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(*) Ex-Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo (l) 'Comentários ao Código Penal·, I ed vai VIL Revista forense pág 21 (2) Idem 123 (3) FRAGOSO, Helena Cláudio "Lições de DireiCo Penal" Parte especiaL 7 ed, Forense, pág 354 (4) 'Direito Penal' Vai IL 5 ed, Saraiva, pág 223 43 DOUTRINA No projeto de novo Código Criminal apresentado pelo Professor Alcântara Machado, por incumbência do então Ministro da Justiça, Professor Francisco Campos, constou, de seu artigo 350 - do furto -, no seu § 4º, que "tratando-se de criminoso ocasional, sendo de pequeno valor a coisa furtada, não ocorrendo qualquer das circunstâncias enumeradas no § i!, poderá o juiz diminuir a pena, ou substituir a reclusão pela detenção, ou aplicar somente a multa de 100$000 a 2,000$000, se o agente cometer o crime: I- com o único objetivo de usar momentaneamente da coisa, tendo-a restituído, no mesmo estado, voluntariamente, logo depois de usá-Ia". Mas na "Exposição de Motivos" que antecedeu o atual Código Penal, que entrou em vigor através do Decreto-Lei n!! 2 848, de 7 de dezembro de 1940, o mesmo Ministro Francisco Campos esclareceu que "o trabalho de revisão do projeto Alcântara Machado durou justamente 2 (dois) anos Houve tempo suficiente para exame e meditação da matéria em todas as suas minúcias e complexidades Da revisão resultou um novo projeto" E, no novo projeto que se transformou no Código Penal que até hoje vigora, não se incluiu o furto de uso, como constava do projeto Alcântara Machado, destoando das legislações dos países desenvolvidos. O Código Penal italiano, no seu artigo 626 - I, prevê o delito de furto atenuado se o culpado agiu com o intuito de fazer uso momentâneo da coisa subtraída e, após o seu uso momentâneo, a mesma é imediatamente restituída. Anota Maggiore que "o furto de uso foi reconhecido no direito romano segundo a definição de Paolo furtum est contrectaciofraudolosa rei alien.ae, lucri faciendi gratia, vel ipsius rei, vel etiam usus ejus, possessionisve (D 47 - 2, de furtis)," E mais: "o furto de uso tem todas as características do furto simples e por isso é incriminável: diferencia-se só pelo fim (objetivo e subjetivo) - que deve ser o direito ao uso momentâneo e não ao proveito - e por conseqüente restituição" (5) Para Ranieri o furto comum distingue-se do furto de uso por dois elementos particulares constitutivos, um deles o elemento material "que neste último delito exige a restituição imediata da coisa à pessoa ofendida, após o seu uso momentâneo, e, segundo, o elemento psicológico, pois ao dolo específico do delito de furto junta-se o propósito de fazer uso momentâneo da coisa subtraída" (6) O Código Penal pOItuguês, em vigOI a partir de de outubro de 1995 (Decreto-Lei n!! 48), dispõe, no artigo 206, que "quando a coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for restituída, ou tiver lugar a reparação integral do (5) "Diritlo Penole" VaI II l 2,4 ed Nicola Zamichele Editore, pág 968 (6) "Monuole di Di! ifto VaI 3 paJle fpeciale, Cedam-Padova,. pág 446 .. :/{"::": .. .. 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J o 2-, do.seu artIgo 331, consignou que era crime de furto de COIsa alheIa que lhe houver sido confiada ou consignada por qualquer título, com obrigação de a restituir, ou dela fazer uso determinado" Ao estudar a apropriação indébita, é ainda Hungria quem anota que "no B.rasil, o Código de 1830 não reconhecia autonomia ao crime" de que se trata, .no seu que "também cometerá furto ... o que tendo para algum fIm recebIdo a cOisa alheia por vontade do seu dono, se arrogar depois o domínio, ou uso, que lhe não 'fora transferido'" Com indesculpável anacronismo foi tal critério adotado pelo Código de 1890, cujo artigo 331 declarava que c:ime de furto . apropriar-se de coisa alheia que lhe houver sido confiada ou consignada por qualquer título, com a obrigação de a restituir ou fazer dela uso determinado" (2) Tanto o Código de 1830 como o de 1890 consideraram a apropriação "con:o de furto",(3) podendo-se ver, na redação do artigo 258 do Codlgo Cl'lmmal do Império um prenúncio do hoje chamado furto de uso Correta, portanto, a afirmação de Magalhães Noronha de que "o furto de uso nunca foi contemplado por nossas leis, em que pese a opinião contrália de alguns" (4) 43 DOUTRINA (5) "DiI irto Pcnale" Vai 11 l 2,4 ed Nicola ZamicheJe Editore, pág 968 (6) "Manualc di DilitlO Vai 3 jJwte Ipedale, Ceclam-Padova.. pág 446 No projeto de novo Código Criminal apresentado pelo Professor Alcântara Machado, por incumbência do então Ministro da Justiça, Professor Francisco Campos, constou, de seu artigo 350 - do furto -, no seu § 4º, que "tratando-se de criminoso ocasional, sendo de pequeno valor a coisa furtada, não