dinâmicas #1

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ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS JANEIRO 2013

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MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTO | ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS

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Page 1: Dinâmicas #1

E S C O L A A R T Í S T I C A D E S O A R E S D O S R E I S

J A N E I R O 2 0 1 3

Page 2: Dinâmicas #1

FIC

HA

TÉC

NIC

A DINÂMICAS | MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTOPUBLICAÇÃO ANUAL

COORDENAÇÃO: ARTUR GONÇALVES, MARTA CRUZ, MICAELA REIS

COLABORAÇÃO NESTA EDIÇÃOALBERTO TEIXEIRA, ARTUR GONÇALVES, CARLOS RAMOS, CONCEIÇÃO MAGALHÃES, FRANCISCO PROVIDÊNCIA, JAIME SARRÓ, LUCAS PINHEIRO, MADALENA MENESES, MARIA MILANO, MARIA DA LUZ ROSMANINHO, MARIANA RÊGO, MARTA CRUZ, MICAELA REIS, SUSANA AFONSO, SUSANA BRANDÃO, VERA SANTOS E OS ALUNOS AFONSO CASTRO, CARINA CARMO, CÍNTIA SILVA, CLÁUDIA FONTES, ELSA PINTO, GABRIELA MAGALHÃES, INÊS OLIVEIRA, JOANA RIBEIRO, JOÃO MOURA E MATILDE MAIA.

PRODUÇÃO GRÁFICA/ EDIÇÃO DIGITAL: MARTA CRUZ, MICAELA REIS

CONTATO EDITORIAL: [email protected]

PROPRIEDADE: ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REISRUA MAJOR DAVID MAGNO, 139 | 4000-191 PORTOTEL. +351 22 537 10 10

Page 3: Dinâmicas #1

Fronteira é conceito intrínseco da existência.

E sempre foi, e será, desafio para o ser humano.

A começar pelo seu corpo físico, delimitado, não podendo por osmose, ou outro processo qual-

quer, fundir-se com outro, alargando, expandindo assim a sua fronteira, até à chamada descoberta

do Universo que, ainda hoje em dia, se encontra em discussão se é finito, ou não, o desafio de

passar os limites aí está.

E no campo do não físico, sempre ouviu dizer, por exemplo, que a liberdade acaba (estando assim

entre fronteiras) quando e onde se inicia a liberdade de um outro. E quanto mais pugnamos pela

nossa liberdade, logo, logo, uma nova fronteira se lhe aparece.

Neste campo, o do etéreo, será que ao percorremos o caminho dos sonhos, da imaginação, da

criatividade, também encontramos linhas para além das quais é preciso dar o salto? Há pessoas

que não sonham, que têm receio de imaginar seja o que for e então, quanto à criatividade, é um

descalabro. Do seu “centro” à periferia, à fronteira, o espaço é desmesuradamente ínfimo.

No entanto, contrariando, todos os dias se desfazem fronteiras, se alargam os horizontes, aumen-

tando o nosso território, quer seja físico, quer seja espiritual. A ciência descobre e define novos

conceitos. A arte, não digo que a seu desejo, se expande e altera a todo o momento os seus limi-

tes. E quanto à metafísica é só andar por aí e verificar quantas fronteiras já foram desfeitas.

É pois, também, intrínseco ao ser humano, alterar, destruir fronteiras. E quando isto acontece é

também natureza do humano, inventar ou, mais exactamente, descobrir novas fronteiras.

E posto isto, chegamos ao “Design”. Para mim, já não é o espaço a “new frontier”, mas sim a não

aceitação da existência do conceito, da disciplina do “Design”, a fronteira que é preciso atra-

vessar. Pois tudo na vida é desenho. Ela própria, a vida, é consequência do desenho, ou já está

desenhada ou está em vias de o ser.

NOVA FRONTEIRA

CARLOS RAMOSEX-PRESIDENTE DA ASSOCIAÇÃO DE PAIS DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS

DINÂMICAS _ MAGAZINE DE DESIGN DE PRODUTO _ NÚMERO 1

3

Page 4: Dinâmicas #1

Esta frase ainda se deve encontrar no imaginário de

muitos de nós, os que acompanharam as aventuras do

capitão Kirk e da sua tripulação. A fronteira para a qual

se dirigiam era ainda a mítica fronteira dos antigos, a

dos navegadores de quinhentos ou a dos argonautas. Ir

em busca dessa mesma fronteiras era alargá-la o mais

possível, levá-la mais além em nome do conhecimento

e do domínio humano. Fronteiras físicas ou não, reais ou

construídas, temidas e desafiadas. Lembro, na saudosa

Edimburgo das lendas e mistérios, o pub denominado

“World’s End”. À porta, um conjunto de paralelos metáli-

cos anunciam que outrora por ali passava a muralha da

cidade. Nesses tempos o mundo acabava ali. As pes-

soas que viviam dentro da muralha nasciam lá, viviam

lá e morriam lá, sem jamais conhecerem outro mundo.

Nesse mundo pequeno e asfixiante, de parco conheci-

mento onde tudo haveria de parecer eterno e imutável.

Foi preciso derrubar todas as muralhas (as que restam

são ícones nostálgicos dum passado pouco saudoso)

para se perceber que havia mais e mais e sempre mais.

Mas, ai pesadelo de Ícaro, as fronteiras/muralhas exis-

tem mesmo. O nosso planeta é ele próprio limitado, se-

guindo

sempre em frente temos a garantia de regressar ao pon-

to de partida. Só a partida para o espaço, a conquista

da Lua nos garantiu que não será necessário confinar-

mos-nos à Terra. Esta não é o nosso “World’s End”. Mas

não será o espaço outra bola onde nos movemos circu-

larmente? A Terra vive na terceira dimensão, viverá o es-

paço numa outra que desconhecemos? Outra fronteira!

Que dizer das fronteiras que servem para apartar? Para

separar? O muro de Berlim, o muro da Palestina, o muro

da fronteira Mexicana? Dum lado uns e do outro lado

de lá outros. Esses outros que também somos nós para

os que estão do lado de lá. Não nos queremos juntar.

Mas, destes muros pouco se dirá, apodrecem com o

tempo, esboroam-se com as gerações vindouras ávidas

de conhecer e conviver. Há também a fronteira do co-

nhecimento, parecida com a fronteira geográfica porque

se alarga com o tempo, parecida com a fronteira física

porque divide e separa. O positivismo mapeou o conhe-

cimento em zonas objetivamente separáveis que logo a

era pós moderna misturou, miscigenou. Tudo acaba por

se interpenetrar e já não é certo onde começa uma área

de conhecimento e termina outra.

Acabaram-se as fronteiras e sentimos-nos perdidos,

inseguros. As definições caem uma após outra e nós,

EDITORIAL

Page 5: Dinâmicas #1

sem porto de abrigo, sem âncora segura, vamos sendo

empurrados por ventos que não dominamos. O conhe-

cimento não tem fronteiras, em cada dia se acrescenta

mais um segmento, mais uma área de conhecimento

neste quadro complexo e enciclopédico onde já se diz

re-descoberta. Enquanto isto todos aguardam que a

TOE (theory of everything) anuncie o fim da Física, tal

como em 1899 Charles H. Duell, encarregado do escri-

tório de patentes dos EUA dizia “tudo o que podia ser

inventado já o foi”. Nisto de fronteiras a intuição poderá

ser a nossa pior inimiga. Em 18 de abril de 1939 o cir-

cunspecto New York Times tranquilizava os seus leitores

“a televisão não dará certo. As pessoas terão de ficar a

olhar o ecrã e a família americana média não tem tempo

para isso”. Para além dos entusiastas existem os céti-

cos que o tempo se encarrega de condenar tal como

fez a J. Watson, presidente da IBM, que em 1943 dizia

“acredito que há mercado mundial para cerca de cinco

computadores”.

Pensando coleteralmente será que tudo poderá ser

tudo? Que as fronteiras se diluem a cada momento? Na

verdade a arte morreu quando Duchamp pegou num

urinol e fez dele um objeto artístico. Desapareceu a fron-

teira entre o objeto utilitário e o objeto decorativo, ambos

poderão ser a mesma coisa, basta a intenção. A ciência

avança, a tecnologia avança, os novos materiais polu-

lam gritando por um novo design. A biotecnologia há-

-de-nos escapar um dia quando os abjetos se reprodu-

zirem e autoevoluirem no tempo. Morre o sagrado, tudo

é profano. O que tiver de ser inventado será inventado

e não haverá fronteiras legislativas que o impeçam. Mui-

tas ovelhas Dolly espreitam o seu momento em labora-

tórios clandestinos à espera de transações chorudas.

O último reduto somos nós, o nosso cérebro que nos

cria fronteiras através das crenças que desenvolvemos

e inculcamos. Essas são as últimas fronteiras que pode-

remos querer (ou não) derrubar. As fronteiras mentais

podem ser a diferença entre a salvação e a condena-

ção. Mas, será a morte também uma fronteira?

Nietzche matou Deus para logo os karamasov de Dos-

toievsky anunciarem um reino onde tudo seria permiti-

do. Nem tudo, a tomar como verdadeiras e sábias as

palavras de alguém que diz “a liberdade do seu pulso

termina na ponta do meu nariz”.

Estas são as fronteiras convencionais que é neces-sário respeitar. Mas, e as outras? Todas as outras?

“Space, the last frontier. These are the voyagers of the Starship Entreprise. Its fiveyear mission: to explore strange new worlds, to seek out new life and new civilizations, to boldly go where no man has gone before” - início de cada episódio da série Star Trek.

5

ALBERTO MARTINS TEIXEIRADIRETOR DA ESCOLA ARTÍSTICA DE SOARES DOS REIS

Page 6: Dinâmicas #1

ÍNDICE

ÍNDICE

3 NOVA FRONTEIRA - CARLOS RAMOS

EDITORIAL - ALBERTO MARTINS TEIXEIRA

INDICE

O PRAZER É MELHOR QUANDO PARTILHADO - LUCAS PINHEIRO

DACIANO DA COSTA - JOÃO PAULO MARTINS

PROCURA-SE IDENTIDADE, PROCURA-SE FUNÇÃO - JAIME SARRÓ

DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA - SUSANA BRANDÃO

4-5

6-7

8-11

12-15

16-19

20-25

A BELEZA PRODUZ MAIS JUSTIÇA SOCIAL? - FRANCISCO PROVIDÊNCIA

COMENIUS, UM PROJETO SEM FRONTEIRAS - MADALENA MENESES

DESIGN DE INTERIORES - MARIA MILANO

A ENGENHARIA E O DESIGN DE PRODUTO - MARIANA RÊGO

DAR GÁS AO DESIGN - ARTUR GONÇALVES

FRONTEIRA - CONCEIÇÃO MAGALHÃES

26-29

42-45

42-45

30-33

46-47

34-37

48-49

38-41

JORNADAS DE DESIGN DE PRODUTO - M. CRUZ | S. AFONSO | M. REIS

MODA, ARTE OU DESIGN? - VERA SANTOS

REFLEXÃO

PERCURSOS

Page 7: Dinâmicas #1

7

CÍNTIA SILVA

MESA EM PÉ - MATILDE MAIA

PRODUTO GLOBAL - SARA MAGALHÃES

SÃO JOÃO COM MANJERICO - INÊS OLIVEIRA

TAVOLO - AFONSO CASTRO

CHEGAR A “BOM PORTO” - CARINA CARMO

CASTANHAS PARA SOBREMESA - ELSA PINTO

ENCOSTA - JOÃO MOURA

PATRIS - CLÁUDIA FONTES

TRANSLÚCIDO - GABRIELA MAGALHÃES

LAVOURA - JOANA RIBEIRO

“DAS COISAS NASCEM COISAS” - BRUNO MUNARI

FRONTEIRA

52-53

54-55

58-59

56-57

60-61

62-63

64-65

66-67

68-69

72-73

70-71

74-75

76-77

PROJETO

LIVRO

BREVES

Page 8: Dinâmicas #1

PERCURSOS

“Um pianista não é um compositor, um carpinteiro não é um designer de equipamento. Eles dependem uns dos outros e são a sua qualidade e capacidade de co-municar que vão contribuir para um resultado que não seria possível alcançar individualmente.

Sinfonias são bons exemplos da articulação possível entre partes dependentes. Há uma linguagem comum que a orquestra respeita e entende; o que a torna pos-sível é cada um dos seus membros desempenhar a sua função sem desprestígio ou conflitos maiores.”

Page 9: Dinâmicas #1

O P R A Z E Ré melhor quando éPA R T I L H A D O

9

O prazer é melhor quando é partilhado, assim como depender dos outros

torna a nossa vida melhor. Nós dependemos - e eu acredito que não há

nada de errado nisso, pelo contrário: interdependência é parte de nós e

um dos nossos fortes. Construímos uma rede de dependências que nos

permite viver melhor e confiar em outras pessoas, produtos e soluções.

Nós todos somos dependentes embora alguns pensem que não são.

Acredito na dependência como o caminho para uma vida, trabalho e so-

luções melhores; o valor da minha forma de trabalhar está também nas

pessoas com quem trabalho e na maneira como as envolvo no processo

de design. Penso melhor do que faço e mesmo assim invisto tanto tempo

a aprender a fazer como a aprender a pensar. Sendo o meu forte trabalhar

conceptualmente não deveria investir em desenvolver essa característica

e aliar-me a quem a possa completar?

O ideal seria articular talentos de pessoas diferentes num processo comum.

