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formação. Acho que ela tem um significado muito intuitivo. A arte teve e tem poder na minha vida e queria proporcionar o mesmo a outras pessoas. Queria desmistificar esse universo”, fala. E assim nasceu a Kura, em 2018, da deman- da da consultoria de arte para montar coleções, um serviço comum na Europa e nos Estados Uni- dos. “O primeiro passo é entender a pessoa e a his- tória que ela quer contar para depois começar a montar uma coleção”, explica. Além disso, o time da Kura faz curadoria, oferece cursos de história da arte, de obras contemporâneas e movimentos importantes. Monta viagens voltadas para expo- sições de arte como a Bienal de Veneza. Prepara ativações de arte para clientes. “Gosto da ação disruptiva de levar a arte para lugares que não são geralmente dela, como shoppings. Nem só museus e galerias são espaços adequados.” E ain- da há um braço da organização que acompanha a carreira de jovens artistas em início de carreira. “Não representamos nenhum deles. Não somos uma galeria, justamente para poder, com isen- ção, indicar aqueles em que acreditamos. Mas ajudamos a se inscrever em prêmios e salões, por exemplo. Como se fôssemos um hub para desco- brir novos artistas.” Está na quinta edição um dos special pro- jects que mora no coração de Camila – o Caixa de Pandora. “Meu avô faleceu três meses antes de eu lançar a Kura, e foi sempre ele que me es- timulou a ler, mergulhar no universo da poesia e A Kura Arte, comandada por Camila Yunes, com- pleta 2 anos em abril. Mas ela conta que nada foi planejado ou programado. Arquiteta por forma- ção, aos 18 anos Camila criou um blog de arte, o Go Art. “Sempre fui muito exposta a feiras, ar- tistas e coleções, mas nunca tinha pensado em trabalhar com arte”, lembra ela. Em dois anos de faculdade, estava estagiando em um escritório quando a Galeria Nara Roesler me chamou.” Pou- co tempo depois, mudou para Paris para conti- nuar o curso, mas não gostou. E surgiu uma opor- tunidade de trabalhar na Galleria Continua, de San Giminiano. “Foi então que senti essa vontade de ajudar as pessoas, aconselhar mesmo, em re- lação à arte. Todo mundo pensa que ela é inaces- sível, só para intelectuais, muito cara. Mas nada disso é verdade”, continua. Camila começou, en- tão, a fazer a ponte entre os colecionadores e con- sumidores de arte e as feiras e exposições. “Há seis anos, eu estava prestes a lançar uma plata- forma online de compra de arte, que não chegou a estrear.” Eis que estava ela pela SP-Arte quando uma pessoa pediu para andar com ela pelo festi- val. “Ele disse: já coleciono modernos, mas que- ro comprar contemporâneos. Me ajuda? Decidi então criar a consultoria de arte”, diz. “Sempre acreditei na arte como um instrumento de trans- 153 NA PÁGINA AO LADO, DA ESQUERDA PARA A DIREITA, THAIS TEOTONIO, GABRIELA MARTINI BORGES, BIBA HABKA, CAMILA YUNES, MARGHERITA DE NATALE, TAMARA GANEM E ISABELLA CHRISTIANSEN LA VIE 152 ARTE CONCEITO POR KARINA HOLLO LA VIE CAMILA YUNES CONTA COMO PLANEJA DESMISTIFICAR E INSERIR A ARTE COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO NO DIA A DIA DAS PESSOAS POR MEIO DA KURA FOTO GABRIELA SCHMIDT DIREÇÃO CRIATIVA: CAMILA BOSSOLAN PRODUÇÃO DE MODA: PINGA

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Page 1: LA VIE ARTE CONCEITO€¦ · sições de arte como a Bienal de Veneza. Prepara ativações de arte para clientes. “Gosto da ação disruptiva de levar a arte para lugares que não

formação. Acho que ela tem um significado muito intuitivo. A arte teve e tem poder na minha vida e queria proporcionar o mesmo a outras pessoas. Queria desmistificar esse universo”, fala.

E assim nasceu a Kura, em 2018, da deman-

da da consultoria de arte para montar coleções, um ser viço comum na Europa e nos Estados Uni-dos. “O primeiro passo é entender a pessoa e a his-tória que ela quer contar para depois começar a montar uma coleção”, explica. A lém disso, o time da Kura faz curadoria, oferece cursos de história da arte, de obras contemporâneas e movimentos importantes. Monta viagens voltadas para expo-sições de arte como a Bienal de Veneza. Prepara ativações de arte para clientes. “Gosto da ação disruptiva de levar a arte para lugares que não são geralmente dela, como shoppings. Nem só museus e galerias são espaços adequados.” E ain-da há um braço da organização que acompanha a carreira de jovens artistas em início de carreira. “Não representamos nenhum deles. Não somos uma galeria, justamente para poder, com isen-ção, indicar aqueles em que acreditamos. Mas ajudamos a se inscrever em prêmios e salões, por exemplo. Como se fôssemos um hub para desco-brir novos artistas.”

