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Barreiro, 1920 Diário de José António Marques Câmara Municipal do Barreiro Freguesia do Barreiro Freguesia de Santo André 2013

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Barreiro, 1920

Diário de José António Marques

Câmara Municipal do BarreiroFreguesia do Barreiro

Freguesia de Santo André2013

Page 2: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Ficha técnicaTítulo: Barreiro, 1920 – Diário de José António MarquesEstudo, transcrição e notas:Rosalina Carmona

Revisão:Fernando da MotaIsabel Ramalho

Fotografias da capa: Rua Miguel Bombarda, Barreiro, 1923, Álbum Resende e Diário de José António Marques

Concepção gráfica: Ana Isabel Domingos

Edição:Câmara Municipal do Barreiro Junta de Freguesia do BarreiroJunta de Freguesia de Santo André

ISBN:

Depósito Legal: 361462/13

Impressão: Tipografia Belgráfica

© Copyright 2013Barreiro, 2013Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor

O Municipio é parceiro, com a Junta de Freguesia do Barreiro e a Junta de

Freguesia de Santo André, na edição de parte dos diários do barreirense

José António Marques.

Neste livro, está transcrito parte do diário de um operário ferroviário –

José António Marques – no ano de 1920, ano tão conturbado na história

local e nacional.

Através desta edição, procurámos resgatar as memórias de um barreirense

e de um Barreiro de outros tempos. Tempos esses de esperança, alegria,

inocência, mas também, de tristeza e dificuldades, combate e luta.

É através destes diários, guardados no Arquivo Municipal e dos quais aqui é

apresentado o primeiro volume, que viajamos no tempo.

É o recordar das vivências nas ruas Aguiar ou Miguel Pais, o rio, os amigos, a

sua família e vizinhos e a grande entreajuda entre todos, o Clube, a

Sociedade, entre tantas outras memórias.

É um vislumbre sobre um Barreiro de 1920 onde percebemos que os

valores de amizade, lealdade e fraternidade estão presentes no dia a dia.

Através deste livro temos a possibilidade de olhar pelos olhos de um

homem simples, operário e ferroviário.

É um olhar sobre a História, um olhar humano.

Carlos Humberto de Carvalho,

Presidente da Câmara Municipal do Barreiro

Barreiro, Agosto de 2013

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Ficha técnicaTítulo: Barreiro, 1920 – Diário de José António MarquesEstudo, transcrição e notas:Rosalina Carmona

Revisão:Fernando da MotaIsabel Ramalho

Fotografias da capa: Rua Miguel Bombarda, Barreiro, 1923, Álbum Resende e Diário de José António Marques

Concepção gráfica: Ana Isabel Domingos

Edição:Câmara Municipal do Barreiro Junta de Freguesia do BarreiroJunta de Freguesia de Santo André

ISBN:

Depósito Legal: 361462/13

Impressão: Tipografia Belgráfica

© Copyright 2013Barreiro, 2013Todos os direitos reservados de acordo com a legislação em vigor

O Municipio é parceiro, com a Junta de Freguesia do Barreiro e a Junta de

Freguesia de Santo André, na edição de parte dos diários do barreirense

José António Marques.

Neste livro, está transcrito parte do diário de um operário ferroviário –

José António Marques – no ano de 1920, ano tão conturbado na história

local e nacional.

Através desta edição, procurámos resgatar as memórias de um barreirense

e de um Barreiro de outros tempos. Tempos esses de esperança, alegria,

inocência, mas também, de tristeza e dificuldades, combate e luta.

É através destes diários, guardados no Arquivo Municipal e dos quais aqui é

apresentado o primeiro volume, que viajamos no tempo.

É o recordar das vivências nas ruas Aguiar ou Miguel Pais, o rio, os amigos, a

sua família e vizinhos e a grande entreajuda entre todos, o Clube, a

Sociedade, entre tantas outras memórias.

É um vislumbre sobre um Barreiro de 1920 onde percebemos que os

valores de amizade, lealdade e fraternidade estão presentes no dia a dia.

Através deste livro temos a possibilidade de olhar pelos olhos de um

homem simples, operário e ferroviário.

É um olhar sobre a História, um olhar humano.

Carlos Humberto de Carvalho,

Presidente da Câmara Municipal do Barreiro

Barreiro, Agosto de 2013

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O Diário de José António Marques, pretende dar fiel e circunstanciado

testemunho, através do estudo, transcrição e notas de Rosalina Carmona.

O associativista, a sua postura, dignidade e verticalidade, contribuíram

para que José António Marques seja uma referência para todos os que

tiveram a felicidade de com ele conviver.

O Barreiro está-lhe imensamente reconhecido!

Muito Obrigado José António Marques.

Até Sempre!

Raul António Malacão,

Presidente da Junta de Freguesia do Barreiro

Barreiro, Agosto de 2013

José António Marques nasceu no coração do Barreiro, na Praça de Santa

Cruz e registou diariamente os grandes acontecimentos passados na

cidade, nomeadamente em 1920.

Pelos seus escritos, influenciado pela queda da Monarquia, pela

Implantação da República e pela Revolução Soviética de 1917, deve ser

considerado um jovem camarro com um envolvimento profundo no

Movimento Associativo, registando os seus acontecimentos e também a

evolução do avanço sindicalista que se viveu na década de 20 do século

passado.

Viveu também o aparecimento da classe operária, nomeadamente no

sector da cortiça e da indústria química, em fase de crescimento no

Barreiro, e também como operário ferroviário, que tiveram um importante

papel na luta pela defesa da República.

Pelo seu núcleo de amizades, constatamos que foi um homem muito justo,

também na luta contra o fascismo e pela emancipação da classe

trabalhadora que, mais tarde, veio a viver a revolução de Abril.

Para a Vila de Santo André constituem uma honra os seus registos e o livro

agora editado, já que José António Marques viveu por várias décadas nesta

Freguesia, área na qual existe uma rua com o seu nome.

Considero este livro como apresentando um conteúdo muito progressista

para a época, sendo que José António Marques, operário ferroviário, lutou

a vida inteira, em conjunto com os seus amigos, pelo bem estar da

população e pelo progresso do Barreiro.

António de Jesus Marques

Presidente da Junta de Freguesia de Santo André

Vila de Santo André, Julho de 2013

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O Diário de José António Marques, pretende dar fiel e circunstanciado

testemunho, através do estudo, transcrição e notas de Rosalina Carmona.

O associativista, a sua postura, dignidade e verticalidade, contribuíram

para que José António Marques seja uma referência para todos os que

tiveram a felicidade de com ele conviver.

O Barreiro está-lhe imensamente reconhecido!

Muito Obrigado José António Marques.

Até Sempre!

Raul António Malacão,

Presidente da Junta de Freguesia do Barreiro

Barreiro, Agosto de 2013

José António Marques nasceu no coração do Barreiro, na Praça de Santa

Cruz e registou diariamente os grandes acontecimentos passados na

cidade, nomeadamente em 1920.

Pelos seus escritos, influenciado pela queda da Monarquia, pela

Implantação da República e pela Revolução Soviética de 1917, deve ser

considerado um jovem camarro com um envolvimento profundo no

Movimento Associativo, registando os seus acontecimentos e também a

evolução do avanço sindicalista que se viveu na década de 20 do século

passado.

Viveu também o aparecimento da classe operária, nomeadamente no

sector da cortiça e da indústria química, em fase de crescimento no

Barreiro, e também como operário ferroviário, que tiveram um importante

papel na luta pela defesa da República.

Pelo seu núcleo de amizades, constatamos que foi um homem muito justo,

também na luta contra o fascismo e pela emancipação da classe

trabalhadora que, mais tarde, veio a viver a revolução de Abril.

Para a Vila de Santo André constituem uma honra os seus registos e o livro

agora editado, já que José António Marques viveu por várias décadas nesta

Freguesia, área na qual existe uma rua com o seu nome.

Considero este livro como apresentando um conteúdo muito progressista

para a época, sendo que José António Marques, operário ferroviário, lutou

a vida inteira, em conjunto com os seus amigos, pelo bem estar da

população e pelo progresso do Barreiro.

António de Jesus Marques

Presidente da Junta de Freguesia de Santo André

Vila de Santo André, Julho de 2013

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Índice

I ParteJosé António Marques: notas biográficas e pessoaisO diário de José António Marques, uma fonte para a história do Barreiro no século XXO Barreiro em1920. Contexto social e político

II ParteRegisto dos Factos mais notáveis 1920 (Transcrição)Bibliografia e Fontes

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Índice

I ParteJosé António Marques: notas biográficas e pessoaisO diário de José António Marques, uma fonte para a história do Barreiro no século XXO Barreiro em1920. Contexto social e político

II ParteRegisto dos Factos mais notáveis 1920 (Transcrição)Bibliografia e Fontes

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9

A publicação do diário manuscrito de José António Marques, insere-se no

âmbito das políticas de valorização e divulgação, dos fundos históricos e

documentais existentes no arquivo do município, que a Câmara do Barreiro

tem vindo a realizar.

Guiados pelo testemunho de José António Marques, fomos à descoberta

do Barreiro em 1920 e do próprio autor do Registo dos factos mais

notáveis.

Com efeito, o diário permite uma aproximação à história do Barreiro nos

finais da República, sob uma perspectiva diferente daquela que nos

transmitem as fontes oficiais. Este é um registo único, que nos chega

através da voz e da visão do mundo de um operário, cidadão anónimo que

participa nos acontecimentos que descreve, com todas as suas emoções.

Porque este é também um testemunho que apela às emoções de quem o

lê. E, ler o diário de José António Marques aproxima-nos de tal forma da sua

pessoa, que é como se o tivessemos conhecido pessoalmente. Daí a

tendência que foi surgindo, naturalmente, para o tratar de uma forma

quase familiar, pelo nome próprio: José António, ou, apenas José.

Através do seu diário sentimos, tantas vezes, o arrepio que nos faz

adivinhar sentimentos onde palpitam angústias, tormentas e alegrias,

momentos de festa, amizade e solidariedade ou outros, de grande

dramatismo, vividos pelo autor de Registo dos factos mais notáveis nos

anos 1918 a 920.

O ano de 1920 no Barreiro é ainda um tempo de muitas luzes e grande

obscuridade. Ao quotidiano denso da realidade, que a nossos olhos revela

José António Marques, contrapõe-se a percepção de que outro tanto nos

escapa.

Este trabalho procura compreender e interpretar o tempo, os

acontecimentos e o autor. Realizá-lo não se afigura tarefa fácil e, conquanto

não tenhamos a certeza de o conseguir, ainda assim, intentá-lo-emos.

Porque, como afirma Georges Duby “todo o historiador se extenua para 1conseguir a verdade; essa presa escapa-lhe sempre”.

1 DUBY, Georges – “O Prazer do Historiador” in Ensaios de Ego-História, Pierre CHAUNU; Jacques le GOFF; Pierre NORA e outros, ed. 70, Lisboa, 1989

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9

A publicação do diário manuscrito de José António Marques, insere-se no

âmbito das políticas de valorização e divulgação, dos fundos históricos e

documentais existentes no arquivo do município, que a Câmara do Barreiro

tem vindo a realizar.

Guiados pelo testemunho de José António Marques, fomos à descoberta

do Barreiro em 1920 e do próprio autor do Registo dos factos mais

notáveis.

Com efeito, o diário permite uma aproximação à história do Barreiro nos

finais da República, sob uma perspectiva diferente daquela que nos

transmitem as fontes oficiais. Este é um registo único, que nos chega

através da voz e da visão do mundo de um operário, cidadão anónimo que

participa nos acontecimentos que descreve, com todas as suas emoções.

Porque este é também um testemunho que apela às emoções de quem o

lê. E, ler o diário de José António Marques aproxima-nos de tal forma da sua

pessoa, que é como se o tivessemos conhecido pessoalmente. Daí a

tendência que foi surgindo, naturalmente, para o tratar de uma forma

quase familiar, pelo nome próprio: José António, ou, apenas José.

Através do seu diário sentimos, tantas vezes, o arrepio que nos faz

adivinhar sentimentos onde palpitam angústias, tormentas e alegrias,

momentos de festa, amizade e solidariedade ou outros, de grande

dramatismo, vividos pelo autor de Registo dos factos mais notáveis nos

anos 1918 a 920.

O ano de 1920 no Barreiro é ainda um tempo de muitas luzes e grande

obscuridade. Ao quotidiano denso da realidade, que a nossos olhos revela

José António Marques, contrapõe-se a percepção de que outro tanto nos

escapa.

Este trabalho procura compreender e interpretar o tempo, os

acontecimentos e o autor. Realizá-lo não se afigura tarefa fácil e, conquanto

não tenhamos a certeza de o conseguir, ainda assim, intentá-lo-emos.

Porque, como afirma Georges Duby “todo o historiador se extenua para 1conseguir a verdade; essa presa escapa-lhe sempre”.

1 DUBY, Georges – “O Prazer do Historiador” in Ensaios de Ego-História, Pierre CHAUNU; Jacques le GOFF; Pierre NORA e outros, ed. 70, Lisboa, 1989

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I Parte

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I Parte

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José António Marques: notas biográficas e pessoais

Conhecer o percurso de vida e as motivações que levaram José António

Marques a registar, em cadernos manuscritos, todos os acontecimentos

que tiveram lugar no Barreiro no ano de 1920, pareceu-nos, desde logo,

algo de extraordinário. Contudo, José António Marques pouco fala de si,

daí que, as notas pessoais aqui reproduzidas sejam, muito mais o que

podemos pressentir nas entrelinhas dos seus escritos, do que aquilo que

sobre si mesmo nos quis dizer. É como se uma certa reserva, pautada por

discreta atitude de modéstia, o impedisse de falar em demasia da sua

pessoa.

Com efeito, nos seus escritos não encontramos senão pequenas incursões

sobre si próprio, notando-se, ao invés, que o seu interesse principal é,

descrever numa espécie de crónica do quotidiano, tudo quanto acontece

no Barreiro.

É provável que, inicialmente, não fosse sua intenção tornar públicos os

diários mas, à medida que os tempos foram passando e o próprio José

António tomava consciência da importância dos seus escritos, tal ter-lhe-á

decerto ocorrido. Esta é, portanto, uma tentativa de aproximação à

personalidade do autor de Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 2

a 920 e ao tempo histórico em que encetou a produção dos seus diários.

Procurando afastar a névoa do tempo e as vozes do silêncio, é pela mão e

pela escrita de José que partiremos, em demanda do lugar onde, naquele

dia Internacional dos Trabalhadores, 1º de Maio do ano 1900, nasceu um

menino a quem foi dado o nome de José António Marques. 3

Foi num prédio de primeiro andar na Praça de Santa Cruz , freguesia do

Barreiro, que veio ao mundo no seio de uma família modesta de pequenos

comerciantes. Tinham casa estabelecida no rés-do-chão do mesmo

edifício, situado bem no coração da vila velha e centro cívico do Barreiro.

Sobre as origens familiares soube-se que seu pai, Manuel Joaquim Roque,

viera para o Barreiro em criança, onde fora adoptado por uma família de

moleiros de apelido Roque, que o resgatara à Roda de meninos expostos

em Lisboa. Sua mãe era Silvéria Rita, mulher oriunda de famílias camarras

do Barreiro. O casal teve 6 filhos.

Assim fomos descobrindo o universo familiar de José António. Além dos

pais, havia as «manas e mano João». Os irmãos surgem numa sucessão em

que Rita é a mais velha, seguindo-se Ana, depois Ermelinda, o mano João,

ele próprio e por fim Hermínia, a mais nova.

Acerca da infância e adolescência de José, muito pouco sabemos mas, diz-

nos a intuição que terão decorrido no ambiente da mercearia, porventura

ajudando os pais no desempenho de pequenas tarefas. O resto do tempo

ocupá-lo-ia, como é fácil de imaginar, em brincadeiras pelo areal da Praia

Norte, que começando às portas de casa, se alongava entre o porto da CUF

e o Moinho do Jim. É dos verdes anos que nos chega a fotografia do 4º

aniversário, tirada no primeiro dia de Maio do ano 1904.

2 Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM/Lv.13 Praça de Santa Cruz, denominada a partir de 1910 Praça da República. Esta designação manter-se-á até 1958, quando foi alterada por Edital camarário de 30 de Outubro. C.M.B./B/A/03.01, Cx. 2, 1953/1975

A Praça de Santa Cruz, tal como José António a terá conhecido na infância. Postal ilustrado, Barreiro, 1907. C.M.B., BPI-01-Cx. 01

12 13

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José António Marques: notas biográficas e pessoais

Conhecer o percurso de vida e as motivações que levaram José António

Marques a registar, em cadernos manuscritos, todos os acontecimentos

que tiveram lugar no Barreiro no ano de 1920, pareceu-nos, desde logo,

algo de extraordinário. Contudo, José António Marques pouco fala de si,

daí que, as notas pessoais aqui reproduzidas sejam, muito mais o que

podemos pressentir nas entrelinhas dos seus escritos, do que aquilo que

sobre si mesmo nos quis dizer. É como se uma certa reserva, pautada por

discreta atitude de modéstia, o impedisse de falar em demasia da sua

pessoa.

Com efeito, nos seus escritos não encontramos senão pequenas incursões

sobre si próprio, notando-se, ao invés, que o seu interesse principal é,

descrever numa espécie de crónica do quotidiano, tudo quanto acontece

no Barreiro.

É provável que, inicialmente, não fosse sua intenção tornar públicos os

diários mas, à medida que os tempos foram passando e o próprio José

António tomava consciência da importância dos seus escritos, tal ter-lhe-á

decerto ocorrido. Esta é, portanto, uma tentativa de aproximação à

personalidade do autor de Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 2

a 920 e ao tempo histórico em que encetou a produção dos seus diários.

Procurando afastar a névoa do tempo e as vozes do silêncio, é pela mão e

pela escrita de José que partiremos, em demanda do lugar onde, naquele

dia Internacional dos Trabalhadores, 1º de Maio do ano 1900, nasceu um

menino a quem foi dado o nome de José António Marques. 3

Foi num prédio de primeiro andar na Praça de Santa Cruz , freguesia do

Barreiro, que veio ao mundo no seio de uma família modesta de pequenos

comerciantes. Tinham casa estabelecida no rés-do-chão do mesmo

edifício, situado bem no coração da vila velha e centro cívico do Barreiro.

Sobre as origens familiares soube-se que seu pai, Manuel Joaquim Roque,

viera para o Barreiro em criança, onde fora adoptado por uma família de

moleiros de apelido Roque, que o resgatara à Roda de meninos expostos

em Lisboa. Sua mãe era Silvéria Rita, mulher oriunda de famílias camarras

do Barreiro. O casal teve 6 filhos.

Assim fomos descobrindo o universo familiar de José António. Além dos

pais, havia as «manas e mano João». Os irmãos surgem numa sucessão em

que Rita é a mais velha, seguindo-se Ana, depois Ermelinda, o mano João,

ele próprio e por fim Hermínia, a mais nova.

Acerca da infância e adolescência de José, muito pouco sabemos mas, diz-

nos a intuição que terão decorrido no ambiente da mercearia, porventura

ajudando os pais no desempenho de pequenas tarefas. O resto do tempo

ocupá-lo-ia, como é fácil de imaginar, em brincadeiras pelo areal da Praia

Norte, que começando às portas de casa, se alongava entre o porto da CUF

e o Moinho do Jim. É dos verdes anos que nos chega a fotografia do 4º

aniversário, tirada no primeiro dia de Maio do ano 1904.

2 Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM/Lv.13 Praça de Santa Cruz, denominada a partir de 1910 Praça da República. Esta designação manter-se-á até 1958, quando foi alterada por Edital camarário de 30 de Outubro. C.M.B./B/A/03.01, Cx. 2, 1953/1975

A Praça de Santa Cruz, tal como José António a terá conhecido na infância. Postal ilustrado, Barreiro, 1907. C.M.B., BPI-01-Cx. 01

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Tendo frequentado a Escola Conde Ferreira, situada a bem pouca distância

do local aonde morava, ter-se-á ficado por ventura, pelo ensino primário

mas há-de ter sido uma experiência marcante, a avaliar pelo gosto no

registo escrito, que haveria de se tornar um hábito cultivado durante toda a

vida. Ignoramos como e quando terá despertado em si este interesse mas,

presume-se que bem cedo, já que as primeiras notas dos diários intitula-as

«Descrição de factos passados nos anos de 1915 a 18 e anos anteriores».

Provavelmente redigia pequenos apontamentos em papéis soltos, que

guardava, e terá começado a escrever os diários com regularidade, a partir

dos 18 anos.

Acerca da sua entrada no mundo do trabalho, nada nos diz José mas

assentou no seu diário que, andava ao serviço de um empreiteiro de nome

Jordão, nos caminhos-de-ferro do Barreiro, quando tinha dezasseis anos.

Contudo, foi ao completar dezoito que foi admitido nas Oficinas Gerais, no

dia 24 de Setembro de 1918, ingressando no serviço de Material e Tracção

com a categoria de Limpador. O seu local de apresentação era o Depósito

de Máquinas do Barreiro, ou Oficina das Cocheiras, como também se

designava a Rotunda das Locomotivas. Algum tempo depois foi transferido

para o Barreiro-Terra, onde passou a desempenhar a função de Revisor de

Material Circulante.

Sobre o seu percurso profissional, faz-se notar na escrita de José António o

gosto e empenho na profissão que acabaria por abraçar para a vida, a de 4

ferroviário .

Poderá dizer-se que foi, talvez, o ofício a incutir-lhe certas rotinas que,

acabariam por influenciar directamente a personalidade de José António,

sublimando no seu carácter as noções de rigor e disciplina, qualidades tão

próprias quanto necessárias ao bom desempenho da função e que vamos

constatar ao longo da leitura do seu diário.

Nota-se que José gosta da sua actividade profissional e, se por ventura

outros motivos de interesse nela não encontrasse, um dos que mais

valorizava era o facto de viajar, conquanto tal obrigasse muitas vezes, a

permanecer durante semanas fora do Barreiro, em serviço nas várias

estações das linhas do Sul e Sueste e do Algarve.

O menino José António Marques, no dia em que fez 4 anos de idade. C.M.B., Espólio JAM, Cx. 24

4 Na qual trabalhou 42 anos, tendo-se aposentado com 60 de idade.

Foto do 17º Turno da Escola de Praticantes de Estação dos Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste. Lisboa, 1 de Abril de 1921. C.M.B., EJAM, Cx. 24

14 15

Page 15: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Tendo frequentado a Escola Conde Ferreira, situada a bem pouca distância

do local aonde morava, ter-se-á ficado por ventura, pelo ensino primário

mas há-de ter sido uma experiência marcante, a avaliar pelo gosto no

registo escrito, que haveria de se tornar um hábito cultivado durante toda a

vida. Ignoramos como e quando terá despertado em si este interesse mas,

presume-se que bem cedo, já que as primeiras notas dos diários intitula-as

«Descrição de factos passados nos anos de 1915 a 18 e anos anteriores».

Provavelmente redigia pequenos apontamentos em papéis soltos, que

guardava, e terá começado a escrever os diários com regularidade, a partir

dos 18 anos.

Acerca da sua entrada no mundo do trabalho, nada nos diz José mas

assentou no seu diário que, andava ao serviço de um empreiteiro de nome

Jordão, nos caminhos-de-ferro do Barreiro, quando tinha dezasseis anos.

Contudo, foi ao completar dezoito que foi admitido nas Oficinas Gerais, no

dia 24 de Setembro de 1918, ingressando no serviço de Material e Tracção

com a categoria de Limpador. O seu local de apresentação era o Depósito

de Máquinas do Barreiro, ou Oficina das Cocheiras, como também se

designava a Rotunda das Locomotivas. Algum tempo depois foi transferido

para o Barreiro-Terra, onde passou a desempenhar a função de Revisor de

Material Circulante.

Sobre o seu percurso profissional, faz-se notar na escrita de José António o

gosto e empenho na profissão que acabaria por abraçar para a vida, a de 4

ferroviário .

Poderá dizer-se que foi, talvez, o ofício a incutir-lhe certas rotinas que,

acabariam por influenciar directamente a personalidade de José António,

sublimando no seu carácter as noções de rigor e disciplina, qualidades tão

próprias quanto necessárias ao bom desempenho da função e que vamos

constatar ao longo da leitura do seu diário.

Nota-se que José gosta da sua actividade profissional e, se por ventura

outros motivos de interesse nela não encontrasse, um dos que mais

valorizava era o facto de viajar, conquanto tal obrigasse muitas vezes, a

permanecer durante semanas fora do Barreiro, em serviço nas várias

estações das linhas do Sul e Sueste e do Algarve.

O menino José António Marques, no dia em que fez 4 anos de idade. C.M.B., Espólio JAM, Cx. 24

4 Na qual trabalhou 42 anos, tendo-se aposentado com 60 de idade.

Foto do 17º Turno da Escola de Praticantes de Estação dos Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste. Lisboa, 1 de Abril de 1921. C.M.B., EJAM, Cx. 24

14 15

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Viajar tornou-se, além de uma consequência da profissão, um hábito que

muito contribuiu para abrir horizontes ao jovem camarro José António,

dando-lhe a conhecer outras realidades, pessoas, usos e costumes. Assim

ficou a conhecer a maior parte das localidades do Sul do país, aonde

chegava o transporte ferroviário.

Muitas vezes, apenas pelo gosto de passear, José viajou na companhia de

amigos que, ferroviários como ele, aproveitavam um dos raros privilégios

que a Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses concedeu aos seus 5

empregados, o passe anual .

No decurso da leitura do diário vão revelar-se características interessantes,

e outras tantas singularidades, acerca da personalidade do jovem José

António que aqui procuraremos evidenciar.

José António Marques e Maria da Graça Maurício, no dia do casamento. Foto João Resende, R. Almirante Reis, Barreiro. C.M.B., EJAM, Cx. 24

5 Passe anual que a Companhia concedeu aos funcionários do quadro, com direito a redução nos bilhetes e em certos casos a viagens anuais gratuitas, após uma greve nacional promovida pela União Ferroviária em 26 de Janeiro de 1911. Ilustração Portuguesa nº 256, 16 de Janeiro, 1911, p. 103-109.

É assim que nos surge, a par do rapaz de vinte anos bem disposto e por

vezes irónico, um jovem informado que acompanha atentamente a

actualidade do país, através da leitura da imprensa, que revela

preocupações e interesses sociais e culturais e até um certo gosto pessoal

pela história de Portugal; ao mesmo tempo que se interessa por tudo

quanto possa ocorrer na sua terra, como os exemplos que aqui

reproduzimos.

Este é o homem que, em certas noites de verão se deslumbra a «olhar os

astros» e a descobrir «um clarão parecido com a lua», ou que, com

entusiasmo nos diz «fez um dia lindo fazendo muito calor e a noite linda de

luar».

É o José enamorado, que diariamente vai «falar à rapariga», ao fim da

tarde, que recatadamente o aguarda à janela. A 'sua' rapariga, Maria da

Graça Maurício, ou simplesmente M.G.M., com quem casará depois de

vários anos de namoro.

O José António que frequenta assiduamente os bailes campestres, que por

todo o Barreiro são organizados por altura dos Santos Populares, desde o 6Alto José Ferreira, ao Bairro Operário da CUF, ao Bairro Matilde , à Vila

7 8 9Manço e Vila Braz , Largo dos Aliados e Largo das Obras . É o mesmo que se 10inicia nas danças de quadrilha e valsas dos bailes de S. João, ao som das

filarmónicas que animam as noites e prolongam as madrugadas, na

Sociedade Instrução e Sociedade Democrática.

Aos 20 anos José António Marques revelava-se um herdeiro entusiasta do

espírito de associativismo, que caracterizava o Barreiro desde meados do

século XIX. Sócio da sua dilecta Sociedade Instrução e Recreio Barreirense

“Os Penicheiros” desde os 17 anos, participará de forma dinâmica e regular

6 O Bairro Matilde situava-se na periferia do Barreiro, para os lados da Rua Dr. Manuel de Arriaga, no Alto do Seixalinho. Mais tarde este nome desaparece e o que subsiste é o da “Vila Manço”, no mesmo local, edifício ainda hoje existente nesta rua. Um e outro eram blocos de moradias económicas para famílias operárias, o primeiro já construído por volta de 1911 e a “Vila Manço”, propriedade de José Manço Pereira, estava em construção em 1918. Vd. A.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº. 1, Procº. 17, 1911; A.M.B. Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº 1, Procº. 16, 1918, e A.M.B Processos de Construção 1929/1935, CT nº 694/32.7 Antiga Rua Brás, hoje Rua Dr. Pacheco Nobre, no cruzamento para o Alto do Seixalinho.8 Hoje Largo Bento de Jesus Caraça.9 Largo Alexandre Herculano.10 Dança de corte executada por vários pares, muito popular entre as elites no século XIX. Acabará por se democratizar nos salões de dança das sociedades recreativas operárias e clubes de bairro, no início de novecentos.

16 17

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Viajar tornou-se, além de uma consequência da profissão, um hábito que

muito contribuiu para abrir horizontes ao jovem camarro José António,

dando-lhe a conhecer outras realidades, pessoas, usos e costumes. Assim

ficou a conhecer a maior parte das localidades do Sul do país, aonde

chegava o transporte ferroviário.

Muitas vezes, apenas pelo gosto de passear, José viajou na companhia de

amigos que, ferroviários como ele, aproveitavam um dos raros privilégios

que a Companhia dos Caminhos-de-ferro Portugueses concedeu aos seus 5

empregados, o passe anual .

No decurso da leitura do diário vão revelar-se características interessantes,

e outras tantas singularidades, acerca da personalidade do jovem José

António que aqui procuraremos evidenciar.

José António Marques e Maria da Graça Maurício, no dia do casamento. Foto João Resende, R. Almirante Reis, Barreiro. C.M.B., EJAM, Cx. 24

5 Passe anual que a Companhia concedeu aos funcionários do quadro, com direito a redução nos bilhetes e em certos casos a viagens anuais gratuitas, após uma greve nacional promovida pela União Ferroviária em 26 de Janeiro de 1911. Ilustração Portuguesa nº 256, 16 de Janeiro, 1911, p. 103-109.

É assim que nos surge, a par do rapaz de vinte anos bem disposto e por

vezes irónico, um jovem informado que acompanha atentamente a

actualidade do país, através da leitura da imprensa, que revela

preocupações e interesses sociais e culturais e até um certo gosto pessoal

pela história de Portugal; ao mesmo tempo que se interessa por tudo

quanto possa ocorrer na sua terra, como os exemplos que aqui

reproduzimos.

Este é o homem que, em certas noites de verão se deslumbra a «olhar os

astros» e a descobrir «um clarão parecido com a lua», ou que, com

entusiasmo nos diz «fez um dia lindo fazendo muito calor e a noite linda de

luar».

É o José enamorado, que diariamente vai «falar à rapariga», ao fim da

tarde, que recatadamente o aguarda à janela. A 'sua' rapariga, Maria da

Graça Maurício, ou simplesmente M.G.M., com quem casará depois de

vários anos de namoro.

O José António que frequenta assiduamente os bailes campestres, que por

todo o Barreiro são organizados por altura dos Santos Populares, desde o 6Alto José Ferreira, ao Bairro Operário da CUF, ao Bairro Matilde , à Vila

7 8 9Manço e Vila Braz , Largo dos Aliados e Largo das Obras . É o mesmo que se 10inicia nas danças de quadrilha e valsas dos bailes de S. João, ao som das

filarmónicas que animam as noites e prolongam as madrugadas, na

Sociedade Instrução e Sociedade Democrática.

Aos 20 anos José António Marques revelava-se um herdeiro entusiasta do

espírito de associativismo, que caracterizava o Barreiro desde meados do

século XIX. Sócio da sua dilecta Sociedade Instrução e Recreio Barreirense

“Os Penicheiros” desde os 17 anos, participará de forma dinâmica e regular

6 O Bairro Matilde situava-se na periferia do Barreiro, para os lados da Rua Dr. Manuel de Arriaga, no Alto do Seixalinho. Mais tarde este nome desaparece e o que subsiste é o da “Vila Manço”, no mesmo local, edifício ainda hoje existente nesta rua. Um e outro eram blocos de moradias económicas para famílias operárias, o primeiro já construído por volta de 1911 e a “Vila Manço”, propriedade de José Manço Pereira, estava em construção em 1918. Vd. A.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº. 1, Procº. 17, 1911; A.M.B. Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº 1, Procº. 16, 1918, e A.M.B Processos de Construção 1929/1935, CT nº 694/32.7 Antiga Rua Brás, hoje Rua Dr. Pacheco Nobre, no cruzamento para o Alto do Seixalinho.8 Hoje Largo Bento de Jesus Caraça.9 Largo Alexandre Herculano.10 Dança de corte executada por vários pares, muito popular entre as elites no século XIX. Acabará por se democratizar nos salões de dança das sociedades recreativas operárias e clubes de bairro, no início de novecentos.

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«Calçada do Combro, combinando fazer assaltos n'essa noute em Campo

d'Ourique, sendo para esse fim portador de 3 bombas, em forma de pinha e

pintadas de verde. […] A bomba que no Chafariz da Mãe de Água foi 11

arremessada contra uma patrulha da GNR foi lançada pelo cadastrado».

José António Marques aos 18 anos, com a claque. É o primeiro de pé, à esquerda. C.M.B., EJAM, Cx. 24

na vida da colectividade e na organização de actividades, chegando a ser o

sócio nº1. O interesse e gosto pela música levam-no a acompanhar a maior

parte das actuações da Filarmónica Instrução, de que era grande

apreciador, em comitiva com um numeroso grupo de jovens barreirenses,

a «claque».

Da claque fazem parte amigos mais próximos como Eduardo Espírito Santo,

Artur Soeiro, Francisco Soeiro, Custódio F., Luiz Cristo, João da Silva Parra,

Manuel Frade, J. S. Borralho, Manuel P. Manilha, Artur Sobral, António Bifa,

Manuel Hartley, Bernardino Augusto Xavier, entre outros.

Nesta altura, alguns destes seus amigos não poderiam imaginar a sorte que

lhes estava reservada pelo destino. É o caso de Manuel Hartley, que virá a

ser deportado para Cabo Verde, onde acabou por falecer.

Outro é o caso de Bernardino Augusto Xavier, militante das Juventudes

Sindicalistas, com quem José mantinha contactos muito próximos e por

quem parece nutrir grande amizade. Foi preso pela primeira vez aos 17

anos, em 23 de Setembro de 1919, por «agitador anarquista» e ter

proferido insultos à Polícia Cívica de Lisboa, enquanto dava vivas à

revolução social e cantava a Internacional. Em 24 de Junho de 1920 será de

novo preso, implicado num complot contra agentes da Polícia de

Segurança do Estado e a 17 de Setembro, foi novamente detido, na 11 IAN/TT, Polícia Cívica de Lisboa, Processo nº1531 - S.P.E.

Colecção de Programas de José António Marques. C.M.B., EJAM, Cx.05

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«Calçada do Combro, combinando fazer assaltos n'essa noute em Campo

d'Ourique, sendo para esse fim portador de 3 bombas, em forma de pinha e

pintadas de verde. […] A bomba que no Chafariz da Mãe de Água foi 11

arremessada contra uma patrulha da GNR foi lançada pelo cadastrado».

José António Marques aos 18 anos, com a claque. É o primeiro de pé, à esquerda. C.M.B., EJAM, Cx. 24

na vida da colectividade e na organização de actividades, chegando a ser o

sócio nº1. O interesse e gosto pela música levam-no a acompanhar a maior

parte das actuações da Filarmónica Instrução, de que era grande

apreciador, em comitiva com um numeroso grupo de jovens barreirenses,

a «claque».

Da claque fazem parte amigos mais próximos como Eduardo Espírito Santo,

Artur Soeiro, Francisco Soeiro, Custódio F., Luiz Cristo, João da Silva Parra,

Manuel Frade, J. S. Borralho, Manuel P. Manilha, Artur Sobral, António Bifa,

Manuel Hartley, Bernardino Augusto Xavier, entre outros.

Nesta altura, alguns destes seus amigos não poderiam imaginar a sorte que

lhes estava reservada pelo destino. É o caso de Manuel Hartley, que virá a

ser deportado para Cabo Verde, onde acabou por falecer.

Outro é o caso de Bernardino Augusto Xavier, militante das Juventudes

Sindicalistas, com quem José mantinha contactos muito próximos e por

quem parece nutrir grande amizade. Foi preso pela primeira vez aos 17

anos, em 23 de Setembro de 1919, por «agitador anarquista» e ter

proferido insultos à Polícia Cívica de Lisboa, enquanto dava vivas à

revolução social e cantava a Internacional. Em 24 de Junho de 1920 será de

novo preso, implicado num complot contra agentes da Polícia de

Segurança do Estado e a 17 de Setembro, foi novamente detido, na 11 IAN/TT, Polícia Cívica de Lisboa, Processo nº1531 - S.P.E.

Colecção de Programas de José António Marques. C.M.B., EJAM, Cx.05

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Bernardino Augusto Xavier será um dos membros do Comité Grevista

Revolucionário de Setúbal, que preparou o movimento do 18 de Janeiro de

1934 naquela cidade e provavelmente, esteve também ligado, no ano

seguinte, aos acontecimentos de Fevereiro no Barreiro. Julgado à revelia

pelo Tribunal Militar Especial, foi condenado a 3 anos de desterro para a

Colónia Penal do Tarrafal em 1935, tento lá cumprido 5 anos. Em 1940 será

transferido para o Forte de Caxias, gravemente doente, sendo libertado 12apenas em 1941.

Em plena ditadura salazarista José António Marques terá para com

Bernardino Augusto Xavier, tal como para 2 outros presos políticos no

Tarrafal, um gesto de grande coragem que atesta bem o seu carácter, ao

assumir a responsabilidade de assinar uma carta, em nome de uma

Comissão Organizadora, para um espectáculo de solidariedade realizado

em 14 de Abril de 1939 no Cinema Teatro, «a favor das senhoras Gertrudes

Rosa Xavier, Natália dos Santos Costa e Clementina Agostinha Sequeira e

filhos, esposas dos ex-ferroviários Bernardino Augusto Xavier, Acácio José 13da Costa e Manuel Vicente Sequeira» .

Mas retornemos a 1920, porque, por ora a claque pensa apenas em

divertir-se.

A claque deslocava-se em grupo para fora do Barreiro, às festas das

localidades vizinhas como Alhos Vedros, Moita, Seixal, Setúbal, às festas e

Círios da Atalaia e da Senhora da Arrábida, a Sesimbra e a muitas outras

localidades por todo o país. Com a claque José viveu momentos

inesquecíveis, que registou no seu diário.

A claque, numerosa e azougada, alegre e cúmplice nas brincadeiras, que

José vai descrevendo com pormenor e algum gozo pessoal. Foi o caso em

23 de Agosto de 1920, quando a Filarmónica da Sociedade Democrática foi

tocar às festas da Senhora da Piedade, em Sesimbra, e a claque resolve

fazer uma partida ao grupo.

«A claque que era como em cima já disse. Andamos a passear com as filhas

da casa aonde nós comemos. Era 23h e tal seguimos, antes de terminar a

Sociedade o concerto, para a escola, aonde nós juntamos os colchões e

tiramos a torcida do candeeiro. A Sociedade chegou, nós escondidos.

Foram ao candeeiro, gastaram fósforos etc., etc. andaram indagar quem

foi ninguém sabia, só a claque dos 5. Foi uma noite e peras.»

A propósito de um passeio, desta vez a Estremoz no dia 5 de Setembro de

1920, tendo passado a noite ao relento naquela cidade alentejana, escreve

José: «O nosso hotel foi as estrelas nas cadeiras no arraial. Era 4h da

madrugada fomos dar uma volta à vila, encontrando muita rapaziada do

Barreiro. Depois regressamos ao mesmo hotel.»

Num outro registo, José conta sobre as brincadeiras carnavalescas e como a

claque percorre toda a vila e arredores, divertindo-se e fazendo tropelias.

«Ontem foi brincadeiras de Carnaval. Fomos como já estava-se escaldado

da vila, ao Bairro Matilde. Tirámos alguns degraus feitos de escadas e

trouxemos para a vila, eram de madeira, e na vila tiramos alguns paus das

janelas, de estender a roupa etc. A claque era eu, Luiz Cristo, Domingos,

Manuel Hartley, M. Barros, Francisco Soeiro.»

[...]

«Brincadeiras de Carnaval, entre elas pedras no passeio, tirar paus de

estender roupa, apagar 2 candeeiros públicos no Largo Casal. Tiramos uma

canastra à mãe do Eduardo E. S.»

[...]

«Á noite a continuação com as brincadeiras carnavalescas. Foi a claque era

eu, Francisco Soeiro, J. S. Borralho, Artur Sobral, fomos pintar a tabeleta da

Cozinha 5 de Dezembro para os pobres, inaugurado pelo Presidente da

República Sidónio Pais.»

A claque juntava-se, geralmente no Largo Casal, ao fim do dia e dali partiam

a dar uma volta pela vila. No regresso era certo que passavam por uma das

três leitarias, a Leitaria do Lá-vai no Largo Casal, a mais frequentada, a

Leitaria do Alves e a Leitaria do Ganhão.

Também eram muito populares entre a claque, ao fim da tarde e fins-de-

semana no Verão, os passeios pelos campos como se nota por alguns

comentários de José, a propósito de irem armar aos pássaros nas hortas

dos arredores da Vila.

«Chegaram já as petinas e arvéolas» e «Levantei-me às 7h30 como

combinei mais Artur S., Custódio F., Sebastião G., estar pelas 8h no Largo

Casal fui o primeiro, despois Custódio F. Este foi a casa da avó, depois

regressou e fomos ao Mercado, encontramos o Artur S. seguimos até ao

pinhal da Brenha, armar aos pássaros. Apareceu o Sebastião Gomes,

desarmamos para outros sítios. Estivemos na Verderena, não apanhamos

nada e regressamos a casa.»

12 IAN/TT, PIDE/DGS, Processo de Bernardino Augusto Xavier, nº 1332-SPS - N.T.4311.13Arquivo da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste, Carta de agradecimento à Associação, assinada por José António Marques cota: AHBVSS/A/03/Cx.1 - 1921/1984

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Bernardino Augusto Xavier será um dos membros do Comité Grevista

Revolucionário de Setúbal, que preparou o movimento do 18 de Janeiro de

1934 naquela cidade e provavelmente, esteve também ligado, no ano

seguinte, aos acontecimentos de Fevereiro no Barreiro. Julgado à revelia

pelo Tribunal Militar Especial, foi condenado a 3 anos de desterro para a

Colónia Penal do Tarrafal em 1935, tento lá cumprido 5 anos. Em 1940 será

transferido para o Forte de Caxias, gravemente doente, sendo libertado 12apenas em 1941.

Em plena ditadura salazarista José António Marques terá para com

Bernardino Augusto Xavier, tal como para 2 outros presos políticos no

Tarrafal, um gesto de grande coragem que atesta bem o seu carácter, ao

assumir a responsabilidade de assinar uma carta, em nome de uma

Comissão Organizadora, para um espectáculo de solidariedade realizado

em 14 de Abril de 1939 no Cinema Teatro, «a favor das senhoras Gertrudes

Rosa Xavier, Natália dos Santos Costa e Clementina Agostinha Sequeira e

filhos, esposas dos ex-ferroviários Bernardino Augusto Xavier, Acácio José 13da Costa e Manuel Vicente Sequeira» .

Mas retornemos a 1920, porque, por ora a claque pensa apenas em

divertir-se.

A claque deslocava-se em grupo para fora do Barreiro, às festas das

localidades vizinhas como Alhos Vedros, Moita, Seixal, Setúbal, às festas e

Círios da Atalaia e da Senhora da Arrábida, a Sesimbra e a muitas outras

localidades por todo o país. Com a claque José viveu momentos

inesquecíveis, que registou no seu diário.

A claque, numerosa e azougada, alegre e cúmplice nas brincadeiras, que

José vai descrevendo com pormenor e algum gozo pessoal. Foi o caso em

23 de Agosto de 1920, quando a Filarmónica da Sociedade Democrática foi

tocar às festas da Senhora da Piedade, em Sesimbra, e a claque resolve

fazer uma partida ao grupo.

«A claque que era como em cima já disse. Andamos a passear com as filhas

da casa aonde nós comemos. Era 23h e tal seguimos, antes de terminar a

Sociedade o concerto, para a escola, aonde nós juntamos os colchões e

tiramos a torcida do candeeiro. A Sociedade chegou, nós escondidos.

Foram ao candeeiro, gastaram fósforos etc., etc. andaram indagar quem

foi ninguém sabia, só a claque dos 5. Foi uma noite e peras.»

A propósito de um passeio, desta vez a Estremoz no dia 5 de Setembro de

1920, tendo passado a noite ao relento naquela cidade alentejana, escreve

José: «O nosso hotel foi as estrelas nas cadeiras no arraial. Era 4h da

madrugada fomos dar uma volta à vila, encontrando muita rapaziada do

Barreiro. Depois regressamos ao mesmo hotel.»

Num outro registo, José conta sobre as brincadeiras carnavalescas e como a

claque percorre toda a vila e arredores, divertindo-se e fazendo tropelias.

«Ontem foi brincadeiras de Carnaval. Fomos como já estava-se escaldado

da vila, ao Bairro Matilde. Tirámos alguns degraus feitos de escadas e

trouxemos para a vila, eram de madeira, e na vila tiramos alguns paus das

janelas, de estender a roupa etc. A claque era eu, Luiz Cristo, Domingos,

Manuel Hartley, M. Barros, Francisco Soeiro.»

[...]

«Brincadeiras de Carnaval, entre elas pedras no passeio, tirar paus de

estender roupa, apagar 2 candeeiros públicos no Largo Casal. Tiramos uma

canastra à mãe do Eduardo E. S.»

[...]

«Á noite a continuação com as brincadeiras carnavalescas. Foi a claque era

eu, Francisco Soeiro, J. S. Borralho, Artur Sobral, fomos pintar a tabeleta da

Cozinha 5 de Dezembro para os pobres, inaugurado pelo Presidente da

República Sidónio Pais.»

A claque juntava-se, geralmente no Largo Casal, ao fim do dia e dali partiam

a dar uma volta pela vila. No regresso era certo que passavam por uma das

três leitarias, a Leitaria do Lá-vai no Largo Casal, a mais frequentada, a

Leitaria do Alves e a Leitaria do Ganhão.

Também eram muito populares entre a claque, ao fim da tarde e fins-de-

semana no Verão, os passeios pelos campos como se nota por alguns

comentários de José, a propósito de irem armar aos pássaros nas hortas

dos arredores da Vila.

«Chegaram já as petinas e arvéolas» e «Levantei-me às 7h30 como

combinei mais Artur S., Custódio F., Sebastião G., estar pelas 8h no Largo

Casal fui o primeiro, despois Custódio F. Este foi a casa da avó, depois

regressou e fomos ao Mercado, encontramos o Artur S. seguimos até ao

pinhal da Brenha, armar aos pássaros. Apareceu o Sebastião Gomes,

desarmamos para outros sítios. Estivemos na Verderena, não apanhamos

nada e regressamos a casa.»

12 IAN/TT, PIDE/DGS, Processo de Bernardino Augusto Xavier, nº 1332-SPS - N.T.4311.13Arquivo da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste, Carta de agradecimento à Associação, assinada por José António Marques cota: AHBVSS/A/03/Cx.1 - 1921/1984

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Por vezes o motivo dos passeios campestres podia ser apenas a festa do dia

da espiga. Nessa 5ª feira, grandes ranchos partiam da vila, a pé, para as

quintas e pinhais da Quinta da Lomba, Telha, Alto dos Silveiros, Alto do

Seixalinho e da Paiva, passando o dia e as tardes soalheiras e longas de

Maio, em animados piqueniques.

Uma das grandes paixões de José António Marques foi o cinema. São

constantes e recorrentes as suas notas sobre as fitas de cinema a que

assistia. A sua colecção de programas é por demais significativa. De tal

forma que, com ela se pode reconstituir a programação cultural dos teatros

do Barreiro naquela época: o República, o Teatro-Cine e o animatógrafo do

Salão Popular, nos Corticeiros.

Os passeios e deslocações a Lisboa, muito do agrado da claque, são tempos

de passeio e devaneio que José descreve com gosto redobrado.

Ainda que excepcionalmente, deparamos no seu diário com alusões a

assuntos que poderíamos considerar no universo dos tabus e interditos

sociais, como a prostituição e a homossexualidade. Nestes casos José

escreve de forma cuidadosa, em registo quase íntimo, escusando-se ao

habitual pormenor descritivo.

É o caso em 19 de Setembro, quando José António anota que emprestou

dinheiro ao seu amigo Bifa.

Ou, em 6 de Junho de 1920, que embora não o refira expressamente,

subentende-se que José terá ido passear a Lisboa, ao Bairro Alto, a uma

casa de passe na companhia de amigos.

«Fui para Lisboa às 11,30h com a claque Custódio F., José de Paula. Fomos 14ao B. A. barb[earia] da Travessa do P. Negro nº 38 eu F. [sic] a Ermelinda

paguei 1$50».

Em 19 de Outubro, escreve a propósito dos rotos, e sabemos que está a

falar de homossexuais:

«Como a claque estivesse triste eu disse vamos para a praia jogar ao

canivete foi logo aceite era Eugénio da Silva, Custódio F., J. S. Borralho, Artur

S. apareceu o J. Venâncio queria jogar e nós explicamos como era não quis

perdemos assim distribuídos eu 3 vezes, o J. S. Borralho uma vez. Passou

pelas 17h50 perto de nós os rotos Esperança e Rapouso e outro para o lado

do Mexilhoeiro e eles com adeus e nós respondíamos igualmente por fim

levantamos e fomos pela praia brincando e as filhas do Imitério fartaram-se

de rir à porta do quintal.»

Estas são algumas passagens bem elucidativas, seleccionadas entre muitas

outras possíveis, quanto ao que nos reserva nos seus escritos o autor do

Registo dos Factos mais notáveis no ano 1920. Com elas tentou lançar-se

alguma claridade sobre certos aspectos da vida e do mundo de José

António Marques, numa tentativa de interpretar e conhecer um pouco

melhor a sua personalidade.

Conquanto tenhamos a percepção que muito ficará ainda por dizer, sobre

as qualidades pessoais e o carácter de José António Marques, na sua escrita

acabamos por descobrir as evidências dos gostos, hábitos, modos de ser,

estar e pensar que nos interpelam e duplamente remetem para os padrões

sociais e culturais do tempo e do seu autor, nas duas décadas primeiras do

século XX.

«Os componentes do Grupo dos Trez Vinténs Sócios da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense, como prova de estima e consideração, oferecem. Barreiro, 15 de Agosto de 1924» José António, sentado, à esquerda. Fotografia de João Resende. C.M.B., EJAM, Cx. 24.

14 Bairro Alto

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Por vezes o motivo dos passeios campestres podia ser apenas a festa do dia

da espiga. Nessa 5ª feira, grandes ranchos partiam da vila, a pé, para as

quintas e pinhais da Quinta da Lomba, Telha, Alto dos Silveiros, Alto do

Seixalinho e da Paiva, passando o dia e as tardes soalheiras e longas de

Maio, em animados piqueniques.

Uma das grandes paixões de José António Marques foi o cinema. São

constantes e recorrentes as suas notas sobre as fitas de cinema a que

assistia. A sua colecção de programas é por demais significativa. De tal

forma que, com ela se pode reconstituir a programação cultural dos teatros

do Barreiro naquela época: o República, o Teatro-Cine e o animatógrafo do

Salão Popular, nos Corticeiros.

Os passeios e deslocações a Lisboa, muito do agrado da claque, são tempos

de passeio e devaneio que José descreve com gosto redobrado.

Ainda que excepcionalmente, deparamos no seu diário com alusões a

assuntos que poderíamos considerar no universo dos tabus e interditos

sociais, como a prostituição e a homossexualidade. Nestes casos José

escreve de forma cuidadosa, em registo quase íntimo, escusando-se ao

habitual pormenor descritivo.

É o caso em 19 de Setembro, quando José António anota que emprestou

dinheiro ao seu amigo Bifa.

Ou, em 6 de Junho de 1920, que embora não o refira expressamente,

subentende-se que José terá ido passear a Lisboa, ao Bairro Alto, a uma

casa de passe na companhia de amigos.

«Fui para Lisboa às 11,30h com a claque Custódio F., José de Paula. Fomos 14ao B. A. barb[earia] da Travessa do P. Negro nº 38 eu F. [sic] a Ermelinda

paguei 1$50».

Em 19 de Outubro, escreve a propósito dos rotos, e sabemos que está a

falar de homossexuais:

«Como a claque estivesse triste eu disse vamos para a praia jogar ao

canivete foi logo aceite era Eugénio da Silva, Custódio F., J. S. Borralho, Artur

S. apareceu o J. Venâncio queria jogar e nós explicamos como era não quis

perdemos assim distribuídos eu 3 vezes, o J. S. Borralho uma vez. Passou

pelas 17h50 perto de nós os rotos Esperança e Rapouso e outro para o lado

do Mexilhoeiro e eles com adeus e nós respondíamos igualmente por fim

levantamos e fomos pela praia brincando e as filhas do Imitério fartaram-se

de rir à porta do quintal.»

Estas são algumas passagens bem elucidativas, seleccionadas entre muitas

outras possíveis, quanto ao que nos reserva nos seus escritos o autor do

Registo dos Factos mais notáveis no ano 1920. Com elas tentou lançar-se

alguma claridade sobre certos aspectos da vida e do mundo de José

António Marques, numa tentativa de interpretar e conhecer um pouco

melhor a sua personalidade.

Conquanto tenhamos a percepção que muito ficará ainda por dizer, sobre

as qualidades pessoais e o carácter de José António Marques, na sua escrita

acabamos por descobrir as evidências dos gostos, hábitos, modos de ser,

estar e pensar que nos interpelam e duplamente remetem para os padrões

sociais e culturais do tempo e do seu autor, nas duas décadas primeiras do

século XX.

«Os componentes do Grupo dos Trez Vinténs Sócios da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense, como prova de estima e consideração, oferecem. Barreiro, 15 de Agosto de 1924» José António, sentado, à esquerda. Fotografia de João Resende. C.M.B., EJAM, Cx. 24.

14 Bairro Alto

22 23

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O diário de José António Marques, uma fonte para a história do Barreiro

no século XX

Do vasto horizonte temporal a que os diários de José António Marques se

reportam –1915 a 1988 com hiatos de poucos anos –, optou-se por publicar

o ano de 1920. Por uma razão simples, é que, embora tenha iniciado a sua

escrita sobre acontecimentos do Barreiro por volta dos 18 anos (ainda que

em breves notas José alude a «factos passados nos anos 1915 a 918») é,

contudo, a partir de 1920, que começa a anotar os seus registos escritos de

um modo regular e sistemático.

Dada a vastidão do período abrangido pelos registos, a densidade da

informação neles contida e a quantidade de livros – os diários são

constituídos por 41 livros manuscritos -, seria humanamente impossível

reunir tudo numa primeira edição. Assim, optou-se por seleccionar o ano

de 1920, tendo sempre em mente que esta é uma abordagem possível aos

diários, ainda que outras, e sob diferentes perspectivas, se justifiquem e o

mereça tal acervo.

Os diários manuscritos de José António Marques constituem parte de um

vasto espólio doado pelo próprio à Câmara Municipal do Barreiro e uma

outra parte foi entregue por familiares, após o seu falecimento.

José António Marques foi, além de observador atento do seu tempo, um

grande coleccionador de acontecimentos. A par dos seus registos escritos,

foi reunindo um grande número de documentos em que destacamos a

doação, feita a 23 de Abril de 1981 de cerca de 4 mil programas e cartazes

originais de todo o país, sobre as mais diferentes actividades nas áreas

sociais e culturais, como cinema, teatro, espectáculos e concertos

musicais, bailes, circo, tauromaquia, jogos e provas desportivas, folhetos

publicitários, etc., etc.

Já em 2009, o Município recebeu nova doação pela família, através de seu

sobrinho Francisco Roque Soares, de fotografias, jornais e recortes de

notícias, livros, mais programas de espectáculos e os diários manuscritos.

No conjunto, o espólio que foi coleccionando até bem pouco tempo antes

de falecer, reveste-se de um interesse especial pela informação que

contém, pois, quer os cartazes datando dos anos 20 aos anos 80, quer os

seus diários manuscritos, permitem reconstituir uma parte muito

significativa da história do Barreiro no século XX.

Como homem «muito envolvido no associativismo e na história do

Barreiro», José António Marques seria homenageado, ainda em vida, pela

Câmara Municipal com o galardão “Barreiro Reconhecido” em Junho de

1986. Em 1995, dois anos após o seu falecimento, o seu nome foi atribuído

à antiga Rua 7 na Quinta das Gateiras, freguesia de Santo André, onde

residiu nos últimos anos de vida.Relativamente ao diário de 1920, o seu método consiste na anotação cuidadosa dos factos, num registo que obedece a uma estrutura própria, onde rigorosamente assenta o dia, o mês, o ano, a hora, e por vezes até os minutos, em que os acontecimentos têm lugar, ordenando a informação relativa ao seu dia de trabalho, ao estado do tempo, desenvolvendo depois a escrita sobre os acontecimentos diários. Fá-lo também de uma forma assaz curiosa, anotando primeiro os acontecimentos ocorridos no mesmo dia mas, no ano anterior, só depois começa a escrever sobre o presente. Exemplifiquemos: «9/7/920 Fez um ano continuava de licença com vencimento fui para Lisboa às 9,30 regressei às 14,25h. Houve reunião de ferroviários no Teatro Cine por motivo da Caixa. Fez uma noite linda de luar. Falei com a M.G.M. […] 1920. Trabalhei todo o dia. Fomos no cº. 11 cª 73 para Pinhal Novo à montagem de uma barraca para o revisor de material eu, revisores M. Manilha, J.S. Cardoso, J. José 2º, Domingos d'Silva estes serventes e

15aprendizes João M. Estaca, J. José Pedro, e o carpinteiro António Bifa […].»

Na meticulosidade e rigor colocados na descrição dos acontecimentos,

descobrimos influências do seu metier.

José António começou o seu ofício de ferroviário como revisor de material,

sendo sua obrigação inspecionar atentamente o material circulante, a fim

Diário manuscrito de José António Marques relativo ao ano 1920. C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM, Lv.1

15 C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, A.M.B., EJAM, Lv.1

24 25

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O diário de José António Marques, uma fonte para a história do Barreiro

no século XX

Do vasto horizonte temporal a que os diários de José António Marques se

reportam –1915 a 1988 com hiatos de poucos anos –, optou-se por publicar

o ano de 1920. Por uma razão simples, é que, embora tenha iniciado a sua

escrita sobre acontecimentos do Barreiro por volta dos 18 anos (ainda que

em breves notas José alude a «factos passados nos anos 1915 a 918») é,

contudo, a partir de 1920, que começa a anotar os seus registos escritos de

um modo regular e sistemático.

Dada a vastidão do período abrangido pelos registos, a densidade da

informação neles contida e a quantidade de livros – os diários são

constituídos por 41 livros manuscritos -, seria humanamente impossível

reunir tudo numa primeira edição. Assim, optou-se por seleccionar o ano

de 1920, tendo sempre em mente que esta é uma abordagem possível aos

diários, ainda que outras, e sob diferentes perspectivas, se justifiquem e o

mereça tal acervo.

Os diários manuscritos de José António Marques constituem parte de um

vasto espólio doado pelo próprio à Câmara Municipal do Barreiro e uma

outra parte foi entregue por familiares, após o seu falecimento.

José António Marques foi, além de observador atento do seu tempo, um

grande coleccionador de acontecimentos. A par dos seus registos escritos,

foi reunindo um grande número de documentos em que destacamos a

doação, feita a 23 de Abril de 1981 de cerca de 4 mil programas e cartazes

originais de todo o país, sobre as mais diferentes actividades nas áreas

sociais e culturais, como cinema, teatro, espectáculos e concertos

musicais, bailes, circo, tauromaquia, jogos e provas desportivas, folhetos

publicitários, etc., etc.

Já em 2009, o Município recebeu nova doação pela família, através de seu

sobrinho Francisco Roque Soares, de fotografias, jornais e recortes de

notícias, livros, mais programas de espectáculos e os diários manuscritos.

No conjunto, o espólio que foi coleccionando até bem pouco tempo antes

de falecer, reveste-se de um interesse especial pela informação que

contém, pois, quer os cartazes datando dos anos 20 aos anos 80, quer os

seus diários manuscritos, permitem reconstituir uma parte muito

significativa da história do Barreiro no século XX.

Como homem «muito envolvido no associativismo e na história do

Barreiro», José António Marques seria homenageado, ainda em vida, pela

Câmara Municipal com o galardão “Barreiro Reconhecido” em Junho de

1986. Em 1995, dois anos após o seu falecimento, o seu nome foi atribuído

à antiga Rua 7 na Quinta das Gateiras, freguesia de Santo André, onde

residiu nos últimos anos de vida.Relativamente ao diário de 1920, o seu método consiste na anotação cuidadosa dos factos, num registo que obedece a uma estrutura própria, onde rigorosamente assenta o dia, o mês, o ano, a hora, e por vezes até os minutos, em que os acontecimentos têm lugar, ordenando a informação relativa ao seu dia de trabalho, ao estado do tempo, desenvolvendo depois a escrita sobre os acontecimentos diários. Fá-lo também de uma forma assaz curiosa, anotando primeiro os acontecimentos ocorridos no mesmo dia mas, no ano anterior, só depois começa a escrever sobre o presente. Exemplifiquemos: «9/7/920 Fez um ano continuava de licença com vencimento fui para Lisboa às 9,30 regressei às 14,25h. Houve reunião de ferroviários no Teatro Cine por motivo da Caixa. Fez uma noite linda de luar. Falei com a M.G.M. […] 1920. Trabalhei todo o dia. Fomos no cº. 11 cª 73 para Pinhal Novo à montagem de uma barraca para o revisor de material eu, revisores M. Manilha, J.S. Cardoso, J. José 2º, Domingos d'Silva estes serventes e

15aprendizes João M. Estaca, J. José Pedro, e o carpinteiro António Bifa […].»

Na meticulosidade e rigor colocados na descrição dos acontecimentos,

descobrimos influências do seu metier.

José António começou o seu ofício de ferroviário como revisor de material,

sendo sua obrigação inspecionar atentamente o material circulante, a fim

Diário manuscrito de José António Marques relativo ao ano 1920. C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM, Lv.1

15 C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, A.M.B., EJAM, Lv.1

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de localizar todas as possíveis falhas ou anomalias que pudessem provocar

avarias ou acidentes. Este procedimento - que requeria uma grande

atenção e responsabilidade e um registo cuidado e minucioso de todas

ocorrências, até as mais insignificantes, com a máxima precisão -, ter-lhe-á

conferido o treino mental que podemos apreciar nas anotações do seu

diário.

Influenciado pela grande intensidade dos acontecimentos e tomado por

uma sensibilidade especial, como se de um autêntico jornalista se tratasse,

foi registando todos os acontecimentos do seu tempo e é graças a este seu

hábito de escrever, que tomamos conhecimento de certos factos que, de

outra forma nunca chegariam ao conhecimento público. José António

Marques estava a escrever a história do seu tempo, talvez sem o saber.

Os diários manuscritos constituem um fundo documental ainda pouco

conhecido do público, apesar de algumas abordagens já anteriormente 16efectuadas , revelam-se hoje em acontecimentos e pormenores da

história vintista do Barreiro, sob uma perspectiva única, porque diversa

daquela que nos transmitem as fontes históricas oficiais. É uma outra visão:

a de um operário que procura entender e registar o mundo que o rodeia e

nele participa enquanto actor do momento histórico que descreve.

Pela natureza dos escritos e pela descrição densa que nos deixou, o Registo 17dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920 de José António Marques,

constitui uma fonte indispensável para o conhecimento do quotidiano

barreirense. Como se de ficção se tratasse, num quase registo

cinematográfico José transporta-nos, na sua escrita típica, para um dia do

Barreiro em 1920.

«4/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi concedido 6 dias de licença que

pedi à dias, principiando a gozar amanhã. Fui para Lisboa às 9.30h.

Comprei um cinto por 3$50. Encontrava-se em toda a cidade muitos

edifícios do estado e particulares bandeiras nacionais e aliados, em

regozijo da assinatura da paz da guerra europeia. Esteve todo o dia

nublado, fazendo muito vento norte. Pelas 13.30h [veio] uma força de

Cavalaria 2 para o Barreiro. Falei com a M.G.M. Estive de tarde no talho do

A. Luiz Marques, ao pé da Praça da República. Fiz entregar os distintivos do

Grupo dos 11, o Eduardo Espírito Santo, Luiz Caseirão pagou os ditos. 1920

'' Estive de descanso semanal. Fez um dia lindo mas pouco vento. Ao fim da

tarde levantou-se grande nortada e foi toda a noite. Levantei-me às 10h,

pelas 11.30h foi festejada a cerimonia no colocar o painel no Largo dos

Aliados nunciando as próximas Festas de Agosto, abrilhantando as

Sociedades Democrática e da Companhia União Fabril, tirando-se muitas

girândolas de foguetes e uma salva de 21 tiros etc. Pelas 14h foram ao

jantar do Luiz Miguel Santos numa quinta próximo da Telha a Sociedade de

Instrução. Foi o casamento da Albertina Bravo Rodrigues. Houve desafio de

foot-ball. Na Comp. União Fabril não [se] realizou a corrida de sacos e

burros, etc., havendo baile à tarde e à noite. Pelas 20h15 passou sobre a vila

um aeroplano. Correram animados os bailes, principalmente o do Alto José

Ferreira. Houve espectáculo na S. Instrução sendo a comédia “O Genro do

Caetano”, sendo uma noite de gargalhada. Fizeram uma rifa de uma

16 Numa palestra organizada pela Câmara Municipal do Barreiro em 5 de Novembro de 2011, intitulada «José António Marques, o colecionador para a História», integrada na iniciativa “Dois dedos de conversa”, a Investigadora Joana Pereira, chamava a atenção para a importância deste espólio existente no Arquivo Municipal. Ainda no mesmo ano foi apresentada pela autora do presente trabalho uma comunicação intitulada “A greve de 70 dias no Sul e Sueste – 1920 - através dos Diários de José António Marques”, ao Encontro de Investigadores Locais Áreas Industriais e Comunidades Operárias, III Sessão – O Mundo do Trabalho na Península de Setúbal, Organizada pelo Instituto de História Contemporânea da FCSH, Universidade Nova de Lisboa.17 C.M.B., EJAM, Lv.1, 1918-20

Diário manuscrito de José António Marques relativo ao ano 1920. C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM, Lv.1

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de localizar todas as possíveis falhas ou anomalias que pudessem provocar

avarias ou acidentes. Este procedimento - que requeria uma grande

atenção e responsabilidade e um registo cuidado e minucioso de todas

ocorrências, até as mais insignificantes, com a máxima precisão -, ter-lhe-á

conferido o treino mental que podemos apreciar nas anotações do seu

diário.

Influenciado pela grande intensidade dos acontecimentos e tomado por

uma sensibilidade especial, como se de um autêntico jornalista se tratasse,

foi registando todos os acontecimentos do seu tempo e é graças a este seu

hábito de escrever, que tomamos conhecimento de certos factos que, de

outra forma nunca chegariam ao conhecimento público. José António

Marques estava a escrever a história do seu tempo, talvez sem o saber.

Os diários manuscritos constituem um fundo documental ainda pouco

conhecido do público, apesar de algumas abordagens já anteriormente 16efectuadas , revelam-se hoje em acontecimentos e pormenores da

história vintista do Barreiro, sob uma perspectiva única, porque diversa

daquela que nos transmitem as fontes históricas oficiais. É uma outra visão:

a de um operário que procura entender e registar o mundo que o rodeia e

nele participa enquanto actor do momento histórico que descreve.

Pela natureza dos escritos e pela descrição densa que nos deixou, o Registo 17dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920 de José António Marques,

constitui uma fonte indispensável para o conhecimento do quotidiano

barreirense. Como se de ficção se tratasse, num quase registo

cinematográfico José transporta-nos, na sua escrita típica, para um dia do

Barreiro em 1920.

«4/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi concedido 6 dias de licença que

pedi à dias, principiando a gozar amanhã. Fui para Lisboa às 9.30h.

Comprei um cinto por 3$50. Encontrava-se em toda a cidade muitos

edifícios do estado e particulares bandeiras nacionais e aliados, em

regozijo da assinatura da paz da guerra europeia. Esteve todo o dia

nublado, fazendo muito vento norte. Pelas 13.30h [veio] uma força de

Cavalaria 2 para o Barreiro. Falei com a M.G.M. Estive de tarde no talho do

A. Luiz Marques, ao pé da Praça da República. Fiz entregar os distintivos do

Grupo dos 11, o Eduardo Espírito Santo, Luiz Caseirão pagou os ditos. 1920

'' Estive de descanso semanal. Fez um dia lindo mas pouco vento. Ao fim da

tarde levantou-se grande nortada e foi toda a noite. Levantei-me às 10h,

pelas 11.30h foi festejada a cerimonia no colocar o painel no Largo dos

Aliados nunciando as próximas Festas de Agosto, abrilhantando as

Sociedades Democrática e da Companhia União Fabril, tirando-se muitas

girândolas de foguetes e uma salva de 21 tiros etc. Pelas 14h foram ao

jantar do Luiz Miguel Santos numa quinta próximo da Telha a Sociedade de

Instrução. Foi o casamento da Albertina Bravo Rodrigues. Houve desafio de

foot-ball. Na Comp. União Fabril não [se] realizou a corrida de sacos e

burros, etc., havendo baile à tarde e à noite. Pelas 20h15 passou sobre a vila

um aeroplano. Correram animados os bailes, principalmente o do Alto José

Ferreira. Houve espectáculo na S. Instrução sendo a comédia “O Genro do

Caetano”, sendo uma noite de gargalhada. Fizeram uma rifa de uma

16 Numa palestra organizada pela Câmara Municipal do Barreiro em 5 de Novembro de 2011, intitulada «José António Marques, o colecionador para a História», integrada na iniciativa “Dois dedos de conversa”, a Investigadora Joana Pereira, chamava a atenção para a importância deste espólio existente no Arquivo Municipal. Ainda no mesmo ano foi apresentada pela autora do presente trabalho uma comunicação intitulada “A greve de 70 dias no Sul e Sueste – 1920 - através dos Diários de José António Marques”, ao Encontro de Investigadores Locais Áreas Industriais e Comunidades Operárias, III Sessão – O Mundo do Trabalho na Península de Setúbal, Organizada pelo Instituto de História Contemporânea da FCSH, Universidade Nova de Lisboa.17 C.M.B., EJAM, Lv.1, 1918-20

Diário manuscrito de José António Marques relativo ao ano 1920. C.M.B., Registo dos factos mais notáveis nos anos 1918 a 920, C.M.B., EJAM, Lv.1

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galinha corada, comprei 13 números e a claque também compraram. Fez o

sorteio no nº 104, foi ao Joaquim dos Santos que ofereceu ao Grupo

Dramático. Veio ao palco agradecer em nome do dito grupo dos comilões

Jerónimo(?) Martins. A pedido da claque veio a actriz Maletina Neves, esta

cantou o fado da alfazema. Terminou o espectáculo às 2h da madrugada.

Vim para os bailes do Alto José Ferreira, estava animado, terminou às 3h5.

Houve benefício no T. Cine da S. Democrática para reverter o produto

líquido para a compra dos fardamentos para a dita. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Sport Portugal. Ficaram empatados 3 a 3 no

Barreiro.»

Numa dimensão interpretativa, a sua narrativa é, a muitos títulos

extraordinária, pela singularidade de ter sido produzida por um operário

ferroviário, pela qualidade dos pormenores com que vai compondo o

relato, transportando-nos instantaneamente para os cenários que

descreve.

Como uma porta aberta no tempo, os escritos de José transmitem

vislumbres extraordinários, sobre os tempos exaltados do final da I

República no Barreiro. Relacionando a memória individual com o colectivo,

o que mais ainda valoriza os seus escritos é o facto de os diários

constituírem fontes primárias, no âmbito da história local, regional e

nacional.

José António Marques anotou uma multiplicidade de acontecimentos, que

só a leitura completa do Registo permite a noção da sua real importância.

Provavelmente um dos acontecimentos mais relevantes que terá registado

no seu diário de 1920, cujo relato lhe confere a exacta dimensão do facto

histórico, é a greve que, durante 70 dias paralisou os comboios do Sul e

desorganizou as ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa. Trata-se da mais

longa greve ferroviária registada no Barreiro, ocorrida entre 30 de

Setembro e 9 de Dezembro.

São 70 longos dias que vamos acompanhando, através das emoções e do

olhar de José António, num desenrolar tenso e quotidiano em que a

inactividade forçada pela greve, alterna com momentos e ocasiões de

distração. Mas até nesses momentos a violência da situação vivida está

lactente, através da alusão às ruas patrulhadas pela Guarda Republicana,

ou das bombas, ainda que neste caso imaginárias que os grevistas possam

ter em sua posse.

«2/10/1920 Continuava a greve. [...] Chegou mais tropa para render a que

se encontrava já há dias na Estação do Barreiro. Veio o pagador, não

apareceu pessoal algum ao dito. Combinei mais o J. da Silva Parra, José S.

Borralho, J. Aurélio, A.V. Boto, Sebastião G. para ir às 16h às pinhas. Assim

fizemos, seguimos, mas ao passar perto de A. Vedros passou um comboio

feito pelos militares. Era a máquina nº 204 com uma carruagem com

passageiros e um vagon da série D com uma bomba de tirar água e

militares na estrada que liga a vila de A. Vedros, patrulhada por cavalaria

da GNR. A claque deitou-se todos para não sermos vistos, mas antes disto, o

J.S. Borralho tinha o saco com 5 pinhas às costas. Foi, tirou tudo fora

dizendo não julguem eles que são bombas. Todos da claque riam. Nós

pusemos a alcunha a ele “saco de bombas.»

Pelas páginas de José passam figuras míticas e acontecimentos da história

do movimento operário no Barreiro, a que temos acesso privilegiado

através do seu escrito. José António Marques conheceu pessoalmente

alguns dos homens mais influentes do seu tempo no campo do 18sindicalismo-revolucionário . Participou em grandes assembleias da

classe e assistiu à discussão e à preparação das sabotagens na linha e no

material, métodos usados pelos ferroviários para inutilizar o material

circulante durante as greves.

Numa grandiosa assembleia realizada clandestinamente, ao fim da tarde

do dia 30 de Outubro de 1920, furtando-se às perseguições da Guarda da

República, mais de 800 homens do caminho-de-ferro do Sul reuniam-se

nos pinhais do Alto da Paiva e com eles José ouviu as vozes e os discursos de 19

António José Piloto e Miguel Correia, entre outros ferroviários e

dirigentes da Associação de Classe.

«Silêncio o Presidente da reunião o A. J. Piloto. O primeiro a falar foi o

Custódio Boa-vida falando sobre o estado da greve actual etc. Também

falou o chefe dos maquinistas Horta falou sobre o pessoal de tracção

principalmente de maquinistas etc., depois o José Leal maquinista falando

sobre uns dos últimos decretos do governo do Sr. António Granjo que se

dividia em 3 quadros efectivos até falou o J. da Cruz Cebola dizendo é agora

o principio da greve por violências alto e bom som.

18 «O sindicalismo revolucionário foi em Portugal o instrumento teórico que permitiu a organização de amplas camadas de trabalhadores, contribuindo para a criação de uma consciência de classe -, primeiro momento da criação de uma consciência revolucionária -, ao mesmo tempo que realizou, na prática, uma alternativa ao reformismo do Partido Socialista.» OLIVEIRA, César de, O Operariado e a Primeira República (1910-1924), Lisboa, Alfa, 1990, p.8519 Militante e sindicalista libertário, Presidente da Associação de Classe dos Ferroviários e director do jornal da classe O Sul e Sueste, onde assina vários artigos de opinião. É também autor de um livro intitulado: Instrução Pedagógica aos filhos dos Ferroviários, Tip. Ass. Comp. Tipográficos, Lisboa, 1922

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galinha corada, comprei 13 números e a claque também compraram. Fez o

sorteio no nº 104, foi ao Joaquim dos Santos que ofereceu ao Grupo

Dramático. Veio ao palco agradecer em nome do dito grupo dos comilões

Jerónimo(?) Martins. A pedido da claque veio a actriz Maletina Neves, esta

cantou o fado da alfazema. Terminou o espectáculo às 2h da madrugada.

Vim para os bailes do Alto José Ferreira, estava animado, terminou às 3h5.

Houve benefício no T. Cine da S. Democrática para reverter o produto

líquido para a compra dos fardamentos para a dita. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Sport Portugal. Ficaram empatados 3 a 3 no

Barreiro.»

Numa dimensão interpretativa, a sua narrativa é, a muitos títulos

extraordinária, pela singularidade de ter sido produzida por um operário

ferroviário, pela qualidade dos pormenores com que vai compondo o

relato, transportando-nos instantaneamente para os cenários que

descreve.

Como uma porta aberta no tempo, os escritos de José transmitem

vislumbres extraordinários, sobre os tempos exaltados do final da I

República no Barreiro. Relacionando a memória individual com o colectivo,

o que mais ainda valoriza os seus escritos é o facto de os diários

constituírem fontes primárias, no âmbito da história local, regional e

nacional.

José António Marques anotou uma multiplicidade de acontecimentos, que

só a leitura completa do Registo permite a noção da sua real importância.

Provavelmente um dos acontecimentos mais relevantes que terá registado

no seu diário de 1920, cujo relato lhe confere a exacta dimensão do facto

histórico, é a greve que, durante 70 dias paralisou os comboios do Sul e

desorganizou as ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa. Trata-se da mais

longa greve ferroviária registada no Barreiro, ocorrida entre 30 de

Setembro e 9 de Dezembro.

São 70 longos dias que vamos acompanhando, através das emoções e do

olhar de José António, num desenrolar tenso e quotidiano em que a

inactividade forçada pela greve, alterna com momentos e ocasiões de

distração. Mas até nesses momentos a violência da situação vivida está

lactente, através da alusão às ruas patrulhadas pela Guarda Republicana,

ou das bombas, ainda que neste caso imaginárias que os grevistas possam

ter em sua posse.

«2/10/1920 Continuava a greve. [...] Chegou mais tropa para render a que

se encontrava já há dias na Estação do Barreiro. Veio o pagador, não

apareceu pessoal algum ao dito. Combinei mais o J. da Silva Parra, José S.

Borralho, J. Aurélio, A.V. Boto, Sebastião G. para ir às 16h às pinhas. Assim

fizemos, seguimos, mas ao passar perto de A. Vedros passou um comboio

feito pelos militares. Era a máquina nº 204 com uma carruagem com

passageiros e um vagon da série D com uma bomba de tirar água e

militares na estrada que liga a vila de A. Vedros, patrulhada por cavalaria

da GNR. A claque deitou-se todos para não sermos vistos, mas antes disto, o

J.S. Borralho tinha o saco com 5 pinhas às costas. Foi, tirou tudo fora

dizendo não julguem eles que são bombas. Todos da claque riam. Nós

pusemos a alcunha a ele “saco de bombas.»

Pelas páginas de José passam figuras míticas e acontecimentos da história

do movimento operário no Barreiro, a que temos acesso privilegiado

através do seu escrito. José António Marques conheceu pessoalmente

alguns dos homens mais influentes do seu tempo no campo do 18sindicalismo-revolucionário . Participou em grandes assembleias da

classe e assistiu à discussão e à preparação das sabotagens na linha e no

material, métodos usados pelos ferroviários para inutilizar o material

circulante durante as greves.

Numa grandiosa assembleia realizada clandestinamente, ao fim da tarde

do dia 30 de Outubro de 1920, furtando-se às perseguições da Guarda da

República, mais de 800 homens do caminho-de-ferro do Sul reuniam-se

nos pinhais do Alto da Paiva e com eles José ouviu as vozes e os discursos de 19

António José Piloto e Miguel Correia, entre outros ferroviários e

dirigentes da Associação de Classe.

«Silêncio o Presidente da reunião o A. J. Piloto. O primeiro a falar foi o

Custódio Boa-vida falando sobre o estado da greve actual etc. Também

falou o chefe dos maquinistas Horta falou sobre o pessoal de tracção

principalmente de maquinistas etc., depois o José Leal maquinista falando

sobre uns dos últimos decretos do governo do Sr. António Granjo que se

dividia em 3 quadros efectivos até falou o J. da Cruz Cebola dizendo é agora

o principio da greve por violências alto e bom som.

18 «O sindicalismo revolucionário foi em Portugal o instrumento teórico que permitiu a organização de amplas camadas de trabalhadores, contribuindo para a criação de uma consciência de classe -, primeiro momento da criação de uma consciência revolucionária -, ao mesmo tempo que realizou, na prática, uma alternativa ao reformismo do Partido Socialista.» OLIVEIRA, César de, O Operariado e a Primeira República (1910-1924), Lisboa, Alfa, 1990, p.8519 Militante e sindicalista libertário, Presidente da Associação de Classe dos Ferroviários e director do jornal da classe O Sul e Sueste, onde assina vários artigos de opinião. É também autor de um livro intitulado: Instrução Pedagógica aos filhos dos Ferroviários, Tip. Ass. Comp. Tipográficos, Lisboa, 1922

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Também falou o militar do BSCF Luiz Monteiro disse sobre o mesmo caso do

Cebola isto aqui só por meio de violências que andar a pedir aos ministros

por esmola de ministério para ministério de dia para dia que não dá 20

resultado e ele disse que na greve de Novembro há 2 anos tinha queimado

a caldeira da máquina 14 e era militar […] dizendo o melhor era já formar

uma comissão para se tratar das violências e actos de sabotagem …»

No final da assembleia José António Marques reproduz frases de António

José Piloto, que soam já como presságio, sobre qual será o resultado final

da contenda que durante 70 dias foi travada pelos ferroviários.

«…falando por último A. J. Piloto sobre o nosso assunto antes disse nós nem

que viessem forças para nos prender não retirava ninguém do lugar que

estamos sendo aprovado por todos presentes dizendo também camaradas

não tomai o trabalho sem ver a vitória final senão ficamos desgraçados».

E adiante, acrescenta:

«E condenou os ferroviários que frequentam tabernas e teatros, dando

vivas aos ferroviários do S[ul] S[ueste], CP, M[inho e] D[ouro] e ao Comité 21respondendo os camaradas com vivas ao Miguel Correia A.J. Piloto disse

no final não haja receios alguns é olhar para a frente e não para trás.

Terminou a reunião às 19h50.»

Na tentativa de lograr pôr termo à greve, o Governo recorre à intervenção

directa dos militares do Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-ferro, sob o 22comando do Coronel Raul Esteves , colocando em prática o “comboio

fantasma”, já utilizada em 1919 na estação do Rossio, em processo

semelhante. É este o registo que José nos deixa.

«7/11/920 Continuação da greve. […] fizeram cerco ao Lavradio sendo presos

alguns ferroviários, entre eles o maquinista António Feio, Francisco A. Silva e

Manuel Nunes revisor de material circulante. Estes seguiram no vagão O201,

no comboio 19, à frente do célebre “Fantasma” para Setúbal e no cabeçote da

máquina soldados da GNR, tendo instruções de fuzilar os ferroviários que

transitavam no dito vagon. Foram dadas pelo Capitão Abranches, que foi que

deu as bofetadas ao guarda-freio Cebola.»

A cerca de um mês do final do conflito, em 3 de Novembro de 1920, José num

escrito que revela os sentimentos de angústia que o assaltavam, perante a

possibilidade de ser capturado pela polícia, escrevia:

«Pelas 10h25 fui avisado para fugir de casa por motivo dos acontecimentos

do 26 do mez andando em minha procura a polícia dos CFSS, o Sr. Alexandre e

alguns da Segurança do Estado e o Secreta Alberto Silva etc. Fui para o

terreno do meu pai para a barraca do Manuel Loureiro foi o almoço e jornais,

parecendo já um preso. Às 18h15 regressei a casa. Não fui à vila.»

Considerando a greve de 30 de Setembro como o problema central do ano de

1920 e correndo o risco de nos focar em demasia sobre este acontecimento -

questionamo-nos, ainda hoje, qual seria o espírito que animava os

ferroviários neste processo de luta tão longo e desgastante, e o que os levou a

20 Referência à greve geral revolucionária de 18 de Setembro de 1918, que consistiu numa tentativa de insurreição geral decretada pela União Operária Nacional. Falhou devido às debilidades do movimento sindical e à repressão sidonista. Nesta luta, o Sul e Sueste «por entre as baionetas do militarismo, as espingardas da polícia e os cavalos-marinhos da Preventiva, sustentava a luta heroicamente…». O Sul e Sueste, Ano I, nº5, 9 de Novembro 1919. 21 Miguel Correia será um dos mais conhecidos militantes do sindicalismo libertário, notável polemista pela sua participação em vários periódicos: A Batalha, A Aurora, A Questão Social, entre muitos outros. Devido à sua actividade, Miguel Correia foi sucessivamente preso, demitido e deportado mas continuava a considerar-se um militante sindicalista. «Por este facto e como ferroviário esteve preso em mil novecentos e dezoito, mil novecentos e dezanove, mil novecentos e vinte e um, em mil novecentos e vinte e três e em dezanove de Agosto de 1926, sendo deportado para a ilha de São Vicente, no dia 18 de Setembro do referido ano. Esteve na deportação pelo espaço de seis anos e quatro meses, tendo regressado ao continente no dia quatorze de janeiro do corrente ano [1933], em virtude do decreto de aministia.» IAN/TT, PIDE/DGS, Cadastro Secreto de Miguel Maria de Almeida Correia, Procº 673/SPS, NT 429322 Célebre Comandante Militar do Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-ferro, figura bastas vezes criticada no jornal O Sul e Sueste pelas suas intervenções repressivas e intimidatórias. A sua acção será decisiva para pôr termo à greve no Sul e Sueste, através do “comboio fantasma” que tem início em 7 de Novembro de 1920 como José A. Marques assinala no seu diário. O “comboio fantasma” ou “vagão fantasma” consistia em colocar um grupo de grevistas presos dentro de um vagão aberto, que circulava à frente da locomotiva. Caso as linhas estivessem sabotadas pelos grevistas, estes seriam as primeiras vítimas da acção dos seus camaradas.

O “comboio fantasma”, estação do Rossio, 1919. Ilustração Portuguesa, II Série, nº 702, 4 Agosto, 1919 (Col. Particular)

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Também falou o militar do BSCF Luiz Monteiro disse sobre o mesmo caso do

Cebola isto aqui só por meio de violências que andar a pedir aos ministros

por esmola de ministério para ministério de dia para dia que não dá 20

resultado e ele disse que na greve de Novembro há 2 anos tinha queimado

a caldeira da máquina 14 e era militar […] dizendo o melhor era já formar

uma comissão para se tratar das violências e actos de sabotagem …»

No final da assembleia José António Marques reproduz frases de António

José Piloto, que soam já como presságio, sobre qual será o resultado final

da contenda que durante 70 dias foi travada pelos ferroviários.

«…falando por último A. J. Piloto sobre o nosso assunto antes disse nós nem

que viessem forças para nos prender não retirava ninguém do lugar que

estamos sendo aprovado por todos presentes dizendo também camaradas

não tomai o trabalho sem ver a vitória final senão ficamos desgraçados».

E adiante, acrescenta:

«E condenou os ferroviários que frequentam tabernas e teatros, dando

vivas aos ferroviários do S[ul] S[ueste], CP, M[inho e] D[ouro] e ao Comité 21respondendo os camaradas com vivas ao Miguel Correia A.J. Piloto disse

no final não haja receios alguns é olhar para a frente e não para trás.

Terminou a reunião às 19h50.»

Na tentativa de lograr pôr termo à greve, o Governo recorre à intervenção

directa dos militares do Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-ferro, sob o 22comando do Coronel Raul Esteves , colocando em prática o “comboio

fantasma”, já utilizada em 1919 na estação do Rossio, em processo

semelhante. É este o registo que José nos deixa.

«7/11/920 Continuação da greve. […] fizeram cerco ao Lavradio sendo presos

alguns ferroviários, entre eles o maquinista António Feio, Francisco A. Silva e

Manuel Nunes revisor de material circulante. Estes seguiram no vagão O201,

no comboio 19, à frente do célebre “Fantasma” para Setúbal e no cabeçote da

máquina soldados da GNR, tendo instruções de fuzilar os ferroviários que

transitavam no dito vagon. Foram dadas pelo Capitão Abranches, que foi que

deu as bofetadas ao guarda-freio Cebola.»

A cerca de um mês do final do conflito, em 3 de Novembro de 1920, José num

escrito que revela os sentimentos de angústia que o assaltavam, perante a

possibilidade de ser capturado pela polícia, escrevia:

«Pelas 10h25 fui avisado para fugir de casa por motivo dos acontecimentos

do 26 do mez andando em minha procura a polícia dos CFSS, o Sr. Alexandre e

alguns da Segurança do Estado e o Secreta Alberto Silva etc. Fui para o

terreno do meu pai para a barraca do Manuel Loureiro foi o almoço e jornais,

parecendo já um preso. Às 18h15 regressei a casa. Não fui à vila.»

Considerando a greve de 30 de Setembro como o problema central do ano de

1920 e correndo o risco de nos focar em demasia sobre este acontecimento -

questionamo-nos, ainda hoje, qual seria o espírito que animava os

ferroviários neste processo de luta tão longo e desgastante, e o que os levou a

20 Referência à greve geral revolucionária de 18 de Setembro de 1918, que consistiu numa tentativa de insurreição geral decretada pela União Operária Nacional. Falhou devido às debilidades do movimento sindical e à repressão sidonista. Nesta luta, o Sul e Sueste «por entre as baionetas do militarismo, as espingardas da polícia e os cavalos-marinhos da Preventiva, sustentava a luta heroicamente…». O Sul e Sueste, Ano I, nº5, 9 de Novembro 1919. 21 Miguel Correia será um dos mais conhecidos militantes do sindicalismo libertário, notável polemista pela sua participação em vários periódicos: A Batalha, A Aurora, A Questão Social, entre muitos outros. Devido à sua actividade, Miguel Correia foi sucessivamente preso, demitido e deportado mas continuava a considerar-se um militante sindicalista. «Por este facto e como ferroviário esteve preso em mil novecentos e dezoito, mil novecentos e dezanove, mil novecentos e vinte e um, em mil novecentos e vinte e três e em dezanove de Agosto de 1926, sendo deportado para a ilha de São Vicente, no dia 18 de Setembro do referido ano. Esteve na deportação pelo espaço de seis anos e quatro meses, tendo regressado ao continente no dia quatorze de janeiro do corrente ano [1933], em virtude do decreto de aministia.» IAN/TT, PIDE/DGS, Cadastro Secreto de Miguel Maria de Almeida Correia, Procº 673/SPS, NT 429322 Célebre Comandante Militar do Batalhão de Sapadores dos Caminhos-de-ferro, figura bastas vezes criticada no jornal O Sul e Sueste pelas suas intervenções repressivas e intimidatórias. A sua acção será decisiva para pôr termo à greve no Sul e Sueste, através do “comboio fantasma” que tem início em 7 de Novembro de 1920 como José A. Marques assinala no seu diário. O “comboio fantasma” ou “vagão fantasma” consistia em colocar um grupo de grevistas presos dentro de um vagão aberto, que circulava à frente da locomotiva. Caso as linhas estivessem sabotadas pelos grevistas, estes seriam as primeiras vítimas da acção dos seus camaradas.

O “comboio fantasma”, estação do Rossio, 1919. Ilustração Portuguesa, II Série, nº 702, 4 Agosto, 1919 (Col. Particular)

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suportar tamanhos sacrifícios, como os que veremos relatados no diário de

José.

Uma das respostas à questão estava já inscrita, num artigo de Leopoldo

Calapez um ano antes, a propósito do falhanço do 18 de Novembro de 1918.

«Para o segundo [movimento grevista] que se dê seremos os primeiros a ir

para a luta, porque da forma em que o movimento foi feito tinha toda a razão

de ser. Houve prisões, houve necessidades em casa de camaradas, houve mil

e uma cousas. Que importa que as houvesse? Quando se vai para a luta

conta-se sempre com isso, pois que se tal não se desse não seria preciso lutar 23com quem possui a força superior á nossa.»

Os ferroviários estavam mentalmente preparados para lutar e, munidos de

profunda e resoluta convicção, vão resistir. Fazem-no até ao limite do

insuportável, quando a própria sobrevivência está já em jogo. É o caso do

testemunho que José reproduz:

«Em seguida falou o revisor J. Ferreira […] disse que há dias por não ter que

comer cozi uns caranguejos…»

No final da luta, a derrota e o desalento estão contidos nas palavras de José

António, escritas no dia 9 de Dezembro.

«Terminou a greve dos ferroviários após 70 dias em greve. Perdemos pelo

motivo de fome em diversos lares.»

A greve terminará de forma dramática para os ferroviários, que serão

obrigados a voltar ao trabalho, sem que nenhuma das suas reivindicações

fosse atendida. Muitos serão despedidos, presos e perseguidos. Outros

conseguirão ser reintegrados na Companhia, mas só no decorrer do próximo

ano. Tudo isto nos relata José António, nos acontecimentos relativos a 1921.

Esta é a escrita de José António Marques, um homem do povo, genuína e

peculiar. Na sua autenticidade não revela preocupações de ordem literária,

não obstante, oferece um interesse até agora inexplorado e poderá dar

origem a diferentes leituras e à produção de variados contextos

socioculturais.

Os testemunhos que colocámos em evidência, e outros da mesma natureza,

aproximam-nos da realidade e das experiências vividas pelo autor e pelo

grupo social em que o indivíduo, José António Marques, se insere,

movimenta e age. Guiam-nos pelo quotidiano do Barreiro e, articulando-se

em constante dialéctica com o quotidiano português de 1920, alcançam

estatuto de acontecimento histórico.

O Barreiro em 1920. Contexto social e político

No ano em que José António Marques escreve o seu diário, o país atravessa

uma conjuntura de profunda agitação social e política. As instituições estão

paralisadas e a economia não funciona. Ao longo do ano sucedem-se cinco

governos de curta duração que, incapazes de resolver os problemas

económicos e de ordem pública, demitem-se sucessivamente.O mal-estar

é visível nas ruas de Lisboa logo no início de Janeiro, com bichas gigantescas

devido à falta de produtos básicos como pão, açúcar, manteiga, batatas, 24

cigarros, etc. Em Fevereiro ocorrem atentados à bomba em diversos locais

de Lisboa.Durante o mês de Março a imprensa traça um cenário caótico,

noticiando uma vaga de greves nos principais sectores da capital, com

paralisação dos funcionários públicos, dos Correios e Telégrafos, seguindo-

se a construção civil e os metalúrgicos, a Companhia dos Tabacos, os

tipógrafos e os trabalhadores dos Arsenais e da Carris.

As principais razões dos movimentos reivindicativos prendem-se com a

luta contra a carestia de vida, o açambarcamento e falta de produtos, as

questões salariais, os impostos, o cumprimento da lei das 8 horas de 25trabalho e a solidariedade para com companheiros em luta.

As consequências da Grande Guerra faziam-se ainda sentir – com a

desorganização da produção agrícola e industrial, a falta de géneros, a

subida dos preços e sobremaneira, a questão do pão que, sendo anterior à

República tornou-se um dos seus maiores problemas. Escasso, ruim e caro,

o pão que põe na mesa, é bem a imagem daquilo em que se transformara a 26República .

No mês de Setembro ocorrem dois acontecimentos que contribuem para o

agravamento da situação social, a saída de um Decreto que aumenta o

preço do pão e que vai originar revoltas da fome, mais atentados bombistas

e assaltos em vários pontos do país e, no último dia do mês, tem início a

greve ferroviária no Sul e Sueste, que se prolongará até ao final do ano, com

grande impacto nacional.

24 Ilustração Portuguesa, nº 724, 5 Jan. 192025 Aprovado em 7 de Maio de 1919, o Decreto que estabelecia as 8 horas de trabalho e a semana de 48 horas nas fábricas, não era cumprido pelos patrões. 26 «Não procurem no faciosismo, na desigualdade social, na semente revolucionária ou em qualquer outra das causas sempre apregoadas, a origem da desordem que reina entre nós; procurem-na no pão, que nos azeda o corpo e a alma.» Ilustração Portugueza, II Série, nº 738, 12 de Abril, 1920.23 “18 de Novembro” O Sul e Sueste, nº7, 21 de Novembro, 1919

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suportar tamanhos sacrifícios, como os que veremos relatados no diário de

José.

Uma das respostas à questão estava já inscrita, num artigo de Leopoldo

Calapez um ano antes, a propósito do falhanço do 18 de Novembro de 1918.

«Para o segundo [movimento grevista] que se dê seremos os primeiros a ir

para a luta, porque da forma em que o movimento foi feito tinha toda a razão

de ser. Houve prisões, houve necessidades em casa de camaradas, houve mil

e uma cousas. Que importa que as houvesse? Quando se vai para a luta

conta-se sempre com isso, pois que se tal não se desse não seria preciso lutar 23com quem possui a força superior á nossa.»

Os ferroviários estavam mentalmente preparados para lutar e, munidos de

profunda e resoluta convicção, vão resistir. Fazem-no até ao limite do

insuportável, quando a própria sobrevivência está já em jogo. É o caso do

testemunho que José reproduz:

«Em seguida falou o revisor J. Ferreira […] disse que há dias por não ter que

comer cozi uns caranguejos…»

No final da luta, a derrota e o desalento estão contidos nas palavras de José

António, escritas no dia 9 de Dezembro.

«Terminou a greve dos ferroviários após 70 dias em greve. Perdemos pelo

motivo de fome em diversos lares.»

A greve terminará de forma dramática para os ferroviários, que serão

obrigados a voltar ao trabalho, sem que nenhuma das suas reivindicações

fosse atendida. Muitos serão despedidos, presos e perseguidos. Outros

conseguirão ser reintegrados na Companhia, mas só no decorrer do próximo

ano. Tudo isto nos relata José António, nos acontecimentos relativos a 1921.

Esta é a escrita de José António Marques, um homem do povo, genuína e

peculiar. Na sua autenticidade não revela preocupações de ordem literária,

não obstante, oferece um interesse até agora inexplorado e poderá dar

origem a diferentes leituras e à produção de variados contextos

socioculturais.

Os testemunhos que colocámos em evidência, e outros da mesma natureza,

aproximam-nos da realidade e das experiências vividas pelo autor e pelo

grupo social em que o indivíduo, José António Marques, se insere,

movimenta e age. Guiam-nos pelo quotidiano do Barreiro e, articulando-se

em constante dialéctica com o quotidiano português de 1920, alcançam

estatuto de acontecimento histórico.

O Barreiro em 1920. Contexto social e político

No ano em que José António Marques escreve o seu diário, o país atravessa

uma conjuntura de profunda agitação social e política. As instituições estão

paralisadas e a economia não funciona. Ao longo do ano sucedem-se cinco

governos de curta duração que, incapazes de resolver os problemas

económicos e de ordem pública, demitem-se sucessivamente.O mal-estar

é visível nas ruas de Lisboa logo no início de Janeiro, com bichas gigantescas

devido à falta de produtos básicos como pão, açúcar, manteiga, batatas, 24

cigarros, etc. Em Fevereiro ocorrem atentados à bomba em diversos locais

de Lisboa.Durante o mês de Março a imprensa traça um cenário caótico,

noticiando uma vaga de greves nos principais sectores da capital, com

paralisação dos funcionários públicos, dos Correios e Telégrafos, seguindo-

se a construção civil e os metalúrgicos, a Companhia dos Tabacos, os

tipógrafos e os trabalhadores dos Arsenais e da Carris.

As principais razões dos movimentos reivindicativos prendem-se com a

luta contra a carestia de vida, o açambarcamento e falta de produtos, as

questões salariais, os impostos, o cumprimento da lei das 8 horas de 25trabalho e a solidariedade para com companheiros em luta.

As consequências da Grande Guerra faziam-se ainda sentir – com a

desorganização da produção agrícola e industrial, a falta de géneros, a

subida dos preços e sobremaneira, a questão do pão que, sendo anterior à

República tornou-se um dos seus maiores problemas. Escasso, ruim e caro,

o pão que põe na mesa, é bem a imagem daquilo em que se transformara a 26República .

No mês de Setembro ocorrem dois acontecimentos que contribuem para o

agravamento da situação social, a saída de um Decreto que aumenta o

preço do pão e que vai originar revoltas da fome, mais atentados bombistas

e assaltos em vários pontos do país e, no último dia do mês, tem início a

greve ferroviária no Sul e Sueste, que se prolongará até ao final do ano, com

grande impacto nacional.

24 Ilustração Portuguesa, nº 724, 5 Jan. 192025 Aprovado em 7 de Maio de 1919, o Decreto que estabelecia as 8 horas de trabalho e a semana de 48 horas nas fábricas, não era cumprido pelos patrões. 26 «Não procurem no faciosismo, na desigualdade social, na semente revolucionária ou em qualquer outra das causas sempre apregoadas, a origem da desordem que reina entre nós; procurem-na no pão, que nos azeda o corpo e a alma.» Ilustração Portugueza, II Série, nº 738, 12 de Abril, 1920.23 “18 de Novembro” O Sul e Sueste, nº7, 21 de Novembro, 1919

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Quando José António Marques escreve o seu Registo dos Factos mais

Notáveis, o Barreiro não é mais a vila que, por séculos, estagnara à beira 27

Tejo, moldada pelo barro da sua natural feição ribeirinha .

Com a instalação do caminho-de-ferro em meados de Oitocentos, iniciara-

se um período de transformações, que se prolongou por mais de um

século, com repercussões muito significativas em todos os níveis da vida

local, regional e nacional.

Para trás ficara o tempo e o sino de Santa Cruz, tanger de velhos usos e

costumes. Sucediam-lhe agora novos ritmos: as buzinas das Oficinas Gerais

e da Companhia União Fabril que, a espaços atroando os ares, marcam o

tempo e reclamam braços e mãos que põem máquinas e ferramentas em

movimento. Ou, em urgências, apitam a fogo.

Ao cheiro da cortiça que coze em caldeiras, ou arde, em incêndios que dia-

a-dia consomem pequenos e grandes fabricos, precariamente instalados

em armazéns e quintais, sobrepõem-se outros odores, mais fortes e 28

venenosos, que a nortada espalha pelos céus do Barreiro , abertos às altas

chaminés e cobertos por nuvens químicas, que envolvem a vila nos vapores 29das indústrias dos ácidos .

No Barreiro onde vive o jovem José António afirma-se, maioritariamente,

um crescente proletariado que, ao fim do dia, abertos os portões das

indústrias dos ácidos, das Oficinas Gerais dos Caminhos de ferro e dos

grandes e pequenos fabricos de cortiça, derrama pelas ruas, homens,

mulheres e crianças, a caminho dos pátios e “vilas”, tugúrios onde habitam,

numerosas, as famílias operárias.

Operárias da fábrica de cortiça Herold, Recosta, Barreiro. Catálogo da Fábrica Herold & C.ª, (Col. Particular)

28 “Em 1917 a expansão da CUF causava apreensões à Comissão Executiva da Câmara, que chegou a opor-se à construção da nova fábrica de sulfuretos. Cf. Livro de Actas nº2 da Câmara Municipal do Barreiro, 1915-1920.29 Ácido sulfúrico, clorídrico e nítrico, superfosfatos e sulfatos de cobre, enxofre e soda, sabões, velas, azeites e óleos, fiações e tecidos, tudo indústrias em laboração em 1920.Cf. Álbum Comemorativo da Companhia União Fabril, ed. CUF, 1945, Lisboa, pp. 26-27.

Em primeiro plano Balbino Martins Júnior, maquinista do Sul e Sueste, 1919. C.M.B., Espólio Maria Isabel Martins Caeiro, Cx.1

27 Antes do início do caminho de ferro o Barreiro era visto como uma terra pobre, a que só o caminho de ferro veio dar alento e esperança de futuro. «…há a povoação de pescadores do Barreiro, o país vinhateiro do Lavradio e muitos outros lugares até Alhos Vedros. Nos dias das festas particulares de cada uma destas terras o seu aspecto é risonho, as suas galas brilham à luz do sol; no resto do ano é miserável a aparência das pobres vilas e aldeias […] não se ouvira ainda entre nós o silvo da locomotiva» Diário Ilustrado, 18 de Agosto, 1874.

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Quando José António Marques escreve o seu Registo dos Factos mais

Notáveis, o Barreiro não é mais a vila que, por séculos, estagnara à beira 27

Tejo, moldada pelo barro da sua natural feição ribeirinha .

Com a instalação do caminho-de-ferro em meados de Oitocentos, iniciara-

se um período de transformações, que se prolongou por mais de um

século, com repercussões muito significativas em todos os níveis da vida

local, regional e nacional.

Para trás ficara o tempo e o sino de Santa Cruz, tanger de velhos usos e

costumes. Sucediam-lhe agora novos ritmos: as buzinas das Oficinas Gerais

e da Companhia União Fabril que, a espaços atroando os ares, marcam o

tempo e reclamam braços e mãos que põem máquinas e ferramentas em

movimento. Ou, em urgências, apitam a fogo.

Ao cheiro da cortiça que coze em caldeiras, ou arde, em incêndios que dia-

a-dia consomem pequenos e grandes fabricos, precariamente instalados

em armazéns e quintais, sobrepõem-se outros odores, mais fortes e 28

venenosos, que a nortada espalha pelos céus do Barreiro , abertos às altas

chaminés e cobertos por nuvens químicas, que envolvem a vila nos vapores 29das indústrias dos ácidos .

No Barreiro onde vive o jovem José António afirma-se, maioritariamente,

um crescente proletariado que, ao fim do dia, abertos os portões das

indústrias dos ácidos, das Oficinas Gerais dos Caminhos de ferro e dos

grandes e pequenos fabricos de cortiça, derrama pelas ruas, homens,

mulheres e crianças, a caminho dos pátios e “vilas”, tugúrios onde habitam,

numerosas, as famílias operárias.

Operárias da fábrica de cortiça Herold, Recosta, Barreiro. Catálogo da Fábrica Herold & C.ª, (Col. Particular)

28 “Em 1917 a expansão da CUF causava apreensões à Comissão Executiva da Câmara, que chegou a opor-se à construção da nova fábrica de sulfuretos. Cf. Livro de Actas nº2 da Câmara Municipal do Barreiro, 1915-1920.29 Ácido sulfúrico, clorídrico e nítrico, superfosfatos e sulfatos de cobre, enxofre e soda, sabões, velas, azeites e óleos, fiações e tecidos, tudo indústrias em laboração em 1920.Cf. Álbum Comemorativo da Companhia União Fabril, ed. CUF, 1945, Lisboa, pp. 26-27.

Em primeiro plano Balbino Martins Júnior, maquinista do Sul e Sueste, 1919. C.M.B., Espólio Maria Isabel Martins Caeiro, Cx.1

27 Antes do início do caminho de ferro o Barreiro era visto como uma terra pobre, a que só o caminho de ferro veio dar alento e esperança de futuro. «…há a povoação de pescadores do Barreiro, o país vinhateiro do Lavradio e muitos outros lugares até Alhos Vedros. Nos dias das festas particulares de cada uma destas terras o seu aspecto é risonho, as suas galas brilham à luz do sol; no resto do ano é miserável a aparência das pobres vilas e aldeias […] não se ouvira ainda entre nós o silvo da locomotiva» Diário Ilustrado, 18 de Agosto, 1874.

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Por toda a parte, homens dirigem-se às tabernas e sociedades recreativas,

respirando fundo, para espantar o cansaço da labuta diária na fábrica e na

oficina.

São magotes de homens nervosos, vestidos de ganga, que discutem todos

os assuntos e onde facilmente estalam desordens e rebentam brigas, num

Barreiro que se movimenta entre o Largo Casal, sítio por excelência de

todos os encontros; a Rua Aguiar de intensa actividade comercial e a Rua

Miguel Pais. Esta última é, a artéria que dá vazão a toda a espécie de

trânsito, por onde circulam pequenas multidões que largam e tomam os

vapores, sempre chegando e partindo, viajantes que desde a estação de

Barreiro-mar demandam a vila, subindo caminhos e carreiros, futuras 30 31avenidas da República e da Bélgica , dirigindo-se para o novo centro do

Barreiro, o Mercado 1º de Maio.

Via larga para a época, a Rua Miguel Pais é constantemente atravessada por

um incessante movimento de veículos de carga e passageiros - carroças de

mão, carruagens, carros de duas e quatro rodas, carros puxados por um ou 32por dois bois, carroças particulares, carros de aluguer - que a cruzam,

encaminhando-se para os varinos e fragatas e demais embarcações

acostadas ao longo daquela rua, carregadas com uma infinidade de

mercadorias: pipas de vinho, carradas de palha, pilhas de cortiça em fardo e

em prancha, que saem de numerosas fábricas instaladas à beira-rio.

O intenso movimento de veículos de tracção animal e o atravessamento da

via férrea, era agravado pela circulação de bicicletas e todo o tipo de

velocípedes, proporcionando o cenário ideal para a ocorrência, frequente,

de desastres «motivados por não serem os seus condutores indivíduos

habilitados, [e] o que é pior as mais das vezes por menores, que são 33

irresponsáveis pelas avarias que causam» .

A fim de tentar ordenar o caos na via pública e evitar os acidentes, a

edilidade proibiu o exercício da arte de cocheiro, boleeiro e velocipedista, a

quem o fizesse sem prévia matrícula na Câmara. De igual modo, fixava o

limite de velocidade dentro do perímetro da vila a «qualquer velocípede,

motociclo, ou motociclo com said-car», que não poderia circular «com

velocidade superior a um cavalo a trote largo nas ruas sensivelmente 34horizontaes e com velocidade superior à do trote curto nas descidas» .

Em resultado do desenvolvimento que o caracterizava, o Barreiro onde

vivia José António Marques era tido por vila industriosa, de grandes

estabelecimentos fabris que empregavam milhares de operários e onde se

fabricava todo o tipo de produtos. Assim se pode ler em documento da

administração municipal, datado de 1918.

«A importante vila do Barreiro, situada a 40 quilómetros de Lisboa, conta

hoje cerca de 12.000 habitantes. Além das vastas oficinas dos Caminhos de

Ferro do Sul e Sueste e Companhia União Fabril tem perto de 160

estabelecimentos, 4 cordoarias, 3 estaleiros para barcos de cabotagem, 20

Avenida da Bélgica, Barreiro, anos 30/40. (Col. Particular)

30 Com a construção dos novos Paços do Concelho em 1906, a vila expande-se para Sul e novos arruamentos vão surgindo, entre a Azinhaga das Vinhas (Rua Câmara Pestana) e a linha do Sul, organizados no sentido longitudinal ao caminho de ferro. Uma das novas artérias será a Avenida da República, assim designada em 12 de Outubro de 1910. Vd. CMB/B/A/01, Lv. Nº9, 1899/1902 e C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. Nº 1.31 A Avenida da Bélgica estava praticamente concluída em 1914. Deve a sua denominação ao vogal Júlio Durand que a propôs por se «reconhecer que a Bélgica é uma nação heróica e digna de consideração de todos os povos cultos», numa alusão à resistência daquele país que, no início da Grande Guerra se opôs a que os seus territórios servissem de passagem aos exércitos da Alemanha. Em consequência disso a Bélgica seria invadida pelos alemães. CMB/B/A/01, Lv. Nº 17, 1914/1915.32 Veículos sobre os quais a Câmara Municipal cobrava uma taxa de licença de utilização em 1920. Acta da Câmara Municipal, 22 de Junho, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920.33 Acta da Câmara Municipal, 28 de Maio, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920.

34 Acta da Câmara Municipal, 28 de Maio, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920

36 37

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Por toda a parte, homens dirigem-se às tabernas e sociedades recreativas,

respirando fundo, para espantar o cansaço da labuta diária na fábrica e na

oficina.

São magotes de homens nervosos, vestidos de ganga, que discutem todos

os assuntos e onde facilmente estalam desordens e rebentam brigas, num

Barreiro que se movimenta entre o Largo Casal, sítio por excelência de

todos os encontros; a Rua Aguiar de intensa actividade comercial e a Rua

Miguel Pais. Esta última é, a artéria que dá vazão a toda a espécie de

trânsito, por onde circulam pequenas multidões que largam e tomam os

vapores, sempre chegando e partindo, viajantes que desde a estação de

Barreiro-mar demandam a vila, subindo caminhos e carreiros, futuras 30 31avenidas da República e da Bélgica , dirigindo-se para o novo centro do

Barreiro, o Mercado 1º de Maio.

Via larga para a época, a Rua Miguel Pais é constantemente atravessada por

um incessante movimento de veículos de carga e passageiros - carroças de

mão, carruagens, carros de duas e quatro rodas, carros puxados por um ou 32por dois bois, carroças particulares, carros de aluguer - que a cruzam,

encaminhando-se para os varinos e fragatas e demais embarcações

acostadas ao longo daquela rua, carregadas com uma infinidade de

mercadorias: pipas de vinho, carradas de palha, pilhas de cortiça em fardo e

em prancha, que saem de numerosas fábricas instaladas à beira-rio.

O intenso movimento de veículos de tracção animal e o atravessamento da

via férrea, era agravado pela circulação de bicicletas e todo o tipo de

velocípedes, proporcionando o cenário ideal para a ocorrência, frequente,

de desastres «motivados por não serem os seus condutores indivíduos

habilitados, [e] o que é pior as mais das vezes por menores, que são 33

irresponsáveis pelas avarias que causam» .

A fim de tentar ordenar o caos na via pública e evitar os acidentes, a

edilidade proibiu o exercício da arte de cocheiro, boleeiro e velocipedista, a

quem o fizesse sem prévia matrícula na Câmara. De igual modo, fixava o

limite de velocidade dentro do perímetro da vila a «qualquer velocípede,

motociclo, ou motociclo com said-car», que não poderia circular «com

velocidade superior a um cavalo a trote largo nas ruas sensivelmente 34horizontaes e com velocidade superior à do trote curto nas descidas» .

Em resultado do desenvolvimento que o caracterizava, o Barreiro onde

vivia José António Marques era tido por vila industriosa, de grandes

estabelecimentos fabris que empregavam milhares de operários e onde se

fabricava todo o tipo de produtos. Assim se pode ler em documento da

administração municipal, datado de 1918.

«A importante vila do Barreiro, situada a 40 quilómetros de Lisboa, conta

hoje cerca de 12.000 habitantes. Além das vastas oficinas dos Caminhos de

Ferro do Sul e Sueste e Companhia União Fabril tem perto de 160

estabelecimentos, 4 cordoarias, 3 estaleiros para barcos de cabotagem, 20

Avenida da Bélgica, Barreiro, anos 30/40. (Col. Particular)

30 Com a construção dos novos Paços do Concelho em 1906, a vila expande-se para Sul e novos arruamentos vão surgindo, entre a Azinhaga das Vinhas (Rua Câmara Pestana) e a linha do Sul, organizados no sentido longitudinal ao caminho de ferro. Uma das novas artérias será a Avenida da República, assim designada em 12 de Outubro de 1910. Vd. CMB/B/A/01, Lv. Nº9, 1899/1902 e C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. Nº 1.31 A Avenida da Bélgica estava praticamente concluída em 1914. Deve a sua denominação ao vogal Júlio Durand que a propôs por se «reconhecer que a Bélgica é uma nação heróica e digna de consideração de todos os povos cultos», numa alusão à resistência daquele país que, no início da Grande Guerra se opôs a que os seus territórios servissem de passagem aos exércitos da Alemanha. Em consequência disso a Bélgica seria invadida pelos alemães. CMB/B/A/01, Lv. Nº 17, 1914/1915.32 Veículos sobre os quais a Câmara Municipal cobrava uma taxa de licença de utilização em 1920. Acta da Câmara Municipal, 22 de Junho, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920.33 Acta da Câmara Municipal, 28 de Maio, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920.

34 Acta da Câmara Municipal, 28 de Maio, 1920. CMB/B/A/01, Lv.18, 1915/1920

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fábricas de cortiça, 1 fábrica de conservas, 1 de moagens, além de grandes 35

armazéns de retém.»

Uma outra fonte, igualmente proveniente da administração municipal,

datada de 20 de Agosto de 1920, lança mais pistas acerca do tipo e

variedade de produtos fabricados e comercializados por alguns ramos da

indústria local. Trata-se do imposto Ad Valorem, sobre o qual a Câmara

Municipal pretendia arrecadar uma taxa, que incidia sobre a circulação dos

seguintes bens e mercadorias.

«Construções navaes - 1,5%

Aparas de cortiça em fardos ou em sacas - 1,5%

Cortiça em prancha - 1,5%

Quadros, rolhas e mais derivados de cortiça manipulados - 1%

Adubos de qualquer espécie - 1%

Produtos químicos - 1,5%

Cal, areia, pedras, madeira e tijolos - 1%

Produtos de cordoaria - 1,5%

Sal 1%Explosivos de qualquer espécie - 1,5%

Conservas alimentícias - 1%36Ferro forjado ou fundido em obra e sucatas - 1%».

Devido ao grande número e diversidade de indústrias e à enorme

concentração operária existente, o Barreiro tornou-se um caso

paradigmático quanto à «intensidade, a aceleração e a concentração do 37 processo industrial» no nosso país.

Por efeito destas condições objectivas a vila operária era um alfobre, onde

cedo vingaram as ideias de mutualidade e cooperação, fraternidade e

solidariedade, princípios fundadores das primeiras e incipientes

organizações locais de base operária.

Em verdade, os primórdios da história do movimento operário no Barreiro

parecem situar-se por volta de 1872, com a abertura da primeira Secção da 38

Fraternidade Operária . Mas o ano de 1890 constitui um marco

importante pois, situa o aparecimento formal das correntes ideológicas

«Viva o 1º de Maio», estação de Beja, 1919. Pessoal do Depósito de Máquinas do Barreiro. C.M.B., EMIMC, Cx.1

39 Vd. MOREIRA, Ob. Cit.

anarquistas e socialistas, na vila. As teorias libertárias rapidamente

encontram acolhimento entre os grupos operários mais numerosos,

ferroviários e corticeiros, especialmente junto destes e tornar-se-ão um

aspecto marcante da história do movimento operário barreirense, durante

a República.

Com efeito, os anarquistas cedo se expandem, criando a primeira

Associação de Classe dos Operários Corticeiros, em 1890. Dois anos depois,

aparecem referências ao «Grupo Anarquista do Barreiro, em 1892, e foi 39

dele que partiu a primeira greve barreirense em 1896».

Ainda sob a sua influência nasceram a Associação dos Carregadores e

Descarregadores de Mar e Terra, já existente ou fundada em 1910 e é

criada a Sociedade Cooperativa de Consumo Operária Barreirense, por um

grupo de operários da Associação de Classe dos Corticeiros.

Os socialistas, parece nunca terem conseguido impor-se no seio do

35 Melhoramentos na Vila do Barreiro Projectados pela Comissão Administrativa Demissionária CMB/B/A/03.06/Cx 1, 1918-196936 Acta de Sessão extraordinária, 18 de Setembro, 1920. CMB/B/A/01,Lv.18, 1915/1920.37 MENDES, José Amado – “Industrialização ou Revolução Industrial em Portugal? Uma interpretação” in Industrialização em Portugal no século XX. O caso do Barreiro, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF no Barreiro 1908-2008, UAL, IIP, Lisboa, 2010, pg. 8438 Vd. MOREIRA, António – O Movimento operário barreirense - Esboço da sua História, policopiado, C.M.B., 22/6/1985.

38 39

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fábricas de cortiça, 1 fábrica de conservas, 1 de moagens, além de grandes 35

armazéns de retém.»

Uma outra fonte, igualmente proveniente da administração municipal,

datada de 20 de Agosto de 1920, lança mais pistas acerca do tipo e

variedade de produtos fabricados e comercializados por alguns ramos da

indústria local. Trata-se do imposto Ad Valorem, sobre o qual a Câmara

Municipal pretendia arrecadar uma taxa, que incidia sobre a circulação dos

seguintes bens e mercadorias.

«Construções navaes - 1,5%

Aparas de cortiça em fardos ou em sacas - 1,5%

Cortiça em prancha - 1,5%

Quadros, rolhas e mais derivados de cortiça manipulados - 1%

Adubos de qualquer espécie - 1%

Produtos químicos - 1,5%

Cal, areia, pedras, madeira e tijolos - 1%

Produtos de cordoaria - 1,5%

Sal 1%Explosivos de qualquer espécie - 1,5%

Conservas alimentícias - 1%36Ferro forjado ou fundido em obra e sucatas - 1%».

Devido ao grande número e diversidade de indústrias e à enorme

concentração operária existente, o Barreiro tornou-se um caso

paradigmático quanto à «intensidade, a aceleração e a concentração do 37 processo industrial» no nosso país.

Por efeito destas condições objectivas a vila operária era um alfobre, onde

cedo vingaram as ideias de mutualidade e cooperação, fraternidade e

solidariedade, princípios fundadores das primeiras e incipientes

organizações locais de base operária.

Em verdade, os primórdios da história do movimento operário no Barreiro

parecem situar-se por volta de 1872, com a abertura da primeira Secção da 38

Fraternidade Operária . Mas o ano de 1890 constitui um marco

importante pois, situa o aparecimento formal das correntes ideológicas

«Viva o 1º de Maio», estação de Beja, 1919. Pessoal do Depósito de Máquinas do Barreiro. C.M.B., EMIMC, Cx.1

39 Vd. MOREIRA, Ob. Cit.

anarquistas e socialistas, na vila. As teorias libertárias rapidamente

encontram acolhimento entre os grupos operários mais numerosos,

ferroviários e corticeiros, especialmente junto destes e tornar-se-ão um

aspecto marcante da história do movimento operário barreirense, durante

a República.

Com efeito, os anarquistas cedo se expandem, criando a primeira

Associação de Classe dos Operários Corticeiros, em 1890. Dois anos depois,

aparecem referências ao «Grupo Anarquista do Barreiro, em 1892, e foi 39

dele que partiu a primeira greve barreirense em 1896».

Ainda sob a sua influência nasceram a Associação dos Carregadores e

Descarregadores de Mar e Terra, já existente ou fundada em 1910 e é

criada a Sociedade Cooperativa de Consumo Operária Barreirense, por um

grupo de operários da Associação de Classe dos Corticeiros.

Os socialistas, parece nunca terem conseguido impor-se no seio do

35 Melhoramentos na Vila do Barreiro Projectados pela Comissão Administrativa Demissionária CMB/B/A/03.06/Cx 1, 1918-196936 Acta de Sessão extraordinária, 18 de Setembro, 1920. CMB/B/A/01,Lv.18, 1915/1920.37 MENDES, José Amado – “Industrialização ou Revolução Industrial em Portugal? Uma interpretação” in Industrialização em Portugal no século XX. O caso do Barreiro, Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF no Barreiro 1908-2008, UAL, IIP, Lisboa, 2010, pg. 8438 Vd. MOREIRA, António – O Movimento operário barreirense - Esboço da sua História, policopiado, C.M.B., 22/6/1985.

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operariado local, apesar dos vários centros de difusão abertos no 40

Barreiro . Todavia é possível que estejam na origem das primeiras

tentativas de criar sindicatos nas Oficinas Gerais do Caminho-de-ferro, por

volta de 1903, visto alguns dos fundadores dos núcleos socialistas serem

ferroviários. Foram porém, organizações de duração efémera, das quais 41

pouca actividade se conhece .

É facto que, durante vários anos, a massa ferroviária não conseguirá

organizar-se para reivindicar melhorias. Contudo, como veremos mais

adiante, no plano político algo mudara em 1920 e a Câmara Municipal do

Barreiro, tal como a do Seixal, serão as primeiras câmaras socialistas da

República.

Mas, se entre os barreirenses o espírito republicano firmara raízes,

arreigado sobretudo ao nível das elites burguesas mais 'ilustradas' –

repare-se na constituição da Junta Revolucionária que, na noite de 3 para 4

de Outubro coloca o Barreiro entre as primeiras localidades que hastearam 42a bandeira verde e rubra -, depois da revolução, as diferenças e a

desagregação da família republicana acentuar-se-ão e, com isso explicar-

se-ão muitas das contradições em que o regime foi fértil.

Perante a instabilidade política, as dificuldades económicas, agravadas

pela entrada de Portugal na Grande Guerra e impondo políticas anti-

operárias, o regime mostrava-se cada vez mais incapaz de satisfazer as

aspirações das massas populares. 43Entre os mais desiludidos com a República figuravam os ferroviários.

De 1914 em diante surge uma forte Associação de Classe do Pessoal dos

Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste, que vai aumentar a radicalização das

lutas. Aumentará também a repressão sobre os ferroviários, exercida pelo

governo da República, e simultaneamente, vai afirmar-se, de modo

inequívoco, a ideologia que passará a ser dominante entre a massa 44

operária do Barreiro até ao final da República, o anarco-sindicalismo .

Em verdade, será a partir de 1919 que os sindicalistas-revolucionários

António José Piloto, Miguel Correia, Leopoldo Calapez e José Nobre 45

Madeira , figuras de primeiro plano do anarco-sindicalismo ferroviário,

imprimem à Associação de Classe um rumo político claro.

Álbum Resende, 1923, CMB-FOT-02-16-3786-2

40 César Oliveira afirma que o Partido Socialista «raramente conseguiu ultrapassar a fase grupuscular e a própria evolução das expressões da luta de classes em Portugal vai acelerar o seu próprio fracasso definitivo em 1914 com a criação, em Tomar, da União Operária Nacional.» OLIVEIRA, Ob. Cit., p.17. Sobre os centros republicanos e socialista cf. PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, vol. III, ed. C.M.B., 1971, p. 88 e ss.41 Caso da Associação de Classe dos Operários Metalúrgicos e Artes Anexas, criada nas Oficinas Gerais em 1903, dissolvida em data indeterminada e a Associação dos Condutores e Guarda-Freios fundada em 1911, que também não teve longa existência.42 Entre os seus membros, a Junta Revolucionária do Barreiro contava com dois comerciantes, um farmacêutico, um professor, dois empregados de escritório e um “ferroviário”, que se supõe ser o único operário. 43 Nove anos depois da revolução, em artigo intitulado 'República e republicanos' é visível a mágoa e o desengano dos ferroviários em relação ao regime por que tanto haviam pugnado. «Encerrar em prisões imundas aqueles que pedem pão porque, contanto ou mais que eles têm direito a viver; deportam operários que com os mais ignóbeis epítetos, que muito acertadamente lhes podiam ser devolvidos, fuzilar operários que com sede de justiça se revoltam contra este estado de coisas.» O Sul e Sueste, 22 de Outubro de 1919.

44 Do anarco-sindicalismo participam duas perspectivas, não muito diferenciadas entre si: «Tanto o sindicalismo [revolucionário] como o anarquismo no que concerne à sua influência, manifestamente dominante, na organização sindical portuguesa caracterizavam-se, no essencial, pela apoliticidade, pela acção directa e pelo «exclusivo» da organização dos trabalhadores em sindicatos». OLIVEIRA, César – Op. cit., p. 23. 45 Em 1919 José Nobre Madeira, era Presidente da Associação de Classe pela Delegação de Faro. Devido à sua actividade sindical e política virá a ser preso e deportado para Cabo Verde, após o golpe de 28 de Maio de 1926. Em 1933 ainda lá permanecia, conforme declarações de Alfredo Carvalho que constam no Processo Político de Miguel Correia. «Que o José Nobre Madeira foi seu colega e militante no campo sindical, e encontra-se deportado em Cabo Verde, porque não foi abrangido pelo decreto de amnistia.» IAN/TT, PIDE/DGS, Procº 673/SPS, NT 4293.

40 41

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operariado local, apesar dos vários centros de difusão abertos no 40

Barreiro . Todavia é possível que estejam na origem das primeiras

tentativas de criar sindicatos nas Oficinas Gerais do Caminho-de-ferro, por

volta de 1903, visto alguns dos fundadores dos núcleos socialistas serem

ferroviários. Foram porém, organizações de duração efémera, das quais 41

pouca actividade se conhece .

