laÍs vila verde teixeira a pessoa idosa na atual ... · guardarei sempre seus ensinamentos e sua...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO: UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP FRANCA 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA

A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO:

UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP

FRANCA

2016

LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA

A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO:

UM ESTUDO REALIZADO NO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP

Dissertação apresentada à Faculdade de

Ciências Humanas e Sociais, Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,

como pré-requisito para a obtenção do título de

Mestre em Serviço Social. Área de

Concentração: Mundo do Trabalho e Serviço

Social

Orientadora: Profa. Dra. Josiani Julião Alves de

Oliveira

FRANCA

2016

Teixeira, Laís Vila Verde.

A pessoa idosa na atual configuração do mundo do trabalho :

um estudo realizado no município de Franca/SP / Laís Vila Verde

Teixeira. – Franca : [s.n.], 2016.

138 f.

Dissertação (Mestrado em Serviço Social). Universidade Esta-

dual Paulista. Faculdade de Ciências Humanas e Sociais.

Orientadora: Josiani Julião Alves de Oliveira

1. Serviço social com idosos. 2. Envelhecimento.

3. Idade e emprego. I. Título.

CDD – 362.8996

LAÍS VILA VERDE TEIXEIRA

A PESSOA IDOSA NA ATUAL CONFIGURAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO:

UM ESTUDO REALIZADO DO MUNICÍPIO DE FRANCA/SP

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais,

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito

para a obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Área de Concentração

Mundo do Trabalho e Serviço Social.

BANCA EXAMINADORA

Presidente: _________________________________________________________

Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira

1° Examinador: ______________________________________________________

Profa. Dra. Maria Zita Figueiredo Gera – Uni-Facef

2° Examinador: ______________________________________________________

Profa. Dra. Nayara Hakime Dutra de Oliveira – FCHS/ Unesp

Franca, ____ de ________ de 2016.

DEDICO A

Você, Mãe, que hoje está nos jardins da eternidade, onde o sofrimento e a angústia

foram transformados em amor pelas mãos de Nosso Senhor. Este trabalho dedico a

você em retribuição singela de tudo o que fez por mim até o dia em que Deus te

chamou para ir com Ele à morada celestial. Tudo o que eu conquistar nesta vida te

entrego em honra dos seus cuidados e amor por mim.

Infelizmente Deus não te fez eterna para estar comigo em todos os momentos da

vida, mas saiba que tudo o que ensinou guardei em meu coração, nossas almas se

unem através da oração e é assim que eu sigo a vida hoje, na certeza de que está

comigo onde quer que eu vá.

MÃE, para sempre te amarei...daqui até a eternidade!

AGRADECIMENTOS

À Deus Pai, Filho e Espírito Santo...

Agradeço, primeiramente, a Deus pela presença constante durante o

período do Mestrado. Muitas vezes, encontrei-me sem forças e lá estava ele para

ajudar, apoiar-me e me orientar. Hoje, sei que se não fosse minha Fé e a vontade de

terminar esta etapa, certamente, não teria chegado até o fim.

À Maria Santíssima que sempre me acompanhou nas horas mais aflitas

nesse período, amparando e guiando-me frente às adversidades, sendo meu

modelo de paciência, tolerância, amor, perseverança e misericórdia para chegar ao

final desta jornada. Ó minha Mãe querida, obrigada por ser meu sustento na

ausência de minha mãe e por toda proteção e cuidado que me trouxe até aqui.

À minha Família...

Com toda a paciência e cuidado não me deixaram desanimar, pelo

contrário, fortaleceram e incentivaram-me a realizar meu sonho. Vocês foram e são

sempre parte importante e insubstituível de toda essa caminhada, seja me apoiando

em minhas decisões ou me cobrando persistência quando o cansaço e o desânimo

chegavam a me abater. Sem vocês, Cibelle, Nubia e pai, eu não teria conseguido, e

mesmo com tudo o que nós passamos nestes últimos anos, lutando junto com a

mãe contra o câncer, vocês foram rocha firme para que eu pudesse apoiar-me e em

nenhum momento pediram-me para parar, pelo contrário, não me deixaram

desanimar. Obrigada por tudo. Sei que ela está muito feliz por mim e por nós, pois

não deixamos de seguir em frente, apesar que sua falta é grande no meio de nós,

mas o que ela nos deixou é bagagem para se carregar nas costas a vida toda.

Obrigada mãe por seu apoio e dedicação enquanto esteve comigo, minha

companheira de troca de ideias, meu poço de conselhos, minha fortaleza, o

Mestrado é mais seu do que meu, porque foi por você que eu comecei esta etapa, já

que sempre me dizia que sem estudo não chega longe e nunca me deixou parar no

meio do caminho, por mais doente que estivesse sempre me incentivou a buscar

meus objetivos com muita determinação.

Aos amigos...

Àqueles que sempre me diziam que não tinha tempo para mais nada,

somente para estudar, obrigada por não desistir da nossa amizade. Dirijo-me aos

amigos de forma geral, visto que, todos tiveram sua importância neste processo,

seja com apoio, com palavras, mensagens ou presença real na minha vida.

Obrigada por acreditarem no meu potencial, reconhecendo o meu esforço e minha

dedicação para concluir o Mestrado. Peço que Deus sempre ilumine os planos de

vocês e que não desanimem de seus sonhos, amo todos vocês!

À academia...

Espaço de construção do conhecimento e desconstrução de si mesmo,

impondo desafios que nos faz desvelar a nós mesmos e abrir para o novo,

superando obstáculos e infinitas dificuldades para nos colocar à disposição da

prática da pesquisa, mas, que se não fosse dessa forma, o crescimento e

amadurecimento pessoal seria ínfimo perto daquilo que precisamos ser nessa

sociedade de classes.

A minha orientadora, Profa. Dra. Josiani Julião Alves de Oliveira,

agradeço imensamente pela paciência e confiança no desenvolvimento deste

trabalho. Sempre companheira, compreensiva e amiga em relação aos desafios da

pesquisa e da vida. Guardarei sempre seus ensinamentos e sua amizade.

Cumprimento a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior (CAPES), como agência de fomento, por desempenhar papel fundamental

na construção desta pesquisa e tornar possível consolidar o conhecimento que será

divulgado, posteriormente, em respeito ao acesso público da produção científica.

Agradeço pela imensa oportunidade de poder passar pela Pós-graduação

e digo que, uma vez que se conhece o espaço da universidade, jamais somos os

mesmos. As inúmeras chances que se tem de dialogar com o diferente e como

resultado construir uma consciência coletiva crítica que tem a noção das

contraditoriedades do sistema econômico vigente e que, mesmo assim, cabe a nós

lutarmos pela construção de uma sociedade mais igualitária, só foi possível devido a

passagem pela universidade. Muito obrigada por fazer parte da construção da minha

identidade enquanto Assistente Social que conclui o curso do Mestrado.

TEIXEIRA, Laís Vila Verde. A pessoa idosa na atual configuração no mundo do trabalho: um estudo realizado no município de Franca/SP. 2016. 138f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016.

RESUMO

Esta pesquisa teve por objetivo trazer aspectos relevantes acerca da pessoa idosa em interface com o mundo do trabalho na contemporaneidade, questionando se o trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar. O primeiro capítulo versou sobre a construção do modo de produção capitalista partindo da categoria trabalho e seus aspectos ontológicos abordando outras categorias inerentes como alienação, forças produtivas, produção e reprodução social. Para a compreensão do trabalho como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista, perpassa-se pelo surgimento da Burguesia até sua atual configuração. Neste cenário, a pessoa idosa, na atual lógica de mercado, é sinônimo de mão-de-obra ativa disponível para força de trabalho. O segundo capítulo, traz elementos sobre as políticas para o segmento da população envelhecida e destaca-se duas políticas internacionais que são, o “Plano Internacional de Ação para o Envelhecimento” e a “Política de Saúde: uma política para o Envelhecimento Ativo”. Ambas apresentam as decisões dos organismos internacionais acerca do envelhecimento global e trazem medidas que podem fundamentar a elaboração de políticas públicas nos países, principalmente nos que estão em desenvolvimento. Discutindo a política em âmbito mundial, analisa-se a sua repercussão nas políticas sociais brasileiras a fim de dar visibilidade à problemática do envelhecimento no Brasil, colocando a família como parceira na construção de uma “sociedade para todas idades”. A fim de apresentar a repercussão das políticas internacionais no Brasil, levantou-se como marco histórico a “Política Nacional do Idoso” e o “Estatuto do Idoso”, para fomentar a discussão se as pessoas idosas estão tendo acesso aos seus direitos e sendo construtoras de sua cidadania. O terceiro capítulo traz elementos da realidade concreta por meio da pesquisa de campo, onde foi aplicado o roteiro de entrevista em duas instituições, que teve como universo de pesquisa, a cidade de Franca, no Centro de Convivência do Idoso “Avelina Maria de Jesus” e na Universidade Aberta a Terceira Idade. As pessoas idosas foram instigadas a refletir sobre o papel do trabalho em suas vidas e como a atividade laboral influencia em sua velhice e na sua família. A fim de dar concretude à pesquisa foi utilizado como método o materialismo histórico-dialético, e como a amostra foram entrevistados 6 sujeitos. A pesquisa buscou fundamentar, além da pesquisa de campo, em obras, dissertações e teses que tratam da temática do envelhecimento e do trabalho na sociedade capitalista. Os resultados mostram que o trabalho é mais do que fonte de rendimentos para a pessoa idosa e sua família, contrapondo a problemática inicial. É tratado como uma ocupação do tempo livre, onde identifica-se que o trabalho na velhice não é substituído por outra atividade a fim de desfrutarem de outras vivências fora desse contexto. Palavras-chave: envelhecimento. pessoa idosa. trabalho.

TEIXEIRA, Laís Vila Verde. The elderly in the current configuration the world of work: a study in the city of Franca / SP. 2016. 138f. Dissertação de Mestrado em Serviço Social – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Franca, 2016.

ABSTRACT

This research aimed to bring relevant aspects about the elder interface with the world of work in contemporary, questioning whether the work of the elder contributes to the family income. The first chapter expounded on the construction of the capitalist mode of production starting from the working class and its ontological aspects addressing other categories involved as alienation, productive forces, production and social reproduction. For the understanding of the work as the fundamental category of social being in capitalist sociability, permeates by the emergence of the Bourgeoisie to its current configuration. In this scenario, the elder, in the current market logic, is synonymous with hand labor available for active workforce. The second chapter provides details of the policies for the segment of the aging population and stands two international policies that are the "International Plan of Action on Ageing" and "Health policy: a policy for Active Ageing". Both have the decisions of international organizations on global aging and bring measures that can support the development of public policies in the countries, especially those who are under development. Discussing politics worldwide, analyzes the impact on the Brazilian social policies in order to give visibility to aging issues in Brazil, placing the family as a partner in building a "society for all ages". In order to present the impact of international policies in Brazil, rose as landmark the "National Policy for the Elderly" and the "Statute of the Elderly" to encourage discussion if older people are having access to their rights, and construction their citizenship. The third chapter brings elements of concrete reality through field research, where the interview script was applied in two institutions, which had the world of research, the city of Franca, in the Community Center for the Elderly "Avelina Maria de Jesus" and the Open University Senior Citizens. Older people were urged to reflect on the role of work in their lives and how labor activity influences in his old age and his family. In order to give concreteness to the survey it was used as a method historical and dialectical materialism, and how the sample were interviewed 6 subjects. The research sought to support, in addition to field research in works, dissertations and theses dealing with the aging issue and work in capitalist society. The results show that the work is more than a source of income for the elder and his family, comparing the initial problem. It is treated as an occupation of free time, which identifies that the work in old age is not replaced by another activity to enjoy other experiences outside this context. Keywords: aging. ederly. job.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos (Brasil

– 2030/2100) ............................................................................................ 32

Gráfico 2 Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em

trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil –

2004/2013 ................................................................................................ 33

Gráfico 3 Composição da população residente total, por sexo e grupos de

idade – Brasil – 1991/2010 ..................................................................... 57

Gráfico 4 Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – 1991/ 2000/

2010 ......................................................................................................... 81

Gráfico 5 Pirâmide etária – Franca SP – Distribuição por sexo, segundo os

grupos de idade ...................................................................................... 81

Gráfico 6 Comparação Franca 2010 – 2015 (Índice de Envelhecimento

em %) ............................................................................................... 82

Gráfico 7 Composição da população de 18 anos ou mais de idade em Franca –

2010 ......................................................................................................... 83

Gráfico 8 SEXO ........................................................................................................ 92

Gráfico 9 IDADE ....................................................................................................... 93

Gráfico 10 ESCOLARIDADE ................................................................................... 93

Gráfico 11 TEMPO QUE FREQUENTA A INSTITUIÇÃO (ANOS) .......................... 94

Gráfico 12 VOCÊ É APOSENTADO? ...................................................................... 94

Gráfico 13 RENDA ................................................................................................... 95

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Resumo geral do Plano de Ação Internacional para o

Envelhecimento ........................................................................................49

Quadro 2 - Resumo geral da Política de Envelhecimento Ativo: uma política de

saúde .........................................................................................................56

Quadro 3 - Atividades desenvolvidas no CCI “Avelina Maria de Jesus” .............88

Quadro 4 - Ocupação atual dos sujeito entrevistados ...........................................95

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Empregos formais por nível de instrução 2010-2014 (faixa etária) .....84

LISTA DE SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CCI Centro de Convivência do Idoso

CCQs Círculos de Controle de Qualidade

CF/88 Constituição Federal de 1988

CRAS Centro de Referência da Assistência Social

CREAS Centro de Referência Especializado da Assistência Social

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

EI Estatuto do Idoso

FMI Fundo Monetário Internacional

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ILP Instituição de Longa Permanência

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

MPC Modo de Produção Capitalista

OMS Organização Mundial de Saúde

ONGs Organizações Não-governamentais

ONU Organização das Nações Unidas

PAIF Serviço de Proteção e Atendimento Integral a Família

PEA População Economicamente Ativa

PNAS Política Nacional de Assistência Social

PNI Política Nacional do Idoso

PSB Proteção Social Básica

SCFV Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

SEADE Fundação Sistema Estadual Análise de Dados

UNATI Universidade Aberta a Terceira Idade

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA

SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA ........................... 19

1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos ..................................................... 20

1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista

contemporânea ................................................................................................. 26

1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família ....................... 33

1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital ......................................... 39

CAPÍTULO 2 ENVELHECIMENTO ATIVO: DO GLOBAL AO LOCAL ................... 44

2.1 A construção do envelhecimento na atual fase do capitalismo ................... 45

2.1.1Concebendo a velhice sob o olhar dos organismos internacionais ................... 47

2.1.2 Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento ....................................... 48

2.1.2.1 Orientação Prioritária I: Pessoas idosas e o desenvolvimento ...................... 51

2.1 2.2 Orientação Prioritária II: Promoção da saúde e bem-estar na velhice .......... 52

2.1 2.3 Orientação Prioritária III: Criação de ambiente propício e favorável ............. 53

2.1.3 Envelhecimento Ativo: uma política de saúde .................................................. 55

2.1.4 Considerações sobre o Plano Internacional para o Envelhecimento e a Política

de Envelhecimento Ativo e seus reflexos na sociedade brasileira .................... 61

2.1.5 Discutindo o envelhecimento no Brasil: o Marco Legal e o direito ao acesso das

políticas ............................................................................................................. 65

2.1.5.1 Considerações sobre a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso e a

centralidade da família .................................................................................. 69

CAPÍTULO 3 A PESSOA IDOSA E O MUNDO DO TRABALHO: UMA

APROXIMAÇÃO COM A REALIDADE CONCRETA ........................ 74

3.1Os caminhos da pesquisa ................................................................................. 75

3.1.1Desvelando o universo da pesquisa .................................................................. 79

3.1.2 O universo da pesquisa: a cidade de Franca ................................................... 80

3.1.3 Centro de Convivência do Idoso – CCI Avelina Maria de Jesus ...................... 84

3.1.4 Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) ................................................ 90

3.1.5 Perfil dos entrevistados .................................................................................... 92

3.1.6 Análise das categorias: conhecendo a realidade dos sujeitos ......................... 97

3.1.6.1 Família ........................................................................................................... 97

3.1.6.2 Trabalho ...................................................................................................... 100

3.1.6.3 Mudança e Qualidade de Vida .................................................................... 107

CONCLUSÃO ......................................................................................................... 112

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 120

APÊNDICES

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA – IDOSOS ...................................... 129

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

(TCLE) ......................................................................................... 131

ANEXOS

ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA .............. 133

ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO CCI .......................................... 135

ANEXO C – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO UNATI ..................................... 136

ANEXO D – PARECER DE ALTERAÇÃO NA QUANTIDADE DE SUJEITOS...... 137

INTRODUÇÃO

15

A pesquisa teve por objetivo apresentar a realidade vivenciada pelas

pessoas idosas e a sua permanência no mercado de trabalho, mesmo já usufruindo

de algum benefício social ou previdenciário. A intenção foi fomentar o debate acerca

desta situação, pois o envelhecimento tem se tornado um fenômeno mundial diante

da baixa taxa de natalidade, visto que, demograficamente, percebe-se um rápido

aumento da população envelhecida em detrimento do número de crianças que

nascem.

Diante das novas configurações do mundo do trabalho regidas pelo

Neoliberalismo – uma ideologia que visa à liberdade de mercado, a qual o Estado

intervém parcialmente na economia atuando como regulador social que aplica

medidas mínimas aos problemas decorrentes deste modo de pensar a economia –,

o capital criou alternativas para manter sua engrenagem em funcionamento, sendo a

força de trabalho da pessoa idosa um mecanismo de perpetuação da ordem

estabelecida, visto ser rentável ao capital mantê-los ativos no mercado de trabalho.

A fim de compreender, numa perspectiva de totalidade, os determinantes

que condicionam as pessoas idosas a estarem no mercado de trabalho, a pesquisa

busca desvelar esta realidade em três aspectos: compreender a categoria trabalho

na sociedade capitalista partindo de seus aspectos ontológicos até os dias de hoje,

analisar as políticas voltadas para o segmento idoso através dos marcos legais, a

Política de Saúde: uma política de envelhecimento ativo publicada pela Organização

Mundial de Saúde (OMS) em 2005, e o Plano Internacional em 2002, fazendo uma

análise dos pontos positivos e negativos e seus rebatimentos na política brasileira

para este segmento. Por fim, apresentar a pesquisa de campo que traz dados

pertinentes dessa realidade vivenciada pela pessoa idosa e que elucida elementos

importantes para percebermos que o trabalho é mais do que um complemento de

renda pessoal e familiar.

Assim sendo, no primeiro capítulo discutimos acerca da categoria trabalho

partindo de seus aspectos ontológicos abordando categorias inerentes como

alienação, forças produtivas, produção e reprodução social, para a compreensão do

trabalho como categoria fundante do ser social na sociabilidade capitalista.

Depois de compreender o que é o trabalho, damos um salto histórico para

os anos 1990 a qual o trabalho reestrutura-se de uma forma complexificada

tornando a própria característica do trabalhador híbrida, adquirindo característica de

flexibilidade, polivalência, terceirização, precarização, arrocho salarial,

16

desmantelamento dos direitos trabalhistas e dos movimentos sociais em prol dos

trabalhadores, alienação e desemprego estrutural.

Nesse cenário, a pessoa idosa aparece como ator social compondo a

cena histórica como trabalhador participante da força de trabalho da População

Economicamente Ativa (PEA), pelo fato de que o trabalho, como elemento central na

vida do ser social, é importante para a manutenção pessoal e contribuição para o

complemento da renda familiar.

Os autores que fundamentaram a discussão sobre a categoria trabalho e

a sua configuração na contemporaneidade foram Ricardo Antunes (2008), Karl Marx

(1988), Karl Marx e Friederich Engels (2007), Sérgio Lessa (1999), Marilda Vilela

Iamamoto (2010), Yolanda Guerra (1995), Sara Granemann (2011), Ivo Tonet

(2007), José Paulo Netto e Marcelo Braz (2008), Solange Maria Teixeira (2009) e

Sálvea de Oliveira Campelo e Paiva (2014), Theodor Adorno (2002), entre outros.

No segundo capítulo abordamos as duas principais políticas

internacionais relacionadas à pessoa idosa: a política de Envelhecimento Ativo

(OMS, 2005) e o Plano Internacional (ONU, 2002). Foi feita a análise dos

rebatimentos políticos que estas obtiveram em âmbito nacional, no sentido de

construir um ambiente para o envelhecimento com qualidade de vida no Brasil.

Apresentamos um quadro com um panorama geral do conteúdo das políticas e

discutimos acerca dos pontos positivos e negativos das mesmas elencando os

aspectos que culminaram na criação do Estatuto do Idoso de 2003 (BRASIL, 2010a)

e na Política Nacional do Idoso (BRASIL, 1994), reafirmando os pontos positivos e

negativos, não apenas enquanto políticas sociais, mas, se de fato estão mudando a

vida dessas pessoas de forma a se sentirem mais protegidas pela lei.

Pela postura que o Estado assume no ordenamento neoliberal é notório

que as políticas públicas possuem um caráter paliativo no sentido de apenas

remediarem uma problemática social que a cada dia toma maiores proporções que é

o envelhecimento do trabalhador (TEIXEIRA, 2008). As políticas, em seu texto,

abordam esta questão, no entanto, não vemos uma efetivação de forma que a

pessoa idosa se sinta um cidadão construtor de sua história, pelo contrário,

encontramos políticas que são elaboradas apenas para amenizar os reais problemas

sociais que acontecem em relação ao segmento idoso. Porém, os grupos que

defendem as pessoas idosas caminham para a efetivação de seus diretos, estando

à frente do movimento pela pessoa idosa.

17

A pessoa idosa tem sido vítima dos ditames do capital, enquanto poderia

desfrutar de outras vivências em sua velhice, está fazendo parte da força de

trabalho, pois as condições materiais de vida não permitem que a renda disponível

seja suficiente para manutenção pessoal e familiar em muitos casos.

Percebe-se, hoje, que muitas pessoas idosas convivem com suas famílias

sendo necessária a renda do trabalho para contribuir com a manutenção da renda

familiar. Essa tem sido uma situação cada vez mais frequente não somente no

Brasil, mas no mundo. Podemos destacar como autores que fundamentaram a

discussão acerca das políticas Solange Maria Teixeira (2009), Sálvea de Oliveira

Campelo e Paiva (2014) e Ana Amélia Camarano (2004). Além disso, contribuíram

para a compreensão da temática, documentos nacionais e internacionais como os

da Organização das Nações Unidas (ONU), da Organização Mundial de Saúde

(OMS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros.

No terceiro capítulo, faz-se uma reflexão entre a teoria e prática trazendo

elementos relevantes da realidade material por meio da pesquisa de campo. O lócus

da pesquisa foi a cidade de Franca-SP e foram escolhidas duas instituições como

universo, o Centro de Convivência do Idoso ‘Avelina Maria de Jesus” (CCI) e a

Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI) da Faculdade de Ciências Humanas

e Sociais – UNESP/ Câmpus de Franca. Foram selecionados seis idosos que

obedeceram aos critérios de seleção e aplicado um roteiro de entrevista com

questões abertas e fechadas, a fim de responder a problematização da pesquisa

que é: a renda do trabalho da pessoa idosa contribui para a renda familiar? A partir

deste questionamento foram abertas questões que se dividiram em três categorias

de análise: Família, Trabalho, Mudança e Qualidade de Vida, os quais foram

apresentados os resultados da pesquisa.

A fim de fundamentar a análise das falas dos sujeitos, foram utilizados

autores que trazem uma abordagem crítica sobre o método utilizado, materialismo

histórico dialético, destacando José Paulo Netto que faz uma análise pertinente do

mesmo, além de Maria Cecília Minayo (2002), Yolanda Guerra (1995), Augusto

Triviños (1987), Marilda Vilela Iamamoto (2001), entre outros.

Assim, esta pesquisa proporcionou a reflexão e abriu espaço para

fomentar a discussão acerca da pessoa idosa que trabalha no cenário neoliberal e

construindo conhecimento em relação a esta temática com a intenção de não trazer

resultados fechados, mas, abrir espaço para a discussão de aspectos pertinentes ao

18

envelhecimento na contemporaneidade a nível local e global, também, acerca da

pessoa idosa que trabalha. Espera-se que esta pesquisa contribua para o referencial

teórico-metodológico do Serviço Social a fim de reafirmar os propósitos ético-

políticos da profissão de forma a sempre participar da criação de novos

instrumentais de trabalho para a atuação profissional, principalmente, com este

sujeito, a pessoa idosa que participa ativamente da força de trabalho, vivenciando

em seu cotidiano as mais diversas expressões da Questão Social e necessita de

uma intervenção concreta com vistas a materialização de sua cidadania.

CAPÍTULO 1 A CATEGORIA TRABALHO E SUA CENTRALIDADE NA

SOCIEDADE CAPITALISTA CONTEMPORÂNEA

20

1.1 Categoria Trabalho: aspectos ontológicos

Ao observar a nova organização do mundo do trabalho e tomar a pessoa

idosa como sujeito atuante e construtora de sua cidadania em tempos de

globalização do capital, percebe-se que o ordenamento societário busca sempre

manter as pessoas subordinadas e alienadas ao trabalho.

Ter a pessoa idosa como força de trabalho dentro da ordem do capital

significa mais um reforço à mão de obra disponível para o mercado de trabalho, ou

seja, possui igual valor como qualquer outro segmento desta sociedade, sendo

participante do processo de produção e reprodução social, além de estar sujeito às

próprias adversidades que o mercado cria e que são resultado da contradição do

modelo econômico em pauta que preza a acumulação de riqueza em detrimento do

aumento da miséria, um não subsiste sem o outro.

Dessa forma, para além da reflexão acerca do trabalho na sociedade

capitalista contemporânea, antes se faz necessário conceituar e compreender o que

é a categoria trabalho fazendo uma revisão bibliográfica de autores que refletem

sobre ela de forma apropriada. Nesse sentido, a intenção é situar sobre esta

categoria nas suas origens ontológicas a fim de compreender com propriedade seus

desdobramentos no decorrer da história até chegar nos moldes da sociabilidade

capitalista atual.

O trabalho, sendo um componente humano e social, sempre esteve

presente em todos os tipos de sociedades, que existiram e se acabaram, ou que

ainda mantêm alguns de seus resquícios neste corpo social em que vivemos. Apesar

das suas variadas formas de manifestação, tem por finalidade materializar a ação do

homem sobre a natureza, visto que, a existência humana depende de sua relação

com a mesma

[...] o trabalho é um ato de pôr consciente e, portanto, pressupõe um conhecimento concreto, ainda que jamais perfeito, de determinadas finalidades e de determinados meios [...] quanto mais elas [as ciências] crescem, se intensificam etc., tanto maior se torna a influência dos conhecimentos assim obtidos sobre as finalidades e os meios de efetivação do trabalho. (LUKÁCS, 1978 p. 8 apud SANTOS, 2011, p. 57).

Este, sendo uma categoria eminentemente humana, que nos diferencia

dos animais, acontece por meio de um processo reflexivo que se chama teleologia

21

ou prévia-ideação1 e consiste em antecipar na mente a ação que se deseja realizar,

ou seja, “[...] no fim do processo de trabalho aparece um resultado que já existia

inicialmente na imaginação do trabalhador.” (MARX, 1988). A escolha das

alternativas damos o nome de objetivação, isto é, a realização da escolha. Este

movimento de transformar a natureza a partir de uma prévia-ideação é denominado

por Lukács, depois de Marx, por trabalho (LESSA, 1999, p. 2).

Destaca-se que, por meio do trabalho, o homem transforma a natureza e

também se transforma e o resultado do trabalho é sempre alguma transformação da

realidade. A natureza não é a mesma por ter sido exercida uma ação sobre ela, e o

homem não é mais o mesmo por ter aprendido algo com a sua ação, ou seja, há

uma aquisição de experiências e habilidades de forma dinâmica por meio do

trabalho

Isso significa que ao construir o mundo objetivo o indivíduo também se constrói. Ao transformar a natureza, os homens também se transformam – pois adquirem sempre novos conhecimentos e habilidades. Esta nova situação (objetiva e subjetiva, bem entendido) faz com que surjam novas necessidades (um machado diferente, por exemplo) e novas possibilidades para atendê-las (o indivíduo possui conhecimentos e habilidades que não possuía anteriormente e, além disso, possui um machado para auxiliá-lo na construção do próximo machado). (LESSA, 1999, p. 2, grifo do autor).

As novas necessidades e novas possibilidades dão ao indivíduo

motivação para ter novas prévias-ideações, projetos, e objetivações, que vão dar

origem a um novo ciclo de novas necessidades e assim por diante.

Esquematizando este processo podemos aludir que o objeto é construído

pelo homem por meio do trabalho. Este objeto apenas existe como resultado do

trabalho, portanto, não há o desaparecimento da natureza, mas sim sua

transformação. A prévia-ideação se constitui como uma resposta, entre outras

possibilidades, a uma necessidade concreta que é determinada pela história

humana. Como a realidade está sempre se transformando, a história, a necessidade

nunca serão as mesmas, sendo assim, o homem transformando a natureza também

se transforma.

1 Também entendida como teleologia, segundo Santos (2011, p. 56) “Para a teleologia transformar a

realidade objetiva (uma causalidade) em uma causalidade posta, ou seja, em um produto, ela precisa pôr o fim e buscar os meios que possibilitem esse processo. [...] Ao mesmo tempo em que o pensamento, mesmo que inconscientemente, estabelece a finalidade de sua ação, ele articula a busca dos meios necessários para alcançar aquela finalidade, para transformar causalidades espontâneas – ou seja, condições já encontradas – em causalidades postas.”

