesa do Consumidor o protege contra produtos que coloquem em risco sua segurança, saúde, integridade física e psíquica. Disso decorre a responsabilidade do fornecedor de reparar o dano causado por defeitos de seus produtos, conforme o art. 12.

A Ministra entendeu que o corpo estranho expôs o consumidor a grave risco, seja à sua saúde física, seja à sua integridade psíquica, o que torna defeituoso o produto. Assim, concluiu que “é evidente a exposição a risco nessas circunstâncias, o que necessariamente deve afastar a necessidade de ingestão para o reconhecimento da responsabilidade do fornecedor. Exigir que, para a necessidade de reparação, houvesse a necessidade que os consumidores deglutissem tal corpo estranho encontrado no produto parece não encontrar qualquer fundamento na legislação de defesa do consumidor”.

ANA BEATRIZ ROCHA

Plataformas online de resolução de conflitos de consumo

As Guidelines das Nações Unidas para a proteção dos consumidores recomendam aos Estados incentivar todas as empresas a “disponibilizar mecanismos de tratamento de reclamações que proporcionem aos consumidores uma resolução de litígios rápida, justa, transparente, barata, acessível e eficaz, sem custos ou encargos desnecessários.” (United Nations Conference on Trade and Development – UNCTAD; United Nations Guidelines for Consumer Protection, 2016.)

As boas práticas empresariais pressupõem que sejam disponibilizados ao consumidor meios adequados para que ele consiga relatar um problema e alcançar uma solução. A carga oceânica (expressão difundida, entre nós, pelo nosso querido Mestre, o Professor René Ariel Dotti) de processos em tramitação exige que sejam desenvolvidos instrumentos alternativos e adequados para a solução de conflitos e a prevenção de litígios.

É salutar, por exemplo, o cadastramento do fornecedor na plataforma <www.consumidor.gov.br>, disponibilizada pelo Ministério da Justiça. Trata-se de um importante mecanismo de diálogo e negociação entre consumidores e fornecedores.

Para os consumidores, o registro de recla ma -ções nessas plataformas serve como meio de prova, caso o problema não seja resolvido e sobrevenha a necessidade de intervenção judicial. Há situações graves – as que envolvem tutela de urgência, por exemplo – que impossibilitam tratativas extrajudiciais.

Havendo ou não urgência, o incentivo ao uso de plataformas online de negociação não pode ser confundido como um pressuposto de acesso ao Poder Judiciário. A violação do direito é suficiente para que o consumidor promova uma ação judicial, mas a reclamação prévia (se injustamente não atendida) pode contribuir para uma majoração do valor indenizatório a ser reclamado pelo consumidor.

DIREITO DO CONSUMIDOR

LAÍS BERGSTEIN E JOSÉ ROBERTO TRAUTWEIN

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Os avós são obrigados a pagar pensão alimentícia aos netos?

Ambos os genitores têm o dever de prestar alimentos aos filhos, na proporção de seus rendimentos (art. 1.703, CC). A obrigação alimentar é recíproca entre pais e filhos e se estende a todos os ascendentes, “recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros” (art. 1.696, CC).

Dessa forma, é dos pais e das mães a obrigação principal de prestar alimentos aos filhos. Somente na hipótese de impossibilidade total ou parcial dos genitores é que serão chamados a contribuir os parentes de grau imediato, avós (art. 1.698, CC).

É importante ressaltar que a obrigação dos avós (avoenga) é subsidiária, mas também complementar, o que significa dizer que poderão ser chamados a contribuir para o sustento dos netos quando os genitores não tiverem condições de garantir todo o necessário e não só apenas nos casos de absoluta impossibilidade.

Neste sentido, o STJ já firmou entendimento, exposto na súmula 596, segundo a qual “A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso de impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.”

Salienta-se, no entanto, que os avós não ficam sujeitos a responder por eventual inadimplemento da obrigação alimentar dos genitores. Constatada a impossibilidade dos genitores (total ou parcial), os avós deverão ser demandados em ação própria que definirá o valor da pensão alimentícia devida ao neto.

Relevante ponderar entendimento ainda majoritário da jurisprudência, no sentido de que a ação de alimentos em face dos avós somente seria cabível nos casos em que comprovada a incapacidade financeira de ambos os genitores. Tal interpretação do texto legal acaba por criar um claro desequilíbrio e, como bem pondera MARIA BERENICE DIAS, viola o superior interesse das crianças e adolescentes, na medida em que restringe seu direito a uma sobrevivência digna.

FERNANDA PEDERNEIRAS

Duração limitada da cláusula de inalienabilidade

No julgamento do Recurso Especial nº 1.641.549/RJ, realizado em 13/08/2019, a 4ª Turma do STJ reconheceu que a cláusula de inalienabilidade vitalícia tem duração limitada à vida do beneficiário, pelo que não é admitido o gravame perpétuo.

A discussão ocorreu em uma ação de nulidade de testamento, em que o proprietário deixou para sua companheira parte de seus imóveis, que estavam gravados com cláusula de inalienabilidade, incomunicabilidade e impenhorabilidade. A sentença originária considerou nulo o testamento, com fundamento no art. 1.676 do Código Civil de 1916, entendimento que foi mantido pelo TJRJ.

Todavia, o STJ reformou o julgado. Como bem destacado pelo Relator, Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, em razão do princípio da livre circulação dos bens, não se admite a inalienabilidade perpétua, pelo que é vedada a transmissão da restrição por direito hereditário.

Diante disso, “a cláusula em questão se extingue com a morte do titular do bem clausulado, podendo a propriedade ser livremente transferida a seus sucessores”, o que reitera o entendimento consolidado no STJ (destacado no acórdão ora analisado).

Ademais, o Ministro sustentou que “a elaboração do testamento não acarreta nenhum ato de alienação da propriedade em vida, senão evidencia a declaração de vontade do testador, revogável a qualquer tempo”.

Como se depreende do acórdão, a propriedade não será transmitida por meio desse testamento, mas sim em razão da abertura da sucessão com a morte do autor da herança.

Por tais razões e como a disposição testamentária não excedeu a legítima dos herdeiros necessários – eis que tais bens saíram da parte disponível do patrimônio do testador (50% de seus bens) –, o testamento foi considerado válido e a ação anulatória foi julgada improcedente pelo STJ.

