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LAZER E O DIREITO À CIDADE: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA PRAÇA DOUTOR ALBERTO WANDERLEY EM RECIFE - PE TURISMO, OCIO Y DERECHO A LA CIUDAD: UNA PROPUESTA DE INTERVENCIÓN EN LA PLAZA DEL DOCTOR ALBERTO WANDERLEY EN RECIFE - PE TOURISM, LEISURE AND THE RIGHT TO CITY: A PROPOSAL FOR INTERVENTION IN DOCTOR ALBERTO WANDERLEY SQUARE IN RECIFE - PE Apresentação: Comunicação Oral Derek Luiz Alves dos Santos 1 ; Clara Maria Rito Silva 2 ; Daizi Rodrigues da Silva 3 Maria da Conceição Santos da Silva 4 Erick Viana da Silva 5 DOI: https://doi.org/10.31692/2358-9728.VICOINTERPDVG.2019.0028 Resumo Diante das mudanças no modo de viver da população mundial, três pontos vêm assumindo uma posição cada vez mais importante no cotidiano dos cidadãos: o turismo, o lazer e o direito à cidade. Considerando que qualquer deslocamento é turismo, e que cada vez mais há uma necessidade da população por espaços públicos que ofereçam qualidade de vida, recreação e convívio social, o presente trabalho questiona o uso inadequado desses espaços na capital pernambucana, propondo uma intervenção na Praça Doutor Alberto Wanderley, através de novas práticas de uso construídas de forma participativa com a comunidade. Em seu desenvolvimento foram realizadas visitas regulares ao local, onde por meio de observação e aplicação de questionários foram identificadas as necessidades e desejos que a comunidade local possui para o espaço em questão. Através das visitas, pesquisa de campo, revisão de literatura, além dos encontros com o Diretor da Escola de Referência em Ensino Médio de Beberibe foram identificados pontos importantes: a necessidade de infraestrutura para praça, bem como iluminação, rampas de acesso, segurança, espaço de lazer e prática de esportes. O Diretor e os Alunos já desenvolvem atividades e trabalho de conscientização e sustentabilidade e demonstraram muito interesse em desenvolver esse projeto com a comunidade, pois muitos tinham como convicção que com ele abarcaria inúmeros benefícios. Finalmente, constatou-se que esse projeto poderia ajudar no crescimento local e na melhoria da qualidade de vida dos moradores e de bairros vizinhos, pois nele buscou-se inserir 1 Mestrando em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (pela Universidade de Pernambuco), Especialista em Administração Pública, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected] ² Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected] ³ Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected] 4 Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected] 5 Mestre em Administração de Empresas, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, [email protected]

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  • LAZER E O DIREITO À CIDADE: UMA PROPOSTA DE INTERVENÇÃO NA

    PRAÇA DOUTOR ALBERTO WANDERLEY EM RECIFE - PE

    TURISMO, OCIO Y DERECHO A LA CIUDAD: UNA PROPUESTA DE

    INTERVENCIÓN EN LA PLAZA DEL DOCTOR ALBERTO WANDERLEY EN

    RECIFE - PE

    TOURISM, LEISURE AND THE RIGHT TO CITY: A PROPOSAL FOR

    INTERVENTION IN DOCTOR ALBERTO WANDERLEY SQUARE IN RECIFE - PE

    Apresentação: Comunicação Oral

    Derek Luiz Alves dos Santos1; Clara Maria Rito Silva 2; Daizi Rodrigues da Silva 3 Maria da

    Conceição Santos da Silva4 Erick Viana da Silva5

    DOI: https://doi.org/10.31692/2358-9728.VICOINTERPDVG.2019.0028

    Resumo

    Diante das mudanças no modo de viver da população mundial, três pontos vêm assumindo

    uma posição cada vez mais importante no cotidiano dos cidadãos: o turismo, o lazer e o

    direito à cidade. Considerando que qualquer deslocamento é turismo, e que cada vez mais há

    uma necessidade da população por espaços públicos que ofereçam qualidade de vida,

    recreação e convívio social, o presente trabalho questiona o uso inadequado desses espaços na

    capital pernambucana, propondo uma intervenção na Praça Doutor Alberto Wanderley, através

    de novas práticas de uso construídas de forma participativa com a comunidade. Em seu

    desenvolvimento foram realizadas visitas regulares ao local, onde por meio de observação e

    aplicação de questionários foram identificadas as necessidades e desejos que a comunidade

    local possui para o espaço em questão. Através das visitas, pesquisa de campo, revisão de

    literatura, além dos encontros com o Diretor da Escola de Referência em Ensino Médio de

    Beberibe foram identificados pontos importantes: a necessidade de infraestrutura para praça,

    bem como iluminação, rampas de acesso, segurança, espaço de lazer e prática de esportes. O

    Diretor e os Alunos já desenvolvem atividades e trabalho de conscientização e

    sustentabilidade e demonstraram muito interesse em desenvolver esse projeto com a

    comunidade, pois muitos tinham como convicção que com ele abarcaria inúmeros benefícios.

    Finalmente, constatou-se que esse projeto poderia ajudar no crescimento local e na melhoria

    da qualidade de vida dos moradores e de bairros vizinhos, pois nele buscou-se inserir

    1 Mestrando em Gestão do Desenvolvimento Local Sustentável (pela Universidade de Pernambuco), Especialista

    em Administração Pública, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

    [email protected]

    ² Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

    [email protected]

    ³ Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

    [email protected] 4 Graduada em Gestão de Turismo, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

    [email protected] 5 Mestre em Administração de Empresas, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco,

    [email protected]

    https://doi.org/10.31692/2358-9728.VICOINTERPDVG.2019.0028

  • propostas que buscam o uso mais eficiente do espaço de forma sustentável e com

    envolvimento da comunidade e estudantes do Ensino Médio. A partir da compilação desses

    dados, foi elaborado um projeto de intervenção para o local que foi apresentado por meio de

    reuniões à comunidade.