22

Podemos dizer que ao transformar a natureza pelo trabalho há o

desenvolvimento das capacidades que levam ao desenvolvimento dos bens

necessários à humanidade, dessa forma, os conhecimentos e habilidades vão sendo

construídos historicamente, os científicos, artísticos, filosóficos, tornando-se cada

vez mais complexos e sofisticados, distanciando-se da primitividade do

conhecimento.

Com o desenvolvimento das técnicas do trabalho, as relações sociais

também se complexificaram ao lado das novas condições históricas que foram se

estabelecendo, a qual foi necessário a criação de novos elementos para compor a

sociabilidade emergente: a capitalista.

Pode-se inferir que o ideal capitalista foi o precursor do surgimento do

trabalho explorado, do exército industrial de reserva, da propriedade privada, do

Estado (para gerenciar essa sociedade dividida em classes – a burguesa e a

proletária) e de uma ideologia que orienta as regras para a exploração do trabalho.

Com relação ao surgimento do Estado como instituição gerenciadora, Marx e Engels

(2007, p. 75) consideram que

Por meio da emancipação da propriedade privada em relação à comunidade, o Estado se tornou uma existência particular ao lado e fora da sociedade civil; mas esse Estado não é nada mais do que a forma de organização que os burgueses se dão necessariamente, tanto no exterior como no interior, para a garantia recíproca de sua propriedade e de seus interesses.

Assim sendo, é por meio do trabalho que há o estabelecimento da

reprodução material e da reprodução das relações de poder entre os homens.

Mantêm-se as diversas partes que compõe a sociedade em funcionamento de forma

orgânica, como o Estado, o Direito, a política, entre outros que se relacionam com a

totalidade da reprodução social2, que segundo Granemann (2011, p. 15)

É ao trabalho produtor de mercadoria que se imputa a reprodução do capital como força capaz de continuamente submeter a força de trabalho para que ela reproduza a totalidade da forma social de produção de mercadorias. Essa é a sociabilidade possível no modo capitalista.

2 Por produção e reprodução social podemos compreender como o âmbito de relações que articulam

a elaboração e criação de produtos no modo de produção capitalista, ao passo que, concomitantemente, também compreende não apenas os atos relativos a vida material e biológica do homem, mas aqueles que fazem dar continuidade ao conjunto da vida social, a um dado estágio de sociabilidade.

23

Nesse sentido, surgem novas relações sociais para atender as novas

necessidades postas pelo trabalho que se organizam em partes, como complexos

sociais (o Direito, a fala, o Estado, a ideologia – que condensa arte, política, religião,

filosofia), para o desenvolvimento da humanidade em si. As diversas partes que

compõe a sociedade exercem uma função social na esfera do processo produtivo, e

“O conjunto total das relações e complexos sociais que compõem as sociedades em

cada momento histórico, é denominado de totalidade social.” (LESSA, 1999, p. 8,

grifo nosso).

Podemos fazer a seguinte elucidação: nas sociedades primitivas, é pelo

trabalho que o homem transforma a natureza (realidade material) e também se

transforma, numa relação homem versus natureza. Como vimos anteriormente, nas

sociedades complexas, é pelo trabalho que se promove a organização das relações

sociais para manter uma determinada ideologia, ou seja, uma relação de dominação

do homem versus homem.

A história do homem3 é a história da origem e desenvolvimento das

diversas formas de organização social. Por meio do trabalho, o homem construiu as

bases das relações sociais e a própria história encarregou-se da sua

complexificação com a tecnificação, a divisão sexual do trabalho e globalização dos

mercados. Além de criar os complexos sociais como a política, o direito, a cultura, a

filosofia e outros para o bom funcionamento da ideologia dominante,

[...] a forma de organização das relações de produção na sociedade capitalista, cujo núcleo básico é a compra e a venda da força de trabalho, dá origem a uma sociedade civil marcada pela divisão entre público e privado, pela oposição dos homens entre si, pela exploração, pela dominação, pelo egoísmo, pelo afã de poder, enfim, por uma fratura ineliminável no seu interior. (TONET, 2004, p. 26).

A sociedade foi dividida em duas classes: a que trabalha e produz riqueza

e a que apropria a riqueza socialmente produzida, em outras palavras, a classe

dominada e a classe dominante. A que trabalha vende a sua força de trabalho em

troca de um salário para sua sobrevivência em detrimento do enriquecimento e

empoderamento da outra classe. Identificamos, aqui, o surgimento do trabalho

alienado, pois o trabalhador não se reconhece no produto de seu trabalho, visto que

há apenas uma relação de troca, característica do trabalho assalariado na sociedade

3 O termo homem é utilizado enquanto ser humano.

24

capitalista. Sobre o conceito de alienação, Granemann (2011, p. 14) afirma que

A sociabilidade contida em um modo de produção que transforma a tudo em mercadorias, a começar pela força de trabalho, tem como seu resultado relações sociais e a atividade laborativa mesma de produzir os bens necessários à vida social, como algo penoso, alienado, no qual o próprio produtor não se reconhece nos frutos de seu trabalho.

A esse processo damos o nome de desenvolvimento das forças

produtivas que são mediadas pelo trabalho, a qual toda potência humana é

empregada na produção dos bens que são indispensáveis à reprodução da

sociedade, tais como: a ciência, divisão social do trabalho, ideologia, conhecimento,

técnicas, entre outras. Porém, há o lado negativo do desenvolvimento das forças

produtivas, a capacidade humana de produzir desumanidades, como dito

anteriormente. O aspecto negativo faz parte do complexo de alienação.

Na sociedade, onde o trabalho se baseia nas relações de exploração/

dominação, este passa a atender não apenas as necessidades humanas, mas as

necessidades da ideologia, no caso, a capitalista. O trabalho passa a ser subalterno

ao capital, ou seja, às necessidades de acumulação de riquezas pela classe

dominante. Como nos diria Marx e Engels (2007, p. 47, grifo do autor) “As ideias da

classe dominante são, em cada época, as ideias dominantes, isto é, a classe é a

força material dominante da sociedade é, ao mesmo tempo, sua força espiritual

dominante.”

Aqui se trata do trabalho assalariado e alienado, a qual a força de trabalho

é submetida à reprodução do capital para a manutenção da ordem vigente e

obtenção do lucro por meio da mais-valia4, do excedente de trabalho. A sociedade

capitalista é permeada pela contradição entre as classes fundamentais (burguesia e

proletariado), em que o trabalhador se torna mero instrumento nas mãos de seu

patrão, se tornando “coisa”. A “coisificação” do trabalhador se dá pelo fato de que ele

não mais se reconhece no produto do seu trabalho, já que não participa do processo

completo da produção, mas apenas da parte que foi designado.

O processo de trabalho produz riqueza para a classe dominante e miséria

4 Segundo Marx, mais-valia significa valor excedente não pago ao trabalhador e que somente

acontece na esfera da produção, este valor é apropriado pelo capitalista. Significa que, “[...] Comparando o processo de produzir valor com o de produzir mais valia, veremos que o segundo só difere do primeiro por se prolongar além de certo ponto. O processo de produzir valor simplesmente dura até o ponto em que o valor da força de trabalho pago pelo capital é substituído por um equivalente. Ultrapassando esse ponto, o processo de produzir valor torna-se processo de produzir mais valia (valor excedente).” (MARX, 1988).

25

para a classe dos trabalhadores, isto se deve ao fato de que o capital não pode

deixar de se expandir, pois ele é uma forma de propriedade privada, ou seja, se

alimenta de sua própria acumulação. Sendo assim, ele existe para manter a

lucratividade e rentabilidade dos negócios a fim de garantir a sua expansão.

Por meio da divisão do trabalho, já está dada desde o princípio a divisão das condições de trabalho, das ferramentas e dos materiais, o que gera a fragmentação do capital acumulado em diversos proprietários e, com isso a fragmentação entre capital e trabalho, assim como as diferentes formas de propriedade. Quanto mais se desenvolve a divisão do trabalho e a acumulação aumenta, tanto mais aguda se torna essa fragmentação. O próprio trabalho só pode subsistir sob o pressuposto dessa fragmentação. (MARX; ENGELS, 2007, p. 72)

Dessa forma, “[...] o trabalho continua a ser o eixo fundamental da

sociabilidade humana.” (GRANEMANN, 2009, p. 225). Além de ser sustento das

relações sociais, é nele que se assenta a reprodução social.

Analisando os aspectos políticos e econômicos da sociedade capitalista

madura, percebe-se uma grande transformação nos diversos setores que compõe a

economia em relação aos demais estágios do capitalismo que outrora o homem tem

presenciado e construído a sua história.

Desde os primórdios da civilização, o trabalho tem sido o elemento de

proteção e sobrevivência do homem nas diversas formas de sociabilidade que já

acometeram a humanidade. Sabendo disso, trabalho e determinantes das relações

humanas sempre estarão presentes na vida do ser social, porque ele é sujeito

atuante e elemento modificador desse processo, sendo o sujeito, também, uma

categoria inscrita na sociabilidade capitalista que tem o trabalho como centro nas

relações sociais e de produção. A relação da compra e venda da força de trabalho

entre o trabalhador e o capitalista pode ser representada na própria fala de Marx

(1988),

Ao penetrar o trabalhador na oficina do capitalista, pertence a este o valor-de-uso de sua força de trabalho, sua utilização, o trabalho. O capitalista compra a força de trabalho e incorpora o trabalho, fermento vivo, aos elementos mortos constitutivos do produto, os quais também lhe pertencem.

Diante do percurso histórico-ontológico traçado até o momento, pretende-

se apresentar os elementos pertinentes à sociedade capitalista contemporânea,

considerando os traços do passado que influenciaram e influenciam os

26

direcionamentos do modo de produção capitalista na atualidade sempre tendo como

base a centralidade da categoria trabalho na constituição da vida do ser social.

1.1.1 As manifestações da categoria Trabalho na sociedade capitalista

contemporânea

A partir da década de 1980 o mundo do trabalho sofreu grandes

transformações, principalmente em países de capitalismo avançado, o qual a classe-

que-vive-do-trabalho (ANTUNES, 2008) sofreu profundas crises, afetando inter-

relacionamentos e até sua forma de ser. Isso provocou um grande salto tecnológico,

mesclando fordismo e taylorismo, ou seja, mudanças nos moldes da produção.

A produção em série e de massa foram substituídas pela “flexibilização da

produção”, que adequa a produção à lógica do mercado provocando rebatimentos

negativos nos direitos trabalhistas conquistados.

Novos padrões de gestão da força de trabalho são incorporados a essa

nova ideologia, como os Círculos de Controle de Qualidade (CCQs) que remetem a

uma “gestão participativa, de busca da qualidade total”, expressões estas muito

utilizadas em países de capitalismo avançado.

O CCQ foi desenvolvido no Japão por gerentes de empresas, a partir dos anos 50, junto com o toyotismo. No sistema Toyota, os engenheiros do chão de fábrica deixam de ter um papel estratégico e a produção é controlada por grupos de trabalhadores. A empresa investe muito em treinamento, participação e sugestões para melhorar a qualidade e a produtividade. O controle de qualidade é apenas uma parte do CCQ. (WATANABE, 1993, p. 5 apud ANTUNES, 2008, p. 35)

Os valores toyotistas foram conquistando espaço e adeptos na sociedade,

de forma que não somente a organização do trabalho se transformou, mas também

a organização dos trabalhadores, que se encontra ameaçada sob o poder dos

empresários. Estes incutem na mente de seus funcionários que a empresa na qual

trabalham é sua família e que dela necessitam cuidar, eliminando, dessa forma,

qualquer forma de organização autônoma dos trabalhadores.

Infere-se que todas as conquistas dos trabalhadores são irrisórias diante

da nova ordem do capital, da flexibilização do trabalho, da desregulamentação dos

direitos trabalhistas, lembrando o despotismo taylorista que envolve e manipula,

características próprias da sociabilidade contemporânea moldada pelo sistema

27

produtor de mercadorias.

O trabalho assalariado é a forma especifica do regime a que vivem submetidos os produtores diretos no MPC. Isso significa que ele é parte constitutiva do sistema de exploração do trabalho que é próprio do MPC: por mais significativas que sejam as conquistas salariais dos trabalhadores (e elas são importantes em si mesmas, entre outras razões porque podem melhorar as suas condições de vida), não afetam o núcleo do caráter explorador da relação capital/trabalho. Do ponto de vista ideológico, aliás, o regime salarial contribui para difundir a falsa ideia, tão cara aos capitalistas, segundo a qual, mediante o salário, os trabalhadores obtêm a remuneração integral do seu trabalho. (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 104).

A acumulação flexível quer se voltar para o crescimento, isto é, crescer

em valores que se apoiam em e na exploração do trabalho, oferecendo ao sistema

uma intrínseca dinâmica tecnológica e organizacional, características próprias ao

modo de produção capitalista (MPC).

Para se adequar às novas necessidades do mercado, foram inseridos à

produção mecanismos de aproveitamento do tempo, dentre eles temos o quesito da

polivalência do trabalhador, que deve operar várias máquinas ao mesmo tempo, na

lógica just in time da empresa, ou seja, o processo de trabalho é cronometrado e

deve responder à qualidade exigida pela empresa, intensificando o ritmo, o tempo e

o processo de trabalho, flexibilizando o aparato produtivo e a organização do

trabalho, havendo a necessidade de agilidade em se adaptar.

Esta lógica mercadológica foi introduzida pela empresa japonesa

automobilística Toyota, que influenciou fortemente na forma de racionalização do

trabalho, na ênfase da meritocracia na empresa, no sindicalismo manipulado e

cooptado e na produção condicionada pela demanda, intensificando o processo de

exploração do trabalho.

Segundo Dupas (2001, p. 25)

[...] é certo que a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias tem permitido que o processo de geração de excedente no capitalismo atual não mais se restrinja à jornada de trabalho, invadindo os demais momentos do cotidiano do trabalhador, o que cria a ilusão de que o capital aproxima-se do trabalho ao não mais exigir cartão de ponto e ao remunerá-lo por resultado. Na verdade, a flexibilidade propiciada pelas novas tecnologias rompeu as limitações impostas pelas dimensões espaço/tempo, destruindo a verticalização da produção e fragmentando o trabalho para longe de um único espaço físico.

A nova lógica de mercado procura dispor de diversos mecanismos para

28

responder à demanda existente e criar novas demandas, para isso não se preocupa

em destruir o pouco que sobrou do estado de bem estar social naqueles países que

viveram sobre este regime, tratando-se do direito dos trabalhadores assalariados, já

que o modelo japonês atua muito mais em sintonia com a agenda neoliberal do que

com uma visão verdadeiramente social-democrata. A questão é viver o sonho do

capital (ANTUNES, 2008), Estado mínimo5 para os trabalhadores e máximo para o

capital.

O capitalismo contemporâneo tem uma característica singular que é a

destruição de todas as regulamentações e direitos que foram historicamente

conquistados, o qual não se pode deixar de considerar todo o sangue que foi

derramado em lutas do movimento operário desde a sua constituição

A desmontagem (total ou parcial) dos vários tipos de Welfare State é o exemplo emblemático da estratégia do capital nos dias correntes, que prioriza a supressão de direitos socais arduamente conquistados (apresentados como “privilégios” de trabalhadores) e a liquidação das garantias ao trabalho em nome da “flexibilização” já referida. (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 226).

Diante disso, há um distanciamento de alternativas que vão para além do

capital, já que as medidas adotadas têm seu fundamento na ótica do mercado, da

produtividade e das empresas, não levando em consideração expressões como o

desemprego estrutural, que é resultado das transformações do processo produtivo.

Não se considera a demanda trazida pelo trabalhador, visto que a mesma é fruto da

exploração do trabalho, base em que se assenta a acumulação capitalista. Os

dilemas da contemporaneidade possuem como raiz a forma de gerenciamento das

relações sociais e de trabalho, influenciando em questões éticas, sociais e políticas

Hoje a questão tornou-se mais complexa. No andar de cima potencializa-se a acumulação pelo grau de inovação, pela possibilidade de fragmentação das cadeias produtivas globais e pela enorme autonomia da tecnologia, esta última finalmente liberta de suas amarras éticas ou sociais, antes teoricamente representadas pelo papel mais atuante dos Estados nacionais.

5 O Estado adota medidas de incentivo fiscal para as grandes organizações enquanto as políticas

sociais sofrem cortes exorbitantes. Segundo Montaño e Duriguetto (2011, p. 208, grifos dos

autores) há uma “[...] orientação para o corte dos gastos sociais do Estado, para assim conter o

déficit público e gerar superávit primário, segue, na verdade, as recomendações contidas no

ajuste estrutural proposto pelos organismos internacionais, pelas quais as economias nacionais

devem adaptar-se às novas condições da economia mundial. É nesse cenário que é preconizada

a redução da intervenção estatal no financiamento e na operacionalização das políticas sociais.

Dessa forma focaliza suas ações e direciona os gastos públicos aos que comprovam sua pobreza.

29

[...] Se a consequência desse desenvolvimento for, por exemplo, um maciço aumento do desemprego por conta da radical automação no setor de serviços, este ônus passa a ser transferido para a sociedade, tenha ela ou não estrutura para lidar com a questão. (DUPAS, 2001, p. 28).

Acerca das metamorfoses do mundo do trabalho e da classe-que-vive-do-

trabalho, observamos uma subproletarização (ANTUNES, 2008, p. 47) intensificada,

expressa na expansão do trabalho parcial, temporário, precário, subcontratado e

“terceirizado”, que marca a sociedade capitalista, complementando o processo de

estranhamento do trabalho que possibilita ao capital a apropriação do saber e do

fazer do trabalho.

No atual modo de produção, o trabalho é estranhado/coisificado ao

homem, fazendo com que ele não conheça todo o processo de produção, ou seja,

não faz parte do produto que realiza, não se reconhece como parte do processo. A

base de acumulação do capital é a exploração, a expropriação de mais-valia e a

apropriação da riqueza socialmente produzida. O princípio de totalidade nos

possibilita compreender que a subsunção do trabalho ontológico ao trabalho

explorado não permite ao ser humano uma realização pessoal, mas responde

apenas, aos fetiches do capital globalizado.

Muitos trabalhadores sentem diretamente as transformações do mundo do

trabalho precarizado, temporário, terceirizado, tendo seu cotidiano moldado pelo

desemprego estrutural. O trabalho possui várias faces resultantes das modificações

do mundo da produção de capital ocorrida nas últimas décadas.

Podemos dizer que essa nova lógica de mercado fez germinar um

exército de trabalhadores informais, ampliando o trabalho desregulamentado sem

carteira assinada. Nesta era de informatização do trabalho (transferir as capacidades

intelectuais para a máquina), observamos uma informalização do mesmo, que

agrega uma classe desprovida de direitos com salários baixos. Vivenciamos uma

queda do trabalho contratado e regulamentado, que está sendo substituído pelo

empreendedorismo, corporativismo e pelo trabalho voluntário. Esse cenário tem se

desdobrado no aumento de instituições do terceiro setor, desenvolvendo atividades

ligadas a assistência, com ou sem fins lucrativos, à margem do mercado.

A internacionalização do capital se caracteriza, portanto

[...] por um processo de precarização estrutural do trabalho, os capitais globais estão exigindo também o desmonte da legislação social protetora do trabalho. E flexibilizar a legislação social do trabalho significa – não é

30

possível ter nenhuma ilusão sobre isso – aumentar ainda mais os mecanismos de extração do sobretrabalho, ampliar as formas de precarização e destruição dos direitos sociais arduamente conquistados pela classe trabalhadora, desde o início da Revolução Industrial, na Inglaterra, e especialmente pós-1930, quando se toma o exemplo brasileiro. (ANTUNES, 2008, p. 109, grifo do autor).

Figura-se um processo no qual há a procura por manter a sobrevivência

sobrepondo-se a muitas outras necessidades. O neoliberalismo tem ditado as

regras: reestruturação produtiva, privatização acelerada, recrudescimento do Estado,

políticas fiscais e monetárias articuladas com órgãos mundiais como o fundo

Monetário Internacional (FMI), desmonte dos direitos sociais, manipulação do

trabalho, fragmentação e heterogenização da classe trabalhadora. Diante deste

cenário destruidor, o qual o capital enfrenta suas crises criando outras crises para

manter seu ciclo vital, podemos considerar e relevar a categoria trabalho como

central neste modo de produção e na vida do homem, visto que “[...] o capital pode

diminuir o trabalho vivo, mas não eliminá-lo. Pode intensificar sua utilização, pode

precarizá-lo e mesmo desempregar parcelas imensas, mas não pode extingui-lo”

(ANTUNES, 2008, p.186, grifo do autor).

Nesse cenário, o Estado não se posiciona de forma neutra, mas de forma

cautelosa frente à nova ordem societária ditada pelo capital. Este novo modelo de

Estado deveria garantir os meios mínimos de sobrevivência para as pessoas.

Se realizarmos uma análise de conjuntura, entretanto, não encontraremos

elementos concretos que nos provem sua materialidade, ou seja, o Estado parece

estar cumprindo um papel de ator observador ao invés de ser o protagonista, no

sentido de buscar melhores alternativas para os apelos da população. Não

garantindo o trabalho, acaba por incentivar o trabalho informal e precário. A forma

assalariada de trabalho desenvolvida pelo capitalismo visa à integração das pessoas

ao modo de produção. A concentração de renda e a desigualdade social contribuem

para o desemprego estrutural.

Outra característica muito presente após a década de 1990 é a

massificação do consumo e intensificação do sistema de produção, que tem como

grande parceira a propaganda mercadológica, seja ela direta ou indireta, visando

que o produto final alcance sucesso, em outras palavras, consumido por um grande

número de pessoas. Acerca do consumo, Granemann (2011, p. 4) considera que

31

Claro está que os processos de manipulação da natureza, em especial no modo de produção capitalista, não carregam a preocupação de preservar a vida já que a crescente conversão de todas as esferas da sociabilidade humana em processos apropriados pelo capital e tornadas mercadejáveis propiciaram incessantes produção e consumo de mercadorias que tem ameaçado de destruição o planeta. Parâmetros tais convertem a ação laborativa em atividade que produz uma sociabilidade alienada porque exercida com o fito da mercantilização, exclusivamente com o objetivo de auferir lucros para o capitalista e, por essa razão, no modo capitalista de produção impôs-se aos homens forma particular de efetivação do trabalho.

Pela exposição da autora, infere-se que as transformações ocorridas na

sociedade e nas condições de vida da população estão relacionadas à ordem

econômica, organização do trabalho, mudança de valores e de hábitos e afirmação

da lógica individualista no contexto da sociedade. Provocando mudanças radicais no

modo de organização familiar e no papel da pessoa idosa na sociedade, além de

termos um crescimento acelerado da pobreza nas classes, majoritariamente,

marginalizadas. Tais transformações societárias vão interferir no cotidiano e na

subjetividade da pessoa idosa que está no mercado de trabalho. Devemos

considerar que “Todas as transformações implementadas pelo capital têm como

objetivo reverter a queda da taxa de lucro e criar condições renovadas para a

exploração da força de trabalho.” (PAULO NETTO; BRAZ, 2008, p. 218).

Diante desse cenário, encontramos idosos que já se aposentaram, mas

que, devido às intempéries enfrentadas nessa sociedade, ainda permanecem ou

retornam ao mundo do trabalho. São pessoas idosas que já usufruem de sua

aposentadoria ou são beneficiárias de outros programas sociais e que não veem

alternativa além do trabalho para garantir a sua sobrevivência e de sua família. O

sistema capitalista se apropria dessa força de trabalho para garantir sua

permanência como um dos braços do motor da economia.

32

Gráfico 1 – Projeção da razão de dependência total, de jovens e de idosos

(Brasil – 2030/2100).

Fonte: IBGE, (2014, [p. 22]) - Síntese de Indicadores Sociais

O gráfico 1 mostra, proporcionalmente, uma previsão do grau de

dependência da renda das pessoas idosas numa escala de tempo entre 2030 a

2100 no Brasil. Percebemos, que a participação do jovem diminui e a participação da

pessoa idosa aumenta com o passar dos anos podendo chegar a mais de 80% do

grau de dependência da renda.

Esses números são um retrato do que já acontece na atualidade, visto

que, a renda proveniente da aposentadoria ou do trabalho já é suporte de muitas

famílias brasileiras, sendo esta uma realidade que acontece não somente no Brasil,

mas em muitos países, inclusive considerados desenvolvidos.

Dois grupos populacionais tiveram importante contribuição para o indicador de informalidade: os jovens e os idosos. Em 2013, cerca de 45% dos jovens de 16 a 24 anos ocupados estavam em trabalhos informais. Entre os idosos no mercado de trabalho este percentual era ainda maior (69%). Esses dois grupos têm características distintas, visto que os jovens estão iniciando sua trajetória profissional; os idosos, por sua vez, estão em outro estágio da vida laboral, seja encerrando um ciclo profissional ou retornando ao mercado de trabalho, já aposentados. Dessa maneira, as características de proteção social do trabalho formal podem não ser o principal atrativo para os idosos. (IBGE, 2014, [p. 129-130]).

Estudos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam

que a maioria dos postos de trabalho ocupados pelas pessoas idosas são informais

e que os números vêm crescendo nos últimos anos, como mostra o gráfico 2.

33

Gráfico 2 – Proporção de pessoas de 16 anos ou mais de idade ocupadas em

trabalhos informais, segundo os grupos de idade – Brasil – 2004/2013.

Fonte: IBGE, (2014, [p. 129]) - Síntese de Indicadores Sociais

Percebe-se que há uma variação do aumento da ocupação dos postos de

trabalho informais no Brasil entre os anos de 2004 a 2013 e que a faixa etária de 60

anos ou mais cresce e em maior escala no mesmo período, revelando a

problematização deste estudo de que a pessoa idosa retorna ao mercado de

trabalho mesmo já usufruindo de algum benefício ou aposentadoria justamente

porque a os rendimentos são poucos para manter a subsistência pessoal e de sua

família.

1.1.2 A pessoa idosa no mundo do trabalho e a influência da família

Acerca das considerações sobre o mundo do trabalho e suas influências

na formação da sociabilidade capitalista não podemos deixar de destacar, afinal,

sendo ele o nosso objeto de estudo, os dilemas vivenciados pela pessoa idosa no

mundo do trabalho, que agora se torna mais aparente a problemática do idoso

trabalhador que é requisitado pelo mercado tanto por possuir mais conhecimento

que a população jovem quanto por ser mão-de-obra barata para o capitalista,

principalmente se ele(a) já for uma aposentado(a). A sociabilidade capitalista

constitui-se de

34

[...] uma sociedade na qual se subordinam as sociedades nacionais em seus segmentos locais e arranjos regionais, com suas potencialidades e negatividades, considerando seus dinamismos e contradições. Nela se confrontam o neoliberalismo, o nazifascismo e o neo-socialismo. Nesse novo estágio de desenvolvimento do capital redefinem-se as soberanias nacionais, com a presença de corporações transnacionais e organizações multilaterais – o Fundo Monetário Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, a “santíssima trindade do capital em geral” – principais porta-vozes das classes dominantes em escala mundial. (IANNI, 2004 apud IAMAMOTO, 2010, p. 110).

Nesse sentido, tomando esta configuração, a pessoa idosa é alvo deste

novo ordenamento societário que busca manter as pessoas subordinadas e

alienadas ao próprio trabalho. Sendo assim, a força de trabalho da pessoa idosa

possui igual valor como qualquer outro segmento pertencente a esta sociedade,

participando do processo de produção e reprodução social e estando sujeito as

diversas intempéries de ordem econômica, política e social resultantes da

contradição do modelo econômico vigente que preza a acumulação de riqueza em

detrimento do aumento da miséria, um não existe sem o outro.

O mito do idoso tratado como um ser humano e social que perdeu sua

utilidade, sua força física e sua capacidade de contribuir para com o sustento da casa,

toma no neoliberalismo uma nova configuração, na qual o envelhecimento se torna uma

problemática social devido ao aparecimento de uma população que vive em

vulnerabilidade social, e que, por conta dessa situação, passa a participar ativamente da

força de trabalho que a pessoa idosa tem “[...] seu tempo de vida subordinado ao tempo

de trabalho, mesmo depois de aposentado.” (TEIXEIRA, 2009, p. 68).

[...] como se verá, o rendimento do trabalho do idoso é fundamental na composição de sua renda pessoal e familiar, de tal forma que dificilmente se pode esperar mecanismos compensatórios que permitam a queda da sua participação no mercado de trabalho. (CAMARANO, 2004).

Faz-se uma associação da qualidade de vida na terceira idade com o

mercado consumidor, na qual a pessoa idosa passa a ser, então, alvo de

propagandas e do consumismo. Observando a realidade aparente, percebe-se que a

pessoa idosa que trabalha ou contribui com a renda familiar de outra forma não

possui uma qualidade de vida completa em sua totalidade e a família também não

pode desfrutar ou ao menos buscar ter uma qualidade de vida entre seus membros.

Estamos falando de uma população economicamente ativa que volta ao

mercado de trabalho para suprir uma necessidade individual, da sua família e do

35

próprio mercado. Esse cenário provoca alterações tanto no mercado de trabalho, ou

seja, como receber essa mão de obra, quais subsídios oferecer e qual o respaldo

político que essa população necessita; de forma a garantir sua manutenção pessoal.

Percebemos que o Estado se comporta de maneira periférica, sendo

submisso aos ditames do capital que se preocupa apenas com sua própria

acumulação, oferecendo políticas que são “[...] incapazes de romper com o ciclo da

pobreza decorrente da apropriação privada da riqueza.” (TEIXEIRA, 2009, p. 69).

