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    143PsicologiaUSP, So Paulo, 2013, 24(1), 143-164.

    AMPLIAO WINNICOTTIANA DA NOO FREUDIANA DE INCONSCIENTE1

    Leopoldo Fulgencio

    Resumo: Nesse artigo pretende-se analisar alguns desenvolvimentosque Winnicott props na compreenso do que o inconsciente, em acrscimo concepo

    freudiana do inconsciente reprimido e do recalque originrio. Para Freud, o inconsciente diz

    respeito ao que ele encontrou no tratamento de seus pacientes neurticos, para os quais o recalque

    o mecanismo de defesa por excelncia. Procura-se mostrar que Winnicott considera outros

    aspectos do inconsciente, que tm origem num momento em que o recalque ainda no existe

    como um mecanismo de defesa; que Winnicott desenvolveu a compreenso do que Freud havia

    intudo com sua noo derecalque originrio, na considerao de acontecimentos, contedos e

    modos de ser que podem ser qualicados como inconscientes, tais como cises, acontecimentos

    que foram vividos mas no puderam ser integrados ou experienciados como estando no campo

    de autonomia doself, bem como a aquisies de modos de ser-estar no mundo.

    Palavras-chave: Inconsciente. Recalque. Cises. Modo de ser. Brincar.

    Este artigo tem como objetivo analisar um conjunto de comentrios de Win-nicott que nos levam a reconhecer que ele se referia ao inconsciente na psicanlisecomo algo no redutvel ao inconsciente reprimido, desenvolvendo e ampliando aproposta de Freud. Para isso, ser necessrio explicitar as principais caractersticase diferenas entre as concepes de Freud e de Winnicott sobre um tema que sa-bemos ser o pilar central da teoria e do mtodo de tratamento psicanaltico, aindaque isso no signique produzir um ensaio exaustivo que aborde o tema em todas

    1 Artigo derivado de pesquisa apoiada por Bolsa Produtividade CNPq.

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    as suas nuances. Dada a amplitude e a complexidade desse tema, esteartigo prope delimitar a anlise da noo de inconsciente em Freud edas contribuies de Winnicott a este respeito, pensando nos referentesdescritivos (por oposio a especulativos) desse conceito, deixando paraoutro momento a anlise de suas caractersticas metapsicolgicas.2

    Para Freud (1900a)3, o inconsciente o psquico propriamente real.Ele o considera o primeiroxiboleteda psicanlise4, embora Freud no te-nha sido o nico a considerar a noo de inconsciente, seja na losoa5seja na psicologia6. Restrito anlise da psicanlise, procura-se explicitar,inicialmente, de que maneira Freud concebeu o que o inconsciente, se-lecionando apenas focos e temas desenvolvidos por ele que possam ser-vir para caracterizar as especicidades e as novidades da compreensoque Winnicott tem sobre esse conceito.

    Por um lado, sabido que Freud armou ser o inconsciente mais am-plo do que haveria sido ali colocado pelo mecanismo do recalque, ou seja,que a noo de um inconsciente reprimidono corresponde totalidadedo que inconsciente; por outro, porm, Freud no se debruou de formaextensa sobre a anlise do que seria esse outro componente do incons-componente do incons-

    ciente que difere do recalcado. Girard, por exemplo, analisando a obra deWinnicott, considera que o momento inicial em que a criana cuidadapelo meio ambiente no registrado em termos de contedos psquicosreprimidos: nessa unidade inicial criana-ambiente, tudo que diz respei-to aos cuidados no conhecido pela criana e no poder jamais retor-

    2 Alguns autores consideram que h dois corpos tericos na psicanlise (cf., por exemplo, Fulgencio, 2003, 2008;

    Grnbaum, 1984): um, no qual h referentes adequados para os conceitos propostos (resistncia, transferncia,

    complexo de dipo, represso etc.), e outro, para os quais no h referente adequado na realidade fenomnica

    (os conceitos metapsicolgicos, stricto sensu,tais como os conceitos de pulso [fora psquica], libido [energia

    psquica] e de aparelho psquico), todos reconhecidos por Freud como fazendo parte da superestrutura

    especulativada psicanlise ou, noutros termos, a sua metapsicologia. Este artigo, que procura analisar quais

    so os referentes dados por Winnicott ao termo inconsciente, distinguindo referentes factuais de referentesespeculativos, se insere numa discusso, em curso no Internationational Journal of Psychoanalysis, sobre a

    natureza e a funo da teorizao metapsicolgica na obra de Winnicott (cf. Fulgencio, 2007; Girard, 2010).

    3 Freud ser citado segundo a classicao estabelecida por Tyson e Strachey (1956).

    4 Xibolete uma palavra hebraica que encontramos no Velho Testamento (Livro dos Juzes 12, 6), usada para

    distinguir os que pertencem ou no a uma determinada tribo: s os que conseguem pronunciar corretamente a

    palavra pertencem a um determinado grupo. Freud considerou xiboletes da p sicanlise a noo de inconsciente

    (1923b, p. 258), a teoria dos sonhos (1933a, p. 37) e o Complexo de dipo (1905d, p. 165n). Para uma anlise mais

    detalhada desse tema, veja Fulgencio (2008).

    5 O prprio Kant diz que h representaes claras e obscuras, em funo de se darem ou no conscincia, e

    que estas ltimas so mais extensas na composio do psiquismo (Kant, 1798, pargrafo 5). Outros lsofos,

    como Schopenhauer e Nietzsche (para citar aqui apenas os mais inuentes para Freud), tambm consideram a

    existncia de processos psquicos inconscientes.

    6 Cf. o trabalho de Ellenberger (1970), analisando as propostas de psicoterapias que consideram a noo deinconsciente (Freud, Adler, Jung) como fundamento do psiquismo.