THAIS GUIMARÃES

DIREITO DE FAMÍLIA E SUCESSÕES

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Equidade e Infância em foco: TRF/3 garante licença-maternidade a um “pai solteiro”

O INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS recorreu ao TRF-3ª região com o objetivo de reformar a sentença que havia estendido o salário-maternidade a um “pai solteiro” de duas crianças (gêmeas) con -cebidas por fertilização in vitro em ges tação por substituição.

O INSS invocava uma interpretação literal da legislação, argumentando que inexiste previsão legal de concessão de licença maternidade a um servidor público homem.

O TRF-3ª região manteve a decisão do juízo de primeiro grau pontuando que: “se relevada a proibição de que os filhos nascidos por técnicas modernas de gestação sub­rogada, de pais solteiros, não tenham a companhia destes na primeira infância (que é a consequência de se negar a licença parental requerida na espécie), evidentemente estar­se­á violando o princípio da isonomia material (...)”.

A decisão considera que, de fato, não há previsão legal específica para a concessão do benefício, contudo, pondera que, diante das lacunas do direito, cabe ao magistrado fazer uso da analogia.

O Desembargador Relator SOUZA RIBEIRO ainda afirma que é tema de alta relevância a proteção das diversas formas de família que se apresentam em sociedade e, também, da infância – o que deve ser realizado de acordo as premissas da nossa Constituição Federal.

O posicionamento dos desembargadores foi baseado, também, nas evidências científicas “de que a presença e o contato físico e emocional dos pais com seus filhos na primeira infância é fundamental para o desenvolvimento da criança” e, no Estatuto da Primeira Infância que assegura o pleno atendimento dos direitos da criança na primeira infância (até 06 anos de idade) como objetivo comum de todos os entes da Federação.

DIANA GEARA

Segundo o STJ, adicionar o sobrenome do cônjuge é direito personalíssimo que independe de prazo

Em decisão proferida no dia 28/08/2019, a 3ª Turma do STJ deu provimento ao Recurso Especial nº 1.648.858/SP, interposto por uma mulher que postulava alterar o seu registro civil após sete anos da celebração do casamento, a fim de acrescentar mais um dos sobrenomes do marido. O primeiro foi adicionado quando da habilitação para o casamento, porém, o sobrenome ainda não incluído é que contava com notoriedade social e familiar.

O pedido havia sido negado pelo TJSP sob o fundamento de que deve prevalecer o princípio da imutabilidade do nome, consagrado na Lei de Registros Públicos.

Sob outra perspectiva, o Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVAS, Relator do Recurso Especial, destacou que, além do pedido contar com o apoio do próprio marido, a hipótese “(...) está abarcada no campo do direito personalíssimo, pois retrata a própria identidade familiar após 7 (sete) anos de casados. Ademais, o ordenamento jurídico não veda aludida providência, pois o artigo 1.565, §1º, do Código Civil não estabelece prazo para que o cônjuge adote o apelido de família do outro em se tratando, no caso, de mera complementação, e não alteração do nome.”

A decisão reconheceu a regra geral da imutabilidade do nome no ordenamento jurídico pátrio, mas frisou que os arts. 57 e 109 da Lei de Registro Públicos admitem exceções. Vale mencionar que a recorrente demonstrou sua boa-fé perante terceiros, acostando aos autos certidões negativas. Portanto, a alteração não viola a segurança jurídica.

O Ministro ainda ponderou: “Em tese, se não fosse permitida tal alteração, o casal, cuja relação conta com mais de 11 (onze) anos, deveria se divorciar para, então, formalizar, por meio de novas núpcias, e consequentemente de novo processo de habilitação, o pedido de adesão pela mulher do integral sobrenome do marido (...) o que, notoriamente, não é razoável”.

BEATRIZ BISPO

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Sancionada a Lei de Liberdade Econômica

O emprego da arbitragem para solução de controvérsias na área de infraestrutura

Em 20 de setembro de 2019, foi sancionada a Lei nº 13.874/2019, que institui a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabelece normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica (art. 1º).

A Lei nº 13.874/2019 estabelece como princípio “a intervenção subsidiária e excepcional do Estado sobre o exercício de atividades econômica” (art. 2º, III), erigindo “a liberdade como uma garantia no exercício de atividades econômicas” (art. 2, I).

Buscando melhorar o ambiente de negócios e propiciar aos agentes econômicos uma atuação impessoal do poder público, o art. 3º, IV, confere a todos o direito de “receber tratamento isonômico de órgãos e de entidades da administração pública quanto ao exercício de atos de liberação da atividade econômica, hipótese em que o ato de liberação estará vinculado aos mesmos critérios de

Em 20/9/2019 o Governo Federal editou o Decreto 10.025/2019, regulamentando a adoção da arbitragem para solução de litígios que envolvam a União, entidades da administração federal e particulares nos segmentos portuário, de transportes rodoviário, ferroviário, aquaviário e aeroportuário.

O Decreto define no art. 2º a possibilidade de uso da arbitragem para controvérsias relacionadas à direitos patrimoniais disponíveis, dentre elas: a) questões relacionadas à recomposição do equilíbrio econômico-financeiro dos contratos; b) o cálculo de indenizações decorrentes de extinção ou de transferência do contrato de parceria; c) o inadimplemento de obrigações contratuais por quaisquer das partes, incluídas a incidência das suas penalidades e de seu cálculo. Salienta-se que o rol fixado na norma não é exaustivo. O enquadramento estará

interpretação adotados em decisões administrativas análogas anteriores (...)” (inciso IV).

Outro entrave ao desenvolvimento de atividades econômicas é o excesso de burocracia. Somados, União, Estados e Municípios editam, em média, 774 normas por dia útil. Para racionalizar esta atividade, o art. 5º da Lei nº 13.874/2019 prevê que a edição de uma norma deve ser precedida de análise de impacto regulatório, “que conterá informações e dados sobre os possíveis efeitos do ato normativo para verificar a razoabilidade do seu impacto econômico”.

Em A Rebelião das Massas, Ortega y Gasset definiu “a obra de caridade mais adequada a nosso tempo: não publicar livros supérfluos”. Esta definição aplica-se não somente aos livros, mas, com maior razão, às leis e regulamentos que afetam a vida dos cidadãos e o cotidiano das empresas.

relacionado à natureza da controvérsia e a possibilidade de sua qualificação como direito patrimonial disponível.

