lacadee-modernidade ironica e a cidade de deus
TRANSCRIPT
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
1/22
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
2/22
A M O D E R N I D A D E I R N I C A E
A C I D A D E D E D E U S1
P h i l i p p e L a c a d e
o c om en t ar o Sem in io l i v r o 23: o
sinthom
1975-1976), de Jacques La
can, Jacques-Alain M i l l e r demo nstra co m o a ps icanl ise se mo str ou af inada
co m o qu e f o i
nossa
m o d e r n i d ad e
( M i l l e r ,
2005, p.17-18).
A m o d e r n i d a d e i r n i c a , q u e sabe qu e t u d o n o
passa
de semblante , es t
t r i u n f a n d o .
E la pr o v oc a , c om o r es post a, u m c hoqu e e o r e t or n o ao pesos i n g u
lar que assume entre ns , a tualmente , a t radio e mesmo a revelao como p r i n
c p io de u m a m or a l idade ob j e t iv a ( p . 18 ) . Passa-se novamente a levar a sr io a
r ev e la o , n o pon t o em qu e a m or a l idadeestabelece o que a norma, o que es t
b e m , o qu e es t m al . Tem os , en t o , u m a m o der n ida de t r i u n f a n t e , na qual os su
je i tos so tom ado s pela verdade da reve lao (p . 18) . A mod ern ida de aspira , en
f i m ,
a um discurso que no seria semblante, da o seu gosto pela avaliao, pela es
tatstica,
cujos
apoios so a t radio e a revelao de um discurso proveniente da
cincia ou da rel igio, que di r ia , e n f i m , toda a verdadesobre o que deve ser a vida
e o s e r hu m an o.
A
m o d e r n i d a d e d o p a i s u a m i s s o e s u a d e m i s s o
Em b or a Lac an t en ha pr ec i s ado qu e o N om e- do- P a i n o passa de u m s em b lan
te , o pai perm anece , para e le , com o aquele q ue deve t ran sm it ir u m cer to saber fa
zer com o m u n d o , i s to , co m o negociar a questo de sua v i d a , que questo de
goz o , e c om o apar e lh - lo c o m a l in gu age m , lu gar on de se a lo ja a qu es t o d o v i
v en te s exu ado . Lac an de m on s t r o u , n o Sem in io l i v r o 17: o vessod a ps i cani -
se 1969-70), que a cas t rao no procede do pai , mas da l inguagem. Os mitos de
F r e u d
sobre o pai so contos, f ices necessrias para romancear a perda de gozo.
' Con f ern c ia p rof e r ida em Belo H o r i z o n t e e m 2 4 d e j u n h o d e2006, p o r o c a s i o d a X I I l o r n a d a d a E B P - M G .
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
3/22
Nossa hiptese a de que o pai co ns t i tu i , de fato , o
agente
da art iculao da
l i n
g u a g e m .
Ma i s
tarde, Lacan se serve da carncia do pai de
Joyce
para demonstrar , em
nossa
poca m od ern a, o que deve ser jus tam ente a misso do pa i , aquela que
ele deve
saber
t ransmit ir .
Trata-se
da misso de humanizar o
desejo
na lei
signif i
cante, cuja verso m ode rna seria: ens inar a co m un ica o ( M i l l e r , 2005, p . 2 4 ) ,
o u seja, fazer valer o que art icula um s igni f icante com um s igni f icado, i s to , e lu-
cubrar uma l inguagem que cons is ta em i n t r o d u z i r um a ro t i n a que per m i te que o
signif icante
c o i n c i d a c om o s i gn i f i c a d o . L a c a n , dessa maneira , reatual iza um certo
uso da me tfora paterna , ins is t indo na funo d o s igni f icante , mas com o cuid ado
de plural izar o N om e- d o- Pa i e s a l i en ta r adescoberta de seu ob jeto a o u
seja,
esse
res to lgico, mas no menos
at ivo,
qu e escapa dimenso s igni f icante . Jacques-
A l a i n M i l l e r
m os tro u que a exigncia do mais -de-gozar q ue ten de a sub st i tuir o
regime do pai sob a gide do s igni f icante mestre que
civil iza,
que pro b e , que re
gula
s egun d o um a l e i .
A conse qu ncia disso o reinado do go zo , que no favorece o enga jamen to
no s imbl ico, no favorece o engajamento em relao ao O u t r o , e no favorece,
pois ,
a dimenso da f i l iao e da transmisso, mas s im o exerccio do gozo pulsio-
nal
d o U m .
r e v e l a o o u o sinthoma
Lacan mo stra que um a das consequ ncias da demisso do pai que o s igni f icante
serve
m a i s a o go z o d o que c om un i c a o . A s s i m , d e um a s v ez ,
escreve
d e o u
tr a maneira o s intoma do sujei to e sua verso do pai como s intoma. O s intoma se
t o r n a
o que tes temunha a pos io de gozo do sujei to naa l ngu a.
Essa
posio
aquela que adotam alguns
adolescentes
de nossa m o d e rn i d a d e , n a qua l atac am d e
maneira i rnica a prpria ra iz da l inguagem e do lao soc ia l . Trata-se d e um a po
sio que qualifica seu ser
s i n t h om i co
e tem valor de uma funo reparadora , que
lhes d certa cons is tncia imaginria do co rp o; da seu go sto p elo m o vi m en to , pela
rapidez e pelo
hi p-hop.
E
pela via do
si nthoma
prprio a
cada
u m , q u e d e v e m o s
destacar
o per i go que
h em fazer crer que a soluo
viria
de uma revelao que preconize o retorno a
u m
O u t r o u n iv e rs a l q u e seja U m , um O u tr o que f az crer na rev e l a o d e um dis
curso novo, por exemplo, um discurso securi tr io que se apoia na aval iao do ris
co o u em u m falar ve rd ad eir o , e den unc ia , po r sua vez , mas de maneira inteira
mente di ferente de Lacan, que
t u d o
n opassa de s em b l a n te . S a b er a m os , e n f i m , o
que seria ou n o u m v erd a d ei ro j o v e m e o que seri a,
desde
a idade de trs
anos,
C U R I N C A N 2 3 N O V 2 0 0 6 E B P M G
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
4/22
u m a
c r i a n a d e l i n q u e n t e . C o m L a c a n e seu
sint homa
c o m o v iada s i n g u l a r i d a d e
repa ra dora doss o f r im e n t o s m o d e r n o s , p r o p o m o s umaa l t e r n a t i v a rev ela oda
m o d e r n i d a d e t r i u n f a n t e qued i r i a ,
e n f i m ,
o
v e r d a d e i r o . C o m L a c a n , t e m o s
de fa
zer valer
a
s o l u o
s i n t h om i ca
q u e
cada
u m i n v e n t a d i a n t e
do
rea l f o ra
de
s e n t i
d o ,
esse real revelado pela psicanlise,noq u a l
cada
u m semig u a l .
G o s t a r a m o s
de
m o s t r a r c o m o ,
emnossa
p o c a m o d e r n a , m u i t o s j o v e n s
se
acham em rela o diret acom um uso da l n g u a , do s i g n i f i ca n t e c o m o causade
g o z o , c o m o c o n s e q u n c i a dad e m i s s o p a t e r n a , q u e n ose e n c o n t r a m a is o r d e n a
danor e g i m edop a i ,
aquele
daa rt icula o s ig ni f ica n t e , ma s s imnor e i n odo o b j e -
t o
a
e m
sua
v erso
de
m a i s - d e -g o z a r . M a s t a m b m c o m o
eles,de
m a n e i r a p a r a d o
x al , f a zendo v a ler seus
seresdesi nthoma aos
qua is a lguns
se
r e d u z e m , in v e n t a m
solues repa ra dora sevitais , m u i t a svezes e m u m i m p a s s e , ap a r t i rdo quen o m e a
m o s N o m e s - d o - P i o r .
O
p i que se q u e i x a e quedes prende fa la r
K a f k a d e n u n c i o u , e m su a f am o s aC a r t a ao p a i q u eelen u n c a l h e e n v i o u ,op a ique
n oencarna ma isesse p o n t odeo n d eascr ia na s v e r i a m , pa ra a lm dele , uma sa
d a ,
uma perspect iv a . Ka f kase
desesperava
c o mo t i p odep a iquet i n h ae que, pa ra
ele, no representava maisaa u t o r i d a d e . Elep r p r i o ,que represent a v a top r o d i
g i o s a m e n t e
a
a u t o r i d a d e
aos
m e u s o l h o s , n o
seguiaas
o r d e n s q u e d i t a va
ao seu fi
l h o
2
( K a f k a ,
1919,
p .
33). Esse
imposs v el
de
u m a r e l a o
serena
c o m m e u p a i ,
q u e t a m b m se queix a v a de suavida em p b l i co e se l a m e n t a v a p a r a si m e s m o ,
n o e n c a r n a n d o d u r a n t e su a vidaaposiodee x c e o , d a q u e l e q u e sabe c o m ofa
zer com suav i d a , c o mseug o z o , te ve c o m o c o n s e q u n c i a o f a t ode que ele
desa
p r e n d e ua
f a l a r
(p . 35) e,
c o m o p e r ig o s o ef e it o s e c u n d r i o , h a b i t u - l o
a
r e c u
sar
o
r e g i m e
do
p a i ,
a
no levar m u i t o
a
srio
ascoisas
q u e j u s t a m e n t e
se
deveria
levaras r i o ( p .41).
A
falta
deseriedade
dessa a u t o r i d a d e
que
K a f k a d e n u n c i a v a a s s im ,
de
m a n e i r a
t o s i n g u l a r ,no c e r t a m e n t e amesma hoje emd i a .Naf am li a m o d e r n a ,os va
lores
se
desloca ra m
e
p e r m a n e c e m
em
d e s lo c a m e n t o c o n t n u o .
A
famlia est mais
e s t r u t u r a d anoa m o re nog o z o do que nosvalores ideaisdob e m ,do p a t r i m n i o ,
d o
n o m e
a se t r a n s m i t i retc.