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    nar no processo de cura e na transferncia; esses acontecimentos no po-dem ser considerados como fatos que adviriam do desvelamento do re-calcamento (Girard, 2005, p. 20). O prprio Freud (1923b) j teria notadoque, nessa situao inicial, o que ocorre no poderia ser explicado combase na noo de recalque, levando-o a supor a existncia de um recal-que originrio. Winnicott (1960c/1983)7 reconheceu a direo do pensa-mento de Freud possvel que Freud estivesse tentando prever essesfenmenos quando usou o termo represso primria [primary repression],mas isto est aberto ao debate (p. 39) e desenvolveu outra maneira dedescrever e teorizar o que acontece nesse perodo e o que isso tem a vercom o inconsciente na psicanlise.

    Alguns comentadores da obra de Winnicott j se referiram ao fatode que h, nesse autor, uma noo de inconsciente diferente da de Freud.Phillips, por exemplo, sem abordar diretamente esse tema, comenta, en

    passant, que, no caso de situaes em que pessoas passam por uma ago-nia primitiva (agonia impensvel), ocorre uma impossibilidade de reali-zar a apreenso da situao: o que foi registrado inconscientemente, naperspectiva de Winnicott, foi uma interrupo, um apago, na ausncia

    da experincia pessoal do self. Winnicott (1988/1990) iria escrever sobreo inconsciente como, entre ouras coisas, um lugar onde privaes forammantidas (pp. 21-22). No se trata de algo que foi reprimido e retiradoda conscincia, mas da constituio de outro tipo de contedo para oinconsciente. Roussillon, distinguindo, em Freud, um inconsciente fun-cional (ou o pr-consciente) e um inconsciente recalcado, refere-se a umterceiro tipo (passvel de ser mais claramente reconhecido com base naobra de Winnicott), um inconsciente dissociado, que se refere ao que noteve lugar, que permanece potencialmente presente sem ter sido realiza-do, que se refere a algo vivido, mas no simbolizado:

    O que foi vivido e no simbolizado, o que assombra as alcovas da psique,

    vagando, [ca] procura de uma forma, de uma representao, de uma simplescapacidade de presena. Isso existe como inconsciente num sentido de existir

    enquanto um potencial. No a dor do que no foi possvel, talvez como

    mais tardiamente Freud teve a intuio, a culpa ligada ao que no aconteceu.

    (Roussillon, 1999, p. 18)

    Loparic (2006), por sua vez, arma que Winnicott, alm do incons-ciente reprimido, se referiu a um inconsciente que tem como referentealgo que deveria ter acontecido mas no aconteceu, constituindo um tipode falha ambiental vivida pelo indivduo, algo que foi, ento, guardadopor este, sem uma representao mental.

    7 A obra de Winnicott ser citada pela classicao estabelecida por Hjulmand (1999, 2007), dado que estarsendo usada na publicao das obras completas de Winnicott, tal como informou Abram (2008).

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    As referncias indicadas mostram que o tema j foi reconhecidopor diversos comentadores da obra de Winnicott, apontando para o re-conhecimento desse problema, mas no objetivo deste artigo anali-sar as hipteses propostas por esses comentadores a de Phillips, quearma que o inconsciente em Winnicott um lugar onde as privaesforam guardadas, a de Roussillon, que diferencia o inconsciente funcio-nal, recalcado e dissociado, e a de Loparic, que supe um inconscienteno acontecido, mas sim, reconhecendo que diversos comentadores daobra de Winnicott tm notado, explicitar quais so as especicidades dasconcepes de Winnicott, como ele mesmo caracteriza e distingue a suaconcepo de inconsciente da de Freud.

    Para especicar que tipo de distino Winnicott fez em relao noo de inconsciente determinada por Freud procura-se retomar, emlinhas gerais, a maneira como este autor explicita a sua noo de incons-ciente, tomando o cuidado de diferenciar os aspectos descritivos dos me-tapsicolgicos de suas concepes, para, ento, fazer o mesmo com aspropostas de Winnicott.

    1. Aspectos descritivos e metapsicolgicos da noo deinconsciente para Freud

    Em Interpretao dos sonhos, Freud (1900a) alude ao inconscienteda psicanlise como sendo diferente do inconsciente dos lsofos e dode Theodor Lipps8, querendo com isso dar um referente especco a essetermo. Segundo Freud, em Interpretao dos sonhos, o inconsciente cor-responde, por um lado, a um conjunto de ideias que no so conscien-tes, tendo sido tornadas inconscientes para evitarem incmodo (ou dorpsquica) conscincia (ao Eu consciente) do indivduo; por outro lado,

    corresponde a um sistema ou parte de um aparelho psquico.Freud procurou especicar, em diversos momentos de sua obra,qual seria o sentido especco que o termo inconsciente tem para a psi -canlise. Sua preocupao, nos principais textos nos quais trata dessetema, compreender os processos psquicos inconscientes como algoque tem um funcionamento diferente dos processos que ocorrem naconscincia, bem como os distinguir dos processos siolgicos. No en-tanto, ainda que os modos de funcionamento dos processos psquicosconscientes e inconscientes sejam distintos, Freud parece ter tomado oque encontrvel na conscincia como a sua referncia, de modo que,para ele, a diferena entre os contedos da conscincia e do inconsciente

    8 Para um estudo sobre as diferenas entre Freud e Lipps, veja Lipps (2001), Loparic (2001) e Fulgencio(2008, Parte II, Cap. 2).

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    seria, nos processos psquicos inconscientes, a falta da qualidade de se-rem conscientes (Freud, 1900a, 1915e).