O Estado como mantenedor das estruturas de classes e relações de

produção, faz jus a mundialização do capital cumprindo sua função de reproduzir os

interesses institucionalizados entre as classes e grupos dominantes. A fim de evitar

as crises, cria políticas anticíclicas para conter e valorizar os processos de

acumulação de capital, criando programas de ajuste estrutural. Aos que não se

enquadram nas condicionalidades dos programas a solução é o se sujeitar aos

postos aviltantes do mercado de trabalho, submetendo-se, muitas vezes, a

condições subumanas para manter a sobrevivência. Essa é a realidade de muitas

pessoas idosas, que não são contempladas pelos programas sociais e nem pela

previdência social.

Segundo estudos de indicadores sociais do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE, 2014, [p. 38])

A proporção de pessoas de 60 anos ou mais de idade que acumulavam aposentadoria e pensão foi diferenciada por sexo, sendo que 2,6% dos homens e 11,9% das mulheres estavam nesta condição [...]. A alta proporção de idosos de 60 anos ou mais de idade que não recebiam aposentadoria ou pensão (23,9%) possivelmente está relacionada à inserção no mercado de trabalho, dado que a taxa de ocupação foi de 27,4% nesta faixa de idade, mas para aqueles que não eram aposentados ou pensionistas a taxa de ocupação foi de 45,1%. Merece destacar também que 15,6% dos idosos de 60 anos ou mais de idade eram aposentados e estavam ocupados na semana de referência, sendo que o indicador foi de 23,2% para os homens e 9,5% entre as mulheres deste grupo etário. O tempo médio semanal dedicado ao trabalho das pessoas de 60 anos ou mais de idade foi de 34,7 horas, valor abaixo do tempo médio para a população total ocupada. A principal fonte do rendimento dos idosos de 60 anos ou mais de idade, na semana de referência, foi de aposentadoria ou pensão (67,6%) e o trabalho contribuiu com 28,3% da composição do rendimento nesta faixa etária.

Percebe-se que o trabalho é importante no cotidiano das pessoas idosas

e, apesar da aposentadoria compor como um dos rendimentos principais, a renda do

trabalho também é contabilizada, ou seja, viver com uma renda apenas não basta, o

36

trabalho é necessário.

Apesar de o trabalho ainda ser presente nessa fase da vida, a proposta

do envelhecimento ativo é que as pessoas idosas passem a ocupar os espaços de

discussão, sendo autoras e construtoras de sua própria história, colocando em

prática a sua cidadania enquanto sujeitos de direitos. A participação social diz

respeito a todos os espaços: cultural, social político, econômico, lazer, entre outros

contribuindo para uma expectativa de vida saudável e com qualidade.

Outro ponto a se considerar é que, quem está envolvido com este

segmento, sejam especialistas ou voluntários que devem contribuir com o

fortalecimento do movimento do idoso, em que a pessoa idosa possa expor suas

ideias e reivindicar seus direitos junto às instâncias governamentais. Entretanto,

Teixeira (2009, p. 70-71, grifo do autor) nos afirma que:

As diversas respostas contemporâneas à problemática do envelhecimento, tomado de forma genérica, não só mascaram a centralidade do envelhecimento do trabalhador na constituição dessa problemática social, mas também os novos movimentos sociais, especialmente, na fase atual, em que as ONGs assumem a dianteira nessas lutas, não priorizam suas demandas e necessidades, como têm reforçado a cultura protetiva nesse enfrentamento, assumindo uma dimensão protecionista na execução de serviços, legitimando e dando corpo às novas simbioses entre o público e o privado.

Podemos reconhecer como desafio, levar para a sociedade a questão do

envelhecimento e suas múltiplas facetas, visto que, forças políticas tem se

desdobrado para manipular essa realidade, mascarando o que realmente acontece,

principalmente, em relação aos idosos trabalhadores. Essa população por vezes se

vê como excluída por não encontrar aparato para suprirem suas necessidades. Ao

mesmo tempo em que temos sujeitos envolvidos para desmistificar o

envelhecimento como algo ruim, fomentando o debate acerca da construção da

cidadania para as pessoas idosas, temos também a sociedade requisita para fazer

parte da População Economicamente Ativa (PEA).

Acerca do trabalho na velhice, Paiva (2014, p. 114) considera que

Eis a trama que produz e reproduz a vida inteira do(a) trabalhador(a) e que não o(a) libertará da condenação ao trabalho na velhice, a menos que a doença ou a morte, significando o esgotamento total da sua capacidade funcional do sistema do capital, o(a) incapacite para tal esforço. Tampouco o(a) libertará, enquanto classe, da condição de se reproduzir nos limites da força a ser sugada pelo espírito predatório do capital.

Diante desse cenário de extrema exploração da força de trabalho da

37

pessoa idosa e que, na visão da autora da qual este trabalho compartilha, enquanto

classe trabalhadora não se desvencilhará do trabalho na velhice, já que, muitas têm

sido as situações de pobreza extrema enfrentada por este segmento, famílias que

são mantidas com a renda da aposentadoria ou outro benefício assistencial, pela

renda do trabalho informal, entre os elementos que não permitem que a pessoa

idosa desfrute desta fase da vida, muitas vezes não planejada pelo próprio sujeito,

visto que o cotidiano o alijou de qualquer reflexão crítica sobre como conduzir sua

vida na velhice.

Por vivenciarmos a contradição capital e trabalho, a população idosa

deixa de fazer parte do exército industrial de reserva para compor a população

economicamente ativa, oferecendo sua força de trabalho para o desenvolvimento

das forças produtivas e também para manter o equilíbrio do capital.

Dentro dessa contradição, notamos que a força de trabalho mais velha

está no mercado do trabalho por muitos motivos, que podemos destacar: falta de

mão de obra qualificada, redução de gastos com o pagamento seguridade social

para os funcionários mais jovens, amplo conhecimento produtivo armazenado pela

pessoa idosa durante sua vida de trabalho tem maior peso na atualidade, entre

outros fatores.

A questão da redução de gastos justifica a contratação de pessoas idosas

que já se aposentaram, ou seja, o empresário não precisará guardar recurso para

despesas da seguridade social para um funcionário que já está aposentado, e mais

ainda, não poderá registrá-lo, o que na visão do empresário é uma vantagem, já que

se desresponsabilizará quanto ao cumprimento de algumas leis trabalhistas.

As manobras da ofensiva neoliberal vão atingir, na contemporaneidade, o segmento mais velho da classe trabalhadora, principalmente, mediante estratégias que o detenham ou o remetam de volta ao mercado capitalista de trabalho, não livrando esse segmento dos mecanismos mais bárbaros de exploração. Seja pela via do subemprego, da precarização; seja pela via da “provedoria” de seus descendentes. (PAIVA, 2014, p. 127).

Como foi explanado, o trabalhador idoso é vítima do sistema opressor do

capital. Sabe-se que existem postos de trabalho aviltantes que negam

veementemente as leis trabalhistas e qualquer tipo de direito que o trabalhador está

assegurado, o que leva a refletir que a pessoa idosa já vivencia em sua velhice

algumas doenças que necessitam de cuidados especiais, a qual os medicamentos,

38

muitas vezes, excedem o valor que podem pagar. Com a precarização do trabalho

isso se torna um sério problema em sua vida, porque o salário que ganha mal

assegura a sua saúde.

Atualmente, tem se tornado muito comum a convivência de idosos com

suas famílias, segundo o IBGE (2014, [p. 37]),

Uma dimensão importante ao tratar dos idosos refere-se ao tipo de arranjo domiciliar no qual este está inserido e como se dá a convivência familiar. Em 2013, o arranjo familiar mais comum para os idosos (30,6%) foi aquele composto por idosos morando com filhos, todos com 25 anos ou mais de idade, na presença ou não de outros parentes ou agregados, sendo este indicador mais elevado para as idosas (33,3%) que para os idosos (27,3%). Outro arranjo comum foi o formado por casais sem filhos (26,5%), e para os homens esse arranjo foi o mais comum (33,4%) do que para as mulheres (21,0%). A proporção de idosos que viviam sozinhos, ou seja, sem filhos, cônjuge, outros parentes ou agregados, foi de 15,1%, e para as mulheres este indicador atingiu o valor de 17,8%. Desta forma, 84,9% dos idosos estavam em arranjos em que havia presença de outra pessoa com quem estabelecesse alguma relação familiar, seja cônjuge, filho, outro parente ou agregado. Os arranjos familiares, residentes em domicílios particulares, que tinham ao menos uma pessoa de 60 anos ou mais de idade correspondiam a 29,0% do total de arranjos familiares e para os arranjos familiares com idosos o rendimento mensal familiar per capita médio foi 25,0% superior ao rendimento dos arranjos familiares sem idosos e 16,6% superior ao rendimento do total de arranjos familiares.

Diante dessa conjuntura vivenciada pelas novas configurações familiares

e pela pessoa idosa, um ponto a destacar é a contribuição da renda da pessoa idosa

para o sustento de sua família, mesmo com a aposentadoria, a ajuda também parte

dos rendimentos do trabalho, pois, agora, compõem a população economicamente

ativa, ocupando postos de trabalho formais e informais.

Esta é uma tendência que vem aumentando ao longo do tempo, a qual

cada vez mais os rendimentos da pessoa idosa, seja ele proveniente do trabalho ou

de benefícios, são base para a manutenção do núcleo familiar. Isso também se deve

ao fato que tem crescido o número de famílias extensas, as quais o idoso tem sido,

em muitas situações, o provedor do lar. “Com seus parcos rendimentos, os(as)

velhos(as) trabalhadores(as) acabam se responsabilizando pela própria reprodução

social e de toda a sua família. Inaugura-se a época do(a) velho(a) trabalhador(a)

valorizado(a) como fonte de renda [...].” (PAIVA, 2014, p. 129)

Paiva (2014, p. 130) também considera que

Faz-se necessário subverter a lógica que esvazia o curso de vida humana de sua historicidade; lógica do longo e árduo processo de vida e trabalho, desumanizando a velhice dos(as) trabalhadores(as); lógica que responsabiliza e culpabiliza o indivíduo pela tragédia da qual faz parte.

39

Considera-se que somente subvertendo esta lógica selvagem do capital é

que podemos realmente propiciar às pessoas idosas uma velhice mais humanizada,

no sentido de poderem desfrutar melhor esta fase de sua vida, aviltada pelas

condições de trabalho no modo de produção capitalista, possibilitando-os de ter uma

qualidade de vida melhor usufruindo do lazer, cultura e maior convívio social.

1.1.3 Consumo e envelhecimento: estratégias do capital

Ao perceber que a pessoa idosa ainda permanece ativa no mercado de

trabalho de alguma forma, o sistema capitalista a todo o momento cria manobras

para garantir sua manutenção por meio do consumo de mercadorias. O público

idoso não está livre dessa trama e as estratégias de consumo também tem incluído

a pessoa idosa na pauta como exímios consumidores. Isto está intrinsecamente

conectado com o processo de produção e reprodução social para a manutenção do

modo capitalista de produção

Qualquer que seja a forma social do processo de produção, este tem de ser contínuo ou percorrer, periodicamente, sempre de novo, as mesmas fases. Uma sociedade não pode parar de consumir, tampouco deixar de produzir. Uma sociedade não pode parar de consumir, tampouco deixar de produzir. Considerado em sua permanente conexão e constante fluxo de sua renovação, todo processo social de produção é, portanto, ao mesmo tempo, processo de reprodução. (MARX, 1984, p. 153).

A ideologia dominante tem propagado a cultura de massa por meio da

indústria da cultura que chega através da venda de produtos e tem seu surgimento

em países de economia avançada, estando presente nos vários âmbitos da vida

social. A Indústria Cultural6 surge com a melhoria das tecnologias de comunicação

que são utilizadas para a disseminação das ideias dominantes.

O consumo chega a todos os lugares, independentemente de suas

características, pois, acima de qualquer coisa, deve atender aos interesses da

classe dominante.

6 O termo Indústria Cultural foi criado pelos filósofos e sociólogos alemães Theodor Adorno (1903-

1969) e Max Horkheimer (1895-1973). Evidencia a produção da arte segundo os critérios capitalistas que visam apenas o lucro, de forma a padronizar os bens culturais em todo o mundo, além de ser um fator importante na construção de consciência coletiva de classe social em sociedades massificadas, como a capitalista.

40

Tal depravação da cultura nos leva a refletir que esta ideologia nos

permite uma falsa liberdade de pensamento e de escolha, em que o universal

substitui o particular por meio de uma linguagem própria de dominação. Dentro

dessa lógica, o indivíduo é subsumido ao consumo, tornando-o cliente e empregado

da Indústria Cultural, a qual os juízos de valor não são levados em consideração. O

indivíduo pensante é um inimigo que deve ser combatido.

Quem não se conforma é punido com uma impotência econômica que se prolonga na impotência espiritual do individualista. Excluído da atividade industrial, ele terá sua insuficiência facilmente comprovada. Atualmente em fase de desagregação na esfera da produção material, o mecanismo da oferta e da procura continua atuante na superestrutura como mecanismo de controle em favor dos dominantes. Os consumidores são os trabalhadores e os empregados, os lavradores e os pequenos burgueses. A produção capitalista os mantem tão bem presos em corpo e alma que eles sucumbem sem resistência ao que lhes é oferecido. Assim como dominados sempre levaram mais a sério do que os dominadores a moral que deles recebiam, hoje em dia as massas logradas sucumbem mais facilmente ao mito do sucesso do que os bem-sucedidos. Elas têm os desejos deles. Obstinadamente, insistem na ideologia que os escraviza. (ADORNO; HORKHEIMER, 1947)

Frente a esta reflexão, devemos tomar como verdade que o capital utiliza

de estratégias para manter o seu fundamento: a obtenção do lucro por meio da

exploração do trabalho e também via internacionalização dos mercados. Além disso,

busca articular força junto à classe abastada da sociedade e à sombra do Estado,

que alimenta seu poder político.

Diante do cenário exposto, é de grande relevância dizer que o fenômeno

da Indústria Cultural perpassa questões de classe, gênero, etnia, escolaridade, entre

outros. Nesse sentido, tal fenômeno também chega ao cotidiano das pessoas

idosas, de forma a levar o consumo voltado para a terceira idade legitimado pela

ideologia dominante e pela política de envelhecimento ativo, que apesar de tecer

argumentos importantes para o bem envelhecer, ao mesmo tempo traz uma ideia

mercadológica da velhice voltada ao consumo.

Verificamos que o sentimento de pertença a essa sociedade consumista

deve ser promovido individualmente por cada um, procurando formas de se sentir

parte do mundo em que vive, buscando meios em que a minha identidade, enquanto

ser social, dependa da forma que eu estou situado dentro do contexto social. Assim,

a Indústria Cultural oferece às pessoas os instrumentos para que o indivíduo

construa a sua identidade social.

41

As novas imagens do envelhecimento são, sem dúvida, expressão de um contexto marcado por mudanças sociais, políticas e culturais, que redefinem esses indivíduos na sociedade contemporânea. A boa aparência, o bom relacionamento sexual e afetivo deixam de depender de qualidades fixas que as pessoas podem possuir ou não, e se transformam em algo que deve ser conquistado a partir de um esforço pessoal. (MATOS, 2014)

Os processos ideológicos interferem em todos os âmbitos da vida, dentre

eles, podemos destacar a beleza, a estética, o culto ao corpo perfeito. A mídia não

mede esforços para conquistar os telespectadores de forma geral, disseminando

valores e padrões estéticos que são os ideais para viver feliz com o outro e consigo

mesmo, de forma que esse padrão deve ser alcançado individualmente.

A indústria da beleza tem investido fortemente no mercado e atingido a

todas as faixas etárias, injetando novos produtos no mercado para todas as idades.

A beleza também tem se tornado um bem cultural a ser consumido, já que se deve

seguir um padrão estético imposto pela Indústria Cultural.

Na velhice essa ideologia ganha força a partir do momento em que a

pessoa idosa se aposenta e percebe que agora é a fase da vida para se divertir,

cuidar de si mesmo, viajar, se dedicar a atividades que antes o tempo e o trabalho

não permitiam, principalmente porque agora tem o recurso da aposentadoria para

subsidiar outras vivências na velhice. Nesse processo há de certa forma uma

negação dos efeitos que o tempo provoca sobre o corpo, no qual muitas vezes, a

própria pessoa não aceita totalmente a fase da vida em que está buscando sempre

outras maneiras de se sentir mais jovem, já que a ideologia dominante impõe é que

a juventude é considerada uma das melhores fases da vida e a velhice como uma

fase de perdas.

As novas formas de comportamento veiculadas pela mídia criam um novo esteriótipo, de um idoso, ativo, jovem que, [...] rejeitam a própria ideia de velhice, ao considerar que a idade não é um marcador pertinente da definição das experiências. Se anteriormente os idosos eram homogeneizados por uma visão de invalidez e perdas, hoje o são através da imagem de um idoso ativo, saudável, em busca de atividades de lazer. Ambas as imagens afastam os idosos do lazer, a primeira por considerar as potencialidades da pessoa idosa e a segunda por negar a velhice, trazendo novas formas de comportamento com as quais os idosos não se identificam. (RODRIGUES, 2003).

O discurso hoje é o da qualidade de vida na terceira idade, geralmente

associada ao consumo de produtos que permitem à pessoa idosa ter uma vida mais

completa e feliz, discurso este velado pela ideologia hegemônica de que somente se

42

é feliz adquirindo o que há de mais atrativo no mercado. Contudo, como explanado

anteriormente, o trabalho possui centralidade na vida do ser social, e encontramos

hoje um grande contingente de pessoas idosas que ainda permanecem no mercado

de trabalho por diversas razões, seja por satisfação pessoal ou por ser elemento de

proteção familiar, atuando como provedor do lar.

Nesse sentido, sabendo a forma como o mundo do trabalho está

organizado, como a pessoa idosa que vive sob a condição de subalternidade pode

ter qualidade de vida? Qual qualidade vida? São alguns questionamentos que se faz

quando olhamos para a realidade e vemos a ideologia da Indústria Cultural se

disseminando em detrimento de idosos trabalhadores que não se incluem nessa

proposta cultural de vida.

Nessa perspectiva, a ampliação do tempo de vida, ou do tempo livre nunca significará enriquecimento do gênero humano, na ordem do capital, mas sempre gerará pseudovalorização de uns e a completa desvalorização de outros. Isto porque, há muito, o tempo livre serve de stock de mercadorias, de bens e de serviços necessários à reprodução do capital. (TEIXEIRA, 2009, p. 76, grifo do autor).

Assim, Indústria Cultural e Envelhecimento se encontram, trazendo em

seu bojo questões relacionadas ao envelhecer consumindo, fazendo parte de uma

cadeia ideológica que propõe um estilo de vida que não alcança todas as classes

sociais, não deixando de considerar a existência do fenômeno do idoso trabalhador

na atual organização do mundo do trabalho. Enquanto houver lógica capitalista,

pensar a emancipação ao menos política dos sujeitos sociais, continua sendo um

grande desafio. Aquelas profissões que são comprometidas com a classe

trabalhadora precisam unir esforços para construir uma nova forma de sociabilidade

a qual o belo não se sobreponha ao humano.

Paiva (2014, p.136) considera que

Ao final do curso de vida humana, o resultado mais predominante, traduzido caoticamente nas estatísticas do envelhecimento nas sociedades contemporâneas, tem sido a constatação da reprodução do(a) trabalhador(a) enquanto consumidor(a) miserável, mesmo que seja dos parcos recursos da saúde destinados a esse segmento etário das populações. Não se visualiza, na velhice, o(a) trabalhador(a) emancipado(a).

Diante desse cenário, a mídia não economiza esforços para cultivar a

ideologia. A própria configuração atual do mundo do trabalho tem propiciado o

43

avanço da revolução informacional, em que o cotidiano e as formas de interação

social foram alteradas consideravelmente de acordo com a revolução no processo

produtivo. Nisto, não podemos dizer que esta sociedade permite que os sujeitos

sociais se tornem emancipados em todas as esferas da sociabilidade humana,

como: cultura, lazer, política, direitos, criatividade humana, arte, esportes, entre

outros atributos tipicamente humanos que são subsumidos frente a ordem do capital,

entretanto, apenas uma pequena parcela da população tem acesso devido a sua

condição e posição social.

Em um mercado mundial realmente unificado, impulsiona-se a tendência à homogeinização dos circuitos do capital, dos modos de dominação ideológica e dos objetos de consumo – por meio da tecnologia e da multimídia. Homogeinização esta apoiada na mais completa heterogeneidade da desigualdade das economias nacionais. [...] O capital internacionalizado produz a concentração de riqueza, em um pólo social (que é, também, espacial) e, noutro, a polarização da pobreza e da miséria, potenciando exponencialmente a lei geral da acumulação capitalista, em que se sustenta a questão social. (IAMAMOTO, 2010, p. 111, grifo do autor).

O avanço tecnológico tem provocado mudanças no conceito de tempo,

espaço e consumo atribuindo novos conceitos influenciados pelas economias

mundiais, que mantém o controle sobre a ciência, a tecnologia e o próprio capital.

CAPÍTULO 2 ENVELHECIMENTO ATIVO: DO GLOBAL AO LOCAL

45

2.1 A construção do envelhecimento na atual fase do capitalismo

Diante do fenômeno do envelhecimento, governos e sociedade civil,

trazem esta problemática para a pauta das discussões, já que, estamos vivenciando

um processo intenso, complexo e rápido de transformação demográfica dos países

devido ao aumento considerável de pessoas idosas. Em primeiro lugar, não nos

esqueçamos de que toda Política Pública perpassa pela questão de classe, bem

como o seu acesso. Já é de nosso conhecimento que a política social possui um

caráter seletivo, restrito a extrema pobreza, e somente tem direito aquele que está

dentro do corte (condicionalidades/contrapartidas) proposto nos programas sociais

de distribuição de renda.

A velhice deve ser vista como uma fase natural da vida em que cada

pessoa tem sua forma de envelhecer, sendo ela determinada por condicionantes

histórico-culturais, econômicos, políticos e sociais. Dessa forma, temos elementos

para se romper com a visão endógena e culturalmente passada a gerações daquele

idoso que apenas reclama ou é inútil. Há uma tendência de maior participação da

pessoa idosa no mercado de trabalho como também nos espaços de discussão

voltadas a este segmento. Entretanto ainda é necessário um trabalho com a pessoa

idosa para que ela entenda que tem poder de voz frente aos debates, não apenas

com relação ao envelhecimento, mas a sociedade em sua totalidade.

A sociedade está construindo a imagem de um idoso ativo e que, devido à

emergência do envelhecimento como uma problemática social e suas determinações

na ordem do capital, demanda do Estado algumas respostas. Dessa forma, se faz

necessário discutir quais as tendências da legislação social para este segmento em

ascendência.

O envelhecimento populacional modifica a participação dos grupos de pessoas, interfere na economia do país, modifica conforme a cadeia das várias relações políticas e sociais, desafiando famílias, sociedade e governo a encontrar soluções para equacionar estas questões, as quais aparecem no campo legal e no campo ético; tanto familiares e restritas ao âmbito privado, quanto dependentes direto das políticas públicas de seguridade social, políticas urbanas, políticas sociais, políticas de trabalho e emprego, de sustentabilidade do meio ambiente, de mobilidade urbana e de acessibilidade, de ações intergeracionais e pluriculturais, para homens e mulheres, de todas as etnias, orientação sexual, de qualquer condição social. (BRASIL, 2012, p. 2).

46

Apesar de o protagonismo social da pessoa idosa no cenário político estar

aumentando significativamente, será que as políticas estão realmente atendendo

suas reais necessidades? A ofensiva neoliberal tem realizado diversas manobras,

que por vezes cerceia as possibilidades de conquista de direitos, ou seja, ao passo

que se avança, um passo atrás deve ser dado. Em outras palavras, a democracia

acontece a passos lentos, mas com possibilidades de transformação social, cultural,

não deixando de considerar que o Estado atua de forma passiva frente às ordens do

capital. Peres (2007) nos alerta que a própria política, em parte, privilegia o

protagonismo das instituições representativas, ao afirmar que a participação social

deve acontecer por meio delas, desmobilizando-se, assim, muitos movimentos

sociais que acabam por perder a voz e a vez.

A ação pública (estatal), através da legislação social como a Política Nacional do Idoso e Estatuto do Idoso, expressa a manutenção das funções reguladoras do Estado, particularmente as normatizadoras, mas não a de administrador e gestor prioritário da proteção social, dividindo responsabilidades sociais com o trato das refrações da questão social, legitimando o mix público/privado na prestação de serviços sociais, mascarando-os como públicos e como efetivadores de direitos, e estabelecendo outras formas de participação social da sociedade civil, sob a retórica da parceria, do cooperativismo, da solidariedade indiferenciada e entre sujeitos antagônicos. (TEIXEIRA, 2009, p. 72).

Como dito anteriormente, o processo de envelhecer não acontece de

forma homogênea para todos, mas perpassa pela questão de classe social e nesse

sentido podemos refletir e concluir que o acesso às políticas públicas e serviços

sociais sucedem pela mesma questão de classe. Assim, devemos considerar que

temos muitos desafios a serem enfrentados, seja a infraestrutura para atender a

todos os idosos ou a construção de uma consciência coletiva sobre a questão do

envelhecimento populacional a nível mundial, mas, principalmente no Brasil, que

necessita a tomada de medidas que sejam efetivamente cumpridas e não

meramente paliativas. Esta é uma demanda posta ao Serviço Social que deve ser

amplamente discutida.

[...] há que se observar a diversidade que caracteriza tal grupo e a amplitude de necessidades que disso decorre, o que significa dizer que é possível envelhecer ativamente, mas que isso também pode não ocorrer para todos. Os próximos passos governamentais devem ser dados em direção ao reconhecimento da dita velhice fragilizada e de conceber ações voltadas a essa população. (RIBEIRO, 2011, p. 309).

47

Deve-se redobrar a atenção para perceber que o Estado tem recuado

cada vez mais quando o assunto é política social, em especial para a pessoa idosa,

abrindo espaço para a iniciativa privada tomar seu lugar como principal autora de

projetos voltados a esse segmento, tendo como pano de fundo os interesses

corporativos voltados ao consumismo. Dessa forma, mascara qualquer forma de

contradição existente nesse processo, retomando a psicologização das expressões

da Questão Social7, por meio de “[...] terapias de valorização social, de integração,

de socialização, materializadas em ações que buscam a ocupação do tempo livre

[...] atribuindo uma responsabilidade individual aos idosos pelos seus problemas e

sua atenuação.” (TEIXEIRA, 2009, p. 74).

2.1.1 Concebendo a velhice sob o olhar dos organismos internacionais

Diante da nova organização do mundo do trabalho, da política neoliberal

de redução de custos, da configuração da política social pautada em princípios

seletivos, na responsabilização da família por parte do Estado como agente

socializadora dos indivíduos e do envelhecimento populacional, devemos salientar

que os organismos internacionais têm pousado seu olhar sobre a população idosa e

buscado formas de trazer uma nova compreensão sobre a velhice e o processo de

envelhecer, percebendo também que muitos idosos são provedores de sua família,

como dito anteriormente.

O envelhecimento está nas pautas das discussões sociais e políticas de

forma a construir uma visão de que a velhice é um momento que pode ser vivido de

forma positiva. A Organização das Nações Unidas (ONU), os movimentos sociais e

de especialistas e o governo brasileiro tem debatido essa questão. A ideia gira em

torno de considerar a pessoa idosa como protagonista na luta pela instauração de

direitos e, principalmente, viver, de forma ativa e socialmente inserida, a sua velhice.

Diversas conferências internacionais vêm acontecendo a fim de abordar a questão

da “[...] ‘sociedade para todas as idades’.” (RIBEIRO, 2011, p. 306).

7 Segundo Iamamoto (2005, p. 27, grifo do autor), Questão Social é definida pelo “[...] conjunto das

expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura, que tem uma raiz comum, a produção social é cada vez mais coletiva, o trabalho torna-se mais amplamente social, enquanto a apropriação dos seus frutos mantém-se privada, monopolizada por uma parte da sociedade.”

48

Em 1992, em comemoração ao decênio da Assembleia Mundial do envelhecimento, foi realizada a Conferência Internacional sobre o Envelhecimento. Nessa conferência, foram dadas orientações para o seguimento da aplicação do Plano Internacional de Ação e a proclamação de 1999 como o Ano Internacional dos Idosos, foram adotados os documentos “Marco de Políticas para uma Sociedade para Todas as Idades” e “Programa de Investigação para o Envelhecimento para o século XXI” [...], na qual pessoas idosas seriam contemplados por ações específicas, como têm sido bebês, crianças, adolescentes e adultos (especialmente mulheres). (RIBEIRO, 2011, p. 298).

Acerca das políticas mundiais sobre o envelhecimento, este trabalho

aborda as duas principais que são o Plano de Ação Internacional para o

Envelhecimento, fruto da segunda assembleia mundial ocorrida em Madri (Espanha)

no ano de 2002, e a política Envelhecimento Ativo: uma política de saúde, elaborada

pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no ano de 2005, como resultado das

discussões realizadas na assembleia de 2002.

2.1.2 Plano de Ação Internacional para o Envelhecimento

O plano tem por finalidade oferecer orientação para a integração,

autonomia e erradicação da pobreza das pessoas idosas. Para tanto, tais medidas

perpassam por três eixos, tendo cada eixo os seus temas de atuação.

Percebendo o fenômeno do envelhecimento a nível mundial e os impactos

que poderiam afetar o funcionamento da previdência social (concessão de

aposentadorias e benefícios sociais), os países membros da Organização das

Nações Unidas (ONU) reuniram-se para criar este plano que traz em seu bojo uma

nova forma de representar a velhice, como sendo não uma fase de perdas, mas um

momento para se viver ativamente.