É facto que, durante vários anos, a massa ferroviária não conseguirá

organizar-se para reivindicar melhorias. Contudo, como veremos mais

adiante, no plano político algo mudara em 1920 e a Câmara Municipal do

Barreiro, tal como a do Seixal, serão as primeiras câmaras socialistas da

República.

Mas, se entre os barreirenses o espírito republicano firmara raízes,

arreigado sobretudo ao nível das elites burguesas mais 'ilustradas' –

repare-se na constituição da Junta Revolucionária que, na noite de 3 para 4

de Outubro coloca o Barreiro entre as primeiras localidades que hastearam 42a bandeira verde e rubra -, depois da revolução, as diferenças e a

desagregação da família republicana acentuar-se-ão e, com isso explicar-

se-ão muitas das contradições em que o regime foi fértil.

Perante a instabilidade política, as dificuldades económicas, agravadas

pela entrada de Portugal na Grande Guerra e impondo políticas anti-

operárias, o regime mostrava-se cada vez mais incapaz de satisfazer as

aspirações das massas populares. 43Entre os mais desiludidos com a República figuravam os ferroviários.

De 1914 em diante surge uma forte Associação de Classe do Pessoal dos

Caminhos-de-ferro do Sul e Sueste, que vai aumentar a radicalização das

lutas. Aumentará também a repressão sobre os ferroviários, exercida pelo

governo da República, e simultaneamente, vai afirmar-se, de modo

inequívoco, a ideologia que passará a ser dominante entre a massa 44

operária do Barreiro até ao final da República, o anarco-sindicalismo .

Em verdade, será a partir de 1919 que os sindicalistas-revolucionários

António José Piloto, Miguel Correia, Leopoldo Calapez e José Nobre 45

Madeira , figuras de primeiro plano do anarco-sindicalismo ferroviário,

imprimem à Associação de Classe um rumo político claro.

Álbum Resende, 1923, CMB-FOT-02-16-3786-2

40 César Oliveira afirma que o Partido Socialista «raramente conseguiu ultrapassar a fase grupuscular e a própria evolução das expressões da luta de classes em Portugal vai acelerar o seu próprio fracasso definitivo em 1914 com a criação, em Tomar, da União Operária Nacional.» OLIVEIRA, Ob. Cit., p.17. Sobre os centros republicanos e socialista cf. PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, vol. III, ed. C.M.B., 1971, p. 88 e ss.41 Caso da Associação de Classe dos Operários Metalúrgicos e Artes Anexas, criada nas Oficinas Gerais em 1903, dissolvida em data indeterminada e a Associação dos Condutores e Guarda-Freios fundada em 1911, que também não teve longa existência.42 Entre os seus membros, a Junta Revolucionária do Barreiro contava com dois comerciantes, um farmacêutico, um professor, dois empregados de escritório e um “ferroviário”, que se supõe ser o único operário. 43 Nove anos depois da revolução, em artigo intitulado 'República e republicanos' é visível a mágoa e o desengano dos ferroviários em relação ao regime por que tanto haviam pugnado. «Encerrar em prisões imundas aqueles que pedem pão porque, contanto ou mais que eles têm direito a viver; deportam operários que com os mais ignóbeis epítetos, que muito acertadamente lhes podiam ser devolvidos, fuzilar operários que com sede de justiça se revoltam contra este estado de coisas.» O Sul e Sueste, 22 de Outubro de 1919.

44 Do anarco-sindicalismo participam duas perspectivas, não muito diferenciadas entre si: «Tanto o sindicalismo [revolucionário] como o anarquismo no que concerne à sua influência, manifestamente dominante, na organização sindical portuguesa caracterizavam-se, no essencial, pela apoliticidade, pela acção directa e pelo «exclusivo» da organização dos trabalhadores em sindicatos». OLIVEIRA, César – Op. cit., p. 23. 45 Em 1919 José Nobre Madeira, era Presidente da Associação de Classe pela Delegação de Faro. Devido à sua actividade sindical e política virá a ser preso e deportado para Cabo Verde, após o golpe de 28 de Maio de 1926. Em 1933 ainda lá permanecia, conforme declarações de Alfredo Carvalho que constam no Processo Político de Miguel Correia. «Que o José Nobre Madeira foi seu colega e militante no campo sindical, e encontra-se deportado em Cabo Verde, porque não foi abrangido pelo decreto de amnistia.» IAN/TT, PIDE/DGS, Procº 673/SPS, NT 4293.

40 41

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Os princípios do sindicalismo-libertário, aprovados no Congresso Operário

de 1919 que deu origem à Confederação Geral do Trabalho de tendência

anarquista, no qual António José Piloto e Miguel Correia participam como

delegados, serão arvorados em bandeira, através das páginas do Sul e 46

Sueste .

A partir de então o 'proletariado ferroviário' assumindo um forte pendor

reivindicativo, virá a guindar-se ao patamar de classe organizada «entre as

classes operárias organizadas» e será protagonista, de algumas das lutas

mais radicais contra o poder republicano, com destaque para a greve geral

revolucionária de 1918 contra a carestia e a greve de 70 dias no Sul e

Sueste, em 1920.

A greve geral de 1918, apesar da derrota que representou para o

movimento operário português, figurou já uma tomada de consciência

revolucionária que deve ser encarada à luz dos impactos da revolução

socialista de Outubro na Rússia, em 1917.

Na verdade, por alturas de 1920, já se faziam sentir os seus ecos no Barreiro

e começavam a afirmar-se no meio operário, as ideias e o exemplo da

revolução social no país de Lenine.

No ano em que José A. Marques escreve o seu diário, Leopoldo Calapez,

com Manuel Dionísio Júnior, serão presos por trazerem na sua posse o 47jornal Bandeira Vermelha , que propaga as ideias do comunismo e da

revolução social na Rússia, antecipando o aparecimento de uma nova 48formação política, o Partido Comunista Português, em 1921 .

Dados os limites conceptuais do anarco-sindicalismo - conduzindo a luta de

massas exclusivamente para o terreno económico e recusando «utilizar as 49

instituições típicas da democracia burguesa parlamentar » - os comunistas

começam a implantar-se «em detrimento dos ideais anarco-sindicalistas

que, durante a I República, foram a ideologia reinante no seio do 50

operariado barreirense» .

A corrente libertária continuará a manter influência durante alguns anos

mais, mas será dizimada pelas prisões e deportação em massa dos seus

dirigentes, ainda durante a República e posteriormente pelo regime de

Salazar, factos que levarão ao seu enfraquecimento e desaparecimento do

meio social e operário no Barreiro.

Em Janeiro de 1920, a conjuntura nacional encontrava paralelo na vida

política local, com um cenário de conflitos que tem reflexos na paralisia das

instituições públicas.

No início do ano, a Câmara Municipal eleita não conseguia tomar posse, em

virtude de os Vereadores, envolvidos em lutas pessoais, não se

entenderem quanto à distribuição de Pelouros. A situação arrastava-se

desde o ano anterior, estando os serviços completamente inoperantes. A

vila encontrava-se sem iluminação e num estado higiénico deplorável, com

risco de epidemias por falta de limpeza das ruas.

Perante a situação de calamidade pública, o então Presidente da Junta de

Freguesia do Barreiro, Júlio Caetano Veríssimo, pedia providências face aos

«acontecimentos que a Câmara Municipal com a sua intransigência e ódios

tem dado origem. Depois de se apreciar o facto de até hoje ainda não terem

eleito a Comissão Executiva nem o Senado por não chegarem a acordo

sobre a distribuição de vereadores para os respectivos cargos, o que põe

todo o concelho num verdadeiro caos, foi por unanimidade de votos

resolvido pedir ao Exmo Governador a dissolução da Câmara e a sua 51

substituição por uma comissão administrativa» .

46 Será através das páginas do jornal da classe, fundado ainda em 1919, que Miguel Correia expressa a orientação que vai caracterizar a acção sindical daí para a frente: «Jornal de classe, escrito para uma classe produtora, êle não poderia deixar de se inclinar para a extrema-esquerda, pois, de contrário, atraiçoaria a sua missão e atentaria contra os interêsses da grande massa operária, a que pertence a classe ferroviária.» O Sul e Sueste, 7 de Setembro, 1920.47 Vd. O Sul e Sueste, nº 21, 31 de Março, 1920. Calapez deixará o seu nome em periódicos anarquistas como o Aurora e outros de classe, entre os quais O Rail e O Sul e Sueste e ingressara nas fileiras da Federação Maximalista Portuguesa, uma das «raízes do Partido Comunista Português». TEIXEIRA, Armando de Sousa - Barreiro Uma História de Trabalho, Resistência e Luta (1926/1945), ed. Avante, 1997, p. 170. 48 No primeiro Manifesto que o Partido Comunista Português dá à estampa, são ainda pouco precisas as suas definições ideológicas, mas afirma-se constituído «na sua essência por trabalhadores sindicados das várias nuances socialistas de tendências extremistas libertários, sindicalistas e socialistas da extrema esquerda – é um organismo profunda e essencialmente revolucionário. […] É um Partido de acção e de agitação constante que exprime no nosso país a nova modalidade política manifestada em todo o mundo após a Revolução Russa…». “Manifesto do Partido Comunista Português ao País”, Julho, 1921. Arquivo Histórico Militar , I Div/36 SC/nº17/cx. 16

49 OLIVEIRA, p. 2450 ALMEIDA, Vanessa de – Um Momento de Viragem Do 18 de Janeiro de 1934 ao hastear da Bandeira vermelha em 1935, C.M.B., 2005, p. 651 Livro de Actas da Junta de Freguesia do Barreiro, 1909-1923, 28 de Janeiro de 1920.

42 43

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Os princípios do sindicalismo-libertário, aprovados no Congresso Operário

de 1919 que deu origem à Confederação Geral do Trabalho de tendência

anarquista, no qual António José Piloto e Miguel Correia participam como

delegados, serão arvorados em bandeira, através das páginas do Sul e 46

Sueste .

A partir de então o 'proletariado ferroviário' assumindo um forte pendor

reivindicativo, virá a guindar-se ao patamar de classe organizada «entre as

classes operárias organizadas» e será protagonista, de algumas das lutas

mais radicais contra o poder republicano, com destaque para a greve geral

revolucionária de 1918 contra a carestia e a greve de 70 dias no Sul e

Sueste, em 1920.

A greve geral de 1918, apesar da derrota que representou para o

movimento operário português, figurou já uma tomada de consciência

revolucionária que deve ser encarada à luz dos impactos da revolução

socialista de Outubro na Rússia, em 1917.

Na verdade, por alturas de 1920, já se faziam sentir os seus ecos no Barreiro

e começavam a afirmar-se no meio operário, as ideias e o exemplo da

revolução social no país de Lenine.

No ano em que José A. Marques escreve o seu diário, Leopoldo Calapez,

com Manuel Dionísio Júnior, serão presos por trazerem na sua posse o 47jornal Bandeira Vermelha , que propaga as ideias do comunismo e da

revolução social na Rússia, antecipando o aparecimento de uma nova 48formação política, o Partido Comunista Português, em 1921 .

Dados os limites conceptuais do anarco-sindicalismo - conduzindo a luta de

massas exclusivamente para o terreno económico e recusando «utilizar as 49

instituições típicas da democracia burguesa parlamentar » - os comunistas

começam a implantar-se «em detrimento dos ideais anarco-sindicalistas

que, durante a I República, foram a ideologia reinante no seio do 50

operariado barreirense» .

A corrente libertária continuará a manter influência durante alguns anos

mais, mas será dizimada pelas prisões e deportação em massa dos seus

dirigentes, ainda durante a República e posteriormente pelo regime de

Salazar, factos que levarão ao seu enfraquecimento e desaparecimento do

meio social e operário no Barreiro.

Em Janeiro de 1920, a conjuntura nacional encontrava paralelo na vida

política local, com um cenário de conflitos que tem reflexos na paralisia das

instituições públicas.

No início do ano, a Câmara Municipal eleita não conseguia tomar posse, em

virtude de os Vereadores, envolvidos em lutas pessoais, não se

entenderem quanto à distribuição de Pelouros. A situação arrastava-se

desde o ano anterior, estando os serviços completamente inoperantes. A

vila encontrava-se sem iluminação e num estado higiénico deplorável, com

risco de epidemias por falta de limpeza das ruas.

Perante a situação de calamidade pública, o então Presidente da Junta de

Freguesia do Barreiro, Júlio Caetano Veríssimo, pedia providências face aos

«acontecimentos que a Câmara Municipal com a sua intransigência e ódios

tem dado origem. Depois de se apreciar o facto de até hoje ainda não terem

eleito a Comissão Executiva nem o Senado por não chegarem a acordo

sobre a distribuição de vereadores para os respectivos cargos, o que põe

todo o concelho num verdadeiro caos, foi por unanimidade de votos

resolvido pedir ao Exmo Governador a dissolução da Câmara e a sua 51

substituição por uma comissão administrativa» .

46 Será através das páginas do jornal da classe, fundado ainda em 1919, que Miguel Correia expressa a orientação que vai caracterizar a acção sindical daí para a frente: «Jornal de classe, escrito para uma classe produtora, êle não poderia deixar de se inclinar para a extrema-esquerda, pois, de contrário, atraiçoaria a sua missão e atentaria contra os interêsses da grande massa operária, a que pertence a classe ferroviária.» O Sul e Sueste, 7 de Setembro, 1920.47 Vd. O Sul e Sueste, nº 21, 31 de Março, 1920. Calapez deixará o seu nome em periódicos anarquistas como o Aurora e outros de classe, entre os quais O Rail e O Sul e Sueste e ingressara nas fileiras da Federação Maximalista Portuguesa, uma das «raízes do Partido Comunista Português». TEIXEIRA, Armando de Sousa - Barreiro Uma História de Trabalho, Resistência e Luta (1926/1945), ed. Avante, 1997, p. 170. 48 No primeiro Manifesto que o Partido Comunista Português dá à estampa, são ainda pouco precisas as suas definições ideológicas, mas afirma-se constituído «na sua essência por trabalhadores sindicados das várias nuances socialistas de tendências extremistas libertários, sindicalistas e socialistas da extrema esquerda – é um organismo profunda e essencialmente revolucionário. […] É um Partido de acção e de agitação constante que exprime no nosso país a nova modalidade política manifestada em todo o mundo após a Revolução Russa…». “Manifesto do Partido Comunista Português ao País”, Julho, 1921. Arquivo Histórico Militar , I Div/36 SC/nº17/cx. 16

49 OLIVEIRA, p. 2450 ALMEIDA, Vanessa de – Um Momento de Viragem Do 18 de Janeiro de 1934 ao hastear da Bandeira vermelha em 1935, C.M.B., 2005, p. 651 Livro de Actas da Junta de Freguesia do Barreiro, 1909-1923, 28 de Janeiro de 1920.

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Depois de várias tentativas, infrutíferas, para eleger uma Comissão

Executiva, em Junho a Câmara seria finalmente dissolvida e realizadas

eleições. Opera-se então uma viragem na política local e, pela primeira vez, 52

os socialistas ganham eleições na vila do Barreiro . O facto será

efusivamente assinalado pelo novo Presidente eleito, o ferroviário Júlio

Caetano Veríssimo, no inflamado discurso que fez na sua tomada de 53

posse .

No ano de 1920, o problema das subsistências irá dominar o panorama

nacional. A escassez de produtos de primeira necessidade, o

açambarcamento e os elevadíssimos preços a que eram vendidos, tinham

provocado um sentimento generalizado de descontentamento, que vai

traduzir-se em pilhagens para obtenção de bens. No Barreiro, o Mercado 54

Municipal foi saqueado na manhã de 23 de Março .

Referindo-se ao assunto, a Câmara salientava que as razões do sucedido

eram a carestia dos géneros essenciais «circunstâncias que presentemente 55

tornam mais atribulada a vida das classes pobres.»

52 Entre 1915 e 1920 várias eleições foram anuladas e a Câmara dissolvida outras tantas vezes. Destas eleições saiu uma Câmara socialista presidida por Júlio Caetano Veríssimo, com os Vereadores João Ferreira, António Germano Bolina, Augusto António Penedo e Manuel José Bravo. A.M.B., Livro de Actas nº2 da Câmara Municipal do Barreiro, 1915-192053 «Considerando que é ao povo trabalhador do Barreiro, que se deve a vitória que alcançámos; considerando que a C. agora eleita representa a vontade firme do povo; considerando que ao mesmo povo trabalhador mais do que a ninguém compete auxiliar-nos nesta árdua tarefa de ressurgimento; considerando que é para o povo que irá todo o nosso esforço dando ao mesmo povo tudo quanto dentro das nossas forças caiba; o Senado Municipal reunido pela primeira vez após a sua eleição, envia ao povo trabalhador do conselho do Barreiro, em especial, as suas saudações e um abraço de confraternização aos socialistas de todo o mundo.» Actas da Câmara Municipal 1920. CMB/B/A/01, Lv 18, 1915/192054 Contudo, esta não era a primeira vez que se registavam assaltos ao Mercado, praticados por populares. Já em 21 de Maio de 1917, José António diz terem tocado a rebate os sinos da Igreja de Santa Cruz cerca das 23 horas, quando se deram assaltos generalizados em toda a vila aos estabelecimentos «por motivo dos preços dos géneros etc. e por sorte encontrava-se no Posto da G. Republicana apenas 4 praças. Era 4 da madrugada chegou uma força de marinheiros de V. encontrando já assaltados os seguintes estabelecimentos José da Costa Mano, Fernandes Lopes, Patrício, Ferreira Alves, António Hermanos, Daciano dos Santos, António Magalhães…» Registo dos Factos mais Notáveis nos anos 1918 a 920, A.M.B., EJAM-Lv. 0155 CMB/B/A/01, Livro 18, 1915-1920

Durante o ano a falta de pão e de farinha no Barreiro foi uma constante, 56

chegando a vila a estar vários dias seguidos sem pão , mas Setembro vai

ser o mês mais agitado. Logo a partir do dia 3, o pão começou a faltar,

ficando dele privada a vila, durante 8 dias. No dia 10, devido ao aumento

decretado pelo Governo, eclodiram revoltas da fome em vários pontos do

país, mas principalmente em Lisboa e arredores foram pilhadas mercearias

e armazéns. No Barreiro foi assaltado, na noite de 15 de Setembro, o

estabelecimento de «Francisco Rodrigues, ficando quase limpo. Foi um

alvoroço por toda a vila por motivo de tocarem os sinos da Igreja de Santa

Cruz na Praça da República. Os ditos era tocados por uma corda que

passava por cima dos telhados até ao Jardim no Largo de Camões. A dita

corda vinha a uma árvore do Jardim e a GNR aos tiros à torre da Igreja e

falando etc. e os sinos tocavam cada vez mais. Só de manhã é que foi vista a

corda e soube que puxavam pela corda José Camoez e Adelino Penina.

Continuam a efectuar-se prisões no Barreiro por motivo do assalto ao

estabelecimento do F. Rodrigues entre eles o J. Camarão e a filha do

Leonardo e outras».

Neste clima de agitação social em que decorre o ano de 1920, anota José

António que, vão declarar-se vários movimentos grevistas, em diversos

sectores. Por exemplo, os corticeiros entram em greve no dia 1 de Janeiro;

em 3 de Fevereiro e em 26 de Abril há uma nova greve dos corticeiros, em

que a vila do Barreiro é tomada por uma força da Marinha e sessenta praças

de Infantaria 11, a que se juntaram mais cinquenta de Cavalaria 10. No dia 6

de Junho tem lugar, nova greve do pessoal da cortiça, que termina

vitoriosamente 3 dias depois.

Voltaremos a ter notícias dos corticeiros em 9 de Setembro, quando se

reúnem por motivo da carestia de vida.

44 45

56 A questão do pão era um problema crónico e servia como arma política, entre as várias forças do Senado Municipal. Numa acta da sessão da Câmara Municipal de 8 de Abril de 1920, refere-se «a falta de pão e a venda deste pelo dobro do preço» responsabilizando-se o Administrador do Concelho pela situação, devido ao «abandono a que a autoridade administrativa continua votando o concelho» pedindo ao Governador Civil a substituição daquele «com a urgência que o caso requer». CMB/B/A/01, Livro 18, 1915-1920

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Depois de várias tentativas, infrutíferas, para eleger uma Comissão

Executiva, em Junho a Câmara seria finalmente dissolvida e realizadas

eleições. Opera-se então uma viragem na política local e, pela primeira vez, 52

os socialistas ganham eleições na vila do Barreiro . O facto será

efusivamente assinalado pelo novo Presidente eleito, o ferroviário Júlio

Caetano Veríssimo, no inflamado discurso que fez na sua tomada de 53

posse .

No ano de 1920, o problema das subsistências irá dominar o panorama

nacional. A escassez de produtos de primeira necessidade, o

açambarcamento e os elevadíssimos preços a que eram vendidos, tinham

provocado um sentimento generalizado de descontentamento, que vai

traduzir-se em pilhagens para obtenção de bens. No Barreiro, o Mercado 54

Municipal foi saqueado na manhã de 23 de Março .

Referindo-se ao assunto, a Câmara salientava que as razões do sucedido

eram a carestia dos géneros essenciais «circunstâncias que presentemente 55

tornam mais atribulada a vida das classes pobres.»

52 Entre 1915 e 1920 várias eleições foram anuladas e a Câmara dissolvida outras tantas vezes. Destas eleições saiu uma Câmara socialista presidida por Júlio Caetano Veríssimo, com os Vereadores João Ferreira, António Germano Bolina, Augusto António Penedo e Manuel José Bravo. A.M.B., Livro de Actas nº2 da Câmara Municipal do Barreiro, 1915-192053 «Considerando que é ao povo trabalhador do Barreiro, que se deve a vitória que alcançámos; considerando que a C. agora eleita representa a vontade firme do povo; considerando que ao mesmo povo trabalhador mais do que a ninguém compete auxiliar-nos nesta árdua tarefa de ressurgimento; considerando que é para o povo que irá todo o nosso esforço dando ao mesmo povo tudo quanto dentro das nossas forças caiba; o Senado Municipal reunido pela primeira vez após a sua eleição, envia ao povo trabalhador do conselho do Barreiro, em especial, as suas saudações e um abraço de confraternização aos socialistas de todo o mundo.» Actas da Câmara Municipal 1920. CMB/B/A/01, Lv 18, 1915/192054 Contudo, esta não era a primeira vez que se registavam assaltos ao Mercado, praticados por populares. Já em 21 de Maio de 1917, José António diz terem tocado a rebate os sinos da Igreja de Santa Cruz cerca das 23 horas, quando se deram assaltos generalizados em toda a vila aos estabelecimentos «por motivo dos preços dos géneros etc. e por sorte encontrava-se no Posto da G. Republicana apenas 4 praças. Era 4 da madrugada chegou uma força de marinheiros de V. encontrando já assaltados os seguintes estabelecimentos José da Costa Mano, Fernandes Lopes, Patrício, Ferreira Alves, António Hermanos, Daciano dos Santos, António Magalhães…» Registo dos Factos mais Notáveis nos anos 1918 a 920, A.M.B., EJAM-Lv. 0155 CMB/B/A/01, Livro 18, 1915-1920

Durante o ano a falta de pão e de farinha no Barreiro foi uma constante, 56

chegando a vila a estar vários dias seguidos sem pão , mas Setembro vai

ser o mês mais agitado. Logo a partir do dia 3, o pão começou a faltar,

ficando dele privada a vila, durante 8 dias. No dia 10, devido ao aumento

decretado pelo Governo, eclodiram revoltas da fome em vários pontos do

país, mas principalmente em Lisboa e arredores foram pilhadas mercearias

e armazéns. No Barreiro foi assaltado, na noite de 15 de Setembro, o

estabelecimento de «Francisco Rodrigues, ficando quase limpo. Foi um

alvoroço por toda a vila por motivo de tocarem os sinos da Igreja de Santa

Cruz na Praça da República. Os ditos era tocados por uma corda que

passava por cima dos telhados até ao Jardim no Largo de Camões. A dita

corda vinha a uma árvore do Jardim e a GNR aos tiros à torre da Igreja e

falando etc. e os sinos tocavam cada vez mais. Só de manhã é que foi vista a

corda e soube que puxavam pela corda José Camoez e Adelino Penina.

Continuam a efectuar-se prisões no Barreiro por motivo do assalto ao

estabelecimento do F. Rodrigues entre eles o J. Camarão e a filha do

Leonardo e outras».

Neste clima de agitação social em que decorre o ano de 1920, anota José

António que, vão declarar-se vários movimentos grevistas, em diversos

sectores. Por exemplo, os corticeiros entram em greve no dia 1 de Janeiro;

em 3 de Fevereiro e em 26 de Abril há uma nova greve dos corticeiros, em

que a vila do Barreiro é tomada por uma força da Marinha e sessenta praças

de Infantaria 11, a que se juntaram mais cinquenta de Cavalaria 10. No dia 6

de Junho tem lugar, nova greve do pessoal da cortiça, que termina

vitoriosamente 3 dias depois.

Voltaremos a ter notícias dos corticeiros em 9 de Setembro, quando se

reúnem por motivo da carestia de vida.

44 45

56 A questão do pão era um problema crónico e servia como arma política, entre as várias forças do Senado Municipal. Numa acta da sessão da Câmara Municipal de 8 de Abril de 1920, refere-se «a falta de pão e a venda deste pelo dobro do preço» responsabilizando-se o Administrador do Concelho pela situação, devido ao «abandono a que a autoridade administrativa continua votando o concelho» pedindo ao Governador Civil a substituição daquele «com a urgência que o caso requer». CMB/B/A/01, Livro 18, 1915-1920

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Pela madrugada do dia 25 Setembro, declaram-se em greve os fragateiros e

carregadores de mar e terra e, três dias depois, refere José António que,

devido à greve dos marítimos, as ruas continuavam «patrulhadas por

forças da GNR a cavalo e Infantaria e os Caminhos de Ferro do Sul e Sueste

continuam guardados por forças militares». Precisamente no último dia de

Setembro inicia-se a mais longa e dura greve nos comboios do Sul, que terá

impactos extraordinários sobre toda a população da vila.

A 22 de Outubro, chegava aos Paços do Concelho o chamado “pão do

Sidónio” e a população, faminta, atropelava-se nas bichas que davam

voltas pela rua, de tal modo que, em 4 de Novembro «tiveram que tirar

duas creanças quase mortas» durante os motins que se verificaram, como

nos informa José A. Marques.

Este é um tempo agitado e tumultuoso e no Barreiro não faltam armas,

como de resto em todo o país, gerando-se por vezes situações de violência

brutal. Possuir uma arma nesta época era corrente e, se hoje nos parece

chocante a quantidade de armas que circulavam entre a população, e a

facilidade com que eram usadas, basta recordar que, um dos princípios da

Carbonária era que todos os seus membros deveriam possuir 57

«ocultamente, uma arma com os competentes cartuchos» .

Se por um lado a situação social resvala para actos violentos, por outro, é a

violência organizada das 'forças da ordem' que aumenta o clima de

agitação social. Numa espiral sem fim, vive-se no Barreiro um clima tenso e,

por mais de uma vez, durante o ano de 1920, a vila é ocupada militarmente

e a população controlada e sujeita a uma espécie de estado de sítio. José A.

Marques dá-nos conta de situações dessas no seu diário.

«28/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Continuam as ruas

da vila patrulhadas pela Guarda Republicana e Cavalaria 5 e Infantaria 4 e

5. Dava ideia que estavam na Alemanha».

«2/11/1920 Pelas 11h deu-se um incidente entre Lúcio Monteiro e o

escriturário Guerra este ao serviço este vinha a ler o jornal a Vitória e o Lúcio

tirou-lho e deu-lhe a Batalha a ler dando o resultado de o Guerra puxa pelo

revólver e o Lúcio disse mata-me que é um ferroviário tirando um tiro para o

chão e pediu socorro a um guarda fiscal que o não atendeu».

«25/11/1920 Continuação da greve. Terminou o prazo dado pelo Raul

Esteves. Não tocou a buzina das Of. Gerais dos CFSS. Pelas 13h principiou a

57 SERRÃO, Joel, 'Carbonária' in Dicionário de História de Portugal, 1ªedição, Iniciativas Editoriais, vol, I, Lisboa, 1963-1971, p.481

46 47

pingar e às 14 e tal passou pela Rua Miguel Pais o sr. Raul Esteves mais dois

oficiais, dando a volta à vila a pé. Andou todo o dia pela vila patrulhas da

GNR e de Inf. e Cavalaria não autorizando grupos pelas ruas, nem nos

estabelecimentos, etc».

A 9 de Dezembro terminava a greve ferroviária iniciada em 30 de Setembro.

As suas consequências e repercussões far-se-ão sentir muito depois do

final, através de despedimentos, perseguição e prisão em massa dos

participantes e principais responsáveis.

Em 5 de Abril de 1921, Miguel Correia estava preso no Limoeiro e Leopoldo

Calapez no Quartel-general do Batalhão de Sapadores.

Ao longo do ano suceder-se-ão as iniciativas para libertação dos presos e

sua readmissão na Companhia. A 24 de Janeiro do ano seguinte, José

escreve no seu diário que «Formou-se uma Comissão de Ferroviários para

pedir a liberdade dos presos civis e militares, entre eles os Balbinos».

A solidariedade aos ferroviários vai manifestar-se ainda de outras formas,

com as realização de “benefícios”, para acudir às famílias dos atingidos pelo

infortúnio, sejam o despedimento, a prisão ou a deportação.

Em grande medida são as colectividades que dão expressão a essas acções,

como é exemplo o espectáculo promovido em 22 de Janeiro de 1921 na

Sociedade Instrução ou, em 6 de Abril a deliberação da Direcção de

«representar ao Sr. Presidente do Ministério por ofício, no sentido de

promover a liberdade dos ferroviários reclusos nos diferentes fortes, sócios 58

desta colectividade» .

Numa época em que a oralidade é dominante, apesar de uma dinâmica

imprensa escrita que encontra eco nos meios operários, as sociedades

recreativas e colectividades, são em número assinalável no Barreiro de

1920 e congregam os esforços e as energias de uma massa operária ávida

de conhecimentos.

58 Livro de Actas. Direcção da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”, 6 de Abril, 1921. 59 TEIXEIRA, Jorge – O Barreiro que eu vi, ed. Câmara Municipal do Barreiro, 1993, p. 74.60 Veja-se os casos de “Os Franceses” e do Clube 22 de Novembro, onde se junta maioritariamente uma certa elite da burguesia comerciante barreirense, acompanhada pelos empregados de escritório dos caminhos-de-ferro e da CUF. Uns e outros com aspirações intelectuais ou sonhos de ascensão social.61 De feição mais operária e popular citam-se os casos da Sociedade Instrução “Os Penicheiros”, as Cooperativas de Consumo dos Operários Corticeiros e Popular Barreirense, entre outros. A título de curiosidade veja-se o que escrevia um jornal de Lisboa no século XIX, acerca dos “Penicheiros” e dos “Franceses”: «Todos os funcionários públicos do Barreiro estão filiados no partido “Francês” […] no partido “Penicheiro” só existem operários e trabalhadores.» A Folha do Povo, nº 1738, Lisboa, 1 de Abril, 1886.

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Pela madrugada do dia 25 Setembro, declaram-se em greve os fragateiros e

carregadores de mar e terra e, três dias depois, refere José António que,

devido à greve dos marítimos, as ruas continuavam «patrulhadas por

forças da GNR a cavalo e Infantaria e os Caminhos de Ferro do Sul e Sueste

continuam guardados por forças militares». Precisamente no último dia de

Setembro inicia-se a mais longa e dura greve nos comboios do Sul, que terá

impactos extraordinários sobre toda a população da vila.

A 22 de Outubro, chegava aos Paços do Concelho o chamado “pão do

Sidónio” e a população, faminta, atropelava-se nas bichas que davam

voltas pela rua, de tal modo que, em 4 de Novembro «tiveram que tirar

duas creanças quase mortas» durante os motins que se verificaram, como

nos informa José A. Marques.

Este é um tempo agitado e tumultuoso e no Barreiro não faltam armas,

como de resto em todo o país, gerando-se por vezes situações de violência

brutal. Possuir uma arma nesta época era corrente e, se hoje nos parece

chocante a quantidade de armas que circulavam entre a população, e a

facilidade com que eram usadas, basta recordar que, um dos princípios da

Carbonária era que todos os seus membros deveriam possuir 57

«ocultamente, uma arma com os competentes cartuchos» .

Se por um lado a situação social resvala para actos violentos, por outro, é a

violência organizada das 'forças da ordem' que aumenta o clima de

agitação social. Numa espiral sem fim, vive-se no Barreiro um clima tenso e,

por mais de uma vez, durante o ano de 1920, a vila é ocupada militarmente

e a população controlada e sujeita a uma espécie de estado de sítio. José A.

Marques dá-nos conta de situações dessas no seu diário.

«28/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Continuam as ruas

da vila patrulhadas pela Guarda Republicana e Cavalaria 5 e Infantaria 4 e

5. Dava ideia que estavam na Alemanha».

«2/11/1920 Pelas 11h deu-se um incidente entre Lúcio Monteiro e o

escriturário Guerra este ao serviço este vinha a ler o jornal a Vitória e o Lúcio

tirou-lho e deu-lhe a Batalha a ler dando o resultado de o Guerra puxa pelo

revólver e o Lúcio disse mata-me que é um ferroviário tirando um tiro para o

chão e pediu socorro a um guarda fiscal que o não atendeu».

«25/11/1920 Continuação da greve. Terminou o prazo dado pelo Raul

Esteves. Não tocou a buzina das Of. Gerais dos CFSS. Pelas 13h principiou a

57 SERRÃO, Joel, 'Carbonária' in Dicionário de História de Portugal, 1ªedição, Iniciativas Editoriais, vol, I, Lisboa, 1963-1971, p.481

46 47

pingar e às 14 e tal passou pela Rua Miguel Pais o sr. Raul Esteves mais dois

oficiais, dando a volta à vila a pé. Andou todo o dia pela vila patrulhas da

GNR e de Inf. e Cavalaria não autorizando grupos pelas ruas, nem nos

estabelecimentos, etc».

A 9 de Dezembro terminava a greve ferroviária iniciada em 30 de Setembro.

As suas consequências e repercussões far-se-ão sentir muito depois do

final, através de despedimentos, perseguição e prisão em massa dos

participantes e principais responsáveis.

Em 5 de Abril de 1921, Miguel Correia estava preso no Limoeiro e Leopoldo

Calapez no Quartel-general do Batalhão de Sapadores.

Ao longo do ano suceder-se-ão as iniciativas para libertação dos presos e

sua readmissão na Companhia. A 24 de Janeiro do ano seguinte, José

escreve no seu diário que «Formou-se uma Comissão de Ferroviários para

pedir a liberdade dos presos civis e militares, entre eles os Balbinos».

A solidariedade aos ferroviários vai manifestar-se ainda de outras formas,

com as realização de “benefícios”, para acudir às famílias dos atingidos pelo

infortúnio, sejam o despedimento, a prisão ou a deportação.

Em grande medida são as colectividades que dão expressão a essas acções,

como é exemplo o espectáculo promovido em 22 de Janeiro de 1921 na

Sociedade Instrução ou, em 6 de Abril a deliberação da Direcção de

«representar ao Sr. Presidente do Ministério por ofício, no sentido de

promover a liberdade dos ferroviários reclusos nos diferentes fortes, sócios 58

desta colectividade» .

Numa época em que a oralidade é dominante, apesar de uma dinâmica

imprensa escrita que encontra eco nos meios operários, as sociedades

recreativas e colectividades, são em número assinalável no Barreiro de

1920 e congregam os esforços e as energias de uma massa operária ávida

de conhecimentos.

58 Livro de Actas. Direcção da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense “Os Penicheiros”, 6 de Abril, 1921. 59 TEIXEIRA, Jorge – O Barreiro que eu vi, ed. Câmara Municipal do Barreiro, 1993, p. 74.60 Veja-se os casos de “Os Franceses” e do Clube 22 de Novembro, onde se junta maioritariamente uma certa elite da burguesia comerciante barreirense, acompanhada pelos empregados de escritório dos caminhos-de-ferro e da CUF. Uns e outros com aspirações intelectuais ou sonhos de ascensão social.61 De feição mais operária e popular citam-se os casos da Sociedade Instrução “Os Penicheiros”, as Cooperativas de Consumo dos Operários Corticeiros e Popular Barreirense, entre outros. A título de curiosidade veja-se o que escrevia um jornal de Lisboa no século XIX, acerca dos “Penicheiros” e dos “Franceses”: «Todos os funcionários públicos do Barreiro estão filiados no partido “Francês” […] no partido “Penicheiro” só existem operários e trabalhadores.» A Folha do Povo, nº 1738, Lisboa, 1 de Abril, 1886.

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«Nenhuma outra vila portuguesa criara tantas agremiações económicas,

mutualistas, artísticas, benemerentes, recreativas e desportivas. A par

disto, ainda sobra energia para a criação de jornais e revistas, sindicais,

regionalistas, literárias, perduráveis ou recidivas, sempre deficitárias, às

vezes pagas pelos próprios redactores. Um iluminismo tardio, mas

impetuoso, impele um escol a associar-se, instruir-se, abrir escolas, 59

melhorar e renovar.»

No seu conjunto, esta enorme massa associativa acabava por reflectir as

influências políticas da sociedade local e, por vezes, algumas colectividades 60 61

tendem a assumir um matiz de classe mais burguês ou mais operário .

As colectividades desempenham ainda um papel social muito relevante, ao

nível da instrução, lançando as bases para o combate ao analfabetismo,

dinamizando bibliotecas, promovendo cursos de ciências, artes e línguas e

divulgando uma prática muito corrente entre a massa operária do Barreiro, 62sobretudo nos ferroviários, a língua internacional esperantista .

Estes são alguns dos aspectos que procurámos salientar no diário de José

António Marques. A estes aduzimos outros que, a consulta de variadas

fontes nos facultou. Ainda que alguns não transpareçam directamente no

seu escrito, fazem parte do contexto mais geral que, tanto antecede o ano

de 1920 e o explicam, como o ultrapassam e podem ajudar-nos a

compreender certos factos da história local, posteriores à época em que o

redigiu.

Chegados aqui, devemos agora preparar quem vai ler os diários para o que

vai encontrar: a escrita de José António Marques, não é de fácil leitura. As

suas descrições são muito densas e os assuntos misturam-se, por vezes

caoticamente, o que obriga a ter uma atenção redobrada para perceber as

ideias.

Contém erros, que, por opção quisemos manter a fim de aproximar o leitor

o mais possível da versão integral dos textos.

Com isto não queremos desencorajar ninguém da leitura do seu diário, de

que voltamos a enfatizar a importância e interesse, enquanto testemunho

62 O ensino do Esperanto acabará por ser proibido pelo regime salazarista e a Sociedade Esperantista Barreirense dissolvida e encerrada, em 1937. A sua biblioteca e outros pertences, foram entregues ao Instituto dos Ferroviários do Sul e Sueste, onde ainda em 1934 era corrente o ensino desta língua libertária. Nesta data ainda António José Piloto pertencia à Direcção do Instituo. Seria “dispensado” no ano seguinte. Vd. Livro das Actas das Reuniões da Direcção do Instituto dos Ferroviários do Sul e Sueste, 1932-1938

48 49

Espectáculo promovido em 1921 por uma «comissão de ferroviários desta Sociedade e cujo produto reverte a favor dos ferroviários militares presos por ocasião da última greve». C.M.B., EJAM, Cx. 05

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«Nenhuma outra vila portuguesa criara tantas agremiações económicas,

mutualistas, artísticas, benemerentes, recreativas e desportivas. A par

disto, ainda sobra energia para a criação de jornais e revistas, sindicais,

regionalistas, literárias, perduráveis ou recidivas, sempre deficitárias, às

vezes pagas pelos próprios redactores. Um iluminismo tardio, mas

impetuoso, impele um escol a associar-se, instruir-se, abrir escolas, 59

melhorar e renovar.»

No seu conjunto, esta enorme massa associativa acabava por reflectir as

influências políticas da sociedade local e, por vezes, algumas colectividades 60 61

tendem a assumir um matiz de classe mais burguês ou mais operário .

As colectividades desempenham ainda um papel social muito relevante, ao

nível da instrução, lançando as bases para o combate ao analfabetismo,

dinamizando bibliotecas, promovendo cursos de ciências, artes e línguas e

divulgando uma prática muito corrente entre a massa operária do Barreiro, 62sobretudo nos ferroviários, a língua internacional esperantista .

Estes são alguns dos aspectos que procurámos salientar no diário de José

António Marques. A estes aduzimos outros que, a consulta de variadas

fontes nos facultou. Ainda que alguns não transpareçam directamente no

seu escrito, fazem parte do contexto mais geral que, tanto antecede o ano

de 1920 e o explicam, como o ultrapassam e podem ajudar-nos a

compreender certos factos da história local, posteriores à época em que o

redigiu.

Chegados aqui, devemos agora preparar quem vai ler os diários para o que

vai encontrar: a escrita de José António Marques, não é de fácil leitura. As

suas descrições são muito densas e os assuntos misturam-se, por vezes

caoticamente, o que obriga a ter uma atenção redobrada para perceber as

ideias.

Contém erros, que, por opção quisemos manter a fim de aproximar o leitor

o mais possível da versão integral dos textos.

Com isto não queremos desencorajar ninguém da leitura do seu diário, de

que voltamos a enfatizar a importância e interesse, enquanto testemunho

62 O ensino do Esperanto acabará por ser proibido pelo regime salazarista e a Sociedade Esperantista Barreirense dissolvida e encerrada, em 1937. A sua biblioteca e outros pertences, foram entregues ao Instituto dos Ferroviários do Sul e Sueste, onde ainda em 1934 era corrente o ensino desta língua libertária. Nesta data ainda António José Piloto pertencia à Direcção do Instituo. Seria “dispensado” no ano seguinte. Vd. Livro das Actas das Reuniões da Direcção do Instituto dos Ferroviários do Sul e Sueste, 1932-1938

48 49

Espectáculo promovido em 1921 por uma «comissão de ferroviários desta Sociedade e cujo produto reverte a favor dos ferroviários militares presos por ocasião da última greve». C.M.B., EJAM, Cx. 05

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II Parte

50 51

histórico.

No estudo introdutório que aqui se apresentou, valorizaram-se sobretudo

os aspectos de natureza social e política, a que atribuímos maior

relevância. Outros encontrarão, com a mesma legitimidade, motivos de

interesse diverso dos aqui sublinhados.

Mas deixemo-nos agora guiar, pela mão de José António Marques. Com

ele, entraremos no espírito do seu tempo.

Rosalina Carmona

Barreiro, Julho, 2013

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II Parte

50 51

histórico.

No estudo introdutório que aqui se apresentou, valorizaram-se sobretudo

os aspectos de natureza social e política, a que atribuímos maior

relevância. Outros encontrarão, com a mesma legitimidade, motivos de

interesse diverso dos aqui sublinhados.

Mas deixemo-nos agora guiar, pela mão de José António Marques. Com

ele, entraremos no espírito do seu tempo.

Rosalina Carmona

Barreiro, Julho, 2013

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Registo dos Factos mais notáveis nos anos 1918 a 920

Álbum Resende, 1923. C.M.B. Fot-02-16-3786-11

Transcrição dos Diários de José António Marques

Normas de transcrição

A preocupação na transcrição dos diários foi manter, o mais possível, a

estrutura integral do texto original, mantendo expressões características

da oralidade, nomes próprios e sua grafia, introduzindo, por vezes, alguns

caracteres entre parênteses rectos […] a fim de melhorar a compreensão.

Tentou-se ainda respeitar a pontuação usada pelo autor, introduzindo o

menor número possível de alterações, interpretando as vírgulas como

pontos finais, uma vez que estes são inexistentes no texto. As vírgulas

constituem, por assim dizer, os únicos sinais de pontuação que o autor usa

para separar os assuntos.

Assinalaram-se os erros, sem contudo valorizar este aspecto em demasia,

umas vezes através da expressão sic entre parêntesis rectos, [sic]; outras

remetendo para nota de rodapé ou, corrigindo o erro da primeira vez em

ele que surge mas mantendo a grafia posteriormente, porque não alteram

a legibilidade da frase e porque não quisemos introduzir mais

perturbações à leitura.

52 53

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Registo dos Factos mais notáveis nos anos 1918 a 920

Álbum Resende, 1923. C.M.B. Fot-02-16-3786-11

Transcrição dos Diários de José António Marques

Normas de transcrição

A preocupação na transcrição dos diários foi manter, o mais possível, a

estrutura integral do texto original, mantendo expressões características

da oralidade, nomes próprios e sua grafia, introduzindo, por vezes, alguns

caracteres entre parênteses rectos […] a fim de melhorar a compreensão.

Tentou-se ainda respeitar a pontuação usada pelo autor, introduzindo o

menor número possível de alterações, interpretando as vírgulas como

pontos finais, uma vez que estes são inexistentes no texto. As vírgulas

constituem, por assim dizer, os únicos sinais de pontuação que o autor usa

para separar os assuntos.

Assinalaram-se os erros, sem contudo valorizar este aspecto em demasia,

umas vezes através da expressão sic entre parêntesis rectos, [sic]; outras

remetendo para nota de rodapé ou, corrigindo o erro da primeira vez em

ele que surge mas mantendo a grafia posteriormente, porque não alteram

a legibilidade da frase e porque não quisemos introduzir mais

perturbações à leitura.

52 53

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dos Arcos, com os olhos e todo esfaqueado. Falei com a rapariga. 1920

Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia lindo mas frio, vento norte e a

noite linda de luar mas fria.

676/1/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T . 1920 Folga. Fez um

dia lindo, vento norte e a noite linda de luar. Falei com a rapariga. O Artur

Vereda matou outro na Barra-Cheia.

7/1/920 Fez 1 ano folga. Falei com a rapariga. 1920 Trabalhei todo o dia e

1 hora de serão. Até às 12 lindo, depois nublou-se, fazendo a noite linda de

luar. Foi para o Barreiro T. o revisor circunscrição J.S. Rita.

Falei com a rapariga. O filho do Capitão do Posto matou com um pontapé,

um padeiro da padeiria [sic] do Ramos da Rua Miguel Pais.

8/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Foi à terra o fogueiro dos CFSS, o

Manuel Santos. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia lindo e

calor e ao fim da tarde nublou-se. Á noite choveu pouco, depois limpou.

Eram 17,50 descarrilou [o] veículo JJ 417-64-66.

9/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a rapariga. Na hora do

jantar o servente da revisão, o Justino, despois [sic] motivo de atirar um tiro

foi repreendido. 1920 Folga. Fez um dia regular e linda noite de luar mas

fria. Entreguei o estojo desenho ao Afonso mestre da Escola das Oficinas

dos CFSS e foi entregue em seguida ao aluno Sanchas. Falei com a rapariga.

10/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a rapariga. Arrebentou

uma revolta em Santarém e pelas 19 horas em Lisboa. 1920 Trabalhei todo

o dia, fez um dia de caretas, sol, chuva, etc. Foi preso o Manuel Cristo

carpinteiro das Oficinas dos CFSS e o António filho do dito por motivo de

baterem e ferirem o servente o Palaio, este levou 6 pontos naturais. Este

conflito deu-se pelas 13 horas nas Oficinas dos CFSS. Por motivo deste

incidente não apareceu. No T. Cine foi benefício da S. Instrução. A claque,

eu, J. C. Marques, Artur S., Manuel Hartley, para um camarote nº 10.

Faleceu o José Gordo.

11/1/920 Faz 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. Esteve todo o dia nublado e chovendo pouco.

«1/1/920 Faz 1 ano que foi feriado, não saí de casa todo o dia. Ás 17h veio 63o subertudo por uma costureira do alfaiate Júlio Macedo. Deram a volta à

vila as Sociedades Instrução e Democrática a dar as boas festas e bailes à

noite nas ditas sociedades. Trabalhei 24 horas no Barreiro Terra. Chegou do

Sanatório de S. Brás de Alportel o estofador Cecílio Macedo e seguio [sic] o

Revisor Luiz Santos Penim para o dito Sanatório. Foi o casamento do filho

do Manoel Joaquim Lopes e saio [sic] a dar a volta à vila as duas Sociedades

Instrução e Democrática. Fez grande nortada e chuvendo [sic]. Ao fim da

tarde limpou e a noite linda de luar. Houve bailes à noite no 22 [sic] e

Instrução e Democrática.

2/1/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Folga. Fez 20

anos Ventura Barbeiro. Foi pagamento, recebi 56$62. Fez vento e chuveu 64[sic] pouco e sol. A noite chuvosa e vento pouco. Falei com a rapariga .

3/1/920 Fez 1 ano folga. Houve teatro Cine, foi uma Companhia de

Setúbal. Foi tocar dois músicos da S. Democrática e 6 da S. Instrução. Falei

com a rapariga. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi o benefício da

Sociedade Democrática. De dia vento e a noite chuvosa e vento norte. Veio 66

hoje o bilhete de identidade da Inhabilidade nº 21.867 . Ficaram livres o

Joaquim Bainha e o Belas Panina.

4/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Foi o pagamento, recebi 38$92.

Não fui à vila por motivo de grande temporal. Faleceu o Américo Minhava,

com uma congestão. Folga. Quase todo o dia choveu, trovejou pouco e a

noite linda de luar mas fria. Fui a Lisboa às 11,40 mais Francisco Soeiro, J.

Aurélio, Francisco Tavares G. e o pai deste último ao Hospital S. José, ver o

José Tavares. Encontrava-se na enfermaria S. Alberto nº 33, número de

cama 33 [sic]. Dei-lhe $50. Regressei a Barreiro às 17,25, no vapor Alentejo.

Fui ao Teatro Cine comprei uma cadeira no nº 19, $15, a 2ª secção, às 19,30.

5/1/920 Fez 1 ano descanso semanal. Estreei o sobertudo, custou 30

escudos. Apareceu morto na praia o António Salvador Carneiro na Quinta

63 Casaco 64 A namorada de José, Maria Gertrudes Maurício ou, apenas M.G.M.65 Espectáculo em benefício de …66 Cartão da Caixa dos Socorros Mútuos67 Barreiro-Terra

54 55

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dos Arcos, com os olhos e todo esfaqueado. Falei com a rapariga. 1920

Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia lindo mas frio, vento norte e a

noite linda de luar mas fria.

676/1/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T . 1920 Folga. Fez um

dia lindo, vento norte e a noite linda de luar. Falei com a rapariga. O Artur

Vereda matou outro na Barra-Cheia.

7/1/920 Fez 1 ano folga. Falei com a rapariga. 1920 Trabalhei todo o dia e

1 hora de serão. Até às 12 lindo, depois nublou-se, fazendo a noite linda de

luar. Foi para o Barreiro T. o revisor circunscrição J.S. Rita.

Falei com a rapariga. O filho do Capitão do Posto matou com um pontapé,

um padeiro da padeiria [sic] do Ramos da Rua Miguel Pais.

8/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Foi à terra o fogueiro dos CFSS, o

Manuel Santos. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia lindo e

calor e ao fim da tarde nublou-se. Á noite choveu pouco, depois limpou.

Eram 17,50 descarrilou [o] veículo JJ 417-64-66.

9/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a rapariga. Na hora do

jantar o servente da revisão, o Justino, despois [sic] motivo de atirar um tiro

foi repreendido. 1920 Folga. Fez um dia regular e linda noite de luar mas

fria. Entreguei o estojo desenho ao Afonso mestre da Escola das Oficinas

dos CFSS e foi entregue em seguida ao aluno Sanchas. Falei com a rapariga.

10/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a rapariga. Arrebentou

uma revolta em Santarém e pelas 19 horas em Lisboa. 1920 Trabalhei todo

o dia, fez um dia de caretas, sol, chuva, etc. Foi preso o Manuel Cristo

carpinteiro das Oficinas dos CFSS e o António filho do dito por motivo de

baterem e ferirem o servente o Palaio, este levou 6 pontos naturais. Este

conflito deu-se pelas 13 horas nas Oficinas dos CFSS. Por motivo deste

incidente não apareceu. No T. Cine foi benefício da S. Instrução. A claque,

eu, J. C. Marques, Artur S., Manuel Hartley, para um camarote nº 10.

Faleceu o José Gordo.

11/1/920 Faz 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. Esteve todo o dia nublado e chovendo pouco.

«1/1/920 Faz 1 ano que foi feriado, não saí de casa todo o dia. Ás 17h veio 63o subertudo por uma costureira do alfaiate Júlio Macedo. Deram a volta à

vila as Sociedades Instrução e Democrática a dar as boas festas e bailes à

noite nas ditas sociedades. Trabalhei 24 horas no Barreiro Terra. Chegou do

Sanatório de S. Brás de Alportel o estofador Cecílio Macedo e seguio [sic] o

Revisor Luiz Santos Penim para o dito Sanatório. Foi o casamento do filho

do Manoel Joaquim Lopes e saio [sic] a dar a volta à vila as duas Sociedades

Instrução e Democrática. Fez grande nortada e chuvendo [sic]. Ao fim da

tarde limpou e a noite linda de luar. Houve bailes à noite no 22 [sic] e

Instrução e Democrática.

2/1/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Folga. Fez 20

anos Ventura Barbeiro. Foi pagamento, recebi 56$62. Fez vento e chuveu 64[sic] pouco e sol. A noite chuvosa e vento pouco. Falei com a rapariga .

3/1/920 Fez 1 ano folga. Houve teatro Cine, foi uma Companhia de

Setúbal. Foi tocar dois músicos da S. Democrática e 6 da S. Instrução. Falei

com a rapariga. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi o benefício da

Sociedade Democrática. De dia vento e a noite chuvosa e vento norte. Veio 66

hoje o bilhete de identidade da Inhabilidade nº 21.867 . Ficaram livres o

Joaquim Bainha e o Belas Panina.

4/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Foi o pagamento, recebi 38$92.

Não fui à vila por motivo de grande temporal. Faleceu o Américo Minhava,

com uma congestão. Folga. Quase todo o dia choveu, trovejou pouco e a

noite linda de luar mas fria. Fui a Lisboa às 11,40 mais Francisco Soeiro, J.

Aurélio, Francisco Tavares G. e o pai deste último ao Hospital S. José, ver o

José Tavares. Encontrava-se na enfermaria S. Alberto nº 33, número de

cama 33 [sic]. Dei-lhe $50. Regressei a Barreiro às 17,25, no vapor Alentejo.

Fui ao Teatro Cine comprei uma cadeira no nº 19, $15, a 2ª secção, às 19,30.

5/1/920 Fez 1 ano descanso semanal. Estreei o sobertudo, custou 30

escudos. Apareceu morto na praia o António Salvador Carneiro na Quinta

63 Casaco 64 A namorada de José, Maria Gertrudes Maurício ou, apenas M.G.M.65 Espectáculo em benefício de …66 Cartão da Caixa dos Socorros Mútuos67 Barreiro-Terra

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reunião dos ferroviários, ficou adiada para 21 do corrente mês às 19 horas.

Foi preso o Viriato de Almeida e outros. Casou o Diamantino guarda do

Barreiro T. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo. Fui mais o António Luiz

Marques levar umas peles à estação dos CFSS, na carroça do dito, seguiram

para Torres Novas despachadas. Depois fomos até ao Matadouro

Municipal. Ás 15,30 houve grande discussão entre a mulher do Banhas e

outras na Rua Marquês Pombal, junto ao Barbeiro Ventura. O Marques

Silveira foi hoje o primeiro dia que teve relógio de prata. Falei com a

rapariga.

17/1/920 Fez 1 ano continuação da greve. Entrou para as Oficinas G. o

serralheiro Simões. Fui até ao Lavradio e A. Vedros mais o Agostinho e o

Manuel Bandeireiro e três praças do Batalhão de Sapadores de Caminho de

Ferro. Fomos cantar e tocando estrumentos de corda [sic], etc. Regressei a

Barreiro era já noite mais o carpinteiro revisor o António Ferreira e um filho

do maquinista Pouca Roupa etc. Soube que era 18,30 foi preso o Delícias e o

mano do Teodoro Caria, maquinista, etc. 1920 Trabalhei todo o dia, fazendo

um dia lindo. Falei com a rapariga.

18/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve. Foi preso o Joaquim

Figueiredo. O Ângelo Santareno abandonou o serviço. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. fazendo um dia lindo e à noite névoa.

19/1/920 Faz 1 ano continuação da greve. No Porto encontrava o célebre

Paiva Couceiro e às 15 horas foi alvorada [sic] a bandeira monárquica. 1920

Estive de folga, de manhã fez névoa e um dia lindo. Falei com a rapariga.

20/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve. Ontem veio ao Barreiro o

Bernardino Augusto Xavier. Fomos mais o José Borralho, Artur Sobral ao

Cemitério novo. Hoje fui mais o Bernardino Augusto Xavier, Alves Caria,

Custódio Fernandes, António Vicente e Manuel Frade, ao louro entre

Lavradio e Alhos Vedros. Às 13,10 houve reunião ferroviária autorizada

pelo ministro. Às 18,30, por motivo ser elevado o número de ferroviários,

foi no quintal da Associação de Classe. Aderiram aos grevistas alguns

encarregados entre eles o movimento. Na Rua Miguel Pais houve

desordem fui acudir o GNR nº 125 que namorava a Iria criada do Manuel

12/1/920 Fez 1 ano estive de folga. Falei com a rapariga. 1920 Estive de

folga esteve todo o dia nublado e calmaria. A noite idem. José Gonçalves

Tavares sai do Hospital de S. José para o de S. Amaro. Veio pela primeira vez

à minha casa a minha rapariga e chegou no Cº 2 o ajudante o António Caria,

de casa da tia de Azaruja. Encontrava-se à espera dele no Barreiro-A as

manas e a mãe, etc. Mais tarde fui até ao Lavradio de passeio com ele.

Comemos muitas boletas [sic] pelo caminho. Foi posto em liberdade o

carpinteiro Manuel Cristo, por motivo da última zaragata com o Palaio nas

Oficinas Gerais e ele perdeu tudo. Falei com a rapariga.

13/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Estive mais o António José

Morais e o João Rafael Soeiro combinar partidas para o Carnaval. Falei com

a rapariga. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. De manhã fez

névoa. O marinheiro dos CFSS, o Bárbara, apanhou uma célebre tareia do

Manuel Tamanqueira ficou em perigo de vida. Falei com a rapariga.

14/1/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. As 10 h saíram uns 80

operários da Oficinas dos CFSS, entre eles o meu mano, falando que

arrebentava a greve. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Todo o dia

nublado. Abriu uma leitaria que pertence ao Lá-vai, na Rua Aguiar nº 210. O

primeiro freguês que entrou hoje de manhã, o Artur Esteves. Foi à

inspecção médica para entrar nas Oficinas Gerais o calceiro do movimento,

o Figueiredo, no Barreiro T. Falei com a rapariga.

15/1/920 Faz 1 ano que trabalhei até às 15.45h, por motivo de

abandonar o trabalho. Os primeiros foram os das Oficinas Gerais e em

seguida os da Rotunda, etc. Não saí de casa.1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Foi declarada a greve dos corticeiros. Foi formado o novo

governo pelo Fernando Costa composto Dezembristas e outros. Esteve

após minutos sendo festas dos ministérios [sic] para rua os ministros pelo

povo, entre eles o célebre Pinto sendo formado pelo povo o novo governo

sendo presidido pelo Sá Cardoso havendo grandes manifestações que

antes no governo anterior houve grandes conflitos em vários pontos da

cidade. Esteve o dia nublado até às 16,50, depois limpou o tempo.

16/1/920 Greve declarada no dia 15 às 15.45h encontrando-se o

Movimento ainda ao serviço. Dei várias voltas, depois fui até à Paiva à

56 57

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reunião dos ferroviários, ficou adiada para 21 do corrente mês às 19 horas.

Foi preso o Viriato de Almeida e outros. Casou o Diamantino guarda do

Barreiro T. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo. Fui mais o António Luiz

Marques levar umas peles à estação dos CFSS, na carroça do dito, seguiram

para Torres Novas despachadas. Depois fomos até ao Matadouro

Municipal. Ás 15,30 houve grande discussão entre a mulher do Banhas e

outras na Rua Marquês Pombal, junto ao Barbeiro Ventura. O Marques

Silveira foi hoje o primeiro dia que teve relógio de prata. Falei com a

rapariga.

17/1/920 Fez 1 ano continuação da greve. Entrou para as Oficinas G. o

serralheiro Simões. Fui até ao Lavradio e A. Vedros mais o Agostinho e o

Manuel Bandeireiro e três praças do Batalhão de Sapadores de Caminho de

Ferro. Fomos cantar e tocando estrumentos de corda [sic], etc. Regressei a

Barreiro era já noite mais o carpinteiro revisor o António Ferreira e um filho

do maquinista Pouca Roupa etc. Soube que era 18,30 foi preso o Delícias e o

mano do Teodoro Caria, maquinista, etc. 1920 Trabalhei todo o dia, fazendo

um dia lindo. Falei com a rapariga.

18/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve. Foi preso o Joaquim

Figueiredo. O Ângelo Santareno abandonou o serviço. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. fazendo um dia lindo e à noite névoa.

19/1/920 Faz 1 ano continuação da greve. No Porto encontrava o célebre

Paiva Couceiro e às 15 horas foi alvorada [sic] a bandeira monárquica. 1920

Estive de folga, de manhã fez névoa e um dia lindo. Falei com a rapariga.

20/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve. Ontem veio ao Barreiro o

Bernardino Augusto Xavier. Fomos mais o José Borralho, Artur Sobral ao

Cemitério novo. Hoje fui mais o Bernardino Augusto Xavier, Alves Caria,

Custódio Fernandes, António Vicente e Manuel Frade, ao louro entre

Lavradio e Alhos Vedros. Às 13,10 houve reunião ferroviária autorizada

pelo ministro. Às 18,30, por motivo ser elevado o número de ferroviários,

foi no quintal da Associação de Classe. Aderiram aos grevistas alguns

encarregados entre eles o movimento. Na Rua Miguel Pais houve

desordem fui acudir o GNR nº 125 que namorava a Iria criada do Manuel

12/1/920 Fez 1 ano estive de folga. Falei com a rapariga. 1920 Estive de

folga esteve todo o dia nublado e calmaria. A noite idem. José Gonçalves

Tavares sai do Hospital de S. José para o de S. Amaro. Veio pela primeira vez

à minha casa a minha rapariga e chegou no Cº 2 o ajudante o António Caria,

de casa da tia de Azaruja. Encontrava-se à espera dele no Barreiro-A as

manas e a mãe, etc. Mais tarde fui até ao Lavradio de passeio com ele.

Comemos muitas boletas [sic] pelo caminho. Foi posto em liberdade o

carpinteiro Manuel Cristo, por motivo da última zaragata com o Palaio nas

Oficinas Gerais e ele perdeu tudo. Falei com a rapariga.

13/1/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Estive mais o António José

Morais e o João Rafael Soeiro combinar partidas para o Carnaval. Falei com

a rapariga. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. De manhã fez

névoa. O marinheiro dos CFSS, o Bárbara, apanhou uma célebre tareia do

Manuel Tamanqueira ficou em perigo de vida. Falei com a rapariga.

14/1/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. As 10 h saíram uns 80

operários da Oficinas dos CFSS, entre eles o meu mano, falando que

arrebentava a greve. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Todo o dia

nublado. Abriu uma leitaria que pertence ao Lá-vai, na Rua Aguiar nº 210. O

primeiro freguês que entrou hoje de manhã, o Artur Esteves. Foi à

inspecção médica para entrar nas Oficinas Gerais o calceiro do movimento,

o Figueiredo, no Barreiro T. Falei com a rapariga.

15/1/920 Faz 1 ano que trabalhei até às 15.45h, por motivo de

abandonar o trabalho. Os primeiros foram os das Oficinas Gerais e em

seguida os da Rotunda, etc. Não saí de casa.1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Foi declarada a greve dos corticeiros. Foi formado o novo

governo pelo Fernando Costa composto Dezembristas e outros. Esteve

após minutos sendo festas dos ministérios [sic] para rua os ministros pelo

povo, entre eles o célebre Pinto sendo formado pelo povo o novo governo

sendo presidido pelo Sá Cardoso havendo grandes manifestações que

antes no governo anterior houve grandes conflitos em vários pontos da

cidade. Esteve o dia nublado até às 16,50, depois limpou o tempo.

16/1/920 Greve declarada no dia 15 às 15.45h encontrando-se o

Movimento ainda ao serviço. Dei várias voltas, depois fui até à Paiva à

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Penim. Este deu-lhe 2$50 e $50 ao Broncas. Todo o dia esteve névoa. Não

saí de casa, não fui à vila.

24/1/920 Fez 1 ano continuação da greve dos CFSS. Brincadeiras

carnavalescas a claque era eu, Artur S. Custódio F. F. João da Silva Parra,

Francisco Soeiro e Manuel Frade, etc. A este último tirámos duas boinas eu

atirei uma para cima do candeeiro à esquina da casa do Manuel Torcato,

etc. Á noite ajuntaram-se as duas sociedades Instrução e Democrática,

esperar à estação dos CFSS os presos políticos João Anicleto [sic], Igreja,

Claudino, acompanhadas de muitíssimo povo de todas as classes, havendo 68

messas ao capitão do Posto. Correu o boato pela vila que todos os presos

que estavam no Monsanto que não aderiram aos monárquicos foram

fuzilados. Houve reunião às 19 horas, soube-se que o Comité encontrava-

se com ligação com o Governo e com a Junta Governativa da República.

1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi feriado pelo 1º aniversário da

Revolta de Monsanto. Esteve todo o dia nublado. Todo o dia atirou-se

muitos foguetes e morteiros pelo Barreiro e ouviam-se em Lisboa, havendo

conflitos no Porto, após 1 ano como disse. No Barreiro houve grandes

festejos por parte da Guarda Republicana e Guarda Fiscal, etc.

25/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Foram alvejados a

tiro pela GNR um grupo de ferroviários que se encontrava junto ao Bairro

Matilde a jogar à chara. Chegaram os ferroviários presos da greve há 2

meses. A GNR andou a fazer fitas, tinha um célebre comandante que não

podia ouvir vivas à República. Falei com a rapariga. Brincadeiras como de

costume do Carnaval. A claque eu, Francisco Soeiro, J. S. Borralho, M.

Frade, J. S. Silva Parra, Artur S. etc. Era 24 horas foi alvorada a bandeira

nacional. 1920 Estive de folga, fez névoa. A S. Instrução foi para Lisboa

visitar a S. 24 de Agosto. Por motivo da névoa não regressaram ao Barreiro.

Falei com a rapariga. O meu mano foi ao T. Cine ver a fita “A bala de bronze”.

26/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve. Quando o João Anicleto [sic]

seguia mais a mulher para Lisboa, alguns indivíduos deram vivas à

República e J. Anicleto respondeu com os ditos vivas. Bastou para que um

Oficial de Infantaria 5 o prendesse. 2 Marinheiros desarmaram 2

Preventivos. Saiu hoje o jornal “O Mundo” que já não saía há 3 meses. Fui

Lopes, o dito foi preso para o posto da GNR. 1920 Trabalhei todo o dia e 1

hora de serão. Fez um dia lindo. Falei com a rapariga.

21/1/920 Fez 1 ano continuação da greve e também dos corticeiros

encontrando-se o Barreiro em estado de sítio. Estabelecimentos tiveram

ordem de fechar às 19horas e as pessoas poderem [andar] na rua até às

21h, passando da dita hora presos. Falei com a rapariga. Às 12 horas

abandonou o serviço J. José Costa. Ainda continua alguns encarregados nas

Oficinas Gerais. Faleceu o Carlos Caldeireiro. 1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo algum calor. Foi posto a nado o lugre

“Lisboa” pelas 15h40, construído no estaleiro de Alburrica, ficou em 225

000 escudos. Faleceu a mãe do J. Vergante, reformado, com 102 anos de

idade.

22/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. O ministro está

disposto a assinar tudo menos a entrada ao serviço dos camaradas

Jerónimo Paiva e Paulo Bastos. Por esse motivo o pessoal não retomou o

serviço. Fui ao Lavradio mais o Artur Sobral e Manuel Frade. Encontramos

pelo caminho de bicicleta meu cunhado J. José e o Ângelo Santareno.

Vinham para o Barreiro. Houve desafio de bola na Lavradio com um time do

Barreiro. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo fazendo calor. Ás 16 horas

seguiu rebocado para Lisboa o lugre com o dito nome. Brincadeiras

carnavalescas, entre elas pedras no passeio, tirar paus de estender roupa,

apagar 2 candeeiros públicos no Largo Casal. A claque era Francisco Soeiro,

Joaquim Pereira, Manuel Barros, Custódio F. Luiz Cristo e outros. Falei com

a rapariga.

23/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Já retirou algumas

forças militares que se encontra na estação dos C. Ferro, para o Porto para

combater os monárquicos e em várias partes da cidade de Lisboa alvorada

a bandeira monárquica havendo conflitos, sendo sufocado o movimento

monárquico pela Marinha e civis e várias unidades do exército. Houve no

Barreiro grandes manifestações. Falaram no edifício dos Paços do

Concelho vários oradores, entre eles o Alfredo Figueiras. Foi do Barreiro

defender a República o Agostinho Martins. Falei com a rapariga. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Manuel Hartley achou uma

medalha de ouro, era do encarregado das Oficinas dos CFSS, Manuel 68 Desafiando

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Penim. Este deu-lhe 2$50 e $50 ao Broncas. Todo o dia esteve névoa. Não

saí de casa, não fui à vila.

24/1/920 Fez 1 ano continuação da greve dos CFSS. Brincadeiras

carnavalescas a claque era eu, Artur S. Custódio F. F. João da Silva Parra,

Francisco Soeiro e Manuel Frade, etc. A este último tirámos duas boinas eu

atirei uma para cima do candeeiro à esquina da casa do Manuel Torcato,

etc. Á noite ajuntaram-se as duas sociedades Instrução e Democrática,

esperar à estação dos CFSS os presos políticos João Anicleto [sic], Igreja,

Claudino, acompanhadas de muitíssimo povo de todas as classes, havendo 68

messas ao capitão do Posto. Correu o boato pela vila que todos os presos

que estavam no Monsanto que não aderiram aos monárquicos foram

fuzilados. Houve reunião às 19 horas, soube-se que o Comité encontrava-

se com ligação com o Governo e com a Junta Governativa da República.

1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi feriado pelo 1º aniversário da

Revolta de Monsanto. Esteve todo o dia nublado. Todo o dia atirou-se

muitos foguetes e morteiros pelo Barreiro e ouviam-se em Lisboa, havendo

conflitos no Porto, após 1 ano como disse. No Barreiro houve grandes

festejos por parte da Guarda Republicana e Guarda Fiscal, etc.

25/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Foram alvejados a

tiro pela GNR um grupo de ferroviários que se encontrava junto ao Bairro

Matilde a jogar à chara. Chegaram os ferroviários presos da greve há 2

meses. A GNR andou a fazer fitas, tinha um célebre comandante que não

podia ouvir vivas à República. Falei com a rapariga. Brincadeiras como de

costume do Carnaval. A claque eu, Francisco Soeiro, J. S. Borralho, M.

Frade, J. S. Silva Parra, Artur S. etc. Era 24 horas foi alvorada a bandeira

nacional. 1920 Estive de folga, fez névoa. A S. Instrução foi para Lisboa

visitar a S. 24 de Agosto. Por motivo da névoa não regressaram ao Barreiro.

Falei com a rapariga. O meu mano foi ao T. Cine ver a fita “A bala de bronze”.

26/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve. Quando o João Anicleto [sic]

seguia mais a mulher para Lisboa, alguns indivíduos deram vivas à

República e J. Anicleto respondeu com os ditos vivas. Bastou para que um

Oficial de Infantaria 5 o prendesse. 2 Marinheiros desarmaram 2

Preventivos. Saiu hoje o jornal “O Mundo” que já não saía há 3 meses. Fui

Lopes, o dito foi preso para o posto da GNR. 1920 Trabalhei todo o dia e 1

hora de serão. Fez um dia lindo. Falei com a rapariga.

21/1/920 Fez 1 ano continuação da greve e também dos corticeiros

encontrando-se o Barreiro em estado de sítio. Estabelecimentos tiveram

ordem de fechar às 19horas e as pessoas poderem [andar] na rua até às

21h, passando da dita hora presos. Falei com a rapariga. Às 12 horas

abandonou o serviço J. José Costa. Ainda continua alguns encarregados nas

Oficinas Gerais. Faleceu o Carlos Caldeireiro. 1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo algum calor. Foi posto a nado o lugre

“Lisboa” pelas 15h40, construído no estaleiro de Alburrica, ficou em 225

000 escudos. Faleceu a mãe do J. Vergante, reformado, com 102 anos de

idade.

22/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. O ministro está

disposto a assinar tudo menos a entrada ao serviço dos camaradas

Jerónimo Paiva e Paulo Bastos. Por esse motivo o pessoal não retomou o

serviço. Fui ao Lavradio mais o Artur Sobral e Manuel Frade. Encontramos

pelo caminho de bicicleta meu cunhado J. José e o Ângelo Santareno.

Vinham para o Barreiro. Houve desafio de bola na Lavradio com um time do

Barreiro. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo fazendo calor. Ás 16 horas

seguiu rebocado para Lisboa o lugre com o dito nome. Brincadeiras

carnavalescas, entre elas pedras no passeio, tirar paus de estender roupa,

apagar 2 candeeiros públicos no Largo Casal. A claque era Francisco Soeiro,

Joaquim Pereira, Manuel Barros, Custódio F. Luiz Cristo e outros. Falei com

a rapariga.

23/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Já retirou algumas

forças militares que se encontra na estação dos C. Ferro, para o Porto para

combater os monárquicos e em várias partes da cidade de Lisboa alvorada

a bandeira monárquica havendo conflitos, sendo sufocado o movimento

monárquico pela Marinha e civis e várias unidades do exército. Houve no

Barreiro grandes manifestações. Falaram no edifício dos Paços do

Concelho vários oradores, entre eles o Alfredo Figueiras. Foi do Barreiro

defender a República o Agostinho Martins. Falei com a rapariga. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Manuel Hartley achou uma

medalha de ouro, era do encarregado das Oficinas dos CFSS, Manuel 68 Desafiando

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29/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS e continuam as ruas

patrulhadas. Falei com a rapariga. Brincadeiras de carnaval, a claque eu,

Rafael Soeiro, A. José Morais. Fez 270 anos a perda de Bombaim com o

tratado de Portugal com a Inglaterra. Choveu todo o dia e a noite idem.

1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Estive de manhã a partir na

cozinha do Salão Restaurante carvão, do comboio ministerial que partiu às

12.35h. Esteve um dia lindo e a noite idem de luar. Foi o enlace do

Guilherme Vasconcelos com a cunhada do Inspector do movimento

Joaquim Simplício.

30/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS e os ferroviários

encontrando-se sempre na mesma atitude. Veio ordem para o pessoal

retomar o trabalho ordem dada pelo Comité. Continuação das brincadeiras

de Carnaval, claque eu, Manuel Frade, F. Soeiro, Artur S.,etc. 1920.

Trabalhei 24 horas no Barreiro T, fazendo um dia lindo e a noite idem de

luar. Faleceu a Henriqueta avó do Manuel Ramalhete.

31/1/920 Faz um ano que terminou a greve nos CFSS. Trabalhei 24 horas

no Barreiro T. Foi feriado por motivo de fazer 28 anos a revolta no Porto em

benefício da República. 1920 Estive de folga. Foi feriado. Esteve todo o dia

nublado. Durante o dia ouvia-se salva dos navios guerra portugueses

surtos no Tejo e no Barreiro grandes festejos, principalmente da Guarda

Fiscal. No Alto José Ferreira todo o dia queimaram foguetes etc. Escrevi 3 70

cartas carnavalescas às seguintes fulanas Margarida Cunha, Saltina

Pireza, Maria Godinho.

1/2/920 Fez 1 ano que os ferroviários do Sul e Sueste retomaram o

trabalho. Estive de folga. Foi abolida a censura nos jornais. Fez 11 anos que

foi assassinado a tiro pelo Buiça e Costa o Rei D. Carlos e filho D. Luiz Filipe

em Lisboa no Terreiro Paço. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. fez um

dia lindo e a noite idem de luar. Foi inauguração da nova sede da Sociedade

Liga de Instrução e Recreio Companhia União Fabril.

passear mais a rapariga e a mãe ao Lavradio. Veio ao Barreiro o Bernardino

Augusto Xavier. Trouxe-me 5 balas, uma lembrança da revolta de

Monsanto. Fui novamente ao Lavradio mais o dito, A. José Morais, Artur S.,

J.S. Borralho e à noite brincadeiras de Carnaval. Claque eu, A. José Morais,

José Vieira, Manuel Bandeireiro, etc. bater às portas. 1920 Trabalhei todo o

dia e 1 hora de serão. Esteve todo o dia nublado e chovendo. Chegaram às

7,30 de Lisboa a S. Instrução. Comprei uma gaita de amoladores. Continua

as greves dos eléctricos e telefones. Brincadeiras de carnaval à noite. A

claque eu, Luiz Cristo, Manuel P. Manilha, Custódio F., etc. Tiramos uma

canastra à mãe do Eduardo E. S. O Manuel Russo do escritório da Inspecção

do material circulante deu-me uma carta para entregar ao revisor

reformado Manuel da Silva.

27/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Não fui à vila por

motivo de uma manifestação no Barreiro-A feito à chegada do comboio 2

ao Governador de Beja, havendo vivas à República. Teve que intervir a GN

Republicana eram 3 praças e o alferes que não queria vivas à República

tratando mal o povo, deu resultado haver tiros sendo ferido mortalmente

um dos guardas, sendo logo patrulhadas as ruas da vila pelas forças da GNR

a pé e a cavalo, etc. Ainda foram indivíduos presos.1920 Trabalhei 24 horas

no Barreiro T chovendo todo o dia e toda a noite. O Ventura Barbeiro e

Joaquim Balbino foi hoje a 1a vez que andaram de bicicleta.

28/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Continuam as ruas

da vila patrulhadas pela Guarda Republicana e Cavalaria 5 e Infantaria 4 e 5.

Dava ideia que estavam na Alemanha. Fui mais o João da Silva Parra, M. 69

Frade, Francisco Soeiro, J. S. Borralho e trouxemos resmanino do pé da

Barra-a-Barra, junto ao [Alto do] Pinheiro. Esteve todo o dia nublado. 1920

Estive de folga. Choveu até às 12 horas, depois o tempo melhorou fazendo

vento bastante e a noite linda de luar mas fria. Brincadeiras de Carnaval, a

claque eu, Luiz Cristo, Manuel Barros, Joaquim Ferreira, Eduardo Espírito

Santo. Tiramos o banco do Ricardo e trouxemos para a Rua Aguiar, eu

depois fui por no mesmo sítio e falei com o Ricardo. Ainda apanhei uma

grande descompostura. Depois fui bater às portas, etc. Falei com a

rapariga. Faleceu às 24 horas o grande Republicano Feio Terenas com 70

anos de idade.

70 Cesaltina

60 61

69 Rosmaninho

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29/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS e continuam as ruas

patrulhadas. Falei com a rapariga. Brincadeiras de carnaval, a claque eu,

Rafael Soeiro, A. José Morais. Fez 270 anos a perda de Bombaim com o

tratado de Portugal com a Inglaterra. Choveu todo o dia e a noite idem.

1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Estive de manhã a partir na

cozinha do Salão Restaurante carvão, do comboio ministerial que partiu às

12.35h. Esteve um dia lindo e a noite idem de luar. Foi o enlace do

Guilherme Vasconcelos com a cunhada do Inspector do movimento

Joaquim Simplício.

30/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS e os ferroviários

encontrando-se sempre na mesma atitude. Veio ordem para o pessoal

retomar o trabalho ordem dada pelo Comité. Continuação das brincadeiras

de Carnaval, claque eu, Manuel Frade, F. Soeiro, Artur S.,etc. 1920.

Trabalhei 24 horas no Barreiro T, fazendo um dia lindo e a noite idem de

luar. Faleceu a Henriqueta avó do Manuel Ramalhete.

31/1/920 Faz um ano que terminou a greve nos CFSS. Trabalhei 24 horas

no Barreiro T. Foi feriado por motivo de fazer 28 anos a revolta no Porto em

benefício da República. 1920 Estive de folga. Foi feriado. Esteve todo o dia

nublado. Durante o dia ouvia-se salva dos navios guerra portugueses

surtos no Tejo e no Barreiro grandes festejos, principalmente da Guarda

Fiscal. No Alto José Ferreira todo o dia queimaram foguetes etc. Escrevi 3 70

cartas carnavalescas às seguintes fulanas Margarida Cunha, Saltina

Pireza, Maria Godinho.

1/2/920 Fez 1 ano que os ferroviários do Sul e Sueste retomaram o

trabalho. Estive de folga. Foi abolida a censura nos jornais. Fez 11 anos que

foi assassinado a tiro pelo Buiça e Costa o Rei D. Carlos e filho D. Luiz Filipe

em Lisboa no Terreiro Paço. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. fez um

dia lindo e a noite idem de luar. Foi inauguração da nova sede da Sociedade

Liga de Instrução e Recreio Companhia União Fabril.

passear mais a rapariga e a mãe ao Lavradio. Veio ao Barreiro o Bernardino

Augusto Xavier. Trouxe-me 5 balas, uma lembrança da revolta de

Monsanto. Fui novamente ao Lavradio mais o dito, A. José Morais, Artur S.,

J.S. Borralho e à noite brincadeiras de Carnaval. Claque eu, A. José Morais,

José Vieira, Manuel Bandeireiro, etc. bater às portas. 1920 Trabalhei todo o

dia e 1 hora de serão. Esteve todo o dia nublado e chovendo. Chegaram às

7,30 de Lisboa a S. Instrução. Comprei uma gaita de amoladores. Continua

as greves dos eléctricos e telefones. Brincadeiras de carnaval à noite. A

claque eu, Luiz Cristo, Manuel P. Manilha, Custódio F., etc. Tiramos uma

canastra à mãe do Eduardo E. S. O Manuel Russo do escritório da Inspecção

do material circulante deu-me uma carta para entregar ao revisor

reformado Manuel da Silva.

27/1/920 Fez 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Não fui à vila por

motivo de uma manifestação no Barreiro-A feito à chegada do comboio 2

ao Governador de Beja, havendo vivas à República. Teve que intervir a GN

Republicana eram 3 praças e o alferes que não queria vivas à República

tratando mal o povo, deu resultado haver tiros sendo ferido mortalmente

um dos guardas, sendo logo patrulhadas as ruas da vila pelas forças da GNR

a pé e a cavalo, etc. Ainda foram indivíduos presos.1920 Trabalhei 24 horas

no Barreiro T chovendo todo o dia e toda a noite. O Ventura Barbeiro e

Joaquim Balbino foi hoje a 1a vez que andaram de bicicleta.

28/1/920 Faz 1 ano a continuação da greve dos CFSS. Continuam as ruas

da vila patrulhadas pela Guarda Republicana e Cavalaria 5 e Infantaria 4 e 5.

Dava ideia que estavam na Alemanha. Fui mais o João da Silva Parra, M. 69

Frade, Francisco Soeiro, J. S. Borralho e trouxemos resmanino do pé da

Barra-a-Barra, junto ao [Alto do] Pinheiro. Esteve todo o dia nublado. 1920

Estive de folga. Choveu até às 12 horas, depois o tempo melhorou fazendo

vento bastante e a noite linda de luar mas fria. Brincadeiras de Carnaval, a

claque eu, Luiz Cristo, Manuel Barros, Joaquim Ferreira, Eduardo Espírito

Santo. Tiramos o banco do Ricardo e trouxemos para a Rua Aguiar, eu

depois fui por no mesmo sítio e falei com o Ricardo. Ainda apanhei uma

grande descompostura. Depois fui bater às portas, etc. Falei com a

rapariga. Faleceu às 24 horas o grande Republicano Feio Terenas com 70

anos de idade.

70 Cesaltina

60 61

69 Rosmaninho

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horas a GNR e às 16,50 a Infantaria 5. Foi ao exame para aprendiz prático

Júlio Bifa. Estava a ajudar o revisor de 2ª o Guilherme Costa, a reparar uma

porta central no J. 306 em cima duns cavaletes e eu caí. Fiz um pequeno

ferimento num braço. Falei com a M.G.M. 1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Fez um dia lindo e peras e a noite de luar. Terminou a greve dos

corticeiros no Barreiro. Ontem 2 foi brincadeiras de Carnaval. Fomos como

já estava-se escaldado da vila, ao Bairro Matilde. Tirámos alguns degraus

feitos de escadas e trouxemos para a vila, eram de madeira, e na vila

tiramos alguns paus das janelas, de estender a roupa etc. A claque era eu,

Luiz Cristo, Domingos, Manuel Hartley, M. Barros, Francisco Soeiro. João

Inácio fez uma brincadeira no passeio em frente da Leitaria do Alves no

Largo do Casal e à noite estive a jogar ao loto com meu mano, Custódio F.,

Luiz Cristo de sociedade, todos na S. Instrução.

4/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Correu o boato que não

pagavam os dias da greve. Infantaria 4 e 5 e Cavalaria 5 e algumas praças de

Engenharia receberam ordem para seguirem para o Porto por motivo do

movimento monárquico do Norte. O Manuel Ramalhete no Largo Casal

pediu à rapaziada para acompanhar-me ao alfaiate Ferreira no dito Largo.

Nenhum quis fui eu. Falei com a Maria G. M. 1920 Estive de folga, fez um dia

lindo e peras e a noite idem de luar. Foi a primeira vez que entrei na Leitaria

do Lá-vai, encontrava o Carlos Diogo, conversámos, etc. No final o Carlos

guardou um papel carnavalesco dizendo a “Contra-fé” só para 1922,

mostrou a mim. O Ventura Aleixo partiu uma canilha dizendo deixei de

fumar. Foi em frente do A. Luiz Ribeiro perto do Patrício. Brincadeiras de

Carnaval, fizemos no passeio junto da alfaiataria do Ferreira um desenho

dum chapéu de chuva feito com carvão, encontrava a claque do costume.

Tirei um lais amarelo ao Manuel Martinho no Largo Casal estava como

testemunha o Aurélio.

5/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Retirou pelas 12 horas

uma força de Engenharia para Setúbal que encontrava já há muito tempo

na estação. A despedida foi feita com grandes manifestações com vivas à

Pátria e à República etc. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia e

peras e a noite idem de luar fazendo muito frio. O Custódio F. mandou fazer

uma seringa para brincadeiras de Carnaval.

2/2/920 Fez 1 ano que estive de descanso semanal. O António Luiz

Ribeiro ficou sem o canivete na barbearia do Ventura, quem o tinha era o

José Laureano e uma cédula de 5 centavos também tinha o dito, que era

duma aposta com o Manuel Lindim e o A. Luiz Ribeiro deu-me a mim um

chapéu de chuva que era do Manuel Lindim. Fez Bastante vento e choveu

mas pouco ao pôr do sol. Falei com a Rapariga andava em moda em cantos

“Ó vai ó linda”. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo e a noite linda de luar.

Veio o pagador, fui ao dito recebi 59$34. Ficou gravemente ferido com

explosão de um gasómetro o Simões futuro genro do José Torcato

encarregado do pessoal dos guindastes. Faleceu o comerciante

“Espanhol”, o Fernandez, com dor de volvo. Falei com a rapariga. O Jorge

tanoeiro mudou da Senhora do Rosário para S. Francisco, para o lado da

rapariga do Francisco Soeiro. Paguei o camarote do benefício da S.

Instrução a Luiz Cristo. O António Luiz Marques fez 18 anos.

3/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foram despedidos 5

trauliteiros que se diziam serem oficiais para furarem a greve. Retirou às 7

62 63

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-14

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horas a GNR e às 16,50 a Infantaria 5. Foi ao exame para aprendiz prático

Júlio Bifa. Estava a ajudar o revisor de 2ª o Guilherme Costa, a reparar uma

porta central no J. 306 em cima duns cavaletes e eu caí. Fiz um pequeno

ferimento num braço. Falei com a M.G.M. 1920 Trabalhei 24 horas no

Barreiro T. Fez um dia lindo e peras e a noite de luar. Terminou a greve dos

corticeiros no Barreiro. Ontem 2 foi brincadeiras de Carnaval. Fomos como

já estava-se escaldado da vila, ao Bairro Matilde. Tirámos alguns degraus

feitos de escadas e trouxemos para a vila, eram de madeira, e na vila

tiramos alguns paus das janelas, de estender a roupa etc. A claque era eu,

Luiz Cristo, Domingos, Manuel Hartley, M. Barros, Francisco Soeiro. João

Inácio fez uma brincadeira no passeio em frente da Leitaria do Alves no

Largo do Casal e à noite estive a jogar ao loto com meu mano, Custódio F.,

Luiz Cristo de sociedade, todos na S. Instrução.

4/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Correu o boato que não

pagavam os dias da greve. Infantaria 4 e 5 e Cavalaria 5 e algumas praças de

Engenharia receberam ordem para seguirem para o Porto por motivo do

movimento monárquico do Norte. O Manuel Ramalhete no Largo Casal

pediu à rapaziada para acompanhar-me ao alfaiate Ferreira no dito Largo.

Nenhum quis fui eu. Falei com a Maria G. M. 1920 Estive de folga, fez um dia

lindo e peras e a noite idem de luar. Foi a primeira vez que entrei na Leitaria

do Lá-vai, encontrava o Carlos Diogo, conversámos, etc. No final o Carlos

guardou um papel carnavalesco dizendo a “Contra-fé” só para 1922,

mostrou a mim. O Ventura Aleixo partiu uma canilha dizendo deixei de

fumar. Foi em frente do A. Luiz Ribeiro perto do Patrício. Brincadeiras de

Carnaval, fizemos no passeio junto da alfaiataria do Ferreira um desenho

dum chapéu de chuva feito com carvão, encontrava a claque do costume.

Tirei um lais amarelo ao Manuel Martinho no Largo Casal estava como

testemunha o Aurélio.

5/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Retirou pelas 12 horas

uma força de Engenharia para Setúbal que encontrava já há muito tempo

na estação. A despedida foi feita com grandes manifestações com vivas à

Pátria e à República etc. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez um dia e

peras e a noite idem de luar fazendo muito frio. O Custódio F. mandou fazer

uma seringa para brincadeiras de Carnaval.

2/2/920 Fez 1 ano que estive de descanso semanal. O António Luiz

Ribeiro ficou sem o canivete na barbearia do Ventura, quem o tinha era o

José Laureano e uma cédula de 5 centavos também tinha o dito, que era

duma aposta com o Manuel Lindim e o A. Luiz Ribeiro deu-me a mim um

chapéu de chuva que era do Manuel Lindim. Fez Bastante vento e choveu

mas pouco ao pôr do sol. Falei com a Rapariga andava em moda em cantos

“Ó vai ó linda”. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo e a noite linda de luar.

Veio o pagador, fui ao dito recebi 59$34. Ficou gravemente ferido com

explosão de um gasómetro o Simões futuro genro do José Torcato

encarregado do pessoal dos guindastes. Faleceu o comerciante

“Espanhol”, o Fernandez, com dor de volvo. Falei com a rapariga. O Jorge

tanoeiro mudou da Senhora do Rosário para S. Francisco, para o lado da

rapariga do Francisco Soeiro. Paguei o camarote do benefício da S.

Instrução a Luiz Cristo. O António Luiz Marques fez 18 anos.

3/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foram despedidos 5

trauliteiros que se diziam serem oficiais para furarem a greve. Retirou às 7

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-14

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10/2/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia. Foi a continuação do

jantar do Pau de fileira da casa do M. Panino. Foi o casamento da filha do

Artur Vieira mestre Geral das oficinas dos CFSS com Graciano Marques.

Aleijou um braço a minha prima M. Clara. Falei com a M.G.M. 1920 Estive

de folga. Fez um dia e noite linda mas fazendo vento e frio. Andamos com

brincadeiras carnavalescas com uma bomba eu, meu mano, Domingos,

Eduardo Espírito Santo, Custódio F., Luiz Cristo. Falei com a M.G.M.

11/2/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Foi lido nos jornais a

tomada da cidade de Lamego pelas tropas republicanas. Ao revisar o Cº 128

em frente da Rotunda encontrei um dos triângulos do J 364 uma bilha de

folha com azeite era duns 20 l fiz entrega ao chefe do Barreiro-A era o

Cabreira foi testemunha o faroleiro Lagoa. 1920 Trabalhei 24h no Barreiro

T. Fez um dia e a noite linda mas fria. Às 18h foram ao Barreiro T os revisores

M. Nunes, M. Soeiro, J.S.R. Marques mas estes depois seguiram para o

Altinho. Ás 3 h da madrugada o capataz Graça ao virar uma carruagem que

era a B 31 na Rotunda este caiu dentro da dita, o chefe da estação era Neto.

Das 4 às 5 horas fui chamar o J.S.R. Marques a casa.

12/2/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi uma comissão composta de

operários das Oficinas dos CFSS para tratar de sair os amarelos. Faleceu o

Durand Velho. Fui a Lisboa às 15h tratara da Inhabilidade e regressei a

Barreiro às 16h30. Brincadeiras carnavalescas era a claque eu, F. Soeiro,

Artur Sobral, J.S. Borralho, A.V. Bote etc. Foi bater às portas atravessamos

uma carroça na Travessa do Cemitério Velho. Foi atacada com garrafinhas e

pozes a Leitaria do Alves. 1920 Estive de folga. Esteve todo o dia nublado. A

minha mana Hermínia tinha ezerpela.

13/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Houve teatro no Cine de

uma companhia de Lisboa. A guarnição monárquica revoltou-se e pôs os

republicanos em liberdade. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. esteve

todo o dia nublado ainda choveu mas pouco. Houve reunião da classe dos

ferroviários. Pelas 10 horas teve uma menina a cunhada do inspector

Soares e a Berta Vasconcelos um menino. Como pedi 4 dias de licença

foram concedidos.

6/2/920 Fez 1 ano que estive de folga, Fui à vila de tarde e à noite não saí

de casa. Fez 426 anos que Cristóvão Colombo chegou a Lisboa de regresso

da América. 1920 Estive de folga fez um dia e noite e peras. Houve reunião

dos ferroviários. Saiu da cadeia do Limoeiro o Bernardino Augusto Xavier

onde esteve 4 meses e meio. Falei com a M.G.M.

7/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi assassinado na Praça do

Comércio T. Paço o ex-capitão Jorge Camacho. Brincadeiras de Carnaval a

claque era eu, Júlio Rafael, Francisco Soeiro, Artur Sobral, Acácio, António

Luiz Ribeiro, J.S. Borralho, etc. Falei com a Maria G.M. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. Esteve todo o dia vento Sueste. Houve espectáculo no

Teatro Cine em benefício para o Coreto. No dito Teatro o Francisco Soeiro

tocou uma gaita de amoladores. Por esse motivo o pai dele deu uma

bofetada, nesse tempo era Regedor. Foi tocar ao dito benefício a S.

Instrução.

8/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Houve reunião para novos

corpos gerentes na S. Instrução. Feriu nas Oficinas uma mão o Artur Sobral.

1920 Estive de folga. Foi inauguração do estandarte dos Bombeiros

Companhia União Fabril assistiram às festas bombeiros dos CFSS, Herold, e

de Setúbal, Lisboa, etc. A claque comprou nas Obras nabos e pusemos ao

peito. Era a claque eu, meu mano, José S. Borralho, A. Vicente Bote,

Eduardo E. S. Bernardino A. X., Luiz Cristo, etc. O João de S. Parra que falou-

me para padrinho para o casamento que se efectuava no dia 15 de Agosto

do corrente ano ficando em segredo. Fui ver ao Teatro Cine a fita “A Bala de

Bronze” mais o Bernardino A. X., este pagou os bilhetes. Fomos à Leitaria do

Lavai paguei a despesa era eu Bernardino A.X., José Esteves, A. Vicente

Bote, Artur Sobral, Manuel Hartley, Eduardo E. S.

9/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi o pau de Fileira na Avenida da

Republica duma casa do Manuel Panino deu um jantar que assistiram perto

de umas 50 pessoas. Toda a noite fez muito vento chuvendo [sic] pouco. Foi

lido nos jornais que as tropas republicanas encontrava-se as portas da

cidade de Lamego. 1920 Trabalhei 24h no Barreiro T. Fez um dia lindo mas

fazendo muito vento e a noite fria. Foi o funeral da sogra do Sr. Caraça. As

20h20 descarrilou junto da Rotunda dos CFSS parte do Sul o J 320 e

maquina nº2 o capataz Lafayete carrilou. Era 20, 55.

64 65

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10/2/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia. Foi a continuação do

jantar do Pau de fileira da casa do M. Panino. Foi o casamento da filha do

Artur Vieira mestre Geral das oficinas dos CFSS com Graciano Marques.

Aleijou um braço a minha prima M. Clara. Falei com a M.G.M. 1920 Estive

de folga. Fez um dia e noite linda mas fazendo vento e frio. Andamos com

brincadeiras carnavalescas com uma bomba eu, meu mano, Domingos,

Eduardo Espírito Santo, Custódio F., Luiz Cristo. Falei com a M.G.M.

11/2/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Foi lido nos jornais a

tomada da cidade de Lamego pelas tropas republicanas. Ao revisar o Cº 128

em frente da Rotunda encontrei um dos triângulos do J 364 uma bilha de

folha com azeite era duns 20 l fiz entrega ao chefe do Barreiro-A era o

Cabreira foi testemunha o faroleiro Lagoa. 1920 Trabalhei 24h no Barreiro

T. Fez um dia e a noite linda mas fria. Às 18h foram ao Barreiro T os revisores

M. Nunes, M. Soeiro, J.S.R. Marques mas estes depois seguiram para o

Altinho. Ás 3 h da madrugada o capataz Graça ao virar uma carruagem que

era a B 31 na Rotunda este caiu dentro da dita, o chefe da estação era Neto.

Das 4 às 5 horas fui chamar o J.S.R. Marques a casa.

12/2/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi uma comissão composta de

operários das Oficinas dos CFSS para tratar de sair os amarelos. Faleceu o

Durand Velho. Fui a Lisboa às 15h tratara da Inhabilidade e regressei a

Barreiro às 16h30. Brincadeiras carnavalescas era a claque eu, F. Soeiro,

Artur Sobral, J.S. Borralho, A.V. Bote etc. Foi bater às portas atravessamos

uma carroça na Travessa do Cemitério Velho. Foi atacada com garrafinhas e

pozes a Leitaria do Alves. 1920 Estive de folga. Esteve todo o dia nublado. A

minha mana Hermínia tinha ezerpela.

13/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Houve teatro no Cine de

uma companhia de Lisboa. A guarnição monárquica revoltou-se e pôs os

republicanos em liberdade. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. esteve

todo o dia nublado ainda choveu mas pouco. Houve reunião da classe dos

ferroviários. Pelas 10 horas teve uma menina a cunhada do inspector

Soares e a Berta Vasconcelos um menino. Como pedi 4 dias de licença

foram concedidos.

6/2/920 Fez 1 ano que estive de folga, Fui à vila de tarde e à noite não saí

de casa. Fez 426 anos que Cristóvão Colombo chegou a Lisboa de regresso

da América. 1920 Estive de folga fez um dia e noite e peras. Houve reunião

dos ferroviários. Saiu da cadeia do Limoeiro o Bernardino Augusto Xavier

onde esteve 4 meses e meio. Falei com a M.G.M.

7/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi assassinado na Praça do

Comércio T. Paço o ex-capitão Jorge Camacho. Brincadeiras de Carnaval a

claque era eu, Júlio Rafael, Francisco Soeiro, Artur Sobral, Acácio, António

Luiz Ribeiro, J.S. Borralho, etc. Falei com a Maria G.M. 1920 Trabalhei 24

horas no Barreiro T. Esteve todo o dia vento Sueste. Houve espectáculo no

Teatro Cine em benefício para o Coreto. No dito Teatro o Francisco Soeiro

tocou uma gaita de amoladores. Por esse motivo o pai dele deu uma

bofetada, nesse tempo era Regedor. Foi tocar ao dito benefício a S.

Instrução.

8/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Houve reunião para novos

corpos gerentes na S. Instrução. Feriu nas Oficinas uma mão o Artur Sobral.

1920 Estive de folga. Foi inauguração do estandarte dos Bombeiros

Companhia União Fabril assistiram às festas bombeiros dos CFSS, Herold, e

de Setúbal, Lisboa, etc. A claque comprou nas Obras nabos e pusemos ao

peito. Era a claque eu, meu mano, José S. Borralho, A. Vicente Bote,

Eduardo E. S. Bernardino A. X., Luiz Cristo, etc. O João de S. Parra que falou-

me para padrinho para o casamento que se efectuava no dia 15 de Agosto

do corrente ano ficando em segredo. Fui ver ao Teatro Cine a fita “A Bala de

Bronze” mais o Bernardino A. X., este pagou os bilhetes. Fomos à Leitaria do

Lavai paguei a despesa era eu Bernardino A.X., José Esteves, A. Vicente

Bote, Artur Sobral, Manuel Hartley, Eduardo E. S.

9/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi o pau de Fileira na Avenida da

Republica duma casa do Manuel Panino deu um jantar que assistiram perto

de umas 50 pessoas. Toda a noite fez muito vento chuvendo [sic] pouco. Foi

lido nos jornais que as tropas republicanas encontrava-se as portas da

cidade de Lamego. 1920 Trabalhei 24h no Barreiro T. Fez um dia lindo mas

fazendo muito vento e a noite fria. Foi o funeral da sogra do Sr. Caraça. As

20h20 descarrilou junto da Rotunda dos CFSS parte do Sul o J 320 e

maquina nº2 o capataz Lafayete carrilou. Era 20, 55.

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minhota, o meu mano de minhoto, Artur S. de marítimo, J. Aurélio de bebé,

Artur Pereira de piolhoso, José de Oliveira de médico, etc. Eu andei a bailar

com o M. Borrachinho. Fomos à S. Democrática, o L. Cristo, Eduardo E. S.,

Belas Panino, meu mano, etc. Na S. Instrução a claque no palco, chovendo

toda a noite fazendo calmaria. Marcou a quadrilha Estêvão Duarte,

Francisco Sobral, Brado Soeiro.

17/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. O pessoal das

Oficinas do CFSS seguiu a maioria para Lisboa. Outro em dois vapores estes

ornamentados com uma sociedade composta por músicos das duas

sociedades, ao ministro do Fomento, a várias redacções entre elas a

“Batalha”, “Luta”, “Mundo”, “República”, e “A Manhã” e Parlamento, aonde

falou o deputado Cunha Leal, João Barros e Ladislau. Outros regressaram às

18.40h. 1920 Estive de folga houve tolerância de ponto. Andamos a passear

pela vila a claque era perto de uns 20 com brincadeiras carnavalescas. O

meu mano foi mascarado pela rapariga do Francisco Soeiro. Choveu pouco.

Houve baile na S. Democrática, Instrução a última terminou o baile às 4,30.

As máscaras era Francisco Soeiro marítimo, Artur S. de peru, J. S. Borralho

de Magalhona como todos os anos Delícias de piolhoso, Artur P. de bispo,

António Bifa de 3 T, J. S. Parra de dominó, Domingos da Luz e Augusto

Marinho de vendedor de suínos e António Luiz Marques de alentejano. A

claque era eu, Belas Panino, Luiz Cristo, meu mano, etc. O José Esteves

Beira com as brincadeiras perdeu 5 escudos e a rapariga dele uma 72mantilha. Fiz entrega de uma caveira em papelão a uma filha do macineiro

e abano alcofa e vassoura à rapariga do Francisco Soeiro nome Belmira e a

M.G.M. deu-me um gato etc. Nos dias de Carnaval a claque das 11 caveiras

andava de pulseiras umas verdes outras vermelhas.

18/2/920 Fez 1 ano estive de folga durante o dia fez bastante vento e

chuva pouca. Fui a Lisboa às 15,30 à Inhabilidade mas não estava o médico

regressei a Barreiro às 18,40. Falei com M.G.M. 1920 Estive de licença

durante o dia chovendo e vento Sueste. Levantei-me às 16,30 e às 17 e tal

fui à vila mais o meu mano. Na Sociedade Instrução estava a claque numa 73pândega de lamechinhas e ajudei a comer, etc. depois retiramos e fomos

dar umas voltas à vila. No Neves paguei eu, fomos à Adega do Ricardo, este

14/2/920 Fez 1 ano foi feriado em regozijo da derrota dos monárquicos

no Porto. Tocou a buzina para sair o pessoal das Oficinas dos CFSS às 10,30

às 19,26 saiu e deu a volta à vila as 3 Sociedades Liga I.R. Companhia União

Fabril, Democrática, Instrução, com grandes manifestações à Pátria e

República e falaram de uma das janelas da Associação dos Corticeiros na

Praça da República e nos Paços do Concelho António Vaz, Miguel Correia e

no Centro Estêvão Vasconcelos Anicleto pai, Doutor Caraça e José Pedro

Gomes etc. O meu pai iluminou a frontaria do prédio com balões. 1920

Estive de folga esteve todo o dia nublado chovendo pelas 18 horas. Não

ficou nada resolvido no Parlamento sobre o nosso aumento. Na S.

Instrução estriaram-se uns novos candeeiros. No Beco Leão fui mordido

por um cão preto e branco e guedelhudo. Ás 18,10 abateu o telhado aonde

esta estalada [sic] a Leitaria do Alves no Largo Casal o dito prédio era do

Pedro Maluco. Em Lisboa foi o funeral dos dois Nunes não trabalhou por

esse motivo os carregadores e fragateiros. Falei com a M.G.M.

15/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Não fui à vila por motivo de

grande temporal fazendo muitíssimo vento. Foi o casamento do Guilherme

Vasconcelos. 1920 Estive descanso semanal. Esteve todo o dia nublado

levantei-me às 13,40. A minha mana Hermínia continuava doente. Fui para

a vila às 17 horas andei a passear pela vila com a claque que era eu, João de

S. Parra, Custódio F., Eduardo E. S., António Bifa, L. Cristo, Manuel Barros,

etc. Compramos todos abanos, o último partiu um vidro em S. Francisco ao

Jorge Tanoeiro. Andavam pelas ruas carroças, uma delas com a claque do

Manuel Ramalhete todas com flores, etc. Foi preso junto da Leitaria do

Alves no Largo Casal o filho do Manga Lavada. Fomos ao Teatro Cine ver a

fita “A Bala de Bronze”, a claque eu, meu mano, Artur Sobral, Luiz Cristo,

Custódio F. Eduardo E. S. para cadeiras a $45 a cada bico, saímos e fomos ao

baile da S. Instrução este terminou às 3horas quem marcou a quadrilha foi

Francisco Sobral, Estêvão Duarte, etc. Foi o casamento da filha do Aldiano a 71Naciosenia Gomes.

16/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez 1 ano o meu sobrinho. 1920.

Estive de licença, às 11,30. Choveu mas pouco durante o dia. Fui à vila às

17,10 andamos pela vila a passear a claque. Houve bailes na S.

Democrática, Instrução na última terminou às 2,30 as máscaras, eu de

66 67

71 Inocência?

72 Marceneiro73 Lamejinhas, ou lambujinhas, bivalve ainda hoje muito apreciado como petisco no Barreiro.

Page 67: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

minhota, o meu mano de minhoto, Artur S. de marítimo, J. Aurélio de bebé,

Artur Pereira de piolhoso, José de Oliveira de médico, etc. Eu andei a bailar

com o M. Borrachinho. Fomos à S. Democrática, o L. Cristo, Eduardo E. S.,

Belas Panino, meu mano, etc. Na S. Instrução a claque no palco, chovendo

toda a noite fazendo calmaria. Marcou a quadrilha Estêvão Duarte,

Francisco Sobral, Brado Soeiro.

17/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. O pessoal das

Oficinas do CFSS seguiu a maioria para Lisboa. Outro em dois vapores estes

ornamentados com uma sociedade composta por músicos das duas

sociedades, ao ministro do Fomento, a várias redacções entre elas a

“Batalha”, “Luta”, “Mundo”, “República”, e “A Manhã” e Parlamento, aonde

falou o deputado Cunha Leal, João Barros e Ladislau. Outros regressaram às

18.40h. 1920 Estive de folga houve tolerância de ponto. Andamos a passear

pela vila a claque era perto de uns 20 com brincadeiras carnavalescas. O

meu mano foi mascarado pela rapariga do Francisco Soeiro. Choveu pouco.

Houve baile na S. Democrática, Instrução a última terminou o baile às 4,30.

As máscaras era Francisco Soeiro marítimo, Artur S. de peru, J. S. Borralho

de Magalhona como todos os anos Delícias de piolhoso, Artur P. de bispo,

António Bifa de 3 T, J. S. Parra de dominó, Domingos da Luz e Augusto

Marinho de vendedor de suínos e António Luiz Marques de alentejano. A

claque era eu, Belas Panino, Luiz Cristo, meu mano, etc. O José Esteves

Beira com as brincadeiras perdeu 5 escudos e a rapariga dele uma 72mantilha. Fiz entrega de uma caveira em papelão a uma filha do macineiro

e abano alcofa e vassoura à rapariga do Francisco Soeiro nome Belmira e a

M.G.M. deu-me um gato etc. Nos dias de Carnaval a claque das 11 caveiras

andava de pulseiras umas verdes outras vermelhas.

18/2/920 Fez 1 ano estive de folga durante o dia fez bastante vento e

chuva pouca. Fui a Lisboa às 15,30 à Inhabilidade mas não estava o médico

regressei a Barreiro às 18,40. Falei com M.G.M. 1920 Estive de licença

durante o dia chovendo e vento Sueste. Levantei-me às 16,30 e às 17 e tal

fui à vila mais o meu mano. Na Sociedade Instrução estava a claque numa 73pândega de lamechinhas e ajudei a comer, etc. depois retiramos e fomos

dar umas voltas à vila. No Neves paguei eu, fomos à Adega do Ricardo, este

14/2/920 Fez 1 ano foi feriado em regozijo da derrota dos monárquicos

no Porto. Tocou a buzina para sair o pessoal das Oficinas dos CFSS às 10,30

às 19,26 saiu e deu a volta à vila as 3 Sociedades Liga I.R. Companhia União

Fabril, Democrática, Instrução, com grandes manifestações à Pátria e

República e falaram de uma das janelas da Associação dos Corticeiros na

Praça da República e nos Paços do Concelho António Vaz, Miguel Correia e

no Centro Estêvão Vasconcelos Anicleto pai, Doutor Caraça e José Pedro

Gomes etc. O meu pai iluminou a frontaria do prédio com balões. 1920

Estive de folga esteve todo o dia nublado chovendo pelas 18 horas. Não

ficou nada resolvido no Parlamento sobre o nosso aumento. Na S.

Instrução estriaram-se uns novos candeeiros. No Beco Leão fui mordido

por um cão preto e branco e guedelhudo. Ás 18,10 abateu o telhado aonde

esta estalada [sic] a Leitaria do Alves no Largo Casal o dito prédio era do

Pedro Maluco. Em Lisboa foi o funeral dos dois Nunes não trabalhou por

esse motivo os carregadores e fragateiros. Falei com a M.G.M.

15/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Não fui à vila por motivo de

grande temporal fazendo muitíssimo vento. Foi o casamento do Guilherme

Vasconcelos. 1920 Estive descanso semanal. Esteve todo o dia nublado

levantei-me às 13,40. A minha mana Hermínia continuava doente. Fui para

a vila às 17 horas andei a passear pela vila com a claque que era eu, João de

S. Parra, Custódio F., Eduardo E. S., António Bifa, L. Cristo, Manuel Barros,

etc. Compramos todos abanos, o último partiu um vidro em S. Francisco ao

Jorge Tanoeiro. Andavam pelas ruas carroças, uma delas com a claque do

Manuel Ramalhete todas com flores, etc. Foi preso junto da Leitaria do

Alves no Largo Casal o filho do Manga Lavada. Fomos ao Teatro Cine ver a

fita “A Bala de Bronze”, a claque eu, meu mano, Artur Sobral, Luiz Cristo,

Custódio F. Eduardo E. S. para cadeiras a $45 a cada bico, saímos e fomos ao

baile da S. Instrução este terminou às 3horas quem marcou a quadrilha foi

Francisco Sobral, Estêvão Duarte, etc. Foi o casamento da filha do Aldiano a 71Naciosenia Gomes.

16/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez 1 ano o meu sobrinho. 1920.

Estive de licença, às 11,30. Choveu mas pouco durante o dia. Fui à vila às

17,10 andamos pela vila a passear a claque. Houve bailes na S.

Democrática, Instrução na última terminou às 2,30 as máscaras, eu de

66 67

71 Inocência?

72 Marceneiro73 Lamejinhas, ou lambujinhas, bivalve ainda hoje muito apreciado como petisco no Barreiro.

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às 11 horas. De tarde fui mais o Manuel Moinho à Leitaria do Lá-vai. Pagou

ele cafés etc. juntando-se a nós o José Pedro Camps, M. Ramalhete, Artur

Esteves. Houve bailes nas Sociedades Democrática e Instrução a última

terminou o baile ás 1,40. Foi a primeira vez que eu, meu mano, Custódio F.

fomos bailar a uma quadrilha, a minha dama foi minha prima Lídia Ferreira

escolhida pelo serralheiro dos CFSS e meu mano com a minha mana

Hermínia e Custódio F. com minha prima Hermegilda Ferreira. Fui

mascarado pelo Máximo R.P., Francisco Soeiro, Cristóvão Duarte. O

pianista foi o Fortunato. A Comissão de Baile deu um beberete às damas

etc. Foi o casamento do filho do Pai de Céu. No dito baile já dito houve rifa

de duas garrafas de Granito saiu uma no nº 54 ao Luiz Alves e a outra no nº

10 ao Manuel Ramalhete. Como o baile foi da pinhata dei uma grande

pinha que eu trazia com uma fita ao João de S. Parra.

23/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a claque ter

comigo ao serviço, foi de tarde era J. S. Borralho, Francisco Soeiro, J. S.

Parra. Saiu o jornal “A Batalha”. 1920 Trabalhei todo [dia] e 1 hora de serão.

Esteve todo o dia nublado. Houve reunião ferroviária. Falei com M.G.M.

24/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Brincadeiras carnavalescas,

fizemos a saída do gado, era eu, Francisco Soeiro, António Luiz Marques, J.

S. Borralho, Agrípio J. Cardoso, Artur Sobral, Custódio F., João Rafael Soeiro, 74

etc. este último emprestou escalhos , varas etc. Terminou a brincadeira às

23,15 por motivos da Guarda Republicana. Falei com a M.G.M. 1920

Trabalhei 24 horas no Barreiro T chovendo muitíssimo todo o dia e toda a

noite. De tarde o inspector do Material Circulante Sr. José da Luz deu-me

ordem para eu amanhã seguir no Cº 9 para Faro. A maioria do pessoal das

Oficinas Gerais trouxeram a roupa etc. para casa por motivo de breve

tempo declararam-se os CFSS em greve.

25/2/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. 1920 Estive de folga. Foi a

primeira vez que o aprendiz de revisor o Joaquim José da Boa Vida foi para o

Barreiro T. Esteve todo o dia o tempo nublado. Ao fim da tarde andei a

passear pela vila mais o José de Oliveira. Falei com a M.G.M.

encontrava-se doente. Andamos a cantar, etc. Fez uma noite e peras. Fez 25

anos o José E. Beira. A rapariga ofereceu-lhe um alfinete de gravata.

19/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui ao pagador recebi 39$52.

Falei com M.G.M. Andamos a brincadeiras de carnaval, a claque eu, J.

Rafael Soeiro, J. S. Borralho, José Soeiro, A. Vicente Bote. Fez muito

temporal. 1920 Estive de licença. De manhã esteve e peras mas à tarde

choveu. Falei com M.G.M. deu-me uma carta que lhe atiraram um dos

últimos bailes da S. Instrução.

20/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Chegou a Lisboa vindo do Porto

um contingente de marinheiros. O Agrípio Jesus Cardoso deu-me uma

bomba carnavalesca. Falei com a M.G.M. Esta deu-me um alfinete de

gravata. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um dia regular mas

choveu.

21/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Novos conflitos em Lisboa

por motivo da Polícia e Infantaria 33. Á noite eu, J. Rafael Soeiro, Francisco

Soeiro escondemos no quintal da S. Instrução uma mesa da dita Sociedade

era 21,15. Faz 754 anos que Afonso Henriques conquistou aos mouros a vila

de Cezimbra. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. faleceu às 20 e tal o

guarda-freio António F. Alves. Houve princípio de incêndio numa

dependência da Companhia U.F. O calão da moda “entra na linha”. Foi o

meu mano a Lisboa às 16,30 falar com a pianista para vir amanhã tocar ao

baile da S. Instrução.

22/2/920 Faz 1 ano trabalhei todo o dia. Houve grandes conflitos em

Lisboa a 33, a Preventiva e Polícia, etc. entrincheiraram-se na Serra de

Monsanto. Como no Barreiro andavam em procura da polícia da Preventiva

e da Espanhola, este foi visto à janela da sua residência pelo Francisco

Soeiro pai. À noite um grupo de civis acompanhados por praças da GNR, um

dos civis mais influentes foi um dos Porfírios, foi a casa da Maria Batata e

trouxeram presa a amiga da filha. Foi o casamento da filha do Nortista. Á

noite a continuação com as brincadeiras carnavalescas. Foi a claque era eu,

Francisco Soeiro, J. S. Borralho, Artur Sobral, fomos pintar a tabeleta [sic] da

Cozinha 5 de Dezembro para os pobres, inaugurado pelo Presidente da

República Sidónio Pais. Estive de folga. Esteve de manhã névoa e levantou

68 69

74 Chocalhos

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às 11 horas. De tarde fui mais o Manuel Moinho à Leitaria do Lá-vai. Pagou

ele cafés etc. juntando-se a nós o José Pedro Camps, M. Ramalhete, Artur

Esteves. Houve bailes nas Sociedades Democrática e Instrução a última

terminou o baile ás 1,40. Foi a primeira vez que eu, meu mano, Custódio F.

fomos bailar a uma quadrilha, a minha dama foi minha prima Lídia Ferreira

escolhida pelo serralheiro dos CFSS e meu mano com a minha mana

Hermínia e Custódio F. com minha prima Hermegilda Ferreira. Fui

mascarado pelo Máximo R.P., Francisco Soeiro, Cristóvão Duarte. O

pianista foi o Fortunato. A Comissão de Baile deu um beberete às damas

etc. Foi o casamento do filho do Pai de Céu. No dito baile já dito houve rifa

de duas garrafas de Granito saiu uma no nº 54 ao Luiz Alves e a outra no nº

10 ao Manuel Ramalhete. Como o baile foi da pinhata dei uma grande

pinha que eu trazia com uma fita ao João de S. Parra.

23/2/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a claque ter

comigo ao serviço, foi de tarde era J. S. Borralho, Francisco Soeiro, J. S.

Parra. Saiu o jornal “A Batalha”. 1920 Trabalhei todo [dia] e 1 hora de serão.

Esteve todo o dia nublado. Houve reunião ferroviária. Falei com M.G.M.

24/2/920 Fez 1 ano que estive de folga. Brincadeiras carnavalescas,

fizemos a saída do gado, era eu, Francisco Soeiro, António Luiz Marques, J.

S. Borralho, Agrípio J. Cardoso, Artur Sobral, Custódio F., João Rafael Soeiro, 74

etc. este último emprestou escalhos , varas etc. Terminou a brincadeira às

23,15 por motivos da Guarda Republicana. Falei com a M.G.M. 1920

Trabalhei 24 horas no Barreiro T chovendo muitíssimo todo o dia e toda a

noite. De tarde o inspector do Material Circulante Sr. José da Luz deu-me

ordem para eu amanhã seguir no Cº 9 para Faro. A maioria do pessoal das

Oficinas Gerais trouxeram a roupa etc. para casa por motivo de breve

tempo declararam-se os CFSS em greve.

25/2/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. 1920 Estive de folga. Foi a

primeira vez que o aprendiz de revisor o Joaquim José da Boa Vida foi para o

Barreiro T. Esteve todo o dia o tempo nublado. Ao fim da tarde andei a

passear pela vila mais o José de Oliveira. Falei com a M.G.M.

encontrava-se doente. Andamos a cantar, etc. Fez uma noite e peras. Fez 25

anos o José E. Beira. A rapariga ofereceu-lhe um alfinete de gravata.

19/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui ao pagador recebi 39$52.

Falei com M.G.M. Andamos a brincadeiras de carnaval, a claque eu, J.

Rafael Soeiro, J. S. Borralho, José Soeiro, A. Vicente Bote. Fez muito

temporal. 1920 Estive de licença. De manhã esteve e peras mas à tarde

choveu. Falei com M.G.M. deu-me uma carta que lhe atiraram um dos

últimos bailes da S. Instrução.

20/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Chegou a Lisboa vindo do Porto

um contingente de marinheiros. O Agrípio Jesus Cardoso deu-me uma

bomba carnavalesca. Falei com a M.G.M. Esta deu-me um alfinete de

gravata. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um dia regular mas

choveu.

21/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Novos conflitos em Lisboa

por motivo da Polícia e Infantaria 33. Á noite eu, J. Rafael Soeiro, Francisco

Soeiro escondemos no quintal da S. Instrução uma mesa da dita Sociedade

era 21,15. Faz 754 anos que Afonso Henriques conquistou aos mouros a vila

de Cezimbra. 1920 Trabalhei 24 horas no Barreiro T. faleceu às 20 e tal o

guarda-freio António F. Alves. Houve princípio de incêndio numa

dependência da Companhia U.F. O calão da moda “entra na linha”. Foi o

meu mano a Lisboa às 16,30 falar com a pianista para vir amanhã tocar ao

baile da S. Instrução.

22/2/920 Faz 1 ano trabalhei todo o dia. Houve grandes conflitos em

Lisboa a 33, a Preventiva e Polícia, etc. entrincheiraram-se na Serra de

Monsanto. Como no Barreiro andavam em procura da polícia da Preventiva

e da Espanhola, este foi visto à janela da sua residência pelo Francisco

Soeiro pai. À noite um grupo de civis acompanhados por praças da GNR, um

dos civis mais influentes foi um dos Porfírios, foi a casa da Maria Batata e

trouxeram presa a amiga da filha. Foi o casamento da filha do Nortista. Á

noite a continuação com as brincadeiras carnavalescas. Foi a claque era eu,

Francisco Soeiro, J. S. Borralho, Artur Sobral, fomos pintar a tabeleta [sic] da

Cozinha 5 de Dezembro para os pobres, inaugurado pelo Presidente da

República Sidónio Pais. Estive de folga. Esteve de manhã névoa e levantou

68 69

74 Chocalhos

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1/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Faro

continuação da greve. Esteve todo o dia nublado mas fazendo uma noite

linda de luar. Soube que no Barreiro a Saltina Torcato casou ontem e hoje

deu à luz um menino. Saiu do hospital o José Tavares Gonçalves que ficou

aleijado há tempos na Rotunda do Barreiro. Faleceu o Ceta corticeiro.

2/3/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 16,30 para a vila e depois

brincadeiras carnavalescas era eu, Francisco Soeiro, J. S. Parra, J. S.

Borralho, Filipe Pinto da Companhia União Fabril, Manuel Frade, etc.

Houve bailes nas Sociedades Democrática e Instrução, andava mascarado

Francisco Soeiro de bombeiro, J. S. Borralho de bebé, J. S. Parra de

mobilizado, a claque esteve no palco. Terminou o baile às 4,10 da

madrugada. 1920 Faro continuação da greve, entretanto o dia nublado e à

noite muitíssima chuva e vento.

3/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui para a vila à 20,50

encontrei num dos bancos do Largo Casal o Artur Sobral e disse vou-me

26/2/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila. 1920 Trabalhei

até às 12 horas. Tive ordem do Manuel P. Manilha encarregado com as

seguintes frases direito tem os mais tens tu e mandou-me para casa. Á

noite segui no Comboio 9 para Faro na C. 71 e foi comigo o revisor Augusto

Duarte para a Funcheira. O revisor Francisco M. Estaca deu-me 5 escudos

para entregar em Tunes ao Ajudante revisor Francisco Simões. No

Parlamento que já há tempos andava-se a tratar da melhoria dos

ferroviários não ficando nada resolvido.

27/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia, não fui à vila. 1920 Cheguei a

Faro às 9 e tal. Trabalhei todo o dia e fiquei de serviço de noite. Fez um dia e

peras.

28/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia chovendo toda a noite. Falei

com a M.G.M. Brincadeiras de Carnaval era eu, J.S. Borralho, Francisco

Soeiro, Manuel Frade, M. Torcato, Abelardo Ferreira, António J. etc. no

Largo Casal com as filhas do José Augusto e as filhas do Joaquim António.

Era 24 horas mudou-se a minha vizinha D. Jacinta mudou às 24 horas.

Mudou a hora como os anos anteriores. Foi a Lisboa uma Comissão das

Oficinas Gerais para vir amanhã o pagador. 1920 Faro trabalhei todo o dia

até às 17 horas Declarada a greve nos CFSS. Chegou no Cº 9 o guarda-freio

Francisco Afonso. Este deu-me 15 escudos dados [sic] para me entregar

que enviou a minha mãe. Fez-me com o que tinha a soma de 57$50. Fui

para casa do revisor António de Almeida sendo bem recebido pela família

que morava na Rua António Cabreira nº 29. No Barreiro houve benefício do

Joaquim Caetano (Pau Louro).

29/2/920 Continuação da greve dos CFSS. Declarou-se a greve dos

Caminhos de Ferro do Minho e Douro foi boato corrido em Faro. Fez um dia

e peras. Do Barreiro, soube, chegou às 11 horas uma força de Infantaria 11,

às 15 mais 12 praças do Batalhão Sapadores de Caminho de Ferro. O meu

mano foi ao Teatro Cine ver a fita em 3 partes o “Carapante”. Mudou a hora

como os anos anteriores. Casou a filha do José Ligorne com o Sr. Alberto

Morais filho mais novo do Vicente Morais e também a [Ce]Saltina Torcato

com o caixeiro do Matias, o Simões Branco Fragoso. Começou no Estaleiro

do F. Bravo a construção de uma fragata de 150 toneladas para o Guilherme

Vasconcelos.

70 71

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-5

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1/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Faro

continuação da greve. Esteve todo o dia nublado mas fazendo uma noite

linda de luar. Soube que no Barreiro a Saltina Torcato casou ontem e hoje

deu à luz um menino. Saiu do hospital o José Tavares Gonçalves que ficou

aleijado há tempos na Rotunda do Barreiro. Faleceu o Ceta corticeiro.

2/3/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 16,30 para a vila e depois

brincadeiras carnavalescas era eu, Francisco Soeiro, J. S. Parra, J. S.

Borralho, Filipe Pinto da Companhia União Fabril, Manuel Frade, etc.

Houve bailes nas Sociedades Democrática e Instrução, andava mascarado

Francisco Soeiro de bombeiro, J. S. Borralho de bebé, J. S. Parra de

mobilizado, a claque esteve no palco. Terminou o baile às 4,10 da

madrugada. 1920 Faro continuação da greve, entretanto o dia nublado e à

noite muitíssima chuva e vento.

3/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui para a vila à 20,50

encontrei num dos bancos do Largo Casal o Artur Sobral e disse vou-me

26/2/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila. 1920 Trabalhei

até às 12 horas. Tive ordem do Manuel P. Manilha encarregado com as

seguintes frases direito tem os mais tens tu e mandou-me para casa. Á

noite segui no Comboio 9 para Faro na C. 71 e foi comigo o revisor Augusto

Duarte para a Funcheira. O revisor Francisco M. Estaca deu-me 5 escudos

para entregar em Tunes ao Ajudante revisor Francisco Simões. No

Parlamento que já há tempos andava-se a tratar da melhoria dos

ferroviários não ficando nada resolvido.

27/2/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia, não fui à vila. 1920 Cheguei a

Faro às 9 e tal. Trabalhei todo o dia e fiquei de serviço de noite. Fez um dia e

peras.

