lara, marilda l. g.; smit, johnanna w. temas de pesquisa em ciência da informação no brasil

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  • Temas de pesquisa emCinCia da informao

    no Brasil

    organizao

    Marilda Lopes Ginez de LaraJohanna Smit

    ANCIB Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao

    Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao ECA/USP

    Escola de Comunicaes e Artes Universidade de So Paulo

    ISBN 978-85-7205-081-4

  • Temas de Pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

  • ANCIB Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao

    Programa de Ps-Graduao em Cincia da Informao ECA/USP

    Temas de Pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    Organizao:Marilda Lopes Ginez de Lara

    Johanna Wilhelmina Smit

    Escola de Comunicaes e ArtesSo Paulo, 2010

  • ANCIB Gesto 2006-2008Diretoria:Presidente: Marisa Brscher (UNB)Vice-Presidente: Lgia Caf (UFSC)Secretria Geral: Henriette Ferreira Gomes (UFBA)Conselho Fiscal:Membro docente: Edna Lucia da Silva (UFSC)Membro docente: Lillian Maria Arajo de Rezende Alvares (UNB)Membro discente: Helia de Sousa Chaves Ramos (UNB)

    ANCIB Gesto 2008-2010Diretoria: Presidente: Joana Coeli Ribeiro Garcia (UFPB) Vice-Presidente: Valdir Jose Morigi (UFRGS)Secretria Geral: Maria Das Graas Targino (UFPI) Conselho Fiscal: Membro docente: Gilda Olinto (IBICT/MCT) Membro docente: Sandra de Ftima Santos (UFPR) Membro discente: Izabel Frana de Lima (UFMG)

    Comisso Cientfica do VIII ENANCIB (2008)Helena Crivellari (UFMG). Ida Regina Chitt Stumpf (UFRGS)Lena Vania Ribeiro Pinheiro (IBICT)Ldia Alvarenga (UFMG)Regina Maria Marteleto (UNIRIO)Ricardo Barbosa (UFMG) Sarita Albagli (IBICT) Silvana Ap. Borsetti Gregorio Vidotti (UNESP-Marlia)

  • Temas de Pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    Organizao:Marilda Lopes Ginez de LaraJohanna Wilhelmina Smit

    Escola de Comunicaes e ArtesSo Paulo, 2010

  • Coordenao editorial: Marilda Lopes Ginez de LaraNormalizao Bibliogrfica: Juliana Almeida dos SantosReviso: Diego Lemos, Lvia Furtado, Mariana Rodrigues, Nathlia Dimambro,

    Pietro Fabrizio, Quezia CletoDiagramao: Diego Lemos, Lvia Furtado, Mariana Rodrigues, Nathlia

    Dimambro, Pietro Fabrizio, Quezia CletoProjeto Grfico: Mariana Rodrigues, Quezia CletoCapa: Pietro Fabrizio

    Catalogao na PublicaoServio de Biblioteca e DocumentaoEscola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo

    Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil / organizao: T278 Marilda Lopes Ginez de Lara, Johanna Wilhelmina Smit. So

    Paulo : Escola de Comunicaes e Artes/USP, 2010.

    ISBN 978-85-7205-081-4Bibliografia no final dos captulos

    1. Cincia da informao 2. Cincia da informao Pesquisa BrasilI. Lara, Marilda Lopes Ginez de II. Smit, Johanna Wilhelmina III. Universidade de So Paulo. Escola de Comunicaes e Artes.

    CDD 21.ed. 020

  • Sumrio

    1 Os Enancibs e a Cincia da Informao brasileira: Introduo p. 9Marilda Lopes Ginez de Lara (ECA/USP) e Johanna Wilhelmina Smit (ECA/USP)

    2 Grupos de trabalho: recortes da pesquisa contempornea em Cincia da Informao no Brasil p. 21

    Marisa Brscher (ANCIB) e Lgia Caf (ANCIB)

    3 Disperso e unidade: Para uma potica da simpatia p. 29Olga Pombo (Universidade de Lisboa)

    4 Tematizando o objeto da Cincia da Informao: uma arqueologia da escrita p. 47

    Ldia Silva de Freitas (UFF)

    5 Entre o silncio e o alarido: Wittgenstein na Cincia da Informao p. 65 Gustavo Silva Saldanha (UFMG)

    6 Organizao da Informao ou Organizao do Conhecimento? p. 85Marisa Brscher (UnB) e Lgia Caf (UFSC)

    7 Esquema de classificao para recuperao de informao em projetos de engenharia p.103

    Renata Maria Abrantes Baracho (PPGCI UFSJ) e Beatriz Valadares Cendn (UFMG)

    8 Mediaes para a leitura na universidade: aes docentes e da biblioteca p. 121

    Henriette Ferreira Gomes (UFBA)

    9 Leitura e obteno de conhecimento nas histrias em quadrinhos de super-heris p. 139

    Lgia Maria Moreira Dumont (UFMG) Rubem Borges Teixeira Ramos (PPGCI UFMG) 10 Narrativas De Histrias Na Aprendizagem Organizacional p. 161

    Valrio Brusamolin (UnB)

  • 11 Necessidade, busca e uso da informao: A Influncia Dos Fatores Cognitivos, Emocionais E Situacionais No Comportamento Informacional De Gerentes p. 177

    Frederico Cesar Mafra Pereira (UFMG)

    12 Polticas pblicas de informao: a (no) construo da poltica nacional de arquivos pblicos e privados (19942006) p. 199

    Jos Maria Jardim (UFF)

    13 Produo de conhecimentos por meio de conhecimentos: A Outra Produo No Capitalismo Cognitivo p. 215

    Gilvan de Oliveira Vilarim (PPGCI - ESS/UFRJ; UNIFESO) e Giuseppe Cocco (IBICT)

    14 Representaes das prticas e da identidade profissional dos bibliotecrios no mundo contemporneo p. 229

    Valdir Jos Morigi (UFRGS) e Magali Lippert da Silva (UFRGS)

    15 O ensino de biblioteconomia no Brasil e asspectos de sua dimenso curricular: um exame dos ditos e no ditos na coleo de documentos da ABEBD p. 245

    Francisco das Chagas de Souza (UFSC)

    16 As redes cognitivas e a produo do conhecimento em Cincia da Informao no Brasil: um estudo nos peridicos da rea p. 263

    Edna Lcia da Silva (UFSC) e Liliane Vieira Pinheiro (UFSC)

    17 Rede de textos cientficos: um estudo sob a tica da institucionalizao da Cincia da Informao no Brasil p. 283

    Murilo Artur Arajo da Silveira (UFPE) e Rogrio Eduardo Rodrigues Bazi (PPGCI PUCCAMP)

    18 Imagem, Fotografia, Imagem p. 305Maria Jos Vicentini Jorente (PPGCI UNESP), Telma Campanha de Carvalho Madio (PPGCI UNESP) e Plcida L.V.A. da Costa Santos (UNESP)

    19 Arquitetura da Informao para Ambientes Informacionais Digitais p. 325

    Liriane Soares de Arajo de Camargo (PPGCI UNESP) e Silvana. Ap. Borsetti Gregorio Vidotti (UNESP)

  • 11

    1 Os Enancibs e a Cincia da Informao brasileira: Introduo

    Marilda Lopes Ginez de Lara (ECA/USP)Johanna Wilhelmina Smit (ECA/USP)

    1 contexto nacional da pesquisa em Cincia da Informao: alguns indicadores

    A Cincia da Informao vem se firmando no Brasil, como parte da prpria afir-mao da rea no mbito internacional. So vrios os indicadores dessa situao, sen-do o mais evidente deles a institucionalizao da rea junto a CAPES, como sub-rea das Cincias Sociais Aplicadas I. Tambm contribuem para esse reconhecimento, os ndices de financiamento da pesquisa (bolsas e fomento) do CNPq, que vm conhe-cendo um crescimento progressivo desde 2002, como se pode ver abaixo:

    Tabela 1 Total dos investimentos realizados em bolsas e no fomento pesquisa em Cincia da Informao, CNPq, 1998-2006Investimentos em R$ mil correntes

    2002 2003 2004 2005 2006Bolsas 848 1.074 1.345 1.538 2.115Fomento pesquisa 0,2 0,2 0,2 0,2 0,3

    Fonte: site do CNPq http//www.cnpq.br

    Outro indicador significativo o aumento do nmero de peridicos especializa-dos e avaliados pelo QUALIS. At 2008, existiam seis ttulos de peridicos especficos sobre Cincia da Informao e um de Comunicao e Informao classificados como QUALIS A Nacional. Eles so listados abaixo:

    Cincia da Informao (IBICT) http://www.ibict.br/cionline/ DataGramaZero (IASI) http://www.dgz.org.br/ Encontros BIBLI: Revista de Biblioteconomia e Cincia da Informao (UFSC) http:// www.encontros-bibli.ufsc.br/Informao & Sociedade: Estudos (PPGCI-UFPB) http://www.informacaoesociedade. ufpb.brPerspectivas em Cincia da Informao (UFMG) http://www.eci.ufmg.br/pcionline/ index.php/pciTransInformao (PUC_CAMP) http://revistas.puc-campinas.edu.br/transinfo/index.php InTexto (PPGCom-UFRGS) http://www.intexto.ufrgs.br/

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    12

    A institucionalizao da rea vem sendo firmada no Brasil desde 1970, conforme se verifica abaixo:

    Quadro 1 Cursos e Programas de Ps-Graduao em Cincia da Informao reconhecidos pela CAPES (nov. 2008)Universidade /

    Instituio Cidade Programa / CursoIBICT-UFRJ Rio de Janeiro PPGCI / Mestrado e DoutoradoPUC-CAMP (*) Campinas PPGCI /Mestrado

    UEL Londrina Mestrado Profissionalizante em Gesto da InformaoUFBA Salvador PPGCI / MestradoUFF Niteri PPGCI / MestradoUFMG Belo Horizonte PPGCI / Mestrado e DoutoradoUFPB Joo Pessoa PPGCI / MestradoUFPE Recife PPGCI / MestradoUFSC Florianpolis PPGCI / MestradoUnB Braslia PPGCI / Mestrado e DoutoradoUNESP Marlia PPGCI / Mestrado e DoutoradoUSP So Paulo PPGCI / Mestrado e Doutorado

    Quadro 2 Cursos e Programas de Ps-Graduao em reas correlatas reconhecidos pela CAPES (nov. 2008) e cujos pesquisadores participam regularmente dos ENANCIBsUniversidade /

    Instituio Cidade Programa / CursoFIOCRUZ Rio de Janeiro Informao e Comunicao em SadeUFRGS Porto Alegre Comunicao e InformaoUNIRIO Rio de Janeiro Memria socialUNIRIO Rio de Janeiro Museologia e Patrimnio

    Fonte: www.capes.gov.br

    (*) Curso reconhecido at final de 2007. Fonte: www.capes.gov.br

  • 13

    A agenda de problemticas que direcionam as pesquisas nos programas em Cin-cia da Informao pode ser aquilatada pelo enunciado das reas de concentrao e linhas de pesquisa:

    Quadro 3 Programas, reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa (2007/2008)Programas em

    CIreas de

    concentrao Linhas de pesquisaIBICT-UFRJ Informaes e mediaes

    sociais e tecnolgicas para o conhecimento

    - Epistemologia e interdisciplinari-dade na cincia da informao- Organizao, estrutura e fluxos da informao- Informao, sociedade e gesto estratgica

    PUCCAMP (*) Administrao da Informao

    - Gesto da Informao- Produo e Disseminao da In-formao

    UEL Gesto da Informao - Organizao e compartilhamento da informao e do conhecimento

    UFBA (M) Informao e conhecimento na sociedade contempornea

    - Polticas, tecnologias e usos da informao- Produo, circulao e mediao da informao

    UFF (M/D) Dimenses contempor-neas da informao e do conhecimento

    - Informao, cultura e sociedade- Fluxos e mediaes scio-tcni-cas da informao

    UFMG (M/D) Produo, organizao e utilizao da informao.

