las mujeres españolas, portuguesas y americanas: imagens de

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Anais Eletrônicos do VIII Encontro Internacional da ANPHLAC Vitória – 2008 ISBN - 978-85-61621-01-8 1 Las mujeres españolas, portuguesas y americanas: imagens de mulheres, imagens da América Edméia Ribeiro * Resumo O presente texto apresenta a coleção Las mujeres españolas, portuguesas y americanas, fonte e objeto deste estudo, algumas reflexões e discussão bibliográfica acerca do tema e respectivas possibilidades de análise. Esta obra é composta por duas linguagens, a textual – artigos monográficos - e a imagética – litografias. Produzida na década de setenta do século dezenove, a coleção tematiza mulheres e toca em questões políticas da época como a problemática nacional, utilizando-se como método discursivo – nas imagens e nos textos - o gênero artístico denominado costumbrismo e o ideário hispanista presidindo o contexto e conteúdo da obra. Las mujeres españolas, portuguesas y americanas, uma coleção composta por 4 volumes, sendo um livro ilustrado com litografias coloridas de mulheres, pintadas por artistas espanhóis e portugueses e os três outros, compostos por escritos de literatos também espanhóis, portugueses além de americanos, constitui-se numa produção espanhola produzida da década de 1870 e é utilizada como fonte e objeto nesta pesquisa. Cada litografia apresenta pintura de uma mulher, representando algumas províncias ou estados da Espanha, Portugal e Américas e, para cada imagem existe um texto analisando essas mulheres, situando-as nos respectivos espaços. Assim a obra vem apresentada: Tales como son: en el hogar domestico, en los campos, en las ciudades, en el templo, en los espetaculos, en el taller y en los salones. Discripcion y pintura del caráter, costumbres, trajes, usos, religiosidad, belleza, defectos, preocupaciones y excelências de la mujer de cada una de las províncias de España, Portugal y Américas Españolas. Essa coleção, da forma como foi elaborada, não foi única na Espanha pois, no mesmo período surgiram outras coleções com o mesmo formato. 1 A produção dessas * Mestre. Doutoranda pela Universidade Estadual Paulista/UNESP/Assis e professora da Universidade Estadual de Londrina/UEL. [email protected] .

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Anais Eletrônicos do VIII Encontro Internacional da ANPHLAC Vitória – 2008 ISBN - 978-85-61621-01-8

1

Las mujeres españolas, portuguesas y americanas: imagens de mulheres, imagens da América

Edméia Ribeiro*

Resumo

O presente texto apresenta a coleção Las mujeres españolas, portuguesas y americanas,

fonte e objeto deste estudo, algumas reflexões e discussão bibliográfica acerca do tema

e respectivas possibilidades de análise. Esta obra é composta por duas linguagens, a

textual – artigos monográficos - e a imagética – litografias. Produzida na década de

setenta do século dezenove, a coleção tematiza mulheres e toca em questões políticas da

época como a problemática nacional, utilizando-se como método discursivo – nas

imagens e nos textos - o gênero artístico denominado costumbrismo e o ideário

hispanista presidindo o contexto e conteúdo da obra.

Las mujeres españolas, portuguesas y americanas, uma coleção composta

por 4 volumes, sendo um livro ilustrado com litografias coloridas de mulheres, pintadas

por artistas espanhóis e portugueses e os três outros, compostos por escritos de literatos

também espanhóis, portugueses além de americanos, constitui-se numa produção

espanhola produzida da década de 1870 e é utilizada como fonte e objeto nesta

pesquisa.

Cada litografia apresenta pintura de uma mulher, representando algumas

províncias ou estados da Espanha, Portugal e Américas e, para cada imagem existe um

texto analisando essas mulheres, situando-as nos respectivos espaços. Assim a obra vem

apresentada: Tales como son: en el hogar domestico, en los campos, en las ciudades, en el templo, en los espetaculos, en el taller y en los salones. Discripcion y pintura del caráter, costumbres, trajes, usos, religiosidad, belleza, defectos, preocupaciones y excelências de la mujer de cada una de las províncias de España, Portugal y Américas Españolas.

Essa coleção, da forma como foi elaborada, não foi única na Espanha pois,

no mesmo período surgiram outras coleções com o mesmo formato.1 A produção dessas

*Mestre. Doutoranda pela Universidade Estadual Paulista/UNESP/Assis e professora da Universidade Estadual de Londrina/UEL. [email protected].

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obras nas décadas de 70 e 80 foram inspiradas em um livro de 1843, Los españoles

pintados por si mismos, reeditado em 1871, que, segundo Montesinos, já era semelhante

a uma obra francesa que retratava o homem do seu país.2 Todos eles surgiram num

período emblemático no tocante às questões nacionais. Em função do êxito, apareceram

imitações até fora da Espanha, como foi o caso de Los cubanos pintados por si mismos

(Havana, 1852).3

Para Montesinos, vale a pena observar alguns métodos de captação dos

detalhes, pitorescos ou não, e certas formas de composição. Chama a atenção para

inexistência de intimidade nessas obras. Tudo se vê por fora. Elas estão ligadas mais ao

fenômeno social do que ao ser humano. São os modos de viver que conta, e não os

modos de ser. Além disso, não são levadas em consideração as diferenças de tempo,

circunstâncias e opiniões que tanto influenciam nos hábitos, usos e costumes dos

homens. Predominam as fisiologias, por isso aparecem como imagens vagas, vazias e

genéricas.4

Enrique Rubio Cremades estuda a colaboração de novelistas nessas obras

costumbristas. Com eles, aparecem reflexões filosóficas sobre a Espanha, além do

quadro social, político e cultural.

Las colaboraciones de nuestros novelistas en estas magnas colecciones de tipos y escenas obedecen a varias razones, entre ellas la remuneración crematística y el goce de un pronta fama como escritor.5

Maria Ayala Aracil considera tais coleções ricas porque não só descrevem

um determinado tipo social, mas também oferecem contornos literários que mais tarde

1 Las españolas pintadas por los españoles (2 volumes, 1871 e 72), Los españoles de hogaño (2 vols., 1872), Madrid por dentro y por fuera (1873), Los hombres españoles, americanos y lusitanos pintados por si mismos (1882) e Las mujeres españolas, americanas y lusitanas pintadas por si mismas (1882). ARACIL, Maria de los Angeles Ayala. “Madrid por dentro y por fuera”: colección costumbrista de 1873. In: LISSORGUES, Yvan (ed.). Realismo y naturalismo em Espana em la segunda mitad del siglo XIX. Barcelona: Editorial Anthropos, 1988. p. 135. 2MONTESINOS, José F. Costumbrismo y novela: ensaio sobre el redescubrimiento de la realidad española. Valencia: Editorial Castalia, 1960. p. 106. 3 MERCADAL, J. García. Historia del romanticismo en España. Barcelona: Editorial Labor, S.A., 1943. p. 361. 4 MONTESINOS, José F. Op. cit. p. 121 a 123. 5 CREMADES, Enrique Rubio. Colaboraciones costumbristas de los novelistas de la segunda mitad del siglo XIX. In: LISSORGUES, Yvan (ed.). Realismo y naturalismo en España en la segunda mitad del siglo XIX. Barcelona: Editorial Anthropos, 1988. p. 146 a 157.

