kerry allyne - erro de amor (bianca dupla 519.2)

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Erro de Amor Carpentaria Moon Kerry Allyne Robert se apaixonou pela amante de seu próprio irmão! Na praia deserta, Mila via o sol se pôr no horizonte, tingindo o céu de cores violentas em seu rastro de fogo. Levantando-se, caminhou devagar, deixando a água fria tocar-lhe os pés. Não conseguiria encarar Robert outra vez. Não, depois de ele tê-la acusado de ser amante de Alick, seu irmão. Precisava afastar-se do homem que, a arrastava para um torvelinho de paixões, mas que a considerava uma mulher imoral e sem escrúpulos. Como provar a Robert que estava enganado a seu respeito, e que o amor que nutria por ele era real e avassalador? Digitalização: Rita Cunha e Vicky B Revisão: Cris Bailey 1

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7/31/2019 Kerry Allyne - Erro de Amor (Bianca Dupla 519.2)

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Erro de AmorCarpentaria Moon

Kerry Allyne

Robert se apaixonou pela amante de seu próprio irmão!Na praia deserta, Mila via o sol se pôr no horizonte, tingindo o céu de cores

violentas em seu rastro de fogo. Levantando-se, caminhou devagar, deixando aágua fria tocar-lhe os pés. Não conseguiria encarar Robert outra vez. Não, depoisde ele tê-la acusado de ser amante de Alick, seu irmão. Precisava afastar-se dohomem que, a arrastava para um torvelinho de paixões, mas que a considerava

uma mulher imoral e sem escrúpulos. Como provar a Robert que estava enganadoa seu respeito, e que o amor que nutria por ele era real e avassalador?

Digitalização: Rita Cunha e Vicky B

Revisão: Cris Bailey

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Copyright © 1987 by Kerry AllynePublicado originalmente em 1987

pela Mills & Boon Ltd., Londres, Inglaterra

 Título original: Carpentaria Moon Tradução: Carolina de HollandaCopyright para a língua portuguesa: 1992

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA.

Capítulo I

O pequeno automóvel branco parou numa das inúmeras praias do golfode Carpentaria no extremo norte da Austrália. Contudo, seus ocupantespermaneceram dentro dele.

— Então, o que acha? — Alick Seaton, um jovem de rosto redondo ebonachão, perguntou a Mila, sentada ao volante.

— Lembro-me de quando você falou pela primeira vez sobre o Rancho

Arunga River. Disse que ficava no golfo, era muito grande e muito bonito.Mas tenho de admitir que não esperava ver uma paisagem tão linda! —disse Mila, deslumbrada com o cenário a sua frente.

Mila Challinor, aos vinte e dois anos, acabava de dar um grande passona vida. Aceitara o cargo de guia de turismo do Rancho Arunga River.

Fazia muito tempo que aquele rancho no golfo solidificara sua fama deser a melhor propriedade do gênero no país, grande criador de gado e omelhor patrocinador de rodeios. Além de, nos últimos tempos, abrir tambémsuas portas para turistas que quisessem usufruir as emoções da vida rústica

diretamente ligada à natureza inexplorada.Mila já se informara sobre tudo a respeito de Arunga River, mas mesmo

assim foi um grande impacto deixar a estrada sinuosa e íngreme e sedeparar com aquela planície verdejante, que se estendia a perder de vista.

À esquerda a relva inclinava-se suavemente, como um mantoaveludado, em direção à areia branca da praia que orlava o golfo, e à frentevia-se o grande casarão principal, num estilo arquitetônico apropriado aostrópicos, cercado por várias outras construções distribuídas entre frondosasárvores e coloridos jardins bem cuidados.

Havia também uma piscina, uma imensa área para camping, curraispara gado e cavalariças e, mais ao norte, uma pista de aviação.

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Mila ligou o carro novamente e aproximou-se lentamente do primeiroedifício. Havia, no pátio, um grande número de barracas e de carros,incluindo um ônibus.

— Meu Deus! — ela exclamou. — Esta gente toda é turista?

— Sim. Alguns turistas preferem se instalar ao ar livre e usam barracasde camping; os outros se hospedam no prédio destinado a eles.Mila tomou um susto. Apesar de ter muita prática junto ao público,

aquela quantidade de pessoas mostrava a grandeza da tarefa que aaguardava.

Hesitante, ela confessou ao amigo:— Francamente, não esperava que houvesse tanta gente, Alick. Gostaria

que você tivesse sido mais claro sobre meu trabalho aqui. Tudo me parecetão vago, agora.

Na verdade, Mila não pensara muito antes de aceitar o emprego de guiade turismo do Rancho Arunga River. Aceitara-o quase num impulso.

Algum tempo atrás, tivera uma grande surpresa quando Alick Seaton,até então um mero conhecido, vizinho do escritório onde trabalhava,aproximara-se dela oferecendo-lhe o cargo na propriedade de seu meio-irmão, Robert Buchanan.

Ainda que estranhando o convite, Mila aceitara a oferta sem hesitação,pois já ouvira falar e lera muito sobre aquela região longínqua do golfo deCarpentaria, e sua própria fantasia de viver num lugar distante e agreste aimpulsionara. O que, talvez, tivesse sido precipitado, pensava agora. Afinal,

pouco sabia sobre o que esperavam dela.Alick apenas lhe adiantara que uma de suas atribuições seria tirar fotos

artísticas dos pontos de maior destaque para compor um álbum dedivulgação do local.

Havia muito Mila se dedicava à fotografia amadora, e Alick sabia disto, eesta provavelmente fora a razão para o convite.

Alick percebeu a preocupação de Mila, mas não teve pressa emresponder; antes, acenou para alguém que saía de um dos prédios.

— Desculpe, doçura, mas achei melhor que meu irmão Robert decidisse

sobre suas atribuições. Ele é quem vai resolver o que você vai fazer.As sobrancelhas escuras e bem delineadas de Mila ergueram-se num ar

de espanto.— Ainda vai resolver? Como assim? Não me diga que ele não sabe para

o que está me empregando.— Não... bem... — Um sorriso matreiro pairou sobre o rosto bonachão de

Alick. — Para falar a verdade, Robert ainda não sabe que você vai trabalharaqui. Fui eu que decidi que ele precisava de ajuda junto aos turistas.

O espanto de Mila cresceu e ela começou a se sentir indignada.

— Você quer dizer que...— Estacione debaixo da sombra daquela árvore, meu bem — ele a

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interrompeu. — Depois vamos procurar o pessoal do rancho.Por enquanto, faria o que ele dizia, mas ia tirar aquilo a limpo.

Apreensiva, Mila manobrou o carro e, ao parar à sombra, ambos desceram.— Mas, Alick — ela continuou o protesto —, você disse que seu irmão

tinha lhe pedido para contratar alguém para ajudá-lo.— Ah! Não é bem assim. O que Robert me pediu foi um fotógrafoprofissional. — Alick deu de ombros, sempre sorrindo. — O resto foi idéiaminha. Robert é muito auto-suficiente e teimoso para admitir que precisa deajuda. Assim, resolvi forçá-lo um pouco.

— E por que não me disse isto? Você está me deixando preocupada.Agora vejo que minha situação aqui é bastante incômoda! — Mila lamentou-se, sentindo que a luz vermelha do alarme acendia-se no fundo de suamente. Fotografia era seu hobby  favorito, mas estava longe de ser umaprofissional. Recepcionar pessoas e acompanhá-las estava mais de acordocom suas habilidades.

Deu um longo suspiro e perguntou:— Como posso ficar aqui, sabendo...Foi interrompida de novo.— Vamos, não fique assim. Desmanche esta cara séria! — Alick passou-

lhe o braço por sobre os ombros. — Vai dar tudo certo, você vai ver. Afinal,é um bom negócio para Robert. Ele estará empregando uma fotógrafa euma guia de turismo pelo preço de uma só pessoa. Então, confie em mim.Sei o que estou fazendo.

Mila lançou-lhe um olhar desconfiado.— Hum! Gostaria muito de acreditar nisto. Não se ofenda, mas acho que

 já confiei demais em você. Só quero ver aonde isto vai me levar.Alick sacudiu a cabeça, reprovando-a, mas ao mesmo tempo tomou-lhe

o braço e conduziu-a em direção ao prédio mais próximo.— Ora, Mila, você está subestimando meu poder de persuasão. De

qualquer maneira, Robert não vai expulsá-la. Ele jamais teve alguém lheajudando neste tipo de trabalho; e você gostará dele, tenho certeza.

Será que Robert Buchanan queria ter alguém ao lado dele, ajudando-o?

Principalmente alguém que não fora ele que escolhera? Mila sentia-se muitopouco confiante ao entrar no prédio.

Seguiu Alick por um longo corredor, completamente em silêncio. No finaldele, deparou-se com uma área espaçosa sob o céu aberto. A visão do jardim deixou Mila de respiração suspensa. Frente a uma enorme piscinaem S havia um bar com inúmeras mesas e banquinhos espalhados ao redor.

A decoração era rústica, como todo o restante que já vira até ali. Umagrande carcaça de crocodilo enfeitava um dos cantos e numa das paredeshavia chicotes e objetos de ferro, completando o ambiente agreste.

Mila tentou absorver tudo com rapidez, pois Alick puxava-a para o bardo restaurante, apressado.

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Numa das mesas, três homens bebericavam, e a jovem morena e alta,de longos cabelos negros, que os servia, voltou-se para os recém-chegados,fixando a atenção em Alick.

— Ora, ora, veja quem está chegando! — ela disse, com um tom

levemente zombeteiro que denunciava grande familiaridade.— Você agora está servindo de cicerone para suas... amigas, Alick?— Olá, Crystal — ele cumprimentou, seco. — Não estou ciceroneando

nenhuma amiga. Esta é Mila Challinor e é bom você ficar sabendo queofereci a ela o posto de guia de turismo do rancho. É por isto que ela estáaqui.

Ao ouvir a notícia, Crystal soltou um assobio e um risinho sardônico. Emseguida, examinou a recém-chegada dos pés à cabeça, sem esconder umadespeitada desaprovação.

— Bem, agora você me surpreendeu! Principalmente porque não hánenhum posto de guia de turismo por aqui. — Ela riu de novo.

— Não havia, meu bem. Agora existe e foi criado para Mila — Alickreplicou, falando com afetada calma. — E já que vocês duas seencontraram, deixe-me fazer as apresentações formais. Crystal, esta é suanova superiora, Mila Challinor. Mila, Crystal Lamant.

Ele escolhera as palavras com cuidado, como se quisesse manter umacerta distância, e Mila ficou imaginando que razões haveria para tal atitude.Era claro que não se gostavam. Contudo, ela estava decidida a começar suanova vida com o pé direito e então adiantou-se até Crystal com um sorriso

amável, numa tentativa de agradar a pouco amistosa jovem.Mas Crystal, que não sentia o menor desejo de dar as boas-vindas,

ignorou a mão estendida e irrompeu num palavreado agressivo, em reaçãoao que Alick dissera.

— Meu único superior aqui é Robert. E ele é também a única pessoacom autoridade para empregar alguém. E, que eu saiba, até agora ele nãodemonstrou o menor interesse em ter uma guia de turismo no rancho. —Depois, com um sorriso ferino, acrescentou: — E, a não ser que ela durmano seu quarto, todas as acomodações dos empregados estão lotadas. E sem

perspectivas de vagas tão cedo.— Bem, então não há outro jeito senão acomodar Mila na casa-grande —

Alick declarou, tornando claro que não permitiria uma intervenção deCrystal.

A casa-grande era a construção mais antiga e mais nobre de toda apropriedade, destinada apenas aos proprietários e a seus hóspedesespeciais.

— Tenho certeza de que há quartos disponíveis lá e, afinal, o casarão émais condizente com a posição de Mila — Alick acrescentou com firmeza.

O rosto de Crystal tornou-se rubro e seus olhos negros faiscaram.— No casarão! — ela exclamou, entre furiosa e incrédula. — Mas nem eu

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tenho autorização para me alojar lá!— E não é por falta de tentativas, não é mesmo? — Alick provocou.A jovem morena lançou-lhe um olhar de pouco-caso e deu-lhe as costas.

No entanto, erguendo a voz, Alick ordenou:

— Antes de sair, por favor, nós queremos beber alguma coisa — E,virando-se para Mila, perguntou: — O que você quer beber?— Oh, somente um suco de laranja — ela respondeu, pouco à vontade,

perturbada por uma avalanche de pensamentos preocupantes, causadapelo diálogo pouco amigável que acabara de assistir.

— Então, um suco de laranja para ela e o de sempre para mim — Alickfez o pedido.

Crystal providenciou as bebidas de má vontade, serviu-os e afastou-se,num silêncio rancoroso.

Após um longo gole que refrescou-lhe a garganta seca, Mila suspirou,cansada.

— Esta recepção não foi das melhores, concorda? Estou começando apensar que não devia ter saído da minha cidade e muito menos deixadomeu emprego.

— Já lhe disse para não se preocupar. E não dê muita importância àspalavras de Crystal. Só porque trabalha no rancho há mais tempo quequalquer outra funcionária, pensa que pode dar ordens. Mas, acredite, elanão manda nada. Só há uma pessoa que dita ordens aqui...

Mila interrompeu-o:

— Já sei. Seu meio-irmão, Robert. E, pelo que você mesmo disse, ele nãopediu nem está esperando uma funcionária nova.

— Então! É como lhe disse; está nas nossas mãos convencê-lo, provar-lhe que está errado e que, de fato, precisa de alguém como você.

— Nas nossas mãos! — Mila exclamou, estupefata. — E o que eu poderiafazer para seu irmão mudar de idéia? O que você me disse é que pretendiaamenizar o trabalho de Robert, empregando uma pessoa para orientar osturistas e fazê-los aproveitar ao máximo a estadia no rancho. Bem, não seimais se sou a pessoa certa.

— Agora, isto já não tem a menor importância. Fique firme e calma. Nãose deixe amedrontar, é tudo o que tem de fazer por enquanto.

— Deixo tudo em Townsville, chego aqui e descubro que não mequerem, e ainda me diz para ficar firme e calma? Não tenho nenhum direitoaqui — Mila desabafou, sentindo crescer uma irritação contra Alick, que acolocara naquela situação. — Agora entendo por que fez questão de meacompanhar; sabia que ninguém me esperava!

Pela primeira vez, desde que haviam chegado a Arunga River, Alickpareceu envergonhado e com ar de culpa no rosto sempre bem-humorado.

— Desculpe, Mila. Está certo, não devia ter escondido nada de você. Masa culpa é de Robert. Ele é tão difícil de se levar.

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— Alick, não entendo você. Por que não conversou com ele, comoqualquer irmão faria? E por que me fez largar meu emprego, sabendo quenão tinha nada seguro?

— Se eu tivesse sugerido a Robert que contratasse alguém para

trabalhar aqui, ele não teria me ouvido. Viria com mil e um argumentoscontra a idéia. Convencê-lo estava fora de questão, por isso, usei outratécnica.

— E tudo a minha custa! Mas por que logo eu, meu Deus? Você não temnenhuma outra explicação oculta? Por que Crystal ficou tão furiosa comvocê?

— Ah! Crystal não tem nada com isto. Ela estava apenas lançando umasindiretas sobre uns velhos assuntos. Você viu que não nos relacionamosmuito bem, não é?

Mila meneou a cabeça. Achara mesmo surpreendente que uma pessoabonachona e tranqüila como Alick enfurecesse Crystal daquela forma.Curiosa, ela perguntou:

— E pode me dizer a razão para tanta antipatia entre vocês?— Crystal é uma arrogante interesseira. Está sempre pronta a usar

qualquer método para conseguir o que quer. Cuidado com ela! Não é comoaquele cão que ladra e não morde; ela morde, mesmo.

— Excelente! Aonde vim parar! — Mila aplaudiu, irônica. — Comopoderei pagar-lhe por este emprego tão maravilhoso, hem, Alick? — E,erguendo as mãos para o céu, continuou: — Oh, Deus! Que foi que eu fiz?

Estava tão bem em Townsville...Diante do exagero melodramático de Mila, Alick começou a rir.— Quer saber por que foi escolhida? Porque eu a conhecia, sabia de

suas qualidades e que adoraria trabalhar no Rancho Arunga River. E porque,além de tudo, você é a garota mais linda com quem já saí.

— Ora, ora, quem vê você falando... Fomos uma única vez a umbarzinho. Conheço sua fama de mulherengo e não sou a única garota quevocê cortejou.

No centro empresarial em que Mila trabalhava, a fama de conquistador

de Alick Seaton correra todos os andares, e ela jamais se sentira atraída porele.

Alick continuava a olhá-la com ar apreciador e sorriso irritante.— E nem ao menos se pode dizer que eu seja bonita. Meu tipo é muito

pouco convencional — acrescentou.O olhar de Alick percorreu o rosto de Mila. Sim, ela era diferente.

Exótica! O rosto pequeno e oval era emoldurado por fartos cabelosvermelhos que contrastavam com os olhos verdes, grandes e amendoados,e com as sobrancelhas escuras. A boca, um tanto grande, de lábios cheios e

rosados, dava-lhe um ar sensual e generoso.— Está bem — falou Alick, concluindo o exame. — Você não é bonita. É

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linda! Satisfeita, agora? E este diagnóstico é de alguém que entende doassunto.

Mila não pôde deixar de rir. Era difícil ficar brava com Alick por muitotempo. Mas, de fato, não se achava bonita e não falara apenas para receber

um elogio. Tomando o último gole do suco, ela sugeriu:— Você não acha que devíamos procurar seu irmão e tentar acertar asituação? Descobrir, afinal, se tenho ou não um emprego no rancho.

— Não acredito que Robert esteja por aqui a essa hora. Mas, dequalquer forma, podemos tentar. Crystal deve saber onde ele anda, masperguntar para ela seria pura perda de tempo. — Alick, levantando-se,falou: — Vamos. Se não encontrarmos Robert, poderemos pelo menosdesfazer nossas malas.

Desfazer as malas parecia um excesso de presunção para Mila, mas,com um meneio de cabeça, ela concordou. Já descobrira que era inútiltentar fazer Alick ver a gravidade de sua posição. Afinal, ele era um otimistaincorrigível. Entraram no carro e Mila falou:

— Gostaria de tirar minha máquina fotográfica daqui de dentro. Estecalor pode estragar meu filme.

— Está bem, mas antes de guardarmos nossa bagagem seria bom eu teruma palavrinha com Jim. Ele deve saber de Robert. Quando chegarmosnaquela bifurcação, vire à direita.

Mila manobrou com cuidado e perguntou:— Quem é Jim? Outro meio-irmão do proprietário?

— Não. Jim Stanley é o mecânico-chefe, mas também é uma espécie dehomem dos sete instrumentos. Conserta tudo aqui no rancho. É otrabalhador mais antigo e esta região não tem segredos para ele. Às vezesaté Robert o consulta. Acho que ele está no prédio dos geradores,supervisionando. Arunga River não sobrevive sem os geradores.

— Imagino! Sem energia elétrica, adeus Rancho Arunga River!Como Alick havia previsto, Jim informou que Robert se ausentara. Saíra

cedo, conduzindo um grupo de turistas à região de mineração, ondevisitariam velhas minas desativadas e escavações arqueológicas

abandonadas, e não retornaria antes do anoitecer.Apesar da decepção de não poder resolver seu destino imediatamente,

Mila deixou-se guiar por Alick, evitando outros comentários queixosos.Quando chegaram à casa-grande, ela subiu em silêncio os degraus quelevavam à entrada principal.

Depois de cruzarem a imensa varanda colonial que circundava toda aconstrução, entraram numa ampla sala de estar decorada com motivostropicais, onde se adivinhava um decorador de gosto discreto e apreciadordo conforto. Depois de percorrerem outro longo corredor, Alick, afinal, abriu

a porta de um quarto em tons azul e creme, com uma pequena sacadaprojetada para o exterior.

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— Este quarto está bom para você? — ele indagou.— Oh! Sim, está ótimo. É um lindo quarto — Mila respondeu, colocando

a máquina fotográfica no chão, ao lado da bagagem, e passeando os olhospelo aposento.

Como todo o resto da casa, o quarto era espaçoso e bem ventilado. Amobília era clássica e funcional, com poucos objetos de decoração. O chãoera revestido com largas tábuas de madeira de lei e o acabamento,primoroso.

Uma certa impessoalidade na atmosfera revelava que não era um lugarhabitado. Podia tratar-se, talvez, de um quarto de hóspedes, mas, jamais,de empregados. Na duvidosa situação em que se encontrava, Mila nãosabia como agir.

— Será que Robert não vai ficar aborrecido e considerar uma audácia eume instalar neste quarto? Afinal, não passo de uma empregada... querdizer... possível empregada — ela falou, hesitante.

— Ah! E você tem culpa se o alojamento dos empregados está lotado? Todas as outras acomodações são reservadas aos turistas. Aonde vaidormir? No sereno?

— Sei lá... Não quero parecer intrometida.O que não queria mesmo era agir mal no primeiro dia e dar uma boa

razão para Robert Buchanan recusá-la de uma vez por todas.Vendo que, embora relutante, Mila seguia suas instruções, Alick

esfregou as mãos satisfeito, com o rosto brilhando de entusiasmo, como se

não tivesse um problema na vida.— Bem, agora que estamos bem instalados, que tal eu e minha querida

amiga sairmos para uma volta e conhecermos o lugar? — ele perguntou.— Boa idéia! Vamos — Mila concordou, dando o melhor de si para não

parecer desanimada. Alick parecia tão confiante que talvez fosse mesmoexagero preocupar-se tanto. — Talvez seja um ponto positivo conheceralguma coisa do rancho, antes de falar com Robert, não é mesmo?

— Assim que se fala — respondeu Alick, passando o braço por sobre osombros de Mila e conduzindo-a para fora.

O resto do dia foi muito interessante e proveitoso para Mila. Ficouconhecendo os vários prédios e instalações do rancho e suas diversasfinalidades. Um grande prédio de dois pavimentos, próximo ao casarão,destinava-se aos turistas que exigiam conforto doméstico e não se sentiamatraídos pela idéia de acampar na área destinada às barracas.

Segundo Alick, um dos grandes atrativos do rancho era sua localizaçãoàs margens do rio Arunga, navegável e rico em peixes, o que fazia oencanto dos pescadores.

Mila também pôde apreciar as atividades normais de uma vasta fazendade gado e a quantidade enorme de trabalhadores que empregava. Viu a

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excitação e o burburinho dos turistas que se repartiam em grupos; unsprocurando um rodeio, outros, vôos panorâmicos sobre a imensa área. Paraos que preferissem se aventurar no rio, nos riachos afluentes, ou mesmo nomar, haviam embarcações apropriadas e de fácil manejo.

O Rancho Arunga River era um perfeito paraíso para naturalistas efotógrafos, pois possuía uma esplêndida vida animal, onde pássaros rarosvoavam livremente, e onde os visitantes, ao longo de passeios, deparavam-se com cangurus, emas e até mesmo com grandes jacarés que se aqueciamao sol, indiferentes às exclamações de espanto e susto que provocavam.

Quando horas mais tarde Mila retornou à casa-grande para preparar-separa o jantar, as preocupações voltaram-lhe à cabeça. Durante o passeio,havia encontrado Joel, o irmão mais novo de Robert, um jovem alto, loiro,de sorriso largo e fácil, e a reação dele a sua presença no rancho trouxera-lhe a insegurança de volta.

 Joel parecera tão surpreso e incrédulo ao vê-la, que era evidente que jamais haviam cogitado empregá-la. Imaginava então como seria quando opróprio Robert Buchanan a visse! Aquela perspectiva era no mínimoinquietante.

Ao dirigir-se para o restaurante onde os turistas faziam as refeições, Milacomentou com Alick, procurando dar um tom despreocupado à voz:

— A recepção de Joel não foi muito animadora, você não achou?Alick deu de ombros.— Eu não notei nada. Mas você se lembra de que ele concordou que

Robert precisa de auxílio?Mila assentiu com um gesto de cabeça e completou:— Espero que Robert tenha a mesma opinião de Joel!— Você se preocupa demais, Mila. Relaxe!Caminharam mais alguns metros em silêncio, até chegarem ao

restaurante. Mila notou que o salão principal estava repleto de gente.Algumas pessoas estavam vestidas mais formalmente e outras de maneiradescontraída.

Alick escolheu uma mesa a um canto do salão. Sentaram-se e

imediatamente fizeram seus pedidos.Apesar de o local estar bastante cheio, Mila notou a presença de Joel.

Porém, nem sinal de Robert.Quando o garçom trouxe os pratos pedidos por eles, ambos comeram

calados, cada qual imerso em seus próprios pensamentos.De repente, um burburinho na entrada principal indicou a chegada de

alguém importante.Atraída pelo barulho, Mila olhou naquela direção.Um grupo de homens entrou rindo e dirigiu-se ao bar, gracejando com

as garotas que serviam, mostrando-se muito à vontade e satisfeitos.— Robert chegou! — exclamou Joel, alto o suficiente para que Alick e

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Mila ouvissem.Alick, no entanto, não se manifestou, e ela procurou distinguir seu futuro

chefe entre as pessoas agrupadas no bar. Queria descobrir, por intuição,qual seria o homem que tinha o poder de decidir sobre a permanência dela

naquele lugar paradisíaco. A pessoa, enfim, que tinha a última palavrasobre sua vida. Cada vez mais ansiosa, seus olhos moviam-se com rapidez.De repente, sua atenção se concentrou num homem que se destacava

dos demais. Tão logo o avistou, concluiu que se tratava do dono do RanchoArunga River.

Era muito alto e másculo, aparentando uns trinta e quatro anos. Osolhos verde-azulados eram hipnóticos, e todo seu porte revelavaimpressionante virilidade. Impossível não perceber a aura de arrogânciaque o envolvia.

No instante seguinte, Crystal deixou a mesa que estava servindo ecorreu para ele; era a confirmação que Mila esperava. Aquele homem eraRobert Buchanan.

