lares de crianças e jovens caracterização e dinâmicas de funcionamento
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8/14/2019 Lares de Crianas e Jovens caracterizao e dinmicas de funcionamento
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Uma edio doInstituto para o Desenvolvimento Social
Coleco Estudos
Data de edioMaio 2000
Projecto CriativomarcaDgua, designers
ImpressoScarpa Impressores, Lda
Tiragem2000 exemplares
Depsito Legal N
ISBN N 972-8553-07-02
MINISTRIO DO TRABALHO E DASOLIDARIEDADE
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Lares de
Crianas e Jovens
E S T U D O S
Caracterizaoe Dinmicas
de Funcionamento
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Lares de
Crianas e Jovens
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Caracterizaoe Dinmicas
de Funcionamento
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Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento
PREMBULO
I - Metodologia Adoptada
II - Lares de Crianas e Jovens: uma resposta social
1. Rede nacional de lares para acolhimento de crianas e jovens
em situao de risco
2. Objectivos e princpios de funcionamento dos Lares de Crianas
e Jovens
III - Caracterizao e dinmicas de funcionamento
dos Lares de Crianas e Jovens
1. Instalaes e equipamentos dos lares
2. Recursos humanos no acolhimento de crianas e jovens
3. Aspectos jurdico-financeiros dos lares de crianas e jovens
3.1. Estatutos jurdicos, acordos de cooperao e regulamento interno
3.1.1. Apoios financeiros
3.1.2. Valncias das instituies
3.1.2.1. rea geogrfica de influncia do lar de crianas e jovens
4. O processo de admisso das crianas e jovens
4.1. Critrios e normas no acolhimento das crianas e jovens
4.2. Como efectuado o acolhimento das crianas e dos jovens nos lares?
4.3. Constituio dos processos individuais
5. Normas e dinmicas de funcionamento: a organizao e oacompanhamento
5.1. Normas de funcionamento
5.1.1. Telefone, correspondncia, dinheiro de bolso
5.1.2. Vigilncia nocturna e aos fins-de-semana
5.2. Dinmicas de organizao interna
5.2.1. Organizao das crianas e jovens em grupos
5.2.2. Actividades de ocupao de tempos livres desenvolvidas
pelo lar
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Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento
5.2.3. Encaminhamento e acompanhamento dos projectos
de vida das crianas e jovens acolhidos
5.3. Relaes com o exterior
5.3.1. Relao das crianas e jovens acolhidos com a comunidade
5.3.2. Relao do lar com a instituio escolar
5.3.3. Relao do lar com os servios da Segurana Social
5.4. Outros servios prestados pelo lar
6. Sada do Lar: o processo de preparao
7. Fluxos de Entradas e Sadas de crianas e jovens dos lares no
ano de 1997
Notas conclusivas: agir, conhecendo
IV- Anexos
Anexo 1- Guio do questionrio de caracterizao dos lares de crianas
e jovens
Anexo 2- Quadros regionais de caracterizao dos lares de crianas ejovens
Anexo 3- Distribuio nacional dos lares e das crianas e jovens neles
acolhidos por regio, sub-regio e concelho
V- Bibliografia temtica
VI- Legislao de enquadramento
Ficha Tcnica do Projecto
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Quadro 1- Sistema Nacional de Acolhimento para crianas e jovens: equipamentose ocupao
Quadro 2- Lares de crianas e jovens por regioQuadro 3- Crianas e jovens em lar por regioQuadro 4- Relao entre capacidade e ocupao dos lares de crianas e jovensQuadro 5- Tipo de edifcio onde se encontram instalados os lares de crianas e jovensQuadro 6- Aspecto exterior do edifcio onde se encontram instalados os lares de
crianas e jovensQuadro 7- Aspecto exterior do edifcio em funo do tipo de edifcio onde se encon-
tra instaladoQuadro 8- Aspecto interior do edifcio onde se encontram instalados os lares de
crianas e jovensQuadro 9- Aspecto interior do edifcio em funo do tipo de edifcio onde se encon-
tra instaladoQuadro 10- Escales de crianas em coabitao nos quartos partilhados dos laresQuadro 11- Formao acadmica do director do larQuadro 12- Relao entre o tipo de dedicao do director ao lar e a dimenso do larQuadro 13- Relao entre o tipo de dedicao do director ao lar e a sua formao
acadmicaQuadro 14- Promoo pelo lar de formao da equipa tcnicaQuadro 15- Estatuto jurdico da instituioQuadro 16- Registo dos estatutos na DGASQuadro 17- Escales de percentagem de receitas prpriasQuadro 18- Escales de percentagem dos acordos de cooperaoQuadro 19- Modalidade dos acordos de cooperaoQuadro 20- Escales de percentagem de outras fontes de financiamentoQuadro 21- Crianas a frequentar os lares gratuitamente
Quadro 22- Valncias das instituies e respectivos acordos de cooperaoQuadro 23- rea geogrfica de influncia do larQuadro 24- Critrios de admisso registados nos estatutos da instituioQuadro 25- Critrios de admisso registados no regulamento do larQuadro 26- Nmero de crianas em lista de espera nos laresQuadro 27- Nmero de crianas em lista de espera nos lares em funo da lotao
dos mesmosQuadro 28- Comunicao Segurana Social do acolhimento de crianas e jovens
em lar por iniciativa da famlia ou da comunidadeQuadro 29- Comunicao ao Tribunal do acolhimento de crianas e jovens em lar
por iniciativa da famlia ou da comunidade
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Quadro 30- Tipologia dos procedimentos de acolhimento adoptados pelos laresde crianas e jovens
Quadro 31- Local de arquivo dos processos individuaisQuadro 32- Responsabilidade de utilizao dos processos individuaisQuadro 33- Possibilidade de utilizao do telefone em condies de privacidade
Quadro 34- Regras de uso da correspondncia pelas crianas e jovens em larQuadro 35- Existncia de regras em relao ao dinheiro de bolsoQuadro 36- Organizao por gruposQuadro 37- Dimenso dos grupos de crianas e jovens nos laresQuadro 38- Celebrao de aniversrios nos lares de crianas e jovensQuadro 39- Sadas ao fim de semanaQuadro 40- Responsvel pela organizao de sadas ao fim de semanaQuadro 41- Encaminhamento das crianas e jovens feito com a anuncia de
quem?Quadro 42- Acesso a estabelecimentos pblicos de educao/ensinoQuadro 43- Participao em iniciativas de estabelecimentos pblicos de
educao/ensinoQuadro 44- Acesso a Centros de Formao ProfissionalQuadro 45- Participao em Centros de Formao Profissional
Quadro 46- Acesso a ginsiosQuadro 47- Participao em actividades nos ginsiosQuadro 48- Acesso a colectividadesQuadro 49- Participao em actividades de colectividadesQuadro 50- Abertura dos lares s famlias e comunidadeQuadro 51- Responsvel pela articulao entre o lar e a escolaQuadro 52- Motivo da ltima visita da Segurana Social ao larQuadro 53- H quanto tempo se efectuou a ltima visita da Segurana Social ao larQuadro 54- Conhecimento da Segurana Social do encaminhamento dado s
crianas e jovensQuadro 55- Cuidados mdicos prestados pelo lar s crianas e jovens acolhidosQuadro 56- Apoio educativo prestado pelo larQuadro 57- Servio de psicologia prestado pelo larQuadro 58- Apoio educativo prestado pela escola
Quadro 59- Servio de psicologia prestado pela escolaQuadro 60- Apoio e preparao para a sada ajustada s necessidadesQuadro 61- N de crianas/jovens acolhidas em lar em 1997Quadro 62- Tempo mdio de espera para admisso no larQuadro 63- N crianas/jovens sados do lar em 1997Quadro 64- N de crianas/jovens regressados s famlias em 1997Quadro 65- N de crianas/jovens que saram inseridos profissionalmente em
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Figura 1- Sistema Nacional de Acolhimento e Acompanhamento de crianas ejovens em situaes de perigo
Figura 2- Tringulo relacional no acolhimento institucional de crianas e jovensFigura 3- Eixo de relacionamento entre o lar e as famlias das crianas acolhidas em larFigura 4- Eixo de relacionamento entre o lar e a comunidade envolventeFigura 5- Tipologia dos lares de crianas e jovens em funo dos eixos de relacionamentoFigura 6- Tringulo de relacionamento dos lares de IncorporaoFigura 7- Tringulo de relacionamento dos lares de InstitucionalizaoFigura 8- Tringulo de relacionamento dos lares de AcolhimentoFigura 9- Tringulo de relacionamento dos lares de AcompanhamentoFigura 10- Equipamentos e divises existentes nos lares de crianas e jovensFigura 11- Proximidades com o lar
Figura 12- Tipo de dedicao do director do larFigura 13- Constituio da equipa tcnica do larFigura 14- Outros membros da equipa do larFigura 15- Observao mdica do pessoal do lar pelo menos 1 vez por anoFigura 16- Obrigatoriedade de apresentao de atestado sanitrioFigura 17- Adopo de regulamento internoFigura 18- Valncias das instituiesFigura 19- Primeiro critrio de admisso das crianas e jovens no larFigura 20- Existncia de lista de espera no larFigura 21- Envolvimento da famlia nas trs fases do acolhimentoFigura 22- Envolvimento da comunidade nas trs fases do acolhimentoFigura 23- Tipos de acolhimento efectuados pelos lares de crianas e jovensFigura 24- Existncia de processos individuais
Figura 25- Documentos apensos ao processo individual das crianas e jovens aco-lhidos
Figura 26- Vigilncia nocturna assegurada nos dias teis nos lares de crianas ejovens
Figura 27- Vigilncia aos fins-de-semana assegurada nos dias teis nos lares decrianas e jovens
Figura 28- Responsveis pelo atendimento/vigilncia nocturna e fins-de-semanaFigura 29- Critrios para a formao de gruposFigura 30- Organizao de festas comemorativasFigura 31- Festas organizadas pelo lar
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Figura 32- Eventos de comemorao dos aniversrios nos lares de crianas ejovens
Figura 33- Abertura de festas restante comunidadeFigura 34- Como so passados os fins-de-semana no lar
Figura 35- Participao nas tarefas diriasFigura 36- Encaminhamento das crianas e jovens orientado por uma equipa
tcnicaFigura 37- Estmulo do reatar de relaes com familiaresFigura 38- Promoo da participao da famlia no quotidiano da criana/jovemFigura 39- Promoo da participao da famlia no percurso escolar/profissio-
nalFigura 40- Possibilidade de entrada de amigos e colegas no larFigura 41- Promoo de encontros com outros jovens da comunidadeFigura 42- Abertura da instituio comunidade localFigura 43- Quantificao da tipologia dos lares de crianas e jovensFigura 44- Encontros regulares com estabelecimentos de ensinoFigura 45- Promoo de aces de orientao escolar/profissional
Figura 46- Avaliao do apoio prestado pela Segurana SocialFigura 47- Refeies fornecidas nos laresFigura 48- Preparao prvia para a sada do larFigura 49- Forma de apoio sada do larFigura 50- Manuteno de contactos com o lar aps sadaFigura 51- Natureza dos contactos com o lar aps sada da instituioFigura 52- Motivos para a sada do lar em 1997
Uma das principais preocupaes da Comisso Nacional de Proteco de
Crianas e Jovens em Risco (CNPCJR)1, desde o incio da sua existncia,
ter sido a de reorganizar o sistema de resposta social de acolhimento para
crianas e jovens2 . Assumindo o princpio de que uma interveno social
sustentada implica o conhecimento prvio das caractersticas da realidade
sobre a qual se pretende intervir, e tomando como ponto de partida a
reorganizao da estrutura nacional de lares de crianas e jovens para
acolhimento com carcter definitivo, iniciou-se o processo de
caracterizao desta realidade. O documento que agora apresentamos
Lares de Crianas e Jovens: Caracterizao e Dinmicas de
funcionamento- constitui a primeira fase deste processo3.