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figurarão em um mundo fictício de novela. Para ela, esses costumbristas que ajudam a

compor tais obras estão sempre atentos ao entorno real que os rodeia.6

A obra analisada pela autora acima citada, Madrid por dentro y por fuera,

segundo ela mesma, dedica-se a desentranhar as glórias e ruínas da corte e tem caráter

de testemunhar os costumes burgueses da época. Em relação à coleção Las mujeres

españolas, portuguesas y americanas, ao contrário, não se detém na vida dessa classe

social.7

Esta obra tem um caráter sociológico, educativo, que expressa o que não é

monárquico, aristocrático. Representar a Espanha - e outros espaços que permitem uma

identificação, como Portugal e América - através de figuras femininas, aponta para uma

transformação do imaginário político e social e na concepção de mundo do homem

daquele momento.

Dessa forma, pode-se refletir sobre a amplitude e divulgação dessas

coleções. A intenção, que a princípio pode parecer a de dar aos curiosos de lugares

distantes a possibilidade de conhecer personagens e ambientes espanhóis, pode ser

também a de falar de espaços nacionais aos seus próprios conterrâneos, num período de

lutas e questionamentos do modelo político vigente.

Essa obra, em toda a sua extensão, carrega todos os elementos da história da

Espanha daquele momento. Toca na questão da problemática configuração do estado

nacional, com as freqüentes crises no trono espanhol, as regências, os reinados, guerras

civis; na diversidade de partidos e ideologias políticas; no romantismo como filosofia e

movimento revolucionário, que transformou a forma de se expressar do homem daquele

momento (já modificado pelo iluminismo do século anterior); no gênero costumbrista

utilizado para falar de nação e identidade, sem fazer uso do instrumental político

convencional; na litografia colorida como técnica de pintura, signo também de uma

evolução na forma de ilustrar seus pensamentos e tudo mais que refletia aquela

Espanha. Em Las mujeres españolas, portuguesas y americanas está implícito todo o

significado histórico de um tempo e um espaço. A coleção conta uma história, das

mulheres retratadas, dos sujeitos que produziram tais imagens e de uma nação que

vivenciava crises recorrentes.

6 ARACIL, Maria de los Angeles Ayala. Op. cit., p. 135 a 139. 7 ARACIL, Maria de los Angeles Ayala. Op. cit. p. 141.

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Las mujeres españolas, portuguesas y americanas como forma de tocar os imaginários sociais

Neste trabalho utiliza-se imagens (litografias) e textos escritos como

documento para perceber de que forma alguns homens espanhóis, da segunda metade do

século XIX, narraram sua existência e vínculo com aquele mundo e naquele lugar.

Pode-se considerar que qualquer produção humana exprime, não só o engenho do

homem, num dado momento histórico, mas a sua condição humana como um todo. Seu

espírito, desejos, crenças, frustrações e expectativas, e tudo que existe no mais recôndito

do seu ser, faz-se presente numa produção artística. A possibilidade de utilização desta

fonte específica atribui à história um caráter mais humano, porque permite ir além da

sua exterioridade.

Tanto as imagens quanto a produção textual são formas eficazes de tocar os

imaginários sociais porque representam, simbolicamente, o pensamento e as ideologias

dos sujeitos sociais num tempo histórico.

Em Imaginação Social, Bronislaw Baczko mostra como o domínio do

imaginário configura-se num lugar estratégico do poder. Entende que exercer um poder

simbólico não consiste em acrescentar o ilusório, o irreal à algo real, mas sim, trabalhar

com os atos e as imagens que cada um ou uma sociedade tem de si próprio.8 Para

Sandra Jatahy Pesavento, imaginário não significa só uma imagem distorcida, mas um

complexo de várias dimensões (realidade, intensidade deliberada, ilusão de espírito ou

dimensão fantástica).9

O imaginário está para o exercício do poder e assim é possível tomá-lo

como artifício de manipulação. Por meio dele, inculcam-se novos valores e novos

modelos. Mas tocá-lo só tem eficácia se este produz sentido entre os sujeitos de uma

determinada sociedade. As experiências vividas, concretas, contribuem para a

constituição e produção do mesmo. Para a psicanálise, a imaginação não é uma

faculdade, mas uma atividade do sujeito para organizar o mundo a partir de seus

conflitos e necessidades. Configura-se, dessa forma, em força reguladora da vida

coletiva e peça eficaz do exercício do poder.10

8 BACZKO, Bronislaw. Imaginação Social. In: Enciclopédia Einaudi, vol. 5, Antropos-homem. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985. P. 299. 9PESAVENTO, Sandra Jatahy. Em busca de outra história: imaginando o imaginário. REVISTA BRASILEIRA DE HISTÓRIA, SÃO PAULO, v. 15, n. 29, p. 9-27, 1995. 10BACZKO, Bronislaw. Op. cit. p. 310.

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O imaginário é entendido e comunicado através de um discurso e a

utilização de linguagens que reúnem as representações de uma coletividade. Os

imaginários oferecem um sistema de orientação aos agentes sociais em relação ao seu

grupo, à sociedade global, às hierarquias, às relações de dominação, fundindo verdade e

norma, informação e valor, que são operados pelo simbolismo.11

Sendo assim, entende-se que a linguagem dos símbolos imbrica-se com a

existência de um sentido, porque exprime sonhos, desejos e suporte de comunicação. A

linguagem simbólica fala de um homem num tempo e num espaço. Essa perspectiva

direciona o olhar para esta coleção de litografias e textos utilizada neste trabalho como

fonte e permite a reflexão sobre o sentido que ela produz naquela sociedade, como ela

representa os anseios e expectativas de uma parcela da população daquele momento e

como as imagens e as palavras atingem o imaginário social.