    Palavras-Chave: Turismo, Lazer, Direito à cidade, Praça

    Resumen

    Dados los cambios en la forma de vida de la población mundial, tres puntos han estado

    tomando una posición cada vez más importante en la vida cotidiana de los ciudadanos: el

    turismo, el ocio y el derecho a la ciudad. Considerando que cualquier desplazamiento es

    turismo y que existe una necesidad creciente de la población por espacios públicos que

    ofrezcan calidad de vida, recreación y vida social, el presente trabajo cuestiona el uso

    inapropiado de estos espacios en la capital de Pernambuco, proponiendo una intervención en

    Praça Doutor. Alberto Wanderley, a través de nuevas prácticas participativas construidas con

    la comunidad. Durante su desarrollo, se realizaron visitas regulares al lugar, donde la

    observación y la aplicación de cuestionarios identificaron las necesidades y los deseos que

    tiene la comunidad local para el espacio en cuestión. A través de visitas, investigación de

    campo, revisión de literatura y reuniones con el Director de la Escuela de Referencia de

    Beberibe High School, se identificaron puntos importantes: la necesidad de infraestructura

    para la plaza, así como iluminación, rampas de acceso, seguridad, espacio. Actividades de

    ocio y deportivas. El Director y los Estudiantes ya están desarrollando actividades y trabajo de

    concientización y sostenibilidad, y han mostrado un gran interés en desarrollar este proyecto

    con la comunidad, ya que muchos estaban convencidos de que traería consigo numerosos

    beneficios. Finalmente, se descubrió que este proyecto podría ayudar al crecimiento local y

    mejorar la calidad de vida de los residentes y los vecindarios vecinos, ya que buscaba insertar

    propuestas que buscaran el uso más eficiente del espacio de manera sostenible y con la

    participación de la comunidad. y estudiantes de secundaria. A partir de la compilación de

    estos datos, se preparó un proyecto de intervención para el sitio que se presentó a través de

    reuniones a la comunidad.

    Palabras Clave: Turismo, ocio, derecho a la ciudad, plaza

    Abstract Given the changes in the way of life of the world population, three points have been taking an

    increasingly important position in the daily lives of citizens: tourism, leisure and the right to

    the city. Considering that any displacement is tourism, and that there is an increasing need of

    the population for public spaces that offer quality of life, recreation and social life, the present

    work questions the inappropriate use of these spaces in the Pernambuco capital, proposing an

    intervention in Praça Doutor Alberto Wanderley, through new participatory practices built

    with the community. During its development, regular visits were made to the place, where

    observation and application of questionnaires identified the needs and desires that the local

    community has for the space in question. Through visits, field research, literature review, and

    meetings with the Principal of the Beberibe High School Reference School, important points

    were identified: the need for infrastructure for the square, as well as lighting, access ramps,

    security, space leisure and sports activities. The Principal and Students are already developing

    awareness and sustainability activities and work and have shown a great deal of interest in

    developing this project with the community, as many were convinced that it would bring with

    it numerous benefits. Finally, it was found that this project could help local growth and

    improve the quality of life of residents and neighboring neighborhoods, as it sought to insert

  • proposals that seek the most efficient use of space in a sustainable manner and with

    community involvement. and high school students. From the compilation of these data, an

    intervention project was prepared for the site that was presented through meetings to the

    community.

    Keywords: Tourism, Leisure, Right to the city, Plaza

    Introdução

    A globalização tem gerado mudanças significativas no modo de viver da população

    mundial. É notável a busca das pessoas por uma melhor qualidade de vida. Quanto maior a

    densidade demográfica, maior a necessidade de um espaço público que traga não só o

    embelezamento urbanístico, mas que proporcione o convívio social.

    É notável que as cidades brasileiras venham passando por um processo de urbanização

    muito acelerado, provocando naturalmente, um aumento na demanda por mais serviços e

    espaços urbanos. Por este e por outros motivos, frisa-se, o fato de o Brasil ter uma cultura

    onde não são realizados planejamentos de longo prazo, bem como possuir problemas

    relacionados à infraestrutura, que por sua vez, não acompanha o crescimento da população.

    Nota-se ainda, que os espaços em geral, principalmente os públicos, apresentam diversos

    problemas de funcionamento.

    O espaço público traz inúmeros benefícios à comunidade. Dentre eles, acontecimentos

    de práticas sociais, momentos de lazer, diminuição dos níveis de segregação social e de

    violência, bem como de melhora da economia local.

    A praça pode ser definida, de maneira ampla, como qualquer espaço público urbano,

    livre de edificações que propicie convivência e/ou recreação para os seus usuários. Desde a

    antiguidade, espaços como as praças possuem grande importância na sociedade, uma vez que

    estes eram palcos de eventos, apresentações, discursos, desfiles, encontros, festas e

    comemorações em geral. O espaço urbano tido como percussor das praças foi à Ágora, na

    Grécia. Macedo e Robba (2002) definiam a ágora grega como um espaço aberto, normalmente

    delimitado por um mercado, no qual se praticava a democracia direta, visto ser este o local

    para discussão e debate entre os cidadãos.

    Esse espaço, existente há milênios, utilizado por civilizações de distintas maneiras,

    nunca deixou de exercer a sua função de integração e sociabilidade. Sun Alex (2008, p. 19)

    afirma que os espaços públicos são aqueles “abertos e acessíveis, sem exceção, a todas as

    pessoas”. Todos têm o direito, garantido por lei, a usufruir desses locais, independente de

    classe social, econômica, gênero, religião, deficiência ou qualquer outro fator de

  • diferenciação. As cidades, como qualquer grande conglomerado urbano, necessitam de

    espaços de lazer que rompam com a realidade vivida no cotidiano.

    Hoje, infelizmente é notório que estes espaços não passam por uma manutenção

    frequente, refletindo o descaso das autoridades públicas que não os trata com a prioridade

    necessária. Falta, na cidade do Recife, vontade política e ambiental para gerir com eficiência

    os espaços públicos verdes. Sendo mal geridos e conservados, esses espaços públicos têm se

    tornado até mesmo um perigo a céu aberto nas cidades, uma vez que é frequentada para

    pontos de prostituição, comércio e consumo dos mais diversos tipos de drogas.

    Pernambuco possui aproximadamente 9 milhões de habitantes (estimativa 2015 -

    IBGE), contando com 185 municípios e uma área de cerca de 98.076,001 km². Desse total,

    Segundo a EMLURB (2016) apenas 1.969,779,16 m² é composto de parques e praças. Uma

    estimativa de 121,8031m² de espaço público de lazer por habitante.