Conscientes do facto de os resultados de qualquer processo de
investigao se encontrarem condicionados pela metodologia adoptada e
pelos objectivos que lhes subjazem, consideramos que o mrito deste
estudo no ser tanto a exausto e a profundidade dos resultados obtidos
(pretensioso seria querermos tais resultados apenas com uma primeira
abordagem realidade) como o levantamento de pistas de investigao
decorrentes dos primeiros aspectos de caracterizao que o estudo
permitiu obter acerca dos lares de crianas e jovens a nvel nacional.
Levado a cabo este processo de investigao, obteve-se, na verdade, uma
perspectiva de conhecimento que no esgota todos os ngulos que desta
realidade possvel captar, parecendo-nos, contudo, um importante
primeiro passo no sentido da percepo das caractersticas dos lares de
crianas e jovens.1 A CNPCJR foi criada com a atribuio de planificar a interveno do Estado e coordenar, acompanhar e avaliar asaces, estatais ou da comunidade, no mbito da proteco de crianas e jovens em risco (art 1 DL n. 98/98).
2 Cf. Relatrio de Actividades da Comisso Nacional de Proteco de Crianas e Jovens em Risco , IDS,Lisboa, Maio 1999, pp. 27, onde se inclui o Plano de Aco previsto para 1999.
3 Em simultneo com o estudo de caracterizao dos 257 lares de crianas e jovens existentes no pas, foram inquiri-das tambm as crianas e os jovens que neles vivem, num total de 9561. Os resultados desta pesquisa esto paten-tes em Crianas e Jovens em Lar- Caracterizao Sociogrfica e Percursos de Vida , Lisboa, CNPCJR/IDS,Junho de 2000.
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O sucesso de um processo de investigao como este, totalidade
nacional de lares de crianas e jovens, uma realidade que permanecia no
quase total desconhecimento, s foi possvel atravs de uma estreita
cooperao interinstitucional, que envolveu a Inspeco Geral doMinistrio do Trabalho e da Solidariedade (IGMTS), os Servios Regionais
de Segurana Social (SRSS) e o Instituto para o Desenvolvimento Social
(IDS). Aos tcnicos da IGMTS coube a tarefa de inquirir os directores dos
lares de crianas e jovens com o guio de questionrio de caracterizao
da instituio por que so responsveis; o resultado deste inqurito que
apresentamos neste documento. Os tcnicos de aco social dos Servios
de Segurana Social encarregaram-se de preencher os guies de
caracterizao das crianas e jovens que vivem nos lares, em funo dos
seus processos individuais, estudo que decorreu em paralelo com este4. A
colaborao entre os tcnicos destas instituies foi estreita no que
concerne a esta fase de recolha da informao. O IDS, enquanto rgo
operativo da CNPCJR, teve a seu cargo a elaborao dos guies que
presidiram ao inqurito (aprovados em sede de Comisso Nacional), a
informatizao dos dados estatsticos, assim como o seu tratamento e
interpretao. Resta-nos, neste captulo preambular, agradecer a todos os
intervenientes no processo de levantamento dos dados (incluindo neste
reconhecimento as equipas que, nas instituies, acompanham as crianas
e os jovens acolhidos) o esforo e o empenho com que tornaram possvel a
divulgao do conhecimento que consideramos deter acerca dos lares de
crianas e jovens. Este conhecimento o ponto de partida para posteriores
intervenes que, apenas porque assentam na informao acerca dascaractersticas dos lares, se podero considerar sustentadas e
sustentveis5.
O documento de registo dos resultados deste estudo contm uma primeira
parte onde se procede a uma descrio sumria da metodologia adoptada
na sua realizao (Captulo I-Metodologia Adoptada), seguida de uma
breve anotao acerca da perspectiva terica que enquadrou o processo deinvestigao, situando a realidade dos lares de acolhimento de crianas e
jovens, por um lado, no conjunto do sistema nacional de acolhimento e,
por outro, numa tipologia que permite estabelecer a posio de cada uma
destas instituies em funo das suas caractersticas (Captulo II- Lares
de Crianas e Jovens: uma resposta social ).
Exposto o enquadramento metodolgico e terico do processo de
investigao, procederemos caracterizao dos lares de crianas e jovens
ao nvel dos seus recursos materiais, humanos e jurdicos, que
condicionam (ao mesmo tempo que so condicionados) as filosofias de
funcionamento, assim como as dinmicas de organizao interna, no que
diz respeito s regras de acolhimento, s normas estabelecidas, ao tipo de
relacionamento estabelecido com a comunidade exterior e com as famlias
de origem das crianas e jovens acolhidos, analisando, por ltimo, o
processo de preparao para a sua autonomizao (Captulo III-
Caracterizao e dinmicas de funcionamento dos Lares de Crianas e
Jovens).
Finalmente, e tendo em conta as constataes obtidas no decurso da
investigao no que diz respeito s caractersticas dos lares de crianas e
jovens e s dinmicas do seu funcionamento, possvel retirar algumasilaes que permitem delinear a actuao das vrias entidades implicadas
no funcionamento dos lares de crianas e jovens, no sentido de se
estruturarem estratgias para um projecto conjunto e participado que
permita, cada vez mais, aproximar o acolhimento de crianas e jovens em
lar a um acolhimento familiar, minimizando eventuais efeitos negativos da
institucionalizao (Notas Conclusivas: Agir, conhecendo).
4 Registe-se que a postura adoptada por estes inquiridores foi a de conhecer, de forma objectiva e neutra, a realidadedos lares de crianas e jovens. Abandonaram a procura pelo dever ser do funcionamento deste tipo de instituio, deacordo com a legislao, para se centrarem no conhecimento da realidade como ela, de facto, , sem eventuais preo-cupaes correctivas, neste primeiro momento do levantamento dos dados.
5 Este estudo situa-se ao nvel de uma metodologia que designamos de investigao-aco, e que se traduz numa cara-cterizao objectiva da realidade para, em funo desta, se porem em prtica medidas de interveno na realidadeestudada, regidas por princpios tericos que se vo definindo medida que decorre o processo de investigao.
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hoje comummente partilhada a ideia de que os saberes s fazem sentido desde que possam ser
colocados disposio de intervenes prticas ()
(CAPUCHA: 1992)
O levantamento das caractersticas dos lares de acolhimento de crianas e jovens em termos dos seus recur-
sos (materiais e humanos), bem como das suas filosofias e dinmicas de funcionamento, foi conseguido atra-
vs da aplicao de um inqurito por questionrio s 257 instituies existentes no pas6.
O processo de aplicao do questionrio teve lugar entre o incio do ms de Dezembro de 1998 e o final de
Janeiro de 1999. A informao obtida foi posteriormente sujeita a tratamento informtico em SPSS 7 e inter-
pretao estatstica por tcnicos do Instituto para o Desenvolvimento Social.
A informao acerca destas instituies de acolhimento de crianas e jovens resultou de contactos com os
directores dos lares, interlocutores privilegiados no que diz respeito ao conhecimento das instituies de
que so responsveis. Esta metodologia tem, deste modo, a vantagem potencial de fornecer dados que
decorrem de um conhecimento profundo e prximo da realidade que se pretende caracterizar.
O trabalho de investigao acerca dos lares de crianas e jovens inscreve-se numa metodologia que desi-
gnamos de investigao-aco, cujo processo composto por duas fases: a primeira corresponde ao levan-
tamento, tratamento e interpretao da informao que caracteriza a realidade que se pretende investigar;
em funo do conhecimento desta realidade, passamos da fase de investigao pelo conhecimento para uma
segunda fase do processo da investigao aco, que designamos de interveno pelo conhecimento. Nombito desta segunda fase, tentmos delinear sugestes de actuao por parte de todos os intervenientes
implicados no funcionamento destas instituies de acolhimento de crianas e jovens.
O rigor e o controlo dos conhecimentos maior em funo dos resultados de devoluo dos conhecimentos
adquiridos aos prprios agentes objectos de pesquisa, que podem afinar as informaes factuais, ajudar a
reequacionar as interpretaes, sugerir ideias. (Capucha: 1992)
1. Rede nacional de lares para acolhimento de crianas e jovens em situao de risco
Os lares so equipamentos sociais que tm por finalidade o acolhimento de crianas e jovens,
proporcionando-lhes estruturas de vida to aproximadas quanto possvel s das famlias, com vista ao
seu desenvolvimento fsico, intelectual e moral e sua insero na sociedade.