A medida pode ser compreendida como de dupla função. Por um lado, confere maior celeridade ao processo de tomada de decisão. Espera-se que o trâmite no juízo arbitral, desde o início do processo até a decisão definitiva, ocorra em menor tempo, o que assegura maior segurança e redução de custos às partes envolvidas.

Ainda, abre espaço para qua -lificação técnica da instrução e decisão do processo. A possibilidade de eleição do juízo arbitral autoriza o direcionamento para foros tecni -camente estruturados para exame de questões peculiares a especificidade e complexidade técnica, econômica e jurídica que recorrentemente se relacionam às questões de infra-estrutura.

FRANCISCO ZARDO

ANDRÉ MEERHOLZ

DIREITO ADMINISTRATIVO

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Para cálculo da aposentadoria prevalece a atividade com maior renda

Possibilidade de acordo com o Poder Público sobre indenização em desapropriação

Segundo o art. 32 da Lei n.º 8.213/1991, “o salário de benefício do segurado que contribuir em razão de atividades con co mi­tantes será calculado com base na soma dos salários de con tribuição das atividades exercidas na data do requerimento ou do óbito, ou no período básico de cálculo, obser­vado o disposto no art. 29 desta Lei”.

Não obstante, caso o segurado tenha exercido várias atividades concomitantes e não tenha com-ple tado o tempo de contri buição suficiente em ne nhuma delas, “o

Em 27/08/2019 foi publicada a Lei nº 13.867/2019, que permite a mediação ou a arbitragem para definir os valores de indenização nas desapropriações por utilidade pública.

De acordo com o art. 10-A do DL 3.365/41(inserido pela Lei nº 13.867/2019), após a avaliação do imóvel o Poder Público deverá notificar o proprietário para que este diga se concorda ou não com o valor oferecido. O proprietário tem 15 dias para aceitar a oferta. Neste prazo, o proprietário pode ainda

cálculo dessa situação jurídica, devem ser observados os prin­cípios que envolvem a ordem econômica e social previstas na Constituição, ambas fundadas na valorização e no primado do tra­balho humano e na livre inicia tiva, a fim de assegurar a todos a exis­tência digna, conforme os ditames da justiça social” (Recurso Es ­pecial nº 1.664.015/RS, Rel. Min. H E R M A N B E N J A M I N , DJ e 29/06/2017).

Desta forma, a referida atividade principal seria aquela que apresenta o maior proveito econômico, segundo o STJ. Isto porque “é a que garante a subsistência do Segu­rado e, portanto, atinge o objetivo primordial do benefício previ­denciário, que é a substituição da renda do trabalhador” (Recurso Especial nº 1.731.166/SP).

requerer que o valor da indenização seja definido por meio de mediação ou arbitragem (art. 10-B). Caso não responda neste prazo, seu silêncio será interpretado como recusa.

Aceita a oferta e realizado o pagamento, será lavrado acordo, que será título hábil para a transcrição no registro de imóveis. Rejeitada a oferta, ou transcorrido o prazo sem manifestação, o Poder Público ajuizará ação de desa-propriação.

A norma, que se aplica às desapropriações publicadas a partir do dia 28/08/2019, está de acordo com a tendência de Admi-nistração Consensual, termo que designa a atuação do Poder Público por meio de acordos em sentido amplo, de modo a prevenir ou finalizar conflitos.

salário de benefício será calculado com base na soma do salário de benefício da atividade principal e de um percentual da média do salário de contribuição da ati­vidade secundária”, conforme o entendimento do STJ (Recurso Especial nº 1.731.166/SP).

No mesmo sentido: “deve ser considerada como atividade principal, para fins de apuração do salário de benefício, aquela que gerará maior proveito eco­nômico no cálculo da renda mensal inicial, tratando­se de hipótese em que o segurado não completou tempo de serviço suficiente para se apo sentar em nenhuma das atividades con­comitantes. Isto porque, diante da lacuna deixada pelo artigo 32 da Lei 8.213/1991, que não prevê, de forma expressa, a fórmula de

FERNANDA MACHADO

FERNANDA COELHO

Esta vertente tem sido observada na legislação mais recente, como por exemplo, no art. 26 da LINDB, que prevê a possibilidade de acordo para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público. No mesmo sentido é a Portaria nº 320/2019, que instituiu o Núcleo Especializado em Arbitragem (NEA) no âmbito da União. Ainda, destaca-se o Decreto nº 9.830/2019, que permite à Administração firmar compromissos para evitar ações públicas em geral, observados os requisitos legais.

A consensualidade está em consonância com a realidade atual, em que não se pode mais conceber uma Administração engessada e autoritária, que desconsidera a perspectiva dos particulares.

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Inconstitucionalidade de lei que restringe licenciamento e emplacamento para transporte individual por aplicativo

Não caracteriza necessariamente improbidade administrativa a dispensa de licitação para contratação de artista

É inconstitucional, por violação à livre iniciativa, ao livre exercício de atividade econômica e ao direito de ir e vir, e descumpre a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica a restrição, limitada ao município ou estado que o cadastra, do emplacamento de veículo para os serviços de transporte individual de passageiros via aplicativos.

A Lei nº 4.641/2018, de Foz do Iguaçu, prevê, em seu art. 10, IV, a obrigatoriedade de o veículo estar necessariamente licenciado e emplacado naquele município. A regra reduz drasticamente a possibilidade de o motorista realizar locação de veículo de companhias que alugam carros emplacados em outros municípios; restringe um nicho crescente do mercado de locação de veículos, que é o aluguel para motoristas de aplicativo, no município de Foz do Iguaçu; e se for generalizada em outras cidades, impede que o motorista possa atuar em mais de um município.

Nesse sentido, confrontando-se as conse-quências práticas da ausência de restrição, que levam a benefícios decorrentes da livre iniciativa e do desenvolvimento da sociedade, com o alegado interesse público do município, não se sustentam os argumentos que defendem o licenciamento restritivo a favor de suposto aumento da arrecadação tributária via IPVA.

Comparativamente, o TJRS, na ADI 70075503433 em face de lei de Porto Alegre, declarou inconstitucional dispositivo análogo ao da lei iguaçuense em benefício da dinâmica de um mercado que gera trabalho e fomenta investimentos privados. Portanto, é plenamente possível declarar a inconstitucionalidade de lei que restringe o licenciamento e emplacamento para veículos de aplicativo.