A assembleia internacional ocorreu na cidade de Madri, Espanha, no ano

de 2002, e ficou conhecido como II Assembleia de Madri. Isto porque no ano de

1982 ocorrera a I Assembleia em Viena, porém, com olhar voltado ao bem-estar da

velhice. Neste, a questão se volta para uma problemática que está afetando os

cofres públicos, com uma iniciativa de políticas paliativas.

É fato que, como em toda política pública, a família tem centralidade nas

ações, sendo tratada como parceira na execução das políticas. O art.15 da

Declaração Política do plano diz que

49

Reconhecemos a importância da função das famílias, dos voluntários, das comunidades, das organizações de idosos e outras organizações de base comunitária para prestar aos idosos apoio e cuidados informais complementares aos proporcionados pelos governos. (ONU, 2003, p. 22).

O plano internacional busca construir a imagem de uma velhice dotada de

acesso a direitos, a qual o Estado está sempre presente, propondo e agindo com

políticas, tendo a família como parceira nesta “empreitada”. A seguir um quadro

resumo sobre o Plano Internacional de Madri:

Quadro 1 – Resumo geral do Plano de Ação Internacional para o

Envelhecimento

Orientação prioritária 1: PESSOA IDOSA E O DESENVOLVIMENTO

Tema 1: Participação ativa na sociedade e no desenvolvimento; Tema 2: Emprego e envelhecimento da força de trabalho; Tema 3: Desenvolvimento rural, migração e urbanização; Tema 4: Acesso ao conhecimento, à educação e à capacitação; Tema 5: Solidariedade intergeracional; Tema 6: Erradicação da pobreza; Tema 7: Garantia de rendimentos, proteção social e prevenção da pobreza; Tema 8: Situações de emergência.

Orientação prioritária 2: PROMOÇÃO DA SAÚDE E BEM-ESTAR NA VELHICE

Tema1: Promoção da saúde e do bem-estar durante toda a vida; Tema 2: Acesso universal e equitativo aos serviços de assistência à saúde; Tema 3: Os idosos e a AIDS; Tema 4: Capacitação de prestadores de serviços de saúde e de profissionais de saúde; Tema 5: Necessidades relacionadas com a saúde mental de idosos; Tema 6: Idosos e incapacidades.

Orientação prioritária 3: CRIAÇÃO DE AMBIENTE PROPÍCIO E FAVORÁVEL

Tema 1: Moradia e condições de vida; Tema 2: Assistência e apoio às pessoas que prestam assistência; Tema 3: abandono, maus-tratos e violência; Tema 4: Imagens do envelhecimento. Fonte: Desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2016.

A Declaração Política, num panorama geral, traz em seus artigos

disposições acerca das transformações demográficas, as quais os idosos devem

aproveitar suas capacidades de participação em todos os aspectos da vida; sobre a

promoção de uma sociedade para todas as idades; sobre o reconhecimento que as

pessoas idosas para desfrutar uma vida plena em todos os âmbitos eliminando

forma de abandono e violência; sobre a erradicação da pobreza incluindo o tema do

50

envelhecimento nos programas de desenvolvimento; sobre a discussão de gênero

na velhice; o fomento a pesquisas sobre envelhecimento e questões relacionadas a

idade; sobre a participação no mercado de trabalho como caminho para o

envelhecimento ativo com acesso à educação e aos programas de capacitação;

sobre o acesso a saúde e a intergeracionalidade; e o compromisso com a visão

compartilhada da igualdade para as pessoas de todas as idades.

Uma transformação demográfica mundial desse tipo tem profundas consequências para cada um dos aspectos da vida individual, comunitária, nacional e internacional. Todas as facetas da humanidade – sociais, econômicas, políticas, culturais, psicológicas e espirituais – experimentarão uma revolução. (ONU, 2003, p. 27).

Percebe-se que há uma grande preocupação da ONU em trazer para o

debate questões voltadas ao envelhecimento de uma forma que contemple o ser

humano em sua totalidade, buscando alternativas e ações que considerem o

indivíduo como um ser em potencial, capaz de transformar a sua realidade a partir

da mudança da concepção de sua própria velhice e que pode, ainda, participar

ativamente da sociedade.

Como o envelhecimento acontece de forma heterogênea entre as classes

sociais, assim também ele acontece de forma diferente entre os países, entre o meio

rural e urbano, entre homem e mulher. Porém, independente destes elementos, vai

causar um impacto nos recursos e nos sistemas previdenciários. Assim, o plano tem

por finalidade primeira oferecer um instrumental prático aos formuladores de

políticas para que considerem as prioridades básicas que associam ao

envelhecimento dos indivíduos, em outras palavras, garantir o desenvolvimento das

pessoas idosas e a promoção e proteção dos direitos humanos para que se possa

efetivamente construir uma sociedade para todas as idades.

As orientações prioritárias tem por objetivo guiar a formulação e aplicação de políticas para objetivos concretos de ajuste, com êxito, num mundo que envelhece, e no qual o êxito se mede em função da melhoria da qualidade de vida dos idosos e da sustentabilidade dos diversos sistemas – tanto formais como informais – fundados no bem-estar de que se goze em todo o curso da vida. (ONU, 2003, p. 31).

Mesmo assim, ainda estamos vivenciando um tempo de transição, no qual

os governos, diante do cenário econômico, político, social e demográfico, estão

assimilando essa realidade que a cada dia se mostra mais aparente e buscam

51

articular as políticas já existentes com a problemática do envelhecimento e construir

novas políticas voltadas a este segmento.

A seguir, busca-se trazer um panorama geral das Orientações Prioritárias

do plano internacional.

2.1.2.1 ORIENTAÇÃO PRIORITÁRIA I: Pessoas idosas e o desenvolvimento

Devido às mudanças sociais e econômicas que estão acontecendo, a

pessoa idosa não pode ficar isolada do desenvolvimento que deve beneficiar a todos

os segmentos da sociedade, de forma que esse processo se torna legítimo com a

manutenção de políticas que vão garantir a distribuição equitativa dos benefícios do

crescimento econômico.

É preciso reconhecer que os idosos contribuem para a sociedade e para

além da contribuição econômica está sua função desempenhada dentro da família e

trabalhos voluntários na comunidade. Diante disso, os idosos não devem ser

impedidos de realizar tarefas remunerativas quando assim desejarem, não privando

a sociedade de ter acesso a sua força de trabalho e a seus conhecimentos.

Segundo o plano, é vantajoso ter idosos no mercado de trabalho devido ao

conhecimento que dele podem ser retirados e também para que reduza o risco de

exclusão ou dependência num momento da vida.

É provável que se produza uma escassez de mão-de-obra como consequência da diminuição da reserva de pessoas jovens que vão ingressando no mercado de trabalho, do envelhecimento da mão-de-obra e da tendência de antecipar a aposentadoria. Nesse contexto, é indispensável adotar políticas para ampliar as possibilidades de emprego, como novas modalidades de trabalho baseadas na aposentadoria flexível, em ambientes trabalhistas adaptáveis e na reabilitação profissional para idosos incapacitados, de forma que os idosos possam combinar emprego remunerado com outras atividades. (ONU, 2003, p. 36).

Ou seja, os empregadores devem estar atentos a esta nova realidade,

adotando novas práticas de trabalho para facilitar a participação produtiva das

pessoas idosas na força de trabalho. Na questão do emprego, a política coloca que

o emprego deve ocupar lugar central nas políticas macroeconômicas, a fim de que

garantam o crescimento da produção e do emprego em benefício de todas as

pessoas. Incentivam também o empreendedorismo e o trabalho após a

aposentadoria, para que não haja desestimulo para realizarem qualquer atividade

52

remunerada. Outro ponto a destacar é assegurar o acesso universal a todos os

serviços mesmo sendo da zona rural ou remota e, também, à educação como

requisito básico para a participação no emprego, por meio da alfabetização e

inclusão tecnológica.

A solidariedade entre as gerações é fundamental para que se construa

uma sociedade para todas as idades. Como os sistemas previdenciários estão em

constante alteração devido às mudanças demográficas, sociais e econômicas, a

política coloca que é importante os vínculos com a família e com a comunidade.

A inserção da pessoa idosa no mercado de trabalho é vista como uma

alternativa para a erradicação da pobreza, eliminando de forma gradativa as

desigualdades econômicas, assim, a promoção do acesso ao emprego se torna uma

premissa no plano como meio de geração de renda para a pessoa idosa, tratado

detalhadamente no tema 2, do Plano de Ação Internacional, “Emprego e

envelhecimento da força de trabalho”.

A respeito do trabalho, o Plano traz a reflexão de que a escassez de mão

de obra ocorre devido à diminuição da reserva de mão de obra mais jovem que

ingressa no mercado de trabalho, do envelhecimento da população e da tendência

em se antecipar a aposentadoria. Portanto, a adoção de políticas que ampliem as

possibilidades de emprego são promissoras neste contexto de redução da oferta de

mão de obra para o mercado de trabalho, como, modalidades de trabalho apoiados

na aposentadoria flexível, em ambientes adaptáveis e na reabilitação profissional

para pessoas idosas incapacitadas, podendo combinar o emprego remunerado a

outras atividades de sua preferência.

2.1.2.2 ORIENTAÇÃO PRIORITÁRIA II: Promoção da saúde e bem-estar na velhice

A Organização Mundial de Saúde (OMS) considera saúde como bem-

estar físico, mental e social e não apenas ausência de doença ou sofrimento. Essa

orientação coloca que a pessoa idosa deve ter pleno acesso a saúde,

[...] que incluem a prevenção de doenças, implica o reconhecimento de que as atividades de promoção da saúde e prevenção das doenças ao longo da vida devem centrar-se na manutenção da independência, na prevenção e na duração das doenças e na atenção a invalidez, como na melhoria da qualidade de vida dos idosos que já estejam com incapacidade. (ONU, 2003, p. 51).

53

É de responsabilidade do Estado garantir a qualidade de vida e o acesso

a saúde de todas as pessoas, criando um ambiente favorável para o bem estar,

principalmente, na velhice. Devido ao avanço do envelhecimento, é necessário que

se tenha políticas adequadas de atendimento, a fim de reduzir os níveis de

incapacidades associadas à velhice. Dessa forma, a pessoa idosa mantém-se

independente, previne o aparecimento de doenças, melhorando o funcionamento e a

qualidade de vida. Para que se alcance esse desenvolvimento não se pode deixar

de considerar os condicionantes externos tais como: fatores ambientais, econômicos

e sociais, a educação, a ocupação, os rendimentos, a condição social, o apoio

social, a cultura e o gênero, tem forte influência sobre a saúde.

Faz-se necessário ter um controle alimentar; campanhas de informação e

promoção da saúde; incentivos à prática de atividades físicas como estratégia de

luta contra o isolamento social e facilitar a capacitação; promover o acesso a

alimentação e nutrição; segurança alimentar, garantindo a provisão de alimentos;

promover programas de saúde que atendem a carências nutricionais e a doenças,

além de serviços odontológicos.

A capacitação dos profissionais para o atendimento às pessoas idosas

também é tema do plano internacional, dando destaque para a geriatria e

gerontologia, a qual essa educação possui um “[...] enfoque integrado da saúde, do

bem-estar e da assistência aos idosos, assim como de aspectos sociais e

psicológicos do envelhecimento.” (ONU, 2003, p. 60).

2.1.2.3 ORIENTAÇÃO PRIORITÁRIA III: Criação de ambiente propício e favorável

A criação de um ambiente propício e favorável depende de diversos

fatores como: sociais, econômicos, políticos, culturais, ambientais, entre outros e

independente das condições em que se encontram os idosos, todos tem o direito de

viver em um ambiente que fortaleça suas capacidades.

Há um comprometimento com o fortalecimento de políticas e programas

que objetivem criar uma sociedade inclusiva e coesa para todos, além de adotar

políticas que fortaleça o desenvolvimento e a independência durante a vida dos

idosos e prestem apoio as instituições sociais com base em princípios de

reciprocidade e interdependência. Aos governos fica delegada a função de formular

e implementar as políticas que promovam um ambiente propício e favorável.

54

O plano ressalta a questão da acessibilidade ao transporte e aos serviços

sociais básicos e também o fortalecimento dos vínculos entre a família e a

comunidade. Consta o reforço de recursos para o provimento de serviços de saúde e

sociais para se obter serviços eficazes de prevenção, tratamento, assistência e

apoio.

Nesta orientação também é ressaltada a questão de se criar uma imagem

da pessoa na medida em que envelhecem se tenha o reconhecimento da

contribuição dos idosos. “As imagens que destacam o atrativo, a diversidade e a

criatividade de idosos e sai contribuição vital para a sociedade devem competir com

ela por despertar a atenção do público.” (ONU, 2003, p. 73). Uma forma de garantir

esse reconhecimento é “[...] estimular os meios de comunicação de massa a

promover imagens em que se destaquem a sabedoria, os pontos fortes, as

contribuições, o valor e a criatividade de mulheres e homens idosos, inclusive idosos

com incapacidades.” (ONU, 2003, p. 73).

Para que a aplicação seja possível, o plano diz que é necessário haver

uma concepção política, ética e espiritual do desenvolvimento social das pessoas

idosas com base na dignidade humana, nos direitos humanos, na igualdade, na

democracia, na paz, e no respeito às diferenças étnico-culturais.

Uma primeira medida necessária para que a aplicação do plano tenha êxito é incorporar o envelhecimento e os problemas dos idosos aos marcos nacionais de desenvolvimento e às estratégias nacionais de erradicação da pobreza. Proceder-se-á simultaneamente à renovação de programas, à mobilização de recursos financeiros e ao desenvolvimento de recursos humanos necessários. Por conseguinte, os progressos na aplicação do Plano dependerão de que se estabeleça uma colaboração eficaz entre os governos, todos os integrantes da sociedade civil e o setor privado, assim como um ambiente propício baseado, entre outras coisas, na democracia, no império da lei, no respeito de todos os direitos humanos, nas liberdades fundamentais e no bom governo em todos os níveis, inclusive os níveis nacional e internacional. (ONU, 2003, p. 74).

Diante do processo de globalização, os países em desenvolvimento

enfrentam algumas dificuldades, portanto, deve-se haver uma cooperação

internacional para que a inclusão nesse processo seja de todos, por meio de uma

gestão da economia mundial para continuar fortalecendo a liderança das Nações

Unidas na promoção do desenvolvimento.

Por fim, também destaca a elaboração de indicadores que demonstrem os

avanços e os problemas para facilitar a adoção de políticas, além do

55

compartilhamento desses dados entre os estados-membros.

As orientações do Plano Internacional, podemos assim dizer, busca

garantir o que está descrito no artigo 25 da Declaração dos Direitos Humanos

Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a sua família saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurança, em caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistência em circunstancias fora de seu controle. (ONU, 2003, p. 85).

É direito fundamental de qualquer pessoa ter as suas liberdades e

condições de sobrevivência resguardadas a fim de que possam usufruir todas as

suas capacidades e habilidades. É dever dos governos providenciar as condições

necessárias para que haja a igualdade e a inclusão social de todos, por meio de

políticas que efetivamente considere o ser humano em sua totalidade.

2.1.3 Envelhecimento Ativo: uma política de saúde

A Política de Saúde tem como objetivo abordar questões e preocupações

relacionadas com o envelhecimento, qualidade de vida, papel da família, do Estado

e da sociedade civil, trazendo a saúde numa perspectiva ampla que só pode ser

mantida com a participação de vários setores. Envelhecer com saúde é uma

necessidade e não um pensamento supérfluo.

Ao mesmo tempo, políticas e programas de envelhecimento ativo são necessários para permitir que as pessoas continuem a trabalhar de acordo com suas capacidades e preferências à medida que envelhecem, e para prevenir e retardar incapacidades e doenças crônicas que são caras para os indivíduos, para as famílias e para os sistemas de saúde. (OMS, 2005, p. 11).

Aborda o conceito de envelhecimento ativo como meta para a elaboração

de política e programas, evidencia os fatores determinantes que proporcionam uma

qualidade de vida e se os indivíduos a alcançarão ou não de forma positiva em sua

velhice, os desafios para os governos e setores não-governamentais da sociedade,

incluindo a academia e o setor privado.

56

Quadro 2 – Resumo geral da Política de Envelhecimento Ativo:

uma política de saúde

Envelhecimento global: triunfo e desafio

A revolução demográfica Envelhecimento rápido da população em países em desenvolvimento

Envelhecimento Ativo: conceito e fundamento

O que é “envelhecimento ativo”? Uma abordagem de curso de vida para o envelhecimento ativo Programas e políticas para o envelhecimento ativo

Os fatores determinantes do envelhecimento ativo: compreenda as evidências

Fatores determinantes transversais: cultura e gênero Fatores determinantes relacionados aos sistemas de saúde e serviço social Fatores comportamentais determinantes Fatores determinantes relacionados a aspectos pessoais Fatores determinantes relacionados ao ambiente físico Fatores determinantes relacionados ao ambiente social Fatores econômicos determinantes

Desafios de uma população em processo de envelhecimento

1° desafio: A carga dupla da doença 2° desafio: O maior risco de deficiência 3° desafio: Provisão de cuidado para populações em processo de envelhecimento 4° desafio: A feminização do envelhecimento 5° desafio: Ética e iniquidades 6° desafio: A economia de uma população em processo de envelhecimento 7° desafio: A criação de um novo paradigma

A resposta desta política de saúde

Ação Intersetorial Principais propostas desta política 1. Saúde 2. Participação 3. Segurança A OMS e envelhecimento Colaboração internacional Conclusão Fonte: Desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2016.

A Política de Saúde traz em seu bojo um plano de ação para o

envelhecimento ativo e propostas de ação fundamentais, de acordo com a proposta

do plano internacional. O envelhecimento tem provocado um aumento na demanda

social e econômica a nível global, porém envelhecer ativamente e com saúde se

tornou hoje uma necessidade. Percebe-se uma redução nas taxas de natalidade e

aumento da longevidade. No Brasil, este fenômeno já foi identificado, como mostra o

gráfico 3.

57

Gráfico 3 – Composição da população residente total, por sexo e grupos de

idade – Brasil – 1991/2010

Fonte: IBGE (2010, [p. 54]) - Sinopse do Censo Demográfico

O acentuado estreitamento da base, ao mesmo tempo em que o ápice se torna cada vez mais largo, é decorrente do contínuo declínio dos níveis de fecundidade observados no Brasil e, em menor parte, da queda da mortalidade no período. (IBGE, 2010, p. 53).

Segundo a Política de Saúde, 70% da terceira idade encontra-se nos

países em desenvolvimento e esses números continuarão crescendo, sendo este

segmento da população o que mais cresce rapidamente nos últimos tempos. Junto a

isto, aumenta o número de pessoas idosas no mercado de trabalho, visto que “[...] a

maioria das pessoas mais velhas em todos os países continua a representar um

recurso vital para famílias e comunidades. Muitos deles continuam a trabalhar tanto

no mercado formal de trabalho quanto no informal” (OMS, 2005, p. 10).

Diante disso, há um grande incentivo em políticas e programas de

envelhecimento ativo que permitem que as pessoas idosas possam trabalhar à

medida que envelhecem de acordo com suas capacidades, prevenindo, assim, as

doenças crônicas e incapacidades que possam surgir, tornando-se algo caro para as

famílias e para os sistemas de saúde. Uma grande diferença entre os países

desenvolvidos é que estes se enriqueceram antes de ter uma maior população

envelhecida, ao contrário dos países em desenvolvimento que estão envelhecendo e

58

não possuem recursos suficientes para suprir as necessidades dessa população.

A política traz o conceito de envelhecimento ativo como sendo “[...] o

processo de otimização das oportunidades de saúde, participação e segurança, com

o objetivo de melhorar a qualidade de vida à medida que as pessoas ficam velhas.”

(OMS, 2005, p. 13). As pessoas devem perceber seu potencial físico, social e mental

ao longo da vida para que sejam participantes da sociedade, seja nas questões

econômicas, sociais, culturais, espirituais e civis, e não apenas estar fisicamente

ativo ou de fazer parte da força de trabalho.

É importante considerar alguns aspectos que fazem parte desta proposta

que são a autonomia, a independência, a qualidade de vida e a expectativa de vida

saudável, tornando o envelhecimento ativo muito mais abrangente do que apenas

bem estar, mas considerando outros aspectos essenciais para um bom envelhecer.

Outro ponto a considerar é a questão dos direitos, que reconhece a igualdade de

oportunidades e tratamento em todos os âmbitos da vida ao passo que se

envelhece.

Os determinantes do Envelhecimento Ativo segundo a política são:

econômicos, sociais, ambientes físicos, pessoais, comportamentais, serviços sociais

e de saúde, envolvendo gênero e cultura que são fatores transversais (por exemplo:

saúde, estímulo e relações afetivas seguras na infância, emprego, o acesso a

tratamento de alta qualidade e de longo prazo dignos).

Os fatores determinantes abrangem os seguintes aspectos:

Saúde e Serviço Social: devem ser integrados, coordenados e eficazes em

termos de custos, tratando as pessoas com dignidade e respeito. Envolvem:

promoção da saúde e prevenção de doenças, serviços curativos, assistência

em longo prazo, serviços de saúde mental.

Comportamentais: envolve a mudança nos hábitos de vida, adotando estilos

de vida saudáveis e participação nos cuidados com a saúde como envolver-

se com atividades físicas, alimentação saudável, abstinência de fumo e

álcool, fazer uso correto dos medicamentos para prevenir doenças e o

declínio funcional, aumentar longevidade e a qualidade de vida do indivíduo.

Abrange: tabagismo, atividade física, alimentação saudável, álcool,

medicamentos e adesão.

Aspectos pessoais: biologia e genética, fatores psicológicos.

59

Ambiente físico: moradia segura, quedas.

Ambiente social: apoio social, violência e maus tratos contra o idoso,

educação e alfabetização.

Fatores econômicos: renda, proteção social, trabalho.

A Política de Saúde também elenca os desafios a serem enfrentados

nesse processo global de envelhecimento, principalmente para os países em

desenvolvimento, que são: a carga dupla de doenças, o maior risco de deficiência,

provisão de cuidado para a população em processo de envelhecimento, a

feminização do envelhecimento, ética e iniquidades, a economia de uma população

em processo de envelhecimento, e a criação de um novo paradigma sobre o

envelhecimento que traz uma imagem positiva da terceira idade.

Os pilares determinantes do envelhecimento ativo e os princípios das

Nações Unidas para os idosos são três: saúde, participação e segurança.

Saúde: que homens e mulheres, em processo de envelhecimento, tenham

direito à saúde e serviços sociais que atendam suas necessidades.

Participação: garantir os fatores que condicionam os indivíduos a continuar

contribuindo para a sociedade com atividades remuneradas e não

remuneradas enquanto envelhecem (como o mercado de trabalho, emprego,

políticas sociais e de saúde e programas que apoiam a participação em

atividades culturais, socioeconômicas e espirituais).

Segurança: que as políticas e programas assegurem a proteção, dignidade e

assistência aos mais velhos que não possuem condições para se sustentar e

proteger.

Para que o Envelhecimento Ativo seja atingido é essencial a ação

conjunta em diversos setores além dos serviços sociais e de saúde, incluindo

educação, emprego e trabalho, segurança social e financeira, habitação, transporte,

justiça e desenvolvimento rural e urbano.

As principais propostas da Política de Saúde são:

Saúde:

1. Prevenir e reduzir a carga de deficiências em excesso, doenças

crônicas e mortalidade prematura;

2. Reduzir os fatores de risco associado às principais doenças e aumentar

os fatores que protegem a saúde durante a vida;

60

3. Desenvolver um contínuo de serviços sociais e de saúde acessíveis,

baratos e de alta qualidade adequados para a terceira idade, que

aborde as necessidades e os direitos de homens e mulheres em

processo de envelhecimento;

4. Fornecer treinamento e educação para cuidadores.

Participação:

1. Propiciar educação e oportunidades de aprendizagem durante o curso

da vida;

2. Reconhecer e permitir a participação ativa de pessoas idosas nas

atividades de desenvolvimento econômico, trabalho formal e informal e

atividades voluntárias, de acordo com suas necessidades individuais,

preferências e capacidades;

3. Incentivar a participação integral dos idosos na vida familiar e

comunitária.

Segurança:

1. Assegurar proteção, segurança e dignidade aos idosos, através de

direitos e necessidades de segurança social, financeira e física dos

idosos;

2. Reduzir as iniquidades nos direitos à segurança e nas necessidades

das mulheres mais velhas.

Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) a meta é atingir melhor

qualidade de vida por mais tempo e para o maior número de pessoas, além de

enfatizar o incentivo a iniciativas interdisciplinares e intersetoriais em especial nos

países em desenvolvimento que vivem num contexto de pobreza e problemas de

infraestrutura não selecionados.

Com relação à colaboração internacional, o Plano Internacional da Ação

sobre o Envelhecimento, em 2002, foi um marco ao abordar os desafios de um

mundo em processo de envelhecimento. Todas as instâncias da sociedade são

chamadas a desenvolver soluções apropriadas à idade para os desafios de um

mundo que está nesse processo e, para isso, vários fatores devem ser considerados

como: as mudanças na saúde, a globalização, urbanização, mudanças na família,

degradação ambiental, pobreza, entre outros.

O termo envelhecimento ativo deve ser popularizado através de diálogo,

discussões e debates na arena política, na educação, fóruns públicos e na mídia

61

(radio, TV). A OMS se compromete a criar uma base global de pesquisa, com a

colaboração dos governos, Organizações não-governamentais (ONG’s) e setor

acadêmico, sobre o envelhecimento.

A Política de Saúde é um documento base de ação para os governantes,

[...] fornece uma orientação para elaborar políticas multisetoriais de envelhecimento ativo que irão melhorar as condições de saúde e aumentar a participação entre as populações que estão envelhecendo, ao mesmo tempo, irão assegurar que os idosos tenham segurança, proteção e cuidados adequados quando precisarem de assistência. (OMS, 2005, p. 56).

A intenção é incentivar a implementação de políticas do envelhecimento

ativo nos níveis regional, nacional e global. Com os três pilares de ação (saúde,

participação e segurança) oferece uma base para a construção consensual que

abarca as preocupações de diversos setores e de todas as regiões. Procura-se que

as próximas gerações complementem com ações que possam ser implementadas.

2.1.4 Considerações sobre o Plano Internacional para o Envelhecimento e a Política

de Envelhecimento Ativo e seus reflexos na sociedade brasileira

A Política de Envelhecimento Ativo tem sido amplamente debatida nos

espaços de discussão e órgãos colegiados ligados ao idoso. Keinert e Rosa (2009,

p. 4) nos trazem um conceito ampliado de envelhecimento ativo:

A abordagem do envelhecimento ativo é baseada no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e nos princípios independência, participação, dignidade, assistência, e auto-realização estabelecidos pela Organização das Nações Unidas. Com esta abordagem, o planejamento estratégico deixa de ter um enfoque baseado nas necessidades biológicas ou de cuidados (que considera as pessoas mais velhas alvos passivos) e passa a ter um enfoque baseado nos direitos, o que permite o reconhecimento dos direitos dos mais velhos à igualdade de oportunidades e tratamento em todos os aspectos da vida à medida que envelhecem. Esta abordagem apoia a responsabilidade dos mais velhos no exercício de sua participação nos processos políticos e nos outros aspectos da vida em comunidade.

Por meio da proposta do envelhecimento ativo, o ensejo que se dá a

política é que as pessoas idosas passem a ocupar os espaços de discussão, sendo

autoras e construtoras de sua própria história, colocando em prática a sua cidadania

enquanto sujeitos de direitos. A participação social diz respeito a todos os espaços:

cultural, social político, econômico, lazer, entre outros contribuindo para uma

62

expectativa de vida saudável e com qualidade. Outro ponto a se considerar é que,

quem está envolvido com este segmento, sejam especialistas ou voluntários, pois

devem contribuir com o fortalecimento do movimento do idoso, na qual a pessoa

idosa possa expor as suas ideias e reivindicar os seus direitos junto às instâncias

governamentais.

O paradigma da velhice, enquanto um momento de perdas, físicas,

emocionais, sociais, afetivas, também é um elemento a ser discutido e enfrentado,

assim como a visão pejorativa do idoso como um ser inútil e o preconceito ainda

existente, visto que a política busca colocar uma visão da velhice de forma positiva

para quem a vivencia, desconstruindo estereótipos. Ribeiro (2011, p. 307) fala que

devemos “[...] considerar a velhice como um momento de independência e

autonomia, desvinculando-a da ideia de ser um momento apenas de perdas,

certamente é um avanço e uma mudança de paradigma.”

Tanto a política de Envelhecimento Ativo quanto o Plano Internacional,

trazem-nos uma visão totalmente reatualizada em relação ao caminho que se deve

seguir para a elaboração das políticas, pontuando que a sociedade deve ser para

todas as idades. É certo que os fatores de risco podem ser diminuídos com o apoio

de políticas sociais de saúde, mercado de trabalho, emprego, educação, porém, as

políticas internacionais são de cunho preventivo para as próximas gerações, pois as

pessoas idosas de hoje já estão tendo seus direitos negligenciados.

A iniciativa privada já está atenta a este processo promovendo projetos de

envelhecimento saudável visando sua lucratividade. Entretanto, o governo brasileiro

ainda está se atentando para esta realidade criando Centros de Convivência do

Idoso (CCI) e outras instituições, pensando em manter essa população ativa no

mercado de trabalho, produzindo e aumentando as receitas públicas com a

contribuição e dificultando o processo de aposentadoria.

A questão é quanto menos gasto for, melhor. Porém, há que se ressaltar

que se a saúde fosse de qualidade daria menos gastos que uma saúde precária, as

pessoas necessitariam utilizar menos os serviços de saúde pública, sem falar que

prevenir a doença é menos dispendioso do que tratá-la.