    Nota-se que, diante da quantidade de habitantes, esse número é extremamente baixo.

    Isso acontece, em parte, porque a maior parte dos espaços públicos da capital pernambucana é

    destinada à circulação e estacionamento de veículos. A partir da observação desses dados, nos

    questionamos sobre a forma mais eficiente de uso destes espaços urbanos. Recife, uma das

    maiores cidades da América Latina, têm grande parte de sua história contada em suas praças.

    O local de implantação do projeto se situa no bairro Porto da Madeira, mais

    precisamente em frente à Avenida Beberibe. O terreno não abriga nenhuma construção,

    servindo apenas de estacionamento irregular para veículos. Apesar de não ser uma área verde

    ou de lazer, tem o nome de Praça Doutor Alberto Wanderley. Localizada em um bairro isolado

    e carente de equipamentos de lazer, a área de intervenção é um precioso logradouro que se

    tornará um espaço fundamental de usufruto da população local.

    A ideia de realizar este projeto surgiu através de um evento criado pela Mobicidade

    (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta) em Porto alegre. A Mobicidade é uma

    associação que busca uma cidade mais desenvolvida e humana, a partir de políticas públicas

    que visem a remodelação dos espaços públicos, a conscientização e a educação para o

    convívio harmônico.

    O objetivo deste tipo de projeto é um assunto amplamente debatido na área do Lazer.

    É constantemente trabalhada a questão do direito à cidade e as mudanças que iniciativas como

    esta podem causar na sociedade contemporânea.

    Sendo assim, é abordado o direito à cidade como a teoria principal do estudo, e aqui

    proposta uma forma diferente de uso dos espaços públicos para oferecer lazer, cultura e

    serviços a toda população.

  • A área investigada contempla uma realidade facilmente encontrada nas cidades

    brasileiras: um bairro com potencial inexplorado e grandes espaços mal aproveitados. Pouco

    conhecido, este local poderá se valer do turismo e do lazer para a desmistificação de alguns

    estereótipos.

    No mais, o projeto busca proporcionar benefícios para a comunidade envolvida por

    meio da apresentação de caminhos alternativos aos atuais, com base no desenvolvimento

    sustentável e no preceito do lazer propriamente dito.

    O objetivo geral vem a ser a elaboração de uma proposta de intervenção para a Praça

    Doutor Alberto Wanderley, através de novas práticas de uso construídas de forma participativa

    com a comunidade, trilhando:

    • Buscar subsídios teóricos em bibliografias sobre a temática do lazer e do direito à cidade;

    • Realizar pesquisa diagnóstica com a comunidade local a fim de perceber a necessidade da

    coletividade;

    • Analisar os resultados da pesquisa de campo a fim de elaborar o projeto de intervenção com

    base nos desejos da população local;

    • Apontar recomendações para as estratégias na implantação do projeto.

    Fundamentação Teórica

    Lazer

    Atualmente, o lazer vem tomando cada vez mais espaço em nossa sociedade e,

    consequentemente, sendo estudado por diversas áreas, entre elas: psicologia, história,

    hotelaria e turismo. O conceito de lazer é um tema bastante frequente entre os pesquisadores,

    gerando várias discussões acerca de sua definição que por ventura não se chegou ainda a uma

    conclusão definitiva. Um conceito recente afirma que o fenômeno pode ser entendido como:

    “uma dimensão da cultura constituída pela vivência lúdica de manifestações

    culturais no tempo/espaço conquistado pelo sujeito ou grupo social, estabelecendo

    relações dialéticas com as necessidades, os deveres e as obrigações – especialmente

    com o trabalho produtivo.” (GOMES, 2004, p.125)

    A própria etimologia da palavra “lazer” se origina do termo latino licet, cujo significado

    é “o que é permitido, licença”. Assim, no mundo contemporâneo a palavra “ócio” foi

    substituída por loisir, em francês, e por “lazer”, em português. Sua conotação aproxima-se,

    hoje, tanto da idéia de licença como da idéia de parcelas de tempo livre, legalmente obtidas.

  • Para Bacal (2003, p. 69) o lazer se caracteriza por apresentar uma atividade que “(...)

    tem como suporte de sua definição a existência de um tempo livre – legalmente estabelecido –

    preenchido por atividades que dão satisfação íntima de acordo com o sistema referencial de

    valores e estrutura econômica de cada contexto”.

    O lazer é um fenômeno que apresenta aspectos múltiplos, sendo necessário um

    aprofundamento no assunto. O lazer e o ócio sofreram alterações nas suas definições e

    significados ao longo do tempo. Na Grécia, o tempo livre era o mesmo que ócio, e estes eram

    mais valorizados que o trabalho. Havia uma valorização maior do tempo livre, e os homens

    podiam considerar esses momentos um “estado da alma”. Na Roma, os períodos de descanso

    eram essenciais, considerados condições de trabalho necessário para os indivíduos. Na Idade

    Média houve uma máxima valorização do ócio pela nobreza, que não se interessavam pelo

    trabalho.

    A partir da Reforma da Igreja houve uma desvalorização aos períodos de momentos

    livres e ócio, ao passo em que houve uma excessiva valorização do trabalho. Seguindo essas

    ideologias, no século XVIII o trabalho ocupava a maior parte do tempo dos indivíduos de

    forma que a jornada de trabalho era correspondente a 16 horas ou mais.

    Devido à modernização e aos progressos tecnológicos, com o passar do tempo a jornada

    de trabalho foi diminuindo e os indivíduos foram conquistando mais direitos, como férias e

    benefícios nos finais de semana. Assim, o lazer deixou de ser privilégio dos nobres e mais

    ricos e essas mudanças trouxeram mais tempo livre para a população, que em contrapartida

    passou a buscar atividades de lazer para preencher esse tempo.

    Nas últimas décadas houve um passo importante no progresso do lazer. O crescimento

    urbano, a necessidade de espaços de lazer e vários outros fatores impulsionaram um

    planejamento no sentido de dar opções à população. O turismo entra nesse contexto como

    uma das atividades mais importantes.

    O lazer atingiu um grau de importância enorme no contexto do mundo moderno e

    tecnológico. O cansaço, excesso de trabalho, o crescimento desordenado dos centros urbanos

    e a falta de áreas verdes propiciam a necessidade do homem de buscar atividades que o livrem

    do estresse da rotina.