Está na quinta edição um dos special pro-

jects que mora no coração de Camila – o Caixa de Pandora. “Meu avô faleceu três meses antes de eu lançar a Kura, e foi sempre ele que me es-timulou a ler, mergulhar no universo da poesia e

A Kura A rte, comandada por Camila Yunes, com-pleta 2 anos em abril. Mas ela conta que nada foi planejado ou programado. Arquiteta por forma-ção, aos 18 anos Camila criou um blog de arte, o Go A rt. “Sempre fui muito exposta a feiras, ar-tistas e coleções, mas nunca tinha pensado em trabalhar com arte”, lembra ela. Em dois anos de faculdade, estava estagiando em um escritório quando a Galeria Nara Roesler me chamou.” Pou-co tempo depois, mudou para Paris para conti-nuar o curso, mas não gostou. E surgiu uma opor-tunidade de trabalhar na Galleria Continua, de San Giminiano. “Foi então que senti essa vontade de ajudar as pessoas, aconselhar mesmo, em re-lação à arte. Todo mundo pensa que ela é inaces-sível, só para intelectuais, muito cara. Mas nada disso é verdade”, continua. Camila começou, en-tão, a fazer a ponte entre os colecionadores e con-sumidores de arte e as feiras e exposições. “Há seis anos, eu estava prestes a lançar uma plata-forma online de compra de arte, que não chegou a estrear.” Eis que estava ela pela SP-A rte quando uma pessoa pediu para andar com ela pelo festi-val. “Ele disse: já coleciono modernos, mas que-ro comprar contemporâneos. Me ajuda? Decidi então criar a consultoria de arte”, diz. “Sempre acreditei na arte como um instrumento de trans-

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NA PÁGINA AO LADO, DA ESQUERDA PARA A DIREITA, THAIS TEOTONIO, GABRIELA MARTINI BORGES, BIBA HABKA, CAMILA YUNES, MARGHERITA DE NATALE, TAMARA GANEM E ISABELLA CHRISTIANSEN

LA VIE152

ARTE CONCEITO

POR KARINA HOLLO

LA VIE

CAMILA YUNES CONTA COMO PLANEJA DESMISTIFICAR E INSERIR A ARTE COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO

NO DIA A DIA DAS PESSOAS POR MEIO DA KURA

FOTO

GABRIEL

A SCHMIDT

DIREÇ

ÃO CRI

ATIVA: CAMILA BOSSOLAN

PRODUÇÃO DE

MODA: PINGA

Page 2: LA VIE ARTE CONCEITO€¦ · sições de arte como a Bienal de Veneza. Prepara ativações de arte para clientes. “Gosto da ação disruptiva de levar a arte para lugares que não

está em fase de catalogação e reúne obras e ob-jetos de arte de diferentes países. Regina apre-senta inclusive uma inter venção sobre mobiliá-rio (Insólitas), que funciona como um elemento de estranheza dentro da casa. A mesa e as sete cadeiras revestidas de tecido de pelo preto arti-ficial simulam uma transformação inesperada: a animalização dos móveis da coleção.

OLHAR FEMININOTambém não foi planejado o time da Kura ser formado só por mulheres – são oito, no total, e cada uma incumbida de um braço do negócio. “A mulher tem uma supersensibilidade e equilíbrio. Uma a uma, elas foram chegando e expandindo a Kura”, diz Camila. “Mas temos características complementares, como yin e yang, o que é óti-mo para o trabalho.” Margherita de Natale é art advisor e toca os special projects, como o Cai-xa de Pandora. Gabriela Martini Borges é Latin A merica VIP Ambassador da feira Zonamaco e tem experiência em vendas, seleção e aquisição de obras de arte. A na atua na orientação para ar-tistas e na realização de produções e projetos ar-tísticos. Biba Habka cuida da área de marketing digital e redes sociais da Kura. Thais Teotonio é curadora e produz textos para exposições, proje-tos e portfólio. Isabella Christiansen fica com a área de catalogação de coleções privadas e ven-das na Kura. Tamara Ganem atua na realização de projetos especiais e no acompanhamento de artistas. “Como viajo muito profissionalmente, é importante ter uma equipe que toque o escri-tório. E mulher tem jogo de cintura. Essa ener-gia otimista é muito feminina, esse olhar para o novo, não é?”, finaliza Camila. •

das exposições, me ensinou a não só olhar e achar bonito ou feio, mas sentir a arte. E eu queria per-petuar isso.” Por isso, convida, a cada seis meses (na SP-A rte de abril e depois na de setembro), um artista para fazer uma releitura do acer vo de seus avós, Jorge e Ivani Yunes, que vai de 4 a.C a 1970. “A mo esse diálogo, essa conversa através do tempo.” Na primeira edição deste ano, é Regina Silveira (representada em São Paulo pela Gale-ria Luciana Brito) que faz a imersão, totalizan-do quatro inter venções para o projeto. A artista vai apresentar a exposição Inusitados, que ocupa espaços internos, o jardim e a piscina do casarão em São Paulo que abriga a coleção privada, que

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AO LADO, CAMILA YUNES, IDEALIZADORA DA KURA. NA PÁGINA AO LADO, A INTERVENÇÃO SOBRE MOBILIÁRIO INSÓLITAS, DE REGINA SILVEIRA, PARA CAIXA PANDORA

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