D e t o d o m o d o , F r e u d ,em seut e x t o
Romances ami l i ares
m o s t r a r a o p a r a d o
x o
que o
s u j e i t o e n c o n t r a
em seu
c r e s c i m e n t o :
Ele sesepara da
a u t o r i d a d e
dos
N .
do T. Natradu o b ras i le iradae d i t o r a
L P & M ,
l- se : o h o m e mque dem a n e i ra tog r a n d i o saera a m e d i d ade todas
as
coisas,
noa t e n d i aele m e s m o aosm a n d a m e n t os que me
i m p u n h a .
9
INVENES
P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
5/22
pais, eesse um dos efei tos mais necessrios , mas tamb m mais dolo rosos do de
s e n v o l v i m e n t o (F re ud , 190 8 , p . 24 3) . A o se separar da
r o t i n a ,
resta-lhe a solu
o d e f az er u m n om e pa ra si ou d e en c o n tra r um a l n gu a ou u m n ov o a m or ,
c o m o R i m b a u d o i lustra .
3 8
O p a i q u e
fede
a derrot e o s e r h u m i l h a d o p o r c a u s a d e
outr
p e s s o a
Para
a lguns , o pai no mais aquele qu e, sabendo co m o fazer co m av i da , d e m o n s
tra
aos seus f i lhos que o que faz co m ela d ig n o de ser amad o e at me sm o res
p e i t a d o ,
ta l como diz to bem
K a r i m ,
u m jo v e m
r pper
da peri fer ia qu e, depois de
u m
tem po d e c on v ers a n o l a b ora tr i o L i n gua gem e C i v i l i z a o d o Cen tro In ter
disc ipl inar d a In f n c i a ( CIE N ) , d em a n d ou um a a n l i s e :
E
o u t r acoisa q u a n d o o c a r i n h a v t o d o d i a p e l a m a n h s e u p a i q u e n o v a i t r a b a l h a r ,isso enche
a c a b e a d e u m c a r i n h a . A l g u n s n u n c a v i r a m s e u pa i t r a b a lh a r , f a z 1 5 anos qu e e le e s t d e s e m
p r e g a d o . V o c t e m v e r g o n h a . A l m d i s so , o p a i d i z p r a s i m e s m o : e u n o t r a g o p o p r acasa, e u
n o s o u u m h o m e m . O
cara
e s t a , e l e f e d e a d e r r ota . Voc
pensa
q u e o c a r i n h a n o sabe d is
so? O c a r i n h a h u m i l h a d o p o rcausa d e o u t r apessoa ( L a c a d e , 2005, p . 3 3 2 ) .
Ka r i m nos d, assim, sua verso moderna da demisso do pai . O f i lho te maces-
so diret o a um pai que no sustenta mais a funo paterna, tornan do-se um apessoa
a n n i m a , que , porcausa de sua derrota ,h u m i l h a , sua revelia, o f i l h o , que disso se
env ergo nha . O pai no est mais al i para velar o ob jeto real , da nd o u m nom e ao real ;
ao contrrio, no h mais ningum para
i n t ro du z i r
o
filho
em uma dvida s imblica
devida
f u n o d o N o m e - d o - P a i .
Cabe
ao sujeito subjetivar
essa
dvida. A hu m i l ha
o do pai faz com que o sujeito se sinta privado dela. A dvida lhe foi arrebatada e,
c o m isso, ele sente no dever nada ao O u t r o , decorrendo da seu sentimento de ser
fora
da Lei . O
filho
vive, ento, seu ser
h u m i l h a d o ,
c om o um a b a n d on a d o pe l a ev o
luo da sociedade moderna, e no
sabe
mais o que o separaria disso.
m o d e r n i d a d e i r n i c a e a p e r i f e r i a d o s i g n i f i c a n t e
A
cr iana da peri fer ia , que aquela da qual se serve atu alm ente u m ho m em de Es
tado paraestabelecer um discurso
cego
sobre a au torid ade , a mais prxim adessa
crian a-d ejeto qu e enco ntra a a certeza de seu ser, co m o
K a r i m
o diz to be m . Ela
est a , pr efe rin do se
assegurar
de sua certeza de gozo e usando uma l ngua c o d i
f icada que representa para ela a autoridade. Ela j foi separada dessa r o t i n a ( L a -
C U R I N G A N 2 3 N O V 2 0 0 6
E B P M G
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
6/22
i n
1 9 8 5 , p . 5 8 )
3
, que teria feito de sua v ida um desenrolar fe l iz , se
tivesse
c o n
sentido em
passar
pela amarrao do s igni f icante e do s igni f ica do , usan do, en to ,
do
saber de que o O u t r o seria p o r t a d o r .Essesaber no representa mais a a u t o r i
dade, e la desaprendeu a fa lar a l ngua do sentido comum. Se a confrontarmos em
demasia com o s ignificante autoritrio, ela atualizar seu ser de dejeto na autodes
truio, queimando o carro mais prximo.
A
evoluo da sociedade, na evoluo de seu discurso, ps a nu as referncias
s imbl icas , o respei to do sujei to p or sua dign ida de , faze ndo -o cair progress iva
m en te n o es ta tuto d e ob j e to til ou inti l lei do mercado. As famlias , na con
dio de abrigo de uma l ngua em que se estabelece a r o t in a necessria para que
se elabore uma histria e se invente uma posio subjetiva, em que a criana o
pai d o h o m em , s egun d o Fre ud , v i ra m -s e n o s progres si v a m en te m a l t ra ta d as por
precariedades
cada
vez mais violentas e dif ceis de velar, como tambm reduzidas a
condies de
v i da
n o
l i m i t e
do suportvel . A dvida
lhes
fo i reenviada, e pedimos
cedo
demais cr iana para ser um homem sem pai . O consentimento, no
q u a l
o
Estado se engajava, f o i a b a n d on a d o h m u i t o t em po. E i n s i d i os a m en te d o l a d o d o
discurso pol t ico , que larg ou a dign idad e de sua prpria tarefa , que vem os surgir
um
m o d o de falar que n o se art icula nem mesm o ao O u t r o , mas s im estatstica,
qui lo que se cont abi l iz a ou no em termo s de renta bi l idad e. U m a palavra que no
se faz mais responsvel por seu engajamento, salvo o de ser conforme quilo que
quer a c i f ra da sondagem.
Estamos
v erd a d ei ra m en te n o s uperm erc a d o d a r ique
za, que
d is tr ibui
seus bens ou no, em funo de bons c ri tr ios . A o m es m o te m
p o ,
do lado da precariedade que o ser humano
r e d u z i d o ,
n o m e l h o r d o s
casos,
a u m ser c o loc a d o n a pra te le i ra c om o um ob j e to a ser c o n s u m i d o ou , n o p i o r , a
um a
mancha a ser e l iminada.
Nesse c on tex to , a l gun s adolescentes m o s t r a m , c l a r a m e n t e , c o m o essa pos io
de rebotalho os leva a
atacar
o lao socia l que es t na ra iz da l ingu ag em , co m o, de
maneira ainda mais aguda, so
esses
sofr ime ntos que no pararam de agi tar seus
corpos , tornando-se sua nica cons is tncia , prec isamente onde a lguns
v i r a m
t o -
somente
d i s trb i os de c om po rta m en to a s erem reed uc ad os .
Para
alguns, sua fam
l ia,
o u o q u e resta dela , fo i des integrada, pu lveriza da pela evo luo da sociedade,
e o
Estado
pre ten d e
recolocar
em seu lugar
essa
a utor i d a d e , n a c on d i o d e po l
c ia ou representante da le i , d ireta me nte em conta to c om o sujei to , que s pode re
j e i t - l a , d en un c i a n d o sua i m pos tu ra . O en f ren ta m en to l h e serve para se sustentar
anteessa
autoridade que ele
contesta,
mas sob o modo de sua posio desrespeito
sa. Estimando-se no respeitado, ele no respeita o
O u t r o
e
suas
d i f eren tes m od a
lidades de presena diante de s i .
3 Jacqucs-Alain
M i l l e r
c o m e n t a
essa
passagem em eas vuls s
( M i c r , 2005 .
INVENES P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
7/22
a b a n d o n o d o p a i e o d e s t i n o d e m e r d a
E m
seu romance Am a n h num boa Faiza G u n e, um a adolescente de 15 anos,
d s eu tes tem un h o dessa pos io de cr iana-dejeto , cuja i ro n i a se torna uma arma
para
atacar
o lao social na prpria raiz da l inguagem.
F o i
o c o l g i o q u e m e m a n d o u p r a l ( a p s i ) . O s p r o f e s s o r e s, e n t r e u m a g r e v e e o u t r a , r e s o l
v e r a m q u e e u p re c is a v a v e r a l g u m p o r q u e
eles
m e a c h a v a m f e c h a d a . . . V a i v e r
eles
t m r a z o ,
n o s e i, t m e l i x a n d o , q u e m p a g a o g o v e r n o . ( .. .)
A c h o
q u e fiquei a s si m d e sd e q u e m e u p a i f o i e m b o r a . F o i p r a l o n g e . V o l t o u p r o M a r r o c o s
p ra casar
c o m o u t r a m u l h e r p r o v a v e l m e n t e m a i s n o v a e m a i s f r ti l q u e m i n h a m e . ( .. .)
Q u e b o s t a d e d e s t i n o . O d e s t i n o u m a m e r d a p o r q u e n o d p r a m u d a r . Isso q u e r d i z e r
q u e o q u e q u e r q u e v o c f a a , v o c v a i s e m p r e s e f e r r a r se faire couilkr). M a m e d i z q u e , se
p a p a i d e i x o u a g e n t e , p o r q u e
estava
e s c r i t o . P r g e n t e ,
isso
o mektoub o d e s t i n o . E c o m o
o r o t e i r o d e u m f i l m e e m q u e n s so m o s o s a to r e s . O p r o b l e m a q u e o r o t e i r i s t a n o t e m
t a l e n t o
n e n h u m . E l e n o
sabe
c o n t a r l i n d a s h i s t ri a s ( G u n e , 2004, p .