    Em Notas sobre o inconsciente na psicanlise, Freud (1912g) con-sidera haver trs sentidos para o termo inconsciente (o descritivo, o di-nmicoe o sistmicoou metapsicolgico). Em primeiro lugar, trata-se deconsiderar que existem elementos psquicos que no so dados cons-cincia, mas que existem enquanto tais, no sendo tambm redutveisao corpo. Esses elementos so representaes de contedos cognitivosou representaes de estados mentais ou, ainda, representaes carre-gadas de afeto e afetos como representantes de estados mentais. Esseseria o referente e o sentido descritivodo termo inconsciente. Esses ele-mentos psquicos inconscientes agem entre si, tanto no presente quantona composio com o passado e o futuro (projetado) numa histria devida. Ao analisar o que so os atos falhos, Freud demonstra que ideiasconscientes e inconscientes se determinam entre si produzindo pensa-mentos e aes, levando-o, ento, a caracterizar essa dinmica como sen-do tambm o sentido e o referente dinmicodo termo inconsciente. Masisso no era uma novidade na histria das ideias, seja na losoa, seja

    na cincia. O que Freud considera novo, na sua concepo, corresponde sua considerao de que o inconsciente um sistema psquico, umadas partes que compem o aparelho psquico. Freud est ciente de queele especula, de que a noo de um aparelho psquico uma co te-rica (Freud, 1900a), um conceito de validade apenas heurstica, til parapesquisar e explicar as determinaes psquicas que geram sofrimentoe patologia. A um inconsciente assim concebido ele chama de sistmicoou o inconsciente no seu sentido propriamente metapsicolgico (Freud,1912g). Certamente no h prova emprica do inconsciente metapsicol-gico, mas to somente a considerao de que, dessa maneira, temos umganho de entendimento e de poder clnico. Diz Freud (1915e): Um ganhode sentido e de coerncia um motivo perfeitamente justicvel para ir

    alm dos limites da experincia direta (pp. 205-206).Na sua segunda tpica, Freud propor outra gurao para o apa-relho psquico, com novas instncias e um novo par de pulses. Nesse se-gundo quadro terico, o termo inconsciente passa a ser usado para quali-caros contedos ou partes dessas instncias. Pode-se armar, seguindoos comentrios de Laplanche & Pontalis (1967), que o lugar ocupado peloId na segunda tpica o sistema inconsciente (Ics) da primeira. Sendoassim, podemos armar que o sentido metapsicolgico ou sistmico danoo de inconsciente rearmada por Freud, ainda que seja necessrionotar que essa caracterizao metapsicolgica no pode ser consideradauma especulao pura, dado que est mesclada com a sua particulariza-o de um inconsciente descritivo e dinmico.

    Freud (1915e) reitera o fato de que tudo o que ele identicou comoinconsciente deriva de sua clnica com pacientes neurticos, nos quais o

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    mecanismo bsico de defesa contra as angstias, presente e constituinteda prpria neurose, o mecanismo do recalque. Isso faz com que Freud(1923b) considere que a noo de recalque est na base do seu conceitode inconsciente: Nosso conceito de inconsciente, ns o obtemos, pois,a partir da teoria recalcamento (pp. 259-260). Ainda que Freud (1915e)diga que o recalcado apenas uma parte do inconsciente, considera essemecanismo o modelo de referncia para pensar o que o inconsciente: orecalcado para ns o prottipo do inconsciente (Freud, 1923b, pp. 259-260). Nesse sentido, podemos dizer que a grande referncia de Freud aoinconsciente diz respeito ao inconsciente recalcado oureprimido.

    Freud (1915d) est ciente que o recalque propriamente dito exi-ge que j esteja dada a distino entre a conscincia e o inconsciente. Orecalque no fundador das instncias psquicas, o que o faz especularsobre a existncia de uma operao anterior, que realizaria, ento, essafundao, denominada recalque originrio (p. 191). O agente do recalca-mento secundrio certamente o Eu, mas, no caso do recalcamento ori-ginrio, o Eu ainda no est constitudo, o que leva Freud (1915e) a suporoutro tipo de ao constituidora do inconsciente, um mecanismo de con-

    trainvestimento com determinadas representaes se aglutinando (talcomo se fossem atradas umas pelas outras), compondo um aglomeradoque as qualicaria de inconscientes. Tambm, aps 1920, ele abordar umproblema parecido, armando que o Ego nasce por diferenciao do Id(Freud, 1923b). A caracterizao e explicao de como se d esse con-trainvestimento, ou de como o Id vai se diferenciando para constituir oEu, no foi claramente descrito por Freud.

    Apoiado na sua clnica com neurticos, Freud (1915e) julga que orecalque corresponde ao mecanismo que constitui o contedo do in-consciente reprimido; no entanto, ele tambm reconhece que h pontosobscuros na sua concepo sobre o inconsciente e que, talvez, o estudodas psicoses possa contribuir para esclarec-los.

    Em Interpretao dos sonhos, Freud se refere aos elementos psqui-cos inconscientes como sendo representaes, pensamentos, fantasias edesejos. J em O ego e o id, diz que foi pela compreenso dos sintomas,dos sonhos e dos atos falhos que ele sentiu-se obrigado a reconhecer aexistncia de processos psquicos inconscientes (Freud, 1923b). O que nosleva a armar, considerando essas referncias, que o inconsciente com-posto por um conjunto de representaes reprimidas (Freud, 1915e). Freudadmite, no entanto, que h mais do que isso no inconsciente, quer, porexemplo, devido s resistncias (que no so propriamente dizendo con-tedos recalcados), quer por considerar outros elementos constitucionaisdo indivduo, heranas logenticas, contedos que no so adquiridos nahistria do indivduo, dentre os quais se deveria contar as protofantasias.