Sentindo um toque no braço, ela virou-se para Alick. Ele falou entre osdentes, visivelmente aborrecido:

— Maldita Crystal! Que criaturinha mesquinha! Pelo sinal que ela fez,tenho certeza de que está falando sobre você. Eu queria ter falado com eleprimeiro, porque a versão de Crystal não vai nos favorecer em nada.

Alick levantou-se e havia um ar sisudo em seu rosto, que denotavaextrema contrariedade.

— Vamos lá, doçura. Está na hora de enfrentarmos o homem... antesque Crystal ponha tudo a perder.

Era chegado o momento decisivo!Mila ergueu-se sem nenhum comentário e seguiu Alick. Naquele

instante, Robert virou-se, como que avisado de sua aproximação, e seusolhares se cruzaram. Ele a encarou firmemente e, apesar da expressãoséria, havia um trejeito sardônico nos lábios bem delineados. Era umasituação muito embaraçosa... Mila sentiu-se corar e franziu o cenho,contrariada porque, sem querer, dera uma demonstração de insegurança.

Por tudo que já ouvira sobre Robert, imaginara que ele a encararia comdureza, mas aquele ar de divertida superioridade... Por quê?

Mila parou, confusa, e percebeu que ele fazia um sinal para Alick segui-lo ao escritório. Sem saber o que a esperava, ela cruzou os dedos pedindosorte e acompanhou o amigo.

Ao entrarem no escritório, Robert indicou uma poltrona para ela sentar,em frente à escrivaninha de mogno, coberta de papéis e livros.

Apesar da fragilidade de sua situação, Mila instalou-se confortavelmentee, levada pela curiosidade, começou a observar de modo velado o todo-

poderoso Robert Buchanan.Quando ele retirou o chapéu, Mila viu que seu cabelo era negro e

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cortado muito curto e que os olhos verde-azulados, emoldurados por cíliosespessos, revelavam inteligência e a firmeza do aço. Mas o traço que maislhe chamou a atenção foi a boca. Era larga e muito sensual e, ao falar,descobria dentes fortes e brancos que contrastavam com a pele bronzeada.

O queixo quadrado denotava grande força de vontade.Mila tentou fazer uma avaliação do homem a sua frente, procurando nãose deixar ofuscar por sua beleza viril. Suspirou, pois aquele rosto másculonão indicava flexibilidade e seria uma árdua tarefa convencê-lo a fazer algoque não quisesse.

— Psiu, Mila! Acorde! Acabo de apresentá-la a Robert e você não diznada! — Alick interrompeu-lhe o devaneio.

— Oh! Desculpe... eu estava... — ela gaguejou, uma onda de ruborcoloriu-lhe o rosto outra vez. Ainda bem que ninguém podia saber o queestivera pensando.

Robert inclinou a cabeça, num cumprimento frio, sua expressão facialdenotando um misto de ironia e desinteresse. A pouca esperança de Milacomeçou a esvanecer; era evidente que aquele homem não simpatizaracom ela.

— Este é Robert Buchanan, meu meio-irmão. Mas não se esqueça deque temos sobrenomes diferentes... — Alick brincou.

— Como? Sobrenomes diferentes? — Mila perguntou com ar distraído edepois corrigiu-se, rápida: — Ah! Sim. Entendo. Seu pai é casado com a mãede Robert, certo?

Percebendo que se comportava como uma perfeita idiota, enrubesceu.Sentia-se tão atrapalhada como se fosse uma tímida adolescente. Comesforço, sorriu para o homem que a impressionara tanto.

— Muito prazer. Gostaria de cumprimentá-lo pela maravilhosapropriedade que possui, sr. Buchanan.

Com, mais um breve aceno, ele respondeu:— Obrigado. Estamos plenamente satisfeitos com nosso

desenvolvimento e com o trabalho que fazemos aqui.Plenamente satisfeitos! O que aquilo queria dizer? Que não precisava de

mais ninguém?— Mila, chame-o de Robert, não de sr. Buchanan — recomendou Alick,

com um sorrisinho irônico. — Ninguém o chama de senhor por aqui. Mas,em compensação, ninguém se esquece de que ele é o patrão.

A alfinetada não pareceu impressionar Robert.— Se você se lembra tão bem de que sou o patrão, deveria ter lembrado

também de me consultar antes de oferecer este prêmio de consolação quenão está disponível — disse Robert.

O que ele queria dizer com prêmio de consolação? Mila franziu a testa,

apreensiva. Alick jamais mencionara nenhum prêmio.— Não seja ingrato, mano. Tem de reconhecer que está sendo

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premiado, agora! — Alick retrucou, rápido.— Outra vez esta história? — Robert perguntou.Mila achava a conversa cada vez mais incompreensível, mas fazia um

esforço para entender.

— Enquanto sua mãe e meu pai estiverem viajando, e já estão fora hádez meses, é mais do que claro que você não pode fazer tudo sozinho. Masvocê é teimoso, sei que jamais admitirá isso. Porém, é bom que saiba que Joel e todos os outros com quem conversei, ainda agora, pensam da mesmamaneira.

Com um breve olhar de soslaio para Mila, Robert virou-se para o irmão.— Sua ruivinha seduziu todos eles, então? É isto?Aquelas palavras, e principalmente o tom em que foram ditas, atingiram

Mila espantando o torpor em que se encontrava. Até então permitira queAlick falasse por ela, mas, ofendida, ergueu o queixo para falar em defesaprópria:

— Não! Você está muito enganado! Ninguém foi seduzido. Seus amigosapenas consideram uma medida sensata você ter alguém ajudando.

— Hum... Alick decidiu assim. E imagino que, por mero acaso do destino,encontrou você: a perfeita guia de turismo! — ironizou.

Procurando manter uma voz calma, Mila respondeu:— Está enganado outra vez! Na verdade, eu e Alick já nos conhecíamos

há cerca de dois anos, porque trabalhávamos no mesmo edifício no centrode Townsville.

Um sorriso enigmático apareceu nos lábios de Robert, ao virar-se paraAlick:

— Deve ter sido muito conveniente, não é mesmo?Ignorando a insinuação do comentário de Robert, Alick deu uma risada:— Sabe, eu conheci Mila ao consultar um advogado para você na firma

de advocacia onde ela trabalhava.— Ah! Então ela trabalhava numa firma de advocacia. Só imagino como

isto deve ter dado a sua amiga grande prática para trabalhar num rancho!— ele falou, cheio de sarcasmo.

— Alick me ofereceu a posição de guia de turismo e no local em quetrabalhava tratava diariamente com o público, instruindo-o, encaminhando-o. Portanto, tenho prática em me relacionar com as pessoas, sim! — Milareplicou, furiosa, por vê-lo zombar de seus conhecimentos. No entanto,sendo honesta, reconhecia que se intimidara ao ver o tamanho do rancho ea quantidade de turistas.

— Infelizmente, sua experiência vai lhe adiantar muito pouco por aqui,uma vez que não temos nenhum cargo de guia de turismo. Foi leviandadede quem lhe prometeu. Sinto muito.

— Não exagere, Robert. Todos sabem que um guia de turismo é muitonecessário. — A voz de Alick suavizou-se e ele continuou, insinuante e

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persistente: — E você deve levar também em consideração o fato de queMila pediu demissão do emprego em Townsville. E dirigiu horas o própriocarro para chegar até aqui. Você poderia reconsiderar sua decisão, nãopoderia?

Robert parecia ignorar os esforços de Alick para demovê-lo e retrucou,duro:— Nada disto teria acontecido se você tivesse se limitado a fazer o que

pedi, que era apenas contratar um fotógrafo profissional.— Ah! Mas é aí que reside toda a beleza do meu plano. Porque Mila,

além de ajudá-lo com os turistas, também é uma fotógrafa. Já falei sobreesta vantagem: você pode ter dois profissionais pelo preço de um.

— Mas só tenho interesse em um. Dois é demais. E posso saber o queestaria uma fotógrafa profissional fazendo numa firma de advocacia,atendendo ao público e datilografando testamentos? Terá sido lá que elaaprimorou sua técnica fotográfica?

A má vontade de Robert era contundente, e Mila não conseguia fingir,como Alick, que não percebia. Podia perder o emprego, mas não ia engolirmais ironias e pouco-caso.

— Não, eu não aprimorei minha técnica no escritório de advocacia.Fotografia tem sido meu hobby há muitos anos. E já gastei muito tempo edinheiro nele, é bom que saiba. Admito que nada disto me transforma numaprofissional, mas tenho ganho muitos prêmios em competições amadoras.Até já vendi algumas fotos para agências de turismo que apreciaram meu

trabalho. Por isto, não vou ficar aqui assistindo humildemente quem não en-tende nada denegrir meu trabalho. — Mila parou um segundo para tomarfôlego e continuou: — Tudo isso só porque está com raiva de Alick por tertomado uma iniciativa. Pois fique sabendo que não estou tão desesperadaassim por um emprego a ponto de ter de aturar sua grosseria. Com licença— E Mila encaminhou-se para a porta.

De lá, voltou-se para Alick e falou por sobre o ombro:— Não perca mais seu tempo, agora é que ele não vai me aceitar

mesmo.

— Oh! Não, minha querida. Ainda tenho muito para dizer! — Alickrespondeu.

Com um gesto irritado, Mila saiu da sala, de cabeça erguida, mas emtempo de escutar Alick dizer:

— Que diabo, Robert! Por que você descontou nela, se a sua implicânciaé comigo?

Mas Mila não parou para escutar a resposta. Continuou caminhando, aprincípio sem destino e, depois, rumando para a praia deserta.

Ao ver a enorme extensão de areia branca, ela não pôde conter um

suspiro de admiração. Que paisagem linda e repousante! Sentou-se junto auma palmeira, encostando-se ao tronco áspero, e descansou a cabeça entre

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as mãos, enquanto seus olhos se perdiam no infinito azul do mar.Era difícil de acreditar que deixara Townsville no dia anterior com o

coração repleto de esperanças numa vida nova e de expectativas sobre seufuturo naquela terra de areias prateadas. Quanta ilusão! Como fora

enganada! Não havia a menor esperança de vir a trabalhar naquele paraíso,talvez um dos últimos de um mundo tão devastado. Mesmo que Alick serecusasse a admitir a derrota, Mila sabia que o sonho acabara.

Com um suspiro desolado, ela tirou um cigarro do bolso e, emborahouvesse prometido a si própria não mais fumar, deu uma longa tragadaque a acalmou e confortou. Sentia-se tão só! Mas, no íntimo, jurou: "É meuúltimo cigarro na vida!"

Algum tempo mais tarde, avistou Alick vindo ao seu encontro,tropeçando nas dunas de areia.

— Ah! Então foi aqui que você se escondeu! — ele disse, quase semfôlego, deixando-se cair ao lado dela; depois retirou o sapato e sacudiu aareia. — Procurei você por toda parte. Precisamos conversar.

Com certeza, ia dizer-lhe que podia fazer as malas.— Desculpe, Alick, nem eu sabia que vinha aqui. Então, a que hora

vamos partir amanhã?— Bem... eu viajo à tarde, no bimotor que traz a correspondência.

Enquanto você... permanecerá aqui.Mila arregalou os olhos verdes, cheios de espanto.— Você vai e eu... fico?

— Hum, hum. Não lhe disse para deixar tudo por conta do "titio" Alick?Bem, Robert acabou concordando em lhe dar uma chance.

Se aquela notícia tivesse surgido mais cedo, Mila teria pulado de alegria,mas naquele momento causou-lhe apenas uma grande surpresa.

— E por que esta súbita compreensão? Será que você insistiu tanto queele cansou ou sentiu-se meio responsável por eu estar desempregada?

— Ah! Como consegui não importa. O que interessa é que vai trabalharno rancho e pronto.

— Mas é claro que importa! Fico constrangida, sabendo que não me

querem.— Ora, não seja tão melindrosa. Por enquanto tem permissão para ficar.

Cabe a você, agora, provar a Robert que ele a julgou mal.— E isto significa...— Ah! Você sabe. Torne seu trabalho um sucesso, claro! Afinal, você

também ouviu o que Joel e os amigos disseram: Robert precisa de umauxiliar. — Alick olhou-a, desconfiado. — Será que mudou de idéia? Estácom medo?

Mila hesitou e depois confessou com honestidade:

— Eu... bem, não sei. Esperei por isto com tanta ansiedade; mas, depoisda horrível recepção, da arrogância desse seu irmão, já não vejo meu

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trabalho com o mesmo entusiasmo de antes.— Mas não se esqueça de que o remédio está nas suas mãos. Mostre

que é eficiente.Mordendo o lábio, ela perguntou, o olhar perdido ao longe:

— Você pensa assim mesmo, Alick? Honestamente?— Claro que sim. Se há alguém que pode fazer Robert mudar de idéia,este alguém é você. E você jamais saberá, se não tentar.

— Talvez tenha razão. E, de qualquer maneira, sempre posso ir embora,se não der certo.

— Então, o que me diz? Não vai desistir, depois de todo o trabalhão quetive, não é mesmo?

Com um suspiro, ela respondeu:— Está bem. Vou tentar, sim. Afinal, foi para isto que fiz esta viagem. E,

mesmo que seja um emprego temporário, acho que vai valer a pena. —Sorriu, entre receosa e animada.

Depois de uma pequena pausa, indagou:— Diga-me uma coisa, Alick. Você não fica com o orgulho ferido por não

comandar nada no rancho? Afinal, é mais velho que Robert.— É, mas acontece que ele é o verdadeiro dono desta propriedade. Tudo

isso era do pai dele; e, antes disso, do avô e etc... etc... E quanto a eu nãomandar nada... não é bem assim. Já dei muitos palpites aceitos por Robert.Não acabo de provar minha influência? Ele não aceitou o que propus? —Alick deu um tapinha afetuoso no ombro de Mila, para incutir-lhe maior

ânimo.— E por que você não mora no Rancho Arunga River, como seu irmão?— Porque não quero. Não gosto da vida rural, prefiro as atrações da

cidade. Sou um homem urbano.— Onde você diz atrações, entenda-se atrações femininas, não é? — ela

brincou, provocadora.— E existem outras atrações no mundo?— Tenho certeza de que você nunca teve tempo de descobri-las. — Ela

não pôde deixar de rir.

Capítulo II

Na manhã seguinte, os primeiros tímidos raios de sol começavam aespantar as sombras da noite, quando uma forte batida na porta acordou

Mila.Sonolenta, com os cabelos em desalinho, ela jogou um roupão por sobre

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os ombros e, tateando na penumbra do quarto, andou até a porta.Era Alick.— Desculpe acordá-la tão cedo, meu bem, mas, se você quer mesmo

fazer por merecer este emprego, sugiro que vá já para a pista de vôo — ele

falou, apressado.— Pista de vôo? — Mila deixou-o entrar, bocejando e tentando pentear-se com os dedos.

— Sim. Está ouvindo o ronco dos motores? Estão sendo aquecidos e euacabo de descobrir que Robert e Joel já se levantaram e vão voar paraalgum lugar. Você tem cinco minutos para se aprontar e ir até lá antes queRobert desapareça até o fim do dia. Lembre que você não recebeunenhuma instrução de trabalho ainda — Alick explicou, afobado.

Mila sentou-se à beira da cama, achando tudo muito estranho.— Mas ontem à noite você disse que Robert concordara em me dar uma

chance.— E concordou mesmo. Mas eu não disse que ia facilitar sua vida em

nada, disse? Precisa ir atrás dele.— Então... neste caso...— Por favor, Mila, você está perdendo tempo — Alick interrompeu. —

Guarde suas perguntas para depois. Agora, o que tem de fazer é vestir-se ecorrer atrás de meu irmão.

— Está bem, está bem. — Ela suspirou, conformada, desistindo de tentarentender e deixando-se conduzir.

Alick devia saber mais sobre Robert e o rancho que ela; era melhor lavaro rosto com água fria, ficar bem acordada e se vestir.

Uma vez pronta, Mila correu para a pista de aviação, conforme Alickmandara. No caminho escuro e pouco familiar, o chão parecia cheio deobstáculos. Apressada, ela saltava sobre pedras, tufos de grama,contornava árvores e afinal acabou tropeçando num espargidor de águaque regava a grama. O susto foi grande. Por um minuto, parou de respirarsob a chuveirada que a encharcou dos pés à cabeça.

"Oh! Meu Deus, não posso voltar para trocar a roupa", ela pensou, e

procurou secar-se com as próprias mãos.Mas não havia nada a fazer. Iria se apresentar molhada mesmo.Por fim, Mila avistou o largo portão que dava para a pista, mas não

conseguiu distinguir as figuras junto aos helicópteros que rompiam a paz damanhã com seu barulho.

 Temendo que Robert já se encontrasse dentro de um dos aparelhos,Mila correu ainda mais e só parou quando esbarrou violentamente emalguém que não havia visto na penumbra. A mão forte de um homemsegurou-a pelo braço, impedindo-a de cair.

— Mas que diabo! Que significa isto? Aonde pensa que vai, correndodesse jeito? — uma voz autoritária perguntou. — E pare quieta! Não se

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debata tanto.Mila sentiu que aquelas mãos apertavam com mais força o seu braço.Eram sustos demais para uma só manhã! Lutando para recobrar o

fôlego, ela reconheceu Robert na pessoa que a segurava.

— Eu... estava tentando alcançar... — ela começou a explicar, mas seinterrompeu ao ver que ele não prestava atenção e olhava para o outrolado.

Curiosa, ela perguntou:— Que está acontecendo? Por que está aqui parado? Não vai pegar o

helicóptero?— Não. Estou observando dois javalis que estão do outro lado da pista.— Eles são perigosos? Acho que o barulho e o vento dos helicópteros

vão espantá-los, não acha?— É, e também acho que se alguém de cabelo vermelho correr para lá,

eles fogem — ele disse, irônico.O alguém, sem dúvida, era ela mesma.— Por que me diz isto? Que foi que fiz?Pela primeira vez Robert virou-se para encará-la.— Vi que você corria na direção dos javalis. Estou esperando Joel me

trazer um rifle. Não posso deixar que esses bichos se metam onde nãodevem. São uma verdadeira praga; ameaçam o gado, devoram e destroema grama. Você corria um sério risco.

— Ah! Bem... — Mila estava envergonhada de mostrar ignorância. Mas

como podia ter adivinhado? — Já entendi o que se passa. Prometo que nãovou sair correndo e provocar uma confusão. Pode soltar meu braço, agora.

Robert olhou-a de novo, como se quisesse ler-lhe os pensamentos.Aquele olhar penetrante causou desconforto em Mila e ela precisou usartoda força de vontade para sustentá-lo; enfim, ele soltou e colocou as mãosnos bolsos.

— Quero deixar claro para você, Mila, que se achar as condições dorancho difíceis, você mesma tem a solução.

Não havia como não entender a sugestão: se não gostasse, podia ir

embora, pois não fazia falta alguma. Por sorte, naquele momento, Joelapareceu com o rifle e distraiu Robert, livrando-a de ter de responder.Assim talvez não percebesse que ela engolira a indelicadeza.

— Bom dia, Mila. O que faz aqui a esta hora? — Joel saudou-a, surpreso,mas amável.

— Boa pergunta! — exclamou Robert.Sem esperar uma resposta de Mila, Joel entregou o rifle a Robert,

dizendo:— Pegue a arma. Você é o melhor atirador.

Mila preferiu ficar calada, considerando que não era o melhor momentopara explicar o que fazia ali; apenas retornou o cumprimento de Joel com

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um sorriso tímido.— Este animais começaram a rondar outra vez, hem?Robert examinava a arma e, de cabeça baixa, respondeu:— É, sim. Acho que vamos ter de organizar uma operação para enxotá-

los. E rápido!Erguendo a cabeça, ele deu uns passos à frente e mirou. Distraída, Milaadmirou o porte atlético e a graça viril com que ele apontava a arma eassustou-se ao ouvir o primeiro tiro.

Numa rápida sucessão de gestos habilíssimos, Robert disparava erecarregava o rifle. O som dos tiros causava um estrondo que suplantavaaté o barulho dos helicópteros.

Estreitando os olhos para ver melhor, Mila percebeu duas grandesformas escuras desabarem no chão. Coitado dos javalis! Seria mesmonecessário matá-los?

— Ótimo! Que excelente pontaria, Robert. Você liquidou os dois querondavam por aqui! — Joel gritou, entusiasmado.

Embora penalizada pelos animais, Mila também compartilhava daadmiração e entusiasmo pelos tiros certeiros e pela coragem física deRobert, mas não disse nada.

— Bem, os javalis estão no chão, mas se estão mortos não se sabe. Umdeles começava a fugir quando eu disparei. Talvez esteja apenas ferido; aí fica ainda mais perigoso. Acho melhor irmos lá checar — falou Robert,começando a se dirigir à pista de vôo, seguido de Joel.

Surpresa, Mila viu os dois se afastarem sem lhe dirigir a palavra. Quehomens! Simplesmente a deixavam para trás! Mas ela estava decidida anão ser esquecida daquele jeito, por isso, empinando a cabeça, seguiu-os auma discreta distância.

 Joel e Robert já se aproximavam do local onde os animais jaziam,quando um deles levantou-se e, grunhindo, arremessou-se contra ele. Oataque foi tão inesperado que, horrorizada, Mila não pode conter um grito.

Robert e Joel, que não sabiam que ela os havia seguido, ao ouvirem ogrito voltaram-se para trás, espantados, e distrairam-se do animal

enfurecido que arremessou-se contra eles.— Pelo amor de Deus, tire-a daqui! — Robert gritou, enquanto apontava

o rifle.Num segundo, Joel alcançou Mila e, sem cerimônia, arrastou-a com ele

para mais longe; depois gritou acima do ruído das hélices:— Você está louca? É alguma débil mental? Quer se matar ou matar a

nós todos? Você nos seguiu e fez este barulho todo. Os animais são muitoperigosos, mas feridos são ainda piores. E Robert feriu um deles.

A indignação de Joel era grande e, enquanto falava, olhava para trás,

preocupado com o que poderia acontecer a Robert.Mila tropeçou numa pedra e Joel segurou-a, achando que jamais vira

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alguém tão desastrada; envergonhada, ela se desculpou, ainda arfante dacorrida.

— Foi sem querer. Sinto muito, mesmo. Desculpe.Apreensiva, procurou ver o que se passava com Robert. Jamais se

perdoaria se por sua causa ele se ferisse ou se... acontecesse alguma coisapior. Por entre as folhas da vegetação, vislumbrou o vulto escuro do animale poderia jurar que até vira o brilho de suas imensas presas brancas. Derepente, ouviu o som estridente de dois tiros cortarem o ar e deu um pulode susto.

Para enorme alívio de Mila, o animal parou a desabalada corrida evagarosamente desabou no chão, imóvel como uma pedra, aos pés deRobert.

Ao ver a cena, Joel largou o braço de Mila e correu para o irmão. Elapermaneceu, ali, imóvel, uma estranha fraqueza tomando conta de todo seuser. Não soube dizer quantos minutos haviam se passado, quando ouviuRobert dizer:

— Venha cá, ruivinha. Temos alguns negócios para discutir, mas querofalar longe do barulho do helicóptero.

Mila assentiu, com humildade, e acompanhou-o em silêncio.Robert entrou numa das construções de concreto que havia ao longo da

pista de vôo. Diplomaticamente, Joel deixou-os sozinhos.— Enquanto vocês conversam, vou dar umas ordens sobre as carcaças

dos animais e guardar o rifle — ele disse, afastando-se rápido.

De certa forma, Mila preferia que Joel tivesse ficado, pois sentia-sepouco à vontade com Robert. Porém, precisava encarar a situação sozinha.

Calado, Robert olhava-a sem esconder a irritação.Mila decidiu acabar com o tenso silêncio, e falou:— Sinto muito ter atrapalhado vocês num momento tão perigoso.— Sente muito! Isto não é desculpa. Além do mais, não devia estar ali!— Mas, mesmo assim, não era minha intenção causar qualquer

problema. Eu apenas não... não percebi os animais!— Você não percebeu precisamente porque não entende nada da vida

rural ou da vida num rancho. Você nem se deu conta de quanto esteveexposta ao perigo, ruivinha. Mais do que eu, talvez; porque eu tinha umaarma. — À luz crescente do dia, Mila viu a expressão zombeteira do rostodele. — E o que Alick iria dizer, se lhe acontecesse alguma coisa?

Os grandes olhos verdes de Mila arregalaram-se de espanto. O que eleestaria insinuando com aquelas palavras? Que ela e Alick seriam algo maisque simples amigos?

Ah! Mas ela não podia deixar passar tal comentário e retrucou, brava:— Tenho certeza de que Alick diria que tinha sido culpa minha. Não iria

brigar com você por um erro meu. Por que faria isto? — Depois, mais calma,acrescentou: — Estou consciente de que agi mal e peço mais uma vez que

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me perdoe. Mas é que estou tão interessada no rancho... foi por isto que osegui a distância. Queria ver tudo!

— Então, sugiro que no futuro limite seus interesses ao lado mais socialdo rancho. E fique por lá!

"No futuro", ele dissera. Ah! Então ainda havia um futuro para elanaquele lugar paradisíaco. Tinha pensado que iria ser mandada emborasem maiores preâmbulos e, no entanto, dentro das circunstâncias, ele foramagnânimo. Porém, ordenar que ela se contentasse apenas com o ladosocial do rancho era um pouco exagerado. Jamais faria um bom trabalho deguia de turismo se não tivesse liberdade de andar por todos os lados.

Ou quem sabe aquele era o objetivo de Robert? Impedi-la de exercersuas funções com eficiência e, assim, ter um motivo real para dispensá-la.Na verdade, até aquele momento, Robert não dissera com todas as palavrasque a admitira como funcionária; apenas havia um vago acordo com Alick.

— Só por causa deste incidente de hoje você vai me proibir de andarlivremente pelo rancho? Acho que está usando isto como desculpa — elafalou, com uma ponta de ressentimento na voz.