5-14).
Fa z a , s i m ,sabe contar . Esse romance um es foro de escr i ta para
t ra du z i r
seu
dest ino de merda e amarr- lo a seu sentimento de ex l io prprio , reatual izado na
a d ol es c n c i a . E s f or o que , pa ra a l m d o s of r i m en to d o d es t i n o d ol oros o , o red uz
vias i n t h om i ca d e se f az er u m n o m e . E um tes tem un h o ta n to m a i s prec i oso
p o r q u e
i l us tra o m a l- esta r c on tem por n eo
desses adolescentes,
a q u e m o r e g i m e
d o pai no deu a funo significante necessria para se fazer na vida . H o u v e t r a n s
misso, mas no aquela que se
espera
para gar antir criana a ro ti na que associaria
o s igni f icante do N om e- do -P ai ao s igni f icado de seu ser d e des t ino de m er da .
Essa boa rot ina na qual e la receberia do Outro
esse
sentimento de que ela per
tence
a um a fam l ia (Lacan , 198 5 , p . 58) , na qual agarraria a dig nid ad e e o res
p e i to
de se sentir amada:
P a p a i q u e r i a u m filho m a c h o . C o i s a d e o r g u l h o , p o r causa d o n o m e , d a h o n r a d a f a m l i a , e
m a i s u m m o n t e d e r a z e s
babacas.
M a s e le s t e v e u m a
filha.
E u . D i g a m o s q u e eu n o c o r
respondesse
e x a t a m e n t e e x p e c t a t i v a d o c l i e n t e . E o p r o b l e m a q u e a
coisa
n o c o m o n o
s u p e r m e r c a d o : n o d p a r a t r o c a r . E n t o , u m b e l o d i a , o
cara
d e v e t e r p e r c e b i d o q u e n o
a d i a n ta v a in s i s ti r c o m a m a m e , e se m a n d o u ( G u n e , 2004, p . 6 ) .
A
soc iedade m od ern a e ,nessecaso, o
peso
d a t ra d i o d o pa i , o b a r b u d o , re
du z i ra m a f u n o d o N o m e - d o - P a i a u m
desejo
a n n i m o d o c l i en te , que d e i xou
e m ques t o apenas o que se dedu z do pai real , co m o res to de seu c o lh o real , e
a f am li a a u m s uperm erc a d o , C a r re f o ur .
C U R I N G A N 2 3 N O V 2 0 0 6
EBP MG
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
8/22
C o n f r o n t a d a
c o m
esse
des t ino de no
receber,
Faiza nos mostra de que maneira
a escrita
t ra t o u
seu abandono, o resto que ela encarna,
i n d u z i d o
pela pa rt ida do pai .
E m seucaso,a escr ita t rata uma parte do go zo do sujei to , ma nt en do -o dis tncia de
um apassagem ao ato. O romance de Faza
ilustra
q u e ,nessetem po lgico d a adoles
cncia , o que faz fa l ta a a lguns um O u tr o que diga s im ao no vo , que a cr iana.
C o n f r o n t a d a
c o messa carncia do pai e comseus efeitos d eletr ios sobre o de
sejo da me, Faza tes temunha o sofr imento que provm da e que a fecha em si
mesma. E la nos permite correlac ionar o choque com
esse
des t i no de n o
receber
d o
O utr o o s i gn i f i c ante do N o m e- do - Pa i , que t r az a m ar c a que d i ga s i m , que t r az
u m
dizer que acusa recepo do ser no mundo e que saber responder a i sso , des-
pender cuidados paternos a
esse
o b j e t o a que seu
filho
- r u p t u r a de prom essa -
e o que da resul ta , correlat ivamente,destav ez , no l ugar do s i gn i f i c ado . L u ga r que
chamo de lugar da c idade i rnica , no qual a consequncia da carncia do pai que
a
i ronia
se torna a nica arma, pela v ia da auto-
n o m i n a o
e da inveno da l n
gua da autent ic idade, para se defender do real fora do sent ido . Lugar onde a p r o
vocao l inguageira e o in sul to tm d ire i to de c idade: Q u e bos ta de des t ino . Odes-
t i n o um a m er da po r que n o d pr a m udar .
Isso
quer dizer que o que quer que
voc faa, voc vai sempre se ferr ar (p . 13 ) .
E nessa
c i dade do s ign i f i c ado que des t i n o de m er da o que o s uto-n^ homeia
como pedaos de real , cr ianas ob jeto
a
que r ea l i z am o que es t l i gad o a nada . U m
real
posto n o m u n d o sem art iculao s igni f icante , d o qual um a das so lue s dar
consistncia imaginria a
seus
corpos .
D a
p r o v o c a o l i n g u a g e i r a a o i n s u l t o omo N o m e d o P i o r
S em m edi a o ,
essa
pr o v o c a o l i ngua gei r a , s e f er r a r , po d e
chegar
a o p o n t o
de c o nt r adi z er a pr pr ia es snc ia da no m ea o do N o m e- d o - P a i c o m o Pa i de um
no m e. A s s i m , em um m undo do qual o i dea l s e r e t i r o u , s u r g e m o s N o m e s - d o -
Pior . O i ns u l to denu nc i a os sem b lantes do O u tr o e d i f icul ta a c o m u n i c a o . A c r e
d i t a n d o visar ao mais ntimo e s ingular no O u t r o , o f e n d e n d o - o e a g r e d i n d o - o p e l a
pr o v o c a o l i nguag ei r a , Fa z a , de f a to ,
apenas
des igna , o u m es m o
rfhoniei a
para o
O u t r o ,
seu prprio ser de rebotalho , ou mesmo de dejeto , seu des t ino de merda.
A on de o i ns ul t o tem as mossobre o Id ea l , o prprio sujei to que es t em pe
r i g o . O
in s u l t o ,
c o m e f e i t o ,assinala que tod a a amarrao p uls io na l ao s imb l ico
falha
e ameaa se verter napassagem ao ato.
C o m seu se f er r ar Fa z a to m a po s i o na l ngua , t a l c o m o d i z a j o v e m de
Vesquive d e A b d e l a t i f K e c h ic h e 2003), ainda que da maneira mais desrespei to
sa . To m ar po s i o , em um a v ers o da l i nguagem na qua lesta mais prxima da
INVENES
P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
9/22
al ngu a o useja, um uso do s igni f icante como causa de gozo que os isola de toda
comunicao e de uma re lao com o saber d o
O u t r o ,
qu e r e c u s am , por i n t i m a r
excessivamente.
Esse uso daa l ngua i lustra a v oz dosinthom como operador de cons is tncia
que permite ao real , ao s imbl ico e ao imaginr io manterem-se juntos . Lngua- .-
thom
como compensao da carncia do pai . Faiza faz com seu res to , reduzindo
seu pai a um p u r o real que a p r o d u z i u , o u
seja,
s eu c o l h o . c o m isso que ela
faz para s i um Nome-do-Pior , res tando- lhe , diante da fa lha da metfora paterna, a
soluo de inventar sua a l ngu a: se fer rar .
A qu e s t o qu e esseuso prov ocad or da l ngua levanta , se fe rra r , o u m eus co-
lhes , que pontua sua l inguagem codif icada, decorre do fato de que essa l ngua
no se
separa
do corpo do adolescente . Ela es t em contato d i r e t o c om o c or po
p u ls io n a l . u m aa l ngua concebida co m o secreo d o co rp o. N o se ocupa dos
efe i tos de sent ido,apenas de
seus
afetos. E irredutvel ao efeito de sentido. a l n
gua do
s i n t h oma
o u
seja,
de seu ser de
sinthom
q u e
eles
tentam fazer arte pela
via d or a p e d oh i p - h op . Lngua recheada de inter jeies sexuais , que os impede de
assumir a po sio de ser sexuado separado. N s no tem os amig os po rq ue som os
todos iguais aW assup Rocke r s de L a r r y C l a r k
4
.
O
P a i q u e d u m o m e
E m raz o da carncia d o pai , o adolescente se enco ntra sem o pai que n om eia , pois
n om e ar estabelecer uma re lao, ins tauraressa relao entre o sentido e o real .
O prprio do sentido que se nomeia a alguma
coisa
e no que se faa com
p r e e n d e r ( L a c a n , 1974-1975). A part i r do m om e n t o e m qu e s e n om e i a , h c o i
sas que se supe que no se jam sem fundamento no real . Supe-se que
elas
te
n h am c o m o base o r e a l ( M i l l e r ,
2006,
p . 26 ) .
Para nomear a lguma coisa , presume-se que ha ja um acordo entre o s imbl ico e
o real .Para f u n d a r , supe-se o Pai . E, para fundaresse a c o r d o ,deve-se reportar ao
O u t r o , cu jo nome Tacques-Alain M i l l e r pr e c i s a , D e u s , o N om e - do- P a i . D e s de qu e
se fala, cr-se em Deus, is to , cr-se no significante , que sempre paterno.
A n t o
n io D i Ciacc ia af i rma que o s igni f icante patern o s s igni f icante porq ue patern o
2006, p . 15 ) . E por
essa
razo que se pode dizer que o homem
f i lho
do logos ,
sendo a carga do significante , ento, a de reabsorver o gozo.
4 O filmo Wassup Kockers
desafias
da rua d o d i re tor c roteir istaL arry C l ark , acomp an h a joven s de or i g em h i sp n ica n o su l
de Los Angeles, que andam de skate c ouvem
p u n k
rock cm Beverly H i i l s , onde se interessam pelas meninas ricas da re
gio.
L arry
Cl ark rea l i zou , cm 1995 , o
f i lme Kids,
com temtica semelhante.