Saber comunicar é essencial para permitir que os esforços se fundam e

se entendam. A comunicação e a consciência da sua importância são o

segredo para uma boa parceria. Saber respeitar os talentos dos outros é

igualmente importante. Um pianista não é um compositor, um carpinteiro

não é um designer de equipamento. Eles dependem uns dos outros e são

a sua qualidade e capacidade de comunicar que vão contribuir para um

resultado que não seria possível alcançar individualmente.

Sinfonias são bons exemplos da articulação possível entre partes depen-

dentes. Há uma linguagem comum que a orquestra respeita e entende; o

que a torna possível é cada um dos seus membros desempenhar a sua

função sem desprestígio ou conflitos maiores.

LUCAS PINHEIROEX-ALUNO EASR

Page 10: Dinâmicas #1

PERCURSOS

Porque devemos então tentar ser seres multi-talentosos se podemos confiar nos outros e

nas suas qualidades para tirar o máximo de proveito do talento de todos? Nunca sonhei

ser um canivete suíço, pelo contrário, sempre quis ser bom a fazer uma coisa. E muito

embora não duvide que um canivete suíço possa ser muito útil, não deixo de pensar que,

quando usado para tirar a rolha de uma garrafa de vinho, não se pode comparar a um

saca-rolhas que foi pensado especialmente para desempenhar essa função. Há lugar

para pessoas multi-talentosas, mas esse lugar não nos conduz à qualidade. Uma parce-

ria é uma multiplicação de potencial e uma maneira muito mais rica de trabalhar. Se se

compararem as ferramentas de um canivete suíço com as ferramentas que lhe servem de

inspiração não há dúvidas em descobrir qual dos conjuntos é o mais eficaz. A especiali-

zação tem um grande potencial uma vez que se tira proveito da qualidade de cada uma

das partes em vez de se explorar uma solução única que não responde bem a nenhum

dos problemas para a qual foi criada.

Ter as ferramentas certas é a melhor forma de começar. Encontrar as pessoas que acre-

ditam no que acreditamos, que confiam em nós e no nosso talento e nos seus próprios

talentos é metade do caminho para fazer bom design. Ser um coletivo que trabalha como

tal, trazer os talentos uns dos outros para descobrir uma nova solução, delegar o que

não sabemos fazer em quem o sabe fazer, reconhecer o talento dos outros e perceber

o quão dependentes somos deles é igualmente importante. Todos somos uns melhores

que os outros, todos sabemos mais do que os outros, mas nem sempre sabemos ouvir e

comunicar. Ainda não há uma linguagem que articule designers e produtores da mesma

maneira que uma pauta musical articula os instrumentistas e os compositores. Se existe,

ou não é suficientemente boa ou não é conhecida pela maioria das pessoas de ambos

os lados. Conhecer e usar a mesma linguagem é garantir a compreensão e é ao mesmo

tempo respeitar os outros. Essa é uma das grandes lacunas na educação design: comu-

nicar na mesma língua da indústria.

Envolver muitas pessoas nos nossos projetos obriga-nos, de cada vez, a mudar a forma

como comunicamos. É um bom exercício e também uma boa maneira de perceber o

nosso projeto de uma nova perspectiva, a dos outros. Ao partilhar um trabalho durante as

fases inicias é possível obter um feedback eclético e fazer com que o projeto dependa de

uma realidade mais ampla do que a nossa e do que as coisas que sabemos.

Page 11: Dinâmicas #1

11

É essencial ter um processo de trabalho que depende de pessoas e que se lembre das

suas necessidades mais diversas. Criar objetos que são palcos de interação, lugares

para se poder tocar e ser tocado, instrumentos que podem produzir histórias e fazer as

pessoas sentirem, soluções que dependem de quem as usa para serem valiosas, objetos

que crescem em valor quando são lembrados depois de serem usados. Designers são

músicos do silêncio. São criadores de espaços e formas que promovem acções e susci-

tam emoções. São responsáveis pelo silêncio que significa. Silêncios não significam sem

o contexto certo, eles dependem profundamente um do outro. A tarefa de um designer é

fazer esta relação clara. Entender o que é necessário para que uma forma possa comu-

nicar num determinado contexto.

Por entendermos as nossas falhas, podemos procurar quem as preencha. Se queremos

um trabalho bem apresentado e não temos as ferramentas necessárias para o apresen-

tar, temos que recorrer a quem melhor sabe para colaborar connosco. Boa fotografia,

bom design gráfico, bons spots publicitários, bons textos, etc... são fundamentais para

fazer com que os outros acreditem nos nossos projectos. Não vejo problema nenhum em

depender dos outros para fazer melhor. O mérito nunca se divide - multiplica-se.

A interdependência é o que distingue o Homem e é só por temermos, não confiarmos

e não sabermos comunicar e respeitar que não trabalhamos juntos ainda melhor. Ser

dependente e consciente da nossa dependência é a melhor ferramenta que podemos

ter. Aprender a delegar, confiar e depender dos outros é fundamental dentro de qualquer

modelo de sociedade.

Transforma os teus defeitos em colaborações, transforma o que não sabes em espaço para aprenderes com os outros. Aprende a depender e não a ser independente. Encontra a tua forma de comunicar e partilhar o prazer. Sê tolerante e respeita a forma e valor do trabalho dos outros. Procura em ti o que te move e rodeia-te daqueles que te querem ensinar e aprender. Mantém-te dependente e tolerante. Procura nos outros aquilo que não podes encontrar dentro de ti.

LUCAS PINHEIROEX-ALUNO EASR

Page 12: Dinâmicas #1

PERCURSOS

O design de Daciano da Costa (1930-2005) tem sido

muito justamente valorizado pela crítica e a historiogra-

fia portuguesas devido à sua coerência, rigor profis-

sional e maturidade de desenho; pelo equilíbrio no uso

dos materiais, pelo acerto da proporção, a elegância

do detalhe; pela exemplar ligação que estabeleceu

com a indústria, pelo modo inteligente como soube inte-

grar a cultura do seu tempo. Esta ideia - reforçada por

uma prática pedagógica de décadas, reclamando a

definição de uma nova classe profissional, levando ger-

ações de jovens arquitetos a “ver pelo desenho”, confer-

indo sentido universitário à formação dos designers - é

também uma consequência da sua militância na defesa

e na consolidação da disciplina, fazendo a apologia de

um método, empenhado numa causa, intransigente. (...)

(...) Muito cedo, Daciano optou pelo abandono de uma

carreira promissora nas artes plásticas, investindo con-

victa e irreversivelmente nas disciplinas do projeto.

Num primeiro momento, como colaborador no atelier

do seu mestre Frederico George, repetiu os passos de

muitos artistas da geração anterior à sua, passando a

ocupar-se do desenho de pavilhões e stands para fei-

ras e exposições. Depois, “circunstância, vocação e

acaso” - como sempre repetia, parafraseando Ortega y

Gasset - rapidamente o conduziram ao desenho de in-

teriores públicos. A passagem gradual da Decoração à

Arquitetura de Interiores reconhece-se claramente. (...)

(...) Daciano da Costa sempre revelou uma especial

apetência para definir o seu mercado em “tarefas inter-

sticiais”, nas margens das disciplinas convencionadas.

Ao longo do tempo, iria afirmar-se como um especialista

em coisas que outros não faziam, ocupando posições

tradicionalmente descuradas pelas compartimentações

profissionais estanques, pelas visões demasiado con-

dicionadas aos compromissos corporativos. Foi certa-

mente essa atitude - servida por um talento seguro, múl-

tiplo e flexível - que lhe permitiu promover hibridações

e contaminações, frutuosas e estimulantes, procurando

respostas que eram então ainda demasiado novas. In-

augurou tarefas que, no contexto português, estavam

DACIANODA

COSTAd e s i g n e r

Lisboa, 1930-2005

Page 13: Dinâmicas #1

13

FORMAÇÃO ACADÉMICA | Curso de Pintura Decorativa, Escola de Artes Decorativas António Arroio [1943-1948]Curso de Pintura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa [1950-1961]

ATIVIDADE DOCENTE | Desenvolveu atividade pedagógica na área do Design desde 1954 em diversos níveis de ensino oficial e privado. Desde 1977, foi docente convidado do Departamento de Arquitetura da Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, hoje Faculdade da Universidade Técnica de Lisboa [FA-UTL]. Elaborou e implementou o plano de estudos e os programas das disciplinas fundamentais do curso da Licenciatura em Arquitetura do Design, criado em 1992 na FA-UTL, de que foi coordenador. Foi nomeado professor catedrático do Departamento de Arte e Design da FA-UTL em 1998. Professor Catedrático Convidado da FA-UTL. Doutor Honoris Causa pela Universidade de Aveiro [2003] e pela Universidade Técnica de Lisboa [2004].

ATIVIDADE PROFISSIONAL | Sob a orientação de Frederico George iniciou a atividade de designer [1947-1959]. Esta-beleceu atelier próprio em Lisboa em 1959, desenvolvendo desde então a sua atividade no projeto de Arquitetura de Interiores, Equipamento e Mobiliário, Design de Exposições e Design de Produtos. Iniciou em 1962 a sua colaboração com a Metalúrgica da Longra. Em 1974 fundou a empresa “Risco”, orientada para o desenvolvimento de projetos de Design Industrial, Design de Exposições e Design Gráfico.

apenas em fase de enunciação, atividades que, por

vezes, só depois desse seu contributo fundador viriam

a ganhar efetiva definição. Quando recusou o estatuto

de artista iria manter a capacidade do desenho singular

e expressivo, do gesto único e irrepetível, que dominava

com invulgar mestria. E saberia importar para o projeto a

disponibilidade para entender, e tirar partido, da poten-

cialidade comunicativa dos objetos, da relação sensível

com os materiais, as cores e as texturas.

Design para o contexto/ desenhar em contexto A atividade projetual de Daciano da Costa desenvolveu-

se em torno do “desenho do detalhe”: o detalhe da ar-

quitetura, o detalhe da cidade. Esta circunstância terá

despertado a consciência de se tratar de intervenções

destinadas a contextos que lhes são “exteriores”; con-

textos (físicos e, sobretudo, culturais) que justificam e

suportam esses projetos, mas que os antecedem no

tempo e os ultrapassam em escala. Daí a necessidade

de estabelecer compromissos com a envolvente: as op-

ções de projeto deviam refletir uma leitura crítica do dis-

curso em que iam participar, eram doseadas para se in-

screverem na hierarquia do conjunto, no sentido global

da composição; sublinhavam as suas especificidades,

procurando torná-las mais claras, potenciá-las; deviam

adequar-se às funções dos espaços e à relação que

o utilizador com eles iria, previsivelmente, estabelecer.

As qualidades do contexto - a evidência do conceito

gerador, a coerência global, a maturidade do desenho

– iriam refletir-se de forma positiva sobre os ambientes

que projetou, como o podem demonstrar as obras da

Fundação Calouste Gulbenkian (1966-1969) e do Ca-

sino Park Hotel (1972-1984).

Os seus objetos assumiam uma posição discreta, de

acompanhamento, diluindo-se nos ambientes, ou, pelo

contrário, reclamavam protagonismo e destacavam-se

para pontuar os espaços. Frequentemente, essa cum-

plicidade com o contexto passava pela exploração de

afinidades – estruturais, formais, construtivas, materiais

– que tornavam evidente a continuidade estabelecida.

No limite, podia materializar-se em meticulosos exercíci-

Page 14: Dinâmicas #1

PERCURSOS

Cadeira em napa Grenatdécada de 60

Reitoria da Universidade de Lisboa1961

os de “design total”, em busca de nexos entre todos os

níveis do espaço existencial (projeto de interiores, equi-

pamento e mobiliário, sinalização e grafismos, padrões

de tecidos, uniformes, complementos de decoração...).

Em qualquer dos casos, estes procedimentos não im-

plicavam um apagamento contextualista nem signifi-

cavam uma excessiva neutralidade. Pelo contrário, na

obra de Daciano da Costa são abundantes os exem-

plos de móveis que, tendo sido concebidos para um

contexto bem determinado, revelam suficiente carácter

para adquirir autonomia e alcançar a produção em sé-

rie, dirigida já a um público mais vasto. (...)

(...)Desta atitude decorria também a firme consciência

de participar numa construção colectiva - cujo destino

final é a colectividade -, e no qual cada autor é apenas

um elo mais que vem somar-se aos restantes. Por isso,

certamente, a sua vida profissional foi construída em

torno de cumplicidades com todos os participantes no

processo. Dos afectos e discursos partilhados com os

colaboradores diretos, no atelier, à relação intensa - de

aprendizagem permanente e mútua, como gostava de

sublinhar - com comitentes, arquitetos engenheiros, téc-

nicos, artistas plásticos; mas igualmente com aqueles

que se encarregavam de passar o projeto à realidade:

marceneiros, serralheiros, estofadores... “Desenhar em

contexto” representava também uma particular atenção

dispensada ao contexto técnico, cultural e social dos

agentes envolvidos na produção. O modo, frequente-

mente seguido, de fazer a passagem do desenho ao

objecto, em diálogo, permitia que o projeto pudesse ser

enriquecido com o “toque de mão” do mestre artesão

(sobretudo na relação, longamente cultivada, com as

famílias Olaio, Sampaio e Sousa Braga) ou com a marca

de uma “cultura da empresa”, sedimentada em longos

anos de colaboração (como na irrepetível oficina de pro-

tótipos da Metalúrgica da Longra). (...)