Os olhos verde-azulados prenderam os dela, firmes.— Deixe-me corrigi-la, ruivinha. Eu prometi a Alick que lhe daria uma

chance e jamais retiro uma palavra dada. Ah! Outra coisa: aqui no RanchoArunga River não preciso de desculpas. Tenho toda autoridade para fazer oque quero. Não se esqueça mais disto! — Ele olhou-a mais uma vez dos pésà cabeça e calou-se. Depois, fez um sinal para Joel, que passava, e pediu

que o esperasse. Tocando na aba do chapéu, num cumprimento seco,despediu-se.

— Robert! — Mila gritou. Não podia deixá-lo escapar outra vez. — Vocêainda não me disse que tipo de trabalho quer que eu faça. Foi por isto quecorri tão cedo atrás de você e causei toda esta confusão.

Robert se deteve e seus olhos passearam devagar pelo rosto e pelocorpo de Mila, e uma expressão sensual apareceu no rosto másculo.

— Confesso que fiquei curioso quando a vi esta manhã. Era muito cedopara uma mocinha da cidade estar de pé. E suas roupas pareciam

molhadas, mas não estava chovendo.Mila baixou os olhos e no mesmo instante percebeu sua roupa úmida

colada ao corpo. A calça jeans não era tão indiscreta, mas a blusa tornara-se transparente, revelando o contorno dos seios rijos, para seu imensoembaraço. Que falta de sorte esbarrar num esguicho de água e molhar-sedaquele jeito! E o olhar de Robert denunciava o efeito daquela visão sobreos homens. Não era de admirar que a quisesse restrita à área social. Rubrade vergonha, ela tentou explicar:

— Quando vim para cá, ainda estava tão escuro que não vi um dos

esguichos da grama. E levei um banho, daí, minhas roupas molhadas.Ele pareceu fazer esforço para afastar os olhos dos seios de Mila e, após

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um breve silêncio, voltou a falar num tom baixo e vagaroso:— Bem, infelizmente você não pode se gabar de ter tido um excelente

começo, não é mesmo?A leve ironia contida na observação e no sorriso matreiro não ajudaram

Mila a tornar-se mais confiante. Contudo, não gostaria que ele soubessequão ineficiente se sentia. Erguendo a cabeça com altivez, fitou-o dentrodos olhos.

— Está certo. Não foi um bom começo. Mas sei que tudo mudará a partirdo momento em que você — ela enfatizou o você — for claro comigo e medisser exatamente o que quer que eu faça.

Pensativo, Robert virou-se para observar os helicópteros que alçavamvôo.

— Hum... digamos que você pode tirar algumas fotos — ele concluiu,lacônico.

— Algumas fotos... — Mila repetiu como um eco. — Eu me referia aotrabalho junto aos turistas. Atividades turísticas. Foi sobre este trabalho queAlick me falou.

— Alick fala demais. Você pediu minhas instruções. Pois minha ordem é:fotografe!

E, sem dar mais chances pára outros argumentos, ele afastou-se compassos largos e rápidos.

Mila desistiu de segui-lo. Robert fora inflexível em suas ordens, como sepretendesse testá-la e ver até onde ela ia.

Com um longo suspiro ela olhou-o sumir na propriedade.Robert Buchanan concordara em dar-lhe uma chance no emprego, mas

era mais que evidente que não pretendia facilitar a tarefa.Mas ele ia ver; ela iria longe!— E então, como foi? — Alick perguntou, eufórico, assim que Mila

retornou à casa-grande. —Ouvi tiros e imaginei que deviam ser os javalis.Eles sempre atrasam as manobras dos helicópteros. Conseguiu alcançarRobert?

— Ele não seguiu com os helicópteros e parece que estará trabalhando

por aqui, hoje. Logo, não precisava toda aquela correria. Veja o queaconteceu: tomei um banho. — Mila censurou-o com o olhar e continuou: —E quanto ao meu encontro com Robert... hum... o que quer ouvir primeiro?A parte boa ou a parte má?

— Ah! Então foi assim? — Alick deu um meio-sorriso, como uma criançaapós uma travessura. — Prefiro a parte boa primeiro.

— A boa notícia é que felizmente não causei a morte de Robert — elafalou, devagar, dando-se ao luxo de saborear uma ironia. — Sabe, euespantei os javalis, quase causei uma tragédia e fui acusada de

irresponsável. Mas nosso impiedoso chefe sobreviveu; foi só um susto. Quesorte a minha, hem?

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Alick ressentiu-se um pouco com o tom irônico, mas depois deu deombros.

— Puxa, você agora me assustou. Mas, pensando melhor, não é tãograve assim. Poderia ter acontecido com qualquer um. Estou até com medo

de ouvir a má notícia.— A má notícia é que, pelo que vi, Robert não vai deixar eu meencarregar de coisa alguma nesse rancho. — Mila sacudiu os ombros, comuma risada nada alegre. — O que não é de admirar, depois do que fiz estamanhã. Ele deve pensar que sou uma tola, sem cérebro.

Alick balançou a cabeça, sem querer acreditar, hesitando entre operpétuo bom humor e a decepção.

— Conte exatamente tudo que aconteceu, Mila. Quero julgar por mimmesmo.

— Tenho vergonha de contar.— Mas seria bom. Talvez eu entenda melhor a reação de Robert.— Neste caso...E Mila relatou tudo que acontecera, contando com detalhes e sem

poupar-se das complicações que sua inexperiência provocara. Quando elaacabou, Alick sorriu aliviado e garantiu:

— Oh! Você está fazendo uma tempestade num copo d'água. Pensei quetivesse sido muito pior. Foi um pequeno acidente e Robert apenas sugeriuque você ficasse na área social da propriedade, não a mandou embora. Eleestá apenas resistindo, mas vai acabar aceitando sua ajuda. No futuro irá

me agradecer. — Alick voltara a se sentir confiante e acrescentou,entusiasmado: — Tenho certeza de que você não terá dificuldades emsuperar esses obstáculos iniciais com a maior rapidez.

No entanto, Mila não compartilhava da mesma confiança e assombrava-se com a facilidade com que Alick descartava um problema.

— Bem, então, enquanto Robert não se digna a me dizer em que e ondedevo ajudá-lo, você talvez queira esclarecer este ponto — ela o desafiou. —Por que não pede uma sugestão a Crystal? Ela deve saber onde a ajuda émais necessária.

— Ora, que idéia! Crystal fará tudo para atrapalhar! Mas não seria máidéia perguntar a Gay Redman, a loirinha que estava servindo no bar ontemà noite. Ela conhece bem este assunto. E pode perguntar a Joel, claro, se eleestiver de bom humor. Mas, por enquanto, não precisa se preocupar. Afinal, já tem uma tarefa para hoje. Robert não disse que queria fotografias? Evocê não está louca para fazer alguma coisa? Ainda não é guia de turismo,mas fotografias estão relacionadas com turismo. Lembre-se de que Robertquer um álbum de fotos sobre o rancho para divulgá-lo e atrair maisclientes.

— Eu sei. As fotos são importantes. — Porém, fez uma observação: — Sóque não quero substituir meu trabalho de guia de turismo por um trabalho

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de fotógrafa. Gostaria tanto de descobrir hoje mesmo como são feitos oscontatos turísticos! E onde são feitos! E, além disto, aonde vou trabalhar?No escritório central? No bar? No prédio social? Ou simplesmente não tereinenhum lugar?

Alick deu de ombros, despreocupado diante de tantas indagações deMila.— Isto não tem tanta importância. O que acho é que você vai precisar se

locomover muito. Pelo menos, lembro que Simone e Wade não tinham umlugar fixo; estavam sempre por perto, quando alguém precisava do serviçodeles. Acho que esta é a maneira certa de se trabalhar aqui.

Ele fez uma pequena pausa, olhando fixamente para Mila, e prosseguiu:— Claro que Robert não pode dedicar todo o tempo aos turistas, porque

o rancho ainda é basicamente uma fazenda de criação de gado. Écompreensível que ele não possa fazer o trabalho burocrático, mas todossempre esperam uma oportunidade para assaltá-lo com perguntas eproblemas. Era nisto que um guia de turismo ajudaria.

— Bem, creio que necessito que alguém me dê uma diretriz de comocomeçar, senão, vai ser impossível.

Alick sorriu e falou, mudando de assunto:— Não se preocupe com isso, por enquanto. Vamos tomar um café

reforçado, pois você levantou cedo e não comeu nada, ainda.— OK. Só que antes preciso trocar de roupa.

Capítulo III

Mais ou menos uma hora mais tarde, ao terminarem o farto e deliciosocafé, Mila e Alick se dirigiram aos currais. Antes, porém, Mila passou pelabiblioteca e muniu-se de uma boa quantidade de material de propaganda ede um mapa do rancho. Alick lhe dera essa idéia, o que ela acataraprontamente.

O gado era numeroso, constituindo-se na maior fonte de trabalho paraos peões. Havia uma movimentação intensa em torno deles.

Muitas pessoas, que nada tinham a ver com o trabalho, perambulavamao redor, curiosas, procurando fotografar tudo o que viam, enquanto Roberte seus peões levavam a tarefa adiante com a rapidez e eficiência adquiridasde uma longa prática.

A princípio, Mila não usou a câmera fotográfica porque quis familiarizar-

se com o cenário e estudar todos os ângulos com cuidado, além de observaro efeito de luz e sombra para não cometer nenhum erro.

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— O que está acontecendo, Mila? Por que não está tirando as fotos?Acha que o cenário não é interessante? — Alick perguntou, ao vê-la parada.

— Oh! Não é isto! O cenário é fantástico. Mas, estou pensando... Seriatão bom se pudéssemos nos aproximar um pouco mais dos peões com o

gado! — ela sugeriu, tímida.— Quer dizer, ir lá dentro do curral?— Seria o ideal. Acha possível? — Depois de dar a sugestão, ela hesitou.

— Talvez Robert não goste muito da idéia.Alick deu de ombros.— Não vejo por que faria alguma objeção. Afinal de contas ele pediu

fotos e não disse do que. Você foi praticamente nomeada fotógrafa doRancho Arunga River. E, em tal posição, deve ter o direito de andar aondeachar necessário. — Segurando-a pelo braço, ele a conduziu para dentro docurral.

Mila não acreditava naquilo, mas ficou calada e deixou-se levar.Ela e Alick caminhavam no meio das atividades quando Robert, sentado

no alto da cerca, viu-os e desceu imediatamente. Seu rosto, oculto sob ochapéu, não permitia que se visse sua expressão. Mila apenas observou aspassadas longas e vigorosas até ele parar a sua frente e perguntar, sempreâmbulos:

— Que fazem aqui? Vieram oferecer seus serviços?— Deixe-me fora disto, irmão. — Alick deu uma risada. — Estou apenas

acompanhando Mila, que veio tirar umas fotos.

Robert virou a cabeça devagar e baixou os olhos para Mila.— Bem, não vá cair no cocho dos animais ou queimar-se no fogo e, por

favor, não fique no meio do caminho de ninguém, OK?A indireta contida naquelas palavras lembraram-na dos acontecimentos

da manhã e ela corou até a raiz dos cabelos.— Oh! Não. Eu jamais sonharia em fazer tais coisas! — Mila retrucou,

procurando dar uma entonação brincalhona à voz. — A não ser, é claro, queprefira que eu volte mais tarde, quando o trabalho acabar e tudo estivervazio. Aí, teremos um pequeno problema: eu fotografaria o quê?

— É, mas depois do que fez hoje talvez fosse mais seguro para todomundo — Robert falou, ríspido, e com um breve cumprimento afastou-se,atendendo a um chamado.

Mila deu um suspiro e olhou de viés para Alick.— E então? Que acha? Considera que fomos banidos daqui ou não?— Claro que não! — Alick respondeu, com seu costumeiro sorriso

otimista. — Você dá interpretações muito pessimistas ao que Robert diz,este é o mal. E agora? Por onde quer começar a fotografar? Perto do fogo?Do cocho, das cercas, dos peões?

Após muitas fotos e sentindo-se satisfeita com as tomadas ao ar livre,Mila dirigiu-se a um outro estábulo. Os empregados colocaram os animais

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num longo corredor que só permitia a passagem de um a um, para serembanhados com desinfetantes.

Um grupo de pessoas estava atenta a tudo o que acontecia ali. Robertinspecionava todo o trabalho com calma e energia, além de responder a

todas as perguntas dos turistas com a maior boa vontade.Devagar, Mila foi se aproximando do grupo e, na primeira pausa nasperguntas, ousou interpelar Robert.

— Por favor, e quanto às trilhas velhas e abandonadas? Li no material depropaganda que são a grande atração para cavalgadas — ela indagou, comar ingênuo de uma simples turista curiosa.

Mas Robert não teve dificuldade em ver através do sorriso doce.— Acho que esta pergunta foge um bocado ao assunto, não é mesmo?

Pensei que estivéssemos discutindo as atividades relacionadas aos animaisaqui no curral.

Mila fingiu não entender a alfinetada de Robert e falou alto, para quetodos ouvissem:

— Claro, desculpe. Mas tenho certeza de que deve haver muita gente,aqui, interessada em saber a respeito dessas trilhas também.

— Trilhas de cavalgadas? — Para alegria de Mila, uma voz masculinaelevou-se no meio dos turistas, cheia de curiosidade e animação. — Olha,eu estava louco para perguntar sobre elas.

Mila teve vontade de abraçar aquele desconhecido pelo favor que lhefazia e, fortalecida, encarou Robert com um sorriso sedutor.

— Em quanto tempo pode-se percorrer estas trilhas e explorar seusrecantos? — ela continuou, sentindo um leve sobressalto ao ver os olhosverdes-azulados brilharem numa ira incontida.

— Uma excursão normal leva de dois a três dias — ele afinal respondeu,mas dirigindo-se ao turista que falara primeiro, ignorando-a completamente.

Mila, porém, estava decidida a obter o maior número possível deinformação e continuou liderando as perguntas.

— E estas excursões são apenas para cavaleiros experientes? — elaaventurou.

— Não necessariamente, mas acho que seria meio desconfortável paraaqueles que não estão habituados a cavalgar.

Mila assentiu com um meneio de cabeça e continuou:— E imagino que os interessados nessas excursões a cavalo precisam

de um guia, não é? Quem vai com eles? Você?— Não. Na maioria das vezes um ou dois peões acompanham os

turistas. Além de os peões conhecerem o terreno como a palma da mão,também saber usar os fornos de barro ao ar livre e cozinham para todos.

— Ah! Entendo.

Houve um silêncio um tanto constrangedor, mas Mila não desistiu.Voltou a indagar:

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— E eles sempre seguem a mesma rota?— Isso pode variar. Depende da época do ano e do interesse específico

dos turistas. — A voz dele já começava a dar sinais de impaciência e eleperguntou, brusco: — Você não devia estar tirando fotografias para o

álbum, agora?— Sim, claro. Já tirei algumas e já ia prosseguir. — Mila sorriu com arinocente, percebendo que no momento seria melhor não insistir.

Mas Robert Buchanan não se livraria dela tão facilmente; ainda voltariaà carga.

Depois de observar os animais por algum tempo, Mila resolveu tiraralgumas fotos no exato momento em que eles passavam pelo estreitocorredor, com os corpos brilhando após o banho. Seria um belo efeitofotográfico.

Contudo, a tarefa tornou-se difícil, pois um touro empacou e atravessouo corredor. Um longo e aflitivo berro ecoou no curral, espantando os outrosanimais. Assustados, puseram-se a berrar e a tentar escapar.

Foi preciso de muito esforço dos peões e de Robert para controlar asituação.

Quando tudo voltou ao normal, Robert olhou para Mila e falou:— Que tal se você fizesse o que foi recomendado, ficasse fora do

caminho e parasse de atrapalhar, hem?Os olhos de Mila tornaram-se redondos de surpresa e depois chisparam

de indignação. Aquilo era uma injustiça flagrante. Daquela vez não estava

atrapalhando ninguém. Que culpa tinha se um touro nervoso empacara nocorredor? E, além disso, não era a única pessoa estranha presente nem foraa única a falar.

Indignada com a mentirosa acusação, deu-lhe as costas, maldizendo-obaixinho. Resolveu, então, ir para a parte da frente, onde desembocava ocorredor, e fotografar os animais entrando no cercado.

Posicionou-se à frente e esperou o primeiro animal. Um magnífico touronegro surgiu bufando e escoiceando o chão. Perfeito! Porém, mal ergueu amáquina para a foto, uma nova agitação instalou-se entre os animais.

Empacaram, berraram, encavalaram-se uns sobre os outros, recusando-se aprosseguir a caminhada.

Foi outro corre-corre. Robert e os homens largaram o que faziam e seapressaram para o local do problema, onde depois de muita lutaconseguiram controlar e amansar o gado.

— Por que estão fazendo isto? Por que estão tão agitados? — um dosturistas no lado oposto de Mila perguntou, impressionado com o espetáculo.

— Porque têm medo de gente, principalmente quando vêem alguém defrente — Robert respondeu, dirigindo-se para o ponto onde Mila se

encontrava.Ao alcançá-la, segurou-lhe o braço e com mãos possantes puxou-a para

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o lado. Falou, exasperado:— Pelo amor de Deus, não vê que é você mesma que está deixando os

animais agitados?— Eu! — Mila exclamou, boquiaberta de espanto. — Como pode dizer tal

coisa? Nem cheguei perto deles.— Pois os animais acham diferente. Por que pensa que disse para nãoatrapalhar, ainda há pouco?

— Achei que foi grosseiro e, como não explicou, não faço a menor idéia— ela defendeu-se, ressentida. — Não é culpa minha se seus animais sãotão melindrosos. Não podia adivinhar.

Robert ignorou a ironia.— Se prestasse atenção à reação deles, aos seus movimentos, não

precisaria adivinhar, saberia. Qualquer pessoa com um pouco desensibilidade percebe a reação de um animal. Era o mínimo que se podiaesperar de alguém que pretende trabalhar num rancho.

— Então, se não posso ficar na frente deles para fotografar, quem sabetalvez você pudesse me dar uma sugestão?

— Por que não tenta lá por detrás? Todos nós só nos aproximamos dosanimais por detrás. De frente, eles se assustam.

— Ora, não estou interessada em fotografar um monte de traseiros —Mila falou baixinho, mas Robert ouviu e deu uma gargalhada, os dentesbrancos brilhando no rosto bronzeado.

— Problema seu. Mas, de qualquer maneira, de agora em diante

aproxime-se somente por detrás, ou... — ele falou novamente sério eafastou-se sem que Mila tivesse tempo de replicar.

Sem saber como agir, Mila caminhou em direção a um grupo de peões.Um deles, muito jovem, sorriu para ela.

— Desculpe ter provocado toda essa confusão e dado mais trabalho avocês. Não era minha intenção.

O jovem deu de ombros.— Não se preocupe. Isto acontece com qualquer um, uma vez ou outra.

Os animais se assustam com facilidade.

— É, percebi. — Mila sorriu, agradecida pela compreensão do jovemtrabalhador. Se tivesse um pouco mais de experiência, aquele episódiodesagradável teria sido evitado. — Muito obrigada por me dizer isto; sinto-me melhor.

— Oh! Por nada... — O rapaz ficou vermelho e embaraçado, mas umgrito de Robert desviou-lhe a atenção.

— Ei, Ross, mexa-se! Há muito trabalho aqui. E a mocinha da cidadedeveria estar tirando fotografia e não distraindo os peões.

Ross levantou o chapéu num gesto de despedida e, com um sorriso

tímido, afastou-se deixando Mila sozinha. E, mais uma vez, ela se ressentiuda maneira como Robert a tratava. Outra vez colocara-a numa situação

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ridícula perante os outros, e sem razão. Não estivera distraindo ninguém enão era nenhuma mocinha da cidade. Era uma mulher.

Voltando a sua máquina, Mila focalizou uma cena, bateu uma foto edepois foi atrás de Robert, determinada. Iria fazer-lhe mais perguntas, como

uma espécie de vingança.— Robert, um momento, por favor! — ela chamou. — Hoje de manhãnotei, num dos mapas que Alick me deu, que a área além da casa-grandeestá toda cercada. Há alguma razão especial para isto?

Ele a examinou por um tempo, num silêncio frio, e depois respondeu:— Uma vez que esta propriedade tem mais de cinco mil milhas

quadradas e é toda recortada por trilhas-labirintos, temos de tomar todas asprecauções para evitar que pessoas inexperientes se percam. É a principalrazão.

Algo no tom da voz dele dizia que a estava chamando de ignorante.Contudo, Mila manteve o olhar firme no dele e forçou-se a continuar:

— A principal razão é evitar que os turistas se percam. Qual é a outrarazão?

Outro olhar enviesado, outro sorriso superior.— As cercas também impedem que a área do gado seja invadida ou

prejudicada.Mila observava-lhe as mãos hábeis manusearem os equipamentos do

curral e não pôde deixar de admirar-lhe a força e destreza. Como seriamaquelas mãos, acariciando uma mulher? O pensamento horrorizou-a e,

enxotando-o, continuou a falar.— E os safáris nos locais mais selvagens de que suas propagandas falam

tanto? Tem a mesma duração das cavalgadas?— Normalmente, não — ele respondeu, sem interromper o que fazia.— Então, quanto tempo levam os safáris?Robert deu um longo suspiro, como se estivesse perdendo a paciência.— Os safáris são feitos de carro, por isto duram somente um dia. —

Colocando as mãos nos quadris, ele a encarou. — E, agora, se suacuriosidade está satisfeita, acho que seria muito bom se nós dois

voltássemos ao trabalho, sem mais interrupções.— Mas...— Fotografe. É esta a sua tarefa.A ordem foi dada com autoridade, no mesmo tom com que ele falara de

manhã cedo, e Mila compreendeu que seria perda de tempo tentarconseguir mais alguma coisa naquele momento. Sua indignação era grande.Aquele homem era um bruto, sem sensibilidade para perceber que não erapor mera curiosidade que fazia perguntas e sim por interesse profissional.

Mila já fotografara quase todas as atividades que envolviam o gado,

faltando apenas fotografar o ferrete; mas logo percebeu que aquela tarefanão era nada fácil. Conseguir um bom ângulo que mostrasse com clareza o

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fogo, os ferros e os animais e, ao mesmo tempo, manter o nível artístico dafoto era seu objetivo. Deu várias voltas pelo local sem conseguir resolver oproblema. De qualquer lado que focalizasse, só conseguia captar parte dacena.

Afinal, a solução foi trazida por um dos peões.— Quer que segure a porteira aberta um instante para você fotografar— ele se ofereceu, amável.

— Oh! Seria possível? A foto ficaria muito melhor se eu pudesseabranger toda a cena.

— Está bem. Posso fazer isto, sim — o peão concordou, orgulhoso porpoder ajudar.

Naquele momento um dos animais se aproximou e ele voltou-se parasegurá-lo. Desejando auxiliá-lo, Mila adiantou-se para abrir a porteira.

— Não, não. Não abra agora! — o peão gritou.Mas já era tarde.Sem a tramela de segurança, a porteira escancarou-se. Só então ela

compreendeu ò que estava acontecendo.O touro, ao ver o movimento da porteira, ficou excitado e quis fugir.

Bufava contra o peão e, quando conseguiu soltar-se, atirou-se para fora,com uma velocidade surpreendente.

Ao escapar, o touro quase derrubou Mila e espalhou as brasas do fogoem todas as direções.

Robert e os outros peões correram à caça do animal, enquanto os

turistas do lado de fora observavam tudo, fotografando ou filmando aconfusão.

Embora com a câmera na mão, Mila foi incapaz de bater uma foto, poisficou paralisada de susto e medo. Mais uma vez, sem querer, causara umtranstorno enorme. Mas, logo em seguida, um outro pensamento apreocupou. Se o touro arrebentasse o cercado, as pessoas estariam emperigo e a sua culpa não teria perdão.

Avistando Alick ao longe, correu para ele e falou do seu receio, mas elea tranqüilizou.

— Não há perigo. Você não vai ser jogada pelos ares.— Pelo touro ou por Robert? — Mila conseguiu brincar.— Pelo touro, claro. — Alick riu.Mila sentia-se moralmente abatida após a barafunda e trabalheira que o

animal fugido causara. Fora ela quem abrira a porteira. Mesmo que a idéianão tivesse sido sua, sabia que Robert não iria perdoá-la.

Quando afinal o touro foi recapturado e a calma voltou ao curral, elarecomeçou a usar a máquina fotográfica. Foi então que Robert apareceu.

— Que inferno! — ele gritou para o peão que se oferecera para ajudar

Mila. — Como aconteceu uma coisa dessas?O jovem fez um gesto, desolado.

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— Eu ainda não tinha prendido bem o animal, quando a porteira foiaberta.

— E por que quis abrir a porteira, meu Deus?Mila aproximou-se e respondeu pelo peão.

— Não foi ele quem abriu a porteira. Fui eu. E, infelizmente, parece queabri antes do tempo. — Ela sorriu para o peão. — Desculpe. Causei umproblema, não foi?

— Oh! Não foi nada, tudo bem — o rapaz respondeu, com um sorrisotímido.

A pequena troca de palavras entre Mila e o empregado irritou Robert,cujo olhar furioso fixou-se nela.

— Eu devia ter adivinhado que havia um dedo seu nessa confusão. Estácomeçando a virar rotina.

O sangue subiu às faces de Mila. E o pior era que, por mais que aspalavras dele a magoassem, pouco podia dizer em defesa própria. Naverdade, já causara muita confusão em pouco tempo.

— Desculpe. Foi uma série de coincidências desastradas. Juro que nãovai se repetir — ela falou com humildade.

— Seria um progresso, se pudesse acreditar nisso — Robert comentou,sarcástico.

— Oh! Por favor, deixe Mila tentar, Robert. — Alick se aproximou. — Istopodia ter acontecido com qualquer um e, afinal de contas, você não tevenenhum prejuízo.

— Podia ter acontecido com qualquer um, mas só acontece com ela. E,se não tive maiores prejuízos, não foi graças a sua ajuda, não é mesmo? —Robert retrucou, seco. — Assistir aos outros trabalhar é fácil.

— Mas como? Queria que eu o ajudasse com esta roupa? — Alick baixouos olhos para a própria roupa, impecável, de grife famosa.