C U R I N G A N 2 3 N O V
2 0 0 6
E B P M G
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
10/22
Lacan chama deN om e- d o- P a i a qui l o c u ja f un o ra d i c al da r u m n o m esc o i
sas, pela viade umc e r t o n m e r o de marionetes , entre as quais Ado. O N o m e -
d o- Pa i o paique d o n o m e ,quen o m e i aascoisas.Recebemos dele esses nomes
dados
s
coisas,
e
crem os nisso. Desde
que
cremos
na
l in g u a g e m ,
no
fa to
de que a
l i ng u a g e m
c om un i c a , f a l a m os
o
s e n t i d o c o m u m .
N o p r i m e i r o ens ino
de
L a c a n ,
o
N o m e - d o - P a i associa
o
s i gn i f i c a d o
ao s ignif i
cante
c o m o p o n t o
de
basta.
J em seu
l t imo ens ino,
o
N o m e - d o - P a iassocia
s im
bl ico
e
real ,
e
designa
o
efei to
do
s i m b l i c o en q ua n to
eleapareceno
real .
D a C i d a d e
onde
seauto n }homei de N o m e d o P i o r
N a
C i d a d e
de
Deus , s i tuada
no
para alm
da
a b b a d a
celeste,
mas no
Bras i l ,
em
a lg um l uga r
no
inconsciente
do Rio de
Janeiro, long e
do
C r i s t o R e d e n t o r ,
das
praias
de
Copacabana
e do
carnaval , co m o diz Paulo
L i n s ,
numa favela gangrenada
pelo trfico
de
d roga s
e
pela guerra
de
gangues, so
as
prprias crian as
que se
n o
meiam c o m u mdosN o m e s - d o - P io raosquaiselas s o c on f ron ta d a s ( L i n s , 1997)5 .
Estando asem esperana ,elasse t o m a m p e l o n o m eque d oa simesmas , nolugar
onde arrastamsuas b un d a s , b em per todasarjeta. Ascr ianas desco brem a si mes
mas,
ao
m e s m o t e m p o
que
descobrem
os
ob jetos
que
e n c o n t r a v a m
na
ru a . A s s i m ,
Busc a-P es t sempre p ro n to para " i r ver
o
pa d re J l i o ,
a fim de,
u m a
vez
confes
sadosseus
pec ad os , c om et- l os n ov a m en te ,
tal
c om o um a a l m a erra n te
em
cada
canto da ruadeste m u n d o excess iv a m en te m od ern o . ...)
Para
ele s a erva era a
luz de suavida: dava sede, f om e e s o n o " ( L i n s , 1997,p.12-13) Ela lhem os tra
va
o
c a m i n h o .
Ele se
enraivecia, ainda
que
c o n t e n d o u m s o l u o ,
e no ia escola,
m e s m o
se
t ivesse medo
da
r u a ,
do
m n i m o ob j e to ( p .
13-14).
H o u t r o s , c o m o T u t u c a , I n f e r n i n h o
e
M a r t e lo ,
que
en c on tra ra m pa ra
si
mes
mos nomes part iculares ,
e
cuja nica esperana
de
vida
a de se
t o r n a r e m c r i m i n o
sos
ou
b a n d i d os , po i s
essa a
nica m aneira
de
serem respei tados p or tod os , co m o
eram todososb a n d i d o sdolugar onde cresceram (p .26).
Nessa
or ientao, subl inhemos
a
verten te d efensiva,
l imite
da falta
de
respeito
e do
insulto
diante
da
prox i m i d a d e
de
sentimentos psquicos doloro sos,
at
m es m o insu
portveis,e que sconseguem se
t raduzir
p o r u musod es t ru i d ordaspalavrasepela
demanda paradoxal de respeito como um dos nomes dosinthom desses
adolescentes.
A q u i ,
ainjria resta co m ooltimo anteparo diante da passagem aoa to .
Para
Lacan,o
insulto
s igno do real , mas tambm um
processode
nom eao que faz
fracassara
n o
meao
do
N om e- d o- Pa i c om o Pai d o n om e, s egund o
seu
ltimo ensino.
s
idade de
Deus
de
Paulo L i ns ,
o
r oma n ce
que
in s p i rou
o
filme,
de
m e s m o n o m e ,
d i r ig ido
por
F e r n a n do Me i r c l l e s .
INVENES P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
11/22
D a
c a r n c i a d o p a i i n v e n o d e u m a l n g u a o u d e u m a e s c r it a s i n t h o m a :
o g r a f i t t i
Nesse
caso, eles inventam uma l ngua de gozo da qual o insul to se torna aqui lo
que capi ton eia seu ser, princ ip alm ente fora do sen tido . Fora do sen tido da co m u
nicao, aquela do regime do pai ,essa l ngua
desemboca
em u m a pos i o d e i m
passe, em um rea l que n o tem s en t i d o , eeles s e torn a m s ob retud o s erv os d a po-
l i fonia da l ngua.
Alm d isso, o adolescente o que ataca a rot ina (aquela que associa, no discur
so estabelecido, o s ignifican te ao s ig nifi cad o), s i tu an do a , sem o saber, o lugar do
qu e, para ele , representa a autorid ade , da
qua l ,
segundo Freud, sua dolorosa tarefa
de adolescente ob riga -o a se separar . Ass im co m o R im ba u d , em no m e de sua ver
dadeira v i da ,
de sua l iberda de, e a tualmen te em no m e dos dire i tos da cr iana de
gozar como ela bem entender, e le proclama um uso
livre
do s igni f icante , ou
seja,
a l iberdade do s igni f icante sem nenhuma l igao a um s igni f icado, aquele que lhe
serve mais para gozar da a l ngu a d o que pa ra c om u n i c a r . E u
in s u l t o ,
c h i c ote i o a
l ngua com frenes i .
E
p o r
isso
que o
Sem i n io l i v r o 23: o si n t h oma
de Lacan, nos mostra como
a l ngua
o conc ei to que qu er dizer que o s igni ficante serve ao go zo e que a
f u n
o do pai aquela que no deve deixar seu filho esquecer que a l inguagem serve
ta m b m pa ra c om un i c a r . O i n v en to r d o
graf i tt i
F u t u r a2000 rev e l a d e m od o m o
d e r n o c o m o e l e e n c o n t r o u
esse
m o m e n t o d o l o r o s o d e s c r it o p o r F r e u d , ao
desco-
br i r
u m
alcance
essencialmente subversivo na escrita im ed iata da inve no de seu
n o v o
n om e, em qu e subi tam ente a autorid ade paterna lhe fez fa l ta , i lus tran do um a
verso da carncia do pai , log o que ele soube que t inh a s ido ado tad o (Fern and o
Jr. 2000 . Pois bem, nesse gnero de escrita que ele entendeu se sustentar com
s eu n ov o a l ter ego , c r i a n d o pa ra si u m n ov o n om e, um a n ov a i d en t i d a d e que re
presentar um a au torid ade . E da , de onde ele se sentiu desm oron ar, da ond e o
p i o r su rg i u , que ele inscreve seu ser fora do sentido no que ser o nome de seu
s i n -
thoma.
U m n o m e qu e e le quer que
seja
legvel pelo maior nmero de pessoas em
m o v i m e n t o . E m o u t r o s t e r m o s ,essen o v o n o m e , F u t u r a
2000,
escr i to no
t r e m
d o
m e t r o ,
se tornar o ponto de onde ele ser, a part i r de ento, v is to pelo maior n
mero possvel depessoas. Og r af i t t i me apareceu co m o o m elh or m eio de lanar
m i n h a n o v a i d e n t i d a d e .
Ma s ta m b m pel o
r ap
e pelo
hip hop
i n v e n t a d o p o reles como nova prt ica de
n o m e a o q u e
essesadolescentes
se apoiam emseusN om es - d o- P i or pa ra f az er v a
ler, s ob re um a O utracena, sua maneira de jogar com o W i t z f reud i a n o , que n o
quer a c a b e a d o O u t r o , mas
busca
traz-lo para sua causa. Trata-se de p r o d u z i r
u m a
dis tncia , mas completada por seu reconhecimento pelo O u t r o ; o tod o n o
C U F U N C A N 2 3 N O V 2 0 0 6
E B P MG
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
12/22
desconcertar o
O u t r o ,
preciso a inda obter seu consent imento, sua aquiescncia ;
preciso ainda que o O u t r o d i g a ' S i m ( M i l l e r ,
1995-1996 .
f u n o d o p a i n a m o d e r n i d a d e i r n i c a
Para
eles, qu e tm u m a po tnc ia agressiva q ue os faz ex pl od ir os semblantes , as pa
lavras so um a arma. Ass im , o uso qu e fazem da l ngua der iva meno s do h u m or , ou
do d i t o espir i tu oso, do qu e se impe co m o u ma provoca o l ing ua geira qu e visa
dest i tu ir o O u t r o d o saber eataca na raiz o lao social em sua verso irnica. Es
ses adolescentes n o s u por t am a m or t i f ic a o pr pri a l ngu a d o s e n t i do c o m u m ,
acreditando que a palavra est cheia de vida e deve ser autntica. Ela no deve en
ganar o
O u t r o ,
no deve conter nenhuma fa l ta . uma palavra que no mata a coi
sa, mas que a
coisa,
que a des igna co m o t a l , sem n enh u m a distncia .
Eles
encar
n a m , pela apresentao de seu ser, essa verso da modernidade i rnica .