JOÃO PAULO MARTINS Faculdade de Arquitetura. Universidade Técnica de Lisboa

Excertos do texto publicado no catálogo da exposição “Daciano da Costa, Designer”

Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2001

Page 15: Dinâmicas #1

Cadeira em napa Grenatdécada de 60

15

Mobiliário Bibliotena Nacional Lisboa - 1965

Centro Cultural de Belém1990

Page 16: Dinâmicas #1

PERCURSOS

Os objectos utilitários são, numa primeira instância, objectos que ditam o seu

uso, que falam por si próprios, e de maneira secundária podem ter outras uti-

lidades, mais ou menos comuns. Se vemos uma cadeira, esta comunica-nos

imediatamente a sua função: Podes sentar-te. Mas também podemos utilizar

uma cadeira em situações bem diferentes; podemos trancar uma porta, pen-

durar o casaco, subir para o assento para mudar uma lâmpada ou tantos

outros usos. Se bem para todas estas situações existe um objecto próprio

(um fecho, uma cruzeta ou um escadote) a cadeira é utilizada habitualmente

para outras funções para as quais não foi pensada. Estas são utilizações

espontâneas, normalmente colectivas, mas espontâneas.

A complexidade da mensagem deste tipo de objectos, os úteis, aumenta pa-

ralelamente com o incremento da especificidade para a qual foi concebida.

PROCURA-SE PROCURA-SE

funçãoidentidade

Page 17: Dinâmicas #1

17

É provável que a muitas pessoas lhes custe reconhecer

como assento uma particular cadeira suíça que se usa

para o ordenho. Consiste num cinto com uma peque-

na tábua ao meio e um pau fixo nela. Uma vez atado

o cinto da maneira habitual, temos um banco que nos

acompanha a todo o lado durante o ordenho dos ani-

mais. Aumenta a especificidade e aumenta a dificulda-

de da mensagem para o ignorante mas, pelo contrário,

mantém-se igualmente imediata para o experimentado.

Existem também situações de uso espontâneo de um

objecto que só têm sentido para o seu utilizador. Por

exemplo, vamos pela rua e no meio do passeio encon-

JAIME SARRÓDESIGNER

tramos uma cadeira de madeira, em perfeito estado, e

ninguém sentado nela. Podemos pensar: é una cadeira

de madeira e não está fixa ao chão, portanto não é um

elemento urbano, uma cadeira pública; é uma única ca-

deira, não há mesas, não há outras cadeiras, não há um

café; alguém que está a meio de uma mudança? Mas

esse alguém não vai e vem, não aparece. Analisando os

dados que a envolvente nos oferece não conseguimos

discernir o porquê desta cadeira no meio do nada. O

que não sabemos é que a pessoa a pôs ali previamente

tapou um pequeno buraco no chão com cimento que

ainda está fresco. Esta solução é totalmente eficaz, nin-

Page 18: Dinâmicas #1

Este projecto procura obter respostas a estas ou-

tras perguntas:

Pode o designer projectar objectos utilitários

que ofereçam soluções espontâneas a possíveis

necessidades diferentes e não identificadas?

Consegue o utilizador dar identidade a um objec-

to carente dela?

É possível transformar o coiso em coisa?

coisa ser a mesma que é suposto ser ou que se procu-

ra”, a resposta às anteriores perguntas é afirmativa.

Aqui é onde a coisa se converte em coiso.

Um coiso é aquilo que não tem identidade, quando a identidade é o facto de uma coisa ser a mesma que é suposta ser.

guém pisará o trabalho realizado, e transmite a mensa-

gem – contorna-me – sem que ninguém seja consciente

disto, ninguém excepto a pessoa que lá a pôs e que

deu a uma cadeira uma utilização diferente da que lhe

é própria. No uso natural de um objecto não há lugar a

dúvidas, serve para isto e utiliza-se para isto.

No uso espontâneo de um objecto o utilizador pega em

algo que serve para isto mas usa-o para aquilo. Tudo

identificável, concreto. Agora bem, que acontece quan-

do um objecto só oferece a possibilidade de utilizações

espontâneas? Pode um objecto ser útil, funcional mas

não identificável? Carece de identidade por não ter fun-

ção afixada? Se atendemos à definição de identidade

encontramos no dicionário, “Facto de uma pessoa ou

Page 19: Dinâmicas #1

JAIME SARRÓDESIGNER

Ateliers do Porto aparece como uma iniciativa que

promove os encontros entre designers e algumas

oficinas artesanais e tradicionais que tem subsisti-

do até a actualidade na cidade do Porto.

A te l ie rs do Por to

Resultado | Um coiso Autoria | Design: Jaime Sarró Produção | Escovaria de Belomonte e MG Maquetas

Ao abrigo desta iniciativa acontece o encontro entre

design de produto, a antiga técnica de costura ma-

nual de escovas, a produção artesanal de moldes de

silicone e o vazado de resina.

19

Page 20: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

“DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA…

platonismos e desabafos.”

Frase célebre proferida por Platão.

“Que não entre quem não sabe geometria!”

É consensual que a geometria está em toda a parte. A importância da ge-

ometria é óbvia e gritante desde os primórdios da civilização e sempre foi

utilizada em prol do desenvolvimento da Humanidade. Os argumentos para

justificar o interesse da geometria vão dos práticos aos filosóficos, passando

pelos científicos e artísticos. Questionar a sua utilidade é daquelas atitudes

que considero insensatas (para não dizer estúpidas). Por isso, ao grupo de

pessoas que o faz, recomendo que, das duas, uma: ou façam uma reflexão

ou não pretendam ser profissionais de áreas que a solicitem. Assim, pelo

menos não causam danos!

A minha introdução impetuosa é o reflexo da revolta e frustração que sinto,

enquanto arquiteta e docente de artes visuais, face à aversão que muitos

alunos e colegas têm pela geometria, mais concretamente a descritiva, que

nos diz diretamente respeito. No âmbito do design, da arquitetura, assim

como de outras artes visuais e algumas engenharias, a geometria estabele-

ce a ligação entre a conceção e a representação, é graças a ela que comu-

nicamos com clareza, é graças a ela que somos criadores!

Voltemos a inscrever na entrada das nossas escolas a máxima da academia de Platão! Porém, com uma ligeira variação: que não entre quem não quer saber geometria. Para que só fi-quem do lado de fora aqueles que não querem aprender (ou ensinar) a linguagem do espaço.

Figura 1

Figura 1 - Deus, Arquiteto do Universo (Bíblia moralizante, Codex Vindobonensis 2554, França, c. 1250, Österreichische Nationalbibliothek

Page 21: Dinâmicas #1

Frase célebre proferida por Platão.

Se o Universo não existisse fisicamente, não teríamos

espaço onde ser e estar. A noção clássica de espaço

geométrico remonta a Platão que o denomina de khora,

“uma espécie difícil e obscura. Que propriedade natural

havemos de lhe atribuir? Antes de tudo, esta: ela é o

recetáculo e, por assim dizer, a mãe de tudo o que nas-

ce.” (Platão, 1969: 275) Ou seja, Platão considera que

o khora é um vazio, invisível, no qual existem formas e

matéria. Abstrato e indefinido, o khora é o espaço da for-

mação e criação do Cosmos, onde os quatro elementos

(água, ar, terra e fogo) se concretizam em formas geo-

métricas. Deus (seja ele quem for) representou o Mundo

e o Homem, caso contrário não teríamos passado de

mera imaginação.

Os criativos, mais concretamente os artistas, especifi-

camente os visuais, têm no desenho um meio que ope-

ra entre a perceção e a representação, conectando-as.

Proclamam a soberania do desenho mas esquecem-se

que é a geometria que lhe confere cognição. Não só no

desenho técnico, mas também no livre, no de memória,

no de imaginação ou por observação. Nos desenhos

usamos medidas e proporções, relações espaciais,

simetrias, ângulos, curvas, superfícies… Recorremos

a noções de escala ampliando ou reduzindo. Mais ou

menos inconscientemente, com mais ou menos rigor,

utilizamos métodos de representação geométrica. Não

obstante a importância da sensibilidade de um dese-

nho, só o compreendemos porque a geometria que nele

se manifesta define um contexto ou forma “dominada”.

“A geometria num desenho pode não se ver mas foi

pensada; ou o desenho visível só foi possível porque

houve um pensamento matemático ou geométrico, ou

uma intuição desses saberes.” (Vieira, 2007: 19)

É consensual que a geometria está em toda a parte. A importância da geometria é óbvia e gritante desde os

primórdios da civilização e sempre foi utilizada em prol do desenvolvimento da Humanidade. Os argumentos

para justificar o interesse da geometria vão dos práticos aos filosóficos, passando pelos científicos e artís-

ticos. Questionar a sua utilidade é daquelas atitudes que considero insensatas (para não dizer estúpidas).

Por isso, ao grupo de pessoas que o faz, recomendo que, das duas, uma: ou façam uma reflexão ou não

pretendam ser profissionais de áreas que a solicitem. Assim, pelo menos não causam danos!

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SUSANA BRANDÃOARQUITETA E PROFESSORA

MESTRANDA EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS

Figura 2 - Sólidos Platónicos (Johannes Kepler, 1596, Mysterium Cosmographicum, Alemanha) Figura 2

Page 22: Dinâmicas #1

REFLEXÃO“DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA…platonismos e desabafos.”

A geometria é a gramática da linguagem gráfica e os seus conceitos só chegam às artes através do desenho, por isso, não a podemos discriminar ou sonegar. Principalmente nas áreas de projeto, como o design de produto ou a arquitetura, em que o de-senho é essencialmente informativo e, por conse-guinte, maioritariamente geométrico e praticamente sem expressão.

Alguém imagina um designer a descrever uma das suas

peças sem perspetivar uma axonometria ou um arquite-

to a explicar a disposição de um edifício sem esquissar

uma planta? Ainda que possível, é redutor. Acima de

tudo interessa perceber que, mais do que dificuldade

em comunicar, sem conhecimento e pensamento geo-

métrico é impossível conceber. Tornamo-nos incapazes

de racionalizar dados, de articular as funções com as

Figura 3 - Esboços de Phillipe Starck (Castiçal Abbraccio, 2012)

Page 23: Dinâmicas #1

REFLEXÃO“DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA…platonismos e desabafos.”

relações e de detetar e organizar interações e depen-

dências. Só o restabelecimento do interesse pela ge-

ometria nas artes projetuais pode salvar a inteligência

criativa.

Os motivos deste triste fracasso são muitos e variados…

Há uma cisão notória entre a geometria teórica (vinda da

matemática) e a prática (associada ao projeto). O ensi-

no/aprendizagem da geometria ao longo dos primeiros

ciclos escolares não é adequada ao futuro estudante

de geometria descritiva. Nos programas curriculares da

disciplina não é contemplado um enquadramento nas

atividades artísticas e projetuais. Além disso a aversão

afeta não só os alunos, mas também professores, o que

torna a falta de conhecimento geométrico cíclica e com

consequências negativas, sejam na prática pedagógica

e nas estratégias didáticas do docente, como ao nível

da motivação, desempenho e aproveitamento do aluno.

E depois há o argumento que os computadores subs-

tituem a geometria descritiva e o desenho geométrico!

Concordo totalmente que a informática potenciou mui-

to as possibilidades e recursos de visualização e rigor,

mas não podemos passar a representar e a controlar

graficamente através de programas CAD, fingindo que

a geometria não é o conhecimento base das imagens

geradas. Com o CAD operamos mais diretamente sobre

os objetos, mas se não houver a consciência dos mé-

SUSANA BRANDÃOARQUITETA E PROFESSORA

MESTRANDA EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS

23

Figura 4 - Esquiços de Siza Vieira (Casa Armando Barbosa, 1996)

Page 24: Dinâmicas #1

todos de representação intrínsecos mas dissimulados

nestas ferramentas, provocam-se sérios malefícios na

forma como o sujeito de relaciona com o espaço, tanto

pessoal, como profissionalmente.

Por tudo isto retorno a Platão! Pela paixão com que es-

tudou a geometria e a ela se dedicou. Não que tenha

descoberto novos métodos e teorias, mas despertou

curiosidades, foi inspirador e teve papel de guia para

muitos jovens matemáticos. Na República Platão faz Só-

crates afirmar, em relação à matemática e à geometria:

“Sobretudo por costume (éthos) as chamamos com fre-

quência de ciências (epistéme), mas é necessária outra

denominação, mais clara que opinião e mais obscura

que ciência: nesse sentido antes a definimos como en-

tendimento (diánoia).” (Platão, 1987: 533d 1)

Uma ação do sujeito sobre o meio, devidamente inte-

riorizada e organizada, desencadeia um processo evo-

lutivo de estruturas lógicas que permitem evoluir nos

patamares do conhecimento, passar do concreto para

o abstrato. Sou uma geómetra platónica que acredita

que a geometria está na fronteira entre o sensível e o

inteligível, faz a ponte, é a conexão entre os dois mun-

dos. «Metade do caminho entre opinião e intelecto (hós

metaxú tes doxés te kaì nou tén diánoian)” (Platão, 1987:

511d). O tipo de pensamento e as competências ineren-

tes ao conhecimento geométrico têm por base um saber

ativo no qual importa associar os sistemas cognitivos e

a construção do saber. A aprendizagem resulta da in-

terpretação e entendimento da informação envolvida,

capaz de gerar soluções baseadas na reflexão.

Figura 5 - Estampa de livro didático de Desenho - interseção de sólidos (C.A. Marques Leitão, 1909, Desenho, Lisboa: Fernandes e Comp.ª Editores)

Figura 6 - Modelos tridimensionais de livro didático de Desenho - interseção de sólidos (C.A. Marques Leitão, 1909, Desenho, Lisboa: Fernandes e Comp.ª Editores)

REFLEXÃO“DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA…platonismos e desabafos.”