Robert olhou-o de soslaio e a boca atraente arqueou-se num meio-sorriso.

— Ah! Esqueça! Mas tenho a impressão de ter dado à mocinha uma boachance. Primeiro concordando em empregá-la. Só não sei até quando minha

paciência vai resistir.— Eu sei. Aliás, Mila e eu apreciamos muito sua atitude. Espere um

pouco e não vai se arrepender.O meio-sorriso de Robert ampliou-se, mostrando sua incredulidade.— Eu também apreciaria muito se você me fizesse o favor de levá-la

daqui... para que possamos acabar o trabalho antes que anoiteça.O comentário incomodou Mila, e ela resolveu esquecer a humildade e

alfinetá-lo mais um pouco.— Ah! Sinto muito, mas não posso sair agora. Não acabei de tirar as

fotos. Ainda estou no período do expediente. — Ela encarou-o de queixoerguido, com o leve arrebitado do nariz dando-lhe um ar de desafio.

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— Se tiver juízo, vai sair já, sim! — Robert respondeu, fazendo um sinalpara Alick. — Quero os dois fora daqui, já.

— Bem, você é o patrão — Alick cedeu diplomaticamente, com ohabitual sorriso de conciliação.

Sem escolha, Mila o acompanhou, remoendo a decepção. Quando jáestavam distante da área de trabalho, ela falou, sacudindo a cabeleiraruiva:

— Agora, sem dúvida, você vai concordar que consegui ser expulsa doparaíso!

— Não. Eu vejo o outro lado da medalha. Você conseguiu muitasinformações sobre o turismo no rancho — Alick lembrou, procurandoanimar-lhe o espírito, com seu inabalável.bom humor. Para ele, a tarde foraum grande sucesso. — E aonde vamos agora?

Espantando a sensação de derrota que começava a dominá-la, Milarespondeu, fingindo animação:

— Se for possível, gostaria de ir até o rio. Talvez consiga tirar o restodas fotos lá. É pena, porque aqui ainda há tantas coisas interessantes epouco conhecidas do público! — Ela riu. — Mas, depois do que aconteceu,não sei quando vou poder entrar no curral outra vez, se é que vai haveruma outra vez.

— Você tem carro. Não há nada que a impeça de explorar os arredores,se quiser. Contanto que seja cuidadosa e se mantenha dentro dos limitescercados da propriedade... Em certos pontos, nem precisaria de carro.

— É uma boa idéia!— Se prefere andar pelo rio agora, pois bem, que seja o rio, então.

Podemos improvisar um lanche na cozinha, pegar um jipe e sair.— Ótimo!Meia hora mais tarde, Mila sentava-se ao lado de Alick num dos jipes

que tomara emprestado da garagem.— Tenho certeza de que vi anunciado, não sei onde, que alugamos jipes

para excursões — disse Alick. — Embora grande parte dos turistas venhaem carro próprio. De qualquer maneira, aqueles que vêm de avião podem

contar com um carro aqui.Ao deixarem a garagem, Alick apontou para um pequeno riacho que

deslizava calmo em meio às árvores.— Vê aquele ancoradouro? É onde se aluga barcos. Lembro bem que

Simone costumava usar uma agenda onde anotava reservas para o alugueldos barcos e dos jipes. Estou lhe dando uma boa dica, Mila. E acho que estaagenda se encontra em algum lugar no escritório de Robert. Procure.

— Mas alguém pode reclamar se eu for ao escritório e começar aremexer tudo atrás do tal livro.

— Por que reclamariam? Você faz parte dos funcionários, afinal decontas. Tem direito ao material de trabalho.

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Antes de partir para Townsville, Alick procurou tranqüilizar Mila.— Como já disse antes, você se preocupa demais. A parte mais difícil,

que era convencer Robert a receber você, está resolvida. Tudo o que tem afazer agora é instalar-se e provar que estou certo. — Ele sorriu,

encorajando-a.— Missão bastante difícil se seu meio-irmão continuar a ser tão arredio.— Faça alguma coisa! Perturbe, incomode, vá atrás dele onde quer que

ele vá; não aceite um não como resposta nunca.— Incomodar Robert! — ela repetiu, incrédula. — É fácil para você falar

assim porque é parte da família. Pelo que vi hoje de manhã, Robert estálouco para se ver livre de mim.

— Só porque você fez algumas perguntas? Isto é ridículo! Ele está tepagando e tem interesse no bem-estar dos turistas; logo, relutante ou não,ele vai exigir trabalho, o que é bom para você.

— Gostaria muito de ter seu otimismo.— Escute o que digo: Robert vai deixar os turistas por sua conta. E você

 já tem um começo, sabe onde conseguir barcos, jipes...O olhar de Mila perdia-se no horizonte, pensando se valeria a pena

sujeitar-se àquela situação. Robert a humilhara e deixara claro que não erabem-vinda. Passar por cima deste fato significava sufocar seu orgulho.

 Talvez fosse bem mais fácil embarcar naquele avião junto com Alick evoltar a Townsville. Mas não queria aceitar a derrota sem testar suaspossibilidades.

Um jovem piloto aproximou-se de Alick.— Desculpe interromper, mas está na hora da decolagem — ele disse.— Já vou! — Alick respondeu e, voltando-se para Mila, despediu-se. —

Minha querida, tenho de ir agora. Mas, não se esqueça, faça como eu dissee tudo correrá bem. OK?

A leve sombra de um sorriso surgiu no rosto tristonho dela.— É uma promessa? — perguntou.Ele riu e beijou-a na testa.— Mais ou menos. Desmanche esta carinha triste. Se precisar de alguma

coisa, é só me telefonar.— Olha que você corre o risco de ser chamado todo dia, hem?— Ah! Esta nos já ganhamos. Aposto em você — ele respondeu, subindo

a escada do pequeno avião.Apesar do sentimento de solidão que a invadiu, Mila conseguiu sorrir.Minutos depois o avião se perdia nas nuvens e ela caminhou de volta à

casa-grande e quase esbarrou em Gay Redman, a loirinha do restaurante,parada, a poucos passos atrás dela.

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Capítulo IV

— Oi, Mila — Gay saudou com um sorriso amável. — Vim buscar a

correspondência e achei que era uma boa oportunidade para conversarmos.Parece que vai trabalhar aqui, não é?

Mila confirmou, sentindo-se grata pelo interesse.— Você é Gay Redman, estou certa? — ela estendeu a mão com

simpatia.— Deve estar muito triste por ver Alick partir tão cedo, imagino.Mila estranhou o comentário de Gay. Talvez pensasse que entre ela e

Alick houvesse algum envolvimento amoroso. Sacudiu os ombros mostrandopouco interesse. Não queria de modo algum alimentar falsas conclusões.

— Não estou triste. Mas acontece que Alick era a única pessoa que euconhecia e com quem podia conversar. — Ela sorriu.Num acordo silencioso, ambas começaram a caminhar juntas em

direção à casa-grande.— Trabalha aqui há muito tempo? — Mila perguntou.— Há quase dois anos.— E gosta?— Oh! Sim. Estou muito contente. O pessoal é muito bom. Bem, talvez

Crystal seja uma exceção; às vezes, é muito autoritária e orgulhosa. — Gay

deu uma risada. — E quanto ao patrão... hum... Acho que você já deve tervisto que ele é um charme. Vou lhe dizer outra coisa. Acho que quase todagarota do rancho está mais ou menos apaixonada por ele.

— É, imagino. É um homem muito bonito — Mila confessou comhonestidade, embora desejasse dizer o contrário.

No caminho, continuaram a conversar sobre assuntos gerais do rancho,até chegarem ao escritório, onde Gay guardou a sacola do correio. Logo emseguida, alguém a chamou e ela despediu-se de Mila.

Ficando sozinha, ela olhou ao redor e deu alguns passos pela sala. Talvez fosse um bom momento para procurar a tal agenda de que Alickfalara. Apesar de achar que não devia ficar mexendo no escritório, nãopodia se privar de um documento tão útil.

Com cuidado, mas determinada, dirigiu-se à escrivaninha. Depois deremexer em vários papéis e cadernos, enfim encontrou a agenda queprocurava. Deu mais uma olhada no material que se encontrava ali, e achouuma máquina de silk-screen.  Já imaginava as propagandas em camisetasque poderiam ser feitas. Perdeu a noção do tempo olhando aquelapreciosidade. De repente, quando se deu conta de que estava ali haviamuito tempo, pegou a agenda, alguns mapas e camisetas já estampadas

com o logotipo do Rancho Arunga River e encaminhou-se para a porta.— Ah! Então você está aqui — Crystal falou, num tom de desdém. — Há

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um chamado no rádio. Não completei a ligação, mas sei que é alguémquerendo fazer uma reserva. Você é a guia de turismo agora, não é? Então,este negócio de reservas é com você. O rádio é ao lado do bar. Pode falarno canal dois.

— Mas eu não sei usar um radiotransmissor! — Mila exclamou aflita,encarando Crystal.— Ora, para uma pessoa tão esperta como você, não vai haver

problema. Tenho certeza de que vai superar esse pequeno contratempocom a mesma habilidade com que se instalou no rancho — Crystalrespondeu com falsa doçura, saindo da sala.

Mila permaneceu parada, com a agenda na mão, sem saber o que fazer.Mas não iria fugir de um desafio; talvez Gay estivesse no bar e a ajudasse.

"Coragem, Mila", ela pensou e, pegando uma caneta e uma folha depapel, dirigiu-se ao bar para enfrentar a situação.

No entanto, mal chegou lá ouviu um rumor de vozes do lado de fora ereconheceu a de Robert. Seu coração saltou dentro do peito. Ele poderiaresolver seu problema!

O aparelho de radiotransmissor ocupava uma prateleira atrás do balcãode suvenires e repetia o chamado a pequenos intervalos. Mila decidiu ir aoencontro de Robert e dizer-lhe que o chamavam.

Quando se dirigia à varanda da entrada, suspirou de alivio, pois viu-oaproximar-se, seguido de Joel e mais quatro homens. Os olhos muito verdese brilhantes fixaram-se nele, vendo-o caminhar lentamente. Seu coração

pôs-se a bater mais depressa e a respiração se acelerou, quando elecochichou algo para Joel e deu uma risada.

O porte atlético de Robert parecia envolto numa aura de força evitalidade e os movimentos dele eram plenos de uma graça máscula, comoum ágil felino. Sem dúvida, era uma presença magnética que perturbavaMila. Contudo, aquela reação inesperada e incompreensível causada porRobert foi um fator a mais para deixá-la insegura. Desviou o olhar e prestouatenção num dos amigos dele.

Nick, sentindo-se observado, sorriu. Mila já havia trocado algumas

palavras com o jovem piloto e ele fora muito gentil.— Será que estou sonhando? Não quero ser pretensioso, mas acho que

veio aqui só para me dar as boas-vindas, depois de um dia duro de trabalho.Adivinhei? — ele perguntou, vindo ao seu encontro.

— Desculpe — Mila sorriu em retorno —, mas, na verdade, estou aquiesperando por Robert. Preciso muito falar com ele.

— Ah! Devia ter imaginado. Que ilusão! — lamentou-se Nick, num tomde brincadeira.

Outro piloto, chegando por detrás de Mila, comentou:

— Ela mostra que tem bom senso em não querer se misturar com você,Nick.

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— Muito obrigado! Você sabe mesmo como ajudar um amigo. Nãopreste atenção ao que ele diz. Tem inveja do meu sucesso com asmulheres.

O comentário provocou uma onda de gargalhadas entre os outros

funcionários. Mas ela apenas sorriu de leve, pois toda sua atenção voltava-se para Robert. E ele, tendo ouvido o que ela dissera, parou e perguntou, noseu jeito arrastado de falar:

— O que aconteceu que precisa falar comigo urgente? É outra confusão?— Não, não — ela negou, aborrecida com a provocação. — Apenas

queria avisá-lo de que há um chamado no rádio sobre uma reserva, mascomo não sei operar o transmissor, achei melhor esperar por você.

— Neste caso... — Ele pousou a mão sobre o ombro de Mila, fazendo-acaminhar com ele. Depois, olhou ao redor e perguntou: — Onde estáCrystal? Ela poderia ter atendido.

Mila não queria falar sobre a conversa com Crystal e menos aindaqueixar-se de sua hostilidade, por isto deu uma resposta evasiva.

— Não a vi.— Então quem atendeu o rádio, se não foi você?— Não sei. Olha, trouxe papel e lápis, se você precisar.Robert olhou-a dos pés à cabeça e viu a agenda que havia trazido do

escritório.— Hum... Vejo que andou ocupada.Uma onda de rubor subiu ao rosto dela quando percebeu que acabara

de trair suas atividades no escritório. Embaraçada, desviou o olhar ecomeçou a folhear a agenda.

— Podem ser úteis — ela murmurou.Mesmo de olhos baixos, sentia que ele ainda a examinava. Ele continuou

a olhá-la por algum tempo e, de repente, pegou o transmissor, dizendo:— 7QZK chamando VJY. Disseram que há um chamado para nós, Gavin.

Qual é o canal, por favor?Apesar de a estática interferir no som e dificultar o entendimento, Mila

procurou seguir a conversa; mas a única coisa que ouviu foi o nome de

Crystal.Seguindo a instrução, Robert sintonizou o canal dois e falou com o

turista que queria fazer uma reserva. Ao acabar a ligação, virou-se paraMila, com ar desconfiado.

— Acho que você falou com Crystal, sim. Gavin disse que ela tinha idochamar a pessoa encarregada do turismo.

Os olhos verdes dela abriram-se com exagero, fingindo espanto.— O quê? Não sei do que está falando.— Deixe de brincadeira, ruivinha. Você ouviu o que Gavin disse. Crystal

só pode ter chamado você. Acho que você quis se incumbir distopessoalmente, mas quando viu que não era capaz de manobrar o

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transmissor, resolveu esperar por mim.— Não é verdade. Eu já devia imaginar que você viria com uma

conclusão deste tipo. Só porque fui ao seu encontro, já achou que eu tinhafeito alguma coisa errada.

— Mais uma coisa errada — Robert acrescentou, sardônico.— Mas, o que está me escondendo? Não tenho tempo nem paciênciapara mentirinhas. Hum... acho que sei o que aconteceu. Crystal quis sedivertir a sua custa e a chamou para completar a ligação porque estavacerta de que não sabia usá-lo. Não foi isso?

Embaraçada, o rosto vermelho, Mila revirava a caneta entre os dedos,num gesto nervoso, e afinal balançou a cabeça, confirmando.

— Muito obrigado pela verdade, enfim. Por que não falou logo?— Crystal se recusou a completar a ligação; deixou para mim, porque

sabia que eu me sairia mal. Não falei para não parecer fofoqueira — Miladefendeu-se. — Além disto, sabia que você iria chegar e poderia atender ochamado.

— Está bem, de agora em diante, relate os fatos como são. Eu resolvo oresto.

Mila passeou o olhar pelo bar, para ver se alguém presenciava a cena.Para seu imenso alívio, ninguém parecia prestar atenção ao que se passavaentre eles. Todos conversavam em voz alta, interessados em seus própriosassuntos.

— Bem, se isto é tudo... — Ela ergueu a cabeça com altivez e preparou-

se para sair.— Não, ainda não acabei! — Robert deteve-a pelo braço. — Estou muito

curioso para saber o que andou fazendo o dia todo. Quero dizer, além de termexido no meu escritório. — Ele lançou um olhar significativo para ascamisetas.

— Não andei mexendo em nada! Apenas chequei alguns materiais queestavam sobre a escrivaninha. Preciso me familiarizar com os assuntosrelacionados ao turismo no rancho. Isto é, se puder trabalhar.

— Se vai trabalhar com o turismo ou não, eu decido. E ainda não decidi.

Diante das palavras de Robert, Mila rebateu:— Você não confia em mim como guia, não é? — Ante o silêncio dele,

prosseguiu: — Aliás, se você não me der uma chance, não poderei provarque sou capaz.

— Estou dando a responsabilidade de fotografar o rancho para o nossonovo álbum de divulgação. Era a sua tarefa para hoje.

O tom formal da voz dele irritava Mila. Como seria bom revidar à altura.Mas precisava ir devagar. Se queria o emprego de guia de turismo,precisava ter paciência e suportar a arrogância daquele homem prepotente.

Porém, não custava nada forçar um pouco a situação.— Eu poderia ser guia e fotógrafa ao mesmo tempo, como Alick sugeriu.

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Por que faz questão de impedir?— Pelo jeito, não tenho muito sucesso em segurar seus ímpetos. Passou

a tarde remexendo em coisas do turismo, não é mesmo? — ele falou,tocando-lhe a face com a ponta do dedo.

O breve toque causou-lhe um arrepio e seu coração disparou. Esperavaardentemente que ele não tivesse percebido.— Então, faça como eu disse: continue fotografando.— Não ousaria desobedecer. E juro que passei a maior parte do dia

tirando suas fotos.— E onde foi isto? Espero que dentro dos limites permitidos. — Um

meio-sorriso pairava nos lábios sensuais.Os olhos verde-azulados não a deixavam. Era melhor dizer o que fizera,

porque ele descobriria de qualquer maneira.— Não exatamente. Antes de viajar, Alick teve a gentileza de me

mostrar os braços Sul e Norte do rio e também uma parte do campo. — Milacalou-se, inclinou a cabeça e olhou-o, provocante. — Pensei que tivesseapenas sugerido que eu ficasse nos limites da casa-grande.

O meio-sorriso de Robert alargou-se, revelando dentes perfeitos ebrancos e o coração de Mila mais uma vez acelerou-se. Qualquer coisa nosorriso de seu inflexível patrão, que não notara a princípio, perturbava-acomo mulher. Agora parecia fácil compreender por que todas as moças dorancho sentiam-se atraídas por ele.

— Quer que seja mais claro?

— Ah! Vai dar uma ordem explícita?Com o mesmo humor irônico, ele respondeu:— Acho que, em se tratando de você, mesmo uma ordem explícita não

teria muito efeito.Um lampejo de alegria brilhou no rosto de Mila e ela procurou reprimir

um sorriso.— Você poderia...— Não insista, ruivinha, eu posso perder a paciência. Em vez de uma

ordem, quero que explique o que está fazendo com estas coisas. — Ele

apontou para os pertences que ela trazia na mão.— Isto? — Surpresa com a pergunta inesperada, Mila baixou os olhos

para o volume em seus braços. Estaria pensando que furtara alguma coisa?— Ah! Eu pretendia dar uma estudada na agenda e também ver qual seria omelhor roteiro turístico. Além do mais, encontrei a máquina de silk-screen eessas camisetas, que poderia usá-las como uniforme. Elas têm o logotipo dorancho e imagino que, com elas, os turistas me identificarão mais depressa.

— Já deixei bem claro que você não é guia de turismo, apenas fotógrafa,fui claro?

— Claríssimo! — Mila respondeu, com raiva. Um meio-sorriso se abriudiscreto no rosto de Robert. Então, inesperadamente, puxou-a pela mão

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trazendo-a de encontro a si.Mila sentiu o rosto ruborizar e o sangue disparar nas veias. Aquele

homem tinha o dom de mexer com ela. Era sexy, sedutor, e ao mesmotempo incrivelmente arrogante.

Quebrando o clima de magia que por um momento se impôs entre osdois, Robert falou:— Venha, vamos tomar um drinque. Quero te apresentar a algumas

pessoas, ruivinha.Mila não sabia se ficava contente com o que ele falara ou não. Sentiu

uma ponta de decepção atingir todo seu ser quando Robert soltou sua mão.— Deixe esse material no armário. Tenho certeza de que será bastante

útil para você, mas não agora.Dizendo isso, encaminhou-se a uma mesa onde se encontrava um grupo

de pessoas. Mila não teve outra alternativa senão depositar os pertences noarmário e segui-lo.

Nel e Hew eram dois jovens por volta dos vinte anos, simpáticos edivertidos; Mila logo percebeu que teriam o maior prazer em responder suasperguntas sobre o rancho. Eles falaram muito sobre o próprio trabalho e elacompreendeu que o que faziam era, às vezes, bastante arriscado, mas, peloentusiasmo deles era justamente o risco que mais os atraía.

— Ah! Aqui pode-se manter a velha adrenalina em funcionamento. Nacidade, é tudo rotina.

— E há trabalho suficiente para vocês o ano todo? — Mila perguntou a

Nick, que havia se sentado mais próximo a ela.— Nós não somos funcionários regulares do Rancho Arunga River.

Apenas trabalhamos sob contrato, no momento — ele explicou. — Naverdade, somos funcionários da Companhia de Aviação Gulf Masters, quenos enviou para cá e sempre nos envia aonde somos necessários. Daquialguns dias estaremos em Summerhill Station para um novo trabalho;depois voltaremos a Arunga River por mais uma semana. E assim estamosocupados quase o ano todo.

— E quando não tem trabalho? — perguntou Mila, interessada.

— Quando chega a estação de chuvas, tudo pára. Aí, vamos para o Sul,numas férias de quase três meses. Flórida, sol, praias... — Ele deu umarisada de satisfação.

— Que emprego maravilhoso! Vocês têm sorte! — Mila acompanhou arisada.

— Acho que sim. Gosto do meu trabalho. Pode-se conhecer o país todo etambém encontrar muita gente interessante e fazer boas amizades. E, porfalar em gente, vou jantar com alguns amigos num restaurante em Torrington hoje à noite. Não sei se a comida é boa, mas pelo menos será

uma novidade. — Nick a olhou, cheio de expectativa. — Gostaria de virconosco? Seria muito bem-vinda, e tenho certeza de que vai gostar dos

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meus amigos.O convite pegou-a de surpresa, e ela hesitou, sem saber o que

responder.— Eu... bem... — E, involuntariamente, por uma razão desconhecida, o

olhar de Mila procurou Robert. Aparentemente ele não ouvira o convite.Aliás, nem parecia que a havia levado até ali, pois se encontrava entretidonuma animada conversa com alguns turistas.

— Muito obrigada. Adoraria ir. Embora esteja um pouco cansada parauma longa viagem de carro.

Mila recordava-se muito bem de Torrington. Um hotel, um correio, umsupermercado, a prefeitura e algumas outras poucas construções. Ela eAlick haviam passado pela cidadezinha quando se dirigiam ao rancho.Lembrava-se também da esburacada estrada coberta de poeira, dura provapara qualquer veículo.

— Viagem de carro? — Nick começou a rir. — Mas o que está pensando?Minha querida, sempre que sair com um de nós, acredite, não vai fazerviagem de carro. Vamos voar, meu bem.

— Ah. Então vamos num dos bimotores? Quando vão sair?— Dentro de uma hora mais ou menos, imagino. Quer dizer, se

conseguir tomar banho e vestir uma roupa decente nesse tempo — eledisse, apontando o macacão manchado de óleo.

— Bem, neste caso, aceito o convite. Só preciso trocar de roupa!Nick engoliu de um só trago o resto da cerveja e afastou a cadeira para

Mila.— Vamos virar Torrington de pernas para o ar!Um coro de vozes se ergueu com os mais diferentes comentários:

brincalhões, irônicos, maliciosos. Todos gritaram alguma coisa. Todos,menos Robert.

De fato, ele parecia não achar nada divertido na situação, e, quando osolhos dele encontraram os de Mila, ela notou um brilho estranho. Pareciaenviar-lhe uma mensagem, mas ela deu de ombros.

Por que queria decifrar os olhares de Robert? Provavelmente, seu olhar

era de desaprovação. Era tudo o que havia obtido dele desde que chegaraao Rancho Arunga River.

Naquela noite iria se divertir! E, no momento, era o que interessava.

Capítulo V

Mila acordou com o sol tímido da manhã entrando pelas frestas da

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veneziana. Seu primeiro impulso foi virar-se de lado e voltar a dormir.Afinal, chegara muito tarde do passeio com Nick.

Recordou-se dos momentos agradáveis que passara na noite anterior. O jantar fora ótimo e conhecera pessoas extremamente simpáticas e

agradáveis.A viagem de volta, tendo Nick como piloto do bimotor, fora tranqüila, eum clima de amizade e camaradagem se instalara entre eles.

Depois de fazer o bimotor aterrissar impecavelmente, Nick aacompanhou até a porta da casa-grande. Ao se despedir, deu-lhe um levebeijo nos lábios.

Bem, não adiantava ficar se recordando da noite anterior. Precisavalevantar-se rapidamente, pois o dia de trabalho no rancho começava cedo.

Um som de passos no corredor chamou-lhe a atenção. Levantou-serapidamente, vestiu um quimono e abriu a porta do quarto. Para suasurpresa, deparou-se com Joel.

— Desculpe se fiz barulho. Acordei você? — ele perguntou, comembaraço. — Imagino que deve ter voltado de Torrington muito tarde.

— Oh! Não se incomode! Eu já estava acordada. Não vão voar hoje?Ontem, a esta hora, vocês já haviam saído — Mila falou, interessada, poissoubera através de Nick que haveria um vôo naquela manhã.

— Hum, hum. Não vamos. Mas eu vou sair de caminhão com algunstrabalhadores. Bryan e eu já estamos de partida.

Uma súbita idéia acorreu a Mila e ela falou, ansiosa:

— Seria possível ir com vocês também?Uma expressão de constrangimento passou pelo rosto de Joel.— Bem, se você já estivesse pronta... talvez fosse possível; mas, como

não está, iria me atrasar ainda mais. Bryan começará tudo sozinho, se eunão voltar logo. Talvez algum outro dia, quem sabe?

— É. Talvez — Mila suspirou, decepcionada. Sentindo-se culpado peladecepção dela, Joel acrescentou:

— Se você tiver um mapa da área, posso mostrar o local aonde vamos;pode seguir o rastro do meu caminhão, também, se achar que vale a pena.

— Claro que acho! Isto seria ótimo. — Mila contemplou-o com um sorrisoanimado. — E tenho um bom mapa do rancho, sim.

Ela correu até a sacola, retirou o mapa que Alick lhe dera e mostrou-o a Joel.

— Bem, este mapa é muito técnico, mas, se puder seguir nosso rastro,nem vai precisar dele.