A 2ª Turma Cível do TJDFT decidiu, no julgamento da Apelação nº 0706593-85.2017.8.07.0018, por unanimidade, absolver os réus que foram condenados pela prática de improbidade administrativa na contratação de artista por dispensa de licitação.

Em seu voto, a Desembargadora Relatora, CARMELITA BRASIL, entendeu que não constam nos autos elementos suficientes para caracterizar a indevida dispensa de licitação, muito menos o superfaturamento da contratação, pois os valores dos cachês pagos estão de acordo com as tabelas da Secretaria de Cultura do DF.

No caso, o Ministério Público do Distrito Federal ajuizou ação civil pública em face dos servidores da Administração de Regional da cidade satélite de São Sebastião e da produtora de eventos, na qual alegaram que os réus cometeram atos de improbidade administrativa, haja vista que a contratação foi dire-cionada, além de outras irregularidades.

O juízo de primeiro grau julgou procedente os pedidos e condenou os réus pela prática de improbidade administrativa, nos termos do art. 10 da Lei nº 8.429/92. Todavia, a Relatora do caso votou pela reforma da sentença por considerar que “caberia ao Ministério Público fazer prova de que o artista contratado efetivamente não preenche o requisito do inciso III do art. 25 da Lei 8.666/93, de consagração pela crítica especializada ou pela opinião pública”. Além disso, a Relatora acrescentou que inexiste, no caso em questão, “qualquer conduta dolosa ou culposa direcionada à indevida dispensa de licitação.”

Assim, segundo a Desembargadora e conforme jurisprudência da Turma, quando “não demonstrado o prejuízo ao erário ou enriquecimento ilícito dos demandados (elementos objetivos), ou mesmo a vontade deliberada dos réus de violarem princípios da Administração Pública (elemento subjetivo), deve ser afastada a condenação por improbidade adminis ­trativa, devendo as ocorrências apontadas serem classificadas como mera irregularidades”.

PEDRO GALLOTTI

SEBASTIÃO JUNIOR

DIREITO ADMINISTRATIVO

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A possibilidade de prorrogar a licença-maternidade em caso de nascimento prematuro

O cultivo de maconha para fins medicinais

Recentemente, a 1ª Turma do TRF-1ª região, em votação unânime, negou provimento ao recurso de Apelação nº 0069874-97.2015.4.01.3400 do Departamento Na -cional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), mantendo a sentença que assegurou a prorrogação da licença-maternidade à servidora pública federal por mais 84 dias.

Na situação em apreço, a servidora federal narrou que seu filho nasceu prematuro, necessitando de cuidados médicos especiais desde o seu nascimento, permanecendo 84 dias no hospital. O Juízo da 14ª vara federal do Distrito Federal ampliou a licença sob o argumento de conceder o mínimo de convivência, uma vez que a internação hospitalar se deu por razão alheia à vontade da servidora.

Como é cediço, o art. 227 da Constituição Federal dispõe que é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, com prioridade, o direito à convivência familiar. No âmbito infraconstitucional, a Lei n.º 8.112/90 prevê o período de 120 dias de licença à servidora gestante, sem prejuízo da remu -neração, sendo que em caso de nascimento prematuro, a licença terá início a partir do parto (art. 207, §2º). Em complemento, a Lei n.º 11.770/08 dispõe sobre a prorrogação do prazo de licença maternidade, contudo, não abarca os casos de nascimentos de bebês prematuros.

Por fim, a relatora explicou que “a referida omissão contraria o citado comando constitucional.” Fixou ainda que, “a falta de previsão legal não impede o Poder Judiciário de garantir aos jurisdicionados os direitos constitucionais, no caso a convivência familiar do recém­nascido, tão importante neste estágio inicial de sua vida”, devendo cada caso ser analisado isoladamente.

Em meio à expectativa da continuação do julgamento acerca da legalidade do porte de maconha – agendado para o próximo mês de novembro no STF –, começam a surgir decisões autorizando o cultivo da referida droga para fins medicinais. Há notícia de julgados no Rio de Janeiro, Rondônia, Paraíba e Paraná.

A Justiça Federal paranaense concedeu liminar em habeas corpus preventivo (salvo­conduto) em favor de uma mulher em tra -tamento de neoplasia gástrica (câncer de estômago), após prescrição médica do óleo medicinal extraído da cannabis sativa. A Juíza Federal Substituta SANDRA REGINA SOARES, consignando ser evidente que o plantio se destina ao tratamento de saúde, consignou: “Impedir que a paciente pratique os atos almejados prejudicará sobremaneira o seu tratamento e sua qualidade de vida, causando prejuízos à sua saúde.”

No mesmo sentido, a 1ª Vara do Juizado Especial Criminal de Ji-Paraná/RO concedeu permissão para os pais de uma menor portadora de autismo e com graves crises de epilepsia cultivarem maconha em sua residência. O Magistrado MAXIMILIANO DARCY DAVID DEITOS afirmou: “No eventual conflito entre a proteção dos bens jurídicos tutelados pelos delitos previstos no art. 28 e 33 da Lei de Drogas e os direitos à saúde e à vida da filha da paciente, devem prevalecer estes últimos (...). A pretensão em tela visa reduzir não apenas o sofrimento da filha, mas também dos familiares que com ela convivem, inexistindo ofensividade a qualquer bem tutelado pelo Direito Penal. (...) Estudos recentes já revelaram que o uso da planta com acompanhamento médico apresenta propriedades medicinais que podem ajudar a combater várias doenças e/ou sintomas, entre as quais a da criança que se pretende proteger (autismo).” (HC 2000286-76.2019.8.22.0005).

São exemplos recentes de decisões humanitárias no âmbito do Direito Penal, que não deve nunca ser aplicado estritamente sob a ótica legalista e punitiva.

GUSTAVO BORTOT VIEIRA

ALEXANDRE KNOPFHOLZ

DIREITO CRIMINAL

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Ressarcimento de despesas com saúde e segurança pelo autor de violência doméstica

Em 18 de setembro passado foi publicada a Lei 13.871/2019, que alterou a Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) para dispor sobre a obrigação do autor de violência doméstica e familiar praticada contra mulher de ressarcir gastos com a vítima relativos a serviços de saúde ou a dispositivos de segurança. A Lei Maria da Penha, que tutela relações hetero e ho -moafetivas, mas exige que a pessoa agredida seja neces-sariamente mulher, prevê o direito da vítima de ser assistida em

ao art. 9º o §5º, que prevê a obri-gação do agressor de ressarcir os custos com “dispositivos de segurança” ut i l izados para proteção da agredida. A expe-riência revela que somente a ameaça de sanção pelo des-cumprimento de determinada medida protetiva de urgência às vezes não basta à proteção da mulher. Em reforço, podem ser utilizados dispositivos eletrônicos, como tornozeleira eletrônica para impedir a aproximação do agressor (um dispositivo em poder da vítima dispara caso o agressor, de tor-nozeleira, se aproxime), ou um “botão de pânico” em poder da vítima para acionamento em situação de perigo. Esses custos, agora, também deverão ser arcados pelo autor da violência.