E
p o r isso que o pai , ou aque le que endossa sua funo na atual idade moder
na , o que , ao dizer s im nomeao que
esses
jovens inve nta m , deve tam bm , de
sua posio de exceo
viva,
demonstrar como e le prpr io soube t o r n a ressa l ngua
viva, encarnada, dando- lhe seu prpr io empurrozinho. Isso impl ica
saber
c om o f a
zer com nossa apresentao, que deve tornar
viva
essa l n gu aqu e lh e s
oferecemos
e
qu e , a
cada
ins tante ,saibamos fazer o esforo de poesia necessrio para que a criemos
c o m
eles. Cr ia m os um a l ngua quan do a to do ins tante lhe damos u m sent id o, da-
mos-lhes um empurrozinho, sem o que a l ngua no seria viva. Ela viva pelo fato
de que, a
cada
ins tante , ns a cr iam os (Lacan,
1975-1976,
p. 133)
Criar uma l ngua, medida que o prpr io pai o demonstra , pe la maneira como
ele a habi ta , pe la maneira como e le sabe como fazer com as palavras , jogar a par
ti r d a q u i l o q u e o adolescente lh e d i s s e , m as t am b m por qu e a t odo m om e n t o e le
sabe
lhe dar u m sent id o, que no aque le da s ignif icao d o
O u t r o ,
que re je i ta por
no ser autntica. Dar um sentido suaa l ngu a qu e n oseja para
eles
s gozo, e is
o qu e pode s er u m a v e rs o m ode r n a daqu e le qu e oc u pa a fu n o d o N om e - d o- P a i
a on de r e i n a o N om e - do- P i or .Saber lhe dar um sent ido, diz Lacan, porque e la
o lugar em que o su je i to acede r e pr e s e n t a o e pode la r gar s e u N om e - do- P i or .
U m
s e n t i do qu e seja uma or ientao, aque la que par te do rea ldesses
adolescentes
em
direo ao O u t r o como lugar da representao, aque le onde elespode r o d i ze r
u m pou c o m ai s sobre aqu i lo qu e s o .Saber acolher sua apresentao, sua tomada
de posio naa l ngu a saber dizer s im a isso , ao mesmo tempo que lhes oferece
m os u m a l n gu a viva, qu e seja um vetor da ar t icu lao ao O u t r o , que lhes permita
ter acesso funo ar t icu latr ia da representao s igni f icante , a q u a l necessita d o
e m pu r r oz i n h o m e t a f r i c o e v oc ado por Lac an .
Cabe
que le que os
escuta encar-
INVENES P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
13/22
naressa funo metafr ica cu jo nome vem ens inar a comunicao, mas depois de
ter sabido dizer s im a uma par te de seu Nome-do-Pior .
E m outros termos , sua l ngua que causa gozo f r e qu e n t e m e n t e apenas
r ep et i
o , ruminao, palavra em espera que a interpretao visa liberar. A anlise visa
j u s t am e n t e r om pe r c om esse aut ismo ps quico que torna
ausente
ou impossvel o
desejo
q u e
necessita
de uma cesso de gozo. E ,
p o r t a n t o ,
na enunciao e a
part ir
da enunciao que se dessaperda de go zo q ue abre para a cr iao da q u a l o sujei
t o
ter de dec id ir , a p o s t er io r i , se ele se torna ou no responsvel , ouseja ele tem
de responder a isso se escutado pe lo O u t ro . A l ngua v iva , c om o l n gu adesejan-
te , aquela que comporta uma falta e se diz ao O u t r o , oferecendo-nos , ass im, a
chance de fazer u m ach ad o , u m buraco que valha no m u r o das ruminaes , por
onde euespere q u e m e udesejo encontre uma maneira de se bem-dizer .Esse
acha
d o alivia, um saldo de v ida , sob a condio de ser autent icado pe lo
O u t r o .
r o n l u i r
A propos io de Lacan de tornarviva a l ngua pelo fato de que, acada ins tante , ns
a cr iamos no se d ir ige tambm aos analistas? N o isso que se espera dos analis
tas, que nocessem de dar
esse
em pu rro zin ho , para que o estud o da l ngua de Jac-
ques
Lacan e a prtica da anlise permaneam vivos?
Devemos nos s i tuar a , valendo-nos do modo com que Lacan fa la do pai em seu
lt imo ens ino, no q u a l s i t u a o N om e - do- P a i c om o u m a n ov a f e r r am e n t a c on c e i
tuai .
Disso se deduz um O u t r o saber fazer com a l inguagem e tambm a funo
d o p ai , que de ensinar a com unica o queles para os quais o s im bl ico fa lha. I n
t r o d u z i r novamente a cl nica anal t ica a equivale a sublinhar que o analista justa
m e n t e aquele qu e pode facilitar, acompanhar, o recurso de
cada
su je i to a umsaber
fazer com sua herana de a l ngu a que deve se art icular l ngua do senso c o m u m
precisamente onde
este
falha.
E m U m a
antasia
Jacques-Alain
M i l l e r
indaga se a bssola da metfora paterna,
q u a n d o falha, deixa o sujeito sem discurso, e mesmo fora do discurso, is to , esqui
zofrnico
( M i l l e r
2005
p. 8 ) .
Essa
precisamente a questo do binmio neurose/
psicose diante do declnio do dipo e da funo do pai s imblico. Mas suficiente
dizer que um sujeito no se inscreve na metfora paterna paraassegurar-se de que
sua estrutura psictica?
Estamos in d o
em direo a um m u n d o psict ico? No h
razo parapensar assim, mas temos a responsabilidade de fazer saber que a psican
lise pode abrir novas vias desordem do adolescente antes que ele
acabe
na psico
pato logia . Com efeito, numerosas s ituaes testemunham desamarraes s imbli
cas que no deixam de evocar o risco da
psicose
ordinria: precariedade simblica e
C U R I N C A N 2 3 N O V 2 0 0 6
E BP MG
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
14/22
pregnncia do imag inrio, sem desencadeamento psic tico, mas co m u m parasitis
m o
problemtico da comunicao pela presena do
insulto
que faz buraco.
O nd i n a M a ch a d o - Per ten o S e o R i o d a E B P e t ra b a l h o n o Pro j e to D I G A I -
M a r .
Esse
projeto es t l igado ao I n s t i t u t o da Seo Rio, e se prope a fazer aten
d i m e n t o s
ps icanal t icos com crianas do Complexo da Mar. Trata-se da maior fa
vela do Bras i l e , pro vave lme nte, da A mrica Latina , com apr oxim ada me nte 140
m il h a b i tan tes . Tra b a lh a m os c om um a O N G , que se d ed i ca rea da ed uc a o .
Gostaria de lhe perguntar , em razo das questes m u i t o especficas das crianas e
adolescentes
da peri fe r ia , co m o operar com eles. Que recursos voc e sua equipe
uti l izam
para teracesso a
essas
crianas e para operar comelas?
L cia G ross i -
Gostaria de falar da autora que voc c i t o u , a j o v e m
filha
de mar
r o q u i n o s . A che i interessante que voc chamasse a sua escrita desi n t h omi ca pois
pensei que, se ela no estivesse na Frana, pro vavelm ente no escreveria . Esse u m
trao da
cultura
francesa e ela
parece
ter se servido disso para fazer
face
ao abando
n o d o pa i .
Pensei
tambm na questo da l ngua e na marcao que voc faz sobre
esse
trabalh o de inveno qu e os jovens da peri fer ia fazem c om ela. E m sua maio
ria, esses
jovens so
f i lhos
d e i m i gra n tes e pod em os d i z er que es t o c on f ron ta d os
co m d uas f orm a s d e n om ea r . C om o v oc t rouxe a v er ten te d o i n s u l t o , q u e aparece
sobr etu do nas msicas , oco rre u- m e a produ o denossas periferias, que se d pela
via o
unk
e do pagode, sob a forma mais de uma espcie de sexual izao do que
de
in s u l t o .
So letras picantes , que degrad am a m ulh er , cham and o-a , po r exem plo ,
d e c a c h o r r a .
Penseinessa
di ferena , ouseja na estratgia de
nossos
jovens , que
diferente daquela dos jovens da periferia francesa.
Ph i l ip pe L acad- Responderei s duas primeiras que stes baseando-me na po
sio de um a adolesc ente da pe rifer ia francesa. Ela diz qu e fala dessa maneira e
uti l iza
m uito s insul tos na sua l ingu age m para tom ar uma pos io. To m ar pos io
que r dizer que se trata de um a lngua que a apresenta, que se apresenta em seu
c o r p o , d i r e t a m e n t e p l u g a d a , e
atravessa
a sua alma. Podemos dizer que se tra
ta de uma l ngua de apresentao de seu ser. No se trata, pois , da l ngua do sen
so comum, que serve para se representar.
Sobre isso
i m p ort a n te f az er um a re fe
rncia a Lacan.
I n v e n t e i
o materna do
in s u l t o
ou da provocao, que se faz pela via da
l i ng u a
g e m .Essesjove ns se
ut i l izam
d e um s i gn if ic a n te c om pl eta m en te s oz i n h o , c om u m
valor
d e goz o , que o ob j e to a . A ss im, apresentam-se desta fo rm a:
s ,
a
INVENES T TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
15/22
pregnncia do imaginrio, sem desencadeamento psictico, mas com um parasitis
m o
problemtico da comunicao pela presena do insulto que faz buraco.
O nd i n a M a ch a d o - Per ten o S e o R i o d a E B P e t ra b a l h o n o Pro j e to D I G A I -
M a r . Esse projeto es t l igado ao I n s t i t u t o da Seo Rio, e se prope a fazer aten
d i m e n t o s ps icanal t icos com crianas do Complexo da Mar.
Trata-se
da maior fa
vela do Bras il e , pro vave lme nte, da A mrica Latin a , co m apr oxim ada m ente 140
m il h a b i ta n tes. Tra b a l h a m os c om um a O N G , que se d ed i c a rea d a ed uc a o .
Gostaria de lhe perguntar , em razo das questes m u i t o especficas das crianas e
adolescentes
da per i fer ia , co m o op erar com eles. Que recursos voc e sua equipe
uti l izam
para ter acesso a
essas
crianas e para operar comelas?
Lcia G ro ss i - Gostaria de falar da autora que voc c i t o u , a j o v e m filha de mar
r o q u i n o s .
A che i interessante que voc chamasse a sua escrita desi n t h omi ca pois
pensei que, se ela no estivesse na Frana, prov avelm ente no escreveria . Esse um
trao dac u l t ur a francesa e ela
parece
ter se servido disso para fazer face ao abando
no do pai .