— Oh, muito obrigada, Joel. Seguirei os rastros do caminhão. — Fez umapequena pausa e indagou, pensativa: — Você acha que meu carro vai poderandar nesta trilha?

 Joel sacudiu a cabeça.— Não. É melhor você usar um dos nossos jipes. Estamos indo ao

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ribeirão Stock e o acesso é difícil num carro urbano. Ficaria cheio de águanum instante. Vá à oficina e fale com Jim Stanley antes de sair para que eleescolha um bom jipe e arranje tudo para você.

Mila concordou apressada, mas conteve-se e não lhe perguntou o que

queria saber: seria necessário mesmo usar um jipe no rancho? Eramveículos pesados e grandes, além do que, jamais dirigira um. Perguntaria a Jim Stanley, porque era visível que Joel estava com pressa.

Ela voltou para o quarto, tomou um banho rápido, colocou uma calça jeans, suéter e tênis e, depois de beber uma xícara de chá, colocou amáquina fotográfica numa escola e dirigiu-se à garagem.

 Jim Stanley, um senhor de meia-idade, atendeu-a com surpreendenteboa vontade. Escolheu um jipe para ela, checou se tudo estava em ordem erespondeu a todas as perguntas feitas por Mila.

Quando ela sentou-se ao volante do jipe, sentiu um friozinho percorrer-lhe o estômago.

O primeiro caminho a tomar era o mesmo que ela fizera com Alick nodia anterior. A princípio, as marcas deixadas pelos pneus do caminhão de Joel eram perfeitamente visíveis na terra fofa, e Mila pôde segui-las comfacilidade, não precisando preocupar-se com o trajeto e dedicando toda aatenção à manobra do carro estranho com o qual não estava familiarizada.

Após cruzar o ribeirão Saltwater, braço Norte do rio Arunga sem nenhumproblema, Mila sentiu-se confiante para o cruzamento do braço Sul, apesarde ser muito mais profundo e largo.

Chegando à outra margem do Saltwater, ela notou que as marcas docaminhão tomavam um rumo diferente do que tomara na véspera,infiltrando-se mais para o interior, por entre árvores e densa vegetação.

No entanto, o rastro que Mila seguia não ia direto ao cruzamento, mascontinuava paralelo aos arbustos tropicais até aproximar-se da margemmais apropriada para veículos, para depois descer barranco abaixo até àbeira da água.

Naquele ponto, Mila resolveu parar o jipe e olhar ao redor com maisatenção.

Seu olhar vagou preocupado pelas margens do ribeirão, pelatransparência cristalina das águas, abarcando sua largura e profundidade.Precisaria escolher o melhor ponto para atravessá-lo e evitar com cuidadoalgum redemoinho ou banco de areia.

Mila franziu o cenho e deu um suspiro nervoso. Enfim, decidiu-se cruzaro ribeirão. Deu novamente partida no jipe, seguindo a orientação de JimStanley. Ele também lhe fizera uma recomendação especial que elamantinha na cabeça o tempo todo: "Depois que estiver andando dentro daágua, não importa o que aconteça, não pare."

E aquele conselho foi de grande utilidade, pois cada vez que deparavacom um obstáculo, ou cada vez que o jipe parecia afundar, ela seguia em

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frente e não entrava em pânico.Uma vez terminada a aflitiva travessia, Mila se acalmou e voltou a

seguir o rastro de Joel numa ótima disposição de espírito, até que alcançoua cerca que demarcava a propriedade sobre a qual discutira com Robert.

No grande portão de acesso àquela área havia um aviso, declarando quea entrada era permitida somente aos funcionários. "Sou uma funcionária",pensou Mila. E atravessou a cerca. Mal começou a andar do outro lado, elacompreendeu o significado das palavras de Robert quando dissera queaquela área assemelhava-se a um labirinto. Surpresa, ela constatou que oscaminhos projetavam-se em todas as direções e sentiu-se muito feliz porconseguir distinguir as marcas do caminhão de Joel. No entanto, sua alegriateve breve duração. Quando atingiu uma larga planície descampada que Joel assinalara no mapa, a terra tornou-se tão batida e sólida que as marcasdos pneus tornaram-se tênues, quase apagadas e o rastro, difícil de seguir.E, aos poucos, desolada, Mila verificou que havia um emaranhado demarcas de vários veículos, confundindo-a, ainda mais.

Embora preocupada com o desaparecimento da trilha, continuou adirigir, utilizando-se do mapa, esperando reencontrá-la logo.

Muito tempo passou sem sinal dos pneus do caminhão de Joel. Por fim,Mila parou o carro e saiu do veículo, procurando guiar-se pelos sons. Talvezos helicópteros do rancho estivessem por perto e, de acordo com assinalizações do mapa, o acampamento de Joel não podia estar longe.

O profundo silêncio que a envolvia só era quebrado de tempos em

tempos pelo piar de uma ave ou pelo farfalhar da vegetação quando tocadapelo vento. Aquele silêncio não era nada encorajador.

Após longa reflexão, ela chegou à frustrante conclusão de que, sem atrilha do caminhão, não tinha escolha, a não ser voltar.

Se teimasse em prosseguir, poderia acabar irremediavelmente perdida.Porém, após reverter a posição do jipe, Mila percebeu que não distinguia

nem sequer as marcas de seu próprio carro, naquela barafunda de marcas.E, sem uma trilha para servir-lhe de guia, compreendeu que sua prudentedecisão de voltar para a sede do rancho ocorrera tarde demais.

Desceu do jipe e olhou de um lado para o outro, assustada. Já estavaperdida!

O susto inicial foi logo substituído por uma onda dê censura contra aprópria imprudência. Devia ter, pelo menos, marcado o caminho que fizera.Era difícil acreditar que tivesse sido tão idiota a ponto de se perder. Ia darmais um motivo para Robert chamá-la de irresponsável e duvidar de suainteligência.

Mas Mila não estava preocupada com sua segurança. Joel e Jim sabiamque ela saíra e quando notassem sua ausência a procurariam. Era uma

questão de tempo. O que a preocupava era a reação de Robert. Tensa, resolveu tirar umas fotos para tentar se acalmar.

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Um bando de pôneis chegou galopando, relinchou feliz e se pôs a pastarcalmamente; depois, veio um bando de corças que passeou devagar, comoque se exibindo. Aqueles animais eram famosos pelo senso de direção ecausaram inveja a Mila. Então, mais uma vez, ela quis tentar encontrar o

caminho de volta para o rancho.Voltou ao jipe e dirigiu com redobrada atenção, procurando seguir seuinstinto. Acompanhou uma linha de árvores por mais de um quilômetro,mas, após algum tempo, pareceu-lhe estar andando em círculos e,desanimada, parou e resolveu esperar que alguém viesse ao seu encontro.Rendeu-se ao fato de que jamais sairia daquele labirinto sozinha.

Quando, afinal, o resgate chegou, um longo tempo se passara e o sol jácomeçava a declinar. Mila agradeceu a Deus baixinho, pois estava à beirado desespero de tanto calor, sede e fome, devido ao fato de estar semcomer ou beber nada desde o café da manhã. Porém, quando viu o veículosalvador se aproximar, esqueceu-se de suas necessidades. Erasurpreendente que o carro chegasse do lado que considerara menosprovável.

Mila forçou os olhos e procurou ver quem dirigia. Após uns segundosreconheceu o motorista. Que falta de sorte! Era Robert.

Assim que o carro parou, ele desceu e veio ao encontro dela.Aflita, Mila mordeu o lábio. Que humilhação ser flagrada, mais uma vez,

cometendo outra ação tola de moça da cidade! Tivera tanta esperança deque seu estúpido engano passasse despercebido a Robert, e era ele quem

vinha salvá-la.— Que está fazendo aqui? — ele perguntou a queima-roupa, num tom

irritado.Mila engoliu em seco e ergueu a cabeça, procurando mostrar-se à

vontade.— Bem, achei que um bom álbum de fotografias do rancho devia ter

registro da vida realmente selvagem daqui. Por isto vim...— Veio aqui? Correndo o risco de se perder? Poderia explicar isto

melhor? — Robert a interrompeu, fazendo um gesto para a extensão

deserta ao redor.— Pretendia ir ao encontro de vocês, lá onde estão trabalhando. Falei

com Joel antes e ele concordou.As sobrancelhas escuras ergueram-se sobre os olhos azulados,

mostrando incredulidade.— Você não acha que está um tanto tarde para fotografar? E, além

disso, já acabamos o trabalho por hoje. — Ele fez uma pausa e olhou-a dealto a baixo. — E como pretendia fazer o que se propôs, se ficou sentadaaqui neste ermo, o tempo todo?

Mila passou a língua sobre os lábios secos e ardidos e protestou:— E quem disse que estive sentada o tempo todo?

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— Neil me disse. Ele sobrevoou esta área duas vezes em horasdiferentes e viu nosso jipe de longe, parado, sem ninguém. Achou estranhoe foi por isto que eu e Bryan resolvemos vir ver o que era. — Ele apontoupara o interior do veículo, onde Bryan se encontrava.

— Não escutei nem vi nenhum helicóptero! — ela exclamou, surpresa,enquanto pensava aborrecida que estivera tão perto do grupo, sem ter sidocapaz de localizá-lo. Como podia ter um senso de direção tão ruim?

— E o que prendia tanto a sua atenção que nem percebeu umhelicóptero?

— Bem... eu... talvez ele tenha passado quando estava tirando fotos dospôneis e das corças.

— Ora, você não estava fotografando nada; estava imóvel, feito umaestátua, quando chegamos. E, segundo o que me informaram, você saiu demanhã cedo, seguindo o caminhão de Joel. Como veio parar aqui?

O olhar dele prendeu o de Mila com a autoridade de seu magnetismo.Depois Robert baixou a voz e perguntou num tom meio confidencial:

— Não estará querendo me esconder alguma coisa, ruivinha?Por um segundo, Mila prendeu a respiração.Aquele homem era um demônio. De nada adiantaria contar uma história

para justificar sua presença morta de sede e fome numa área deserta. Ela,então resolveu deixar de lado as evasivas.

— Está bem. Estou perdida. Deveria ter seguido o rastro do caminhão de Joel, mas, não sei como, perdi-o de vista. Ainda tentei reencontrá-lo e fui de

um lado para outro, mas foi pior; fiquei cada vez mais perdida. E quem podeme culpar por isto? — sua voz elevou-se, indignada. — Toda esta malditaárea mais parece um labirinto, com marcas de carros em todas as direções. Também procurei sinal do helicóptero, mas não vi nem ouvi nada. Então,desisti e quis voltar para casa, mas só Deus sabe o caminho de volta...

Mila deu um longo suspiro depois do desabafo, os olhos brilhando deexaltação e, olhando para Robert por entre os longos cílios negros,acrescentou mais calma:

 — E tudo vem apenas confirmar sua teoria de que não devo sair dos

limites demarcados e que sou uma trapalhona, certo?— Hum... O que aconteceu não ajuda nada a me fazer mudar de idéia.Em seguida, Robert abriu a porta do carro e pediu a Bryan para passar-

lhe uma garrafa de água e entregou-a a Mila.— Tome. Duvido muito que tenha se lembrado de trazer água, antes de

se embrenhar num caminho desconhecido, desobedecendo minhas ordens.Claro que não lembrara, e esse fato era o que mais a incomodava.Sem dar-lhe resposta, ela levou a garrafa aos lábios com sofreguidão,

aplacando a sede que estava sentindo havia horas. Quando ficou satisfeita,

devolveu a garrafa.Robert falou qualquer coisa com Bryan e, em seguida, subindo no jipe

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admitiu com alguma benevolência.A onda de satisfação que invadiu Mila ao ouvir a aprovação dele,

surpreendeu-a. O coração disparou e o rubor de seu rosto se intensificou. Areação talvez fosse um pouco exagerada, pensou, mas devia-se ao fato de

ser a primeira vez que Robert era gentil com ela.— Soube que esteve com Jim Stanley. O que achou dele? — eleperguntou.

— Ah! Ele foi muito atencioso e muito... terno — Mila respondeu,lembrando o sorriso gentil do velho rancheiro.

— Terno? — Robert deu uma gargalhada, como se tivesse ouvido algomuito engraçado. — Tem certeza de que estamos falando do mesmohomem? Quando Jim está no melhor humor, parece um rabugento, umintratável diabo velho. E, com mulheres, é ainda pior.

Inclinando a cabeça para um lado, ela olhou-o pelo canto dos olhos.— Posso lhe garantir que não foi intratável comigo; até me disse para

chamá-lo pelo primeiro nome; e, ainda, que se eu precisasse de qualquercoisa, bastaria procurá-lo.

Robert estreitou os olhos claros, e os cílios negros quase esconderam asíris coloridas quando pousaram sobre Mila. Depois, um ligeiro sorriso surgiu-lhe nos lábios e ele meneou a cabeça.

— Ora, ora, então conseguiu cativar até o velho Jim! Agora ele tambémfaz parte de sua coleção. Parece mesmo que tem uma força misteriosa, quefascina os homens deste rancho.

"Menos você", ela pensou, com uma ponta de decepção.— Se tenho fascinado seus empregados, como diz, não o fiz

deliberadamente.— Hum... É isto que torna tudo tão estranho — ele resmungou como que

para si mesmo, virando-se para o outro lado com um gesto de irritação.Após um instante, voltou a falar, num tom frio: — Está bem, não vamosdiscutir sua inúmeras conquistas. Ao contrário, vamos voltar ao outroassunto. Então, pergunto pela segunda vez: Em que posição estava o sol,quando chegou aqui hoje de manhã?

Mila não respondeu logo. Sentia-se tensa e insegura, sem saber a queatribuir a súbita mudança no humor dele; e também temia-lhe a reação,quando ouvisse a única resposta que podia dar.

Enchendo-se de coragem, resolveu falar a verdade.— Desculpe, não tenho a menor idéia. Não prestei atenção.— Ah! Eu sabia! Mas espero que pelo menos saiba que o sol nasce no

Leste.Afetada com a ironia do comentário, Mila sentiu suas forças e

persistência sobreporem-se à insegurança e respondeu, também irônica:

— Pois, imagine só, eu sei!— Então é pena que não tenha percebido; poderia ter se orientado

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melhor, consultando o sol. Veja, o Norte está marcado no seu mapa. Seconhece o Leste...

Para Robert parecia claro como o cristal, mas teriam aquelesconhecimentos básicos sido de alguma ajuda para Mila? Ela olhou para o

mapa; a princípio com olhar vago e depois tentou concentrar-se na posiçãodo sol naquele momento para tentar descobrir onde ele teria estado pelamanhã.

— Será que a trilha que usei de manhã é aquela ali? — ela apontou,admirada ao reconhecê-la.

— Acertou — Robert confirmou. — Talvez não seja a mesma, mas elacertamente colocaria você no rumo certo. Difícil, hem?

Mila não respondeu, apenas ficou mais vermelha e olhou para o outrolado. Fora muito tola mesmo e mostrara toda sua inexperiência em relaçãoà natureza selvagem.

Que desperdício de tempo! Ficara horas parada, isolada, morrendo decalor e sede. Sentiu-se próxima às lágrimas e fechou os olhos. Aqueles diasno rancho haviam sido os mais humilhantes de toda a sua vida.

De repente, ouviu Robert resmungar qualquer coisa e mudar o rumo docarro, numa manobra rápida; abriu os olhos e notou que passavam porentre árvores.

— Este não é o caminhos que fiz, é? — perguntou, indecisa, aoestranhar o grande número de árvores, a densa vegetação e o solo aindamuito mais esburacada.

Então, ele respondeu apenas:— Não. É um atalho diferente.Estava tão louco para ver-se livre dela, que enfrentava até uma péssima

estrada apenas para encurtar o trajeto, Mila pensou. Porém, contrariando opensamento dela, Robert falou:

— Este caminho é mais longo, mas achei que valeria a pena vir por aquipara lhe mostrar algumas coisas interessantes, que gostaria quefotografasse.

Apesar da surpresa que Mila sentiu, não deixou transparecer.

Aquele homem despertava-lhe sensações e sentimentos muitos fortes.— Sim? Que tipo de coisas? — perguntou.— Hum... Prefiro não dizer. Quero que veja por si mesma.Olhando ao redor, ela admirou o cenário de beleza selvagem.A trilha que Robert seguia era pouco mais que uma picada, cheia de

pedras soltas e raízes salientes que faziam o veículo saltar como umcanguru.

Havia muitos riachos estreitos e rasos, cortando o solo e correndo paradesembocar no ribeirão, e, a distância, já era possível vê-lo.

Finalmente, Robert parou à margem de um dos riachos.— Então? Que acha? Não vai preparar a máquina? — ele perguntou,

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desligando o motor do carro.— Mas ainda não sei o que quer que eu fotografe! Que coisa misteriosa

é esta que quer me mostrar?— Já a vi duas vezes. Não conseguiu ver ainda? — ele indagou, com um

sorriso divertido.Por um instante os lábios dele prenderam a atenção de Mila, tinha aboca grande, mas com um quê de suavidade. Ela o observava com o cantodos olhos e com uma perturbação crescente que não a deixava concentrar-se no que ele dizia.

— Ah?! Desculpe... não consigo ver nada.O sorriso dele ampliou-se, o que não contribuiu em nada para ajudá-la a

cair em si. Bem no íntimo, começava a considerar que era mais confortávelconviver com ele quando não era tão sedutor. Sabia reagir a suahostilidade, mas sua sedução deixava-a desarmada.

— Pois acho que viu, sim. Apenas não reconheceu. E são dois.— Que quer dizer com isto? — ela se espantou.Descendo do carro, ele respondeu:— Se quiser ver, faça como eu: desça com cuidado, sem fazer barulho

para não espantá-los.Obedecendo, Mila o seguiu.Cautelosos, ambos caminharam pela margem do rio até chegarem a

uma pequena elevação no solo. Ali de cima tinha-se uma ampla visão dorio, e Robert, tomando-lhe a mão, puxou-a para trás de um arbusto e depois

afastou as folhas.— Venha cá — ele murmurou. — Espie entre as folhas. Vê aquela ilhota

no meio da água?Apertando os olhos, Mila focalizou a superfície tranqüila da água, que,

ao sol já quase poente, parecia um espelho dourado. Robert tinha razão, ela já vira aquilo antes; apenas, pensara que fossem troncos de árvoresdeslizando suavemente na correnteza. Naquele instante, Mila descobriu queo que confundira com troncos eram os dois maiores crocodilos que já virana vida.

Ela engoliu em seco. Histórias assustadoras sobre crocodilos vieram-lheà mente.

— Meu Deus! Jamais teria esperado! Como são grandes! — elaexclamou, entre assustada e surpresa.

— São uns dos maiores répteis do mundo.Ela virou-se para ele, rápida.— Há muitos outros deste tamanho por aqui?— Não. Há outros crocodilos, mas menores. Este dois foram os maiores

que já vi. Por isto quis trazê-la aqui. Não vale a pena fotografá-los?

— Claro que sim!O entusiasmo de Mila era grande. Ela já lera sobre crocodilos e sabia

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que eram animais muito tímidos e difíceis de serem fotografados, porque,quando viam seres humanos, submergiam.

— Vou buscar minha máquina no carro — ela disse e saiu detrás doarbusto.

— Hum... Acho que não vai adiantar mais. Eles vão mergulhar logo. Jáestão há muito tempo do lado de fora.Mas Mila não lhe deu ouvidos e correu. De posse do material necessário,

voltou para perto de Robert e, com alegria, viu que os crocodilos aindapermaneciam à vista.

— Ah! Como estou contente! Isso vai me compensar pelo dia perdido —ela disse, começando a disparar a máquina inúmeras vezes, nos maisdiferentes ângulos. A luz do sol ainda estava boa e incidia direto sobre osanimais. — Muito obrigada por lembrar-se de mim e dar-me estaoportunidade. Se não tivesse me trazido aqui, jamais teria conseguido essasfotos. Foi fantástico!

— É. Achei que gostaria.— E estava certo. Gostei muito, muito mesmo. — Mila hesitou um

momento e continuou: — Há uma coisa que me intriga. Por que perdeutempo comigo? Por que me trouxe para ver essa beleza? Sei muito bem queme acha irresponsável e tola. Também sei que foi contra sua vontade queacabou concordando com Alick e me deixou ficar.

Ela baixou a cabeça, sentindo-se tímida, sem coragem de encará-lo.Robert tocou-lhe o queixo e ergueu-lhe o rosto.

— Talvez tenha concordado contra meu bom senso, mas não contraminha vontade, posso garantir, ou você não estaria trabalhando no rancho.Quanto ao outro ponto, você, às vezes, não pensa antes de agir, mas eunão a chamaria de tola. Mas não acha que merecia uma compensaçãodepois de um dia perdida no mato?

— Eu acho, mas jamais pensei que você também achasse.— Seja como for... não me dá nenhum prazer fazê-la chorar, e não é

meu hábito maltratar as mulheres, acredite ou não.Na verdade, Mila acreditava que muitas mulheres deviam ter derramado

lágrimas apaixonadas por aquele homem. Mas, certamente, não gostaria deser incluída entre elas.

— E o que o faz pensar que me fez chorar? — ela perguntou, aborrecidacom o fato de ele saber que tinha o poder de fazê-la chorar.

Robert sorriu, provocante.— Vi muitas vezes seus olhos se encherem de lágrimas, embora

tentasse disfarçar.Sem que Mila percebesse, ele havia se aproximado muito, seus ombros

quase se tocavam; com um sobressalto, ela afastou-se e falou apressada,

para esconder o mal-estar.— Você não quer me fazer chorar, mas nem por isso vai ceder, vai?

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— Ceder em quê? O que quer dizer? — Os olhos azulados prenderam osdela, hipnóticos.

— Quero dizer que, mesmo que eu chorasse um mar de lágrimas, vocênão mudaria de idéia quanto a deixar-me ser guia turística.

Uma expressão bem-humorada surgiu no rosto másculo.— Ah! Devia ter imaginado que mais cedo ou mais tarde você voltaria ainsistir nesse assunto.

Erguendo a cabeça, altiva, ela retrucou:— E por que não deveria? Foi para isso que vim para cá.— Já conhece minha opinião. Vamos, acabe de tirar suas fotos. Estou

muito curioso para saber se Alick exagerou ao elogiá-la como fotógrafa.— Não. Acho que ele não exagerou. É... que pensei que tirar fotos fosse

uma função secundária. Mas, do jeito que as coisas vão... — Mila torceu asmãos e lágrimas vieram-lhe aos olhos. — Sinto-me humilhada, parece queincomodo todo mundo... e tinha tanta esperança nesse emprego, nessamudança de vida.

— Ora, pare de se lastimar. Está bem, assuma então o controle dessesmalditos barcos e jipes, já que significam tanto para você! — ele ainterrompeu, exasperado.

— Não, não quero nada de favor! — Mila replicou, incoerente com ospróprios desejos. — Ou você realmente acha que sou capaz, confia em mim,ou, então, não quero.

— Mila, por favor, quer esse trabalho ou não? — ele perguntou,

passando a mão pelo cabelo, no limite da paciência. Tomada de surpresa pela oferta e sem saber ao certo a intenção que

havia por detrás dela, Mila hesitou.— Bem... não sei... quer dizer... acho que quero.— Então, resolva-se. Aceite agora ou juro que jamais ouvirá outra

proposta de minha parte. O que resolve?— Sim, aceito — ela respondeu de imediato, sorrindo para Robert com

ar vitorioso. Ao notar surpresa nos olhos dele, assumiu um ar tímido elançou-lhe um olhar de soslaio por entre os longos cílios negros. — E você

daria permissão, também, para eu me encarregar do torneio de tiro sobre oqual você falou ontem?

Robert sacudiu a cabeça e deu uma gargalhada espontânea.— Que diabo! Agora você me surpreendeu. Pensa depressa, hem,

ruivinha?— Quer dizer que concorda? — ela indagou, entre surpresa e feliz.Um meio-sorriso brincou nos lábios fortes e bem delineados.— Concordo que você é persistente.— Ah! Você está se esquivando de uma resposta.

Por um momento, os magnéticos olhos azul-esverdeados de Robertcapturaram os dela e depois desceram devagar sobre os lábios úmidos.

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Consciente do olhar, Mila sentiu o sangue correr mais rápido.— Quando me olha com esse ar desafiador, eu a acho irresistível — ele

falou baixinho.De repente, Mila sentiu-se frágil e vulnerável junto àquele corpo forte e

ardente que a roçava de leve. Devagar, Robert estendeu a mão e puxou-apara si. Mila ouvia-lhe a respiração alterada e sentia o calor que emanavado corpo dele. As feições másculas tão próximas, a pele do rosto com umaleve sombra de barba, toda aquela virilidade perturbou-lhe os sentidos,fazendo-a tremer.

Robert foi se aproximando lentamente, até que seus lábios encontraramos dela, num beijo arrebatador.

Nada do que se passara entre eles até então fizera Mila imaginar queum dia ele a beijaria. Foi tomada por um ardor desconhecido, e todo seu serdesejou corresponder à carícia.

O beijo tornou-se mais profundo e Robert explorava-lhe a bocaentreaberta com a língua. Mas quando Mila começou a se entregar àpaixão, ele a soltou.

— Acho melhor irmos embora — ele falou, lacônico.Uma grande decepção tomou conta de Mila. Não entendia a reação

daquele homem. Primeiro a tomou nos braços e a beijou com uma paixãoincontida. E, quando ela entregou-se totalmente à carícia dele, Robert seafastou, como se estivesse arrependido. Com o rosto em brasa e atordoadapor fortes emoções, ela arrumou a máquina fotográfica e murmurou:

— Sim, está ficando tarde.A voz soou trêmula e ela se envergonhou. Gostaria de dizer algo que

mostrasse o quando Robert lhe era indiferente e que o beijo não a afetara.Mas nada lhe ocorreu. Contrafeita, descobriu ser tão vulnerável aosencantos dele quanto qualquer outra mulher.