(Art. 2. Decreto-Lei n. 2/86, de 2 de Janeiro)
Os lares de acolhimento de carcter definitivo para crianas e jovens encontram-se situados no con-
texto do sistema nacional de acolhimento e acompanhamento infantil e juvenil em situaes de risco.
Este sistema nacional, concebido para funcionar em rede, encontra-se esquematizado na Figura 1.
Figura 1 - Sistema Nacional de Acolhimento e Acompanhamento de crianas e jovens em
situaes de perigo8
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6 O design do guio do questionrio aplicado foi concebido, discutido e aprovado pela Comisso Nacional de Proteco das Crianas e Jovens em Risco,entidade promotora deste estudo acerca dos lares de crianas e jovens e dos menores acolhidos.
7 Trata-se de um programa informtico de tratamento estatstico de informao. 8 Reportamo-nos ao sistema de acompanhamento de crianas afecto ao Sistema Nacional de Solidariedade Social.
Unidadesde Emergncia
Funo: Acolhimento de EmergnciaTempo de Permanncia: 24 a 48 horas
Funo: Acolhimento temporrioe diagnstico de situao
Tempo de Permanncia: 6 a 12 meses
Funo: Acolhimento temporrio apsdiagnstico de situao
Tempo de Permanncia: 6 a 12 meses
Funo: Acolhimentoprolongado
Casade Acolhimento
Temporrio
AcolhimentoFamiliar
Lar paraCrianase Jovens
Regresso Famlia
de OrigemAdopo
I-Metodologia AdoptadaI-Metodologia Adoptada II-Lares de Crianas
e Jovens: Uma respostaSocial
II-Lares de Crianas
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Assim, e numa perspectiva terica, nosistema nacional de acolhimento e acompanhamento de crianas
e jovens em situao de perigo distinguem-se trs nveis distintos, em funo das necessidades tcnicas
decorrentes da anlise das problemticas com que se lida: o acolhimento de emergncia, que se
destina a acolher crianas e jovens em situao de perigo iminente por um perodo de tempo que noultrapasse as 48 horas, intuito para o qual as instituies de acolhimento permanente congelaram
vagas, constitundo aquilo que designamos por Unidades de Emergncia9; o acolhimento tempor-
rio, que visa o acolhimento, por perodos que no excedam os 6 meses, de situaes de crianas e
jovens para o qual tecnicamente se diagnosticou a necessidade de afastamento temporrio das famlias
de origem, objectivo cumprido pelas Casas de Acolhimento Temporrio10 ou pelas Famlias de Acolhi-
mento11 e, finalmente, o acolhimento de longa durao, para as situaes de crianas e jovens des-
providas de meio familiar ou cujas problemticas justificam o afastamento definitivo em relao s
famlias de origem. neste nvel das respostas sociais para crianas e jovens de carcter definitivo que
situamos os lares12, a par da adopo13. Refira-se, tambm, que, aps um perodo de afastamento tem-
porrio, a criana ou o jovem pode regressar ao seio da sua famlia de origem, se o diagnstico tcnico
da situao considerar ser esta a soluo mais adequada.
O sistema de acolhimento e acompanhamento de crianas e jovens em situaes de perigo possui por-
tas de entrada em todos os nveis de acolhimento, de acordo com as necessidades especficas ineren-
tes s diversas situaes de risco. As respostas de carcter definitivo, particularmente os lares para
crianas e jovens, espera-se que sejam respostas de fim de linha, ou seja, que constituam um recurso
a deitar mo quando esgotadas todas as possibilidades de trabalho social com a famlia de origem e com
a prpria criana ou jovem (em simultneo com o seu acolhimento temporrio), no sentido de evitar cor-
tes afectivos cujos efeitos perversos sero dificilmente mensurveis a curto prazo.
Debruar-nos-emos agora no nmero de instituies de acolhimento de situaes de risco ou perigoinfantil e juvenil existentes em cada um deste nveis, bem como sobre a respectiva ocupao.
Quadro 1 - Sistema nacional de acolhimento para crianas e jovens:
equipamentos e ocupao
Fontes: *CNPCJR/IDS-DED, 1999; ** IGMTS, 1997
O sistema nacional de acolhimento de crianas e jovens conta com 31 instituies a funcionar como
Unidades de Emergncia, para o acolhimento de situaes de perigo ou risco eminente de crianas
e jovens. Em Maio de 1999, o nmero de acolhidos em UE era de 58 crianas e jovens.
Ao nvel das respostas de acolhimento temporrio de crianas e jovens, existem 56 Casas de Acolhi-
mento Temporrio, que albergam 804 crianas e jovens. A este nvel, existiam, em Dezembro de 1997,
3399 Famlias de Acolhimento, no seio das quais se encontram acolhidos 4887 crianas e jovens.
Finalmente, e no que diz respeito a estruturas de acolhimento de longa durao, o sistema nacional de
acolhimento dispe de 257lares, onde vivem um total de 9561 crianas e jovens.
Atentemos na distribuio regional dos lares de crianas e jovens.
9 Designao oficialmente assumida pelo Sr. Ministro do Trabalho e da Solidariedade a 1 de Junho de 1998. Refira-se a existncia de uma Equipa de Aco-lhimento de Emergncia na cidade de Lisboa, cuja funo passa pela gesto das situaes de emergncia infantil nesta rea geogrfica.
10 Vide Resoluo do Conselho de Ministros 193/97, de 6 de Novembro.11 Vide Decreto-Lei n. 190/92, de 3 de Setembro.12 Vid Decreto-Lei n. 2/98, de 2 de Janeiro. O lar, a par de situaes de adopo ou de regresso famlia de origem, uma resposta de carcter ( par-
tida) definitiva para a criana ou jovem que acolhida, o que no significa que no seja possvel em qualquer momento, encaminh-la para a situaoque se mostre mais adequada ao seu desenvolvimento harmonioso, nomeadamente o retorno famlia natural, adopo ou colocao familiar (D.L.2/98, de 2 de Janeiro).
13 Vid Decreto-Lei n. 120/98, de 8 de Maio e Lei n. 9/98, de 18 de Fevereiro.
Acolhimento N NEquipamentos Acolhidos
Resposta deEmergncia Unidades de Emergncia (U.E.)* 31 58Resposta deAcolhimento Casas de Acolhimento Temporrio 56 804Temporrio (CAT)*
Acolhimento Familiar** 3399 4887Acolhimentode longadurao Lar para Crianas e Jovens* 257 9561
Total 3743 15310
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Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento
Quadro 2 - Lares de crianas e jovens por regio
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
So as regiesNorte e Lisboa e Vale do Tejo aquelas onde existe maior nmero de lares de crianas e
jovens (33% e 31% do total nacional, respectivamente). Segue-se aRegio Centro , onde se situam 16%
do conjunto de lares a nvel nacional. Nas regies dos Aores e do Alentejo existem cerca de 7% e 6%
destas instituies e os restantes 6% de lares de crianas e jovens distribuem-se equitativamente pelas
regies daMadeira e doAlgarve14 .
A distribuio regional das 9561 crianas e jovens que vivem em lar por regio est patente no Qua-
dro 3.
Quadro 3 - Crianas e jovens em lar por regio
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Proporcionalmente, tambm nas regies Norte e Lisboa e Vale do Tejo que se encontram mais crian-
as acolhidas em lar (37% e 23% do total de crianas que vivem em lar, respectivamente), verifican-
do-se, no entanto uma maior tendncia para a institucionalizao de crianas e jovens na regio Norte.
Segue-se a regio Centro, onde existem 20% das crianas que vivem em lar. Nos lares das restantesregies do pas encontram-se acolhidos os restantes 19% crianas e jovens que vivem em lar.
O Quadro 4 mostra-nos que em apenas 25.7% dos lares de crianas e jovens a sua capacidade coin-
cide com o nmero efectivo de acolhidos.
Quadro 4 - Relao entre a capacidade e ocupao dos lares de crianas e jovens
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
De facto, cerca de 60% dos lares de acolhimento de crianas e jovens portugueses tinham, data da
realizao do inqurito, disponveis vagas, sendo que 34% no dispunham de mais do que 5 camas para
acolhimento de situaes de risco infantil ou juvenil. Cerca de 21% destas instituies tinham entre 6
e 20 lugares vagos nas suas instalaes para acolher crianas e jovens, representando os lares que dis-
punham de mais do que 20 lugares vagos apenas 3.5% do total.
No universo portugus dos lares de c rianas e jovens encontrmos tambm instituies sobrelotadas,
nas quais o nmero de acolhidos superava a sua capacidade real de acolhimento. Os lares nestas con-
dies eram 38, o que corresponde a 15.6% do total de lares existentes.
Esta constatao de que quase 75% dos lares de crianas e jovens se encontravam com a sua capa-
cidade excedida ou sub-aproveitada exige alguma reflexo acerca do funcionamento e da eficcia
do sistema nacional de acolhimento de crianas e jovens. Nas situaes de sobrelotao, exigiriam
todas as situaes de risco acolhidas a permanncia numa estrutura que est vocacionada para14 Note-se a existncia de um dficit de informao relativamente distribuio regional dos lares de crianas e jovens de cerca de 3%.
Valores %Norte 84 32.7Centro 42 16.3
LVT 80 31.1Alentejo 17 6.6Algarve 9 3.5Aores 17 6.6Madeira 8 3.1Total 257 100.0
Valores %Norte 3530 36.9Centro 1922 20.1LVT 2243 23.5Alentejo 570 6.0Algarve 429 4.5
Aores 488 5.1Madeira 379 4.0Total 9561 100.0
N %sobrelotao entre 10 a 21 crianas/jovens 5 1.9sobrelotao entre 5 a 9 crianas/jovens 7 2.7sobrelotao entre 1 a 4 crianas/jovens 28 10.9ocupao total do lar 66 25.7entre 1 a 5 vagas no lar 88 34.2
entre 6 a 10 vagas no lar 30 11.7entre 11 a 20 vagas no lar 24 9.3entre 21 a 46 vagas no lar 8 3.1mais de 50 vagas no lar 1 0.4Total 257 100.0
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substituir, de forma permanente, a famlia de origem destas crianas e jovens, por impossibilida-
de ou incapacidade desta de assumir as suas funes parentais? No poderiam algumas destas
situaes ser encaminhadas para os outros nveis do sistema (adopo ou famlias de acolhimen-
to)? Ou, por outro lado, reflectir esta sobrelotao necessidades de instalao de novos equipa-mentos? Por outro lado, ainda, que significado ter a existncia de cerca de 151 lares (60% do
total) que dispunham de vagas nas suas instalaes que no se encontravam preenchidas no
momento da inquirio? Estas so, parece-nos, as primeiras questes que podemos levantar rela-
tivamente aos lares de acolhimento permanente de crianas e jovens em resultado deste trabalho
de investigao.