    - Informao gerencial e tecnolgica- Informao, cultura e sociedade- Organizao e uso da informao

    UFPB Informao, conhecimento e sociedade

    - Memria, organizao, acesso e uso da Informao- tica, gesto e polticas de infor-mao

    UFPE Informao, memria e tecnologia

    - Memria da informao cientfi-ca e tecnolgica

    UFSC (M) Gesto da informao - Fluxos de informao- Profissionais da informao

    Introduo

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    14

    Quadro 3 Programas, reas de Concentrao e Linhas de Pesquisa (2007/2008)UnB (M/D) Transferncia da

    Informao - Gesto da informao e do conhecimento.- Arquitetura da informao - Comunicao da informao

    UNESP/Marlia (M/D)

    Informao, tecnologia e conhecimento

    - Informao e tecnologia- Organizao da informao- Gesto, mediao e uso da informao

    USP (M/D) Cultura e Informao - Acesso informao- Mediao e ao cultural

    Tabela 2 Nmero de docentes dos PPGs em Cincia da Informao

    PPG 1999 2002 2004 2006 2008 (fev) *IBICT/UFRJ 11 11 18 18 18UEL - - - - 10UFBA - 10 12 12 12UFF - - - - 11UFMG 13 19 20 17 18UFPB 7 7 8 11 11UFPE - - - - **UFSC - 13 11 12 13UnB 12 13 13 19 20UNESP - 12 11 15 13USP 17 15 12 17 17TOTAL 60 100 105 121 143

    (*) Curso reconhecido at final de 2007. Fonte: www.capes.gov.br

    O nmero de docentes/pesquisadores envolvidos em Programas de Ps-Graduao tambm tem aumentado:

    * Acesso aos sites dos PPGs (16fev08)** Incio das atividades em 2009, com 10 docentes

    Fonte: NPC/ECA/USP http://www.eca.usp.br/nucleos/pc/

  • 15

    2 O papel da ANCIB, dos ENANCIBs e seus Grupos de Trabalho

    A Associao Nacional de Pesquisa e Ps-Graduao em Cincia da Informao - ANCIB - sociedade civil sem fins lucrativos, foi fundada em junho de 1989, graas ao esforo de alguns Cursos e Programas de Ps-Graduao da rea, admitindo scios institucionais (os Programas de Ps-Graduao em Cincia da Informao) e scios individuais (professores, pesquisadores, estudantes de ps-graduao e profissionais egressos dos Programas). Sua finalidade acompanhar e estimular as atividades de ensino de ps-graduao e de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil. Desde sua criao, tem se projetado, no pas e fora dele, como uma instncia de representa-o cientfica e poltica importante para o debate das questes pertinentes rea de informao.

    As atividades da ANCIB estruturam-se em duas frentes: o Frum de Coordena-dores, que congrega os Programas de Ps-Graduao stricto sensu, e o ENANCIB - Encontro Nacional de Pesquisa da ANCIB - frum de debates e reflexes que rene pesquisadores interessados em temas especializados da Cincia da Informao, orga-nizados em Grupos de Trabalho.

    A busca da ANCIB por um formato de evento que propiciasse uma maior inter-locuo entre os pesquisadores, resultou em sua estruturao por Grupos de Traba-lhos - GTs, articulados tematicamente de modo a organizar o ncleo substantivo do domnio da Cincia da Informao.

    Coordenados por pesquisadores reconhecidos pela comunidade de pesquisa nos seus subcampos especficos, os GTs respondem pela estrutura organizacional no s dos encontros, mas dos eixos temticos razoavelmente consensuais que agregam os problemas e as questes consideradas mais relevantes para a configurao da rea, respeitando as especificidades da conjuntura brasileira.

    As pequenas variaes de um ano para outro representam a procura de refina-mento de sua constituio, visando enfatizar aspectos que, discutidos no mbito de cada GT, se mostram mais apropriados para representar as temticas. No foram ve-rificadas mudanas radicais, o que demonstra confluncia de objetivos materializada nas frentes de pesquisa que realmente configuram o estado da arte no Brasil. A rea da Cincia da Informao, assim, se consolida e se aperfeioa.

    A configurao dos ENANCIBs, sob a forma de GTs que agregam subcampos da pesquisa, no acontece num vazio. Ao contrrio, emerge dos Programas de Ps-Gra-duao, ou seja, dos lugares que respondem pelo desenvolvimento da maior parte da pesquisa. Embora a responsabilidade de cada evento seja atribuda a um programa, sua preparao envolve os vrios Programas, seja pela definio ou redefinio dos GTs, pela avaliao dos trabalhos submetidos para apresentao - e conseqentemen-te, pela seleo das pesquisas individuais ou coletivas que conformam gradativamen-

    Introduo

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

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    te a rea - ou pela escolha das melhores dissertaes e teses de cada Programa, candi-datas ao Prmio ENANCIB.

    Antecedem a preparao de um ENANCIB, discusses organizadas pela ANCIB nas quais tomam parte todos os coordenadores de Programas, levando suas questes quanto ao encaminhamento da ps-graduao a debate. Essas reunies, que geralmen-te acontecem duas vezes por ano, so seguidas de encontros, na CAPES, dos coordena-dores dos Programas que fazem parte da rea de Cincias Aplicadas I (Comunicao, Cincia da Informao, Museologia), onde so debatidas inmeras questes relativas avaliao da ps-graduao nas reas das Cincias Aplicadas I, outra oportunida-de para a interlocuo e conformao das sub-reas. Em conjunto, as reunies aci-ma criam condies - intelectuais e operacionais - para que os ENANCIBs, principal evento de pesquisa da rea, aconteam com o respaldo dos responsveis pelo arranjo organizacional da rea da Cincia da Informao, a saber, seus pesquisadores.

    Os ENANCIBs tm se mostrado como o lugar privilegiado para a exposio de idias, para o debate e para a visualizao do estado da arte da Cincia da Informao no Brasil. Neles so apresentados os trabalhos de pesquisa que se organizam em torno dos principais problemas da Cincia da Informao, quais sejam:

    questes de natureza epistemolgica e das relaes interdisciplinares;meios e instrumentos para promover o acesso e a apropriao da informao;apropriao das tecnologias; incluso informacional; polticas de informao etc.

    Estes temas vm marcando as agen-das de discusses nas edies do evento, enaltecendo, assim, este espao, como uma importante instncia para a apre-sentao, debate e validao de ideias.

    A participao do pblico alvo nos vrios eventos tambm significativa, conforme demonstra a tabela ao lado.

    Como se pode observar, o conjunto dos oito ENANCIBs, de 1994 a 2008, foi responsvel pela apresentao de 1.176 trabalhos, selecionados de acordo com critrios de excelncia acadmica.

    Tabela 3 Trabalhos apresentados nos ENANCIBs 1994 2008

    ENANCIBs/Ano

    Nmero de trabalhos

    1994 231995 561997 1352000 2052003 1392005 1252006 1102007 1872008 151Total 1.176

  • 17

    O anseio dos pesquisadores pela possibilidade de interlocuo direta com outros pesquisadores brasileiros justificou a fixao de uma periodicidade anual para o ENANCIB, a partir 2005. J a oportunidade de ouvir e dialogar com pesquisadores estrangeiros instaurou a prtica de convid-los a cada evento. A presena de conferencistas estrangeiros nos ENANCIBs tem sido extremamente oportuna. Em tais ocasies, alm do acesso mais direto s suas propostas de pesquisa, so estabelecidos contatos que se solidificam, individual ou coletivamente, com repercusses nos Programas de Ps-Graduao e na pesquisa. Rafael Capurro, da Sttutgart Media University, Alemanha (evento de 2003); Francisco Javier Garca Marco, da Universidade de Zaragoza, Espanha (2005); Berndt Frohmann, da University of Western Ontario Canad (2006) e Prof. Birger Hjorland, da The Royal School of Library and Information Science, Dinamarca (2007), so autores cuja presena na literatura brasileira da Cincia da Informao tem sido marcante, sucedendo imediatamente o acontecimento dos eventos. No menos importante foi a presena da Profa. Dra. Maria Jos Lpez Huertas no evento de Salvador (2007), que conferiu maior credibilidade instalao do Captulo da ISKO - International Society for Knowledge Organization, no Brasil, gestada em anos anteriores, mais especificamente, no evento de Florianpolis, em 2005. No IX ENANCIB, realizado em So Paulo, contamos com a participao do Prof. Dr. Miguel Angel Rendn Rojas, da Universidad Nacional Autnoma de Mxico UNAM, e da Profa. Dra. Olga Pombo, da Universidade de Lisboa.

    No diferente o expressivo nmero de citaes de trabalhos brasileiros apresentados nos ENANCIBs na produo de nossos pesquisadores. Mesmo que ainda no exista uma sistematizao de dados sobre esse fato, um rpido exame na bibliografia dos trabalhos publicados nas revistas brasileiras per-mite ver no s que os pesquisadores participantes dos eventos tm se citado, uns aos outros, com maior freqncia, como seus trabalhos tm sido utili-zados pelos alunos de ps-graduao. Uma anlise bibliomtrica certamente mostraria que a rede de relaes estabelecida aps os ENANCIBs seguramente se intensificou.

    O ENANCIB se mostra, assim, como uma instncia de extrema importncia para a discusso imediata, nos momentos dos eventos, como futura, projetando-se nas pesquisas que os seguem e tendo reflexos na organizao e reorganizao dos Programas. Tm, portanto, papel significativo na promoo da Cincia da Informa-o brasileira.

    De 1994 a 2008, foram realizados nove eventos, resumidamente apresentados a seguir:

    Introduo

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    18

    Tabela 4 Resumo sinttico dos ENANCIBs

    Ano ENANCIB Organizao Cidade DatasTrabalhos publicados

    em anais1994 I PPG-CI/UFMG Belo Horizonte, MG 8 a 10/4 231995 II PUC-CAMP Valinhos, SP 22 a 24/11 56 (resumos)1997 III IBICT/UFRJ Rio de Janeiro, RJ 10 a 12/9 135 (resumos)2000 IV PPG-CI/UnB Braslia, DF 6 a 10/11 2502003 V PPG-CI/UFMG Belo Horizonte, MG 10 a 14/11 1392005 VI PPG-CI/UFSX Florianpolis, SC 28 a 30/11 1252006 VII PPG-CI/UNESP Marlia, SP 19 a 22/11 1102007 VIII PPG-CI/UFBA Salvador, BA 28 a 31/10 1872008 IX PPG-CI/USP So Paulo, SP 28/9 a 1/10 151

    Levantamento feito pelas autoras

    Desde sua instalao, em 2005, os Grupos de Trabalho tm sofrido ajustes na de-signao de sua temtica e ementa, visando adequ-las realidade da pesquisa. Em 2008, as ementas dos GTs privilegiaram:

    GT1- Estudos Histricos e Epistemolgicos da InformaoParadigmas da Cincia da Informao, constituio do seu campo cientfico e

    questes epistemolgicas subjacentes. Inclui discusses sobre disciplinaridade, inter-disciplinaridade e transdisciplinaridade da rea, bem como a construo do conheci-mento em Cincia da Informao do ponto de vista histrico.