Page 25: Dinâmicas #1

25

Bibliografia:

_Platão, (1969), Diálogos IV: Sofista, Político, Filebo, Timeu, Crítias. Col. Livros de bolso Europa-América, 403, Lisboa:

Publicações Europa América (obra original séc. 361-347 a.C.)

_Platão, (1987), A República. (Pereira, M., trad.), 5ª ed., Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, (obra original séc. IV a.C.)

Saffrey, H., (1968), “Ageômetrètos mèdeis eisitô: une inscription légendaire”, Revue des Études Grecques. 81, 67-87.

_Vieira, J., (2007), “O desenho da Geometria é a geometria do desenho”, Boletim da Aproged. 26 (março), 15-21.

SUSANA BRANDÃOARQUITETA E PROFESSORA

MESTRANDA EM ENSINO DAS ARTES VISUAIS

“Deus eternamente geometriza.” Nas montanhas, nas nuvens, nas plantas, nos organismos, nos rios, nos mares, nas florestas… Mas o Homem está a parar de o fazer. Sem imaginação, sem invenção, sem inteligência criativa, voltamos a ser me-ros animais desprovidos de alma e espírito.

O Criador persistirá, o planeta perdurará, mas a Humanidade, conforme a conhece-mos, desvanecerá.

REFLEXÃO“DEUS ETERNAMENTE GEOMETRIZA…platonismos e desabafos.”

Page 26: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

Ainda que com uma origem comum, Design e Arte parecem cada vez mais

afastados. A incorporação de funções simbólicas e retóricas emocionais nos

artefactos do design ao longo dos anos oitenta — com as propostas de “anti-

-design” editadas pela Memphis, pela Alchymia ou mesmo por Starck_, pare-

cem afastar ainda mais o design ornamental (estetizante) da função estética da

arte contemporânea. Ainda que a Documenta de Kassel tenha eleito, na mesma

época, o Design à dimensão da Arte, convidando-o a participar na celebração

artística da exposição, perguntar-nos-emos: —

Que relação terão os trocadilhos de um Starck com as metáforas de Beu-ys? Beuys também recorre a objectos, a instrumentos (trenós, garrafas, ca-deira, vitrines, feltro, blocos de pedra, gordura, cera, mel, animais mortos e vivos), mas os seus objectos não estão indisponíveis ao uso — são mais para meditar (contemplar) do que para trabalhar. Design e Arte opõem-se mesmo nas suas intenções. Se o Design procura a maior integração fun-cional, a Arte tem o propósito da maior resistência à reificação hegemónica da máquina, ainda que ambas subsistam sob o mesmo paradigma da liber-dade. A liberdade, a procura da liberdade, une os propósitos do design e da

arte, mas as suas metodologias e convicções afastam-nas; o que o design tem

de criativo, deve-o à arte, sua ancestral, encontrando na poética o motivo da

sua renovada criatividade, não só como retórica, mas como processo e reper-

Page 27: Dinâmicas #1

27

FRANCISCO PROVIDÊNCIADESIGNER

A B e l e z a (na cultura material)

PRODUZ MAIS J u s t i ç a S o c i a l ?

tório. Arte e Design partilham o radical poético comum

_ no gr. poiés ou “eclosão”, é origem de toda a criação.

A Arte é o futuro do design; mas Arte e Design são radi-

calmente distintos.

Embora contrariando a tradição (pseudo) científica da

Escola de Ulm, não poucas vezes o design prescinde

da sua utilidade prática e programada, para se imiscuir

entre as coisas inúteis da Arte _ Fernando Brízio tem

sido o nosso mais divulgado caso. No entanto, a singu-

laridade identitária do design tem no compromisso en-

tre uma autoria, uma tecnologia e um programa, a sua

maior diferença em relação à Arte que, modernamente,

prescindiu do programa imposto, para se entregar toda

desinteressada e genuína à fruição dos seus públicos.

Mas há na tradição artística diferentes modos criativos.

A Arte é umas vezes máquina de efeitos emocionais,

outras vezes vestígio emocionado da existência.

Siza, como Lapa, denunciam a urgência das suas obras

como domínios próprios de liberdade. Para Siza o pro-

jecto culmina na construção que devolverá sentido ao

esforço empregue; a arquitectura é uma imposição físi-

ca. Para Lapa, a relevância do acto artístico não consis-

te no produto material, resíduo da experiência vivêncial

que lhe deu origem. Os “festins da consciência” são

momentos de felicidade e revelação, estados de ilumi-

nação (budista), possibilidade última de redenção da

consciência pela beleza, abertura a uma estética que

não se exclui nos sentidos, mas que ganha uma dimen-

são outra, do espiritual ou do intelectual. A arquitectura

também pode ser bela, como denuncia Jorge Figueira

comentando a mais recente obra de Souto Moura: “o

metro do Porto não receia, mas ambiciona, ser Belo”.

O que procura a Arte? A recuperação de um estado de

beleza que talvez nunca tenha existido; a invenção da

beleza enquanto estado, não como objecto. Um estado

catalítico de percepção sobre a realidade, capaz de en-

volver e comover os indivíduos, assim revelando o novo

e o futuro.

Page 28: Dinâmicas #1

Se um busca a construção física como condição de re-

alização, para o outro a construção física é o que so-

beja. Se o design busca a perfeição da regularidade

funcional, a arte procura a felicidade da existência, a

perfeição da vida — um artista não é um especialista

em arte, mas um especialista em vida, um especialista

em re-inventar a vida, ou comprometerá o seu desígnio.

A arte opera na alma (lat. anima, “vida”), o design opera

no corpo (lat. corpu, “corpo”; gr. sôma, “corpo”). Mas

não havendo corpo sem vida, cabe ao design reflectir

sobre o fim último dos seus projectos sobre o corpo. Por

isso a Arte dá glória a Deus e o Design julga ajudar os

homens.

Se, por absurdo, a Arte fosse substituída pelo De-sign, o homem acabaria submerso pela tecnologia, reduzido à dimensão de dispositivo apto / inapto. Faz falta a Arte ao Design. Ao reflectir sobre as suas

razões primeiras, o design no séc. XXI é convocado a

entorpecer menos os seus utilizadores com as suas má-

quinas de in-satisfação, para actuar como catalisador

do mundo, contribuinte atento para a consciencializa-

ção do indivíduo sobre si próprio e sobre o meio (ainda

que nunca como hoje a consciência pareça merecer tão

pouco interesse).

De que serve ao design fenómenos artísticos como a

pintura de Álvaro Lapa? A pintura de Lapa, entre outras,

constitui um importante recurso ético sobre a forma.

A “forma” é conteúdo de verdade das obras de arte,

dizia Adorno. Uma pintura que não se substitui à vida,

nem a representa, mas serve-a como meio de auto-

-conhecimento, como meditação zen (digo eu)— como

percepção do “estado acerca de mim próprio (…) limiar

de um espaço íntimo onde me reconheço “livre”, como

escreveu o pintor no catálogo da exposição da EMI V.C.

(1985). A pintura de Lapa que é para Pinharanda lingua-

gem (o que Lapa faz são “escritas visuais”, ideogramas,

sempre em recomposição e remontagem), e para José

Gil não-linguagem (idiolecto aberto, campo sintáctico

aberto à dimensão do universo), constitui o lugar da ten-

tativa e do falhanço (artista é aquele que ousa falhar),

de um conhecimento tão subjectivo quanto universalista;

pudessem os artefactos do design questionar a liberda-

de e dignidade dos seus autores, para se tornarem mais

O propósito da beleza está presen-te tanto no Design (arquitectura de Siza) como na Arte (pintura de Lapa); mas no primeiro (parece) reportar-se-á à ideia de eficácia (bom funcionamento, organicidade, complementaridade com o homem, prótese), na segunda é construção nostálgica motivada por um estado de carência que nasce do confronto com a imperfeição.

REFLEXÃOA BELEZA (na cultura material) PRODUZ MAIS JUSTIÇA SOCIAL?

Page 29: Dinâmicas #1

REFLEXÃOA BELEZA (na cultura material) PRODUZ MAIS JUSTIÇA SOCIAL?

29

fundamentais, “a captar o sinal-mensagem que vem do

futuro” . Se A. Calvera denuncia o mau desenho como

negação de inovação, Fátima Pombo defende que só o

erro fará inovar o desenho.

“Temos a arte, dizia Nietzsche, para não morrer ou en-

louquecer perante a verdade, portanto não temos a

verdade, temos a arte para não enlouquecer” . Talvez

resida aqui a impossibilidade científica das coisas ar-

tísticas.

“O ser, diz José Matoso , é o encontro do acidental —

nós — com o absoluto” (…) e a experiência da beleza

é exactamente isso (…) não é possível ter um discurso

racional. Só a linguagem poética dá conta dessa vivên-

cia. O poema “Noite escura” de S. João da Cruz, não é

literatura, é uma experiência pessoal”. Uma experiência

pessoal que se dá à troca, que moldará a forma subjec-

tiva e justa.

O grande desafio que se coloca hoje ao design, não é na conformação estética, mas na estética das re-lações que possa estabelecer com o outro, com o

público consumidor. Desta estética da relação (mais ética?) poderá nascer uma nova estética do design, mais humanizada que as propostas massificadoras dos anos setenta, menos alienante que as decora-tivas dos anos oitenta, mais ecológicas que as dos anos noventa, mas menos tecnológicas que as da primeira década do séc. XXI (sobre a suposta arte di-

gital diria que há a Arte e há as novas tecnologias digi-

tais do multimédia interactivo e entre elas não há nada,

se não puros acasos circunstanciais de encontros aci-

dentais, como se poderá dizer, aliás, da relação entre o

óleo de linhaça e a arte).

Só deste modo poético, catalisador e experiencial,

o Design poderá constituir-se concorrente da Arte,

ainda que, arriscando-se perder papel na funcionali-

zação social do mundo.

Autores referidos:Álvaro Lapa, Álvaro Siza, Fernando Brízio, Friedrich Nietzsche, João da Cruz, João Pinharanda, José Gil, José Matoso, Joseph Beuys, Phillippe Starck.

FRANCISCO PROVIDÊNCIADESIGNER

Page 30: Dinâmicas #1

A cultura do habitar é o principal fundamento a partir do qual se estruturam a arquitectura e o design de interiores. Esta reflecte a forma como nos relacionamos com o nosso envolvente, com o tempo e o espaço. Reflecte também a cultura material de cada um, construída ao longo de gerações, com as múltiplas implicações produzidas pelo contexto no qual está inserido quem habita e quem projecta. Por esta razão, o projectista de interiores tem de considerar múltiplos campos disciplinares, mas tem, sobretudo, de estar particularmente atento aos condicionamentos de ordem

social, económica, política e antropológica da sociedade contemporânea.

O design de interiores é uma disciplina recente em Por-

tugal, caracterizada por um forte condicionamento dis-

ciplinar vindo da arquitectura e pela quase inexistência

de uma tradição culturalmente sólida do design indus-

trial. De facto, o design de interiores é uma disciplina

que nasce do cruzamento entre arquitectura e design.

E é o design que, na maioria dos países europeus, tem

contribuído para o desenvolvimento de uma ideia de

espaço constituído não só pela arquitectura tradicional,

pela construção e pela tectónica das formas, mas

também pelos objectos e pelo mobiliário, testemunhos

mais directos da cultura material do habitante, da sua

forma de habitar. Assim, passa-se de uma ideia de es-

paço concebido a partir de paredes e partições espa-

ciais fixas e definitivas a um sistema de partições mais

efémero e móvel, até mais flexível, concebido a partir

de mobiliário e de objectos que, pela escala ou pela

sua repetição, se tornam dispositivos espaciais, instru-

mentos de manipulação e de construção do espaço. O

design de interiores, como disciplina de fronteira, tem

sido objecto de diversos equívocos e de uma falta de

definição ou unívoca caracterização disciplinar. Mas

o que parece ser a sua limitação acaba por ser o seu

maior recurso.

Não ficando amarrada a definições disciplinares,

consegue deambular entre vários âmbitos, servindo-

se de um ou de outro, em função do contexto de cada

projecto, utilizando todos os inputs como elementos

DESIGN DE INTERIORES

REFLEXÃO

Page 31: Dinâmicas #1

31

MARIA MILANOARQUITETA

COORDENADORA DO MESTRADO EM DESIGN DE INTERIORES ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN - MATOSINHOS

catalisadores e impulsionadores da ideia de projecto.

A denominação design de interiores valoriza o design

enquanto disciplina aglutinadora de diversos saberes

que informam o projecto.

Design é, pois, a palavra que melhor denuncia uma visão global do projecto que promove a di-mensão não especialista mas inter-especialista da arquitectura e dos interiores.

A sociedade contemporânea é, cada vez mais, uma

sociedade fluida e difusa, organizada em função da

mobilidade e inter-conectada a uma rede de infra-

estruturas para a mobilidade física e virtual. Con-

sequentemente, as acções e os comportamentos

têm tendência a tornarem-se mutáveis, dinâmicos e

flexíveis. Trabalhar no comboio, comer na rua, dormir

no autocarro, telefonar na casa de banho, tomar duche

no escritório, lavar as roupas no café e, vice-versa,

tomar o café nas lavandarias são disso exemplo. Deste

modo, é inevitável, por um lado, uma cultura de pro-

jecto que valorize o espaço colectivo “público”, capaz

de catalisar momentos de encontro e socialização e

processos de identificação entre os habitantes e a sua

cidade; por outro, uma forma mentis projectual que

privilegie a “compactação” das cidades face à sua

difusão, através do re-uso e reabilitação do património

construído, hoje grande recurso de materiais, marcas e

história para o projectista.