28/2/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia chovendo toda a noite. Falei

com a M.G.M. Brincadeiras de Carnaval era eu, J.S. Borralho, Francisco

Soeiro, Manuel Frade, M. Torcato, Abelardo Ferreira, António J. etc. no

Largo Casal com as filhas do José Augusto e as filhas do Joaquim António.

Era 24 horas mudou-se a minha vizinha D. Jacinta mudou às 24 horas.

Mudou a hora como os anos anteriores. Foi a Lisboa uma Comissão das

Oficinas Gerais para vir amanhã o pagador. 1920 Faro trabalhei todo o dia

até às 17 horas Declarada a greve nos CFSS. Chegou no Cº 9 o guarda-freio

Francisco Afonso. Este deu-me 15 escudos dados [sic] para me entregar

que enviou a minha mãe. Fez-me com o que tinha a soma de 57$50. Fui

para casa do revisor António de Almeida sendo bem recebido pela família

que morava na Rua António Cabreira nº 29. No Barreiro houve benefício do

Joaquim Caetano (Pau Louro).

29/2/920 Continuação da greve dos CFSS. Declarou-se a greve dos

Caminhos de Ferro do Minho e Douro foi boato corrido em Faro. Fez um dia

e peras. Do Barreiro, soube, chegou às 11 horas uma força de Infantaria 11,

às 15 mais 12 praças do Batalhão Sapadores de Caminho de Ferro. O meu

mano foi ao Teatro Cine ver a fita em 3 partes o “Carapante”. Mudou a hora

como os anos anteriores. Casou a filha do José Ligorne com o Sr. Alberto

Morais filho mais novo do Vicente Morais e também a [Ce]Saltina Torcato

com o caixeiro do Matias, o Simões Branco Fragoso. Começou no Estaleiro

do F. Bravo a construção de uma fragata de 150 toneladas para o Guilherme

Vasconcelos.

70 71

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-5

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6/3/920 Faz 1 ano que não trabalhei todo o dia. Veio o pagador e recebi a

quantia de 41$60. Fez bastante vento nordeste. O meu futuro cunhado

Manuel de Almeida mudou para casa aonde retirou a D. Jacinta. 1920 Faro

continuação da greve. Fez todo o dia e toda a noite grande temporal.

Chegou às 14.40h o comboio com o Comité. Soube-se que no Barreiro já se

trabalhava há dias, havendo grandes manifestações do pessoal para com os

membros do Comité era Miguel Correia. Até desde a dita hora trabalhei e

fiquei de noite. Declarou-se em greve a construção civil em Faro. Do

Barreiro partiu com destino a Faro o meu mano.

7/3/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Descarrilou no lado do

Sul da Rotunda um furgon nº 25 e um D de 9 metros. A pedido do revisor

José S. Cardoso revisei o Cº 18. Fez todo o dia e toda a noite grande nortada.

Fez 110 anos que entrou em Portugal o exército francês comandado pelo

Soult. 1920 Faro trabalhei todo o dia e fiquei de noite. Chegou no Cº 9 meu

mano trouxe-me roupa e comer, etc. Fez um dia e peras. O revisor Augusto

Duarte encontrava-se na Funcheira mandou-me 2 pães pelo maquinista

Domingos da Silva. Houve reunião de ferroviários nas Cocheiras de Faro. Foi

hoje a 1ª corrida em Santarém.

8/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 13,25 inspecção

para entrar para os Socorros Mútuos da Inhabilidade, fiquei aprovado.

Comprei uma gravata de azul eléctrico por 1$50 etc. regressei a Barreiro às

18,35. Fez muitíssimo vento nordeste. Corria o boato que tinha falecido o

grande conspirador Paiva Couceiro em Lisboa saiu manifestos narrando o

falecimento do dito. Falei com a M.G.M. 1920 Faro trabalhei todo o dia. Fez

um dia e peras fazendo muito vento norte. Continua ainda na cidade meu

mano.

9/3/920 Fez 1 ano descanso semanal. Falei com M.G.M. Alevantei-me às

15,20 fui para a vila às 16,40 andamos a claque a passear pela vila. No Largo

Rompana falei com um mano do Bernardino Augusto Xavier vindo de

França há poucos dias. Foi o casamento do Domingos da Luz com a filha da

Alexandrina. Houve os seguintes funerais a Ermelinda Açorda e da mãe do

Carlos Gracias estofador. Foi o último espectáculo no Barreiro do Circo no

Largo dos Aliados, foi o meu mano. 1920 Faro, trabalhei todo o dia até às 17

horas. Na dita hora chegou um telegrama do Barreiro para eu regressar no

deitar. Encontra-se de luto pela mana. Houve continuação dos bailes de

Carnaval nas Sociedades. A S. Instrução terminou às 3, 20 andavam

mascarados meu mano de saloio, Filipe Cordeiro de judeu, J.S. Borralho de

Maria Magalhona. Marcou a quadrilha o Júlio Valadares. 1920 Faro

continuação da greve. Esteve todo o dia grande temporal e a noite linda e

peras de luar. Soube que no Barreiro às 11 e tal chegaram mais tropa.

4/3/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 10,45, tocou a buzina foi tolerância

de ponto por motivo ser Entrudo. Farinhei uma filha do Macineiro e uma do

Sotas e a filha do José Cambra e Amália Paninho etc. Andamos de tarde a

divertir com brincadeiras carnavalescas na carroça do António Luiz

Marques, era eu, ele, José Soeiro, J. S. Borralho. Compramos serpentinas

etc. Recordação da M.G.M. um amor perfeito este perdi. Quem marcou a

quadrilha foi Jerónimo Martins. Terminou o baile às 4,40. Eu mascarei-me

de minhota depois juntei-me com o António Luiz Marques, eu tinha o nome

de Ana e ele de Júlia. A M.G.M. veio ontem ao baile da S. Instrução. 1920

Faro continuação da greve. Fui à primeira reunião dos ferroviários, foi em

casa do condutor Cavaco. Correu o boato pela cidade que se tinha

declarado em greve os correios e telégrafos. Fez um dia e peras e a noite

idem, de luar mas fria. Soube que no Barreiro principiou a trabalhar pelas

10h a Central Eléctrica e às 14h retirou para Lisboa no 1º vapor o batalhão

de SCF. Pelas 16h saiu o comboio para a linha com o Comité, a seguir um

comboio para Setúbal e no dito regressou à dita cidade Infantaria 11. Fez 17

anos a M.G.M

5/3/920 Faz 1 ano que não trabalhei pela primeira vez. Levantei-me às 13

horas fui para a vila às 17,30. Estive a ouvir o irmão do David Igreja a cantar

no Largo Casal, encontrava-se embriagado. Falei com a M.G.M. Ontem foi

colocado entre as duas portas nº 18 e 20 na Rua Miguel Pais, mercearia do

Joaquim Lopes, uma caixa de correio. 1920. Faro continuação da greve dos

CFSS. O tempo todo o dia nublado chovendo mas pouco. Soube-se que por

causa da greve caiu o governo. No Barreiro encontrava-se o pagador

receberam por mim 49$98. Faz hoje três anos que faleceu o Dr. Manuel

Arriaga, 1º Presidente eleito da República Portuguesa.

76 Carruagens

72 73

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6/3/920 Faz 1 ano que não trabalhei todo o dia. Veio o pagador e recebi a

quantia de 41$60. Fez bastante vento nordeste. O meu futuro cunhado

Manuel de Almeida mudou para casa aonde retirou a D. Jacinta. 1920 Faro

continuação da greve. Fez todo o dia e toda a noite grande temporal.

Chegou às 14.40h o comboio com o Comité. Soube-se que no Barreiro já se

trabalhava há dias, havendo grandes manifestações do pessoal para com os

membros do Comité era Miguel Correia. Até desde a dita hora trabalhei e

fiquei de noite. Declarou-se em greve a construção civil em Faro. Do

Barreiro partiu com destino a Faro o meu mano.

7/3/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Descarrilou no lado do

Sul da Rotunda um furgon nº 25 e um D de 9 metros. A pedido do revisor

José S. Cardoso revisei o Cº 18. Fez todo o dia e toda a noite grande nortada.

Fez 110 anos que entrou em Portugal o exército francês comandado pelo

Soult. 1920 Faro trabalhei todo o dia e fiquei de noite. Chegou no Cº 9 meu

mano trouxe-me roupa e comer, etc. Fez um dia e peras. O revisor Augusto

Duarte encontrava-se na Funcheira mandou-me 2 pães pelo maquinista

Domingos da Silva. Houve reunião de ferroviários nas Cocheiras de Faro. Foi

hoje a 1ª corrida em Santarém.

8/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 13,25 inspecção

para entrar para os Socorros Mútuos da Inhabilidade, fiquei aprovado.

Comprei uma gravata de azul eléctrico por 1$50 etc. regressei a Barreiro às

18,35. Fez muitíssimo vento nordeste. Corria o boato que tinha falecido o

grande conspirador Paiva Couceiro em Lisboa saiu manifestos narrando o

falecimento do dito. Falei com a M.G.M. 1920 Faro trabalhei todo o dia. Fez

um dia e peras fazendo muito vento norte. Continua ainda na cidade meu

mano.

9/3/920 Fez 1 ano descanso semanal. Falei com M.G.M. Alevantei-me às

15,20 fui para a vila às 16,40 andamos a claque a passear pela vila. No Largo

Rompana falei com um mano do Bernardino Augusto Xavier vindo de

França há poucos dias. Foi o casamento do Domingos da Luz com a filha da

Alexandrina. Houve os seguintes funerais a Ermelinda Açorda e da mãe do

Carlos Gracias estofador. Foi o último espectáculo no Barreiro do Circo no

Largo dos Aliados, foi o meu mano. 1920 Faro, trabalhei todo o dia até às 17

horas. Na dita hora chegou um telegrama do Barreiro para eu regressar no

deitar. Encontra-se de luto pela mana. Houve continuação dos bailes de

Carnaval nas Sociedades. A S. Instrução terminou às 3, 20 andavam

mascarados meu mano de saloio, Filipe Cordeiro de judeu, J.S. Borralho de

Maria Magalhona. Marcou a quadrilha o Júlio Valadares. 1920 Faro

continuação da greve. Esteve todo o dia grande temporal e a noite linda e

peras de luar. Soube que no Barreiro às 11 e tal chegaram mais tropa.

4/3/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 10,45, tocou a buzina foi tolerância

de ponto por motivo ser Entrudo. Farinhei uma filha do Macineiro e uma do

Sotas e a filha do José Cambra e Amália Paninho etc. Andamos de tarde a

divertir com brincadeiras carnavalescas na carroça do António Luiz

Marques, era eu, ele, José Soeiro, J. S. Borralho. Compramos serpentinas

etc. Recordação da M.G.M. um amor perfeito este perdi. Quem marcou a

quadrilha foi Jerónimo Martins. Terminou o baile às 4,40. Eu mascarei-me

de minhota depois juntei-me com o António Luiz Marques, eu tinha o nome

de Ana e ele de Júlia. A M.G.M. veio ontem ao baile da S. Instrução. 1920

Faro continuação da greve. Fui à primeira reunião dos ferroviários, foi em

casa do condutor Cavaco. Correu o boato pela cidade que se tinha

declarado em greve os correios e telégrafos. Fez um dia e peras e a noite

idem, de luar mas fria. Soube que no Barreiro principiou a trabalhar pelas

10h a Central Eléctrica e às 14h retirou para Lisboa no 1º vapor o batalhão

de SCF. Pelas 16h saiu o comboio para a linha com o Comité, a seguir um

comboio para Setúbal e no dito regressou à dita cidade Infantaria 11. Fez 17

anos a M.G.M

5/3/920 Faz 1 ano que não trabalhei pela primeira vez. Levantei-me às 13

horas fui para a vila às 17,30. Estive a ouvir o irmão do David Igreja a cantar

no Largo Casal, encontrava-se embriagado. Falei com a M.G.M. Ontem foi

colocado entre as duas portas nº 18 e 20 na Rua Miguel Pais, mercearia do

Joaquim Lopes, uma caixa de correio. 1920. Faro continuação da greve dos

CFSS. O tempo todo o dia nublado chovendo mas pouco. Soube-se que por

causa da greve caiu o governo. No Barreiro encontrava-se o pagador

receberam por mim 49$98. Faz hoje três anos que faleceu o Dr. Manuel

Arriaga, 1º Presidente eleito da República Portuguesa.

76 Carruagens

72 73

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Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e peras, de tarde choveu. No serviço

cortei pela primeira vez um bronze no D 304 no Barreiro T. Houve benefício

da Sociedade Alhos Vedros no Teatro Cine, fui para a cadeira no 287, preço

$35. Foi a peça D. Afonso VI, etc. Partiu para Faro no Comboio 9 meu mano.

14/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Falei com a M.G.M. Foi hoje que vi

pela primeira vez as notas de 50 centavos. Pediu 10 dias de licença o revisor

José S. Cardoso. 1920. Descanso semanal. Fez um dia lindo, fez muito vento

nordeste. Alevantei-me às 12,50, pelas 15,50 fui à vila dei umas voltas mais

a claque que era Artur S. Francisco Soeiro, J. S. Borralho este último andou

de chapéu aberto sem chover. Foi o casamento do Manuel Rei com a

Ermelinda Alves.

15/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Não fui à

vila. Houve benefício da Sociedade Democrática no Teatro Cine. 1920

Trabalhei, ao meio dia tive ordem de não trabalhar por motivo de seguir à

noite no Comboio 6 para a Funcheira. Á noite embarquei no Comboio 6 C

79. De noite fez grande temporal chuva e muitíssimo vento.

16/3/920 Fez 1 ano que descanso semanal [sic]. Falei com a M.G.M. Fui

para a vila às 17 horas, fui mais o Luiz A. Caseirão, José Parra, José de

Oliveira, A. J. Morais, António V. Bote, Filipe Pinto. O A. V. Bote encontrou

pelo caminho de regresso uma moeda de vintém, eu uma porca de ½, A. J.

Morais um bocado de ferradura, etc. Á chegada ao Largo Casal eu, A. J.

Morais e Fernando Gonçalves comprámos pregos e pregamos uma

ferradura no banco em frente da Leitaria do Alves. 1920 Estive de folga na

Funcheira, fez um dia variável e muitíssimo vento.

17/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. O cobrador José Alcorraz

deu-me subscritos para o M. José Bravo, L. A. Caseirão, José Maria

Lourinhã, os ditos com bilhetes para o benefício para a sociedade Instrução

no próximo sábado. Eu comprei um fauteuil nº 73. Principiou os ensaios

para o dito benefício. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira fez um dia lindo

e a noite idem.

18/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Ontem e

hoje falei com a M.G.M. O meu pai encontrava-se doente. Correu o boato

Comboio 6, trouxe o boletineiro Pinto que entregou ao revisor

circunscrição José Martins. Fez um dia e peras. Correu o boato que

aproximava-se uma greve geral em todo o país. Fui comer a casa do revisor

António de Almeida, entreguei 5$00 escudos [sic] à senhora do dito.

Embarquei à tarde no Comboio 6 na C 78. Em Tunes o ajudante revisor

Francisco Simões entregou-me 9$50 e um cabaz para entregar ao revisor

M. Soeiro. Em Vendas Novas encontrava-se o revisor M. Nunes entreguei-

lhe. Fez 1 ano que foi a claque composta Filipe, Artur Sobral, José Soeiro, A.

Luiz Marques, ao Circo no Largo dos Aliados (S. do Rosário) e tomou posse o

Administrador do Concelho do Barreiro Sr. Guerra.

10/3/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Fez uma

noite linda de luar e fez anos o Francisco Soeiro. 1920 Estive de folga esteve

um dia lindo e peras e a noite idem fazendo muito vento. Falei com a

M.G.M. Continua a greve dos Correios e Telégrafos. Cheguei esta manhã no

Comboio 6.

11/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Deu hoje parte doente o

carpinteiro da revisão o António Bifa. Regressou às Oficinas Gerais dos CFSS

o serralheiro António Filipe, Almeida e Pinto estes dois ignoro categoria.

1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fez um dia e peras e a noite

nublada. Não vim à vila. Faleceu o Machinho trabalhava na Cordoaria do

Nicola. Foi o benefício no Teatro Cine da actriz Lina dos Santos. Continua as

greves dos correios e telégrafos, e construção civil, funcionários públicos,

professores, etc. Comprei uma cautela de sociedade com o João M. Estaca

nº 5189 e uma cadeira para o benefício de Alhos Vedros no Cine para o

próximo dia 13.

12/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Esteve todo o dia e toda a noite

nublado. O Francisco Soeiro teve grande desordem com o Manuel Frade

por motivo de dizer o calão moderno vais ao idem [sic].

13/3/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi ter comigo ao

serviço a M.G.M. Saiu novamente o jornal “República”. Foi o benefício no

Teatro Cine para os cegos da Lúcia. Houve reunião dos corticeiros.

Apresentou-se ao serviço o Manuel Pedro Manilha encarregado. 1920

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Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e peras, de tarde choveu. No serviço

cortei pela primeira vez um bronze no D 304 no Barreiro T. Houve benefício

da Sociedade Alhos Vedros no Teatro Cine, fui para a cadeira no 287, preço

$35. Foi a peça D. Afonso VI, etc. Partiu para Faro no Comboio 9 meu mano.

14/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Falei com a M.G.M. Foi hoje que vi

pela primeira vez as notas de 50 centavos. Pediu 10 dias de licença o revisor

José S. Cardoso. 1920. Descanso semanal. Fez um dia lindo, fez muito vento

nordeste. Alevantei-me às 12,50, pelas 15,50 fui à vila dei umas voltas mais

a claque que era Artur S. Francisco Soeiro, J. S. Borralho este último andou

de chapéu aberto sem chover. Foi o casamento do Manuel Rei com a

Ermelinda Alves.

15/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Não fui à

vila. Houve benefício da Sociedade Democrática no Teatro Cine. 1920

Trabalhei, ao meio dia tive ordem de não trabalhar por motivo de seguir à

noite no Comboio 6 para a Funcheira. Á noite embarquei no Comboio 6 C

79. De noite fez grande temporal chuva e muitíssimo vento.

16/3/920 Fez 1 ano que descanso semanal [sic]. Falei com a M.G.M. Fui

para a vila às 17 horas, fui mais o Luiz A. Caseirão, José Parra, José de

Oliveira, A. J. Morais, António V. Bote, Filipe Pinto. O A. V. Bote encontrou

pelo caminho de regresso uma moeda de vintém, eu uma porca de ½, A. J.

Morais um bocado de ferradura, etc. Á chegada ao Largo Casal eu, A. J.

Morais e Fernando Gonçalves comprámos pregos e pregamos uma

ferradura no banco em frente da Leitaria do Alves. 1920 Estive de folga na

Funcheira, fez um dia variável e muitíssimo vento.

17/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. O cobrador José Alcorraz

deu-me subscritos para o M. José Bravo, L. A. Caseirão, José Maria

Lourinhã, os ditos com bilhetes para o benefício para a sociedade Instrução

no próximo sábado. Eu comprei um fauteuil nº 73. Principiou os ensaios

para o dito benefício. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira fez um dia lindo

e a noite idem.

18/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Ontem e

hoje falei com a M.G.M. O meu pai encontrava-se doente. Correu o boato

Comboio 6, trouxe o boletineiro Pinto que entregou ao revisor

circunscrição José Martins. Fez um dia e peras. Correu o boato que

aproximava-se uma greve geral em todo o país. Fui comer a casa do revisor

António de Almeida, entreguei 5$00 escudos [sic] à senhora do dito.

Embarquei à tarde no Comboio 6 na C 78. Em Tunes o ajudante revisor

Francisco Simões entregou-me 9$50 e um cabaz para entregar ao revisor

M. Soeiro. Em Vendas Novas encontrava-se o revisor M. Nunes entreguei-

lhe. Fez 1 ano que foi a claque composta Filipe, Artur Sobral, José Soeiro, A.

Luiz Marques, ao Circo no Largo dos Aliados (S. do Rosário) e tomou posse o

Administrador do Concelho do Barreiro Sr. Guerra.

10/3/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Fez uma

noite linda de luar e fez anos o Francisco Soeiro. 1920 Estive de folga esteve

um dia lindo e peras e a noite idem fazendo muito vento. Falei com a

M.G.M. Continua a greve dos Correios e Telégrafos. Cheguei esta manhã no

Comboio 6.

11/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Deu hoje parte doente o

carpinteiro da revisão o António Bifa. Regressou às Oficinas Gerais dos CFSS

o serralheiro António Filipe, Almeida e Pinto estes dois ignoro categoria.

1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fez um dia e peras e a noite

nublada. Não vim à vila. Faleceu o Machinho trabalhava na Cordoaria do

Nicola. Foi o benefício no Teatro Cine da actriz Lina dos Santos. Continua as

greves dos correios e telégrafos, e construção civil, funcionários públicos,

professores, etc. Comprei uma cautela de sociedade com o João M. Estaca

nº 5189 e uma cadeira para o benefício de Alhos Vedros no Cine para o

próximo dia 13.

12/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Esteve todo o dia e toda a noite

nublado. O Francisco Soeiro teve grande desordem com o Manuel Frade

por motivo de dizer o calão moderno vais ao idem [sic].

13/3/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi ter comigo ao

serviço a M.G.M. Saiu novamente o jornal “República”. Foi o benefício no

Teatro Cine para os cegos da Lúcia. Houve reunião dos corticeiros.

Apresentou-se ao serviço o Manuel Pedro Manilha encarregado. 1920

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botas do filho do revisor Augusto Duarte pelo camarada do especial 8 que

era agulheiro que seguiu no Cº 6. Chegou no Cº 203 o latão do carbureto.

23/3/920 Fez 1 ano descanso semanal. Foi para a vila às 16 horas falei

com a M.G.M., ela deu-me um amor-perfeito para substituir o perdido pelo

Carnaval. Andei a passear pela vila mais J. Soeiro, Francisco António e à

noite idem mais o Luiz Caseirão, Artur S., S. Rita e Guilherme M. da Costa.

De manhã houve assaltos no Mercado. Á noite choveu, etc. 1920 Trabalhei

24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo mas muito vento. Depois de revisar

o C. 6 seguiu no estribo da Carruagem 73 o martelo de bater rodas. Pedi ao

praticante Pereira, este falou à Funcheira. Ao chegar a Funcheira foi-me

entregue pelo guarda da noite da dita estação Joaquim Miguel como a

revisão era feita em Garvão aos comboios 6, 204 e 9. Soube que no Barreiro

o meu mano jogou pela primeira vez ao bilhar na S. Instrução.

24/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez muitíssimo

vento e chuva toda a noite. Caiu de uma prancha o José Gonçalves mano do

padre Matos, ficando em estado gravíssimo. Seguiu para o hospital o

carregador em serviço de freios dos CFSS o Russo Grande. 1920 Estive de

folga na Funcheira, de manhã nublado e o restante dia variável, fazendo

vento.

25/3/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30, fui ao Freire

gravador perguntar pelas chapas para por nas lapelas dos casacos para o

Grupo dos 11, procurei pelo preço 30 centavos cada. Regressei às 11,30. O

meu pai pediu-me para ir pagar a taxa militar do meu mano, eu fui à Câmara

Municipal. Andava doente de um pé José Soeiro. Não trabalharam J. S.

Borralho, Artur S., A. V. Bote e outros. Falei com a M.G.M. Faleceu a Maria

Augusta prima do João da Luz e a sogra do Luiz Guerreiro. 1920 Trabalhei 24

horas na Funcheira fez um dia lindo mas fazendo muito vento. Chegou no

Cº 9 uma alcofa com material para o Depósito. Mandei um telegrama ao

Sub-inspector José da Luz pedindo comer.

26/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O servente de

revisão o Justino fez um requerimento pedindo passagem para as Oficinas.

Falei com a M.G.M, eu dei-lhe uma caixa de papelão cor de prata. Á noite na

S. Instrução jogou ao bilhar meu mano, Artur S., Eduardo Espírito Santo.

que o filho do Marques Ribeiro tinha deixado de tocar música da S.

Democrática. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo na Funcheira. Num dos

comboios extraordinários de Beja chegou o revisor circunscrição de Beja o

Gois trazer roupa para mandar na AB 13.

19/3/920 Faz 1 ano que trabalhei 245 horas no Barreiro T. Chegou da

terra o António Figueiredo. Fez 2 anos que o Luiz de Oliveira guarda-freio

dos CFSS foi chamado à sede do BSCF em Cascais para seguir a França. 1920

Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo e fazendo calor. Passou

para o Algarve o Sub-Inspector Sr. José da Luz. Principiaram a colocar a

grade em volta da estação da Funcheira.

20/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Não fui à vila. Fui a Lisboa às 13,25

seguiu muitos operários das Oficinas gerais do CFSS. Caiu ao rio o chapéu

do praticante Avelino Simplício. Regressei a Barreiro às 16,30.Escrevi uma

carta para Borba ao José M. Carvalho. Chegaram às 21,10 de Lisboa vindo

de França o cunhado do capataz dos CFSS Batista e o Tomaz Cambra.

Faleceu com 9 anos o filho do compadre barbeiro, tinha o nome Manuel

Joaquim. 1920 Estive de folga na Funcheira, fez um dia lindo e muito calor, à

noite idem. No Barreiro houve benefício no Teatro Cine do Catapina.

21/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. esta pediu-

me 2 fautiuls, um para ela outro para o pai. Consegui o nº 7-9. O 75

falecimento do compadre barbeiro foi hoje e não ontem . Foi hoje o

primeiro dia que o J. S. Borralho teve ensaio de caixa na S. Instrução, por tal

sinal apagou-se as luzes. Fui ao Júlio Macedo tirar umas medidas de um

fato. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo e a noite idem.

22/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi o

benefício da S. Instrução no T. Cine. Fomos todos da família exceto [sic] o

meu pai. Foi o grupo da dita era António Filipe, Luiz Raider, Ana Mendes,

Agostinho Martins, Catapina, Vitória da Silva, etc. 1920 Estive de folga na

Funcheira, fez um dia lindo e a noite idem. Recebi duas cartas uma da

família outra da M.G.M. Mandei para Barreiro um cabaz com um par de

76 77

75 Por esta nota verifica-se que José António Marques tirava apontamentos sobre os acontecimentos e que mais tarde os ordenava e passava a limpo para cadernos.

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botas do filho do revisor Augusto Duarte pelo camarada do especial 8 que

era agulheiro que seguiu no Cº 6. Chegou no Cº 203 o latão do carbureto.

23/3/920 Fez 1 ano descanso semanal. Foi para a vila às 16 horas falei

com a M.G.M., ela deu-me um amor-perfeito para substituir o perdido pelo

Carnaval. Andei a passear pela vila mais J. Soeiro, Francisco António e à

noite idem mais o Luiz Caseirão, Artur S., S. Rita e Guilherme M. da Costa.

De manhã houve assaltos no Mercado. Á noite choveu, etc. 1920 Trabalhei

24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo mas muito vento. Depois de revisar

o C. 6 seguiu no estribo da Carruagem 73 o martelo de bater rodas. Pedi ao

praticante Pereira, este falou à Funcheira. Ao chegar a Funcheira foi-me

entregue pelo guarda da noite da dita estação Joaquim Miguel como a

revisão era feita em Garvão aos comboios 6, 204 e 9. Soube que no Barreiro

o meu mano jogou pela primeira vez ao bilhar na S. Instrução.

24/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Fez muitíssimo

vento e chuva toda a noite. Caiu de uma prancha o José Gonçalves mano do

padre Matos, ficando em estado gravíssimo. Seguiu para o hospital o

carregador em serviço de freios dos CFSS o Russo Grande. 1920 Estive de

folga na Funcheira, de manhã nublado e o restante dia variável, fazendo

vento.

25/3/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30, fui ao Freire

gravador perguntar pelas chapas para por nas lapelas dos casacos para o

Grupo dos 11, procurei pelo preço 30 centavos cada. Regressei às 11,30. O

meu pai pediu-me para ir pagar a taxa militar do meu mano, eu fui à Câmara

Municipal. Andava doente de um pé José Soeiro. Não trabalharam J. S.

Borralho, Artur S., A. V. Bote e outros. Falei com a M.G.M. Faleceu a Maria

Augusta prima do João da Luz e a sogra do Luiz Guerreiro. 1920 Trabalhei 24

horas na Funcheira fez um dia lindo mas fazendo muito vento. Chegou no

Cº 9 uma alcofa com material para o Depósito. Mandei um telegrama ao

Sub-inspector José da Luz pedindo comer.

26/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O servente de

revisão o Justino fez um requerimento pedindo passagem para as Oficinas.

Falei com a M.G.M, eu dei-lhe uma caixa de papelão cor de prata. Á noite na

S. Instrução jogou ao bilhar meu mano, Artur S., Eduardo Espírito Santo.

que o filho do Marques Ribeiro tinha deixado de tocar música da S.

Democrática. 1920 Estive de folga, fez um dia lindo na Funcheira. Num dos

comboios extraordinários de Beja chegou o revisor circunscrição de Beja o

Gois trazer roupa para mandar na AB 13.

19/3/920 Faz 1 ano que trabalhei 245 horas no Barreiro T. Chegou da

terra o António Figueiredo. Fez 2 anos que o Luiz de Oliveira guarda-freio

dos CFSS foi chamado à sede do BSCF em Cascais para seguir a França. 1920

Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo e fazendo calor. Passou

para o Algarve o Sub-Inspector Sr. José da Luz. Principiaram a colocar a

grade em volta da estação da Funcheira.

20/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Não fui à vila. Fui a Lisboa às 13,25

seguiu muitos operários das Oficinas gerais do CFSS. Caiu ao rio o chapéu

do praticante Avelino Simplício. Regressei a Barreiro às 16,30.Escrevi uma

carta para Borba ao José M. Carvalho. Chegaram às 21,10 de Lisboa vindo

de França o cunhado do capataz dos CFSS Batista e o Tomaz Cambra.

Faleceu com 9 anos o filho do compadre barbeiro, tinha o nome Manuel

Joaquim. 1920 Estive de folga na Funcheira, fez um dia lindo e muito calor, à

noite idem. No Barreiro houve benefício no Teatro Cine do Catapina.

21/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. esta pediu-

me 2 fautiuls, um para ela outro para o pai. Consegui o nº 7-9. O 75

falecimento do compadre barbeiro foi hoje e não ontem . Foi hoje o

primeiro dia que o J. S. Borralho teve ensaio de caixa na S. Instrução, por tal

sinal apagou-se as luzes. Fui ao Júlio Macedo tirar umas medidas de um

fato. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo e a noite idem.

22/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi o

benefício da S. Instrução no T. Cine. Fomos todos da família exceto [sic] o

meu pai. Foi o grupo da dita era António Filipe, Luiz Raider, Ana Mendes,

Agostinho Martins, Catapina, Vitória da Silva, etc. 1920 Estive de folga na

Funcheira, fez um dia lindo e a noite idem. Recebi duas cartas uma da

família outra da M.G.M. Mandei para Barreiro um cabaz com um par de

76 77

75 Por esta nota verifica-se que José António Marques tirava apontamentos sobre os acontecimentos e que mais tarde os ordenava e passava a limpo para cadernos.

Page 78: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Houve reunião de ferroviários devido ao decreto assinado há dias pelo

governo. Falei com a M.G.M. 1920 Estive de folga na Funcheira, todo o dia

choveu muinha e a noite linda de luar. Entreguei ao José Rodrigues fogueiro

um saco com roupa para entregar a minha mãe no Barreiro, era maquinista

o Mendonça.

31/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Não fui à vila devido a mau

tempo. Foi o funeral de um mano do Manuel Pedro Manilha encarregado

de revisor. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo não

fazendo muito vento Norte. No Cº 209 chegou de Beja uma seringa para

olear o material e uma guia para levantar um barril de óleo negro, vindo no

D 140. No Barreiro foi preso há dias o filho do Freitas, Joaquim Freitas, por

motivo de tratar mal uma rapariga de 16 anos que trouxe de Lisboa para a

Hospedaria do Lopes..

1/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Entrou novamente para a

Revisão o revisor de 2ª Augusto Duarte. Chegou o pagador às 17 horas e

1920. Estive de folga na Funcheira, fez um dia variável estando quase todo o

dia nublado e à noite muito vento e frio. O praticante de Garvão chama-se 76

Bernardo Lança Pereira. Na Funcheira morava a maioria do pessoal em J.J.

já há muito tempo, principiaram hoje a mudar-se para umas novas casas há

tempos em construção. Começou hoje a ser distribuída por todo o país

correspondência que se encontrava há 1 mês por distribuir, por motivo da

greve dos Correios e Telégrafos e continua. A dita foi distribuída por praças

da GNR.

27/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão, não fui à

vila. Foi ontem para o Brasil o mano do António dos Santos barbeiro. 1920

Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo. Soube-se a partida dos

comboios da Funcheira por meios de toques do lado de Alcácer 4 toques, e

de Beja 3, e do Algarve 2.

28/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com a

M.G.M. Aleijou-se na Rotunda o Manuel Valentim de Alhos Vedros,

maquinista, entre pára-choques ficando em estado grave. 1920 Estive de

folga. Todo o dia nublado, principiou a chover pelas 14,50, muitíssimo e

forte vento. Aliviou e terminou de chover às 18 horas. Chegou no Cº 9 uma

carta trouxe-me o guarda-freio Afonso.

29/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Chegou do

Sanatório de Carlos Vasconcelos Porto dos CFSS, em S. Brás de Alportel, o

José Esteves Beira serralheiro das Oficinas dos mesmos Caminhos de Ferro.

Foi ao Barreiro-A esperá-lo, ao Cº 2, o meu mano, Simiteiro (?) e Acácio. Era

16,50 faleceu a avó do Agrípio Jesus Cardoso. 1920 Trabalhei 24 horas na

Funcheira. Fez um dia variável e chovendo pouco e toda a noite choveu.

30/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui à vila às 17,50 mais meu

mano. Andamos a passear mais o José Esteves Beira, etc. Houve grandes

festejos da S. Democrática foram tocar à sessão solene as S. Instrução e da

Comp. União Fabril e de tarde o concerto pela S. festejada e à noite baile na

sede. Andavam meninas na venda de lenços com as insígnias 30/3/919.

78 79

76 Carruagens

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3783-4

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Houve reunião de ferroviários devido ao decreto assinado há dias pelo

governo. Falei com a M.G.M. 1920 Estive de folga na Funcheira, todo o dia

choveu muinha e a noite linda de luar. Entreguei ao José Rodrigues fogueiro

um saco com roupa para entregar a minha mãe no Barreiro, era maquinista

o Mendonça.

31/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Não fui à vila devido a mau

tempo. Foi o funeral de um mano do Manuel Pedro Manilha encarregado

de revisor. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira. Fez um dia lindo não

fazendo muito vento Norte. No Cº 209 chegou de Beja uma seringa para

olear o material e uma guia para levantar um barril de óleo negro, vindo no

D 140. No Barreiro foi preso há dias o filho do Freitas, Joaquim Freitas, por

motivo de tratar mal uma rapariga de 16 anos que trouxe de Lisboa para a

Hospedaria do Lopes..

1/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Entrou novamente para a

Revisão o revisor de 2ª Augusto Duarte. Chegou o pagador às 17 horas e

1920. Estive de folga na Funcheira, fez um dia variável estando quase todo o

dia nublado e à noite muito vento e frio. O praticante de Garvão chama-se 76

Bernardo Lança Pereira. Na Funcheira morava a maioria do pessoal em J.J.

já há muito tempo, principiaram hoje a mudar-se para umas novas casas há

tempos em construção. Começou hoje a ser distribuída por todo o país

correspondência que se encontrava há 1 mês por distribuir, por motivo da

greve dos Correios e Telégrafos e continua. A dita foi distribuída por praças

da GNR.

27/3/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão, não fui à

vila. Foi ontem para o Brasil o mano do António dos Santos barbeiro. 1920

Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo. Soube-se a partida dos

comboios da Funcheira por meios de toques do lado de Alcácer 4 toques, e

de Beja 3, e do Algarve 2.

28/3/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com a

M.G.M. Aleijou-se na Rotunda o Manuel Valentim de Alhos Vedros,

maquinista, entre pára-choques ficando em estado grave. 1920 Estive de

folga. Todo o dia nublado, principiou a chover pelas 14,50, muitíssimo e

forte vento. Aliviou e terminou de chover às 18 horas. Chegou no Cº 9 uma

carta trouxe-me o guarda-freio Afonso.

29/3/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Chegou do

Sanatório de Carlos Vasconcelos Porto dos CFSS, em S. Brás de Alportel, o

José Esteves Beira serralheiro das Oficinas dos mesmos Caminhos de Ferro.

Foi ao Barreiro-A esperá-lo, ao Cº 2, o meu mano, Simiteiro (?) e Acácio. Era

16,50 faleceu a avó do Agrípio Jesus Cardoso. 1920 Trabalhei 24 horas na

Funcheira. Fez um dia variável e chovendo pouco e toda a noite choveu.

30/3/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui à vila às 17,50 mais meu

mano. Andamos a passear mais o José Esteves Beira, etc. Houve grandes

festejos da S. Democrática foram tocar à sessão solene as S. Instrução e da

Comp. União Fabril e de tarde o concerto pela S. festejada e à noite baile na

sede. Andavam meninas na venda de lenços com as insígnias 30/3/919.

78 79

76 Carruagens

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3783-4

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do Bateirinha, Júlio Tavares filho do Francisco Espanhol e a filha do Luiz

Buraca. Á noite rusga pela vila feita pelas autoridades. Novo horário de

comboios e vapores dos CFSS. Andava ao serviço o vapor Alentejo. Houve

espectáculo no T. Cine feito pela Cª Carlos Sousa de Lisboa. 1920 Estive de

folga na Funcheira, fez um dia variável. Havia um descarrilamento a 6 km da

estação de Odemira. No Barreiro casou o Joaquim Manuel Rei com

Ermelinda Alves.

6/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para a vila às 17 horas. Falei com

a M.G.M. Seguiram para Lisboa o Júlio T., filho do Francisco Espanhol. A S.

Instrução deu um concerto na sede da S. Democrática. Foi a inauguração da

Associação dos Operários da C.U. Fabril. Fui mais a claque que era Artur S.,

J. S. Parra, M. Frade, Eduardo E. S. entre outros para a Leitaria do Ganhão,

entrámos às 22h, mais tarde entrou meu mano, Simiteiro [?], José Esteves

Beira e José dos Fósforos, bebemos Granito acompanhado com bolos.

Retiramos era 24 e tal. Faleceu a filha do Morais casada com o comerciante

Alves. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo e a noite

idem. Em Odemira houve transbordo de comboio.

7/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Estive de

folga na Funcheira, esteve um dia lindo e à noite pôs-se névoa. Continua o

transbordo de comboios na estação de Odemira. Estive a fazer com tinta

branca por cima da porta da barraca de revisão as seguintes palavras

revisão de material. Falei pela 1ª vez da Funcheira a Barreiro pelo telefone

com o Sr. Inspector do M. Circulante, o Silva. Estava a reparar o gasómetro

vindos do Barreiro o João da Silva Pereira e sendo oficial o Arsénio.

Regressaram a Barreiro no Cº 6.

8/4/920 Fez 1 ano estive de folga. Era 9,40 fui ao posto médico ao Herold

era o médico Júlio Velez Caroço, passou-me uma receita para o mal da pele.

Às 11,50 fui para Lisboa, regressei às 14,45. Houve protesto dos operários

contra o aumento do pão, inda foram dois espanhóis presos. 1920.

Trabalhei até ao Cº 6 na Funcheira. Esteve todo o dia nublado principiou a

chover às 14h fazendo bastantes relâmpagos e trovejando etc. Ás 18h 2ª

ordem para regressar no Cº 6 a Barreiro, pelo Inspector Silva. Em Garvão

andava a moda “boa pancada, podia dar para pior”. Trouxe para Barreiro

pagava até às 20. Foi o casamento do Lúcio sapateiro com a sobrinha do

Adão M. da Costa. Chegaram hoje de França dois rapazes do Lavradio o

Francisco Raposo e o mano do Jacinto. 1920 Estive de folga na Funcheira,

fez um dia variável. Principiou hoje o aumento das tarifas nos CFSS. Soube

que foi feriado no Barreiro das 15h em diante.

2/4/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Recebi 38$80

no pagador dos CFSS. Principiou-se a pagar os sócios do Grupo 11 a cota de

$50 cada mês. Houve uma subscrição para o Jordão que se encontra há dois

meses doente. Era 21,35 houve tiros no Largo dos Aliados e na praia,

ignora-se o que foi. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira, esteve todo o dia

nublado. Chegou o Cº 9 com 5 horas de atraso. Soube que no Barreiro-A

minha prima Chica, mulher do maquinista dos CFSS António Ferreira teve

uma menina. Foi feriado nas Oficinas de CFSS desde das 14h e veio o

pagador com o aumento dos meses de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril.

3/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Houve teatro no

Cine feito pela Companhia Isabel Costa de Setúbal e animatógrafo no Salão

Popular. 1920 Estive de folga na Funcheira, fez um dia lindo e a noite linda

de luar mas pelas 22 e tal pôs-se névoa. Fui acompanhar a Beja no Cº 2040 J.

2398 da CP, este com um boque quente chegando ao dito Depósito frio,

encontrava-se de serviço o revisor Manuel da Luz. Soube que no Barreiro

houve espectáculo na S. Instrução e terminou em baile.

4/4/920 Faz 1 ano estive de folga. Ás 9,30 fui para Lisboa ao Freire

gravador procurar pelos distintivos do Grupo dos 11, deixei 1 escudo de

sinal. Barreiro houve espectáculo no T. Cine desempenhado pela

Companhia Isabel Costa de Setúbal. Fui à alfaiataria do Júlio Macedo tirar

prova dum fato. Foi meu mano convidado a apresentar a S. Instrução na

Comissão para o Coreto de pedra e cal no Barreiro. 1920. Trabalhei 24 horas

na Funcheira, todo o dia nublado. Regressei de Beja no Cº 203 a Funcheira.

No Barreiro casou Ermínia Panelas.

5/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. No Seixal houve um grande

desastre, um pequeno [sic] com 19 operários este partiu pelo meio contra a

um dos pilares da ponte em construção morreram 8 dos ditos operários.

Casamentos, o João Lindim com a filha do Sanchas, José Filipe com a filha

80 81

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do Bateirinha, Júlio Tavares filho do Francisco Espanhol e a filha do Luiz

Buraca. Á noite rusga pela vila feita pelas autoridades. Novo horário de

comboios e vapores dos CFSS. Andava ao serviço o vapor Alentejo. Houve

espectáculo no T. Cine feito pela Cª Carlos Sousa de Lisboa. 1920 Estive de

folga na Funcheira, fez um dia variável. Havia um descarrilamento a 6 km da

estação de Odemira. No Barreiro casou o Joaquim Manuel Rei com

Ermelinda Alves.

6/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para a vila às 17 horas. Falei com

a M.G.M. Seguiram para Lisboa o Júlio T., filho do Francisco Espanhol. A S.

Instrução deu um concerto na sede da S. Democrática. Foi a inauguração da

Associação dos Operários da C.U. Fabril. Fui mais a claque que era Artur S.,

J. S. Parra, M. Frade, Eduardo E. S. entre outros para a Leitaria do Ganhão,

entrámos às 22h, mais tarde entrou meu mano, Simiteiro [?], José Esteves

Beira e José dos Fósforos, bebemos Granito acompanhado com bolos.

Retiramos era 24 e tal. Faleceu a filha do Morais casada com o comerciante

Alves. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira, fez um dia lindo e a noite

idem. Em Odemira houve transbordo de comboio.

7/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 Estive de

folga na Funcheira, esteve um dia lindo e à noite pôs-se névoa. Continua o

transbordo de comboios na estação de Odemira. Estive a fazer com tinta

branca por cima da porta da barraca de revisão as seguintes palavras

revisão de material. Falei pela 1ª vez da Funcheira a Barreiro pelo telefone

com o Sr. Inspector do M. Circulante, o Silva. Estava a reparar o gasómetro

vindos do Barreiro o João da Silva Pereira e sendo oficial o Arsénio.

Regressaram a Barreiro no Cº 6.

8/4/920 Fez 1 ano estive de folga. Era 9,40 fui ao posto médico ao Herold

era o médico Júlio Velez Caroço, passou-me uma receita para o mal da pele.

Às 11,50 fui para Lisboa, regressei às 14,45. Houve protesto dos operários

contra o aumento do pão, inda foram dois espanhóis presos. 1920.

Trabalhei até ao Cº 6 na Funcheira. Esteve todo o dia nublado principiou a

chover às 14h fazendo bastantes relâmpagos e trovejando etc. Ás 18h 2ª

ordem para regressar no Cº 6 a Barreiro, pelo Inspector Silva. Em Garvão

andava a moda “boa pancada, podia dar para pior”. Trouxe para Barreiro

pagava até às 20. Foi o casamento do Lúcio sapateiro com a sobrinha do

Adão M. da Costa. Chegaram hoje de França dois rapazes do Lavradio o

Francisco Raposo e o mano do Jacinto. 1920 Estive de folga na Funcheira,

fez um dia variável. Principiou hoje o aumento das tarifas nos CFSS. Soube

que foi feriado no Barreiro das 15h em diante.

2/4/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Recebi 38$80

no pagador dos CFSS. Principiou-se a pagar os sócios do Grupo 11 a cota de

$50 cada mês. Houve uma subscrição para o Jordão que se encontra há dois

meses doente. Era 21,35 houve tiros no Largo dos Aliados e na praia,

ignora-se o que foi. 1920 Trabalhei 24 horas na Funcheira, esteve todo o dia

nublado. Chegou o Cº 9 com 5 horas de atraso. Soube que no Barreiro-A

minha prima Chica, mulher do maquinista dos CFSS António Ferreira teve

uma menina. Foi feriado nas Oficinas de CFSS desde das 14h e veio o

pagador com o aumento dos meses de Janeiro, Fevereiro, Março e Abril.

3/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Houve teatro no

Cine feito pela Companhia Isabel Costa de Setúbal e animatógrafo no Salão

Popular. 1920 Estive de folga na Funcheira, fez um dia lindo e a noite linda

de luar mas pelas 22 e tal pôs-se névoa. Fui acompanhar a Beja no Cº 2040 J.

2398 da CP, este com um boque quente chegando ao dito Depósito frio,

encontrava-se de serviço o revisor Manuel da Luz. Soube que no Barreiro

houve espectáculo na S. Instrução e terminou em baile.

4/4/920 Faz 1 ano estive de folga. Ás 9,30 fui para Lisboa ao Freire

gravador procurar pelos distintivos do Grupo dos 11, deixei 1 escudo de

sinal. Barreiro houve espectáculo no T. Cine desempenhado pela

Companhia Isabel Costa de Setúbal. Fui à alfaiataria do Júlio Macedo tirar

prova dum fato. Foi meu mano convidado a apresentar a S. Instrução na

Comissão para o Coreto de pedra e cal no Barreiro. 1920. Trabalhei 24 horas

na Funcheira, todo o dia nublado. Regressei de Beja no Cº 203 a Funcheira.

No Barreiro casou Ermínia Panelas.

5/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. No Seixal houve um grande

desastre, um pequeno [sic] com 19 operários este partiu pelo meio contra a

um dos pilares da ponte em construção morreram 8 dos ditos operários.

Casamentos, o João Lindim com a filha do Sanchas, José Filipe com a filha

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12/4/920 Faz 1 ano que estive de folga, às 9,30 fui para Lisboa. Chegou o

Corpo de marinheiros de África que foram condenados em 8 de Dezembro

de 1917 pelo Governo Sidónio Pais. Regressei a Barreiro às 14,45. Falei com

a M.G.M. Estive de tarde a ajudar o serralheiro Brado Soeiro e o torneiro

Delícias Correia a reparar a varanda da S. Instrução. Ás 15,15 declarou-se

em greve o pessoal da C. União Fabril. Houve no T. Cine um benefício para a

construção civil, foram ao dito benefício as três Sociedades. 1920 Descanso

semanal continuou todo o dia grande temporal. Ás 13,5 o Manuel Santos

meu vizinho atirou um tiro a um gato no meu quintal. Terminou a greve no

Arsenal da marinha. Fizemos um jantar no meu armazém do quintal da 77

minha logem era a claque meu mano, Luiz Cristo, Artur S., Custódio F.

Comemos carneiro, etc. A despesa foi 4$88.

13/4/920 Fez 1 ano que estive descanso semanal, falei com a rapariga.

Levantei-me às 11.20 fui para a vila às 17,30. Choveu mas pouco. Houve na

S. Democrática um concerto e baile à noite. Chegou ao Barreiro uma força

da Marinha por motivo da greve da C. União Fabril. A autoridade não deixa

o dito pessoal reunir. 1920. Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão.

Continua grande temporal, não fui à vila. Principiei a coleccionar anedotas

do jornal “Século”. Terminou a greve da construção civil. Houve grandes

manifestações em Lisboa ao governo, havendo grandes conflitos, sendo

elevado o número de feridos.

14/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Chegou de Borba o José M.

Carvalho. Alguns operários da C. União Fabril apresentou-se ao serviço.

Perto do Largo Casal houve uma grande discussão entre o carpinteiro o

Galhos “O Cão” com o Neves. O primeiro puxou por um formão. Falei com a

M.G.M. Ás 21,4 falei com o Guilherme M.P. Costa e J. Alhinho com respeito

ao novo Decreto. 1920. Trabalhei todo o dia. Terminou os serões por ordem

do Governo. Pelas 14.30h deu-se um suicídio nas Oficinas Gerais dos CFSS,

de um servente com um tiro. Era filho do Cantante, deixou uma carta

escrita. Continuação do temporal mas não choveu. Casou a Natália

Vasconcelos com o Palermo, revisor de bilhetes dos CFSS. Veio ordem para

acabar com as horas suplementares a todos os funcionários do estado.

Falei com a M.G.M.

duas cartas uma do Saragoça para entregar ao condutor Macau, outra do

Passarinho para entregar ao revisor Augusto Duarte.

9/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com a

M.G.M. Foram ao Salão Popular ver a fita “As duas órfãs” as minhas manas

e o meu cunhado J. José, a filha Margarida e o meu mano também foi. O

meu cunhado J. José deu-me postal, selos, retratos, etc. da Junta

Monárquica do Porto. 1920 Descanso semanal. Cheguei a Barreiro no

comboio 6 C. nº 67. Foi ter com o Sr. Inspector Silva o encarregado Manuel

P. Manilha, disse ao Inspector que eu tinha 4 dias descanso semanais. O Sr.

Inspector autorizou, foi 9-10-11-12. Houve grandes manifestações pelas

ruas da vila, rapaziada vinda de França por motivo de fazer 2 anos a batalha

de Liz. Fez um dia muito esquisito, ao fim da tarde choveu. Falei com a

M.G.M.

10/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com

a M.G.M. levou o luto dos avós. Fez uma noite linda de luar. O meu mano

associou-se no Salão Popular a cadeira nº 101 para todas as noites que haja

espectáculos. Á noite veio a fita o “Perigo Amarelo”. 1920 Descanso

semanal. Fez um dia regular fazendo muito vento nordeste. Declarou-se

em greve o Arsenal da Marinha. Estive a jogar ao dominó com o A. Luiz

Marques no talho do dito. Falei com a M-G.M. O calão da moda é “Ou é da

minha vista ou tu estás a pedir Batista” e a outra é “Á pois é”. Fui novamente

ao Júlio Macedo provar o fato, estava também o Joaquim Aurélio a esposa

do fato de ganga para estriar amanhã Domingo que é a moda mas não

pegou. Foi no comboio 9 em serviço a Beja o meu cunhado J. José.

11/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Dei parte do

capataz de manobras o Sr. Augusto por causa do furgon nº20. Falei com a

M.G.M. e a mãe e prima no Barreiro T. Faleceu o condutor reformado dos

CFSS o Miranda. Á noite andou o meu mano, Simiteiro, José Esteves Beira a

contar os namoros, só apenas 40. 1920 Descanso semanal. Fui para a vila às

16,00. F. José Cordeiro estreou um fato preto, etc. o Artur S. uma boina de

quadradinhos e J.E. Beira e Joaquim Aurélio fatos de ganga. Principiou a

chover era 17 horas sendo toda a noite e vento Sudoeste, grande temporal.

Fui ao T. Cine mais o A. Luiz Marques ver a fita do Hugo, para as cadeiras nº

136-138, pagou ele.

82 83

77 Mercearia

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12/4/920 Faz 1 ano que estive de folga, às 9,30 fui para Lisboa. Chegou o

Corpo de marinheiros de África que foram condenados em 8 de Dezembro

de 1917 pelo Governo Sidónio Pais. Regressei a Barreiro às 14,45. Falei com

a M.G.M. Estive de tarde a ajudar o serralheiro Brado Soeiro e o torneiro

Delícias Correia a reparar a varanda da S. Instrução. Ás 15,15 declarou-se

em greve o pessoal da C. União Fabril. Houve no T. Cine um benefício para a

construção civil, foram ao dito benefício as três Sociedades. 1920 Descanso

semanal continuou todo o dia grande temporal. Ás 13,5 o Manuel Santos

meu vizinho atirou um tiro a um gato no meu quintal. Terminou a greve no

Arsenal da marinha. Fizemos um jantar no meu armazém do quintal da 77

minha logem era a claque meu mano, Luiz Cristo, Artur S., Custódio F.

Comemos carneiro, etc. A despesa foi 4$88.

13/4/920 Fez 1 ano que estive descanso semanal, falei com a rapariga.

Levantei-me às 11.20 fui para a vila às 17,30. Choveu mas pouco. Houve na

S. Democrática um concerto e baile à noite. Chegou ao Barreiro uma força

da Marinha por motivo da greve da C. União Fabril. A autoridade não deixa

o dito pessoal reunir. 1920. Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão.

Continua grande temporal, não fui à vila. Principiei a coleccionar anedotas

do jornal “Século”. Terminou a greve da construção civil. Houve grandes

manifestações em Lisboa ao governo, havendo grandes conflitos, sendo

elevado o número de feridos.

14/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Chegou de Borba o José M.

Carvalho. Alguns operários da C. União Fabril apresentou-se ao serviço.

Perto do Largo Casal houve uma grande discussão entre o carpinteiro o

Galhos “O Cão” com o Neves. O primeiro puxou por um formão. Falei com a

M.G.M. Ás 21,4 falei com o Guilherme M.P. Costa e J. Alhinho com respeito

ao novo Decreto. 1920. Trabalhei todo o dia. Terminou os serões por ordem

do Governo. Pelas 14.30h deu-se um suicídio nas Oficinas Gerais dos CFSS,

de um servente com um tiro. Era filho do Cantante, deixou uma carta

escrita. Continuação do temporal mas não choveu. Casou a Natália

Vasconcelos com o Palermo, revisor de bilhetes dos CFSS. Veio ordem para

acabar com as horas suplementares a todos os funcionários do estado.

Falei com a M.G.M.

duas cartas uma do Saragoça para entregar ao condutor Macau, outra do

Passarinho para entregar ao revisor Augusto Duarte.

9/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com a

M.G.M. Foram ao Salão Popular ver a fita “As duas órfãs” as minhas manas

e o meu cunhado J. José, a filha Margarida e o meu mano também foi. O

meu cunhado J. José deu-me postal, selos, retratos, etc. da Junta

Monárquica do Porto. 1920 Descanso semanal. Cheguei a Barreiro no

comboio 6 C. nº 67. Foi ter com o Sr. Inspector Silva o encarregado Manuel

P. Manilha, disse ao Inspector que eu tinha 4 dias descanso semanais. O Sr.

Inspector autorizou, foi 9-10-11-12. Houve grandes manifestações pelas

ruas da vila, rapaziada vinda de França por motivo de fazer 2 anos a batalha

de Liz. Fez um dia muito esquisito, ao fim da tarde choveu. Falei com a

M.G.M.

10/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Falei com

a M.G.M. levou o luto dos avós. Fez uma noite linda de luar. O meu mano

associou-se no Salão Popular a cadeira nº 101 para todas as noites que haja

espectáculos. Á noite veio a fita o “Perigo Amarelo”. 1920 Descanso

semanal. Fez um dia regular fazendo muito vento nordeste. Declarou-se

em greve o Arsenal da Marinha. Estive a jogar ao dominó com o A. Luiz

Marques no talho do dito. Falei com a M-G.M. O calão da moda é “Ou é da

minha vista ou tu estás a pedir Batista” e a outra é “Á pois é”. Fui novamente

ao Júlio Macedo provar o fato, estava também o Joaquim Aurélio a esposa

do fato de ganga para estriar amanhã Domingo que é a moda mas não

pegou. Foi no comboio 9 em serviço a Beja o meu cunhado J. José.

11/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Dei parte do

capataz de manobras o Sr. Augusto por causa do furgon nº20. Falei com a

M.G.M. e a mãe e prima no Barreiro T. Faleceu o condutor reformado dos

CFSS o Miranda. Á noite andou o meu mano, Simiteiro, José Esteves Beira a

contar os namoros, só apenas 40. 1920 Descanso semanal. Fui para a vila às

16,00. F. José Cordeiro estreou um fato preto, etc. o Artur S. uma boina de

quadradinhos e J.E. Beira e Joaquim Aurélio fatos de ganga. Principiou a

chover era 17 horas sendo toda a noite e vento Sudoeste, grande temporal.

Fui ao T. Cine mais o A. Luiz Marques ver a fita do Hugo, para as cadeiras nº

136-138, pagou ele.

82 83

77 Mercearia

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18/4/920 (Paixão). Fez 1 ano que trabalhei até às 15,30, tocou a buzina foi

feriado, já tinha seguido uma Comissão das Oficinas G. dos CFSS a Lisboa

para tratar do dito feriado. Fui mais o revisor João S. R. Marques passear ao

campo. Estivemos na Telha, trouxemos louro e resmanino que ao chegar à

vila oferecemos à Tia Elária. 1920 Trabalhei das 17h às 2 da madrugada no

Barreiro T. Levantei-me às 13h. Fez um dia regular. Foi o casamento do filho

do Mora, agulheiro nos CFSS. A M.G.M. foi de passeio à Moita na charret do

Ganhão. Veio no Jornal “O Século” uma carta da minha mana Ermínia

contra ao jogo. Não fui à vila.

19/4/920 (Aleluia) Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Seguiu uma

leva com vadios do Barreiro, entre eles soube que foi os dois filhos do

Manuel Soeiro já falecido, Real de Água da Moita. 1920 Trabalhei no

Barreiro T das 17h às 2h da madrugada. O dia variável, fazendo muita

calma. Fui às 11.30h para Lisboa. Os revisores Manuel Nunes foram até ao

hospital e o Augusto Lencastre a compras. Fui até à direcção dos CFSS para

receber o meu ordenado do mês p.p. resposta foi para ir próximo dia 23.

Regressei a Barreiro às 14.45h. Foi no Arsenal lançado ao Tejo o novo

destroier “Vouga”, pelas 15h e tal. Não houve pão no Barreiro. Não fui à

vila.

20/4/920 (Páscoa) Faz 1 ano que estive de folga. Casou o pai do Agrípio

Jesus Cardoso e a Guilhermina mana do “Passinha Mole”. Eu estreei neste

dia botas encarnadas, chapéu e fato, etc. Fez todo o dia muito calor. De

tarde andámos a passear pela vila, a claque, que era Custódio F., Eduardo E.

Santo, J. de Oliveira. Á noite fui mais o João Firmino à leitaria do Lá-vai,

despesa pagou ele, $42. O meu mano saiu do Teatro foi ao baile da

Sociedade de Instrução. Eu não fui ao dito baile. 1920 Trabalhei no Barreiro

T das 17h às 2h da madrugada. Fui em passeio a Vendas Novas às 9h e tal no

comboio 3 na C. 87. Regressei no comboio 2 na C. 72. Esteve o dia variável e

à noite grande ventania. Não fui à vila. Não havia pão no Barreiro.

21/4/920 Faz um ano trabalhei todo o dia. Fez ontem 8 anos a Lei da

Separação das Igrejas do Estado. O revisor Manuel Nunes foi para o Posto

de Vendas Novas render o revisor Mário de Almeida que seguiu para as

Oficinas Gerais. Vieram das Oficinas Gerais para a revisão António S.

Guarrento, António Cunha, Adriano Alves. Principiou a por ovos a galinha

15/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Deu-se ontem

um choque em Alcáçovas, o comboio 9 com a cauda do cº 1000, houve

apenas avarias de material. Ao tomar o serviço estavam descarriladas

O345-359 e D114, foi pelas 23,15 da noite passada. Estas foram carriladas

por mim e revisor André F. e João Ferreira, era 9,30 estava tudo pronto. De

tarde nas Cocheiras o aprendiz largou um freio de um O, o material

começou a andar estava a trabalhar no furgon D 41 o Justino. Este ficou

ferido num pé. Assinei a proposta da Inhabilidade. 1920 Trabalhei todo o

dia. Andei eu e J. José Pedro de tarde a mudar a mobília do Salão

Restaurante para a outra saída das Oficinas. Deram 50 centavos para os

dois. O tempo variável. Falei com a M.G.M. Houve concurso para capatazes

de manobras dos CFSS. Foi o primeiro dia as ditas manobras, foi no Barreiro

T. Veio ordem não poder trabalhar mais das 8 horas. Não ficou agente

algum da revisão em parte alguma a prestar serviço.

16/4/920 Faz 1 ano que estive de folga, fui até ao Herold ter com o

médico Júlio Velez Caroço. Eram 9.20h fui para Lisboa procurar pelos

distintivos do Grupo dos 11 etc. Regressei às 14.45h. Faleceu a mulher do

Augusto da Maria Alveira maquinista dos CFSS e a mulher do cauteleiro. Ás

20.10h o Francisco Soeiro foi até ao telhado da Sociedade de Instrução

buscar a bandeira da dita. Chegou do Porto o B.S. Caminhos F. 1920

Trabalhei todo o dia no Barreiro T. Foi posto em vigor novo horário dos

vapores e comboios do CFSS. Choveu bastante e forte vento Oeste. Morreu

uma galinha da Índia que era da minha mana Ermínia. Ás 19.40 fui à Leitaria

do Lá-vai mais a claque que era o Filipe J. Cordeiro, Eduardo E. S. António

Luiz Marques, comemos 20 bolos 12$20 e 14 cafés $70. Andou pelo pessoal

das Oficinas uma subscrição para a compra de uma coroa para o Cantante.

17/4/929 (Endoenças) Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila. Ás

13,5 assinei nas Cocheiras um documento do Sr. Afonso Costa para se

festejar o aniversário da separação da Igreja do Estado. Foi o funeral da

mulher do Augusto M. Alveiro maquinista dos CFSS foi ao dito a S.

Instrução. 1920 Trabalhei das 8 às 11,10 por motivo da lei das 8 horas de

trabalho. Eu entrei de serviço no Barreiro T. às 17h e saí às 2h da

madrugada. O tempo regular pouco choveu, não fui à vila, nesta altura

estava na escala do Barreiro T. eu mais o Filipe J. Cordeiro.

84 85

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18/4/920 (Paixão). Fez 1 ano que trabalhei até às 15,30, tocou a buzina foi

feriado, já tinha seguido uma Comissão das Oficinas G. dos CFSS a Lisboa

para tratar do dito feriado. Fui mais o revisor João S. R. Marques passear ao

campo. Estivemos na Telha, trouxemos louro e resmanino que ao chegar à

vila oferecemos à Tia Elária. 1920 Trabalhei das 17h às 2 da madrugada no

Barreiro T. Levantei-me às 13h. Fez um dia regular. Foi o casamento do filho

do Mora, agulheiro nos CFSS. A M.G.M. foi de passeio à Moita na charret do

Ganhão. Veio no Jornal “O Século” uma carta da minha mana Ermínia

contra ao jogo. Não fui à vila.

19/4/920 (Aleluia) Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Seguiu uma

leva com vadios do Barreiro, entre eles soube que foi os dois filhos do

Manuel Soeiro já falecido, Real de Água da Moita. 1920 Trabalhei no

Barreiro T das 17h às 2h da madrugada. O dia variável, fazendo muita

calma. Fui às 11.30h para Lisboa. Os revisores Manuel Nunes foram até ao

hospital e o Augusto Lencastre a compras. Fui até à direcção dos CFSS para

receber o meu ordenado do mês p.p. resposta foi para ir próximo dia 23.

Regressei a Barreiro às 14.45h. Foi no Arsenal lançado ao Tejo o novo

destroier “Vouga”, pelas 15h e tal. Não houve pão no Barreiro. Não fui à

vila.

20/4/920 (Páscoa) Faz 1 ano que estive de folga. Casou o pai do Agrípio

Jesus Cardoso e a Guilhermina mana do “Passinha Mole”. Eu estreei neste

dia botas encarnadas, chapéu e fato, etc. Fez todo o dia muito calor. De

tarde andámos a passear pela vila, a claque, que era Custódio F., Eduardo E.

Santo, J. de Oliveira. Á noite fui mais o João Firmino à leitaria do Lá-vai,

despesa pagou ele, $42. O meu mano saiu do Teatro foi ao baile da

Sociedade de Instrução. Eu não fui ao dito baile. 1920 Trabalhei no Barreiro

T das 17h às 2h da madrugada. Fui em passeio a Vendas Novas às 9h e tal no

comboio 3 na C. 87. Regressei no comboio 2 na C. 72. Esteve o dia variável e

à noite grande ventania. Não fui à vila. Não havia pão no Barreiro.

21/4/920 Faz um ano trabalhei todo o dia. Fez ontem 8 anos a Lei da

Separação das Igrejas do Estado. O revisor Manuel Nunes foi para o Posto

de Vendas Novas render o revisor Mário de Almeida que seguiu para as

Oficinas Gerais. Vieram das Oficinas Gerais para a revisão António S.

Guarrento, António Cunha, Adriano Alves. Principiou a por ovos a galinha

15/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Deu-se ontem

um choque em Alcáçovas, o comboio 9 com a cauda do cº 1000, houve

apenas avarias de material. Ao tomar o serviço estavam descarriladas

O345-359 e D114, foi pelas 23,15 da noite passada. Estas foram carriladas

por mim e revisor André F. e João Ferreira, era 9,30 estava tudo pronto. De

tarde nas Cocheiras o aprendiz largou um freio de um O, o material

começou a andar estava a trabalhar no furgon D 41 o Justino. Este ficou

ferido num pé. Assinei a proposta da Inhabilidade. 1920 Trabalhei todo o

dia. Andei eu e J. José Pedro de tarde a mudar a mobília do Salão

Restaurante para a outra saída das Oficinas. Deram 50 centavos para os

dois. O tempo variável. Falei com a M.G.M. Houve concurso para capatazes

de manobras dos CFSS. Foi o primeiro dia as ditas manobras, foi no Barreiro

T. Veio ordem não poder trabalhar mais das 8 horas. Não ficou agente

algum da revisão em parte alguma a prestar serviço.

16/4/920 Faz 1 ano que estive de folga, fui até ao Herold ter com o

médico Júlio Velez Caroço. Eram 9.20h fui para Lisboa procurar pelos

distintivos do Grupo dos 11 etc. Regressei às 14.45h. Faleceu a mulher do

Augusto da Maria Alveira maquinista dos CFSS e a mulher do cauteleiro. Ás

20.10h o Francisco Soeiro foi até ao telhado da Sociedade de Instrução

buscar a bandeira da dita. Chegou do Porto o B.S. Caminhos F. 1920

Trabalhei todo o dia no Barreiro T. Foi posto em vigor novo horário dos

vapores e comboios do CFSS. Choveu bastante e forte vento Oeste. Morreu

uma galinha da Índia que era da minha mana Ermínia. Ás 19.40 fui à Leitaria

do Lá-vai mais a claque que era o Filipe J. Cordeiro, Eduardo E. S. António

Luiz Marques, comemos 20 bolos 12$20 e 14 cafés $70. Andou pelo pessoal

das Oficinas uma subscrição para a compra de uma coroa para o Cantante.

17/4/929 (Endoenças) Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila. Ás

13,5 assinei nas Cocheiras um documento do Sr. Afonso Costa para se

festejar o aniversário da separação da Igreja do Estado. Foi o funeral da

mulher do Augusto M. Alveiro maquinista dos CFSS foi ao dito a S.

Instrução. 1920 Trabalhei das 8 às 11,10 por motivo da lei das 8 horas de

trabalho. Eu entrei de serviço no Barreiro T. às 17h e saí às 2h da

madrugada. O tempo regular pouco choveu, não fui à vila, nesta altura

estava na escala do Barreiro T. eu mais o Filipe J. Cordeiro.

84 85

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“Teixeta” era do Seixal. O meu mano foi ver a fita “ O Selo Mestrisso”. 1920

Trabalhei no Barreiro T. das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia lindo fazendo

algum calor e à noite idem mas luar e peras. Fui ao escritório do Material

Circulante e falei com o Sr. Silva Inspector para me passar um documento

para eu poder receber na Direcção o ordenado, resposta do dito basta o

bilhete de identidade. A S. Democrática foi tocar ao benefício do Grémio

Lafonense de Lisboa.

25/4/920 Faz 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. A minha mana

casada com J. José começou a inchar a cara dizia a família que era princípio

de ezerpela. 1920 Estive de folga, levantei-me às 12,15. Fez um dia lindo e

calor à noite idem. Ás 12,15 tocou a buzina dos CFSS foi princípio de

incêndio na Casa de Pasto do Manuel Brenha, soube-se mais tarde que foi

na chaminé. Fui ser freguês do barbeiro Ventura S. A. Casou Alice Ramos

com o Cabrita fundidor dos CFSS.

Fui passear ao campo mais a claque: meu mano, Luiz Cristo, Custódio F.,

João Neto. Ao regressar à vila fomos à Leitaria do Lá-vai. O João Neto foi

para casa e os restantes ficámos uma roda de 10 bolos 60 centavos e 4 cafés

20 centavos, paguei eu. Fez 20 anos o Artur Sobral. Pela primeira vez que

bailei foi na Sociedade de Instrução com a menina Henriqueta Maria dos 78Santos tocou o cavalinho .

26/4/920 Fez 1 ano que estive de folga, ao fim do dia fez trovoada, falei

com a M.G.M. Fui a Lisboa às 9,30 procurar pelos distintivos do Grupo dos

11, regressei a Barreiro às 11,30. Andei a passear pela vila com a claque

Manuel Ralinho, Artur S., José de Oliveira. Chegou ao Barreiro uma força de

Marinha por motivo da greve dos corticeiros. Correu o boato que o

Quintino e outros tinham feito um embarque de cortiça, que tinha visto

eles carregar os fardos às costas, etc. Chegou mais 60 praças de Infantaria

11. Um camion das ditas forças recolheu nas cocheiras do José Mendes

aonde mora por cima a M.G.M e chegaram 50 praças de Cavalaria 10 mas

seguiram para Lisboa. 1920. Trabalhei das 8 às 2 da madrugada no Barreiro

T. Todo o dia e a noite calor.

da Índia que se encontra em minha casa. 1920 Estive de folga. O pessoal do

Barreiro T. tem outro horário, entra às 8h e sai às 2h da madrugada. Fez um

dia lindo, vento nordeste pouco. Não fui à vila. Levantei-me hoje eram

13.35h. Continua a não haver pão.

22/4/920 Fez um ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Segui para Borba o

José M. Carvalho. Ontem houve fogo num fabrico do Ramalho. Eram 2,15h

da madrugada tocou a buzina da Companhia União Fabril. 1920 Trabalhei

das 8h às 2 da madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo e calor e a noite

esteve um pouco fresca. Assinei na revisão um documento para vir

novamente os serões.

23/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a uma inspecção média no

posto dos CFSS para entrara para a Caixa, foi o médico Nogueira, fiquei

aprovado era 11 horas, na mesma hora também ficou aprovado José

Soeiro. Ás 10,40 perdeu na praia junto à muralha perto do talho um anel de

ouro o António Luiz Marques, que lhe tinha custado 6$50, dava $50 a quem

o encontrasse. Seguiram do Governo Civil para a Torre de S. Julião os dois

filhos do Manuel Inácio já falecido e Real de Água mais sete que pertenciam

a uma quadrilha que assaltavam os comboios na Compª Portuguesa que

devem partir no próximo dia 1 para África. 1920

Estive de folga, fez um dia lindo e bastante calor. Foi para Lisboa às 11,30

para a Direcção para receber o meu ordenado do mês p.p. não me pagaram

por motivo de eu não ter um documento passado pelo chefe de serviço

para eu poder levantar o ordenado e certificar como era empregado dos

CFSS. Regressei a Barreiro às 14.45h vindo na automotora até à Miguel Pais.

Foi a noite na Sociedade de Instrução que se mediu para se fazer um balcão

para o bufete, ficando resolvido fazer o dito Luiz Cristo e António Cristo e

José Cordeiro. Foi a primeira vez em que montei uma bicicleta para

aprender, no Largo dos Aliados, Srª do Rosário, sendo a claque Luiz Cristo,

Jorge C. Pessoa, Eduardo E. S., Artur S., Custódio F. e outros. Ás 21h ficou

debaixo do comboio 9 o Spéfano [sic] da Moita, sendo presos os camaradas

que o acompanhavam à Moita, que seguiam pela linha férrea embriagados.

Falei com a M.G.M.

24/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, choveu e fez alguns trovões.

Falei com a M.G.M. Faleceu o aprendiz da revisão dos CFSS com o apelido

86 87

78 Designação dada à formação musical composta apenas por alguns elementos de uma filarmónica

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“Teixeta” era do Seixal. O meu mano foi ver a fita “ O Selo Mestrisso”. 1920

Trabalhei no Barreiro T. das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia lindo fazendo

algum calor e à noite idem mas luar e peras. Fui ao escritório do Material

Circulante e falei com o Sr. Silva Inspector para me passar um documento

para eu poder receber na Direcção o ordenado, resposta do dito basta o

bilhete de identidade. A S. Democrática foi tocar ao benefício do Grémio

Lafonense de Lisboa.

25/4/920 Faz 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. A minha mana

casada com J. José começou a inchar a cara dizia a família que era princípio

de ezerpela. 1920 Estive de folga, levantei-me às 12,15. Fez um dia lindo e

calor à noite idem. Ás 12,15 tocou a buzina dos CFSS foi princípio de

incêndio na Casa de Pasto do Manuel Brenha, soube-se mais tarde que foi

na chaminé. Fui ser freguês do barbeiro Ventura S. A. Casou Alice Ramos

com o Cabrita fundidor dos CFSS.

Fui passear ao campo mais a claque: meu mano, Luiz Cristo, Custódio F.,

João Neto. Ao regressar à vila fomos à Leitaria do Lá-vai. O João Neto foi

para casa e os restantes ficámos uma roda de 10 bolos 60 centavos e 4 cafés

20 centavos, paguei eu. Fez 20 anos o Artur Sobral. Pela primeira vez que

bailei foi na Sociedade de Instrução com a menina Henriqueta Maria dos 78Santos tocou o cavalinho .

26/4/920 Fez 1 ano que estive de folga, ao fim do dia fez trovoada, falei

com a M.G.M. Fui a Lisboa às 9,30 procurar pelos distintivos do Grupo dos

11, regressei a Barreiro às 11,30. Andei a passear pela vila com a claque

Manuel Ralinho, Artur S., José de Oliveira. Chegou ao Barreiro uma força de

Marinha por motivo da greve dos corticeiros. Correu o boato que o

Quintino e outros tinham feito um embarque de cortiça, que tinha visto

eles carregar os fardos às costas, etc. Chegou mais 60 praças de Infantaria

11. Um camion das ditas forças recolheu nas cocheiras do José Mendes

aonde mora por cima a M.G.M e chegaram 50 praças de Cavalaria 10 mas

seguiram para Lisboa. 1920. Trabalhei das 8 às 2 da madrugada no Barreiro

T. Todo o dia e a noite calor.

da Índia que se encontra em minha casa. 1920 Estive de folga. O pessoal do

Barreiro T. tem outro horário, entra às 8h e sai às 2h da madrugada. Fez um

dia lindo, vento nordeste pouco. Não fui à vila. Levantei-me hoje eram

13.35h. Continua a não haver pão.

22/4/920 Fez um ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Segui para Borba o

José M. Carvalho. Ontem houve fogo num fabrico do Ramalho. Eram 2,15h

da madrugada tocou a buzina da Companhia União Fabril. 1920 Trabalhei

das 8h às 2 da madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo e calor e a noite

esteve um pouco fresca. Assinei na revisão um documento para vir

novamente os serões.

23/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a uma inspecção média no

posto dos CFSS para entrara para a Caixa, foi o médico Nogueira, fiquei

aprovado era 11 horas, na mesma hora também ficou aprovado José

Soeiro. Ás 10,40 perdeu na praia junto à muralha perto do talho um anel de

ouro o António Luiz Marques, que lhe tinha custado 6$50, dava $50 a quem

o encontrasse. Seguiram do Governo Civil para a Torre de S. Julião os dois

filhos do Manuel Inácio já falecido e Real de Água mais sete que pertenciam

a uma quadrilha que assaltavam os comboios na Compª Portuguesa que

devem partir no próximo dia 1 para África. 1920

Estive de folga, fez um dia lindo e bastante calor. Foi para Lisboa às 11,30

para a Direcção para receber o meu ordenado do mês p.p. não me pagaram

por motivo de eu não ter um documento passado pelo chefe de serviço

para eu poder levantar o ordenado e certificar como era empregado dos

CFSS. Regressei a Barreiro às 14.45h vindo na automotora até à Miguel Pais.

Foi a noite na Sociedade de Instrução que se mediu para se fazer um balcão

para o bufete, ficando resolvido fazer o dito Luiz Cristo e António Cristo e

José Cordeiro. Foi a primeira vez em que montei uma bicicleta para

aprender, no Largo dos Aliados, Srª do Rosário, sendo a claque Luiz Cristo,

Jorge C. Pessoa, Eduardo E. S., Artur S., Custódio F. e outros. Ás 21h ficou

debaixo do comboio 9 o Spéfano [sic] da Moita, sendo presos os camaradas

que o acompanhavam à Moita, que seguiam pela linha férrea embriagados.

Falei com a M.G.M.

24/4/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, choveu e fez alguns trovões.

Falei com a M.G.M. Faleceu o aprendiz da revisão dos CFSS com o apelido

86 87

78 Designação dada à formação musical composta apenas por alguns elementos de uma filarmónica

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-18

República, um baloiço, mais a claque que era António Cristo, Custódio F.

António J. Caixote, José Neto, Manuel Frade, e outros. Casou a Júlia com o

carregador dos CFSS nome Amorim.

30/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Falei com a M.G.M. esta deu-me

uma prenda, foi uma escova de prata por minha pessoa fazer anos. Fui para

Lisboa às 9.30h Também foram os revisores João S.R.M. e André F. Estes

foram à Direcção dos CFSS. Regressei às 14h45 a Barreiro. Partiram para as

Ilhas alguns revoltosos dos últimos acontecimentos. Chegou a Cascais um 79

navio inglês com praças de Engenharia vindo de França do CEP . Espera-se

que venha a maioria da rapaziada do Barreiro, foi muitas famílias para

Lisboa. O António D. Marques seguiu no cº 9 para a feira de Montemor

Novo. Ás 24 horas declarou-se em greve os eléctricos de Lisboa. 1920

Trabalhei no Barreiro T. das 8h às 2h da madrugada. Fez um dia variável.

Mandou as minhas manas as cadernetas do concurso do “Século”. A

M.G.M. ofereceu-me como prenda uma caneta de prata, etc.

27/4/920 Fez um ano que estive de descanso semanal. Falei com a

M.G.M. Veio ao Barreiro o Bernardino A.X., Manuel Frade, Luiz Cazeirão

A.J. Morais. Á noite estive no Jardim L. Camões com o A.J. Morais e o

Geraldo de conversa de coisas antigas, etc. 1920 Estive de folga. Fez um dia

esplêndido e bastante calor a noite idem. Ás 24h10 nublou-se. Fez 30 anos

o servente do M. Circulante J. José 2º. Fui à Leitaria Lá-vai mais o A. Luiz

Marques, dois copos de leite e 5 bolos foi 30 centavos. Estava à noite no

quintal da Sociedade de Instrução a aprender a bailar o José de Oliveira

com o M. Garcias. Falei com a M.G.M. Veio um diploma e estatutos da

Cooperativa Popular de Construção Predial para o meu mano, sócio nº

7112.

28/4/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez uma grande nortada

todo o dia e toda a noite. Fui para o campo comer mais o meu mano, J. Jesus

Catalão, Custódio F., Miguel d'Almeida, Simiteiro, José E. Beira. Emprestou

um pão a Sra. Prazeres, mãe do J. Jesus Catalão. Foi pão, vinho, peixe de

conserva e frito, azeitonas, etc. Na quinta dos Arcos estava muito

desanimada as festas por motivo do tempo, não houve cavalinho nem

toques e cantes como os anos anteriores. Ao regressar à vila demos uma

volta a cantar etc. Fomos a casa do José E. Beira. O meu cunhado J. José

comprou-me a bolsa de prata e o relógio de aço marca Longines. Paguei a

bolsa 5 escudos e o relógio 13$50. 1920 Trabalhei das 8h às 2h da

madrugada. Esteve todo o dia variável e a noite nublada.

29/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Houve reunião

dos ferroviários. Ontem houve em Lisboa uns pequenos conflitos, etc. A

Compª. União Fabril deu 8 horas de trabalho ao seu pessoal, principiou

hoje. Mais soube-se que os conflitos era de monárquicos fez-se 700 prisões

entre soube-se que foi o Tamagnini Barbosa e Azevedo Cruz. 1920. Estive

de folga. Falei com a M.G.M. Esteve até às 13h e tal um tempo nublado

depois fez um dia e peras. Por motivo de fazer anos no próximo dia 4 a

M.G.M. comprei um anel por 6 escudos. O capataz Pinto dos CFSS ao

desmanchar o comboio 112 ficou com uma das mãos (esquerda) em estado

grave por motivo do O96 não ter chaveta no engate de tracção este tinha

chapa de reparação. Estive à noite no quintal da Sociedade de Instrução a

ouvir e bailando ao som da banda estar no ensaio. Mais tarde fizemos com

uma tábua em cima de um cavalete que era da construção do futuro Teatro

88 89

79 Corpo Expedicionário Português

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-18

República, um baloiço, mais a claque que era António Cristo, Custódio F.

António J. Caixote, José Neto, Manuel Frade, e outros. Casou a Júlia com o

carregador dos CFSS nome Amorim.

30/4/920 Fez 1 ano que estive de folga. Falei com a M.G.M. esta deu-me

uma prenda, foi uma escova de prata por minha pessoa fazer anos. Fui para

Lisboa às 9.30h Também foram os revisores João S.R.M. e André F. Estes

foram à Direcção dos CFSS. Regressei às 14h45 a Barreiro. Partiram para as

Ilhas alguns revoltosos dos últimos acontecimentos. Chegou a Cascais um 79

navio inglês com praças de Engenharia vindo de França do CEP . Espera-se

que venha a maioria da rapaziada do Barreiro, foi muitas famílias para

Lisboa. O António D. Marques seguiu no cº 9 para a feira de Montemor

Novo. Ás 24 horas declarou-se em greve os eléctricos de Lisboa. 1920

Trabalhei no Barreiro T. das 8h às 2h da madrugada. Fez um dia variável.

Mandou as minhas manas as cadernetas do concurso do “Século”. A

M.G.M. ofereceu-me como prenda uma caneta de prata, etc.

27/4/920 Fez um ano que estive de descanso semanal. Falei com a

M.G.M. Veio ao Barreiro o Bernardino A.X., Manuel Frade, Luiz Cazeirão

A.J. Morais. Á noite estive no Jardim L. Camões com o A.J. Morais e o

Geraldo de conversa de coisas antigas, etc. 1920 Estive de folga. Fez um dia

esplêndido e bastante calor a noite idem. Ás 24h10 nublou-se. Fez 30 anos

o servente do M. Circulante J. José 2º. Fui à Leitaria Lá-vai mais o A. Luiz

Marques, dois copos de leite e 5 bolos foi 30 centavos. Estava à noite no

quintal da Sociedade de Instrução a aprender a bailar o José de Oliveira

com o M. Garcias. Falei com a M.G.M. Veio um diploma e estatutos da

Cooperativa Popular de Construção Predial para o meu mano, sócio nº

7112.

28/4/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez uma grande nortada

todo o dia e toda a noite. Fui para o campo comer mais o meu mano, J. Jesus

Catalão, Custódio F., Miguel d'Almeida, Simiteiro, José E. Beira. Emprestou

um pão a Sra. Prazeres, mãe do J. Jesus Catalão. Foi pão, vinho, peixe de

conserva e frito, azeitonas, etc. Na quinta dos Arcos estava muito

desanimada as festas por motivo do tempo, não houve cavalinho nem

toques e cantes como os anos anteriores. Ao regressar à vila demos uma

volta a cantar etc. Fomos a casa do José E. Beira. O meu cunhado J. José

comprou-me a bolsa de prata e o relógio de aço marca Longines. Paguei a

bolsa 5 escudos e o relógio 13$50. 1920 Trabalhei das 8h às 2h da

madrugada. Esteve todo o dia variável e a noite nublada.

29/4/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Houve reunião

dos ferroviários. Ontem houve em Lisboa uns pequenos conflitos, etc. A

Compª. União Fabril deu 8 horas de trabalho ao seu pessoal, principiou

hoje. Mais soube-se que os conflitos era de monárquicos fez-se 700 prisões

entre soube-se que foi o Tamagnini Barbosa e Azevedo Cruz. 1920. Estive

de folga. Falei com a M.G.M. Esteve até às 13h e tal um tempo nublado

depois fez um dia e peras. Por motivo de fazer anos no próximo dia 4 a

M.G.M. comprei um anel por 6 escudos. O capataz Pinto dos CFSS ao

desmanchar o comboio 112 ficou com uma das mãos (esquerda) em estado

grave por motivo do O96 não ter chaveta no engate de tracção este tinha

chapa de reparação. Estive à noite no quintal da Sociedade de Instrução a

ouvir e bailando ao som da banda estar no ensaio. Mais tarde fizemos com

uma tábua em cima de um cavalete que era da construção do futuro Teatro

88 89

79 Corpo Expedicionário Português

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havendo baile à noite. Continua a Sociedade de Instrução nas festas da

estação dos CFSS de Tunes. Continua a não haver pão no Barreiro.

3/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui ao pagador recebi 98$98. Foi

feriado nacional por motivo fazer 419 anos que Pedro Alvares Cabral

descobriu o Brasil. Pelas 17,30 foi visto grande incêndio em Lisboa soube-se

mais tarde que foi lançado fogo ao Limoeiro tendo fugido muitos presos,

ainda houve mortos etc. Ontem e hoje foi a continuação da revista a

“Piada”. Hoje fui mais o Custódio F. ao Teatro Cine ver a dita revista para as

cadeiras nº 213-215. Falei com a M.G.M. 1920 estive de folga. Foi feriado

nacional, de manhã nublado pela tarde estava e peras, a noite linda de luar,

aragem Oeste mas fria. Fui à última sessão do animatógrafo da fita “O

Carpanta” no Salão Popular Barreirense. Fui para Lisboa às 11h25, a claque

era F. Soeiro, J. S., Artur S., fomos ao Aquário do Vasco da Gama em Algés.

Seguimos de eléctrico e depois seguimos até ao Parque das Laranjeiras,

Jardim Zoológico de eléctrico. No dito jardim encontrava-se grandes

festejos, estava o Presidente da República Excelentíssimo Sr. António José

d'Almeida e o Presidente do M. A. Maria Batista e mais ministros e oficiais

do exército e armada, etc. tocando a banda da G.N.R. Regressamos de

eléctrico ao Rocio. Viemos para o Barreiro, eu mais o Artur S. Falei com a

M.G.M. ofereci um anel. Houve tourada no Campo Pequeno. Houve

grandes conflitos, ainda mataram uma pessoa, por motivo do cavaleiro

José Casimiro só chegou correr 3 touros. Continua a não haver pão no

Barreiro.

4/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se

incêndio no hospital em Campolide aonde se encontrava os militares do

CEP em França. 1920 Trabalhei no Barreiro T das 8h às 2h da madrugada.

Fez um dia lindo, fazendo vento Norte, fazendo linda noite de luar, mas

muito fria. Amanhã de manhã é esperada a Sociedade de Instrução de

regresso das festas da estação de Tunes. Veio o pagador recebi 102$46.

Paguei 12 escudos de uma acção para a construção de uma Casa para a

Associação dos Ferroviários do CFSS foi a número 1404.

5/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 9,30 para Lisboa durante a

viagem o revisor Joaquim das Neves partiu uma linda bengala na ré a girar a

roda do leme do vapor. Ainda se encontrava os Bombeiros dos CFSS no

1/5/920 Fez 1 ano foi feriado, o dito foi escolhido pela Câmara Municipal

do Barreiro. Ás 9,25 seguiram para Setúbal a S. Instrução e regressaram às

18 horas. A S. da Comp. União Fabril deu a volta à vila. Continua a greve dos

corticeiros. Chegaram ao Barreiro acompanhados pelas famílias muita

rapaziada do CEP vindos de França entre eles António Mesquita, João

Piteira, António Cambra, o Almeida do telegrafo dos CFSS, o Magno, um dos

Cambalachos, Manuel Rei, João Piruca, José da Maria Elvira, Adelino

Fonseca, José Panino e o filho do João Macho etc. Estreei a bolsa de prata.

Falei com a M.G.M. No Teatro Cine foi a revista “A Piada” pela Companhia

Domingos Vasconcelos. Declarou-se em greve as costureiras no Barreiro

tendo como presidenta a menina [espaço em branco]. As ditas faziam as

reuniões na Associação dos empregados do comércio na rua Aguiar nº

[espaço em branco]. O José Augusto para entrar em casa foi buscar uma

escada e assim pode entrar por das [sic] janelas. Fez 261 que os

Portugueses cercaram Badajoz. 1920 Estive de folga. Foi feriado em todas

dependências particulares e não nos CFSS. Fez todo o dia grande temporal

de chuva e vento Oeste. Fez aniversário a Associação dos Descarregadores

de Mar e Terra realizou um cortejo fúnebre ao Cemitério. Pelas 12 horas

partiram em gozo ao norte do país o Eduardo da Luz, e José Alcurrais [sic].

Houve benefício da S. Democrática no T. Seguiu para o hospital o

carregador dos CFSS o Meia Sopa falecendo em viagem. Fui ao Cemitério

mais meu mano, Artur S., J. Aurélio, mais tarde fui à Leitaria do Lá-vai mais

meu mano, Luiz Cristo, João Ferreira, M. Hartley, Artur S., J. Aurélio. Paguei

eu a despesa foi 2$38.

2/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez pela primeira vez a

barba a mim o guarda Diamantino. Veio o pagador mas só traz ordem

ordenados simples próxima 2ª feira traz o aumento. Pelas 16,20 declarou-

se incêndio em Lisboa no Ministério do Trabalho e na Bolsa, só foi visto no

Barreiro pelas 23,10 tocou a buzina dos CFSS e seguiram os bombeiros dos

mesmos C. Ferro. Às 24,30 soube-se que horas antes tinha-se declarado em

greve a Companhia das Águas e Eléctricos. 1920

Trabalhei das 8h às 2h da madrugada no Barreiro T. Fez um dia regular e a

noite calmosa. Fez lua eclipse sendo total às 2h35 da madrugada. Houve

grandes festejos pelo aniversário da Associação dos Carregadores de Mar e

Terra, sendo inaugurado um estandarte e uma nova tabuleta, etc. Houve

sessão solene tocando à cerimónia a Sociedade Democrática eram 12h30,

90 91

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havendo baile à noite. Continua a Sociedade de Instrução nas festas da

estação dos CFSS de Tunes. Continua a não haver pão no Barreiro.

3/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui ao pagador recebi 98$98. Foi

feriado nacional por motivo fazer 419 anos que Pedro Alvares Cabral

descobriu o Brasil. Pelas 17,30 foi visto grande incêndio em Lisboa soube-se

mais tarde que foi lançado fogo ao Limoeiro tendo fugido muitos presos,

ainda houve mortos etc. Ontem e hoje foi a continuação da revista a

“Piada”. Hoje fui mais o Custódio F. ao Teatro Cine ver a dita revista para as

cadeiras nº 213-215. Falei com a M.G.M. 1920 estive de folga. Foi feriado

nacional, de manhã nublado pela tarde estava e peras, a noite linda de luar,

aragem Oeste mas fria. Fui à última sessão do animatógrafo da fita “O

Carpanta” no Salão Popular Barreirense. Fui para Lisboa às 11h25, a claque

era F. Soeiro, J. S., Artur S., fomos ao Aquário do Vasco da Gama em Algés.

Seguimos de eléctrico e depois seguimos até ao Parque das Laranjeiras,

Jardim Zoológico de eléctrico. No dito jardim encontrava-se grandes

festejos, estava o Presidente da República Excelentíssimo Sr. António José

d'Almeida e o Presidente do M. A. Maria Batista e mais ministros e oficiais

do exército e armada, etc. tocando a banda da G.N.R. Regressamos de

eléctrico ao Rocio. Viemos para o Barreiro, eu mais o Artur S. Falei com a

M.G.M. ofereci um anel. Houve tourada no Campo Pequeno. Houve

grandes conflitos, ainda mataram uma pessoa, por motivo do cavaleiro

José Casimiro só chegou correr 3 touros. Continua a não haver pão no

Barreiro.

4/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se

incêndio no hospital em Campolide aonde se encontrava os militares do

CEP em França. 1920 Trabalhei no Barreiro T das 8h às 2h da madrugada.

Fez um dia lindo, fazendo vento Norte, fazendo linda noite de luar, mas

muito fria. Amanhã de manhã é esperada a Sociedade de Instrução de

regresso das festas da estação de Tunes. Veio o pagador recebi 102$46.

Paguei 12 escudos de uma acção para a construção de uma Casa para a

Associação dos Ferroviários do CFSS foi a número 1404.

5/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 9,30 para Lisboa durante a

viagem o revisor Joaquim das Neves partiu uma linda bengala na ré a girar a

roda do leme do vapor. Ainda se encontrava os Bombeiros dos CFSS no

1/5/920 Fez 1 ano foi feriado, o dito foi escolhido pela Câmara Municipal

do Barreiro. Ás 9,25 seguiram para Setúbal a S. Instrução e regressaram às

18 horas. A S. da Comp. União Fabril deu a volta à vila. Continua a greve dos

corticeiros. Chegaram ao Barreiro acompanhados pelas famílias muita

rapaziada do CEP vindos de França entre eles António Mesquita, João

Piteira, António Cambra, o Almeida do telegrafo dos CFSS, o Magno, um dos

Cambalachos, Manuel Rei, João Piruca, José da Maria Elvira, Adelino

Fonseca, José Panino e o filho do João Macho etc. Estreei a bolsa de prata.

Falei com a M.G.M. No Teatro Cine foi a revista “A Piada” pela Companhia

Domingos Vasconcelos. Declarou-se em greve as costureiras no Barreiro

tendo como presidenta a menina [espaço em branco]. As ditas faziam as

reuniões na Associação dos empregados do comércio na rua Aguiar nº

[espaço em branco]. O José Augusto para entrar em casa foi buscar uma

escada e assim pode entrar por das [sic] janelas. Fez 261 que os

Portugueses cercaram Badajoz. 1920 Estive de folga. Foi feriado em todas

dependências particulares e não nos CFSS. Fez todo o dia grande temporal

de chuva e vento Oeste. Fez aniversário a Associação dos Descarregadores

de Mar e Terra realizou um cortejo fúnebre ao Cemitério. Pelas 12 horas

partiram em gozo ao norte do país o Eduardo da Luz, e José Alcurrais [sic].

Houve benefício da S. Democrática no T. Seguiu para o hospital o

carregador dos CFSS o Meia Sopa falecendo em viagem. Fui ao Cemitério

mais meu mano, Artur S., J. Aurélio, mais tarde fui à Leitaria do Lá-vai mais

meu mano, Luiz Cristo, João Ferreira, M. Hartley, Artur S., J. Aurélio. Paguei

eu a despesa foi 2$38.

2/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez pela primeira vez a

barba a mim o guarda Diamantino. Veio o pagador mas só traz ordem

ordenados simples próxima 2ª feira traz o aumento. Pelas 16,20 declarou-

se incêndio em Lisboa no Ministério do Trabalho e na Bolsa, só foi visto no

Barreiro pelas 23,10 tocou a buzina dos CFSS e seguiram os bombeiros dos

mesmos C. Ferro. Às 24,30 soube-se que horas antes tinha-se declarado em

greve a Companhia das Águas e Eléctricos. 1920

Trabalhei das 8h às 2h da madrugada no Barreiro T. Fez um dia regular e a

noite calmosa. Fez lua eclipse sendo total às 2h35 da madrugada. Houve

grandes festejos pelo aniversário da Associação dos Carregadores de Mar e

Terra, sendo inaugurado um estandarte e uma nova tabuleta, etc. Houve

sessão solene tocando à cerimónia a Sociedade Democrática eram 12h30,

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8/5/920 Fez 1 ano que estive de folga, choveu quase todo o dia. Fui a

Lisboa às 9,30 fazer umas compras. Retomou o trabalho o pessoal dos

eléctricos. Regressei a Barreiro às 13 horas. 1920 Trabalhei no Barreiro T.

das 8 às 2h da madrugada. Fez um dia doentio fazendo muito calor de dia e

à noite. Faleceu, morto por um touro na Praça de Touros Talavera em

Espanha o bandarilheiro o conhecido “Galito”. Pelas 10,10 feriu-se na cara

nas Oficinas G. o servente Joaquim Aurélio.

9/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila por motivo da

chuva, estive a escrever no álbum dos selos. Faleceu o Vicente do olho azul.

Foi o casamento da filha do Carocha, a Rita. 1920 Estive de folga, fez todo o

dia calor, a noite idem mas nublada. Levantei-me às 13,5. Foi o casamento

do J.P. Herbon com a filha do Monteiro já falecido. Houve tourada na Moita

sendo cavaleiro J. Casimiro. Estava tudo com medo, não deu conflitos como

no Campo Pequeno sendo as pessoas apalpadas, etc., quando entrava na

Praça. Fui passear ao campo. Estivemos na quinta dos Arcos, sendo a 80

claque João de S. Parra, A. Bifa, A. José Morais. Foi o pau de fileira no novo

Teatro República. Falei com a M.G.M.

10/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. O revisor A. S. Garrento não

trabalhou meio dia da parte da tarde, foi à terra da sogra. Faleceu o Manuel

da Piruca. Casou a filha do Inspector do Movimento dos CFSS Soares com o

Chico do Vasconcelos. Foi em Lisboa, soube que foram 7 carros. 1920

Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Esteve um dia regular, esteve nublado.

Pelas 16,40 principiou a trovejar e chovendo, à noite pouco choveu fazendo

muitíssimos relâmpagos. Ás 18,35 tocou a buzina dos CFSS por motivo de

incêndio na chaminé na casa de pasto antiga do Lopes. Foi o casamento da

filha do Manuel Inácio já falecido a Maria com o Saloio carregador dos CFSS.

Chegou ao Tejo o primeiro vapor alemão depois da guerra de nome Flereuz

vindo de Málaga.

11/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Aleijei um dedo

na mão direita na máquina m 86 quando encostava ao comboio 103 por

motivo de um madeiro, era maquinista Mendonça e fogueiro Eugénio,

segui momentos depois para o posto médico sendo acompanhado pelo

rescaldo do incêndio do Ministério do Trabalho e Bolsa de Encomendas

Postais, os ministérios reforçados e patrulhas pelas ruas da cidade etc.

Numa das ruas da Baixa estava um eléctrico atravessado. De dia efectuava-

se muitas prisões e à noite rusgas. Regressei a Barreiro às 13 horas. Abriu

nova Escola de Praticantes nos CFSS. José Soeiro e Francisco António

compraram dois chapéus de palha por 5$20 na Chapelaria Gaspar. Falei

com a M.G.M. Estive de folga. Esteve todo o dia nublado, de tarde aleviou

[sic] mas pouco fazendo muito vento Nordeste. Veio ao Barreiro o revisor

de Faro José Martins. Foi o funeral do Alexandre, tio do Passinha era

condutor dos CFSS. A noite linda e calmosa. Fui tirar a 2ª prova do fato ao J.

Macedo. Falei com a M.G.M. Já há 4 dias que o Barreiro não tinha pão,

seguiam dezenas de pessoas para Lisboa buscar pão.

6/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Foi

benefício do Grupo 22 Novembro. No T. Cine levaram a fita “Os 20 mil

dolars”. Chegaram 60 praças de Infantaria 11 de Setúbal por ter corrido o

boato que no Barreiro queriam deitar fogo aos P. Concelho e à Companhia

União Fabril e Oficinas gerais dos CFSS. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da

madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a

noite idem. No T. Cine correu à noite a fita “A Rosa do Adro” em 5 partes. O

Sr. José da Luz passou-me um papel para eu receber um mês atrasado no

Direcção dos CFSS. Foram presos 22 rapazes para os P. Concelho por motivo

destes chamarem nomes ao Alexandre maluco.

7/5/920 Faz 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 estive de

folga, fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a noite idem. Fui para

Lisboa às 11,25 à direcção dos CFSS, não recebi por motivo de ser preciso

uma testemunha etc., regressei ao Barreiro às 14,45. Ás 19,20 encontrava-

me à porta da Barbearia Ventura na Rua Marquês Pombal quando um

fulano partiu o guiador duma bicicleta do Albino Macedo. Falei com a

M.G.M. Fui para a Leitaria do Lá-vai mais Custódio F., este pagou 52

centavos e eu 62 centavos duns bolos e bebida ao José Fernando e Augusto

filhos da Maria Elvira e Luiz S. Penim paguei 60 centavos. Faz hoje 5 anos

que foi torpeado [sic] pelo submarino alemão “U-20”, na Costa do Sul da

Irlanda, o transatlântico americano “Lusitânia”.

92 93

80 Expressão usada quando ficava concluído o telhado de uma nova edificação

Page 93: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

8/5/920 Fez 1 ano que estive de folga, choveu quase todo o dia. Fui a

Lisboa às 9,30 fazer umas compras. Retomou o trabalho o pessoal dos

eléctricos. Regressei a Barreiro às 13 horas. 1920 Trabalhei no Barreiro T.

das 8 às 2h da madrugada. Fez um dia doentio fazendo muito calor de dia e

à noite. Faleceu, morto por um touro na Praça de Touros Talavera em

Espanha o bandarilheiro o conhecido “Galito”. Pelas 10,10 feriu-se na cara

nas Oficinas G. o servente Joaquim Aurélio.

9/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia, não fui à vila por motivo da

chuva, estive a escrever no álbum dos selos. Faleceu o Vicente do olho azul.

Foi o casamento da filha do Carocha, a Rita. 1920 Estive de folga, fez todo o

dia calor, a noite idem mas nublada. Levantei-me às 13,5. Foi o casamento

do J.P. Herbon com a filha do Monteiro já falecido. Houve tourada na Moita

sendo cavaleiro J. Casimiro. Estava tudo com medo, não deu conflitos como

no Campo Pequeno sendo as pessoas apalpadas, etc., quando entrava na

Praça. Fui passear ao campo. Estivemos na quinta dos Arcos, sendo a 80

claque João de S. Parra, A. Bifa, A. José Morais. Foi o pau de fileira no novo

Teatro República. Falei com a M.G.M.

10/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. O revisor A. S. Garrento não

trabalhou meio dia da parte da tarde, foi à terra da sogra. Faleceu o Manuel

da Piruca. Casou a filha do Inspector do Movimento dos CFSS Soares com o

Chico do Vasconcelos. Foi em Lisboa, soube que foram 7 carros. 1920

Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Esteve um dia regular, esteve nublado.

Pelas 16,40 principiou a trovejar e chovendo, à noite pouco choveu fazendo

muitíssimos relâmpagos. Ás 18,35 tocou a buzina dos CFSS por motivo de

incêndio na chaminé na casa de pasto antiga do Lopes. Foi o casamento da

filha do Manuel Inácio já falecido a Maria com o Saloio carregador dos CFSS.

Chegou ao Tejo o primeiro vapor alemão depois da guerra de nome Flereuz

vindo de Málaga.

11/5/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Aleijei um dedo

na mão direita na máquina m 86 quando encostava ao comboio 103 por

motivo de um madeiro, era maquinista Mendonça e fogueiro Eugénio,

segui momentos depois para o posto médico sendo acompanhado pelo

rescaldo do incêndio do Ministério do Trabalho e Bolsa de Encomendas

Postais, os ministérios reforçados e patrulhas pelas ruas da cidade etc.

Numa das ruas da Baixa estava um eléctrico atravessado. De dia efectuava-

se muitas prisões e à noite rusgas. Regressei a Barreiro às 13 horas. Abriu

nova Escola de Praticantes nos CFSS. José Soeiro e Francisco António

compraram dois chapéus de palha por 5$20 na Chapelaria Gaspar. Falei

com a M.G.M. Estive de folga. Esteve todo o dia nublado, de tarde aleviou

[sic] mas pouco fazendo muito vento Nordeste. Veio ao Barreiro o revisor

de Faro José Martins. Foi o funeral do Alexandre, tio do Passinha era

condutor dos CFSS. A noite linda e calmosa. Fui tirar a 2ª prova do fato ao J.

Macedo. Falei com a M.G.M. Já há 4 dias que o Barreiro não tinha pão,

seguiam dezenas de pessoas para Lisboa buscar pão.

6/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Foi

benefício do Grupo 22 Novembro. No T. Cine levaram a fita “Os 20 mil

dolars”. Chegaram 60 praças de Infantaria 11 de Setúbal por ter corrido o

boato que no Barreiro queriam deitar fogo aos P. Concelho e à Companhia

União Fabril e Oficinas gerais dos CFSS. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da

madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a

noite idem. No T. Cine correu à noite a fita “A Rosa do Adro” em 5 partes. O

Sr. José da Luz passou-me um papel para eu receber um mês atrasado no

Direcção dos CFSS. Foram presos 22 rapazes para os P. Concelho por motivo

destes chamarem nomes ao Alexandre maluco.

7/5/920 Faz 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. 1920 estive de

folga, fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a noite idem. Fui para

Lisboa às 11,25 à direcção dos CFSS, não recebi por motivo de ser preciso

uma testemunha etc., regressei ao Barreiro às 14,45. Ás 19,20 encontrava-

me à porta da Barbearia Ventura na Rua Marquês Pombal quando um

fulano partiu o guiador duma bicicleta do Albino Macedo. Falei com a

M.G.M. Fui para a Leitaria do Lá-vai mais Custódio F., este pagou 52

centavos e eu 62 centavos duns bolos e bebida ao José Fernando e Augusto

filhos da Maria Elvira e Luiz S. Penim paguei 60 centavos. Faz hoje 5 anos

que foi torpeado [sic] pelo submarino alemão “U-20”, na Costa do Sul da

Irlanda, o transatlântico americano “Lusitânia”.

92 93

80 Expressão usada quando ficava concluído o telhado de uma nova edificação

Page 94: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

numa mão, o ajudante de Revisão António Cunha. Principiou o leilão de

mercadorias atrasadas nos CFSS. 1920 Trabalhei no Barreiro .T das 8h às 2h

da madrugada. Esteve todo o sai nublado, chovendo mas pouco e a aragem

era sul. Pelas 14h20 em frente da nova estação do Barreiro T. deu-se um

desastre, ficou sem uma das mãos um operário, debaixo do material da

construção do Barreiro ao Seixal. Tinha o nome Manuel Baeta, era o

maquinista José das Neves. Deu-se na linha do Sado um pequeno choque,

ficando avariadas as máquinas nº 29 e 49, havendo vários ferimentos

ligeiros.

15/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. A Cândida, mulher do

Gabriel, serralheiro nas Oficinas Gerais deu à luz uma menina. Amigou-se o

Miguel Bravo com a Linda. Fui ao curativo às 11h40 e regressei ao serviço às

12h40. Abriu a feira de Santos. No Largo Casal houve desordem entre

Francisco Soeiro e José Borralho. 1920 Estive de folga. Esteve quase todo o

dia chovendo regular e algum vento Sueste. Fui para Lisboa às 11h30, à

Direcção dos CFSS, ter com o Sr. Lemos. Este disse venha no próximo dia 18.

Comprei no Rocio, numa chapelaria, uma boina de quadrados preto e

branco, por 5 escudos. Regressei a casa às 14h45. Foi o funeral da mãe do

ajudante de revisor Marcelo Curral. Fui ao Teatro Cine ver “As Intrigas do 81Barrio” , desempenhado por amadores do Barreiro. Tomou parte a Laura

dos Santos, fui para a cadeira nº118, preço 40 centavos. Seguiu no comboio

para o Algarve meu mano.

16/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui ao curativo às 11h5, regressei

às 11h55. Presenciei uma grande discussão entre o enfermeiro Costa com o

ajudante e dando mau resultado. Deixou de tocar na Sociedade de

Instrução o António Filipe. Foi o funeral do carpinteiro das Oficinas Gerais

do CFSS Didio Batista Pais. 1920 Trabalhei das 8h às 2h da madrugada no

Barreiro T. Todo o dia esteve nublado e à noite grande nortada. Houve um

almoço em regozijo das melhoras de Joaquim Quintino. Assistiram 26

convidados na quinta perto do lugar da Telha. Pelas 13h40 fui em serviço à

vila chamar o revisor João S. Rita M. Passei pela Sociedade de Instrução

estavam de conversa o Luiz Cristo, Delícias Correia e outros. Chegaram ao

Tejo 2 aviões vindos de Inglaterra. Foi pau de fileira de três habitações em

guarda Joaquim Al(…?), A. Cerqueira 2º. Continuei de serviço o resto da

noite. Houve tourada na Moita. Foram para Cintra em passeio o Simiteiro,

Miguel de A., José Esteves Beira, Eduardo E. Santo. O meu mano foi como

combinou e não sai de casa. 1920 Estive de folga, esteve todo o dia nublado

vento Sudoeste e a noite regular fazendo bastante calor. O marinheiro dos

CFSS o José Caramelo saltou em Santo Amaro ficando debaixo de um

camião ficando com um pé em estado grave. Terminou a greve dos

padeiros. Falei com a M.G.M. Principiaram a marcar o material com molas

de tracção nos CFSS uma pequena marca redonda cor encarnada, estes só

puderam seguir a cauda dos comboios por esse motivo tendo havido

grandes atrasos dos comboios.

12/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui ao curativo ao posto médico dos

CFSS às 11h e só saí do posto às 12,10h. Fui para Lisboa às 13,25 fui buscar

pão não havia no Barreiro regressei às 16,30 na viagem o António Zinho

dispensou-me dois kilos. Fez uma noite linda de luar fazendo calor. 1920

Trabalhei das 8 às 2 h da madrugada. Esteve quase todo o dia nublado

fazendo vento Nordeste. A primeira composição que foi ao Seixal foi

seguinte DD391-423-360-391-383-384-317-375 DD44 que partiu às 11,30

do Barreiro Terra era o condutor Gaspar dos Santos, maquinista Alberto

Fiúza fogueiro M. dos Santos, máquina numero 10. Foram ter comigo ao

Barreiro T. o Custódio F. e Artur S., às 19,40h.

13/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia estive em serviço melhorado

fui ao curativo às 11,5 regressei ao serviço às 11,35. 1920

Estive de folga. Pelas 4h da madrugada pairou a vila imenente [sic]

trovoada, mas chovendo pouco. De dia esteve nublado. Levantei-me às

15h. Estávamos uma claque combinada para ir ao campo à espiga, não

fomos por causa do tempo, era Luiz Cristo, Artur S., Custódio F. Estive às

espera dos ditos à porta das Oficinas Gerais, resolvemos e fomos para o Lá-

vai, menos o Luiz Cristo. Depois seguimos ver a fita portuguesa natural “O

Comissário da Polícia”. Eu troquei a minha cadeira nº 63 por um balcão nº

25 ao Mário José Café e o Artur S., Custódio F. nas cadeiras. Partiu do

Algarve o meu mano, aonde se encontra já há 15 dias. Falei com a M.G.M.

14/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia fui ao curativo às 11,10

regressei ao serviço às 11,40. Aleijou-se o tio da M.G.M. e pelas 16h15

94 95

81Bairro

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numa mão, o ajudante de Revisão António Cunha. Principiou o leilão de

mercadorias atrasadas nos CFSS. 1920 Trabalhei no Barreiro .T das 8h às 2h

da madrugada. Esteve todo o sai nublado, chovendo mas pouco e a aragem

era sul. Pelas 14h20 em frente da nova estação do Barreiro T. deu-se um

desastre, ficou sem uma das mãos um operário, debaixo do material da

construção do Barreiro ao Seixal. Tinha o nome Manuel Baeta, era o

maquinista José das Neves. Deu-se na linha do Sado um pequeno choque,

ficando avariadas as máquinas nº 29 e 49, havendo vários ferimentos

ligeiros.

15/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. A Cândida, mulher do

Gabriel, serralheiro nas Oficinas Gerais deu à luz uma menina. Amigou-se o

Miguel Bravo com a Linda. Fui ao curativo às 11h40 e regressei ao serviço às

12h40. Abriu a feira de Santos. No Largo Casal houve desordem entre

Francisco Soeiro e José Borralho. 1920 Estive de folga. Esteve quase todo o

dia chovendo regular e algum vento Sueste. Fui para Lisboa às 11h30, à

Direcção dos CFSS, ter com o Sr. Lemos. Este disse venha no próximo dia 18.

Comprei no Rocio, numa chapelaria, uma boina de quadrados preto e

branco, por 5 escudos. Regressei a casa às 14h45. Foi o funeral da mãe do

ajudante de revisor Marcelo Curral. Fui ao Teatro Cine ver “As Intrigas do 81Barrio” , desempenhado por amadores do Barreiro. Tomou parte a Laura

dos Santos, fui para a cadeira nº118, preço 40 centavos. Seguiu no comboio

para o Algarve meu mano.

16/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui ao curativo às 11h5, regressei

às 11h55. Presenciei uma grande discussão entre o enfermeiro Costa com o

ajudante e dando mau resultado. Deixou de tocar na Sociedade de

Instrução o António Filipe. Foi o funeral do carpinteiro das Oficinas Gerais

do CFSS Didio Batista Pais. 1920 Trabalhei das 8h às 2h da madrugada no

Barreiro T. Todo o dia esteve nublado e à noite grande nortada. Houve um

almoço em regozijo das melhoras de Joaquim Quintino. Assistiram 26

convidados na quinta perto do lugar da Telha. Pelas 13h40 fui em serviço à

vila chamar o revisor João S. Rita M. Passei pela Sociedade de Instrução

estavam de conversa o Luiz Cristo, Delícias Correia e outros. Chegaram ao

Tejo 2 aviões vindos de Inglaterra. Foi pau de fileira de três habitações em

guarda Joaquim Al(…?), A. Cerqueira 2º. Continuei de serviço o resto da

noite. Houve tourada na Moita. Foram para Cintra em passeio o Simiteiro,

Miguel de A., José Esteves Beira, Eduardo E. Santo. O meu mano foi como

combinou e não sai de casa. 1920 Estive de folga, esteve todo o dia nublado

vento Sudoeste e a noite regular fazendo bastante calor. O marinheiro dos

CFSS o José Caramelo saltou em Santo Amaro ficando debaixo de um

camião ficando com um pé em estado grave. Terminou a greve dos

padeiros. Falei com a M.G.M. Principiaram a marcar o material com molas

de tracção nos CFSS uma pequena marca redonda cor encarnada, estes só

puderam seguir a cauda dos comboios por esse motivo tendo havido

grandes atrasos dos comboios.

12/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui ao curativo ao posto médico dos

CFSS às 11h e só saí do posto às 12,10h. Fui para Lisboa às 13,25 fui buscar

pão não havia no Barreiro regressei às 16,30 na viagem o António Zinho

dispensou-me dois kilos. Fez uma noite linda de luar fazendo calor. 1920

Trabalhei das 8 às 2 h da madrugada. Esteve quase todo o dia nublado

fazendo vento Nordeste. A primeira composição que foi ao Seixal foi

seguinte DD391-423-360-391-383-384-317-375 DD44 que partiu às 11,30

do Barreiro Terra era o condutor Gaspar dos Santos, maquinista Alberto

Fiúza fogueiro M. dos Santos, máquina numero 10. Foram ter comigo ao

Barreiro T. o Custódio F. e Artur S., às 19,40h.

13/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia estive em serviço melhorado

fui ao curativo às 11,5 regressei ao serviço às 11,35. 1920

Estive de folga. Pelas 4h da madrugada pairou a vila imenente [sic]

trovoada, mas chovendo pouco. De dia esteve nublado. Levantei-me às

15h. Estávamos uma claque combinada para ir ao campo à espiga, não

fomos por causa do tempo, era Luiz Cristo, Artur S., Custódio F. Estive às

espera dos ditos à porta das Oficinas Gerais, resolvemos e fomos para o Lá-

vai, menos o Luiz Cristo. Depois seguimos ver a fita portuguesa natural “O

Comissário da Polícia”. Eu troquei a minha cadeira nº 63 por um balcão nº

25 ao Mário José Café e o Artur S., Custódio F. nas cadeiras. Partiu do

Algarve o meu mano, aonde se encontra já há 15 dias. Falei com a M.G.M.

14/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia fui ao curativo às 11,10

regressei ao serviço às 11,40. Aleijou-se o tio da M.G.M. e pelas 16h15

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81Bairro

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1920 Estive de licença fez um dia lindo fazendo muitíssimo vento nordeste

todo o dia e toda a noite. Colocaram um Kiosque no Largo Casal com os

dizeres “A Flor do Barreiro” este pintado pelo Bandeireiro e o filho Manuel.

20/5/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia. Começaram os serões nas

cocheiras não o fiz por motivo de ferimento no dedo. Não fui à vila. Fez 44

anos a inauguração do Caminho de Ferro do Porto e Braga. 1920 Trabalhei

das 8h às 2h da madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo muito

vento nordeste. Veio do Júlio Macedo o meu fato castanho, foi 58$00. Foi o

benefício para o Sanatório Carlos Vasconcelos Porto no Teatro S. Luiz em

Lisboa sendo a opereta “O Mercado das Donzelas”. Houve vapor gratuito

para o Barreiro.

21/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M.

Entreguei a fotografia para o novo bilhete de Identidade dos CFSS. O Filipe

J. Cordeiro veio das Oficinas Gerais para a revisão. F. Soeiro e Artur S. foram

no comboio 3 à feira de Vendas Novas. O José Pedro Castanheira e Agrípio J.

Cardoso compraram ao Bernardino Carvalho umas lâmpadas de pilha.

1920 Estive de folga. Fez um dia lindo aragem nordeste mas pouco.

Entreguei à minha mana Ermelinda 58 escudos para pagar o fato ao Júlio

Macedo. Falei com a M.G.M. Não se efectuou como estava anunciada a

reunião dos ferroviários no Teatro Cine por motivo da autoridade não

autorizar.

22/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Assinei um impresso 83para o passe . Encontrava-se a trabalhar nuns barracões junto à linha na

Compª. União Fabril o carpinteiro A. J. Morais. Foram presos dois manos do

António jardineiro das Oficinas Gerais por motivo de certas coisas que

houve com a filha do Freitas. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada no

Barreiro T. Pelas 3 da madrugada pairou uma trementa [sic] trovoada e

bastante chuva sobre a vila. Foi o funeral da mãe do Eduardo Patacas. Pelas

21 principiou novamente trovejando mas longe. Era 2,20 foi o Custódio F. e

Mário Cândido ter comigo ao Barreiro T. para combinar a ida de amanhã a

Cintra.

Lisboa no Barrio Social no Arco do Cego. Foram a Lisboa ao Quartel General

à inspecção militar e ficaram livres o António J. Caixote, A. Capela Bolina.

17/5/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Tomaram posse hoje de Sub-

Inspector o Sr. João Ferreira e 4 revisores de circunscrição, o João S. Rato M.

no Barreiro. Este deu a maior parte da ferramenta ao revisor Guilherme M.

da Costa, José de Paula em Casa Branca, Góis em Beja, J. Martins em Faro. O

revisor J. S. R. Marques ofereceu ao J. José o balde aonde se lavava e o

armário da roupa ao aprendiz M. Silveira. O último veículo foi o furgon nº

25, sendo o ajudante J. José 2º. Seguiu em serviço a Valdera o revisor

Fonseca. Falei com a M.G.M. Apresentou-se ao serviço o ajudante R. João

Cambalacho, chegado há meses de França. Passou debaixo de escolta para

Lisboa o Cezimbra Amadeu, filho do Leandro e o filho do Luiz de Alhandra.

1920 Estive de folga, tempo variável pelas 16h pois e peras aragem pouca

de Nordeste. Fui meter o pedido de licença para os dias 18 e 19 do corrente

mês. Foi o pau de fileira de uma casa do Graciano Barbeiro em S. Francisco e

da Fábrica Belga que é junto ao T. República. Foi o funeral do Balbino

maquinista dos CFSS estava reformado. Estreei boina aos quadrados largos.

O Manuel Martins disse em frente testemunhas que deixava de jogar à

bola. Falei com a M.G.M.

18/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Era esperado pelas 14 horas no

Tejo os hidroaviões americanos como os jornais tem anunciado. De tarde

andei a passear pela vila com o João Firmino, A. J. Morais e J. de Oliveira.

1920 Estive de licença. Fez um dia lindo mas fazendo muito vento nordeste.

Fui a Lisboa à Direcção dos CFSS receber o mês atrasado de Março recebi a

quantia de 132$80. Tive que arranjar um empregado para provar como eu

era empregado. Foi o Inspector dos telégrafos o Almeida. Regressei a

Barreiro às 16,30. Fui à Leitaria do Lá-vai mais o Custódio F., A. Vicente Bote,

M. Bandeireiro. Paguei a despesa foi 4 copos de leite e 11 bolos 1 escudo.

Foi-me render ao Barreiro T. o Luiz Cordeiro. Falei com a M.G.M.

19/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia, continuava em serviços 82

melhorados por motivo do dedo. Quando a zorra seguia para a Gare levar

material para a linha o encarregado M.P. Manilha caiu. Falei com a M.G.M.

97 97

82 Veículo de transporte de material, utilizado pelo pessoal da via83 Passe anual da Companhia.

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1920 Estive de licença fez um dia lindo fazendo muitíssimo vento nordeste

todo o dia e toda a noite. Colocaram um Kiosque no Largo Casal com os

dizeres “A Flor do Barreiro” este pintado pelo Bandeireiro e o filho Manuel.

20/5/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia. Começaram os serões nas

cocheiras não o fiz por motivo de ferimento no dedo. Não fui à vila. Fez 44

anos a inauguração do Caminho de Ferro do Porto e Braga. 1920 Trabalhei

das 8h às 2h da madrugada no Barreiro T. Fez um dia lindo fazendo muito

vento nordeste. Veio do Júlio Macedo o meu fato castanho, foi 58$00. Foi o

benefício para o Sanatório Carlos Vasconcelos Porto no Teatro S. Luiz em

Lisboa sendo a opereta “O Mercado das Donzelas”. Houve vapor gratuito

para o Barreiro.

21/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M.

Entreguei a fotografia para o novo bilhete de Identidade dos CFSS. O Filipe

J. Cordeiro veio das Oficinas Gerais para a revisão. F. Soeiro e Artur S. foram

no comboio 3 à feira de Vendas Novas. O José Pedro Castanheira e Agrípio J.

Cardoso compraram ao Bernardino Carvalho umas lâmpadas de pilha.

1920 Estive de folga. Fez um dia lindo aragem nordeste mas pouco.

Entreguei à minha mana Ermelinda 58 escudos para pagar o fato ao Júlio

Macedo. Falei com a M.G.M. Não se efectuou como estava anunciada a

reunião dos ferroviários no Teatro Cine por motivo da autoridade não

autorizar.

22/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Assinei um impresso 83para o passe . Encontrava-se a trabalhar nuns barracões junto à linha na

Compª. União Fabril o carpinteiro A. J. Morais. Foram presos dois manos do

António jardineiro das Oficinas Gerais por motivo de certas coisas que

houve com a filha do Freitas. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada no

Barreiro T. Pelas 3 da madrugada pairou uma trementa [sic] trovoada e

bastante chuva sobre a vila. Foi o funeral da mãe do Eduardo Patacas. Pelas

21 principiou novamente trovejando mas longe. Era 2,20 foi o Custódio F. e

Mário Cândido ter comigo ao Barreiro T. para combinar a ida de amanhã a

Cintra.

Lisboa no Barrio Social no Arco do Cego. Foram a Lisboa ao Quartel General

à inspecção militar e ficaram livres o António J. Caixote, A. Capela Bolina.

17/5/920 Faz 1 ano que trabalhei todo o dia. Tomaram posse hoje de Sub-

Inspector o Sr. João Ferreira e 4 revisores de circunscrição, o João S. Rato M.

no Barreiro. Este deu a maior parte da ferramenta ao revisor Guilherme M.

da Costa, José de Paula em Casa Branca, Góis em Beja, J. Martins em Faro. O

revisor J. S. R. Marques ofereceu ao J. José o balde aonde se lavava e o

armário da roupa ao aprendiz M. Silveira. O último veículo foi o furgon nº

25, sendo o ajudante J. José 2º. Seguiu em serviço a Valdera o revisor

Fonseca. Falei com a M.G.M. Apresentou-se ao serviço o ajudante R. João

Cambalacho, chegado há meses de França. Passou debaixo de escolta para

Lisboa o Cezimbra Amadeu, filho do Leandro e o filho do Luiz de Alhandra.

1920 Estive de folga, tempo variável pelas 16h pois e peras aragem pouca

de Nordeste. Fui meter o pedido de licença para os dias 18 e 19 do corrente

mês. Foi o pau de fileira de uma casa do Graciano Barbeiro em S. Francisco e

da Fábrica Belga que é junto ao T. República. Foi o funeral do Balbino

maquinista dos CFSS estava reformado. Estreei boina aos quadrados largos.

O Manuel Martins disse em frente testemunhas que deixava de jogar à

bola. Falei com a M.G.M.

18/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Era esperado pelas 14 horas no

Tejo os hidroaviões americanos como os jornais tem anunciado. De tarde

andei a passear pela vila com o João Firmino, A. J. Morais e J. de Oliveira.

1920 Estive de licença. Fez um dia lindo mas fazendo muito vento nordeste.

Fui a Lisboa à Direcção dos CFSS receber o mês atrasado de Março recebi a

quantia de 132$80. Tive que arranjar um empregado para provar como eu

era empregado. Foi o Inspector dos telégrafos o Almeida. Regressei a

Barreiro às 16,30. Fui à Leitaria do Lá-vai mais o Custódio F., A. Vicente Bote,

M. Bandeireiro. Paguei a despesa foi 4 copos de leite e 11 bolos 1 escudo.

Foi-me render ao Barreiro T. o Luiz Cordeiro. Falei com a M.G.M.

19/5/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia, continuava em serviços 82

melhorados por motivo do dedo. Quando a zorra seguia para a Gare levar

material para a linha o encarregado M.P. Manilha caiu. Falei com a M.G.M.

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82 Veículo de transporte de material, utilizado pelo pessoal da via83 Passe anual da Companhia.

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850 o Acácio aleijou-se em dois dedos foi o Júlio Bifa ao fechar. A chegada

das Sociedades foi 22,25h efectuou-se 3 comboios o primeiro foi a máquina

nº 14 com a chegada às 21,12h, o 2º máq. 61 chegada às 2,25h e o 3º máq.

31 chegada às 23 e tal. Foi o casamento da Maria Pereira com o filho do

Macau condutor dos CFSS. Estive de folga. Fez um dia regular e a noite linda

de luar. Houve ensaio na Sociedade Instrução havendo grandes discussões

entre os filarmónicos e membros da direcção da dita. Falei com a M.G.M.

Continua a greve dos eléctricos, fazendo o serviço dos ditos automóveis e

caminhões [sic] do estado e particulares.