ocorrendo qualquer das circunstâncias enumeradas no § 2!!, poderá o juiz diminuir a pena, ou substituir a reclusão pela detenção, ou aplicar somente a multa de 100$000 a 2.000$000, se o agente cometer o crime: I- com o único objetivo de usar momentaneamente da coisa, tendo-a restituído, no mesmo estado, voluntariamente, logo depois de usá-la" Mas na "Exposição de Motivos" que antecedeu o atual Código Penal, que entrou em vigor através do Decreto-lei n!! 2 848, de 7 de dezemblO de 1940, o mesmo MinistlO Francisco Campos esclareceu que "o trabalho de revisão do Alcântara Machado duroujustamente 2 (dois) anos Houve tempo suficiente para exame e meditação da matéria em todas as suas minúcias e complexidades Da revisão resultou um novo projeto" E, no novo projeto que se transformou no Código Penal que até hoje vigora, não se incluiu o furto de uso, como constava do projeto Alcântara Machado, destoando das legislações dos países desenvolvidos. O Código Penal italiano, no seu artigo 626 - I, prevê o delito de furto atenuado se o culpado agiu com o intuito de fazer uso momentâneo da coisa subtraída e, após o seu uso momentâneo, a mesma é imediatamente restituída. Anota Maggiore que "o furto de uso foi reconhecido no direito romano segundo a definição de Paolo furtum est colltreaacio fraudolosa rei alielwe, lucri facien.di gratia, vel ipsius rei, vel etiam. usus ejus, possessíonisve (D 47 - 2, de furtís)." E mais: "o furto de uso tem todas as características do furto simples e por isso é incliminável: diferencia-se só pelo fim (objetivo e subjetivo) - que deve ser o direito ao uso momentâneo e não ao proveito - e por conseqüente restituição" (5) Para Ranieri o furto comum distingue-se do furto de uso por dois elementos particulares constitutivos, um deles o elemento material "que neste último delito exige a restituição imediata da coisa à pessoa ofendida, após o seu uso momentâneo, e, segundo, o elemento psicológico, pois ao dolo específico do delito de fmto junta-se o plOpósito de fazer uso momentâneo da coisa subtraída" (6) O Código Penal português, em vigor a partir de 1 Q de outubro de 1995 (Decreto-Lei n!! 48), dispõe, no artigo 206, que "quando a coisa furtada ou ilegitimamente apropriada for lestituída, ou tiver lugar a reparação integml do J I: Justitia, Sôo Paulo, 63 (194), abr./jun 2001 BDJur http://bdjur,ltj,gov,br Furto de uso Arthur Cogan C t ) Procurador de Justiça aposentado - SP _ 42 A atual legislação brasileira desconhece o furto de uso que ocorre, segundo HungI ia, "quando alguém arbitrariamente retira coisa alheia infunO'ível o (v.g , um cavalo, um automóvel, um terno de roupa, um livro), para dela servir'- se momentaneamente ou passageiramente, repondo-a, a seguir, íntegra, na esfera de atividade patrimonial do dono" (I) É certo que o Código Criminal do Império incluía em seu texto o furto de com a seguinte redação: "Também cometerá furto e incorrerá nas penas do artigo antecedente o que, tendo para algum fim recebido a coisa alheia por vontade de seu dono, se arrogar depois o domínio ou uso que lhe não fora transferido". Tratava-se de fmto não por subtração, mas por apropriação de quem recebera a coisa "por vontade de seu dono" n O Código,Penal de 1890 não incluiu no seu texto o furto de uso, que o 2-, dO,seu artIgo 331, consignou que era crime de furto "apropriar-se de COlsa que lhe houvel sido confiada ou consignada por qualquer título, com obngação de a restituir, ou dela fazer uso determinado" Ao estudar' a apropriação indébita, é ainda Hungria quem anota que "no B,rasil, o Código de 18.30 não reconhecia autonomia ao crime" de que se trata, dispondo ,no seu 258 que "também cometerá furto ... o que tendo para algum fim recebIdo a cOisa alheia por vontade do seu dono, se arrogar depois o domínio, ou uso, que lhe não 'fora transferido'" Com indesculpável anacronismo, foi tal critério adotado pelo Código de 1890, cujo artigo 331 declarava que crime de furto . de alheia que lhe houver sido confiada ou consignada por qualquer tItulo, com a obl1gação de a restituir ou fazer dela uso determinado" (2) Tanto o Código de 1830 como o de 1890 consideraram a apropriação "con:o de furto",(3) podendo-se ver; na redação do artigo 258 do CÓdIgO Crtmmal do Império um prenúncio do hoje chamado furto de uso Correta, portanto, a afil mação de Magalhães NOI onha de que "o furto de uso nunca foi contemplado por nossas leis, em que pese a opinião contrália de alguns" (4) (*) Ex-Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo (I) 'Comentários ao Código Penal', I ed vol VII, Revista forense pág 21 (2) Idem *123 (3) FRAGOSO, Helena Cláudio "Lições de DireilO Penal" Parte especial. 7 ed. Forense, pág 354 (4) 11.5 ed. Saraiva, pág 223 '.;.: : 1 1 . -I :1 r !. ! .1 ____________________ h _

