"as actividades de lazer nocturno na cidade do porto e seus

João Mimoso

"As Actividades de Lazer Nocturno

na Cidade do Porto

e seus Arredores:

uma visão geográfica"

Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Porto

1998

"As Actividades de Lazer Nocturno

na Cidade do Porto

e seus Arredores:

uma visão geográfica"

UNIVERSIDADE DO PORTO Faculdade de Letras

BIBLIOTECA

N.» . 5 f 5 f f i ■ nata &.%-/ 04-/19 Cr^"

Dissertação de Mestrado em Geografia:

"Dinâmicas Espaciais e Ordenamento do Território"

apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto,

ao abrigo da Resolução 21 / S . C . / F. J. / 94,

publicada no D. R. 2a Série, n° 200, de 3 / 8 / 94,

para obtenção do grau de Mestre.

Dissertação de Mestrado

realizada com o apoio financeiro

do sub-programa Ciência e Tecnologia

do 2o Quadro Comunitário de Apoio

045 H

Através deste nota de agradecimento, procuro dedicar um Muito Obrigado a todos

aqueles que me ajudaram na eleboração desta Dissertação, reconhecendo que sem o seu

contributo a sua realização estaria extremamente dificultada.

- A Meus Pais e à minha irmã dedico um agradecimento muito especial, pelo apoio, sob

todas as formas possiveis e imaginárias, que me concederam ao longo destes anos, sem o

qual não teria sido possivel realizar esta dissertação;

- Ao Prof. Dr. Luis Paulo, um grande agradecimento pelo seu contributo na orientação

desta minha dissertação, sempre pronto a ajudar-me e a esclarecer possiveis dúvidas que

possuísse;

- A Carla, pela companhia e amizade sempre presente, agradeço muito, dedicando-lhe uma

grande quota parte desta dissertação;

- Aos meus amigos Raquel, Vitor, Zé Manei, Paula, Pedro Garcia e Ricardo, agradeço por

terem contribuído, de uma outra forma directa, para a realização desta dissertação,

procurando sempre resolver problemas que foram surgindo;

- Aos meus amigos Zé António, Fernando, Miguel Ângelo, Andreia, Filipa, Hugo, Mário,

Xana, Ana, Diniz, Mário Falcão e Eduarda, agradeço o apoio prestado, sempre sob a

forma de uma palavra amiga;

- Por último, ao Paulo Renato, ao Rui do Bar 31 e ao Luis Bernardino, agradeço o seu

contributo prático para a elaboração desta dissertação, pelos conhecimentos que me

transmitiram;

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: uma visão geográfica

Introdução

Os estudos sobre actividades de lazer, efectuados de modo intenso nas últimas décadas, são

um reflexo do interesse dispensado pela comunidade cientifica às actividades e

comportamentos seguidos pelos diversos elementos da sociedade no usufruto dos seus

tempos livres. Dentro deste contexto, procura-se analisar uma vertente importante da

vivência humana, vertente essa que acaba por assumir um papel crucial no desenvolvimento

colectivo das sociedades, ao revelar-se como a principal responsável pela sociabilização dos

elementos que as constituem. Estes estudos, centrados essencialmente no modo como são

usufruídos os tempos livres por parte dos indivíduos, procuram um distanciamento em

relação a estudos sobre tempos de trabalho, seja em termos de atitudes, seja em termos de

comportamentos, de modo a evitar uma subalternização do tema em análise, sem nunca

esquecer, no entanto, a relação de complementaridade que existe entre tempos de trabalho e

tempos de lazer.

A importância destes estudos é a de permitir definir de forma concreta os tempos por que se

gere a vivência humana, baseados na existência de uma clara dicotomia entre tempos de

trabalho e tempos de lazer, sendo que a Geografia do Lazer visa retratar as actividades que

permitem aos indivíduos usufruir de momentos de descontração e divertimento,

indispensáveis para o desempenhar do seu papel na sociedade de forma equilibrada. Verifica-

se, assim, que se tratam de actividades praticadas com o claro objectivo de proporcionarem

aos indivíduos prazer, e que funcionam como momentos únicos de quebra da rotina, sendo a

sua importância derivada do facto de permitirem aos indivíduos uma integração no colectivo

da sociedade.

'Teople cannot grow on the basis of physical susteinance alone; they need a cultural

identity, a sense of social fulfillment, a regeneration of body and spirit which comes from

various forms of recreation and leisure and makes their role one of growing importance on

the world's agenda".1

World Leisure and Recreation Association - Beyond survival: leisure and recreation in human settlements. A Global Sun>ey, World Leisure and Recreation Association, Nova Iorque, 1975, p. 2.

1


O aumento dos tempos livres verificado na segunda metade do século vinte, reflectiu toda

uma evolução registada pelas próprias sociedades, na medida em que se observou uma

crescente preocupação com o bem-estar, com o grau de satisfação exibido pelos elementos

que as constituem. Este incremento registado nas últimas décadas, no número e diversidade

de actividades de lazer existentes, resulta de uma cada vez maior consciencialização por

parte dos próprios indivíduos, de que o usufruto de um bom nível de vida não advém

somente da manutenção de uma qualquer actividade laboral, por mais recompensadora que

ela seja, mas também de uma crescente participação da sua parte em actividades de diversão,

que lhes possam proporcionar a obtenção de um elevado grau de satisfação. Assim, e em

função desta crescente participação por parte dos indivíduos em actividades de lazer,

verifica-se que estas passam a desempenhar um importante papel na sua sociabilização,

sendo responsáveis pelo esbater de muitas das diferenças sociais e culturais evidenciadas

entre os diversos elementos da sociedade.

No entanto, o surgir de novas formas de lazer ou o renascer de importância de formas

antigas, como, por exemplo, a dos lazeres nocturnos (que se considera como sendo aqueles

praticados entre as 0 e as 8 horas da manhã), diversificadas na sua forma e conteúdo,

originou um salientar da capacidade económica de cada indivíduo ou do seu agregado

familiar, em função dos gastos implícitos à prática de qualquer actividade de lazer. Deste

modo, a prática de lazeres passa a ser encarada como uma forma de demonstração das

capacidades económicas de cada elemento da sociedade, situação que leva a um incremento

nas disparidades já existentes, visto contribuir para uma selecção2 antecipada de quem pode

frequentar.

Como corolário da possibilidade crescente de participação de todos os elementos da

sociedade em actividades de lazer, possibilidade essa que resulta das melhorias evidenciadas

na capacidade económica dos indivíduos, da presença crescente de elementos do sexo

feminino e de elementos pertencentes a faixas etárias cada vez mais jovens, e que é fruto da

evolução das próprias sociedades nas últimas décadas, verificou-se a ocorrência de uma

diversificação nas ofertas propostas, que contribuiu para uma alteração da forma como as

ROJEK, Chris - Emancipation and demoralization: contrasting approaches in the sociology of leisure, em «Leisure Studies», Vol. 2, N° 1, Londres, 1983, p. 88.

2


actividades de lazer são encaradas pale sociedade em geral. Verifica-se assim, que a prática

generalizada de novas formas de lazer, seja ele diurno ou nocturno, contribuiu para o surgir

de novas mentalidades, menos preocupadas com as aparências e com a manutenção de um

determinado estatuto social, e mais com a diversão de que possam usufruir. Assim, a uma

mentalidade mais aberta e tolerante exibida pela própria sociedade, correspondeu uma

participação maciça dos seus elementos, desejosos de se divertirem sem qualquer tipo de

constrangimentos.

Deste modo, constata-se que até as próprias actividades de lazer nocturno, campo de estudo

desta dissertação, sempre encaradas de uma forma negativa ao longo dos tempos, visto

serem conotadas com ambientes de marginalidade e de boémia, adquiriram um estatuto3 de

respeitabilidade, em função da democratização ocorrida no universo dos seus

frequentadores, seja em termos etários, económicos ou sociais. Neste estudo, além de uma

análise teórica do fenómeno, necessária para a sua correcta compreensão, procura-se

também qualificar e quantificar a evolução das actividades de lazer nocturno existentes numa

determinada área, a da cidade do Porto e seus arredores, de forma a que seja possível

analisar o modo como estas influenciaram a evolução da sociedade e do próprio território.

Devido ao grau de complexidade apresentado pelo colectivo de actividades de lazer

nocturno presente, registou-se uma opção voluntária pela análise de parte desse colectivo,

nomeadamente aquele constituído pelas actividades de índole essencialmente consumista,

como por exemplo, Bares e Discotecas, entre outras. Como complemento, abordaram-se

também as actividades de Restauração e Cafetaria, devido ao importante papel por si

desempenhado na sociabilização dos elementos da sociedade, fundamental para a frequência

de outros tipos de estabelecimentos de lazer nocturno, como os citados anteriormente.

Todos os outros tipos de actividades de lazer nocturno não são analisados em profundidade,

em função desta opção. No que diz respeito ao desenvolvimento temporal destas

actividades, é de referir que é a partir de finais da década de 60 que se regista a existência de

informação concreta, fidedigna e de qualidade, motivo pelo qual esta dissertação opta por se

desenvolver em termos cronológicos somente a partir desse momento.

HEMINGWAY, J.L.- Opening windows on an interpretative leisure studies, em «Journal of Leisure Studies», Vol. 22, N°4, s.L, 1990. p. 303.

3


No caso da sociedade analisada, é ainda de realçar a importância do 25 de Abril de 1974,

momento responsável por uma alteração de mentalidades e por uma mudança da forma de

pensar da própria sociedade, que incentivou a participação de elementos pertencentes a

todos os estratos sociais, situação que contribuiu para a diversificação acelerada que se

registou desde então no universo das actividades de lazer nocturno.

Resumo dos capítulos da dissertação

No primeiro capítulo desta dissertação procura-se a definição de um enquadramento teórico

dentro do qual as actividades de lazer nocturno de desenvolvem, de modo a que seja

possível observar de que forma o aumento da importância dos tempos de lazer nas

sociedades modernas contribuiu para a sua modernização. Perante o aumento progressivo da

importância do colectivo, que se observa na implementação de novos estilos amplamente

divulgados pelos Média, registam-se alterações no comportamento dos indivíduos que

importa sublinhar, alterações essas derivadas da democratização da prática de actividades de

lazer nocturno, que se encontram consubstanciadas na crescente participação de elementos

pertencentes a faixas etárias mais jovens e de elementos do sexo feminino, e que contribuem

para uma generalização do consumo de lazeres nocturnos, situação resultante de uma

efectiva melhoria económica das sociedades. Melhoria económica essa que acaba também

por influenciar a própria distribuição das actividades de lazer nocturno no território, ao ser

responsável pela ocorrência de uma requalificação funcional em determinadas áreas urbanas

degradadas, situação que contribuiu para a sua recuperação e para o incremento registado

na sua capacidade de atracção.

O conteúdo do segundo capítulo tem como objectivo ilustrar o modo como evoluiu o

universo representativo das actividades de lazer nocturno nas últimas décadas, visto estas

actividades terem registado um incremento substancial da sua importância dentro das

sociedades modernas, fruto das crescentes possibilidades de sociabilização que

proporcionam aos seus elementos. Deste modo procuram-se analisar as alterações

observadas no território em estudo, alterações essas provocadas por um incremento na

4


variedade e quantidade de actividades existentes, incremento esse que origina concentrações

em determinadas áreas especificas, e que ao mesmo tempo é responsável por uma

descentralização das mesmas actividades por todo o espaço. Dentro da própria sociedade

estudada, é de referir que, fruto da mudança de mentalidades registada pós-25 de Abril e do

aumento da capacidade económica entretanto ocorrida, se observa uma crescente

preocupação dos seus elementos em usufruírem de momentos de diversão, não se mostrando

muito preocupados com a manutenção rígida de um qualquer estatuto social, situação que

conduz a uma participação efectiva de um maior número de elementos da sociedade,

atraídos pelas novas formas de lazer que surgiram nas últimas décadas, formas essas

adaptadas às suas próprias exigências.

No terceiro capítulo deste trabalho, e na sequência de toda uma evolução observada no

tempo, procuram-se analisar as formas assumidas pelas diversas actividades de lazer

nocturno na actualidade, e qual a sua importância para o desenvolvimento das sociedades e

para o desenvolvimento do território seleccionado. A frequência de lazeres nocturnos é

agora considerada como sendo um factor importante na sociabilização dos indivíduos,

situação que contribui para uma crescente juvenilização das frequências que se regista, e que

é responsável pelo surgir de novas ofertas directamente relacionadas com a presença de

faixas etárias cada vez mais jovens nas actividades de lazer nocturno. Observa-se também

que a distribuição das actividades existentes, concentrada em alguns casos, dispersa noutros,

é responsável pelo incremento registado na frequência de lazeres nocturnos por parte das

populações em presença, situação que contribui para a recuperação de algumas áreas

urbanas degradadas, áreas essas que se encontravam anteriormente votadas ao abandono.

Por último, partindo da distribuição efectiva no território das actividades estudadas,

procuram-se detectar fenómenos de concentração e de dispersão, que permitam determinar a

existência de padrões de localização das actividades de lazer nocturno na área em estudo.

Como notas conclusivas, na quarta parte deste trabalho, procuram-se levantar uma série de

questões pertinentes, relacionadas, quer com a própria evolução das actividades de lazer

nocturno no espaço em análise, em termos de distribuição física no território, por exemplo,

quer com os tipos de comportamentos a adoptar pelos diversos elementos da sociedade no

5


usufruto de actividades de lazer nocturno, de modo a se poder perspectivar como irão

evoluir as actividades de lazer nocturno de futuro.

Opções Metodológicas

Na execução desta dissertação, e após a definição da temática a ser estudada, procurou-se

reunir um corpo bibliográfico directamente relacionado com o tema e oriundo do campo

científico da Geografia, tendo-se chegado à conclusão da impossibilidade de tal pretensão,

em virtude da inexistência do mesmo. Deste modo, e como forma de colmatar esta situação,

verificou-se a necessidade de recorrer ao contributo de outras ciências, como sejam a

Sociologia, a Psicologia, a Economia, entre outras, sem as quais não teria sido possível

elaborar esta dissertação, que pretende analisar ao pormenor uma temática tão abrangente

como a das actividades de lazer que se processam entre as 0 e as 8 horas da manhã, sendo

estes limites horários considerados como balizadores para a selecção das actividades a

observar, que devem laborar dentro destes limites, em parte, ou no todo da sua actividade.

Procurou-se ainda que o contributo destas ciências estivesse directamente relacionado com a

temática, de maneira a ser possível elaborar um corpo teórico coeso, que permitisse

perspectivar sob diversos prismas qual a importância do papel das actividades de lazer

nocturno no contexto das sociedades modernas. Assim, e após a reunião de um corpo

bibliográfico cientificamente diversificado, obtido quer em Portugal, quer no estrangeiro

(Espanha e Reino Unido, para ser mais especifico), procedeu-se então à elaboração do

corpo teórico desta dissertação, em que se procurou questionar o modo como as actividades

de lazer nocturno se estruturam, numa tentativa de compreensão de qual a dimensão real da

sua importância para o desenvolvimento das sociedades modernas e dos próprios indivíduos.

Também a identificação dos estabelecimentos de lazer nocturno, essencial para se quantificar

e qualificar as actividades de lazer nocturno existentes e definir a sua localização, se revelou

como extremamente morosa, devido principalmente à não existência de qualquer tipo de

registos actualizados e cem por cento fiáveis, situação que implicou a necessidade de

complementar os dados reunidos com uma intensa actividade exterior, necessária para a

6


confirmação in loco das realidades existentes. Assim, e após a obtenção de uma listagem

desactualizada, revelou-se essencial proceder à sua actualização, situação que implicou a

consulta de Roteiros Turísticos, de Guias Temáticos e das Páginas Amarelas, além de

múltiplas deslocações para o exterior, sempre realizadas no horário de funcionamento das

actividades em observação, no sentido de obter uma listagem o mais exaustiva e actualizada

possivel, que pudesse funcionar como ponto de partida para a elaboração de cartografia

sobre a temática. Devido a ter-se constatado a existência de uma multiplicidade de ofertas,

que se caracterizam por apresentarem uma complexa diversidade de formas e de conteúdos,

o que impede a obtenção de uma caracterização sistematizada, em função das nuances

apresentadas pelas diversas ofertas, sejam estas em termos de horários de funcionamento,

em termos de conteúdo proposto ou em termos de clientela-tipo que se pretende atrair,

procedeu-se a uma sistematização em cinco grandes grupos de actividades, de modo a ser

possivel a comparação entre actividades similares.

Noutro contexto, de índole mais prática, procura-se analisar o modo como evoluíram e se

apresentam na actualidade as actividades de lazer nocturno, tendo para o efeito sido

importante o contacto com elementos directamente relacionados com o meio estudado,

numa tentativa de reunir o máximo de informação, que permitisse uma correcta

compreensão do modo de funcionamento destas actividades. Para a obtenção desta

informação, verifícou-se a necessidade de entrevistar elementos responsáveis pelo

funcionamento de algumas actividades, situação dificultada pelo ambiente inicial de

desconfiança, em virtude do desconhecimento de qual o objectivo inerente à elaboração

desta disssertação. Neste ponto, revelou-se bastante valioso o contributo prestado por

algumas amizades pessoais, que contribuiram para eliminar barreiras, e possibilitaram a

obtenção da informação desejada.

Por último, procurou-se a elaboração de cartografia a partir de dados anteriormente

reunidos, de modo a observar a ocorrência de possiveis concentrações ou um predomínio de

estabelecimentos dispersos. Nesta fase, foi eliminada a possibilidade, através da

contabilização de afluências, de comparar estabelecimentos e dias da semana em termos de

hierarquia de importância, em virtude de tais dados não serem fornecidos por parte dos

estabelecimentos, nem ser concedida qualquer tipo de autorização para tal contabilização ser

7


executada. Com a elaboração desta cartografia pretende-se duas análises de território

distintas: uma de âmbito regional, em que se consideram todos os concelhos seleccionados,

e uma de âmbito concelhio, em que só se consideram as actividades presentes dentro dos

limites de cada concelho. Na primeira, o principal objectivo é comparar concentrações

existentes, e definir espaços que registem ausências de ofertas; na segunda, pretende-se

essencialmente analisar a distribuição dentro de cada concelho, o que permitirá quantificar e

comparar o grau de importância dos principais aglomerados e a existência ou não de ofertas

isoladas.

Outros Considerandos

Dentro do contexto das actividades de lazer nocturno também é de referir a importância

assumida por determinadas festividades, como por exemplo, o São João, o Senhor de

Matosinhos, entre outras, localizadas em períodos específicos do ano, e que são

responsáveis pelas únicas actividades de lazer nocturno exteriores à sua habitação praticadas

por grande parte da população. Tratam-se de festas especificas que se revestem de um

acentuado cariz popular, praticadas essencialmente em espaços públicos, e que não assumem

uma importância de relevo no contexto global das actividades de lazer nocturno, em virtude

da sua curta duração e da sua ambiência ser quase exclusivamente de rua. Já os casos do

Carnaval e do Fim-de-Ano são interpretados de forma diferente, visto haver um

aproveitamento comercial de tais festividades por parte dos estabelecimentos de lazer

nocturno, aproveitamento esse consubstanciado na organização de festas dedicadas a estas

ocasiões. Esta situação também se verifica na semana da Queima das Fitas, sendo esta

dedicada integralmente aos estudantes universitários da academia portuense, com a

organização de múltiplos eventos festivos em estabelecimentos de lazer nocturno

distribuidos pelo território em análise.

8


I PARTE

Considerações Teóricas

9


1. 1. Conceitos de Lazer

Como resultado da evolução dos tempos modernos, não só a Sociedade assumiu novas

formas de representação, como também o Homem viu os tempos destinados a cada uma das

suas actividades variarem de modo significativo. Os indivíduos, elementos da sociedade,

baseiam a sua vivência em três tempos distintos4: Tempo de Trabalho, Tempo de Descanso e Tempo Livre, sendo este último utilizado5 essencialmente para actividades de Lazer. Em

virtude de se ter verificado uma manutenção do tempo destinado ao descanso, de um modo

progressivo a sociedade tem avançado no último século para uma diminuição do tempo de

trabalho, situação que resulta de sucessivos ganhos sociais obtidos no campo laboral, e que

vai originar um progressivo aumento do tempo livre usufruído por cada indivíduo.

Surge assim, uma distinção importante entre tempo de trabalho e tempo de lazer,

proporcionada pela melhoria sócio-económica da sociedade e pelo aumento do tempo livre

ao dispor de cada indivíduo. O tempo de trabalho e o tempo de lazer são vistos como

ocupações a desempenhar em momentos distintos, sendo associado a cada um deles factores

que os procuram definir, tendo-se sempre em consideração os usos e costumes da sociedade

em que se está inserido. Verifica-se assim que uma das formas de encarar a diferenciação

entre os tempos de trabalho e de lazer, é a de associar ao primeiro as noções6 de

compromisso, ordem, recompensa, e ao segundo as noções de confusão, desordem, gastos

desnecessários. Observa-se assim, por parte da sociedade, a adopção de diferentes atitudes

mentais em relação ao tempo de trabalho, visto como o certo, e ao tempo de lazer, visto

como o errado, como o desnecesário.

O tempo de trabalho, passa a estar estruturado em períodos bem definidos, o que veio

permitir o seu aproveitamento para actividades de lazer do tempo remanescente. O trabalho,

até então encarado como o elemento mais importante da vivência humana, visto ser o

4 HAMILTON-SMITH, Elery - Work, Leisure and Optimal Experience, em «Leisure Studies», Vol. 11, N° 3, Londres, 1992, p. 246.

MULLETT, Sheila - Leisure ana comsumption: incompatible concepts?, em «Leisure Studies», Vol. 7, N° 3, Londres, 1987, p. 241.

ROJEK, Chris - Emancipation and demoralization: contrasting approaches in the sociology of leisure, in «Leisure Studies», Vol. 2, N° 1, Londres, 1983, p. 84.

10


sustentáculo para a sobrevivência do indivíduo, passa a ser encarado como o modo de o ser

humano providenciar bem-estar e possibilitar o usufruto de períodos de lazer.

O tempo de lazer, tal como o de descanso, é encarado como um tempo de relaxação, em que

não existe qualquer preocupação com o providenciar de meios de subsistência. O Lazer7, é

assim, o tempo livre após o trabalho e outras funções obrigatórias, como sejam dormir,

comer, entre outras. A definição de lazer está assim directamente ligada à definição de

trabalho, podendo-se afirmar que os tempos de lazer / descanso se encontram em oposição

com o tempo de trabalho, mas que qualquer alteração verificada num deles, se irá reflectir de

modo imediato no outro. O Lazer pode assumir, segundo Dumazedier8, três funções: de

descontração, de divertimento e de desenvolvimento pessoal. O indivíduo procura, através

da fruição de períodos de lazer, abstrair-se de constrangimentos exteriores que afectem a sua

vida quotidiana, recebendo em troca elevadas cargas emocionais de prazer, de bem-estar,

que o levem a prosseguir na sua vivência. Enquanto que no tempo de trabalho, a principal

preocupação se prende com a produtividade, com o tempo gasto para executar uma

determinada tarefa, no tempo de lazer essas preocupações temporais não existem. A

principal preocupação passa a ser assim, o grau de satisfação obtido por quem frequenta.

" Leisure time is that period of time at the complete disposal of an individual, after he

has completed his work and fulfilled his other obligations. The uses of this time are of vital

importance."9

Nesta perspectiva, é importante definir-se o tempo de lazer como sendo aquele que o

indivíduo pratica quando todas as suas outras obrigações estão cumpridas. Trata-se de um

conjunto de actividades que aquele pratica ou frequenta, de livre vontade, com o objectivo

último de lhe proporcionarem prazer, seja esse prazer obtido através da fruição de um

período de descanso, seja através da prática de alguma actividade desportiva, seja através da

frequência de locais de sociabilização e consumo, entre outras. Procura-se que seja um

7 HAMILTON-SMITH, op citt, p. 251. 8DUMAZEDIER, Joffre - Lazer e cultura popular, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1974 (Vers une civilization du Loisir?, 1962). 9 MILLER, N.P.; ABERNATHY, D.W.; FALIZE, J.; GUITON, E.M.; ROSKAM, F. - Carta para o Lazer, Simpósio de Genebra, 1967.

11


período liberto de constrangimentos, de ordem temporal ou económica, de modo a que a sua

fruição possa ser plena. A partir dos anos 60, surgiram os trabalhos de diversos

investigadores do lazer10, que defendiam que o tempo de lazer era o tempo que restava após

o tempo de trabalho, e que devia ser utilizado para a recuperação plena das faculdades do

indivíduo, para a jornada laboral que se seguia, até à actualidade, registou-se uma grande

evolução. Evolução essa, que se reflecte, essencialmente, no considerar do tempo de lazer

como algo tão importante para a vivência do indivíduo como o tempo de trabalho.

O lazer, em virtude da mudança de comportamentos ocorrida, passa a ser encarado como

uma actividade que permite uma selecção individual, ao contrário do tempo de trabalho, que

não permite qualquer tipo de escolha. O usufruto do tempo de lazer deixou de ser encarado

nas últimas décadas de uma forma depreciativa11 por parte da sociedade, passando a ser

considerado como mais um factor da vivência humana, a par dos tempos de trabalho e

descanso, sem qualquer tipo de contextualização negativa, com que até então era associado.

E importante referir, no entanto, que as actividades de lazer praticadas por cada indivíduo,

vão ser influenciadas por uma série de factores, como sejam a posição no ciclo de vida, a

situação sócio-profissional, o nível de instrução, o sexo, a situação civil, que vão influir na

selecção e frequência com que cada indivíduo pratica actividades de lazer.

A fruição de lazer proporciona as condições necessárias para um correcto desenvolvimento

da personalidade do indivíduo e do modo como está inserido na sociedade e se relaciona

com ela. Proporciona-lhe um ambiente social a partir do qual ele poderá tomar as suas

próprias iniciativas, assumindo assim um papel crucial no desenvolvimento do indivíduo e

também da própria sociedade.

Em termos ocupacionais ou de aproveitamento, o tempo de lazer pode ser encarado12 de

dois modos distintos, por parte de quem o pratica: como divertimento, em que se procura

extrair algo de positivo das situações e locais frequentados, em busca da quebra de rotina, o

que leva ao usufruto de momentos de descontração, ou como a oportunidade de fazer o que

noutras ocasiões não é permitido, procurando assim, de forma negativa, utilizar a prática de

10 Cf. obras de DUMAZEDŒR, RIESMAN et alli, FRffiDMANN. 11 ANDRÉ, Isabel, HENRIQUES, Eduardo Brito - Práticas de lazer, território e género, em «Actas do VI Colóquio Ibérico de Geografia», Porto, 1992. 12 ROGGENBUCK, Joseph, LOOMIS, Ross - The learning benefits of Leisure, em «Journal of Leisure Research», Vol. 22, N° 2, s i , 1990, p. 112.

12


actividades de lazer, para perturbar a vivência de outros elementos da sociedade, através de

comportamentos excessivos e provocatórios.

O motivo que leva um indivíduo a procurar usufruir de situações de lazer é a procura de

satisfação, de prazer, que o leve a dar por bem empregue o tempo dispendido na acção de

lazer por ele seleccionada, satisfação essa diferente da que é possível obter na realização de

actividades laborais. A prática de uma actividade de lazer pode resultar em duas situações

emocionais diferenciadas13: de relaxamento, satisfação, resultado da actividade de lazer ter

sido produtiva, visto ter permitido ao indivíduo atingir o objectivo previamente definido, ou

de frustação, de ressentimento, em função da prática da actividade ter ficado aquém das suas

expectativas iniciais.

Tão importante como a satisfação obtida no tempo de trabalho, é a satisfação que se obtém

através da prática de actividades de lazer. A prática de lazer possibilita um libertar de

tensões, uma quebra de rotina, que leva o indivíduo a encarar o tempo de trabalho com mais

prazer. Um factor - o lazer - vai influenciar o desempenho do indivíduo no tempo de

trabalho. Há um balanço óptimo entre o tempo de trabalho e o tempo de lazer que cada

indivíduo pode usufruir. Quando a um dos factores é dada demasiada importância, há um

prejuízo no desempenho global. Quando a satisfação obtida pelo indivíduo não é a desejada,

quando há um assumir de comportamentos repetitivos, sem a presença de qualquer factor

inovador, podem surgir situações de saturação, de aborrecimento, por parte do indivíduo.

Nestas situações extremas, o indivíduo tem tendência a assumir comportamentos

inovadores, disruptivos, seja através do abandono da prática da actividade, seja através da

frequência de novos locais, seja alterando as suas expectativas perante a actividade

praticada.

1.1.1. Novas Formas de Sociabilização

O incremento do tempo livre à disposição de alguns dos elementos constituintes da

sociedade, situação que resulta de uma diminuição do tempo de trabalho registada em

13 RAGHEB, Mounir, TATE, Richard - A behavioural model of leisure participation, based on leisure attitude, motivation and satisfaction, em «Leisure Studies», Vol. 12, N° 1, Londres, 1993, p. 61.

13


diversas áreas profissionais, contribuiu para o incrementar do número de actividades de lazer

praticadas, que levou ao surgir de uma variedade de novas formas de lazer e de novas

sociabilizações em redor do lazer, bem como ao aumento de importância, devido à sua

democratização, de uma série de outra*- actividades, até aí pouco praticadas pela grande

maioria da população. Encontram-se neste último caso as actividades de lazer nocturno, que

ganharam uma importância crescente na sociabilização da população com a mudança de

mentalidades verificada, situação que incentivou à prática de toda uma série de actividades

"proibidas", que satisfazem o imaginário de cada indivíduo ao serem realizadas no coberto

das sombras, bem como com o incremento da sua capacidade económica.

As actividades de lazer nocturno ganharam uma importância relevante para a sociedade,

visto serem encaradas como um modo de sociabilização, um modo de permitir a reprodução

da própria sociedade. O lazer nocturno passa a ser encarado, por parte dos elementos da

sociedade, não como uma actividade esporádica, estranha, perturbadora da boa moral e dos

bons costumes, mas como uma actividade perfeitamente vulgar, frequentada de um modo

regular por toda a população, essencial mesmo para a reprodução da própria sociedade.

Essencial14, visto ser ela que proporciona aos elementos da sociedade a possibilidade de se

relacionarem, sem os constrangimentos inerentes a diferenças etárias, económicas ou

profissionais; de definirem, através do contacto com outros elementos, as características

individuais da personalidade de cada elemento da própria sociedade. Em grande parte, a

importância do lazer nocturno deve-se ao facto de ser encarado como um elemento que

rompe com a rotina, que é representada, neste caso específico, pelo ciclo Casa-Actividade

Laboral-Casa, sendo a actividade laboral entendida como o providenciar de posssibilidades

de sustentação económica, seja através do incremento das habilitações profissionais, seja

através de uma qualquer actividade laboral específica.

As actividades de lazer nocturno, em virtude de assumirem formas diferenciadas de

consumo, que implicam muitas vezes gastos obrigatórios, vão funcionar como um elemento

diferenciador da estrutura sócio-económica da própria sociedade. O surgir de actividades de

lazer nocturno, consumistas por natureza, ao alcance de parte da população, só se dá, sem

14 DUMAZEDIER, Joffire - Sociologia Empírica do Lazer, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1979 ( Sociologie Empirique do Loisir, 1974).

14


qualquer tipo de constrangimentos sociais ou culturais, a partir de meados do séc. XX. É

nas sociedades pós-industriais, com a diminuição progressiva do tempo de trabalho registada

em algumas áreas profissionais e com o aumento uniforme das suas disponibilidades

económicas, que surgem as actividades de lazer nocturno, que visavam proporcionar a

possibilidade de usufruto de lazer ao homem trabalhador. Com a evolução entretanto

verificada nas sociedades europeias, através da alteração dos seus usos e costumes, bem

como com o incremento progressivo da sua capacidade económica, fruto de um aumento da

escolaridade obrigatória e das habilitações socio-profissionais da própria população, surgiu

um novo tipo de clientela preferencial, pertencente a uma faixa etária mais baixa, possuidora

de uma capacidade económica mais elevada.

"... leisure time, like comsumption time in general, becomes emphatic, trade marked

social time"15.

Com a alteração de mentalidades, inerente à evolução da própria sociedade, com o diminuir

da importância do colectivo, em detrimento da importância do individual, surge uma

crescente necessidade de afirmação social, factor que vai levar a um aumento das actividades

consumistas à disposição dos elementos da sociedade, visto este aumento funcionar como

um indicador do crescimento sócio-económico de cada elemento da sociedade, bem como

do agregado familiar a que pertence. O aumento do consumismo, em virtude do incremento

da capacidade económica da sociedade, verificado nas últimas décadas de forma intensa, vai

beneficiar o desenvolvimento das actividades de lazer nocturno, visto estas proporcionarem

uma boa visibilidade social a quem as frequenta. Há uma preocupação crescente em estar a

par dos últimos fenómenos musicais, da mais recente forma de vestir, da última inovação

tecnológica, o que leva os elementos da sociedade a frequentar de modo crescente as

actividades de lazer nocturno, visto a frequência destas ser interpretada como indicador de

sucesso na sociedade actual. Nas próprias formas de apresentação das actividades de lazer

nocturno verificou-se uma grande evolução, em virtude de se ter passado de ambientes

quase familiares, em que a música servia de complemento a uma conversação e em que os

15 BAUDRILLARD, J. - For a critique of the Political Economy of the Sign, St. Louis, Telos, 1981. 15


empregados conheciam quem frequentava os espaços, para uma situação de ambientes

agressivos, caracterizados por possuirem espaços fechados, escuros, com volumes musicais

elevados, e que não permitem qualquer tipo de sociabilização a quem os frequenta.

O desenvolvimento da sociedade, com o consequente incremento na frequência de

actividades consumistas, só contribuiu para o aumento das disparidades sociais, em virtude

de só poderem participar, de modo efectivo, no usufruto de actividades de lazer, os

elementos da sociedade possuidores de um determinado nível económico. Dentro de uma

actividade específica, como é a frequência de actividades de lazer nocturno, a capacidade de

consumo torna-se essencial para definir os elementos potencialmente participantes. Assim,

as diferenças existentes entre os elementos da sociedade, sejam elas visíveis nos

comportamentos adoptados, nos modos de apresentação, ou na capacidade de consumir,

vão originar a frequência de diferentes espaços, associada a diferentes níveis de consumo,

adaptados à capacidade económica de cada elemento da sociedade. É, no entanto, de referir,

que a individualização dos espaços em função de uma característica única dos seus

frequentadores é um fenómeno raro, sendo os espaços vulgarmente caracterizados por um

misturar de faixas etárias, estatutos socio-culturais e capacidades económicas distintas.

O modo como são encaradas as actividades de lazer nocturno vai variar em função da faixa

etária em que se está inserido. Trata-se de um elemento extremamente importante, para a

compreensão do fenómeno em estudo, pois, conjugado com a capacidade económica, irá

definir o modo como se praticam as actividades de lazer nocturno por parte dos diversos

elementos da sociedade, que vão ser estruturadas, essencialmente, em função destes dois

factores. Ao longo do ciclo de vida16 de um indivíduo, o modo como é encarada a prática de

actividades de lazer nocturno vai variando, assumindo em alguns períodos uma importância

extrema, para noutros não ser um factor minimamente considerado. Como períodos de

frequência mais importantes vamos encontrar a adolescência e a fase inicial de adulto, em

que o frequentar de actividades de lazer nocturno assume uma importância crucial no

desenvolvimento do indivíduo. Assim, a participação em actividades de lazer nocturno,

revela-se essencial para os membros da sociedade menores de 30 anos, funcionando como

16 COOLEY, Ann - Sex roles and explanations of leisure behaviour, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 335.

16

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto c seus Arredores: uma visão geográfica

um período de sociabilização intensa. Pode-se mesmo afirmar que, o modo como são

definidas e praticadas as actividades de lazer nocturno, a partir da adolescência, vai

influenciar de forma directa a futura prática de lazeres nocturnos por parte dos elementos da

sociedade. É na adolescência, tempo de transição, que vão ser definidas as futuras formas de

participação, sendo factores condicionantes17 a capacidade económica do indivíduo, o

comportamento dos seus progenitores e elementos envolventes, sejam colegas ou outros

adultos, para além da influência dos meios de comunicação. A forma encontrada para o

usufruto de actividades de lazer nocturno, o padrão de comportamento assumido, durante

este período, dificilmente sofrerá alterações com a evolução etária. Cria-se assim, uma

habituação a um tipo de comportamento, ao qual o individuo se irá manter fiel. A partir dos

30-35 anos, com o definir de percursos profissionais, aliado à vulgar alteração do estado

civil do indivíduo, conjugada com o surgir de descendência, há uma diminuição drástica da

frequência de actividades de lazer nocturno, devido essencialmente a dois factores: a total

ausência de disponibilidade temporal, aliada a uma desadaptação notória aos espaços de

lazer nocturno existentes, bem como o incremento da importância dos lazeres domésticos,

responsáveis pelas diferentes práticas de actividades de lazer nocturno. Passa a haver

alterações no tipo de frequência, quando há uma procura de lazeres nocturnos externos. Há

uma maior procura de actividades de sociabilização, como sejam "ir ao Café" ou frequentar

actividades de índole cultural, do que a frequência de locais de consumo, como por

exemplo, "Bares" ou "Discotecas".

Com a evolução da sociedade nas últimas décadas, tornou-se essencial o estudo do modo

como são encarados os ócios e lazeres de cada indivíduo, de cada elemento que a constitui.

Devido a um consumismo cada vez mais acentuado, surge uma sociedade baseada na

segregação, em que o igualitarismo social é progressivamente abandonado. O ócio, o

usufruto de actividades de lazer, passa a ser o veículo ideal para cada um demonstrar as suas

diferenças, em relação aos restantes, procurando deste modo a distinção, em oposição a uma

uniformização de formas e práticas de lazer que a sociedade, profundamente consumista,

procura impor. Como factor contraditório a esta pretensão do individual, temos o modo de

17 HENDRY, Leo B.; SHUCKSMTTH, Janet; LOVE, John; GLENDINNING, Anthony - Young People's Leisure and Lifestyles, Londres, Routledge, 1993.