    Ao pensarmos na segunda tpica freudiana, sabemos que tantoo Ego como o SuperEgo tm aspectos inconscientes, mas que no Id h

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    apenas contedos inconscientes. Se, por um lado, Freud (1923b) armaque o recalcado se mescla e se funde com o Id, por outro, o recalque cor-responde a apenas uma parte do Id, ainda que, nesse ponto, ele pareachegar ao limite daquilo que deve ser considerado um contedo psqui-co, reetindo, ento, que no Id est presente, como seu fundamento, tudoaquilo que a biologia e o destino da espcie humana produziram e noslegaram (p. 280), referindo-se a esses contedos, pois, como uma expres-so direta das pulses que impulsionam a vida psquica.

    Assim, para Freud (1915e), at mesmo as pulses, no inconsciente,s podem ser encontradas na forma de representaes. nesse senti-do que Laplanche & Pontalis (1967, verbete inconsciente) armam queos contedos do inconsciente, como um sistema, so representantesdaspulses. O que nos leva a armar que, para Freud, o inconsciente, em ter -mos psquicos, tem representaes como seus contedos.

    Esse sobrevoo na obra de Freud sobre quais so os elementos doinconsciente que no correspondem ao recalcado, remetendo-nos questo das origens, corresponde apenas a uma indicao que enqua-dra a anlise das referncias de Winnicott em outro tipo de inconsciente

    que difere do inconsciente reprimido, deixando, no entanto, uma srie delacunas para a compreenso desse tema em Freud. Alm disso, a preocu-pao em focar os referentes no especulativos da noo de inconscien-te delimitou esse sobrevoo, deixando de lado uma srie de formulaesde natureza metapsicolgica que, noutros contextos, seriam necessriaspara compreender a questo do originrio e do inconsciente na teoriafreudiana.

    2. Aspectos descritivos e metapsicolgicos da noo deinconsciente feita por Winnicott

    Se, por um lado, Winnicott reconhece que Freud deu um grandepasso em direo verdade cientca quando props a ideia de um In-consciente Dinmico, por outro, abandonou a concepo de um incons-ciente como um conceito metapsicolgico e considerou que a propostade Freud, referindo-se ao inconsciente reprimido, era insuciente paracompreender uma srie de fenmenos que ele pde apreender com suateoria do desenvolvimento afetivo e com a sua clnica tratando de pa-cientes psicticos e de bebs.

    Tambm para Winnicott (1989vl/1994) a represso est na gneseda neurose, caracterizando-a da seguinte maneira:

    Represso o nome dado perda, pela conscincia em uma pessoa mais oumenos saudvel, de um conjunto de sentimentos, memrias e ideias tendo como

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    causa a dor intolervel que ocorre quando so trazidos conscincia o amor e o

    dio coincidentes, bem como o temor retaliao. (Winnicott, 1988/1990, p. 159)

    Assim, o neurtico aquele ser humano que, tendo chegado in-tegrao como uma pessoa inteira,9vive conitos na administrao dasua vida instintual no relacionamento com outras pessoas num cenrioedpico e envolto em questes identicatrias (Winnicott, 1958m/2000).Winnicott (1945h/1997, 1963c/1983) diz que h, pois, nos neurticos,uma forma particular de inconsciente adequadamente denominvel in-consciente reprimido.

    Winnicott (1987d/1994) arma que a prpria existncia de um in-consciente, em termos mais gerais, s tem sentido quando alguma cons-cincia pode existir: no sendo conscientes, os bebs no podem ser in-conscientes (p. 94). Temos, pois, que considerar: 1) que, no incio, para obeb, no h lugar algum para qualquer referncia a algo que poderia serconsiderado com um inconsciente; 2) que o inconsciente reprimido s po-der ter existncia quando existir um amadurecimento no qual a distin-o Eu-noEu tiver sido alcanada, quando a diferenciao entre mundo

    externo e mundo interno possvel de ser experienciada, ou seja, quandoh uma integrao na qual pode haver um Eu que pode colocar em funcio-namento o mecanismo do recalque (Winnicott, 1984i/1999, 1989vl/1994).

    No incio do processo de desenvolvimento afetivo, a realidade ps-quica do ser humano se confunde com o prprio corpo. Diz Winnicott(1968d/1994): Para o beb no existe um consciente e um inconscientena rea que pretendo examinar. O que h, ali, um complexo anatmicoe siolgico, e, junto a isso, um potencial para o desenvolvimento de umapersonalidade humana (p. 79). O corpo no apenas a biologia, mas simesta ltima acrescentada de sentidos dados ao que ocorre com o corpo,sentidos que so dados pelo que Winnicott denominou elaborao ima-ginativadas funes corporais.10

    S um longo desenvolvimento, levando o indivduo sua unidadecomo sujeito psicolgico, tornar possvel o surgimento do mecanismode recalque e do inconsciente reprimido. Antes desse momento, em que oindivduo est integrado num EU, possvel agente da represso, ocorre um

    9 Chegado ao estgio do EU SOU e seguido, na fase do concernimento (ou posio depressiva), integrando no seu

    self tanto a sua instintualidade (o que, antes desse momento, era vivida como sendo algo exterior aoself) quanto

    seus impulsos amorosos e destrutivos, reconhecendo o outro tambm como pessoa inteira.

    10 A elaborao imaginativa(cf. Winnicott, 1965vf/2001, 1987b/1990 p. 77, carta a Victor Smirno de 19/11/1958,

    1988/1990) tem, no incio, um signicado muito simples, para tornarse cada vez mais complexa, participando

    desde a aquisio de uma noo de tempo e de espao, e do longo processo de personalizao (iniciado com o

    alojamento da psique no corpo e continuado em direo conquista do status de pessoa inteira), at funes

    altamente elaboradas, como sonhar, desejar e fantasiar (compreendendo, agora, esse fantasiar no seu sentido

    mais clssico, relativa a uma construo imaginria do indivduo e das relaes do indivduo com base em suasrepresentaes mais ou menos deformadas, mais ou menos deslocadas).