Pensei
tambm na questo da l ngua e na marcao que voc faz sobre
esse
trabalh o de inveno que os jovens da peri fer ia fazem co m ela. E m sua m aio
ria, essesjovens so filhos d e i m i gra n tes e pod em os d i z er que es t o c o n f ron ta d os
c o m d ua s form a s d e n om ea r . Co m o v oc t rouxe a v er ten te d o
i n s u l t o ,
qu e aparece
s ob retu d o n as m s i c a s , oc orr eu- m e a prod u o d e nossas periferias , que se d pela
viao
unk
e do pagode, sob a forma mais de uma espcie de sexual izao do que
de
in s u l t o .
So letras picantes , que degradam a m ulh er , cham and o-a , po r exe m plo ,
d e c a c h o r r a . Pensei nessa di ferena , ou
seja
na estratgia de nossos jovens , que
diferente daquela dos jovens da periferiafrancesa.
Phi l ip pe L acad - Respon derei s duas primeiras queste s baseando-me n a po
sio de uma adolescente da periferia francesa. Ela diz que fala dessa maneira e
uti l iza
muitos insul tos na sua l inguagem para tomar uma pos io. Tomar pos io
que r dizer que se trata de um a l ngua que a apresenta, que se apresenta em seu
c o r p o , d i r e t a m e n t e p l u g a d a , e
atravessa
a sua alma. Podemos dizer que se tra
ta de uma l ngua de apresentao de seu ser. No se trata, pois , da l ngua do sen
so c o m u m , q u e serve para se representar.
Sobre isso
i m porta n te f a z er um a re f e
rncia a Lacan.
I n v e n t e i o materna do in s u l t o ou da provocao, que se faz pela via da l i ng u a
g e m . Esses jovens se
ut i l izam
d e um s i gn i f i c a n te c om pl eta m en te s oz i n h o , c om um
valor
de gozo, que o ob jeto
a .
A s s i m ,apresentam-se
desta
f o r m a :
S i
a
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
16/22
Se entramos no discurso corrente, no discurso que serve para se representar ,
u t i l i z amo s uma palavra e a art iculamos a outras palavras Sj-S2). Q u an do s e e n
tra na l ngua,sofre-se uma perda de gozo, que Lacan escreve c o m oa. C o m o
h o u
ve uma perda, o su je i to d i v i d i d o , perdeu a lguma coisa . Esta a l ngua da repre
sentao.
/ / a
Nessa
l ngua, o sujeito
consente
em se ar t icu lar com um
O u t r o . Essa
a funo
da art iculao, de que eu falava no incio, eessa a misso do pai : ensinar a ar t i
c u la o , ou
seja,
demonstrar como e le prpr io, como pai , se vira com as palavras.
A f i n a l , isso o que um pai faz. Ele ensina seu f i l h o a l idar c o m a l i n g u a g e m . S e m
isso, a cr iana f ica completamente soz inha. Ela u t i l i z a uma palavra , goza sozinha
e faz um corpo com a palavra . o que eu chamava, h pouco, de l ngua do cor
p o
pu lsi on al , co m a qua l e la se apresenta. Isso, to da via , isola-a do
O u t r o .
E mais
o u menos o que acontece com a psicose, e porisso qu e e u f a le i de m od e r n i da
de i r n i c a . E t am b m porisso que o t rabalho que se faz com essesadolescentes
o de dizer sim sua maneira de se apresentar. Ns os aceitamos desse j e i t o e d i
z e m os s i m .Nesse m o m e n t o ,eles vm e, ento, preciso cr iar lugares de art icula
o ,
e m qu e eles possam encontrar o gosto pelas palavras.
Para
t rabalhar com
esses
j ov en s , po r t an t o , u m po n t o i m p or t a n t e ac eit ar o qu e
eles inventam, sua maneira de falar . De um lado, preciso dizer s im, poisessa a
funo d o pa i : diz er s im a todas as novidades que seu
filho
i n v en t a . A o m e sm o t e m
p o , preciso ajud-los a se art icula rem aosaberd o O u t r o . Se ns os deixamos com
ple tamente soz inhos nessa inveno, no m u i t o provvel que
eles
possam sair dis
so. No se trata
necessariamente
deestar do lado das autoridades autoritrias, mas
preciso ser mais forte do que inventado poreles. E preciso aceitar suas invenes,
mas dizer que isso no basta, ou
seja,
preciso visar funo de articulao.
O n t e m , v i m o s u m caso
m u i t o
b o n i t o , a t e n d i d o p o r Suzana Bar r os o , o caso
Na ta n a e l , qu e de m on s t r ou u m pou c o c om o o pa i de N at an ae l e o pa i de Joyce se
d e m i t i r a m da funo de pai . Nocaso de
Joyce,
em vez de ensinar a cr iana, o pai
encarrego u sua educao aos jesutas . N o de Na tanae l , os encarregados for am os
franciscanos. A misso do pai ensinar a art iculao e por
isso
q u e , q u a n d o i n -
t e r v i mo s j u n t odesses
adolescentes,
preciso ajud-los a
aceder
representao,
aceder a u m a pe r da de go z o . N a
v ida
ass im. O agente da cas t rao a l ing ua gem
e m sua funo de ar t icu lao, e no em sua funo do gozo.
M ar i a JosGo n t i j o - Enquanto voc fa lava de como t rata
essas
invenesdesses
adolescentes
da per i fer ia , c i tando o
l ivro
dessa adolescente abandonada, lembre i -
C U R I N G A N 2 3 N O V 2 0 0 6
E B P M G
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
17/22
m e de qu an do F r e u d fa la das excees no textoAl guns t i pos de car er encont rados
no rabalho p s i cana l i co ( F r e u d ,1916), e pensei seessa no ser ia uma nova forma
de p r o d u z i r excees e tambm de t ratar as excees .Nesse t e x t o , Fr e u d d i z qu e
apessoa se s i tu a c om o e xc e o a u m a le i , a u m a n or m a, e n f i m , l i n gu age m , po r j
ter sofr ido demais e considerar que teria o d i r e i t o de
i n f r i n g i r
a l e i . O t r a t am e n t o
que voc d aessa questo, cu ja base a nomeao, pareceu-me uma dica precio
sa para que a gente possa ab or daressescasos n o c o m o F r e u d
d iz ia ,
c o m o a re t i
r ada de a lgo , u m r e c on h e c i m e n t o , do c am po do O u t r o . A lgica de Freud vai em
direo ao campo do Outro socia l , ao campo de uma le i const i tu da, e parece-me
que a via pela qual voc trata
esses
casos diz mais respeito ao sujeito. Gostaria de
saber se voc concorda com isso.
Jesus
Sant i ago - Voc considera que a formulao de Jacques-Alain
M i l l e r
sobre
a " m o d e r n i d a d e i r n i c a " c o n s t i t u i u m passo a mais no diagnstico do mal-estar
na civi lizao que e le prprio fazia e que era o da inexistncia do Outro?
6
C o m a
" m o d e r n i d a d e i rnica" , no se recusa mais que haja um O u t r o , apenas cons idera-
se que esse O u t r o es t r e d u z i d o f u n o d o " U m , i n t e ir a m e n t e s " . A c h e i m u i
to interessante a i de i a d o i n s u l t o , da provocao l ing uage ira , po rqu e nela o su je i to
m o d e r n o
s e c on f r on t a c om o
O u t r o .
Voc no acha que atese d a " m o d e r n i d a d e
irnica" abre uma perspect iva maior de ao em re lao ao mal-es tar contempo
rneo? Talvez possamos t om ar o t r ab a lh o do Fica
V i v o
e do Liberdade Ass is t ida,
em B e l o H o r i z o n t e , e o d o C o m p l e x o da M a r 7 , no Rio, como perspect ivas que
tm uma cer ta intuio dessa " m o d e r n i d a d e i r n i c a ".
Ph i l i p p e La cad
Acho que precisamos concluir que preciso salvar a l ngua.
A l ngua es t em per igo. Como dizia Lacan noSem i n io l i v r o 3 : a s
si coses
1955-
1956), o que caracteriza a l ngua que e la ambgua e est cheia de mal-enten-
didos
fund am entais . O m al -en ten did o precisa ser sa lvo. H u m be lo tex to de La
can chamado L e malent endu e m qu e ele d i z qu e " o h o m e m
nasce
m a l - e n t e n d i d o "
(Lacan, 1980, p . 11-14). E , por s e r m a l - e n t e n di do , recebe u m a h e r a n a d o O u
t r o :
o fa to de ter um corpo. Ns , ento, temos de sa lvar o mal-entendido.
" "A inexistncia do
O u t r o "
uma referncia ao seminrio
U ntrc qui
n existe
pas et ses comits
d^thique,
dc Jacques-Alain
M i l l e r c Eric La urc nt , real izado em Paris em 1997 e 1998.
O p rog rama
Fica V i v o
u m p ro je t o da
Secretaria
de
Defesa
Scia do Estado de M inas Gerais. Remetem os o le i tor ao
t ex t o Uma poltica de defesa
social
a cu aberto, de L u d m i l l aFeres F ar ia , p u b l i cado em C u r i n g a , n . 22 , 2006, p . 183-187.