2. Objectivos e princpios de funcionamento dos Lares de Crianas e Jovens
() deve ser estimulado o fortalecimento ou o restabelecimento das relaes
familiares como condio para o equilbrio afectivo e emocional das crianas/jovens().
As crianas/jovens devem ter acesso a todos os recursos da comunidade e participar nas iniciativas que
na mesma forem promovidas.
(Lares para Crianas e Jovens,DGAS, s.d.)
A partir dos resultados no processo de investigao sobre as caractersticas dos lares de crianas e
jovens, e no sentido de lhes conferir um fio condutor, foi nossa inteno estabelecer uma tipologia de
lares de crianas e jovens, construda a partir das caractersticas do seu funcionamento.
A filosofia de funcionamento de uma instituio define-se, em termos tericos, a partir de dois indica-dores: os princpiospor que se rege a sua actuao e os objectivos para que esta se dirige. Este sero
os dois focos que manteremos apontados para a realidade dos lares de crianas e jovens neste proces-
so de construo da sua tipologia.
Para definir os princpios e os objectivos dos diversos lares de acolhimento definitivo para crianas e
jovens em risco tomaremos como ponto de partida os princpios e os objectivos gerais legalmente defi-
nidos para este tipo de instituio. Ou seja, o quadro terico referencial desta anlise ser o dever ser
genrico do funcionamento destas instituies, que as define como estruturas sociais que tm como
objectivo o acolhimento de crianas e jovens, tendo como princpio genrico o propor-
cionar de estruturas de vida to aproximadas quanto possvel s das famlias, com vista ao
seu desenvolvimento fsico, intelectual e moral e sua insero na sociedade15
. Esta tarefapassa pelo (re)estabelecimento de laos afectivos e e mocionais, quer com os tcnicos e pares que cons-
tituem a nova famlia da crianas e/ou jovem acolhido, quer com as famlias de origem (quando tal no
se revela desaconselhvel, do ponto de vista do interesse da prpria criana), quer ainda com a comu-
nidade envolvente, nas actividades da qual as crianas e jovens acolhidos devem ser estimulados a par-
ticipar.
Detectamos, nesta definio dos objectivos e princpios genricos dos lares de crianas e jovens, um
tringulo de relaes que se estabelece a partir do lar, no contexto do acolhimento institucional infan-
til e juvenil, entre a instituio, a famlia e a comunidade . No seu dever ser, os trs vrtices inter-
relacionam-se entre si.
Figura 2 - Tringulo relacional ideal no acolhimento institucional de crianas e jovens
Em funo deste tringulo de relaes, possvel definir-se dois eixos, no cruzamento dos quais defi-
niremos a tipologia de lares de crianas e jovens. O primeiro eixo diz respeito ao tipo de relao que
o lar de crianas e jovens estabelece com as famlias de origem das crianas e jovens que aco-
lhe, que vai da relao de proximidade relao de afastamento.
LAR
COMUNIDADE FAMLIA
15 Cf. Art 2 do Decreto Lei n2/86, de 2 de Janeiro.
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Figura 3 - Eixo de relacionamento entre o lar e as famlias das crianas acolhidas em lar
O segundo eixo que podemos delinear a partir do tringulo de relaes que subjaz da definio normativa do
funcionamento dos lares de crianas e jovens concerne ao tipo de relao que a instituio estabelece
com a comunidade envolvente e que vai de uma relao de abertura a uma relao de isolamento.
Figura 4 - Eixo de relacionamento entre o lar e a comunidade envolvente
Do cruzamento destes dois eixos, que traduzem princpios e objectivos de funcionamento, obtemos uma
tipologia de lares de crianas e jovens, construda em funo das caractersticas do seu funcionamento.
Figura 5 - Tipologia dos lares de crianas e jovens em funo dos eixos de relacionamento
De facto, os lares de crianas e jovens que so abertos comunidade envolvente (i.e., que permitem a
participao das crianas e dos jovens acolhidos nos eventos da comunidade, assim como promovem a
participao desta nas suas prprias actividades) e que, em simultneo, promovem, nos seus princpio,
um afastamento das crianas que acolhem face s suas famlias de origem, tm uma filosofia de fun-cionamento que apelidamos de Incorporao. Este tipo de instituio parece, de facto, incorporar em
si, enquanto instituio, a criana ou o jovem como seu, fazendo tbua rasa das suas origens fami-
liares, ainda que reconhea a importncia das contactos estreitos com a comunidade envolvente. Estes
lares apenas promovem o relacionamento entre dois vrtices do tringulo de relaes.
Figura 6 - Tringulo de relacionamento dos lares de Incorporao
Outros lares existem que no promovem, nem a proximidade de relaes entre a criana ou o jovem
acolhido e a sua famlia de origem, nem entre este e a comunidade envolvente do lar onde se encontra
a residir. A filosofia a da Institucionalizao, i.e. do acolhimento em funo da instituio, sem que
se tenham em conta necessidades afectivas e de relacionamento exterior, necessrias ao desenvolvi-
mento e bem-estar das crianas e dos jovens acolhidos. O tringulo que representa este tipo de lar no
tem arestas.
Figura 7 - Tringulo de relacionamento nos lares de Institucionalizao
PROXIMIDADE
FAMLIA
PROXIMIDADE
FAMLIA
AFASTAMENTO
DA FAMLIA
AFASTAMENTO
DA FAMLIA
ABERTURA
COMUNIDADE
ISOLAMENTO
DA COMUNIDADE
ABERTURA
COMUNIDADE
Acompanhamento Incorporao
InstitucionalizaoAcolhimento
ISOLAMENTO
DA COMUNIDADE
LAR
COMUNIDADE FAMLIA
LAR
COMUNIDADE FAMLIA
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Outros lares existem em que, por princpio, se privilegia a manuteno e preservao da proximidade
da criana sua famlia de origem, em detrimento da abertura comunidade. Nestes lares, parece
fazer-se um Acolhimento para preservar a criana ou jovem do exterior, fortalecendo apenas uma
das arestas do tringulo de relaes.
Figura 8 - Tringulo de relacionamentos nos lares de Acolhimento
Contamos ainda com um ltimo tipo de lar de crianas e jovens cuja filosofia de funcionamento a de Acom-
panhamento das crianas e jovens que l vivem, proporcionando-lhes e estimulando a proximidade com a
sua famlia de origem, ao mesmo tempo que se mantm abertos comunidade envolvente, quer na participa-
o das crianas e jovens que acolhe nas actividades promovidas por esta, quer permitindo a participao
comunitria nos eventos por si realizados. Este tringulo de relaes entre o lar, as famlias de origem e a
comunidade o que mais coincidncias apresenta com o modelo ideal para este tipo de instituio.
Figura 9 - Tringulo de relacionamentos nos lares de Acompanhamento
Identificmos, assim, a partir desta tipologia construda em funo de indicadores de funcionamento,
quatro tipos de lares: oslares de Incorporao , oslares de Institucionalizao , oslares de Aco-
lhimento e oslares de Acompanhamento.
Adiante retomaremos esta tipologia, com o intuito de, em funo dela, quantificar a realidade nacional
dos lares de crianas e jovens.
1. Instalaes e equipamentos dos lares
Iniciamos esta abordagem s instituies de acolhimento de crianas e jovens pela caracterizao do
indicador mais visvel das condies de vida que proporcionam a quem acolhem: o tipo de edifcio
onde se encontram instalados e as suas condies de habitabilidade, quer do exterior quer no inte-rior do mesmo.
O Quadro 5 mostra-nos que os lares de crianas e jovens portugueses se encontram instalados, maio-
ritariamente, emprdios de habitao de utilizao exclusiva (62%).
Quadro 5 - Tipo de edifcio onde se encontram instalados os lares de crianas e jovens16
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
LAR
COMUNIDADE FAMLIA
LAR
COMUNIDADE FAMLIA
16 No dispomos de informao acerca do tipo de edifcio onde se encontram instalados 7 lares de crianas e jovens, o que corresponde a cerca de 3% dototal de lares existentes no pas.
Valores %Prdio de habitao deutilizao exclusiva 156 62.4Prdio de habitaod e u til iz a o p arc ia l 2 8 1 1. 2Edifcio histrico 33 13.2
Pr-fabricado 4 1.6Outro 29 11.6Total vlido 250 100.0
No respostas 7Total 257
III-Caracterizao
e Dinmicasde Funcionamentodos Lares de Crianase Jovens
III-Caracterizao
e Dinmicasde Funcionamentodos Lares de Crianase Jovens
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Aos prdios de utilizao pelo lar seguem-se, em termos de representatividade, os edifcios histricos
como albergue do acolhimento de crianas e jovens (13%). Registe-se ainda a relativa importncia dos
prdios de habitao de utilizao parcial neste contexto (11% do total) e a existncia de alguns lares
de crianas e jovens a funcionar em edifcios pr-fabricados (cerca de 2% do total) ou noutro tipo deedifcio (12%), como hospitais, quintas, conventos, palacetes, vivendas, entre outros.
A existncia de lares a funcionarem em edifcios pr-fabricados, em hospitais ou em instalaes provi-
srias, ainda que no tenham grande representatividade estatstica, indiciam alguma desadequabilida-
de entre a funo educativa dos lares e os espaos onde se encontram instalados, apesar de este pare-
cer apenas ser confirmvel com uma avaliao qualitativa e mais pormenorizada destas situaes.
Que aspecto apresentam estes edifcios do seu exterior?
Quadro 6 - Aspecto exterior do edifcio onde se encontram instalados os lares
de crianas e jovens
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
A grande maioria das instituies que efectuam um acolhimento de carcter permanente crianas ejovens encontra-se instalada em edifcios que se considera estarem bom estado (68%), existindo 59
lares que se considerou apenas necessitarem de obras de limpeza ou manuteno (cerca de 24%
do total de lares caracterizados a este nvel17).