LUIS OTÁVIO SALES

A nova Lei de Abuso de Autoridade

Em 5 de setembro de 2019 foi sancionada a Lei nº 13.869, que introduz nova disciplina criminal para o fenômeno do abuso de autoridade. Agora, poderá con-figurar crime toda conduta prati-cada “por agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do poder que lhe tenha sido atribuído” (art. 1º). Para que possa ser punido, o agente deve ter procedido “com a finalidade es -pecífica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal” (art. 1º, §1º).

Embora o texto ainda esteja em

sua custódia” (art. 19); “invadir ou adentrar, clandestina ou astu-ciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condi ções, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei” (art. 22); “requisitar instauração ou instaurar procedi mento inves ti-gatório de infração penal ou ad -ministrativa, em des favor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional ou de infração ad mi -nistrativa” (art. 27).

Independentemente de pos -síveis críticas de classes de ser-vidores públicos e outros setores, a nova lei realizou uma necessária atualização e adequação normativa para a sociedade atual. O abuso de autoridade era, até então, regulado pela Lei nº 4.898, de 1965, a qual, finalmente, foi revogada.

GUSTAVO SCANDELARI

período de vacatio legis – entrará em vigor após decorridos 120 dias de sua publicação oficial – convém notar algumas das novas descrições legais de ações que poderão ser vistas como abusivas: “constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública; submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não auto -rizado em lei” (art. 13, I e II); “submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno, salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devi -damente assistido, consentir em pres tar declarações” (art. 18); “impedir ou retardar, injustifica-damente, o envio de pleito de preso à autoridade judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias de

saúde, assistência social e segurança pública (art. 9º).

O recém incluído §4º, do art. 9º, preconiza que o autor de lesão, violência (física, sexual ou psico-lógica) ou dano (patrimonial ou moral) à mulher fica obrigado a ressarcir “todos os danos cau-sados”, o que abrange despe sas com tratamento privado e, tam-bém, com o Sistema Único de Saúde – SUS (a cargo do Poder Público), como custos com cirurgia, medicamentos, assistência psicológica etc. A base de cálculo do ressarcimento é a tabela do SUS e os recursos devem ser recolhidos ao Fundo de Saúde do ente federado responsável pela unidade de saúde que prestar os serviços.

A nova lei também acrescentou

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A ordem das alegações finais e a colaboração premiada

Benefícios despenalizadores impedem a análise do mérito pelo magistrado?

No dia 26 de setembro, o STF, em ju lgamento a inda não concluído, definiu maioria (7x3) para determinar que, em ações penais que contem com cola-boradores premiados no rol de denunciados, as alegações finais dos delatados sejam apre-sentadas após a ma ni fes tação dos delatores.

De acordo com o Código de Processo Penal (art. 403), a apresentação da referida mani-festação, que sucede ao término

No âmbito da Lei nº 9.099/95, que trata das infrações de menor potencial ofensivo, estão previstos os benefícios da transação penal e suspensão condicional do processo, formalizados por meio de acordos propostos pelo Ministério Público e que impedem o processamento criminal, desde que homologados por um juiz após o cumprimento de determinadas condições pelo acusado.

É possível ao magistrado, porém, determinar o arquivamento do caso independentemente da aceitação das propostas: quando se identifica de plano que o fato não configura crime, é ausente de justa causa ou está prescrito. Nessa hipótese, “O juiz pode deixar de homologar transação penal (...) equivalendo tal decisão à rejeição da denúncia ou queixa” (Enunciado 73 do Fórum Nacional de Juizados Especiais).

Na suspensão condicional do processo, ainda que o magistrado tenha recebido a denúncia, poderá

mento anterior às defesas, para que os acusados delatados pudessem ter acesso a todo o conjunto probatório da acusação.

No julgamento, acolheu-se a pretensão do HC. Dos 7 (sete) votos favoráveis, 6 (seis) deter-minaram a anulação da conde-nação relacionada, com a remessa do feito ao 1º grau para que novas manifestações sejam formuladas na ordem estabelecida (isto é: Ministério Público, assistente de acusação, delatores e, somente então, as defesas). O outro voto, da Ministra CÁRMEN LÚCIA, reconheceu a potencial nulidade, mas, no caso, entendeu não ter havido a demonstração de prejuízo, mantendo a condenação original.

sobrestar a proposta do Ministério Público e garantir aos réus o direito de apresentar resposta para, se não for o caso de absolvição sumária, dar seguimento ao acordo. Trata-se de solução mais benéfica aos acusados, conforme já en tendeu o STJ, ao decidir que “A apreciação da proposta (...) deve ser realizada em audiência específica designada exclu ­sivamente para tal finalidade, depois de recebida a denúncia e afastadas as hipóteses de absol­vição sumária (...)” (RHC 81.846, Rel. Min. FELIX FISCHER , DJe 14.11.2017).

Sem olvidar do justo propósito de tais benefícios, nos casos de manifesta desnecessidade o juiz deverá decidir de forma mais favorável ao acusado e encerrar o procedimento pois, ainda que os acordos impeçam a continuidade do litígio criminal, sempre geram algum ônus a quem os aceita.

da instrução, quando são pro-duzidas todas as provas, ocorrerá na seguinte ordem: primeiro o Ministério Público, seguido do assistente, quando habilitado; após, as defesas, em prazo comum. Ou seja, acusação se manifesta antes das defesas, que apresentam sua última petição defensiva simultaneamente.

No Habeas Corpus nº 166.373/PR, questionou-se o momento em que o colaborador, quando réu, deve falar. A rigor, pelo texto legal, colaborador também é acusado, devendo falar no mesmo prazo concedido aos demais denun-ciados. No entanto, sus tentou-se naquela ação que, como o delator auxilia a acusação, também deveria se manifestar em mo -

"Na suspensão condicional do processo, ain-da que o magistrado tenha recebido a denúncia, poderá sobres-tar a proposta do MP."