26/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Ontem uma das

filhas do João da Luz no quintal do Manuel da Brenha prendeu o anel

qualquer ponta ficando com o dedo em estado grave. 1920 Trabalhei das 8

ás 2 da madrugada. Fez um dia variável fazendo calor. Faleceu de repente o

maquinista dos CFSS o Mata Cães.

27/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h fazer umas

compras regressei a Barreiro às 13h. Fui avisado para comparecer no

próximo dia 30 no Quartel General em Lisboa. Todo o dia houve trocas de

buzinas etc. dos navios de guerra portugueses e americanos surtos no Tejo

por motivo de um hidroavião que é esperado no Tejo. De facto era 21h

quando chegou o hidro-vião americano. Roubaram ao alfaiate da Rua

Miguel Pais fazendas no valor de 300 escudos. 1920 Estive de folga. Fez um

dia regular. Levantei-me às 11 e tal. Mudaram o kiosque “A Flor do Barreiro”

no L. Casal e puseram em frente da S. Instrução foi tirado com autorização o

banco estava aonde eles puseram o kiosque. Fui com o Custódio F. à Leitaria

do Lá-vai foi 9 bolos e 3 copos de leite 87 centavos paguei eu, também

comeu o M. Ramalhete. Falei com a M.G.M. O F. Soeiro desapareceu não

sabendo do paradeiro. Saíram para a pesca do bacalhau na terra Nova dois 84navios do Barreiro o Gazell, Neptuno .

28/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o João

Cordeiro corticeiro antigo da Fábrica Herold avô do Josué. 1920 Trabalhei

das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia regular estando fresco e à noite grande

ventania Nordeste. Houve reunião de ferroviários no T. Cine. Continua a

greve dos eléctricos em Lisboa.

23/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui ao último curativo era 11,30

do dedo. Fui para Lisboa às 13,25 comprar fogo ao Luiz para a minha logem

foi a primeira vez que fiz a dita compra este ano foi a quantia de 11 escudos

e tal regressei a Barreiro às 16,3º. Falei com a M.G.M. 1920 estive de folga

esteve todo o dia nublado. Seguimos para Lisboa às 9,30 era eu, Mário

Cândido e Custódio F. às 10h5 partimos da estação do Rocio para Cintra foi

na linha nº 1. Também foi com nós o Manuel Hartley. Chegada a Cintra

fomos com o sicerone [sic] nº 10 João Inácio ver o Castelo dos Mouros e

depois a Pena, etc., estava uma névoa não apreciamos a vista. O Manuel

Hartley retirou para Lisboa não viu nada. Regressamos a Cintra almoçar no

Restaurante “Pombinha”indicou o Sr. José Inácio aonde o dito levou-nos

queijadas ao restaurante, o almoço 10 escudos e tal. Ver a chave de 400

anos e entrada no Castelo da Pena foi 50 centavos. Comboio de ida e volta

de 2ª classe 2$16 as despesas mais importantes fez a soma de 25 escudos.

Regressamos a Lisboa sendo a chegada às 20h e tal. Fomos ver a revista “O

Negócio da China”. Compramos 3 cadeiras 10-12-14 aos contratadores por

5 escudos. Regressamos ao Barreiro à 1h da madrugada. Ás 3h da

madrugada pôs-se em greve os eléctricos de Lisboa.

24/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se em

greve o pessoal da Compª. União Fabril. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da

madrugada. Esteve todo o dia nublado. Choveu pelas 12,35h ao fim da

tarde parou de chover. Pelas 9,30 saiu o comboio ministerial para

inauguração da nova linha do Sado, ficando Alcácer do Sal com duas

estações a do Norte e do Sul. Pelas 6,30 passaram umas 20 bicicletas

pertencentes ao Albino Macedo o dito também seguia e muitos outros

particulares para as festas de Azeitão, regressaram a Barreiro às 19,30h.

Entrou o mala Real Holandesa nome “Lumborgia” maior paquete que veio

ao Tejo.

25/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Ás 12,20h fui para Setúbal mais o

meu mano, J. Aurélio, Simiteiro, Miguel de Almeida, Acácio F. Soeiro com as

Sociedades Instrução e Democrática que seguiram para a corrida de

touros. Eu mais J. S. de Parra e F. Soeiro ver o túnel à saída da estação

quando nós estava dentro do dito apareceu o J. J. Catalão o guarda

repreendeu a nós. Regressamos às 20,10 ao fechar uma das portas da C.

98 99

84 Navios pertencentes à Parceria Geral de Pescarias/Seca do Bacalhau, em Palhais

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850 o Acácio aleijou-se em dois dedos foi o Júlio Bifa ao fechar. A chegada

das Sociedades foi 22,25h efectuou-se 3 comboios o primeiro foi a máquina

nº 14 com a chegada às 21,12h, o 2º máq. 61 chegada às 2,25h e o 3º máq.

31 chegada às 23 e tal. Foi o casamento da Maria Pereira com o filho do

Macau condutor dos CFSS. Estive de folga. Fez um dia regular e a noite linda

de luar. Houve ensaio na Sociedade Instrução havendo grandes discussões

entre os filarmónicos e membros da direcção da dita. Falei com a M.G.M.

Continua a greve dos eléctricos, fazendo o serviço dos ditos automóveis e

caminhões [sic] do estado e particulares.

26/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Ontem uma das

filhas do João da Luz no quintal do Manuel da Brenha prendeu o anel

qualquer ponta ficando com o dedo em estado grave. 1920 Trabalhei das 8

ás 2 da madrugada. Fez um dia variável fazendo calor. Faleceu de repente o

maquinista dos CFSS o Mata Cães.

27/5/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h fazer umas

compras regressei a Barreiro às 13h. Fui avisado para comparecer no

próximo dia 30 no Quartel General em Lisboa. Todo o dia houve trocas de

buzinas etc. dos navios de guerra portugueses e americanos surtos no Tejo

por motivo de um hidroavião que é esperado no Tejo. De facto era 21h

quando chegou o hidro-vião americano. Roubaram ao alfaiate da Rua

Miguel Pais fazendas no valor de 300 escudos. 1920 Estive de folga. Fez um

dia regular. Levantei-me às 11 e tal. Mudaram o kiosque “A Flor do Barreiro”

no L. Casal e puseram em frente da S. Instrução foi tirado com autorização o

banco estava aonde eles puseram o kiosque. Fui com o Custódio F. à Leitaria

do Lá-vai foi 9 bolos e 3 copos de leite 87 centavos paguei eu, também

comeu o M. Ramalhete. Falei com a M.G.M. O F. Soeiro desapareceu não

sabendo do paradeiro. Saíram para a pesca do bacalhau na terra Nova dois 84navios do Barreiro o Gazell, Neptuno .

28/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o João

Cordeiro corticeiro antigo da Fábrica Herold avô do Josué. 1920 Trabalhei

das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia regular estando fresco e à noite grande

ventania Nordeste. Houve reunião de ferroviários no T. Cine. Continua a

greve dos eléctricos em Lisboa.

23/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui ao último curativo era 11,30

do dedo. Fui para Lisboa às 13,25 comprar fogo ao Luiz para a minha logem

foi a primeira vez que fiz a dita compra este ano foi a quantia de 11 escudos

e tal regressei a Barreiro às 16,3º. Falei com a M.G.M. 1920 estive de folga

esteve todo o dia nublado. Seguimos para Lisboa às 9,30 era eu, Mário

Cândido e Custódio F. às 10h5 partimos da estação do Rocio para Cintra foi

na linha nº 1. Também foi com nós o Manuel Hartley. Chegada a Cintra

fomos com o sicerone [sic] nº 10 João Inácio ver o Castelo dos Mouros e

depois a Pena, etc., estava uma névoa não apreciamos a vista. O Manuel

Hartley retirou para Lisboa não viu nada. Regressamos a Cintra almoçar no

Restaurante “Pombinha”indicou o Sr. José Inácio aonde o dito levou-nos

queijadas ao restaurante, o almoço 10 escudos e tal. Ver a chave de 400

anos e entrada no Castelo da Pena foi 50 centavos. Comboio de ida e volta

de 2ª classe 2$16 as despesas mais importantes fez a soma de 25 escudos.

Regressamos a Lisboa sendo a chegada às 20h e tal. Fomos ver a revista “O

Negócio da China”. Compramos 3 cadeiras 10-12-14 aos contratadores por

5 escudos. Regressamos ao Barreiro à 1h da madrugada. Ás 3h da

madrugada pôs-se em greve os eléctricos de Lisboa.

24/5/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se em

greve o pessoal da Compª. União Fabril. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da

madrugada. Esteve todo o dia nublado. Choveu pelas 12,35h ao fim da

tarde parou de chover. Pelas 9,30 saiu o comboio ministerial para

inauguração da nova linha do Sado, ficando Alcácer do Sal com duas

estações a do Norte e do Sul. Pelas 6,30 passaram umas 20 bicicletas

pertencentes ao Albino Macedo o dito também seguia e muitos outros

particulares para as festas de Azeitão, regressaram a Barreiro às 19,30h.

Entrou o mala Real Holandesa nome “Lumborgia” maior paquete que veio

ao Tejo.

25/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Ás 12,20h fui para Setúbal mais o

meu mano, J. Aurélio, Simiteiro, Miguel de Almeida, Acácio F. Soeiro com as

Sociedades Instrução e Democrática que seguiram para a corrida de

touros. Eu mais J. S. de Parra e F. Soeiro ver o túnel à saída da estação

quando nós estava dentro do dito apareceu o J. J. Catalão o guarda

repreendeu a nós. Regressamos às 20,10 ao fechar uma das portas da C.

98 99

84 Navios pertencentes à Parceria Geral de Pescarias/Seca do Bacalhau, em Palhais

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-16

1/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Principiou a

chover às 14h. O Artur S. foi ter comigo ao Barreiro T. Principiou hoje o pessoal do Material Circulante chapas como nas Oficinas Gerais. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia [sic] mas muito calor e a noite linda de luar. O revisor 2ª Luiz Penim, o médico mandou para serviços melhorados, seguiu para escrever para escriturário do Mat. Circulante do Barreiro. Chegou no Cº 6 acompanhado pelo pai a tia Brado Soeiro vindo do Algarve e F. Soeiro que desapareceu há dias. Veio o pagamento fui receber 67 escudos e tal.

2/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30 e regressei

ás 13h. Fez um dia de chuva e trovoada. Veio o pagador recebi 54 escudos. Á noite houve uma desordem entre o A. V. Bote e F. Soeiro pelas 22,10h. 1920 Estive de folga fui para Lisboa às 11,30. Comprei uma lapiseira preta por um escudo e um cartão para meter o Bilhete de Identidade dos CFSS e o

85chapéu alvadio com a fita branca por 15 escudos. Regressei a Barreiro às 14,45. Fez um dia lindo e muitíssimo calor à noite idem de luar. Comprei

29/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui pedir um dia de licença para

amanhã pela primeira vez. O barbeiro Ventura Aleixo escreveu uma carta

declaração de namora à menina Dalila mana do Cabrita fundidor dos CFSS.

Estive de folga. Fez um dia lindo mas fazendo muito vento Nordeste. Na rua

Miguel Pais abriu um novo estabelecimento na casa do falecido barbeiro

Brito que é da viúva do dito. Fui ao Júlio Macedo pagar 58 escudos do fato

castanho que veio à [sic] dias.

30/5/920 Fez 1 ano que estive de licença pela primeira vez com

vencimento. Fui a Lisboa em companhia da minha mãe ao Quartel General

como fui avisado há dias. Fomos de eléctrico. Fui interrogado por dois

coronéis, um deles o Artur Salgueiro Pacheco. Eles disseram-me se tinha

ido ao Norte quando foi o movimento monárquico. Lembrei-me do filho do

João Farto. Depois por fim como dei provas que não fui ao Norte pediram

muita desculpa e foram tratar para chamar o filho do João Farto. Vieram

pela primeira vez a minha casa a M.G.M. e a mãe. Falei com a M.G.M. O

hidro-vião americano retirou pelas 6 da manhã do Tejo. Nomeou-se a

Comissão para as próximas festas de S. João no quintal da S. Instrução foi os

seguintes J. C. Marques, J. Esteves Beira, Miguel de Almeida, José de Paula,

António Cristo. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia lindo

fez vento pouco e a noite linda de luar e calmosa. Abriu-se uma nova Casa

de Bicicletas na Rua Aguiar ao lado do Francisco Rodrigues pertencente ao

Cecílio Macedo e M. Macedo. Houve corrida na [Praça de] Alcácer do Sal.

Comi pela primeira vez deste ano peras.

31/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi pela primeira vez que fiz

serviço na Balança. Faleceu a mulher do Manuel da Costa guarda das

Oficinas Gerais. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite idem de luar.

Pelas 10,15 andou sobre a vila um hidro-vião. Foi Moita na automotora às

15,30 mais o meu compadre Júlio Colica bebemos dois capilés 16 centavos

regressamos às 16,25. Terminou com a vitória dos grevistas com 50% o

pessoal dos eléctricos. Falei com a M.G.M. Á noite estava calor fomos para

a praia eu com Custódio F. e A. J. Morais.

100 101

85 De cor clara

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-16

1/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Principiou a

chover às 14h. O Artur S. foi ter comigo ao Barreiro T. Principiou hoje o pessoal do Material Circulante chapas como nas Oficinas Gerais. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia [sic] mas muito calor e a noite linda de luar. O revisor 2ª Luiz Penim, o médico mandou para serviços melhorados, seguiu para escrever para escriturário do Mat. Circulante do Barreiro. Chegou no Cº 6 acompanhado pelo pai a tia Brado Soeiro vindo do Algarve e F. Soeiro que desapareceu há dias. Veio o pagamento fui receber 67 escudos e tal.

2/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30 e regressei

ás 13h. Fez um dia de chuva e trovoada. Veio o pagador recebi 54 escudos. Á noite houve uma desordem entre o A. V. Bote e F. Soeiro pelas 22,10h. 1920 Estive de folga fui para Lisboa às 11,30. Comprei uma lapiseira preta por um escudo e um cartão para meter o Bilhete de Identidade dos CFSS e o

85chapéu alvadio com a fita branca por 15 escudos. Regressei a Barreiro às 14,45. Fez um dia lindo e muitíssimo calor à noite idem de luar. Comprei

29/5/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui pedir um dia de licença para

amanhã pela primeira vez. O barbeiro Ventura Aleixo escreveu uma carta

declaração de namora à menina Dalila mana do Cabrita fundidor dos CFSS.

Estive de folga. Fez um dia lindo mas fazendo muito vento Nordeste. Na rua

Miguel Pais abriu um novo estabelecimento na casa do falecido barbeiro

Brito que é da viúva do dito. Fui ao Júlio Macedo pagar 58 escudos do fato

castanho que veio à [sic] dias.

30/5/920 Fez 1 ano que estive de licença pela primeira vez com

vencimento. Fui a Lisboa em companhia da minha mãe ao Quartel General

como fui avisado há dias. Fomos de eléctrico. Fui interrogado por dois

coronéis, um deles o Artur Salgueiro Pacheco. Eles disseram-me se tinha

ido ao Norte quando foi o movimento monárquico. Lembrei-me do filho do

João Farto. Depois por fim como dei provas que não fui ao Norte pediram

muita desculpa e foram tratar para chamar o filho do João Farto. Vieram

pela primeira vez a minha casa a M.G.M. e a mãe. Falei com a M.G.M. O

hidro-vião americano retirou pelas 6 da manhã do Tejo. Nomeou-se a

Comissão para as próximas festas de S. João no quintal da S. Instrução foi os

seguintes J. C. Marques, J. Esteves Beira, Miguel de Almeida, José de Paula,

António Cristo. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia lindo

fez vento pouco e a noite linda de luar e calmosa. Abriu-se uma nova Casa

de Bicicletas na Rua Aguiar ao lado do Francisco Rodrigues pertencente ao

Cecílio Macedo e M. Macedo. Houve corrida na [Praça de] Alcácer do Sal.

Comi pela primeira vez deste ano peras.

31/5/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi pela primeira vez que fiz

serviço na Balança. Faleceu a mulher do Manuel da Costa guarda das

Oficinas Gerais. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite idem de luar.

Pelas 10,15 andou sobre a vila um hidro-vião. Foi Moita na automotora às

15,30 mais o meu compadre Júlio Colica bebemos dois capilés 16 centavos

regressamos às 16,25. Terminou com a vitória dos grevistas com 50% o

pessoal dos eléctricos. Falei com a M.G.M. Á noite estava calor fomos para

a praia eu com Custódio F. e A. J. Morais.

100 101

85 De cor clara

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5/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 9,30h a Lisboa regressei a

Barreiro às 13h. Ainda continuava o incêndio no dito armazém da Mercantil no Garrelon encontrava-se ainda os bombeiros a trabalhar. Principiou a chover pelas 20,10h parou às 22,30h. Começou a pedir prendas a Comissão das Festas próxima no quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada. Fez um dia lindo principiou a nublar-se ao sol posto a noite idem pelas 23 e tal limpou. Pelas 12h declarou-se em greve o pessoal da construção da linha do Barreiro a Seixal. Novo horário dos comboios e vapores dos CFSS por motivo da falta de carvão. Houve num dos teatros benefício para Joaquim Caetano (Pau Louro).

6/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Continua ainda o incêndio no

Armazém da Mercantil no Garrelon ainda salvaram bastantes sacas de

alfarroba e palha, ficando o armazém em ruínas o eucalipto que era junto

ao armazém também sofreu. Fez 15 anos a menina Beatriz Ferreira.

Continua trovoadas mas não tão fortes. Encontrava-se à morte o Dr.

Fernandes Costa. 1920. Estive de folga todo o dia. Esteve nublado. Faleceu

no Ministério do Interior aonde se encontrava reunido o Governo o

Presidente do Ministério Sr. António M. Batista foi com uma congestão

pelas 5,30 da madrugada. Foi pela primeira vez que comi este ano

damascos. Junto à minha logem colocaram um kiosque encontra-se a

vender duas senhoras Adelina e Adriana. Declarou-se em greve os

corticeiros. Fui para Lisboa às 11,30h com a claque Custódio F., José de 87

Paula. Fomos ao B. A. barb[earia] da Travessa do P. Negro nº 38 eu F. [sic] a

Ermelinda paguei 1$50. Regressei às festas de Alhos Vedros às 17 e tal no

comboio 17 na C. 84 foi grandes festejos no Jardim este estava lindo foi as

ditas festas por motivo da inauguração do coreto de pedra e cal bem

arranjado, tocava a S. Democrática União Barreirense. A claque era Luiz

Cristo, Artur S., Marques Silveira. Compramos cada um por 6 centavos um

abano. Houve corrida em Setúbal brilhantou a S. Instrução regressamos ao

Barreiro às 22 e tal no comboio 18 na C. 77 aonde vinha a S. Instrução esta

desde o desembarque até à sede veio a tocar e a claque e á frente da dita a

canta[r].

7/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o Januário

filho do António de Oliveira maquinista dos CFSS com a residência na 16 de

mais o Manuel Martins duas cautelas número 46.84 foi 15 centavos. Era 17 horas deu-se um desastre junto às cancelas da passagem dos CFSS a uma mulherzinha que andava à esmola era do Lavradio. Andei a passear pela vila e fui à Leitaria do Lá-vai mais o J. Camarão, Daciano J. Ribeiro, Eduardo S. paguei a despesa foi 20 centavos. Andei no L. dos Aliados aprender andar de bicicleta com a claque Artur S., Custódio F., Luiz Cristo, depois fomos novamente à Leitaria do Lá-vai era a claque eu, Luiz Cristo, Custódio F., Artur S., A. Luiz Marques paguei 5 groselhas foi 60 centavos.

3/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Desencadeou-se uma

trementa trovoada acompanhada de fortes bátegas de água sobre a vila. Deu o resultado as faíscas ao cair por várias partes uma delas caiu num

86armazém da Mercantil no Garrelon que imediatamente pegou incêndio pelas 18h5, estava com palha e alfarroba e uma outra caiu na linha férrea entre Alhos Vedros e Moita deu a causa descarrilar o comboio 19 deu a morte ao maquinista José Sanches e o fogueiro em três dedos numa das mãos e vários passageiros feridos sem gravidade. Foi o benefício do Agostinho Martins no T. Cine brilhantou [sic] o dito a S. Instrução. 1920 Trabalhei no Barreiro T. das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia variável fazendo bastante calor e linda noite de luar mas vento Nordeste. Casou a filha mais nova do Feio a Maria, com um fragateiro. O carpinteiro das Oficinas Gerais o Sr. João Algarvio pois-me [sic] a proposta para sócio da Associação dos Ferroviários. Houve benefício para o Cofre de Viúvas e Órfãos no T. Cine brilhantou o dito a S. Democrática.

4/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. pelas 3,35h da

madrugada tocou a buzina das Oficinas Gerais a fogo. Foi novamente no Armazém da Mercantil no Garrelon que ontem caiu uma faísca quando fez a grande trovoada. O pessoal das Oficinas Gerais saiu às 18h só fizeram uma hora de serão foi para acompanhar o funeral do maquinista J. Sanches. Veio um comboio da Moita com o cadáver ao chegar o dito comboio a Barreiro pairou outra violente trovoada acompanhada de muitíssima chuva. O dito funeral foi bem acompanhado de muitíssimos ferroviários e uma força da G. Republicana corporação dos Bombeiros dos CFSS e S. Democrática. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e muito calor e a noite idem de luar. Andei no L. dos Aliados (S. do Rosário) aprender andar de bicicleta a claque era Luiz Cristo, Manuel Hartley, Artur S. Custódio F. etc. paguei eu o aluguer. Houve reunião dos ferroviários no T. Cine para se tratar de assuntos da Caixa antes fui mais F. Estaca, Sipriano [sic] Fonseca ao Neves beber paguei eu 43 cent.

102 103

86 Fábrica de cortiça na Rua Miguel Pais. 87Bairro Alto

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5/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui às 9,30h a Lisboa regressei a

Barreiro às 13h. Ainda continuava o incêndio no dito armazém da Mercantil no Garrelon encontrava-se ainda os bombeiros a trabalhar. Principiou a chover pelas 20,10h parou às 22,30h. Começou a pedir prendas a Comissão das Festas próxima no quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada. Fez um dia lindo principiou a nublar-se ao sol posto a noite idem pelas 23 e tal limpou. Pelas 12h declarou-se em greve o pessoal da construção da linha do Barreiro a Seixal. Novo horário dos comboios e vapores dos CFSS por motivo da falta de carvão. Houve num dos teatros benefício para Joaquim Caetano (Pau Louro).

6/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Continua ainda o incêndio no

Armazém da Mercantil no Garrelon ainda salvaram bastantes sacas de

alfarroba e palha, ficando o armazém em ruínas o eucalipto que era junto

ao armazém também sofreu. Fez 15 anos a menina Beatriz Ferreira.

Continua trovoadas mas não tão fortes. Encontrava-se à morte o Dr.

Fernandes Costa. 1920. Estive de folga todo o dia. Esteve nublado. Faleceu

no Ministério do Interior aonde se encontrava reunido o Governo o

Presidente do Ministério Sr. António M. Batista foi com uma congestão

pelas 5,30 da madrugada. Foi pela primeira vez que comi este ano

damascos. Junto à minha logem colocaram um kiosque encontra-se a

vender duas senhoras Adelina e Adriana. Declarou-se em greve os

corticeiros. Fui para Lisboa às 11,30h com a claque Custódio F., José de 87

Paula. Fomos ao B. A. barb[earia] da Travessa do P. Negro nº 38 eu F. [sic] a

Ermelinda paguei 1$50. Regressei às festas de Alhos Vedros às 17 e tal no

comboio 17 na C. 84 foi grandes festejos no Jardim este estava lindo foi as

ditas festas por motivo da inauguração do coreto de pedra e cal bem

arranjado, tocava a S. Democrática União Barreirense. A claque era Luiz

Cristo, Artur S., Marques Silveira. Compramos cada um por 6 centavos um

abano. Houve corrida em Setúbal brilhantou a S. Instrução regressamos ao

Barreiro às 22 e tal no comboio 18 na C. 77 aonde vinha a S. Instrução esta

desde o desembarque até à sede veio a tocar e a claque e á frente da dita a

canta[r].

7/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o Januário

filho do António de Oliveira maquinista dos CFSS com a residência na 16 de

mais o Manuel Martins duas cautelas número 46.84 foi 15 centavos. Era 17 horas deu-se um desastre junto às cancelas da passagem dos CFSS a uma mulherzinha que andava à esmola era do Lavradio. Andei a passear pela vila e fui à Leitaria do Lá-vai mais o J. Camarão, Daciano J. Ribeiro, Eduardo S. paguei a despesa foi 20 centavos. Andei no L. dos Aliados aprender andar de bicicleta com a claque Artur S., Custódio F., Luiz Cristo, depois fomos novamente à Leitaria do Lá-vai era a claque eu, Luiz Cristo, Custódio F., Artur S., A. Luiz Marques paguei 5 groselhas foi 60 centavos.

3/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Desencadeou-se uma

trementa trovoada acompanhada de fortes bátegas de água sobre a vila. Deu o resultado as faíscas ao cair por várias partes uma delas caiu num

86armazém da Mercantil no Garrelon que imediatamente pegou incêndio pelas 18h5, estava com palha e alfarroba e uma outra caiu na linha férrea entre Alhos Vedros e Moita deu a causa descarrilar o comboio 19 deu a morte ao maquinista José Sanches e o fogueiro em três dedos numa das mãos e vários passageiros feridos sem gravidade. Foi o benefício do Agostinho Martins no T. Cine brilhantou [sic] o dito a S. Instrução. 1920 Trabalhei no Barreiro T. das 8 às 2 da madrugada. Fez um dia variável fazendo bastante calor e linda noite de luar mas vento Nordeste. Casou a filha mais nova do Feio a Maria, com um fragateiro. O carpinteiro das Oficinas Gerais o Sr. João Algarvio pois-me [sic] a proposta para sócio da Associação dos Ferroviários. Houve benefício para o Cofre de Viúvas e Órfãos no T. Cine brilhantou o dito a S. Democrática.

4/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. pelas 3,35h da

madrugada tocou a buzina das Oficinas Gerais a fogo. Foi novamente no Armazém da Mercantil no Garrelon que ontem caiu uma faísca quando fez a grande trovoada. O pessoal das Oficinas Gerais saiu às 18h só fizeram uma hora de serão foi para acompanhar o funeral do maquinista J. Sanches. Veio um comboio da Moita com o cadáver ao chegar o dito comboio a Barreiro pairou outra violente trovoada acompanhada de muitíssima chuva. O dito funeral foi bem acompanhado de muitíssimos ferroviários e uma força da G. Republicana corporação dos Bombeiros dos CFSS e S. Democrática. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e muito calor e a noite idem de luar. Andei no L. dos Aliados (S. do Rosário) aprender andar de bicicleta a claque era Luiz Cristo, Manuel Hartley, Artur S. Custódio F. etc. paguei eu o aluguer. Houve reunião dos ferroviários no T. Cine para se tratar de assuntos da Caixa antes fui mais F. Estaca, Sipriano [sic] Fonseca ao Neves beber paguei eu 43 cent.

102 103

86 Fábrica de cortiça na Rua Miguel Pais. 87Bairro Alto

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como na noite anterior e houve fogo de artifício no Tejo pelas 0,15. Seguiu

às 7 para Azeitão a S. Democrática. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada

no Barreiro T. Esteve um dia regular esteve vento Nordeste. Houve no T.

Cine benefício para o jornal “A Batalha” foi ao dito a S. Instrução. Terminou

com a vitória a greve dos corticeiros no Barreiro.

10/6/920 Fez 1 ano estive de folga. O pessoal da Companhia União Fabril

percorreram as ruas da vila em grandes manifestações e foram pelas

fábricas e oficinas para parar tudo em geral por motivo [do] pão. Falei com a

M.G.M. Retirou do nosso país o Presidente da República Brasileira Sr. Dr. 88

Hepitácio Pessoa . Pelas 16,25 foi no Barreiro o funeral do Sr. Dr. Fernandes

José Costa para o jazigo do Cemitério velho. Estive na praia mais o J.S. Rita,

M. André Fernandes estes revisores a ver o fogo artifício no Tejo pelas

23,40. 1920 Estive de folga. Foi feriado. Fez um dia regular vento Oeste.

Levantei-me às 13,50. Realizou-se no T. Cine um comício do Partido

Socialista, falaram muitos oradores entre eles o deputado Augusto Dias da

Silva. Houve desordem entre o Ventura Barbeiro com o Cecílio Macedo. Fui

para a Funcheira render o João Cambalacho no comboio 9 e Filipe J.

Cordeiro. Falei com a M.G.M. Andei novamente aprender andar de

bicicleta no Largo dos Aliados (S. do Rosário) com a claque Luiz Cristo,

Custódio F. Faz 340 anos que faleceu o Luiz de Camões.

11/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi hoje pela

primeira vez que o ajudante R. António Cunha fez serviço no Barreiro T.

Estivemos com ele eu com os revisores J.S.R. Marques, André F. O comboio

103 saiu com 35 minutos de atraso. Foi despedido das Oficinas G. o

servente Domingos este entrou na última greve (amarelo). Começou

ontem a trabalhar a Comissão das próximas festas do quintal da S.

Instrução. 1920 Trabalhei das 8 ás 2h da madrugada. Esteve todo o dia

nublado chovendo pelas 13h mas pouco. Ao anoitecer principiou a chover

muito e vento Oeste. Pelas 20,40 houve grande desordem entre o José Luiz

carregador dos CFSS com um fragateiro ficando o primeiro gravemente

ferido com uma facada e um tiro.

Infantaria contava com a linda idade de 15 anos. Terminou pelas 15 horas o

incêndio do Armazém da Mercantil. Não se realizou como estava nunciado

[sic] o benefício da S. Democrática por motivo de se encontrara mal o Sr. Dr.

J. Fernandes Costa. 1920 Trabalhei das 8 ás 2h. A meio da tarde foi feriado

por motivo da morte do Presidente do Ministério o Sr. António M. Batista.

Até ao fim da tarde esteve um dia lindo pondo-se vento e nublou-se. Houve

continuação das festas em Alhos Vedros havendo cavalhadas. Descarrilou

junto à Rotunda da parte do Sul o O 319 esteve assistir ao carrilar o Sr. J. da

Luz estava com dois limpadores a carrilar o dito ficando muito avariado.

8/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Houve grandes festejos em Lisboa

foi de Luiz Camões. No Lavradio também houve uma festa em homenagem

aos soldados vindos de França do CEP. Promovida por uma Comissão da

terra. Brilhantou a dita festa a Sociedade da terra. Fez alvorada e foi à

estação dos CFSS esperar a S. Setubalense esta fez o concerto das 17h às

19h e das 21 às 23 e tal regressando a Setúbal às 0,29h. E foi festas na

senhora da Arrábida. Nas festas do Lavradio como em cima disse a claque

era eu mais o Eduardo E. S. que partimos do Barreiro às 17h jantamos com o

Adriano, A. E outro de A. Vedros andamos pelo arraial etc. A M.G.M.

também foi mas para casa de uns parentes era do Eduardo Co[u]to. Houve

também a flor como era moda das festas. Á noite estavam iluminados

navios portugueses e estrangeiros surtos no Tejo e alguns edifícios do

estado e particulares. Ao regressar a casa vim pela vila mais o Bernardino

Carvalho trouxemos uns pombos que ele comprou na Rua A. Reis. Foi o

casamento Manuel Pedro fogueiro dos vapores dos CFSS. 1920 Estive de

folga. Foi feriado todo o dia por motivo do funeral do coronel A. Maria

Batista Presidente do Ministério corporaram [sic] milhares de pessoal. Do

Barreiro seguiram bombeiros etc., ficou o dito substituído pelo Sr. José

Ramos Preto. Levantei-me às 14,42. Esteve nublado durante todo o dia

fazendo vento Oeste. Andei a passear pela vila mais Ventura Aleixo ao

passar pela Rua Aguiar na porta nº 196 fizemos entrega dum pano branco

que estava no chão o qual pertencia à irmã do Mira que tinha caído da

janela fomos entregar à dita. Falei com a M.G.M.

9/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. faleceu pelas 4 da

madrugada o Sr. Dr. José F. Costa. Tocou palas 2 a buzina dos CFSS a fogo

soube-se que o incêndio num barracão na horta do falecido Augusto

Duarte. Em Lisboa a continuação das festas de Luiz de Camões iluminações

104 105

88Presidente da República do Brasil entre 1919-1922

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como na noite anterior e houve fogo de artifício no Tejo pelas 0,15. Seguiu

às 7 para Azeitão a S. Democrática. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada

no Barreiro T. Esteve um dia regular esteve vento Nordeste. Houve no T.

Cine benefício para o jornal “A Batalha” foi ao dito a S. Instrução. Terminou

com a vitória a greve dos corticeiros no Barreiro.

10/6/920 Fez 1 ano estive de folga. O pessoal da Companhia União Fabril

percorreram as ruas da vila em grandes manifestações e foram pelas

fábricas e oficinas para parar tudo em geral por motivo [do] pão. Falei com a

M.G.M. Retirou do nosso país o Presidente da República Brasileira Sr. Dr. 88

Hepitácio Pessoa . Pelas 16,25 foi no Barreiro o funeral do Sr. Dr. Fernandes

José Costa para o jazigo do Cemitério velho. Estive na praia mais o J.S. Rita,

M. André Fernandes estes revisores a ver o fogo artifício no Tejo pelas

23,40. 1920 Estive de folga. Foi feriado. Fez um dia regular vento Oeste.

Levantei-me às 13,50. Realizou-se no T. Cine um comício do Partido

Socialista, falaram muitos oradores entre eles o deputado Augusto Dias da

Silva. Houve desordem entre o Ventura Barbeiro com o Cecílio Macedo. Fui

para a Funcheira render o João Cambalacho no comboio 9 e Filipe J.

Cordeiro. Falei com a M.G.M. Andei novamente aprender andar de

bicicleta no Largo dos Aliados (S. do Rosário) com a claque Luiz Cristo,

Custódio F. Faz 340 anos que faleceu o Luiz de Camões.

11/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi hoje pela

primeira vez que o ajudante R. António Cunha fez serviço no Barreiro T.

Estivemos com ele eu com os revisores J.S.R. Marques, André F. O comboio

103 saiu com 35 minutos de atraso. Foi despedido das Oficinas G. o

servente Domingos este entrou na última greve (amarelo). Começou

ontem a trabalhar a Comissão das próximas festas do quintal da S.

Instrução. 1920 Trabalhei das 8 ás 2h da madrugada. Esteve todo o dia

nublado chovendo pelas 13h mas pouco. Ao anoitecer principiou a chover

muito e vento Oeste. Pelas 20,40 houve grande desordem entre o José Luiz

carregador dos CFSS com um fragateiro ficando o primeiro gravemente

ferido com uma facada e um tiro.

Infantaria contava com a linda idade de 15 anos. Terminou pelas 15 horas o

incêndio do Armazém da Mercantil. Não se realizou como estava nunciado

[sic] o benefício da S. Democrática por motivo de se encontrara mal o Sr. Dr.

J. Fernandes Costa. 1920 Trabalhei das 8 ás 2h. A meio da tarde foi feriado

por motivo da morte do Presidente do Ministério o Sr. António M. Batista.

Até ao fim da tarde esteve um dia lindo pondo-se vento e nublou-se. Houve

continuação das festas em Alhos Vedros havendo cavalhadas. Descarrilou

junto à Rotunda da parte do Sul o O 319 esteve assistir ao carrilar o Sr. J. da

Luz estava com dois limpadores a carrilar o dito ficando muito avariado.

8/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Houve grandes festejos em Lisboa

foi de Luiz Camões. No Lavradio também houve uma festa em homenagem

aos soldados vindos de França do CEP. Promovida por uma Comissão da

terra. Brilhantou a dita festa a Sociedade da terra. Fez alvorada e foi à

estação dos CFSS esperar a S. Setubalense esta fez o concerto das 17h às

19h e das 21 às 23 e tal regressando a Setúbal às 0,29h. E foi festas na

senhora da Arrábida. Nas festas do Lavradio como em cima disse a claque

era eu mais o Eduardo E. S. que partimos do Barreiro às 17h jantamos com o

Adriano, A. E outro de A. Vedros andamos pelo arraial etc. A M.G.M.

também foi mas para casa de uns parentes era do Eduardo Co[u]to. Houve

também a flor como era moda das festas. Á noite estavam iluminados

navios portugueses e estrangeiros surtos no Tejo e alguns edifícios do

estado e particulares. Ao regressar a casa vim pela vila mais o Bernardino

Carvalho trouxemos uns pombos que ele comprou na Rua A. Reis. Foi o

casamento Manuel Pedro fogueiro dos vapores dos CFSS. 1920 Estive de

folga. Foi feriado todo o dia por motivo do funeral do coronel A. Maria

Batista Presidente do Ministério corporaram [sic] milhares de pessoal. Do

Barreiro seguiram bombeiros etc., ficou o dito substituído pelo Sr. José

Ramos Preto. Levantei-me às 14,42. Esteve nublado durante todo o dia

fazendo vento Oeste. Andei a passear pela vila mais Ventura Aleixo ao

passar pela Rua Aguiar na porta nº 196 fizemos entrega dum pano branco

que estava no chão o qual pertencia à irmã do Mira que tinha caído da

janela fomos entregar à dita. Falei com a M.G.M.

9/6/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. faleceu pelas 4 da

madrugada o Sr. Dr. José F. Costa. Tocou palas 2 a buzina dos CFSS a fogo

soube-se que o incêndio num barracão na horta do falecido Augusto

Duarte. Em Lisboa a continuação das festas de Luiz de Camões iluminações

104 105

88Presidente da República do Brasil entre 1919-1922

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Esteve todo o dia nublado ainda pingou mas pouco. Levantei-me pelas

14,10. Falei com a M.G.M.

15/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Pelas 5 horas da

madrugada saiu um barco em passeio fluvial a V. Franca de Xira foi em

benefício do jornal “A Batalha”. A S. Democrática foi tocar a uma tourada à

Moita. O André F. revisor seguiu no comboio 9 para Tunes. Continua os

bailes de Santo António. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um

dia regular fazendo vento Norte. Foi hoje que comi as primeiras peras e

maçães [sic]. Foi tirada a cábria do Miranda junto ao Barreiro T. em frente

da casa do revisor Guilherme M. Costa principiaram a desmanchar para

seguir para o Ginjal. Foi o funeral dum filho do José Marques era mudo ao

dito foi a S. Democrática ganharam 100 escudos.

16/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para a vila. Ás 17h chegou tropas

para o Barreiro por motivo da greve da Companhia União Fabril, sendo logo

postas patrulhas pelas ruas da vila, eram da G. Republicana e Exército.

Estive com o António Macau, Luiz Caseirão e Artur S. e alguns da Comissão

das Festas do quintal da S. Instrução a tirar e carregar areia, etc. para

endireitar o terreno. O meu cunhado M. Alves e Maria e Manuel Bravo

foram à terra. 1920 Estive de folga. Fez um dia regular. Quando o servente

das Oficinas Gerais passava em frente da nova estação do Barreiro T. com

uma pequena saca de lenha, um polícia disse a ele venha comigo ao posto o

dito deita o saco fora e pôs-se a fugir direcção ao Barrio Operário como não

quisesse parar o polícia dispara 6 tiros não sendo alvejado eram 17.50h vi

mais o Manuel S Rendeiro. Á noite fez grande nortada. Falei com a M.G.M.

O Luiz Cristo partiu um cranque duma bicicleta do Albino Macedo era a que

tinha o nº 1040. Saiu da S. da Comp. U. Fabril o Mestre Carvalho, veio a

mobília e a mulher para a S. Instrução fazer habitação.

17/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se em

greve a construção civil e muitas outras classe em Lisboa e arredores. Pelas

11.30h foram presos 7 membros da Comissão de Melhoramentos da CUF.

Fez 25 anos a minha mana Ermelinda. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas

de serão. Fez um dia lindo e muito calor. Dei 50 centavos para uma

subscrição tirada pela Comissão para o baile no próximo dia 21 na sala da S.

Instrução. A dita Comissão é composta pelos seguintes Luiz Cristo, Artur S.,

12/6/920 Fez 1 ano trabalhei nas Cocheiras até às 16,25h que fui render o

ajudante F. José Cordeiro ao Barreiro T. por motivo deste ficar gravemente

ferido no ventre deu o resultado pela montagem da porta do O4 do SS. Foi o

primeiro dia que tinha feito serviço no dito posto seguiu para a farmácia em

braços sem sentidos depois recolheu à cama em estado grave a casa de sua

residência. Principiou os bailes de S. António um deles no L. dos Aliados (S.

do Rosário), este brilhantado pelo cavalinho da S. de Instrução. Fez uma

noite linda de luar, mas fazendo muito vento. Foi eleito presidente das

festas do quintal da S. Instrução o meu mano e tesoureiro António Cristo.

Faz 559 anos o nascimento do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. 1920

Estive de folga. Fez um dia regular. Fui a Setúbal de passeio no Cº. 11 na C.

64. Estive a ver em Setúbal no cais junto ao quartel de Infantaria 11 um

hidro-vião no espaço e no rio Sado este foi dar-se a conhecer ao

Comandante da canhoneira [nome ilegível] devia ser 12 horas e tal

levantou voo e seguiu com direcção a Lisboa. Comprei uma cautela nº 2494

regressei a Barreiro pelas 13,30 no comboio 14 na C. 87. Houve benefício

no T. Cine dos porteiros do dito teatro. Também houve os seguintes bailes:

no Bairro Operário da Companhia União Fabril brilhantado pela sociedade

da dita, e no Alto José Ferreira tocando o cavalinho da S. Democrática e na

Vila Braz tocou o cavalinho da S. Instrução e S. Francisco. Andei com a

bandeira da Banda. Houve baile na S. Instrução na sala da dita.

13/6/920 Faz 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30. Fui fazer

compras etc. Regressei a Barreiro às 13h. Entrei em casa do Filipe J.

Cordeiro estive a falar com ele encontrava-se mal de cama. Falei com a

M.G.M. Estive com o revisor J.S. Rita no baile do L. dos Aliados (S. do

Rosário) fartamo-nos de rir. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Esteve

todo o dia nublado fez vento Oeste mas pouco. Pela 0,50 principiou a

chover. Era 2 da madrugada quando principiou a tocar a buzina a fogo

sendo o dito na T. [espaço em branco]. No Barreiro houve eleições de

Câmara ganharam os socialistas. A S. Instrução foi tocar a Alhos Vedros da

inauguração do novo coreto e a S. Democrática foi dar um concerto pela

tarde ao Barrio Operário da Compª. União Fabril. Houve baile na Sala da S.

Instrução. Fez um ano que o Sr. Pedro José Moura bateu o “record” em

bicicleta a subida da calçada da Glória em 1m. 23s.

14/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi o casamento do filho do

Maninhas mestre dos vapores dos CFSS o José João. 1920 Estive de folga.

106 107

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Esteve todo o dia nublado ainda pingou mas pouco. Levantei-me pelas

14,10. Falei com a M.G.M.

15/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Pelas 5 horas da

madrugada saiu um barco em passeio fluvial a V. Franca de Xira foi em

benefício do jornal “A Batalha”. A S. Democrática foi tocar a uma tourada à

Moita. O André F. revisor seguiu no comboio 9 para Tunes. Continua os

bailes de Santo António. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez um

dia regular fazendo vento Norte. Foi hoje que comi as primeiras peras e

maçães [sic]. Foi tirada a cábria do Miranda junto ao Barreiro T. em frente

da casa do revisor Guilherme M. Costa principiaram a desmanchar para

seguir para o Ginjal. Foi o funeral dum filho do José Marques era mudo ao

dito foi a S. Democrática ganharam 100 escudos.

16/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para a vila. Ás 17h chegou tropas

para o Barreiro por motivo da greve da Companhia União Fabril, sendo logo

postas patrulhas pelas ruas da vila, eram da G. Republicana e Exército.

Estive com o António Macau, Luiz Caseirão e Artur S. e alguns da Comissão

das Festas do quintal da S. Instrução a tirar e carregar areia, etc. para

endireitar o terreno. O meu cunhado M. Alves e Maria e Manuel Bravo

foram à terra. 1920 Estive de folga. Fez um dia regular. Quando o servente

das Oficinas Gerais passava em frente da nova estação do Barreiro T. com

uma pequena saca de lenha, um polícia disse a ele venha comigo ao posto o

dito deita o saco fora e pôs-se a fugir direcção ao Barrio Operário como não

quisesse parar o polícia dispara 6 tiros não sendo alvejado eram 17.50h vi

mais o Manuel S Rendeiro. Á noite fez grande nortada. Falei com a M.G.M.

O Luiz Cristo partiu um cranque duma bicicleta do Albino Macedo era a que

tinha o nº 1040. Saiu da S. da Comp. U. Fabril o Mestre Carvalho, veio a

mobília e a mulher para a S. Instrução fazer habitação.

17/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Declarou-se em

greve a construção civil e muitas outras classe em Lisboa e arredores. Pelas

11.30h foram presos 7 membros da Comissão de Melhoramentos da CUF.

Fez 25 anos a minha mana Ermelinda. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas

de serão. Fez um dia lindo e muito calor. Dei 50 centavos para uma

subscrição tirada pela Comissão para o baile no próximo dia 21 na sala da S.

Instrução. A dita Comissão é composta pelos seguintes Luiz Cristo, Artur S.,

12/6/920 Fez 1 ano trabalhei nas Cocheiras até às 16,25h que fui render o

ajudante F. José Cordeiro ao Barreiro T. por motivo deste ficar gravemente

ferido no ventre deu o resultado pela montagem da porta do O4 do SS. Foi o

primeiro dia que tinha feito serviço no dito posto seguiu para a farmácia em

braços sem sentidos depois recolheu à cama em estado grave a casa de sua

residência. Principiou os bailes de S. António um deles no L. dos Aliados (S.

do Rosário), este brilhantado pelo cavalinho da S. de Instrução. Fez uma

noite linda de luar, mas fazendo muito vento. Foi eleito presidente das

festas do quintal da S. Instrução o meu mano e tesoureiro António Cristo.

Faz 559 anos o nascimento do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. 1920

Estive de folga. Fez um dia regular. Fui a Setúbal de passeio no Cº. 11 na C.

64. Estive a ver em Setúbal no cais junto ao quartel de Infantaria 11 um

hidro-vião no espaço e no rio Sado este foi dar-se a conhecer ao

Comandante da canhoneira [nome ilegível] devia ser 12 horas e tal

levantou voo e seguiu com direcção a Lisboa. Comprei uma cautela nº 2494

regressei a Barreiro pelas 13,30 no comboio 14 na C. 87. Houve benefício

no T. Cine dos porteiros do dito teatro. Também houve os seguintes bailes:

no Bairro Operário da Companhia União Fabril brilhantado pela sociedade

da dita, e no Alto José Ferreira tocando o cavalinho da S. Democrática e na

Vila Braz tocou o cavalinho da S. Instrução e S. Francisco. Andei com a

bandeira da Banda. Houve baile na S. Instrução na sala da dita.

13/6/920 Faz 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30. Fui fazer

compras etc. Regressei a Barreiro às 13h. Entrei em casa do Filipe J.

Cordeiro estive a falar com ele encontrava-se mal de cama. Falei com a

M.G.M. Estive com o revisor J.S. Rita no baile do L. dos Aliados (S. do

Rosário) fartamo-nos de rir. 1920 Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Esteve

todo o dia nublado fez vento Oeste mas pouco. Pela 0,50 principiou a

chover. Era 2 da madrugada quando principiou a tocar a buzina a fogo

sendo o dito na T. [espaço em branco]. No Barreiro houve eleições de

Câmara ganharam os socialistas. A S. Instrução foi tocar a Alhos Vedros da

inauguração do novo coreto e a S. Democrática foi dar um concerto pela

tarde ao Barrio Operário da Compª. União Fabril. Houve baile na Sala da S.

Instrução. Fez um ano que o Sr. Pedro José Moura bateu o “record” em

bicicleta a subida da calçada da Glória em 1m. 23s.

14/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Foi o casamento do filho do

Maninhas mestre dos vapores dos CFSS o José João. 1920 Estive de folga.

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Franceses. 1920 Estive de folga. Regressei a V. Novas no c. 6 na c. 74. Foi o

cruzamento com o c. 3 em Pinhal Novo, vindo neste o Luiz Cristo. Este

regressou ao Barreiro comigo. Fez um lindo dia e muito calor. Ás 13 h foi

para Lisboa a S. Instrução dar um concerto a S. Amaro. Ás 15h seguiu para

Setúbal a S. Democrática para tocar a corrida de touros. Ás 17,45h fui no c.

17 c. 84 às festas de Alhos Vedros. Sendo a continuação das festas de

inauguração do coreto á dias sendo brilhantado por uma S. do Seixal. O

Freitas partiu o quadro da bicicleta do José da Glória que pertencia ao

Albino Macedo. Viemos a pé até ao Barrio Operário estava o baile animado.

Claque eu, Isidoro Praia, Manuel Fonseca, sendo este brilhantado pela S. da

Comp. U. Fabril. Houve baile na S. Instrução na sala feito por Comissão.

Quem marcou a quadrilha foi o Agostinho Martins. Regressaram ao

Barreiro às 2 da madrugada de Lisboa a S. Instrução trazendo no estandarte

duas fitas uma branca outra verde. Estas oferecidas pela S. de Santo Amaro.

21/6/920 Chegou uma força de marinha por motivo da greve da C. U.

Fabril. O ajudante revisor Filipe J. Cordeiro o primeiro destacamento que

fez foi hoje a C. Branca. Principiou as festas de Setúbal. Continuação dos

bailes campestres, correndo animadíssimos, principalmente o do Largo

dos Aliados (S. do Rosário). Faz 116 anos que saiu do Porto a Expedição do

Duque da Terceira contra o Algarve. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com

o horário das 8 horas. O revisor M. Soeiro deu parte doente pelo motivo 89desconfiar que é cobrado . Fui no cº. 3 na cª. 70. Fez um dia lindo e a noite

idem.

9022/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Aldegalega mais meu mano

João, José Badana, Artur S., Custódio F., Luiz Caseirão e compramos pifarus

[sic] e abanos a 8 centavos. Comemos jinjas [sic] morangos etc. Meu mano

escreveu um postal ao Simiteiro. Foi o funeral da mulher do Galhoz.

Continuação dos bailes no L. dos Aliados, Alto J. Ferreira, etc.,. Veio uma

Sociedade do Seixal tocar às festas da Democrática. Mais tarde no

Barreirense soube que o Custódio F. tirou-me um canivete em Aldeia

Galega. A prenda que a M.G.M. ofereceu para os bailes da S. Instrução foi

uma viola (?) feita de postais ilustrados. Principiou os bailes no Largo

Alexandre Herculano “nas Obras” e um outro ao Barreiro Terra pertencente

F. Soeiro etc. Houve baile no meu quintal tocando harmónica o carregador

António Gaspar. Falei com a M.G.M. Foi para o hospital o carregador dos

CFSS Francisco Russo.

18/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Ás 9,30 segui para Lisboa encontrei o

António V. Bote. Procurei pelos distintivos do Grupo dos 11 no Freire

gravador na Rua do Ouro. Estavam prontos. Paguei 3$30 sendo

testemunha o António V. Bote. Andavam a trabalhar os militares do

exército e da Armada e GNR nas carroças e nos automóveis etc. Foi a 1ª

viagem que me servi do Bilhete de Identidade. Falei com a M.G.M. Foi o

ensaio do cavalinho da S. Instrução ao som do mesmo bailou a claque e

outros. 1920 Fui no c. 3 carruagem 84 para Vendas Novas prestar serviço

mas como foi engano regressei ao Barreiro no c. 2 na c. 81 de manhã. Fez

um dia lindo fazendo algum calor. Fui ao Barrio Operário mais o Luiz Cristo,

andava muita rapaziada de bicicletas, a treinar-se para as corridas no

próximo domingo entre eles Cecílio Macedo. Declarou-se em greve o

pessoal da linha nos CFSS.

19/6/20 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Continua a

greve do pessoal da Comp. U. Fabril. Tocou a buzina da mesma Comp. mas

não compareceu pessoal algum ao serviço o director Sr. Alfredo da Silva

mandou vir das províncias pessoal. Apareceu na praia rapaz de 14 anos este

nu junto antiga muralha do J. Pimenta. Realizou-se o benefício da S.

Democrática, foi adiado no dia 7 p.p. por causa do falecimento do Sr. Dr.

Fernando J. Costa. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com o novo horário

seguinte das 10h às 14h e das 16h às 20h e 22h às 2h e às 4 e 8 da manhã

fazendo as 8h de trabalho mais o revisor Manuel Soeiro. Fui no c. 3 na c. 50.

Estive a ver mais o M. Soeiro exercício hípico no picadeiro, de oficiais do

Exército e alguns civis. Quando nós regressamos à estação encontramos

200 bois que seguiam para o Porto. Continua os bailes de Santo António no

Barreiro estando animado o do Bairro Operário, à noite tocou a S.

Democrática. Faleceu pelas 11h a Augusta Ferreira mãe da Maria Luiza.

20/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Já tomaram o trabalho a

construção civil e os corticeiros estavam em greve auxiliar aos camaradas

da C. União Fabril. Á noite foi colocado no quintal da S. Instrução o mastro

nunciando os próximos bailes. Fez 101 anos o desafio de V. Viçosa contra os

108 109

89 Doença da pele a que antigamente se chamava “Cobro” e hoje é conhecida por “Zona”90 Montijo

Page 109: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Franceses. 1920 Estive de folga. Regressei a V. Novas no c. 6 na c. 74. Foi o

cruzamento com o c. 3 em Pinhal Novo, vindo neste o Luiz Cristo. Este

regressou ao Barreiro comigo. Fez um lindo dia e muito calor. Ás 13 h foi

para Lisboa a S. Instrução dar um concerto a S. Amaro. Ás 15h seguiu para

Setúbal a S. Democrática para tocar a corrida de touros. Ás 17,45h fui no c.

17 c. 84 às festas de Alhos Vedros. Sendo a continuação das festas de

inauguração do coreto á dias sendo brilhantado por uma S. do Seixal. O

Freitas partiu o quadro da bicicleta do José da Glória que pertencia ao

Albino Macedo. Viemos a pé até ao Barrio Operário estava o baile animado.

Claque eu, Isidoro Praia, Manuel Fonseca, sendo este brilhantado pela S. da

Comp. U. Fabril. Houve baile na S. Instrução na sala feito por Comissão.

Quem marcou a quadrilha foi o Agostinho Martins. Regressaram ao

Barreiro às 2 da madrugada de Lisboa a S. Instrução trazendo no estandarte

duas fitas uma branca outra verde. Estas oferecidas pela S. de Santo Amaro.

21/6/920 Chegou uma força de marinha por motivo da greve da C. U.

Fabril. O ajudante revisor Filipe J. Cordeiro o primeiro destacamento que

fez foi hoje a C. Branca. Principiou as festas de Setúbal. Continuação dos

bailes campestres, correndo animadíssimos, principalmente o do Largo

dos Aliados (S. do Rosário). Faz 116 anos que saiu do Porto a Expedição do

Duque da Terceira contra o Algarve. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com

o horário das 8 horas. O revisor M. Soeiro deu parte doente pelo motivo 89desconfiar que é cobrado . Fui no cº. 3 na cª. 70. Fez um dia lindo e a noite

idem.

9022/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Aldegalega mais meu mano

João, José Badana, Artur S., Custódio F., Luiz Caseirão e compramos pifarus

[sic] e abanos a 8 centavos. Comemos jinjas [sic] morangos etc. Meu mano

escreveu um postal ao Simiteiro. Foi o funeral da mulher do Galhoz.

Continuação dos bailes no L. dos Aliados, Alto J. Ferreira, etc.,. Veio uma

Sociedade do Seixal tocar às festas da Democrática. Mais tarde no

Barreirense soube que o Custódio F. tirou-me um canivete em Aldeia

Galega. A prenda que a M.G.M. ofereceu para os bailes da S. Instrução foi

uma viola (?) feita de postais ilustrados. Principiou os bailes no Largo

Alexandre Herculano “nas Obras” e um outro ao Barreiro Terra pertencente

F. Soeiro etc. Houve baile no meu quintal tocando harmónica o carregador

António Gaspar. Falei com a M.G.M. Foi para o hospital o carregador dos

CFSS Francisco Russo.

18/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Ás 9,30 segui para Lisboa encontrei o

António V. Bote. Procurei pelos distintivos do Grupo dos 11 no Freire

gravador na Rua do Ouro. Estavam prontos. Paguei 3$30 sendo

testemunha o António V. Bote. Andavam a trabalhar os militares do

exército e da Armada e GNR nas carroças e nos automóveis etc. Foi a 1ª

viagem que me servi do Bilhete de Identidade. Falei com a M.G.M. Foi o

ensaio do cavalinho da S. Instrução ao som do mesmo bailou a claque e

outros. 1920 Fui no c. 3 carruagem 84 para Vendas Novas prestar serviço

mas como foi engano regressei ao Barreiro no c. 2 na c. 81 de manhã. Fez

um dia lindo fazendo algum calor. Fui ao Barrio Operário mais o Luiz Cristo,

andava muita rapaziada de bicicletas, a treinar-se para as corridas no

próximo domingo entre eles Cecílio Macedo. Declarou-se em greve o

pessoal da linha nos CFSS.

19/6/20 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Continua a

greve do pessoal da Comp. U. Fabril. Tocou a buzina da mesma Comp. mas

não compareceu pessoal algum ao serviço o director Sr. Alfredo da Silva

mandou vir das províncias pessoal. Apareceu na praia rapaz de 14 anos este

nu junto antiga muralha do J. Pimenta. Realizou-se o benefício da S.

Democrática, foi adiado no dia 7 p.p. por causa do falecimento do Sr. Dr.

Fernando J. Costa. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com o novo horário

seguinte das 10h às 14h e das 16h às 20h e 22h às 2h e às 4 e 8 da manhã

fazendo as 8h de trabalho mais o revisor Manuel Soeiro. Fui no c. 3 na c. 50.

Estive a ver mais o M. Soeiro exercício hípico no picadeiro, de oficiais do

Exército e alguns civis. Quando nós regressamos à estação encontramos

200 bois que seguiam para o Porto. Continua os bailes de Santo António no

Barreiro estando animado o do Bairro Operário, à noite tocou a S.

Democrática. Faleceu pelas 11h a Augusta Ferreira mãe da Maria Luiza.

20/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Já tomaram o trabalho a

construção civil e os corticeiros estavam em greve auxiliar aos camaradas

da C. União Fabril. Á noite foi colocado no quintal da S. Instrução o mastro

nunciando os próximos bailes. Fez 101 anos o desafio de V. Viçosa contra os

108 109

89 Doença da pele a que antigamente se chamava “Cobro” e hoje é conhecida por “Zona”90 Montijo

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Ardeu ao km 106, cinco vagões com carga da praça ficando só a ferragem

dos ditos.

25/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Esteve um dia

de muitíssimo calor. Continua a greve do pessoal da Compª U. fabril. Estive

mais uns doze a endireitar o terreno no quintal da S. Instrução para as

próximas festas sendo tirado o mastro da frente da Sociedade para ser

pintado, sendo ajudado a tirar o mesmo pelos Luiz Caseirão, F. Soeiro.

Chegou de França o filho do “Casca-Viana”. A GNR andou pelas ruas da vila

à espadeirada aos grevistas da C. U. Fabril. Pediu a demissão o Sr. Guerra de

Administrador do Concelho, sendo nomeado para ocupar o lugar o Sr.

Caetano Francisco da Silva. 1920 Estive de folga. Regressei a Barreiro de

Vendas Novas no cº 2 na cª 64. Esteve todo o dia nublado fazendo muito

calor, a noite muitos relâmpagos e pelas 23h choveu mas pouco. O revisor

F.M. Estaca comprou um cavalinho por 1$50. Falei com a M.G.M. O calão

em moda era “Espera um grandissimo bocado”.

26/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continua a greve dos

moageiros. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com o horário das 8 horas

com o revisor Manuel Soeiro. Fez todo o dia grandes aguaceiros e

trovoadas esteve sempre nublado o dia. Fui no comboio 3 na cª 68. Ás 20h

fomos passear à vila eu com o Manuel Soeiro e o camarada da CP. No

Barreiro houve bailes na Compª. U. Fabril e Alto José Ferreira correndo

animados.

27/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Pelas 19h fui mais o Luiz Caseirão,

Artur S., Cristóvão Duarte e meu mano e outros, à Igreja de S. Francisco

buscar o solho do coreto e depois seguimos às Obras buscar as restantes

partes do coreto vieram em cima das ditas partes e fizeram de santos o

Eduardo E. S. e o filho do Eleutério. Fez 101 anos que se rendeu a guarnição

francesa na Figueira da Foz. Foi à inspecção militar e ficou livre o J. Jesus

Catalão. 1920 Estive de folga. Regressei a Vendas novas no cº. 2 na cª 81. 91

Esteve todo o dia nublado. A minha mãe mal. Foi pela primeira vez picar à

Aldeia Galega o António Quintino. Continua as festas de Alhos Vedros foi

brilhantar as ditas a S. de Santo António. Tomou hoje posse o novo governo

sendo presidido pelo Sr. António Maria da Silva. Faleceu a sogra do João

ao revisor de bilhetes dos CFSS Sr. Viegas. Principiou-se a vedar o quintal da

S. Instrução. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite idem de luar,

fazendo muitíssimo calor. Regressei a Barreiro vindo de Vendas Novas no cº

2 na cª 50 e seguiu no cº 3 render a parte doente do R.M. Soeiro o revisor

F.M. Estaca. Pelas 2 da madrugada deu uma dor na minha mãe. Falei com

M.G.M. esta ofereceu-me uma gravata cor azul escura. Ontem o J.S.R.

Marques deu-me uma moeda em prata de D. Maria I.

23/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continuação dos

bailes campestre correndo muito animados. 1920 Estive descanso

semanal. Fez um dia lindo e a noite linda de luar fazendo bastante calor.

Veio a minha casa o médico Mesquita ver a minha mãe que encontrava-se

no leito bastante mal, por esse motivo jantei em casa da minha mana Rita.

Ás 23,30h seguiram para Coina, em carroças etc., a S. Instrução. Andei mais

o João da Silva, Artur S., Luiz M.F., a entregar pelos sócios da S. Instrução os

convites do baile que realizava-se amanhã dia de S. João continuando

animados os bailes campestres do Alto José Ferreira neste brilhantou um

cavalinho da S. Democrática e no Barrio Operário tocou a S. da Comp. U.

Fabril. Eu mais a claque fomos ver a sede da última Sociedade. Foi render o

revisor da CP Sr. Dias, o Sr. António Joaquim Belfo em Vendas Novas.

24/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Houve comboio especial à feira de S.

João a Évora. A M.G.M. foi mais seus pais ver o baile no Largo dos Aliados (S:

Rosário). No baile do Alto José Ferreira tocaram 4 músicos da Democrática.

No Largo dos Aliados como em cima disse, houve valsa a prémio esta ganha

pelo cavalheiro Adão M. Costa e dama Hermínia Panelas. No mesmo baile

foi preso pelo motivo desordem o ajudante ferreiro das Oficinas G. dos

CFSS Sr. Gabriel. Devido ouvir-se detonações correu o boato pela vila que

tinha rebentado outra revolução em Lisboa, sabendo-se mais tarde que foi

fogo de artifício nas festas de S. João em Almada. 1920 Trabalhei em

Vendas Novas com o revisor F.M. Estaca. Fui no cº 3 na cª 78. Realizaram-se

comboios especiais para a feira de Évora, entre eles um composto só de

vagões série JJ por falta de material. Á noite fui à vila de Vendas Novas mais

o F.M. Estaca e fomos ao teatro de barraca ver “O Padre Maldito” foi o que

subiu em cena, estivemos na superior preço 60 cent. Fez uma rifa de um

objecto, este saiu no nº 109. Toda a noite fez relâmpagos. Já de dia

tínhamos passeado pela vila estivemos muito no chafariz. No Barreiro

correu animados os bailes campestres. Houve baile na sala da S: Instrução. 91 Fazer o serviço de revisão de bilhetes

110 111

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Ardeu ao km 106, cinco vagões com carga da praça ficando só a ferragem

dos ditos.

25/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Esteve um dia

de muitíssimo calor. Continua a greve do pessoal da Compª U. fabril. Estive

mais uns doze a endireitar o terreno no quintal da S. Instrução para as

próximas festas sendo tirado o mastro da frente da Sociedade para ser

pintado, sendo ajudado a tirar o mesmo pelos Luiz Caseirão, F. Soeiro.

Chegou de França o filho do “Casca-Viana”. A GNR andou pelas ruas da vila

à espadeirada aos grevistas da C. U. Fabril. Pediu a demissão o Sr. Guerra de

Administrador do Concelho, sendo nomeado para ocupar o lugar o Sr.

Caetano Francisco da Silva. 1920 Estive de folga. Regressei a Barreiro de

Vendas Novas no cº 2 na cª 64. Esteve todo o dia nublado fazendo muito

calor, a noite muitos relâmpagos e pelas 23h choveu mas pouco. O revisor

F.M. Estaca comprou um cavalinho por 1$50. Falei com a M.G.M. O calão

em moda era “Espera um grandissimo bocado”.

26/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continua a greve dos

moageiros. 1920 Trabalhei em Vendas Novas com o horário das 8 horas

com o revisor Manuel Soeiro. Fez todo o dia grandes aguaceiros e

trovoadas esteve sempre nublado o dia. Fui no comboio 3 na cª 68. Ás 20h

fomos passear à vila eu com o Manuel Soeiro e o camarada da CP. No

Barreiro houve bailes na Compª. U. Fabril e Alto José Ferreira correndo

animados.

27/6/920 Fez 1 ano que estive de folga. Pelas 19h fui mais o Luiz Caseirão,

Artur S., Cristóvão Duarte e meu mano e outros, à Igreja de S. Francisco

buscar o solho do coreto e depois seguimos às Obras buscar as restantes

partes do coreto vieram em cima das ditas partes e fizeram de santos o

Eduardo E. S. e o filho do Eleutério. Fez 101 anos que se rendeu a guarnição

francesa na Figueira da Foz. Foi à inspecção militar e ficou livre o J. Jesus

Catalão. 1920 Estive de folga. Regressei a Vendas novas no cº. 2 na cª 81. 91

Esteve todo o dia nublado. A minha mãe mal. Foi pela primeira vez picar à

Aldeia Galega o António Quintino. Continua as festas de Alhos Vedros foi

brilhantar as ditas a S. de Santo António. Tomou hoje posse o novo governo

sendo presidido pelo Sr. António Maria da Silva. Faleceu a sogra do João

ao revisor de bilhetes dos CFSS Sr. Viegas. Principiou-se a vedar o quintal da

S. Instrução. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite idem de luar,

fazendo muitíssimo calor. Regressei a Barreiro vindo de Vendas Novas no cº

2 na cª 50 e seguiu no cº 3 render a parte doente do R.M. Soeiro o revisor

F.M. Estaca. Pelas 2 da madrugada deu uma dor na minha mãe. Falei com

M.G.M. esta ofereceu-me uma gravata cor azul escura. Ontem o J.S.R.

Marques deu-me uma moeda em prata de D. Maria I.

23/6/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continuação dos

bailes campestre correndo muito animados. 1920 Estive descanso

semanal. Fez um dia lindo e a noite linda de luar fazendo bastante calor.

Veio a minha casa o médico Mesquita ver a minha mãe que encontrava-se

no leito bastante mal, por esse motivo jantei em casa da minha mana Rita.

Ás 23,30h seguiram para Coina, em carroças etc., a S. Instrução. Andei mais

o João da Silva, Artur S., Luiz M.F., a entregar pelos sócios da S. Instrução os

convites do baile que realizava-se amanhã dia de S. João continuando

animados os bailes campestres do Alto José Ferreira neste brilhantou um

cavalinho da S. Democrática e no Barrio Operário tocou a S. da Comp. U.

Fabril. Eu mais a claque fomos ver a sede da última Sociedade. Foi render o

revisor da CP Sr. Dias, o Sr. António Joaquim Belfo em Vendas Novas.

24/6/920 Fez 1 ano estive de folga. Houve comboio especial à feira de S.

João a Évora. A M.G.M. foi mais seus pais ver o baile no Largo dos Aliados (S:

Rosário). No baile do Alto José Ferreira tocaram 4 músicos da Democrática.

No Largo dos Aliados como em cima disse, houve valsa a prémio esta ganha

pelo cavalheiro Adão M. Costa e dama Hermínia Panelas. No mesmo baile

foi preso pelo motivo desordem o ajudante ferreiro das Oficinas G. dos

CFSS Sr. Gabriel. Devido ouvir-se detonações correu o boato pela vila que

tinha rebentado outra revolução em Lisboa, sabendo-se mais tarde que foi

fogo de artifício nas festas de S. João em Almada. 1920 Trabalhei em

Vendas Novas com o revisor F.M. Estaca. Fui no cº 3 na cª 78. Realizaram-se

comboios especiais para a feira de Évora, entre eles um composto só de

vagões série JJ por falta de material. Á noite fui à vila de Vendas Novas mais

o F.M. Estaca e fomos ao teatro de barraca ver “O Padre Maldito” foi o que

subiu em cena, estivemos na superior preço 60 cent. Fez uma rifa de um

objecto, este saiu no nº 109. Toda a noite fez relâmpagos. Já de dia

tínhamos passeado pela vila estivemos muito no chafariz. No Barreiro

correu animados os bailes campestres. Houve baile na sala da S: Instrução. 91 Fazer o serviço de revisão de bilhetes

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30/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia em P. Novo com o revisor Augusto

D. Continuava as festas da Arrábida em Setúbal às 15h seguiram para as

ditas festa a S. Instrução e foi meu mano e uma grande claque regressaram

às 24,30h. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia lindo fazendo grande

nortada. O eucalipto do Garrelon foi deitado abaixo por motivo de estar

queimado e seco do fogo há meses. Fez uma linda noite de luar. Falei com a

M.G.M. Formou-se uma comissão para dar um baile na S. Instrução era os

seguintes membros da dita Artur S., Luiz Cristo, José d'Oliveira, José

Fonseca e eu para próximo dia 3.

1/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Levantei-me pelas 15,30h.

Principiaram a tratar de arranchar [sic] o arraial no quintal da S. Instrução

para as próximas festas. Fomos uma claque “ás Obras” buscar 11 varas etc.

O Júlio primo do J. Catalão esteve a preparar o mastro para pintar. Falei com

a M.G.M. estava doente. Fez muito vento Norte. Fui acompanhar a prima

Judite e a mãe até à Igreja da S. do Rosário tinha vindo visitar a minha

família. Veio o pagador dos CFSS. Pelas 24 h declarou-se a greve nos

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-9

Ferreira dona da sapataria na Rua Aguiar de nome “Lisbonense”. O

Alexandre Pireza esteve a mostrar umas botas que comprou são torcadas.

Houve baile no Alto José Ferreira, Barrio Operário, Vila Braz correndo

animadíssimos. Choveu pelas 2 da madrugada. Houve corridas de

bicicletas do Barrio Operário a Alhos Vedros sendo os corredores António

Luiz Marques, Cecílio Macedo, Agostinho, João Bernardo e um outro o

primeiro prémio foi ganho pelo Cecílio Macedo. Foi um jarro e o segundo

foi Agostinho uma garrafa de capilé. Foi à frente uma mota aonde seguia na

dita o Filipe J. Cordeiro. Falei com a M.G.M. Houve espectáculo na S.

Instrução tocando o cavalinho da dita Foi o pergitador [sic] Rodrigues

terminou às 2 da madrugada nós estávamos na primeira fila uma claque

duns 20.

28/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Correram animados os

bailes. O baile do Largo dos Aliados (S. Rosário) terminou às 4 h e do Alto

José Ferreira às 11h da manhã tocava o cavalinho da S. Democrática. Fez

772 anos que D. Afonso Henriques pôs cerco à cidade de Lisboa. 1920

Trabalhei em Vendas Novas com o revisor M. Soeiro fui no cº 3 na cª 68. Fez

um dia regular. Á noite fizemos uma pequena festa era eu revisor M. Soeiro,

máq. José Mendes, fogueiro Bejiga [sic] na casa da revisão para passar a

noite mais depressa.

29/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia em P. Novo mais o revisor

Augusto Duarte e foi para Setúbal o revisor de 1ª J. S. Cardoso regressava os

três a casa no comboio 18 por motivo de grande afluência de comboios

para as festas da Arrábida em Setúbal. Eu ao revisar um comboio aleijei-me

nas costas numa das portas duma carruagem. Foi para o Seixal pela ponte e

vieram a S. Democrática. Foi hoje a primeira vez que me chamou primo a

menina Lídia C. Ferreira. Fez 30 anos o Manuel Frade carregador dos CFSS.

Faleceu Aurora Rebelo filha do Dr. Dentista Rebelo. 1920 Estive de folga.

Regressei a Vendas Novas no cº 2 na cª 89. Seguiram para Évora no cº. 3 a S.

Instrução estava eu a prestar serviço em Vendas Novas revisei o dito

comboio. Fez grande temporal. Os bailes do Barrio Op., Vila Braz, e A. José

Ferreira todos animados principalmente o último, andei com a claque era

Custódio F., João Firmino. Fez 6 anos que foi a Lisboa falar ao Sr. Director e

com o Engenheiro da 4ª Secção florestal por causa das varas foi meu mano,

Manuel M. Torcato, Miguel d'Almeida da Comissão das próximas festas de

Agosto.

112 113

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30/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia em P. Novo com o revisor Augusto

D. Continuava as festas da Arrábida em Setúbal às 15h seguiram para as

ditas festa a S. Instrução e foi meu mano e uma grande claque regressaram

às 24,30h. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia lindo fazendo grande

nortada. O eucalipto do Garrelon foi deitado abaixo por motivo de estar

queimado e seco do fogo há meses. Fez uma linda noite de luar. Falei com a

M.G.M. Formou-se uma comissão para dar um baile na S. Instrução era os

seguintes membros da dita Artur S., Luiz Cristo, José d'Oliveira, José

Fonseca e eu para próximo dia 3.

1/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Levantei-me pelas 15,30h.

Principiaram a tratar de arranchar [sic] o arraial no quintal da S. Instrução

para as próximas festas. Fomos uma claque “ás Obras” buscar 11 varas etc.

O Júlio primo do J. Catalão esteve a preparar o mastro para pintar. Falei com

a M.G.M. estava doente. Fez muito vento Norte. Fui acompanhar a prima

Judite e a mãe até à Igreja da S. do Rosário tinha vindo visitar a minha

família. Veio o pagador dos CFSS. Pelas 24 h declarou-se a greve nos

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-9

Ferreira dona da sapataria na Rua Aguiar de nome “Lisbonense”. O

Alexandre Pireza esteve a mostrar umas botas que comprou são torcadas.

Houve baile no Alto José Ferreira, Barrio Operário, Vila Braz correndo

animadíssimos. Choveu pelas 2 da madrugada. Houve corridas de

bicicletas do Barrio Operário a Alhos Vedros sendo os corredores António

Luiz Marques, Cecílio Macedo, Agostinho, João Bernardo e um outro o

primeiro prémio foi ganho pelo Cecílio Macedo. Foi um jarro e o segundo

foi Agostinho uma garrafa de capilé. Foi à frente uma mota aonde seguia na

dita o Filipe J. Cordeiro. Falei com a M.G.M. Houve espectáculo na S.

Instrução tocando o cavalinho da dita Foi o pergitador [sic] Rodrigues

terminou às 2 da madrugada nós estávamos na primeira fila uma claque

duns 20.

28/6/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Correram animados os

bailes. O baile do Largo dos Aliados (S. Rosário) terminou às 4 h e do Alto

José Ferreira às 11h da manhã tocava o cavalinho da S. Democrática. Fez

772 anos que D. Afonso Henriques pôs cerco à cidade de Lisboa. 1920

Trabalhei em Vendas Novas com o revisor M. Soeiro fui no cº 3 na cª 68. Fez

um dia regular. Á noite fizemos uma pequena festa era eu revisor M. Soeiro,

máq. José Mendes, fogueiro Bejiga [sic] na casa da revisão para passar a

noite mais depressa.

29/6/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia em P. Novo mais o revisor

Augusto Duarte e foi para Setúbal o revisor de 1ª J. S. Cardoso regressava os

três a casa no comboio 18 por motivo de grande afluência de comboios

para as festas da Arrábida em Setúbal. Eu ao revisar um comboio aleijei-me

nas costas numa das portas duma carruagem. Foi para o Seixal pela ponte e

vieram a S. Democrática. Foi hoje a primeira vez que me chamou primo a

menina Lídia C. Ferreira. Fez 30 anos o Manuel Frade carregador dos CFSS.

Faleceu Aurora Rebelo filha do Dr. Dentista Rebelo. 1920 Estive de folga.

Regressei a Vendas Novas no cº 2 na cª 89. Seguiram para Évora no cº. 3 a S.

Instrução estava eu a prestar serviço em Vendas Novas revisei o dito

comboio. Fez grande temporal. Os bailes do Barrio Op., Vila Braz, e A. José

Ferreira todos animados principalmente o último, andei com a claque era

Custódio F., João Firmino. Fez 6 anos que foi a Lisboa falar ao Sr. Director e

com o Engenheiro da 4ª Secção florestal por causa das varas foi meu mano,

Manuel M. Torcato, Miguel d'Almeida da Comissão das próximas festas de

Agosto.

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4/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi concedidos 6 dias de licença

que pedi há dias principiando a gozar amanhã. Fui para Lisboa às 9,30h

comprei um cinto por 3$50. Encontrava-se em toda a cidade muitos

edifícios do Estado e particulares bandeiras nacionais e aliados em regozijo

da assinatura da paz da guerra europeia. Esteve todo o dia nublado fazendo

muito vento Norte. Pelas 13,35 uma força de Cavalaria 2 para o Barreiro.

Falei com a M.G.M. Estive de tarde no talho do Luiz Marques ao pé da Praça

da República. Fiz entregar os distintivos do grupo dos 11 o Eduardo E. S.,

Luiz Caseirão pagou os ditos. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia

lindo mas pouco vento ao fim da tarde levantou-se grande nortada e foi

toda a noite. Levantei-me às 10h. Pelas 11,30h foi festejada a cerimónia no

colocar o painel no Largo dos Aliados nunciando as próximas festas de

Agosto abrilhantando as Sociedades Democrática e Compª. União Fabril

tirando-se muitas girândolas de foguetes e uma salva de 21 tiros etc. Pelas

14 h foram ao jantar do Miguel Luiz Santos numa quinta próximo da Telha a

S. Instrução. Foi o casamento da Albertina Bravo Rodrigues. Houve desafio

de foot-ball. Na Compª União Fabril não se realizou a corrida de sacos e

burros etc. Havendo baile de tarde e à noite. Pelas 20,15h passou sobre a

vila um aeroplano. Correu animados os bailes principalmente o do Alto

José Ferreira. Houve espectáculo na S. Instrução sendo a comédia “O Genro

do Caetano” sendo uma noite de gargalhada. Fizeram uma rifa de um

galinha corada comprei 13 números e a claque também compraram fez o

sorteio no nº 104 foi ao Joaquim dos Santos que ofereceu ao Grupo

Dramático veio ao palco agradecer em nome do dito grupo dos comilões

Jerónimo Martins. A pedido da claque veio actriz Maltina Neves esta

cantou o fado da alfazema. Terminou o espectáculo às 2h da madrugada

vim para os bailões o do Alto José Ferreira estava animado terminou às

3,5h. Houve benefício no T. Cine da S. Democrática para reverter o produto

liquido para a compra dos fardamentos para a dita. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Sport Portugal ficaram empatados 3 a 3 no

Barreiro.

5/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Levantei-me às 12h. Pagou o

distintivo do grupo dos 11 o João d'Silva Parra e João Rafael Soeiro. A S.

Instrução foram no cº 9 para a estação dos CFSS de Pegões. Falei com a

M.G.M. Continuação do Bailes Campestres nas Obras, houve valsa a

prémio no Largo dos Aliados correu animado. Comprei 5 iscas metidas em

pãezinhos para a claque que era Custódio F., Eduardo E. S., João Garcias e

Caminhos de Ferro Portugueses. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia

lindo fazendo algum calor e a noite idem de luar. Fui receber ao pagador

64$82. Comprei quatro cadeiras nº 11-13-15-17 foi dois escudos para

próximo dia 4 teatro na S. Instrução e dei um escudo para a compra do

fardamento para a banda da dita. Falei com M.G.M. Saiu para todo o

concelho do Barreiro, para tirarem licença todos os fulanos que têm

bicicletas. Comecei a tratar de inscrever todos o os sócios da S. Instrução

para tirar um grupo para oferecer a dita. Aumentou para 5 centavos os

jornais.

2/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fui receber ao

pagador 56$94. Pois [sic] a proposta do Agrípio Cardoso para sócio da S.

Instrução e dei um escudo para uma subscrição para os operários da

Compª. U. Fabril, que continua em greve. Eu deixei-me dormir no quintal da

S. Instrução sem ninguém chamar estive até às 1,20h. 1920 Trabalhei todo

o dia. Fez um dia lindo e bastante calor e a noite idem de luar. Encontrava-se

doente os ajudantes revisores A. Cunha e F. Simões este com uma negra

num pé. Á noite fez grande nortada toda a noite. J. M. Estaca tirou licença

para poder andara de bicicleta. Foi matriculado com nº 14. Foi o casamento

do Eduardo Bandeireiro e um dos convidados esteve a tirar dinheiro da

janela abaixo era cédulas de 5 e 10 centavos e de escudo e de dois e 50 cent.

Encontrava bastante rapaziada no local.

3/7/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Anteontem aleijou-se

em Faro num dedo o Delícias Correia torneiro. Foram colocados editais 92para chamadas das praças licenciadas do BSCF Portugueses , que se

encontravam em greve. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular

fazendo grande nortada foi todo o dia e a noite idem mas linda de luar.

Houve benefício no T. Cine para a actriz Lina Santana foi as “Intrigas do B.”

brilhantou o dito benefício a S. Democrática. Houve baile na sala da S.

Instrução como faltou o pianista que estava tratado foi-se chamar o Isidro

foi feito o dito por uma comissão marcou a quadrilha António Filipe, Artur

S. e o Evaristo e outros foi uma parte a cada um terminou às 4,10h da

madrugada e fui pela segunda vez bailar a quadrilha foi a minha dama

chamava-se Albertina e houve os seguintes bailes Vila Braz, Barrio

Operário, Alto José Ferreira, todos muito animados. Foi pela primeira vez

que comi figos.

92 Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro

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4/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi concedidos 6 dias de licença

que pedi há dias principiando a gozar amanhã. Fui para Lisboa às 9,30h

comprei um cinto por 3$50. Encontrava-se em toda a cidade muitos

edifícios do Estado e particulares bandeiras nacionais e aliados em regozijo

da assinatura da paz da guerra europeia. Esteve todo o dia nublado fazendo

muito vento Norte. Pelas 13,35 uma força de Cavalaria 2 para o Barreiro.

Falei com a M.G.M. Estive de tarde no talho do Luiz Marques ao pé da Praça

da República. Fiz entregar os distintivos do grupo dos 11 o Eduardo E. S.,

Luiz Caseirão pagou os ditos. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia

lindo mas pouco vento ao fim da tarde levantou-se grande nortada e foi

toda a noite. Levantei-me às 10h. Pelas 11,30h foi festejada a cerimónia no

colocar o painel no Largo dos Aliados nunciando as próximas festas de

Agosto abrilhantando as Sociedades Democrática e Compª. União Fabril

tirando-se muitas girândolas de foguetes e uma salva de 21 tiros etc. Pelas

14 h foram ao jantar do Miguel Luiz Santos numa quinta próximo da Telha a

S. Instrução. Foi o casamento da Albertina Bravo Rodrigues. Houve desafio

de foot-ball. Na Compª União Fabril não se realizou a corrida de sacos e

burros etc. Havendo baile de tarde e à noite. Pelas 20,15h passou sobre a

vila um aeroplano. Correu animados os bailes principalmente o do Alto

José Ferreira. Houve espectáculo na S. Instrução sendo a comédia “O Genro

do Caetano” sendo uma noite de gargalhada. Fizeram uma rifa de um

galinha corada comprei 13 números e a claque também compraram fez o

sorteio no nº 104 foi ao Joaquim dos Santos que ofereceu ao Grupo

Dramático veio ao palco agradecer em nome do dito grupo dos comilões

Jerónimo Martins. A pedido da claque veio actriz Maltina Neves esta

cantou o fado da alfazema. Terminou o espectáculo às 2h da madrugada

vim para os bailões o do Alto José Ferreira estava animado terminou às

3,5h. Houve benefício no T. Cine da S. Democrática para reverter o produto

liquido para a compra dos fardamentos para a dita. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Sport Portugal ficaram empatados 3 a 3 no

Barreiro.

5/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Levantei-me às 12h. Pagou o

distintivo do grupo dos 11 o João d'Silva Parra e João Rafael Soeiro. A S.

Instrução foram no cº 9 para a estação dos CFSS de Pegões. Falei com a

M.G.M. Continuação do Bailes Campestres nas Obras, houve valsa a

prémio no Largo dos Aliados correu animado. Comprei 5 iscas metidas em

pãezinhos para a claque que era Custódio F., Eduardo E. S., João Garcias e

Caminhos de Ferro Portugueses. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia

lindo fazendo algum calor e a noite idem de luar. Fui receber ao pagador

64$82. Comprei quatro cadeiras nº 11-13-15-17 foi dois escudos para

próximo dia 4 teatro na S. Instrução e dei um escudo para a compra do

fardamento para a banda da dita. Falei com M.G.M. Saiu para todo o

concelho do Barreiro, para tirarem licença todos os fulanos que têm

bicicletas. Comecei a tratar de inscrever todos o os sócios da S. Instrução

para tirar um grupo para oferecer a dita. Aumentou para 5 centavos os

jornais.

2/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fui receber ao

pagador 56$94. Pois [sic] a proposta do Agrípio Cardoso para sócio da S.

Instrução e dei um escudo para uma subscrição para os operários da

Compª. U. Fabril, que continua em greve. Eu deixei-me dormir no quintal da

S. Instrução sem ninguém chamar estive até às 1,20h. 1920 Trabalhei todo

o dia. Fez um dia lindo e bastante calor e a noite idem de luar. Encontrava-se

doente os ajudantes revisores A. Cunha e F. Simões este com uma negra

num pé. Á noite fez grande nortada toda a noite. J. M. Estaca tirou licença

para poder andara de bicicleta. Foi matriculado com nº 14. Foi o casamento

do Eduardo Bandeireiro e um dos convidados esteve a tirar dinheiro da

janela abaixo era cédulas de 5 e 10 centavos e de escudo e de dois e 50 cent.

Encontrava bastante rapaziada no local.

3/7/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Anteontem aleijou-se

em Faro num dedo o Delícias Correia torneiro. Foram colocados editais 92para chamadas das praças licenciadas do BSCF Portugueses , que se

encontravam em greve. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular

fazendo grande nortada foi todo o dia e a noite idem mas linda de luar.

Houve benefício no T. Cine para a actriz Lina Santana foi as “Intrigas do B.”

brilhantou o dito benefício a S. Democrática. Houve baile na sala da S.

Instrução como faltou o pianista que estava tratado foi-se chamar o Isidro

foi feito o dito por uma comissão marcou a quadrilha António Filipe, Artur

S. e o Evaristo e outros foi uma parte a cada um terminou às 4,10h da

madrugada e fui pela segunda vez bailar a quadrilha foi a minha dama

chamava-se Albertina e houve os seguintes bailes Vila Braz, Barrio

Operário, Alto José Ferreira, todos muito animados. Foi pela primeira vez

que comi figos.

92 Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro

114 115

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8/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Fui no comboio 3 a Vendas Novas

mais o Adelino S. Bernardo que é fogueiro na Criozetagem e Guilherme

M.C. e José S. R. Marques. Bebemos paguei eu. Andamos a passear pela vila

com revisor Manuel Nunes regressamos no comboio 2 ao Barreiro à tabela.

Pelas 5 da madrugada de hoje declarou-se incêndio numa porção de

abastecer as máquinas que se encontrava junto à Rotunda dos CFSS. Ao

desmanchar o arraial dos Aliados quando se arriava a vara central, caiu um

rapaz este ainda se aleijou num braço. Chegou de França o Albino Macedo.

Deu uma dor numa das pernas de meu mano. Pelas 13,25h foi a maioria do

pessoal da Compª U. Fabril que foi despedido pela última greve a Lisboa

para pedir ao Governo trabalho. 1920 Trabalhei todo o dia. Ajudei o revisor

José S. Cardoso no J 373 acertei dois bronzes. Fez um dia lindo fazendo

muito calor pela tarde pois-se muito vento Norte. Foi o casamento do filho

mais novo do José Pedro da Viúva. Ontem para hoje houve grandes assaltos

a estabelecimentos em Alcácer do Sal e em Setúbal, aonde interveio forças

da G. República e Inf. 11. Estes últimos fizeram 4 mortes. Em Lisboa houve

grandes conflitos de tiros, etc. Recolheram os Eléctricos, paralisou por

completo o trânsito, sendo patrulhadas as ruas da cidade e prevenção nos

quartéis, etc. Fez 6 anos perderam o dia Miguel d'Almeida, Sebastião José

Luiz e meu mano para ir ao Pinhal da Machada buscar o resto dos vasos

houve desastre pelo caminho. Fez uma noite linda de luar.

9/7/920 Fez um ano continuava de licença com vencimento fui para

Lisboa às 9,30 regressei às 14,25h. Houve reunião de ferroviários no Teatro

Cine por motivo da Caixa. Fez uma noite linda de luar. Falei com a M.G.M.

Veio para a S. Instrução 8 varas do arraial do baile do Largo dos Aliados e

madeira da estância também nas Obras, trouxe com o Artur S., A. Cristo,

Luiz Caseirão etc. Houve uma missa por alma do Sr. Dr. J. Fernandes da

Costa na Igreja da S. do Rosário. 1920. Trabalhei todo o dia. Fomos no cº. 11

cª 73 para Pinhal Novo à montagem de uma barraca para o revisor de

material eu, revisores M. Manilha, J.S. Cardoso, J. José 2º, Domingos d'Silva

estes serventes e aprendizes João M. Estaca, J. José Pedro e o carpinteiro

António Bifa regressamos no comboio 2 na cª 89. Às 16,40h o Sr. José da Luz

deu ordem para eu amanhã no comboio 9 seguir para Tunes render o

ajudante Luiz Cordeiro e o Marcelo para a Funcheira no dito comboio.

outros. Foi chamado ao Quartel General o Mário Cândido teve que pagar

9$93. No Largo dos Aliados foi brilhantado por estrumentos de corda com

as novas peças de música. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fez

um dia lindo fazendo muito calor e a noite idem de luar mas grande

nortada. Não fui à vila. Tomou posse a nova Câmara, esta Socialista,

presidente Júlio Veríssimo. No Alto José Ferreira foi ontem o último baile do

ano.

6/7/920 Fez 1 ano estive descanso semanal. Faleceu um filho mais novo

do Aguardente após ter regressado de França. Principiou a chover de tarde.

Continuação dos bailes do Largo dos Aliados quando estava animado foi

quando principiou a chover a noite mas depois leviou ficando já

desanimado continuando o baile. Bailaram muito uns suecos estes dum

barco que está à descarga de carvão para os CFSS. Comprei iscas para mim,

A. J. Morais, Luiz Caseirão. Houve uma desordem o António da Ratinha com

um desconhecido e mais tarde entre o Manuel Frade com um algarvio. Falei

com a M.G.M. O baile do Largo dos Aliados foi esta noite o último. 1920.

Trabalhei em Setúbal fui no comboio 11 cª. 79 render o descanso semanal

ao revisor ajudante Basílio Rosa regressei no cº 18 cª 52. Fez um dia e peras

mas muito calor. Fui à vila à noite acompanhar Maria e Margarida manas do

meu cunhado J. José que vieram ver a minha mãe que se encontrava mal de

cama. Continua a falta de carvão e lenha para abastecer as máquinas dos

CFSS.

7/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Levantei-me às 14h. Chegou à

ponte dos CFSS o vapor Gil Eanes para meter minério. Foi resolvida a greve

da C. União Fabril sem condições, estando o Sr. Alfredo da Silva a fazer

escolha aos operários. Veio do arraial do Largo dos Aliados para a S.

Instrução 8 varas e o pião para a tômbola, etc. Falei com a M.G.M.

Descarrilou em Sabóia o comboio 201 só houve avarias importantes no

material. 1920 Trabalhei todo o dia. De manhã choveu e pelas 10h aleviou

pois um dia e peras fazendo calor. Foi o casamento José Cerqueira. Estão

junto à Rotunda uns mil barricas bazias [sic] que era de cimento para linha

para as máquinas dos CFSS. Fez 6 anos que perdeu meio dia de tarde alguns

membros da Comissão das próximas festas de Agosto no Largo dos Aliados

que foram ao Pinhal da Machada cortar pinheiros para a dita festa.

116 117

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8/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Fui no comboio 3 a Vendas Novas

mais o Adelino S. Bernardo que é fogueiro na Criozetagem e Guilherme

M.C. e José S. R. Marques. Bebemos paguei eu. Andamos a passear pela vila

com revisor Manuel Nunes regressamos no comboio 2 ao Barreiro à tabela.

Pelas 5 da madrugada de hoje declarou-se incêndio numa porção de

abastecer as máquinas que se encontrava junto à Rotunda dos CFSS. Ao

desmanchar o arraial dos Aliados quando se arriava a vara central, caiu um

rapaz este ainda se aleijou num braço. Chegou de França o Albino Macedo.

Deu uma dor numa das pernas de meu mano. Pelas 13,25h foi a maioria do

pessoal da Compª U. Fabril que foi despedido pela última greve a Lisboa

para pedir ao Governo trabalho. 1920 Trabalhei todo o dia. Ajudei o revisor

José S. Cardoso no J 373 acertei dois bronzes. Fez um dia lindo fazendo

muito calor pela tarde pois-se muito vento Norte. Foi o casamento do filho

mais novo do José Pedro da Viúva. Ontem para hoje houve grandes assaltos

a estabelecimentos em Alcácer do Sal e em Setúbal, aonde interveio forças

da G. República e Inf. 11. Estes últimos fizeram 4 mortes. Em Lisboa houve

grandes conflitos de tiros, etc. Recolheram os Eléctricos, paralisou por

completo o trânsito, sendo patrulhadas as ruas da cidade e prevenção nos

quartéis, etc. Fez 6 anos perderam o dia Miguel d'Almeida, Sebastião José

Luiz e meu mano para ir ao Pinhal da Machada buscar o resto dos vasos

houve desastre pelo caminho. Fez uma noite linda de luar.

9/7/920 Fez um ano continuava de licença com vencimento fui para

Lisboa às 9,30 regressei às 14,25h. Houve reunião de ferroviários no Teatro

Cine por motivo da Caixa. Fez uma noite linda de luar. Falei com a M.G.M.

Veio para a S. Instrução 8 varas do arraial do baile do Largo dos Aliados e

madeira da estância também nas Obras, trouxe com o Artur S., A. Cristo,

Luiz Caseirão etc. Houve uma missa por alma do Sr. Dr. J. Fernandes da

Costa na Igreja da S. do Rosário. 1920. Trabalhei todo o dia. Fomos no cº. 11

cª 73 para Pinhal Novo à montagem de uma barraca para o revisor de

material eu, revisores M. Manilha, J.S. Cardoso, J. José 2º, Domingos d'Silva

estes serventes e aprendizes João M. Estaca, J. José Pedro e o carpinteiro

António Bifa regressamos no comboio 2 na cª 89. Às 16,40h o Sr. José da Luz

deu ordem para eu amanhã no comboio 9 seguir para Tunes render o

ajudante Luiz Cordeiro e o Marcelo para a Funcheira no dito comboio.

outros. Foi chamado ao Quartel General o Mário Cândido teve que pagar

9$93. No Largo dos Aliados foi brilhantado por estrumentos de corda com

as novas peças de música. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fez

um dia lindo fazendo muito calor e a noite idem de luar mas grande

nortada. Não fui à vila. Tomou posse a nova Câmara, esta Socialista,

presidente Júlio Veríssimo. No Alto José Ferreira foi ontem o último baile do

ano.

6/7/920 Fez 1 ano estive descanso semanal. Faleceu um filho mais novo

do Aguardente após ter regressado de França. Principiou a chover de tarde.

Continuação dos bailes do Largo dos Aliados quando estava animado foi

quando principiou a chover a noite mas depois leviou ficando já

desanimado continuando o baile. Bailaram muito uns suecos estes dum

barco que está à descarga de carvão para os CFSS. Comprei iscas para mim,

A. J. Morais, Luiz Caseirão. Houve uma desordem o António da Ratinha com

um desconhecido e mais tarde entre o Manuel Frade com um algarvio. Falei

com a M.G.M. O baile do Largo dos Aliados foi esta noite o último. 1920.

Trabalhei em Setúbal fui no comboio 11 cª. 79 render o descanso semanal

ao revisor ajudante Basílio Rosa regressei no cº 18 cª 52. Fez um dia e peras

mas muito calor. Fui à vila à noite acompanhar Maria e Margarida manas do

meu cunhado J. José que vieram ver a minha mãe que se encontrava mal de

cama. Continua a falta de carvão e lenha para abastecer as máquinas dos

CFSS.

7/7/920 Fez 1 ano que estive de licença. Levantei-me às 14h. Chegou à

ponte dos CFSS o vapor Gil Eanes para meter minério. Foi resolvida a greve

da C. União Fabril sem condições, estando o Sr. Alfredo da Silva a fazer

escolha aos operários. Veio do arraial do Largo dos Aliados para a S.

Instrução 8 varas e o pião para a tômbola, etc. Falei com a M.G.M.

Descarrilou em Sabóia o comboio 201 só houve avarias importantes no

material. 1920 Trabalhei todo o dia. De manhã choveu e pelas 10h aleviou

pois um dia e peras fazendo calor. Foi o casamento José Cerqueira. Estão

junto à Rotunda uns mil barricas bazias [sic] que era de cimento para linha

para as máquinas dos CFSS. Fez 6 anos que perdeu meio dia de tarde alguns

membros da Comissão das próximas festas de Agosto no Largo dos Aliados

que foram ao Pinhal da Machada cortar pinheiros para a dita festa.

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13/7/920 Fez 1 ano estive descanso semanal, levantei-me às 11,10h. Foi

alguns membros da Comissão das Festas do quintal da S. Instrução buscar

flores, etc. e foi às canas o José d' P. Miguel d'Almeida, José E. Beira. Foi

último baile nas “Obras” havendo valsa a prémio foi ganha pela Ermínia

Panelas. Pelas 20,30 foi a montagem da cúpula do Coreto do quintal da S.

Instrução era eu meu mano, João da Luz, Manuel da Luz, Delícias C.,

Manuel Borrachinho, José Cordeiro, António Cristo, Simiteiro, José do P.,

Cristóvão Duarte. Caiu uma das partes era do José d' P. com grande

dificuldade sempre se conseguiu fazer a montagem. 1920 Cheguei a

Barreiro no comboio 6 no Barreiro-A procurei o João Ramalho sobre as

guias resposta só dia 20 em diante ele seguia no comboio12 às 11 e tal para

Lisboa. Fez um dia lindo fazendo muito calor. Faleceu o meu primo António

Lourenço mestre dos vapores dos CFSS mas era reformado. Á noite segui

novamente para Tunes comboio 9 na cª. 84.

14/7/920 Fez 1 ano que trabalhei na Gare até às 15h foi feriado em

regozijo da Paz. Faleceu a mãe do Ângelo Santareno. Fez muitíssimo calor.

Fui mais meu mano, F. Soeiro, José E. Beira, Cristóvão Duarte, J.P. Borralho,

etc. buscar 25 varas “às Obras” do arraial dos bailes que terminou há dias.

Houve bodo aos pobres no chalet do Carlos Albers sendo brilhantada a

cerimónia pelo cavalinho da S. Instrução sendo queimados morteiros etc.

sendo ferida por um estilhaço de um morteiro uma mulher e duas

creanças. Estávamos uma grande claque a trabalhar no quintal da S.

Instrução pelas 23,30h ouvimos tiros de peça em Lisboa corremos à praia

era eu, F. Soeiro., J.S. Borralho, José Esteves Beira este perdeu 24 cent. na

areia como brincamos depois de se ter já visto o fogo artifício em regozijo

da assinatura da Paz. Ficou completamente montada a cúpula do coreto do

quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei todo o dia em Tunes e fiquei de

noite. Fez um dia lindo fazendo calor ao princípio da tarde começou a

nublar-se. As primeiras [uvas?] que comi era brancas. Escrevi duas cartas

para Barreiro uma para Artur S. e outra à M.G.M. Chegou a Tunes no

comboio 6 o ajudante R. Belezinho render o descanso semanal do revisor

Augusto Duarte. No Barreiro no T. Cine abriu a esplanada com a venda de

cafés, etc. Passou com direcção a Setúbal um aeroplano.

15/7/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Em Lisboa houve

grandes festejos no Jardim Zoológico foram distribuídos brinquedos e

10/7/920 Fez 1 ano continuei de licença. De dia esteve nublado ainda

choveu mas esteve muito calor. Faleceu o António Brito barbeiro na Rua

Miguel Pais. Fui às 9,30h e regressei às 11 e tal de Lisboa. Pelas 13h fui

passear até Alhos Vedros mais a M.G.M. e a mãe foram fazer uma visita. Eu

esperei na estação regressamos pela linha assim como fomos era 17h foi a

chegada ao Barreiro à noite não fui à vila. Fez uma noite linda de luar. 1920

Trabalhei até às 15,45h por motivo de ter que seguir no comboio 9 para

Tunes. Fez um dia lindo fazendo bastante calor. O Sr. Dr. Velez Caroço

encontrava-se mal de saúde. Pelas 20h passou sobre a vila em direcção a

Setúbal um hidro-vião por motivo dos assaltos a estabelecimentos à dias

na dita cidade. Houve benefício para o jornal “A Batalha” foi brilhantar a S.

Instrução. Embarquei à noite no comboio 9 para Tunes na cª. 85 e no

Barreiro-A o Manuel Curral para a Funcheira.

11/7/920 Fez um ano que estive de licença levantei-me às 11h. De tarde

fui à vila encontrava-se a pintar a varanda da S. Instrução o Júlio D.

Continuava a greve dos CF Portugueses. 1920 Trabalhei das 11h e fiquei de

noite a prestar serviço em Tunes estava de serviço o revisor Augusto

Duarte. Fez um dia lindo fazendo muito calor e ao fim da tarde vento. No

Barreiro tocou a S. 24 de Agosto de Lisboa na Compª. U. Fabril. Pelas 17 h

passou em direcção a Évora um aeroplano. O Artur S. foi à pesca.

12/7/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. O capataz de manobras Lafaete

ao fazer manobras nas Cocheiras os DD 136-264 tomou velocidade mas

valeu foi o pessoal por calços etc. Houve benefício no Salão Popular para o

Coreto. O José d'Silva Parra e F. Soeiro foram para o Algarve. O meu mano

esteve de licença e foi a Lisboa pedir ao Sr. Director dos CFSS bandeiras e

escudos para as festas no quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei todo o dia

em Tunes até o comboio 6 que regressei às 20 para Barreiro no cº. 84 para

amanhã ir buscar aos Paços Concelho a guia para a inspecção militar.

Trouxe vários recados cartas, uma do revisor André Fernandes para

entregar na Corporativa [sic] dos CFSS ao Sr. Soeiro e um fato para entregar

à mulher do meu camarada Augusto Duarte que me entregou o dito. Fez

um dia lindo ao fim da tarde vento e uma noite linda. Ontem no Barreiro na

S. Instrução à quadrilha caiu na sala a menina Gertrudes e ao terminar o

baile na rua houve desordem entre Manuel Ramalho e Mira.

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13/7/920 Fez 1 ano estive descanso semanal, levantei-me às 11,10h. Foi

alguns membros da Comissão das Festas do quintal da S. Instrução buscar

flores, etc. e foi às canas o José d' P. Miguel d'Almeida, José E. Beira. Foi

último baile nas “Obras” havendo valsa a prémio foi ganha pela Ermínia

Panelas. Pelas 20,30 foi a montagem da cúpula do Coreto do quintal da S.

Instrução era eu meu mano, João da Luz, Manuel da Luz, Delícias C.,

Manuel Borrachinho, José Cordeiro, António Cristo, Simiteiro, José do P.,

Cristóvão Duarte. Caiu uma das partes era do José d' P. com grande

dificuldade sempre se conseguiu fazer a montagem. 1920 Cheguei a

Barreiro no comboio 6 no Barreiro-A procurei o João Ramalho sobre as

guias resposta só dia 20 em diante ele seguia no comboio12 às 11 e tal para

Lisboa. Fez um dia lindo fazendo muito calor. Faleceu o meu primo António

Lourenço mestre dos vapores dos CFSS mas era reformado. Á noite segui

novamente para Tunes comboio 9 na cª. 84.

14/7/920 Fez 1 ano que trabalhei na Gare até às 15h foi feriado em

regozijo da Paz. Faleceu a mãe do Ângelo Santareno. Fez muitíssimo calor.

Fui mais meu mano, F. Soeiro, José E. Beira, Cristóvão Duarte, J.P. Borralho,

etc. buscar 25 varas “às Obras” do arraial dos bailes que terminou há dias.

Houve bodo aos pobres no chalet do Carlos Albers sendo brilhantada a

cerimónia pelo cavalinho da S. Instrução sendo queimados morteiros etc.

sendo ferida por um estilhaço de um morteiro uma mulher e duas

creanças. Estávamos uma grande claque a trabalhar no quintal da S.

Instrução pelas 23,30h ouvimos tiros de peça em Lisboa corremos à praia

era eu, F. Soeiro., J.S. Borralho, José Esteves Beira este perdeu 24 cent. na

areia como brincamos depois de se ter já visto o fogo artifício em regozijo

da assinatura da Paz. Ficou completamente montada a cúpula do coreto do

quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei todo o dia em Tunes e fiquei de

noite. Fez um dia lindo fazendo calor ao princípio da tarde começou a

nublar-se. As primeiras [uvas?] que comi era brancas. Escrevi duas cartas

para Barreiro uma para Artur S. e outra à M.G.M. Chegou a Tunes no

comboio 6 o ajudante R. Belezinho render o descanso semanal do revisor

Augusto Duarte. No Barreiro no T. Cine abriu a esplanada com a venda de

cafés, etc. Passou com direcção a Setúbal um aeroplano.

15/7/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Em Lisboa houve

grandes festejos no Jardim Zoológico foram distribuídos brinquedos e

10/7/920 Fez 1 ano continuei de licença. De dia esteve nublado ainda

choveu mas esteve muito calor. Faleceu o António Brito barbeiro na Rua

Miguel Pais. Fui às 9,30h e regressei às 11 e tal de Lisboa. Pelas 13h fui

passear até Alhos Vedros mais a M.G.M. e a mãe foram fazer uma visita. Eu

esperei na estação regressamos pela linha assim como fomos era 17h foi a

chegada ao Barreiro à noite não fui à vila. Fez uma noite linda de luar. 1920

Trabalhei até às 15,45h por motivo de ter que seguir no comboio 9 para

Tunes. Fez um dia lindo fazendo bastante calor. O Sr. Dr. Velez Caroço

encontrava-se mal de saúde. Pelas 20h passou sobre a vila em direcção a

Setúbal um hidro-vião por motivo dos assaltos a estabelecimentos à dias

na dita cidade. Houve benefício para o jornal “A Batalha” foi brilhantar a S.

Instrução. Embarquei à noite no comboio 9 para Tunes na cª. 85 e no

Barreiro-A o Manuel Curral para a Funcheira.

11/7/920 Fez um ano que estive de licença levantei-me às 11h. De tarde

fui à vila encontrava-se a pintar a varanda da S. Instrução o Júlio D.

Continuava a greve dos CF Portugueses. 1920 Trabalhei das 11h e fiquei de

noite a prestar serviço em Tunes estava de serviço o revisor Augusto

Duarte. Fez um dia lindo fazendo muito calor e ao fim da tarde vento. No

Barreiro tocou a S. 24 de Agosto de Lisboa na Compª. U. Fabril. Pelas 17 h

passou em direcção a Évora um aeroplano. O Artur S. foi à pesca.

12/7/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. O capataz de manobras Lafaete

ao fazer manobras nas Cocheiras os DD 136-264 tomou velocidade mas

valeu foi o pessoal por calços etc. Houve benefício no Salão Popular para o

Coreto. O José d'Silva Parra e F. Soeiro foram para o Algarve. O meu mano

esteve de licença e foi a Lisboa pedir ao Sr. Director dos CFSS bandeiras e

escudos para as festas no quintal da S. Instrução. 1920 Trabalhei todo o dia

em Tunes até o comboio 6 que regressei às 20 para Barreiro no cº. 84 para

amanhã ir buscar aos Paços Concelho a guia para a inspecção militar.

Trouxe vários recados cartas, uma do revisor André Fernandes para

entregar na Corporativa [sic] dos CFSS ao Sr. Soeiro e um fato para entregar

à mulher do meu camarada Augusto Duarte que me entregou o dito. Fez

um dia lindo ao fim da tarde vento e uma noite linda. Ontem no Barreiro na

S. Instrução à quadrilha caiu na sala a menina Gertrudes e ao terminar o

baile na rua houve desordem entre Manuel Ramalho e Mira.

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calor. Fui a Portimão com ordem ver se fazia a limpeza à composição ao

comboio por motivo de saber-se que a maioria dos comboios nem aparecia

o limpador ao serviço fui no cº 990 na cª. 29 e regressei no cº. 993 na cª. 48

mais o Fernandes agulheiro do Barreiro T. ficou em Silves mais outro fulano.

O limpador em serviço em Portimão chama-se José Relvas. Á noite grande

nortada. No Barreiro houve um concerto à tarde no Barrio Operário pela S.

de Arrentela. Na Moita houve corrida de touros brilhantou a S. Estrela

Moitense e houve no Barreiro princípio de incêndio no prédio do Coelho,

na Avenida da Bélgica, aonde estava instalada a Padaria do Ramos. Fez 1

ano que saiu ao revisor João S.R. Marques 200 escudos numa cautela nº

1255.

19/7/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. A minha mãe perdeu

13 escudos em Lisboa desconfia ser na Casa do José do Calçado. Retirou

Infantaria 11 da Companhia União Fabril, sendo os ditos rendidos por uma

força da Guarda Republicana. Foi a experiência da luz eléctrica no quintal

da S. Instrução dando bom resultado vindo energia do Teatro Salão Popular.

Faleceu pelas 24h a mulher do Feio estabelecido na Recosta. O meu mano

por motivo das festas do quintal da S. Instrução pediu licença. 1920

Trabalhei todo [sic] em Tunes. Fez um dia e peras e bastante calor. A mulher

do capataz de 1ª de manobras com o nome Anibel [sic] deu à luz uma

menina. Houve reunião dos ferroviários na Associação de Classe.

20/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Principiou hoje o novo horário nos

CFSS dos comboios e vapores. Houve corrida de touros na vila da Moita. A

noite passada o meu mano esteve mais alguns a trabalhar no quintal da S.

Instrução até esta madrugada. Á tarde abertura do arraial kermesse

tômbola brilhantou a S. Democrática e à noite até às 2h da madrugada. Na

tômbola os bilhetes tinha o nome de cidades do nosso país o 1º prémio saiu

o nome Portalegre com 22 lâmpadas eléctricas. Depois no fim da festa fez-

se contas a tômbola rendeu 35 escudos, kermesse e flor foi tudo a soma de

154 escudos. Ficou o dito dinheiro na posse do Sr. João da Luz. Veio-me

acompanhar a casa meu mano, Custódio F. Aurélio. Deitei-me às 3,50h da

madrugada. Depois regressaram à S. Instrução passar a noite. 1920

Trabalhei em Tunes até ao comboio 6. Fez um dia lindo mas muito calor.

Embarquei no comboio 6 na cª 84. Trouxe um cabaz com tomates para

Alhos Vedros mandou o ajudante revisor F. Simões. No Barreiro partiu para

o Norte do país pelas 18h a minha mana Rita e marido para a terra. Faleceu

comida, fatos, calçado, etc. às creanças. Ontem esteve quintal da S.

Instrução todo embandeirado. Ficou hoje constituída a Comissão para as

festas de 15 de Agosto do próximo ano. 1920 Trabalhei em Tunes mais o

ajudante revisor Belezinho. Fez um dia lindo a noite idem e muito calor mas

grande nortada à noite já tarde. Chegou a Tunes a S. Mexilhoeira seguia

para as festas do bispo novo em Faro. Ficou em Tunes o ajudante revisor o F.

Simões por motivo do médico de Silves estar doente segue amanhã ao

médico de Messines.

16/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h e

regressei às 13h mais o Cristo. Veio a pedido do Sr. Joaquim dos Santos

umas 40 palmeiras do Jardim do Largo do Camões para a S. Instrução, para

as próximas festas no quintal da dita e em minha casa fizeram-se 1132

flores para as ditas festas. Esteve todo o dia e a noite idem de calor.

Continua a greve dos Caminhos Ferro Portugueses. 1920 Trabalhei todo o

dia. Fez um dia lindo e a noite idem mas fazendo grande nortada. Assinei as

Comissões dos Ferroviários nomeados na Associação do Barreiro risquei

um deles e pus o revisor principal João Ferreira.

17/7/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Comprou a

minha mãe uns botões de punho de camisa em ouro, foi 8 escudos. 1920

Trabalhei em Tunes. A manhã nublada ao fim da tarde pois-se um dia lindo

mas grande nortada. Chegou no comboio 9 o revisor Augusto Duarte vindo

do Barreiro. Este trouxe uma caixa com material, etc. e chegou de Faro o

tambor de carbureto. No Barreiro foi o casamento do José Bravo e foi o

benefício no T. Cine para a S. Democrática sendo abrilhantado pela dita.

18/7/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Pelas 20h

foram alguns membros da Comissão das Festas no quintal da S. Instrução,

no próximo mês, buscar palmeiras ao Bramcamp e Jardim dos CFSS em

frente das Oficinas Gerais fazendo a soma de 120 e vieram dos Armazéns

Gerais dos CFSS 30 escudos e 22 lanças e 12 bandeiras e ficou na montagem

da luz eléctrica o Manuel Vieira, o João da Lúcia estes são da central

eléctrica dos CFSS. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários.

Alguns da Comissão das próximas festas do quintal da S. Instrução como já

disse [sic] bebidas à tia Cristina Bravo no valor 18$60 neste artigo foi a 1ª

despesa. 1920 Trabalhei todo o dia em Tunes. Fez um dia lindo mas grande

120 121

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calor. Fui a Portimão com ordem ver se fazia a limpeza à composição ao

comboio por motivo de saber-se que a maioria dos comboios nem aparecia

o limpador ao serviço fui no cº 990 na cª. 29 e regressei no cº. 993 na cª. 48

mais o Fernandes agulheiro do Barreiro T. ficou em Silves mais outro fulano.

O limpador em serviço em Portimão chama-se José Relvas. Á noite grande

nortada. No Barreiro houve um concerto à tarde no Barrio Operário pela S.

de Arrentela. Na Moita houve corrida de touros brilhantou a S. Estrela

Moitense e houve no Barreiro princípio de incêndio no prédio do Coelho,

na Avenida da Bélgica, aonde estava instalada a Padaria do Ramos. Fez 1

ano que saiu ao revisor João S.R. Marques 200 escudos numa cautela nº

1255.

19/7/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. A minha mãe perdeu

13 escudos em Lisboa desconfia ser na Casa do José do Calçado. Retirou

Infantaria 11 da Companhia União Fabril, sendo os ditos rendidos por uma

força da Guarda Republicana. Foi a experiência da luz eléctrica no quintal

da S. Instrução dando bom resultado vindo energia do Teatro Salão Popular.

Faleceu pelas 24h a mulher do Feio estabelecido na Recosta. O meu mano

por motivo das festas do quintal da S. Instrução pediu licença. 1920

Trabalhei todo [sic] em Tunes. Fez um dia e peras e bastante calor. A mulher

do capataz de 1ª de manobras com o nome Anibel [sic] deu à luz uma

menina. Houve reunião dos ferroviários na Associação de Classe.

20/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Principiou hoje o novo horário nos

CFSS dos comboios e vapores. Houve corrida de touros na vila da Moita. A

noite passada o meu mano esteve mais alguns a trabalhar no quintal da S.

Instrução até esta madrugada. Á tarde abertura do arraial kermesse

tômbola brilhantou a S. Democrática e à noite até às 2h da madrugada. Na

tômbola os bilhetes tinha o nome de cidades do nosso país o 1º prémio saiu

o nome Portalegre com 22 lâmpadas eléctricas. Depois no fim da festa fez-

se contas a tômbola rendeu 35 escudos, kermesse e flor foi tudo a soma de

154 escudos. Ficou o dito dinheiro na posse do Sr. João da Luz. Veio-me

acompanhar a casa meu mano, Custódio F. Aurélio. Deitei-me às 3,50h da

madrugada. Depois regressaram à S. Instrução passar a noite. 1920

Trabalhei em Tunes até ao comboio 6. Fez um dia lindo mas muito calor.

Embarquei no comboio 6 na cª 84. Trouxe um cabaz com tomates para

Alhos Vedros mandou o ajudante revisor F. Simões. No Barreiro partiu para

o Norte do país pelas 18h a minha mana Rita e marido para a terra. Faleceu

comida, fatos, calçado, etc. às creanças. Ontem esteve quintal da S.

Instrução todo embandeirado. Ficou hoje constituída a Comissão para as

festas de 15 de Agosto do próximo ano. 1920 Trabalhei em Tunes mais o

ajudante revisor Belezinho. Fez um dia lindo a noite idem e muito calor mas

grande nortada à noite já tarde. Chegou a Tunes a S. Mexilhoeira seguia

para as festas do bispo novo em Faro. Ficou em Tunes o ajudante revisor o F.

Simões por motivo do médico de Silves estar doente segue amanhã ao

médico de Messines.

16/7/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h e

regressei às 13h mais o Cristo. Veio a pedido do Sr. Joaquim dos Santos

umas 40 palmeiras do Jardim do Largo do Camões para a S. Instrução, para

as próximas festas no quintal da dita e em minha casa fizeram-se 1132

flores para as ditas festas. Esteve todo o dia e a noite idem de calor.

Continua a greve dos Caminhos Ferro Portugueses. 1920 Trabalhei todo o

dia. Fez um dia lindo e a noite idem mas fazendo grande nortada. Assinei as

Comissões dos Ferroviários nomeados na Associação do Barreiro risquei

um deles e pus o revisor principal João Ferreira.

17/7/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Comprou a

minha mãe uns botões de punho de camisa em ouro, foi 8 escudos. 1920

Trabalhei em Tunes. A manhã nublada ao fim da tarde pois-se um dia lindo

mas grande nortada. Chegou no comboio 9 o revisor Augusto Duarte vindo

do Barreiro. Este trouxe uma caixa com material, etc. e chegou de Faro o

tambor de carbureto. No Barreiro foi o casamento do José Bravo e foi o

benefício no T. Cine para a S. Democrática sendo abrilhantado pela dita.

18/7/920 Fez um ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Pelas 20h

foram alguns membros da Comissão das Festas no quintal da S. Instrução,

no próximo mês, buscar palmeiras ao Bramcamp e Jardim dos CFSS em

frente das Oficinas Gerais fazendo a soma de 120 e vieram dos Armazéns

Gerais dos CFSS 30 escudos e 22 lanças e 12 bandeiras e ficou na montagem

da luz eléctrica o Manuel Vieira, o João da Lúcia estes são da central

eléctrica dos CFSS. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários.

Alguns da Comissão das próximas festas do quintal da S. Instrução como já

disse [sic] bebidas à tia Cristina Bravo no valor 18$60 neste artigo foi a 1ª

despesa. 1920 Trabalhei todo o dia em Tunes. Fez um dia lindo mas grande

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Ferreira. O Custódio F. deu-me umas sementes de mau cheiro. 1920

Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo de manhã esteve nublado. Ontem

pelas 11,30h expediu um telegrama o revisor Augusto Duarte para o

Barreiro pedindo para ser rendido pelas 16,20h recebeu a resposta para

amanhã regressar a Barreiro no comboio 9. Hoje eu mais o Augusto Duarte

comemos tanta uva branca eu estive mal o resto da noite. Eu fui pesar-me

tinha 62 kg e Augusto Duarte 75kg. Declarou-se em greve os Caminhos de

Ferro de Vale do Vouga. Regressou no cº. 6 para Barreiro o Augusto Duarte.

Fez grande nortada toda a noite. No Barreiro aleijou-se o aprendiz

Francisco Soeiro em dois dedos na mão direita. E outro na linha.

24/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30 também foi o

Eduardo E. Santo e regressei às 13h. Foi vendida a fábrica Herold por 600 e

tal mil escudos. Continua a greve da CP. A M.G.M. ofereceu-me uma gravata

de malha cinzenta. O “raid” de Lisboa à Guiné inscreveram-se até à data 6

aviadores. Foram para a casa do Eusébio (?) 1100 flores para a irmã por os

versos nas ditas. 1920 Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo mas fazendo

muito calor. Chegou ao Barreiro no cº9 o revisor J.S. Cardoso render o

Augusto D. fez uma noite linda de luar. No Barreiro faleceu a filha da

Gertrudes Sapateiro chamava-se Elvira.

25/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Os aviadores

que se inscreveram para o “raid” de Lisboa à Guiné são seguintes os

Capitães Alfredo dos Santos Cintra, Alfredo D. Portugal e os Alferes

Francisco de Sousa, Larcher, Emílio de Carvalho, Jorge de Vasconcelos

d'Ávila, António de Oliveira Viegas e Valentim. [O) vendedor mais antigo de

jornais no Barreiro deu a sorte grande no Barreiro no bilhete 4324 vendido

todo no sítio. 1920 Trabalhei em Tunes, fez um dia lindo fazendo bastante

calor. Almoçamos e jantamos eu mais o revisor J.S. Cardoso e ajudante

Francisco S. Regressei a Barreiro no cº 6 cª 70 e o Marcelo Curral também

no dito comboio. No Barreiro embarcou no comboio 9 render-me o

ajudante revisor Adriano Alves e o Artur Tadeu no dito comboio render o

Marcelo C. à Funcheira. Houve corrida de touros em Setúbal. No Barreiro

foram presos por motivo de não aparecer no S. M. Preparatório em número

18 entre eles soube o Eduardo E. S., Carlos Soares, J. Aurélio, Custódio F. na

dita corrida de Setúbal brilhantou uma S. de Palmela.

Manuel Nascimento Galinha malhador nas Oficinas Gerais dos CFSS e a

mãe do maquinista das locomotivas dos ditos C. Ferro Miguel Passos Ferro.

Houve reunião dos ferroviários.

21/7/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Aleijou-se num

dedo o revisor de 1ª José S. Cardoso era o ajudante eu no O 107. Correu o

boato que tinha sido presa a Comissão de Melhoramentos dos grevistas da

CUF. Por motivo de greve dos C. Ferro Portugueses o couraçado Vasco da

Gama pôs-se fundeado em frente a Xabregas. Fomos uma claque da S.

Instrução levar as estantes à S. Democrática. Á noite houve reunião da

Comissão das Festas do quintal da S. Instrução foi aprovado dar demissão

ao Francisco Soeiro sendo este substituído pelo Delícias Correia. O meu

mano continua de licença por motivo das ditas festas. 1920 Estive descanso

semanal. Cheguei no comboio 6 na cª. 84 e como esqueci de entregar o

cabaz com os tomates na estação da Alhos Vedros ao F. Simões regressei no

comboio 11 levar o cabaz dos tomates entreguei ao dito encontrava-se na

estação. Fui até ao Pinhal Novo mais o revisor Manuel Nunes e o fogueiro

Bexiga paguei 15 cent. de bebida seguiram no comboio 3 eu estive na Gare

etc. regressei a Barreiro no comboio 12 na cª. 63 com o praticante Soares

do Pinhal Novo este meu primo. De manhã nublado e pela tarde grande

calor. Fui pedir três [dias de] licença para os próximos dias 26-27-28 do

corrente mês. Fui às 13h à guia militar para inspecção no próximo dia 28.

Segui para Tunes no cº 9 na cª. 64.

22/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fiquei

com um bilhete ao revisor José S. Cardoso dum piano do Clube de A.

Vedros. Ficou aprovado para artilharia de guarnição o Manuel P. Manilha.

Ficou livre o Eduardo Bandeireiro e o Josué, Cecílio Macedo. Adiados Carlos

Diogo e João Pingocho, etc., etc. 1920 Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo

e muitíssimo calor. Cheguei a Tunes no cº. 7 cª. 64. eu mais o revisor

Augusto Duarte gastava do agulheiro Carrusca que tinha casa de venda.

23/7/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continuação das

inspecções militares ficou aprovado para Engenharia Cristiano Joaquim

Craveira e outros, etc. e ficou livres Miguel d'Almeida, Manuel Lindim, etc.

Houve reunião dos ferroviários. Chegou no comboio 116 e na cª. 44 com 23

almofadas de madeira dos pára-choques vinha no dito o revisor João

122 123

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Ferreira. O Custódio F. deu-me umas sementes de mau cheiro. 1920

Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo de manhã esteve nublado. Ontem

pelas 11,30h expediu um telegrama o revisor Augusto Duarte para o

Barreiro pedindo para ser rendido pelas 16,20h recebeu a resposta para

amanhã regressar a Barreiro no comboio 9. Hoje eu mais o Augusto Duarte

comemos tanta uva branca eu estive mal o resto da noite. Eu fui pesar-me

tinha 62 kg e Augusto Duarte 75kg. Declarou-se em greve os Caminhos de

Ferro de Vale do Vouga. Regressou no cº. 6 para Barreiro o Augusto Duarte.

Fez grande nortada toda a noite. No Barreiro aleijou-se o aprendiz

Francisco Soeiro em dois dedos na mão direita. E outro na linha.

24/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30 também foi o

Eduardo E. Santo e regressei às 13h. Foi vendida a fábrica Herold por 600 e

tal mil escudos. Continua a greve da CP. A M.G.M. ofereceu-me uma gravata

de malha cinzenta. O “raid” de Lisboa à Guiné inscreveram-se até à data 6

aviadores. Foram para a casa do Eusébio (?) 1100 flores para a irmã por os

versos nas ditas. 1920 Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo mas fazendo

muito calor. Chegou ao Barreiro no cº9 o revisor J.S. Cardoso render o

Augusto D. fez uma noite linda de luar. No Barreiro faleceu a filha da

Gertrudes Sapateiro chamava-se Elvira.

25/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Os aviadores

que se inscreveram para o “raid” de Lisboa à Guiné são seguintes os

Capitães Alfredo dos Santos Cintra, Alfredo D. Portugal e os Alferes

Francisco de Sousa, Larcher, Emílio de Carvalho, Jorge de Vasconcelos

d'Ávila, António de Oliveira Viegas e Valentim. [O) vendedor mais antigo de

jornais no Barreiro deu a sorte grande no Barreiro no bilhete 4324 vendido

todo no sítio. 1920 Trabalhei em Tunes, fez um dia lindo fazendo bastante

calor. Almoçamos e jantamos eu mais o revisor J.S. Cardoso e ajudante

Francisco S. Regressei a Barreiro no cº 6 cª 70 e o Marcelo Curral também

no dito comboio. No Barreiro embarcou no comboio 9 render-me o

ajudante revisor Adriano Alves e o Artur Tadeu no dito comboio render o

Marcelo C. à Funcheira. Houve corrida de touros em Setúbal. No Barreiro

foram presos por motivo de não aparecer no S. M. Preparatório em número

18 entre eles soube o Eduardo E. S., Carlos Soares, J. Aurélio, Custódio F. na

dita corrida de Setúbal brilhantou uma S. de Palmela.