Pode-se considerar que a coleção Las mujeres españolas, portuguesas y

americanas posiciona-se, na sociedade daquele momento, entre a sensibilidade artística

e o pragmatismo. Sua complexidade está no fato de permitir que os expectadores, além

de observar o belo, se vejam ali, ao mesmo tempo que constitui-se em expressão

individual e reflexo da conjuntura histórica e política. A atribuição de sentido a esta

obra só pode ser feita à partir de seu próprio contexto, porque reflete sensibilidade,

desfrute, liberdade, modernidade, identidade, transformação, conhecimento,

compreensão, desejos e expectativas.

Las mujeres españolas, portuguesas y americanas: linguagens e discursos

A coleção Las mujeres españolas, portuguesas y americanas foi produzida a

partir de uma estética denominada costumbrista. O costumbrismo foi um gênero

artístico bastante utilizado na Espanha para retratar cenas do cotidiano e do comum e

teve grande expressão nas pinturas, na literatura e, de acordo com E. Correa Calderon12,

também no teatro, considerado a escola dos costumbres.

Pode-se considerar a opção teatral, literária ou pictórica costumbrista como

uma forma eficaz de tocar os imaginários. Manuel Fernández Areal, em sua obra

Pueblos, hombres y cosas de Castilla, dedicou-se a fazer um relato de sua viagem a

Valladolid, relatando como sentiu a viagem, os lugares por onde passou, sua percepção 11 Id, ibid, p. 311. 12 CALDERON, E. Correa. (org). Costumbristas españoles. Autores correspondientes a los siglos XIX e XX. Tomo III. Madrid: Aguilar S. A de ediciones, 1951.

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dos costumes, cotidiano, hábitos, valores, religiosidade do povo. Ao ocupar-se com o

estudo dos costumes, definiu: “Son diversos aspectos de los pueblos, las personas y las

casas”.13

José F. Montesinos estudou a conexão entre este gênero e a novela

espanhola. Para ele, o costumbrismo, a partir de suas características e formas, esteve

presente nas novelas, além de ter sido educador dos gostos e da sensibilidade dos

novelistas. No entanto, conclui que, ao mesmo tempo que essa influência se fez viável,

colocou também diversos limites, em função de sua vacuidade, do gosto pelas

exterioridades, deixando-as quase vazia de conteúdo.14

À literatura costumbrista, para Juan Mercader Riba, pode-se atribuir diversos

sentidos e características. Para ele dedicaram-se ao que tinha de pitoresco e castiço na

Espanha, assim como aos regionalismos enquanto que outros tentaram mostrar os feitos

humanos. De qualquer forma, com tendência social e criador de tipos, almas e situações,

o costumbrismo manifestou-se como uma reação romântica enraizada no espírito

regional e popular. No sul da Espanha, surgiu uma escola de artistas antiacadêmicos e

antipuristas, amantes do popular e renovadores do gênero pitoresco, com vasta raiz

romântica.15

No seu caráter regionalista, na Cataluña apareceu moldado por um espírito

patriótico. Foi destacado o caráter local e folclórico do mundo dos pastores e pescadores

catalães, a exaltação de uma pátria tradicional, arcaica, no sentido de conservação das

raízes. Esse costumbrismo patriótico tinha a ver com o romantismo conservador por um

lado, e com o realismo por outro. Reflexo dessa peculiaridade foi a pintura da vida

cotidiana dos trabalhadores, pura exaltação do trabalho.16

Se o costumbrismo, no século XVII já havia aparecido na Espanha, de

acordo com García Mercadal, foi no século XIX que reincorporou-se às outras

tendências estéticas para ficar. Essa “pintura de gêneros”, como também ficou

13 AREAL, Manuel Fernández. Pueblos, hombres y cosas de Castilla. Madrid: publicaciones españolas, 1956. 14 MONTESINOS, José F. Op. cit. p. 12 e 13, 135 e 136. 15 RIBA, Juan Mercader. El siglo XIX: historia de la cultura española. Barcelona: Editorial Seix Barral S.A., 1957. Op. cit., p. 143 e 144. A utilização da expressão “pitoresco”, neste contexto, constitui-se em uma reprodução da idéia e sentido dado pelo autor. 16 BALLESTER, Eliseo Trenc. Costumbrismo, realismo y naturalismo em la pintura catalana de la restauración (1880-1893). In: LISSORGUES, Yvan (ed.). Realismo y naturalismo en Espana en la segunda mitad del siglo XIX. Barcelona: Editorial Anthropos, 1988. p. 300.

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conhecida nas artes pictóricas, tratou do homem espanhol comum não só em seu

aspecto físico, mas também no moral. 17

Dessa forma, o costumbrismo aparece como técnica, crítica, conteúdo, tema,

sátira, sempre grávido da problemática nacional. Um quadro de costumes, ao tocar o

imaginário social, pode enfatizar um núcleo de pessoas, seus sentimentos, assim como o

próprio cenário. Em suas diversas formas de abordagem pictórica e literária, o gênero

costumbrista pode ser representado de uma forma pessimista, um escrito desagradável,

uma ode a um lugar, região ou pessoa, uma sátira de personagens e até mesmo uma

exaltação mítica ou religiosa dos homens e mulheres comuns daquele tempo.

Alguns pintores de tradição espanhola têm em comum a inspiração em Don

Francisco de Goya. Goya, assim como outros conterrâneos, sofreu a influência do

costumbrismo.“(...) el costumbrismo es uno de los temas gratos de la sensibilidad

romántica, que busca siempre lo que puede exaltar la imaginación”.18

A pintura dos tipos e costumes foi uma herança que o romantismo recebeu do

barroco do século XVII. Fenômeno presente em todas as nações ocidentais, fez-se mais

manifesto e expressivo na Espanha.

El espíritu español, profundamente realista, se interesa por todo lo que le rodea, y especialmente por las clases populares de la sociedad, que en España ofrecen una asombrosa riqueza de matices y una pujanza extraordinaria de vida y color.19

Na literatura, no teatro e na pintura, a riqueza de tipos não se iguala a nenhuma

outra forma de expressão artística do mundo. “(...) el arte se enriquece con tipos

populares pintados o esculpidos con el verismo y la vivacidad próprios del arte

hispánico.”20

17 MERCADAL, J. García. Op. cit. É bastante interessante notar a semelhança do inconformismo patriótico de Mariano José de Larra, que atuou a partir da primeira metade do século XIX, com as angústias dos jovens intelectuais da geração de 98, até mesmo na forma de apresentar e representar seus aborrecimentos e amor pela nação. Mercadal diz que, Estébanez Calderón (1ª metade do século XIX), não retratou senão ao povo. D. Ramón Mesonero Romanos (1ª metade do século XIX), registrou as transformações, ou seja, o que declinava e o que iria suplantar. Novelista e dramaturgo, na sua vertente satírica, Larra (1ª metade do século XIX), admirador da França e sua revolução, fazia sátiras políticas tentando estimular seus compatriotas à transformação. Era alguém aborrecido e inconformado com a Espanha no estágio em que ela estava. Patriota fervoroso e orgulhoso, não era benevolente com sua pátria justamente por esse ardor. Cf. MERCADAL, J. García. 18BALLESTER, Eliseo Trenc. Op.cit. p. 295. 19Id., ibid., p.305. 20 Id, ibid., p. 306.