    GT2 Organizao e Representao do Conhecimento Teorias, metodologias e prticas relacionadas organizao e preservao de do-

    cumentos e da informao, enquanto conhecimento registrado e socializado, em am-bincias informacionais tais como: arquivos, museus, bibliotecas e congneres. Com-preende, tambm, os estudos relacionados aos processos, produtos e instrumentos de representao do conhecimento (aqui incluindo o uso das tecnologias da informao) e as relaes inter e transdisciplinares neles verificadas, alm de aspectos relacionados s polticas de organizao e preservao da memria institucional.

    GT3 - Mediao, Circulao e Uso da Informao Informao e processos culturais e simblicos na contemporaneidade. Mediao,

    circulao e uso da informao. Redes sociais e redes que utilizam tecnologias, for-

  • 19

    mas de recepo em diferentes espaos e ambientes institucionais. Usos e usurios da informao. Leitura, textualidade e memria: prticas e polticas.

    GT4 Gesto da Informao e do Conhecimento nas Organizaes Gesto da informao, de sistemas, de unidades, de servios, de produtos e de re-

    cursos informacionais. Estudos de fluxos, processos e uso da informao na perspec-tiva da gesto. Metodologia de estudos de usurios. Monitoramento ambiental e in-teligncia competitiva no contexto da Cincia da Informao. Redes organizacionais: estudo, anlise e avaliao para a gesto. Gesto do conhecimento e aprendizagem organizacional no contexto da Cincia da Informao. Tecnologias de Informao e comunicao aplicadas gesto.

    GT5 tica, Economia, Economia Poltica da InformaoPolticas pblicas de informao. Economia poltica da informao e da comuni-

    cao. Poltica da informao cientfica e tecnolgica. tica e informao. Incluso informacional.

    GT6 Informao, Educao e Trabalho Informao, educao e trabalho na sociedade contempornea. Campo de traba-

    lho informacional: atores, cenrios e estruturas. Formao e atuao do profissional de informao.

    GT7 - Produo e Comunicao da Informao em CT&IMedio, mapeamento, diagnstico e avaliao da informao, nos processos de

    produo, armazenamento, comunicao e uso, em cincia, tecnologia, inovao e outros contextos. Inclui anlises quantitativas e qualitativas (tais como bibliometria, cientometria, infometria, webmetria, anlise de redes e outros), assim como indica-dores em CT&I.

    GT8 Informao e TecnologiaEstudos e pesquisas terico-prticos sobre e para o desenvolvimento de tecnolo-

    gias de informao e comunicao que envolvam os processos de gerao, represen-tao, armazenamento, recuperao, disseminao, uso, gesto, segurana e preserva-o da informao em ambientes digitais.

    Introduo

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    20

    3 O ENANCIB de 2008

    O tema do IX ENANCIB, Diversidade Cultural e Polticas de Informao teve como objetivo criar condies para intensificar a reflexo sobre os problemas relacionados pluralidade da produo frente aos distintos perfis dos pblicos de informao.

    Nos dias atuais, em que o acesso teoricamente ampliado pela incorporao das tecnologias, as condies reais de difuso e de divulgao da informao esbarram na necessidade do enfrentamento das diferenas culturais constitutivas da sociedade. No basta proporcionar o acesso sem observar as condies para sua apropriao. Parte-se do pressuposto de que as diferenas tm de ser enfrentadas como fato, sendo sua promoo necessria e mais adequada para no reduzir a sociedade da informa-o ao seu papel puramente instrumental. Nesse sentido, a diversidade cultural liga-se s polticas de informao.

    A conferncia inaugural foi feita pelo pesquisador latino-americano Prof. Dr, Miguel Angel Rendn Rojas, da Universidad Nacional Autnoma de Mxico UNAM. O texto correspondente, intitulado La ciencia de la informacin en medio de la lucha de contrarios de la sociedad actual: multiculturalismo y globalizacin, algunas implicaciones tericas, prcticas y ticas, foi publicado nos Anais do Evento. Seu objetivo foi o de conceitualizar e analisar os processos de globalizao e sua contraparte, a diversidade cultural na sociedade contempornea, como realidades sempre presentes na histria da sociedade, agora influenciadas pela presena das tecnologias de informao e comunicao que tm como resultado torn-las mais visveis, como deixar sua confrontao mais aguda. Para ele, a Cincia da Informao enfrenta tais processos necessariamente do ponto de vista terico (epistema), prtico, de onde se distinguiria entre tecn, praxis e poesis.

    A mesa redonda de encerramento do Evento teve como tema Diversidade Cultural e multiculturalismo informacional. O ponto comum entre as falas da Profa. Dra. Olga Pombo, da Universidade de Lisboa, e do Prof. Dr. Aldo de Albuquerque Barreto, sob ticas diferentes, foram as relaes, na sociedade da informao (termo de certo modo questionado) entre os atuais recursos informacionais e comunicacionais e a heterogeneidade cultural. A Profa. Olga Pombo refletiu sobre a experincia da unidade dos conhecimentos, estabelecendo um paralelo entre as condies oferecidas pela enciclopdia e pela Internet, sugerindo que o hipertexto seria o limite ideal da enciclopdia. O paralelo, em si bvio, solicitaria ver em que medida o hipertexto prolonga ou se articula com o projeto enciclopedista, e que perspectivas e impactos tm para a sociedade. O Prof. Aldo Barreto discorreu sobre A diversidade cultural, a estrutura e o fluxo da informao enfocando as diferenas culturais entre as pessoas e os distintos artefatos de informao e comunicao contemporneos, ressaltando o fato de que no h um espao nico para uma cultura e seus produtos. Segundo

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    ele, no tempo instantneo dos espaos multiculturais, esses produtos se abrem para uma cultura cosmopolita, independentemente do territrio geogrfico. A pergunta colocada se estaramos preparados para lidar com os documentos digitais na web, no s do ponto de vista administrativo e organizacional, mas tambm do ponto de vista cognitivo. A partir da refletiu sobre as implicaes nos usurios, leitores, na sua relao com as novas formas de escrita.

    O Evento contou com a participao de 334 pesquisadores, em especial, docentes e alunos dos Cursos de Ps-Graduao. Todos os cursos de Ps-Graduao em Cincia da Informao e reas correlatas (Memria Social, Museologia, Comunicao e In-formao) do pas estiveram representados no evento, a saber: UFPB, UFBA, UFMG, UFF, USP, UNESP-Marlia, UFSC, PUC-CAMP, UnB, UEL, UNIRIO, UFRGS, alm de pesquisadores do IBICT, da FIOCRUZ, da Universidade Federal de Pernambuco, da Universidade Federal de Alagoas, Universidade Federal do Paran, Universidade Federal de So Joo Del Rey e da Universidade de Coimbra, Portugal.

    Os Anais do IX ENANCIB, j publicados, renem as conferncias dos Professores Miguel ngel Rendn Rojas e Aldo de Albuquerque Barreto, bem como todos os trabalhos aprovados pela Comisso Cientfica. O presente volume rene texto sobre a atuao dos Grupos de Trabalho, elaborado pela Presidente e Vice-Presidente da ANCIB, Profa. Dra. Marisa Brasher e Profa. Dra. Lgia Caf, texto da fala da Profa. Dra. Olga Pombo, que corresponde sua conferncia no final do Evento e os dois melhores trabalhos apresentados os dois melhores trabalhos apresentados em cada GT, permitindo mostrar, no conjunto das pesquisas brasileiras apresentadas neste ENANCIB, as que mereceram destaque na opinio dos integrantes de cada Grupo. A diversidade de temas e abordagens presentes nos textos que seguem, ressaltadas pela apresentao de autoria da Presidncia da ANCIB, denota vitalidade, inovao e preocupao com os aspectos sociais que sustentam as reflexes: uma agenda de pesquisa mpar para os prximos ENANCIBs!

    Sites consultadosCNPqhttp//www.cnpq.brCAPEShttp://www.capes.gov.brPPGCI-ECA/USP:http://poseca.incubadora.fapesp.br/portal/informacao/org-ci/apresentacao-hist/NCLEO DE PRODUO CIENTFICA ECA/USPhttp://www.eca.usp.br/nucleos/pc/ANCIBhttp://marula.ibict.br/ancib//index.php?option=com_frontpage&Itemid=1

    Introduo

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    2 Grupos de trabalho: recortes da pesquisa contempornea em Cincia da Informao no Brasil

    Marisa Brscher (ANCIB)Lgia Caf (ANCIB)

    A comunidade brasileira da rea de Cincia da Informao conta, h quase vinte anos, com a Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Cincia da Informao (ANCIB) e sua capacidade de articulao e promoo dos interesses da coletividade. Na atuao da ANCIB, destacam-se trs aspectos j consolidados, que conferem dinamicidade e perenidade a suas aes: o Frum de Coordenadores dos Programas de Ps-graduao, por meio do qual se estimulam atividades de ensino de ps-graduao e pesquisa em Cincia da Informao no Brasil; os Grupos de Trabalho (GTs), que renem pesquisadorescom temticas de pesquisa comuns; e os Encontros Nacionais de Pesquisa em Cincia da Informao (Enancib), espao para comunicao e discusso dos resultados de pesquisas brasileiras na rea que possibilita acompanhar o estado da arte em temticas prprias Cincia da Informao.

    H quase vinte anos, a Associao Nacional de Pesquisa e Ps-graduao em Ci-ncia da Informao (ANCIB) articula e promove os interesses da rea na comunida-de brasileira. O Enancib o evento mais significativo para a pesquisa e ps-graduao em Cincia da Informao no Brasil, pois rene pesquisadores de todos os programas brasileiros, dando-lhes a oportunidade de apresentar, discutir e compartilhar ideias em suas reas de atuao. Os trabalhos apresentados no evento so submetidos a um rigoroso processo de avaliao pelos pares, e refletem a excelncia da pesquisa brasi-leira na rea e o seu atual grau de desenvolvimento.

    Grfico 1 Comunicaes orais e psteres por GT

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

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    Em 2008, o IX Enancib contou com a contribuio de um total de 153 trabalhos, sendo 80% de comunicaes orais e 20% de psteres. Esse percentual demonstra a superioridade quantitativa da comunicao oral, tipo privilegiado de registro em en-contros cientficos desta natureza. No Grfico 1, possvel verificar a distribuio de trabalhos por GT.

    Desde a stima edio do evento, os melhores trabalhos apresentados em cada GT so publicados em livros, de maneira a promover a ampla divulgao do conhecimen-to cientfico da rea. Neste livro, renem-se os melhores trabalhos do IX Enancib, cuja temtica foi Diversidade cultural e polticas de informao. So dezesseis textos selecionados em cada GT da Ancib e organizados em captulos especficos por GT, conforme apresentado a seguir.

    O GT1 teve seu ttulo e ementa alterados, passando denominao Estudos Histricos e Epistemolgicos da Cincia da Informao, com a ementa constituio do campo cientfico e questes epistemolgicas e histricas da Cincia da Informao e seu objeto de estudo a informao. Reflexes e discusses sobre a disciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, assim como a construo do conhecimento na rea. No IX Enancib, o Grupo apresentou 18 comunicaes orais e 3 psteres, totalizando 21 trabalhos de autores com as seguintes origens institucionais: UnB, UNIRIO, UFMG, UFF, UFRGS, UNESP, USP, IBICT, IPHAN/DEMU, MAST, UFBA.

    Os dois primeiros trabalhos deste livro so os escolhidos pelo GT1. No contexto das discusses acerca da delimitao do objeto de estudo da Cincia da Informao, o texto intitulado Tematizando o objeto da Cincia da Informao, de Lgia Silva de Freitas, prope uma anlise histrico-arqueolgica das relaes entre a escrita e as transformaes no modo de acreditao e distribuio social de saberes via docu-mentos e suas repercusses no campo informacional. Um dos objetivos da pesquisa diz respeito ao estudo das implicaes da relao informao/documento na socieda-de, assim como na definio do objeto de estudo da Cincia da Informao.