Manuel Nascimento Galinha malhador nas Oficinas Gerais dos CFSS e a

mãe do maquinista das locomotivas dos ditos C. Ferro Miguel Passos Ferro.

Houve reunião dos ferroviários.

21/7/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Aleijou-se num

dedo o revisor de 1ª José S. Cardoso era o ajudante eu no O 107. Correu o

boato que tinha sido presa a Comissão de Melhoramentos dos grevistas da

CUF. Por motivo de greve dos C. Ferro Portugueses o couraçado Vasco da

Gama pôs-se fundeado em frente a Xabregas. Fomos uma claque da S.

Instrução levar as estantes à S. Democrática. Á noite houve reunião da

Comissão das Festas do quintal da S. Instrução foi aprovado dar demissão

ao Francisco Soeiro sendo este substituído pelo Delícias Correia. O meu

mano continua de licença por motivo das ditas festas. 1920 Estive descanso

semanal. Cheguei no comboio 6 na cª. 84 e como esqueci de entregar o

cabaz com os tomates na estação da Alhos Vedros ao F. Simões regressei no

comboio 11 levar o cabaz dos tomates entreguei ao dito encontrava-se na

estação. Fui até ao Pinhal Novo mais o revisor Manuel Nunes e o fogueiro

Bexiga paguei 15 cent. de bebida seguiram no comboio 3 eu estive na Gare

etc. regressei a Barreiro no comboio 12 na cª. 63 com o praticante Soares

do Pinhal Novo este meu primo. De manhã nublado e pela tarde grande

calor. Fui pedir três [dias de] licença para os próximos dias 26-27-28 do

corrente mês. Fui às 13h à guia militar para inspecção no próximo dia 28.

Segui para Tunes no cº 9 na cª. 64.

22/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fiquei

com um bilhete ao revisor José S. Cardoso dum piano do Clube de A.

Vedros. Ficou aprovado para artilharia de guarnição o Manuel P. Manilha.

Ficou livre o Eduardo Bandeireiro e o Josué, Cecílio Macedo. Adiados Carlos

Diogo e João Pingocho, etc., etc. 1920 Trabalhei em Tunes. Fez um dia lindo

e muitíssimo calor. Cheguei a Tunes no cº. 7 cª. 64. eu mais o revisor

Augusto Duarte gastava do agulheiro Carrusca que tinha casa de venda.

23/7/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Continuação das

inspecções militares ficou aprovado para Engenharia Cristiano Joaquim

Craveira e outros, etc. e ficou livres Miguel d'Almeida, Manuel Lindim, etc.

Houve reunião dos ferroviários. Chegou no comboio 116 e na cª. 44 com 23

almofadas de madeira dos pára-choques vinha no dito o revisor João

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encontrava-se a dar o concerto a S. 24 de Agosto. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Carcavelinhos. Foi a S. Democrática tocar à

corrida de Setúbal. Soube que a festa da S. Instrução rendeu 167 escudos.

1920 Estive de licença. Fez um dia lindo fazendo grande nortada. Faleceu o

Vicente E. Santo filho da Maria Bexiga. Nas inspecções militares foi adiado o

António J. Morais e fui mais ele à Leitaria do Lá-vai fez-se despesa de 90

cent. pagou ele e do Lavradio ficou adiado o Cigarrito.

28/7/920 Faz 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Segui comboio especial à

Fonte buscar o cadáver do guarda-freio. O dito chegou a Barreiro às 18.31h.

Organizou-se o funeral no dito apeadeiro, que teve um acompanhamento

perto de 800 pessoas. Foi as duas Sociedades a Democrática e Instrução à

paisana. Ficou sepultado no Cemitério novo, aonde falaram pela

Associação de Classe Luiz Soares e pelo Pessoal de Trens António Vaz, pelo

Pessoal dos Correios e Telégrafos Agostinho da Silva, pelo Pessoal da CP

Mário da Silva, pelo Centro Republicando do Lavradio J.F. Tavares, pelo

Pessoal da Via e Obras Acúrcio de Matos e por último e como representante

da Direcção dos Caminhos de Ferro do SS o chefe Interino de Serviço do

Movimento Joaquim José Fernandes, etc. 1920 Estive de licença. Fez um

dia lindo fazendo muito calor e a noite idem de luar e calmosa. Fui à

inspecção com uma grande quantidade deles eu tirei o nº 15 fiquei apurado

para Engenharia assim como a maioria e o meu nº de ordem no livro de

recrutamento foi 49. Tinha altura 1,59 o secretario da Comissão de

Recenseamento foi João Ramalho.

29/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Continuação da greve dos C.

Portugueses. Foi o funeral do Eugénio dos Fósforos. 1920 Trabalhei todo o

dia. Fez um lindo dia fazendo muitíssimo calor e a noite idem. O concelho

do Barreiro deu este ano 104 mancebos ficando só no Barreiro 44

aprovados. Já há 3 dias que vêm muitas pessoas de Lisboa e outros sítios

buscar carvão cepa ao Barreiro. Continua a morar na S. Instrução o Mestre

Carvalho. Chegou um coreto e vasos para as próximas festas de 15 de

Agosto. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários.

30/7/920 Fez 1 ano que [fui] pela 2ª vez à Fonte. Fez grande nortada. No

regresso ao Barreiro no c. 54 pelas 22h chegada trouxemos os seguintes

veículos avariados A15, C36, D74 etc. ainda estivemos no Lavradio à espera

26/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui avisado para seguir

amanhã para Setúbal se por acaso não encontrar o ajudante Afonso.

Encontrei o dito e avisei para seguir amanhã para Setúbal no comboio 11.

Houve baile Campestre na Vila Manso. Fez-se mais mil flores em minha

casa para as próximas festas no quintal da S. Instrução. Á noite fui revisar o

comboio 18 a pedido do revisor Joaquim C. Neves. O meu mano perdeu

meio dia para ir comprar criação para as festas da S. Instrução. 1920

Barreiro estive de licença. Fez um dia lindo aragem Norte mas pouca.

Encontrava-se doente a minha mãe. Foi inspecções [militares] da freguesia

de Santo António soube que ficou livre o servente dos CFSS o Justino. Dei 50

cent. para a compra de uma bandeira nova para a S. Instrução. Tem sido

incansável a mulher do mestre Carvalho para com a dita bandeira e dei

mais 50 cent. Para uma comissão para o baile para o próximo dia 31 na S.

Instrução. No teatro em construção foram postas as letras com os dizeres

“Teatro Republica”. Falei com a M.G.M. Ao passar pela Farmácia do João

Pimenta fui chamado pela minha prima Maria José Figueiras seguia

acompanhada pelas filhas do Monteiro. Tive conhecimento que o Tito

Soares ficou aprovado para Infantaria 17 de Beja. Partiu o vapor alemão o

“Murmugão” com 302 passageiros para a América foi inaugurar a carreira

entre Portugal e a América.

27/7/920 Faz 1 ano fui chamado pelo ajudante revisor Filipe Cordeiro que

estava de serviço no Barreiro T. Levantei-me e segui para a estação

Já tinha saído o Comboio Socorro. Mais tarde pelas 9 e tal embarquei no

comboio 3, cheguei à Fonte aonde se deu o descarrilamento, um pouco

acima do disco, do lado de Vendas Novas. Foi o comboio 110 no Km 38.

Estavam muitos veículos descarrilados e outros caídos nas barreiras e

muitas mercadorias espalhadas, entre elas carvão e palha, etc. Ficaram

destruídas 8 carruagens. Vinham ligadas à máquina. Era para a próxima

feira de Setúbal as ditas. Soube o nº dos seguintes A.B.1, C58 e vagões série

OO 99-217-374, DD 554-529 etc. O revisor Augusto Duarte tirou entre os

escombros o guarda-freio em serviço de condutor Alexandre Lourenço

Gonçalves, este já morto. Os veículos em cima ditos foi os que nós

carrilamos. Regressamos a Barreiro às 20,5h n c. 44 era máquina 63 o

maquinista M. Carvalho. Trouxemos os veículos avariados O144 e JJ 362-

363 este último chegou a Pinhal Novo com um boque quente sendo

tratado. Na Fonte trabalhamos desde as 10 e tal até às 18h. Cheguei a casa

preparei-me e fui logo até à S. Instrução. Principiou as festas do quintal

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encontrava-se a dar o concerto a S. 24 de Agosto. Houve desafio de foot-

ball entre o Barreirense e o Carcavelinhos. Foi a S. Democrática tocar à

corrida de Setúbal. Soube que a festa da S. Instrução rendeu 167 escudos.

1920 Estive de licença. Fez um dia lindo fazendo grande nortada. Faleceu o

Vicente E. Santo filho da Maria Bexiga. Nas inspecções militares foi adiado o

António J. Morais e fui mais ele à Leitaria do Lá-vai fez-se despesa de 90

cent. pagou ele e do Lavradio ficou adiado o Cigarrito.

28/7/920 Faz 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Segui comboio especial à

Fonte buscar o cadáver do guarda-freio. O dito chegou a Barreiro às 18.31h.

Organizou-se o funeral no dito apeadeiro, que teve um acompanhamento

perto de 800 pessoas. Foi as duas Sociedades a Democrática e Instrução à

paisana. Ficou sepultado no Cemitério novo, aonde falaram pela

Associação de Classe Luiz Soares e pelo Pessoal de Trens António Vaz, pelo

Pessoal dos Correios e Telégrafos Agostinho da Silva, pelo Pessoal da CP

Mário da Silva, pelo Centro Republicando do Lavradio J.F. Tavares, pelo

Pessoal da Via e Obras Acúrcio de Matos e por último e como representante

da Direcção dos Caminhos de Ferro do SS o chefe Interino de Serviço do

Movimento Joaquim José Fernandes, etc. 1920 Estive de licença. Fez um

dia lindo fazendo muito calor e a noite idem de luar e calmosa. Fui à

inspecção com uma grande quantidade deles eu tirei o nº 15 fiquei apurado

para Engenharia assim como a maioria e o meu nº de ordem no livro de

recrutamento foi 49. Tinha altura 1,59 o secretario da Comissão de

Recenseamento foi João Ramalho.

29/7/920 Fez 1 ano estive de folga. Continuação da greve dos C.

Portugueses. Foi o funeral do Eugénio dos Fósforos. 1920 Trabalhei todo o

dia. Fez um lindo dia fazendo muitíssimo calor e a noite idem. O concelho

do Barreiro deu este ano 104 mancebos ficando só no Barreiro 44

aprovados. Já há 3 dias que vêm muitas pessoas de Lisboa e outros sítios

buscar carvão cepa ao Barreiro. Continua a morar na S. Instrução o Mestre

Carvalho. Chegou um coreto e vasos para as próximas festas de 15 de

Agosto. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários.

30/7/920 Fez 1 ano que [fui] pela 2ª vez à Fonte. Fez grande nortada. No

regresso ao Barreiro no c. 54 pelas 22h chegada trouxemos os seguintes

veículos avariados A15, C36, D74 etc. ainda estivemos no Lavradio à espera

26/7/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui avisado para seguir

amanhã para Setúbal se por acaso não encontrar o ajudante Afonso.

Encontrei o dito e avisei para seguir amanhã para Setúbal no comboio 11.

Houve baile Campestre na Vila Manso. Fez-se mais mil flores em minha

casa para as próximas festas no quintal da S. Instrução. Á noite fui revisar o

comboio 18 a pedido do revisor Joaquim C. Neves. O meu mano perdeu

meio dia para ir comprar criação para as festas da S. Instrução. 1920

Barreiro estive de licença. Fez um dia lindo aragem Norte mas pouca.

Encontrava-se doente a minha mãe. Foi inspecções [militares] da freguesia

de Santo António soube que ficou livre o servente dos CFSS o Justino. Dei 50

cent. para a compra de uma bandeira nova para a S. Instrução. Tem sido

incansável a mulher do mestre Carvalho para com a dita bandeira e dei

mais 50 cent. Para uma comissão para o baile para o próximo dia 31 na S.

Instrução. No teatro em construção foram postas as letras com os dizeres

“Teatro Republica”. Falei com a M.G.M. Ao passar pela Farmácia do João

Pimenta fui chamado pela minha prima Maria José Figueiras seguia

acompanhada pelas filhas do Monteiro. Tive conhecimento que o Tito

Soares ficou aprovado para Infantaria 17 de Beja. Partiu o vapor alemão o

“Murmugão” com 302 passageiros para a América foi inaugurar a carreira

entre Portugal e a América.

27/7/920 Faz 1 ano fui chamado pelo ajudante revisor Filipe Cordeiro que

estava de serviço no Barreiro T. Levantei-me e segui para a estação

Já tinha saído o Comboio Socorro. Mais tarde pelas 9 e tal embarquei no

comboio 3, cheguei à Fonte aonde se deu o descarrilamento, um pouco

acima do disco, do lado de Vendas Novas. Foi o comboio 110 no Km 38.

Estavam muitos veículos descarrilados e outros caídos nas barreiras e

muitas mercadorias espalhadas, entre elas carvão e palha, etc. Ficaram

destruídas 8 carruagens. Vinham ligadas à máquina. Era para a próxima

feira de Setúbal as ditas. Soube o nº dos seguintes A.B.1, C58 e vagões série

OO 99-217-374, DD 554-529 etc. O revisor Augusto Duarte tirou entre os

escombros o guarda-freio em serviço de condutor Alexandre Lourenço

Gonçalves, este já morto. Os veículos em cima ditos foi os que nós

carrilamos. Regressamos a Barreiro às 20,5h n c. 44 era máquina 63 o

maquinista M. Carvalho. Trouxemos os veículos avariados O144 e JJ 362-

363 este último chegou a Pinhal Novo com um boque quente sendo

tratado. Na Fonte trabalhamos desde as 10 e tal até às 18h. Cheguei a casa

preparei-me e fui logo até à S. Instrução. Principiou as festas do quintal

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-10

pastéis e um guardanapo de papel pardo. Depois houve quadrilha marcou

o Brado Soeiro, Artur Pereira e Artur Sobral. Terminou o baile às 3 da

madrugada.

1/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Levantei-me às

5,30 da madrugada e segui às Cocheiras era 7,20 resolveu-se depois não

irmos à Fonte ficou para amanhã à mesma hora de hoje. Falei com a M.G.M.

Fui mais o Filipe Cordeiro, Eduardo E. Santo, Custódio F., Manuel Martins

este e o Filipe foram ao banho e os restantes de brincadeira pela areia na

praia os do banho atiraram para terra umas quantas pedras feriram-me

num joelho. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia lindo e muito vento

à noite. Terminou as cobranças para as festas de 15 de Agosto deste ano.

Fui mais o Eugénio d' Silva ao T. Cine ver a fita “A da Morta” para as cadeiras

nº 246-248 e 250 era outro não cheguei a saber o nome.

2/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. O pessoal da revisão foi

novamente à Fonte buscar o DO 2019 e várias coisas regressaram ao

Barreiro pelas 21 e tal. Faz 5 anos que se desencadeou a grande guerra

europeia. Chegou da terra o Marcelo Alves d'Almeida e a filha da viúva

Bravo, a Cristina. Houve baile na V. Manso este terminou de madrugada. De

tarde foi o meu mano mais Artur S. para Lisboa, foram jantar ao João do

Grão foi 2$14. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular de tarde

nublou-se. Veio o pagador fui receber 83$37. No Largo C. G. Coutinho

coloquei no candeeiro do centro acendedor público feito duma cerda foi

por motivo da falta de fósforos. Compramos um kilo por $08 de carvão cepa

na carvoaria do J. António era a claque eu, Eugénio d'Silva, Custódio F. eu

comprei por motivo duma aposta. Houve uma corrida do Barreiro à Moita

ida e volta prémio 5 escudos entre o João M. Estaca e Filipe Cordeiro de

bicicleta foi ganho pelo 1º. Fui ao Lá-vai mais o Simões, Eduardo E. Santo,

Custódio F. paguei 1$75.

3/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Houve passeio fluvial do Barreiro a

cascais a bordo do vapor “Alentejo” dos CFSS partiu às 8,10h regressaram

ao Barreiro às 22h foi brilhantado pela S. Democrática esta regressou à vila

pela R. Miguel Pais a tocar “A Rosa enxota o pinto” e uma grande claque na

frente da dita a cantar etc. 3º Domingo de festa no quintal da S. Instrução foi

o concerto de tarde e à noite e à noite dado pela dita. Estive com o Vitorino

do c. 19 e trabalhamos na Fonte desde das 10,30h até às 18,40h. O José da

Luz deu ordem ao pessoal da Rotunda para não voltar amanhã à Fonte. Não

fui à vila. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo fazendo muito calor e a

noite idem de luar. Não fui à vila. Á noite grande animação na Rua Miguel

Pais por motivo da comissão das próximas festas de 15 de Agosto estarem a

por os postes para a electricidade para as ditas festas.

31/7/920 Fez 1 ano que fui novamente para a Fonte ás 7,10h aleijou o

revisor António Garrento no lábio inferior por motivo de partir um fuzil do

guindaste caindo sobre umas pedras e o Luiz Penim um dedo. Chegamos a

Barreiro às 22,10h trouxemos os seguintes veículos avariados OO 80-147- C

62, etc. Fiquei com um puxador de mola de um caixilho duma carruagem de

recordação. Não fui à vila. Faleceu o filho do Júlio Macedo no hospital. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo fazendo uma aragem de Norte.

Continua a vir ao Barreiro muitas pessoas de Lisboa e outros sítios buscar

carvão cepa. Parou os eléctricos em Lisboa. Chegou à dias carvão para os

CFSS. Houve baile sarau na S. Instrução veio o pergitador Rodrigues pela 2ª

vez havendo rifa um jantar para 5 pessoas sai-me na série 6 a 10 era pão e

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-10

pastéis e um guardanapo de papel pardo. Depois houve quadrilha marcou

o Brado Soeiro, Artur Pereira e Artur Sobral. Terminou o baile às 3 da

madrugada.

1/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Levantei-me às

5,30 da madrugada e segui às Cocheiras era 7,20 resolveu-se depois não

irmos à Fonte ficou para amanhã à mesma hora de hoje. Falei com a M.G.M.

Fui mais o Filipe Cordeiro, Eduardo E. Santo, Custódio F., Manuel Martins

este e o Filipe foram ao banho e os restantes de brincadeira pela areia na

praia os do banho atiraram para terra umas quantas pedras feriram-me

num joelho. 1920 Estive descanso semanal. Fez um dia lindo e muito vento

à noite. Terminou as cobranças para as festas de 15 de Agosto deste ano.

Fui mais o Eugénio d' Silva ao T. Cine ver a fita “A da Morta” para as cadeiras

nº 246-248 e 250 era outro não cheguei a saber o nome.

2/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. O pessoal da revisão foi

novamente à Fonte buscar o DO 2019 e várias coisas regressaram ao

Barreiro pelas 21 e tal. Faz 5 anos que se desencadeou a grande guerra

europeia. Chegou da terra o Marcelo Alves d'Almeida e a filha da viúva

Bravo, a Cristina. Houve baile na V. Manso este terminou de madrugada. De

tarde foi o meu mano mais Artur S. para Lisboa, foram jantar ao João do

Grão foi 2$14. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular de tarde

nublou-se. Veio o pagador fui receber 83$37. No Largo C. G. Coutinho

coloquei no candeeiro do centro acendedor público feito duma cerda foi

por motivo da falta de fósforos. Compramos um kilo por $08 de carvão cepa

na carvoaria do J. António era a claque eu, Eugénio d'Silva, Custódio F. eu

comprei por motivo duma aposta. Houve uma corrida do Barreiro à Moita

ida e volta prémio 5 escudos entre o João M. Estaca e Filipe Cordeiro de

bicicleta foi ganho pelo 1º. Fui ao Lá-vai mais o Simões, Eduardo E. Santo,

Custódio F. paguei 1$75.

3/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Houve passeio fluvial do Barreiro a

cascais a bordo do vapor “Alentejo” dos CFSS partiu às 8,10h regressaram

ao Barreiro às 22h foi brilhantado pela S. Democrática esta regressou à vila

pela R. Miguel Pais a tocar “A Rosa enxota o pinto” e uma grande claque na

frente da dita a cantar etc. 3º Domingo de festa no quintal da S. Instrução foi

o concerto de tarde e à noite e à noite dado pela dita. Estive com o Vitorino

do c. 19 e trabalhamos na Fonte desde das 10,30h até às 18,40h. O José da

Luz deu ordem ao pessoal da Rotunda para não voltar amanhã à Fonte. Não

fui à vila. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo fazendo muito calor e a

noite idem de luar. Não fui à vila. Á noite grande animação na Rua Miguel

Pais por motivo da comissão das próximas festas de 15 de Agosto estarem a

por os postes para a electricidade para as ditas festas.

31/7/920 Fez 1 ano que fui novamente para a Fonte ás 7,10h aleijou o

revisor António Garrento no lábio inferior por motivo de partir um fuzil do

guindaste caindo sobre umas pedras e o Luiz Penim um dedo. Chegamos a

Barreiro às 22,10h trouxemos os seguintes veículos avariados OO 80-147- C

62, etc. Fiquei com um puxador de mola de um caixilho duma carruagem de

recordação. Não fui à vila. Faleceu o filho do Júlio Macedo no hospital. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo fazendo uma aragem de Norte.

Continua a vir ao Barreiro muitas pessoas de Lisboa e outros sítios buscar

carvão cepa. Parou os eléctricos em Lisboa. Chegou à dias carvão para os

CFSS. Houve baile sarau na S. Instrução veio o pergitador Rodrigues pela 2ª

vez havendo rifa um jantar para 5 pessoas sai-me na série 6 a 10 era pão e

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Sebastião Gomes e José Pequeno para a S. Instrução por motivos de

estarem a fazer experiências de revolveres na praia, deu resultado da

Guarda andar em procura deles. Foi à terra a vizinha Piedade e Serafim.

Saiu de contínuo da S. Instrução o M. Borrachinho pai do João Rodrigues

Dias.

6/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Foi eleito Presidente

da República Portuguesa o Sr. Dr. António José de Almeida. Foi o funeral do

filho do José Alvares com 5 anos de idade. Faleceu o filho do Marques

Toucinho chegado há dias de França. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

fazendo bastante calor. Não fui à vila. Pelas 17 h houve reunião na barraca

da revisão na Gare do Barreiro sendo presidida pelo revisor F.M. Estaca.

Aparecemos o ajudante Marcelo Curral, Álvaro Duarte revisor, Cipriano

Fonseca, A. Santos Garrento e o carpinteiro António Fonseca e 4

limpadores e o capataz dos ditos Manuel da Silva, aprendiz M. Ferreira.

7/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30h regressei às 13h.

vim na automotora até ao Barreiro-A. Foi em Lisboa o casamento da filha

do Matias. Fui à Leitaria do Lá-vai mais o J. Aurélio, António Cristo, E. E.

Santo, António Vicente Bote despesa paguei foi 63 cent. Retiramos e

compramos 2 melancias foi 1 escudo. Comprei uma cautela nº 11 e do

mesmo número o Manuel Martins e Eduardo E. Santo. Falei com a M.G.M.

Fez 1 ano que escrevi a primeira carta à dita em 7/8/918. 1920 Trabalhei

todo o dia. Fez um dia lindo bastante calor mesmo à sombra. Emprestei ao

revisor J. Costa Neves um livro com o registo dos tipos de veículos dos CFSS.

Foi o benefício para o Grupo 22 de Novembro. Falei com a M.G.M. Houve

baile na Vila Brás foi brilhantado pelo cavalinho da S. Instrução.

8/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui na

Aldeia Galega em serviço mais o revisor João S. Rita às 12,17 no cº. 13

regressamos no cº. 16 às 18,25h ofereceu o martelo da bola etc. Continua a

greve dos Caminhos de F. Portugueses. 1920 Estive de folga. Fez um dia

lindo fazendo calor como os dias anteriores. Não fui à vila. Fui à Moita no cº

17 às 17h na cª 74 com a rapaziada e a S. Instrução. Comprei uma melancia

por 50 cent. a claque era Luiz Cristo, J. Aurélio, Vitorino Aurélio, M. Hartley

e comemos junto à Praça de Touros. A S. Instrução teve um beberete no S.

Estrela Moitense depois deu um concerto no Jardim da Escola tocou o

Aurélio, José d'Oliveira e João Bravo Rodrigues a fazer rifas todas brancas

na sala da Sociedade. Foi o casamento do Tito Lívio Soares com Adelina S.

Couto filha do Francisquinho. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

vento norte. Coloquei outro acendedor público no Largo Casal havendo em

todos os estabelecimentos mesmo em Lisboa. Pelas 20,15h o Manuel

Gracias conhecido pelo Manuel Pintacilgo [sic] quando encontrava-se a

limpara as paredes da sala do bilhar em cima de uma escada caiu ele e dita

escada ficando muito contuso pelo corpo sendo tratado pelo Mestre

Carvalho e a esposa puseram em cima do bilhar fui mais o Delicias Correia

procura dum médico não sendo possível encontrar médico algum

momentos depois apareceu a família dele e Delícias C. foi à farmácia do

José Luiz da Costa buscar cerveja preta etc. fez ontem 484 anos que foi

descoberto o Cabo da Boa esperança pelo Bartolomeu Dias.

4/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Veio o

pagador recebi 55$33. Fui mais o revisor F.M. Estaca e Manilha a Cacilhas

carrilar o DO 2004. Falei com a M.G.M. De manhã fui mais o ajudante

Marcelo Curral levar uma mola de sapatilha à máquina nº 65 ao comboio 3

ao deitar a dita para o chão aleijei-me numa perna era Beja o maquinista

Passa [sic]. Dei o dinheiro da rifa de um piano de Alhos Vedros ao José

Cardoso. Continua o meu mano de licença. Jantou etc. na S. Instrução. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo. Terminou o leilão nos CFSS. Continua

a greve dos eléctricos. Fez 50 ano a inauguração da S. Democrática sendo

grandes festejos muitos foguetes etc. ficou livre na 2ª inspecção no Quartel

General João Ferreira e outros.

5/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi o dia

que o José Esteves Beira falou com a prima da M.G.M. Houve reunião dos

ferroviários havendo tiros, etc. Pagou-me o distintivo do Grupo dos 11 o

Artur S., A. J. Morais. Foi o último dia da ida à Fonte buscar material

avariado foi o pessoal na cª 44 regressando na dita. Foi tomada a Rotunda

dos CFSS por forças da GNR. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular

fazendo muito calor. Fui mais o Eugénio da Silva, F. Soeiro a Pinhal Novo no

cº. 9 na cª 87 e regressamos no cº. 18 cª 78. No Barreiro à noite as ruas são

patrulhadas por forças de Cavalaria e de Infantaria e da GNR,

principalmente a Rua Miguel Pais. Quando regressava a casa mais o

Eugénio da Silva, perto da 1 da madrugada, fomos abordados por praças da

GNR procuraram donde nós vínhamos e a ida etc. Fugiram da GNR

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Sebastião Gomes e José Pequeno para a S. Instrução por motivos de

estarem a fazer experiências de revolveres na praia, deu resultado da

Guarda andar em procura deles. Foi à terra a vizinha Piedade e Serafim.

Saiu de contínuo da S. Instrução o M. Borrachinho pai do João Rodrigues

Dias.

6/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Foi eleito Presidente

da República Portuguesa o Sr. Dr. António José de Almeida. Foi o funeral do

filho do José Alvares com 5 anos de idade. Faleceu o filho do Marques

Toucinho chegado há dias de França. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

fazendo bastante calor. Não fui à vila. Pelas 17 h houve reunião na barraca

da revisão na Gare do Barreiro sendo presidida pelo revisor F.M. Estaca.

Aparecemos o ajudante Marcelo Curral, Álvaro Duarte revisor, Cipriano

Fonseca, A. Santos Garrento e o carpinteiro António Fonseca e 4

limpadores e o capataz dos ditos Manuel da Silva, aprendiz M. Ferreira.

7/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui a Lisboa às 9,30h regressei às 13h.

vim na automotora até ao Barreiro-A. Foi em Lisboa o casamento da filha

do Matias. Fui à Leitaria do Lá-vai mais o J. Aurélio, António Cristo, E. E.

Santo, António Vicente Bote despesa paguei foi 63 cent. Retiramos e

compramos 2 melancias foi 1 escudo. Comprei uma cautela nº 11 e do

mesmo número o Manuel Martins e Eduardo E. Santo. Falei com a M.G.M.

Fez 1 ano que escrevi a primeira carta à dita em 7/8/918. 1920 Trabalhei

todo o dia. Fez um dia lindo bastante calor mesmo à sombra. Emprestei ao

revisor J. Costa Neves um livro com o registo dos tipos de veículos dos CFSS.

Foi o benefício para o Grupo 22 de Novembro. Falei com a M.G.M. Houve

baile na Vila Brás foi brilhantado pelo cavalinho da S. Instrução.

8/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui na

Aldeia Galega em serviço mais o revisor João S. Rita às 12,17 no cº. 13

regressamos no cº. 16 às 18,25h ofereceu o martelo da bola etc. Continua a

greve dos Caminhos de F. Portugueses. 1920 Estive de folga. Fez um dia

lindo fazendo calor como os dias anteriores. Não fui à vila. Fui à Moita no cº

17 às 17h na cª 74 com a rapaziada e a S. Instrução. Comprei uma melancia

por 50 cent. a claque era Luiz Cristo, J. Aurélio, Vitorino Aurélio, M. Hartley

e comemos junto à Praça de Touros. A S. Instrução teve um beberete no S.

Estrela Moitense depois deu um concerto no Jardim da Escola tocou o

Aurélio, José d'Oliveira e João Bravo Rodrigues a fazer rifas todas brancas

na sala da Sociedade. Foi o casamento do Tito Lívio Soares com Adelina S.

Couto filha do Francisquinho. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

vento norte. Coloquei outro acendedor público no Largo Casal havendo em

todos os estabelecimentos mesmo em Lisboa. Pelas 20,15h o Manuel

Gracias conhecido pelo Manuel Pintacilgo [sic] quando encontrava-se a

limpara as paredes da sala do bilhar em cima de uma escada caiu ele e dita

escada ficando muito contuso pelo corpo sendo tratado pelo Mestre

Carvalho e a esposa puseram em cima do bilhar fui mais o Delicias Correia

procura dum médico não sendo possível encontrar médico algum

momentos depois apareceu a família dele e Delícias C. foi à farmácia do

José Luiz da Costa buscar cerveja preta etc. fez ontem 484 anos que foi

descoberto o Cabo da Boa esperança pelo Bartolomeu Dias.

4/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Veio o

pagador recebi 55$33. Fui mais o revisor F.M. Estaca e Manilha a Cacilhas

carrilar o DO 2004. Falei com a M.G.M. De manhã fui mais o ajudante

Marcelo Curral levar uma mola de sapatilha à máquina nº 65 ao comboio 3

ao deitar a dita para o chão aleijei-me numa perna era Beja o maquinista

Passa [sic]. Dei o dinheiro da rifa de um piano de Alhos Vedros ao José

Cardoso. Continua o meu mano de licença. Jantou etc. na S. Instrução. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo. Terminou o leilão nos CFSS. Continua

a greve dos eléctricos. Fez 50 ano a inauguração da S. Democrática sendo

grandes festejos muitos foguetes etc. ficou livre na 2ª inspecção no Quartel

General João Ferreira e outros.

5/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Foi o dia

que o José Esteves Beira falou com a prima da M.G.M. Houve reunião dos

ferroviários havendo tiros, etc. Pagou-me o distintivo do Grupo dos 11 o

Artur S., A. J. Morais. Foi o último dia da ida à Fonte buscar material

avariado foi o pessoal na cª 44 regressando na dita. Foi tomada a Rotunda

dos CFSS por forças da GNR. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular

fazendo muito calor. Fui mais o Eugénio da Silva, F. Soeiro a Pinhal Novo no

cº. 9 na cª 87 e regressamos no cº. 18 cª 78. No Barreiro à noite as ruas são

patrulhadas por forças de Cavalaria e de Infantaria e da GNR,

principalmente a Rua Miguel Pais. Quando regressava a casa mais o

Eugénio da Silva, perto da 1 da madrugada, fomos abordados por praças da

GNR procuraram donde nós vínhamos e a ida etc. Fugiram da GNR

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13/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Estive na praia mais o Luiz Cristo,

Custódio F. Fez uma noite de calor e linda de luar. Entrou com aprendiz no

material circulante para picar leitos de vagões o mano do José Soeiro o

Joaquim. Falei com a M.G.M. 1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

aragem Norte. O carpinteiro José Pedro Marques pôs uma barraca tipo de

cervejaria com bolos e diversas bebidas etc. no Largo dos Aliados para as

próximas festas de 15 com sociedade com o Moiteiro. Foi esta noite ensaio

geral nas Sociedades. Quando ao tomar serviço encontrava-se as duas

meias portas caídas por motivo na noite passada em manobras não porem

o calço ao D 390. A Sociedade de Instrução estreou no ensaio um bombo

novo feito pelo caixa A. Filipe Cordeiro. Chegou da terra o meu cunhado

Manuel Alves d'Almeida e minha mana Rita.

14/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Pelas 15,5h na Comp.

União Fabril por motivo estar o material fora do limite deu origem a ficar

avariados G105-DD244-34-78-292 do S. Sueste pela máquina nº 2 da dita

Compª telefonei para o Sr. José da Luz sobre as ditas avarias momento

depois encontrava-se o pessoal a reparar o dito material. 1920 Foi feriado

por motivo fazer 535 anos a Batalha de Aljubarrota. Fez um dia lindo

fazendo muitíssimo vento de Norte foi todo o dia e toda a noite. No Barreiro

T. a máquina do comboio 101 foi pela [linha] 7 como de costume chocou

com um corte material ficou avariada a B6 e AB6 com prejuízo importante.

Fui avisado pelo revisor João Rita para amanhã pelas 8h aparecer no

Barreiro T. Foi o 1º dia da festa no Largo dos Aliados às 15h chegou ao

Barreiro-A a S. de Estremoz deu a volta à vila. Pelas 22h abertura de feira

franca, arraial, quermesse sendo iluminação eléctrica vindo energia da dita

da Central dos CFSS. O concerto à noite das Sociedades Estremoz e Comp.

União Fabril. A S. de Estremoz descansou na sede da S. Democrática. Houve

desordem à noite entre o Joaquim Ramos e o Mestre Carvalho, etc. Estive

na cervejaria do José Pedro Marques mais o Daciano Ribeiro, J. Ribeiro, a

claque que andou pelo arraial era eu Sebastião Gomes, Custódio F.,

Daciano etc. Casou o António Alexandre.

15/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Deitei-me às 10,30h e levantei-me às

17,30h fui para a vila às 18,40h. Preparei-me sendo tudo estreado. Abriu

uma nova padaria na casa onde o Cândido tinha uma adega na Rua Aguiar

perto da farmácia do J. Pimenta. Fez um dia lindo e a noite idem de luar mas

reportório que dá nas próximas festas de 15 de Agosto no Barreiro

regressamos no cº. 18 vim na cª 77. Houve corrida de touros em Setúbal.

9/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. 1920 Trabalhei todo o dia.

Fez um dia variável. Continua a greve dos C. de F. Portugueses, eléctricos

em Lisboa andando a substituir os ditos os camiões carroças e os antigos

carros do Chora. Continua na terra M. Alves de Almeida e a minha mana

Rita é perto de Arouca freguesia da Farrapa. Pôs-se em sinal de protesto por

motivo de estarem 4 estivadores presos os fragateiros e carregadores etc.

Falei coma M.G.M. No Largo dos Aliados antigo Largo do Rosário

encontram-se já 2 coretos e o arco triunfal armados e umas cinco varas etc.

10/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi o casamento da filha do Painço. 4º

Domingo dos festejos do quintal da S. Instrução deu o concerto a Sociedade

D. Timbre Seixalense à noite na S. Instrução. Fez muito calor. 1920 Trabalhei

todo o dia. Fez um dia e peras e bastante calor. Segui às 9 e tal no cº 11 para

Palmela a Sociedade da dita terra vindo da Aldeia de Paio Pires. Faleceu um

mano mais novo do Catapina.

11/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Encontrava-se

na praia a tocar o Olímpio e Gualdino este bandolim José Estrela viola estive

a ouvir mais o António V. Bote era já noite estava linda e calmosa de luar.

1920 Trabalhei todo o dia. Fez um grande dia de calor. Foi a experiência da

luz eléctrica na Miguel Pais, para as próximas festas no dia 15 energia é

dada pela Central dos CFSS. Fui mais meu mano Custódio F. etc. comprar

uma melancia por 50 cent. comemos junto um circo no Largo dos Aliados

(S. do Rosário) mais tarde chegou o Artur S. ainda comeu. Falei com a

M.G.M. Fez 3 anos que o meu mano não vinha à vila.

12/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Primeira vez que o

António Cunha foi destacado a Casa Branca. Respondeu em Lisboa o

Corregedor da Moita o Real de Água. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia

lindo fazendo muito calor. O inspector Silva foi despedir do pessoal da

revisão que embarca para África próximo dia 14 contratado. Comprei uma

rifa de uma capa de borracha ao José Gaiato era nº 89. Foi o casamento do

Pedro do Areeiro. O Luiz Cristo foi a Paço-de-Arcos no catraio do Mariano

ao mexilhão. Deve entrar amanhã para as Oficinas Gerais o D 1011 todo

queimado.

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13/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Estive na praia mais o Luiz Cristo,

Custódio F. Fez uma noite de calor e linda de luar. Entrou com aprendiz no

material circulante para picar leitos de vagões o mano do José Soeiro o

Joaquim. Falei com a M.G.M. 1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo

aragem Norte. O carpinteiro José Pedro Marques pôs uma barraca tipo de

cervejaria com bolos e diversas bebidas etc. no Largo dos Aliados para as

próximas festas de 15 com sociedade com o Moiteiro. Foi esta noite ensaio

geral nas Sociedades. Quando ao tomar serviço encontrava-se as duas

meias portas caídas por motivo na noite passada em manobras não porem

o calço ao D 390. A Sociedade de Instrução estreou no ensaio um bombo

novo feito pelo caixa A. Filipe Cordeiro. Chegou da terra o meu cunhado

Manuel Alves d'Almeida e minha mana Rita.

14/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Pelas 15,5h na Comp.

União Fabril por motivo estar o material fora do limite deu origem a ficar

avariados G105-DD244-34-78-292 do S. Sueste pela máquina nº 2 da dita

Compª telefonei para o Sr. José da Luz sobre as ditas avarias momento

depois encontrava-se o pessoal a reparar o dito material. 1920 Foi feriado

por motivo fazer 535 anos a Batalha de Aljubarrota. Fez um dia lindo

fazendo muitíssimo vento de Norte foi todo o dia e toda a noite. No Barreiro

T. a máquina do comboio 101 foi pela [linha] 7 como de costume chocou

com um corte material ficou avariada a B6 e AB6 com prejuízo importante.

Fui avisado pelo revisor João Rita para amanhã pelas 8h aparecer no

Barreiro T. Foi o 1º dia da festa no Largo dos Aliados às 15h chegou ao

Barreiro-A a S. de Estremoz deu a volta à vila. Pelas 22h abertura de feira

franca, arraial, quermesse sendo iluminação eléctrica vindo energia da dita

da Central dos CFSS. O concerto à noite das Sociedades Estremoz e Comp.

União Fabril. A S. de Estremoz descansou na sede da S. Democrática. Houve

desordem à noite entre o Joaquim Ramos e o Mestre Carvalho, etc. Estive

na cervejaria do José Pedro Marques mais o Daciano Ribeiro, J. Ribeiro, a

claque que andou pelo arraial era eu Sebastião Gomes, Custódio F.,

Daciano etc. Casou o António Alexandre.

15/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Deitei-me às 10,30h e levantei-me às

17,30h fui para a vila às 18,40h. Preparei-me sendo tudo estreado. Abriu

uma nova padaria na casa onde o Cândido tinha uma adega na Rua Aguiar

perto da farmácia do J. Pimenta. Fez um dia lindo e a noite idem de luar mas

reportório que dá nas próximas festas de 15 de Agosto no Barreiro

regressamos no cº. 18 vim na cª 77. Houve corrida de touros em Setúbal.

9/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. 1920 Trabalhei todo o dia.

Fez um dia variável. Continua a greve dos C. de F. Portugueses, eléctricos

em Lisboa andando a substituir os ditos os camiões carroças e os antigos

carros do Chora. Continua na terra M. Alves de Almeida e a minha mana

Rita é perto de Arouca freguesia da Farrapa. Pôs-se em sinal de protesto por

motivo de estarem 4 estivadores presos os fragateiros e carregadores etc.

Falei coma M.G.M. No Largo dos Aliados antigo Largo do Rosário

encontram-se já 2 coretos e o arco triunfal armados e umas cinco varas etc.

10/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi o casamento da filha do Painço. 4º

Domingo dos festejos do quintal da S. Instrução deu o concerto a Sociedade

D. Timbre Seixalense à noite na S. Instrução. Fez muito calor. 1920 Trabalhei

todo o dia. Fez um dia e peras e bastante calor. Segui às 9 e tal no cº 11 para

Palmela a Sociedade da dita terra vindo da Aldeia de Paio Pires. Faleceu um

mano mais novo do Catapina.

11/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Encontrava-se

na praia a tocar o Olímpio e Gualdino este bandolim José Estrela viola estive

a ouvir mais o António V. Bote era já noite estava linda e calmosa de luar.

1920 Trabalhei todo o dia. Fez um grande dia de calor. Foi a experiência da

luz eléctrica na Miguel Pais, para as próximas festas no dia 15 energia é

dada pela Central dos CFSS. Fui mais meu mano Custódio F. etc. comprar

uma melancia por 50 cent. comemos junto um circo no Largo dos Aliados

(S. do Rosário) mais tarde chegou o Artur S. ainda comeu. Falei com a

M.G.M. Fez 3 anos que o meu mano não vinha à vila.

12/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Primeira vez que o

António Cunha foi destacado a Casa Branca. Respondeu em Lisboa o

Corregedor da Moita o Real de Água. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia

lindo fazendo muito calor. O inspector Silva foi despedir do pessoal da

revisão que embarca para África próximo dia 14 contratado. Comprei uma

rifa de uma capa de borracha ao José Gaiato era nº 89. Foi o casamento do

Pedro do Areeiro. O Luiz Cristo foi a Paço-de-Arcos no catraio do Mariano

ao mexilhão. Deve entrar amanhã para as Oficinas Gerais o D 1011 todo

queimado.

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era a claque meu mano, Artur S., Sebastião Gomes, A.J. Morais, João d'

Silva, Eduardo E. Santo, Custódio F. Houve um vistoso fogo de artifício e

hoje.

17/8/920 Fez 1 ano que estive de folga. Houve corrida de touros em

Setúbal. Continuação dos festejos no quintal da S. Instrução 5º Domingo

deu o concerto das 18h às 21h a S.U.C. de Linda-a-Pastora e à noite houve

baile tocou a S. Instrução houve venda da flor feita por filhas de sócios

sendo o produto reverter a favor da compra de um estrumento a favor da S.

Instrução. No 1º dia da festa foi flores artificiais e nos domingos a seguir era

com um verso e no outro domingo era com uma parra artificial e os

restantes flores pequenas artificiais hoje como foi o último dia das festas

houve leilão das quermesses, etc. eu rematei uma solitária. Casou o

Agostinho Martins com uma cunhada do chefe Neto. 1920 Trabalhei 24h no

Barreiro T. Fui chamado às Cocheiras estive a ajudar o J. José Fernandes e

M. Pedro Manilha este o encarregado a reparar a B9 ou Ambulância do

Correio. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor aragem Norte.

Continuação das Festas Cívicas de Agosto no Largo dos Aliados deu

alvorada a S. de Palmela. Pelas 11,20h chegou ao Barreiro-A a S. da F.

Palmelense deu a volta à vila. Às 17,30 a partida da Moita dos corredores de

bicicletes de miúdos 1º prémio Luiz Esteves. Ás 17h abertura do arraial

quermesse de tarde e à noite deu concerto as duas Sociedades de Palmela

estiveram a tocar em desafio até às 4,40h da madrugada teve que intervir

as autoridades senão era o resto da manhã e o dia. Nas Oficinas Gerais

abriu-se uma janela para o lado da Avenida da República ficando em frente

do portão da logem do quintal que é do escritório do meu cunhado J. José.

Encontrava-se em construção no Largo dos Aliados na antiga Praça de

Touros uma grande fábrica para cortiça.

18/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. 1920 Estive de

folga. Fez um dia lindo fazendo grande nortada e a noite calmosa. Pelas

12,40h corrida de bicicletas promovida pelo Albino Macedo na residência 93dele na Rua Marquês Pombal até à Vedrena e vir sendo ganho o 1º prémio

o Negro e o 2º o filho mais novo do João Barrote etc. pelas 19,30h

cavalhadas no Largo dos Aliados o último dia de festa sendo distribuídas a

caça o 1º foi Rolão tirou 14 peças de caça, 2º António Luiz Marques 12, 3º

fazendo grande nortada. Pelas 2 da manhã faleceu a mulher do Cristóvão

Duarte serralheiro nas Oficinas dos CFSS. Fez 485 anos a descoberta da ilha

da Madeira pelo Gonsalves V. Cabral [sic]. 1920 Descanso semanal. Fez um

dia lindo e bastante calor. Fui pelas 8h ao Barreiro T. como fui avisado

ontem pelo revisor João Rita Marques este mandou-me embora. Ás 6h

houve salva de 21 tiros e deu alvorada a S. Estremoz. Passados momentos

também deu a volta S. Instrução. Pelas 10h era esperado o Sr. Presidente da

República não veio. Ás 12h bodo aos pobres e venda da flor assistindo à

cerimónia o Sr. J. V. França administrador do Concelho e o Simplício como

representante do P. da República e ao mesmo tempo tocavam as S. de

Estremoz e Instrução. Pelas 18h houve desafio de foot-ball entre o

Barreirense e S. Lisboa e Benfica sendo a vitória do barreirense 4 a 1. O

Manuel Martins no dito desafio partiu a perna esquerda foi o Ribeiro dos

Reis do S. L. Benfica seguiu logo para Lisboa sendo acompanhado por

alguns amigos entre eles Bento Ramalho etc. Foi os casamentos do José

Chigadinho, Artur Pereira com uma das manas do José Augusto dos Santos

e do Fonseca. Faleceu o Joaquim do Gago. Fui ao circo mais o Artur S.

Estreou pela primeira vez chapéu o Custódio F. pelas 17h abertura do

arraial quermesse etc. concerto de tarde e à noite pelas Sociedades

Instrução do Barreiro e de Estremoz. Á noite fui mais o Artur S., Manuel M.

a uma barraca de farturas. Depois fui mais o Artur S., Custódio F. comer uma

melancia. Deitei-me às 3h da madrugada. Fez uma noite linda e calmosa.

16/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Chegou do Alentejo

de Pias o primo do António V. Bote. 1920 Foi feriado em todo o concelho do

Barreiro. Fez um dia lindo e noite regular. Ontem foi o casamento da filha do

António Neto. Hoje esteve de cama o João Gracias por motivo de uma

negra num pé. Levantei-me às 12,10h. houve corrida de touros na Moita.

Pelas 17h andou sobre a vila um hidro-vião fazendo a[ma]ragem [?] junto à

praia correndo muitíssimas pessoas ver o dito havendo muitas pessoas

devido á multidão fora obrigadas entrar na água. De manhã foi alvorada

feita pela S. Democrática. Ás 9 e tal chegou ao Barreiro-A a S.F. Palmelense

deu a volta à vila. Ás 16h corridas de bicicletas era para ser de Azeitão ao

Barreiro resolveu-se de Aldeia Galega a Barreiro sendo ganho o 1º prémio

foi o Edmundo T.V. chegou às 18,20h e o 2º de Setúbal que tem a residência

em Alhos Vedros às 19,15h pelas 17h abertura do arraial houve uma

desordem que teve intervir a G.N.R. estes deram uma espadeirada no

Miguel Paiva ficou ferido na cabeça e foi preso. Andei pelo arraial a passear 93 Verderena

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era a claque meu mano, Artur S., Sebastião Gomes, A.J. Morais, João d'

Silva, Eduardo E. Santo, Custódio F. Houve um vistoso fogo de artifício e

hoje.

17/8/920 Fez 1 ano que estive de folga. Houve corrida de touros em

Setúbal. Continuação dos festejos no quintal da S. Instrução 5º Domingo

deu o concerto das 18h às 21h a S.U.C. de Linda-a-Pastora e à noite houve

baile tocou a S. Instrução houve venda da flor feita por filhas de sócios

sendo o produto reverter a favor da compra de um estrumento a favor da S.

Instrução. No 1º dia da festa foi flores artificiais e nos domingos a seguir era

com um verso e no outro domingo era com uma parra artificial e os

restantes flores pequenas artificiais hoje como foi o último dia das festas

houve leilão das quermesses, etc. eu rematei uma solitária. Casou o

Agostinho Martins com uma cunhada do chefe Neto. 1920 Trabalhei 24h no

Barreiro T. Fui chamado às Cocheiras estive a ajudar o J. José Fernandes e

M. Pedro Manilha este o encarregado a reparar a B9 ou Ambulância do

Correio. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor aragem Norte.

Continuação das Festas Cívicas de Agosto no Largo dos Aliados deu

alvorada a S. de Palmela. Pelas 11,20h chegou ao Barreiro-A a S. da F.

Palmelense deu a volta à vila. Às 17,30 a partida da Moita dos corredores de

bicicletes de miúdos 1º prémio Luiz Esteves. Ás 17h abertura do arraial

quermesse de tarde e à noite deu concerto as duas Sociedades de Palmela

estiveram a tocar em desafio até às 4,40h da madrugada teve que intervir

as autoridades senão era o resto da manhã e o dia. Nas Oficinas Gerais

abriu-se uma janela para o lado da Avenida da República ficando em frente

do portão da logem do quintal que é do escritório do meu cunhado J. José.

Encontrava-se em construção no Largo dos Aliados na antiga Praça de

Touros uma grande fábrica para cortiça.

18/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. 1920 Estive de

folga. Fez um dia lindo fazendo grande nortada e a noite calmosa. Pelas

12,40h corrida de bicicletas promovida pelo Albino Macedo na residência 93dele na Rua Marquês Pombal até à Vedrena e vir sendo ganho o 1º prémio

o Negro e o 2º o filho mais novo do João Barrote etc. pelas 19,30h

cavalhadas no Largo dos Aliados o último dia de festa sendo distribuídas a

caça o 1º foi Rolão tirou 14 peças de caça, 2º António Luiz Marques 12, 3º

fazendo grande nortada. Pelas 2 da manhã faleceu a mulher do Cristóvão

Duarte serralheiro nas Oficinas dos CFSS. Fez 485 anos a descoberta da ilha

da Madeira pelo Gonsalves V. Cabral [sic]. 1920 Descanso semanal. Fez um

dia lindo e bastante calor. Fui pelas 8h ao Barreiro T. como fui avisado

ontem pelo revisor João Rita Marques este mandou-me embora. Ás 6h

houve salva de 21 tiros e deu alvorada a S. Estremoz. Passados momentos

também deu a volta S. Instrução. Pelas 10h era esperado o Sr. Presidente da

República não veio. Ás 12h bodo aos pobres e venda da flor assistindo à

cerimónia o Sr. J. V. França administrador do Concelho e o Simplício como

representante do P. da República e ao mesmo tempo tocavam as S. de

Estremoz e Instrução. Pelas 18h houve desafio de foot-ball entre o

Barreirense e S. Lisboa e Benfica sendo a vitória do barreirense 4 a 1. O

Manuel Martins no dito desafio partiu a perna esquerda foi o Ribeiro dos

Reis do S. L. Benfica seguiu logo para Lisboa sendo acompanhado por

alguns amigos entre eles Bento Ramalho etc. Foi os casamentos do José

Chigadinho, Artur Pereira com uma das manas do José Augusto dos Santos

e do Fonseca. Faleceu o Joaquim do Gago. Fui ao circo mais o Artur S.

Estreou pela primeira vez chapéu o Custódio F. pelas 17h abertura do

arraial quermesse etc. concerto de tarde e à noite pelas Sociedades

Instrução do Barreiro e de Estremoz. Á noite fui mais o Artur S., Manuel M.

a uma barraca de farturas. Depois fui mais o Artur S., Custódio F. comer uma

melancia. Deitei-me às 3h da madrugada. Fez uma noite linda e calmosa.

16/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Chegou do Alentejo

de Pias o primo do António V. Bote. 1920 Foi feriado em todo o concelho do

Barreiro. Fez um dia lindo e noite regular. Ontem foi o casamento da filha do

António Neto. Hoje esteve de cama o João Gracias por motivo de uma

negra num pé. Levantei-me às 12,10h. houve corrida de touros na Moita.

Pelas 17h andou sobre a vila um hidro-vião fazendo a[ma]ragem [?] junto à

praia correndo muitíssimas pessoas ver o dito havendo muitas pessoas

devido á multidão fora obrigadas entrar na água. De manhã foi alvorada

feita pela S. Democrática. Ás 9 e tal chegou ao Barreiro-A a S.F. Palmelense

deu a volta à vila. Ás 16h corridas de bicicletas era para ser de Azeitão ao

Barreiro resolveu-se de Aldeia Galega a Barreiro sendo ganho o 1º prémio

foi o Edmundo T.V. chegou às 18,20h e o 2º de Setúbal que tem a residência

em Alhos Vedros às 19,15h pelas 17h abertura do arraial houve uma

desordem que teve intervir a G.N.R. estes deram uma espadeirada no

Miguel Paiva ficou ferido na cabeça e foi preso. Andei pelo arraial a passear 93 Verderena

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2$50 que eu emprestei no dia 25 no p.p. Continua a greve dos C.F.

Portugueses. 1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada no Barreiro T. De

manhã nublado pela tarde limpou o tempo pois linda e calor [sic]. Este ano

foi o primeiro dia que fui em serviço à Comp. U. Fabril. Continua a greve dos

eléctricos, e condutores de carroças, e pessoal da Casa da Moeda, e pessoal

da Comp. dos Fósforos e terminou a dos chaufers, etc.

22/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. O meu pai foi preso

por motivo da mulher do José Gordo ter tirado um pau na estação dos

caminhos de ferro um pau a polícia dos ditos C. Ferro veio na perseguição

dela e esta fez abriu o portão de meu quintal e tirou o pau para o quintal a

polícia viu e prendeu ele também. 1920 Estive de folga. Esteve todo o dia

nublado prometendo chuva ainda pingou. Fui mais a S. Democrática às

festas da S. da Piedade em Cezimbra. Embarquei na cª. 84 no cº 11 às 9 e tal

o desembarque foi no apeadeiro das Fontainhas em Setúbal e seguimos

para o cais de embarque aonde estivemos duas horas à espera do vapor.

Mais tarde embarcamos num catraio por motivo o rio estar agitado eu 94

embarquei no catraio com o nome “Salbenete” e mais pessoas entre elas

o Viegas foi 10 cent. os dois encontrava-se ao largo um pequeno barco

nome “Setúbal” a partida era para ser às 11h e só efectuou-se às 13h e tal o

rio muito agitado. Chegamos a Cezimbra às 14,25h tocando a Sociedade

quase toda a viagem a passagem pela Torre do Outão. E na praia de

Cezimbra foi e peras encontrava-se muitíssimas pessoas fez o

desembarque por meio de catraios eu embarquei num com o nome

“Angelina” e cada pessoa 15 cent. no vapor ida e volta 1$50 a Sociedade

mal chegou seguiu a tocar e deu a volta à vila sendo queimados muitos

foguetes e morteiros etc. Mais tarde a claque fomos comer era eu,

Caetano, José Borralho, Mário Cândido num estabelecimento da Rua

França Borges nº 28. Pelas 14h foi o lançamento da primeira pedra para o

“Asilo dos velhos” tocando a cerimónia a Sociedade da terra. Ás 16,10 fui

mais o José Borralho ver o hospital da terra. Ás 20h abertura do arraial deu

o concerto a S. Democrática durante a noite foi tirados muitos foguetes de

cores, etc. etc.23h teve o Domingos da Luz a cantar numas escadas do Club

da V. encontrava-se muitas pessoas e a claque a ouvir. As contas mais

importantes da claque foi 7$85. Fomos dormir com a Sociedade para a

escola foi uma noite e peras quase ninguém dormiu.

Nicola 9, 4º António Ram(?) 8, 5º Pedro Ferrador, 6º Guilherme R. 6, 7º A.

Quintino 2, 8º Simplício nada. A caça foi dada por eles. Andei pelo arraial

mais Artur S., Joaquim R., Sebastião Gomes estivemos na barraca das

farturas da Morena. A Comissão teve ordem de tirar as lâmpadas para

seguirem para uma festa no Porto e varas escudos e coretos, etc. para as

festas do Seixal a Comissão esteve quase toda a noite a desarrumar o

arraial não ficou nem uma vara em pé. Após 15 dias no Hospital da Estrela

ficou apurado o Esteves.

19/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Despediu-se e

seguiu para Tires o primo do A. V. Bote. Principiaram armar o arraial os

bombeiros voluntários dos CFSS no terreno do Palácio de Coimbra para

próximas festas dos ditos. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada no

Barreiro T. De manhã esteve nublado e de tarde pois linda fazendo calor.

Seguiram as lâmpadas das festas do 15 de Agosto no L. dos Aliados foram

contadas e verificadas pelos empregados da C. de Lisboa este disseram vão

para as festas do Porto. Veio pelas 16 e tal a cabria do Arcem tirar a caldeira

ao vapor “Estremadura” dos CFSS. Pedi 3 dias licença para os dias 23-24-25

do corrente mês. Continua a greve dos eléctricos. Agora a moda é a

baratinha.

20/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Pelas 18,45h o José E. Beira esteve na

S. Instrução a fazer uma estrela ao filho do João da Luz. Falei com a M.G.M.

1920 Estive de folga. De manhã nublada e pela tarde pois um lindo [sic] e

muito calor. Levantei-me às 13,30h. No Barreiro não havia pão. Entrei com

uma cota suplementar de 30 cent. a pedido de uma comissão da S.

Instrução composta dos seguintes sócios Vieira, José A. Santos, J. Venâncio

é para o aumento do Mestre da Filarmónica da dita Sociedade o Carvalho.

Seguiram para o Seixal as varas das festas no L. dos Aliados. Houve reunião

dos operários corticeiros. Principiou a ser guardado por forças da G.N.R. os

comboios tanto de passageiros como de mercadorias. Falei com a M.G.M.

Fez uma noite linda de luar.

21/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Andei aos

gatos mais António Bote, Custódio, ao pé da casa do Leonardo este último

deu uma tal pedrada pois quase morto um gato e o Eduardo E. S. outro ao

pé do Alfaiate Júlio Macedo. O Filipe pintor da Comp. U. Fabril pagou-me 94 Salmonete?

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2$50 que eu emprestei no dia 25 no p.p. Continua a greve dos C.F.

Portugueses. 1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada no Barreiro T. De

manhã nublado pela tarde limpou o tempo pois linda e calor [sic]. Este ano

foi o primeiro dia que fui em serviço à Comp. U. Fabril. Continua a greve dos

eléctricos, e condutores de carroças, e pessoal da Casa da Moeda, e pessoal

da Comp. dos Fósforos e terminou a dos chaufers, etc.

22/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. O meu pai foi preso

por motivo da mulher do José Gordo ter tirado um pau na estação dos

caminhos de ferro um pau a polícia dos ditos C. Ferro veio na perseguição

dela e esta fez abriu o portão de meu quintal e tirou o pau para o quintal a

polícia viu e prendeu ele também. 1920 Estive de folga. Esteve todo o dia

nublado prometendo chuva ainda pingou. Fui mais a S. Democrática às

festas da S. da Piedade em Cezimbra. Embarquei na cª. 84 no cº 11 às 9 e tal

o desembarque foi no apeadeiro das Fontainhas em Setúbal e seguimos

para o cais de embarque aonde estivemos duas horas à espera do vapor.

Mais tarde embarcamos num catraio por motivo o rio estar agitado eu 94

embarquei no catraio com o nome “Salbenete” e mais pessoas entre elas

o Viegas foi 10 cent. os dois encontrava-se ao largo um pequeno barco

nome “Setúbal” a partida era para ser às 11h e só efectuou-se às 13h e tal o

rio muito agitado. Chegamos a Cezimbra às 14,25h tocando a Sociedade

quase toda a viagem a passagem pela Torre do Outão. E na praia de

Cezimbra foi e peras encontrava-se muitíssimas pessoas fez o

desembarque por meio de catraios eu embarquei num com o nome

“Angelina” e cada pessoa 15 cent. no vapor ida e volta 1$50 a Sociedade

mal chegou seguiu a tocar e deu a volta à vila sendo queimados muitos

foguetes e morteiros etc. Mais tarde a claque fomos comer era eu,

Caetano, José Borralho, Mário Cândido num estabelecimento da Rua

França Borges nº 28. Pelas 14h foi o lançamento da primeira pedra para o

“Asilo dos velhos” tocando a cerimónia a Sociedade da terra. Ás 16,10 fui

mais o José Borralho ver o hospital da terra. Ás 20h abertura do arraial deu

o concerto a S. Democrática durante a noite foi tirados muitos foguetes de

cores, etc. etc.23h teve o Domingos da Luz a cantar numas escadas do Club

da V. encontrava-se muitas pessoas e a claque a ouvir. As contas mais

importantes da claque foi 7$85. Fomos dormir com a Sociedade para a

escola foi uma noite e peras quase ninguém dormiu.

Nicola 9, 4º António Ram(?) 8, 5º Pedro Ferrador, 6º Guilherme R. 6, 7º A.

Quintino 2, 8º Simplício nada. A caça foi dada por eles. Andei pelo arraial

mais Artur S., Joaquim R., Sebastião Gomes estivemos na barraca das

farturas da Morena. A Comissão teve ordem de tirar as lâmpadas para

seguirem para uma festa no Porto e varas escudos e coretos, etc. para as

festas do Seixal a Comissão esteve quase toda a noite a desarrumar o

arraial não ficou nem uma vara em pé. Após 15 dias no Hospital da Estrela

ficou apurado o Esteves.

19/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Despediu-se e

seguiu para Tires o primo do A. V. Bote. Principiaram armar o arraial os

bombeiros voluntários dos CFSS no terreno do Palácio de Coimbra para

próximas festas dos ditos. 1920 Trabalhei das 8h às 2 da madrugada no

Barreiro T. De manhã esteve nublado e de tarde pois linda fazendo calor.

Seguiram as lâmpadas das festas do 15 de Agosto no L. dos Aliados foram

contadas e verificadas pelos empregados da C. de Lisboa este disseram vão

para as festas do Porto. Veio pelas 16 e tal a cabria do Arcem tirar a caldeira

ao vapor “Estremadura” dos CFSS. Pedi 3 dias licença para os dias 23-24-25

do corrente mês. Continua a greve dos eléctricos. Agora a moda é a

baratinha.

20/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Pelas 18,45h o José E. Beira esteve na

S. Instrução a fazer uma estrela ao filho do João da Luz. Falei com a M.G.M.

1920 Estive de folga. De manhã nublada e pela tarde pois um lindo [sic] e

muito calor. Levantei-me às 13,30h. No Barreiro não havia pão. Entrei com

uma cota suplementar de 30 cent. a pedido de uma comissão da S.

Instrução composta dos seguintes sócios Vieira, José A. Santos, J. Venâncio

é para o aumento do Mestre da Filarmónica da dita Sociedade o Carvalho.

Seguiram para o Seixal as varas das festas no L. dos Aliados. Houve reunião

dos operários corticeiros. Principiou a ser guardado por forças da G.N.R. os

comboios tanto de passageiros como de mercadorias. Falei com a M.G.M.

Fez uma noite linda de luar.

21/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Andei aos

gatos mais António Bote, Custódio, ao pé da casa do Leonardo este último

deu uma tal pedrada pois quase morto um gato e o Eduardo E. S. outro ao

pé do Alfaiate Júlio Macedo. O Filipe pintor da Comp. U. Fabril pagou-me 94 Salmonete?

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Page 136: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

24/8/920 Fez 1 ano que estive de folga. Havia as seguintes festas no

Seixal, em Santo António, Cezimbra e continuação das festas dos

Bombeiros V. dos CFSS no terreno do P. Coimbra o concerto de tarde e à

noite a Charanga do Batalhão S. C. Ferro andei mais o Luiz Cristo, Eduardo E.

Santo compramos uvas brancas no dito arraial. De tarde no dito arraial

houve quermesse tômbola e venda da flor. Fez 8 anos que foi eleito o 1º

Presidente da República Sr. Dr. Manuel Arriaga. Fugiram mais duas

raparigas no Barrio Matilde ignorando os nomes. 1920 Estive de licença.

Fez manhã calmosa continuava com a claque em Cezimbra. Levantamos

cedo por motivo de nós ter as coisas na casa aonde nós comemos já há dias.

Fomos à praça comprar pão, figos, etc., etc. Despedimos da dona da casa D.

Cepriana [sic] e da mana e das filhas da D. Cepriana, António d'Oliveira e

José de O. e amigos dos ditos ficamos com a direcção Rua França Borges nº

28 loja. Pelas 8h e tal embarcamos em catraios para bordo do rebocador

“Setúbal” partida da praia de Cezimbra às 9h todo o caminho com névoa

chegada Setúbal às 10,30h. Conforme saia-se do barco corria todos para a

estação dos C. ferro alguns apanharam o comboio 12 mais a maioria

perdeu soube-se que o Pedro do Jordão e Luiz Penim foram no comboio 12.

A claque voltou para a cidade e o Mário partiu um grande melão que trouxe

de Cezimbra e eu comi e outros o resto demos a uma mulher, fazendo

muito calor. Fui mais o Borralho, Mário, Marques Silveira compramos 2

kilos de uva branca por 60 cent. Estivemos a comer numas escadas duma

igreja uma fulana ofereceu-nos pão. Fomos até ao mercado do peixe e

seguimos deitar na praia estes retiraram para o mercado e eu fiquei fui

depois ter com eles ao mercado passadas duas horas comprei besugo uma

dúzia 70 cent. e 4 dúzias de carapaus por 40 cent. e o Borralho e Mário

trouxeram bastante peixe e compramos um marmelo cada um foi a 10 cent.

cada. Regressamos para a estação partiu o comboio 16 ás [espaço em

branco] embarquei na cª 64 vinham a cantar e tocar até ao Barreiro alguns

músicos etc. sendo as peças de música “A Rosa enxota o pinto” e “Ai ó linda”

etc. Fui acompanhar ao saltar no Barreiro a S. Democrática até a sede

trouxe uns embrulhos do Sr. António saco-sofone [sic] da dita Sociedade.

Fez uma noite linda. O Mário Firmino caiu do cavalo ficou um pouco

amaguado [sic] pelo corpo. Falei com a M.G.M. entreguei uma cara duma

velha de louça das Caldas da R. que trouxe de Cezimbra. Claque fez despesa

nos dias de festa em Cezimbra da S. da Piedade 28$13.

23/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço deitei-me às 10h e

levantei-me às 20h. Foram ao banho dois miúdos junto ao moinho Gigante

morreu um deles com 7 anos filho do Mata-gatos. Comprei na companhia

do Luiz Cristo, Morais, Manuel Moinho uma melancia por $45. Principiou

as festas dos Bombeiros Voluntários dos CFSS no terreno do P. Coimbra

abrilhantou a S. Democrática até às 24h houve quermesse tômbola

iluminações eléctricas vindo energia da dita da Central dos CFSS.

Desapareceu da casa dos pais a filha do José Fiscal com o Coelho cornetim

da S. Democrática e o Adão Marcelino da Costa com uma algarvia. 1920

Estive de licença encontrava-me em Cesimbra nas festas da S. da Piedade

levantei mais a claque às 6,30h fomos lavar todos ao chafariz. Fez um dia

lindo e muitíssimo calor e a noite pois-se vento frio de Norte. Comprei para

a M.G.M. como recordação uma prenda de louça das Caldas da Rainha e o

José Borralho foi um moço forcado, de louça da C. Rainha por 1$20. Pelas

10h foi muita rapaziada ver levantar as redes na costa os pescadores

fartaram de rir com o Viriato Valadares a rapaziada ao regressar a terra

disseram que nunca tinham visto tanto peixe principalmente peixe agulha.

Ás 10,30 fomos almoçar à dita casa do dia anterior foi comer até não poder

mais principalmente sardinhas frescas assadas com pimentos etc. sendo

acompanhado de toques de bandolim etc. a despesa do almoço foi 6$67

divididos pela claque era eu, Borralho, Caetano, Mário Cândido, e o

Marques Silveira ficaram zangadas as filhas da dona da casa e amigas das

ditas por não ter pago coisa alguma. De manhã a alvorada foi feita pela S.

Democrática. De tarde andamos a passear pela vila eu, José Borralho,

Mário Cândido compramos duas melancias à mana da dona da casa aonde

nós comemos por 1$50 as duas estivemos a comer num muro e

compramos abanos. À noite grande animação no arraial andavam pelo

arraial a família do Forte. A claque que era como em cima já disse andamos

a passear com as filhas da casa aonde nós comemos era 23h e tal seguimos

antes de terminar a Sociedade o concerto para a escola aonde nós

juntamos os colchões e tiramos a torcida do candeeiro a Sociedade chegou

nós escondidos foram ao candeeiro gastaram fósforos etc. Andaram

indagar quem foi ninguém sabia só a claque dos 5 foi uma noite e peras

fizemos despesa de 13$53. Declarou-se em greve os fragateiros. Ceamos

no Hotel Valmor foi 3$16 neste momento andava o António Menino em

procura do Alvacoria correu o boato que este andavam com fome. Entrou

para o M. Circulante como aprendiz Francisco Pireza.

136 137

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24/8/920 Fez 1 ano que estive de folga. Havia as seguintes festas no

Seixal, em Santo António, Cezimbra e continuação das festas dos

Bombeiros V. dos CFSS no terreno do P. Coimbra o concerto de tarde e à

noite a Charanga do Batalhão S. C. Ferro andei mais o Luiz Cristo, Eduardo E.

Santo compramos uvas brancas no dito arraial. De tarde no dito arraial

houve quermesse tômbola e venda da flor. Fez 8 anos que foi eleito o 1º

Presidente da República Sr. Dr. Manuel Arriaga. Fugiram mais duas

raparigas no Barrio Matilde ignorando os nomes. 1920 Estive de licença.

Fez manhã calmosa continuava com a claque em Cezimbra. Levantamos

cedo por motivo de nós ter as coisas na casa aonde nós comemos já há dias.

Fomos à praça comprar pão, figos, etc., etc. Despedimos da dona da casa D.

Cepriana [sic] e da mana e das filhas da D. Cepriana, António d'Oliveira e

José de O. e amigos dos ditos ficamos com a direcção Rua França Borges nº

28 loja. Pelas 8h e tal embarcamos em catraios para bordo do rebocador

“Setúbal” partida da praia de Cezimbra às 9h todo o caminho com névoa

chegada Setúbal às 10,30h. Conforme saia-se do barco corria todos para a

estação dos C. ferro alguns apanharam o comboio 12 mais a maioria

perdeu soube-se que o Pedro do Jordão e Luiz Penim foram no comboio 12.

A claque voltou para a cidade e o Mário partiu um grande melão que trouxe

de Cezimbra e eu comi e outros o resto demos a uma mulher, fazendo

muito calor. Fui mais o Borralho, Mário, Marques Silveira compramos 2

kilos de uva branca por 60 cent. Estivemos a comer numas escadas duma

igreja uma fulana ofereceu-nos pão. Fomos até ao mercado do peixe e

seguimos deitar na praia estes retiraram para o mercado e eu fiquei fui

depois ter com eles ao mercado passadas duas horas comprei besugo uma

dúzia 70 cent. e 4 dúzias de carapaus por 40 cent. e o Borralho e Mário

trouxeram bastante peixe e compramos um marmelo cada um foi a 10 cent.

cada. Regressamos para a estação partiu o comboio 16 ás [espaço em

branco] embarquei na cª 64 vinham a cantar e tocar até ao Barreiro alguns

músicos etc. sendo as peças de música “A Rosa enxota o pinto” e “Ai ó linda”

etc. Fui acompanhar ao saltar no Barreiro a S. Democrática até a sede

trouxe uns embrulhos do Sr. António saco-sofone [sic] da dita Sociedade.

Fez uma noite linda. O Mário Firmino caiu do cavalo ficou um pouco

amaguado [sic] pelo corpo. Falei com a M.G.M. entreguei uma cara duma

velha de louça das Caldas da R. que trouxe de Cezimbra. Claque fez despesa

nos dias de festa em Cezimbra da S. da Piedade 28$13.

23/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço deitei-me às 10h e

levantei-me às 20h. Foram ao banho dois miúdos junto ao moinho Gigante

morreu um deles com 7 anos filho do Mata-gatos. Comprei na companhia

do Luiz Cristo, Morais, Manuel Moinho uma melancia por $45. Principiou

as festas dos Bombeiros Voluntários dos CFSS no terreno do P. Coimbra

abrilhantou a S. Democrática até às 24h houve quermesse tômbola

iluminações eléctricas vindo energia da dita da Central dos CFSS.

Desapareceu da casa dos pais a filha do José Fiscal com o Coelho cornetim

da S. Democrática e o Adão Marcelino da Costa com uma algarvia. 1920

Estive de licença encontrava-me em Cesimbra nas festas da S. da Piedade

levantei mais a claque às 6,30h fomos lavar todos ao chafariz. Fez um dia

lindo e muitíssimo calor e a noite pois-se vento frio de Norte. Comprei para

a M.G.M. como recordação uma prenda de louça das Caldas da Rainha e o

José Borralho foi um moço forcado, de louça da C. Rainha por 1$20. Pelas

10h foi muita rapaziada ver levantar as redes na costa os pescadores

fartaram de rir com o Viriato Valadares a rapaziada ao regressar a terra

disseram que nunca tinham visto tanto peixe principalmente peixe agulha.

Ás 10,30 fomos almoçar à dita casa do dia anterior foi comer até não poder

mais principalmente sardinhas frescas assadas com pimentos etc. sendo

acompanhado de toques de bandolim etc. a despesa do almoço foi 6$67

divididos pela claque era eu, Borralho, Caetano, Mário Cândido, e o

Marques Silveira ficaram zangadas as filhas da dona da casa e amigas das

ditas por não ter pago coisa alguma. De manhã a alvorada foi feita pela S.

Democrática. De tarde andamos a passear pela vila eu, José Borralho,

Mário Cândido compramos duas melancias à mana da dona da casa aonde

nós comemos por 1$50 as duas estivemos a comer num muro e

compramos abanos. À noite grande animação no arraial andavam pelo

arraial a família do Forte. A claque que era como em cima já disse andamos

a passear com as filhas da casa aonde nós comemos era 23h e tal seguimos

antes de terminar a Sociedade o concerto para a escola aonde nós

juntamos os colchões e tiramos a torcida do candeeiro a Sociedade chegou

nós escondidos foram ao candeeiro gastaram fósforos etc. Andaram

indagar quem foi ninguém sabia só a claque dos 5 foi uma noite e peras

fizemos despesa de 13$53. Declarou-se em greve os fragateiros. Ceamos

no Hotel Valmor foi 3$16 neste momento andava o António Menino em

procura do Alvacoria correu o boato que este andavam com fome. Entrou

para o M. Circulante como aprendiz Francisco Pireza.

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Hoje foram no comboio 9 a minha mãe e minha prima e meu mano para as

festas da S. da Atalaia e pelas 1,20h da madrugada ouviram-se as buzinas

das bicicletas etc. seguiam para as ditas festas.

29/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Comprei na Leitaria do Alves ao

caixeiro Lá-vai uma rifa dum quadro por 10 cent. número 33. Esteve todo o

dia e a noite idem grande nortada. Fui pelas 15,30 na automotora até à

Moita regressei ao Barreiro às 16,40h. No Largo Casal partiu um banco

público aonde encontrava-se assentado com o Luiz Cristo, M. Hartley e o

José de Oliveira. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo fazendo algum calor.

Levantei-me às 11h esta hora passava a S. Democrática para as festas de

Atalaia no Seixal passados 10 minutos a S. Instrução para as ditas festas do

Seixal. Houve as festas do Senhor da Serra e da Senhora da Atalaia em

Cascais e corrida de touros em Setúbal brilhantando a dita corrida as duas

filarmónicas a Capricho e União de Setúbal e grandes festas em Grândola e

V. Viçosa, na Cova da Piedade esta abrilhantou o Batalhão da G.N.R. pelas

13h andou sobre as vilas do Barreiro e Seixal um hidro-vião. Estão em sinal

de protesto as redacções dos jornais em Lisboa por motivo do assalto à

“Batalha”. Fugiu a noite passada a mãe do Eduardo E. Santo mais o Capador

mais novo para Cezimbra. Foi as festas do Seixal a minha claque era

Borralho, Mário Cândido, F. Soeiro, Morais, António Algarvio numa

cervejaria que entrámos paguei eu a despesa foi 2$24 depois fomos a um

estabelecimento compramos um abano foi 60 cent. cada. Ainda chegou a

ser preso o José Marinho por coisas sem importância sendo solto

momentos depois. Fui e regressei a Barreiro no catraio do Mesquita foi 40

cent. era 24,50h vimos o fogo artifício no regresso a meio rio foi uma

viagem e peras de gargalhada vinha o Manuel Ralinho maquinista dos CFSS

e uma filha do Passas etc. como não tinha dito no Seixal pelas 21,20h fomos

comer os petiscos levados de casa numa casa de vinhos. Fez uma noite de

luar e calmosa.

30/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Fui mais meu

mano, José Esteves, Delícias Correia à 2º sessão ao Salão Popular no 1º

andar da Corporativa dos Operários Corticeiros na Rua Eusébio Leão.

Regressamos a casa eu, meu mano, Eugénio da Silva era 1,10h vimos no céu

um clarão parecido com a lua. Fez 420 anos o regresso de Vasco da Gama a

Lisboa vindo de Calicut. 1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e

bastante calor e a noite idem de luar fazendo muita calma. Continuação das

25/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a S. Democrática

para Cezimbra. Continuação das festas de S. António. 1920 Estive de

licença. Fez um dia lindo. Levantei-me às 11h. Foi para C. Branca a M.G.M. e

a prima. Pelas 24h pois-se névoa.

26/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi o primeiro marmelo que comi este

ano. Chegaram pelas 12h a S. Democrática de Cezimbra. 1920 Estive

descanso semanal. Fez um lindo dia fazendo calor. Ás 11h estive a escrever

uma carta para Joaquim de Oliveira de Cezimbra em nome da claque dos 5

e outra para o José Carvalho para Borba e mandei para o Manuel Bravo filho

da Cristina 400 charneiras para colar selos este encontrava-se em Azeitão a

tomar ares. A Comissão das Festas de 15 de Agosto do corrente mês

principiaram a tirar os postes da Rua Miguel Pais por onde passava a

energia. Fez uma noite linda de luar e calor.

27/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão na Gare do

Barreiro. Os jornais trazia que o dia de hoje era esperado grande calor

informações dado pelos sábios. Houve uma subscrição para uns camaradas

da C.P. que vieram enganados pelo guarda-freio Machado os ditos eram

grevistas. Partiu para os banhos das Caldas da Rainha o meu cunhado J.

José e a mulher e os dois filhos. Pelas 12h passou sobre a vila do Barreiro

um hidro-vião muito baixo arreou na cal junto aos moinhos de Alburrica.

Não fui à vila. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um lindo dia fazendo grande

calor. Comprou o João Estaca ao carpinteiro Tiago uma bicicleta a

prestações. Principiou o desembarque do material fixe e rodados etc.

vagons vindos da Bélgica para os CFSS. vindo em fragatas. Descobriu-se há

dias que o Cecílio Macedo e M. Macedo, Luiz Fonseca que desgraçaram um

enteado do Francisco Mesquita que variava o miolo ignorando o resultado

até esta data.

28/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Chegaram sem novidade

das Caldas da Rainha o meu cunhado J. José e mulher e os filhos. Chegou no

comboio 126 o revisor J. Marques e trouxe o D. 49 avariado da linha do

Sado. Foi o casamento do Marcelino Martins. 1920. Trabalhei das 8h às 2h

da madrugada. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a noite idem de

luar e refrescando. No dia 19 passado do corrente saiu para a circulação

novas moedas de 20 cent. é mais pequenas que os 4 cent. mas tem serrilha.

138 139

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Hoje foram no comboio 9 a minha mãe e minha prima e meu mano para as

festas da S. da Atalaia e pelas 1,20h da madrugada ouviram-se as buzinas

das bicicletas etc. seguiam para as ditas festas.

29/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Comprei na Leitaria do Alves ao

caixeiro Lá-vai uma rifa dum quadro por 10 cent. número 33. Esteve todo o

dia e a noite idem grande nortada. Fui pelas 15,30 na automotora até à

Moita regressei ao Barreiro às 16,40h. No Largo Casal partiu um banco

público aonde encontrava-se assentado com o Luiz Cristo, M. Hartley e o

José de Oliveira. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo fazendo algum calor.

Levantei-me às 11h esta hora passava a S. Democrática para as festas de

Atalaia no Seixal passados 10 minutos a S. Instrução para as ditas festas do

Seixal. Houve as festas do Senhor da Serra e da Senhora da Atalaia em

Cascais e corrida de touros em Setúbal brilhantando a dita corrida as duas

filarmónicas a Capricho e União de Setúbal e grandes festas em Grândola e

V. Viçosa, na Cova da Piedade esta abrilhantou o Batalhão da G.N.R. pelas

13h andou sobre as vilas do Barreiro e Seixal um hidro-vião. Estão em sinal

de protesto as redacções dos jornais em Lisboa por motivo do assalto à

“Batalha”. Fugiu a noite passada a mãe do Eduardo E. Santo mais o Capador

mais novo para Cezimbra. Foi as festas do Seixal a minha claque era

Borralho, Mário Cândido, F. Soeiro, Morais, António Algarvio numa

cervejaria que entrámos paguei eu a despesa foi 2$24 depois fomos a um

estabelecimento compramos um abano foi 60 cent. cada. Ainda chegou a

ser preso o José Marinho por coisas sem importância sendo solto

momentos depois. Fui e regressei a Barreiro no catraio do Mesquita foi 40

cent. era 24,50h vimos o fogo artifício no regresso a meio rio foi uma

viagem e peras de gargalhada vinha o Manuel Ralinho maquinista dos CFSS

e uma filha do Passas etc. como não tinha dito no Seixal pelas 21,20h fomos

comer os petiscos levados de casa numa casa de vinhos. Fez uma noite de

luar e calmosa.

30/8/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Falei com a M.G.M. Fui mais meu

mano, José Esteves, Delícias Correia à 2º sessão ao Salão Popular no 1º

andar da Corporativa dos Operários Corticeiros na Rua Eusébio Leão.

Regressamos a casa eu, meu mano, Eugénio da Silva era 1,10h vimos no céu

um clarão parecido com a lua. Fez 420 anos o regresso de Vasco da Gama a

Lisboa vindo de Calicut. 1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e

bastante calor e a noite idem de luar fazendo muita calma. Continuação das

25/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a S. Democrática

para Cezimbra. Continuação das festas de S. António. 1920 Estive de

licença. Fez um dia lindo. Levantei-me às 11h. Foi para C. Branca a M.G.M. e

a prima. Pelas 24h pois-se névoa.

26/8/920 Fez 1 ano estive de folga. Foi o primeiro marmelo que comi este

ano. Chegaram pelas 12h a S. Democrática de Cezimbra. 1920 Estive

descanso semanal. Fez um lindo dia fazendo calor. Ás 11h estive a escrever

uma carta para Joaquim de Oliveira de Cezimbra em nome da claque dos 5

e outra para o José Carvalho para Borba e mandei para o Manuel Bravo filho

da Cristina 400 charneiras para colar selos este encontrava-se em Azeitão a

tomar ares. A Comissão das Festas de 15 de Agosto do corrente mês

principiaram a tirar os postes da Rua Miguel Pais por onde passava a

energia. Fez uma noite linda de luar e calor.

27/8/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão na Gare do

Barreiro. Os jornais trazia que o dia de hoje era esperado grande calor

informações dado pelos sábios. Houve uma subscrição para uns camaradas

da C.P. que vieram enganados pelo guarda-freio Machado os ditos eram

grevistas. Partiu para os banhos das Caldas da Rainha o meu cunhado J.

José e a mulher e os dois filhos. Pelas 12h passou sobre a vila do Barreiro

um hidro-vião muito baixo arreou na cal junto aos moinhos de Alburrica.

Não fui à vila. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um lindo dia fazendo grande

calor. Comprou o João Estaca ao carpinteiro Tiago uma bicicleta a

prestações. Principiou o desembarque do material fixe e rodados etc.

vagons vindos da Bélgica para os CFSS. vindo em fragatas. Descobriu-se há

dias que o Cecílio Macedo e M. Macedo, Luiz Fonseca que desgraçaram um

enteado do Francisco Mesquita que variava o miolo ignorando o resultado

até esta data.

28/8/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Chegaram sem novidade

das Caldas da Rainha o meu cunhado J. José e mulher e os filhos. Chegou no

comboio 126 o revisor J. Marques e trouxe o D. 49 avariado da linha do

Sado. Foi o casamento do Marcelino Martins. 1920. Trabalhei das 8h às 2h

da madrugada. Fez um dia lindo fazendo muitíssimo calor e a noite idem de

luar e refrescando. No dia 19 passado do corrente saiu para a circulação

novas moedas de 20 cent. é mais pequenas que os 4 cent. mas tem serrilha.

138 139

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-19

1/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Veio o Manuel Ferreira aprendiz do

M. Circulante chamar-me a casa para ir receber era 19,10h soube que

mandou o Sr. J. da Luz recebi 61$15. Falei com a M.G.M. Ás 17h foi o meu

mano para Lisboa. 1920 Estive de folga. Levantei-me às 12,30h. Fez um dia

lindo e bastante calor. Veio o pagador fui receber 74$28. A Câmara

Municipal do Barreiro [im]pois 1/½ a todos os volumes que sair do 95

concelho . Foram para a Moita alguns filarmónicos da S. Instrução para o

ensaio da S. Moitense entre eles Joaquim Ramos, António Filipe Cordeiro,

Alfredo Dias, João Lino, A. Ribeiro e Júlio Bifa. A S. Instrução tem um novo

cobrador António Correia. Pelas 23,50h deu um ataque à minha mana Rita.

2/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O meu mano foi

ontem para Lisboa e seguiu hoje para Cacilhas. Fez 3 anos a inauguração do

Salão Popular foi gratuito para as damas. Fez 1 ano com em cima disse a

Câmara de Lisboa pois o projecto para se fazer edificações no Rocio.

Chovendo e trovejando etc. 1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Fez

um dia lindo e muito calor e a noite idem. Saiu para circulação novas 96

moedas de 10 cent. O Daciano Ribeiro teve 14 dias com triça . Recebi a

resposta do J. Oliveira de Cezimbra. Pelas 10,20h tocou a buzina das

Oficinas dos CFSS a fogo sendo o dito no Pinhal da Machada. Morreu

afogado uma praça da G.N.R. da Moita quando andava ao banho mais

outro. Seguiu no comboio 101 à experiência dum carvão que se encontra à

descarga no Barreiro era inglez sendo os ditos o desenhador Figueiredo e o

aprendiz José Pedro a máquina nº 15. Houve corrida de touros em

Aldegalega.

3/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a experiência da

nova linha entre Lavradio e Barreiro-A. Foi a inauguração da nova sede da

Sociedade da Comp. União Fabril no Barrio Operário um prédio de 1º andar

e peras. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo fazendo muito calor era

demasiado e à noite idem. Pelas 11,20h andou sobre a vila um hidro-vião.

Ás 11,30h fui para Lisboa ao hospital ver o Manuel Martins quando cheguei

encontrei-me com a mãe e rapariga do dito segui mas ao chegar à P. da

Figueira segui para hospital de S. José comprei o bilhete por 6 cent. de

entrada encontrava assentada a mulher e a filha do José Pedro Marques

festas do Seixal, Cascais, C. da Piedade, Atalaia, Senhor da Serra etc. Falei

com a M.G.M. Pelas 21,18h encontrava-me no Largo Casal ou Alegria com a

claque vimos pela primeira vez a experiência da luz eléctrica no Teatro

República energia do motor do dito iluminava o Largo. Houve reunião dos

ferroviários.

31/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Pelas 14 h o José

Marques de brincadeira com o Meia-lapa deu-lhe uma facada que lhe

furou os pulmões seguiu para Lisboa a bordo de um rebocador aonde

recolheu no hospital. Continuação das festas do Seixal, e no Barreiro no

terreno do P. de Coimbra a dita festa pelos Bombeiros dos CFSS abrilhantou

a Banda do B.S. C. Ferro e houve festas na C. da Piedade, S. da serra e na

Atalaia e corridas de touros em Setúbal. 1920 Trabalhei das 8 às 2 h da

madrugada. Fez um dia lindo mas calor assustador à noite idem e nublada.

Pelas 20h realizou-se um comício na Praça da República, falou vários

oradores, entre eles M. Correia e uma senhora de Lisboa etc. Partiu às 17h

da estação do Rocio em Lisboa para as C. da Rainha para os banhos o meu

cunhado J. José e mulher e filhos. Houve grande desordem na Sociedade

Estrela Moitense deu origem sair alguns filarmónicos por motivo da

procissão nas próximas festas da S. da Boa Viagem.

95 Imposto sobre a circulação de produtos, no valor de 1,5% 96 Icterícia

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-19

1/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Veio o Manuel Ferreira aprendiz do

M. Circulante chamar-me a casa para ir receber era 19,10h soube que

mandou o Sr. J. da Luz recebi 61$15. Falei com a M.G.M. Ás 17h foi o meu

mano para Lisboa. 1920 Estive de folga. Levantei-me às 12,30h. Fez um dia

lindo e bastante calor. Veio o pagador fui receber 74$28. A Câmara

Municipal do Barreiro [im]pois 1/½ a todos os volumes que sair do 95

concelho . Foram para a Moita alguns filarmónicos da S. Instrução para o

ensaio da S. Moitense entre eles Joaquim Ramos, António Filipe Cordeiro,

Alfredo Dias, João Lino, A. Ribeiro e Júlio Bifa. A S. Instrução tem um novo

cobrador António Correia. Pelas 23,50h deu um ataque à minha mana Rita.

2/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O meu mano foi

ontem para Lisboa e seguiu hoje para Cacilhas. Fez 3 anos a inauguração do

Salão Popular foi gratuito para as damas. Fez 1 ano com em cima disse a

Câmara de Lisboa pois o projecto para se fazer edificações no Rocio.

Chovendo e trovejando etc. 1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Fez

um dia lindo e muito calor e a noite idem. Saiu para circulação novas 96

moedas de 10 cent. O Daciano Ribeiro teve 14 dias com triça . Recebi a

resposta do J. Oliveira de Cezimbra. Pelas 10,20h tocou a buzina das

Oficinas dos CFSS a fogo sendo o dito no Pinhal da Machada. Morreu

afogado uma praça da G.N.R. da Moita quando andava ao banho mais

outro. Seguiu no comboio 101 à experiência dum carvão que se encontra à

descarga no Barreiro era inglez sendo os ditos o desenhador Figueiredo e o

aprendiz José Pedro a máquina nº 15. Houve corrida de touros em

Aldegalega.

3/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi a experiência da

nova linha entre Lavradio e Barreiro-A. Foi a inauguração da nova sede da

Sociedade da Comp. União Fabril no Barrio Operário um prédio de 1º andar

e peras. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo fazendo muito calor era

demasiado e à noite idem. Pelas 11,20h andou sobre a vila um hidro-vião.

Ás 11,30h fui para Lisboa ao hospital ver o Manuel Martins quando cheguei

encontrei-me com a mãe e rapariga do dito segui mas ao chegar à P. da

Figueira segui para hospital de S. José comprei o bilhete por 6 cent. de

entrada encontrava assentada a mulher e a filha do José Pedro Marques

festas do Seixal, Cascais, C. da Piedade, Atalaia, Senhor da Serra etc. Falei

com a M.G.M. Pelas 21,18h encontrava-me no Largo Casal ou Alegria com a

claque vimos pela primeira vez a experiência da luz eléctrica no Teatro

República energia do motor do dito iluminava o Largo. Houve reunião dos

ferroviários.

31/8/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Pelas 14 h o José

Marques de brincadeira com o Meia-lapa deu-lhe uma facada que lhe

furou os pulmões seguiu para Lisboa a bordo de um rebocador aonde

recolheu no hospital. Continuação das festas do Seixal, e no Barreiro no

terreno do P. de Coimbra a dita festa pelos Bombeiros dos CFSS abrilhantou

a Banda do B.S. C. Ferro e houve festas na C. da Piedade, S. da serra e na

Atalaia e corridas de touros em Setúbal. 1920 Trabalhei das 8 às 2 h da

madrugada. Fez um dia lindo mas calor assustador à noite idem e nublada.

Pelas 20h realizou-se um comício na Praça da República, falou vários

oradores, entre eles M. Correia e uma senhora de Lisboa etc. Partiu às 17h

da estação do Rocio em Lisboa para as C. da Rainha para os banhos o meu

cunhado J. José e mulher e filhos. Houve grande desordem na Sociedade

Estrela Moitense deu origem sair alguns filarmónicos por motivo da

procissão nas próximas festas da S. da Boa Viagem.

95 Imposto sobre a circulação de produtos, no valor de 1,5% 96 Icterícia

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Seguiram para Cintra o meu cunhado Manuel Alves as minhas manas Rita,

Ermelinda, Erminia, e um primo e prima Aurélia do meu cunhado M. Alves

no regresso a Lisboa foram ver a revista ao Trindade o “Chá e Torradas”. Fui

no comboio3 mais Joaquim Balbino, Artur, Custódio na cª 63 que partiu às 2

e tal ver as festas de Estremoz foi em nossa companhia uma rapariga de

Lisboa com umas senhoras sendo divertida toda a viagem no dito comboio

seguiram os jogadores Football Clube Barreirense para Beja. Chegamos a

Estremoz às 18,45h encontrava-se na estação a Sociedade da terra vinha

com a Sociedade de Palmela seguimos com as Sociedades depois fomos

comer para trás dumas muralhas antigas depois passear, etc. Á noite fomos

a casa das …[sic] eu mais o Balbino fomos à Rafaela foi 1$50 no quarto parti

o vidro etc. do relógio tiraram a mim e ao Custódio os lenços de algibeira

retiramos às 21,50h fomos guardar o cabaz da comida que nós trouxemos

no estabelecimento da tia do Jorge Praça na Rua Vitor Cordon nº 38. demos

uns passeios e depois fomos assentar nas cadeiras ouvir a banda da G.N.R.

encontrava-se a tocar o Imperial antigo músico da S. Democrática nós

pagamos 40 cent. cada bico sendo o fogo artifício feito todo no ar. O arraial

estava e peras iluminação eléctrica e uma linda quermesse etc. entramos

na Igreja encontrava-se muitas promessas era sacaria de trigos e muitos

géneros etc. O nosso hotel foi as estrelas nas cadeiras no arraial. Era 4 h da

madrugada fomos dar uma volta à vila encontrando muita rapaziada do

Barreiro depois regressamos ao mesmo hotel.

6/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi para a terra o

António Gaspar. Houve benefício no T. Cine para o Asilo D. Pedro V.

continuação das festas no terreno do P. Coimbra dos bombeiros dos CFSS

brilhantando a S. Democrática. Continuação das festas de Estremoz, C. da

Piedade e da Moita. 1920. Estive de licença levantamos do hotel Estrela em

Estremoz era 5,50h e fomos buscar o cabaz e seguimos para a estação e em

frente compramos um pão por favor por motivo de não haver. Embarcamos

às 7,49h no comboio 63 encontrava-se em serviço em C. Branca o servente

J. José 2º e ajudante Luiz Cordeiro e em Vendas Novas o ajudante Adriano

Alves. Fez um dia lindo e muito calor principalmente nas carruagens era

insuportável chegamos ao Barreiro à tabela. Pelas 14h chegaram de Mafra

a S. Instrução. Pelas 17h principiou a nublar-se era 20h começou a trovejar

mas pouco mas chovendo. Falei e perguntei pelas melhoras à Silvia que se

encontrava mal. Falei com a M.G.M.

passado um momento chegou a mãe e a rapariga do M. Martins. Tocou a

sineta entramos fomos à enfermaria S. Francisco estava ele na cama nº 81

tivemos de conversa junto dele. Encontrava-se com um ferido a tiro nos

intestinos e um japonês rimos muito desde que entramos até que saímos

entreguei-lhe 2$50 retirei só e vim fazer compras dois livros de acentos

3$60 e um alfinete para os colarinhos por 60 cent. Regressei às 16,50h. Foi

para o hospital S. José a minha prima Judite em estado grave motivo de

parto. Faleceu o Augusto Torcato. Eugénio da Silva emprestou uma pulseira

ao F. Soeiro no dia 14 p.p. ainda não entregou. Falei com a M.G.M.

4/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h. Foi o

casamento da filha do Jordão a mais velha com um factor nos CFSS. Entrou

CFSS para o Movimento o Luiz Fonseca. Houve benefício da S. Instrução

tinha um fauteiul nº 19 troquei ao António Cristo pelo nº 60 e fui para o pé

do Luiz C. e Manuel Hartley tocou a Sociedade beneficiada sendo o produto

reverter a favor da compra de um estrumento. O meu mano seguiu de

Cacilhas e foi para Idanha a Nova e Linda Pastora. 1920 Trabalhei das 8 às 2h

da madrugada. Fez um dia lindo fazendo muito calor estava assustador a

noite idem. Seguiu no comboio 3 a Banda do VI Batalhão da G.N.R. para

Estremoz. Foi o casamento do João Rodrigues com a filha do José Maria do

depósito seguiram depois da cerimónia para Lisboa. Fiz um pedido para

mais 2 dias de licença para 6 e 7 do corrente mês. Pelas 14,19h principiou a

fazer muito vento. Foi preso em C. Branca o ajudante R. João V. Lobo, M.

Geraldo e revisor M. Soeiro por motivo dum azeite que tiraram dum casco

que estava num vagon era para o hospital S. José encontrando-se inocente

o revisor Soeiro. Foi o casamento do António Colica em Beja.

5/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui à vila eu mais o Luiz C., Eduardo

E. Santo compramos marmelos 4 cent. Fez uma linda noite de luar. O meu

mano regressou de Linda a Pastora a Lisboa. 1920 Estive de folga fazendo

calor demasiado de dia e à noite. Como estava combinado a compra do

bilhete para ir às festas de Mafra levantei-me às 6,10h quando saía de casa

passava a S. Instrução a tocar e segui com eles até à estação entrei no vapor

à procura do bilhete para ir a Mafra mas não compraram por causa da

grande bicha retirei para terra sendo chamado pelo António Filipe Cordeiro

como não tivesse o bilhete de identidade tive medo e não fui regressei a

casa era 8,10h. Fui a casa do Sebastião Gomes encontrava-se deitado disse

a mãe do dito pedi-lhe o favor de pedir a ele o meu bilhete de Identidade.

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Seguiram para Cintra o meu cunhado Manuel Alves as minhas manas Rita,

Ermelinda, Erminia, e um primo e prima Aurélia do meu cunhado M. Alves

no regresso a Lisboa foram ver a revista ao Trindade o “Chá e Torradas”. Fui

no comboio3 mais Joaquim Balbino, Artur, Custódio na cª 63 que partiu às 2

e tal ver as festas de Estremoz foi em nossa companhia uma rapariga de

Lisboa com umas senhoras sendo divertida toda a viagem no dito comboio

seguiram os jogadores Football Clube Barreirense para Beja. Chegamos a

Estremoz às 18,45h encontrava-se na estação a Sociedade da terra vinha

com a Sociedade de Palmela seguimos com as Sociedades depois fomos

comer para trás dumas muralhas antigas depois passear, etc. Á noite fomos

a casa das …[sic] eu mais o Balbino fomos à Rafaela foi 1$50 no quarto parti

o vidro etc. do relógio tiraram a mim e ao Custódio os lenços de algibeira

retiramos às 21,50h fomos guardar o cabaz da comida que nós trouxemos

no estabelecimento da tia do Jorge Praça na Rua Vitor Cordon nº 38. demos

uns passeios e depois fomos assentar nas cadeiras ouvir a banda da G.N.R.

encontrava-se a tocar o Imperial antigo músico da S. Democrática nós

pagamos 40 cent. cada bico sendo o fogo artifício feito todo no ar. O arraial

estava e peras iluminação eléctrica e uma linda quermesse etc. entramos

na Igreja encontrava-se muitas promessas era sacaria de trigos e muitos

géneros etc. O nosso hotel foi as estrelas nas cadeiras no arraial. Era 4 h da

madrugada fomos dar uma volta à vila encontrando muita rapaziada do

Barreiro depois regressamos ao mesmo hotel.

6/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Foi para a terra o

António Gaspar. Houve benefício no T. Cine para o Asilo D. Pedro V.

continuação das festas no terreno do P. Coimbra dos bombeiros dos CFSS

brilhantando a S. Democrática. Continuação das festas de Estremoz, C. da

Piedade e da Moita. 1920. Estive de licença levantamos do hotel Estrela em

Estremoz era 5,50h e fomos buscar o cabaz e seguimos para a estação e em

frente compramos um pão por favor por motivo de não haver. Embarcamos

às 7,49h no comboio 63 encontrava-se em serviço em C. Branca o servente

J. José 2º e ajudante Luiz Cordeiro e em Vendas Novas o ajudante Adriano

Alves. Fez um dia lindo e muito calor principalmente nas carruagens era

insuportável chegamos ao Barreiro à tabela. Pelas 14h chegaram de Mafra

a S. Instrução. Pelas 17h principiou a nublar-se era 20h começou a trovejar

mas pouco mas chovendo. Falei e perguntei pelas melhoras à Silvia que se

encontrava mal. Falei com a M.G.M.

passado um momento chegou a mãe e a rapariga do M. Martins. Tocou a

sineta entramos fomos à enfermaria S. Francisco estava ele na cama nº 81

tivemos de conversa junto dele. Encontrava-se com um ferido a tiro nos

intestinos e um japonês rimos muito desde que entramos até que saímos

entreguei-lhe 2$50 retirei só e vim fazer compras dois livros de acentos

3$60 e um alfinete para os colarinhos por 60 cent. Regressei às 16,50h. Foi

para o hospital S. José a minha prima Judite em estado grave motivo de

parto. Faleceu o Augusto Torcato. Eugénio da Silva emprestou uma pulseira

ao F. Soeiro no dia 14 p.p. ainda não entregou. Falei com a M.G.M.

4/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Fui para Lisboa às 9,30h. Foi o

casamento da filha do Jordão a mais velha com um factor nos CFSS. Entrou

CFSS para o Movimento o Luiz Fonseca. Houve benefício da S. Instrução

tinha um fauteiul nº 19 troquei ao António Cristo pelo nº 60 e fui para o pé

do Luiz C. e Manuel Hartley tocou a Sociedade beneficiada sendo o produto

reverter a favor da compra de um estrumento. O meu mano seguiu de

Cacilhas e foi para Idanha a Nova e Linda Pastora. 1920 Trabalhei das 8 às 2h

da madrugada. Fez um dia lindo fazendo muito calor estava assustador a

noite idem. Seguiu no comboio 3 a Banda do VI Batalhão da G.N.R. para

Estremoz. Foi o casamento do João Rodrigues com a filha do José Maria do

depósito seguiram depois da cerimónia para Lisboa. Fiz um pedido para

mais 2 dias de licença para 6 e 7 do corrente mês. Pelas 14,19h principiou a

fazer muito vento. Foi preso em C. Branca o ajudante R. João V. Lobo, M.

Geraldo e revisor M. Soeiro por motivo dum azeite que tiraram dum casco

que estava num vagon era para o hospital S. José encontrando-se inocente

o revisor Soeiro. Foi o casamento do António Colica em Beja.

5/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia. Fui à vila eu mais o Luiz C., Eduardo

E. Santo compramos marmelos 4 cent. Fez uma linda noite de luar. O meu

mano regressou de Linda a Pastora a Lisboa. 1920 Estive de folga fazendo

calor demasiado de dia e à noite. Como estava combinado a compra do

bilhete para ir às festas de Mafra levantei-me às 6,10h quando saía de casa

passava a S. Instrução a tocar e segui com eles até à estação entrei no vapor

à procura do bilhete para ir a Mafra mas não compraram por causa da

grande bicha retirei para terra sendo chamado pelo António Filipe Cordeiro

como não tivesse o bilhete de identidade tive medo e não fui regressei a

casa era 8,10h. Fui a casa do Sebastião Gomes encontrava-se deitado disse

a mãe do dito pedi-lhe o favor de pedir a ele o meu bilhete de Identidade.

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10/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O

ajudante revisão António Alves Afonso foi à inspecção militar. Regressaram

das Caldas Rainha o meu cunhado J. José e minha mana e sobrinho. Ás

20,30h principiou a chover mas pouco. Continua as festas da Moita e houve

corrida. Faleceu a mulher do Alfredo Batista que mora em Alhos Vedros.

1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular com algumas nuvens pelo

céu. Grande assaltos aos estabelecimentos por toda a parte do país,

principalmente em Lisboa.

Na estação do Barreiro encontravam-se a embarcar forças da GNR para

Setúbal por motivo da greve geral. Seguiu grande quantidade de pão do

Sidónio para Beja. O Joaquim Quintino recolheu novamente ao hospital

com uma antraz numa perna. Foi o casamento do ajudante José Ramos 2º.

Fez toda a noite relâmpagos.

11/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o Jones

pintor dos CFSS. Terminou as festas da Moita houve corrida de curiosos. O

meu mano fez 31 anos de idade. Soube que na Moita o Manuel da Costa

Pedro e Aurélio este último encontrava numa barraca deu um tiro de

chumbo um rapaz da Moita deu o resultado que teve que fugir andava a

GNR e muitos civis em procura dele ainda apanhou a automotora para

Barreiro. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular. Pelas 4 da

madrugada seguiu por terra para Setúbal uma força de cavalaria da GNR e

de tarde seguiu pelo comboio mais 300 praças de infantaria da GNR

também para Setúbal por motivo de greve geral e os assaltos há dias por

esse motivo ficou as festas do Bocagem [sic] transferidas. Principiaram as

festas da Moita foi abrilhantada pela S. da Santo António. Falei com a

M.G.M. Pelas 21,40h tocou as buzinas a fogo sendo o dito na fábrica de

cortiça Mundet no Seixal seguiu os Bombeiros dos CFSS estive na praia do

Mexilhoeiro mais Eduardo, Delícias Correia, Leal, João Firmino a ver o dito

incêndio.

12/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Principiou a chover às 7 h da manhã e

trovejando todo o dia. Fez uma noite linda de luar. Pelas 19 e tal declarou-se

incêndio no sótão da casa de Tavares Veloso junto à Igreja da S. do Rosário.

O António Cordeiro disse que não mais tocava nas caixas da S. Instrução

mas sim na que ele comprasse testemunhas era Eduardo, Costa Pedro.

1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada fazendo vento e chuva etc. Estreei

7/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço e deitei-me às 9h e

levantei-me às 14,10h. O tempo prometia chuva. Fui às 15,30h para as

festas da Moita embarquei na cª 76 fui ao circo mais o Jorge Soares,

Eduardo, e Aurélio paguei as 4 gerais foi 40 cent. Regressei a Barreiro às

22,30h no comboio 18 na B 39. Foi o último domingo das festas do terreno

do P. Coimbra dos bombeiros do CFSS brilhantou a S. Instrução. 1920 Estive

de licença. Esteve todo o dia nublado fazendo muito calor a noite linda de

calor. Levantei-me às 13h. No T. Cine foi o benefício do jornal “Sul e Sueste”.

Vão começar dois tipos únicos de pão de 1ª a 1$60 e 2ª a $40 o kilo. Foi o

batizado de um filho do Miguel Correia assistiram ao jantar perto de 50

convidados etc. Falei com a M.G.M.

8/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. está suspenso a

entrada de comboios no Barreiro T. por motivo de se encontrar em

reparação a linha de entrada dos ditos comboios. Regressaram de África

muitos condenados que cumpriram o tempo para o Barreiro veio os

Painços e o Cadáver e outros. Continuação dos festejos da Moita e houve

corrida. Saiu ontem o jornal dos ferroviários com o nome “Sul e Sueste”.

1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Esteve todo o dia nublado

fazendo algum vento Oeste. Pelas 21h houve assaltos em Lisboa

efectuando muitas pessoas e houve muitas pessoas feridas e mortas, etc.

Havendo grandes festejos na Régua e continuação das festas de Azambuja

etc.

9/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço do Barreiro T deitei-

me às 11h e levantei-me às 14,20h. Na Moita ao entrar o gado este fugiu

todo sendo uma completa tourada pelas ruas da vila entrou para a Praça

muito tarde etc. Ás 17,45h segui no c. 17 na cª 65 para as festas da Moita

depois andei pelo arraial com o Luiz Cristo, Correia etc. e trouxe dois

pacotes de cajadas [sic] foi 40 cent. Regressei a Barreiro às 22 e tal. 1920

Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite nublada. Foi assaltada a padaria

do Ventura. Houve reunião dos corticeiros por motivo da carestia de vida.

Falei com a M.G.M. Tivemos de brincadeira no Largo Casal eu, Júlio dos

Santos, Eduardo, Eugénio da Silva, Soeiro, Aurélio, Cristo, Delícias Correia,

Custódio e outros era 20,40h. Escrevi um postal para o meu sobrinho Quim

que se encontrava nas Caldas R.

144 145

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10/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. O

ajudante revisão António Alves Afonso foi à inspecção militar. Regressaram

das Caldas Rainha o meu cunhado J. José e minha mana e sobrinho. Ás

20,30h principiou a chover mas pouco. Continua as festas da Moita e houve

corrida. Faleceu a mulher do Alfredo Batista que mora em Alhos Vedros.

1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular com algumas nuvens pelo

céu. Grande assaltos aos estabelecimentos por toda a parte do país,

principalmente em Lisboa.

Na estação do Barreiro encontravam-se a embarcar forças da GNR para

Setúbal por motivo da greve geral. Seguiu grande quantidade de pão do

Sidónio para Beja. O Joaquim Quintino recolheu novamente ao hospital

com uma antraz numa perna. Foi o casamento do ajudante José Ramos 2º.

Fez toda a noite relâmpagos.

11/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. Faleceu o Jones

pintor dos CFSS. Terminou as festas da Moita houve corrida de curiosos. O

meu mano fez 31 anos de idade. Soube que na Moita o Manuel da Costa

Pedro e Aurélio este último encontrava numa barraca deu um tiro de

chumbo um rapaz da Moita deu o resultado que teve que fugir andava a

GNR e muitos civis em procura dele ainda apanhou a automotora para

Barreiro. 1920 Trabalhei todo o dia. Fez um dia regular. Pelas 4 da

madrugada seguiu por terra para Setúbal uma força de cavalaria da GNR e

de tarde seguiu pelo comboio mais 300 praças de infantaria da GNR

também para Setúbal por motivo de greve geral e os assaltos há dias por

esse motivo ficou as festas do Bocagem [sic] transferidas. Principiaram as

festas da Moita foi abrilhantada pela S. da Santo António. Falei com a

M.G.M. Pelas 21,40h tocou as buzinas a fogo sendo o dito na fábrica de

cortiça Mundet no Seixal seguiu os Bombeiros dos CFSS estive na praia do

Mexilhoeiro mais Eduardo, Delícias Correia, Leal, João Firmino a ver o dito

incêndio.

12/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Principiou a chover às 7 h da manhã e

trovejando todo o dia. Fez uma noite linda de luar. Pelas 19 e tal declarou-se

incêndio no sótão da casa de Tavares Veloso junto à Igreja da S. do Rosário.

O António Cordeiro disse que não mais tocava nas caixas da S. Instrução

mas sim na que ele comprasse testemunhas era Eduardo, Costa Pedro.

1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada fazendo vento e chuva etc. Estreei

7/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço e deitei-me às 9h e

levantei-me às 14,10h. O tempo prometia chuva. Fui às 15,30h para as

festas da Moita embarquei na cª 76 fui ao circo mais o Jorge Soares,

Eduardo, e Aurélio paguei as 4 gerais foi 40 cent. Regressei a Barreiro às

22,30h no comboio 18 na B 39. Foi o último domingo das festas do terreno

do P. Coimbra dos bombeiros do CFSS brilhantou a S. Instrução. 1920 Estive

de licença. Esteve todo o dia nublado fazendo muito calor a noite linda de

calor. Levantei-me às 13h. No T. Cine foi o benefício do jornal “Sul e Sueste”.

Vão começar dois tipos únicos de pão de 1ª a 1$60 e 2ª a $40 o kilo. Foi o

batizado de um filho do Miguel Correia assistiram ao jantar perto de 50

convidados etc. Falei com a M.G.M.

8/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24 horas no Barreiro T. está suspenso a

entrada de comboios no Barreiro T. por motivo de se encontrar em

reparação a linha de entrada dos ditos comboios. Regressaram de África

muitos condenados que cumpriram o tempo para o Barreiro veio os

Painços e o Cadáver e outros. Continuação dos festejos da Moita e houve

corrida. Saiu ontem o jornal dos ferroviários com o nome “Sul e Sueste”.

1920 Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Esteve todo o dia nublado

fazendo algum vento Oeste. Pelas 21h houve assaltos em Lisboa

efectuando muitas pessoas e houve muitas pessoas feridas e mortas, etc.

Havendo grandes festejos na Régua e continuação das festas de Azambuja

etc.

9/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Cheguei do serviço do Barreiro T deitei-

me às 11h e levantei-me às 14,20h. Na Moita ao entrar o gado este fugiu

todo sendo uma completa tourada pelas ruas da vila entrou para a Praça

muito tarde etc. Ás 17,45h segui no c. 17 na cª 65 para as festas da Moita

depois andei pelo arraial com o Luiz Cristo, Correia etc. e trouxe dois

pacotes de cajadas [sic] foi 40 cent. Regressei a Barreiro às 22 e tal. 1920

Estive de folga. Fez um dia lindo e a noite nublada. Foi assaltada a padaria

do Ventura. Houve reunião dos corticeiros por motivo da carestia de vida.

Falei com a M.G.M. Tivemos de brincadeira no Largo Casal eu, Júlio dos

Santos, Eduardo, Eugénio da Silva, Soeiro, Aurélio, Cristo, Delícias Correia,

Custódio e outros era 20,40h. Escrevi um postal para o meu sobrinho Quim

que se encontrava nas Caldas R.

144 145

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15/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui avisado

para ir manhã no cº 11 para Setúbal render o revisor António Camacho. Das

festas da Moita veio para o Barreiro uma barraca de tiros para o Jardim “L.

de Camões”. 1920 Trabalhei até às 15,50h e o resto do dia foi tolerância de

ponto por fazer 100 anos a Revolução de 1820. Pelas 3h da madrugada foi

assaltado o estabelecimento de Francisco Rodrigues, ficando quase limpo.

Foi um alvoroço por toda a vila por motivo de tocarem os sinos da Igreja de

Santa Cruz na Praça da República. Os ditos era tocados por uma corda que

passava por cima dos telhados até ao Jardim no Largo de Camões. A dita

corda vinha a uma árvore do Jardim e a GNR aos tiros à torre da Igreja e

falando etc. e os sinos tocavam cada vez mais. Só de manhã é que foi vista a

corda e soube que puxavam pela corda José Camoez e Adelino Penina.

Continuam a efectuar-se prisões no Barreiro por motivo do assalto ao

estabelecimento do F. Rodrigues entre eles o J. Camarão e a filha do

Leonardo e outras. Houve reunião dos ferroviários para tratar dos

vencimentos etc. no T. Cine encontrava-se cheio assistindo o Ministro do

Comércio Velhinho Correia e outros personagens importantes foi das 21h à

1 h da madrugada.

16/9/920 Fez 1 ano que fui para Setúbal no comboio 11 na cª. 65 render o

revisor Camacho e foi no dito comboio ao médico a Setúbal o ajudante

revisor Álvaro Duarte de Oliveira regressei no comboio 18 na cª 68

chovendo pouco. 1920 Estive de folga. De manhã linda e pela tarde nublou-

se. Levantei-me às 15h. Continuação das festas da Moita e houve corrida de

touros tocando a Sociedade de sarilhos Grandes a dita corrida foi de

amadores sendo entre eles Ramalhete, Viriato de Almeida, Jorge Firmino

etc. fui às ditas festas na Moita no c. 17 na cª 77 andei pelo arraial com o

Figueiredo e regressamos no comboio 9 a P. Novo no c. 67 e depois viemos

no c. 18 para Barreiro. Veio ao Barreiro à Comp. da U. F. o presidente do

ministério Sr. Dr. António Granjo. Faleceu esta madrugada o ajudante

revisor Marcelo Curral e o Abrantes carpinteiro também da Revisão. Seguiu

para o hospital José Gonçalves Tavares fazer operação às partes o dito

hospital foi de S. Marta.

17/9/920 Fez 1 ano segui para Setúbal no comboio 11 na C 65 render o

revisor Camacho e foi no dito comboio ao medico a Setúbal o ajudante

revisor Álvaro Duarte de Oliveira regressei no comboio 18 na C. 65,

um fato completo de ganga e botas pretas. Chegaram já as petinas e

arvéolas etc. Houve corrida de touros no C. Pequeno. O Júlio dos Santos foi

à feira de Loulé e grandes festas em V. Viçosa. Na festa da Moita saiu a

procissão corporou-se na mesma as Sociedades a de Setúbal e de Palmela e

da terra nas ditas festas roubaram uma mala de prata à filha mais velha do

Joaquim António capataz do João Teixeira.

13/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. O revisor

circunscrição deu-me um espelho e peras. 1920 Estive de folga. Fez um dia

esquisito. Levantei-me às 10,20h. Escrevi três cartas uma para Borba e

outra para Cezimbra e sendo uma para Barreiro. Houve corrida de touros

no C. Pequeno. Veio nos jornais que os barbeiros vão em breve por as

barbas a 30 cent. e o cabelo a 1 escudo. Fui mais o meu compadre Júlio

Colica às festas da Moita às 17,25h no cº 17 na cª 73 compramos abanos

etc. fomos ao Circo Lisbonense para as cadeiras os dois a cada bico 60 cent.

fomos à barraca das farturas abrilhantou a dita festa uma Sociedade de

Setúbal e outra de Palmela fiz despesa de 1$55 regressei a Barreiro na cº 84

no comboio 1142. Chegou a Lisboa vindo das Caldas da R. o meu compadre

Júlio José e mulher e filhos. Ao saltar na estação da Moita perdeu ou

tiraram uma mantilha preta á minha prima M.C.

14/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Pelas 4 da madrugada tocou a

buzina das Oficinas gerais a fogo. Houve festas na Amora e corrida de

touros em Setúbal seguiu às 15h a S. Democrática abrilhantar a dita corrida

e no Barreiro houve desafio de futebol. Falei com a M.G.M. Fui mais o

António Fonseca e Filipe Pintor da Comp. U, F, ao T. Cine fomos para os

fauteuils nº 32-34-36 foi animatógrafo. Pelas 17h suicidou-se o Dias na

fábrica Social. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão na Gare. Fez um

dia lindo fazendo calor. Houve corrida de touros na Moita e continuação

das festas. Faleceu avó do Sebastião Gomes era enfermeira. Depois de

revisão ao comboio 9 segui no dito na cª 83 depois cheguei à Moita juntei-

me com João Catalão, Moinho, Custódio, divertimos e fomos ao

restaurante Gomes eu paguei 3 cervejas 1$80 havendo diversas comidas e

bebidas pela claque. Deu o concerto da tarde e à noite as duas Sociedades

de Setúbal.

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15/9/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui avisado

para ir manhã no cº 11 para Setúbal render o revisor António Camacho. Das

festas da Moita veio para o Barreiro uma barraca de tiros para o Jardim “L.

de Camões”. 1920 Trabalhei até às 15,50h e o resto do dia foi tolerância de

ponto por fazer 100 anos a Revolução de 1820. Pelas 3h da madrugada foi

assaltado o estabelecimento de Francisco Rodrigues, ficando quase limpo.

Foi um alvoroço por toda a vila por motivo de tocarem os sinos da Igreja de

Santa Cruz na Praça da República. Os ditos era tocados por uma corda que

passava por cima dos telhados até ao Jardim no Largo de Camões. A dita

corda vinha a uma árvore do Jardim e a GNR aos tiros à torre da Igreja e

falando etc. e os sinos tocavam cada vez mais. Só de manhã é que foi vista a

corda e soube que puxavam pela corda José Camoez e Adelino Penina.

Continuam a efectuar-se prisões no Barreiro por motivo do assalto ao

estabelecimento do F. Rodrigues entre eles o J. Camarão e a filha do

Leonardo e outras. Houve reunião dos ferroviários para tratar dos

vencimentos etc. no T. Cine encontrava-se cheio assistindo o Ministro do

Comércio Velhinho Correia e outros personagens importantes foi das 21h à

1 h da madrugada.

16/9/920 Fez 1 ano que fui para Setúbal no comboio 11 na cª. 65 render o

revisor Camacho e foi no dito comboio ao médico a Setúbal o ajudante

revisor Álvaro Duarte de Oliveira regressei no comboio 18 na cª 68

chovendo pouco. 1920 Estive de folga. De manhã linda e pela tarde nublou-

se. Levantei-me às 15h. Continuação das festas da Moita e houve corrida de

touros tocando a Sociedade de sarilhos Grandes a dita corrida foi de

amadores sendo entre eles Ramalhete, Viriato de Almeida, Jorge Firmino

etc. fui às ditas festas na Moita no c. 17 na cª 77 andei pelo arraial com o

Figueiredo e regressamos no comboio 9 a P. Novo no c. 67 e depois viemos

no c. 18 para Barreiro. Veio ao Barreiro à Comp. da U. F. o presidente do

ministério Sr. Dr. António Granjo. Faleceu esta madrugada o ajudante

revisor Marcelo Curral e o Abrantes carpinteiro também da Revisão. Seguiu

para o hospital José Gonçalves Tavares fazer operação às partes o dito

hospital foi de S. Marta.

17/9/920 Fez 1 ano segui para Setúbal no comboio 11 na C 65 render o

revisor Camacho e foi no dito comboio ao medico a Setúbal o ajudante

revisor Álvaro Duarte de Oliveira regressei no comboio 18 na C. 65,

um fato completo de ganga e botas pretas. Chegaram já as petinas e

arvéolas etc. Houve corrida de touros no C. Pequeno. O Júlio dos Santos foi

à feira de Loulé e grandes festas em V. Viçosa. Na festa da Moita saiu a

procissão corporou-se na mesma as Sociedades a de Setúbal e de Palmela e

da terra nas ditas festas roubaram uma mala de prata à filha mais velha do

Joaquim António capataz do João Teixeira.

13/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. O revisor

circunscrição deu-me um espelho e peras. 1920 Estive de folga. Fez um dia

esquisito. Levantei-me às 10,20h. Escrevi três cartas uma para Borba e

outra para Cezimbra e sendo uma para Barreiro. Houve corrida de touros

no C. Pequeno. Veio nos jornais que os barbeiros vão em breve por as

barbas a 30 cent. e o cabelo a 1 escudo. Fui mais o meu compadre Júlio

Colica às festas da Moita às 17,25h no cº 17 na cª 73 compramos abanos

etc. fomos ao Circo Lisbonense para as cadeiras os dois a cada bico 60 cent.

fomos à barraca das farturas abrilhantou a dita festa uma Sociedade de

Setúbal e outra de Palmela fiz despesa de 1$55 regressei a Barreiro na cº 84

no comboio 1142. Chegou a Lisboa vindo das Caldas da R. o meu compadre

Júlio José e mulher e filhos. Ao saltar na estação da Moita perdeu ou

tiraram uma mantilha preta á minha prima M.C.

14/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Pelas 4 da madrugada tocou a

buzina das Oficinas gerais a fogo. Houve festas na Amora e corrida de

touros em Setúbal seguiu às 15h a S. Democrática abrilhantar a dita corrida

e no Barreiro houve desafio de futebol. Falei com a M.G.M. Fui mais o

António Fonseca e Filipe Pintor da Comp. U, F, ao T. Cine fomos para os

fauteuils nº 32-34-36 foi animatógrafo. Pelas 17h suicidou-se o Dias na

fábrica Social. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora de serão na Gare. Fez um

dia lindo fazendo calor. Houve corrida de touros na Moita e continuação

das festas. Faleceu avó do Sebastião Gomes era enfermeira. Depois de

revisão ao comboio 9 segui no dito na cª 83 depois cheguei à Moita juntei-

me com João Catalão, Moinho, Custódio, divertimos e fomos ao

restaurante Gomes eu paguei 3 cervejas 1$80 havendo diversas comidas e

bebidas pela claque. Deu o concerto da tarde e à noite as duas Sociedades

de Setúbal.

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outros e dono da casa deu-nos polvo seco retiramos e trouxe uma boca

duma santola como recordação fui mais o José de P. como já tínhamos

comprado dois bilhetes de sol a 1$40 cada na A. Todi mais tarde seguimos

com a S. Instrução ver a corrida de touros assistiram 5 Sociedades o

cavaleiro era o José Casimiro e dois toureiros era irmãos Espanhóis foram e

peras o trabalho até faziam parar os touros os ditos bons o J. da P. só viu

correr três touros foi por motivo de dor de dentes ao terminar a corrida

estivemos a ver sair as Sociedades a 1ª foi a de Alcácer do Sal , a 2ª uma de

Setúbal e 3ª a S. Instrução e da moita e viemos com as ditas para a estação

depois chegou a S. de Aldegalega regressamos a Barreiro no comboio

especial n cª 84 às 20,40h chegada a Barreiro acompanhamos a claque à

Sociedade até á sede viemos a danças à frente da dita etc. Houve também

corrida de touros no Campo Pequeno. O Mário dos S. Cândido e Francisco T.

Gonçalves foram para Lisboa ao Hospital de S. Marta ver o J.T. G., mano do

último. Seguiu no comboio 9 ver as festas de Elvas o José Esteves Beira. No

comboio que vim de Setúbal caio quando principiava em andamento o

Joaquim Chacha. No Barreiro houve dois desafios de futebol com o

Carcavelinhos. Á noite chegou forças da GNR e Engenharia ao mando do

Salvador Viegas. Chegou ao Tejo ao vapor Pais-Wais com o Príncipe

Leopoldo da Bélgica, vai ao encontro dos pais herdeiros da dita.

20/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez grande nortada

todo o dia e toda a noite. No T. Cine fez-se um espectáculo e, benefício do

Joaquim Caetano (Pau-louro) foram ao dito benefício as Sociedades

Democráticas e Instrução. O ajudante R. Joaquim Branha foi apresentar à

vida militar. Fez-se grandes espantos por parte do público por motivo da

iluminação das ruas, que já há 4 meses que se não iluminavam. 1920

Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez uma manhã linda e depois nublou-

se e a noite idem. Era 23 h principiou a refrescar vento Norte. Pelas 10h21

chegou ao Barreiro vindo de Setúbal forças de infantaria 11 vindos a pé

ficando praças pelas estações, etc. Ás 6,20h passou em direcção a Setúbal

um aeroplano. Houve reunião dos ferroviários no T. Cine. Ás 19h30

chegaram mais 128 praças da GN Republicana. O Miguel Correia da

Associação e outros foram suspensos, etc.

21/9/920 Fez 1 ano que estive de folga, fazendo grande nortada mas

chuvendo pouco. 1920 Estive de folga de manhã linda e pela tarde nublou-

se. Levantei-me às 15h. Continuação das festas da Moita e houve corrida

de touros tocando a sociedade de Sarilhos Grandes a dita corrida foi de

amadores sendo entre eles M. Ramalhetes, Viriato de Almeida, Jorge

Ferreira etc. Foi as ditas festas da Moita no comboio 9 a P. Novo. No C 67 e

depois viemos no comboio 18 para o Barreiro. Veio ao Barreiro a Compª. da

U. F. o Presidente do Ministério dr. António Granjo. Faleceu esta

madrugada o ajudante revisor Marcelo Curral e o Abrantes carpinteiro

também da revisão. Seguiu para o hospital o José Gonsalves [sic] Tavares

fazer operação as partes o dito hospital foi o de santa Marta.