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    conjunto signicativo de integraes do indivduo, tais como a constitui-o de uma noo de temporalidade, de espacialidade, a unio entre aqui-lo que acontece com o corpo e os sentidos dados a esses acontecimentos(caracterizando o que Winnicott denominou alojamento da psique nocorpo), que dizem respeito a modos de ser-estar no mundo, de como o serpode seguir em sua continuidade, apoiado e sustentado pelo ambiente.Esses modos de ser so integraes e conquistas do processo de desen-volvimento afetivo que no so dados conscientes e que, nesse sentidoamplo, mereceriam ser qualicados como inconscientes, mas certamenteno correspondem ao inconsciente reprimido descrito por Freud.

    Winnicott (1955d/2000, 1989vl/1994) dir que h dois grandes po-los da psicopatologia a serem considerados: o da neurose e o da psico-se. Entre eles h um conjunto de possibilidades intermedirias, dentre asquais ele colocar todos os tipos de depresso, alm de incluir uma sriede sintomas relativos aos transtornos psicossomticos e a atitude antis-social. No a classicao psicopatolgica que quero colocar em foco,mas a compreenso da distino dos processos psquicos inconscientesem cada um desses extremos.

    Enquanto o inconsciente reprimidoestaria, necessariamente, ligadoao neurtico, no caso dos psicticos, Winnicott (1963c/1983) percebe ou-tro tipo de processo de defesa contra a angstia que decorre das falhasde sustentao ambiental num momento em que o indivduo ainda notem um Eu integrado ou, noutros termos, outro tipo de organizao oude contedo inconsciente: A represso faz parte da neurose, assim comoo splittingda personalidade faz parte da psicose (p. 197).

    H de se considerar duas situaes: nos casos patolgicos, aquelaspessoas cujos estgios mais iniciais de desenvolvimento so incomple-tos e esta qualidade domina o quadro clnico (Winnicott, 1989vl/1994, p.53); noutra, quando h sade, o processo de amadurecimento ainda nochegou ao estgio em que h uma pessoa inteira (com um mundo inter-

    no e um mundo externo diferenciados) que se relaciona com os outrostambm tomados e reconhecidos como pessoas inteiras.Pacientes psicticos so pessoas no integradas e a ciso a carac-

    terstica dominante. Nesse caso, no possvel considerar um inconscien-te reprimido, pois este exige condies que ainda no foram alcanadas:no possvel a uma personalidade cindida ter um inconsciente repri-mido, por no haver lugar para ele car (Winnicott, 1964h/1994, p. 370),ou ainda, a ciso toma o lugar do inconsciente reprimido do psiconeur-tico (1968c/1994, p. 152).

    O tratamento dos pacientes cuja personalidade est cindida nocorresponde a trazer um inconsciente reprimido tona, mas a outro tipode trabalho que pressupe lidar com a ciso do paciente, buscando lhe

    dar as condies ambientais para amadurecer (integrar-se) em direo constituio da unidade chamada EU.

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    No artigo Medo do colapso, de 1974, Winnicott arma que algunspacientes temem viver um tipo de loucura que na verdade j ocorreu, umcolapso j vivido, mas que no pode ser experimentado. Esse fato ocorrido,que o paciente guarda consigo, corresponde a um trauma tornado incons-ciente, que determina a vida do paciente, ainda que esse algo inconscienteno possa ser considerado inconsciente pelo recalque. Procurando especi-car que tipo de inconsciente esse, Winnicott (1974/1994) explicita:

    Trata-se de um fato que se carrega consigo, escondido no inconsciente. Este

    ltimo aqui, no exatamente o inconsciente reprimido da psiconeurose, nem,

    tampouco, o inconsciente da formulao freudiana da parte da psique que se

    acha muito prxima do funcionamento neurosiolgico. (p. 73)

    Algo foi vivido, guardado na memria, certamente no propria-mente como um contedo reprimido nem como algo que possa ser, nosentido estrito do termo, lembrado, tampouco como a representao dealgo, mas, mesmo assim, permanecer como parte da psique daquelapessoa. Winnicott (1989vl/1994) diz que algo foi vivido, mas no foi expe-

    rienciado, ocorrendo um tipo de morte fenomenal.11

    No obstante, o trauma ocorreu e cou registrado. Esse fato, guar-dado no inconsciente, no pode ser uma representao que o EU fariade tal ou tal acontecimento, dado que esse EU ainda no est l: Nestecontexto especial, o inconsciente quer dizer que a integrao do ego no capaz de abranger algo. O ego imaturo demais para reunir todos os fe-nmenos dentro da rea da onipotncia pessoal (Winnicott, 1974/1994,p. 73). angstia a vivida denominada por Winnicott agonia impen-svel [unthinkableanxiety] (cf. em Winnicott, 1989vh/1994, p. 99),12dadoque h um EU integrado que pode pensar ou mesmo ter essa experin-cia. Assim, um dos aspectos desses elementos inconscientes guardados ou congelados pelo indivduo, como explicita Winnicott (1955d/2000)

    corresponde a algo vivido, mas que no pode ser experienciado, comouma morte fenomenal(1974/1994), que permaneceria como um dado in-consciente espera de melhores condies para ser retomado e integra-do na rea do self (1960c/1983).

    Outro aspecto desse inconsciente que permanece no indivduocomo um tipo de acontecimento a ser integrado no campo do selfdizrespeito a momentos em que nada aconteceu quando algo poderia pro-veitosamente ter acontecido (1974/1994, p. 75), um tipo de necessida-

    11 Para fornecer um contedo mais intuitivo a essa expresso de Winnicott (1974/1994, p. 75), ou seja, a tal fato

    vivido masno experienciado, Winnicott o compara com o qu e ocorre com o bulbo e a or que dele emana quando

    amadurece: o perfume da or qual o bulbo dar origem est l, mas nenhuma dissecao ou anlise poderia

    encontrlo, s o desenvolvimento dessa situao o far presente (1989vl/1994, pp. 99100).

