legislação aplicada ao sus

Upload: tacy-nascimento

Post on 15-Oct-2015

127 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 1

    1 EVOLUO HISTRICA DA ORGANIZAO DO SISTEMA DE SADE NO BRASIL E A CONSTRU-

    O DO SISTEMA NICO DE SADE (SUS) PRINCPIOS, DIRETRIZES E ARCABOUO LEGAL.

    SADE NO BRASIL: TRAJETRIAS DE UMA POLTICA ASSISTENCIAL

    ngelo Giuseppe Roncalli da Costa Oliveira Elizabethe Cristina Fagundes de Souza

    Introduo "A sade um direito de todos e um dever do Estado". Esta frase, cu-

    nhada na atual Constituio Brasileira (1988) pode ser considerada como a representao de uma das maiores conquistas da sociedade brasileira no campo das polticas sociais.

    Mas por que, somente em 1988 este direito foi conquistado? Por que a

    sade deve ser direito de todos? Por que o Estado tem que suprir seus cidados com assistncia sade? E, mais ainda, por que isto no est acontecendo no Brasil?

    Como sabemos, a sade do brasileiro vai mal, e aliado a isso, um sem

    nmero de indicadores sociais coloca o Brasil numa das mais vergonhosas posies no cenrio mundial. Ocupamos h vrios anos o posto de nmero um do mundo em pior distribuio de renda, ou seja, o fosso entre os muito ricos e os muito pobres cada dia maior. Convivemos com doenas h muito erradicadas em outras naes, temos uma taxa de analfabetismo altssima (cerca de 28 milhes de pessoas no sabem ler), mais de dois teros da populao no dispe de renda suficiente para assegurar o acesso a condies dignas de vida. Sessenta em cada mil crianas que nascem, morrem antes de completar um ano de vida e perto de trinta e dois milhes de brasileiros passam fome.

    Inmeras razes podem ser apontadas como causas deste quadro as

    quais, em sua maioria tm sua discusso mais aprofundada situada alm dos limites deste texto. fato, contudo, que as condies de sade de uma populao so um reflexo de como so estabelecidas as relaes entre o Estado e a sociedade. Uma das formas de expresso dessa relao Esta-do-sociedade so as Polticas Sociais, nas quais esto includas as Polti-cas de Sade.

    Neste sentido, para que seja possvel compreender o quadro atual da

    sade no Brasil, torna-se necessrio definir todos estes termos, bem como nos remetermos s determinaes histricas de todo esse processo.

    O ESTADO E AS POLTICAS SOCIAIS Numa definio bastante simples, o Estado pode ser considerado como

    a expresso maior de organizao poltica da sociedade. O Estado surge, pois, como um aperfeioamento da relao entre as pessoas de uma sociedade. No sinnimo de governo, como comumente confundido, mas compreende todas as formas de gerncia e de controle da sociedade, a includos os conceitos de territrio, instituies e, tambm, o prprio governo. Este, por seu turno, compreende um conjunto coordenado de pessoas que controlam os cargos de deciso poltica e do a direo principal ao Estado num momento determinado.

    Em princpio, o Estado existe para promover o bem comum, ou seja,

    desde que as primeiras pessoas se organizaram em comunidades e defini-ram uma srie de regras de convivncia, tinham em mente este princpio norteador. Hoje as formas de organizao social esto bem mais comple-xas e o Estado, na forma como o conhecemos hoje, relativamente novo: o chamado Estado Moderno surgiu somente no sculo XVIII.

    Com a expanso do modo de produo capitalista, as sociedades se

    organizaram em basicamente dois grupos: os patres e os trabalhadores (empregados), estes, detentores da fora de trabalho e aqueles propriet-

    rios dos meios de produo. Nesta forma de organizao da produo, o indivduo sobrevive atravs de um emprego e a prpria forma de vida o impede de cuidar dos velhos e doentes, pois deve trabalhar para viver.

    Assim, o princpio da prestao de assistncia aos menos favorecidos,

    pelo Estado, o da solidariedade. como se a sociedade fosse uma grande famlia onde todos colaboram mutuamente e quem pode mais ajuda a quem pode menos. fcil identificar este princpio numa das formas de assistncia mais comuns do Estado: a Previdncia Social. Este sistema organizado em nome da solidariedade social, ou seja, os jovens aparecem contribuindo para a aposentadoria dos velhos, para o tratamento dos doen-tes, os empregados para os desempregados, os ativos para os inativos e assim por diante.

    Desta forma, a partir dos princpios de colaborao, proteo social,

    harmonia e paz social, foram delineadas as diversas formas de relao entre o Estado e os seus cidados. A magnitude da oferta de benefcios populao varia, pois, de acordo com a forma como o Estado organizado poltica e economicamente. Algumas formas de organizao de corte mais liberal (os Estados Unidos so um exemplo) defendem que o Estado deve restringir sua ao aos mais carentes. No caso da sade, os servios gratuitos so restritos apenas aos velhos e pobres e a grande maioria paga pela prestao de servios de sade. Na maioria dos pases capitalistas europeus, contudo, o princpio o da igualdade e no da solidariedade. Assim o Estado dispe de uma poltica de seguridade social que garante servios e benefcios ao cidado desde o nascimento at sua morte. Este "acesso geral" educao, sade e justia, existente na Europa, decorre de direitos estabelecidos e se justifica em nome da cidadania. "O cidado um sujeito de direitos sociais que tem igualdade de tratamento perante as polticas sociais existentes". Este tipo de organizao estatal, no mbito das polticas sociais, conhecido com Welfare State ou Estado de Bem -Estar Social.

    Uma vez que a sade pode ser considerada como uma das formas de

    expresso das polticas sociais e tendo em vista que essas polticas podem ser encaradas de diferentes formas nas vrias organizaes sociais, conveniente discutir: a sade , portanto, um dever do Estado e um direito do cidado?

    preciso, primeiramente, definir o que direito sade. A noo des-

    se direito vem sendo difundida j h algum tempo como um componente da doutrina dos direitos humanos. Isto quer dizer que "todo indivduo, indepen-dente da cor, situao scio-econmica, religio e credo poltico, deve ter sua sade preservada". Deste modo, torna-se necessrio um esforo social "visando a mobilizao dos recursos necessrios para promoo, proteo, recuperao e reabilitao da sade". Num raciocnio simplista, a sade no pode ser colocada no mesmo plano de quaisquer outras formas de direito, uma vez que uma condio de sobrevivncia e manuteno da espcie. A sociedade e, portanto, suas formas de gerncia e controle como o Estado, tem a obrigao de preservar a sade de todos.

    Contudo, importante no confundir direito sade com direito as-

    sistncia sade. Como sabemos, a sade resultante das condies objetivas de existncia, ou seja, resulta das condies de vida biolgica social e cultural e, particularmente, das relaes que os homens estabele-cem entre si e com a natureza, atravs do trabalho. A sade, portanto, deve ser mantida atravs de mecanismos que incrementem a qualidade da vida, e no somente da assistncia. Isso exige uma articulao de todos os setores sociais e econmicos e, desta forma, o direito sade no seria o pressuposto que apenas nortearia as polticas setoriais de sade, mas seria "um elo integrador que teria de permear todas as polticas sociais do Estado e balizar a elaborao e a implementao das polticas econmicas". Isto significa uma ao articulada com todo o conjunto de polticas sociais mais amplas como as relativas ao emprego, moradia, saneamento, alimentao, educao etc.

    Este raciocnio, todavia, no visa diminuir a importncia das polticas

    de assistncia sade, muito pelo contrrio. Os servios de sade tm uma grande responsabilidade na manuteno da sade dos cidados e a defesa de um servio que seja igualitrio, eficaz e resolutivo deve fazer parte da defesa pela democracia.

    ApostilasBrasil.com

  • 2Neste captulo, portanto, discutiremos, principalmente, como se deu, historicamente, a implementao das polticas de assistncia sade no Brasil. Tal conhecimento fundamental para compreendermos o estado atual em que se encontra a prestao de servios de sade no pas. No pretendemos, contudo, e nem seria possvel, esgotar o assunto, mas ape-nas apresentar algumas noes a respeito do tema que deve ser aprofun-dado a partir da literatura recomendada no final do captulo.

    POLTICAS DE SADE NO BRASIL At fins do sculo passado, o Estado brasileiro no tinha uma forma de

    atuao sistemtica sobre a sade de seus habitantes; apenas esporadi-camente atuava de forma pontual em situaes de epidemias.

    A economia brasileira na virada do sculo era essencialmente agrcola

    e as divisas necessrias para o crescimento do pas advinham principal-mente da exportao de produtos da agricultura, em especial a cafeeira e a aucareira.

    Assim, o foco da ateno do governo brasileiro se situava, estrategi-

    camente, nos chamados "espaos de circulao de mercadorias", ou seja, as estradas e os portos, principalmente os do Rio de Janeiro e de Santos. Alm disso, era importante para o Estado criar condies para incrementar a poltica de imigrao, incentivando a incorporao de mo-de-obra imi-grante para as culturas cafeeiras. Nesse sentido foram tomadas as primei-ras providncias pelo ento presidente Rodrigues Alves que, em 1902, lana o programa de saneamento do Rio de Janeiro e o combate febre amarela urbana em So Paulo.

    Portanto, as primeiras iniciativas do governo no campo da ateno

    sade se do a partir de interesses puramente mercantis. As regies que no tinham importncia estratgica para a economia do pas ficavam resig-nadas prpria sorte em termos de prticas sanitrias. No se pode dizer, ento, que essa altura se tinha uma poltica nacional de sade pblica, com objetivos claros de melhorar as condies de vida da populao.

    O primeiro marco da atuao do governo federal na sade se deu so-

    mente em 1923 com a criao do Departamento Nacional de Sade Pbli-ca. Foram ento definidas as reas de atuao do governo na sade: o saneamento urbano e rural, a propaganda sanitria, as higienes infantil, industrial e profissional, as atividades de superviso e fiscalizao, a sade dos portos e o combate s endemias rurais.

    Estas eram aes que se davam no campo coletivo, ou seja, as cha-

    madas aes de sade pblica. No campo da assistncia individual, ainda inexistiam prticas de assistncia sade e a ateno mdica e odontol-gica ainda era essencialmente liberal, ou seja, financiada pelos prprios indivduos.

    Contudo, ainda em 1923, com a Lei Eli Chaves, criado o primeiro

    embrio do que hoje conhecemos como previdncia social: as Caixas de Aposentadorias e Penses (CAPs). As CAPs eram organizadas por empre-sas e mantidas e geridas pelos patres e empregados. Seu surgimento obedeceu tambm mesma lgica: as empresas que eram estratgicas para a economia nacional fundaram suas caixas. As primeiras foram as dos trabalhadores das companhias de via frrea e porturios. Funcionavam como uma espcie de seguro social (tem direito aquele que paga contribui-o) que garantiria certos benefcios como a aposentadoria e, principalmen-te a assistncia mdica. Como tinham carter privado, ou seja, eram manti-das por empresas, ainda no se configuravam como iniciativas do Estado, muito embora os presidentes das Caixas fossem nomeados pelo Presidente da Repblica e houvesse um interesse claro do governo na manuteno deste sistema.