Page 32: Dinâmicas #1

A principal característica de um designer de interiores,

a qual o diferencia de outros projectistas, é o facto de,

na maior parte dos casos, operar dentro de um espaço

pré-existente. Pode ser um monumento ou uma arqui-

tectura anónima, um edifício qualificado do ponto de

vista arquitectónico ou o resultado de um gradual e

progressivo processo de adição espontânea. O de-

signer de interiores tem a capacidade de valorizar as

características mais relevantes de um espaço, desco-

brindo-lhe a vocação e a capacidade de se adequar a

novos programas, novas exigências, novos habitantes.

É capaz de interpretar as exigências do futuro habit-

ante do espaço projectado, definindo as características

físicas e funcionais do espaço, mas contemporanea-

mente as suas características relacionais e percepti-

vas, valorizando a luz, a cor e os materiais e proporcio-

nando uma qualidade do habitar baseada no gosto e

no prazer de viver e habitar. Assim, a formação de um

designer de interiores deve valorizar a interpretação

da cidade contemporânea, com os estilos de vida que

a caracterizam; a aplicação de conceitos de flexibili-

dade, entendida como a “disponibilidade” do espaço

para se adequar a diversas exigências de modalidade

de habitar; o uso de mobiliário como dispositivo espa-

cial; o estilo de vida e as exigências do futuro “mora-

dor”; uma relação do projecto com a preexistência que

tenda a recuperar o mais possível o tecido construído

e os desperdícios da nossa cultura material e material-

ista, reintegrando-os no novo habitat e impulsionando

uma abordagem mais sustentável da arquitectura e do

design.

REFLEXÃODESIGN DE INTERIORES

Page 33: Dinâmicas #1

33

MARIA MILANOCURRICULUM VITAE

Doutoranda em “Materiais sustentáveis para a arquitectura” na Faculdade de Engenharia Mecânica da Universidade de Aveiro. Mestre em Projecto do Ambiente Urbano, pela FAUP, Faculdade de Arquitectura do Porto e FEUP, Faculdade de Engenharia do Porto, com tese intitulada “Os lugares da mobilidade. Uma nova dimensão do espaço público contemporâneo”, orientada pelo Prof. Arq. Nuno Portas e Prof. Álvaro Domingues, em 2001. Licenciada em Arquitectura, pela Università degli Studi di Palermo (Itália), com tese de projecto orientada pelo Arq. Eduardo Souto de Moura e pelo Arq. Prof. Roberto Collovà, em 1996.Directora da Pós-Graduação em Arquitectura e Habitar Sustentável 2010/11, na ESAD. Co-ordenadora do Mestrado em Design de Interiores desde 2009. Coordenadora do Curso de Design de Interiores na ESAD, de 2001 até 2009. Docente da cadeira de Design de Interiores na ESAD, desde 1996.Autora de diversos artigos de crítica do Design e da Arquitectura, publicados em revis-tas especializadas nacionais e internacionais; Coordenadora do livro Do Habitar, Edições ESAD, Matosinhos 2005; Coordenadora do livro O projecto de Interiores, Edições ESAD/RAR Imobiliária, Matosinhos 2008. Autora do livro Paolo Deganello. As razões do meu projecto radi-cal, Edições ESAD, Matosinhos, 2009. Autora de vários projectos de Arquitectura e Design. Curadora da colecção Arquitectos Portugueses, ed. Quid Novi, Matosinhos, 2011, distribuída pelo Jornal Público. Autora da monografia José Gigante, Ed. Quid Novi, Matosinhos, 2011, distribuída pelo Jornal Público.

MARIA MILANOARQUITETA

COORDENADORA DO MESTRADO EM DESIGN DE INTERIORES ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E DESIGN - MATOSINHOS

Page 34: Dinâmicas #1

As jornadas do produto assumem-se como uma forma privilegiada de dinami-

zar e enriquecer o ensino do Design de Produto na Escola Artística Soares dos

Reis. Quando assumimos dinamizar as jornadas, o nosso primeiro objetivo foi o

de divulgar o trabalho de profissionais, que tenham contribuído para a qualifi-

cação do design em Portugal e no estrangeiro.

Como objetivo último pretendia-se que o contacto com estes profissionais desse

aos nossos alunos a oportunidade de alargarem os seus horizontes, de diversi-

ficarem o seu leque de conhecimentos e aprendizagens, de contactarem com

diferentes metodologias de trabalho, de aumentarem a sua cultura de design e

de os aproximar de uma realidade que poderá constituir o seu possível devir.

Em 2011 propusemo-nos realizar um ciclo de conferências que focalizassem

as quatro especializações do curso de design de produto. Estabelecemos que

este ciclo teria a duração de dois anos letivos. Desta forma, em 2011 começá-

mos pelas especializações de equipamento e joalharia e em 2012 concluímos

o ciclo com cerâmica e têxteis.

JORNADAS DO

PRODUTO

REFLEXÃO

Page 35: Dinâmicas #1

35

A escolha dos convidados pareceu-nos que devia ser feita de forma cuidado-

sa. Deveriam, por um lado ser designers ou empresas que possuíssem obra

marcante e de referência quer no mercado nacional quer internacional, e por

outro lado, deveriam possuir processos de trabalho suficientemente ricos e di-

versificados.

Porque as jornadas são feitas essencialmente para os alunos era fundamental

que tivessem uma vertente pedagógica e como tal, quando fizemos os contac-

tos, pedimos aos designers que relatassem o seu processo de trabalho desde

o aparecimento da primeira ideia até à concretização do objeto. Pretendíamos

também perceber como se conseguiram afirmar num mercado internacional

tão competitivo. Por esta razão, resolvemos atribuir a este ciclo de conferências

o nome de Percursos. Percurso da ideia.., percurso do objeto..., percurso do

designer…

Assim, as opções centraram-se: na marca de mobiliário Boca de Lobo, do gru-

po Menina Design, que já foi distinguida com vários prémios de design como

MARTA CRUZ | MICAELA REIS | SUSANA AFONSOPROFESSORAS DE PROJETO E TENCOLOGIAS

CURSO DE DESIGN DE PRODUTO DA EASR

Page 36: Dinâmicas #1

“Best Product Design 2010” pela revista JulyB (EUA) e

pela agência de tendências Nelly Rodi em 2009 e 2010;

na designer de joalharia Liliana Guerreiro que ganhou

vários prémios nos concursos de artesanato tradicional

e contêmporaneo da FIA, assim como o concurso inter-

nacional de filigrana da Câmara Municipal de Póvoa do

Lanhoso; na empresa têxtil NGwear que tem desenvolvi-

do um trabalho louvável na área dos tecidos inteligentes

e no designer de produto Fernando Brízio, considerado

um dos melhores designers portugueses da atualidade

com trabalho desenvolvido para Droog Design, Schre-

der, ExperimentaDesign, Fábrica Rafael Bordallo Pinhei-

ro e representado em museus como o Mude e o Moma.

Em 17 de Março de 2011 demos início à primeira sessão

com a Boca de Lobo e Liliana Guerreiro e em 17 de Abril

de 2012 o ciclo foi concluído com a NGwear e Fernando

Brízio.

A Boca de Lobo foi representada pelo designer Marco

Costa. A obra produzida pela empresa caracteriza-se

pela valorização e recurso das técnicas tradicionais

(ourivesaria, talha, metal, pintura de azulejo, trabalho de

vidro e vernizes alto brilho) adaptando-as a uma lingua-

gem contemporânea. Na sua intervenção Marco Costa

descreveu a metodologia de trabalho da marca desde

a sua conceção, à produção passando pelo estudo e

posição no mercado.

A designer Liliana Guerreiro, licenciada pela ESAD de

Matosinhos, fez uma abordagem a toda a sua obra as-

sim como ao processo de trabalho que a envolve. O seu

trabalho tem uma vertente fortemente ligada à técnica

tradicional da filigrana. No entanto, as suas peças liber-

tam-se dos cânones tradicionais e adaptam-se a uma

linguagem que já é a sua e em que, o círculo é a forma

de eleição.

REFLEXÃOJORNADAS DO PRODUTO

Page 37: Dinâmicas #1

NGwear é uma empresa vocacionada para a área têx-

til e de vestuário. As atividades da empresa são a pro-

dução de vestuário técnico em malha, com ênfase nas

características repelentes, anti-UV e termo-cromáticas.

Desenvolve artigos em parceria com o CITEVE (Centro

Tecnológico das Indústrias Têxtil e do Vestuário de Por-

tugal) e com o Instituto de Higiene e Medicina Tropical

da Universidade Nova de Lisboa.

O designer Fernando Brízio fez uma abordagem geral

a todo o seu trabalho e focou mais em pormenor, como

lhe tínhamos pedido, o trabalho realizado na área da ce-

râmica. Licenciado em design de Produto pela FBAUL é

atualmente um dos designers nacionais mais reconhe-

cido a nível internacional. A sua obra passa por áreas

distintas como a cerâmica, têxteis, mobiliário, interiores

e joalharia. A sua obra caracteriza-se por uma grande

simplicidade formal conjugada com um sentido de hu-

mor continuamente presente. Uma parte relevante do

seu trabalho, deixa em aberto uma possível mutação

gerada por diversos fatores tanto ambientais como hu-

manos. Como ele próprio afirma (…) os designers são

quase como coreógrafos do nosso dia a dia, pelo modo

como a forma dos objetos condicionam os gestos na

sua utilização. Na sua intervenção percebe-se também

a grande importância que atribui à dimensão simbólica

dos objetos.

Resta-nos agradecer a todos os que estiveram presen-

tes e tornaram estas jornadas possíveis e realçamos o

agradecimento à Mariana Rego pela colaboração pres-

tada.

MARTA CRUZ | MICAELA REIS | SUSANA AFONSOPROFESSORAS DE PROJETO E TENCOLOGIAS

CURSO DE DESIGN DE PRODUTO DA EASR

37

Page 38: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

Ao visitar a rua Miguel Bombarda e as artérias adjacentes encontramos sinais

de um processo de revitalização interna da cidade do Porto. Este despontar

e crescimento de espaços/projetos de arte, moda e vida urbana assenta di-

retamente na produção artística e de design de uma comunidade de autores

maioritariamente locais e nacionais que anseiam mostrar e partilhar o seu tra-

balho, intervindo, de forma qualificada, na esfera cultural e social da cidade.

Percebe-se que há agentes criativos e há públicos com uma escala capaz de

gerar correntes sociais e de, em consequência, atrair corporações e outras

entidades patrocinadoras que procuram a boleia desta “marca” emergente.

Não se está aqui perante um fruto de uma estratégia planificada e centralizada,

antes pelo contrário. Temos um movimento cosmopolita, impulsionado pelas

elites que, organicamente, se organizam para agitar o panorama cultural da

cidade e marcar a sua face.

Em simultâneo, no centro histórico da cidade do Porto, a par de um lento pro-

gresso na recuperação urbana de iniciativa municipal, assiste-se à abertura

de espaços de associam a natureza comercial a uma faceta cultural na qual o

design cerâmico, têxtil, joalharia e de equipamento pontuam. Parece emergir

uma alternativa à oferta de objetos do asfixiante universo da produção massifi-

cada que, há algum tempo atrás, era hegemónico e que, ainda assim, continua

Page 39: Dinâmicas #1

39

ARTUR GONÇALVESDIRETOR DE CURSO DE DESIGN DE PRODUTO

PROFESSOR DE PROJETO

a ser dominante. Afirmam-se nesta vaga renovadora vá-

rias perspetivas de oferta que vão desde o mundo dos

objetos de saudade, onde há uma recuperação pura e

simples de produtos e marcas portuguesas de meados

do século XX, apelativos num contexto de enfraqueci-

mento das memórias, passando pelo novo e delicado

artesanato urbano e não só, o chamado “craft”, movi-

mento ecológico com raízes nas culturas locais que se

difundiu nas cidades centro-europeias, até à ampla pro-

dução de design erudito, que apela a uma especial sín-

tese de valores de identidade/poética e modernidade/

racionalidade, sem esquecer o reforço dos espaços que

remetem para o objeto usado, para o retorno do bric-à-

-brac, uma reafirmação da intemporalidade das coisas

com qualidade.

A realidade que emerge do que atrás ficou descrito não

é exclusiva da cidade do Porto. Por todas as cidades

do mundo ocidental chegam sinais de reafirmação da

energia criativa das pessoas. Mais do que uma expres-

são de voluntarismos dispersos, a mudança em causa

é uma questão de sobrevivência. Economistas e soció-

logos, refletindo sobre as sociedades urbanas contem-

porâneas, alertam para a insustentabilidade do modelo

pós-industrial que remete para a dependência energéti-

ca, alimentar e da generalidade dos bens e para o res-

petivo desperdício. A fobia industrial das cidades nas

décadas finais do século anterior, aliada ao processo

de deslocalização, acelerou o esvaziamento produtivo

das cidades, deixando-as reféns de uma economia ter-

ciarizada, financeira e centralizada. “Local dollars, local

sense” é a expressão lançada por autores americanos

que pretende resumir o sentido da mudança necessária,

ou seja, colocar a ênfase na produção local, ampliar a

autonomia em todos os setores económicos para gerir

o processo com mais proximidade e assim fortalecer a

estrutura social, o sentido comunitário, a segurança e a

qualidade do ambiente.