Robert caminhou para o carro e ela seguiu-o. Uma vez dentro doveículo, ele olhou-a em silêncio por alguns segundos e depois disse:

— Desculpe, não é do meu feitio envolver-me na intimidade dos meusfuncionários, embora possa parecer um pouco tarde para falar isso.

Mila lembrou-se da sensual Crystal, dos olhares que lançava ao patrão, eduvidou das palavras dele. Poderia jurar que algo íntimo já acontecera entreeles.

Recorrendo a todo seu sangue-frio, deu de ombros e respondeu:— Não se preocupe. Jamais pensaria em usar um relacionamento para

obter vantagens.— Não foi isso o que quis dizer.— Então, o que foi?Robert não respondeu, apenas olhou-a de soslaio, como se procurasse

desvendar-lhe a mente. Depois, sem dizer nada, pôs o carro em movimento.Fizeram o restante do trajeto imerso em seus próprios pensamentos,

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cada um entregue às emoções contraditórias que os assolava.

Capítulo VI

Nas semanas que se seguiram após o incidente à beira do ribeirão,muita coisa mudou no Rancho Arunga River.

Mila começou a exercer suas novas funções, e estava se saindomaravilhosamente bem.

Graças às informações extremamente úteis fornecidas por Jim e Gay,

conseguiu assumir o controle dos aluguéis de barcos e veículos com a maiorcompetência. Atendia os turistas e os orientava como se vivesse ali naquelelugar havia anos.

Vestindo a camiseta branca com o emblema do Rancho Arunga River,Mila atendia a alguns turistas quando, de canto de olho, viu Robert seaproximar.

Sem tentar demonstrar a revolução de sentimentos que tomava todoseu ser, ela apenas lhe sorriu e continuou as explicações que estava dandoao garoto sobre pescaria.

Quando os turistas foram embora, ela virou-se para Robert e pôde notarseu olhar contemplativo.— Algum problema?— Gostaria de saber onde aprendeu tanto sobre peixes e pescarias.Mila sorriu, um tanto sem graça, e falou.— Ora, já que eu desejava tanto ser guia turística aqui no Rancho

Arunga River, tinha de me informar, não é verdade?Robert deu-lhe um sorriso e falou:— Bem, é melhor eu deixar você trabalhar, já que está tão empenhada a

cumprir suas funções da melhor maneira possível.Dizendo isso, Robert se dirigiu ao bar, deixando Mila sem saber se o que

ele falara era um cumprimento ou uma crítica. Já era noite, e Mila, depois de tomar um longo e relaxante banho,

debruçou-se à balaustrada da varanda da casa-grande para observar o pôr-do-sol.

Permaneceu ali por um longo tempo e, então, quando a escuridão eraquase total, acomodou-se na sala para ler um livro que achara na estantede Robert.

Um som forte de botas subindo os degraus da escada tiraram Mila de

sua concentração. Erguendo os olhos, ela deparou-se com Robert. Ao vê-la,ele ficou tão surpreso, que se deteve por um momento.

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A visão daquele homem másculo e viril a fez estremecer. Sem camisa,exibia os potentes músculos, perfeitos, deixando-a sem fôlego.

— Que está fazendo aqui sozinha? — ele perguntou, admirado.— Resolvi ler um pouco.

— Mas hoje é sábado!— Eu sei, mas resolvi dispensar o churrasco desta noite.— Resolveu? — Robert cerrou o cenho. — Então sugiro que reconsidere

sua decisão, ruivinha, pois uma das razões destes churrascos é reunir aspessoas, para que elas se conheçam. Nessas horas, os turistas adoramperguntar sobre tudo, e você, como guia de turismo, é a pessoa indicadapara responder.

— Não, não sou.— O que quer dizer com "você não é"? — Os olhos de Robert

estreitaram-se e ele cruzou os braços como quem pede explicação.Mila inspirou fundo e falou:— Eu preferia não ser a guia de turismo, uma vez que você não me

ofereceu o cargo.— Oferecer? Foi dado a você, lembra?— Sim, apenas porque você se cansou de dizer não; mas não me

aprovou.— O que está sugerindo? Que me ajoelhe aos seus pés e humildemente

implore...— Não, não foi isso que quis dizer.

— Pois, então, dê-se por satisfeita com o que lhe dei. Mesmo que eu nãotenha tido a intenção.

Mila ficou vermelha e quase gritou:— Pois é por isso mesmo!Robert inclinou-se para frente, colocando as mãos nos braços da

poltrona em que ela sentava e ficou tão próximo que Mila podia sentir-lhe ocalor e a respiração.

— Não tem razão nenhuma para se queixar. Queria esse trabalho, nãoqueria? Pois, então, trate de executá-lo! — ele ordenou, autoritário.

— Está bem, está bem. Vou ao churrasco. — Os olhos verdes voltaram-se para ele, desamparados.

Robert deu uma risada ríspida.— Ninguém pode bancar a ingênua a esse ponto, meu bem. E você está

perdendo tempo. Então, por que não se mexe logo, em vez de ser tão difícil,hem? — ele falou, afastando-se.

Ela, difícil? Mila teve vontade de bater-lhe e fuzilou-o com os olhos.Quem ele pensava que era? Num momento, tratava-a com gentileza eindulgência, no momento seguinte, insultava-a. Além do mais, o que queria

dizer quando a acusara de bancar a ingênua? Talvez estivesse muito contrariado por verificar que era ótimo ter uma

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auxiliar, e não queria admiti-lo. Sim, devia ser a explicação para a novahostilidade de Robert.

Desistindo de melhores explicações, Mila sacudiu a cabeça e resolveupreparar-se para o churrasco e a confraternização com os outros.

Dirigiu-se ao quarto a fim de trocar de roupa. Enquanto se vestia, seuspensamentos a levavam a se indagar o que estava acontecendo com ela.Por que tudo o que Robert dizia calava tão fundo em seu peito?

Frente ao espelho, prendeu os cabelos avermelhados com uma fivelasimples e passou um batom rosado nos lábios. Vestira calça jeans e umacamiseta regata, que deixava à mostra os ombros bronzeados.

Quando, afinal, ela chegou à beira da piscina, muitas pessoas jáestavam sentadas, saboreando os diversos tipos de carne, enquanto outrasencontravam-se de pé em frente ao bufê, servindo-se de frios e saladas ousimplesmente bebendo e conversando.

Sem se dar conta, seus olhos procuraram Robert entre as pessoas.Quando o encontrou, se fitaram intensamente. Porém ele logo se voltoupara as pessoas que estavam ao seu redor.

Após algum tempo, Mila foi localizada por um dos turistas que logo seaproximou, chamando seu nome. O excesso de intimidade desagradou-a.

O desconhecido, um homem baixo e atarracado, colocou a mão suadasobre seu ombro nu e falou-lhe, com voz pastosa:

— Ah! Finalmente. Tenho estado a sua procura faz tempo. — Então,colocando a mão em torno da cintura dela, continuou: — Estive pensando

que poderíamos jantar juntos; só nós dois. Que acha?Mila desvencilhou-se dos dedos que a apertavam como garras e virou-se

para encará-lo com um sorriso forçado, profissional.O rosto do homem estava muito próximo ao seu e ela olhou dentro dos

olhos pequeninos e espertos, quase ocultos por vastas sobrancelhasgrisalhas. Lembrou-se de tê-lo visto ao chegar, com mais doiscompanheiros, e recordou que desde o primeiro momento o olhar dele aperseguira, pegajoso, onde quer que fosse, fazendo-a sentir-se pouco àvontade.

 Tratava-se de Ben Porter.— Sr. Porter... — ela começou.— Ben... — ele a corrigiu, com um amplo sorriso. — Pode me chamar de

Ben.Deliberadamente ignorando a interrupção, Mila fez questão de manter o

"senhor", embora fosse normal tratar os hóspedes com cordialinformalidade.

— Sr. Porter — ela continuou —, sinto muito, mas tenho de recusar seuconvite. Aos sábados os funcionários devem confraternizar com todos e não

somente com uma pessoa.Mila já se afastava quando Ben Porter puxou-a pelo braço.

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— Ah! Mas não vá embora assim. Que tal um drinque depois dochurrasco?

— Desculpe, mas não é possível. Geralmente o bar fecha assim que o jantar acaba — Mila respondeu com frieza, tentando livrar o braço, sem

sucesso.— Ah! Isso não é problema. — Ele apontou para os companheiros quebebiam seus aperitivos. — Estamos acampados e temos nosso própriocantinho. Podíamos nos divertir juntos. — Ele sorriu com um ar cúmpliceque só serviu para irritar Mila ainda mais.

Os amigos dele pareciam pessoas simpáticas, satisfeitas com o que orancho oferecia. Passaria por aquela cabeça maliciosa que, além de orientarturistas, ela também devia fazer programas?

— Muito obrigada, mas não vou aceitar, sr. Porter. Porém, se quisersaber algo sobre o rancho, estou às ordens. — respondeu, deixando claroque as propostas dele a desgostavam. Fez menção de se afastar, porém elea reteve.

— Oh! Sim, tenho uma coisa para perguntar. Por que não vamos...A voz ríspida de Crystal, que passava carregando uma bandeja de

bebidas, interrompeu-o.— Ora, Mila, você devia estar entretendo os hóspedes e não dando toda

a atenção a uma só pessoa... por mais que esteja gostando.Apesar do comentário injusto e rude, ela ficou feliz com a interrupção

que distraiu Ben, permitindo-lhe soltar o braço. Crystal virou-se para trás e

falou com um sorriso falso:— Sabe, Ben, todos os homens do rancho vivem atrás da nossa pequena

guia de turismo. Mila é famosa aqui! Mas o patrão prefere que ela cuideprimeiro das obrigações. Desculpe, mas deixe-a trabalhar. Espere a folga. —E, dirigindo-se a Mila, disse, autoritária: — Vamos!

— Crystal, não pense que eu estava encorajando esse homem. Eraexatamente o contrário, tentava livrar-me dele.

— Vi tudo muito bem! Você só se afastou quando cheguei. Parecia estargostando muito da atenção de Ben! — Crystal retrucou, com azedume.

— Tentei ser diplomática e evitar uma cena desagradável.— Ora, não me venha com essa. Não nasci ontem. Conheço seu tipo:

sempre às voltas com os homens. Pensa que não tenho notado como secomporta com os funcionários e peões? Até o velho Jim Stanley está todocaído por você. Meu Deus, devia ter um pouco mais de escrúpulo.

Havia revolta verdadeira na voz e nas feições retorcidas pelo despeito.Por que Crystal a odiava tanto? Não lhe tirara o emprego nem a prejudicaraem nada. Aquele rancor era incompreensível.

— Sou uma tola. Não podia esperar nada diferente de alguém como

você. Hoje mesmo ainda falei com Robert sobre isso — Crystal continuou,destilando veneno.

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Mila teve um sobressalto. Crystal e Robert haviam feito comentáriossobre ela. Mas, o quê? Indignada, perguntou:

— Que quer dizer com isto? O que falaram sobre a minha pessoa?Crystal riu, desdenhosa.

— Com se não soubesse! Não se faça de ingênua, nem de esquecida...Dando-lhe as costas, Crystal começou a servir uma das mesas.Aquelas palavras eram um enigma para Mila e era a segunda vez num

curto espaço de tempo que a acusavam de fazer-se de ingênua. PrimeiroRobert e, agora, Crystal. Por quê? Nunca fizera segredo do que a trouxera aArunga River. Fora honesta, agira às claras. E que mal havia em sepretender um posto?

Mila sacudiu a cabeça. Estava perplexa. Crystal antipatizara com eladesde o início e não poupara esforços em denegrir sua imagem diante dosoutros, e diante de Robert, em particular.

O churrasco transcorreu quase sem incidentes, e Mila dividiu a atençãoentre os hóspedes, respondendo às várias perguntas que lhe faziam.

Lyle, um turista que chegara com a família havia alguns dias,perguntou-lhe:

— Como se explica que as marés não mudem, aqui? Não há enchentenem vazante. Nesses últimos três dias, fomos até o golfo, passamos o diatodo lá e não vimos mudança na maré. O mar está sempre no mesmo nível.Estranho, não?

— É verdade. Não havia pensado nisso! — exclamou Mila, surpresa. —

Vou procurar saber a respeito e lhe informarei.Olhando em volta, ela avistou Robert. Ele devia ter a resposta de que

precisava, mas hesitou. Desde a ríspida troca de palavras naquela tarde,notara que ele a evitava. No entanto, como se tratava de um assuntoprofissional, se encheu de coragem e acenou a mão para chamar-lhe aatenção.

Robert viu e aproximou-se, o porte alto e esguio destacando-se entre osoutros. O coração de Mila disparou.

Não podia mais esconder de si mesma: ele exercia uma atração

devastadora sobre ela. Teria de tomar muito cuidado para que jamaissuspeitasse disso.

Sorrindo, formal, ela falou:— Tenho um problema aqui, Robert. Lyle perguntou por que as marés

no golfo não variam durante o dia, como todas as outras. Infelizmente, nãosei a resposta. Você sabe?

— Hum... É um fenômeno pouco comum. — Fez uma pequena pausa,olhando-a fixamente, e gracejou: — É a primeira vez que pede minha ajuda.A razão deste comportamento estranho das águas é que essa parte do golfo

tem apenas uma maré por dia, ao contrário dos outros lugares, que têmduas. É um fenômeno característico dessa região da Austrália. Estou muito

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contente que tenham notado.As pessoas que estavam ao redor deles ouviam a explicação com

genuíno interesse. Parecendo bem-humorado, Robert deu mais umainformação:

— Quando há lua nova, temos uma mistura. No primeiro dia, há duasmarés e, no dia seguinte, voltamos a ter só uma.— Eu já tinha ouvido falar dessas ocorrências no oceano, mas confesso

que foi uma grande surpresa vê-las pessoalmente — Lyle afirmou,satisfeito.

Um outro turista exclamou:— E eu que nunca ouvi falar nisso. Tive uma surpresa ainda maior. Que

coisa incrível!Robert riu.— Não se preocupe. Não está sozinho nisso. Os turistas sempre se

espantam com a nossa maré.— Ainda bem. Assim, sinto-me menos ignorante. — O turista riu

levantando-se e indo à churrasqueira outra vez.As outras pessoas dispersaram-se e outros grupos de conversa se

formaram. Mila ficou sozinha com Robert.— Ainda bem que esse fenômeno do golfo é pouco conhecido. Sinto-me

melhor por não saber a resposta. Jamais teria imaginado! Muito obrigadopor me salvar.

Ele ergueu os ombros com indiferença.

— Faz parte do negócio.— Sim, eu sei — ela concordou, apressada, com medo de que a achasse

presunçosa, imaginando ter recebido atenção especial. — Agora vejo comoainda há coisas para aprender sobre o rancho.

— Não é motivo para perder o sono. Tenho certeza de que será tão bem-sucedida nesses assuntos como tem sido em tudo mais — Robert respondeucom uma frieza que a magoou.

— Robert... — ela murmurou e, hesitante, estendeu a mão para tocá-lo.Mas, naquele momento, Nick aproximou-se por detrás e puxou-a.

— Então, como vai minha garota favorita? — perguntou, confiante, semperceber que Mila se retraía. — Quase não a vi a noite toda.

— Ah! Estávamos todos muito ocupados — ela desculpou-se,contrafeita, desejando que ele os deixasse a sós.

— Bem, mas acho que agora o trabalho já acabou. O que acha de virtomar um drinque comigo?

Mila hesitou e Nick estendeu o convite a Robert:— Por que também não vem beber alguma coisa conosco?— Agora, não. Mas muito obrigado, mesmo assim — Robert declinou,

seco. E, acenando a cabeça num breve cumprimento, deixou-os.— Hum... não posso censurá-lo por preferir a companhia dela a nossa. —

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Nick riu, apontando na direção que Robert tomara.— A companhia de quem? — Mila indagou, com uma ansiedade que a

surpreendeu e que não gostaria que Nick notasse.— Veja aonde ele foi. Ao encontro de Crystal. Não vá me dizer que ainda

não viu como está sexy, a nossa morena, naquele vestido vermelho. Ela nãofez outra coisa a noite toda a não ser tentar atrair Robert.— Oh! — Mila balbuciou, chocada com o ciúme que a invadiu de súbito

contra Crystal. — É. Acho que ele gosta de tipos vulgares.Mal acabou de falar, arrependeu-se e desejou morder a língua, mas Nick

concordou com exagerada convicção:— Você tem toda razão. Sabe, Robert possui um charme especial, um

carisma que atrai o sexo feminino. E, ainda por cima, como proprietário detudo aqui, torna-se mais desejável.

Dando as costas ao grupo de Robert e Crystal, ela forçou um sorriso:— E, agora, Nick, que tal aquele drinque que você me prometeu?Apesar de todos os esforços que Mila fazia para se concentrar em Nick e

ignorar o que se passava na mesa de Robert, aos poucos teve de admitirque travava uma batalha perdida. Os risos que vinham de lá, a voz deCrystal, o vulto de Robert, tudo aumentava-lhe o desconforto. E, afinal,desculpou-se com Nick, alegando dor de cabeça e retirou-se para a casa-grande.

Para aliviar a tensão, resolveu dar uma caminhada e tomou uma trilhamais longa e mais deserta. Ia andando de cabeça baixa, absorta em

pensamentos, quando quase colidiu com outra pessoa meio oculta à sombrade um pé de alamandas.

— Oh! Perdão. Vinha tão distraída que não vi onde andava — Miladesculpou-se, antes mesmo de ver de quem se tratava.

— Distraída? Estaria pensando em mim? — Ben Porter perguntou, comseus modos confiados.

Mila contraiu o semblante, ao reconhecê-lo. Àquela hora da noite nãosentia a menor disposição de manter a diplomacia com aquele homem.

— Dificilmente poderia estar pensando no senhor. Queira desculpar-me!

— Mila retrucou, seca, desviando-se para retomar o caminho.Com um movimento ágil, Ben postou-se a sua frente e segurou-lhe os

ombros com força.— Ora, vamos, Mila. Não é verdade que não sinta nada em relação a

mim. Até Crystal notou."Maldita Crystal! Com aquela língua ferina alimentou as idéias malucas

deste desocupado", pensou Mila, fazendo esforço para libertar-se.— Sr. Porter... — ela começou.— Ben — ele a corrigiu, puxando-a ainda para mais perto. Os olhos

pequeninos brilhavam cheios de luxúria e passeavam pelo rosto e corpo deMila com avidez. As mãos suadas e o olhar lascivo provocavam-lhe arrepios

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de repulsa.— Meu Deus! Poderia beijar você todinha. Não me canso de olhá-la.

Onde esteve, onde andou que nunca a encontrei antes? — ele perguntou,com voz pastosa.

Mila mal podia acreditar nos próprios ouvidos. Aquele homem erasimplesmente ridículo.— Provavelmente porque, na maior parte de sua vida, eu ainda não era

nascida — ela respondeu, sem se preocupar com as boas maneiras. — E,agora, por favor, queria tirar as mãos de mim.

Mas Porter tornara-se surdo ao bom senso e inclinava-se sobre ela,apertando-a cada vez mais.

— Pense no quanto pode aprender com minha experiência... — eleofegou no ouvido de Mila.

Pela primeira vez, Mila se alarmou. Até então, apenas achara Ben Porterinconveniente, mas, ao sentir o descontrole do homem e a força de suasmãos, passou a temê-lo. Desviava o rosto, enojada, e batia-lhe com ospunhos fechados, mas toda sua resistência era inútil.

De repente, ouviu-se um barulho. Ben praguejou e soltou Mila tão rápidoque ela quase caiu. A princípio não entendeu nada, e depois uma grandesensação de alívio a invadiu, ao ouvir a voz profunda de Robert.

— Acho que a moça não está gostando dos seus avanços, meu amigo —ele disse, puxando Ben Porter pelos cabelos e forçando-o a inclinar-se paratrás.

— Ai, você está quebrando meu pescoço! — Porter gritou.Com um movimento hábil e rápido, Robert fez com que ele girasse e

encostou-o contra o tronco da árvore com tal força que inúmeras folhas eflores caíram ao chão.

— Não pode imaginar o esforço que estou fazendo para não quebrá-lode verdade. E, se não estivesse aqui com mais companheiros, eu o poria narua agora mesmo.

— Ah, é? — Porter gritou, desafiador, recuperando-se do susto eencarando Robert, que o dominava com sua estatura. — Só você é que

pode se meter com os empregados? Estava se divertindo com aquelamorena chamativa, toda de vermelho. Por que eu não posso?

Robert deu um passo ameaçador à frente.— Seu caso é diferente. Você não está agradando.— Você não sabe nada. Ela estava me provocando, brincando comigo!

— Porter mentiu com descaramento.Mila reagiu e exclamou, furiosa:— Não é verdade! Não fiz nada disto.Ignorando o protesto, Porter continuou:

— Eu não podia recusar o convite de uma bela mulher, e quanto a você— e ele agitou um dedo nervoso em frente a Robert —, talvez não fique tão

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valente quando eu mover uma ação por agressão física.— Faça o que quiser. Terei prazer em acusá-lo de molestar uma

funcionária do rancho, e acho que sua esposa não gostará nada de saberdessas suas atividades.

Aquelas palavras atingiram o alvo como um tiro certeiro, pois aexpressão de Porter modificou-se e ele perdeu o ar de desafio.— Eu... bem... não há necessidade de ser tão radical. Não aconteceu

nada de mal... Estava apenas tentando me divertir, como todo mundo.— Este tipo de divertimento não é apreciado nem tolerado aqui — disse

Robert. — E dou-lhe um conselho: não se aproxime de Mila outra vez ou o jogo daqui para fora pessoalmente.

— Como posso evitá-la? Afinal, ela é a guia de turismo, meus amigosvão estranhar.

— Pouco me importa. Foi você quem criou o problema; trate de resolvê-lo. E saia da minha frente, antes que eu me arrependa de ser tãocompreensivo.

Após uma breve hesitação, Porter desistiu de retrucar e passou por eles,resmungando impropérios.

Finalmente livre da presença embaraçosa de seu perseguidor, Mila deuum longo suspiro de alívio.

— Muito obrigada por ter vindo em meu auxílio. Foi a segunda vez queme salvou nesta noite. — Ela sorriu.

Robert deu de ombros.

— Eu já estava suspeitando de que Porter se comportava mal; então,quando o vi sair às escondidas atrás de você, achei que seria bom segui-lo.

— Estou muito agradecida, acredite.Uma sensação de alegria aquecia o coração de Mila. Se Robert fora

capaz de perceber as manobras de Porter e de segui-lo, não estava tãoabsorvido pelo charme de Crystal como ela pensara.

— Então, como se sente agora? — perguntou.— Ainda estou trêmula de susto.— Quer que eu chame Nick?

— Nick? Para quê? — ela perguntou, admirada.— Para consolá-la — foi a resposta seca.Mila tinha vontade de lhe dizer que a única pessoa no mundo por quem

gostaria de ser consolada seria por ele. Porém, apenas falou:— Não quero que chame ninguém.— Então, eu a acompanho no resto do caminho — ele se ofereceu.— Não é preciso. Você deve ter mais coisas para fazer. Posso ir sozinha

— ela respondeu.— Não tenho nada para fazer agora — Robert disse, com inesperada

gentileza, segurando-lhe o braço e conduzindo-a na escuridão.Quando chegaram à varanda da casa-grande, Mila pensou que ele fosse

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se despedir, mas Robert subiu os degraus da escada junto com ela, semsoltar-lhe o braço. E a voz dele soou tensa, quando perguntou:

— Tem certeza de que vai ficar bem?Uma angústia oprimiu o peito de Mila, pois não sabia o que fazer para

fazê-lo ficar um pouco mais. Como resposta, apenas meneou a cabeça.— Tem certeza? — ele insistiu, segurando-lhe o queixo e erguendo-lhe orosto para si, preocupado.

Insegura, ela perguntou:— Você precisa voltar... já?— Não. Por quê? — Os olhos dele prenderam os dela. Tomando

coragem, ela falou:— Gostaria que você ficasse mais um pouco para podermos conversar.Ele deu uma risada, onde havia mais ironia que alegria.— O problema é que, perto de você, meus instintos não me deixam

inclinado a conversar.Sem entender direito o que ele falara, Mila ficou olhando por longos

minutos. Então, diante da mudez dele, compreendeu: ele não tinha vontadede conversar com ela, só ficara ali porque ela pedira.

— Desculpe... eu devia saber que você não gostaria. — A voz de Milasoou fraca. Com medo de irromper num choro descontrolado, saiu correndoda sala.

— Mila!Antes de alcançar o quarto, Robert a segurou, fazendo-a virar-se e

encará-lo. Então notou-lhe os olhos cheios de lágrimas e se enterneceu.— Desculpe... Você não teve uma noite agradável e eu não ajudei a

melhorar. — Ele se interrompeu e seus olhos pousaram nos lábios úmidosde Mila. — Oh, céus, o que faço com você?

No instante seguinte, ela estava nos braços dele e a boca máscula esensual tomava a sua com apaixonado desejo.

Capítulo VII

Embora as palavras de Robert fossem enigmáticas e confundissem Mila,o beijo foi apaixonado e real, e ela correspondeu com total abandono.Descobrira que tudo o que mais desejava no mundo era estar junto dele, noaconchego dos braços fortes e viris.

Amava-o. Amava Robert mais do que pudera imaginar. Não queria e nãopodia contemplar a vida sem ele outra vez e, obedecendo seu desejo,

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enlaçou-lhe o pescoço, buscando o contato pleno com aquele homem queem tão pouco tempo tornara-se imensamente importante para ela.

Uma onda de calor percorreu o corpo de Mila, quando Robert começou aexplorar-lhe a boca com a língua, abraçando-a mais forte, como se quisesse

fundir seu corpo ao dela.Mila tocou-lhe os ombros com as mãos, sentindo a rigidez dos músculos.Robert deixou escapar um suspiro e, erguendo-a do chão, carregou-a para oquarto dela.