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O interesse pela vida popular está sempre em foco: os trajes, os ditos, os costumes

do povo... Atribui-se à aura romântica a imposição do costumbrismo.21“(...) lo español

estaba de moda.”22

As obras românticas, produzidas sob a estética do costumbrismo, estavam a

serviço das exaltadas imaginações. Nem sempre tratava com veracidade os temas. Era o

encanto, a graça, a beleza, porém, nem sempre a verdade o que importava.

Neste trabalho parte-se da hipótese que a coleção Las mujeres españolas,

portuguesas y americanas, sob a estética costumbrista, apresentando mulheres que

caracterizam espaços territoriais marcados pela Espanha, produzida num período de

efervescência política, traduz e representa o ideário hispanista na segunda metade do

século XIX. A produção desta obra, tanto em sua parte imagética como na textual,

divulga a ideologia de experiências comuns entre as regiões de colonização hispânica e

a ex-metrópole e dá sentido a esta conexão embasando tais experiências em um passado

histórico, muitas vezes comum,23 reelaborado a partir de uma perspectiva espanhola de

tendência notadamente colonizadora. É um olhar europeu, traduzido por espanhóis e

imbuído de uma visão de mundo ocidental que encontra-se nesta coleção.

O hispanismo surgiu influenciado por outras ideologias e movimentos

políticos do século XIX. A emergência das nações, principalmente após a Revolução

Francesa24, que marcou de forma indelével o século seguinte, constituiu-se em pano de

fundo para essa nova forma de inclusão, ratificada no discurso pelo hispanidade. As

argumentações que embasam este ideário buscam atribuir um sentido de identidade, ou

seja, procuram por elementos comuns que dêem sentido à existência de um povo, nas

suas características particulares, em seus desejos, expectativas e idiossincracias.

Neste sentido, buscou-se tocar os imaginários sociais e divulgar tais valores

e ideologias e a mulher, nesta coleção – como é o caso da utilização da sua imagem para

responder ao surgimento das repúblicas – é utilizada como simbologia para a construção

deste ideário, que incluiu o homem comum (aqui representada pela figura feminina)

como agente neste espaço territorial.

21 E, como alerta Contreras, a estética costumbrismo não se trata de corrente estrangeira que penetrou na Espanha, e sim uma tradição que não sofreu rompimento ali. 22BALLESTER, Eliseo Trenc. Op. cit. p. 306. 23 Sobre esta questão veremos mais a frente a discussão de Eric Hobsbawn sobre tradições inventadas. 24 HOBSBAWN, Eric. J. Nações e nacionalismo desde 1780: programa, mito e realidade. Tradução de Maria Célia Paoli e Anna Maria Quirino. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2004. p.125.

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Esta coleção revela expressões das idéias políticas do oitocentos espanhol

através dos temas e ideologias que a constitui. Desde a concepção da obra até as

simbologias ali presentes demonstra os conflitos políticos e incômodos que aquele

espaço territorial vivenciava no tocante ao encaminhamento dos rumos políticos. O

estudo dos aspectos políticos e da política, propriamente dita, para a historiografia mais

recente, pode ser feito através das várias formas de expressão material do homem,

mesmo não possuindo um caráter institucionalizado.25

Imagens e palavras também constituem-se em formas e expressões políticas

de um povo. Procurando a América, encontrou-se a Espanha, procurando manifestações

artísticas e intelectuais que elevassem esse espaço territorial e suas diversas repúblicas

independentes, encontrou-se um ideário que buscava retomar o lugar, nos imaginários

sociais, que a antiga metrópole havia ocupado. Na segunda metade do século XIX,

surgiu na Espanha o hispanismo, uma ideologia de vertente bastante conservadora, que

pautou as reflexões de muitos intelectuais e caracterizou o discurso presente em muitos

periódicos e outras produções espanholas deste período.

Após perder o poder político, econômico e militar que possuía na América –

menos em Cuba que se tornou independente somente no final do século, em 1898 – a

Espanha tratou de criar um novo discurso de pertencimento e reconhecimento das ex-

colônias, pautando-se numa identidade hispânica como forma de justificar sua

tutelagem sobre esses territórios recém-independentes. Sob a marca da tradição

espanhola como cultura, história, tradições, religião e língua, esse discurso propagou-se

pela Espanha e fez eco entre intelectuais na América hispânica. Para Ricardo Pérez

Montfort, (...) El hispanismo se basa en un principio que plantea la existencia de una ‘gran familia’ o ‘comunidad’ o ‘raza’ trasatlántica que distingue a todos los pueblos que en un momento de su historia pertenecieron a la corona española. Esta identidad hispanica descansa en la convicción de que los españoles desarrollaron, en su proceso de formación como império, una serie de formas de vida y de cultura propias que los diferencian claramente de otros pueblos del orbe.26

25 Em relação à esta questão ver: RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. RJ: Editora UFRJ, 1996. WINOCK, Michel. As idéias políticas. In: RÉMOND, René (org.). Por uma história política. Tradução de Dora Rocha. RJ: Editora UFRJ, 1996. 26 MONTFORT, Ricardo Pérez. Hispanismo y Falange: los sueños imperiales de la derecha española. México: Fondo de Cultura Econômica, 1992. p. 15.

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Montfort explicita que além de defender a tradição espanhola, tal ideário

nega os valores das culturas nativas americanas e influências de outros países, como da

França, Inglaterra e principalmente dos Estados Unidos – que já conduzia seu olhar para

toda a extensão do território americano.27 O hispanismo ampara-se fortemente nos

princípios religiosos do catolicismo, construindo para si um sentido missional – a

Espanha para seus ex-territórios como missão. Outra função da vertente católica dessa

ideologia era rechaçar qualquer possibilidade de ingerência protestante, diz o autor.

