legitimidade e vantagens das empresas offshore
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Legitimidade e vantagens das
empresas offshore
I – INTRODUÇÃO
O objetivo deste artigo é esclarecer o conceito, características e
facilidades, objetivos e vantagens das offshore, de modo a afastar os
pré-conceitos e a ideia de sua associação com a prática de ilícitos
tributários e financeiros.
Nos últimos tempos a imprensa tem divulgado muitas notícias sobre as
empresas offshore, principalmente em razão de escândalos envolvendo
políticos e grandes empresários que se utilizam desse tipo de sociedade
para cometer atos ilícitos, como desvio de dinheiro público, lavagem de
dinheiro, sonegação de tributos, entre outros.
Diante desta repercussão negativa, as empresas offshore são
frequentemente associadas com a prática de ilegalidades.
Todavia, generalizar o desvirtuamento dessas empresas pode refletir
numa visão equivocada sobre sua legitimidade e legalidade, uma vez
que dentro dos ditames da lei, as empresas offshore conferem diversos
benefícios aos empresários, como se verá adiante.
Quando utilizadas sem desvio de finalidade, as empresas offshore
revestem-se da mais estrita legalidade e legitimidade, podendo ser
instrumentos para aumentar a proteção patrimonial de empresários,
permitir o gozo de benefícios tributários, além de facilitar o acesso a
créditos internacionais e propiciar a expansão de empresas brasileiras no
exterior.
Em que pese as offshore ganharem repercussão popular por conta de
escândalos públicos noticiados na imprensa, esse tipo de empresa é
usualmente utilizada por grandes, médios e pequenos empresários,
cidadãos em geral, inclusive membros do Poder Judiciário, e até mesmo
pela União Federal[1], através de Sociedades de Economia Mista, como a
Petrobras, por exemplo, que possui uma offshore na Holanda e a utiliza
para realizar operações no Brasil.
II - CONCEITO
As offshore são assim denominadas, pois são autorizadas por
determinados países a constituírem suas sedes dentro de seus
territórios, mas só podem operar e/ou via de regra adquirir
patrimônio[2] (principalmente bens imóveis) fora do país onde são
sediadas, apesar de se submeterem ao regime jurídico e leis do país de
sua sede.
Como será exposto a seguir, as offshore são empresas sujeitas a um
regime jurídico diferenciado e gozam de alguns benefícios e facilidades,
que serão melhor detalhados a seguir.
III – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS E FACILIDADES
As offshore possuem características particulares que somadas tornam-se
um grande atrativo aos interessados,
proporcionando facilidades em
diversos aspectos, tais como
benefícios fiscais, pouca burocracia
(agilidade) para sua constituição e
operação, além de garantir o sigilo
de informações.
A grande maioria dos países que permitem a constituição das offshore
são considerados pelo governo brasileiro paraísos fiscais (sistema de
tributação favorecida e regimes fiscais privilegiados) ou com regimes
fiscais privilegiados, como é o caso do Uruguai, Estados Unidos da
América, Holanda, dentre outros[3], cujos reflexos serão melhor
detalhados no tópico seguinte.
Outra grande atratividade é a ausência de burocracia para a constituição
das offshore, que podem ser criadas em curto prazo[4] se comparado com
empresas sujeitas aos regimes “tradicionais” nos países que não
preveem as offshore em seus ordenamentos, como o Brasil, por
exemplo, cujo prazo médio para a constituição formal de uma empresa
varia entre 45 a 60 dias, sem contar o prazo para obtenção de alvarás e
licenças, necessários para iniciar a operação de uma empresa.
Além disso, o sigilo das informações empresariais, financeiras, bancárias
e pessoais dos sócios e diretores das offshore são suas principais e mais
importantes características, pois nos países que sediam as offshore o
acesso às informações das empresas e seus sócios/diretores é restrito
às partes, só podendo ser divulgadas a terceiros mediante ordem
judicial[5].
Isso porque, as regras e cláusulas das offshore que regulam os direitos e
obrigações da empresa e sócios são formalizadas no Contrato/Estatuto
Social, que é um instrumento particular e não é levado a registro em
órgãos públicos, diferentemente do Brasil, por exemplo, em que os
registros de atos societários das empresas (para terem efeitos perante
terceiros) devem ser arquivados nas Juntas Comercias ou em Cartórios
de Registros de Pessoas Jurídicas, com acesso público e indiscriminado.
IV – OBJETIVOS E VANTAGENS
Graças às suas particularidades e características, as offshore podem ser
utilizadas e destinadas a diversos objetivos, dentre os quais se destaca:
Proteção patrimonial
A proteção patrimonial tem sido nos últimos anos fator de extrema
atenção dos empresários brasileiros, isso porque, a política pública
adotada pelo governo deixa os empresários totalmente desprotegidos e à
mercê de atos administrativos (principalmente do fisco) e decisões
judiciais que, com todo o respeito, estão cada vez mais descabidas e
conflitantes umas com as outras, gerando grave insegurança jurídica e
empresarial.