GUILHERME ALONSO

BRUNO CORREIA

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Violação de prerrogativas do advogado é crime

A generosa extensão do habeas corpus

No dia 24 de setembro passado, 18 vetos presidenciais à nova Lei de Abuso de Autoridade (Lei nº 13.869/2019) foram derrubados pelo Congresso Nacional. Dentre eles, constava trecho relativo as violações a direitos ou prerrogativas do advogado – como, por exemplo, inviolabilidade do local de trabalho, comunicação reservada com clientes e presença de representante da OAB em casos de prisão em flagrante por motivo ligado à profissão. Com os vetos, a nova Lei de Abuso de Autoridade prevê que as violações passam a ser crime.

O texto original que prevaleceu no art. 43 da lei comina pena de três meses a um ano de detenção e multa para aquele que violar as prerrogativas do advogado, previstas no EOAB. Ainda, consta previsão de pena de um a quatro anos de detenção e multa para quem prosseguir interrogatório de pessoa que decidiu exercer o direito de silêncio ou que tenha optado por estar acompanhado de advogado ou defensor público, mas não esteja; e pena de seis meses a dois anos de detenção e multa a quem negar ao interessado ou seu defensor qualquer acesso a procedimento investigatório (exceto peças de sigilo imprescindível).

Conforme o presidente da OAB/PR, Dr. CÁSSIO TELLES, “Garantir que os advogados tenham suas prerrogativas protegidas é garantir que a sociedade tenha direito à ampla defesa. É o cenário desejável no ambiente democrático que construímos e que queremos ver consolidado em nosso país. A criminalização da violação das prerrogativas fortalece a defesa e equilibra forças, sempre em favor da justiça com qualidade”.

É contraposta, portanto, a mensagem de veto relativa ao art. 43, fundamentando que “a propositura legislativa gera insegurança jurídica, pois criminaliza condutas reputadas legítimas pelo ordenamento jurídico”.

É sabido que o habeas corpus, formalmente instituído na Inglaterra por meio da Carta Magna de 1215, assinada por João Sem-Terra, nasceu como um instrumento voltado à garantia da liberdade de locomoção do indivíduo em face do abuso do poder coercitivo Estatal. Diz o art. 647 do CPP, em repetição ao art. 5º, LXVIII, da CF, que a ordem de habeas corpus será concedida “sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir”, de onde se infere que o cabimento do instituto não se restringe apenas aos casos em que a segregação já tenha ocorrido, mas também quando houver risco fundado de sua efetivação.

Hodiernamente, a jurisprudência tem demonstrado, contudo, maior flexibilidade em relação às hipóteses de cabimento do writ, o que pode ser explicado pela celeridade, agilidade, simplicidade de seu procedimento e mais, pela massiva utilização deste remédio constitucional em nítida substituição aos recursos ordinários. Sendo manifesto o constrangimento ilegal, passou a juris pru-dência do STJ, inclusive, a ampliar a possibilidade da concessão de ordem de habeas corpus de ofício, ou seja, independente de provocação (art. 654, § 2º, do CPP).

Exemplo recente ocorreu no julgamento do AgRg em AREsp nº 1452104/PR. A Relatora, Ministra LAURITA VAZ, em meio a discussão tipicamente afeta aos recursos próprios (apelação e recurso especial) concedeu ordem de habeas corpus, de ofício, para o fim de absolver o acusado ante a atipicidade da conduta. Consignou o aresto que a situação concreta – “apreensão de 7 (sete) munições calibre 9mm, na residência do Agravante, desacompanhadas de qualquer arma de fogo, não ofendeu ao bem jurídico tutelado pela norma penal, motivo pelo qual deve ser considerada materialmente atípica, pela aplicação do princípio da insignificância”.

FERNANDA LOVATO E EDUARDO KNESEBECK

MAURO PACIORNIK

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Assédio sexual entre professor e aluno

O descumprimento de medidas protetivas e a valoração da personalidade do acusado

De acordo com a 6ª Turma do STJ, o crime do art. 216-A do Código Penal (assédio sexual), que normalmente se caracteriza quan-do superior hierárquico, preva -lecendo-se dessa condição, constrange alguém a fim de obter favorecimento sexual, também se aplica à relação aluno-professor quando o docente se vale de sua posição para obter a vantagem descrita.

No caso, o réu teria conversado com aluna adolescente a respeito

Após a entrada em vigor da Lei nº 13.641/2018, restou cri -minalizada a conduta de des-cumprir decisão judicial que defere medidas protetivas em caráter de urgência, previstas no âmbito da Lei nº 11.340/2006 – Lei Maria da Penha, restando estipulada a fixação da pena de três meses a dois anos de detenção para quem nela incorrer.

Em recente julgamento rea-lizado pela 6ª Turma do STJ, nos autos de Habeas Corpus nº 452.391, restou definido o enten-dimento de que o reiterado des-cumprimento de medidas prote-

de suas notas, indicando que precisaria de dois pontos para alcançar a média e, ao longo da conversa, tocou seu corpo de maneira abusiva. Conforme o voto do Ministro ROGÉRIO SCHIETTI, estariam preenchidos os requisitos do tipo penal, pois o professor tem certo controle das notas dos alunos, caracterizando-se a ascendência em razão da função (o número dos autos não foi informado em razão do segredo de justiça. Notícia vinculada no site do STJ).

O entendimento, porém, pode ser compreendido como interpretação extensiva da lei em prejuízo do réu, expediente proscrito em direito penal. De acordo com GUILHERME DE SOUZA NUCCI, o crime só se configura quando o constrangimento “envolver superioridade hierárquica ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Ora, o aluno não exerce emprego, cargo ou função na escola que frequenta, de modo que na relação entre professor e aluno, embora possa ser considerada de ascendência do primeiro no tocante ao segundo, não se trata de vínculo de trabalho.” (Nucci, Guilherme Souza. Código Penal Comentado. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019. p. 1182.).

tivas de urgência fixadas em amparo à vítima de violência doméstica tem o condão de permitir a valoração negativa da personalidade do réu quando da fixação de condenação pelo crime de homicídio qualificado previsto na Lei Maria da Pena.