    12 Ele descreve estas agonias impensveis como tendo algumas poucas variedades: 1. quebrar em pedaos; 2. cairpara sempre; 3. no ter conexo alguma com o corpo; 4. carecer de orientao (1965n/1983, p. 57)

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    de e/ou expectativa que era importante para a continuidade de ser doindivduo, mas que, por falha ambiental, no ocorreu. Talvez seja o casode supor, como j foi sugerido por Loparic, (1999), um inconsciente no-acontecido.13

    Muitos outros adjetivos poderiam qualicar esse tipo de incons-ciente (cindido, no sustentado no tempo, norepresentacional etc.),especialmente ligando-o a acontecimentos patolgicos, a falhas am-bientais, impossibilidade de integrao de acontecimentos vividos emfuno da imaturidade do indivduo, a noacontecidos, a elementos cin-didos no indivduo. Esse conjunto de adjetivos nos levaria a considerar,ento, no caso da patologia, um inconsciente impensvel ou agonias im-pensveis, um inconsciente congelado, enm, um inconsciente que dife-re do inconsciente reprimido tal como Freud props. O que importa aqui a caracterizao do tipo de dado que se torna inconsciente, mostrandoque estamos num campo em que no uma representao (seja a repre-sentao de coisa, seja a representao de palavra, ou melhor, represen-tao por meio de palavras [conceitos]) que tornada inconsciente, masoutro tipo de dado psquico.

    Caberia perguntar que tipo de inconsciente ca presente nos casossaudveis em que no h ainda integrao do selfpara que o mecanis-mo de represso possa ocorrer, mas em que h uma srie de vivnciasque, na maturidade posterior, no esto presentes na conscincia e nempor isso podem ser ditas reprimidas. Segundo Winnicott (1965j/1983), oinconsciente que nunca pode se tornar consciente no anlogo ao in-consciente reprimido, mas se trata de um inconsciente no redutvel aum conjunto de representaes, que gerado num momento em que obeb imaturo para ter representaes mentais.

    Winnicott (1989xf/1994), coerentemente, passa a denomin-lo in-consciente primrio (p. 343). J comentamos o fato de que, no perodopr-natal e logo aps o nascimento, a vida psquica se confunde com a

    somtica (1968d/1994); mas no se trata apenas de um corpo que rece-(1968d/1994); mas no se trata apenas de um corpo que rece-be sentidos, cujas experincias so catalogadas, organizadas, separadase relacionadas (1965n/1983) um corpo biolgico , mas do corpo queest sendo colorido semanticamente pela elaborao imaginativa dasfunes corporais.

    Com a continuidade do processo de amadurecimento, nessa faseinicial, que Winnicott denomina fase da dependncia absoluta e da de-pendncia relativa14, temos um conjunto amplo de integraes que no

    13 Essa maneira de enunciar ou interpretar o que props Winnicott, considerando que h um inconsciente no

    acontecido, traz problemas lgicos e ep istemolgicos. No entanto, o problema aqui no aprofundar e procurar

    resolver uma aparente contradio ou um paradoxo, mas sim considerar que h, em Winnicott, um inconsciente

    que no corresponde ao inconsciente reprimido de Freud.

    14 Veja em Winnicott (1965r/1983), uma apresentao da teoria do desenvolvimento afetivo em termos do tipo dedependncia que o indivduo vive em relao ao ambiente.

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    so, de forma alguma, dados logenticos, mas aquisies que ocorremporque h uma sustentao ambiental das necessidades de ser, a saber:a temporalizao, a espacializao, o alojamento da psique no corpo, odesenvolvimento da capacidade de ter f, o primeiro reconhecimento dadependncia, a criao-encontro dos objetos e fenmenos transicionais, aconstituio de um modo de ser-estar no mundo marcado pela distinoEu-NoEu, a conquista da capacidade de brincaretc. Todas essas aquisiesou conquistas no podem ser tidas como representaes, nem como afe-tos; elas so, mais propriamente, modos de ser e modos de ser no mundo.

    Podemos comentar alguns aspectos que caracterizam determina-dos modos de ser relacionados com o mundo e com o outro tais comoa capacidade de ter f em... e a capacidade de brincar como caracte-rsticos de um inconsciente primrio ou constitucional, buscando forne-cer descries mais objetivas sobre esse inconsciente. Poder-se-ia objetarque esses aspectos associados s conquistas mais primitivas (tempora-lizao, espacializao, personalizao, capacidade de ter f etc.), bemcomo s agonias impensveis, so de natureza cronolgica e afetiva ds-pares da capacidade de brincar e, portanto, no deveriam ser colocadas,

    juntas, como fazendo parte desse inconsciente primrio. No entanto, sepensamos nessas conquistas como integraes do indivduo, levando-o possibilidade de ser e armar-se como um self, essas conquistas po-dem ser elementos e processos psquicos inconscientes que, por sua vez,no so elementos ou processos (dinmicas e conitos) recalcados, aindaque, no desenvolvimento do indivduo que chega possibilidade de usaro recalque como mecanismo de defesa, este pode gerar conitos incons-cientes recalcados que dicultam ou mesmo impedem esses modos deser no mundo. Farei a seguir alguns comentrios para explicitar o queacabo de armar.

    Um ambiente sucientemente bom, que, mesmo sendo imperfeito,entende e atende s necessidades da criana, ou seja, fornece-lhe os ob-

    jetos de que tem necessidade, acaba por gerar, na criana, um tipo de f eesperana: considerando uma adaptao ambiental que no desapontaa criana nesse momento, ela pode constituir em si mesma a possibili-dade de ter f em..., isto , de ter a esperana e a expectativa de que hno mundo o que ela precisa, de que ela pode encontrar no mundo o queest de acordo com as suas necessidades (cf. Winnicott, 1963d, 1986k).Trata-se, na verdade, da conana, dada pela adaptao ambiental, deque a necessidade (de ser) ser atendida, de que a linha da vida no serquebrada. a capacidade de acreditar ou ter f, e no exatamente f nis-so ou naquilo, ou seja, f de que possvel SER, pois o mundo que tornapossvel esse ser um mundo que no a desaponta.