O p rog rama Li b erdade Ass i sdda u m p ro je t o cr i ado p e laSecretaria
M u n i c ip a l
de Desen volv i men t o Soc i a l dc Be lo
H o r i
zon t e , com o ob je t i vo de p romover a re i n sero soc i a l de adolescentes de 12 a 18 que cometeram infraes previstas no
Estatuto da Criana e do Adole scente. O Liberda de Assist ida tem a parceria da Pastoral do M en or c da Arq uidio cese de
Be lo H or i z on t e , e con t a com o ap oi o do J u i zado da In fn c i a e do Adolescen t e . O N c l eo D IG A oferece a t e n d i m e n t o
psicanal t ico a cr ianas,adolescentes, familiares e professores da rede pblica de ensino no co mp lex o de favelas da Ma re,
inser indo suas
at ividades no contexto do Programa dc Criana Petrobrs do Centro de Estudos e Aes Solidrias da
M a r ( C E A S M ) , as s oc i a o civil sem f ins lucrat ivos que, desde 1 997, desenvolve projetos re lacionad os a edu ca o, cu l
tura, t rab a lh o , comu n i cao e memr i a soc i a l . C f . w w w . c b p r i o .c o m . b r / m a r c . h t m
INVENES
P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
18/22
A m od er nid ad e i r nic a , a c ivi lizao mod ern a, quer que no haja mais ma l-
entendidos . A revelao do discurso da c incia , em sua cpula com a rel ig io, tem
a ideia de que deve haver um homem sem mal-entendidos . E por
isso
que a psica
nlise est em
di f iculdade
n a Fra n a . As tera pi a s c ogn i t i v o- c om porta m en ta i s n o
q u e r e m
que o sujei to fa le , pois se interessam pelo comportamento e fazem uma
ideia de como o homem deve ser . Na Frana,
nesse
m o m e n t o ,
nossa
d i f i c u ld a d e
se
deve ao fato de que os pol ticos f izeram uma aliana com os terapeutas c o g n i t i v o -
com po rtam ent ais para dizer que, desde a idade de dois anos , pode-se saber se uma
criana se tornar um del inquente. No haveria mais mal-entendidos . Por i sso, os
psicanalistas tm grande responsabil idade no
m u n d o .
O luga r da ps icanl ise , o lu
gar da associao
l ivre ,
o lugar ond e o sujeito existe e ond e ele verif ica que ele
u m a exceo, a t para ele mesmo.
E f e t i v a m e n t e , c o m o diz iaJesus Santiago, n s no
estamos
mais na poca f reu
diana
do m al-estar na civil izao.
Esse
f o i o d i a gn s t i c o pro po s to por J a c ques -A l a in
M i l l e r
e Eric Laurent em seu curso
O O ut ro que no
xist
1997-98). Jacques-
A l a i n
M i l l e r se
j u n t o u
a Eric Laureant para representar uma verso da psicanlise
de Orienta o L acaniana, que um a orientao r u m o ao real , ou
seja,
aos pontos
de impasse da civil izao. No se trata mais do mal-estar freudiano.
Estamos
em
u m
tem po de impasse. E a l ingu age m que es t em qu esto q ua nd o a c iv il izao
se enco ntra em u m impasse. Por isso, precisamos pensar o m u n d o lu z do esqui
z of rn i c o , c om o d i z J a c ques - Al a i n
M i l l e r
em um tex to n ot v e l .
Precisamos
p e n
sar o mundo luz de uma c l n ica i rnica , pois o esquizofrnico aquele que no
consente
em passar pe l o O u t r o d o saber. Ele den uncia o arbi trrio do s igni f ican
te e
isso
tem efei tos sobre o seu corpo. Como ele no inscreve seu corpo na
l in
gua gem , n o recebe de
volta
a ideia de que tem u m corp o. Por i sso, te m u m cor
p o
despedaado.
E
m u i t o im po rt an te que nos interessemos pelas invenes de um sujei to . Qua n
d o
um sujeito vai ao psicanalista, ele inventa. Ele inventa sua maneira de falar e
o psicanalista isola os significantes de sua
a l ngu a
os s ignif icantes carregados de
gozo, a f im de operar a sua extrao. Mas nem todo mundo vai a um ps icanal is
ta .
O s
adolescentes,
que s o c on f ron ta d os c om um pon to d e i m pa s s e , i n v en ta m ,
como disse m u i t o b e m
A r t h u r
R i m b a ud . E a poc a em que eles e n c o n t r a m u m a
lngua e, po r isso, preciso ajud-los a sustentar a l ngua qu eeles i n v e n t a m . C o m o
disse R olan d Barthes , a adolescncia jus tamente u m m om en to em que se perde
o gosto pela fala.
Estamos
em uma poca em que se deve encontrar o gos to pela
fala.
M as o que a
fala?
A r t i c u l a r - s e a o O u t r o . A prov oc a o d a l i n gua gem um
apelo que se faz ao O u t r o . Prov oc a o v em d ep rov oca re que , em
la t im, s igni f i
ca ap elo ao o u t r o . Nesse sentido, no precisamos nos apresentar
nessa
verso
C U R I N G A N 2 3 N O V
2 0 0 6
E l i P MG
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
19/22
-
-
s-
d o O u t r o q u e sabe, do Outro que exis te . preciso se apresentar como um Ou
tr o que diz s im, mas que pede ao su je i to , com sua presena, que diga um pouco
mais sobre ele mesmo, para que
possa
efetivamente salvar a lngua que a sua pr
pria
l ngua. E por
isso
que se deve insist ir bastante sobre a l in gu ag em . N o
f u n d o ,
o
su je ito que nos interessa s exis te na l ing ua gem . O su je i to , co m o o pa i , uma h i
ptese . O Nome-do-Pai uma inveno do su je i to para dar um nome ao real que
lh e c on c e rn e , e m e l h or qu an d o se t e m u m O u t r o qu e r e spon d e ao N om e - d o- P a i
e que demonstra como e le mesmo se v i r o u co m isso, co m o e le se arr u m ou co m a
l ngua. Como ps icanal is tas , ento, temos a responsabi l idade de demonstrar como
ns mesmos nos v iramos co m a l ing ua gem , com o fazem os poetas , qu an d o in ven
t a m , e m r e la o a u m po n t o d e im pass e, u m a n om e a o .
Q u a n t o
questo sobre Freud, fa le i h pouco que a lguns
adolescentes
n o t i
n h am
mais
acesso
dvida s imblica, como se a dvida s imblica lhes t ivesse s ido
sequestrada. A
p a r t i r
d o m om e n t o e m qu e f a l am os , t od os n s d e v e m os a l gu m a
coisa
ao s i m b l i c o ,
estamos
em d vida co m o s im bl ico . Al is , porisso que a gen
te fala. Portanto, quando se trata de cr ianas que v ivem em lugares onde o s imbl i
co m u i t o precr io , m u i t o importante lhes propor lugares de fala, lugares de ar
t iculao da lei s ignificante . A
part i r
do momento em que se fala, no se est mais
fora da lei ; entra-se na lei s ign ifican te, nico luga r on de se p od e trata r a prpria ex
ceo. Se no houvesse o s ignificante, no se poderiasaber que se uma exceo.
Somos, cada
um de ns , uma exceo a ns mesmos .
isso
qu e apr e n d e m os c om
a psicanlise.
Somos
t od os e xc e e s .
Fernanda
D i a s
Sou daEBP-Rio e trabalho na favela da Cidade de Deus. Gos
taria d e vol ta r aohi p hop e questo da
i r o n i a ,
qu e v oc a r t i c u lo u c om a e s qu i zo
frenia, e qu e s t o d o a f as t am e n t o c om o o u t r a f or m a d e m an e j o d a l i n gu age m , c i
tada por Freud em seu texto O
humor
( F r e u d , 1927 . Gostaria de falar sobre um
rapperdz
C i d a d e d e D e u s , M V B i l l8 . E m u m a d esuas entrevistas, ele disse que sua
me foi um a p e . Ele une pai e me em uma s palavra , que t ra du z um a
c o n f i
gurao familiar
m u i t o
c o m u m nesse t ipo d e c om u n i d ad e . Gos t ar i a qu e v oc c o
mentasseessa soluo, gostar ia de saber seesse t i p o de contexto exis te onde voc
t rabalha , isto , se existe
esse
t i p o
de famlia em que no h homens ou em que
eles
apenas passam e que so chefiadas unicamente pelas mes.
C r i s t i n a Nogueira - Q ua nd o voc se re fer iu jov em que escreveu o l i v r o , des
t ac ou u m m om e n t o d e s of r i m e n t o e d i s s e qu e o pa idessa jovem era um pai que
nunca dissera s im. Queriasaber se voc
estava
se ref erin d o passagem d o Semin
9
* Alex Pereira
Barbosa A . K . A .
M V ( M e n s a g e ir o d a V e rd a d e ) B i l l
nasceu
n a Ci d ad e d e Deu s , comu n i d ad e q u e j f o i con s i
derada a mais violenta do Rio de Janeiro. I n i c i ou su a h i s t r i a ju n t o ao movi men t o hip hop em 198 4 , t en d o s i d o u m d os
f u n d ad ores da O N G Cen t ra l n i ca d as
Favelas
( C U F A ) , q u e b us ca , p o r i n t er m d i o d o m o v i m e n t o hip hop elevar a auto -
est ima das comunidades r desenvolver proje tossociaise culturais.
INVENES P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
20/22
r i o l i v r o5(1957-1958),
de Lac an , r e t om ada por M i l l er para acentuar a importn
c ia do "pai que diz s im" . Gostar ia tambm que voc falassesobre o ideal do eu,
sobre o qu a ldisse ser im po r t an t e para a sa da do c om ple x o de d ipo n o m e n i n o .
L e m b r e i - m e d o l ivroJuvent ude desori ent ada d e A u g u s tA i c h h o r n , qu e ressalta a
im por t n c ia do ide a l do e u n o t r ab a lho c om
esses
jovens .
Para
F r e u d , o e du c ador
deve ocupar de a lguma formaessa funo, se um educador com formao anal
t i c a ( Fr e u d , 1925).
Pa r t i c i p a n t e - Go star ia desaber como voc t rata a funo da cr iana como ob
j e t o a n o m u n d o m o d e r n o .