Outra característica é a centralidade da família nas políticas

internacionais, tratando-a como braço direito dos governos para suprir as

necessidades dos indivíduos. É certo que a família é o recôndito onde todos buscam

refúgio e proteção, no entanto, quem protege a família? É notório que o Estado tem

63

transferido muitas responsabilidades à família, porém, não se tem uma única política

que a proteja das vulnerabilidades sociais como um todo, visto que todas as políticas

são segmentadas e voltadas a um segmento específico.

Fazendo um elo com as políticas internacionais com relação à saúde,

Teixeira (2006, p. 236) nos diz que

Também as ações de saúde, em que os projetos de envelhecimento ativo e saudável são incentivados por agências internacionais, não visam apenas melhorar a saúde, o estado físico e psicológico dos idosos, mas atribuir-lhes responsabilidades pelo seu estado, subjetivando a noção de velhice e de “qualidade de vida”, que depende do indivíduo, da sua motivação para mudar hábitos de vida, dentre eles, alimentação saudável, práticas de exercícios físicos, atividades intelectuais e socializadoras. É daí que a expressão “viver bem e melhor depende de você” sintetiza essas iniciativas de caráter público ou privado. A velhice pobre, doentia e dependente virou uma condição de negligencia pessoal ou familiar, de motivação pessoa para aprender. Logo, a problemática do envelhecimento e sua superação recaem sobre o próprio idoso.

O questionamento que soa é: estamos efetivamente preparados para o

avanço do envelhecimento no Brasil? As políticas internacionais trazem parâmetros

legalistas de como tornar a velhice das pessoas idosas mais saudáveis, com

autonomia e independência, entretanto, observa-se que as ações para que se atinja

esse objetivo fica a cargo da sociedade civil e do próprio indivíduo que precisa

buscar as alternativas para envelhecer ativamente e de forma digna. Nesse sentido,

Zenaide e Viola (2011, p. 11), dizem que “Educar na perspectiva dos direitos

humanos implica em revisar nossos valores, atitudes e comportamentos individuais e

coletivos”, ou seja, compreender a problemática do envelhecimento a nível global e

onde o reconhecimento da pessoa idosa como sujeito de dignidade e direitos é

caminho para a construção de uma sociedade democrática, excluindo toda e

qualquer forma de discriminação e preconceito.

Quando negada de seus direitos de cidadania, quando excluída do convívio social e desinformada dos direitos e dos mecanismos de proteção e defesa, a pessoa idosa pode, em muitos contextos sociais, conviver com graves violações de direitos independente do segmento ou da classe social a qual pertença. O acesso às políticas de seguridade, saúde e educação são condições sine qua non para que a pessoa idosa posse sentir-se parte, ser reconhecida como sujeito de direitos e participar da sociedade em que vive. (ZENAIDE; VIOLA, 2011, p. 11).

Por meio da integração das políticas e da articulação das diversas áreas é

que se pode começar a fortalecer o movimento do idoso, para uma sociedade para

64

todas as idades, ademais o Estado deve se atentar as condições que podem tornar

o envelhecimento um processo de precarização da vida, tirando da pessoa idosa o

direito de viver plenamente e com dignidade.

De fato, é notório que o Estado apenas tem feito sua parte de formulador

de políticas, estando bem distante do real processo de envelhecimento do

trabalhador, que oferece sua força de trabalho ao mercado como meio de garantir a

subsistência de sua família.

Nesse sentido, transferindo para a sociedade civil o papel de executora de

política sociais, colocando a família como recôndito a qual todos os problemas se

resolvem e se mantendo na posição de legislador, temos uma nítida negação dos

direitos, visto que, a proteção social se torna uma ação voluntária praticada por

pessoas que se preocupam com a benevolência, além de abrir espaço para a

privatização da mesma. Com essa atitude, o Estado não possui gasto com recursos

humanos, precarizando o serviço, não atende toda a demanda, além de as ações

serem marcadas pelo localismo e pela trivialidade do atendimento (TEIXEIRA, 2006,

p. 226), aplicando políticas compensatórias.

O mais preocupante é que tais políticas têm, como pano de fundo, a

manutenção da força de trabalho da pessoa idosa no mercado, pois, o país está

envelhecendo rapidamente e a demanda por serviços socioassistenciais e

previdenciário (aposentadoria e pensões) tendem a aumentar com o passar do

tempo, o que requer “[...] medidas para a manutenção do trabalhador na atividade

econômica o maior número de anos possível.” (CAMARANO, 2011, p. 21).

Em 2009, nas famílias que continham idosos, estes contribuíam com 64,8% da renda familiar. [...] Se o chefe for idoso do sexo masculino, essa proporção aumenta para 73,4% e se a mulher idosa for chefe, ela passa para 68,9%. A participação da renda do idoso na renda familiar diminui com a idade, o que parece estar associado à redução da participação dos rendimentos do trabalho na renda da pessoa idosa. (MÜLLER, 2014, p. 18).

Os estudos têm demonstrado que as famílias com idosos estão em

melhores condições que as demais, percebendo os benefícios previdenciários como

um seguro de renda vitalício, o qual, muitas vezes, é a única fonte de renda da

família. Cada vez mais a pessoa idosa tem participado da renda familiar.

65

2.1.5 Discutindo o envelhecimento no Brasil: o Marco Legal e o direito ao acesso das

políticas

A discussão em âmbito mundial também chegou ao Brasil e podemos

dizer que seu marco maior foi a promulgação da Constituição Federal de 1988, nos

brados da redemocratização brasileira. O Art. 230 dispõe que “A família, a sociedade

e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua

participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-

lhe o direito à vida.” (SABATOVSKY; FONTOURA, 2012, p. 127).

O ordenamento jurídico brasileiro busca uma valorização do idoso,

ressaltando a sua dignidade e o fato de terem realizado grande contribuição à

construção de uma sociedade mais justa e solidária. O idoso está resguardado

juridicamente contra todo ato de discriminação ou violência, prevalecendo sempre os

Direitos Humanos, amplamente discutidos nos Tratados Internacionais.

No ano de 1994 foi promulgada a Política Nacional do Idoso (Lei

8.842/94)

[...] tem como finalidade assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade. Ela traz responsabilidades partilhadas pelo Estado, família, sociedade civil, ministério público, órgãos públicos e instituições sociais. Retoma o estabelecido na Constituição Federal dizendo que compete à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar ao idoso todos os direitos de cidadania, garantindo sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem-estar e o direito à vida; afirmando que não deve sofrer discriminação de qualquer natureza, e que o idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através desta política. (KEINERT; ROSA, 2009, p. 5).

O Art. 1° da Política Nacional do Idoso dispõe que “A política nacional do

idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para

promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”. (BRASIL,

1994, p. 5). Além disso, dispõe também algumas diretrizes, a organização e gestão

(que envolve os conselhos), as Ações Governamentais (na área de promoção e

assistência social, da saúde, da educação, do trabalho e previdência social, da

habitação e urbanismo, da justiça, da cultura, lazer e esporte).

Para fortalecer e implementar uma lei já existente, foi elaborado o

Estatuto do Idoso – Lei 10.741 de 1° de Outubro de 2003 (BRASIL, 2010a). O

Estatuto veio a ser um marco legal que regulamenta a Política Nacional do Idoso,

66

reforçando os princípios anteriormente mencionados, além de assegurar e

especificar detalhadamente outros direitos que foram garantidos aos idosos.

A legislação traz em seu texto um tratamento específico para cada direito

garantido e que, na Política Nacional do Idoso, estavam apenas sendo apresentados

como princípios normativos, não se caracterizando como direito garantido em lei.

Acerca do envelhecimento, o Art. 8° dispõe que “[...] é um direito personalíssimo e a

sua proteção um direito social, nos termos desta Lei e da legislação vigente”

(BRASIL, 2010b, p. 6, grifo nosso). Ademais, o estatuto veio a contribuir,

significativamente, para este segmento, muitas vezes marginalizado pela sociedade,

que como dito anteriormente, ainda sofre estigmas de preconceito, violência e

negligência.

Portanto, ao longo de todo o texto da lei, observamos que à pessoa idosa

lhe é conferida atendimento prioritário, ou seja, tem a sua prioridade garantida.

Segundo o Art. 2° o idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa

humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-lhe,

por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação

de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e

social, em condições de liberdade e dignidade.

Respeitando o Art. 230 da CF/88 e dando continuidade ao disposto na lei,

o Art. 3° do Estatuto do Idoso vem discorrer que

É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. (BRASIL, 2010a, p. 5).

Esse marco regulatório responsabiliza o Estado, a família e a sociedade

civil para a preservação e garantia do direito dos idosos, sendo assim, a família

como principal cuidadora, necessita, também, de cuidados e proteção, tendo

atenção básica por meio da Estratégia de Saúde da Família, um papel fundamental.

Em 2006, através da portaria 2.528, a Política Nacional de Saúde do

Idoso é revista e atualizada, “[...] a qual assegurou direitos sociais à pessoa idosa,

criando condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva

na sociedade e reafirmando o direito à saúde nos diversos níveis de atendimento do

SUS.” (KEINERT; ROSA, 2009, p. 7). A finalidade principal dessa política é “[...]

67

recuperar, manter e promover a autonomia e a independência dos indivíduos idosos,

direcionando medidas coletivas e individuais de saúde para esse fim, em

consonância com os princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde.” (KEINERT

e ROSA, 2009, p. 7).

Além das políticas é importante destacar as

[...] iniciativas intersetoriais do Governo do Estado de São Paulo como o Programa Agita São Paulo, de 1996, com o objetivo de combater o sedentarismo e componentes especiais para a Terceira Idade, reconhecido em 2002 pela OMS como um modelo de promoção à saúde. [...] O Projeto Município Paulista Amigo do Idoso objetiva criar Redes de Atenção à Pessoa Idosa nos municípios de São Paulo (Lei Estadual 12.518/07) iniciativa inspirada no Guia Global das Cidades Amigas do Idoso da OMS. (KEINERT; ROSA, 2009, p. 8).

É importante salientar que muito se avançou em relação à construção de

uma legislação para os idosos, mas sabemos que ainda temos um longo caminho à

frente para ser percorrido e muitos ranços ideológicos a serem desconstruídos.

Seguindo um percurso histórico, discorremos sobre as legislações que

marcaram a história brasileira com relação à proteção social da pessoa idosa. Diante

do exposto, tentamos apontar aspectos pertinentes dessas legislações, sobretudo,

para que possamos analisá-las e discutir se realmente a população idosa brasileira

está tendo o real acesso as essas políticas.

Em primeiro lugar, não nos esqueçamos de que toda Política Pública

perpassa pela questão de classe, bem como o seu acesso. Já é de nosso

conhecimento que a política social possui um caráter seletivo, restrito a extrema

pobreza e somente tem direito aquele que está dentro do corte de salário

(condicionalidades/contrapartidas) proposto nos programas sociais de distribuição de

renda.

Durante anos a população brasileira viveu sob os mandos dos

governantes que direcionavam o nosso país, vivenciando uma cultura paternalista,

ainda presente nessa sociedade, não nos reconhecendo como sujeitos de direitos.

Com a redemocratização, em 1984, iniciou-se uma caminhada que culminou na

Constituição Federal de 1988, conhecida também como Constituição Cidadã, na

qual muitos direitos foram garantidos, inclusive para os idosos, visto que tínhamos

uma parte da sociedade brasileira que era participativa. Aliado aos direitos vieram os

conselhos gestores: assistência, criança e adolescente, idoso, saúde, entre outros

que funcionam como espaços de participação popular e controle social. Com a

68

criação dos espaços democráticos de discussão vêm também os desafios e um

deles é encontrar lideranças políticas com capacidade de argumentação junto aos

representantes do governo para que os direitos sejam efetivados.

Por diversas vezes, política pública deixa de ser compreendida como “res-pública”, como responsabilidade de todos, do Estado de disponibilizar recursos, formular projetos, programas e prover bens e serviços e da sociedade civil organizada de participar de sua definição e de exercitar o controle social. (BARROSO, 2009, p. 33).

Convivemos na atualidade com o individualismo exacerbado, a qual cada

um preocupa-se consigo mesmo, não importando o coletivo. Nesse sentido, os

indivíduos centram seus esforços para garantir seus próprios interesses e não o de

uma coletividade. Da mesma forma ocorre com a representatividade dos segmentos

sociais, ela é passiva, as pessoas eleitas nos conselhos é que decidem por nós; tais

espaços estão sendo pouco ocupados, ou seja, há pouco envolvimento com a

gestão pública. Contudo

Para além das dificuldades acima mencionadas é fundamental destacar que cresce de modo significativo o número de projetos, programas públicos que conta com a participação da população. No tocante ao segmento idoso esse crescimento é facilmente perceptível e algumas condicionantes têm contribuído para que essa situação se efetive. (BARROSO, 2009, p. 34).

Questões relacionadas ao envelhecimento deixaram de ser

compreendidas no plano caritativo, para ser compreendido como direito. Surgiram

inúmeros espaços de participação: conselhos, fóruns, grupos de convivência,

Universidades Abertas para a Terceira Idade, programas municipais, estaduais e

federais, voltados para a pessoa idosa. Dessa forma, podemos romper com a visão

endógena do idoso que apenas reclama, ou é inútil, pelo contrário, estamos

construindo a imagem de um idoso ativo. “Os idosos passaram a ocupar o espaço

público não mais para desempenhar papéis sociais e culturais pré-determinados,

mas como sujeitos, criando suas próprias histórias.” (BARROSO, 2009, p. 34).

Apesar de o protagonismo social dos idosos no cenário político estarem

aumentando significativamente, será que as políticas estão realmente atendendo as

reais necessidades dos idosos? A ofensiva neoliberal tem realizado diversas

manobras, que por vezes cerceia as possibilidades de conquista de direitos, ou seja,

ao passo que se avança, um passo atrás deve ser dado, em outras palavras, a

democracia acontece a passos lentos, mas com possibilidades de mudanças. Peres

69

(2007) nos alerta que a própria política, em parte, privilegia o protagonismo das

instituições representativas ao afirmar que, a participação social deve acontecer por

meio delas, desmobilizando-se, assim, muitos movimentos sociais que acabam por

perder a voz e a vez.

Ao passo que a política é um mecanismo de “emancipação” (se efetivada

como direito), ao mesmo tempo é uma forma de integrar aqueles que estão à

margem da sociedade.

Esse conjunto de legislações e políticas públicas referentes à velhice representam “planos de ação” do governo brasileiro que, seguindo uma tendência mundial, procuram estabelecer estratégias de combate à exclusão social vivida por muitos idosos, incluindo-os e integrando-os à sociedade. (PERES, 2007).

Sabendo que o envelhecimento perpassa pela questão de classe social

podemos refletir e concluir que o acesso perpassa a mesma questão de classe.

Consideremos que ainda temos muitos desafios a serem enfrentados, seja a

infraestrutura para atender a todos os idosos, seja a construção de uma consciência

coletiva sobre a questão do envelhecimento populacional no Brasil, que necessita a

tomada de medidas que sejam efetivamente cumpridas, e não meramente paliativas,

ou seja, medidas que efetivamente façam com que as pessoas exerçam a sua

cidadania possuindo acesso total as políticas, a fim de que possam ser sujeitos de

direitos.

2.1.5.1 Considerações sobre a Política Nacional do Idoso e o Estatuto do Idoso e a

centralidade da família

Com o avanço do envelhecimento populacional, os governos e segmentos

da sociedade civil iniciaram uma jornada de apoio às pessoas idosas. O

fortalecimento do movimento do idoso e a elaboração e implementação de políticas

públicas passaram a ocupar espaço na agenda das pessoas voltadas a este

segmento. É claro que é um fenômeno que está surgindo recentemente e ainda não

possui muito espaço e discussão para os cuidados com a velhice de nossa

população.

Entretanto, a política mascara a realidade, podemos citar as

desigualdades sociais e o envelhecimento do trabalhador e a vulnerabilidade social

70

em que vivem muitos idosos brasileiros, além de não expressar ações efetivas de

proteção social, não prioriza o Estado como garantidor de direitos, transfere a

responsabilidade para o Terceiro Setor (ONG’s, instituições filantrópicas e

religiosas), comunidade e família, por meio de programas pontuais com metas

restritas.

Como gerador dos fundos públicos, o Estado deveria cumprir seu papel

de garantidor de direitos e não a sociedade civil, visto que dessa forma o princípio

de universalidade é subsumido diante de ações que são respostas do mercado

transformando-se numa filantropia moderna para o pobre, ou simplesmente, ajuda

voluntária, resultando numa avassaladora negação de direitos.

A descentralização busca transferir funções transformando o controle

social em colaboracionismo, a qual à família tem sido atribuída a identidade de

garantidora dos direitos, tornando-se um espaço para a efetivação da proteção

social seguindo uma tendência ideológica de que é na família que se encontra a

solução para os problemas advindos do modo de produção capitalista,

reprivatizando responsabilidades que são públicas. Sendo assim, os apoios

informais como as famílias, tornam-se constantes nas políticas e a família por sua

vez não tem sido amparada pelo Estado, pelo contrário, tem vivido drasticamente as

expressões da Questão Social.

Esse tipo de manobra reduz a demanda para o Estado, privatiza serviços,

além de contribuir com a reprodução social por meio de políticas compensatórias. O

Estado reduz sua ação em casos de pobreza extrema ou situações de abandono,

não investindo em políticas asilares ou outra forma de assistência, relegando o papel

de cuidador à família, já desprotegida socialmente.

Todavia, a redução dos gastos sociais e o retorno da reprodução social para o âmbito privado tem significado repasse das responsabilidade públicas às famílias, à sociedade civil, que, no Brasil, tem sido pioneira nas propostas de convívio alternativo aos idosos. (TEIXEIRA, 2006, p. 221).

A pessoa idosa necessita de cuidados diários que lhe são negados

recaindo sobre a família a responsabilidade de cuidar, mesmo não tendo condições

para tal. Assim, percebe-se que as ações voltadas ao envelhecimento possuem

ênfase para as pessoas idosas que ainda podem contribuir produtivamente, por meio

de política de envelhecimento ativo.

71

O princípio básico definidor das ações é sempre a divisão de responsabilidade, das “parcerias”, do retorno à família como espaço de proteção social, e não como sujeito da proteção social, que faz parte das estratégias de retomada das redes de solidariedade primárias, tendo como central a família, inclusive, nos tratamentos de saúde, com a figura do cuidador, e com as ações do chamado “terceiro setor”, compatíveis com a desresponsabilização do Estado pelas refrações da questão social. (TEIXEIRA, 2006, p. 222).

A Política Nacional do Idoso (PNI) tem essa característica de uma política

complexa, com orientação para a proteção social, porém não expressa ações para

sua efetivação. Enquadra-se nas novas diretrizes internacionais da política social, a

qual o Estado não é o garantidor dos direitos, mas o normatizador, regulador, co-

financiador que divide as responsabilidades com a sociedade civil. Apresenta formas

alternativas de participação, convívio e ocupação para que a pessoa idosa se integre

às demais gerações.

A exemplo disso, temos a implantação de: casas lares, centros de

convivência, centros diurnos, oficinas abrigadas de trabalho, atendimento de

domiciliar, que complementam a política com acesso a programas de promoção

social com vistas ao combater à pobreza. Entretanto, o critério de seletividade não

está excluído deste processo, ou seja, tem projetos, mas não se tem recursos, o que

torna a rede de proteção social não qualificada ao idoso, já que o papel é passado

para a sociedade civil como executora das políticas sociais.

Tanto a PNI como o Estatuto do Idoso trazem a figura dos Conselhos do

Idoso como espaço de participação social, controle social, de caráter deliberativo.

Acerca disso Teixeira (2006, p. 227) nos diz que

Todavia, a institucionalização, no âmbito de cada política específica, ocorre num contexto adverso à implantação dessas demandas, com o avanço do neoliberalismo, em contexto de reestruturação produtiva e político-ideológica do capital, isto é, de recomposição das bases de hegemonia e de controle sobre o trabalho, a qual visa obter adesão e o consentimento de trabalhador à nova ordem social, construindo uma nova cultura de consenso, fundada na solidariedade indiferenciada entre as classes, no cooperativismo, nas parcerias no enfrentamento das crises e da agudização da questão social, que redefine o sentido da participação social.

A iniciativa privada tem ocupado estes espaços e tem transformado a

participação social democrática em formas de parceria, tendo a pessoa idosa como

colaboradora. Os conselhos são espaços contraditórios, visto que, se aliam a classe

trabalhadora na defesa dos direitos humanos, na democratização e na

universalização das políticas públicas constituindo um espaço de expressão política

72

dessa classe, porém, também não deixa de ser um mecanismo e expressar

interesses da classe dominante na forma do controle social pelo capital.

Os conselhos se limitam em seu poder decisório, pois não há um

orçamento especifico para a execução da PNI, resultando que essa instância não

sabe quais necessidades atender, financiar já que os recursos são reduzidos.

Já o Estatuto do Idoso, traz no texto da lei os mecanismos para efetivar o

que está regulamentado na PNI. Traz a concepção de envelhecimento ativo como o

novo paradigma da velhice, além dos avanços como a definição de

responsabilidades inerentes ao governo e suas obrigações, como descrito no artigo

9°, “É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde,

mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento

saudável e em condições de dignidade.” (BRASIL, 2010b, p. 8), porém, como na

PNI, percebe-se a duplicidade de sentido ao remeter a sociedade civil como

executora das políticas.

Outro ponto a se questionar é a questão do preconceito que deve ser

combatido em relação à pessoa idosa. É notório que as políticas não fazem uma

crítica construtiva numa perspectiva de totalidade em relação ao ordenamento

jurídico, ao funcionamento do Estado e da sociedade capitalista, colocando a

educação centrada no individuo para o combate ao preconceito, velando elementos

voltados à produção e reprodução do envelhecimento do trabalhador.

Com relação ao trabalho, o Estatuto motiva a atividade laborativa na

velhice, reforçando mecanismos que impedem a discriminação no mercado por

conta da idade, prevendo penalidades. Em contrapartida, não pode impedir a

demissão, rebaixamento de salário e função, que são formas veladas de

discriminação. Por meio de princípios de seletividade e focalização, prevê benefícios

à pessoa idosa, em situação de pobreza extrema, ou seja, apenas aos que não

possuem meios para prover sua subsistência, reforçando o trabalho na velhice.

Tal modelo liberal de proteção social legitimado com uma nova roupagem

abre espaços para a iniciativa privada. Essa perspectiva da proteção social tem

significado, sem dúvida, um retorno ao âmbito privado da reprodução social dos

trabalhadores e sua família (TEIXEIRA, 2006, p. 244). Essa já é uma prática

histórica no Brasil, associando a assistência à filantropia, à responsabilidade social

empresarial, inviabilizando o texto constitucional do princípio de universalidade, de

definição dos deveres do Estado com a proteção social brasileira.

73

Além do mais, culpabiliza os indivíduos pela situação em que vivem,

transferindo para o âmbito privado a solução dos problemas, “[...] reatualizando-se

as propostas de reforma moral, educativa, do indivíduo e da sociedade, cuja

terapêutica gerontológica constitui a ideologia e a proposta de pedagogia da

velhice.” (TEIXEIRA, 2006, p. 245). As expressões da questão social são

desvinculadas da ordem econômico-social, centrando-se num trabalho social onde o

alvo é o indivíduo.

[...] para o capital e o Estado, a partilha de poder é apenas uma estratégia de desregulamentação dos direitos sociais, de cooperativismo, de solidarismo entre as classes no enfrentamento da questão social, mascarando os antagonismos de classes e os interesses de grupos. (TEIXEIRA, 2006, p. 246).

Percebe-se claramente uma reatualização do conservadorismo

perpassando a elaboração das políticas sociais e a atuação do Estado, que há tanto

tempo o Serviço Social tem se esforçado para destruir, instaurando uma nova

concepção de homem e de mundo, numa perspectiva de totalidade enquanto ser

social que constrói sua identidade nesta sociabilidade e que sofre as mazelas do

capitalismo. Não há um questionamento da ordem estabelecida para a compreensão

das expressões da questão social, mas uma via de mão dupla em que é mais fácil

culpar o indivíduo pelos seus problemas do que instaurar uma nova dinâmica social.

CAPÍTULO 3 A PESSOA IDOSA E O MUNDO DO TRABALHO: UMA

APROXIMAÇÃO COM A REALIDADE CONCRETA

75

3.1 Os caminhos da pesquisa

O interesse em pesquisar a pessoa idosa na atual configuração do mundo

do trabalho se deu após a realização do estágio supervisionado em Serviço Social

na UNATI da UNESP/ Campus de Franca onde o contato com este público

despertou o surgimento de diversas indagações que foram relacionando-se com o

crescimento do envelhecimento no Brasil. A percepção acerca dos trabalhadores

idosos revela que esta é uma realidade que vai se tornando cada vez mais aparente,

e que, de fato, é uma força de trabalho que o capital se apropriou para legitimar sua

manutenção.

Por mais que se crie política para este segmento, a amplitude de

atendimento e a garantia da efetivação dos direitos ainda não atingiu a grande

maioria das pessoas idosas. Muitas pessoas idosas encontram-se em estado de

isolamento, passando por necessidades, longe do alcance das políticas sociais. O

Estado tem transferido para a família a responsabilidade pela efetivação das

políticas e não a tem amparado diante das dificuldades do mundo do trabalho.

O estudo da pessoa idosa que trabalha sob a ordem do capital financeiro

despertou muitas inquietações que não se esgotam nesta pesquisa, ainda há muito

caminho a ser percorrido. A sociedade é dinâmica e a todo o momento é atribuído à

realidade um novo significado.

Como lócus de pesquisa foram escolhidas duas instituições, o Centro de

Convivência – Avelina Maria de Jesus e a Universidade Aberta à Terceira Idade

(UNATI) unidade da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais – UNESP/ Campus

de Franca –, ambas no município de Franca-SP, sendo selecionados seis idosos, a

qual a amostragem obedeceu aos seguintes critérios de seleção:

Ter mais de 60 anos;

Estar desenvolvendo algum tipo de atividade remunerada;

Frequentar as atividades regulares da instituição.

A realidade pesquisada apresenta-se de forma aparente,

pseudoconcretizada, e o “[...] método de pesquisa que propicia o conhecimento

teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do objeto [...] capturando a

76

sua estrutura e dinâmica, por meio de procedimentos analíticos e operando a sua

síntese.” (PAULO NETTO, 2011, p.8).

Vale dizer que, para o processo investigativo da pesquisa, é interessante

utilizar o conhecimento das ciências sociais que “[...] desenvolveram um enorme

acervo de instrumento (técnicas) de pesquisa, com alcances diferenciados – e todo

pesquisador deve esforçar-se por conhecer este acervo, apropriar-se dele e dominar

a sua utilização.” (PAULO NETTO, 2011, p.10, grifo do autor). A dimensão

investigativa da prática é “[...] constitutiva do exercício profissional bem como se

reconhece e se enfatiza a natureza investigativa de grande parte das competências

profissionais.” (GUERRA, 2011, p.4, grifo do autor).

O método que norteou a pesquisa foi o materialismo histórico dialético,

que possibilitou ter uma aproximação com a realidade e uma melhor compreensão

do nosso objeto de pesquisa, trazendo concepções teórico-metodológicas que nos

permitiu assimilar o movimento do pensamento a partir da materialidade histórica e

concreta da vida do homem em sociedade. Podemos dizer então que “[...] o método

implica, pois, para Marx, uma determinada posição (perspectiva) do sujeito que

pesquisa: aquela em que se põe o pesquisador para, na sua relação com o objeto,

extrair dele as suas múltiplas determinações.” (PAULO NETTO, 2011, p. 25, grifo do

autor). A categoria totalidade, do método escolhido, permitiu ter uma visão de

homem e de mundo que vai além da realidade posta, nos levando a compreendê-la

por meio de elementos que a mediatizam, nos aproximando do real concreto

Como bom materialista, Marx separa claramente o que é da ordem da realidade, do objeto, do que é da ordem do pensamento (o conhecimento operado pelo sujeito): começa-se “pelo real e pelo concreto”, que aparecem como dados; pela análise, um e outro elementos são abstraídos e, progressivamente, com o avanço da análise, chega-se a conceitos, a abstrações que remetem a determinações as mais simples. (PAULO NETTO, 2011, p. 19).

O materialismo histórico dialético tem uma visão de mundo a qual tudo

está em movimento e unidos, contraditoriamente, o homem é um ser histórico e

social que vive numa sociedade dividida em classes antagônicas sob uma realidade

objetiva e histórica. Dessa forma, a pesquisa que se utiliza deste método tem como

objetivo a busca da compreensão da essência dos fenômenos, encontrando em seu

objeto de estudo os elementos que os inter-relacionam. Sobre a essência e a

aparência dos fenômenos, Richardson (1999, p. 52) assevera que

77

A aparência é a parte superficial, mutável de um fenômeno ou da realidade objetiva. É uma forma de expressão da essência e depende dela. A essência é a parte mais profunda e relativamente estável do fenômeno ou da realidade objetiva. Está oculta debaixo da superfície de aparências.

Foi utilizada a entrevista como técnica de apreensão dos dados

empíricos, visto que ela

[...] é o procedimento mais usual no trabalho de campo. Através dela, o pesquisador busca obter informes contidos na fala dos atores sociais. Ela não significa uma conversa despretensiosa e neutra, uma vez que se insere como meio de coleta dos fatos relatados pelos atores, enquanto sujeitos-objeto da pesquisa que vivenciam uma determinada realidade que está sendo focalizada. (MINAYO, 2002, p. 57).