    As atividades de lazer são cada vez mais procuradas pelos cidadãos, juntamente com a

    criação de novos ambientes, espaços alternativos onde essas tarefas e atividades fossem

    desempenhadas.

    Diante o que foi exposto sobre o conceito de lazer e o conceito de turismo, podemos

    descrever as relações que se estabelecem entre esses dois termos No que se diz respeito ao

    ambiente acadêmico existem divergências sobre os conceitos de cada fenômeno, onde muitos

  • dizem que o turismo é parte integrante do lazer, e outros dizem que o lazer é um dos

    segmentos do turismo.

    O Lazer e o Turismo são fenômenos diferentes, não podendo ser vistos de forma

    semelhante, pois de acordo com Souza (2010, p. 10) "nenhum desses fenômenos se reduz ao

    outro, ou seja, o turismo é mais do que uma atividade de lazer e o lazer, por sua vez, é mais do

    que apenas tipologia turística."

    O processo de lazer não está limitado ao que é sentido durante as viagens, podendo ser

    visto de várias formas, e o turismo sendo uma de suas possibilidades. O lazer está relacionado

    a diversas exibições culturais, como a festa, a viagem, o esporte, a literatura, dança e outros.

    Atualmente, os dois fenômenos são vistos pela sociedade como forma de

    entretenimento com o objetivo de minimizar as frustrações ocasionadas pela vida levada na

    sociedade. O lazer está sendo visto como principal causa de repor as energias e gerar

    felicidade, essas quais as pessoas não acham no ambiente de trabalho. Nenhum dos dois, no

    entanto devem ser vistos dessa forma, pois eles são fenômenos socioculturais e, ao

    participarmos destes, podemos crescer pessoalmente e socialmente.

    De acordo com Souza (2010, p. 12) "turismo e lazer podem representar um tempo e

    espaço de expressão humana, de fruição, espontaneidade, prazer e de recriação de nossas

    identidades através do contato com novas situações e culturas".

    Entende-se turismo como um fenômeno que envolve cultura, sociedade, política e

    economia, e no seu tempo livre o turista busca por atividades de lazer e entretenimento.

    O turismo seria basicamente uma atividade realizada no tempo livre, enquanto o lazer

    é considerado todo o tempo que não seja destinado aos trabalhos habituais. Conforme Leite

    (1995, p.14), Lazer é o conjunto de ocupações às quais o indivíduo pode entregar-se de livre

    vontade, seja para repousar, seja para divertir-se, recrear-se, entreter-se, ou ainda para

    desenvolver a sua formação ou informação desinteressada, sua participação social voluntária

    ou sua livre capacidade criadora, após liberar-se ou desembaraçar-se das obrigações

    profissionais, familiares e sociais.

    O lazer não só permite o desenvolvimento pessoal e social, como, segundo Marcellino

    (2000), estreita as relações e consente a vivência de valores, ou seja, contribui para mudanças

    de ordem moral e cultural. O espaço para o lazer é o espaço urbano democratizado. Para Leite

    (1995), estas áreas e ruas, com instalações e recursos apropriados, são, hoje, uma promissora

    preocupação das administrações dos centros urbanos, ao mesmo tempo em que é onde se

    concentra mais a população.

  • O turismo deve ser entendido como uma atividade cultural de lazer, oportunidade de

    conhecimento, de enriquecimento da sensibilidade, da percepção social e experiências

    sugestivas, é o que afirma Marcellino (2000).

    Efetivamente os espaço urbanos de lazer nas cidades deveriam ser criados e tratados em

    cooperação com arquitetos, urbanistas e gestores de uma maneira mais sintonizada.

    Direito à cidade

    Em meados de maio de 1968, Henri Lefebvre publicou a sua obra-manifesto Le droit à

    la ville, o “direito à cidade”. No seu estudo, o autor buscou resumir as suas ideias com o

    objetivo de incluir mais a população em todos os aspectos da vida urbana, desde ao acesso até

    a participação e reconhecimento dos espaços como seu por direito.

    Esse assunto vem sendo pauta de várias discussões nos últimos anos por movimentos

    sociais, instituições e organizações. Estes entendem que para que a democracia aconteça nas

    cidades é necessário oferecer qualidade de vida a todos os seus cidadãos, incentivando-os a

    ocupar os espaços públicos e reconhecê-los como uma extensão de suas próprias casas.

    Segundo Harvey (2008, p. 74) “A questão do tipo de cidade que queremos não pode

    ser divorciada do tipo de laços sociais, relação com a natureza, estilos de vida, tecnologias e

    valores estéticos que desejamos”. O pesquisador argumenta para explicar-nos que a cidade é

    construída a partir das concepções dos cidadãos. Para que a cidade seja democrática, justa e

    igualitária é necessário que toda a população participe ativamente de todo o processo de

    construção, intervenção e de mudanças. É fundamental que a cidade seja feita por e para os

    moradores.

    Para Lefebvre a cidadania vai além dos deveres e do direito ao voto. Ser cidadão é ter

    o direito, o controle e ser responsável pelo espaço onde se vive, em oposição aos interesses

    relacionados meramente ao capital. A cidade é formada por um todo, como uma obra humana

    coletiva onde cada um tem o direito de manifestar as suas diferenças.

    o direito à cidade é muito mais que liberdade individual para acessar os recursos

    urbanos: é o direito de mudar a si mesmos por mudar a cidade. É sobretudo um

    direito coletivo, ao invés de individual, pois esta transformação inevitavelmente

    depende do exercício de um poder coletivo para dar nova forma do processo de

    urbanização. O direito a fazer e refazer nossas cidades e nós mesmos é como quero

    argumentar, um dos mais preciosos, e ainda assim mais negligenciados, de nossos

    direitos humanos. (HARVEY, 2008, p. 23)

    Essa teoria prega a existência de uma cidade com uma infinidade de espaços públicos

    nos mais variados formatos, e o mais importante, pensados no interesse da população que vive

    no local.

  • Historicamente é possível observar, no entanto, que as intervenções realizadas desde o

    início do processo de urbanização nas cidades, não só deixam de levar em conta os problemas

    sociais e infraestruturais já existentes na cidade, contribuem com o agravamento dessas

    situações. As mudanças feitas nas cidades pioram a desigualdade social e corroboram com a

    segregação nos espaços.