17


agir do colectivo, em que através de uma uniformização dos modos de agir e de uma

massificação das formas de apresentação exterior, se procura diluir a importância do

indivíduo.

Assim, o colectivo, através do seu comportamento, vai procurar impor ao indivíduo, o

padrão considerado "correcto" pela sociedade para a prática de actividades de lazer

nocturno, em que os lazeres colectivos, resultantes de tradições, são consideradas as

actividades a desempenhar. O indivíduo, no entanto, procura um lazer próprio, baseado nos

seus ideais, construído por si e para si, sem participações ou intervenções externas. Deste

modo, é através do estudo das actividades de cada elemento da sociedade, do modo como

ele encara a sua participação em actividades de lazer nocturno, que é possível analisar os

comportamentos colectivos dessa mesma sociedade. O indivíduo, como fruto da evolução

da sociedade, no plano das mentalidades e das atitudes, torna-se o centro da acção,

relegando para um segundo plano o agir do colectivo, que assume uma importância

secundária.

A acção do indivíduo, no entanto, ao frequentar actividades de lazer nocturno, vai reflectir

uma influência material e cultural por parte da sociedade. Aquele, num estado de ilusão,

julga estar a definir as suas próprias acções, quando na realidade elas reflectem factores

culturais e económicos impostos pela própria sociedade. O modo como ele age reflecte a

acumulação de referências por que foi passando nos seus diferentes estádios de

desenvolvimento, sendo essas referências impostas pela própria sociedade. Estas são de

carácter cultural e ideológico, que se reflectem no modo de apresentação e no modo de

expressão. O indivíduo, através de partilha de referências comuns, tendo em linha de conta

factores como idade, sexo, grau de instrucção, local de residência, vai acabar por estar

inserido em grupos, em associações colectivas, que partilham as mesmas ideologias e formas

de apresentação, resultantes da própria acção da sociedade. O modo de fruição do tempo

livre, através do "ir a festas", da frequência de determinados estabelecimentos, do "não fazer

nada", acaba por reflectir, não opções individuais, mas sim do colectivo em que se está

inserido. O "sair", a procura de diversão por parte do indivíduo, é visto como um direito em

função do que foi feito anteriormente, seja uma semana de trabalho que acabou, seja em

ocasiões festivas, como por exemplo, aniversários, fins de exames, entre outros. Através

18


deste tipo de vivências, procura-se um motivo para o "quebrar da rotina", para o "sair",

como contraponto à permanência na sua própria habitação, acção habitual praticada na

maior parte do tempo pelo indivíduo. Neste contexto, assumem particular importância, para

a prática de actividades de lazer nocturno, os períodos de ausência de actividades

produtivas, como fins-de-semana, vésperas de feriados ou períodos de férias, pois permitem

o programar de actividades, em virtude da ausência de actividades produtivas no dia

seguinte.

As actividades de lazer nocturno usufruídas por cada elemento da sociedade, estão

directamente relacionadas com a identidade pessoal de cada um, bem como com as

expectativas que desenvolve, no que diz respeito às actividades de lazer. Quando usufrui de

uma actividade de diversão nocturna, através da frequência de determinado local, na

companhia do grupo onde está inserido, o indivíduo sente-se independente18, com

capacidade de escolher para onde se quer dirigir, que local deseja frequentar, em que

companhias. Ele, indivíduo, age, porque assim o quer fazer, sem qualquer tipo de

constrangimento da sua parte. O indivíduo selecciona os locais em função de experiências

anteriores, em que o grau de satisfação obtido na frequência um determinado local

correspondeu às expectativas por si criadas. Cada indivíduo, ao frequentar locais de lazer

nocturno, vai construir mentalmente uma ideia sobre os diferentes locais, o que vai ser

essencial na definição dos locais a procurar em futuras ocasiões.

Na prática de actividades de lazer nocturno, o indivíduo vai procurar usufruir de um grau de

satisfação elevado, definido em função das suas expectativas, em que dê por bem empregue

o tempo por si gasto. O indivíduo, ao predispor-se a frequentar actividades de lazer

nocturno, tem como objectivo básico a diversão, o "passar um bom bocado", o que o leva a

assumir comportamentos desinibidores, conducentes a poder apreciar de modo mais intenso

a actividade escolhida. Quando a participação em actividades de lazer nocturno não

proporciona ao indivíduo o grau de satisfação desejado, pode este ser assaltado por uma

sensação de aborrecimento , de insatisfação, que o pode motivar a um consumo exagerado

de bebidas alcoólicas ou de produtos alucinogénios, que lhe proporcionem uma satisfação

18 NEULINGER, J. - The Psychology of Leisure, Nova Iorque, Charles C. Thomas, 1974. ISO-AHOLA, Seppo, CROWLEY, Edward - Adolescente substance abuse and leisure boredom, em

«Journal of Leisure Research», Vol. 23, N° 3, s.l., 1991, p. 260. 19


que não consegue obter de outro modo. Esta ausência de prazer, de satisfação, surge de

modo intenso, quando a prática da actividade de lazer se torna excessiva, originada em

muitos casos por uma frequência repetitiva de um determinado local, sem que não haja a

introdução periódica de uma qualquer atracção inovadora. Como resultado desta

insatisfação, os elementos da sociedade procuram diversificar os estabelecimentos nocturnos

onde se deslocam, de modo a evitar a saturação derivada da frequência excessiva de um só

local.

Deste modo, a constante mudança20 de local frequentado é uma das características mais

importantes dos elementos da sociedade que participam, de modo regular, em actividades de

lazer nocturno. Outra característica importante, assumida pelos indivíduos participantes em

actividades de lazer nocturno, é a apresentação de um empenhamento mínimo21, superficial,

no relacionamento com outros elementos da sociedade que também frequentam actividades

de lazer nocturno. Há como que uma não-participação, em que os indivíduos, através dos

seus modos de agir, da sua forma de apresentação, da procura constante da

desresponsabilização dos seus actos, procuram não assumir qualquer tipo de

relacionamento. O ênfase é posto somente no divertimento, sem qualquer tipo de restrições

ou preocupações, sem procurar aprofundar o grau de participação de cada elemento da

sociedade que frequenta actividades de lazer nocturno. Tudo se passa num nível superficial,

com contactos mínimos, distantes, sem participação activa ou qualquer interesse futuro, pois

o que interessa é simplesmente usufruir o presente.

Com a alteração ocorrida no decorrer do último século nas estruturas sócio-económicas,

surgem dois factores, com uma importância crescente na compreensão dos fenómenos

ligados ao estudo das actividades de lazer nocturno: a capacidade económica do indivíduo e

o nível sócio-cultural que apresenta. A simplificação existente anteriormente no estudo das

classes sócio-económicas, tende a diminuir. A diferenciação entre classes esbate-se, perde

importância, ao mesmo tempo que emergem novas realidades, que levam a encarar estes

estudos sob outras perspectivas. Não se trata somente de uma questão cultural, mas também

do surgir de novas questões, relacionadas com a capacidade económica, com a frequência,

20 URRY, John - Consuming Places, Londres, Routledge, 1995. 21 PODILCHAK, Walter - Distinctions of fun, enjoyment and leisure, em «Leisure Studies», Vol. 10, N° 2, Londres, 1991, p. 139.

20


com as novas mentalidade e modos de agir de cada indivíduo. Surge asim uma maior

complexidade, o que vem dificultar o estabelecer de padrões de análise definitivos dos

comportamentos perante as actividades de lazer nocturno.

A importância das classes sociais, no diferenciar do usufruir de actividades de lazer

nocturno, diminuiu nas últimas décadas, em função da evolução da própria sociedade. A

classe média assumiu padrões de frequência regulares, em função dos seus progressos

económicos, que antes eram exclusivo das classes sociais mais abastadas, criando-se assim

um elevado número de potenciais consumidores. Mesmo os elementos das classes

económicas mais desfavorecidas, assumiram padrões de comsumo regulares, o que levou a

uma democratização da frequência dos locais de lazer nocturno. No entanto, tal

democratização, ocorrida em função das melhorias registadas na sociedade, quer a nível

económico, quer a nível de mentalidades, teve dois efeitos distintos: por um lado veio

diminuir as desigualdades existentes a nível de frequência do lazer nocturno, permitindo que

qualquer pessoa possa frequentar os locais que deseja; por outro, contribuiu para o aumento

dessas mesmas desigualdades, através do incremento de uma série de mecanismos de

selecção, sejam económicos, culturais ou sociais.

A evolução das frequências das actividades de lazer nocturno, por parte dos elementos da

sociedade, vai contribuir para o incremento da segregação social, visto serem actividades em

que o factor rendimento económico se revela essencial. O lazer nocturno usufruído pelas

classes sócio-económicas mais favorecidas vai assumir uma importância simbólica, bem

como uma forma de expressão diferenciada da praticada pelas classes mais desfavorecidas.

Para as classes sócio-económicas mais favorecidas, a frequência de actividades de lazer

nocturno é intensa, sendo vista como uma actividade a praticar, independentemente da faixa

etária em presença. Importante é também o simbolismo atribuído a esta participação, fruto

da intensa sociabilização a ela associada. Como reflexo desta sociablização intensa, assiste-

se a uma crescente importância dada pelos diversos meios de comunicação social aos lazeres

nocturnos praticados pelas classes sócio-económicas mais favorecidas. Como resultado de

um comportamento distinto, as classes socio-económicas mais desfavorecidas, que não se

sentem à vontade na frequência de espaços essencialmente consumistas, vão encarar o lazer

nocturno como gozo de momentos de distracção, em que procuram de modo evidente, a

21


partir de uma selecção realizada anteriormente no seu espaço privado, a apropriação do

espaço público para a prática de actividades de lazer nocturno. Não há uma preocupação

excessiva com o espaço privativo, limitado no acesso, verificando-se assim o haver uma

aproximação, em termos físicos, do local de usufruto22 das actividades de lazer nocturno ao

espaço de habitação do agregado familiar, sejam elas praticadas a nível doméstico ou no

espaço colectivo envolvente. Em contraste com outras classes, não há qualquer preocupação

com simbolismos, com os meios de comunicação, tendo como único objectivo a diversão, o

"passar um bom bocado".

1.1. 2. Caracterização dos diversos tipos de Lazeres Nocturnos

As actividades de lazer nocturno, devido ao facto de a sua apresentação ser feita sob uma

grande variedade de formas, não podem ser consideradas todas sob uma mesma tipologia de

identificação. A presença de uma série de factores, tal como horários de funcionamento

diferenciados, existência da obrigatoriedade de consumir, oferta de actividades de lazer

nocturno distintas, entre outros, que distinguem as diversas tipologias em presença, leva a

que seja feita uma diferenciação no modo como são encaradas as actividades de lazer

nocturno.

A importância da obrigatoriadade de consumir existente em algumas actividades de lazer

nocturno também contribuiu para uma diferenciação de quem frequenta cada espaço, visto

haver a necessidade de possuir uma determinada capacidade económica para ter acesso a

algumas actividades. Assim, nas actividades em que tal obrigatoriadade não se verifica

podemos incluir a "ida" ao café, a frequência de bailes, entre outras, enquanto que nas

actividades em que se verifica a necessidade de pagar podemos incluir a ida ao teatro e

cinema, a frequência de bares e discotecas, por exemplo.

2 CLARK, John, CRITCHER, Chás - Leisure and inequality em C. Critcher et ai (ed) Sociology of Leisure, Londres, E & FN SPON, 1995, p. 250.

22


Deste modo, as actividades de lazer nocturno, devem ser encaradas sob quatro perspectivas

distintas:

Ia Actividades de lazer nocturno marcadamente culturais.

Enquadra-se nesta tipologia a frequência de Cinemas, Teatros, entre outros, em que há uma

deslocação propositada do indivíduo para assistir a um espectáculo na sua forma de

apresentação ideal. Esta tipologia assume uma importância crescente nos lazeres nocturnos

das sociedades modernas, com maior incidência nas faixas etárias mais elevadas e com

maiores habilitações sócio-profissionais.

2a Actividades de lazer nocturno de intensa sociabilização extra-familiar .

O frequentar do Café, a ida ao Restaurante, assume uma importância crescente nos lazeres

nocturnos modernos, por indicar uma tipologia frequentada por elevada percentagem da

população. O "jantar fora", o "ir tomar café", representam a oportunidade de sociabilizar, de

confraternizar, de participar em actividades de lazer nocturno exteriores ao espaço

doméstico, que de outro modo não seriam usufruídas.

3a Actividades de lazer nocturno com consumo obrigatório.

Inclui-se nesta tipologia a frequência da Bares, Discotecas e similares, em que há a oferta de

um conjunto Música e Ambiente, por parte do local frequentado, que procuram levar o

indivíduo a consumir. A importância atribuída à sociabilização e à confratenização é menor,

devido à própria identidade do local, virado essencialmente para o propiciar de momentos de

diversão a quem o frequenta.

4a O Jogo como importante actividade de lazer nocturno.

O jogo, a frequência de Salões de Jogos e Bilhares, de Bingos, de Casinos, mesmo de

Associações e Clubes (sejam eles desportivos, culturais, entre outros, onde tal actividade se

pratica), trata-se uma actividade acessível a quase todas as classes sócio-económicas, em

23 GAMA, António, SANTOS, Norberto, SERRA, Nuno - Esfera doméstica, urbanização e relações Residência-Trabalho em «Actas do VI Colóquio Ibérico de Geografia», Porto, 1992.

23


virtude de o local escolhido ser o adequado à capacidade económica de cada indivíduo,

representa a participação voluntária de parte da sociedade em actividades de lazer nocturno.

Apresenta como característica principal o não implicar qualquer tipo de relacionamento ou

conhecimento prévio do local, o que facilita a sua frequência.

A tentativa de tipificação das actividades de lazer nocturno implica o considerar de uma

série de actividades distintas, desde as realizadas no interior da própria habitação, no próprio

espaço doméstico (1er, ver televisão, conversar, entre outras), até às realizadas no exterior

do espaço doméstico, como o teatro ou o cinema, ou até a frequência de bares ou

discotecas, actividades de índole marcadamente consumista. Nos estudos das diferentes

ofertas, efectuados anteriormente na tentativa de tipificar, não se teve em linha de conta a

complexa diversk' ide24 existente, diversidade essa que dificulta a definição de características

que identifiquem cada tipo de oferta. Para uma melhor compreensão deste fenómeno, deve-

se sublinhar a importância crescente das actividades de lazer nocturno na sociedade

moderna, que proporcionaram uma alteração profunda no modo como são encaradas,

contribuindo para uma democratização da sua frequência e uma alteração das características

iniciais de cada tipo de oferta, identificadas essencialmente pela classe socio-económica dos

seus frequentadores.

É importante realçar as diferenças significativas no modo como os indivíduos quantificam a

sua frequência de actividades de lazer nocturno. A frequência pode variar em função de

diferentes factores25, como a idade, a situação sócio-profissional, o sexo, entre outros, o que

vai originar uma multiplicidade de possíveis comportamentos. A constância na procura de

actividades de lazer nocturno, possibilita a classificação26 das ofertas existentes, segundo

três tipos distintos: de frequência diária, de frequência ocasional ou de frequência

excepcional. A cada um destes tipos estão associadas diferentes formas de oferta de

actividades de lazer nocturno, sendo que a dimensão dos seus efectivos estará directamente

relacionada com a importância atribuída pela sociedade à actividade em questão.

24 URRY, op cit. 25 MARTINS, Luis P. - Lazer, Férias e Turismo na Organização do Espaço no Noroeste de Portugal, Porto, FLUP, 1993. 26 OLIVEIRA, J.M. Pereira de - O Espaço Urbano do Porto, Coimbra, FLUC, Coimbra, 1973.

24


Na definição da frequência de actividades de lazer nocturno, por parte dos elementos da

sociedade, o factor Idade vai assumir um papel primordial no estabelecer de um padrão

concreto de comportamentos, sendo-lhe atribuído uma maior importância em relação aos

factores classe sócio-económica ou grau de habilitações profissionais, por exemplo. A

frequência de actividades de lazer nocturno essencialmente consumistas, como sejam a ida a

um bar ou a uma discoteca, entre outras hipóteses, consegue ultrapassar diferenças de classe

social, de sexo, até de capacidade económica, mas não de idade. É a faixa etária, em que

cada elemento da sociedade está inserido, que vai funcionar como elemento selector do

estabelecimento a frequentar, o que vai delimitar cada faixa etária à frequência de ofertas

específicas, sendo raros os elementos em transgressão, que são facilmente identificáveis. O

factor género passa para um plano secundário, em função da alteração de mentalidades

existente, aliada a uma liberalização dos costumes.

A alteração do estado civil, de cada elemento da sociedade, vai funcionar como o principal

elemento perturbador desta tipologia de frequências. Com o casamento e/ou o surgir de

descendência27, as actividades de lazer nocturno vão sofrer uma transformação radical no

modo como estão organizadas. A participação dos elementos da sociedade passa a estar

condicionada, surgindo assim novas formas de lazer nocturno, que se caracterizam por uma

maior ocorrência no espaço doméstico. Há todo um surgir de novas relações, baseadas em

amizades, de cada um dos elementos do casal, que se vão centrar no interior da habitação.

Contribuindo para isto, registou-se uma grande evolução na área dos equipamentos de lazer

doméstico, com a proliferação nas últimas décadas da oferta de canais de televisão, de

equipamentos de video, de computadores, de consolas de jogos, entre outros, que vão

acentuar ainda mais o centrar das actividades de lazer nocturno no espaço doméstico, por

parte dos elementos da sociedade. Assim, há um abandono progressivo das actividades de

lazer nocturno, centradas exclusivamente no exterior da habitação, passando as actividades

centradas no espaço doméstico a assumir um papel primordial. Em jeito de conclusão, pode-

se afirmar que, os elementos da sociedade não abandonam por completo a prática de

actividades de lazer nocturno, devido à alteração do seu estado civil ou ao surgir de

21 BERNARD, Miriam - Leisure-rich and leisure-poor: the leisure patterns of young adults, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 345.

25


descendência, havendo sim, um alterar das formas como as actividades de lazer nocturno se

apresentam.

1. 2. Tempo de Mudanças

O modo como a sociedade encara as actividades de lazer nocturno sofreu alterações de

vulto nas últimas décadas, fruto de uma profunda mudança de mentalidades entretanto

ocorrida. O lazer nocturno passa a ser encarado como uma actividade a ser praticada pelo

colectivo, perdendo a conotação boémia, elitista, que anteriormente lhe era atribuída. A

crescente evolução da capacidade económica da população, que permite uma maior

disponibilidade para o preenchimento dos tempos livres de parte dos seus rendimentos,

aliada a um aumento acentuado dos níveis de participação de elementos das diversas classses

sociais em presença, resultado de uma democratização no acesso às actividades de lazer

nocturno, contribuiu para a multiplicação do tipo de ofertas disponíveis, adaptadas às

diferentes situações sociais e capacidades económicas existentes. O lazer nocturno deixa de

apresentar uma intensa carga emocional negativa28, tornando-se, pelo contrário, um factor

definidor do sucesso de cada indivíduo. O indivíduo passa a ser considerado, não só pelos

seus feitos profissionais, mas também pela frequência e graus de sociabilização atingidos nos

seus lazeres nocturnos.

A evolução registada no usufruto dos lazeres nocturnos, não se reflectiu somente no aspecto

social, mas também no grau de participação dos elementos de cada género. O papel do sexo

feminino, encarado durante muito tempo como acessório29, fruto de uma participação

esporádica, passou a ser considerado como essencial, resultante da liberalização ocorrida na

mentalidade colectiva da sociedade. As mulheres passam a desempenhar um papel central, e

até dinamizador dos fenómenos, nas actividades de lazer nocturno, deixando estas de serem

definidas somente a partir de uma perspectiva masculina.

28 GAMA, António, SANTOS, Norberto - Tempo livre, lazer e terciário, em «Cadernos de Geografia», N° 10, Coimbra, I.E.G., 1991, p.103. 9 SCRATON, Sheila, TALBOT, Margaret - A response to 'Leisure, lifestyle and status: a pluralist

framework for analysis', em «Leisure Studies», Vol. 8, N° 2, Londres, 1989. Acessório, em virtude de os lazeres nocturnos estarem estruturados em função dos elementos do sexo masculino, clientes primordiais.

26


Os estudos realizados até ao momento sobre as actividades de lazer nocturno, evidenciam o

ignorar da importância dos sexos, concentrando-se, de modo exclusivo, somente na

problemática das classes sociais ou na dos estratos económicos. Ao elemento masculino,

actor mais visivel, impulsionador e dinamizador, ao longo dos tempos, das actividades de

lazer nocturno, foi-lhe dada, no âmbito do tema, uma maior importância no estudo dos seus

comportamentos face ao elemento feminino, raramente presente. Os comportamentos dos

indivíduos do sexo feminino, no âmbito das actividades de lazer nocturno, só recentemente

atrairam o interesse dos investigadores, mercê da crescente importância da sua participação,

seja inseridos em grupos essencialmente masculinos, seja mesmo de modo individual.

A participação dos elementos de sexo feminino em actividades de lazer nocturno, terá que

ser considerada em função de uma série de factores30, como sejam a faixa etária em que

estão inseridos, a capacidade económica que apresentam, bem como o seu estado civil e a

existência ou não de descendência. Esta última condicionante, apresenta-se como um factor

extremamente importante para a compreensão dos diversos comportamentos

desempenhados pelos elementos do sexo feminino, assumindo um papel inibidor da sua

participação, ao contrário do que acontece com elementos do sexo masculino. Só

recentemente, fruto das alterações ocorridas na sociedade anteriormente citadas, a taxa de

participação dos elementos do sexo feminino se tornou relevante, tendo estes elementos

deixado de serem encarados apenas no seu papel de esposas e mães, que lhes limitava o

acesso ao usufruto de actividades de lazer nocturno, sob pena de a sua posição social sofrer

um forte revés. A própria evolução profissional dos elementos do sexo feminino, o assumir

de cargos e funções que até aí lhe estavam vedados, a inserção plena no mercado de trabalho

registada nas últimas décadas, contribuiu para uma vivência própria, baseada na

independência económica entretanto obtida, o que lhe permitiu assumir a escolha de novos

comportamentos perante as actividades de lazer nocturno. A independência económica

permitiu aos elementos do sexo feminino uma libertação do laço conjugal, o que leva desde

logo as actividades de lazer nocturno a assumirem um papel extremamente importante na

vida quotidiana, em função da sua forte componente de sociabilização.

30 GREEN, Eileen, HEBRON, Sandra, WOODWARD, Diane - Women's leisure today, em C. Critcher et alii (ed.) Sociology of Leisure, Londres, E & FN SPON, 1995, p. 135.

27


Também importante, para a compreensão do fenómeno da alteração de mentalidades

ocorrido no sociedade, que permitiu a democratização do usufruto das actividades de lazer

nocturno, é a questão da crescente tolerância registada perante o incremento da presença de

minorias31, sejam elas de índole racial ou sexual. O sentimento de exclusão, anteriormente

existente na sociedade, diminuiu em intensidade, o que veio proporcionar aos elementos das

minorias existentes a possiblidade de frequência de espaços de lazer nocturno.

1. 2.1. Importância da Coesão Social e das Tribos

Na análise dos elementos da sociedade que participam, de forma activa, em actividades de

lazer nocturno, centradas essencialmente no exterior do espaço doméstico,

independentemente do seu tipo ou sob que forma se apresentam, ressalta a importância do

grupo, do agir de forma concertada, que caracteriza os diferentes comportamentos

observados. Os indivíduos procuram, através do uso de artefactos identificadores ou através

da adopção de comportamentos especificos, o reconhecimento colectivo de pertença a um

determinado conjunto, que represente os ideais por si defendidos32. Assim, a partir de

factores individualizadores, sejam eles físicos, comportamentais ou linguísticos, os

indivíduos procuram a distinção em relação aos restantes elementos da sociedade, sendo a

normalidade, o pertencer ao colectivo indistinto, visto como algo a evitar.

Vamos assim observar a existência de uma multiplicidade de conjuntos, grupos, tribos

(trata-se da expressão melhor adaptada), a que os elementos da sociedade procuram

pertencer, caracterizados pela adopção de elementos identificadores33, quer seja para os seus

membros, funcionando como elementos de aproximação, quer seja para os restantes

31 FLOYD, Myron, SHINEW, Kimberly, MCGUIRE, Francis, NOE, Francis - Race, Class, and Leisure activity preferences: Marginality and ethnicity revisited, em «Journal of Leisure Research», Vol. 26, N° 2, s.L, 1994, p. 159. 32 Sobre este assunto consultar também os trabalhos de Desmond Morris, pela pertinência para o tema em estudo, nomeadamente "As Tribos do Futebol" e "O Macaco Nú". 33 HENDRY, Leo B., SHUCKSMTTH, Janet, LOVE, John, GLENDINNTNG, Anthony - Young People's leisure and lifestyles, Londres, Routledge, 1993. Segundo os autores, as caracteristicas do grupo são apreendidas pelos seus membros, no contacto com os restantes elementos do grupo, sendo que modos de vestir, aspecto físico, linguagem utilizada, actividades de lazer adoptadas e valores morais defendidos pelo grupo, se encontram entre as mais importantes.

28


Também importante, para a compreensão do fenómeno da alteração de mentalidades

ocorrido no sociedade, que permitiu a democratização do usufruto das actividades de lazer

nocturno, é a questão da crescente tolerância registada perante o incremento da presença de

minorias31, sejam elas de índole racial ou sexual. O sentimento de exclusão, anteriormente

existente na sociedade, diminuiu em intensidade, o que veio proporcionar aos elementos das

minorias existentes a possiblidade de frequência de espaços de lazer nocturno.

1. 2.1. Importância da Coesão Social e das Tribos

Na análise dos elementos da sociedade que participam, de forma activa, em actividades de

lazer nocturno, centradas essencialmente no exterior do espaço doméstico,

independentemente do seu tipo ou sob que forma se apresentam, ressalta a importância do

grupo, do agir de forma concertada, que caracteriza os diferentes comportamentos

observados. Os indivíduos procuram, através do uso de artefactos identificadores ou através

da adopção de comportamentos específicos, o reconhecimento colectivo de pertença a um

determinado conjunto, que represente os ideais por si defendidos32. Assim, a partir de

factores individualizadores, sejam eles físicos, comportamentais ou linguísticos, os

indivíduos procuram a distinção em relação aos restantes elementos da sociedade, sendo a

normalidade, o pertencer ao colectivo indistinto, visto como algo a evitar.

Vamos assim observar a existência de uma multiplicidade de conjuntos, grupos, tribos

(trata-se da expressão melhor adaptada), a que os elementos da sociedade procuram

pertencer, caracterizados pela adopção de elementos identificadores33, quer seja para os seus

membros, funcionando como elementos de aproximação, quer seja para os restantes

31 FLOYD, Myron, SHINEW, Kimberly, MCGUIRE, Francis, NOE, Francis - Race, Class, and Leisure activity preferences: Marginality and ethnicity revisited, em «Journal of Leisure Research», Vol. 26, N° 2, s.L, 1994, p. 159. 32 Sobre este assunto consultar também os trabalhos de Desmond Morris, pela pertinência para o tema em estudo, nomeadamente "As Tribos do Futebol" e "O Macaco Nú". 33 HENDRY, Leo B., SHUCKSMITH, Janet, LOVE, John, GLENDINNING, Anthony - Young People's leisure and lifestyles, Londres, Routledge, 1993. Segundo os autores, as características do grupo são apreendidas pelos seus membros, no contacto com os restantes elementos do grupo, sendo que modos de vestir, aspecto físico, linguagem utilizada, actividades de lazer adoptadas e valores morais defendidos pelo grupo, se encontram entre as mais importantes.

28


elementos da sociedade, funcionando como elementos de dissuasão numa tentativa de

possível aproximação. Elementos como a apresentação exterior, o vestir, os gostos musicais

adoptados, os locais frequentados, entre outros, vão permitir ao grupo definir o seu padrão

de comportamento e o modo como se apresentam à sociedade, sendo estes elementos os que

permitem a sua imediata identificação e individualização em função dos restantes. Há uma

clara adopção, por parte dos elementos do grupo, de um sentido de fraternidade, através do

qual se procura resolver os problemas dos elementos constituintes do grupo, problemas

esses não compartilhados com elementos exteriores ao grupo. O grupo, elemento colectivo,

procura a frequência de locais específicos, em que se sinta como dominador, em que os

comportamentos adoptados pelos seus elementos, sejam considerados os correctos. O modo

como cada indivíduo age, reflecte o acumular de referências por que foi passando nos seus

diferentes estádios de desenvolvimento, sendo essas referências comuns para cada grupo, em

que cada indivíduo se procura inserir. Tratam-se de referências de tipo cultural e ideológico,

que cada grupo apresenta e que o individualizam face aos restantes. São essas referências

que vão influenciar o modo como o indivíduo pratica as suas actividades de lazer nocturno,

estruturadas unicamente em função do grupo em que está inserido.

Na vivência diária dos elementos da sociedade, cada indivíduo encontra-se como

participante activo34 numa série de tribos, assumindo em cada qual uma máscara diferente,

agindo de modo apropriado, conforme as situações com que é confrontado. A casualidade

ou a utilidade não explicam, de modo definitivo, a propensão dos elementos da sociedade

para se juntarem em tribos, diferenciadas consoante as situações. Há uma partilha de

sentimentos entre os membros de cada tribo, que vai funcionar como elo de ligação. A

relação com o grupo permite ao indivíduo adquirir novos conhecimentos, praticar novas

actividades, bem como participar na tomada de atitudes colectivas, algo que não faria de

modo individual. O pertencer a uma determinada tribo leva os elementos da sociedade a

assumirem uma dupla opção: de pertença a um determinado espaço, mas também de

exclusão em relação a tudo o que a ele seja exterior.

MAFFESOLI, Michel - The Time of the Tribes, Londres, SAGE, 1988. 29


O comportamento adoptado pelos elementos da sociedade, perante actividades de lazer

nocturno, varia também em função do sexo de cada elemento. Elementos de sexos opostos

vão adoptar comportamentos distintos perante situações idênticas, o que revela a existência

de formas diferenciadas de encarar as actividades de lazer nocturno, formas essas que

resultam de uma influência directa da sociedade na definição dos padrões de acção de cada

género. No entanto, fruto de uma participação conjunta, é de referir que ambos os sexos

adoptam comportamentos similares, quando as actividades têm lugar no espaço doméstico.

Somente vão ser encontradas diferenças de monta em termos de comportamentos, bem

como a nível de taxas de participação, quando as actividades se processam no exterior do

espaço doméstico. É importante salientar que o modo de participação dos elementos de cada

sexo em actividades de lazer nocturno, vai ser condicionado por uma série de factores que

contribuem para uma acentuada especificação no modo de agir dos elementos de cada sexo.

Por exemplo, a ocorrência do matrimónio, vai contribuir de forma significativa para uma

diminuição36 da participação em actividades de lazer nocturno por parte dos elementos do

sexo feminino, enquanto que, perante a mesma situação, os elementos do sexo masculino,

fruto de uma interpretação diferenciada por parte da própria sociedade, só restringem, de

modo significativo, a sua participação com o aparecimento de descendência. Com esta,

observa-se um prescindir deliberado da prática de uma série de actividades anteriormente

usufruídas, embora não de forma completa, optando os indivíduos, de uma forma conjunta,

pelo usufruto de actividades de lazer nocturno de tipo doméstico, actividades essas que

permitem a continuação da prática de processos de sociabilização, embora representados

sob uma forma diferente (ver televisão, conversar, 1er, receber amigos, entre outras ). Como

conclusão, é de salientar que não é somente o factor matrimónio ou o factor surgir de

descendência, citados como exemplos, que vão influenciar a diferenciação sexual no assumir

de práticas de lazer nocturno, por parte dos elementos da sociedade. Factores como

dependência económica da família, habitar no espaço familiar de origem, segurança37 no

usufruto de actividades de lazer nocturno, modo como a sociedade encara a participação dos

COOLEY, Ann - Sex roles and explanations of leisure behaviour, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 338. 36 BERNARD, Miriam - Leisure-rich and leisure-poor: the leisure patterns of young adults, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 344. 37 GREEN, op cit, p. 135. Factor que influencia de forma mais acentuada os elementos do sexo feminino.

30


diferentes sexos, entre outros, vão contribuir, de forma decisiva, para o estabelecer

progressivo de uma distinção clara na forma de usufruto de lazeres nocturnos.

As práticas de lazeres nocturnos por parte dos elementos da sociedade, caracterizam-se pelo

assumir, da parte destes, de atitudes narcisistas e de carácter hedonista, como forma de

exprimirem, de modo mais eficaz, a importância que atribuem ao usufruto de prazer pelo

indivíduo, em detrimento da importância do colectivo. O narcisismo é promovido, pela

própria cultura, visto esta reflectir uma preocupação extrema com o consumo. O indivíduo

só é considerado pelos elementos da sociedade como realizado38, quando o seu consumo é

efectivo, e quando através dele se diferencia dos restantes. O hedonismo (doutrina que

atribui ao prazer uma predominância, tendência, para agir de maneira a evitar o que é

desagradável e procurar o que é agradável), por seu lado, ao atribuir ao prazer um papel-

chave no gozo das actividades de lazer nocturno, evidencia a capacidade do indivíduo em

ignorar o colectivo, seleccionando a sua frequência, consubstanciada somente na procura de

situações "agradáveis", como resultado de experiências anteriores ou da informação de

terceiros.

1. 2. 2. Importância da Moda

Factor importante para a compreensão das tribos, e da sua função na sociedade, vai ser o

papel dado pelos diversos elementos da sociedade, no usufruto de actividades de lazer

nocturno, ao aspecto exterior, à sua aparência, que utilizam para transmitir uma mensagem

cultural, mensagem essa que contribui para a identificação de cada indivíduo, através da

definição da sua personalidade. Deste modo, as actividades de lazer nocturno revelam uma

importância crescente, ao assumirem uma função de ligação entre os diversos elementos

constituintes das tribos, o que vai levar ao aparecimento de toda uma série de artefactos,

sejam eles de vestuário, de calçado, entre outros, que vão ser essenciais para os elementos

da sociedade se definirem como elementos constituintes de uma determinada tribo.

38 LASCH, Christopher - Consumo, narcisismo e cultura de massas em «Revista de Comunicação e Linguagem», N° 2, Lisboa, CECL, 1985, p. 131.

31


Através da simbologia da roupa, por exemplo, do vestir determinado tipo de roupa ou marca

comercial, há o transmitir de uma mensagem cultural39, identificadora do grupo de

pertença, o que vai permitir o estabelecer de contactos entre elementos do mesmo grupo,

portadores de gostos e comportamentos comuns, contactos esses que contribuem para a

assimilação cultural dos elementos da sociedade. A aparência exterior, surge assim como um

elemento identificador de cada membro da sociedade, do estrato social a que pertence, bem

como da sua capacidade económica.

1. 2. 3. Importância dos Media

Na sociedade actual, informação e comunicação são factores instigadores40 da evolução da

própria sociedade. Importantes para a evolução dos valores sociais e humanos, vão ser os

ideais ditados pelos meios de comunicação, pela televisão, pela publicidade, pela moda,

entre outros, que vão contribuir para a definição do comportamento assumido pelos

elementos da sociedade, baseado em modelos, que funcionam como exemplos, veiculados

pelos próprios meios de comunicação. O facto de a própria sociedade se basear no consumo,

fruto do desenvolvimento sócio-económico por ela registado, é um bom exemplo da

importância acrescida dos meios de comunicação, visto serem eles os principais veículos de

transmissão dos valores sociais que regem a sociedade.

Para a compreensão plena dos princípios que regem as actividades de lazer nocturno, é

essencial entender o duplo papel, extremamente importante, desempenhado pelos meios de

comunicação, responsáveis pela divulgação do produto em si, mas também, e sendo este

sem dúvida o seu maior contributo, responsáveis pelo modelar da personalidade dos

elementos da sociedade, que praticam actividades de lazer nocturno, no que às suas formas

de comportamento, de identificação exterior e de relacionamento diz respeito.

CHAMBERS, Deborah - Symbolic equipment and the objects of leisure image, em «Leisure Studies», Vol. 2, N° 3, Londres, 1983, p. 302. 40 ROJEK, Chris - BaudhHard and Leisure, em «Leisure Studies», Vol. 9, N° 1, Londres, 1990, p. 8.

32


Através de um processo de mediatização41 intenso, os meios de comunicação procedem à

divulgação do produto ( actividades de lazer nocturno ), enaltecendo as suas virtudes e a sua

importância na sociabilização dos elementos da sociedade, estabelecendo, como essenciais,

todo um universo de artefactos a utilizar para o pleno usufruto de actividades de lazer

nocturno. A mediatização contribui também, através da criação dos seus próprios símbolos,

indivíduos glorificados como exemplo para a sociedade em geral, para a definição de

tendências e de comportamentos, a seguir por quem pratique actividades de lazer nocturno,

como modelos.

1. 3. Diferentes Idades, Diferentes Lazeres Nocturnos

Na compreensão das características básicas que regem as actividades de lazer nocturno, a

faixa etária a que pertence cada indivíduo, assume um papel preponderante na definição do

comportamento dos elementos da sociedade, na medida em que se trata de um factor

essencial na selecção da tipologia dos lazeres nocturnos a frequentar, bem como na escolha

dos tempos de frequência. Mais importante do que a classe social a que cada elemento da

sociedade pertence, a capacidade económica ostentada ou o desenvolvimento cultural

adquirido, é a idade de cada indivíduo que vai definir os comportamentos exibidos e os

locais frequentados.

Ao longo do seu ciclo de vida, o grau de importância atribuído, pelo próprio indivíduo, às 42

actividades de lazer nocturno, varia de forma significativa. Como se viu anteriormente ,

somente na adolescência e no inicio da idade adulta, devido à sua forte componente de

sociabilização, é que estas actividades assumem um papel crucial, registando-se então, por

parte dos diversos elementos da sociedade, um grau de participação intenso,

independentemente da sua capacidade económica ou da sua classe social. Após a ocorrência

destas fases, e devido às alterações, entretanto verificadas, nas situações familiar e laboral 41FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995. Mediatização: processo segundo o qual a acção dos Media tem tendência a saturar a sociedade, a cultura, as identidades e a vida do dia-a-dia. 42 Cf. cap. 1 (10). COOLEY, Ann - Sex roles and explanations of leisure behaviour, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 335.