Para alcançar os objetivos da pesquisa, foi realizada a entrevista

semiestruturada com roteiro para os idosos das instituições selecionadas, a fim de

conhecer com mais proximidade a realidade deles e de sua família e decodificar em

suas falas as possíveis respostas para os nossos anseios, os quais poderemos

obter dados objetivos e subjetivos. Por entrevista semiestruturada, entende-se que

[...] aquela que parte de certos questionamentos básicos, apoiados em teorias e hipóteses, que interessam à pesquisa, e que, em seguida, oferecem amplo campo de interrogativas, fruto de novas hipóteses que vão surgindo à medida que se recebem as respostas do informante. Desta maneira, o informante, seguindo espontaneamente a linha de seu pensamento e de suas experiências dentro do foco principal colocado pelo investigador, começa a participar na elaboração do conteúdo da pesquisa. (TRIVIÑOS, 2011, p. 146).

Após as entrevistas, realizou-se a análise numa perspectiva qualitativa,

entendida como uma tentativa de “[...] compreensão detalhada dos significados e

características situacionais apresentadas pelos entrevistados [...].” (RICHARDSON,

1999, p. 90), dialogando com o Serviço Social, estabelecendo contrapontos entre a

teoria e a prática profissional e também para se ter uma análise mais ampla da

realidade pesquisada a partir das falas dos sujeitos envolvidos.

Acreditamos que a perspectiva de totalidade versa sobre compreender os

fenômenos não apenas sob sua aparência, mas compreender a sua essência, o que

leva o pesquisador a um movimento de aproximações sucessivas do objeto

pesquisado. Nesse sentido, nosso objetivo não é nos prendermos a uma análise de

dados quantificativos, mas apreender o que está oculto nestes dados, portanto,

78

elencaremos categorias de análise para compreensão dos mesmos. A pesquisa

qualitativa, segundo Minayo (2002, p. 21-22),

[...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. [...] trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

A pesquisa foi construída sob o conhecimento adquirido e observação da

realidade, reflexão, avaliação e sistematização dos dados, orientada pela teoria, que

segundo Paulo Netto (2011, p.7), é “[...] a reprodução ideal do movimento real do

objeto pelo sujeito”, em outras palavras, é a reprodução do real interpretada no

pensamento. Minayo (2002, p. 62, grifo do autor) acrescenta que

Para além dos dados acumulados, o processo de campo nos leva à reformulação dos caminhos da pesquisa, através das descobertas de novas pistas. Nessa dinâmica investigativa, podemos nos tornar agentes de mediação entre a análise e a produção de informações, entendidas como elos fundamentais. Essa mediação pode reduzir um possível desencontro entre as bases teóricas e a apresentação do material de pesquisa.

Essa investigação fundamentou-se na leitura de referencial teórico e

documental acerca da pessoa idosa como importante sujeito social com o qual o

Serviço Social trabalha e do mundo do trabalho, abarcando aspectos da

ressignificação da vida do idoso por meio do trabalho e as influências da família

nesse contexto, procurando ter mais intimidade com o objeto. Além do estudo do

referencial teórico, a pesquisa de campo possibilitou um amparo para os nossos

questionamentos acerca do trabalhador idoso visto que

Pesquisa de campo é aquela utilizada com o objetivo de conseguir informações e/ou conhecimentos acerca de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou de uma hipótese, que se queira comprovar, ou, ainda, de descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles. (MARCONI, 1996, p. 169).

Ao tomar a categoria trabalho como central na vida do ser social e as

atuais configurações do mundo do trabalho, esta pesquisa teve o propósito de

investigar a pessoa idosa inserida no mercado de trabalho e seu significado no

cotidiano mediado pelas influências da família e das políticas públicas nesse

processo.

79

3.1.1 Desvelando o universo da pesquisa

Para delinear os traços finais da pesquisa, o terceiro capítulo tem por

finalidade trazer os dados empíricos da realidade e apresentá-los por meio de

categorias de análise que visam, por meio de aproximações sucessivas do objeto de

pesquisa, trazer resultados que respondam aos nossos anseios e sejam instrumento

de novos questionamentos.

A escolha do método materialismo histórico dialético permite, através da

análise de totalidade, aproximação do objeto, pois, leva em consideração os

aspectos históricos, políticos, sociais e culturais dos sujeitos entrevistados, na busca

pela compreensão da essência dos fenômenos sociais, no caso desse estudo, o

idoso trabalhador que está aposentado ou não e que permanece no mercado de

trabalho.

Por meio da compreensão do fenômeno inscrito na complexidade das

relações sociais capitalistas que tem por base o trabalho assalariado, explorado e

alienado, a apropriação dos meios de produção, a valorização da propriedade

privada, a divisão sexual do trabalho, entre os outros elementos inerentes a esta

sociabilidade, pode-se entender a problemática do idoso/trabalho como expressão

da Questão Social.

Assim, é nesse processo de produção e reprodução das relações sociais

que se origina os processos de formação de consciência no sentido de que as

pessoas idosas que ainda permanecem no mercado de trabalho devem estar cientes

de seus direitos, já que a lei não as proíbe de trabalhar nesta fase da vida, pelo

contrário, percebe-se um grande incentivo para que essa população permaneça

participando ativamente da força de trabalho, não havendo nenhuma legislação

trabalhista específica que dê um assegure com maior eficiência a essa população

em idade avançada necessitada do trabalho para sua subsistência.

Trata-se de percepção que ignora a real situação do idoso brasileiro, não só daquele que está fora do sistema previdenciário e do benefício de prestação continuada (cerca de três milhões de idosos), quanto daquele que, mesmo aposentado, precisa continuar trabalhando (mais de 54% deles), considerando que não existe impedimento legal para que o aposentado continue no mercado de trabalho; seja prolongando sua permanência, seja ele retornando, até mesmo na informalidade, de modo a garantir condições mínimas de sobrevivência. (TONI, 2015, grifo nosso).

80

O fenômeno do envelhecimento atinge o mundo todo e a todas as esferas

sociais, ou seja, o mundo envelhece, e esse fato tem desafiado os governos em

relação à gestão dessa população que envelhece rapidamente, redobrando a

atenção para as transformações societárias decorrentes deste fato, trazendo para o

debate a construção de políticas de atendimento a pessoa idosa e a manutenção

das pessoas idosas no mercado de trabalho.

O que não se pode perder de vista é que se deve promover um ambiente

que condicione um envelhecimento humano com qualidade e inserção social. Ainda

hoje encontramos idosos que vivem sob o isolamento, sejam em suas casas ou em

Instituições de Longa Permanência (ILP). Nesse sentido, a proposta de

envelhecimento ativo, já discutida neste estudo, deve ser de promover a

independência, participação, dignidade e acesso a cuidados pelos idosos, além da

autonomia e da segurança, partindo de uma visão assistencialista para uma visão de

direito e de materialização da cidadania das pessoas idosas por meio das políticas.

As áreas que envolvem o trabalho com idosos vêm crescendo em todo

país, seja no aumento de instituições e na ampliação das áreas de abrangência, seja

na especialização de profissionais. Para o desenvolvimento da pesquisa, foram

escolhidas duas instituições com objetivos diferentes, o Centro de Convivência que

visa à integração e participação social e a Universidade Aberta a Terceira Idade que

visa à educação continuada e o plano de acesso ao conhecimento.

Para compreender os sujeitos da pesquisa inseridos na sociedade

capitalista e toda a sua complexidade, inicia-se este capítulo apresentando o

universo da pesquisa.

3.1.2 O universo da pesquisa: a cidade de Franca

Franca é uma cidade do interior do estado de São Paulo, que, segundo

dados estatísticos divulgados pela Fundação Sistema Estadual de Análise de

Dados (SEADE), no ano de 2015, contava com uma população de 331.259

habitantes. Seu Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, último censo do

ano de 2010, que considera os itens renda, longevidade e educação, era de 0, 780,

considerado um índice alto, perto do índice estadual que é 0,783 como podemos

observar no gráfico 4.

81

Gráfico 4 – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – 1991/ 2000/

2010

Fonte: SEADE (2015).

Podemos dizer que o município de Franca tem mantido seus níveis de

geração de emprego e serviços de saúde estáveis, visto que, as pessoas continuam

trabalhando para garantir a sua renda e tem conseguido viver por mais tempo,

diminuindo o índice de mortalidade no município.

Com relação à estrutura etária, a taxa de envelhecimento passou de

4,83% para 5,83% para 7,36% em 2010, ou seja, segundo a análise dos dados de

1991 a 2010, houve crescimento na taxa de envelhecimento na cidade neste

período.

Gráfico 5 – Pirâmide etária – Franca SP – Distribuição por sexo, segundo os

grupos de idade

Fonte: Brasil (2013) – Atlas.

82

No gráfico 5 percebemos um estreitamento da base e um leve

alargamento do topo, indicando que a taxa de natalidade em 2010 estava mais baixa

em relação ao aumento do número de idosos. Outro dado interessante na pirâmide é

o maior número de mulheres idosas em relação ao de homens. De fato, as

mulheres, ao longo da vida, cuidam melhor da saúde, em contrapartida, os homens

não valorizam os cuidados com a saúde, isto se deve a uma herança histórica de

que homem não fica doente, que é o provedor do lar entre outros ranços culturais.

Gráfico 6 – Comparação Franca 2010 – 2015 (Índice de Envelhecimento em %)

Fonte: SEADE (2015).

O gráfico 6 traz uma representação gráfica bastante pertinente para se

visualizar com clareza o aumento do envelhecimento dentre a população francana

no período de 2010-2015. Segundo dados da Fundação SEADE, passou de 51,57%

em 2010 para 66,58% em 2015 percebendo-se um aumento de quase 15% num

período de cinco anos. A projeção desta mesma fundação para o ano de 2015 foi de

43.923 pessoas idosas, morando na cidade, de um total da população do município

de Franca de 331.259. Com estes dados, infere-se que o índice de mortalidade entre

as pessoas idosas tem diminuído na cidade e o número de nascimentos também.

Em relação a ocupação, neste mesmo período, a taxa da população ativa

passou de 72,03% em 2000 para 72,94% em 2010, e a taxa da população não ativa

passou de 7,42% em 2000 para 4,71% em 2010. Como mostra o gráfico 7:

83

Gráfico 7 – Composição da população de 18 anos ou mais de idade em Franca

– 2010

Fonte: Brasil (2013) - Atlas.

O município de Franca caracteriza-se por ser um polo industrial calçadista

e nas últimas décadas tem crescido o setor de serviços. Sendo assim, as pessoas

idosas têm buscado estes setores para trabalhar seja formal ou informalmente,

porque há, espalhado pela cidade, muitas bancas de pesponto, chanfração e outros

serviços envolvendo a produção do calçado. O setor de serviços possui um leque de

opções e as pessoas idosas buscam trabalhos que possam ser feitos manualmente,

como cuidadores, cozinheiros ou outros serviços mais leves devido às condições de

saúde advindas da própria idade.

Percebe-se que o número de pessoas idosas ativas no mercado de

trabalho tem crescido ao longo dos anos conforme mostra a tabela 1, observando a

coluna de pessoas de 60 anos ou mais:

84

Tabela 1 – Empregos formais por nível de instrução 2010-2014 (faixa etária)

Fonte: SEADE (2016).

Se observarmos as demais colunas, percebe-se que há uma estabilidade

no número de pessoas em empregos formais. Em contrapartida, a coluna de

pessoas de 60 anos ou mais cresce com o passar dos anos, o que sugere que a

pessoa idosa vê a necessidade de estar no mercado de trabalho, fato que esta

pesquisa vem discutindo desde o seu início. É certo que a renda da pessoa idosa

contribui tanto para seu sustento quanto para sua família.

A justificativa para a escolha destas duas instituições é o perfil do público

que atendem e o papel social que desempenham na comunidade. O Centro de

Convivência do Idoso “Avelina Maria de Jesus”, o primeiro a atender a população

idosa no município de Franca, recebe as pessoas idosas da região sul da cidade de

Franca e tem a função de inseri-los na vida comunitária e criar vínculos de

convivência no ambiente em que vivem, tendo como aporte as políticas sociais e

encaminhamentos feitos pela instituição. A UNATI, por atender a toda a

comunidade, conta com um público diverso pelo fato de que as pessoas acima de 45

anos podem, também, participar das atividades da instituição. Seu papel enquanto

instituição é oferecer atividades que visem à formação continuada da pessoa idosa.

3.1.3 Centro de Convivência do Idoso – CCI Avelina Maria de Jesus

O CCI Avelina Maria de Jesus localiza-se num bairro periférico da cidade

de Franca, interior do estado de São Paulo, lócus escolhido para o desenvolvimento

da pesquisa. Foram selecionados nesta instituição três (4) idosos que aceitaram

85

participar da pesquisa. Ao iniciar a entrevista foi acordado que seus nomes seriam

mantidos em sigilo.

A assistente social informou que a instituição conta com 129 idosos

participantes e o quadro de funcionários é composto por: Coordenador - Enfermeiro,

Assistente Social – Orientadora Social, Auxiliar Administrativo I, Auxiliar

Administrativo II, Serviços Gerais, 4- Facilitadoras de Artesanato, Psicóloga,

Terapeuta Corporal, Fisioterapeuta, Facilitador de Música, Terapeuta Ocupacional, 2

Educadores físicos.

Destaca-se que os CCI’s estão previstos na Política Nacional de

Assistência Social (PNAS) e são considerados como serviços de Proteção Social

Básica (PSB) de assistência social, que nas suas ações de atendimento e acolhida

tem a família como centralidade, buscando inserir a pessoa idosa na comunidade

onde vive.

A PSB, objetiva prevenir as situações de risco através do

desenvolvimento de potencialidades e fortalecimento de vínculos familiares e

comunitários. Destina-se a população que vive em vulnerabilidade e exclusão social,

privados do acesso à renda ou a serviços públicos. Prevê desenvolver programas e

projetos locais de acolhimento convivência e socialização de famílias. Sobre a

centralidade da família na PNAS (BRASIL, 2005, p. 44), o texto diz que

A família, independentemente dos formatos ou modelos que assume é mediadora das relações entre os sujeitos e a coletividade, delimitando, continuamente os deslocamentos entre o público e o privado, bem como geradora de modalidades comunitárias de vida. Todavia, não se pode desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos e geralmente, também, por desigualdades, além de que nas sociedades capitalistas a família é fundamental no âmbito da proteção social.

É importante retomar brevemente a discussão acerca da centralidade da

família nas políticas públicas pelo fato de que, a todo o momento, esta instituição é

citada como o braço direito do Estado, principalmente, na sociedade capitalista. Ela

tem a sua importância reconhecida no contexto da vida social sendo a base da

sociedade e tem especial atenção do Estado. Endossa artigos na Constituição

Federal do Brasil, na Declaração dos Direitos Humanos, no Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), na Lei Orgânica da Assistência (LOAS) entre outras legislações.

86

Como discutido, a família não tem sido amparada pelo Estado, pelo

contrário, tem sido vítima desse sistema que segmenta as políticas sociais e não

ampara a família em sua totalidade e nas políticas voltadas às pessoas idosas

acontece o mesmo.

O CCI caracteriza-se por ser um espaço destinado

[...] ao desenvolvimento de atividades socioculturais e educativas, dando oportunidade à participação do idoso na vida comunitária, prevenindo situações de risco pessoal e contribuindo para o envelhecimento ativo. (SÃO PAULO, 2014, p. 10).

O desenvolvimento das atividades do CCI tem como premissa a

promoção do envelhecimento ativo entre os participantes, de forma que eles deem

um novo significado à sua velhice e saibam de seus direitos.

Na PNI, (Lei n° 8.842, de janeiro de 1994) a criação dos CCI’s está

prevista no artigo 10° “[...] estimular a criação de incentivos e de alternativas de

atendimento ao idoso, como centros de convivência, centros de cuidados diurnos,

casas-lares, oficinas abrigadas de trabalho, atendimentos domiciliares e outros”.

(BRASIL, 2010b, p. 9-10).

O Decreto n°1.948, de 3 de julho de 1996 (BRASIL, 1996, p. 2), que

regulamenta a PNI, em seu artigo 4° entende o CCI como modalidade não-asilar e

como “[...] local destinado a permanência diurna do idoso, onde são desenvolvidas

atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais, associativas e de educação

para a cidadania.”

Ao analisar esta instituição, percebe-se que a demanda de atendimento é

diversa, tendo pessoas idosas que convivem com suas famílias e pessoas idosas

que são independentes. Não se pode deixar de considerar a questão de classe

social ao analisar a categoria velhice, visto que ela acontece de diferentes formas

entre os indivíduos.

O CCI atende idosos de ambos os sexos com idade igual ou superior a 60

anos, em situação de vulnerabilidade social, com prioridade para os beneficiários do

Benefício de Prestação de Continuada (BPC), os usuários de programas de

transferência de renda e os que vivem em estado de isolamento. O acesso ao

serviço se dá via procura espontânea da pessoa idosa ou da família,

87

encaminhamento do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS)8, por meio

do serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF)9, demanda de outras

políticas ou por busca ativa no território de abrangência do CRAS. Disponibiliza até

200 vagas distribuídas entre grupos de até 25 usuários.

O planejamento das atividades depende das características culturais do

território que localiza o CCI e perfil do usuário, mas as atividades devem ter como

eixos principais: 1) Fortalecimento do convívio familiar e comunitário; 2) Mobilização

para a cidadania e participação social; 3) Envelhecimento Ativo, autonomia e

Protagonismo.

As atividades socioeducativas desenvolvidas advêm de um processo de

construção coletiva, por meio da compreensão dos aspectos socioculturais do

território e cotidiano da pessoa idosa. Tais atividades tem como objetivo

[...] favorecer o desenvolvimento do protagonismo e da autonomia do idoso, estimular a sua capacidade de participação, a comunicação e a tomada de decisões, caracterizando o serviço como espaço de transformação social dos usuários. Deverá também permitir o conhecimento e o desenvolvimento de suas potencialidades através do diálogo e do convívio com as diferenças, criando condições para a continua participação e intervenção na realidade. (SÃO PAULO, 2014, p. 16).

Assim sendo, as reuniões têm por finalidade abrir espaços de discussão

para incentivar o convívio e o sentimento de pertença, a exposição de ideias e de

temas de interesse dos idosos, além de troca de experiências e a construção de

projetos pessoais e coletivos. Há também o desenvolvimento de eventos, palestras

com temas específicos e oficinas que visam construir novos conhecimentos e

desenvolver novas habilidades. As atividades físicas são desenvolvidas de acordo

com a capacidade funcional do idoso em seu processo singular de envelhecimento,

e atividades socioculturais que estimulam a criatividade e dá oportunidade para a

valorização do percurso de vida do idoso.

8 Unidade do Poder Público responsável pela Proteção Social Básica nas áreas de vulnerabilidade

e risco social com a organização e oferta de serviços. As famílias que vivem em extrema pobreza tem acesso aos serviços por meio de cadastro e acompanhamento em programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.

9 Segundo a Tipificação Nacional dos Serviços Sociassistenciais, o PAIF “[...] consiste no trabalho social com famílias, de caráter continuado, com a finalidade de fortalecer a função protetiva das famílias, prevenir a ruptura dos seus vínculos, promover seu acesso e usufruto de direitos e contribuir na melhoria de sua qualidade de vida. Prevê o desenvolvimento de potencialidades e aquisições das famílias e o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários, por meio de ações de caráter preventivo, protetivo e proativo” (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014, p. 12).

88

No CCI Avelina Maria de Jesus as atividades oferecidas pelo serviço

foram estruturadas da seguinte maneira:

Encontros regulares do grupo de convivência e fortalecimento de vínculos

com periodicidade semanal e duração de até duas horas (um encontro por

semana de até duas horas).

Encontros mensais ou ao final de cada percurso, podendo envolver a

participação de diversos grupos, de familiares e pessoas da comunidade.

Atividades de convívio de livre participação, realizadas no mínimo uma vez

por semana (uma ou mais atividades de convívio ao menos uma vez

semana).

Oficinas que aprofundem os temas transversais, realizadas pelo menos duas,

com duração mínima de oito horas.

As atividades de convívio oferecidas são as seguintes segundo a quadro 3:

Quadro 3 – Atividades desenvolvidas no CCI “Avelina Maria de Jesus”

ARTE E CULTURA: ENVELHECIMENTO ATIVO E SAUDÁVEL

Pintura em Madeira; Atividade Física – Ginástica;

Pintura em tecido; Pilates;

Crochê; Dança;

Coral e Instrumento; Tai Chi Chuan;

Pintura em tela; Vôlei;

Artesanato com Terapeuta Ocupacional;

Fonte: Desenvolvido por Laís vila Verde Teixeira, 2015.

Além de grupos desenvolvidos pela psicóloga como: grupo Movimento e

Convivência, Grupo da Memória e Comunicação e Inclusão digital (informática).

O trabalho desenvolvido pelo Serviço Social atua conforme o Serviço de

Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV) para pessoas idosas, que tem a

finalidade de despertar e desenvolver as potencialidades nos sujeitos usuários do

CCI, interagindo com o meio em que vivem, fortalecendo os vínculos familiares e

comunitários, além de promover a convivência.

Prevê que o profissional responsável por este trabalho é o técnico de

referência do CRAS, no caso o(a) assistente social, o qual desenvolve a acolhida,

entrevista social e encaminhamentos ao CCI de pessoas idosas que apresentem

vulnerabilidades e/ou riscos sociais. Assim, o serviço é destinado ao público da

89

Assistência Social (a quem dela necessitar), aos idosos de famílias do Programa

Bolsa Família, aos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e

público prioritário, o qual apresenta as seguintes vulnerabilidades: isolamento,

negligência, maus tratos, violência e vulnerabilidades no que diz respeito a pessoas

com deficiência.

Ao ser inserido no serviço o responsável pelo acompanhamento da

pessoa idosa é o Orientador Social, que no caso desta instituição é Assistente

Social, o qual desenvolve as atividades de acolhida, entrevista e estudo social para

compreensão da realidade da pessoa idosa e preenchimento de instrumentais para

seu acompanhamento, atividades socioeducativas, e, segundo as Orientações

Técnicas para o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para idosos,

compete ao Orientador Social:

1. Organizar e facilitar situações estruturadas de aprendizagem e de convívio

social, explorando e desenvolvendo temas transversais e conteúdos previstos

no percurso;

2. Desenvolver oficinas esportivas, culturais e de lazer, em caso de habilidade

para tal;

3. Registrar a frequência das pessoas idosas e das ações desenvolvidas no

percurso;

4. Encaminhar a frequência e demais informações sobre a execução do SCFVI,

mensalmente, ao técnico de referência do CRAS;

5. Participar de atividades de planejamento, sistematização e avaliação do

Serviço, juntamente com os demais membros da equipe;

6. Atuar como referência para as pessoas idosas no desenvolvimento do SCFV

e demais profissionais que desenvolvem atividades com o grupo sob sua

responsabilidade;

7. Manter em arquivo o registro das informações sobre a execução do Serviço e

participar de capacitações;

8. Informar ao técnico de referência a identificação de contextos familiares e

outras informações que podem afetar a participação do usuário no serviço

(exemplo: mudança brusca de atitude, sinais de violência ou negligência etc.).

É importante que o Orientador Social, em conjunto com a equipe, atue

junto à política no sentido de garantir a efetivação da mesma no campo dos direitos

90

da pessoa idosa, visto que Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais10 traz

como definição de trabalho essencial para o SCFV

Acolhida; orientação e encaminhamentos; grupos de convívio e fortalecimento de vínculos; informação, comunicação e defesa de direitos; fortalecimento da função protetiva da família; mobilização e fortalecimento de redes sociais de apoio; informação; banco de dados de usuários e organizações; elaboração de relatórios e/ou prontuários; desenvolvimento do convívio familiar e comunitário; mobilização para a cidadania. (MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO SOCIAL E COMBATE À FOME, 2014, p. 22).

O SCFV é um serviço desenvolvido no CCI, porém, ele está articulado

com outro serviço desenvolvido no CRAS, o Serviço de Proteção e Atendimento

Integral à Família (PAIF), que atende as famílias em estado de vulnerabilidade

social, mas onde os vínculos ainda não foram rompidos, dessa forma, este serviço

funciona dentro da PSB.

3.1.4 Universidade Aberta à Terceira Idade (UNATI)

O segundo lócus de pesquisa escolhido foi a Universidade Aberta à

Terceira Idade (UNATI) da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais –

UNESP/Franca, localizada num bairro da periferia da cidade de Franca. Nesta

instituição foram selecionados dois (2) idosos que aceitaram participar da pesquisa,

sendo avisados, anteriormente, que seus nomes seriam mantidos em sigilo.

A UNATI de Franca foi aberta oficialmente em agosto de 1996, antes na

chamada Faculdade de História, Direito e Serviço Social. Atualmente conta com a

seguinte equipe: uma secretária, três alunos da pós-graduação (duas doutorandas e

uma mestranda), que realizam projeto de intervenção junto aos estagiários de

Serviço Social, quatro estagiários (dois do 4° e dois do 3° ano) e duas supervisoras

assistentes sociais. As oficinas oferecidas na unidade de Franca são: Biodança,

Yoga, Filosofia, Coral, Dança do Ventre, Arte terapia, Envelhecimento e Atualidades

e Informática Iniciante. Frequentam um total de 137 idosos na unidade de Franca.

10 A Tipificação Nacional de Serviços Sociassistenciais é uma resolução (Resolução 109, de 11 de

novembro de 2009) definida pelo Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) que tipifica os Serviços Socioassistenciais disponíveis no Brasil organizando-os por nível de complexidade do Sistema Único de Assistência Social (SUAS): Proteção Social Básica e Proteção Social Especial de Média e Alta Complexidade.

91

Com o intuito de conhecer a instituição, uma das alunas da pós-

graduação explicou como funciona o projeto de intervenção realizado pelos pós-

graduandos, sendo esta uma iniciativa nova na instituição que funciona,

paralelamente, com as oficinas. Inicialmente, tem como objetivo principal incitar a

reflexão acerca dos processos de envelhecimento e velhice bem como sobre os

direitos das pessoas idosas.

A abordagem dos usuários é feita no ato da inscrição, que acontece a

cada semestre, a qual é realizada a entrevista social para geração do relatório

social. Este é um momento em que a equipe tem contato direto com os usuários

sendo propício para o levantamento das informações necessárias ao

desenvolvimento do projeto de intervenção. Na entrevista são levantadas as

categorias: ocupação atual, tipo de trabalho que teve ao longo da vida e relações

familiares, constituindo, assim, o projeto de vida na velhice.

Em uma análise preliminar dos relatórios sociais, as assistentes sociais

constataram casos de isolamento social, depressão e relatos de violência. Dos

casos de depressão, muitos já realizam tratamento, porém, a equipe avaliou como

positivo encaminhar os idosos para a oficina de Arte terapia, visto ser uma psicóloga

que ministra a oficina, a fim de realizar o acompanhamento dos indivíduos para

avaliar se estão tendo melhora ou não. Já os que não fazem, foram encaminhados

para a Seção Técnica de Saúde da UNESP/Franca para os devidos cuidados. Os

casos de violência foram encaminhados para o Centro de Referência Especializado

da Assistência Social (CREAS)11.

A UNATI também possibilita como oportunidade a participação nos cursos

de graduação da universidade, a saber: História, Serviço Social, Direito e Relações

Internacionais. Os critérios para realizar a inscrição são ter idade mínima de

cinquenta anos de idade, ensino médio completo, certificado de conclusão e

histórico escolar do ensino médio, além da assinatura do termo de aceite com as

regras de aluno ouvinte que não dispõe o direito ao diploma ao término do curso da

graduação para exercer a profissão referente ao curso escolhido.

11 Unidade do Poder Público que atende as famílias que estão em estado de vulnerabilidade social e

passam por estágios de violência com vínculos familiares rompidos. Vivem situação de ameaça ou violação de direitos como: violência física, psicológica, sexual, tráfico de pessoas, além de cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto, situação de risco exposto ao uso de drogas, etc.

92

Além das atividades fixas como o projeto de intervenção e as oficinas, no

decorrer do ano ocorrem, também, as aulas inaugurais de início de semestre, a

Festa Junina, a Semana do Idoso, o encerramento de final de semestre e quando

possível o Sarau no final do ano.

Os alunos que frequentam a UNATI têm direito de utilizar a Biblioteca

para empréstimos de livros, a Seção Técnica de Saúde, o Restaurante Universitário

e o Centro Jurídico Social da universidade quando deles necessitarem que também

atende toda a comunidade.

3.1.5 Perfil dos entrevistados

A fim de conhecermos melhor os sujeitos da pesquisa elencamos alguns

aspectos demonstrativos como: sexo, idade, grau de escolaridade, aposentadoria,

instituição, renda. Os nomes utilizados são fictícios a fim de resguardar com sigilo a

identidade dos sujeitos entrevistados. Os sujeitos da UNATI são o Sr. André e a Sra.

Rute, o do CCI são o Sr. Joaquim, Sra. Rita, Sra. Lourdes e Sra. Conceição.

Gráfico 8 - SEXO

2

4

0 1 2 3 4 5

MASCULINO

FEMININO

SEX

O

SEXO

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015.

Nas duas instituições percebeu-se uma maior participação das mulheres

nas atividades desenvolvidas devido ao fato de que muitas são donas de casa,

viúvas ou trabalham meio período e dispõe de seu tempo livre para participar de

atividades de convivência. Na pesquisa participaram quatro mulheres e dois homens

como demonstrado no gráfico 8.

93

Gráfico 9 - IDADE

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015

Em relação a idade, percebe-se que no CCI há uma maior participação de

pessoas idosas acima dos 60/ 70 anos devido aos critérios da instituição em

contraposição aos da UNATI, que, como é aceita a participação de pessoas acima

dos 45 anos percebemos um número maior de pessoas abaixo dos 60 anos

participando das atividades.