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Page 1: ·L - COnnecting REpositoriesrevisto por Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso e com uma revisão final feita por Benjamim de Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragosoe Ivo D'Aquino

(*) Ex-Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo

(l) 'Comentários ao Código Penal·, I ed vai VIL Revista forense pág 21(2) Idem ~ 123

(3) FRAGOSO, Helena Cláudio "Lições de DireiCo Penal" Parte especiaL 7 ed, Forense, pág 354(4) 'Direito Penal' Vai IL 5 ed, Saraiva, pág 223

43DOUTRINA

No projeto de novo Código Criminal apresentado pelo ProfessorAlcântara Machado, por incumbência do então Ministro da Justiça, ProfessorFrancisco Campos, constou, de seu artigo 350 - do furto -, no seu § 4º, que"tratando-se de criminoso ocasional, sendo de pequeno valor a coisa furtada,não ocorrendo qualquer das circunstâncias enumeradas no § i!, poderá o juizdiminuir a pena, ou substituir a reclusão pela detenção, ou aplicar somente amulta de 100$000 a 2,000$000, se o agente cometer o crime:

I - com o único objetivo de usar momentaneamente da coisa, tendo-arestituído, no mesmo estado, voluntariamente, logo depois de usá-Ia".

Mas na "Exposição de Motivos" que antecedeu o atual Código Penal,que entrou em vigor através do Decreto-Lei n!! 2 848, de 7 de dezembro de1940, o mesmo Ministro Francisco Campos esclareceu que "o trabalho derevisão do projeto Alcântara Machado durou justamente 2 (dois) anos Houvetempo suficiente para exame e meditação da matéria em todas as suas minúciase complexidades Da revisão resultou um novo projeto"

E, no novo projeto que se transformou no Código Penal que até hojevigora, não se incluiu o furto de uso, como constava do projeto AlcântaraMachado, destoando das legislações dos países desenvolvidos.

O Código Penal italiano, no seu artigo 626 - I, prevê o delito de furtoatenuado se o culpado agiu com o intuito de fazer uso momentâneo da coisasubtraída e, após o seu uso momentâneo, a mesma é imediatamente restituída.

Anota Maggiore que "o furto de uso foi reconhecido no direito romanosegundo a definição de Paolo furtum est contrectaciofraudolosa rei alien.ae, lucrifaciendi gratia, vel ipsius rei, vel etiam usus ejus, possessionisve (D 47 - 2, defurtis)," E mais: "o furto de uso tem todas as características do furto simples e porisso é incriminável: diferencia-se só pelo fim (objetivo e subjetivo) - que deve sero direito ao uso momentâneo e não ao proveito - e por conseqüente restituição" (5)

Para Ranieri o furto comum distingue-se do furto de uso por doiselementos particulares constitutivos, um deles o elemento material "que nesteúltimo delito exige a restituição imediata da coisa à pessoa ofendida, após oseu uso momentâneo, e, segundo, o elemento psicológico, pois ao doloespecífico do delito de furto junta-se o propósito de fazer uso momentâneoda coisa subtraída" (6)