33


que afectam os indivíduos, a frequência de actividades de lazer nocturno no exterior da

habitação, assume um padrão intermitente, bem como formas diferenciadas (em que

predominam os lazeres nocturnos de sociabilização ou culturais), em função do ganho de

importância do lazer nocturno de índole doméstica. Para esta alteração de comportamentos

verificada, contribui também o facto de o usufruto de actividades de lazer nocturno ser uma

actividade extremamente exigente em termos físicos (actividade que necessita de um

prolongado período de descanso após a sua prática), situação não compatível com a maioria

dos horários laborais que condicionam a vivência dos diversos elementos da sociedade.

Assim, para um perfeito entendimento do modo como se desenrolam as actividades de lazer

nocturno, assume primordial importância a compreensão do papel representado pelas faixas

etárias mais jovens, tendo que se considerar a idade dos 30 / 35 anos, como o limite etário a

partir do qual a frequência de locais de diversão nocturna sofre uma metamorfose intensa no

papel por si desempenhado43, passando a assumir uma importância secundária na vivência

dos elementos da sociedade.

1. 3.1. Importância dos Jovens

Para uma correcta compreensão do modo de usufruto das actividades de lazer nocturno, por

parte dos adolescentes e adultos jovens, é importante referir a heterogeneidade de situações

existentes. Devido à multiplicidade social, cultural e económica, que se encontra

representada pelos diversos elementos da sociedade em presença, não se torna correcto

procurar apresentar uma definição única, potencialmente limitadora, dos modos da

juventude encarar as actividades de lazer nocturno.

Deste modo, o período de adolescência - durante o qual se dá uma definição dos

comportamentos a assumir perante as actividades de lazer nocturno, por parte dos diversos

elementos da sociedade - revela-se de extrema importância. As actividades de sociabilização

intensa, entre as quais se encontram os lazeres nocturnos externos, vão registar uma

importância crescente para os diversos elementos da sociedade, à medida que estes

43 DUMAZEDIER, Joffre - Lazer e Cultura Popular, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1974. 34


abandonam, de forma progressiva, a prática de actividades de lazer nocturno baseadas

exclusivamente no espaço doméstico, práticas essas caracterizadas pela presença de

elementos do grupo familiar. Agregado familiar44 esse, que procura, através da adopção de

uma série de comportamentos, restringir a prática, por parte dos seus elementos mais jovens,

de actividades de lazer nocturno externas, de modo a evitar, quer a possível desagregação da

família, quer a perda de controlo sob todos os seus elementos, anteriormente existente.

O adolescente procura assim, através da prática de uma série de actividades, a definição45 da

sua personalidade, da sua identidade própria, razão pela qual os lazeres nocturnos externos,

realizados na ausência de elementos do grupo familiar, fora de um ambiente potencialmente

redutor, assumem um papel de extrema importância. Na tentativa de demonstrar a sua

individualidade, a sua não pertença à massa indistinta representada pela sociedade, os

jovens assumem comportamentos potencialmente disruptivos, com o objectivo de se

distinguirem dos restantes elementos da sociedade. A definição de uma identidade e de um

estilo próprios, baseados em formas de comportamento, de apresentação e de expressão

linguistica diversas, proporciona aos jovens, não só, uma distinção efectiva em relação aos

restantes elementos da sociedade, considerados como portadores de uma imagem negativa,

mas também a possibilidade de integração em grupos, que partilhem de convicções comuns.

A integração em grupos, por parte dos adolescentes e dos adultos jovens, possibilita o

assumir de comportamentos e atitudes em comum, que de outro modo não seriam

adoptadas, factor que contribui para o incremento da frequência de actividades de lazer

nocturno. O grupo concentra a sua actividade em práticas de lazer nocturno, pois trata-se de

um espaço primordial, em conjunto com o espaço escolar / laboral, para demonstrar a sua

especificidade, em relação aos restantes elementos da sociedade, bem como para o

aprofundar das relações existentes entre os elementos constituintes do grupo. Os grupos são

encarados, por parte dos seus constituintes, não como espaços fechados, mas sim como

espaços de transição, em que consoante os seus interesses de momento, cada indivíduo

KELLY, John - Leisure and the Family em C. CRITCHER et ai (ed) Sociology of Leisure, Londres, E & FN SPON, 1995, p. 45. 45 HENDRY, Leo B.; SHUCKSMITH, Janet; LOVE, John; GLENDINNTNG, Anthony - Young People's Leisure and Lifestyles, Londres, Routledge, 1993.

35


procura pertencer a um determinado grupo, registando-se uma mudança para um novo

grupo, com o ocorrer de novos interesses.

Assim, a prática de actividades de lazer nocturno, iniciada durante o período de frequência

escolar, vai ocupar um papel preponderante na sociabilização dos jovens, em virtude de

permitir, embora sujeito a condicionalismos vários, o iniciar de actividades de sociabilização

intensa, praticados na ausência dos elementos do agregado familiar. No entanto, é de referir,

que para os jovens, o lazer domiciliário continua a ter que ser considerado como o mais

importante, visto a maior parte do seu tempo ser passado no âmbito do seu espaço

doméstico.

Verifica-se deste modo, que os adolescentes, quando abandonam46 a frequência escolar, vão

proceder a uma mudança radical no modo como encaram as actividades de lazer nocturno

por si praticadas, deixando estas de assumir um papel secundário, gerido essencialmente

pelo agregado familiar, para assumirem uma importância fulcral, devido à sua capacidade de

proporcionarem situações de sociabilização intensa. Quando os jovens entram no mercado

de trabalho, seja por necessidade, por opção ou devido ao insucesso escolar, de modo

prematuro em relação a outros elementos da mesma faixa etária, que continuam a estudar,

os comportamentos e expectativas assumidos por ambos, perante o lazer nocturno, vão

apresentar formas diferentes. Os modos de lazer usufruídos, em função do rendimento

auferido, vão passar a ser a orientação que leva os jovens inseridos no mercado de trabalho,

a agir (assistindo-se assim a um crescendo da importância atribuida aos lazeres nocturnos,

devido à sua forte componente social), enquanto que os jovens que investem no

prosseguimento dos seus estudos, sob a dependência económica do seu agregado familiar,

vêem condicionadas as suas opções de lazer nocturno.

1. 3. 2. Factores perturbadores do normal usufruto de Lazeres Nocturnos

A frequência de actividades de lazer nocturno, por parte dos diversos elementos da

sociedade, vai ser caracterizada pela ocorrência de uma série de factores perturbadores,

46 HENDRY, Leo B.; RAYMOND, M.; STEWART, C. - Unemployment, school and leisure: an adolescent study, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 2, Londres, 1984, p. 180.

36


factores esses que vão afectar, de forma especifica, o comportamento de cada faixa etária. A

posssibilidade de ocorrência de cada factor perturbador, torna-se essencial para a

compreensão do modo como os elementos de uma determinada faixa etária, procuram

ultrapassar, através de uma adaptação dos seus comportamentos, os problemas colocados,

sempre na perspectiva de uma correcta fruição das actividades de lazer nocturno. Fruto da

evolução da própria sociedade e da mudança de mentalidades entretanto ocorrida, registou-

se um aumento substancial, na participação em actividades de lazer nocturno, o que originou

o surgir de novos factores perturbadores, directamente relacionados com o incremento

registado na participação de elementos de faixas etárias anteriormente ausentes.

Os elementos da sociedade inseridos nas faixas etárias mais jovens, vão ser os primeiros, no

decurso do seu processo de sociabilização, a verem-se confrontados com a ocorrência de

factores perturbadores, que têm como objectivo, delimitar a sua participação em actividades

de lazer nocturno. Deste modo, no usufruir dos lazeres nocturnos, a juventude vai ser

afectada por uma série de contratempos47, como sejam, por exemplo, limitações legais (o

não possuir o limite etário minimo exigido), a falta de poder económico (originada pela

ausência de uma fonte de rendimentos regular), a falta de meios de transporte (possível

conjugação dos dois factores anteriores) ou a acção controladora dos seus progenitores.

Resultante do facto de as actividades de lazer nocturno serem consumistas, por natureza, e

em virtude dos elementos da sociedade mais jovens não possuírem uma fonte regular de

rendimentos, o seu consumo vai sofrer um forte impacto negativo. Há todo um abandono da

possibilidade de saídas regulares, em favor de um maior espaçamento temporal,

consequência da sua reduzida capacidade económica.

Factor também importante para a compreensão dos lazeres nocturnos praticados pelas faixas

etárias mais jovens, é a entrada no mercado de trabalho, o conseguir do primeiro emprego,

que vem possibilitar uma transformação radical, no modo de participação nos lazeres

nocturnos existentes. A independência económica, entretanto alcançada, vem permitir o

ultrapassar de limitações anteriormente impostas, tendo em vista o pleno usufruto, por parte

Cf. HENDRY et alli, 1993. DEEM, Rosemary - Work, Uemployment and Leisure, Londres, Routledge, 1988, p. 66.

37


dos elementos mais jovens da sociedade, da diversidade de actividades de lazer nocturno

disponível.

Numa situação oposta, encontram-se os elementos da sociedade que não possuem uma fonte

de rendimentos regular. Seja por os indivíduos se encontrarem desempregados, ou por

estarem à procura do seu primeiro emprego, há a forte possibilidade de se verem excluídos

da prática de actividades de lazer nocturno. Há um assumir, por parte dos indivíduos que se

encontram nesta situação, independentemente da sua faixa etária, de um lazer nocturno de

cariz essencialmente doméstico, em detrimento de um lazer nocturno externo à sua

habitação, que apresenta a obrigatoriedade de consumir. Quando o indivíduo opta pela

frequência de lazeres nocturnos externos, fá-lo seleccionando locais de pequenos gastos,

onde permanece longos períodos de tempo, usufruindo deste modo do ambiente de diversão

presente.

Outro factor, extremamente importante, que afecta o modo como são praticadas as

actividades de lazer nocturno, é a alteração do estado civil de cada elemento da sociedade.

Com o casamento ou junção com outro indivíduo, as decisões de frequência de lazeres

nocturnos, que antes eram assumidas de modo individual, passam a ter que ser tomadas de

mútuo acordo, o que vem restringir a liberdade de cada um. Enquanto solteiros ou

independentes, ambos, homens e mulheres, participam em actividades de lazer de forma

intensa, embora possam adoptar tipologias diferenciadas. Com a união, ambos os sexos vão

sofrer uma forte restrição nas suas práticas de lazeres nocturnos, potencialmente agravada

com o surgir de descendência49. Verifica-se a partir deste momento uma restrição voluntária

das actividades no exterior, passando o lazer nocturno a ser encarado como um tempo de

união da família. Esta vivência só irá ser alterada com a entrada da descendência na

adolescência, em que esta procura, no exterior da habitação, novas formas de lazer,

iniciando, de forma progressiva, o seu contacto com actividades de lazer nocturno. No

entanto, é de referir que, a partir do momento em que a descendência se torna independente,

no que ao usufruto de actividades de lazer nocturno diz respeito, não se assiste, por parte

dos progenitores, a uma alteração na prática de actividades de lazer nocturno, mantendo-se

o seu interesse, entretanto adquirido, noutras actividades de índole cultural ou recreativa.

KELLY, op. cit. 38


Como complemento, é importante referir que a prática de actividades de lazer nocturno em

familias divorciadas assume padrões diversificados, consoante se verifique a existência ou

não de descendentes. Seja por motivos temporais, económicos ou sociais, a participação do

elemento ao cargo do qual ficou a descendência, decresce de forma significativa, em

comparação com outros elementos da sociedade inseridos em faixas etárias idênticas,

assistindo-se a um anular, quase por completo, do seu interesse em actividades de lazer

nocturno. No entanto, tal situação pode ser atenuada recorrendo ao auxilio da familia ou de

elementos profissionais contratados. Pelo contrário, o comportamento assumido pelo outro

elemento do casal divorciado reflecte uma situação de total descomprometimento, que o

leva a um participar em actividades de lazer nocturno de forma intensa.

1. 3. 3. Importância da Capacidade Económica

A participação dos diversos elementos da sociedade, em actividades de lazer nocturno, só se

concretiza, quando existe por parte dos indivíduos, capacidade económica para tal,

situação que permite o dispensar de parte dos seus rendimentos, para o usufruto de

actividades de lazer. Verifica-se deste modo, não ser uniforme a capacidade económica dos

diversos elementos da sociedade, assistindo-se ao surgir de formas de lazer nocturno

diferenciadas, adaptadas à capacidade económica de cada elemento participante.

A democratização da frequência entretanto ocorrida, não contribuiu para o atenuar das

diferenças sociais, culturais e económicas, existentes na sociedade, sendo, no entanto,

responsável pela heterogeneidade51 de situações sócio-económicas encontradas, no usufruto

de actividades de lazer nocturno. Deste modo, a situação de homogeneidade anteriormente

existente, presente nos espaços de lazer nocturno, tende a desaparecer, fruto da

multiplicidade de frequências adoptada, por parte dos diversos elementos da sociedade.

A prática de actividades de lazer nocturno adquire um simbolismo que é assumido de forma

diferenciada pelas diversas classes sócio-económicas em presença. Como resultado deste

50 ANDERTON, Derrick - Looking at Leisure, Londres, Hodder & Stoughton, 1992. 51 THORNTON, Sarah - Club Cultures - Music, Media and Subcultural Capital, Cambridge, Polity Press, 1995.

39


simbolismo, os indivíduos investem na adopção de um determinado estilo de vida,

responsável pela sua aparência, modos de agir, gostos pessoais e linguística utilizada, que

lhes permite uma diferenciação em relação aos restantes elementos da sociedade.

A diferenciação entre os elementos da sociedade, pertencentes a estratos económicos

distintos, a classes sociais diversificadas, é estabelecida de modo mais directo, pelas formas

de consumo adoptadas, do que pelas formas de pensar. O Ser52 cedeu lugar ao Parecer,

como identificador das diferenças existentes na sociedade. Os indivíduos procuram

sobressair pela diferença, assumindo comportamentos e modos de apresentação que

facilitem a sua imediata identificação.

Importante para a compreensão do modo como os diversos elementos da sociedade encaram

as actividades de lazer nocturno por si praticadas, é a classe social a que pertencem.

Elementos integrados em classes sociais com maior capacidade económica, tendem a

prolongar até bastante mais tarde, no seu ciclo de vida, a frequência de lazeres nocturnos no

exterior da sua habitação; por outro lado, elementos pertencentes a estratos mais

desfavorecidos no plano económico, tendem a centrar na sua habitação, ou na sua

proximidade, a prática de lazeres nocturnos, ocorrendo tal facto de forma precoce, no seu

ciclo de vida, normalmente após o matrimónio. O assumir destes comportamentos advém da

própria vivência cultural de cada classe social. No que diz respeito às classes sociais mais

favorecidas, o "sair", a procura de diversão no exterior, sempre foi considerado como o

comportamento correcto a adoptar, praticado desde bastante cedo na vida de cada um, em

função da intensa sociabilização que proporciona, enquanto que, nas classes mais

desfavorecidas, pelo contrário, o "sair" sempre foi encarado como um acontecimento

esporádico, praticado somente em momentos festivos, comportamento que não favorece a

criação de hábitos, que possam prevalecer para além do matrimónio.

Deste modo, as classes sociais que usufruem de menores rendimentos, vão adoptar padrões

de consumo reduzidos, o que se vai reflectir na forma como praticam e na importância que

atribuem, às actividades de lazer nocturno. Não consideram53 o lazer nocturno como algo

52 LASCH, Christopher - Consumo, Narcisismo e Cultura de Massas, em «Revista de Comunicação e Linguagem», Lisboa, CECL, N* 2, 12/1985, p. 131. 53 NEWMAN, Otto - The coming of a Leisure Society ?, em «Leisure Studies», Vol. 2, N° 1, Londres, 1983, p. 102.

40


essencial para a sua vivência, sendo praticado, através da frequência de estabelecimentos

não-especializados, como sejam cafés, esplanadas ou tabernas, situados nas proximidades da

sua habitação. Como é óbvio, a exclusão da prática de actividades de lazer nocturno é

resultado, assim, quer da sua incapacidade económica quer da sua própria mentalidade. No

entanto, é de referir, que os elementos das faixas etárias mais jovens, procuram combater tal

procedimento, através da frequência, embora assumida de forma esporádica, de

estabelecimentos especializados em actividades de lazer nocturno. Para os jovens, o "sair", o

"ficar na rua", em actividades de sociabilização intensa, que podem incluir ou não a

frequência de estabelecimentos de lazer nocturno, já é uma alteração substancial, em relação

às formas de comportamento assumidas pelos seus progenitores.

Resultado da forte componente económica que a caracteriza, a prática de actividades de

lazer nocturno, funciona como um elemento fomentador de situações de exclusão e de

segregação, dentro da própria sociedade. A prática de lazeres nocturnos, actividade

consumista por natureza, vai implicar uma demonstração, através dos consumos adoptados,

da capacidade económica de cada elemento da sociedade. Deste modo, geram-se situações

de exclusão54, pois a todos aqueles, que devido à sua incapacidade económica não podem

consumir da forma desejada, é-lhes negado o acesso a espaços de lazer nocturno. Através da

adopção de uma série de factores selectivos - como apresentação exterior, tipo de

comportamentos adoptado, por exemplo - procura-se justificar a interdição à frequência dos

estabelecimentos de lazer nocturno. Deste modo, tenta-se proceder a uma selecção dos

frequentadores em função da sua capacidade consumidora.

1. 4. As actividades de Lazer como elementos definidores do Território

As actividades de lazer nocturno funcionam, no interior do espaço urbano, como um

elemento complementar às actividades tradicionais, possibilitando a diversificação da oferta

existente, através do usufruto, em simultâneo, de um mesmo espaço. O modo como os

espaços de lazer nocturno se vão enquadrar dentro da cidade - e o modo como gerem a sua

54 FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995. 41

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores; uma visão geográfica

interactividade55 com outras funções do espaço urbano - depende de uma série de factores,

como o tipo predominante de ocupação do solo, o número de habitantes presente, a

existência de boas vias de comunicação, as regulamentações impostas pelos poderes

públicos, entre outros.

É importante referir neste estudo, as diferenças existentes, no modo como são entendidas

pelas populações, entre as actividades de lazer nocturno praticadas em espaços urbanos e as

praticadas em espaços rurais. Para as populações em presença, a importância atribuída, na

sua vivência diária, à prática de actividades de lazer nocturno é radicalmente oposta, factor

comprovado pela diferenciação assumida no modo como são praticadas tais actividades.

Para a população urbana, a frequência de espaços de lazer nocturno, é encarada como uma

actividade de rotina, praticada de modo regular, sendo a escolha do local a frequentar, fruto

das circunstâncias, podendo assumir diferentes formas e localizações diversas. Para a

população rural, as actividades de lazer nocturno praticadas de forma regular (a ida ao café,

ao salão de jogos, entre outras) vão estar centradas, essencialmente, na proximidade do seu

espaço doméstico, assumindo as formas características dos espaços urbanos, como por

exemplo Discotecas, uma importância diversa, em função da sua frequência ser esporádica,

praticada em períodos específicos, como fins-de-semanas e vésperas de feriados.

Deste modo, o espaço urbano apresenta-se como o espaço priveligiado para a

implementação da oferta de actividades de lazer nocturno. Trata-se de um espaço de

qualidade56 e heterogéneo, capaz de oferecer uma multitude de opções a quem o frequenta.

O conhecimento57 do espaço urbano, por parte dos seus habitantes, revela-se assim, de

primordial importância para a frequência de actividades de lazer nocturno. Quando esse

conhecimento se revela reduzido, há uma opção deliberada pela frequência de localizações

que apresentem uma maior centralidade, inseridas num conjunto de oferta mais vasto.

Apesar de poder haver interesse na frequência de novos espaços, o desconhecimento da sua

localização precisa inibe a sua possível frequência.

55 GAMA, António; SANTOS, Norberto - Tempo Livre, Lazer e Terciário, em «Cadernos de Geografia», N° 10, Coimbra, JJEG, 1991, p. 120. 56 BACHELARD, G - The Poetics of Space, Boston, Beacon Press, 1969. 57 FERNANDES, José Alberto Rio - tese de doutorameneto, p. 18.

42


No que diz respeito à distribuição dos espaços de lazer nocturno no território, as áreas

centrais das cidades, situadas no centro de uma área densamente povoada, que as rodeia,

bem servidas por vias de comunicação - o que permite uma rápida deslocação e

acessibilidades elevadas - vão ser as preferidas no processo de instalação de actividades de

lazer nocturno. Trata-se de locais em que predominam as actividades do sector terciário,

factor que, a par de um reduzido número de habitantes (em certas ocasiões potenciais

elementos perturbadores de uma lucrativa exploração, pelos seus constantes protestos,

devido ao excesso de barulho, à ausência de estacionamento, entre outros factores), permite

a existência de espaços de lazer nocturno, em detrimento de uma opção por bairros

predominantemente de índole residencial. Esta opção por locais de concentração do

terciário, também se justifica devido ao facto de se encontrar simplificada a aquisição de

espaços, ou a sua possível requalificação, a partir de outras actividades previamente

existentes, podendo-se beneficiar, ao mesmo tempo, da capacidade de atracção exercida por

outros estabelecimentos previamente instalados.

Verifica-se que a hierarquia urbana existente vai ser respeitada, na generalidade dos casos,

pela localização de espaços de lazer nocturno. Constata-se assim uma opção deliberada pela

concentração em áreas centrais, onde predominam as actividades do sector terciário, bem

como por locais de vocação essencialmente turística, como sejam, por exemplo, centros

históricos. No entanto, é de referir a existência de espaços de lazer nocturno fora das

localizações consideradas como ideais, o que se explica pela máxima abrangência de

clientelas que se procura atingir e pela diferente capacidade económica de quem investe,

factores que contribuem para uma distribuição irregular dos espaços considerados, na malha

urbana. Espaços esses, situados no exterior das áreas consideradas como ideais, que podem

ser responsáveis pela atracção de um número elevado de potenciais clientes, situação que

lhes pode conferir uma importância relativa dentro das actividades de lazer nocturno

superior à de outros espaços melhor localizados.

A distribuição no território dos espaços ligados ao usufruto de actividades de lazer nocturno

reflecte, não só a hierarquia funcional urbana, mas também as componentes socio

económicas das populações presentes. O interesse das populações pode contribuir para uma

43


especialização territorial58, levando a que surja, relacionada com a procura, a oferta de

novos estabelecimentos em locais específicos. O surgir de novos estabelecimentos, de uma

maior oferta, irá proporcionar à sociedade a possibilidade de estabelecer uma relação directa

com o espaço urbano, podendo assim contribuir, através da sua frequência ou do seu

desinteresse, para a dinamização ou estagnação do território urbano.

A ocupação do solo por actividades de lazer nocturno acontece através de uma partilha

funcional com outras actividades, não se verificando a existência de um mono-funcionalismo

em virtude de o espaço ter uma ocupação diurna de extrema importância, complementada

pela ocupação nocturna dos mesmos espaços. Verifica-se assim, a especialização de certas

áreas do espaço urbano, como por exemplo, áreas centrais, locais turísticos, antigas áreas

industriais, orlas marítimas ou margens fluviais, entre outras, que podem proporcionar o

aparecimento de uma elevada concentração de espaços de lazer nocturno, fruto de

possuirem condições atractivas que permitem corresponder ao crescente interesse das

populações em presença. O espaço de vivência urbana afectado ao turismo, por exemplo,

não é mais encarado60 como um local a preservar somente como património histórico, mas

também como parte integrante da própria vivência urbana, que importa recuperar de modo a

ser usufruído pelos próprios habitantes da cidade. Deste modo, os espaços de lazer

nocturnos são encarados como potenciadores de um melhor uso do espaço urbano, através

da acção atractiva que podem exercer.

O papel desempenhado pelos espaços de lazer nocturno - a sua importância - não se mede

somente pela sua vertente económica, ou pela sua capacidade de gerar emprego, mas

também pela sua capacidade de recuperar áreas em acentuado processo de "downgrading",

sejam elas centros históricos degradados ou áreas urbano-industriais em declínio. As

actividades de lazer nocturno, possuidoras de uma capacidade de atracção elevada,

procuram as localizações consideradas como ideais dentro do espaço urbano, de modo a

58 MARTINS, Luis Paulo Saldanha - Lazer, Férias e Turismo na Organização do Espaço no Noroeste de Portugal, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Univ. do Porto, 1993. 59 HENRIQUES, Eduardo Brito; FEIO, Paulo - Os Espaços de lazer nocturno: algumas notas a propósito do caso de Lisboa, em «Actas do II Congresso da Geografia Portuguesa», Lisboa, APG, 1995, p. 470. 60 ANTON CLAVE, Salvador - La reestructuracion de las Cidades Turísticas Litorales ante las nuevas tendências de consumo turístico, em «Actas do XIV Congresso Nacional de Geografia», Salamanca, AGE, 1995, p. 318.

44


rentabilizarem, com segurança, os investimentos por si realizados. Deste modo, os

investimentos aplicados no concretizar dos espaços de lazer nocturno, passem eles pela

recuperação de espaços degradados em centros históricos, ou pela requalificação de espaços

em áreas urbano-industriais em declínio, são encarados como uma opção válida, em

detrimento da opção construção de raiz, fruto dos ganhos económicos que proporcionam a

quem investe.

Os espaços de lazer nocturno, principais responsáveis pela capacidade de atracção

evidenciada por determinadas áreas urbanas, contribuem, através da sua acção, para um

retrocesso no estado de abandono, a que algumas dessas áreas se encontravam votadas. O

espaço onde se inserem as actividades de lazer nocturno, torna-se polivalente na sua

funcionalidade, assumindo uma vivência nocturna e diurna, registando deste modo uma

importância acrescida dentro do contexto da urbe em função da sua crescente capacidade de

atracção. É de referir, no entanto, que as actividades de lazer nocturno são as primeiras a

tirar partido dos investimentos realizados na recuperação/requalificação de áreas degradadas

ou em acentuado processo de declínio. Opção assumida, essencialmente, por motivos

económicos, em virtude de se tratarem de espaços que requerem investimentos reduzidos

para a sua viabilização, fruto de condicionalismos diversos que ditam o enfraquecimento da

importância dessas áreas no contexto urbano, factor que origina a venda de espaços a um

valor reduzido, no sentido de possibilitar uma rápida recuperação das áreas envolvidas.

1. 4 .1 . Capacidade de Atracção do Espaço Urbano

A capacidade de atracção evidenciada por uma área urbana, no que às actividades de lazer

nocturno diz respeito, é condicionada por uma série de factores61, como, por exemplo, o

número de espaços de lazer presentes, a diversidade encontrada e a existência de uma boa

rede viária, que aumente a acessibilidade. A concentração de elevado número de espaços de

lazer nocturno, em determinada área, contribui para o aumento da sua capacidade de

61 JANSEN-VERBEKE, Myriam - Inner city leisure resources, em «Leisure Studies», Vol. 4, N° 2, Londres, 1985, p. 143.

45


atracção, resultante da combinação das ofertas existentes. A multiplicidade de ofertas

existente visa atrair habitantes da própria cidade e do seu espaço envolvente, habitantes

esses que vão estar condicionados por factores de acessibilidade ou até inerentes ao próprio

espaço, como são as condições de parqueamento existentes, as condições de segurança no

exterior, entre outras. No entanto, e apesar de na maioria das situações as ofertas se

encontrarem concentradas numa dada localização, é de referir a presença de uma

distribuição regular de espaços de lazer nocturno na malha urbana, resultado da variedade de

ofertas existente que procura proporcionar, aos habitantes das suas áreas envolventes, a

possibilidade de frequentarem lazeres nocturnos, sem a necessidade de se ausentarem da

proximidade das suas residências.

Assim, é de realçar que as actividades de lazer nocturno tem tendência a ser praticadas, por

parte dos elementos da sociedade, numa proximidade relativa do seu espaço doméstico,

sendo as facilidades de deslocação e o tempo disponível os factores essenciais para a

definição das suas tipologias de frequências. No entanto, é de referir a necessidade de

diferenciar os períodos de frequência, como por exemplo, os fins-de-semana dos dias de

semana, visto que se verifica a adopção de um comportamento distinto por parte dos

elementos da sociedade, fruto da sua maior disponibilidade. Quando se verifica a abertura de

um novo espaço de lazer nocturno, que procura colmatar a anterior inexistência de oferta,

regista-se uma alteração62 no comportamento daqueles que habitam em redor desse novo

espaço. Passa a haver uma frequência do novo espaço, em alternativa a outros anteriormente

frequentados. Como se depreende, a ausência de oferta de espaços de lazer nocturno em

determinadas áreas urbanas, contribui para que não exerçam qualquer tipo de atracção,

sobre os seus próprios habitantes e os das áreas envolventes.

A valorização dos espaços urbanos, conseguida através de uma concentração diversificada

de ofertas de lazeres nocturnos, visa permitir a participação dos elementos da sociedade,

pertencentes aos mais variados grupos sócio-económicos, na própria vivência urbana. Deste

modo, a diversidade de ofertas existente - que procura cobrir todos os estratos sociais dos

62 HULTSMAN, Wendy - Recognizing patterns of Leisure Constraints: an extension of the exploration of dimensionality, em «Journal of Leisure Research», Vol. 27, N° 3, s.l., 1995, p. 235.

46


possíveis frequentadores - contribui de modo significativo para a capacidade de atracção

demonstrada pelas áreas urbanas em questão.

Também importante, como exemplo do que ocorre em épocas específicas do ano, é o papel

desempenhado pelo "Litoral" nas épocas de veraneio. Os espaços de lazer nocturno situados

na orla marítima, vão exercer uma forte atracção, não só sobre aqueles que se encontram nas

suas proximidades a usufruir do seu tempo de férias, mas também sobre aqueles que se

encontram distantes, o que os leva a percorrer grandes distâncias, em busca de locais onde

se possam divertir. Verifica-se assim que, quanto maior for a oferta adaptada63 a períodos

específicos, maior será a frequência registada.

O comportamento registado pelas actividades de lazer nocturno, na recuperação/

requalificação do território, vai também reflectir a acção64 dos poderes públicos, o modo

como a sua intervenção na recuperação de áreas degradadas se processa. Há toda uma

concertação de acções que visam aliciar novos habitantes, bem como novos investimentos

privados que possam contribuir para a mudança da imagem negativa, associada a esses

locais degradados ou em declínio, de modo a aumentar a sua atractividade.

1. 5. Organização económica das actividades de Lazer Nocturno

O modo como as actividades de lazer nocturno são encaradas, sofreu uma mudança

substancial com a própria evolução da sociedade em que estão inseridas. A diminuição do

tempo de trabalho, registada em diversas áreas profissionais nas últimas décadas, com o

consequente aumento dos tempos livres, associada a uma melhoria nas condições

económicas de parte dos elementos da sociedade, contribuiu para uma alteração no papel

atribuído às actividades de lazer, sejam elas diurnas ou nocturnas, tendo estas últimas

assumido um papel preponderante na sociabilização dos indivíduos.

63 LAW, Christopher - Urban tourism and its contribution to economic regeneration, em «International Perspectives in Urban Studies I », Cap. 11, s.L, s.e., s.d., p. 277. 64 RODRIGUES, Walter - Urbanidade e novos estilos de vida, em «Sociologia - Problemas e Práticas», Lisboa, N° 12, 1992, p. 95.

47


Juntamente com este factor, e devido essencialmente ao aumento da capacidade económica

dos diversos elementos da sociedade, verifícou-se um incremento na sua participação em

actividades de lazer nocturno. Deste modo, às classes económicas mais favorecidas,

principais frequentadores desde sempre das actividades de lazer nocturno, juntaram-se a

generalidade dos elementos da sociedade, como resultado de uma "democratização"

ocorrida na possibilidade de frequência de espaços de lazer nocturno. Esta democratização,

fruto da mudança de mentalidades, do aumento do número de espaços de lazer nocturno

existentes e do incremento da capacidade económica dos elementos da sociedade, contribuiu

também para uma generalização65 da frequência a todas as faixas etárias, bem como para

uma igualitarização de comportamentos entre elementos de sexo masculino e feminino.

Deste modo, fruto da concorrência sempre presente e da volatibilidade das opções de

frequência assumidas pelos elementos da sociedade, verifica-se a existência de períodos de

apogeu e de períodos de declínio nas actividades de lazer nocturno, que podem ser

representados através da adaptação dos quatro ciclos de vida66 à existência dos espaços de

lazer nocturno.

Io- Nascimento. Coincide com a abertura de portas, momento em que a projecção da

novidade procura ser máxima, através da realização de acções de promoção dirigidas à

clientela alvo, de modo a conseguir atrair clientes de outros estabelecimentos, procurando a

sua fidelização ao novo espaço. O serviço prestado pretende ser de qualidade logo desde o

início, tendo em vista o causar "uma boa impressão", para que os potenciais frequentadores

se possam tornar clientes habituais.

2o- Crescimento. Período em que se pretende o ganho de clientela, a sua definição em

relação à oferta proposta, tendo como objectivo imediato uma fidelização ao espaço, após a

situação de inovação que é a abertura de portas (situação em que os potenciais

frequentadores somente procuram conhecer a nova oferta). Trata-se de um período crucial

para a sobrevivência da actividade, em que se procura a consolidação da clientela e em que

65 DUMAZEDIER, Joffre - Sociologia Empírica do Lazer, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1976. 66 FERNANDES, José Alberto Rio -, Tese de Doutoramento apresentada à Fac. de Letras da Univ. do Porto, Porto, s.d.

48


os indivíduos que tencionam frequentar o novo espaço, se decidem a abandonar, ou não, as

suas frequências anteriores. Essa fidelização67 é conseguida quando o potencial consumidor

assume a sua preferência pela frequência de um determinado espaço, relegando para plano

secundário outras ofertas.

3o- Amadurecimento. Há uma procura de manter a clientela entretanto alcançada, de modo a

evitar a sua perda e o consequente declínio económico do estabelecimento. Quem frequenta

começa a demonstrar sinais de cansaço, devido à habituação ao espaço existente, o que leva

à procura de novas ofertas, em busca de inovações, ou a regressar a anteriores frequências,

emtretanto remodeladas. Para prevenir a perda de clientes recorre-se a constantes inovações,

como a remodelação do espaço (para evitar a habituação, e consequente desinteresse), a

alterações no produto oferecido (de modo a acompanhar novas ofertas, mais atraentes),

entre outras possibilidades.

4o- Declínio. Verifica-se uma perda continuada de frequentadores, atraídos por novas

ofertas ou que simplesmente regressaram a anteriores frequências, como resultado de um

desinteresse no espaço existente. Pode coincidir com alterações substanciais à proposta

inicial, postas em prática de modo a atrair novas clientelas, o que resulta em desagrado de

clientes habituais, factor que contribui para o seu afastamento. A situação de declínio pode

conduzir ao encerramento do espaço, fruto da inviabilidade económica entretanto registada.

No entanto, é de realçar que a situação de declínio, com o consequente encerramento da

actividade, pode originar o surgir de uma nova oferta, que através do aproveitamento do

espaço existente, e após alterações de maior ou menor dimensão, procurará percorrer os

ciclos anteriormente citados.

Para a manutenção de uma actividade prolongada, os espaços de lazer nocturno procuram

continuamente atrair novos clientes, de modo a melhorarem o seu desempenho económico.

Verifica-se assim que factores como a constante renovação dos espaços, a manutenção das

67 WALMSLEY, D.J.; LEWIS, GJ. - Human Geography: beha\>ioural approaches, 3a ed., Londres, Longman, 1990.

49


suas características iniciais, a presença de elementos do sexo feminino no staff on a política

de preços praticada, podem contribuir para a fidelização dos elementos da sociedade,

potenciais frequentadores do espaço. Por exemplo, a importância atribuida ao factor preço

praticado é elevada, visto que a democratização das frequências ocorrida nas últimas

décadas, atraiu novas clientelas com capacidades económicas suficientes, mas não ilimitadas,

como anteriormente se verificava. Quem tenciona frequentar, coloca sempre a questão do

que conseguirá consumir68 em função de determinado gasto, o que conduz a uma selecção

pormenorizada dos locais tendo como base os preços praticados.

Na perspectiva de atrair novas clientelas, os espaços de lazer nocturno procuram estar a par

das últimas novidades, do que poderá contribuir para a atracção de potenciais

frequentadores, o que leva os seus responsáveis a prestar particular atenção ao que está a ser

feito pela concorrência, de modo a poderem oferecer um produto similar, caso este se revele

rentável. Nas actividades de lazer nocturno, a cópia69, e não a inovação, é o modelo

económico seguido com maior regularidade. Verifica-se assim que, quando determinado

estabelecimento procura ser inovador, e consegue obter uma resposta positiva por parte da

sociedade, com resultados económicos de relevo, de imediato surge a cópia, sob a forma de

estabelecimentos similares, ou através da alteração das características básicas de

estabelecimentos previamente existentes. A procura da inovação é abandonada, em função

dos riscos económicos que acarreta, quando não é compreendida pelo público alvo a que se

destina.

Na organização económica das actividades de lazer nocturno, verifica-se a existência de uma

série de factores que podem contribuir para o sucesso económico das diversas ofertas.

Dentro destes factores, destaca-se a Promoção e o Marketing, a importância da

Sazonalidade e a concentração em Espaços Específicos. Trata-se de um conjunto de

situações heterogéneas, sem qualquer denominador comum, e que afectam as actividades de

lazer nocturno de modo específico.

68 BACKMAN, Sheila; CROMPTON, John - Differenting between active and passive discontinuers of two leisure activities, em «Journal of Leisure Activities», Vol. 22, N° 3, s.l., 1990, p. 200. 69 FERNANDES, op. cit.