Gráfico 10 - ESCOLARIDADE

2

2

1

1

0 0,5 1 1,5 2 2,5

FUNDAMENTAL

MÉDIO

SUPERIOR

NENHUM

ESCOLARIDADE

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015.

Em relação à escolaridade, apenas um sujeito possui ensino superior,

todavia, não exerceu a profissão, relatou que cursou Economia, visto que era

proprietário de uma empresa e nos disse que fez a faculdade pelo motivo de ser

proprietária de sua empresa e necessitar de conhecimento sobre o mercado.

Isso é devido a eu ser proprietário e em 1980 houve uma quebradeira na cidade aí depois que eu consegui erguer e dar a volta por cima aí eu fiz Economia só pra eu saber o que é inflação. Aí eu fiz e você consegue entender o mercado, o porquê e os motivos aí é hora de você correr atrás

94

das mercadorias mais barato, ou seja, competitivo com o mercado, então tem isso tudo. (Sr. Joaquim)

Os demais sujeitos concluíram o Ensino Fundamental ou o Ensino Médio

e apenas um sujeito não teve nenhum contato com a escola. Todos os sujeitos da

pesquisa, na sua infância, trabalharam desde criança na roça com os familiares e o

acesso à escola era muito difícil na época. Ainda crianças, vieram para a cidade e

também encontraram poucas oportunidades para continuar a estudar, porque

precisavam trabalhar e ajudar com o sustento da família, alguns terminaram bem

depois do tempo.

Gráfico 11 – TEMPO QUE FREQUENTA A INSTITUIÇÃO (ANOS)

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015

Em relação ao tempo de participação na instituição, apenas um sujeito

participa a mais tempo chegando há quase dez anos, os demais não chegam há

cinco anos.

Gráfico 12 – VOCÊ É APOSENTADO?

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015.

95

A aposentadoria foi um dos pontos bastante discutidos neste estudo,

porque é algo que todos querem para poder cuidar da sua saúde quando chegar a

idade e perceberem que necessitam do trabalho para complementar a renda, pois,

apenas a aposentadoria não é o suficiente. Destaca-se que apenas dois são

aposentados, os demais recebem outros tipos de benefício, seja auxílio-doença ou

afastamento. Um sujeito não recebe nenhum tipo de benefício, a sua renda é

proveniente apenas do trabalho.

Gráfico 13 - RENDA

Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015.

Por fim, a renda, com exceção de um sujeito que trabalha como

autônomo no próprio negócio, os demais possuem renda com menos de três

salários mínimos. Mesmo recebendo algum tipo de benefício, todos os sujeitos

necessitam exercer alguma atividade remunerada para complementar a sua renda e,

em sua maioria, esse trabalho se caracteriza como informal.

Quadro 4 – Ocupação atual dos sujeito entrevistados

OCUPAÇÃO ATUAL

Sr. Joaquim Autônomo

Sra. Lourdes Faxineira

Sra. Rita Doméstica

Sra. Conceição Catadora de recicláveis

Sra. Rute Pespontadeira

Sr. André Cozinheiro Fonte: desenvolvido por Laís Vila Verde Teixeira, 2015.

A tabela 3 mostra a caracterização da ocupação atual dos sujeitos da

pesquisa. Todos os entrevistados trabalharam em vários tipos de estabelecimentos

96

e em várias funções, visto que, não possuem uma formação específica em alguma

área, com exceção do Sr. Joaquim que cursou Economia, mas não exerceu a

profissão.

Por serem filhos de famílias de renda mais baixa, começaram a trabalhar

desde criança na roça com os pais e depois vieram para a cidade. Questionados

sobre a satisfação dos locais de trabalho todos responderam positivamente, que

gostavam dos lugares que trabalharam e que, de alguma forma, esses lugares

deixaram algum ensinamento para suas vidas.

Todos os sujeitos entrevistados começaram a trabalhar quando crianças.

Atualmente, muito se tem discutido sobre o trabalho infantil e esta foi uma questão

que alguns deles citaram como positiva, pois o trabalho na infância contribuiu

significativamente para suas vidas. Pode-se dizer que o trabalho torna-se, não

apenas um meio para se garantir a sobrevivência, mas um valor a ser respeitado,

porque o trabalho dignifica na visão dos entrevistados. Hoje a criança e o

adolescente estão amparados pela legislação e não podem trabalhar antes do

quatorze anos de idade, segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no

Art.60, Capítulo V que fala sobre o Direito à Profissionalização e à Proteção no

Trabalho “É proibido qualquer trabalho a menores de 14 (quatorze) anos de idade,

salvo na condição de aprendiz.” (BRASIL, 1990).

Cinco dos entrevistados trabalham no setor de serviços, uma área que

tem crescido muito no município de Franca e apenas uma entrevistada trabalha na

indústria de calçados como funcionária terceirizada já que possui uma banca de

pesponto em sua própria residência. As pessoas idosas têm encontrado no trabalho

informal um meio para sua sobrevivência, porque muitos trabalham sem registro em

carteira, mas contribuem com a previdência ou contribuíram e já estão aposentados.

Duas entrevistadas trabalham como domésticas, uma profissão que não

se limita aos afazeres da casa, abrangendo o cuidado com as crianças, exigindo

muito esforço físico que ao longo dos anos vai desgastando-se. As entrevistadas

citaram que muitos serviços que faziam nas casas já não o fazem devido as suas

limitações físicas, mas, mesmo assim, não deixam de trabalhar para as famílias.

97

3.1.6 Análise das categorias: conhecendo a realidade dos sujeitos

Tendo em vista os objetivos da pesquisa, a partir do conhecimento teórico

construído foram identificadas três categorias de análise: Família, Trabalho,

Mudança e Qualidade de Vida. Essas categorias partiram da própria realidade

cotidiana das pessoas idosas e permitiram compreender as relações que

desenvolvem nesta sociedade.

As categorias que exprimem suas [da sociedade burguesa] relações, a compreensão de sua própria articulação, permitem penetrar na articulação e nas relações de produção de todas as formas de sociedade desaparecidas, sobre cujas ruínas e elementos se acha edificada e cujos vestígios, não ultrapassados ainda, levam de arrastão, desenvolvendo tudo que fora antes apenas indicado e que toma assim a sua significação etc. (MARX, 1968 apud PAULO NETTO, 2011, p. 22).

Segundo Bardin (1977, p. 118), acerca das categorias

Classificar os elementos em categorias impõe a investigação do que cada um deles tem em comum com outros. O que vai permitir seu agrupamento é a parte comum existente entre eles. É possível, contudo, que outros critérios insistam noutros aspectos de analogia, talvez modificando consideravelmente a repartição anterior.

Dessa forma, a pesquisa levantou as categorias de análise encontradas

na realidade relevantes para responder aos objetivos propostos e agrupou em forma

de perguntas no formulário de perguntas.

As relações construídas no cotidiano permitem compreender a

centralidade do trabalho na vida das pessoas idosas entrevistadas, já que, durante

toda a sua vida, nunca deixaram de trabalhar. O trabalho da pessoa idosa tem sido o

elemento de proteção familiar (REZENDE, 2008) e diante desse cenário percebe-se

que a própria reflexão sobre a vivência da velhice ficou relegada para o segundo

plano.

3.1.6.1 Família

A família tem grande significado para os sujeitos entrevistados. Todos

eles convivem com filhos ou com filhos e netos mais o cônjuge e, nem sempre, os

filhos possuem uma renda fixa para contribuir com a renda familiar tornando a

pessoa idosa o provedor do lar. Por ser o espaço onde a pessoa idosa está inserida,

98

a família também tem sofrido os dilemas da sociedade do trabalho a qual a pessoa

idosa, por meio dos recursos provenientes de seu trabalho, tem mantido a sua

subsistência. Questionados se a renda do trabalho contribui para a renda da família

alguns responderam

A renda da família é a renda do trabalho. (Sra. Rute) Na maioria das vezes eu sempre contribui com a minha renda do trabalho [...] (Sra. Rita) Então é só a minha renda e mais alguma coisa que aparece pra ele [...] (Sr. Joaquim) Ajuda porque eu compro gás, pago força, tem dia que tá tudo travado essas coisa né, o salário ta muito pequeno que some. (Sra. Lourdes) O que eu tenho de aposentadoria é pra pagar água, luz e telefone. E o que nós ganhamos com nosso trabalho em casa, é para a despesa da casa. (Sr. André)

Percebe-se que é necessário para a família o trabalho da pessoa idosa

mesmo ela já recebendo algum benefício, mesmo porque sua renda, além de

administrar os recursos da casa, parte é destinada aos gastos pessoais como

saúde, alguns, ainda, salientaram que o que ganham não paga nem a saúde.

Colocaram sabiamente que, tanto a aposentadoria como outros benefícios que o

governo disponibiliza, tem valor irrisório diante dos gastos que se tem quando se fica

mais velho.

Outra pergunta feita foi se a pessoa idosa e sua família vive bem com a

renda disponível e o que poderia melhorar para se ter uma vida melhor, destacamos

as argumentações

Dá pra viver... Não sei, eu acho que não tem jeito de melhorar porque as coisa ta tudo muito caro. (Sra. Lourdes) Olha se eu falar uma coisa pro cê que bem, bem dá pra passar. A única coisa que eu queria que melhorasse era ter uma casa, que eu já tive e joguei fora. (Sra. Conceição) Eu não tenho vício e o menino também não tem, então tá bem servido. Tem algumas coisas [...] pra você ter condições de viver dentro do mercado de trabalho e igual eu falei pra você o menino, por exemplo, é procurar se valorizar através de estudo aí sim no caso. A educação é o caminho [...] (Sr. Joaquim) Olha vou te falar uma coisa, se você aposentar e tiver condição de trabalhar, você trabalha porque com a renda da aposentadoria fica restrito

99

demais, muitas vezes você não tem pra você mesmo. [...] se você tiver dinheiro e não tiver sossego em outras coisas, as vezes o dinheiro não é tão importante. (Sra. Rita) Dá pra passar. Era a aposentadoria porque é um dinheiro garantido, todo mês você tem né. (Sra. Rute) Graças a Deus [...] O pouco pra nós já é suficiente. Eu acho que do jeito que está, está bom. (Sr. André)

Todos concordam que a renda, mesmo com o trabalho, é insuficiente para

manter todos os gastos da família, com exceção de um que está satisfeito com a sua

condição de vida. O Sr. Joaquim disse algo que chama a atenção, quando coloca a

educação como ponto de partida para a promoção de alguma melhora em seu nível

de vida, e reflete-se que a educação tem sido discutida com o motor da

transformação social em todos os âmbitos. O ser humano hoje carece de uma

educação que leve o sujeito a pensar com criticidade sobre seu cotidiano e a partir

dessa reflexão construir, em seu grupo de convivência, alternativas de emancipação

social.

Um dos desafios éticos do Serviço Social tem sido a atuação na

dimensão socioeducativa, que tem como premissa refletir com os usuários sobre o

seu cotidiano e, numa perspectiva de totalidade, trazer à tona os elementos

políticos, econômicos, culturais e sociais que interferem nesse cotidiano para, assim,

buscarem alternativas transformadoras, tornando-os cidadãos, sujeitos de direitos e

construtores de sua própria história.

A aposentadoria é vista como uma segurança, porque o trabalho, muitas

vezes, é escasso ou até mesmo inexistente, principalmente, para esta população.

Vivenciando sua velhice, estão preocupados com a saúde e dependem da saúde

pública para serem atendidos, não possuem condições para realizar convênios

particulares. Entretanto, como demonstrado no perfil, apenas dois sujeitos usufruem

da aposentadoria. Tem-se pensado que é um conceito a ser revisado

[...] mas é evidente que as condições de trabalho estabelecem a forma como se vive o fim da vida de trabalho. [...] A aposentadoria deve ser revisada no que concerne a seus requisitos de incompatibilidade com outro trabalho e também ao desemprego que muitos trabalhadores enfrentam antes de se aposentar. (MORAGAS, 2009, p. 29-30).

Assim sendo, a aposentadoria continua sendo o sonho de muitas

pessoas, inclusive idosas, que pelas circunstâncias da vida não tiveram contribuição

100

junto ao Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e hoje necessitam trabalhar

para ter uma renda. E, mesmo assim, a aposentadoria deve ser um assunto a se

discutir, pois ela não substitui a renda do trabalho, por ser irrisória frente a todas as

necessidades pessoais, não dispensando a possibilidade do trabalho na velhice.

Na contemporaneidade, a família tem enfrentado diversos desafios, não

somente com relação ao trabalho, mas a educação, ao direito a saúde o que reflete,

diretamente, na forma que cada um dos membros tenha mais ou menos qualidade

de vida. A todo o momento é chamada para atuar junto políticas, no tocante à

formação pessoal e profissional de seus membros, porém, o Estado possui políticas

segmentadas a um grupo social específico e não contempla a família na sua

totalidade, o que traz muitas dificuldades para o âmbito familiar, sendo cobrado e, ao

mesmo tempo, não possuindo condições de oferecer melhores condições de vida

para seus membros.

A família é o lócus referencial para qualquer indivíduo, nela encontra-se

proteção, manutenção das necessidades pessoais, um espaço acolhedor (ou não) e,

também, não deixa de ser um espaço para a construção da identidade das pessoas,

ou seja, também possui função formadora. É na família que se cria os primeiros

laços sociais que se ampliam para a vida social e comunitária e tende se renovar

com o passar do tempo a partir do momento que o indivíduo frequenta vários

ambientes durante a vida. Portanto, a família necessita ser protegida para ter

condições de proteger e cuidar de seus membros.

3.1.6.2 Trabalho

Com relação ao trabalho, perguntamos os motivos de estarem

trabalhando, se o trabalho é importante, quais as chances de a pessoa idosa

permanecer no mercado de trabalho e como eles percebem as políticas voltadas

para o segmento da pessoa idosa. As respostas foram diversas, o que sugere que

as experiências vividas influenciam na formação e construção de opinião dos

entrevistados.

Muitos estão trabalhando por ser o trabalho a única fonte de renda ou

complemento da renda familiar. O trabalho é um meio para manter a saúde e a

sobrevivência de forma estável, além de fazer alguma coisa que você goste para

você mesmo, como diria a Sra. Rita “[...] mas você precisa cuidar dos dente, você

101

precisa de remédio, você gosta de fazer alguma coisa na sua casa, cuidar da gente

fisicamente espiritualmente num lazer [...] então tudo é caro [...].”

Questionados se acreditam que o trabalho é importante na vida das

pessoas todos concordaram que sim, porém, dois entrevistados ressaltaram a

mudança do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que não permite o

trabalho durante a infância, apenas como aprendiz a partir dos quatorze (14) anos

de idade. Como todos eles começaram a trabalhar desde criança na roça ajudando

os pais com o sustento da casa lhes é incompreensível à lei não permitir o trabalho

antes dos quatorze anos de idade. Entretanto, sabemos que o capital hoje se utiliza

da mão de obra infantil para garantir lucros e rentabilidade, além de explorar

crianças e adolescente a preço de balas e chocolates.

Em detrimento do trabalho infantil, o ECA visa garantir os direitos

fundamentais da criança e do adolescente como a liberdade, saúde e educação,

princípios básicos para o desenvolvimento humano, sendo o trabalho uma categoria

de caráter secundário, posterior à formação intelectual da criança a qual ela pode

decidir entre aquilo que é ou não favorável para ela.

É necessário. E outra coisa, desde lá pequenininho ensinaram e essa lei que aí protege muito porque o seguinte tirou o domínio dos pais, começa por aí eu mesmo passei por isso com meus meninos, cê vê a interferência deles na família [...] (Sr. Joaquim) Nossa é. De primeiro todo mundo, os meus filhos começou a trabalhar com 10, 11, 12 anos agora essa molecada com 20 anos a toa olha o que ta acontecendo. (Sra. Lourdes)

Para outros, o trabalho é uma forma de, além de fonte de renda, uma

forma de ocupar a mente com atividades construtivas e ajuda a não ficar pensando

nas tristezas e devaneios da vida.

Porque eu não aguento ficar em casa. (Sra. Lourdes) Porque a gente trabalhando não está pensando em coisa errada. [...] Se você ficar a toa você começa a pensar, a gente pensa nos filhos porque o mundo vai ficando de um jeito, nos netos daqui pra frente. [...] eu vou continuar fazendo alguma coisinha, não quero ficar a toa, é ruim demais. (Sra. Rute) O trabalho é importante porque se eu ficar parada... (Sra. Conceição) Super importante. O trabalho é um dom de Deus, o trabalho dignifica o homem. [...] e eu não sei ficar sem fazer nada, eu to sempre fazendo alguma coisa. (Sr. André)

102

Fundamental. Sem trabalho é impossível erguer a cabeça. [...] Deus dá a saúde pra gente movimentar a gente tem que trabalhar, porque o trabalho é muito importante, além dele ser bom nessa parte que a gente já falou aí, ele é muito importante pro mental, trabalhar com a cabeça, trabalha o corpo inteiro. (Sra. Rita)

Nesse caso, o trabalho também é um meio de ocupação do tempo livre.

Por vezes, as atribulações da vida têm levado muitas pessoas idosas ao isolamento

social, inclusive da própria família. Sendo assim, o trabalho tem sido uma atividade

para o desenvolvimento do convívio social, exercício da memória e da

aprendizagem, visto que, segundo o Sr. André, ele aprendeu muito depois que

entrou na UNATI, mudando sua maneira de pensar acerca da aprendizagem. Ser

ativo para os entrevistados é também estar bem mentalmente, com a memória ativa

e sempre aprendendo.

Percebe-se na fala dos sujeitos que o trabalho tem tornado-se uma

atividade benéfica para o bem estar mental e intelectual, além de um complemento

de renda. Com o passar dos anos, há uma certa preocupação por parte das pessoas

idosas com a ocupação do seu tempo livre, pois, com a limitação física este tempo

vai ficando cada vez maior, portanto, o trabalho é um meio que soluciona essa

inatividade, colocando membros do corpo em funcionamento contribuindo para o

bem estar físico, mental e social a fim de evitar doenças e aborrecimentos.

Hoje há muitas pessoas idosas que tem feito do seu hobby um meio de

trabalho, justamente pelo fato de que a velhice é uma fase em que o tempo ocioso é

inimigo da pessoa, trazendo doenças e outros males. Além de complementar a

renda, o peso maior está em proporcionar uma qualidade de vida melhor ocupando

as capacidades intelectivas de raciocínio lógico, trazendo benefícios ao corpo e à

mente.

Sobre a pessoa idosa permanecer no mercado de trabalho, as respostas

também foram diversas, alguns acham fácil, outros, difícil, argumentaram

Menina o jeito que ta as coisa eu acho que sim. Não aquelas pessoa que não tem condição de trabalhar. [...] Então eu creio assim que a pessoa que tem condição de trabalhar, se ela recebe um salário-mínimo é bom trabalhar, é bom até pra saúde. (Sra. Conceição) É fácil, acontece que não é reconhecido, apesar de que tem leis que protege. [...] Agora você já imaginou se esse Brasil nosso fosse igualzinho no Japão? Eles dão valor imenso aos idosos porque o seguinte ele transmite conhecimento, certo. [...] A valorização fica a desejar porque não tira, não suga a inteligência que a pessoa tem, pode transmitir pra você, pode transmitir pra própria sociedade. (Sr. Joaquim)

103

Até bom. Você se sente bem. [...] Tem, tem muito aposentado que fica a toa. (Sra. Lourdes) Eu não acho. Branquejou a cabeça você não acha serviço porque meu marido tentou. [...] Nesse mundo de hoje não dá não. (Sra. Rute) Eu acho muito descaso. A minha sorte é que eu trabalho de prestação de serviço [...] eu tenho amigo, ex-colega de trabalho, [...] há muito tempo não consegue trabalho registrado. [...] A partir dos 45 anos não tem trabalho, a competição é muito grande, há proteção, se não tiver apadrinhamento e além de tudo a pessoa tem que ser muito boa pra conseguir competir, geralmente eles colocam pessoas mais novas. (Sr. André) [...] eu não acho que as chances são tantas né porque você vê, tem um estilo de trabalho que você não pode fazer mais, e as vezes exige a idade, exige conhecimento, e nem sempre as pessoas estão preparadas para aquilo ali e nessa altura eles vão tentar preparar os que tão começando e também acho certo preparar quem ta começando. (Sra. Rita)

As dificuldades de inserção e permanência no mercado de trabalho, hoje,

são inúmeras, principalmente, quando a pessoa já está mais velha. Em

contrapartida, há postos de trabalho que preferem as pessoas idosas às mais jovens

pela experiência profissional adquirida ao longo da vida. Os sujeitos entrevistados

possuem opiniões diversas, mas todos afirmam que devem trabalhar, em nenhum

momento, citaram que a velhice é uma fase de usufruir outras vivencias, pelo

contrário, o trabalho possui lugar central na fala dos sujeitos12.

O conhecimento e a condição física foram colocados como importantes

para a permanência no mercado de trabalho. Em nosso estudo, abordamos a

questão do conhecimento da pessoa idosa como porta de entrada para o mercado

de trabalho, já que os jovens ainda estão em fase de especialização, o que dá mais

chances a quem tem mais idade e mais experiência de trabalho.

O idoso trabalhador é valorizado pela sua experiência e pelo seu

conhecimento adquirido durante seu tempo de trabalho. As empresas hoje que têm

em seu quadro de funcionários pessoas idosas aproveitam ao máximo dessas

qualidades, sabendo-se que há uma flexibilidade na jornada de trabalho e alguns

benefícios para manter esses trabalhadores ativos dentro das empresas. Em

contrapartida, o mercado informal possui trabalhadores mais velhos para reduzir os

gastos pagando-se menos e não perder tempo da jornada de trabalho ensinando um

jovem a desempenhar a tarefa.

12 Aqui é importante ressaltar que a participação das atividades de instituição, mesmo sendo em

período oposto ao trabalho, é uma forma de desfrutar de outras vivências, o fato que é que nenhuma outra atividade ocupou o lugar do trabalho na vida dos sujeitos entrevistados.

104

O mercado de trabalho busca trabalhadores alternativos, que não dê

gastos, cumpra a jornada de trabalho e mantenha a roda da lucratividade do capital

em funcionamento. Porém, alguns sujeitos, acreditam não ser fácil permanecer no

mercado, justamente, por conta da idade que não favorece e também a aparência

física que já demonstra que a pessoa que está vivenciando a velhice é incapaz,

segundo uma entrevistada.

Outro ponto a considerar, é o avanço tecnológico e o próprio

desenvolvimento da sociedade, uma entrevistada comenta que a exigência de

alguns conhecimentos está fora da realidade de muitas pessoas idosas, o que

dificulta a permanência no mercado de trabalho.

Acerca deste aspecto, percebe-se que muitos que já vivenciam a velhice

não possuem dificuldade em utilizar as novas tecnologias, diferente de outros. Pode-

se dizer que nem todos estão aptos a mudar, a aprender a manusear os

equipamentos eletrônicos, o que os deixa em posições relativamente diferentes de

outros idosos, mas isso depende muito das vivências e experiências que tiveram ao

longo da vida, bem como da motivação que tem para aprender e das oportunidades

de acesso para tal.

Em relação às políticas públicas voltadas para o segmento idoso,

argumentaram

Olha eu conheço pouco mas eu acho que os atendimentos nem sempre são tão bons [...] que cada um tem sua forma de agir, mas você vê na pessoa ela te atende muito bem, você já idosa as vezes ou não (Sra. Rita) Tem muito a desejar. Por exemplo, na área da saúde, atualmente, está em crise a situação econômica do país está precária, está muito difícil, mas eu graças a Deus, não posso reclamar. (Sr. André) O Estado tem deixado a desejar. Ta ruim demais da conta, eles não estão olhando para as pessoas de baixa classe, eles olha para as pessoas de alta classe que não tem precisão. (Sra. Rute) Não sei, sei lá. Os político ta muito ruim. Devia de olhar melhor né. (Sra. Lourdes) Péssimo. Eu acho que ta ruim, que eu to lembrada cortou o décimo terceiro dos aposentado, cortou o PIS também. [...] Então menina o negócio é o seguinte, esse negócio de política é uma porcaria, a gente vota com boa intenção, mas eu não to satisfeita com isso não. (Sra. Conceição)

Na fala dos sujeitos percebe-se um nítido descontentamento com a

política voltada ao segmento idoso. Mesmo que alguns não souberam expor com

105

muita clareza a sua opinião sobre essa questão, há uma expressiva demonstração

de que a política não está cumprindo seu papel. O Estado não está cumprindo sua

função enquanto regulador social. O capítulo que discute as políticas, neste estudo,

mostrou que recentemente (a partir dos anos 1990, com algumas iniciativas e

legislações) os organismos internacionais vêm se preocupando com o

envelhecimento populacional e colocando em pauta como tratar a longevidade da

população, no sentido de realmente promover o envelhecimento com qualidade de

vida.

Entende-se que as ações estão ainda muito embrionárias e a população

clama por ações concretas com urgência. A pessoa idosa necessita de uma política

de proteção social efetiva, que os atendimentos na área da saúde sejam mais

especializados e de boa qualidade, afinal de contas, o número de atendimentos aos

idosos tende a aumentar com o passar dos anos, segundo estatísticas

demonstradas.

Na fala do Sr. Joaquim, notamos não apenas a falta de divulgação com

relação às políticas para as pessoas idosas, em comparação com o ECA e com o

Código de Defesa do Consumidor que possuem mais visibilidade na sociedade, mas

o próprio preconceito que ainda perdura na sociedade, na falta de respeito ao

atendimento preferencial em detrimento de usuários comuns

Olha até que eu to começando a me ver nessa fase, mas aí é o seguinte é igualzinho eu tava verificando você vai a uma loja e lá tem o Procon, lá tem todas as leis que defende o consumidor, você vai em alguns lugares e tem lá o estatuto do menor e não tem o estatuto do idoso disponível nos lugares. O respeito então falta, falta de uma divulgação, você chega em uma fila você ve pessoas idosas e eu não me sinto idoso ainda, to começando a me encaminhar, mas eu verifico pessoas que fica numa fila várias horas, então parece que não chegou a essas pessoas no caso pegar e levar adiante os direitos que o idoso tem. Você quer ver, aonde tem aquele lugar de refeição o Bom Prato, tinha uma fila quilométrica só que aí passava na porta de uma loja cê acredita que o lojista começou a brigar com o pessoal porque tava atrapalhando a entrada, ele pegou o que fez ele pois faixa, pois cone. Ou escuta, ele não poderia chegar e falar deixa aberto o caminho pra freguesia então fica daqui pra lá e daqui pra lá, não poderia. Isso aí é ignorância. (Sr. Joaquim)

Os benefícios também foram citados e recentemente tivemos

modificações na legislação previdenciária que dificultou, ainda mais, o processo para

a aposentadoria, Moragas (2009, p. 31) reflete que

106

A porcentagem de aposentados sobre o total da população economicamente ativa está crescendo notavelmente. Com isso aumenta sua influência sobre a opinião pública, que vota e sanciona determinadas políticas de governo, pois eles são passivos econômicos, mas não políticos e sociais. Este fenômeno deve impulsionar uma mudança legal e social na aposentadoria, fazendo reconhecer a flexibilidade necessária, e cujos primeiros indícios já começam a aparecer, como, por exemplo, o contrato de substituição, no qual se reduz a jornada de trabalho com o objetivo de formar um trabalhador jovem. Outras formas de transição progressivas do trabalho à aposentadoria consistem na jornada parcial, prolongamento das férias e diminuição de responsabilidades. Essas alternativas são atualmente excepcionais, mas podem se estender ao futuro se a legislação assim decidir e a direção das empresas as assumir.

As reformas na Previdência Social e reestruturação de benefícios não

beneficiam em nada o trabalhador idoso que tenta, de alguma forma, permanecer no

mercado de trabalho. Mesmo sabendo de todas as condicionalidades que lhe serão

impostas não se tem outra saída, a não ser por meio do trabalho, de garantir seu

próprio sustento. Nesse sentido, seria prudente haver propostas de qualificação

profissional também para as pessoas idosas, com uma pedagogia voltada para

quem vivencia a velhice, visto que, muitos locais de trabalho têm preferência pelos

idosos aos mais jovens.

É notório que as políticas são mais econômicas do que sociais, favorecem

os cofres públicos em detrimento da sobrevivência mínima das pessoas com os

mínimos oferecidos pelos programas sociais. De fato, a política social vem de um

contexto histórico de amenizar a pobreza extrema, porém, diante dos avanços do

envelhecimento, como um fenômeno mundial, a atenção deve ser redobrada para

que as políticas, efetivamente, atendam as reais necessidades das pessoas idosas e

contemplem o ser social em sua totalidade.

O trabalho uma atividade essencialmente humana e que considera

aspectos culturais e sociais em sua totalidade para se materializar na realidade

concreta, podemos, assim dizer que o trabalho ideal para as pessoas idosas que

querem, além de complementar a sua renda, também ocupar o seu tempo livre,

seria o trabalho que crie condições favoráveis para sua realização, num ambiente

que proporcione a criatividade, o desenvolvimento de habilidades psicomotoras e o

raciocínio lógico, elevando as potencialidades e capacidades do ser humano na fase

da velhice.

O trabalho organizado da forma como está na sociedade capitalista

contemporânea não permite que o ser social eleve suas capacidades intelectivas ao

realizar o seu trabalho, pelas condições a que é submetido ao passo que pensa em

107

criar um produto já está por inteiro alienado, porque aquele produto já não é mais de

sua posse, mas de alguém que vai comprar a sua ideia. É complicado pensar num

tipo de trabalho que suspenda a cotidianidade e eleve as capacidades humanas a

um patamar criativo que leve o ser humano ao encontro de si mesmo na arte, na

cultura, na conversa com o próximo sem que tudo isso já esteja permeado pela

coisificação humana.