    Entretanto, com o crescimento das CAPs (em 1930 j existiam 47 de-

    las, cobrindo mais de 140 mil associados), so criados os Institutos de Aposentadorias e Penses (IAPs), onde a participao do Estado j se d de forma mais clara. A contribuio passa a ser tripartite, entrando o Estado como contribuinte. Os IAPs passam a se organizar por categorias e o primeiro a surgir o dos martimos (IAPM) em 1933, seguido dos comerci-rios e dos bancrios em 1934. Enquanto as CAPs privilegiavam a assistn-cia mdica como um dos principais benefcios, os IAPs, j com a participa-o do governo e, portanto, com uma poltica mais contencionista, privilegi-

    am a previdncia social, mantendo a assistncia mdica num segundo plano.

    Em resumo, o que se observa, nos primrdios da ao governamental

    na sade, no Brasil, que as aes de carter coletivo, como imunizao, controle de epidemias e saneamento se do no campo da sade pblica, com uma vinculao clara com a conjuntura econmica vigente. As aes de assistncia sade a nvel individual comearam a partir da estrutura-o da previdncia social, vinculando a assistncia mdica ao princpio do seguro social e colocando-a no mesmo plano de benefcios como as apo-sentadorias, penses por invalidez etc. Este um aspecto extremamente importante, pois foi a partir desse modelo de prestao de servios de sade que se chegou ao quadro catico que hoje temos na sade.

    O que se observou a partir da criao dos IAPs, foi uma crescente cen-

    tralizao das aes de sade no mbito federal. Era de interesse do governo criar um sistema de seguro social que garantisse a integridade do novo foco de ateno das aes do governo: o corpo do trabalhador. Expli-ca-se: com o crescimento da industrializao, o modelo agro-exportador passa a no ser mais hegemnico, deslocando-se a necessidade de sanear os espaos de circulao de mercadorias para a atuao sobre o corpo do trabalhador, a fim de manter e restaurar sua capacidade produtiva. A con-juntura poltica da poca se caracterizava pelo Estado populista, onde diversas outras medidas foram tomadas, dentro das polticas sociais, no sentido mais de cooptar as categorias de trabalhadores que, a cada dia, avanavam em sua organizao, e menos de responder aos problemas estruturais de vida daqueles trabalhadores. criada, ento, durante o governo Vargas, a legislao trabalhista, a montagem do sistema previden-cirio, a regulao das relaes sindicais etc.

    A medida que este sistema crescia, tornava-se cada vez mais centrali-

    zado no Estado e ficava mais clara a dicotomia entre as aes de sade pblica e a assistncia mdica. Como discutido anteriormente, a institucio-nalizao das aes de sade pblica se deu na forma de uma centraliza-o crescente em torno do governo, sendo este modelo predominante at 1960 e permanecendo praticamente inalterado at os dias atuais. A partir do final da dcada de 50, a Medicina Previdenciria, torna-se cada vez mais importante para o Estado, conquistando espao e assumindo sua predominncia em meados dos anos 60 quando se d a unificao de todos os Institutos de Aposentadorias e Penses (IAPs) numa nica institui-o estatal: o Instituto Nacional de Previdncia Social (INPS).

    A criao do INPS consolidou o modelo brasileiro de seguro social e de

    prestao de servios mdicos. O direito assistncia sade no era uma condio de cidadania, mas uma prerrogativa dos trabalhadores que tinham carteira assinada e, portanto, contribuam com a previdncia.

    Com o advento do regime militar aps 1964, uma gigantesca estrutura

    foi criada em torno da Previdncia Social, com uma clara vinculao com os interesses do capital nacional e estrangeiro. O Estado passa a ser o grande gerenciador do sistema de seguro social, na medida que aumentou seu poder em duas frentes: econmica e poltica. No primeiro caso, a partir do aumento das alquotas de contribuio, o que aumentou consideravelmente os recursos financeiros disponveis. No campo poltico, abolida a partici-pao dos usurios na gesto da previdncia social (que existia na poca das CAPs e dos IAPs), aumentando ainda mais o controle governamental.

    estabelecido, ento, o que ficou conhecido como "complexo previ-

    dencirio", que era composto de trs sistemas: o sistema prprio, formado pela rede de hospitais e unidades de sade de propriedade da Previdncia Social, alm dos recursos humanos assalariados pelo Estado e o sistema contratado, que era subdividido no sistema contratado credenciado (com sistema de pagamento por unidades de servio) e no sistema contratado conveniado (sistema de pr-pagamento).

    O modelo de prestao de servios de sade pelo INPS privilegiava a

    forma conveniada, ou seja, o governo comprava os servios de assistncia mdica s grandes corporaes mdicas privadas, principalmente hospitais e multinacionais fabricantes de medicamentos. Era um excelente negcio. O Estado tinha renda garantida, uma vez que a contribuio previdenciria era obrigatria - tanto que estimulava cada vez mais a expanso das con-tribuies atravs do incentivo prtica do trabalho assalariado - e passou

    ApostilasBrasil.com

  • 3a ser o grande comprador de servios de sade s empresas mdicas, expandindo o capital privado na rea de sade.

    Em 1977 criado o Sistema Nacional de Previdncia e Assistncia So-

    cial (SINPAS) onde as aes relativas previdncia e a assistncia mdica ficam divididas. O SINPAS , ento, formado pelo IAPAS (Instituto de Administrao Financeira da Previdncia Social), que, como o prprio nome indica, cuidava da parte financeira da Previdncia, e pelo INAMPS (Instituto Nacional de Assistncia Mdica da Previdncia Social), responsvel pela assistncia mdica. O INAMPS passa, ento, a ser o grande catalisador das aes de assistncia mdica no Brasil, continuando com a mesma poltica de privilegiamento do setor privado. Passa a ser difundido o discur-so de que o aumento dos servios atravs de convnios , tecnicamente, a alternativa mais correta.

    Em sntese, apesar de ser uma ao com caractersticas de uma assis-

    tncia sade estatal, tratava-se de uma crescente privatizao do setor sade. A participao do setor privado na assistncia mdica, atravs dos convnios e credenciamentos, tornava-se cada dia maior, com o governo investindo cada vez menos em sua rede prpria. No incio da dcada de 80, por exemplo, cerca de 70% das verbas destinadas assistncia mdica ia para as mos dos empresrios da sade, e o INAMPS chegou a comprar, naquela mesma poca, 300 mil leitos a hospitais particulares e disponibili-zar apenas 7.800 de sua rede prpria.

    Este modelo de prestao de servios era extremamente perverso. A-

    lm de excludente - pois s tinha acesso ao servio quem contribua com a previdncia - possua caractersticas em sua prtica que no guardavam nenhum compromisso com a melhoria dos nveis de sade da populao. Era um tipo de prtica mdica essencialmente curativista, centrada na tcnica, privilegiando as aes de maior sofisticao tecnolgica. Isto acontecia por motivos bvios: esse tipo de prtica mdica, apesar de limita-do na reduo dos ndices de morbi-mortalidade da populao, gerava maiores lucros. Alm disso era um tipo de servio que, pelo fato de ser uma produo privada de servios, paga pelo Estado atravs da Previdncia, criava um estmulo corrupo. Ficaram bastante conhecidos, na dcada de 70, os famosos escndalos da Previdncia Social, onde hospitais priva-dos consumiam o dinheiro do contribuinte com procedimentos e pacientes fantasmas.

    A partir do incio da dcada de 80, este sistema comea a mostrar si-

    nais de esgotamento. As interminveis filas, baixos salrios, precrias condies de trabalho, geravam uma insatisfao crescente da populao com a qualidade da assistncia. A m-gerncia dos recursos, aliada aos episdios cada vez mais crescentes de corrupo, levaram a Previdncia a um colapso. Como fator agravante, essa poca a previdncia comea a "envelhecer" e a fase de captao de recursos comea a dar lugar a uma fase de maiores gastos. Ou seja, durante os primeiros anos de sua existn-cia, a Previdncia Social apenas recebeu contribuies que proporcionaram um volume de recursos e um patrimnio considerveis. Com o aparecimen-to das primeiras aposentadorias e penses, a Previdncia passa a ter que gastar um dinheiro que no mais tem.

    importante ressaltar, tambm, que este sistema j era por demais cri-

    ticado. Tais crticas no vieram tona na ocasio, pois, durante o perodo mais repressor do regime militar, at fins dos anos 70, o sistema foi mantido fora. As lideranas sindicais haviam sido praticamente extintas essa poca e a participao dos trabalhadores nas discusses sobre o sistema de prestao de servios mdicos inexistia.

    Com a abertura poltica, a partir do incio dos anos 80, vo se reestrutu-

    rando os movimentos em defesa de uma poltica de sade mais abrangen-te, democrtica e disponvel para todos. Esse movimento, que surgiu a partir de discusses acadmicas sobre as polticas de sade e da reestrutu-rao das organizaes de trabalhadores da sade, ficou conhecido como Movimento Sanitrio e teve uma atuao marcante nos destinos do sistema de sade brasileiro.

    O MOVIMENTO PELA REFORMA SANITRIA O Movimento pela Reforma Sanitria teve suas razes em profissionais

    da sade que, de posse de diversos estudos feitos por intelectuais ligados rea de sade, passaram a criticar o modelo vigente e propor alternativas

    para a sua reestruturao. medida que o processo de abertura poltica se ampliava, com a oposio tendo vitrias significativas nas eleies parla-mentares, o movimento foi se ampliando e a ele foram se incorporando lideranas polticas, sindicais e populares, bem como parlamentares inte-ressados na causa.

    O primeiro marco desse movimento se deu em 1979, no I Simpsio

    Nacional de Poltica de Sade, realizado pela comisso de sade da Cma-ra dos Deputados. Na ocasio, o Centro Brasileiro de Estudos de Sade (CEBES) era o legtimo representante do movimento sanitrio e apresentou e discutiu publicamente, pela primeira vez, uma proposta de reorganizao do sistema de sade. Essa proposta, que j se chamava, na poca, de Sistema nico de Sade, contemplava diversos conceitos oriundos de experincias bem sucedidas em outros pases, como a universalizao do direito sade, racionalizao e integralidade das aes, democratizao e participao popular, bem como algumas experincias de ateno primria e de extenso de cobertura desenvolvidas no pas, como o Programa de Interiorizao das Aes de Sade e Sanemaneto (PIASS) que foram implementadas em reas rurais do Nordeste e o Projeto Montes Claros em Minas Gerais.

    Num primeiro momento, as propostas foram ignoradas pelo Governo,

    mas aos poucos o movimento foi crescendo, legitimado pelos movimentos populares e pela atuao de seus militantes a nvel parlamentar e em algumas instituies de sade.