O Código Penal pOItuguês, em vigOI a partir de Iº de outubro de 1995(Decreto-Lei n!! 48), dispõe, no artigo 206, que "quando a coisa furtada ouilegitimamente apropriada for restituída, ou tiver lugar a reparação integral do

(5) "Diritlo Penole" VaI II l 2,4 ed Nicola Zamichele Editore, pág 968

(6) "Monuole di Di! ifto Pen~"e" VaI 3 paJle fpeciale, Cedam-Padova,. pág 446

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A atual legislação brasileira desconhece o furto de uso que ocorre,segundo Hungria, "quando alguém arbitrariamente retira coisa alheia infungível(vg ,um cavalo, um automóvel, um terno de roupa, um livro), para dela ser vir­se momentaneamente ou passageiramente, repondo-a, a seguir, íntegra, na esferade atividade patrimonial do dono" (I)

É certo que o Código Criminal do Império incluía em seu texto o furto deus~ com a seguinte redação: "Também cometerá furto e incorrerá nas penas doartIgo antecedente o que, tendo para algum fim recebido a coisa alheia por vontadede seu dono, se arrogar depois o domínio ou uso que lhe não fora transferido".

Tratava-se de furto não por subtração, mas por apropriação de quemrecebera a coisa "por vontade de seu dono"

O Código Penal de 1890 não incluiu no seu texto o furto de uso J·á quen . J

o ~ 2-, do.seu artIgo 331, consignou que era crime de furto "apropriar~se deCOIsa alheIa que lhe houver sido confiada ou consignada por qualquer título,com obrigação de a restituir, ou dela fazer uso determinado"

Ao estudar a apropriação indébita, é ainda Hungria quem anota que "noB.rasil, o Código de 1830 não reconhecia autonomia ao crime" de que se trata,~Ispondo .no seu ~rtigo 2~8 que "também cometerá furto ... o que tendo para algumfIm recebIdo a cOisa alheia por vontade do seu dono, se arrogar depois o domínio,ou uso, que lhe não 'fora transferido'" Com indesculpável anacronismo foi talcritério adotado pelo Código de 1890, cujo artigo 331 declarava que "é c:ime defurto . apropriar-se de coisa alheia que lhe houver sido confiada ou consignada porqualquer título, com a obrigação de a restituir ou fazer dela uso determinado" (2)

Tanto o Código de 1830 como o de 1890 consideraram a apropriaçãoindéb!t~ "con:o ~odalidade de furto",(3) podendo-se ver, na redação do artigo 258do Codlgo Cl'lmmal do Império um prenúncio do hoje chamado furto de uso

Correta, portanto, a afirmação de Magalhães Noronha de que "o furto de usonunca foi contemplado por nossas leis, em que pese a opinião contrália de alguns" (4)

43DOUTRINA

(5) "DiI irto Pcnale" Vai 11 l 2,4 ed Nicola ZamicheJe Editore, pág 968

(6) "Manualc di DilitlO Pcn~le". Vai 3 jJwte Ipedale, Ceclam-Padova.. pág 446

No projeto de novo Código Criminal apresentado pelo ProfessorAlcântara Machado, por incumbência do então Ministro da Justiça, ProfessorFrancisco Campos, constou, de seu artigo 350 - do furto -, no seu § 4º, que"tratando-se de criminoso ocasional, sendo de pequeno valor a coisa furtada,não ocorrendo qualquer das circunstâncias enumeradas no § 2!!, poderá o juizdiminuir a pena, ou substituir a reclusão pela detenção, ou aplicar somente amulta de 100$000 a 2.000$000, se o agente cometer o crime:

I - com o único objetivo de usar momentaneamente da coisa, tendo-arestituído, no mesmo estado, voluntariamente, logo depois de usá-la"

Mas na "Exposição de Motivos" que antecedeu o atual Código Penal,que entrou em vigor através do Decreto-lei n!! 2 848, de 7 de dezemblO de1940, o mesmo MinistlO Francisco Campos esclareceu que "o trabalho derevisão do pr~jetoAlcântara Machado duroujustamente 2 (dois) anos Houvetempo suficiente para exame e meditação da matéria em todas as suas minúciase complexidades Da revisão resultou um novo projeto"

E, no novo projeto que se transformou no Código Penal que até hojevigora, não se incluiu o furto de uso, como constava do projeto AlcântaraMachado, destoando das legislações dos países desenvolvidos.

O Código Penal italiano, no seu artigo 626 - I, prevê o delito de furtoatenuado se o culpado agiu com o intuito de fazer uso momentâneo da coisasubtraída e, após o seu uso momentâneo, a mesma é imediatamente restituída.