O cálculo de apuração da quantidade de pena a ser fixada em condenações criminais está disposto no Código Penal Brasileiro em seu art. 59, sendo apenas legítima a análise negativa da personalidade do acusado na primeira fase da dosimetria quando restar comprovado que este notadamente excedeu-se na prática da conduta criminosa em apreço.

Neste sentido, a decisão de julgamento proferida pelo STJ consignou que “o descumprimento reiterado de medidas protetivas de urgência é fundamento idôneo para valorar negativamente a personalidade do agente, porquanto tal comportamento revela seu especial desrespeito e desprezo tanto pela mulher quanto pelo sistema judicial. Ademais, denota intrepidez do paciente, porquanto, não obstante a imposição judicial de proibição de aproximação da vítima, a providência foi por ele desprezada a fim de concretizar o objetivo” (HC 452.391/PR, Rel. Min. ROGERIO SCHIETTI CRUZ, 6ª Turma, DJe 04/06/2019).

VICTORIA DE BARROS E SILVA

LARISSA ROSS

"Para o STJ, o crime de assédio sexual, que se caracteri-za por ocor-rer entre superior hie-rárquico e subordinado, também se aplica à rela-ção aluno--professor."

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ESPAÇO LIVRE DOS ESTAGIÁRIOS

Os pais podem pleitear indenização por danos sofridos pelos filhos?

CAMILA MELO BATISTA

Acadêmica do 4º ano do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA)

Chama-se de dano reflexo ou em ricochete aquele cujos prejuízos extrapolam a pessoa da vítima, e acabam por atingir, de maneira indireta, as pessoas com quem esta possui vínculos. Esse tipo de dano decorre da presunção de união do núcleo familiar, onde um ato lesivo causado a um dos membros acarretaria consequências que seriam compartilhadas por todos os integrantes.

Ao julgar uma ação de indenização por danos morais, em que ao noticiar fatos sobre o autor de forma ofensiva, uma rede de televisão, além da honra do noticiado, acaba por atingir indiretamente a honra de sua esposa e filhos, o Ministro RAUL ARAÚJO decidiu que “é possível reconhecer que, no núcleo familiar formado pelo pai, mãe e filhos, o sentimento de unidade que permeia tais relações faz presumir que a agressão moral perpetrada diretamente contra um deles

repercutirá intimamente nos demais, atingindo-os em sua própria esfera íntima ao provocar-lhes dor e angústia decorrentes da exposição negativa, hu -milhante e vexatória imposta, direta ou indiretamente, a todos” (Recurso Especial nº 1119632/RJ, 4ª Turma, julgado em 15/08/2017).

Desta forma, verifica-se a possibilidade de ingresso de fa -miliares no polo ativo da de manda indenizatória em conjunto com a vítima, desde que com pro va-damente atingidos pelos efeitos do ato ilícito. O valor da referida indenização deverá ser quan-tificado levando em consi deração a ligação daquele que a pleiteia com a vítima, o sofrimento causado, e a extensão do dano por ele suportado.

Que a última lembrança seja o amor

AMANDA DE FÁTIMA DUDEQUE

Acadêmica do 4º ano do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA)

No Direito de Família há possibilidade de casamento in extremis vitae momentis, em que a solenidade é flexibilizada em razão de um dos contraentes se encontrar em iminente risco de morte.

Neste sentido, recente julgamento do TJPR (Apelação Cível nº 0023846-12.2016.8.16.0019) homologou o casamento nuncupativo, ante a precariedade do estado de saúde do nubente que se encontrava em estágio avançado de câncer. As partes, que eram divorciadas entre si, desejaram realizar o sonho de restabelecer o casamento oficialmente.

Para tanto, foi necessário cumprir os requisitos legais para este tipo de celebração, quais sejam, ocorrer na presença de seis testemunhas convocadas pelo enfermo, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, colateral, até segundo grau. Ademais, necessário demonstrar o estado de lucidez e consciência do enfermo, além da vontade livre e espontânea das partes em se casar.

Assim, atendidas as forma lidades, dentro do prazo

de dez dias, a lei impõe a neces-sidade das testemunhas decla-rarem perante a autoridade ju -dicial o ato e confirmarem se a vontade dos noivos era legítima (arts. 1.540 e 1.541 do CC). Vale ressaltar que a lei impõe o regime de separação obrigatória de bens, para que este não seja utilizado com finalidades escusas (art. 1.641, III do CC).

Dessa forma, os nubentes realizaram seu eterno amor a tempo, na mesma data do faleci -mento do noivo. A nubente entrou com pedido de homologação do casamento dentro do prazo legal previsto (10 dias), para ter a chance de ser validada a solenidade de um ato especial, e serem reconhecidos como marido e mulher. Como assim cita Caio Fernando Abreu: “Eu retribuo o sorriso. Eu correspondo ao abraço. Eu digo sim. Eu quero sim. Eu sinto sins”.

"Os nubentes realizaram seu eterno amor a tempo, na mesma data do falecimento do noivo."

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“Jurisprudência em Teses” do STJ trata do direito das coisas

Impossibilidade de proibições de viagens por ações de insolvência

Acadêmica do 4º ano do Centro Universitário Curitiba (UNICURITIBA)

Como o nome já indica, o Direito das coisas, regulado nos arts. 1196 a 1510 do Código Civil, versa sobre a regulamentação do vínculo jurídico que une as pessoas às coisas. Segundo a doutrina de MARIA HELENA DINIZ, coisas seriam todos os bens corpóreos (materiais) e incorpóreos (imateriais), como por exemplo: casa, carro, direitos autorais, direitos de crédito etc. Em suma, o conteúdo do direito das coisas compreende: a posse, os direitos reais e a propriedade literária, cientifica e artística (Lei nº 9.610/1998).

Desde 2014 existe uma ferramenta no site do STJ intitulada “Jurisprudência em Teses”, que destaca precedentes recentes do tribunal, sobre diversos entendimentos em temas específicos, escolhidos de acordo com sua relevância no âmbito jurídico. Na sua última edição, de n° 133, o tema escolhido foi “Do direito das coisas” e duas de suas teses chamam a atenção.

A primeira dá direito aos herdeiros para atuarem diretamente em juízo em ações de direito real, enquanto não aberto o inventário, por aplicação do princípio de saisine, pelo qual se estabelece que a posse dos bens do “de cujus” se transmite aos herdeiros, imediatamente, na data de sua morte, conforme o art. 1784 do Código Civil.