    A relao entre filosofia e linguagem discutida na obra de Ludwig Wittgenstein marca a importncia desse pensador na filosofia contempornea. Ele tema do tra-balho Entre o silncio e o alarido: Wittgenstein na Cincia da Informao, de Gustavo Silva Saldanha, tambm selecionado pelo GT1. O autor analisa os principais pontos de influncia da obra do filsofo nos estudos epistemolgicos da Cincia da Informao. Identifica-se que a tradio fsica e alguns fundamentos da tradio cognitiva da rea relacionam-se viso positivista do pensador, demarcada pela obra Tratado Lgico-Filosfico, ao passo que o pensamento pragmatista tem influncia clara na abordagem pragmtica ou paradigma social da epistemologia da Cincia da Informao.

    No captulo 2 do livro esto reunidos os melhores trabalhos do GT2 Organi-zao e Representao do Conhecimento. No IX Enancib, esse GT teve 23 traba-lhos apresentados, sendo 19 comunicaes orais e 4 psteres. Seus autores eram pro-

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    Grupos de Trabalho

    venientes das seguintes instituies: Unesp, UFMG, USP, UFF, IBICT, UnB, UFSC, PUCCamp, Unirio, UFCE, UFPE, UFPR, UFBA, UFRJ , UEL , UFPB, PUC-MG, BN, Mast, UFMT , UFV, Umesp.

    No primeiro texto do captulo, Renata Maria Abrantes Baracho e Beatriz Valadares Cendn, autoras de Esquema de classificao para recuperao de informao em projetos de engenharia, propem um modelo, um esquema de classificao e um prottipo de sis-tema de recuperao da informao para projetos de engenharia. O trabalho analisa m-todos para recuperao da informao com enfoque em imagens e apresenta um mtodo de organizao da informao, no qual o indexador extrai metadados textuais e classifica o projeto de engenharia segundo trs categorias: tipo, processo e forma. Essas categorias levam a uma tabela de metadados visuais (cones), os quais so automaticamente locali-zados, indexados e armazenados. O usurio, por sua vez, recupera a informao atravs da definio das mesmas trs categorias e da seleo de uma imagem-chave.

    No trabalho Organizao da informao ou organizao do conhecimento, Marisa Brscher e Lgia Caf verificam ambiguidades no uso dos termos Organizao do Co-nhecimento, Organiz ao da Informao, Representao do Conhecimento e Repre-sentao da Informao. Elas delineiam uma proposta conceitual preliminar, procu-rando delimitar o entendimento das autoras sobre esses domnios e contribuir para uma reflexo mais apurada sobre a estrutura conceitual desses termos.

    O GT3 Mediao, Circulao e Uso da Informao contou com 20 trabalhos no IX Enancib, dentre os quais 15 comunicaes orais e 5 psteres. Os autores desses trabalhos representam as seguintes instituies: UEL, USP, UFMG, Unirio, UFMA, UFF, IBICT, UFBA, UnB, UFSC, Unesp.

    Os dois trabalhos selecionados pelo GT3 compem o captulo 3 do livro, o qual se inicia com o texto de Henriette Ferreira Gomes intitulado Mediaes para a leitura na universidade: aes docentes e da biblioteca. A autora investiga como se realiza a me-diao docente e bibliotecria em favorecimento das prticas de leitura no ambiente acadmico. A investigao se deu por meio de um estudo de caso na Universidade Federal da Bahia, com aplicao de diferentes mtodos: observao direta e indireta, grupos focais, questionrios e entrevistas. A pesquisadora conclui que a integrao entre as atividades de ensino-aprendizagem com aquelas desenvolvidas na biblioteca ainda inexistente ou se encontra em fase muito embrionria na universidade.

    O segundo trabalho do GT3, Leitura e obteno de conhecimento nas histrias em quadrinhos de super-heris, de Rubem Borges Teixeira Ramos e Lgia Maria Moreira Dumont, tece consideraes acerca da leitura de histrias em quadrinhos como ins-trumento divulgador da informao e de construo do conhecimento. A partir de opinies e relatos dos leitores, a pesquisa comprova o emprego de aspectos tericos e prticos encontrados nos quadrinhos de super-heris da Marvel e da DC Comics em diferentes aspectos da vida e do cotidiano dos leitores.

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

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    O GT4 Gesto da Informao e do Conhecimento nas Organizaes contou com 16 trabalhos, dos quais 13 eram comunicaes orais e 3, psteres. Neste conjun-to, estavam presentes as seguintes instituies: UnB, Unesp, UFPB, UFMG, UFSC, UFMT, PUCMinas, UNIBH, Fundao Joo Pinheiro e Centro Universitrio UMA.

    Dentre os dois textos selecionados pelo GT4, encontra-se o trabalho Narrativas de Histrias na Aprendizagem Organizacional, de Valrio Brusamolin. O autor ressalta a necessidade de as empresas desenvolverem a capacidade de aprendizado e adaptao s mudanas para se manterem competitivas no mercado atual. Nessa direo, busca identificar na literatura cientfica os possveis vnculos entre narrativas e aprendiza-gem organizacional. As narrativas apresentam-se como uma das tcnicas de gesto do conhecimento, aplicvel ao contexto de aprendizagem e mudana organizacional, principalmente quando se envolve o conhecimento tcito.

    O trabalho de Frederico Cesar Mafra Pereira, intitulado Necessidades e usos da informao: a influncia dos fatores cognitivos, emocionais e situacionais no comporta-mento informacional de gerentes, tem por objetivo identificar e destacar a influncia dos fatores cognitivos, emocionais e situacionais no comportamento informacional de gerentes. Por meio de estudo exploratrio qualitativo junto a seis gerentes de trs organizaes de grande porte em Belo Horizonte e da aplicao da abordagem per-ceptiva, utilizada em estudos de usurios, proposto um modelo terico para aplica-o e anlise dos resultados, o qual poder ser usado em estudos futuros.

    O GT5 Poltica e Economia da Informao teve sua ementa alterada para Po-lticas de informao e suas expresses em diferentes campos. Sociedade da informa-o. Informao, Estado e governo. Propriedade intelectual. Acesso informao. Eco-nomia poltica da informao e da comunicao; produo colaborativa. Informao, conhecimento e inovao. Incluso informacional e incluso digital. Esse GT aprovou um total de 25 trabalhos no IX Enancib, com 20 comunicaes orais e 5 psteres que representavam as seguintes entidades: UFF, Uferj, Unirio, Arquivo Nacional, IBICT, Inmetro, UEL, PUCMinas, UFMG, UFRJ/Unifeso, UFSC, UFBA, Unesp, UFPB, UFPE, UnB, UFMA, Instituto Politcnico do Porto (Portugal) e Universidade Eduardo Mondlane (Moambique).

    No primeiro trabalho do captulo 5, intitulado Polticas pblicas de informao: a (no) construo da poltica nacional de arquivos pblicos e privados (1994-2006), Jos Maria Jardim discute a ausncia de uma poltica pblica arquivstica no Brasil, mesmo aps a criao do Conselho Nacional de Arquivos (Conarq), rgo incum-bido de definir uma poltica nacional de arquivos e atuar como rgo central de um Sistema Nacional de Arquivos (Sinar). O estudo destaca, ainda, a carncia de pesquisas sobre poltica de informao que forneam subsdios s aes do gover-no e da sociedade civil relativas formulao, implantao e avaliao de polticas pblicas arquivsticas.

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    Grupos de Trabalho

    Gilvan de Oliveira Vilarim e Giuseppe Cocco, no texto Produo de conhecimen-tos por meio de conhecimentos: a outra produo no capitalismo cognitivo, apresen-tam alguns referenciais tericos sobre um novo modo de produo do capitalismo contemporneo, no qual os conhecimentos ganham valor e se desincorporam das mercadorias, invalidando os mecanismos clssicos de sua apropriao pelo capital e favorecendo um deslocamento da produtividade para fora dos muros da empresa. Dessa forma, os autores defendem o desenvolvimento de estudos com base em uma viso evolucionista e em rede a respeito do ambiente produtivo.

    O captulo 6 deste livro rene os dois selecionados dentre os 18 trabalhos apre-sentados no GT6 Informao, Educao e Trabalho. As 14 comunicaes orais e 4 psteres originaram-se das seguintes instituies: Ufam, UFRGS, Unesp, UnB, UFMG, PUCMinas, UFPE, UFPB, UFSC, USP, UFBA, UFRJ, IBICT.

    Magali Lippert da Silva e Valdir Jos Morigi, no trabalho Representaes das prti-cas e da identidade profissional dos bibliotecrios no mundo contemporneo, procuram responder questo: no contexto da sociedade da informao e das novas tecnolo-gias, a identidade profissional do bibliotecrio permanece a mesma? A pesquisa foi realizada com dirigentes de classe dessa profisso no Brasil. Eles identificam que o advento da Sociedade da Informao, as modificaes no mercado de trabalho e as atualizaes propostas pelas Faculdades de Biblioteconomia so fatores que influen-ciam o processo de mudana na formao e na profisso do bibliotecrio.

    Francisco das Chagas de Souza, em O ensino de biblioteconomia no Brasil e aspectos de sua dimenso curricular: um exame dos ditos e no ditos na coleo documentos da ABEBD, expe os resultados de pesquisa realizada nos documentos da Associao Brasileira de Ensino de Biblioteconomia e Documentao (ABEBD), com o objetivo de conhecer a contribuio dessa Associao no desenvolvimento do currculo em Biblioteconomia implantado at os anos 2000. O trabalho fundamenta-se no constru-cionismo e no processualismo sociais e adota a anlise do discurso como estratgia metodolgica para extrair, tratar e analisar os contedos dos documentos.

    O GT7 Produo e Comunicao da Informao em CT&I, agora com a emen-ta medio, mapeamento, diagnstico e avaliao da informao nos processos de pro-duo, armazenamento, comunicao e uso, em cincia, tecnologia e inovao. Inclui anlises e desenvolvimento de mtodos e tcnicas tais como bibliometria, cientometria, informetria, webometria, anlise de rede e outros, assim como indicadores em CT&I, contou com 10 comunicaes orais e 4 psteres, num total de 14 trabalhos. Seus au-tores eram oriundos das instituies: UnB, Unesp, UFMG, Universidade Regional de Blumenau, UFSC, UFPE, PUCCamp, UFG, UFRGS, USP, UFRJ, IBICT.

    O trabalho As redes cognitivas e a produo do conhecimento em Cincia da Infor-mao no Brasil: um estudo nos peridicos da rea, de Liliane Vieira Pinheiro e Edna Lcia da Silva, abre o captulo 7 deste livro. As autoras aplicam tcnicas bibliomtricas

  • Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

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    na anlise de citaes dos artigos publicados nos principais peridicos brasileiros da rea de Cincia da Informao, no perodo de 2001 a 2005. O estudo tem por objetivo mapear as redes cognitivas na rea de Cincia da Informao no Brasil. As autoras concluem que a Cincia da Informao, no Brasil, conduzida por um grupo de pes-quisadores que interfere nas relaes estabelecidas para embasar o desenvolvimento de estudos e pesquisas e, assim, determina o envolvimento disciplinar e interdiscipli-nar da rea no pas.