Anota Maggiore que "o furto de uso foi reconhecido no direito romanosegundo a definição de Paolo furtum est colltreaacio fraudolosa rei alielwe, lucrifacien.di gratia, vel ipsius rei, vel etiam. usus ejus, possessíonisve (D 47 - 2, defurtís)." E mais: "o furto de uso tem todas as características do furto simples e porisso é incliminável: diferencia-se só pelo fim (objetivo e subjetivo) - que deve sero direito ao uso momentâneo e não ao proveito - e por conseqüente restituição" (5)

Para Ranieri o furto comum distingue-se do furto de uso por doiselementos particulares constitutivos, um deles o elemento material "que nesteúltimo delito exige a restituição imediata da coisa à pessoa ofendida, após oseu uso momentâneo, e, segundo, o elemento psicológico, pois ao doloespecífico do delito de fmto junta-se o plOpósito de fazer uso momentâneoda coisa subtraída" (6)

O Código Penal português, em vigor a partir de 1Q de outubro de 1995(Decreto-Lei n!! 48), dispõe, no artigo 206, que "quando a coisa furtada ouilegitimamente apropriada for lestituída, ou tiver lugar a reparação integml do

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Furto de uso

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A atual legislação brasileira desconhece o furto de uso que ocorre,segundo HungI ia, "quando alguém arbitrariamente retira coisa alheia infunO'ívelo(v.g , um cavalo, um automóvel, um terno de roupa, um livro), para dela servir'-se momentaneamente ou passageiramente, repondo-a, a seguir, íntegra, na esferade atividade patrimonial do dono" (I)

É certo que o Código Criminal do Império incluía em seu texto o furto deus~ com a seguinte redação: "Também cometerá furto e incorrerá nas penas doartigo antecedente o que, tendo para algum fim recebido a coisa alheia por vontadede seu dono, se arrogar depois o domínio ou uso que lhe não fora transferido".

Tratava-se de fmto não por subtração, mas por apropriação de quemrecebera a coisa "por vontade de seu dono"

n O Código,Penal de 1890 não incluiu no seu texto o furto de uso, já queo ~ 2-, dO,seu artIgo 331, consignou que era crime de furto "apropriar-se deCOlsa al~e)a que lhe houvel sido confiada ou consignada por qualquer título,com obngação de a restituir, ou dela fazer uso determinado"

Ao estudar' a apropriação indébita, é ainda Hungria quem anota que "noB,rasil, o Código de 18.30 não reconhecia autonomia ao crime" de que se trata,dispondo ,no seu ~tigo 258 que "também cometerá furto ... o que tendo para algumfim recebIdo a cOisa alheia por vontade do seu dono, se arrogar depois o domínio,ou uso, que lhe não 'fora transferido'" Com indesculpável anacronismo, foi talcritério adotado pelo Código de 1890, cujo artigo 331 declarava que "é crime defurto . apr~priar-se de coi~a alheia que lhe houver sido confiada ou consignada porqualquer tItulo, com a obl1gação de a restituir ou fazer dela uso determinado" (2)

Tanto o Código de 1830 como o de 1890 consideraram a apropriaçãoindébit~ "con:o ~odalidade de furto",(3) podendo-se ver; na redação do artigo 258do CÓdIgO Crtmmal do Império um prenúncio do hoje chamado furto de uso

Correta, portanto, a afil mação de Magalhães NOI onha de que "o furto de usonunca foi contemplado por nossas leis, em que pese a opinião contrália de alguns" (4)

(*) Ex-Corregedor-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo

(I) 'Comentários ao Código Penal', I ed vol VII, Revista forense pág 21

(2) Idem *123

(3) FRAGOSO, Helena Cláudio "Lições de DireilO Penal" Parte especial. 7 ed. Forense, pág 354

(4) 11.5 ed. Saraiva, pág 223

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Page 2: ·L - COnnecting REpositoriesrevisto por Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso e com uma revisão final feita por Benjamim de Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragosoe Ivo D'Aquino

45DOUTRINA

Toda vez que ocorre delito que choca a opinião pública e é exploradapela mídia, surge, por iniciativa oficial ou de parte de um integrante do Legislativo,proposta de exacerbação de pena, ou criação de nova forma delituosa,isoladamente, quebrando a harmonia que rege a estruturação de um código

Recentemente formou-se comissão que elaborou antepr()jeto de novoCódigo Penal, e, revisto, transformou-se em projeto que chegou a ser divulgadoNele figurou, como inovação, o delito de peculato de uso (art 319, § 2!!), masdesconheceu-se, mais uma vez, o furto de uso

Agora a tônica é a reforma da parte geral do Código Penal, abrangendoas penas, criando-se celeuma, sem que sejam abordados, de forma definitiva,os pontos cruciais de um novo Código Penal, na sua inteireza.