    A apropriação do espaço urbano tem a capacidade de transformar um local por

    completo. O sentimento de pertencimento de uma população com relação a um determinado

    local é capaz de gerar benefícios para os dois lados.

    Apropriamo-nos da cidade quando nos identificamos com ela, e a partir desta

    relação de identidade com o ambiente urbano, passamos a dar sentido de lugar ao

    que antes era apenas local, e assim, podemos atuar neste ambiente atribuindo uma

    nova imagem, ou seja, personalizando o 31 espaço (LIBERALINO, 2007, p.42 apud

    MEDEIROS, 2015, P.23).

    No entanto, o conceito do direito à cidade vai muito além do acesso aos recursos,

    serviços e possibilidades que uma melhor qualidade de vida proporcionaria aos cidadãos.

    Com o início da expansão e dos processos produtivos, houve um consequente aumento dos

    lucros e disso, surgiram problemas relacionados à ociosidade desse capital.

    A urbanização, então, foi um dos meios utilizados para colocar o capital em

    circulação. Esse processo causou profundas mudanças no modo de vida da população e na

    dinâmica do consumismo. Com isso, a qualidade de vida, a cidade e seus espaços tornaram-se

    uma espécie de mercadoria nesse sistema. Harvey (2008) diz que, quando a cidade é inserida

    nesse sistema, é até possível ter algum direito sobre ela, desde que haja uma condição de arcar

    com este. Nasceram, assim, cidades com regiões completamente divididas e conflituosas entre

    si.

    Inserido nesse cenário, portanto, onde o capital passa a falar mais alto que o interesse

    de toda a população, o direito à cidade tornou-se um dos direitos mais negligenciados e

    desrespeitados no Brasil e no mundo.

    Como herança desse processo que se estende até os dias atuais, é notável que a melhor

    infraestrutura urbana se encontre geralmente nos bairros onde há melhor condição

    socioeconômica. Os serviços, equipamentos e locais de lazer são localizados nos bairros mais

    ricos. Por consequência disso, é também nestes que se encontram shoppings, lojas,

    restaurantes, e os demais estabelecimentos comerciais. Esse movimento gerou uma

    segregação que é clara de se observar nas grandes cidades, aumentando ainda mais as

    desigualdades sócio-espaciais.

  • Além da população mais pobre estar visivelmente abandonada pelos setores públicos

    nas periferias, amparada por pouca ou nenhuma estrutura que supra suas necessidades básicas,

    se vê também sem direito a equipamentos de lazer.

    Harvey (2008) afirma que o direito à cidade está basicamente confinado às elites

    políticas e econômicas das cidades devido à forma como os meios urbanos estão sendo

    construídos. O direito de moldar a cidade a partir das suas necessidades, gostos e interesses, é,

    hoje, restrito a essa taxa minúscula da população.

    Tendo em vista esse processo, os movimentos sociais, as instituições e organizações,

    vem se esforçando no intuito de, não apenas promover o debate acerca do direito à cidade,

    mas de tornar este processo de apropriação menos excludente.

    No intuito de mudar esse cenário, no entanto, é necessário que não apenas o debate

    sobre o direito à cidade seja intensificado com a sociedade, mas que haja uma pressão maior

    dos cidadãos junto aos órgãos públicos para tornar as administrações mais democráticas e

    participativas. Os poderes precisam ouvir a população, seja por meio de pesquisas,

    assembléias, debates, conferências, orçamento participativo.

    Os espaços urbanos devem ser ocupados pela população, e mais do que isso, atender

    às necessidades e desejos da mesma. O Estatuto da Cidade de 2001 prevê que todos têm o

    direito à cidade, e que este deve ser um dos direitos fundamentais da pessoa humana. Este

    estatuto prevê ainda que todos devam ter acesso às oportunidades que a vida urbana oferece.

    Apesar de o estatuto ter sido publicado há 16 anos, não houve muitos avanços no

    intuito de tornar a cidade mais democrática. Os tempos atuais pedem que a cidade seja mais

    humana, mais sustentável, mais igualitária e que novos modelos de urbanização sejam

    testados.

    Ainda que tenha acontecido o avanço inegável da tecnologia, os espaços públicos

    ainda são essenciais na vida dos indivíduos. Esses espaços promovem a socialização, o

    encontro das diversidades, do fortalecimento de movimentos, do impulsionamento das

    economias locais, do empoderamento das minorias.

    Os espaços públicos têm o poder de promover o sentimento de pertencimento, e é, a

    partir de atitudes que busquem a democratização do uso desses espaços, que enfim a

    população conseguirá moldar à cidade aos interesses coletivos.

    Metodologia

    Para a realização da presente pesquisa adotou-se revisão de literatura por meio de artigos,

    livros, revistas, teses e sites tendo em vista a obtenção de embasamento teórico para o projeto.

    Com base nisso, estudou-se sobre os seguintes temas: Turismo, Lazer, Direito à cidade,

  • Sustentabilidade, Turismo Pedagógico e Métodos Participativos. Além disso, tomaram-se

    como ferramentas para a coleta de dados, questionários.

    Para entender e sistematizar o estudo do local e o projeto de intervenção, foi utilizado

    como referência para a metodologia: O manual de procedimento para intervenção em praças:

    As praças que a gente quer, as praças que a gente tem, da Prefeitura do Recife.

    O manual propõe uma metodologia onde se faz necessário estudar o local e o seu

    entorno, bem como os desejos e necessidades da população que ali reside. Uma vez que este

    estudo não é realizado, a criação ou revitalização da praça não surtirá efeitos, adicionando

    apenas mais um espaço inutilizado e inadequado na cidade. A opinião dos moradores do

    entorno também é de extrema importância, uma vez que “quanto mais a população usa um

    espaço, quanto maior a frequência, menor é a oportunidade de depredação destes espaços”.

    (RECIFE, 2002. p. 25)

    Considerando os pontos acima citados, o manual apresenta sete diretrizes que foram

    seguidas para a realização do projeto. A primeira consistiu em conhecer a área que sofrerá a

    intervenção. Buscou-se coletar a maior quantidade possível de informações sobre o local,

    sendo elas visuais, topográficas, funcionais e até afetivas. Essa coleta foi realizada através de

    pesquisa de dados e por observação das atividades que ocorrem no local. Para alcançar o

    melhor resultado possível, a praça foi visitada por diversas vezes, em horários e dias

    diferentes, registrando por meio de fotos e dados bibliográficos.