    Em seguida, no trabalho Rede de textos cientficos: um estudo sob a tica da insti-tucionalizao da Cincia da Informao no Brasil, Murilo Artur Arajo da Silveira e Rogrio Eduardo Rodrigues Bazi aplicam o mtodo cientomtrico e tcnicas de anlise de citaes, anlise de assunto e representaes cartogrficas para estudar a institucionalizao da pesquisa cientfica da Cincia da Informao no Brasil. O es-tudo, realizado em artigos do peridico Cincia da Informao em meio eletrnico, compreendendo o perodo de 1995 a 2005, conclui que a Cincia da Informao no Brasil encontra-se em vias de institucionalizao e que o estatuto cientfico dessa cincia comea a adquirir consistncia, tanto pela clareza dos aportes tericos e epis-temolgicos desenvolvidos, quanto pelo nvel de organizao das estruturas sociais vinculadas ao campo.

    O GT8 Informao e Tecnologia, em seu primeiro ano de atuao, inicia suas atividades no IX Enancib com 13 comunicaes orais e 3 psteres. As entidades re-presentadas por estes 16 trabalhos foram: Unesp, UnB, UFC, UFMG, UFF, UEL, Ufes, UFSC, Univ. Santa Cruz do Sul.

    Os trabalhos selecionados pelo GT8 compem o ltimo captulo do livro. Com o objetivo de facilitar o desenvolvimento e a utilizao de ambientes informacionais digitais, Liriane Soares de Arajo de Camargo e Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti apresentam, em Arquitetura da Informao para Ambientes Informacionais Digitais, algumas caractersticas e processos de uma arquitetura da informao para esses ambientes. A proposta de arquitetura contempla processos e elementos de aces-sibilidade, usabilidade e personalizao de uma estrutura aberta e flexvel, que facilita a customizao para diferentes ambientes digitais.

    No texto intitulado Imagem, fotografia, imagem, Maria Jos Vicentini Jorente, Telma Campanha de Carvalho Madio e Plcida da Costa Santos apresentam uma reflexo sobre as novas tecnologias de informao e comunicao, vinculando-as s transformaes histricas e ao contexto das necessidades a que respondem. Mais es-pecificamente, as autoras detm seu olhar sob a informao imagtica, num percurso histrico que nos leva atual produo de imagens digitais. Ao enfocar as linguagens imagticas e sua constituio de significao informativa nas prticas em que esto atreladas, a pesquisa contribui para futuros estudos e reflexes acerca do tratamento semitico das informaes imagticas.

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    Grupos de Trabalho

    As temticas dos Grupos de Trabalho da ANCIB traam os contornos da Cincia da Informao no Brasil, e os trabalhos de pesquisa apresentados no contexto de cada GT representam os diferentes olhares sobre a informao objeto de estudo da rea. A publicao deste livro , portanto, uma oportunidade para divulgar o estgio atual da pesquisa brasileira em Cincia da Informao e, consequentemente, ampliar o al-cance das discusses no mbito da comunidade cientfica brasileira.

    Grupos de Trabalho: denominaes e coordenaes em 2008

    GT1 Estudos Histricos e Epistemolgicos da InformaoCoordenadora: Profa. Dra. Lena Vania Ribeiro Pinheiro (IBICT)

    GT2 Organizao e Representao do ConhecimentoCoordenadora: Profa. Dra. Lidia Alvarenga (UFMG)

    GT3 Mediao, Circulao e Uso da InformaoCoordenadora: Profa. Dra. Regina Maria Marteleto (LACES/ICICT/FIOCRUZ)

    GT4 Gesto da Informao e do ConhecimentoCoordenador: Prof Dr. Ricardo Rodrigues Barbosa (UFMG)

    GT5 Poltica e Economia da InformaoCoordenadora: Profa. Dra. Sarita Albagli (IBICT)

    GT6 Informao, Educao e TrabalhoCoordenadora: Profa. Dra. Helena Maria Tarchi Crivellari (PPGCI/UFMG)

    GT7 Produo e Comunicao da Informao em CT&ICoordenadora: Profa. Dra. Ida Regina C.Stumpf (UFRGS)

    GT8 Informao e TecnologiaCoordenadora: Profa Dra. Silvana Vidotti (UNESP)

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    3 Disperso e unidadePara uma potica da simpatia

    Olga Pombo (Universidade de Lisboa)

    Gostaria de comear por retomar uma questo que, segundo creio, est no cerne das questes levantadas por este congresso: que tipo de disciplina a cincia da infor-mao? A minha resposta seria: uma disciplina indisciplinada. Ou seja, uma disci-plina que corresponde s novas formas de organizao disciplinar, nova cartografia dos saberes que hoje se verifica.

    At s primeiras dcadas do sculo XX, as cincias constituam-se por ramifica-o, por subdiviso sucessiva. E isto, tanto ao nvel dos domnios de estudo, como das metodologias, das comunidades cientficas ou das revistas especializadas. Em crescimento exponencial desde o sculo XIX, este modelo correlativo do fenme-no da especializao ou fragmentao disciplinar tinha por objetivo o afinamento progressivo da anlise e, no limite, a procura do simples, do indivisvel, do a tomos (sem partes).

    Assim foi de facto. A cincia moderna constituiu-se a partir da metodologia analtica proposta por Descartes. Esquartejar cada totalidade, cindir o todo em pequenas partes, alcanar uma anlise cada vez mais fina. A ideia base que o todo pode ser reconstitudo a partir das partes, ou seja, de que o todo igual soma das partes.

    O procedimento cientfico sempre foi este. assim que a cincia tem funcionado. E necessrio diz-lo tem funcionado muito bem. Tem produzido resultados notveis, magnficos. No podemos recusar, nem menosprezar, nem esquecer, que foi este procedimento analtico da cincia moderna que deu origem a todo o conheci-mento e bem-estar que lhe devemos. Talvez no valha a pena reforar aqui os aspec-tos positivos da cincia moderna. Todos os conhecemos. A nossa vida depende deles a cada instante.

    Porm, se no podemos, nem devemos, esquecer, diminuir, negar os benefcios da cincia moderna, tanto em termos de compreenso do mundo como de melhoria das nossas vidas, isso no pode impedir-nos de reconhecer os custos que a especializao trouxe consigo.

    Em primeiro lugar, custos culturais relativos ao prprio especialista que se transforma numa criatura estranha, algum que sabe cada vez mais acerca de cada vez menos. Como dizia Ortega y Gasset, em pginas clebres de La Rebelin de las Massas (1929), numa das mais virulentas crticas arrogncia do especialista algu-ma vez traadas:

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    Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    Dantes os homens podiam facilmente dividir-se em ignorantes e sbios, em mais ou menos sbios e mais ou menos ignorantes. Mas o especialista no pode ser subsumido por nenhu-ma destas duas categorias. No um sbio porque ignora formalmente tudo quanto no en-tra na sua especialidade; mas tambm no um ignorante, porque um homem de cincia e conhece muito bem a sua pequenssima parcela do universo. Temos que dizer que um sbio-ignorante, coisa extremamente grave pois significa que um senhor que se comporta em todas as questes que ignora, no como um ignorante, mas com toda a petulncia de

    quem, na sua especialidade, um sbio (GASSET, 1929, pp. 173-174).

    O mesmo tipo de diagnstico feito por alguns grandes homens da cincia. Tambm eles tomam conscincia da gravidade das consequncias da especializa-o que eles prprios praticam. Por exemplo, Norbert Wiener, pai da ciberntica, escrevia em 1948:

    H hoje poucos investigadores que se possam proclamar matemticos ou fsicos ou bilo-gos sem restrio. Um homem pode ser um topologista ou um acusticionista ou um cole-opterista. Estar ento totalmente mergulhado no jargo do seu campo, conhecer toda a literatura e todas as ramificaes desse campo mas, frequentemente, olhar para o campo vizinho como qualquer coisa que pertence ao seu colega trs portas abaixo no corredor e considerar mesmo que qualquer manifestao de interesse da sua parte corresponderia a

    uma indesculpvel quebra de privacidade (WIENER, 1948, p. 2).

    E Oppenheimer, num texto de 1955, descreve nos seguintes termos esta mesma situao: Hoje, no so s os nossos reis que no sabem matemtica mas tambm os nossos filsofos no sabem matemtica e, para ir um pouco mais longe, so tambm os nossos matemticos que no sabem matemtica (OPPENHEIMER, 1955, p. 55).

    Trs anos mais tarde, outra voz se fazia ouvir para denunciar, no tanto agora a pulverizao disciplinar, mas o cisma profundo que se cavou entre duas formas da cultura cientfica. Referimo-nos a Lord C. P. Snow que, num pequeno texto de cerca de 50 pginas intitulado Two Cultures, publicado em 1959 e, a partir da, constantemente reeditado e traduzido em todas as lnguas do mundo, d conta da clivagem que, desde o incio do sculo XIX, estava j latente sob a forma de oposio entre cincias da natu-reza e cincias do esprito: De um lado, os intelectuais literatos, do outro os cientistas. Entre os dois, um hiato mtuo de incompreenso e, s vezes, particularmente entre os jovens, de hostilidade (SNOW, 1959, p. 4). Snow vai ainda mais longe e aponta como raiz dessa ruptura o carter incompleto dessas duas culturas. Diz ele: Os cientistas nunca leram uma obra de Shakespeare e os literatos no conhecem a segunda lei da termodinmica (SNOW, 1959, p. 15). Cada grupo desconhece e ignora o que o outro faz, chegando mesmo, em alguns casos, a considerar que o que o outro grupo faz no tem qualquer interesse. A recente polmica entre Sokol e Brickmont e a comunidade filosfica continental encontra porventura aqui o seu lugar matricial.

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    Olga Pombo

    Custos tambm institucionais. A cincia hoje uma enorme organizao divi-dida internamente por inmeras comunidades de pares, cada uma com os seus con-gressos, as suas revistas, as suas bibliotecas, os seus territrios, os seus espaos insti-tucionais, etc. Essas comunidades constituem agregados competitivos que lutam por apoios, subsdios, financiamentos, bolseiros, novos equipamentos, etc. J no se trata de os cientistas viverem de costas voltadas uns contra os outros, como dizia Wiener, de desconhecerem o que esto a fazer os seus colegas trs portas abaixo no corredor. Trata-se agora de competir naquilo que deveria ser de todos.

    Refiro apenas um exemplo: o novo tipo de patentificao, que hoje est a desen-volver-se e que, na sua displicente ocorrncia, ameaa destruir a prpria ideia de ci-ncia. Durante muito tempo, s se faziam patentes quando um investigador descobria qualquer coisa de novo. Neste momento, muitas instituies de investigao cientfica esto a patentear no resultados obtidos, mas reas de investigao ainda em grande parte por explorar. Antes de se dar incio ao trabalho de investigao, a rea seleciona-da e a metodologia proposta so patenteadas. O projeto de investigao demarca o seu terreno antes de haver qualquer descoberta, antes mesmo de iniciar verdadeiramente a investigao que se prope fazer. Para que outros no possam trabalhar no mesmo objeto, para inviabilizar ou dificultar tanto quanto possvel descobertas simultneas. Qualquer coisa de inaudito que vem por em causa a nossa ideia de cincia como saber pblico, universal e desinteressado. Outras vezes, a investigao altamente especia-lizada faz-se em laboratrios comandados por generais. O que tambm qualquer coisa de abissal. Nesse caso, no so sequer necessrias patentes antecipadas. O que necessrio garantir o segredo da investigao que est a ser desenvolvida, o silncio do investigador-funcionrio. Que podemos concluir seno que esse tipo de investi-gao completamente contrrio ao esprito cientfico tal como sempre o havamos pensado: dialgico, democrtico, cooperativo e universal?