50


A promoção e o marketing, principais responsáveis pelo sucesso de qualquer oferta de lazer

nocturno, revelam uma crescente influência nos elementos da sociedade que frequentam os

espaços existentes. Torna-se importante relembrar que não se está somente a oferecer um

local, acrescido da sua ambiência, mas toda uma componente sócio-cultural, definidora do

próprio espaço. Através da promoção e divulgação das características de um espaço, ou até

das inovações que apresenta, procura-se atrair clientela, de modo a rentabilizar a actividade

de modo eficaz. Assim, a oferta de um produto de qualidade revela-se essencial, devido ao

crescente grau de exigência exibido pelos potenciais frequentadores, resultado da evolução

de mentalidades e do aumento de ofertas entretanto ocorrida.

Difícil de manter no tempo é a qualidade do serviço prestado, o que contribui para o

denegrir da imagem do espaço. Novamente, é a acção da promoção e do marketing que

pode contribuir para a divulgação de potenciais inovações, o que poderá permitir a

manutenção da rentabilidade necessária para o sucesso da actividade. Importante é a

estabilização de um foco71 de atenção constante sobre o espaço que possibilite a substituição

de habituais frequentadores por novos frequentadores, quando se verifica uma situação de

saturação por parte da clientela inicial.

Também a questão da sazonalidade se revela importante no modo de agir dos elementos da

sociedade. Fruto de uma adaptação sua ao surgir de novas ofertas específicas que ocorrem

em determinadas épocas do ano, verifica-se uma alteração72 na tipologia de espaços

frequentados. Assim, o surgir do Verão, por exemplo, época caracterizada pelo aumento das

temperaturas externas e pela ausência de precipitação, contribui para um incremento na

frequência de espaços ao ar livre em detrimento de espaços fechados, que se caracterizam

pelo seu ambiente aquecido, nada acolhedor. Pelo contrário, temperaturas exteriores baixas

e elevada precipitação, características típicas de tempo de Inverno, convidam à frequência de

espaços fechados, mais acolhedores. Deste modo, procura-se explicar a opção pela

frequência de esplanadas no Verão, bem como a preferência por espaços pequenos em pleno

Inverno.

70 ANDERTON, Derrick - Looking at Leisure, Londres, Hodder & Stoughton, 1992. 71 FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995. 72 LAW, Christopher - Urban tourism and its contribution to economic regeneration, em «International Perspectives in Urban Studies I», Cap. 11, S.I., s.e., s.d., p. 280.

51


Outro factor importante é a existência de uma concentração de estabelecimentos num

determinado espaço, o que favorece73 o consumo por parte dos diversos elementos da

sociedade. Quer se trate de um centro histórico recuperado, de um centro urbano-industrial

em declínio ou de um centro comercial, a presença simultânea de uma multiplicidade de

ofertas contribui para um incremento na atracção verificada. A proximidade de diversos

espaços de lazer nocturno, representantes de tipologias diversas, permite e estimula um

intercâmbio constante entre os espaços envolventes, o que pode contribuir para evitar a

ocorrência de situações de aborrecimento ou desagrado, que poderiam levar ao abandono do

local. Deste modo, o comportamento dos elementos da sociedade é caracterizado por um

retardar da mudança de local, seja para outro local de diversão nocturna, seja para o

regresso definitivo a casa, motivado pela multiplicidade de ofertas existentes.

URRY, John - Consuming Places, Londres, Routledge, 1995. 52


II PARTE

Evolução até à Actualidade

53


2.1. Evolução do Espaço e Questões de Território

O modo como evoluíram e se diversificaram as ofertas existentes nas actividades

relacionadas com o lazer nocturno na cidade do Porto e seus arredores, esteve directamente

relacionado com o próprio desenvolvimento urbano do espaço em estudo. Como

consequência do crescimento no número de habitantes, fruto do incremento a nível regional

da importância sócio-económica da área metropolitana do Porto que se registou nas últimas

décadas, verifica-se que a capacidade de atracção da cidade do Porto aumentou de forma

significativa, situação que se constata no modo como procurou concentrar os centros de

decisão directamente relacionados com o desenvolvimento da região norte de Portugal.

Deste modo, torna-se cada vez mais importante analisar a dinâmica que afectou os

diferentes usos do solo, em virtude da constante alteração de funções a que se encontraram

sujeitos. Como resultado desta evolução, da dinamização ocorrida fruto da expansão do

próprio espaço urbano, constata-se o desaparecimento dos últimos exemplos de ruralidade

anteriormente presentes (campos cultivados, presença de animais, entre outros), factor que

acompanhado de uma requalificação funcional ocorrida em determinadas áreas da cidade e

dos seus arredores (Baixa, Boavista, Ribeiras Portuense e de Gaia, por exemplo), contribuiu

para uma alteração profunda da fisionomia apresentada pela área em estudo.

Com a ocupação de novos espaços anteriormente afectados a outras funções (agrícolas,

industriais, por exemplo), as áreas urbanizadas da cidade do Porto procederam a um

reordenamento nas tipologias que as caracterizam, surgindo o delimitar de áreas

essencialmente monofuncionais. Assim, em função do declínio das áreas agrícolas e

industriais anteriormente existentes, são as áreas vocacionadas para a residência (Foz, Antas,

entre outras) e para os serviços (Baixa, zona da Rotunda/Av. da Boavista, por exemplo) que

vão prevalecer, registando-se deste modo um reordenamento na distribuição da população e

das suas actividades, de que resulta um progressivo abandono do centro da cidade ao sector

terciário, com a consequente concentração da população em novos espaços, situados dentro

74 FERNANDES, José Alberto Rio - Dinâmicas de Transformação da Oferta de Bens e Serviços na Cidade do Porto, em «Actas do VI Congresso Ibérico de Geografia», Porto, 1992, p. 48.

54


da cidade e nos seus arredores, espaços esses que vão registar um forte incremento na sua

importância relativa dentro do território.

Fruto do desenvolvimento urbano registado na segunda metade do século XX na cidade do

Porto e seus arredores, verifica-se, no que às actividades de lazer nocturno diz respeito, a

ocorrência de um período charneira, período esse que correspondeu aos finais da década de

70, princípios da década de 80 (como se pode ver na Figura 1, na página 67), a partir do

qual se identifica um incremento no número de espaços existentes, e por consequência na

diversidade de tipologias oferecida. Na definição no território da localização de novas

ofertas, observa-se que esse período coincide com uma relativa perda de importância das

localizações tradicionais, baseadas numa elevada centralidade, em detrimento de novas

localizações, situadas na cidade (em áreas alvo de uma requalificação funcional ou de uma

recuperação urbanística) ou nos seus arredores, que procuravam explorar o desenvolvimento

urbano entretanto ocorrido.

No entanto, é de referir que a delimitação de um período charneira não significa a

inexistência de outros períodos importantes para a caracterização da evolução das

actividades de lazer nocturno no espaço em estudo. Somente o facto de se ter verificado

uma forte evolução no número de estabelecimentos neste período, aliado à existência de

documentação diversa sobre tal situação, permitiu o seu salientar em detrimento de outros

que tenham ocorrido anteriormente, sem prejuizo de procurar ignorar a sua ocorrência.

Também importante para a análise realizada, de que resultou a delimitação do período

charneira anteriormente citado, é o facto de o núcleo do trabalho prático se encontrar

centrado neste período temporal de duas décadas, o que contribui para a opção tomada.

Como resultado da definição deste período charneira (final da década de 70/inicio década

80), surge a possibilidade de caracterizar a evolução em dois períodos distintos, o que

permite uma melhor compreensão do modo como as actividades de lazer nocturno se

desenvolveram na área em estudo.

Io período - Até finais década 70.

Neste primeiro período, considerado até finais da década de 70, verifica-se uma reduzida

evolução, um crescimento progressivo, no número de estabelecimentos existentes, fruto das

55


mentalidades e costumes que orientavam a própria sociedade, bem como da limitada

capacidade económica evidenciada pela população em geral, factores que conjugados

originavam uma reduzida participação por parte dos diversos elementos da sociedade em

actividades de lazer nocturno, situação que não favorecia um incremento no número de

estabelecimentos.

Na análise da área em estudo, é de referir a importância assumida pela cidade do Porto, mais

precisamente pelo eixo Baixa/Boavista, que ao concentrar grande número de ofertas de lazer

nocturno, caracterizadas por uma razoável diversidade de tipologias, funcionava como o

principal pólo de atracção para todo o espaço envolvente. Como complemento a este eixo,

constatava-se a existência de ofertas isoladas, situadas quer no restante espaço da cidade (na

Foz, nas Antas, por exemplo), quer nos seus arredores (em Matosinhos, em Leça da

Palmeira, entre outros), arredores esses que se caracterizavam por ainda apresentarem um

reduzido grau de desenvolvimento.

Importantes também, pela oportunidade de diversificação de ofertas que proporcionavam,

eram os espaços existentes em redor da área em estudo, situados até 50/60 Km da cidade do

Porto, que procuravam oferecer uma alternativa para o usufruto de actividades de lazer

nocturno. Podemos citar como exemplo, os Casinos de Espinho e da Póvoa do Varzim, os

Bares e Discotecas de Amarante, Paços de Ferreira e de Espinho, entre outros, que apesar

de serem em reduzido número permitiam alargar o leque de ofertas disponíveis.

2o período - Após princípios década 80.

Fruto da evolução registada no desenvolvimento urbano da cidade do Porto e dos seus

arredores, verifica-se que após o inicio da década de 80 e até à actualidade, ocorre uma

progressiva descentralização na localização das ofertas de lazer nocturno, acompanhada de

um crescimento acelerado no número de ofertas, a que vai corresponder um partilhar de

importância da cidade do Porto com os seus arredores, no que às actividades de lazer

nocturno diz respeito.

Esta descentralização só ocorre devido à conjugação de uma série de factores, como sejam,

a mudança de mentalidades e costumes (com o incremento na participação de novas faixas

etárias e de elementos de sexo feminino), o crescimento registado na capacidade económica

56


da população, a democratização do uso do automóvel, a melhoria nas acessibilidades (que

facilita o acesso aos espaços de lazer nocturno, independentemente da sua localização) e o

incremento na importância do pólo universitário existente (que vem proporcionar todo um

conjunto de potenciais frequentadores).

Apesar de se verificar esta descentralização, é de salientar o facto de a cidade do Porto

manter a capacidade de atracção anteriormente evidenciada, como corolário da presença no

seu espaço urbano de elevado número de ofertas, de características bem diversificadas. No

entanto, é de referir a perda de importância do eixo Baixa/Boavista, substituído no seu papel

por diversos espaços da cidade. Deste modo, como resultado da concentração num mesmo

espaço de elevado número de ofertas, observa-se a criação de bolsas de lazeres nocturnos,

como sejam a Ribeira Portuense, a Foz, a zona da Boavista, onde o colectivo de actividades

contribui para incrementar a atracção que cada espaço exerceria per si.

Deste modo, observou-se em determinados espaços da cidade, fruto da progressiva

concentração de ofertas registada, uma alteração das características básicas e da fisionomia

apresentada, como resultado da adaptação dos próprios espaços ao desenvolvimento de

bolsas de actividades de lazer nocturno. Como exemplos, pode-se citar a Ribeira Portuense,

que beneficiou da dinâmica imprimida pelo processo de recuperação ainda em curso, para

recuperar na área do lazer e turismo a importância anteriormente perdida, e a zona da Foz,

que devido ao incremento75 no número de espaços de lazer presentes, quer diurnos, quer

nocturnos, que procuraram capitalizar as condições físicas e sócio-económicas existentes,

alterou nos úlimos 10/20 anos a sua fisionomia inicial, que era de índole predominantemente

residencial.

Nos arredores, fruto do crescente desenvolvimento urbano e da melhoria de acessibilidades

registada, constatou-se um surgir de novos espaços, que procuraram explorar o incremento

ocorrido no número de habitantes presente. A evolução dos arredores, no que à dinâmica de

instalação de actividades de lazer nocturno diz respeito, registou uma sequência idêntica à

percorrida na cidade do Porto: primeiro observou-se o advento de espaços isolados, que

procuravam capitalizar devido ao factor novidade, assistindo-se posteriormente ao surgir de

75 GAMA, António; SANTOS, Norberto Pinto dos - Tempo Livre, Lazer e Terciário, em «Cadernos de Geografia», N° 10, Coimbra, I.E.G., 1991, p. 109.

57


novos espaços, situados na proximidade de outros previamente existentes, o que permitiu

aumentar a capacidade de atracção do colectivo. Como exemplos, pode-se citar a zona

industrial e o centro de Matosinhos, o centro de Valongo, a orla marítima de Gaia (em

épocas de veraneio) e a margem ribeirinha de Gaia, entre outros.

Como conclusão, pode-se afirmar que a importância assumida pelos arredores da cidade do

Porto nas actividades de lazer nocturno existentes na área em estudo, tem sido crescente,

essencialmente por três motivos: a) como fornecedores de potenciais consumidores; b)

devido a albergarem novos espaços; c) por criarem diversificação na oferta.

2. 2. Evolução da Sociedade e novas formas de encarar os Lazeres Nocturnos

Para uma melhor compreensão da evolução da sociedade portuguesa, no que diz respeito às

atitudes76 e comportamentos assumidos na prática de actividades de lazer nocturno, revela-

se de extrema importância a definição no tempo de um ponto de viragem, que corresponda

ao momento a partir do qual se assistiu a uma progressiva mudança na forma de encarar as

práticas de lazeres nocturnos por parte dos diversos elementos da sociedade.

Na área em estudo, a cidade do Porto e seus arredores, esse momento ocorreu em princípios

da década de 70, apesar de, fruto da sua dimensão, dos desenvolvimentos diferenciados que

se registavam, das décalages sócio-económicas existentes, tal não se ter verificado de modo

uniforme na totalidade da população, visto ter-se observado uma alteração de

comportamentos faseada, na qual se reflectiu a capacidade de adaptação dos diversos

estratos sociais presentes.

Fruto desta alteração de mentalidades77 ocorrida na forma de encarar as actividades de lazer

nocturno (o deixarem de ser consideradas de forma negativa, perniciosa, para os usos e

costumes da sociedade), verifica-se que estas assumem um papel importante na

sociabilização da sociedade estudada (que se considera como englobando as populações

76 MARTINS, Luis Paulo Saldanha - Lazer, Férias e Turismo na Organização do Espaço no Noroeste de Portugal, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Univ. do Porto, Porto, 1993. 77 DUMAZEDIER, Joffre - Sociologia Empírica do Lazer, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1979 ( Sociologie Empirique du Loisir, 1974).

58


presentes na área em estudo), pois a sua acção permitiu ultrapassar algumas barreiras sociais

até então existentes. É de referir, no entanto, que se assistiu ao assumir de comportamentos

diferenciados por parte das diversas classes sociais em presença.

Deste modo, torna-se importante realçar a intensa segregação social então existente,

praticada por parte das classes sócio-económicas mais abastadas, que procuravam evitar a

todo o custo a perda de privilégios que possuíam, motivo pelo qual utlizaram as actividades

de lazer nocturno na busca de uma elitização de determinados espaços, situação que lhes

permitisse a manutenção de ambientes devidamente seleccionados. Ocorre assim, em finais

da década de 70, o surgir de uma série de estabelecimentos situados no eixo Boavista/Foz,

que procuravam de forma deliberada manter uma segregação baseada no estatuto social, e já

não tanto na capacidade económica dos indivíduos, devido à rápida ascensão económica

registada por um número crescente de elementos da sociedade sediados nos espaços

industriais envolventes, como sejam, o Vale do Ave, o Vale do Sousa, o eixo Vila da

Feira/S. João da Madeira, entre outros.

Por outro lado, fora dos ambientes seleccionados das classes sócio-económicas mais

abastadas, verificava-se um contributo importante das actividades de lazer nocturno para a

intensa sociabilização da população a decorrer, população essa que procurava novas formas

de diversão, independentemente da sua capacidade económica ou do seu estrato social.

Como resultado desta intensa sociabilização, observa-se um forte incremento no número de

espaços de lazer nocturno em funcionamento, o que veio contribuir para um esbater das

diferenças sócio-económicas até então existentes na sociedade em estudo.

Fruto da evolução sócio-económica registada pelos diversos estratos da sociedade, assistiu-

se a um crescimento acentuado no consumismo78 evidenciado pelas populações, que se

reflectiu no aumento da frequência de actividades de lazer nocturno, devido essencialmente

ao factor prestigio que tal acção acarretava. Verifica-se assim nestas duas últimas décadas,

fruto do intenso ideal consumista que se instalou na sociedade portuguesa, haver toda uma

preocupação em estar a par da última novidade, em conhecer os novos espaços de lazer

nocturno, independentemente do grau de satisfação obtido por cada elemento da sociedade

na sua frequência. Deste modo, na acção dos elementos da sociedade, conjuntamente com a

78 URRY, John - Consuming Places, Londres, Routledge, 1995. 59


implantação de um forte consumismo, que procura continuamente a frequência de novos

espaços, o uso de novos adereços, que possam diferenciar os seus comportamentos dos

assumidos pelos restantes indivíduos, assistiu-se a uma evolução da sua forma de agir e

pensar, com a adopção de uma filosofia de vida baseada no Lazer consumista e no Ócio, em

detrimento de uma filosofia baseada na busca do Bem-Estar e da Diversão, que ocorria

anteriormente, que resulta da mudança estrutural ocorrida nas classes sociais portuguesas

nas últimas décadas, que influenciou79 a forma de encarar e praticar as actividades de lazer

nocturno.

Resultante das mudanças, de mentalidade e económicas, ocorridas no seio da sociedade

portuguesa, verificou-se uma alteração substancial em quem frequentava as actividades de

lazer nocturno. Deste modo, observou-se a presença de uma maior abrangência social nos

frequentadores de espaços de lazer nocturno, que adveio da própria evolução económica

registada nos últimos 10/15 anos, evolução essa que gerou uma maior disponibilidade

económica para o lazer por parte dos diversos elementos da sociedade. Contribuindo para

isso, registou-se um incremento na importância social da classe média, classe detentora de

uma capacidade económica assinalável e que canaliza para as práticas de lazer parte

importante dos seus recursos, como forma de procurar obter um imediato reconhecimento

social.

No entanto, apesar das mudanças ocorridas na sociedade portuguesa, há a salientar o

contributo de dois importantes factores - uma maior diversidade etária e a crescente

participação do sexo feminino - factores esses que condicionaram o modo como evoluiram

as actividades de lazer nocturno, ao proporcionarem um incremento na variedade de

tipologias oferecidas, em virtude da necessidade de satisfazer a procura de espaços de lazer

nocturno por parte de uma clientela diversificada, não só em termos sociais e económicos,

mas também em termos etários e de género. Deste modo, o aparecimento de espaços de

lazer destinados a um público bem individualizado torna-se uma referência, deixando os

estabelecimentos de procurarem atrair toda uma heterogeneidade de públicos-alvo, em

virtude das múltiplas diferenças que os caracterizam inviabilizarem a sua presença em

79 SCRATON, Sheila; TALBOT, Margaret - A response to 'Leisure, lifestyle and status: a pluralist framework for analysis', em «Leisure Studies», Vol. 8, N° 2, Londres, 1989, p. 156.

60

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: unia visão geográfica

simultâneo num mesmo espaço, e a concentrarem os seus esforços na satisfação da clientela

por si pretendida. Assim, a caracterização dos espaços usada anteriormente, baseada

somente em motivos económicos, sociais ou culturais, tende a desaparecer, o que origina um

incremento na complexidade existente, fruto das mudanças de mentalidade e das formas de

agir ocorridas nos diversos elementos da sociedade. O incremento na presença de uma maior

diversidade de faixas etárias proporcionou uma diminuição na idade média dos

frequentadores, como resultado da progressiva participação de elementos cada vez mais

jovens em actividades de lazer nocturno. Ao contrário do que se passava até finais da década

de 70, em que a grande maioria dos frequentadores possuía mais de 25/30 anos, após o

inicio da década de 80, fruto de uma liberalização nos usos e costumes da sociedade

portuguesa que resultou da evolução de mentalidades entretanto ocorrida, os jovens até aos

20/25 anos assumiram um papel essencial nas actividades de lazer nocturno, devido80

principalmente ao poder de compra que ostentavam (poder esse que reflectia a capacidade

económica dos seus progenitores), bem como à sua disponibilidade para o usufruto de

actividades de lazer nocturno. Há ainda a salientar a acção de uma faixa etária mais jovem,

com idades compreendidas entre os 12/13 e os 16/17 anos, que englobava no seu lazer a

frequência de "Mâtinés", actividades de lazer nocturno em horário antecipado,

nomeadamente nas tardes de fim-de-semana e feriados, ocasião em que ocorria a abertura de

alguns espaços, e se procurava recriar81 o ambiente nocturno, de modo a satisfazer aquela

juventude impossibilitada de os frequentar no seu horário regular.

Por seu lado, o incremento registado na participação de elementos do sexo feminino em

actividades de lazer nocturno, ocorrido após meados da década de 70, originou uma

alteração radical no modo da sociedade encarar tais actividades, até aí consideradas como

um feudo dos elementos de sexo masculino. Deste modo, em consequência do 25 de Abril

de 1974, momento a partir do qual se assistiu a uma mudança profunda nas mentalidades,

verificou-se a ocorrência de uma progressiva alteração no comportamento assumido pelas

mulheres portuguesas, alteração essa bem demonstrada pela sua crescente participação em

actividades de lazer nocturno. Como corolário desta acção, assistiu-se um progressivo

80 FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995. 81 HENDRY, Leo B.; SHUCKSMTTH, Janet; LOVE, John; GLENDINNING, Anthony - Young People's Leisure and Lifestyles, Londres, Routledge, 1993.

61


aumento no número de clientes do sexo feminino a frequentarem espaços de lazer nocturno,

situação que conduziu à participação equitativa por parte de ambos os sexos que se verifica

actualmente.

Para uma correcta compreensão do modo como evoluiu a sociedade em estudo, é

importante registar a ocorrência de dois momentos marcantes, que se revelaram

essencialmente pelo seu contributo para a alteração de mentalidades vigentes e para o

incremento na diversidade e número de ofertas de lazer nocturno existentes.

O primeiro momento marcante a assinalar foi o 25 de Abril de 1974, pelo seu contributo

para a democratização da sociedade portuguesa e para as alterações de mentalidades que daí

advieram, situação que se concretizou numa maior frequência de lazeres nocturnos por parte

da população, e consequente incremento no número de ofertas existentes. Anteriormente, o

usufruto de lazeres nocturnos estava associado ao divertimento das classes socio

económicas mais abastadas, no que era acompanhado por uma retracção na participação dos

elementos pertencentes a outros estratos sociais, pelo que a ocorrência da revolução

contribuiu para uma evolução de mentalidades, que incentivou todos à sua prática,

independentemente do seu estrato social ou das suas capacidades económicas. Além disso, o

livre acesso à prática de lazeres nocturnos passa a ser encarado como um ganho directo da

revolução, o que atraiu ainda mais os elementos da sociedade à sua frequência.

Conjuntamente com esta alteração de mentalidades e com a crescente participação de

elementos representativos de todas as classes sociais, observou-se um incremento na

participação de elementos do sexo feminino, como resultado da ocorrência de uma

progressiva emancipação das mulheres, até então consideradas como elementos subalternos

no usufruto de actividades de lazer nocturno, visto terem sempre mantido um

distanciamento acentuado da sua prática.

Assim, como resultado destas mudanças estruturais ocorridas na sociedade portuguesa e no

modo de encarar as actividades de lazer nocturno, pode-se concluir que se registou um

incremento no número de frequentadores, incremento esse que contribuiu para um aumento

acentuado no número de ofertas disponíveis, bem como na sua diversidade, e que se

62


reflectiu numa diminuição das situações de segregação social e de selecção económica

anteriormente existentes.

O segundo momento marcante a registar na evolução das actividades de lazer nocturno na

área em estudo, ocorreu em meados da década de 80 (mais propriamente no período 84-87),

fruto de uma crescente melhoria económica que se verificou na sociedade portuguesa. Essa

crescente melhoria económica originou uma maior disponibilidade por parte dos diversos

elementos da sociedade para o usufruto de actividades de lazer, situação resultante da

evidência de um maior poder de compra, e que contribuiu para um afirmar das situações de

consumismo, responsáveis directas pelo implementar do lazer nocturno como campo

privilegiado para as diversas classes sócio-económicas demonstrarem a sua riqueza.

Para além das situações de crescente consumismo que se verificavam, registou-se uma

diminuição na idade média dos frequentadores, com o assumir por parte das faixas etárias

mais jovens de um protagonismo que antes não possuiam, o que veio contribuir para uma

mudança substancial na forma de organização dos lazeres nocturnos, que passaram a

apresentar propostas exclusivamente direccionadas para a juventude. Tal situação, a

crescente participação dos jovens em actividades de lazer nocturno, deve-se essencialmente

ao liberalismo exibido pelos seus progenitores, fruto da alteração de mentalidades por eles

registadas, e que os fez passar a considerar as actividades de lazer ncoturno como benéficas

para a sociabilização dos seus filhos, pois podem contribuir positivamente para o seu

desenvolvimento social e psicológico, bem como ao assumir por parte da própria juventude

de comportamentos disruptivos, provocatórios, que os levam a procurar romper as barreiras

impostas pela sociedade em busca da sua independência cultural, ocasião proporcionada de

forma ideal pela prática de lazeres nocturnos. Resumindo, pode-se afirmar que as faixas

etárias mais jovens, com idades até aos 25 anos, devido à ocorrência simultânea de três

factores, a)terem capacidade económica, b)disponibilidade temporal e c)predisposição para

se divertirem, tornaram-se os maiores consumidores de actividades de lazer nocturno,

independentemente dos níveis de participação das restantes faixas etárias.

82 MARSLAND, David - It's my life: young people and leisure, em «Leisure Studies», Vol. 1, N° 3, Londres, 1982, p. 318.

63


Conjuntamente com estas duas situações ocorridas na área em estudo, observa-se a

existência de uma terceira, que é o incremento no número de estudantes universitários

presentes, que resultou do crescimento dos pólos universitário e politécnico. Deste modo, a

cidade do Porto e os seus arredores, ao assumirem uma função centralizadora na região

Norte de Portugal, no que ao ensino universitário diz respeito, atraiem inúmeros estudantes

que se deslocam das suas habitações de origem. A ocorrência de tal fenómeno, ao originar a

presença de elevado número de estudantes deslocados, representativos de uma população

flutuante, com disponibilidade83 de tempo e alguma disponibilidade económica, a habitar

fora da alçada do seus progenitores, colocou em evidência a sua grande propensão para a

frequência de espaços de lazer nocturno.

Deste modo, da conjugação de todos estes factores, a)crescente melhoria económica da

população, b)predisposição das faixas etárias mais jovens para a diversão e c)presença de

um elevado número de estudantes universitários, deslocados ou não, resultou uma massa

consumidora de grandes dimensões, que contribuiu em finais da década de 80 para um forte

incremento no número de ofertas existentes, bem como na diversidade de tipologias

apresentadas, situação que originou uma alteração profunda no panorama registado nas

últimas décadas no espaço em estudo.

2. 3. O Lazer Nocturno dos anos 60 à Actualidade

Antes de iniciar este capitulo, verifica-se ser essencial referir que o objectivo principal desta

dissertação é analisar as actividades de lazer nocturno existentes na actualidade,

representadas sob diversas formas e direccionadas para públicos específicos, como

consequência de uma evolução que se registou após as décadas de 60 e de 70 deste século.

Deste modo, o estudo das actividades de lazer nocturno ocorridas anteriormente não é

considerado como relevante, visto estas não se enquadrarem num modelo de funcionamento

similar ao das actividades actuais, motivo pelo qual somente se refere o inicio do seu

83 MAGALHÃES, Dulce Maria - A Sociedade perante o Lazer, em «Revista da Faculdade de Letras -Sociologia», Porto, N° 1, 1991, p. 170.

64


funcionamento (sempre que tal se revele possível), sem procurar a pormenorização da sua

própria evolução.

Após isto, é de referir que as primeiras actividades de lazer nocturno aparecem

referenciadas84 como tal a partir de finais do Séc. XVIII, momento em que surgem os

Teatros na cidade do Porto (com, por exemplo, o Teatro de S. João), que proporcionavam a

frequência de salões de bebidas, salas de jogo e bailes, onde se reuniam os "boémios" da

sociedade, em busca de diversões até então inexistentes. É a partir desse momento, finais do

Séc. XVIII, princípios do Séc. XIX, que começam a surgir85 os primeiros Cafés e

Botequins, que diversificaram as actividades de lazer nocturno à disposição da população da

cidade do Porto, visto que toda a sua área envolvente se caracterizava ainda por possuir

uma vivência absolutamente rural.

Deste modo, e após todo um Séc. XIX caracterizado pela predominância dos cafés nas

actividades de lazer nocturno existentes, torna-se necessário esperar pelo inicio do Séc. XX

para o surgir de uma alternativa, que se dá sob a forma dos Cinemas. A partir desse

momento, da primeira década deste século, com o surgir do "Salão Pathé", do "Salão

Chiado", do "Salão-Jardim Passos Manuel", entre outros, assiste-se a um declínio da

frequência dos cafés, declínio esse que é compensado pelo renascer dos teatros e pelo

incremento da importância dos cinemas, ambas actividades de lazer nocturno de cariz

marcadamente cultural . Nas décadas seguintes, nos anos 30, 40 e 50, começam a surgir

novas formas de lazeres nocturnos, como por exemplo, os Bares, as Boites, entre outros,

apesar de estas não assumirem desde logo uma grande expressão na sociabilização das

populações.

Tal situação de quase completo marasmo manteve-se até finais da década de 60, princípios

da década de 70, momento em que, reflexo do desenvolvimento da própria sociedade,

surgem uma série de novos estabelecimentos, que baseados numa forma de estar diferente

que privilegiava essencialmente a diversão, procuravam disponibilizar uma maior diversidade

de actividades de lazer nocturno à população residente. Tal situação resultava de um

84 MARTINS, Luis Paulo Saldanha - Lazer, Férias e Turismo na Organização do Espaço no Noroeste de Portugal, Tese de Doutoramento apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Porto, 1993, p. 94. 85 GUIMARÃES, Cláudio Corrêa d' Oliveira - Breve história de um «café citadino», em «O Tripeiro», Porto, N° 12, 1953 (Abr), p. 366.

65


conhecimento directo do que se ia passando noutros países, como por exemplo, França,

Brasil, Reino Unido, em que a alteração de mentalidades então verificada nas sociedades

tinha contribuído para o surgir de novos processos de sociabilização, em que os lazeres

nocturnos assumiam um papel extremamente importante.

Na área considerada nesta dissertação, que engloba os concelhos de Gondomar, Maia,

Matosinhos, Porto, Valongo e Vila Nova de Gaia, constata-se então ser em finais da década

de 60, princípios da década de 70, que surgem os primeiros estabelecimentos de lazer

nocturno que se baseiam num funcionamento similar ao existente actualmente, quer em

termos de horário, quer em termos da procura de rentabilização económica dos espaços,

sendo a partir desse momento que se vai procurar analisar a evolução registada,

primordialmente em função do número de unidades funcionais registado em cada concelho.

Tal análise vai-se concentrar unicamente na evolução do número de Bares, Pubs, Boites,

Dancings e Discotecas existentes, únicos estabelecimentos que possibilitam a prática

exclusiva de actividades de lazer nocturno, sendo como tal facilmente identificáveis, situação

que não acontece no caso dos Restaurantes e Cafés, por exemplo.

Assim, a partir da análise do Quadro 1 e da Figura 1 (páginas seguintes), constata-se que

ocorreu uma grande evolução a partir de finais da década de 70 no número de unidades

funcionais em presença, sendo o concelho do Porto, no espaço de dez anos (de 1975 a

1985), aquele que registou um maior crescimento (superior a 440%) no número de

estabelecimentos de lazer nocturno que possui. Como comparação observe-se a evolução

ocorrida no concelho de Matosinhos, que em 1975 tinha menos 4 unidades funcionais que o

Porto, e que em 1985 já registava menos 95, visto o seu número de estabelecimentos ter

somente crescido 36% em dez anos. Tal situação deve-se essencialmente ao facto do

concelho do Porto ter beneficiado de factores extremamente favoráveis para a instalação e

desenvolvimento de actividades de lazer nocturno neste período, como por exemplo, o estar

a beneficiar de uma recuperação de toda a zona da Ribeira (sob a forma de uma

requalificação funcional que disponibilizou um elevado número de espaços), bem como o

facto de se registar um forte incremento no número de estudantes universitários presentes,

66

FIGURA 1. EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE BARES, BOITES, PUBS, DANCINGS E DISCOTECAS ENTRE 1960 E 1996 NA ÁREA SELECCIONADA

40

PORTO - - MATOSINHOS

- — V . N . de GAIA VALONGO

MAIA GONDOMAR

1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1996


que encontrando-se muitos deles deslocados das suas residências familiares, se dedicavam

com grande intensidade à prática de actividades de diversão.

Quadro 1. Evolução do Número de Bares, Boites, Pubs, Dancings e Discotecas entre

1960 e1996

1960 1965 1970 1975 1980 1985 1990 1996 Porto 12 14 25 29 91 129 135 153

Matosinhos 11 16 20 25 33 34 40 50 Gaia 3 7S 7 9 14 16 24 51

Valongo 0 0 0 1 1 3 3 7 Maia 1 1 0 0 1 2 6 8

Gondomar 1 1 1 0 0 1 2 8 TOTAL 28 39 53 64 140 185 210 277

Na análise do período que antecedeu este momento (meados/finais da década de 70),

observa-se que a quase totalidade dos concelhos seleccionados registavam valores

extremamente baixos no que diz respeito ao número de estabelecimentos de lazer nocturno

presentes. Tal situação ocorre devido à mentalidade então vigente na sociedade portuguesa,

que considerava a frequência de lazeres nocturnos como danosa para o desenvolvimento dos

indivíduos, estando esta reservada para os elementos das classes sócio-económicas mais

elevadas, que procuravam desta forma manter o seu estatuto de "boémios" e "bons vivants"

perante a sociedade. Como resultante desta situação, constata-se que nos concelhos do

Porto e Matosinhos, por exemplo, o aumento observado no número de estabelecimentos

existentes, entre os anos de 1960 e de 1975, foi somente de 17 e 14 unidades funcionais,

respectivamente, num período de quinze anos. Os restantes concelhos em análise -

Gondomar, Maia, Valongo e Vila Nova de Gaia - registaram, em conjunto, um crescimento

de 5 unidades funcionais, no mesmo período. Como factor bem representativo desta

situação, é de referir que até 1975 os concelhos de Gondomar e da Maia não possuíam

qualquer estabelecimento de lazer nocturno em funcionamento, sendo que tal conjuntura se

prolongou até 1980 no concelho de Gondomar.

O momento chave que contribuiu para modificar toda esta situação dá-se com a ocorrência

do 25 de Abril de 1974, em que se verifica uma alteração concreta no modo como a

68


frequência de lazeres nocturnos é encarada, sendo a partir daí entendida como um factor

essencial para uma correcta sociabilização dos elementos da sociedade. Em função disto, a

frequência por parte dos elementos da sociedade transforma-se em algo banal, gerando uma

situação de incrementos permanentes no número de estabelecimentos disponíveis, que

procuravam responder às necessidades de uma população cada vez mais exigente de novos

espaços de lazer nocturno, de preferência possuidores de uma maior diversidade nos

conteúdos oferecidos.

Deste modo, a partir de 1975 e até à actualidade, regista-se uma crescente evolução no

número de unidades funcionais em actividade, surgindo estabelecimentos mesmo em

concelhos possuidores de uma fraca atractividade, com por exemplo, em Gondomar, Maia e

Valongo, que começam a possuir propostas na área dos lazeres nocturnos, que apesar de

dimensão reduzida, evitam o deslocamento dos seus residentes para concelhos com

concentrações mais atractivas. Como factor curioso, é de referir o incremento no número de

estabelecimentos do concelho de Vila Nova de Gaia, que no espaço de seis anos (de 1990 a

1996), registou um crescimento superior a 200%, devido a um aumento de importância da

sua margem ribeirinha, que beneficiou da atractividade da Ribeira Portuense situada mesmo

em frente. Essa evolução levou mesmo este concelho a ultrapassar em importância numérica

o concelho de Matosinhos, situação que nunca antes se tinha verificado, desde que se

possuem dados concretos e fiáveis. No que diz respeito ao peso de cada concelho no total

analisado, é de salientar o concelho do Porto, que com mais de 55% do total de unidades

funcionais em presença, assume um papel predominante, perfilando-se numa segunda linha

os concelhos de Matosinhos e de Vila Nova de Gaia, responsáveis por 37% das ofertas,

como os que concentram maior número de estabelecimentos de lazer nocturno.

Como conclusão desta análise global à evolução dos totais registados entre 1960 e 1996, é

de referir que o crescimento registado no número total de unidades funcionais em presença

se cifrou em quase 1000% (de 28 unidades funcionais em 1960 passou-se para 277 em

1996), situação que comprova o aumento de importância destas actividades na vivência dos

indivíduos, no contexto das sociedade modernas.

Numa perspectiva mais pormenorizada, baseada numa evolução década a década, constata-

se que as actividades de lazer nocturno, à medida que iam assumindo uma importância

69


crescente na sociabilização da sociedade, vão registando um forte incremento no número de

estabelecimentos em actividade. Assim, desde a década de 60, momento em que somente se

verificava a presença de um reduzido número de estabelecimentos de lazer nocturno em toda

a área considerada, até à década de 90, em que se destaca a presença de quase três centenas

de estabelecimentos no mesmo espaço, é de registar a elevada dinâmica patente no

desenvolvimento destas actividades, dinâmica essa que resulta do facto de a sua frequência

ter passado a ser encarada como um acto perfeitamente banal no quotidiano dos indivíduos.

