seu heleno: uma história de luta e aprendizagem no semiárido paraibano

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1565 São José do Sabugí Heleno Bento de Oliveira, vive na comunidade Lagoa de Brejinho, no município de São José do Sabugí. Nasceu, se criou e formou sua família nesta comunidade tradicional, casado com Francisca Martir S. Oliveira (Dona Branca). Seu Heleno conta que Lagoa do Brejinho, é uma região que foi muito explorada na época do algodão. Apesar de existirem outras culturas, como milho, feijão, melancia e jerimum, as famílias viviam da cultura do algodão, com isso veio o desmatamento e, consequentemente, a aceleração do processo, tornando os solos inférteis. Por causa da dependência do algodão e o empobrecimento do solo, a seca da década de 80, ficou muito difícil, as poucas fontes que existiam secaram e a cultura do algodão enfraqueceu cada vez mais, até se acabar. Assim, as famílias foram procurando outras maneiras de sobrevivência. Devido às grandes estiagens que atingem o Semiárido paraibano, Heleno teve que entregar as terras arrendadas, procurando novas formas de melhorar a vida de sua família. Foi quando eu comecei a fazer um manejo rotativo. Plantar um ano em um local depois plantar em outro, ou seja, comecei a trabalhar com rotação de culturas, passei a usar menos o arado puxado a boi e comecei a proteger o solo, fazendo barramento com pedras para evitar a erosão, plantar em curva de nível, fazendo cobertura morta, cobertura vegetal e também passei a adubar o solo com o estrume do curral. Assim fui encontrando formas de superar as dificuldades, contou o agricultor. O que encontramos na casa de Seu Heleno e Dona Branca, é fruto do conhecimento baseado nas experiências diárias, observadas e praticadas no meio que nos cerca. Na sua propriedade a família luta para ter acesso a água, mobilizando esforços para implementar técnicas de convivência com o semiárido, buscando melhorar a forma de captação, manejo e o tratamento da água na sua propriedade. O agricultor construiu um reservatório para captar a água. Ele conta que fez a primeira “cisterninha” com capacidade de 7 mil litros de Junho/2014 Seu Heleno: uma história de luta e aprendizagem no Semiárido paraibano

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Heleno Bento de Oliveira, vive na comunidade Lagoa de Brejinho, no município de São José do Sabugí. Nasceu, se criou e formou sua família nesta comunidade tradicional, casado com Francisca Martir S. Oliveira (Dona Branca).

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Page 1: Seu Heleno: uma história de luta e aprendizagem no Semiárido paraibano

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1565

São José do Sabugí

Heleno Bento de Oliveira, vive na comunidade Lagoa de Brejinho, no município de São José do Sabugí. Nasceu, se criou e formou sua família nesta comunidade tradicional, casado com Francisca Martir S. Oliveira (Dona Branca). Seu Heleno conta que Lagoa do Brejinho, é uma região que foi muito explorada na época do algodão. Apesar de existirem outras culturas, como milho, feijão, melancia e jerimum, as famílias viviam da cultura do algodão, com isso veio o desmatamento e, consequentemente, a aceleração do processo, tornando os solos inférteis.

Por causa da dependência do algodão e o empobrecimento do solo, a seca da década de 80,

ficou muito difícil, as poucas fontes que existiam secaram e a cultura do algodão enfraqueceu cada vez mais, até se acabar. Assim, as famílias foram procurando outras maneiras de sobrevivência.

Devido às grandes estiagens que atingem o Semiárido paraibano, Heleno teve que entregar as terras arrendadas, procurando novas formas de melhorar a vida de sua família. Foi quando eu comecei a fazer um manejo rotativo. Plantar um ano em um local depois plantar em outro, ou seja, comecei a trabalhar com rotação de culturas, passei a usar menos o arado puxado a boi e comecei a proteger o solo, fazendo barramento com pedras para evitar a erosão, plantar em curva de nível, fazendo cobertura morta, cobertura vegetal e também passei a adubar o solo com o estrume do curral. Assim fui encontrando formas de superar as dificuldades, contou o agricultor.

O que encontramos na casa de Seu Heleno e Dona Branca, é fruto do conhecimento baseado nas experiências diárias, observadas e praticadas no meio que nos cerca. Na sua propriedade a família luta para ter acesso a água, mobilizando esforços para implementar técnicas de convivência com o semiárido, buscando melhorar a forma de captação, manejo e o tratamento da água na sua propriedade.

O agricultor construiu um reservatório para captar a água. Ele conta que fez a primeira “cisterninha” com capacidade de 7 mil litros de

Junho/2014

Seu Heleno: uma história de luta e aprendizagem no Semiárido paraibano

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Paraíba

água, antes de existir essas outras implementações. Nesta mesma época, Seu Heleno continuou buscando maneiras de armazenar água da chuva. Aprimorei um tanque de pedra que eu já tinha construído para armazenar água e melhorei a forma de captação da água, com uma calha para ampliar a área, trazendo melhores condições de água para a nossa família, explica.

Em 2007, Heleno juntamente com a sua família, conquistou a primeira água. A família passou a ter água para beber e cozinhar. Essa cisterna foi uma bênção, porque é a água para o consumo humano. Eu vejo na cisterna uma fonte de

economia para a família. Gosto de dizer que a cisterna tem três fatores para que a família tenha uma vida digna que são: economia, saúde e prazer. Se a gente tem saúde não precisa comprar remédio, economiza o tempo porque não precisa ir pegar água distante e é prazer porque se a gente tem a água, nós temos saúde, temos economia, temos prazer de viver, conta Heleno.

Seu Heleno e Dona Branca vivem achando formas de captar e guardar água. Eles contam que foram mais além das tecnologias de captação de água existentes e construíram uma cisterna maior, esta com capacidade de 32 mil litros de água que seria para o uso de casa, para aguar o quintal, onde fazem cultivo de plantas medicinais.

Com relação ao manejo da água, o agricultor faz o uso coerente para economizar. Seu Heleno explica que faz um calendário com o total de litros que serão utilizados por mês e reutiliza a água da pia de lavar louça e do banho para fazer a irrigação de plantas.

A família de seu Heleno conquistou uma cisterna-calçadão, através do Programa Uma Terra e Duas Águas, executado pela ASDP/PROPAC, melhorando o seu sistema integrado de armazenamento de água feito pela família que ajudará a melhorar o seu trabalho, conservação do solo e no cultivo de hortaliças.

A vontade de Heleno é que os moradores de Lagoa do Brejinho se envolvam mais na organização da comunidade para que, através da associação, conquistem mais políticas públicas para todos e todas.

Realização Apoio