    Mas, para l dos custos culturais e institucionais, importa referir os custos heurs-ticos de uma cincia altamente especializada. que, paradoxalmente, no estado de enorme avano em que a nossa cincia se encontra, o progresso da investigao faz-se cada vez mais, no tanto no interior dos adquiridos de uma disciplina especializada, mas no cruzamento das hipteses e resultados de uma disciplina com as hipteses e os resultados de outras disciplinas. Num nmero cada vez maior de casos, e a partir so-bretudo da segunda metade do sculo XX, o progresso da cincia deixou de poder ser pensado como resultante de uma especializao cada vez mais funda. Ao contrrio, e cada vez mais, esse progresso encontra-se na dependncia da fecundao recproca, da fertilizao heurstica de umas disciplinas por outras; da transferncia de concei-tos, problemas e mtodos; numa palavra, do cruzamento interdisciplinar. Determi-nadas investigaes reclamam a sua abertura para conhecimentos que pertencem, tradicionalmente, ao domnio de outras disciplinas. Como diz Gilbert Durand, a pas-

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    Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    sividade monodisciplinar inibidora do salto heurstico de que a cincia necessita, salto esse que, por natureza, sempre foi, e continua a ser, resultante de uma larga informao e cooperao interdisciplinar (DURAND, 1991, pp. 40-41).

    Ou seja, a partir sobretudo da segunda metade do sculo XX, o modelo de for-mao disciplinar por ramificao, isto , o modelo de funcionamento especializado da cincia, cada vez mais reconhecido na sua insuficincia. O progresso no se d apenas pela especializao crescente como estvamos habituados a pensar. A cincia um processo que exige um olhar transversal.

    No terreno, assistimos a um conjunto de novos fenmenos em cadeia. Antes de mais, novos reordenamentos disciplinares, cincias de fronteira, novas disciplinas que promovem inesperados cruzamentos de duas disciplinas tradicionais, quer no mbito das cincias exatas e da natureza (a Biomatemtica, a Bioqumica ou a Geof-sica), das cincias sociais e humanas (Psicolingustica ou Histria Econmica), quer entre umas e outras (Sociobiologia, Etologia), quer ainda entre cincias naturais e disciplinas tcnicas (Engenharia Gentica ou Binica). Interdisciplinas, novas disci-plinas que surgem do cruzamento, tambm ele indito, das disciplinas cientficas com o campo industrial e organizacional. Exemplos: Sociologia das Organizaes, Psico-logia Industrial, ou ainda esse eloquente exemplo que constitudo pela Investigao Operacional que resultou da conglomerao, ou mesmo da fuso, entre cientistas, en-genheiros e militares. Finalmente, intercincia, conjuntos disciplinares nos quais no h uma cincia que nasce nas fronteiras de duas disciplinas fundamentais (cincias de fronteira) ou que resulta do cruzamento de cincias puras e aplicadas (interdisci-plinas), mas uma conglomerao de disciplinas que se ligam de forma descentrada, assimtrica, irregular, numa espcie de patchwork. No so duas disciplinas, so v-rias, e impossvel estabelecer qualquer espcie de hierarquia entre elas. Os exemplos mais pertinentes so a Ciberntica, a Ecologia, as Cincias Cognitivas e as Cincias da Complexidade1.

    no contexto destes novos reordenamentos disciplinares que, segundo creio, se situa o caso da vossa disciplina (ou indisciplina) que poderia ser colocada algures entre uma interdisciplina e uma intercincia. Ela recupera metodologias ligadas s praticas que os bibliotecrios e documentalistas foram apurando ao longo dos scu-los, desde os adquiridos da Biblioteconomia de Naud (1600-1653) at Documen-tao de Paul Otlet (1868-1944), e cruza essas prticas com as adquiridas da Histria, da Antropologia, da Sociologia, das Cincias da Comunicao, mas tambm com os novos problemas pensados pela Ciberntica de Wiener (1894-1964), pela Matemtica de Shannon (1916-2001), ou pela engenharia de Wannevar Bush (1890-1974).

    Mas, para l destes novos tipos de configuraes disciplinares, possvel tambm assinalar a existncia de novas prticas de investigao e novos problemas. Prticas de importao, desenvolvidas nos limites das disciplinas especializadas e no reconhe-

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    cimento da necessidade de transcender as suas fronteiras. H uma disciplina que faz uma espcie de cooptao do trabalho, das metodologias, das linguagens, das apa-relhagens j provadas noutra disciplina (veja-se a eficaz importao que a Gentica fez dos dispositivos conceptuais elaborados pela linguista); prticas de cruzamento, em que no temos uma disciplina central que vai buscar elementos s outras em seu favor, mas problemas que, tendo a sua origem numa disciplina, irradiam para outras (o caso mais eloquente talvez o da inteligncia artificial); prticas de convergncia, de anlise de um terreno comum, estudos por reas, utilizados sobretudo em objetos do-tados de uma certa unidade (por exemplo, estudos realizados com fins militares sobre determinadas regies estratgicas geograficamente circunscritas); prticas de descen-trao, relativas a problemas novos, impossveis de reduzir s disciplinas tradicionais (como a juventude urbana, a floresta ou a traduo), problemas de mbito muito vas-to, grandes demais, problemas que envolvem o tratamento de dados gigantescos, que implicam uma colaborao internacional sem precedentes, uma rede de cooperantes e de participantes situados em vrios pontos do globo, que produzem informao que tem de ser depois centralizada e tratada por processos automticos de clculo (as alteraes climticas, por exemplo); finalmente, prticas de comprometimento, que dizem respeito a problemas que tm resistido ao longo dos sculos a todos os esforos explicativos mas que requerem solues urgentes. Estou-me a referir a questes como a origem da vida ou a natureza dos smbolos. Saber por que razo umas pessoas ma-tam outras ou por que razo a fome persiste num mundo de abundncia. Quando se procura pensar questes deste gnero, rapidamente nos damos conta de como todos os nossos saberes so poucos para as procurar perceber. No h computador que pos-sa concentrar os dados que nos iriam permitir sequer equacion-las. Para problemas deste gnero, impe-se um regime de polinizao cruzada, que explore ativamente todas as possveis complementaridades2.

    Mais uma vez, a vossa disciplina (ou indisciplina) justamente reveladora desta nova situao do conhecimento cientfico, caracterizada pela insuficincia do mtodo ana-ltico e pela experimentao de novas solues (novas disciplinas, novas prticas, no-vas teorias, novos problemas). Ela reveladora porque, simultaneamente, integra uma pesquisa cientfica e uma prtica profissional; porque corresponde a uma cincia pura e a uma cincia aplicada; porque importa, traduz, adapta, fertiliza conceitos de diversas disciplinas (Biblioteconomia, Matemtica, Documentao, Teoria dos Sistemas), por-que toma de emprstimo, utiliza, transpe procedimentos e mtodos de outras cincias (Sociologia, Cincias Cognitivas, Administrao, Museologia, Computao). Tambm porque tansporta consigo a urgncia de uma prtica de comprometimento, decorrente da diversidade cultural e poltica da gigantesca informao disponvel.

    A vossa disciplina (ou indisciplina) constitui assim mais um exemplo de que estamos a passar de um esquema da ramificao arborescente, hierrquico, para um esquema

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    da constelao, de neurnio. No esquema da rvore, as novas disciplinas mantinham a sua ligao disciplina fundamental (a me), ao tronco comum (a seiva) e s razes (o fundamento). Cada disciplina era reconhecvel na sua ligao a um ramo diferenciado do saber e apresentava uma identidade estvel. No esquema da constelao, pelo contrrio, as relaes so mltiplas e irregulares. A hierarquia e a ligao privilegiada a uma disciplina esto ausentes. Agora predomina a descentrao e a instabilidade.

    Em paralelo com estas modificaes no regime das disciplinas, as comunidades cientficas agitam-se, procuram reforar-se por expedientes extrnsecos a uma prtica cientifica comum ou fidelidade a um paradigma, por exemplo, pela constituio de narrativas acerca da sua origem, da sua histria, do seu destino. Digamos que a epis-temologia dos paradigmas de Kuhn em nada as ajuda. Kuhn no d conta desta nova situao epistemologica. Kuhn foi cego a estas transformaes.

    E, por que este novo esquema? Porque percebemos que o todo no igual (redut-vel) soma das partes. Porque o tomo no a partcula mnima. Porque aquilo que se pensava ser simples afinal complexo. Aquilo que se pensava sem partes a-tmico revelou-se um universo abissal de multiplicidades, de complexidades ilimitadas. Afinal, no tnhamos chegado a um ponto ltimo a partir do qual fosse possvel comear o trabalho de reconstituio sinttica.

    Assim, estamos hoje numa situao semelhante de Leeuwenhoek (1632-1723) quando, no sculo XVII, olhando pelo microscpio que ele mesmo havia construdo, se deixou comover pela vertigem sucessiva de um universo que se multiplicava inde-finidamente sua frente como lagos cheios de peixes cujos peixes eram, de novo, novos lagos cheios de peixes, e assim por diante.

    A profunda transformao epistemolgica que hoje atravessamos tem aqui, a meu ver, a sua raiz. Perceber que l, onde espervamos encontrar o simples, est o infinitamente complexo. Perceber que, afinal, o todo no a soma das partes. Esta , a meu ver, a chave fundamental para se entender a situao atual do conhecimento.

    Questo que foi colocada na ordem do dia pela Matemtica (conjuntos infinitos) e pelas Cincias da Natureza (fractais, caos). Questo porm que as cincias humanas conhecem desde sempre, dada a infinita complexidade do seu objeto (o ser humano) e a causalidade no linear, a multifatorialidade que o seu estudo reclama. Da o seu nascimento tardio. Da o seu efeito de retorno sobre as Cincias da Natureza. Por exemplo, hoje a Fsica que tocada pela Histria.

    como se o prprio Mundo resistisse ao seu retalhamento disciplinar. No que o complexo, ou que a complexidade sejam uma novidade. O mundo sempre foi comple-xo, uma realidade abissal nossa frente. Os lagos e os peixes de Leeuwenhoek sempre estiveram l. O nosso olhar especializado que no estava preparado para ver essa com-plexidade. O que novo a nossa abertura, a nossa recente disponibilidade e capacida-de para enfrentar o complexo, para no o recusar como irregular, como confuso.

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    Aqui chegados, estamos em condies de reconhecer trs momentos na relao cognitiva do Homem com o Mundo. Um primeiro momento sincrtico, um longo perodo em que o Homem resgata o cosmos ao caos, irracional e irrepresentvel. O cosmos ento pensado como totalidade, como unidade indiferenciada. Depois, com o projeto analtico e a especializao, o mundo que se deixa dividir em reas, domnios, disciplinas e subdisciplinas, cada vez mais especializadas. Os progressos so imensos, tanto em termos de acrscimo de inteligibilidade como de aplicaes. Finalmente, o perodo da transversalidade, da interdisciplinaridade e da integrao dos saberes. Quanto mais fina a anlise, maior a complexidade. O todo no a soma das partes. A produo do novo passa a ter em conta a multifatorialidade, a no line-aridade. O progresso deixou de se fazer por especializao. Cada cincia vai ter que se reconhecer na sua ligao a todas as outras.

    Note-se que estes trs momentos no constituem um remake da lei dos trs estados de A. Comte, nem esto organizados pela crena iluminista na ideia de progresso (das luzes). So trs perodos que se deixam pensar em paralelo com acontecimentos decisivos da histria do Homem, no necessariamente ordenados por um bem cada vez maior. Assim, nas categorias de McLuhan (1911-1980), eles correspondem cultura oral, cultura escrita (primeiro, com a inveno do alfa-beto, depois, com a da imprensa) e, finalmente, galxia eletrnica, era da di-gitalizao. Numa perspectiva antropolgica, a organizao tribal, a inveno da cidade e, hoje, a mundializao, a internacionalizao, a globalizao, a queda dos muros (Berlim), a mistura das fronteiras, o confronto das culturas, as grandes mi-graes e miscigenaes. Giorgio Agamben (1990) no hesita em traar o destino da Comunidade que Vem como um conjunto heterogneo de imigrantes, aptridas, estrangeiros, refugiados, ilegais, sem passaporte.

