lado positivo da delação premiada

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Direito

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Noutro giro, apesar das crticas quanto aplicao da colaborao premiada, evidente que o bem jurdico tutelado por este instituto o da segurana pblica; nesse caso, prevalece o interesse pblico da maioria, em detrimento de valores abstratos de contrariedade a uma suposta traio entre os integrantes do bando.

Consequentemente, a inteno do legislador no deve partir da premissa que a norma foi criada para premiar o dedo duro, mas to-somente com o intuito de desmantelar toda uma organizao criminosa, visto que trata-se de misso rdua e essencial para uma sociedade justa e pacfica. Ento, a colaborao no deve ser entendida de forma pejorativa, at porque

Se toda impropriedade tcnica em termos terminolgicos encontrvel na legislao brasileira conduzisse a uma inconstitucionalidade, ento uma enorme parcela de nossa legislao deveria ser jogada fora, incluindo a prpria Constituio, a qual no imune a isso. [footnoteRef:1] [1: CABETTE, Eduardo Luiz Santos. Nova Lei do Crime Organizado (Lei 12.850/13): Delegado e Colaborao Premiada. A Constitucionalidade da atuao do Delegado de polcia na colaborao premiada da Lei 12.850/13 (crime organizado). Disponvel em:. Acesso em: 03 out. 2014, p. 6.]

A seo da Lei 12.850/13 que trata da colaborao premiada bastante esclarecedora, uma vez que esta deve ser efetiva. Logo, bastante raso o argumento de combate ao referido instituto, visto que este no tem como finalidade apenas premiar um, mas sim punir toda uma estrutura criminosa, uma vez que tais organizaes so amplamente lesivas sociedade como um todo.

Outro aspecto importante a ser abordado diz respeito ao combate ao crime organizado por meio da proteo de vtimas e testemunhas.

Velar pela proteo das testemunhas e vtimas ameaadas significa tambm e o que mais importante velar pelo respeito aos direitos humanos, compromisso no s dos rgos pblicos, mas, igualmente, de toda a sociedade, eis que configura um dos fundamentos do Estado Democrtico de Direito. [footnoteRef:2] [2: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 7.]

Todavia,

[...] ainda que existam testemunhas, em face da lei do silncio imposta pelo crime, em especial pela criminalidade violenta ou organizada, ser praticamente impossvel de se obter um depoimento e, consequentemente, a punio do agente, o que inquestionavelmente contribui ainda mais com o aumento desse tipo de criminalidade. [footnoteRef:3] [3: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 9.]

Por isso h a necessidade da delao, consistindo, destarte, em importante e legtimo instrumento na elucidao de crimes. A relevncia das declaraes do colaborador so, portanto:1) de identificao dos demais coautores ou partcipes da ao criminosa;2) a localizao da vtima com a sua integridade fsica preservada; 3) a recuperao total ou parcial do produto do crime.

Enfim, de contribuir com o interesse da justia, sendo que se exige que a colaborao seja efetiva.

[...] tudo depender da anlise do caso concreto, cabendo a deciso de concesso de diminuio da pena ou aplicao de perdo judicial ao juiz competente, por ocasio da sentena, ao reconhecer que a colaborao foi ou no eficiente. Evidente que tanto o Ministrio Pblico, como a defesa, podero se insurgir contra a deciso do juiz que no acolhe o pedido de aplicao dos benefcios da colaborao premiada se esta foi concretamente realizada. [footnoteRef:4] [4: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 22.]

A despeito disso,

[...] agentes que revelem grau de periculosidade, voltados para a reiterada prtica de crimes; que tenham cometido a infrao com requintes de crueldade e total desrespeito vida humana, no so, a princpio, aptos a receber os benefcios decorrentes da colaborao premiada. [footnoteRef:5] [5: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 24.]

Dessa forma,

[...] na equao custo-benefcio, se pode dizer que vlida a utilizao da colaborao premiada como instrumento de combate criminalidade de poder, portanto, sendo vlido conceder benefcios ao colaborador para a preservao de um bem maior, o que est em plena consonncia com o princpio da proporcionalidade. [footnoteRef:6] [6: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 30.]

Todavia, o instituto deve ser visto como medida excepcional, para que no haja o risco de banaliza-lo. Por fim, salienta-se que:

[...] a concesso do benefcio ao colaborador se justifica pelo fato deste demonstrar arrependimento em relao ao crime praticado, fazendo jus, portanto, que o Estado tambm haja com compaixo...[footnoteRef:7] [7: MIRANDA, Gustavo Senna. O MINISTRIO PBLICO E A COLABORAO PREMIADA. Temas Atuais do Ministrio Pblico. Salvador: JusPODIVM. 2012, p. 31.]

Alis, o colaborador corre riscos de represlia ao prestar declaraes, sendo que o art. 5, inciso IV, da Lei 12.850/2013 at mesmo lhe assegura o direito de participar das audincias sem contato visual com outros acusados.