18/9/920 Fez 1 ano que segui render o revisor Camacho a Setúbal no

comboio 11 cª 65. chegou a Setúbal com um boque quente a 357 vindo

acompanhado pelo revisor estaca. Depois de reparado etc. fomos passear

à cidade bebemos duas gasosas e vinho branco etc. regressei às 2º,55h no

comboio 18 na cª 68. O João S.R.M. deu-me um livro de Revisão era de

1917. 1920 Descanso semanal. O tempo nublado fazendo pouco calor

vento Oeste regular. Pelas 11h começou a pôr-se grande vendaval. Era 20 e

tal principiou a chover e chovendo grossa. Seguiu para Faro a render o

torneiro Delícias Correia o Manuel Garcias torneiro. Falei com a M.G.M.

Houve baile no grupo 22 e espectáculo na Comp. U.F.

19/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui no c.

11 a P. Novo ver o O 63 este tinha um boque quente. Fui ter com o

praticante Francisco António pedir por favor para o O seguir no comboio

126 regressei a Barreiro no comboio 12. Fui no comboio 19 mais o Manilha,

António Neto, José Caixote, etc. P. Novo este último seguiu no c. 9 até ao

cruzamento do comboio 6 em perseguição de uma rapariga e regressamos

a Barreiro no comboio 18. 1920 Descanso semanal. Esteve todo o dia

nublado e calma. Foi para Setúbal no comboio 13 a S. Instrução e foi

também com a dita na Moita a S. Estrela Moitense e em P. Novo embarcou a

S. de Aldegalega. Chegamos a Setúbal eu na c. 79 foi a tocar a S. Instrução e

dar a volta às principais ruas da cidade e a C. Municipal e várias

colectividades descansamos na sede da S. Capricho retirei mais o Delícias

Correia, José de Paula e compramos santolas 3$60 e um melão $40 fomos

para praia uma casa de bebidas comer e beber era de José Salgado que

ofereceu mesa etc. mais tarde apareceu uma preta com nome Madalena

muito embriagada fartamos de rir depois veio o enfermeiro Ribeiro e entre

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outros e dono da casa deu-nos polvo seco retiramos e trouxe uma boca

duma santola como recordação fui mais o José de P. como já tínhamos

comprado dois bilhetes de sol a 1$40 cada na A. Todi mais tarde seguimos

com a S. Instrução ver a corrida de touros assistiram 5 Sociedades o

cavaleiro era o José Casimiro e dois toureiros era irmãos Espanhóis foram e

peras o trabalho até faziam parar os touros os ditos bons o J. da P. só viu

correr três touros foi por motivo de dor de dentes ao terminar a corrida

estivemos a ver sair as Sociedades a 1ª foi a de Alcácer do Sal , a 2ª uma de

Setúbal e 3ª a S. Instrução e da moita e viemos com as ditas para a estação

depois chegou a S. de Aldegalega regressamos a Barreiro no comboio

especial n cª 84 às 20,40h chegada a Barreiro acompanhamos a claque à

Sociedade até á sede viemos a danças à frente da dita etc. Houve também

corrida de touros no Campo Pequeno. O Mário dos S. Cândido e Francisco T.

Gonçalves foram para Lisboa ao Hospital de S. Marta ver o J.T. G., mano do

último. Seguiu no comboio 9 ver as festas de Elvas o José Esteves Beira. No

comboio que vim de Setúbal caio quando principiava em andamento o

Joaquim Chacha. No Barreiro houve dois desafios de futebol com o

Carcavelinhos. Á noite chegou forças da GNR e Engenharia ao mando do

Salvador Viegas. Chegou ao Tejo ao vapor Pais-Wais com o Príncipe

Leopoldo da Bélgica, vai ao encontro dos pais herdeiros da dita.

20/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez grande nortada

todo o dia e toda a noite. No T. Cine fez-se um espectáculo e, benefício do

Joaquim Caetano (Pau-louro) foram ao dito benefício as Sociedades

Democráticas e Instrução. O ajudante R. Joaquim Branha foi apresentar à

vida militar. Fez-se grandes espantos por parte do público por motivo da

iluminação das ruas, que já há 4 meses que se não iluminavam. 1920

Trabalhei das 8 às 2 da madrugada. Fez uma manhã linda e depois nublou-

se e a noite idem. Era 23 h principiou a refrescar vento Norte. Pelas 10h21

chegou ao Barreiro vindo de Setúbal forças de infantaria 11 vindos a pé

ficando praças pelas estações, etc. Ás 6,20h passou em direcção a Setúbal

um aeroplano. Houve reunião dos ferroviários no T. Cine. Ás 19h30

chegaram mais 128 praças da GN Republicana. O Miguel Correia da

Associação e outros foram suspensos, etc.

21/9/920 Fez 1 ano que estive de folga, fazendo grande nortada mas

chuvendo pouco. 1920 Estive de folga de manhã linda e pela tarde nublou-

se. Levantei-me às 15h. Continuação das festas da Moita e houve corrida

de touros tocando a sociedade de Sarilhos Grandes a dita corrida foi de

amadores sendo entre eles M. Ramalhetes, Viriato de Almeida, Jorge

Ferreira etc. Foi as ditas festas da Moita no comboio 9 a P. Novo. No C 67 e

depois viemos no comboio 18 para o Barreiro. Veio ao Barreiro a Compª. da

U. F. o Presidente do Ministério dr. António Granjo. Faleceu esta

madrugada o ajudante revisor Marcelo Curral e o Abrantes carpinteiro

também da revisão. Seguiu para o hospital o José Gonsalves [sic] Tavares

fazer operação as partes o dito hospital foi o de santa Marta.

18/9/920 Fez 1 ano que segui render o revisor Camacho a Setúbal no

comboio 11 cª 65. chegou a Setúbal com um boque quente a 357 vindo

acompanhado pelo revisor estaca. Depois de reparado etc. fomos passear

à cidade bebemos duas gasosas e vinho branco etc. regressei às 2º,55h no

comboio 18 na cª 68. O João S.R.M. deu-me um livro de Revisão era de

1917. 1920 Descanso semanal. O tempo nublado fazendo pouco calor

vento Oeste regular. Pelas 11h começou a pôr-se grande vendaval. Era 20 e

tal principiou a chover e chovendo grossa. Seguiu para Faro a render o

torneiro Delícias Correia o Manuel Garcias torneiro. Falei com a M.G.M.

Houve baile no grupo 22 e espectáculo na Comp. U.F.

19/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Fui no c.

11 a P. Novo ver o O 63 este tinha um boque quente. Fui ter com o

praticante Francisco António pedir por favor para o O seguir no comboio

126 regressei a Barreiro no comboio 12. Fui no comboio 19 mais o Manilha,

António Neto, José Caixote, etc. P. Novo este último seguiu no c. 9 até ao

cruzamento do comboio 6 em perseguição de uma rapariga e regressamos

a Barreiro no comboio 18. 1920 Descanso semanal. Esteve todo o dia

nublado e calma. Foi para Setúbal no comboio 13 a S. Instrução e foi

também com a dita na Moita a S. Estrela Moitense e em P. Novo embarcou a

S. de Aldegalega. Chegamos a Setúbal eu na c. 79 foi a tocar a S. Instrução e

dar a volta às principais ruas da cidade e a C. Municipal e várias

colectividades descansamos na sede da S. Capricho retirei mais o Delícias

Correia, José de Paula e compramos santolas 3$60 e um melão $40 fomos

para praia uma casa de bebidas comer e beber era de José Salgado que

ofereceu mesa etc. mais tarde apareceu uma preta com nome Madalena

muito embriagada fartamos de rir depois veio o enfermeiro Ribeiro e entre

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cima das manivelas etc. dentro das Oficinas das Cocheiras, ralhando o dito

a J. José 2º e F. M. Estaca. O encarregado do M. Pedro Manilha disse se nós

não vimos o número para dar parte dele e os ditos fizeram grande

descabeche [sic] e desafiaram etc. Falei com a M.G.M. Regressou das festas

de Elvas o José Esteves Beira. Fomos eu Sebastião Gomes, Eduardo E.S.,

José de Oliveira depois de passear pela vila, cantar para um banco no Largo

da Alegria ou Casal, era as seguintes ai tiri tum-tum- e a Maria da Rocha e

era o vinho minha mãe, etc.

25/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Faleceu o António

Nunes. Fui em serviço ao Lavradio chamado pelo telefone pelo chefe

Amaro por motivo dum O ter uma cadeia segurança partida, etc. foi tirado

por pessoal das Oficinas G. e meter ao charrion [sic] do Barreiro T. era

carpinteiro o Viriato Valadares e o José Bicho e serventes M. Borrachinho

etc. Pelas 12,35h hora do jantar, de brincadeira com limpeza arder, caiu

dentro sem ninguém notar, do cabaz do encarregado M. Manilha ardendo

completo um guardanapo mas nunca soube quem foi. O filho sabe. 1920

Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Fez um dia lindo e calor mas fez vento

norte e a noite linda de luar e calmosa. Pela madrugada pôs-se em greve os

fragateiros e carregadores de mar e terra etc. Casou o António Maria Elias

com uma filha do José Luiz reformado dos CFSS. Chegou vindo do hospital o

Manuel Martins. Houve uma junta médica a todos os ferroviários que se

encontravam com parte doente desde o dia 18 do corrente mês. Foi a

Lisboa com o pai a M.G.M. ver a revista o “Chá e Torradas” à Trindade.

26/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez trovoada e chovendo regular

etc. Houve pelas 16h um violento em Alcântara [sic]. Hoje pelas 11h10

passou sobre o Barreiro um hidro-vião. Fui mais o F. Soeiro, L. Cristo no

comboio 19 a P. Novo e regressamos no comboio 18 na C. 65. Foi o primeiro

dia que se colocou as placas nas carruagens dos CFSS com os nomes das

principais estações que as ditas se destinavam em vários comboios, o

primeiro foi 19 e 9. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo mas fazendo calor

e a noite nublada. Levantei-me às 14h28. A Sociedade Democrática para a

corrida de touros em Setúbal e a Instrução e da Moita foi para Montemor-

o-Novo. Andei mais o Eduardo Espírito Santo, Custódio F., Daciano J.R. etc.

de tarde a passear pela vila. Houve à noite baile na sala da S. Instrução

estivemos de brincadeira no quintal da dita eu, M. Marinho, Custódio F.,

Eduardo E. S. Ângelo, Sebastião Gomes, J. e Vitorino Aurélio, Eugénio da

lindo dia e a noite idem. Andei mais o Luiz M. Freire, José M. Lourinhã,

Gilberto, Francisco F. Artur S, José S. Borralho a passear pela vila. 1920

Estive de folga fazendo lindo dia vento norte mas pouco, e a noite linda de

luar e grande nortada e fria. Andei a passear fui ao Bairro Operário da

Comp. U.F. e Barreiro T ter com o J. José 2º. Mudou o horário de trabalho

ficando das 8h às 17h. Falei com a M.G.M. Os comboios e estações etc.,

guardados pela GNR.

22/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2h de serão na balança.

Não fui à vila. Fez 127 anos [que] a Convenção Nacional Franceza proclama

a República. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 h de serão nas grelhas pela

primeira vez. Em frente da Retunda [sic] junto à pintura velha foi pintado as

letras e números aos vagões LL vindos da Bélgica, o primeiro foi o número

657. Fez um lindo dia e a noite idem de luar mas grande nortada como de

dia. Vi pela primeira vez o António Coelho a namorar a mana do Custódio F.

e o Anastácio a filha do Azeitão já falecido. Continua as forças militares nas

Oficinas Gerais, fazendo-se a partida dos comboios e vapores

militarmente.

23/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez mau tempo.

Faleceu a [espaço em branco] do Casca Viana, sogra do José Anim. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fez um dia lindo e a noite idem, mas

vento norte regular. O Governo do António Granjo na mesma atitude para

com os ferroviários do S. e Sueste e Minho e Douro, havendo avisos nos

CFSS, não se podendo dar licença a nenhum empregado. Nos vapores

andava armada e nos comboios e oficinas etc, o exército e GNR. Abriu

novamente o Kiosque no Largo Casal dois manos, antigos caixeiros do

Manuel da Viúva.

24/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Estive a pintar no meu quintal as

portas das minhas vizinhas Serafina e Gaspar, etc., Comprei ao José da

Piedade duas rifas de uma corneta que eu fiz há 1 ano e saiu a ele. Faleceu o

pai do Miguel Sapateiro. O meu mano comprou uma rifa dum piano de A.

Vedros números 1102 e 1106. 1920 Trabalhei todo o dia e 2h de serão nas

Grelhas. Fez um dia lindo mas fazendo calor e a noite idem de luar e

calmosa. Chegou mais duas companhias da GNR para render a outra que se

encontrava já há tempo. Um guarda republicano fez a sua necessidade em

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Page 151: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

cima das manivelas etc. dentro das Oficinas das Cocheiras, ralhando o dito

a J. José 2º e F. M. Estaca. O encarregado do M. Pedro Manilha disse se nós

não vimos o número para dar parte dele e os ditos fizeram grande

descabeche [sic] e desafiaram etc. Falei com a M.G.M. Regressou das festas

de Elvas o José Esteves Beira. Fomos eu Sebastião Gomes, Eduardo E.S.,

José de Oliveira depois de passear pela vila, cantar para um banco no Largo

da Alegria ou Casal, era as seguintes ai tiri tum-tum- e a Maria da Rocha e

era o vinho minha mãe, etc.

25/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Faleceu o António

Nunes. Fui em serviço ao Lavradio chamado pelo telefone pelo chefe

Amaro por motivo dum O ter uma cadeia segurança partida, etc. foi tirado

por pessoal das Oficinas G. e meter ao charrion [sic] do Barreiro T. era

carpinteiro o Viriato Valadares e o José Bicho e serventes M. Borrachinho

etc. Pelas 12,35h hora do jantar, de brincadeira com limpeza arder, caiu

dentro sem ninguém notar, do cabaz do encarregado M. Manilha ardendo

completo um guardanapo mas nunca soube quem foi. O filho sabe. 1920

Trabalhei das 8 às 2h da madrugada. Fez um dia lindo e calor mas fez vento

norte e a noite linda de luar e calmosa. Pela madrugada pôs-se em greve os

fragateiros e carregadores de mar e terra etc. Casou o António Maria Elias

com uma filha do José Luiz reformado dos CFSS. Chegou vindo do hospital o

Manuel Martins. Houve uma junta médica a todos os ferroviários que se

encontravam com parte doente desde o dia 18 do corrente mês. Foi a

Lisboa com o pai a M.G.M. ver a revista o “Chá e Torradas” à Trindade.

26/9/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez trovoada e chovendo regular

etc. Houve pelas 16h um violento em Alcântara [sic]. Hoje pelas 11h10

passou sobre o Barreiro um hidro-vião. Fui mais o F. Soeiro, L. Cristo no

comboio 19 a P. Novo e regressamos no comboio 18 na C. 65. Foi o primeiro

dia que se colocou as placas nas carruagens dos CFSS com os nomes das

principais estações que as ditas se destinavam em vários comboios, o

primeiro foi 19 e 9. 1920 Estive de folga. Fez um dia lindo mas fazendo calor

e a noite nublada. Levantei-me às 14h28. A Sociedade Democrática para a

corrida de touros em Setúbal e a Instrução e da Moita foi para Montemor-

o-Novo. Andei mais o Eduardo Espírito Santo, Custódio F., Daciano J.R. etc.

de tarde a passear pela vila. Houve à noite baile na sala da S. Instrução

estivemos de brincadeira no quintal da dita eu, M. Marinho, Custódio F.,

Eduardo E. S. Ângelo, Sebastião Gomes, J. e Vitorino Aurélio, Eugénio da

lindo dia e a noite idem. Andei mais o Luiz M. Freire, José M. Lourinhã,

Gilberto, Francisco F. Artur S, José S. Borralho a passear pela vila. 1920

Estive de folga fazendo lindo dia vento norte mas pouco, e a noite linda de

luar e grande nortada e fria. Andei a passear fui ao Bairro Operário da

Comp. U.F. e Barreiro T ter com o J. José 2º. Mudou o horário de trabalho

ficando das 8h às 17h. Falei com a M.G.M. Os comboios e estações etc.,

guardados pela GNR.

22/9/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 2h de serão na balança.

Não fui à vila. Fez 127 anos [que] a Convenção Nacional Franceza proclama

a República. 1920 Trabalhei todo o dia e 2 h de serão nas grelhas pela

primeira vez. Em frente da Retunda [sic] junto à pintura velha foi pintado as

letras e números aos vagões LL vindos da Bélgica, o primeiro foi o número

657. Fez um lindo dia e a noite idem de luar mas grande nortada como de

dia. Vi pela primeira vez o António Coelho a namorar a mana do Custódio F.

e o Anastácio a filha do Azeitão já falecido. Continua as forças militares nas

Oficinas Gerais, fazendo-se a partida dos comboios e vapores

militarmente.

23/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez mau tempo.

Faleceu a [espaço em branco] do Casca Viana, sogra do José Anim. 1920

Trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fez um dia lindo e a noite idem, mas

vento norte regular. O Governo do António Granjo na mesma atitude para

com os ferroviários do S. e Sueste e Minho e Douro, havendo avisos nos

CFSS, não se podendo dar licença a nenhum empregado. Nos vapores

andava armada e nos comboios e oficinas etc, o exército e GNR. Abriu

novamente o Kiosque no Largo Casal dois manos, antigos caixeiros do

Manuel da Viúva.

24/9/920 Fez 1 ano estive de folga. Estive a pintar no meu quintal as

portas das minhas vizinhas Serafina e Gaspar, etc., Comprei ao José da

Piedade duas rifas de uma corneta que eu fiz há 1 ano e saiu a ele. Faleceu o

pai do Miguel Sapateiro. O meu mano comprou uma rifa dum piano de A.

Vedros números 1102 e 1106. 1920 Trabalhei todo o dia e 2h de serão nas

Grelhas. Fez um dia lindo mas fazendo calor e a noite idem de luar e

calmosa. Chegou mais duas companhias da GNR para render a outra que se

encontrava já há tempo. Um guarda republicano fez a sua necessidade em

150 151

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forças militares, etc. Não fui à vila. Faleceu o filho mais novo do sargento

Proença da G. Fiscal.

29/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24h no Barreiro T. Houve reunião de

ferroviários. Efectuou-se um comboio especial para o Tojal com o Ministro

da Agricultura, sendo o dito acompanhado pelo revisor de material

Augusto Duarte. Fui ontem na automotora das 15h à Moita e regressei a

Barreiro às 16h40. Faleceu o tio ao serralheiro Imitério. 1920 Trabalhei

todo o dia e 2 h de serão no Barreiro T. Esteve todo o dia nublado, ainda

choveu mas pouco, pelas 17h e tal, e a noite linda e calmosa de luar e

principiou a nublar-se. Pelas 10h40 com direcção a Lisboa dois aeroplanos.

Falei com a M.G.M. A minha mana Rita deu-me a cabeça do escaravelho

que trouxeram quando foi mais o marido à província à dias. Andei mais

Eduardo E. S., Custódio F., Sebastião Gomes, à noite a passear pela vila. Eu

comprei um kilo de peros, foi 40 cêntimos e mais tarde o Sebastião G. outro

kilo ao José Câmara. Ao passar à porta do Bento Ramalho, na Rua Aguiar nº

300, foi chamado por uma pessoa da casa do Ramalho primo, ao Custódio F.

depois deste terminar a conversa retiramos. Desde este momento

trataram como primos o C. Fernandes e S. Gomes. Ontem pelas 16h foram

tomadas as Oficinas Gerais dos CFSS por forças militares.

30/9/920 Faz 1 ano houve um violento choque no Barreiro T, o comboio

1000 com o comboio 104, que se encontrava resguardado na linha 8. Fui à

vila estive na S. Instrução mais o Barradas, Manuel Costa, M. Borrachinho a

guardar no sótão as madeiras, etc., das últimas festas do quintal. O Luiz M.

Freire foi mais outros para a Escola de Desenho dentro das Oficinas Gerais,

tendo por mestre o Afonso e Manuel Nortista. Faltei ao comboio 18, era

para revisar a pedido do revisor 1ª José S. Cardoso. Falei com a M.G.M.

1920 Trabalhei das 8h às 16h30 no Barreiro T. Pelas 17h foi declarada greve

nos CFSS e M.D. Pelas 3 da madrugada principiou a chover torrencialmente

até às 11h40, depois leviou o tempo e pôis-se um dia lindo, mas fazendo um

pouco de vento nordeste. O catraio do Mariano trouxe os tripulantes dos

vapores que ficaram em Lisboa, etc. Pelas 22h10 encontrava-se na

Farmácia Crispim a receber um curativo um praça da GNR, ignorando o

motivo. Falei com a M.G.M. Encontrava-se toda a estação sem luz e nem se

ouvia o apitar de uma locomotiva. Parecia um deserto, etc.

Silva, Artur S., etc. apanhei uma pancada e peras na cabeça e retiramos

para a sala, depois fomos todos para o quintal. Fizemos a quadrilha a minha

dama era Eduardo E. S. Pagamos bolachas era para pagar às damas mas

estas fugiram. Depois fui para a sala, principiou a quadrilha bailei com a

Mercedes Rodrigues, o baile muito animado marcou a quadrilha o Júlio

filho do F. Orelha e o Artur S. e Cristóvão Duarte e Máximo R. Praça. Depois

foi os cavalheiros ao bufete. Eu comprei 50 cent. de bolachas e mais 50 cent

e fui distribuir aos filhos da pianista, era 50 cent. e mais 20 cent. para uma

subscrição para a dita. Terminou o baile às 2h30. Na sala aonde se deu o

baile a Gertrudes a Russa, perdeu um cinto de plimento[?]. O Custódio F.

escreveu uns dizeres e pôs dentro do forro do chapéu do Eduardo E.S. por

esse motivo e havendo desastre, etc. Esta noite apareceu numa casa com o

numero 9 na rua Ferrer a máquina de costura, encontrando muitas pessoas

que queriam ver, etc.

27/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Á noite encontrava-

se tudo apagado por motivo do vento, partiu postos e fios chovendo toda a

noite. O piano de Alhos Vedros saiu no numero 2182. Reuniu o povo do

Barreiro nos P. Concelho por motivo dos adubos da C. União Fabril. 1920

Descanso semanal. De manhã nublado, principiou a limpar o tempo pelas

13h pôs-se um dia regular, fazendo uma noite linda de luar e calmosa. De

tarde andei a passear pela vila mais o Sebastião G., Custódio F. Falei com a 97M.G.M. Fui mais o Sebastião G. à Rua Ferrer aonde apareceu a máquina

de costura encontrando-se muitas pessoas no local e querendo ver. Teve

que intervir a GNR a cavalo e de Infantaria. Fartamos de rir com as primas

Lídia, [Her]Menegilda e outras. Nesta altura ouviram-se tiros de peça na

cidade de Lisboa, pelas 22h15.

28/9/920 Fez 1 ano que estive de folga, fazendo grande nortada. Pelas

7h40 seguiu a Sociedade Instrução para Linda-a-Pastora. Houve corrida de

touros na Moita e em Setúbal. Pelas 9h tocou a buzina dos CFSS a fogo, o

dito foi numa padaria no Bairro Matilde. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora

de serão na Gare. Fez um dia lindo e muito calor e a noite idem de luar e

calmosa, com alguns astros pelo espaço. A M.G.M. encontrava-se de cama

doente. Continua a greve dos marítimos e as ruas continuam patrulhadas

por forças da GNR a cavalo e Infantaria e os CFSS continuam guardados por

97 Rua Camilo Castelo Branco

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forças militares, etc. Não fui à vila. Faleceu o filho mais novo do sargento

Proença da G. Fiscal.

29/9/920 Fez 1 ano trabalhei 24h no Barreiro T. Houve reunião de

ferroviários. Efectuou-se um comboio especial para o Tojal com o Ministro

da Agricultura, sendo o dito acompanhado pelo revisor de material

Augusto Duarte. Fui ontem na automotora das 15h à Moita e regressei a

Barreiro às 16h40. Faleceu o tio ao serralheiro Imitério. 1920 Trabalhei

todo o dia e 2 h de serão no Barreiro T. Esteve todo o dia nublado, ainda

choveu mas pouco, pelas 17h e tal, e a noite linda e calmosa de luar e

principiou a nublar-se. Pelas 10h40 com direcção a Lisboa dois aeroplanos.

Falei com a M.G.M. A minha mana Rita deu-me a cabeça do escaravelho

que trouxeram quando foi mais o marido à província à dias. Andei mais

Eduardo E. S., Custódio F., Sebastião Gomes, à noite a passear pela vila. Eu

comprei um kilo de peros, foi 40 cêntimos e mais tarde o Sebastião G. outro

kilo ao José Câmara. Ao passar à porta do Bento Ramalho, na Rua Aguiar nº

300, foi chamado por uma pessoa da casa do Ramalho primo, ao Custódio F.

depois deste terminar a conversa retiramos. Desde este momento

trataram como primos o C. Fernandes e S. Gomes. Ontem pelas 16h foram

tomadas as Oficinas Gerais dos CFSS por forças militares.

30/9/920 Faz 1 ano houve um violento choque no Barreiro T, o comboio

1000 com o comboio 104, que se encontrava resguardado na linha 8. Fui à

vila estive na S. Instrução mais o Barradas, Manuel Costa, M. Borrachinho a

guardar no sótão as madeiras, etc., das últimas festas do quintal. O Luiz M.

Freire foi mais outros para a Escola de Desenho dentro das Oficinas Gerais,

tendo por mestre o Afonso e Manuel Nortista. Faltei ao comboio 18, era

para revisar a pedido do revisor 1ª José S. Cardoso. Falei com a M.G.M.

1920 Trabalhei das 8h às 16h30 no Barreiro T. Pelas 17h foi declarada greve

nos CFSS e M.D. Pelas 3 da madrugada principiou a chover torrencialmente

até às 11h40, depois leviou o tempo e pôis-se um dia lindo, mas fazendo um

pouco de vento nordeste. O catraio do Mariano trouxe os tripulantes dos

vapores que ficaram em Lisboa, etc. Pelas 22h10 encontrava-se na

Farmácia Crispim a receber um curativo um praça da GNR, ignorando o

motivo. Falei com a M.G.M. Encontrava-se toda a estação sem luz e nem se

ouvia o apitar de uma locomotiva. Parecia um deserto, etc.

Silva, Artur S., etc. apanhei uma pancada e peras na cabeça e retiramos

para a sala, depois fomos todos para o quintal. Fizemos a quadrilha a minha

dama era Eduardo E. S. Pagamos bolachas era para pagar às damas mas

estas fugiram. Depois fui para a sala, principiou a quadrilha bailei com a

Mercedes Rodrigues, o baile muito animado marcou a quadrilha o Júlio

filho do F. Orelha e o Artur S. e Cristóvão Duarte e Máximo R. Praça. Depois

foi os cavalheiros ao bufete. Eu comprei 50 cent. de bolachas e mais 50 cent

e fui distribuir aos filhos da pianista, era 50 cent. e mais 20 cent. para uma

subscrição para a dita. Terminou o baile às 2h30. Na sala aonde se deu o

baile a Gertrudes a Russa, perdeu um cinto de plimento[?]. O Custódio F.

escreveu uns dizeres e pôs dentro do forro do chapéu do Eduardo E.S. por

esse motivo e havendo desastre, etc. Esta noite apareceu numa casa com o

numero 9 na rua Ferrer a máquina de costura, encontrando muitas pessoas

que queriam ver, etc.

27/9/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Á noite encontrava-

se tudo apagado por motivo do vento, partiu postos e fios chovendo toda a

noite. O piano de Alhos Vedros saiu no numero 2182. Reuniu o povo do

Barreiro nos P. Concelho por motivo dos adubos da C. União Fabril. 1920

Descanso semanal. De manhã nublado, principiou a limpar o tempo pelas

13h pôs-se um dia regular, fazendo uma noite linda de luar e calmosa. De

tarde andei a passear pela vila mais o Sebastião G., Custódio F. Falei com a 97M.G.M. Fui mais o Sebastião G. à Rua Ferrer aonde apareceu a máquina

de costura encontrando-se muitas pessoas no local e querendo ver. Teve

que intervir a GNR a cavalo e de Infantaria. Fartamos de rir com as primas

Lídia, [Her]Menegilda e outras. Nesta altura ouviram-se tiros de peça na

cidade de Lisboa, pelas 22h15.

28/9/920 Fez 1 ano que estive de folga, fazendo grande nortada. Pelas

7h40 seguiu a Sociedade Instrução para Linda-a-Pastora. Houve corrida de

touros na Moita e em Setúbal. Pelas 9h tocou a buzina dos CFSS a fogo, o

dito foi numa padaria no Bairro Matilde. 1920 Trabalhei todo o dia e 1 hora

de serão na Gare. Fez um dia lindo e muito calor e a noite idem de luar e

calmosa, com alguns astros pelo espaço. A M.G.M. encontrava-se de cama

doente. Continua a greve dos marítimos e as ruas continuam patrulhadas

por forças da GNR a cavalo e Infantaria e os CFSS continuam guardados por

97 Rua Camilo Castelo Branco

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Continuava a greve. Levantei-me às 7h30 como combinei mais Artur S.,

Custódio F., Sebastião G., estar pelas 8h no Largo Casal fui o primeiro,

despois Custódio F. Este foi a casa da avó, depois regressou e fomos ao

Mercado, encontramos o Artur S. seguimos até ao pinhal da Brenha, armar

aos pássaros. Apareceu o Sebastião Gomes, desarmamos para outros

sítios. Estivemos na Verderena, não apanhamos nada e regressamos a

casa. Chegou mais tropa para render a que se encontrava já há dias na

Estação do Barreiro. Veio o pagador, não apareceu pessoal algum ao dito.

Combinei mais o J. da Silva Parra, José S. Borralho, J. Aurélio, A.V. Boto,

Sebastião G. para ir às 16h às pinhas. Assim fizemos, seguimos, mas ao

passar perto de A. Vedros passou um comboio feito pelos militares. Era a

máquina nº 204 com uma carruagem com passageiros e um vagon da série

D com uma bomba de tirar água e militares na estrada que liga a vila de A.

Vedros, patrulhadas por cavalaria da GNR. A claque deitou-se todos para

não sermos vistos, mas antes disto, o J.S. Borralho tinha o saco com 5

pinhas às costas. Foi, tirou tudo fora dizendo não julguem eles que são

bombas. Todos da claque riam. Nós pusemos a alcunha a ele “saco de

bombas”. Andamos muitos à procura de pinhas, encontramos o M.

Borrachinho e outros, com uma fogueira e pinhas assadas a tirar os

pinhões. Eles ensinaram a nós vão para ali, mas voltei à direita à pinha.

Fomos pela direita e esquerda etc. Era 18h encontramos pinhas. Subiu para

cima dos pinheiros o J. Aurélio e J.S. Parra e outros a deitar as pinhas e

outros a apanhar. Procuramos a uma rapariga que nome tinha o pinhal,

disse chama-se Monte da Serra. Depois assamos e tiramos os pinhões. Era

18h30 principiamos todos a tirar pinhões. Era 19h30 estava tudo pronto. O

António V. Bote com um boné media os pinhões, era 7½ medidas a cada, foi

de comer todo o caminho. Chegamos ao Largo Casal mas não todos, às

20h10. Combinamos a não dar pinhões a ninguém. Pelas 20h40 dei um

recado à neta da Maria Inácia, para vir à minha casa ver o pé da minha mana

Ermelinda que estava torcido. A noite nublada. Fizeram os militares um

comboio às 18h para Setúbal. A Central Eléctrica já trabalha, por motivo de

o Subinspector Eduardo Patacas ter explicado como se fazia.

3/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 9h30 buscar

compras para a minha mãe, regressei a Barreiro às 14h45. Fez uma linda

noite de luar fazendo muito frio. O calão era “qualquer coisa e peras”. 1920

Continuava a greve. Levantei-me às 10h a amanhã nublada e chovendo

desde as 9h21 e algum vento. Pelas 10h30 parou de chover. Continuava a

1/10/920 Fez ano que trabalhei todo o dia e 2h de serão. Veio o pagador,

fui receber 58$97. Aleijou nas Oficinas Gerais o aprendiz de serralheiro

Manuel Hartley, um dedo polegar. Houve oleação no material, oleámos 148

veículos. 1920 Continuação da greve. Fez uma manhã linda, pelas 12h

principiou a nublar-se e pelas 15h pôs-se vento e forte de Oeste. Às 16h45

ao fim da tarde principiou a chover, a noite nublada e choveu um grande

aguaceiro. Ás 23h30 o primeiro vapor feito pela Armada, que partiu de

Lisboa, chegou a Barreiro às 12h30 e às 14h chegou o rebocador Vitória e o

Minho. Fui para a vila, estive de brincadeira com o Artur S., Sebastião G.

Eugénio da Silva, A. Vicente Boto, Eduardo E. S., Custódio F., no Largo Casal.

Falei com a M.G.M. Á noite andei a passear pela vila mais Artur S., Eugénio

da Silva. Compramos 1 kilo de peros no J. Câmara. Pelas 19h30 no Largo

Casal, ouvi junto do Neves o pregoeiro antigo João Montana pregoar quem

achou um sapato de plimento [?] de creança. No fim de pregoar apareceu a

Maria Batata com o dito sapato, foi mais o pregoeiro fazer entrega ao dono.

O meu mano esteve todo o dia a trabalhar mais o Acácio e J. Jordão.

2/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. O calão nesta altura

era assim “ou é da minha vista ou estais os barrotes tortos”. 1920

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-8

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Continuava a greve. Levantei-me às 7h30 como combinei mais Artur S.,

Custódio F., Sebastião G., estar pelas 8h no Largo Casal fui o primeiro,

despois Custódio F. Este foi a casa da avó, depois regressou e fomos ao

Mercado, encontramos o Artur S. seguimos até ao pinhal da Brenha, armar

aos pássaros. Apareceu o Sebastião Gomes, desarmamos para outros

sítios. Estivemos na Verderena, não apanhamos nada e regressamos a

casa. Chegou mais tropa para render a que se encontrava já há dias na

Estação do Barreiro. Veio o pagador, não apareceu pessoal algum ao dito.

Combinei mais o J. da Silva Parra, José S. Borralho, J. Aurélio, A.V. Boto,

Sebastião G. para ir às 16h às pinhas. Assim fizemos, seguimos, mas ao

passar perto de A. Vedros passou um comboio feito pelos militares. Era a

máquina nº 204 com uma carruagem com passageiros e um vagon da série

D com uma bomba de tirar água e militares na estrada que liga a vila de A.

Vedros, patrulhadas por cavalaria da GNR. A claque deitou-se todos para

não sermos vistos, mas antes disto, o J.S. Borralho tinha o saco com 5

pinhas às costas. Foi, tirou tudo fora dizendo não julguem eles que são

bombas. Todos da claque riam. Nós pusemos a alcunha a ele “saco de

bombas”. Andamos muitos à procura de pinhas, encontramos o M.

Borrachinho e outros, com uma fogueira e pinhas assadas a tirar os

pinhões. Eles ensinaram a nós vão para ali, mas voltei à direita à pinha.

Fomos pela direita e esquerda etc. Era 18h encontramos pinhas. Subiu para

cima dos pinheiros o J. Aurélio e J.S. Parra e outros a deitar as pinhas e

outros a apanhar. Procuramos a uma rapariga que nome tinha o pinhal,

disse chama-se Monte da Serra. Depois assamos e tiramos os pinhões. Era

18h30 principiamos todos a tirar pinhões. Era 19h30 estava tudo pronto. O

António V. Bote com um boné media os pinhões, era 7½ medidas a cada, foi

de comer todo o caminho. Chegamos ao Largo Casal mas não todos, às

20h10. Combinamos a não dar pinhões a ninguém. Pelas 20h40 dei um

recado à neta da Maria Inácia, para vir à minha casa ver o pé da minha mana

Ermelinda que estava torcido. A noite nublada. Fizeram os militares um

comboio às 18h para Setúbal. A Central Eléctrica já trabalha, por motivo de

o Subinspector Eduardo Patacas ter explicado como se fazia.

3/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fui a Lisboa às 9h30 buscar

compras para a minha mãe, regressei a Barreiro às 14h45. Fez uma linda

noite de luar fazendo muito frio. O calão era “qualquer coisa e peras”. 1920

Continuava a greve. Levantei-me às 10h a amanhã nublada e chovendo

desde as 9h21 e algum vento. Pelas 10h30 parou de chover. Continuava a

1/10/920 Fez ano que trabalhei todo o dia e 2h de serão. Veio o pagador,

fui receber 58$97. Aleijou nas Oficinas Gerais o aprendiz de serralheiro

Manuel Hartley, um dedo polegar. Houve oleação no material, oleámos 148

veículos. 1920 Continuação da greve. Fez uma manhã linda, pelas 12h

principiou a nublar-se e pelas 15h pôs-se vento e forte de Oeste. Às 16h45

ao fim da tarde principiou a chover, a noite nublada e choveu um grande

aguaceiro. Ás 23h30 o primeiro vapor feito pela Armada, que partiu de

Lisboa, chegou a Barreiro às 12h30 e às 14h chegou o rebocador Vitória e o

Minho. Fui para a vila, estive de brincadeira com o Artur S., Sebastião G.

Eugénio da Silva, A. Vicente Boto, Eduardo E. S., Custódio F., no Largo Casal.

Falei com a M.G.M. Á noite andei a passear pela vila mais Artur S., Eugénio

da Silva. Compramos 1 kilo de peros no J. Câmara. Pelas 19h30 no Largo

Casal, ouvi junto do Neves o pregoeiro antigo João Montana pregoar quem

achou um sapato de plimento [?] de creança. No fim de pregoar apareceu a

Maria Batata com o dito sapato, foi mais o pregoeiro fazer entrega ao dono.

O meu mano esteve todo o dia a trabalhar mais o Acácio e J. Jordão.

2/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. O calão nesta altura

era assim “ou é da minha vista ou estais os barrotes tortos”. 1920

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-8

154 155

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transferidas as festas de Aldeia Galega e outras. Principiou a chover pelas

14h25. Não fui à vila por esse motivo. À noite grandes aguaceiros

acompanhados de relâmpagos. Na estação, na muralha junto ao dique

onde se reparam os vapores dos CFSS, foi montado um Posto de Telegrafia

sem Fios. Notei à noite uma máquina que se encontrava na Rotunda

principiou a tocar das 23h às 24h10. O meu mano, e outros, continua a

trabalhar no quintal da S. Instrução.

5/10/920 Fez 1 ano que foi feriado, fez 9 anos a proclamação da

República portuguesa. Fez um dia lindo. Foi a estreia do cassetete na Polícia

Cívica de Lisboa e outros pontos do país. Casou a minha mana Rita com o

Manuel Alves de Almeida, fogueiro dos guindastes dos CFSS e a filha mais

velha do J. Pedro Marques. Não fui à vila. Fui mais o meu mano, Eduardo E.

S., Luiz M.F., Artur S., Manuel Hartley, José de Paula, Acácio, para Lisboa às

18h10. Compramos aos contratadores do S. Luiz do nº 2 ao 20 na 3ª fila por

80 centimos a cada. Regressamos a Barreiro à 1h10 da madrugada. Faleceu

O José Bolina. 1920 Continuação da greve nos CFSS. Continua o tempo

grande vendaval fazendo muitíssimo vento Oeste. Declarou-se pelas 5 h da

madrugada em greve os C. Portugueses. Veio no jornal o “Século” a notícia

que dizia todo o ferroviário que quiser entrar para o serviço tinha fazer

requerimento amanhã em diante. Pelas 11h30 no quintal da Guarda Fiscal

no Alto José Ferreira fizeram uma pequena festa sendo queimados muitos

foguetes por fazer 10 anos a proclamação da República Portuguesa. Pelas

12h vieram-me chamar a casa o Artur S., Sebastião G, para ir armar aos

pássaros. Fomos para o pinhal da Brenha, apanhamos só 3 às 16h25

começou trovejando e a chover, etc. Hoje era para a S. Instrução ir a

Palmela, não foram por motivo da greve. Soube que os presos Mário

Martins e Manuel Santareno encontram-se no quartel de Infantaria 2 nas

Janelas Verdes. Houve grandes festejos nos dias 3 e 4 em Almada. Pelas

19h25 andaram pela vila a ver as pessoas que tinham Bilhetes de

Identidade dos CFSS para serem presas mas estavam todas avisadas, não

foi ninguém preso. Foram para a Associação dos Ferroviários mas não

encontraram pessoa alguma. Houve reunião da Cruz Vermelha no Barreiro.

Depois de passados 7 meses foi esta noite posta a iluminação na vila do

Barreiro.

6/10/920 Faz 1 ano que foi feriado por motivo de ontem ser domingo. Fui

para Lisboa às 16h55 mais o meu mano, Luiz M.F., M. Hartley. Ainda

fazer as carreiras de Lisboa para o Barreiro e comboios, etc. Já há 8 dias que

não havia pão no Barreiro, havendo hoje. Só apanha quem for às bichas.

Pelas 11h40 encalhou em frente da Estação o vapor Minho, tripulado por

marinheiros e praças do exército. Ás 12h40 partiu um comboio, dizia-se

que seguiu para Beja. Fez um dia regular. Foram transferidas as festas do

Lavradio que tinham princípio hoje, por motivo da greve dos CFSS. Foi mais

Sebastião G., Custódio F., M. Moinho e Filipe Galhoz ao T. Cine ver a fita

“Zala-vida Zala-morte” à 2ª sessão das 22h. Correu o boato pelo Teatro que

era o seguinte: anda rusga aos ferroviários, ficando muitos ferroviários com

vontade de vender os bilhetes, mas era falso. Quando cheguei a casa estava

a família em cuidado por motivo do boato já dito. Aumentou os bilhetes de

teatro. Falei com a M.G.M. Foi preso depois de chegar de Lisboa o

Administrador de Aldeia Galega, vindo a bordo de um dos vapores dos

CFSS. Denunciou o Sr. Comandante da força, sendo presos como já disse em

frente das Oficinas os empregados do movimento Manuel Martins e

Manuel Santareno, mano Ângelo Santareno, e seguiram logo para Lisboa.

De manhã tinha ido na carroça do João Ferreiro O Custódio F e a mãe dos

primos ao pão e batatas à Moita. Encontrava-se ao serviço bastantes

ferroviários, entre eles, soube, os seguintes o escriturário Guerra, o Sub-

Inspector Simplício Soares e João da Luz e o Mestre Geral das Oficinas, o

Alexandre, inspector Carvalho, escriturário José de Almeida ou Rato Cego e

o sobrinho do último e muitos outros etc.

4/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 14h e tocou a buzina o resto dia,

foi tolerância de ponto. Pedi um dia de licença para amanhã e foi

concedido. Fui depois para a vila, estive mais o J.S. Rita e J. José º no Sabino.

O primeiro foi avisar o ajudante Revisor J. R. Filipe Cordeiro para ir

substituir-me amanhã ao Barreiro T. o dito até chorou. Manifestou

incêndio a bordo de um vapor americano carregado de carvão surto no

Tejo. 1920 Continua a greve dos CFSS. De manhã fez grande vendaval, vento

Oeste ainda chuva. Pelas 12h começou a chover torrencialmente e o vento

acalmou. Depois de vir do teatro esta madrugada o António Gaspar bateu à

porta devagar e não respondiam, havendo grande susto pela família

julgando vir buscar algum preso depois abriu-se a porta era o dito. Por

motivo dos festejos em Lisboa, do aniversário da República, pensava ele

que era a revolução. Logo de manhã a GNR que se encontra a prestar

serviço na estação deram uma salva de 21 tiros, etc. pelas 11h levantei-me.

A noite passada houve grande incêndio no Braço de Prata. Ficaram

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transferidas as festas de Aldeia Galega e outras. Principiou a chover pelas

14h25. Não fui à vila por esse motivo. À noite grandes aguaceiros

acompanhados de relâmpagos. Na estação, na muralha junto ao dique

onde se reparam os vapores dos CFSS, foi montado um Posto de Telegrafia

sem Fios. Notei à noite uma máquina que se encontrava na Rotunda

principiou a tocar das 23h às 24h10. O meu mano, e outros, continua a

trabalhar no quintal da S. Instrução.

5/10/920 Fez 1 ano que foi feriado, fez 9 anos a proclamação da

República portuguesa. Fez um dia lindo. Foi a estreia do cassetete na Polícia

Cívica de Lisboa e outros pontos do país. Casou a minha mana Rita com o

Manuel Alves de Almeida, fogueiro dos guindastes dos CFSS e a filha mais

velha do J. Pedro Marques. Não fui à vila. Fui mais o meu mano, Eduardo E.

S., Luiz M.F., Artur S., Manuel Hartley, José de Paula, Acácio, para Lisboa às

18h10. Compramos aos contratadores do S. Luiz do nº 2 ao 20 na 3ª fila por

80 centimos a cada. Regressamos a Barreiro à 1h10 da madrugada. Faleceu

O José Bolina. 1920 Continuação da greve nos CFSS. Continua o tempo

grande vendaval fazendo muitíssimo vento Oeste. Declarou-se pelas 5 h da

madrugada em greve os C. Portugueses. Veio no jornal o “Século” a notícia

que dizia todo o ferroviário que quiser entrar para o serviço tinha fazer

requerimento amanhã em diante. Pelas 11h30 no quintal da Guarda Fiscal

no Alto José Ferreira fizeram uma pequena festa sendo queimados muitos

foguetes por fazer 10 anos a proclamação da República Portuguesa. Pelas

12h vieram-me chamar a casa o Artur S., Sebastião G, para ir armar aos

pássaros. Fomos para o pinhal da Brenha, apanhamos só 3 às 16h25

começou trovejando e a chover, etc. Hoje era para a S. Instrução ir a

Palmela, não foram por motivo da greve. Soube que os presos Mário

Martins e Manuel Santareno encontram-se no quartel de Infantaria 2 nas

Janelas Verdes. Houve grandes festejos nos dias 3 e 4 em Almada. Pelas

19h25 andaram pela vila a ver as pessoas que tinham Bilhetes de

Identidade dos CFSS para serem presas mas estavam todas avisadas, não

foi ninguém preso. Foram para a Associação dos Ferroviários mas não

encontraram pessoa alguma. Houve reunião da Cruz Vermelha no Barreiro.

Depois de passados 7 meses foi esta noite posta a iluminação na vila do

Barreiro.

6/10/920 Faz 1 ano que foi feriado por motivo de ontem ser domingo. Fui

para Lisboa às 16h55 mais o meu mano, Luiz M.F., M. Hartley. Ainda

fazer as carreiras de Lisboa para o Barreiro e comboios, etc. Já há 8 dias que

não havia pão no Barreiro, havendo hoje. Só apanha quem for às bichas.

Pelas 11h40 encalhou em frente da Estação o vapor Minho, tripulado por

marinheiros e praças do exército. Ás 12h40 partiu um comboio, dizia-se

que seguiu para Beja. Fez um dia regular. Foram transferidas as festas do

Lavradio que tinham princípio hoje, por motivo da greve dos CFSS. Foi mais

Sebastião G., Custódio F., M. Moinho e Filipe Galhoz ao T. Cine ver a fita

“Zala-vida Zala-morte” à 2ª sessão das 22h. Correu o boato pelo Teatro que

era o seguinte: anda rusga aos ferroviários, ficando muitos ferroviários com

vontade de vender os bilhetes, mas era falso. Quando cheguei a casa estava

a família em cuidado por motivo do boato já dito. Aumentou os bilhetes de

teatro. Falei com a M.G.M. Foi preso depois de chegar de Lisboa o

Administrador de Aldeia Galega, vindo a bordo de um dos vapores dos

CFSS. Denunciou o Sr. Comandante da força, sendo presos como já disse em

frente das Oficinas os empregados do movimento Manuel Martins e

Manuel Santareno, mano Ângelo Santareno, e seguiram logo para Lisboa.

De manhã tinha ido na carroça do João Ferreiro O Custódio F e a mãe dos

primos ao pão e batatas à Moita. Encontrava-se ao serviço bastantes

ferroviários, entre eles, soube, os seguintes o escriturário Guerra, o Sub-

Inspector Simplício Soares e João da Luz e o Mestre Geral das Oficinas, o

Alexandre, inspector Carvalho, escriturário José de Almeida ou Rato Cego e

o sobrinho do último e muitos outros etc.

4/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 14h e tocou a buzina o resto dia,

foi tolerância de ponto. Pedi um dia de licença para amanhã e foi

concedido. Fui depois para a vila, estive mais o J.S. Rita e J. José º no Sabino.

O primeiro foi avisar o ajudante Revisor J. R. Filipe Cordeiro para ir

substituir-me amanhã ao Barreiro T. o dito até chorou. Manifestou

incêndio a bordo de um vapor americano carregado de carvão surto no

Tejo. 1920 Continua a greve dos CFSS. De manhã fez grande vendaval, vento

Oeste ainda chuva. Pelas 12h começou a chover torrencialmente e o vento

acalmou. Depois de vir do teatro esta madrugada o António Gaspar bateu à

porta devagar e não respondiam, havendo grande susto pela família

julgando vir buscar algum preso depois abriu-se a porta era o dito. Por

motivo dos festejos em Lisboa, do aniversário da República, pensava ele

que era a revolução. Logo de manhã a GNR que se encontra a prestar

serviço na estação deram uma salva de 21 tiros, etc. pelas 11h levantei-me.

A noite passada houve grande incêndio no Braço de Prata. Ficaram

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pelas paredes chamando as classes de 1912 a 19. Às 16h35 o Sebastião G.

declarou-se em frente testemunhas no Largo Casal que deixava de fumar,

até deu a onça ao Eduardo E. S., testemunhas eu, J. Aurélio, J. de Oliveira,

Jorge C. Pessoa. Pelas 18h35 estive mais o Daciano Ribeiro no Mexilhoeiro.

Estivemos desconfiados dum catraio por motivo de nos dizerem adeus a

nós. Fomos para ao pé dos maquinistas e fogueiros de terra e mar e outros

ferroviários que se encontravam junto a uma barraca, a ver os vapores a

fazer carreiras de Lisboa a Barreiro. Regressámos a Barreiro era quase

noute. Soube que tinha chegado mais 30 praças de cavalaria da GNR de

Setúbal. Foi o casamento em Lisboa da filha do Júlio Ramalhete a Maria

José. Falei com a M.G.M.

8/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez uma noite linda

de luar. 1920 Continuação da greve dos CFSS. Foi ontem à noite preso o

Rufino Alves de Oliveira por causa da mulher do Júlio Costa. Hoje pelas

17h35 brincadeiras no Largo Casal com um chifre mas com tal sorte que

feriu o maxilar superior do filho do Torres corticeiro. Na dita hora passava o

tio, vinha da fábrica Herold. Ainda tentou agredir o J. Borralho e claque, eu

J. Borralho, Eugénio da S., L. Cristo, Sebastião G., Eduardo E. S., Daciano

Ribeiro e outros. Mais tarde apareceu o tio e pai do dito rapaz pedir

explicações à claque, ficando tudo em nada. Levei mais o J. Borralho o

chifre para o quintal da S. Instrução para ser enterrado. Assim foi, quando

estava no melhor, que se estava a tratar da cova apareceu, do Teatro

República, o J. S. Parra e António Bifa assistiu a estar a enterrar o chifre no

quintal da S. Instrução. Encontrava-se à porta o Custódio F. e nós

continuamos. O Custódio foi tirá-lo e disse eu sei aonde está. Quando nós

voltámos estava a terra mexida. Já não estava o chifre. Foi a claque

momentos depois põe na dita cova outro e o tal fomos enterrar noutro sítio

do quintal. Eram 9h5 juraram todos presentes que só quando fizer um ano

é que dizem. Estava eu, J. S. Parra, Fernandes Gonçalves, Artur S., Custódio

F., Sebastião G., Luiz M. F. Fez um dia lindo. Falei com a M.G.M. Nesta noite

trabalhou no Armazém do Panino pregar caixas de conservas o Sebastião

G., Custódio F. Foi a célebre noite que o Domingos (Catapina) foi baptizado

com a alcunha “O fado dos 6 mil e quinhentos”, etc.

9/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi o funeral da Emília Gadelha.

Fez linda noite de luar e calmosa. 1920 Continua a greve dos CFSS e M.

Douro e C.P. Ficou transferido o benefício que se realizava hoje na S.

choveu, mas pouco. Estivemos no Rossio a ver a passagem das tropas

vindas da parada, vinha armada com a respectiva banda e GNR de

Infantaria e Cavalaria e metralhadoras e o Estado Maior e membros do

Governo e da C. Municipal, Cruz Vermelha, etc. Levou a passar perto de 3

horas. Fomos comprar os bilhetes ao T. Avenida, andava a revista “A paz

Armada”. Fomos passear pela Baixa, que por fim andamos tanto, que foi

com grande dificuldade que fomos ter ao Teatro Avenida de Lisboa. Depois

fartos de passear entramos no Teatro fomos para as cadeiras nº 2 a 8.

Regressamos ao Barreiro às 1h10 da madrugada. Faleceu Porfírio

sapateiro. 1920 Continuação da greve. Seguiram presos para Lisboa

debaixo de escolta com baionetas armadas o Anacleto Velho e o Vidal

maquinista reformado. Efectuam-se algumas carreiras entre Lisboa e

Barreiro e alguns comboios, continuando grande vendaval. Á noite fez

aguaceiros chovendo muitíssimo. Fui mais o Delícias Correia recolher

alguns bancos para a sala que se encontravam no quintal da S. Instrução ao

tempo. Falei com a M.G.M. Chegou a Lisboa o novo ministro alemão.

7/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Pelas 10h30

fui ao Barreiro T. render o Filipe J. Cordeiro por motivo de este ter de vir

acompanhar o funeral do tio Porfírio sapateiro. Regressei às Cocheiras de

tarde. Faleceu o Imitério António pai. Falei com a M.G.M. Ainda choveu de

dia trovejando também. No quintal da S. Instrução teve a Comissão das

festas de 15 de Agosto “Rosário” por motivo do coreto estar no último

estado de conservação. Foi testemunha mais António Joaquim, Adelino

Pinto que o António Ribeiro disse ao Teodoro Carias que o T. República não

levava porta para o palco. 1920 Continuação da greve e na mesma atitude.

Chegou mais forças de Infantaria 24 e 32 e Cavalaria e Infantaria da GNR. Foi

posto em liberdade o Anacleto pai. Foi o revisor de bilhetes o Palermo, este

militar do BSCF. Seguiu em revisão de bilhetes para a linha o José Simplício,

dizia por todas as estações que no Barreiro estava tudo ao serviço e o dito

Palermo desmentia, foi esse o motivo que J. Simplício deu parte dele.

Declarou-se em greve os chauferes e os almeidas da C. Municipal de Lisboa.

Saiu um decreto mobilizando todos os veículos. A Associação dos

Ferroviários encontrava-se cercada por forças da GNR, de Infantaria e

patrulhada por cavalaria, etc. Prenderam ao desembarcar do vapor dos

CFSS na estação do Barreiro, julgando estes serem maquinistas, foi o José

Café e o Amadeu Marinho. Soube-se que o padrasto do José Soeiro estava a

dar os nomes e moradas dos maquinistas, etc. Foi colocados novos editais

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pelas paredes chamando as classes de 1912 a 19. Às 16h35 o Sebastião G.

declarou-se em frente testemunhas no Largo Casal que deixava de fumar,

até deu a onça ao Eduardo E. S., testemunhas eu, J. Aurélio, J. de Oliveira,

Jorge C. Pessoa. Pelas 18h35 estive mais o Daciano Ribeiro no Mexilhoeiro.

Estivemos desconfiados dum catraio por motivo de nos dizerem adeus a

nós. Fomos para ao pé dos maquinistas e fogueiros de terra e mar e outros

ferroviários que se encontravam junto a uma barraca, a ver os vapores a

fazer carreiras de Lisboa a Barreiro. Regressámos a Barreiro era quase

noute. Soube que tinha chegado mais 30 praças de cavalaria da GNR de

Setúbal. Foi o casamento em Lisboa da filha do Júlio Ramalhete a Maria

José. Falei com a M.G.M.

8/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez uma noite linda

de luar. 1920 Continuação da greve dos CFSS. Foi ontem à noite preso o

Rufino Alves de Oliveira por causa da mulher do Júlio Costa. Hoje pelas

17h35 brincadeiras no Largo Casal com um chifre mas com tal sorte que

feriu o maxilar superior do filho do Torres corticeiro. Na dita hora passava o

tio, vinha da fábrica Herold. Ainda tentou agredir o J. Borralho e claque, eu

J. Borralho, Eugénio da S., L. Cristo, Sebastião G., Eduardo E. S., Daciano

Ribeiro e outros. Mais tarde apareceu o tio e pai do dito rapaz pedir

explicações à claque, ficando tudo em nada. Levei mais o J. Borralho o

chifre para o quintal da S. Instrução para ser enterrado. Assim foi, quando

estava no melhor, que se estava a tratar da cova apareceu, do Teatro

República, o J. S. Parra e António Bifa assistiu a estar a enterrar o chifre no

quintal da S. Instrução. Encontrava-se à porta o Custódio F. e nós

continuamos. O Custódio foi tirá-lo e disse eu sei aonde está. Quando nós

voltámos estava a terra mexida. Já não estava o chifre. Foi a claque

momentos depois põe na dita cova outro e o tal fomos enterrar noutro sítio

do quintal. Eram 9h5 juraram todos presentes que só quando fizer um ano

é que dizem. Estava eu, J. S. Parra, Fernandes Gonçalves, Artur S., Custódio

F., Sebastião G., Luiz M. F. Fez um dia lindo. Falei com a M.G.M. Nesta noite

trabalhou no Armazém do Panino pregar caixas de conservas o Sebastião

G., Custódio F. Foi a célebre noite que o Domingos (Catapina) foi baptizado

com a alcunha “O fado dos 6 mil e quinhentos”, etc.

9/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi o funeral da Emília Gadelha.

Fez linda noite de luar e calmosa. 1920 Continua a greve dos CFSS e M.

Douro e C.P. Ficou transferido o benefício que se realizava hoje na S.

choveu, mas pouco. Estivemos no Rossio a ver a passagem das tropas

vindas da parada, vinha armada com a respectiva banda e GNR de

Infantaria e Cavalaria e metralhadoras e o Estado Maior e membros do

Governo e da C. Municipal, Cruz Vermelha, etc. Levou a passar perto de 3

horas. Fomos comprar os bilhetes ao T. Avenida, andava a revista “A paz

Armada”. Fomos passear pela Baixa, que por fim andamos tanto, que foi

com grande dificuldade que fomos ter ao Teatro Avenida de Lisboa. Depois

fartos de passear entramos no Teatro fomos para as cadeiras nº 2 a 8.

Regressamos ao Barreiro às 1h10 da madrugada. Faleceu Porfírio

sapateiro. 1920 Continuação da greve. Seguiram presos para Lisboa

debaixo de escolta com baionetas armadas o Anacleto Velho e o Vidal

maquinista reformado. Efectuam-se algumas carreiras entre Lisboa e

Barreiro e alguns comboios, continuando grande vendaval. Á noite fez

aguaceiros chovendo muitíssimo. Fui mais o Delícias Correia recolher

alguns bancos para a sala que se encontravam no quintal da S. Instrução ao

tempo. Falei com a M.G.M. Chegou a Lisboa o novo ministro alemão.

7/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 horas de serão. Pelas 10h30

fui ao Barreiro T. render o Filipe J. Cordeiro por motivo de este ter de vir

acompanhar o funeral do tio Porfírio sapateiro. Regressei às Cocheiras de

tarde. Faleceu o Imitério António pai. Falei com a M.G.M. Ainda choveu de

dia trovejando também. No quintal da S. Instrução teve a Comissão das

festas de 15 de Agosto “Rosário” por motivo do coreto estar no último

estado de conservação. Foi testemunha mais António Joaquim, Adelino

Pinto que o António Ribeiro disse ao Teodoro Carias que o T. República não

levava porta para o palco. 1920 Continuação da greve e na mesma atitude.

Chegou mais forças de Infantaria 24 e 32 e Cavalaria e Infantaria da GNR. Foi

posto em liberdade o Anacleto pai. Foi o revisor de bilhetes o Palermo, este

militar do BSCF. Seguiu em revisão de bilhetes para a linha o José Simplício,

dizia por todas as estações que no Barreiro estava tudo ao serviço e o dito

Palermo desmentia, foi esse o motivo que J. Simplício deu parte dele.

Declarou-se em greve os chauferes e os almeidas da C. Municipal de Lisboa.

Saiu um decreto mobilizando todos os veículos. A Associação dos

Ferroviários encontrava-se cercada por forças da GNR, de Infantaria e

patrulhada por cavalaria, etc. Prenderam ao desembarcar do vapor dos

CFSS na estação do Barreiro, julgando estes serem maquinistas, foi o José

Café e o Amadeu Marinho. Soube-se que o padrasto do José Soeiro estava a

dar os nomes e moradas dos maquinistas, etc. Foi colocados novos editais

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fulano e o sapateiro “o Colhão Brioso”. Estes estavam embriagados, estava

o Largo Casal concorrido parecia o Rossio em Lisboa. Depois principiou a

rapaziada da S. Instrução com empurrões etc. Foi o funeral do João

Bernardo T. Houve um desastre terrível entre as 23h e as 24h num dos

vapores dos CFSS que seguia para Lisboa com as duas carreiras de Setúbal e

outra do Alentejo foi contra a ponte que liga a linha férrea do Barreiro ao

Seixal havendo mortos. Era tirados por cima dos tabuleiros da ponte.

Foram salvar os Painços era canoa deles. Ainda ganharam 9 escudos cada

um, etc.

11/10/920 Fez 1 ano estive de folga, chovendo quase todo o dia. Era para

ser lançado à água um navio construído no estaleiro de Alborrica, esteve

dois rebocadores pequenos nomes Machado e Tigre com cabos de arame

estes rebentavam não sendo possível sair o dito neste momento foi

experiência de uma bicicleta pela água tripulada pelo Jorge Sobral e andava

também bastantes catraios e lanchas etc. assistindo ao dito lançamento

milhares de pessoas. Falei com a M.G.M. 1920 Continuação da greve no s

CFSS. Correu o boato que a noite passada um alferes da GNR pelo motivo

do desastre já dito caiu ao rio sobre o caso ignoro soube-se que foi

chamada a Cruz Vermelha de Lisboa, etc. passando por Cacilhas

automóveis cobertos seguiam para Lisboa. Dizia-se do desastre do vapor

Minho que feridos eram dezenas e mortos 11. Pelas 10h45 chegou o vapor

Douro rebocado por dois rebocadores do Arsenal por este vir avariado. Foi

abalroado contra a canhoneira ”Zambézia”. Esteve toda a manhã nublada

às 13h pôs-se cerração de chuva vento pouco Oeste. De tarde declarou-se

não deixaram sair os vendedores de jornais da estação para a vila ainda

passaram alguns mas poucos. A Maria Luiza Ferreira filha da falecida

Augusta José Ferreira teve um menino faleceu meia hora depois. O Manuel

Martins foi hoje a primeira vez que veio ao Largo Casal depois que se aleijou

na perna. Ás 17h20 passou no dito Largo dois camiões militares tapados

com cascos de azeite para Lisboa vinha do Alentejo eles procuraram qual a

direcção da Aldeia de Paio Pires. Ficou resolvido não muito seguro a greve

dos fragateiros. A claque que andava como tivesse vontade de jogar ao

dominó viemos a minha casa buscar e depois fomos jogar para a S.

Instrução às 18h5 e terminou às 19h30 sendo o ganho distribuído eu 4,

Eugénio 4, J. S. Parra 1, Sebastião 2, Pireza, J. Borralho 3, Custódio F. 3, Júlio

dos Santos (Lagarticho) [sic]. Foi colocado pelas paredes editais chamando

as classes de 1898. Falei com a M.G.M. o pai dela ficou em Lisboa.

Instrução para o prémio sábado, no caso a greve termine. Terminou o prazo

de entrada das Oficinas Gerais, o pessoal que não apareceu até às 12h

chegou entrar o encarregado dos caldeireiros de ferro, o Vitorino, e dois

escriturários. Continua-se avariando as máquinas etc. Chegou mais

Engenharia de C. Ferro. Esteve todo o dia nublado. Faleceu Joaquim

Alcântara marinheiro dos CFSS chegado às poucos meses do Corpo

Expedicionário Português de França. Andei a passear mais o Eugénio, J. S.

Borralho e outros, pelo Barrio Operário, etc. Falei com a M.G.M. Continua-

se a efectuar prisões de ferroviários e pondo-se outros em liberdade etc. Ás

15h25 passou ao Largo Casal um grande camion parecia dos CFSS. Pelas

17h55 foi colocado o mastro da bandeira no T. República, pelo Sr. António

Ribeiro, Elias e outros. Pelas 24h junto do moinho Jimes [sic] encontrava-se

o Ventura Aleixo e José Gaiato, ouviram as ditas horas na torre da Igreja do

Seixal.

10/10/920 Fez 1 ano trabalhei 24h no Barreiro T. Esteve todo o dia

nublado e doentio, chovendo à noite. 1920 Continuação da greve. Pelas 9815h foi o lançamento à água de uma fragata no estaleiro de Alborrica ,

pertencente ao Eduardo Leite. Foi inauguração da Café do Daniel “Galego”,

na Eusébio Leão na casa do antigo centro novo, sendo também inaugurado

o T. República, já há tempos em construção, sendo gratuito por meio de

convites teve início às 21h com a fita “Tasca”, foi elevado o número de

convidados entre eles a M.G.M. Pelas 16h50 o Sr. Joaquim chamou-me e

ofereceu-me 4 flores. Pedindo-lhe licença ofereci ao Eduardo E.S.,

Sebastião G. e Delícias Correia. Retiramos e fomos dar uma volta à vila com

as ditas flores na lapela dos casacos. Às 17h50 encontrando o Ribeiro pintor

a fazer letras na casa do alfaiate Ferreira, no Largo Casa, o pintor Amâncio

descompôs o dito pintor por motivos deste não ser associado, etc.

entrando na discussão o Abelardo F. a favor do Ribeiro e depois o Amâncio

queria bater no A. Ferreira, descompôs um ao outro, etc. ainda não estava

bem terminada entra um desconhecido com o Pedro da Luz, por motivos

ignorados o dito puxa por uma chave ao Pedro, parecia um revolver,

meteram-se mais na desordem os que saíam da Leitaria do Alves havendo

também desordem na Leitaria, etc. Era Viegas Simões, Torcato e J. Aurélio e

outros. Por fim, não se percebia ninguém, era bater e discussões à doida.

Soube-se por fim que foi dos acontecimentos na noite passada, por o tal

desconhecido estar a bater na mulher, sendo testemunhas a mulher do

Alfredo Figueiras etc. havendo mais tarde outras discussões entre um

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fulano e o sapateiro “o Colhão Brioso”. Estes estavam embriagados, estava

o Largo Casal concorrido parecia o Rossio em Lisboa. Depois principiou a

rapaziada da S. Instrução com empurrões etc. Foi o funeral do João

Bernardo T. Houve um desastre terrível entre as 23h e as 24h num dos

vapores dos CFSS que seguia para Lisboa com as duas carreiras de Setúbal e

outra do Alentejo foi contra a ponte que liga a linha férrea do Barreiro ao

Seixal havendo mortos. Era tirados por cima dos tabuleiros da ponte.

Foram salvar os Painços era canoa deles. Ainda ganharam 9 escudos cada

um, etc.

11/10/920 Fez 1 ano estive de folga, chovendo quase todo o dia. Era para

ser lançado à água um navio construído no estaleiro de Alborrica, esteve

dois rebocadores pequenos nomes Machado e Tigre com cabos de arame

estes rebentavam não sendo possível sair o dito neste momento foi

experiência de uma bicicleta pela água tripulada pelo Jorge Sobral e andava

também bastantes catraios e lanchas etc. assistindo ao dito lançamento

milhares de pessoas. Falei com a M.G.M. 1920 Continuação da greve no s

CFSS. Correu o boato que a noite passada um alferes da GNR pelo motivo

do desastre já dito caiu ao rio sobre o caso ignoro soube-se que foi

chamada a Cruz Vermelha de Lisboa, etc. passando por Cacilhas

automóveis cobertos seguiam para Lisboa. Dizia-se do desastre do vapor

Minho que feridos eram dezenas e mortos 11. Pelas 10h45 chegou o vapor

Douro rebocado por dois rebocadores do Arsenal por este vir avariado. Foi

abalroado contra a canhoneira ”Zambézia”. Esteve toda a manhã nublada

às 13h pôs-se cerração de chuva vento pouco Oeste. De tarde declarou-se

não deixaram sair os vendedores de jornais da estação para a vila ainda

passaram alguns mas poucos. A Maria Luiza Ferreira filha da falecida

Augusta José Ferreira teve um menino faleceu meia hora depois. O Manuel

Martins foi hoje a primeira vez que veio ao Largo Casal depois que se aleijou

na perna. Ás 17h20 passou no dito Largo dois camiões militares tapados

com cascos de azeite para Lisboa vinha do Alentejo eles procuraram qual a

direcção da Aldeia de Paio Pires. Ficou resolvido não muito seguro a greve

dos fragateiros. A claque que andava como tivesse vontade de jogar ao

dominó viemos a minha casa buscar e depois fomos jogar para a S.

Instrução às 18h5 e terminou às 19h30 sendo o ganho distribuído eu 4,

Eugénio 4, J. S. Parra 1, Sebastião 2, Pireza, J. Borralho 3, Custódio F. 3, Júlio

dos Santos (Lagarticho) [sic]. Foi colocado pelas paredes editais chamando

as classes de 1898. Falei com a M.G.M. o pai dela ficou em Lisboa.

Instrução para o prémio sábado, no caso a greve termine. Terminou o prazo

de entrada das Oficinas Gerais, o pessoal que não apareceu até às 12h

chegou entrar o encarregado dos caldeireiros de ferro, o Vitorino, e dois

escriturários. Continua-se avariando as máquinas etc. Chegou mais

Engenharia de C. Ferro. Esteve todo o dia nublado. Faleceu Joaquim

Alcântara marinheiro dos CFSS chegado às poucos meses do Corpo

Expedicionário Português de França. Andei a passear mais o Eugénio, J. S.

Borralho e outros, pelo Barrio Operário, etc. Falei com a M.G.M. Continua-

se a efectuar prisões de ferroviários e pondo-se outros em liberdade etc. Ás

15h25 passou ao Largo Casal um grande camion parecia dos CFSS. Pelas

17h55 foi colocado o mastro da bandeira no T. República, pelo Sr. António

Ribeiro, Elias e outros. Pelas 24h junto do moinho Jimes [sic] encontrava-se

o Ventura Aleixo e José Gaiato, ouviram as ditas horas na torre da Igreja do

Seixal.

10/10/920 Fez 1 ano trabalhei 24h no Barreiro T. Esteve todo o dia

nublado e doentio, chovendo à noite. 1920 Continuação da greve. Pelas 9815h foi o lançamento à água de uma fragata no estaleiro de Alborrica ,

pertencente ao Eduardo Leite. Foi inauguração da Café do Daniel “Galego”,

na Eusébio Leão na casa do antigo centro novo, sendo também inaugurado

o T. República, já há tempos em construção, sendo gratuito por meio de

convites teve início às 21h com a fita “Tasca”, foi elevado o número de

convidados entre eles a M.G.M. Pelas 16h50 o Sr. Joaquim chamou-me e

ofereceu-me 4 flores. Pedindo-lhe licença ofereci ao Eduardo E.S.,

Sebastião G. e Delícias Correia. Retiramos e fomos dar uma volta à vila com

as ditas flores na lapela dos casacos. Às 17h50 encontrando o Ribeiro pintor

a fazer letras na casa do alfaiate Ferreira, no Largo Casa, o pintor Amâncio

descompôs o dito pintor por motivos deste não ser associado, etc.

entrando na discussão o Abelardo F. a favor do Ribeiro e depois o Amâncio

queria bater no A. Ferreira, descompôs um ao outro, etc. ainda não estava

bem terminada entra um desconhecido com o Pedro da Luz, por motivos

ignorados o dito puxa por uma chave ao Pedro, parecia um revolver,

meteram-se mais na desordem os que saíam da Leitaria do Alves havendo

também desordem na Leitaria, etc. Era Viegas Simões, Torcato e J. Aurélio e

outros. Por fim, não se percebia ninguém, era bater e discussões à doida.

Soube-se por fim que foi dos acontecimentos na noite passada, por o tal

desconhecido estar a bater na mulher, sendo testemunhas a mulher do

Alfredo Figueiras etc. havendo mais tarde outras discussões entre um

160 161

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14/10/920 Fez 1 ano estive de folga. O barbeiro Ventura deu-me a

relação das perdas dos Aliados em homens na Grande Guerra vinha no

jornal “O Século”. Estive toda a tarde no Mercado Municipal no talho do

António Luiz M. Foi novamente tirada a hora que há meses aumentou. Falei

com a M.G.M. Fez 102 anos que houve um combate em Alhandra nas

Linhas de Lisboa. 1920 Continuação da greve. Fez um dia regular e

calmaria. Pelas 15h30 fui até à praia ler o jornal do Sul e Sueste e CP um só

jornal de assuntos das duas redes andava a claque do M. Ramalhete a

bordo de uma canoa pela borda de água a brincar poucos momentos Artur

S. veio à praia e ele chamou-me depois dos outros já me ter chamado a

minha resposta não. Falei com Artur S. ele disse vamos na canoa do M.

Bandeireiro eu não queria mas para não contrariar a ele disse sim. Ele foi

pedir concedeu e disse ao Artur S. Fui buscar os remos etc. Assim foi. Ás

16h30 embarcamos na canoa do dito marca B.101.F fomos até defronte da

Escola Conde Ferreira o Artur S. saltou a terra buscar uma pedra para a

pesca seguimos até à doca da Comp. U. Fabril. Já andava uma outra canoa

com a claque do M. Ramalhete estes tinham passado e nós fomos apanhá-

los demos uma passagem a um fragateiro andavam a trabalhar o Edmundo

e o Mafarrico etc. estava na doca algumas fragatas e o vapor da dita

Companhia. Retiramos nós em frente do talho do L.C. saía a claque da doca

chegamos ao ponto de partida às 17h20 a claque do M. Rosa, Carlos Diogo,

Francisco T. Gonçalves, M. Ralinho e Moura, Custódio F., e M.R. foi ao

banho deitando do bote de pesca do Casca Viana passados momentos de

nós estar em terra apareceu o F. Sobral e Agostinho Pinto, o Artur S.

mandou um miúdo a casa buscar os preparativos de pesca etc. Depois

seguiram os três na dita canoa até às Obras de onde seguiram para a pesca

e à noite soube-se que tinham sido soltos os ferroviários dos CFSS e C.P. Ás

24h atrazam-se os relógios. Falei com a M.G.M.

15/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fez uma manhã

fria e névoa. A minha mana Ermelinda pesou-se tinha 50 kg. 1920

Continuação da greve. Todo o dia esteve nublado estando a chover

miudinha até às 17h10 depois aleviou o tempo pôs-se uma noite regular. Ás

23h30 choveu. Pelas 19h30 correu o boato que à noite faziam uma rusga ao

Barreiro e Lavradio minutos depois soube-se não ser um facto. Foi no

Teatro-Cine o benefício do Asilo D. Pedro V fui mais as minhas manas

solteiras Ermelinda, Erminia sendo um espectáculo e peras terminou à

1h40 eu de cadeira e minhas manas de balcão.

12/10/920 Fez 1 ano estive descanso semanal. Fez um dia lindo. Ás

11h30 saiu e deu a volta à vila a S. Democrática com a estreia de novos

fardamentos. Houve novamente trabalhos para o lançamento água o navio

veio o rebocador Mondego arrebentando com todos os cabos de arame

etc. não sendo possível por a nado assistindo a ver os trabalhos mais de

5000 pessoas. Houve no campo de foot ball atraz do Cemitério Velho uma

festa em benefício para o Coreto sendo uma tarde sportiva houve corridas

de burros etc. 1º prémio foi António Oliveira, de barris 1º o Domingos S.

Rita e de sacos o Cadáver de tracção o dito, de resistência o Machinho e um

grande desafio de futebol entre o Barreirense e o Sport Lisboa e Benfica

sendo a vitória do Barreirense 7 a 0. Houve bailes nas S. Instrução e

Democrática. 1920 Continuação da greve de manhã nublado esteve o fim

da tarde e a noite regular. Foi o funeral da Anica Pateta. Ás 19h30 foi tocar

ao dito a S. Instrução. Foi o pagamento nos CFSS para a linha pagar a quem

está ao serviço. Foi aumentadas as tarifas nos CFSS e M. Douro, C.P. Pelas

19h30 apareceu a carroça dos José Esteves no Largo Casal com 4

mobilizados muito embriagados e eles diziam viva a greve dos ferroviários

etc. estes com grande dificuldade desapearam e foram à Leitaria do Alves

apareceu o José Esteves e disse para o carroceiro que era José Guinhenha o

que andas a fazer ele respondeu ando a fazer um frete. O Sr. José Esteves

disse vai por a carroça na cocheira se quiseres senão levo eu depois disse a

2ª vez o carroceiro agora o que dizem os homens. O José Esteves deixa lá

até aqui veio de graça por fim resposta do carroceiro leve a carroça que já

não levo à cocheira. O José Esteves levou a carroça depois dizia os

mobilizados a dizer há dinheiro que pagava carroça animal etc. Falei com a

M.G.M.

13/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. 1920 Continua a

greve dos CFSS os vapores que fazem as carreiras de Lisboa para Barreiro

ida e volta feito pela armada o Atália ou o Fantasma da Parceria e o Cisne e

Buarcos e o Vitória este último dos CFSS. Fui passear ao campo mais o

Carlos Sândalo, J. P. Borralho. Saímos do L. Casal as 16h35 até à Quinta Nova

do Gandum, perto de Alhos Vedros. Encontrámos por acaso o Comité Local

por cima da Paiva, na Quinta do Espanhol. Era A. J. Piloto e o maquinista

Horta. Ás 18h5 estávamos na Quinta dos Arcos. Chegamos novamente ao

Largo casal às 19h45. Falei com a M.G.M. e também com a Maria José

Figueiras e outras.

162 163

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14/10/920 Fez 1 ano estive de folga. O barbeiro Ventura deu-me a

relação das perdas dos Aliados em homens na Grande Guerra vinha no

jornal “O Século”. Estive toda a tarde no Mercado Municipal no talho do

António Luiz M. Foi novamente tirada a hora que há meses aumentou. Falei

com a M.G.M. Fez 102 anos que houve um combate em Alhandra nas

Linhas de Lisboa. 1920 Continuação da greve. Fez um dia regular e

calmaria. Pelas 15h30 fui até à praia ler o jornal do Sul e Sueste e CP um só

jornal de assuntos das duas redes andava a claque do M. Ramalhete a

bordo de uma canoa pela borda de água a brincar poucos momentos Artur

S. veio à praia e ele chamou-me depois dos outros já me ter chamado a

minha resposta não. Falei com Artur S. ele disse vamos na canoa do M.

Bandeireiro eu não queria mas para não contrariar a ele disse sim. Ele foi

pedir concedeu e disse ao Artur S. Fui buscar os remos etc. Assim foi. Ás

16h30 embarcamos na canoa do dito marca B.101.F fomos até defronte da

Escola Conde Ferreira o Artur S. saltou a terra buscar uma pedra para a

pesca seguimos até à doca da Comp. U. Fabril. Já andava uma outra canoa

com a claque do M. Ramalhete estes tinham passado e nós fomos apanhá-

los demos uma passagem a um fragateiro andavam a trabalhar o Edmundo

e o Mafarrico etc. estava na doca algumas fragatas e o vapor da dita

Companhia. Retiramos nós em frente do talho do L.C. saía a claque da doca

chegamos ao ponto de partida às 17h20 a claque do M. Rosa, Carlos Diogo,

Francisco T. Gonçalves, M. Ralinho e Moura, Custódio F., e M.R. foi ao

banho deitando do bote de pesca do Casca Viana passados momentos de

nós estar em terra apareceu o F. Sobral e Agostinho Pinto, o Artur S.

mandou um miúdo a casa buscar os preparativos de pesca etc. Depois

seguiram os três na dita canoa até às Obras de onde seguiram para a pesca

e à noite soube-se que tinham sido soltos os ferroviários dos CFSS e C.P. Ás

24h atrazam-se os relógios. Falei com a M.G.M.

15/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e 2 h de serão. Fez uma manhã

fria e névoa. A minha mana Ermelinda pesou-se tinha 50 kg. 1920

Continuação da greve. Todo o dia esteve nublado estando a chover

miudinha até às 17h10 depois aleviou o tempo pôs-se uma noite regular. Ás

23h30 choveu. Pelas 19h30 correu o boato que à noite faziam uma rusga ao

Barreiro e Lavradio minutos depois soube-se não ser um facto. Foi no

Teatro-Cine o benefício do Asilo D. Pedro V fui mais as minhas manas

solteiras Ermelinda, Erminia sendo um espectáculo e peras terminou à

1h40 eu de cadeira e minhas manas de balcão.

12/10/920 Fez 1 ano estive descanso semanal. Fez um dia lindo. Ás

11h30 saiu e deu a volta à vila a S. Democrática com a estreia de novos

fardamentos. Houve novamente trabalhos para o lançamento água o navio

veio o rebocador Mondego arrebentando com todos os cabos de arame

etc. não sendo possível por a nado assistindo a ver os trabalhos mais de

5000 pessoas. Houve no campo de foot ball atraz do Cemitério Velho uma

festa em benefício para o Coreto sendo uma tarde sportiva houve corridas

de burros etc. 1º prémio foi António Oliveira, de barris 1º o Domingos S.

Rita e de sacos o Cadáver de tracção o dito, de resistência o Machinho e um

grande desafio de futebol entre o Barreirense e o Sport Lisboa e Benfica

sendo a vitória do Barreirense 7 a 0. Houve bailes nas S. Instrução e

Democrática. 1920 Continuação da greve de manhã nublado esteve o fim

da tarde e a noite regular. Foi o funeral da Anica Pateta. Ás 19h30 foi tocar

ao dito a S. Instrução. Foi o pagamento nos CFSS para a linha pagar a quem

está ao serviço. Foi aumentadas as tarifas nos CFSS e M. Douro, C.P. Pelas

19h30 apareceu a carroça dos José Esteves no Largo Casal com 4

mobilizados muito embriagados e eles diziam viva a greve dos ferroviários

etc. estes com grande dificuldade desapearam e foram à Leitaria do Alves

apareceu o José Esteves e disse para o carroceiro que era José Guinhenha o

que andas a fazer ele respondeu ando a fazer um frete. O Sr. José Esteves

disse vai por a carroça na cocheira se quiseres senão levo eu depois disse a

2ª vez o carroceiro agora o que dizem os homens. O José Esteves deixa lá

até aqui veio de graça por fim resposta do carroceiro leve a carroça que já

não levo à cocheira. O José Esteves levou a carroça depois dizia os

mobilizados a dizer há dinheiro que pagava carroça animal etc. Falei com a

M.G.M.

13/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. 1920 Continua a

greve dos CFSS os vapores que fazem as carreiras de Lisboa para Barreiro

ida e volta feito pela armada o Atália ou o Fantasma da Parceria e o Cisne e

Buarcos e o Vitória este último dos CFSS. Fui passear ao campo mais o

Carlos Sândalo, J. P. Borralho. Saímos do L. Casal as 16h35 até à Quinta Nova

do Gandum, perto de Alhos Vedros. Encontrámos por acaso o Comité Local

por cima da Paiva, na Quinta do Espanhol. Era A. J. Piloto e o maquinista

Horta. Ás 18h5 estávamos na Quinta dos Arcos. Chegamos novamente ao

Largo casal às 19h45. Falei com a M.G.M. e também com a Maria José

Figueiras e outras.

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inauguração do T. República revertendo o produto líquido a favor do café

do Asilo D. Pedro V. falou com a M.G.M. esta deu-me uma moeda de 10

cent. que saiu há dias para circulação. Pelas 20h o vapor Atália ao serviço

dos CFSS encalhou perto de Alborrica ficando quase toda a noite com

passageiros a bordo.

18/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez 702 anos que foi

a tomada de Alcácer do Sal aos mouros. No T. Cine houve benefício foi outra

vez apresentar o António Filipe, a Panelas, Catapina, etc. 1920 Continuação

da greve. Fez um dia variável a noite nublada. Não abriu como estava

anunciado o Parlamento por falta de número. Correu o boato que tinha

caído o governo. Pelas 10 e tal partiu do Campo de Amadora do “Bregnet”

saindo o piloto o capitão Brito Pais acompanhado pelo seu colega tenente

Beiras com destino à Madeira foi o raid sendo o prémio 2000 escudos pelas

17h5 estava sobre o Funchal o prémio foi oferta feita ao “Jornal de Notícias”

pelo Sr. Carlos Bleik. Á noite na S. Instrução estive a jogar ao dominó com

uma claque sendo entregue o dominó ao António Correia. Falei com a

M.G.M.

19/10/1920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez um dia lindo. Entraram no

Tejo 31 navios americanos. Fui mais a S. Instrução para Lisboa às 13h25 a S.

Amaro subi mais a claque uma escada em S. Amaro com 126 degraus até à

dita escada fomos de eléctrico fomos comer numa casa junto de um jardim

foi carapaus fritos etc. 1$33 a claque era eu, F. Soeiro, meu mano, J. de

Paula, António Bifa, Evaristo cada um trouxe uma recordação da dita casa a

minha uma cafeteira e o A. Bifa um barril depois fomos para o jardim

tiramos umas rosas etc. Retiramos e fomos até à sede da Sociedade de S.

Amaro houve o concerto que teve o início pelas 16h30 houve festa da flor e

falou vários oradores havendo vivas e palmas estava ainda em construção o

teatro da dita Sociedade terminou o concerto às 19h30 retirou todos

depressa para a estação de eléctricos mas não havia passavam cheios

vindos da corrida do Campo Pequeno a maioria metiam-se nos ditos vim

com uma grande trupe como sardinha em lata em toda a parte parava

chegamos à Praça do Comércio corremos para a estação alguns apanharam

e nós batemos com o nariz nas portas combinamos para onde vamos nós

ainda ouvimos a partida do vapor foi às 20h a claque resolveu passear pela

cidade era eu, J. S. Parra, F. Soeiro, A. Bifa, J. de Paula, Evaristo emprestei 20

cent. ao A. Bifa e foi F… [sic]. Andámos até às 24h25 regressamos à estação

16/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. declarou-se em

greve os barbeiros querem 2$00 diários. As últimas corridas de touros da

época foi em Algés e Espinho. 1920 Continua a greve na mesma atitude e

continuando ao serviço os mesmos amarelos. Fez um dia regular e algumas

nuvens pelo céu ainda choveu por vezes mas pouco. Fez uma noite linda

mas fresca. Ás 15h40 passou pela Rua Marquês Pombal Carlos G. e F.

Vicente Martins. O barbeiro Ventura foi ver os destinos do ditos eles 99

seguiam para trás da fábrica do Bramcamp com os rotos Rapouso e

Esperança. Pelas 18h30 estive na S. Instrução a jogar ao dominó mais J.

Aurélio, J. Parra, e J. Borralho como ontem mas outra claque Eugénio, J.S.

Parra, J. Aurélio e hoje nós retiramos ficou outra claque a jogar. No T. Cine

houve benefício para o Asilo D. Pedro V com a mesma peça de ontem. Falei

com a M.G.M. fiz-lhe entrega de uma carta da minha mana Ermelinda.

17/10/920 Fez 1 ano que estive de folga chovendo todo o dia. Foi o

benefício da Ermelinda Panelas no T. Cine foi abrilhantado o dito benefício

pelas S. Instrução e Democrática fui para o fauteul nº 19 foi 50 cent. que

paguei ao António F. Cordeiro sendo a comédia em 3 actos “Água fria em

pedra dura tanto bate até que fura” e um acto de variedades etc. Uma das

manas do barbeiro Ventura teve uma creança falecendo momentos

depois. 1920 Continuação da greve. Fez um dia variável ao pôr-do-sol

levantou grande ventania de Nordeste fazendo uma noite linda mas muito

fria. Pelas 13h30 tocou a Banda do Batalhão Sapadores CFSS na estação.

Houve corrida de touros na Moita. Pelas 17 e tal na Rua Miguel Pais dois

polícias cívicos amigos com os nomes José Maria Lopes 24 anos solteiro nº

1978 foi involuntariamente ferido pelo outro com um tiro tinha o nome A.

Correia nº 1706 com 31 anos este foi preso seguindo para Lisboa. Depois

mais tarde correu o boato que o ferido tinha falecido. Faleceu uma das

grandes figuras da Guerra Europeia General Leman um heróico defensor

do forte de Liége com uma doença. Pelas 19h30 devido a empurrões etc. o

Miguel Almeida perdeu um anel de ouro junto do banco em frente da

Leitaria do Alves no L. Casal no valor de 9$00 não sendo possível encontrá-

lo. Estavam presentes Eugénio da Silva, Artur S., Sebastião G., etc. Na

esplanada do T. Cine pelas 20h40 quando o Sebastião tirou o lenço ao Artur

S. este foi a casa buscar outro. Pelas 21h5 quando passei ao L. Casal

encontrava-se o banco em frente da S. Instrução partido de recente. Foi

99 Homossexuais

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Page 165: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

inauguração do T. República revertendo o produto líquido a favor do café

do Asilo D. Pedro V. falou com a M.G.M. esta deu-me uma moeda de 10

cent. que saiu há dias para circulação. Pelas 20h o vapor Atália ao serviço

dos CFSS encalhou perto de Alborrica ficando quase toda a noite com

passageiros a bordo.

18/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez 702 anos que foi

a tomada de Alcácer do Sal aos mouros. No T. Cine houve benefício foi outra

vez apresentar o António Filipe, a Panelas, Catapina, etc. 1920 Continuação

da greve. Fez um dia variável a noite nublada. Não abriu como estava

anunciado o Parlamento por falta de número. Correu o boato que tinha

caído o governo. Pelas 10 e tal partiu do Campo de Amadora do “Bregnet”

saindo o piloto o capitão Brito Pais acompanhado pelo seu colega tenente

Beiras com destino à Madeira foi o raid sendo o prémio 2000 escudos pelas

17h5 estava sobre o Funchal o prémio foi oferta feita ao “Jornal de Notícias”

pelo Sr. Carlos Bleik. Á noite na S. Instrução estive a jogar ao dominó com

uma claque sendo entregue o dominó ao António Correia. Falei com a

M.G.M.

19/10/1920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez um dia lindo. Entraram no

Tejo 31 navios americanos. Fui mais a S. Instrução para Lisboa às 13h25 a S.

Amaro subi mais a claque uma escada em S. Amaro com 126 degraus até à

dita escada fomos de eléctrico fomos comer numa casa junto de um jardim

foi carapaus fritos etc. 1$33 a claque era eu, F. Soeiro, meu mano, J. de

Paula, António Bifa, Evaristo cada um trouxe uma recordação da dita casa a

minha uma cafeteira e o A. Bifa um barril depois fomos para o jardim

tiramos umas rosas etc. Retiramos e fomos até à sede da Sociedade de S.

Amaro houve o concerto que teve o início pelas 16h30 houve festa da flor e

falou vários oradores havendo vivas e palmas estava ainda em construção o

teatro da dita Sociedade terminou o concerto às 19h30 retirou todos

depressa para a estação de eléctricos mas não havia passavam cheios

vindos da corrida do Campo Pequeno a maioria metiam-se nos ditos vim

com uma grande trupe como sardinha em lata em toda a parte parava

chegamos à Praça do Comércio corremos para a estação alguns apanharam

e nós batemos com o nariz nas portas combinamos para onde vamos nós

ainda ouvimos a partida do vapor foi às 20h a claque resolveu passear pela

cidade era eu, J. S. Parra, F. Soeiro, A. Bifa, J. de Paula, Evaristo emprestei 20

cent. ao A. Bifa e foi F… [sic]. Andámos até às 24h25 regressamos à estação

16/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. declarou-se em

greve os barbeiros querem 2$00 diários. As últimas corridas de touros da

época foi em Algés e Espinho. 1920 Continua a greve na mesma atitude e

continuando ao serviço os mesmos amarelos. Fez um dia regular e algumas

nuvens pelo céu ainda choveu por vezes mas pouco. Fez uma noite linda

mas fresca. Ás 15h40 passou pela Rua Marquês Pombal Carlos G. e F.

Vicente Martins. O barbeiro Ventura foi ver os destinos do ditos eles 99

seguiam para trás da fábrica do Bramcamp com os rotos Rapouso e

Esperança. Pelas 18h30 estive na S. Instrução a jogar ao dominó mais J.

Aurélio, J. Parra, e J. Borralho como ontem mas outra claque Eugénio, J.S.

Parra, J. Aurélio e hoje nós retiramos ficou outra claque a jogar. No T. Cine

houve benefício para o Asilo D. Pedro V com a mesma peça de ontem. Falei

com a M.G.M. fiz-lhe entrega de uma carta da minha mana Ermelinda.

17/10/920 Fez 1 ano que estive de folga chovendo todo o dia. Foi o

benefício da Ermelinda Panelas no T. Cine foi abrilhantado o dito benefício

pelas S. Instrução e Democrática fui para o fauteul nº 19 foi 50 cent. que

paguei ao António F. Cordeiro sendo a comédia em 3 actos “Água fria em

pedra dura tanto bate até que fura” e um acto de variedades etc. Uma das

manas do barbeiro Ventura teve uma creança falecendo momentos

depois. 1920 Continuação da greve. Fez um dia variável ao pôr-do-sol

levantou grande ventania de Nordeste fazendo uma noite linda mas muito

fria. Pelas 13h30 tocou a Banda do Batalhão Sapadores CFSS na estação.

Houve corrida de touros na Moita. Pelas 17 e tal na Rua Miguel Pais dois

polícias cívicos amigos com os nomes José Maria Lopes 24 anos solteiro nº

1978 foi involuntariamente ferido pelo outro com um tiro tinha o nome A.

Correia nº 1706 com 31 anos este foi preso seguindo para Lisboa. Depois

mais tarde correu o boato que o ferido tinha falecido. Faleceu uma das

grandes figuras da Guerra Europeia General Leman um heróico defensor

do forte de Liége com uma doença. Pelas 19h30 devido a empurrões etc. o

Miguel Almeida perdeu um anel de ouro junto do banco em frente da

Leitaria do Alves no L. Casal no valor de 9$00 não sendo possível encontrá-

lo. Estavam presentes Eugénio da Silva, Artur S., Sebastião G., etc. Na

esplanada do T. Cine pelas 20h40 quando o Sebastião tirou o lenço ao Artur

S. este foi a casa buscar outro. Pelas 21h5 quando passei ao L. Casal

encontrava-se o banco em frente da S. Instrução partido de recente. Foi

99 Homossexuais

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ferroviárias no ministério do comércio em conferência com o ministro etc.

Comprei de sociedade com a minha mana Ermelinda duas cautelas ao

menino Virtuoso com os números 4500 e 3998 foi pelas 10,50. Fez um dia

lindo estando nuvens poucas pelo céu e a noite regular. Continua a falta de

pão no Barreiro. Deu a sorte grande o Agostinho barbeiro na Rua Aguiar nº

256 no número… saindo a muitas pessoas entre elas o namorado da

cunhada do J. S. Parra e o filho do Manuel Caracol. Pelas 17h56 dei uma

fotografia minha ao Carlos Diogo que tinha no bilhete dos CFSS de 75%

disse ele é para por num quadro as fotografias da rapaziada amiga. Falei

com a M.G.M. Escrevi uma carta que o Eugénio pediu-me para entregar à

Ana Jesus filha do Vergante. Declarou-se em greve as oficinas de alfaiates

queriam 12 escudos diários. Fui mais o Eugénio do L. Casal ao Lá-vai chamar

o Custódio e resolvemos e fomos ir para a esplanada eu foi a primeira vez

que entrei chamamos o Luiz M. para parceiro momentos depois entra na

esplanada do T. Cine o M. Ramalhete e José Paulino jogamos à bisca eu era

mais o A. Luiz, Eugénio, perdemos e eles fizeram 7 bolas a despesa paguei

eu 80 cêntimos tínhamos entrado às 19h50 saímos às 23h5.

22/10/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez um dia regular. Fui no

C. 19 às 21h5 na c. 86 e regressei a Barreiro no C. 18 na c. 75 às 22h15 a

Pinhal Novo mais o Luiz. Falei com a M.G.M. 1920. Continuação da greve.

Chegou novos manifestos do Comité. Fez uma manhã linda até às 10h

depois começou a nublar-se. Veio para o Barreiro pão com o nome Sidónio

está nos Paços Concelho sendo vendido e lá fez-se uma grande bicha

havendo incidentes insignificantes. A noite nublada. Em avião andou entre

o céu e o Atlântico a 1500km de Lisboa a Madeira o jornal fez entrega dos

2000 escudos ao capitão B. Pais e tenente Beiras oferecido ao J. Notícias

pelo Sr. Carlos Bleick perdendo o aparelho nome Breguet sendo salvos os

ditos aviadores por um barco inglez andando algumas notas de cem

escudos com o carimbo da passagem da travessia e o nome dos aviadores.

Falei com a M.G.M. Falei com alguns manos do Grupo dos 11 que se devia

fazer no baile do próximo mez Dezembro no dia 25 ficou aprovado algumas

coisas entre Artur, Marinho, Daciano, Borralho, etc. Fui até à esplanada do

T. Cine sendo a 2ª vez mais uma claque joguei à bisca de parceria com o

Eugénio, Artur, contra Ramalhete, Soeiro, Eduardo E. Santo, despeza de 60

centimos retirei mais Eugénio. Pelas 22h e tal avariou a Central Eléctrica

dos CFSS só deu luz às 23h35.

do T. Paço partiu o vapor à 1h para o Barreiro. O meu mano foi mais o

Amorim e mulher ver a revista “Aqui d'el Rei” no Éden. 1920 Continuação

da greve o Governo na mesma atitude. Foi nomeado o Sr. Dr. Lambertini

Pinto novo ministro de Portugal para Berlim. Todo o dia esteve nublado.

Puseram ao serviço o vapor Algarve com marinheiros etc. da Armada

encalhou o rebocador T. Trigueiros. Como a claque estivesse triste eu disse

vamos para a praia jogar ao canivete foi logo aceite era Eugénio da Silva,

Custódio F., J. S. Borralho, Artur S. apareceu o J. Venâncio queria jogar e nós

explicamos como era não quis perdemos assim distribuídos eu 3 vezes, o J.

S. Borralho uma vez. Passou pelas 17h50 perto de nós os rotos Esperança e

Rapouso e outro para o lado do Mexilhoeiro e eles com adeus e nós

respondíamos igualmente por fim levantamos e fomos pela praia

brincando e as filhas do Imitério fartaram-se de rir à porta do quintal eu,

Artur S., Eugénio voltamos para trás fomos para o Largo Casal encontrámos

uma saia velha e embrulhamos a um jornal e deu o Artur S. e limpamos as

botas com os empurrões, etc. apareceu o J. S. Borralho dizendo o Rapouso

disse que toda a claque que estava na praia aparecesse no Largo Casal no

dia 21 às 21h. Aleijou na mão direita Manuel da Costa. Pelas 20h5 na Soc.

Instrução principiamos a jogar ao Jogo da Glória era eu, J. S. Borralho, Artur,

Eugénio, Custódio e outra claque do dominó.

20/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Terminou a

sociedade das carroças do José Pedro da Costa. 1920 Continua a greve e

alguns vapores que andavam ao serviço do Barreiro para Lisboa era os

seguintes o Vitória, e T. Trigueiros dos CFSS e Europa e Fantasma ou Atália.

Correu o boato que o governo já dava 60$00 e tinha dado ordem para

retirar as tropas. Esteve todo o dia nublado e chovendo acompanhado de

vento Oeste mas pouco. A noite nublada e chovendo. Há falta de pão no

Barreiro. Deu à luz uma menina a mulher do Guilherme Vasconcelos. Falei

com a M.G.M.

21/10/920 Fez um ano que estive de folga. Pelas 15h estive no Largo

Casal mais o Jorge Soares, Carlos Diogo e Manuel Martins no banco em

frente da Leitaria do Alves se conversa sobre a situação. Falei com a M.G.M.

Fui a Pinhal Novo mais o Luiz M. F. às 21h no c. 19 na c. 86 e regressamos a

Barreiro às 22h no c. 18 na c. 74. 1920. Continuação da greve. Veio no jornal

que em Coimbra um militar ficou entre os pára-choques e faleceu dizendo-

se ser filho do Barreiro. Ás 14h22 encontrava-se as três comissões

166 167

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ferroviárias no ministério do comércio em conferência com o ministro etc.

Comprei de sociedade com a minha mana Ermelinda duas cautelas ao

menino Virtuoso com os números 4500 e 3998 foi pelas 10,50. Fez um dia

lindo estando nuvens poucas pelo céu e a noite regular. Continua a falta de

pão no Barreiro. Deu a sorte grande o Agostinho barbeiro na Rua Aguiar nº

256 no número… saindo a muitas pessoas entre elas o namorado da

cunhada do J. S. Parra e o filho do Manuel Caracol. Pelas 17h56 dei uma

fotografia minha ao Carlos Diogo que tinha no bilhete dos CFSS de 75%

disse ele é para por num quadro as fotografias da rapaziada amiga. Falei

com a M.G.M. Escrevi uma carta que o Eugénio pediu-me para entregar à

Ana Jesus filha do Vergante. Declarou-se em greve as oficinas de alfaiates

queriam 12 escudos diários. Fui mais o Eugénio do L. Casal ao Lá-vai chamar

o Custódio e resolvemos e fomos ir para a esplanada eu foi a primeira vez

que entrei chamamos o Luiz M. para parceiro momentos depois entra na

esplanada do T. Cine o M. Ramalhete e José Paulino jogamos à bisca eu era

mais o A. Luiz, Eugénio, perdemos e eles fizeram 7 bolas a despesa paguei

eu 80 cêntimos tínhamos entrado às 19h50 saímos às 23h5.

22/10/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez um dia regular. Fui no

C. 19 às 21h5 na c. 86 e regressei a Barreiro no C. 18 na c. 75 às 22h15 a

Pinhal Novo mais o Luiz. Falei com a M.G.M. 1920. Continuação da greve.

Chegou novos manifestos do Comité. Fez uma manhã linda até às 10h

depois começou a nublar-se. Veio para o Barreiro pão com o nome Sidónio

está nos Paços Concelho sendo vendido e lá fez-se uma grande bicha

havendo incidentes insignificantes. A noite nublada. Em avião andou entre

o céu e o Atlântico a 1500km de Lisboa a Madeira o jornal fez entrega dos

2000 escudos ao capitão B. Pais e tenente Beiras oferecido ao J. Notícias

pelo Sr. Carlos Bleick perdendo o aparelho nome Breguet sendo salvos os

ditos aviadores por um barco inglez andando algumas notas de cem

escudos com o carimbo da passagem da travessia e o nome dos aviadores.

Falei com a M.G.M. Falei com alguns manos do Grupo dos 11 que se devia

fazer no baile do próximo mez Dezembro no dia 25 ficou aprovado algumas

coisas entre Artur, Marinho, Daciano, Borralho, etc. Fui até à esplanada do

T. Cine sendo a 2ª vez mais uma claque joguei à bisca de parceria com o

Eugénio, Artur, contra Ramalhete, Soeiro, Eduardo E. Santo, despeza de 60

centimos retirei mais Eugénio. Pelas 22h e tal avariou a Central Eléctrica

dos CFSS só deu luz às 23h35.

do T. Paço partiu o vapor à 1h para o Barreiro. O meu mano foi mais o

Amorim e mulher ver a revista “Aqui d'el Rei” no Éden. 1920 Continuação

da greve o Governo na mesma atitude. Foi nomeado o Sr. Dr. Lambertini

Pinto novo ministro de Portugal para Berlim. Todo o dia esteve nublado.

Puseram ao serviço o vapor Algarve com marinheiros etc. da Armada

encalhou o rebocador T. Trigueiros. Como a claque estivesse triste eu disse

vamos para a praia jogar ao canivete foi logo aceite era Eugénio da Silva,

Custódio F., J. S. Borralho, Artur S. apareceu o J. Venâncio queria jogar e nós

explicamos como era não quis perdemos assim distribuídos eu 3 vezes, o J.

S. Borralho uma vez. Passou pelas 17h50 perto de nós os rotos Esperança e

Rapouso e outro para o lado do Mexilhoeiro e eles com adeus e nós

respondíamos igualmente por fim levantamos e fomos pela praia

brincando e as filhas do Imitério fartaram-se de rir à porta do quintal eu,

Artur S., Eugénio voltamos para trás fomos para o Largo Casal encontrámos

uma saia velha e embrulhamos a um jornal e deu o Artur S. e limpamos as

botas com os empurrões, etc. apareceu o J. S. Borralho dizendo o Rapouso

disse que toda a claque que estava na praia aparecesse no Largo Casal no

dia 21 às 21h. Aleijou na mão direita Manuel da Costa. Pelas 20h5 na Soc.

Instrução principiamos a jogar ao Jogo da Glória era eu, J. S. Borralho, Artur,

Eugénio, Custódio e outra claque do dominó.

20/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Terminou a

sociedade das carroças do José Pedro da Costa. 1920 Continua a greve e

alguns vapores que andavam ao serviço do Barreiro para Lisboa era os

seguintes o Vitória, e T. Trigueiros dos CFSS e Europa e Fantasma ou Atália.

Correu o boato que o governo já dava 60$00 e tinha dado ordem para

retirar as tropas. Esteve todo o dia nublado e chovendo acompanhado de

vento Oeste mas pouco. A noite nublada e chovendo. Há falta de pão no

Barreiro. Deu à luz uma menina a mulher do Guilherme Vasconcelos. Falei

com a M.G.M.

21/10/920 Fez um ano que estive de folga. Pelas 15h estive no Largo

Casal mais o Jorge Soares, Carlos Diogo e Manuel Martins no banco em

frente da Leitaria do Alves se conversa sobre a situação. Falei com a M.G.M.

Fui a Pinhal Novo mais o Luiz M. F. às 21h no c. 19 na c. 86 e regressamos a

Barreiro às 22h no c. 18 na c. 74. 1920. Continuação da greve. Veio no jornal

que em Coimbra um militar ficou entre os pára-choques e faleceu dizendo-

se ser filho do Barreiro. Ás 14h22 encontrava-se as três comissões

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encontram-se na doca dos CFSS. Esteve a manhã linda até às 10h20 depois

nublou-se a noite linda de luar fazendo muito frio. Continua grande falta de

géneros de 1ª necessidade principalmente o pão havendo grande bicha

nos Paços Concelho aonde se vendia pão de nome Sidónio. Falei com a

M.G.M. Faleceu o Lord Mayor de Cork pelas 10h30 há já 73 dias em greve

de fome.

26/10/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite [em] Faro.

Fui ao mercado às 7h20 encontrava em passeio mo Gaspar estofador este

trouxe-me comer do Barreiro andei com ele a contratar de uma casa para

eu ir comer fomos a um estabelecimento nome Carvalho a uma esquina

depois à Mariazinha em frente da estação tratei com esta. Houve vários

prejuízos o C. 6 com a cauda do C. 1001. Fez um lindo dia. No Barreiro o meu

mano pôs comer para mim ao C. 9. 1920 Continuação da greve. Estiveram

uma demorada conferência com o ministro do comércio as Comissões de

melhoramentos do SS. Pelas 11h e às 17h a da CP não ficando nada

resolvido. Seguiu para o Alentejo 12 camiões carregados de sacaria de

adubos da Comp. União Fabril. Chegaram 240 sacos de farinha para ser

distribuídos pelos padeiros sendo só para dois dias. Fez um dia lindo

estando pouco astros pelo céu a noite regular principiando a nublar-se

pelas 23h35. Foram postos em liberdade os presos da noite passada a

bordo de embarcações efectuadas pela GNR. Fui para a vila às 15h22. Estive

na praia a ver o catraio do Mariano com carregamento de peros para o José

Cambra passados momentos apareceu o Artur foi passear este comprou

meio kilo de peros estivemos no Barrio Operário atravessamos a linha

férrea encontrando muitos ferroviários pelo campo uns à caça e outros em

trabalhos veio ter com nós o José Luiz andava à caça já trazia cinco pássaros

pequenos o Artur pediu-lhe que ele atirasse um tiro fazendo a vontade

atirando a uma calhandra nunca a feriu retirou e foi pela Cordoaria do

Nicola e eu mais o Artur viemos pela Vila Braz etc. chegamos ao L. Casal às

18h20 e às 18h55 foi corrido pelos grevistas o amarelo escriturário Guerra,

vindo alguns sobre ele pela Rua Eusébio Leão e pelas 19h20 foi também o

amarelo José d'Almeida o “Rato Cego”, chefe de Secção e às 19h25

chegaram novos manifestos do Comité. Já eram de dias anteriores

atrasados. Ás 20h50 atiraram da janela do Alfredo Figueiras uma carta com

os dizeres “Viva os Ferroviários”, encontrando-se na dita janela as filhas do

Monteiro e M. Figueiras e Hermínio Garcias sendo as testemunhas que viu

eu ir buscar a dita foi o António Ribeiro e o mano Sebastião G. Ás 21h25 foi

23/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fui chamado ao

escritório do Material Circulante pelas 16h40 o Inspector José da Luz deu

ordem para seguir amanhã no C. 9 para Faro. A minha mana Rita foi a casa

da M.G.M. 1920 Continua a greve dos CFSS na mesma atitude vindo em

todos os jornais com a notícia o serviço encontra-se normalizado dos ditos

CFSS, notas do Governo. O meu cunhado Manuel Alves recebeu um postal

do Lúcio Monteiro soldado nº 434 da 3ª Compª. Ponteneise [?] encontrava-

se preso em Tancos. Todo o dia nublado pingando por várias vezes e

principiou a chover às 16h e tal. Fui para a vila regressando à 1h por motivo

da chuva foi torrencialmente . Aliviou o tempo às 0h15. Foi em serviço a

Setúbal o mano o Artur S.

24/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. 1920. Continuação da greve. Às

12h30 chegou a Banda de S. dos CFSS. Fez um dia lindo, estando pelo céu

algumas nuvens pelo céu [sic]. Linda noite de luar. Andei a passear pela vila

mais Borralho, Eugénio. No L. Casal junto ao kiosque estava de conversa

com outros fulanos neste momento soube pelo António Ribeiro que a

bandeira do T. República foi feita pelo Abelardo pela quantia de 57$00.

Encontravam-se no Barreiro os rotos Rapouso, Esperança, etc.

acompanhados por rapaziada nova. Veio para a S. Instrução um

estrumento novo de nome [espaço em branco] sendo para o filarmónico

Serafim custou a quantia de 110$00. O meu pai caiu de cama pelas 18h40,

Fui pela primeira ao Teatro República ver a fita “A menina do sinal” à 2ª

sessão mais o Eduardo nº 58, 60 em 3 partes e o “Charlot ao sol” em 3

partes. O Artur vai amanhã em serviço do mano a Setúbal. Faleceu o rei da

Grécia.

25/10/920 Fez 1 ano que cheguei no C. 9 na c. 85 a Faro entrei logo em

serviço pelas 11h e tal. Fez um dia lindo vento Norte pouco. Fiquei em Faro

a render Rodrigo Coelho Belezinho sendo o revisor António de Almeida.

Soube ontem que no Barreiro houve reunião dos ferroviários para tratar

dum novo aumento salário. 1920 Continua a greve. Todo o dia andou pela

vila bastantes camiões em transporte de cargas de passageiros de várias

partes do Alentejo e outros na reparação de estradas. Correu o boato de

ficar hoje a situação dos ferroviários dos C. Ferro Estado resolvida. Pelas

23h houve descargas da estação dos CFSS pela GNR sobre umas

embarcações as ditas passaram sendo 6 indivíduos entre eles João Painço

168 169

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encontram-se na doca dos CFSS. Esteve a manhã linda até às 10h20 depois

nublou-se a noite linda de luar fazendo muito frio. Continua grande falta de

géneros de 1ª necessidade principalmente o pão havendo grande bicha

nos Paços Concelho aonde se vendia pão de nome Sidónio. Falei com a

M.G.M. Faleceu o Lord Mayor de Cork pelas 10h30 há já 73 dias em greve

de fome.

26/10/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite [em] Faro.

Fui ao mercado às 7h20 encontrava em passeio mo Gaspar estofador este

trouxe-me comer do Barreiro andei com ele a contratar de uma casa para

eu ir comer fomos a um estabelecimento nome Carvalho a uma esquina

depois à Mariazinha em frente da estação tratei com esta. Houve vários

prejuízos o C. 6 com a cauda do C. 1001. Fez um lindo dia. No Barreiro o meu

mano pôs comer para mim ao C. 9. 1920 Continuação da greve. Estiveram

uma demorada conferência com o ministro do comércio as Comissões de

melhoramentos do SS. Pelas 11h e às 17h a da CP não ficando nada

resolvido. Seguiu para o Alentejo 12 camiões carregados de sacaria de

adubos da Comp. União Fabril. Chegaram 240 sacos de farinha para ser

distribuídos pelos padeiros sendo só para dois dias. Fez um dia lindo

estando pouco astros pelo céu a noite regular principiando a nublar-se

pelas 23h35. Foram postos em liberdade os presos da noite passada a

bordo de embarcações efectuadas pela GNR. Fui para a vila às 15h22. Estive

na praia a ver o catraio do Mariano com carregamento de peros para o José

Cambra passados momentos apareceu o Artur foi passear este comprou

meio kilo de peros estivemos no Barrio Operário atravessamos a linha

férrea encontrando muitos ferroviários pelo campo uns à caça e outros em

trabalhos veio ter com nós o José Luiz andava à caça já trazia cinco pássaros

pequenos o Artur pediu-lhe que ele atirasse um tiro fazendo a vontade

atirando a uma calhandra nunca a feriu retirou e foi pela Cordoaria do

Nicola e eu mais o Artur viemos pela Vila Braz etc. chegamos ao L. Casal às

18h20 e às 18h55 foi corrido pelos grevistas o amarelo escriturário Guerra,

vindo alguns sobre ele pela Rua Eusébio Leão e pelas 19h20 foi também o

amarelo José d'Almeida o “Rato Cego”, chefe de Secção e às 19h25

chegaram novos manifestos do Comité. Já eram de dias anteriores

atrasados. Ás 20h50 atiraram da janela do Alfredo Figueiras uma carta com

os dizeres “Viva os Ferroviários”, encontrando-se na dita janela as filhas do

Monteiro e M. Figueiras e Hermínio Garcias sendo as testemunhas que viu

eu ir buscar a dita foi o António Ribeiro e o mano Sebastião G. Ás 21h25 foi

23/10/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fui chamado ao

escritório do Material Circulante pelas 16h40 o Inspector José da Luz deu

ordem para seguir amanhã no C. 9 para Faro. A minha mana Rita foi a casa

da M.G.M. 1920 Continua a greve dos CFSS na mesma atitude vindo em

todos os jornais com a notícia o serviço encontra-se normalizado dos ditos

CFSS, notas do Governo. O meu cunhado Manuel Alves recebeu um postal

do Lúcio Monteiro soldado nº 434 da 3ª Compª. Ponteneise [?] encontrava-

se preso em Tancos. Todo o dia nublado pingando por várias vezes e

principiou a chover às 16h e tal. Fui para a vila regressando à 1h por motivo

da chuva foi torrencialmente . Aliviou o tempo às 0h15. Foi em serviço a

Setúbal o mano o Artur S.

24/10/920 Fez 1 ano que estive de folga. 1920. Continuação da greve. Às

12h30 chegou a Banda de S. dos CFSS. Fez um dia lindo, estando pelo céu

algumas nuvens pelo céu [sic]. Linda noite de luar. Andei a passear pela vila

mais Borralho, Eugénio. No L. Casal junto ao kiosque estava de conversa

com outros fulanos neste momento soube pelo António Ribeiro que a

bandeira do T. República foi feita pelo Abelardo pela quantia de 57$00.

Encontravam-se no Barreiro os rotos Rapouso, Esperança, etc.

acompanhados por rapaziada nova. Veio para a S. Instrução um

estrumento novo de nome [espaço em branco] sendo para o filarmónico

Serafim custou a quantia de 110$00. O meu pai caiu de cama pelas 18h40,

Fui pela primeira ao Teatro República ver a fita “A menina do sinal” à 2ª

sessão mais o Eduardo nº 58, 60 em 3 partes e o “Charlot ao sol” em 3

partes. O Artur vai amanhã em serviço do mano a Setúbal. Faleceu o rei da

Grécia.

25/10/920 Fez 1 ano que cheguei no C. 9 na c. 85 a Faro entrei logo em

serviço pelas 11h e tal. Fez um dia lindo vento Norte pouco. Fiquei em Faro

a render Rodrigo Coelho Belezinho sendo o revisor António de Almeida.

Soube ontem que no Barreiro houve reunião dos ferroviários para tratar

dum novo aumento salário. 1920 Continua a greve. Todo o dia andou pela

vila bastantes camiões em transporte de cargas de passageiros de várias

partes do Alentejo e outros na reparação de estradas. Correu o boato de

ficar hoje a situação dos ferroviários dos C. Ferro Estado resolvida. Pelas

23h houve descargas da estação dos CFSS pela GNR sobre umas

embarcações as ditas passaram sendo 6 indivíduos entre eles João Painço

168 169

Page 170: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

ao pão e carvão uma bicha em Lisboa houve toques de violino e viola sendo

baile etc. de manhã a padeira abrir teve que intervir as autoridades. Ficou

constituído o pessoal do comboio que conduziria o rei da Bélgica por

combatentes do CEP condecorados com a Cruz de Guerra e T. Espada e

medalhas estrangeiras são os seguintes sargentos Sr. Lagarto e Álvaro,

cabos José Gomes, M. Mendes, Francisco da Silva, F. dos Santos, Adelino

Alves, João Veríssimo, Manuel Lopes, e M. Antunes e soldados António

Tavares todos pertencentes ao BSCF. Notícias recebidas ontem soube-se

que o S. Paulo a bordo do qual viajavam como temos dito os soberanos

Belgas encontra-se em Dakar os oficiais que ficaram às ordens de S. M. el rei

da Bélgica e são capitão de mar-e-guerra Sarmento de Saavedra e coronel

do Estado Maior Fernando Freire. Os gatunos arrombaram um dos salões

do comboio presidencial que estava recolhido no hangar de Cruz da Pedra

comboio aonde o rei dos belgas deve seguir para França sendo o roubo de

talheres de prata e outros objectos de importância foi encarregado o

agente Custódio das Dores da investigação descobrir os gatunos.

30/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 17h30 em Faro. Seguiu no c.

297 na c. 59 às 18h e tal para V.R.S. António render o revisor de 2ª Francisco

Pedro dos S.. fez um dia lindo. Fui comer à Mariazinha. Escrevi dois postais

para o Barreiro um para M.G.M. e outro ao meu mano e uma carta a minha

mana Ermelinda. 1920 Continuação da greve. Esteve nevoeiro até às 11h40 100na mesma hora andavam na cale do Garrelon a pescar à chincha J. José,

Ângelo Santareno, João Ferreira. Às 13h tocou a buzina da Fábrica Herold a

fogo sendo o dito num batelão que se encontra há dias junto à muralha do

lado do Sul dos CFSS sendo uma experiência ver se aproximavam alguns

ferroviários foram presos depois postos em liberdade, Domingos da Costa,

Duarte, Mateus e outros, todos ferroviários embarcavam para Lisboa.

Correu o boato que a ponte de Faro tinha ido pelos ares, que a notícia

encontrava-se na sucursal do “Século”. Há dias veio nos jornais que os

ferroviários grevistas tinham tirado os carris ao Km 263,650, perto de

Ourique. Fez um dia e peras pelas 13h25 parecendo depois nuvens pelo

céu. Fui para a vila às 15h35 levei 8 tábuas de caixote de sabão ao Artur que

me pediu há dias por tal sinal não estava em casa recebeu a mana a mãe

tentou pôr as ditas tábuas no fogareiro etc. Fui até ao barbeiro Ventura

depois passear pela praia falei com M. Macedo meu compadre Júlio Colica,

corrida por uma claque de ferroviários o sobrinho do J. d'Almeida “Rato

Cego”. Por fim até perdeu a fala eu e outros mandámos embora para casa

depois de bastantes pedidos foi o João Firmino que o levou para casa

passados momentos apareceu o ca[r]cereiro e pôs um edital na esquina do

prédio do José Augusto no L. Casal com os dizeres que a partir de amanhã

passará o pão a 54 cêntimos depois de 8 dias sem pão. Neste momento

chegou da esplanada do T. Cine a claque que era Eugénio, Carlos Garcias, A.

Sobral, Borralho, Eduardo, Custódio, etc. Começaram a chamar na

esplanada amarelo ao escriturário Padeiro e outros estando presentes o

administrador Sr. França . Sendo o dito edital no L. Casal tirado pelo Eugénio

não chegou a 3 minutos estar na parede estivemos a contar anedotas até às

23h40.

27/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço em

Faro. Chegou no C. 9 José M. Elvira trouxe-me comida e roupa para mim.

Fez um dia lindo. Fui comer a casa da Mariazinha depois fui passear à

cidade à noite. 1920 Cortadas as relações entre o Governo e o Comité,

depois de grande conferência. Pelas 29h45 passaram pelo Largo Casal 2

indivíduos a vender sardinha fresca. Meteram-se pelo beco do J. Formiga,

correndo o boato que eram ferroviários disfarçados.

28/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço em

Faro. Chegou no Cª 203 o meu primo António Ferreira. Fez um dia lindo. Fui

comer à Mariasinha [sic]. Foram a Barreiro António de Almeida revisor e o

José Martins R. de circunscrição. 1920 Continuação da greve na mesma

atitude. Fez um dia variável e a noite linda de luar mas nublada. Fui à vila as

18h fui jogar à bisca para a S. Instrução às 19h40 mais Vitorino Aurélio, J.S.

Borralho meus parceiros contra J. Aurélio, Custódio F., Eugénio d' Silva

ganhamos duas bolas a eles. Falei com a M.G.M. encontra-se doente com

uma dor.

29/10/920 Foram avisados a maioria dos ferroviários que se realizava

pelas 18h reunião no campo, nos lados da Paiva. Mais tarde ordem que a

dita reunião ficou sem efeito. Espera-se à noite ou amanhã novos

manifestos. Fez um dia regular e ainda choveu. Ao fim da tarde limpou pôs-

se uma noite linda de luar. Faleceu a mulher do enfermeiro Mário dos CFSS.

Chegou ao Barreiro mais 200 e tal sacas de farinha continuando as bichas 100 Pesca artesanal com rede de arrasto.

170 171

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ao pão e carvão uma bicha em Lisboa houve toques de violino e viola sendo

baile etc. de manhã a padeira abrir teve que intervir as autoridades. Ficou

constituído o pessoal do comboio que conduziria o rei da Bélgica por

combatentes do CEP condecorados com a Cruz de Guerra e T. Espada e

medalhas estrangeiras são os seguintes sargentos Sr. Lagarto e Álvaro,

cabos José Gomes, M. Mendes, Francisco da Silva, F. dos Santos, Adelino

Alves, João Veríssimo, Manuel Lopes, e M. Antunes e soldados António

Tavares todos pertencentes ao BSCF. Notícias recebidas ontem soube-se

que o S. Paulo a bordo do qual viajavam como temos dito os soberanos

Belgas encontra-se em Dakar os oficiais que ficaram às ordens de S. M. el rei

da Bélgica e são capitão de mar-e-guerra Sarmento de Saavedra e coronel

do Estado Maior Fernando Freire. Os gatunos arrombaram um dos salões

do comboio presidencial que estava recolhido no hangar de Cruz da Pedra

comboio aonde o rei dos belgas deve seguir para França sendo o roubo de

talheres de prata e outros objectos de importância foi encarregado o

agente Custódio das Dores da investigação descobrir os gatunos.

30/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 17h30 em Faro. Seguiu no c.

297 na c. 59 às 18h e tal para V.R.S. António render o revisor de 2ª Francisco

Pedro dos S.. fez um dia lindo. Fui comer à Mariazinha. Escrevi dois postais

para o Barreiro um para M.G.M. e outro ao meu mano e uma carta a minha

mana Ermelinda. 1920 Continuação da greve. Esteve nevoeiro até às 11h40 100na mesma hora andavam na cale do Garrelon a pescar à chincha J. José,

Ângelo Santareno, João Ferreira. Às 13h tocou a buzina da Fábrica Herold a

fogo sendo o dito num batelão que se encontra há dias junto à muralha do

lado do Sul dos CFSS sendo uma experiência ver se aproximavam alguns

ferroviários foram presos depois postos em liberdade, Domingos da Costa,

Duarte, Mateus e outros, todos ferroviários embarcavam para Lisboa.

Correu o boato que a ponte de Faro tinha ido pelos ares, que a notícia

encontrava-se na sucursal do “Século”. Há dias veio nos jornais que os

ferroviários grevistas tinham tirado os carris ao Km 263,650, perto de

Ourique. Fez um dia e peras pelas 13h25 parecendo depois nuvens pelo

céu. Fui para a vila às 15h35 levei 8 tábuas de caixote de sabão ao Artur que

me pediu há dias por tal sinal não estava em casa recebeu a mana a mãe

tentou pôr as ditas tábuas no fogareiro etc. Fui até ao barbeiro Ventura

depois passear pela praia falei com M. Macedo meu compadre Júlio Colica,

corrida por uma claque de ferroviários o sobrinho do J. d'Almeida “Rato

Cego”. Por fim até perdeu a fala eu e outros mandámos embora para casa

depois de bastantes pedidos foi o João Firmino que o levou para casa

passados momentos apareceu o ca[r]cereiro e pôs um edital na esquina do

prédio do José Augusto no L. Casal com os dizeres que a partir de amanhã

passará o pão a 54 cêntimos depois de 8 dias sem pão. Neste momento

chegou da esplanada do T. Cine a claque que era Eugénio, Carlos Garcias, A.

Sobral, Borralho, Eduardo, Custódio, etc. Começaram a chamar na

esplanada amarelo ao escriturário Padeiro e outros estando presentes o

administrador Sr. França . Sendo o dito edital no L. Casal tirado pelo Eugénio

não chegou a 3 minutos estar na parede estivemos a contar anedotas até às

23h40.

27/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço em

Faro. Chegou no C. 9 José M. Elvira trouxe-me comida e roupa para mim.

Fez um dia lindo. Fui comer a casa da Mariazinha depois fui passear à

cidade à noite. 1920 Cortadas as relações entre o Governo e o Comité,

depois de grande conferência. Pelas 29h45 passaram pelo Largo Casal 2

indivíduos a vender sardinha fresca. Meteram-se pelo beco do J. Formiga,

correndo o boato que eram ferroviários disfarçados.

28/10/920 Fez 1 ano trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço em

Faro. Chegou no Cª 203 o meu primo António Ferreira. Fez um dia lindo. Fui

comer à Mariasinha [sic]. Foram a Barreiro António de Almeida revisor e o

José Martins R. de circunscrição. 1920 Continuação da greve na mesma

atitude. Fez um dia variável e a noite linda de luar mas nublada. Fui à vila as

18h fui jogar à bisca para a S. Instrução às 19h40 mais Vitorino Aurélio, J.S.

Borralho meus parceiros contra J. Aurélio, Custódio F., Eugénio d' Silva

ganhamos duas bolas a eles. Falei com a M.G.M. encontra-se doente com

uma dor.