Apesar deste panorama favorvel no que diz respeito s condies de habitabilidade dos edifcios que aco-
lhem crianas e jovens, regista-se a existncia de 20 destes lares que funcionam em edifcios considera-
dos degradados, 7 dos quais necessitam de obras estruturais. Os restantes edifcios degradados que
albergam instituies desta natureza necessitam de obras pontuais (5% da totalidade dos lares).
As obras estruturais exteriores so, afinal, sentidas em que tipo de edifcio? Isto , que tipo de edifciose encontra em pior estado de degradao?
Quadro 7 - Aspecto exterior do lar em funo do tipo de edifcio
onde se encontra instalado
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMT, 1998/99
No que diz respeito ao aspecto exterior, verifica-se que os edifcios onde se encontram instalados os
lares de crianas e jovens que se encontram mais degradados so os prdios de habitao de utiliza-
o exclusiva (metade dos 4 edifcios que precisam de obras estruturais), os edifcios pr-fabricados
(25%) ou outro tipo de edifcio no especificado (25%). A necessidade de obras pontuais neste tipo
de edifcio sentida tambm nos lares que se situam emprdios de habitao de utilizao exclusiva(75% do total de edifcios nestas condies). De igual modo, e porque este o tipo de edifcio mais
representado, os lares que parecem encontrar-se instalados nos edifcios que, do seu exterior, se encon-
tram em melhor estado dizem tambm respeito a prdios de habitao de utilizao exclusiva do lar
(50%) ou a outro tipo de edifcio (13%). Cerca de metade dos edifcios que necessitam de obras de
manuteno ou limpeza so prdios de habitao de uso exclusivo do lar, sendo que existem edifcios
histricos que desempenham esta funo de acolhimento de crianas e jovens a necessitar do mesmo
tipo de reparao (cerca de 23%).17 Refira-se que 8 dos 257 lares de crianas e jovens existentes (3%) no foram caracteriz ados em funo do seu aspecto exterior.
Valores %Degradado, necessitandode obras estruturais 7 2.8Degradado, necessitandode obras pontuais 13 5.2Necessitado de obras delimpeza/manuteno 59 23.7Em bom estado 170 68.3Total 249 100.0No respostas 8
Total 257
Aspecto exterior do edifcioDegradado Degradado,
necessitando necessitando Necessitando de obrasde obras de obras de Em bom
estruturais pontuais limpeza /manuten o estado Total
Tipo Prdio de habitao Valores 2 3 18 50 73de de utilizao exclusiva % 50.0% 75.0% 51.4% 61.7% 58.9%edifcio Prdio de habitao Valores 4 9 13
de utilizao parcial % 11.4% 11.1% 10.5%Edifcio histrico Valores 8 9 17
% 22.9% 11.1% 13.7%Pr-fabricado Valores 1 1 2% 25.0% 2.9% 1.6%
Outro Valores 1 1 4 13 19% 25.0% 25.0% 11.4% 16.0% 15.3%
Total Valores 4 4 35 81 124% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
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Se o aspecto exterior do edifcio onde se encontram instalados os lares de crianas e jovens impor-
tante como indicador das condies de vida que estas instituies proporcionam aos jovens que aco-
lhem, o seu aspecto interior revela-se ainda mais significativo no que diz respeito natureza do aco-
lhimento que efectuado por instituies que tm por objectivo a reproduo das condies de vida
vividas no seio de uma famlia.
Quadro 8 - Aspecto interior do edifcio onde se encontram instalados os lares
de crianas e jovens
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
A tendncia registada no que diz respeito ao aspecto exterior dos edifcios onde se situam os lares de
crianas e jovens reproduz-se no que concerne ao seu aspecto interior: a grande maioria dos lares pro-
porcionam boas condies de vida no interior das suas casas s crianas e jovens que acolhem (60%),
ainda que cerca de 23% da totalidade destas instituies necessite de proceder a obras de manu-
teno e limpeza no interior dos edifcios que ocupam.
Em relao ao aspecto exterior dos edifcios, a grande alterao na avaliao da qualidade interior dos
edifcios regista-se no que diz respeito necessidade de obras estruturais: no interior dos edifciosesta necessidade significativamente mais elevada do que em relao ao seu aspecto exterior (so 27
os lares onde esta necessidade sentida, mais 10 do que os lares onde se sente a necessidade de obras
exteriores estruturais).
Quadro 9 - Aspecto interior do lar em funo do tipo de edifcio
onde se encontra instalado
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMT, 1998/99
No que concerne ao aspecto interior do edifcio onde o lar se encontra instalado, a degradao
parece dizer respeito essencialmente a prdios de utilizao exclusiva do lar (54% necessita de
obras estruturais e 50% de obras pontuais) e a edifcios histricos (cerca de 31% e 33% respec-
tivamente). Os edifcios que se encontram em melhor estado no que diz respeito ao seu aspecto
interior dizem tambm respeito essencialmente a prdios de habitao de utilizao exclusiva
(64%).
Temos vindo a proceder caracterizao dos edifcios onde os lares de crianas e jovens se encontram
instalados, em termos do seu estado de degradao, externo e interno. Resta-nos caracterizar o tipo de
divises e equipamentos de que estas instituies dispem. A Figura 10 apresenta-se-nos eluci-dativa.
Valores %Degradado, necessitandode obras estruturais 27 10.7Degradado, necessitandode obras pontuais 17 6.7Necessitado de obras delimpeza/manuteno 57 22.5Em bom estado 152 60.1Total 253 100.0
No respostas 4Total 257
Aspecto exterior do edifcioDegradado Degradado,
necessitando necessitando Necessitando de obrasde obras de obras de Em bom
estruturais pontuais limpeza/m anuteno e sta do Tot al
Tipo Prdio de habitao Valores 7 3 18 46 74de de utilizao exclusiva % 53.8% 50.0% 52.9% 63.9% 59,2%edifcio Prdio de habitao Valores 1 4 8 13
de utilizao parcial % 16.7% 11.8% 11.1% 10,4%Edifcio histrico Valores 4 2 5 6 17
% 30,8% 33.3% 14.7% 8.3% 13,6%Pr-fabricado Valores 1 1 2
% 7.7% 2.9% 1.6%Outro Valores 1 6 12 19
% 7.7% 17.6% 16.7% 15,2%Total Valores 13 6 34 72 125
% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0% 100.0%
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Figura 10 - Equipamentos e divises existentes nos lares de crianas e jovens (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMT, 1998/99
Comecemos pelos alojamentos onde as crianas e jovens acolhidos pernoitam: apenas 36% dos lares
de crianas e jovens dispem de quartos individuais; por seu turno, os quartos partilhados so uma
realidade existente em todas as instituies, sem excepo. Se por um lado esta constatao poderia,
partida, indiciar alguma negligncia pelas questes da privacidade das crianas e jovens acolhidos, por
outro lado, a partilha do espao de dormir uma realidade presente na maioria das famlias portugue-
sas. No entanto, em mdia, nos quartos partilhados nos lares, coabitam 4,9 crianas e/ou jovens, o que
se nos afigura como um nmero superior ao nmero mdio de crianas a dormirem no mesmo quarto
nas famlias portuguesas.
Quadro 10 - Escales de crianas em coabitao nos quartos partilhados dos lares
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMT, 1998/99
De facto, na maioria dos lares de crianas e jovens, os quartos so partilhados por entre 4 a 7 crianas
(45,7%), ainda que num nmero muito significativo de situaes, nestes quartos no coabitem mais de
3 crianas e /ou jovens. De mencionar ainda a existncia de lares a cujos quartos partilhados podemos
atribuir a designao de camaratas: em 11,8% destas instituies dormem mais de 8 crianas no
mesmo quarto, podendo este nmero ascender a 18, 19 ou at a 25 crianas.
Quanto aos espaos de ocupao de tempos livres das crianas e jovens acolhidos, refira-se a existncia de
salas de convvio em 96% dos lares existentes, de salas de estudo em 90% destas instituies e de espa-
os de recreio em cerca de 87%. Esta elevada representatividade dos espaos de ocupao de tempos
livres indicia a importncia conferida pelas instituies a esta dimenso da vida das crianas e jovens.
Os espaos relativos alimentao so, nestes lares, a cozinha e a sala de jantar. A primeira existe
em 95% dos casos, constatao que conduz ilao de que existiro alguns lares (5% do total) que no
confeccionam as refeies nas instalaes do lar, assim como existem cerca de 5% destas instituies
que no dispem de sala de jantar. Onde sero, nestes casos, tomadas as refeies?
Nos lares de crianas e jovens existem tambm instalaes para o pessoal auxiliar da instituio: 24% des-
tes lares no dispem deste equipamento. Onde ficaro, nestes lares, alojadas as pessoas que deveriam acom-
panhar em permanncia as crianas e jovens no lar? Ou no sero estes acompanhados em permanncia?
Uma outra constatao interessante diz respeito existncia de quartos de apoio a familiares das
crianas e jovens que se desloquem de longe para os visitarem. No sentido de que no sejam
as dificuldades de alojamento o impeditivo para a manuteno de contactos frequentes com as famlias
de origem, este tipo de equipamento est presente em 31% da totalidade dos lares de crianas e jovens.
Esta prtica, ainda que no generalizada, reflecte linhas de actuao que valorizam a participao dafamlia no projecto de vida da criana ou jovem e a manuteno de laos afectivos.
Apenas cerca de 18% da totalidade dos lares se encontra dotado de acessibilidades para deficien-
tes, apesar de 134 das 257 instituies deste tipo acolherem, pelo menos, uma criana ou jovem por-
tador de deficincia18. No entanto, o derrube das barreiras arquitectnicas seria desejvel tambm para
o acesso a visitantes externos ao lar.
18 Note-se, no entanto, que estes nmeros incluem todo o tipo de deficincia, mesmo aqueles que no exigem o derrube de barreiras arquitectnicas.