Ressalta-se que pelo fato das offshore serem pessoas jurídicas, detém
personalidade jurídica distinta da de seus sócios, mas o acesso às
informações da empresa é sigilosa e restrita às partes, conforme já
mencionado anteriormente.
Além disso, as legislações da grande maioria dos países que sediam as
offshore permitem a nomeação de terceiros, normalmente cidadãos
locais, como titulares das quotas/ações das offshore, mas sem nenhum
poder de gestão ou direito de propriedade sobre os bens e patrimônio da
empresa, cujos direitos são integralmente cedidos aos diretores e
procuradores, normalmente os empresários estrangeiros que são
nomeados por instrumentos particulares aos referidos cargos com
poderes ilimitados e irrestritos.
Obtenção de vantagens tributárias em paraísos fiscais ou países com regimes
fiscais privilegiados (tributação reduzida)
Pelo fato da maioria dos países que sediam
as offshore serem considerados pela
Receita Federal do Brasil “paraísos fiscais”
ou com regimes fiscais privilegiados, há
diversas vantagens tributárias se
comparadas a países com tributação
“normal” como o Brasil, por exemplo.
Isso porque a tributação sobre a renda e patrimônio nos paraísos fiscais
e países com regime fiscal privilegiado é bem reduzida e muitas vezes
até mesmo inexistente, sem falar nos demais “atrativos” relacionados a
fiscalização reduzida, baixo controle alfandegário e fiscal, poucas
burocracias internas, dentre outros.
Diante do relevante atrativo fiscal proporcionado pelos paraísos fiscais e
países com regime fiscal privilegiado, a Receita Federal do Brasil vem
criando travas e obstáculos para combater e dificultar o uso das offshore
tendo como principal objetivo a obtenção de benefícios tributários.
Exemplo recente dessa atuação é a Medida Provisória nº 627, publicada
em 11 de novembro de 2013[7], que criou, dentre outros, regra instituindo
elevada tributação sobre os lucros apurados no exterior envolvendo
participações e sociedades constituídas em paraísos fiscais.
Facilitação para “internacionalização” de empresas
Outro objetivo relevante das offshore que é pouco divulgado na mídia,
mas é muito visada por empresários brasileiros que querem expandir
seus negócios no exterior é a facilidade que as offshore proporcionam à
internacionalização de empresas.
Assim como no Brasil, muitos países também exigem excessivas
burocracias para a constituição de empresas[8], que acabam resultando
em elevados custos e extrema morosidade para sua constituição, o que
acaba sendo um ponto relevante na hora de se decidir sobre a expansão
internacional de uma empresa.
Atentos a essas questões, diversos empresários brasileiros (dentre eles
fundadores de grandes empresas nacionais) têm se aproveitado de
estruturas offshore para tornar suas empresas multinacionais.
Facilitação de acesso a créditos (capital) internacionais
Diretamente ligada à facilitação para “internacionalização” de empresas,
as offshore também proporcionam acesso facilitado a créditos
internacionais, ponto extremamente relevante na expansão e
internacionalização das empresas, já que a política do governo brasileiro
cria diversos entraves burocráticos e onera excessivamente as
operações financeiras do Brasil para o exterior.
Além disso, as questões econômicas e cambiais do Brasil, em razão da
oscilação do mercado e economia internacional, também afetam os
investimentos no exterior, já que gera reflexos diretos no câmbio e
valorização/desvalorização da moeda brasileira em relação a moedas
estrangeiras e impactam diretamente nos negócios, principalmente para
quem mantém operações internacionais.
Ademais, ressalta-se que a maioria dos países que sediam as offshore
são paraísos fiscais ou com regime fiscal diferenciado e em contrapartida
propiciam acesso facilitado a créditos perante instituições internacionais
em razão da agilidade na constituição, pouca burocracia exigida, baixo
custo para a movimentação financeira, política econômica e cambial
estável (via de regra), além da baixa/inexistente tributação nas
operações, o que, ressalte-se novamente, gozam da mais estrita
legalidade, desde que utilizadas para fins lícitos e respeitem as
legislações aplicáveis.
Como visto, as offshore podem ser utilizadas para objetivos diversos,
tendo um conjunto de facilidades e incentivos que as tornam cada vez
mais atrativas, principalmente para os empresários brasileiros que são
obrigados a conviver com dificuldades e óbices diários para conseguirem
manter suas empresas operando e com lucro.
O aumento da procura pelas offshore ocorre também em razão da
globalização econômica mundial e principalmente pela política pública de
“(des)incentivo” aos empresários e empreendedores brasileiros, que são
cada vez mais obrigados a reduzir os investimentos na expansão dos
negócios e destinar os recursos para manter estruturas administrativas
cada vez maiores e mais caras para atender todas as exigências
burocráticas impostas pelo governo[9], sem falar na alta carga tributária
incidente sobre a atividade empresarial que muitas vezes são tão
elevadas que inviabilizam a continuidade negócios.
Além disso, o fato dos empresários brasileiros serem cada vez mais
responsabilizados e penalizados pessoalmente, inclusive com seus
patrimônios, por atos praticados na função empresarial, faz com que
aumente a demanda e procura pelas offshore, em razão da proteção e
facilidades que elas oferecem.