Pb i l i ppe La cad-N o Sem in io l i v r o 16 : de um O u t r o ao
outr o
( Lac an , 1968 -
1969), em uma das l ies de maio, Lacan fala da "segunda biografia
p r i m e i r a " ,
dita
i n f a n t i l , e d iz que o mais im po rta nt e para a cr iana entend er c om o o saber,
o gozo e o ob je to a lhe foram oferec idos . Eles lhe foram oferec idos pe la l i n g u a
g e m e , para que a l inguagem oferea a lguma
coisa
cr iana, preciso que
isso
se
sustente pe lo desejo do pai e pe lo desejo d a m e . Q u a n d o
chegamos
a o m u n d o ,
somos c on f r on t ados c om a lgu m qu e s e c ham a " m e " , m as sabemos disso
apenas
p o r q u e
o O u t r o d iz " m am e " . " M am e " o sign i f i can t e qu e o f e r e c ido c r ian a
para nomear esse ob j e t o b izar r o qu e se c ham a " m e " . O m e s m o acontece c om o
pai. A m e d iz : Esse o seu papai" , e a cr iana diz "papai" porque a me vai ofe
recer ao pai
esse
s ign i f i c an t e . A c rian a apr ee n de q u e t e m u m c or p o po r qu e , qu an
d o e la chora, o
O u t r o ,
que se chama mame, debrua-se sobre e la e diz : "Voc
e st c h or an do " A , c om e a o m a l - e n t e n d ido . S e r qu e ela c hor a p or q u e t e m f om e
o u
porque e la quer que
esse
ob je to b iz arro , que se chama m am e, a to m e nos bra
os? Ou ser que e la chora porque tem algumacoisa que no vai bem em seu cor
po? Essa a exis tnc ia humana.
Para q u e isso funcione , prec iso que ha ja l inguagem. O problema das cr ianas
da per i fer iafrancesa qu e , m u i t o f r e qu e n t e m e n t e , s o
descendentes
de i m i g r a n
tes. Seus pais falam a l ngua de seu pas de or igem e no o francs. Ento, apren
d e m
palavras de uma l ngua bizarra. Alis , toda l ngua bizarra para uma cr ian
a porque a l ngua de
seus
pais.Nesse
caso,
contudo, a inda mais b izarro porque
no se trata da lnguafrancesa,eisso cr ia tenses no nvel do corpo, como a
h ipera t i -
vidade ,
o
fracasso escolar,
uma certa violncia, pois no tm as palavras da lngua do
senso c o m u m p a ra t r a d u z i r o que
eles
f a lam e n t re s i . En t o , in v e n t am u m a l n gu a
que leva em conta a l ngua do pas de or igem, a l ngua francesa e t am b m a l n
gu a do c or po qu e t m .
Esse
o pr ob le m a
essencial.
Lacan sempre apreende o pai pelo vis da carncia. O pai sempre carente, ou
seja,
no es t a l tura do s ign i f icante que p oder ia dizer o que a cr iana tem no cor
p o . E qu an do no h pai a l gu m , mais terr ve l a inda, co m o d em onstra o l i v r o de
Faiza Gune , a jovem descendente d e m a r r o q u i n o s . U m a c r i a n a v e m c o m o u m
C U R I N G A N 2 3 N O V 2 0 0 6 E B P M G
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
21/22
e n i gm a re l ac i on ad o c om odesejodam e ,que odesejodoO u t r o ,e queanima
paraela a l in g u a g e m . Q u a n d oh essa animaodal i n g u a g e m , v e m a c im a o s igni
ficante d o N o m e - d o - P a i .E
isso
que est escri to napr i m e i ra par tedam e t f orapa
t e rna ,
em que ox
aparece.
Esses t rs termos so todaali n g u a g e m .Ox a pos io
da criana ,
a
pos i o
de seu
c o r p o
v i v o ,
que faz
c o m
que ela se
r e p o r t e
ao
O u t r o .
E , n o r m a l m e n t e , t u d o issop o s t o sobrea l i n g u a g e m .
Para
Fa i za G u n e ,
sua
existncia
no
mais
um
e n i g m a .
Paraela,
u m
des
t i n o de m e rd a . Elat e m certeza disso, noes t mais c onf ron tad acom o e n i gm a
d o desejodoO u t r o . C o m o elat e messe d e s t i n odem e r d a ,elai l u s t raa pos io
de ob je toa d a c r ian a c om o ob j e to - d e j e to , qu e n ocrmaisnal i n g u a g e m .A
l i n
gu age m , paraela, noacredi tar mais nop aiou na m e , po i s temu m a e x i s t n
cia
de
m e r d a .
Mas
como, a inda ass im, es t
na
l ngua , in ven ta para
si ,
dessap o s i
odeo b j e t oa o N o m e - d o - P i o r .No crmais noN o m e - d o - P a ie i n v e n t aesse
N o m e - d o - P i o r , para falar
sobre
a sua
c o n d i o
de
m e r d a . N a
v i d a ,
ela se faz en-
c u l h a r .
E, c o m o set ra tadesua l ngu a,prec is o d i ze r s i m ae la , m e s m o qu e d i
gamos que
isso
no
basta
p o r q u e ,se elav aiseapresentar aa l gu m para proc u rar
u m
e m p r e g o ,ou na
escola,
preciso queelafaleal nguadosenso c o m u m .Epre
c i s o , p o r t a n t o ,
que
r e c o n h e a m o s
o que elai n v e n t o u .
E m
seut e x t o sobre acrise dae d u c a o , H a n n a h A r e n d t d i zque
cada
criana
traz
c on s i go
um
e l e m e n to
de
n o v i d a d e .
O
n i c o prob l e m a
que os
a d u l t o s
no
so mais responsveis pe lo mundoque oferecem cr iana . Ser responsvel pelo
m u n d o que seoferece criana ajud-la afalara l ngua dosenso c o m u m ,com
base
nas
palavras
que ela
inventa para
si. E o que se faz em uma
f am l i a . Q u an
d o uma criana inventa uma palavra engraadinha, a g e n te r i ,a gente diz s i m .
A o
m e s m o t e m p o , p o r m , d i z e m o s a ela queseria
m u i t o
b o mse ela
falasse
c o m o
t o d o
m u n d o .
T R A D U O C r i s t i n a
D r n m m o n d
R E VI S O D A T R A D U O A n a C l a r k
INVENES P TERN S
-
5/20/2018 Lacadee-Modernidade Ironica e a Cidade de Deus
22/22
e f e r n c i a s b i b l i o g r f i c a s
A R E N D T ,
H a n n a h . A cr is e n a e d u c a o
1954).
E m : Entre o
passado
e o futuro. Sao Pau l o : Persp ect i va ,
1 9 7 9 .
D H C I A C C L A ,
A n t o n i o .
L c N o m - d t i - P r c : u n
t r o t i .
Letrre meusuellc, n . 24 7 . Par i s : c o l e de l a Cause f r e t i -
d i e n n e , 2006, p . 14-16.
F E R N A N D O
I r . , S . H . The new
beats:
culture,
musique,
et
attitudes
du bip-hop.
N i m c s :
K a r g o , 2000.
F R E U D , S i g m u n d . Romances f a m i l i a r e s 1908). E m : Edio Standard brasileira da s Obras psicolgicas
completas
de Sigmund Freud, v o l . I X . R i o d c J a n e ir o : I m a g o , 1976., p.241-247.
. A l g u n s t i p o s d c c a r t e r e n c o n t r a d o s n o t r a b a l h o p s i c a n a l t i c o
1916).
E m : Edio
Standard brasileira
das
Obras
psicolgicas
completas
de Sigmund Freud, v o l . X I V . O b . c it .
. Pre fc i o a Juventude
desorientada,
d e
A i c h h o r n
1925). E m : Edio
Standard
brasileira das
Obras
psicolgicas
completas
de Sigmund Freud,
v o l . X I X . O b . c i t .
. O
h u m o r 1927).
E m : Edio
Standard brasileira
da s
Obras
psicolgicas
completas
de Sigmund Freud,
v o l . X X I . O b . c it .
G U N P 1 , F a i z a . Amanh,
numa
boa
2004).
Ri o de J an e i ro :
N o v a
F r o n t e i r a , 2006.
K A F K A ,
F r a n z . Carta ao pai
1919).
P o r t o A l e g r e :
L P M
E d i t o r e s , 2006.
L A C A D E , P h i l i p p e . Le malentendu de 1 enfant. L a u s a n n e : d i t i o n s P a y o t L a u s a n n c , 2003.
L A C A N , Jacques. O Seminrio, livro 3: as psicoses 1955-1956). R i o d e J a n e i r o : Jorge Z a h a r E d i t o r , 1 9 8 5 .
. O Seminrio, livro 5: as formaes do
inconsciente 1957-1958).
R i o d e J a n e i r o :
Jorge
Z a h a r
E d i t o r ,
1 9 9 9 .
. Le Scminaire, livre XVI: d un Autre
1 autre
1968-1969). I n d i t o .
. O Seminrio, livro 17: o
avesso
da psicanlise 1969-1970) . R i o d e J a n e i r o : Jorge Z a h a r E d i t o r ,
1 9 9 2 .
. O Seminrio, livro 20:
mais, ainda 1972-1973).
Ri o de J an e i ro :
Jorge
Z a h a r
E d i t o r ,
1 9 8 5 .
. Le Seminaire, livre XXIII: le sintbome 1975-1976). Par i s : Seu i l , 2005.
. L e m a l e n t e n d u 1980). Ornicar?, n . 22-23. P a r i s : S e n i l , 1 9 8 1 , p . 11-14.
L I N S , P a u l o . La Cit de Dieu
1997).
Paris:
G a l l i m a r d ,
2003.
M I L L E R ,
J a c q u e s - A l a i n . La fuite du
sens
1995-1996). I n d i t o .
. U m a f a n t a s i a . Opo
Lacaniana,
n . 4 2 . S o P a u l o : E l i a , 2005, p . 7 - 18
. Peas avu l sas .
Opo
Lacaniana, n . 4 4 . S o P a u l o : E l i a , 2005, p . 9 - 2 7 .
. Peas avu l sas . Opo Lacaniana, n . 4 5 . S o P a u l o , E l i a , 2006, p . 9 - 3 0
C U R I N G A N 2 3 N O V 2 0 0 6
E B P M G