No entanto, é de referir não ter sido na década de 60 que surgiram as primeiras actividades

de lazer nocturno na área considerada, sendo assinalados anteriormente a essa data a

presença de alguns estabelecimentos, como por exemplo, os bares "Rex", "Atlântico" e

"Holanda" em Matosinhos, o dancing "Palladium" no Porto (que funcionava essencialmente

como casa de fados), a boite do Casino de Espinho (que apesar de não estar inserida na área

considerada, assumia uma grande importância nas propostas da época), entre outros, que

possibilitavam a frequência de lazeres nocturnos a um reduzido número de elementos da

sociedade.

Na década seguinte, década de 60, surgem os primeiros dancings, como por exemplo, o

"Casanova", o "Tamariz" , a "Teia", o "Asia", o "Pérola Negra" ou a "D. Urraca", que

vieram alterar por completo o modo como a sociedade de então encarava as actividades de

lazer nocturno. É de realçar a importância deste último, a "D. Urraca", considerado durante

várias décadas como uma referência de qualidade no panorama das actividades existentes,

tendo sido um dos principais responsáveis pela sociabilização de várias gerações. Surge

também um número crescente de bares, como por exemplo, o "Quitexe", a "Cubata", o

"Popei" e o "Xeque-Mate", entre outros, que contribuíram para diversificar as ofertas de

lazer nocturno presentes até então.

Nas considerações relativas à década de 70, salientam-se dois factores: o principio de

laboração de alguns estabelecimentos, que ainda hoje são considerados como dos mais

importantes espaços de lazer nocturno presentes em toda a área seleccionada, como por

exemplo, a boite "O Bato" e a discoteca "Twins", entre outros; o facto de ter sido nesta

década que surgiu um grande incremento no número de actividades relacionadas com lazeres

nocturnos, tendo-se constatado que de 53 unidades funcionais no inicio da década, se

70


passou para 140 no final da mesma. Tal situação deve-se essencialmente ao 25 de Abril de

1974, momento responsável pela mudança de mentalidades que ocorreu na sociedade

portuguesa, e que alterou por completo os hábitos de frequência de lazeres nocturno por

parte da população, originando desde logo um forte incremento no número de ofertas

disponíveis. Surge também uma série de outros estabelecimentos que se salientaram pela

influência que exerceram, como por exemplo, a discoteca "Griffon's" e a boite "O

Inferninho" (já encerrados), o "Clube 21", a discoteca "Gatsby", os bares "O Barril", "O

Pifo", "Sir Walter Scott" e a "Taberna 2000", entre muitos outros, que alargaram o leque de

actividades de lazer nocturno à disposição da população.

O incremento registado até então no número de estabelecimentos acentuou-se ainda mais na

década seguinte, sendo a década de 80 caracterizada pelo inicio de funcionamento de

múltiplas casas, que vêm modificar por completo o panorama existente, casas essas que

procuraram capitalizar o crescente interesse em participar em actividades de lazer nocturno

exibido pelos elementos da sociedade. Nesta década em particular, constata-se um

crescimento acentuado no número de unidades funcionais presentes, que passa das 140

contabilizadas em finais dos anos 70, para as 210 do inicio da década de 90. Na área

considerada, esta década pode ser identificada como a década dos bares, tal o número de

unidades funcionais registadas sob esta denominação que iniciaram a sua laboração, como

por exemplo, o "Ribeirinha", o "Aniki-Bobó" e o "Meia-Cave" na Ribeira, o "Bibóporto",

os "Pedreiros", e o "Lokomosquito" na zona do Foco, e o "Nonsense", o "Oh" e o "Son of

a Beach" na Foz, entre muitos outros de menor relevância. A Ribeira Portuense começa a

assumir-se como um importante pólo de concentração de lazeres nocturnos, que procuram

capitalizar o incremento do número de estudantes universitários registado pela academia

portuense, e que fruto da sua centralidade e do facto de oferecer múltiplos espaços,

diversificados no conteúdo e nas clientelas que procuravam atrair, conseguiu transformar

uma área degradada numa área essencial para a vivência da cidade e dos seus habitantes, no

que diz respeito à frequência de actividades de lazer nocturno. É ainda nesta década que

surgem as primeiras grandes discotecas, como por exemplo, a "Indústria", a "Swing", a "Ars

Nova", a "Rock's", a "Griffon's" e a "Amnésia" (estas já encerradas), que se caracterizaram

por oferecerem algo de inovador, seja em termos de ambiente, de música, ou de dimensão,

71


que tiveram a capacidade de revolucionar o panorama das actividades de lazer nocturno

existentes até então, e que conseguiram manter até à actualidade uma elevada capacidade de

atracção, fruto das múltiplas remodelações por que passaram. É nesta década também que se

começam a observar fenómenos de concentração de diversos estabelecimentos em centros

comerciais da cidade do Porto, como por exemplo, o "Coqueiro" e o "Splash", no Dallas, o

"Dom Giovanni", o "Dom Quixote", a "Glassy" e a "Griffon's" no Brasilia, fruto da elevada

capacidade de atracção que estes espaços exerciam.

Essenciais para a compreensão de todo este fenómeno, importa perceber a importância das

mudanças de comportamento assumidas pela população, que fruto da sua crescente

participação e de uma procura de estabelecimentos que encerrassem a horas cada vez mais

tardias (6/7/8 horas da manhã), terão contribuído para o aumento registado ao longo desta

década no número de unidades funcionais presentes.

É de registar que toda esta evolução se continuou a processar nos primeiros anos da década

de 90, praticamente sob as mesmas formas. Somente a partir dos anos de 1992/93 ocorreu

uma alteração de vulto, que modificou por completo as actividades de lazer nocturno

presentes, com o aparecimento dos bares de grande dimensão, como por exemplo, o "Via

Rápida", o "Buffalo's", o 'Monarquia", o "Heritage", o "Batata's", entre outros, que vieram

revolucionar os lazeres nocturnos anteriormente existentes. Fruto da crescente diversidade

que lhes era proposta, os indivíduos assumem a opção de frequência de múltiplos

estabelecimentos, em detrimento da frequência de somente um, assistindo-se assim a uma

situação de rotatividade entre estabelecimentos que até então não se registava. Esta década

caracteriza-se ainda pelo surgir de lazeres nocturnos em novos espaços da área considerada,

como sejam as zonas industriais de Matosinhos e de Ramalde, onde se situam alguns dos

bares anteriormente citados, bem como por um melhor aproveitamento das zonas litorais,

que começam a ser devidamente exploradas, em função das condições naturais de que são

possuidoras. Assim, a existência de estabelecimentos como o 'Traia da Luz", o "Praia do

Molhe", o "Praia Nova dos Ingleses" e o "Praia Bar" na Foz, ou como o "Praia Atlântico",

o "Rocky Point Bar" e o "Tequilha ao Luar" ao longo do litoral dos concelhos de

Matosinhos e de Vila Nova de Gaia, modificou por completo os hábitos das populações

presentes, que passam a ser confrontadas com novas propostas até então inexistentes.

72


Como complemento a toda esta análise, é de referir que os estabelecimentos citados são

aqueles que, no entendimento do autor desta dissertação, influenciaram de forma mais

visível o desenvolvimento das actividades de lazer nocturno presentes em toda a área

considerada, ao longo das últimas quatro décadas. Deste modo, a não citação de qualquer

outro estabelecimento, deve ser considerada como uma opção deliberada, fruto do

entendimento do próprio autor.

73


III PARTE

Análise da Actualidade

74


3.1. Lazer Nocturno: parte integrante da Sociedade

Após a evolução registada pelas actividades de lazer nocturno nas últimas três/quatro

décadas, seja nas formas como se apresentam, seja no modo como são encaradas pela

sociedade, torna-se importante referir a multiplicidade de opções actualmente existentes, em

comparação com o reduzido número de ofertas presente em meados do século. Esta

multiplicidade reflecte a necessidade demonstrada pelos próprios elementos da sociedade de

procurarem a diversão, de usufruirem de tempos de lazer, como forma de quebrar a rotina

do dia-a-dia em que está institucionalizada a vivência de cada um, tendo como objectivo o

evitar situações de saturação, prejudiciais para o equilíbrio de cada indivíduo. Fruto desta

evolução, verifica-se ser correcto afirmar que a sociedade precisa dos lazeres nocturnos para

a sua própria sociabilização, em virtude da sua crescente incapacidade em proporcionar

ocasiões para que tal aconteça.

Na actualidade, a frequência de espaços de lazer nocturno nas suas diferentes formas,

assumiu para a sociedade uma situação de perfeita banalidade, o que a leva a dispensar parte

da carga negativa que a caracterizava anteriormente. Deste modo, verifica-se que a

frequência de toda uma série de actividades de lazer nocturno, sejam as praticadas no espaço

doméstico, tais como ver televisão, 1er ou jogar computador, sejam as praticadas no exterior

da habitação, como por exemplo, ir ao cinema ou ao teatro, jantar num restaurante ou

frequentar uma discoteca, surgem perfeitamente integradas no comportamento colectivo da

sociedade, pela indiferença a que são votadas, fruto da banalização do seu consumo.

Constata-se assim que as formas actualmente assumidas pelas actividades de lazer nocturno

não reflectem mais que uma adaptação à evolução da própria sociedade, à evolução dos seus

modos de agir e pensar, situação que conduz à ocorrência de uma série de mudanças que

procuram acompanhar as constantes alterações registadas pela sociedade. Como corolário

desta acção, verifica-se a ocorrência de três mudanças essenciais, que contribuíram de forma

86 HAMILTON-SMITH, Elery - Work, Leisure and optimal experience, em «Leisure Studies», Vol.11, N° 3, Londres, 1992, p. 251.

75


relevante para o modo como se apresentam e estão estruturadas as actividades de lazer

nocturno hoje em dia.

A primeira mudança estrutural importante ocorrida foi o assumir dos Fins-de-Semana e das

vésperas de Feriados como tempo de eleição para a frequência de actividades de lazer

nocturno por parte dos diversos elementos da sociedade, visto tratarem-se de ocasiões em

que se verifica um forte incremento no número de potenciais consumidores, fruto da

inexistência de obrigações laborais ou escolares no dia seguinte. Também contribuiu para

esta situação um constatar, por parte dos proprietários, da importância assumida por este

período para a viabilização económica dos seus espaços de lazer nocturno, factor que os

levou a um adaptar dos seus horários normais de funcionamento (que sofreram um

prolongamento), bem como a procurarem proporcionar neste período as suas melhores

ofertas, seja através da promoção de acontecimentos especiais, seja através de uma selecção

mais elaborada da clientela, de modo a atraírem um elevado número de frequentadores,

pertencentes ao público-alvo anteriormente seleccionado.

Também importante na definição da forma como se apresentam as actividades de lazer

nocturnos na actualidade, sendo a segunda mudança estrutural de relevo, é a constatação da

existência dos estabelecimentos em função da capacidade económica e do estrato social a

que pertencem os seus potenciais frequentadores. A sociedade moderna, ao interpretar o

participar em actividades de lazer, nomeadamente de lazer nocturno, como resultantes de

uma acção de sociabilização intensa, leva a que situações especificas como o possuir cartão ** 87

de cliente, o ser convidado para inaugurações/festas, sejam o assumir de uma segregação

social e de uma selecção económica, definidoras de uma delimitação do território, praticadas

de molde a evitar a frequência dos espaços de lazer por parte de quem não possui a

capacidade económica adequada ou o estrato social desejado. A frequência de Bares,

Discotecas ou de qualquer outro local de acesso condicionado, revela-se assim como uma

forma de diferenciação sócio-economica, frequência essa que aliada à exigência de um

determinado padrão de consumo, permite estabelecer uma distinção em relação ao

comportamento dos restantes elementos da sociedade que irá contribuir para o identificar de

87 GAMA, António; SANTOS, Norberto Pinto dos - Tempo Livre, Lazer e Terciário, em «Cadernos de Geigrafia», N° 10, Coimbra, I.E.G., 1991, p. 109.

76


um grupo fechado sobre si mesmo, portador das mesmas características sociais e

económicas.

Neste contexto, o papel reservado para a Moda revela-se de extrema importância, em

virtude de com a ocorrência desta sociabilização o modo de apresentação de cada indivíduo

contribuir para a sua integração social, sendo uma situação através da qual se procura

demonstrar o grupo social de pertença, ou ao qual se gostava de pertencer. O que se veste

torna-se um veículo88 de comunicação, através do qual se procura diferenciar o indivíduo

dos restantes elementos da sociedade, consoante o seu gosto pessoal e a sua capacidade

económica, assumindo a apresentação exterior um papel de maior relevância em relação a

outros meios, em função da sua extrema visibilidade.

Fruto da crescente importância atribuída pela sociedade às actividades de lazer nocturno,

assiste-se actualmente a um incremento89 na divulgação dessas mesmas actividades pelos

diversos meios de comunicação, de que resulta a existência de programas radiofónicos,

televisivos, ou artigos na imprensa escrita, por exemplo, que procuram captar a atenção dos

elementos da sociedade. Verifica-se assim que o consumo de lazeres nocturnos, seja através

da frequência dos espaços comerciais, seja adquirindo roupas e acessórios, passa a ser

orientado90 pelos média, que através da divulgação crescente de novas actividades e de

novos espaços, procuram influenciar de forma directa as acções dos indivíduos participantes,

em virtude de contabilizarem eles próprios importantes ganhos económicos, com a

publicidade associada ao tema que publicam. Deste modo, podemos citar como exemplos,

colunas regulares na imprensa escrita (ver Caderno Vida, no semanário "Expresso"),

espaços específicos na televisão sobre Moda (que cultivam a imagem de um determinado

estilo de vida, que passa, e muito, pelo lazer nocturno) e sobre a própria "Noite" (ver

"Vibrações" na SIC ou qualquer programa de "jet-set"), e até programas na rádio (ver rádio

Nova Era), que publicitam de forma permanente spots sobre festas, concertos, passagens de

moda, entre outros, procurando atrair potenciais consumidores.

88 PAIS, José Machado - Culturas Juvenis, Lisboa, I.N.C.M., s.d.. 89 FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995. 90 JEFFPvES, Leo; DOBOS, Jean - Perceptions of leisure opportunities and the quality of life in a Metropolitan Area, em «Journal of Leisure Research», Vol. 25, N° 2, s i , 1993, p. 206.

77


Como conclusão, verifica-se que se assistiu a uma progressiva definição das características

básicas dos espaços de lazer nocturno em função da capacidade económica dos seus

potenciais frequentadores, situação que resulta da importância atribuida por cada indivíduo à

sua apresentação exterior, bem como aos consumos por si registados, e que se reflecte na

procura de espaços onde se sintam perfeitamente enquadrados. Deste modo, a

heterogeneidade sócio-económica existente nos espaços de lazer nocturno após a revolução

de Abril tende a desaparecer, surgindo em sua substituição espaços perfeitamente

homogéneos, no que às características sócio-económicas apresentadas pelos seus

frequentadores diz respeito.

Do mesmo modo que a capacidade económica assumiu uma importância crescente na

fruição dos lazeres nocturnos actuais, verificou-se nas últimas duas décadas um progressivo

incremento na participação de elementos da sociedade pertencentes a faixas etárias cada vez

mais jovens, que de participantes esporádicos passaram a participantes maioritários, situação

que transformou de modo radical as actividades de lazer nocturno existentes, e que reflecte a

terceira mudança estrutural de relevo. A ocorrência de tal situação deveu-se a uma

liberalização das mentalidades dos seus progenitores e a um novo modo de viver assumido

pela própria juventude, que acompanhado de um progressivo enriquecimento da sociedade e

de uma melhoria na sua qualidade de vida, conduziu a uma transformação das faixas etárias

mais jovens nos principais consumidores de lazeres nocturnos.

"O desenvolvimento económico e o alargamento da escolaridade obrigatória teriam

também favorecido os pequenos consumos juvenis, e através da esfera do consumo juvenil -

orientado em grande parte para a satisfação das necessidades de lazer - também se teria feito

sentir uma preponderante influência dos mass-media e dos grupos de amigos".

Verifica-se assim, e em resultado de se assumirem como os maiores consumidores de

actividades de lazer nocturno, que a juventude é impelida para situações de crescente

consumismo, devido à dificuldade por si própria revelada de resistirem a estimulos exteriores

exercidos de modo prolongado, o que os leva ao consumo excessivo de alcoól, de tabaco,

91 PAIS, op citt, p. 90. 78


de drogas, de artigos de moda, por exemplo, situação que se reflecte numa extrema

vulnerabilidade a influências externas, característica da faixa etária a que pertencem. Tal

situação contribui para um desequilíbrio no seu modo de participação em actividades de

lazer nocturno, desequilíbrio esse que se vai revelar no assumir de atitudes provocatórias em

que se procura chocar a própria sociedade, na tentativa de distanciar o seu comportamento

do assumido pelos restantes elementos da sociedade.

As atitudes da juventude são assim condicionadas de forma intensa pela acção dos media,

que procuram em permanência influenciar os seus comportamentos, visto tratarem-se de

grupos extremamente vulneráveis a estímulos externos, e que se caracterizam por mudarem

com frequência os seus hábitos de consumo em função da adopção de novos ideais. Desde

logo, o modo como é encarada a juventude, como ela é descrita e representada por parte

dos meios de comunicação, leva a que surjam estereotipadas uma série de situações, que

acabam por ser prejudiciais para o entendimento das atitudes da juventude perante as

actividades de lazer nocturno.

A análise dessas atitudes revela o assumir por parte dos jovens, no que se refere à prática de

actividades de lazer nocturno, de um rumo de acção completamente diferente do

anteriormente assumido pelos seus progenitores, situação que conduz a confrontos, quer

ideológicos, quer comportamentais, e que contribui para o surgir de distanciamentos dentro

das próprias estruturas familiares, provocados pela total indiferença com que os jovens

encaram os valores defendidos pelos seus progenitores. Desde logo, verifica-se que os

jovens interpretam as situações de lazer como mais importantes para a sua vivência do que

as relacionadas com qualquer actividade produtiva, comportamento que advém da sua

propensão para a procura constante de diversão, e que se reflecte na despreocupação com

que encaram o seu futuro imediato.

Como corolário desta situação, assiste-se a um assumir por parte dos diversos movimentos

musicais que vão surgindo regularmente, de uma função de válvula de escape para a

juventude, visto proporcionarem, através da agressividade por si evidenciada, quer em

termos de letras, quer em termos sonoros, o chocar dos restantes elementos da sociedade,

conseguindo deste modo captar a sua atenção, objectivo perseguido pelos jovens. A música,

através do usufruto de gostos comuns, acaba por funcionar para a juventude como um

79


elemento catalizador, capaz de provocar a união de indivíduos representativos de

diferentes classes sócio-económicas e de diferentes faixas etárias, situação que contribui para

o estabelecer de uma frente comum contra os restantes elementos da sociedade, com os

progenitores e os educadores como principais alvos, visto serem eles quem impede a

frequência de lazeres desejada.

Como resultado das diversas mudanças estruturais ocorridas no usufruto de actividades de

lazer nocturno, constata-se nas duas últimas décadas uma degradação dos valores da própria

sociedade, degradação essa consubstanciada no incremento de situações de promiscuidade e

de segregação sócio-económica, potencialmente geradoras de conflitos sociais. Deste modo,

o usufruir de actividades de lazer nocturno, ao surgir extremado no consumo de bebidas

alcoólicas e de drogas, e em situações de extrema permissividade sexual, contribui para uma

degradação social da juventude, seus principais frequentadores, degradação essa que se vai

reflectir nos comportamentos colectivos assumidos pela própria sociedade.

Como complemento, verifica-se também que a presença crescente de situações de

desemprego94, apesar de proporcionarem um aumento do tempo de lazer disponível,

contribuem para um assumir de tipologias de comportamento diferenciadas por parte dos

diversos elementos da sociedade, escolhas essas condicionadas pela sua própria vivência

anterior: ou optam por uma diminuição da frequência de actividades de lazer nocturno,

assumida em função da sua incapacidade económica; ou pela prática de actividades de

delinquência, na busca de compensarem essa mesma incapacidade, que impede a frequência

de lazeres nocturnos desejada e de tudo o que a eles está associado.

3. 2. Oferta de Lazeres Nocturnos: formas actuais

Na sociedade actual, verifica-se que a oferta de lazeres nocturnos presente reflecte a

existência de um forte incremento nas frequências registadas por parte dos diversos

92 THORNTON, Sarah - Club Cultures - Music, Media and Subcultural Capital, Cambridge, Polity Press, 1995. 93 HAMILTON-SMITH, op citt, p. 248. 94 PAIS, José Machado -A vida como aventura: uma nova ética de lazer? em «Actas do Congresso Mundial do Lazer - New Routes for Leisure», Lisboa, I.C.S., 1994, p. 107.

80


elementos da sociedade, fruto da melhoria da qualidade de vida e da alteração de

mentalidades ocorrida nas duas últimas décadas, situação que contribuiu para uma

diversificação das tipologias presentes na área em estudo. Ao crescimento em dimensão

apresentado pela Áxea Metropolitana do Porto, que correspondeu ao assumir por parte da

cidade do Porto de uma importância crescente a nível regional e que contribuiu para o

aumento da sua capacidade de atracção, surgiu associado à progressiva concentração de um

elevado número de habitantes na própria cidade e nas suas áreas envolventes, potenciais

frequentadores de actividades de lazer nocturno na actualidade.

A concentração de um elevado número de potenciais frequentadores de actividades de lazer

nocturno na área em estudo veio condicionar de forma positiva o aparecimento de novas

ofertas, representativas de novas tipologias, que procuraram posicionar-se como alternativa

aos espaços tradicionais, visto os elementos da sociedade adoptarem como padrão normal

de comportamento a mudança regular de espaço frequentado. A ocorrência de tal situação

originou um incremento no número de espaços de lazer nocturno existentes, que apresentam

uma maior diversidade de tipologias, e que ao estabelecerem relações de concorrência entre

si contribuiram para uma profissionalização acelerada das próprias actividades.

A opção por uma maior profissionalização decorreu da necessidade de sobreviver

economicamente que afectou os espaços de lazer nocturno a partir do inicio da década de

90, em virtude da concorrência gerada pelo incremento no número de estabelecimentos

existentes ocorrido durante a década de 80. Assim, se até finais da década de 80 somente se

revelava necessário para inaugurar um estabelecimento um mínimo de promoção e de

criatividade, para se iniciar um ciclo de prosperidade que permitisse rapidamente recuperar

os investimentos entretanto realizados, na actualidade tal situação não se verifica. Devido a

uma crescente concorrência entre os diversos espaços, o factor novidade proporcionado pela

abertura de portas pode contribuir para um prolongar do "estado de graça" de um

determinado estabelecimento por um período mais ou menos extenso após o inicio de

actividade, mas tal situação pode nunca ocorrer. Deste modo, a recuperação na íntegra dos

investimentos realizados nunca se verifica, situação que conduz ao encerramento do

estabelecimento, devido ao acumular de prejuízos, ou a uma alteração profunda das

características básicas inicialmente pensadas para o espaço. A existência de um número

81


excessivo de estabelecimentos começa a revelar-se como prejudicial, verificando-se que nem

todos os espaços conseguem alcançar a viabilização económica necessária para a sua

sobrevivência, factor que origina uma situação de abertura/encerramento constante de

diferentes espaços, que contribui para uma renovação das ofertas existentes.

Deste modo, constata-se que durante o forte incremento95 no aparecimento de novos

espaços ocorrido a partir de meados da década de 80, somente se revelava necessário a

abertura de portas para se garantir o inicio da recuperação do investimento realizado, como

consequência da escassez de ofertas até então registada. Na actualidade tal situação não se

verifica, pois fruto da massificação dos espaços de lazer existentes, encontram-se à

disposição dos diversos elementos da sociedade um elevado número de restaurantes,

esplanadas, cafés, bares, discotecas, bingos, entre outros, representantes diversificados de

actividades de lazer nocturno, o que leva a que a selecção do local a frequentar seja o maior

problema que se coloca. Dos primeiros espaços surgidos em inícios da década de 80 até aos

que principiam a sua actividade na actualidade, assistiu-se a um grande salto qualitativo nas

características básicas que apresentam, consubstanciado em melhorias nos sectores da

segurança e dos serviços prestados, devido à crescente profissionalização por que passou o

sector e os espaços que quiseram sobreviver, que tiveram de se adaptar. Assim, devido a um

aumento ocorrido no número de potenciais frequentadores, verifica-se a abertura constante

de novos estabelecimentos, que procuram diversificar as ofertas e que se preocupam em

oferecer um nível elevado de qualidade nos serviços prestados, visto terem sempre como

objectivo primordial o atrair de clientela frequentadora de outros espaços. Aliado a este

fenómeno, observa-se o fim das clientelas fixadas num determinado espaço de lazer,

clientelas essas que passam a priveligiar a mudança com frequência de estabelecimento, de

modo a estarem a par de todas as novidades.

Como corolário desta situação verifica-se a existência de um número excessivo de

estabelecimentos, contraditória com a constatação de não ser infinito o número de potenciais

frequentadores - isto apesar de se ter registado um crescimento acentuado na participação

dos diversos elementos da sociedade, fruto da presença crescente de elementos pertencentes

a faixas etárias cada vez mais jovens - o que contribuiu para uma alteração da mentalidade e

95 ANDERTON, Derrick - Looking at Leisure, Londres, Hodder & Stoughton, 1992. 82

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: unia visão geográfica

da filosofia que orienta a acção dos proprietários dos espaços. Surge assim a procura

desenfreada de um aumento de produtividade que proporcione um rentabilizar acelerado dos

investimentos realizados, em virtude de a abertura sempre eminente de um qualquer espaço

concorrente poder contribuir para o declínio económico da actividade de lazer nocturno

explorada, declínio esse que poderá inclusivamente conduzir ao encerramento do

estabelecimento.

"ao ser beneficio de uma maior produtividade, tornada possivel pela produção em

massa e pelo marketing, o lazer tende a exibir as mesmas feições e relações sociais que

caracterizaram o mundo do trabalho industrial: padronização, prática rotineira, prevalência

do capital, menor número de pessoas no processo de controle e massificação".

Como se deduz da análise da citação anterior, as actividades de lazer nocturno caracterizam-

se cada vez mais por assumirem um contexto global de Indústria, em que regularmente se

observa a abertura e o encerramento de diversas ofertas, sem que a sociedade esboce

qualquer tipo de reacção, interessada que está somente em consumir, independentemente do

local onde lhe seja proporcionada a possibilidade de diversão. Observa-se assim, por parte

de quem investe nos espaços de lazer nocturno, a procura incessante de um aumento dos

seus lucros, procura essa que é acompanhada de um desinteresse crescente pelos próprios

frequentadores e pelo seu bem-estar, que passaram a ser considerados somente como uma

fonte de rendimentos, situação que revela um total alheamento pelas suas acções.

A existência de uma multiplicidade de actividades de lazer nocturno concentradas numa

determinada área de uma cidade contribui para incrementar97 a sua capacidade de atracção,

em virtude de permitir a frequência de uma diversidade de ofertas dentro de um espaço

delimitado, situação que permite a mudança de actividade frequentada com relativa

facilidade, sem que haja a necessidade de recorrer a qualquer meio de transporte. Dentro da

área em estudo, podem-se citar como exemplos a Ribeira Portuense ou a zona da Foz, entre

96 GAMA, António; SANTOS, Norberto Pinto dos - Tempo Livre, Lazer e Terciário, em «Cadernos de Geografia», N° 10, Coimbra, I.E.G., 1991, p. 107. 97 JANSEN-VERBEKE, Myriam - Inner city leisure resources, em «Leisure Studies», Vol. 4, N° 2, Londres, 1985, p. 144.

83


outros, áreas em que se encontra concentrada uma grande diversidade de lazeres nocturnos,

desde Restaurantes até Discotecas, passando por Esplanadas, Cafés ou Bares, lazeres esses

representativos de uma oferta variada e que permitem uma mudança constante de tipo de

ambientes ao longo da noite, contribuindo deste modo para evitar uma situação de potencial

saturação na clientela, principal responsável pelo abandono da frequência de actividades de

lazer nocturno.

A ocorrência desta concentração, devido a proporcionar uma coabitação das diversas

tipologias de lazer nocturno, exerce uma atractividade acrescida sobre uma variedade de

clientelas, originando que essas áreas apresentem como objectivo global a capacidade de

oferecerem entretenimento para todos os elementos da sociedade, independentemente da

faixa etária e da actividade de lazer nocturno seleccionada por cada indivíduo. O factor

concentração de ofertas num determinado espaço favorece o consumo , visto a

proximidade de vários locais de diversão nocturna proporcionarem uma hipótese de fácil

mudança de estabelecimento frequentado, quando os indivíduos se encontram em situação

de saturação ou de desagrado, sem no entanto tal ocorrência implicar a interrupção da

prática de actividades de lazer nocturno, por ausência de alternativas. Na análise da área em

estudo, constata-se a existência de uma distribuição irregular das ofertas pelo território,

distribuição essa representada por uma excessiva concentração em determinadas áreas, que

se revela responsável por impedir uma correcta fruição das actividades de lazer nocturno por

parte dos habitantes da cidade do Porto e dos seus arredores, em virtude de implicar uma

deslocação dos potenciais frequentadores para esses espaços.

No entanto, verifica-se que a capacidade de atracção exercida por uma determinada área

estará sempre fortemente afectada por diversos factores de acessibilidade, que condicionam

a deslocação a esse mesmo espaço. Assiste-se assim, por parte dos diversos elementos da

sociedade, à atribuição de uma importância crescente ao possuir", ou ter acesso, a um meio

de locomoção próprio, em virtude de este permitir efectuar deslocações em busca de novas

actividades de lazer nocturno, evitando a rotina proporcionada pela frequência repetida de

um mesmo local. Desde logo, constata-se uma grande evolução no número de jovens

98 URRY, John - Consuming Places, Londres, Routledge, 1995. 99 COOLEY, Ann - Sex Roles and explanations of leisure beha\>iour, em «Leisure Studies», Vol. 3, N° 3, Londres, 1984, p. 336.

84


possuidores de meios próprios de locomoção, evolução essa registada na última década,

situação que veio fortalecer a sua capacidade de selecção e que contribuiu para a adopção

de um comportamento caracterizado por mudanças regulares de espaço frequentado. Deste

modo, na definição da localização100 de um estabelecimento de lazer nocturno procura-se

sempre a conjugação de diversos factores, como sejam o possuir de boas acessibilidades, ou

qual o grau de motorização usufruído pelos potenciais clientes, entre outros, para que à

partida esteja garantida a existência de um determinado número de frequentadores, que

permitam a sobrevivência económica da actividade.

Como conclusão, pode-se afirmar que a frequência de espaços de lazer nocturno sofreu nos

últimos anos uma grande evolução, em função do incremento ocorrido na participação dos

diversos elementos da sociedade, factor que aliado a uma melhoria das acessibilidades,

contribuiu para a dispersão pela malha urbana em estudo de uma diversidade de

estabelecimentos de lazer nocturno. A massificação de espaços de lazer registada, com

características similares e distribuídos de forma irregular pelo território, originou uma

adaptação progressiva dos estabelecimentos à clientela existente na sua área envolvente,

situação que permite que qualquer elemento da sociedade possa usufruir da oportunidade de

frequentar um espaço adaptado às suas características sócio-económicas e que minimiza

fenómenos de segregação social e de selecção económica.

Desde o inicio da sua actividade, verifica-se que as actividades de lazer nocturno procuram

sempre o "estar na moda", o "estar a dar", situação em que os índices de popularidade e de

frequência dos espaços se apresentam como muito elevados, contribuindo deste modo para

uma recuperação financeira dos investimentos realizados. Procura-se prolongar o factor

novidade provocado pela abertura do espaço, tendo como objectivo principal o estabelecer

de uma relação de cumplicidade e de fidelidade para com os frequentadores, de modo a

evitar o atingir de um ponto de saturação por parte destes, situação que conduz a uma perda

acelerada de clientela. O deixar de "estar a dar" pode ocorrer a qualquer momento de forma

imprevisível, devido à acção de um factor isolado ou à conjugação de vários factores, tais

100 DUMAZEDŒR, Joffre - Sociologia Empírica do Lazer, São Paulo, Ed. Perspectiva, 1979 ( Sociologie Empirique du Loisir, 1974).

85


como, a abertura de um novo espaço (situação mais usual), o não acompanhamento de uma

qualquer inovação musical, a evidência de um certo laxismo na selecção de clientela, o

assumir de um comportamento incorrecto por parte de quem lá trabalha, entre outros. Desde

logo, revela-se como extremamente difícil a manutenção da clientela anterior, clientela essa

atraída para a frequência de um novo espaço, o que origina a progressiva perda de

importância da oferta na selecção das actividades a frequentar por parte dos diversos

elementos da sociedade, situação que torna difícil, quando não irreversível, a recuperação

dos anteriores frequentadores.

Na tentativa de evitar a ocorrência de uma situação desta natureza, constata-se que os

proprietários dos diversos espaços procuram estabelecer um elo de identificação imediato

com os seus habituais frequentadores, conseguido através da adopção101 de toda uma

simbologia representativa dos locais, que funcione como veículo de promoção do próprio

espaço. Deste modo, através da colocação de símbolos numa diversidade de artefactos

(isqueiros, autocolantes, t-shirts, copos, entre outros), procura-se a promoção do local para

o exterior, acção que é realizada de forma passiva pelos próprios frequentadores.

Também essencial para o sucesso de qualquer actividade de lazer nocturno revela ser o

comportamento adoptado pela massa laboral, responsável pelo primeiro contacto com quem

frequenta, e de quem depende em grande parte a manutenção de um bom ambiente no

interior do espaço. Esta acção revela-se de extrema importância, pois o comportamento

assumido por quem lida directamente com a clientela, o modo como reaccionam à

ocorrência de situações inesperadas e como procuram resolver eventuais problemas, define a

sua capacidade como veículos de promoção do próprio espaço. A forma de agir de

Porteiros e Seguranças, por exemplo, elementos possuidores de um poder que lhes

permite efectuar uma selecção de quem frequenta o espaço, defende a linha de acção

definida pela própria oferta, situação que contribui para os potenciais frequentadores

decidirem após um primeiro contacto, qual o comportamento a adoptar em situações

futuras. Assim, verifica-se ser a primeira impressão, transmitida neste caso por quem

controla a entrada, que vai influenciar o tipo de frequência adoptada pelo cliente. Da mesma

101 CHAMBERS, Deborah - Symbolic equipment and the objects of leisure images, em «Leisure Studies», Vol. 2, N° 3, Londres, 1983, p. 303. 102 FORNAS, Johan - Cultural Theory and Late Modernity, Londres, SAGE, 1995.

86


maneira, quem trabalha profissionalmente no interior dos espaços tem que assumir em

permanência a sua função de Relações Públicas, tendo como único objectivo fazer com que

os frequentadores do espaço se sintam num ambiente agradável, de modo a que considerem

a hipótese de regressar em futuras ocasiões.

3. 2.1. Caracterização das actividades de Lazer Nocturno existentes na actualidade

Pretende-se qualificar de modo sucinto as diferentes actividades de lazeres nocturnos que se

encontram na actualidade, procurando o seu enquadramento em função de quatro grandes

grupos, grupos esses definidos a partir das práticas que permitem. Deste modo, consideram-

se exemplos de actividades de lazer nocturno relacionadas directamente com iniciativas

a)culturais, b) de sociabilização, c) de consumo e d) de jogo, actividades essas que

prefiguram a existência de uma multiplicidade de espaços de lazer, distribuídos de forma

irregular pelo território em análise, representativos do modo como evoluiram nas últimas

duas décadas as ofertas de lazer nocturno na sociedade em estudo.

a) Espaços de Lazer Nocturno marcadamente Cultural

Representados em permanência por uma reduzida diversidade de actividades (tais como

Salas de Cinema ou de Teatro), registam a ocorrência pontual de outras ofertas, como por

exemplo, Concertos, Festivais de Música ou Bailados.

Como espaços de ocorrência de actividades de lazer nocturno, revelam-se importantes desde

o inicio do século vinte, tendo desde logo assumido um papel relevante na sociabilização da

sociedade, sendo que em diversos períodos ao longo deste século foram considerados como

a principal oferta à disposição dos indivíduos. Na actualidade atraem uma clientela

diversificada em termos etários, clientela essa que revela interesses distintos consoante a

actividade seleccionada. Assim, se os elementos pertencentes a faixas etárias mais avançadas

se assumem como os principais frequentadores do Teatro, o mesmo já não se verifica com o

Cinema, por exemplo, em que se observa uma participação abrangente de quase todas as

faixas etárias, apesar de se verificar uma incidência particular nas mais jovens. Do mesmo

87


modo, também os frequentadores de Concertos, Festivais de Música ou Bailados, entre

outros, vão reflectir o tipo de música em presença, sendo de esperar elementos mais jovens

em concertos de música moderna, em contraste com assistências mais idosas em concertos

de música clássica.

b) Espaços de Lazer Nocturno de Sociabilização

São representados por uma diversidade de unidades funcionais, que reflectem uma crescente

adaptação das actividades de lazer nocturno às possibilidades de frequência da própria

sociedade, tendo sempre como objectivo o ser possível conciliar a ocorrência de situações

de sociabilização com os horários laborais de cada indivíduo. Este tipo de espaços de lazer

nocturno assume um papel importante na vivência de elevada103 percentagem da população,

pois em muitas situações o "jantar fora" ou o "ir tomar café" representam os únicos

momentos de lazer usufruídos, em função da existência de uma série de limitações de índole

profissional e/ou familiar.

Para uma melhor compreensão das diferenças existentes entre as diversas ofertas em

presença, surge a necessidade de se estabelecer uma distinção em dois grandes grupos de

actividades, na tentativa de identificar qual a função especifica de cada unidade funcional

perante a sociedade.

Io- Restaurantes e similares (Cervejarias, Pizzarias, entre outros): a sua frequência

ocupa um papel extremamente importante, juntamente com a dos Cafés, nas actividades de

lazer nocturno praticadas por grande parte da população. Apesar de consumidas de forma

irregular, são em muitos casos as únicas actividades de lazer nocturno praticadas, em função

de ser possível a conjugação da sua frequência com as obrigações profissionais e familiares

de cada indivíduo, devido a assumirem-se como espaços alternativos de discussão laboral ou

de sociabilização familiar.

