lamento nicholas wolterstorff

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Nicholas Wolterstorff. Lamento. Viçosa: MG, Ultimato, 2007. 112p 1 Lamento é mais que um livro, é a vibrante história de quem o escreve. É um livro aparentemente triste, pois lida com o sofrimento na perspectiva da perda; a perda de um filho amado. Lamento lida com a morte de um dos filhos do próprio autor. O livro se desenvolve à medida que o autor e pai Nicholas Wolterstorff conta a trágica história de seu filho Eric que faleceu num acidente de alpinismo na Áustria, que segundo o próprio pai era o seu maior e melhor passatempo. Não apenas lidando com um relato de perda, Lamento lida com a dor humana. Este livro propõe um desabafo: cru, nu, sincero e desmascarado. Nas palavras do próprio pai: “Eu só percebi o quanto o amava quando ele se foi” (pg. 17). Após a morte, a perda causa um vazio enorme dentro do coração daquele pai a ponto de afirmar: “agora, quando nos reunimos, há sempre um ausente: sua ausência tão presente quanto nossas presenças, seu silencio tão sonoro quanto nossas conversas. Ainda há cinco filhos, mas um se foi para sempre” (pg.18). É isso que o autor sente com a solidão e saudade daquilo que não vai voltar. Pensando nisso, Lamento vê a morte como uma tragédia, uma coisa desumana e anticristã. Ninguém consegue entender o sofrimento de ninguém, por isso poucas palavras são necessárias para consolo: O que eu preciso ouvir de você é que você reconhece o quanto a morte é dolorosa, é que você está comigo em meu desespero. [...] Para me confortar você tem de chegar perto de mim. Venha sentar- se ao meu lado no meu banco de luto (pg.37). Lamento é uma ótima oportunidade para olharmos para o sofrimento da humanidade. O sofrimento é uma pergunta sem uma resposta fixa e completa. O autor propõe que “sabemos que não há tecnologia para superar a morte. A morte só é superada por Deus” (pg.74). Ele nos ensina a olhar para o sofrimento dos outros sem ferramentas ou soluções, mas para participar dele como Deus participou da angústia humana na cruz. Vivemos em um mundo globalizado rodeado de máquinas, robôs, televisões e acessórios motorizados, mas as pessoas ainda são pessoas. A dor não se cura com

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Page 1: Lamento nicholas wolterstorff

Nicholas Wolterstorff. Lamento. Viçosa: MG, Ultimato, 2007. 112p

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Lamento é mais que um livro, é a vibrante história de quem o escreve. É um

livro aparentemente triste, pois lida com o sofrimento na perspectiva da perda; a

perda de um filho amado. Lamento lida com a morte de um dos filhos do próprio

autor.

O livro se desenvolve à medida que o autor e pai Nicholas Wolterstorff conta a

trágica história de seu filho Eric que faleceu num acidente de alpinismo na Áustria,

que segundo o próprio pai era o seu maior e melhor passatempo. Não apenas

lidando com um relato de perda, Lamento lida com a dor humana. Este livro propõe

um desabafo: cru, nu, sincero e desmascarado. Nas palavras do próprio pai: “Eu só

percebi o quanto o amava quando ele se foi” (pg. 17).

Após a morte, a perda causa um vazio enorme dentro do coração daquele pai

a ponto de afirmar: “agora, quando nos reunimos, há sempre um ausente: sua

ausência tão presente quanto nossas presenças, seu silencio tão sonoro quanto

nossas conversas. Ainda há cinco filhos, mas um se foi para sempre” (pg.18). É isso

que o autor sente com a solidão e saudade daquilo que não vai voltar. Pensando

nisso, Lamento vê a morte como uma tragédia, uma coisa desumana e anticristã.

Ninguém consegue entender o sofrimento de ninguém, por isso poucas palavras são

necessárias para consolo:

O que eu preciso ouvir de você é que você reconhece o quanto a morte é dolorosa, é que você está comigo em meu desespero. [...] Para me confortar você tem de chegar perto de mim. Venha sentar-se ao meu lado no meu banco de luto (pg.37).

Lamento é uma ótima oportunidade para olharmos para o sofrimento da

humanidade. O sofrimento é uma pergunta sem uma resposta fixa e completa. O

autor propõe que “sabemos que não há tecnologia para superar a morte. A morte só

é superada por Deus” (pg.74). Ele nos ensina a olhar para o sofrimento dos outros

sem ferramentas ou soluções, mas para participar dele como Deus participou da

angústia humana na cruz.

Vivemos em um mundo globalizado rodeado de máquinas, robôs, televisões e

acessórios motorizados, mas as pessoas ainda são pessoas. A dor não se cura com

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Nicholas Wolterstorff. Lamento. Viçosa: MG, Ultimato, 2007. 112p

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óleo, energia, soldas ou troca de parafusos. A dor é um grande mistério e faz parte

da história de ontem hoje e o fará do amanhã. Este livro pode nos ensinar mais

acerca da nossa humanidade, fugacidade e nos redirecionar a esperança cristã de

que um dia a paz plena irá chegar. Pois em nosso mundo o amor, é um amor que

sofre. Sofrer é para quem ama.

Além de nos ensinar a lidar com o sofrimento com sua própria história e

desabafo este livro oferece uma porta de sinceridade e intimidade em nosso

relacionamento com Deus. Fazendo uso dos salmos e das palavras de Jesus o autor

conclui que Deus é parceiro em nosso sofrimento, em suas palavras: “para nos

redimir de nossa fadiga e desamor, o Deus que sofre conosco não deu nenhum

golpe de poder. Ele enviou seu filho para sofrer como nós, a fim de nos redimir do

mal e do sofrimento” (pg. 81). Uma tese que chama muito a minha atenção é que em

vez de explicar o nosso sofrimento, Deus participa dele.

Recomendo fortemente o livro para todos os cristãos que desejam ser bons

conselheiros, todos os que ainda não conhecem a Cristo e passam por sofrimentos

intensos, para pastores e líderes e a todos que querem ver Deus mais de perto em

seus momentos de dor.