    Com o agravamento da crise do sistema de sade previdencirio, as i-

    niciativas de extenso de cobertura assistencial a nvel estadual e municipal so reforadas pelo discurso oficial. O prprio governo elaborou seu plano de reorganizao da assistncia sade, que possua caractersticas muito semelhantes ao projeto da Reforma Sanitria, pois previa a implantao de uma rede de servios bsicos, apontava para a descentralizao do setor, pregava a participao popular e a integrao dos Ministrios da Sade e da Previdncia. Esse projeto, discutido em 1980, chamou-se PREV-SADE, sofreu muitas presses e no saiu da gaveta.

    Enfim, havia um reconhecimento da falncia e, sobretudo, da obsoles-

    cncia do sistema de sade tambm por parte de alguns tcnicos do go-verno. Ocorre que os anos anteriores de absoluta anuncia do governo com o capital privado criou uma rede de influncias que no era fcil quebrar. As grandes corporaes e associaes mdicas, particularmente a Federao Brasileira de Hospitais (FBH) ainda defendiam com unhas e dentes o modelo que tantos lucros lhe geravam.

    Mesmo assim, algumas conquistas foram sendo obtidas paulatinamen-

    te. Com a criao do CONASP (Conselho Consultivo da Administrao de Sade Previdenciria), em 1981, foi elaborado o Plano de Reorientao da Assistncia Sade no mbito da Previdncia Social, conhecido como Plano CONASP, que incorporava diversas propostas da Reforma Sanitria. A efetivao desse plano se deu, estrategicamente a partir das Aes Integradas de Sade (AIS), que se constituram na primeira experincia de um sistema mais articulado e integrado. As AIS propiciaram o surgimento das Comisses Inter-institucionais de Sade (CIS), os embries dos atuais Conselhos de Sade e foram a base para a implantao, mais tarde, do Sistema Unificado e Descentralizado de Sade (SUDS), a primeira aproxi-mao estratgica para Sistema nico de Sade (SUS).

    Essa sucesso de planos, siglas, propostas frustradas, caracterizaram

    a efervescncia da produo intelectual do movimento sanitrio brasileiro. Era preciso por em prtica todos esses conceitos que, apenas timidamente, com iniciativas isoladas, ainda no impactavam sobre a sade do pas.

    O momento poltico era propcio, com o advento da Nova Repblica e a

    redemocratizao do pas aps o fim do regime militar. Em 1985, aps a eleio de Tancredo Neves/Sarney, os movimentos sociais se intensificam e uma maior discusso foi possvel sobre os novos rumos que deveria tomar o sistema de sade. Com a previso da eleio da Assembleia Nacional Constituinte, que se encarregaria da elaborao da nova Constitu-io Brasileira, convocada a 8a Conferncia Nacional de Sade, para discutir a nova proposta de estrutura e de poltica de sade para o pas.

    ApostilasBrasil.com

  • 4A 8A CONFERNCIA NACIONAL DE SADE E A NOVA CONSTITU-IO BRASILEIRA

    A Oitava Conferncia , hoje, considerada como um divisor de guas no Movimento Sanitrio. Com uma ampla participao (cerca de 5.000 pessoas entre trabalhadores da sade, usurios, tcnicos, polticos, lide-ranas sindicais e populares), a 8a Conferncia se constituiu no maior frum de debates sobre a situao de sade do pas e seu relatrio serviu de base para a proposta de restruturao do sistema de sade brasileiro que deveria ser defendida na Constituinte.

    Entre as propostas constantes no relatrio constam o conceito amplia-

    do de sade, onde esta entendida como resultante das condies de vida, alimentao, lazer, acesso e posse da terra, transporte, emprego, moradia. De acordo com o relatrio, "a sade no um conceito abstrato. Define-se no contexto histrico de determinada sociedade e num dado momento de seu desenvolvimento, devendo ser conquistada pela populao em suas lutas cotidianas" (grifo nosso). Alm disso, a sade colocada como direito de todos e dever do Estado.

    A concretizao das propostas da Reforma Sanitria se d, no plano

    jurdico e institucional, na implementao do Sistema nico de Sade, o SUS. Com a aprovao da nova Constituio Brasileira em 1988, foi inclu-do, pela primeira vez, uma seo sobre a Sade, a qual incorporou em grande parte, os conceitos e propostas contemplados no Relatrio da 8a Conferncia, ou seja, a Constituio incorporou as propostas da Reforma Sanitria. A Constituio Brasileira passou a ser, ento, considerada como uma das mais avanadas do mundo no que diz respeito sade.

    SISTEMA NICO DE SADE - PRINCPIOS E DIRETRIZES

    O SISTEMA NICO DE SADE - SUS comum, no entanto, se terem notcias muito ruins sobre o SUS, atu-

    almente. Os meios de comunicao, frequentemente, veiculam notcias aterradoras sobre a ineficincia do sistema, grandes filas, corredores lota-dos, hospitais sucateados, profissionais mal-remunerados. Por que, ento, isso ocorre? Por que o SUS ainda no conseguiu ser implantado em sua plenitude? Em primeiro lugar, preciso conhecer os princpios deste siste-ma que esto contemplados na lei. O sanitarista Eleutrio Rodrigues Neto explica como deve ser o SUS:

    "Primeiramente, o SUS um sistema, ou seja, formado por vrias instituies dos trs nveis de governo (Unio, Estados e Municpios) e pelo setor privado contratado e conveniado, como se fosse um mesmo corpo. Assim, o servio privado, quando contratado pelo SUS, deve atuar como se fosse pblico, usando as mesmas normas do servio pblico.

    Depois, nico, isto tem a mesma doutrina e a mesma filosofia de

    atuao em todo o territrio nacional e organizado de acordo com uma mesma sistemtica.

    Alm disso, o SUS tem as seguintes caractersticas principais: Deve atender a todos, de acordo com suas necessidades, inde-

    pendentemente de que a pessoa pague ou no Previdncia So-cial e sem cobrar nada pelo atendimento.

    Deve atuar de maneira integral, isto , no deve ver a pessoa como um amontoado de partes, mas como um todo, que faz par-te de uma sociedade, o que significa que as aes de sade de-vem estar voltadas, ao mesmo tempo, para o indivduo e para a comunidade, para a preveno e para o tratamento e respeitar e dignidade humana.

    Deve ser descentralizado, ou seja, o poder de deciso deve ser daqueles que so responsveis pela execuo das aes, pois, quanto mais perto do problema, mais chance se tem de acertar sobre a sua soluo. Isso significa que as aes e servios que atendem populao de um municpio devem ser municipais; as que servem e alcanam vrios municpios devem ser estaduais e aquelas que so dirigidas a todo o territrio nacional devem ser federais. Dessa forma dever haver uma inverso na situao atual, quando a maioria dos servios de sade que tm sido vin-culados ao nvel federal, como o INAMPS, devem passar para os nveis estadual e municipal, principalmente para este ltimo, pro-duzindo o que se tem chamado de municipalizao da sade.

    Deve ser racional. Ou seja, o SUS deve se organizar de maneira

    que sejam oferecidos aes e servios de acordo com as neces-sidades da populao, e no como hoje, onde em muitos luga-res h servios hospitalares mas no h servios bsicos de sa-de; ou h um aparelho altamente sofisticado, mas no h mdi-co geral, s o especialista. Para isso o SUS deve se organizar a partir de pequenas regies e ser planejado para suas popula-es, de acordo com o que elas precisam e no com o que al-gum decide 'l em cima'. Isso inclui a deciso sobre a necessi-dade de se contratar ou no servios privados; e quando se de-cide pela contratao, que o contrato seja feito nesse nvel, para cumprir funes bem definidas e sob controle direto da institui-o pblica contratante. essencial, conforme o princpio da descentralizao, que essas decises sejam tomadas por uma autoridade de sade de nvel local. a isso que se chama de Distrito Sanitrio.

    Deve ser eficaz e eficiente. Isto , deve produzir resultados posi-tivos quando as pessoas o procuram ou quando um problema se apresenta na comunidade; para tanto, precisa ter qualidade. Mas no basta: necessrio que utilize as tcnicas mais adequadas, de acordo com a realidade local e a disponibilidade de recursos, eliminando o desperdcio e fazendo com que os recursos pbli-cos sejam aplicados da melhor maneira possvel. Isso implica necessidades no s de equipamentos adequados e pessoal qualificado e comprometido com o servio e a populao, como a adoo de tcnicas modernas de administrao dos servios de sade.

    Deve ser democrtico, ou seja, deve assegurar o direito de parti-cipao de todos os segmentos envolvidos com o sistema - diri-gentes institucionais, prestadores de servios, trabalhadores de sade e principalmente, a comunidade, a populao, os usurios do servio de sade. Esse direito implica a participao de todos esses segmentos no processo de tomada de deciso sobre as polticas que so definidas no seu nvel de atuao, assim como no controle sobre a execuo das aes e servios de sade. (...) Por isso, a ideia e a estratgia de organizao dos Conse-lhos de Sade - nacional, estaduais e municipais, para exerce-rem esse controle social sobre o SUS, devendo respeitar o crit-rio de composio paritria: participao igual entre usurios e os demais; alm de ter poder de deciso (no ser apenas con-sultivo)."

    Todos esses princpios, para serem colocados em prtica exigem mu-

    danas profundas e complexas, at mesmo por que questiona muitos interesses ainda muito presentes na vida poltica brasileira. Com a aprova-o do SUS na Constituio, poderia at se pensar que a batalha estava ganha e o sistema de sade brasileiro seria, finalmente o ideal. S que a parte mais difcil ainda estava por vir: a implementao, na prtica, das conquistas obtidas na lei.

    A Constituio remetia a regulamentao do sistema para a chamada

    Lei Orgnica da Sade, que foi, constantemente relegada a um segundo plano durante o governo de Fernando Collor, e, somente em 1990 foi aprovada, depois de muita negociao do Ministrio da Sade com o movimento da Reforma Sanitria. Ainda assim, a Lei Orgnica, personifica-da nas leis 8080 e 8142, saiu com muitas restries. E mesmo aps a sua aprovao, houve muita dificuldade de implantao, com resistncias claras do Ministrio da Sade ao processo de descentralizao, ao repasse auto-mtico de recursos para os Estados e Municpios. Ainda se continuou com a prtica dos convnios e outros expedientes centralizadores, facilitadores do clientelismo e da corrupo.

    No entanto, algumas experincias inovadoras foram desenvolvidas em

    alguns municpios que encararam de frente o processo de municipalizao. Havia um consenso de que o aparato jurdico j estava definido e era preciso ter a "ousadia de cumprir e fazer cumprir a lei". E sob esta afirma-o foram geradas as principais discusses na 9a Conferncia Nacional de Sade que deveria ter ocorrido em 1990, mas s veio a acontecer em 1992.