A sociedade hierarquizada como argumento também constituiu-se em uma

característica do hispanismo. A elaboração da idéia de “mãe-pátria” não só demonstrava

o estabelecimento de uma hierarquia, assim como anunciava a diferença no tocante às

relações de poder entre os territórios separados pelo Atlântico.28

O pensamento hispanista remete à crise de identidade que a Espanha

vivenciava naquele momento. Havia necessidade da construção de uma identidade

nacional, de um lugar comum que pudesse reconstruir (ou devolver) um espaço de

poder e reconhecimento que outrora ocupara na Europa. Elide Rugai Bastos lembra que

temas como regionalismo, unidade social e política, a questão da unidade cultural e

configuração do povo constituíam-se em desafios para os intelectuais espanhóis.29

Afirma que as crises do século XIX os levaram a buscar apoio em teorias que

fundamentassem mudanças de ordem política, econômica e social, mesmo que

importadas, como foi o caso do krausismo.30

Na década de 1870 já se sentia a necessidade de pensar em formas de

contornar tais problemas que se intensificavam. Entre os pensadores de cunho liberal, a

educação, secularização da sociedade e racionalidade para a investigação científica

27 De acordo com Montfort, depois da Primeira Guerra Mundial os hispanistas consideraram os EUA o mais perigoso inimigo da tradição espanhola. MONTFORT, Ricardo Pérez. Op. cit., p. 19. Cabe lembrar que o hispanismo como ideologia intensificou-se nos últimos anos do século XIX, com as perdas das últimas colônias na América pela Espanha, e adentrou o século XX com importantes defensores desse pensamento tanto na Espanha como na América. Alguns intelectuais conhecidos são Rafael Altamira y Crevea, José Maria Pemán, Ramiro de Maeztu, Marcelino Menendez y Pelayo entre outros. Até mesmo Gilberto Freyre foi um pensador influenciado pelas questões do hispanismo, como demonstra Elide Rugai Bastos. BASTOS, Elide Rugai. Gilberto Freyre e o pensamento hispânico: entre Dom Quixote e Alonso El Bueno. Bauru, SP: Edusc, 2003. 28 MONTFORT, Ricardo Pérez. Op. cit. 29BASTOS, Elide Rugai. Op. Cit., p. 12. 30Elide Rugai explica que o problema com o krausismo – e de toda teoria importada – é que este(s) desconhece(m) especificidades do pensamento revolucionário do espaço territorial que o importa. p. 21.

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figuravam como instrumentos para contornar e começar a colocar fim aos problemas

que a Espanha apresentava.31

Embora o hispanismo como um princípio restaurador e de verve mais

inflamada em seu sentido político se situe no final do XIX e nas primeiras décadas do

XX - como é o caso dos intelectuais da “geração de 98” - foi na segunda metade do

oitocentos que esse ideário surgiu e fez-se presente nos questionamentos de pensadores

e no meio social. Os debates que apareciam na imprensa elucidam a existência de uma

preocupação e o desejo da Espanha em retomar os vínculos políticos com suas antigas

colônias.32 José Luis B. Beired explica que esse ideário constituiu-se em fenômeno de

defesa de uma identidade comum entre Espanha e ex-colônias, e apresentou discussões

nos variados campos como o da construção das identidades nacionais, das polêmicas

político-culturais, historiografia, relações internacionais e construção da memória

nacional.33

Os discursos presentes nos diversos intelectuais que se dedicaram à este

debate refletem, além da formulação da idéia de um mundo hispânico, uma perspectiva

imperialista de tradicionalismo, de unidade de raça e religião – como demonstra

Menéndez y Pelayo em seus escritos.34

Compartilhar experiências comuns, insistir na idéia de pertencimento a uma

comunidade única, retomar valores, práticas, experiências, religião, tradições, língua e

costumes, tudo isso era necessário para impulsionar o hispanismo como um ideal nos

imaginários sociais. Uma forma de elaborar todos esses fenômenos era recorrer à idéia

de tradição e, para isso, apropriar-se do passado histórico e dar novo valor e sentido

para eles. Esta questão nos remete ao conceito de tradição inventada, cunhada por Eric

Hobsbawn, que assim a define:

31Id., ibid., p. 18. 32José Luis Bendicho Beired relaciona alguns periódicos espanhóis que exemplificam esse desejo de continuidade das relações da Espanha com a América. Ver: BEIRED, José Luis Bendicho. Hispanismo: um ideário em circulação entre a Península Ibérica e as Américas In: VII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2007, Campinas. Anais do VII Encontro Internacional da ANPHLAC, 2006. p.2. 33 Beired, José Luis Bendicho. Op. cit., p. 1. 34 Além desta discussão em questão, José Luis Bendicho Beired também chama a atenção em seu artigo para a existência de duas versões do hispanismo, uma de vertente liberal e outra conservadora. A primeira voltava-se para os valores do mundo moderno, respaldada em elementos da perspectiva iluminista, sendo que a conservadora, amparada pelo catolicismo, rejeitava as práticas e posturas modernizantes, propagadas pelo Iluminismo. Id, ibid., p. 7. (Sobre este assunto ver também: MONTFORT, Ricardo Pérez. Op. Cit. e CAPELATO, Maria Helena Rolim. A data símbolo de 1898: o impacto da independência de Cuba na Espanha e Hispanoamérica. In: Revista História. São Paulo, V. 22, n.2, 2003. p.35-58).

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Por ‘tradição inventada’ entende-se um conjunto de práticas (...) de natureza ritual ou simbólica, [que] visam inculcar certos valores e normas de comportamento através da repetição, o que implica, automaticamente, uma continuação em relação ao passado.35

As novas tradições são inventadas quando ocorrem transformações

suficientemente amplas e rápidas tanto de um lado como do outro – e isto, como

percebemos, era o caso da Espanha. O mais interessante, de acordo com este autor, é

que para restaurar - ou criar – uma tradição é necessário utilizar elementos antigos nas

novas tradições e, esse passado, o qual é recuperado, não necessariamente precisa ter

existido. Ele pode ser criado através da lenda ou pela invenção, ou seja, trata-se de

manipulação consciente dos símbolos.36 A formulação da hispanidade como discurso de

identidade comum entre os novos territórios independentes e a ex-metrópole, pode ser

entendida como criação de uma tradição, projetada para justificar o interesse da

Espanha na América.