29/10/920 Foram avisados a maioria dos ferroviários que se realizava

pelas 18h reunião no campo, nos lados da Paiva. Mais tarde ordem que a

dita reunião ficou sem efeito. Espera-se à noite ou amanhã novos

manifestos. Fez um dia regular e ainda choveu. Ao fim da tarde limpou pôs-

se uma noite linda de luar. Faleceu a mulher do enfermeiro Mário dos CFSS.

Chegou ao Barreiro mais 200 e tal sacas de farinha continuando as bichas 100 Pesca artesanal com rede de arrasto.

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Tancos encontrava-se 6 ferroviários ao serviço na última estação e chefe

Vitorino, em Faro o Saias, Beja o Borralho e outros e o Almeida etc. Depois

falou o Chefe do Escoural, o Carvalho, sobre alguns assuntos da greve e

depois sobre um assunto que ele tinha passado com outro ferroviário que

andava em serviço de freios andaram perseguidos pela GNR, vinham a pé

em Poceirão tiveram que negar que eram ferroviários. Em seguida falou o

revisor J. Ferreira sobre muitos assuntos ferroviários e dizendo o melhor

era as violências, já não há outro meio a fazer depois disse que há dias por

não ter que comer cozi uns caranguejos depois falou o filho do José Bicho

inspector da Rotunda o José aprendiz electricista dizendo que o amarelo

Eduardo Patacas inspector da Central Eléctrica que antes de rebentar a

greve disse e o que fez depois falaram mais camaradas entre eles um da

construção falando por último J. A. Piloto sobre o nosso assunto antes disse

nós nem que viessem forças para nos prender não retirava ninguém do

lugar que estamos sendo aprovado por todos presentes dizendo também

camaradas não tomai o trabalho sem ver a vitória final senão ficamos

desgraçados. Também falou sobre os 100 contos que o governo vai fazer de

despesa com os reis da Bélgica que brevemente chegarão a Lisboa e dos

300 contos para a ordem pública que foram aprovados sem discussão e

para nós trabalhadores que produzimos não há verba e não se aprova etc.

Sobre os amarelos e do BSCF e o roubo nas Oficinas dos CFSS de 400ks de

metal branco e sobre os camaradas a pedir o dinheiro à classe façam o

menos possível etc. o dinheiro em caixa é pouco empregar as violências

não ter dó dos passageiros que eles não têm dó dos nossos filhos e dos

ferroviários estarem a morrer de fome é o melhor que o pessoal da estação

sair das suas casas por motivo do Sr. António Granjo condenou o vagão

fantasma e está pronto a mandá-lo fazer. E condenou os ferroviários que

frequentam tabernas e teatros, dando vivas aos ferroviários do SS, CP, MD e

ao Comité respondendo os camaradas com vivas ao Miguel Correia A.J.

Piloto disse no final não haja receios alguns é olhar para a frente e não para

trás. Terminou a reunião às 19h50. Destroçaram uns para um lado outros

para diversas partes vim só era escuro em direcção à estrada mas a noite

estava linda ainda veio um cão atrás de mim ouvi falas de pessoas

conhecidas saltei o valado caindo na estrada aonde vinham muitos

ferroviários ao chegar à quinta dos Arcos saltou os ditos fulanos que os ouvi

a falar sendo J. Venâncio, Júlio Lagarticha, João Catalão etc. vinha a

caminho do Barreiro pela estrada tudo em grupos cheguei à S. Instrução, J.

Alcurraz e J. Cordeiro em grande discussão por motivo do António Correia

Jorge Pessoa e outros fui andando fiquei em frente do talho do António Luiz

com os ferroviários maquinista Mendonça e outros momentos depois

passou o meu compadre J. Colica e o Josué. Fomos a caminho do campo ao

sítio combinado para a reunião às 15h50 passamos ao Barreiro T.

Encontrava-se preste a sair um comboio de mercadorias passando depois

de nós passar a máquina 203 para o dito. Fomos até ao Pinhal do Brenha

mas como não víssemos nenhum camarada fomos para a estrada,

encontravam-se alguns a primeira vedeta era no cruzamento das estradas

ao D. Brandão era o António Penim vimos andar de bicicletes Luiz Fonseca,

a 2ª vedeta na quinta dos Arcos José Oliveira, o J. Colica e Josué seguiram

com umas raparigas da fábrica Herold eram de Santo António, a 3ª vedeta o

fogueiro de guindastes Manuel Joaquim, a 4ª vedeta guarda das Oficinas o

Salvador, a 5ª vedeta ignorei o nome a seguir o local tinha aparência de

campo entrincheirado uns brincando e outros a jogar às uvas entre eles o

Artur, Soeiro, Rebelo, Eduardo e outros ajuntaram-se perto de 800

ferroviários depois ordem reunir, sendo chamados os que se encontravam

pelo pinhal mudamos para junto de um valado perto de uma cova disse A.

Piloto esperasse mais uns minutos para ver se chegam mais alguns

camaradas etc. Aberta a sessão a maioria dos ferroviários assentaram-se

no chão neste momento por brincadeira puseram-se a jogar à bisca A.

Macau, Ferras Fernandes e Alves e outros. Silêncio o Presidente da reunião

o A. J. Piloto o primeiro a falar foi o Custódio Boa-vida falando sobre o

estado da greve actual etc. Também falou o chefe dos maquinistas Horta

falou sobre o pessoal de tracção principalmente de maquinistas etc.,

depois o José Leal maquinista falando sobre uns dos últimos decretos do

governo do Sr. António Granjo que se dividia em 3 quadros efectivos até

falou o J. da Cruz Cebola dizendo é agora o principio da greve por violências

alto e bom som. Também falou o militar do BSCF Luiz Monteiro disse sobre

o mesmo caso do Cebola isto aqui só por meio de violências que andar a

pedir aos ministros por esmola de ministério para ministério de dia para dia

que não dá resultado e ele disse que na greve de Novembro há 2 anos tinha

queimado a caldeira da máquina 14 e era militar se os ferroviários que se

encontram no BSCF não fizerem é por gostarem de galões e outros por

conveniências dizendo o melhor era já formar uma comissão para se tratar

das violências e actos de sabotagem ofereceu-se uns três entregou uma

proposta ao presidente mas não chegou a ler não sabendo os motivos a

seguir falou o chefe de estação J. Fernandes Júnior sobre a venda da linha

está fazer 9 horas que tinha chegado do Algarve de V.R.S. António até

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Tancos encontrava-se 6 ferroviários ao serviço na última estação e chefe

Vitorino, em Faro o Saias, Beja o Borralho e outros e o Almeida etc. Depois

falou o Chefe do Escoural, o Carvalho, sobre alguns assuntos da greve e

depois sobre um assunto que ele tinha passado com outro ferroviário que

andava em serviço de freios andaram perseguidos pela GNR, vinham a pé

em Poceirão tiveram que negar que eram ferroviários. Em seguida falou o

revisor J. Ferreira sobre muitos assuntos ferroviários e dizendo o melhor

era as violências, já não há outro meio a fazer depois disse que há dias por

não ter que comer cozi uns caranguejos depois falou o filho do José Bicho

inspector da Rotunda o José aprendiz electricista dizendo que o amarelo

Eduardo Patacas inspector da Central Eléctrica que antes de rebentar a

greve disse e o que fez depois falaram mais camaradas entre eles um da

construção falando por último J. A. Piloto sobre o nosso assunto antes disse

nós nem que viessem forças para nos prender não retirava ninguém do

lugar que estamos sendo aprovado por todos presentes dizendo também

camaradas não tomai o trabalho sem ver a vitória final senão ficamos

desgraçados. Também falou sobre os 100 contos que o governo vai fazer de

despesa com os reis da Bélgica que brevemente chegarão a Lisboa e dos

300 contos para a ordem pública que foram aprovados sem discussão e

para nós trabalhadores que produzimos não há verba e não se aprova etc.

Sobre os amarelos e do BSCF e o roubo nas Oficinas dos CFSS de 400ks de

metal branco e sobre os camaradas a pedir o dinheiro à classe façam o

menos possível etc. o dinheiro em caixa é pouco empregar as violências

não ter dó dos passageiros que eles não têm dó dos nossos filhos e dos

ferroviários estarem a morrer de fome é o melhor que o pessoal da estação

sair das suas casas por motivo do Sr. António Granjo condenou o vagão

fantasma e está pronto a mandá-lo fazer. E condenou os ferroviários que

frequentam tabernas e teatros, dando vivas aos ferroviários do SS, CP, MD e

ao Comité respondendo os camaradas com vivas ao Miguel Correia A.J.

Piloto disse no final não haja receios alguns é olhar para a frente e não para

trás. Terminou a reunião às 19h50. Destroçaram uns para um lado outros

para diversas partes vim só era escuro em direcção à estrada mas a noite

estava linda ainda veio um cão atrás de mim ouvi falas de pessoas

conhecidas saltei o valado caindo na estrada aonde vinham muitos

ferroviários ao chegar à quinta dos Arcos saltou os ditos fulanos que os ouvi

a falar sendo J. Venâncio, Júlio Lagarticha, João Catalão etc. vinha a

caminho do Barreiro pela estrada tudo em grupos cheguei à S. Instrução, J.

Alcurraz e J. Cordeiro em grande discussão por motivo do António Correia

Jorge Pessoa e outros fui andando fiquei em frente do talho do António Luiz

com os ferroviários maquinista Mendonça e outros momentos depois

passou o meu compadre J. Colica e o Josué. Fomos a caminho do campo ao

sítio combinado para a reunião às 15h50 passamos ao Barreiro T.

Encontrava-se preste a sair um comboio de mercadorias passando depois

de nós passar a máquina 203 para o dito. Fomos até ao Pinhal do Brenha

mas como não víssemos nenhum camarada fomos para a estrada,

encontravam-se alguns a primeira vedeta era no cruzamento das estradas

ao D. Brandão era o António Penim vimos andar de bicicletes Luiz Fonseca,

a 2ª vedeta na quinta dos Arcos José Oliveira, o J. Colica e Josué seguiram

com umas raparigas da fábrica Herold eram de Santo António, a 3ª vedeta o

fogueiro de guindastes Manuel Joaquim, a 4ª vedeta guarda das Oficinas o

Salvador, a 5ª vedeta ignorei o nome a seguir o local tinha aparência de

campo entrincheirado uns brincando e outros a jogar às uvas entre eles o

Artur, Soeiro, Rebelo, Eduardo e outros ajuntaram-se perto de 800

ferroviários depois ordem reunir, sendo chamados os que se encontravam

pelo pinhal mudamos para junto de um valado perto de uma cova disse A.

Piloto esperasse mais uns minutos para ver se chegam mais alguns

camaradas etc. Aberta a sessão a maioria dos ferroviários assentaram-se

no chão neste momento por brincadeira puseram-se a jogar à bisca A.

Macau, Ferras Fernandes e Alves e outros. Silêncio o Presidente da reunião

o A. J. Piloto o primeiro a falar foi o Custódio Boa-vida falando sobre o

estado da greve actual etc. Também falou o chefe dos maquinistas Horta

falou sobre o pessoal de tracção principalmente de maquinistas etc.,

depois o José Leal maquinista falando sobre uns dos últimos decretos do

governo do Sr. António Granjo que se dividia em 3 quadros efectivos até

falou o J. da Cruz Cebola dizendo é agora o principio da greve por violências

alto e bom som. Também falou o militar do BSCF Luiz Monteiro disse sobre

o mesmo caso do Cebola isto aqui só por meio de violências que andar a

pedir aos ministros por esmola de ministério para ministério de dia para dia

que não dá resultado e ele disse que na greve de Novembro há 2 anos tinha

queimado a caldeira da máquina 14 e era militar se os ferroviários que se

encontram no BSCF não fizerem é por gostarem de galões e outros por

conveniências dizendo o melhor era já formar uma comissão para se tratar

das violências e actos de sabotagem ofereceu-se uns três entregou uma

proposta ao presidente mas não chegou a ler não sabendo os motivos a

seguir falou o chefe de estação J. Fernandes Júnior sobre a venda da linha

está fazer 9 horas que tinha chegado do Algarve de V.R.S. António até

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Paulo” vindo a bordo o rei Alberto 1º e a rainha Isabel e o príncipe Leopoldo

havendo salvas por diferentes navios guerra portugueses e o dito “S. Paulo”

entrou também em 5 de Outubro de 1910 no Tejo era para levantar ferro

pelas 18h com a rainha e o príncipe e o rei Alberto é para sair às 20h30 com

oficiais do exército e da armada etc. acompanhá-lo ate Hendaia na

fronteira francesa. Falei com a M.G.M. Estive a jogar a glória em casa.

Houve continuação dos festejos em Almada e procissão de todos os Santos.

2/11/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 15h40 em V. R. S. António

regressei a Faro no C. 994. Admirei a curva da Fuzeta. Chegou no comboio 9

o Gaspar estofador com um saco que mandou-me meu pai. Fui passear à

cidade. A noite prometia chuva mas só choveu de madrugada. No Barreiro

mataram à facada o carregador Tachinho junto à casa do Manuel da viúva.

1920 Continuação da greve na mesma atitude tanto de ferroviários como

do governo, sendo patrulhadas as ruas da vila por Infantaria e Cavalaria da

GNR. O pessoal da CP entregou-se a maioria ao trabalho sem condições,

assinado um papel selado dizendo como entravam sem garantias. Por esse

que teve medo de ir `a reunião desculpando o dito que foi jantar.

Encontrava-se na dita Sociedade a fazer um viveiro para amanhã ir para os

lados da Moita armar aos pássaros mais a claque que é Vitorino, Aurélio,

Sebastião Gomes, Custódio, Borralho. Quem estava afazer o dito viveiro

desde das 15h foi o António Filipe Cordeiro.

31/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 23h em V.R.S. António. Fez um

dia lindo e a noite idem de luar mas grande nortada e frio. Comi com o

limpador de carruagens Manuel Sousa Bento. Fui ao mercado fizemos

despesa $95. Pelas 15h encontrava-me só no extremo da ponte sobre o rio

Guadiana a ver sair a canhoneira Quanza escrevi estas passagens no fixe do

LG 19 do SS. Chegou-me comer do Barreiro. 1920 Continuação da greve

pelas 6h houve salva nos grandes festejos em Almada. Na Amora houve

grandes festejos mas foi proibida a procissão como no Seixal também

andou pelas ruas as sociedades etc. Alevantei-me às 12h30. Esteve todo o

dia nublado e chovendo quase todo o dia. Aleviou o tempo pelas 15h25

mas pouco. Andei a passear pela vila mais Sebastião, Bifa, Parra. Chegamos

ao Largo Casal fomos jogar à bisca era eu, Vitorino, Aurélio, Sebastião

contra Parra, Aurélio, Batista. Ganharam os últimos uma bola depois

retiramos por não ver fomos dar outra volta à vila era outra claque eu,

Borralho, Artur, Custódio, Sebastião, etc. Fomos ao T. República eu, Artur à

2ª sessão para as cadeiras nº 191-193. Ontem chegaram 250 portugueses

pescadores repatriados do Brasil havendo grandes manifestações em toda

a cidade de Lisboa à chagada dos ditos.

1/11/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 23h em V.R.S. António. Fui ao

mercado comi bastante batata doce. No Barreiro receberam o meu

dinheiro a quantia de 55$86. Chegou ordem para estar ao serviço até

amanhã ao C. 994 para regressara a Faro. 1920 Continuação da greve na

mesma atitude. Pelas 11h deu-se um incidente entre Lúcio Monteiro e o

escriturário Guerra este ao serviço este vinha a ler o jornal a Vitória e o

Lúcio tirou-lho e deu-lhe a Batalha a ler dando o resultado de o Guerra puxa

pelo revólver e o Lúcio disse mata-me que é um ferroviário tirando um tiro

para o chão e pediu socorro a um guarda fiscal que o não atendeu nesta

altura encontrava-se o António Aldiano “pai”, Manuel Alves e outros que

pediram evitarem etc. de manhã fez grande temporal esteve todo o dia

nublado leviando por várias vezes e chovendo regular à noite também

choveu. Pelas 10h48 chegou ao Tejo o couraçado brasileiro de nome “S.

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-21

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Paulo” vindo a bordo o rei Alberto 1º e a rainha Isabel e o príncipe Leopoldo

havendo salvas por diferentes navios guerra portugueses e o dito “S. Paulo”

entrou também em 5 de Outubro de 1910 no Tejo era para levantar ferro

pelas 18h com a rainha e o príncipe e o rei Alberto é para sair às 20h30 com

oficiais do exército e da armada etc. acompanhá-lo ate Hendaia na

fronteira francesa. Falei com a M.G.M. Estive a jogar a glória em casa.

Houve continuação dos festejos em Almada e procissão de todos os Santos.

2/11/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 15h40 em V. R. S. António

regressei a Faro no C. 994. Admirei a curva da Fuzeta. Chegou no comboio 9

o Gaspar estofador com um saco que mandou-me meu pai. Fui passear à

cidade. A noite prometia chuva mas só choveu de madrugada. No Barreiro

mataram à facada o carregador Tachinho junto à casa do Manuel da viúva.

1920 Continuação da greve na mesma atitude tanto de ferroviários como

do governo, sendo patrulhadas as ruas da vila por Infantaria e Cavalaria da

GNR. O pessoal da CP entregou-se a maioria ao trabalho sem condições,

assinado um papel selado dizendo como entravam sem garantias. Por esse

que teve medo de ir `a reunião desculpando o dito que foi jantar.

Encontrava-se na dita Sociedade a fazer um viveiro para amanhã ir para os

lados da Moita armar aos pássaros mais a claque que é Vitorino, Aurélio,

Sebastião Gomes, Custódio, Borralho. Quem estava afazer o dito viveiro

desde das 15h foi o António Filipe Cordeiro.

31/10/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 23h em V.R.S. António. Fez um

dia lindo e a noite idem de luar mas grande nortada e frio. Comi com o

limpador de carruagens Manuel Sousa Bento. Fui ao mercado fizemos

despesa $95. Pelas 15h encontrava-me só no extremo da ponte sobre o rio

Guadiana a ver sair a canhoneira Quanza escrevi estas passagens no fixe do

LG 19 do SS. Chegou-me comer do Barreiro. 1920 Continuação da greve

pelas 6h houve salva nos grandes festejos em Almada. Na Amora houve

grandes festejos mas foi proibida a procissão como no Seixal também

andou pelas ruas as sociedades etc. Alevantei-me às 12h30. Esteve todo o

dia nublado e chovendo quase todo o dia. Aleviou o tempo pelas 15h25

mas pouco. Andei a passear pela vila mais Sebastião, Bifa, Parra. Chegamos

ao Largo Casal fomos jogar à bisca era eu, Vitorino, Aurélio, Sebastião

contra Parra, Aurélio, Batista. Ganharam os últimos uma bola depois

retiramos por não ver fomos dar outra volta à vila era outra claque eu,

Borralho, Artur, Custódio, Sebastião, etc. Fomos ao T. República eu, Artur à

2ª sessão para as cadeiras nº 191-193. Ontem chegaram 250 portugueses

pescadores repatriados do Brasil havendo grandes manifestações em toda

a cidade de Lisboa à chagada dos ditos.

1/11/920 Fez 1 ano que trabalhei até às 23h em V.R.S. António. Fui ao

mercado comi bastante batata doce. No Barreiro receberam o meu

dinheiro a quantia de 55$86. Chegou ordem para estar ao serviço até

amanhã ao C. 994 para regressara a Faro. 1920 Continuação da greve na

mesma atitude. Pelas 11h deu-se um incidente entre Lúcio Monteiro e o

escriturário Guerra este ao serviço este vinha a ler o jornal a Vitória e o

Lúcio tirou-lho e deu-lhe a Batalha a ler dando o resultado de o Guerra puxa

pelo revólver e o Lúcio disse mata-me que é um ferroviário tirando um tiro

para o chão e pediu socorro a um guarda fiscal que o não atendeu nesta

altura encontrava-se o António Aldiano “pai”, Manuel Alves e outros que

pediram evitarem etc. de manhã fez grande temporal esteve todo o dia

nublado leviando por várias vezes e chovendo regular à noite também

choveu. Pelas 10h48 chegou ao Tejo o couraçado brasileiro de nome “S.

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-21

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quando foi despachar à estação dos CFSS o guarda freio o Cebola sendo

este maltratado e como respondesse seguiu logo para Lisboa para o

governo aonde se encontra há dias alguns ferroviários. Pelas 10h25 fui

avisado para fugir de casa por motivo dos acontecimentos do 26 do mez

andando em minha procura a polícia dos CFSS o Sr. Alexandre e alguns da

segurança do Estado e o Secreta Alberto Silva etc. Fui para o terreno do

meu pai para a barraca do Manuel Loureiro foi o almoço e jornais

parecendo já um preso. Às 18h15 regressei a casa. Não fui à vila. Emprestei

200$00 ao meu pai por motivo da greve. O couraçado brasileiro “S. Paulo”

saiu esta madrugada com S. M. rainha Isabel e o príncipe Leopoldo da

Bélgica. Foi eleito Presidente da República dos Estados Unidos o Senador

Warren Harding. Continua como nos dias anteriores a bicha ao pão Sidónio

nos P. Concelho. Todo o dia esteve nublado e pingando todo o dia vento

noroeste mas pouco. Faleceu no hospital o sargento Carlos Teixeira.

4/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro.

Esteve todo o dia grande temporal. Chegou o comboio 9 veio dinheiro e

comer etc. do Barreiro. Fui ao Teatro Letes mais os limpadores João Dias e

Manuel Sousa. Fomos para varandas cada um pagou $25 representação da

peça em 1 acto do T. Guinhol a Santa e a peça em 3 actos Deputado de

Bambignae. Ficou-me a render até chegar do teatro o revisor António de

Almeida. 1920 Continuação da greve. Houve reunião de ferroviários em

frente de Alhos V. 4/11/920 Continua em minha procura a polícia. Não fui à

vila. Todo o dia nublado à noite chovendo torrencialmente. Na bicha do pão

Sidónio nos Paços Concelho tiveram que tirar duas creanças quase mortas.

Tomou posse do seu elevado cargo de Comissário de Moçambique o Sr.

Brito Camacho. O meu cunhado J. José todos os dias vai a Lisboa e regressa

pelo vapor do Seixal trazendo sempre pão. Faleceu Luiz Eleutério dos

Santos com 45 anos de idade.

5/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço

em Faro chovendo muitíssimo de dia e à noite fazendo algum vento

nordeste. Esteve luar. Chegou no c. 9 mais pão etc. vindo do Barreiro

trouxe-me o guarda freio F. Dias Afonso. No dito comboio chegou uma

força de marinha. Á noite fui à cidade comprar postais e selos. 1920

Continuação da greve e na mesma atitude. Faleceu António Dias G. Chegou

como era esperado há dias em Lisboa a bordo do novo cruzador Vasco da

Gama o príncipe do Mónaco com o nome Alberto 1º que ontem embarcou

motivo soube-se mais tarde que novamente declarara-se em greve e no SS

apresentaram-se mais algumas brigadas, etc. Um comboio de passageiros

feito pelos militares que seguia para Setúbal entre Lavradio e Alhos Vedros,

vinha pela linha uma serra com 5 militares, só o tempo que tiveram foi tirar

o estrado, ficando os rodados em plena via ao passar o comboio,

enterrando-se pela terra, não causando estragos ao dito comboio como na

via. Foi preso o M. Pedro Manilha sendo posto em liberdade. Ficou sem

efeito a reunião de ferroviários no campo no sítio combinado pelas 17h,

ficando resolvido para amanhã. Pela mesma hora foram ao local dois

camiões para prender os ferroviários. Prenderam 2 entre o desvio, ainda

estiveram perto de nós. Chegou ao Barreiro açúcar tudo julgava que fosse

farinha. Há dias andaram a tirar pelas casas a relação quantas pessoas de

família etc. na estação de S. Bento no Porto deu-se um terrível desastre. O

comboio que ontem partiu de Lisboa chegou com 7h10 de atraso e chocou

com o parapeito da Gare ficando seriamente avariado o material e a dita

estação ficando várias pessoas feridas entre elas um funcionário dos

correios Sr. António dos Santos e o fogueiro Joaquim Mesa etc. Na dita

cidade houve uma grande manifestação contra amnistia política que

resultou um grave tumulto a dita manifestação partiu às 21h da praça

Carlos Alberto pondo-se em marcha o cortejo soltando vivas à pátria e

república e abaixo amnistia, a certa altura estabelecendo-se um vivo

tiroteio no meio de uma enorme confusão etc. S. M. o rei Alberto e a rainha

Isabel passeia pela cidade de Lisboa por motivo do couraçado “S. Paulo”

não sair por estar a reabastecer de carvão e água deve sair amanhã pelas

primeiras horas da manhã visitou S. M. e rainha os Jerónimos depois pelo

Tejo sempre ao largo até B. Prata o “S. Paulo” continuou pela noite a carvão

e água etc. devem desembarcar depois de amanhã no porto de

Dunquerque os quais regressarão para Bruxelas em comboio especial. À

noite esteve o “S. Paulo” iluminado. Esteve toda a manhã nublada fazendo

algum vento pelas 12h10 leviou o tempo pois-se e peras fazendo grande

nortada. Já há dias que o maestro Carvalho da S. Instrução dá ensaios a

alguns filarmónicos é para uma orquestra.

3/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço

em Faro chovendo toda a madrugada e continuando a chover todo o dia.

Fui comer à Mariazinha mandei por um guarda freio um cabaz etc. para o

Barreiro era o Manuel Joaquim. 1920 Continuação da greve e dos grandes

conflitos no Porto. Ficou sem efeito uma reunião dos ferroviários. Foi preso

176 177

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quando foi despachar à estação dos CFSS o guarda freio o Cebola sendo

este maltratado e como respondesse seguiu logo para Lisboa para o

governo aonde se encontra há dias alguns ferroviários. Pelas 10h25 fui

avisado para fugir de casa por motivo dos acontecimentos do 26 do mez

andando em minha procura a polícia dos CFSS o Sr. Alexandre e alguns da

segurança do Estado e o Secreta Alberto Silva etc. Fui para o terreno do

meu pai para a barraca do Manuel Loureiro foi o almoço e jornais

parecendo já um preso. Às 18h15 regressei a casa. Não fui à vila. Emprestei

200$00 ao meu pai por motivo da greve. O couraçado brasileiro “S. Paulo”

saiu esta madrugada com S. M. rainha Isabel e o príncipe Leopoldo da

Bélgica. Foi eleito Presidente da República dos Estados Unidos o Senador

Warren Harding. Continua como nos dias anteriores a bicha ao pão Sidónio

nos P. Concelho. Todo o dia esteve nublado e pingando todo o dia vento

noroeste mas pouco. Faleceu no hospital o sargento Carlos Teixeira.

4/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro.

Esteve todo o dia grande temporal. Chegou o comboio 9 veio dinheiro e

comer etc. do Barreiro. Fui ao Teatro Letes mais os limpadores João Dias e

Manuel Sousa. Fomos para varandas cada um pagou $25 representação da

peça em 1 acto do T. Guinhol a Santa e a peça em 3 actos Deputado de

Bambignae. Ficou-me a render até chegar do teatro o revisor António de

Almeida. 1920 Continuação da greve. Houve reunião de ferroviários em

frente de Alhos V. 4/11/920 Continua em minha procura a polícia. Não fui à

vila. Todo o dia nublado à noite chovendo torrencialmente. Na bicha do pão

Sidónio nos Paços Concelho tiveram que tirar duas creanças quase mortas.

Tomou posse do seu elevado cargo de Comissário de Moçambique o Sr.

Brito Camacho. O meu cunhado J. José todos os dias vai a Lisboa e regressa

pelo vapor do Seixal trazendo sempre pão. Faleceu Luiz Eleutério dos

Santos com 45 anos de idade.

5/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço

em Faro chovendo muitíssimo de dia e à noite fazendo algum vento

nordeste. Esteve luar. Chegou no c. 9 mais pão etc. vindo do Barreiro

trouxe-me o guarda freio F. Dias Afonso. No dito comboio chegou uma

força de marinha. Á noite fui à cidade comprar postais e selos. 1920

Continuação da greve e na mesma atitude. Faleceu António Dias G. Chegou

como era esperado há dias em Lisboa a bordo do novo cruzador Vasco da

Gama o príncipe do Mónaco com o nome Alberto 1º que ontem embarcou

motivo soube-se mais tarde que novamente declarara-se em greve e no SS

apresentaram-se mais algumas brigadas, etc. Um comboio de passageiros

feito pelos militares que seguia para Setúbal entre Lavradio e Alhos Vedros,

vinha pela linha uma serra com 5 militares, só o tempo que tiveram foi tirar

o estrado, ficando os rodados em plena via ao passar o comboio,

enterrando-se pela terra, não causando estragos ao dito comboio como na

via. Foi preso o M. Pedro Manilha sendo posto em liberdade. Ficou sem

efeito a reunião de ferroviários no campo no sítio combinado pelas 17h,

ficando resolvido para amanhã. Pela mesma hora foram ao local dois

camiões para prender os ferroviários. Prenderam 2 entre o desvio, ainda

estiveram perto de nós. Chegou ao Barreiro açúcar tudo julgava que fosse

farinha. Há dias andaram a tirar pelas casas a relação quantas pessoas de

família etc. na estação de S. Bento no Porto deu-se um terrível desastre. O

comboio que ontem partiu de Lisboa chegou com 7h10 de atraso e chocou

com o parapeito da Gare ficando seriamente avariado o material e a dita

estação ficando várias pessoas feridas entre elas um funcionário dos

correios Sr. António dos Santos e o fogueiro Joaquim Mesa etc. Na dita

cidade houve uma grande manifestação contra amnistia política que

resultou um grave tumulto a dita manifestação partiu às 21h da praça

Carlos Alberto pondo-se em marcha o cortejo soltando vivas à pátria e

república e abaixo amnistia, a certa altura estabelecendo-se um vivo

tiroteio no meio de uma enorme confusão etc. S. M. o rei Alberto e a rainha

Isabel passeia pela cidade de Lisboa por motivo do couraçado “S. Paulo”

não sair por estar a reabastecer de carvão e água deve sair amanhã pelas

primeiras horas da manhã visitou S. M. e rainha os Jerónimos depois pelo

Tejo sempre ao largo até B. Prata o “S. Paulo” continuou pela noite a carvão

e água etc. devem desembarcar depois de amanhã no porto de

Dunquerque os quais regressarão para Bruxelas em comboio especial. À

noite esteve o “S. Paulo” iluminado. Esteve toda a manhã nublada fazendo

algum vento pelas 12h10 leviou o tempo pois-se e peras fazendo grande

nortada. Já há dias que o maestro Carvalho da S. Instrução dá ensaios a

alguns filarmónicos é para uma orquestra.

3/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite de serviço

em Faro chovendo toda a madrugada e continuando a chover todo o dia.

Fui comer à Mariazinha mandei por um guarda freio um cabaz etc. para o

Barreiro era o Manuel Joaquim. 1920 Continuação da greve e dos grandes

conflitos no Porto. Ficou sem efeito uma reunião dos ferroviários. Foi preso

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para Setúbal e no cabeçote da máquina soldados da GNR, tendo instruções

de fuzilar os ferroviários que transitavam no dito vagon. Foram dadas pelo

Capitão Abranches, que foi que deu as bofetadas ao guarda-freio Cebola.

Houve grande festejos em Lisboa no Jardim Zoológico pela visita do

príncipe Mónaco tocando a banda da GN República o dito passou a noite a

bordo do V. da Gama. Anda uma grande doença pelo gado em todo o país.

Fez uma noite linda de luar e peras. A M.G.M. foi ao Lavradio.

8/11/920 Fez 1 ano que trabalhei das 10h40 às 15h40 em VRS António

regressei a Faro no c. 994 chovendo pouco. Á noite fui dar um passeio à

cidade fui ao barbeiro este fez-me a barba. Chegou a Faro o pagador. A

noite nublada. Quando estive de dia em VRS António em serviço chegou o

ajudante revisor Basílio Rosa no c. 993 do P. Novo. No Barreiro os ditos

rebocadores do dia anterior foram tirar o navio “Lisboa” não foi possível

por o dito a nado e roubaram ao Francisco Cerqueira 22$00. 1920

Continuação da greve. Chegaram no comboio 10 que veio de Setúbal os

ferroviários Luiz Carvalho fiel de estação, Francisco Candeias chefe e

António Camacho revisor de material. Os de ontem andaram no vagon

fantasma quase todo o dia, sendo soltos os tais do Lavradio e os de Setúbal

seguiram para Lisboa, para recolher ao Governo Civil. O príncipe Mónaco

almoçou a bordo do “Vasco da Gama” 15h30 o príncipe Mónaco embarcou

no gazolina da Base naval que levou a bordo do Gacht o rei de Espanha.

Pelas 16h levantou o dito ferro seguido pelo contra-torpedeiro “Guadiana”

que o conduziu até às nossas águas e também três hidro-viões. Fez uma

linda noite e calmosa. Não fui à vila.

9/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro

chovendo todo o dia. Recebi uma justificação do Sr. Inspector Silva por

motivo do J 11 por ter passado em P. Novo sem postigo parte feita pelo

ajudante Basílio. Fui comer à Mariazinha esta entregou-me um saco com

roupa etc. que veio pelo c. 9 trouxe o Gaspar. Fez uma linda noite de luar. No

Barreiro continuou a tentativa ao navio”Lisboa” não foi possível como o dia

anterior e teve uma menina a mulher do Tito Soares. 1920 Continuava a

greve, por este motivo pôs-se o nome “Teatro de S. Bento” ao Parlamento.

Os guindastes da Comp. U. Fabril estão trabalhando para os CFSS nas

descargas das fragatas para os vagons etc. Camiões avariados os

respectivos chauferes argumentam não saber trabalhar nos ditos por esse

motivo vieram oito carros para o Barreiro puxados por muares vindos de

em Lagos vem estar 4 dias desembarcando às 13h no cais da colunas. Só saí

à noite. Falei com M.G.M. A mãe dela deu um ataque e um acidente na

vizinha por motivo do funeral do Eleutério sendo o dito acompanhado pela

S. Instrução. Continua a falta do pão havendo só nos P. Concelho. Estavam

alguns ferroviários resolvidos a irem contratados para África para os

caminhos de ferro de Moçâmedes e outros. Fez um dia nublado mas

regular, mas fazendo uma noite linda de luar.

6/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia em Faro. Fez um dia lindo.

Terminou nos CFSS as partidas dos vapores e comboios por meio de

campainhas. 1920 Continuação da greve. Seguiram para Lisboa mais 4

grevistas vindos da linha. O revisor F. M. Estaca foi para a Funcheira

militarmente. Ás 13h passou um hidro-vião acompanhar um rebocador

que levava a bordo o príncipe do Mónaco a Vale de Zebro. Ás 16h30 veio a

minha casa convidar para ir de madrugada para Azeitão o José Lourinhã. Ás

17h10 deu-se em frente de minha casa na R. Miguel Pais troca de tiros e

facadas entre dois desconhecidos o que deu os tiros fugiu para o armazém

do F. Lopes no Garrelon momentos depois o fugitivo encontrava-se preso.

O pão Sidónio foi distribuído por todas as padarias sendo grandes as bichas

nas ditas. Artur S. esteve a vender o dito pão Sidónio na padaria nova perto

do L. Casal. Não fui à vila. Fez um dia e peras poucos astros pelo céu

principiou a nublar-se pelas 13h10. Fez uma noite linda de luar. Caiu a um

saguão do Palácio do Coimbra a filha única do enfermeiro Costa seguindo

logo num rebocador para Lisboa falecendo em viagem não sabendo o pai

de nada por motivo ter chegado morta. O Comité dos ferroviários diz não

ter responsabilidades no atentado contra um comboio no Lavradio, que os

jornais de ontem falaram.

7/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em serviço

em Faro. Chegou no c. 9 comer do Barreiro e ordem para amanhã seguir a

VRS António às 7h da manhã. Soube que no Barreiro o meu mano perdeu

meio dia de tarde para ir ver deitar ao rio o navio “Lisboa” que encontra-se

há tempos em construção no estaleiro de Alborrica sendo puxado pelos

rebocadores dos CFSS Victória e T. Trigueiros não sendo possível tirar. 1920

Continuação da greve. Veio o Banda [sic] dos SCF fizeram cerco ao Lavradio

sendo presos alguns ferroviários, entre eles o maquinista António Feio,

Francisco A. Silva e Manuel Nunes revisor de material circulante. Estes

seguiram no vagão O201, no comboio 19, à frente do célebre “Fantasma”

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para Setúbal e no cabeçote da máquina soldados da GNR, tendo instruções

de fuzilar os ferroviários que transitavam no dito vagon. Foram dadas pelo

Capitão Abranches, que foi que deu as bofetadas ao guarda-freio Cebola.

Houve grande festejos em Lisboa no Jardim Zoológico pela visita do

príncipe Mónaco tocando a banda da GN República o dito passou a noite a

bordo do V. da Gama. Anda uma grande doença pelo gado em todo o país.

Fez uma noite linda de luar e peras. A M.G.M. foi ao Lavradio.

8/11/920 Fez 1 ano que trabalhei das 10h40 às 15h40 em VRS António

regressei a Faro no c. 994 chovendo pouco. Á noite fui dar um passeio à

cidade fui ao barbeiro este fez-me a barba. Chegou a Faro o pagador. A

noite nublada. Quando estive de dia em VRS António em serviço chegou o

ajudante revisor Basílio Rosa no c. 993 do P. Novo. No Barreiro os ditos

rebocadores do dia anterior foram tirar o navio “Lisboa” não foi possível

por o dito a nado e roubaram ao Francisco Cerqueira 22$00. 1920

Continuação da greve. Chegaram no comboio 10 que veio de Setúbal os

ferroviários Luiz Carvalho fiel de estação, Francisco Candeias chefe e

António Camacho revisor de material. Os de ontem andaram no vagon

fantasma quase todo o dia, sendo soltos os tais do Lavradio e os de Setúbal

seguiram para Lisboa, para recolher ao Governo Civil. O príncipe Mónaco

almoçou a bordo do “Vasco da Gama” 15h30 o príncipe Mónaco embarcou

no gazolina da Base naval que levou a bordo do Gacht o rei de Espanha.

Pelas 16h levantou o dito ferro seguido pelo contra-torpedeiro “Guadiana”

que o conduziu até às nossas águas e também três hidro-viões. Fez uma

linda noite e calmosa. Não fui à vila.

9/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro

chovendo todo o dia. Recebi uma justificação do Sr. Inspector Silva por

motivo do J 11 por ter passado em P. Novo sem postigo parte feita pelo

ajudante Basílio. Fui comer à Mariazinha esta entregou-me um saco com

roupa etc. que veio pelo c. 9 trouxe o Gaspar. Fez uma linda noite de luar. No

Barreiro continuou a tentativa ao navio”Lisboa” não foi possível como o dia

anterior e teve uma menina a mulher do Tito Soares. 1920 Continuava a

greve, por este motivo pôs-se o nome “Teatro de S. Bento” ao Parlamento.

Os guindastes da Comp. U. Fabril estão trabalhando para os CFSS nas

descargas das fragatas para os vagons etc. Camiões avariados os

respectivos chauferes argumentam não saber trabalhar nos ditos por esse

motivo vieram oito carros para o Barreiro puxados por muares vindos de

em Lagos vem estar 4 dias desembarcando às 13h no cais da colunas. Só saí

à noite. Falei com M.G.M. A mãe dela deu um ataque e um acidente na

vizinha por motivo do funeral do Eleutério sendo o dito acompanhado pela

S. Instrução. Continua a falta do pão havendo só nos P. Concelho. Estavam

alguns ferroviários resolvidos a irem contratados para África para os

caminhos de ferro de Moçâmedes e outros. Fez um dia nublado mas

regular, mas fazendo uma noite linda de luar.

6/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia em Faro. Fez um dia lindo.

Terminou nos CFSS as partidas dos vapores e comboios por meio de

campainhas. 1920 Continuação da greve. Seguiram para Lisboa mais 4

grevistas vindos da linha. O revisor F. M. Estaca foi para a Funcheira

militarmente. Ás 13h passou um hidro-vião acompanhar um rebocador

que levava a bordo o príncipe do Mónaco a Vale de Zebro. Ás 16h30 veio a

minha casa convidar para ir de madrugada para Azeitão o José Lourinhã. Ás

17h10 deu-se em frente de minha casa na R. Miguel Pais troca de tiros e

facadas entre dois desconhecidos o que deu os tiros fugiu para o armazém

do F. Lopes no Garrelon momentos depois o fugitivo encontrava-se preso.

O pão Sidónio foi distribuído por todas as padarias sendo grandes as bichas

nas ditas. Artur S. esteve a vender o dito pão Sidónio na padaria nova perto

do L. Casal. Não fui à vila. Fez um dia e peras poucos astros pelo céu

principiou a nublar-se pelas 13h10. Fez uma noite linda de luar. Caiu a um

saguão do Palácio do Coimbra a filha única do enfermeiro Costa seguindo

logo num rebocador para Lisboa falecendo em viagem não sabendo o pai

de nada por motivo ter chegado morta. O Comité dos ferroviários diz não

ter responsabilidades no atentado contra um comboio no Lavradio, que os

jornais de ontem falaram.

7/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em serviço

em Faro. Chegou no c. 9 comer do Barreiro e ordem para amanhã seguir a

VRS António às 7h da manhã. Soube que no Barreiro o meu mano perdeu

meio dia de tarde para ir ver deitar ao rio o navio “Lisboa” que encontra-se

há tempos em construção no estaleiro de Alborrica sendo puxado pelos

rebocadores dos CFSS Victória e T. Trigueiros não sendo possível tirar. 1920

Continuação da greve. Veio o Banda [sic] dos SCF fizeram cerco ao Lavradio

sendo presos alguns ferroviários, entre eles o maquinista António Feio,

Francisco A. Silva e Manuel Nunes revisor de material circulante. Estes

seguiram no vagão O201, no comboio 19, à frente do célebre “Fantasma”

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do falecido Francisco Chamusca as minhas manas Ermelinda e Hermínia e a

viúva as minhas manas foi pela primeira vez foi na Igreja de Nª Sª. Do

Rosário. Fez um dia lindo e frio pouco e a noite idem. Em Lisboa a polícia

desconfiaram de uma automóvel que mudava de número constantemente

foi da esquadra dos Terr…[ilegível] tendo por chefe o Alexandre Alves este

descobriu um complote [sic] monárquico sendo presos perto de 20 junto à

esquadra e noutros pontos da cidade a maioria ex-polícias e também duas

senhoras sendo encontradas bombas e outros explosivos retratos de D.

Manuel, Sidónio Pais etc.

11/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo dia e fiquei de noite de serviço

em Faro. Andando como de costume coma lanterna caiu o bico e deu

resultado ficar queimados cabelos da cabeça pestanas etc. sendo

testemunhas o revisor José Martins. 1920 Continuação da greve. O Sr.

tenente-coronel Raul Esteves assumiu o novo convite aos ferroviários para

fazerem a sua apresentação ao serviço até dia 25 do corrente mez. Além

doutros ferroviários encontram-se presos desde o dia 8 na prisão no

Quartel dos Adidos às Janelas Verdes os ferroviários M. Francisco Candeias

chefe, Luís C. de Oliveira fiel, A.J. Camacho revisor de material. Foi também

presos no Barreiro M. Santos G. de 60 anos e o coxo guarda rondista e a sua

esposa e o filho este ajudante de caldeireiro sendo o último metido no

vagão fantasma que seguiu para Alcácer do Sal. Ele tinha dormido num J.

junto à Rotunda, sem cama nem cobertura. Ficaram no dito J. o fogueiro

Leopoldo Martins e o escrevente Etelvino B. de Almeida. De dia não saio

por motivo da polícia em minha procura, só fui à vila de noite.

12/11/920 Fez 1 ano que chegou telegrama a Faro para regressar a

Barreiro no c. 6 e no c. 9 chegou o ajudante Belezinho apresentar ao serviço

sendo este que eu o substituía. Choveu todo o dia e toda a noite comi com o

limpador de carruagens Bento e o dito ajudante etc. comprei e trouxe para

o Barreiro 7,5 kg de batata doce por $84. Embarquei na c. 85 c. 9 que partiu

às 18 e tal. 1920 Continuação da greve estando na mesma atitude.

Suicidou-se esta manhã em casa fechado num dos quartos o bilheteiro dos

CFSS de nome António J. Maria de Paiva com um tiro na cabeça seguindo

logo para Lisboa recolhendo ao hospital de S. José quase ao anoitecer

chegou a notícia que tinha falecido. Ás 16h38 estava muitíssimas pessoas

como no dia anterior em barcos de todas as espécies em Alborrica para

assistir ao lançamento da fragata para o J. Teixeira. Pelas 18h50 encontrava-

Aljustrel para carregar adubos numa viagem que fizeram da dita localidade

gastaram 4 dias e na volta 6 dias. Continua ainda as greves dos alfaiates e os

municipais em Lisboa são algumas oficinas metalúrgicas encerradas. Fez

um dia lindo. Continua as bichas ao pão Sidónio. Fui à vila à noite estive no

Largo Casal. Soube que tinha ordem de prisão como o Carlos Garcias este

passou dois dias no T. República por esse motivo a polícia andavam em

rondas em procura também do Artur, Custódio, Augusto Duarte disse que o

J. Brenha Cabo de Infantaria 11 encontra-se como factor na estação dos

CFSS de nome Pinheiro, na linha do Sado. Terminou hoje o prazo dos

requerimentos para entrada do pessoal em greve.

10/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro.

Ontem foi no c. 6 a Barreiro o revisor A. De Almeida e hoje foi a Portimão o

revisor circunscrição José Martins. Mandei pelo meu primo António

Ferreira maquinista 2 sacos. Fez um dia lindo. Ontem e hoje fui comer à

Rotunda mais o meu primo A. Ferreira e fogueiro dele. Fez uma noite linda

de luar. Fez 2 anos assinatura do armistício. 1920 Continuação da greve. Era

noite veio uma ordem para amanhã aparecer o maior número possível de

ferroviários ao Parlamento. Avariou o vapor Algarve. Já se encontrava ao

serviço o vapor Atália da Parceria e o rebocador Europa. Andou todo o dia

camiões a carregar latas de gazolina. O António Joaquim capataz do 101partido do João Teixeira foi preso pelos fiscais das substâncias por motivo

da venda de carvão. Abriu a Cooperativa dos CFSS para os militares tinha

corrido o boato que era para os grevistas que tinha pedidos de avios e para

os reformados etc. Na S. Instrução o Sebastião Gomes disse-me em

segredo que tinha dado o nome para África. Estive na dita Sociedade a jogar

à bisca parceria eu, Delícias C., Artur S. contra Sebastião G., Aurélio, M.

Pedro Costa nós 4 bolas e eles nada. Só fui à vila à noite de dia não saí de

casa. Foi preso o filho do Brito já falecido por motivo de umas mantas de

militares. Começou pelas 13h14 o eclipse parcial do sol também

parcialmente visível em Portugal e terminou às 17h57. Encontrava-se

alguns ferroviários a trabalhar na agricultura no Lavradio e Alhos Vedros,

Moita, etc. e outros na Companhia União Fabril e na grande fábrica que se

encontra em construção na Verderena e num teatro que também está em

construção no Seixal no dito teatro está os carpinteiros Ant. Teixeira (Bifa) e

o Pinto etc. Desde da implantação da República que foram à missa por alma

101 O Partido era uma das secções da oficina.

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do falecido Francisco Chamusca as minhas manas Ermelinda e Hermínia e a

viúva as minhas manas foi pela primeira vez foi na Igreja de Nª Sª. Do

Rosário. Fez um dia lindo e frio pouco e a noite idem. Em Lisboa a polícia

desconfiaram de uma automóvel que mudava de número constantemente

foi da esquadra dos Terr…[ilegível] tendo por chefe o Alexandre Alves este

descobriu um complote [sic] monárquico sendo presos perto de 20 junto à

esquadra e noutros pontos da cidade a maioria ex-polícias e também duas

senhoras sendo encontradas bombas e outros explosivos retratos de D.

Manuel, Sidónio Pais etc.

11/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo dia e fiquei de noite de serviço

em Faro. Andando como de costume coma lanterna caiu o bico e deu

resultado ficar queimados cabelos da cabeça pestanas etc. sendo

testemunhas o revisor José Martins. 1920 Continuação da greve. O Sr.

tenente-coronel Raul Esteves assumiu o novo convite aos ferroviários para

fazerem a sua apresentação ao serviço até dia 25 do corrente mez. Além

doutros ferroviários encontram-se presos desde o dia 8 na prisão no

Quartel dos Adidos às Janelas Verdes os ferroviários M. Francisco Candeias

chefe, Luís C. de Oliveira fiel, A.J. Camacho revisor de material. Foi também

presos no Barreiro M. Santos G. de 60 anos e o coxo guarda rondista e a sua

esposa e o filho este ajudante de caldeireiro sendo o último metido no

vagão fantasma que seguiu para Alcácer do Sal. Ele tinha dormido num J.

junto à Rotunda, sem cama nem cobertura. Ficaram no dito J. o fogueiro

Leopoldo Martins e o escrevente Etelvino B. de Almeida. De dia não saio

por motivo da polícia em minha procura, só fui à vila de noite.

12/11/920 Fez 1 ano que chegou telegrama a Faro para regressar a

Barreiro no c. 6 e no c. 9 chegou o ajudante Belezinho apresentar ao serviço

sendo este que eu o substituía. Choveu todo o dia e toda a noite comi com o

limpador de carruagens Bento e o dito ajudante etc. comprei e trouxe para

o Barreiro 7,5 kg de batata doce por $84. Embarquei na c. 85 c. 9 que partiu

às 18 e tal. 1920 Continuação da greve estando na mesma atitude.

Suicidou-se esta manhã em casa fechado num dos quartos o bilheteiro dos

CFSS de nome António J. Maria de Paiva com um tiro na cabeça seguindo

logo para Lisboa recolhendo ao hospital de S. José quase ao anoitecer

chegou a notícia que tinha falecido. Ás 16h38 estava muitíssimas pessoas

como no dia anterior em barcos de todas as espécies em Alborrica para

assistir ao lançamento da fragata para o J. Teixeira. Pelas 18h50 encontrava-

Aljustrel para carregar adubos numa viagem que fizeram da dita localidade

gastaram 4 dias e na volta 6 dias. Continua ainda as greves dos alfaiates e os

municipais em Lisboa são algumas oficinas metalúrgicas encerradas. Fez

um dia lindo. Continua as bichas ao pão Sidónio. Fui à vila à noite estive no

Largo Casal. Soube que tinha ordem de prisão como o Carlos Garcias este

passou dois dias no T. República por esse motivo a polícia andavam em

rondas em procura também do Artur, Custódio, Augusto Duarte disse que o

J. Brenha Cabo de Infantaria 11 encontra-se como factor na estação dos

CFSS de nome Pinheiro, na linha do Sado. Terminou hoje o prazo dos

requerimentos para entrada do pessoal em greve.

10/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e fiquei de noite em Faro.

Ontem foi no c. 6 a Barreiro o revisor A. De Almeida e hoje foi a Portimão o

revisor circunscrição José Martins. Mandei pelo meu primo António

Ferreira maquinista 2 sacos. Fez um dia lindo. Ontem e hoje fui comer à

Rotunda mais o meu primo A. Ferreira e fogueiro dele. Fez uma noite linda

de luar. Fez 2 anos assinatura do armistício. 1920 Continuação da greve. Era

noite veio uma ordem para amanhã aparecer o maior número possível de

ferroviários ao Parlamento. Avariou o vapor Algarve. Já se encontrava ao

serviço o vapor Atália da Parceria e o rebocador Europa. Andou todo o dia

camiões a carregar latas de gazolina. O António Joaquim capataz do 101partido do João Teixeira foi preso pelos fiscais das substâncias por motivo

da venda de carvão. Abriu a Cooperativa dos CFSS para os militares tinha

corrido o boato que era para os grevistas que tinha pedidos de avios e para

os reformados etc. Na S. Instrução o Sebastião Gomes disse-me em

segredo que tinha dado o nome para África. Estive na dita Sociedade a jogar

à bisca parceria eu, Delícias C., Artur S. contra Sebastião G., Aurélio, M.

Pedro Costa nós 4 bolas e eles nada. Só fui à vila à noite de dia não saí de

casa. Foi preso o filho do Brito já falecido por motivo de umas mantas de

militares. Começou pelas 13h14 o eclipse parcial do sol também

parcialmente visível em Portugal e terminou às 17h57. Encontrava-se

alguns ferroviários a trabalhar na agricultura no Lavradio e Alhos Vedros,

Moita, etc. e outros na Companhia União Fabril e na grande fábrica que se

encontra em construção na Verderena e num teatro que também está em

construção no Seixal no dito teatro está os carpinteiros Ant. Teixeira (Bifa) e

o Pinto etc. Desde da implantação da República que foram à missa por alma

101 O Partido era uma das secções da oficina.

180 181

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conversa o Sebastião e o Aurélio depois veio o Artur fui mais este ao T.

República compramos 2 futeils [sic] escolhidos pelo Abelardo Ferreira foi o

nº 121 e 123 preço $35 cada saímos e fomos dar uma volta à vila andei a

passear mais o Artur, Eugénio Silva, Eduardo E. S. fomos ao T.R. saímos e

fomos até ao T. Cine neste tivemos grande discussão pelo motivo de idades

entre eles o filho do João Ferreira da Sapataria da Rua Aguiar uns dizia que

tinha 14 anos outros 16 neste momento entrou o meu compadre o Júlio

Colica chegamos a saber que tinha 16 anos depois retirei mais o Artur para

o T.R. a 2ª sessão depois estarmos no lugar a rir e de conversa veio o João

Tarola e vai para um lugar dos nossos e eu digo ao Artur não vês este viu os

bilhetes eram da 1ª sessão e não da 2ª fui logo ter com o Abelardo Ferreira

dizer e passado depois de muito resolvia a sair quando o Abelardo chamou-

me e disse o engano foi do bilheteiro estavam os bilhetes das duas sessões

juntos era o Viegas a fita “O vencedor da Morte” regressamos a casa eu e

Bernardino Barbeiro e Eugénio da Silva. Falava-se que foram roubar a

buzina das Oficinas Gerais dos CFSS a noite passada. Na República

americana o Peru arrebentou grande revolução.

15/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia fazendo um dia lindo e

peras. Falei com a M.G.M. ofereci-lhe um avental. Andava uma quadrilha

de nome a mão fatal deram-se alguns casos interessantes. 1920

Continuação da greve. Esteve névoa esta levantou-se era 13h8. Não tocou a

buzina das Oficinas Gerais dos CFSS. Fui para a vila às 16h35 andei a passear

pela vila mais J.S. Borralho, Jorge C. Pessoa e mais tarde outros. Falei com a

M.G.M. Ao anoitecer pôs-se névoa depois leviou pondo-se uma noite linda

mas fria. No Largo Casal estivemos bastantes ferroviários à espera de

fresquinhas até às 21h10 não veio notícia alguma. Na S. Instrução

encontrava-se uns a jogar ao cavalo e à bisca etc. faz hoje 31 anos a

proclamação da República no Brasil. Chegou a noticia que no mar da

Mancha foi ao fundo a escuna portuguesa a “Maria José” morrendo um

tripulante e os restantes salvos. E em V. Viçosa ardeu por completo a

barraca dos faroleiros dos CFSS. Naufragou uma traineira ao norte da Praia

da Torredoura por altura de Esmoriz cerca das 23h a curta distância

morrendo 25 tripulantes afogados.

16/11/920 Fez 1 ano que estive descanso semanal. Fui mais mano e Luiz

M.F. armar para o terreno arrendado ao meu pai apanhamos pardal um e

petina uma e arvéola uma. Á noite fomos os três ao T. Cine ver a fita as 3 T.

se a dita a nado sendo lançados muitos foguetes mais tarde ao por o mastro

novos foguetes etc. Esteve o dia nublado pelas 17h declarou o tempo mas

fazendo vento Nordeste e frio mas fazendo uma noite linda e frio. Não saí

de casa nem de dia nem à noite.

13/11/920 Fez 1 ano que cheguei no c. 6 na c. 85 de Faro ao Barreiro às 8h

chovendo desde Faro ao Barreiro dentro da carruagem chovia toda a

viagem. Esta noite faleceu a mulher do Parreira da Moita. Choveu todo o

dia fazendo vento Oeste. Fui ao escritório do M. Circulante pedir o

descanso semanal de hoje da viagem e de amanhã também. 1920

Continuação da greve nos CFSS. Pelas 10h20 principiou a trabalhar as

caldeiras das Oficinas Gerais pelos militares do BSCF e às 11h20 passou o

camião nº 96 com o nº 14 a reboque este avariado e ás 12h40 passou o 9

com outro também avariado era 15h. Ás 17h50 tocou a buzina pela

primeira vez, após 44 dias em greve. Foi preso o José Guenhanha pelo

motivo de ser encontrado a roubar na estação dos CFSS e deu um ensaio de

porrada num guarda republicano se não vão outras praças socorrer ele

deitava o dito ao rio. Veio um novo manifesto do Comité. Fez uma noite

linda de luar.

14/11/920 Fez 1 ano que estive de descanso semanal choveu mas

fazendo vento Sudoeste ainda declarou o tempo algumas vezes. Faleceu a

mãe do João Navalhadas. 1920 Continuação da greve. Pelas 8h tocou a

buzina das Oficinas G. dos CFSS, três toques como no tempo normal,

tocando novamente às 10h e às 11h45 e às 11h55 e às 12h etc. Correu o

boato que estavam presos no Seixal o meu mano e o filho do Anicleto.

Realizou-se em Lisboa o funeral do marinheiro da armada nº 1049 pelas 9h

o dito fazia serviço a bordo do “Victória” que no dia 7 do corrente foi vitima

de um desastre entre o “Victória” e o “Atália” este conhecido entre os

ferroviários pelo “Fantasma” foi na estação do T. Paço. Um rapaz de 16 anos

de nome Jaime Gamboa que ontem no Rossio pelas 16h junto ao T.

Nacional foi ter com o conhecido atleta Manuel Loureiro (Grilo) e

perguntou-lhe se levava os 100 escudos do “Barrabás” e como de facto

levava meteram dentro de um automóvel o Jaime e deu a volta a vários

pontos da cidade debaixo de grandes manifestações encontrava no Rossio

à espera dos 100 escudos do “Barrabás” perto 5000 pessoas. Houve corrida

no C. Pequeno em benefício do António Preto. Fui para a vila às 14h45 dei

uma volta mais o J. Pessoa regressamos ao Largo Casal estavam de

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conversa o Sebastião e o Aurélio depois veio o Artur fui mais este ao T.

República compramos 2 futeils [sic] escolhidos pelo Abelardo Ferreira foi o

nº 121 e 123 preço $35 cada saímos e fomos dar uma volta à vila andei a

passear mais o Artur, Eugénio Silva, Eduardo E. S. fomos ao T.R. saímos e

fomos até ao T. Cine neste tivemos grande discussão pelo motivo de idades

entre eles o filho do João Ferreira da Sapataria da Rua Aguiar uns dizia que

tinha 14 anos outros 16 neste momento entrou o meu compadre o Júlio

Colica chegamos a saber que tinha 16 anos depois retirei mais o Artur para

o T.R. a 2ª sessão depois estarmos no lugar a rir e de conversa veio o João

Tarola e vai para um lugar dos nossos e eu digo ao Artur não vês este viu os

bilhetes eram da 1ª sessão e não da 2ª fui logo ter com o Abelardo Ferreira

dizer e passado depois de muito resolvia a sair quando o Abelardo chamou-

me e disse o engano foi do bilheteiro estavam os bilhetes das duas sessões

juntos era o Viegas a fita “O vencedor da Morte” regressamos a casa eu e

Bernardino Barbeiro e Eugénio da Silva. Falava-se que foram roubar a

buzina das Oficinas Gerais dos CFSS a noite passada. Na República

americana o Peru arrebentou grande revolução.

15/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia fazendo um dia lindo e

peras. Falei com a M.G.M. ofereci-lhe um avental. Andava uma quadrilha

de nome a mão fatal deram-se alguns casos interessantes. 1920

Continuação da greve. Esteve névoa esta levantou-se era 13h8. Não tocou a

buzina das Oficinas Gerais dos CFSS. Fui para a vila às 16h35 andei a passear

pela vila mais J.S. Borralho, Jorge C. Pessoa e mais tarde outros. Falei com a

M.G.M. Ao anoitecer pôs-se névoa depois leviou pondo-se uma noite linda

mas fria. No Largo Casal estivemos bastantes ferroviários à espera de

fresquinhas até às 21h10 não veio notícia alguma. Na S. Instrução

encontrava-se uns a jogar ao cavalo e à bisca etc. faz hoje 31 anos a

proclamação da República no Brasil. Chegou a noticia que no mar da

Mancha foi ao fundo a escuna portuguesa a “Maria José” morrendo um

tripulante e os restantes salvos. E em V. Viçosa ardeu por completo a

barraca dos faroleiros dos CFSS. Naufragou uma traineira ao norte da Praia

da Torredoura por altura de Esmoriz cerca das 23h a curta distância

morrendo 25 tripulantes afogados.

16/11/920 Fez 1 ano que estive descanso semanal. Fui mais mano e Luiz

M.F. armar para o terreno arrendado ao meu pai apanhamos pardal um e

petina uma e arvéola uma. Á noite fomos os três ao T. Cine ver a fita as 3 T.

se a dita a nado sendo lançados muitos foguetes mais tarde ao por o mastro

novos foguetes etc. Esteve o dia nublado pelas 17h declarou o tempo mas

fazendo vento Nordeste e frio mas fazendo uma noite linda e frio. Não saí

de casa nem de dia nem à noite.

13/11/920 Fez 1 ano que cheguei no c. 6 na c. 85 de Faro ao Barreiro às 8h

chovendo desde Faro ao Barreiro dentro da carruagem chovia toda a

viagem. Esta noite faleceu a mulher do Parreira da Moita. Choveu todo o

dia fazendo vento Oeste. Fui ao escritório do M. Circulante pedir o

descanso semanal de hoje da viagem e de amanhã também. 1920

Continuação da greve nos CFSS. Pelas 10h20 principiou a trabalhar as

caldeiras das Oficinas Gerais pelos militares do BSCF e às 11h20 passou o

camião nº 96 com o nº 14 a reboque este avariado e ás 12h40 passou o 9

com outro também avariado era 15h. Ás 17h50 tocou a buzina pela

primeira vez, após 44 dias em greve. Foi preso o José Guenhanha pelo

motivo de ser encontrado a roubar na estação dos CFSS e deu um ensaio de

porrada num guarda republicano se não vão outras praças socorrer ele

deitava o dito ao rio. Veio um novo manifesto do Comité. Fez uma noite

linda de luar.

14/11/920 Fez 1 ano que estive de descanso semanal choveu mas

fazendo vento Sudoeste ainda declarou o tempo algumas vezes. Faleceu a

mãe do João Navalhadas. 1920 Continuação da greve. Pelas 8h tocou a

buzina das Oficinas G. dos CFSS, três toques como no tempo normal,

tocando novamente às 10h e às 11h45 e às 11h55 e às 12h etc. Correu o

boato que estavam presos no Seixal o meu mano e o filho do Anicleto.

Realizou-se em Lisboa o funeral do marinheiro da armada nº 1049 pelas 9h

o dito fazia serviço a bordo do “Victória” que no dia 7 do corrente foi vitima

de um desastre entre o “Victória” e o “Atália” este conhecido entre os

ferroviários pelo “Fantasma” foi na estação do T. Paço. Um rapaz de 16 anos

de nome Jaime Gamboa que ontem no Rossio pelas 16h junto ao T.

Nacional foi ter com o conhecido atleta Manuel Loureiro (Grilo) e

perguntou-lhe se levava os 100 escudos do “Barrabás” e como de facto

levava meteram dentro de um automóvel o Jaime e deu a volta a vários

pontos da cidade debaixo de grandes manifestações encontrava no Rossio

à espera dos 100 escudos do “Barrabás” perto 5000 pessoas. Houve corrida

no C. Pequeno em benefício do António Preto. Fui para a vila às 14h45 dei

uma volta mais o J. Pessoa regressamos ao Largo Casal estavam de

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pela junta médica militar o José Jordão. 1920 Continuação da greve. Fez

uma manhã linda e calmosa mas algumas nuvens pelo céu. Tocou a buzina

das Oficinas as seguintes vezes: 7h25, 7h30, 10h30, 11h45 3 às 11h50.

Pelas 15h começou a refrescar o vento Oeste mas fazendo um dia regular

mas fazendo uma noite linda de luar. Andei de tarde e à noite pela vila a

passear. Faleceu a mãe do Manuel Grenhudo. Falei com a M.G.M. O

príncipe Jorge esteve em visita no Jardim Zoológico e entrou toda a

tripulação do cruzador que trouxe o dito príncipe no cruzador.

19/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e uma hora de serão. Fez

um dia lindo e peras. Deu um ataque na minha sobrinha Margarida.

Comprei um gorro e luvas por 40 cêntimos. 1920 Continuação da greve.

Não tocou a buzina nas Oficinas. Esteve tempo nublado estando vento

Sudoeste. Pelas 12h chegou ao Barreiro mais farinha encontrava-se já 7

dias sem pão. Fui para a vila às 16h30 andei a passear mais o Artur S. este

comprou castanhas à marreca do Leonardo à esquina do Melícias. Falei

com a M.G.M. Soube-se que ficou formado o novo governo presidido pelo

Álvaro de Castro. Pelas 20h5 andava em procura do J. Silveira Ás 20h15 foi

corrido do Largo Casal o Manuel sacristão por motivo de ser amarelo. Veio

1 máquina da CP nº 120 prestar serviço nos CFSS. Na estação de Vendas

Novas mandaram fazer um comboio a Casa Branca mas o maquinista

recusou fazê-lo e foi despedido, boato corrido. Foram presos em Lisboa o F.

dos S. “Painço” arrais do barco B760 e seu mano J. dos Santos. Estavam a

carregar caixas de conserva de peixe vindas a bordo do vapor “Vernes” para

o Barreiro. Apoderaram-se de 8 caixas, sendo 800 latas das quais só foram

apreendidas 579. Eles já são conhecidos como “filhos da noite”. Por ordem

da G. Civil continua a efectuar-se prisões em casas de jogo por várias partes

do país. Pelas 14h30 efectuou-se um desafio de foot-ball entre o time do

Tamaraire e do Lisboa Criokel Club no Campo do Cruz Quebrada. Houve

grandes festejos em Lisboa ao Príncipe Jorge da Inglaterra.

20/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro-T. Abalroou no Tejo o

vapor dos CFSS o Algarve com o de Cacilhas de nome Humanitário. 1920

Continuação da greve. Esteve todo o dia nublado. Começaram novamente

o vapor Minho a primeira carreira às 11h50 que partiu de Barreiro. Pelas

15h corria o boato que o novo governo encontrava-se em crise. Tocou a

buzina hoje pela primeira vez às 17h. Não fui à vila, nem saí de casa. Fez

uma noite linda de luar mas fazendo frio. Correu o boato que pelo motivo

Fez um dia lindo fazendo algum vento norte mas frio. 1920 Continuação da

greve de manhã esteve névoa leviou depois carregou novamente e pelas

12h40 declarou a dita ficando o tempo nublado. Tocou a buzina das

Oficinas dos CFSS às 7h20 às 7h25 às 7h37 às 9h30 e pelas 10h8 e às 11h45

e 11h52. Fui para a vila às 17h25 fui até ao Largo Casal nesta altura o Galhoz

velho mais conhecido por “Cão” queria matar com um formão o Eugénio da

Silva e o Carlos Gomes antes foi com o António Bifa. Realizou-se pelas 14 h o

funeral do ferroviário António J.M. Paiva saiu do Hospital de S. José para o

Alto de S. João que no dia 14 passado suicidou-se em sua casa com um tiro

deixou três filhos e esposa no dito funeral incorporou grande número de

ferroviários o caixão coberto pelas bandeiras da Associação de Classe e dos

Bombeiros do CFSS no cemitério à beira da sepultura falaram os

ferroviários Cigarrito e Alfredo Carvalho. Deve chegar amanhã ao Tejo o

príncipe Jorge da Inglaterra a bordo do “Tameraire”. Houve uma rusga em

Lisboa sendo apreendidas 34 navalhas e revolveres etc. Está aberta pelo

paíz uma subscrição a favor dos famintos de Cabo Verde. Pelas 17h5 a

buzina das Oficinas dos C. Ferro parou pelo motivo da falta de vapor. Pelas

17h50 estive no Largo Casal o Artur deu-me o boneco de cortiça que tinha

dado arranjar. Ás 19h20 chegou um telegrama assinado pelo Miguel

Correia dizendo caiu o Governo às 16h30 ouvindo-se nalgumas partes da

vila foguetes dizia-se era pelo motivo do dito telegrama quem trouxe foi o

chefe Lopes mas não foi, sendo grande festa no pau de fileira do Júlio

Macedo prédio modificado na Rua Aguiar ao lado J. Guilherme. Partiu de

Santarém em aeroplano o Presidente do Ministério Sr. A. Granjo sendo

aviador o Capitão Sr. D. Portela aterrou pelas 16h em Alverca. Falei com a

M.G.M. e nesta noite o M. Marinho atirou-me uma grande pedra quando

falava com a dita foi na companhia Simões e J. Aurélio.

17/11/929 Continuação da greve. Não tocou a buzina da Oficinas Gerais.

Saiu outros manifestos do Comité falando sobre a queda do Governo.

Desordens numa taberna do Largo Casal. Pelo motivo de andarem os

militares a trabalhar nas máquinas ficaram inutilizadas as nº202 e nº 26.

Chegaram ao Barreiro mais 40 praças do Batalhão SCF.

18/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Caiu esta noite passada grande

camada de geada fazendo uma noite linda. Não fui à vila. Foi o

descarrilamento no Stil ficaram aviados [sic] material do Sul e Sueste os JJ

338-267 e O 97 e outros. Ao fim de 30 dias de estar no hospital ficou livre

184 185

Page 185: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

pela junta médica militar o José Jordão. 1920 Continuação da greve. Fez

uma manhã linda e calmosa mas algumas nuvens pelo céu. Tocou a buzina

das Oficinas as seguintes vezes: 7h25, 7h30, 10h30, 11h45 3 às 11h50.

Pelas 15h começou a refrescar o vento Oeste mas fazendo um dia regular

mas fazendo uma noite linda de luar. Andei de tarde e à noite pela vila a

passear. Faleceu a mãe do Manuel Grenhudo. Falei com a M.G.M. O

príncipe Jorge esteve em visita no Jardim Zoológico e entrou toda a

tripulação do cruzador que trouxe o dito príncipe no cruzador.

19/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e uma hora de serão. Fez

um dia lindo e peras. Deu um ataque na minha sobrinha Margarida.

Comprei um gorro e luvas por 40 cêntimos. 1920 Continuação da greve.

Não tocou a buzina nas Oficinas. Esteve tempo nublado estando vento

Sudoeste. Pelas 12h chegou ao Barreiro mais farinha encontrava-se já 7

dias sem pão. Fui para a vila às 16h30 andei a passear mais o Artur S. este

comprou castanhas à marreca do Leonardo à esquina do Melícias. Falei

com a M.G.M. Soube-se que ficou formado o novo governo presidido pelo

Álvaro de Castro. Pelas 20h5 andava em procura do J. Silveira Ás 20h15 foi

corrido do Largo Casal o Manuel sacristão por motivo de ser amarelo. Veio

1 máquina da CP nº 120 prestar serviço nos CFSS. Na estação de Vendas

Novas mandaram fazer um comboio a Casa Branca mas o maquinista

recusou fazê-lo e foi despedido, boato corrido. Foram presos em Lisboa o F.

dos S. “Painço” arrais do barco B760 e seu mano J. dos Santos. Estavam a

carregar caixas de conserva de peixe vindas a bordo do vapor “Vernes” para

o Barreiro. Apoderaram-se de 8 caixas, sendo 800 latas das quais só foram

apreendidas 579. Eles já são conhecidos como “filhos da noite”. Por ordem

da G. Civil continua a efectuar-se prisões em casas de jogo por várias partes

do país. Pelas 14h30 efectuou-se um desafio de foot-ball entre o time do

Tamaraire e do Lisboa Criokel Club no Campo do Cruz Quebrada. Houve

grandes festejos em Lisboa ao Príncipe Jorge da Inglaterra.

20/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro-T. Abalroou no Tejo o

vapor dos CFSS o Algarve com o de Cacilhas de nome Humanitário. 1920

Continuação da greve. Esteve todo o dia nublado. Começaram novamente

o vapor Minho a primeira carreira às 11h50 que partiu de Barreiro. Pelas

15h corria o boato que o novo governo encontrava-se em crise. Tocou a

buzina hoje pela primeira vez às 17h. Não fui à vila, nem saí de casa. Fez

uma noite linda de luar mas fazendo frio. Correu o boato que pelo motivo

Fez um dia lindo fazendo algum vento norte mas frio. 1920 Continuação da

greve de manhã esteve névoa leviou depois carregou novamente e pelas

12h40 declarou a dita ficando o tempo nublado. Tocou a buzina das

Oficinas dos CFSS às 7h20 às 7h25 às 7h37 às 9h30 e pelas 10h8 e às 11h45

e 11h52. Fui para a vila às 17h25 fui até ao Largo Casal nesta altura o Galhoz

velho mais conhecido por “Cão” queria matar com um formão o Eugénio da

Silva e o Carlos Gomes antes foi com o António Bifa. Realizou-se pelas 14 h o

funeral do ferroviário António J.M. Paiva saiu do Hospital de S. José para o

Alto de S. João que no dia 14 passado suicidou-se em sua casa com um tiro

deixou três filhos e esposa no dito funeral incorporou grande número de

ferroviários o caixão coberto pelas bandeiras da Associação de Classe e dos

Bombeiros do CFSS no cemitério à beira da sepultura falaram os

ferroviários Cigarrito e Alfredo Carvalho. Deve chegar amanhã ao Tejo o

príncipe Jorge da Inglaterra a bordo do “Tameraire”. Houve uma rusga em

Lisboa sendo apreendidas 34 navalhas e revolveres etc. Está aberta pelo

paíz uma subscrição a favor dos famintos de Cabo Verde. Pelas 17h5 a

buzina das Oficinas dos C. Ferro parou pelo motivo da falta de vapor. Pelas

17h50 estive no Largo Casal o Artur deu-me o boneco de cortiça que tinha

dado arranjar. Ás 19h20 chegou um telegrama assinado pelo Miguel

Correia dizendo caiu o Governo às 16h30 ouvindo-se nalgumas partes da

vila foguetes dizia-se era pelo motivo do dito telegrama quem trouxe foi o

chefe Lopes mas não foi, sendo grande festa no pau de fileira do Júlio

Macedo prédio modificado na Rua Aguiar ao lado J. Guilherme. Partiu de

Santarém em aeroplano o Presidente do Ministério Sr. A. Granjo sendo

aviador o Capitão Sr. D. Portela aterrou pelas 16h em Alverca. Falei com a

M.G.M. e nesta noite o M. Marinho atirou-me uma grande pedra quando

falava com a dita foi na companhia Simões e J. Aurélio.

17/11/929 Continuação da greve. Não tocou a buzina da Oficinas Gerais.

Saiu outros manifestos do Comité falando sobre a queda do Governo.

Desordens numa taberna do Largo Casal. Pelo motivo de andarem os

militares a trabalhar nas máquinas ficaram inutilizadas as nº202 e nº 26.

Chegaram ao Barreiro mais 40 praças do Batalhão SCF.

18/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Caiu esta noite passada grande

camada de geada fazendo uma noite linda. Não fui à vila. Foi o

descarrilamento no Stil ficaram aviados [sic] material do Sul e Sueste os JJ

338-267 e O 97 e outros. Ao fim de 30 dias de estar no hospital ficou livre

184 185

Page 186: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Sebastião, Jorge Pessoa, Artur, estivemos uns 20 minutos e retiramos para

o T. República estivemos até principiar a 2ª sessão e entramos estivemos na

fila por detrás da menina Beatriz e Maria J. Figueiras e mãe etc. fartamos de

rir fizemos uma boneca estivemos com o meu binóculo nós já não

podíamos mais. As primas estavam no camarote do costume com

colarinhos de homem e gravatas azuis e alfinetes nas ditas gravatas. Foi

animatógrafo com a fita “O vencedor de Marte” terminou ás 24h.

Telegramas recebidos em Lisboa tendo havido grandes tumultos na Grécia

pelo motivo da formatura do governo. Na Espanha encontrava-se quase

todas as classes em greve. Houve hoje um almoço oferecido pelo Ministro

da Marinha em cascais à oficialidade do cruzador inglez Temeraire. O

cruzador francês Joanne d' Arc que conduz muitos aspirantes de marinha

em viagem de instrução deve chegar depois de amanhã ao Tejo. Homtem

[sic] pelas 13 h na Rua Nova do Carmo alvo de um atentado do qual saiu

sem ferimento algum o agente António Maria da Polícia de Informação

conhecido pelo Praça.

22/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez um dia e peras.

Houve sol e eclipse. Fui avisado para ir à Instrução M. Preparatória pelo F.

Caçareiro. Houve no Grupo de 22 Caitilon havendo concurso de beleza de

sexo masculino sendo gainho [sic] pelo Alexandre Pireza desenhador e do

sexo feminino a filha do Morais. Deu parte doente o revisor J.S.R. Marques.

1920 Continuação da greve. Fez uma manhã regular teve poucos astros

pelo espaço e pelas 14h10 principiou a nublar-se e trovejando e

refrescando vento oeste. Não tocou a buzina das Oficinas dos CFSS. Esta

breve apresentar ao Parlamento o novo governo. Foi postos uns novos

editais pela Câmara M. com respeito assistência pública. Houve reunião só

para o pessoal de locomotivas. Pelas 20h10 atiraram-se alguns foguetes

dizia os boateiros a claque do Luiz Penim que era a greve resolvida soube-se

mais tarde que era o aniversário do 22. Pelo motivo do boato da greve

resolvida havia já cervejas e uma fulana na Rua Marquez Pombal disse

agora vem um bote de dinheiro para o Barreiro. No Largo Casal não se podia

passar, pelo motivo encontrar-se este cheio de ferroviários vinha saber

notícias como houviram os foguetes e boato estava perto duns 300

ferroviários e doutras classes. Soube que pelas 19h30 atirou-se da janela

abaixo o António Duarte ficando em estado grave. Falei com a M.G.M. esta

foi ao Lavradio. Fez uma noite linda de luar e principiou a nublar-se pelas

21h e tal. Foi o funeral da Maria Rosa Maluca. Foi posto em liberdade o

da greve outras coisa encontrava-se reformados Artur Vieira e Vitorino

Lobato mas dizem que são as ditas reformas não são legais. Em Constância

pelas 12h a maioria da população da vila seguiu a casa do proprietário do

concelho Sr. Vicente T. com grandes manifestações pelo mesmo estar a

fornecer ao mercado azeite a 70 cent. e o pão a 22 cent. kilo que pelo paiz

está o azeite a 4$50 e o pão a 54 cent. kilo. Começou as festas em Portalegre

de S. Condestável prolonga-se 3 dias. O raid de Lisboa à Madeira três

oficiais do G. do E. tomaram a iniciativa de abrir uma subscrição para a

compra de um novo aparelho que o Capitão Brito Pais e o tenente S. Beira

renovar a sua heróica aventura. Já está até hoje na quantia de 11.500

escudos. Há dias veio nos jornais um duel [sic] entre o Sr. Cunha Leal e A.

Granjo ficando hoje liquidado com honra para ambas as partes. O governo

actual tomou posse 3 causas a tratar de importância são as seguintes greve

dos CFSS e M. Douro, e as T. M. do Estado e carvão e trigo. Foi posto fora do

Continente da República o vigarista Alberto F. da Silva “O Capoeira I”. A

C.G.T. abriu pelo país uma subscrição para os grevistas do Estado.

21/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Deu o 2º ataque à minha

sobrinha Margarida. Falei com a M.G.M. dei-lhe uma lapiseira. Fez 5 anos

que o meu mano mais 5 camaradas montaram a Associação dos

Empregados dos CFSS. 1920 Continuação da greve. Até hoje a subscrição

para os ferroviários é de 1.000 escudos. Tocou a buzina das O. Gerais às

7h15 e 10h e às 11h46. Fez um dia lindo vento pouco de nordeste. Continua

a fazer as carreiras de Barreiro para Lisboa os vapores Atália, Minho,

Algarve e os rebocadores Vitória e Europa e T. Trigueiros e umas 10

locomotivas etc. Fui para a vila às 16h20 e cheguei ao L. casal e fui à S.

Instrução depois saí estive de conversa no dito Largo chegou o Abelardo F.

este entregou-me 3 cadeiras nº 17-19-21 fui dar uma volta à vila mais o F.

António, Jorge Soares, etc. fui mais o Artur S, Jorge C. Pessoa, e Sebastião

pagar as ditas cadeiras ao Abelardo F. o último comprou outra a seguir à

claque fomos dar uma volta à vila às 18h40 chegamos ao L. Casal o Artur S.

disse que esperasse foi a casa buscar e trouxe uma caixa com feitio de livro

em cortiça para oferecer nos anos à menina Maria José Figueiras estivemos

a ver à luz do kiosque mais o Jorge Pessoa, Sebastião, retiramos para casa

depois retirei para a vila. Falei com a M.G.M. Regressei ao Largo Casal

encontrava-se o Artur S. e fomos à Farmácia do José da Costa falar com o

farmacêutico Penedo pelo motivo de eu ter a boca inflamada resposta que

levasse um frasquinho. Esteve a noite nublada. Fomos até ao T. Cine eu,

186 187

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Sebastião, Jorge Pessoa, Artur, estivemos uns 20 minutos e retiramos para

o T. República estivemos até principiar a 2ª sessão e entramos estivemos na

fila por detrás da menina Beatriz e Maria J. Figueiras e mãe etc. fartamos de

rir fizemos uma boneca estivemos com o meu binóculo nós já não

podíamos mais. As primas estavam no camarote do costume com

colarinhos de homem e gravatas azuis e alfinetes nas ditas gravatas. Foi

animatógrafo com a fita “O vencedor de Marte” terminou ás 24h.

Telegramas recebidos em Lisboa tendo havido grandes tumultos na Grécia

pelo motivo da formatura do governo. Na Espanha encontrava-se quase

todas as classes em greve. Houve hoje um almoço oferecido pelo Ministro

da Marinha em cascais à oficialidade do cruzador inglez Temeraire. O

cruzador francês Joanne d' Arc que conduz muitos aspirantes de marinha

em viagem de instrução deve chegar depois de amanhã ao Tejo. Homtem

[sic] pelas 13 h na Rua Nova do Carmo alvo de um atentado do qual saiu

sem ferimento algum o agente António Maria da Polícia de Informação

conhecido pelo Praça.

22/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fez um dia e peras.

Houve sol e eclipse. Fui avisado para ir à Instrução M. Preparatória pelo F.

Caçareiro. Houve no Grupo de 22 Caitilon havendo concurso de beleza de

sexo masculino sendo gainho [sic] pelo Alexandre Pireza desenhador e do

sexo feminino a filha do Morais. Deu parte doente o revisor J.S.R. Marques.

1920 Continuação da greve. Fez uma manhã regular teve poucos astros

pelo espaço e pelas 14h10 principiou a nublar-se e trovejando e

refrescando vento oeste. Não tocou a buzina das Oficinas dos CFSS. Esta

breve apresentar ao Parlamento o novo governo. Foi postos uns novos

editais pela Câmara M. com respeito assistência pública. Houve reunião só

para o pessoal de locomotivas. Pelas 20h10 atiraram-se alguns foguetes

dizia os boateiros a claque do Luiz Penim que era a greve resolvida soube-se

mais tarde que era o aniversário do 22. Pelo motivo do boato da greve

resolvida havia já cervejas e uma fulana na Rua Marquez Pombal disse

agora vem um bote de dinheiro para o Barreiro. No Largo Casal não se podia

passar, pelo motivo encontrar-se este cheio de ferroviários vinha saber

notícias como houviram os foguetes e boato estava perto duns 300

ferroviários e doutras classes. Soube que pelas 19h30 atirou-se da janela

abaixo o António Duarte ficando em estado grave. Falei com a M.G.M. esta

foi ao Lavradio. Fez uma noite linda de luar e principiou a nublar-se pelas

21h e tal. Foi o funeral da Maria Rosa Maluca. Foi posto em liberdade o

da greve outras coisa encontrava-se reformados Artur Vieira e Vitorino

Lobato mas dizem que são as ditas reformas não são legais. Em Constância

pelas 12h a maioria da população da vila seguiu a casa do proprietário do

concelho Sr. Vicente T. com grandes manifestações pelo mesmo estar a

fornecer ao mercado azeite a 70 cent. e o pão a 22 cent. kilo que pelo paiz

está o azeite a 4$50 e o pão a 54 cent. kilo. Começou as festas em Portalegre

de S. Condestável prolonga-se 3 dias. O raid de Lisboa à Madeira três

oficiais do G. do E. tomaram a iniciativa de abrir uma subscrição para a

compra de um novo aparelho que o Capitão Brito Pais e o tenente S. Beira

renovar a sua heróica aventura. Já está até hoje na quantia de 11.500

escudos. Há dias veio nos jornais um duel [sic] entre o Sr. Cunha Leal e A.

Granjo ficando hoje liquidado com honra para ambas as partes. O governo

actual tomou posse 3 causas a tratar de importância são as seguintes greve

dos CFSS e M. Douro, e as T. M. do Estado e carvão e trigo. Foi posto fora do

Continente da República o vigarista Alberto F. da Silva “O Capoeira I”. A

C.G.T. abriu pelo país uma subscrição para os grevistas do Estado.

21/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Deu o 2º ataque à minha

sobrinha Margarida. Falei com a M.G.M. dei-lhe uma lapiseira. Fez 5 anos

que o meu mano mais 5 camaradas montaram a Associação dos

Empregados dos CFSS. 1920 Continuação da greve. Até hoje a subscrição

para os ferroviários é de 1.000 escudos. Tocou a buzina das O. Gerais às

7h15 e 10h e às 11h46. Fez um dia lindo vento pouco de nordeste. Continua

a fazer as carreiras de Barreiro para Lisboa os vapores Atália, Minho,

Algarve e os rebocadores Vitória e Europa e T. Trigueiros e umas 10

locomotivas etc. Fui para a vila às 16h20 e cheguei ao L. casal e fui à S.

Instrução depois saí estive de conversa no dito Largo chegou o Abelardo F.

este entregou-me 3 cadeiras nº 17-19-21 fui dar uma volta à vila mais o F.

António, Jorge Soares, etc. fui mais o Artur S, Jorge C. Pessoa, e Sebastião

pagar as ditas cadeiras ao Abelardo F. o último comprou outra a seguir à

claque fomos dar uma volta à vila às 18h40 chegamos ao L. Casal o Artur S.

disse que esperasse foi a casa buscar e trouxe uma caixa com feitio de livro

em cortiça para oferecer nos anos à menina Maria José Figueiras estivemos

a ver à luz do kiosque mais o Jorge Pessoa, Sebastião, retiramos para casa

depois retirei para a vila. Falei com a M.G.M. Regressei ao Largo Casal

encontrava-se o Artur S. e fomos à Farmácia do José da Costa falar com o

farmacêutico Penedo pelo motivo de eu ter a boca inflamada resposta que

levasse um frasquinho. Esteve a noite nublada. Fomos até ao T. Cine eu,

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panarício no dedo polegar da mão direita sendo lancetado pelo dito

médico ficando os tratamentos dados pela Ilisa Chamusca. Às 19h30 o J.

Aurélio mostrou-me e ao M. da Silva praticante dos CFSS que encontra-se

hospedado há tempos em casa do Gandum um jornal da noite com uma

figura da Torre eF. [sic] em Paris e de um americano que atirou-se da dita

vista por milhares de pessoas da cidade no fim de tanto sarilho o M. Silva

deu-me e guardei o dito jornal. Pelas 19h50 houve uma discussão no L.

Casal entre a claque e outros por motivo de belesas para levar ao T.

República para fazer critica na dita discussão era eu, F. Vicente, M. da Silva,

Artur S., Jorge Pessoa, Jorge Soares, António R.S., Sebastião G., etc. Ás

20h10 estava com alguns da claque ao pé da Alfaiataria Ferreira momentos

depois entrou o dito alfaiate este saiu conversou com a claque com

respeito a greve e a despedida disse as seguintes frases: eles lá dentro

mordem-se mas cá fora são amigos sabem o que lhes digo meus senhores

puta que os pariu a todos boa noite meus senhores. Deu pelas frases o

Sebastião G. sendo escritas pelo M. da Silva as ditas frases e meteu-se por

baixo da porta da alfaiataria do dito, ficando em segredo. Ás 20h40

encontrava-se na S. Instrução muita rapaziada mas a jogar à bisca outros ao

cavalo e sol, etc. pelas 21h principiou a chover e a fazer grande temporal.

Fez 19 anos o Daciano J. Ribeiro. Na C. dos Deputados quando se

encontrava em grande discussão e neste momento entrou na sala das

sessões um gato preto. Ficou formado um novo governo na Bélgica. O

cruzador Temaraire inglez levantou ferro às 17h no Tejo salvou à saída

sendo respondido por barcos de guerra e fortalezas portuguesas. O

Príncipe Jorge não saltou a terra todo o dia a bordo do no leito por se sentir

ligeiramente incomodado. Encontrando-se ainda no Tejo o cruzador

francez Jeaunne de Arc. Com respeito ao parlamento batem-se uns contra

os outros para deitar o novo ministério presidido pelo Álvaro de Castro

abaixo entre eles o J. Nunes e João Camoesas sendo apresentada a moção

desconfiança mas ainda não foi votada. Os sargentos e militares ao serviço

dos CFSS no sábado passado portaram-se de uma maneira digna pois

mostraram fizeram oferecimento duns 70 escudos para a subscrição aberta

em auxílio dos ferroviários e entregaram hontem mais 20 escudos.

25/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Não fui à

vila chovendo mas pouco. Foi assaltado pelo máscara vermelha o genro do

Vasconcelos e a filha esta com o susto teve uma creança. Na Quinta dos

Arcos o filho do Caco da Graxa que pertence à quadrilha foi atingido com 3

guarda-freio Sebola [sic]. Realizou um almoço em Cintra e um chá no

Palácio da Legação Ingleza o Príncipe Jorge tem estado retido no leito a

bordo o Temaraire com uma ligeira constipação encontrando melhor. Os

jogadores portugueses de Foot Ball D. José e Verde foram convidados a ir

hoje almoçar a bordo do Temaraire embarcaram no Cais das Colunas às

16h30 o dito cruzador largará amanhã do Tejo. Na C. Portuguesa o pessoal

resolveu após 40 dias em greve a dita mas surda [sic].

23/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Casou a minha

prima Judite com o maquinista Alberto Fiusa este era viúvo. Fez 5 anos a

fundação da Associação dos Ferroviários dos CFSS fez-se uma pequena

festa sendo brilhantada pelas duas sociedades Inst. e Democrática. Houve

um desafio de Foot Ball com os marinheiros tocando ao dito desafio a S.

Instrução e houve mais divertimentos seportivos [sic] entre eles corridas

etc. pelas 24h pois-se névoa. Andava no T. Cine a fita as G. de Leão. 1920

Continuação da greve. Correu o boato que tinham dado uma grande tareia

no encarregado das Oficinas G. o José de Alcácer e puseram um aviso com

ameaça aos Srs. J. da Luz e M. António, etc. tinham umas cruzes pretas,

estavam um deles no L. Casal. Tocou a buzina às 10h e às 17h a última. Ficou

sem efeito a reunião dos ferroviários às 15h no sítio combinado. Principiou

a chover e a fazer grande temporal pelas 17h18. Ás 22h pois-se uma noite

linda de luar e peras. Não fui à vila. Manifestou-se grande incêndio no P.

Bispo nos armazéns de vinhos os prejuízos foram 200 contos. Encontra-se

apenas ao serviço tripuladas por militares umas 10 locomotivas.

24/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Ficou resolvido eu mais o Artur

S. e Eduardo E. S. ao Forte de Monsanto ver o Bernardino A. X. mas não

fomos. 1920 Continuação da greve. Todo o dia nublado fazendo vento

Sudoeste. Amanhã termina o praso para entrega dos requerimentos dos

ferroviários grevistas o dito prazo dado pelo Raul Esteves. Houve reunião

dos ferroviários no campo pelo motivo de constar que havia centenas de

requerimentos feitos para se entregar amanhã, eu fui ver. Falou os

seguintes oradores M. Correia e A. J. Piloto terminou às 18 e tal e houve

reunião dos ferroviários em Lisboa tiveram de dar a sua palavra de honra e

assinar um documento como não faziam requerimentos para entregar que

termina o praso dado pelo Raul Esteves. Fui à vila às 17h e dei umas voltas à

vila com o Carlos Diogo. Ás 18h40 a minha mana Hermínia foi mais Ilisa

Chamusca ao médico Tavares ao Hotel das Castanhas pelo motivo de um

188 189

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panarício no dedo polegar da mão direita sendo lancetado pelo dito

médico ficando os tratamentos dados pela Ilisa Chamusca. Às 19h30 o J.

Aurélio mostrou-me e ao M. da Silva praticante dos CFSS que encontra-se

hospedado há tempos em casa do Gandum um jornal da noite com uma

figura da Torre eF. [sic] em Paris e de um americano que atirou-se da dita

vista por milhares de pessoas da cidade no fim de tanto sarilho o M. Silva

deu-me e guardei o dito jornal. Pelas 19h50 houve uma discussão no L.

Casal entre a claque e outros por motivo de belesas para levar ao T.

República para fazer critica na dita discussão era eu, F. Vicente, M. da Silva,

Artur S., Jorge Pessoa, Jorge Soares, António R.S., Sebastião G., etc. Ás

20h10 estava com alguns da claque ao pé da Alfaiataria Ferreira momentos

depois entrou o dito alfaiate este saiu conversou com a claque com

respeito a greve e a despedida disse as seguintes frases: eles lá dentro

mordem-se mas cá fora são amigos sabem o que lhes digo meus senhores

puta que os pariu a todos boa noite meus senhores. Deu pelas frases o

Sebastião G. sendo escritas pelo M. da Silva as ditas frases e meteu-se por

baixo da porta da alfaiataria do dito, ficando em segredo. Ás 20h40

encontrava-se na S. Instrução muita rapaziada mas a jogar à bisca outros ao

cavalo e sol, etc. pelas 21h principiou a chover e a fazer grande temporal.

Fez 19 anos o Daciano J. Ribeiro. Na C. dos Deputados quando se

encontrava em grande discussão e neste momento entrou na sala das

sessões um gato preto. Ficou formado um novo governo na Bélgica. O

cruzador Temaraire inglez levantou ferro às 17h no Tejo salvou à saída

sendo respondido por barcos de guerra e fortalezas portuguesas. O

Príncipe Jorge não saltou a terra todo o dia a bordo do no leito por se sentir

ligeiramente incomodado. Encontrando-se ainda no Tejo o cruzador

francez Jeaunne de Arc. Com respeito ao parlamento batem-se uns contra

os outros para deitar o novo ministério presidido pelo Álvaro de Castro

abaixo entre eles o J. Nunes e João Camoesas sendo apresentada a moção

desconfiança mas ainda não foi votada. Os sargentos e militares ao serviço

dos CFSS no sábado passado portaram-se de uma maneira digna pois

mostraram fizeram oferecimento duns 70 escudos para a subscrição aberta

em auxílio dos ferroviários e entregaram hontem mais 20 escudos.

25/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Não fui à

vila chovendo mas pouco. Foi assaltado pelo máscara vermelha o genro do

Vasconcelos e a filha esta com o susto teve uma creança. Na Quinta dos

Arcos o filho do Caco da Graxa que pertence à quadrilha foi atingido com 3

guarda-freio Sebola [sic]. Realizou um almoço em Cintra e um chá no

Palácio da Legação Ingleza o Príncipe Jorge tem estado retido no leito a

bordo o Temaraire com uma ligeira constipação encontrando melhor. Os

jogadores portugueses de Foot Ball D. José e Verde foram convidados a ir

hoje almoçar a bordo do Temaraire embarcaram no Cais das Colunas às

16h30 o dito cruzador largará amanhã do Tejo. Na C. Portuguesa o pessoal

resolveu após 40 dias em greve a dita mas surda [sic].

23/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T. Casou a minha

prima Judite com o maquinista Alberto Fiusa este era viúvo. Fez 5 anos a

fundação da Associação dos Ferroviários dos CFSS fez-se uma pequena

festa sendo brilhantada pelas duas sociedades Inst. e Democrática. Houve

um desafio de Foot Ball com os marinheiros tocando ao dito desafio a S.

Instrução e houve mais divertimentos seportivos [sic] entre eles corridas

etc. pelas 24h pois-se névoa. Andava no T. Cine a fita as G. de Leão. 1920

Continuação da greve. Correu o boato que tinham dado uma grande tareia

no encarregado das Oficinas G. o José de Alcácer e puseram um aviso com

ameaça aos Srs. J. da Luz e M. António, etc. tinham umas cruzes pretas,

estavam um deles no L. Casal. Tocou a buzina às 10h e às 17h a última. Ficou

sem efeito a reunião dos ferroviários às 15h no sítio combinado. Principiou

a chover e a fazer grande temporal pelas 17h18. Ás 22h pois-se uma noite

linda de luar e peras. Não fui à vila. Manifestou-se grande incêndio no P.

Bispo nos armazéns de vinhos os prejuízos foram 200 contos. Encontra-se

apenas ao serviço tripuladas por militares umas 10 locomotivas.

24/11/920 Fez 1 ano que estive de folga. Ficou resolvido eu mais o Artur

S. e Eduardo E. S. ao Forte de Monsanto ver o Bernardino A. X. mas não

fomos. 1920 Continuação da greve. Todo o dia nublado fazendo vento

Sudoeste. Amanhã termina o praso para entrega dos requerimentos dos

ferroviários grevistas o dito prazo dado pelo Raul Esteves. Houve reunião

dos ferroviários no campo pelo motivo de constar que havia centenas de

requerimentos feitos para se entregar amanhã, eu fui ver. Falou os

seguintes oradores M. Correia e A. J. Piloto terminou às 18 e tal e houve

reunião dos ferroviários em Lisboa tiveram de dar a sua palavra de honra e

assinar um documento como não faziam requerimentos para entregar que

termina o praso dado pelo Raul Esteves. Fui à vila às 17h e dei umas voltas à

vila com o Carlos Diogo. Ás 18h40 a minha mana Hermínia foi mais Ilisa

Chamusca ao médico Tavares ao Hotel das Castanhas pelo motivo de um

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começou a nublar-se pela tarde e fazendo vento Noroeste. Só entraram no

dia 25 do corrente mês prazo dado pelo Raul Esteves 5 requerimentos nas

Oficinas entre eles o Cavaco escriturário, Manuel António F. servente,

António M. fogueiro, Lobato carpinteiro e João Saul. Fui para a vila às 16h20

estive no L. Casal e depois barbeiro Ventura neste momento apareceu o pai

do J.S. Borralho procurando o filho depois de falar algum tempo com nós o

Ventura disse-lhe se vinha à procura do seu filho e ele disse ando o Ventura

disse olhe vá à janela veja o beco da praia vio [sic] e riu vou à praia apareceu

o Godinho e pai dela foi um ataque após 3 dias de namoro. Fui dar uma

volta à vila às 18h10 mais o Artur, S. Gomes, Guerreiro Proença, Azevedo,

Eugénio da Silva e outros fizemos uma bicha numa das bombas do Poço

Municipal (ou 16) e outra no kiosque no L. Casal etc. Nesta noite foi preso o

Alberto Azevedo. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários em

Lisboa. Encontrava-se em serviço dos CFSS uma máquina da Comp.

Portuguesa nº 120 esta aqueceu um boque. Fez uma noite linda de luar

mas muito fria. Amanhã seguirá para Inglaterra as guarnições para os

cruzadores comprados de nomes República e Carvalho de Araújo

recentemente adquiridos para a marinha portuguesa. O comandante do

cruzador francez Jeanne Arc oferece hoje um almoço ao sr. P. do ministério

e ministros da Marinha de Guerra estrangeiras e autoridades do exército e

marinha etc. Ficou formado novo ministério presidido pelo general Abel

Hipólito. Fez 400 anos que Fernão Magalhães atravessou o estreito que

tem o seu nome. Esta noite foi inaugurada a época do inverno no C. dos

Recreios as melhores artistas mundiais com uma Companhia de Circo.

28/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um

dia tristíssimo todo o dia. Houve reunião na S. Instrução para novos corpos

grevistas [sic]. 1920 Continuação da greve. Fez um dia e peras fazendo uma

aragem Nordeste e fez uma noite linda e calmosa de luar e algum frio.

Desertaram a noite passada alguns militares que se encontravam ao

serviço dos CFSS, encontrando-se já preso o Sargento Azevedo. Andavam

ao serviço 2 barcos da carreira de Lisboa para Barreiro etc. era o rebocador

Europa e vapor Minho este último andou todo o dia avariado fizeram

apenas 5 carreiras. Tocou nas Oficinas Gerais dos CFSS a Banda dos SCF. Fui

para a vila às 15h30 estive no L. Casal de conversa e às 17h20 chegou o

Artur fomos ao T. República comprar os bilhetes para a 2ª sessão de 5 nº 7-

9-13-15-17 era cadeiras saímos dar uma volta era eu, Artur, Sebastião,

Parra e às 18h5 soube que tinha caído o novo governo formado hontem

tiros ficando com uma mão em estado grave. 1920 Continuação da greve.

Terminou o prazo dado pelo Raul Esteves. De madrugada da 1h20 às 3h10

pairou sobre a vila uma violenta trovoada e muitíssima chuva e vento e o

resto do dia nublado. Não tocou a buzina das Of. Gerais dos CFSS. Pelas 13h

principiou a pingar e às 14 e tal passou pela Rua Miguel Pais o Sr. Raul

Esteves mais dois oficiais, dando a volta à vila a pé. Andou todo o dia pela

vila patrulhas da GNR e de Inf. e Cavalaria não autorizando grupos pelas

ruas, nem nos estabelecimentos etc. Falei com a M.G.M. Neste momento

passava uma patrulha de GNR de Inf. E depois chegou outra a cavalo eles

foram para o beco do António Luiz Marques e o incidente foi em casa do A.

L. Marques eram 19h. Fez uma noite linda de luar e calmosa mas fria. Estive

a jogar a bisca na S. Instrução mais Vitorino, Aurélio e António Correia e

outro contra o Artur, Delícias e F. Paiva e outro eles ganharam. No

parlamento o governo sem maioria a moção de desconfiança é aprovada

por 60 votos contra 35 e o governo pediu a demissão ao presidente da

República. Veio nos jornais que aprovada uma proposta de lei aumentando

a circulação fiduciária em 200 mil contos.

26/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T chovendo todo

o dia e toda a noite sendo vento de travessia. 1920 Continuação da greve.

Todo o dia fez grande temporal principalmente chuva todo o dia. Caiu o

governo do Álvaro de Castro. Fui à vila às 18h20 estive a jogar a bisca na S.

Instrução mais o Júlio contra Artur e M. P. Costa fizemos uma bola e eles

nada. Neste momento caiu um grande aguaceiro. Na dita S. Instrução

encontrava-se às 19h40 reunião do Comité local na sala. Pelas 20h10

regressei a casa pelo motivo da chuva ás 22h10 estava noite regular. Foi

descoberto que o J.S. Borralho namorava a Maria Goudinho [sic]. Foi

autorizado pelo senado da República a cunhagem de 2000 contos de

moedas de 5 cent. em cobre foi aprovado sem discussão. Grandes abalos

de terra em todo o país no Porto sentiu-se às 11h45 em Braga às 12h com

uma certa violência em Seia às 11h30, Viana do Castelo às 12h etc.

27/11/920 Fez 1 ano que estive de folga encontrava-me na barbaria [sic]

Ventura na R. M. Pombal quando Alice Ramos estava à janela com um ferro

de engomar caindo do dito uma brasa sobre um casaco de ganga de uma

vizinha fez um buraco era 15h25h. Encontrava-se doente dos intestinos o

Carlos Diogo e a minha mãe de cama com o ataque de falta de ar. Falei com

a M.G.M. 1920 Continuação da greve. Fez uma manhã linda depois

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começou a nublar-se pela tarde e fazendo vento Noroeste. Só entraram no

dia 25 do corrente mês prazo dado pelo Raul Esteves 5 requerimentos nas

Oficinas entre eles o Cavaco escriturário, Manuel António F. servente,

António M. fogueiro, Lobato carpinteiro e João Saul. Fui para a vila às 16h20

estive no L. Casal e depois barbeiro Ventura neste momento apareceu o pai

do J.S. Borralho procurando o filho depois de falar algum tempo com nós o

Ventura disse-lhe se vinha à procura do seu filho e ele disse ando o Ventura

disse olhe vá à janela veja o beco da praia vio [sic] e riu vou à praia apareceu

o Godinho e pai dela foi um ataque após 3 dias de namoro. Fui dar uma

volta à vila às 18h10 mais o Artur, S. Gomes, Guerreiro Proença, Azevedo,

Eugénio da Silva e outros fizemos uma bicha numa das bombas do Poço

Municipal (ou 16) e outra no kiosque no L. Casal etc. Nesta noite foi preso o

Alberto Azevedo. Falei com a M.G.M. Houve reunião dos ferroviários em

Lisboa. Encontrava-se em serviço dos CFSS uma máquina da Comp.

Portuguesa nº 120 esta aqueceu um boque. Fez uma noite linda de luar

mas muito fria. Amanhã seguirá para Inglaterra as guarnições para os

cruzadores comprados de nomes República e Carvalho de Araújo

recentemente adquiridos para a marinha portuguesa. O comandante do

cruzador francez Jeanne Arc oferece hoje um almoço ao sr. P. do ministério

e ministros da Marinha de Guerra estrangeiras e autoridades do exército e

marinha etc. Ficou formado novo ministério presidido pelo general Abel

Hipólito. Fez 400 anos que Fernão Magalhães atravessou o estreito que

tem o seu nome. Esta noite foi inaugurada a época do inverno no C. dos

Recreios as melhores artistas mundiais com uma Companhia de Circo.

28/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um

dia tristíssimo todo o dia. Houve reunião na S. Instrução para novos corpos

grevistas [sic]. 1920 Continuação da greve. Fez um dia e peras fazendo uma

aragem Nordeste e fez uma noite linda e calmosa de luar e algum frio.

Desertaram a noite passada alguns militares que se encontravam ao

serviço dos CFSS, encontrando-se já preso o Sargento Azevedo. Andavam

ao serviço 2 barcos da carreira de Lisboa para Barreiro etc. era o rebocador

Europa e vapor Minho este último andou todo o dia avariado fizeram

apenas 5 carreiras. Tocou nas Oficinas Gerais dos CFSS a Banda dos SCF. Fui

para a vila às 15h30 estive no L. Casal de conversa e às 17h20 chegou o

Artur fomos ao T. República comprar os bilhetes para a 2ª sessão de 5 nº 7-

9-13-15-17 era cadeiras saímos dar uma volta era eu, Artur, Sebastião,

Parra e às 18h5 soube que tinha caído o novo governo formado hontem

tiros ficando com uma mão em estado grave. 1920 Continuação da greve.

Terminou o prazo dado pelo Raul Esteves. De madrugada da 1h20 às 3h10

pairou sobre a vila uma violenta trovoada e muitíssima chuva e vento e o

resto do dia nublado. Não tocou a buzina das Of. Gerais dos CFSS. Pelas 13h

principiou a pingar e às 14 e tal passou pela Rua Miguel Pais o Sr. Raul

Esteves mais dois oficiais, dando a volta à vila a pé. Andou todo o dia pela

vila patrulhas da GNR e de Inf. e Cavalaria não autorizando grupos pelas

ruas, nem nos estabelecimentos etc. Falei com a M.G.M. Neste momento

passava uma patrulha de GNR de Inf. E depois chegou outra a cavalo eles

foram para o beco do António Luiz Marques e o incidente foi em casa do A.

L. Marques eram 19h. Fez uma noite linda de luar e calmosa mas fria. Estive

a jogar a bisca na S. Instrução mais Vitorino, Aurélio e António Correia e

outro contra o Artur, Delícias e F. Paiva e outro eles ganharam. No

parlamento o governo sem maioria a moção de desconfiança é aprovada

por 60 votos contra 35 e o governo pediu a demissão ao presidente da

República. Veio nos jornais que aprovada uma proposta de lei aumentando

a circulação fiduciária em 200 mil contos.

26/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 horas no Barreiro T chovendo todo

o dia e toda a noite sendo vento de travessia. 1920 Continuação da greve.

Todo o dia fez grande temporal principalmente chuva todo o dia. Caiu o

governo do Álvaro de Castro. Fui à vila às 18h20 estive a jogar a bisca na S.

Instrução mais o Júlio contra Artur e M. P. Costa fizemos uma bola e eles

nada. Neste momento caiu um grande aguaceiro. Na dita S. Instrução

encontrava-se às 19h40 reunião do Comité local na sala. Pelas 20h10

regressei a casa pelo motivo da chuva ás 22h10 estava noite regular. Foi

descoberto que o J.S. Borralho namorava a Maria Goudinho [sic]. Foi

autorizado pelo senado da República a cunhagem de 2000 contos de

moedas de 5 cent. em cobre foi aprovado sem discussão. Grandes abalos

de terra em todo o país no Porto sentiu-se às 11h45 em Braga às 12h com

uma certa violência em Seia às 11h30, Viana do Castelo às 12h etc.

27/11/920 Fez 1 ano que estive de folga encontrava-me na barbaria [sic]

Ventura na R. M. Pombal quando Alice Ramos estava à janela com um ferro

de engomar caindo do dito uma brasa sobre um casaco de ganga de uma

vizinha fez um buraco era 15h25h. Encontrava-se doente dos intestinos o

Carlos Diogo e a minha mãe de cama com o ataque de falta de ar. Falei com

a M.G.M. 1920 Continuação da greve. Fez uma manhã linda depois

190 191

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pelo General A. Hipólito pelas 18h30 tivemos de conversa eu, Artur S.,

Soeiro e outros depois retirei para casa. Disseram que deram uma grande

tareia e partiram o sabre e rasgaram a um Guarda Republicano junto à

Igreja da S. do Rosário foi às 19h e tal quando se deu a dita fita por esse

motivo o Eugénio da Silva foi maltratado pelas patrulhas da dita Guarda

sendo contra a carroça do Azeitão na A. Reis sendo outras pessoas

apalpadas e outras presas etc. Regressei à vila pela R. Miguel Pais ao passar

em frente da ferraria do M. Ferreira passava mais 3 civis presos e umas 20

praças da GNR e grandes discussões na R. Aguiar cheguei ao L. Casal estive a

falar com o Vieira e o Oliveira sobre o assunto do GNR este último foi

atacado por Guardas com receio de vir para a fábrica este último esperava

que terminasse a 1ª sessão prestar serviço nas caldeiras chegou o Mário

Cândido a falar disse o J. Viera disse que estava à esquina da Igreja quando

se dava a desordem do GNR andando as praças da GNR em procura e nunca

disseram coisa alguma depois chegou o Artur viemos para o T.R. exceto [sic]

o J. Oliveira encontrava-se a claque chegou o Carlos D., António M., Vieira

estes dizendo a Pátria está em perigo vão ver à praia assim foi retiramos eu,

S. Gomes, Daciano, chegamos e não houvimos coisa alguma regressamos

ao T.R. depois estivemos de conversa sobre a ida à praia fartamos de rir. No

dito Teatro foi inaugurado um lampião na porta central que dá para a R. A.

Reis e no Tatro-Cine foi inaugurado um motor. Está-se a tratar de formar um

novo governo pelo sr. L. Pinto. No T.R. como não pudemos fechar as portas

às pessoas na 1ª sessão colocamos pedras ao sair das portas etc. foi de

fartarmos a rir até não poder mais. Entramos para o T.R. foi cadeiras nº 15-

15-17-9-7-69-99 em diversas filas era eu, Artur, Jorge, S. Gomes, Eugénio

Silva, Eduardo E.S. e M. Silva principiamos a ver o animatógrafo até

terminar sempre a rir foi a fita que já há dias principiou O Vencedor da

Morte pelas 24h e terminou. Deve chegar ao Tejo na presente semana o

navio escola da marinha argentina com o nome Presidente da dita

República “Sarmento” tentou o lançamento do primeiro barco feito de

madeira em Lisboa com o nome “Albertina”os rebocadores no serviço do

dito lançamento foi o “Alba três” e outros assistindo a cerimonio milhares

de pessoas.

29/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui mais o L. Cristo até A.

Vedros no comboio nº19 na c. 19 pintado de fresco e regressamos no comb.

18 na c. 74. fez uma linda noite de luar fazendo muito frio. Fez 757 anos

Fernando Gonçalves tomou Beja aos mouros. 1920 Continuação da greve.

Todo o dia esteve nublado principiou a fazer um pouco de vento Oeste

pelas 14h. A noite passada fugiram mais militares do BSCF em serviço no

CFSS. Principiou a chover às 16h20. Fui para a vila às 17h e dei uma volta e

dei uma volta à vila mais o Carlos Diogo. Andavam as ruas patrulhadas pela

GNR de Infantaria e Cavalaria não autorizam grupos nas ruas ou largos etc.

Choveu toda a noite. Falei com a M.G.M. Regressei à S. Ilustração fui jogar à

bisca mais J. Aurélio, Júlio, contra M.P. Costa, V. Aurélio, J. Morais eles

fizeram 2 bolas e nós nada. Soube que estavam ao serviço dos CFSS duas

máquinas da CP nº 120 e 125 sendo tripuladas pelo pessoal da dita

Companhia pelo motivo do dito pessoal não querer fazer comboios nas

linhas do SS foram presos e despedidos sendo substituídos por praças do

BSC Ferro.

30/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. falei com a M.G.M.

esta foi de tarde ao Lavradio mais a prima. Continuação da greve. Todo o dia

esteve grande temporal chovendo todo o dia e vento Sudoeste. 15h30

aleviou o tempo um pouco e a noite nublada e escura. Continua a fazer

carreiras os vapores Atália e Minho e o rebocador Europa. Fui para a vila às

17h até à S. Instrução era 18h10 foram de carroça para a Moita pelo motivo

de ensaio da S. Estrela Moitense o mestre Carvalho, Júlio Bifa, José

Cordeiro e o Carradas este falou-me e disse esta noite vão eles ter um

ensaio e peras e amanhã um almoço este não foi. Encontrava-se uma

claque a jogar ao Cavalo depois saí apareceu na S. Instrução em minha

procura pessoas da minha família e falaram com o Delícias C. resposta dele

foi o seu mano foi namorar. O Eugénio houvindo [sic] isto retirou para casa.

Vinha de falar com a M.G.M. encontrei as minhas manas em frente da

farmácia J. Pimenta e disseram o que se passou na Rua Miguel Pais das 19h

às 20h em frente ao chão do Herculano deram uma tareia no Inspector

Carvalho por três indivíduos desconhecidos saídos do dito chão sendo a

vítima levantada por populares e militares e pessoas de família da valeta,

encontrava-se esta cheia de água. Vinha acompanhado por outro indivíduo

que ao dar-se o caso em cima dito fugiu aos gritos ó da guarda houve uma

busca pela praia sendo presos o carregador dos CFSS de nome Saloio. Fui à

S. Instrução em procura do Eugénio da Silva este tinha saído entrou o Raul

este disse o Inspector do Pequeno Material o Carvalho levou uma

espadeirada por um Guarda Fiscal tinha-lhe dito uma mulher. Retirei para

casa mais o Custódio F. encontrei depois a família do dito e vieram até ao

chão do Herculano tivemos a falar com a rapaziada entre eles o Filipe

192 193

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pelo General A. Hipólito pelas 18h30 tivemos de conversa eu, Artur S.,

Soeiro e outros depois retirei para casa. Disseram que deram uma grande

tareia e partiram o sabre e rasgaram a um Guarda Republicano junto à

Igreja da S. do Rosário foi às 19h e tal quando se deu a dita fita por esse

motivo o Eugénio da Silva foi maltratado pelas patrulhas da dita Guarda

sendo contra a carroça do Azeitão na A. Reis sendo outras pessoas

apalpadas e outras presas etc. Regressei à vila pela R. Miguel Pais ao passar

em frente da ferraria do M. Ferreira passava mais 3 civis presos e umas 20

praças da GNR e grandes discussões na R. Aguiar cheguei ao L. Casal estive a

falar com o Vieira e o Oliveira sobre o assunto do GNR este último foi

atacado por Guardas com receio de vir para a fábrica este último esperava

que terminasse a 1ª sessão prestar serviço nas caldeiras chegou o Mário

Cândido a falar disse o J. Viera disse que estava à esquina da Igreja quando

se dava a desordem do GNR andando as praças da GNR em procura e nunca

disseram coisa alguma depois chegou o Artur viemos para o T.R. exceto [sic]

o J. Oliveira encontrava-se a claque chegou o Carlos D., António M., Vieira

estes dizendo a Pátria está em perigo vão ver à praia assim foi retiramos eu,

S. Gomes, Daciano, chegamos e não houvimos coisa alguma regressamos

ao T.R. depois estivemos de conversa sobre a ida à praia fartamos de rir. No

dito Teatro foi inaugurado um lampião na porta central que dá para a R. A.

Reis e no Tatro-Cine foi inaugurado um motor. Está-se a tratar de formar um

novo governo pelo sr. L. Pinto. No T.R. como não pudemos fechar as portas

às pessoas na 1ª sessão colocamos pedras ao sair das portas etc. foi de

fartarmos a rir até não poder mais. Entramos para o T.R. foi cadeiras nº 15-

15-17-9-7-69-99 em diversas filas era eu, Artur, Jorge, S. Gomes, Eugénio

Silva, Eduardo E.S. e M. Silva principiamos a ver o animatógrafo até

terminar sempre a rir foi a fita que já há dias principiou O Vencedor da

Morte pelas 24h e terminou. Deve chegar ao Tejo na presente semana o

navio escola da marinha argentina com o nome Presidente da dita

República “Sarmento” tentou o lançamento do primeiro barco feito de

madeira em Lisboa com o nome “Albertina”os rebocadores no serviço do

dito lançamento foi o “Alba três” e outros assistindo a cerimonio milhares

de pessoas.

29/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fui mais o L. Cristo até A.

Vedros no comboio nº19 na c. 19 pintado de fresco e regressamos no comb.

18 na c. 74. fez uma linda noite de luar fazendo muito frio. Fez 757 anos

Fernando Gonçalves tomou Beja aos mouros. 1920 Continuação da greve.

Todo o dia esteve nublado principiou a fazer um pouco de vento Oeste

pelas 14h. A noite passada fugiram mais militares do BSCF em serviço no

CFSS. Principiou a chover às 16h20. Fui para a vila às 17h e dei uma volta e

dei uma volta à vila mais o Carlos Diogo. Andavam as ruas patrulhadas pela

GNR de Infantaria e Cavalaria não autorizam grupos nas ruas ou largos etc.

Choveu toda a noite. Falei com a M.G.M. Regressei à S. Ilustração fui jogar à

bisca mais J. Aurélio, Júlio, contra M.P. Costa, V. Aurélio, J. Morais eles

fizeram 2 bolas e nós nada. Soube que estavam ao serviço dos CFSS duas

máquinas da CP nº 120 e 125 sendo tripuladas pelo pessoal da dita

Companhia pelo motivo do dito pessoal não querer fazer comboios nas

linhas do SS foram presos e despedidos sendo substituídos por praças do

BSC Ferro.

30/11/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. falei com a M.G.M.

esta foi de tarde ao Lavradio mais a prima. Continuação da greve. Todo o dia

esteve grande temporal chovendo todo o dia e vento Sudoeste. 15h30

aleviou o tempo um pouco e a noite nublada e escura. Continua a fazer

carreiras os vapores Atália e Minho e o rebocador Europa. Fui para a vila às

17h até à S. Instrução era 18h10 foram de carroça para a Moita pelo motivo

de ensaio da S. Estrela Moitense o mestre Carvalho, Júlio Bifa, José

Cordeiro e o Carradas este falou-me e disse esta noite vão eles ter um

ensaio e peras e amanhã um almoço este não foi. Encontrava-se uma

claque a jogar ao Cavalo depois saí apareceu na S. Instrução em minha

procura pessoas da minha família e falaram com o Delícias C. resposta dele

foi o seu mano foi namorar. O Eugénio houvindo [sic] isto retirou para casa.

Vinha de falar com a M.G.M. encontrei as minhas manas em frente da

farmácia J. Pimenta e disseram o que se passou na Rua Miguel Pais das 19h

às 20h em frente ao chão do Herculano deram uma tareia no Inspector

Carvalho por três indivíduos desconhecidos saídos do dito chão sendo a

vítima levantada por populares e militares e pessoas de família da valeta,

encontrava-se esta cheia de água. Vinha acompanhado por outro indivíduo

que ao dar-se o caso em cima dito fugiu aos gritos ó da guarda houve uma

busca pela praia sendo presos o carregador dos CFSS de nome Saloio. Fui à

S. Instrução em procura do Eugénio da Silva este tinha saído entrou o Raul

este disse o Inspector do Pequeno Material o Carvalho levou uma

espadeirada por um Guarda Fiscal tinha-lhe dito uma mulher. Retirei para

casa mais o Custódio F. encontrei depois a família do dito e vieram até ao

chão do Herculano tivemos a falar com a rapaziada entre eles o Filipe

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Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3783-17

Crespim filho do Capitão do Posto aonde este disse ter visto fugir pelo beco

do Guedes um deles pena foi não ter uma arma de fogo. E pelas 23h pois-se

névoa. Tomou hoje posse novo governo presidido por L. Pinto.

1/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi feriado por motivo do

aniversário da restauração de Portugal fez 279 anos não saiu Sociedade

alguma. Chovendo toda a madrugada e o dia idem vento Sudoeste. Fez 33

anos a minha mana Ana. Falei com a M.G.M. Faleceu o José Caldeireiro.

Estreou sobretudos novos o M. Ramalhete, José Pedroso e Mário dos S.

Cândido. 1920 Continuação da greve. De manhã esteve névoa alevantou a

dita pelas 10h esteve o restante do dia nublado e pois-se vento Noroeste.

Pelas 11h40 e às 12h salvou os navios de guerra portugueses pelo motivo

da independência de Portugal fez 280 anos. Ás 13h passou uma força de 13

praças de Cavalaria da GNR e pelas 15h principiou a chover. Retirei para a

vila às 15h25 estive no L. Casal mais o Jorge Pessoa e Eugénio e outros na S.

Instrução encontrava-se alguns a jogar ao sol e Cavalo etc. Apareceu o

António S. Ribeiro dissemos a ele se tinha visto o Artur resposta deste

encontra-se no sapateiro por baixo dele fomos logo eu, Eugénio, J. Pessoa

chamamos assim foi viemos para o Largo ele veio e deu duas cadeiras 13

para o Eugénio e 15 para mim mas vendo ao Daciano pedi 0$60 ao J.

Oliveira e foi paguei os dois bilhetes ao Artur pelas 17h10 passou o polícia

da C. Municipal o Santos trazia uma bola e com outro polícia vinham muita

rapaziada estes estavam a jogar nas vinhas e seguiram para o lado da S. do

Rosário. A partir de hoje aumentou os preços dos eléctricos em Lisboa.

Encontravam-se presos nas docas dos CFSS os ferroviários condutor

Barulho e o carregador Saloio e prenderam mais 10 correndo o boato que já

tinham posto em liberdade os ditos. Para o Vale Romão perto de Palhais

julgando haver reunião dos ferroviários foi forças da GNR a pé e de cavalaria

e engenharia e alguns camiões ainda prenderam um fulano três vezes e

palpando quem passava revistando carroças, burros etc. Avisei a M.G.M.

dizendo que à noite não falava foi pelo motivo do que se tinha passado na

Rua Miguel Pais na noite anterior. Regressei para casa às 18h10 mais o

Eugénio chovendo às 23h40 depois fez uma noite linda.

2/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. A mulher do revisor F. M.

Estaca teve uma menina hontem. Hoje fui tirar os números dos veículos de

oliação foi em número de 123 veículos etc. esteve névoa até ao meio dia

fazendo uma noite linda de luar. Não fui à vila. Recebi no pagador 57$30.

1920 Continuação da greve havia esperanças por motivo do novo governo.

Esteve todo o dia nublado e calmaria. Já há dias foi distribuído pelo país

bilhetins [sic] para estatística da população. Pelas 14h apareceu F.

Caçareiro em procura dos ditos bilhetins a minha casa estavam por encher

e ele encheu na borda do poço quem ditava era minha mana Ana. Seguiram

os ferroviários presos para Lisboa entre eles o carregador Saloio e condutor

Barulho etc. e chefe maq. M. Horta, maquinista da Via Fluvial o Gouveia 102

sendo ao todo 7. Pelas 16h30 fui para a vila estive no L. S. G.C. dei uma

volta à vila regressando ao dito Largo estava junto ao kiosque a claque e às

17h35 fui mais o Carlos Diogo, Jorge Soares ver o Alberto Azevedo e o

praticante de C. Branca de nome David à prisão dos P. Concelho andavam a

passear pelo pátio e pela rua. Depois de conversarmos fomos à taberna do

F. Caçareiro retiramos estava o Largo S. e G.C. grande número de

ferroviários à espera de notícias. Falei com a M.G.M. Regressei à S.

102 Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, antigo Largo Casal e também Largo da Alegria

194 195

Page 195: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3783-17

Crespim filho do Capitão do Posto aonde este disse ter visto fugir pelo beco

do Guedes um deles pena foi não ter uma arma de fogo. E pelas 23h pois-se

névoa. Tomou hoje posse novo governo presidido por L. Pinto.

1/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Foi feriado por motivo do

aniversário da restauração de Portugal fez 279 anos não saiu Sociedade

alguma. Chovendo toda a madrugada e o dia idem vento Sudoeste. Fez 33

anos a minha mana Ana. Falei com a M.G.M. Faleceu o José Caldeireiro.

Estreou sobretudos novos o M. Ramalhete, José Pedroso e Mário dos S.

Cândido. 1920 Continuação da greve. De manhã esteve névoa alevantou a

dita pelas 10h esteve o restante do dia nublado e pois-se vento Noroeste.

Pelas 11h40 e às 12h salvou os navios de guerra portugueses pelo motivo

da independência de Portugal fez 280 anos. Ás 13h passou uma força de 13

praças de Cavalaria da GNR e pelas 15h principiou a chover. Retirei para a

vila às 15h25 estive no L. Casal mais o Jorge Pessoa e Eugénio e outros na S.

Instrução encontrava-se alguns a jogar ao sol e Cavalo etc. Apareceu o

António S. Ribeiro dissemos a ele se tinha visto o Artur resposta deste

encontra-se no sapateiro por baixo dele fomos logo eu, Eugénio, J. Pessoa

chamamos assim foi viemos para o Largo ele veio e deu duas cadeiras 13

para o Eugénio e 15 para mim mas vendo ao Daciano pedi 0$60 ao J.

Oliveira e foi paguei os dois bilhetes ao Artur pelas 17h10 passou o polícia

da C. Municipal o Santos trazia uma bola e com outro polícia vinham muita

rapaziada estes estavam a jogar nas vinhas e seguiram para o lado da S. do

Rosário. A partir de hoje aumentou os preços dos eléctricos em Lisboa.

Encontravam-se presos nas docas dos CFSS os ferroviários condutor

Barulho e o carregador Saloio e prenderam mais 10 correndo o boato que já

tinham posto em liberdade os ditos. Para o Vale Romão perto de Palhais

julgando haver reunião dos ferroviários foi forças da GNR a pé e de cavalaria

e engenharia e alguns camiões ainda prenderam um fulano três vezes e

palpando quem passava revistando carroças, burros etc. Avisei a M.G.M.

dizendo que à noite não falava foi pelo motivo do que se tinha passado na

Rua Miguel Pais na noite anterior. Regressei para casa às 18h10 mais o

Eugénio chovendo às 23h40 depois fez uma noite linda.