D E S I G N

DARGÁSAO

Page 40: Dinâmicas #1

REFLEXÃODAR GÁS AO DESIGN

Há portanto que reconhecer a importância do renasci-

mento urbano e as potencialidades deste modelo num

processo de equilíbrio orgânico estre as cidades e o ter-

ritório a que pertencem. Há que olhar para esse território

físico e cultural e ver onde estão os recursos a partir dos

quais se construa uma economia com sentido para as

comunidades.

O caso da cidade do Porto é claro. As mudanças es-

tão a começar. Um processo idêntico está a germinar

em todas as cidades onde as pessoas intervêm com o

objetivo de retomar o controlo sobre a gestão e o de-

senvolvimento das suas comunidades. Os ativos de que

dispõem estão, em primeiro lugar, nas pessoas, nos

seus saberes e valores, na riqueza e diversidade do

património invejável legado pelas gerações anteriores,

nas vocações do ambiente físico e na disponibilidade

de matérias-primas aí encontradas.

Mais do que a mera arqueologia das estruturas indus-

triais arruinadas do passado, o tempo é para repor a

máquina em ação. Este é um tempo especialmente

desafiador para o mundo do Design. Paul Ricoeur, no

seu livro de 1961, Civilização Universal e Culturas Na-

cionais, tecia uma crítica ao modelo uniformizador do

modernismo, apresentando uma via alternativa entre a

marcha triunfante da civilização universal e o conserva-

dorismo da cultura vernacular. Era a via do “crepúsculo

do dogmatismo e o amanhecer do autêntico diálogo”

entre estes mundos. Creio que estamos num momento

em que é imperativo perceber esta questão, participan-

do e dinamizando projetos em que, na formulação dos

1 2

Page 41: Dinâmicas #1

2

41

ARTUR GONÇALVESDIRETOR DE CURSO DE DESIGN DE PRODUTO

PROFESSOR DE PROJETO

problemas, se consideram as dimensões local e univer-

sal, num processo de individualização e contextualiza-

ção que não pode nunca deixar de estar primordialmen-

te ligado ao desenvolvimento global.

Observando o caso da rua Miguel Bombarda, a rua das

galerias, a comunidade ligada ao Design poderá aí en-

contrar matéria para basear uma estratégia de mobili-

zação das cidades que, estabelecendo redes entre si

mesma e as áreas afins da arquitetura e do urbanismo,

criando pontes com a estrutura produtiva e comercial

existente, envolvendo os críticos e os meios de comuni-

cação social, de forma a, no difícil contexto atual, cum-

prir o seu papel fundamental de facilitar e dar significa-

do à vida das comunidades.

LEGENDA

1 Grandes Armazéns Nascimento, fotografia de Teófilo Rêgo, 1953, projeto do arquiteto Marques da Silva, concluído em 1927. Os Armazéns Nascimento eram uma importante firma de mobiliário que, no início do século XX e seguindo as lógi-cas da produção industrial, abasteciam a cidade do Porto e a região Norte do país.

2 Grandes Armazéns Nascimento, pormenor de interior, foto-grafia de Teófilo Rêgo, 1953.

3 Ruínas da “Fábrica do Gás”, unidade industrial que garantiu o fornecimento deste produto à cidade do Porto, localizada na marginal do rio Douro.

3

Page 42: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

Jan Amos Komensk - Comenius, nasce a 28 de março de 1592, na Morávia,

região da Europa Central, que corresponde hoje à atual República Checa, foi

o criador da Didática Moderna e filósofo do século XVII. Concebeu uma teoria

humanista e espiritualista da formação do homem assente no desenvolvimento

do raciocínio lógico e do espírito científico, na formação do homem religio-

so, social, político, racional, afetivo e moral. Comenius dá enfase ao respei-

to pelo estágio de desenvolvimento do jovem no processo de aprendizagem,

na construção do conhecimento através da experiência, da observação e da

ação. Defendia o conceito de que “as escolas têm de se abrir ao mundo exte-

rior”. Comenius, empresta o seu nome a esta Acção da União Europeia - Ao(s)

Projecto(s) Comenius.

Face à mudança de paradigma exigido por um mundo cada vez mais globa-

lizado, onde o conceito de distância se relativizou, mas, ao mesmo tempo, o

risco de exclusão se acentuou, a educação defronta-se hoje com desafios e

propostas pedagógicas, como é o caso dos projetos de parcerias multilaterais

“Comenius”, capazes de constituir uma mais-valia no processo de ensino e

aprendizagem, particularmente no ensino secundário e numa escola pública

especializada no ensino artístico que acolhe muitos alunos de diferentes ori-

gens, com variadas capacidades e diferentes níveis de conhecimentos.

De facto, a mudança, situa-se precisamente na proposta de construção de

projetos curriculares que tornem possível a (re)construção do currículo em face

das dificuldades diagnosticadas. Vivemos num tempo em que a colaboração

interdisciplinar europeia é exigida pela compreensão de que um novo mundo

em rápida transformação exige também novas abordagens das temáticas cur-

riculares e uma partilha de conhecimentos premente.

C O M E N I U Sum projeto sem fronteiras

A internacionalização do ensino e a relevância dos Projectos Comenius

Page 43: Dinâmicas #1

43

Enquanto Coordenadora deste Projeto, na área da Ouri-

vesaria/Joalharia da EASR, com frequência sou interpe-

lada face aos motivos que me levam a querer aumentar

a já “pesada” carga de tarefas a que me exige a escola.

É inegável que o envolvimento em projetos deste cariz

implica trabalho. Contudo, e apesar dos constrangimen-

tos existentes no ensino em geral e no secundário em

particular, onde habita uma lógica curricular organiza-

cional e de gestão rígida, que passa pelo pragmatis-

mo do funcionamento da própria escola-espaço físico,

até à obrigatoriedade de cumprimento dos programas

existentes, procuro, contornar esses condicionalismos e

implementar metodologias pedagógicas que potenciem

junto dos alunos o desejo e vontade de se envolverem

no seu próprio processo de aprendizagem. Outro dos

motivos que me leva há já alguns anos, a apresentar

a candidatura a este tipo de projetos subjaze na falta

de oportunidades que os nossos alunos têm para de-

senvolver projetos conjuntamente com jovens de cul-

tura e língua diferentes, aplicando, num universo mais

abrangente e mais cativante, o que lhes é ensinado nas

aulas de língua estrangeira e nas disciplinas de Projeto

e Tecnologias, Desenho; Físico-química aplicada às Ar-

tes, etc.

A consciencialização de alunos e professores para uma

realidade comunicativa diferente do contexto de sala de

aula, gera a motivação para a aprendizagem das lín-

guas estrangeiras e um aumento significativo do empe-

nho na abordagem das matérias e conteúdos curricula-

res da disciplina de Projeto e Tecnologias, com especial

enfoque na área da Ourivesaria/ Joalharia.

Relativamente às mobilidades de alunos, que se têm

vindo a realizar, a sensibilização para a nova realidade

europeia e integração desta em projetos artísticos as-

sociados à produção de ourivesaria/joalharia (períodos

de formação em escolas parceiras, prosseguimento de

estudos, participação em exposições e concursos euro-

peus, etc.), assim como o contacto direto entre alunos

de realidades culturais diferentes, contribuem para uma

maior valorização da sua identidade e cumulativamente

potenciam uma aproximação à construção de uma iden-

tidade e partilha de conhecimentos de dimensão euro-

peia, para além do desenvolvimento de competências

de estudo, socialização, comunicação e interação.

Ao longo dos anos, tenho vindo a constatar que os alu-

nos assinalam como pontos fortes do seu envolvimento

em projetos desta natureza, o aumento da motivação, da

capacidade de autorregulação da sua aprendizagem e

do seu aproveitamento, na verdade, esse aumento de

motivação provem, não só da variedade de estratégias,

técnicas e materiais usados, mas também do “poder”

A internacionalização do ensino e a relevância dos Projectos Comenius

MADALENA MENESESPROFESSORA DE JOALHARIA

CURSO DE DESIGN DE PRODUTO DA EASR

Page 44: Dinâmicas #1

REFLEXÃOCOMENIUS, UM PROJETO SEM FRONTEIRAS

que o aluno sente possuir quando lhe é dada a possibilidade e a respon-

sabilidade de regular a sua própria

aprendizagem.

Para os professores envolvidos, a mais-valia reside na planificação e ges-

tão conjunta de projetos, na qual se partilham novas metodologias e pe-

dagogias de ensino. Permite ainda comparar sistemas de educação e de

organização curricular e escolares diferentes que conduzem à inovação

pedagógica. Além disso e em conjunto, alunos e professores desfrutam

de experiências culturais que contribuem para o seu desenvolvimento en-

quanto indivíduos capazes de aprender com os outros e de conviver de

forma mais positiva com a diversidade e a diferença.

Para a Escola, a participação em projetos desta índole remete para uma

visão, da e sobre a escola, a qual passa a ser vista como veículo de co-

nhecimento científico, artístico e cultural, importante para a formação in-

tegral e social dos alunos e cujas aprendizagens passam a fazer sentido

para a construção de projetos de vida dos nossos jovens num contexto

de cidadania Europeia. Permite ainda à escola aumentar o seu prestígio,

sendo mais valorizada pelos alunos, pais e parceiros regionais, institucio-

nais e europeus.

Este é, com efeito, um projeto sem fronteiras, que me permite, numa aná-

lise retrospectiva, afirmar que os trabalhos desenvolvidos pelos alunos

da EASR evidenciam claras aptidões, tanto ao nível da formação técnica

e científica, como do ponto de vista cultural e artístico, para intervir inter

e pluridisciplinarmente na internacionalização do ensino. São igualmente

relevantes os resultados pessoais e socio/culturais, que se manifestam

no reforço da confiança e autoestima, o que favorece a expressão indivi-

dual, o trabalho de equipa, a compreensão intercultural e a participação

cultural.

Page 45: Dinâmicas #1

45

MADALENA MENESESPROFESSORA DE JOALHARIA

CURSO DE DESIGN DE PRODUTO DA EASR

“tem como ponto de partida a obra de RenéMargritte e a sua posterior influência no desenvolvimento dosurrealismo português. Nesta premissa foi desenvolvido,codificando símbolos deste movimento, dois pares de brincose um anel, que devem a sua forma a um trabalho de análise eestudo de um quadro de Mário Cesariny “Sopros” e do poemadeste mesmo autor “Faz-se luz”.Os objetos dão resposta diretiva do projeto Comenius: “Cecin’est pas un bijou”” Ana Raquel Torres

SOPROSbrincos

Page 46: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

A ENGENHARIA E O DESIGN DE PRODUTO...Engenharia e Design. A ciência e a arte juntas no desenvolvimento de um produto. Onde começa uma e acaba a outra? Como se articulam e interagem?

“O design é uma atividade criativa cujo objetivo é estabelecer as qualidades multifacetadas de objetos, processos, serviços

e sistemas em ciclo de vida. Portanto, design é o fator central da inovadora humanização das tecnologias e o fator crucial

para o intercâmbio económico e cultural “

Page 47: Dinâmicas #1

47

De acordo com o ICSID, Conselho Internacional das Sociedades de Design Industrial, “Design

is a creative activity whose aim is to establish the multi-faceted qualities of objects, processes,

services and their systems in whole life cycle. Therefore, design is the central factor of innovative

humanisation of technologies and the crucial factor to the economic and cultural exchange” 1. (apud

Rui Miguel et al, [2010?]), exigindo, a sua complexidade, a formação de equipas multidisciplinares

a interagir com diferentes sistemas de conhecimento: humanidades, tecnologia/engenharia, arte/

criatividade, marketing, economia e gestão. (Miguel R., 2010). De acordo com Mário Araújo (1995),

o design vê o produto por fora e a engenharia vê o produto por dentro; o design de produto vê o

produto por dentro e por fora, de forma interativa e multidisciplinar.

Assim sendo, o design de produto deverá ser cada vez mais uma atividade de equipa, exigindo que

o sistema produtivo convoque diferentes e diversificados recursos humanos qualificados, se quiser

alcançar os objetivos e convencer o mercado.

Desenvolvendo-se numa economia global, onde as fronteiras desaparecem do dia para a noite e as

empresas procuram, através da aplicação sistemática da inovação industrial, atrair para si clientes,

através de produtos de qualidade (conseguida pela simbiose entre a estética e a tecnologia), o

design de produto é hoje, época em que o consumidor se tornou exigente e a concorrência feroz,

uma atividade fundamental para o desenvolvimento económico e social de um país.

A engenharia e o design, ao contrário do que o senso comum poderá pensar, não se

posicionam como áreas antagónicas e irreconciliáveis. No design de produto, es-

tas duas áreas misturam-se numa simbiose perfeita e os princípios científicos, a in-

formação técnica colocam-se ao serviço da imaginação, da criação, da estética, na

definição de uma estrutura mecânica ou sistema de forma, a desempenhar funções

previamente especificadas com o máximo de economia e eficiência. (Araújo, 1995).

MARIANA RÊGOPROFESSORA DE TÊXTEIS

CURSO DE DESIGN DE MODA E DESIGN DE PRODUTO DA EASR

Page 48: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

arte ou design?MODA

Moda – arte ou design? A primeira dificuldade com que

nos confrontamos para tentar responder a esta questão

prende-se com as definições indefinidas do que é arte

e do que é design – quais os conceitos, qual a fronteira

que separa a arte do design?