    Como um desdobramento da 9a Conferncia, j no governo Itamar, a-

    ps a queda de Collor, publicada, pelo Ministrio da Sade, a Norma Operacional Bsica (NOB) n0 1, de maio de 1993, que regulamentava o processo de descentralizao das aes de sade para Estados e Munic-

    ApostilasBrasil.com

  • 5pios. A NOB funcionou como uma espcie de manual para o processo de municipalizao, com regras claras sobre a participao dos diversos nveis e explicitando os estgios crescentes de municipalizao. Definia ainda as formas de controle social atravs da atuao dos Conselhos de Sade.

    Ainda assim, o SUS enfrenta hoje grandes dificuldades de implementa-

    o. O Ministrio da Sade vem enfrentando sucessivas crises e o financi-amento do setor, ainda dependente dos recursos da previdncia, sofre com os sucessivos cortes. O gasto per capita com sade no Brasil um dos menores do mundo (menos de 50 dlares por ano) e vem apresentando um declnio nos ltimos anos.

    Toda essa situao ocorre por que, apesar de temos uma legislao

    avanada no campo da sade, os governos que deveriam p-la em prtica tm uma outra viso de sade, de polticas sociais e de relao Estado-sociedade. comum ouvirmos alguns setores, principalmente os trabalha-dores organizados divulgarem que devemos lutar contra a poltica neo-liberal do governo de Fernando Henrique Cardoso. Mas o que significa isso e quais so os seus reflexos sobre o campo da sade?

    Como vimos inicialmente, as polticas sociais adquirem aspectos varia-

    dos, de acordo com as formas de organizao poltica e econmica dos pases. A poltica neo-liberal defende a existncia de um Estado mnimo, ou seja a interferncia do Estado na vida das pessoas deve ser reduzida ao mximo. Isso explica a poltica de privatizao, a abertura ao capital es-trangeiro e, no campo das polticas sociais, um total abandono, uma vez que, no entendimento dos neo-liberais, o Estado no deve se responsabili-zar por estas questes. Desnecessrio se faz discutir novamente a condi-o de sade como dever do Estado, no entanto, o raciocnio neo-liberal ignora esse conceito.

    A estratgia dos ltimos governos, de carter neo-liberal, foi de ignorar

    a legislao relativa ao SUS, pois no do interesse deles manter um sistema como esse. O que se configurou, no sistema de sade a partir dos anos 90 foi uma expanso da chamada medicina supletiva, cujos maiores representantes so os planos de sade privados. Mas como isso foi acon-tecer justo na hora em que o SUS deveria se firmar como o sistema de sade para todos os brasileiros?

    Ocorreu um fenmeno que Eugnio Vilaa chama de universalizao

    excludente. Com o advento do SUS, a assistncia sade foi universaliza-da, ou seja, no era preciso mais ser contribuinte da previdncia para ter acesso aos servios de sade; bastava ser cidado. Com o aumento da demanda, no foram criadas estratgias para dar conta desse aumento, nem a nvel de financiamento, nem a nvel de implementao de medidas racionalizadoras como a municipalizao, distritalizao e controle social. Assim, o SUS apenas aumentou o contingente de pessoas que se acotove-lavam para ter acesso aos servios de sade, sem aumentar a qualidade nem a quantidade da prestao da assistncia. Por seu turno, o governo ignorava as mudanas estruturais que deveriam ser implementadas, tra-zendo prejuzos ao funcionamento do servio.

    Com o estrangulamento da classe mdia, tambm provocado pela pol-

    tica econmica, houve um crescimento vertiginoso da assistncia mdica privada oferecida pelos planos de sade. A chamada Medicina de Grupo cresceu a nveis assustadores nos ltimos anos s expensas da falncia premeditada do servio pblico de sade e da fuga da classe mdia dos consultrios privados, provocada pelo achatamento salarial. Este modelo de prestao de servios tpico de pases de poltica neo-liberal, onde um mnimo de assistncia dado aos pobres e indigentes e o restante da populao fica merc da medicina privada. A estratgia das grandes corporaes mdicas acabou dando certo e o que eles no tinham conse-guido na Constituio, acabaram conseguindo por outros meios, com a conivncia do governo brasileiro.

    Ocorre que o SUS no foi criado para servir como o sistema de sade

    dos pobres e indigentes. Ele foi criado para ser o sistema de sade de todos os brasileiros, de qualidade, eficiente, eficaz, resolutivo e democrti-co.

    Devem sempre ser ressaltadas as iniciativas que deram e que esto dando certo. Os municpios que encararam a municipalizao com serieda-de esto colhendo os frutos de um servio pblico de sade mais eficiente

    e universal. Este foi o tema da Dcima Conferncia que ocorreu este ano: o SUS que deu certo. A partir do entendimento que todos ns temos de sade enquanto direito, nosso dever lutar para que este sistema seja desenvolvido em sua plenitude. Essa uma forma de, inclusive, promover mais justia social, mais democracia e mais humanidade dentro da socie-dade.

    Para compreender as propostas do SUS, sero abordados seus princ-

    pios, ou seja, suas caractersticas principais: Universalidade - deve atender, gratuitamente, a todos de acor-

    do com suas necessidades. Integralidade - deve atuar de maneira integral, de forma holsti-

    ca, a fim de prestar assistncia, objetivando a promoo da sa-de, preveno e cura da doena.

    Descentralizado - deve permitir aos nveis estadual e municipal coordenar as aes de modo que a implantao do SUS esteja de acordo com seus princpios. As aes devem estar concen-tradas no nvel municipal, j que ocorreu a municipalizao da sade, privilegiando e respeitando as caractersticas particulares de cada municpio, fazendo com que o nvel federal apenas transfira o pagamento para os demais nveis administrarem as aes.

    Racional - deve-se disponibilizar aes nos diferentes nveis de ateno, atentando para as caractersticas da clientela em cada setor, a fim de suprir e solucionar suas necessidades. Tambm necessrio atentar para a contratao ou no de servios priva-dos, realizando o contrato em nvel municipal, podendo atuar no controle e qualidade dos servios prestados pelos mesmos.

    Eficaz e Eficiente - deve ser capaz de solucionar o problema de quem o procura, ou seja, garantir qualidade e resolutividade do servio. Para que isso ocorra, tambm h a necessidade de a-dequar-se realidade da comunidade e disponibilidade de re-cursos, administrando os recursos pblicos de modo eficiente.

    Democrtico - deve permitir a participao de todos os segmen-tos envolvidos com o sistema, ajudando a delimitar a poltica no seu nvel de atuao, auxiliando no melhor modo de administra-o que garanta qualidade de vida e do servio comunidade. H os Conselhos de Sade nos trs nveis, exercendo controle social do SUS, a fim de garantir a sua implantao.

    Estes princpios do SUS foram estabelecidos legalmente, porm h a

    necessidade de que o SUS seja implantado de forma a respeit-los e, principalmente, garantir populao o acesso a um servio de sade com qualidade, contribuindo para manter uma melhor qualidade de vida e de sade da populao.

    2 CONTROLE SOCIAL NO SUS SUS e CONTROLE SOCIAL Sociedade precisa ter participao garantida e efetiva no Sistema ni-

    co de Sade. Pesquisa do Conselho Nacional de Secretrios de Sade (CONASS)

    realizada em 2002 mostrou que apenas 35% dos brasileiros sabem o que significa a sigla "SUS". Ou seja, Mais de 65% desconhecem o que a sigla quer dizer Sistema nico de Sade. Essa realidade ganha importncia quando se sabe que um dos pilares do SUS Sistema nico de Sade justamente o Controle Social, exercido por meio dos Conselhos de Sade, onde os usurios acompanham e fiscalizam a execuo da poltica de sade e participam da formulao das estratgias do SUS.

    Por outro lado, ningum pode dizer que no utiliza o SUS. Mesmo a-queles que tm plano de sade usam, indiretamente, o SUS, quer atravs das aes de vigilncia sanitria dos alimentos que consome, quer do controle de doenas infecciosas e de epidemias como a da dengue, quer da avaliao do sangue usado para transfuso em hospitais pblicos e priva-dos, alm de outras.

    No Brasil, mais de 90% das cirurgias cardacas, transplantes, e outros procedimentos de alta complexidade, so ofertados pelo SUS. Muitas pessoas que pagam seguro privado de sade o SUS para realizao de hemodilise e recebem medicamentos de alto custo para tratamento da Aids e outras doenas. Todavia, muitos deles nem sabem que o SUS que

    ApostilasBrasil.com

  • 6financia esses servios. O SUS compreende o conjunto de aes e servios de sade ofereci-

    dos pelo Governo Federal, estados, Distrito Federal e municpios que cumprem funes e competncias especficas. O SUS garante ateno integral sade, participao da sociedade e a descentralizao dos servi-os. Cerca de 98% da populao brasileira so usurios do SUS, mesmo que no seja de forma exclusiva.

    Ainda segundo a pesquisa acima citada, 61% das pessoas entrevista-

    das, se disseram satisfeitas em relao s atividades de preveno promo-vidas pelo SUS, como, por exemplo, as campanhas para evitar doenas como a hipertenso arterial, a diabetes, a aids, etc. Por outro lado, h grande insatisfao no que diz respeito ao tempo de espera para atendi-mento no SUS (demora na fila, na marcao de consultas e no resultado de exames). Mas, dentre aqueles que conseguem ter acesso aos servios, a satisfao grande.

    A questo da agilidade no atendimento do SUS se deve, muitas vezes,

    falta de informao, leitos insuficientes, desorganizao dos protocolos e atendimentos por ordem de chegada e no por gravidade. A falta de um sistema organizado de atendimento de urgncia e emergncia nos munic-pios outro foco de insatisfao do usurio do SUS.

    Dentre as medidas prioritrias para se agilizar e melhorar o atendimen-to do SUS, esto a ampliao do acesso aos servios de sade, sobretudo os de urgncia e emergncia, o reforo da ateno bsica nos postos e centros de sade e a intensificao das aes de controle de doenas.

    O Controle Social Quando se fala em Controle Social no SUS, se est falando, funda-

    mentalmente, no papel dos Conselhos de Sade. Isto porque neles que se d a participao da comunidade na fiscalizao e na conduo das polticas de sade, garantida a partir da Lei N 8.142, de 28/12/1990, que instituiu os Conselhos e as Conferncias de Sade como instncia de controle social do SUS nas trs esferas de governo - nacional, municipal e estadual. Atualmente, se estima que existam mais de 100 mil conselheiros de sade em todo o pas.

    A principal caracterstica dos Conselhos de Sade o seu carter deli-berativo sobre a formulao das estratgias de ateno sade do Pas. Cinquenta por cento da composio dos conselhos formada por represen-tantes de usurios do SUS, 25% por trabalhadores de sade e 25% por prestadores e gestores.