    O segundo passo consistiu em entender e compreender a necessidade do local.

    Identificou-se a função que a praça desempenha para os moradores, para o bairro e para a

    cidade, através de entrevistas, análise de projetos anteriores e estudo do contexto em que ela

    está inserida.

    Após esta etapa, foi realizada uma análise do entorno em geral. Compilaram-se dados

    através de mapas e observação, onde foram identificadas as características do espaço, bem

    como a evolução urbana da praça. Estas etapas do estudo permitiram o conhecimento da

    história do bairro, assim como indicações do que pode ou não ser feito bem como o que deve

    ser preservado.

    A quinta diretriz diz respeito à avaliação do potencial da praça, o que ajudou

    diretamente na definição das necessidades, materiais a serem utilizados e outras definições da

    intervenção. A estratégia de coleta de informações utilizada foi o mapeamento participativo, a

    fim de contribuir com o levantamento da realidade local e identificar as suas potencialidades.

    Segundo Cerqueira (2004) o mapeamento participativo é uma técnica de coleta de

    informações baseadas na percepção e conhecimento que os indivíduos e grupos têm do espaço

  • onde vivem. Os projetos participativos têm como meta principal: apoiar grupos específicos

    nas alternativas que assegurem melhoria da qualidade de vida da população.

    A sexta etapa faz referência à identificação dos possíveis usuários do espaço. Dados

    como gênero, idade, perfil socioeconômico, nível de escolaridade, necessidades, razões para

    utilizar o local e desejos para o espaço foram coletados através de questionários, entrevistas e

    observação. A participação dos moradores locais na pesquisa permite que as decisões sejam

    tomadas a partir de um consenso por parte do grupo, o que Segundo Toro e Weneck (1996),

    fortalecem a democracia e estimula o sentimento de pertencimento com relação ao local onde

    vivem, além de estimular que os cidadãos utilizem seu senso crítico e se sintam mais

    responsáveis pelo bairro. Com relação aos questionários, foi usada a abordagem quantitativa,

    a fim de compreendermos os dados de forma estatística, que segundo Richardson (1999, p.80)

    “pode descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas

    variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais”.

    Por último, todos os processos realizados acima permitiram a realização da última

    diretriz: a investigação da dimensão simbólica do local, o valor afetivo que o espaço

    representa para as pessoas e a representatividade na história do bairro.

    Foram realizadas seis visitas de campo no total. Na primeira, foram coletadas

    informações com os moradores e transeuntes de maneira informal, para identificar as

    necessidades e potenciais turísticos no local de forma superficial. Buscando alcançar este

    objetivo, foi utilizada a pesquisa exploratória, pela qual foi possível a familiarização com o

    ambiente e os elementos que seriam futuramente abordados.

    Na segunda visita foram utilizadas as abordagens quantitativa e qualitativa, onde

    ocorreu o levantamento mais detalhado do maior número de informações acerca das

    necessidades e dos desejos dos moradores locais, com relação a seu bairro.

    Nesta visita também foi iniciado o contato com o responsável pela escola mais

    próxima do local objeto deste estudo, no qual foi exposto os objetivos deste trabalho e as

    respectivas diretrizes, além do pedido de permissão para realização da pesquisa. Uma vez

    tendo sido aprovada, foi realizada uma aplicação com alguns alunos de um questionário teste,

    para futura validação.

    A terceira visita foi realizada no intuito de haver uma maior aproximação dos

    pesquisadores com o local de estudo.

    Na quarta e quinta visitas, foram aplicados a questionários definitivos com 60 alunos

    do ensino médio da Escola de Referência em Ensino Médio de Beberibe e 20 moradores e

    transeuntes no entorno da praça.

  • Na última visita foi realizada a apresentação e entrega do projeto para a comunidade e

    escola EREM Beberibe.

    Todos esses passos foram seguidos no intuito de tornar o espaço fruto do desejo da

    coletividade, atendendo melhor a necessidade da população local, oferecendo assim melhor

    infraestrutura urbana e qualidade de vida, evitando, de tal modo que o local continue ocioso,

    perigoso e inseguro. O projeto buscou, ainda, assegurar a memória do local, compreender as

    potencialidades e deficiências de cada espaço e garantir a funcionalidade da praça.

    Resultados e Discussão

    Foi realizada uma pesquisa de campo através de questionários compostos por 18

    perguntas, aplicados com moradores do bairro nos arredores da praça e com estudantes do

    ensino médio da Escola de Referência em Ensino Médio de Beberibe. Obteve-se um total de

    80 questionários respondidos.

    Perfil

    O grupo de pesquisados é constituído na maioria por mulheres, representando 57,5%

    do total, enquanto os homens representam 42,5% dos entrevistados.

    Dentre as características do público, 77,6% possuem entre 14 e 24 anos, 11,5% de 25 a

    39 anos, 8,8% de 40 a 69 anos e nenhum dos entrevistados respondeu ter 70 ou mais. 81,3%

    do público não possui filhos.

    O grau de escolaridade dos entrevistados é predominantemente ensino médio, com

    78,6%, enquanto 19,6% possui ensino superior e apenas 1,8% apenas o ensino fundamental.

    Quando perguntados sobre a atividade destes, 80% dos entrevistados responderam ser

    estudantes, seguidos por 13,8% de trabalhadores, 3,8% desempregados e 2,5% aposentados.

    Quanto a classe social, 12,5% possui menos de um salário mínimo, 37,5% possui

    renda mensal de R$ 800 a R$ 1.000, 48,8% de R$ 1.000 a R$ 5.000, e 1,3% mais de R$

    5.000. Segundo dados do IBGE, esta média de salários pode ser enquadrada na classe social

    média.

    Opinião sobre o local

    Com relação ao bairro onde moram, 55% dos participantes reside em Beberibe, 16,3%

    em Água Fria, 3,8% na Bomba do Hemetério e apenas 1.1% na Encruzilhada. 23,8%

    responderam com outros.