Page 49: Dinâmicas #1

49

VERA SANTOSPROFESSORA DE TÊXTEIS

CURSO DE DESIGN DE MODA DA EASR

Várias são as propostas, algumas controversas, nada

objetivo e claro, nada que nos permita considerar a

moda uma arte ou olhá-la como design. A solução, a

tentação que espreita, impele-nos a olhar para a moda

como algo que fica no meio, reunindo e integrando as

duas vertentes – a arte e o design.

Na verdade, o termo moda tem estado intrinsecamente

relacionado com as mutações socioculturais. Para definir

moda, é imprescindível perceber a evolução desta no

tempo e na sociedade. A moda é entendida como “… o

processo de transformação incessante e de tendência

cíclica das preferências próprias dos membros de uma

dada sociedade, em todas as espécies de domínios”

(dicionário de sociologia, 1999).

Se analisarmos a moda, desde o final do século XIX

aos dias de hoje, percebemos instintivamente que

o conceito de moda pode ter nascido nas casas dos

grandes mestres costureiros, com a chamada alta-

costura, exclusiva da alta sociedade. Com a revolução

impulsionada pela juventude, nos anos 60, a moda

passa a ser criada nas ruas, influenciando as grandes

marcas, originando (talvez) o pronto-a-vestir.

Assim, numa visão simplista dos termos, associa-se o

termo “arte” a moda de alta-costura e o termo “design”

a moda pronto-a-vestir. Empiricamente, a analogia dos

modelos de alta-costura a objetos de contemplação –

objeto artístico/moda artística 1 - é clara. Por sua vez, os

modelos de pronto-a-vestir, pelas suas características,

em que a função é aliada a estética, têm subjacente

“design” como palavra de ordem. Neste contexto, Gilles

Lipovetsky afirma que “o design é um hino à estreita

modernidade e conota e valoriza, tal como a moda, o

presente social. (…) Hostil ao fútil, o design é todavia

subtendido pela mesma lógica temporal da moda,

a do contemporâneo, e revela-se uma das figuras da

soberania do presente. (…) Com tendência poetizada

e pós-funcionalista, o design, ao mesmo tempo que

opera uma viragem espetacular, limita-se a exibir mais

abertamente a sua essência-moda.” Moda é arte e é design. As duas palavras parecem

entrelaçar-se, entretecer-se, enquanto os fios das meadas

dos dois conceitos se perdem na arbitrariedade de uma

fronteira, que nem sabemos ao certo se existe.

“o arquiteto belga Henry Van de Velde defendeu uma moda artística baseada em dois princípios essenciais: a relação entre a linha e a forma em movimento, o que vale dizer, a construção dos elementos do traje em função dos movimentos do corpo, é a logica decorativa que visa uma ornamentação adaptada a estrutura da vestimenta” - in A MODA E A ARTE, Eugénia Tomaz.

Page 50: Dinâmicas #1

REFLEXÃO

No 10º ano, a proposta de trabalho é a realização e concretização de um

contentor e logo se colocam as questões de interior/exterior, aberto/fechado,

leve/pesado, etc.

Condicionados pelas características dos materiais a utilizar, questiona-se o

sabor da madeira, a temperatura da cerâmica e surgem as expressões de

rígido ou flexível, de duro ou mole, da curva ou da reta, não esquecendo que

no limite da circunferência, levando o raio até ao infinito, surge-nos a reta. No

entanto, a própria reta depende do referencial e do ponto de vista.

Mas não divagando e voltando à peça do 10º ano, coloca-se a questão: é

um contentor de quê? Já na “Caixa de Pandora” se retirava do seu interior os

desejos e esperanças que se abrem para o mundo, para o exterior; também

na peça a criar, esse interior pode ser o do aluno que se reflete na aparência

visível da peça.

E a fronteira do rigor? Desenho rigoroso à mão? Ou com régua? Ou é o pen-

samento que é rigoroso?

É como andar na “corda bamba” sempre a mostrar as nossas habilidades. A fronteira pode ser tangível ou imaterial.

Em Design de Produto, no processo criativo, há mo-mentos de desespero e raiva e, do outro lado da fron-teira, de paixão e criatividade. Não se consegue dis-tinguir se a ideia surgiu a dormir ou acordado mas sabe-se que a forma é real e tem sentido.

Page 51: Dinâmicas #1

51

CONCEIÇÃO MAGALHÃESPROFESSORA DE PROJETO DA EASR

Page 52: Dinâmicas #1

“Das coisas nascem coisas.” BRUNO MUNARI

Peter Behrens foi considerado o primeiro designer industrial de produtos de uso, foi um arquitecto de formação, um dos mais influentes da Alemanha no começo do século XX e um dos fundadores da Deutscher Wekbund (grupo de artistas e artesãos que se uniram em 1907 para aproximar a industria da sociedade como forma de melhorar a vida de todos).Produziu um grande número de objectos como talheres, relógios, peças cerâmicas, móveis, utensílios para cozinha, etc.Foi contratado pela a empresa AEG, para recriar o logótipo e toda a identidade corporativa da empresa, além encarregar-se da arte gráfica publicitária.Onde se destacou mais foi no fabrico de objectos como chaleiras eléctricas, ventiladores, móveis, relógios, todos livres das grafias decorativas e com a forma como resultado da função.

Os objectos que ele produzia tinham a presença de formas simples e geométricas, como se pode verificar nas suas chaleiras.Os materiais que geralmente utilizava nas suas chaleiras eram 3 tipos de metal, mas o mais utilizado suponho que tenha sido o latão.Behrens fazia parte do movimento Dustsche Werkbund juntamente com outros doze artistas. Entre eles o que possui maior destaque é Peter Behrens.A Werkbund também tinha a preocupação de dar espaço aos jovens iniciantes e entre estes que tiveram contacto com Behrens estavam, Jesef Hoffmann, Henri van de Veld, Bruno Taut e Wlter Gropius. No amadurecimento da Werkbuns Peter Behrens teve importância prática, enquanto Henri Van de Velde contribuiu de forma intelectual.No pós-guerra Behrens desiste do classicismo e adota as formas medievais, enquanto as ideias da Werkbund sobreviveram dentro da Bauhaus.

CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2011.12PROJETO

Page 53: Dinâmicas #1

53

Nome do objecto: ANEL BEHRENSmAteriAis: LATÃO

CÍNTIA SILVA

obecto de referêNciA: CHALEIRA ELÉCTRICA; Autor: PETER BEHRENS; mAteriAis: LATÃO, PALHINHA E MADEIRA

Quando alguém diz “isto também eu sei fazer”, quer dizer que o sabe Refazer, se não tê-lo-ía já feito antes de Bruno Munari em “Das Coisas Nascem Coisas”. A história do design como motor de inspiração no desenvolvimento de novos produtos. A chaleira de Peter Behrens serviu de elemento referenciador na concretização do projeto de um anel.

O anel é constituído por uma pirâmide octogonal, sem base (octogonal como a chaleira), o interior dessa pirâmide tem uma textura idêntica à da chaleira e uma meia calote polida. O aro é rectangular tal como a pega (da chaleira) e encaixa em duas das faces da pirâmide.

Page 54: Dinâmicas #1

CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2011.12PROJETO

A forma circular surgiu para oferecer um maior dinamismo à peça

e a motivação à libertação desejada nas crianças. Quando o pa-

pel já estivesse suficientemente gasto, apenas seria necessário

retirar a folha do topo e, logo a seguir, já se ia encontrar uma

nova folha visto que o tampo da mesa seria como um bloco.

A forma circular, no entanto, trazia um grande problema, o des-

perdicio de papel na produção do bloco/tampo. A solução,não

fugindo ao objetivo da ideia, estaria na alteração do formato da

mesa passando para um formato quadrangular. Desta forma, o

desperdício de papel já não seria tão grande, sendo o objetivo,

caso este objeto fosse produzido na realidade, serem vendidas

recargas especialmente produzidas para a mesa.

O tema da proposta de trabalho tinha em vista as crianças e

pretendia-se a realização de um objeto para equipar parques

infantis ou jardins escolares.

...Após a proposta ter sido lançada, uma ideia ocorreu-me quase de imediato: uma mesa, carregada de papel tendo este a forma da mesa e com um copo, para armazenamento dos materiais, no centro. M E S A E M P É

Page 55: Dinâmicas #1

MATILDE MAIA

55

800200

600

50

50

800

Escola Artística Soares dos Reis

U4- Produto G

lobal

Design de Produto

Mesa de D

esenho para Crianças (vista de frente e cim

a)

Matilde Perdigão M

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30.05.2012

Escala 1:8

PRODUCED BY AN AUTODESK EDUCATIONAL PRODUCT

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...Sendo uma “mesa em pé”, como lhe chamei, o objectivo seria, os utilizadores fazerem sobre ela um desenho em conjunto estando todos a desenhar no mesmo suporte, com total liberdade para se expressarem, usando os mesmos materiais, entreajudarem-se e desenvolverem o seu lado criativo fugindo um pouco à ideia habitual em que um desenho é algo individual ou algo “rígido” na medida em que teriam que estar sentados numa cadeira concentrados naquilo que cada um estaria que fazer.

Page 56: Dinâmicas #1

A proposta de trabalho consistia no desenvolvimento

de dois objetos “para a mesa” a partir de 2 formas

apresentadas. Na criação da linha de objetos deveri-

am ser concebidos dois contentores (um para líquidos

e outro “indiferenciado” com tampa), incluindo mate-

riais associados às duas tecnologias frequentadas. O

processo de exploração de ideias seria desenvolvido

a partir da inversão, rotação, subtração, secção de

uma, ou, das duas formas apresentadas.

PRODUTO GLOBAL

f o r m a s i n i c i a i s

CURSO DESIGN DE PRODUTO | 11ºANO _ EASR | 2011.12PROJETO

Page 57: Dinâmicas #1

A partir da duas formas propostas para criar uma linha de objetos para mesa, foi decidido realizar um serviço de chávenas.

Procurou-se que este serviço fosse composto por contentores com as mesmas características podendo estes servir não só para conter líquidos, servidos ao pequeno-almoço (chá, sumos, leite, meias de leite etc) como também poderiam conter açúcar, chocolate em pó e outros “alimentos” que complementassem estes mesmos líquidos.

Neste sentido estes contentores possuem uma utilização versátil cujos elemen-tos completam-se uns aos outros, facilitando o transporte e armazenamento.

SARA MAGALHÃES

57

Page 58: Dinâmicas #1

CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO CERÂMICA _EASR | 2011.2012PROJETO

Este vaso e prato têm como tema a vida portuense.

Tem o objetivo geral de “modernizar” os tradicionais vasos de manjerico utilizados

para a festa popular mais portuense, o S. João.

O vaso em cerâmica parte de uma forma simples, um cone invertido. O motivo de

decoração, que aposta numa técnica de vazamento da parede do vaso, cria a liga-

ção com a planta, dando a sensação de sua continuidade. O prato quebrará com

as cores neutras devido à utilização de uma peça polimérica que adquire uma das

duas cores disponíveis, o roxo e o vermelho, possibilitando a visualização da quan-

tidade de água disponível. A ligação das duas peças será resultando do simples

repouso do vaso a aberturas existente no prato.

S. João com mangericoUma tradição antiga, um vaso novo.

Com estas duas novas peças será possível inovar a apresentação desta planta sim-

bólica do S. João. Assim sendo as pessoas poderão ter um vaso que as cative

mais, e quem sabe, as faça ter mais curiosidade em descobrir mais coisas sobre a

planta, sem esquecer que devido às três dimensões existentes de vasos e pratos, é

possível ir acompanhando o crescimento do manjerico, adaptando-se e mantendo

a mesma estética.

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S. João com mangericoUma tradição antiga, um vaso novo.

INÊS OLIVEIRA

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PROJETOCURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTOEASR | 2012.13

E Q U I PA M E N T O E X P O S I T O R p a r a d i v u l g a ç ã o d a e a s r

T A V O L O

um P R O B L E M AOs expositores existentes na escola que não facilitam o

transporte nem a arrumação porque são constituídos por

estruturas pesadas e fixas (não desmontáveis).

um C A M I N H OEste projecto pretende criar um equipamento expositor

de divulgação e representação da escola, que possa ser

transportado e arrumado com facilidade, assim como tam-

bém poderá expor mais do que um tipo de objectos (ver-

satilidade), respeitando a antropometria e ergonomia de

todo o ser humano (acessibilidade).

uma S O L U Ç Ã OPara responder a estes problemas desenvolveu-se um ob-

jecto bastante simples que tem uma variedade de posi-

ções que permitem expor mais do que um determinado

conjunto de objectos, assim como uma grande facilidade

de arrumação e transporte.

Composto essencialmente por um tampo, duas pernas em

forma de U e um eixo, através das diferentes perfurações

nas pernas, o eixo pode ser encaixado conferindo várias

configurações possíveis ao objecto:

- expositor horizontal (para objectos ou cartazes)

- expositor vertical com várias amplitudes (para cartazes)

- varão expositor de peças de vestuário

- estrutura para colocação de prateleiras (para objectos)

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AFONSO CASTRO

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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _ EASR | 2011.12PROJETO

Porque é que os portuenses não o fazem de forma a alargarem

o âmbito do consumo deste produto tão ligado à história e à

economia da cidade?

Respondendo a este desafio, criei a bomboneira “BOM PORTO”,

especialmente dedicada aos bombons de vinho do Porto. Neste

projeto todas as formas que integram a peça têm como objetivo

evidenciar elementos ligados ao “néctar dos deuses”, tal como

a recriação da técnica da tábua trincada, característica da con-

strução dos barcos rabelos, do efeito de cascata e de turbulên-

cia das águas do rio Douro e da transparência, cor e brilho do

vinho. Assim se afirma a dimensão simbólica da peça.