2o- Cafés e similares (Confeitarias/Pastelarias, Gelatarias, entre outros): a sua

frequência revela-se como uma das mais importantes actividades de sociabilização por que

GAMA, op citt, p. 103. 88


passam os diversos elementos da sociedade, em virtude de estas actividades assumirem uma

multiplicidade de funções, desde aquelas de semi-lazer104, quando se discutem questões

laborais, por exemplo, até às de lazer intenso, como quando se verifica a junção de

elementos pertencentes a um mesmo circulo de amizades. Este grupo de actividades

heterogéneas distingue-se do anterior em virtude de a sua prática assumir uma frequência

regular, quase diária, independente do dia da semana e dos compromissos laborais, bem

como devido ao facto de ser constituída essencialmente pelo circulo de amizades de cada

indivíduo, em detrimento de elementos pertencentes à sua estrutura familiar.

Quando as condições climáticas o permitem, verifica-se também a presença de Esplanadas

(locais em que se privilegia o pleno usufruto de espaços abertos, e em que estão

representadas ofertas dos dois grupos citados anteriormente), que assumem uma ligação

directa entre o passear/descansar e a actividade do consumir algo, consubstanciada na

possibilidade de fruição do espaço em horário diversificado, nomeadamente após a refeição

da noite. Situadas em áreas privilegiadas à beira-rio ou à beira-mar, como por exemplo, nas

margens do Rio Douro, na Foz ou na linha costeira dos concelhos de Matosinhos ou de Vila

Nova de Gaia, permitem situações de intensa sociabilização105 familiar, em virtude de

oferecerem um conjunto variado de ofertas, dirigido a todas as faixas etárias, factor que

contribui para uma frequência conjunta por parte de todos os elementos da família.

c) Espaços de Lazer Nocturno com Consumo Obrigatório

Estes espaços, orientados especificamente para o consumo de actividades de lazer nocturno,

surgiram em meados do século vinte, tendo registado até à actualidade uma evolução

constante que acompanhou as alterações sócio-económicas ocorridas na própria sociedade.

Presentes a partir dos anos cinquenta deste século de forma consistente, as actividades

essencialmente consumistas sempre procuraram proporcionar aos indivíduos espaços virados

para o usufruto de lazer e para a procura de diversão, revelando-se menos interessadas nas

práticas de actividades de sociabilização.

DUMAZEDIER, op citt. PAIS, José Machado - Culturas Juvenis, Lisboa, I.N.C.M., s.d..

89


Deste modo, desde os Night-Clabs e Boîtes já existentes em meados do século, até às

Discotecas e Mega-Bares da actualidade, registou-se uma grande alteração na forma como

os espaços se apresentam aos seus potenciais frequentadores. Como principal alteração

constata-se uma mudança profunda na dimensão das ofertas, visto que se passou dos

espaços pequenos e bem iluminados das décadas de 50, 60 e 70, espaços esses

caracterizados pela presença de sofás e espelhos em profusão, em que se usufruia de uma

música calma, romântica, e em que o serviço procurava ser atencioso, para espaços de

grande dimensão, escuros, agressivos, despidos de qualquer tipo de comodidade, e em que

se ouve uma música representativa da vivência actual dos jovens, caracterizada por

apresentar ritmos agressivos, quase hipnóticos.

A evolução ocorrida nas actividades de lazer nocturno existentes procurou sempre

acompanhar as mudanças ocorridas com a própria clientela, seja em termos socio

económicos, seja em termos de estrutura etária de quem frequenta. Verificou-se assim que

se até finais da década de 70 se registou um predomínio de uma clientela pertencente a

faixas etárias mais velhas, clientela essa que se caracterizava por procurar a frequência de

espaços confortáveis, não-agressivos, onde pudesse manter uma conversação de forma

agradável, a partir do começo da década de 80, com o inicio de uma frequência massificada

por parte das faixas etárias mais jovens, surge uma alteração radical na forma e conteúdo

como se apresentam as actividades de lazer nocturno. Deixa de haver uma preocupação com

o bem-estar dos seus clientes, procurando-se somente a rentabilização económica dos

espaços, situação que contribuiu para a profissionalização acelerada ocorrida nas diversas

tipologias de actividades existentes. Com uma clientela mais jovem como principais

frequentadores, menos selectiva e que procurava somente uma forma e um espaço para

poder libertar energias e frustações da sua vivência diária, sem exigir qualquer tipo de

comodidade em contrapartida, surgem no principio dos anos 90 os grandes espaços na área

em estudo, que se caracterizam por apresentarem interiores de grande dimensão, por

possuirem uma panóplia diversificada de efeitos luminosos e por difundirem a sua música no

máximo volume.

Como conclusão, é de referir a variedade de ofertas existente em finais da década de 90, que

resultou de uma evolução/adaptação constante e que permite aos elementos da sociedade a

90


frequência de uma multiplicidade de espaços. Desde Pubs, Night-Clubs e Boîtes, passando

por Clubes e Dancings, até toda uma diversidade de Bares e Discotecas, nas suas mais

variadas formas e dimensões, e destinadas cada qual a um público especifico, assiste-se hoje

em dia a uma proliferação de estabelecimentos que procuram acompanhar o crescente

interesse na frequência de lazeres nocturnos que caracteriza a vivência da sociedade

moderna. Como exemplo, pode-se citar a importância dos Bares, que se apresentam

dirigidos a uma multiplicidade de públicos-alvos, desde as minorias (artísticas, étnicas,

profissionais, entre outras), até aos estudantes (essencialmente os universitários), passando

pelos bares de alterne106 (destinados a uma clientela predominantemente masculina que

procura o acompanhamento de profissionais que aí trabalham) ou de culto (destinados a

públicos homogéneos, que partilham das mesmas convicções), entre outros, todos eles

orientados para públicos previamente delineados e com características muito próprias, ou

das Discotecas, especializadas por tipos de música, e que apresentam formas e ambientes

sócio-económicos que facilmente as identificam, como sejam, por exemplo, as preferidas

pelas faixas etárias mais jovens (com música moderna no seu máximo volume e ambientes

fechados, quase claustrofóbicos), ou as destinadas às familias (com ambientes agradáveis e

uma selecção musical baseada em antigos êxitos), entre outras.

d) Os Espaços de Jogo como Actividades de Lazer Nocturno

Tratam-se de espaços de lazer destinados a uma clientela especifica, representada

predominantemente por elementos pertencentes a faixas etárias mais velhas (mais de 25/30

anos), com capacidade económica, e que procuram a emoção proporcionada pelo jogar,

sendo esse o motivo pelo qual empreendem a deslocação, e que não se encontram

interessados no aprofundamento de situações de sociabilização nem de simples consumo.

Constata-se ser uma actividade de lazer nocturno representada por uma diversidade de

ofertas extremamente reduzida, visto que as únicas ofertas disponíveis são as Salas de

Bingo, que se encontram distribuídas no interior do tecido urbano da área em estudo, e os

106 WYNNE, Derek - Leisure, Lifestyle and the construction of social position, em «Leisure Studies», Vol. 9, N° 1, Londres, 1990. 107 THORNTON, Sarah - Club Cultures - Music, Media and Subcultural Capital, Cambridge, Polity Press, 1995.

91


Casinos, que enquadram o território em análise através da presença de duas unidades

situadas em Espinho e na Póvoa do Varzim, situação que acentua ainda mais o carácter de

exclusividade ligado à sua frequência.

3. 2. 2. Papel dos Intervenientes Externos

3. 2. 2. 1. Entidades Fiscalizadoras

As entidades externas com responsabilidades na fiscalização das actividades de lazer

nocturno são o Governo Civil (em representação do Estado) e as Câmaras Municipais

respectivas, principais intervenientes no processo de controle das ofertas. Em função de se

ter verificado nas últimas duas décadas a ocorrência de um forte incremento no número de

locais existentes, houve a necessidade de se procurar regulamentar108 de um modo mais

eficaz o funcionamento dos espaços na tentativa de proceder a uma melhoria nas condições

do serviço prestado. Deste modo, preocupações inovadoras com Horários de

Funcionamento, com Normas de Sanidade e de Segurança, conduziram as autoridades

responsáveis a uma fiscalização mais intensa, menos permissiva, na procura de regularizar a

situação de caos e desrespeito pelas regras vigentes que se tinha vindo progressivamente a

estabelecer.

Correspondendo ao espirito desta nova mentalidade fiscalizadora verifica-se o estabelecer de

um quadro de regras a seguir, quadro esse que assenta basicamente em três vertentes: a

primeira trata de questões de segurança no interior dos estabelecimentos, a segunda de

questões de sanidade e a terceira preocupa-se com a defesa dos direitos de quem habita nas

proximidades de uma qualquer actividade de lazer nocturno.

1) Questões de Segurança: por motivos de configuração física dos próprios espaços a

aplicação de novas regras nem sempre se afigura como possível, situação que conduz a

curto prazo a um progressivo encerramento dos locais que não se apresentem em

ANDERTON, op citt. 92


conformidade com a lei. Assim, sem nunca se procurar a enumeração exaustiva de todos os

factores de segurança, mas a selecção dos mais importantes, é de referir a altura minima de

2,8 m que o estabelecimento deve apresentar em todo o seu interior, bem como a

necessidade de se verificar a presença de um sistema de extracção de fumos, de extintores

espalhados regularmente pelo espaço, de duas mangueiras de alta-pressão, de luzes de

emergência, de indicadores qie apontem as saidas de emergência, de bocas de incêndio, e de

os bares apresentarem um extintor em cada uma das suas extremidades.

2) Questões de Sanidade: as qualificações da grande maioria dos espaços, sejam as

relacionadas com instalações sanitárias, sejam as relativas aos espaços de confecção de

alimentos, apresentam-se muito longe do desejado, visto tratar-se de um pormenor que não

apresenta uma visibilidade imediata, sendo por esse motivo descurado na maior parte dos

estabelecimentos. Desde a necessidade de as casas-de-banho possuirem antecâmaras na sua

entrada, de ser estabelecida uma divisão espacial entre Homens e Mulheres, com espaços

próprios para cada sexo, até questões relacionadas com a limpeza e apresentação das

cozinhas, que devem possuir condições especificas para a confecção e conservação dos

alimentos, verifica-se um desrespeito generalizado pelas regras estabelecidas.

3) Questões de Defesa dos Direitos do Colectivo: revelam-se de grande importância, em

virtude de serem elas que proporcionam uma coexistência pacifica entre os espaços de lazer

nocturno e os habitantes existentes na sua envolvência, ao assumirem uma função profilática

na prevenção de eventuais problemas. Deste modo, e visto ser a poluição sonora excessiva o

principal problema (observada através de medições sonoras realizadas no local, com o

estabelecimento em plena laboração), provocada quer pelo funcionamento das próprias

actividades, quer também pela concentração de potenciais frequentadores nas suas

proximidades, o que se pretende é evitar o constante autuar por parte das autoridades

fiscalizadoras, autuar esse que pode conduzir ao encerramento das próprias actividades,

procurando-se recorrer para isso a uma melhor insonorização dos espaços, aliada a uma

preocupação crescente assumida por parte dos responsáveis pelas actividades no sentido de

evitar aglomerações na entrada dos estabelecimentos.

93


No entanto, é importante referir que muitas das situações que ocorrem de desrespeito pelas

regras vigentes acontecem como resultado da frequente actualização a que estas são

submetidas, que obriga as actividades de lazer nocturno existentes a constantes

remodelações, acção que não se revela comportável para muitos dos espaços, em virtude de

no momento da sua construção tal ocorrência não ter sido comtemplada. Assim, verifica-se

na grande maioria dos espaços em funcionamento não ser possível proceder a alterações

físicas das suas características, situação que conduz a um inevitável encerramento das

actividades por incumprimento, ainda que involuntário, de qualquer uma das regras básicas,

seja de segurança, de sanidade ou de insonorização.

Constata-se assim que para uma correcta aplicação das regras, torna-se importante o papel

desempenhado pelas autoridades competentes, encarregues da fiscalização inicial e da

manutenção das condições básicas exigidas para o correcto funcionamento das actividades

de lazer nocturno. Deste modo, verifica-se a necessidade de ocorrência de vistorias

regulares, que tem como objectivo único evitar o adulterar dessas mesmas características,

situação ocasionada pelas constantes remodelações a que são submetidos os espaços. A

fiscalização deve ser exercida essencialmente em dois tempos distintos: no momento que

antecede o inicio das actividades, em que se torna necessário o cumprimento de uma série de

regras para obter a aprovação necessária para a abertura de portas, e durante o

funcionamento regular dos espaços, para evitar uma adulteração ilegal das condições

apresentadas inicialmente pelos estabelecimentos. É executada pelas autoridades

competentes nas diversas matérias de segurança e sanidade, sendo de destacar a acção da

Câmara, dos Corpos de Bombeiros, da Policia, das Direcções Gerais de Espectáculos, de

Saúde e do Trabalho, entre outras, que procuram implementar desde o inicio um respeito

pelas regras vigentes, de molde a evitar a necessidade de em fiscalizações posteriores se

proceder a aplicações de coimas por motivos de desvirtuamento do articulado legal, situação

que em situações mais gravosas pode conduzir ao encerramento dos próprios

estabelecimentos. As autoridades fiscalizadoras procuram incidir a sua acção sobre as

condições físicas apresentadas pelos espaços, não sendo no entanto de excluir incursões nas

áreas financeiras e laborais, sempre que estas se revelem necessárias para uma percepção

mais correcta do modo de desempenho de uma qualquer actividade de lazer nocturno.

94


Na tentativa de facilitar a compreensão do modo como é exercido o processo de fiscalização

por parte das autoridades envolvidas no licenciamento de actividades de lazer nocturno,

verifica-se ser importante enumerar os diversos passos que há necessidade de cumprir para a

abertura de um determinado espaço, de modo a aquilatar qual o momento exacto em que se

dá a intervenção de cada organismo. Deste modo, desde o momento em que o processo dá

entrada na Câmara Municipal respectiva, acompanhado de um esboço do futuro espaço,

para um pedido de viabilidade de funcionamento naquele local, até ao proceder à abertura de

portas possuindo todas as autorizações necessárias, verifica-se a ocorrência de um hiato

temporário, ao longo do qual os investidores se vêem na obrigação de ultrapassar uma

diversidade de exigências impostas por diferentes instituições. Assim, após o pedido inicial

ter sido aprovado em Assembleia Municipal, pode-se iniciar a construção/adaptação do

espaço pretendido, sendo no entanto necessário enviar de imediato um projecto mais

detalhado, muito próximo do objectivo final, para uma avaliação mais pormenorizada a

executar por parte dos organismos citados anteriormente, que através de uma série de

vistorias procuram aquilatar da viabilidade do projecto em termos de segurança e de

sanidade, e caso não sejam encontradas qualquer tipo de irregularidades atribuem as

autorizações correspondentes. Após este momento, e até ao completo recepcionar de todos

as autorizações necessárias, quem investe pode arriscar a abertura de portas do

estabelecimento, visto o valor das coimas aplicadas por esta irregularidade ser irrelevante

quando comparado com as possibilidades de facturação de alguns espaços.

Apesar de todo este elaborado procedimento que procura seleccionar desde logo a abertura

de novos espaços, é de referir que a actividade fiscalizadora das ofertas de lazer nocturno

raramente consegue atingir os seus objectivos iniciais, verificando-se a ocorrência de um

desrespeito generalizado pelas regras vigentes, em virtude de a sua total implementação ser

extremamente onerosa em termos económicos. Assim, a uma ausência de fiscalização

regular, ocorrida devido ao elevado número de espaços existentes e ao reduzido número de

efectivos ao dispor dos diversos organismos, alia-se o assumir de uma atitude de laxismo por

parte dos próprios proprietários, que procuram uma constante desresponsabilização das suas

obrigações, visto estas implicarem em muitos casos fortes investimentos para uma correcta

adequação dos espaços aos regulamentos actuais. Revela-se também como importante a

95


atitude de desinteresse em relação às questões anteriormente citadas assumida por parte de

quem frequenta, que ao não revelar um padrão minimo de exigências perante as condições

que lhe são proporcionadas, demonstra uma situação de habituação à frequência de espaços

totalmente inadequados, complementada pela ausência de qualquer tipo de protesto.

Como factor positivo da acção empreendida pelos responsáveis pelo licenciamento de novas

ofertas é de referir o assumir de uma crescente preocupação109 com a vivência dos habitantes

locais, situação que se traduziu num dificultar das intenções de abertura de novos espaços

em áreas predominamtemente residenciais. Como consequência desta acção, observou-se na

última década a adopção de um comportamento inovador por parte de quem procura

investir em lazeres nocturnos, comportamento esse que consistiu numa preferência

deliberada por áreas sem moradores, como, por exemplo, áreas urbano-indústriais no

interior das cidades, que contribuiu para uma requalificação funcional destes espaços. No

território em análise, verifica-se que tal situação ocorre nas áreas industriais do Porto (na

freguesia de Ramalde) e de Matosinhos, que correspondem a espaços revitalizados na sua

vivência interior pela presença de inúmeros estabelecimentos de lazer nocturno.

3. 2. 2. 2. Questões Laborais

Nas diversas tipologias de actividades de lazer nocturno existentes, constata-se a presença

de uma multiplicidade de agentes directamente envolvidos na laboração dos diversos

espaços, agentes esses que apresentam diferenças substanciais entre si, seja em termos

etários, seja em termos de qualificação profissional. Verifica-se assim que os elementos

envolvidos em ofertas de índole cultural, de restauração e de jogo, interpretam a sua

actividade de uma forma diferenciada, assumindo-a como definitiva, situação que os leva a

procurar uma constante evolução profissional, enquanto que os elementos envolvidos em

actividades de lazer nocturno de índole essencialmente consumista se assumem como "de

passagem", admitindo a sua mudança para outro tipo de actividade de futuro. Deste modo,

apesar de se revelarem numericamente inferiores, para uma correcta compreensão do

JANSEN-VERBEKE, op citt, p. 156. 96


fenómeno em estudo revela-se mais importante uma análise pormenorizada da última

tipologia citada, visto as outras três não serem definidoras de lazeres nocturnos per si, mas

sim reflexo de actividades que se prolongam nos seus horários laborais.

Após o estabelecer desta diferenciação, é de referir que se encontra na actualidade nas

actividades de lazer nocturno relacionadas essencialmente com consumo, a presença de um

numeroso grupo laboral, responsável pelo correcto funcionamento da multiplicidade de

espaços existentes, e que assumiu nas duas últimas décadas um papel extremamente

importante na evolução e divulgação das actividades em estudo. Os elementos constituintes

desta massa laboral tem como características110 comuns o facto de serem extremamente

jovens, não possuírem qualquer tipo de formação prévia, e de as suas hipóteses de

promoção serem praticamente nulas, em virtude de estarem a trabalhar na dependência

directa dos seus empregadores. O horário laboral a cumprir revela ser de longa duração,

chegando a atingir 7/8 horas diárias, executado em situações de extremo desconforto, sendo

a remuneração auferida baixa, paga por noite de trabalho, e não pelo número de horas

realizadas, que podem ser muito variáveis. Os descontos para a segurança social e a

possibilidade de usufruto de períodos de doença e de férias é inexistente, em virtude de a

grande maioria destes trabalhadores não possuir qualquer tipo de vinculo laboral com a

entidade empregadora. Tal situação acontece em função da instabilidade laboral vigente no

sector, originada pela volatibilidade económica da própria actividade, em que os

proprietários dos espaços decidem a seu bel-prazer do futuro dos seus empregados, numa

base de análise diária das suas performances.

No entanto, nem todos os trabalhadores a laborar nas actividades de lazer nocturno de

índole consumista se encontram nestas condições, registando-se a presença de elementos

altamente especializados, com responsablidades acrescidas na gestão e funcionamento dos

próprios espaços. Deste modo, desde Disco-Jockeys, até Seguranças, passando por

Relações Públicas e Animadores, verifica-se a existência de elementos bem remunerados,

situação que acontece em função da escassez de bons profissionais que ocorre nessas áreas

de trabalho. Tratam-se de elementos que influenciam a manutenção de uma clientela

fidelizada, assumindo-se a sua acção e a sua imagem como um prolongamento do próprio

110 URRY, John - The Tourist Gaze, Londres, SAGE, 1990. 97


espaço, sendo considerados como essenciais para a rentabilização económica da própria

actividade de lazer nocturno.

Pretender calcular o desemprego111 que se verifica entre os trabalhadores das actividades de

lazer nocturno revela-se uma tarefa extremamente difícil, em função da inexistência de

qualquer tipo de registos actualizados e da constante alteração das estruturas laborais

constituintes dos diversos espaços. Tal situação verifica-se essencialmente devido à

precaridade laboral proporcionada pela inexistência de qualquer vínculo e ao

desconhecimento do número total de trabalhadores, bem como pela ocorrência de uma

diversidade de factores externos, como por exemplo, a sazonalidade, que tornam o cálculo

do desemprego quase impossível de contablizar. No entanto, é de sublinhar que o elevado

número de locais de trabalho existentes, bem como o surgir constante de novos espaços,

aliados à possibilidade sempre presente de mudança para outro tipo de actividade laboral,

funcionam como um vigoroso travão à ocorrência de desemprego neste sector. É importante

referir que o incremento ocorrido no consumo de actividades de lazer nocturno nas últimas

duas décadas, contribuiu para o surgir de uma maior quantidade de ofertas, ofertas essas que

funcionaram como inovadoras oportunidades de laboração, situação que originou a

crescente atracção de um elevado número de jovens para este tipo de actividades. Nas

últimas duas décadas observou-se um fenómeno inovador, que consistiu na entrada em

grande número de elementos do sexo feminino nas actividades de lazer nocturno, como

parte constituinte da massa laboral. Desempenhando as suas funções em pé-de-igualdade

com os seus colegas de sexo masculino, são vistas principalmente como um chamariz,

necessário para o incremento da capacidade de atracção de toda uma variedade de

estabelecimentos.

Por último e numa perspectiva diferente, constata-se na análise da distribuição no território

das diversas ofertas que a concentração de um elevado número de estabelecimentos numa

determinada área, ao proporcionar a existência de uma diversidade de espaços e ambientes,

também beneficia a massa laboral em termos de oportunidades de emprego, pois a atracção

exercida pelo colectivo de actividades sobre a população envolvente estimula a criação de

111 LAW, Christopher - Urban Tourism and its Contribution to Economic Regeneration, em «International Perspectives in Urban Studies I», Cap. 11, s.l., s.e., s.d., p. 281.

98


novos postos de trabalho, necessários para responder à procura verificada. Como exemplo,

pode-se citar o caso da Ribeira Portuense, em que o incremento ocorrido no número de

espaços existentes, com muitos a laborarem em simultâneo em horários diurno e nocturno,

com o primeiro virado essencialmente para um crescente fluxo turístico, e o segundo para as

actividades de lazer nocturno, contribuiu de forma decisiva para a existência de uma massa

laboral numerosa, directamente dependente do sucesso deste espaço.

3. 2. 3. Importância do Turismo nas actividades de Lazer Nocturno

As actividades de lazer nocturno não constituem para os turistas um motivo de atracção

primordial, funcionando acima de tudo como um complemento112 da oferta global de um

determinado espaço urbano, a par de outras ofertas, como sejam as Turísticas, Comerciais,

entre outras, salvo raras excepções, como por exemplo, a "Movida" ocorrida em Madrid,

em que a conjugação de uma série de factores (a centralidade da cidade, a divulgação

maciça do fenómeno, entre outros) permitiu a sua ocorrência e manutenção. Como se

compreende, os próprios proprietários dos espaços de lazer nocturno não consideram os

turistas como a sua principal fonte de rendimento, apesar de que se for considerado somente

o período de veraneio, os turistas representarem a maioria dos seus frequentadores, situação

que conduz a uma adaptação dos seus comportamentos, em busca de procurar satisfazer

melhor as suas necessidades.

A frequência de actividades de lazer nocturno por parte dos turistas vai incidir

primordialmente nas áreas mais divulgadas, fruto do reduzido conhecimento que possuem

do próprio espaço urbano, factor que os impede de se movimentarem à vontade no território

em busca de outras ofertas. O facto de uma determinada área oferecer uma concentração de

ofertas, distribuídas por uma multiplicidade de tipologias, desde Restaurantes, a Esplanadas,

passando por Cafés e Bares, entre outros, vai condicionar a deslocação dos turistas para

112 HENRIQUES, Eduardo Brito - Lisboa Turística: entre o Imaginário e a Cidade, Lisboa, Ed. Colibri, 1996.

99


outros espaços, possuidores de uma menor visibilidade e de uma variedade de ofertas menos

diversificada.

Quem visita um determinado espaço procura sempre encontrar uma tipicidade cultural

representativa da própria população, evitando a frequência de espaços de cariz internacional,

que nada trazem de novo, e que reflectem uma realidade por eles encontrada nos seus

próprios paises de origem. No território em análise, tal situação encontra-se bem

representada na Ribeira Portuense, responsável juntamente com a Ribeira de Gaia (esta em

menor escala), por uma oferta de lazeres nocturnos verdadeiramente atractivos para quem

visita a cidade do Porto. Caracterizada por apresentar um núcleo histórico bem conservado,

a Ribeira representa para o turista o espaço ideal, por apresentar uma multiplicidade de

estabelecimentos que são oferecidos de forma genuína, e em que conjuntamente com a

população local, pode usufruir da tipicidade desses mesmos espaços, sem qualquer tipo de

artificialismos, tão comuns em espaços previamente preparados para receber turistas.

Extremamente importante na relação com os turistas é a qualidade do serviço prestado, em

que se deve procurar logo no primeiro contacto a resolução dos seus problemas, de maneira

a que o turista se sinta à-vontade no local de diversão por si escolhido. Assim, revela-se

como muito importante a acção empreendida por quem atende o turista, de modo a que

possíveis diferenças culturais e linguisticas não possam prejudicar a qualidade do serviço

prestado. Como factor positivo do espaço em estudo, a cidade do Porto e os seus arredores,

verifica-se que a maioria da força laboral em actividade nas diversas ofertas de lazer

nocturno domina uma ou mais línguas, sendo quase universal o uso da lingua inglesa em

situações de possível incompreensão.

Como exemplo da acção dos diversos poderes públicos no incremento de qualidade das

actividades de lazer nocturno, é de referir a recuperação do património existente,

empreendida pelas Câmaras responsáveis, que permitiu uma definição de projectos que

procuraram uma dinamização dos locais históricos existentes, dinamização essa empreendida

essencialmente pela iniciativa privada, sempre importante neste tipo de actividades por ser o

principal financiador, que leve ao existir de uma oferta de qualidade, baseada em critérios

113 ANTON CLAVE, Salvador - La reestructuracion de las Ciudades Turísticas Litorales ante las nuevas tendências de consumo turístico, «Actas dei XIV Congresso Nacional de Geografia», Salamanca, AGE, 1995, p. 319.

100


inovadores de beleza, funcionalidade, segurança e sanidade. O papel das Câmaras revela-se

também de extrema importância nas diversas acções de fiscalização, procurando sempre

eliminar os espaços com menor preparação, de molde a elevar a qualidade colectiva das

ofertas de lazer nocturno.

3. 3. Análise da estruturação das actividades de lazer

No estudo do modo como se estruturam as actividades de lazer nocturno no território em

análise, sobressai o facto de se estar perante uma profunda recuperação urbanística de

determinadas áreas, recuperação essa que ao ser acompanhada de uma requalificação

funcional das actividades económicas anteriormente nelas existentes, contribui para uma

alteração da fisionomia apresentada pelo próprio território. Deste modo, ao gerarem-se

investimentos, nomeadamente por parte dos poderes públicos locais, destinados a recuperar

áreas degradadas da cidade do Porto e dos seus arredores, procura-se uma reconversão das

anteriores actividades que lá existiam, visto estas não serem rentáveis no actual contexto

económico, situação que conduz a uma disponibilização no mercado imobiliário de espaços

a preços acessíveis de modo a atrair potenciais investidores, investidores esses que não se

preocupem com o facto de estarem a investir em áreas sem qualquer atractividade de

momento. Observa-se este fenómeno especificamente nas zonas da Ribeira Portuense e de

Gaia e na área industrial de Matosinhos, espaços que estão a passar por uma profunda

mudança, os primeiros durante as duas últimas décadas, o último somente já nos anos 90, e

que procuram recuperar a importância que já possuiram em outras épocas no contexto do

espaço em análise.

Num contexto mais pormenorizado, podemos citar o exemplo da Ribeira Portuense, que

passa nas últimas duas décadas por um acentuado processo de recuperação do seu tecido

urbano, tendo-se assistido a uma progressiva transformação114 de locais essenciais à vivência

colectiva da própria população, como, por exemplo, mercearias, tabernas, pequenos cafés

114 HENRIQUES, Eduardo Brito - Turismo, Património e Cidade: da Revitalização Urbana ao risco de manipulação das Paisagens, em «Estudos para o Planeamento Regional e Urbano», N° 45, Lisboa, C.E.G., 1996, p. 60.

101


ou restaurantes, em espaços destinados à satisfação dos gostos das novas clientelas, que

procuram usufruir da tipicidade inerente à vivência do próprio local, mas que somente

encontram espaços adulterados de modo a satisfazerem as suas próprias exigências. Esta

tranformação, que pretende ser interpretada como um beneficio colectivo para o própria

área, não beneficia quem lá habita, mas sim quem lá investe em actividades económicas,

originando uma situação de falsa tipicidade, tão do agrado das nossas populações urbanas

actuais.

Como exemplos de outras situações de recuperação e requalificação de áreas urbanas que

estejam a decorrer, podem ser citados os casos da Ribeira de Gaia, da antiga zona industrial

de Matosinhos e da zona industrial de Ramalde, em que o desenvolvimento de novos pólos,

caracterizados por concentrarem no seu interior um conjunto de actividades de lazer

nocturno, contribui para o incremento115 da capacidade de atracção desses mesmos espaços.

No primeiro caso, e beneficiando somente da dinâmica propagada pela evolução da sua

congénere portuense, assiste-se a uma recuperação em pequena escala da zona ribeirinha de

Gaia, que ocorre devido à incapacidade de implementar uma politica concreta de

investimentos, que advém da ausência da definição de objectivos por parte dos próprios

poderes locais responsáveis, situação que conduz a uma requalificação funcional conduzida

quase em exclusivo pelos investimentos privados, nomeadamente no que diz respeito às

actividades turísticas e de lazer, seja ele diurno ou nocturno. No segundo caso, e após uma

decisão da Câmara Municipal de Matosinhos de procurar recuperar o espaço em questão,

concluiu-se por serem as actividades de lazer nocturno as que mais poderiam contribuir para

uma requalificação funcional da antiga área industrial do concelho, em função da sua

reconhecida capacidade para revitalizar espaços que sofram de um acentuado processo de

abandono/degradação. Assim, e em virtude de se terem verificado fortes investimentos

privados, incentivados pela politica de baixos preços praticada pela Câmara para aqueles

espaços, surgiram uma série de estabelecimentos de lazer nocturno, na tentativa de criar um

pólo alternativo aos tradicionais pólos da Ribeira Portuense e da Foz. No entanto, a ideia

inicial acabou por não ser totalmente bem sucedida, pois ao haver uma preferência por uma

115 JANSEN-VERBEKE, Myriam - Inner city leisure resources, em «Leisure Studies», Vol. 4, N° 2, Londres, 1985, p. 143.

102


concentração de espaços de grande dimensão (justificada por se tratar de uma zona de

antigos armazéns), verificou-se a falta dos pequenos espaços de lazer nocturno que

diversificam a tipologia de ofertas existente, e que são essenciais para o correcto

desenvolvimento da atractividade de uma área, pelo seu importante papel no atrair e fidelizar

de diferentes clientelas. No último exemplo, o da zona industrial de Ramalde, devido a

partir-se de uma situação quase ideal, caracterizada pela presença de bons acessos e de

espaços a preços bastante acessiveis e pela ausência por completo de qualquer tipo de

vizinhança em redor, tudo apontava para a criação de uma alternativa concreta aos espaços

tradicionais anteriormente citados, situação que acabou por não se verificar, devido à

existência já em pleno funcionamento de uma zona com características similares, quer de

dimensão dos estabelecimentos, quer de clientela-tipo a atrair (a antiga zona industrial de

Matosinhos), bem como devido à inexistência de uma multiplicidade de pequenos espaços

de lazer que pudessem fazer a diferença em termos de variedade de ofertas, em relação às

áreas já existentes.

Além destes exemplos anteriormente citados, que iniciaram processos de recuperação e

requalificação funcional dos seus espaços urbanos já há alguns anos, existem áreas

degradadas em que o processo de recuperação/requalificação funcional se está a iniciar,

como, por exemplo, a área de Massarelos, em plena cidade do Porto. Trata-se de uma área

que é encarada como um espaço alternativo no futuro à Ribeira Portuense, que terá

necessariamente de passar por um processo de "up-grading" das suas actividades

económicas de lazer, devido a ter sido classificada como sendo Património Mundial,

situação que conduzirá inevitavelmente ao encerramento de muitas dessas actividades,

devido à total incapacidade que revelam de fazerem face às alterações qualitativas que irão

ser exigidas pelos organismos responsáveis. Deste modo, a área de Massarelos afigura-se

como um destino priveligiado para muitas destas actividades, devido à sua proximidade e ao

facto de apresentar um ambiente similar ao da Ribeira, quer devido à presença do Rio

Douro, quer em termos de tipicidade oferecida, situação que somente é perturbada pela

inexistência de alternativas viáveis de estacionamento, e que poderá contribuir para o

afastamento de potenciais investidores. Como incentivo a esta mudança, regista-se já a

presença de alguns espaços de lazer nocturno, que procuraram beneficiar do facto de serem

103


os pioneiros na implementação de uma nova tendência, e que tentam atrair com o seu

exemplo outros investidores, de modo a ser possível reproduzir o ambiente vivido na própria

Ribeira Portuense, em que a complementaridade116 proporcionada pela multiplicidade de

actividades existentes é a grande responsável pelo sucesso obtido por esta área.

3. 3. 1. Aspectos negativos da acção das actividades de Lazer Nocturno sobre o

Território

Da conjugação da acção das diversas actividades de lazer nocturno sobre o território em

análise, realça a constatação da existência de uma série de problemas, problemas esses

responsáveis em muitos casos pela imagem negativa de que usufruem algumas actividades

de lazer nocturno perante a sociedade em geral. Desde uma evidente sobrecarga do espaço

viário, até à degradação de alguns espaços colectivos, passando por uma crescente poluição

sonora e ambiental, entre outros, identificam-se uma série de factores negativos que

prejudicam a afirmação das actividades de lazer nocturno como parte integrante da

sociedade perante as populações envolventes, situação que termina em muitos casos em

protestos generalizados, que podem conduzir inclusivamente ao encerramento compulsivo

dos espaços de lazer nocturno visados.

No que diz respeito a uma sobrecarga dos espaços viários, é de referir que esta acontece

devido a uma completa inadequação da rede viária existente nas zonas antigas da cidade às

necessidades dos meios de transporte modernos. O facto de as zonas tradicionais, no que diz

respeito à concentração de actividades de lazer nocturno, se encontrarem situadas em áreas

antigas da cidade do Porto, como sejam a zona da Ribeira e da Foz, áreas que se

caracterizam por possuírem ruas estreitas, que proporcionam reduzidas ou nulas

possibilidades de estacionamento, e que se revelam por esse motivo sem qualquer

preparação para receber o fluxo de veículos registado nos picos de frequência habituais

116 LAW, Christopher - Urban Tourism and its contribution to Economic Regeneration, em «International Perspectives in Urban Studies I», Cap. 11, s.l., s.e., s.d., p. 277.

104


(fins-de-semana, vésperas de feriados e períodos de férias), contribui para o coro de

protestos generalizado que se faz ouvir por parte dos seus habitantes.

Também importante revela ser a degradação progressiva da qualidade dos espaços

colectivos envolventes, que resulta de uma concentração excessiva de actividades de lazer

nocturno em determinadas áreas, e do facto de a sua utilização se registar em períodos

especificos, de forma intensiva. Tal situação acontece principalmente devido à falta de

civilidade que caracteriza muitos dos utilizadores destas infraestruturas de lazer, mais

preocupados com a obtenção de um prazer imediato, do que com as consequências

negativas que o seu comportamento poderá acarretar para os moradores da área em que

estão inseridas estas actividades, nomeadamente no que diz respeito ao constante perturbar

da sua vivência.

Por último, e no que diz respeito a situações de acentuada poluição sonora e ambiental, é de

referir que devido à própria natureza das actividades de lazer nocturno, que funcionam a

maior parte das vezes com o contributo de um ambiente musical, e devido ao facto de estas

atraírem a concentração de um grande número de indivíduos, contribui logo à partida para a

existência de uma poluição sonora e de uma perturbação na vivência de outros elementos da

sociedade, que se situem na sua envolvência. No entanto, é de salientar que muitas das

situações de poluição verificadas não são da responsabilidade directa dos próprios

proprietários das actividades, mas sim resultantes dos comportamentos assumidos pelos seus

frequentadores no exterior dos espaços de lazer considerados, que advém de uma falta de

civilidade generalizada referida anteriormente.

3. 4. Análise prática da actualidade existente

No momento de seleccionar a temática a analisar no âmbito desta dissertação, é de referir

que se procurou confirmar previamente da inexistência de trabalhos similares dentro do

mesmo campo científico, de modo a ser possível elaborar algo de absolutamente novo, que

permitisse compreender a evolução de um determinado fenómeno - neste caso, o das

actividades de lazer nocturno - numa determinada área, e a forma como essa evolução

105


afecta, quer o desenvolvimento do território, quer a vivência dos próprios elementos da

sociedade nela inseridos.

O território em questão, que abrange os Concelhos de Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto,

Valongo e Vila Nova de Gaia, foi seleccionado em função da centralidade e proximidade

entre concelhos que apresenta, bem como devido ao facto de representar dentro da própria

região um papel importante como um todo homogéneo. O objectivo principal desta selecção

era o de procurar verificar até que ponto a presença de um concelho como o do Porto,

centralizador em termos de variedade e quantidade de estabelecimentos de lazer nocturno

que oferece, afectaria o modo de distribuição das actividades estudadas nos concelhos

existentes na sua envolvência.