2/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. A mulher do revisor F. M.

Estaca teve uma menina hontem. Hoje fui tirar os números dos veículos de

oliação foi em número de 123 veículos etc. esteve névoa até ao meio dia

fazendo uma noite linda de luar. Não fui à vila. Recebi no pagador 57$30.

1920 Continuação da greve havia esperanças por motivo do novo governo.

Esteve todo o dia nublado e calmaria. Já há dias foi distribuído pelo país

bilhetins [sic] para estatística da população. Pelas 14h apareceu F.

Caçareiro em procura dos ditos bilhetins a minha casa estavam por encher

e ele encheu na borda do poço quem ditava era minha mana Ana. Seguiram

os ferroviários presos para Lisboa entre eles o carregador Saloio e condutor

Barulho etc. e chefe maq. M. Horta, maquinista da Via Fluvial o Gouveia 102

sendo ao todo 7. Pelas 16h30 fui para a vila estive no L. S. G.C. dei uma

volta à vila regressando ao dito Largo estava junto ao kiosque a claque e às

17h35 fui mais o Carlos Diogo, Jorge Soares ver o Alberto Azevedo e o

praticante de C. Branca de nome David à prisão dos P. Concelho andavam a

passear pelo pátio e pela rua. Depois de conversarmos fomos à taberna do

F. Caçareiro retiramos estava o Largo S. e G.C. grande número de

ferroviários à espera de notícias. Falei com a M.G.M. Regressei à S.

102 Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, antigo Largo Casal e também Largo da Alegria

194 195

Page 196: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Instrução uns estavam a jogar outros de conversa etc. A noite regular mais

tarde pois-se névoa. Faleceu o Joaquim Manuel Ré pai do dono do estaleiro

de Alborrica. Foi o funeral do filho do padeiro da rua M. Pais. Tomou posse

novo Presidente da R. do México de nome Obregon. Chegaram do Brazil

mais 30 poveiros a bordo do paquete Demburgia da Mala Real Holandeza.

3/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um dia

lindo e a noite idem de luar. Hontem no estabelecimento do Álvaro

roubaram ao José da Cristina um relógio e corrente de ouro. Hoje não fui à

vila. Foi hoje oliação andei a tirar os números dos veículos sendo em

número de 88 veículos. 1920 Continuação da greve sendo cada vez mais

grave a situação dos grevistas. Esteve o tempo o dia todo nublado mas

pelas 14h10 declarou o tempo. Os fragateiros receberam ordem da sua

associação de não meter carga alguma sem que termine a greve dos

ferroviários. Andava grevistas avisando outros pelo motivo da notícia que

prendiam todos os ferroviários vistos nos vapores etc. Encontravam-se

alguns militares presos dos que desertaram à dias entre eles o Peres, Filipe

da Cruz e do sargento Azevedo e muitos outros. Continua nas carreiras os

vapores Minho, Atália e o rebocador Europa. Prenderam alguns jornais A

Batalha ainda bateram nuns rapazes que os trazia. Fez uma noite linda de

luar fazendo algum frio. Fui para a vila às 14h20. Dei uma volta sozinho

regressando à S. Instrução. Estive das 15h às 16h31 depois fui dar outra

volta à vila mais o Artur S., Sebastião, Parra, Eugénio, Eduardo pelas 19h10

encontravam-se no Largo S. e G.C. muitos ferroviários à espera de

fresquinhas. Neste momento chegou uma força da GNR a cavalo a maioria

meteram-se pela Leitaria do Alves a dita Guarda ao ver isto fizeram cerco à

dita Leitaria desapearam 4 praças e um Cabo estiveram a apalpar todos

sendo perto de 60 ferroviários alguns tentaram sair pela porta de traz mas

ao abrir a porta deram com a Guarda o Farto Velho o tempo que teve foi

esconder o revólver na boca do fogareiro o Cabo da Guarda esteve a ver

debaixo do balcão aonde encontrou 4 canivetes não prenderam pessoa

alguma sendo um grande alvoroço por toda a vila por motivo do que se

passou na Leitaria do Alves fugiu por causa da Guarda o Tiago militar do

BSCF andava fugido nesta altura. Fugimos pelo quintal da S. Instrução eu,

Francisco Paiva, M. da Silva, Sebastião Gomes e fomos pôr atraz do T.

República. Tiveram que galgar o ripado de madeira eu não quiz regressei à

S. Instrução mas ao entrar fui atacado pela cadelinha que tinha D. Teresa.

Falei com a M.G.M. Regressei ao Largo S. e G. C. pelas 20h15 estavam uns a

dizer foi uma máquina que arrabentou [sic] a caldeira outros foi uma

bomba pelo motivo de houvir-se grande estampido e peras ficamos de

conversa no dito Largo eu, F. Paiva, M. da Silva, e outros e às 20h25 retirei

mais o M. da Silva para a S. Instrução dizer se tinham houvido algum sendo

uns dizia houvi e outros não etc. Vinha para o Largo quando vejo pessoas da

minha família em minha procura chamei o Eugénio da Silva e disse vamos

para casa. Soube que o Comité foi chamado pelo ministro pelas 15h.

Hontem na estação da Póvoa nos CF Portuguezes um choque terrível entre

dois comboios de mercadorias. Encontrava-se no Jornal Século duas

subscrições abertas uma para os famintos de Cabo Verde estava em

1.241$10 e outra para a compra de um hidrovião estava esta em

25.450$00. Foi às 8h10 o lançamento do primeiro barco de madeira feito

em Lisboa de nome Albertina e uma traineira. Foi suprimido o vagon

fantasma sendo soltos todos os grevistas na linha do Minho e Douro devido

à intervenção do Sr. Governador Civil.

4/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez uma noite linda

de luar. Foi os casamentos Manuel d' Luz e o Ângelo Santareno com a filha

do Carocha. Foi para Bombel destacado o filho do Simões Serralheiro

seguiu no c. 111 a mobília. 1920 Continuação da greve havendo mais

notícias contra os grevistas veio nos jornais que vão pôr novo prazo para

novos requerimentos. Fez um dia lindo e peras. Os 7 ferroviários que

seguiram há dias para Lisboa encontram-se no Forte de Sacavém. O revisor

de bilhetes Mário Ventura ao sair do vapor no Terreiro do Paço em Lisboa

foi preso pelo motivo denunciado pelo Ferreirinha. Sobre o tal estampido

soube-se que foi o forno de tijolos junto à Cordoaria do João Tarolo. Pelas

16h40 retirei para a vila estive no L. Casal de conversa com diversas

pessoas. O Eugénio silva mais o Chagas estiveram a comer bolos que

tiraram no kiosque do dito Largo depois foram beber à Leitaria do Alves etc.

Fui dar uma volta sozinho à vila regressei novamente ao Largo

encontravam-se muitos ferroviários a quererem saber notícias e soube-se

que 5 militares do Lavradio pertencentes ao BSC Ferro vieram entregar-se à

prisão entre eles o Sargento Bexiga e Bicho e do Barreiro foi Albino Macedo,

Pedro da Luz, todos desertores excepto A. Macedo seguiram os ditos

presos para Lisboa. A maioria dos ferroviários encontrava-se no Largo 103desmorcidos pelas 19h5 passou a prima Lídia Ferreira em grandes

103 Tristes

196 197

Page 197: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

Instrução uns estavam a jogar outros de conversa etc. A noite regular mais

tarde pois-se névoa. Faleceu o Joaquim Manuel Ré pai do dono do estaleiro

de Alborrica. Foi o funeral do filho do padeiro da rua M. Pais. Tomou posse

novo Presidente da R. do México de nome Obregon. Chegaram do Brazil

mais 30 poveiros a bordo do paquete Demburgia da Mala Real Holandeza.

3/11/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Fez um dia

lindo e a noite idem de luar. Hontem no estabelecimento do Álvaro

roubaram ao José da Cristina um relógio e corrente de ouro. Hoje não fui à

vila. Foi hoje oliação andei a tirar os números dos veículos sendo em

número de 88 veículos. 1920 Continuação da greve sendo cada vez mais

grave a situação dos grevistas. Esteve o tempo o dia todo nublado mas

pelas 14h10 declarou o tempo. Os fragateiros receberam ordem da sua

associação de não meter carga alguma sem que termine a greve dos

ferroviários. Andava grevistas avisando outros pelo motivo da notícia que

prendiam todos os ferroviários vistos nos vapores etc. Encontravam-se

alguns militares presos dos que desertaram à dias entre eles o Peres, Filipe

da Cruz e do sargento Azevedo e muitos outros. Continua nas carreiras os

vapores Minho, Atália e o rebocador Europa. Prenderam alguns jornais A

Batalha ainda bateram nuns rapazes que os trazia. Fez uma noite linda de

luar fazendo algum frio. Fui para a vila às 14h20. Dei uma volta sozinho

regressando à S. Instrução. Estive das 15h às 16h31 depois fui dar outra

volta à vila mais o Artur S., Sebastião, Parra, Eugénio, Eduardo pelas 19h10

encontravam-se no Largo S. e G.C. muitos ferroviários à espera de

fresquinhas. Neste momento chegou uma força da GNR a cavalo a maioria

meteram-se pela Leitaria do Alves a dita Guarda ao ver isto fizeram cerco à

dita Leitaria desapearam 4 praças e um Cabo estiveram a apalpar todos

sendo perto de 60 ferroviários alguns tentaram sair pela porta de traz mas

ao abrir a porta deram com a Guarda o Farto Velho o tempo que teve foi

esconder o revólver na boca do fogareiro o Cabo da Guarda esteve a ver

debaixo do balcão aonde encontrou 4 canivetes não prenderam pessoa

alguma sendo um grande alvoroço por toda a vila por motivo do que se

passou na Leitaria do Alves fugiu por causa da Guarda o Tiago militar do

BSCF andava fugido nesta altura. Fugimos pelo quintal da S. Instrução eu,

Francisco Paiva, M. da Silva, Sebastião Gomes e fomos pôr atraz do T.

República. Tiveram que galgar o ripado de madeira eu não quiz regressei à

S. Instrução mas ao entrar fui atacado pela cadelinha que tinha D. Teresa.

Falei com a M.G.M. Regressei ao Largo S. e G. C. pelas 20h15 estavam uns a

dizer foi uma máquina que arrabentou [sic] a caldeira outros foi uma

bomba pelo motivo de houvir-se grande estampido e peras ficamos de

conversa no dito Largo eu, F. Paiva, M. da Silva, e outros e às 20h25 retirei

mais o M. da Silva para a S. Instrução dizer se tinham houvido algum sendo

uns dizia houvi e outros não etc. Vinha para o Largo quando vejo pessoas da

minha família em minha procura chamei o Eugénio da Silva e disse vamos

para casa. Soube que o Comité foi chamado pelo ministro pelas 15h.

Hontem na estação da Póvoa nos CF Portuguezes um choque terrível entre

dois comboios de mercadorias. Encontrava-se no Jornal Século duas

subscrições abertas uma para os famintos de Cabo Verde estava em

1.241$10 e outra para a compra de um hidrovião estava esta em

25.450$00. Foi às 8h10 o lançamento do primeiro barco de madeira feito

em Lisboa de nome Albertina e uma traineira. Foi suprimido o vagon

fantasma sendo soltos todos os grevistas na linha do Minho e Douro devido

à intervenção do Sr. Governador Civil.

4/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez uma noite linda

de luar. Foi os casamentos Manuel d' Luz e o Ângelo Santareno com a filha

do Carocha. Foi para Bombel destacado o filho do Simões Serralheiro

seguiu no c. 111 a mobília. 1920 Continuação da greve havendo mais

notícias contra os grevistas veio nos jornais que vão pôr novo prazo para

novos requerimentos. Fez um dia lindo e peras. Os 7 ferroviários que

seguiram há dias para Lisboa encontram-se no Forte de Sacavém. O revisor

de bilhetes Mário Ventura ao sair do vapor no Terreiro do Paço em Lisboa

foi preso pelo motivo denunciado pelo Ferreirinha. Sobre o tal estampido

soube-se que foi o forno de tijolos junto à Cordoaria do João Tarolo. Pelas

16h40 retirei para a vila estive no L. Casal de conversa com diversas

pessoas. O Eugénio silva mais o Chagas estiveram a comer bolos que

tiraram no kiosque do dito Largo depois foram beber à Leitaria do Alves etc.

Fui dar uma volta sozinho à vila regressei novamente ao Largo

encontravam-se muitos ferroviários a quererem saber notícias e soube-se

que 5 militares do Lavradio pertencentes ao BSC Ferro vieram entregar-se à

prisão entre eles o Sargento Bexiga e Bicho e do Barreiro foi Albino Macedo,

Pedro da Luz, todos desertores excepto A. Macedo seguiram os ditos

presos para Lisboa. A maioria dos ferroviários encontrava-se no Largo 103desmorcidos pelas 19h5 passou a prima Lídia Ferreira em grandes

103 Tristes

196 197

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aflições chamar a mulher do António Correia depois o pai e mãe da dita a

espanhola Carmem e outras pessoas e foram também à farmácia do J. Luiz

estive mais o Artur S. a ver as ditas aflições retirei e fui falar com a M.G.M.

regressei ao Largo pelas 19h35 e pelas 19h45 chegou o médico

Ermenegildo Tavares procurou pelos números das portas e entrou para

casa das ditas primas estivemos de conversa mais o J. S. Marques e o pai do

Luiz Penim encontrava-se uma claque de 6 a jogar a Ronda e outros de

conversa retirei mais o Artur estivemos no Largo de conversa com o

António Baineta sobre o acontecimento que se passou em casa das primas

foi o tio que deu um ataque o dito encontrava-se com o estrumento para ir

tocar na orquestra no T. Cine sob a regência do mestre Alfredo R. Carvalho e

benefício promovido por uma Comissão destinando-se o produto líquido

para um bodo aos pobres da vila no dia de natal. O dito António Correia

disse a minha mulher não me deu lenço por fim ofereci o meu estava um

pouco enxovalhado está bom e levou depois retirou pelas 20h30 depois

passados uns minutos retirou o Artur S. dizendo vou até ao T. Cine ver se

arranjo uma borla e eu seguia para a S. Instrução. Encontrava-se à esquina

do quintal do J. dos Santos as primas Lídia e Carmem procurei se estava o tio

melhor respondendo a churar [sic] que foi meu tio Lobato pelas 21h25

regressei a casa. Fez uma noite linda levantando mais tarde vento Noroeste

foi toda a noite. Em casa soube que foram demitidos o João de Beja e J. da

Maneca fizeram requerimento resposta foi que estava já preenchidos os

ditos lugares. Foram reformados o Cavaco e o maq. M. Castro correu o

boato que não é as ditas reformas legais. A bordo do vapor Estremadura

seguiram para África um grande número de poveiros que vão exercer

indústria de pesca.

5/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez um dia lindo e vento Norte e

fez uma noite idem de luar. Fui para Lisboa mais o meu cunhado J. José às

11h40 estivemos no Chiado aonde comprei um chapéu de veludo por 200

escudos e tirei retratos 3 por um escudo regressei para o Barreiro às 14h35.

No barbeiro Ventura vi o Teatro que vai o pai do António Ribeiro construir

ao Lado da S. Instrução. Falei com a M.G.M. Pelas 2h da madrugada houve

choque nas estação da T. da Gadanha o comboio 6 com o c. 104 ficaram

avariados os seguintes veículos LL 523-47-554-455-334-D25 JJ117-363-

384-334-389 O318-384 A.4- CC81-87. Fez 2 anos foi a revolução do Sidónio

Pais. 1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo e peras mas fazendo

grande nortada. Foi do Barreiro um Capitão do Exército a Lisboa não

autorizar o jornal “A Batalha” vir para o Barreiro, mas o Valentim dos jornais

trouxe um e foi posto na “Leitaria do Alves” e ainda veio mais pelo catraio

do Mariano. Fui para a vila às 15h45 estive no barbeiro Ventura até às

16h50 dei uma volta sozinho à vila estive no T. República mais o Mário C.

Santos e Caetano Borralho e Júlio dos Santos “Lagarticha” estivemos de

conversa regressei ao Largo Casal e Vitorino Aurélio depois fui à S.

Instrução depois apareceu o Júlio Martins para jogar à bisca assim foi era

eu, V. Aurélio e outros contra J. Aurélio, Júlio Martins, Francisco Paiva ainda

fizeram as 1ªs bolas e eles nada principiamos às 18h35 e terminamos às

19h8 a maioria para o animatógrafo estávamos de conversa entrou o Jorge

Pessoa e Artur procuraram por Eugénio Silva a nossa resposta foi ele está

no T. R. foi também com eles o Sebastião Gomes mais tarde o Eugénio

vamos à Leitaria do Alves beber um ferroviário cada um era eu Sebastião,

M. da Silva eu não bebi um entrei ainda veio o Eugénio mais o E. Espírito

Santo estive junto ao kiosque no dito Largo retirei para casa a noite calmosa

mas fria. No Largo Camões ou Jardim o Edmundo do T.V. teve uma

desordem com alguns indivíduos que ignorei os nomes este fugiu pelo

motivo serem muitos. Chegou ao Barreiro o José Algarvio vindo do

hospital.

6/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e a noite

idem de luar mas fria. Depois da guerra veio 20 rodados para os CFSS sendo

o primeiro veículo que foi substituído com o dito A21. Falei com a M.G.M.

1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo e peras fazendo calor.

Continua as ruas da vila patrulhadas pelo exército e polícia, com ordem de

não autorizar ajuntamentos pelas ruas nem nos estabelecimentos, era só

aviar-se e sair logo. Os jornais de hontem trazia que a vila estava entregue

ao poder militar. Ficou substituído o Administrador do Concelho o Sr.

Capitão Loureiro. Saí de casa às 15h40. Cheguei ao L. Casal encontrava-se o

Eugénio da Silva etc. fui depois até à praia encontrava-se muitos

ferroviários estive a falar com Imitério estivemos a ver o andamento do

vapor Minho que vinha de Lisboa depois juntei-me de conversa com o Luís

Penim, António Gomes, J.S. Marques e outros com respeito à nossa

situação da greve passados momentos vi o Eugénio da Silva, J. Parra, J.

Aurélio. Já ao longe fui ter com os ditos fomos pela praia e depois Jardim

Público depois Barrio Operário pelas 16h35 estávamos no Altinho junto à

linha férrea haver [sic] o Barreiro T no dito Altinho estavam alguns

ferroviários a jogar ao Chinquilho regressamos à vila tivemos haver uma

198 199

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aflições chamar a mulher do António Correia depois o pai e mãe da dita a

espanhola Carmem e outras pessoas e foram também à farmácia do J. Luiz

estive mais o Artur S. a ver as ditas aflições retirei e fui falar com a M.G.M.

regressei ao Largo pelas 19h35 e pelas 19h45 chegou o médico

Ermenegildo Tavares procurou pelos números das portas e entrou para

casa das ditas primas estivemos de conversa mais o J. S. Marques e o pai do

Luiz Penim encontrava-se uma claque de 6 a jogar a Ronda e outros de

conversa retirei mais o Artur estivemos no Largo de conversa com o

António Baineta sobre o acontecimento que se passou em casa das primas

foi o tio que deu um ataque o dito encontrava-se com o estrumento para ir

tocar na orquestra no T. Cine sob a regência do mestre Alfredo R. Carvalho e

benefício promovido por uma Comissão destinando-se o produto líquido

para um bodo aos pobres da vila no dia de natal. O dito António Correia

disse a minha mulher não me deu lenço por fim ofereci o meu estava um

pouco enxovalhado está bom e levou depois retirou pelas 20h30 depois

passados uns minutos retirou o Artur S. dizendo vou até ao T. Cine ver se

arranjo uma borla e eu seguia para a S. Instrução. Encontrava-se à esquina

do quintal do J. dos Santos as primas Lídia e Carmem procurei se estava o tio

melhor respondendo a churar [sic] que foi meu tio Lobato pelas 21h25

regressei a casa. Fez uma noite linda levantando mais tarde vento Noroeste

foi toda a noite. Em casa soube que foram demitidos o João de Beja e J. da

Maneca fizeram requerimento resposta foi que estava já preenchidos os

ditos lugares. Foram reformados o Cavaco e o maq. M. Castro correu o

boato que não é as ditas reformas legais. A bordo do vapor Estremadura

seguiram para África um grande número de poveiros que vão exercer

indústria de pesca.

5/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Fez um dia lindo e vento Norte e

fez uma noite idem de luar. Fui para Lisboa mais o meu cunhado J. José às

11h40 estivemos no Chiado aonde comprei um chapéu de veludo por 200

escudos e tirei retratos 3 por um escudo regressei para o Barreiro às 14h35.

No barbeiro Ventura vi o Teatro que vai o pai do António Ribeiro construir

ao Lado da S. Instrução. Falei com a M.G.M. Pelas 2h da madrugada houve

choque nas estação da T. da Gadanha o comboio 6 com o c. 104 ficaram

avariados os seguintes veículos LL 523-47-554-455-334-D25 JJ117-363-

384-334-389 O318-384 A.4- CC81-87. Fez 2 anos foi a revolução do Sidónio

Pais. 1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo e peras mas fazendo

grande nortada. Foi do Barreiro um Capitão do Exército a Lisboa não

autorizar o jornal “A Batalha” vir para o Barreiro, mas o Valentim dos jornais

trouxe um e foi posto na “Leitaria do Alves” e ainda veio mais pelo catraio

do Mariano. Fui para a vila às 15h45 estive no barbeiro Ventura até às

16h50 dei uma volta sozinho à vila estive no T. República mais o Mário C.

Santos e Caetano Borralho e Júlio dos Santos “Lagarticha” estivemos de

conversa regressei ao Largo Casal e Vitorino Aurélio depois fui à S.

Instrução depois apareceu o Júlio Martins para jogar à bisca assim foi era

eu, V. Aurélio e outros contra J. Aurélio, Júlio Martins, Francisco Paiva ainda

fizeram as 1ªs bolas e eles nada principiamos às 18h35 e terminamos às

19h8 a maioria para o animatógrafo estávamos de conversa entrou o Jorge

Pessoa e Artur procuraram por Eugénio Silva a nossa resposta foi ele está

no T. R. foi também com eles o Sebastião Gomes mais tarde o Eugénio

vamos à Leitaria do Alves beber um ferroviário cada um era eu Sebastião,

M. da Silva eu não bebi um entrei ainda veio o Eugénio mais o E. Espírito

Santo estive junto ao kiosque no dito Largo retirei para casa a noite calmosa

mas fria. No Largo Camões ou Jardim o Edmundo do T.V. teve uma

desordem com alguns indivíduos que ignorei os nomes este fugiu pelo

motivo serem muitos. Chegou ao Barreiro o José Algarvio vindo do

hospital.

6/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo e a noite

idem de luar mas fria. Depois da guerra veio 20 rodados para os CFSS sendo

o primeiro veículo que foi substituído com o dito A21. Falei com a M.G.M.

1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo e peras fazendo calor.

Continua as ruas da vila patrulhadas pelo exército e polícia, com ordem de

não autorizar ajuntamentos pelas ruas nem nos estabelecimentos, era só

aviar-se e sair logo. Os jornais de hontem trazia que a vila estava entregue

ao poder militar. Ficou substituído o Administrador do Concelho o Sr.

Capitão Loureiro. Saí de casa às 15h40. Cheguei ao L. Casal encontrava-se o

Eugénio da Silva etc. fui depois até à praia encontrava-se muitos

ferroviários estive a falar com Imitério estivemos a ver o andamento do

vapor Minho que vinha de Lisboa depois juntei-me de conversa com o Luís

Penim, António Gomes, J.S. Marques e outros com respeito à nossa

situação da greve passados momentos vi o Eugénio da Silva, J. Parra, J.

Aurélio. Já ao longe fui ter com os ditos fomos pela praia e depois Jardim

Público depois Barrio Operário pelas 16h35 estávamos no Altinho junto à

linha férrea haver [sic] o Barreiro T no dito Altinho estavam alguns

ferroviários a jogar ao Chinquilho regressamos à vila tivemos haver uma

198 199

Page 200: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

rapariga e peras mas neste momento apareceu um cãsinho [sic] gadelhudo

e o Eugénio meteu o dito debaixo do casaco pelo motivo de te[i]ma entre

ele e o J. Aurélio uma mulher veio e disse a dona depois eu tirei o cão ao

Eugénio e pois ele no chão ainda tivemos de conversa com a dita dona do

cão e com o homem da limpeza das ruas. Quando chegamos junto à sede da

Sociedade da União apareceu o J. Camarão e o J. Aurélio pediu se podia dar

uma volta de bicicleta todos já deram menos eu disse J. Parra por fim foi o

Parra dar uma volta o J. Camarão disse a nós esta manhã estava deitado

quando Carlos Diogo o foi buscar para ir avisar um moblisado [sic]

refugiado na Aldeia Paio-Pires foi ás 11h e regressei ao Barreiro às 17h veio

mais atrasado por motivo de perder um punho do guiador que voltou atraz

em procura do dito mas encontrou. Depois da conversa no B. Operário

retiramos à vila dei uma volta mas ao passar pelo beco do Patrício dei um

adeus a umas Espanholas na rua A. Reis. Ficando neste beco o Eugénio, J.

Aurélio regressei mais o J.S. Parra ao Largo Casal. Pelas 17h50 chegou em

frente da Leitaria do Alves avisando os ferroviários que veio uma ordem

para se prender os ferroviários como vadios. Já foram presos 2 guardas no

Barreiro-A como tal. Pelas 17h foi preso denunciado pelo Eugénio Viegas

ele com outros andavam a fazer fretes do Barreiro para o Seixal, foi

mandados fazer alto por um oficial de pistola em punho, regressavam a

terra por motivo de duas senhoras que iam para o Seixal pediram por ter

medo. Foi preso o revisor principal J. Ferreira seguiu logo para os P. do

Concelho e Júlio Veríssimo foi ter com um oficial dizendo parece mal estar

esse homem nessa prisão como Presidente do Senado da Câmara resposta

do oficial não conheço como tal mas sim ferroviário e se é por causa disso

ele já segue para entrar na cadeia seguiu para o vapor às 17h55 mas perdeu

seguindo novamente e embarcou para Lisboa às 23h30. Correu o boato

que vão tomar a Associação de Classe dos Ferroviários para quartel de uma

força da GNR que deve chegar amanhã. Regressei a casa às 18h40. Fez uma

noite linda fazendo algum frio. O meu pai entregou 200 escudos que lhe

emprestei.

7/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Faleceu Manuel

Carneiro. Foi o casamento da Maria Amélia do Carmo com António Cabrita

e Olinda com o José de Almeida descarregador. Esteve um dia lindo e peras

e a noite idem de luar fazendo muito frio. O revisor M.F. Estaca pediu-me e

eu fui revisar o comboio 18 encontrei numa das carruagens um canivete.

1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo principiou a nublar-se pelas

13h10 esteve o resto do dia e a noite idem. Andou toda a manhã o Capitão

Loureiro como Administrador do Concelho prendeu 7 ferroviários no José

Marques chegando em frente da doca só com 3 e depois mandou os ditos

embora. Continuação das patrulhas pelas ruas da vila. Chegaram mais 150

praças da GNR fizeram aquartelamento na Associação de Classe e nas

Cocheiras do Daciano. Pelo motivo de noite não poderem andar pelas ruas

o José d'Oliveira e outros empregados da Fábrica Herold pediram um salvo

conduto assinado pelo Comandante da força aquartelada no Barreiro.

Apresentaram-se à dias os revisores de bilhetes Caldeira e o Duarte e os

chefes Barata e Vasconcelos etc. Á noite fugiu o João Painço mais o Adelino

do kiosque em frente da minha casa sendo estes presos etc. Fui para a vila

as 16h40 estive no L. Casal até à noite dei uma volta a vila mais Eduardo E.S.

falei com a M.G.M. chegou ordem para se não prender mais nenhum

ferroviário. Houve reunião dos ferroviários e corticeiros. Na S. Instrução

encontrava-se grande claque a jogar ao cavalo retirei para casa mais

Eugénio d'Silva ás 17 e tal encalhou o vapor dos CFSS o Minho que vinha de

Lisboa sendo passados os passageiros para terra por catraios etc.

8/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve um dia lindo e a noite idem

de luar. Tentaram novamente pôr a nado o navio Lisboa não sendo possível.

Foi a visada a minha família pelas 19h e eu só soube pelas 20h30 para seguir

no comboio 9 para Funcheira mas não fui. Houve reunião dos ferroviários.

1920 Continuação da greve. Esperava-se que ficasse resolvida a dita greve

fazendo todo o dia grande vendaval. Foi para a terra o meu vizinho

Figueiredo. Pelas 16h10 vento Oeste pois começou a leviar o tempo e mais

tarde pois-se vento Sudoeste forte. Retirei para a vila às 16h12 a noite

estava nublada e pingava. Chegou a notícia ao Barreiro que a Comissão de

melhoramentos dos Ferroviários esteve no ministério não ficou nada

resolvido e saiu manifestos aos ferroviários e ao público estes com os

dizeres da apresentação em massa amanhã dos ferroviários ao serviço

esperava-se o Comité que chegava ao Barreiro no catraio do Mariano

encontrava-se no Largo Casal muitos ferroviários. Falei com a M.G.M.

Estive a jogar à bisca na S. Instrução mais o J. Aurélio, Sebastião, Francisco

Pireza, Chagas, Delícias não chagamos de parte a parte fazer bolas.

Regressei a casa mais Eugénio Silva. O José Paulino Júnior roubou perto de

400 escudos ao Lá-vai e esta noite roubaram 10 fardos de cortiça ao João

Ferreira Boto.

200 201

Page 201: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

rapariga e peras mas neste momento apareceu um cãsinho [sic] gadelhudo

e o Eugénio meteu o dito debaixo do casaco pelo motivo de te[i]ma entre

ele e o J. Aurélio uma mulher veio e disse a dona depois eu tirei o cão ao

Eugénio e pois ele no chão ainda tivemos de conversa com a dita dona do

cão e com o homem da limpeza das ruas. Quando chegamos junto à sede da

Sociedade da União apareceu o J. Camarão e o J. Aurélio pediu se podia dar

uma volta de bicicleta todos já deram menos eu disse J. Parra por fim foi o

Parra dar uma volta o J. Camarão disse a nós esta manhã estava deitado

quando Carlos Diogo o foi buscar para ir avisar um moblisado [sic]

refugiado na Aldeia Paio-Pires foi ás 11h e regressei ao Barreiro às 17h veio

mais atrasado por motivo de perder um punho do guiador que voltou atraz

em procura do dito mas encontrou. Depois da conversa no B. Operário

retiramos à vila dei uma volta mas ao passar pelo beco do Patrício dei um

adeus a umas Espanholas na rua A. Reis. Ficando neste beco o Eugénio, J.

Aurélio regressei mais o J.S. Parra ao Largo Casal. Pelas 17h50 chegou em

frente da Leitaria do Alves avisando os ferroviários que veio uma ordem

para se prender os ferroviários como vadios. Já foram presos 2 guardas no

Barreiro-A como tal. Pelas 17h foi preso denunciado pelo Eugénio Viegas

ele com outros andavam a fazer fretes do Barreiro para o Seixal, foi

mandados fazer alto por um oficial de pistola em punho, regressavam a

terra por motivo de duas senhoras que iam para o Seixal pediram por ter

medo. Foi preso o revisor principal J. Ferreira seguiu logo para os P. do

Concelho e Júlio Veríssimo foi ter com um oficial dizendo parece mal estar

esse homem nessa prisão como Presidente do Senado da Câmara resposta

do oficial não conheço como tal mas sim ferroviário e se é por causa disso

ele já segue para entrar na cadeia seguiu para o vapor às 17h55 mas perdeu

seguindo novamente e embarcou para Lisboa às 23h30. Correu o boato

que vão tomar a Associação de Classe dos Ferroviários para quartel de uma

força da GNR que deve chegar amanhã. Regressei a casa às 18h40. Fez uma

noite linda fazendo algum frio. O meu pai entregou 200 escudos que lhe

emprestei.

7/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Faleceu Manuel

Carneiro. Foi o casamento da Maria Amélia do Carmo com António Cabrita

e Olinda com o José de Almeida descarregador. Esteve um dia lindo e peras

e a noite idem de luar fazendo muito frio. O revisor M.F. Estaca pediu-me e

eu fui revisar o comboio 18 encontrei numa das carruagens um canivete.

1920 Continuação da greve. Fez um dia lindo principiou a nublar-se pelas

13h10 esteve o resto do dia e a noite idem. Andou toda a manhã o Capitão

Loureiro como Administrador do Concelho prendeu 7 ferroviários no José

Marques chegando em frente da doca só com 3 e depois mandou os ditos

embora. Continuação das patrulhas pelas ruas da vila. Chegaram mais 150

praças da GNR fizeram aquartelamento na Associação de Classe e nas

Cocheiras do Daciano. Pelo motivo de noite não poderem andar pelas ruas

o José d'Oliveira e outros empregados da Fábrica Herold pediram um salvo

conduto assinado pelo Comandante da força aquartelada no Barreiro.

Apresentaram-se à dias os revisores de bilhetes Caldeira e o Duarte e os

chefes Barata e Vasconcelos etc. Á noite fugiu o João Painço mais o Adelino

do kiosque em frente da minha casa sendo estes presos etc. Fui para a vila

as 16h40 estive no L. Casal até à noite dei uma volta a vila mais Eduardo E.S.

falei com a M.G.M. chegou ordem para se não prender mais nenhum

ferroviário. Houve reunião dos ferroviários e corticeiros. Na S. Instrução

encontrava-se grande claque a jogar ao cavalo retirei para casa mais

Eugénio d'Silva ás 17 e tal encalhou o vapor dos CFSS o Minho que vinha de

Lisboa sendo passados os passageiros para terra por catraios etc.

8/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve um dia lindo e a noite idem

de luar. Tentaram novamente pôr a nado o navio Lisboa não sendo possível.

Foi a visada a minha família pelas 19h e eu só soube pelas 20h30 para seguir

no comboio 9 para Funcheira mas não fui. Houve reunião dos ferroviários.

1920 Continuação da greve. Esperava-se que ficasse resolvida a dita greve

fazendo todo o dia grande vendaval. Foi para a terra o meu vizinho

Figueiredo. Pelas 16h10 vento Oeste pois começou a leviar o tempo e mais

tarde pois-se vento Sudoeste forte. Retirei para a vila às 16h12 a noite

estava nublada e pingava. Chegou a notícia ao Barreiro que a Comissão de

melhoramentos dos Ferroviários esteve no ministério não ficou nada

resolvido e saiu manifestos aos ferroviários e ao público estes com os

dizeres da apresentação em massa amanhã dos ferroviários ao serviço

esperava-se o Comité que chegava ao Barreiro no catraio do Mariano

encontrava-se no Largo Casal muitos ferroviários. Falei com a M.G.M.

Estive a jogar à bisca na S. Instrução mais o J. Aurélio, Sebastião, Francisco

Pireza, Chagas, Delícias não chagamos de parte a parte fazer bolas.

Regressei a casa mais Eugénio Silva. O José Paulino Júnior roubou perto de

400 escudos ao Lá-vai e esta noite roubaram 10 fardos de cortiça ao João

Ferreira Boto.

200 201

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9/12/920 Fez 1 ano que segui no comboio 9 para Beja cheguei às 15h na c.

88 deitei-me às 22h num colchão na barraca do pessoal de revisão e

embarquei para a Funcheira no c. 9 à 1h da madrugada na c. 65. Fez uma

linda noite de luar. Cheguei a Garvão às 4h da madrugada depois

embarquei para Funcheira no c. 4004 na c. 77. 1920 Terminou a greve dos

ferroviários após 70 dias em greve. Perdemos pelo motivo de fome em

diversos lares. Todo o dia nublado. Esteve muitíssimos ferroviários no Largo

Casal à espera de ordens veio ordem para irem todos para o Largo dos

Aliados e eu retirei e a claque em frente da Igreja da S. Rosário falou o Rosa

de Tunes etc. e pelas 11h30 seguimos em massa pela Rua M. Pais eram

perto de 2000 homens para se apresentar ao serviço ao chegarmos em

frente da minha loja, um alferes e 2 praças da GNR a cavalo não deixou

passar pessoa alguma formou-se uma Comissão e foram à estação foi

respondido à dita as seguintes frases não pode ser ninguém admitido sem

requerimento respondeu o pessoal todo à uma vamos embora

regressamos ao L. dos Aliados pois só apareceram uns 300 ferroviários a

maioria foram fazer requerimentos e outros já os tinham feitos nas

algibeiras etc. quando regressámos ao dito Largo passou pela Rua M. Pais

uma força de cavalaria da GNR acelerada para a estação. No dito Largo

esteve numa das janelas da Igreja falando o Custódio da Boa Vida dizendo

não se faz requerimentos que foi uma comissão a Lisboa falar com o Sr.

Presidente do Ministério quando terminou o dito de falar uma mulher que

estava a ouvir fugiu e a maioria dos ferroviários idem mais tarde dizia-se à

boca cheia que ninguém fez requerimentos momentos depois soube que já

tinha entregado alguns mas nós regressámos 2ª vez ao Largo dos Aliados e

encontrava-se grande bicha nos P. Concelho ao papel selado ao fim da

tarde já estavam 3 terços do pessoal com requerimentos metidos

encontrava-se no Apeadeiro M. Pais uma mesa com 3 oficiais os

encarregados exceto J. José e Ângelo tinham metido requerimentos no

Barreiro já não se encontrava papel selado. Foi colocado uns Editais pelas

paredes dizendo fechar os estabelecimentos às 20h. Encontrava-se muitos

ferroviários pela praia a querer notícias vindas de Lisboa avistou-se ao

longe o Catraio do Mariano todos a andar e ele foi para a doca da

Companhia União Fabril pediram e foram alguns ferroviários falar com o

Mariano entre eles um pintor o Aníbal Pinto veio os ditos com a notícia que

a Comissão ficou em Lisboa. Retirámos para o Largo Casal fazendo bastante

frio. No dito Largo estava poucos ferroviários fui para a S. Instrução mais

Custódio F. e V. Aurélio mais tarde chegou um telegrama dizendo é

admitido todo o pessoal. Foi hoje preso José Paulino por dois sargentos foi

pelo motivo dos 400 escudos ao Lá-vai só falta entregar 20 escudos este

nos P. Concelho.

10/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo.

Prestei serviço em Garvão fui no c. 4003 e regressei a Funcheira no c. 4002.

1920 Continuava-se à espera da Comissão que viesse de Lisboa. Pelo

motivo dos requerimentos de hontem regressam para Lisboa ao

ministério. Fez um dia lindo vento Noroeste e frio. Levantei-me às 7h30

estive com Rafael Soeiro a falar no beco em frente da minha casa retiramos

e fomos até às Oficinas Gerais estavam perto de 60 ferroviários retirei para

casa mais ele eram 10h20 e às 11h12 fui para a vila comprei no José Café

por motivo de não haver papel selado papel de 25 linhas e um selo de 15

cêntimos estavam muitos ferroviários e mulheres dos ditos a comprar

também entrou um ferroviário com “Batalhas” debaixo do sobretudo a

vender regressei a casa estava em casa o meu cunhado J. José com 3

rapazes do Lavradio por causa dos requerimentos e depois fez-me a cópia

para o meu e pelas 12h30 fiz entrega do meu requerimento na dita mesa

junto às cancelas ao Apeadeiro M. Pais. Regressei ao L. Casal uns fazia

requerimentos outros em procura de papel selado etc. No dito Largo

estava grande número de ferroviários ao sol chegou um camarada dizendo

que vinha no jornal o nome de 400 ferroviários despedidos do SS e do M. e

Douro e disse vem o nome dos três Capelas etc. Fui mais o Basílio Rosa, J.

Batista e outro a casa do sobrinho do Brenha em frente do Patrício em

procura do dito jornal vimos pela janela que não estava em casa via-se em

cima do balcão o dito jornal viemos para o Largo depois fui para a praia

mais o Eugénio da Silva pelas 13h e mais tarde apareceu Custódio F. e J.

Aurélio estivemos de conversa continuando as ruas patrulhadas por forças

da GNR e Infantaria e Cavalaria. Retirámos para o Largo. Soube que

estavam a chamar por alguns que tinham metido os requerimentos de

manhã o Eugénio Silva veio despedido e em cima desansaram [sic] de

malandro, etc. A claque estava assentada à porta da Carvoaria do J.

António que era eu, o Eugénio da Silva, Custódio F., J. Moreira, António M.

Batista vimos entrar a Ana Vergante de gravata para a Alfaiataria Ferreira

eu depois ofereci a minha gravata à menina Henriqueta dos Santos é a

noiva do Eduardo Espírito Santo fartar-mos de rir. Estavam muitos

ferroviários a trabalhar nas Oficinas Gerais não deixaram uma só peça de

ferramenta e todos os armários arrombados etc. pelas 15h10 apareceu no

202 203

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9/12/920 Fez 1 ano que segui no comboio 9 para Beja cheguei às 15h na c.

88 deitei-me às 22h num colchão na barraca do pessoal de revisão e

embarquei para a Funcheira no c. 9 à 1h da madrugada na c. 65. Fez uma

linda noite de luar. Cheguei a Garvão às 4h da madrugada depois

embarquei para Funcheira no c. 4004 na c. 77. 1920 Terminou a greve dos

ferroviários após 70 dias em greve. Perdemos pelo motivo de fome em

diversos lares. Todo o dia nublado. Esteve muitíssimos ferroviários no Largo

Casal à espera de ordens veio ordem para irem todos para o Largo dos

Aliados e eu retirei e a claque em frente da Igreja da S. Rosário falou o Rosa

de Tunes etc. e pelas 11h30 seguimos em massa pela Rua M. Pais eram

perto de 2000 homens para se apresentar ao serviço ao chegarmos em

frente da minha loja, um alferes e 2 praças da GNR a cavalo não deixou

passar pessoa alguma formou-se uma Comissão e foram à estação foi

respondido à dita as seguintes frases não pode ser ninguém admitido sem

requerimento respondeu o pessoal todo à uma vamos embora

regressamos ao L. dos Aliados pois só apareceram uns 300 ferroviários a

maioria foram fazer requerimentos e outros já os tinham feitos nas

algibeiras etc. quando regressámos ao dito Largo passou pela Rua M. Pais

uma força de cavalaria da GNR acelerada para a estação. No dito Largo

esteve numa das janelas da Igreja falando o Custódio da Boa Vida dizendo

não se faz requerimentos que foi uma comissão a Lisboa falar com o Sr.

Presidente do Ministério quando terminou o dito de falar uma mulher que

estava a ouvir fugiu e a maioria dos ferroviários idem mais tarde dizia-se à

boca cheia que ninguém fez requerimentos momentos depois soube que já

tinha entregado alguns mas nós regressámos 2ª vez ao Largo dos Aliados e

encontrava-se grande bicha nos P. Concelho ao papel selado ao fim da

tarde já estavam 3 terços do pessoal com requerimentos metidos

encontrava-se no Apeadeiro M. Pais uma mesa com 3 oficiais os

encarregados exceto J. José e Ângelo tinham metido requerimentos no

Barreiro já não se encontrava papel selado. Foi colocado uns Editais pelas

paredes dizendo fechar os estabelecimentos às 20h. Encontrava-se muitos

ferroviários pela praia a querer notícias vindas de Lisboa avistou-se ao

longe o Catraio do Mariano todos a andar e ele foi para a doca da

Companhia União Fabril pediram e foram alguns ferroviários falar com o

Mariano entre eles um pintor o Aníbal Pinto veio os ditos com a notícia que

a Comissão ficou em Lisboa. Retirámos para o Largo Casal fazendo bastante

frio. No dito Largo estava poucos ferroviários fui para a S. Instrução mais

Custódio F. e V. Aurélio mais tarde chegou um telegrama dizendo é

admitido todo o pessoal. Foi hoje preso José Paulino por dois sargentos foi

pelo motivo dos 400 escudos ao Lá-vai só falta entregar 20 escudos este

nos P. Concelho.

10/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo.

Prestei serviço em Garvão fui no c. 4003 e regressei a Funcheira no c. 4002.

1920 Continuava-se à espera da Comissão que viesse de Lisboa. Pelo

motivo dos requerimentos de hontem regressam para Lisboa ao

ministério. Fez um dia lindo vento Noroeste e frio. Levantei-me às 7h30

estive com Rafael Soeiro a falar no beco em frente da minha casa retiramos

e fomos até às Oficinas Gerais estavam perto de 60 ferroviários retirei para

casa mais ele eram 10h20 e às 11h12 fui para a vila comprei no José Café

por motivo de não haver papel selado papel de 25 linhas e um selo de 15

cêntimos estavam muitos ferroviários e mulheres dos ditos a comprar

também entrou um ferroviário com “Batalhas” debaixo do sobretudo a

vender regressei a casa estava em casa o meu cunhado J. José com 3

rapazes do Lavradio por causa dos requerimentos e depois fez-me a cópia

para o meu e pelas 12h30 fiz entrega do meu requerimento na dita mesa

junto às cancelas ao Apeadeiro M. Pais. Regressei ao L. Casal uns fazia

requerimentos outros em procura de papel selado etc. No dito Largo

estava grande número de ferroviários ao sol chegou um camarada dizendo

que vinha no jornal o nome de 400 ferroviários despedidos do SS e do M. e

Douro e disse vem o nome dos três Capelas etc. Fui mais o Basílio Rosa, J.

Batista e outro a casa do sobrinho do Brenha em frente do Patrício em

procura do dito jornal vimos pela janela que não estava em casa via-se em

cima do balcão o dito jornal viemos para o Largo depois fui para a praia

mais o Eugénio da Silva pelas 13h e mais tarde apareceu Custódio F. e J.

Aurélio estivemos de conversa continuando as ruas patrulhadas por forças

da GNR e Infantaria e Cavalaria. Retirámos para o Largo. Soube que

estavam a chamar por alguns que tinham metido os requerimentos de

manhã o Eugénio Silva veio despedido e em cima desansaram [sic] de

malandro, etc. A claque estava assentada à porta da Carvoaria do J.

António que era eu, o Eugénio da Silva, Custódio F., J. Moreira, António M.

Batista vimos entrar a Ana Vergante de gravata para a Alfaiataria Ferreira

eu depois ofereci a minha gravata à menina Henriqueta dos Santos é a

noiva do Eduardo Espírito Santo fartar-mos de rir. Estavam muitos

ferroviários a trabalhar nas Oficinas Gerais não deixaram uma só peça de

ferramenta e todos os armários arrombados etc. pelas 15h10 apareceu no

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Largo com o fato de ganga o ajudante António Cunha disse-me e ao J. R.

Marques que já tinham chamado por nós mais tarde uma grande claque

fomos até às Oficinas estavam grande porção de ferroviários à espera que

lhe chamassem pelos nomes etc. disseram já te chamaram apareceu o Sr.

José da Luz este chamou o J.S.R.M. fui mais este pela Oficina e Luís Penim

depois apareceu J. A. dizendo-me vai ter com o J. da Luz ao escritório fui

pela Oficina diz um militar para onde vai resposta minha vou para o serviço.

Vá ter com o sargento fui ter com o dito apareceu o J.S.R.M. mandou-me

pela Oficina dos Ferreiros e fui estavam uns 10 militares do BSCF e

ferroviários o marido da “Porca Suja” e o A. Maria e encontrava-se exceto o

J. José e Ângelo ao serviço entrei pelo escritório diz o J. da Luz diz ele trazes

fato de ganga como não tivesse mandou-me a casa buscar depois estive a

vestir no escritório diz ele tens ferramenta resposta minha não depois

mandou-me procurar pelo J.S.R.M não o encontrei estava na Gare o Neves

e J. António Cunha neste momento chegou um comboio feito por militares

a máquina nº 85 andei pela estação sozinho em procura de um J.A. disse o

Neves deve estar para os barracões estava na ponte francesa andei mais ele

a tirar o número dos veículos avariados regressámos ao escritório mas uma

sentinela da GNR fez-nos parar foi preciso dizer ao dito 4 vezes que

estávamos em serviço. Estivemos no escritório de conversa com o Luís

Penim e Cunha depois apareceu J. da Luz o A. Cunha falou com ele com

respeito à greve saímos e estivemos de conversa junto ao escritório era eu,

J. da Luz, L. Penim, J.S.R.M., A. Cunha, José, Azevedo e outros pelas 17h12

mandou-me o J. da Luz embora fui para a vila. Falei com a M.G.M. Regressei

à Sociedade Instrução. Estive a jogar à bisca mais Júlio Martins, V. Aurélio

contra A. Correia, Custódio F. Fez uma noite linda mas fazendo muito frio.

As máquinas que se encontrava no Barreiro ao serviço dos militares que foi

entregue ao pessoal era as seguintes nº 28-31-85 o primeiro comboio feito

pelo pessoal foi para Setúbal máquina nº 28 maquinista António de Oliveira

fogueiro Balbino. Chegou do Porto o J. Figueiredo. Fez 6 semanas que o

meu mano não vinha a casa veio esta noite. Foram postos em liberdade os

ferroviários que estavam nos P. Concelho entre eles Alberto Azevedo e

também saiu o José Paulino Júnior.

11/12/920 Fez 1 ano estive de folga na Funcheira era o meu camarada o

aj. Revisor João M. Batista de Beja este seguiu na c. 6 acompanhar o J. 87

com um boque quente. Esteve todo o dia nublado pelas 18h principiou a

chover. 1920 Trabalhei todo o dia no Barreiro. Veio o pagamento recebi

65$11. Soube que pelas 11h30 um rapaz de uns 18 anos levou em frente da

casa do J. Gamboa três espadeiradas foi uma patrulha de Cavalaria da GNR

o que deu as espadeiradas tem o apelido Mata homens quanto mais o

rapaz pedia que o não batesse mais batia foi pelo motivo de tirar um

escudo a outro recebeu curativo na Farmácia Crispim. Apresentaram-se ao

serviço na Oficina do M. Circulante os revisores Manuel Nunes, M. Pedro

Manilha, aprendizes F. Pireza, M. Silveira e o carpinteiro J. Marques. Foram

postos em liberdade como se dizia, o Comité de Setúbal composto de Chefe

e Fiel e revisor Camacho. Pelas 14h30 foi preso na Gare do Barreiro dois

guarda-freios entre eles o Sebola [sic[. Fui ao Barreiro T. mais o J.S.R.

Marques estava a barraca de revisão tudo partido e roubado. Continua a

chamada do pessoal para diversos serviços excepto a Via Fluvial e

Guindastes seguiram muitos requerimentos para a direcção entre eles o J.

José e Ângelo Santareno e Artur Pereira etc. Fui para a vila às 18h20 estava

uma claque na S. Instrução a jogar o cavalo. Falei com a M.G.M. Regressei à

S. Instrução fui jogar à bisca com o Custódio F. contra o Eugénio Silva, J.

Aurélio e nós 1 bola e eles duas. Regressei a casa às 21h40 mais o Custódio

F., Eugénio. Houve benefício no T. Cine revertendo o produto líquido a favor

dos pobres da terra como no dia 4 do corrente mez. Esteve o dia razoável

mas à tarde nublou-se à noite idem fez vento. Pelas 22h principiou a chover.

Ao regressar a casa como disse estivemos na escada do José Augusto eu

Eugénio depois apareceu a mãe e mana do dito dizendo quem está aí

depois disse traz a luz e nós fugimos foi depois ter com nós o Custódio a dias

que andava o Edmundo T. V. com barrete pelo motivo ser desconhecido por

causa dos indivíduos que bateram no domingo p.p.

12/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h na Funcheira. Veio ordem do

Barreiro para retirar no dia 15 próximo. 1920 Trabalhei até às 15h esteve

quase todo o dia a chover. Retiraram da estação dos CFSS duas companhias

da GNR. Chegou ao Tejo aonde vem estar 4 dias a fragata de guerra da

Argentina de nome presidente Sarmento. Desde do dia 9 do corrente mez

ainda não tocou a buzina das Oficinas Gerais sendo o toque de sineta como

antigamente. Houve comício na P. da República no Barreiro falou o

Deputado João Camoezas etc. Faleceu esta madrugada o filho mais velho

da Cristina de nome Manuel Bravo e o Alfredo Machadinho ambos

tuberculosos. Fui para a vila às 18h20 estive no L. Casal de conversa com o

Jorge Pessoa e Custódio. Foram ao T. Cine o Artur, Custódio ver a fita do

aviador. Falei com a M.G.M. Estive no L. Casal de conversa com o J. Vieira

204 205

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Largo com o fato de ganga o ajudante António Cunha disse-me e ao J. R.

Marques que já tinham chamado por nós mais tarde uma grande claque

fomos até às Oficinas estavam grande porção de ferroviários à espera que

lhe chamassem pelos nomes etc. disseram já te chamaram apareceu o Sr.

José da Luz este chamou o J.S.R.M. fui mais este pela Oficina e Luís Penim

depois apareceu J. A. dizendo-me vai ter com o J. da Luz ao escritório fui

pela Oficina diz um militar para onde vai resposta minha vou para o serviço.

Vá ter com o sargento fui ter com o dito apareceu o J.S.R.M. mandou-me

pela Oficina dos Ferreiros e fui estavam uns 10 militares do BSCF e

ferroviários o marido da “Porca Suja” e o A. Maria e encontrava-se exceto o

J. José e Ângelo ao serviço entrei pelo escritório diz o J. da Luz diz ele trazes

fato de ganga como não tivesse mandou-me a casa buscar depois estive a

vestir no escritório diz ele tens ferramenta resposta minha não depois

mandou-me procurar pelo J.S.R.M não o encontrei estava na Gare o Neves

e J. António Cunha neste momento chegou um comboio feito por militares

a máquina nº 85 andei pela estação sozinho em procura de um J.A. disse o

Neves deve estar para os barracões estava na ponte francesa andei mais ele

a tirar o número dos veículos avariados regressámos ao escritório mas uma

sentinela da GNR fez-nos parar foi preciso dizer ao dito 4 vezes que

estávamos em serviço. Estivemos no escritório de conversa com o Luís

Penim e Cunha depois apareceu J. da Luz o A. Cunha falou com ele com

respeito à greve saímos e estivemos de conversa junto ao escritório era eu,

J. da Luz, L. Penim, J.S.R.M., A. Cunha, José, Azevedo e outros pelas 17h12

mandou-me o J. da Luz embora fui para a vila. Falei com a M.G.M. Regressei

à Sociedade Instrução. Estive a jogar à bisca mais Júlio Martins, V. Aurélio

contra A. Correia, Custódio F. Fez uma noite linda mas fazendo muito frio.

As máquinas que se encontrava no Barreiro ao serviço dos militares que foi

entregue ao pessoal era as seguintes nº 28-31-85 o primeiro comboio feito

pelo pessoal foi para Setúbal máquina nº 28 maquinista António de Oliveira

fogueiro Balbino. Chegou do Porto o J. Figueiredo. Fez 6 semanas que o

meu mano não vinha a casa veio esta noite. Foram postos em liberdade os

ferroviários que estavam nos P. Concelho entre eles Alberto Azevedo e

também saiu o José Paulino Júnior.

11/12/920 Fez 1 ano estive de folga na Funcheira era o meu camarada o

aj. Revisor João M. Batista de Beja este seguiu na c. 6 acompanhar o J. 87

com um boque quente. Esteve todo o dia nublado pelas 18h principiou a

chover. 1920 Trabalhei todo o dia no Barreiro. Veio o pagamento recebi

65$11. Soube que pelas 11h30 um rapaz de uns 18 anos levou em frente da

casa do J. Gamboa três espadeiradas foi uma patrulha de Cavalaria da GNR

o que deu as espadeiradas tem o apelido Mata homens quanto mais o

rapaz pedia que o não batesse mais batia foi pelo motivo de tirar um

escudo a outro recebeu curativo na Farmácia Crispim. Apresentaram-se ao

serviço na Oficina do M. Circulante os revisores Manuel Nunes, M. Pedro

Manilha, aprendizes F. Pireza, M. Silveira e o carpinteiro J. Marques. Foram

postos em liberdade como se dizia, o Comité de Setúbal composto de Chefe

e Fiel e revisor Camacho. Pelas 14h30 foi preso na Gare do Barreiro dois

guarda-freios entre eles o Sebola [sic[. Fui ao Barreiro T. mais o J.S.R.

Marques estava a barraca de revisão tudo partido e roubado. Continua a

chamada do pessoal para diversos serviços excepto a Via Fluvial e

Guindastes seguiram muitos requerimentos para a direcção entre eles o J.

José e Ângelo Santareno e Artur Pereira etc. Fui para a vila às 18h20 estava

uma claque na S. Instrução a jogar o cavalo. Falei com a M.G.M. Regressei à

S. Instrução fui jogar à bisca com o Custódio F. contra o Eugénio Silva, J.

Aurélio e nós 1 bola e eles duas. Regressei a casa às 21h40 mais o Custódio

F., Eugénio. Houve benefício no T. Cine revertendo o produto líquido a favor

dos pobres da terra como no dia 4 do corrente mez. Esteve o dia razoável

mas à tarde nublou-se à noite idem fez vento. Pelas 22h principiou a chover.

Ao regressar a casa como disse estivemos na escada do José Augusto eu

Eugénio depois apareceu a mãe e mana do dito dizendo quem está aí

depois disse traz a luz e nós fugimos foi depois ter com nós o Custódio a dias

que andava o Edmundo T. V. com barrete pelo motivo ser desconhecido por

causa dos indivíduos que bateram no domingo p.p.

12/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h na Funcheira. Veio ordem do

Barreiro para retirar no dia 15 próximo. 1920 Trabalhei até às 15h esteve

quase todo o dia a chover. Retiraram da estação dos CFSS duas companhias

da GNR. Chegou ao Tejo aonde vem estar 4 dias a fragata de guerra da

Argentina de nome presidente Sarmento. Desde do dia 9 do corrente mez

ainda não tocou a buzina das Oficinas Gerais sendo o toque de sineta como

antigamente. Houve comício na P. da República no Barreiro falou o

Deputado João Camoezas etc. Faleceu esta madrugada o filho mais velho

da Cristina de nome Manuel Bravo e o Alfredo Machadinho ambos

tuberculosos. Fui para a vila às 18h20 estive no L. Casal de conversa com o

Jorge Pessoa e Custódio. Foram ao T. Cine o Artur, Custódio ver a fita do

aviador. Falei com a M.G.M. Estive no L. Casal de conversa com o J. Vieira

204 205

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depois chegou de mensal o praticante Simplício sobre os acontecimentos

de factos passados durante a greve. Esteve a noite fria e o Simplício vamos

beber leite nós dissemos Lá-vai ou Alves e eu disse vamos ao T. República

ainda subimos as escadas retiramos e regressamos ao Lá-vai era eu, Vieira,

Simplício, M. Moinho estava muitas pessoas entramos no quarto aonde

estava Alexandre Quintino e outros eu mandei vir 5 cafés 6 bolos bebendo

o Alexandre paguei 1$20 outras sodas pagou o Simplício e M. Moinho

regressamos ao T. República fomos à 2ª sessão fui com a claque Custódio,

Sebastião, Artur, Eduardo, Aurélio estivemos nas cadeiras nº 53 a 63 ver a

fita o Vencedor da Morte regressamos a casa às 24h20 mais Custódio.

Continua patrulhadas as ruas da vila de inf. e cavalaria estabelecimentos

fechavam às 20h. Foi preso o Leopoldo Calapez guarda freio. Em Olhão

fecharam mais de 50 fábricas de conservas encontrando-se sem trabalho

perto de 1000 operários.

13/12/920 Fez 1 ano estive de folga todo o dia estava nublado. Fui a

Garvão na máq. 107 maquinista o meu primo Ant. Ferreira. Principiou a

chover de manhã sendo o resto do dia. Chegou no comboio 9 coisas para

mim da minha casa. Faleceu o mestre dos serralheiros reformado Francisco

Pireza. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare. Esteve todo o dia nublado

principiou a declarar o tempo pelas 15h25 fazendo um pouco de vento

Nordeste e à noite muito vento. Depois da greve o primeiro que deu parte

doente foi o José Esteves Beira. Veio ordem da Direcção para se entregar os

passes para carimbar pelas 13h entreguei o meu. Foram perto de 40

ferroviários para Lisboa à junta médica. Continua a fazer as carreiras de

Lisboa para Barreiro os vapores Atália, Minho e Algarve e hoje entrou ao

serviço os rebocadores Europa e T. Trigueiros e as maquinas nº 14-18-28-

31-65-85-202 o maquinista M. Rebelo fez um comboio no sábado passado

foi despedido. Continua a chamada dos ferroviários grevistas e alguns

despedidos. Ainda não foi chamado pessoal algum da Via Fluvial etc.

Paguei as primeiras cotas de $60 foi dos meses de Setembro e Outubro e

Novembro. Caiu de cama minha mãe.

14/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo e a

noite regular. O praticante Correia pediu-me a direcção do José Algarvio do

Barreiro. Soube que foi no Barreiro o casamento da Júlia com o Amorim e

uma filha do Grilo com o filho do Manuel Pata. O Manuel Lindim feriu-se

num dedo de uma mão com um tiro de revólver. 1920 Trabalhei todo o dia

na Gare. Fez um dia de aguaceiros a noite

Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo e a noite

regular. O praticante Correia pediu-me a direcção do José Algarvio do

Barreiro. Soube que foi no Barreiro o casamento da Júlia com o Amorim e

uma filha do Grilo com o filho do Manuel Pata. O Manuel Lindim feriu-se

num dedo de uma mão com um tiro de revólver. 1920 Trabalhei todo o dia

na Gare. Fez um dia de aguaceiros a noite idem fazendo muitíssimo vento

Norte e frio. Retirou mais 2 Companhias da GNR. Continua a apresentar-se

ao serviço muitos grevistas entre eles os encarregados J. José e Ângelo e da

Via Fluvial entrou metade e dos Guindastes um só. Foi ao funerais do Ant.

Feio (pai) e do cantoneiro Cristo. Continua a não tocar a buzina das Oficinas

Gerais dos CFSS. Fui para a vila às a18h15 estive no L. Casal fui à S. Instrução

não estava ninguém depois chegou o Artur, Edmundo estivemos de

conversa sobre a árvore de natal da S. Ilustração. Falei com a M.G.M.

Regressei a casa mais o M. Ramalhete soube que foi a primeira noite que o

Eugénio Silva falou com a Ana Vergante à janela. Chegou no comboio 5004

da Funcheira ainda fardado o Francisco M. Estaca. Fez 2 anos que mataram

o presidente da República sr. dr. Sidónio Pais.

15/12/920 Fez 1 ano que de folga na Funcheira esteve um dia triste e

chovendo muitíssimo toda a tarde pelas 18h estive a preparar as coisas

para regressar a Barreiro. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare. Esteve um

lindo [sic] fazendo muito vento Norte. Pelas 17h5 calmou o vento a noite

linda de luar. Retirou a GNR que se encontrava quartelada na estação do

Barreiro e na Associação de classe e nos armazéns do Daciano e algumas

praças do Batalhão S.C.F. Pelas 12h40 principiou pela primeira vez depois

da greve a buzina das Of. Gerais. Fui para a vila às 18h35 entrei na S.

Instrução mais o Custódio e Artur começou o Artur a tirara a subscrição

para a festa da árvore de natal que se realiza na S. Instrução eu dei 0$50.

Falei com a M.G.M. foi a primeira vez que c…[sic]. Regressei à S. Instrução

estive a jogar a bisca com o Júlio Martins, Sebastião contra Custódio,

Edmundo, Artur eles fizeram uma bola estava a Sociedade animada. Retirei

para casa mais o Custódio. Foi posta da casa para fora a mulher do Miguel

sapateiro. Fugiu de casa com duas filhas a mulher do António cortador.

Hoje foi substituído o aprendiz Marques Silveira por o limpador António

Moiteiro no D. do M. Circulante. Principiou a deitar abaixo umas paredes

interiores na leitaria do Lá-vai.

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depois chegou de mensal o praticante Simplício sobre os acontecimentos

de factos passados durante a greve. Esteve a noite fria e o Simplício vamos

beber leite nós dissemos Lá-vai ou Alves e eu disse vamos ao T. República

ainda subimos as escadas retiramos e regressamos ao Lá-vai era eu, Vieira,

Simplício, M. Moinho estava muitas pessoas entramos no quarto aonde

estava Alexandre Quintino e outros eu mandei vir 5 cafés 6 bolos bebendo

o Alexandre paguei 1$20 outras sodas pagou o Simplício e M. Moinho

regressamos ao T. República fomos à 2ª sessão fui com a claque Custódio,

Sebastião, Artur, Eduardo, Aurélio estivemos nas cadeiras nº 53 a 63 ver a

fita o Vencedor da Morte regressamos a casa às 24h20 mais Custódio.

Continua patrulhadas as ruas da vila de inf. e cavalaria estabelecimentos

fechavam às 20h. Foi preso o Leopoldo Calapez guarda freio. Em Olhão

fecharam mais de 50 fábricas de conservas encontrando-se sem trabalho

perto de 1000 operários.

13/12/920 Fez 1 ano estive de folga todo o dia estava nublado. Fui a

Garvão na máq. 107 maquinista o meu primo Ant. Ferreira. Principiou a

chover de manhã sendo o resto do dia. Chegou no comboio 9 coisas para

mim da minha casa. Faleceu o mestre dos serralheiros reformado Francisco

Pireza. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare. Esteve todo o dia nublado

principiou a declarar o tempo pelas 15h25 fazendo um pouco de vento

Nordeste e à noite muito vento. Depois da greve o primeiro que deu parte

doente foi o José Esteves Beira. Veio ordem da Direcção para se entregar os

passes para carimbar pelas 13h entreguei o meu. Foram perto de 40

ferroviários para Lisboa à junta médica. Continua a fazer as carreiras de

Lisboa para Barreiro os vapores Atália, Minho e Algarve e hoje entrou ao

serviço os rebocadores Europa e T. Trigueiros e as maquinas nº 14-18-28-

31-65-85-202 o maquinista M. Rebelo fez um comboio no sábado passado

foi despedido. Continua a chamada dos ferroviários grevistas e alguns

despedidos. Ainda não foi chamado pessoal algum da Via Fluvial etc.

Paguei as primeiras cotas de $60 foi dos meses de Setembro e Outubro e

Novembro. Caiu de cama minha mãe.

14/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo e a

noite regular. O praticante Correia pediu-me a direcção do José Algarvio do

Barreiro. Soube que foi no Barreiro o casamento da Júlia com o Amorim e

uma filha do Grilo com o filho do Manuel Pata. O Manuel Lindim feriu-se

num dedo de uma mão com um tiro de revólver. 1920 Trabalhei todo o dia

na Gare. Fez um dia de aguaceiros a noite

Fez 1 ano que trabalhei 24 h na Funcheira. Fez um dia lindo e a noite

regular. O praticante Correia pediu-me a direcção do José Algarvio do

Barreiro. Soube que foi no Barreiro o casamento da Júlia com o Amorim e

uma filha do Grilo com o filho do Manuel Pata. O Manuel Lindim feriu-se

num dedo de uma mão com um tiro de revólver. 1920 Trabalhei todo o dia

na Gare. Fez um dia de aguaceiros a noite idem fazendo muitíssimo vento

Norte e frio. Retirou mais 2 Companhias da GNR. Continua a apresentar-se

ao serviço muitos grevistas entre eles os encarregados J. José e Ângelo e da

Via Fluvial entrou metade e dos Guindastes um só. Foi ao funerais do Ant.

Feio (pai) e do cantoneiro Cristo. Continua a não tocar a buzina das Oficinas

Gerais dos CFSS. Fui para a vila às a18h15 estive no L. Casal fui à S. Instrução

não estava ninguém depois chegou o Artur, Edmundo estivemos de

conversa sobre a árvore de natal da S. Ilustração. Falei com a M.G.M.

Regressei a casa mais o M. Ramalhete soube que foi a primeira noite que o

Eugénio Silva falou com a Ana Vergante à janela. Chegou no comboio 5004

da Funcheira ainda fardado o Francisco M. Estaca. Fez 2 anos que mataram

o presidente da República sr. dr. Sidónio Pais.

15/12/920 Fez 1 ano que de folga na Funcheira esteve um dia triste e

chovendo muitíssimo toda a tarde pelas 18h estive a preparar as coisas

para regressar a Barreiro. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare. Esteve um

lindo [sic] fazendo muito vento Norte. Pelas 17h5 calmou o vento a noite

linda de luar. Retirou a GNR que se encontrava quartelada na estação do

Barreiro e na Associação de classe e nos armazéns do Daciano e algumas

praças do Batalhão S.C.F. Pelas 12h40 principiou pela primeira vez depois

da greve a buzina das Of. Gerais. Fui para a vila às 18h35 entrei na S.

Instrução mais o Custódio e Artur começou o Artur a tirara a subscrição

para a festa da árvore de natal que se realiza na S. Instrução eu dei 0$50.

Falei com a M.G.M. foi a primeira vez que c…[sic]. Regressei à S. Instrução

estive a jogar a bisca com o Júlio Martins, Sebastião contra Custódio,

Edmundo, Artur eles fizeram uma bola estava a Sociedade animada. Retirei

para casa mais o Custódio. Foi posta da casa para fora a mulher do Miguel

sapateiro. Fugiu de casa com duas filhas a mulher do António cortador.

Hoje foi substituído o aprendiz Marques Silveira por o limpador António

Moiteiro no D. do M. Circulante. Principiou a deitar abaixo umas paredes

interiores na leitaria do Lá-vai.

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16/12/920 Fez 1 ano que embarquei esta madrugada para Barreiro na c.

85 c. 6. Esteve uma noite linda estava fria. No Barreiro foi o funeral do

Francisco Pireza. O filho do Leonardo de nome Amadeu deu duas facadas

no Augusto Mata-Gatos deixou a morte e o filho deste deu outras num dos

Painços deixando em perigo de vida. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare.

Esteve um dia lindo e a noite idem mas fazendo muito vento. Foi o primeiro

dia depois da greve que se fez automotora para o pessoal das Oficinas.

Retirou mais praças do BSCF. Fui para a vila às 18h40 até à S. Instrução. O J.

Ramos atirou um púcaro de água para cima do Eduardo e Custódio de

conversa na escada da dita Sociedade com o Pina. Falei com a M.G.M.

17/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro terra. Esteve um lindo

mas muito frio [sic]. Houve reunião dos ferroviários. Os jornais vinha que

breve acabava o mundo com chuva e vento. Fez 6 anos que foram a Lisboa o

meu mano, Artur Pereira falar com um membro da Irmandade da Igreja da

S. do Rosário por motivo de estar o arraial à chuva para ver se concedia a

igreja para recolher o dito arraial. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare.

Levantou-se névoa pelas 13h estando o resto do dia nublado. Pelas 16h

principiou a pôr-se névoa mais tarde aleviou mas pingando. Retirou mais

15 guardas republicana [sic] de Infantaria. O Eugénio da Silva foi ter com o

Sr. Raul Esteves Director dos CFSS mas volta amanhã novamente às 9h30 a

Lisboa à Direcção. Fui para a vila às 18h35 falei com a M.G.M. retirei para a

S. Inst. Encontrava-se grande claque a jogar ao cavalo eu estive a jogar a

bisca com o J. Aurélio contra Delícias e Custódio ganhamos nós fizemos

duas bolas neste momento entrou o J. Martins com uma botija de 5 litros

de vinho e pão deu ao Custódio a beber e depois ao Carradas mas não

deixou beber muito o Custódio tirou-lhe um bocado de pão deu-me e ao

Delícias. Regressei a casa mais Custódio, Eugénio pelas 22h10 a noite

nublada.

18/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve um dia regular fazendo

noite fria. Falei com a M.G.M. Pelas 19h e tal estive haver [sic] com o

J.S.R.M. o lixo que estava na Rua Aguiar que era da mãe do José Soares que

foi posta fora por Justiça. 1920 Trabalhei todo o dia nas Cocheiras chovendo

todo o dia até às 13h50 depois limpou o tempo vento Leste fazendo uma

noite linda de luar mas muitíssimo frio. O sr. J. da Luz deu ordem os

aprendizes acartar bronzes entre eles F. Pireza, José J., P.M. Silveira este

último partiu um boque. Continua a chamada de pessoal para o serviço no

Material Circulante (revisão), Guilherme Costa, Pedro Manilha (filho), Luiz

Cordeiro, Ant. Tiago, José Ramos 2º, Alves, etc. faleceu o carregador antigo

conhecido Vendas Novas e à dias o escriturário dos CFSS nome José Duarte.

Fui para a vila às 18h40 estive no barbeiro Ventura. Falei com a M.G.M.

regressei à S. Instrução momentos depois chegou o Carradas aí amandou-

me [sic] um empurrão tão delicado que tirou-me logo 4 botões do colete e

depois mandou outro ao António Vicente este foi contra a parede do bufete

que abriu ao meio e partiu o suporte do fecho regressei a casa ás 22h.

19/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Houve

eleição dos corpos gerentes na S. Instrução. 1920 Trabalhei até às 15h. caiu

esta madrugada grande camada de geada e peras até gelou a água foi a

primeira deste ano. Este um dia lindo até às 14h depois principiou a nublar-

se. Retirou mais 50 praças do BSCF. Fiz entrega do armário da roupa na

Oficina do M. Circulante ao revisor António Garrento era o nº 14. Houve

grande jantar na Adega do Alfredo correu o boato que foi pelo motivo dos

ferroviários perdermos eles disseram que foi vinho novo fizeram parte no

jantar o Alfredo Figueiras e o Guerra e os Marinhos etc. Chegou ao Tejo o

cruzador brazileiro “S. Paulo” vindo este buscar os restos mortais de D.

Pedro para o Brazil. Fui para a vila às 16h10 andei a passear sozinho e

depois andei com o Jorge Pessoa passamos alfaiataria do Jorge Macedo

dissemos adeus a uma rapariga e peras que estava na dita passamos mais

duas vezes e dava pela escola. Deu uma dor na minha mãe meteu-se logo

na cama melhorou à noite. Mais tarde dei uma volta à vila mais Eugénio

entramos na leitaria do Lá-vai 7 bolos 3 cacaus paguei 1$44 o M. Ramalhete

também estava com nós o Mário deu-me uma senha nº 266 para sorteio do

brinde que se realiza no dia de natal. Falei com a M.G.M. Regressei a casa

voltando à vila fui até à S. Instrução saí e em frente do estabelecimento do

Francisco Rodrigues encontrei o Vieira ele diz ele vamos ao Lá-vai resposta

minha vamos juntando-se a nós o Lagarticha pagou a despesa que foi 1$20

o Vieira. Fomos ao T. República tivemos de conversa mais o Manoel da Silva

aonde este disse que terminou o namoro com a Silvia. Retirei às 21h30 e fui

até à S. Instrução ver o baile à S. Instrução andava o Artur com a subscrição

para a festa na sala da dita que realiza-se na noite de natal que é a Comissão

composta Edmundo, J. Aurélio, Artur, Delícias, Chagas, J. de Oliveira etc. na

sala encontrava-se o Mário Ramalhete, Carlos Diogo Agrípio, J. Pedro de

brincadeira com bolachas. Estivemos de brincadeira eu deitei para o meio

208 209

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16/12/920 Fez 1 ano que embarquei esta madrugada para Barreiro na c.

85 c. 6. Esteve uma noite linda estava fria. No Barreiro foi o funeral do

Francisco Pireza. O filho do Leonardo de nome Amadeu deu duas facadas

no Augusto Mata-Gatos deixou a morte e o filho deste deu outras num dos

Painços deixando em perigo de vida. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare.

Esteve um dia lindo e a noite idem mas fazendo muito vento. Foi o primeiro

dia depois da greve que se fez automotora para o pessoal das Oficinas.

Retirou mais praças do BSCF. Fui para a vila às 18h40 até à S. Instrução. O J.

Ramos atirou um púcaro de água para cima do Eduardo e Custódio de

conversa na escada da dita Sociedade com o Pina. Falei com a M.G.M.

17/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro terra. Esteve um lindo

mas muito frio [sic]. Houve reunião dos ferroviários. Os jornais vinha que

breve acabava o mundo com chuva e vento. Fez 6 anos que foram a Lisboa o

meu mano, Artur Pereira falar com um membro da Irmandade da Igreja da

S. do Rosário por motivo de estar o arraial à chuva para ver se concedia a

igreja para recolher o dito arraial. 1920 Trabalhei todo o dia na Gare.

Levantou-se névoa pelas 13h estando o resto do dia nublado. Pelas 16h

principiou a pôr-se névoa mais tarde aleviou mas pingando. Retirou mais

15 guardas republicana [sic] de Infantaria. O Eugénio da Silva foi ter com o

Sr. Raul Esteves Director dos CFSS mas volta amanhã novamente às 9h30 a

Lisboa à Direcção. Fui para a vila às 18h35 falei com a M.G.M. retirei para a

S. Inst. Encontrava-se grande claque a jogar ao cavalo eu estive a jogar a

bisca com o J. Aurélio contra Delícias e Custódio ganhamos nós fizemos

duas bolas neste momento entrou o J. Martins com uma botija de 5 litros

de vinho e pão deu ao Custódio a beber e depois ao Carradas mas não

deixou beber muito o Custódio tirou-lhe um bocado de pão deu-me e ao

Delícias. Regressei a casa mais Custódio, Eugénio pelas 22h10 a noite

nublada.

18/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve um dia regular fazendo

noite fria. Falei com a M.G.M. Pelas 19h e tal estive haver [sic] com o

J.S.R.M. o lixo que estava na Rua Aguiar que era da mãe do José Soares que

foi posta fora por Justiça. 1920 Trabalhei todo o dia nas Cocheiras chovendo

todo o dia até às 13h50 depois limpou o tempo vento Leste fazendo uma

noite linda de luar mas muitíssimo frio. O sr. J. da Luz deu ordem os

aprendizes acartar bronzes entre eles F. Pireza, José J., P.M. Silveira este

último partiu um boque. Continua a chamada de pessoal para o serviço no

Material Circulante (revisão), Guilherme Costa, Pedro Manilha (filho), Luiz

Cordeiro, Ant. Tiago, José Ramos 2º, Alves, etc. faleceu o carregador antigo

conhecido Vendas Novas e à dias o escriturário dos CFSS nome José Duarte.

Fui para a vila às 18h40 estive no barbeiro Ventura. Falei com a M.G.M.

regressei à S. Instrução momentos depois chegou o Carradas aí amandou-

me [sic] um empurrão tão delicado que tirou-me logo 4 botões do colete e

depois mandou outro ao António Vicente este foi contra a parede do bufete

que abriu ao meio e partiu o suporte do fecho regressei a casa ás 22h.

19/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia e 1 hora de serão. Houve

eleição dos corpos gerentes na S. Instrução. 1920 Trabalhei até às 15h. caiu

esta madrugada grande camada de geada e peras até gelou a água foi a

primeira deste ano. Este um dia lindo até às 14h depois principiou a nublar-

se. Retirou mais 50 praças do BSCF. Fiz entrega do armário da roupa na

Oficina do M. Circulante ao revisor António Garrento era o nº 14. Houve

grande jantar na Adega do Alfredo correu o boato que foi pelo motivo dos

ferroviários perdermos eles disseram que foi vinho novo fizeram parte no

jantar o Alfredo Figueiras e o Guerra e os Marinhos etc. Chegou ao Tejo o

cruzador brazileiro “S. Paulo” vindo este buscar os restos mortais de D.

Pedro para o Brazil. Fui para a vila às 16h10 andei a passear sozinho e

depois andei com o Jorge Pessoa passamos alfaiataria do Jorge Macedo

dissemos adeus a uma rapariga e peras que estava na dita passamos mais

duas vezes e dava pela escola. Deu uma dor na minha mãe meteu-se logo

na cama melhorou à noite. Mais tarde dei uma volta à vila mais Eugénio

entramos na leitaria do Lá-vai 7 bolos 3 cacaus paguei 1$44 o M. Ramalhete

também estava com nós o Mário deu-me uma senha nº 266 para sorteio do

brinde que se realiza no dia de natal. Falei com a M.G.M. Regressei a casa

voltando à vila fui até à S. Instrução saí e em frente do estabelecimento do

Francisco Rodrigues encontrei o Vieira ele diz ele vamos ao Lá-vai resposta

minha vamos juntando-se a nós o Lagarticha pagou a despesa que foi 1$20

o Vieira. Fomos ao T. República tivemos de conversa mais o Manoel da Silva

aonde este disse que terminou o namoro com a Silvia. Retirei às 21h30 e fui

até à S. Instrução ver o baile à S. Instrução andava o Artur com a subscrição

para a festa na sala da dita que realiza-se na noite de natal que é a Comissão

composta Edmundo, J. Aurélio, Artur, Delícias, Chagas, J. de Oliveira etc. na

sala encontrava-se o Mário Ramalhete, Carlos Diogo Agrípio, J. Pedro de

brincadeira com bolachas. Estivemos de brincadeira eu deitei para o meio

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da sala uma cédula de $5 e Aurélio com cédula de $10 e o Edmundo com o

anel de metal fartamos de rir despois desapareceu. Houve quadrilha

marcou o Cristóvão Duarte, Júlio filho do Orelha e pela primeira vez o

Carlos Diogo. Terminou o baile à 1h40 ao sair o Rebelo atirou um tiro ao ar.

Regressei a casa mais o Eugénio e M. Ralinho, M. Ramalhete, Custódio. Foi

o funeral da mulher do ajudante revisor Álvaro Duarte de Oliveira. Hoje o

Júlio Lagarticha pois nomes na Travessa do Cemitério Velho com nome

Travessa de Luiz de Camões etc. soube que pelas 19h houve grande

desordem na Rua Miguel Pais havendo facadas houve ferimentos entre

eles o filho do Pouca Roupa e Manuel Morais etc. Seguiu de castigo pelo

motivo da última greve para a Funcheira o revisor Francisco M. Estaca.

20/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez um dia lindo

mas muito frio à noite. Faleceu a filha do Francisco carcereiro. Pelas 3 h da

madrugada o guarda da noite Diamantino e calceiros M. Fonseca e J. da

Silva foram dentro do J. 356 estava carregado de latas de gasolina e entrou

o capataz Lafaete com uma lanterna deu origem incendiou-se tão rápido

que só tiveram tempo de fugir ardeu completamente exceto a ferragem

vieram bombeiros dos CFSS e Herold e Comp. U. F. esta última partiu uma

perna um bombeiro e queimou-se o Garcias dos CFSS estava extinto pelas

5h45 da madrugada. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve um dia lindo

principiou a nublar-se às 13h. Amanhã pelas 13h o julgamento no Tribunal

da Boa Hora o Bernardino A. X. Faleceu o J. Grande o Calrretas. Fui para a

vila pelas 18h20 estive na S. Instrução disse ao J. Martins este sai e fui ao J.

Pau-louro e comprou um baralho de cartas foi $50 e eu dei-lhe 5 cent. como

tinha perdido o Ant. Filipe jogou com o dito a $10 ganhou o J. Martins $50

este entregou o dinheiro à Comissão da festa da árvore de natal. Falei com a

M.G.M. Regressei à S. Instrução ficou entregues as cartas ao Custódio

ficando a jogar com mais 8 retirei para casa às 22h50 mais o Eugénio. A

noite nublada esteve luar e calmosa. Foram hoje soltos alguns ferroviários

entre eles o Gouveia, J. Ferreira, M. Costa, Saloio e Calapez, etc.

21/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve o dia nublado. Fez 2 anos

que foi preso o revisor José S. Cardoso. Falei com a M.G.M. Fui ao T. Cine ver

o rei da Evasão de nome Tom-Kalmo espanhol fomos para as cadeiras nº

151-153 era eu, L.M. Freire quem amarrasse o espanhol de maneira de não

poder desatar ganhava 200 escudos foram ao palco o Artur, Jacinto

Brandão e João Painço levou só 13 minutos a desatar. Estreei o meu chapéu

de flamon (?). Houve grande incêndio na Paiva no prédio da Quinta do

Espanhol que pertence hoje à Comp. U. Fabril. 1920 Trabalhei todo o dia fui

às 21h revisar o comboio 103 regressei à 0h50. Todo o dia nublado

principiou a chover pelas 9h30 e terminou às 16h35 ainda fez vento Norte.

Continua a ser chamados ferroviários para o serviço entre eles o revisor

Augusto Duarte. Pelas 13h10 quando eu mais o J. J.2º levar uns pára-

choques s da Ambulância nº 8 B para a Ferraria Pequena o J. J.2º este

casualmente com o pára-choque aleijou um pé ao malhador Gabriel

descalçou e retirou para a farmácia. Não fui à vila por motivo revisar o

comboio 102 como disse. Encontrava-me com uma grande constipação.

Abriu hoje a Associação de Classe que esteve fechada desde a greve.

22/12/920 Fez um ano que trabalhei todo dia e uma hora de serão. Um

corte material descarrilou em frente do escritório do M. Circulante pelas

18h ficando carrilado às 20h25. Trabalhei mais o J. José Domingos Manilhas

pai e filho. Ficaram avariadas as B.8 e CCG8-78-89 era a máquina 10

maquinista António Feio e outra máq. 2 maquinistas José Pequenino neste

corte variou O365 etc. Hontem foram sindicalistas absolvidos eram

acusados de tentarem de assassinar o director da Polícia no 2º distrito

criminal sob a presidência do sr. dr. Francisco de Sousa responderam em

audiência de júri os jovens sindicalistas Manuel M. Ramos, David de

Carvalho, Bernardino A. Xavier e Henrique Paiva presos pelas 20h no dia 23

de Junho na Praça Luiz de Camões quando pretendiam assassinar o dito

Director da Polícia de Investigação como disse de nome José dos Reis Júnior

por não se ter feito prova testemunhal do júri foram absolvidos. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um lindo momentos [sic] depois apareceu astros

pelo céu fazendo uma noite linda de luar mas frio. O encarregado dos

serralheiros das Oficinas Gerais Manuel António fez ao F. J. Cordeiro

ajudante revisor uma p…[sic] no escritório do dito e às 12h10 o Filipe teve

uma grande zaragata com o António Cunha pelo motivo já dito sendo

testemunhas o revisor Guilherme e J. José Pedro etc. O Manuel Manilha

encarregado queria dar parte dos dois a pedido ficou sem efeito. Fui para a

vila às 18h40 estive na S. Instrução encontrava-se bastante rapaziada uns a

jogar outros de conversa etc. o Custódio entregou-me o baralho de cartas.

Retirei e fui falar com a M.G.M. Regressei à S. Instrução estava jogar 8 ao

chincalhão. Soube que a Comissão de melhoramentos dos ferroviários teve

uma conferência com o governo tratar sobre os últimos acontecimentos.

De tarde realizou-se a trasladação dos restos mortais dos últimos

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da sala uma cédula de $5 e Aurélio com cédula de $10 e o Edmundo com o

anel de metal fartamos de rir despois desapareceu. Houve quadrilha

marcou o Cristóvão Duarte, Júlio filho do Orelha e pela primeira vez o

Carlos Diogo. Terminou o baile à 1h40 ao sair o Rebelo atirou um tiro ao ar.

Regressei a casa mais o Eugénio e M. Ralinho, M. Ramalhete, Custódio. Foi

o funeral da mulher do ajudante revisor Álvaro Duarte de Oliveira. Hoje o

Júlio Lagarticha pois nomes na Travessa do Cemitério Velho com nome

Travessa de Luiz de Camões etc. soube que pelas 19h houve grande

desordem na Rua Miguel Pais havendo facadas houve ferimentos entre

eles o filho do Pouca Roupa e Manuel Morais etc. Seguiu de castigo pelo

motivo da última greve para a Funcheira o revisor Francisco M. Estaca.

20/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24 h no Barreiro T. Fez um dia lindo

mas muito frio à noite. Faleceu a filha do Francisco carcereiro. Pelas 3 h da

madrugada o guarda da noite Diamantino e calceiros M. Fonseca e J. da

Silva foram dentro do J. 356 estava carregado de latas de gasolina e entrou

o capataz Lafaete com uma lanterna deu origem incendiou-se tão rápido

que só tiveram tempo de fugir ardeu completamente exceto a ferragem

vieram bombeiros dos CFSS e Herold e Comp. U. F. esta última partiu uma

perna um bombeiro e queimou-se o Garcias dos CFSS estava extinto pelas

5h45 da madrugada. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve um dia lindo

principiou a nublar-se às 13h. Amanhã pelas 13h o julgamento no Tribunal

da Boa Hora o Bernardino A. X. Faleceu o J. Grande o Calrretas. Fui para a

vila pelas 18h20 estive na S. Instrução disse ao J. Martins este sai e fui ao J.

Pau-louro e comprou um baralho de cartas foi $50 e eu dei-lhe 5 cent. como

tinha perdido o Ant. Filipe jogou com o dito a $10 ganhou o J. Martins $50

este entregou o dinheiro à Comissão da festa da árvore de natal. Falei com a

M.G.M. Regressei à S. Instrução ficou entregues as cartas ao Custódio

ficando a jogar com mais 8 retirei para casa às 22h50 mais o Eugénio. A

noite nublada esteve luar e calmosa. Foram hoje soltos alguns ferroviários

entre eles o Gouveia, J. Ferreira, M. Costa, Saloio e Calapez, etc.

21/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve o dia nublado. Fez 2 anos

que foi preso o revisor José S. Cardoso. Falei com a M.G.M. Fui ao T. Cine ver

o rei da Evasão de nome Tom-Kalmo espanhol fomos para as cadeiras nº

151-153 era eu, L.M. Freire quem amarrasse o espanhol de maneira de não

poder desatar ganhava 200 escudos foram ao palco o Artur, Jacinto

Brandão e João Painço levou só 13 minutos a desatar. Estreei o meu chapéu

de flamon (?). Houve grande incêndio na Paiva no prédio da Quinta do

Espanhol que pertence hoje à Comp. U. Fabril. 1920 Trabalhei todo o dia fui

às 21h revisar o comboio 103 regressei à 0h50. Todo o dia nublado

principiou a chover pelas 9h30 e terminou às 16h35 ainda fez vento Norte.

Continua a ser chamados ferroviários para o serviço entre eles o revisor

Augusto Duarte. Pelas 13h10 quando eu mais o J. J.2º levar uns pára-

choques s da Ambulância nº 8 B para a Ferraria Pequena o J. J.2º este

casualmente com o pára-choque aleijou um pé ao malhador Gabriel

descalçou e retirou para a farmácia. Não fui à vila por motivo revisar o

comboio 102 como disse. Encontrava-me com uma grande constipação.

Abriu hoje a Associação de Classe que esteve fechada desde a greve.

22/12/920 Fez um ano que trabalhei todo dia e uma hora de serão. Um

corte material descarrilou em frente do escritório do M. Circulante pelas

18h ficando carrilado às 20h25. Trabalhei mais o J. José Domingos Manilhas

pai e filho. Ficaram avariadas as B.8 e CCG8-78-89 era a máquina 10

maquinista António Feio e outra máq. 2 maquinistas José Pequenino neste

corte variou O365 etc. Hontem foram sindicalistas absolvidos eram

acusados de tentarem de assassinar o director da Polícia no 2º distrito

criminal sob a presidência do sr. dr. Francisco de Sousa responderam em

audiência de júri os jovens sindicalistas Manuel M. Ramos, David de

Carvalho, Bernardino A. Xavier e Henrique Paiva presos pelas 20h no dia 23

de Junho na Praça Luiz de Camões quando pretendiam assassinar o dito

Director da Polícia de Investigação como disse de nome José dos Reis Júnior

por não se ter feito prova testemunhal do júri foram absolvidos. 1920

Trabalhei todo o dia. Fez um lindo momentos [sic] depois apareceu astros

pelo céu fazendo uma noite linda de luar mas frio. O encarregado dos

serralheiros das Oficinas Gerais Manuel António fez ao F. J. Cordeiro

ajudante revisor uma p…[sic] no escritório do dito e às 12h10 o Filipe teve

uma grande zaragata com o António Cunha pelo motivo já dito sendo

testemunhas o revisor Guilherme e J. José Pedro etc. O Manuel Manilha

encarregado queria dar parte dos dois a pedido ficou sem efeito. Fui para a

vila às 18h40 estive na S. Instrução encontrava-se bastante rapaziada uns a

jogar outros de conversa etc. o Custódio entregou-me o baralho de cartas.

Retirei e fui falar com a M.G.M. Regressei à S. Instrução estava jogar 8 ao

chincalhão. Soube que a Comissão de melhoramentos dos ferroviários teve

uma conferência com o governo tratar sobre os últimos acontecimentos.

De tarde realizou-se a trasladação dos restos mortais dos últimos

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Imperadores do Brazil para bordo do S. Paulo que os conduzirá ao Rio de

Janeiro. Realizou o primeiro comboio 9 depois da greve.

23/12/920 Fez um ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fui revisar o

comboio 18 na substituição do revisor José Cardoso tinha este pedido-me.

1920 Trabalhei todo o dia esteve todo o dia nublado vento Sudoeste a noite

idem mas calmaria. Pelas 7h da manhã quando vinha para o serviço o

ferreiro Domingos da Bateirinha deu-lhe um ataque foi levado para casa,

foi o genro José Filipe e outros. Fui para a vila às 18h50 estive na S. Instrução

encontrava-se as manas do José Augusto haver o pinheiro que foi a

Comissão buscar o pinhal a dita Comissão é composta J. Aurélio, Edmundo,

Artur S., etc. estes tres foram pelas 17h e tal buscar o dito pinheiro. Retirei e

fui falar com a M.G.M. Regressei à S. Instrução tive de conversa no L. Casal

retirei para casa mais Eugénio e Luiz. Na Associação de Classe dos

Ferroviários do S. Sueste continua a receber os nomes dos ferroviários

demitidos e à noite foi dar o nome o Eugénio da Silva e o Luiz da Teresa. Foi

o funeral de Maria Gertrudes J. Simões.

24/12/920 Fez 1 ano estive de folga. Seguiu para Funcheira o ajudante

José Ramos e para Setúbal o José Cardoso revisor. Á noite choveu. Foi o

casamento do Mário de Almeida. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve todo o

dia nublado fazendo diversos ventos a noite de luar mas nublada. O

comboio 6 chegou às 15h. Fui para a vila às 19h20 estive na S. Instrução saí

e falei com a M.G.M. regressei a S. Instrução retirei e fui para o barbeiro

Ventura retirei para casa mais Eugénio. Houve reunião dos ferroviários no

T. Cine tratar das reclamações com respeito à greve etc. Faleceu a mulher

do Mesquita. Entrou como aprendiz o J. Janeiro no M. Circulante.

25/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Pela madrugada

pois-se névoa. Foi os seguintes casamentos o filho do Baleizão e outro etc. e

a filha do Rasga de apelido de “Princesa” deu à luz uma menina sem a mão

direita. O Luiz M.F. estreou um sobretudo. 1920 Foi feriado trabalhei das

21h às 22h5 na balança. Esteve todo o dia nublado fazendo grande

vendaval de Sudoeste. Levantei-me pelas 13h saí e fui buscar a lanterna à

barraca aonde gira a engrenagem para levantar as cancelas. Retirei para a

vila às 16h20. Fui até ao barbeiro e saí para a S. Instrução mais o Morais

depois chegou o Bernardino A. X. saímos e fomos para a Leitaria do Lá-vai

momentos depois entrou o Custódio. Os 11 bolos paguei foi 1$33 e o

Custódio os cafés. Entrou o filho do Nicola que tinha saído o 166 a caixa de

bombons. Saí. A noite nublada e pingou. Fui para a S. Instrução ver a árvore

e repucho [sic] na sala regressei a casa mais Bernardino A. X., Eduardo,

estes entraram para o café do Daniel de nome Contente aonde na noite

passada houve grande desordem entre o J. Chigadinho e o Florêncio e

outros contra aos padeiros o Rebelo atirou alguns tiros etc. Encontrava-se

no Barreiro o praticante Sebastião G. Fui para a vila às 23h20 entrei na S.

Instrução encontrando-se o baile animado estava a sala repleta estava o

meu mano e minha mana Ermínia. Dei $50 para a Comissão do dito baile.

Por brincadeira a rapaziada declarou greve para não dançar com as damas

tinha Comité. Houve quadrilha foi sendo a minha dama foi a Brites sendo a

minha viz-a-viz o M. Ramalhete com outra mana da minha dama e o meu

mano com Gertrudes Galinhola era perto duns 60 pares marcou a dita o

Carlos Diogo, Cristóvão Duarte e terminou o baile às 4h5 da madrugada.

Ficou na Sociedade uma grande ceia a comissão que era o Chagas,

Custódio, Edmundo, Artur, Aurélios, etc. Regressei a casa mais o Carlos D. e

A. Guerreiro, fazia grande vendaval e chovendo. O dito Guerreiro regressou

ao serviço caiu da cama quando dormia e partiu dois dentes e houve

zaragata no café do Daniel com os mesmos fulanos da noite anterior. Foi o

casamento da Emília Rebelo.

26/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Teve névoa à noite e falei com a

M.G.M. 1920 Trabalhei até às 15h na Gare fazendo grande vendaval vento

Sudoeste principiou a chover pelas 10h10 e trovejou pelas 13h e tal. Fui

para às 16h38 dei uma volta mais Eduardo, Jorge Pessoa, regressamos ao L.

Casal despois à S. Instrução entrou o Bernardino A. X. saímos e fomos ao T.

República retiramos e entramos no T. Cine eles foram dar uma volta à vila

juntamos e fomos ao Lá-vai. Eu paguei 3 cafés foi $30 e eles café e bolos

saímos a passear regressei á S. Instrução estivemos haver o baile

continuava a árvore de natal e o repucho [sic]. O Bernardino ofereceu-me

um isqueiro niquelado. Fui à quadrilha sendo a minha dama Gertrudes

Henriqueta dos Santos antiga namorada do Sebastião foi a minha visaviz foi

o José Oliveira comprei para minha dama $70 de bolachas marcaram a dita

o Mário Praça, Artur, Cristóvão terminou o baile sempre animado pelas

1h55. Regressei a casa mais Manoel Ralinho estava nesta altura a pingar. No

dito baile da S. Instrução entrou pelas 23h15 um cabo de Infantaria 11 este

tocou piano e cantou chorando pela primeira vez. Declarou-se um violento

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Imperadores do Brazil para bordo do S. Paulo que os conduzirá ao Rio de

Janeiro. Realizou o primeiro comboio 9 depois da greve.

23/12/920 Fez um ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Fui revisar o

comboio 18 na substituição do revisor José Cardoso tinha este pedido-me.

1920 Trabalhei todo o dia esteve todo o dia nublado vento Sudoeste a noite

idem mas calmaria. Pelas 7h da manhã quando vinha para o serviço o

ferreiro Domingos da Bateirinha deu-lhe um ataque foi levado para casa,

foi o genro José Filipe e outros. Fui para a vila às 18h50 estive na S. Instrução

encontrava-se as manas do José Augusto haver o pinheiro que foi a

Comissão buscar o pinhal a dita Comissão é composta J. Aurélio, Edmundo,

Artur S., etc. estes tres foram pelas 17h e tal buscar o dito pinheiro. Retirei e

fui falar com a M.G.M. Regressei à S. Instrução tive de conversa no L. Casal

retirei para casa mais Eugénio e Luiz. Na Associação de Classe dos

Ferroviários do S. Sueste continua a receber os nomes dos ferroviários

demitidos e à noite foi dar o nome o Eugénio da Silva e o Luiz da Teresa. Foi

o funeral de Maria Gertrudes J. Simões.

24/12/920 Fez 1 ano estive de folga. Seguiu para Funcheira o ajudante

José Ramos e para Setúbal o José Cardoso revisor. Á noite choveu. Foi o

casamento do Mário de Almeida. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve todo o

dia nublado fazendo diversos ventos a noite de luar mas nublada. O

comboio 6 chegou às 15h. Fui para a vila às 19h20 estive na S. Instrução saí

e falei com a M.G.M. regressei a S. Instrução retirei e fui para o barbeiro

Ventura retirei para casa mais Eugénio. Houve reunião dos ferroviários no

T. Cine tratar das reclamações com respeito à greve etc. Faleceu a mulher

do Mesquita. Entrou como aprendiz o J. Janeiro no M. Circulante.

25/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. Pela madrugada

pois-se névoa. Foi os seguintes casamentos o filho do Baleizão e outro etc. e

a filha do Rasga de apelido de “Princesa” deu à luz uma menina sem a mão

direita. O Luiz M.F. estreou um sobretudo. 1920 Foi feriado trabalhei das

21h às 22h5 na balança. Esteve todo o dia nublado fazendo grande

vendaval de Sudoeste. Levantei-me pelas 13h saí e fui buscar a lanterna à

barraca aonde gira a engrenagem para levantar as cancelas. Retirei para a

vila às 16h20. Fui até ao barbeiro e saí para a S. Instrução mais o Morais

depois chegou o Bernardino A. X. saímos e fomos para a Leitaria do Lá-vai

momentos depois entrou o Custódio. Os 11 bolos paguei foi 1$33 e o

Custódio os cafés. Entrou o filho do Nicola que tinha saído o 166 a caixa de

bombons. Saí. A noite nublada e pingou. Fui para a S. Instrução ver a árvore

e repucho [sic] na sala regressei a casa mais Bernardino A. X., Eduardo,

estes entraram para o café do Daniel de nome Contente aonde na noite

passada houve grande desordem entre o J. Chigadinho e o Florêncio e

outros contra aos padeiros o Rebelo atirou alguns tiros etc. Encontrava-se

no Barreiro o praticante Sebastião G. Fui para a vila às 23h20 entrei na S.

Instrução encontrando-se o baile animado estava a sala repleta estava o

meu mano e minha mana Ermínia. Dei $50 para a Comissão do dito baile.

Por brincadeira a rapaziada declarou greve para não dançar com as damas

tinha Comité. Houve quadrilha foi sendo a minha dama foi a Brites sendo a

minha viz-a-viz o M. Ramalhete com outra mana da minha dama e o meu

mano com Gertrudes Galinhola era perto duns 60 pares marcou a dita o

Carlos Diogo, Cristóvão Duarte e terminou o baile às 4h5 da madrugada.

Ficou na Sociedade uma grande ceia a comissão que era o Chagas,

Custódio, Edmundo, Artur, Aurélios, etc. Regressei a casa mais o Carlos D. e

A. Guerreiro, fazia grande vendaval e chovendo. O dito Guerreiro regressou

ao serviço caiu da cama quando dormia e partiu dois dentes e houve

zaragata no café do Daniel com os mesmos fulanos da noite anterior. Foi o

casamento da Emília Rebelo.

26/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Teve névoa à noite e falei com a

M.G.M. 1920 Trabalhei até às 15h na Gare fazendo grande vendaval vento

Sudoeste principiou a chover pelas 10h10 e trovejou pelas 13h e tal. Fui

para às 16h38 dei uma volta mais Eduardo, Jorge Pessoa, regressamos ao L.

Casal despois à S. Instrução entrou o Bernardino A. X. saímos e fomos ao T.

República retiramos e entramos no T. Cine eles foram dar uma volta à vila

juntamos e fomos ao Lá-vai. Eu paguei 3 cafés foi $30 e eles café e bolos

saímos a passear regressei á S. Instrução estivemos haver o baile

continuava a árvore de natal e o repucho [sic]. O Bernardino ofereceu-me

um isqueiro niquelado. Fui à quadrilha sendo a minha dama Gertrudes

Henriqueta dos Santos antiga namorada do Sebastião foi a minha visaviz foi

o José Oliveira comprei para minha dama $70 de bolachas marcaram a dita

o Mário Praça, Artur, Cristóvão terminou o baile sempre animado pelas

1h55. Regressei a casa mais Manoel Ralinho estava nesta altura a pingar. No

dito baile da S. Instrução entrou pelas 23h15 um cabo de Infantaria 11 este

tocou piano e cantou chorando pela primeira vez. Declarou-se um violento

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incêndio na Casa da Moeda encontrava-se a moer desde do dia 24 do

corrente sendo os prejuízos 150 contos.

27/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Esteve todo o dia nublado

e frio. Fui à Gare à noite e como o revisor J. Cardoso pediu-me revisei o

comboio 18 fui mais o Carlos Diogo a Funcheira com os praticantes Correia

e Pereira e ajudante revisor Cambalacho. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve

o dia nublado e pelas 10h principiou a pingar e mais tarde choveu e à noite

idem fazendo temporal, etc. Pelas 16h15 foi o lançamento da fragata de

nome “Flor do rio” do Augusto Vasconcelos feito no estaleiro Francisco

Bravo atirando muitos foguetes. Foi chamados mais ferroviários entre eles

o meu cunhado M. Alves. Fui para a vila às 18h40 estava no Largo Casal o

Bernardino A. X. e M. Costa Pedro. Fui para S. Instrução saí mais o

Bernardino passear ficaram 8 a jogar ao Chinquilhão etc. Regressei à dita

saí e falei com a M.G.M. regressei à S. Instrução fui dar um passeio

novamente mais o B. A. X. regressamos ao L. Casal. Houve eleição de corpos

gerentes na S. Instrução. Retirei para casa às 20h40. Á dias a libra chegou a

50 escudos estando hoje a 41 escudos.

28/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. como pedisse o

revisor Estaca revisei o comboio 18. Fez um dia regular ainda choveu. 1920

Trabalhei todo o dia na Balança e no Barreiro T. das 21h às 2h todo o dia

nublado chovendo por algumas vezes vento Sudoeste. Continua a greve

dos marítimos de Cezimbra. A greve declarada à dias pedem 10$00 por dia.

Já à 4 dias que não havia pão no Barreiro. Depois da greve foi formados

comboios no Barreiro T.

29/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve o dia regular ainda

chovendo muito vento Noroeste e linda noite de luar. Entreguei uma

fotografia em postal à M.G.M. Aleijou-se o José Algarvio nas partes na

Retunda. Declarou em greve os eléctricos. Na estação de caminho de ferro

Poceirão houve um choque o comboio 116 com um corte material ficaram

avariados as LL11-355-57. 1920 Trabalhei das 8h às 10h. Fui pedir ao sr. José

da Luz folga da noite passada que trabalhei das 21h ás 2h e autorizou. Fui

para a vila às 15h30 fui até à praia depois fui dar uma volta à vila fui ao

barbeiro Ventura e depois saí e fui ao Patrício comprei 5 postais por $75 e

depois estive no talho António Luiz Marques chegou o Bernardino e Filipe

etc. Retirei para o L. Casal fui dar outra volta e regressei à S. Instrução

estavam numa grande discussão e séria entre o J. Aurélio e Edmundo saí

mais B.A.X. Falei com M.G.M. Regressei à S. Instrução encontrava-se o

Artur, José Oliveira, José Esteves este mestre não deixavam entrar na sala

quem não queria dançar entrou o Carlos Diogo a rapaziada falou e

senceraram [sic] entrada no dito na sala. Retirei para casa mais o Luiz,

Custódio, estivemos de conversa em frente da minha casa uns 10 minutos.

Chegou farinha já 5 dias no Barreiro sem pão. A noite regular e calmosa e

alguns astros pelo céu. Soube que hontem à noite o J. Ramalho perdeu uma

carteira com 300 escudos ainda procuraram. Fez hoje 57 anos o Jornal

Diário Notícias.

30/12/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Esteve mau tempo.

1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo estando poucos astros pelo

espaço a noite idem. Fugiu o meu mano pelas 17h e tal para casa da minha

tia Tamboril com a Júlia mulher do Amorim. O marido da minha tia correu

com eles ficou a Júlia, o meu mano veio para casa. Fui para a vila às 18h38

com a Maria Luiza esta fez limpeza em minha casa. Fui à S. Instrução mais o

B.A.X., Eduardo, e Edmundo fomos passear regressamos à dita Instrução

retirei e fui falar com a M.G.M. regressei à S. Instrução continuava grande

numero de sócios a aprender a bailar na sala da dita sendo mestre o José

Esteves (o Gaiato) regressei a casa às 20h45 com o António J. Morais.

31/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Principiou a chover pelas 12h.

Casou-se esta semana no Algarve o César Ventura. 1920 Trabalhei das 8h às

2h da madrugada no Barreiro T. Trabalhou das 8h às 17h no B. Terra a

maioria do pessoal do M. Circulante. Esteve todo o dia nublado e a noite

linda principiou a por-se névoa pelas 22h e tal. Ao chegar às 24h tocou

como de costume todos os navios nacionais e estrangeiros surtos no Tejo

como do estilo em fins de anos. O praticante namorava a filha do Gandum 104de nome Lucília S. Ribeiro . Houve grande ceia como inauguração da nova

casa de Oficina de Latoeiro pertencente ao Farto. A dita ceia principiou

pelas 22h e terminou pelas 2h da madrugada e pelo motivo de um pequeno

incêndio num candeeiro fugiu a maioria dos convidados para a rua

queimando-se nas mãos o Farto filho, tiveram que receber curativo numa

103 Esta frase encontra-se incompleta.

214 215

Page 215: layout diario JAMarquesmemoriaefuturo.cm-barreiro.pt/arq/fich/DiarioJoseAntonio... · 2017-01-23 · ... está transcrito parte do diário de um operário ferroviário – ... tiveram

incêndio na Casa da Moeda encontrava-se a moer desde do dia 24 do

corrente sendo os prejuízos 150 contos.

27/12/920 Fez 1 ano que trabalhei todo o dia. Esteve todo o dia nublado

e frio. Fui à Gare à noite e como o revisor J. Cardoso pediu-me revisei o

comboio 18 fui mais o Carlos Diogo a Funcheira com os praticantes Correia

e Pereira e ajudante revisor Cambalacho. 1920 Trabalhei todo o dia. Esteve

o dia nublado e pelas 10h principiou a pingar e mais tarde choveu e à noite

idem fazendo temporal, etc. Pelas 16h15 foi o lançamento da fragata de

nome “Flor do rio” do Augusto Vasconcelos feito no estaleiro Francisco

Bravo atirando muitos foguetes. Foi chamados mais ferroviários entre eles

o meu cunhado M. Alves. Fui para a vila às 18h40 estava no Largo Casal o

Bernardino A. X. e M. Costa Pedro. Fui para S. Instrução saí mais o

Bernardino passear ficaram 8 a jogar ao Chinquilhão etc. Regressei à dita

saí e falei com a M.G.M. regressei à S. Instrução fui dar um passeio

novamente mais o B. A. X. regressamos ao L. Casal. Houve eleição de corpos

gerentes na S. Instrução. Retirei para casa às 20h40. Á dias a libra chegou a

50 escudos estando hoje a 41 escudos.

28/12/920 Fez 1 ano que trabalhei 24h no Barreiro T. como pedisse o

revisor Estaca revisei o comboio 18. Fez um dia regular ainda choveu. 1920

Trabalhei todo o dia na Balança e no Barreiro T. das 21h às 2h todo o dia

nublado chovendo por algumas vezes vento Sudoeste. Continua a greve

dos marítimos de Cezimbra. A greve declarada à dias pedem 10$00 por dia.

Já à 4 dias que não havia pão no Barreiro. Depois da greve foi formados

comboios no Barreiro T.

29/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Esteve o dia regular ainda

chovendo muito vento Noroeste e linda noite de luar. Entreguei uma

fotografia em postal à M.G.M. Aleijou-se o José Algarvio nas partes na

Retunda. Declarou em greve os eléctricos. Na estação de caminho de ferro

Poceirão houve um choque o comboio 116 com um corte material ficaram

avariados as LL11-355-57. 1920 Trabalhei das 8h às 10h. Fui pedir ao sr. José

da Luz folga da noite passada que trabalhei das 21h ás 2h e autorizou. Fui

para a vila às 15h30 fui até à praia depois fui dar uma volta à vila fui ao

barbeiro Ventura e depois saí e fui ao Patrício comprei 5 postais por $75 e

depois estive no talho António Luiz Marques chegou o Bernardino e Filipe

etc. Retirei para o L. Casal fui dar outra volta e regressei à S. Instrução

estavam numa grande discussão e séria entre o J. Aurélio e Edmundo saí

mais B.A.X. Falei com M.G.M. Regressei à S. Instrução encontrava-se o

Artur, José Oliveira, José Esteves este mestre não deixavam entrar na sala

quem não queria dançar entrou o Carlos Diogo a rapaziada falou e

senceraram [sic] entrada no dito na sala. Retirei para casa mais o Luiz,

Custódio, estivemos de conversa em frente da minha casa uns 10 minutos.

Chegou farinha já 5 dias no Barreiro sem pão. A noite regular e calmosa e

alguns astros pelo céu. Soube que hontem à noite o J. Ramalho perdeu uma

carteira com 300 escudos ainda procuraram. Fez hoje 57 anos o Jornal

Diário Notícias.

30/12/920 Fez 1 ano trabalhei 24 h no Barreiro T. Esteve mau tempo.

1920. Trabalhei todo o dia. Fez um dia lindo estando poucos astros pelo

espaço a noite idem. Fugiu o meu mano pelas 17h e tal para casa da minha

tia Tamboril com a Júlia mulher do Amorim. O marido da minha tia correu

com eles ficou a Júlia, o meu mano veio para casa. Fui para a vila às 18h38

com a Maria Luiza esta fez limpeza em minha casa. Fui à S. Instrução mais o

B.A.X., Eduardo, e Edmundo fomos passear regressamos à dita Instrução

retirei e fui falar com a M.G.M. regressei à S. Instrução continuava grande

numero de sócios a aprender a bailar na sala da dita sendo mestre o José

Esteves (o Gaiato) regressei a casa às 20h45 com o António J. Morais.

31/12/920 Fez 1 ano que estive de folga. Principiou a chover pelas 12h.

Casou-se esta semana no Algarve o César Ventura. 1920 Trabalhei das 8h às

2h da madrugada no Barreiro T. Trabalhou das 8h às 17h no B. Terra a

maioria do pessoal do M. Circulante. Esteve todo o dia nublado e a noite

linda principiou a por-se névoa pelas 22h e tal. Ao chegar às 24h tocou

como de costume todos os navios nacionais e estrangeiros surtos no Tejo

como do estilo em fins de anos. O praticante namorava a filha do Gandum 104de nome Lucília S. Ribeiro . Houve grande ceia como inauguração da nova

casa de Oficina de Latoeiro pertencente ao Farto. A dita ceia principiou

pelas 22h e terminou pelas 2h da madrugada e pelo motivo de um pequeno

incêndio num candeeiro fugiu a maioria dos convidados para a rua

queimando-se nas mãos o Farto filho, tiveram que receber curativo numa

103 Esta frase encontra-se incompleta.

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das farmácias os convidados eram perto de 15 entre eles o meu cunhado J.

J. Costa, o Batata, Otélio Pereira etc. saiu do hospital o Joaquim Quintino

aonde se encontrava á mezes.»

Assim termina José António Marques o seu diário de 1920. Alguns dos

acontecimentos aqui relatados terão os seus desenvolvimentos no

decorrer do ano seguinte, que ele laboriosa e continuamente vai

registando. Assim fará até ao final da sua vida. Quando vier a falecer, com a

idade do século que o viu nascer em 8 de Fevereiro de 1993, terá produzido

um acervo documental de extraordinária importância, por ventura único

no nosso país, que se encontra ao dispor de qualquer munícipe, ou

estudioso, que o queira consultar no Arquivo Municipal do Barreiro.

O diário que serviu de base a este trabalho é parte integrante do Espólio de

José António Marques, existente no Arquivo Municipal do Barreiro, do qual

aqui deixamos breve descrição.

Identificação do espólio

Código de Referência: PT/CMB-AMB/EJAM

Datas de Produção: 1874-1988.

Suporte e Dimensão: Papel; cerca de 9 metros lineares, aproximadamente.

Diários: 1915-1988.

Cartazes e Programas de espectáculos: 1874-1988.

Âmbito e conteúdo: Documentação acumulada no decorrer da sua vida

profissional e pessoal, sobre as mais diferentes temáticas.

História Custodial e Arquivística:

Doação feita à CMB em 23 de Abril de 1981. A documentação encontra-se

organizada e inventariada.

Actualmente, está em curso um projecto conjunto entre a Direcção-Geral

do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e a Câmara Municipal do Barreiro,

para digitalização dos diários de José António Marques, com vista à

disponibilização online de parte desta documentação.

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-7

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das farmácias os convidados eram perto de 15 entre eles o meu cunhado J.

J. Costa, o Batata, Otélio Pereira etc. saiu do hospital o Joaquim Quintino

aonde se encontrava á mezes.»

Assim termina José António Marques o seu diário de 1920. Alguns dos

acontecimentos aqui relatados terão os seus desenvolvimentos no

decorrer do ano seguinte, que ele laboriosa e continuamente vai

registando. Assim fará até ao final da sua vida. Quando vier a falecer, com a

idade do século que o viu nascer em 8 de Fevereiro de 1993, terá produzido

um acervo documental de extraordinária importância, por ventura único

no nosso país, que se encontra ao dispor de qualquer munícipe, ou

estudioso, que o queira consultar no Arquivo Municipal do Barreiro.

O diário que serviu de base a este trabalho é parte integrante do Espólio de

José António Marques, existente no Arquivo Municipal do Barreiro, do qual

aqui deixamos breve descrição.

Identificação do espólio

Código de Referência: PT/CMB-AMB/EJAM

Datas de Produção: 1874-1988.

Suporte e Dimensão: Papel; cerca de 9 metros lineares, aproximadamente.

Diários: 1915-1988.

Cartazes e Programas de espectáculos: 1874-1988.

Âmbito e conteúdo: Documentação acumulada no decorrer da sua vida

profissional e pessoal, sobre as mais diferentes temáticas.

História Custodial e Arquivística:

Doação feita à CMB em 23 de Abril de 1981. A documentação encontra-se

organizada e inventariada.

Actualmente, está em curso um projecto conjunto entre a Direcção-Geral

do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas e a Câmara Municipal do Barreiro,

para digitalização dos diários de José António Marques, com vista à

disponibilização online de parte desta documentação.

Álbum Resende, 1923. CMB-FOT-02-16-3786-7

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Bibliografia e Fontes

Álbum Comemorativo da Companhia União Fabril, ed. CUF, Lisboa, 1945

ALMEIDA, Ana Nunes de – A Fábrica e a Família Famílias Operárias no

Barreiro, Câmara Municipal do Barreiro, 2ª ed., 1993

Anuário Comercial de Lisboa, 1920, vol. III, p.2284-2287

ALMEIDA, Vanessa de – Um momento de viragem do 18 de Janeiro de 1934

ao hastear da Bandeira Vermelha em 1935, ed. C.M.B., 2005

ARAÚJO, Augusto Gomes de “Duas palavras sobre o estado agrícola do

concelho do Barreiro” Biblioteca Nacional de Lisboa, Archivo Rural Jornal

de Agricultura, Artes e Sciencias Correlativas, nº VIII, Lisboa, 1865

BARRETO, José “Sindicalismo e Política nos caminhos de ferro 1872-1961”

in Para a História dos Caminhos de Ferro em Portugal – Estudos Históricos 1,

ed. CP, 1999

CARMONA, Rosalina – “A greve de 70 dias no Sul e Sueste. Relato na

primeira pessoa” comunicação apresentada nos “Encontros de

Investigadores Locais” III Sessão: O mundo do Trabalho na Península de

Setúbal, Almada, 25 e 26 Nov. 2011. Org. Instituto de História

Contemporânea da FCSH, Universidade de Lisboa

CARMONA, Rosalina - …do Barreiro ao Alto do Seixalinho – Um passado

Rural e Operário, ed. Junta de Freguesia do Alto do Seixalinho, Barreiro,

2005

DUBY, Georges – “O Prazer do Historiador” in Ensaios de Ego-História,

Pierre CHAUNU; Jacques le GOFF; Pierre NORA e outros, ed. 70, Lisboa,

1989

FREITAS, Pedro – Memórias de um Ferroviário, ed. autor, Montijo, 1954

Doação do Espólio da família Costa Mano, Câmara Municipal do Barreiro,

2008

Guia Documental da Cooperativa Cultural Operária Barreirense, ed.

Câmara Municipal do Barreiro, 2013

MENDES, José Amado – “Industrialização ou Revolução Industrial em

Portugal? Uma interpretação” in Industrialização em Portugal no século XX.

O caso do Barreiro. Actas do Colóquio Internacional Centenário da CUF no

Barreiro 1908-2008, UAL;IIP, Lisboa, 2010

MOREIRA, António – O Movimento operário barreirense - Esboço da sua

História, policopiado, C.M.B., 22/6/1985

MOREIRA, António – “A Poesia num jornal Operário, O Sul e Sueste 1919-

1933” in “Um Olhar Sobre o Barreiro”, nº3, II série, 1990

O Barreiro através do bilhete postal-ilustrado, org Câmara Municipal do

Barreiro, ed. Livros Horizonte, 2005

PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Antigo e Moderno, ed. Câmara

Municipal do Barreiro, Lisboa, 1963

PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, I vol., ed. Câmara

Municipal do Barreiro, Lisboa, 1966

PAIS, Armando da Silva – O Barreiro Contemporâneo, III vol., ed. Câmara

Municipal do Barreiro, Lisboa, 1971

PEREIRA, Joana Dias - Sindicalismo revolucionário: a história de uma idéa,

Lisboa, Caleidoscópio, 2011

PEREIRA, José Pacheco – As lutas operárias contra a carestia de vida em

Portugal, Portucalense editora, 1971

PILOTO, António José - Instrução Pedagógica aos filhos dos Ferroviários,

Tip. Ass. Comp. Tipográficos, Lisboa, 1922

PIMENTA, José Augusto – Memória Histórica e Descriptiva da Villa do

Barreiro, Typ. do Diccionário Universal Portuguez, 1886

SANTOS, Fernando Piteira - “Na transição do «constitucionalismo

monárquico» para o «constitucionalismo republicano»: a crise do Partido

Socialista e a crise do Partido Republicano” in “Análise Social”, vol. XVIII,

1982

SERRÃO, Joel, - 'Carbonária' in Dicionário de História de Portugal, Iniciativas

Editoriais, 1ªedição, vol. I, Lisboa, 1963-1971

TEIXEIRA, Armando de Sousa – Barreiro Uma História de Trabalho,

Resistência e Luta (1926/1945), ed. Avante, 1997

TEIXEIRA, Armando de Sousa – Barreiro, Roteiro das Memórias da

Resistência, do Trabalho e da Luta, Câmara Municipal do Barreiro, 2009

TEIXEIRA, Jorge – O Barreiro que eu vi, ed. Câmara Municipal do Barreiro,

1993

VÉZERE, Jean – A Casa dos Ferroviários (romance), Trad. Sousa Martins,

Min. Educação Nacional, Porto, 1939

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2008

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Câmara Municipal do Barreiro, 2013

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Portugal? Uma interpretação” in Industrialização em Portugal no século XX.

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MOREIRA, António – O Movimento operário barreirense - Esboço da sua

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1933” in “Um Olhar Sobre o Barreiro”, nº3, II série, 1990

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Municipal do Barreiro, Lisboa, 1966

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PEREIRA, Joana Dias - Sindicalismo revolucionário: a história de uma idéa,

Lisboa, Caleidoscópio, 2011

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Portugal, Portucalense editora, 1971

PILOTO, António José - Instrução Pedagógica aos filhos dos Ferroviários,

Tip. Ass. Comp. Tipográficos, Lisboa, 1922

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Barreiro, Typ. do Diccionário Universal Portuguez, 1886

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monárquico» para o «constitucionalismo republicano»: a crise do Partido

Socialista e a crise do Partido Republicano” in “Análise Social”, vol. XVIII,

1982

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Editoriais, 1ªedição, vol. I, Lisboa, 1963-1971

TEIXEIRA, Armando de Sousa – Barreiro Uma História de Trabalho,

Resistência e Luta (1926/1945), ed. Avante, 1997

TEIXEIRA, Armando de Sousa – Barreiro, Roteiro das Memórias da

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TEIXEIRA, Jorge – O Barreiro que eu vi, ed. Câmara Municipal do Barreiro,

1993

VÉZERE, Jean – A Casa dos Ferroviários (romance), Trad. Sousa Martins,

Min. Educação Nacional, Porto, 1939

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Fontes

C.M.B., EJAM, Lv.1, Registo dos Acontecimentos mais notáveis nos anos

1918 a 920

C.M.B., Espólio José António Marques (EJAM), Cx. 18 a 24

C.M.B., CMB/B/E/01, Livro nº 1, 1914-15

C.M.B., Livro de Actas nº2 da Câmara Municipal do Barreiro, 1915-1920

CMB/B/A/01, Lv. Nº9, 1899/1902

C.M.B., Relação de Projectos de Construção desde 1902 a 1929, Cx. nº1

C.M.B., Melhoramentos na Vila do Barreiro Projectados pela Comissão

Administrativa Demissionária. CMB/B/A/0306/Cx 1, 1918-1969

Colecção de Programas de José António Marques. C.M.B., EJAM, Cx. 05

C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº. 1, Procº. 17,

1911

C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº 1, Procº. 16,

1918,

C.M.B. e Processos de Construção 1929/1935, CT nº 694/32

C.M.B., EOCM/124

C.M.B./B/A/03.01, Cx. 2, 1953/1975

Livro de Actas da Junta de Freguesia do Barreiro, 1909-1923

Livro de Actas da Direcção da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense

“Os Penicheiros”, 1921

IAN/TT, PIDE/DGS, Miguel Maria de Almeida Correia, Procº 673/SPS, NT

4293

IAN/TT, PIDE/DGS, Procº de Bernardino Augusto Xavier, nº 1332-SPS -

N.T.4311

Imprensa

A Folha do Povo, nº 1738, Lisboa, 1 de Abril, 1886Diário Ilustrado”, 18 de

Agosto, 1874

Eco do Barreiro, 15 Setembro, 1928

Ilustração Portuguesa nº 256, 16 de Janeiro, 1911

Ilustração Portuguesa, nº 736, 29 Março, 1920

Ilustração Portuguesa, nº 738, 12 de Abril, 1920.

O Sul e Sueste, nº 13, 4 de Janeiro, 1920

O Sul e Sueste, nº 21, 31 de Março, 1920

O Sul e Sueste, 7 de Setembro, 1920

O Sul e Sueste, 22 de Outubro de 1919

O Sul e Sueste, nº5, 9 de Novembro de 1919

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1918 a 920

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CMB/B/A/01, Lv. Nº9, 1899/1902

C.M.B., Relação de Projectos de Construção desde 1902 a 1929, Cx. nº1

C.M.B., Melhoramentos na Vila do Barreiro Projectados pela Comissão

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Colecção de Programas de José António Marques. C.M.B., EJAM, Cx. 05

C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº. 1, Procº. 17,

1911

C.M.B., Relação de Projectos de Construção 1902-1929, Cx. nº 1, Procº. 16,

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C.M.B. e Processos de Construção 1929/1935, CT nº 694/32

C.M.B., EOCM/124

C.M.B./B/A/03.01, Cx. 2, 1953/1975

Livro de Actas da Junta de Freguesia do Barreiro, 1909-1923

Livro de Actas da Direcção da Sociedade Instrução e Recreio Barreirense

“Os Penicheiros”, 1921

IAN/TT, PIDE/DGS, Miguel Maria de Almeida Correia, Procº 673/SPS, NT

4293

IAN/TT, PIDE/DGS, Procº de Bernardino Augusto Xavier, nº 1332-SPS -

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Imprensa

A Folha do Povo, nº 1738, Lisboa, 1 de Abril, 1886Diário Ilustrado”, 18 de

Agosto, 1874

Eco do Barreiro, 15 Setembro, 1928

Ilustração Portuguesa nº 256, 16 de Janeiro, 1911

Ilustração Portuguesa, nº 736, 29 Março, 1920

Ilustração Portuguesa, nº 738, 12 de Abril, 1920.

O Sul e Sueste, nº 13, 4 de Janeiro, 1920

O Sul e Sueste, nº 21, 31 de Março, 1920

O Sul e Sueste, 7 de Setembro, 1920

O Sul e Sueste, 22 de Outubro de 1919

O Sul e Sueste, nº5, 9 de Novembro de 1919

220

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