N %entre 1 a 3 crianas 79 42.5entre 4 a 7 crianas 85 45.7entre 8 a 10 crianas 13 7.0entre 11 a 13 crianas 3 1.6entre 14 a 16 crianas 1 0.5mais de 16 crianas 5 2.7Total 186 100.0No respostas 71
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No que diz respeito ao nmero de cada uma destas instalaes nos lares de crianas e jovens, refi-
ra-se que, em mdia, existem cerca de 5 quartos individuais nestas instituies, 10 quartos partilhados;
2salas de convvio, 2salas de estudo e 2 espaos de recreio em mdia, por instituio; e cerca de 9 casas
de banho, 2 cozinhas e 2 salas de jantar por lar. O nmero mdio de gabinetes tcnicos nos lares de
crianas e jovens de 2, assim como a mdia de quartos de apoio a familiares das crianas e jovens aco-
lhidos. Nestes lares existem ainda, aproximadamente 4 quartos para o pessoal de acompanhamento, 3
espaos para apoio e 3 arrecadaes.
Caracterizado o espao fsico onde o lar se encontra instalado, resta-nos proceder a uma breve carac-
terizao do espao envolvente. Com que tipo de equipamento exterior estas instituies mantm
uma relao de proximidade?
Figura 11: Proximidades com o lar (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMT, 1998/99
O aspecto que mais se destaca deste panorama de proximidades que apenas cerca de 3% dos laresexistentes se encontrarem isolados, sem ter nas suas imediaes uma zona habitacional19. A grande
maioria destas instituies est enquadrado em reas residenciais (cerca de 97%), assim como em
zonas onde existem estabelecimentos de ensino (94%) e acessibilidade a transportes pblicos
(cerca de 93% do total de lares de crianas e jovens dispem desta facilidade). Os estabelecimentos
de sade encontram-se prximos destas instituies em cerca de 89% das situaes, assim como os
equipamentos desportivos. Restam os equipamentos culturais, prximos dos lares de crianas e
jovens em 80% dos casos e os estabelecimento de formao profissional cuja proximidade aos
lares se verifica em cerca de 64% das situaes.
2. Recursos humanos no acolhimento de crianas e jovens
A quantidade e caractersticas dos recursos humanos de que estas instituies dispem condicionam o
tipo de trabalho que efectuam. Assim, o conhecimento dos meios tcnicos e humanos que existem nos
lares de crianas e jovens so um bom indicador do seu funcionamento. Quanto mais elevado for o nvel
tcnico das equipas, mais elevado se poder exigir que seja o projecto educativo da instituio para as
crianas acolhidas.
No Quadro 11 faz-se a anlise da formao tcnica do director do lar, a figura que, legalmente,
desempenha a funo desubstituio permanente ou temporria dos pais das crianas e jovens, pela sua
idoneidade, experincia e sensibilidade 20.
Que formao tm, ento, os directores dos lares de crianas e jovens?
Quadro 11 - Formao acadmica superior do director do lar
Fonte: Inqurito s Crianas e Jovens que vivem em lares, CNPCJR/IDS/IGMTS,1998/99
O aspecto mais relevante do panorama da formao que detm os directores dos lares de crianas e
19 Para maior facilidade na insero das crianas e jovens nas estruturas da comunidade devem os lares estar de preferncia localizados na zona habita-cional de aglomerados urbanos e prximos de estabelecimentos de ensino e de formao profissional. (Art. 7 do DL 2/86, de 2 de Janeiro) 20 Cf. Art 3 do Decreto Lei n2/86, de 2 de Janeiro.
Valores %No tem formaoacadmica superior 33 12.9Psicologia 10 3.9Servio Social 28 11.0Sociologia 3 1.2Educao Social 6 2.4
Educao de infncia 30 11.8Outra 145 56.9Total 255 100.0
No respostas 2Total 257
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jovens o facto de uma percentagem significativa dos responsveis por estas instituies no terem for-
mao acadmica superior (13% do total). Aqueles cuja formao superior distribuem-se essencial-
mente pelas reas da Educao de Infncia (12%) e pelo Servio Social (11%); regista-se tambm
a existncia de directores de lares para crianas e jovens cuja formao se situa na rea da Psicolo-
gia (cerca de 4% do total), da Educao Social (2%) e da Sociologia (apenas 1%). No entanto, o
peso mais significativo no que diz respeito s reas de formao dos responsveis pelos lares de infn-
cia e juventude dizem respeito a outras dimenses de conhecimento. Quais so, ento, estas outras
reas?
possvel distinguir 6 outras reas de formao superior dos responsveis por estas instituies, a
saber:Educao (onde se incluem formaes diversas na rea da educao infantil, especial e pedago-
gia), Sade (enfermagem, medicina, farmcia),Humanidades (letras, direito, histria), Filosofia/Teolo-
gia, Matemticas e Engenharia/Arquitectura. Alguns destes lares encontram-se, assim, sob a responsa-
bilidade de indivduos cuja formao pouco se enquadra no mbito das cincias da educao ou sociais
e humanas.
Um outro aspecto importante no que diz respeito ao papel do director destas instituies, para alm da
sua formao, a sua dedicao ao lar, no que diz respeito ao tempo a este consagrado, pela importn-
cia das funes educativas e de tutela que desempenham.
Figura 12 - Tipo de dedicao do director do lar (em %)
Fonte: Inqurito s Crianas e Jovens que vivem em lares, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Constatamos que em cerca de 80% destes lares a dedicao do seu director instituio em regime
de exclusividade, sendo que os restantes 20% contam com uma dedicao do seu responsvel em acu-
mulao com outras actividades.
Quadro 12 - Relao entre o tipo de dedicao do director ao lar e a dimenso do lar
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
De destacar o facto de mais de metade dos lares cujo director exerce as suas funes em acumulao
com outras (56%) acolher mais do que 25 crianas, constatao que se revela indicador de alguma insu-
ficincia no acompanhamento destas crianas e jovens por parte daquele que , em termos legais, o res-
ponsvel por elas.
Quadro 13 - Relao entre o tipo de dedicao do director ao lar e a sua
formao acadmica
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Tipo de dedicao do Director (a) InstituioDedicao exclusiva Em acumulao Total
N % N % N %Capacidade at 10 crianas 9 4.5% 4 8.0% 13 5.2%do lar entre 11 a 15 crianas 13 6.5% 10 20.0% 23 9.2%
entre 16 e 25 crianas 47 23.6% 8 16.0% 55 22.1%entre 26 e 35 crianas 28 14.1% 8 16.0% 36 14.5%entre 36 e 45 crianas 31 15.6% 7 14.0% 38 15.3%entre 46 e 55 crianas 22 11.1% 3 6.0% 25 10.0%entre 56 e 65 crianas 17 8.5% 17 6.8%entre 66 e 75 crianas 15 7.5% 15 6.0%entre 76 e 85 crianas 6 3.0% 6 12.0% 12 4.8%entre 86 e 99 crianas 4 2.0% 4 1.6%entre 100 e 150 crianas 7 3.5% 4 8.0% 11 4.4%
Total 199 100.0% 50 100.0% 249100.0%
Tipo de dedicao do Director (a) InstituioDedicao e xclusiva Em a cumulao TotalN % N % N %
Formao No tem formao acadmicaacadmica superior 31 15.3% 2 4.0% 33 13.1%do Psicologia 7 3.5% 3 6.0% 10 4.0%Director Servio Social 19 9.4% 9 18.0% 28 11.1%do Lar Sociologia 3 1.5% 3 1.2%
Educao Social 6 3.0% 6 2.4%Educao de infncia 28 13.9% 2 4.0% 30 11.9%Outra 108 53.5% 34 68.0% 142 56.3%
Total 202 100.0% 50 100.0% 252100.0%
80
20
Dedicao exclusiva
Em acumulao
Tipo de dedicao do(a) Director(a)
instituio
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De mencionar, ainda, que os directores de lar cuja dedicao se efectua em regime de acumulao tm
sobretudo outras formaes acadmicas (68%) que, como vimos, se revelaram nem sempre adequadas
funo que desempenham, seguidos dos directores de lar que so tcnicos de Servio Social (18%).
Em regime de exclusividade exercem as suas funes directores de lar com outras formaes acadmi-
cas, tambm em maioria (53,5%), seguidos dos directores de lar sem formao acadmica superior
(15,3%), dos educadores de infncia ( (13,9%) e dos tcnicos de servio social (9,4%).
As tarefas de acolhimento e acompanhamento das crianas e dos jovens que vivem em lar dependem,
no s do trabalho do director do lar como da restante equipa tcnica de que a instituio se encon-
tra dotada. A prpria legislao refere expressamente que o responsvel pela instituio deve recorrer
ao auxlio de tcnicos competentes para o desempenho das suas funes21.
A Figura 13 mostra-nos a composio das equipas dos lares de crianas e jovens por reas tcnicas.
Figura 13 - Constituio da equipa tcnica do lar (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
As reas tcnicas melhor representadas nestas equipas so as de Psicologia e de Servio Social:
cerca de 68% dos lares de crianas e jovens tm tcnicos de cada uma (ou em ambas, em simultneo)
destas reas. Estas instituies contam tambm com um nmero significativo de Educadores de
Infncia nas suas equipas (47% dos lares de crianas e jovens), bem como de Educadores Sociais
(41%). A Pediatria e a Sociologia so outras reas tcnicas representadas nestas equipas, ainda que
com menor relevncia estatstica (cerca de 12% e 11%, respectivamente)22.
No total, encontramos 1124 indivduos com formao tcnica, o que representa um rcio de 4,1 tcni-
cos por lar e de 8,5 crianas por tcnico.
Em 75% dos lares de crianas e jovens, estas equipas tcnicas dos lares beneficiam de formao
promovida pelos lares onde desempenham a sua actividade. Em 63% das situaes, esta formao
promovida em funo das necessidades tcnicas sentidas pela instituio e em 12% dos lares
a promoo e/ou participao em aces de formao depende da iniciativa dos prprios tcnicos.
Quadro 14 - Promoo pelo lar de formao da equipa tcnica
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Existem, no entanto, cerca de 25% destas instituies que no promovem formao tcnica equipa
com que trabalham em nenhuma circunstncia.
O funcionamento quotidiano dos lares de crianas e jovens, ao nvel da sua manuteno, refeies, pro-
cedimentos administrativos e outras tarefas depende ainda de outras valncias humanas sem formao
tcnica especfica. A este pessoal auxiliar compete a garantia do atendimento necessrio s crianas e
jovens durante 24 horas, a garantia da manuteno da higiene, da limpeza do lar e do funcionamento
da cozinha e dos outros servios de apoio.