Com o trabalho desenvolvido neste capitulo, mais especificamente, procurou-se estudar a

distribuição das unidades funcionais, de modo a ser possível salientar a existência de

concentrações ou grandes vazios, a presença ou não de estabelecimentos isolados, bem

como o tentar quantificar da importância dos centros (sejam eles regionais, como por

exemplo, a própria cidade do Porto, ou locais, como por exemplo, a sede de cada concelho)

na definição da localização assumida pelas actividades de lazer nocturno em funcionamento.

Dentro deste contexto, procura-se ainda analisar as questões relacionadas com

acessibilidades, de modo a verificar até que ponto a existência de boas vias de comunicação

direccionadas para a cidade do Porto, cria uma monopolização das potenciais clientelas dos

concelhos envolventes, ou se estes são capazes per si de criarem uma dinâmica própria,

dinâmica essa que seja capaz de evitar o abandono da proximidade das suas áreas

residenciais por parte de quem procure a frequência de actividades de lazer nocturno.

Na tentativa de concretizar os objectivos anteriormente definidos, optou-se por estabelecer a

seguinte estruturação deste capítulo: numa primeira parte proceder-se a uma análise, em

todo a área seleccionada, do total do número de estabelecimentos por freguesias, sem

qualquer divisão em termos de categorias. Numa segunda parte, analisar, também em todo o

território seleccionado, o número total de estabelecimentos existentes em cada freguesia, em

função da divisão anteriormente executada em cinco categorias diferenciadas. Por último, e

numa terceira parte, procura-se um estudo individualizado da realidade existente em cada

concelho, recorrendo-se para tal aos valores totais do número de estabelecimentos presentes

106


e à sua localização exacta, de modo a tentar quantificar a possível existência de centros de

maior importância em termos de concentração de actividades de lazer nocturno.

Como informação complementar, é de referir que a totalidade dos dados utilizados na

elaboração de cartografia, bem como na análise do número de estabelecimentos existentes,

são dados referentes a 1 de Janeiro de 1996, sendo esse dia considerado como de referência,

visto que a partir desse momento se optou por não efectuar qualquer actualização na lista

até então elaborada, devido ao dinamismo que caracteriza as próprias actividades

seleccionadas, que impossibilita uma constante actualização dos dados anteriormente

recolhidos.

3. 4.1. Análise dos Totais por Freguesias

Da observação da Figura 2, que retrata o número total de estabelecimentos presente em

cada freguesia em todo o território seleccionado, salienta-se a existência de uma

concentração de actividades de lazer nocturno nas freguesias possuidoras de uma maior

centralidade do concelho do Porto, como por exemplo, São Nicolau (com 52 unidades

funcionais), Cedofeita (39), Sto Ildefonso (38) e Bonfim (32), que reflectem fenómenos de

recuperação e requalificação funcional ( no caso de São Nicolau) e de antiguidade ( no caso

das três restantes, visto serem onde se localizaram os primeiros focos de actividades de lazer

nocturno na cidade do Porto). No entanto, é de referir não ser no concelho do Porto que se

encontra a freguesia com maior número de actividades registadas, mas sim no concelho de

Matosinhos, na própria freguesia de Matosinhos, com 58 unidades funcionais presentes. Tal

situação é reflexo de uma evolução sustentada ocorrida desde a década de 60, relacionada a

principio com a presença do Porto de Leixões e com os barcos que ali atracavam,

posteriormente com o incremento existente no número de Restaurantes e similares baseados

na divulgação de produtos marinhos, e mais recentemente na acção empreendida pela

própria Câmara Municipal com a reconversão da antiga zona industrial, contributos que se

mantiveram, e que originaram o elevado número de estabelecimentos que ali se encontra

actualmente. Como complemento, é de referir também a freguesia de Leça da Palmeira, que

107

As Actividades de Lazer Nocturno na Cidade do Porto e seus Arredores: uma visão geográfica

Figura 2. Distribuição por Freguesias do Total de Estabelecimentos de

Lazer Nocturno

Fonte: Levantamento do Autor

108


com 20 unidades funcionais, contribui para o incremento da atractividade daquela área em

particular. Em resumo, pode-se concluir da importância do centro do concelho do Porto e

do eixo Matosinhos-Leça da Palmeira, bem como das freguesias isoladas de Vila Nova de

Gaia-Santa Marinha (33), Foz do Douro (21) e de Ramalde (também com 21), estas três

com características muito próprias, como sendo as áreas onde se encontram concentrados

um maior número de estabelecimentos, situação que contribui para um incremento da

elevada atractividade de que são possuidores.

Também importante revela ser a presença ao longo de toda a linha costeira considerada de

um número significativo de estabelecimentos, que procuram proporcionar à suas clientelas

um modo diferenciado de usufruirem das condições naturais providenciadas por esses

mesmos espaços, nomeadamente sob a forma de lazeres nocturnos. No entanto, é de

ressalvar a limitação temporal ao funcionamento que afecta estes estabelecimentos em

particular, que assim concentram o grosso da sua actividade nos meses de Abril a Outubro,

devido ao facto de neste período as condições climatéricas proporcionarem uma plena

fruição do ambiente existente. Dentro desta área, e para além das já anteriormente citadas,

são de salientar as freguesias de Nevogilde (com 10 unid. funcionais), Canidelo (16) e

Valadares (8), como as mais importantes, apesar de todas as restantes possuirem um número

razoável de estabelecimentos.

Para o interior, é de referir o reduzido número de freguesias que possuem um número

significativo de estabelecimentos, sendo somente de salientar o papel assumido pelas sedes

de concelho, como por exemplo, Valongo (com 17 unid. funcionais), Gondomar (11) e Maia

(6), visto serem aquelas em que ocorre uma maior concentração. Também importante

revela-se o papel assumido por algumas freguesias secundárias dentro de alguns concelhos,

como por exemplo, Ermesinde (com 14 unid. funcionais), Rio Tinto (14) e Aguas Santas

(7), pelo possibilitar de frequência de actividades de lazer nocturno na proximidade das suas

residências. Como factor curioso, é de referir que nos concelhos de Gondomar e da Maia, as

freguesias ditas secundárias apresentam um número de actividades de lazer nocturno

superior ao das próprias sedes de concelho.

Para finalizar esta análise, é de salientar a inexistência de qualquer actividade de lazer

nocturno em um terço das freguesias englobadas no território considerado, situação que

109


advém, quer da interioridade que registam, quer da existência de boas vias de comunicação

em direcção a locais de concentração situados noutras freguesias, e que é responsável por

esta ocorrência. Por concelhos, é de referir que no concelho da Maia 52% das freguesias se

encontram nesta situação, enquanto que no pólo oposto se encontra o concelho do Porto,

com somente 7% das freguesias nesta situação.

3. 4. 2. Análise do número total de estabelecimentos por Freguesia, segundo as cinco

categorias previamente definidas

Do estudo da figura 3, que retrata a distribuição no território em questão das actividades de

lazer nocturno englobadas no grupo dos Restaurantes e Similares ( que inclui também

Cervejarias, Churrasqueiras e Pizzarias), salienta-se como factor mais importante o reduzido

número de estabelecimentos existentes. Tal situação ocorre essencialmente devido a dois

factores: Io) grande número de estabelecimentos, apesar de prestarem este tipo de serviços,

encontram-se registados sob outras formas, como por exemplo, Cafetarias; 2°) devido a

somente serem considerados, no âmbito deste trabalho, estabelecimentos que estejam em

funcionamento entre a meia-noite e as oito horas, o que limita o número de unidades a

considerar.

Após estas considerações introdutórias, e prosseguindo na análise da figura, é de realçar

como factor mais importante o facto de três quartos das freguesias em presença (61 em 83),

não possuirem qualquer estabelecimento registado, e que nos concelhos de Gondomar,

Valongo e Vila Nova de Gaia, somente uma freguesia possui um estabelecimento inserido

nesta caracterização. Em contraste, salienta-se o concelho do Porto, em que somente 2

freguesias em 15, não apresentam qualquer estabelecimento registado. No entanto, é de

referir, que nem todas as freguesias apresentam um panorama assim tão desolador, sendo

que as freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, com 16 e 5 unidades funcionais,

respectivamente (quase todas Cervejarias e/ou Marisqueiras, devido à especificidade da

oferta local), e de São Nicolau e Sto Ildefonso, com 7 e 4 unidades funcionais,

110


Figura 3. Distribuição do Total de Estabelecimentos de Lazer Nocturno do

tipo Restaurantes e similares por Freguesias


111


respectivamente, apresentam valores mais elevados, que indiciam a presença de potenciais

pólos de concentração.

Da análise da Figura 4, relacionada com a distribuição das actividades de lazer nocturno

englobadas no grupo das Cafetarias e similares (que inclui ainda Bufetes, Cafés,

Confeitarias, Pastelarias, Gelatarias, Esplanadas e Snack-Bares), salienta-se o facto de a

maior parte das freguesias seleccionadas possuírem um ou mais estabelecimentos, situação

que contrasta com a encontrada na caracterização anterior. Também como factores

importantes a considerar, é de registar a ocorrência de um fenómeno de concentração na

área mais central do concelho do Porto, que corresponde às freguesias de Cedofeita (com 16

unid. funcionais), São Nicolau (16) e Bonfim (15), bem como uma presença constante ao

longo de todo o litoral considerado, com particular incidência da freguesia de Leça da

Palmeira para Sul, de uma diversidade de estabelecimentos que procuram capitalizar as

condições naturais de que beneficiam. É de referir ainda a importância assumida por algumas

freguesias, que num contexto global se salientam pelo número de unidades funcionais que

possuem. Encontram-se neste caso as freguesias de Vila Nova de Gaia-Sta. Marinha, com

16 estabelecimentos (que procura beneficiar da atractividade exercida pela Ribeira

Portuense), de Matosinhos e da Foz do Douro, com 16 e 8 unidades, respectivamente

(devido ao facto de se situarem no litoral), e de Ermesinde (12), Valongo (12), Rio Tinto

(11) e Gondomar (8), que procuram oferecer alternativas à sua população residente, de

modo a esta evitar deslocar-se para o concelho do Porto ou para o litoral, em busca de um

estabelecimento de lazer nocturno inserido nesta caracterização.

Em contraste, para o interior do território considerado, que corresponde em particular às

áreas mais afastadas das sedes de concelho, regista-se a presença de um reduzido número de

estabelecimentos por freguesia, situação que advém de se tratarem de áreas essencialmente

rurais, e que em muitos casos não possuem um conjunto de ofertas variado, variedade essa

que evitaria a deslocação das populações para os locais onde se situam as principais

concentrações, que beneficiam assim de uma maior atractividade. Deste modo, constata-se

que nos concelhos da Maia e de Valongo mais de 50% das freguesias não possuem qualquer

112



tipo Cafetarias e similares por Freguesias


113

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: uma \isão geográfica

estabelecimento, sendo os valores exactos de 65% (11 em 17 freguesias) e de 60% (3 em 5),

respectivamente.

Na Figura 5, em que se estuda a distribuição no território considerado das actividades de

lazer nocturno inseridas no grupo dos Bares e similares (que inclui também Pubs e Clubes),

verifica-se a ocorrência de diversos fenómenos de concentração, que se situam

respectivamente na área central do concelho do Porto (freguesias de Cedofeita, com 15

unid. funcionais, Sto. Ildefonso, com 13, e Bonfim, com 12), no eixo Ribeira Portuense-

Ribeira de Gaia (freguesias de São Nicolau, com 29 unid. funcionais e de Vila Nova de

Gaia-Sta. Marinha, com 14), no eixo Matosinhos (21)-Leça da Palmeira (9), bem como nas

freguesias isoladas da Foz do Douro (10), Canidelo (10) e Ramalde (10). Tais situações

ocorrem por motivos diversos: no primeiro caso, devido a fenómenos de antiguidade, visto

terem sido nestas freguesias que surgiram as primeiras ofertas registadas; no segundo,

devido à recuperação recente da Ribeira Portuense, inserida no Programa CRUARB, de que

resultou um aumento da sua atractividade e de que beneficiou por proximidade a vizinha

Ribeira de Gaia; no terceiro caso, devido à existência desde os anos 60 de toda uma série de

locais destinados à prática de actividades de lazer nocturno (que foram sendo

progressivamente remodelados), situação que aliada ao surgir de novos espaços,

incrementou a atractividade anteriormente existente; e por último, no caso das freguesias

isoladas, as duas primeiras procuram beneficiar das condições naturais oferecidas pelos

próprios locais, enquanto que na última se trata de um fenómeno recente, que procura tirar

partido das instalações industriais existentes no local, através da sua adaptação para a

prática de actividades de lazer nocturno. Para além de todas estas situações, é de referir a

presença ao longo de todo o litoral considerado de actividades de lazer nocturno englobadas

nesta caracterização, que indiciam um aproveitamento crescente das possibilidades naturais

oferecidas.

Contrastando com a ocorrência de todas estas concentrações, é de referir a inexistência em

mais de 50% do total das freguesias consideradas de qualquer estabelecimento inserido neste

tipo de caracterização. Assim, e como exemplos de situações extremas, salientam-se os

concelhos da Maia e de Gondomar, que apresentam valores da ordem dos 82% (14 em 17

114



tipo Bares e similares por Freguesias


115


freguesias) e dos 75% (9 em 12), respectivamente. Tratam-se de freguesias que possuem, na

maior parte dos casos, de boas vias de comunicação direccionadas para as áreas de

concentração anteriormente consideradas, situação que origina uma deslocação dos seus

habitantes em busca da variedade e da diversidade que as suas freguesias de residência não

possuem.

Na análise da Figura 6, que retrata a distribuição no território considerado das actividades

de lazer nocturno inseridas no grupo das Discotecas e similares (que inclui ainda Night

clubs, Bôites e Dancings), é de referir, como factor mais saliente, o reduzido número total

de estabelecimentos existentes, quando comparado com o da caracterização anterior, sendo

que tal situação ocorre devido ao facto de parte dos estabelecimentos inseridos nessa

caracterização exercerem uma actividade similar à exercida por estabelecimentos deste

grupo, em termos de funções e horários de funcionamento, como por exemplo, os bares que

funcionam como discotecas até de madrugada.

As principais concentrações registadas encontram-se no centro do concelho do Porto, nas

freguesias de Sto. Ildefonso (com 9 unid. funcionais), Bonfim, Cedofeita e Paranhos (cada

uma com 3 unid. funcionais), e no eixo Foz do Douro-Nevogilde-Matosinhos-Leça da

Palmeira, com 2, 2, 6 e 2 unidades, respectivamente. Fora deste locais encontram-se

numerosos estabelecimentos isolados, dispersos um pouco aleatoriamente por todo o

território, que não representam qualquer fenómeno de concentração, mas que assumem uma

função essencial na fixação das populações que habitam na sua envolvência.

Como pormenor também importante, é de referir o facto de 64% das freguesias

consideradas (53 num total de 83) não possuirem qualquer estabelecimento, sendo de realçar

os casos dos concelhos da Maia e de Vila Nova de Gaia onde esta situação se verifica com

maior intensidade, visto que estes apresentam valores de 76% (13 em 17 freguesias) e de

71% (17 em 24), respectivamente. A distribuição no território seleccionado das freguesias

que não possuem qualquer estabelecimento é bastante aleatória, visto que tanto engloba

freguesias situadas no litoral, como próximas das sedes de concelho, como afastadas dessas

mesmas sedes. Inclusivamente, dentro do próprio concelho do Porto (concelho que

apresenta o número mais baixo de freguesias sem qualquer unidade, 40% do seu total), em

116



tipo Discotecas e similares por Freguesias


117


freguesias com elevado número de actividades de lazer nocturno inseridas noutras

caracterizações, como sejam, São Nicolau, Massarelos e Miragaia, verifica-se tal situação, o

que somente vem atestar da especificidade inerente a esta caracterização.

Por último, da observação da Figura 7, que representa a distribuição no território das

actividades de lazer nocturno englobadas no grupo das Salas de Jogo (que inclui Bilhares,

Bingos e Casinos), salienta-se o reduzidíssimo número de unidades funcionais existentes

(somente 14 referenciadas), bem como o facto de 93% das freguesias consideradas não

possuírem qualquer estabelecimento registado. Tal situação deve-se ao facto de se tratar de

uma actividade praticada essencialmente em horários não abrangidos no âmbito deste

trabalho, bem como à sua extrema especificidade, que já de si não se revela como sendo

capaz de atrair grande número de potenciais frequentadores. Para além disso, regista-se a

extrema dificuldade em obter licenças de funcionamento para Bingos e Casinos, por

exemplo, devido a serem estabelecimentos que se regem por quadros legislativos bastante

restritivos. Como factor demonstrativo desta realidade, refira-se que nos concelhos da Maia,

de Gondomar e de Vila Nova de Gaia, não se encontra a laborar no horário de

funcionamento anteriormente citado como de referência, qualquer estabelecimento inserido

neste grupo especifico.

No entanto, ainda se conseguem identificar as freguesias de Cedofeita e Sto. Ildefonso (com

4 e 3 unid. funcionais, respectivamente), no centro do concelho do Porto, como

responsáveis por um potencial fenómeno de concentração, bem como o caso isolado da

freguesia de Matosinhos, que apresenta 3 unid. funcionais. Além destes casos, refira-se a

existência de mais três estabelecimentos isolados, situados nas freguesias de Leça da

Palmeira, Alfena e Campanhã, respectivamente, sendo que nas restantes 77 freguesias

consideradas não se encontra em funcionamento um único estabelecimento.

118



tipo Jogo e similares por Freguesias


119


3. 4. 3. Análise individualizada da realidade existente em cada concelho, por totais por

freguesia.

O principal objectivo que se pretende atingir com a análise individual à realidade de cada

concelho, no que diz respeito à localização de actividades de lazer nocturno, é o de procurar

qualificar o modo como essa distribuição se relaciona com os principais aglomerados

urbanos presentes, bem como qual o efeito estruturante desempenhado pela existência de

boas vias de comunicação, que potencialmente facilitam a acessibilidade a outros locais, no

incremento ou diminuição da capacidade de fixação das clientelas exibida pelas actividades

de lazer nocturno consideradas.

Numa tentativa de ordenar com coerência os concelhos seleccionados, optou-se por iniciar

estas análises pelo concelho do Porto, devido a este ser o concelho com maior peso em

termos numéricos e de maior importância em termos de diversidade e variedade oferecida,

seguindo-se o estudo de todos os restantes concelhos por ordem alfabética, sem a adopção

de qualquer critério de ordenamento.

No concelho do Porto, como se constata a partir da análise da Figura 8, regista-se a

ocorrência de uma maior concentração de estabelecimentos de lazer nocturno no eixo Baixa-

Ribeira, sendo de realçar a importância deste último local, devido ao facto de aí se

localizarem as ofertas mais tipicas, que permitem a criação de um ambiente único em todo o

concelho. De primordial importância neste local revela ser o conjunto Rua da Fonte Taurina-

Pç.da Ribeira-Cais da Ribeira e ruas adjacentes, pelo número de unidades funcionais que

alberga, situação só tornada possivel pela requalificação funcional por que passou a Ribeira

Portuense após a introdução do Programa CRUARB. A opção da Câmara Municipal do

Porto em dotar este espaço de melhores condições de vivência, objectivo do Programa

CRUARB, permitiu uma recuperação que contribui para o tornar um ex-libris da cidade,

que foi aproveitada de imediato pelos agentes envolvidos em actividades de lazer nocturno,

em virtude das potencialidades turísticas oferecidas pela área.

Também importante, como representativa de um potencial fenómeno de concentração,

revela-se a costa marítima do concelho, desde o Jardim do Passeio Alegre até ao Castelo do

120


Figura 8. Distribuição dos Estabelecimentos de Lazer Nocturno no concelho do Porto

121


Queijo, devido à crescente presença de actividades de lazer nocturno nas suas mais variadas

formas, que procuram explorar as condições naturais oferecidas pelo próprio espaço.

Em contraste com estas situações, verifica-se a existência dentro do próprio concelho do

Porto de algumas áreas com um reduzido número de ofertas, como sejam, por exemplo, a

freguesia de Campanhã para Este da linha da CP; a quase totalidade da freguesia de

Paranhos, com excepção da Rua de Costa Cabral e do lado Norte da Rua da Constituição; a

freguesia de Ramalde, com excepção da sua zona industrial; toda a freguesia de Aldoar, em

que não se regista uma única oferta, bem como o reduzido número de estabelecimentos

existente nas freguesias de Lordelo do Ouro (9), da Sé (10), de Miragaia (10) e da Vitória

(13), apesar de toda a sua centralidade. É de realçar ainda o completo abandono a que se

encontra votado o espaço que medeia entre a Igreja de São Francisco e o Jardim do Passeio

Alegre, em que, salvo raras excepções, não se procura explorar a ambiência ribeirinha que se

encontra presente, situação que acontece noutras grandes cidades europeias, optando-se por

concentrar o grosso das actividades na zona da Ribeira.

Como comentário à disposição de estas concentrações e vazios de ofertas, pode-se afirmar

que o concelho do Porto se caracteriza por apresentar um elevado número de unidades

funcionais dispersas pelo seu espaço urbano, situadas quase sempre ao longo dos seus

principais eixos rodoviários, como por exemplo, Av. Fernão de Magalhães, Rua da

Constituição, Av. da Boavista, entre outros, e por uma concentração ocasional em espaços

fechados de diversos Centros Comerciais ("Dallas" e "Stop", por exemplo), localizações

essas que procuram "combater" a hegemonia das principais concentrações.

Em termos de evolução, é de referir a expansão recente para novas áreas que se tem vindo a

verificar nos últimos três/quatro anos, como por exemplo, para a zona industrial de Ramalde

e para a faixa ribeirinha de Massarelos, como um possivel contraponto a um futuro

esgotamento das áreas tradicionais: Ribeira, Foz, conjunto Bonfim-Sto Hdefonso-Cedofeita,

por exemplo.

Dentro da variedade de actividades proporcionada, não se verifica o predomínio de qualquer

uma, havendo somente a registar a moderada importância assumida pelos Bares e seus

similares, que com 125 unidades funcionais, são responsáveis por 43% das ofertas totais

presentes no concelho.

122


Na Figura 9, representativa da distribuição das actividades de lazer nocturno no concelho da

Maia, salienta-se o facto de o concelho apresentar um reduzido número de unidades

funcionais, somente 23, com uma concentração clara nos aglomerados urbanos da Maia e de

Águas Santas, que com 6 e 7 unidades funcionais, respectivamente, aglutinam 60% do total

de estabelecimentos.

E de realçar também a presença de um elevado número de freguesias, nove (52% do total),

que não registam qualquer tipo de ofertas, situação que aliada à existência de um reduzido

número de estabelecimentos dispersos, que procuram somente captar a sua população

envolvente, prefigura uma situação de permanente deslocação dos habitantes do concelho da

Maia para os concelhos limítrofes do Porto e de Matosinhos, que devido à sua proximidade

e ao facto de serem acessíveis por boas vias de comunicação ( NI3 e NI4), atraem os

potencias frequentadores da Maia para estabelecimentos aí situados.

No concelho da Maia constata-se ainda uma clara predominância dos estabelecimentos

englobados no grupo Cafetarias e similares, que com 12 unidades funcionais, representam

55% do total de ofertas.

No que diz respeito ao concelho de Matosinhos, é de referir, como se pode observar na

Figura 10, que as maiores concentrações se encontram situadas nos aglomerados urbanos de

Matosinhos (conjunto das Ruas Roberto Ivens, Brito Capelo, Tomás Ribeiro e São Roque),

e de Leça da Palmeira (Largo do Castelo e toda a sua área envolvente), e na antiga Zona

Industrial (concentração recente, já na década de 90, a partir de uma recuperação

incentivada pela própria Câmara Municipal de Matosinhos). Como corolário desta situação,

é de referir, dentro do concelho, a importância assumida pelas freguesias de Matosinhos e de

Leça da Palmeira, que se destacam por albergarem 80% das existências. Para além disto,

salienta-se somente a presença de alguns estabelecimentos isolados ao longo da linha

costeira, de implementação recente, que procuram benficiar das condições naturais

oferecidas, estando o seu funcionamento limitado ao tempo de veraneio.

Como contraponto a esta situação, regista-se a ausência, quase por completo, de qualquer

outra oferta em todo o concelho, visto serem raros os estabelecimentos que se apresentam

isolados, opção que se compreende por os estabelecimentos existentes procurarem

123


Figura 9. Distribuiçíío dos Estabelecimentos de Lazer Nocturno no

concelho da Maia


124


Figura 10. Distribuição dos Estabelecimentos de Lazer Nocturno no

concelho da Matosinhos


125


beneficiar de uma maior atractividade que lhes é proporcionada pelo colectivo. Deste modo,

constata-se que 4 freguesias (40% do total) não apresentam qualquer estabelecimento,

sendo que estas se situam predominantemente no interior do concelho. Regista-se também

um reduzido número de estabelecimentos situados ao longo dos principais eixos de

comunicação (NI07, NI3, NI4 e NI2), que se revelam como mais importantes no

providenciar de uma boa acessibilidade aos locais de concentração já citados anteriormente.

Trata-se assim de um concelho que se caracteriza por possuir boas vias de comunicação, que

proporcionam uma boa acessibilidade aos locais de concentração de actividades de lazer

nocturno, seja a quem lá reside, seja a quem se desloque de outros concelhos, limítrofes ou

não.

No que diz respeito à diversidade de actividades existente, é de realçar que esta é

equilibrada, não assumindo nenhum grupo de actividades uma predominância excessiva

(com, por exemplo, mais de 50% do total), sendo somente de referir a apreciável dimensão

numérica apresentada pelo grupo dos Restaurantes e similares, quase exclusivamente sob a

forma de Cervejarias ou Marisqueiras, que se deve à presença do porto de pesca de Leixões.

Da observação da Figura 11, que retrata a distribuição das actividades de lazer nocturno no

concelho de Gondomar, salienta-se o facto de as maiores concentrações se registarem nos

aglomerados urbanos de Gondomar, Rio Tinto e de São Pedro da Cova, sendo que somente

duas freguesias - Gondomar e Rio Tinto - concentram quase 60% do total de

estabelecimentos existentes (57% para ser mais exacto). Tal situação deve-se ao facto de

estas freguesias concentrarem o grosso da população do concelho, por se situarem numa

zona de maior proximidade ao concelho do Porto (principal destinatário em termos laborais

para quem habita no concelho de Gondomar), sendo o restante concelho predominantemente

rural, logo menos propício à instalação de estabelecimentos de lazer nocturno, visto estes

necessitarem de uma determinada população na sua envolvência para poderem sobreviver.

E de referir, no entanto, o reduzido número de freguesias que não possuem qualquer tipo de

estabelecimentos de lazer nocturno - somente 2 (17% do total). Tal situação indicia a

existência de diversas freguesias com um reduzido número de ofertas (1/2), mas que não são

completamente desprovidas destas actividades. Verifíca-se assim a existência de um número

126



concelho de Gondomar


127


razoável de unidades dispersas, que se distribuem ao longo dos principais eixos de

comunicação, como, por exemplo, a NI5 ou a NI08, numa tentativa de captarem o maior

número possivel de clientes.

No que diz respeito ao tipo de estabelecimentos existentes, é de referir uma clara

predominância do grupo das Cafetarias e similares, que com 35 unidades funcionais,

representam 80% do total de existências. Tal situação é explicada por ser o tipo de lazer

nocturno que pode ser frequentado numa situação pós-laboral, sem, no entanto, prejudicar a

actividade laboral que possa vir a ser exercida no dia seguinte.

Já no concelho de Valongo, como se pode constatar a partir do estudo da Figura 12,

verifica-se a existência de duas grandes concentrações, que se situam nos aglomerados

urbanos de Valongo e de Ermesinde, responsáveis por 94% das ofertas existentes em todo o

concelho (31 em 33 unidades funcionais). As restantes unidades funcionais - somente 2 -

encontram-se isoladas, situadas ao longo dos principais eixos viários, como são a NI05 e a

N607, numa tentativa de atraírem um elevado número de potenciais clientes, verifícando-se

ainda que o restante território do concelho não apresenta qualquer estabelecimento

registado. Tal situação deve-se à presença próxima do concelho do Porto, que devido ao

facto de ser bastante acessível pelas boas vias de comunicação existentes, atrai um elevado

número de habitantes deste concelho para a frequência de estabelecimentos situados no seu

interior.

No que diz respeito à caracterização dos estabelecimentos de lazer nocturno em presença, é

de referir a predominância das Cafetarias e similares, que com 24 unidades funcionais,

representam 73% do total das ofertas existentes.

Para finalizar este capitulo, da análise da Figura 13, representativa da distribuição das

actividades de lazer nocturno no concelho de Vila Nova de Gaia, realça o facto de a

principal concentração se encontrar situada na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, na Av.

Diogo Leite e ruas adjacentes, em frente à Ribeira Portuense, e que beneficiando de um fácil

acesso a ela (via tabuleiro inferior da Ponte D. Luis), incrementa a sua própria atractividade.

Além desta, revela-se também como importante a Av. da República, pelo número razoável

128

As Actividades de Lazer Nocturno na Cidade do Porto e seus Arredores: uma visa'; geográfica


concelho de Valongo


129



concelho de Vila Nova de Gaia

0 1 2 3 4 ^ S S S M M C B S S a B B B B KM


130


de estabelecimentos de lazer nocturno que alberga ao longo do seu curso. Como corolário

desta situação, constata-se que somente duas freguesias - Sta. Marinha e Mafamúde -

concentram 40% do total de ofertas, devido a possuírem em conjunto um total de 45

unidades funcionais.

É de salientar também a existência de um elevado número de estabelecimentos dispersos,

muitos deles em pequenos conjuntos de 3/4/5, situados em grande parte ao longo dos

principais eixos de comunicação ( por exemplo, NI09, N622, NI, entre outros), e de um

elevado número de estabelecimentos situados ao longo da costa marítima. Tal ocorrência

verifíca-se com maior incidência na freguesia de Canidelo (com 16 unidades funcionais),

sendo uma clara maioria (10) Bares, que procuram explorar as condições naturais oferecidas

pelo local em épocas de veraneio, mas também se verifica nas freguesias da Madalena,

Valadares, Gulpilhares e Arcozelo, em menor escala.

No que diz respeito à caracterização dos estabelecimentos de lazer nocturno existentes, é de

referir que somente dois grupos - o das Cafetarias e similares e o dos Bares e similares - são

responsáveis por 91% das ofertas totais em presença, provavelmente devido ao peso das

actividades turísticas que se desenvolvem neste concelho, relacionadas com o Vinho do

Porto, e que se expressam com maior facilidade nestes dois grupos de actividades.

3. 5. Análise pormenorizada de alguns estabelecimentos de Lazeres Nocturnos

No desenvolvimento deste capitulo procurou-se elaborar uma caracterização dos diversos

espaços de lazer nocturnos existentes em função da sua clientela, tendo sempre como

reserva117 mental o facto de a frequência registada por um determinado estabelecimento de

lazer não ser homogénea, originando situações em que se tem presente classes sociais, faixas

etárias e capacidades económicas distintas, o que vai contribuir para a ocorrência de

comportamentos diferenciados, comportamentos esses que dificultam a pretensão

previamente estabelecida de classificar os diferentes locais de uma forma sistematizada.

117 THORNTON, Sarah - Club Cultures: Music, Media and Subcultural Capital, Cambridge, Polity Press, 1995.

131


Deste modo, partindo da definição de uma clientela-tipo que permite a identificação de um

local em função de quem o frequenta, foram seleccionados diversos estabelecimentos, que se

caracterizam por os indivíduos que os frequentam apresentarem especificidades únicas,

situação que permite a sua catalogação em termos etários e sócio-económicos.

Para uma melhor compreensão desta catalogação, é de referir, no entanto, que não foram os

frequentadores, através da sua participação, que definiram a clientela-tipo apresentada pelos

diversos estabelecimentos de lazer nocturno existentes, mas sim os seus proprietários, que

no momento de inicio de actividade, ao decidirem o tipo de música e de decoração oferecida

e o comportamento a assumir pelos seus empregados, seleccionaram qual a clientela que

procuravam atrair, quer em termos etários, quer em termos sócio-económicos. Assim, para

uma análise pormenorizada do funcionamento dos diversos estabelecimentos revela-se como

mais importante considerar o seu comportamento no tempo, que define a sua capacidade

para manter uma clientela-tipo, do que o comportamento assumido pelos seus clientes, visto

que estes se caracterizam por alterarem com facilidade os seus padrões de frequência, em

função dos seus gostos e preferências de momento.

Por último, é de salientar que os estabelecimentos a seguir identificados foram seleccionados

de uma forma perfeitamente aleatória de entre uma série de espaços de lazer nocturno

similares, sendo o único critério de selecção relevante o possuirem uma clientela-tipo que os

identifique e tendo-se sempre em linha de conta o facto de somente se observar/analisar o

período temporal que interessa para esta dissertação. Posteriormente procedeu-se a uma

divisão em quatro grandes tipos de ofertas, de modo a respeitar as caracterizações das

actividades de lazer nocturno seguidas anteriormente, procurando-se obter uma

uniformização nas análises eleboradas.

3. 5.1. Cervejarias/Restaurantes

"Galiza"- estabelecimento que beneficia fortemente da sua localização na zona do

Campo Alegre para o atrair de clientela, bem como do facto de estar enquadrado num

conjunto de ofertas similares (por exemplo, Capa Negra II, Gambamar, Convívio), que

132


potenciam a capacidade de atracção evidenciada por cada espaço. Frequentado

essencialmente por trabalhadores do sector terciário e empresários, na sua secção de

restauração, e por elementos do meio universitário na sua secção de cervejaria, pertencentes

a um conjunto variado de faixas etárias, selecciona a sua clientela em função dos preços por

si praticados.

"Big Ben"- beneficia do seu posicionamento central na cidade do Porto para atrair

grande parte da sua clientela, bem como do seu horário de funcionamento, visto que este se

prolonga até às 6 horas da madrugada. Apresenta uma clientela extremamente diversificada

em termos etários e heterogénea em termos sociais, situação para a qual contribui a zona de

prostituição existente na sua envolvente, consubstanciada na presença de elementos do sexo

feminino ligados a esta actividade.

3. 5. 2. Cafés e similares

"Duvália"- unidade funcional que vê reflectida na sua clientela a sua situação

geográfica (estar situada na Rua do Campo Alegre), o que leva a que a seja frequentada,

quase em exclusivo, por moradores e trabalhadores das zonas do Campo Alegre e da Foz.

Baseia o seu atendimento num serviço de qualidade, variado nas suas ofertas, e que procura

atrair as suas clientelas em função do serviço prestado, sendo estas quase sempre

possuidoras de uma forte capacidade económica.

"Cafeína"- situado na Foz, existe para servir essencialmente os seus habitantes,

apresentando um ambiente recatado, com música ambiente e horário de encerramento

precoce (2 horas da manhã). É frequentado por uma clientela situada entre as faixas etárias

dos 25/40 anos, constituida essencialmente por elementos do meio universitário e por

trabalhadores do sector terciário, que procuram a pacatez do local, quer para uma refeição

completa, quer para um serviço de cafetaria, como contraponto à animação excessiva

presente em muitos outros locais.

133


"Encontro"- estabelecimento com um ambiente quase em exclusivo universitário,

apresenta uma frequência extremamente jovem, situada entre os 17/18 e os 25 anos de

idade. Sem possuir qualquer tipo de música, caracteriza-se por funcionar como uma espécie

de ante-câmara para aqueles que pretendem prolongar o seu divertimento pela noite fora,

originando o seu encerramento às 2 horas da manhã uma autêntica debandada em direcção à

zona da Ribeira. Em noites de Queima das Fitas apresenta um ambiente absolutamente

frenético, chegando a concentrar-se no seu interior um grande número de estudantes

universitários, que se procuram preparar para as noites que os esperam.

"Os Ribeirenses"- situado em plena Ribeira Portuense, está interligado com um

típico clube de Bairro, situação que contribui para uma separação efectiva de quem o

frequenta em relação aos clientes dos restantes espaços de lazer da Ribeira. Apresenta um

ambiente pitoresco, com uma clientela ecléctica em termos etários, mas composta

essencialmente por elementos do sexo masculino, que o frequentam após a refeição nocturna

para participarem em tertúlias à volta de um baralho de cartas, sendo quase sempre o tema

em presença o futebol.

'Traia da Luz"- espaço de lazer nocturno que regista um pico de frequência em

época de veraneio, fruto das condições em termos de infra-estruturas que apresenta,

nomeadamente o estar debruçado sobre o areal e o facto de não ter qualquer tipo de

cobertura. Funciona como café/bar, visto prolongar o seu horário de funcionamento até às

4/5 horas da manhã, reunindo no seu espaço a clientela típica dos bares da Foz, acrescida de

outros elementos, atraídos de toda a cidade e arredores. Frequentado essencialmente por

elementos pertencentes às faixas etárias dos 20 aos 40 anos de idade, possuidores de um

meio de deslocação próprio, que procuram um espaço ao ar livre, onde se ouvem êxitos de

grandes bandas e música de Tops. É de referir, no entanto, que quando as condições

atmosféricas registadas não são as mais favoráveis, este espaço perde quase toda a sua

clientela, em virtude de o espaço coberto ser diminuto e não apresentar as mesmas

condições de agradabilidade que o espaço descoberto em época de veraneio.

134


3. 5. 3. Bares

"Ribeirinha"- espaço de lazer frequentado quase em exclusivo por elementos

pertencentes ao meio universitário portuense, compreendidos na faixa etária entre os 18 e os

25 anos, que procuram usufruir do ambiente descontraido que proporciona. Quem frequenta

quase diariamente este espaço são elementos deslocados, que não possuem os seus

agregados familiares a residir no Porto ou arredores, e que ali encontram um relacionamento

afectivo entre o "staff' do estabelecimento e a clientela, baseado numa situação de mútuo

reconhecimento. Baseia o seu ambiente musical nos grandes êxitos de momento, sejam eles

portugueses ou internacionais, sempre na busca de manter um elevado grau de animação

toda a noite, até ao encerramento tardio do próprio espaço, que ocorre com regularidade

por volta das 6/7 horas da madrugada.