Quando surgir o momento, e esperamos que seja para logo, de umareforma ampla e definitiva da legislação penal no seu todo, não há porque nãose cogitar de nela incluir o delito de furto de uso

A sua falta no texto legal estimula, com a impunidade, situações quede há muito deveriam ser reprimidas

Assim, o agente que, depois de subtrair veículo e com ele deslocar-se,vindo, ao depois, repô-lo no mesmo local, mesmo sem nenhum dano e com ocombustível reposto, não merece ser autor de mero ilícito civil, reconhecidoque não teve a intenção de se apossar da coisa

Analisando a legislação argentina, Sebastian Soler bem situou a questão:"há furto, toda vez que abstratamente seja possível afirmar que em determinadomomento o dono da coisa não poderia praticar atos materiais de disposição setivesse querido fazê-lo e esse impedimento decorre da ação de apoderamentodo ladrão" (7)

Para ele, "por regra, o chamado furto de uso que importa na subtraçãoda coisa da esfera de vigilância do dono e seu apoderamento, fica sob a sançãodo artigo 162",(K} que tipifica o furto

Durante o período revolucionário, a Junta Militar que assumiu o Governo,pelo Decreto-Lei nl! 1 004, de 21 de outubro de 1969, promulgou um novo CódigoPenal, com exposição de motivos do então Ministro da Justiça, Luís AntônioGama e Silva, baseado num anteprojeto de Nelson Hungria, elaborado em 1963,revisto por Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso e com uma revisão finalfeita por Benjamim de Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragoso e Ivo D'Aquino..

Na exposição, o Ministro salientou que "o furto de uso, que se faz maise mais freqüente, em especial no que se refere ao automóvel, é agora previsto

(7) "Dere(/1O Penal Argentino" t IV Tipografica Editora Argentina, pág 203

(8) Idem pág 204

Justitia, São Paulo, 63 (194), abr/jun 200144

prejuízo causado, sem dano ilegítimo de terceiro, até o início da audiência dejulgamento em primeira instância, a pena é especialmente atenuada"

Se é certo que a disposição do referido artigo não é mais do que umaforma atenuada de pena, a previsão de restituição, não deixa de se aproximardo chamado furto de uso

O Código Penal português tem, ainda, disposição expressa para o furtode uso de vefculo, no artigo 208:

"Quem utilizar automóvel ou outro veículo motorizado, aeronave, barcoou bicicleta, sem autorização de quem de direito, é punido com pena de prisãoaté 2 anos ou com pena de multa até 240 dias, se pena mais grave não lhecouber por força de outra disposição legal", sendo "a tentativa punível".

Na atual legislação pátria o furto de uso não extravasa do campo doilícito civil, desde que a coisa, temporariamente usada, seja devolvida na suaintegridade

Não o caracteriza a mera intenção de devolver: "Para que se admita ofurto de uso são indispensáveis dois requisitos: o escopo de fazer uso momentâneoda coisa e a sua reposição imediata e voluntária, íntegra, após a utilização. Nãobasta, pois, a mera intenção de restituí-la ao dono, sem que se saiba quando ..Nesta hipótese prevalece a ilicitude da ação, jáque o proprietário deve ter semprea disponibilidade do que lhe pertence" (Tribunal de Alçada Criminal de SãoPaulo - Apelação nº 684 52717 - Revista dos Tribunais, vol 697/315)

O abandono da re\, por si só, também impede o reconhecimento dofUrto de uso:

"Para a caracterização do furto de uso é necessário que o agente restituaa coisa no mesmo local e no estado em que se encontrava, logo, POl: não terhavido devolução da re\ - senão seu abandono, ao pressentir o acusado a buscapelo Polícia - ao local de origem E por não haver o réu agido de livre vontade,mas forçado pela aparição de terceiros, não há que se falar em fUlto de uso"(Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo -Apelação n!! 74110311 - Revistados Tribunais, vaI. 700/341)

Vale a advertência em decisão do mesmo Tribunal:

"É preciso um pouco de cautela no pronunciamento do non liquetargumentando com a impunidade que freqüenta indesejavelmente a cenabrasileira" (Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo - Apelação nº 51003­O- Revista dos Tribunais, vol 695/366)

O certo é que esta indesejabilidade, que leva à impunidade, de há muitojá deveria ter sido removida do cenário da legislação penal repressiva

Legisla-se, no Brasil, de forma atabalhoada, sem critério lil... lIIIIIiIi..i. _

45DOUTRINA

Toda vez que ocorre delito que choca a opinião pública e é exploradapela mídia, surge, por iniciativa oficial ou de parte de um integrante do Legislativo,proposta de exacerbação de pena, ou criação de nova forma delituosa,isoladamente, quebrando a harmonia que rege a estruturação de um código

Recentemente formou-se comissão que elaborou <;lnteprojeto de novoCódigo Penal, e, revisto, transformou-se em projeto que chegou a ser divulgadoNele figurou, como inovação, o delito de peculato de uso (art 319, § i\ masdesconheceu-se, mais uma vez, o furto de uso.

Agora a tônica é a reforma da parte geral do Código Penal, abrangendoas penas, criando-se celeuma, sem que sejam abordados, de forma definitiva,os pontos cruciais de um novo Código Penal, na sua inteireza,

Quando surgir o momento, e espetamos que seja pata logo, de umareforma ampla e definitiva da legislação penal no seu todo, não há porque nãose cogitar de nela incluir o delito de furto de uso

A sua falta no texto legal estimula, com a impunidade, situações quede há muito deveriam ser reprimidas.

Assim, o agente que, depois de subtrair veículo e com ele deslocar-se,vindo, ao depois, repô-lo no mesmo local, mesmo sem nenhum dano e com ocombustível reposto, não merece ser autor de mero ilícito civil, reconhecidoque não teve a intenção de se apossar da coisa

Analisando a legislação argentina, Sebastian Soler bem situou a questão:"há furto, toda vez que abstratamente seja possível afirmar que em deter minadomomento o dono da coisa não poderia praticar atos materiais de disposição setivesse querido fazê-lo e esse impedimento decorre da ação de apoderamelltodo ladrão" (7)

Para ele, "por regra, o chamado furto de uso que importa na subtraçãoda coisa da estera de vigilância do dono e seu apoderamento, fica sob a sançãodo artigo 162",<K) que tipifica o fUlto

Durante o período revolucionário, a Junta Militarque assumiu o Governo,pelo Decreto-Lei n!! I 004, de 21 de outubro de )969, promulgou um novo CódigoPenal, com exposição de motivos do então Ministro da Justiça, Luís AntônioGama e Silva, baseado num anteplOjeto de Nelson Hungria, elaborado em 1963,revisto por Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Ftagoso e com uma revisão finalfeita por Benjamim de Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragoso e Ivo D'Aquino

Na exposição, o Ministro salientou que "o furto de uso, que se faz maise mais freqüente, em especial no que se refere ao automóvel, é agora previsto

(7) "Dere(/w Penal Argentino" t IV, Tipografica Editora Argentina, pág 203

(8) Idem pág 204

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Justitia, São Paulo, 63 (194), abr/jun 200144

prejuízo causado, sem dano ilegítimo de terceiro, até o início da audiência dejulgamento em primeira instância, a pena é especialmente atenuada"

Se é certo que a disposição do referido artigo não é mais do que umaforma atenuada de pena, a previsão de restituição, não deixa de se aproximardo chamado furto de uso

O Código Penal português tem, ainda, disposição expressa para o furtode uso de vefculo, no artigo 208:

"Quem utilizar automóvel ou outro veículo motorizado, aeronave, barcoou bicicleta, sem autOlização de quem de direito, é punido com pena de prisãoaté 2 anos ou com pena de multa até 240 dias, se pena mais grave não lhecouber por força de outra disposição legal", sendo "a tentativa punível".