    Na continuidade desse processo, quando h sade, surgem os ob-

    jetos e fenmenos transicionais, os quais no so tambm, por sua vez,apenas um conjunto de projees e introjees, mas modos de ser-es -

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    tar e de se relacionar consigo e com o mundo. Mais importante do queos objetos transicionais em si (um pano, um ursinho etc.), a maneiracomo o indivduo se relaciona com eles (Winnicott, 1953c/1975, p. 15).Esse modo de relao corresponde tambm aquisio da capacidade epossibilidade de brincar, como um aspecto universal da natureza huma-na. Ao caracterizar o que a ao de brincar e o que deriva dela, Winni-cott (1971r/1975) dir que ela uma forma de comunicao que leva aoencontro de si mesmo e do outro, e que a psicanlise foi desenvolvidacomo forma altamente especializada do brincar, a servio da comunica-o consigo mesmo e com os outros (1968i/1975, p. 63).

    A incapacidade de brincar uma imaturidade que deve ser trata-da pela sustentao ambiental, exercendo o que Winnicott caracterizoucomo iluso de contato, que ocorre na vivncia dos fenmenos transicio-nais. Quando encontramos um paciente que no sabe brincar, que noamadureceu a este ponto, cabe ao analista lev-lo a essa conquista; issoocorre em funo da sustentao ambiental que o analista pode fazer,que corresponde a uma experincia de comunicao e de contato ver-dadeiros. Nesse sentido, o trabalho do analista no acessar o incons- acessar o incons-acessar o incons-

    ciente reprimido, mas tornar possvel um modo de ser e experienci-locom o paciente.15A brincadeira, como modo de ser-estar, corresponde,pois, a um modo de ser inconsciente, partilhvel ou compartilhvel entrepaciente e analista, que deve ser desenvolvido; mais ainda, deve ser de-senvolvido como uma capacidade que funciona inconscientemente. Se abrincadeira for planejada conscientemente, ela perde sua caractersticaessencial, que a sua espontaneidade criativa.

    Os contedos desse inconsciente primriono so, propriamente,contedos psquicos, no so ideias nem representaes de afetos ou deestados mentais. Na sade, so modos de ser e estar pelos quais se podeoperar no mundo (1986h/1994); na patologia, correspondem a cises, emesmo no acontecidos, espera de condies para serem integrados

    no campo do self. No so, pois, contedos reprimidos ou objeto de me-canismos de defesa (relativos aos contedos da mente), mesmo que pos-sam ser objeto de outros mecanismos de defesa (ciso, no integraocorpo e psique, congelamento quando da falha ambiental etc.). No obs-tante, com o amadurecimento e integraes do indivduo e a conquistade modos de ser que incluem a possibilidade de representar, bem comoa de recalcar elementos e conitos que dizem respeito administraoda vida instintual nas relaes interpessoais, ou seja, com a conquista dacapacidade de representar e de recalcar, as representaes e os afetos

    15 Observe a questo do destino dos objetos transicionais. Estes no se tornaro inconscientes porque reprimidos,

    mas caro inconscientes porque esquecidos, podendo ser lembrados em momentos de regresso (1989i/1994,

    pp. 4647). Sendo assim, o destino dos objetos transicionais, na sade, serem esquecidos num fundo dearmrio, carem num tipo de limbo, nem perdidos nem reprimidos.

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    tambm estaro associados a esse inconsciente, amalgamando-se comos contedos de um inconsciente reprimido.

    O inconsciente primrio, na sade ou na patologia, ser o alicercedo desenvolvimento afetivo. Na sade, esse alicerce dar as bases paraque a neurose possa ser edicada e, mesmo assim, no so propriamentecontedos nem vivncias reprimidas, nem mesmo retidas em funo daangstia. Um inconsciente no exatamente representvel, ou ainda, pas-svel de ser facilmente colocado em palavras ou numa forma discursiva(talvez nas artes isso seja possvel), mas sempre real e presente em todosos modos de ser-estar no mundo, infantis ou adultos.

    No caso dos neurticos, no h dvida que caber ao analista tratardo inconsciente reprimido, dado que essas determinaes inconscientestornam a vida do paciente constrangida. Ao referir-se aos psicticos, noentanto, Winnicott (1988/1990) arma que os problemas desses pacien-tes dizem respeito luta para alcanarem a vida, ou seja, possibilidadede se integrarem para, ento, terem problemas propriamente relacionais:um tratamento bem-sucedido de um psictico permite que o pacien-te comece a viver e comece a experimentar as diculdades inerentes

    vida (p. 100). Para chegar vida, trata-se, ento, de integrar-se no tempo,no espao, personalizar-se em termos de realizar uma integrao (alo-jamento) da psique no corpo, ter f no mundo (ter esperana de que possvel encontrar no mundo aquilo de que se necessita para ser), podercriar e encontrar o mundo (o que signica ter conquistado a capacidadede brincar), e da conquista da unidade do sujeito psicolgico em termosda integrao EU SOU e, depois, da chegada ao statusde pessoa inteira.Essas integraes no se do em funo do mecanismo de recalque, massim pela sustentao ambiental.