"Meia-Cave"- exemplo de um estabelecimento onde se concentram indivíduos

pertencentes ao meio artístico da cidade relacionado com as Belas-Artes, interligados por

laços de conhecimento, que procuram somente usufruir de um ambiente "low-profile", em

que não ocorre qualquer tipo de excitações e histerismos, tão característicos de outros

espaços de lazer. Frequentado essencialmente por elementos das faixas etárias com mais de

20 anos de idade, que se caracterizam por possuírem uma grande multiplicidade cultural,

proporciona um ambiente baseado na audição de músicas variadas, sejam elas de vanguarda

ou de jazz, por exemplo, que podem ser escutadas em noites especificas dedicadas às

diferentes temáticas musicais.

"Exótica"- espaço de dimensão reduzida, frequentado quase exclusivamente por

elementos do sexo masculino, pertencentes a faixas etárias superiores aos 30 anos, e que

possuem uma relevante capacidade económica, fruto normalmente da sua actividade

empresarial. Funciona com um horário de encerramento precoce (2 horas da manhã),

situação que favorece a sua frequência no trajecto Local de Trabalho-Habitação ou após a

refeição nocturna, sem que tal prejudique a normal actividade laboral do dia seguinte.

135


"Coqueiro"- espaço de lazer nocturno frequentado essencialmente por elementos de

raça negra, que procuram o ambiente descontraído proporcionado pela música étnica com

fortes raizes africanas que ali se escuta. Atrai elementos pertencentes às faixas etárias entre

os 20 e os 40 anos, oriundos das mais variadas actividades profissionais, que se chegam a

deslocar de grandes distâncias em busca do ambiente único que ali se usufrui.

"Copacabana"- apresenta um ambiente genuinamente brasileiro, sempre com música

ao vivo, que procura providenciar durante toda a noite uma grande animação a quem o

frequenta. Frequentado por elementos pertencentes às faixas etárias entre os 20 e os 40

anos, oriundos de toda uma diversidade de actividades profissionais, consegue funcionar

como pólo de atracção para toda a comunidade brasileira existente no Porto e seus

arredores, bem como para todos os apreciadores deste tipo de música em geral.

"Oh"- espaço de lazer de pequena dimensão, que procura proporcionar a toda a

população juvenil da Foz uma oportunidade de diversão, concentrada essencialmente nos

períodos de fim-de-semana ou de férias. Frequentado por uma clientela na faixa etária dos

15 aos 20 anos de idade, possuidora de uma capacidade ecoómica de relevo que advém dos

seus próprios agregados familiares, clientela essa que procura um ambiente descontraído,

baseado na oferta de grandes êxitos da música Pop, nacional e internacional, direccionados

especificamente para a sua faixa etária.

"Via-Rápida"- mega-bar de grande dimensão, baseado num antigo armazém

industrial, inaugurou este tipo de ofertas no espaço em análise (Porto e seus arredores).

Apresenta uma frequência de elementos pertencentes às faixas etárias entre os 20 e os 30

anos, ecléctica em termos sociais, mas constituída essencialmente por elementos do meio

universitário e por elementos ligados ao sector terciário. O seu período forte de

funcionamento é após as 3 horas da madrugada, momento em que atrai as clientelas que

abandonam as frequências de outros espaços de lazer nocturno. Trata-se de um local que

mantém o prestigio adquirido em outras épocas, sob outras gerências, e que apesar dos

sobresaltos periódicos por que regularmente passa, que coincidem com a abertura de

136


espaços similares, sempre manteve uma clientela fidelizada, que lhe permite ser um dos

pontos de referência da cidade em termos de actividade de lazer nocturno.

"Buffalo's"- apresenta um ambiente americanizado, com decoração fortemente

inspirada no Oeste Americano e na iconologia típica da própria sociedade Norte-Americana.

Trata-se de um espaço de grande dimensão, frequentado por uma clientela com mais de 25

anos de idade, pertencente ao meio empresarial ou ao sector terciário, seleccionada em

termos de conhecimentos ou da capacidade económica ostentada. O ambiente musical

oferecido baseia-se em grandes êxitos internacionais, com incursões frequentes na música de

origem latino-americana, assistindo-se a uma forte aposta em noites temáticas ou em

actividades paralelas (como passagens de modelos, por exemplo), que procuram rentabilizar

o espaço no seu máximo.

3. 5. 4. Discotecas / Night-Clubs

"Twins"- ostenta um ambiente seleccionado, em função essencialmente de um

conhecimento directo das suas clientelas. Frequentado por uma clientela extremamente

ecléctica em termos etários, que varia dos 15 aos 60 ou mais anos de idade, pertencente às

grandes famílias tradicionais portuenses, que sempre encararam a deslocação a este espaço

de lazer como uma actividade imprescindível, procurando passar de geração em geração tal

hábito. Oferece um ambiente musical baseado na selecção dos grandes êxitos internacionais

intemporais, ideais para ultrapassar as barreiras etárias sempre presentes.

"Indústria"- espaço de média dimensão, que resultou da adaptação de um antigo

cinema, ostenta um ambiente seleccionado, com elementos essencialmente dos meios

universitário, politico e artístico, baseado no conhecimento directo, e em que sempre se

procurou manter uma paridade entre elementos do sexo feminino e masculino no seu

interior. Apresenta uma clientela pertencente às faixas etárias entre os 20 e os 35 anos,

sendo as excepções os clientes de longa data que procuram manter uma presença sempre

137


constante. O ambiente musical oferecido baseia-se na música moderna, com raras incursões

em temas mais comerciais, sendo feita uma grande aposta em Noites Temáticas (como, por

exemplo, a noite It's Amazing, que ocorre na última Qunta-Feira de cada mês), que cultivam

toda uma legião de fiéis seguidores.

"Swing"- espaço de lazer caracterizado por possuir um ambiente extremamente

ecléctico em termos sociais, que atrai essencialmente elementos ligados aos meios

universitário e artístico. Apresenta uma variada frequência etária, que vai desde os 17/18

anos de idade até aos 35/40 anos, que se revela em função da noite da semana seleccionada,

visto haver uma forte aposta em Noites Temáticas (Noite Universitária, Noite Anos

60/70/80, entre outras), que procuram fidelizar públicos diferenciados. Trata-se de um

espaço que por esse mesmo motivo apresenta um grande variedade na música oferecida, que

procura adaptar-se à clientela que o frequenta em cada momento. Também importante é o

facto de beneficiar da centralidade que apresenta, visto estar situado nas proximidades da

Rotunda da Boavista, para ser a única discoteca que funciona todos os dias da semana e que

consegue atrair uma clientela regular.

"Granada"- apresenta uma frequência quase exclusivamente masculina, sendo um

espaço de lazer seleccionado em função do tipo de espectáculos que oferece, que se

caracterizam por possuírem uma forte componente erótica. Frequentado por uma clientela

com idades superiores aos 25/30 anos, com uma capacidade económica de relevo,

constituída essencialmente por membros ligados ao tecido empresarial do Porto e arredores

e ao sector terciário, caracteriza-se por ser o espaço ideal para despedidas de solteiro, pela

quase total ausência de elementos do sexo feminino que se verifica, com a excepção óbvia

dos que trabalham no próprio espaço.

138


IV PARTE

Conclusões e Perspectivas Evolutivas

139


4 .1 . Recuperação de algumas ideias base

Com a elaboração deste capitulo pretende-se recuperar algumas ideias base que regeram a

realização desta dissertação, ideias essas que permitem compreender com maior facilidade a

importância do papel assumido pelas actividades de lazer nocturno no desenvolvimento da

sociedade actual.

Desde logo, torna-se crucial referir que nas últimas décadas se registou uma mudança nos

tempos que regem a vivência do Homem, mudança essa que consistiu num incremento dos

seus tempos livres, que são utilizados essencialmente para o usufruto de actividades de lazer,

sendo esse incremento resultado de uma diminuição progressiva dos tempos de trabalho.

Assim, observa-se que cada tempo da vivência do Homem assume cada vez mais funções

especificas, sendo o tempo livre aquele em que se procura a relaxação do indivíduo, após o

cumprimento das suas funções profissionais. Com a prática de actividades de lazer, os

elementos da sociedade procuram abstrair-se dos factores que afectam a sua vivência

quotidiana, sendo essa abstracção responsável por lhes proporcionar a diversão e o prazer

que muitas das vezes não são atingidos no campo laboral. Deste modo, a fruição de

actividades de lazer assume-se como uma forma de desenvolver a personalidade dos

indivíduos, em virtude das oportunidades de sociabilização que pode proporcionar a cada

elemento da sociedade. Os indivíduos procuram o lazer como forma de libertar tensões,

como elemento de quebra de rotina, em virtude da satisfação, do prazer e dos momentos de

descontração que a sua prática acarreta, situação que lhes irá permitir encarar os tempos de

trabalho com um maior empenhamento.

O incremento registado no tempo livre à disposição de cada indivíduo contribuiu para um

aumento da prática de actividades de lazer, situação que levou ao surgir de novas formas de

lazer e à afirmação definitiva de algumas outras (como por exemplo, as actividades de lazer

nocturno), tendo a democratização das suas frequências, entretanto ocorrida, originado o

aparecimento de um número crescente de novas actividades, ávidas de proporcionarem

formas inovadoras de entreternimento aos elementos da sociedade. Assim, as actividades de

lazer nocturno, objecto de estudo desta dissertação, fruto da evolução ocorrida nas últimas

140


décadas nas mentalidades, ganharam um espaço importante no interior da sociedade, que

lhes advém do papel crucial que desempenham na sociabilização dos indivíduos.

No entanto, é de relevante importância salientar que a prática de actividades de lazer

nocturno pode também funcionar como um elemento gerador de discreminações dentro da

própria estrutura sócio-económica da sociedade, em virtude de implicar um determinado

nível de gastos económicos, seja de forma directa, seja de forma indirecta. Com a evolução

da própria sociedade, os lazeres nocturnos passaram a ser encarados como uma forma de

demonstração gratuita da capacidade económica de cada indivíduo, ou do agregado familiar

em que está inserido, gerando-se assim situações de exibicionismo, que contribuem para

uma diminuição da importância do papel atribuído a estas actividades, papel esse que seria o

de possibilitar situações de sociabilização aos elementos da sociedade, independentemente

da sua capacidade económica.

Também a faixa etária em que se encontra inserido cada elemento da sociedade vai afectar o

modo como são encaradas e praticadas as actividades de lazer nocturno, visto que, em

conjunto com a capacidade económica, serem estes os dois factores que assumem um papel

primordial na definição do tipo de actividades praticadas, bem como dos horários da sua

frequência. Assim, ao longo do seu ciclo de vida, os indivíduos vão atribuindo aos lazeres

nocturnos diferentes níveis de importância, em função do grau de sociabilização que estes

lhes podem proporcionar em cada momento. O surgir de uma série de situações inibidoras

da frequência, a partir dos 30-35 anos de idade, como sejam a contracção de matrimónio, o

nascer de descendência, a entrada no mercado de trabalho de forma efectiva, vão contribuir

para alterar padrões de frequência anteriormente assumidos, originando-se deste modo que a

prática de actividades de lazer nocturno se destine cada vez mais a adolescentes e a

indivíduos no inicio da sua idade adulta, que possam disponibilizar parte dos seus tempos

livres e que possuam uma capacidade económica adequada. Como alternativa a esta situação

de diminuição, dá-se um incremento na frequência de actividades de lazer nocturno que se

revelem compatíveis com a manutenção das actividades laborais de cada elemento da

sociedade, como sejam a "ida ao café" ou o "ir jantar fora". No entanto, é de salientar que

parte da juventude envolvida na frequência de actividades de lazer nocturno também

enfrenta uma série de contratempos, que embora de natureza diferenciada, lhes limita a

141

As Actividades de Lazer Nocturno na Cidade do Porto e seus Arredores; uma visão geográfica

participação desejada. Encontramos neste caso as situações de limitação etária, de ausência

da necessária capacidade económica, de inexistência de meios de transporte, ou que

resultem da acção de controle exercida pelos progenitores, entre outras, que contribuem

para uma redução do grau de participação desejado.

A importância das classes sociais na definição da prática de actividades de lazer nocturno

dos elementos da sociedade, tem vindo a diminuir nas últimas décadas, fruto da

democratização que tem ocorrido nas suas frequências. Esta democratização deve-se ao

facto de a capacidade económica da classe média emergente ter aumentado

consideravelmente, situação que possibilitou a um maior número de elementos da sociedade

a prática de lazeres nocturnos, verificando-se inclusivamente que estes lazeres se tornaram

em termos sociais menos elitistas, visto se encontrarem em competição directa com

múltiplos estabelecimentos, em que a classe social de cada um não é considerada como um

factor relevante para a sua frequência. No entanto, é de salientar a existência de alguns

estabelecimentos, em que a classe social e a capacidade económica de cada um se

constituem como elementos de selecção para a sua frequência, situação que contribui para o

incremento de fenómenos de segregação dentro da própria sociedade.

As actividades de lazer nocturno existentes não se apresentam todas como possuidoras das

mesmas características, em virtude de ser possível estabelecer uma diferenciação entre elas a

partir de uma série de factores, como sejam os horários de funcionamento, a obrigatoriedade

ou não de consumir, a dimensão dos estabelecimentos, entre outros, que vão contribuir para

a definição de quatro categorias distintas, em que se incluem as diversas actividades de lazer

nocturno existentes: a) actividades de lazer nocturno marcadamente culturais; b) actividades

de lazer nocturno de intensa sociabilização extra-familiar; c) actividades de lazer nocturno

com consumo obrigatório e d) actividades de lazer nocturno relacionadas com Jogo. Esta

diferenciação permite qualificar cada tipo de actividade, situação que possibilita uma

definição das suas características próprias, que facilita a sua identificação.

Extremamente importante na evolução do grau de participação dos elementos da sociedade

em actividades de lazer nocturno, revelou ser a mudança ocorrida no campo das

mentalidades, que permitiu ultrapassar a imagem negativa, perniciosa, que estas actividades

anteriormente possuíam. Como resultado desta evolução, que é de referir não se registou

142


somente no campo social, salienta-se também um incremento na participação dos elementos

de sexo feminino, visto que a partir do momento em que a sua presença deixa de ser

encarada de forma negativa, podem assim assumir a prática de lazeres nocturnos sem serem

alvo de qualquer tipo de recriminação.

No campo da coesão social, revela-se ainda como extremamente importante o papel

desempenhado pelas tribos, que possibilitam aos indivíduos assumirem uma identidade

própria, que se vai reflectir na adopção de elementos identificadores, sejam eles físicos,

comportamentais ou linguísticos, com que se procuram distinguir dos restantes elementos da

sociedade. No que diz respeito à prática de actividades de lazer nocturno, estas tribos, na

qual todos os elementos da sociedade se encontram inseridos, delimitam territórios de

influência, procurando agir de forma agressiva para com os elementos estranhos que se

aproximem, de modo a manterem intacto o seu espaço de acção, bem como a sua identidade

própria. Na sociabilização dos elementos da sociedade, a Moda e os Média assumem-se como os

principais veículadores das novas tendências, sendo responsáveis por grande número das

alterações que afectam os indivíduos, seja em termos de imagem, seja em termos de

comportamento adoptado. O papel da moda, glorificado através de uma série de modelos

mediatizados que procuram liderar as tendências por que se regem os restantes elementos da

sociedade, vai ser difundido pelos média, que com esta acção tentam influenciar

comportamentos e definir padrões de acção, nomeadamente dos mais jovens, que venham a

contribuir para uma determinada evolução da sociedade que passa por um crescente

consumismo, que permite a manutenção e o incremento do poder desses mesmos média. No que diz respeito às questões relacionadas com o território, é importante referir que as

actividades de lazer nocturno podem contribuir para a alteração das características exibidas

por determinada área. Ao funcionarem, no interior do espaço urbano, como um

complemento à acção das actividades de comércio diurnas, vão contribuir para evitar

situações de desertificação nocturna de muitos espaços, permitindo assim a determinadas

áreas a manutenção permanente de um importante papel dentro da hierarquia urbana.

Devido à sua elevada capacidade de atracção, a concentração num local especifico de

diversos estabelecimentos de lazer nocturno pode contribuir também para a recuperação

143

As Acthidades de Lazer Nocturno na Cidade do Porto e seus Arredores: uma visão geográfica

desse mesmo local, em função da requalificação funcional que originam, sendo que esta

requalificação não contribui somente para a recuperação das áreas envolvidas, mas também

para a revitalização da própria economia local, quer através da criação de novos postos de

trabalho, quer através do aumento da sua capacidade de atracção, pois devido ao facto de

concentrarem um elevado número de estabelecimentos, vão ser capazes de atrair um elevado

número de indivíduos residentes na sua envolvência.

A distribuição das actividades de lazer nocturno no território, vai depender, não só, das

características das próprias áreas (em termos de centralidade, de acessibilidade, de

concentração do número de residentes, ou da disponibilidade de espaços para utilizar), mas

também das características sócio-económicas de quem lá habita. Deste modo, verifica-se que

as maiores concentrações de actividades de lazer nocturno tem tendência a ocorrer em áreas

possuidoras de uma grande centralidade, e que beneficiem da existência de boas vias de

comunicação, que possibilitam uma elevada acessibilidade, como sejam, por exemplo, as

áreas centrais das cidades. No entanto, a presença de situações invulgares, como por

exemplo, locais onde se concentrem populações com elevada capacidade económica,

também podem contribuir para uma concentração de estabelecimentos de lazer nocturno,

que procuram beneficiar das condições económicas da população que os envolve.

No que diz respeito à diferenciação entre áreas urbanas e rurais, observa-se uma clara

preferência das actividades de lazer nocturno em instalarem-se nas áreas urbanas, em virtude

de estas possuirem uma população residente de apreciável dimensão, além de que, devido às

boas vias de comunicação de que são possuidoras, conseguem atrair das áreas rurais

envolventes um elevado número de potenciais clientes, que procuram actividades

inexistentes nas suas áreas de residência.

4. 2. Perspectivas de evolução

Ao longo das últimas três/quatro décadas, a partir de 1960, o modo como as actividades de

lazer nocturno foram sendo encaradas pela sociedade foi evoluindo, deixando estas

actividades de ser vistas como algo supérfluo, destinado ao divertimento das classes sócio-

144


económicas mais abastadas, para passarem a ser encaradas como uma forma de diversão à

disposição de toda a população, essencial para a sociabilização dos indivíduos.

Este processo evolutivo reflectiu-se inclusivamente nos características dos próprios

estabelecimentos, que deixaram de ser meros espaços onde uma determinada clientela se

reunia, e que lhes procurava proporcionar música ambiente como fundo de

acompanhamento para os seus diálogos, para assumirem uma identidade muito própria, em

que é o cliente que tem de se adaptar às características únicas de cada espaço, em virtude de

tal situação de exclusividade ser crucial para que os potenciais clientes o possam diferenciar

de entre a multiplicidade de estabelecimentos existentes.

O modo como os lazeres nocturnos eram encarados pelos próprios elementos da sociedade

registou alterações, em função da crescente divulgação de que foram alvo por parte dos

diversos meios de comunicação, situação que proporcionou o estabelecer de relações de

afectividade com elementos da nossa sociedade (que funcionaram como modelos de

comportamento), bem como de relações de identificação com ideias, com formas de agir, e

com modos de vestir, em que o papel desempenhado pela Moda não foi de modo algum de

negligenciar. Todas estas situações de crescente ligação afectiva às actividades de lazer

nocturno, foram somente tornadas possiveis pela progressiva juvenilização por que tem

passado as suas clientelas, após os finais da década de 80. Os actuais frequentadores

caracterizam-se assim por serem extremamente sensíveis a questões relacionadas com a sua

imagem, com a sua aparência, situação que os coloca numa posição bastante fragilizada

perante as ofensivas consumistas dos média, ao contrário dos frequentadores da década de

60, que não sofriam qualquer tipo de influência dos média então existentes.

4. 3. Algumas questões teóricas para o futuro

Com o formular destas interrogações, não se pretende de modo algum identificar ou

qualificar os modos como irão evoluir as actividades de lazer nocturno nas próximas

décadas, mas somente procurar o levantar de algumas questões, de momento sem resposta.

145


Em virtude das últimas evoluções registadas, que contribuíram para uma crescente

juvenilização das clientelas, torna-se pertinente questionar se os adolescentes assumirão de

futuro um papel118 ainda mais importante no contexto dos potenciais frequentadores. Assim,

será que a participação dos elementos da sociedade em actividades de lazer nocturno se

começará a processar em idades cada vez mais precoces? Ou pelo contrário, talvez fruto de

um maior controle imposto pela sociedade e pelos seus progenitores, se irá assistir a um

inicio de participação mais tardio, baseado numa frequência mais pausada, com menor

dependência da imagem e da aparência, situação que caracterizava o comportamento dos

seus progenitores?

No que diz respeito ao controle que a própria sociedade procura exercer sob os seus

elementos, será que esta irá manter os actuais niveis de permissividade que a caracterizam de

momento, não procurando no futuro controlar algo que decididamente lhe escapa? Ou pelo

contrário, através da imposição de regras mais restritivas, não tentará reduzir os niveis de

participação em actividades de lazer nocturno exibidos pelos seus elementos?

Outro factor importante a considerar, resulta da constatação de que a população das

sociedades desenvolvidas se encontra num longo processo de envelhecimento. De que modo

o envelhecimento119 da população, de que irá resultar uma consequente diminuição do

número de jovens presentes, retirará frequentadores às actividades de lazer nocturno,

inviabilizando assim a manutenção do número de estabelecimentos actualmente existentes,

bem como o desenvolvimento económico dos sobreviventes? Será essa diminuição

compensada por uma melhoria do nível económico global da população, situação que a

acontecer permitiria um acesso a esses mesmos estabelecimentos de novos frequentadores,

que compensariam os que abandonassem a frequência?

Assim, que papel vão desempenhar no desenvolvimento das actividades de lazer nocturno as

profundas reestruturações económicas por que irão passar no futuro as economias mais

desenvolvidas, visto que estas reestruturações podem vir a contribuir para um incremento no

número de elementos da população desempregados. Qual será a influência nos lazeres

nocturnos da possível existência de um elevado número de jovens desempregados, que não

118 LIPOVETSKY, Gilles - O Império do Efémero, Lisboa, Dom Quixote, 1989. 119 MARTIN, Bill; MASON, Sandra - Current trends in Leisure, em «Leisure Studies», Vol. 10, N° 1, Londres, 1991, p. 3.

146


possuindo capacidade económica adequada, não poderão manter um nível de frequência

minimo? Será a classe média de então possuidora de capacidade económica de relevo, que

lhe permita manter o papel importante que assume na frequência de actividades de lazer

nocturno na actualidade?

4. 4. Algumas questões sobre a evolução do território

No que diz respeito à evolução no espaço das actividades de lazer nocturno, no território

considerado para a elaboração desta dissertação, verifica-se ser de extrema dificuldade

elaborar qualquer tipo de previsões, em relação à forma como estas se irão distribuir de

futuro. Tal situação advém do facto de na área seleccionada se encontrarem espaços em

constante mutação, devido à requalificação funcional e urbana por que estão a passar,

requalificação essa que poderá vir a funcionar como um obstáculo à abertura de novos

estabelecimentos em determinados locais. Como exemplo, pode ser citado o caso da Ribeira

Portuense, que fruto da sua recente elevação à condição de local Património Mundial,

poderá vir a ser regida por um conjunto de regulamentos extremamente restritivos, no que

diz respeito à abertura e exploração de actividades de lazer nocturno. Tal situação pode

acarretar de futuro o encerramento de todos os estabelecimentos que não estiverem de

acordo com a lei, e levanta de imediato duas questões: A transformação dos

estabelecimentos que tiverem condições para estar completamente legais será progressiva ou

abrupta? Será que a deslocação de alguns estabelecimentos para outras localizações, cenário

nada improvável de se vir a verificar, não irá contribuir para uma diminuição da capacidade

de atracção de toda a zona da Ribeira?

Em relação às restantes áreas da cidade do Porto, é de realçar a crescente importância que

poderão vir a assumir as zonas de Massarelos e Ramalde, no que diz respeito à concentração

de actividades de lazer nocturno. Beneficiando ambas de elevada centralidade no contexto

global de toda a área considerada, possuem espaços comerciais devolutos em número

apreciável, situação que num contexto de ausência de habitantes na sua envolvência, poderá

147


vir a pressupor uma evolução no sentido de abertura de novos estabelecimentos de lazer

nocturno, tendência que de resto já se está de momento a verificar.

O próprio litoral, abandonado durante largas décadas, surge actualmente em acentuada fase

de desenvolvimento, que é consubstanciada na abertura regular de novos estabelecimentos.

Para que tal situação de desenvolvimento ocorra em pleno, verifica-se somente a

necessidade de ultrapassar o estigma do período de veraneio, visto que nos restantes

períodos do ano a frequência dos estabelecimentos de lazer nocturno situados no litoral, não

é considerada como uma opção válida para a grande maioria dos elementos da sociedade.

Nas restantes áreas consideradas no âmbito deste trabalho, verifica-se que somente a

margem ribeirinha de Vila Nova de Gaia se encontra em acentuado processo de

transformação, em virtude de poder vir a beneficiar com as mudanças que vierem a afectar a

Ribeira Portuense, podendo vir assim a assumir-se como uma alternativa séria à sua

congénere. No concelho de Matosinhos, à excepção da sua zona industrial que cada vez

mais se poderá vir a assumir como um potencial pólo de concentração de actividades de

lazer nocturno, todo a restante área do concelho irá manter exactamente as características

actuais, não se vislumbrando qualquer possibilidade de futura evolução. Por último, é de

referir que nos concelhos de Gondomar, Maia e Valongo, concelhos que cada vez mais se

assumem como subúrbios da cidade de Porto, não se perspectivam de futuro grandes

alterações no panorama respeitante à presença de lazeres nocturnos, em virtude de não se

conseguirem reunir as condições necessárias para a criação de um pólo de concentração de

actividades de lazer nocturno, em qualquer um destes concelhos.

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TOKARSKI, Walter - Research note: Some social psychological notes on the meaning of work and leisure, em «Leisure Studies», Vol. 4, N° 2, Londres, 1985, pp. 227-231.

156


ULRICH, Roger; DIMBERG, Ulf; DRIVER, B.L. - Psychophysiological indicators of Leisure Consequences, em «Journal of Leisure Research», Vol. 22, N° 2, s i , 1990, pp. 154-166.

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URRY, John - The Tourist Gaze, Londres, SAGE, 1990.

VAN LANGENHO VE, Luk - The identification and measurement of psychological aspects of leisure, em «Leisure Studies», Vol. 11, N° 2, Londres, 1992, pp. 147-156.

VEAL, A. J. - Leisure, lifestyle and status: a pluralist framework for analysis, em «Leisure Studies», Vol. 8, N° 2, Londres, 1989, pp. 141-153.

WALMSLEY, D.J.; LEWIS, G.J - Human Geography - behavioural approaches, 3a

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WYNE, Derek - Leisure, lifestyle and the construction of social position, em «Leisure Studies», Vol. 9, N° 1, Londres, 1990, pp. 21-34.

B) Levantamentos Estatísticos

LISTA TELEFÓNICA DAS PÁGINAS AMARELAS (REGIÃO PORTO), N° 79, Ed. ITT Páginas Amarelas, Lisboa, 1960.

LISTA TELEFÓNICA DAS PÁGINAS AMARELAS (REGIÃO PORTO), N° 84, Ed. ITT Páginas Amarelas, Lisboa, 1965.

LISTA TELEFÓNICA DAS PÁGINAS AMARELAS (REGIÃO PORTO), N° 88, Ed. ITT Páginas Amarelas, Lisboa, 1970/71.



157





C) Fontes Cartográficas

CARTA MILITAR 1:25000, N° 109, Instituto Geográfico do Exército, Lisboa, 1975.









158


Anexos

Quadro 2. Valores Absolutos por Concelhos, segundo as caract. previamente definidas

CONCELHO FREGUESIA Restaurantes Cafetarias Bares Discotecas Salas de Jogo TC )TAL 0 0 MATOSINHOS CUSTÓIAS 0 0 0 u

0 u 0

)TAL 0 0 GUIFÕES 0 0 0

u 0

u 0

)TAL 0 0

LAVRA 1 2 2 2 0 1 0 3

7 20

0 58

5 0 2 5

LEÇA DA PALMEIRA 5 3 9 2 0 1 0 3

7 20

0 58

5 0 2 5

LEÇA DO BALIO MATOSINHOS

0 16

0 12

0 21

0 6

0 1 0 3

7 20

0 58

5 0 2 5

PERAFITA 1 0 4 0 0 0 0 0

7 20

0 58

5 0 2 5

STA CRUZ DO BISPO 0 0 0 0 0 0 0 0

7 20

0 58

5 0 2 5

S MAMEDE INFESTA 0 1 1 0

0 0 0 0

7 20

0 58

5 0 2 5 SENHORA DA HORA 0 2 2 1

0 0 0 0

7 20

0 58

5 0 2 5

TOTAL 23 20 39 11 4 97

MAIA ÁGUAS SANTAS 1 5 1 0 0 7 1 0 0 1 2

BARCA 0 0 0 1 0 7 1 0 0 1 2

FOLGOSA 0 0 0 0 0

7 1 0 0 1 2

GUEIFÃES 0 0 0 0 0

7 1 0 0 1 2 GEMUNDE 0 0 1 0 0

7 1 0 0 1 2

GONDIM 0 1 0 1 0

7 1 0 0 1 2

MAIA 1 2 2 1 0 6 MILHEIROS 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

MOREIRA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

NOGUEIRA 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

PEDROUÇOS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

STA MARIA AVIOSO 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

SÃO PEDRO AVIOSO 0 1 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

SÃO PEDRO FINS 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

SILVA ESCURA 0 0 0 0

0 0 0 0 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

VERMOIM 0 1 0 1 0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22 VILA NOVA DA TELHA 0 2 0 0

0 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22 TOTAL 2 12 4 4 0

0 0 0 0 0 1 0 0 2 2

22

VALONGO ALFENA 1 0 0 0 1 2

CAMPO 0 ERMESINDE 0 SOBRADO 0 VALONGO 0

TOTAL 1

GONDOMAR BAGUIM 0 COVELO 0

FÂNZERES 0 FOZ DO SOUSA 0

S. COSME-GOND. 1 JOVIM 0 LOMBA 0 MEDAS 0 MELRES 0

RIO TINTO 0 S. PEDRO COVA 0

VALBOM 0 TOTAL 1

V N GAIA ARCOZELO 0 AVINTES 0 CANELAS 0 CANIDELO 0 CRESTUMA 0

GRIJÓ 0 GULPILHARES 0

LEVER 0 MADALENA 0 MAFAMÚDE 0

OLIVAL 0 OLIVEIRA DO DOURO 0

PEDROSO 0 PEROSINHO 0

S FÉLIX MARINHA 0 S PEDRO AFURADA

SANDIM 0 0

0 0 0 0 0 12 1 1 0 14 0 0 0 0 0

12 3 2 0 17 24 4 3 1 33

0 0 0 0 0

0 0 0 0 o ! > 2

3 1 0 0 4 > 2

2 0 0 0 2 < a, 8 1 1 0 11 < a,

1 0 0 0 1 Si

a 0 0 1 0 1

r 2 1

0 0

0 1

0 0

2 2

3 z o 11 2 1 0 14

3 z o

6 0 0 o - 6 c 3 o 1 0 0 0 1 c 3 o

35 4 4 0 44 3

O

5 1 0 0 6 D -

0 2

0 0

0 1

0 0

0 3

CD

&

4 10 2 0 16 O o

0 0 0 0 0 o

0 0 0 0 0 o C

3 1 0 0 4 Sr

2 1 1 0 4 Sr 3 1 0 0 4 8 4 0 0 12 1 1 0 0 2 0 0 0 0 0 s

■^

4 2 1 0 7 t/5

0 0 1 0 1 O

5 0

1 0

1 0

0 0

7 0

O O H

2 1 0 0 3 th o B9

V.N.G.- STA MARINHA 1 SEIXEZELO 0 SERMONDE 0 SERZEDO 0

VALADARES 0 VILAR ANDORINHO 0 VILAR DO PARAÍSO 0

TOTAL 1

PORTO ALDOAR 0 BONFIM 2

CAMPANHÃ 3 CEDOFEITA 1

FOZ DO DOURO 1 LORDELO DO OURO 2

MASSARELOS 3 MIRAGAIA 2

NEVOGILDE 1 PARANHOS 0 RAMALDE 3

SANTO ILDEFONSO 4 SÃO NICOLAU 7

SÉ 1

T O T Û I VITÓRIA 1

31

TOTAIS ABSOLUTOS 59

16 14 2 0 0 0 0 0 0 1 0 0 3 5 0 0 0 0 0 0 0

59 42 9

0 0 0 15 12 3

4 3 0 16 15 3

8 10 2 2 5 0 3 6 0 1 7 0 3 4 2 8 0 3 5 10 3 9 13 9

16 29 0 1 7 1 5 5 2

96 125 28

0 33 0 0 0 0 0 1 0 8 0 0 0 0 0 111

0 0 0 32 1 11 4 39 0 21 0 9 0 12 0 10 0 10 0 11 0 21 3 38 0 52 0 10 0 13 9 289

> o

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3

O

o CL O Tl o o

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246 218 59 14 596 o C L O

O

TO O O Q « 1

O

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: uma visão fteosrafica

índice de Figuras e de Quadros

Fig. 1. Evolução do Número de Bares, Boites, Pubs; Dancings e Discotecas entre 1960 e

1996 na área seleccionada " '

Fig. 2. Distribuição por freg do total de estab. de lazer nocturno 108

Fig. 3. Distribuição do total de estab. de lazer nocturno do tipo Restaurantes e similares,

por freguesias Fig. 4. Distribuição do total de estab. de lazer nocturno do tipo Cafetarias e similares, por

freguesias Fig. 5. Distribuição do total de estab. de lazer nocturno do tipo Bares e similares, por

freguesias Fig. 6. Distribuição do total de estab. de lazer nocturno do tipo Discotecas e similares, por

freguesias Fig. 7. Distribuição do total de estab. de lazer nocturno do tipo Jogo e similares, por

freguesias

Fig. 8. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho do Porto 121

Fig. 9. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho da Maia 124

Fig. 10. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho de Matosinhos 125

Fig. 11. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho de Gondomar 127

Fig. 12. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho de Valongo 129

Fig. 13. Distribuição dos estab. de lazer nocturno no concelho de V. N. de Gaia 130

Quadro 1. Evolução do número de Bares, Boites, Pubs, Dancings e Discotecas entre 1960

e 1996 na área seleccionada 6 °

Quadro 2. Valores absolutos por concelhos, segundo as caracterizações previamente

definidas ^ ^ ^

163


índice Geral

Introdução

Resumo dos Capítulos da dissertação

Opções metodológicas

Outros considerandos

I Parte

Considerações Teóricas

1.1. Conceitos de Lazer

1. 1. 1. Novas formas de Sociabilização

1. 1.2. Caracterização dos diversos tipos de Lazer Nocturno

1. 2. Tempo de Mudanças

1. 2. 1. Importância da Coesão Social e das Tribos

1. 2. 2. Importância da Moda

1. 2. 3. Importância dos Média

1.3. Diferentes Idades, Diferentes Lazeres Nocturnos

1. 3. 1. Importância dos Jovens

1.3.2. Factores perturbadores do normal usufruto de lazeres nocturnos

1. 3. 3. Importância da capacidade económica

1. 4. As Actividades de lazer como elementos definidores do Território.

1. 4. 1. Capacidade de atracção do espaço urbano

1.5. Organização económica das actividades de lazer nocturno

4

6

8

10

13

22

26

28

31

32

33

34

36

39

41

45

47

164

As Actividades de Lazer Nocturno na cidade do Porto e seus Arredores: uma \isão geográfica

II Parte

Evolução até à Actualidade

2. 1. Evolução do espaço e questões de Território 54

2. 2. Evolução da Sociedade e novas formas de encarar os lazeres nocturnos 58

2. 3. O Lazer Nocturno dos Anos 60 à actualidade 64

III Parte

Análise da Actualidade

3. 1. Lazer nocturno: parte integrante da sociedade 75

3. 2. Oferta de lazeres nocturnos: formas actuais 80

3.2. 1. Caracterização das actividades de lazer nocturno existentes na actualidade 87

3. 2. 2. Papel dos intervenientes externos 92

3. 2. 2. 1. Entidades fiscalizadoras 92

3. 2. 2. 2. Questões laborais 9 6

3. 2. 3. Importância do Turismo nas actividades de lazer nocturno 99

3.3. Análise da estruturação das actividades de lazer 101

3. 3. 1. Aspectos negativos da acção das actividades de lazer Nocturno sobre o

território 104

3. 4. Análise prática da actualidade existente 105

3. 4. 1. Análise dos totais por freguesias 1 0 7

3. 4. 2. Análise do número total de estabelecimentos por freguesia, segundo as cinco

categorias previamente definidas HO

3. 4. 3. Análise individualizada da realidade existente em cada concelho, por totais por

freguesia 1̂ 0

3.5. Análise pormenorizada de alguns estabelecimentos de lazer nocturno 131

3. 5. 1. Cervejarias/Restaurantes 132

3. 5.2. Cafés e Similares I 3 3

165


3. 5. 3. Bares

3. 5. 4. Discotecas/Night-Clubs

IV Parte

Conclusões e Perspectivas Evolutivas

4. 1. Recuperação de algumas ideias base

4. 2. Perspectivas de evolução

4. 3. Algumas questões teóricas para o futuro

4. 4. Algumas questões sobre a evolução do território

Fontes Bibliográficas e Documentais ^ y

Anexos

índice de Figuras e de Quadros I"3

índice Geral ' 1 6 4

CU LDA DE D f T r ? ^ 166

"as actividades de lazer nocturno na cidade do porto e seus

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