Uma questão em especial chama atenção nesta discussão, lembra

Hobsbawn: tradições inventadas são indicadoras da existência de problemas num tempo

e num espaço. No caso específico do surgimento das novas nações esse conceito é

altamente aplicável, assegura este autor, no entanto paradoxal porque, embora imbuídas

do espírito do novo, as nações modernas afirmam ser o oposto do novo, uma vez que

seu discurso é marcado por elementos do passado, do antigo, e pautado numa história

natural, não construída. Para ele a nação moderna existe a partir de tais construções e

está associada a símbolos adequados e discursos elaborados.37

A Espanha, na segunda metade do século XIX vivenciou a emergência da

nação, igual a outros espaços territoriais europeus. Este século, afirma Hobsbawn,

experimentou convulsões da cena política internacional, orientadas pelo “princípio da

nacionalidade”.38 Mas nações, neste momento, ainda possuíam um sentido vago e, de

acordo com este autor, suas primeiras manifestações serviam para descrever e

diferenciar grandes grupos. O conceito de etnicidade aparecerá no decorrer da evolução

do conceito “nação”.39

35 HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (orgs.). A invenção das tradições. Trad. Celina Cardim Cavalcanti. RJ: Paz e Terra, 1984. p. 9. 36 HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (orgs.). Op. cit. p. 15-17. 37 Id., ibid., p. 21-23. 38 HOBSBAWN, Eric. J. 2004. Op. cit. p. 125. 39 HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (orgs.). Op. cit., p. 29.

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Tradição inventada, mito, realidade e invenção40, conceitos de Eric

Hobsbawm e Ernest Gellner, traduzem a problemática questão sobre o surgimento do

termo nação e seu significado nos diferentes tempos e espaços territoriais. Essa

constituição social denominada nação, cuja palavra está ligada ao termo nascer e seu

significado, ironicamente torna-se nebulosa quanto à questão do nascimento.

Há um complemento entre o significado filológico do termo nação e nação

enquanto um espaço circunscrito. Falar de seu surgimento é também abordar o

significado do termo num momento histórico específico. De acordo com Patrícia Funes,

nação – enquanto terminologia e enquanto espaço social – embora seja bastante

discutida, ainda é um território impermeável da sociedade moderna. Dúvidas e

perplexidade, além de uma sensação de inacabada questão, permeiam as reflexões sobre

esse tema.41 A autora mostra-nos que sempre houve uma constante busca por

explicações e definições ao longo da história. Entende que, “ante la dificultad, las

teorías de la nación no se ponen de acuerdo y parecen hallarse ante una evidencia que

deslumbra, una certidumbre que se evapora.”42

Para ela, a essa difícil dimensão analítica faz-se necessário facultar a

sensibilidade, porque ela também explica o pertencimento e a pertinência nacional. La nación como concepto, parece conjugar lo teórico y lo estético, la emoción y la razón, lo orgánico y lo artificial, lo individual y lo colectivo, lo particular y lo universal, lo etnico y lo cívico, la continuidad y la ruptura.43

Falar sobre nação é também falar sobre o humano, sobre as experiências

vivenciadas, os desejos e expectativas dos homens. Aí está o homem em todas as suas

dimensões; étnica, religiosa, política e cultural. Todos esses princípios encontra-se em

Las mujeres españolas, portuguesas y americanas, numa combinação de arte, estética,

40 Sobre esses conceitos ver HOBSBAWN, Eric. J. 2004. Op. cit; HOBSBAWN, Eric e RANGER, Terence (orgs.).; GELLNER, Ernest. El nacionalismo y las dos formas de la cohesión en las sociedades complejas. In: DELANNO, Gil & TAGUIEFF, P. A (coord.). Teorias del Nacionalismo. Barcelona: Paidós, 1993. 41 A problemática mais recente que nos coloca novamente diante dessa questão é a denominada globalização. Ela instala uma nova forma de relações políticas (e porque não dizer – também culturais) que tocam diretamente na demanda nacional. A globalização enquanto fenômeno contemporâneo aguça as reflexões sobre cultura e identidade nacional. 42 FUNES, Patrícia. El pensamiento latinoamericano sobre la nación en la década de 1920. In: Boletín Americanista, nº 49. Barcelona: Universitat Barcelona, 1999. p.103 43 FUNES, Patrícia, op. cit., p. 104.

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sensibilidade, razão, concepções políticas e visões de mundo. A nação, a partir do

exposto acima, se evidencia nesta produção artística.

Ainda no século XIX, outro problema aparece no tocante à questão da

definição de nação. Com os ares da modernidade, que vem após a “Era da Revoluções”,

os estados passam a se constituir à partir de leis e arranjos administrativos que os

obrigava incluir também os indivíduos comuns. Para isso, o estado sentia a necessidade

de definir-se - para conhecer e chegar até todos os indivíduos - territorialmente.44

Essa nova necessidade gerou outra demanda, que é a participação dos

cidadãos considerados comuns. Segundo Hobsbawm, até mesmo as monarquias

tentaram adaptar-se a essa nova forma de configuração nacional.

Esse processo acabou produzindo uma onda de identificação entre

indivíduos e estado e, conseqüentemente, possibilitando o nascimento do sentimento

patriótico. Por essa perspectiva, o conceito de nação constitui-se a partir da participação

dos homens e mulheres comuns, com seus sentimentos, desejos e expectativas. À nação

vinculou-se o homem comum.

Considerando a coleção Las mujeres españolas, portuguesas y americanas

como um produto da cultura material que refletia os anseios e desejos dos espanhóis na

segunda metade do oitocentos, esse “homem comum” como define Hobsbawn, foi

representado nesta obra por figuras femininas caracterizando espaços territoriais. As

mulheres que por tanto tempo foram marginalizadas da história, da política, enfim, do

espaço público, simbolizaram a inclusão e o pertencimento. No entendimento dos

positivistas do século XIX, por serem altruístas, elas representavam a humanidade45, e a

humanidade, pode-se considerar, compreende o todo.

Hobsbawn lembra que a discussão do princípio da nacionalidade toca na

problemática da língua e etnicidade. O critério etno-lingüístico tornou-se dominante

para definir e resguardar uma identidade nacional. A retomada desses dois elementos

conflui com a ascensão de movimentos de direita, movimentos nacionalistas,

socialistas e até, para alguns, os próprios movimentos antiimperialistas. Sobressaía-

se, na maioria desses movimentos, o elemento lingüístico e, em especial, o étnico.

44 A evolução/revolução nos meios e formas de comunicação como transportes e periódicos também foram de crucial importância nesse processo. 45 CARVALHO, José Murilo. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 81.

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Dessa forma, o século XIX destacou-se pela discussão racialista também no que

tange à constituição de um significado para a nação.