    Quando perguntados se conheciam a praça, 80% dos entrevistados responderam que

    sim e 20% que não. Foi notado que, apesar da resposta negativa, os entrevistados apenas não

  • possuíam a ciência de que o espaço em questão se tratava de uma praça. Quanto à frequência

    pela qual passam pelos arredores da praça, 18,8% responderam com sempre, 26,3%

    frequentemente, 35% às vezes, 12,5% raramente e 7,5% nunca.

    Com o objetivo de entender como o espaço é visto atualmente, foi feita a pergunta

    “Como você descreveria a praça atualmente?”. Obtiveram-se resultados onde 62,5%

    respondeu “um terreno baldio”, 2,5% “um espaço de lazer”, 1,3% “um lugar de convivência”

    e 31,3% respondeu “outros”. Ao justificar a resposta, a maioria dos entrevistados que

    assinalou a alternativa “Outros” explicou que o terreno atualmente não passa de um

    estacionamento para os caminhões, não possuindo nenhuma infraestrutura que remeta à um

    espaço de lazer e contribuindo com os níveis de violência no bairro.

    Estas justificativas serviram como base para a próximas questões: “Como você avalia

    a segurança do bairro?” e “Quais os problemas que a praça traz para a comunidade da maneira

    que ela está atualmente?”. Na primeira pergunta, 46,3% considera a segurança do bairro

    péssima, 43,8% regular, 8,8% boa e 1,3% muito boa. Para a segunda pergunta, 77,5% dos

    entrevistados respondeu que o maior problema que a praça traz para a comunidade é Falta de

    segurança, 15% Lixo e 7,5% Outros.

    Com relação ao nível de satisfação dos entrevistados com a praça, o resultado

    mostrado foi de 30,1% para muito insatisfeito, 38,4% insatisfeito, 30,1% razoável e apenas

    1,4% diz estar muito satisfeito.

    No resultado da pergunta “Você colabora com algo em seu bairro?”, 42,5% dos

    entrevistados respondeu que não colabora, 25% colabora, 28,8% colabora com ações

    relacionadas à igreja que frequenta, e 3,7% fazem parte de associações.

    Disponibilidade dos entrevistados

    A décima quinta pergunta do questionário “No processo de requalificação você

    ajudaria? Se Sim, qual seria a sua função?” tem resultados importantes para a pesquisa, uma

    vez que confirma a possibilidade do público alvo participar dos processos de intervenção na

    praça. A resposta foi unânime, 100% dos entrevistados respondeu positivamente.

    Destes, 31,8% colaboraria na requalificação, 33,8% plantaria árvores, 22,5% ajudaria

    com doações e 12,5% respondeu com outros. A justificativa para quem escolheu a última

    opção foi oferecer algum serviço referente à sua atividade, como marcenaria, jardinagem e

    serviços de design.

    Na décima sexta pergunta “se houver uma requalificação na praça, para que você a

    utilizaria?” 50% do público respondeu que utilizaria o espaço para exercícios físicos, 16,2%

    para levar o filho ou outra criança, 13,5% para caminhar e 9,5% para levar seu animal de

  • estimação. Os 10% restantes justificou que utilizaria a praça para fazer piqueniques, fazer

    apresentações culturais e como espaço de convivência.

    A décima sétima pergunta teve outro resultado unânime. Quando perguntados “Você

    acredita que a comunidade se engajaria no processo de manutenção e de sustentabilidade da

    praça?” 97,5% dos pesquisados opinaram positivamente.

    Para a última pergunta “O que você acha que seria mais essencial ter na praça?”

    obtivemos resultados bem variados. 31,6% respondeu projetos educativos, 25,3% iluminação,

    11,4% jardim, 10,1% horta comunitária, 8,9% academia da cidade, 6,3% apresentações

    culturais, 3,8% bancos para sentar, 1,3% palco para apresentações e 1,3% lanchonete. Desta

    forma, as respostas influenciaram na proposta de requalificação na praça, uma vez que um dos

    objetivos do projeto é atender a demanda do público.

    Caracterização da Área de Estudo

    Recife

    Recife é um município brasileiro, capital do estado de Pernambuco e pertencente à

    Mesorregião Metropolitana do Recife e à Microrregião do Recife. Segundo dados do IBGE

    (2010), a capital pernambucana possui 1.537,104 habitantes e uma área de 218,435 km.

    Praça Doutor Alberto Wanderley

    Não foram encontrados dados sobre a Praça Doutor Alberto Wanderley e o seu entorno

    ou sobre a origem do seu nome. Nenhum entrevistado soube explicar a origem ou a história da

    praça.

    Localizada na porção leste do bairro do Porto da Madeira, a praça possui uma área

    total de 1.589,8 m², e é margeada pelas Avenidas Beberibe e Cidade de Monteiro.

    Ao ver o mapa da região, é possível notar que não há presença de vegetação na praça,

    sendo restrita a alguns canteiros ao redor do lote, totalizando uma quantidade pequena quando

    comparado com a área total do bairro. Como não há exemplares para tornar o local

    sombreado, o mesmo é desagradável com relação à temperatura.

    Nas visitas realizadas à praça também foi observado que não há mesas e nem bancos,

    exceto alguns improvisados pelos donos dos caminhões que ficam estacionados no lote da

    praça. Não há também, equipamentos de lazer ou ginástica. A iluminação é igualmente

    inexistente, criando pela noite uma sensação de insegurança para quem passa nos arredores. O

    calçamento ao redor possui buracos.

  • Ao conversar com moradores sobre as condições atuais da praça, foi informado que

    havia projeto de alguns anos para a revitalização desta, porém nada nunca saiu do papel. Não

    foram encontrados dados sobre esse projeto.

    Na análise, a praça se encontrou em um estado precário. Não houve nenhum elemento

    que indicasse que o espaço é uma praça. Constatou-se que não há nenhum tipo de sinalização

    e infraestrutura que indique que o espaço é uma praça, sendo possível a percepção apenas

    através de pesquisas ou informações dadas por moradores da região. É notável, inclusive, que

    a maioria dos transeuntes, não identificam o local como uma praça, e sim como um

    estacionamento devido à quantidade de caminhões que se encontram ali estacionados.

    Figura 1 – Caminhões estacionados na Praça

    Fonte: Google Maps.