Na atual legislação pátria o furto de uso não extravasa do campo doilícito civil, desde que a coisa, temporariamente usada, seja devolvida na suaintegridade

Não o caracteriza a mera intenção de devolver: "Para que se admita ofurto de uso são indispensáveis dois requisitos: o escopo de fazer uso momentâneoda coisa e a sua reposição imediata e voluntária, íntegra, após a utilização. Nãobasta, pois, a mera intenção de restituí-la ao dono, sem que se saiba quando ..Nesta hipótese prevalece a ilicitude da ação, já que o proprietário deve ter semprea disponibilidade do que lhe pertence" (Tribunal de Alçada Criminal de SãoPaulo - Apelação nº 684 52717 - Revista dos Tribunais, vQI 697/315)

O abandono da re\, por si só, também impede o reconhecimento dofUrto de uso:

"Para a caracterização do furto de uso é necessár ia que o agente restituaa coisa no mesmo local e no estado em que se encontrava, logo, pai não terhavido devolução da re\ - senão seu abandono, ao pressentir o acusado a buscapelo Polícia - ao local de origem E por não haver o réu agido de livre vontade,mas forçado pela aparição de terceiros, não há que se falar em fUlto de uso"(Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo - Apelação nº 74LI0311 - Revistados Tribunais, vaI. 700/341)

Vale a advertência em decisão do mesmo lIibunal:

"É preciso um pouco de cautela no pronunciamento do non tiquetargumentando com a impunidade que freqüenta indesejavelmente a cenabrasileira" (Tribunal de Alçada Criminal de São Paulo - Apelação nJ! 51.003­O- Revista dos Tribunais, vol 695/366).

O certo é que esta indesejabilidade, que leva à impunidade, de há muitojá deveria ter sido removida do cenário da legislação penal repressiva

Legisla-se, no Brasil, de forma atabalhoada, sem critério

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Page 3: ·L - COnnecting REpositoriesrevisto por Aníbal Bruno e Heleno Cláudio Fragoso e com uma revisão final feita por Benjamim de Moraes Filho, Heleno Cláudio Fragosoe Ivo D'Aquino

É claro que se o agente subtraiu o veículo, usou-o e, em vez de repô-lo no lugaronde se achava, abandonou-o em qualquer outra parte, não realiza o furto deuso, mas furto consumado".

No seu artigo 166 dizia: "se a coisa, não fungível, é substituída para ofim de uso momentâneo e, a seguir, vem a ser imediatamente restituída oureposta no lugar onde se achava:

Pena - detenção até seis meses, ou pagamento não excedente a trintadias multa

Parágrafo único. As penas não aumentadas de metade, se a coisa usadaé veículo motorizado, e de um terço se é animal de sela ou de tiro"

No projeto de reforma do Código Penal, apresentado em J999, opresidente da Comissão Revisora, Ministro Vicente Cernicchiaro, salientou,na exposição de motivos, que se "prevê o peculato de uso" com o "evidentesentido de resguardo da moralidade administrativa com inegável reflexo nopatrimônio público" (art 319, § 2º)

É de se compreender que o dolo do furto de uso "é idêntico àquele dofurto, com mais um elemento específico consistente no esforço de fazer usomomentâneo da coisa subtraída", acompanhado da intenção de restituir a coisada qual fez uso momentâneo,,,(9l não havendo razão para que o agente deixe deser, de forma mais branda, punido

46 Justitio, São Paulo, 63 (194), abr/jun 2001

(9) AN rüLfSEI. Francesco "MaJ1uale di Dil iTlo Peflale Pane spel iale I, Dott A Giuffré Editore..pág 225

É claro que se o agente subtraiu o veículo, usou-o e, em vez de repô-lo no lugaronde se achava, abandonou-o em qualquer outra parte, não realiza o fmio de.uso, mas furto consumado".

No seu artigo 166 dizia: "se a coisa, não fungível, é substituída para ofim de uso momentâneo e, a seguir, vem a ser imediatamente restituída oureposta no lugar onde se achava:

Pena - detenção até seis meses, ou pagamento não excedente a trintadias multa

Parágrafo único. As penas não aumentadas de metade, se a coisa usadaé veículo motorizado, e de um terço se é animal de sela ou de tiro"

No projeto de reforma do Código Penal, apresentado em 1999, opresidente da Comissão Revisora, Ministro Vicente Cernicchiaro, salientou,na exposição de motivos, que se "prevê o peculato de uso" com o "evidentesentido de resguardo da moralidade administrativa com inegável reflexo nopatrimônio público" (aIt 319, § 2º)

É de se compreender que o dolo do furto de uso "é idêntico àquele dofurto, com mais um elemento específico consistente no esforço de fazer usomomentâneo da coisa subtraída", acompanhado da intenção de restituir a coisada qual fez uso momentâneo,,,(9) não havendo razão para que o agente deixe deser, de forma mais branda, punido

46 Justitia, Sôo Paulo, 63 (194), abr/jun 2001

(9) AN rüLfSEL Franccsca "MaIlLfa/e di Dil if{o Pena/e· Palie spe( iale I, Dott A Giuffré Editore..pág 225