    O SUS garante aos estados, Distrito Federal e municpios a autonomia para administrar os recursos da sade, de acordo com a sua condio de gesto (gesto plena da ateno bsica e gesto plena do sistema munici-pal). Para isso, preciso que cada regio tenha seu Conselho de Sade funcionando de forma adequada. Assim, os recursos federais so repassa-dos, do Fundo Nacional para os Fundos Estaduais ou Municipais de Sade ou, ainda, dos Fundos Estaduais para os Fundos Municipais de Sade.

    Para participar de um Conselho de Sade o cidado precisa pertencer a alguma entidade, a qual representar no colegiado. A maioria dos Conse-lhos de Sade estabelece formatos eleitorais em que a populao pode se candidatar para participar. Em geral, a populao organizada mais ativa nesse processo. Os conselhos se renem constantemente para discutir uma pauta pr-definida e elaborar estratgias de um planejamento anual.

    3 RESOLUO NO 453/2012, DO CONSELHO NACIONAL DE SADE.

    RESOLUO No 453, DE 10 DE MAIO DE 2012

    O Plenrio do Conselho Nacional de Sade, em sua Ducentsima Trigsima Terceira Reunio Ordinria, realizada nos dias 9 e 10 de maio de 2012, no uso de suas competncias regimentais e atribuies conferidas

    pela Lei no 8.080, de 19 de setembro de 1990, e pela Lei no 8.142, de 28

    de dezembro de 1990, e pelo Decreto no 5.839, de 11 de julho de 2006, e

    Considerando os debates ocorridos nos Conselhos de Sade, nas trs esferas de Governo, na X Plenria Nacional de Conselhos de Sade,

    nas Plenrias Regionais e Estaduais de Conselhos de Sade, nas 9a, 10a

    e 11a Conferncias Nacionais de Sade, e nas Conferncias Estaduais, do Distrito Federal e Municipais de Sade;

    Considerando a experincia acumulada do Controle Social da Sa-de necessidade de aprimoramento do Controle Social da Sade no mbito nacional e as reiteradas demandas dos Conselhos Estaduais e Municipais referentes s propostas de composio, organizao e funcio-

    namento, conforme o 5o inciso II art. 1o da Lei no 8.142, de 28 de de-zembro de 1990;

    Considerando a ampla discusso da Resoluo do CNS no 333/03 realizada nos espaos de Controle Social, entre os quais se destacam as Plenrias de Conselhos de Sade;

    Considerando os objetivos de consolidar, fortalecer, ampliar e acelerar o processo de Controle Social do SUS, por intermdio dos Conselhos Nacional, Estaduais, Municipais, das Conferncias de Sade e Plenrias de Conselhos de Sade;

    Considerando que os Conselhos de Sade, consagrados pela efetiva participao da sociedade civil organizada, representam polos de qualificao de cidados para o Controle Social nas esferas da ao do Estado; e

    Considerando o que disciplina a Lei Complementar no 141, de 13 de janeiro de 2012, e o Decreto n 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamentam a Lei Orgnica da Sade.

    Resolve: Aprovar as seguintes diretrizes para instituio, reformulao, rees-

    truturao e funcionamento dos Conselhos de Sade:

    DA DEFINIO DE CONSELHO DE SADE

    Primeira Diretriz: o Conselho de Sade uma instncia colegiada, deliberativa e permanente do Sistema nico de Sade (SUS) em cada esfera de Governo, integrante da estrutura organizacional do Ministrio da Sade, da Secretaria de Sade dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Municpios, com composio, organizao e competncia fixadas na Lei no 8.142/90. O processo bem-sucedido de descentralizao da sade promo-veu o surgimento de Conselhos Regionais, Conselhos Locais, Conselhos Distritais de Sade, incluindo os Conselhos

    dos Distritos Sanitrios Especiais Indgenas, sob a coordenao dos Conselhos de Sade da esfera correspondente. Assim, os Conselhos de Sade so espaos institudos de participao da comunidade nas polticas pblicas e na administrao da sade.

    Pargrafo nico. Como Subsistema da Seguridade Social, o Con-

    selho de Sade atua na formulao e proposio de estratgias e no con-trole da execuo das Polticas de Sade, inclusive nos seus aspectos econmicos e financeiros. DA INSTITUIO E REFORMULAO DOS CONSELHOS DE SADE

    Segunda Diretriz: a instituio dos Conselhos de Sade estabe-

    lecida por lei federal, estadual, do Distrito Federal e municipal, obedecida a

    Lei no 8.142/90.

    Pargrafo nico. Na instituio e reformulao dos Conselhos de Sade o Poder Executivo, respeitando os princpios da democracia, dever acolher as demandas da populao aprovadas nas Conferncias de Sade, e em consonncia com a legislao.

    A ORGANIZAO DOS CONSELHOS DE SADE Terceira Diretriz: a participao da sociedade organizada, garanti-da na legislao, torna os Conselhos de Sade uma instncia privilegiada na proposio, discusso, acompanhamento, deliberao, avaliao e fiscalizao da implementao da Poltica de Sade, inclusive nos seus aspectos econmicos e financeiros. A legislao estabelece, ainda, a composio paritria de usurios em relao ao conjunto dos demais segmentos representados. O Conselho de Sade ser composto por repre-sentantes de entidades, instituies e movimentos representativos de

    ApostilasBrasil.com

  • 7usurios, de entidades representativas de trabalhadores da rea da sade, do governo e de entidades representativas de prestadores de servios de sade, sendo o seu presidente eleito entre os membros do Conselho, em reunio plenria. Nos Municpios onde no existem entidades, instituies e movimentos organizados em nmero suficiente para compor o Conselho, a eleio da representao ser realizada em plenria no Municpio, promo-vida pelo Conselho Municipal de maneira ampla e democrtica.

    I - O nmero de conselheiros ser definido pelos Conselhos de

    Sade e constitudo em lei.

    II - Mantendo o que props as Resolues nos 33/92 e 333/03 do

    CNS e consoante com as Recomendaes da 10a e 11a Conferncias Nacionais de Sade, as vagas devero ser distribudas da seguinte forma:

    a) 50% de entidades e movimentos representativos de usurios; b) 25% de entidades representativas dos trabalhadores da rea de

    sade; c) 25% de representao de governo e prestadores de servios pri-

    vados conveniados, ou sem fins lucrativos.

    III - A participao de rgos, entidades e movimentos sociais ter como critrio a representatividade, a abrangncia e a complementaridade do conjunto da sociedade, no mbito de atuao do Conselho de Sade. De acordo com as especificidades locais, aplicando o princpio da paridade, sero contempladas, dentre outras, as seguintes representaes:

    a) associaes de pessoas com patologias; b) associaes de pessoas com deficincias; c) entidades indgenas; d) movimentos sociais e populares, organizados (movimento negro,

    LGBT...); e) movimentos organizados de mulheres, em sade; f) entidades de aposentados e pensionistas; g) entidades congregadas de sindicatos, centrais sindicais, confe-

    deraes e federaes de trabalhadores urbanos e rurais; h) entidades de defesa do consumidor; i) organizaes de moradores; j) entidades ambientalistas; k) organizaes religiosas; l) trabalhadores da rea de sade: associaes, confederaes,

    conselhos de profisses regulamentadas, federaes e sindicatos, obede-cendo as instncias federativas;

    m) comunidade cientfica; n) entidades pblicas, de hospitais universitrios e hospitais campo

    de estgio, de pesquisa e desenvolvimento; o) entidades patronais; p) entidades dos prestadores de servio de sade; e q) governo.

    IV - As entidades, movimentos e instituies eleitas no Conse-lho de Sade tero os conselheiros indicados, por escrito, conforme processos estabelecidos pelas respectivas entidades, movimentos e instituies e de acordo com a sua organizao, com a recomendao de que ocorra renovao de seus representantes.

    V - Recomenda-se que, a cada eleio, os segmentos de repre-sentaes de usurios, trabalhadores e prestadores de servios, ao seu critrio, promovam a renovao de, no mnimo, 30% de suas entidades representativas.

    VI - A representao nos segmentos deve ser distinta e autnoma em relao aos demais segmentos que compem o Conselho, por isso, um profissional com cargo de direo ou de confiana na gesto do SUS, ou como prestador de servios de sade no pode ser representante dos(as) Usurios(as) ou de Trabalhadores(as).

    VII - A ocupao de funes na rea da sade que interfiram na autonomia representativa do Conselheiro(a) deve ser avaliada como poss-vel impedimento da representao de Usurio(a) e Trabalhador(a), e, a juzo da entidade, indicativo de substituio do Conselheiro(a).

    VIII - A participao dos membros eleitos do Poder Legislativo, re-presentao do Poder Judicirio e do Ministrio Pblico, como conselhei-ros, no permitida nos Conselhos de Sade.

    IX - Quando no houver Conselho de Sade constitudo ou em ati-vidade no Municpio, caber ao Conselho Estadual de Sade assumir, junto ao executivo municipal, a convocao e realizao da Conferncia Munici-pal de Sade, que ter como um de seus objetivos a estruturao e compo-sio do Conselho Municipal. O mesmo ser atribudo ao Conselho Nacio-nal de Sade, quando no houver Conselho Estadual de Sade constitudo ou em funcionamento.

    X - As funes, como membro do Conselho de Sade, no sero remuneradas, considerando-se o seu exerccio de relevncia pblica e, portanto, garante a dispensa do trabalho sem prejuzo para o conselheiro. Para fins de justificativa junto aos rgos, entidades competentes e institui-es, o Conselho de Sade emitir declarao de participao de seus membros durante o perodo das reunies, representaes, capacitaes e outras atividades especficas.

    XI - O conselheiro, no exerccio de sua funo, responde pelos seus atos conforme legislao vigente.

    ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DOS CONSELHOS DE SADE

    Quarta Diretriz: as trs esferas de Governo garantiro autonomia

    administrativa para o pleno funcionamento do Conselho de Sade, dotao oramentria, autonomia financeira e organizao da secretaria-executiva com a necessria infraestrutura e apoio tcnico:

    I - cabe ao Conselho de Sade deliberar em relao sua estrutu-ra administrativa e o quadro de pessoal;

    II - o Conselho de Sade contar com uma secretaria-executiva coordenada por pessoa preparada para a funo, para o suporte tcnico e administrativo, subordinada ao Plenrio do Conselho de Sade, que definir sua estrutura e dimenso;

    III - o Conselho de Sade decide sobre o seu oramento;

    IV - o Plenrio do Conselho de Sade se reunir, no mnimo, a ca-da ms e, extraordinariamente, quando necessrio, e ter como base o seu Regimento Interno. A pauta e o material de apoio s reunies devem ser encaminhados aos conselheiros com antecedncia mnima de 10 (dez) dias;

    V - as reunies plenrias dos Conselhos de Sade so abertas ao pblico e devero acontecer em espaos e horrios que possibilitem a participao da sociedade;

    VI - o Conselho de Sade exerce suas atribuies mediante o fun-cionamento do Plenrio, que, alm das comisses intersetoriais, estabele-

    cidas na Lei no 8.080/90, instalar outras comisses intersetoriais e grupos de trabalho de conselheiros para aes transitrias. As comisses podero contar com integrantes no conselheiros;

    VII - o Conselho de Sade constituir uma Mesa Diretora eleita em Plenrio, respeitando a paridade expressa nesta Resoluo;

    VIII - as decises do Conselho de Sade sero adotadas mediante qurum mnimo (metade mais um) dos seus integrantes, ressalvados os casos regimentais nos quais se exija qurum especial, ou maioria qualifica-da de votos;

    a) entende-se por maioria simples o nmero inteiro imediatamente superior metade dos membros presentes;

    b) entende-se por maioria absoluta o nmero inteiro imediatamente superior metade de membros do Conselho;

    c) entende-se por maioria qualificada 2/3 (dois teros) do total de membros do Conselho;

    IX - qualquer alterao na organizao dos Conselhos de Sade preservar o que est garantido em lei e deve ser proposta pelo prprio Conselho e votada em reunio plenria, com qurum qualificado, para depois ser alterada em seu Regimento Interno e homologada pelo gestor da esfera correspondente;

    X - a cada quadrimestre dever constar dos itens da pauta o pro-nunciamento do gestor, das respectivas esferas de governo, para que faa a prestao de contas, em relatrio detalhado, sobre andamento do plano de sade, agenda da sade pactuada, relatrio de gesto, dados sobre o montante e a forma de aplicao dos recursos, as auditorias iniciadas e

    ApostilasBrasil.com

  • 8concludas no perodo, bem como a produo e a oferta de servios na rede assistencial prpria, contratada ou conveniada, de acordo com o art.

    12 da Lei no 8.689/93 e com a Lei Complementar no 141/2012;

    XI - os Conselhos de Sade, com a devida justificativa, buscaro auditorias externas e independentes sobre as contas e atividades do Gestor do SUS; e

    XII - o Pleno do Conselho de Sade dever manifestar-se por meio de resolues, recomendaes, moes e outros atos deliberativos. As resolues sero obrigatoriamente homologadas pelo chefe do poder constitudo em cada esfera de governo, em um prazo de 30 (trinta) dias, dando-se-lhes publicidade oficial. Decorrido o prazo mencionado e no sendo homologada a resoluo e nem enviada justificativa pelo gestor ao Conselho de Sade com proposta de alterao ou rejeio a ser apreciada na reunio seguinte, as entidades que integram o Conselho de Sade podem buscar a validao das resolues, recorrendo justia e ao Minis-trio Pblico, quando necessrio.

    Quinta Diretriz: aos Conselhos de Sade Nacional, Estaduais, Mu-nicipais e do Distrito Federal, que tm competncias definidas nas leis federais, bem como em indicaes advindas das Conferncias de Sade, compete:

    I - fortalecer a participao e o Controle Social no SUS, mobilizar e articular a sociedade de forma permanente na defesa dos princpios consti-tucionais que fundamentam o SUS;

    II - elaborar o Regimento Interno do Conselho e outras normas de

    funcionamento;

    III - discutir, elaborar e aprovar propostas de operacionalizao das diretrizes aprovadas pelas Conferncias de Sade;

    IV - atuar na formulao e no controle da execuo da poltica de sade, incluindo os seus aspectos econmicos e financeiros, e propor estratgias para a sua aplicao aos setores pblico e privado;

    V - definir diretrizes para elaborao dos planos de sade e delibe-rar sobre o seu contedo, conforme as diversas situaes epidemiolgicas e a capacidade organizacional dos servios;

    VI - anualmente deliberar sobre a aprovao ou no do relatrio de gesto;

    VII - estabelecer estratgias e procedimentos de acompanhamento da gesto do SUS, articulando-se com os demais colegiados, a exemplo dos de seguridade social, meio ambiente, justia, educao, trabalho, agricultura, idosos, criana e adolescente e outros;

    VIII - proceder reviso peridica dos planos de sade;

    IX - deliberar sobre os programas de sade e aprovar projetos a serem encaminhados ao Poder Legislativo, propor a adoo de critrios definidores de qualidade e resolutividade, atualizando-os face ao processo de incorporao dos avanos cientficos e tecnolgicos na rea da Sade;

    X - avaliar, explicitando os critrios utilizados, a organizao e o funcionamento do Sistema nico de Sade do SUS;

    XI - avaliar e deliberar sobre contratos, consrcios e convnios, conforme as diretrizes dos Planos de Sade Nacional, Estaduais, do Distrito Federal e Municipais;

    XII - acompanhar e controlar a atuao do setor privado credencia-do mediante contrato ou convnio na rea de sade;

    XIII - aprovar a proposta oramentria anual da sade, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na Lei de Diretrizes Orament-rias, observado o princpio do processo de planejamento e oramento ascendentes, conforme legislao vigente;

    XIV - propor critrios para programao e execuo financeira e oramentria dos Fundos de Sade e acompanhar a movimentao e destino dos recursos;

    XV - fiscalizar e controlar gastos e deliberar sobre critrios de mo-vimentao de recursos da Sade, incluindo o Fundo de Sade e os recur-

    sos transferidos e prprios do Municpio, Estado, Distrito Federal e da Unio, com base no que a lei disciplina;

    XVI - analisar, discutir e aprovar o relatrio de gesto, com a pres-tao de contas e informaes financeiras, repassadas em tempo hbil aos conselheiros, e garantia do devido assessoramento;

    XVII - fiscalizar e acompanhar o desenvolvimento das aes e dos servios de sade e encaminhar denncias aos respectivos rgos de controle interno e externo, conforme legislao vigente;

    XVIII - examinar propostas e denncias de indcios de irregularida-des, responder no seu mbito a consultas sobre assuntos pertinentes s aes e aos servios de sade, bem como apreciar recursos a respeito de deliberaes do Conselho nas suas respectivas instncias;

    XIX - estabelecer a periodicidade de convocao e organizar as Conferncias de Sade, propor sua convocao ordinria ou extraordinria e estruturar a comisso organizadora, submeter o respectivo regimento e programa ao Pleno do Conselho de Sade correspondente, convocar a sociedade para a participao nas pr-conferncias e conferncias de sade;

    XX - estimular articulao e intercmbio entre os Conselhos de Sade, entidades, movimentos populares, instituies pblicas e privadas para a promoo da Sade;

    XXI - estimular, apoiar e promover estudos e pesquisas sobre as-suntos e temas na rea de sade pertinente ao desenvolvimento do Siste-ma nico de Sade (SUS);

    XXII - acompanhar o processo de desenvolvimento e incorporao cientfica e tecnolgica, observados os padres ticos compatveis com o desenvolvimento sociocultural do Pas;

    XXIII - estabelecer aes de informao, educao e comunicao em sade, divulgar as funes e competncias do Conselho de Sade, seus trabalhos e decises nos meios de comunicao, incluindo informa-es sobre as agendas, datas e local das reunies e dos eventos;

    XXIV - deliberar, elaborar, apoiar e promover a educao perma-nente para o controle social, de acordo com as Diretrizes e a Poltica Na-cional de Educao Permanente para o Controle Social do SUS;

    XXV - incrementar e aperfeioar o relacionamento sistemtico com os poderes constitudos, Ministrio Pblico, Judicirio e Legislativo, meios de comunicao, bem como setores relevantes no representados nos conselhos;

    XXVI - acompanhar a aplicao das normas sobre tica em pes-quisas aprovadas pelo CNS;

    XXVII - deliberar, encaminhar e avaliar a Poltica de Gesto do Trabalho e Educao para a Sade no SUS;

    XXVIII - acompanhar a implementao das propostas constantes do relatrio das plenrias dos Conselhos de Sade; e

    XXIX - atualizar periodicamente as informaes sobre o Conselho de Sade no Sistema de Acompanhamento dos Conselhos de Sade (SIACS).

    Fica revogada a Resoluo do CNS no 333, de 4 de novembro de

    2003.

    ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA Presidente do Conselho Nacional de Sade

    Homologo a Resoluo CNS no 453, de 10 de maio de 2012, nos termos do Decreto n 5.839, de 11 de julho de 2006.

    ALEXANDRE ROCHA SANTOS PADILHA

    Ministro de Estado da Sade

    Republicada por ter sado com incorreo no original, publicado no Dirio Oficial da Unio n 109, Seo 1, pgina 138

    ApostilasBrasil.com

  • APOSTILAS OPO A Sua Melhor Opo em Concursos Pblicos

    9

    4 CONSTITUIO FEDERAL, ARTIGOS DE 194 A 200 Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de

    aes de iniciativa dos Poderes Pblicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos sade, previdncia e assistncia social.

    Pargrafo nico. Compete ao Poder Pblico, nos termos da lei, organi-zar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

    I - universalidade da cobertura e do atendimento; II - uniformidade e equivalncia dos benefcios e servios s popula-

    es urbanas e rurais; III - seletividade e distributividade na prestao dos benefcios e servi-

    os; IV - irredutibilidade do valor dos benefcios; V - equidade na forma de participao no custeio; VI - diversidade da base de financiamento; VII - carter democrtico e descentralizado da administrao, mediante

    gesto quadripartite, com participao dos trabalhadores, dos empregado-res, dos aposentados e do Governo nos rgos colegiados. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    Art. 195. A seguridade social ser financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos oramentos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Munic-pios, e das seguintes contribuies sociais:

    I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na for-ma da lei, incidentes sobre: (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    a) a folha de salrios e demais rendimentos do trabalho pagos ou credi-tados, a qualquer ttulo, pessoa fsica que lhe preste servio, mesmo sem vnculo empregatcio; (Includo pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    b) a receita ou o faturamento; (Includo pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    c) o lucro; (Includo pela Emenda Constitucional n 20, de 1998) II - do trabalhador e dos demais segurados da previdncia social, no

    incidindo contribuio sobre aposentadoria e penso concedidas pelo regime geral de previdncia social de que trata o art. 201; (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    III - sobre a receita de concursos de prognsticos. IV - do importador de bens ou servios do exterior, ou de quem a lei a

    ele equiparar. (Includo pela Emenda Constitucional n 42, de 19.12.2003) 1 - As receitas dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios

    destinadas seguridade social constaro dos respectivos oramentos, no integrando o oramento da Unio.

    2 - A proposta de oramento da seguridade social ser elaborada de forma integrada pelos rgos responsveis pela sade, previdncia social e assistncia social, tendo em vista as metas e prioridades estabelecidas na lei de diretrizes oramentrias, assegurada a cada rea a gesto de seus recursos.

    3 - A pessoa jurdica em dbito com o sistema da seguridade social,

    como estabelecido em lei, no poder contratar com o Poder Pblico nem dele receber benefcios ou incentivos fiscais ou creditcios.

    4 - A lei poder instituir outras fontes destinadas a garantir a manuten-o ou expanso da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I.

    5 - Nenhum benefcio ou servio da seguridade social poder ser criado, majorado ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total.