    Aos trs momentos referidos, corresponde tambm uma transformao, em trs etapas, das metforas pelas quais a unidade das cincias se tem deixado pensar. A primeira, a metfora do crculo, em correspondncia com a paideia grega e alexan-drina. A segunda, a metfora da rvore, correspondente estrutura hierrquica da universidade medieval, s representaes arborescentes de Lull, Bacon e Descartes ou ao sistema de chavetas da enciclopdia de Diderot e DAlembert. Em todos os casos, cada fragmento tem uma localizao precisa no todo e nessa ligao com o todo que reside o seu sentido. Em terceiro lugar, a metfora da rede, estrutura no hierrquica, descentrada, que valoriza o fragmento e as relaes mltiplas sem ligaes privilegiadas3.

    Mas, voltemos (vossa) Cincia da Informao. Pelo que ficou dito, no de es-pantar que os seus praticantes se sintam a navegar sem carta, num mar agitado por correntes mltiplas. Porm, a meu ver, a grande novidade da (vossa) cincia no tanto a do seu estatuto disciplinar (indisciplinado). Mas, nesse caso, se a novidade da

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    Temas de pesquisa em Cincia da Informao no Brasil

    Cincia da Informao no de forma, poder-se-ia pensar ento que a novidade de contedo. Ela diria respeito novidade do problema de que essa nova cincia se ocupa: a informao, mais especificamente, o registo, armazenamento e conservao da in-formao; a sua organizao, classificao, ordenao; a comunicao, transmisso e disseminao da informao de modo a torn-la disponvel, acessvel e til a todos os que dela necessitam. Porm, sabemos que o problema de que a cincia da informao se ocupa muito antigo, que ele se coloca desde, pelo menos, as tbuas de Calmaco em Alexandria ou os inventrios bibliogrficos medievais. Sabemos que a modernssima Cincia da Informao tem razes muito profundas nas prticas dos bibliotecrios e dos arquivistas de todos os tempos, no Pandectarum sive Partitionum universalium (1548) de Conrad Gessner (1516-1565); no Polyhistor literarium, philosophicum et practicum (1707) de Georg Morhof (1639-1691), bibliotecrio de Kiel; na Idea Bibliothecae Publi-cae Secundum Classes Scientiarum Ordinandae de Leibniz (1646-1716), bibliotecrio de Wolfenbuttell; no Advis pour Dresser une Bibliothque (1627) de Gabriel Naud (1600-1653); em Henry Lafontaine (1853-1943) e Paul Otlet (1868-1944)4.

    O que novo, diria, a dimenso do problema, o seu carcter gigantesco, colos-sal, em grande medida decorrente da entrada das novas tecnologias no universo da comunicao e circulao de informao.

    verdade que Leibniz, no sculo XVII, j se referia horrvel massa de livros do seu tempo e dizia:

    a desordem ser quase inultrapassvel, a multido dos autores tornar-se- infinita em pou-co tempo, (estes) sero assim expostos ao perigo de um esquecimento total e a esperana de glria que anima muitos dos estudos cessar de um momento para o outro o que os deixar

    expostos ao perigo de um esquecimento total (LEIBNIZ; GERHARDT, 1960, VII, p. 160).

    Leibniz estava naturalmente preocupado. E com toda a razo, pois sabia bem de que forma a ars memorandi condio da ars inveniendi. Mas, depois de Leibniz, e em especial a partir da segunda metade do sculo XX, com a entrada em campo das novas tecnologias, a acelerao deste processo muito mais vertiginosa ainda.

    No vou sequer abordar essa imensa questo. Sois vs que a conheceis bem por-que com ela trabalhais todos os dias. Gostaria apenas de chamar a ateno para o fac-to de esta monstruosa mudana de escala a que assistimos no campo da informao vir recolocar na ordem do dia a velha aporia do uno e do mltiplo, sob a forma da oposio entre unidade (do conhecimento) e pluralidade (da informao). No pois de espantar que as propores gigantescas desta nova escala obriguem a pensar, quer as figuras da multiplicidade, da pluralidade, da disperso, da pulverizao alarmante da informao e do conhecimento (equiparveis, num outro plano, s da diversidade cultural), quer as figuras da unidade, da articulao e da totalidade (correspondentes aos fenmenos civilizacionais da globalizao ou da mundializao).

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    Vejamos ento: qual , hoje, no mundo fragmentado em que vivemos, a nossa ideia de totalidade? Ou, indo pelo avesso: qual hoje a nossa resposta ao proble-ma da fragmentao e da diversidade cultural?

    Permitam-me que alinhe algumas ideias.Abandonmos j a ideia do esprito universal, do sbio omnisciente, da pos-

    sibilidade de um s homem reunir (conter em si) todo o conhecimento. A paideia grega (e a eu-kuklios paideia ou crculo perfeito de estudos que nela se funda) uma miragem cada vez mais longnqua.

    O seu eco ainda audvel em Rabelais (1483-1553), embora j s apenas como mero desejo, mero voto. Como se pode ler na famosa carta de Gargantua ao seu filho Pantagruel:

    Entendo e quero que aprendas perfeitamente as lnguas (...). Que no haja histria de que no tenhas memria presente (...). Das artes liberais dar-te-hei a sentir o gosto logo de pe-queno (...). E quanto ao conhecimento dos factos da natureza, quero que te entregues com curiosidade, que no haja mar, rio ou fronteira de que no conheas os peixes; todos os pssaros do ar, todas as rvores, arbustos e frutferas das florestas, todas as ervas da Terra, todos os metais escondidos no ventre dos abismos, todas as pedrarias do oriente e do sul, que nada te seja desconhecido. Depois, revisita cuidadosamente os livros dos mdicos gre-gos, rabes e latinos, sem esquecer os talmudistas e cabalistas e, por anatomias frequentes, adquire perfeito conhecimento desse outro mundo que o homem (RABELAIS, 1532, Pan-tagruel, VIII, pp. 134-135).

    Sabemos, porm, que esse ideal de um saber universal reunido num s homem , para todo o sempre, impossvel. Leibniz disputa com Humboldt o ttulo de ltimo grande esprito universal. E Flaubert, nesse fabuloso romance enciclopdico que Bouvard et Pcuchet (1880) deixou bem claro que o generalista doravante uma figu-ra caricata e inconsequente votada ao mais insensato fracasso.

    Abandonmos j a ideia de uma comunidade cientfica universal. Como vimos acima, em sua vez temos a coexistncia de grupos rivais, em competio por sub-sdios e financiamentos, em concorrncia por espaos, bolseiros e projetos. Numa palavra, a Big Science.

    Est em perigo a prpria ideia de uma cincia universal. O sigilo que atravessa hoje uma parte importante da relao entre a cincia e as empresas materializado, por exemplo, na competio pelo registo de patentes a que acima tambm aludi veio contribuir para pr em perigo a ideia de uma cincia transparente, democrtica e universal. A estrutura harmoniosa que presidia metfora grega do crculo e que se prolonga at Hegel e a Adler, faz sorrir a prole tristonha dos especialistas que ainda nos rodeiam. A seiva produtiva que, em sentido ascendente, atravessa a hierarquia da rvore dos saberes de Lull, de Bacon e Descartes e at mesmo de Popper produz

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    um sorriso bem pensante aos cticos de hoje. E a dimenso territorial e de expanso controlada que as metforas da chaveta e do mapa mundo arrastavam consigo (por exemplo, no caso da Encyclopdie de Diderot e DAlembert), esto hoje recalcadas e como tal, s aparentemente resolvidas na petite histoire, repetida exausto, com a qual se reenvia ao estatuto de anedota o encontro clebre entre Laplace e Napoleo.

    Estamos tambm muito perto de abandonar a ideia de Universidade. Na Euro-pa, pelo menos, a universidade uma instituio em clara decadncia. Estamos longe da Universitas Studiorum do sculo XII, da Pampaedia de Comenius. Estamos mais longe, cada vez mais longe, da Universidade que Humbolt reformou a punho e gol-pes de vontade em 1810, dos seminrios, institutos e anfiteatros nos quais, em salas austeras e apertadas, uma turba de estudantes curiosos misturava a sua voz com a dos professores possudos igualmente por uma inquieta procura da verdade. Em sua vez, temos instituies subordinadas (sem sucesso) a uma lgica empresarial, cindidas em faculdades, departamentos, institutos, projetos. Instalaes luxuosamente higinicas mas dramaticamente empobrecidas por uma escassez de alunos que as estatsticas e as curvas demogrficas descendentes mais no fazem que ratificar5.

    Abandonmos tambm a ideia da Biblioteca Universal e com ela a possibilidade de reunir toda a memria do mundo num s lugar, de colocar todos os livros jamais escritos num s edifcio, seja ele a Biblioteca do Congresso, fundada em 1810 a partir da biblioteca pessoal de Thomas Jefferson, ou a Biblioteca de Alexandria, renascida das cinzas pela mo da Unesco, em 2001. Na belssima fbula La Biblioteca de Babel (1985), Jorge Lus Borges denunciou com suprema ironia os paradoxos da Biblioteca Universal enquanto multiplicao infinita dos livros, lugar cuja vontade de conter todos os livros desliza com facilidade assustadora do prodigioso ao diablico, do ver-tiginoso ao absurdo, do labirntico ao contraditrio, ao monstruoso, ao catico.

    Porm, curiosamente, espantosamente, significativamente, a Enciclopdia no foi abandonada. Pelo contrrio, a Enciclopdia (no a enciclopdia que temos l em casa) mas a ideia, a figura da unidade que tem sustentado a articulao entre as cin-cias, tem vindo a ser cada vez mais reforada.

    Ora bom que se note a Enciclopdia corresponde mais desmedida ideia de totalidade. Ordenada pela pretenso exaustividade, o seu objetivo constituir o livro de todos os livros. Mais do que meter todos os livros na Biblioteca, a Enciclopdia tenta me-ter a Biblioteca num s livro. Por isso, ela se oferece como sbio universal, como comu-nidade cientfica universal, como universidade universal, como cincia universal, numa palavra, como saber universal, figura que contm no desfolhar lento, pesado e sensual das suas pginas a exposio da totalidade do saber adquirido pela humanidade, desde os mais elaborados e complexos conhecimentos s mais insignificantes informaes.

    Estamos perante uma ideia muito antiga, que atravessa toda a histria da cul-tura humana, tanto no ocidente como no oriente, que deu origem aos mais variados

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    projetos e realizaes, desde a Historia Naturalis de Plnio (23/4-79) s Etimologias de Santo Isidoro de Sevilha (560-636); desde o Speculum Majus de Vincent de Beauvais (1190-1264) ao Summario di Tutte Scienze (1556) de Domenico Delfino; desde o De Tradentis Disciplinis (1531) de Juan Lus Vives Encyclopaedia Omnium Scientiarum (1630) de Alsted; desde os projetos irremediavelmente inacabados de uma Instau-ratio Magna de Bacon ou de uma Encyclopaedia sive Scientia Universalis de Leibniz s realizaes efetivas e monumentais dos sculos XVIII e XIX, como a Cyclopaedia or an General dictionary of Arts and Sciences, (1728) de Chambers, a A Encyclopdie ou diccionaire raisonn des sciences, des arts et des mtiers (1751-1765) de Diderot e DAlembert, o Grand Dictionnaire Universel du XIXme Sicle (1866-1890) de Larousse, ou a Encyclopaedia Metropolitana (1817-1845) de Coleridge6.