Um projeto de bomboneira para “Porvinos” (Bombons de vinho do Porto)

Chegar a “BOM PORTO”

Em países como a Alemanha e a Inglaterra, para além de se apreciar como bebida, enaltece-se o valor do vinho do Porto com inovação e criatividade, fazendo-se experiências com o produto das quais resultam chocolates, geleias, doces, mousses, entre outros produtos requintados e deliciosos.

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CARINA CARMO

A bomboneira oferece no plano superior um tabuleiro, e três gavetas distribuídas em níveis sobrepostos. A construção da estrutura é reali-zada em madeira de duas espécies: Wenge e faia, numa aposta de contraste de cor e de en-ergia. A transparência das frentes de gaveta é dada pelo acrílico e os “puxadores”, em fio de algodão, são fixados com nós de marinheiro. O tabuleiro é realizado em latão cromado.

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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _ EASR | 2011.12PROJETO

castanhas para sobremesa

Um bom S. Martinho com o “Casquiço”!

Dimensões: Diâmetro – 372 mmAltura – 168 mm

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Um bom S. Martinho com o “Casquiço”!

ELSA PINTO

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Formalmente o “Casquiço” deriva do ouriço da castanha e o mesmo acontece com as cores e tex-turas dos materiais em que é realizado - a madeira de castanho e o cobre.

Funcionalmente é um objeto de ir à mesa das fa-mílias para nele serem servidas as castanhas as-sadas ou cozidas.

De facto, uma cidade não é apenas o conjunto das casas, da paisagem envolvente, mas as pessoas que habitam esse lugar e marcam gerações, caracterizando de tal modo a cidade que se torna inconfundível, desde materiais, ruas, casas, pessoas, cheiros, visões, conver-sas, pronúncias e gerações que vão deixando pequenos contributos. O povo vive e constrói as tradições. Através delas conseguimos cara-cterizar um determinado povo.Uma das maiores festas dos arredores do Porto é o São Martinho, destacando-se a feira de Penafiel. É em Setembro, no tempo das castanhas!

O objeto criado transmite e representa o valor que a

castanha (símbolo da tradição de S. Martinho) exerce

sobre a sociedade e um dos objetivos é que este ob-

jeto se torne emblemático nesta altura do ano, repre-

sentando mais do que um mero alimento na sociedade

portuense.

O “Casquiço”, nome dado ao objeto (casqu- casca, iço-

-ouriço) transmite quatro valores importantes no projeto,

nomeadamente o valor de uso: servir as castanhas sem

“violar” a tradição, mas dinamizá-la; o valor de troca

não será alto, pois se é um objeto para o povo, terá

que ser produzido em série; o valor simbólico que já foi

referido acima (realçar os valores da castanha) e um va-

lor estético que, a propósito desta escolha do conceito,

tem uma marca orgânica.

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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO EQUIPAMENTO _ EASR | 2011.12FORMAÇÃO EM CONTEXTO DE TRABALHO - LARUS

PROJETO

[…]defini o problema[…]fiz o levantamento de locais

onde, por ser proibido fumar, o indivíduo é obrigado

a deslocar-se para a via pública…questionei aspetos

relacionados com o equipamento a projetar: que tem-

po que irá ser utilizado pelo fumador?; amovível/ des-

montável? deverá ter cobertura?; assento? quantos uti-

lizadores?[...] O objeto deverá ser: de fácil arrumação,

sólido, estável, fácil conservação e limpeza.

[…] analisei os espaços envolventes e os aspetos an-

tropométricos e ergonómicos. Tornou-se ainda indis-

pensável, a realização de uma pesquisa/ levantamen-

to das posturas adquiridas por fumadores de forma a

perceber as dimensões ideais para um equipamento

deste género. Conclui que: um fumador gosta de fu-

mar tranquilamente e em posição relaxada. Assim, de-

fini que o equipamento a projetar será essencialmente

constituído por um balcão de apoio com cinzeiro in-

corporado, apoio para pés e cobertura de ensombra-

mento.

A falta de instalações próprias para fuma-dores, assim como o incómodo e a falta de comodidade para quem tem de se deslocar para o exterior de um estabelecimento, junto à porta, para fumar, bem como o impacto que um fumador cria à entrada de um estabele-cimento tornam-se um problema. O objetivo neste projeto é criar equipamento/mobiliário de exterior para fumadores […] considerei como mais relevantes a questão do conforto para um fumador na via pública e a degrada-ção do meio ambiente devido ao lixo prove-niente do tabaco.

E N C O S T A

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JOÃO PEDRO MOURA

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O fumador pode encostar-se, pode apoiar o pé e ainda pousar

qualquer tipo de objeto que traga ou não do interior do estabele-

cimento. Possui também uma placa de acrílico translúcido para

que seja possível a colocação de uma folha A4, onde poderá

conter publicidade, informações do estabelecimento ou até uma

notícia de destaque.

O cinzeiro, em aço inoxidável de fácil manutenção e limpeza, é

colocado na extremidade da peça, para evitar o contacto com

bebidas ou produtos alimentares que possam estar no balcão[…]

A cobertura é uma tela feita em polyester banhada em PVC o que

permite ser bastante flexível, quase como um pano. Isto faz com

que a tela vá sendo enrolada à medida que a fechamos, o que

facilita a arrumação.

Page 68: Dinâmicas #1

CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO JOALHARIA _EASR | 2011.2012PROJETO

A moeda acompanha a evolução do Homem e da sociedade em que este está inserido, já que, apesar da sua pequena dimen-são, transmite-nos imensas informações, provando factos, corporizando figuras míticas e reais, que nos levam à época, às crenças, aos costumes, à cultura de uma determinada região, representando um povo, uma comunidade.

Nas moedas eram cunhados vários símbolos de Portugal: Os nossos reis, o brasão, o selo de D. Afonso Henriques, a epigrafe, entre outros, valorizando a pátria.Observamos igualmente várias moedas onde é cunhada a forma do ramo de oliveira.Já os gregos associavam a oliveira à força e à vida.

Vejamos então a nossa pátria com outros olhos, como uma nação vitoriosa, como uma pátria renascida. O ramo de oliveira simboliza vitória, uma nova vida e uma nova força para o nosso país.

PATRISTRABALHO PREMIADO COM O 1º LUGAR NO CONCURSO DE OBJETO DE MERCHANDISING

PARA O MUSEU DO DINHEIRO | BANCO DE PORTUGAL

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CLAUDIA FONTESCLAUDIA FONTES

Esta jóia apresenta a pátria com uma nova visão, uma pátria renascida, um Portugal novo.Patris simboliza o valor de Portugal, o que o país representa, o que já foi e o que pode vir a ser.Esta peça tem aproximadamente 33 centímetros de altura, 16 de largura e 3 milímetros de espessura. Pode ser realizada em feltros, borracha, silicone ou resina flexível. A peça pode ter entre 2,5 a 4 mm de espessura

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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO JOALHARIA _ EASR | 2011.12PROJETO

TRABALHO PREMIADO COM O 1º LUGAR NO CONCURSO DE JOALHARIA DO XXº ENCONTRO DO PLE

“«Lavoura» simboliza uma dimensãoespácio-temporal e um ideal a reter, o

suceder de épocas, de vidas que se expandem e se moldam em continuidade a partir de um ponto.

A leitura decrescente é a retrospecção de toda uma vida, de uma cultura, é subir os degraus que

descemos para aprender a descer os que restam.”JOANA RIBEIRO

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TRABALHO PREMIADO COM O 1º LUGAR NO CONCURSO DE JOALHARIA DO XXº ENCONTRO DO PLE

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JOANA RIBEIRO

“O principio é o de que matéria prima que extraímos da natureza e transformamos conforme as nossas necessidades volta sem-pre à natureza, isto é, a matéria percorre um ciclo de renovação e nunca é perdida. Porém, este mecanismo natural é lento com-parativamente ao ritmo de produção e desperdício de resíduos a que a sociedade ocidental se habituou. Este desequilíbrio tem consequências graves a vários níveis e começamos hoje a descobrir a importância de uma gestão responsável e eficiente dos recursos disponíveis. Deste modo torna-se essencial o de-senvolvimento e aplicação de materiais alternativos no design.” JOANA RIBEIRO

“Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.”

LAVOISIER

Materiais: latão e polipropilenoDimensões: 8 x 3 x 13 cm

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CURSO DESIGN DE PRODUTO | ESPECIALIZAÇÃO TEXTEIS_ EASR | 2011.12PROJETO

Uma “sociedade transparente” onde tudo é visto de cima.

TRABALHO PREMIADO COM O MENÇÃO HONROSA NO CONCURSO DE OBJETO DE MERCHANDISING PARA O MUSEU DO DINHEIRO BANCO DE PORTUGAL

Page 73: Dinâmicas #1

Uma “sociedade transparente” onde tudo é visto de cima.

GABRIELA MAGALHÃES

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Este projecto tenta trazer positivismo à sociedade, nesta época de crise

sócio-económica e de valores. O padrão “Translúcido” tem como essência “a

troca”, tal como nos primórdios da existência Humana. Mas, neste caso, aplica-

-se à sociedade atual, que funciona na base do dinheiro. Assim, o produto

transmite, com força e convicção, o lado positivo deste e a crença no trabalho

justo e no fim da corrupção. Este padrão é estampado digitalmente num tecido

esponjado e envolvido em PVC cristal (tecido técnico transparente), existindo,

sem dúvida, uma relação entre o conceito de “sociedade transparente” e o teci-

do. Por fim, foi aplicado em dois produtos: numa capa de computador e como

revestimento de um caderno, podendo ser adaptado a outros objetos.

Não há corrupção, não há mentiras, nem esconderijos.

É uma sociedade limpa, onde o dinheiro se obtém pelo esforço

de cada um, sabendo-se de onde vem, onde foi conseguido e

para onde vai, sem mais valias que apenas servem alguns.

Page 74: Dinâmicas #1

LIVRO

“ o meu amigo Antonio reboloni diz:

« Quando um problema não se pode resolver, não é um problema. Quando

um problema se pode resolver, também não é um problema. » e com efeito

é verdade. mas esta afirmação origina algumas observações: é necessário

antes de tudo saber distinguir se um problema é resolúvel ou não. E para

saber é preciso ter experiência, sobretudo técnica, que tem o meu amigo

Antonio. Mas que pode fazer um designer no inicio da sua actividade?”

munari (2011, p.39)

“O problema de design resulta de uma necessidade.” Archer

“Das coisas nascem coisas”

“Projectar é fácil quando se sabe o que fazer. Tudo se

torna fácil quando se conhece o modo de proceder para al-

cançar a solução de algum problema, e os problemas que se

nos deparam na vida são infinitos: problemas simples que pa-

recem difíceis porque não se conhecem os problemas que se

mostram impossíveis de resolver.

Se se aprender a enfrentar pequenos problemas pode-se pen-

sar também em resolver problemas maiores. O método pro-

jectual não muda muito, apenas mudam as áreas: em vez de

se resolver o problema sozinho, é necessário no caso de um

grande projecto aumentar o número dos especialistas e dos

colaboradores; e adaptar o método à nova situação.

Neste livro sobre metodologia projectual são apresentados

alguns pequenos problemas e outros mais complexos, tendo

sempre em vista o que se deve fazer para os resolver. Todos os

exemplos são comunicados ao leitor de acordo com o método

seguido para projectar a sua solução. O conhecimento deste

método tornará mais fácil o projecto de outros problemas.

O leitor não encontrará neste livro a forma de projectar uma

astronave nem outros grandes projectos ilusórios baseados

exclusivamente na livre e incontrolável fantasia pessoal dos

projectistas; mas encontrará exemplos ao alcance de toda a

gente que tenha o bom senso de fazer face aos problemas

reais, aqueles que aparecem normalmente. “

Bruno Munari

Page 75: Dinâmicas #1

METODOLOGIA PROJETUAL

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BRUNO MUNARI (n.24/10/ 1907 - f.30/09/1998

Nasceu em Milão (Itália) em 1907, onde viveu e de-senvolveu grande parte do seu trabalho no campo das artes e do design. Ao longo do seu percurso profissional foi reconhecido com diversos prémios, entre os quais:

1954/ 1955/ 1979 Compasso d’Oro prêmio da ADI (Associazione per il Disegno Industriale) 1957 Medalha de Ouro da Triennale di Milano1974 Prêmio Andersen como melhor autor infantil 1974 Menção Honrosa da Academia de Ciências de Nova York 1985 Prêmio de Design da Fundação Japão1986 Prêmio Lego 1988 Award da Accademia dei Lincei 1971/ 1973/ 1987 Prêmio Spiel Gut de Ulm 1989 In architettura Honoris Causa da Universidade Genova 1990 ADCI Milão Hall of Fame em Criatividade e Comunicação 1992 Academia de Brera - Marconi prêmio 1994 Cavaliere di Gran Croce

Page 76: Dinâmicas #1

BREVES

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FRONTEIRAS

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s.f. 1 linha que delimita uma região ou um território fixando a sua extensão; estrema; raia; 2 linha de separação entre dois territórios ou países; 3 o que separa duas coisas distintas ou contrárias (De fronte + -eira)

Dicionário da Língua Portuguesa 2006 - Porto Editora

FRONTEIRA

Page 78: Dinâmicas #1

ESCOLA ARTÍSTIC A DE SOARES DOS REIS

[email protected]