21 Ibidem
22 No total nacional dos lares de crianas e jovens, registam-se as seguintes mdias de tcnicos de cada uma das reas: 0,5 psiclogos; 0,5 assistentessociais; 0,3 educadores de infncia; 0,2 educadores sociais; 0,1 socilogos e 0,1 pediatras. Os valores inferiores unidade explicam-se pela inexistn-cia de tcnicos destas reas em alguns lares e pela sua reduzida representao nas restantes instituies. Registe-se ainda que dispomos de um dficitde informao de cerca de 14%, o que corresponde falta de informao de 35 lares no que composio da equipa tcnica diz respeito.
Valores %Sim, mediante neces sida de sus citada pelos pr prio s 30 12,0Sim, mediante necessidade sentida pelo Lar 158 63,2No promove formao 62 24,8Total 250 100,0
No resposta 7Total 257
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Figura 14 - Outros membros da equipa do lar (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Os elementos auxiliares ao funcionamento dos lares de crianas e jovens situam-se mais frequente-
mente ao nvel das questes da alimentao e da limpeza: cerca de 81% destas instituies tem cozi-
nheiro(s) na composio da sua equipa e cerca de 77% dos lares contam com o trabalho de auxilia-re(s) de limpeza para a manuteno das suas instalaes. Cerca de 60% dos lares conta com
vigilante(s) para o trabalho de acompanhamento das crianas e dos jovens acolhidos, 54% com pes-
soal administrativo e 42% com contabilista(s). Existem ainda lares que incluem na sua equipa pes-
soal voluntrio (36%), motoristas (34%) e ecnomos (19%)23.
Sendo esta equipa de pessoas, com ou sem formao tcnica, quem directa e diariamente lida com as
crianas e jovens que vivem nos lares, importante conhecermos que mecanismos so accionados no
sentido de garantir que a sua sanidade, fsica e psicolgica, no ponha em causa o processo de desen-
volvimento saudvel dos jovens acolhidos.
Figura 15 - Observao mdica do pessoal do lar pelo menos 1 vez por ano (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
A Figura 15 indica-nos que em pouco mais de metade da totalidade dos lares de crianas e jovens
(52%) exigido sua equipa, no mnimo, uma observao mdica anual. Nas restantes instituies esta
exigncia no parece existir.
Reforando esta tendncia, a apresentao de comprovativos mdicos sanidade fsica e psquica dos
membros das equipas dos lares de crianas e jovens obrigatria em apenas cerca de 38% da totali-
dade das instituies, como o demostram a Figura 16.
Figura 16 - Obrigatoriedade de apresentao de atestado sanitrio (em %)
Fonte: Inqurito s Crianas e Jovens que vivem em lares, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Os restantes cerca de 62% de lares no exige a apresentao deste comprovativo, pelo que, desta fatia
de instituies, no existe qualquer garantia clnica de que o estado de sade daqueles que mais dire-
ctamente trabalham com as crianas e jovens acolhidas se adequa s funes que desempenham.23 As mdias de elementos auxiliares existentes no total nacional de lares so ligeiramente superiores mdias referentes s reas tcnicas: 0,8 auxiliaresde limpeza; 0,8 cozinheiros; 0,6 vigilantes (ou prefeitos, nos lares da Regio Autnoma dos Aores); 0,5 administrativos, 0,4 contabilistas; 0,4 volunt-rios; 0,3 motoristas e 0,2 ecnomos.
52,1
47,9
Sim
No
Observao mdica dopessoal do Lar
38,3
61,7
Sim
No
Atestado sanitrio (fsico e psquico)
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3. Aspectos jurdico-financeiros dos lares de crianas e jovens
3.1. Estatutos jurdicos, acordos de cooperao e regulamento interno
O Quadro 15 ilustra o panorama nacional no que diz respeito aos estatutos jurdicos dos lares de aco-
lhimento de crianas e jovens.
Quadro 15 - Estatuto jurdico da instituio
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
A grande maioria dos lares de crianas e jovens so Instituies Particulares de Solidariedade
Social (IPSS): so 208 as instituies acolhimento permanente de crianas e jovens que detm este
estatuto jurdico, o que corresponde a 82% do total. Destes, cerca de 37% so Fundaes de Soli-
dariedade Social; 31% so Associaes de Solidariedade Social; 2% so Associaes de
Voluntariado de Aco Social ou Associaes de Socorros Mtuos. Existem ainda lares para
crianas e jovens que so Entidades pblicas (13%), Outras entidades sem fins lucrativos (cerca
de 3% do total), Cooperativas (1%) ou ainda Entidades com fins lucrativos (cerca de 1% do total).
A grande maioria dos lares de crianas e jovens tem os seus estatutos registados na Direco Geral de
Aco Social (DGAS) (81%), como demonstra o Quadro 16.
Quadro 16 - Registo dos estatutos na DGAS
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Apenas 35 destas instituies (15% do total) no registou os seus estatutos na DGAS e, destes, 10 lares
solicitaram j a sua inscrio (4% da totalidade de lares de crianas e jovens).
Um aspecto organizativo importante a adopo ou no de por parte destas instituies de regulamento
interno. Por regulamento interno entende-se o conjunto de normas previamente estabelecidas e fixadas
pelas quais a instituio se rege no seu funcionamento e que do conhecimento partilhado de todos os que
convivem no espao da instituio (crianas e/ou jovens, educadores, auxiliares, etc)25 .
Constatamos que em mais de metade (64%) dos 257 lares para crianas e jovens existentes se produ-
ziu documentao que regulamenta o funcionamento da instituio. Os restantes 36% no dispem de
regulamento interno.
Figura 17 - Adopo de regulamento interno (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Valores %Associaes de Solidariedade Social 79 31.2Associaes de Voluntariado de Aco Social 3 1.2Fundaes de Solidariedade Social 93 36.8Associaes de Socorros Mtuos 3 1.2Irmandades das Misericrdias 30 11.9Outras entidades sem fins lucrativos 7 2.8Entidades com fins lucrativos 2 0.8Cooperativa 3 1.2Entidade pblica 33 13.0
Total 253 100.0No respostas 4Total 257
24 Estes so as cinco formas previstas de que se podem revestir as Instituies Privadas de Solidariedade Social (Decreto-Lei n 119/83, de 25 de Janeiro,Art. 2).
N %Sim 188 80.7No 35 15.0Foi j solicitada
a inscrio 10 4.3Total 233 100.0
No respostas 24Total 257
64,2
35,8
Sim
No
Regulamento interno
25 Cada lar deve ter um regulamento interno onde constem, designadamente os elementos seguintes: a)regras de funcionamento; b) direitos e deveres dascrianas/jovens, nomeadamente no que se refere sua participao na vida do lar; c) direitos e deveres do pessoal; d) direitos e deveres das crianas/jovens;e) horrio e perodos de funcionamento; f) fixao de ementas; g) garantir que os medicamentos e produtos txicos sejam manipulados apenas por pessoalresponsabilizado para o efeito; h) sistema de comparticipao das famlias crianas/jovens. (DGAS: s.d.)
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Os motivos apresentados por estas instituies para a no adopo de regulamento interno so diver-
sos: existem lares que, apesar de no disporem deste dispositivo, consideram-no importante colocando
a hiptese da sua elaborao; outros apresentam o recurso a outros documentos, que funcio-
nam como substitutos do regulamento interno (os estatutos da instituio ou da congregao religio-
sa a que pertence- no caso das instituies canonicamente erectas, ou o Projecto Educativo do lar);
outros lares existem cuja justificao apresentada para a no adopo de regulamento interno reside na
discordncia acerca da sua pertinncia, posio que decorre da filosofia de funcionamento destas
instituies, que visam a reproduo do modelo familiar.
3.1.1. Apoios financeiros
Outro aspecto organizacional importante neste contexto a questo dos apoios financeiros institui-
o, que podem assumir a forma de receitas prprias, de financiamentos oriundos dos acordos de coo-
perao, ou podem ainda seroutras fontes de financiamento.
O Quadro 17 permite-nos concluir que para a maioria dos lares de crianas e jovens (82% do total)
as receitas prprias assumem um peso de entre 0 e 25% do total do seu financiamento.
Quadro 17 - Escales de percentagem de receitas prprias
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
As receitas prprias assumem uma importncia de mais de 75% no bolo de financiamento para apenas
4% dos 257 lares existentes, o que corresponde a apenas 8 lares.
Se as receitas prprias dos lares no assumem pesos significativos no total dos oramento financeiros
dos lares de crianas e jovens, o mesmo no se verifica no que diz respeito ao financiamento pela via
dos subsdios inerentes aos acordos de cooperao, como se pode ver pelo Quadro 18.
Quadro 18 - Escales de percentagem dos acordo de cooperao
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
De facto, cerca de 73% dos lares de crianas e jovens sustenta-se em mais de 75% do total nacional
por via dos acordos de cooperao, sendo irrelevante a percentagem de lares para quem esta fonte definanciamento apenas representa menos de metade da totalidade dos recursos financeiros do lar (cerca
de 17%). Registe-se ainda a existncia de 19 destas instituies cuja sobrevivncia em termos econ-
micos depende na totalidade dos respectivos acordos de cooperao.
Os acordos de cooperao dos lares de crianas e jovens so maioritariamente acordos tpicos (cerca de
82%), representando a atipicidade dos acordos apenas cerca de 7% da totalidade 26. H ainda que con-
siderar a existncia de 3 lares de crianas e jovens cujo acordo se classifica degesto27 e 10% da tota-
lidade dos lares que detm outro tipo de acordo de cooperao.
Valores %entre 0% e 25% 152 82.2entre 26% e 50% 20 10.8
entre 51% e 75% 5 2.7entre 76% e 99% 3 1.6100% 5 2.7
Total 185 100.0No respostas 72Total 257
26 Acerca da natureza dos acordos de cooperao entre as Instituies Privadas de Segurana Social e a Direco Geral de Segurana Social vide Despa-cho Normativo n. 75/92.