Ao mesmo tempo – mais ou menos na segunda metade do século XIX – o nacionalismo étnico recebeu reforços enormes; em termos práticos através da crescente e maciça migração geográfica; na teoria, pela transformação da “raça” em conceito central das ciências sociais do século XIX.46

Assim como o tema – mulheres -, a língua e a raça aparecem para dar

significado à questão nacional e são perceptíveis em toda a extensão da coleção Las

mujeres españolas, portuguesas y americanas. A defesa desta última ocupa um lugar

privilegiado nos textos e litografias que representam a totalidade da obra. Se a

problemática racial constitui-se em um dos elementos que compõem o discurso sobre o

surgimento da nação, sua presença nesta composição artística revela mais um indício da

importância e sentido desta coleção no contexto nacional oitocentista.

As mulheres, em todos os textos que fazem parte da obra, são divididas em

duas categorias seguindo a definição de raça: mulher denominada índia, remanescente

da população nativa e mulher branca, de descendência espanhola. A mestiça, embora

não configure uma raça, também é representada. Já a negra, sequer é mencionada.

Características diversas a até conflitantes são ressaltadas e, paulatinamente, ajudam a

construir imagens de mulheres e símbolos femininos em vários espaços onde a Espanha

semeou seu ideal de civilização.

O argumento da raça como um problema social apoiou-se na produção

científica do século XIX. As idéias raciais surgiram das ciências biológicas e

conduziram vários estudos como os de Darwin, Spencer, Gustav Le Bon entre outros,

que utilizaram esta forma de caracterização para interpretar e explicar o homem. De

acordo com Patrícia Funes y Waldo Ansaldi, mesmo em estudos de ordem sociológica,

no oitocentos a genética social se liga a identidade e a ordem política. Positivismo e raça

fazem parte do tecido ideológico deste período.47 Para Lilia Moritz Schwarcz o conceito

de raça, em muitos aspectos une definição biológica e interpretação social e se

transforma em excelente argumento para estabelecer as diferenças sociais. Tal conceito

46 HOBSBAWM, Eric. 2004. Op. Cit. p. 131. 47 FUNES, Patrícia e ANSALDI, Waldo. Cuestión de piel: racialismo y legitimidad política em el orden oligárquico latinoamericano. In: ANSALDI, Waldo (org.). Calidoscópio latinoamericano: imágenes para un debate vigente. Ariel: Buenos Aires, 2004.

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migrou da biologia para a política e a cultura e, humanizado e sociologizado, postulou

uma nova forma de olhar para as diferenças sociais/étnicas e naturalizá-las.48

Moisés Gonzáles Navarro explica que as classificações raciais que aparecem

nos periódicos – e aqui, neste trabalho, entende-se que em outras produções também –

tinham um propósito político e não científico.49 Acrescenta que, em 1906, o periodista

Andrés Molina Enríquez refletindo sobre os problemas raciais que surgiram com a

colonização da América, lembrava que um dos argumentos mais usados para explicar as

diferenças dos grupos sociais era o tipo morfológico. Nas palavras de Navarro, Raza Y

Pátria (unidad del ideal común) casi se confundem. Algunas veces identifica raza y

clase, otras admite la existencia de razas superiores e inferiores.50

Imbricada às ideologias e visões de mundo que conjugam nação, raça e

posicionamentos políticos, também se insere a problemática das identidades – nacional

e transnacional. Em Las mujeres españolas, portuguesas y americanas salta aos olhos a

criação de um discurso construindo uma identidade comum, igual entre homens e

mulheres do “velho mundo” e aqueles(as) nascidos(as) no “novo”, a despeito da

presença de raças nativas e da miscigenação. Esta coleção preza pela verosimilhança

entre os povos dos dois lados do Atlântico, falantes da língua castelhana.

A historiadora Maria Lígia Prado lembra que para construir identidades

nacionais é preciso apagar as diferenças, as contradições e construir a homogeneidade.

Esse encadeamento de ações acontece porque, segundo ela, a identidade deriva do

diferente, o diferente traz consigo o risco e o risco perturba. Destaca que as identidades

precisam tocar os corações dos indivíduos e provocar a sensação de pertencimento.51

Composta de textos e imagens, a coleção Las mujeres españolas,

portuguesas y americanas tocam homens e mulheres daquele momento ao proporcionar

arte/beleza, literatura/política aos seus receptores. Posicionada entre o lúdico e o 48 SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil, 1870 – 1930. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. Nesta obra a autora faz uma história social das idéias raciais. 49 NAVARRO, Moisés González. Las ideas raciales de los científicos, 1890-1910. In: História Mexicana: El Colégio de México. No. XXXVII, vol. 4, 1988. Faz-se necessário registrar duas observações sobre os estudos deste autor: primeiro, seu artigo trata das idéias raciais de científicos sobre a colonização na América hispânica – especificamente no México – e, segundo, o período que trabalha é posterior a publicação da coleção Las mujeres españolas, portuguesas y americanas. Cabe ressaltar que, mesmo considerando estas questões, suas idéias são cabíveis e não anacrônicas para as reflexões deste trabalho, uma vez que representam parte da ideologia e visão de mundo do século XIX, especialmente na sua segunda metade. 50 Id., ibid., p. 571. 51 PRADO. Maria Lígia Coelho. Uma introdução ao conceito de identidade. 2007. (mimeo). (texto apresentado em reunião de pesquisa do Projeto Temático em dezembro de 2007, na USP).

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científico, chega até as mentes e os corações para o deleite artístico e reflexão de cunho

político sobre os indivíduos espanhóis – e hispânicos – daquela época. Esta coleção

remete, então, a questões que envolvem identidade e alteridade.52 O discurso presente

na obra – seja ele imagético ou textual – direciona o leitor a conhecer lugares que,

embora com pontos de diferenças, ele possa se reconhecer ali, porque parte de

pressupostos e elementos da cultura de quem escreve para quem escreve.

Esta obra constitui-se também em uma forma de identificar o outro e se

identificar. Nas narrativas literárias e iconográficas que compõem o livro, a retórica da

alteridade permite o movimento de aproximação e diferenciação entre os povos que

estão sendo representados – na figura de mulheres – e os povos produtores de sentido e

identidade – na figura dos escritores e litógrafos.53

Por fim, as mulheres...

Chama a atenção, encanta e desperta curiosidade o fato desta coleção fazer

uso da simbologia feminina para representar espaços territoriais e tocar o imaginário

político espanhol no século XIX, num período de efervescência política e social na

Espanha. Percebe-se nela a criação e idealização de um tipo de mulher, com traços – nas

imagens - e argumentos – nos textos – que procuram aproximar mulheres espanholas,

portuguesas e americanas e rechaçar as diferenças de raça, cultura e hábitos. Mas fica a

questão: será que pode-se entender esta produção como um elogio à mulher?