    6 - As contribuies sociais de que trata este artigo s podero ser exigidas aps decorridos noventa dias da data da publicao da lei que as houver institudo ou modificado, no se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, "b".

    7 - So isentas de contribuio para a seguridade social as entida-des beneficentes de assistncia social que atendam s exigncias estabe-lecidas em lei.

    8 O produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatrio rurais e o pesca-dor artesanal, bem como os respectivos cnjuges, que exeram suas atividades em regime de economia familiar, sem empregados permanentes, contribuiro para a seguridade social mediante a aplicao de uma alquota sobre o resultado da comercializao da produo e faro jus aos benef-cios nos termos da lei. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    9 As contribuies sociais previstas no inciso I do caput deste artigo podero ter alquotas ou bases de clculo diferenciadas, em razo da atividade econmica, da utilizao intensiva de mo-deobra, do porte da

    empresa ou da condio estrutural do mercado de trabalho. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 47, de 2005)

    10. A lei definir os critrios de transferncia de recursos para o sis-tema nico de sade e aes de assistncia social da Unio para os Esta-dos, o Distrito Federal e os Municpios, e dos Estados para os Municpios, observada a respectiva contrapartida de recursos. (Includo pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    11. vedada a concesso de remisso ou anistia das contribuies sociais de que tratam os incisos I, a, e II deste artigo, para dbitos em montante superior ao fixado em lei complementar. (Includo pela Emenda Constitucional n 20, de 1998)

    12. A lei definir os setores de atividade econmica para os quais as contribuies incidentes na forma dos incisos I, b; e IV do caput, sero no-cumulativas. (Includo pela Emenda Constitucional n 42, de 19.12.2003)

    13. Aplica-se o disposto no 12 inclusive na hiptese de substituio gradual, total ou parcial, da contribuio incidente na forma do inciso I, a, pela incidente sobre a receita ou o faturamento. (Includo pela Emenda Constitucional n 42, de 19.12.2003)

    Seo II DA SADE

    Art. 196. A sade direito de todos e dever do Estado, garantido medi-ante polticas sociais e econmicas que visem reduo do risco de doen-a e de outros agravos e ao acesso universal e igualitrio s aes e servi-os para sua promoo, proteo e recuperao.

    Art. 197. So de relevncia pblica as aes e servios de sade, ca-bendo ao Poder Pblico dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamenta-o, fiscalizao e controle, devendo sua execuo ser feita diretamente ou atravs de terceiros e, tambm, por pessoa fsica ou jurdica de direito privado.

    Art. 198. As aes e servios pblicos de sade integram uma rede re-gionalizada e hierarquizada e constituem um sistema nico, organizado de acordo com as seguintes diretrizes:

    I - descentralizao, com direo nica em cada esfera de governo; II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,

    sem prejuzo dos servios assistenciais; III - participao da comunidade. 1. O sistema nico de sade ser financiado, nos termos do art. 195,

    com recursos do oramento da seguridade social, da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios, alm de outras fontes. (Pargrafo nico renumerado para 1 pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    2 A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios aplicaro, anualmente, em aes e servios pblicos de sade recursos mnimos derivados da aplicao de percentuais calculados sobre: (Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    I - no caso da Unio, na forma definida nos termos da lei complementar prevista no 3; (Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    II - no caso dos Estados e do Distrito Federal, o produto da arrecada-o dos impostos a que se refere o art. 155 e dos recursos de que tratam os arts. 157 e 159, inciso I, alnea a, e inciso II, deduzidas as parcelas que forem transferidas aos respectivos Municpios; (Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    III - no caso dos Municpios e do Distrito Federal, o produto da arreca-dao dos impostos a que se refere o art. 156 e dos recursos de que tratam os arts. 158 e 159, inciso I, alnea b e 3.(Includo pela Emenda Constitu-cional n 29, de 2000)

    3 Lei complementar, que ser reavaliada pelo menos a cada cinco anos, estabelecer:(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000) Regulamento

    I - os percentuais de que trata o 2; (Includo pela Emenda Constitu-cional n 29, de 2000)

    II - os critrios de rateio dos recursos da Unio vinculados sade des-tinados aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, e dos Estados destinados a seus respectivos Municpios, objetivando a progressiva redu-o das disparidades regionais; (Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    III - as normas de fiscalizao, avaliao e controle das despesas com sade nas esferas federal, estadual, distrital e municipal; (Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    IV - as normas de clculo do montante a ser aplicado pela Uni-o.(Includo pela Emenda Constitucional n 29, de 2000)

    4 Os gestores locais do sistema nico de sade podero admitir a-gentes comunitrios de sade e agentes de combate s endemias por meio

    ApostilasBrasil.com

  • 10

    de processo seletivo pblico, de acordo com a natureza e complexidade de suas atribuies e requisitos especficos para sua atuao. .(Includo pela Emenda Constitucional n 51, de 2006)

    5 Lei federal dispor sobre o regime jurdico, o piso salarial profis-sional nacional, as diretrizes para os Planos de Carreira e a regulamenta-o das atividades de agente comunitrio de sade e agente de combate s endemias, competindo Unio, nos termos da lei, prestar assistncia financeira complementar aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municpios, para o cumprimento do referido piso salarial. (Redao dada pela Emenda Constitucional n 63, de 2010)

    6 Alm das hipteses previstas no 1 do art. 41 e no 4 do art. 169 da Constituio Federal, o servidor que exera funes equivalentes s de agente comunitrio de sade ou de agente de combate s endemias poder perder o cargo em caso de descumprimento dos requisitos especfi-cos, fixados em lei, para o seu exerccio. (Includo pela Emenda Constitu-cional n 51, de 2006)

    Art. 199. A assistncia sade livre iniciativa privada. 1 - As instituies privadas podero participar de forma complemen-

    tar do sistema nico de sade, segundo diretrizes deste, mediante contrato de direito pblico ou convnio, tendo preferncia as entidades filantrpicas e as sem fins lucrativos.

    2 - vedada a destinao de recursos pblicos para auxlios ou subvenes s instituies privadas com fins lucrativos.

    3 - vedada a participao direta ou indireta de empresas ou capi-tais estrangeiros na assistncia sade no Pas, salvo nos casos previstos em lei.

    4 - A lei dispor sobre as condies e os requisitos que facilitem a remoo de rgos, tecidos e substncias humanas para fins de transplan-te, pesquisa e tratamento, bem como a coleta, processamento e transfuso de sangue e seus derivados, sendo vedado todo tipo de comercializao.

    Art. 200. Ao sistema nico de sade compete, alm de outras atribui-es, nos termos da lei:

    I - controlar e fiscalizar procedimentos, produtos e substncias de inte-resse para a sade e participar da produo de medicamentos, equipamen-tos, imunobiolgicos, hemoderivados e outros insumos;

    II - executar as aes de vigilncia sanitria e epidemiolgica, bem co-mo as de sade do trabalhador;

    III - ordenar a formao de recursos humanos na rea de sade; IV - participar da formulao da poltica e da execuo das aes de

    saneamento bsico; V - incrementar em sua rea de atuao o desenvolvimento cientfico e

    tecnolgico; VI - fiscalizar e inspecionar alimentos, compreendido o controle de seu

    teor nutricional, bem como bebidas e guas para consumo humano; VII - participar do controle e fiscalizao da produo, transporte, guar-

    da e utilizao de substncias e produtos psicoativos, txicos e radioativos; VIII - colaborar na proteo do meio ambiente, nele compreendido o do

    trabalho.

    5 LEI ORGNICA DA SADE - LEI N 8.080/1990, LEI N 8.142/1990 E DECRETO PRESIDENCIAL

    N 7.508, DE 28 DE JUNHO DE 2011. Dispe sobre as condies para a promoo, proteo e recuperao

    da sade, a organizao e o funcionamento dos servios correspondentes e d outras providncias.

    DISPOSIO PRELIMINAR Art. 1 Esta lei regula, em todo o territrio nacional, as aes e servios

    de sade, executados isolada ou conjuntamente, em carter permanente ou eventual, por pessoas naturais ou jurdicas de direito Pblico ou privado.

    TTULO I DAS DISPOSIES GERAIS

    Art. 2 A sade um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condies indispensveis ao seu pleno exerccio.

    1 O dever do Estado de garantir a sade consiste na formulao e execuo de polticas econmicas e sociais que visem reduo de riscos de doenas e de outros agravos e no estabelecimento de condies que assegurem acesso universal e igualitrio s aes e aos servios para a sua promoo, proteo e recuperao.

    2 O dever do Estado no exclui o das pessoas, da famlia, das em-presas e da sociedade.

    Art. 3 A sade tem como fatores determinantes e condicionantes, en-

    tre outros, a alimentao, a moradia, o saneamento bsico, o meio ambien-te, o trabalho, a renda, a educao, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e servios essenciais; os nveis de sade da populao expressam a organizao social e econmica do Pas.

    Pargrafo nico. Dizem respeito tambm sade as aes que, por fora do disposto no artigo anterior, se destinam a garantir s pessoas e coletividade condies de bem-estar fsico, mental e social.

    TTULO II DO SISTEMA NICO DE SADE DISPOSIO PRELIMINAR

    Art. 4 O conjunto de aes e servios de sade, prestados por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais, da Administrao direta e indireta e das fundaes mantidas pelo Poder Pblico, constitui o Sistema nico de Sade (SUS).

    1 Esto includas no disposto neste artigo as instituies pblicas fe-derais, estaduais e municipais de controle de qualidade, pesquisa e produ-o de insumos, medicamentos, inclusive de sangue e hemoderivados, e de equipamentos para sade.

    2 A iniciativa privada poder participar do Sistema nico de Sade (SUS), em carter complementar.

    CAPTULO I Dos Objetivos e Atribuies

    Art. 5 So objetivos do Sistema nico de Sade SUS: I - a identificao e divulgao dos fatores condicionantes e determi-

    nantes da sade; II - a formulao de poltica de sade destinada a promover, nos cam-

    pos econmico e social, a observncia do disposto no 1 do art. 2 desta lei;

    III - a assistncia s pessoas por intermdio de aes de promoo, proteo e recuperao da sade, com a realizao integrada das aes assistenciais e das atividades preventivas.