3.1.6.3 Mudança e Qualidade de Vida

Nesta categoria, foi analisado quais as mudanças que o trabalho

proporciona na vida dos sujeitos bem como qual a qualidade de vida alcançada e se

essas mudanças foram positivas ou não. Além do mais, se eles haviam pensado em

algum momento como seria a sua velhice, se planejaram, e o que significa

envelhecer para eles.

De forma unânime, nenhum sujeito parou de trabalhar até a sua velhice,

portanto, não sabem responder como é a vida sem o trabalho e nem as possíveis

mudanças que poderiam vir a ter em sua rotina caso não dedicassem um tempo ao

trabalho para viver outras atividades em suas vidas cotidianas, visto que a

reprodução social é criada na vida cotidiana.

As atividades extras que realizam sempre estão conciliadas com o

trabalho, ou seja, trabalham em um período e no outro dedicam-se às atividades nas

instituições conforme sua rotina diária. Sendo assim, podemos dizer que a carga

horária de trabalho foi reduzida abrindo a possibilidade de participar das atividades

da instituição, mas, não deixaram de trabalhar. Nunca pensaram em que momento

de suas vidas a prática de uma atividade remunerada não seria mais importante,

pois, desfrutar de outras vivências na velhice também faz parte da vida.

[...] eu não fiquei inativo [...]. (Sr. Joaquim) Continua igual, nunca parei de trabalhar [...]. (Sra. Lourdes) Desde sempre trabalhei. (Sra. Rute) Sempre trabalhei. A diferença está em ser empegado e prestar serviço. Prestar serviço é uma coisa, ser empregado é outra. E quando a gente é empregado é muita subordinação. (Sr. André)

108

Como dito anteriormente, o trabalho tornou-se uma atividade para

ocupação do tempo livre, além de ser fonte de renda pessoal e familiar. Os sujeitos

encontram no trabalho uma forma de estarem sempre aprendendo e adquirindo

conhecimento para suas vidas, além de sentirem-se bem exercendo alguma

atividade para manter a “cabeça funcionando”, mais do que um complemento para a

renda familiar.

De uma forma mais específica, questionados sobre as dificuldades que a

pessoa idosa encontra no mercado de trabalho, as respostas foram diversas, a

saber: limitação da idade, aprimoramento da tecnologia, dificuldades para a

aposentadoria, falta de respeito com a pessoa idosa, transporte, falta de

consideração em relação ao conhecimento que pode ser transmitido, porém, a idade

é o que mais tem dificultado para a pessoa idosa em relação ao mercado de

trabalho para os sujeitos entrevistados.

O idoso está um pouquinho a esquerda, deixando dele, entende, as pessoas não está aproveitando pra poder tirar conhecimento, entende. [...] Lá no oriente eles tiram, eles sugam tudo toda a inteligência, certo, do idoso, agora aqui não. (Sr. Joaquim) Você sabe que o povo não respeita. Você entra no ônibus, aqueles menino fica dormindo pra não dar lugar pra gente. (Sra. Lourdes) Eu to achando meio difícil por causa desse negócio de eu aposentar agora, ta ficando difícil. (Sra. Rute) Lógico que tem aquelas pessoas que já são mais esclarecidas e já ta no meio mais evoluído já é acostumado ali, eu acho que não, pode ser que o trabalho passa pra outro mas dependendo da idade, tem coisas também que depois que você passa de uma certa idade nem participar você não pode porque a própria idade já te limita. (Sra. Rita)

A questão da qualidade de vida também está associada à integração, às

novidades tecnológicas que surgem com o passar do tempo e a importância desse

fato, a fim da pessoa idosa identificar-se com o meio em que vive, na fala do Sr.

André identifica-se

A tecnologia ajuda muito a juventude, a pessoa idosa igual eu, não me adapto. [...] Às vezes eu fico me analisando, sou muito lento pra me evoluir de tecnologia, quando entrou a informática na firma, eu não me interessei por fazer informática e eu vejo que faz muita falta, hoje mesmo eu pensava nisso, faz muita falta, eu entrei aqui na Unati um semestre pra fazer informática, no começo parece que que estava indo bem e de repente parece que eu desanimei, não vim mais e também porque a menina que dava aula era estagiária e ela teve que ir viajar. Aí eu fui tentar sozinho no

109

computador e não virou nada e não tinha quem orientar e eu tinha computador em casa.

Na fala da Sra. Rita identifica-se que, para ela, além do trabalho, a

qualidade de vida encontra-se no acesso ao conhecimento, à educação e na

importância de valorizar quando se conquista esse acesso. A educação, sendo um

direito garantido constitucionalmente, é um meio para a emancipação social dos

indivíduos e deve servir de instrumento para fortalecer a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária.

[...] eu acho assim o trabalho a pessoa pode alcançar uma dignidade para o envelhecimento mas só que igual você já disse, não sei se eu to dando a resposta correta, todo mundo tem uma dificuldade de adquiri conhecimento mesmo hoje pra quem mora dentro da cidade mas ainda existe muita gente que não tem nem acesso a escola e infelizmente também tem aqueles que tem acesso a um ensino e não se interessa. (Sra. Rita)

A qualidade de vida nem sempre está associada ao desenvolvimento da

atividade remunerada, mas a valores que são importantes para que o indivíduo

reconheça-se no grupo em que ele vive. A tecnologia aproxima as pessoas, facilita

os processos do cotidiano e, de certa forma, promove uma maior integração

instantânea entre as pessoas e atualmente quem não está envolvido com a

tecnologia, não está atualizado com o que acontece no mundo. O Sr. André tem este

sentimento e, hoje, percebe o quanto o conhecimento da informática faz falta em sua

vida.

Sobre o que significa envelhecer para os sujeitos, alguns nunca

imaginaram ficar velhos e nem se sentem velhos, e outros nem planejaram esta fase

da vida.

Nunca imaginei ficar velho. [...] Não achei que ia chegar até aqui. [...] não projetei entende, não me preparei pra eu viver a terceira idade. (Sr. Joaquim) Eu não imaginava isso. Se você não tem uma amizade como fica a vida [...] (Sra. Conceição) Você sabe que tem que envelhecer com saúde, que é importante, e é o que não ta tendo. (Sra. Lourdes) Pensei sim. Eu pensei que ia ser melhor, é difícil. [...] Então eu tenho que trabalhar e tem dia que a gente trabalha arrastado. (Sra. Rute) Eu nunca fiquei pensando de ficar velho [...] Meu sogro foi um que trabalhou a vida inteira [...] e com 80 anos aprendeu a abrir massa de coxinha. Então

110

a frase de Piaget que o ser o humano aprende do berço ao túmulo, realmente foi a experiência que tinha com o meu sogro e quando eu entrei na Unati eu achava que não ia aprender mais nada e aprendo muito entendeu, e mudei muito minha maneira de pensar e minha maneira de agir. Eu penso que tudo depende de mim mesmo e que eu posso morrer ativamente porque boa qualidade de vida depende de mim mesmo também, depende as vezes das circunstancias, mas depende mais de mim mesmo, da maneira de pensar, da maneira de agir de eu enxergar minhas limitações, então igual eu não posso pegar peso até o ano passado e agora estou bom então eu posso. (Sr. André) [...] Agora hoje por exemplo, eu acho que pelo que eu vivi a minha velhice não ta ruim não. Eu sinceramente ouvia que todo mundo acabava antes, morria antes [...] mas quando eu chegar lá Deus me dá a graça de aceitação e reconhecer que é assim [...]. (Sra. Rita)

Ao analisar as falas dos entrevistados algo chama muito a atenção. Como

vivemos em uma sociedade a qual o trabalho é assalariado e possui centralidade na

vida das pessoas, a velhice é vista como uma fase da vida a qual a função de ser

trabalhador dentro dessa sociedade termina devido as limitações físicas e no lugar

do salário entra a aposentadoria. A aposentadoria aqui parece ser um salário “que

eu paguei” ao longo da vida como um adiantamento para ser usufruído

posteriormente.

Neste sentido, justifica-se o fato de a velhice ser vista na sociedade com a

fase do fim da vida porque já não existe mais nada para fazer. Isto é cultural, na fase

escolar preparamo-nos para escolher a nossa profissão. Na faculdade, preparamo-

nos para o mercado de trabalho. Na juventude madura pensamos em crescer, ser

feliz e ser um profissional em potencial, dando o melhor de nós para o empregador.

Passa-se a vida toda trabalhando para chegar a época de se aposentar e, durante

todo este tempo, não se preparou para o pós-aposentadoria, na vivência da velhice.

Quem é vítima do trabalho informal passa a vida de trabalho pensando

em ser um bom profissional para o que o empregador não lhe dê demissão. Se

chega a se aposentar, procura permanecer no mercado de trabalho, pois necessita

complementar a sua renda. Ou seja, a velhice mostra ser uma fase de perdas,

como: limitações físicas e mentais, problemas psicológicos, depressão, problemas

de saúde, isolamento social, entre outras, porque não se consegue visualizar

atividades que potencializem as capacidades humanas desconectadas do trabalho.

O trabalho é inerente ao ser social.

Infelizmente nesta sociedade a pessoa idosa, segundo as falas dos

entrevistados, precisa do trabalho para sobreviver e isso coloca a velhice em

111

segundo plano. Se fosse outra forma de organização societária, a velhice, como

uma fase positiva, pode ser vivida desvinculada do trabalho como forma de

enaltecer as habilidades humanas que o próprio trabalho expurgou do ser humano.

Outro aspecto a se considerar nas falas dos sujeitos entrevistados é que

a qualidade de vida está intimamente ligada ao trabalho. Não se consegue ter outra

perspectiva de vida fora da dimensão do trabalho. Isto se deve ao fato de que esta

sociedade é toda formada de pensamento associada a liberdade humana em sua

forma ontológica, é subsumida a alienação e coisificação do homem pelo

capitalismo. O ser humano não consegue compreender outras formas de qualidade

de vida que não estejam associadas ao trabalhado, tanto que, como dito

anteriormente, atualmente tem se tornado comum o hobby uma fonte de renda, não

mais um exercício de estilo de liberdade próprio.

CONCLUSÃO

113

A pesquisa procurou trazer elementos significativos para a compreensão

da questão da pessoa idosa que trabalha na atual configuração do mundo do

trabalho, buscando identificar os meandros que perpassam não somente os reais

motivos pelo qual a pessoa idosa está no mercado de trabalho, como também,

compreender o que está por traz do conceito de envelhecimento ativo. O

envelhecimento é um fenômeno global e traz diversos questionamentos aos

governos e organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas

(ONU) e a Organização Mundial de Saúde (OMS).

Ao saber dos desafios a serem enfrentados, a pesquisa buscou trilhar

caminhos pelos quais não apenas apresenta a pessoa idosa como uma força de

trabalho requisitada pelo mercado de trabalho, mas também os reais motivos pelos

quais este sujeito continua trabalhando, em condições, muitas vezes, de

precariedade, bem como quais as políticas que o protegem enquanto trabalhador.

Para ter uma melhor compreensão do fenômeno do envelhecimento

associado a pessoa idosa que trabalha nas atuais configurações do mundo do

trabalho, dividimos a reflexão dessa pesquisa em três partes: discussão sobre a

categoria trabalho, políticas internacionais e nacionais de atendimento à pessoa

idosa e entrevista por meio da pesquisa de campo.

A discussão acerca da categoria trabalho é relevante no sentido de que o

trabalho possui centralidade na vida do ser social, sendo um importante componente

para a construção das relações sociais e não apenas um meio de sobrevivência,

colocando o homem numa posição que os distingue dos animais, sendo um ser

racional capaz de pensar na mente a sua ação.

O trabalho surge com a premissa primeira de satisfazer as necessidades

do homem. Por meio da prévia-ideação ele poderia pensar na mente os resultados

de sua ação e, assim, iniciar um ciclo de satisfazer a suas necessidades, criando

novas necessidades. Dessa forma, surgiu a sociedade capitalista que traz em seu

bojo o mesmo princípio, trabalhar para satisfazer as necessidades. Todavia, este

trabalho é alienado ao homem, ou seja, os frutos de seu trabalho pertencem ao

capitalista que se apropria de seu trabalho em troca de um salário.

Essa forma de sociabilidade surge com a burguesia que transforma as

relações em mercadoria, ou seja, compra e venda. Sendo assim, o trabalho como

eixo das relações sociais é o motor para a fecundação dessa forma de pensamento,

que perdura até os dias de hoje.

114

O trabalho é estranhado/coisificado ao homem, fazendo com que ele não

identifique todo o processo de produção, isto é, não se reconhecendo como parte do

processo. O que sustenta a acumulação do capital é a exploração, a expropriação

de mais-valia e a apropriação da riqueza socialmente produzida. O princípio de

totalidade possibilita-nos compreender que a subsunção do trabalho ontológico ao

trabalho explorado não permite ao ser humano uma realização pessoal, mas

responde, apenas, aos fetiches do capital globalizado. Temos a expressão de um

trabalho parcial, precarizado, temporário, flexibilizado, terceirizado que coloca a

classe trabalhadora numa situação de total dependência deste trabalho, submetendo

a sua vida a longas jornadas de trabalho e muitas vezes abrindo mão de seu próprio

lazer.

É nesse cenário que a pessoa idosa se insere de forma a também a fazer

parte desta força de trabalho. Mesmo já aposentados ou usufruindo de outros

benefícios sociais, se veem na condição de estar trabalhando a fim de contribuir com

a renda pessoal e familiar, e, o sistema capitalista, se apropria dessa força para

manter o motor da economia mais forte. Porem, não podemos deixar de refletir como

essa população de volta ou mantida no mercado de trabalho, é protegida pela

legislação, visto que o Estado se posiciona de forma periférica e as políticas sociais

se baseiam na ideologia dos mínimos sociais, visando amenizar a pobreza.

A proposta de participação da pessoa idosa é voltada aos espaços de

discussão, para que elas sejam construtoras de sua cidadania, contudo, a política

prevê com mais ênfase a participação no mercado de trabalho, por vezes,

enfraquecendo o movimento do idoso.

A problemática do envelhecimento está na pauta das discussões para que

este segmento tenha amparo das políticas, de modo a exercerem a sua cidadania.

Percebemos que a sociedade está construindo a imagem de uma pessoa idosa

ativa, que é protagonista de sua história, porém, a discussão está entorno de como o

Estado está se preparando para atender essa população que está envelhecendo.

Sabemos que o processo de envelhecer não acontece de forma

homogênea para todos, mas que perpassa pela questão de classe social, o que nos

faz concluir que a política segue este mesmo pensamento.

A sociedade contemporânea não possui traços definidos em relação às

classes sociais como fora em tempos passados, atualmente, se apresenta em

diversos estratos sociais que vai desde a miséria paupérrima à riqueza milionária

115

comum entre vários empresários. Nesse sentido, a política pública atende de forma

diferenciada, colocando condicionalidades de acesso limitados a extrema pobreza a

fim de contemplar uma parcela mínima da população, que caracteriza a atuação de

um Estado Neoliberal.

Há desafios a serem enfrentados quanto ao atendimento a essa demanda

emergente, devendo haver a construção de uma consciência coletiva sobre a

questão do envelhecimento populacional a nível mundial, regional e local e que o

governo brasileiro tome medidas que levem a pessoa idosa a realmente exercer os

seus direitos. Esta é uma demanda posta ao Serviço Social que deve ser

amplamente discutida, visto que, muitos idosos, que não tem acesso a tais políticas,

vivem em estado de isolamento social, presos ao seu estado de vulnerabilidade.

A fim de compreender a problemática do envelhecimento a nível mundial,

esta pesquisa tomou como marcos legais o Plano Internacional para o

Envelhecimento realizado em Madrid no ano de 2002 (ONU, 2003) e a Política de

Envelhecimento Ativo: uma política de saúde, organizada pela Organização Mundial

de Saúde (OMS, 2005)

O Plano Internacional tem por finalidade oferecer orientação para a

integração, autonomia e erradicação da pobreza das pessoas idosas, buscando

construir a imagem de uma velhice com acesso a direitos, em que o Estado esteja

sempre presente, propondo e agindo com políticas, tendo a família como principal

apoio nesta luta. Está dividida em três eixos de atuação, denominadas Orientações

Prioritárias, a saber: Pessoa Idosa e o Desenvolvimento, Promoção da saúde e bem

estar na velhice e Criação de um ambiente propício e favorável.

A ONU está preocupada em trazer para o círculo de discussões questões

voltadas ao envelhecimento, contemplando o ser humano em sua totalidade,

buscando alternativas de ações que potencializem o indivíduo, a fim de que ele seja

capaz de transformar a sua realidade e, a partir da mudança da concepção de sua

própria velhice, compreender que pode ainda participar ativamente da sociedade.

A Política de Saúde abordou as questões e preocupações relacionadas

com o envelhecimento, qualidade de vida, papel da família, do Estado e da

sociedade civil, trazendo a saúde como um direito que só pode ser garantido com a

atuação de vários setores. A saúde na velhice está sendo vista como uma

necessidade a ser suprida e não como algo supérfluo. Discute diversos aspectos

ligados ao envelhecimento, a saber: envelhecimento global, conceito e fundamento

116

de envelhecimento ativo, os fatores determinantes do envelhecimento ativo, os

desafios de uma população em processo de envelhecimento e os desafios da

Política de Saúde neste século.

Percebe-se que há um grande esforço dos organismos internacionais em

elaborar uma política que contemple a todas as pessoas idosas, independente de

raça, cor, gênero ou classe social, visto que, o mundo envelhece rapidamente e

necessita, com urgência, que os governos mobilizem-se e amparem essa questão,

pois, é o futuro da sociedade que está em jogo. As pessoas idosas necessitam ter

mais qualidade de vida em sua velhice, desfrutar de vivências que potencializem as

capacidades humanas e criativas desses sujeitos.

No Brasil as duas políticas internacionais culminaram em dois marcos

legais: a Política Nacional do Idoso de1994 (BRASIL, 2010b) e o Estatuto do Idoso

de 2003 (BRASIL, 2010a). Atentos ao pedido dos organismos internacionais de que

a pessoa idosa deve ter qualidade de vida na velhice, o governo brasileiro tem

pensado estratégias de ação com a criação de projetos e programas voltados a

autonomia e participação deste segmento na sociedade. Contudo, não se pode

deixar de perceber que ainda sim os direitos são negligenciados e a necessidade do

trabalho se torna algo eminente.

Percebe-se que as políticas internacionais traçam parâmetros de atuação

para promoção da qualidade de vida na terceira idade, porém, isso se reflete nas

políticas brasileiras no sentido de que a família e a sociedade civil devem unir

esforços para que isso se torne uma realidade na vida das pessoas. Sobre isso

levanta-se a questão se realmente o Brasil está preparado para enfrentar o

envelhecimento de sua população, porque as políticas ainda são paliativas; não

atingindo o cerne da questão.

Não se pode deixar de destacar que houve muitos avanços em relação à

política para a pessoa idosa, principalmente, em relação à participação social com a

criação dos conselhos, no entanto, ainda se vê muitos vivendo em estado de

vulnerabilidade social, dependendo muitas vezes de sua família, isolados da

sociedade, mas a política é voltada para aqueles que ainda podem contribuir

economicamente, deixando muitas pessoas idosas sem proteção legal.

A pesquisa de campo trouxe muitas inquietações acerca da realidade

vivenciada pelas pessoas idosas entrevistadas. Os participantes da pesquisa

trouxeram elementos relevantes para a reflexão, pois o posicionamento deles

117

revelou resultados diferentes do esperado num primeiro momento. Colocam a família

como algo muito importante na vida deles, sendo um espaço para compartilhar as

vivências e também um apoio para as adversidades.

Com relação ao trabalho, não é apenas um meio para garantir a renda

pessoal e ajudar na manutenção da família, mas também uma forma de ocupar o

tempo livre. Isso mostra que sempre fazer algo durante o dia é muito importante,

porque buscam a convivência social nas instituições em que participam e também

trabalham como meio de manter sua capacidade intelectual sempre ativa além de

ocupar o tempo com algo que realmente gostem. Todos não pararam de trabalhar

durante a sua vida, portanto, não sabem como é viver sua velhice sem o trabalho.

Com relação a categoria Família, os rendimentos da aposentadoria não

são suficientes para manter toda a prole, por isso a necessidade de trabalhar. Além

do mais, os sujeitos destacaram os gastos com a própria saúde, que, com o passar

do tempo, exige mais cuidados e, consequentemente, a renda acaba ficando

comprometida se não estiverem trabalhando, visto que, a aposentadoria é vista

como uma segurança financeira para custear os gastos com a família e com a sua

velhice. Sendo assim, para que não haja a necessidade de trabalharem é preciso

uma revisão do valor da aposentaria, a fim de que seja compatível com o momento

da velhice. Aqui a família desempenha um papel como rede de solidariedade em

apoio a pessoa idosa que, ao mesmo tempo, colabora com a manutenção da

mesma.

A categoria Trabalho revelou que a atividade remunerada tanto é um

complemento de renda, como, muitas vezes, a única renda para os cuidados

pessoais e de sua família. Por outro lado, o trabalho, além de ser uma fonte de

renda, é também uma atividade que ocupa a mente e o tempo livre das pessoas

idosas, trazendo mais possibilidade de qualidade de vida e bem estar, visto que,

responderam que não conseguem ficar parados dentro de suas casas, sendo essa

justificativa recorrente nas falas dos sujeitos: “mais do que um complemento de

renda”. Percebendo que com o passar do tempo a limitação física aumenta, o tempo

livre aumenta também, portanto, veem a necessidade de preencherem este tempo

com atividades construtivas e de distração, evitando o adoecimento advindo de uma

vida solitária.

Acerca da permanência no mercado de trabalho, as respostas ficaram

dividas entre haver muitas ou poucas possibilidades, no entanto, não citaram

118

nenhuma outra atividade que pode ser vivida em sua velhice além do trabalho.

Entende-se, dessa forma, que a atividade remunerada sempre foi constante na vida

dos entrevistados, não desfrutando de outras vivências ao ficarem mais velhos que

ocupasse o lugar do trabalho, mesmo participando das atividades das instituições,

Unati e CCI. Uma das dificuldades apontadas para a permanência no mercado de

trabalho é o avanço das tecnologias, as quais as pessoas idosas têm mais

dificuldade em se adaptar e aprender a manusear os equipamentos, tanto pela falta

de motivação quanto pela falta de acesso a cursos voltados para a pessoa idosa.

Sobre as políticas voltadas ao envelhecimento responderam que são

incipientes, porque o Estado se posiciona de forma periférica enquanto regulador

social, mesmo a longevidade sendo um assunto em pauta no cenário internacional.

Na categoria Mudança e Qualidade de Vida, nenhum dos sujeitos

encerrou a sua participação ativa no mercado de trabalho mesmo durante a velhice

e muito menos realizaram algum planejamento para este momento da vida, ou seja,

não pensaram possibilidades de vivências fora do trabalho e nem imaginam como

seria sua rotina sem o mesmo.

A qualidade de vida para os sujeitos é estar em permanente atividade

ocupando seu tempo livre e, visto as dificuldades enfrentadas na ordem do capital, o

trabalho tem sido a alternativa principal. Também colocam a qualidade de vida

associada a integração com as novas tecnologias a fim de se reconhecerem no meio

em que vivem. Contudo, há dificuldades em se adaptar com as rápidas mudanças

que ocorrem nesta área. Em uma das falas, a educação aparece como meio fecundo

para a emancipação e integração social, visto ser um direito garantido pela lei e

instrumento para o fortalecimento de uma sociedade mais justa. Ressalta-se que a

aproximação das pessoas através da tecnologia, a integração social e estar

atualizado com o que acontece no mundo também é ter qualidade de vida

O trabalho é a parte central na vida do ser social, percebe-se que, durante

toda a vida, há uma maior preocupação com o crescimento profissional, deixando de

pensar sobre o pós-aposentadoria, ou seja, “como vou viver a minha velhice sem o

trabalho? ”. Isto mostra que nesta forma de sociabilidade não há possibilidades de

emancipação e fortalecimento das capacidades humano-genéricas (como a arte, por

exemplo) fora da lógica da produção de riquezas e reprodução social. Tudo se

transforma em mercadoria, inclusive tornar o hobby uma atividade remunerada.

119

Portanto, seguindo o questionamento principal desta pesquisa, pode-se

concluir que o trabalho, sendo central na vida do ser social, é relevante na vida dos

sujeitos entrevistados, porém, não somente como fonte de renda (principal ou

secundária), mas também como uma atividade que completa a rotina ocupando o

tempo livre para que possam se dedicar a uma ação que mantem a mente sempre

ativa, percebendo que durante a aplicação do roteiro com os sujeitos, a ênfase maior

acerca da importância do trabalho se deu na segunda afirmação, como ocupação do

tempo livre.

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APÊNDICES

129

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA – IDOSOS

I . IDENTIFICAÇÃO

1. Idade:__________ Sexo: ( )F ( )M

2. Quais lugares já trabalhou?

______________________________________________________________

______________________________________________________

3. Quais cargos já ocupou, e qual ocupa atualmente?

______________________________________________________________

______________________________________________________

4. Você gostava ou gosta dos lugares em que trabalhou?

______________________________________________________________

______________________________________________________________

__________________________________________________

5. Qual a sua renda atual? __________________________________________

6. Grau de escolaridade? ___________________________________________

7. Você é aposentado? Se sim, por qual motivo:

Por idade ( )

Por invalidez ( )

Por tempo de contribuição ( )

Recebe pensão ( )

Recebe Benefício de Prestação Continuada – BPC ( )

Outros ( ) Quais? __________________________________________

8. Tempo que frequenta a instituição: __________________________________

II. FAMÍLIA

9. Quantas pessoas moram com você?

10. A sua renda do trabalho contribui para a renda da família?

11. Você e sua família vivem bem com a renda disponível?

12. O que poderia melhorar para vocês terem uma vida melhor?

III. TRABALHO

13. Qual (is) o(s) motivo(s) de você estar trabalhando?

14. Acredita que o trabalho é importante na vida das pessoas? Sim ( ) Não () Por

que?

15. Quais as chances de a pessoa idosa permanecer no mercado de trabalho

atualmente? Explique.

16. Como você percebe as políticas voltadas para este segmento? O Estado tem

feito a sua parte enquanto regulador social?

IV. MUDANÇA E QUALIDADE DE VIDA

17. Quais mudanças ocorreram em sua vida e na sua rotina com o trabalho?

18. Quais as dificuldades encontradas pela pessoa idosa na atual organização do

mundo do trabalho? Como você se sente diante dessas mudanças?

19. Como você compreende esta nova fase da sua vida, já que poderia estar

desfrutando de outras vivências?

130

20. Acredita que por meio do trabalho você poderá alcançar uma qualidade de

vida digna no decorrer do seu processo de envelhecimento? O que mais

necessita?

21. Você participa de outras atividades no período oposto ao trabalho? Quais?

22. O que significa “envelhecer” para você? Essa fase da sua vida está

acontecendo como você pensou ou não?

131

APÊNDICE B – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)

NOME DO PARTICIPANTE:

DATA DE NASCIMENTO: __/__/___. IDADE:____

DOCUMENTO DE IDENTIDADE: TIPO:_____ Nº_________ SEXO: M ( ) F ( )

ENDEREÇO: ________________________________________________________

BAIRRO: _________________ CIDADE: ______________ ESTADO: _________

CEP: _____________________ FONE: ____________________.

Eu, ___________________________________________________________________,

declaro, para os devidos fins ter sido informado verbalmente e por escrito, de forma suficiente

a respeito da pesquisa: Pessoa idosa e Mundo do Trabalho. O projeto de pesquisa será

conduzido por Laís Vila Verde Teixeira, do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social,

orientado pelo Prof (a). Dr(a) Josiani Julião Alves de Oliveira, pertencente ao quadro

docente da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – Faculdade de Ciências

Humanas e Sociais/UNESP/C.Franca. Estou ciente de que este material será utilizado para

apresentação de: (Dissertação, Projeto (s)) observando os princípios éticos da pesquisa

científica e seguindo procedimentos de sigilo e discrição. O presente projeto visa pesquisar

o trabalho desenvolvido pelo Serviço Social realizado junto ao idoso que está no

mercado de trabalho, tendo como pano de fundo o contexto neoliberal que provoca

mudanças na vida do idoso trabalhador. Fui esclarecido sobre os propósitos da pesquisa, os

procedimentos que serão utilizados e riscos e a garantia do anonimato e de esclarecimentos

constantes, além de ter o meu direito assegurado de interromper a minha participação no

momento que achar necessário.

Franca, de de .

_____________________________________________.

Assinatura do participante

________________________________________(assinatura)

Pesquisador Responsável

Nome: Laís Vila Verde Teixeira

Endereço: Rua Capitão Urias Batista Avelar, 4730, Vila Imperador, Franca-SP

Tel: (16)3703-6602/ (16)9 9192-6738

E-mail: [email protected]

________________________________________(assinatura)

Orientador

Prof. (ª) Dr. (ª) Josiani Julião Alves de Oliveira

Endereço: Rua Joaquim Nabuco, 135, Centro, Batatais-SP

Tel: (17) 9 8138-7289

E-mail: [email protected]

ANEXOS

133

ANEXO A – PARECER CONSUBSTANCIADO DO COMITÊ DE ÉTICA

134

135

ANEXO B – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO CCI

136

ANEXO C – DECLARAÇÃO DE AUTORIZAÇÃO UNATI

137

ANEXO D – PARECER DE ALTERAÇÃO NA QUANTIDADE DE SUJEITOS

138