Um aspecto muito importante que deve ser considerado é que, apesar desta

coleção ser protagonizada por mulheres – da Espanha, Portugal, Américas portuguesa e

hispânica e Filipinas – a proposta editorial e execução é genuinamente masculina.

Todos os litógrafos e literatos que participaram desta produção são homens, inclusive o

editor. As visões de mundo ali presentes pertencem a eles, assim como a escolha e a

abordagem do tema, o direcionamento do público leitor e demais aspectos do projeto.54

Recorrendo à historiografia, José Murilo de Carvalho, em A formação das

Almas, tematiza a batalha pelo imaginário republicano no Brasil e mostra que, entre os

52 Maria Ligia Prado afirma que identidade e alteridade formam um par indissolúvel. In: Uma introdução ao conceito de identidade. Op. cit. 53 Sobre a “retórica da alteridade” ver HARTOG, François. O espelho de Heródoto: ensaio sobre a representação do outro. Tradução Jacyntho Lins Brandão. Belo Horizonte: editora UFMG, 1999. 54Esta coleção encontra-se acervada na Fundação Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A instituição a adquiriu em setembro do ano de 1931, através da Livraria Maohado, pelo valor de 600$000, conforme Livro de Registros da Biblioteca Nacional.

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símbolos utilizados para dar sentido àquela nova ideologia política, estava a mulher

associada ao surgimento de um novo imaginário sobre a nação. Enquanto a Monarquia

era representada pela figura do rei, masculina, que representava a própria nação, a

simbologia feminina marcou o imaginário republicano. Essa associação teve início na

França, lugar que primeiro se apropriou de uma imagem idealizada da mulher para dar

significado à República. Fazia referência à sua veia maternal, sua função protetora,

sinônimo de segurança e solidez. A arte, de uma forma geral, na Europa, foi responsável

por tocar o imaginário coletivo, na tentativa de produzir um sentido a essa mudança de

modelo político.

Para Maurice Agulhon, a utilização da simbologia feminina na França pode

constituir-se em um fato “cultural”, explicado pela convergência de uma mentalidade

antiga – a “deusa da liberdade” presente nos arquivos - com um cenário mais recente,

que cultuava a feminilidade em bustos e estátuas. De qualquer forma, ressalta que

imagem e idéia se conectam porque “as representações visuais têm [...] correspondência

com as grandes opções ideológicas”.55

Entre os artistas positivistas, a utilização da figura feminina ia além, pois se

baseava em um sistema de interpretação de mundo. A República era apenas parte dela.

Para eles, a mulher, em seu papel sacrossanto era um símbolo ideal de representação da

humanidade por ser altruísta.56 Nesta pesquisa, lança-se esse mesmo olhar para as

litografias e textos desta coleção que tematizou as mulheres.

Para Maria Lígia Prado, a aceitação de mulheres nas lutas pelas

emancipações da América Hispânica também está fundamentada no reconhecimento da

mulher como representação da família e, conseqüentemente, da nação. Se na prática, as

lutas tiravam-na do espaço do lar, por outro, colocava-a num cenário social como

fundadoras, mães da Pátria.57 Então, mesmo sendo um espaço masculino, mesmo sendo

a guerra algo que remete às capacidades do homem, era um espaço que possibilitava a

55 AGULHON, Maurice. Mariana, objecto de “cultura”?. In: RIOUX, Jean-Pierre e SIRINELLI, Jean-François (orgs.). Para uma história cultural. Trad. Ana Moura. Lisboa: Editorial Estampa, 1998. p.117. Neste artigo o autor também comenta a figura de Mariana como um emblema da república. República representava a idéia de liberdade, diferente de monarquia que vinculava ao poder absolutista. Monarquia é representada pelo rei, figura masculina e castradora da liberdade. Na França, atribuir à república à simbologia feminina – representação de liberdade – foi uma decisão da Convenção Nacional de Setembro de 1792. p. 113. 56 CARVALHO, José Murilo de. Op. cit. 57 PRADO, Maria Lígia Coelho. A participação das mulheres nas lutas pela independência política da América Latina. In: América Latina no século XIX: tramas, telas e textos. SP: Editora da Universidade de São Paulo, Bauru: Editora da Universidade do Sagrado Coração, 1999. P. 46 a 51.

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inserção feminina por aquilo que as mulheres representavam que era amor, fidelidade,

paixão, caridade, desprendimento material, altruísmo, fermento para o surgimento e

crescimento de uma nação.

Pode-se considerar que a utilização da simbologia feminina constituiu-se

numa forma de reelaborar a identidade nacional. A Espanha ainda configurava-se,

politicamente, numa Monarquia. Nessa mesma década, uma efêmera República ali se

instalou e aguçou o desejo de muitos, evidenciando as expectativas de uma parcela da

sociedade. A agitação, os rumores, as tentativas e sonhos em relação àquela nação eram

significativos.

A opção temática da coleção Las mujeres españolas, portuguesas y

americanas pelo feminino remete-nos às questões que envolvem a problemática

nacional. A figura da mulher como referencial simbólico está ligada à exclusão social

(foi considerado que, pelo discurso liberal/burguês ela pertence ao espaço privado), mas

também ao criacionismo. Ela gera, cuida, protege e é responsável pelo crescimento

porque é maternal.

As litografias e os textos escritos que compõem a obra estão representados

através de uma estética popular, o costumbrismo, evidenciando o belo, o bom e os

problemas e conflitos políticos que a Espanha vivenciava na segunda metade do

oitocentos. Essa coleção pode ser entendida como uma forma de tocar o imaginário

coletivo e despertar para o desejo de construção de uma nova sociedade, de uma nova

ordem política, ou seja, despertar para um novo ideal nacional.

A obra, em toda a sua extensão, carrega todos os elementos da história da

Espanha daquele momento. Toca na questão da problemática configuração do estado

nacional, com as freqüentes crises no trono espanhol, as regências e reinados, guerras

civis, diversidades de partidos e ideologias políticas. Em termos estéticos, o gênero

costumbrista foi utilizado para falar de nação e identidade, sem fazer uso de

instrumental político convencional e, como técnica, a litografia colorida representou o

signo de uma evolução na forma de ilustrar seus pensamentos e tudo mais que refletia a

Espanha. Esta coleção permite a reflexão sobre o significado histórico de um tempo e de

um espaço. Imagens e textos apresentam histórias de mulheres e evidenciam hábitos

culturais, costumes, tipos, aspectos morais, visões de mundo, ideologias e expectativas

políticas de um povo que vivenciava crises políticas recorrentes.

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