Com muito cuidado, ele a deitou sobre a cama e depois deitou-setambém, puxando-a para si. Quando seus corpos se tocaram, Mila ouviu-ogemer baixinho e procurar-lhe a boca outra vez, até seus lábios seencontrarem num beijo ardente.

O universo inteiro desapareceu, e para Mila nada mais existia, a não seraquele homem maravilhoso que amava. Timidamente, ela deslizou as mãossob a camisa dele, acariciou-lhe as costas firmes, tateando os músculosrijos. Robert estremeceu com o toque e ela experimentou um orgulhosoprazer ao vê-lo vibrar sob seus dedos. Depois, afastou mais a camisa eafagou a pele nua, descendo sobre o peito largo, coberto por pêlos escuros.Sentindo o pulsar vigoroso do coração dele, deixou-se levar por uma ondade sensualidade que a fez suspirar, cheia de desejo.

O beijo tornou-se ainda mais profundo, como se prenunciasse apromessa de um prazer mais intenso.

Quando Robert despiu a camisa e abriu a parte da frente do vestido de

Mila, ela soube que havia chegado a um caminho sem retorno.As carícias de Robert tornaram-se cada vez mais ousadas, sem temor,

Mila deixou-o acariciar-lhe os seios. Seu corpo arqueava-se, na ânsia dequerer ficar mais perto dele.

Absorvidos um no outro, não ouviram Joel entrar na sala ao lado, e só sederam conta da presença dele quando Joel falou, de pé, na entrada doquarto:

— Desculpem-me. Não queria atrapalhar. — Dizendo isso, saiurapidamente.

No ardor que os envolvera, haviam esquecido a porta do quarto aberta,permitindo a involuntária indiscrição de Joel.

A magia se dissipou por completo. Um enorme embaraço tomou contade Mila. Nunca se sentira tão envergonhada na vida, nem tão vulnerável.

Rápida, sentou-se na cama, puxando o vestido para ocultar os seios nus.— Acho melhor você ir agora — ela conseguiu falar, afinal, com a voz

rouca e trêmula.Robert sentou-se ao lado dela, respirando com dificuldade, o peito ainda

arfando, vestígio da grande excitação que experimentara.

— Sim. Você tem razão. — E com um leve toque de ironia, acrescentou:— Agora começo a entender por que Alick quis empregá-la no rancho.

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— Que quer dizer com isto? — Mila indagou, tentando decifrar aspalavras irônicas que ele dissera.

— É muito difícil ignorar sua presença.O que queria dizer aquela resposta enigmática? Que ele preferia ignorá-

la? Ou que preferia não se envolver com os empregados?Doía pensar que ele a via como mera distração. Mas, o que tudo aquilotinha a ver com Alick?

— Você gostaria muito que eu me demitisse, não é, Robert?Ele suspirou e, em vez de responder, fez outra pergunta.— É o que você quer?Se tivesse juízo, Mila diria sim, mas não podia desistir de um grande

amor, sem lutar.— Não — respondeu baixinho.— Então, não se fala mais nisto — Robert respondeu, encaminhando-se

para a porta.Sem um gesto de carinho, sem uma promessa.Mal ele deixou o quarto, Mila se atirou de bruços sobre a cama,

enterrando o rosto no travesseiro e deixando as lágrimas correremlivremente.

A partir da noite em que ela e Robert se entregaram à loucura dapaixão, Mila se entregou ao trabalho, com empenho quase fanático, naesperança de esquecer o que acontecera.

 Tentava aparentar uma calma que não sentia, pois não queria que

Robert desconfiasse de seus sentimentos e que descobrisse o êxtase queexperimentara em seus braços. Preferia que pensasse que a intimidadedaquele momento fora tão sem importância para ela quanto fora para ele.

No início, foi bem-sucedida naquele propósito, mas, à medida que osdias passavam, sabia que seria impossível fingir que nada acontecera. E,embora procurasse evitar um encontro, inconscientemente seus olhosbuscavam-no por toda parte.

Muitas vezes, a lembrança do corpo dele tocando o seu, da delicadezadas mãos másculas percorrendo sua pele, a deixavam extremamente

vulnerável.Mila notara que, nos últimos dias, Robert estava sempre ao lado de

Crystal e, ao vê-los juntos, uma dor muito grande oprimia-lhe o peito.Uma tarde, Crystal entrou na sala onde Mila trabalhava e, pela primeira

vez, desde a noite do churrasco, dirigiu-lhe a palavra.— Vim avisá-la de que Valda foi embora hoje de manhã.Mila franziu a testa sem entender, mas respondeu com delicadeza:— Eu sei. Os funcionários organizaram uma festinha de despedida para

ela nos aposentos de Gay.

— Bem, neste caso, você sabe que agora já há lugar nos alojamentosdos empregados. Não há necessidade de continuar na casa-grande. — Ela

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sorriu, maliciosa. — Robert até sugeriu que você dividisse o quarto comDyra.

— Compreendo — Mila balbuciou, com esforço. Magoava-a que Robertnão lhe tivesse dito nada. Preferia dar a ordem através de Crystal, uma

pessoa que a detestava. Mas não demonstraria sua decepção. Procurandodar um tom de firmeza à voz, falou: — Vou fazer as minhas malas agoramesmo.

— Seria bom. Assim, quando o movimento da noite começar, você jáestará no novo cômodo.

Sem dar resposta, Mila correu para a casa-grande. Arrumourapidamente seus pertences e dirigiu-se para o alojamento dos funcionários.

O aposento que Mila ia compartilhar com Dyra era amplo e decorado demodo semelhante a todos os outros daquele prédio. Duas camas, um sofá,uma mesa, duas cadeiras, alguns armários e uma pequena cozinhaamericana.

Os banheiros eram comuns e ficavam fora, no final do corredor. Claroque o quarto não era tão bonito quanto o da casa-grande, mas, por outrolado, Dyra era uma jovem agradável e elas se dariam bem, tinha certeza.

— Oi, Mila — Dyra recebeu-a à porta. — Crystal acabou de me dizer quevocê estava se mudando para cá e vim lhe dar as boas-vindas. Você éorganizada ou gosta de bagunça? — Dyra riu.

— Bem, em geral sou organizada. Mas, uma vez ou outra, também façouma boa bagunça — Mila brincou.

— O mesmo acontece comigo — Dyra confessou, com uma risada. —Valda quase me enlouquecia, espalhando tudo pelo chão, todos os dias.Agora, se está tudo bem com você, vou voltar para a cozinha. Vamosexperimentar um prato novo para o jantar.

— Oh. Sim, está tudo bem. Mas, diga uma coisa: onde posso guardarmeu carro? Deixei-o na casa-grande.

— Por que não o deixa lá mesmo? Há sempre muita vaga por lá.Uma ruga formou-se na testa de Mila.— Hum... não sei. Não estou mais alojada lá... talvez não gostem.

— Ora, o patrão não vai se incomodar. Talvez olhe enviesado, daquele jeito que você deve conhecer, mas aposto que não vai dizer nada. Ele é umcharme, não acha?

— Hum, hum... — Mila concordou, discreta.— Então, deixe o carro lá. — E, acenando, Dyra se despediu.Naquela noite, após o jantar, quando Mila deixava o restaurante,

encontrou-se com Robert. Teria passado direto, porém ele a segurou pelobraço e fuzilou-a com o olhar, dizendo:

— Ouvi falar que você deixou a casa-grande hoje.

Mila inclinou a cabeça, olhou-o de lado, e sorriu com ironia.— É verdade. Achei que você fosse preferir assim.

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O rosto de Robert estava inescrutável.— Mas notei que você deixou seu carro lá, não foi?Mila mordeu o lábio. Sabia que não devia ter dado ouvidos ao conselho

de Dyra. Devia ter seguido a própria intuição, pois assim não precisava

suportar o ar de reprovação dele.— Desculpe. Vou retirá-lo agora mesmo!— Onde pretende guardá-lo? — Robert indagou, ainda segurando-a pelo

braço.— Não se preocupe. Tomarei todo cuidado para que fique bem longe do

seu caminho. Não tomará seu espaço.— Não foi isso que quis dizer.— Não? — Os olhos de Mila voltaram-se para ele, muito brilhantes,

parecendo ainda maiores.Fez-se um silêncio pesado entre eles, mas naquele momento Nick

apareceu com seu jeito barulhento e interrompeu-os.— Olá! Por que não vêm juntar-se a nós? Nunca mais a vi, Mila, nem

mesmo durante o jantar. Anda nos evitando?— Também acho que sim — Robert disse. — Mas de amanhã em diante

isto vai mudar. Já que os turistas jantam mais tarde, a guia de turismotambém jantará mais tarde.

Robert deu a ordem, olhando dentro dos olhos verdes de Mila, sempestanejar, com a autoridade de um patrão.

Aquela demonstração de poder era a melhor prova de que a hostilidade

dele retornara com toda a força; parecia ter prazer em mortificá-la.— Mas hoje eu já jantei — ela respondeu com frieza, soltando-se da mão

dele.— Então por que não vem sentar conosco? — Nick reclamou

desapontado.— Sinto muito, Nick. Fica para outra vez. Tenho muito que fazer agora.

 Tchau.— Que diabo, Robert: você está matando a moça de tanto trabalho —

Nick brincou.

De longe, Mila ainda ouviu a resposta de Robert, que não foi nada bem-humorada.

— Ora, Nick, você não sabe de nada. A decisão de trabalhar tanto é danossa ruivinha, não minha.

A maneira de Robert se referir a ela a enfureceu ainda mais. Tevevontade de voltar e dizer-lhe algumas das coisas que estavam engasgadasem sua garganta. Queria ter o poder de magoá-lo.

Alguns dias mais tarde, quase ao pôr-do-sol, Mila encontrou Robert eavisou-o de que as fotografias haviam chegado de Townsville.

— Leve-as até a casa-grande para que eu possa selecioná-las — elerespondeu.

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— Não poderia vê-las aqui mesmo no escritório? — ela indagou, rezandopara que ele concordasse. Afinal, a última coisa que desejava fazer eravoltar à casa-grande e reviver os momentos que passara ao lado daquelehomem que lhe despertara para o amor. Robert percebeu a distância dela e

seus olhos se estreitaram, desconfiados.— Lamento que a casa-grande seja tão detestável para você. Deve odiarcertas lembranças, não é? — Fez uma pequena pausa e completou: —Espero-a na casa-grande.

Sabendo que Robert não abriria mão de sua decisão, ela indagou:— Quer que leve os textos que escrevi para acompanhar as fotos?— Os textos serão publicados com o livro, não é? Não acha que tenho de

vê-los, também?O tom da voz dele, como acontecia muitas vezes, fez Mila pensar que

dissera uma bobagem.— A que horas quer que eu vá?— Agora parece uma boa hora. A menos, é claro, que tenham algum

assunto particular a tratar.Havia uma nota diferente na voz dele. Como se suspeitasse que ela

tivesse algum encontro secreto. Mila sacudiu a cabeça.— Não tenho nenhum compromisso pessoal. Posso pegar as fotos agora

mesmo e ir ao seu encontro.Robert fez um breve aceno e dirigiu-se à casa-grande, enquanto Mila

voltava ao escritório.

Momentos mais tarde, Mila foi ao encontro de Robert levando todo omaterial. Diante da porta semi-aberta da sala de estar, ela hesitou, inspiroupara criar coragem e bateu de leve à porta.

A voz de Robert soou meio irritada, quando ele falou:— Pode entrar.Mila adentrou timidamente, o coração acelerado.— Ah! É você? Desde quando acha necessário bater à porta, aqui?— Desde que me mudei. Não sou mais uma das pessoas da casa-

grande.

Consciente de estarem a sós, Mila sentiu a poderosa força magnéticaque irradiava da presença dele, deixando-a muito perturbada.

— Então, isso é mais uma coisa que precisa ser vista.Robert dirigiu-se à sala de jantar e ela seguiu-o sem dizer uma palavra.

Sobre a grande mesa havia vários papéis espalhados no tampo de vidro.— Quer beber alguma coisa? — ele perguntou, observando-a colocar o

material por sobre a mesa.— Sim, aceito. — Talvez um drinque dissipasse a tensão que a envolvia.— Vinho branco com suco de frutas?

— Ótimo, obrigada — Mila aceitou, sentando-se na cadeira oposta a queele costumava usar e viu-o encher uma taça de vinho e depois pegar uma

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cerveja.— Pronto. Espero que goste — Robert entregou-lhe a taça. Mila tomou

um gole do vinho e falou, estendendo o pacote para Robert:— Separei as fotos por assunto, colocando cada uma sobre o texto

correspondente.Ele não pegou o pacote. Inclinou-se para a frente e olhou-a dentro dosolhos, de modo expressivo.

— Não acha que ficaria mais confortável, se sentasse aqui do meu lado?— ele perguntou, apontando o lugar vago perto dele. — De onde está, vêtudo de cabeça para baixo.

Apesar de saber que a proximidade de Robert mexia profundamentecom ela, mesmo assim Mila levantou-se e foi sentar-se ao lado dele.

— Há algum tipo de foto que queira ver primeiro? — ela perguntou.— Nada em especial. Você escolhe.Sem erguer os olhos, ela concordou com a cabeça e colocou uma

grande quantidade de fotos na frente dele. Mila sabia que o trabalho ficarabom. Clive, o amigo que as revelara, era um artista, e o resultado foraexcelente.

O exame de Robert durou um longo tempo. Às vezes, ele se detinhamais numa foto, estudando-a em silêncio. Quando, afinal, terminou, Milaestava sentada na beira do sofá, numa postura que refletia toda suaexpectativa.

Mal ele colocou a última foto de volta à mesa, ela perguntou:

— Então? Qual é sua opinião?Sem pressa, ele virou-se para ela. A princípio, sua expressão não

revelava nada; apenas olhava-a com os penetrantes olhos azul-esverdeados, como se tentasse descobrir algo. Mas, por fim, a sombra deum sorriso arqueou-lhe os cantos da boca.

— Não resta a menor dúvida de que você é mesmo uma caixa desurpresas, ruivinha — ele falou, com aquela voz vagarosa e sensual queMila tão bem conhecia. Seria uma aprovação?

— Você quer dizer que gostou? — Ela sorriu, Robert meneou a cabeça.

— Seria difícil não gostar. São excelentes fotos. Mas você já sabe disso.— Sim. Quer dizer, sabia que eram tecnicamente boas, mas não sabia se

agradariam você. Tentei captar a essência da atmosfera do rancho, damaneira como o vejo, ou como um turista poderia vê-lo. Estava receosa,mas tinha esperança de que gostasse — Mila falou, sem conter oentusiasmo, os olhos brilhando de prazer. — Foi assim que imaginei o álbumde divulgação. Sabe, uma parte contando a história, desde os primeirostempo; o trabalho dos pioneiros, suas dificuldades. Outra parte mostrandoque a propriedade tem conseguido manter as características primitivas e

que, apesar do progresso, a natureza tem sido preservada. Outro aspectointeressante é o nome dos lugares. Cada um parece contar um pedaço da

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história. — O entusiasmo de Mila coloria-lhe o rosto, e ela esquecera toda amágoa, entregando-se à defesa de sua idéia.

De repente, Mila se calou, pela primeira vez consciente de que sedeixara levar pela animação. Um pouco envergonhada, voltou a falar num

tom diferente:— Desculpe, acho que me distanciei do assunto. Não foi nada disso quepediu. Mas, o que acha desta distribuição das fotos no livro?

— Não vi nada ainda. Você esteve falando...— Oh! Desculpe, outra vez.— Desculpá-la? Por quê? Não tenho nada contra idéias novas.

Principalmente quando expostas de modo tão animado e convincente.O coração de Mila bateu mais apressado. Ela umedeceu os lábios e no

mesmo instante percebeu que o olhar de Robert se fixava sobre sua boca.Impossível não se lembrar dos beijos dele.

Afastando com esforço a lembrança que lhe assolava, falou, meiohesitante:

— Aqui estão os textos que acompanham as fotos.Robert tomou-lhe o papel e começou a ler.Mila não podia impedir-se de observá-lo e de admirar-lhe o perfil

enquanto ele lia. Os cabelos escuros, cortados curtos, formavam umcontraste marcante com os olhos claros, e davam-lhe um ar jovial quesuavizava em parte a austeridade das feições aquilinas.

Robert Buchanan era muito, muito atraente, e Mila sentia um calor

sensual subir pelo corpo, enquanto o coração se apertava no peito. Comodesejava tocá-lo!

Súbito, como se houvesse uma comunicação telepática, Robert ergueuos olhos, encontrou os dela e aprisionou-os com sua força.

A troca de olhares teve o efeito de uma faísca, a atmosfera carregou-sede eletricidade e a tensão no ar era quase palpável.

Sem deixar de olhá-lo, mas consciente de que precisava libertar-se, Milatentou quebrar a mágica do momento. Porém, quando quis falar algo, suavoz não saiu.

No instante seguinte, sem que soubessem como, estavam um nosbraços do outro, a paixão explodindo fremente, incontrolável.

Robert procurou os lábios de Mila com ardor, beijando-a selvagemente,de maneira apaixonada e possessiva.

Mila encostou-se ainda mais ao corpo musculoso e viril, como sequisesse fundir-se nele. Desejava Robert como nunca quisera homemnenhum. E queria experimentar de novo aquela sensação inebriante depaixão que tivera nos braços dele.

De repente, Robert interrompeu o beijo e curvou-se sobre ela, descendo

a cabeça para o colo arfante de Mila e buscou a delicada reentrância entreos seios.

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Com voz rouca e transtornada que não parecia a dele, ele murmurouentre beijos:

— Você sabe brincar com os sentimentos de um homem, não é?Aquelas palavras magoaram Mila. Fizeram com que ela se sentisse uma

mulher leviana e experiente, tudo o que não era.Com o rosto rubro de humilhação, ela lutou para recuperar o controledas emoções e livrar-se dos braços dele. Tentando parecer calma, falou:

— Eu não fiz nada. Foi você que me beijou — ela acusou.Imediatamente, Robert a soltou e um nó doloroso apertou o coração deMila.

— Vamos esquecer tudo o que aconteceu aqui. Inclusive isto! —replicou, apontando para as fotos.

Mila engoliu em seco, desapontada.— Não está mais interessado nas fotos?— No momento, não. — Ele deu um sorriso sem alegria. — Ou pensa que

poderíamos continuar a conversa como se nada tivesse acontecido?Mordendo o lábio com força para impedi-lo de tremer, ela levantou-se

de cabeça baixa.Pela segunda vez, era mandada embora da casa-grande. Não pediria

mais nada. Nem choraria diante de Robert. Pelo menos ainda lhe restavaum último resquício de orgulho.

Do lado de fora, Mila se permitiu chorar. Deixou as lágrimas rolarem,quentes e livres sobre o rosto pálido.

Capítulo VIII

Na manhã seguinte, Mila acordou extremamente deprimida.Sentimentos contraditórios habitavam seu coração. Gostava do RanchoArunga River e amava ainda mais seu proprietário, Robert.

 Tudo o que vivenciara na noite anterior ainda permanecia muito forteem seu coração. Pela segunda vez Robert a mandava embora da casa-grande e de sua vida. Não havia futuro para aquele amor que nasceraincontinente em seu peito.

Precisava tomar alguma decisão. Não podia continuar sofrendo tanto.Seu amor por aquele homem poderia levá-la à loucura, e o melhor que tinhaa fazer era partir imediatamente.

 Tendo já decidido o que fazer de sua vida, Mila colocou a camiseta de

uniforme do Rancho Arunga River e uma calça jeans e se dirigiu aoancoradouro à beira do rio.

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Quando estava checando os barcos e seus componentes, Joel veio falarcom ela.

— Tudo bem com você? — ele indagou.— Sim, tudo — Mila respondeu, desanimada.

— Não me parece! — Então, depois de olhá-la fixamente, perguntou: —Andou discutindo novamente com Robert, não é?— Como se isso fosse alguma novidade! — Mila falou, irônica.— Não adianta mentir para mim, garota. Já percebi o que está se

passando entre vocês!Uma onda de rubor cobriu o rosto de Mila, e ela falou:— Você está enganado, Joel.— Seja sincera comigo, Mila, você está apaixonada por ele, não está?Por um momento Mila pensou em negar seus sentimentos, mas depois

resolveu abrir seu coração com ele:— Sim, eu amo Robert, Joel. Porém, sei que não tenho a menor chance

de ver esse amor concretizado.— Ora, Mila, será que você não entende?— Não entendo o quê? Joel estudou-lhe o rosto por um instante.— Digamos que a parte racional de Robert não aceita a idéia de se

apaixonar por você.— Mas por quê? Não entendo. O que ele tem racionalmente contra mim?— Mila, deixe de bancar a ingênua. Não pode ser tão insensível. Você

sabe a razão, sim! — Joel respondeu, contrariado.— Se há alguma coisa que eu devia saber e não sei, então sou ingênua,

sim! — ela replicou, furiosa.No primeiro momento, Joel pareceu indeciso entre acreditar nela ou não.

Afinal, ele falou, com um suspiro:— Vou tentar explicar de modo mais delicado possível. Acho que Robert

considera muito difícil desejar para si uma namorada que Alick dispensou.Compreendo a situação dele; não se pode culpá-lo. Robert não suportariaamar você, sabendo que foi amante de Alick.

Chocada, Mila voltou-se para Joel, boquiaberta, sem acreditar nospróprios ouvidos. Contudo, quando o impacto daquelas palavras diminuiu,ela recuperou a fala e quase gritou:

— Que loucura! Eu e Alick jamais fomos amantes. Nem mesmonamorados. Meu Deus! Quem colocou isso na sua cabeça? Nunca tivenenhum interesse em Alick. Sei que ele tem uma namorada para cada diada semana. E nem ele me propôs namoro. Por favor, Joel, diga: por quevocês imaginaram uma coisa destas?

Confuso com a veemente negativa de Mila, Joel deu de ombros, sem

saber o que responder.— Bem, todos nós aqui no rancho conhecemos a fama de conquistador

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de Alick e também conhecemos seu hábito de... então, quando ele a trouxepara cá... concluímos...

— E qual é esse hábito de Alick? Se não for incômodo me dizer? — Milaperguntou.

— Ele costuma enviar suas ex-amantes para trabalhar ou passear norancho, quando o interesse dele começa a... declinar.— Ele faz o quê? — Mila era a própria imagem da indignação.— É como estou dizendo. Alick envia as ex-namoradas para cá. Ele

considera essa atitude um modo gentil e conveniente de terminar umenvolvimento. Claro que as moças ficam pensando que ele vai voltar maistarde; mas esperam em vão. — Joel interrompeu o assombroso relato porum instante e olhou para Mila de soslaio, para ver se descobria a verdadena reação dela. Depois, prosseguiu: — Neste meio tempo, o queinvariavelmente acontece é que as mocinhas abandonadas vão ficandocansadas e entediadas e logo começam a se insinuar para Robert. Pareceque Alick conta com esta possibilidade para facilitar-lhe a vida. Mas Robertconhece todas estas manobras de cor.

Devagar, a compreensão do que acontecia com o homem amadopenetrou na mente de Mila, e uma onda de desespero abateu-se sobre ela.

Que vergonha! Todos pensavam que era a última conquista descartadapor Alick. Agora compreendia muitas coisas. Alick, aquele miserável! Eainda a aconselhara a perseguir Robert, não dar-lhe sossego enquanto nãoa empregasse. Ah! Se Alick estivesse ali agora! Ele iria lhe pagar caro, por

deixá-la numa situação tão intolerável. Como provar que era inocente?— Mas, Joel, eu não fui enviada por Alick; ele me trouxe pessoalmente.

— Mila procurou mostrar que havia diferença entre ela e as outrasnamoradas.

— É, confesso que também achei um tanto estranho, mas...— Mas com certeza Iodos preferiram acreditar no pior, não é mesmo? —

ela interrompeu-o com impaciência, a indignação crescendo sem limites.— Parece que sim — ele confirmou, envergonhado.— Como vocês são cavalheiros! — Mila ironizou. — E eu pensei que ao

menos você era meu amigo.— E acha que teria parado aqui a esta hora, para falar com você e

tentar ajudar, se não fosse? — Joel suavizou a voz. — Mas juro que, apesardos rumores, você conseguiu fazer muitos amigos no rancho. Todos gostamde você.

— E todos pensam que sou mais uma amante de Alick. Quem vaiacreditar em mim? — Ela o olhou, ansiosa. — Mas é verdade, Joel. Alick e eununca fomos nada além de simples conhecidos; trabalhávamos no mesmoprédio. É tudo. Pelo menos, me dê algum crédito. Jamais seria tão burra a

ponto de me deixar levar pelo charme barato de Alick.— Acho que sei o que quer dizer. Pensa que se eu acreditasse em você

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influenciaria Robert, não é?— Não. Não quero que ninguém fale com Robert sobre a minha pessoa.

Afinal, nem sei por que ainda me importo com isso.— Hum... Tenho a impressão de que esta última parte não é muito

sincera.— Ora, e por que deveria me importar? Maldito seja Robert! Não tenhode me justificar de nada! Ele merece uma lição.

Após o almoço, um novo evento acrescentou dimensões diferentes aoproblema de Mila e a sua situação no rancho.

Sem nenhum aviso prévio, Simone e Wade chegaram ao rancho, em umbimotor pilotado por Alick. Retornando de umas longas férias, o casal eracumprimentado por todos.

Uma das primeiras pessoas a recepcioná-los foi Crystal. Mal tomouconhecimento da chegada deles, largou o que fazia e dirigiu-se à casa-grande. Contudo, ao passar por Mila ainda teve tempo de fazer umcomentário maldoso, com visível prazer.

— Agora que Simone e Wade estão de volta, é melhor ir empacotandosuas coisas, porque não vai sobrar nada para você fazer. Eles sempre seencarregaram dos turistas e com certeza vão retomar suas funções.

— Mas vão precisar de algum tempo para se instalar, não é mesmo?Então, por que essa pressa?

Mila recusava-se a mostrar quão insegura se sentia. Realmente, naquelemomento, percebeu que seu emprego no rancho estava por um fio.