Já a outra tese define as condições para que o direito real de adjudicação (ato judicial que dá a alguém a posse e a propriedade de determinados bens) seja exercido pelo locatário. São elas: depósito do preço do bem e das demais despesas de transferência; formulação do pedido de adjudicação no prazo de 6 (seis) meses do registro do contrato de compra e venda do imóvel; e, por fim, seja o contrato de locação, assinado por duas testemunhas, averbado na matrícula do bem no Cartório de Registro de Imóveis, até pelo menos 30 (trinta) dias antes da referida alienação.

Acadêmico do 5º ano da Universidade Positivo

A 4ª Turma do STJ entendeu em decisão liminar que a proibição de viajar imposta por ordem judicial ao réu em ação de insolvência é incabível. O precedente evoca o enten-dimento de que a ausência de depósito como garantia real e o desinteresse por parte do devedor em minimizar os danos do credor não configuram fundamento para a restrição do direito de ir e vir.

A determinação de restrição possuía como parâmetro a possibilidade do magistrado adotar medidas necessárias para dar efetividade às ordens judiciais (art. 139, IV, do Código de Processo Civil) e a imposição ao falido do dever de não se ausentar do lugar onde se processa a falência sem justo motivo e comunicação expressa ao juiz (art. 104, III, da Lei de Recuperação e Falência).

Nada obstante, a medida configura flagrante violação ao princípio da propor-cionalidade e ao direito de locomoção do réu. Destaca-se, nesse sentido, que a restrição prevista no art. 104, da Lei de Recuperação e Falências, não é dotada de caráter de pena. Mas existe com o intuito de agilizar o processo falimentar. Deste modo, visa oportunizar a possibilidade da parte ou do represente legal prestar esclarecimentos da maneira mais breve possível.

Posto isso, entendeu a Corte que tal constrição configura um embaraço à liberdade, pois não encontra base cons-titucional ou previsão expressa. Logo, sem fundamento normativo não pode o magistrado cercear um direito em alegada defesa de outrem.

Portanto, a partir desta decisão do STJ é possível combater medidas e decisões judiciais que atentem ou privem direitos fun-damentais das partes, tais como o direito de ir e vir ou o da proporcionalidade das de -cisões.

Contudo, o mérito do Habeas Corpus nº 525378 ainda será julgado pelo STJ. A decisão é, portanto, provisória.

MARINA GUTTIERREZ SAMUEL CROZETA

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▶ Lei nº 13.867, de 26 de agosto de 2019 (DOU de 27/08/2019)

▶ Passou a permitir a utilização da mediação ou da arbitragem para definição dos valores de indenização nas desapropriações por utilidade pública. Mais informações no artigo de FERNANDA COELHO.

▶ Lei nº 13.869, de 5 de setembro de 2019 (DOU de 27/09/2019)

▶ Dispôs sobre os crimes de abuso de autoridade; alterou as Leis nºs 7.960/1989, 9.296/1996, 8.069/1990, e 8.906/1994; e revogou a Lei nº 4.898/1965 e dispositivos do Código Penal. Mais informações nos artigos de GUSTAVO SCANDELARI, FERNANDA LOVATO e EDUARDO KNESEBECK.

▶ Lei nº 13.870, de 17 de setembro de 2019 (DOU de 18/09/2019)

▶ Alterou a Lei nº 10.826/2003, para determinar que, em área rural, para fins de posse de arma de fogo, considera-se residência ou domicílio toda a extensão do respectivo imóvel.

▶ Lei nº 13.871, de 17 de setembro de 2019 (DOU de 18/09/2019)

▶ Alterou a Lei Maria da Penha, para dispor sobre a responsabilidade do agressor pelo ressarcimento dos custos relacionados aos serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) às vítimas de violência doméstica e familiar e aos dispositivos de segurança por elas utilizados. Mais informações no artigo de LUIS OTÁVIO SALES.

EXPEDIENTE

Publicação periódica de caráter informativo com circulação dirigida e gratuita.De acordo com o art. 5º, alínea “b”, do Provimento nº 94/2000 da OAB – Conselho Federal.2019. Direitos autorais reservados para Dotti e Advogados.

BOLETIM TRIMESTRAL DO ESCRITÓRIO PROFESSOR RENÉ DOTTI

Rua Marechal Deodoro, 497 | 13º andar. CEP 80020 320 | Curitiba - PRTel. 41 3306 8000. www.dotti.adv.br | [email protected]/Novembro/Dezembro 2019. Ano 14 | Número 46 Tiragem: 2.100 exemplares

Impressão e acabamento: Optagraf

Projeto gráfico e design: thapcom.com

Produção: Argumento Comunicaçã[email protected]

Jornalistas responsáveis: Joana NeitschMaria Sandra GonçalvesRaphaella Vieira Heinzen

LEGISLAÇÃO – MUDANÇAS RELEVANTES*

* Coluna sugerida pelo advogado João Carlos Almeida

▶ Lei nº 13.872, de 17 de setembro de 2019 (DOU de 18/09/2019)

▶ Estabeleceu o direito de as mães amamentarem seus filhos durante a realização de concursos públicos na administração pública direta e indireta dos Poderes da União.

▶ Lei nº 13.873, de 17 de setembro de 2019 (DOU de 18/09/2019)

▶ Incluiu o laço, bem como as respectivas expressões artísticas e esportivas, como manifestação cultural nacional, elevou essas atividades à condição de bem de natureza imaterial integrante do patrimônio cultural brasileiro e dispôs sobre as modalidades esportivas equestres tradicionais e sobre a proteção ao bem-estar animal.

▶ Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019 (DOU de 20/09/2019)

▶ Instituiu a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica e estabeleceu normas de proteção à livre iniciativa e ao livre exercício de atividade econômica. Mais informações no artigo de FRANCISCO ZARDO.

▶ Lei nº 13.880, de 8 de outubro de 2019 (DOU de 09/10/2019)

▶ Alterou a Lei Maria da Penha, para prever a apreensão de arma de fogo sob posse de agressor em casos de violência doméstica, na forma em que especifica.

▶ Lei nº 13.882, de 8 de outubro de 2019 (DOU de 09/10/2019)

▶ Alterou a Lei Maria da Penha, para garantir a matrícula dos dependentes da mulher vítima de violência doméstica e familiar em instituição de educação básica mais próxima de seu domicílio.