    Art. 6 Esto includas ainda no campo de atuao do Sistema nico de Sade (SUS):

    I - a execuo de aes: a) de vigilncia sanitria; b) de vigilncia epidemiolgica; c) de sade do trabalhador; e d) de assistncia teraputica integral, inclusive farmacutica; II - a participao na formulao da poltica e na execuo de aes de

    saneamento bsico; III - a ordenao da formao de recursos humanos na rea de sade; IV - a vigilncia nutricional e a orientao alimentar; V - a colaborao na proteo do meio ambiente, nele compreendido o

    do trabalho; VI - a formulao da poltica de medicamentos, equipamentos, imuno-

    biolgicos e outros insumos de interesse para a sade e a participao na sua produo;

    VII - o controle e a fiscalizao de servios, produtos e substncias de

    interesse para a sade; VIII - a fiscalizao e a inspeo de alimentos, gua e bebidas para

    consumo humano; IX - a participao no controle e na fiscalizao da produo, transpor-

    te, guarda e utilizao de substncias e produtos psicoativos, txicos e radioativos;

    X - o incremento, em sua rea de atuao, do desenvolvimento cientfi-co e tecnolgico;

    XI - a formulao e execuo da poltica de sangue e seus derivados. 1 Entende-se por vigilncia sanitria um conjunto de aes capaz de

    eliminar, diminuir ou prevenir riscos sade e de intervir nos problemas sanitrios decorrentes do meio ambiente, da produo e circulao de bens e da prestao de servios de interesse da sade, abrangendo:

    I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se re-lacionem com a sade, compreendidas todas as etapas e processos, da produo ao consumo; e

    II - o controle da prestao de servios que se relacionam direta ou in-diretamente com a sade.

    2 Entende-se por vigilncia epidemiolgica um conjunto de aes que proporcionam o conhecimento, a deteco ou preveno de qualquer mudana nos fatores determinantes e condicionantes de sade individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de pre-veno e controle das doenas ou agravos.

    ApostilasBrasil.com

  • 11

    3 Entende-se por sade do trabalhador, para fins desta lei, um con-junto de atividades que se destina, atravs das aes de vigilncia epide-miolgica e vigilncia sanitria, promoo e proteo da sade dos traba-lhadores, assim como visa recuperao e reabilitao da sade dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condies de trabalho, abrangendo:

    I - assistncia ao trabalhador vtima de acidentes de trabalho ou porta-dor de doena profissional e do trabalho;

    II - participao, no mbito de competncia do Sistema nico de Sade (SUS), em estudos, pesquisas, avaliao e controle dos riscos e agravos potenciais sade existentes no processo de trabalho;

    III - participao, no mbito de competncia do Sistema nico de Sa-de (SUS), da normatizao, fiscalizao e controle das condies de pro-duo, extrao, armazenamento, transporte, distribuio e manuseio de substncias, de produtos, de mquinas e de equipamentos que apresentam riscos sade do trabalhador;

    IV - avaliao do impacto que as tecnologias provocam sade; V - informao ao trabalhador e sua respectiva entidade sindical e s

    empresas sobre os riscos de acidentes de trabalho, doena profissional e do trabalho, bem como os resultados de fiscalizaes, avaliaes ambien-tais e exames de sade, de admisso, peridicos e de demisso, respeita-dos os preceitos da tica profissional;

    VI - participao na normatizao, fiscalizao e controle dos servios de sade do trabalhador nas instituies e empresas pblicas e privadas;

    VII - reviso peridica da listagem oficial de doenas originadas no pro-cesso de trabalho, tendo na sua elaborao a colaborao das entidades sindicais; e

    VIII - a garantia ao sindicato dos trabalhadores de requerer ao rgo competente a interdio de mquina, de setor de servio ou de todo ambi-ente de trabalho, quando houver exposio a risco iminente para a vida ou sade dos trabalhadores.

    CAPTULO II Dos Princpios e Diretrizes

    Art. 7 As aes e servios pblicos de sade e os servios privados contratados ou conveniados que integram o Sistema nico de Sade (SUS), so desenvolvidos de acordo com as diretrizes previstas no art. 198 da Constituio Federal, obedecendo ainda aos seguintes princpios:

    I - universalidade de acesso aos servios de sade em todos os nveis de assistncia;

    II - integralidade de assistncia, entendida como conjunto articulado e contnuo das aes e servios preventivos e curativos, individuais e coleti-vos, exigidos para cada caso em todos os nveis de complexidade do sistema;

    III - preservao da autonomia das pessoas na defesa de sua integri-dade fsica e moral;

    IV - igualdade da assistncia sade, sem preconceitos ou privilgios de qualquer espcie;

    V - direito informao, s pessoas assistidas, sobre sua sade; VI - divulgao de informaes quanto ao potencial dos servios de sa-

    de e a sua utilizao pelo usurio; VII - utilizao da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades,

    a alocao de recursos e a orientao programtica; VIII - participao da comunidade; IX - descentralizao poltico-administrativa, com direo nica em ca-

    da esfera de governo: a) nfase na descentralizao dos servios para os municpios; b) regionalizao e hierarquizao da rede de servios de sade; X - integrao em nvel executivo das aes de sade, meio ambiente

    e saneamento bsico; XI - conjugao dos recursos financeiros, tecnolgicos, materiais e hu-

    manos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios na prestao de servios de assistncia sade da populao;

    XII - capacidade de resoluo dos servios em todos os nveis de as-sistncia; e

    XIII - organizao dos servios pblicos de modo a evitar duplicidade de meios para fins idnticos.

    CAPTULO III Da Organizao, da Direo e da Gesto

    Art. 8 As aes e servios de sade, executados pelo Sistema nico de Sade (SUS), seja diretamente ou mediante participao complementar da iniciativa privada, sero organizados de forma regionalizada e hierarqui-zada em nveis de complexidade crescente.

    Art. 9 A direo do Sistema nico de Sade (SUS) nica, de acordo com o inciso I do art. 198 da Constituio Federal, sendo exercida em cada esfera de governo pelos seguintes rgos:

    I - no mbito da Unio, pelo Ministrio da Sade; II - no mbito dos Estados e do Distrito Federal, pela respectiva Secre-

    taria de Sade ou rgo equivalente; e III - no mbito dos Municpios, pela respectiva Secretaria de Sade ou

    rgo equivalente. Art. 10. Os municpios podero constituir consrcios para desenvolver

    em conjunto as aes e os servios de sade que lhes correspondam. 1 Aplica-se aos consrcios administrativos intermunicipais o princpio

    da direo nica, e os respectivos atos constitutivos disporo sobre sua observncia.

    2 No nvel municipal, o Sistema nico de Sade (SUS), poder or-ganizar-se em distritos de forma a integrar e articular recursos, tcnicas e prticas voltadas para a cobertura total das aes de sade.

    Art. 11. (Vetado). Art. 12. Sero criadas comisses intersetoriais de mbito nacional, su-

    bordinadas ao Conselho Nacional de Sade, integradas pelos Ministrios e rgos competentes e por entidades representativas da sociedade civil.

    Pargrafo nico. As comisses intersetoriais tero a finalidade de arti-cular polticas e programas de interesse para a sade, cuja execuo envolva reas no compreendidas no mbito do Sistema nico de Sade (SUS).

    Art. 13. A articulao das polticas e programas, a cargo das comisses intersetoriais, abranger, em especial, as seguintes atividades:

    I - alimentao e nutrio; II - saneamento e meio ambiente; III - vigilncia sanitria e farmacoepidemiologia; IV - recursos humanos; V - cincia e tecnologia; e VI - sade do trabalhador. Art. 14. Devero ser criadas Comisses Permanentes de integrao

    entre os servios de sade e as instituies de ensino profissional e superi-or.

    Pargrafo nico. Cada uma dessas comisses ter por finalidade pro-por prioridades, mtodos e estratgias para a formao e educao conti-nuada dos recursos humanos do Sistema nico de Sade (SUS), na esfera correspondente, assim como em relao pesquisa e cooperao tcnica entre essas instituies.

    Art. 14-A. As Comisses Intergestores Bipartite e Tripartite so reco-nhecidas como foros de negociao e pactuao entre gestores, quanto aos aspectos operacionais do Sistema nico de Sade (SUS). (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    Pargrafo nico. A atuao das Comisses Intergestores Bipartite e Tripartite ter por objetivo: (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    I - decidir sobre os aspectos operacionais, financeiros e administrativos da gesto compartilhada do SUS, em conformidade com a definio da poltica consubstanciada em planos de sade, aprovados pelos conselhos de sade; (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    II - definir diretrizes, de mbito nacional, regional e intermunicipal, a respeito da organizao das redes de aes e servios de sade, princi-palmente no tocante sua governana institucional e integrao das aes e servios dos entes federados; (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    III - fixar diretrizes sobre as regies de sade, distrito sanitrio, integra-o de territrios, referncia e contrarreferncia e demais aspectos vincula-dos integrao das aes e servios de sade entre os entes federados. (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    Art. 14-B. O Conselho Nacional de Secretrios de Sade (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Sade (Conasems) so reconhecidos como entidades representativas dos entes estaduais e muni-cipais para tratar de matrias referentes sade e declarados de utilidade pblica e de relevante funo social, na forma do regulamento. (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    1o O Conass e o Conasems recebero recursos do oramento geral da Unio por meio do Fundo Nacional de Sade, para auxiliar no custeio de suas despesas institucionais, podendo ainda celebrar convnios com a Unio. (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    2o Os Conselhos de Secretarias Municipais de Sade (Cosems) so reconhecidos como entidades que representam os entes municipais, no mbito estadual, para tratar de matrias referentes sade, desde que

    ApostilasBrasil.com

  • 12

    vinculados institucionalmente ao Conasems, na forma que dispuserem seus estatutos. (Includo pela Lei n 12.466, de 2011).

    CAPTULO IV Da Competncia e das Atribuies

    Seo I Das Atribuies Comuns

    Art. 15. A Unio, os Estados, o Distrito Federal e os Municpios exerce-ro, em seu mbito administrativo, as seguintes atribuies:

    I - definio das instncias e mecanismos de controle, avaliao e de fiscalizao das aes e servios de sade;

    II - administrao dos recursos oramentrios e financeiros destinados, em cada ano, sade;

    III - acompanhamento, avaliao e divulgao do nvel de sade da populao e das condies ambientais;

    IV - organizao e coordenao do sistema de informao de sade; V - elaborao de normas tcnicas e estabelecimento de padres de

    qualidade e parmetros de custos que caracterizam a assistncia sade; VI - elaborao de normas tcnicas e estabelecimento de padres de

    qualidade para promoo da sade do trabalhador; VII - participao de formulao da poltica e da execuo das aes

    de saneamento bsico e colaborao na proteo e recuperao do meio ambiente;

    VIII - elaborao e atualizao peridica do plano de sade; IX - participao na formulao e na execuo da poltica de formao

    e desenvolvimento de recursos humanos para a sade; X - elaborao da proposta oramentria do Sistema nico de Sade

    (SUS), de conformidade com o plano de sade; XI - elaborao de normas para regular as atividades de servios priva-

    dos de sade, tendo em vista a sua relevncia pblica; XII - realizao de operaes externas de natureza financeira de inte-

    resse da sade, autorizadas pelo Senado Federal; XIII - para atendimento de necessidades coletivas, urgentes e transit-

    rias, decorrentes de situaes de perigo iminente, de calamidade pblica ou de irrupo de epidemias, a autoridade competente da esfera administrativa correspondente poder requisitar bens e servios, tanto de pessoas natu-rais como de jurdicas, sendo-lhes assegurada justa indenizao;

    XIV - implementar o Sistema