27 Os acordos de gesto visam confiar s instituies a gesto de instalaes, servios e estabelecimentos que devam manter-se afectos ao exerccio das acti-vidades do mbito da aco social (). (Despacho normativo n. 75/92, Norma IV)
Valores %entre 0% e 25% 20 9.3entre 26% e 50% 20 9.3
entre 51% e 75% 65 30.2entre 76% e 99% 91 42.3100% 19 8.8
Total 215 100.0No respostas 42Total 257
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Quadro 19 - Modalidade dos acordos de cooperao
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
No que diz respeito a outras fontes de financiamento no especificadas, na totalidade do oramento des-
tas instituies, assumem um peso idntico ao financiamento proveniente de receitas dos prprios lares:
para cerca de 83% da totalidade dos lares de crianas e jovens estas fontes de financiamento indeter-
minadas representam at metade do oramento da instituio.
Quadro 20 - Escales de percentagem de outras fontes de financiamento
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Uma das possveis fontes de financiamento dos lares de crianas e jovens no especificadas (que no
resultam nem de fontes prprias nem dos acordos de cooperao) a contribuio financeira por parte
das famlias de origem das crianas acolhidas.
Quadro 21 - Crianas a frequentar o lar gratuitamente
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Mais de metade dos lares de crianas e jovens (69,6%) tm mais de trs teros das suas crianas aco-
lhidas de forma gratuita, sendo que 13,8% destas instituies acolhe gratuitamente entre 51% e 75%
das crianas que nela vivem. Existe ainda um nmero significativo de lares (16,6% do total) nos quais
menos de metade das crianas acolhidas vivem no lar sem qualquer contribuio da sua famlia28.
3.1.2. Valncias das instituies
Atentemos agora nas valncias que estas instituies tm em funcionamento29.
Figura 18 - Valncias das instituies (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
N %Acordo de gesto 3 1.4Acordo tpico 174 81.7Acordo atpico 14 6.6
Outra 22 10.3Total 213 100.0
No respostas 44Total 257
N %entre 0% e 25% 114 60.3entre 26% e 50% 43 22.8entre 51% e 75% 4 2.1entre 76% e 99% 19 10.1100% 9 4.8Total 189 100.0
No respostas 68Total 257
N %nenhuma criana 6 2.8entre 1% a 25% das crianas acolhidas 21 9.7entre 26 a 50% das crianas acolhidas 9 4.1
entre 51 a 75% d as crianas acolhidas 30 13.8entre 76 a 99% das criana s ac olhidas 102 47.0todas as crianas acolhidas 49 22.6Total 217 100.0
No respostas 40Total 257
28 De referir que, no momento da recolha dos dados, os inquiridores consideraram o abono familiar enquanto prestao familiar, de acordo com o critrioque se trata de uma prestao dirigida famlia no seio da qual reside uma.
29 Sempre que possvel, devem funcionar nos lares outras valncias que sejam compatveis com as suas finalidades e susceptveis de beneficiar os seusutentes e a comunidade em geral. (Art 6 do DL 2/86, de 2 de Janeiro)
Lar femininoLar mistoActividades Tempos LivresLar de IdososOutras
Lar masculinoJardim de infnciaCentro de DiaCentro de ActividadesOcupacionais
0
10
20
30
40
5049,4
34,438,5 36,8
25,9
13,417,4
4
27,9
-
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Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento
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Lares de Crianas e Jovens - Caracterizao e Dinmicas de Funcionamento
A valncia mais representada em termos percentuais nestas instituies o lar feminino: cerca de 50%
das instituies que tm a valncia lar de crianas e jovens tm em funcionamento lares para rapari-
gas30. Segue-se a valncia lar misto com representatividade de cerca de 39% no conjunto das institui-
es, seguida dos jardins de infncia (37%) e dos lares masculinos (34%). As Actividades de Tempos
Livres tm um peso de cerca de 26% e os lares de idosos existem em cerca de 17% das instituies. Os
Centros de Dia e os Centros de Actividades Ocupacionais encontram-se tambm representados no con-
junto das instituies de aco social em 13% e 4% das situaes, respectivamente.
O Quadro 22 permite-nos aferir a percentagem de cada valncia que no tem celebrado acordo de
cooperao com a Segurana Social.
Quadro 22 - Valncias das instituies e respectivos acordos de cooperao
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS,1998/99
Assim, verificamos que as valncias que menos celebram acordos de cooperao so os lares para
crianas e jovens (25% destes lares funciona sem acordo de cooperao) e os Centros de Actividades
Ocupacionais (30% funciona sem acordo de cooperao).
No que problemtica dos lares de crianas e jovens importa reter que, apesar de os lares femininos
serem a valncia que mais funciona sob acordo (apenas para 16% destes lares no foi celebrado acor-
do de cooperao), tanto os lares mistos como os lare s masculinos apresentam um dficit de 33% e 31%,
respectivamente, no que diz respeito celebrao do acordo de cooperao para o seu funcionamento.
Esta constatao pode ser indicador da fragilidade de condies em que os lares de crianas e jovens
funcionam, sem os apoios financeiros regulares por parte da Segurana Social que derivam do acordo
de cooperao. Por outro lado, sem acordo de cooperao, os lares de crianas e jovens encontram-se
a funcionar em situao de relativa autonomia o que, em situaes extremas, pode implicar risco para
as crianas e jovens acolhidos, cujas condies de vida no so observadas por avaliadores externos.
3.1.2.1. rea geogrfica de influncia do lar de crianas e jovens
No que diz respeito aos critrios geogrficos no acolhimento de crianas e jovens, a norma generaliza-
da parece ser a da diversidade concelhia, i.e. a grande maioria das instituies acolhe crianas e jovens
oriundos de outros concelhos ou de outras freguesias (cerca de 28% do total) que no aqueles onde o
lar se situa (69%).
Quadro 23 - rea geogrfica de influncia do lar
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Existem, no entanto, lares que apenas acolhem jovens residentes na freguesia onde o lar se encontra
instalado, ainda que no apresentem peso estatstico relevante (cerca de 4%).
Descritos os aspectos que emolduram e condicionam o funcionamento de uma instituio (a saber: os
espaos, ao nvel das instalaes e dos equipamentos disponveis; os recursos tcnicos e humanos para
o trabalho de acolhimento e acompanhamento dos projectos de vida das crianas e jovens acolhidas; os
aspectos jurdico-financeiros das instituies, que enformam o seu funcionamento), iniciamos agora
uma digresso pela trajectria percorrida por uma criana ou por um jovem nos meandros do acolhi-
mento institucional, desde a fase da sua admisso at altura da autonomizao e auto-suficincia
(que, por norma, coincide com a entrada na vida adulta), passando pela anlise das caractersticas das
condies de vida que os lares proporcionam s crianas e jovens que acolhem.
N de valncias N de valncias c/ Ac. de Cooperao % N valncias s/ Ac. Cooperao %
Lar de crianas e jovens 302 225 74.5 77 25.5
Jardim de infncia 91 76 83.5 15 16.5
Actividades Tempos Livres (ATL) 64 49 76.6 15 23.4Centro de dia 33 26 78.8 7 21.2
Lar de Idosos 43 33 76.7 10 23.3
Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) 10 7 70.0 3 30.0
Outras 69 55 79.7 14 20.3
30 Recorde-se que 54% das crianas e jovens acolhidas em lar so raparigas (5060, no total), sendo os restantes 45% do sexo masculino (4222 rapazes)(vide Crianas e Jovens que vivem em lar: Caracterizao Sociogrfica e Percursos de Vida , p. 22.)
Valores %Exclusivamente a freguesia onde est inserida 8 3.6Totalidade do concelho 62 27.8
Out ros concelhos para al m do concelho em que es t inseri do 153 68. 6Total 223 100.0
No respostas 34Total 257
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4. O processo de admisso das crianas e jovens
De que forma so as crianas e jovens admitidos nestas instituies? Sob que critrios? Que metodo-
logias de acolhimento so adoptadas? Que impacto ter a forma como as crianas e jovens so acolhi-
das nos lares, no que concerne ao seu bem-estar e adaptao ao seu novo meio de vida?
So estas algumas das questes que tentaremos discutir neste captulo.
4.1. Critrios e normas no acolhimento das crianas e jovens
Pela limitao fsica dos espaos para o acolhimento, por um lado, e da capacidade tcnica e humana
de acompanhamento das situaes e dos projectos de vida das crianas e jovens acolhidos, por outro,
parece ter-se tornado uma necessidade destas instituies a definio de critrios para a admisso que
permitam seleccionar os perfis dos jovens acolhidos.
Atentemos, assim, nas prioridades definidas pelas instituies para a admisso das crianas e dos
jovens no seu seio.
Figura 19 - Primeiro critrio de admisso das crianas e jovens no lar (em %)
Fonte: Inqurito aos lares de Crianas e Jovens, CNPCJR/IDS/IGMTS, 1998/99
Em mais de metade dos lares de crianas e jovens (cerca de 55% do total31), o primeiro critrio de selec-
o ao acolhimento o sexo, facto de decorrer da facilidade de acomodamento das crianas e jovens
em camaratas (que, como vimos, a forma mais frequente de acolhimento nestas instituies). Esta
constatao impe-nos, no entanto, uma reflexo acerca dos modos de funcionamento dos lares de
crianas e jovens. que, de facto, o objectivo deste tipo de instituio de reproduo dos ambientes
familiares fica, partida, posto em causa com a adopo do critrio gnero enquanto seleccionador das
admisses. Nas famlias, os dois gneros convivem dentro do mesmo espao domstico, entre irmos
e/ou os membros do casal. Admitindo os lares apenas crianas de um dos gneros, fica-lhes coartado o
convvio domstico com crianas de gnero diferente, o que implica alguma limitao no favorecimen-
to de referncias afectivas diversificadas. Por outro lado, este critrio indicia que as fratrias que
incluem os dois gneros tenham que ser separadas aquando do acolhimento em lar32. Refira-se, contu-
do, que cerca de 39% das instituies de acolhimento para crianas e jovens acolhem ambos os gne-
ros33.
Em segundo plano, surge o tipo de problemtica enquanto critrio seleccionador do acolhimento das
crianas e jovens em lar: em 25% destas instituies este o principal filtro para a seleco. Apesarde encontrarmos a explicao para este facto no potenciar