    Nesse sentido, possvel compreender um pouco mais por que amaior parte do trabalho analtico ocorre em funo de modos de ser in-conscientes, isso sem que esqueamos a importncia e a presena das

    determinaes psquicas que advm do inconsciente reprimido, que pre-cisa ser interpretado na transferncia.Nenhuma das referncias de Winnicott ao inconsciente so rela-

    tivas a instncias psquicas, a guraes de partes de um ctcio apa-relho psquico. No so ces tericas, ces heursticas, como asque encontramos em Freud para gurar, tornar visvel, o que ocorrena vida psquica. O prprio Green notou que Winnicott (2005) no usaa noo de aparelho psquico; o que torna possvel armar, apoiadotambm no desenvolvimento que z at agora, que Winnicott no serefere ao inconsciente como um sistema psquico, ou seja, em termosmetapsicolgicos. Tanto a noo de inconsciente reprimido como a deum inconsciente primrio so conceitos que se referem a modos de

    funcionamento pessoais reconhecveis objetivamente na experinciafactual. No se trata, para Winnicott, de uma gurao ou analogia, mas

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    de um inconsciente relativo a contedos e vivncias da histria pessoale relacional de um ser humano, seja nos casos em que h representaesreprimidas, seja nos casos em que esse inconsciente composto de ele-mentos no propriamente representveis.

    Pode-se armar que Winnicott, apoiado na compreenso queFreud forneceu sobre o que a vida psquica inconsciente, desenvolveue ampliou o entendimento sobre o que so as determinaes psquicasinconscientes, para alm da dimenso do inconsciente reprimido. Seumodo de teorizar afastou-se do uso de ces tericas, do uso de ana -logias e guraes especulativas, diferenciando-o, epistemologicamentefalando, de outros autores ps-Freud que aprofundaram, desenvolverame mesmo reformularam a metapsicologia freudiana propondo outrassuperestruturas especulativas. No se trata, a meu ver, de uma questoterica, ou losco-epistemolgica, mas sim de, consideradas essas pro-posies de Winnicott, vericar que desdobramentos clnicos advm desua compreenso do que o inconsciente e suas determinaes.

    Winnicottian enlargement of the Freudian concept of unconscious

    Abstract: The purpose of this article is to examine some developments proposed by

    Winnicott in the understanding of what the unconscious is, an addition to the Freudianconception of repressed unconscious and that of primary repression. For Freud,

    this unconscious is related to what he discovered in the treatment of his neurotic

    patients who nd in the repression a defence mechanism par excellence. It will be

    shown that Winnicott considers other aspects of the unconscious which originate

    when repression does not exist as a defence mechanism; that Winnicott developed

    the understanding of what Freud had conceived with his notion ofprimary repression,

    by considering events, contents and modes of being which may be characterized as

    unconscious such as splitting, events which were lived but couldnt be integrated or

    experienced in the eld of autonomy of the self, as well as some acquisitions of modes

    of being in the world.

    Keywords: Unconscious. Repression. Splitting. Mode of being. Playing.

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    158 AMPLIAO WINNICOTTIANA DA NOO FREUDIANA DE INCONSCIENTE LeopoLdoFuLgencio

    largissement winnicottien du concept freudien de linconscient

    Rsum: Dans cet article, il y a eu lintention danalyser quelques dveloppements

    proposs par Winnicott dans la comprhension de ce quest linconscient, venant

    sajouter la conception freudienne de linconscient rprim et de refoulement

    originaire. Pour Freud cet inconscient se rapporte ce quil a trouv dans le traitement

    de ses patients nvrotiques, pour lesquels le refoulement est le mcanisme de

    dfense par excellence. On montrera que Winnicott considre dautres aspects de

    linconscient ayant leur origine un moment o le refoulement nexiste pas encore

    comme mcanisme de dfense; que Winnicott a dvelopp la comprhension de

    ce que Freud avait eu comme intuition avec sa notion de refoulement originaire,

    en considrant des vnements, des contenus et des modes dtres pouvant tre

    qualis comme inconscients, tels que les clivages, les vnements vcus mais pas

    intgrs ou expriments dans le champ dautonomie du moi, ainsi que quelques

    acquisitions de modes dtre dans le monde.

    Mots-cls: Inconscient. Refoulement. Clivage. Mode dtre. Jouer.

    Ampliacin winnicottiana del concepto freudiano de inconsciente

    Resumen: En este artculo, se ha tenido la intencin de analizar algunos desarrollos

    que Winnicott propuso en la comprensin de lo que es el inconsciente, aadiendo

    a la concepcin freudiana del inconsciente reprimido y de la represin originaria.

    Para Freud ese inconsciente se reere a lo que l encontr en el tratamiento de sus

    pacientes neurticos, para los cuales la represin es el mecanismo de defensa por

    excelencia. Se demostrar que Winnicott considera otros aspectos del inconsciente,

    que se originan a partir de un momento en que la represin no existe todava como

    un mecanismo de defensa; que Winnicott desarroll la comprensin de lo que Freudintuy con su nocin de represin originaria, en la consideracin de los hechos,

    contenidos y modos de ser que pueden ser calicados como inconscientes, como por

    ejemplo escisiones, acontecimientos vividos pero que no pudieron ser integrados o

    experimentados en el campo de la autonoma delyo, as como algunas adquisiciones

    de modos de ser-estar en el mundo.

    Palabras claves: Inconsciente. Represin. Escisin. Modo de ser. Jugar.

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    159PsicologiaUSP, So Paulo, 2013, 24(1), 143-164.

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    164 AMPLIAO WINNICOTTIANA DA NOO FREUDIANA DE INCONSCIENTE LeopoLdoFuLgencio

    Leopoldo Fulgencio, docente do Programa de Ps-Graduao em Psicologia da Pon-

    tifcia Universidade Catlica de Campinas. Endereo para correspondncia: Rua Mar-

    cos Azevedo, n. 93, Pinheiros, So Paulo, SP, Brasil. CEP: 05428-050. Endereo eletrnico:

    [email protected]

    Recebido: 19/09/2012Aceito: 26/02/2013