— Bem, talvez ainda tenha alguns dias. Mas eu queria ter o prazer delhe dizer isto. Você nunca foi necessária ou desejada aqui. Qualquer pessoacom um mínimo de sensibilidade já teria percebido e ido embora. Coitadodo Robert! Viu-se forçado a recebê-la como um favor a Alick. E você não fezoutra coisa a não ser causar embaraços. Graças a Deus que tem os diascontados! — E, com aquela última alfinetada, Crystal retirou-se.

Depois que ficou sozinha, Mila pôde se permitir deixar transparecer todaa tristeza que sentia. Sofreria muito ao deixar o rancho. Mas sofreria maispor ter de abandonar o homem que amava com tanta intensidade, porém

sem ser correspondida.Mila sabia que não conseguiria trabalhar, então, foi ao encontro de Gay,

a fim de pedir que ela a substituísse.Quando já estava junto à amiga, ouviu uma voz conhecida às suas

costas. Era Alick.— Olá! Como vão minhas duas garotas favoritas? — ele brincou,

cumprimentando Gay e Mila com um enorme sorriso.— Mila é sua garota. Não eu — Gay protestou. Mila encarou-o, séria.— Então esta é a recepção que me dão, depois de eu ter voado milhas e

milhas para vir aqui?— Oh! Não. Tenho uma recepção para você. Acredite — Mila falou.

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Ainda sorrindo, Alick virou-se para ela sem saber ao certo se brincava oufalava sério.

— Oh, querida, estive na casa-grande e, como não a encontrei, vim aquisó para vê-la. Estranhei você não aparecer para dar um alô.

— Não podemos largar tudo e sair correndo atrás de novidades, comofaz Crystal — Gay se intrometeu.— Ah! Nossa amiga Crystal! Eu a encontrei no caminho. Ela parecia

muito apressada.Naquele momento, a atenção de Alick foi atraída pelo crachá na

camiseta de Mila.— Meu Deus! — ele exclamou. — Robert está muito pão-duro. Poderia

ter-lhe dado uma identificação mais apresentável.Apesar de estar furiosa com ele, Mila deu uma risada.— Não seja tão exigente. Já tive muita sorte em conseguir ao menos

este. E não fui recebê-lo porque estou muito aborrecida com você.— Que foi que eu fiz? — Alick arregalou os olhos, admirado.— O suficiente para eu desejar acabar com você, acredite. E, se Gay der

licença, gostaria de discutir um assunto pessoal agora mesmo.— Não consigo imaginar o que possa ter feito para deixá-la tão

indignada. O que sei é que você provou que é muito eficiente.— Se consegui provar alguma coisa, certamente não foi graças a você.

Alick, você não foi correto comigo, não jogou limpo. Por que não teve adecência de me avisar que costuma deixar suas ex-namoradas aqui? Que o

rancho é seu depósito de namoradas descartadas?— Ah! Alguém contou — Alick murmurou, parecendo desapontado. —

Compreenda, Mila, acho que é uma maneira delicada de me despedir de umex-amor; mas não vejo o que isto tem a ver com você.

— Não vê? Pois eu lhe digo. Todo mundo aqui pensa que EU sou maisuma de suas garotas descartáveis. E, ainda por cima, você recomendou queeu andasse atrás de Robert até ele me aceitar. Quer dizer, queria que mecomportasse como suas ex-namoradas costumam se comportar, segundome contaram.

— Mas elas fazem isto por razões diferentes.— Pois, por aqui, ninguém parece notar nenhuma diferença.— Não se preocupe mais, querida — Alick consolou-a com seu

imperturbável sorriso. — Você conseguiu o lugar de guia. Não era o quequeria? Então, que mal lhe fiz?

Nada! Apenas arruinara sua possibilidade de ser feliz!, ela pensou, masapenas disse:

— Acontece que Robert acredita que sou uma de suas ex-amantes. Porque não teve a delicadeza de esclarecer minha posição? Por que não disse

que eu não era como as outras?Alick pareceu refletir, mas depois deu de ombros.

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— Não lembro se disse alguma coisa ou não. Mas que importância temisto agora? Conseguiu o emprego, não foi?

— Para mim é importante. Não sou leviana e não quero adquirir umafama daquilo que na verdade não sou.

— Você está certa por não querer ter a minha fama. É mesmo umavergonha. — Alick riu.Mila sacudiu a cabeça; era inútil querer falar a sério com ele; Alick

levava tudo na brincadeira.— Alick, você não tem jeito! — ela desistiu.— Mas sou simpático, não concorda?— Infelizmente é — concordou, resignada.— Bem, agora que já brigou comigo, podemos conversar. Diga-me,

como vão as coisas? — Alick segurou-lhe as mãos, inclinando-se para ouvi-la.

— Ah! Cheio de altos e baixos, sucessos e fracassos. Mas agora que seupai e sua madrasta estão de volta... — Mila parou de falar ao avistar Roberte Joel aproximarem-se e recolheu as mãos.

Mas seu gesto não passou despercebido a Robert. Ela percebeu o olharfrio que ele lançou às mãos entrelaçadas. Porém, pouco se importava.Chegou, por instantes, a se lamentar por haver retirado as mãos. Ele podiapensar o que quisesse. Não tinha nenhum motivo para se envergonhar.

— Olá, Robert, já falou com sua mãe? — Alick perguntou.— Ainda não. — Robert encarou Mila e perguntou, irônico: —

Conversando sobre os velhos tempos?— Mais ou menos — ela respondeu, desafiadora, e teve o prazer de ver

o rosto dele tornar-se mais carrancudo.— Tenho certeza de que estava se divertindo muito com lembranças...

tão agradáveis... — ele comentou, provocador.Sem constrangimento, Mila concordou:— Muito! Sempre achei a companhia de Alick muito agradável —

respondeu, irônica.Sem perceber nada, Alick interrompeu-os.

— Robert, você já soube que vai haver um jantar na casa-grande hoje?Vai ser uma espécie de comemoração, com toda a família reunida e algunsdos funcionários mais antigos.

Robert concordou, meneando a cabeça.— Isto inclui você também, ruivinha — ele dirigiu-se a Mila. O convite

tomou Mila de surpresa e ela quis esquivar-se. Ficaria pouco à vontadenuma reunião de família a que não pertencia.

— Outro dia você disse que a guia de turismo devia jantar com osturistas.

Ignorando o protesto, Robert fez um sinal para os outros, despedindo-se.Ao passar por ela, inclinou-se um pouco e, quase tocando-lhe a orelha,

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disse, num tom que não admitia réplica:— Esteja lá! — Mas, ao ver seu olhar espantado, acrescentou mais

brando: — Poupe-me o trabalho de ter de levá-la à força.Os olhos verdes de Mila baixaram ao encontrar os dele. Apesar de seu

ressentimento, não queria desafiá-lo mais; sabia que sairia perdendo, poristo murmurou apenas:— Está bem. Eu irei.Com outro aceno, Robert saiu e Joel, ao segui-lo, cochichou para Mila:— Não brinque com fogo. Robert está furioso.Ela ficou pensativa e, quando levantou os olhos, deparou com Alick,

observando-a curioso.— Bem, alguma coisa está acontecendo por aqui e eu não estou

entendendo. Pode me contar? — Alick abriu os braços com exagero,mostrando-se perdido.

— O que não entendeu?— Reparei que havia um clima diferente entre você e Robert. Ele falou

com você de um jeito... E o que Joel quis dizer com "brincar com fogo"?— Ah! Foi apenas uma piada.— Não me pareceu uma piada. Por que não fala a verdade?— Mas não há nada para contar. Joel pensou que eu estivesse

provocando Robert.— Acho que você conseguiu provocá-lo, afinal. Ele parecia a ponto de

explodir.

— Era o que eu queria.Alick aproximou-se de Mila e deixou de lado o tom brincalhão.— Meu Deus, acho que começo a compreender o que se passa. Há

outras coisas envolvidas no relacionamento entre você e Robert. Não é isto?— Do que está falando?Mas Alick não permitiu que ela se esquivasse.— Estou falando de você e Robert. Acho que está apaixonada por ele.

Céus! Nunca pensei que fosse acontecer com você.Diante do silêncio de Mila, Alick perguntou:

— Estou certo, não?Desistindo de negar, ela balançou a cabeça e, com os olhos úmidos,

confessou:— Estou.— E por que não explicou para Robert que só há amizade entre nós?— Porque não faz diferença. Ele não me ama. Nenhuma explicação pode

mudar os sentimentos dele! — Mila falou, quase soluçando.— Mas que diabo! Desculpe, Mila, por favor, não chore. Acho que preciso

ter uma palavrinha com Robert.

— Não ouse! —ela gritou. — Se ele não quer ver por si mesmo...Desculpe, prefiro não falar mais. Além disso, os turistas estão voltando,

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podem precisar de alguma coisa. Vejo você no jantar. Até logo.Mila afastou-se às pressas, pedindo a Deus que ninguém solicitasse seus

serviços. E como ninguém a procurasse, foi para seu quarto. Quando já seaproximava do alojamento, avistou Robert vindo no sentido oposto.

Que falta de sorte! E o pior é que ele notaria seus olhos vermelhos dechoro. Ele barrou-lhe a passagem e fez um comentário zombeteiro:— Por que está tão abatida? Alick desiludiu-a outra vez?Reunindo os restos do seu orgulho, Mila ergueu a cabeça.— E o que lhe interessa se ele me desiludiu ou não?— Quem disse que me interesso?— Se não se interessa, por que pergunta? Só para me aborrecer?Sem esperar outro comentário, Mila correu para o prédio e trancou-se no

quarto.O jantar foi um sacrifício para Mila, apesar dos esforços de Simone e

Wade para fazê-la sentir-se à vontade. Tinha a impressão de que todospodiam ver seu constrangimento e adivinhavam o motivo de sua aflição.

Robert era o culpado do seu tormento. Sua presença imponente e seuantagonismo velado arrasavam-na. Contudo, ele mesmo a apresentara àmãe e ao padrasto. Simone recebera-a com um sorriso acolhedor.

— Que moça bonita! — Simone exclamou, estendendo-lhe a mão.— Bonita demais para trabalhar num rancho — Robert comentou,

fazendo-a corar.— Ora, não acho que isto seja mau — Simone discordou, olhando-a com

os mesmos olhos azulados do filho. — Já ouvi muitos elogios ao seutrabalho, meu bem.

— Acho que Mila trabalha melhor que nós. Já não somos necessários,Simone. Que bom! — Wade exclamou, com uma risada bem-humorada.

— De forma alguma. Agora que vocês voltaram, a situação vai mudar.Preciso de vocês! — Robert retrucou.

Um arrepio percorreu Mila dos pés à cabeça. Já esperava serdispensada, mas perceber a alegria dele era deprimente.

— Hum... Não conte muito conosco, Robert — Wade avisou, com um

olhar significativo para a esposa. — Sua mãe e eu estávamos pensando emficar no rancho um ou dois meses, apenas. Depois partiremos outra vez.Queremos percorrer o mundo todo e ainda nos falta muito.

— É verdade, Robert — Simone confirmou e, sorrindo para Mila, falou: —Receio que não vá ficar livre do trabalho tão depressa.

No íntimo, Mila admitiu que Simone era uma mulher encantadora,acessível, sempre procurando deixar todos à vontade. O oposto do filho!Contudo, era desgastante ficar no mesmo grupo de Robert e, na primeiraoportunidade, ela se afastou. Mas, onde quer que fosse, lá estava ele.

Quando afinal anunciaram o jantar, entre pesarosa e aliviada, Milaconstatou que seu lugar era entre Joel e Jim Stanley.

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Simone, desejando fazer Mila participar da conversa, dirigiu-se a ela.— Robert me disse que as lindas fotos que vi no estúdio foram tiradas

por você. Imagino como deve ter custado tempo e trabalho!— Ela ocupou muitos funcionários também, não esqueça. Foi trabalho e

tempo para todo mundo! — Robert brincou.Bryan, sentado do outro lado da mesa, fez um comentário mais gentil:— Mas todos gostaram de participar. Ninguém reclamou, não é verdade,

Mila?Antes que ela tivesse tempo de responder, uma risada seguiu as

palavras de Bryan e a voz de Crystal soou muito aguda:— Por que reclamariam? Afinal de contas, são todos... íntimos de Mila.— São amigos porque sabem reconhecer e apreciar as qualidades dela.

— Para surpresa geral, Jim, que era conhecido por ser calado, defendeu Milada malícia de Crystal.

Diante da reação de Jim, Crystal perdeu um pouco sua empáfia e corou.Um súbito silêncio pesou sobre a mesa, e Mila, timidamente, fez um esforçopara aliviar a tensão.

— Muito obrigada pelo elogio, Simone. Estou muito feliz que tenhagostado. Nunca tinha trabalhado num rancho antes.

— Pois saiba que foi um sucesso.Com ar triunfante, Alick voltou-se para Robert:— Lembra, mano, que lhe prometi duas auxiliares pelo preço de uma?Robert permaneceu calado, mas Joel falou:

— Não importa que um ou outro de nós tenha dado uma ajudazinha aMila. Perto do tempo que perdemos com o último fotógrafo, não foi nada.Vivia atrás de nós para posarmos com o gado e ficava horas procurando umbom ângulo. Mas o resultado foi uma decepção.

Wade deu uma gargalhada.— Talvez a proximidade dos animais o deixasse tão nervoso que

prejudicava as fotos.Imediatamente cada um lembrou uma passagem engraçada que era

logo acompanhada por um coro de risadas. Até Robert riu, Mila notou,

satisfeita que a atmosfera pesada tivesse se dissipado.Assim que a refeição terminou, Simone chamou os convidados para a

sala de estar, onde o café seria servido.Mila percebeu o olhar de Robert fixo nela, observando-lhe todos os

movimentos, e voltou a sentir-se ansiosa, receando que ele a destratasse.Por isto, ao ver Jim e Bryan se despedir, suspirou aliviada e resolveu seguir-lhes o exemplo.

No entanto, mal começou a descer os degraus da varanda, ouviu passosrápidos atrás de si. Um sexto sentido advertiu-a de que se tratava de Robert

e ela tentou andar mais depressa. Mas não houve jeito de escapar.— Aonde pensa que vai? — Robert alcançou-a e segurou-a pelo pulso.

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— Vou para o meu quarto, de onde, aliás, não deveria ter saído! — elarespondeu com altivez.

Os lábios dele se crisparam, num arremedo de sorriso.— Você tem o péssimo hábito de abandonar a casa-grande sem avisar e

sem se despedir, não é mesmo?Mila ficou abismada. Que audácia acusá-la de ter "abandonado" a casa-grande, quando fora ele que a mandara embora.

— Pensei que preferisse assim... que eu saísse sem dizer nada. Afinal,você também não teve coragem de me mandar embora pessoalmente.

A mão de Robert endureceu ainda mais sobre seu pulso.— Do que não tive coragem? Do que está falando? Você saiu da casa-

grande porque quis e, ainda por cima, às escondidas.— Não é verdade. Saí porque Crystal disse que você queria que eu me

mudasse para o alojamento dos funcionários.— Crystal! — ele exclamou, franzindo o cenho. — Ela é que me disse

que você estava louca para sair daqui.Bastou um minuto para que a compreensão do que acontecera os

atingisse. Robert virou-se e, através da janela, avistou Crystal, rindo àvontade entre os convidados.

— Ah! Desta vez ela foi longe demais — Robert falou entre os dentes.— Então foi Crystal quem tramou tudo. Mas isso não tem mais nenhuma

importância agora — Mila afirmou e, aproveitando-se da distração deRobert, libertou o braço e continuou a caminhar.

— Espere aí. Ainda não terminei! — Ele a seguiu.— Ainda há mais? — Mila perguntou, sem se virar.— Há mais, sim.Sentindo-se pressionada, todo o nervosismo reprimido por horas aflorou

e Mila gritou:— Pois eu terminei; e tudo que quero é que me deixe em paz.Sua voz partiu-se num soluço e ela começou a correr. Contudo, os

sapatos de salto alto dificultavam-lhe os passos. No escuro, não via direitoonde pisava e somente quando recebeu uma súbita chuveirada foi que

percebeu que estava em frente aos irrigadores de grama, como já lheacontecera no primeiro dia que passara no rancho.

O choque foi grande. Trêmula de susto e sentindo-se muito perdida, Milaficou parada por um momento sob a água que lhe escorria pela roupa edepois irrompeu num choro convulsivo.

Ao se recuperar do acesso, conseguiu se mexer e devagar saiu dedebaixo da água. Do outro lado, a salvo do irrigador, avistou Robert, de pécom as mãos nos bolsos, a olhá-la com ar divertido.

Ele vira tudo. Era humilhação demais.

— Vá embora! — ela gritou, furiosa. — Que quer aqui? Que estátramando contra mim?

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— O mesmo que você vem tentando fazer comigo desde que chegouaqui. — Robert adiantou-se e puxou-a pelo braço.

Mila sacudiu a cabeça sem entender. Também não adiantava pensar emescapar das mãos dele, porque a mantinham com firmeza.

— Onde está me levando? — ela perguntou, procurando não se mostrarpreocupada.— Ao seu quarto... Acho que é o único lugar onde podemos conversar

com privacidade.A última coisa que Mila desejava na vida era ficar a sós com ele.

Lembrava muito bem do que acontecera das outras vezes, e seu coraçãodisparou de ansiedade. O que pretendia, querendo ficar sozinho com ela?Mila temia ficar muito próxima daquele homem. Temia demonstrar todo oamor que sentia por ele.

— No meu quarto? Mas há outra moça... — Ela ia inventar umadesculpa, mas Robert interrompeu-a.

— Sei que Dyra viajou.Inspirando fundo, Mila seguiu-o em silêncio. Ao chegarem à porta do

quarto, ele acendeu a luz e ambos entraram.A presença imponente de Robert tornava o quarto menor, e sua

masculinidade agressiva parecia dominar todo o espaço. Mila sentiu-sepequenina e frágil, mal conseguindo respirar com naturalidade. Vendo-oaproximar-se, empalideceu e abriu muito os olhos, cheios de apreensão.

— Não ouse me tocar! — ela reagiu.

— Você está encharcada, suas roupas estão pingando — ele disse,pegando uma toalha e começando a enxugar-lhe os cabelos.

Por um momento, Mila pensou que fosse tomá-la nos braços, porém,tudo o que ele queria era livrá-la do desconforto da roupa molhada. Foraapenas um gesto de atenção.

— Pode deixar, eu mesma faço isso.Porém Robert não lhe deu ouvidos e continuou a enxugar-lhe os cabelos.— Pronto! Não doeu nada, não foi? Agora sugiro que troque esta roupa;

está gelada, pode pegar uma gripe. — Depois, olhando-a de modo

significativo, acrescentou: — Vendo-a assim é difícil resistir à tentação.Descendo os olhos para a roupa molhada, Mila compreendeu o que ele

queria dizer e corou. O fino tecido do vestido tornara-se transparente erevelava o contorno dos seios. Ela sentiu-se despida e o rubor de seu rostoaumentou.

— Como posso trocar de roupa com você no quarto? — ela perguntou,com uma pontinha de ironia.

— Ora, deixe de tantos melindres. Esquece que já a vi quase nua?A lembrança daquele instante de paixão voltou-lhe à mente como um

furacão, fazendo-a ruborizar-se.— Faz muita diferença, sim. Porque não estou acostumada a me despir

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em frente de... — Mila hesitou, sem saber como finalizar a frase.— Na frente de homens? — Robert a interrompeu e Mila odiou o modo

como os lábios dele se erguiam num sorriso zombeteiro. — Por quê? Você eAlick preferem o escuro?

Uma onda de revolta, diante da insinuação, tomou conta de Mila. Elaergueu a mão e aplicou em Robert uma sonora bofetada, deixando a marcade seus dedos no belo rosto bronzeado.

— Vá embora! Saia daqui já! — ela gritou, cheia de fúria. Uma expressãoestranha surgiu no rosto de Robert, seus olhos escureceram e ele se moveupara ela; sacudiu-a pelos ombros e forçou-a para trás; com a mão livre,imobilizou-lhe a cabeça e puxou-a para si com tanta força que seus corposse chocaram.

— Está bem. Não se troque. Prefiro você com essas roupas molhadas —ele disse, roçando a boca na dela.

Mila ainda tentou afastá-lo, mas era impossível escapar daquelas mãosvigorosas. Sentia-se totalmente indefesa. Talvez, se se mantivesse fria, nãocorrespondendo, pudesse desarmá-lo. Para isso, precisava ficar inerte,passiva. Precisava não sentir...

Mas, ao fechar os olhos, a vontade de se entregar aumentou. Suaresistência não era forte o suficiente para anular o sentimento delicioso esensual que a invadia e que a fazia desejar mais. Seu corpo tornou-selânguido e trêmulo e a respiração, ofegante.

Experiente, Robert percebeu a mudança e aconchegou-a mais entre os

braços. Imediatamente, incápaz de rejeitá-lo, Mila enterrou os dedos nosfartos cabelos dele, seus lábios entreabriram-se cheios de desejo, paramelhor receber o beijo. Depois, devagar, introduziu as mãos espalmadaspor debaixo da camisa e acariciou-lhe as costas, vibrando de prazer ao ouvi-lo suspirar.

 Já não lhe importava o que Robert pensava dela ou se a desprezava;sabia apenas que todo seu ser clamava por ele e que não ficaria satisfeitaaté consumar o ato do amor.

Desvencilhando-se do vestido, Robert murmurava-lhe o nome baixinho,

beijava-lhe o pescoço, o espaço macio entre os seios.— Oh! Deus! Você não sabe o que me faz! — ele disse, erguendo-lhe a

cabeça para que seus olhos se encontrassem.Os olhos de Mila, muito verdes, lembravam as ondas do mar e a relva

dos campos e tinham o brilho de preciosas esmeraldas. Com súbita ternura,Robert tomou-lhe a mão, sem deixar de fitá-la, e pousou-a sobre o peito,para que ela sentisse as batidas enlouquecidas de seu coração.

 Timidamente, ela desceu a mão ao longo do abdome firme, chegandoaté o ventre liso e forte. Então, hesitou. Jamais tocara num corpo masculino

com aquela intimidade, e sua extrema virilidade a amedrontou.Num gesto inconsciente, retirou a mão, envergonhada, o rosto coberto

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de intenso rubor.O comportamento de Mila não passou despercebido a Robert e, ao vê-la

corar, abraçou-a com ternura, esquecendo o erotismo por um tempo.— Oh! — ele exclamou, como quem faz uma grande descoberta. — Só

agora compreendo. Ele mentiu.— Quem mentiu?— Alick!— Mentiu sobre o quê? — ela perguntou, sem tirar a cabeça do peito

dele.— Que você e ele foram amantes.— Alick disse isto? — Mila indignou-se.— Bem, não exatamente. Mas pensei... Sabe, desde o primeiro momento

ele vivia dizendo que você era especial. E o passado dele... tudo levava acrer que vocês não eram simples amigos.

Por um momento, Mila odiou Alick por provocar todo aquele mal-entendido.

— Tenho vontade de matar Alick! — Mila desabafou.— Eu é que tenho vontade de fazer isso. Muitas vezes, quando ele falava

de você, eu tinha ímpetos de dar-lhe um soco. Não agüento mais estamania que Alick tem de mandar as ex-namoradas passear no rancho.

— Mas por que Alick não falou logo que eu era diferente?— Talvez fosse duro para seu orgulho de dom-juan não ter conquistado

você. Logo a moça mais linda que já pisou no Rancho Arunga River. — A voz

dele tornou-se mais doce: — Você sabe disso, não é?Uma sensação de aconchego tomou conta de Mila, fazendo-a feliz como

nunca fora. Então, ela indagou:— Agora você acredita que nunca fui amante de Alick?— Sim, meu amor, eu acredito. Você nem imagina o quanto eu sofri só

de pensar que a única mulher que eu realmente estava amando fosseamante do meu irmão!

Vendo o ar de espanto no rosto de Mila, Robert falou:— Eu te amo muito. Você é a única mulher que me encantou por

completo e que não consigo tirar da cabeça. Não posso viver sem você.Experimentei um verdadeiro inferno de ciúme, durante todo esse tempo. —Então, fez uma pequena pausa, olhando-a nos olhos e falou: — Mila, queroque seja minha mulher!

Ela abriu ainda mais os olhos imensos. Nem nos sonhos mais ousadostinha imaginado que ele a quisesse tanto.

— E foi por isso — Robert continuou — que vim atrás de você. Estavadecidido a fazer qualquer coisa para convencê-la a se casar comigo, pois jánão me importava mais se você e Alick tivessem sido amantes. Só sabia

que a queria. Estou apaixonado, e meu amor está acima de tudo. O restonão tem importância. Então, quer se casar comigo, ruivinha?

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Aquele apelido que a princípio a irritava, agora possuía um significadoafetivo para Mila. Ela enlaçou-o pelo pescoço, os olhos brilhantes de amor.

— Oh, Robert, claro que sim! Acho que me apaixonei por você naprimeira vez que me beijou, mas jamais imaginei que sentisse o mesmo.

Achei que não gostava nem um pouco de mim e que eu não tinha nenhumachance.— Perdão, amor, se às vezes fui duro com você, mas estava

desesperadamente apaixonado. Era uma situação nova para mim, por isso afiz sofrer. Você me perdoa?

— Por me amar? Adoro ouvir você dizer isso. Quero ouvir essas palavraspelo resto da vida.

— Prometo que direi sempre, sempre: eu te amo. Mas, diga, por quechorou ainda há pouco?

— Porque você não prestou atenção em mim durante o jantar e tinhadesistido de acreditar que o homem maravilhoso pelo qual me apaixonarafosse ser meu algum dia. Pensei que não quisesse nada comigo.

— Quero tudo com você. Quero uma vida com você. — Ele a fitou, com apaixão retornando aos olhos azulados. — E, de agora em diante, estareisempre onde você estiver.

Mila abriu os braços para ele, profundamente grata pela felicidade que avida lhes concedia.

O passado não importava mais. O futuro era uma doce esperança, e opresente era deles, porque o amor florescera em seus corações.

Fim