    Ate então não se observou no local, infraestrutura urbana no local assim como nenhum

    tipo de manutenção e organização no espaço, causando um desconforto visual e dando uma

    impressão de descaso por parte das autoridades e população com relação à área.

    Propostas

    A praça projetada teve como principal ponto de partida a revitalização do local tendo

    em vista que ela é atualmente utilizada como estacionamento para caminhões da região. A

    ideia é trazer usos diversificados para a praça tornando-a mais atrativa para a comunidade

    local e turistas. Toda a proposta foi desenvolvida em resposta às necessidades e desejos da

    população local. As principais questões abordadas são: falta de áreas de lazer, falta de áreas

    verdes, falta de equipamentos públicos e segurança.

    A praça Doutor Alberto Wanderley se mostrou um sonho da comunidade local, uma

    esperança para o bairro e uma alternativa transformadora das condições locais. Este espaço é

    mais um dos milhares existentes no Estado de Pernambuco que foram esquecidos,

    marginalizados e ignorados pelos poderes responsáveis.

  • O objetivo dessas propostas é dar vida àquela região do bairro, que por tanto tempo foi

    abandonada, trazendo de volta a visibilidade aos equipamentos culturais existentes no seu

    entorno e melhorando a atividade econômica da região. Além disso, proporcionar a população

    um espaço de lazer e convívio.

    Dessa forma, definiram-se alguns elementos essenciais para proposta:

    1. Estimular a utilização do espaço pela população promovendo multiplicidade de usos,

    tornando-as capazes de atender diversos públicos e em diferentes dias e horários.

    2. Proporcionar bastante área verde a fim de estimular contato dos usuários com a

    natureza.

    3. Potencializar esporte, lazer, turismo e descanso para comunidade e visitantes.

    A partir dos desejos da comunidade entrevistada e dos estudantes, definimos a proposta,

    levando em conta o espaço existente.

    Ao pensar em um projeto que visa tornar a praça conhecida não só por moradores, mas

    por turistas, deve-se pensar obrigatoriamente em acesso e sinalização. A Avenida Beberibe,

    principal via de acesso à praça deve receber placas de aço que indiquem a localização da

    praça. Outra placa, dessa vez informativa em português, inglês e braile, deve ser colocada na

    praça.

    A segurança é um ponto marcante no projeto. A violência é, atualmente, um dos

    maiores problemas da área. Com a comunidade frequentando a praça e os seus entornos, o

    movimento constante de pessoas será restaurado e isso trará “vida” ao local que é considerado

    inseguro. Com movimento constante na maior parte do dia possíveis atos criminosos podem

    ser evitados e, assim, os frequentadores podem ter uma sensação de segurança e voltar a

    visitar o local. Para melhoria na segurança, é de suma importância que o local possua uma

    infraestrutura adequada, com, iluminação e paisagismo que convide e estimule o uso do

    espaço.

    Para que o uso da praça seja democrático, o seu acesso também deve ser. Há rampas que

    levam aos espaços com desníveis para que todos possam ter acesso total a praça independente

    de sua condição física.

    Segundo a análise dos resultados das entrevistas realizadas com moradores locais e

    transeuntes, foi possível perceber o desejo de um espaço diversificado, que atendesse às

    principais necessidades locais como um todo. Para isso, foi pensado um espaço que atendesse

    aos variados tipos de públicos como o Playground, que atende ao público infantil, a Academia

    ao ar livre, que atende a públicos de todas as idades e área de alimentação, com mesas e

    bancos feitos de madeira e material reciclável.

  • O conforto dos frequentadores da praça também está garantido, com bancos de

    concreto e banheiros químicos ao longo da praça, atendendo aos desejos e necessidades dos

    pesquisados. Ainda atendendo ao conforto, foram adotadas árvores grandes e médias para

    trazer um maior conforto térmico ao local como Ipê e Cássia e Jacarandá. O estudo dessas

    espécies foi importante para selecionar aquelas com características apropriadas para o plantio

    em espaços públicos, buscando a revitalização da área e contribuindo para a conscientização

    da população. A maioria da vegetação foi colocada na parte oeste do terreno para amenizar a

    insolação que incide sobre o mesmo na maior parte do dia.

    O exercício físico foi um dos usos mais citados na pesquisa pelos moradores. Sendo

    assim, a caminhada será uma das atividades incentivadas pelo projeto. Para tornar esta uma

    experiência agradável, o caminhar a pé será acompanhado de arborização, com áreas de

    sombreamento e lazer.

    Figura 2 – Planta da praça

    Fonte: Própria.

    Conclusões

    As praças desempenham importante papel como espaço democrático, de uso comum,

    palco de decisões e local de convívio e lazer de toda comunidade. Conhecer a importância, os

    usos e funções destas áreas são essenciais para a valorização e preservação das praças

    públicas, especialmente numa época em que a preocupação global volta-se para o meio

    ambiente, a sustentabilidade e a qualidade de vida da população. Com base nessa realidade foi

    possível perceber a necessidade da comunidade Porto da madeira por um espaço que possa

    proporcionar momentos de interação, bem estar e convívio ao ar livre.

  • Foi tomado então o compromisso de elaborar um projeto de método participativo e

    sustentável para os moradores da comunidade do bairro Porto da madeira, que possui

    potencial para o desenvolvimento turístico. Um diferencial para comunidade que ocasionará

    melhor qualidade de vida, espaço de convivência e lazer, além de melhorias na segurança e

    paisagismo.

    Através das visitas, pesquisa de campo, revisão de literatura, além dos encontros com

    o Diretor da Escola de Referência em Ensino Médio de Beberibe foram identificados pontos

    importantes: a necessidade de infraestrutura para praça, bem como iluminação, rampas de

    acesso, segurança, espaço de lazer e prática de esportes. O Diretor e os alunos já desenvolvem

    atividades e trabalho de conscientização e sustentabilidade e possuem muito interesse em

    desenvolver esse projeto com a comunidade, pois muitos acreditam que com ele virá

    inúmeros benefícios.

    Finalmente, constatou-se que esse projeto poderá ajudar no crescimento local e na

    melhoria da qualidade de vida dos moradores e de bairros vizinhos, pois nele buscou-se

    inserir propostas que buscam o uso mais eficiente do espaço de forma sustentável e com

    envolvimento da comunidade e estudantes do Ensino Médio.

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