    No sculo XX, destacam-se dois perodos. Na primeira metade do sculo, vive-se um perodo de grandes interrogaes e oscilaes quanto ao futuro do enciclo-pedismo. Por um lado, a utopia positiva face ideia de enciclopdia; por outro, a desiluso face ao projeto enciclopedista.

    A ttulo de exemplo da primeira destas posies, refira-se o projeto, ao mesmo tempo megalmano e genial, de Herbert George Wells (1866-1946) de construo de uma World Encyclopaedia. Como Wells explica, num texto significativamente inti-tulado World Brain (1938), trata-se de construir uma enciclopdia mundial que, sob a forma de monoplio mundial capaz de recolher e distribuir todas as informaes di-retas e indiretas numa escala completamente alm dos recursos de qualquer empresa privada de edio (WELLS, 1938, p. 93), contenha efetivamente toda a informao. A ideia a de que a resoluo dos problemas do mundo est na dependncia do con-trole perfeito de um sistema centralizado de informao, base de todas as decises, de todas as competncias operacionais e de uma adequada aplicao tcnica e poltica dos conhecimentos7. Sem medir os efeitos corrosivos e desvirtuadores da burocracia que um tal sistema implicaria, Wells antecipa, com grande aproximao, a ideia de uma rede informtica internacional capaz de promover uma adaptao educativa muito mais eficiente que qualquer adaptao gentica (WELLS, 1938, p. 72) e de veicular uma determinada viso do mundo.

    Note-se que no estamos perante mais uma utopia negra, esse gnero literrio de dolorida e desiludida antecipao do futuro que o nosso sculo viu emergir. Na verdade, a ser efetivvel, o projeto de informatizao total e centralizada de Wells no ficaria muito longe do universo de difusa e incontrolvel opresso genialmente anunciado por Kafka (1883-1924) e posteriormente retomado por Georges Orwell (1903-1950)8. Mais do que uma utopia, gnero em que Wells foi, alis, um expoente destacado9, a Universal Brain um empreendimento credvel, tanto do ponto de vista ideolgico como econmico. significativo que de Wells se reclamam, quer a American Microfilm Association que, em 1965, pretende

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    constituir uma nica grande livraria (One Big Library) e um nico grande jor-nal (One Big Journal), quer o projecto Wise (World Information Synthesis and Encyclopaedia) desenvolvido em 1972 por Manfred Kochen e, posteriormente, designado como Wisdom (Worldwide Intelligence Service for the Development of Omniscience in Mankind)10.

    Em posio diametralmente oposta, encontra-se Alberto Savinio (1891-1952) que anunciou a impossibilidade, em que a nossa poca doravante se encontraria, de produzir uma enciclopdia. Face ao desmembramento que a especializao cientfica introduziu no modelo clssico (enciclopdico) do conhecimento, e que segundo Savinio, constituiria a raiz da crise civilizacional em que nos encontramos, estaramos hoje irremediavelmente condenados a pensar de forma incoerente, superficial e diletante as mais dspares e desesperadas realidades. Como Savinio escreve na entrada Enciclopdia da sua Nuova Enciclopedia (1977), No h hoje nenhuma possibilidade de uma enciclopdia. (...) No h hoje nenhuma possibilidade de uma cincia circular (...) Nenhuma homogeneidade dos conhecimentos. Nenhuma afinidade espiritual entre eles. Nenhuma tendncia comum. Um desequilbrio profundo domina hoje o saber (...) Renunciemos pois a esperar um regresso homogeneidade das ideias (...) e procuremos antes fazer coabitar, da forma menos sanguinria possvel, as ideias mais dspares, incluindo as mais desesperadas (SAVINIO, 1977, pp. 152-153). A sua Nuova Enciclopedia recolha de artigos intencionalmente dispersos como Abat-jour, Apolo, Baudelaire, Cynophilia, Proust, Verdade seria o manifesto da nossa condio atual e o exemplo eloquente daquilo a que o projeto enciclopedista estaria condenado: reduzir-se condio de um amontoado de factos isolados que nenhuma lgica explica e que nenhuma ordem articula.

    Porm, se a primeira metade do sculo XX atravessada por estas oscilaes, quer desmesuradamente entusiastas, quer lucidamente cticas quanto ao destino desse projeto de um conhecimento sistematicamente organizado e tendencialmente completo que enciclopdia, na segunda metade do sculo assiste-se a um grande reforo da ideia de enciclopdia. Surpreendentemente, quando seria de esperar que, face ao progresso acelerado e ao crescimento exponencial da especializao, o mo-vimento enciclopedista se visse condenado a desaparecer, assistimos ao renovar do interesse pela enciclopdia, ao revigorar da sua figura.

    Na verdade, aps o abandono do projeto enciclopedista do positivismo lgico11, comea a configurar-se a tendncia, que se reforar na dcada de sessenta, para do-tar a enciclopdia de um modelo estrutural mais capaz de conglomerar a disperso informativa. O primeiro sinal foi dado num artigo de Lucien Febvre (1935) de apre-sentao da Encyclopdie Franaise (1935-66). Para Lucien Febvre, a enciclopdia deveria encaminhar-se no sentido de substituir a exigncia positivista de cobertura

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    integral dos contedos especficos de cada disciplina por uma estrutura temtica, in-tegradora e compreensiva. Como explica, h que organizar a enciclopdia em torno dos principais problemas de cada campo do saber, preferir enumerao exaustiva dos factos conhecidos a perspectivao alargada e viva dos principais problemas em aberto, (cf. Febvre, 1935, p. 12).

    As enciclopdias mais inovadoras vo seguir este conselho e adotar uma estrutu-ra temtica e problemtica. A tendncia para reduzir significativamente o nmero das entradas, selecionando aquelas cuja pertinncia, atualidade ou capacidade de irradiao justifique um tratamento alargado e compreensivo. No posso demons-trar aqui o bem fundado daquilo que digo. Tal obrigaria a revisitar toda a histria do enciclopedismo no sculo XX12. Direi apenas que, na segunda metade do sculo XX, a enciclopdia vai reformular profundamente o seu propsito, acentuar a po-tencial multiplicidade das suas entradas, criar mecanismos que visam favorecer a diversidade de leituras, evidenciar as irradiaes dos temas uns sobre os outros, promover aproximaes transversais, sugerir cruzamentos, fomentar percursos de investigao interdisciplinar.

    Entretanto e este o aspecto que aqui quereria sublinhar ao mesmo tempo que se assiste reestruturao do modelo de enciclopdia, assiste-se tambm fu-so entre o projeto enciclopedista e as novas tecnologias de informao, as quais, paulatinamente, comeam a ter efeitos decisivos em todos os processos de criao, transmisso e conservao do saber. Penso mesmo que legitimo dizer-se que a tecnologia electrnica veio encaixar no projeto enciclopedista, dar-lhe continui-dade, potenci-lo. Que so as bases de dados, as enciclopdias em CD-ROM e online, que rede, que o hipertexto, que a rede das redes seno exemplos, cada vez mais aproximados e concludentes, da potenciao ltima da ideia de enciclopdia?

    O que pretendo que, desde o Memex de V. Bush, em 1945, ao Xanadu de Ted Nelson, em 1965, desde a fundao da Arpanet em 1969, ao projecto da World Wide Web de Tim Bernes-Lee, nos finais dos anos 80 e sua exponencial implementao a partir de 1990, todos estes desenvolvimentos se inscrevem de forma direta na histria do enciclopedismo.

    Mais uma vez, no cabe nesta palestra a demonstrao do que digo. Esse trabalho foi feito no mbito de um projeto que coordenei sob o titulo Enciclopdia e Hipertexto e que tinha justamente por objetivo fazer o levan-tamento dos pontos de concordncia ou coincidncia entre os destinos da enciclop-dia e do hipertexto (uma relao muito pouco estudada, diga-se de passagem).

    No posso no entanto deixar de concluir.A web e o hipertexto constituem um projeto extravagante. Um projeto do qual no

    vale a pena tentar fugir. De nada serve tentar ignor-lo. Cabe-nos, sim, pens-lo, reco-nhec-lo nas suas origens e nas suas novidades. Integr-lo na continuidade da cultura.

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    Perceber que este projeto extravagante recupera o ideal enciclopedista tambm ele extravagante. Transformar a proliferao monstruosa de objetos e signos de que estamos rodeados, dos mais complexos aos mais insignificantes, dos mais gerais aos mais singulares, e transform-los num Mundo povoado de entidades assinaladas, definidas, clarificadas, organizadas, atravessadas pela linguagem, dadas assim a ver como outra coisa. Um projeto plural, que respeita as diferenas, que no exclui nin-gum, no impe uma ordem absoluta. Um projeto que combina, que mistura, que no cai na deriva das particularidades mas que da lugar s singularidades mais insig-nificantes. Um produto fraternal, perante o qual nunca se est s. Pelo contrrio, est-se infinitamente acompanhado. um lugar onde a diversidade cultural acontece sem que isso implique uma retrica da deriva dos particularismos e sem que isso obrigue a esquecer a referncia cultura universal.

    Ou seja, no se trata nem do imperialismo de um ponto de vista, nem do pluralis-mo multiculturalista, mas de um projeto permeado por uma cultura universal, plural e cosmopolita. Uma relao atravessada pela energia da transmisso e animada por uma potica da simpatia.

    NOTAS

    1 Para maiores desenvolvimentos, cf. Pombo (2004), pp. 73-77.2 Mais uma vez, remetemos para o nosso estudo, Pombo (2004), pp. 91-97.3 Sobre as metforas da unidade da cincia, remetemos para Pombo (2006), pp. 289-309.4 No seu clebre Trait de Documentation. Le Livre sur le Livre. Theorie et Pratique (1934), Otlet

    define a cincia da documentao como o processo pelo qual so reunidos, classificados e distribudos todos os documentos, de todos os tipos e de todas as reas da atividade humana (OTLET, 1934, p. 8). Para maiores desenvolvimentos, cf. Pombo (2006), pp. 174-178, 204-205 e 227).

    5 Sobre as vicissitudes recentes da ideia de universidade, veja-se Pombo (1999), Universidade. Regresso ao futuro de uma ideia,

    6 Para uma apresentao dos principais projetos da histria do enciclopedismo, veja-se o nosso estudo Para uma Histria da Ideia de Enciclopdia, in Pombo, O.; Guerreiro, A. e Alexandre, A.F., (2006), pp. 194-251.

    7 No prefcio a Word Brain pode ler-se o seguinte: ns no queremos ditadores, no queremos regras oligrquicas ou de classe; queremos uma inteligncia mundial consciente de si mesma (1938, p. 5).

    8 Autor que, em Nineteen Eighty-Four (1949), mostra com grande clareza de que modo a totalidade facilmente se pode transformar em totalitarismo.

    9 Autor, entre muitos outros, dos clebres romances de fico: The Time Machine (1895), The Invisible Man (1897), The War of the Worlds (1898), When the Sleeper Wakes (1899), The First Men in the Moon (1901) e The Shape of Things to Come (1933).

    10 Sobre os projetos de Wells e as suas implicaes ideolgicas e polticas, cf. Rossman (1992, pp. 73-80).11 Que se traduziu pela publicao em 1938 da International Encyclopaedia of Unified Science, cf.

    Neurath (1938).12 Fizemos esse trabalho em Para uma Histria da Ideia de Enciclopdia e O Hipertexto como

    Limite da Ideia de Enciclopdia, in Pombo, O., Guerreiro, A. e Alexandre, A.F. (2006), pp. 194-251 e 266-288, respectivamente.

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    Olga Pombo

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